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ANTOVER PANAZZOLO SARMENTO
REMOÇÃO DE POLUENTES EM SISTEMAS ALAGADOS
CONSTRUÍDOS DE ESCOAMENTO VERTICAL
CULTIVADOS COM DIFERENTES ESPÉCIES VEGETAIS
Dissertação apresentada à
Universidade Federal de Viçosa, como
parte das exigências do Programa de Pós-
Graduação em Engenharia Agrícola, para
obtenção do título de Magister Scientiae.
VIÇOSA
MINAS GERAIS – BRASIL
2010
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ANTOVER PANAZZOLO SARMENTO
REMOÇÃO DE POLUENTES EM SISTEMAS ALAGADOS
CONSTRUÍDOS DE ESCOAMENTO VERTICAL
CULTIVADOS COM DIFERENTES ESPÉCIES VEGETAIS
Dissertação apresentada à
Universidade Federal de Viçosa, como
parte das exigências do Programa de Pós-
Graduação em Engenharia Agrícola, para
obtenção do título de Magister Scientiae.
APROVADA EM: ____ / ____ / ____
____________________________
Prof. Mauro Aparecido Martinez
____________________________
Prof.ª Ann Honor Mounteer
____________________________
Prof. Antonio Teixeira de Matos
(Coorientador)
____________________________
Prof.ª Paola Alfonsa V. Lo Monaco
____________________________
Alisson Carraro Borges
(Orientador)
ads:
ii
Aos meus pais José Alfredo e Marlene Maria Panazzolo
Sarmento e minha irmã Mara Paula Panazzolo
Sarmento, pelo apoio e incentivo.
Ofereço e dedico.
iii
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, pela fé e perseverança, presentes em todos os momentos.
À minha mãe, meu pai e minha irmã, por tudo aquilo que representam em
minha formação pessoal.
À Isabella, pelo carinho e apoio em todos os momentos, e sua família, por
sempre me receberem de braços abertos.
À Universidade Federal de Viçosa, por intermédio do Departamento de
Engenharia Agrícola, pela oportunidade de realizar o curso, e à FAPEMIG, pela
concessão da bolsa de estudo.
Ao Professor Alisson Carraro Borges, pela oportunidade, incentivo e
orientação.
Ao Professor Antonio Teixeira de Matos, pelos conselhos, incentivo,
coorientação e ajuda.
A Professora Maria Eliana Lopes Ribeiro de Queiroz, pela coorientação.
Ao Professor Paulo Afonso Ferreira, pela oportunidade, conselhos e pela
orientação.
Aos membros da banca, Professores Ann Honor Mounteer, Mauro Aparecido
Martinez e Paola Alfonsa Vieira Lo Monaco pela participação e sugestões no
trabalho.
Aos Professores do DEA/UFV, pelo conhecimento e auxílio quando
solicitados.
A todos os funcionários do DEA pela eficiência, presteza e pela agradável
convivência. E a todos os funcionários da UFV que contribuíram para a condução de
meu experimento.
Aos amigos e colegas do DEA e da UFV.
Aos colegas de trabalho Ed Carlo, Maike, Paola, Júnior e Fabiana pela
contribuição ao longo deste trabalho. E a todos os amigos e colegas de curso, pela
convivência e aprendizado durante os anos de minha vida acadêmica, sintam-se
todos agradecidos.
Ao estagiário Rafael, pela disposição e contribuição com o trabalho.
E não podendo esquecer de todo pessoal da República “Tchê”, a república
mais baguala de Viçosa.
iv
CONTEÚDO
RESUMO ....................................................................................................... vi
ABSTRACT ................................................................................................. viii
INTRODUÇÃO GERAL ............................................................................... 1
INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA .............................................................. 1
OBJETIVO ....................................................................................................... 5
REFERÊNCIAS ............................................................................................... 6
CAPÍTULO 1 - EFEITO DO TEMPO DE RETENÇÃO
HIDRÁULICA E DAS ESPÉCIES VEGETAIS CULTIVADAS NO
DESEMPENHO DE SISTEMAS ALAGADOS CONSTRUÍDOS DE
ESCOAMENTO VERTICAL .................................................................... 9
RESUMO ......................................................................................................... 9
ABSTRACT ................................................................................................... 10
1.
INTRODUÇÃO ...................................................................................... 11
2.
MATERIAL E MÉTODOS .................................................................... 12
3.
RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................ 16
3.1.
Caracterização da Água Residuária da Suinocultura........................ 16
3.2.
Influência das espécies vegetais na eficiência de remoção de
poluentes da ARS .................................................................................... 18
3.3.
Influência do tempo de retenção hidráulica na eficiência de
remoção de poluentes da ARS ................................................................ 22
3.4.
Análise morfológicas das espécies vegetais ..................................... 25
3.5.
Carga mássica e aplicabilidade ......................................................... 27
4.
CONCLUSÕES ....................................................................................... 29
REFERÊNCIAS ............................................................................................. 30
v
CAPÍTULO 2 - AVALIAÇÃO DE SISTEMAS ALAGADOS
CONSTRUÍDOS DE ESCOAMENTO VERTICAL TRATANDO
ÁGUA RESIDUÁRIA DE SUINOCULTURA ....................................... 33
RESUMO ....................................................................................................... 33
ABSTRACT ................................................................................................... 35
1.
INTRODUÇÃO ...................................................................................... 36
2.
MATERIAL E MÉTODOS .................................................................... 37
3.
RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................ 40
3.1.
Eficiência dos SACs na remoção de poluentes da ARS ................... 40
3.1.1.
Sólidos ...................................................................................... 42
3.1.2.
Matéria Orgânica ...................................................................... 44
3.1.3.
Macronutrientes ........................................................................ 48
3.1.4.
Outras variáveis ........................................................................ 52
3.2.
Temperatura, umidade e evapotranspiração na casa de vegetação .. 55
3.3.
A planta e os nutrientes .................................................................... 56
3.3.1.
Produção de massa .................................................................... 56
3.3.2.
Absorção de nutrientes e sódio pelas plantas ........................... 58
4.
CONCLUSÕES ....................................................................................... 60
REFERÊNCIAS ............................................................................................. 61
CONCLUSÕES E SUGESTÕES ................................................................ 67
CONCLUSÕES GERAIS .............................................................................. 67
SUGESTÕES PARA ESTUDOS FUTUROS ............................................... 69
APÊNDICE ................................................................................................... 71
vi
RESUMO
SARMENTO, Antover Panazzolo, M.Sc., Universidade Federal de Viçosa, Fevereiro
de 2010. Dinâmica da remoção de poluentes em sistemas alagados
construídos de escoamento vertical cultivados com diferentes espécies.
Orientador: Alisson Carraro Borges. Coorientadores: Antonio Teixeira de
Matos e Maria Eliana Lopes Ribeiro de Queiroz.
Sabe-se que a água residuária da suinocultura (ARS) pode ser tratada,
aproveitada na agricultura ou ainda, ser despejada em corpos hídricos, desde que seja
atendido o que está estabelecido na legislação ambiental vigente. Face à realidade
brasileira, a escolha dos tipos de tratamentos nas áreas de criação de animais vem
recaindo em sistemas de biorremediação que conjuguem baixos custos e
simplicidade operacional. Dentre as soluções disponíveis para o tratamento da ARS,
distingue-se a aplicação em sistemas alagados construídos (SACs). Objetivou-se,
num primeiro momento, avaliar a influência do tempo de retenção hidráulica (TRH)
e das espécies vegetais cultivadas em SACs de escoamento vertical na remoção de
poluentes contidos na ARS. Foram estudados 12 SACs cilíndricos ( 0,6 m x 0,3 m
de altura, preenchidos com 25 cm de brita “zero”), sendo 3 cultivados com Cyperus
sp.(tiriricão), 3 com Heliconia rostrata (helicônia), 3 com Hedychium coronarium
(lírio-do-brejo) e 3 controles (somente com a brita). A carga orgânica aplicada por
unidade de área foi de 20 g m
-2
d
-1
de DQO. A ARS foi submetida a tratamento por
TRHs equivalentes a 24, 48, 72 e 96 h. Analisaram-se os afluentes e efluentes dos
SACs, sendo as seguintes variáveis estudadas: potencial hidrogeniônico (pH),
condutividade elétrica (CE), potencial redox (Eh), turbidez, alcalinidade (AT),
demanda química de oxigênio (DQO), nitrogênio total (N
T
), nitrogênio total Kjeldahl
(NTK), nitrogênio amoniacal (N
amon
), nitrato (N-NO
3
-
), fósforo total (P
T
), potássio
(K) e sódio (Na). As análises estatísticas foram realizadas no aplicativo WinStat
2.11, sendo utilizado o teste Tukey para a comparação entre médias, cuja avaliação
procedeu-se em nível de 1% de probabilidade. Como resultado geral, notou-se que os
SACs que trabalharam sob os maiores TRHs apresentaram as maiores remoções de
poluentes. Nos SACs cultivados, observou-se remoção de NTK 1,3 vez maior em
relação aos SACs não cultivados. Em relação à espécie vegetal a ser cultivada nos
SACs de escoamento vertical e ao TRH mais apropriado, a melhor combinação
vii
observada foi a dos SACs cultivados com Cyperus sp. operando sob TRH de 72 h,
que apresentaram as maiores remoções mássicas médias, com valores de 69,1% para
DQO, 56,5% para NTK, 61,7% para N
amon,
64,3% para fósforo e 55,0% para
potássio. Após tal constatação, em uma segunda experimentação, monitorou-se por
90 dias, SACs de escoamento vertical tratando água residuária de suinocultura
(ARS), com o objetivo de avaliar a contribuição do Cyperus sp. na remoção mássica
dos poluentes contidos na ARS. Dois SACs de escoamento vertical (sendo um
cultivado e um controle) foram operados em paralelo, sob um TRH de 72 h. As
diferenças significativas observadas, quando considerando a eficiência média de
remoção foram de 37,5 e 28,5% para o NTK, de 55,9 e 44,4% para o P
T
, 30,2 e
25,6% para AT e 26,1 e 22,9% para CE nos SACs cultivado e não cultivado,
respectivamente. Não se verificou diferença estatística entre os 2 SACs para as
demais variáveis analisadas. Com absorção de nutrientes de 21,8; 2,1; 14,0 e
0,9 g m
-2
de N, P, K e Na, respectivamente, o Cyperus sp. apresentou produtividade,
em termos de matéria seca (MS), de 674,5 g m
-2
, com uma taxa de produtividade de
MS de 7,5 g m
-2
d
-1
. Durante o período de condução do experimento, verificou-se
que a evapotranspiração média (2,7 mm d
-1
), estatisticamente superior no SAC
cultivado em relação ao não cultivado, foi fundamental na contabilização da remoção
mássica das variáveis analisadas. Como conclusão geral, observou-se que o cultivo
de plantas em SACs se faz importante para a obtenção de maiores remoções de
nutrientes, além de propiciar a formação de um ambiente com melhor estética
paisagística. Com base nos resultados obtidos, pode-se afirmar que sistemas alagados
construídos de escoamento vertical podem ser utilizados como etapa complementar
no tratamento de efluentes suinícolas.
viii
ABSTRACT
SARMENTO, Antover Panazzolo, M.Sc., Universidade Federal de Viçosa, February
2010. Dynamics of the pollutants removal in vertical-flow constructed
wetlands cultivated with different plant species. Advisor: Alisson Carraro
Borges. Co-advisors: Antonio Teixeira de Matos and Maria Eliana Lopes
Ribeiro de Queiroz.
It is known that swine wastewater (SWW) can be treated, exploited in
agriculture or be discharged to water bodies, provided it obeys what is established by
environmental law. Given the Brazilian reality, the choice of types of treatments in
the areas of animal husbandry has been focused on bioremediation systems that
combine low cost and operational simplicity. The solutions available for the
treatment of SWW include their application in constructed wetlands (CWs). The
objective, initially, was to evaluate the influence of hydraulic retention time (HRT)
and cultivated plant species in vertical-flow CWs (VFCWs) for pollutants removal.
The organic loading per unit area applied was 20 g m
-2
d
-1
of COD, to 12 cylindrical
CWs ( 0.6 m x 0.3 m, filled with 25 cm of gravel "zero"), 3 planted with Cyperus
sp., 3 with Heliconia rostrata, 3 with Hedychium coronarium and 3 controls
(unvegetated). The HRTs tested were 24, 48, 72 and 96 h. The influent and effluent
of the CWs was analyzed, by quantifying the following parameters: pH, electrical
conductivity (EC), redox potential (Eh), turbidity, alkalinity (TA), COD, TN, TKN,
NH
x
, N-NO
3
-
, TP, K and Na. Statistical analysis was performed using the software
WinStat 2.11, followed by the Tukey test for comparison between means, cat a level
of 1% probability. As a general result, it was noted that the greatest reductions were
observed when CWs operated under a higher HRT. In planted CWs TKN removals
were 1.33 times higher than in unplanted CWs. Regarding the type of plant being
grown in the VFCWs and the most appropriate HRT, the best combination observed
was that of CWs planted with Cyperus sp. operating at a HRT of 72 h, which had the
highest average mass removals, with values of 69.1% (COD), 56.5% (TKN), 61.7%
(NH
x
), 64.3% (TP) and 55.0% (K). In a second phase, after it was established that the
Cyperus sp. at a HRT of 72 h was the best combination, the VFCWs was monitored
for 90 days, to evaluate the contribution of Cyperus sp. in mass removal of pollutants
ix
in the SWW. Two VFCWs (planted and unplanted), were operated in parallel with a
HRT equivalent to 72 h. Significant differences were observed between planted and
unplanted CWs, when comparing the variables TKN (37.5 and 28.5%), TP (55.9 and
44.4%), TA (30.2 and 25.6%) and EC (26.1 and 22.9%). There was no statistical
difference between planted and unplanted CWs for most of the variables analyzed.
At a nutrient uptake of 21.8, 2.1, 14.0, and 0.9 g m
-2
of N, P, K and Na, respectively,
the Cyperus sp. presented a dry matter productivity of 674.5 g m
-2
, with a dry matter
yield of 7.5 g m
-2
d
-1
. Evapotranspiration (2.7 mm d
-1
), statistically higher in the
planted CW, has a fundamental role in accounting for the mass removal of all
variables. As a general conclusion, it was observed what VFCWs can be used to
complement treatment of SWW and the cultivation of plants in the CWs is important
to achieve higher removal of nutrients, as well as provide a more aesthetically
pleasing environmental landscape.
1
INTRODUÇÃO GERAL
INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA
A criação de suínos (Sus domesticus) tem se apresentado como uma
atividade importante, gerando renda e emprego nos vários setores da economia. A
produção dentro da cadeia suinícola, quando comparada à de outras espécies de
médio e grande porte, tem produzido grandes quantidades de carne, em reduzida
área física e curto intervalo de tempo (Oliveira, 2006). Entretanto, este ainda é um
setor que apresenta reduzida qualidade ambiental devido, principalmente, à
emissão não controlada de seus efluentes que poluem os corpos hídricos e os
solos, além de afetar a qualidade do ar.
