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Universidade Feevale
Mestrado em Inclusão Social e Acessibilidade
Rosi Souza Fritz
DESENVOLVIMENTO DO TURISMO LOCAL POR MEIO DA PARTICIPAÇÃO
COMUNITÁRIA: A CONSTITUIÇÃO DE UMA COMUNIDADE VIRTUAL EM UM
BLOG
Novo Hamburgo
2010
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1
Universidade Feevale
Mestrado em Inclusão Social e Acessibilidade
Rosi Souza Fritz
DESENVOLVIMENTO DO TURISMO LOCAL POR MEIO DA PARTICIPAÇÃO
COMUNITÁRIA: A CONSTITUIÇÃO DE UMA COMUNIDADE VIRTUAL EM UM
BLOG
Trabalho de Conclusão apresentado ao
Mestrado em Inclusão Social e
Acessibilidade como requisito para a
obtenção do título de Mestre em
Inclusão Social e Acessibilidade.
Orientadora: Professora Dra. Patrícia Brandalise Scherer Bassani
Co-orientador: Professor Dr. Valdir Pedde
Novo Hamburgo
2010
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2
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)
Bibliotecária responsável: Paola Martins Cappelletti – CRB 14/1087
Fritz, Rosi Souza
Desenvolvimento do turismo local por meio da participação
comunitária : a constituição de uma comunidade virtual em um blog /
Rosi Souza Fritz. – 2010.
133 f. ; 30 cm.
Dissertação (Mestrado em Inclusão Social e Acessibilidade)
Feevale, Novo Hamburgo-RS, 2010.
Inclui bibliografia e apêndice.
“Orientadora: Professora Dra. Patrícia Brandalise Scherer Bassani ;
Co-orientador: Professor Dr. Valdir Pedde.
1. Turismo - Internet. 2. Inclusão digital. 3. Comunidades virtuais. I.
Título.
3
Universidade Feevale
Mestrado em Inclusão Social e Acessibilidade
Rosi Souza Fritz
DESENVOLVIMENTO DO TURISMO LOCAL POR MEIO DA PARTICIPAÇÃO
COMUNITÁRIA: A CONSTITUIÇÃO DE UMA COMUNIDADE VIRTUAL EM UM
BLOG
Trabalho de Conclusão de mestrado aprovado pela banca examinadora em 26 de
fevereiro de 2010, conferindo a autora o título de mestre em Inclusão Social e
Acessibilidade.
Componentes da banca Examinadora:
Profª. Dra. Patrícia B. Scherer Bassani (Orientadora)
Universidade Feevale
Prof. Dr. Adriano Canabarro Teixeira
Universidade de Passo Fundo
Profª. Dra. Sandra Portela Montardo
Universidade Feevale
4
Para os homens da minha vida,
João Vítor e Vilson
5
AGRADECIMENTOS
À minha orientadora, professora Dra. Patrícia Bassani, pela presença
constante nesse estudo e por me incentivar a conhecer um novo caminho na ciência.
Ao meu co-orientador, professor Dr. Valdir Pedde, pelo precioso auxílio com
seus conhecimentos e sua presença de amigo.
Às professoras Luciane keller, Rosane Feltes,
Ana Lúcia da Rocha e Cristina Dorneles,
com seu profissionalismo e participação me oportunizaram
realizar a pesquisa com suas turmas.
Às diretoras das Escolas, Eliete Notarjagamos e Cláudia Gisele de Oliveira
por oportunizar a aplicação da pesquisa.
Às turmas dos quartos anos da manhã de 2009
das Escolas Affonso Penna e Imperatriz Leopoldina,
pelo entusiasmo e alegria contagiante durante a pesquisa.
À Luana Bonfante Quadros, minha colega de idas e vindas nas escolas.
À minha mãe Beti Maria de Souza Fritz,
por compartilhar dos meus sonhos.
Em especial para Vilson Scherer, meu esposo,
que sempre compreendeu o que eu buscava.
6
“Temos o direito de ser iguais quando a diferença nos inferioriza e de ser
diferentes quando a igualdade nos descaracteriza”.
Boaventura de Sousa Santos
7
RESUMO
A capacidade de provocar transformações na sociedade, nas perspectivas
econômica, social, cultural e ambiental, faz do Turismo um fenômeno que vem se
destacando nos últimos anos. O atual Plano Nacional de Turismo, intitulado “Uma
viagem de inclusão”, tem como prioridades a distribuição de renda, por meio da
geração de novos empregos, a oportunidade de inclusão de brasileiros no mercado
de trabalho e, também, como participantes ativos do turismo enquanto
consumidores. Vale ressaltar, ainda, a responsabilidade que o Estado Brasileiro dá à
atividade, quando indica que, através do turismo, podem-se erradicar a pobreza
extrema e a fome, além de reduzir a violência. Assim, criam-se expectativas para o
desenvolvimento social de comunidades locais, que não encontraram benefícios no
modelo turístico industrial. Dessa forma, a renovação das localidades, através da
participação comunitária, decidindo sobre o desenvolvimento local é uma
característica que coloca o turismo como objeto de estudo que se articula com
diversos segmentos da sociedade. Nesse sentido, este estudo pretende destacar os
aspectos ligados à participação da comunidade na definição de espaços e atividades
que possam ser explorados turisticamente. Para tanto, este trabalho traz uma
abordagem sobre o Turismo e participação comunitária, a partir de um conceito mais
amplo de comunidade, que perpassa pelas questões territoriais de proximidade, mas
contempla também as comunidades que se criam extraterritorialmente, ou seja, as
comunidades virtuais a partir das tecnologias da informação e comunicação.
Entende-se que a aproximação entre os conceitos de turismo e inclusão digital
oportuniza um novo olhar sobre as possibilidades da participação comunitária na
concepção de propostas voltadas ao turismo local. Nessa perspectiva, o estudo teve
como objetivo analisar se a formação de uma rede social de inclusão digital pode
favorecer o fortalecimento do turismo receptivo em Novo Hamburgo, oportunizando a
reflexão e discussão de seus moradores sobre o potencial turístico de seus bairros.
A pesquisa foi desenvolvida em duas Escolas Municipais de Ensino Fundamental do
município de Novo Hamburgo, que estão envolvidas no projeto Escola Aberta.
Optou-se por esta modalidade de escola, a fim de que a pesquisa pudesse repercutir
além dos muros escolares, oportunizando a participação da comunidade escolar. O
estudo segue uma abordagem qualitativa de investigação ação e envolve a análise
da interação que ocorre entre dois grupos pertencentes a escolas da rede pública de
ensino de Novo Hamburgo, que se comunicam por meio de um blog. Neste estudo,
busca-se analisar o potencial desta ferramenta em promover a interação social
mútua por meio de uma comunidade virtual que pense o turismo. O fato das cidades
estarem se constituindo em espaços de fluxos, em que as pessoas e a informação
circulam rapidamente, vem ao encontro da proposta, que busca fortalecer redes de
confiança com ões embasadas na solidariedade e na cooperação dos agentes
sociais envolvidos no processo. Os resultados apontam que a possibilidade de
expandir conhecimentos através de trocas e compartilhamento de conteúdos faz do
meio digital um aliado na construção de conhecimento colaborativo, repercutindo na
formação de novas comunidades que não estão atreladas ao conceito de lugar, mas
que buscam, por meio de práticas sociais, desenvolver ações colaborativas para
favorecer o acesso e a distribuição dos benefícios da atividade turística, privilegiando
cada um dos atores envolvidos: turista, prestador de serviços e a comunidade
receptora.
Palavras-chave: Turismo. Inclusão digital. Interação. Comunidade virtual. Políticas
públicas.
8
ABSTRACT
The ability to bring about changes in society, economic prospects, social, cultural and
environmental tourism is a phenomenon that has been increasing in recent years.
The current National Tourism Plan, entitled "A journey of inclusion," has as priorities
the distribution of income by generating new jobs, the opportunity for inclusion of the
Brazilian labor market and also as active participants of the tourism as consumers. It
is worth noting also the responsibility of the Brazilian state of activity, it indicates that,
through tourism, one can eradicate extreme poverty and hunger, and reduce
violence. Thus, it creates expectations for the social development of local
communities, who have found benefits in the current tourism model. Thus, the
renewal of locations, through community participation, deciding on the development
site is a feature that puts tourism as a subject matter which is linked to various
segments of society. Accordingly, this study aims to highlight the aspects of
community participation in the definition of spaces and activities that can be exploited
tourist destination. Therefore, this work presents an approach to tourism and
community participation, from a broader concept of community that permeates the
territorial issues of proximity, but also covers the communities that create extra-
territorially, ie, virtual communities to from information technology and
communication. It is understood that the rapprochement between the concepts of
tourism and digital inclusion nurture a new look at the possibilities of community
participation in the design of proposals directed to local tourism. From this
perspective, the study aimed to analyze the formation of a social network for digital
inclusion can promote the strengthening of tourism in New Hamburg, creating
opportunities for reflection and discussion of its residents about the tourist potential of
their neighborhoods. The study was conducted in two City Schools Elementary in the
city of Novo Hamburgo, which are involved in the Open School project. We opted for
this type of school, so that the research could pass beyond the school walls, favoring
the participation of the school community. The study follows a qualitative approach
and action research involves analysis of the interaction that occurs between two
groups belonging to public schools teaching of Novo Hamburgo, which communicate
through a blog. This study seeks to analyze the potential of this tool to promote
mutual social interaction through a virtual community that thinks tourism. The fact that
cities are being constituted in spaces of flows to people and information circulate
rapidly responds to the proposal, which seeks to strengthen networks of trust with
actions centered on solidarity and cooperation of the agents involved in the process.
The results show that the possibility of expanding knowledge through exchanges and
sharing of content of digital media is an ally in building collaborative knowledge,
which influence the formation of new communities that are not tied to the concept of
place, but who seek, through social practices, develop collaborative actions to
facilitate access and distribution of the benefits of tourism, focusing each of the
actors involved: tourist, service and host community.
Keywords: tourism. Digital inclusion. Interaction. Virtual community. Public policy.
9
LISTA DE FIGURAS
Figura 1
Fluxograma da estrutura do trabalho.................................................
15
Figura 2
Percentual sobre o total de usuários de internet (%).........................
38
Figura 3
Resumo da prosposta de estudo.......................................................
45
Figura 4 – Topologias das redes de Paul Baran.................................................
50
Figura 5 – Rede Social....................................................................................... 72
Figura 6 – Alunos procuram cidades vizinhas de Novo Hamburgo.................... 74
Figura 7 – Alunos com auxílio da pesquisadora procuram cidades já visitadas.
74
Figura 8 – Pesquisa em folheteria Turística do RS............................................ 75
Figura 9
Pesquisa no mapa turístico de Novo Hamburgo............................... 75
Figura 10
Layout e texto inicial do blog Novos Roteiros Turísticos em NH..... 77
Figura 11
O encontro presencial......................................................................
79
Figura 12
Conhecendo os colegas “virtuais”................................................... 79
Figura 13
Interação, ações colaborativas........................................................ 80
Figura 14 – A trilha..............................................................................................
84
Figura 15 – A natureza está aqui........................................................................
84
Figura 16 – As ruas tem nomes de árvores........................................................
85
Figura 17 – A chave da cidade........................................................................... 86
Figura 18 – Monumento ao imigrante, um mirante da cidade............................ 86
Figura 19
Visita ao museu do Indio Tükuna.................................................... 87
Figura
20
A chegada ao Hotel......................................................................... 88
Figura 21
Comentários sobre a visita ao Hotel................................................
88
Figura 22
FENAC e os eventos....................................................................... 89
Figura 23
Artista, retrata Hebe Camargo na Festa do Calçado.......................
90
Figura 24 – A Vila............................................................................................... 91
Figura 25 – A Vila e a Feevale............................................................................
92
Figura 26 – As ruas do Bairro............................................................................. 92
Figura 27 – Vista do centro de Novo Hamburgo.................................................
93
Figura 2
8
Nosso Bairro Vila Nova....................................................................
95
Figura 2
9
Nossa turma.................................................................................... 96
Figura
30
Relações Identitárias....................................................................... 97
Figura
31
Visita ao Hotel Locanda...................................................................
98
Fig
ura
32
Interação e conhecimento............................................................... 98
Figura 33 – Comunicação Livre.......................................................................... 99
Figura 34 – Ações colaborativas.........................................................................
100
Figura 35 – Conhecimento compartilhado.......................................................... 100
Figura 36 – Relações virtuais............................................................................. 101
Figura 37 – Estabelecendo conexões.................................................................
101
Figura
38
Construindo uma comunidade virtual.............................................. 102
Figura
39
Viagem à Disney – Interação e multimídia no Blog......................... 103
Figura
40
Visão geral do Blog..........................................................................
104
Figura
41
Rede Social..................................................................................... 104
Figura 42
Formação da Comunidade Virtual.................................................... 105
10
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 11
1 ELEMENTOS NORTEADORES DA PESQUISA ................................................... 19
1.1 CONCEITOS E DEFINIÇÕES DE TURISMO .................................................. 19
1.2 POLÍTICAS DE TURISMO NO BRASIL E A INCLUSÃO SOCIAL .................. 25
1.2.1 Da Embratur ao primeiro Ministério ...................................................... 28
1.2.2 Uma viagem de Inclusão ........................................................................ 32
1.3 AS CIDADES COMO ESPAÇOS DE FLUXOS NA ERA DA INFORMAÇÃO .. 35
2 DELINEANDO O OBJETO DE PESQUISA ........................................................... 42
3 COMUNIDADES VIRTUAIS ................................................................................... 47
3.1 COMUNIDADE ................................................................................................ 47
3.2 REDES SOCIAIS NO CIBERESPAÇO ............................................................ 49
3.3 CONCEITUANDO COMUNIDADES VIRTUAIS .............................................. 52
3.4 INTERAÇÃO NAS COMUNIDADES VIRTUAIS .............................................. 59
4 BLOG ..................................................................................................................... 63
4.1 CONCEITUANDO BLOG ................................................................................. 63
4.2 COMUNIDADES VIRTUAIS EM BLOGS ......................................................... 68
4.3 CAPITAL SOCIAL NO BLOG .......................................................................... 71
5 ORGANIZAÇÃO DOS DADOS DA PESQUISA .................................................... 74
5.1 PRIMEIRAS PERCEPÇÕES SOBRE TURISMO ............................................ 74
5.2 APROPRIAÇÃO DA FERRAMENTA SOCIAL ................................................. 77
5.3 MÚLTIPLAS ABORDAGENS DO TURISMO ................................................... 78
5.4 ESCOLAS EM REDE....................................................................................... 79
5.5 DO ESPAÇO VIRTUAL AO TERRITORIAL ..................................................... 79
6 ANÁLISES DA PESQUISA .................................................................................... 81
6.1 PERCEPÇÕES SOBRE O TURISMO ............................................................. 82
6.2 INTERAÇÃO NA FORMAÇÃO DA COMUNIDADE VIRTUAL ......................... 93
6.3 ANÁLISES FINAIS ......................................................................................... 106
CONSIDERÕES FINAIS .................................................................................... 109
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 111
APÊNDICE A .......................................................................................................... 118
AVALIAÇÃO DE PROJETO DE PESQUISA – COMITÊ DE ÉTICA .................... 119
APÊNDICE B .......................................................................................................... 120
ROTEIROS EM NOVO HAMBURGO .................................................................. 121
APÊNDICE C .......................................................................................................... 127
ESTRUTURA DO BLOG...................................................................................... 128
APÊNDICE D .......................................................................................................... 129
MAPA DE LOCALIZAÇÃO ................................................................................... 130
APÊNDICE E .......................................................................................................... 131
TERMO DE AUTORIZAÇÃO DE USO DE IMAGEM ........................................... 132
11
INTRODUÇÃO
Contemplar a cidade, utilizar-se de seus espaços de lazer, conviver com
vizinhos vêm perdendo lugar para a agitação e a correria no cotidiano das pessoas.
Os muros altos, as fortalezas de segurança que se criam em meio ao espaço de
morar, distanciam o olhar dos moradores sobre o que pode ser considerado como
belo.
Essas cidades, ao mesmo tempo em que se tornam tão atrativas às
pessoas, transformam-se em espaços de segregação, segundo Bauman (2003b).
Aliado a isso está o enfrentamento de questões de desigualdade social, pois muitos
locais acabam por ser excluídos do olhar prazeroso do próprio morador. Em um rito
de passagem, ele vai e volta para casa, percorre as ruas do bairro onde mora e vê
na cidade o que muitas vezes é obrigado a perceber, os outros locais. Estes, por sua
vez, parecem ser mais atrativos.
Nessa perspectiva, este estudo traz uma abordagem sobre o Turismo
Receptivo em Novo Hamburgo, por meio do qual o olhar do morador pode revisitar
locais pouco vistos, permitindo uma ressignificação de espaços de passagem para
locais de atratividade. O fato do Turismo estar crescendo ao longo dos anos e
provocar transformações nas cidades faz dele um fenômeno que atinge vários
setores, como o econômico, o ambiental, o cultural e o social.
Além disso, conforme Molina (2004), uma concepção que aborda o pós-
turismo aponta que não mais a necessidade de se deslocar de seu local de
residência para fazer turismo. Dessa forma, o viver nas cidades pode ser
reinventado como pode ser vivenciado por turistas. Assim a cultura local contribui
com a formação de uma imagem e de uma identidade no desenvolvimento do
turismo receptivo. Além disso, as práticas sociais advindas com o Turismo podem
favorecer o acesso e a distribuição dos benefícios da atividade turística, privilegiando
cada um dos atores envolvidos: turista, prestador de serviços e a comunidade
receptora.
