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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI
Rafael Ribeiro
DESIGN, EMOÇÃO E OBJETOLOGIA: ESTUDO CONTEMPORÂNEO SOBRE AS
RELAÇÕES DE AFETO ENTRE O HOMEM E OS OBJETOS – PRODUTOS
Orientadora: Profª Drª Kathia Castilho
SÃO PAULO
JANEIRO DE 2009
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RAFAEL RIBEIRO
DESIGN, EMOÇÃO E OBJETOLOGIA: ESTUDO CONTEMPORÂNEO SOBRE AS
RELAÇÕES DE AFETO ENTRE O HOMEM E OS OBJETOS – PRODUTOS
Dissertação apresentada à Universidade Anhembi
Morumbi, como requisito parcial para a obtenção
do grau de Mestre em Design do Programa de Pós
Graduação do Departamento de Design, Arte e
Moda.
Orientadora: Profª Drª Kathia Castilho
SÃO PAULO
JANEIRO DE 2009
DESIGN, EMOÇÃO E OBJETOLOGIA: estudos contemporâneos sobre as
relações de afeto entre o Homem e os objetos – produtos
1
Rafael Ribeiro
Dissertação apresentada à Universidade Anhembi Morumbi,
como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em
Design do Programa de Pós Graduação do Departamento de
Design, Arte e Moda.
Orientadora: Profª Drª Kathia Castilho
Dissertação defendida em 10/02/2009 , perante a Banca Examinadora constituída
pelos seguintes professores:
__________________________________
Profª. Drª Kathia Castilho
Orientadora / Universidade Anhembi Morumbi – SP
__________________________________
Profª Drª Gisela Belluzzo de Campos
Universidade Anhembi Morumbi – SP
_________________________________
Profª Drª Cíntia SanMartin Fernandes
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - SP
1 Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem autori-
zação da Universidade, do autor e do orientador.
Rafael Ribeiro
Graduou-se em Comunicação Social com ênfase em Publicidade e
Propaganda pela Escola Superior de Administração Marketing e Comunicação
(ESAMC) de Uberlândia-MG em 2005. Pós-graduou-se em Gestão de Marketing
na mesma instituição no ano de 2006. Atua como professor do curso de Design de
interiores do SENAC em São Paulo. É sócio e proprietário do ateliê “Rafael Ribeiro
Ateliê - LTDA” em São Paulo, onde atua como Designer de produto e interiores.
Participou de Congressos e Seminários na área de Design.
Ficha Catalográfica.
Ribeiro, Rafael
Design, emoção e Objetologia: Estudos contemporâneos
sobre as relações de afeto entre o Homem e os objetos-
produtos / Rafael Ribeiro; orientadora: Kathia Castilho
2009.
Dissertação (Mestrado em Design, arte e moda)
Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, 2008.
Inclui bibliografia
1- Design. 2. Emoção. 3. Objetologia. 4. Evolução.
5. Experimentação. 6. Consumo. 7. Simbologia. 8.
Contemporaneidade.
Ao meu pai Silvino
Minha mãe Ana
Meu irmão Diogo
AGRADECIMENTO
Agradeço a todas as pessoas que, de alguma forma, contribuiram para que meu
trabalho pudesse seguir em frente. Contribuições simples, como um sorriso ou palavras
otimistas que me deram força no momento exato. Não ousarei escrever o nome de todos,
pois jamais me perdoaria se me esquecesse de alguém que teve um papel fundamental neste
trabalho; dessa forma, coloco como exemplos em cada página deste trabalho um depoimento
particular de todos os que foram importantes neste processo.
Mas algumas pessoas é impossível não citar, dentre elas destaco: meu herói,
Silvino, que com humildade, ensinou-me como conseguir tudo o que busco; minha pequena
mãe, que, a cada dia me ensina que a vida não foi um presente pelo qual se possa apenas
passar, mas que deve ser vivida com dignidade e muita felicidade; meu companheiro e
cúmplice irmão, Diogo, que sempre instigou minha curiosidade para que eu pudesse refletir
sobre minhas escolhas.
Agradeço de forma especial a minha orientadora, que em alguns momentos
confundia seu verdadeiro papel neste trabalho, acumulando os papéis de mãe, amiga,
professora, companheira, mas, sem sombra de dúvida, mostrou-me que, por mais árduo que
possa ser o caminho da pesquisa, ele sempre valerá a pena. À preciosissima Rosane, que
sempre esteve pronta a nos auxiliar com seu conhecimento e suas conversas de riquíssimo
valor pessoal e intelectual, à professora Ana Paula de Miranda e ao professor Wilson Alixandrino
que tão prontamente prestaram sua contribuição durante o processo de qualificação.
A minhas amigas Mariana Roncoletta, Regina Golden, Regina Maria, Tatiana Azzi,
Mirian Levinbook e Eloize Navalon, pela força e pela companhia nas aulas do Mestrado,
sempre me questionando e me fazendo refletir sobre meu tema de pesquisa.
Enfim, agradeço a Deus por ser uma pessoa de muita sorte e poder conviver com
todos vocês.
Obrigado.
RESUMO
Este trabalho apresenta um estudo sobre a relação de afeto existente entre o Homem
e os objetos, tendo como base o estudo da Objetologia, que traz uma aproximação
entre as teorias evolucionistas das espécies, desde Lamarck até a Biologia moderna,
com a tese co-evolucionista, para compreender a evolução dos objetos. Além isso,
procura perceber a presença de aspectos e características emocionais / afetivas como
construto simbólico dos objetos, identificando no Homem contemporâneo não apenas
sua característica de usuário, mas, sim de consumidor, que transforma os objetos,
utensílios ou artefatos em produtos passíveis de serem consumidos com rapidez.
Palavras Chave:
Design, Emoção, Objetologia, Simbologia, Consumo.
ABSTRACT
This search presents a study on the relationship between human being and objects,
based on Objectology, which carries on an approximation between species evolution
theories, from Lamarck to modern Biology with the co-evolution thesis, in order to
understand objects evolution. Further, it aims to perceive the presence of aspects
and emotional and affective characteristics as a symbolic construct in objects, in
order to identify in contemporary man not only his user characteristic, but also the
consumer one, which transforms objects from utensils or artifacts in products that
have be quickly consumed.
Key words: Design — Emotion — Objectology — Simbology — Consumption.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 12
Problema de pesquisa ............................................................................................... 19
Objetivos.................................................................................................................... 19
Metodologia ............................................................................................................... 20
CAPÍTULO I O HOMEM E O OBJETO DIÁLOGOS CONTEMPORÂNEOS COM A
OBJETOLOGIA. .............................................................................................. 21
1.1 Objetologia Uma aproximação conceitual entre as teorias evolucionistas das
espécies e os objetos. ................................................................................. 22
1.2– Revolução Industrial modificações culturais e sociais na relação Homem
objeto. .......................................................................................................... 26
1.3 O Homem/hiperconsumidor e o objeto/produto a chegada ao
contemporâneo. ........................................................................................... 33
1.4 Consumo – Julgamentos distintos. .................................................................. 40
CAPÍTULO 2 DESIGN E EMOÇÃO INTER-RELAÇÕES NA CONSTRUÇÃO
SIMBÓLICA DOS OBJETOS. ......................................................................... 43
2.1 – Emoção e sentimento: Sensibilidade neurocientífica. .................................. 44
2.2 – Simbologia objetual - A máquina de costura, um exemplo de apelo emocional
durante a Revolução Industrial. ................................................................... 48
CAPÍTULO III DESIGN E EMOÇÃO OBJETOS FORMADORES DE RELAÇÕES
SOCIAS. .......................................................................................................... 53
3.1 – Objetos com “alma”- elementos formadores das relações sociais. .............. 54
3.2- Design e emoção - experimentações particulares de afetivação com os
objetos. ........................................................................................................ 59
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 64
BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................... 69
ANEXOS DE IMAGENS ............................................................................................ 73
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A chegada do homem ao contemporâneo século XXI trouxe inúmeras
mudanças e implicações na sua forma de ver e entender o mundo no qual vive e
produz. Nos interessará aqui verificar como se desenvolve e orienta o consumo de
produtos ditos “simbólicos”, analisar os objetos que compõem seu entorno e que
consequentemente também sofrem alterações, adaptando-se às necessidades e
desejos do ser humano, cada um a seu tempo.
Percebendo estas mudanças nos hábitos do consumo, observamos que
o processo projetual do designer direciona os objetos a caminhos em que aspectos
emocionais são privilegiados como construtos, sua comunicação também privilegia
o discurso emocional e, nesse sentido deslocamos o olhar para a investigação das
relações de afeto entre o homem e os objetos.
Com base nessa emoção, além de o discurso comunicativo proporcionar
aos objetos uma autonomia quando projetados com intenção de seduzir ou atender
aos desejos de afeto de um usuário, o objeto, por si, é capaz de provocar reações
fisiológicas nos indivíduos, percebidas nos objetos, por meio de suas funções estética,
prática e simbólica. Essa última é a de maior importância no processo emocional entre
objeto e indivíduo.
A percepção dessas emoções por meio das funções estética, simbólica e
prática, está diretamente associada aos aspectos sociais e culturais de um indivíduo,
pois são eles que determinarão a intensidade do interesse pelo objeto e diversificarão
as formas de compreensão, de interação e de utilização do mesmo.
Para que esta pesquisa se edificasse um certo percurso foi se constituindo
paulatinamente à medida que a leitura e as relações faziam sentido e apontavam
algumas possíveis direções.
Inicialmente, observamos
a relação entre os indivíduos e alguns
tipos de móveis e objetos utilizados
em residências como cadeiras,
sofás, objetos de decoração que
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fazem parte do contexto histórico familiar
ou mesmo aqueles artefatos que nos foram
dados como presente por alguém especial
e que justamente por isso, criamos com
eles vínculos emocionais e estabelecemos
determinadas relações de afeto, inserindo-os
numa relação social. Percebemos neste momento que esses objetos possuíam um
valor simbólico mais explícito que os estéticos ou mesmo práticos e que possuíam
como finalidade a materialização sentimental do usuário.
As primeiras relações e associações sobre tais questões surgiu a partir da
leitura do livro “Personalizando produtos e serviços – Customização maciça – A nova
fronteira da competição nos negócios”, de B. Joseph Pine II, que é administrador de
programas da IBM Corporation e ensina como implementar estratégias e métodos
para desenvolver, produzir e comercializar a entrega de mercadorias e serviços com
a customização de massa.
Essa leitura e questionamentos que ali tiveram origem deu início às
inquietações que impulsionaram o desenvolvimento deste trabalho: como uma
esteira de produção pode ser reconfigurada para privilegiar as particularidades, as
individualidades, os detalhes, os desejos e outras exigências do mercado de consumo
contemporâneo, se, por princípio, entendemos que deva seguir a padronização das
partes de um produto, para sua produção rápida e em grandes quantidades com o
objetivo de reduzir custos e aumentar a produção?
A partir desse questionamento, criou-se o primeiro projeto para o trabalho;
a idéia era estudar um processo de projetação de um produto que fosse, ao mesmo
tempo, industrialmente viável e customizado, seguindo as vontades do consumidor.
Após a leitura de outras bibliografias mais centradas no Design, acabamos
entendendo que um produto poderia ser feito em série e, dentro de um grupo de
opções fornecidas pelo fabricante, o usuário poderia personalizá-lo. Como exemplo,
temos celulares para os quais podemos comprar capas de cores diferentes, relógios
15
que trocam de pulseira, enfim, uma gama de produtos que atendem de certa forma às
exigências particulares do usuário.
A partir da observação desses objetos, focalizamos inicialmente o objeto
de estudo no mobiliário e começamos a perceber que o comportamento do usuário
com relação à utilização de um celular que mude de cor, por exemplo, era diferente
da utilização dos objetos que estavam contidos dentro de seu ambiente residencial,
de trabalho ou ainda de lazer. Diferentes objetos em diversas condições de uso,
necessidades de identificação, afetividade ou pertencimento. Mesmo que se entenda
que são objetos diferentes, o celular é um produto que está constantemente em
contato com o usuário; um objeto de casa, uma cadeira, por exemplo, não possui
tanto contato (fisico) com o usuário, mas seu valor sentimental é muito maior.
Talvez o indivíduo suporte a perda do seu celular, mas nunca se perdoaria
se deixasse a cadeira que foi de seu avô sofrer um arranhão sequer. A partir dessa
observação, resolvemos investigar as relações de afeto entre os usuários e os
objetos e foi nesse momento que nos deparamos com a possibilidade de leitura sobre
Design e emoção área que está sendo estudada e mapeada nas últimas décadas
apresentando bibliografia recente e ainda escassa.