Sabe-se que a água residuária da suinocultura (ARS) pode ser tratada,
aproveitada para diversos fins na agricultura ou ainda ser despejada em corpos
hídricos, desde que se atenda ao que está estabelecido na legislação ambiental
vigente. Face à realidade brasileira, a escolha dos tipos de tratamentos nas áreas
de criação de animais e exploração agrícola vem sendo focada em sistemas de
biorremediação que conjuguem baixos custos e simplicidade operacional.
Os alagados naturais (wetlands) são considerados depuradores de água no
ambiente, pois absorvem nutrientes e outras substâncias, reduzindo a
contaminação de ecossistemas a jusante do ponto de lançamento dos despejos
(Cole, 1998). Em razão de tal capacidade autodepuradora, sistemas alagados
construídos (SACs) têm sido implantados com bons resultados no tratamento de
águas residuárias desde as décadas de 1960 e 1970 (USEPA, 1999). O primeiro
trabalho aceito cientificamente a utilizar o conceito foi o realizado em 1952 por
Käthe Seidel, cientista alemã, que avaliou a capacidade dos sistemas na
purificação da água, cultivando Schoenoplectus lacustris sobre brita e areia como
meio suporte. Com estes estudos deu-se origem ao sistema Seidel, ou Max Planck
Institute Process (MPIP), que consistia na implantação de um sistema com
estágios de tratamento por escoamento vertical em SACs cultivados com
Phragmites australis, seguidos de células de escoamento horizontal cultivadas
2
com Schoenoplectus lacustris e de outras lulas de escoamento horizontal
cultivada com Iris pseudacorus (Kadlec e Wallace, 2009).
Esses sistemas se caracterizam por apresentar moderado custo de
instalação, reduzido consumo de energia e manutenção, estética paisagística e
aumento do habitat para a vida selvagem (Brasil et al., 2007). Os SACs podem ser
classificados em três tipos, conforme o escoamento utilizado: (i) superficial, (ii)
subsuperficial horizontal e (iii) vertical. Cada tipo de escoamento proporciona um
grau diferente de interação do efluente com as raízes, rizomas e biota microbiana
(Salati, 2000).
Nos SACs do tipo vertical, consideram-se duas direções de escoamento:
descendente (a mais frequente) e ascendente. Nos sistemas de escoamento vertical
descendente, a distribuição do efluente é feita na superfície dos leitos e o
deslocamento do líquido acontece por percolação. Nos sistemas de escoamento
vertical ascendente, o movimento do líquido ocorre por contra-percolação (Salati,
2000).
O uso de SACs de escoamento vertical ou horizontal está aumentando em
todo o mundo. Segundo Vymazal (2005), somente de escoamento horizontal
são mais de 50.000 na Alemanha, 8.000 na América do Norte, 1.000 na Áustria e
muito mais em outros países. Em relação a SACs de escoamento vertical, ainda
não se tem registros de levantamentos de dados relativos ao assunto, sendo que
seu uso em maiores escalas pode ser considerado recente. Kadlec e Wallace
(2009) citam que os SACs de escoamento vertical estão sendo utilizados com boa
aceitação, , haja vista as reduzidas áreas demandadas para a instalação desses
sistemas.
Em geral, os mecanismos envolvidos no tratamento por SACs são:
filtração pelo meio suporte e pelo biofilme, degradação microbiana da matéria
carbonácea e nitrogenada, absorção de nutrientes pelas plantas e adsorção no meio
suporte, entre outros (Kadlec e Wallace, 2009).
Particularmente em relação à remoção de nitrogênio, sabe-se que nos
SACs pode ocorrer em, no mínimo, 3 maneiras: (i) amônio oxidado a nitrito, e
este, a nitrato por bactérias nitrificantes, em condições aeróbias, e posteriormente
nitrato convertido a gás N
2
, em condições anóxicas, por bactérias desnitrificantes;
3
(ii) remoção via imobilização, por meio da absorção pelas plantas; (iii) e remoção
por volatilização da amônia. Vymazal (2007) relata que além dos processos
citados, pode ocorrer também a chamada oxidação anaeróbia de amônia,
conhecida por processo ANAMMOX, em que, ocorre a conversão anaeróbia de
NO
2
-
e de NH
4
+
a N
2.
Quanto ao fósforo, processos de precipitação química e adsorção,
assimilação pelos vegetais e biofilmes formados no substrato e no sistema
radicular da vegetação podem ocorrer frequentemente. Sabe-se que o fósforo
solúvel é facilmente absorvido pelos sistemas radiculares das plantas aquáticas. Já
a fração pouco solúvel associa-se ao ferro, ao alumínio e ao cálcio, tornando-se
pouco assimilável pela planta, bem como pelos micro-organismos (Sousa et al.,
2004).
A mitigação dos metais pesados pode ocorrer por adsorção em sítios de
troca iônica, ou precipitação como óxidos e sulfetos insolúveis. Além disso, os
íons metálicos podem ser adsorvidos em hidróxidos de ferro e manganês ou
complexados por compostos orgânicos, tais como ácidos húmicos e fúlvicos
(DeBusk, 1999).
O mecanismo envolvido no processo de redução dos coliformes, totais e
termotolerantes é uma combinação de fatores físicos, químicos e biológicos.
Dentre os fatores físicos, destacam-se: a filtração proporcionada pelo sistema
radicular das plantas e meio suporte, a fixação de biofilme no substrato e nas
macrófitas e a sedimentação. Os fatores químicos envolvem oxidação, efeito
biocida resultante de exsudatos radiculares de algumas macrófitas e adsorção ou
complexação/quelatação pela matéria orgânica (Sousa et al., 2004). O mecanismo
biológico, segundo Rivera et al. (1995), inclui produção e efusão de substâncias
químicas no ambiente que impedem o desenvolvimento de outros organismos,
predação por nematóides e parasitas, ataque por bactérias líticas e vírus e morte
natural.
A vegetação, de ão fundamental no tratamento em SACs, possibilita a
remoção de nutrientes disponibilizados pela água residuária, extraindo macro e
micronutrientes, evitando seu acúmulo e a consequente salinização do meio,
favorecendo, também, o desenvolvimento de filmes biologicamente ativos que
4
propiciam a degradação dos compostos orgânicos, concorrendo para mais
eficiente e rápida depuração da água residuária (Kadlec e Wallace, 2009). As
espécies vegetais frequentemente utilizadas em sistemas de tratamento em áreas
alagadas são plantas helófitas, sendo escassas as pesquisas e utilizações de
espécies ornamentais ou economicamente rentáveis.
Vários são os registros de SACs tratando águas residuárias agroindustriais
sob condições de clima tropical, como por exemplo águas residuárias de laticínios
(Matos et al., 2008) e da lavagem e do despolpamento dos frutos do cafeeiro (Fia
et al., 2008).
Em relação à ARS, registram-se as revisões de Hunt e Poach (2001),
Knight et al. (2000) e Cronk (1996), que compilaram dados sobre o uso de SACs
para tratamento de ARS. No Brasil, Matos et al. (2009) em um experimento com
SACs de escoamento subsuperficial horizontal, cultivados com Typha latifolia,
Alternanthera philoxeroides e Cynodon dactylon, observaram remoções de
89,0%, 96,5%, 58,1% e 50,7% para DQO, Zn, N
T
e P
T
, respectivamente, com os
SACs operando sob uma taxa de carregamento orgânico (L
S
) de 59,1 g m
-2
d
-1
de
DQO.
No que se refere a SACs de escoamento vertical, no Brasil, registra-se o
estudo de Sezerino et al. (2003), que avaliaram esse sistema no pós tratamento de
ARS efluente de sistema de lagoas de estabilização. Os autores afirmam, nesse
estudo, que são necessárias mais pesquisas para ampliar os conhecimentos acerca
dos mecanismos de remoção de nutrientes da ARS.
Diante do exposto, verifica-se a necessidade de melhor compreensão da
remoção/retenção dos poluentes de ARS em SACs de escoamento vertical, uma
vez que poucos são os relatos sobre o uso desses sistemas para tal proposta.
5
OBJETIVO
O presente estudo teve como objetivo avaliar a remoção de poluentes da
água residuária de suinocultura, em sistemas alagados construídos de escoamento
vertical cultivados com as espécies Heliconia rostrata (helicônia), Hedychium
coronarium (lírio-do-brejo) e Cyperus sp. (tiriricão), analisada com base na
influência das plantas e no tempo de retenção hidráulica (TRH).
Para o cumprimento do objetivo geral, a pesquisa foi realizada em duas
etapas. Na primeira fase, estudou-se SACs submetidos a choques de cargas
orgânicas, com o intuito de se observar a robusticidade das plantas e,
consequentemente, a melhor interação entre espécie vegetal e TRH. Após a
definição de condição experimental ótima (espécie e TRH), realizou-se uma
segunda experimentação, em médio prazo, na qual foram investigadas, durante
um período de 90 dias, as diferenças na operação e desempenho entre sistemas
cultivados e não vegetados, sendo que nesta etapa as plantas já estavam adaptadas
a aplicação de ARS.
6
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9
CAPÍTULO 1
EFEITO DO TEMPO DE RETENÇÃO HIDRÁULICA E DAS
ESPÉCIES VEGETAIS CULTIVADAS NO DESEMPENHO DE
SISTEMAS ALAGADOS CONSTRUÍDOS DE ESCOAMENTO
VERTICAL
RESUMO
Como objetivo precípuo deste estudo, visou-se avaliar a influência do
tempo de retenção hidráulica (TRH) e das espécies vegetais cultivadas em SACs
de escoamento vertical, na remoção de poluentes. A carga aplicada orgânica por
unidade de área foi de 20 g m
-2
d
-1
de DQO, sendo 9 SACs cilíndricos, cultivados
com Cyperus sp. (tiriricão), Heliconia rostrata (helicônia) e com Hedychium
coronarium (lírio-do-brejo) separadamente e 3 SACs controle, não plantados. Os
TRHs testados foram 24, 48, 72 e 96 h. As variáveis estudadas foram: pH,
condutividade elétrica, potencial redox, turbidez, alcalinidade, DQO, N
T
, NTK,
N
amon
, N-NO
3
-
, P
T
, K e Na. A comparação de médias foi realizada com o teste
Tukey, em nível de 1% de probabilidade. Notou-se que as maiores remoções
foram observadas quando os SACs trabalharam sob maiores TRHs. Nos SACs
cultivados, observaram-se remoções médias (NTK) 1,3 vez maior que as obtidas
nos SACs não cultivados. Concluiu-se que a melhor combinação observada foi a
dos SACs cultivados com Cyperus sp. trabalhando sob o TRH de 72 h, com
remoções mássicas médias de 69,1% (DQO), 56,5% (NTK), 61,7% (N
amon
)
,
64,3%
(P) e 55,0% (K).
PALAVRAS-CHAVE: macrófitas tropicais, escoamento vertical, Cyperus sp.,
tempo de retenção
10
EFFECT OF CULTIVATED SPECIES AND HYDRAULIC
RETENTION TIME ON THE PERFORMANCE OF VERTICAL-
FLOW CONSTRUCTED WETLANDS
ABSTRACT
This study aimed to evaluate the influence of hydraulic retention time
(HRT) and cultived species in vertical-flow constructed wetlands (VFCWs) on
pollutants removal. The organic loading per unit area applied was 20 g m
-2
d
-1
of
COD, in 9 cylindrical CWs, planted with Cyperus sp., Heliconia rostrata and
Hedychium coronarium and 3 controls, containing only gravel. The HRTs tested
were 24, 48, 72 and 96 h. The influent and effluent of the VFCWs were analyzed,
far the following parameters: pH, electrical conductivity, redox potential,
turbidity, alkalinity, COD, TN, TKN, NH
x
, N-NO
3
-
, TP, K and Na. Statistical
analysis was performed using WinStat 2.11 at the 1% level of probability
according to the Tukey test. It was noted that the greatest reductions were
observed when CWs was operated at higher HRT. In the planted CWs removals
(TKN) 1.33 times higher than in unplanted CWs were observed. The best
combination observed was that of CWs planted with Cyperus sp. operating at a 72
h HRT, which had the highest average mass removals, with values at 69.1%
(COD), 56.5% (TKN), 61.7% (NH
x
), 64.3% (TP) and 55.0% (K).
KEYWORDS: tropical macrophytes; vertical flow pathway; Cyperus sp.;
retention time
11
1. INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, têm sido observados grandes avanços no
desenvolvimento e na pesquisa de técnicas de tratamento de águas residuárias,
tanto para satisfazer o tratamento em sistemas de maior complexidade, quanto
para os de pequeno porte e simplicidade operacional, como lagoas de
estabilização, reatores anaeróbios e sistemas alagados construídos (Mazzola et al.,
2005).
No entanto, no Brasil, o número de estudos científicos sobre SACs
tratando efluentes agroindustriais ainda é modesto. Registram-se estudos recentes
sobre o uso de sistemas de escoamento sub-superficial horizontal (Brasil et al.,
2007; Fia et al., 2008 e Matos et al., 2008), mas quando considera-se a
possibilidade do uso de sistemas verticais, as informações de resultados de
pesquisa podem ser consideradas escassas. Os SACs de escoamento horizontal,
tem se mostrado promissores devido à alta capacidade em remover matéria
orgânica, fácil implantação e baixo custo. Seguindo essa mesma linha de pesquisa,
porém se objetivando melhor remoção de poluentes, em especial de nitrogênio,
iniciaram-se os estudos em SACs de escoamento vertical, nos quais é de se
esperar uma oxigenação maior do meio suporte e o favorecimento dos processos
de nitrificação-desnitrificação.
Fatores adicionais às configurações de construção que influenciam
diretamente na eficiência de remoção dos poluentes são o tempo de retenção
hidráulica (TRH) adotado e a espécie vegetal cultivada no sistema. O TRH pode
variar de horas até mesmo dias. As espécies vegetais, cada uma com sua
particularidade, podem ser utilizadas separadamente ou de maneira consorciada,
tentando combinar as qualidades e a absorção de nutrientes para determinados
fins.
O TRH em SACs de escoamento vertical pode ser contabilizado de duas
formas: considerando como sendo o tempo de esvaziamento do SAC após ter sido
cheio (Cooper et al., 1997) ou como o tempo de reação pré-estabelecido para
permanência da água residuária no sistema (Mazzola et al., 2005).
12
As plantas têm papel importante na remoção de nutrientes específicos.
Matos et al. (2009a), relatam, por exemplo, a absorção de 106,8 g m
-2
de
nitrogênio pela Alternanthera philoxeroides e a absorção de 10,7 g m
-2
de fósforo
pela Cynodon dactylon. No entanto, apesar de considerável tempo de estudo em
nível internacional, pode-se afirmar que o papel das plantas em SACs precisa ser
melhor entendido (Brix, 1997; Mara, 2004).
Objetivou-se, com a realização deste trabalho, avaliar a influência do
tempo de retenção hidráulica e das espécies cultivadas em SACs de escoamento
vertical na remoção de poluentes da água residuária da suinocultura.
2. MATERIAL E MÉTODOS
Conduziu-se o experimento em casa de vegetação, localizada na área
experimental do Centro de Referência em Estudos Hídricos do DEA/UFV
(Departamento de Engenharia Agrícola da Universidade Federal de Viçosa),
situada na cidade de Viçosa, Minas Gerais (latitude 20°45’14” S, longitude
42°52’53” W, altitude média de 650 m e clima Cwa, segundo a classificação de
Köeppen).