À luz dessas questões, desenvolveu-se esse estudo, que busca responder
ao seguinte problema: como fortalecer o turismo receptivo em Novo Hamburgo
utilizando as tecnologias da comunicação e informação como instrumento de
inclusão social?
12
As questões norteadoras da pesquisa são:
a) Como potencializar um projeto de inclusão social a partir de uma
perspectiva da inclusão digital?
b) Qual o potencial de uma comunidade virtual em uma proposta de inclusão
social?
c) Como essa proposta pode fomentar a ressignificação do potencial turístico
em NH?
O estudo segue uma abordagem qualitativa de investigação ação. A
pesquisa-ação, de acordo com Thiollent (2008), é um tipo de pesquisa empírica que
é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou resolução de um
problema coletivo e com o qual os pesquisadores e os participantes representativos
da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo.
Com esse tipo de investigação, pretende-se oferecer um espaço de manifestação
coletiva para discussões e assertivas para a resolução de um problema social, neste
caso, da formação de uma comunidade que pense em ações para fortalecer o
turismo.
A opção por esse tipo de pesquisa deu-se em função do tipo de trabalho
aplicado, que a metodologia de pesquisa-ação pressupõe a indicação do objetivo
geral do estudo pelo pesquisador e sua participação na construção da investigação.
O fato de a pesquisadora vivenciar na sua prática profissional o turismo e buscar a
construção de ações que desencadeiem uma política pública participativa levou a
construção deste estudo. o fator incentivador de buscar a autonomia do sujeito,
característica das novas tecnologias da informação, potencializou esse tipo de
investigação, principalmente ao propiciar um espaço de construção coletiva do
processo de pesquisa. A pesquisa de campo conta com observação participante e a
investigação-ação aconteceu no período de 06 de abril a 14 de dezembro de 2009;
a coleta dos dados ocorreu simultaneamente a esse processo, ou seja, no mesmo
período. Além disso, somaram-se à pesquisa-ação à pesquisa bibliográfica,
buscando contextualizar o leitor quanto aos temas propostos.
O estudo foi desenvolvido em duas Escolas Municipais de Ensino
Fundamental do município de Novo Hamburgo, durante o período de aulas e tem
como objetivo geral analisar se a formação de uma rede social de inclusão digital
pode favorecer o fortalecimento do turismo receptivo em Novo Hamburgo,
13
oportunizando a reflexão e discussão de seus moradores sobre o potencial turístico
de seus bairros.
Para a construção do referencial teórico, levaram-se em consideração três
temáticas, o Turismo, as Políticas blicas e a Inclusão Digital. A união desses
temas possibilitou descobrir novas metodologias para tratar do estudo do turismo. Ao
mesmo tempo, os saberes na área de tecnologia da informação e comunicação
permitiram conhecer novas abordagens das ferramentas sociais na construção de
propostas que oportunizem a participação comunitária.
No Brasil, o estudo de Políticas blicas no Turismo é recente. A criação de
um órgão regulamentador da atividade a EMBRATUR
1
- ocorreu no ano de 1966,
mas o Ministério do Turismo
2
, com objetivos específicos de desenvolver políticas
públicas, foi criado somente em 2003. Desse modo, esta pesquisa destaca a
importância do poder blico como fomentador de uma política pública com a
participação comunitária, para que a comunidade possa posicionar-se, oferecendo
suporte para o planejamento alicerçado em um novo olhar sobre seu local de
moradia. No momento em que a temática da proposta do governo federal é a
Inclusão Social, cabe destacar a pertinência deste estudo, ao aproximar discursos
da esfera pública federal e municipal, sob a temática da inclusão social.
A coleta de dados foi realizada por meio de um Blog
3
, uma ferramenta social
para levar adiante discussões que não precisam ficar presas num espaço sico, ou
de posse de um determinado grupo. O fato das cidades estarem se constituindo em
espaços de fluxos, em que as pessoas e a informação circulam rapidamente,
consoante Castells (2002), vem ao encontro da proposta, que busca fortalecer redes
de confiança com ações embasadas na solidariedade e na cooperação dos agentes
sociais envolvidos no processo.
A fim de atingir o objetivo geral, foram estabelecidos os objetivos específicos
que, distribuídos nos capítulos da dissertação, buscam:
a) Investigar diferentes perspectivas sobre a temática da inclusão digital.
Essas questões são abordadas no primeiro capítulo, após a contextualização sobre
Turismo e a trajetória da construção das políticas públicas. A Inclusão Digital aqui é
1
EMBRATUR, quando foi criada, era intitulada como Empresa Brasileira de Turismo.
2
Mais conhecido como Mtur.
3
Disponível em: <http://www.turismonomeubairro.blogspot.com>.
14
vista por meio das Tecnologias da Informação e Comunicação
4
, sob o enfoque de
construção da autonomia dos sujeitos. Essa perspectiva permite pensar na Inclusão
Digital como um conjunto de fatores que envolvem relacionamentos sociais,
conforme Warschauer (2006). A ligação com o Turismo dá-se na construção de
estruturas comunitárias, que são criadas pela oportunidade de acesso às TICs e que
possam pensar em políticas para o Turismo.
b) Compreender os conceitos de Comunidade Virtual de Aprendizagem,
Comunidade de Prática e estabelecer relação entre esse tipo de comunidade e
ações colaborativas que se desencadeiam a partir delas por meio de uma
ferramenta social. A comunidade virtual é considerada um agregado de pessoas que
discutem sobre assuntos diversos e de seu interesse. Como advém da tecnologia,
pode favorecer o estabelecimento e a ascensão de relações sociais, comerciais e
políticas, segundo Rheingold (1996). Esse conceito é extremamente importante para
o estudo, pois entende que, por meio das comunidades virtuais, pode haver maior
contribuição de propostas qualitativas para o turismo, em função do caráter
colaborativo que elas apresentam. Esse objetivo é abordado no terceiro capítulo.
c) Identificar as principais características da ferramenta Blog e sua relação
com a formação das comunidades virtuais. O fato de o Blog ser uma ferramenta
social capaz de promover a construção de uma comunidade virtual e constituir a
base da coleta de dados da pesquisa faz com que seja estudado no capítulo 4. O
Blog é uma ferramenta de fácil utilização e a aderência que tem a diversas áreas do
conhecimento permitiu que fosse utilizado no estudo. Além de contemplar textos,
comentários, no Blog, podem ser anexadas fotografias, imagens e deos, segundo
Amaral et al (2009).
d) Oportunizar às representações das comunidades dos Bairros Ideal e Vila
Nova conhecimento e acesso à Comunicação Mediada por Computador, a partir do
envolvimento em comunidades virtuais.
O procedimento metodológico da pesquisa-ação utilizado remete a esse
objetivo durante a pesquisa. Na medida em que se favorece o uso das TICs por
meio do computador, oportuniza-se esse tipo de conhecimento para os sujeitos da
pesquisa. O fato de se utilizar como interface os contatos de uma ferramenta social
pública permite que o uso das TICs estenda-se à comunidade dos bairros citados,
4
A partir de agora, será utilizado TIC para se referir a esse termo.
15
neste caso optou-se por realizar a pesquisa em duas Escolas Abertas do município
de Novo Hamburgo. Nestas escolas o acesso à informática é estendido aos
moradores do bairro, além de ser gratuito e poder ser utilizado aos finais de semana.
A especificação desse objetivo se dá no capítulo 2.
e) Identificar e caracterizar os potenciais turísticos dos bairros explorados,
propondo novas opções de roteiros turísticos para a cidade.
O estudo é permeado pelo tema turismo, as abordagens realizadas entre os
grupos que se comunicam e se encontram virtualmente são referentes aos novos
atrativos que podem ser oferecidos em um roteiro turístico pela cidade. Dessa forma,
esse objetivo é analisado por meio das postagens e dos comentários ao longo da
construção do saber compartilhado naquilo que se busca identificar como uma
Comunidade Virtual. O objetivo é delineado no capítulo 5. Já, os resultados, são
apresentados durante a análise sobre o turismo, no capítulo 6.
A seguir, apresenta-se um resumo dessas explicações, buscando favorecer
a compreensão do estudo. O esquema
5
representa a estrutura do presente trabalho.
5
Comunidade Virtual é apresentada como CV e Inclusão Digital como ID.
16
Figura 1 – Fluxograma da estrutura do trabalho
Fonte: Pesquisadora
Dessa forma, este estudo estrutura-se em seis capítulos, iniciando pelo
capítulo I, que apresenta os elementos norteadores da pesquisa; os conceitos sobre
a atividade turística, aqui também entendida como um fenômeno; e a trajetória das
políticas públicas de turismo no Brasil, desde a década de 1930 aos dias atuais,
quando da implementação do último Plano Nacional de Turismo, com vistas à
Inclusão Social. Nesse referencial, são tratados conceitos ligados ao Turismo Social
PROBLEMA DE PESQUISA
REFERENCIAL
TURISMO
REFERENCIAL ID
OBJETIVO GERAL
Objetivo Específico 1
Objetivo Específico 2
Objetivo Específico 3
Objetivo Específico 4
Objetivo Específico 5
Capítulo 1
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 2
Capítulo 5
Análise Turismo Análise CV Análise ID
Capítulo 6
17
e à participação dos autóctones
6
na consolidação do que pode ser entendido como
Turismo de Base Local. Essa abordagem sobre o turismo é feita com base em
autores como Beni (2001); Carvalho (2002); Cavalcanti & Hora (2002); Cruz (2002);
Denker (1998); Molina (2004); Oliveira (2005); Ruschmann (1999); e Yázigi (2002).
Posteriormente, no mesmo capítulo, são abordadas questões referentes à Inclusão
Digital, entendida aqui como um meio para chegar a um fim comum de participação
comunitária. Destacam-se autores como Amadeu (2003); Beni (2003); Lemos
(2002); e Warschauer (2006). A questão da inclusão Digital é desdobrada nos
capítulos 3 e 4.
No capítulo 2, apresenta-se o delineamento da pesquisa-ação com os
procedimentos metodológicos que foram necessários para a condução deste estudo,
as etapas da construção da pesquisa, as atividades desenvolvidas e os critérios de
análise a serem adotados. Para referenciar esse tipo de pesquisa, utilizam-se as
pesquisas de Thiollent (2008).
O capítulo 3 apresenta um estudo sobre a formação das Comunidades
Virtuais, Comunidades Virtuais de Aprendizagem, Comunidades de Prática e Redes
Sociais. Para tanto, utilizam-se autores como Bauman (2003); Castells (2002, 2003);
Prates e Palloff (2002); Primo (2006, 2007), Recuero (2003, 2008, 2009) e Rheingold
(1996).
Já no capítulo 4, conceituam-se Blogs, a formação das comunidades virtuais
em Blogs e sua interação na formação do Capital Social. Para dar conta desses
conceitos, utilizam-se autores como: Amaral et al. (2009); Castells (2002); Lemos
(2008); Primo (2007); Primo e Smionatto (2006) e Recuero (2003, 2005, 2009).
A organização dos dados da pesquisa é apresentada no Capítulo 5, que
especifica os procedimentos metodológicos, sob a análise do Blog e da observação
participante.
No Capítulo 6, são apresentadas as análises da pesquisa, que estão
divididas em percepções sobre o turismo; interação na formação da comunidade
virtual e a análise geral, apresentando uma possível resposta para o problema de
pesquisa.
6
Autóctones são os moradores da localidade, pode ser entendido como a comunidade receptora.
(KRIPPENDORF, 2000).
18
Assim, entende-se que a aproximação entre os conceitos de turismo e
inclusão digital irá possibilitar um novo olhar sobre as possibilidades da participação
comunitária na concepção de propostas voltadas ao turismo social.
Por fim, nas considerações finais, são apresentadas as principais
contribuições da pesquisa na área e sugestões para a continuidade desta proposta
de trabalho.
19
1 ELEMENTOS NORTEADORES DA PESQUISA
Neste capítulo, aborda-se a trajetória da atividade turística no Brasil, a fim de
realizar um levantamento de informações que se tornam elementos importantes para
discutir as atuais políticas públicas de turismo. Discorre-se sobre questões
conceituais de turismo, aproximando-se ao que é entendido hoje como turismo de
base local e social, além de fazer uma pequena narrativa da evolução desse tipo de
turismo. Ao final são apresentadas as questões sobre Inclusão Digital,
contextualizando o objeto de pesquisa.
1.1 CONCEITOS E DEFINIÇÕES DE TURISMO
Considerado um fenômeno complexo, o turismo envolve fatores econômicos,
culturais, políticos e sociais que influenciam diretamente a comunidade receptora.
Como a atividade está em constante transformação, gerada pelo seu crescimento
7
,
existem diversos estudos que apontam conceitos de turismo que se diferenciam de
acordo com o enfoque e do estudioso da área. É importante apresentar alguns
desses conceitos que se integram à proposta da pesquisa, que trata o turismo como
um fenômeno capaz de provocar transformações na sociedade em que se insere.
Para Oliveira (2000, p. 32):
Denomina-se turismo o conjunto de resultados de caráter econômico,
financeiro, político, social e cultural, produzidos numa localidade,
decorrentes da presença temporária de pessoas que se deslocam de seu
local habitual de residência para outros, de forma espontânea e sem fins
lucrativos.
Percebe-se aqui o conceito vinculado ao movimento de pessoas e às
relações que elas geram no novo espaço que as acolhe. Complementando, o
caráter de pensar o turismo como uma atividade presente em roteiros que foram
7
Segundo pesquisa da Organização Mundial do Turismo OMT, o turismo mundial cresceu
significativamente entre os anos de 2001 e 2005. O movimento de turistas no mundo em 2001 foi de
688,5 milhões de pessoas, passando para 808,4 milhões, no ano de 2005. Disponível em:
<http://www.unto.org/index.php>. Acesso em: 12 de dez. 2009, às 18h.
20
previamente escolhidos pelos visitantes, envolvendo diversos fatores, como pode ser
visto na afirmação de Beni (2001, p. 37), que diz que tem conceituado turismo como:
Um elaborado e complexo processo de decisão sobre o que visitar, onde,
como e a que preço. Nesse processo intervêm inúmeros fatores de
realização pessoal e social, de natureza motivacional, econômica, cultural,
ecológica e científica que ditam a escolha dos destinos, a permanência, os
meios de transporte e o alojamento, bem como o objetivo da viagem em si
para a fruição tanto material como subjetiva dos conteúdos de sonhos,
desejos, de imaginação projetiva, de enriquecimento existencial histórico-
humanístico, profissional, e de expansão de negócios. Esse consumo é feito
por meio de roteiros interativos espontâneos ou dirigidos, compreendendo a
compra de bens e serviços da oferta original e diferencial das atrações e
dos equipamentos a ela agregados em mercados globais com produtos de
qualidade e competitivos.
Ruschmann (2002), por sua vez, destaca o fato de que, atualmente, o
turismo tem múltiplas formas. A motivação para que as pessoas realizem a atividade
turística é um dos principais fatores que determina o tipo de turismo a ser realizado.
Segundo a autora:
O turismo da atualidade apresenta-se sob as mais variadas formas. Uma
viagem pode estender-se de alguns quilômetros até milhares deles,
incluindo um ou vários tipos de transporte e estadas de alguns dias,
semanas ou meses nos mais diversos tipos de alojamento, em uma ou mais
localidades. A experiência da viagem envolve a recreação ativa ou passiva,
conferências e reuniões, passeios ou negócios, nas quais o turista utiliza
uma variedade de equipamentos e serviços criados para seu uso e para a
satisfação de suas necessidades (RUSCHMANN, 2002, p. 14).
Nota-se que até agora não se falou em paisagens espetaculares, mas no
tipo de experiência que pode ser provocada pelo Turismo e, nesse caso, por meio
de quem recebe os visitantes. Aqui é importante destacar o que se entende por
turismo receptivo. Beni (2001, p. 434) traz o conceito de turismo receptivo como “um
conjunto de turistas estrangeiros ou nacionais que aflui a uma determinada área
geográfica receptora para ali permanecer por um tempo limitado”. Denker (1998)
acrescenta o fator hospitalidade, quando indica que os moradores locais devem ser
acolhedores e prestativos. A autora complementa essa questão ao indicar
responsabilidades do poder público. Para ela:
21
O desenvolvimento da hospitalidade e o incremento do turismo receptivo é
uma questão de tempos de maturação diante das potencialidades
existentes. Esse potencial poderá ser altamente beneficiado por uma
Política Estadual de Turismo que incentive o município a desenvolver
políticas próprias de desenvolvimento turístico, voltadas para uma
abordagem regional (DENKER, 1998, p. 52).
Conforme visto, cabe ao poder público, ao município, nesse caso,
oportunizar ações que desencadeiem a formação de uma comunidade que queira e
possa receber bem o visitante. A receptividade, entretanto, ocorrerá se houver
algo a oferecer, o que se entende como atrativo.
O conceito de atrativo estabelece-se de uma forma subjetiva, de acordo com
os interesses dos visitantes, ou seja, o que é interessante para uma pessoa pode
não ser para a outra. O mesmo pode acontecer com a comunidade local, que,
muitas vezes, não vê atratividade em paisagens do seu cotidiano, mas elas chamam
a atenção dos visitantes, conforme Ignarra (2003). Percebe-se aí, mais uma vez, a
questão das motivações das viagens, que podem determinar a atratividade de um
determinado local. Ignarra (2003) completa dizendo que o atrativo turístico possui
maior valor quando seu caráter diferencial for mais acentuado.
