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O ACTING NO DESIGN DE ANIMAÇÃO
Mauricio Duarte Mazza
portante, que resumidamente consiste em acoplar
artefatos ao corpo humano. Bonsiepe (1997) de-
monstra com o exemplo da tesoura, afirmando
que não basta ter duas lâminas para ser uma te-
soura, é necessário ter alças, parafusos, encaixes,
ergonomia. Este autor ainda afirma que para os
seres humanos, “seres viventes com olhos”, não
basta o objeto ser acoplado ao corpo humano, ele
deve satisfazer o usuário. Na maioria das vezes,
essa satisfação é atingida principalmente no senti-
do visual. Podemos então concluir que o caráter
projetual do designer, é interpretar o imaginário
coletivo e formar objetos novos, sejam instru-
mentais, informacionais ou comunicativos, mui-
tas vezes resignificando-os para um determinado
usuário ou grupo de usuários.
Para que esta relação seja atingida é necessá-
rio o desenvolvimento de um projeto que con-
te com elementos, sintaxe e linguagem. Veremos
a seguir que, inúmeros elementos projetuais são
necessários para que se desenvolva a animação e
consequentemente o acting. Coelho (2006) apon-
ta que o design pode nascer de conhecimentos
correlatos, áreas que têm interface com o design e
afirma que o design normalmente combina prin-
cípios das Artes Plásticas, Física, Química, Enge-
nharia Mecânica e de Produção,
Arquitetura, Artes Gráficas entre
outras. Neste sentido, podemos de-
duzir que a área da Animação tanto
pode ser desenvolvida na perspec-
tiva das Artes Visuais quanto nas
questões da Física, bem como das
Artes Gráficas dentro de um leque
de conhecimentos correlatos que
dialogam com o campo do Design.
Comparando o cinema de ani-
mação com o cinema “ação viva”
(live action), no qual a câmera captu-
ra momentos dos movimentos dos
atores em tempo real, a mesma cena
pode ser filmada 10, 20, 30 vezes se
necessário. Posteriormente, na edi-
ção do filme, o diretor escolhe a to-
mada que ficar mais apropriada para
composição. No caso da animação,
não se pode ter esse luxo. Como a
animação é um processo demorado,
os animadores devem executar seu
trabalho somente depois que todo o
entendimento da cena estiver mui-
to claro para todos os envolvidos no
filme. Isso exige um planejamento extremamente detalha-
do e organizado. Neste sentido, a interface responsável para
que todas estas áreas de um projeto de animação se rela-
cionem e se acoplem, é definida por conceitos e práticas
do campo do design. O entendimento da concepção da
história e a adaptação do roteiro para as formas visuais, a
linguagem e a direção de arte definidas de acordo com
as referências culturais, e, sobretudo o acting, devem estar
muito bem assimilados por todas as partes envolvidas no
projeto de animação.
Portanto, o campo da Animação e o campo do Design
estão intimamente relacionados. Porém esta relação pode
ser difícil de ser identificada, pois na maioria das vezes em
que eles se encontram, estão diluídos um no outro. De tão
diluídos ficam completamente integrados, interdependen-
tes, inter-relacionados. Uma animação pode estar contida
em um projeto de design, assim como o design pode estar
contido em um projeto de animação. Ou ainda, animação
e design podem estar contidos em um projeto maior, como
por exemplo, nos websites ou nos jogos eletrônicos. Neste
texto, vamos analisar como o campo do design se faz neces-
sário em um projeto de animação.