Aplicou-se a ARS em recipientes metálicos, cilíndricos, cada um com
dimensões aproximadas de 30 cm de altura, sendo 25 cm preenchidos com brita
“zero” (diâmetro D
60
= 7,0 mm, coeficiente de uniformidade D
60
/D
10
de 1,6 e
volume de vazios de 0,491 m
3
m
-3
) e 60 cm de diâmetro, que foram utilizados
como SACs verticais.
Três espécies vegetais foram utilizadas: (i) Heliconia rostrata, conhecida
como helicônia ou bananeira-do-brejo, planta ornamental, de clima tropical,
escolhida na tentativa de ser uma planta economicamente viável, com a venda de
suas flores; (ii) Hedychium coronarium, conhecida popularmente como lírio-do-
brejo, jacinto, cananéia ou mariazinha, escolhida com base na possibilidade de
uma melhor estética paisagística; e (iii) Cyperus sp., denominada tiriricão,
escolhida por ser uma planta com aparente robustez e que em abundância em
regiões inundadas.
13
O experimento foi constituído de quatro tratamentos, com três repetições
cada, sendo eles: HEL SACs cultivados com Heliconia rostrata, LIR SACs
cultivados com Hedychium coronarium, TIR SACs cultivados com Cyperus sp.
e BRI SACs não cultivados (testemunhas). Quatro tempos de retenção
hidráulica (TRH) foram utilizados para os SACs, sendo eles de 24, 48, 72 e 96
horas, os TRH correspondem ao tempo desde a abertura do registro até o
esvaziamento do SAC, com as respectivas taxas de aplicação hidráulica (TAH)
63,7; 31,8; 21,2 e 15,9 mm d
-1
, o TRH foi controlado através da vazão efluente
por meio de aferição manual (uso de cronômetro e proveta). A carga orgânica por
unidade de área (L
S
) aplicada foi de 20 g m
-2
d
-1
de DQO (Winter e Goetz, 2003).
O arranjo experimental utilizado foi o de parcelas subdivididas, onde a parcela
representou a espécie vegetal cultivada e a subparcela, o TRH.
Coletou-se, de zonas úmidas naturais de Viçosa-MG, e transplantou-se
para os SACs, 3 mudas de plantas, que foram cultivadas em solução Hoagland
50%, para ambientação. Após o período de ambientação (90 dias), sucederam-se,
as aplicações de ARS por 16 dias consecutivos, escalonando o TRH de 24 em 24
horas até chegar ao de 96 h e retornando, no mesmo escalonamento, ao de 24 h,
visando a diminuição no erro experimental dos extremos.
Em cada SAC, aplicaram-se 18 dm
3
de ARS; após o preenchimento do
SAC com a ARS abriam-se os registros e a ARS era drenada para recipientes de
coleta.
Na Figura 1.1 está apresentado, uma visualização em corte, de um SAC
vegetado.
14
Figura 1.1. Visualização em corte de uma das células de SAC.
A ARS foi coletada na entrada do sistema de armazenamento de ARS da
UFV, localizada próximo à Área Experimental de Hidráulica, Irrigação e
Drenagem da UFV e era constituída principalmente de urina e água de lavagem
das baias de criação da suinocultura.
As concentrações afluentes e efluentes (brutas) das variáveis demanda
química de oxigênio (DQO), nitrogênio total Kjeldahl (NTK), nitrogênio
amoniacal (N
amon
), nitrato (N-NO
3
-
), fósforo total (P
T
), turbidez, potencial
hidrogeniônico (pH), potencial de oxi-redução (Eh) e condutividade elétrica (CE)
foram determinadas nas amostras a fim de se analisar o comportamento destas em
cada tempo de retenção e em cada tratamento.
Para poder obter o valor real de redução mássica (com base na massa de
poluente removida) nas variáveis analisadas, em cada ciclo de tratamento, era
também registrado a evapotranspiração (volume inicial aplicado menos o volume
final coletado) em cada SAC, fazendo-se a compensação da concentração no
efluente coletado, em todos os SACs, em relação ao volume inicial.
Recolheu-se, também, amostras do material usado como meio suporte
(brita “zero”) para análise respirométrica (análise do consumo de oxigênio pelos
micro-organismos) pela método de Anderson (1982), que permite estimar a
atividade biológica, inferindo sobre a presença ou não de micro-organismos
aeróbios. Quantificou-se a taxa de respiração microbiana do meio suporte, por
meio da quantidade de CO
2
evoluído, o qual foi capturado em frascos contendo
15
100 mL de NaOH (0,25 mol L
-1
), em sistema contínuo de fluxo de ar (isento de
CO
2
e umidade, por meio passagem do ar em frascos contendo NaOH 4 mol L
-1
).
Após determinado período de incubação, procedeu-se então à titulação indireta do
hidróxido de sódio com HCl (0,25 mol L
-1
); o excesso de NaOH que não reagiu
com o CO
2
evoluído foi quantificado.
Todas as análises dos afluentes e efluentes foram determinadas no
Laboratório de Qualidade da Água do DEA/UFV, conforme preconizado no
Standard Methods for the Examination Water and Wastewater (APHA et al.,
2005). Os métodos utilizados para determinação das variáveis estão apresentados
na Tabela 1.1.
Tabela 1.1. Métodos utilizados na determinação das variáveis
Variável Método/Aparelho
Demanda Química de Oxigênio Oxidação química em refluxo aberto
Nitrogênio total Kjeldahl Processo semimicro Kjeldahl
Nitrogênio amoniacal Processo semimicro Kjeldahl
Nitrato Espectrofotometria
Fósforo total Espectrofotometria
Potássio Fotometria de chama
Sódio Fotometria de chama
Turbidez Turbidímetro
Potencial hidrogeniônico Peagâmetro
Potencial de oxi-redução Potenciômetro
Condutividade elétrica Condutivímetro
As análises respirométricas, foram conduzidas no Laboratório de
Herbicida no Solo do Departamento de Fitotecnia da UFV.
Amostras da parte aérea e da parte inferior (rizomas e raízes) das plantas
foram secas em estufa com recirculação de ar, sob temperatura de 65 °C por 72
horas e posterior trituração em moinho tipo Wiley, de acordo com as
recomendações de Silva (2009), para análises nutricionais. Tais diagnósticos
foram realizados no Laboratório de Solos e Resíduos Sólidos do DEA/UFV.
Com base na análise nutricional da planta, realizou-se o cálculo da taxa de
absorção de nutrientes pela mesma, sendo que a absorção é a concentração do
nutriente multiplicada pela produção de massa da parte em questão a ser analisada
16
(aérea ou inferior), e esta absorção dividida pela área, resulta na taxa de absorção
de nutrientes.
Os resultados obtidos foram analisados por meio de Análise de Variância
(ANOVA), complementando com teste de comparação de médias de Tukey. Os
resultados estatísticos foram discutidos a 1% (P < 0,01) de nível de significância
para analisar as diferenças entre médias em nível mais restrito. As análises
estatísticas foram realizadas utilizando-se o software estatístico WinStat 2.11
(Machado e Conceição, 2001) .
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1. Caracterização da Água Residuária da Suinocultura
A água residuária gerada pela suinocultura da UFV, sob manejo seco, é
constituída principalmente por urina e água de lavagem com restos de raspagem
da parte sólida. Com base nos valores de DQO obtidos para a ARS bruta, a
mesma foi diluída para atender o preestabelecido no item “material e métodos”.
Observou-se não haver uma homogeneidade nos valores, devido, provavelmente,
ao sistema de manejo que ora apresentava elevada quantidade de matéria orgânica
e ora apresentava o inverso.
Para verificar a caracterização da ARS aplicada e as taxas de aplicação,
das variáveis analisadas, resultantes das diluições apresenta-se nas Tabelas 1.2 e
1.3 a caracterização da ARS aplicada nos SACs conformes os TRHs e os valores
das taxas de aplicação superficiais das variáveis analisadas no experimento,
respectivamente.
17
Tabela 1.2. Caracterização da água residuária de suinocultura (ARS) diluída que
fora aplicada nos respectivos tempos de retenção hidráulica (TRHs). (Valores
médios)
Variáveis*
TRHs
24 h 48 h 72 h 96 h
DQO (g m
-
3
) 311,2 623,6 935,5 1245,3
NTK (g m
-
3
) 140,2 241,2 303,1 376,4
N
amon
(g m
-
3
) 120,6 225,8 270,6 317,0
N-NO
3
-
(g m
-
3
) 0,2 0,3 0,4 0,6
P
T
(g m
-
3
) 18,4 24,6 29,6 38,4
K (g m
-
3
) 36,0 70,0 100,0 150,0
Na (g m
-
3
) 55,0 70,0 84,0 100,0
Turbidez (UNT) 28,9 35,8 46,6 54,1
pH 8,0 7,9 8,1 8,0
Eh (mV) -101,0 -92,0 -110,0 -115,0
CE (µS cm
-
1
) 1786,0 2000,5 2371,5 3108,0
* Os valores são referentes às amostras já diluídas para a taxa de aplicação de DQO de 20 g m
-2
d
-1
.
Tabela 1.3. Taxas médias de aplicações superficiais (g m
-2
d
-1
) da água residuária
de suinocultura (ARS) conforme os respectivos tempos de retenção hidráulica
(TRHs).
Variáveis / TRH
L
S
(g m
-
2
d
-
1
)
24 h 48 h 72 h 96 h
DQO 19,8 19,8 19,9 19,8
NTK 8,9 7,7 6,4 6,0
N
amon
7,7 7,2 5,7 5,0
N-NO
3
-
12,7 x 10
-3
9,5 x 10
-3
8,5 x 10
-3
9,5 x 10
-3
P
T
1,2 0,8 0,6 0,6
K 2,3 2,2 2,1 2,4
Na 3,5 2,2 1,8 1,6
18
3.2. Influência das espécies vegetais na eficiência de remoção de poluentes da
ARS
Os resultados obtidos no experimento e a análise estatística demonstraram
que o SAC cultivado com Cyperus sp. apresentou, em geral, a maior redução na
concentração de NTK (43,4%), N
amon
(44,5%), P
T
(54,5%) e K (31,1%), nas
concentrações efluentes dos SACs, em relação aos outros tratamentos. O maior
consumo de alcalinidade (redução de 28,0%) também foi observado no SAC
cultivado com Cyperus sp.. Em relação à variável DQO, notou-se que não houve
diferença estatística entre os tratamentos, conforme apresentado na Tabela 1.4.
Tabela 1.4. Valores médios de remoção de DQO (Demanda Química de
Oxigênio), NTK (Nitrogênio Total Kjeldahl), N
amon
(Nitrogênio Amoniacal), P
T
(Fósforo), K (Potássio) e AT (Alcalinidade Total) nos SACs em função do
tratamento
Espécies
Redução (%)
DQO* NTK* N
a
mon
* P
T
* K* AT*
Cyperus 59,6 a 43,4 a 44,5 a 54,5 a 31,1 a
28,0 a
Hedychium 59,0 a 34,1 b 34,5 bc 44,3 b 22,7 c
25,2 ab
Heliconia 57,2 a 33,8 b 36,9 b 37,6 c 21,4 c
25,4 ab
Controle 58,2 a 27,9 c 28,5 c 48,5 ab
27,6 b
23,6 b
Médias seguidas das mesmas letras nas colunas não diferem entre si, pelo teste de Tukey. *1% de
probabilidade.
Notou-se que não houve diferença significativa na remoção de DQO em
função dos tratamentos cultivados e não cultivado, conforme evidenciado nos
resultados das análises estatísticas. Tal observação também foi feita por Mazzola
et al. (2005), que utilizaram SACs de escoamento vertical não cultivados e
cultivados com Typha spp. e Eleocharis spp. ao tratarem o efluente de um reator
anaeróbio compartimentado.
No México, foram realizados testes comparando SACs sob diferentes tipos
de escoamento (Zurita et al., 2009). Estudaram-se plantas ornamentais
(Zantedeschia aethiopica, Strelitzia reginae, Anthurium andreanum e Agapanthus
africanus) nos SACs, tratando esgoto doméstico, sob L
S
média de 9,9 g m
-2
d
-1
de
DQO, 1,2 g m
-2
d
-1
de NTK e 0,3 g m
-2
d
-1
de P
T
, os pesquisadores observaram
remoções de 83,3 e 77,1% de DQO, 50,5 e 51,7% de NTK, 50,6 e 35,8% de P
T
,
19
respectivamente, no SAC de escoamento vertical e no SAC de escoamento
horizontal.
Mas a principal observação relatada pelos autores supracitados foi a
diferença significativa nas concentrações de oxigênio dissolvido (OD) nos
efluentes. Nos SACs de escoamento vertical, registraram-se valores superiores a
2,0 g m
-3
de OD nos efluentes, enquanto nos sistemas de escoamento horizontal,
as concentrações permaneceram próximas a zero (mesmo valor do afluente
aplicado).
Yalcuk e Ugurlu (2009) ao utilizarem SACs de escoamento vertical
cultivados com Typha latifolia, com uma camada de areia além da camada de
brita, tratando lixiviado de aterro sanitário, sob uma TAH de 0,02 m
3
m
-2
d
-1
e
uma L
S
de 2,4 g m
-2
d
-1
de N
amon
,
obtiveram remoção média de 48,9% de N
amon
,
valor este próximo ao encontrado no presente trabalho em SAC cultivado com
Cyperus sp. (44,5%) e superior aos demais tratamentos.
Os autores citados acima observaram, também, remoção média de 30,6%
na DQO, sob L
S
de 4,2 g m
-2
d
-1
de DQO, sendo este valor inferior a todos os
observados neste trabalho. Um dos motivos para que este valor seja menor pode
estar associado ao fato de que a relação DBO
5
/DQO do lixiviado de aterro é muito
reduzida, ou seja, a maior parte dos compostos orgânicos é de biodegradabilidade
muito lenta.
Maiores remoções foram observadas por Ouattara et al. (2009), em SACs
de escoamento vertical, tratando esgoto doméstico, sob valores de L
S
dias de
20,5 g m
-2
d
-1
de DQO e 2,1 g m
-2
d
-1
de N
amon
. Os autores reportam remoções de
DQO equivalentes a 91,4 e 72,2%, para SACs cultivados com Panicum maximum
e não cultivados, respectivamente. Em relação ao nitrogênio amoniacal, a remoção
observada nos SACs cultivados foi de 86,5%, superior ao do sistema controle,
equivalente a 65,9%.
Matos et al. (2009b) estudaram SACs de escoamento horizontal cultivados
com Typha latifolia, Alternanthera philoxeroides e Cynodon dactylon, tratando
ARS. Os sistemas operavam sob L
S
médias de 2,2 g m
-2
d
-1
de P
T
e 9,3 g m
-2
d
-1
de NTK. Quando comparados os dados obtidos no presente trabalho, verifica-se
que o SAC vertical cultivado com Cyperus sp. apresentou remoção de fósforo de
20
54,5%, valor superior ao relatado pelos autores citados (50,7%). Por outro lado, a
remoção de NTK reportada pelos mesmos autores, equivalente a 58,7%; foi maior
do que a verificada no presente estudo (43,4%). Entende-se que as remoções de
nutrientes estejam ligadas principalmente com a absorção de nutrientes das
plantas, podendo a remoção de nutrientes variar, então, com a necessidade
nutricional das plantas.
