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Nos discursos percebemos que os jovens buscam algo para acreditar e
levam isso a sério. É importante observar como na fala de todos os entrevistados há
uma relativização da instituição religiosa, mas não da necessidade da religiosidade.
A idéia de religião é difusa, há uma flutuação não diferenciada entre religião e
religiosidade, que parece ser uma característica da religião na contemporaneidade
para muitas pessoas. Na fala de A.C.S, observa-se a necessidade de afirmar que
pertence a um grupo religioso, afirma pertencer a uma religião mesmo que esteja
distante da mesma. Ao dizer “Sou católica, mas não sou praticante”, a jovem mostra
que busca uma pertença religiosa, mas a princípio ela está inserida na religião que
os pais ofereceram, mesmo que de uma forma singular, pois não é praticante no
sistema, mas preserva uma relação subjetiva com ela. Como afirma Berger e
Luckmann, podemos observar na fala do entrevistado o desejo de estar ligado a
uma comunidade de vida, que é também de sentidos, pois o jovem quando criança
extrai os valores do reservatório histórico de sentidos, que foi armazenado no
período do processo de formação da identidade pessoal. Segundo Berger e
Luckmann, “as comunidades de vida são características por um agir que se repete
com regularidade e diferentemente recíproco em relações sociais duráveis”
97
. O
indivíduo integrante da comunidade de vida deposita confiança e credibilidade.
Contudo “há nas sociedades vários tipos de diferenças importantes quanto às
formas de comunidade de vida nelas institucionalizadas”
98
.
Antropólogos e sociólogos deram muitas definições à palavra religião, no
entanto epistemologicamente falando, religião significa: re-ligare; amarrar de novo,
re-eligere; voltar a escolher, re-legere; re-ler
99
. O jovem, V. M. S, fala que religião é
97
BERGER; LUCKMANN, 2004. p. 27.
98
BERGER; LUCKMANN, 2004. p. 27.
99
“Antepositivo, do lat. religìo,ónis (relligìo nos poetas dactílicos) 'religião, culto prestado aos deuses,
prática religiosa; escrúpulo religioso, receio religioso, sentimento religioso, superstição; santidade,
caráter sagrado; objeto de um culto, objeto sagrado; uma divindade, um oráculo; profanação,
sacrilégio, impiedade; lealdade, consciência, exato cumprimento do dever, pontualidade; cuidado
minucioso, escrúpulo excessivo'; us. em todas as épocas; "o prefixo é re-, red- (cf. relliquiae,
reliquiae)", dizem Ernout e Meillet, "mas o segundo elemento é obscuro. Os latinos ligam-no a
relegere (...), etimologia defendida por Cícero (...). Outros autores [Lactâncio e Sérvio] associam
religìo a religáre: seria propriamente 'o fato de se ligar com relação aos deuses', simbolizado pela
utilização das uittae ['fitas para enfeitar as vítimas ou ornar os altares'] e dos stémmata no culto.
Alega-se em favor desse sentido a imagem de Lucrécio, 1, 931: religionum nodis animum exsoluere;
(...). O sentido seria portanto: 'obrigação assumida para com a divindade; vínculo ou escrúpulo
religioso' (cf. mihi religio est 'tenho o escrúpulo de'); depois 'culto prestado aos deuses, religião'."; der.
latinos: religiósus,a,um 'religioso, piedoso; consagrado pela religião, santo, sagrado; supersticioso;
escrupuloso, consciencioso; proibido pela religião, ímpio, sacrílego', lat.imp. religiosìtas,átis
'religiosidade, piedade', lat.imp. irreligiósus,a,um 'ímpio, irreligioso', irreligiosìtas,átis 'impiedade'