Os atrativos podem ser classificados como natural ou proveniente da
atividade humana. A união desses elementos forma o produto turístico, de acordo
com Oliveira (2002). Para Ruschmann (1999), a soma desses atrativos constitui-se
na oferta turística de uma determinada localidade. Por outro lado, de nada adianta
ter os atrativos se não houver infraestrutura adequada para receber os visitantes.
Oliveira (2005) destaca essa questão quando entende que a infraestrutura é
formada pelos equipamentos e serviços turísticos, que o autor define como:
O conjunto de edificações, instalações e serviços indispensáveis ao
desenvolvimento da atividade turística; são construídos pelos meios de
hospedagem, alimentação, entretenimento, agenciamento, informações e
outros serviços voltados para o atendimento aos turistas (OLIVEIRA, 2005,
p. 67).
De acordo com Cruz (2002), a atratividade também pode ser vista pelas
práticas sociais dos moradores da localidade e, nesse aspecto, deve-se levar em
conta questões referentes à sustentabilidade da atividade turística, que demanda de
um planejamento adequado que satisfaça as necessidades de quem usufrui e dos
que exploram a atividade, porém, sem comprometer as futuras gerações com
22
degradação ambiental, conforme Swarbrooke (2000) e não interferir em processos
de aculturação das comunidades.
Fazer turismo remete a pensar também em cidades que tenham
acessibilidade para tal. Cidades acessíveis
8
recebem mais visitantes e oportunizam
melhorias na qualidade de vida de seus moradores.
Consoante Molina (2004), que destaca a formação de um novo turismo, o
pós-turismo, destaca o desenvolvimento do conhecimento científico no turismo, a fim
de atender diversas demandas. Para o autor:
Como uma consequência lógica, a tecnologia desempenhará um papel
decisivo como pivô da reengenharia de processos e das inovações nos
produtos/serviços, além de assumir uma função estratégica em tudo o que
for relativo à forma e às táticas para fazê-los chegar aos clientes potenciais.
Estas tecnologias convergem para configurar ofertas comerciais.
Particularizam-se por sua capacidade simbiótica tanto com o ambiente
natural como com o ser humano (MOLINA, 2004, p. 46).
Analisando essas informações acerca do fenômeno turismo, percebe-se a
importância de estudá-lo como forma de inclusão social no que diz respeito às
melhorias de infraestrutura nas cidades e à participação comunitária na consolidação
de propostas que possam fomentar uma política de turismo. O
Ministério do Turismo
identifica esse tipo de turismo como sendo de base local. Segundo Silva et al.:
Este tipo de organização e oferta do produto turístico possui elementos
comuns como a busca da construção de um modelo alternativo de
desenvolvimento turístico baseado na autogestão, no
associativismo/cooperativismo, na valorização da cultural local e,
principalmente, no protagonismo das comunidades locais, visando à
apropriação, por parte destas, dos benefícios advindos do desenvolvimento
do setor (SILVA et al, in BARTHOLO; SANSOLO; BURSZTYN, 2009).
O estudo em questão pretende destacar os aspectos ligados à participação
da comunidade na definição de espaços e atividades que possam ser explorados
turisticamente. Entretanto, cabe aqui refletir não sobre a paisagem e o turismo,
pensando no espaço geográfico brasileiro, um país rico em natureza, que não
necessita de muitos artifícios para se vender, pois as belezas naturais chamam
atenção por si só, mas também na forma de desenvolver turisticamente regiões onde
a natureza não foi tão generosa, de cidades, que, muitas vezes, fazem parte de uma
8
A acessibilidade vista como arquitetônica, no que diz respeito ao mobiliário urbano.
23
urbanização sem planejamento, que destrói a paisagem e desqualifica o prazer de
viver nelas. Yázigi (2002, p. 12), destaca essa questão, quando diz que:
Carecemos de uma política urbana consciente e coerente, na qual tanto
turismo e cultura como preservação natural sejam indicadores corriqueiros
de peso, compatíveis com a ideia de desenvolvimento. Ignorando a inserção
desses valores espaciais como variáveis obrigatoriamente conectadas ao
resto do planejamento, os planejadores acabam por desqualificar o território.
De acordo com Ruschmann (2002), a política de desenvolvimento deve levar
em consideração o planejamento turístico, para, através de ações que se articulem a
outras propostas, oportunizar o desenvolvimento sustentável, sem descaracterizar
comunidades.
Outro aspecto a ser discutido perpassa pelas paisagens periféricas, que não
fazem parte da cidade vendável, são locais dificilmente percorridos, a não ser por
pura curiosidade. Busca-se saber como as pessoas vivem, mas não se pretende
viver lá. Um exemplo disso podem ser os tours
9
nas favelas do Rio de Janeiro, que
atraem diversos turistas, que, em um misto de aventura e curiosidade, descobrem
novas formas de viver em espaços tão diferentes daqueles habitados por eles.
Existe a situação contrária também. Pessoas com menores condições econômicas
gostariam de saber como os que possuem mais posses vivem. Um exemplo podem
ser os condomínios de luxo, que permitem acesso aos seus pares. que para
esses ainda não há um tour que permita uma visão tão detalhada.
Sobre a criação desses simulacros, em um mundo à parte, Yázigi (2002, p.
13) comenta que,
Hoje em dia, entretanto, devido ao dinamismo acelerado dos fatos históricos
- entre os quais tecnologia, o crescimento demográfico, o sistema
econômico, a miséria e as incertezas decorrentes - essa relação virtual com
a paisagem torna-se instável e frágil, limitando nossa aptidão em defini-las
como fator positivo para o engrandecimento da alma. Do ponto de vista
prático, quase que apenas as paisagens artificiais, definidas e convenientes
para o turismo ou os condomínios fechados que o capital quer conseguem
se impor com pré-determinação. O resto do território permanece como
resto.
Outra reflexão sobre esse tema é feita pelo sociólogo Zigmunt Bauman
(2003b), que apresenta ideias sobre condição humana e individualismo. O autor
retrata o mundo moderno, relatando situações em que o medo contamina os
9
A favela da Rocinha no Rio de Janeiro tem um roteiro turístico muito procurado por turistas
estrangeiros e possui agências de viagens especializadas em oferecer esse tipo de serviço.
24
indivíduos nas cidades, os locais onde se aterram todos os dilemas e as
contradições geradas em nível mundial. Essas cidades ambíguas, ao mesmo tempo
em que se tornam tão atrativas às pessoas, transformam-se em espaços de
segregação, repelindo muitos de seus moradores. Percebe-se a destruição de
espaços de lazer que podem ser vistos como espaços turísticos que atraem
visitantes e podem qualificar a vida de seus moradores, na medida em que
expressam a cultura e a identidade do lugar e, além disso, deveriam ser espaços de
convívio.
Convém lembrar novamente que a acessibilidade deve ser vista como
equiparação de oportunidades, proporcionando o acesso democrático ao espaço
urbano. A defesa da qualidade de vida e a integração social são aspectos essenciais
para uma sociedade democrática que se apoia em políticas de inclusão de forma
participativa e em igualdade de oportunidades. Adquirir uma consciência de
inclusão, derrubando barreiras de preconceitos é tarefa árdua, mas que deve ser
iniciada. Deve-se pensar que, em um dado momento da vida, as questões
relacionadas à acessibilidade vão ser utilizadas por todos, seja na terceira idade,
durante uma gestação, ou mesmo conduzindo um carrinho de bebê. É importante
pensar aqui na acessibilidade em decorrência natural da vida e, dessa mesma
forma, pensar em turismo como catalisador de oportunidades para as pessoas, no
momento em que é visto como prática social, segundo Moesch (2002). O turismo é
aqui entendido como uma possibilidade de acesso ao lazer, e o lazer, como, um
direito social garantido pela Constituição Brasileira de 1988
10
e imbuído de qualidade
de vida e como promoção da saúde. Assim, apresenta-se um novo paradigma, na
medida em que turismo e lazer oportunizam olhar para os excluídos e procuram
oferecer igualdade de oportunidades.
Para compreender melhor a participação dos autóctones na composição do
turismo brasileiro, é importante percorrer os caminhos da Inclusão Social no Brasil e
da Política Nacional de Turismo.
10
A Carta política promulgada em 1988 elevou o turismo ao plano maior do ordenamento jurídico
brasileiro, ao prever, em seu artigo 180, que A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
promoverão e incentivarão o turismo como fator de desenvolvimento social e econômico. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em: 07 de
mar. 2009, às 17h.
25
1.2 POLÍTICAS DE TURISMO NO BRASIL E A INCLUSÃO SOCIAL
No momento em que se discute a Inclusão Social no país, cabe destacar a
trajetória das políticas públicas de Turismo. A discussão acerca do Turismo no Brasil
por parte dos governos pode ser considerada recente, principalmente, levando-se
em conta a trajetória política que o Turismo vem percorrendo ao longo dos anos.
Percebe-se que a história das políticas públicas no Brasil está fortemente ligada às
questões das políticas setoriais, que, na sua maioria, são pouco articuladas com os
setores da sociedade brasileira, sejam eles econômicos, territoriais ou com vistas à
urbanização, mas, principalmente, conforme Cruz (2002), faltam estratégias para
pensar em soluções que possam minimizar problemas sociais.
Quando iniciou, por volta de 1930, a industrialização no país, surgiu uma
classe operária que realizou as primeiras articulações de sucesso com um governo
no sentido de pensar na criação de benefícios fiscais para os trabalhadores. Deu-se
início, assim, à urbanização no país, que evolui de forma lenta, ocorrendo, de fato,
em apenas algumas capitais, com destaque para Rio de Janeiro e o Paulo, de
acordo com Carvalho (2002). Na década de trinta, o movimento operário fortalecido,
buscou direitos considerados básicos para a classe. Sobre essas reivindicações da
classe operária, Carvalho (2002, p. 57) comenta que:
O movimento lutava por direitos básicos, como de organizar-se, de
manifestar-se, escolher o trabalho, de fazer greve. Os operários lutaram
também por uma legislação trabalhista que regulasse o horário de trabalho,
o descanso semanal, as férias, e por direitos sociais, como o seguro de
trabalho e aposentadoria.
Segundo Carvalho (2002), o governo Vargas constituiu-se, a priori, em um
grande aliado dos trabalhadores, principalmente quando, em 1930, criou o Ministério
do Trabalho, Indústria e Comércio, voltado às questões de trabalho e legislação
social. Nesse momento, o trabalhador esboçou os primeiros indícios de ter a
possibilidade de desfrutar da indústria do lazer. É importante destacar aqui as
conquistas do período:
26
Entre 1933 e 1934, o direito de férias foi regulamentado de maneira efetiva
para comerciários, bancários e industriários. A Constituição de 1934
consagrou a competência do governo para regular as relações de trabalho,
confirmou a jornada de oito horas e determinou a criação de um salário
mínimo capaz de atender às necessidades de vida de um trabalhador chefe
de família (CARVALHO, 2002, p. 113).
Importa destacar também que, nesse período, ainda segundo o mesmo
autor, houve a regularização do trabalho feminino e a proibição das mulheres de
trabalharem à noite.
Foi nessa nova perspectiva que o brasileiro viu a possibilidade de usufruir o
Turismo enquanto atividade de lazer. Conforme Cavalcanti e Hora (2002, p. 55),
“nesse período de entre guerras o mundo se beneficiava das vantagens do
automóvel, das férias remuneradas, o que permitia que as classes trabalhadoras
começassem a viajar”. À medida que os trabalhadores começaram a ter direito a
férias remuneradas, aumentou a valorização do lazer e sua aproximação com a
atividade turística. Consoante Vaz (1999), foi a partir daí que as associações de
trabalhadores começaram a desenvolver um tipo de turismo mais acessível, não
visando ao lucro. Nesse contexto, iniciaram as primeiras manifestações daquilo que
pode ser chamado de turismo social, um tipo de turismo praticado por trabalhadores
que não tinham como custear suas despesas de lazer isoladamente, mas por meio
de uma intervenção social, conforme Goeldner et. al. (2002). Muitas dessas viagens
ocorriam nas chamadas “colônias de férias”. Andrade (1999, p. 83) comenta essa
questão, destacando o turismo social como:
Forma especial de viagem, hospedagem, alimentação, serviços e lazer
organizada para pessoas de camadas sociais cujas rendas, sem a ajuda de
terceiros, não lhes permitiriam a programação (...) normalmente, se realiza
em colônias de férias de associações, de entidades de classe ou de
empresas e ou em albergues e hospedarias específicas, que funcionam
subsidiadas por recursos governamentais ou de fundos especiais.
Apesar das mudanças significativas da época, percebe-se que a proposta
social do novo Estado o contemplava todos os trabalhadores. Em questões
relacionadas à aposentadoria, um grande grupo era excluído dos chamados
benefícios. Segundo Carvalho (2002, p. 115), tratava-se,
27
De uma concepção da política social como privilégio e não como direito. Se
ela fosse concebida como direito, devia beneficiar a todos e da mesma
maneira. Do modo como foram introduzidos, os benefícios atingiam aqueles
a quem o governo decidia favorecer, de modo particular aqueles que se
enquadravam na estrutura sindical corporativa montada pelo Estado.
Na época, poucos podiam se beneficiar de uma aposentadoria que
permitisse qualidade de vida, fato que vem sendo observado ainda nos dias atuais.
Apesar dos idosos estarem mais conscientes de que desenvolver atividades que
elevem sua autoestima buscando novos interesses é uma forma de melhorar a
qualidade vida, conforme Souza et. al. (2006), nem todos têm essa oportunidade.
Em 1950, iniciou a preocupação governamental com o Turismo. Ao mesmo
tempo em que o processo de urbanização no país foi acelerando, o Turismo foi
tomando forma e demonstrando sua importância também pelo caráter de fonte
geradora de renda e de empregos. Cidades como Rio de Janeiro, pela sua
característica portuária, Belo Horizonte, Recife e Salvador criaram órgãos municipais
de Turismo. No ano de 1958, o governo do presidente Juscelino Kubitschek
implantou um órgão que pretendia planejar o turismo no país. Assim, de acordo com
Cavalcanti e Hora (2002), foi instituída a COMBRATUR Comissão Brasileira de
Turismo
11
. A partir da criação da COMBRATUR, a atividade turística iniciou uma
jornada de busca de identidade no país entre os novos departamentos criados, mas,
posteriormente, extintos. Ela passou por vários Ministérios, dentre eles Turismo e
Certames, Indústria e Comércio, e até mesmo o gabinete da Presidência da
República, consoante Cruz (2002).
Segundo Cavalcanti e Hora (2002), ao mesmo tempo em que a atividade
turística não cria uma identidade em um país cheio de contrastes e rico em atrativos
naturais, o Turismo vê-se em meio às disparidades sociais, a uma série de
“contradições socioeconômicas deixadas por governos desenvolvimentistas”. A partir
do golpe de 1964, as relações entre Estado e sociedade passaram por
modificações. Face à modernização do Estado brasileiro, imposta pelo regime
militar, aumentou a hierarquização e a centralização, conforme Cavalcanti e Hora
(2002). A política de centralização adotada na época propunha integrar o país
regionalmente, principalmente os estados do Nordeste brasileiro. E foi, nesse
11
A COMBRATUR apresentou uma concepção mais ordenada para o turismo, pois não possuía
apenas a função de órgão fiscalizador e controlador do turismo. Parece ser o início de uma nova
etapa na consolidação das políticas públicas, porém, no ano de 1962, ela foi extinta
(CAVALCANTI; HORA, 2002).
28
momento, em que houve interesse voltado ao desenvolvimento capitalista, que, de
acordo com Cruz (2002), se ampliou a malha rodoviária do país. Houve também um
aumento da indústria automobilística e da construção civil, que, por um lado,
incrementou as rodovias e toda infraestrutura que impulsionou a atividade turística,
por outro, levou à destruição viária de um país rico em estradas de ferro, belezas
naturais e patrimoniais que, destruídas, perderam seu valor.
Para Silva (2003), o crescimento urbano, a reação do meio ambiente frente à
industrialização, a poluição e as grandes obras de impacto na vida das pessoas e na
arquitetura são considerados ameaças à conservação dos bens culturais. O autor
enfatiza a responsabilidade do Estado nessa questão: “o patrimônio cultural da
humanidade é um elemento do patrimônio comum da humanidade, embora a gestão
de seus bens seja diferenciada porque submetida à soberania estatal” (SILVA, 2003,
p. 173).
1.2.1 Da Embratur ao primeiro Ministério
No ano de 1966, foi instituída a EMBRATUR Empresa Brasileira de
Turismo com o objetivo de fomentar o turismo no país através de estímulos fiscais
e financeiros. Foi criado, posteriormente, o FUNGETUR
12
, fundo para captar
recursos e financiar empreendimentos nacionais e internacionais na área do turismo
no país (Ministério de Turismo, 2003). No momento em que se criou a EMBRATUR,
a política de turismo da época apareceu voltada aos serviços e às iniciativas
privadas ou públicas ligados à atividade, evidenciando mais uma vez o caráter de
país desenvolvimentista, buscando soluções imediatas para seus problemas,
descuidando-se novamente das questões sociais (EMBRATUR, 1987).
12
Apesar de ter sido criado em 1966, o FUNGETUR foi instituído em 1971. Destinava-se a fomentar e
promover recursos para o financiamento de obras, serviços e atividades turísticas consideradas de
interesse para o desenvolvimento do turismo nacional, segundo Cruz (2002).
29
A partir de 1973
13
, observa-se, na tentativa de construção da política pública
no país, o aprofundamento de diferenças regionais, quando os planos de governo da
época beneficiaram algumas regiões em detrimento de outras. A prática do turismo
acabou contribuindo, nesse momento, para a exclusão, quando, para uma parcela
da população, não se permitiu o acesso aos frutos do crescimento dentro do país.
