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ANÁLISE DA LINGUAGEM DE UM AMBIENTE VIRTUAL
DE APRENDIZAGEM SOB A PERSPECTIVA TEÓRICA
DE CHARLES PEIRCE.
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE
DARCY RIBEIRO - UENF
CAMPOS DOS GOYTACAZES/RJ
MARÇO 2010
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FICHA CATALOGRÁFICA
Preparada pela Biblioteca do CCH / UENF
Moulin, Marcos de Oliveira
Análise da liguagem de um ambiente virtual de aprendizagem sob
a perspectiva teórica de Charles Peirce / Marcos de Oliveira Moulin -
- Campos dos Goytacazes, RJ, 2009.
84 f. : il
Orientador: Carlos Henrique Medeiros Souza
Dissertação (Mestrado em Cognição e Linguagem) –
Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Centro
005/2010
M
926
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MARCOS DE OLIVEIRA MOULIN
ANÁLISE DA LINGUAGEM DE UM AMBIENTE VIRTUAL
DE APRENDIZAGEM SOB A PERSPECTIVA TEÓRICA
DE CHARLES PIERCE.
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Cognição e Linguagem
do Centro de Ciências do Homem da
Universidade Estadual do Norte Fluminense
Darcy Ribeiro, como requisito parcial para
obtenção do Grau de Mestre em Cognição e
Linguagem.
Orientador: Prof. Dsc. Carlos Henrique
Medeiros de Souza
Co-orientador: Prof. Dsc. Carlos Roberto
Pires Campos
CAMPOS DOS GOYTACAZES
2010
iii
A LINGUAGEM VISUAL UTILIZADA NOS AMBIENTES VIRTUAIS DE
APRENDIZAGEM E TEORIA DOS SIGNOS DE CHARLES PEIRCE: UMA
ANÁLISE COMPARATIVA.
MARCOS DE OLIVEIRA MOULIN
Dissertação apresentada ao Centro de Ciências do
Homem da Universidade Estadual do Norte
Fluminense Darcy Ribeiro, como parte das
exigências para obtenção do título de Mestre em
Cognição e Linguagem.
Aprovada em 18 de dezembro de 2009
Comissão examinadora:
__________________________________________________________
Prof. Dr. Carlos Henrique Medeiros de Souza.
Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro – UENF –
Orientador
__________________________________________________________
Professor Doutor Carlos Roberto Pires Campos
Centro Federal de Educação Tecnológica do Espírito Santo
Co-orientador
_____________________________________________________________________
Prof. Dr. Pedro Wladimir do Vali Lyra
Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro – UENF
__________________________________________________________
Prof. Dr.
Centro Federal de Educação Tecnológica do Espírito Santo
__________________________________________________________
Prof. Dr.
Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro – UENF
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Muda o canto, a forma, o verso, a prosa
Mas a rosa é sempre a rosa
Raul Sampaio
v
HOMENAGENS
Aos meus pais, Loé e Enedina, pelo carinho e dedicação durante toda minha
vida, e pelo apoio em todos os momentos de minha vida, mas em especial ao
apoio dado durante todo o percurso de meu mestrado, que, mais do que
ninguém, sabem como foi laborioso.
Aos meus filhos João e Paulo, pelo amor incondicional que fizeram brotar
dentro de mim.
vi
AGRADECIMENTOS
Ao meu Anjo da Guarda, que ouviu carinhosamente minhas orações, e esteve
presente em todos os momentos de estudo.
Ao meu professor orientador, Prof. Dr. Carlos Henrique Medeiros de Souza,
que me mostrou o caminho, e apontou a direção durante toda a jornada.
Ao meu professor co-orientador, Prof. Dr. Carlos Roberto Pires Campos, que
me ajudou a retirar as pedras do caminho, e apreciar a bela paisagem que
encontramos na jornada rumo ao conhecimento.
A todos os meus “amigos de estrada”, com os quais compartilhei muitos
quilômetros entre Cachoeiro de Itapemirim-ES e Campos dos Goytacazes, em
especial Denise Benini, Pdr. Américo Pinho de Cristo, Mirian Bastos e Evandro
Bolsoni.
A todos os amigos e familiares que compreenderam as minhas “sumidas”
durante esses anos de dedicação à pesquisa.
vii
RESUMO
O presente trabalho teve por objetivo pôr em discussão as interfaces dos
Ambientes Virtual de Aprendizagem – AVA utilizados pelas instituições de
ensino superior, com vistas a contribuir para o aprimoramento desses
ambientes.
O ponto de partida para a análise foram os princípios teóricos da
Semiótica de Charles Peirce, buscando questionar em que medida eles podem
colaborar para a elaboração dessas interfaces. Para tanto, foi necessário fazer
um breve levantamento teórico da linguagem utilizada pelo ser humano, assim
como a teoria desenvolvida pelo filósofo/semioticista norte americano. Em
seguida foi escolhido um AVA, sendo feita a análise dos signos encontrados,
aplicando-se a teoria de PEIRCE. Ao final são apresentadas as conclusões,
momento em que se destacou a importância do conhecimento deste aporte
teórico para o correto desenvolvimento de interfaces de ambientes de
aprendizagem disponibilizados na internet.
Palavras-chave: Semiótica, Peirce, Ambiente Virtual de Aprendizagem,
Signos, Linguagem Visual.
viii
ABSTRACT
This study Aimed to focus discussion on the interfaces of Virtual Learning
Environments - AVA used by institutions of higher education with a view to
contributing to the improvement of these environments.
The starting point for the analysis were the theoretical principles of the
semiotics of Charles Peirce, seeking to question to what extent they can
contribute to the development of such interfaces. Therefore, it was necessary to
make a brief theoretical survey of the language used by humans as well as the
theory developed by the philosopher / semiotician North America. Next was
chosen one AVA, which made the analysis of signs found by applying the
theory of Peirce. At the end conclusions are drawn, when it highlighted the
importance of knowledge of the theoretical framework for the correct
development of interfaces for learning environments available on the Internet.
Key words: Semiotics, Peirce, Virtual Learning Environment, Signs,
Language Visual.
ix
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1 – Gráfico que apresenta a classificação dos signos
segundo Schaff ............................................................................................32
Figura 2 – Gráfico que apresenta a classificação dos signos
propriamente ditos segundo Schaff..............................................................32
Figura 3 – Gráfico apresentando a visão de Teixeira (2003)
sobre o ad infinitum do signo........................................................................39
Figura 4 – Apresenta a relação triádica do signo na visão de
Teixeira ........................................................................................................40
Figura 5 - Página de entrada quando o professor acessa o site ..................62
Figura 6 - Tamanho e estilos das fontes ......................................................68
Figura 7 – Cores dos submenus ..................................................................71
Figura 8 – Fontes utilizadas no conteúdo.....................................................72
Figura 9 – Alinhamento dos textos nas tabelas............................................72
Figura 10 – Cores do menu principal ...........................................................73
Figura 11 – Menu do lado esquerdo desaparece.........................................73
Figura 12 – Várias janelas aparecem sobrepostas durante a
navegação....................................................................................................74
Figura 13 – Falta padronização nos links de retornar à página anterior.......75
Figura 14 – Grupos do menu à esquerda.....................................................77
Figura 15 – Terceiro nível de navegação no submenu ................................77
Figura 16 – Formulários ...............................................................................78
x
ÍNDICE DE QUADROS
Quadro 1 – Divisão do interpretante para Zeman (1971).............................48
Quadro 2 – Divisão dos signos segundo Peirce, de acordo com a
relação com os elementos que forma o signo (ele mesmo, objeto e
interpretante)................................................................................................49
Quadro 3 – Apresentação dos conceitos que diferenciam ícone, índice e
símbolo.........................................................................................................54
Quadro 4 – Ilustrações utilizadas na interface..............................................66
xi
SUMÁRIO
1 – INTRODUÇÃO ...................................................................................13
1.1 – Hipótese .......................................................................................... 13
1.2 – Justificativa ...................................................................................... 14
1.3 – Objetivos .........................................................................................16
1.3.1 - Objetivo Geral ...............................................................................16
1.3.2 - Objetivos Específicos .................................................................... 16
1.4 – Princípios Teóricos .......................................................................... 17
1.4.1 - Linguagem Visual .......................................................................... 17
1.4.2 – Interface ........................................................................................18
1.4.3 - Ambiente Virtual de Aprendizagem ............................................... 18
2 – MARCO TEÓRICO ............................................................................. 20
2.1 - O Processo de Comunicação ...........................................................20
2.1.1 - As linguagens ................................................................................21
2.1.2 - A utilização de imagens pelo homem ............................................23
2.1.3 - A contemporaneidade da linguagem visual ................................... 26
2.1.4 - A função da linguagem .................................................................. 27
2.2 - Sobre os signos, o que são .............................................................. 29
2.2.1 – O olhar de Adam Schaff ............................................................... 30
2.2.2 - Peirce e o signo ............................................................................34
2.2.3 – Signo ............................................................................................ 39
2.2.4 - Do Objeto ......................................................................................41
2.2.5 - A tríade perceptiva ........................................................................ 43
2.2.6 - Retorno ao objeto ......................................................................... 44
2.2.7- Do Interpretante ......................................................................... 45
2.2.8 - O Signo revisitado ......................................................................... 49
2.2.9 - Classes de Signos ......................................................................... 55
2.3 – Aplicação .........................................................................................57
3 – MATERIAL E MÉTODOS ................................................................... 58
3.1 – O TelEduc ........................................................................................60
4 – RESULTADOS E DISCUSSÃO ..........................................................61
4.1 – Introdução .......................................................................................61
4.2 - Análise do ambiente ......................................................................... 61
xii
4.2.1 - O signo como qualidade ................................................................62
4.2.2 - O signo como existente ................................................................. 65
4.2.3 - O signo em sua generalidade ....................................................... 78
5 – CONCLUSÃO ..................................................................................... 80
5.1 – Recomendações para novos estudos ..............................................81
6 – REFERÊNCIAS................................................................................... 82
13
1 – INTRODUÇÃO
A década finissecular do século XX marca-se pela implantação de aulas
semi-presenciais nas instituições de ensino superior decorrentes não do
incentivo do governo federal, por meio da legislação, mas também de um
grande interesse das instituições em reduzir custos e aumentar capital.
Decorre, tal lógica, do aumento do mero de pessoas com acesso à
Internet, fato amplamente divulgado nos canais de televisão, jornal e outras
mídias, com o quê sua função torna-se efetivo meio de comunicação. Tal
capacidade multimídia permite a criação de diversos tipos de atividades
profissionais, entre as quais o E-learning, ou o ensino baseado em meios
eletrônicos de comunicação.
Por parte das instituições de ensino, na Internet, criam-se Ambientes
Virtuais de Aprendizagem AVA, sítios que reúnem todos os recursos
utilizados em um curso a distância, entre os quais ferramentas de
comunicação, orientações de estudos, atividades, materiais para leitura entre
outros. O que difere um AVA de cursos de e-learning é a existência de um tutor
e a interação dos alunos com esse tutor, assim como a interação dos alunos
entre si, favorecendo a aprendizagem colaborativa.
Nos AVA são utilizadas as linguagens textual, sonora e visual. A
Linguagem Visual é a que se destaca, pois é por intermédio da visualização do
ambiente que o usuário encontra todos os recursos necessários para execução
das tarefas ali postadas.
É pois, neste contexto, que se debra a pesquisa que aqui se empreende,
a qual busca pôr em discuso os Ambientes Virtuais de Aprendizagem AVA
indagando, como ponto de alise, a representação do pensamento em tais
ambientes. Assim, em que medida a Teoria dos Signos de Charles Peirce
colabora para a elaborão das interfaces dos AVAs?
Como hipótese, partimos do pressuposto, nesta pesquisa, de que a
compreensão da teoria dos signos, por parte dos projetistas das interfaces dos
AVAs, pode contribuir para uma comunicação mais efetiva com os usuários.
Em nossas buscas pela internet, na tentativa de localizar outros
trabalhos desenvolvidos acerca do tema de interesse, encontramos algumas
14
abordagens que passamos a apresentar. Destacamos que a maioria das
pesquisas localizadas, e publicadas, de alguma forma, se relacionam com
esta pesquisa. Dos rios estudos encontrados, indicamos alguns que servem
de mostra do que vem sendo estudado. Trata-se de trabalhos que
contribuíram para o avanço desta pesquisa, os quais, em sua maioria,
fundamentam as discussões nos conceitos da metodologia semiótica de
Charles Sanders Peirce, filósofo norte-americano, servindo-nos, também, de
embasamento teórico.
Merece destaque a pesquisa realizada por CANDELLO (2006), por ser a
que mais se aproxima da que pretendemos empreender. Tomando como
fundamento os conceitos da metodologia de Charles Sanders Peirce, tal
pesquisa buscou evidenciar como se apresentam e como são organizados os
signos presentes em interfaces de Revistas digitais on-line. Foram escolhidas
três revistas em que a autora verificou os significados dos elementos presentes
em suas interfaces, estudando o significado de cada um deles e como
poderiam "facilitar ou atrapalhar a comunicação e a interação entre os usuários
e as interfaces estudadas" (CANDELLO, 2006 p.6). No capítulo I, a autora fez a
apresentação do trabalho, chamando a atenção para as Novas Tecnologias.
No capítulo II, a autora apresenta os conceitos da semiótica peirceniana,
empreendendo abordagem bastante cuidadosa. Nos capítulos III, IV e V,
procede-se às análises das interfaces das revistas digitais, sendo que, em cada
um dos capítulos, estabelece uma apresentação dos elementos gráficos
presentes, analisando a predominância de elementos pertencentes às
categorias fenomenológicas da Primeiridade, Secundidade ou Terceiridade.
Depois, a autora põe em mostra uma análise da perspectiva do signo como
qualidade, em que empreende uma abordagem do comportamento dos
elementos como Sinsignos, Qualissignos ou Legissignos. Propõe, em
seguida, uma análise da perspectiva do signo como um existente, analisando
como as características do contexto são passadas por meio de Ícones, Índices
ou Símbolos. Em seguida, propõe uma análise com foco na organização dos
elementos na tela, sua legibilidade e na usabilidade da interface. A próxima
etapa consistiu de uma análise do signo em sua generalidade, onde abordou
sobre os Interpretantes gerados. Finaliza cada um dos capítulos com uma
conclusão.
15
A pesquisa de SILVA (2005) também parte da metodologia de PEIRCE,
porém adota como foco não interfaces gráficas de websites, mas a linguagem
visual encontrada na festa do Boi-bumbá, em Parintins-AM. Além de toda
contextualização histórica, o autor desenvolve uma apresentação das
categorias (Primeiridade, Secundidade e Terceiridade), do comportamento
(Sinsignos, Qualissignos ou Legissignos), dos Objetos e dos
Interpretantes, assim como dos Ícones, Índices ou Símbolos encontrados
no festejo. Apresenta, também, uma análise a partir da ótica saussureana.
A pesquisa de RIGO (2007) assim como a que desenvolvemos e a de
CANDELLO (2006) apontam para o estudo de interfaces, porém de jornais on-
line. O pesquisador lança mão dos princípios de Peirce para analisar a
interação, adequação do conteúdo à Internet e a navegação. Além da
semiótica peirceniana, ele utiliza os conceitos de design. Foram feitas
avaliações sob o ponto de vista Qualitativo-Icônico (Primeiridade), Singular-
Indicativo (Secundidade) e Convencional-Simbólico (Terceiridade). Um
diferencial em relação à pesquisa de CANDELLO (2006) consiste no fato de
terem sido realizadas pesquisas do tipo qualitativa e quantitativa com usuários
do jornal.
Fugindo da análise de interfaces, assim com a pesquisa de SILVA
(2005), CAMPANHOLLE (2006) desenvolveu um trabalho voltado para a área
da educação, estudando a Linguagem Visual em aulas de educação artística,
também utilizando os conceitos teóricos de Peirce. Um ponto interessante
nessa pesquisa é a revisão histórica que a autora empreende sobre a
Linguagem Visual.
Em ARAÚJO (2005), encontramos o estudo de identidades visuais da
perspectiva das teorias de Peirce. Foram utilizados alguns Manuais de
Identidade Visual e Capas de livros de algumas coleções. O pesquisador analisa
os trabalhos de Programação Visual empreendendo um relato da ocorrência de
signos, descrevendo seus aspectos fenomenológicos, apresentando os
componentes semióticos Objeto e Interpretante, desenvolvendo, em seguida,
uma análise das suas naturezas icônica, indicial e simbólica, finaliza com a
análise do Interpretante (Imediato e Dinâmico).
A realização deste Estado de Arte, mais que simplesmente justificar a
relevância da pesquisa que ora empreendemos, mostrou-se bastante
16
reveladora na medida em que nos permitiu encontrar uma diversidade de
estudos, o que enfatizou a importância do trabalho que desenvolvemos. O que
mais nos motivou foi o fato de que, por não ter encontrado nenhuma pesquisa
com o mesmo foco da que realizamos, ao mesmo tempo em que nos
impulsionou para as buscas, impôs-nos a responsabilidade de um trabalho
duplamente cuidadoso, tanto pelas exigências de nosso orientador, quanto
pelas cobranças da academia. Apesar das grandes semelhanças, acreditamos
ter desenvolvido uma pesquisa inédita, pelo modo como detemos o foco sobre
o objeto de estudo.
Das pesquisas selecionadas durante as buscas para construção do Estado
de Arte, a de CANDELLO (2006) foi a que ofertou melhor suporte para o
desenvolvimento, razão pela qual foi citada várias vezes nesta dissertação.
Defino como o objetivo principal da pesquisa o estudo dos signos visuais
utilizados na interface de um AVA, verificando até que ponto colaboram para o
desenvolvimento da autonomia dos usuários com perfil iniciante.
