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teóricas, socializando bons modelos de prática pedagógica desenvolvidos no
país.
O uso de substantivos, como, “intercâmbio”, “circulação”, “capacitação”, “suporte” e
“fonte” sugere-nos a possibilidade de permuta de idéias e ações entre os profissionais da
Educação por meio da revista, veículo de comunicação, bem como a garantia dela como
geradora e provedora dessas mesmas idéias e ações. Sendo assim, o tom deste trecho visa
retratar a Pátio como um espaço para o múltiplo, conforme a reiteração de vocábulos como
“idéias diversificadas e criativas”, “pluralismo conceptual”, “diferentes pontos de vista”,
“opiniões diferentes”. Em outras palavras, não só a revista quer ser diferente, como ela quer
ser um espaço para o diferente, nem que seja no âmbito do desejo.
Podemos afirmar que a presença de vocábulos, como, “nosso desejo é ter uma revista
que assegure o pluralismo conceptual” e “que pretende ser uma fonte de circulação de idéias”
(grifo nosso), na materialidade lingüística deste editorial, revela-nos algo do âmbito da utopia,
do ideal. O substantivo desejo e o verbo pretender pertencem ao campo léxico do possível,
almejado, querido, situações essas que podem ou não ser concretizadas, levando-se em
consideração as diversas variáveis histórico-sociais. “Desejo”, em especial, suscita algo
intimista, usado no campo da psicanálise para aquilo que escapa ao sujeito, mas que o
constitui, mesmo sem saber. Segundo uma das acepções que constam no Dicionário Houaiss
da Língua Portuguesa (2001, p. 974), “é a aspiração humana de preencher um sentimento de
falta ou incompletude; querer, vontade”. Chamamos atenção para os vocábulos assinalados,
pelo fato de, ao longo dos anos, a revista direcionar as discussões para um determinado
paradigma teórico, a pedagogia crítica (conforme acenado em nossa hipótese) e, distanciando-
se de sua proposta inicial – colaborar para “circulação de idéias diversificadas e criativas”
(conforme será melhor explicitado ao longo da análise).
Constatamos, ainda, que a caracterização da revista faz uso de verbos que indicam
ação-processo
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, dos quais ressaltamos: “socializar” com complemento expresso por nome
não-animado que significa tornar social, tornar de todos, no caso, “os bons modelos de prática
pedagógica desenvolvidos no país”. No discurso que envolve a revista, percebemos também a
criação de uma atmosfera paternal veiculada, em especial, pelo verbo “assegurar” (no sentido
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A análise dos verbos presentes neste trabalho teve como suporte o Dicionário Gramatical de Verbos do
Português Contemporâneo do Brasil, sob a coordenação do Prof. Francisco da Silva Borba. Nele encontramos a
seguinte definição para verbos que indicam ação-processo: Expressam uma ação realizada por um sujeito agente
e/ou de uma causação levada a efeito por um sujeito causativo, que afetam um complemento. A ação-processo
sempre atinge um complemento que expressa uma mudança de estado, de condição ou de posição, ou, então algo
que passa a existir (1990, p.xvii).