O valor médio de elevação da concentração de nitrato no tratamento com o
Cyperus sp. foi de 318,1%, seguido do Hedychium coronarium, do controle e da
Heliconia rostrata, respectivamente, 220,6, 198,5 e 191,6%. Mesmo com o
aumento na concentração de nitrato em todos os tratamentos, não se observou
diferença estatisticamente significativa entre os mesmos. Em vista dos valores
afluentes tão reduzidos de nitrato (quase nulos), mínimos valores observados no
efluente resultam, aparentemente, em consideráveis elevações da concentração de
nitrato.
O aumento na concentração de nitrato pode estar associado ao processo de
nitrificação, devido ao fato de que os SACs de escoamento vertical oferecem
melhores condições de oxigenação para a água residuária, atrelado ao fato de a
aplicação ser intermitente, onde um maior fornecimento de oxigênio no
material filtrante, pois quando o lançamento de água residuária, o oxigênio
contido na massa do leito, se mantém, somando com a nova quantidade de
oxigênio que sofre arraste pela nova aplicação (Kadlec e Wallace, 2009).
O SAC cultivado com Cyperus sp. foi o que mais removeu nitrogênio
amoniacal, tendo, ao mesmo tempo uma maior nitrificação, apresentando relação
direta entre os fenômenos. No entanto, a relação citada por Mazzola et al. (2005),
de 1 g m
-3
de N-NO
3
-
gerado para cada 5 g m
-3
de N
amon
consumidos, não foi
observada. Um fator que está envolvido no sistema e pode afetar diretamente essa
relação é o consumo de nitrogênio pelas plantas, pois estas absorvem o nitrogênio
que necessitam, preferencialmente nas formas de nitrato e de amônio (o nitrogênio
amoniacal é, em função do pH do meio, praticamente todo NH
4
+
). No caso dos
SACs não cultivados, em que não a interferência da planta no meio, deve-se
relevar a questão de que as concentrações de oxigênio dissolvido e de alcalinidade
possam ser fatores limitantes a esta relação. Outro fator importante, citado por
21
Kadlec e Wallace (2009) é que os micro-organismos facultativos (presentes nos
SACs) em condições anaeróbias e pH do meio superior a 7,0, na falta de O
2
no
meio podem utilizar o NO
3
-
e o NO
2
-
como aceptores de elétrons substitutos,
liberando no meio OH
-
, o que pode explicar, em parte, a elevação do pH nos
SACs utilizados neste experimento.
Mazzola et al. (2005) estudando SACs de escoamento vertical
encontraram valores inferiores de remoção de nitrogênio amoniacal (1,5-14,2%)
ao comparar com os observados neste experimento (28,5-44,5%).
A disponibilidade de alcalinidade também é um fator que influencia o
processo de nitrificação, conforme citado pela USEPA (1993) e exemplificado por
Kadlec e Wallace (2009), para cada 1 mg de nitrogênio amoniacal nitrificado,
aproximadamente 7,1 mg de alcalinidade (expressa sob a forma CaCO
3
) serão
consumidos, no entanto, não verificou-se correlação direta entre estas variáveis
para todos os tratamentos, exceto no tratamento com Cyperus sp., onde essa
correlação foi verificada, havendo maior remoção de nitrogênio amoniacal e
maior consumo de alcalinidade, o que acredita-se ter possibilitado maior
nitrificação no meio. Nos demais tratamentos, onde não se verificou a mesma
correlação, pode-se inferir que houve oxigenação inferior à proporcionada no
tratamento com Cyperus sp., podendo-se atribuir a maior redução nas
concentrações de nitrogênio amoniacal, comparativamente ao controle, a absorção
pelas plantas.
Em relação ao potássio da ARS, observou-se que a maior remoção média
foi obtida no SAC cultivado com Cyperus sp. (31,1%), seguido do SAC não
cultivado (27,6%) e as menores reduções foram nos SACs cultivados com
Hedychium coronarium (22,7%) e Heliconia rostrata (21,4%). Novamente, o
SAC cultivado com Cyperus sp. apresentou desempenho semelhante ao observado
em SACs horizontais (Matos et al.,2009b).
Ao analisar os dados de turbidez (comparação entre médias dos
tratamentos, teste Tukey, P < 0,01) notou-se que o tratamento com brita foi o que
proporcionou a maior remoção (35,6%), seguido juntamente pelo tratamento com
Hedychium coronarium e com a Heliconia rostrata (22,2 e 20,0%) e depois pelo
Cyperus sp. (-1,3%) que, ao invés de remover aumentou a turbidez. Acredita-se
22
que essa elevação de turbidez e também a menor remoção de turbidez dos demais
tratamentos esteja associada a liberação de exsudatos e detritos na rizosfera, pois,
segundo Kadlec e Wallace (2009), os exsudatos liberados pelas raízes, que servem
para ajudar a desintoxicar a rizosfera, são compostos orgânicos que podem
influenciar a turbidez do meio líquido.
Nas análises respirométricas, foram obtidos os valores de 34,8 µg g
-1
d
-1
e
25,3 µg g
-1
d
-1
[CO
2
produzido por massa de meio suporte inoculado] nos SACs
vegetados e não vegetados, respectivamente. Observa-se que os sistemas não
cultivados (controles) apresentaram menor taxa respirométrica.
A maior respiração nos SACs cultivados pode ser relacionada com os
sítios da região rizosférica, que proporcionam maior área para formação de
biofilmes bacterianos. Tal constatação (maior respiração nos SACs vegetados),
somada à observação de remoções significativamente (P < 0,01) superiores de
NTK, N
amon
e K, reforça a idéia da importância do cultivo de plantas em sistemas
alagados construídos no tratamento de águas residuárias.
3.3. Influência do tempo de retenção hidráulica na eficiência de remoção de
poluentes da ARS
Com base nas análises estatísticas em relação ao TRH (Tabela 1.5), pode-
se observar, analisando o conjunto, que o TRH de 72 h proporcionou a maior
remoção de matéria orgânica (DQO) e das demais variáveis, em geral. O TRH de
72 h só não apresentou a maior média de remoção para a variável P
T
e
do mesmo
modo apresentou-se estatisticamente igual ao tempo de 96 h para remoção de
DQO e de N
amon
, bem como ao tempo de 48 h para a remoção de N
amon
.
23
Tabela 1.5. Valores médios de remoção de DQO (Demanda Química de
Oxigênio), NTK (Nitrogênio Total Kjeldahl), N
amon
(Nitrogênio Amoniacal), P
(Fósforo), K (Potássio) e AT (Alcalinidade Total) nos SACs, em função do TRH
TRH (h)
Redução (%)
DQO* NTK* N
a
mon
* P
T
* K* AT*
24 46,5 c 29,0 c 28,5 b 43,0 b 20,6 c 17,4 c
48 54,4 b 37,1 ab 40,0 a 46,5 ab 35,9 a 25,3 b
72 67,2 a 38,3 a 37,9 a 44,6 b 36,7 a 29,9 a
96 65,7 a 34,8 b 38,0 a 50,9 a 27,7 b 29,4 a
Médias seguidas das mesmas letras nas colunas não diferem entre si pelo teste de Tukey. *1% de
probabilidade.
A análise de influência do fator tempo apresentou diferenças significativas
em todas as variáveis. As remoções médias de DQO dos SACs submetidos aos
TRHs de 72 e 96 h (67,2 e 65,7%) foram superiores às obtidas com TRH de 48 h
(54,4%) e esta foi superior à obtida com o TRH de 24 h (46,5%).
Em outro trabalho utilizando as espécies Typha spp. e Eleocharis spp. e
trabalhando com tempos de reação estacionários, ou seja, no qual todo o volume
de água residuária permanecia estático no sistema por um período estipulado para
reação, Mazzola et al. (2005) observaram um comportamento parecido ao
encontrado neste trabalho. Os tempos de reação de 96 e 72 h proporcionaram, em
média, remoções de 73,5 e 70,5% de DQO e foram superiores aos tempos de 48 e
24 h (29,1 e 26,0% de remoção de DQO).
Freitas (2006) aplicando ARS com uma L
S
de 59,1 g m
-2
d
-1
de DQO, em
SACs de escoamento horizontal, cultivado com Typha latifolia, Alternanthera
philoxeroides e Cynodon dactylon, sob TRH de 115,2 h observou remoção na
ordem de 89,2% de DQO, remoção esta maior que a encontrada nos SACs
verticais testados neste experimento. Infere-se que esta maior remoção possa estar
ligada ao maior TRH e a maior taxa de aplicação, pois segundo Kadlec e Wallace
(2009) as taxas de degradação da matéria orgânica são proporcionais às taxas de
aplicação, com ressalvas ao tipo e concentração de água residuária, as relações
DQO:DBO:nutrientes, temperatura, microbiota etc.
No que se refere à concentração de NTK, observou-se que nos SACs
operados sob o TRH de 72 h a remoção foi de 38,3%, não diferindo da obtida no
de 48 h (37,1%). Tais remoções são superiores às obtidas nos SACs operados sob
96 h e 24 h, equivalentes a 34,8 e 29,0%, respectivamente.
24
Para a variável nitrogênio amoniacal, observou-se que sob um TRH de 24
h, a remoção observada foi estatisticamente inferior a observada nos demais
SACs.
Ao analisar a influência do fator TRH sobre a nitrificação, notou-se que
ela foi inversamente proporcional ao TRH, sendo que quanto menor o TRH maior
a nitrificação ocorrida, obtendo-se um aumento de nitrato de 34,5, 76,0, 104,3 e
714,0% para os TRHs de 96, 72, 48 e 24 horas, respectivamente.
Infere-se que o arraste e a mistura da massa de água com o oxigênio do
meio sob os menores TRHs são mais elevados devido à maior mobilidade e
velocidade de esvaziamento da água, oxigenando mais o meio e auxiliando na
nitrificação.
Verificou-se também que o maior consumo de alcalinidade se deu nos
SACs submetidos aos TRHs de 72 e 96 h, nos quais foram obtidas as reduções de
29,9 e 29,4% na
alcalinidade, seguido dos TRHs de 48 e 24 h (25,5 e 17,4% de
redução de alcalinidade). Ao contrário do fator espécie vegetal, não se verificou
relação direta entre o consumo de alcalinidade e a nitrificação dentro do fator
TRH.
As maiores remoções médias de fósforo total foram obtidas nos
tratamentos com SACs submetidos a tempos 96 e 48 h, respectivamente 50,9 e
46,5%, e não diferindo estatisticamente das obtidas no TRH de 48 h, seguida pelas
obtidas nos TRHs de 72 e 24 h, com os quais foram obtidas, respectivamente,
remoções de 44,6 e 43,0%.
A maior redução na turbidez ocorreu nos SACs submetidos aos TRHs de
24 e 96 h, tendo sido obtidas reduções de 35,6 e 28,2 %, e as menores ocorreram
nos SACs submetidos aos TRHs de 72 e 48 h (10,3 e 2,4%).
Os TRHs de 72 e 48 h, não diferindo entre si, foram os que
proporcionaram as maiores remoções de potássio, respectivamente 36,7 e 35,9%,
nos demais TRHs foram obtidas remoções inferiores, ou seja, 20,6 e 9,6%
respectivamente nos TRHs de 24 e 96 h.
De modo geral, dos TRHs que foram utilizados nos SACs, o TRH que
obteve as melhores eficiências de remoção, foi o de 72 h podendo-se averiguar na
25
Tabela 1.5 que o mesmo predomina com as maiores eficiências de remoção das
variáveis.
3.4. Análise morfológicas das espécies vegetais
Após o período de adaptação e o período experimental (106 dias),
observou-se que o Cyperus sp. apresentou bom desenvolvimento, promovendo a
maior produção de massa, de números de brotos, maior altura de planta e maior
comprimento de folha. A maior remoção mássica de nutrientes observada nos
SACs cultivados com Cyperus sp., em relação aos demais, pode estar atrelada aos
fatores citados.
Na Figura 1.3 estão apresentadas as espécies que foram utilizadas neste
trabalho, após o término do experimento.
Figura 1.3. A Cyperus sp., B Heliconia rostrata, C Hedychium
coronarium.
Conforme se pode verificar na Tabela 1.7, o Cyperus sp. foi, dentre as
espécies cultivadas nos SACs, a que obteve maior produtividade e a maior
absorção de nutrientes (Figuras 1.4 e 1.5), sendo a produtividade total (parte aérea
+ inferior) do Cyperus sp. de 2,6 kg m
-2
e a absorção de nutrientes total do mesmo
de 49,4 g m
-2
de N, 4,4 g m
-2
de P, 23,7 g m
-2
de K e 8,6 g m
-2
de Na.
As absorções de nutrientes das plantas, utilizadas neste experimento,
inclusive do Cyperus sp. (21,1 g m
-2
de N, 1,4 g m
-2
de P, 15,9 g m
-2
de K e 1,3 g
m
-2
de Na) foram inferiores às reportadas por Matos et al. (2009a), que
26
trabalharam com ARS em SACs de escoamento horizontal, considerando-se
apenas a parte aérea das plantas, tendo obtido absorção média de 53,3 g m
-2
de N,
8,8 g m
-2
de P, 60,5 g m
-2
de K e 8,5 g m
-2
de Na com a Typha latifolia; 106,8 g
m
-2
de N, 13,7 g m
-2
de P, 116,6 g m
-2
de K e 10,3 g m
-2
de Na com a
Alternanthera philoxeroides e 68,1 g m
-2
de N, 10,7 g m
-2
de P, 59,1 g m
-2
de K e
0,8 g m
-2
de Na com o Cynodon dactylon.
Tabela 1.7. Produtividade média de matéria seca (PMS) do Cyperus sp., da
Heliconia rostrata e do Hedychium coronarium na parte aérea, na parte inferior e
total.
Espécies / PMS (kg m
-
2
)
Aérea Inferior Total
Cyperus sp. 0,8 1,8 2,6
Heliconia 0,4 0,4 0,8
Hedychium 0,6 0,3 0,9
Nutrientes
N P K Na
Absorção de nutrientes (g m
-2
)
0
5
10
15
20
25
Cyperus sp.
Heliconia rostrata
Hedychium coronarium
Figura 1.4. Absorção de nutrientes das espécies cultivadas nos SACs parte
aérea.
27
Nutrientes
N P K Na
Absorção de nutrientes (g m
-2
)
0
5
10
15
20
25
30
Cyperus sp.
Heliconia rostrata
Hedychium coronarium
Figura 1.5. Absorção de nutrientes das espécies cultivadas nos SACs parte
inferior.
3.5. Carga mássica e aplicabilidade
Verifica-se a importância de se computar a carga mássica para analisar a
eficiência de remoção em SACs. Quando se verificou a média dos SACs
cultivados, a remoção de NTK foi 1,3 vez superior à média obtida nos SACs não
cultivado, enquanto que se a mesma fosse analisada sem computar a remoção
mássica, teria sido obtido um valor 1,2 vez maior.