A partir das leituras feitas, percebemos então que esta dissertação estava
ganhando novos rumos e evidenciando novos interesses e curiosidades assim,
a primeira alteração de projeto e pesquisa foi proposta. Como os objetos que nos
interessavam eram inicialmente os que estavam dentro do ambiente residêncial
dos indivíduos e que alí eram tratados como verdadeiras “peças de museu”, com toda
a pompa e magnitude, essas peças carregavam simbologias, possuíam um valor
ampliado, perceptivo principalmente para os
seus respectivos donos.
Então, a investigação passou,
naquele momento, a ser então, sobre “o
móvel como objeto de experimentação de
um espaço particular”, propondo que se os
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usuários possuíssem algumas relações pessoais associadas a determinados tipos
de objetos, que poderiam estar presente na consciência simbólica emocional de cada
individuo, e se sua experiência afetiva fosse a maior responsável por esse processo
de adesão ou consumo do referido objeto, associava-se a este valor e referência de
percepção e estímulo a algum tipo de vivência por meio daquele objeto.
Nesse sentido, buscamos encontrar alguns objetos cujo valor simbólico
fosse o maior responsável por seu desenvolvimento e sucesso de mercado e
verificamos que um determinado grupo de objetos poderia ser comercializados
se existissem a ele agregado um altíssimo valor simbólico. Era evidente esta
associação no mercado de luxo contemporâneo. Era possível verificar que os produtos
comercializados neste segmento poderiam ser consumidos se existisse de fato,
um valor imaterial e satisfação pessoal independente de seu valor monetário. Nesta
fase então, optamos em fazer mais uma modificação na proposta deste trabalho
intitulando-o provisoriamente como “Design emocional aplicado ao mercado de luxo”.
A pesquisa foi ganhando forma e, mesmo com um tema aparentemente
muito amplo e difícil de estabelecer um recorte preciso, alguns questionamentos
estavam em alinhamento. Começamos a perceber o que havia muito em comum
em todos os temas e indagações anteriores deste trabalho que de alguma forma
sempre estiveram presente como inquietações. Percebemos, então, que as
relões simbólicas eram criadas a partir das relações de afeto que os usuários
tinha com o objeto, e mais, que essas relações de afeto eram despertadas a partir
da experimentão ou interão desse objeto dentro de uma determinada relação
social no qual o indivíduo estivesse inserido.
Com isso, veio a grande mudança de foco de apropriação geral e
entendimento do objeto de estudo
deste trabalho que ocorreu quando nos
deparamos com a palavra “Objetologia”
e comprendemos seu sentido de uso.
Este trabalho, portanto se conclui, na sua
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17
versão final, com o título: Design, emoção
e Objetologia Estudos contemporâneos
sobre as relações de afeto entre os homens
e os objetos – produto”.
A Objetologia estuda a evolução
dos objetos em seu caráter físico, cultural e social. Assim, pudemos perceber que as
relações de afeto sempre existiram entre homens e objetos e que talvez, justamente
por isso, desenvolvemos uma quantidade gigantesca de novos produtos que são
atualizados e reinventados incessantemente. Esta produção ininterrupta se dá a
partir de sua interação (objeto) conosco onde elegemos algumas características que
prevalecem e ganham importância na ralação pessoa-objeto, ao passo que outras se
tornam escassas até desaparecerem por completo.
Contudo, o tema ainda estava amplo e necessitava de um recorte preciso,
passamos então a investigar os objetos a partir da Revolução Industrial. Esse recorte
temporal ocorreu principalmente em função de duas questões: primeiro, pela questão
do surgimento do Design como profissão e segundo, por compreendermos a existência
de um objeto que deveria então ser pensado, criada e projetada por um determinado
indiduo (o Designer), à partir de então, para ser consumido por outras pessoas.
Percebemos, desde então, que a evolução proposta pela Objetologia
acompanha a contemporaneidade do Homem, sendo ela a responsável pela inserção
de características simbólicas interpretáveis e assimiláveis a partir de sua interação
com o indivíduo.
No primeiro capítulo, apresentamos a definição do termo Objetologia e sua
aproximação com a teoria evolucionista das espécies. Em um segundo momento, no
mesmo capítulo, fizemos um apanhado, durante o período da Revolução Industrial,
sobre alguns produtos que desenvolviam características simbólicas e emocionais.
Finalmente, nesse primeiro capítulo, compreendemos o Homem contemporâneo sob
a perspectiva dessa relação de afeto com os objetos; ele, que não mais é visto apenas
como indivíduo e, sim, como consumidor e o objeto, passível de ser comercializado,
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agora é tratado como produto.
No segundo capítulo
deste trabalho, apresentamos o
conceito de emoção segundo a
Neurociência. Percorremos os
sentidos neurológicos apresentados
principalmente por A. Damásio visto
que para contrapor às questões de necessidades psicológicas e motivação de
mercado, gostaríamos de investigar bases fisiológicas que nos dessem embasamento
científico para, de alguma forma, apresentarmos os conceitos do design emocional de
maneira diferenciada ao que o marketing principalmente vem considerando como
tendência e estímulo do mercado consumido. A questão neurocientífica se mostra
muitas vezes contraditória aos pressuspostos de afetivação, principalmente simbólica,
aplicamos neste trabalho, como ponto essencial para o entendimento das emoções.
De qualquer modo, verificamos que os estudos desenvolvidos nessa área
de pesquisa (neurociência), apontam as emoções e sentimentos como ocorrência
e manifestação essencialmente fisiológica, o que nos faz perceber que o
tema (emoção) pode ser ampliado e aplicado múltiplas áreas de estudo incluindo
especialmente o Design devido ao seu caráter transdisciplinar.
A Neurociência então nos ampara no início destes estudos ampliando o
conceito de emoção e sentimento, conferindo autonomia de resposta aos estímulos
externos diretamente do próprio corpo humano. É o corpo que sente, manifesta suas
respostas aos esmulos e consequentemente toma as decisões pertinentes aos
desejos que são ou não despertados. Nesse sentido, descartamos as tentativas
de apropriação permanente da emoção desprovida de bases de argumentação por
outras áreas. O que defendemos é que as emoções são de origem e autonomia
neurocientífica uma vez ser impossível descartar as reações corpóreas quando
estamos emocionalmente envolvido. Estudar as emoções cabe também às demais
ciências incluindo o Design investigando seus pontos de diálogos em comum em
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suas linhas de raciocínio.
Finalmente, no terceiro capítulo, retomamos nossa análise do objeto
emocional, aquele projetado para despertar emoções e que funciona como formador
das nossas relações sociais, objetos estes que sejam emocionalmente atrativos, criem
diálogos e convívio com as pessoas, tornando-se objetos produtores de significados
particulares e interpretáveis de acordo com cada indivíduo.
Sendo assim, este trabalho tornou-se uma janela para a investigação
das funções dos objetos, com destaque para a função simbólica responsável pelo
despertar de emoções e sentimentos nos usuários, além de compreender esse
processo associado à evolução dos objetos e do Homem, levando-nos a questionar
sobre a forma como utilizamos os produtos e qual o seu verdadeiro significado para
nós, consumidores.
Problema de pesquisa
Acreditamos que não se trata de um problema de pesquisa, mas de um
prazer de pesquisa. As indagações apontadas por este trabalho nos fornecem grandes
oportunidades de conhecer e interpretar os objetos por nossa ótica particular.
Uma primeira questão que nos fez despertar para essa pesquisa foi o fato
de objetos cotidianos serem constantemente humanizados, característica essa do
antropomorfismo que desenvolvemos com os objetos. Atribuir características humanas
a objetos faz com que aumentemos nosso processo de afetivação.
Objetivos
Os objetivos desta pesquisa são estabelecer um parâmetro entre questões
emocionais e sua aplicação no processo projetual de um produto, garantindo a sua
evolução como utensílio e objeto simbólico para o homem.
De que forma a emoção entrou no processo evolutivo dos objetos tornando-
nl
os elementos de comunicação formadores das relações sociais do Homem? É certo
que não mais consumimos a maioria dos produtos que utilizamos em nossas casas,
nossos espaços particulares, por motivos práticos, consumimos ou compramos para
satisfazer nossas necessidades afetivas e simbólicas, ou, pelo menos no processo
decisório da compra, a emoção é que desempenha o papel mais importante.
Metodologia
Por meio de alguns questionamentos de ordem simples e informal,
pudemos perceber a relação de afeto que os indivíduos desenvolvem com seus
objetos pessoais.
Após isso, um levantamento bibliográfico de diversas áreas, desde
a Biologia até a arte, passando pela Neurociência, Sociologia, Antropologia e o
Marketing, encontraram diálogos parecidos para fomentar uma discussão que seja
pertinente ao Design.
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22
“A antropologia é o estudo da humanidade, a zoologia é o estudo do reino animal e a
Objetologia é o estudo das origens e do desenvolvimento físico, cultural, biológico e social dos objetos
construídos pelo Homem” (Brent White)
2
1.1 – Objetologia – Uma aproximação conceitual entre as teorias evolucionistas
das espécies e os objetos.
A evolução
3
das espécies é estudada sistematicamente há, pelo menos,
dois séculos. Por volta de 1809 o naturalista francês Jean-Baptiste Pierre Antoine de
Monet Chevalier de Lamarck
4
propôs, pela primeira vez, uma teoria organizada sobre
a evolução dos seres vivos. Para Lamarck, os seres vivos evoluíram de forma lenta
e segura, para se adaptarem melhor ao meio e, assim, modificar-se-iam de geração
para geração, gradual e quase imperceptivelmente, já que a adequação manifesta-se
e efetiva-se de acordo com as necessidades de ação e de adaptação impostas pelo
meio circundante. Tal teoria hoje se encontra desacreditada, mas sua postulação
serviu como base para outros estudiosos interessados no processo de evolução como
Charles Darwin
5
.
Charles Robert Darwin (1809-1882), inglês, publica, em 1859, o livro “A
Evolução das Espécies”, no qual apresenta sua teoria sobre a seleção natural dos seres
vivos, dizendo que o meio ambiente seleciona os seres mais aptos, que conseguem
2
1
(fonte: www.impeti.com Acesso em 31 de outubro de 2008, às 15:50h)
3 A palavra evolução não está sujeita a julgamentos do tipo “bom ou mal”, “melhor ou pior”; en-
tendemos por evolução a transferência de características hereditárias de uma população para outra, a
fim de melhor se adaptar ãs condições do ambiente.
4 Naturalista francês do século XVIII, nascido em Bazentin, no dia 01 de agosto de 1744 e fale-
cido em Paris, no dia 28 de dezembro de 1829. Desenvolveu a teoria dos caracteres adquiridos a partir
do uso e do desuso que, conjugada com a transmissão dos caracteres adquiridos, provoca desvios na
linha evolutiva. Segundo a lei do uso e desuso, os indivíduos perdem as características de que não
precisam e desenvolvem as que utilizam. O uso contínuo de um orgão ou parte do corpo faz com que
este se desenvolva e seja apto para o correto funcionamento; e o desuso de um orgão ou parte do
corpo faz com que ele se atrofie e com o tempo perca totalmente sua função no corpo do indivíduo.
Essas mudanças são repassadas aos descendentes por intermédio da transmissão das características
adquiridas. Embora sua teoria não tenha sido aceita pelos homens de sua época, a teoria do uso e
desuso faz uma aproximação muiito importante para pensarmos a evolução nos objetos.
5 Naturalista britânico que convenceu a comunidade científica da ocorrência da evolução e pro-
pôs uma teoria para explicar como ela se dá por meio da seleção natural e sexual.
23
reproduzir-se e sobreviver, eliminando os
menos aptos às condições ambientais de
cada época ou geração. Assim, somente
as diferenças que facilitam a sobrevivência
serão transmitidas à geração sucessiva e,
ao longo delas, essas características firmam-se e geram uma nova espécie ou, ainda,
uma espécie que se atualiza e especifica frente ao contexto, às condições de vida e
sobrevivência no qual se insere.
No século XX, a teoria darwinista foi adaptada a partir da descoberta
da genética, sendo denominada de sintética ou neodarwinista, tornando-se a base
Biologia moderna. A explicação, hoje amplamente aceita sobre a hereditariedade das
características e especificidades dos indivíduos, deve-se a Gregor Mendel
6
(1822-
1884), elaborada em 1865, mas cuja divulgação ocorreu no século XX. Darwin
desconhecia as pesquisas de Mendel. A síntese das duas teorias foi feita somente
nos anos 1930 e 1940. A teoria neodarwinista diz que mutações e recombinações
genéticas causam variações entre indivíduos sobre as quais age a seleção natural.