Ou seja, o direito de viajar, pertence a poucos.
Posteriormente, foram criadas zonas prioritárias para o desenvolvimento
turístico no Brasil. Após onze anos da criação da EMBRATUR, publicou-se um
documento intitulado Política Nacional de Turismo, contemplando áreas de
preservação turística. Ao fim da era militar, percebe-se o aumento da crise externa e
a economia apresenta sinais de debilidade econômica. O crescimento do país
passou a depender da entrada de capital estrangeiro. Assim, grandes grupos
internacionais entraram no país, principalmente as redes hoteleiras e com estímulos
fiscais atraentes.
A primeira proposta de possibilitar acesso a outras camadas da população
viajar apareceu em 1982, quando a EMBRATUR firmou parceria com o Ministério do
Trabalho, realizando convênios com Sindicatos para oferecer pacotes mais baratos
em baixa temporada. Não há dados claros de como ocorreu esse processo, visto
que, no mesmo período, houve um incentivo no fortalecimento da imagem externa
do país, propondo ações para promover o turismo emissivo – cujo objetivo era
melhorar a imagem do país no exterior, levando uns poucos brasileiros a viajarem
para a Europa com tarifas mais baratas.
Conforme se observa, até o momento, as ações para o fortalecimento do
Turismo interno foram incipientes, os beneficiados foram os mais favorecidos
economicamente, enquanto uma parcela da população continuava à margem da
expectativa de poder viajar.
No período entre 1985 e 1986, durante o governo do então presidente José
Sarney, foram criados os albergues no país, buscando incentivar o turismo entre
estudantes, oportunizando hospedagem de baixo custo. Em 1987, a EMBRATUR
buscou medidas para garantir o direito de cidadania aos portadores de necessidades
13
No ano de 1973, o presidente do Brasil era o General Garrastazu Médici. Como avanço social da
época, houve o acréscimo de duas categorias de trabalhadores à previdência social: os autônomos e
as empregadas domésticas, conforme Carvalho (2002).
30
especiais
14
, regulamentando acessos em meios de hospedagem (MINISTÉRIO DE
TURISMO, 2003).
No final dos anos 80, acentuou-se a crise no Estado. A economia mundial
iniciou o processo de globalização. Para Cavalcanti e Hora (2002, p. 62), “o homem
trabalhador, produtor, perde lugar para o homem consumidor”, que se encontra na
sua maioria nos países ricos. A globalização, nos países subdesenvolvidos,
conforme Bauman (2003), com a criação do livre comércio e da livre circulação
financeira, acabou aumentando as distâncias ao invés de diminuí-las. E o turismo,
arraigado em uma tendência capitalista, partiu da mesma premissa, buscando
participação no competitivo mercado internacional, sem sucesso.
No governo Collor, em 1991, alterou-se a denominação jurídica da
EMBRATUR, que passou de empresa a Instituto, virando uma autarquia especial da
Secretaria de Desenvolvimento Regional da Presidência da República. Mais uma
vez pensou-se no turismo como fonte de geração de renda e divisas para o país,
consoante Cavalcanti e Hora (2002). Quanto a questões de ordem social, o discurso
da Embratur foi de reduzir as disparidades sociais e econômicas regionais por meio
da oferta de empregos e da melhor distribuição de renda. Aliado a nova proposta do
Instituto, elaborou-se mais um Planejamento: o PLANTUR – Plano Nacional de
Turismo que buscava o fortalecimento do Turismo Interno e a formação de
recursos humanos. Segundo Cruz (2002), em um primeiro momento, o plano não
saiu do papel, em virtude de ter sido criado antes da política para a área ser
instituída.
Mais uma vez, propôs-se a continuidade de uma Política de Turismo, dessa
vez no governo do presidente Itamar Franco, que, no final de seu mandato, lançou
dois programas, um voltado ao Ecoturismo e outro, à municipalização do Turismo, o
PNMT Programa Nacional de Municipalização do Turismo. Pela primeira vez um
programa buscou de fato a participação dos autóctones na consolidação de
programas de turismo com base nas comunidades receptoras. O programa
evidenciou a participação de setores informais da sociedade e incentivava a
produção cultural dos municípios brasileiros voltados ao artesanato local.
14
Em dezembro de 2008, terminou o prazo estabelecido pelo decreto no. 5.296 de 02/12/2004 para as
empresas e o comércio adaptarem-se e permitirem a acessibilidade de pessoas com deficiência ou
com mobilidade reduzida. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 07 de mar. 2009,
às 20h.
31
No segundo governo de Fernando Henrique Cardoso, 1999, novamente
a busca pelo posicionamento estratégico internacional do Turismo. O presidente,
conhecido por suas viagens internacionais, incentivou, novamente, a promoção da
imagem do país no exterior.
Em 2003, após sucessivas solicitações de entidades, empresas e órgãos
vinculados ao Turismo, o novo governo, do presidente Luís Inácio da Silva, criou o
Ministério do Turismo. O Ministério surgiu com uma proposta de consolidação de
uma Política de Turismo que tinha feito parte da proposta eleitoral do presidente.
Pela primeira vez foi concedida uma pasta própria à atividade turística, permitindo
ações e estratégias de desenvolvimento dentro de um Ministério designado a
desenvolver o turismo no governo brasileiro. O novo Ministério, no início de sua
gestão, apresentou um documento intitulado Plano Nacional do Turismo para o
período de 2003 a 2007, cujas propostas estavam vinculadas a sete
Macroprogramas, que buscavam o desenvolvimento do turismo no setor econômico,
atraindo investimentos e financiamentos; na gestão e nas relações internacionais,
realizando articulações entre o setor público e privado; na infraestrutura; na
diversificação de produtos; na qualidade do produto turístico brasileiro; na
comercialização; e na disseminação das informações turísticas.
O novo Ministério conta com a infraestrutura de secretarias. A Secretaria de
Políticas de Turismo é a responsável pelo planejamento do Turismo. A EMBRATUR
recebeu outras funções. Ela passou a cuidar da imagem externa do turismo,
instituindo escritórios de Turismo do Brasil em capitais internacionais. Além disso,
participa de eventos internacionais, divulgando a marca Brasil.
No âmbito social, o plano surgiu como proposta de criação de novos
empregos, redução das desigualdades regionais e distribuição melhor da renda
(PNT, 2003-2007). O plano também apresenta o interesse da participação das
comunidades locais nesse novo processo de inclusão, seja como agente que
promove o turismo na sua localidade ou como viajante que tem o acesso ao lazer.
Percebem-se os primeiros esboços de uma participação comunitária do
cidadão brasileiro na proposta de um Plano com Políticas de Turismo, mas houve
ainda pouca realização de fato. Com a reeleição do Presidente Lula, o Ministério do
Turismo teve continuidade e algumas das políticas apresentadas no primeiro plano
foram reformuladas. O novo Plano Nacional de Turismo 2007-2010 apresenta ações
mais pontuais no que se refere às questões da inclusão social pelo turismo.
32
1.2.2 Uma viagem de Inclusão
O novo plano, intitulado Plano Nacional de Turismo, uma viagem de
inclusão, tem como prioridades em seu discurso a distribuição de renda, por meio da
geração de novos empregos, e a oportunidade de inclusão de brasileiros no
mercado de trabalho e também como participantes ativos do turismo enquanto
consumidores. Nas diretrizes para o desenvolvimento do Turismo, o governo
enfatiza que,
O Turismo deve construir caminhos para que possa ser, efetivamente, um
direito de todos, independente da condição social, política, religiosa, cultural
e sexual, respeitando as diferenças, sob a valorização do ser humano e de
seu ambiente. O Turismo pode ser uma importante ferramenta para o
alcance dos objetivos de desenvolvimento do milênio, particularmente com
relação à erradicação da extrema pobreza e da fome (PNT, 2007-2010, p.
15).
Levando em consideração que a maioria das ações isoladas propostas pelos
governos anteriores foram propostas inacabadas, incentivando determinados setores
da prestação de serviços turísticos ou ações que contemplassem a imagem do Brasil
no exterior, esse plano avança nas questões sociais, principalmente ao se observar
a importância que tenta se dar ao brasileiro e a seu direito enquanto cidadão que
possa viajar.
Sob a visão de reduzir desigualdades sociais e regionais, o novo Plano
Nacional do Turismo reforça a proposta anterior com um dos seus objetivos gerais,
que é “promover o turismo como um fator de inclusão social, por meio da geração de
trabalho e renda e pela inclusão da atividade na pauta de consumo de todos os
brasileiros” (PNT, 2007-2010, p. 16). O apelo ao direito do cidadão viajar vem ao
encontro de algumas das propostas de governo, quando instituiu, em 2007, o Viaja
Mais Melhor Idade
15
, oportunizando descontos em pacotes turísticos e em diárias de
hotéis credenciados pelo Ministério para pessoas com mais de 60 anos, pensionistas
e aposentados.
15
O Viaja Mais Melhor Idade faz parte do projeto VAI BRASIL, criado pelo Ministério do Turismo, em
parceria com a Associação Brasileira das Operadoras de Turismo - BRAZTOA e a Associação
Brasileira das Agências de Viagem ABAV. Objetiva fomentar a comercialização de pacotes
turísticos em períodos de baixa ocupação nos diversos destinos do Brasil. Disponível em:
<http://www.vaibrasil.com.br>. Acesso em 14 de mar. 2009, às 16h.
33
Tratando especificamente de políticas de turismo na inclusão social,
percebe-se que ainda faltam muitas propostas no atual plano, em que, mesmo
sendo nomeado “Uma viagem de Inclusão”, se identificam ões isoladas, que vêm
ao encontro do plano de governo, mas não necessariamente a questões específicas
de um planejamento voltado para a área. Cruz (2002, p. 40) enfatiza esse aspecto
das políticas estarem voltadas aos planos de governo quando diz que “toda diretriz
ou estratégia instituída pelo poder público com o objetivo exposto, comporá, com o
conjunto de medidas estabelecidas com a mesma finalidade, a política
governamental em questão”. As ações do turismo estão permeadas pelo plano de
governo e a sua política específica para o desenvolvimento do setor ainda não é
clara, visto que são poucas ações isoladas para promover de fato o turismo no
Brasil. Paiva (1995) leva em conta as dificuldades dos países subdesenvolvidos
desenvolverem o turismo em decorrência do mesmo não ser pauta das principais
discussões políticas. Segundo a autora,
É evidente que em países subdesenvolvidos encontram-se muitos
obstáculos à exploração do turismo decorrentes das próprias condições
estruturais, quais sejam: relação de produções arcaicas, desigualdades na
distribuição de renda restringindo o mercado interno, dependência
financeira e tecnológica em relação aos países ricos e consequente
integração fragilizada na ordem econômica capitalista internacional. A
disponibilidade para investimentos é escassa e restrições na própria
infraestrutura urbana local saneamento básico, acessos, comunicações e
telecomunicações... o turismo nestes países ainda simboliza o supérfluo
(PAIVA, 1995, p. 31).
Ainda sobre o Plano Nacional 2007-2010, vale ressaltar a responsabilidade
que o Estado Brasileiro dá à atividade, quando indica que, através do turismo,
podem-se erradicar a pobreza extrema e a fome, além de reduzir a violência. Criam-
se, entretanto, segundo Molina, (2004), expectativas para as comunidades locais,
que não encontraram benefícios no modelo turístico industrial para o seu
desenvolvimento social. Percebe-se a necessidade de fomentar ações que venham
ao encontro das necessidades reais e até mesmo de sobrevivência das
comunidades.
Seguindo o que está descrito no plano, identifica-se que o governo coloca-se
na obrigatoriedade de consolidar a atividade em um trabalho conjunto e para os
brasileiros. E o caráter de gerador de empregos e renda deve ser repensado,
principalmente no sentido de que os capacitados profissionalmente ou com melhores
34
condições terão acesso aos novos postos de trabalho, ao passo que aqueles em
situação de vulnerabilidade social passam a configurar-se cada vez mais como
excluídos desse processo. Nesse sentido, Molina (2004) aborda o papel que as
comunidades esperam do novo turismo. Para ele:
As comunidades que esperam do turismo não apenas uma possibilidade de
emprego, mas também a oportunidade de participar das decisões sobre o
tipo de turismo que desejam e o tipo de turistas com os quais estão
dispostos a compartilhar seu próprio espaço (MOLINA, 2004, p. 34).
É interessante destacar que a noção de comunidade vem se modificando.
Pessoas que se encontravam para discutir assuntos variados ou buscar soluções
para problemas hoje têm a possibilidade de fazê-lo de uma forma diferenciada. A
forma de concepção das novas comunidades -se em um novo paradigma de
desterritorialidade. Essa abordagem será vista no próximo capítulo.
A capacidade de provocar transformações na sociedade, nas perspectivas
econômica, social, cultural e ambiental, faz do Turismo um fenômeno que vem se
destacando nos últimos anos. Assim, a renovação das localidades, através da
participação comunitária, decidindo sobre o desenvolvimento local é uma
característica que coloca o turismo como objeto de estudo que se articula com
diversos segmentos da sociedade.
A Inclusão Social nas políticas públicas em turismo é um tema novo a se
discutir. Importa destacar aqui que houve avanços na discussão sobre o assunto no
Brasil, mas que muito deve ser feito e que os governos devem preocupar-se em
colocar o ser humano como fator decisivo na consolidação das diretrizes que
compõe uma política pública. O turismo é feito por pessoas e para elas e é dessa
forma que devem caminhar as políticas públicas de inclusão no turismo, permitindo
que os maiores beneficiados, sejam os envolvidos no processo, nesse caso, os
brasileiros.
Vale relembrar que, a partir de direitos estabelecidos para os trabalhadores,
destacando a incorporação das férias remuneradas, o turismo social começou a ser
visto como um incentivador nas questões relacionadas à qualidade de vida,
principalmente quando oportuniza o desencadeamento de ações nas áreas sociais,
culturais e ambientais, ou seja, quando provoca ações que desencadeiem a
35
sustentabilidade do turismo tanto para quem usufrui como para aqueles que
promovem a atividade, conforme Almeida (2005).
Nesse aspecto, destaca-se o papel do Estado, enquanto agente promotor do
turismo social que se une às entidades
16
como agentes executores. A articulação do
governo pode favorecer essa modalidade de turismo, desencadeando dois aspectos
fundamentais no crescimento e na consolidação da atividade turística. De um lado,
realizar o turismo de baixo custo, permitindo que a população tenha experiências de
lazer providas de momentos mais significativos; de outro, ampliando o número de
destinos, fazendo com que as comunidades engajem-se no processo de pensar o
planejamento como uma proposta participativa, que fomente o bem comum.
Dentro desse ponto de vista, Moesch (2002, p.10) complementa dizendo
que,
Compreender o desenvolvimento da atividade turística é relevante não
somente para os produtores do cenário turístico de uma região, mas
também para os agentes sociais envolvidos na sua construção, ao qual
passarão a conhecer melhor a essência do fenômeno, podendo perceber a
sua importância para a sua localidade, criando uma atmosfera de
reconhecimento social, histórico cultural, ecológica, ao qual permitirá uma
ressignificação de sua realidade turística, possibilitando a partir deste
reconhecimento uma relação consistente entre visitantes e visitados.
Esta é uma perspectiva de se pensar em novas políticas públicas que
possam desenvolver o caráter social do turismo e oportunizar que a comunidade
aproprie-se dessa questão, tornando-se agente fomentador desse tipo de atividade.
Ao mesmo tempo, o morador pode redescobrir seu local de moradia e vir a
compartilhar esse espaço com outros moradores de outras localidades.
1.3 AS CIDADES COMO ESPAÇOS DE FLUXOS NA ERA DA INFORMAÇÃO
Levando em consideração os aspectos apresentados anteriormente sobre
Turismo e entendendo sua relação de crescimento vinculada à globalização, que
16
O SESC é um exemplo de entidade que promove o Turismo Social. Oferece viagens com
hospedagem a custos normalmente mais baixos que os da iniciativa privada. Além de oferecer para
seus associados essas viagens, oportuniza que outras classes de trabalhadores também possam
usufruir desses descontos. Disponível em: <www.http://www.sesc.com.br>. Acesso em: 21 de mar.
2009, às 15h.
36
intensifica as relações de troca de bens e serviços, bem como a permutação de
informações e comunicações, o turismo pode ser considerado então como uma das
atividades econômicas mais globalizadas atualmente, conforme Beni (2003). O autor
complementa essa abordagem quando indica que o Turismo enquanto economia
globalizada é superado pela área de serviços financeiros. Essa realidade é
proveniente essencialmente do,
[...] aumento da liberação do comércio mundial, incorporação de novas
tecnologias como a informática e as telecomunicações, integração
horizontal e vertical das empresas de turismo, difusão territorial do consumo
e flexibilização do trabalho nos diversos setores produtivos, incluindo o
próprio setor de turismo (BENI, 2003, p. 19).
Dito isso, percebe-se o turismo como uma atividade extremamente lucrativa,
embora não deva ser caracterizado apenas em função de sua importância
econômica, mas como um fenômeno “com base cultural, herança histórica, meio
ambiente diverso, cartografia natural, relações sociais de hospitalidade e troca de
informações interculturais”, segundo Moesch et al. (2001, p. 20). Assim, o turismo é
tratado aqui como um processo sociocultural que gera diversas consequências nas
localidades onde é desenvolvido.
