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mesmo” (GAUTHIER, 1998, p. 20). Desta forma, avançar na pesquisa de um
repertório de conhecimentos sobre o ensino possibilita-nos enfrentar dois obstáculos
que historicamente se interpuseram à pedagogia: de um ofício sem saberes e de
saberes sem ofício.
O primeiro obstáculo colocado pelo autor é a questão do oficio sem
saberes, onde a própria atividade docente seria exercida sem revelar ou sistematizar
os saberes que lhes competem. Ressalta que, apesar da longa tradição do ensino
na sociedade, esta ainda não expressa suas idéias e conceitos sendo um “enorme
erro de manter o ensino numa cegueira conceitual” (GAUTHIER, 1998, p. 20).
A outra questão do mesmo problema seria o fato, segundo o autor,
de existirem linhas que defendem que ensinar consiste apenas em transmitir
conhecimentos, bastando, portanto, conhecer o conteúdo, objeto de ensino, ou que
é uma questão de talento, bom senso, intuição ou, ainda, que basta ter experiência e
cultura. Esta idéia reforça que os saberes referentes ao conteúdo, à experiência e à
cultura seriam o bastante para o exercício da atividade docente. O autor não nega a
importância destes saberes e experiências na atividade docente, mas “tomá-los
como exclusivos é mais uma vez contribuir para manter o ensino na ignorância”
(GAUTHIER, 1998, p. 25) e reforçar a perpetuação de um ofício sem saberes.
O segundo obstáculo diz respeito aos saberes sem ofício, que têm
sua origem nas Ciências da Educação, ou seja, são os conhecimentos produzidos
na academia. Muitos desses conhecimentos, segundo Gauthier (1998), foram
produzidos sem considerar as condições concretas do exercício do magistério.
Segundo o autor estes saberes foram produzidos em ambientes
distintos ao da realidade dos docentes, que não se dirigiram ao professor real, cuja
atuação se dá numa sala de aula concreta, com dificuldades diversas, com grande
número de variáveis que interferem nas atividades e tomadas de decisão, ou seja,
“[...] buscou-se formalizar o ensino reduzindo de tal modo a sua complexidade que
ele não mais encontra correspondente na realidade.” (GAUTHIER, 1998, p. 25)
Estes obstáculos levaram, por parte dos professores, a certa
descrença nas pesquisas realizadas no âmbito acadêmico que ao se depararem
com pesquisas que não condiziam com suas realidades os professores, descrentes,
recorriam aos saberes experienciais de sua trajetória, no bom senso, enfim aos
elementos concretos ao seu redor.