Esse processo faz com que as populações de organismos mudem ao longo do
tempo. Características hereditárias são a expressão genética de genes que são
transmitidos aos descendentes durante a reprodução. Mutações em genes podem
produzir características novas ou alterar características que existiam, resultando
no aparecimento de difereas hereditárias entre organismos. Essas novas
características também podem surgir da transferência de genes entre populações,
como resultado de migração, ou entre espécies. A evolução ocorre quando essas
diferenças hereditárias tornam-se mais comuns ou raras numa população.
Com o aprimoramento dos estudos sobre a evolução das espécies, a
Biologia moderna apresenta, hoje, uma teoria denominada de co-evolução
7
, pela qual
6 Foi um monge agostiniano, botânico e meteorologista austríaco, que se dedicou ao estudo do
cruzamento de muitas espécies, Gregor Mendel, “o Pai da Genética”, como é conhecido, propôs que a
existência de características (tais como a cor) das flores é devida à existência de um par de unidades
elementares de hereditariedade, agora conhecidas como genes.
7 A co-evolução pode ser definida como a evolução simultânea de duas ou mais espécies
que têm um relacionamento ecológico próximo. Por meio de pressões seletivas, a evolução de uma
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24
a evolução de indivíduos de espécies
diferentes é garantida, desde que
haja a interação espontânea ou
forçada entre ambos que garanta a
sobrevivência recíproca. É, portanto,
por meio da pressão seletiva que uma
espécie se torna parcialmente dependente da evolução da outra.
Com base no desenvolvimento das idéias contidas nas teorias
evolucionistas, chegamos a idéias co-evolucionistas, podemos aproximar-nos dos
pressupostos que têm sido formulados para a compreensão e entendimento dos
estudos realizados na área que hoje se denomina Objetologogia. Trata-se de uma
área que inaugura sua fase de estudos e ainda possui poucos registros científicos ou
mesmo pesquisas teórico-empíricas sobre o assunto. Recentemente, no dia 25 de
outubro de 2008, Brent White
8
, em uma palestra no Institudo Europeo de Design em
São Paulo, sugeriu a definição para o significado do termo Objetologia e analisou sua
implicação, no que se refere aos estudos específicos sobre os objetos.
A Objetologia, estudo orientado para a compreensão da evolução dos
objetos, propõe uma aproximação à teoria evolucionista dos seres vivos. Tal
pensamento inclui o desenvolvimento e a evolução dos objetos no seu aspecto
físicos, biológico, cultural e social como aponta a citação de Brent White no início do
capítulo.
espécie torna-se parcialmente dependente da evolução da outra; a característica mais importante da
co-evolução, que interessa para este trabalho, está na interatividade, ou seja as duas espécies evo-
luem juntas a partir da interação de uma com a outra e neste sentido a evolução de ambas sempre
dependerá uma da outra nao podendo retrosceder.
8 Brent White é um “objetologista” sistematicamente observando o caminho evolutivo dos nos-
sos objetos e experimentando os limites do desenho por meio de móveis e artefatos domésticos. Suas
criações são programadas para perseguir a sua própria feliz existência e, ao mesmo tempo, perseguir
a troca simbólica de servidão e de energia com os seus homólogos humanos (também conhecida por
seus “donos”). Ele honra a vida secreta de objetos e explora essas peculiaridades como robôs muta-
ção, voluntário de vigilância e inanimada espiritualidade. Brent White tem um MFA em Design 3D na
Cranbrook Academy of Art and Design, e um BFA em Design na Universidade do Texas. As experiên-
cias profissionais de Brent incluem experiências com o público em larga escala para uma variedade
de museus e corporações expressando temas como espiritualidade, genética, ecologia e exploração.
Seus objetos foram mostrados localmente e internacionalmente, e ele foi selecionado como um dos
quinze mais procurados Designers da Wallpaper (revista 2004). Ele atualmente vive e trabalha em San
Francisco, praticando Necromancia em seu estúdio e lecionando Design de Interiores na Academia de
Arte da Universidade.
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25
De fato, o Homem se
relaciona com os objetos que projeta
e fabrica manipulando-os, adequando-
os ou manuseando-os. Quando essa
relação de interatividade é ativada
ou encontra-se nesse processo
de interação as características
dos artefatos, atualizam-se ou
reconfiguram-se. Aqueles que não estiverem de acordo com o desejo estético do
usuário, ou necessidade funcional e que, portanto, não estejam adequados a esse
processo interativo (Homem-objeto) são aprimorados, repensados, na maioria das
vezes, em suas especificidades ou, ainda, descartados. Assim, o objeto torna-se apto
a atender as vontades, potencias e as novas utilizações propostas ou necessárias ao
indivíduo. Essas manipulações e o acelerado processo de investimento no projeto,
Design e re-Design do objeto está diretamente ligada ao estado contemporâneo
cultural e social de ambos (Homem-objeto) e é nesse sentido que a Objetologia
propõe a evolução dos objetos, possibilitando ao Design adaptar os artefatos à sua
necessidades ou desejos contemporâneos.
Para Henry Petroski
9
os objetos evoluem de acordo com o momento
contemporâneo do Homem, modificam-se de acordo com seus “fracassos”
momentâneos:
[...] a forma dos artefatos está sempre sujeita a mudanças em resposta às
suas deficiências reais ou imaginadas, à incapacidade de funcionar de modo
adequado. Esse princípio impulsiona invenções, inovações e engenho. É
isso que move todos os inventores, inovadores e engenheiros, e segue um
corolário: uma vez que nada é perfeito e que, na verdade, nossas idéias sobre
perfeição também são estáticas, tudo está sujeiro a mudanças ao longo do
9 Henry Petroski é professor de Engenharia Civil na Duke University e autor de diversos livros de
sucesso como: The Pencil, To Engineer Is Human. Pushing the Limits e Sucesso através do fracasso.
Escreve uma coluna mensal na American Scientist e é consultor eventual de programas da BBC. Estu-
dioso da evolução dos objetos.
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26
tempo (PETROSKY, 2007, p. 33).
Seguindo esse raciocínio, conseguimos entender que a evolução dos
objetos está associada às suas possíveis “falhas”, que garantem sua reestruturação,
para adequar-se ao momento presente no qual o Homem se encontra e, por isso,
Petrosky ainda pontua que:
A forma, a natureza e o uso de todos os artefatos são influenciados pela
política, pelos costumes e preferências pessoais [...]. E a evolução dos
utensílios também interfere de maneira decisiva nos costumes e na interação
social (PETROSKY, 2007, p. 30 e 31).
Pensar no objeto como um artefato que co-evolui com o indivíduo de acordo
com o seu tempo nos faz entender diversos utensílios que conhecemos hoje, mas que
sofreram alterações ao longo do tempo. Nesse sentido, é importante compreender
o surgimento do Design como profissão, pois o processo projetual eliminará
características ditas “negativas” e acrescentará soluções para as novas “espécies de
objetos” que surgem a partir de então.
1.2– Revolução Industrial – modificações culturais e sociais na relação Homem
objeto.
Em meio a descobertas e publicações sobre a evolução dos seres vivos,
a Europa do século XVIII mergulhou em mudanças de ordem não só científicas, mas
também econômica, tecnológica, social e cultural. Em meados do mesmo século,
surge na Inglaterra um movimento que mudaria por completo a história do Homem, o
seu modo de produção, trabalho e subsistência, este movimento foi denominado de
Revolução Industrial.
Antes da Revolução Industrial, a atividade produtiva manufatureira
10
utilizava
esporadicamente algum maquinário simples ou desenvolvia seus produtos por meio
10 Produção artesanal ou feita a mão
27
da organização entre grupos de artesãos que
dividiam a realização do trabalho em etapas
dependendo da escala a ser produzida. Na
maioria das vezes, era apenas um indivíduo
(artesão) que cuidava de todo o processo
produtivo, desde a obtenção da matéria-prima
até a comercialização final do produto. Esses
trabalhos eram realizados em oficinas que se
localizavam no interior das casas dos próprios
artesãos, pois, como se sabe, não havia distinção de espaços e diferenciação de
endereços para a residência e trabalho. É importante ressaltar que os profissionais
da época dominavam muitas (se não todas) as etapas do processo de fabricação de
objetos.
De acordo com Cardoso (2004), a Revolução Industrial foi um conjunto
de mudanças referentes ao modo de produção fabril que contempla a execução e o
aprimoramento produtivo em série, garantindo a redução de custos com esse processo.
Bem mais que isso, a Revolução Industrial não só causou efervescência e alterações
no sistema econômico da época, uma vez que a produção agora é desenvolvida de
forma mais ágil e rápida pelas máquinas, garantindo, assim, um acúmulo de produtos.
Tais influências são de fato promovidas pela Revolução Industrial e inserem-se no
cotidiano do indivíduo da época. Pode ser observada como processo de concepção e
ou execução na construção de um produto.
Esse processo produtivo durante a Revolução Industrial sofreu uma divisão
que auxiliaria ainda mais a redução dos custos com mão-de-obra técnica, garantindo,
consequentemente, também a redução do custo de produção como aponta Cardoso
(2004), ao explicar a teoria do economista escocês Adam Smith, criada em 1776:
Separando os processos de concepção e execução, e desdobrando essa
última em uma multidão de pequenas etapas de alcance extremamente
restrito, eliminava-se a necessidade de empregar trabalhadores com um alto
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28
grau de capacitação técnica. Em vez de contratar muitos artesãos habilitados,
bastava um bom Designer para gerar o projeto, um bom gerente para
supervisionar a produção e um grande número de operários sem qualificação
nenhuma para executar as etapas, de preferência como meros operadores
de máquinas. “(CARDOSO, 2004, pp.25/26)
Nesse sentido, o processo de produção, que antes era feito por um único
artesão, agora é pensado de forma detalhada por outro sujeito que conheça e que
domine as técnicas projetuais, facilitando, assim, a produção em larga escala pelas
máquinas. Tal habilidade e competência no conhecimento do processo de produção
é característica, segundo Burdek (2006) da atividade do Designer conforme
conhecemos hoje.
Notamos que, com a divisão do processo produtivo de um produto fabricado
por quinas, o artesão o consegue acompanhar a velocidade produtiva e
encontra-se forçado a assumir o papel de operário dentro das indústrias, manuseando
máquinas que produzem quantidade em dobro e na metade do tempo. Submete-se a
uma baixa valorização de sua o-de-obra e assume uma ocupação de assalariado
pelo qual recebe quantias muito inferiores às recebidas como artesão.
Como operário, o Homem não consegue comprar suas próprias máquinas
devido à exploração do trabalho e o baixo preço dos salários, colocando-o então em
situação de depenncia do novo sistema produtivo dominante. A indústria conta
ainda com o consumo dos indivíduos que deverão absorver os excessos produtivos
a fim de gerar lucro e manter a engrenagem do sistema em funcionamento e
ascensão.
Essas modificações
repercutiram tamm no contexto
social e cultural do Homem desta
época. Segundo Adrian Forty, essa
alteração ocorreu nos espaços
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29
de trabalho e no lar dos indiduos. Antes da Revolução Industrial, os artesãos
trabalhavam e moravam em um mesmo local e, a partir da introdução da indústria,
houve uma divisão desse espaço.
Forty diz, ainda, que o espaço que hoje entendemos como lar é uma criação
da Revolução Industrial. Para ele:
É óbvio que as fábricas são resultado da Revolução Industrial, mas raramente
pensamos que os lares, tal como os conhecemos hoje, são uma criação
da mesma revolução. Antes, a maior parte da produção e do comércio era
realizadas nas residências dos artesãos, comerciantes ou profissionais
envolvidos, e compreendia-se a casa como um lugar que incorporava o
trabalho às atividades habituais de morar, comer, dormir e assim por diante.
Porém quando o trabalho produtivo foi removido para as fábricas, escritórios
ou lojas, o lar tornou-se um lugar exclusivamente para comer, dormir, criar
filhos e desfrutar o ócio. A casa adquiriu um caráter novo e diferenciado,
que foi vivamente representado em sua decoração com o Design de objetos
(FORTY, 2007, p. 137-138).
Dessa forma, os móveis e objetos que compunham esse espaço
denominado de lar, foram projetados e criados para atender as necessidades que
fossem diferentes daquelas exigidas no local de trabalho e, por isso, as mudanças
empreendidas na economia, na cultura e na sociedade durante a Revolução Industrial
influenciaram o Homem, seu entorno e refletiram-se também nos objetos com os
quais esse se relaciona.
A análise dos objetos seguindo sua
evolução é o tema principal deste trabalho.
De forma notória, percebemos que os objetos
que substituem o corpo humano nas suas
atividades diárias nos fornecem um campo
amplo de observação devido ao seu alto grau
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el
de interatividade com o Homem e, por isso, são os nossos objetos de estudo.
Henry Petroski estuda e analisa a evolução de artefatos ao longo da História
humana; entre tantos exemplos curiosamente pesquisados por ele os talheres
(anexo I) são os que mais se assemelham às nossas mãos e dedos e que nos são
corriqueiros, tão comuns e usuais no dia-a-dia que raramente nos daríamos conta da
história de sua evolução e desenvolvimento no Ocidente.