Dessa forma, para que haja o desenvolvimento da atividade turística, é
necessário que os responsáveis pelo planejamento turístico
17
tenham em mãos
instrumentos para articular esse conhecimento, o que vem ao encontro do escopo
desse trabalho, que sugere o uso das TICs como ferramentas colaborativas na
construção de uma comunidade que pense em ações para o desenvolvimento do
Turismo. Aliado a isso, está o fato de o Turismo ser uma atividade multidisciplinar,
necessitando de teorias de outras disciplinas para fortalecer seu entendimento, de
acordo com Denker (1998).
Nesse sentido, importa destacar que as propostas de Inclusão Digital vêm
ganhando espaço no país. São projetos que inserem o uso de computadores em
diversos espaços nas cidades brasileiras. Mas, antes de conhecer um pouco sobre
esses projetos, é importante destacar o que se entende por inclusão digital.
17
Podem ser considerados poder público, os conselhos de desenvolvimento de turismo, associações,
entre outras entidades que buscam fomentar a atividade turística em um determinado município ou
em uma região.
37
A abordagem da inclusão digital, segundo Warschauer (2006), entende que
os projetos devem focalizar as pessoas, para que a tecnologia apresente resultados
significativos. Nesse sentido, o autor complementa que “a capacidade de acessar,
adaptar e criar novo conhecimento por meio de uso da nova tecnologia de
informação e comunicação é decisiva para a inclusão social na época atual”
(WARSCHAUER, 2006, p. 25).
Quanto aos projetos que utilizam a rede de computadores, destacam-se
aqueles que fazem uso do computador para promover a inclusão em programas de
Gestão Pública
18
, como é o caso do Projeto Computadores para a Inclusão, um
programa do governo federal
que visa à oferta de equipamentos de informática
recondicionados, em plenas condições operacionais, para apoiar a disseminação de
telecentros comunitários e a informatização das escolas públicas e bibliotecas.
projetos específicos nos estados brasileiros que merecem destaque, dentre eles,
salienta-se o
Projeto Telecentro Trabalho e Renda. Destaca-se aqui esse projeto
pelo fato do mesmo ser desenvolvido no município de Novo Hamburgo e por
oportunizar o uso da tecnologia como meio para oferecer melhor colocação no
mercado de
trabalho
19
.
Conforme Silveira (2003), no início, os programas de inclusão digital
preocupavam-se com a inserção no mercado de trabalho, incentivando a
profissionalização e capacitação. Cabe salientar que o trabalho desenvolvido em
Novo Hamburgo, nos telecentros, também tem uma abordagem para o Turismo, pois
instituem-se saídas técnicas pela cidade visitando aspectos culturais, que, somados
à tecnologia, vêm novamente ao encontro do pensamento de Silveira (2003),
quando o autor aborda que, posteriormente, os projetos de inclusão avançaram na
discussão, preocupando-se com a formação sociocultural dos jovens, com
orientação informacional e buscando fomentar uma inteligência coletiva. Hoje o foco
reside na ampliação da cidadania, com o direito de interagir e de se comunicar por
meio das redes informacionais, conforme Silveira (2003).
18
Disponível em: <http://www.inclusaodigital.gov.br/inclusao/>. Acesso em 12 de dez. 2009, às 14h.
19
O projeto Trabalho e Renda é uma iniciativa do governo federal. No município de Novo Hamburgo
ocorre em áreas de periferia e no Telecentro localizado na área central da cidade. Este projeto é
realizado pela Prefeitura de Novo Hamburgo, por meio da Secretaria de Desenvolvimento e Turismo.
38
Essas propostas podem adicionar-se ao que Warschauer (2006) chama de
“informática comunitária”, pois utiliza-se a tecnologia para mobilizações sociais. Esse
tipo de informática indicado pelo autor também vem ao encontro da formação do
trabalho cooperativo. Segundo Warschauer (2006),
A informática comunitária parte da perspectiva de que a TIC pode fornecer
um conjunto de recursos e ferramentas que os indivíduos e as comunidades
podem utilizar, inicialmente, para fornecer acesso à administração e ao
processamento das informações, e, depois, para ajudar os indivíduos e as
comunidades a perseguir objetivos relativos ao desenvolvimento econômico
local, a assunto culturais, ativismo cívico e iniciativas baseadas na
comunidade (WARSCHAUER, 2006, p. 220).
É interessante observar que, no estado do Rio Grande do Sul, somente no
projeto Computadores para a Inclusão há, atualmente, 44 entidades beneficiadas
20
.
Cabe destacar mais dois projetos gaúchos, o da cidade de Passo Fundo
21
, que
oferece espaço de conexão para a comunidade gratuitamente em escolas da rede
púbica em horários à noite e em finais de semana, e o caso de Campo Bom
22
, uma
cidade da região do Vale do Rio dos Sinos que investe no virtual, democratizando o
acesso aos seus moradores. Isso está ocorrendo desde outubro de 2009, quando a
prefeitura disponibilizou Internet sem fio no município. Investe-se aqui no avanço da
comunidade, que, em uma cidade virtualizada, tem condições de lutar contra a
exclusão social com oportunidade de participar de debates no espaço blico. Isso
vem ao encontro do que Lemos (2008) aponta como fundamental na virtualização
das cidades: fornecer ferramentas de apropriação social das novas tecnologias.
Além dessas iniciativas, inúmeros municípios brasileiros vêm adotando a
implementação de telecentros em bairros da cidade, incluindo aqueles que estão
em áreas de vulnerabilidade social. Essa é uma forma de difundir o conhecimento
sobre o meio digital, que viabiliza o acesso à informação de modo quase que
ilimitado. Conforme dados do Observatório Nacional de Inclusão Digital
23
, existem
20
Disponível em: <http://www.computadoresparainclusao.gov.br/beneficiados.php#RS>. Acesso em
21 de nov. 2009, às 20h.
21
Disponível em:
<http://www.pmpf.rs.gov.br/pagina_interna.php?t=19&c=1572&p=1&a=2&pm=1198&pc=1198>.
Acesso em 21 de nov. 2009, às 22h.
22
Campo Bom situa-se a 50 Km de Porto Alegre, no Estado do RS. O sistema de “W wireless”, de
Internet sem fio com acesso grátis foi instalado na cidade em outubro de 2009. Para saber mais
acesse: <http://core.campobom.rs.gov.br>. Acesso em: 07 de nov. 2009, às 14h.
23
Disponível em: <http://onid.org.br/portal/>. Acesso em: 14 de dez. 2009, às 19h.
39
5450 telecentros no país, distribuídos em 2269 municípios. Salienta-se que o Brasil
possui 5592 municípios.
Além dos telecentros, as pessoas também encontram possibilidade de
conexão nos laboratórios de informática das escolas, em especial naquelas que são
abertas à comunidade, ou em empreendimentos de iniciativa privada, que oferecem
acesso aos computadores e conexão à internet como um serviço pago ou mesmo
uma gratuidade, complementando os demais serviços que oferecem aos seus
usuários.
Conforme Pesquisa sobre o Uso das Tecnologias da Informação e da
Comunicação no Brasil – TIC Domicílios e TIC Empresas 2008
24
, o acesso à Internet
em locais públicos ou gratuitos ainda é pequeno em vista do que ocorre nos demais
locais. O gráfico a seguir apresenta os dados sobre o acesso individual à Internet.
Figura 2 - Percentual sobre o total de usuários de internet (%)
Fonte: Disponível em: <http://www.cgi.br>. Acesso em: 14 de dez. 2009, às 20h.
Promover o acesso às novas tecnologias aos mais diversos grupos sociais,
vem sendo uma temática muito discutida atualmente. Como exemplo, aparecem os
estudos de Teixeira (2002), que desenvolveu uma pesquisa junto a alunos de uma
Escola Aberta em Passo Fundo, como uma reflexão sobre a democratização do
conhecimento protagonizada pelo uso da Internet. também o projeto
Capilaridade, conforme Gorczevski e Pellanda (2005), desenvolvido por uma equipe
multidisciplinar da Rede-ONG do Mundo do Trabalho. Nesse projeto, a informática
24
Disponível em: <www.cgi.br>. Acesso em: 14 de dez. 2009, às 19h.
40
também atuou como forma de minimizar a exclusão social, por meio de uma
temática voltada à profissionalização de jovens. Teixeira (2010, p.39), ainda propõe
pensar na Inclusão Digital num forma mais ampla:
[...] caracterizando-o como um processo de interação, de construção de
identidade, de ampliação da cultural e de valorização da diversidade para,
desde uma postura de criação de conteúdos próprios e de exercício da
cidadania, possibilitar a quebra do ciclo de produção, consumo e
dependência tecnocultural.
Essas são duas propostas das diversas que vêm sendo feitas e que podem
ser idealizadas perpassando por uma ótica social. O cuidado na concepção das
propostas é justamente a forma com que a informação é utilizada e se de fato é
construída democraticamente. A tecnologia da informação não deve ser usada “para
acelerar o distanciamento entre segmentos sociais na apropriação da riqueza
socialmente produzida”, consoante Silveira (2003, p. 23). É importante oferecer os
computadores, mas com orientação para que se promova de fato a inclusão digital.
Esse aspecto é ressaltado ao se observar os dados apresentados na Pesquisa
sobre uso das Tecnologias da Informação e da Comunicação do Brasil 2008 do
Comitê Gestor da Internet no Brasil
25
.
Conforme Santos (2008, p. 46),
O custo elevado para a posse do computador e da conexão à Internet nos
domicílios e a falta de habilidade com a tecnologia, a exemplo dos anos
anteriores, continuam as principais barreiras para o uso da Internet. O
custo é um impeditivo muito relevante para a maioria dos entrevistados,
seja no que se refere à posse e ao uso dos computadores (75%), bem
como de conexão à Internet (54%). Entretanto, essa não é a principal
barreira para o acesso à Internet, mas sim a falta de habilidade com essas
tecnologias, apontada por 61% dos entrevistados. Essa também foi a
justificativa apresentada por 29% dos entrevistados que nunca utilizaram
computador em seu domicílio. Esses dados mostram que, apesar dos
avanços conquistados nos últimos anos na alfabetização dos brasileiros, a
ainda precária formação de parte dos nossos cidadãos continua um fator
relevante para que eles estejam excluídos desse processo (SANTOS,
2008, p. 46).
A apropriação das TICs pode favorecer os mecanismos que possibilitam
oferecer acesso à informação de modo democrático, ampliando as formas de busca
25
SANTOS, Rogério Santanna. Survey on the use of ICTs in Brazil, 2008. Disponível em:
<www.cetic.br>. Acesso em 14 de dez 2009, às 19h.
41
e favorecendo os usuários dessa ferramenta a optar pelas fontes. Castells (2003, p.
100) comenta essa questão, quando afirma que,
A Internet e a formação de redes sociais tem um potencial extraordinário
para a expressão dos direitos dos cidadãos e a comunicação de valores
humanos. Não poderá substituir a mudança social ou a reforma política.
Porém, ao nivelar relativamente o terreno da manipulação e ao ampliar as
fontes de comunicação, contribui para a democratização. A internet põe as
pessoas numa ágora pública, para expressar suas inquietações e partilhar
suas esperanças.
Pode-se pensar na Internet como uma tecnologia voltada para libertar as
pessoas do domínio das grandes redes de opressão, mas o cuidado aqui é de não
aumentar a exclusão ou deixar os usuários cada vez mais dependentes dos novos
“donos do mundo”. Ter acesso à informação não é o bastante, deve-se oferecer
condições de utilizar os dados como ferramentas para processar informação em
conhecimento e esse mesmo conhecimento em mudanças significativas que
impliquem melhora de qualidade de vida. Na medida em que as pessoas apropriam-
se das informações, têm mais condições de se tornarem participativas nos grupos de
que participam.
42
2 DELINEANDO O OBJETO DE PESQUISA
Neste capítulo, aborda-se o desenvolvimento da pesquisa e os
procedimentos metodológicos que orientam a pesquisa-ação, entendendo que o
Turismo é uma área interdisciplinar que permite diversas abordagens e que as novas
tecnologias da informação podem ser ferramentas potencializadoras para dar voz à
sociedade, favorecendo sua participação em questões que dizem respeito ao seu
local de moradia.
O caráter híbrido tanto do turismo como da informática permitiu a união das
duas áreas do conhecimento em uma proposta voltada à inclusão social. Nessa
perspectiva, o estudo teve como objetivo analisar se a formação de uma rede social
de inclusão digital pode favorecer o fortalecimento do turismo receptivo em Novo
Hamburgo, oportunizando a reflexão e discussão de seus moradores sobre o
potencial turístico de seus bairros.
A pesquisa foi desenvolvida em duas Escolas Municipais de Ensino
Fundamental do município de Novo Hamburgo, que estão envolvidas no projeto
Escola Aberta
26
. Optou-se por essa modalidade de escola, a fim de que a pesquisa
pudesse repercutir além dos muros escolares, oportunizando a participação da
comunidade escolar. As escolas situam-se nos Bairros Vila Nova e Ideal (apêndice A
- mapa de localização). A escolha das escolas deu-se em função de possuírem
laboratórios de informática educativa e acesso à web, ferramenta aglutinadora entre
os saberes a serem construídos nos dois grupos, bem como a disponibilidade da
direção e de professores para integrarem-se ao estudo.
As turmas participantes foram duas quartas séries do Ensino Fundamental
de nove anos
27
, totalizando 51 alunos de uma faixa etária entre 8 e 14 anos, dos
quais 23 pertenciam à Escola A e 28 à Escola B. A escolha dos grupos deu-se em
conjunto com a coordenação das escolas, buscando adequação dos conteúdos a
serem construídos em conjunto nas turmas.
26
Criado por meio de um acordo de cooperação cnica entre o Ministério da Educação (MEC) e a
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), o Programa é
executado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). O Programa Escola
Aberta se propõe a repensar a instituição escolar como espaço alternativo para o desenvolvimento de
atividades de formação, cultura, esporte e lazer para os alunos da Educação Básica das escolas
públicas e suas comunidades nos finais de semana (portal.mec.gov.br/secad). Acesso em: 13 de nov.
2008.
27
Nomenclatura dada em caráter temporário após a reformulação do Ensino Fundamental.
43
A metodologia da pesquisa em questão pressupõe envolvimento
cooperativo entre pesquisadora e participantes, no sentido de definir ações a serem
desenvolvidas no equacionamento do problema de pesquisa. Nesse sentido, o
projeto de pesquisa foi submetido à apreciação do Comitê de Ética do Centro
Universitário Feevale
28
, visto tratar-se de um estudo com seres humanos, no caso,
crianças. Salienta-se que os responsáveis pelos participantes do estudo autorizaram
o uso e a veiculação da imagem na Internet bem como sua participação com
postagens no Blog, (Apêndice A - comitê de ética) e (Apêndice E - autorizações das
escolas).
A pesquisa-ação aconteceu no período de 06 de abril a 14 de dezembro de
2009 e a coleta dos dados ocorreu simultaneamente a esse processo.
A proposta foi realizada de forma articulada com o trabalho de informática
educativa da escola, utilizando-se o computador para registrar os dados alcançados
através da criação de um espaço de discussão coletivo. Assim, foi efetivado o
acordo para se iniciar a pesquisa, que ocorreu durante o período de aulas regular e
em conjunto com as professoras regentes de classe, sob orientação da
pesquisadora.
Levando em consideração o aspecto metodológico de pesquisa social,
âmbito em que se insere esta investigação, percebe-se que ela vem ao encontro das
principais características apontadas por Thiollent (2008), pois apresenta uma ampla
interação entre a pesquisadora e os sujeitos investigados das duas escolas; o
resultado das ações foi construído no decorrer da pesquisa; o objeto da investigação
foi constituído pela situação social, nesse caso por meio da interação apresentada
no Blog; durante o processo houve o acompanhamento da pesquisadora nas ões;
e, por fim, porque a pesquisa teve a pretensão de aumentar os conhecimentos da
própria pesquisadora além de oportunizar a construção do conhecimento de forma
crítica para os sujeitos pesquisados, como orienta Thiollent (2008, p.18-19).
A pesquisa deu-se em sete etapas compreendidos conforme segue:
a) Resgate Teórico
Pesquisa sobre o referencial teórico de Turismo e Ferramentas Sociais da
Informática. Utilizou-se para a construção desse referencial autores como Silveira
28
O projeto foi aprovado sob o processo de número 1.03.02.08.1287(Apêndice A).
44
(2003); Beni (2001); Carvalho (2002); Cruz (2000); Lemos (2008); Molina (2004);
Oliveira (2005); Ruschmann (2000); Warschauer (2006) e Yázigi (2002). Salienta-se
o uso de arquivos digitais, o que facilitou o acesso para a pesquisadora, visto que
são encontrados gratuitamente na Internet. O caráter de atualidade de muitos textos
digitalizados forneceu subsídios importantes para a fundamentação deste trabalho,
principalmente no que diz respeito ao terceiro capítulo, em que se apresenta um
estudo específico sobre os Blogs.
b) Apresentação da proposta de Investigação-ação
Visitas às escolas a fim de apresentar a proposta para as equipes diretivas e
solicitar autorização para desenvolvê-las. O segundo momento foi feito em etapas
distintas nas escolas, conforme segue:
- outubro de 2008: primeiras visitas às Escolas A e B;
- novembro de 2008: retomada das visitas em ambas as escolas para a
confirmação da proposta de investigação-ação;
- dezembro de 2008: construção do Plano de Trabalho com as professoras
regentes das turmas e professoras dos Laboratórios de Informática;
- janeiro de 2009: retorno à Escola A em virtude da troca de equipe diretiva e
reapresentação da proposta de pesquisa, com posterior autorização da mesma;
- fevereiro de 2009: retorno a ambas as escolas a fim de reorganizar o plano
de trabalho, devido a alterações no calendário escolar; retomada da proposta de
trabalho na Escola B em virtude da troca de professora da turma; diagnóstico das
duas turmas com a professora e orientadora pedagógica de cada escola, a fim de
buscar mais subsídios para o desenvolvimento da investigação, bem como oferecer
atividades que favorecessem a construção de conhecimentos em ambas as escolas;
- março de 2009: visita às escolas para apresentação da pesquisadora e
proposta de trabalho aos alunos. Nesse momento, a pesquisadora conheceu
presencialmente os sujeitos da pesquisa: os 51 alunos e as professoras
responsáveis.