Em questões relacionadas à custos e economia sobre o sistema, Jasper et
al. (2008) chegaram a conclusão que em granjas suinícolas de manejo do dejeto
na forma seca, ou seja, em que a raspagem da parte sólida dos dejetos antes da
lavagem da granja, tal qual a granja onde foi coletada a água residuária para a
realização deste experimento, os SACs demandam menores áreas para o
28
tratamento, além dos menores custos anuais de implantação, explicitando deste
modo a viabilidade e a aplicabilidade dos SACs.
Pode-se observar na literatura, em artigos e em teses que, cada vez mais,
esses sistemas vêm ganhando espaço, ampliando-se o conhecimento acerca dos
mesmos, estudando-se suas variações, seus pormenores, suas diferentes
configurações e suas interações microbiológicas, sistemas esses em escala piloto
ou até mesmo em escala plena. Sua aplicabilidade é ampla, podendo ser utilizado
no esgotamento urbano, na zona rural, em atividades agroindustriais, mineração,
resíduos de explosivos etc.
29
4. CONCLUSÕES
A influência das plantas sobre os SACs foi positiva, aumentando a eficiência
de remoção, principalmente de nitrogênio, fósforo e potássio.
Em geral, quanto maior o tempo de retenção hidráulica (TRH) imposto nos
SACs maiores foram as remoções obtidas.
A remoção mássica média de NTK nos SACs cultivados foi 33% superior à
obtida nos SACs não cultivados.
A melhor espécie cultivada nos SACs foi o Cyperus sp. e o melhor tempo
para se operar foi TRH de 72 h, obtendo remoções mássicas de 69,1% para
DQO, 56,5% para NTK, 64,3% para fósforo total e 55,0% para potássio.
30
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33
CAPÍTULO 2
AVALIAÇÃO DE SISTEMAS ALAGADOS CONSTRUÍDOS DE
ESCOAMENTO VERTICAL TRATANDO ÁGUA RESIDUÁRIA DE
SUINOCULTURA
RESUMO
Objetivou-se, com este estudo, analisar, em sistemas alagados construídos
(SACs), a contribuição do Cyperus sp. na remoção mássica de poluentes contidos
nas águas residuárias de atividade suinícola (ARS). Monitorou-se, durante 90
dias, em casa de vegetação, SACs em escala piloto, localizados na área
experimental do CRRH/DEA/UFV, em Viçosa, MG, sendo as seguintes variáveis
estudadas: demanda química de oxigênio (DQO), demanda bioquímica de
oxigênio (DBO), nitrogênio total Kjeldahl (NTK), nitrato (N-NO
3
-
), fósforo total
(P
T
), sólidos totais (ST), sólidos suspensos (SST), sólidos dissolvidos (SDT),
alcalinidade total (AT), turbidez, condutividade elétrica (CE), potencial de oxi-
redução (Eh) e potencial hidrogeniônico (pH). Os dois SACs de escoamento
vertical, foram operados em paralelo, com um tempo de retenção hidráulica
(TRH) equivalente a 72 h. Um SAC foi cultivado com Cyperus sp., enquanto um
sistema controle foi mantido sem vegetação. As diferenças significativas
observadas, quando comparados os sistemas, foram para as variáveis NTK (teste t,
P < 0,001), P
T
(teste Mann-Whitney, P = 0,056), AT (teste t, P = 0,002) e CE
(teste Mann-Whitney, P = 0,031), com as respectivas remoções médias nos SACs,
cultivado e não cultivado, de 37,5 e 28,5%, 55,9 e 44,4%, 30,2 e 25,6% e 26,1 e
22,9%. Não foram verificadas diferenças estatísticas no desempenho dos SACs
em relação às demais variáveis estudadas. O Cyperus sp. apresentou
produtividade, em termos de matéria seca, de 674,5 g m
-2
, ou seja, 7,5 g m
-2
d
-1
,
com absorção de nutrientes de 21,8; 2,1; 14,0 e 0,9 g m
-2
de N, P, K e Na,
respectivamente. A evapotranspiração (2,7 mm d
-1
) foi estatisticamente superior
(teste Mann-Withney, P < 0,001) no SAC cultivado e teve papel fundamental na
contabilização da remoção mássica das variáveis analisadas. O cultivo de plantas
34
em SACs mostrou-se importante para que se possa obter maiores remoções de
nutrientes da ARS.
PALAVRAS-CHAVE: efluentes agroindustriais, alagados construídos,
macrófitas, nutrientes
35
EVALUATION OF VERTICAL-FLOW CONSTRUCTED WETLANDS IN
SWINE WASTEWATER TREATMENT
ABSTRACT
This work aimed at evaluating, in constructed wetlands (CWs), the
Cyperus sp. contribution to mass removal of pollutants in swine wastewater. Pilot
scale CWs were monitored for 90 days in a greenhouse, located in the
experimental area CRRH/DEA/UFV, Viçosa, MG, Brazil, by measuring the
following parameters: pH, electrical conductivity, redox potential, turbidity,
alkalinity, COD, BOD, TKN, N-NO
3
-
, TP, and solids. Two vertical-flow CWs
were operated, one planted with Cyperus sp. and the other unplanted, with 72
hours hydraulic retention time (HRT). There was no statistical difference in
removal efficiency between planted and unplanted CWs, for almost all variables,
the only significant differences were observed for the variables TKN (t test, P <
0.001), TP (Mann-Whitney test, P = 0.056), alkalinity (test t, P = 0.002) and EC
(Mann-Whitney test, P = 0.031), with average removals of 37.5 and 28.5%, 55.9
and 44.4%, 30.2 and 25.6 and 26.1% and 22.9% for planted and unplanted CWS,
respectively. The Cyperus sp. presented a dry matter productivity of 674.5 g m
-2
,
with a dry matter yield of 7.5 g m
-2
d
-1
, and the nutrient uptake was 21.8; 2.1; 14.0
and 0.9 g m
-2
of N, P, K and Na, respectively. Evapotranspiration (2.7 mm d
-1
)
was statistically higher (Mann-Whitney test, P < 0.001) in the planted CW, and
was fundamental in accounting for the removal of mass of all variables. The
plants in the CWs are important to achieve a higher removal of nutrients.
KEYWORDS: agroindustry effluents, constructed wetlands, macrophytes,
nutrients
36
1. INTRODUÇÃO
O uso de sistemas alagados construídos (SACs) para o tratamento de águas
residuárias é potencialmente uma boa solução para tratar efluentes domésticos,
industriais e agrícolas, principalmente em países de clima tropical. Os SACs se
baseiam em processos naturais que utilizam o sistema planta/meio suporte/micro-
organismos e apresentam ótima relação custo-eficiência e boa estabilidade
operacional. Devido à sua facilidade de construção e operação se configuram em
uma ótima opção para países em desenvolvimento.
Com boa eficiência na remoção de matéria orgânica (DQO e DBO),
sólidos, matéria orgânica e nutrientes (Brasil et al., 2005; Fia et al., 2008;
Konnerup et al., 2009), verifica-se como uma das potenciais utilizações desse
sistema, o tratamento de águas residuárias nas zonas rurais, tanto para o esgoto
doméstico quanto para as águas residuárias geradas na lavagem de baias,
abatedouros, agroindústrias e confinações de animais, que são atualmente,
despejadas diretamente em corpos hídricos ou no solo.
A aplicabilidade de SACs de escoamento horizontal tem sido relatada com
frequência em estudos realizados em países de clima temperado (Vymazal e
Kröpfelová, 2005; Langergraber, 2007; Nivala et al., 2007) e também em países
de clima tropical (Brasil et al., 2005; Fia et al., 2008; Matos et al., 2008;
Konnerup et al., 2009; Matos et al., 2009a). Recentemente, iniciativas de
pesquisas contemplando os sistemas de escoamento vertical também tem sido
registradas, tendo como objetivo principal a remoção de nitrogênio e de
complementação da remoção de matéria orgânica nos sistemas chamados híbridos
ou conjugados.
O interesse pelo estudo dos processos que ocorrem em SACs de
escoamento vertical pode ser considerado recente (Kantawanichkul et al., 2001;
Sezerino et al., 2003; Sun et al., 2003; Mazzola et al., 2005; Sun et al. 2005;
Wang et al., 2009). As investigações geralmente partem da premissa de que esse
tipo de sistema tenha maior capacidade de nitrificação, auxiliando, assim, o
processo de remoção de nitrogênio total, pelo processo nitrificação-desnitrificação
biológica (Ye e Li, 2009). de se ressaltar, no entanto, a observação feita por
37
Kadlec e Wallace (2009), que alertam para a possibilidade de reduzidas taxas de
desnitrificação, o que acarretaria em uma limitada remoção de nitrogênio total.
Dessa maneira, a influência da presença/ausência de plantas em SACs vem
sendo analisada a fim de verificar se a capacidade de aeração do sistema radicular
de algumas espécies de plantas pode contribuir, significativamente, para a
nitrificação da água residuária.
Diante do exposto, o estudo foi realizado com objetivos de se avaliar a
contribuição da planta na remoção de poluentes, com ênfase aos macronutrientes;
a absorção de nutrientes pelas plantas; verificar se a influência da
evapotranspiração nos sistemas cultivados é significativa na remoção mássica dos
nutrientes; e, com base nas análises citadas anteriormente, comparar o
desempenho de SACs cultivados e SACs não cultivados.
2. MATERIAL E MÉTODOS
Conduziu-se o experimento em casa de vegetação, localizada na área
experimental do Centro de Referência em Recursos Hídricos do Departamento de
Engenharia Agrícola da Universidade Federal de Viçosa, situada na cidade de
Viçosa, Minas Gerais (latitude 20°45’14” S, longitude 42°52’53” W, altitude
média de 650 m e clima Cwa, segundo a classificação de Köeppen).
Os SACs foram constituídos por recipientes metálicos, cilíndricos, cada
um com dimensões aproximadas de 30 cm de altura, sendo 25 cm preenchidos
com brita “zero” (diâmetro D
60
= 7,0 mm, coeficiente de uniformidade D
60
/D
10
de
1,6 e volume de vazios de 0,491 m
3
m
-3
) e 60 cm de diâmetro, e foram utilizados
no tratamento de água residuária de suinocultura (ARS).
Dois tratamentos foram estudados ao longo do tempo: (i) SAC constituído
de Cyperus sp. (tiriricão) cultivado em brita “zero” e (ii) SAC não cultivado,
contendo apenas o substrato (brita “zero”).
O tempo de retenção hidráulica (TRH) utilizado na operação dos SACs foi
de 72 h, sendo que este TRH corresponde ao tempo desde a abertura do registro
de carregamento de ARS até o esvaziamento completo do SAC. O carregamento
orgânico superficial médio aplicado foi de 17 g m
-2
d
-1
de DQO, valor próximo
38
aos 20 g m
-2
d
-1
sugeridos preliminarmente nos estudos com esse tipo de sistema
(Winter e Goetz, 2003).
Os tratamentos foram baseados em experimento anteriormente realizado
(Capítulo 1) onde, analisando o efeito de espécies cultivadas e do TRH, concluiu-
se que o SAC cultivado com Cyperus sp. sob o TRH de 72 h foi o que apresentou
a melhor eficiência na remoção de nutrientes da ARS, quando comparado com
SACs cultivados com as espécies Heliconia rostrata, Hedychium coronarium,
além de uma testemunha (SAC sem plantas), sob os TRHs de 24, 48, 72 e 96
horas.
Lavou-se os SACs utilizados no experimento anterior, passando-se água de
abastecimento diversas vezes pelo sistema, continuamente, até que o efluente se
apresentasse claro e com aspecto límpido, efetuou-se o corte das plantas.
Posteriormente a aplicação de ARS foi iniciada. Para o controle do
desenvolvimento do Cyperus sp., em outro SAC que também foi submetido ao
tratamento supracitado, realizou-se o corte das plantas e neste apenas água de
abastecimento foi aplicada, simulando-se as condições ambientais do habitat de
onde o Cyperus sp. foi coletado.
Durante um período de experimentação de 90 dias (de agosto a novembro),
o seguinte procedimento foi realizado: os sistemas eram alimentados com 18 dm
3
de ARS e após o preenchimento dos SACs, abriam-se os registros de descarga.
Assim, a ARS era, então, drenada durante 72 h para recipientes de coleta, sendo
este, o tempo de retenção (TRH). Após a drenagem, era imediatamente aplicado
novo volume de ARS, sendo que os SACs constituíam-se, dessa maneira, de
sistemas de bateladas sucessivas, sem intervalos entre uma aplicação e outra.
A ARS foi coletada no tanque de armazenamento de ARS da UFV,
localizada próximo à Área Experimental de Hidráulica, Irrigação e Drenagem da
mesma universidade, sendo esta ARS constituída, preponderantemente, de urina e
água de lavagem das baias de criação da suinocultura.
As concentrações afluentes e efluentes (brutas) das variáveis demanda
química de oxigênio (DQO), demanda bioquímica de oxigênio (DBO), nitrogênio
total Kjeldahl (NTK), nitrato (N-NO
3
-
), fósforo total (PT), turbidez (TU),
potencial hidrogeniônico (pH), potencial de oxi-redução (E
h
), condutividade
39
elétrica (CE), alcalinidade total (AT) e sólidos, foram determinadas, a fim de se
analisar o comportamento dessas variáveis ao longo do tempo.
Para poder obter o valor real de redução mássica nas variáveis analisadas,
a cada ciclo era também registrado a evapotranspiração de cada SAC, fazendo-se
a compensação da concentração no efluente coletado, para o volume inicial.
Todas as análises foram realizadas nos laboratórios de Qualidade da Água
e de Química dos Resíduos do DEA/CCA/UFV, conforme preconizado no
Standard Methods for the Examination Water and Wastewater (APHA et al.,
2005). Os métodos utilizados para determinação das variáveis estão apresentados
na Tabela 2.1.
Tabela 2.1. Métodos utilizados na determinação das variáveis
Variável Método/Aparelho
Demanda Química de Oxigênio Oxidação química em refluxo aberto
Demanda Bioquímica de Oxigênio Incubação por 5 dias, a 20°C
Nitrogênio Total Kjeldahl Processo semimicro Kjeldahl
Nitrato Espectrofotometria
Fósforo total Espectrofotometria
Potássio Fotometria de chama
Turbidez Turbidímetro
Potencial Hidrogeniônico Peagâmetro
Potencial de Oxi-redução Potenciômetro
Condutividade Elétrica Condutivímetro
Alcalinidade Total Titrimétrico
Sólidos Gravimétrico
Para as análises nutricionais, as partes aérea e inferior (rizomas e raízes)
das plantas foram secas em estufa com recirculação de ar, sob temperatura de
65 °C, por 3 dias, e posterior trituração em moinho tipo Wiley, de acordo com as
recomendações de Silva (2009).
Com base na análise nutricional da planta, realizou-se o cálculo da taxa de
absorção de nutrientes pela mesma, sendo que a absorção é a concentração do
nutriente multiplicada pela produção de massa da parte em questão a ser analisada
(aérea ou inferior), e esta absorção dividida pela área, resulta na taxa de absorção
de nutrientes. Podendo-se obter a taxa de absorção de nutrientes diária, através da
divisão da taxa de absorção pelo número de dias de desenvolvimento da planta.