Para que esse objetivo fosse alcançado, analisamos alguns
fundamentos teóricos dos signos e apontarmos sua aplicação nas interfaces de
um determinado AVA. Também buscamos demonstrar a relevância da
semiótica peirceniana na elaboração de AVAs com vistas a favorecer a
comunicação com o usuário.
Como ponto e partida, busquei alguns princípios teóricos, que apresento
a seguir.
A sociedade humana fundamenta suas relações por meio do uso da
linguagem, a qual, segundo GIOVANNINI (1987), se aplica à forma como o
indivíduo se manifesta, podendo ocorrer por meio de gestos, palavras,
símbolos, formas, cores, sons. Nossa elaborada capacidade de comunicação
deu-nos a possibilidade de transformar o mundo como conhecemos hoje. E as
tecnologias que utilizamos para nos comunicar, segundo pesquisadores como
McLUHAN (1996), também influenciaram diretamente essas transformações.
Mas do que estamos falando, quando nos referimos à Linguagem
Visual? Quando olhamos para um quadro, uma foto, um anúncio publicitário,
um rótulo ou uma página de um sítio na internet, podemos perceber, sempre, a
presença de, pelo menos, alguns dos seguintes objetos: pontos, linhas, formas,
texturas e cores. Tais objetos BACELAR (1998) designa como o “vocabulário”
17
da Linguagem Visual, organizados em uma “gramática” de contrastes
(equilíbrio/instabilidade, simetria/assimetria, duro/suave, leve/pesado). Afirma o
autor que, assim como as letras de um alfabeto, esses elementos podem ser
combinados de inúmeras formas quanto às suas qualidades ópticas, dando
origem a uma nova sensação de espaço, uma nova informação.
Leituras realizadas sobre a Gestalt, escola de psicologia alemã que
estudou o fenômeno da percepção, nos permitiram a identificação desse
vocabulário. Essas pesquisas, segundo GOMES FILHO (2000), vieram
explicar, sem subjetividade, o porquê de umas formas agradarem mais e outras
não. Porque se apoiam na fisiologia do sistema nervoso quando, no campo da
percepção, procuram explicar a relação entre o sujeito que e o objeto que é
visto. São as Leis da Gestalt que embasam cientificamente o sistema de leitura
visual. “(...) a partir destas leis, foi criado o suporte sensível e racional, espécie
de abc da leitura visual que vai permitir e favorecer toda e qualquer articulação
analítica e interpretativa da forma do objeto” (GOMES FILHO, 2000 p.27)
Além da forma do objeto que é visto, as cores também possuem uma
importância extremamente relevante na Linguagem Visual. Segundo Farina
(1986) “Nem a captação instantânea da forma do objeto pode produzir o
impacto emocional que nos é proporcionado pela cor” (p.25). Este autor aborda
sobre uma Sintaxe das Cores que pode ser transmitida e ensinada, é como se
a cor em seu valor de expressividade a tornasse um elemento importante na
transmissão de idéias. Tal reflexão autoriza a classificação das cores como
signos, quando utilizadas em uma interface na comunicação humana.
Apresentando o conceito de interface, podemos entender esta, de modo
geral, como sendo um lugar onde ocorre o contato entre duas entidades, ou
seja, aquilo que medeia a relação entre emissor e receptor. JOHNSON (2001)
exemplifica com o livro, cuja interface é o papel e as palavras impressas em
suas páginas, assim como no cinema, as imagens em celulóides configuram-se
como as interfaces.
Em nossa pesquisa, entendemos como interface a ligação entre um
sistema, website hospedado em um computador conectado à internet, e um
internauta, sendo esta interface o que permite que este internauta acesse todos
os recursos disponíveis neste sistema.
18
Abordando sobre as interfaces de websites, JOHNSON (2001) diz que
“(...) a interface é, na realidade, todo o mundo imaginário de alavancas, canos,
caldeiras, insetos e pessoas conectados amarrados entre si pelas regras que
governam esse pequeno mundo.”
Quando buscamos entender o que é um Ambiente Virtual de
Aprendizagem, percebemos que vários nomes são utilizados para designar tal
ambiente, tais como Plataforma de Educação a Distância e Ambiente Virtual de
Ensino, entretanto, em nosso estudo, utilizaremos a expressão Ambiente
Virtual de Aprendizagem - AVA.
Sempre que houver o envolvimento de pessoas, a natureza ou coisas
desenvolvidas pelo homem existirá um ambiente. A palavra virtual é derivada
do latim virtualis, que vem de virtus, força, potência, ou seja, aquilo que não
existe, mas tem poder para existir. LEVY (2001) define o virtual o como
oposição ao real, mas ao atual. Apresenta o exemplo da semente, pois ela é
potencialmente uma árvore: não existe em ato, mas existe em potência.
Um Ambiente Virtual de Aprendizagem é um endereço de um tio (URL)
onde, ao acessar, o usuário encontrará todos os recursos utilizados em um curso
a distância e também as ferramentas de comunicação necessárias para que
possam ocorrer de forma síncrona ou assíncrona as comunicações estudante-
estudante e estudante-instrutor, favorecendo, assim, a aprendizagem
colaborativa.
Segundo SCHELEMMER e FAGUNDES (2001), citados por CORTIMIGLIA
(2005 p. 03):
(...) os AVAs são sistemas para gerenciamento de aprendizagem via Web, os
quais sistematizam a funcionalidade de software para comunicação mediada
por computador (CMC) e todos de entrega de material de cursos online.
Uma comunicação síncrona ocorre quando uma participação
simultânea dos usuários que estão acessando a internet no mesmo momento.
Como exemplo, temos o bate-papo, a videoconferência e a áudio-conferência.
Já uma comunicação asncrona permite que os usuários acessem a internet em
momentos distintos. Como exemplo, temos e-mail, fórum e a lista de discussão.
Tendo até aqui apresentado alguns pontos-chave que permearão a pesquisa, o
passo a seguir se concentra em uma apresentação suria da estrutura da
dissertação seguida do Marco teórico sobre o qual a pesquisa se funda.
19
Na primeira parte, é feita uma introdução geral do assunto, seguida de
revisão bibliográfica dos aspectos teóricos, da elaboração do estado de arte, da
seleção do método adotado para a execução da pesquisa.
Na terceira parte, é feita uma abordagem dos dados, à luz do referencial
teórico. Fechamos com a quarta parte, onde analisamos, de maneira geral, os
dados, verificamos se cada objetivo foi contemplado, e apresentamos as
conclusões parciais, seguidas de sugestões para novos estudos.
20
2 – MARCO TEÓRICO
2.1 - O Processo de Comunicação
Tanto os animais quanto o homem se comunicam com gestos, sons,
substâncias químicas, por meio dos quais são compreendidos e passam a
compor um processo de comunicação. De alguma maneira causam uma
mudança extensiva de comportamento nos outros de sua espécie. Esses
sinais, no caso dos animais, são aprendidos e passados às gerações seguintes
por intermédio dos seus códigos genéticos. No caso do homem, estes são
transmitidos culturalmente, tendo, também, como diferencial a capacidade
maior que a dos outros animais, por ter um repertório maior de gestos, dotados
de significados diferentes, conforme o contexto onde é produzido, onde é
utilizado.
Quando estudamos a capacidade do homem de se comunicar, estamos
estudando os sistemas das práticas sociais. Não estudamos algo material, mas
uma realidade social ou cultural.
Todas as atividades sociais se valem de uma linguagem própria, um
sistema de signos utilizados na comunicação com o propósito de modear o
mundo onde as pessoas vivem essas atividades. A linguagem vai modelando
as relações sociais sem que as pessoas percebam o processo em que estão
inseridas. Importante destacar, no estudo do processo de comunicação, o
conceito de signo.
Schaff (1968) afirma que para ser classificado como signo, o elemento
gráfico, ou fônico, precisa necessariamente estabelecer uma relação com um
significado, sem a qual não existe signo. Essa relação permite ver a linguagem
como “um sistema de signos” (p.17).
Ganha fôlego, desse ponto de vista, o estudo da comunicação, pois é
essencial para o processo cognitivo. Schaff (1968 p.126) afirma que “sem
comunicação humana, sem a possibilidade desta comunicação, seria
impossível a vida social”. O fato é que a comunicação implica o conhecimento
do sistema de signos. Se a comunicação humana é a que “transfere certo
conhecimento e certos estados mentais” (idem, 1968 p.127), para tarefas
21
intelectuais, deve ser usada a linguagem de palavras, em sua forma fônica ou
escrita. As outras linguagens (música, artes e até poética) o mais
apropriadas para tarefas de evocar estados emocionais. Afirma o autor que a
transmissão de conteúdo intelectual não implica descartar todo aspecto
emocional, mas este fica em segundo plano.
De certa forma, tanto a comunicação emocional quanto a comunicação
intelectual fazem parte do domínio da vida social do homem, portanto não
podem ser separadas de modo absoluto. Porém a comunicação intelectual
exige um contexto específico para ser plenamente compreendida.
No caso do desenvolvimento da interface de um AVA, quando utilizamos
os elementos básicos da linguagem visual (ponto, linha, forma etc), estamos
explorando os aspectos emocionais, razão pela qual devemos dar-lhes um
destaque tal que não interfira na função principal, qual seja, a de transmitir um
conteúdo intelectual, no processo de interação.
2.1.1 - As linguagens
Na linguagem verbal, o homem conseguiu desenvolver uma ferramenta
chamada “dupla articulação”, que o permitiu criar uma quantidade de mensagens
praticamente ilimitadas. Explica Epstein (2001) que, nesse processo, a primeira
articulação” contém o significado que se deseja transmitir, monemas ou as
“unidades nimas de significado”, que se equivalem às palavras. Existem
palavras com mais de um monema. Por exemplo, a palavra casa é constituída
de um monema, mas na palavra casarão dois monemas, o que significa a
própria casa e o que significa que a casa é grande. Epstein (2001 p.08) diz que
esses monemas são “verdadeiros signos, isto é, unidades de duas faces: o
significado, que é o sentido ou seu valor diferencial, e o significante, que se
manifesta fonicamente”. O significante é formado pelo que ele chama fonemas.
Os fonemas não têm significados, portanto não podem ser considerados signos,
mas podem ser classificados como semas
(unidade mínima da significação, não
susceptível de realização independente e, portanto, sempre realizada no interior
de uma configuração semântica ou semema).
O número de fonemas é fixo, podendo ser de poucas dezenas, porém o
número de monemas é variável, devido à evolução das línguas. Decorre daí a
vantagem que, a partir da memorização de poucos fonemas, somos capazes
22
de formar dezenas de milhares de monemas. Dessa forma, conseguimos sair
do estado que se encontram até hoje os outros animais, que é o de comunicar
apenas com a capacidade de gestos, sons e substâncias químicas. Outro dado
interessante apresentado por Epstein (2001) é o conceito de supersigno, isto é,
quando um signo que agrupa vários signos, servindo de exemplo uma frase
que atua como um supersigno de palavras faladas.
Outra categoria estudada pelo autor são os códigos visuais que podem
ter apenas uma articulação, a primeira ou a segunda, as duas, ou ainda
nenhuma. Estabelecendo um estudo a partir de Umberto Eco (1980), o autor
apresenta a seguinte classificação de códigos visuais:
Códigos sem articulação – contêm semas que não se decompõem
o Códigos de sema único a presença tem significado, pom a
ausência não tem necessariamente um significado alternativo.
Por exemplo, alguém segurando uma bengala significa que essa
pessoa tem um problema físico, pom a sua ausência não
significa necessariamente alguma coisa.
o Códigos de significante zero tanto a presença quanto a
ausência tem um significado. Por exemplo, a luz traseira de freio
de um carro. Se estiver acesa significa que está acionado, e se
estiver apagada significa que não está acionado.
o Códigos com vários semas “qualquer tipo de sinalização que
utiliza apenas um algarismo, uma letra ou um sinal em cada
sema” (EPSTEIN, 2001 p.12).
Códigos com apenas a segunda articulação formado por semas que,
quando decompostos, não “representam frações de significado”. Por
exemplo, “a linha 467 vai da localidade A até B, porém os números 4, 6
e 7, isoladamente, nada significam” (idem, 2001 p.12).
Códigos com apenas a primeira articulação “os semas
são analisáveis e signos, mas não ulteriores em figuras”
(EPSTEIN, 2001 p.12). No exemplo ao lado, temos o sema
da bicicleta e o sema de proibido.
23
Códigos com dupla articulação “os semas são analisáveis em signos
e, estes, em figuras” (EPSTEIN, 2001 p.12). Por exemplo, quando a
numeração de uma sala é B507, onde “B” significa que a sala fica no
“bloco B”, “5” que fica no quinto andar, e “07” que fica do lado esquerdo
do corredor.
2.1.2 - A utilização de imagens pelo homem
Apesar de a imagem ser utilizada desde os tempos do neolítico, como
forma de expressão humana, só no século XX é que se iniciaram os estudos de
uma ciência da imagem. Em razão de existirem tantas disciplinas das ciências
humanas e sociais que a estudam, aquela ganhou privilégios de disciplina
interdisciplinar. No caso das linguagens verbal e imagética, embora sejam
linguagens diferentes, uma precisa da outra para acontecer.
Existem dois domínios da imagem, o das representações visuais, tema
da semiótica, e o das imagens em nossa mente, representações mentais, tema
da ciência cognitiva. A representação pode ser compreendida como um signo,
e foi Peirce que, em 1865, se referiu à semiótica como uma teoria geral das
representações, em cujo modelo ambos os aspectos de um signo são modelos
de representação. “A “representação pública” é o signo no sentido
representamen peirciniano, enquanto a “representação mental” é o
interpretante do signo”. (SANTAELLA, 2008 p.16)
Desse ponto de vista, a representação seria um processo em que se
utiliza um signo; uma referência e função de apresentação; um signo icônico.
Na história da semiótica, a idéia de que representar é “reproduzir algo alguma
vez presente na consciência(SANTAELLA, 2008 p.19) é fato significativo e
deve aqui ser considerado. Desse ponto de vista, somente os símbolos podem
representar algo.
No pensamento ocidental estão as idéias de imagem como um conceito
de algo que pode ser percebido, que pode existir, e de uma imagem em nossa
mente, que pode ser evocada. As imagens podem ser observadas como signos
icônicos ou como signos plásticos. Quando observados como signos
icônicos, dentro do modelo triádico de Peirce, a palavra “imagem” aparece na
descrição dos três elementos, sendo a imagem que é o representamen, a
24
imagem mental, quando nos referimos ao interpretante e à imagem original, da
qual foi produzida uma cópia.
Quando observado como signo plástico, seu conteúdo depende das
qualidades (forma, textura, etc.) que seu observador une.
Abordando sobre a dependência da linguagem verbal, SANTAELLA
(2008) conclui que não uma metaimagem que analise ou comente
teoricamente uma imagem, fazendo-se necessária a utilização da linguagem
verbal para compreender uma imagem semioticamente. Quando explana sobre
a diferenciação entre linguagem e imagem, a autora cita Janney & Arndt (1994)
para dizer que, no aspecto cognitivo-conceitual, a linguagem atua mais
fortemente e, no aspecto afetivo-relacional, as imagens são mais fortes.
Também cita Weidenmann (1988) para defender que as imagens, por
fomentarem atenção e motivação, são mais apropriadas para a apresentação
de alguma informação especial, podendo facilitar determinados processos de
aprendizagem.
STRUNK (2003, p.52), sobre esse assunto, afirma que o ser humano
pensa visualmente, como se imagens agissem diretamente sobre a percepção
do cérebro, “impressionando primeiro para serem depois analisadas, ao
contrário do que acontece com as palavras.”
Apresentando os argumentos do gestaltismo para a independência da
imagem em relão à linguagem, SANTAELLA (2008) afirma que, no campo
visual, as figuras o percebidas como formas em sua totalidade, a qual é mais
do que simplesmente o somatório das partes. “A percepção acontece, eno, o
de maneira reprodutiva, mas como um processo construtivo da nova organizão
do campo visual (SANTAELLA, 2008 p.45). E as formas podem ser interpretadas
como unidades semióticas aunomas quando as consideramos invariantes do
campo visual, mesmo o possuindo um significado conceitual concreto.
A autora, então, se questiona sobre a existência de uma gramática da
imagem e, para tal discussão, argumenta que, como na linguagem, não
teoria que afirme inquestionavelmente a existência de um segundo plano de
articulação, indo contra o argumento de ECO (1980), apresentado por
EPSTEIN (2001). Sobre o primeiro plano de articulação, apresenta outras
teorias, sem afirmar de forma conclusiva a existência de uma gramática da
imagem.
25
Se as imagens se manifestam com função puramente sígnica, as
imagens figurativas têm qualidade sígnica. Todavia, a semiótica também
apresenta argumentos de que imagens não-figurativas também são
interpretadas como signos, basta lembrarmos de exemplos clássicos como um
signo estético, “que, em última instância, se refere a si mesmo
(SANTAELLA, 2008 p.142). Também a idéia de que um signo possui um valor
semântico próprio, pois os chamados elementos abstratos apresentam
contastes cromáticos e de categorias eidéticas (redondo x quadrado, convexo x
côncavo etc), nos leva à confirmação de que imagens não figurativas podem
ser signos. No caso da pesquisa que propomos, podemos interpretar isso como
argumento para compreender, como signos, qualquer elemento gráfico que
apareça em uma interface de um AVA.
SANTAELLA (2008, p.146) também dispõe sobre a previsão da
semiótica peirciniana para a qual existe a possibilidade de um signo, “quando o
veículo do signo é definido por uma regularidade”. A partir dessa segunda
afirmação, podemos interpretar que, além da simples presença, a repetição dos
elementos gráficos nas diversas telas de um site também funciona como signo.