45
c) Primeiras Percepções sobre Turismo
Essa etapa teve início no mês de abril de 2009, quando começou a
pesquisa-ação. Os encontros ocorreram semanalmente nas escolas, às terças-feiras
na Escola A e às quintas-feiras na Escola B, ambos os encontros de 1h40min,
compreendendo os dois períodos de informática da semana. Com o passar dos
primeiros encontros, alguns dias da semana foram alterados, em decorrência de
solicitações das professoras do laboratório de informática e de sala de aula. Nos
primeiros encontros, a pesquisadora dedicou-se a descobrir quais eram as
expectativas dos participantes, realizando um diagnóstico situacional, a fim de
averiguar o que entendiam por turismo. Os alunos manifestaram suas opiniões,
indicando o que para eles era realizar turismo. Levaram tarefas para casa a fim de
aproximar familiares e amigos da proposta de trabalho.
d) Apropriação da ferramenta social
No laboratório de informática das escolas, foi feito o reconhecimento da
ferramenta Blog. Na oportunidade, visitaram-se Blogs diferenciados a fim de
reconhecer diversas temáticas, evidenciando aqueles que tratavam de temas
voltados ao turismo. Foi também o momento de conhecer o Blog Novos Roteiros
Turísticos em Novo Hamburgo
29
.
e) Múltiplas abordagens do Turismo
Esse foi o momento de conhecer as segmentações do turismo e explorar
conhecimentos sobre atrativos e equipamentos turísticos. Contemplou a apropriação
dos conteúdos desenvolvidos em sala de aula sobre o bairro e saídas técnicas, a fim
de que os alunos conhecessem in loco empreendimentos e atrativos turísticos do
seu bairro. Nessa etapa, destacaram-se as profissões da atividade turística e os
conhecimentos necessários para realizá-las. O fato de a pesquisadora atuar na
gestão pública do turismo e ter formação como guia de turismo facilitou essa
abordagem.
29
O Blog Novos roteiros turísticos em Novo Hamburgo foi criado pela pesquisadora a fim de facilitar
as postagens dos alunos, avançando o objeto de pesquisa. Encontra-se disponível em:
<
www.turismonomeubairro.blogspot.com>.
46
f) Escolas em rede
Nesse momento, os alunos começam a ser tratados como sujeitos da
pesquisa, que postam no Blog coletivo sobre o que pode ser considerado local
turístico em seu bairro. Os dados colhidos nessa fase exploratória foram
categorizados no Blog
30
, constituindo um espaço coletivo de compartilhamento de
experiências. Cabe destacar o caráter de flexibilidade nos assuntos que a pesquisa
adquiriu no sentido de buscar elementos significativos para o bairro, como
moradores mais antigos, artistas, construções históricas, empreendimentos
turísticos, entre outros. A partir daí, iniciaram-se os encontros assíncronos no Blog
entre as duas escolas, a fim de fomentar a criação de uma comunidade virtual.
g) Do espaço virtual ao territorial
Encontro presencial para observar de que forma ocorreu o contato físico
entre os sujeitos da pesquisa e suas reações após o período de contato assíncrono.
Segue um resumo da proposta de estudo.
Figura 3 – Resumo da proposta de estudo
Fonte: Pesquisadora
30
Disponível em: <www.turismonomeubairro.blogspot.com>.
PESQUISA-AÇÃO
ESCOLA A
TIC
INFORMAÇÕES TURÍSTICAS
NOVOS ROTEIROS
ESCOLA B
47
3 COMUNIDADES VIRTUAIS
O terceiro capítulo apresenta conceitos sobre comunidades, evidenciando as
virtuais, e estabelece relações entre este tipo de comunidade e as ações
colaborativas que elas podem desencadear por meio das ferramentas sociais.
3.1 COMUNIDADE
Comunidade é um termo utilizado de forma ambígua promovendo
interpretações diversas e, muitas vezes, até contraditórias. Pode ser aplicado para
designar agrupamentos de pessoas ligadas a questões territoriais, como localidades,
bairros, assim como a grupos profissionais, como a comunidade dica, a
comunidade cientifica. A palavra comunidade pode ser usada também para
denominar organizações a que os sujeitos pertencem, como comunidade rural,
comunidade escolar e até mesmo um conjunto de elementos interconectados, que
podem ser os países, formando a comunidade nacional ou as comunidades
internacional ou mundial.
O que se observa é que o termo comunidade remete a agrupamentos que se
sentem unidos por algum tipo de sentimento de pertença, seja no sentido geográfico,
por proximidade territorial, ou pela busca de interesses comuns, em relações que
podem ser extraterritoriais. Ambas as formas implicam uma estrutura social que visa
a atingir objetivos comuns em um determinado agrupamento.
Em uma conceituação simplista do que seria comunidade, nota-se que a
palavra remete por si só à proteção, confiança, ajuda mútua, a melhorias na vida em
comum e na convivência com pessoas conhecidas, sem a presença de estranhos”.
Ou seja, uma comunidade sugere o tipo de mundo em que muitos gostariam de
conviver e de que, nos dias atuais, mais se sente falta, conforme Bauman (2003a).
Dito isso, observa-se que aquele que optar por não conviver em comunidade, mas
individualmente, estará sujeito a viver em meio a riscos. Mesmo que a priori a
escolha de viver em uma comunidade protetora pareça ser a decisão mais
apropriada, percebe-se que a comunidade ideal está sucumbindo à medida que
48
alguns membros buscam libertar-se de padrões pré-estabelecidos e desejam se
comunicar com outros grupos. Bauman (2003a) observa que questões como a
individualização, marca da modernidade, acabam por contribuir para a formação de
novos arranjos sociais. Pode-se observar isso quando o autor enfatiza o avanço da
tecnologia e sua capacidade de romper barreiras territoriais. Ele diz que:
A distância, outrora a mais formidável das defesas das comunidades,
perdeu muito de sua significação. O golpe mortal na ‘naturalidade’ do
entendimento comunitário foi desferido, porém pelo advento da informática:
a emancipação do fluxo de informação proveniente do transporte dos
corpos. A partir do momento em que a informação passa a viajar
independente de seus portadores, e numa velocidade muito além da
capacidade dos meios mais avançados de transporte (como no tipo de
sociedade que todos nós habitamos nos dias de hoje), a fronteira entre o
‘dentro’ e o ‘fora’ não pode ser mais estabelecida e muito menos mantida
(BAUMAN, 2003a, p. 18 -9).
Essa desvinculação entre localidade e sociabilidade faz parte do estudo
sobre formação de novas comunidades que se criam extraterritorialmente, segundo
Castells (2003), e abandonam os limites impostos pelas fronteiras territoriais e
culturais.
Verifica-se que, a partir das ideias de Bauman (2003a), para que exista uma
comunidade, tanto territorial como extraterritorial, é necessário que seus partícipes
possuam ideais compartilhados, referências comuns, interação e acolhimento. O que
vem ao encontro do pensamento de Castells (2003), mas que, somado a isso,
aposta na socialização online como fator de aglutinação das novas formas de viver
em comunidades, em uma sociedade que se forma por meio de conexões
construídas virtualmente.
Para Teixeira (2002, p. 27), essas conexões surgem como características
importantes das TICs, principalmente quando oportunizam uma aproximação da
informação para o ser humano. Lemos (2008) entende que a cultura
contemporânea é o resultado da tecnologia e dos aspectos sociais que ela pode
desencadear.
Essa temática dá lugar a um repensar sobre as comunidades, das
tradicionais, que habitaram nosso cotidiano por tanto tempo, às virtuais, que surgem
com propósitos definidos e possibilitam ser um instrumento em favor da sociedade.
Para entender melhor o que são as comunidades virtuais, é preciso apropriar-se do
conceito de redes sociais.
49
3.2 REDES SOCIAIS NO CIBERESPAÇO
Conforme visto no capítulo anterior, os dados apresentados sobre o acesso
à Internet em locais públicos ou gratuitos ainda é pequeno em vista dos demais
espaços onde os sujeitos realizam suas conexões. Porém, observando novamente
os estudos feitos sobre o Uso das Tecnologias da Informação e da Comunicação no
Brasil - TIC Domicílios e TIC Empresas 2008, eles demonstram a ampliação do
número de usuários. É o caso do aumento da penetração de computadores e da
internet nas residências no período compreendido entre os anos de 2005 e 2008. A
tabela a seguir apresenta essa informação.
Tabela 1 - Penetração de computadores e internet em domicílios
2005 2006 2007 2008
Computador 17% 20% 24% 28%
Internet 13% 14% 17% 20%
Fonte: adaptado de <http://www.cgi.br>. Acesso em 24 de out. 2009, às 16h.
Conforme visto na tabela anterior, houve um aumento na posse de
computadores de mais de 10% e o número de domicílios com a cesso à Internet
aumentou em 7%, o que pode ser mais bem visualizado na tabela a seguir.
Tabela 2 - Taxa de crescimento
2005 2006 2007 2008
Computador - 19% 25% 20%
Internet - 14% 19% 23%
Fonte: adaptado de <http:// www.cgi.br>. Acesso em 24 de out. 2009, às 16h30min.
Assim, a ampliação da Internet em número de usuários, com a crescente
popularização de seu uso, acabou por proporcionar, nas duas últimas décadas, um
avanço nos meios de socialização na comunicação mediada por computador
31
.
de se considerar que, nesse aspecto, muito deve ser feito, como o que diz respeito à
cadeia de serviços prestados ao uso efetivo da Internet e ao monopólio de empresas
de sistema telefônico (WARSCHAUER, 2006).
31
Para definir a Comunicação Mediada por Computador, será utilizada a abreviatura CMC.
50
As TICs oportunizaram novas formas de se comunicar ou mesmo participar
de discussões, aumentando muitas vezes o crescimento dos relacionamentos
sociais. Recuero (2009) aponta que esses novos relacionamentos no ciberespaço
são realizados por meio dos sujeitos e entende esses sujeitos como sendo os
atores, considerados pela autora os primeiros elementos de estudo de uma rede
social. A interação realizada por esses atores deixa “rastros” no ciberespaço,
formando novos locais de discussão. Cabe destacar que esses atores nem sempre
precisam estar personificados, mas podem ter uma representação identitária na
Internet por meio de uma ferramenta, como um “Blog, Fotolog, Twiter(RECUERO,
2009, p. 24), entre outras. Essas representações acabam por ser percebidas como
apropriações de espaços por meio de suas falas.
Para a formação da rede social, é necessário acrescentar a esses atores as
conexões, que são vistas aqui como os interconectores dos atores, também
entendidos como nós de uma rede social. A formação e os tipos de nós também são
percebidos como laços de aproximação e de interação, que podem ser observados
ao analisar a intensidade da conexão entre os atores, de acordo com Recuero
(2009). Essa intensidade pode ser medida por meio da abordagem das redes.
Conforme a autora,
A abordagem de redes fornece ferramentas únicas para o estudo dos
aspectos sociais do ciberespaço: permite estudar, por exemplo, a criação
das estruturas sociais; suas dinâmicas, tais como a criação de capital social
e sua manutenção, a emergência da cooperação e da competição; as
funções das estruturas e, mesmo, as diferenças entre os variados grupos e
seu impacto, nos indivíduos (RECUERO, 2009, p. 21).
Um dos fatores que enfatiza a criação e manutenção da rede social é a
forma como se o intercâmbio e o grau de cooperação, que pode ser medido por
meio de grafos representativos dos nodos de conexão. Barabási (2003) apresenta o
estudo feito por Paul Baran (1964), que retrata diagramas com padrões de tipos de
redes, que são entendidas como centralizadas (a), descentralizadas (b) e
distribuídas (c). A figura abaixo representa esses diagramas.
51
Figura 4 - Topologias das redes de Paul Baran
Fonte: Barabási (2003, p. 145)
Essas interconexões apresentadas na figura anterior podem ser analisadas
sob a forma como ocorre sua interação, aspecto esse a ser considerado quando da
análise do tipo de laço produzido entre os atores da interação, ou seja, quem
interage com quem e de que forma. Recuero (2009) exemplifica essas topologias
como sendo:
a) centralizada: quando um nó centraliza a maior parte das conexões;
b) descentralizada: possui vários centros, onde um grupo pequeno de nós
conecta vários outros grupos;
c) distribuída: todos os nós possuem mais ou menos a mesma quantidade
de conexões.
Recuero (2009) ainda aponta o uso que os atores fazem da rede nos sites
de redes sociais, identificando, a partir disso, dois tipos, que são as redes de filiação,
em que, normalmente, o tipo de ferramenta utilizada define o tipo de conexão e as
redes emergentes, que surgem a partir das conversações dos participantes. É
importante ressaltar que essas conversações não se limitam a questões de espaço,
tampouco ao tempo, visto que, com o avanço das novas tecnologias, a forma como
são formadas as organizações sociais mudou, conforme Rheingold (1996). Os
“novos lugares” do mundo digital permitem pluralidade de conexões e intervenções e
formações de grupos que se encontram, na maioria das vezes, por afinidades e
a b c
52
interesses comuns. Esses grupos que se formam acabam por criar as comunidades
virtuais.
3.3 CONCEITUANDO COMUNIDADES VIRTUAIS
No final do século XX e início do século XXI, algumas comunidades
depararam-se com um novo conceito de lugar, pois começaram a se encontrar no
ciberespaço
32
. O avanço da tecnologia, aliado às telecomunicações, permitiu a
criação de novos “lugares”. A Internet foi responsável pela criação desses novos
espaços de convivência. O uso de tecnologia, nesse caso, o computador, permitiu a
comunicação entre pessoas de localidades próximas e distantes, ampliando as
formas de pensamento e oportunizando a criação de uma nova comunidade virtual,
sem base territorial, mas que busca, na maioria das vezes, a coesão social. Sobre
esse aspecto da Internet, Castells (2003, p. 13) afirma que:
A história da criação e do desenvolvimento da internet é a história de uma
aventura humana extraordinária. Ela põe em relevo a capacidade que têm
as pessoas de transcender metas institucionais, superar barreiras
burocráticas e subverter valores estabelecidos no processo de inaugurar um
mundo novo.
Essa nova forma de pensar em comunidades não elimina os conceitos que
permeiam a comunidade tradicional, enquanto organização social que se preocupa
com o bem-estar dos seus membros, daqueles que habitam o mesmo território. Ela
possibilita uma nova dimensão às discussões na medida em que novos espaços são
criados. Castells (2002), ao referir-se a essa questão, cita Barry Wellman (1996-
1999), que, em seus estudos, lembra que “as comunidades virtuais não precisam
opor-se às comunidades físicas: são formas diferentes de comunidade, com leis e
dinâmicas específicas, que interagem com outras formas de comunidades”
(CASTELLS, 2002, p. 444). Essas comunidades não seguem o mesmo padrão das
comunidades territoriais, seu modelo de comunicação permite a diversificação de
sujeitos e o fato dos sujeitos não estarem representados fisicamente não interfere na
32
Levy (1999) define Ciberespaço como espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial
dos computadores e das memórias dos computadores. Essa definição inclui o conjunto dos sistemas
de comunicação eletrônicos
.
53
sua intensidade e na interação que será demandada, ao mesmo tempo, pode-se
incrementar o pertencimento a diversas outras comunidades.
Na formação das comunidades, estão os atores sociais, que podem ser
considerados os sujeitos envolvidos em algum local por interesses comuns e/ou até
mesmo representações desses atores em uma conceituação voltada às redes
sociais na Internet. Entende-se aqui que a comunidade virtual constitui-se a partir de
uma rede social mediada pelo computador composta pelos atores e conexões,
conforme Bassani et. al. (2009). Por meio das redes, percebem-se novas formações
da comunidade que se articula por interesses diversos e tem, por meio da CMC, a
possibilidade de expandir conhecimentos através de trocas e compartilhamento de
conteúdos.
Novos sentidos e novos conceitos são criados para se entender o que é e
para quem servem essas novas formas de comunidades que se formam por meio
das redes sociais. Relações de proximidade não dão mais conta desses novos
agrupamentos, que, através da informação, percebem-se e se encontram por
interesses mútuos, independentemente do local onde estão fisicamente. O fato das
novas comunidades não estarem mais atreladas ao conceito de lugar permite o
enriquecimento dos participantes, visto à pluralidade de atores e temas que
incorporam as ações individuais e coletivas.
Dito isso, percebe-se que as formas de organização tradicionais passam a
ser inadequadas para representarem as demandas dos conceitos de comunidade
alicerçados em velhos conceitos de vizinhança e moradia.
Rheingold (1996), jornalista americano pioneiro no estudo das comunidades
virtuais, identifica essas novas comunidades extraterritoriais como novos grupos que
se formam para discutir assuntos diversos e cooperativos entre si. Segundo o autor:
As comunidades virtuais são agregados sociais que surgem da Rede
(Internet), quando uma quantidade suficiente de gente leva adiante essas
discussões públicas durante um tempo suficiente, com suficientes
sentimento humanos, para formar redes de relações pessoais no espaço
cibernético (RHEINGOLD, 1996, p. 44).