40
Para analisar a diferença entre as médias dos tratamentos (repetições
independentes), os resultados obtidos na experimentação realizada foram,
primeiramente, analisados por meio de análise de normalidade (teste de
Kolmogorov-Smirnov) e de homogeneidade de variância (teste de Levene). Nas
variáveis em que as médias apresentaram normalidade e homogeneidade aplicou-
se o teste t; para as variáveis que não apresentaram normalidade e, ou,
homogeneidade, aplicou-se o teste não paramétrico de Mann-Whitney. As
análises estatísticas foram realizadas utilizando-se aplicativo estatístico SigmaPlot
11.0.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1. Eficiência dos SACs na remoção de poluentes da ARS
Os dados das análises da ARS aplicada e dos efluentes dos SACs, bem
como a eficiência na remoção dos poluentes da ARS podem ser visualizados na
Tabela 2.2.
41
Tabela 2.2. Concentração dos poluentes e eficiências de remoção no SAC com
brita e no SAC cultivado com Cyperus sp. (tiriricão). Média ± Erro Padrão.
ARS SAC BRI SAC TIR
ST (g m
-
3
)
b
1487,9 ± 43,1
1037,3 ± 18,8
994,0 ± 24,1
Remoção de ST (%)
30,0 ± 1,4
33,1 ± 0,7
SST (g m
-
3
)
b
329,6 ± 32,6
53,7 ± 7,7
55,2 ± 6,8
Remoção de SST (%)
81,6 ± 3,2
82,1 ± 3,0
SDT (g m
-
3
)
b
1158,3 ± 30,6
983,6 ± 21,7
938,8 ± 21,8
Remoção de SDT (%)
14,6 ± 2,6
18,7 ± 1,8
DQO (g m
-
3
)
a
799,5 ± 50,7
258,6 ± 15,4
247,1 ± 15,8
Remoção de DQO (%)
66,1 ± 1,7
67,7 ± 1,7
DBO (g m
-
3
)
c
163,0 ± 11,1
44,9 ± 10,1
48,6 ± 13,4
Remoção de DBO (%)
73,5 ± 4,1
72,3 ± 5,2
NTK (g m
-
3
)
a
395,2 ± 8,1
303,0 ± 7,4
283,1 ± 6,7
Remoção de NTK (%)
28,5 ± 1,4
37,5 ± 1,1
*
N-NO
3
-
(g m
-
3
)
a
0,7 ± 0,05
0,3 ± 0,02
0,3 ± 0,02
Remoção de N-NO
3
-
(%)
50,4 ± 5,1
49,0 ± 6,3
P
T
(g m
-
3
)
d
62,6 ± 3,4
34,3 ± 3,4
26,7 ± 2,1
Remoção de P
T
(%)
44,4 ± 3,1
55,9 ± 4,6
**
AT (g m
-
3
)
a
1643,8 ± 27,6
1221,0 ± 22,1
1146,4 ± 22,8
Remoção de AT (%)
25,6 ± 1,0
30,2 ± 0,9
*
Turbidez (UNT)
a
68,4 ± 2,1
18,6 ± 1,1
19,8 ± 1,3
Remoção de Turbidez (%)
71,5 ± 2,5
69,4 ± 2,8
CE (µS cm
-
1
)
a
3543,6 ± 59,9
2725,7 ± 48,6
2611,4 ± 63,5
Remoção de CE (%)
22,9 ± 1,2
26,1 ± 1,6
***
Eh (mV)
a
-395,1 ± 10,3
-140,7 ± 7,9
-135,0 ± 8,0
pH
a
7,5 ± 0,02
8,0 ± 0,02
8,0 ± 0,02
*
Diferença estatística entre médias da mesma linha. (teste t, P < 0,01)
**
Diferença estatística entre médias da mesma linha. (teste t, P < 0,10)
***
Diferença estatística entre médias da mesma linha. (teste Mann-Whitney, P < 0,05)
a
27 amostragens,
b
10 amostragens,
c
9 amostragens,
d
8 amostragens
Conforme pode se observar, as variáveis em que as remoções foram
estatisticamente superiores no SAC cultivado foram o Nitrogênio Total Kjeldahl
(teste t, P < 0,001), a Alcalinidade Total (teste t, P = 0,002), a Condutividade
Elétrica (teste Mann-Whitney, P = 0,031) e o Fósforo Total (teste t, P = 0,056).
42
3.1.1. Sólidos
Sólidos Totais
Sob uma taxa de aplicação superficial (L
S
) de 31,6 g m
-2
d
-1
de ST, a
remoção máxima para ambos os sistemas foi de 36,0%,com remoções médias de
33,1 e 30,0% para o SAC cultivado e não cultivado, respectivamente. Oliveira et
al. (2007) em SACs de escoamento subsuperficial horizontal, cultivados com
Tangola (Brachiaria radicans x Brachiaria mutica), sob uma taxa de aplicação de
225,6 g m
-2
d
-1
de ST, obtiveram remoções de 22,9% na concentração de sólidos
totais e em SACs não cultivados de 13,0%. Matos et al. (2009b), tratando ARS
em SACs de escoamento subsuperficial horizontal, aplicando uma taxa de 68,8 g
m
-2
d
-1
de ST, observaram remoção média de 60,3% dos sólidos totais em SACs
cultivados com Cynodon dactylon, Alternanthera philoxeroides e Typha latifolia.
Sólidos Suspensos Totais
Com remoções médias observadas de 82,1 e 81,6% no SAC cultivado e
não cultivado, respectivamente, estes não diferiram entre si estatisticamente.
Observaram-se remoções máximas de 95,0% no SAC cultivado e de 93,8% no
SAC não cultivado, sob a L
S
média de 7,0 g m
-2
d
-1
de SST. Para o mesmo tipo de
água residuária, Kantawanichkul et al. (2001), sob L
S
de 37,5 g m
-2
d
-1
de SST,
observaram remoção de 97%, enquanto Sun et al. (2005), com uma L
S
de 186,5
g m
-2
d
-1
de SST, verificaram remoção média de 56,8%. Kadlec e Wallace (2009)
citam que os principais mecanismos de remoção de sólidos suspensos em SACs
são a interceptação e a sedimentação, correlacionando, assim, as menores
remoções observadas com as maiores granulometrias no meio suporte, pois estas
dispõem de menos obstáculos para interceptar os sólidos.
Brix e Arias (2005) tratando esgoto doméstico e águas cinzas em SACs
sob uma L
S
aproximada de 4,2 g m
-2
d
-1
de SST, verificaram uma remoção média
de 94% para sólidos suspensos em seu experimento, em SACs de escoamento
vertical em que se utilizou areia como meio suporte. Gross et al. (2007)
43
verificaram remoções de 98% de sólidos suspensos em experimento de SACs de
escoamento vertical com recirculação, tratando águas cinzas, sob uma L
S
de 26,2
g m
-2
d
-1
de SST, cultivados com Lactuca sativa, utilizando como meio suporte
camadas de solo orgânico, meio plástico de elevada superfície e seixos de
calcário.
Sólidos Dissolvidos Totais
Observaram-se remoções médias relativamente baixas tanto no SAC
cultivado, de 18,7%, como no não cultivado, de 14,6%, aplicando-se uma L
S
de
24,6 g m
-2
d
-1
de SDT. Matos et al. (2009b), tratando ARS em SACs de
escoamento subsuperficial horizontal, sob L
S
de 31,9 g m
-2
d
-1
de SDT,
observaram remoção média de sólidos dissolvidos de 48,0% para SACs cultivados
com Cynodon dactylon, 33,0% com Alternanthera philoxeroides, 21,0% com
Typha latifolia e 40,0% com SAC não cultivado. De modo contrário, Oliveira et
al. (2007), em SACs de escoamento subsuperficial horizontal, cultivados com
Tangola (Brachiaria radicans x Brachiaria mutica), tratando esgoto doméstico
efluente de UASB, sob uma L
S
de 128,4 g m
-2
d
-1
de SDT, observaram elevações
de até 19,5% na concentração de sólidos dissolvidos e em SACs não cultivados de
27,0%.
44
3.1.2. Matéria Orgânica
Demanda Química de Oxigênio
As maiores remoções de DQO observadas foram de 84,1% no SAC não
cultivado e de 83,6% no SAC cultivado e as menores remoções foram de 45,2 e
48,1% nos SACs não cultivado e cultivado, respectivamente, sendo a L
S
média de
17,0 g m
-2
d
-1
de DQO. Com remoções médias de 67,7 e 66,1% para a variável
DQO, respectivamente nos SACs cultivado e não cultivado, verificou-se não
haver diferença estatística entre elas. Valores similares foram verificados por
Zhao et al. (2009) cultivando Lythrum salicaria em SACs de escoamento vertical,
com remoção média de DQO de 63,6%, tratando esgoto doméstico, sob L
S
de 14,6
g m
-2
d
-1
de DQO.
Pode-se observar na Figura 2.1 que apenas no início do experimento os
valores de concentração de DQO na saída do sistema apresentaram um pico
próximo aos 600 g m
-3
e no restante do experimento houve estabilização na
concentração de saída do sistema, apresentando-se indiferente a concentração de
entrada. Ambos os tratamentos, controle e cultivado, apresentaram concentrações
efluentes semelhantes.
45
0 5 10 15 20 25 30
DQO (g m
-3
)
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
1800
Afluente (ARS)
SAC (Controle)
SAC (Cyperus sp.)
Aplicação (Ciclo)
Figura 2.1. DQO afluente e efluente dos SACs durante o experimento.
Prochaska et al. (2007) verificaram maiores remoções de DQO (97,8%)
nos SACs de escoamento vertical cultivados com Phragmites australis, testando
como meio suporte areia e areia/dolomita (10/1), sob L
S
de 25,9 g m
-2
d
-1
de
DQO, tratando esgoto sintético.
SACs de escoamento vertical tratando ARS (L
S
de 105,0 g m
-2
d
-1
de
DQO) cultivados com Cyperus flabelliformis foram estudados por
Kantawanichkul et al. (2001), verificando remoções médias de DQO de 97,0%.
Atribui-se esta remoção superior com a altura de 0,8 m de meio suporte, bem
como o material utilizado (areia). Outro fator que pode ter contribuído para essa
maior remoção é o fato do sistema funcionar intermitentemente: 4 h com ARS e 4
h vazio, condicionando, assim, uma maior oxigenação no sistema.
Infere-se que a maior profundidade em SACs de escoamento vertical pode
levar a maiores remoções de matéria orgânica particulada. Já em relação ao
material usado como suporte, percebe-se que a filtração será mais efetiva, e
46
consequentemente uma maior remoção de matéria orgânica particulada será
observada em sistemas com substratos de menor granulometria.
Remoções inferiores (51,0%) foram verificadas por Aslam et al. (2007),
no entanto, os valores observados estão correlacionados aos reduzidos valores de
DQO na entrada do sistema (256 g m
-3
), sabe-se: que as taxas de degradação de
matéria orgânica são reduzidas em situações onde o carregamento é pequeno
(Kadlec e Wallace, 2009).
Demanda Bioquímica de Oxigênio
Na Figura 2.2 são visualizados os dados de entrada (afluente) e saída
(efluente) nos sistemas, no que tange à DBO. Os valores relativamente reduzidos
de DBO observados na ARS aplicada nos SACs, que operaram sob L
S
média de
3,5 g m
-2
d
-1
de DBO, são ocasionados pelo tipo de manejo da granja. O sistema
de manejo é na forma seca, no qual primeiramente se efetua a raspagem do
material sólido e depois faz a lavagem das baias. Essa forma de manejo torna a
ARS rica em nutrientes devido à urina dos animais e pobres em matéria orgânica,
que apenas pequenas quantidades de restos de dejetos residuais da raspagem
constituem a ARS. Ambos os tratamentos, controle e plantado, apresentaram
concentrações efluentes semelhantes.
47
0 5 10 15 20 25 30
DBO (g m
-3
)
0
50
100
150
200
250
Afluente (ARS)
SAC (Controle)
SAC (Cyperus sp.)
Aplicação (Ciclo)
Figura 2.1. DBO afluente e efluente dos SACs durante o experimento.
Em relação à variável DBO, as remoções médias observadas foram de 73,5
e 72,3% no SAC não cultivado e cultivado, respectivamente. Igualmente à
variável DQO, não houve diferença estatística entre as médias dos tratamentos. Os
valores observados de eficiência na remoção de poluentes de ambos os
tratamentos, ficam dentro da faixa encontrada na literatura para SACs de
escoamento vertical (Klomjek e Nitisoravut, 2005; Zurita et al., 2009).
A maior remoção verificada no SAC cultivado foi de 88,0% e no não
cultivado foi de 83,9%. Sun et al. (2005), estudando o tratamento de ARS em
SACs de escoamento vertical em série, sob L
S
igual a 906,0 g m
-2
d
-1
de DBO,
verificaram remoções médias de DBO de 57,4%. Brix e Arias (2005) observaram
remoção média de 94,5% para SACs de escoamento vertical, tratando águas
cinzas e esgoto doméstico, cultivados com Phragmites australis, sob L
S
média de
18,2 g m
-2
d
-1
de DBO. Aslam et al. (2007) observaram remoções médias de
48
51,0% em SACs de escoamento vertical, cultivados com Phragmites karka,
tratando água residuária de refinaria, com L
S
de 13,5 g m
-2
d
-1
de DBO .
Possivelmente os SACs cultivados apresentam maiores quantidades e
variedades de micro-organismos, possibilitando mais fácil degradação do
conteúdo orgânico e, consequentemente, remoção de DBO. Porém ocorre,
simultaneamente, a depleção de oxigênio pela respiração endógena dos micro-
organismos, contribuindo para que não haja diferença significativa na remoção de
DBO entre SACs cultivados ou não.
3.1.3. Macronutrientes
Nitrogênio Total Kjeldahl
No SAC cultivado, observou-se a remoção máxima de 45,3% no NTK,
verificando remoção média de 37,5%, que se apresentou estatisticamente superior
(teste t, P < 0,001) à obtida no SAC não cultivado, com remoção máxima de
41,7% e média de 28,5%. Ressalta-se que, no presente estudo, os SACs operaram
sob uma L
S
equivalente a 8,4 g m
-2
d
-1
de NTK.
Kantawanichkul et al. (2001) tratando ARS em SACs de escoamento
vertical, observaram remoções médias de 97% de NTK, sendo que os sistemas
estudados operavam sob taxas semelhantes às do presente estudo. Infere-se que
esta elevada remoção possa estar ligada a maior absorção de N pela planta
(Cyperus flabelliformis), na ordem de 1,1 g m
-2
d
-1
, contra a observada para o
Cyperus sp. no presente experimento, de 0,2 g m
-2
d
-1
, bem como a elevada
nitrificação verificada pelos autores, que na conversão de NTK em nitrato, acaba
por reduzir a concentração do mesmo.
Torrens et al. (2009), tratando efluente de lagoa de estabilização,
aplicando taxas de 2,8 a 12,0 g m
-2
d
-1
de NTK, também verificaram remoções
maiores (74,5 e 73,0%, respectivamente nos SACs escoamento vertical, cultivado
e não cultivado). Com valores de remoção de nitrogênio total próximos aos
observados neste trabalho, Brix e Arias (2005) observaram uma remoção média
49
de 43,8% de NTK nos SACs de escoamento vertical utilizados para tratar águas
cinzas, sob L
S
média de 6,8 g m
-2
d
-1
de NTK.