Temos um exemplo disso quando percebemos que o menu de navegação
aparece localizado sempre no mesmo espaço na tela, com as mesmas cores e
efeitos gráficos, em todas as interfaces de um ambiente virtual.
Santaella apresenta a pintura de Mondrian como exemplo de uma
qualidade como regularidade. A sua obra é composta por formas construídas
segundo as leis geométricas, relacionando-se umas às outras através das
cores primárias, criando harmonia na composição. Essas leis também são
conhecidas na teoria da Gestalt ou na psicologia cognitiva.
Uma diagramação de uma interface, com formas geométricas servindo
de fundo para separar áreas de conteúdos distintos, pode se assemelhar ao
abstracionismo geométrico de Mondrian. Peirce (1995) afirma que um signo
pode ter mais de um Objeto, mas o conjunto de objetos pode ser considerado
um “Objeto complexo”. Dessa forma, podemos entender que pode ser
considerada como signo a identidade visual definida por STRUNK (2003, p.57):
26
A identidade visual é o conjunto de elementos gráficos que irão formalizar a
personalidade visual de um nome, idéia, produto ou serviço. Esses elementos agem
mais ou menos como as roupas e as formas de as pessoas se comportarem. Devem
informar, substancialmente, à primeira vista. Estabelecer com que os vê um nível
ideal de comunicação.
A fotografia é um índice genuíno, pois a “conexão entre a imagem e o
objeto é existencial” (SANTAELLA, 2008 p.148), já a pintura realista é um
índice degenerado, pois a “relação entre imagem e objeto não é existencial,
mas referencial” (idem, 2008 p.148). No caso da foto, se for uma que serve
para identificar (documento, jornalístico) será um índice e um hipoícone
(também podendo se chamado de signo icônico, quando diz respeito a algo
que se apresenta como signo, representando alguma coisa, como tal,
intrinsecamente triádico, apesar de se tratar de uma tríade não genuína, visto
que regida por relações de comparação e cuja referência ao objeto se por
semelhança). Se for artística, sem querer se referir diretamente a nada, é um
quali-signo. Uma foto científica é um legi-signo (signo que tem um caráter geral
ou de lei, e essa lei é tomada como propriedade que rege o funcionamento
sígnico) indexical, pois define a classe de um objeto.
2.1.3 - A contemporaneidade da linguagem visual
O contexto da pós-modernidade e de amadurecimento do capitalismo
destacou a importância da publicidade, hoje, presente por toda parte nas
cidades. Isso enfatiza a presença essencial das imagens nas vidas de todos os
consumidores e cidadãos. Se mercadorias à venda, há, obviamente,
logomarcas. No início, elas queriam dizer que uma determinada empresa
pertencia a determinada família, mas, depois, passaram não mais a se
preocupar em “contar a história da dinastia da empresa como um hieróglifo
contemporâneo (AZEVEDO, 1994 p.42)”.
Do ponto de vista lingüístico, a comunicação visual, o design gráfico, são
formas de linguagem. Assim, para que se estabeleça uma interlocução entre o
público e a mercadoria, o profissional tem que adequar a linguagem a um
veículo, vez que o design gráfico configura-se como um tipo de linguagem, o
que reforça a idéia de que uma consciência linguística envolvida na relação
entre a socialização e o veículo e o que querem produzir.
27
2.1.4 - A função da linguagem
As Funções da Linguagem, segundo Lopes (2001) podem ser:
Monológicas – o falante é o Remetente e o Destinatário
Dialógicas – são distintos o Remetente e o Destinatário
Como o foco deste estudo aponta para as interfaces dos AVAs,
desenvolvidas para serem entendidas por usuários, o que interessa em nosso
estudo é a função Dialógica.
Na Função Dialógica uma hierarquia funcional. Sempre um dos
fatores é colocado em destaque em relação aos demais fatores. Por conta
disso, temos seis Funções Dialógicas da Linguagem: Referencial, Emotiva,
Conativa, Fática, Metalingüística e Poética. Na Função Referencial, a ênfase
recai no contexto. Ao passarmos uma informação, o que importa é a pessoa
captar a informação com ela é. Na Função Emotiva a ênfase recai no
remetente, ocorre quando o destinatário percebe a emoção sentida pelo
emissor.
Acontece a Função Conativa, quando a ênfase está no destinatário,
pois visa a influenciar o comportamento de quem recebe a mensagem.
A Função Fática destaca o canal. Faz com que o destinatário participe
da mesma situação social do remetente. “(...) o sentido predominante da
função fática é o de criar solidariedade, o de estabelecer e manter funcionando
os vínculos sociais que nos ligam em grupos”. (LOPES, 2001 p.63) Exemplo:
“Bom dia!”, “Entendi”.
A Fuão Metalingüística enfatiza o digo. Por exemplo, quando
explicamos o significado de uma palavra que usamos em uma frase anterior, cujo
significado era desconhecido pelo destinatário, a atenção recai no digo
efetivamente utilizado. E a Função Poética destaca a mensagem, cujo centro
está em como se faz o arranjo das partes que constituem a mensagem.
Servem de exemplo os slogans publicitários.
Podemos encontrar alguma dessas funções definidas por LOPES (2001)
na Linguagem Visual utilizada em interfaces de AVAs.
A Função Referencial é quando conferimos o aspecto gráfico de um
botão em um link para o usuário clicar. A ênfase está no contexto, pois não
pode haver dúvidas de que é nesta área que ele deve clicar.
28
A Função Conativa é quando utilizamos uma seta para indicar que, para
continuar a leitura, o usuário deve clicar na seta para ver a continuação.
A Função Fática pode ser aplicada a algum elemento gráfico em
movimento que utilizamos para mostrar que algum processamento está sendo
feito pelo sistema do site. A idéia é reforçar a importância do canal de
comunicação, no caso, o pprio AVA.
A Função Metalingüística pode ser encontrada quando, ao pousar o
mouse sobre um botão, o usuário vê surgir uma pequena janela descrevendo a
ação deste botão.
A Função Poética se faz existir por meio da organização das
informações na tela, cuja diagramação precisa ser agradável.
Outro olhar sobre a função da linguagem é a de SCHAFF (1968, p.308)
que, citando RÉVÉSZ, apresenta a definição de linguagem como “(...) um
sistema de signos expressivo de idéias”, em que “(...) um som articulado se
transforma em signo... exclusivamente dentro de um dado sistema de
linguagem” (p.309). Essa reflexão também pode ser levada para o campo da
linguagem visual, quando pensamos que pontos, linhas, formas geométricas,
cores e as suas várias formas de arrumação podem ser encontradas no espaço
natural. Porém, apenas quando manipulados pelo homem, dentro de um
sistema lógico de arrumação, ou seja, fazendo parte de uma identidade visual,
é que podem ser classificados como signos.
De uma forma ou de outra, ambas as discussões enfatizam a função
comunicativa da linguagem “(...) no sentido de transmissão social dos resultados
tanto do processo cognitivo como das experiências subjetivas, emocionais,
volitivas etc” (SCHAFF, 1968 p.310). Pelo que afirma Schaff (1968), podemos,
também, aplicar o termo “linguagem” quando estamos falando de sistemas de
comunicação diferentes da linguagem fônica.
Então podemos usar o termo “linguagem visual” e considerá-la
importante na interface de um AVA. E para confirmar isso, recorremos a
SCHAFF (1968 p.311), para quem a linguagem seria todo e qualquer sistema
de signos de um tipo definido, que serve para o fim de comunicação, a qual,
em certos casos, “(...) pode servir para formular pensamentos no processo de
cognição”. A linguagem pode influenciar na maneira como percebemos,
experimentamos e nos comportamos. É fato, também, que o ambiente
29
influencia a linguagem, vez que “(...) a linguagem é moldada pela realidade,
pelas condições da existência material de uma dada sociedade” (SCHAFF,
1968 p.341).
Transpondo isso para os ambientes virtuais, podemos imaginar que
muita coisa irá mudar, pois a prática desse novo ambiente vai influenciar nossa
linguagem, se não o está fazendo, e essa nova linguagem, em
transformação, nos fará perceber coisas, fará com que nos comportemos de
uma nova maneira.
Buscando o foco da efetividade da linguagem e da comunicação, Schaff
(1968, p.344) afirma que “(...) do ponto de vista social, é extremamente
importante saber as causas dos êxitos e fracassos no processo de
comunicação humana, i. e., saber o que facilita e o que obstrui êste
processo”.Segundo o autor, todos os signos “(...) são traduzidos para a
linguagem nica” (idem, ibidem). Quando estamos trabalhando com
mensagens subliminares, isso também acontece? Quando, por exemplo,
escolhemos uma cor quente ou fria para destacar os links de uma página de
um AVA, o internauta/receptor traduz essa cor para uma linguagem fônica?
Para responder a essas perguntas, podemos nos valer da categoria da
Primeiridade, classificada por Peirce (1995), em que o autor esclarece tal
conceito, dizendo que as coisas são como o, sem que se busque alguma
razão psicológica para isso. Não havendo, portanto, nesse caso, a tradução
para a linguagem fônica.
Schaff (1968) afirma que para haver uma comunicação efetiva, tanto o
emissor quanto o receptor têm de compreender identicamente as significações
das expressões, não esquecendo que as imagens não-figurativas, também,
podem ser consideradas como signos.
Nesse caso, quando utilizarmos elementos gráficos em uma interface,
devemos pensar nos valores culturais que esses elementos têm para a
comunidade que irá utilizá-la.
2.2 - Sobre os signos, o que são
Um pensamento presente em vários textos, de diversos autores, o qual
será tomado como ponto de referência para esse estudo, é de que só podemos
30
estudar os signos quando pusermos em discussão a comunicação entre seres
humanos.
Schaff (1968) diz que o processo de comunicação deve tomar, como
ponto de partida, a análise do signo. Assim, o estudo do signo deve ter como
ponto de partida o processo social da comunicação humana.
Segundo Lopes (2001), quando estudamos os signos, estamos
estudando os sistemas das práticas sociais. Não estudamos algo “material”,
mas uma “realidade social ou cultural”. Todas as atividades sociais se valem
de uma linguagem própria, um sistema de signos utilizados na comunicação
para “modelizar o mundo”. Onde vivem as pessoas vivem essas atividades.
Conforme já ficou dito, a linguagem vai modelando as relações sociais e vai por
elas sendo modelada
2.2.1 – O olhar de Adam Schaff
Além de comunicar-se sobre assuntos de diversas naturezas, o homem
também troca idéias abstratas, como emoções, interlocuções que se
estabelecem por meio de várias formas de signos. Estes, organizados em um
sistema, constituem uma forma de linguagem. “Exatamente porque os homens
sempre se comunicam uns com os outros por meio de signos, toda a vida social
está permeada de signos, e é impossível sem eles". (SCHAFF, 1968 p.160)
Em uma análise da comunicão humana mais voltada para a esfera da
comunicão intelectual, o autor em tela afirma que o signo tem a mesma
significação para as pessoas que se comunicam e(...) o processo de comunicão
consiste na transmissão de significações por meio dos signos (SCHAFF, 1968
p.161). Este autor dem o olhar no estudo do (...) sentido de transmissão de
significações e do papel dos signos neste processo” (idem, 1968 p.162). Dessa
forma, atribui à linguagem nica a de maior hierarquia, pois todas as outras
linguagens são traduzidas para a linguagem fônica para serem compreendidas.
Particularmente, não concordamos com a reflexão do autor, pois não
percebemos essa tradução, pelo menos em termos conscientes. Quando olha
para a interface de um AVA, o usuário não traduz para a linguagem fônica a
textura ou a cor que ali se utiliza. Concordamos, todavia, com o fato de que a
linguagem textual é a principal, havendo uma linguagem que não é traduzida,
mas percebida inconscientemente por quem acessa essa interface.
31
É unânime, todavia, a constatação de que um objeto, uma propriedade
ou evento material será um signo quando incluído no processo de
comunicação humana. (PIERCE, MORRIS e STEBBING apud SCHAFF, 1968).
O estudo dos signos, dentro desse contexto, pressupõe buscar novas
classificações, atentando para a ambigüidade do termo, a qual decorre das
várias origens possíveis para um signo, sejam signos naturais ou signos
propriamente ditos, ou artificiais, resultantes da comunicação, como atividade
social. Os signos naturais são oriundos de processos naturais independentes
da atividade humana.
Explanando sobre a tipologia dos signos de Husserl, SCHAFF (1968) diz
sobre os signos naturais, para o autoro basta a presea de um homem perante
um femeno natural para que este seja considerado um signo. É preciso que este
homem compreenda tal fenômeno, e seja capaz de interpretá-lo corretamente, e
com ele interagir.
SCHAFF põe em debate a divisão proposta por HUSSERL em índices e
expressões, ou signos expressivos e a considerada falha, “(...) não porque
todos os signos têm, em certo sentido, uma significação, ...mas também porque
todos os signos, em certo sentido, indicam alguma coisa” (SCHAFF, 1968
p.174).
O caminho natural para uma compreensão do signo, como um
fenômeno, inicia-se a partir de sua definição, após o quê se devem criar uma
hierarquia e uma tipologia de signos. O estudo de SCHAFF (1968) se
concentrará nos signos propriamente ditos, ou signos artificiais. De qualquer
forma, o signo sempre deve ser estudado inserido no processo de
comunicação humana. O signo sempre exprimirá um pensamento qualquer,
funcionando como “meio de comunicação” e “para o fim de comunicação”
(idem, 1968 p.176). Mais que um objeto, um estado de coisa ou um evento, o
signo é uma relação cuja função é comunicar, informar alguma coisa a alguém.
Qualquer objeto material, ou propriedade de tal objeto, ou um evento material
transforma-se em signo quando, no processo de comunicação, serve, dentro da
estrutura da linguagem adotada pelas pessoas que se comunicam, ao propósito de
transmitir certos pensamentos acêrca da realidade, isto é, acêrca do mundo exterior,
ou acêrca de experiências interiores (emocionais, estéticas, volitivas, etc.) de qualquer
das pessoas que participam do processo de comunicação (SCHAFF, 1968 p.176).
32
A classificação do autor destaca as variedades e estabelece ligações
entre elas em uma possível hierarquia. várias tipologias, princípios e
terminologias.
Figura 1 – Classificação dos signos segundo SCHAFF (1968).
Os signos artificiais, criados dentro de uma convenção social, o
conscientemente produzidos pelo homem para fins de comunicação. Eles
podem nascer a partir de um acordo consciente e deliberado (códigos de
trânsito) ou sua existência se dever “à prática histórica do processo de
comunicação social” (linguagem fônica) (idem, 1968 p.180). A divisão dos
“signos propriamente ditos com expressão derivativa” ocorre por meio da
função. Se a função é influenciar diretamente a ação humana, trata-se de um
sinal (placa de contramão); se é substituir um objeto, estado de coisas ou
eventos, trata-se de um signo substitutivo. Não que o signo substitutivo não
invoque também uma ação por parte do receptor, mas a aparição do signo não
acarreta sempre os mesmos resultados. O sinal tem uma influência direta no
comportamento humano, e o signo substitutivo uma influência indireta.
Figura 2 – Classificação dos signos propriamente ditos segundo SCHAFF (1968).
33
Ele também divide os signos substitutivos em sensu stricto e símbolos.
Por questões de tempo e considerando-se o escopo desta pesquisa, o foco
recairá somente sobre os signos com expressão derivativa.
No caso dos sinais, que se ter um acordo social explícito em um
grupo social para classificar um objeto ou evento como um sinal. Se a pessoa
não fizer parte desse grupo, não o entenderá como sinal. Schaff (1968, p.184)
aponta como características do sinal: “(1) sua significação arbitrária,
estabelecida em virtude de convenção válida dentro de um dado grupo de
pessoas; (2) seu propósito de sempre evocar (ou modificar ou sustar) uma
certa ação; (3) seu aparecimento ocasional em relação à ação pretendida”.
Existem, ainda, os signos substitutivos stricto sensu, quando o
comparativamente mais simples, pois estes o (...) objetos materiais que
substituem outros objetos, em virtude de similitude ou convenção (SCHAFF, 1968,
p.185). Quando se fala de similitude, temos como exemplo a foto, a escultura e a
pintura. Para os signos baseados em convenção temos como exemplo aqueles
escritos que substituem o som da fala. O que deve ser destacado é o mecanismo
de substituição ou representão de um objeto por outro.
Devido ao grande número de símbolos, possibilidades quase
ilimitadas de sua criação, sendo significativo, também, seu papel “(...) na
formação da opinião pública e dos mitos sociais” (SCHAFF, 1968 p.191). Isso,
porque o signo tem sempre a função de substituir alguma coisa, mas é um
objeto material representando um “objeto ideal”, ou uma noção abstrata. Uma
convenção que deve ser conhecida, mas que está intimamente ligada a um
conceito e a vários estados emocionais.
Os símbolos aproximam conceitos abstratos do homem, colocando-os
ao seu alcance, tornando-os mais fáceis de serem aprendidos e memorizados.
Via de regra é uma imagem visual, não apenas um objeto material que pode ter
sua representação baseada em metáforas (coruja = símbolo da sabedoria) ou
no princípio pars pro toto (cruz = símbolo da cristandade). Quando é de
natureza abstrata, é puramente uma convenção.