Os utensílios que usamos diariamente para comer nos são tão familiares
quanto nossas mãos. Podemos manipular facas, garfos e colheres de maneira
automáticas, assim como fazemos com nossos próprio dedos. Muitas vezes
nos tornamos conscientes dos talheres quando os cotovelos dos destros e
canhotos esbarram em um jantar (PETROSKI, 2007, p. 11).
Os talheres à mesa de fato são um bom exemplo para elucidar a evolução
dos objetos. Nossos ancestrais primitivos se alimentavam utilizando os dedos, unhas
e dentes, que apresentavam algumas restrições, não permitindo, em alguns casos, a
redução do alimento a tamanhos suficientemente pequenos para serem mastigados.
Para essa finalidade, então, utilizavam pedras para cortar, rasgar, amassar, enfim
reduzir os alimentos a tamanhos menores.
Para Petrosky, as facas se originam a partir de peças talhadas em sílex ou
obsidiana, que eram uma espécie de rocha muito dura e cujas pontas fragmentadas
eram altamente cortantes. Logo em seguida foi descoberta do fogo e por mais que
os alimentos pudessem ser cortados e reduzidos em pedaços menores não poderiam
ser segurados pelas mãos no momento do cozimento. Assim, começaram a utilizar
gravetos e varetas para segurar o alimento em contato com o fogo tempo suficiente
para aquecê-lo e cozinhá-lo
11
. A partir desses dois instrumentos (a faca de sílex e
as varetas), é que podemos entender a ancestralidade dos objetos que utilizamos a
11 Neste sentido é importante ressaltar o avanço cultural na história do Homem analisado e am-
plamente estudado pelo antropólogo Claude Levi-Strauss em seu livro Cru e Cozido publicado original-
mente em 1964, onde pontua as diferenças que se estabelecem no modo de vida e produção histórico,
simbólica e cultural à partir do cozimento dos alimentos (Levi-Strauss Claude; O CRU E O COZI-
DO.São Paulo, Cosac Naif, 2004).
31
mesa; o garfo e a faca.
Estes objetos foram tomando
diferentes formas e fabricados com
materiais diferentes, de acordo com
as disponibilidades de matéria-prima
encontrados ou pesquisados pelos
homens. Em tempos antigos, os metais
como o bronze e o ferro eram utilizados para construir tais artefatos; hoje, coexistem
inúmeros materiais naturais e sintéticos para a fabricação. É interessante lembrar que
frente à necessidade de um instrumento que firmasse os alimentos enquanto eram
cortados pelas facas, desenvolveu-se também uma segunda faca que, com o passar
dos tempos, ganhou dentes e possivelmente tornou-se o garfo que conhecemos
hoje. Essa seria uma segunda hipótese que conta sobre a história e necessidade
de invenção do corpo que seria advindo do uso sistemático de gravetos ou de uma
segunda faca para o apoio de alimentos.
É a partir da Revolução Industrial que esses objetos começaram a ser
fabricados tornando-se de uso mais amplo no cotidiano de um número maior de
pessoas e desenvolvidos com base no pensamento projetual, com referências
fornecidas a partir da observação do manuseio estabelecido pelo Homem. Segundo
Petrosky, certamente:
Analisar os talheres que utilizamos todo dia, e sobre os quais pouco sabemos,
fornece um dos melhores pontos de partida para o exame das relações
que existem entre a natureza da invenção, da inovação, do Design e da
engenharia.”(PETROSKI, 2007, p.12)
À medida que o Homem aumenta o seu entendimento do mundo,
imprime na natureza valores culturais. Sua atuação e interação com o mesmo se
desenvolve e atualiza, demandando, consequentemente, novas habilidades
que tanto biologicamente (o próprio Homem) como os próprios objetos precisam
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32
manifestar para adequarem–
se às necessidades
iminentes e também para
que desempenhem seus
determinados papéis e
funções. É com base na
experimentação e na
eliminação de possíveis desvios ou erros e constantes ajustes que conseguimos
proferir ao objeto a sua autonomia histórica e evolutiva.
A solução encontrada para o aprimoramento de um objeto depende, então,
de experimentações, manuseio, uso e consequente eliminação de fatores “negativos”
que limitem ou inibam a utilização desses objetos. É curioso pensar que tais fatores
estão diretamente ligado ao contexto cultural e social dos indivíduos, a exemplo disso,
temos os talheres orientais (japoneses) como objetos que são absolutamente
diferente dos ocidentais, embora a função (levar o alimento até a boca) seja a
mesma.
Na relação de interatividade e evolução proposta pelo Homem e objetos
fica claro, então, que não somente os homens e suas diversidades culturais e sociais
interferem na concepção dos objetos como os objetos de forma direta também
interferem na evolução dos homens.
A forma, a natureza e o uso de todos os artefatos são influenciados pela
política, pelos costumes e preferências pessoais, assim como por essa
entidade nebulosa, a tecnologia. E a evolução dos utensílios também interfere
de maneira decisiva nos costumes e na interação social.”(PETROSKI, 2007,
pp. 30/31)
Os objetos desenvolvidos durante todo o período pós-Revolução Industrial,
baseados nas necessidades e desejos apresentados pelos homens a partir desse
momento, documentam as escolhas, o tipo de vida e a organização sociocultural,
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33
temporal e espacial dessa relação interativa
e criativa. O objeto guarda, pois, em si
mesmo, importantes informações sobre
a cultura e a história humanas, no seu
fazer interativo relacional e produtivo. De
fato, trata-se de documentos de um certo
saber fazer, de competências, preferências que a História da cultura material tem
sistematicamente organizado em pressupostos teóricos para esse estudo.
1.3 O Homem/hiperconsumidor e o objeto/produto a chegada ao
contemporâneo.
A chegada do Homem ao século XXI, modificou a sua forma de interação
e relação com os objetos: entendemos agora o indivíduo não mais como um usuário
mas, sim, como consumidor e o objeto, de utensílio, passa a caracterizar-se como
produto.
Clemente Nobrega, estudioso do antropomarketing
12
, acredita na eficiência
para a permanência e evolução das espécies:
[...] maximizar a eficiência é maximizar as chances de ficar vivo. É como
na natureza: as espécies que estão presentes hoje são aqulas que
“aprenderam”formas mais eficientes de ficarem vivas durante o processo
evolucionário (NOBREGA, 2002, p. 40).
Na contemporaneidade, o Homem encontra-se inserido em um contexto
cultural que o transforma em um indivíduo ávido por inovações e consumo. Essa avidez
12 Conceito criado por Clemente Nobrega cuja teoria propõe a revisão dos fundamentos do ma-
rketing, considerando o fato de que os desafios mercadológicos propostos na era digital remetem à
dinâmica das relações humanas e à própria evolução das espécies. (FERNANDES, Adolpho In NO-
BREGA, Clemente. 2002, p. 8)
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34
exige que os objetos sejam caracterizados como produtos
13
, ou seja, que estejam à
sua disposição, para que possam ser consumidos a qualquer momento.
Para Lipovetsky, esse consumidor adquire uma formação específica, que o
autor denomina de hiperconsumidor.
A essa ordem econômica, em que o consumidor se impõe como senhor
do tempo, corresponde uma profunda revolução dos comportamentos e do
imaginário de consumo. Um Homoconsumericus de terceiro tipo vem à luz,
uma espécie de turboconsumidor desajustado, instável e flexível, amplamente
liberto das antigas culturas de classe, imprevisível em seus gostos e em suas
compras. De um consumidor sujeito às coerções sociais da posição, passou-
se a um hiperconsumidor à espreita de experiências emocionais e de maior
bem-estar, de qualidade de vida e de saúde, de marcas e de autenticidade,
de imediatismo e de comunicação (LIPOVETSKY, 2007, p.14)
Esse “turboconsumidor” ou “homoconsumericus” como descreve Lipovetsky,
é o senhor do tempo atual e diferencia-se no que se relaciona às coerções sociais,
levando-o a buscar determinadas emoções nos objetos de seu consumo.
As emoções são empregadas hoje na criação de várias estratégias
mercadológicas com o objetivo de tornar o produto mais “significativo”para o usuário.
Segundo Donald Norman, as emoções são fáceis de ser interpretadas por nós porque
é devido à evolução do nosso sistema emocional que aprendemos a compreender,
entender e até interpretar qualquer estado emocional de outra pessoa, animal ou
mesmo objeto. Para ele:
Somos criaturas sociais, biologicamente preparadas para interagir com
outras, e a natureza dessa interação depende muito de nossa capacidade de
compreender o estado de espírito dos outros. Expressões faciais e linguagem
corporal são automáticas, resultados indiretos de nosso estado afetivo, em
13 Entendemos por produto o resultado da produção manufatureira ou maquinofatureira, de in-
dustrialização física ou intelectual, cuja resultante no processo de produção baseia-se na alteração da
natureza ou substância de elementos, portanto, o produto pode ser físico ou acabado. Nesse sentido
damos ao produto seu caráter de comercialização.
35
parte por que o afeto está intimamente ligado ao comportamento. Uma vez
que o sistema emocional instrui nossos músculos preparando-os para a ação,
outras pessoas podem interpretar nossos estados internos ao observar como
estamos tensos ou relaxados, como nossa face se modifica, como membros
de nosso corpo se movem (NORMAN, 2008, p161)
A busca pela emoção está associada a um constante desejo de bem-estar,
de formas de vida que privilegiam sua ação individual dentro de seu grupo e, por
esse motivo, o indivíduo torna-se um consumidor de produtos que cada vez mais
lhe tragam um bem-estar emocional. Essa busca por um bem-estar faz com que ele
deixe, cada vez mais, seus padrões antigos à procura de outros novos, o que antes
lhe servia hoje não significa mais, é necessária uma nova construção cultural quase
que imediata.
Para Bauman,
A cultura consumista é marcada por uma pressão constante para que sejamos
alguém mais. Os mercados de consumo se concentram na desvalorização
imediata de suas antigas ofertas, a fim de limpar a área da demanda pública
para que novas ofertas a preencham [...] Mudar de indentidade, descartar
o passado e procurar novos começos, lutando para renascer tudo isso é
estimulado por essa cultura como um dever disfaçado de privilégio (BAUMAN,
2008, p. 128)
É nesse sentido que tentamos atender nossos desejos e buscamos sempre
compreender nosso estado emocional
para então satisfazê-lo no consumo do
objeto. Para Clemente Nobrega, essa
busca pela satisfação dos seus desejos
é o que movimenta a tecnologia, mas
ele também ressalta que todo o avanço
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36
tecnológico está sujeito ao desenvolvimento
cultural e social do Homem. Nobrega diz
que “existir tecnologia disponível para fazer
“melhor” velhas tarefas não significa que as
pessoas vão desenraizar-se imediantamente
de seus velhos hábitos.” (NOBREGA, 2002, p.
30). Entendemos que os objetos poderão
evoluir de acordo com o desejo dos homens, e mais, esse desenvolvimento não
necessariamente se caracteriza como “melhor” ou “pior” mas, sim, como aquele capaz
de adequar-se ao momento contemporâneo do indivíduo.
Os avanços tecnológicos são de fato uma característica contemporânea da
sociedade e da cultura na qual o Homem se encontra inserido. Novas tecnologias não
criam novas necessidades, mas despertam novos desejos que estão associados ao
comodismo, ao conforto, às novas formas de reutilização de um mesmo produto, ou,
quem sabe, um mesmo produto com diversas funções diferentes umas das outras.
O fato de o Homem evoluir seu estado emocional, modifica também seu
entorno objetual, fá-lo adquirir novos comportamentos socioculturais, buscando, hoje,
novas formas de utilização mais subjetiva e emocional para interagir e dar novos
sentidos aos objetos, segundo Guilles Lipovetsky:
O hiperconsumidor não está mais ávido de bem-bem estar material, ele
aparece como um solicitante exponencial de conforto psíquico, de harmonia
interior e de desabrochamento subjetivo, demonstrados pelo florescimento
das técnicas derivadas do desenvolvimento pessoa bem como pelo sucesso
das sabedorias orientais, das novas espiritualidades, dos guias de felicidade
e da sabedoria. O materialismo da primeira sociedade de consumo passou de
moda: assistimos à expansão do mercado da alma e de sua transformação,
do equilíbrio e da auto-estima, enquanto proliferam as farmácias da felicidade
(LIPOVETSLY, 2007, p. 15)
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37
A histeria de produção fabril, hoje,
concentra-se em desenvolver objetos que
sejam consumidos rapidamente, criando
uma grande pressão sobre o sistema
produtivo, acelerando, consequentemente,
um consumo mais efêmero. Os indivíduos
buscam na sua associação com objetos
consumíveis não apenas saciar seus
desejos na aquisição de bens, mas
apresentar-se e afirmar-se como membros
de um determinado grupo social e identidade pessoal baseado em suas escolhas.