Na Figura 2.3 pode-se observar a tendência de acompanhamento das
concentrações efluentes com a concentração afluente, porém verifica-se um
afastamento inferior da linha de concentração do SAC cultivado com Cyperus sp.,
evidenciando a maior remoção do mesmo.
0 5 10 15 20 25 30
NTK (g m
-3
)
150
200
250
300
350
400
450
500
Afluente (ARS)
SAC (Controle)
SAC (Cyperus sp.)
Aplicação (Ciclo)
Figura 2.3. NTK afluente e efluente dos SACs durante o experimento.
Nitrato
Com uma L
S
de 14,8 x 10
-3
g m
-2
d
-1
de N-NO
3
-
, verificou-se não haver
nitrificação em ambos os sistemas, cultivado e não cultivado, com remoção média
de 49,0% no SAC cultivado e de 50,4% no não cultivado. Conforme se pode
verificar na Tabela 2.1, apesar de ter havido aumento no potencial redox e
consumo de alcalinidade que indicariam nitrificação, não houve elevação
suficiente do potencial redox para se atingir a condição aeróbia, e sim elevando
50
até uma condição limítrofe entre a anaeróbia e a anóxica que, como citado por
Zurita et al. (2009), permite a desnitrificação.
Em SACs verticais em série, tratando ARS, sob L
S
de 1,5 g m
-2
d
-1
de N-
NO
3
-
, Sun et al. (2005) observaram remoção média de 25% de nitrato e, em SAC
similar com recirculação do efluente, houve nitrificação, ou seja, se elevaram os
níveis de nitrato, havendo uma elevação média de 164,7%. Maiores níveis de
elevação de nitrato foram observados por Kantawanichkul et al. (2001), com
concentração afluente de 0,27 g m
-3
e atingindo uma concentração efluente de
72,8 g m
-3
.
Matos et al. (2009b) estudando SACs de escoamento horizontal,
cultivados com Cynodon dactylon, Alternanthera philoxeroides e Typha latifolia,
observaram uma elevação da concentração de nitrato em 66,7%, acredita-se que
esta nitrificação seja devida a alta capacidade de oxigenação da Typha latifolia.
Verifica-se, geralmente, que a nitrificação em SACs verticais, como nos
citados anteriormente, é decorrente de sistemas com recirculação que aumentam a
movimentação da massa de água, ocasionando maiores trocas gasosas com o
meio, e também em sistemas em que as aplicações são intermitentes e com
intervalos, com baixos TRHs.
Fósforo Total
As maiores remoções observadas foram de 80,9% no SAC cultivado e de
61,9% no SAC não cultivado e as menores remoções foram 34,0 e 39,1% nos
SACs não cultivado e cultivado, respectivamente. Com remoções médias de 55,9
e 44,4% nos SACs cultivado e não cultivado, respectivamente, houve diferença
estatística entre eles (teste t, P = 0,056).
Na Figura 2.4 pode-se visualizar o afastamento da linha efluente do SAC
cultivado com o SAC não cultivado, indicando a maior remoção de fósforo no
SAC cultivado.
51
0 5 10 15 20 25 30
P
T
(g m
-3
)
10
20
30
40
50
60
70
80
Afluente (ARS)
SAC (Controle)
SAC (Cyperus sp.)
Aplicação (Ciclo)
Figura 2.4. P
T
afluente e efluente dos SACs durante os dias de experimento.
Os valores médios de remoção observados neste experimento, sob L
S
de
1,3 g m
-2
d
-1
de P
T
, foram superiores aos encontrados na literatura para remoção
de fósforo em SACs de escoamento vertical. Klomjek e Nitisoravut (2005)
observaram 36,5% de remoção média nos SACs de escoamento vertical
cultivados e 31,4% para não cultivados, SACs estes tratando esgoto doméstico,
sob L
S
de 0,2 g m
-2
d
-1
. Brix e Arias (2005) também observaram baixas remoções
de fósforo, entre 20,0 e 30,0% tratando esgoto doméstico, esgoto doméstico com
recirculação e água cinzenta, aplicando-se uma L
S
média de 0,6 g m
-2
d
-1
de P
T
.
52
3.1.4. Outras variáveis
Potencial de Oxidação e Redução
De acordo com o esperado, observou-se que o potencial redox médio da
ARS afluente (-395,2 mV) permaneceu sempre em faixa anaeróbia (meio redutor).
Em ambos os tratamentos não houve elevação do potencial a níveis significativos,
permanecendo os mesmos em condição anaeróbia, situando-se próximo a
condição anóxica, com valores médios de -140,7 mV para o SAC não cultivado e
de -135,0 mV para o SAC cultivado.
Zhao et al. (2009) testando relações diferentes de carbono/nitrogênio em
águas residuárias sintéticas de cargas baixas, médias e altas, sob L
S
média de 14,6
g m
-2
d
-1
de DQO, não verificaram alterações significativas no potencial redox de
entrada (64,4 mV) e saída (47,2 mV) dos SACs. Yu et al. (2007) relatam que um
fator crítico para que haja nitrificação seria o potencial redox acima de 500 mV.
Faulwetter et al. (2009) citam haver um gradiente de 500 mV à -250 mV,
de uma fina camada no entorno das raízes à uma distância de 1-20 mm da
superfície da raiz, comprovando-se assim a oxigenação fornecida pela planta ao
sistema. Os autores ressaltam que em sistemas que tratem água residuária com
elevado conteúdo de matéria orgânica, dificilmente as plantas conseguiriam
fornecer oxigênio, suficiente, para suprir as suas demandas (o necessário para a
remoção de DQO, DBO etc.), e ainda ter de converter o nitrogênio amoniacal em
nitrato.
A espécie vegetal cultivada pode influenciar sobremaneira a condição
redox nos SACs. Matos et al. (2010), por exemplo, observaram que SACs de
escoamento horizontal cultivados com Typha sp. apresentam tendência de
oxigenação mais rápida quando comparados a sistemas cultivados com
Alternanthera philoxeroides e Cynodon dactylon.
53
Alcalinidade Total
As maiores remoções observadas de alcalinidade total foram de 37,9% no
SAC cultivado e de 36,1% no SAC não cultivado, com remoções médias de 30,2 e
25,6%, respectivamente, com L
S
média de 34,9 g m
-2
d
-1
de alcalinidade, tendo
sido observada diferença estatística entre as médias dos tratamentos (teste t, P =
0,002). Kantawanichkul et al. (2001), tratando ARS, com L
S
de 29,9 g m
-2
d
-1
de
alcalinidade, relatam a redução de alcalinidade em SACs de escoamento vertical
de 93,8%, os mesmos autores afirmam que esta redução é devida a elevada
nitrificação observada no sistema. A redução da alcalinidade pode ser
correlacionada com a nitrificação e também com a formação de precipitados, e
verificou-se neste trabalho uma pequena remoção de alcalinidade, podendo-se
inferir que, ainda que em pequenas quantidades e bem próximo as raízes, houve
nitrificação e, ou, houve formação de precipitados. Acredita-se, porém, que
mesmo que houvesse pequena nitrificação, o nitrato gerado seria reduzido, pois
como o sistema situava-se numa zona anóxica-anaeróbia, possivelmente bactérias
heterótrofas utilizariam o nitrato como aceptor de elétrons no lugar do oxigênio,
como citado por Pereira (2008).
Turbidez
No SAC cultivado, observou-se a remoção máxima de 87,2% na turbidez
da ARS, remoção média de 69,4%, não diferindo estatisticamente do SAC não
cultivado, no qual foi obtida remoção máxima de 85,8% e média de 71,5%. Sklarz
et al. (2009) verificaram remoções de 80,0~90,0% em SACs de escoamento
vertical não cultivados, tratando esgoto doméstico, utilizando como meio suporte
turfa, plástico de elevada área superficial e seixos de calcário, com taxas de
recirculação de 4,5 a 2,5 m
3
h
-1
. Valores semelhantes também foram observados
por Brasil et al. (2005) tratando esgoto doméstico, em SACs de escoamento
subsuperficial horizontal cultivados com Typha sp., com L
S
orgânica variando
entre 2,6 e 11,8 g m
-2
d
-1
de DBO, utilizando como meio suporte brita ”zero”. Nos
SACs com TRH de 1,9 dias foi observada remoção de 80% da turbidez e no SAC
54
com TRH de 3,8 dias, remoção de 86%. Freitas (2006) tratando ARS em SACs de
escoamento horizontal, observou remoções de turbidez similares (60-66,6%) às
encontradas no presente trabalho.
Condutividade Elétrica
Com remoções médias de 26,1% no SAC cultivado, a remoção de CE no
efluente diferiu estatisticamente (teste Mann-Whitney, P = 0,031) do SAC não
cultivado, onde se observou remoção média de 22,9%.
Remoção média um pouco maior (33,8%) foi observada por Matos et al.
(2009b). Entretanto, verifica-se, na literatura, que em SACs de escoamento
vertical foram observadas, até mesmo, elevações na CE: Gross et al. (2007)
pesquisando SACs sob L
S
de 77,4 g m
-2
d
-1
de DBO para o tratamento de águas
cinzas verificaram aumento de 8% e Morari e Giardini (2009) tratando esgoto
doméstico com L
S
entre 0,9 a 2,8 g m
-2
d
-1
de DBO, observaram aumento de 37%
na CE do efluente dos SACs.
De certa forma, as remoções obtidas neste experimento podem ser
consideradas razoáveis, visto que SACs em geral não são apresentam-se eficientes
na redução de CE e geralmente não são observadas reduções nestes sistemas
(Gross et al., 2007, Morari e Giardini, 2009).
Potencial Hidrogeniônico
O valor médio do pH observado na ARS afluente foi de 7,5 e, em ambos
os tratamentos, o valor médio de pH efluente foi elevado a 8,0. Essa elevação
pode ser devida à utilização do dióxido de carbono pelas plantas e algas, tal como
cita Kadlec e Wallace (2009), bem como pelo processo de desnitrificação, que
libera hidroxilas ao meio. Como verificado anteriormente, ocorreu remoção de
nitrato do sistema, sendo que, possivelmente, uma parte tenha sido absorvida pela
planta e outra parte sofrido desnitrificação, visto que a reação verificada em
condições anaeróbias, com pH do meio superior a 7,0, é de modo simplificado
dado pela seguinte reação: 2 NO
3
-
+ 6 H
2
O + 10 e
-
N
2
(g) + 12 OH
-
. Condições
55
propícias à desnitrificação foram observadas neste experimento (afluente com pH
médio de 7,5 e potencial redox de -395,2 mV).
Zurita et al. (2009) estudando SACs verticais, tratando esgoto doméstico,
observaram valores semelhantes aos obtidos neste experimento, pH de entrada do
sistema de 7,4 e de saída de 8,0. Similarmente, Sun et al. (2005) tratando ARS em
SACs verticais, observaram elevações do pH de 6,9 para 7,5, com mínima
redução do pH apenas no caso de recirculação do efluente, variando de 6,9 para
6,8.
3.2. Temperatura, umidade e evapotranspiração na casa de vegetação
A temperatura média do ar observada dentro da casa de vegetação foi de
27,7 °C e a média das temperaturas máxima e mínima observadas foram
respectivamente 34,2 °C e 18,4 °C. A umidade relativa do ar média durante o
experimento foi de 63,3%, sendo a maior e a menor umidade média relativa do ar,
80,5 e 53,0%, respectivamente. A evapotranspiração no SAC cultivado
(2,7 mm d
-1
) foi estatisticamente superior (teste Mann-Withney, P < 0,001),
1,8 vez maior, do que no SAC não cultivado (1,5 mm d
-1
), produzindo assim,
além de um efluente melhor tratado, menor volume efluente para despejo em
solos ou corpos hídricos. Kantawanichkul et al. (2009) observaram
evapotranspiração de 20,1 mm d
-1
em SAC cultivado com Cyperus involucratus,
2,5 vezes maior que no SAC não cultivado (7,9 mm d
-1
).
Os valores observados por Kantawanichkul et al. (2009) foram superiores
aos encontrados no presente trabalho, possivelmente por trabalharem com maiores
áreas, maior densidade de plantas e principalmente pelo clima tropical,
característico da Tailândia, onde fora realizado o experimento.
Maiores valores de evapotranspiração foram observados em SACs de
escoamento horizontal, cultivados com Typha sp., estudados por Brasil e Matos
(2008), que averiguaram uma evapotranspiração média de 9,3 mm d
-1
, na mesma
região que fora realizado o presente experimento; esta evapotranspiração maior
pode estar correlacionada com a maior demanda evapotranspirativa da Typha sp.,
pela maior área utilizada pelos SACs, por se situarem a céu aberto, sofrendo
56
maior influência dos ventos, bem como a menor umidade relativa que se encontra
no lado externo da casa de vegetação.
3.3. A planta e os nutrientes
3.3.1. Produção de massa
Na Figura 2.5.A está apresentado o SAC cultivado com Cyperus sp. aos 60
dias de aplicação de ARS e na Figura 2.5.B está apresentado o SAC cultivado
com Cyperus sp. que recebeu somente água, para comparação do
desenvolvimento das plantas. As plantas cultivadas nos SACs submetidos à
aplicação de ARS apresentaram menor desenvolvimento, sendo que, aos 60 dias,
ainda não havia apresentado produção de sementes. Apesar disso, notou-se uma
coloração verde mais forte nas folhas, sinal de que houve maior absorção de
nitrogênio pelas plantas. Infere-se que o menor desenvolvimento pode estar
associado ao estresse devido à alta salinidade do meio, proporcionado pela ARS.
A
B
57
Figura 2.5. A – SAC sob aplicação de ARS, B - SAC sob aplicação de água.
Na Tabela 2.3 estão apresentados os dados referentes à produtividade de
massa seca e verde, nas partes inferior, superior e total das plantas.
Tabela 2.3. Valores médios de produtividade, taxa de produtividade e
produtividade unitária.
Produtividade (kg m
-2
) Taxa de Produtividade (g m
-2
d
-1
)
MS
1
MV
2
MS MV
Superior 0,7 1,6 7,5 18,5
Inferior 1,4 4,9 - -
Total 2,1 6,5 - -
1
MS – Massa Seca,
2
MV – Massa Verde
Com 3 plantas (densidade de 10,6 plantas m
-2
) no SAC sob aplicação de
ARS, o Cyperus sp. produziu 1,7 kg m
-2
de massa verde aérea (parte superior),
resultando em 0,7 kg m
-2
de massa seca. Comparando-se com o observado por
Matos et al. (2009a), tratando ARS, em SACs horizontais sob a L
S
de 59,1 g m
-2
d
-1
de DQO, verificou-se produtividades de matéria seca superiores às encontradas
para o Cyperus sp. neste trabalho, sendo elas: 2,2; 2,6 e 2,8 kg m
-2
para Typha
latifolia, Alternanthera philoxeroides e Cynodon dactylon, respectivamente. Estas
produtividades são superiores às encontradas por Brasil et al. (2007) que trataram
esgoto doméstico em SACs horizontais sob L
S
variando de 16,8 a 30,5 g m
-2
d
-1
de
DQO e observaram produtividade média para a Typha sp. de 0,7 kg m
-2
.