Em meu sistema, os símbolos o uma subclasse dos signos substitutivos,
caracterizando-se principalmente pelas três características seguintes: (1) objetos
materiais representam noções abstratas; (2) a representação baseia-se numa
convenção que deve ser conhecida, para que se compreenda determinado símbolo; (3)
a representação convencional baseia-se na representação de uma noção abstrata pelo
signo, representação que faz apelos eternos aos sentidos (SCHAFF, 1968 p.186)
34
2.2.2 - Peirce e o signo
Apresentando o pensamento linguístico de Saussure, JAKOBSON
(1973) diz que o signo é constituído de significante e significado, retomando o
pensamento científico da Idade Média. Discute as relações existentes entre o
pensamento de Saussure e Peirce, destacando, sobretudo, desenvolvimento
da lingüística. Enxerga como ponto de contato entre os dois pensadores o fato
de terem distinguido as “qualidades materiais” (significante) do “intérprete
imediato” (significado), mas destaca a classificação de Peirce, a qual discerne
“três variedades fundamentais de signos” (p.100), o Ícone, o Índice e o
Símbolo. Deixa claro, também, que Peirce e Saussure usaram terminologias
diferentes. O autor descreve a perspicácia de Peirce ao reconhecer essas três
classes fundamentais de signos.
Não é a presença ou a ausência absolutas de similitude ou de contigüidade entre o
significante e o significado, nem o fato de que a conexão habitual entre esses
constituintes seria da ordem do fato puro, que constituem o fundamento da divisão
do conjunto de signos em ícones, índices e símbolos, mas somente a predominância
de um desses fatores sobre os outros (JAKOBSON, 1973 p.103-104)
Ou seja, os três estão presentes, em variados percentuais, nos signos. E
diz que, para o filósofo americano, o signo perfeito é aquele que tem os três em
iguais proporções.
Uma apresentão do pensamento de Peirce feita por TEIXEIRA (2003)
distingue a semiótica, definida por Peirce, e a semiologia, definida por Saussure,
entre outros. O fato é que o estudo de Peirce se enquadra dentro da Filosofia da
Linguagem.
Quando falamos das Categorias dos signos, retomamos a obra
Semiótica (1995), em que Peirce faz uma demonstração de como construiu os
conceitos de Primeiridade, Secundidade e Terceiridade. Deixa claro o conceito
de Primeiridade dizendo que são as coisas que são como são, sem que se
busque alguma razão psicológica para isso. O verde é verde porque assim nos
apresenta, sem a necessidade de se buscarem razões do porquê.
Para TEIXEIRA (2003), a Primeiridade abrange o nível do sensível e do
qualitativo (ícone, qualissigno e rema).
Ao apresentar o conceito de binaridade, PEIRCE (1995) destaca a “força
bruta” que se impõe, fazendo com que duas partes sejam alternadas e
deixariam de ser o que são se uma delas não existisse. Ele dá o exemplo de
35
marido e esposa. É a existência do marido que faz com que exista a esposa e
vice-versa. Entendemos essa binaridade como a Secundidade. Teixeira diz que
a Secundidade abrange o nível da experiência, da coisa ou do evento (índice,
sinsigno e dicissigno).
Depois, Peirce apresenta a “triplicidade intelectual, ou Mediação” (p.27),
sua terceira categoria, que interpretamos como sendo a Terceiridade, emerge
quando a Razão exerce o seu poder, quando intervém na intenção, a ação da
mente. Tomemos como exemplo o seguinte: um marido não existiria se não
existisse a esposa, mas o fato de ser um casal surge por força de um terceiro,
sendo este o matrimônio. O matrimônio é a Razão que exerceu seu poder para
que fossem marido e esposa.
Sobre a Terceiridade, TEIXEIRA (2003) diz que abrange a mente ao
pensamento/razão (símbolo, legissigno e argumento).
Peirce apresenta o conceito de Obsistência, sendo esta uma (...) relão
que é um fato referente a um conjunto de objeto, os Relatos” (p.28). Ele fala da
relão Genna, a qual independe da qualidade individual de cada Relato, e da
relão Degenerada, quando a base para a formação desse conjunto está no fato
de que cada Relato tem, cada um, uma Qualidade. É apenas na análise desse
aspecto parcial da qualidade de cada relato que se forma o conjunto. O autor fala,
também, da Mediação sendo genuína, o caráter de um signo.
SANTAELLA (2004 p.07) inicia suas discussões apresentando o
conceito de fenômeno apresentada por Peirce, qual seja “qualquer coisa que
apareça à mente, seja ela meramente sonhada, imaginada, concebida,
vislumbrada, alucinada”. Também afirma que nosso pensamento, qualquer que
seja ele, se processa por meio de signos, e todo pensamento que temos é a
continuação de um anterior, e irá continuar em um posterior.
Vemos nessas constatações uma responsabilidade muito grande para
quem desenvolve uma interface de um AVA, pois os fenômenos que serão
gerados após o contato com os elementos visuais da interface estarão
impregnados das experiências vividas anteriormente pelos usuários, e os
fenômenos resultantes vão gerar novos femenos.
O designer de interface deve pressupor a importância da experiência
passada do internauta e calcular possíveis novas experiências resultantes para
que a interface seja a mais adequada possível.
36
A autora considera “abusivamente simplificadora” o que normalmente
algumas pessoas fazem ao dizerem o conceito de signo, de Peirce, qual seja,
“Signo é alguma coisa que representa algo para alguém” (SANTAELLA, 2004
p.11)
O equívoco mais constante é a idéia “(...) de que o signo
necessariamente represente alguma coisa para “alguém” (um ser humano,
psicológico, existente, palpável)” (SANTAELLA, 2004 p.13). O interpretante é
criado pelo próprio signo, é como se “signo” e “representamen” representassem
coisas distintas, tirando do confinamento da mente humana a relação sígnica.
No caso da pesquisa que aqui desenvolvemos, interessa-nos as relações
sígnicas que acontecem na mente humana.
A autora chama a atenção para o fato de que, quando signo é definido
como “(...) qualquer coisa” essa palavra “coisa”, não deve ser tomada como
“uma entidade necessariamente existente”. O objeto “não pode se restringir à
noção de um existente ou objeto real” (SANTAELLA, 2004 p.15). Ele pode ser
um evento, uma coleção de coisas, uma idéia ou abstração.
Também afirma que o interpretante não pode ser tomado como uma
interpretação particular, singular do signo, isso, porque interpretante não é uma
versão para interpretação. A autora destaca que “(...) na relação triádica, o signo
ocupa a posição do primeiro relato, o objeto é o segundo correlato e o
interpretante o terceiro (SANTAELLA, 2004 p.17). Conclui que, nessa relação,
todos os elementos são de natureza gnica, sendo que a diferença entre eles
está no “(...) papel lógico desempenhado por todos na ordem de uma relação de
três lugares(idem, ibidem).
É pertinente, aqui, destacar alguns outros pontos os quais favorecem a
continuidade de nossa discussão:
1) “Representação” não pode ser confundida com representamen ou signo.
Ela “(...) deve ser reservada para a relação triádica em si mesma”
(SANTAELLA, 2004 p.17).
2) A ênfase pode estar em qualquer dos correlatos (representamen, objeto
e interpretante).
37
3) O signo tem a propriedade de crescer infinitamente, sendo seu
interpretante um novo representamen. Logo, da mesma forma que
um processo crescente, ele também regride ao infinito.
Analisando os aspectos da natureza do signo, a autora destaca seu
caráter triádico, “(...) não podendo, portanto, ser identificada meramente com a
primeira categoria, ou categoria de qualidade” (idem, 2004 p.20). Algo pode
ser um signo se possuir uma “potencialidade sígnica”, ou seja, ter uma
qualidade que o faz ter essa potencialidade.
A autora destaca as três modalidades onde surge essa potencialidade,
sendo a primeira “(...) quando a relação com seu objeto está numa mera
comunidade de alguma qualidade”, a segunda “(...) quando a relação com seu
objeto consiste numa correspondência de fato ou relação existencial”, e a
terceira “(...) quando o fundamento da relação com o objeto depende de uma
caráter imputado, convencional ou de lei” (SANTAELLA, 2004 p.21).
Nesse caso, temos a divisão básica dos signos em ícones (primeira
potencialidade), índices (segunda potencialidade) e símbolos (terceira
potencialidade).
Conclui a autora que um signo é por assim dizer se puder “(...) ser
interpretado como tal, graças, obviamente, a uma lei natural ou convencional”.
E também que sua capacidade de representar “(...) advém de seu poder de
gerar um interpretante de natureza geral, ou seja, outro signo genuíno”
(SANTAELLA, 2004 p.22).
Sobre o caráter vicário do signo, a autora diz que este aponta para a sua
função mediadora do objeto para a mente e, consequentemente, que o signo
“(...) nunca é completamente adequado ao objeto” (SANTAELLA, 2004 p.23)
sem poder prescindir dele nem com ele se confundir. Define o interpretante de
um signo como “(...) a manifestação de algum aspecto do objeto por meio e
através do signo” (idem, 2004 p.23). No caso do nculo do signo com o objeto,
este nunca é perdido, pois o objeto é “justamente aquilo que existe”, e vai
resistindo à ação do signo, mesmo nessa cadeia de expansão de signos-
interpretantes gerando signos-interpretantes.
A autora define a função do signo como a de funcionar como mediador
entre objeto e o efeito que se produz numa mente atual ou potencial, efeito este
38
(interpretante) que é “(...) mediatamente devido ao objeto através do signo”
(SANTAELLA, 2004 p.24).
O objeto é algo diverso do signo, determina o signo, e não o substitui. O
signo determina o interpretante, mas ele determina porque o objeto
determinou que aquele interpretante é possível. Assim, a relação de
determinação do signo pelo objeto e do interpretante pelo signo são
semelhantes.
É importante destacar que o foco na análise de um signo deve recair em
uma das características (ícones, índices e símbolos) e que, em todo signo,
atual, se manifestam caracteres icônicos, indiciais e simbólicos. “Nenhum signo
atual aparece em estado puro” (SANTAELLA, 2004 p.27). Para se definir um
signo é preciso analisar a mistura desses caracteres. Conclui a autora
afirmando que uma coisa é definir teoricamente o signo e outra é descrever a
linguagem utilizada a partir da definição teórica.
Analisando o problema do significado, para SANTAELLA (2004) é
possível entender a questão do significado quando, no estudo da estrutura dos
signos, se compreender o que são os interpretantes possíveis. Enfatizando a
incompletude, outra característica do signo, Santaella (2004) aponta o fato de o
signo ter apenas algumas características do objeto, não conseguindo recobrir
todas as características do objeto, o que significa que o signo estará
incompleto em relação ao objeto. Afirma, também, que sua impotência decorre
de sua incompletude, sendo que essa “dívida para com o objeto” se manifesta
no fato de o signo buscar se completar em um interpretante, porém esse
interpretante é de natureza sígnica.
Conclui o debate afirmando que somente “as circunstâncias práticas da
vida ou os limites impostos no pensamento por uma determinada historicidade
é que nos levam a tomar um dado interpretante como sendo completamente
revelador do signo” (SANTAELLA, 2004 p.31)
Com o tempo, será visto que o que parecia completo é apenas um
aspecto parcial. uma capacidade de o objeto poder ser representado por
características diversas, ou por signos diversos.
39
2.2.3 - Signo
Peirce afirma que algo se constitui um signo desde que assim seja “(...)
usado e compreendido como tal” (PEIRCE, 1995 p.76), isso, se for uma
convenção ou um hábito natural, não sendo necessário levar em consideração
a origem que o levou a ser selecionado como tal. Pierce construiu uma
definição de Signo em que se expõem os elementos que o formam, onde
entram as categorias, e mostra que se trata de algo em constante evolução.
Um signo é tudo aquilo que está relacionado com uma Segunda coisa, seu Objeto,
com respeito a uma Qualidade, e modo tal a trazer uma Terceira coisa, seu
Interpretante, para uma relação com o mesmo Objeto, e de modo tal a trazer uma
Quarta para uma relação com aquele Objeto na mesma fórmula, ad infinitum
(PEIRCE, 1995 p.28)
Sobre esse caráter ad infinitum, Jakobson declara que uma das teses
mais esclarecedoras de Peirce foi justamente apresentar que o sentido de um
signo é outro signo pelo qual ele pode ser traduzido, no qual ele está mais
completamente desenvolvido.
Também se referindo a esse assunto, Teixeira (2003) o ilustra com a
figura:
(S - signo, I - interpretante e O - objeto
Figura 3 – Visão de TEIXEIRA (2003 p.66) sobre o ad infinitum do signo.
Nessa figura, podemos perceber que, após a relação triádica se formar,
o interpretante gerado por ela torna-se um novo signo, transmitindo qualidades
do mesmo objeto. Talvez não tenha ficado claro neste gráfico o fato de que o
objeto se repete.
Numa outra definição, PEIRCE (1995) apresenta, de uma vez, os
conceitos de Signo, ou Representâmen, Objeto e Interpretante:
40
Um signo, ou representâmen, é aquilo que, sob certo aspecto ou modo, representa
algo para alguém. Dirige-se a alguém, isto é, cria, na mente dessa pessoa, um signo
equivalente, ou talvez um signo mais desenvolvido. Ao signo assim criado denomino
interpretante do primeiro signo. O signo representa alguma coisa, seu objeto.
Representa esse objeto o em todos os seus aspectos, mas com referência a um
tipo de idéia que eu, por vezes, denominarei fundamento do representâmen
(PEIRCE, 1995 p.46)
Nessa definição, o autor aborda sobre as operações que ocorrem na
mente de uma pessoa, ou seja, como esse interpretante acontece em uma
mente humana.
Para Pierce, uma relação triádica é genna quando os elementos
(Representâmen, Objeto e Interpretante) eso ligados “(...) de um modo tal que
o consiste em nenhum complexo de relações diádicas” (p.63). Por isso, o
mbolo é genno, pois o Índice e o Ícone o estão ligados dessa forma ao
Interpretante. Para essa relação, TEIXEIRA (2003) apresenta o seguinte
gráfico, com a explicação a seguir:
Figura 4 – Relação triádica do signo.
Fonte: TEIXEIRA, 2003 p.56
O primeiro, signo, cria em uma mente um interpretante (um outro signo
equivalente ou mais desenvolvido). A coisa representada é designada por
objeto. A linha da base está tracejada para demonstrar que a relação entre
signo e objeto é diferente das relações entre interpretante e signo e
interpretante e objeto. Estas duas últimas são causais (entre interpretante e
signo) e mais ou menos direta (entre interpretante e objeto). A relação entre
signo e objeto varia para certos tipos de signos, como o ícone e o índice.
TEIXEIRA (2003) deixa claro, todavia, que essa linha pode ser “cheia” porque
será visto que “(...) dificilmente um tipo de signo deixa de estar marcado pela
presença de outro ou outros” (p.57).
41
Peirce (1995) defende que é preciso existir um Objeto para que haja um
Signo, podendo ser o Objeto “(...) perceptível, ou apenas imaginável, ou
mesmo inimaginável” (p.46). Diz que “(...) um Signo deve ser algo distinto de
seu Objeto” (p.47) abrindo “(...) uma exceção para o caso em que um Signo é
parte de um Signo” (p.47). Ocorre que um signo pode ter mais de um Objeto,
mas o conjunto de objetos pode ser considerado um “Objeto complexo”, e para
facilitar o estudo, será considerado que cada Signo possui um Objeto.
Todo Signo tem algo que emana do seu Objeto, fazendo com que ele
seja compreendido como um Signo, mas apenas representando ou referindo-se
ao Objeto, podendo proporcionar familiaridade ou reconhecimento.
2.2.4 - Do Objeto
SANTAELLA (2004) chama a atenção para o confundir “objeto” com
coisa”, e tamm para a “enorme gama de variações que a noção de objeto
pode revelar.
O signo representa o objeto, e é o objeto que determina essa
representação. Porém o signo representa apenas uma parte/aspecto do objeto.
“Sempre sobram outras partes ou aspectos que o signo não pode preencher
completamente” (SANTAELLA, 2004 p.35)
O signo apresenta parte dos aspectos do objeto. O interpretante só
recebe alguns aspectos do objeto. Segundo a autora, a experiência colateral é
o que está fora do interpretante do próprio signo. Chama a atenção para o fato
de que, dependendo do tipo de signo considerado, podem recair variações
sobre o objeto. Faz-se necessário entender as duas noções de objeto de
Peirce “(...) para que a noção de objeto se torne compreensível” (SANTAELLA,
2004 p.38).
Santaella identifica, nos textos de Peirce, dois tipos de objetos: Objeto
Imediato e Objeto Dinâmico. O Objeto Imediato é como o signo se faz
aparecer, torna o signo reconhecível e a ele está conectado. O Objeto
Dinâmico é aquilo que é acessado por meio do Objeto Imediato.
A correspondência que se estabelece entre o signo e o objeto “(...)
depende da natureza do signo, diferindo, portanto, em cada um dos seus tipos
(ícone, índice e símbolo)” (SANTAELLA, 2004 p.41)
42
TEIXEIRA (2003) também discorre sobre a divisão bipartida em Objeto
Imediato e Objeto Dinâmico. Sendo o Objeto Imediato aquele tal como o
próprio signo o representa e, portanto, dependente de sua representação, e o
Objeto Dinâmico o que seria mostrado como Realidade, “(...) como realmente
é” (p.69).
Santaella (2004) descreve o objeto imediato presente nos três tipos de
signos. No caso do símbolo, “(...) o objeto imediato é o objeto dinâmico”
(SANTAELLA, 2004 p.42). É o processo sígnico que torna o objeto dinâmico
reconhecível. Como exemplo, temos as palavras, que vão mudando de
significado. A palavra mulher tem o mesmo objeto imediato, os fonemas que a
compõe, porém objeto dinâmico diferente se dita na Bíblia, nos livros do
Pentateuco ou em uma obra de Aluísio Azevedo.
No caso do índice, tanto o objeto imediato quanto o objeto dimico são
existentes, entre os quais uma ligão de fato. Por exemplo, um buraco de bala
na parede é algo que existe, assim como existiu o tiro que foi dado.
No caso do ícone, “(...) seu objeto imediato tem o caráter de uma
aparência” (SANTAELLA, 2004 p.43), ou seja, é apenas uma mera qualidade.