Andrea Semprini fala sobre o consumo desde o pós-industrialismo e mostra-
nos algumas alterações no modo de obtermos e utilizarmos os produtos, talvez mais
obtê-los do que utilizá-los, uma vez que estamos em um novo tempo em que os
aspectos simbólicos são os verdadeiros motivos de consumo.
Isso aconteceu, segundo o autor, devido à desmaterialização e à
dessemantização do consumo. A desmaterialização apresenta dois aspectos
principais: a miniaturização do produto, ou seja, a redução do tamanho dos produtos,
sua miniaturização que, segundo o autor, é considerada em todos os setores. Nos
eletrônicos, essa característica é mais visível e a busca sempre pelo menor tamanho
chega a esbarrar nos limites do corpo, como, por exemplo, teclas de celular muito
pequenas, incapazes de serem acionadas pelo polegar. (SEMPRINI, 2006).
o segundo aspecto da desmaterialização seria a falta de sustentação
do consumo:
Por esse termo, entende-se a tendência das práticas de consumo de se
orientar para produtos que tenha menor densidade fenomenológica, menor
presença física, mas em compensação, quase sempre, uma densidade
simbólica e imaginária muito mais importante (SEMPRINI, 2006, p.49).
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38
Para Semprini, percebemos que não uma base substancial, algo
material para se consumir e é por isso que o aumento dos serviços, viagens, lazer,
produtos audivisuais etc. tem sido significativo. Certamente, essa desmaterialização
não significa a desintegração total dos produtos/objetos de consumo, uma vez que
mesmo no consumo de lazeres, prazeres, emoções, acabamos adquirindo objetos
que nos façam recordar essa experiência.
A dessematização, por sua vez, é o termo utilizado: “para invocar o
aparecimento de muitos produtos completamente novos para os consumidores, e
que necessitavam de um aprendizado e de um esforço para introduzi-los em suas
rotinas de consumo” (SEMPRINI, 2006, p. 50).
Segundo o autor, os microondas, por exemplo, ditaram novas técnicas de
cozimento e novas regras de funcionamento da cozinha e do preparo das refeições,
o que caracteriza a dessematização. Também nesse contexto percebemos que o
consumo se tornou uma prática indispensável para o indivíduo. Dessa forma:
[...] É preciso agora interrogar as razões de seu desenvolvimento
irresistível nas sociedades contemponeas, desde há algum tempo
ditas “de consumo”. Por que, apesar de seus momentos de crise ou
de decadência, o consumo parece ser uma ptica que acompanha
estruturalmente a vida moderna, quase uma condição natural inerente
ao modo de funcionamento das sociedades contemporânea?(SEMPRINI,
2006, p.60)
Semprini ainda apresenta algumas pressuposições pós-modernas para
entendermos o consumo contemporâneo, que asseguraram um olhar diferenciado
e complexo sobre ele. Dentre esses pressupostos, temos uma nova noção de
individualismo, de corpo, de imaterialidade, de mobilidade e de imaginário.
O individualismo representa a busca pela felicidade privada, suas
escolhas pessoais fazem com que o consumo se torne algo individual e particular,
39
dependente das vontades de cada indivíduo.
A relação com o corpo requer mais atenção,
como a busca por um corpo sauvel, em
forma, esculpido e um instrumento de sedução,
erótico, musculoso ou gracioso, corpo como
fonte de prazer para si e para o outro, em cujo
contexto se podem explorar as sensações como forma de contato emocional com
o indivíduo.
O terceiro pressuposto pós-moderno relacionado ao consumo é
o imaterial, que faz com que os indivíduos cada vez mais valorizem os aspectos
abstratos, conceituais, virtuais, o que, segundo Semprini, contraria a teoria de Maslow
nos anos 1940, com as escalas das necessidades, porque uma interpretação
e uma submissão crescentes a esses aspectos que propriamente preocupações de
ordem material.
O penúltimo argumento analítico do consumo pós-moderno está na
mobilidade, que é representada pela facilidade e pela busca constante de deslocar-
se tanto física como geograficamente, o que caracteriza uma busca prazerosa por
viagens: é a liberdade adquirida pelo Homem após as prisões domiciliares no período
industrial. Finalmente, o imaginário, que é a presença maior das noções de fantasia,
de criatividade, de expressão pessoal, de procura de sentido.
Essas definições apresentadas por Semprini nos colocam diante de
algumas observões, no que diz respeito à construção e à projeção de novos produtos
para o consumidor contemporâneo. De fato, com base nessas observações,
conseguimos entender quais são as buscas, os desejos que os usuários almejam nos
produtos e de que forma poderemos, como Desiginers, atendê-las.
Adoro meus livros de
literatura, pois ao lê-
los me transporto para
um mundo de magias.
Maria Odete Mundim
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1.4 Consumo – Julgamentos distintos.
O consumo
14
é passível de julgamentos e, com isso, ele se torna vulnerável,
quando uma confusão interpretativa o coloca na mesma instância de entendimento
que o consumismo. Para Mary Douglas e Baron Isherwood (2006), o consumo é um
fator cultural e deve justamente ser pensado sob esse prisma. Eles nos explicam que
existe uma real distinção entre o desejo que move o consumo e a necessidade, que
move o nosso comportamento de consumidores.
Muitas vezes, o consumo de bens e produtos é impulsionado por
necessidades biológicas e físicas, ou seja, obedecem a ordem fisiológica. Outras
vezes. somos impulsionados em relação à aquisição de bens de consumo pelo desejo
que se orienta e compõe-se de elementos culturais.
Na contemporaneidade, para o estudo do comportamento e motivação dos
consumidores, segundo Mary Douglas e Baron Isherwood, somente o estudo dos
aspectos culturais interessam, apresentando questões que auxiliam no entendimento
das perspectivas do consumo com base em três justificativas: consumo hedonista,
consumo moralista e consumo naturalista.
O consumo hedonista faz parte da maioria das estratégias de marketing e
comunicação e privilegia o discurso repetitivo e enfático, centralizado nas qualidades
subjetivas do produto e suas possíveis interferências no cotidiano do indivíduo. Por
exemplo, o consumo hedonista explicita a si mesmo quando relaciona consumo com
sucesso ou felicidade, pois a vontade de atingir o sucesso, ou a felicidade, é que
torna o ser humano vulnerável e refém dos discursos e das artimanhas publicitárias e
apontam para a visão moralista.
A visão moralista possui ideologias conservadoras que discursam sobre um
consumo responsável em respeito à pobreza iminente da sociedade, critica a busca
desenfreada por lucros exorbitantes e o individualismo que propõe a aquisição de
bens como forma de suprir relações sociais. Buscar satisfação pessoal em consumir
14 Principalmente depois da analise de K. Marx sobre a apropriação de força de trabalho e mais
valia.
41
algum tipo de bem, principalmente se estiver
inserido no campo dos desejos e dos prazeres,
faz com que a “moral” de um indivíduo se torne
questionável.
A visão naturalista critica o julgamento
das necessidades e dos desejos sob o mesmo
prisma, uma vez que possuem naturezas
diferentes: as necessidades devem ser entendidas
como biológicas, naturais e físicas, enquanto o
desejo é uma manifestação cultural, portanto não se deve observar o consumo sem
fazer essa dissociação.
Hoje, a busca despertada pelas características do desejo hedonista causa
uma dependência emocional em relação ao consumo, muitas vezes descontrolado e
voraz e cria um hiperconsumidor, definido por Gilles Lipovetsk (2007).
É justamente esse novo consumidor que revela uma interface diferenciada
entre usuário e objeto, que pode ser melhor trabalhada pelo Design na criação de
produtos que despertem o interesse emocional, por características tangíveis do objeto
e não apenas como um discurso comunicativo que surge a posteriori em relação à
criação desse objeto.
Para Everardo Rocha, antropólogo da UFRJ, que se dedica ao estudo do
consumo responsável, na apresentação do livro “O mundo dos bens”, o consumo
deve ser entendido como sistema de significação que supre nossas necessidades
simlicas, visto que evidenciam e estabilizam categorias culturais cuja função é
promover o sentido, estabelecer códigos, traduzir nossas relações sociais, classificando
coisas e pessoas, produtos e serviços, indivíduos e grupos. Nessa perspectiva
consumir é:
[...] exercitar um sistema de classificação do mundo que nos cerca a partir de
si mesmo e, assim como é próprio dos códigos, pode ser sempre inclusivo.
Nesse caso, inclusivo tem dois sentidos. De um lado, dos novos bens que a
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42
eles se agregam e são por ele articulado aos demais e do outro, inclusivo de
identidade e relações sociais que são elaboradas, em larga medida na nossa
vida cotidiana, a partir dele. Não é por outra razao que Mary Douglas ensina
que “os bens são neutros, seu uso são sociais; podem ser usados como
cercas ou como pontes ( ROCHA in DOUGLAS, 2006. p. 16-17).
Pensar no consumo como elemento da cultura nos faz refletir sobre
suas possíveis formas e desdobramentos junto à emoção. Sob o olhar atento do
Design, essas características podem ser aprimoradas e transportadas para espaços
particulares e simbólicos por meio de suas formas estéticas e funcionais, podendo ser
experimentadas de várias maneiras, intensificando as relações de afeto entre objeto
e usuário.
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44
2.1 – Emoção e sentimento: Sensibilidade neurocientífica.
A palavra emoção, segundo dicionário Houaiss, deriva-se do Francês
émotion (1475), identificada como perturbação moral. É também classificada como
substantivo feminino, o que significa o ato de deslocar, movimentar, agitar sentimentos,
abalo afetivo ou moral, turbação, comoção. Segundo a definição proposta pela
Psicologia, no mesmo dicionário, emoção é uma reação orgânica de intensidade e
duração variáveis, geralmente acompanhada de alterações respiratórias, circulatórias
etc., de grande excitação mental.
Entre as várias ciências que estudam a emoção, buscamos fundamentação
para a elaboração deste trabalho na Neurociência, que estudos nesta área têm
substituído e contribuído de forma contundente com algumas visões mais clássicas
utilizadas principalmente pela Psicologia, que procuram explicar as emoções. É,
portanto, sob as explicações do professor António Damásio, neurocientista estudioso
das emoções, que serão apresentados os conceitos sobre emoção e sentimento,
pertinentes à fundamentação deste trabalho.
Para Damásio, sentimentos e emoções constituem o elo comunicativo
entre a Natureza e as circunstâncias; eles servem como guias para uma resposta
corpórea, uma vez que, nosso organismo se envolve com os sentimentos e responde a
estímulos como a felicidade, a tristeza, o ódio, independentemente de nossa vontade,
projetando uma resposta compreendida e assimiliada de forma positiva ou negativa
por todo o organismo.
[...] o amor, o ódio e a angústia, as qualidades de bondade e crueldade,
a solução planificada de um problema cientifico ou a criação de um novo
artefato, todos eles têm por base os acontecimentos neurais que ocorrem
dentro de um cérebro, desde que esse cérebro tenha estado e esteja nesse
momento interagindo com o seu corpo. A alma respira por meio do corpo, e
o sofrimento, quer comece no corpo ou numa imagem mental, acontece na
carne (DAMÁSIO, 2006, p. 18).
45
O corpo é o local onde
as emoções e os sentimentos se
manifestarão fisicamente, causando
modificações como a mudança de
cor, por exemplo, no caso de sermos
submetidos a algum tipo de situação
de constrangimento em que ficamos
ruborizados ou mesmo de susto, quando empalidecemos. Além disso, essas
emoções e sentimentos nos permitem entrar em contato com a Natureza, é o elo que
permite a comunicação entre o organismo e o ambiente que o cerca. Contudo, os
objetos artificiais que compõem esse entorno nos permitem comunicar-nos com um
ambiente ou senti-lo, seja ele em sua totalidade ou parcialmente.
Willian James, médico que deu início ao estudo das emoções cerca de
um século, propunha, em uma de suas teorias, a existência de mudanças corporais
físicas diante de uma emoção. António Damásio cita essa experiência em uma
passagem em seu livro:
[...] em suma, James postulou a existência de um mecanismo básico em
que determinados estímulos no meio ambiente, excitam por meio de um
mecanismo inflexível e congênito, um padrão específico de reações do corpo.
Não havia necessidade de avaliar a importância dos estímulos para que a
ação tivesse lugar. Na sua própria afirmação lapidar: “Cada objeto que excita
um instinto excita também uma emoção (DAMÁSIO, 2006, p. 159).
