12
roupas confundiam-se com as das coisas à volta delas e nem mesmo o fundo,
o cenário ou ambiente, deixava de fazer parte desse patchwork (Figura 1.).
Muito tempo se passou, até que nos encontrássemos com
possibilidades de reconstruir essa relação.
Eu tinha então deixado a primeira graduação – Arquitetura, inconclusa
– a fim de realizar uma paixão que, não tendo se esgotado, revelou-se amor. E,
na graduação em Moda, conheci Klimt em um campo em que não o tinha ainda
percebido, mas intuía, na relação entre o grupo do qual fazia parte e a Reforma
do Vestuário, em que se buscava tornar livre um corpo contido numa carapaça
que em nada se assemelhava ao mundo em que este corpo desejava existir.
E então, novamente, Viena me veio, por meio de um outro austríaco
que me tinha fascinado no curso de Arquitetura. Um artista-arquiteto-
ambientalista-designer chamado Hundertwasser
1
que, com sua teoria das cinco
peles e de como cada pele tem papel fundamental na relação com as outras,
me fez pensar nas interações entre fazer e refletir para quem fazemos, sendo
1
Nascido Friederich Stowasser em 1928 em Viena, Firendensreich (reino da paz)
Hundertwasser (cem águas) Regentag (dia de chuva) Dunkelbunt (cores vivas), é o autor da Teoria das
Cinco Peles do Homem, sendo a primeira a epiderme, a segunda a roupa , a terceira, a casa, a quarta diz
respeito ao meio social e à identidade e a quinta pele, o próprio planeta Terra.
“... Hundertwasser sela a marca da sua visão de mundo, da sua relação com a
realidade exterior. Essa relação opera-se por osmose, a partir de níveis de consciência
sucessivos, e concêntricos em relação ao seu eu profundo. O símbolo pictórico ilustra a
metáfora biológica. Para Hundertwasser, o homem tem três peles: a sua epiderme
natural, o seu vestuário e a sua casa. (...) Mais tarde, após 1972, quando a grande
viragem ideológica já tinha passado, a espiral das maiores preocupações de
Hundertwasser vai desenvolver-se. A sua consciência de ser humano vai enriquecer-se
com novas questões que vão despertar novas respostas e suscitar novos compromissos.
Assim aparecerão as novas peles que virão juntar-se ao invólucro concêntrico das três
primeiras. A quarta pele do homem é o meio social (da família e nação, passando pelas
afinidades electivas da amizade). A quinta pele é a pele planetária ligada directamente
ao destino da biosfera, à qualidade do ar que se respira, e ao estado da crosta terrestre
que nos protege e alimenta.” (RESTANY, 2008, p. 226 : 227)
(Nota da autora)