Nesse caso, o objeto imediato é essa qualidade, e o objeto dinâmico pode ser
qualquer coisa que seja semelhante ao ícone. Por exemplo, o desenho de um
círculo pode ser o ícone de ativação de um sistema, como no caso dos botões
liga-desliga dos computadores, ou pode ser o ícone do pneu de carro.
SANTAELLA (2004) apresenta três modalidades para o objeto dinâmico:
como um possível, como um necessitante e como uma ocorncia. Como um
possível, ele ainda o existe, tendo o caráter do indefivel”. Como um
necessitante, é algo de caráter geral, sendo o objeto dimico apresentado “(...)
sob espécie sígnica, numa regressão infinita” (SANTAELLA, 2004 p.45).
Como uma ocorrência, o objeto dinâmico aponta para uma coisa
existente, podendo ser delimitado com precisão. Tem o seu lugar determinado
no tempo e no espaço.
Para SANTAELLA (2004 p.50), a percepção é que faz o papel de
mediação no processo de apreensão do objeto dinâmico. E esse objeto
dinâmico tem a capacidade de exercer “(...) uma força sobre qualquer que seja
a representação ou apresentão que tenhamos dele”.
43
Isso quer dizer que nossos sentidos percebem o objeto dinâmico, e esse
próprio objeto interfere na maneira como o representamos.
2.2.5 - A tríade perceptiva
A autora em tela apresenta os três ingredientes de toda perceão
defendidos por Peirce, diferenciando-os quando liga o percepto (primeiro
ingrediente) ao papel do objeto dimico, o percipuum (segundo ingrediente) ao
papel do objeto imediato e o julgamento perceptivo (terceiro ingrediente) ao papel
do signo-interpretante.
O percepto seria algo externo que insiste em sensibilizar nossos
sentidos, e “(...) tão logo ele atinge nossos sentidos, é imediatamente
convertido em percipuum, e ao fluir “é imediatamente colhido e absorvido” por
nossos julgamentos de percepção (SANTAELLA, 2004 p.52).
A autora conclui sua discussão acerca da teoria da percepção
apresentando a definição de percipuum, “(...) objeto imediato da percepção ou
percepto tal como aparece àquele que percebe” e os três níveis que se
apresenta.
O primeiro nível seria “uma qualidade de sentimento vaga e indefinida”.
O segundo uma “reação a um impulso externo que brutalmente arromba os
sentidos, interrompendo o fluxo da consciência”, e o terceiro algo “governado
pelos princípios condutores dos hábitos de percepção” (SANTAELLA, 2004
p.53).
Esses três níveis, interdependentes e constantes, sempre presentes em
maior ou menor grau, levam a autora a questionar que espécie de julgamento
seria o perceptivo. Isso, porque todo tipo de julgamento, nesse sentido, pode
ser tido com favel, pois é motivado pelos hábitos de quem o percebe. Todavia
isso não invalida o “(...) fato de que eles são também passíveis de erro, pois há
sempre um elemento hipotético no juízo perceptivo” (SANTAELLA, 2004 p. 54).
O percepto é singular, indubitável, mas pode ser falso e também
corrigido, “(...) porque o percepto insiste, exercendo sua influência sobre o
julgamento da percepção” (SANTAELLA, 2004 p.55). Citando novamente
BERNSTEIN (1964), a autora esclarece a dúvida sobre “(...) qual a
especificidade do juízo perceptivo em relação a outros tipos de juízo” que os
44
interpreta como abaixo do nível do que pode ser deliberadamente controlado.
(SANTAELLA, 2004 p.55)
2.2.6 - Retorno ao objeto
Um signo, além de fornecer algum conhecimento a respeito de algo,
também torna a continuidade do conhecimento possível. E essa “(...)
informação, especificamente fornecida pelo signo, deve estar ligada a uma
informação anterior e independente desse signo específico” (SANTAELLA,
2004 p.56). Esta autora também apresenta que vários pesquisadores,
buscando esclarecer o papel desempenhado pelo objeto nessa relação,
recorrem à noção de contexto, e afirma que a “(...) informação anterior ao
signo, adquirida colateralmente por meio de outros signos, constitui-se no
contexto do signo” (SANTAELLA, 2004 p.57). Para o entendimento do conceito
de colateralidade, concorda com Savan (1976), de que se trata de um contexto,
que é um medium, que faz o signo ser identificado como verdadeiro ou falso.
A autora apresenta a divisão dos objetos dinâmicos de Peirce em três
classes: abstrativos (de ordem das possibilidades), concretivos (de ordem da
ocorrência) e coletivos (ordem da necessidade). Relembra que, na definição de
signo, o objeto é posicionado na categoria de secundidade, que é a categoria
de entidades e ocorrências individuais, e questiona como ficam os objetos
dinâmicos abstratos e coletivos, que não são individuais e existentes. Ela
encontra em SAVAN (1976) as respostas de que é no contexto que podem ser
compreendidos dentro das três classes.
Também questiona como o objeto está ligado à percepção, e afirma que é
o objeto imediato que faz a ligação. Justifica afirmando que “(...) o objeto
imediato do signo é o percipuum do signo”, e conclui que “(...) todo percipuum
tem a natureza de um quase signo, pois o percipuum diz respeito à apreensão
do signo tal como ele torna apreensível seu objeto dinâmico” (SANTAELLA,
2004 p.59).
TEIXEIRA (2003) afirma que, na relação triádica, o Objeto determina
o Primeiro (signo) e por intermédio deste determina o Terceiro (interpretante).
(...) se o Objeto não início ao processo de interpretação a partir dele mesmo, ele
pelo menos dirige essa interpretação para sua materialidade específica não sendo
possível evitar uma análise ou alguma abordagem do Objeto se se quiser alcançar o
Interpretante próprio que lhe diz respeito (TEIXEIRA, 2003 p. 68).
45
Este autor esclarece que, numa relação triádica, tem de ter um Objeto,
fazendo parte do processo de interpretação, ou “pela busca da verdade”
definida por ele como “(...) mudança de um estado de insatisfação para outro
de satisfação baseado no conhecimento” (p.68). É apresentada, também, por
esse autor, a divisão bipartida em Objeto Imediato e Objeto Dinâmico. O Objeto
Imediato é o Objeto “(...) tal como o próprio signo o representa e, portanto,
depende, de sua representação” (p.69), e o Objeto Dinâmico que seria
mostrado como Realidade, “(...) como realmente é” (p.69).
2.2.7 - Do Interpretante
SANTAELLA (2004) inicia descrevendo a compreensão de Peirce para o
interpretante na relação sígnica. Para isso, afirma ser o interpretante uma
propriedade do signo, havendo uma mente interpretando-o, ou não. Não é “(...)
o resultado de uma atividade subjetiva” (p.63) de acordo com o modo como
uma mente pode vir a compreendê-lo. É um conteúdo do signo, o qual tem a
capacidade de gerar interpretantes diferentes, cada vez, ou modo que uma
mente compreende esse signo. Essa capacidade de gerar novos
interpretantes, a cada novo contato, é chamado de devir do interpretante. “O
devir do interpretante é, pois, um efeito do signo como tal e, portanto, depende
do ser do signo e não apenas, e exclusivamente, de um ato de interpretação
subjetivo” (SANTAELLA, 2004 p.63).
Existem atos de interpretação particulares e individuais, mas o
interpretante é gerado pelo signo, isto porque o signo detém o poder de
receber a determinação do objeto. A capacidade de o signo gerar um
interpretante está no fato de que representa o objeto, de modo que o
interpretante, por intermédio do signo, pode ser, também, mediatamente
determinado pelo objeto.
Diferenciando interpretante de intérprete e do ato interpretativo,
SANTAELLA (2004 p. 64) diz que este signo está propenso a gerar um outro
signo. “Sendo um outro signo, o interpretante, necessariamente, irá gerar um
outro signo que funcionará com seu interpretante, e assim ad infinitum”.
No entendimento de TEIXEIRA (2003 p.70), o Interpretante seria uma
criação do signo-objeto, “(...) podendo-se entendê-lo...como o conceito ou a
imagem mental criada na relação triádica de signo”.
46
Para concluir, o interpretante, para ambos autores, seria algo presente
potencialmente na relação sígnica, não sendo necessário, para isso, uma
mente interpretadora. Ainda ao concluir que todo interpretante é um signo, e
todo signo é um interpretante, SANTAELLA (2004) reconhece que isso não
resulta numa circularidade, pois o que define o processo são “(...) as relações
diferenciais de implicação e determinação entre eles” (p.66). O fato é que
nessa relação triádica todos são de natureza sígnica. O signo, que representa
o objeto, o objeto, que determina o signo, e o interpretante, determinado pelo
signo e pelo objeto.
O segundo princípio é o que norteia a divisão do interpretante
apresentado por Johansen (1986), o qual faz referência a níveis por que passa
o interpretante, e não como tipos de interpretantes. Isso nos habilita a
compreender o processo de geração do interpretante, e também que, por meio
dessa reflexão, “(...) é possível considerar a questão do interpretante relativa
não apenas aos símbolos, mas também aos signos degenerados ou quase-
signos (ícones e índices)” (SANTAELLA, 2004 p.68).
Esse princípio, baseado na fenomenologia, ou teoria das categorias,
apresenta os níveis imediato (primeiridade), dinâmico (secundidade) e final
(terceiridade).
Teixeira (2003 p.71) compreende essas categorias da seguinte maneira:
Em outras palavras, pode-se dizer que o Interpretante Imediato de um signo
é o interpretante tal como se revela na correta compreensão do próprio
signo. Interpretante Dinâmico é o efeito concreto determinado pelo signo, e
Interpretante Final é o modo pelo qual o signo tende a representar-se, ao fim
de um processo, em relação a seu Objeto.
Sobre o interpretante imediato, SANTAELLA (2004) diz que, baseadas
nas citações de Peirce, é uma possibilidade contida no próprio signo. É o que
está explícito no signo, descartando contexto e circunstâncias, tendo como
característica a imediaticidade posta em evidência isenta de mediação e
análise.
Sobre o interpretante dinâmico, a autora o descreve como o efeito
produzido efetivamente, num ato de interpretação. É o significado, ou seja, o
interpretante que atua diretamente no processo comunicativo. Quando fala
sobre o interpretante final, Santaella chama a atenção para o uso da palavra
“final”: “”Final” aparece como um limite ideal, aproximável, mas inatingível, para
47
o qual os interpretantes dinâmicos tendem (SANTAELLA, 2004 p.74). É a
fronteira final para onde convergem os interpretantes dinâmicos. Para
caracterizar o interpretante final, a autora parte para uma comparação entre as
três classificações, iniciando com a seguinte formulação:
O imediato é primeiridade, uma possibilidade inscrita no signo para significar; o
dinâmico (interpretante produzido), secundidade, é o fato empírico da interpretação
ou resultados factuais do entendimento do signo; o final é a terceiridade, uma regra
ou padrão para o entendimento do signo (SANTAELLA, 2004 p.76).
Teixeira (2003 p.71) também apresenta a observação de Peirce, qual
seja, o Interpretante Final poderia ser aquela interpretação final a que se
chegaria “(...) quando o Objeto Imediato se identificasse e fundisse
inteiramente com o Objeto Dinâmico quando se chegasse ao real, ao
definitivo, quando se conhecesse plenamente uma coisa ou evento”.
Santaella (2004) compara o Imediato e o Final, classificando-os como
gerais e abstratos. O Imediato seria a interpretação não realizada, e o Final o
limite final dessa interpretação, caso fosse possível. O Dinâmico é concreto,
diferente dos outros dois.
O Dinâmico é sempre atualizável, sujeito à correção e crítica, correção
essa que é possível pelo potencial existente no Imediato e pelo limite ideal,
o Final, “(...) para o qual, a partir desse potencial, as atualizações singulares
tendem a se dirigir” (SANTAELLA, 2004 p.76)
Ao comparar a definição de Lady Welby, de Sentido, Significado e
Significação com a definição de Interpretante Imediato, Dinâmico e Final,
TEIXEIRA (2003 p.72) apresenta um exemplo esclarecedor:
Em outras palavras, ainda, o Sentido ou Interpretante Imediato é uma abstrão,
ou uma possibilidade (o sentido atribdo a uma palavra em geral e registrado no
dicionário (ex.: cão”); o Significado ou Interpretante Dimico é um evento real,
único (o significado de “cãodeterminado pelo Objeto cão aqui, nesta rua escura)
e a Significão ou Interpretante Final é aquilo para o que tende o evento real
(diante deste cão, nesta rua escura, a significação deste encontro tende a
representar para mim esta ou aquela imagem de natureza psicogica ou
sociogica, em função da qual minha reão será esta ou aquela).
Santaella (2004) indica uma segunda classificação do interpretante,
colocando como ponto pacífico que as duas classificações não são
sinonímicas. São três os tipos, emocional, energético e lógico.
O interpretante emocional é o aspecto qualitativo, qualidade de
sentimento, de um signo. o interpretante energético é o ato, muscular ou
48
mental, resultante do processo sígnico, e o interpretante lógico é o que é
produzido mentalmente pelo signo, sendo um hábito de se realizar uma ação,
aquele que pode ser expresso por palavras.
Teixeira também demonstra uma segunda divisão do Interpretante,
dizendo ser esta “(...) particularmente instigadora para os que se dedicam ao
estudo dos fatos estéticos em suas variadas formas” (p.73). O Interpretante
pode ser Emocional, Energético e Lógico. Merece destaque, neste momento, o
fato de esta classificação de Interpretante ser mais importante para a pesquisa
aqui desenvolvida, tendo em vista os propósitos a que se destina.
O Signo primeiramente produz efeito significativo próprio, um sentimento.
Quando temos esse sentimento é porque compreendemos o efeito adequado do
signo. Quando ouvimos uma melodia musical esse pode ser o único efeito. Este
é o Interpretante Emocional. Quando a necessidade de um esforço físico ou
mental por parte do intérprete, temos o Interpretante Energético. Em seguida,
vem o Lógico, que é a compreensão de um conceito geral.
O Emocional não se equivale ao Imediato, pois a Primeiridade não é
simplesmente uma qualidade, mas um “(...) sentimento total, como algo
perfeitamente simples e sem partes”. No caso do energético, este “(...) envolve
um esfoo e uma superação de resistência ligados a um tipo especial de
Primeiro, no caso o Emocional. Diferente da primeira classificação, onde os
seguintes são compatíveis, nessa, o Emocional “(...) domina esta relação,
modificando os traços demais” (TEIXEIRA, 2003 p.74). Se Peirce tivesse
desenvolvido mais essa classificação seria possível ter (...)
conseqüências...particularmente interessantes para a Estética” (idem, ibidem).
Ele também apresenta, grosso modo, a idéia de ZEMAN (1971) que,
dando prosseguimento ao pensamento peirciniano, subdividiu, assim, esses
Interpretantes:
Emocional Energético Lógico
- Imediato - Imediato - Imediato
- Dinâmico - Dinâmico
- Final
Quadro 1 – Divisão de Interpretante para ZEMAN (1971).
49
Santaella (2004) apresenta essa segunda tricotomia como sendo uma
divisão do Interpretante dinâmico, como se fosse o caminho entre este e o
Interpretante final, dando-nos uma visão de conjunto.
2.2.8 - O Signo revisitado
Qualquer coisa que chegue a nossa mente é um signo. Isso pode ter
sido articulado de maneira prévia, como é o caso de um signo genuíno
(símbolo), ou não, como é o caso dos quase-signos ndice e ícone), sendo
que, para isso, naquele instante, algo deverá estar no lugar de qualquer outra
coisa.
Santaella (2004) ênfase à divisão dos signos de Peirce que pode
dizer respeito ao signo em si mesmo (quali-signo, sin-signo e legi-signo), à
relação com o objeto dinâmico (ícone, índice e símbolo) e à relação do signo
com o interpretante (rema, dicente, e argumento). O cater triádico do signo
forneceu as três grandes divisões, cada uma das quais subdivididas de acordo
com suas próprias categorias de primeiridade, secundidade e terceiridade.
Signo em si mesmo Relação com o objeto
Relação com os
interpretantes
QUALI-SIGNO
são qualidades
SIN-SIGNOS
são fatos
LEGI-SIGNOS
tem a natureza de
leis ou hábitos
ÍCONE
em virtude de
similaridade
ÍNDICE
em virtude de uma
conexão de fato, não
cognitiva
SÍMBOLO
em virtude de hábito
de uso
REMÁTICO
representa seus
objetos como sendo
qualidades,
apresentando-se
como uma hipótese
DICENTE
representa seus
objetos como sendo
fatos, apresentando-
se como dicentes
ARGUMENTAL
representa seu objeto
como lei,
apresentando-se
como argumentos
Quadro 2 Divisão dos signos segundo Peirce, de acordo com a relação com os elementos que forma o
signo (ele mesmo, objeto e interpretante). Fonte: elaboração do autor.
Santaella (2004) explicita as dez combinações possíveis extraídas por
Peirce e, logo depois, demonstra como ele chegou às dez tricotomias, partindo
50
do princípio de que dois objetos e três interpretantes no signo, mantendo
seu foco nas três tricotomias iniciais.
Ao iniciar a apresentação da primeira tricotomia esclarece que “(...) o
modo de ser de um signo depende do modo como esse signo é apreendido,
isto é, do ponto de referência de quem o apreende” (SANTAELLA, 2004 p.96).
Ao se apreender o signo, pode-se levar em conta apenas a qualidade do
que é visto, abstraindo o seu existente individual e a lei que esse existente
atualiza. Pode-se, também, considerar apenas o aqui agora” da ão e reação
perceptiva, abstraindo a lei, o que, nesse caso, necessariamente, engloba as
qualidades.
No caso de a referência ser a apreensão da lei, tanto as qualidades
quanto a sua existência em determinado tempo e lugar são levados em
consideração.