Nesse contexto, entendemos que, ao sermos estimulados de diferentes
formas, produzimos respostas instintivas, independentes de nossa vontade, seja essa
vontade racional ou não. Damásio conclui que as emoções são mudanças corpóreas
que podem ser apenas sentidas ou assimiladas mentalmente pelo cérebro.
[...] a emoção é a combinação de um processo avaliatório mental, simples
ou complexo, com respostas dispositivas a esse processo, em sua maioria
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46
dirigidas ao corpo propriamente dito, resultando num estado emocional do
corpo, mas também dirigidas ao próprio cérebro (núcleos neurotransmissores
no tronco cerebral), resultando em alterações mentais adicionais (DAMASIO,
2006, p. 168/169).
As emoções, para Damásio, dividem-se em duas categorias diferentes:
primárias e secundárias; as primárias são as que sentimos quando crianças, de
caráter natural, cognitivo e sinestésico, como a fuga de uma situação de perigo;
as secundárias poderão ser vivenciadas após termos passado primeiro pelas
emoções primárias, manifestam-se em nossa fase adulta.
[...] Começo, numa perspectiva de história individual, por esclarecer as
diferenças entre as emoções que experienciamos na infância, para as quais
um “mecanismo pré-organizado” de tipo jamesiano será suficiente, e as
emoções que experienciamos em adulto, cujos andaimes foram gradualmente
construídos sobre as fundações daquelas emoções “iniciais”. Proponho
chamar às emoções “iniciais” primárias e às emoções “adultas” secundárias
(DAMÁSIO, 2006, p. 160).
O importante das emoções secundárias é que elas estão ligadas com o
universo particular de cada indivíduo e são criadas a partir de experiências que foram
vivenciadas por ele em algum momento de sua formação cultural e social.
Nesse sentido, encontramos
subsídios que podem ser pensados durante
a prática projetual e explorados pelo
Designer. Buscar referências emocionais
para compor o construto de um objeto, para
dar características que despertem algum
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tipo de emoção e compreender mais
sobre essas emoções secundárias
possibilitam a criação de objetos
que contenham representações
simbólicas adquiridas pelo
indivíduo por meio de sua cultura
e, consequentemente, empregadas
nas suas relações sociais, criando produtos que sejam emocionalmente atrativos.
Outra definição importante para compreender essa relação entre objetos
e usuários por meio das emoções está no significado do sentimento que, para
Damásio, é um processo de acompanhamento contínuo das experiências e que
acabam formando no organismo uma paisagem corporal capaz de ser interpretada
pelo nosso sistema neural e também se classificam como primários e secundários.
Os sentimentos primários ligados a emoções primárias e o secundário
ligado as emoções secundárias, sendo esse segundo grupo de sentimentos também
mais elaborados que os primeiros e necessitam ser racionalizados para se tornarem
existentes.
[...] Essa segunda variedade de sentimentos é sintonizada pela experiência
quando gradações mais sutis do estado cognitivo são conectadas a variações
mais sutis de um estado emocional do corpo. É a ligação entre um conteúdo
cognitivo intricado a uma variação num perfil pré-organizado do estado do
corpo que nos permite sentir gradações de remorso, vergonha, vingança...
(DAMÁSIO, 2006, p.175/180)
Dessa forma, percebemos que, para um sentimento iniciar sua formação
na mente do indivíduo, ele deve ter sido apontado primeiro por uma emoção e, com isso,
a emão humana, é caracterizada pelo fato de tornar-se consciente na mente do
indivíduo. Nesse aspecto, conseguimos detectar o tipo de emoção que sentimos e qual
sentimento nos será despertado pois “ [...] o impacto humano de todas essas causas
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de emoções, refinadas e não refinadas,
e de todas as nuances de emoções sutis
ou não sutis que elas induzem depende
dos sentimentos engendrados por essas
emoções.”(DAMÁSIO, 2005, p. 56).
As emoções e os sentimentos,
sob o olhar da Neurociência, representam, então, um ponto de partida para que o
Design possa repensar a relação entre usuário e objeto, tentando buscar outras
alternativas para o entendimento do contato entre o ser humano e o objeto, auxiliando
o Homem na sua história material.
2.2 Simbologia objetual - A máquina de costura, um exemplo de apelo emocional
durante a Revolução Industrial.
O consumo contemporâneo propõe aos objetos característicos que vão
além das determinadas como práticas. Seu foco maior concentra-se nas funções
estética e simbólica. Segundo Löbach, os objetos possuem três funções baseadas
na forma como os indivíduos se relacionam com eles. Tais características são por ele
denominadas de estética, prática e simbólica. Para ele:
[...] são funções práticas de produtos todos os aspectos fisiológicos do uso.
(LÖBACH, 2000 p 58)
[...] A função estética dos produtos é um aspecto psicológico do processo de
percepção sensorial durante o uso. (LÖBACH, 2000 p 59 e 60)
[...] a função simbólica dos produtos é determinada por todos os aspectos
espirituais, psíquicos e sociais do uso (LÖBACH, 2000 p 64).
Essa definição apresenta classificações associadas à interação entre
usuário e objeto, sendo as simbólicas as mais importantes para a contemplação da
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emoção no construto projetual dos objetos, pois será
ela que definirá a função prática do objeto, pois, pelo
simbolismo desenvolvido em um objeto é que o indivíduo
definirá de que forma utilizará determinado produto.
De acordo com Miranda (2008), os objetos
são passíveis de consumo simbólico, uma vez que são
elementos de comunicação entre o indivíduo e o meio em
que ele se instala. Para ela:
Os objetos funcionam como sistemas de informação estabelecendo relações,
reproduzindo mensagens, definindo hierarquias (quem tem mais dinheiro,
quem sabe mais, quem tem melhor desempenho, quem é mais talentoso)
(MIRANDA, 2008 p 22)
Percebemos, portanto, que devemos compreender primeiro os fundamentos
da comunicação, para entendermos o que vem a ser o consumo desses símbolos
e os significados desenvolvidos nos objetos e interpretados pelo Homem. Miranda
estabelece a definição de comunicação segundo Damshorst et al (2000) como:
(1) Processo interativo entre duas ou mais pessoas [...] e (2) Processo que
envolve o envio de mensagem para pelo menos um receptor e, para que o ato
de comunicação seja completo, o receptor deve enviar o feedback (retorno)
para o emissor. [...] (3) Processo dinâmico no qual significados compartilhados
são negociados e criados para o entendimento comum.”(DAMHORST et al.
,2000, In MIRANDA, 2008 p 23).
Para compreendermos a Objetologia, a primeira definição de Damshorst
é a mais importante, pois garante ao ato de comunicação a interatividade entre duas
pessoas; dessa forma, os objetos são utilizados como mensagem dentro desse
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processo de comunicação.
A construção simbólica dos objetos utiliza a emoção
como fator determinante e fundamental para a construção
de um produto; estes atributos simbólicos emocionais são,
muitas vezes, particulares e pessoais e garantem uma
representação individual e uma comunicação estabelecida
de forma significativa. Por isso, compreendemos que
muitos produtos estão sujeitos a julgamentos de acordo com as vontades de cada
consumidor, sendo atraentes para uns e completamente sem importância para
outros.
A utilização da emoção na construção simbólica dos objetos teve sua
origem na Revolução Industrial, o que existiu antes disso estava sujeito a análise e
julgamento sob os olhares da obra de arte e não do Design.
Segundo Adrian Forty, durante a Revolução Industrial, houve a separação
dos espaços cotidianos do Homem; esse autor os classifica como um local para o
“trabalho” e o outro para o “não-trabalho”. O “local para trabalho” eram as indústrias, as
fábricas, que continham máquinas, barulho e sucessivos problemas de ordem social
como o estresse, a monotonia, além das relações sociais entre patrões e empregados.
no local do “não-trabalho” eram realizadas quaisquer outras atividades diferentes
do trabalho. Era nesses locais que o indivíduo podia descansar, fazer suas refeições,
dormir e recuperar-se depois de um longo dia de trabalho, além de estabelecer e
desenvolver suas relações sociais de caráter familiar; esse local foi denominado de
lar.
O lar era o espaço no qual o indivíduo poderia manifestar toda a sua
intimidade sem que fosse criticado, julgado e até mesmo condenado pela sociedade
por estar submetido a um sistema de produção industrial ao qual ele era praticamente
escravizado, pois, embora recebesse salários pelo seu trabalho, muitas vezes
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submetia-se a excessivas horas de trabalho extra, e
era no lar, então, que ele poderia “indignar-se” com
a sua posição de assalariado e explorado, contra
todo o sistema industrial.
Sendo assim, o lar tornou-se um “refúgio”
e, por isso, todos os produtos que deveriam ser
utilizados nesse espaço eram projetados para manter a maior distância possível entre
o indivíduo e seu ambiente de trabalho. Dessa forma, muitas empresas resolveram
investir na fabricação de objetos para o lar, objetos esses que deveriam ter uma
familiaridade maior com o íntimo das pessoas e que perdessem seu caráter industrial.
As empresas fabricantes de máquinas de costuram como a Singer & Co., por exemplo,
começaram a fabricar máquinas com algumas características mais “afetivas”, tentando
superar sua maior fabricante da época, a Wheller e Wilson, que fabricavam máquinas
que poderiam ser usadas em indústrias ou mesmo nos lares, devido ao seu caráter
mais simples e por serem menores e mais leves.
Com isso, a Singer criou algumas estratégias de mercado, como a redução
dos preços, ou mesmo a divisão parcelada dos produtos. Logo depois, utilizaram a
propaganda para mostrar que as máquinas podem estar nos ambientes residenciais
modernos, mas, mesmo assim os fabricantes não estavam suficientemente seguros de
que apenas campanhas publicitárias garantiriam o sucesso das vendas e precisavam
adequar os modelos de máquinas domésticas para o lar. Eno, em 1858, a Singer
criou o primeiro modelo de máquina de costura com caractesticas que a fizessem
ser utilizada no lar. Desde então, diversas modificações e aprimoramentos foram
incorporados às máquinas de costura como mostram os exemplos constantes no
Anexo II)
As características emocionais, nessa época, eram apresentadas de forma
alerica e apenas nas funções estéticas, ou seja, as quinas possuíam formas
e imagens que seriam entendidas como afetivas e possam um apelo sensorial,
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intimo, hedonista capaz de seduzir o indivíduo.
A prática projetual com apelo emocional é bastante difundida hoje no
mundo contemporâneo. Criar objetos que sejam capazes de nos fazer sentir bem
tornou-se, hoje, uma vertente bastante promissora para os Designers: criar objetos
que despertem uma emoção no usrio é considerado um fio muito precioso para
o setor industrial.
Entretanto, bem mais que isso, esses objetos não devem ser projetados
apenas para despertar uma simples emoção devem ser configurados para tornarem-
se mensagens de comunicação e atuarem diretamente na formação das relações
sociais do indivíduo.
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54
3.1 – Objetos com “alma”- elementos formadores das relações sociais.
“[...] Nesses lugares buscavam produtos, que elas denominam “objetos
com alma”, ou seja, bens que “transmitem emoção”. (Carol Garcia ,
2006, p. 28).
A citação acima faz parte do texto de Carol Garcia (2006, p. 28), referindo-
se à história das fundadoras da loja “Casa 15”, na qual se comercializam produtos e
objetos colhidos pelas proprietárias
15
em viagens e que permeiam o espaço imaginário
simbólico e afetivo das pessoas.
A preocupação com o valor emocional dos objetos tem sido dialogada
no mundo contemponeo. Embora não se tenha uma definão formada para o
termo “objetos com alma”, entendemos como sendo aqueles objetos que possuam
elementos simbólicos muito bem empregados e constituídos não apenas de aspectos
estéticos, mas principalmente como características que os diferenciem de forma
particular dos demais objetos cotidianos comuns.
O Homem demonstra interesse pela construção de objetos desde os
mais remotos tempos. Nós, hominídeos, ao deixarmos o nomadismo, começamos a
construção de objetos que passaram a fazer parte de nosso cotidiano e a nos auxiliar
no cumprimento de diversas atividades rotineiras ou ocasionais. Dessa forma, o
desenvolvimento desses objetos torna-se cada vez mais complexo e sofisticado. Tais
objetos são considerados ideais, por conterem elementos que vão além das funções
práticas, como aponta Coelho apud Cunha (2006), o que torna um objeto “ideal” é
o fato de ele conter elementos simbólicos e relacionar-se com o espaço afetivo do
usuário, então objeto ideal “[...] vem a ser um objeto particularizado, que satisfaça aos
anseios, das mais variadas naturezas, do usuário. E nesses anseios são equacionados
15 Tatiana Leite e Andrea Simone, proprietárias da loja “Casa 15”em são Paulo - http:// www.ca-
sa15.com/
55
aspectos simbólicos, em particular
os afetivos.”(Cunha, 2006, p. 155).