Recuero (2009) reforça a fala de Rheingold (1996) quando indica que as
discussões públicas, as pessoas, o contato por meio da Internet podem ser
elementos formadores de comunidades virtuais. Para a autora:
54
O conceito de comunidade na rede social seria mais apropriado porque
permite o alargamento geográfico dos laços sociais. Além disso, a metáfora
da rede, que é onde será encontrada a comunidade virtual. Assim o território
da comunidade pode estar associado com algum espaço institucionalizado
no próprio espaço virtual ou mesmo restrito a um elemento de identificação.
Um canal de chat, por exemplo, pode constituir um espaço onde as
interações são mantidas. O mesmo pode acontecer com um conjunto de
weblogs. A compreensão de um espaço onde as interações são travadas e,
assim, fundamental para que os atores saibam onde interagir (RECUERO,
2009, p. 144).
Esse uso social que se faz da Internet permite a criação de uma série de
comunidades, que se diversificam na heterogeneidade de assuntos sobre os quais
podem se comunicar, consoante Castells (2003). Essa liberdade de posicionar-se
acaba por estabelecer uma nova compreensão dos processos comunicativos, em
que o emissor que repassava a mensagem para o receptor vê, com o uso da
Internet, uma atualização desses papéis
33
, quando ele também pode receber
informações, o que Primo (2007) chama de interação.
Nessa nova possibilidade que se apresenta para a constituição das
comunidades, observa-se que as trocas entre os diferentes sujeitos caracterizam-se
pelo compartilhamento de arquivos, opiniões e conteúdos, provocando ajuda mútua.
Para Recuero (2009), por meio das redes, a informação na Internet circula e
possibilita várias interpretações. Assim, as conexões permitem diversos olhares,
diferentemente das mídias tradicionais, que apenas repassam informações sem
interação. Segundo a autora,
Como as redes sociais na Internet ampliaram as possibilidades de
conexões, ampliaram também a capacidade de difusão de informações que
esses grupos tinham. No espaço off-line, uma notícia ou informação se
propaga na rede através das conversas entre as pessoas. Nas redes sociais
online, essas informações são muito mais amplificadas, reverberadas,
discutidas e repassadas. Assim, dizemos que essas redes proporcionaram
mais voz às pessoas, mais construção de valores e maior potencial de
espalhar informações. São, assim, essas teias de conexões que espalham
informações, dão voz às pessoas, constroem valores diferentes e dão
acesso a esse tipo de valor (RECUERO, 2009, p. 25).
Castells (2003, p. 48-9) identifica duas características que, para ele, são
fundamentais nas comunidades virtuais:
33
Alex Primo destaca que a Internet permite uma nova fórmula de interação na Teoria da Informação,
definida pelo autor como: webdesignersiteInternetusuário (PRIMO, 2007, p. 11).
55
Valor da comunicação livre, horizontal. A prática das comunidades virtuais
sintetiza a prática da livre expressão global, numa era dominada por
conglomerados de mídia e burocracias governamentais censoras; formação
autônoma das redes. Isto é, a possibilidade dada a qualquer pessoa de
encontrar sua própria destinação na Net, e, não encontrando, de criar e
divulgar sua própria informação, induzindo assim a formação de uma rede.
Ao analisar a fala dos autores, pode-se pensar nessa nova capacidade de
liberdade de informações e nos usos que a Internet pode ter em um universo
dominado por grandes monopólios de empresas da comunicação. Nessa
perspectiva, os autores alertam para a importância da reflexão sobre os usos que
serão feitos da tecnologia e quem terá esse acesso. O mais importante, nesse
momento, entretanto, é discorrer sobre questões como o fato de uma sociedade
mais justa ser criada através do debate, conforme Primo (2007).
Assim, o uso da tecnologia digital e das redes de comunicação permite que
indivíduos geograficamente distantes, mas que possuam interesses comuns em
temas sociais, culturais, profissionais ou de entretenimento possam se comunicar.
Com a aproximação desses atores, em ambientes virtuais, uma renovação da
linguagem, dos hábitos, dos costumes e da própria tecnologia. Para Palloff (2002),
fazer parte de novos grupos de interesse oportuniza sentir-se comprometido com
propósitos maiores.
As discussões online podem incrementar o aprendizado de várias formas e
seu potencial é visto ao se analisar os indicadores na formação de uma comunidade
online apresentados por Palloff (2002, p. 56):
-interação ativa, envolvendo tanto o conteúdo do curso, quanto a
comunicação pessoal;
-aprendizagem colaborativa, evidenciada pelos comentários dirigidos mais
de um estudante a outro do que de um estudante ao professor;
-significado construído socialmente, evidenciado pelo acordo ou pelo
questionamento;
-compartilhamento de recursos entre alunos;
-expressões de apoio e de estímulo trocadas entre os alunos, além de
vontade de avaliar criticamente o trabalho dos colegas.
As comunidades virtuais com foco na aprendizagem podem ser classificadas
em comunidades virtuais de aprendizagem (CVA) ou comunidades de prática (CP).
A principal diferença entre uma CVA e uma CP consiste na natureza da participação
dos sujeitos. Enquanto a CVA enfoca objetivos educacionais, a CP enfatiza o
compartilhamento de experiências e interesses relacionados a atividades
56
profissionais. Embora toda a comunidade virtual tenha relação com um elemento de
aprendizagem, nem toda comunidade pode ser chamada de CVA, pois esta implica
que seus membros tenham objetivos explícitos relacionados à aprendizagem,
consoante Bassani et. al. (2009).
Os ambientes virtuais apresentam-se como espaços de autoaprendizado e
compartilhamento de informações. Como o conhecimento na área de informática não
é estático, é necessário um aprender constante, que pode ser feito pelo próprio
usuário ou pela troca de conhecimento com outras pessoas. Essa troca em um
ambiente físico pode ser feita com um determinado grupo, observando-se questões
de tempo e espaço, em que ambas as formas citadas têm limitações; em um
ambiente virtual, essa troca amplia-se. Observa-se a riqueza do ambiente virtual, ao
se pensar em uma sala de aula e nas situações que são desencadeadas por um
grupo que constrói seu conhecimento orientado para situações de cooperação,
conforme Fagundes (2005).
Para Palloff (2002), a questão de independência na busca é muito maior
ainda que a relação de autonomia para construir o aprendizado. Conforme a autora,
o aprendizado virtual torna o sujeito interdependente, além de ser responsável por
si, torna-se responsável pela construção do conhecimento do outro sujeito,
evidenciando que o trabalho colaborativo demanda um grau de responsabilidade
maior, em consequência, um trabalho mais produtivo. A comunidade virtual apoia-se
também em auxiliar indivíduos e famílias e, diferente das antigas comunidades,
formadas por compartilhamento de valores e organização social, nessa migração
para o campo virtual, formam-se através das escolhas e estratégias de atores
sociais, segundo Castells (2003). Dessa forma, colaboram para a construção do
conhecimento, alicerçada em relações de confiança, em que a tecnologia por si
não dará conta de democratizar o mundo, mas pode ser um caminho a ser
percorrido à medida que estiver alicerçada em relações de ajuda na formação de
uma sociedade igualitária, que busca o conhecimento compartilhado. Fukuyama,
em 1996, destacava essa questão. De acordo com ele:
57
Assim está longe o fato de que a revolução da informação tornará as
grandes organizações hierárquicas obsoletas ou que a comunidade
espontânea emergirá uma vez que a hierarquia tenha sido minada. Tendo
em vista que a comunidade depende de confiança, e que a confiança, por
seu turno, é determinada culturalmente, segue-se que a comunidade
espontânea emergirá em graus diferentes, em diferentes culturas. A
capacidade das companhias de fazer a transição de grandes hierarquias
para redes flexíveis de firmas menores dependerá, em outras palavras, do
grau de confiança e do capital social presentes na sociedade mais ampla.
Uma sociedade de baixa confiança talvez jamais consiga tirar partido das
eficiências que a tecnologia da informação oferece (FUKUYAMA, 1996, p.
40).
A inclusão digital, quando oportuniza a participação de diversas pessoas
envolvidas em um processo de aprendizado, pode favorecer a consolidação de laços
embasados nas trocas que surgem em uma comunidade colaborativa. Nessa
temática, aparecem os estudos de Recuero (2007), que remete à construção do
capital social nas redes sociais. Para a autora:
Sites de redes sociais refletem estruturas sociais construídas e modificadas
pelos atores através das ferramentas de comunicação proporcionadas pelos
sistemas, incluindo-se o aparecimento das redes sociais e, aqui
compreendidas como grupos de indivíduos (atores) cujas trocas
conversacionais vão gerar laços e capital social. Nesses espaços, são
construídas conversações ncronas e assíncronas que têm diferentes
efeitos sobre a estrutura da rede (RECUERO, 2007, p. 07).
Atualmente existe uma série de sites de redes sociais, como o Blog, o
Twitter, o Fotolog, Facebook, Myspace, Sônico, Orkut
34
, entre outros, que
oportunizam as relações entre os participantes e, além disso, podem ser utilizados
como instrumentos que fomentam uma comunidade virtual de aprendizagem a
ampliar sua busca de conhecimento.
Essa liberdade de comunicação dos sites de redes sociais permite que os
sujeitos envolvidos nessa nova comunidade possam interferir mais em temas de seu
interesse e buscar a independência ideológica. Questões de identidade e de valores
comuns permeiam a formação desses grupos, de acordo com Paloff (2002). Castells
(2003, p. 102) também destaca esse aspecto quando comenta que “a Internet
parece ter um efeito positivo sobre a interação social, e tende a aumentar a
exposição a outras fontes de informação”. A Internet consolida-se como um aliado
até mesmo pedagógico aos sujeitos, na medida em que oportuniza acesso a uma
34
Para saber mais sobre os sites de relacionamento, recomenda-se a leitura de Recuero (2009),
Redes Sociais. Disponível em: <http://
www.redessociais.net>. Acesso em 05 de set. 2009, às 15h.
58
infinidade de informações, permitindo ao usuário a autonomia de transcender
conhecimentos e conteúdos que são limitados em uma grade escolar ou que
possam ultrapassar as fronteiras impostas culturalmente. Reitera-se o fato de que os
interesses são construídos socialmente e um fim comum que oportuniza um novo
exercício de aprendizado aos participantes a partir dessa interação.
Outro aspecto a ser considerado na consolidação de uma comunidade
virtual de aprendizagem está relacionado aos laços afetivos. O ciberespaço pode
promover o renascimento da solidariedade, consoante Pellanda; Gorczevski (2005).
A cooperação, nesse caso, é gerada através de ações coletivas, dispensando a
autopromoção de um indivíduo único, com interesses próprios. As autoras ainda
indicam que o uso sociotécnico da Internet propicia o fortalecimento da autonomia
nos sujeitos, na medida em que reproduz um modelo social, porém de uma forma
mais completa, visto que a nova forma de buscar e trocar informações é um fator de
escolhas próprias e não simplesmente da mídia de massa. As antigas sociedades
baseadas muitas vezes na organização social e no compartilhamento de valores
hoje podem se ver criadas por diversos indivíduos que, ao se comunicarem com
outras pessoas, podem tornar-se atores sociais que se envolvem em causas
comunitárias. Falar com muitas pessoas, de muitos lugares, em qualquer tempo,
muda os paradigmas a que se está acostumado e cria um novo padrão de busca de
resultados sociais, que podem ser descobertos e não simplesmente repassados sob
um determinado ponto de vista (PELLANDA; GORCZEVSKI, 2005).
Ao se ter a oportunidade de administrar as próprias ações, pode-se buscar a
autonomia e se tornar um sujeito atuante e participativo da sua comunidade.
Comunidades autônomas buscam o que é melhor para si, sem esperar sempre por
ações dos governos.
O uso do computador por todas as pessoas, sem discriminação de raça ou
situação econômica, auxilia o sujeito a tornar-se responsável por sua aprendizagem.
Aquele que, hoje em dia, aprende com o uso do computador, sente-se integrante de
uma sociedade que cada dia está mais na era da tecnologia e informação. Um dos
desafios é oportunizar o acesso aos computadores para pessoas de diferentes
camadas sociais e garantir que possam utilizar todos seus recursos, principalmente
no que diz respeito a potencializar o pensamento e a reflexão. Para Warschauer
(2006), caminhos para se melhorar a atual cenário de exclusão, com relações
custo/benefício que possam atender a todos. O autor também chama atenção para o
59
fato de que não basta doar equipamentos, mas utilizar computadores para induzir as
pessoas a descobertas que contribuam para sua formação enquanto ser humano
integral e autônomo, além de utilizar as potencialidades da Internet para incrementar
espaços que possam ser redemocratizados. Segundo ele:
A TIC está viabilizando novas estruturas organizacionais de participação
social, desde salas de bate papo entre adolescentes, passando por serviços
de encontro entre pessoas on line e sites de ação política, até o
aprendizado à distância pela internet. Nenhuma dessas novas estruturas
suplantou completamente as formas face a face de comunicação e
interação, mas elas as complementam como elementos fundamentais da
prática social (WARSCHAUER, 2006, p. 51).
Nesse sentido, acredita-se que, através de propostas e projetos de inclusão
digital, possam-se oferecer às comunidades excluídas novas formas de pensar o
mundo e o que os cerca.
Dito isso, importa destacar a consolidação de propostas de políticas públicas
que envolvam ações entre poder público, entidades e comunidade de forma geral
para juntos articularem ações e não apenas propostas de governo para dar conta de
incluir a população menos favorecida nessa via digital. Quanto mais formas de
comunicação houver e mais facilidade ao acesso para todos, maiores serão os
ganhos em discussões que provoquem melhorias nas comunidades virtuais.
3.4 INTERAÇÃO NAS COMUNIDADES VIRTUAIS
Apresenta-se aqui a interação social mediada por computador com base nos
estudos de Primo (2007) e Recuero (2009).
Primo (2007) destaca dois tipos de interação: interação mútua e interação
reativa. Para ele:
Interação mútua é aquela caracterizada por relações interdependentes e
processos de negociação, em que cada interagente participa da construção
inventiva e cooperada do relacionamento, afetando-se mutuamente; já a
interação reativa é limitada por relações de estímulo e resposta (2007, p.
57).
60
Assim, a interação mútua trata então das relações impossíveis de serem
previstas, que ocorrem durante o processo de comunicação, enquanto a reativa
conta de atos tidos como mais mecânicos, sob o ponto de vista dos interagentes.
De acordo com Recuero (2009, p. 31) “a interação representa um processo
comunicacional”, que é refletido entre os sujeitos que interagem e no resultado
dessas trocas comunicativas.
Ambas as abordagens são importantes para este estudo, pois enfatizam as
relações entre os sujeitos que participam de discussões com o uso do computador,
especialmente as discussões que fomentam a criação de uma comunidade virtual.
A palavra interação
35
vem se tornando de domínio público, visto a intensa
abordagem que tem obtido junto aos meios de comunicação. cerca de duas
décadas, inúmeros programas televisivos e de rádio vêm buscando a interação, na
medida em que se propõem a ouvir o receptor, oportunizando sua participação em
programas de comportamento, votações, mudanças de final de história, em uma
série de antigos e novos programas que vem surgindo nos veículos de comunicação
de massa. Dessa forma, o espectador assume diversos papéis, podendo ser um
psicólogo, economista, educador, crítico de cinema, por exemplo. Esse tipo de
interatividade com o canal de TV ou com a emissora de rádio acaba por garantir, em
alguns casos, o aumento da audiência.
por meio das TICs, as possibilidades de interação aumentam
consideravelmente, visto que elas possibilitam outro tipo de comunicação, onde o
sujeito pode participar de todo o processo de negociação. As TICs oferecem um tipo
de interação onde o caminho pode ser refeito diversas vezes entre os interagentes.
Primo (2007, p. 13) entende que essa é uma “ação entre” os sujeitos que se
relacionam.
A atual sociedade em rede descrita por Castells (2002) tende a oferecer
esse novo panorama na comunicação, quando entende que as transformações
tecnológicas favorecem um maior fluxo da informação. Ou seja, o tipo de interação
que o Brasil acostumou-se a fazer, principalmente por meio de programas
televisivos, dá-se somente por uma via, pois continua, segundo o autor, sendo uma
comunicação diretiva, mas disfarçada em interativa. Assim, a interação descrita por
35
Almeida, apresenta uma distinção entre os conceitos de interação e interatividade, entendendo que
“a interatividade se apresenta como um potencial de propiciar a interação, mas não como um ato em
si mesmo” (2003, p. 203).
61
Primo (2007), viabilizada com o uso de computadores, permite de fato a intervenção
dos sujeitos, quando oportuniza que os interagentes possam modificá-la quantas
vezes for necessário.
Dito isso, é importante destacar que, para a construção de uma comunidade
virtual, é necessário analisar os aspectos tecnológicos somados ao de
relacionamento humano. No caso da comunidade que se cria no ciberespaço,
Recuero (2009) destaca alguns aspectos que são importantes para o estudo dessa
interação. Um deles diz respeito ao fato de as pessoas não se conhecerem, logo,
não possuem referenciais uma do outra. Tem-se, aqui, a interação totalmente
mediada pela máquina. Ao mesmo tempo, o número de ferramentas que permite
essa interação vem aumentando e, à medida que são criados novos espaços de
conversação, os sujeitos encontram-se para interagir, consoante Recuero (2009).