A percepção da qualidade prescinde da existência individual e da lei. A
percepção da existência individual necessita da qualidade, mas prescinde da
lei. a lei necessariamente pressupõe algo que existe e tem determinadas
qualidades inerentes.
Quando apresenta o Quali-signo, SANTAELLA (2004) diz ser este “(...)
uma qualidade que é um signo” (p.97). A autora afirma suas qualidades, vez
que apenas os quali-signos podem comunicar. Não é algo que se estabelece
em um espaço ou tempo definido, e sim no seu modo de aparecer. É o timbre
de uma nota, a expressão de um rosto ou o gesto de um corpo. Uma nota está
presente em todos os instrumentos; os detalhes de um rosto presentes em
todos os rostos, assim como os detalhes de um corpo em todos os corpos. O
signo está na qualidade em que nos é apresentado.
Teixeira (2003) compreende o qualissigino como uma corporificação
dessa qualidade “(...) nada tem a ver com seu caráter como signo”. Por que
qualissigno entende uma qualidade que é um signo.
Quando inicia sua explicação sobre Sin-signo, SANTAELLA (2004)
chama a atenção para a idéia que o prefixo sin sugere que é de único, singular,
aqui e agora. É a ocorrência no tempo e no espaço que torna corporificado
singularmente, compelindo nossa atenção, sendo “(...) um segundo em relação
à atenção compelida” (SANTAELLA, 2004 p.100). No sinal vermelho, existe a
51
qualidade da vermelhio, mas é sua aparão em determinado lugar e tempo que
impele o motorista a frear o carro quando dirigindo.
No Sinsigno, que é um evento real (coisa existente), é por meio de suas
qualidades , quando estas se corporificam, que se torna um signo, “(...) de tal
modo que envolve um qualissigno ou, melhor, vários qualissignos”
(PEIRCE,1995 p.52). Para TEIXEIRA (2004) um sinsigno é uma coisa ou
evento existentes tomados como signo.
Um Legi-signo funciona como tal quando é a lei que é tomada como uma
propriedade que regeu o funcionamento como signo. O signo age como um
legi-signo por sua tendência de produzir um único interpretante ou
interpretantes semanticamente correlatos independentemente do contexto. Um
legi-signo atua como uma força de generalidade que propõe a governar todas
as ocorrências de interpretantes singulares.
No caso da linguagem verbal, as leis que a regem lhe dão significado. A
gramática exerceria um poder simbólico sobre a linguagem verbal, um legi-
signo em atuação.
No Legissigno, uma lei estabelecida pelos homens, o signo torna-se uma
convenção, e obtém seu significado por meio de sua aplicação, a qual pode ser
denominada Réplica. A Réplica é um Sinsigno, o que permite constatar que
“(...) todo Legissigno requer Sinsignos” (p.52). Não é a réplica que é a réplica o
signo, mas sim a lei que rege sua aplicação “(...) que a transforma em
significante” (p.52).
Apresentando o conceito de Legissigno, JAKOBSON (1973) cita os
símbolos verbais como exemplos, e diz que aqueles que compreendem os
mesmos legissignos pertencem à mesma comunidade lingüística. Afirma que
esse código comum possibilita a troca de mensagens.
A explicão de Santaella (2004) para Ícone parte do pressuposto de que
algo é ícone de um objeto quando o signo tem uma propriedade monádica.
Porém, deixa claro que esse objeto pode existir ou o, sabendo que será um
ícone se o signo tiver semelhança com o seu objeto “(...) e se a qualidade ou
caráter, no qual essa semelhança es fundada, pertencer ao próprio signo”
(SANTAELLA, 2004 p.110).
No Ícone, o Objeto possui as suas características, e o signo igualmente
possui alguma ou algumas dessas características. “Qualquer coisa é Ícone de
52
qualquer coisa, na medida em que for semelhante a essa coisa e utilizado
como um seu signo” (idem, 2004 p.52). Ele é um Representâmen que
representa seu objeto “(...) principalmente através de sua similaridade, não
importa qual seja seu modo de ser” (idem, p.64). Por sua Qualidade ser sua
Primeiridade, um Representâmen somente por ter um Objeto similar.
Essa similaridade do Ícone pode estar na relação entre suas partes,
caso de um diagrama, ou nas relações análogas com um problema, caso de
uma equação algébrica.
Uma importante propriedade peculiar ao Ícone é a de que, através de sua
observação direta, outras verdades relativas a seu objeto podem ser descobertas
além das que bastam para determinar sua construção (PEIRCE, 1995 p.65).
JAKOBSON (1973 p.105) apresenta a distinção em duas subclasses dos
Ícones feita por Peirce, sendo elas as Imagens e os Diagramas. Sobre Imagens
diz que “(...) o significante representa as ‘qualidades simples’ do significado”,
dando um maior destaque para a explicação dos diagramas, apresentando os
exemplos de gráficos estatísticos e fórmulas algébricas. Destaca a definição
peirciniana de diagrama, sendo este um Ícone de relação, tendo nas
convenções a ajuda para desempenhar seu papel.
Apresentando o conceito de Índice, Peirce o define como um signo que
se refere ao seu objeto...por estar numa conexão dinâmica (espacial inclusive)
“tanto com o objeto individual, por um lado, quanto, por outro lado, com os
sentidos ou a memória da pessoa a quem serve de signo (PEIRCE, 1995
p.74).
SANTAELLA (2004) afirma que os índices são os mais fartos de
exemplos, pois nos confrontamos com eles continuamente em nosso dia-a-dia.
Isso quer dizer que os índices são afetados por seus objetos, para os quais os
signos apontam. A autora seleciona argumentos de Peirce que nos levam a
entender claramente que o objeto do índice existe realmente, que esse objeto
afeta o índice, que a correspondência entre os dois é factual, havendo uma
conexão dinâmica, a qual faz desta uma relação efetiva e genuína.
Também apresenta a caractestica que índice tem de chamar a atenção
do intérprete exercendo nele uma influência compulsiva, assim como o fato de
o índice agir dinamicamente sobre o objeto, cabendo a ele, também, a função
53
de “veículo de transporte, alertando e conduzindo o receptor diretamente para
seu objeto” (SANTAELLA, 2004 p.123).
Um Índice seria um “Representâmen cujo caráter Representativo
consiste em ser um segundo individual” (PEIRCE, 1995 p.66). Um Índice é tudo
o que atrai a atenção. Há uma conexão real entre o Representâmen e o Objeto,
o qual atrai nossa atenção.
Santaella (2004) afirma que essa conexão dinâmica do índice tem o lado
para com o objeto e sua conexão com os sentidos ou a memória do receptor. O
fato é que o índice aponta sempre para a existência ativa de algum objeto.
Os índices distinguem-se dos outros signos por não terem “nenhuma
semelhança significante com seu objeto”, por poderem referir-se “a individuais,
unidades singulares, coleções singulares de unidades ou a contínuos
singulares”, e por “dirigirem a ateão para seus objetos através de uma
compulsão cega” (PEIRCE, 1995 p.76). Com efeito, não é possível indicar um
Índice absolutamente puro, como também um signo sem algum grau de
qualidade indicial.
No Índice, o Objeto afeta diretamente o signo. Por ser afetado, possui
“necessariamente alguma Qualidade em comum com o Objeto” (PEIRCE, 1995
p.52), envolvendo, assim, uma espécie de Ícone, mas não é essa característica
(Qualidade) em comum que o torna um Signo, e sim a “sua modificação pelo
Objeto” (PEIRCE, 1995 p.52).
Teixeira (2003), explicando o conceito, diz que “Índice é um signo que se
refere ao objeto denotado em virtude de ser diretamente afetado por esse
objeto” (TEIXEIRA, 2003 p.58), e por ter uma qualidade em comum com o
objeto, não deixa de ser também um Ícone, porém não é isso que o torna um
signo, e sim o fato de ser modificado pelo Objeto.
Sobre o Símbolo, Santaella (2004) inicia a argumentação apresentando
os conceitos que diferenciam ícone, índice e símbolo, esquematizados no
quadro a seguir.
54
ÍCONE ÍNDICE SÍMBOLO
Sua virtude reside em
qualidades
Sua virtude reside na sua
mera existência presente
Sua virtude está na
generalidade da lei, regra,
hábito ou convenção de que
é portador
Independe da existência de
seu objeto
Independe da existência do
interpretante
-
Quadro 2 Apresentação dos conceitos que diferenciam ícone, índice e símbolo. Fonte: Elaboração do
autor.
Tanto iconicidade quanto indexicalidade estão presentes no símbolo,
pois enquanto o seu poder aplicativo, referencial do símbolo, corresponde ao
seu ingrediente indicial, a significação corresponde ao ingrediente icônico.
Ao investigar o ingrediente que seja propriamente simbólico, a autora
conclui que este reside na função que a indicidade exerce, que é a de dar uma
particularização ao que está sendo referido, e também na função que a
iconicidade exerce, que é a de concretizar sua generalidade peculiar à
categoria da lei.
A autora afirma que “o símbolo não denota uma coisa particular, mas um
tipo de coisa(SANTAELLA, 2004 p.137) e cita SAVAN (1976) para corroborar
que o signo se relaciona com o seu objeto por meio do interpretante, e como são
gerados interpretantes ao longo do tempo, o mbolo é um signo em constante
transformação.
Um Símbolo se refere ao seu Objeto por intermédio de uma lei. Trata-se
normalmente de uma associação de idéias gerais que operam no sentido de
fazer com que o Símbolo seja interpretado somo se referindo àquele Objeto
(PEIRCE, 1995). Não o símbolo é algo de tipo geral, como o Objeto ao qual
ser refere também o é. Sendo geral, sua “existência”, aparição, afetarão
indiretamente o Símbolo, envolvendo, assim, uma espécie de Índice. Mas não
é a sua manifestação que o torna um Símbolo, mas a lei que o rege.
Jakobson (1973) apresenta a importância da contribuição que Peirce
deu para a linguística, com a apresentação das características icônicas e
indiciais dos Símbolos. Diz que, para Peirce, um Símbolo designa
necessariamente uma espécie de coisa, sendo este uma regra geral, que
55
preenche sua função significante por meio de distintos casos particulares aos
quais se aplica. O constituinte de um Símbolo pode ser um Índice ou um Ícone,
mas o que o define é “um hábito, ou lei adquirida” (p.71).
Teixeira (2003), também, assim entende, quando diz que o Símbolo é
afetado pela convenção, e por causa disso apara para o fato de que ele contém
“uma certa espécie de Índice” (TEIXEIRA, 2003 p.58), mas o que o caracteriza
é sua convencionalidade e por ser marcado pela arbitrariedade.
Santaella (2004) chama a atenção para a separação entre iconicidade,
indexicalidade e simbolicidade a qual existe com fins analíticos, apenas, e
apresenta uma citação de Peirce que é extremamente enriquecedora:
Um substantivo próprio, quando nos deparamos com ele pela primeira vez, está
existencialmente conectado a algum percepto, ou outro conhecimento individual e
equivalente, do individual que esse nome designa. Então, e somente eno, é o referido
nome um Índice genuíno. Na próxima vez que nos depararmos com ele, é preciso
considerá-lo como um Ícone daquele Índice. Uma vez adquirida uma familiaridade
habitual com ele, o nome torna-se um mbolo cujo interpretante o representa como
Ícone de um Índice do Individual nomeado (2.329) (PEIRCE em SANTAELLA, 2004
p.138).
Teixeira (2003 p.60) descreve essa classificação como superior às
classificações de Saussure e Hjelmslev. Encerra essa classificação chamando
a atenção para o fato de que o signo “pode exercer simultaneamente (e
normalmente o faz) as três funções semióticas: a icônica, a indicial, e a
simbólica, não sendo muito simples a tarefa de determinar qual delas
predomina. Em segundo lugar que Peirce apresentou o símbolo de formas
diferentes, e adotará a descrição de sua significância que existirá em função de
um “hábito, disposição ou qualquer outra norma a fazer com que esse signo
seja sempre interpretado como símbolo”.
Jakobson (1973) mostra com a concluo apresentada por Peirce em
Existential Graphs, de que a diferença fundamental entre as três classes é que
o ser de um ícone pertence à nossa experiência passada”, o ser de um índice é
o da experiência presente, “mas o ser de um símbolo consiste no fato real de que
qualquer coisa se certamente conhecida por experiência se se preencherem
determinadas condições (PEIRCE apud JAKOBSON, 1973 p. 117).
2.2.9 - Classes de Signos
A partir das tricotomias, Peirce (1995) divide os signos em Dez Classes,
quais sejam.
56
1) Qualissigno é uma qualidade qualquer, na medida em que for um
signo” (p.55) É necessariamente um Ícone, pois uma qualidade denota “algum
ingrediente ou similaridade comum” (p.55), e também um Rema, pois “só pode
ser interpretado como um signo de essência...dado que uma qualidade é uma
mera possibilidade lógica” (p.55). Exemplo: uma sensação de “vermelho”
2) Sinsigno Icônico “é todo objeto de experiência na medida em que
alguma de suas qualidades faça-o determinar a idéia de um objeto” (p.55).
Envolve um Qualissigno, pois é um Ícone e é interpretado como um signo de
essência, ou Rema. Ex.: um diagrama individual.
3) Sinsigno Indicial Remático “é todo objeto da experiência direta na
medida em que dirige a atenção para um Objeto pelo qual sua presença é
determinada” (p.55). Envolve um Sinsigno Icônico, se diferenciando por atrair a
atenção do Intérprete para o Objeto. Ex.: um grito espontâneo de dor.
4) Sinsigno Dicente “é todo objeto da experiência direta na medida em
que é um signo, e, como tal, propicia informação a respeito de seu Objeto, de
tal forma que é necessariamente um Índice.” (p.55). Envolve “um Sinsigno
Icônico para corporificar a informação e um Sinsigno Indicial Remático para
indicar o Objeto ao qual se refere a informação” (p.55). Ex.: um cata-vento,
uma foto.
5) Legissigno Icônico é todo tipo ou lei geral, na medida em que exige
que cada um de seus casos corporifique uma qualidade definida que o torna
adequado para trazer à mente a idéia de um objeto semelhante” (p.55). Cada
uma de suas réplicas será um Sinsigno Icônico. Ex.: um diagrama, à parte sua
individualidade fática; um gráfico de produtividade.
6) Legissigno Indicial Remático “é todo tipo ou lei geral...que requer
que cada um de seus casos seja realmente afetado por seu Objeto de tal modo
que simplesmente atraia a atenção para esse Objeto” (p.56). Ex.: um pronome
demonstrativo
7) Legissigno Indicial Dicente “é todo tipo ou lei geral...que requer que
cada um de seus casos seja realmente afetado por seu Objeto de tal modo que
forneça uma informação definida a respeito desse Objeto” (p.56). Ex.: uma
placa de trânsito no lugar em que significa.
8) Símbolo Remático ou Rema Simbólico “é um signo ligado a seu
Objeto através de uma associação de idéias gerais de tal modo que sua Réplica
57
traz à mente uma imagem a qual, devido a certos hábitos ou disposições dessa
mente, tende a produzir um conceito geral, e a Réplica é interpretada como um
Signo de um Objeto que é um caso desse conceito” (p.56). Ex.: um substantivo
comum.
9) Símbolo Dicente “é um signo ligado a seu objeto através de uma
associação de idéias gerais”, sendo que seu interpretante o representa como
“realmente afetado por seu Objeto, de tal modo que a existência ou lei que ele
traz à mente deve ser realmente ligada com o Objeto indicado” (p.57). Ex.: “A é
B” – uma proposição.
10) Argumento “é um signo cujo interpretante representa seu objeto
como sendo um signo ulterior através de uma lei, a saber, a lei segundo a qual
a passagem dessas premissas para essas conclusões tende a ser verdadeira”
(p.57). Ex.: “A é B, B é C, portanto A é C” um silogismo no modelo
Aristotélico.
Foi assim, utilizando os três vértices, signo, objeto e interpretante, e
criando um esquema para representar os componentes das tricotomias das
relações dos signos, que chegamos a essas dez combinações.
2.3 – Aplicação
As discussões até aqui apresentadas a respeito da presença dos signos
na comunicação humana, as quais fundam as bases teóricas da pesquisa
buscam abrir possibilidades de estabelecermos uma análise, de caráter
científico, da comunicação, especificamente a obtida por meio da linguagem
visual, utilizada nas interfaces dos AVAs.
58
3 – MATERIAL E MÉTODOS
Se compreendermos o estudo de caso como a pesquisa cujo objeto de
análise é uma unidade que deve ser averiguada profundamente, a pesquisa aqui
empreendida como tal se configura. Isso significou adotar a concepção que nem
as hipóteses estão previamente definidas, pois podem sofrer alterões à medida
em que aprofundamos nos estudo, nem o foco recai no resultado somente, mas
no processo de compreensão.
A primeira ação da pesquisa consistiu em identificar, por meio de Pesquisa
Bibliográfica, constituída principalmente de livros, artigos de periódicos e
atualmente com material disponibilizado na Internet, as características dos
fundamentos da linguagem visual.
Em momento posterior, selecionamos um AVA, por meio de critérios
definidos, no sentido de desenvolver um Estudo de Caso do tipo observacional,
o qual ocorre quando envolve o estudo profundo de um ou poucos objetos, de
maneira a permitir seu amplo e detalhado conhecimento. Na pesquisa em tela,
apontamos para a aplicação dos fundamentos da linguagem visual na
construção de tal ambiente.
Servirá como referência metodológica a pesquisa empreendida por
CANDELLO, 2006, A semiótica das revistas digitais, apresentada em sua
Dissertação de Mestrado em Multimeios, no Programa de s-graduação
Multimeios, da UNICAMP.