A esse respeito,
buscamos entender o que vem a
ser um objeto cujas características
emocionais e afetivas serão a base para a projeção contemporânea de artefatos,
para que estes sejam elementos de comunicação na formação de nossas relações
sociais.
Para Moles: “Etimologicamente objectum significa atirar contra, coisas
existentes fora de nós mesmos, coisas colocadas adiante, com um caráter material:
tudo o que se oferece à vista e afeta os sentidos”. (Larousse in MOLES, 1981, p.25).
Ainda segundo esse autor, a definição de objeto vai am da definição etimológica,
ele se configura como tal dentro de nossa sociedade, a partir do momento em que
se insere nas refencias sociais:
O objeto, dentro de nossa civilização, é artificial. Não se falará de uma pedra,
de uma rã ou de uma árvore como um objeto, mas como uma coisa. A pedra
se tornará objeto quando promovido a peso de papéis, e quando munida
de uma etiqueta: preço..., qualidade..., inserindo-a no universo de referências
sociais (MOLES, 1981, p. 26).
Isto faz com que o objeto seja destituído de seu caráter natural, relacionado
à Natureza e se configure como produto. Mas o objeto também possui outras
características que o tornam ainda mais importante para o ser humano; o objeto é :
[...] mediador universal, revelador da sociedade na progressiva
desnaturalização desta, construtor do ambiente cotidiano, sistema de
comunicação social, carregado de valores como nunca no passado, apesar
do anonimato da fabricação industrial (MOLES, 1981, p. 8).
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56
O autor ainda afiança
que “esse visivelmente surge
é um primeiro sentido como
mediador entre Homem e o mundo.
O objeto inicialmente é um prolongamento do ato do ser humano.”( MOLES, 1981,
pp. 10/11).
Para o Design, pensar nas relações de afeto com os objetos é enxergar além
da produção industrial, é perceber o sentido social, cultural e comunicativo dos objetos,
pois em cada uma dessas configurações, os artefatos ganham novas simbologias
condensadas em um espaço interno dele próprio. Os objetos ganham, eno, uma
característica particular de acordo com seu usuário já que são portadores de signos
interpretáveis. (MOLES, 1981)
Para Baudrillard (2006), a relação de comunicação apresentada no objeto
tem um caráter mais importante por representar a comunicação do Homem com
o meio, por meio da relação de interno e externo. Nesse sentido, objeto seria
entendido como:
[...] figurante humilde e receptivo, essa espécie de escravo psicológico e de
confidente tal como foi vivido na cotidianidade tradicional e ilustrado em toda
a arte ocidental até os nossos dias, tal objeto refletiu uma ordem total ligada a
uma concepção bem definida do cenário e da perspectiva, da substância e da
forma. Segundo essa concepção, sua forma é a demarcação absoluta entre
interior e exterior, é continente fixo, o interior é substância (BAUDRILLARD,
2006. p. 33).
Os objetos possuem uma relação com os indivíduos que tal autor
caracteriza como uma relação visceral, pois possuem a capacidade de conter dentro
de si várias informações sobre o sujeito.
57
O Homem acha-se então ligado aos objetos ambientes pela mesma
intimidade visceral (guardadas as devidas proporções) que aos
órgãos do próprio corpo e a característica do objeto tende sempre
virtualmente à recuperação desta subsncia por anexão oral e
“assimilação” (BAUDRILLARD, 2006, p. 34).
Baudrillard ainda relaciona, por exemplo, o objeto “vaso” com a simbologia
poética de receptáculo, útero, armazenamento, retenção, para expor sua visão sobre
a relação dos objetos com os seus usuários e diferentes significados simbólicos e
funcionais.
Um objeto armazena, recebe, gera diversas características do indivíduo, do
tempo, da sociedade, dentre outras. Essas características são inseridas no momento
da criação e concepção desse objeto, por isso Baudrillard diz que:
[...] Assim, sendo o sentido e o valor provenientes da transmiso hereditária
das substâncias sob jurisdição da forma, o mundo é vivido como dado
sempre assim no inconsciente e na infância), e o projeto é reve-lo e
perpet-lo. Também a forma ao circunscrever o objeto faz com que uma
parcela da natureza que incluída nele tal como no corpo humano: o objeto
é fundamentalmente antropomórfico.”(BAUDRILLARD, 2006, p. 34)
O objeto é capaz
de evidenciar a natureza e a
cultura dentro de seus espaços,
considerado, assim, um elemento
que consegue ultrapassar a
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58
barreira do tempo e que carrega consigo
a história da cultura material humana.
Baudrillard também não se deixa levar
pelas “fantasias” da gênese no criar
objetos considerados “perfeitos” e “ideais”,
e entende que essas características
idealizadas quando atribuídas aos objetos são construídas pelo Homem.
O projeto vivido de uma sociedade técnica é o questionamento da própria
idéia de Gênese, é a omissão das origens, do sentido dado e das “essências”
cujos símbolos concretos foram os bons velhos móveis: é uma computação
e uma conceitualização práticas sobre a base de uma abstração total, a
idéia de um mundo não mais dado, mas produzido: dominado, manipulado,
inventariado e controlado: adquirido (BAUDRILLARD, 2006, pp. 34/35).
Podemos entender os objetos como diferentes manifestações culturais
desenvolvidas de forma simbólica; é a apresentação de seu universo particular que
permite que o Homem possa comunicar-se e formar suas relações sociais.
Com isso, conseguimos compreender que a hisria particular de um
sujeito pode ser representada por meio de suas relações com os objetos e mais,
observamos como esse simbolismo pode atuar sobre o objeto a ponto de torná-
lo quase um ser animado. Assim, entendemos que considerar a perspectiva que
referencia, na criação do objeto, a emoção e o sentimento é um fator fundamental
para a manifestação dessa simbologia nos produtos.
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59
3.2- Design e emoção - experimentações particulares de afetivação com os
objetos.
A utilização das emoções e do sentimento no Design é responsável pela
evocação da memória do usuário. Os objetos ditos emocionais tentam relembrar
algumas experiências ou experimentações do usuário por meio de sua utilização, sua
forma ou mesmo de sua simbologia.
Para Ferrara, a memória particulariza um espaço.
“[...] uma memória que transforma o lugar na institucionalização do
acontecimento e dos flagrantes passados que tiveram o lugar como
cenário ou que o tornaram notável. Ou podemos ter a memória criadora
do lugar ficcional onde a referência do fato real é dispensável, por que
a lembrança do lugar dá origem àquela apropriação, responsável pela
identidade do pertencer. Consiste em recolher as marcas/signos do
passado que fazem sentido na vivêncai do presente, ou seja, a questão
não está em justificar ou ilustrar a história passada do lugar, mas se
resume no prazer de recuperá-la em palavras, imagens, visões, gestos,
nomes índices (FERRARA, 2002, p. 17).
Para a autora, é por meio da meria que construímos nossos “lugares”,
heterogêneos, que, por sua vez, constituem a homogeneidade do espaço. O lugar,
portanto, es na ordem da meria particular, individualizada que condivide o
espo com outras tantas singularidades, ou seja, locais da memória de cada sujeito.
Cada local particular, em conjunto ou
multiplicidade, coletivo constitui o espaço.
Não se trata de uma discussão
sobre espaço, mas, de antemão, podemos
remetê-lo à idéia cartesiana de construções
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e delimitações arquitetônicas como um vazio
a ser preenchido. Brandão (2002) apresenta
uma evolução do pensamento teórico da
idéia de espaço evocando três pensadores:
Merleau-Ponty, para quem o espaço é o
meio que possibilita o posicionamento das
coisas; Lima de Freitas, que considera o espaço como a relação entre seres e objetos,
sendo essa a mais importante para este trabalho, porque trata da interatividade; e
finalmente Guattari, que advoga a inseparabilidade dos elementos na relação corpo
e espaço. Assim, criar um objeto, em termos de concepção e planejamento, requer,
hoje, uma identificação permanente de “lugares” diante dos “espaços”.
Esses lugares” são reconhecidos por causa das experiências emocionais
e sensoriais estabelecidas pelo indivíduo; compreendemos a presença dos objetos
artificiais, que garantem a fixação da experiência na memória do indivíduo, para que
seja relembrada em momentos futuros. As experiências são vivenciadas de forma
singular pelos consumidores e propondo a existência de particularidades diante de um
conjunto homogêneos é que Ferrara diz que o mundo se encontra em funcionamento
por haver divisão entre coisas aparentemente distintas (locais) que se unem e formam
uma fusão adequada (espaço): “ O mundo funciona e se torna possível porque admite,
no seu projeto homogêneo, faixas heterogêneas que constroem a organicidade do
todo ao se produzirem como particulares e diferentes” (FERRARA, 2002, p. 30).
A presença de particularidades em determinados objetos é responsável pelo
desenvolvimento de novas formas afetivas com o usuário, diferentes das estratégias
motivacionais de compra apresentadas pelo discurso mercadológico.
Para refletirmos sobre a projeção dessas características emocionais
incorporadas nos espaços dos objetos, retomamos Ferrara (2002), que analisa
o desenho e o Design sob a ótica de projeto. A autora afirma que a comunicação
dos objetos está muito além do simples ato de desenhá-los ou projetá-los, pois
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61
sua significação encontra-se sob o foco das vivências e experimentações sociais e
culturais.
Relacionam-se ver, saber fazer e fazer e dessa correlação emerge aquele
Desenho Industrial onde o que se desenha não é apenas um objeto, mas
uma informação que interfere no cotidiano, no modo de vida, nas relações
socioculturais (FERRARA, 2002, p. 51).
Compreendemos, então, que os objetos são dotados de interpretações
particulares e individuais. Outro autor que cabe ser lembrado é Roland Barthes
16
que,
a partir de uma análise sobre a fotografia, elabora dois importantes conceitos
que podem ser aplicados para estabelecer uma ligação entre o universal, por ele
denominado de Studium
17
e o particular chamado de Punctum
18
.
Para Barthes, o Studium está associado ao que podemos definir como bom
ou ruim, mas que, de alguma forma, está em contato com o todo; seria aquilo com que
concordamos ou não; e o Punctum está destinado a cada indivíduo de forma diferente
de acordo com sua observação particular.
Nesse sentido, o podemos fazer uma associação com o Design emocional
em relação aos aspectos que chamam a atenção em determinados produtos, dando
ênfase para as particularidades, ou seja, todos os objetos criados para serem
emocionalmente atrativos vão tocar qualquer indivíduo, no entanto alguns serão
atingidos de forma menos direta que outros, de acordo com suas expectativas e suas
experiências emocionais anteriores.
Criar em um objeto, formas emocionais que remetem a simbologia dos
indivíduos requer um conhecimento maior sobre as particularidades de um indivíduo;
16 Roland Barthes (1915 – 1980) apresenta em seu livro “a câmara clara” alguns argumentos de
ordem filosofica sobre o reconhecimento de particularidades dentro de um contexto social.
17 Características que são universais em uma fotografia, ou seja aquelas observadas por qual-
quer individuo, essas características sao as mais visiveis, as que chamam a atenção em primeira
instância.
18 Características mais particulares de uma fotografia, estas por sua vez depende de outras vari-
áveis como por exemplo a posição do observador em relaçao a foto e principalmente está associada à
cultura particular e ancestral do individuo/observador.
62
é necessário compreender um
pouco sobre o que desperta
tal emoção em uma pessoa,
por isso a experimentação se
faz como elemento decisor no
processo de afetivação dos
objetos e na criação de vínculos
emocionais particulares, uma
vez que experiências são de caráter individual.
A experimentação pode ocorrer de duas formas: objetos que são criados
a partir de experiências dos usuários o usuário como co-autor do produto , e objetos
que são criados para gerar experiências nos usuários objetos que geram experiências
. Os primeiros são entendidos como Design experimental e os segundos ainda não
possuem uma nomenclatura específica. Com isso o Design emocional encontra duas
grandes oportunidades de se firmar com as questões da experimentação.
A participação de um indivíduo no processo de projeção e construção de
um objeto faz com que laços afetivos comecem a ser criados durante esse contato;
essa categoria de Design pode ser compreendida como Design de parceira, pois
o indivíduo não apenas é usuário como também co-autor do projeto, adquire uma
autonomia diante do objeto e reconhece-o como propriedade particular.
Segundo Frascara, designer argentino, a essência do Design está nas
pessoas e não na forma como foi produzido tal produto; o autor sugere que o público-
alvo deve participar junto com o Designer no processo de produção de um objeto:
São nas situações de associação onde as relações são éticas, onde os
melhores talentos rendem seus frutos, onde se pode realizar projetos
complexos e ambiciosos e onde os Designers podem desempenhar o papel
de catalisadores e colaboradores na criação de um ambiente cultural e
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63
conceitual em constante desenvolvimento (FRASCARA, 1998. p. 50).
