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nacional brasileiro Affonso Celso também cita três elementos raciais: o selvagem, o
negro e o português. Das qualidades elencadas pelo autor em relação ao negro,
destacam-se a afetividade, resignação estoica, coragem, laboriosidade e sentimento
de independência. Ao falar sobre os negros, Affonso Celso mostra suas qualidades,
já que acreditava no resultado positivo da mistura étnica para o progresso da nação.
No entanto, suas posições acerca da falta de preconceito racial no Brasil, por
exemplo, fizeram com que a expressão “ufanismo” se tornasse uma forma de
ridicularizar um nacionalismo exagerado e incoerente:
Devemos-lhes imensa gratidão. Foram os mais úteis e desinteressados
colonizadores da nossa terra que fecundaram com o seu trabalho.
Animavam-nos com instintos de independência, como prova a formação dos
quilombos de Palmares. Sacrificaram-se, entretanto, aos seus senhores,
nem sempre benévolos, mas, em todo caso, menos bárbaros que nos
Estados Unidos. As negras eram geralmente as amas de leite dos filhos dos
brancos, e, obrigadas a abandonar a própria prole pela alheia, tratavam esta
com devotamento e carinho extraordinários. Nas nossas guerras, os negros
bateram-se como herois. Contribuíram tantos serviços para que no Brasil
jamais houvesse preconceito de cor (CELSO, s/d, p.71-72).
Novamente veremos descrições semelhantes às de Affonso Celso em
relação ao negro em Nossa Pátria. O autor Rocha Pombo, ao falar sobre a situação
dos negros após a abolição, estabelece uma relação igualitária enumerando as
qualidades dos negros e sua importância histórica para o progresso do país:
O africano é preto por causa do clima da África, que é muito quente; mas é
uma raça muito boa, principalmente de muito bom coração. Quase todos ,
em vez de odiar, ficaram logo querendo bem aos senhores. Sobretudo as
mulheres foram as grandes amigas das crianças. Trabalhadores,
obedientes e muito espertos, os africanos fizeram muito pelo progresso do
país. Sofreram bastante saindo do meio dos seus; e às vezes o sacrifício
para eles era tão grande que chegavam a morrer de saudade.
Afinal a raça foi recompensada, pois os descendentes daqueles pobres
escravos hoje são iguais aos antigos senhores, e sem dúvida muito mais
felizes do que os parentes que ficaram lá na África. Em todos os países da
América, e até na Europa, se fez isto. Mas, felizmente, a escravidão passou,
e para sempre. Hoje somos todos como irmãos (POMBO, 1925, p. 32-33).
A falsa noção de igualdade ou mesmo a pieguice dos livros de leitura são
algumas maneiras de justificar, legitimar ou mesmo resolver um possível sentimento
social de culpa, transferindo ao outro a responsabilidade por sua situação. Ou seja,
se na época buscava-se a construção de uma nação de acordo com os moldes
europeus, em que todos os cidadãos são livres e têm iguais oportunidades,
transmite-se aos leitores uma espécie de lógica da inclusão possível e generalizada,