Para Candello (2006), a metodologia de Peirce, para analisar os
fenômenos existentes, é a mais indicada, isso, porque permite identificar
elementos que não seriam possíveis de serem percebidos, caso utilizássemos
outra metodologia. Testifica, também, que as sutilezas do que possuem e do
que pretendem significar, cada um desses elementos, não seriam possíveis de
serem percebidas sem esse ponto de vista. A autora não faz pesquisa junto a
usuários, ao contrário, empreende uma análise descritiva e analítica das
interfaces, utilizando a metodologia da análise semiótica de Peirce. Esta forma
de abordar um objeto de pesquisa torna-se especialmente interessante para
nós, na medida em que buscamos empreender uma análise descritiva e
59
reflexiva de ambientes virtuais de aprendizagem e suas possíveis interfaces
com usuários. Este será pois o Método de abordagem adotado nesta pesquisa.
A autora indica uma explicação acerca da classificação das ciências
proposta por Peirce, até chegar ao ponto em que diz que a Fenomenologia de
Peirce é a que interessa para a pesquisa. Apresenta a divisão da Semiótica em
Gramática Especulativa, Lógica e Retórica Especulativa, e diz que o
embasamento teórico será o da Gramática Especulativa.
Prosseguindo, a autora passa em revista as tricotomias de Peirce, e
destaca, em uma interessante apresentação, debates sobre Percepção Visual
(Gestalt), Organização das Informações, Tipografia, Cores, Animação, Som e
Ergonomia (com foco nas heurísticas de Nielsen) quando diz sobre o Interpretante
Dinâmico.
Assim, adotamos o todo semiótico para a análise das interfaces, o
qual se encontra, ainda que a vôo de pássaro, apresentado abaixo. Embora
resumido, não resta dúvida sobre seu caráter de fácil interpretação.
A análise das interfaces processa-se a partir da seguinte sequência
metodológica:
1) Introdução Apresentar os elementos pertencentes a cada categoria
(Primeiridade, Secundidade e Terceiridade), com um breve resumo da história
do website.
2) Análise – Indicar os elementos sígnicos presentes, os quais são
divididos em:
2.1) O Signo como qualidade Avalia a presença de sinsignos,
qualissignos e legissignos. Faz uma descrição com foco no Objeto Imediato.
2.2) Os Signo como existente Avalia a presença de ícones, índices e
símbolos. Faz uma descrição com foco no Objeto Dinâmico.
2.2.1) Do Suporte Diz como a interface aparece na tela, destacando a
resolução para a qual foi construída, e qual a tecnologia necessária de ser
instalada no computador para que seja visualizada corretamente.
2.2.2) Da composição à navegação – Analisa a Identidade Visual, a
Diagramação dos elementos e a Navegabilidade da interface.
2.3) O Signo em sua generalidade Faz uma análise dos Interpretantes
Dimicos.
60
3) Conclusão Faz um resumo do que encontrou na interface,
abordando-o reflexivamente.
Considerando-se seu caráter ditico, adotaremos este modelo
metodológico, incluindo, nas unidades de análise, as categorias, sugeridas por
nosso orientador, quais sejam, Organizão das informações, Tipografia, Cores,
Animação e Ergonomia. Tais categorias anaticas seguirão destacadas na
pesquisa em tela tendo em vista sua relevância para a abordagem que
pretendemos imprimir e por questões de temática.
Assim, a pesquisa constituiu-se dos seguintes passos: revisão
bibliográfica dos aspectos teóricos, elaboração do estado de arte, seleção do
método anatico semiótico, conforme modelo apresentado por Candello (2006)
e por último a abordagem dos dados, à luz do referencial teórico. Portanto, a
pesquisa tem caráter descritivo, lança mão de procedimentos analíticos para
olhar o objeto material e tem sua natureza fundada em fenômenos, razão de
sua faceta qualitativa. Tendo isolados os dados, eles foram abordados numa
linha interdisciplinar.
3.1 – O TeLEduc
O ambiente a ser analisado é o TelEduc, que foi escolhido por ser um
dos AVAs mais difundidos em nosso país, sendo utilizado por mais de 40
instituições de ensino no Brasil, como UNICAMP, Universidade Federal do
Ceará, Universidade Federal de Rondônia e PUC-SP. Nesse caso específico, o
ambiente está sendo utilizado por uma instituição de ensino superior - IES do
sul do estado do Espírito Santo.
Em seu site oficial, encontramos a explicação de que o TelEduc é um
ambiente para a criação, participação e administração de cursos na Web. Ele
foi concebido tendo como alvo o processo de formação de professores para
informática educativa, baseado na metodologia de formação contextualizada
desenvolvida por pesquisadores do Nied (Núcleo de Informática Aplicada à
Educação) da Unicamp. (Disponível em: http://www.teleduc.org.br/, acessado
em 13 de julho de 2009).
61
4 – RESULTADOS E DISCUSSÃO
A análise dos elementos presentes na interface do AVA será sempre por
meio da percepção, tão somente, das imagens presentes na tela. Fica fácil
entendermos isso quando falamos de formas, cores ou texturas, neste caso,
todavia, as fontes (famílias tipográficas escolhidas para o texto) utilizadas na
composição do layout também serão analisadas como sendo imagens. Se
necessário for, teceremos comentários sobre o conteúdo linguístico das
palavras. O fato é que iremos analisar todos os elementos, inclusive fontes,
aqui tomados como signos plásticos.
Para tal análise serão eleitos alguns elementos da teoria de PEIRCE,
que mais se aproximam da proposta.
Justificada pela minha familiaridade por trabalhar na prática com essas
categorias, e também pela visibilidade dos profissionais da área e proximidade
do leitor, a análise se dará observando quatro categorias, sendo elas:
organização da informação, formato, tipografia (quando nos referirmos às
fontes), cores e ergonomia.
4.1 - Análise do ambiente
O desenvolvimento do AVA escolhido contou com a colaboração dos
internautas que vêm utilizando o ambiente. Esse é um ponto que os
desenvolvedores acreditam ser um diferencial, pois contam com uma visão do
público que utiliza diretamente o ambiente.
Destacam também as ferramentas que disponibilizam atividades para
serem realizadas pelos usuários, assim como as ferramentas de interação
entre eles.
62
Figura 5 - Página de entrada quando o professor acessa o site.
Nesse ambiente, identificamos o predomínio de padrões de design pré-
estabelecidos que funcionam como determinantes de regras, portanto, em
relação às categorias fenomenológicas de Peirce, estamos destacando a
terceiridade por intermédio destas regras já familiarizadas por seus usuários.
4.2.1 - O signo como qualidade
O fundamento do signo, ou seja, os elementos que estão presentes e
intentam representar algo, configuram-se como a marca em branco no fundo
azul, os links, logo abaixo da marca, o espaço em branco à direita, o
cabeçalho, apresentando ser a sala dos professores, com o título da seção
abaixo, o submenu de navegação, em vermelho, logo abaixo do subtítulo, e o
texto em cada página. Todos esses elementos, como sinsignos e legissignos,
intentam representar uma “limpeza visual” (clean design), um visual agradável
com simplicidade na diagramação e clareza na organização das informações.
Como objeto imediato, podemos citar os elementos que se repetem em
toda a estrutura do site, como o menu do lado esquerdo, o título “Sala dos
Professores”, a linha preta que aparece abaixo desse título, e os botões
“Busca” e “Ajuda” no canto superior direito.
Nesse caso, podemos enquadrar essas informações dentro do conceito
de signo de PEIRCE (1995), definindo-o por sua regularidade, vez que sempre
63
aparece no mesmo local da tela, com as mesmas cores tipologia e elemento
geométrico.
As fontes utilizadas para o menu de navegação principal e para os títulos
das páginas são do tipo bastão, em caixa alta e baixa.
A fonte utilizada é Arial, família de fontes classificada como fonte bastão,
sendo analisada por NIEMEYER (2006) como uma fonte com um desenho
cuidadoso, cuja preocupação principal é sua legibilidade, tanto para tamanhos
grandes quanto para pequenos de letras..
Na cor vermelha utilizada como fundo para os botões “Busca” e “Ajuda”
podemos identificar a categoria da Primeiridade, porém não é apenas a
qualidade “vermelhidão” que se manifesta. A situação específica onde aparece
essa qualidade nos faz tomar a ação de ir a esse link, permitindo-nos classificar
esse signo como pertencente a categoria da Secundidade, pois é a existência
neste momento que o torna um Sinsigno Icônico.
Pelo contraste da cor vemelha com o branco, presente nas letras e no
fundo, a informação tem uma excelente legibilidade, e o signo presente chama
a atenção do usuário. A área clicável é de fácil acesso quando usamos o
cursor.
dois ambientes, o “Visão de Formador” e “Visão de aluno”. O que
diferencia um ambiente do outro é o menu de navegação principal, à esquerda,
que muda de conteúdo, quando passamos de um ambiente para o outro, e,
ainda, o título no topo da página. Manteremos o foco da análise no ambiente
“Visão do Formador”, por ser mais completo.
Da maneira como aparecem as informações, os títulos dos dois
ambientes parecem fazer parte de um mesmo conteúdo, que engloba os itens
do menu que se situa logo abaixo.
Abstendo-nos dos conteúdos textuais, temos Qualissignos muito
próximos, pois é a qualidade do amarelo que indica o ambiente, sendo que o
contraste entre o amarelo com o branco não é apropriado, pois, segundo
FARINA (1986), um bom contraste é quando temos cores totalmente diversas
entre si. Colaborando ainda para esse argumento, o mesmo autor apresenta a
mesma simbologia para as duas cores: luz.
A fonte utilizada, Arial, é a mesma para as duas informações, não
havendo outra diferenciação, como, por exemplo, maiúsculas ou negrito. A
64
utilização do mesmo tratamento gráfico da fonte dificulta a interpretação , pois
temos dois sinsignos icônicos, quando poderíamos ter um deles como Sinsigno
Indicial Remático, que dirigiria a nossa atenção, caso, por exemplo, usássemos
maiúsculas para o nome do ambiente no qual estivéssemos navegando.
Os elementos aparecem sempre no mesmo lugar, configurando-se,
portanto, como signos por regularidade, como uma área clicável confortável
para a utilização do cursor.
Nesse menu principal, grupamentos de links que sugerem
pertencerem ao mesmo tipo de conteúdo, porém isso só é visível por esse
agrupamento, pois os conteúdos que aparecem na área principal à direita, de
fundo branco, não têm elementos característicos que diferenciam de cada
grupamento.
Essa organização dos elementos na área branca pode ser classificada
como um Legissigno Icônico, pois a regra definida pelo projetista da interface
nos traz a idéia de semelhança. Porém, poderiam ter sido usados Qualissignos
diferentes em cada grupo de conteúdo, para facilitar o usuário a identificar onde
ele próprio se encontra, naquele instante, dentro do ambiente.
Os Qualissignos que podemos identificar nos desenhos das fontes não
são suficientes, mesmo quando encontramos famílias de fontes diferentes,
para que o usuário perceba sua localização no ambiente.
Visto que o projetista da interface optou por utilizar sempre os mesmos
elementos gráficos, em todas as interfaces do ambiente, as cores, na forma de
Qualissignos, seriam os mais apropriados para ajudar o usuário em sua
localização.
Facilitaria também para o usuário se fosse utilizada a décima classe de
signos formulada por PEIRCE (1995), a classe do Argumento. Se, para cada
grupo de links à esquerda tivéssemos uma cor, e na área de conteúdo
tivéssemos a mesma cor presente em se tratando do conteúdo daquele grupo
de links, serviria como uma premissa verdadeira. Ex.: se o grupo de llinks e na
cor laranja, e a área do conteúdo têm a cor laranja como destaque, é porque o
internauta está no conteúdo referente àquele grupo.
As fontes vão se alternando conforme o conteúdo, ora serifadas e ora
bastão, mantendo-se padronizadas apenas para os menus e os títulos das
páginas, sempre utilizando textos em caixa alta e baixa, e utilizando fontes
65
bastão. Essa é mais uma falta de padronização, que vai contra a classificação
de signos de PEIRCE (1995), quando não há regularidade.
Aparentemente, o objetivo dos projetistas das interfaces foi criar um
ambiente “limpo”, disponibilizando as informações de forma clara e objetiva.
Não foram utilizadas animações ou efeitos sonoros na interface.
4.2.2 - O signo como existente
O objeto dinâmico faz-se presente pelos elementos com os quais o
usuário está familiarizado, os quais fazem parte da sua realidade particular. Na
página inicial e nas páginas secundárias do ambiente, percebe-se um padrão já
existente em outros Websites. As barras de navegação na posição superior e
lateral esquerda são um padrão utilizado em portais. Os menus vão mudando
de conteúdo de acordo com a área em que o internauta se encontra.
Por se tratar de um padrão existente em outros websites, podemos
analisar essa organização dos menus e do conteúdo como um signo, por sua
regularidade.
Ao passar o mouse nos links do menu de navegação, o cursor muda
para o ícone de uma mão com o dedo indicativo apontado. Alguns links estão
na cor azul e com o efeito de sublinhado. Estas notações são utilizadas em
outros sites da WEB para representação de hiperlinks, assim, são convenções
com que o usuário já está familiarizado. Os termos presentes no canto superior
direito, “Busca” e “Ajuda”, também são de conhecimento de usuários de
sistemas informatizados.
Podemos classificar, tanto o ícone da mão, quanto os links em azul, com
fonte sublinhada, como um Legissigno Indicial Dicente, pois é apenas naquele
ambiente que o internauta percebe que se trata de um link.
Em todos os formulários existentes no ambiente, também são utilizados
elementos conhecidos de quem utiliza sistemas informatizados. também
fotos nos cadastros dos participantes do ambiente.
Como ícone e também índice, as ilustrações, presentes em várias
seções. Sendo elas:
66
Como aparecem Significado
A
Aparecem do lado esquerdo de
alguns títulos
Mostrando pastas ligadas atras de linhas, ícone bem presente
em ambientes informatizados gficos, significa que as sessões
que tem essa figura ao lado do título têm subdivisões, sub-links.
B
Presente nas seses
Atividades, Agenda, Material de
Apoio, Leituras e Portifólio.
É o desenho de uma folha, a dobra no canto superior direito dá
essa sensação, com um texto nela digitado. Significa que o
documento a ele linkado pode ser editado pelo internauta.
C
Sessão Bate-Papo. O desenho de um “ballon”, típico de revistas em quadrinhos, com
um texto dentro, significa que o conteúdo linkado a esse ícone se
trata de uma troca de mensagens instanneas entre duas ou
mais pessoas.
D
Sessão Diário de Bordo O desenho de um caderno em espiral, semi-aberto, com um texto
digitado nele lembra o desenho de um caderno de anotações, ou
drio. Significa que ao clicar nesse ícone o internauta se levado
para uma sessão onde pode fazer anotações.
E
Na sessão Leituras É uma ilustração típica do ambiente Windows, uma pasta de
documentos, onde mostra que aquele lugar é onde podem ser
guardados os documentos.
F
Na sessão Perguntas
Freentes e nas lixeiras de
algumas sessões
Também um ícone presente no ambiente Windows, representa
uma pasta de documentos aberta. Significa que o internauta
entrou na sessão onde ficam guardados os documentos.
G
Na sessão Exercícios Desenho de uma pasta de documentos que contém alguns
documentos guardados. Significa que ao clicar sobre o link o
internauta se levado à página onde ficam guardados os
exercícios destinados aos alunos.
H
Na sessão Exercícios Mesmo desenho acima, acrescido do ícone de um boneco.
Significa que se trata da pasta do internauta que se logou no
ambiente virtual de aprendizagem.
I
Na sessão Grupos Desenho de vários bonecos representando pessoas reunidas.
Significa que ali as pessoas entrao em contato umas com as
outras.
J
Nas sessões Diário de Bordo e
Portifólio
Simulando um rabisco feito à o, como se algo tivesse sido
revisado, mostra se os documentos escritos foram
comentados/checados por algum dos participantes do ambiente.
K
Na sessão Portifólio Desenho de uma pasta, lembrando que se trata de um lugar para
guardar documentos, porém, por se tratar de um lugar melhor,
documentos mais importante dos que são guardados em pastas.
Significa que se trata de um link onde podeo ser acessados o
portifólio de um dos participantes do ambiente.
L
Na sessão Portifólio Significa portifólios de ex-alunos
M
Na sessão Portifólio Significa o portilio do internauta que es logado.
N
Na sessão Portifólio Significa meus portilios dos estudos que foram realizados em
grupo
O
Na sessão Portifólio Significa meus portilios dos estudos que foram realizados em
grupo, grupo esses de ex-alunos.
P
Na sessão Portifólio O desenho da letra “A”, significando que o item que está ao lado
descrito está ativado.
Q
Na sessão Administração Desenho de uma o apontando com o dedo indicador. Significa
que o item foi escolhido.
R
Nas sessões Agenda, Leitura,
Exercícios, Enquete e
Administração
Desenho representando um mês qualquer em um calendário.
Significa que o internauta pode mudar as datas estabelecidas.
S
Nas sessões Avaliões e Bate-
Papo
Desenho de um papel sobre uma prancheta, com um Tic sobre o
papel. Significa um documento preenchido por quem o deveria ter feito.
Quadro 3 – Ilustrações utilizadas na interface. Fonte: Elaboração do autor.
67
Quando colocados lado-a-lado, emerge a revelação de que os ícones
utilizados na interface não colaboram para a classificação perciniana de signo,
pois não regularidade. Isso fica claro quando comparamos os ícones F e G,
assim como também os ícnoes J e S. Temos dois estilos de desenhos
diferentes, ou seja, dois Qualissignos diferentes.
Os ícones F e G se diferenciam pela perspectiva utilizada, um à
esquerda e outro à direita, pelas cores, dois tons de amarelo diferentes, e pela
utilização de luz e sombra o G, enquanto o F não possui essa caraterística.