A experiência pode ser analisada de outra forma, com a criação de
objetos que despertem o desejo de experimentá-lo; a esse respeito, encontramos na
sensorialidade um caminho bastante eficaz para a exploração dos cinco sentidos do
corpo humano como ferramentas para a construção de produtos que despertem tal
interesse emocional pelo usuário.
Para essa categoria de objetos, os efeitos do simbolismo também são
bem explorados, uma vez que o contato sensorial do indivíduo com o produto pode
conduzi-lo a várias reações fisiológicas e de caráter particular, de acordo com as
emoções ativadas pela memória; essas associações podem estar vinculadas tanto ao
objeto em si como à marca dos produtos.
O Design emocional utiliza da experimentação para a criação de produtos
que possam garantir a interação com o usuário, mas esse fato se acentua de forma
significativa, quando um indivíduo se relaciona com outro por meio de um objeto. Ou
a partir da própria interação do indivíduo com o objeto. Nesse sentido, entendemos a
formação das relações sociais por meio de um objeto que passa a ser o significante
e o representante de tal relação e, por isso, é impregnado por um sentimento de
emoção desperto no usuário a recordação de momentos bons e felizes por meio do
toque, do cheiro e até mesmo do gosto de um produto.
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65
As considerações finais deste trabalho, refaz o mesmo percurso
apresentado na introdução a fim de verificarmos os possíveis encontros e
objetivos concluídos. Algumas respostas à questões, que surgiram durante o
processo desta pesquisa, conseguiram nos aproximar de forma satisfatória
à bibliografia e autores que auxiliaram na apreensão de novos significados e
valores que subsistem nos objetos contemporâneos. Frente a alguns outros
questionamentos como a objetologia por exemplo, tivemos muito maior dificuldade
de nos aproximarmos à discussões satisfarias o que parece dever-se à novidade
do assunto e possivelmente a ausência de publicações nesta área onde nos
foi possível apenas leituras simples, pouco elaboradas e que se não ofereceu-
nos respostas convincente despertou-nos para novos questionamentos trazendo
novas perguntas que iam se estabelecendo e impondo-se no estudo e edição
deste trabalho.
Podemos entender que o homem, sempre foi visto como usuário de
um determinado objeto, que se interessava principalmente pelo desempenho
prático e funcional dos utensílios para que estes o auxiliasse na realização
das mais variadas tarefas cotidianas. Tal relação homem-objeto se efetiva ao
longo da história por fatores sociais e culturais promovidos e intensificados
sobremaneira pela revolução industrial onde ocorre o excesso na oferta de
produtos, o aumento da concorrência e o surgimento da classe assalariada ávida
por consumo de produtos.
Desde a Revolução industrial, mudanças como a aceleração na fabricação
e o desejo de aquisão, deram, paulatinamente ao homem a autonomia na escolha
de seus produtos, principalmente se considerarmos o aumento da oferta e da
concorrência. Assim, as empresas buscarão não só atender como também antecipar
e também criar novos tipos de necessidades e desejos de um indivíduo e de um
determinado grupo. O simples usuário passou então a se destacar cada vez mais
como consumidor e como público-alvo da maioria das empresas sendo considerado
66
assim como responsável por diversas adaptações, adequações e modificações no
sistema de produção fabril. Suas necessidades, seus anseios, gostos e principalmente
desejos tornaram-se o maior mercado exploratório das fábricas de produtos.
A cultura do homem na contemporaneidade foi decisivamente atingida,
modificou-se. O consumidor agora mergulhado nesse mar de ofertas a sua disposição
acabou por tornar-se ávido por novos produtos, lançamentos, o que imprime ao
mercado um consumo exagerado que busca incessantemente atender a novos desejos
e caprichos como também investir no provocar e despertar novas necessidades até
então inimagináveis consideradas então necessárias para garantir e proporcionar
novos padrões de bem estar, de convivência, de relacionamento entre o sujeito e
seus produtos os que falam sobre sua identidade, gostos, preferências, adesões, seu
estilo de vida, sua forma de crer e pertencer à sua contemporaneidade. Neste sentido
esse novo sujeito Hiperconsumidor, assim denominado por Guilles Lipovetsky na
contemporaneidade, está buscando sempre alguma coisa na esperança de saciar sua
ânsia frente a curiosidade, ao desejo de incorporação de novidades ao seu universo
de significação. É justamente neste sentido que aspectos emocionais são acionados
e incorporados nos objetos contemporâneos para que estes possam representar
algo mais significativo para um determinado indivíduo ou grupo, atendendo mesmo
que momentaneamente esta lacuna de pertencimento e adesão, reconhecimento e
identificação emocional do homem contemporâneo.
Para acompanhar a evolução social e cultural, alguns objetos tiveram que
se adequar a este novo cenário para atender ao homem em seus anseios, vontades
e caprichos o que significou então uma certa incorporação de características
emocionais que tocassem o homem de algum modo e justamente por isso suas
funções estética, simbólica e prática estão sempre se reconfigurando dentro de um
mesmo objeto de acordo com o olhar do consumidor.
Neste sentido conseguimos encontrar inúmeros objetos que para uns
possuem um significado extraordinariamente grandioso e para outro pode não
67
representar absolutamente nada, conseguimos entender também que alguns objetos
possuem um significado estético para uma cultura e outro para outra, como é o caso
dos hashis (palitos japoneses) e dos talheres.
As funções estética e simbólica ganham a cena neste contemporâneo e o
justamente as mesmas que devem ganhar a atenção dos designers contemporâneos
que pensam em tratar a emoção nos produtos a serem criados. Simbologias que
despertem nos usuários sensões que foram ou que desejam ser vivenciadas ou
experenciadas em algum momento de suas vidas, que tragam recordações que podem
estar refletidas e incorporadas no objeto pela forma, na cor, na textura ou mesmo
na estrutura de um determinado objeto. É nela, na possibilidade de recuperação e
identificação/compreensão dos processos simbólicos que as emões e sensações
serão incorporados para que possam despertar um sentimento agradável no seu
usuário.
Mesmo que dependam das vontades e desejos dos homens os objetos
são passíveis de serem pensados no que diz respeito a sua evolução e neste sentido
procuramos compreender a objetologia e todo o seu repertório evolucionista de
estudo do ambiente objetual artificial e dos caminhos que os objetos percorreram
até tornarem-se complexamente o que são hoje, adquirindo neste percurso, diversa
características que garantiram sua adaptação ao tempo contemporâneo do homem.
A aproximação com a teoria da co-evolução entre o homem e os objetos
é um ponto importante para este trabalho, pois é nela que buscamos compreender
que nem o homem nem o objeto consegue sobreviver sem a interação entre ambos.
Tal interação, desde a revolução industrial até meados do século XX, era assegurada
apenas pela função prática dos objetos que certamente possibilitavam uma certa
facilidade para que o indivíduo realizasse suas tarefas cotidians, das mais simples
até as mais complexas. Hoje esta função prática se torna multipla com os objetos
multifuncionais de certa forma.
68
O que realmente faz sentido no contemporâneo são os significados que
damos aos objetos, e por isso muitos são utilizados para outras funções práticas
totalmente diferentes a qual ele foi inicialmente proposto. Neste sentido os objetos são
utilizados conforme vontade e desejo de seus usuários.
A função simbólica se torna responsável tambem no processo de interação
entre homem e objeto, ganhando um espaço cada vez maior no projeto de criação de
um produto. Além do uso ou não uso, o interpretar”, ler”, “assimiliar”, “perceber,
“sentir”, etc, são fatores fundamentais para se pensar um objeto e para que este co-
evolua junto com o consumidor.
A simbologia é a maior responsável pela criação de objetos com significado
afetivo relevante para o usuário, objetos hoje são compreendidos como formadores de
nossas relações sociais que estão cada vez mais escassas e distantes, por isso os
objetos precisam se configurar também com tais características. Devemos portanto
entender os artefatos como senhores de nossos tempo, talvez agora o homem não
mais seja o grande senhor da contemporaneidade, ela esteja diretamente ligada ao
objeto que documenta e conta as histórias de seus desejos, carências e paixões.
Entender os aspectos simbólicos que garantem a interação homem/ objeto
nos coloca diante de um amplo campo de pesquisa empirico-teórico, dando chance a
uma nova visõ sobre o comportamento humano e suas relações sociais e culturais a
partir da interação com os objetos.
69
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e a natureza humana. Rio de Janeiro. Senac, 2002.
NORMAN, Donald A. O Design do dia-a-dia. Rio de Janeiro: Racco, 2002.
NORMAN, Donald A. Emotional Design: Why we Love (or hate) everday things.
New York: Basic Books, 2005.
PETROSKI, Henry. A evolução das coisas úteis: clipes, garfos, latas, zíperes e
outros objetos do nosso cotidiano / Henry Petroski; tradução, Carlos Irineu W. da
72
Costa. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007.
PINE II, B. Joseph. Personalizando Produtos e Serviços – Customização Maciça.
São Paulo: Makron Books, 1994.
SEMPRINI, Andrea. A marca pós-moderna: Poder e Fragilidade da Marca na
Sociedade Contemporânea. São Paulo: Estação das Letras, 2006.
STALLYBRASS, Peter. O casaco de Marx. Belo Horizonte, Autêntica, 2004
73
ANEXOS DE IMAGENS
Anexos I
Anexo I
Essa lâmina ornamentada de uma scramasax (um tipo de adaga medieval) saxônica de mil
anos atrás apresenta uma inscrição que diz: “Gebereht é meu dono.”As primeiras facas eram posses
pessoais estimadas e serviam para muitas coisas. A ponta afiada pode não apenas perfurar a carne de
um inimigo, mas fatiar pedaços de comida e levá-los à boca. O cabo desta faca, muito desaparecido,
provavelmente era feito de madeira ou osso. (Petroski, 2007, p. 13).
Ao longo do tempo, as facas, como qualquer outro artefato, estavam sujeitas aos caprichos
de estilo e moda, em espcial no que diz respeito aos aspectos mais decorativos dos cabos. Esses
exemplares ingleses datam ( da esquerda para a direita) de aproximadamente 1530, 1530, 1580, 1580,
1630 e 1633. Mostram que, sob várias formas, a extremindade funcional da faca permaneceu constante
até que a introdução do garfo passasse a ser uma alternativa para espetar os alimentos. (Petroski,
2007 p. 16).
74
Os primeiros garfos de duas pontas funcionavam bem para segurar a carne a ser cortada,
mas não eram úteis para juntar ervilhas e outros alimentos pequenos. A ponta arredondada e grossa
da lâmina da faca evoluiu para levar comida à boca. A lâmina recurvada era um modo de minorar a
contorção do pulso nesse uso específico do utensílio. Os conjuntos de talheres ingleses acima datam (
da esquerda para a direita), aproximadamente, de 1670 e 1740. (Petroski, 2007. P. 23)
Com a introdução de garfos de três e quatro dentes o último algumas vezes chamado
de “colheres com fendas”- não era mais necessário, e tampouco elegante, usar a faca para juntar
a comida. Assim, a lâmina recurva, com formato balboso, passou a ser fabricada em um feitio mais
simples. Contudo, hábitos e costumes persistiram à mesa de refeições, e a nova faca, ineficaz para
exercer a antiga função, continuou a ser usada por pessoas menos requintadas para levar comida à
boca durante todo o século XIX. Da esquerda para a direita: esses conjuntos foram produzindos por
volta de 1805, 1853 e 1880. (Petroski, 2007. P.24).
75
Anexos II
( máquina de costura “Familia”Singer, 1858. A primeira máquina doméstica Singer, para
competir com a Wheeler & Wilson. Fonte: FORTY, 2004 p. 134)
76
( Máquina de costura Willcox e Bibbs, 1857. A primeira máquina de costura de baixo custo
para o mercado doméstico. Fonte: Forty, 2004, p. 134)
( Gravura de setembro de 1867, que ilustra a máquina de Wheeler & Wilson, sugerindo
que era apropriada para o lar. Fonte: FORTY, 2004, p. 134)
77
( Máquina de costura “Nova Família”Singer, 1858. Após o fracasso da máquina “Família”,
a Singer apresentou rapidamente um novo modelo para o mercado doméstico. Fonte: FORTY, 2004,
p. 135)
( Máquina de costura Esquilo, 1858. Outra tentativa, mais fantasiosa, de tornar a máquina
de costura um objeto doméstico. O esquilo foi escolhido devido a sua frugalidade e prudência. Fonte:
FORTY, 2004, p. 134)
78
(Máquina de costura com Querubim, 1858. No final da década de 1850, na corrida para
criar máquinas de costura domésticas, surgiu no mercado grande varideade de máquinas ornamentais
como essa. Fonte: FORTY, 2004, p.135)
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