Verificou-se que a taxa de produtividade de massa seca superior do
Cyperus sp. (7,5 g m
-2
d
-1
), esteve próxima à observada por Konnerup et al.
(2009) para a Canna sp. (8,5 g m
-2
d
-1
) e bem superior que a da Heliconia sp. (1,5
g m
-2
d
-1
), quando cultivadas em SACs de escoamento horizontal utilizados no
tratamento de esgoto doméstico, aplicando uma L
S
de 22,6 g m
-2
d
-1
de DQO.
Comparando-se a produtividade unitária de biomassa verde do Cyperus sp.
(1,7 g planta
-1
d
-1
) na parte superior da planta, verificou-se valores superiores no
58
experimento de Cheng et al. (2009) de 2,8 g planta
-1
d
-1
para o Cyperus
flabelliformis e valores inferiores, entre 0,4 e 0,5 g planta
-1
d
-1
, para as espécies
Acorus calamus, Phragmites australis e Vetiveria zizanioides, cultivadas em
SACs horizontais, tratando esgoto doméstico, sob uma L
S
de 2,6 g m
-2
d
-1
de
DQO.
Trabalhando com Cyperus involucratus em SACs de escoamento vertical,
tratando água residuária sintética (300 g m
-3
de DQO e 300 g m
-3
de N
T
), sob L
S
média de 13,7 g m
-2
d
-1
de DQO, Kantawanichkul et al. (2009) observaram taxa
de produtividade de matéria seca de 28,7 g m
-2
d
-1
, muito além do que se observou
para o Cyperus sp. utilizado neste experimento.
Cheng et al. (2009), sob as condições anteriormente citadas, observaram
que as maiores remoções de poluentes ocorreram no SAC cultivado com Cyperus
flabelliformis, que o mesmo apresentou a maior produção de biomassa e um
crescimento mais rápido, corroborando, desta forma, que a vegetação tem
influência significativa sobre a remoção dos poluentes.
3.3.2. Absorção de nutrientes e sódio pelas plantas
Verificou-se, na parte aérea do Cyperus sp., absorção de 6,2 g de
nitrogênio, 0,6 g de fósforo, 4,0 g de potássio e 0,3 g de sódio, absorção essa,
referente aos 90 dias de duração do experimento.
Comparando a taxa de absorção diária de nitrogênio do Cyperus sp. (0,24
g m
-2
d
-1
) com os encontrados na literatura observou-se que esta foi maior que a
da Canna sp. (0,23 g m
-2
d
-1
) e da Heliconia sp. (0,03 g m
-2
d
-1
) no experimento de
Konnerup et al. (2009) tratando esgoto doméstico, sob a L
S
de 4,2 g m
-2
d
-1
de N.
Li et al. (2008) observaram, em SACs cultivados com Typha angustifolia,
tratando água eutrofizada do lago Taihu (China), sob a taxa de aplicação de 3,1 g
m
-2
d
-1
de N, de escoamento vertical, horizontal e livre, taxas de absorção de
nitrogênio de 0,08; 0,11 e 0,12 g m
-2
d
-1
, respectivamente, cujos valores foram
inferiores aos encontrados para o Cyperus sp., neste trabalho.
A taxa de absorção diária do fósforo no Cyperus sp. observada foi de
0,023 g m
-2
d
-1
, igual à encontrada por Li et al. (2008), em SACs cultivados com
59
Typha angustifolia de escoamento livre, porém superior ao observado nos SACs
de escoamento vertical (0,008 g m
-2
d
-1
) e horizontal (0,011 g m
-2
d
-1
), cultivados
com a mesma espécie vegetal, tratando água eutrofizada do lago Taihu (China),
com L
S
de 0,1 g m
-2
d
-1
de P.
Na Tabela 2.4 pode-se observar a concentração das variáveis N, P, K e Na
nas folhas do Cyperus sp.
Tabela 2.4. Valores de concentração de N, P, K e Na na parte aérea do Cyperus
sp.
Parte Aérea Nitrogênio Fósforo Potássio Sódio
Concentração (dag kg
-
1
) 3,2 0,3 2,1 0,1
Matos et al. (2008), ao trabalharem com Cynodon spp. em SACs de
escoamento horizontal, tratando água residuária de laticínios, variando a taxa de
aplicação orgânica entre 6,6 e 57,0 g m
-2
d
-1
de DBO, observaram concentrações
de 2,9~4,0 dag kg
-1
de N, 0,3~0,4 dag kg
-1
de P, 1,3~1,5 dag kg
-1
de K e
0,04~0,07 dag kg
-1
de Na. As concentrações de N e P foram semelhantes às
encontradas neste trabalho, as concentrações de sódio e potássio foram
inferiores, porém com uma produtividade variando de 0,7 a 1,5 kg m
-2.
Estes
valores foram superiores aos 0,7 kg m
-2
do Cyperus sp., fazendo com que a
remoção, por área, de nutrientes fosse relativamente maior.
Com base no exposto verifica-se que a taxa de absorção dos nutrientes
varia muito com a espécie vegetal, as condições climáticas, o tempo de retenção
hidráulica e as características das águas residuárias aplicadas nos sistemas.
60
4. CONCLUSÕES
Ao término de 90 dias de experimentação, não se verificou diferença estatística
entre SACs cultivados ou não em relação as variáveis analisadas, exceto para
as variáveis NTK, AT, CE e P
T
.
As remoções médias nos SACs cultivado e não cultivado foram de 37,5 e
28,5%, 30,2 e 25,6%, 26,1 e 22,9% e 55,9 e 44,4% para NTK, AT, CE e P
T
,
respectivamente.
O Cyperus sp produziu 674,5 g m
-2
de matéria seca, com uma taxa de
produtividade de 7,5 g m
-2
d
-1
, com absorção de nutrientes equivalente a 21,8 g
m
-2
de N; 2,1 g m
-2
de P; 14,0 g m
-2
de K e 0,9 g m
-2
de Na.
A evapotranspiração, estatisticamente superior (teste Mann-Withney, P <
0,001) no SAC cultivado que a evaporação no SAC não cultivado, tem papel
fundamental na contabilização da remoção mássica das variáveis analisadas.
A elevação do potencial redox nos SACs cultivados não foi relevante a ponto
de tornar expressiva a nitrificação no meio.
O cultivo de plantas em SACs se faz importante para que se possa atingir
maiores remoções de nutrientes e sódio da ARS.
61
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66
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67
CONCLUSÕES E SUGESTÕES
CONCLUSÕES GERAIS
Na primeira etapa deste trabalho, concluiu-se que:
A influência das plantas no desempenho dos SACs foi positiva,
aumentando a eficiência na remoção de poluentes, principalmente
nutrientes.
Em geral, sob maiores tempos de retenção hidráulica, os SACs
apresentaram maiores eficiências na remoção de poluentes.
A remoção mássica dia de NTK nos SACs cultivados foi 1,3 vez
superior às obtidas nos SACs não cultivados;
A melhor combinação observada foi a dos SACs cultivados com
Cyperus sp., operando sob TRH de 72 h, que apresentaram as maiores
remoções mássicas médias, com valores de 69,1% da DQO, 56,5% do
NTK, 64,3% do P
T
e 55,0% do K.
Em uma segunda etapa, após a observação de que a melhor combinação
planta e tempo de retenção hidráulica foi o Cyperus sp. sob o TRH de 72 h,
analisou-se o desempenho do SAC cultivado com a mesma espécie vegetal e
operado, continuamente, por 90 dias, podendo-se concluir que:
Ao término de 90 dias de experimentação, observaram-se diferenças
significativas (P < 0,05), para as variáveis NTK, AT e CE, com os
respectivos testes e níveis de significância, teste t (P < 0,001), teste t (P
= 0,002) e teste Mann-Whitney (P = 0,031). As, remoções médias nos
SACs cultivado e não cultivado foram de 37,5 e 28,5%, 30,2 e 25,6% e
26,1 e 22,9%, respectivamente para NTK, AT e CE. Para as demais
variáveis analisadas, não foram observadas diferenças entre os sistemas
alagados construídos avaliados.
68
A remoção média de fósforo no SAC cultivado foi 11,5% maior que a
obtida no SAC não cultivado (teste t, P = 0,056).
A produtividade média do Cyperus sp. foi de 674,5 g m
-2
, com uma
taxa de produtividade de matéria seca de 7,5 g m
-2
d
-1
, com absorção de
nutrientes equivalente a 21,8 g m
-2
de N; 2,1 g m
-2
de P; 14,0 g m
-2
de
K e 0,9 g m
-2
de Na.
A evapotranspiração, estatisticamente superior (teste Mann-Withney, P
< 0,001) no SAC cultivado que a evaporação no SAC não cultivado,
tem papel fundamental na contabilização da remoção mássica das
variáveis analisadas.
A elevação do potencial redox, proporcionada pela planta, não foi
relevante para que houvesse nitrificação no meio.
O cultivo de plantas em SACs se faz importante para que se possa
atingir maiores remoções de nutrientes e sódio da ARS.
Sistema alagados construídos podem vir a ser uma solução plausível para
complementar o tratamento de águas residuárias de suinocultura, promovendo
remoção de poluentes, em geral, com ênfase nos nutrientes e sódio. De modo
geral, os SACs de escoamento vertical podem ser considerados como parte das
boas práticas agrícolas, conjugando uma técnica de baixo custo de instalação e
operacional.
69
SUGESTÕES PARA ESTUDOS FUTUROS
No presente estudo foi possível verificar que sistemas alagados
construídos de escoamento vertical podem reduzir a carga orgânica, bem como a
concentração de nutrientes da ARS. Entretanto, observou-se particularidades que
devem ser estudadas melhor e pesquisas sobre o tema certamente contribuirão
para um maior entendimento dos processos. Alguns tópicos que podem ser objetos
de estudos futuros são listados a seguir:
Estudos ao longo do tempo com diversos TRHs para uma melhor
avaliação da influência do TRH sobre a remoção dos poluentes, bem como
seus limites;
Possível uso de outras espécies nesses sistemas. No caso de alagados
construídos, o destino da massa vegetal é questão importante, podendo-se
utilizar espécies que apresentem direta e, ou, indiretamente, retorno
econômico;
Verificação da potencialidade da aplicação para mitigação de outras águas
residuárias;
Para uma melhor avaliação da dinâmica dos nutrientes, principalmente do
nitrogênio, quantificar todas as variações das formas do nitrogênio (NH
x
,
N
org
, NO
x
etc.);
Estudar as demais configurações dos sistemas alagados, tais como sistemas
de escoamento vertical (ascendente ou descendente), sistemas híbridos ou
conjugados;
Estudar outros meios suportes: britas, areia, solo, camadas estratificadas,
resíduos de materiais sintéticos etc.;
Identificação dos micro-organismos presentes no processo, por meio de
técnicas avançadas de microbiologia (Bactérias nitrificantes,
desnitrificantes, ANAMMOX etc.);
Mais estudos para verificação da aplicabilidade técnica e econômica,
buscando a sustentabilidade do sistema.
70
Participação de profissionais de diversas áreas (engenharia, biologia
vegetal, microbiologia, química) visando a interdisciplinaridade na busca
de uma melhor compreensão dos fenômenos.
71
APÊNDICE
Tabela 1. Resumo da análise de variância composta pelas variáveis NTK, N
amon
,
P
T
, K e AT (Graus de liberdade e respectivos Quadrados Médios)
F.V. G.L.
DQO NTK N
amon
P
T
K AT
BLOCO
2 10,7 5,6 13,0 20,3 6,9 4,1
ESP
3 12,4
*
494,6
*
531,4
*
603,6
*
216,5
*
39,8
n.s.
TRH
3 1152,8
*
202,6
*
317,7
*
138,5
*
691,8
*
401,0
*
ESP.TRH
9 7,5
n
.
s
.
1,8
n.s.
8,5
n.s.
23,1
n.s.
22,4
*
20,4
n.s
RESIDUO
24 17,9 5,7 18,7 21,6 5,5 7,0
C.V. (%)
7,2 6,8 12,0 10,0 7,8 10,3
*
F significativo a 1% de probabilidade;
n.s.
F não significativo.
Tabela 2. Resumo da análise de variância composta pelas variáveis N-NO
3
-
, CE,
Turbidez e ORP (Graus de liberdade e respectivos Quadrados Médios)
F.V. G.L. N-NO
3
-
CE Turbidez ORP
BLOCO
2 75327,4 0,5 173,4 15,5
ESP
3 41168,4
n.s.
43,1
n.s.
2797,8
*
627,4
*
TRH
3 1248062,0
*
186,1
*
2852,9
*
529,2
*
ESP.TRH
9 15510,5
n.s.
9,6
n.s.
615,1
*
30,5
*
RESIDUO
24 19635,4 3,6 60,3 5,6
C.V. (%)
60,4 11,0 40,6 1096,2
*
F significativo a 1% de probabilidade;
n.s.
F não significativo
Tabela 3. Análise da interação entre as espécies e os TRHs para a variável K
Espécies X TRHs
Médias de Remoção (%)
24 48 72 96
Cyperus sp. 27,9 aC 37,2 abAB 41,9 aA 33,9 aBC
Hedychium 14,7 bC 35,1 abA 34,2 bA 25,4 bB
Heliconia 14,0 bC 32,2 bA 33,0 bA 25,3 cB
Controle 25,7 aB 39,0 aA 37,8 abA 26,2 bB
Pelo teste Tukey, a 1% de probabilidade, médias seguidas da mesma letra
minúscula, nas colunas, não diferem entre si e médias seguidas da mesma letra
maiúscula, nas linhas, não diferem entre si.
72
Tabela 4. Análise da interação entre as espécies e os TRHs para a variável
Turbidez
Espécies X TRHs
Médias de Remoção (%)
24 48 72 96
Cyperus sp. 24,4 aA -38,7 cB -20,4 bB 29,3 abA
Hedychium 43,2 aA 17,9 abB 13,3 aB 14,4 bB
Heliconia 30,3 aA 1,1 bB 20,1 aAB 28,5 abA
Controle 44,4 aA 29,2 aA 28,0 aA 40,7 aA
Pelo teste Tukey, a 1% de probabilidade, médias seguidas da mesma letra
minúscula, nas colunas, não diferem entre si e médias seguidas da mesma letra
maiúscula, nas linhas, não diferem entre si.
Tabela 5. Análise da interação entre as espécies e os TRHs para a variável ORP
Espécies X TRHs
Médias de Elevação (%)
24 48 72 96
Cyperus sp. 19,5 aA 16,4 aA 6,4 aB -4,35 aC
Hedychium 7,6 bA 0,9 bAB -3,6 bBC -7,5 abC
Heliconia 3,8 bcA 1,0 bAB -3,5 bBC -8,1 abC
Controle -1,9 cA -8,4 cAB -8,7 bB -13,0 bB
Pelo teste Tukey, a 1% de probabilidade, médias seguidas da mesma letra
minúscula, nas colunas, não diferem entre si e médias seguidas da mesma letra
maiúscula, nas linhas, não diferem entre si.
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