Os ícones J e S, apesar de simularem uma marcação realizada pela
mão humana, recurso muito utilizado quando queremos destacar algo que
lemos em um texto, se diferenciam, ambos, pela cor, tipo de traço e inclinação.
Outro erro gravíssimo é a utilização do ícone de uma pasta, F, para
informar que ali é onde deve se clicar para excluir uma informação. Este ícone
da pasta é típico do ambiente Windows, e significa que ali ficam guardados os
arquivos. Para descartar informações, é utilizado o ícone de uma lixeira.
Além de não representar uma regularidade, essa utilização do ícone
“pasta” pode confundir o usuário.
A) Do suporte
O suporte é o browser. A página principal e as páginas secundárias estão
em um formato com largura e altura variáveis, de acordo com a resolução da tela
de que acessa o ambiente. O ambiente es on-line no endereço http://e-
escola.saocamilo-es.br/cursos/aplic/index.php, aparecendo quando o usuário
está conectado à internet. Para visualizar os gráficos da seção Intermap, o
usuário deve possuir o plug-in do JavaScript. Para visualizar conteúdos
disponibilizados por usuários, que são arquivos que podem ser lidos sem a
necessidade da internet, depois de feito o download, é necessário ter instalado
no computador algum programa de edição de texto, descompactador de
arquivos, assim como também possuir o plug-in do Adobe Reader, pois alguns
conteúdos podem estar em “.pdf”. Mas isso pode variar, pois cabe aos
usuários do perfil Formador escolherem o formato dos arquivos a serem
disponibilizados.
B) Da composição à navegação
Ao acessarmos o site, percebemos os elementos principais da interface,
que são:
68
- do lado esquerdo uma área azul, onde fica a logomarca da IES e o
menu de navegação.
- do lado direito, uma área maior de fundo branco onde ficam os
conteúdos das páginas.
Essas cores possuem simbologias distintas. O branco está associado à
ordem, limpeza, pensamento. o azul, segundo o mesmo autor, está
associado à serenidade, intelectualidade. Sua utilização esapropriada, pois
há um bom contraste, e elas têm associações afetivas muito próximas.
Os títulos das páginas acessadas sempre aparecem em letra tipo baso,
em caixa alta e baixa, em negrito, e com um corpo bem maior do que os textos do
conteúdo e do menu, no topo da página, alinhados pela esquerda. Abaixo desse
tulo, uma linha que ocupa toda a largura da área branca. No topo tamm,
porém à direita, aparecem os boes Busca e Ajuda”. Esses botões são sempre
referentes ao conteúdo da página em que o internauta se encontra. (Fig. 6)
A utilização desses recursos (mascula/minúscula, negrito/normal e
tamanho da letra), segundo NIEMEYER (2006) tem suas vantagens, pois
consegue destacar alguns elementos, seja para chamar a atenção, separar ou
organizar os textos que come o layout.
Figura 6 - Tamanho e estilos das fontes.
O conteúdo da página também é alinhado à esquerda
Sobre as cores utilizadas, no menu de navegação, o fundo é azul e as
letras, inclusive a logomarca da instituição, são em branco. Os links, depois de
69
clicados passam para amarelo, para indicar em que seção do site o internauta
está.
Esse menu, chamado de menu principal, muda de conteúdo, de acordo
com a com os links Visão de Formador e Visão de Aluno. Manteremos o foco
na Visão de Formador
No menu podem ser identificados grupos de links, separados por um
entrelinhamento maior. oito grupos, sendo que alguns contêm apenas um
item, quais sejam:
- Estrutura do Ambiente
- Dinâmica do Curso; Agenda; Avaliações
- Atividades; Material de Apoio; Leituras; Perguntas Frequentes;
Exercícios; Enquetes; Parada Obrigatória.
- Mural; Fóruns de Discussão; Bate-Papo; Correio
- Grupos; Perfil; Diário de Bordo; Portifólio
- Acessos; Intermap
- Configurar; Administração; Suporte
- Sair
Aqui se trabalhou com o conceito de Proximidade da Gestalt, que,
segundo GOMES FILHO (2000), é quando elementos próximos uns dos outros
.tendem a serem vistos juntos, constituindo um todo ou unidades dentro de um
todo.
O menu da esquerda muda de acordo com a opção da Visão que o
internauta escolhe. Tanto a visão escolhida, quanto a sessão, aparecem
destacados na cor amarela, depois de escolhidos. Essa é uma forma de o
internauta identificar em que área do site ele se encontra.
C) Identidade Visual
Não é utilizada a cor “vinho”, cor identificada como institucional na
identidade visual da IES.
Em nosso estudo, omitimos o nome e a logomarca da instituição para
manter o anonimato da pesquisa. A ausência da cor institucional dificulta
totalmente a identificação da mesma, ainda que com ela se tenha contato
anterior. A cor institucional, além da Primeiridade, ou seja, sua qualidade,
funciona na categoria de Terceiridade, pois atua como símbolo da instituição
para quem, de alguma maneira, se relaciona com ela.
70
Não uma padronização lógica para as cores de cada sessão do site.
Mesmo nos grupos de links, as cores variam de página para página. Há alguns
padrões e cores, tais como:
- Menus com letras em branco
- Textos dos conteúdos em preto
- Links dos textos em azul
- Botões e campos dos formulários em cinza
tendo sido identificada no Marco Teórico a importância e o impacto
das cores, a o utilização correta desses Qualissignos compromete a
Ergonomia do ambiente.
Um pado que se repete no topo das páginas é o título da visão
escolhida no topo, abaixo uma linha, que ocupa toda a largura da área branca.
Abaixo da linha, encontra-se o título da sessão que o internauta escolheu.
Também abaixo da linha, porém no topo do lado direito da página, há os
botões Busca e Ajuda.
D) Submenu
O submenu de navegação, presente nas sessões, são padronizados,
utilizando a mesma tipologia e forma de arrumação, dentro de retângulos.
Porém as cores apenas repetem a cor utilizada no título da seção, mas sua
aplicação não obedece a nenhum padrão. Nem dentro de um dos grupos de
links visualizadas no menu principal há padronização. (Fig. 7)
O único signo presente nesses links do submenu é o efeito sublinhado
nas palavras. Como as cores não obedecem a um padrão, sendo utilizadas
aleatoriamente, elas perdem sua função como Qualissignos, pois sua aparição
nada representa.
71
Figura 7 – Cores dos submenus.
E) Tipologia
Em relação à tipologia, só há padronização para os menus, onde é
sempre utilizada a mesma fonte, porém para o conteúdo ora se usa letra
serifada ora sem serifa. inclusive dois tipos de letras serifadas (Fig. 8). O
alinhamento é sempre à esquerda, exceto quando estão dentro de tabelas. Em
tabelas, na coluna da esquerda, os textos são alinhados à esquerda, e nas
outras colunas o texto é centralizado em relação à coluna. (Fig. 9)
Apesar de ambas serem serifadas, as fontes Garamond e Times New
Roman têm em seus desenhos acabamentos diferentes, os quais, por terem
formas distintas, podem ser identificados como Qualissignos distintos.
A diferença dessas duas fontes para a Arial é bastante significativa. Os
signos plásticos encontrados em fontes serifadas e fontes bastão transmitem
qualidades diferentes a quem as percebe, mesmo que inconscientemente.
72
Figura 8 – Fontes utilizadas no conteúdo.
Figura 9 – Alinhamento dos textos nas tabelas.
F) Localização do usuário dentro do site
A identificação de onde o internauta se encontra é definida pelas cores
dos menus de navegação. No menu principal, o nome da seção fica em
amarelo, e no submenu, a fonte também muda de cor (Fig. 10).
Porém, como não uma lógica para a utilização desses Qualissignos,
no caso, as cores, o usuário pode sentir dificuldade para se localizar dentro do
ambiente.
No topo da página, aparece também o nome da seção. Porém, há
lugares em que o menu principal desaparece (Fig. 11). Essa quebra no padrão
73
visual do ambiente desqualifica-o como signo peirciniano, pois vai de encontro
ao conceito de regularidade.
Além de corrigir essa falha, que faz com que o internauta perca a noção
de onde está, seria de grande ajuda se fossem utilizados recursos gráficos
para facilitar a localização. Como exemplo, poderia se ter uma cor para cada
seção do site.
Figura 10 – Cores do menu principal.
Figura 11 – Menu do lado esquerdo desaparece.
Então, nas seções dos menus principais, o usuário se localiza apenas
utilizando a linguagem escrita, sendo de pouca utilidade a linguagem visual.
74
Porém, quando se navega dentro da seção, existem momentos em que o
usuário pode se perder dentro da própria seção.
Não uma padronização com relação à abertura de conteúdos. Na
maioria das vezes, o conteúdo é mostrado na área principal, de fundo branco,
porém também são abertas janelas pop-up em algumas situações, chegando
ao ponto de ocorrer a situação de haver três janelas abertas ao mesmo tempo
(Fig. 12). Também ocorre de conteúdos serem abertos em outra janela/aba do
browser de navegação. Isso pode confundir o internauta.
No conceito de janela, temos a idéia de que estamos olhando para um
outro ambiente. Por exemplo, se estamos na sala e vemos pela janela uma
outra sala, sabemos tratar-se de um outro ambiente, apesar de também ser
uma sala. Portanto, a Função Referencial, de a pessoa captar a mensagem de
que ainda está dentro do mesmo ambiente, fica comprometida com essa
utilização de janelas sobrepostas.
Figura 12 – Várias janelas aparecem sobrepostas durante a navegação.
G) Retornar à página anterior
Esse procedimento é totalmente despadronizado (Fig. 13). Ora há um
link no topo da página, ora é um botão na base da página. Para complicar mais
ainda, esse botão na base da página ora aparece no canto direito, ora no canto
esquerdo, e também o label do botão muda, aparecendo nomes como
“Retornar” e “Cancelar”. Em algumas poucas páginas o link “voltar à página
anterior”.
75
Nossa práxis como docente da disciplina “Interface Homem Máquina”
autoriza-nos a afirmar que hoje as pessoas esperam muito dos Websites,
recusando um projeto ruim, que pouco fvorece a comunicação, isso significa
que a navegabilidade tem que ser bem planejada.
A opção de retornar à página anterior permite ao usuário rever seu
procedimento de navegação, dando-lhe tranqüilidade dentro do ambiente.
O modo como estão organizadas essas opções de retorno contraria os
princípios da semiótica de PEIRCE (1995) não podendo ser classificado como
signos, devido à falta de um padrão.
Quando utilizada a ilustração de um botão cinza para identificar o link,
recurso largamente utilizado em interfaces gráficas, a Função Referencial da
linguagem visual está totalmente presente. Mas, quando utilizada uma palavra
sublinhada, sem a utilização da cor azul na fonte, recurso também largamente
utilizado, essa função fica prejudicada, pois pode provocar dúvida na
interpretação do usuário.
Novamente, o fato de o botão aparecer cada hora em um lugar diferente,
só agrava o problema.
Em termos de ergonomia, ter que colocar o cursor, cada hora, em um
lugar da interface para realizar a mesma tarefa, e, por vezes, tendo que
primeiro clicar na barra de rolagem vertical, quando a informação está na parte
de baixo da página, desencadeia-se um desconforto para o usuário.
Figura 13 – Falta padronização nos links de retornar à página anterior.
76
H) Organização dos menus
No menu principal, à esquerda, grupo de links, indicando que certos links
pertencem ao mesmo “tipo de informação”. Pom não há uma evidência clara
disso, ficando por conta da intuão do internauta perceber esses grupos (Fig. 14).
Nos submenus também divisão, os quais se apresentam dentro de
retângulos. Esse submenu pode ter um segundo nível, que é uma ou mais linhas
de rengulos que surgem logo abaixo, porémo fica claro para o internauta que
se trata de um terceiro vel de navegação, pois não há diferencião nenhuma de
cor, fonte ou qualquer outro recurso gráfico (Fig. 15). Nos submenus a fonte é a
mesma do menu principal, porém com o efeito de estarem sublinhadas.
O efeito gráfico para identificar os links é apenas a mudança do cursor,
passando do desenho de uma seta para o desenho de uma mão com o dedo
indicador apontado. Apenas depois de clicado é que o link sofre uma alteração
gráfica, mudando de cor.
Tomando como ponto de partida as Funções da Linguagem (LOPES,
2001), o caso da Função Referencial, esta não está em conformidade, pois
dúvidas sobre o que fazer, assim como a Conativa, pois não interfere
corretamente no comportamento do usuário. Apenas a Função Metalingüística
pode ser identificada, se entendermos, assim, a ação do cursor ao passar de
uma seta para uma mão, quando sobre o link.
Tomando como ponto de partida a semiótica de PEIRCE (1995),
também temos problemas na interpretação desses signos visuais, pois se o
caráter vicário do signo aponta para sua função mediadora, temos signos
diferentes para a mesma função mediadora, dificultando a interpretação.
Também podemos mencionar a falta de um padrão, o que compromete sua
classificação como signo.
77
Figura 14 – Grupos do menu à esquerda
.
Figura 15 – Terceiro nível de navegação no submenu
I) Links
Os links dos textos dos conteúdos seguem o padrão do Windows, que
são letras na cor azul e efeito de sublinhado. Quando utilizados botões,
também se segue o padrão Windows, com volume e na cor cinza. Esses dois
efeitos são agradáveis para o internauta, pois lhe são familiares.
Se temos a presença desses Legissignos Indiciais Dicentes, que atuam
positivamente na interpretação do usuário, a falta de padrão, novamente,
dificulta-lhe a vida.
78
J) Recursos
Apenas em uma das sões é necessário instalar um plug-in. No restante do
site o a necessidades de plug-ins ou programas extras. Mas essa é uma
definição do usrio, pois é ele que coloca conteúdos para download no site,
portanto podem ser necessários para quem for fazer download desses conteúdos.
K) Conteúdos
Os conteúdos que aparecem nas seções são textos, tabelas, formulários
de edição de conteúdo, estes muito similares aos editores de texto mais
populares (Fig. 16), o que facilita a vida do usuário, tabelas e arquivos para
download. Para a escolha de opções, quando navegando, a utilização de
ferramentas muito comuns em formulários de sites, como menus drop-down,
radio button, check butoon, caixas de textos e botões.
A utilização destas ferramentas facilita a navegação do usuário, pois a
Função Referencial é bem forte para que acessa ambientes gráficos. Apesar
de se constituírem em Legissignos Icônicos, bem utilizados, nesse ambiente
acabam sendo uma exceção.
Figura 16 – Formulários.
4.2.3 - O signo em sua generalidade
O Ambiente Virtual de Aprendizagem da IES caracteriza-se por seu
layout simples, onde são utilizados arquivos que ocupam pouco espaço na
memória do computador, o que faz com que os mesmos sejam rapidamente
79
acessados, mesmo por usuários que não disponham de acesso por banda
larga.
Os ícones e símbolos utilizados, muitas vezes vão de encontro aos
conceitos teóricos apresentados, o que faz com que a linguagem visual perca
uma parte considerável de sua capacidade de comunicar ao usuário as
funcionalidades do ambiente.
80
5 – CONCLUSÃO
Nossa pesquisa começou por explorar os conceitos básicos do processo
de comunicação, apresentando os princípios da linguagem humana, e a
utilização de imagens como formas de comunicação, em um segundo
momento, o foco recaiu sobre os conceitos teóricos da semiótica de Charles
Peirce (1995) e isso, não desconsiderando a importância da visão de outros
teóricos para atingir os propósitos de sua elaboração. Tendo apresentado o
referencial teórico que esteiaria a pesquisa, a tarefa que se lhe seguiu foi
apontar o percurso metodológico, do qual se seguiram os resultados e a
discussão dos dados levantados na análise do AVA.
Neste momento, priorizamos a identificação dos signos presentes na interface
escolhida e empreendemos uma análise destes, tendo feito isso observando,
fundamentalmente, as categorias de Organização das informações, Tipografia,
Cores e Ergonomia.
A abordagem empreendida, quando tocou no ponto sobre a importância
do conhecimento da semiótica perceniana e sua relevância na construção
gráfica de um AVA, acabou por confirmar que o objetivo de demonstrar a
relevância deste conhecimento científico na elaboração de AVAs com vistas a
favorecer a comunicação com o usuário foi atingido.
No que se refere ao objetivo de analisar alguns fundamentos teóricos
dos signos e apontar sua aplicação nas interfaces de um determinado AVA,
acreditamos tê-lo atingido quando fizemos correlação do conteúdo teórico com
a análise dos signos encontrados. Tendo alcançado ambos os objetivos
específicos, o geral pode ter sido contemplado quando fizemos a análise de
como os signos utilizados pelo projetista da interface poderiam comunicar
melhor seus conteúdos.
Embora com possíveis erros de interpretação, embora com algumas
impropriedades no decurso da elaboração do texto, embora com algumas
fragilidades de um pesquisador muito interessado mas descontente com as
impossibilidades que a vida social lhe concede, acreditamos que a utilidade
principal desta pesquisa está na sua colaboração para o desenvolvimento de
81
interfaces mais apropriadas apesar de modesto, acreditamos ter atingido tal
propósito.
5.1 - Recomendações para novos estudos
Uma recomendação é que sejam feitas análises de outros ambientes
virtuais, amplamente utilizados por instituições de ensino.
Fazer um estudo apontando como poderia ficar o ambiente estudado,
caso fossem utilizados corretamente os conceitos peircenianos.
Apresentar como os ambientes que utilizam corretamente esses
conceitos, são mais apropriados em detrimento daqueles que não os utiliza.
Também como sugestão para futuros estudos, poderá ser incluída, na
percepção do usuário, a influência dos signos na compreensão da mensagem.
82
6 -
REFERÊNCIAS
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