Destaca-se o caráter dessa interação que pode ser assíncrona
36
, ou seja, os
sujeitos não precisam estar conectados para interagir. A mensagem pode ficar
postada e os sujeitos comunicarem-se em tempos difusos, como o que acontece
com o próprio Blog, objeto de estudo que será visto no decorrer desta investigação.
Nessa linha de pensamento, é interessante circular pelo tipo de reação que
os interagentes sofrem no processo. No caso da formação de uma comunidade
virtual em um Blog, predomina a interação mútua. De acordo com Primo (2007), a
interação mútua é construída também a partir das relações anteriores, porque um
interagente contribui na formação do outro. Assim, a interação mútua vem ao
encontro do pensamento de que as comunidades consolidam-se a partir das
negociações e dos laços que se formam.
Recuero (2009) ainda reforça que as conexões são o principal foco do
estudo das redes sociais, pois sua estrutura constitui os tipos de laços a serem
construídos. Segundo a autora,
Portanto, através da observação das formas de identificações dos usuários
na Internet, é possível perceber os atores e observar as interações e
conexões entre eles. Assim, todo o tipo de representação de pessoas pode
ser tomado como um da rede social: weblogs, perfis no Orkut, fotologs,
nicknames, etc. (RECUERO, 2009, p. 28).
36
A interação assíncrona ocorre fora do tempo real e a interação síncrona ocorre normalmente
quando interagentes então online.
62
A mesma autora propõe que as comunidades virtuais na Internet possam ser
reconhecidas a partir de três diferentes tipos: comunidades de associação,
comunidades emergentes ou comunidades híbridas. Uma comunidade emergente
caracteriza-se por um núcleo mais denso, onde estão os atores conectados por nós
mais fortes, e uma periferia, onde estão os nós mais fracos. As comunidades de
associação, que também são chamadas de filiação, são aquelas que se
caracterizam pela associação reativa entre os atores, ou seja, associam-se ao
grupo, mas sem a indicação de uma associação direta com outros sujeitos. as
comunidades híbridas enquadram-se em uma mescla dos dois tipos, incluindo tanto
as emergentes, como as associativas (RECUERO, 2009).
Importa estabelecer, como orientação para esse estudo sobre as
comunidades virtuais, a utilização da ferramenta Blog, que será discutida no capítulo
seguinte.
63
4 BLOG
Atualmente existe uma série de softwares sociais que vem sendo utilizados
massivamente na Internet. Segundo Spier (2007), destacam-se como software social
aqueles que são utilizados para fazer referência a algum tipo de programa que
produz ambientes de socialização. Além de se tratarem de ferramentas de interação,
vêm se constituindo como importantes aliados na comunicação. Um dos softwares
que vem se difundindo é o Blog e, tendo em vista que foi o software escolhido para
este estudo, este capítulo apresenta conceitos e usos de uma ferramenta que iniciou
representando diários íntimos, em que os usuários manifestavam seus gostos e
preferências e hoje configura-se como um agregado de opiniões e debates.
4.1 CONCEITUANDO BLOG
Os Blogs são ferramentas de manutenção e publicação de sites com
interface acessível aos mais diversos usuários. Eliminam barreiras impostas pelo
conhecimento da linguagem HTML
37
, possibilitando a apropriação dessa ferramenta
até mesmo por iniciantes da informática. Seu formato é constituído pelas
mensagens, entre textos, ilustrações, fotografias, sons, vídeos, organizadas de
forma inversa, porém temporal, em que as postagens mais recentes são colocadas
no topo da gina, quando atualizados, o que também facilita seu uso. de se
acrescentar o fato da gratuidade desse tipo de serviço. Essas características
somadas à fácil utilização também são consideradas responsáveis por sua intensa
massificação na web 2.0
38
. Os primeiros Blogs, conhecidos como weblogs (web+log
= arquivo web) surgiram em 1997
39
e eram muito parecidos com um site da web. O
surgimento das ferramentas de publicação incentivou seu uso, difundindo-os entre
os usuários, conforme Amaral et. al. (2009).
37
Hypertext Markup Language, linguagem na qual se baseia grande parte da programação de
websites para a Internet.
38
Web 2.0: Atualmente, Web 2.0 é o termo mais difundido dentro da indústria de tecnologia como
sinônimo de sites colaborativos (www.paraenterainternet.blogspot.com).
39
Amaral et al (2009) apresenta um histórico da criação dos weblogs em Sobre Blogs, disponível em:
<
www.sobreblogs.com.br>. Acesso em 05 de jun. 2009.
64
Os estudos sobre os Blogs vêm se intensificando ao longo dos anos e,
segundo Amaral et. al. (2009), o que chama atenção é o fato de que uma ferramenta
que possui mais de dez anos na web mantenha-se atual no cotidiano das
pessoas. Conforme as autoras, a “versatilidade em ser apropriado para as mais
variadas tarefas” possibilita sua permanência na web (AMARAL et. al., 2009, p. 23).
A mesma autora ainda relata que, no início, os Blogs eram conhecidos como diários
pessoais, que os blogueiros utilizavam como um espaço de uso pessoal, assim as
publicações contemplavam relatos, experiências e assuntos de interesse do autor
(p.29). Muitas vezes, eram uma autopromoção no ciberespaço. Ainda hoje o uso do
Blog como um diário pessoal é apontado por muitos autores como sendo o mais
popular uso da ferramenta.
Mesmo que a identificação de um Blog como um espaço egocêntrico não
seja a finalidade deste estudo, é importante destacar questões relacionadas à
identidade que se apresenta nos comentários que contribuirão na formação de
estruturas sociais.
Para Castells (2002, p.13), a identidade constrói-se a partir das relações
com o outro e, na atual sociedade,
Caracterizada pela ampla desestruturação das organizações,
deslegitimação das instituições, enfraquecimento de importantes
movimentos sociais e pelas expressões culturais efêmeras, cada vez mais,
as pessoas organizam o seu significado não em torno do que fazem, mas
com base no que são ou acreditam ser.
Nessa mesma perspectiva, Recuero (2003, p. 39) assinala que “os weblogs
podem funcionar também como elementos de representação do "eu" de cada um e
como "janelas" para que outros possam "conhecer" o indivíduo, permitindo que a
interação aconteça entre pessoas”. A autora complementa dizendo que,
Dentro desta perspectiva, o weblog publica o ‘eu’ diário e reconstruído do
indivíduo. Ele traz a reconfiguração da identidade particular de cada um
todos os dias. O layout do blog também faz parte dessa visão do ‘eu’. Desde
as cores, elementos e imagens escolhidas, o website pessoal também
passa pela percepção de si mesmo, agora aumentada pelo poder de
atualização do weblog (RECUERO, 2003, p. 10).
Analisando a fala dos autores, nota-se o quanto o Blog caminha para
apresentar esse eu representado para outros sujeitos, buscando a interação. Isso
65
pode ser visto ao se observar que alguns Blogs evidenciam características pessoais,
como gostos, pensamentos e características próprias do autor.
Cabe destacar que, para esta investigação, serão utilizados conceitos mais
abrangentes, que consideram o Blog uma reação identitária entre o blogueiro e seus
interagentes, de acordo com Primo (2006). O conteúdo direcionado por meio das
trocas, principalmente nos comentários do Blog, permite perceber a interação
comprometida na fala dos sujeitos.
Dito isso, importa destacar que, com o tempo e a massificação de uso, os
Blogs foram recebendo outras características, construídas por seus usuários e
receberam outras funções além das observadas por um número expressivo de
autores, que ainda os identificam como “diários íntimos pessoais”. A fim de dar conta
dessa nova conceituação e da forma de se utilizar essa ferramenta, Recuero (2003)
aponta tipologias para seu estudo. Para a autora, eles ainda podem ser utilizados
como publicações eletrônicas que se destinam à informação, comentários, crônicas,
contos ou como publicações mistas, que englobam os diários íntimos e diversas
informações. Primo (2006) também faz uso dos conceitos apresentados pela autora,
principalmente quando indica que “é preciso ultrapassar-se a noção do blog como
texto e espaço individual, como celebração do ego no ciberespaço” (2006, p. 233).
Lemos (2008) atesta a fala desses autores quando lembra que os Blogs vêm se
transformando em um dos mais populares fenômenos da cibercultura. Segundo ele,
os Blogs
Eles constituem hoje uma realidade em muitas áreas, criando sinergias e
reconfigurações na indústria cultural, na política, no entretenimento, nas
redes de sociabilidade, nas artes. Os blogs são criados para os mais
diversos fins, refletindo um desejo reprimido pela cultura de massa: o de ser
ator na emissão, na produção de conteúdo e na partilha de experiências.Os
blogs refletem a liberação do pólo da emissão característico da cibercultura.
Agora, todos podem (com mínimos recursos) produzir e circular informação
sem pedir autorização ou o aval a quem quer que seja (barões das
indústrias culturais, intelligentsia, governos...) (LEMOS, 2008, p. 09).
A característica de “liberação do polo da emissão” apontada por Lemos
(2008) somada à facilidade de utilização faz do Blog uma espécie de software social,
que pode se transformar em um instrumento de aproximação dos sujeitos na
produção cultural, possibilitando a construção do conhecimento testemunhado por
diversos olhares.
66
Outra característica que vem sendo dada ao Blog é o fato de ele estar se
constituindo como uma ferramenta que busca oportunizar ações colaborativas, o que
pode ser observado nos Blogs que retratam o dia a dia de indivíduos oprimidos,
quando auxiliam em catástrofes mundiais ou mesmo quando se tornam instrumentos
potencializadores de conhecimento mútuo. O estudo realizado por Recuero (2003)
sobre Blogs de guerra
40
aponta uma série de Blogs que retratam o dia a dia de uma
guerra. Lemos e Novas (2004)
41
apresentam o uso dos Blogs na manifestação e
no auxílio frente à catástrofe do Tsunami, na Indonésia, em dezembro 2004. Nesse
segundo caso, os Blogs contribuíram tanto para a localização de pessoas
desaparecidas como para arrecadar donativos para os flagelados. Com os exemplos
acima, constata-se a importância do Blog como instrumento que, devido a seu
alcance mundial, à velocidade com que a informação é postada e ao caráter de
sofrer pouca censura, constitui uma ferramenta que auxilia as mais diversas
manifestações dos sujeitos. Vale ressaltar que casos em que Blogs são
censurados
42
.
Outros aspectos a serem considerados dizem respeito ao uso dos Blogs na
educação, o que está sendo muito difundido atualmente no Ensino Superior, em
cursos de Jornalismo, como uma forma dos alunos recriarem conteúdos, ou seja,
utilizando-se os Blogs de forma pedagógica no ensino, o uso desta ferramenta pode
favorecer o desencadeamento de competências nos alunos. Dentre essas
competências, a autonomia, a versatilidade que, num jornalista, pode vir a dar conta
de atender seus leitores, com interesses tão diversificados, conforme Christofoletti
(in AMARAL et al., 2009).
Essa transposição pode ser realizada para outras áreas do conhecimento,
podendo ser usada por jovens e até mesmo por crianças. O Blog cria um
comprometimento entre quem escreve, quem e quem comenta, provocando
aprendizado. Vários são os recursos que um Blog apresenta na educação, conforme
pode ser visto a seguir.
40
Warblogs: Os Weblogs, o Jornalismo Online e a Guerra no Iraque (RECUERO, 2003). Disponível
em: <http://pontomidia.com.br/wiki/doku.php?id=blogbrasil
>. Acesso em 12 de set. 2009, às 17h.
41
Cibercultura e Tsunamis.Tecnologias de Comunicação Móvel, Blogs e Mobilização Social (LEMOS
e NOVAS, 2005). Disponível em: <http://pontomidia.com.br/wiki/doku.php?id=blogbrasil
>. Acesso em:
12 de set. 2009, às 19h.
42
Autoridades cubanas bloquearam o acesso a partir de Cuba ao blog mais lido do país,
(http://www.desdecuba.com/generaciony/). Disponível em:
<http://tecnologia.terra.com.br/interna/0,,OI2705103-EI4802,00.html>. Acesso em: 24 de mar. 2008,
às 15h30min.
67
Qualquer texto pode ser partilhado na blogosfera de forma instantânea.
Acrescenta-se ainda a vantagem de tudo ficar guardado em arquivo e poder
ser consultado em qualquer altura. A partilha de ideias e opiniões e o
acesso aos trabalhos publicados são algumas das potencialidades
merecedoras de atenção. Além disso, podem contribuir para desenvolver o
espírito crítico, a colaboração e toda uma forma de compreender o ambiente
escolar.
(...) Alunos e professores têm possibilidade de publicar e de se sujeitar ao
escrutínio público o que poderá incentivar o empenho aumentando sem
dúvida a responsabilidade. Ambas as partes podem sair beneficiadas. Por
um lado, os professores organizam o seu trabalho numa determinada
disciplina e neste domínio os blogs revelam-se uma ferramenta importante.
Por outro lado, podem também ser criados espaços imaginativos que
incentivam os alunos na pesquisa, no estudo, na leitura, na escrita, em
suma, no trabalho desenvolvido. Podem dar dicas úteis e são uma extensão
das próprias aulas (RODRIGUES, 2006, p.109-110).
Diferentes estudos também apontam para o uso de Blogs pedagógicos no
Ensino Fundamental, como é o caso do Blog do Curso “uso do Blog como recurso
didático”
43
, que apresenta conteúdos relacionados ao Meio Ambiente, de uma turma
de ano de Ensino Fundamental. o Blog “Brincando com Matemática
44
divulga
à comunidade escolar as atividades lúdicas da matemática, estendendo essa área
do conhecimento ao espaço virtual.
Gutierrez (2003) destaca a cientificidade que os Blogs apresentam tanto
para professores como para alunos, pois eles se tornam instrumentos de reflexão e
de comparação na construção do conhecimento. Conforme a autora:
Essa oportunidade de reflexão sobre seus pensamentos e suas práticas,
de comparar etapas de processos, é importantíssima para professores e
alunos. O acompanhamento do trabalho de alunos e colegas, conscientiza
sobre a própria prática. O conteúdo dinâmico de um weblog pode manter o
registro da construção do conhecimento e de suas fases e abrir espaço
para a investigação. Deve-se, entretanto, considerar que informação e o
conhecimento são coisas distintas. O computador, a internet e as
possibilidades de acesso à informação oportunizada pelas tecnologias
digitais, são necessários, mas não suficientes para a construção do
conhecimento (GUTIERREZ, 2003, p. 95).
Rosa e Islas (in AMARAL et al.,
2009, p. 169) chamam a atenção para
esse novo espaço que se cria fora do ambiente em sala de aula, onde o uso das
novas tecnologias aponta a “modificação das estratégias de ensino com as novas
propostas didáticas”. Para os autores:
43
Disponível em: <http://blogdocurso1.blogspot.com>. Acesso em: 10 de dez. 2009, às 19h.
44
Disponível em: <http://brincomat.blogspot.com>. Acesso em: 10 de dez. 2009, às 21h.
68
Então, por que continuar pensando em um espaço áulico como um conceito
que tem limites espaciais? Por que somente se concebe a tecnologia como
algo diretamente relacionado com os grandes centros de desenvolvimento
tecnológico e econômico? Podemos dispor da tecnologia de ponta, mas
devemos ser capazes de criar e inovar um pensamento e conhecimento
através das tecnologias (ROSA; ISLAS, in AMARAL et al. 2009, p.170).
Dessa forma, o Blog pode ter várias utilizações, sendo considerado, às
vezes, uma espécie de software com características sociais, em função de sua vasta
utilização em ações colaborativas. Pelo exposto, percebe-se que os Blogs deixam de
ser publicações pessoais para tornarem-se estimuladores de ações construídas
coletivamente entre os sujeitos que compartilham esse espaço.
4.2 COMUNIDADES VIRTUAIS EM BLOGS
Cabe destacar como característica que delineia o estudo o fato de os Blogs
valorizarem os comentários, oportunizando que os blogueiros motivem-se e
promovam a interação social, consoante Meira e Yamashita (2007) e Nardi et al
(2004, apud AMARAL, 2009). Enfatiza-se que o uso da ferramenta comentários é
essencial para a construção daquilo que se acredita ser fomentador de uma
comunidade virtual, de acordo com Recuero (2003). Neste estudo, destaca-se seu
uso nas redes sociais, fomentando a criação das comunidades virtuais.
Outro aspecto a ser considerado é que o Blog também pode ser escrito
coletivamente, tendo mais pessoas habilitadas para publicarem na região principal,
conforme Primo e Smionatto (2006), o que vem ao encontro do escopo deste estudo,
que oportunizou que dois grupos postassem e interagissem em um espaço de
escrita coletiva, potencializando a “constituição de estruturas sociais”, segundo
Amaral et. al. (2009, p. 36).
Conforme visto, as comunidades virtuais são representações de grupos
sociais que estabelecem relações sociais entre si, consoante Recuero (2003). Essas
comunidades, de acordo com a mesma autora, localizam-se no ciberespaço,
identificadas por meio dos comentários e rastros que deixam visíveis (RECUERO,
2009). Nessa perspectiva, o Blog, como espaço constituído por relações que
69
ocorrem entre os interagentes, pode ser considerado um meio para a formação
dessas comunidades.
Primo (2006) entende que:
Blogs incorporam características de meios antecedentes e podem servir
como espaços virtuais para a constituição das comunidades. Contudo, uma
comunidade se articula e se mantém através de interações mantidas no
tempo, sendo que seus participantes apresentam um sentimento de
pertença ao grupo e sentem-se responsáveis pela manutenção da
comunidade (PRIMO; SMIONATTO, 2006, p. 235).
Alguns autores sugerem critérios como pré-requisitos na formação de uma
comunidade a partir de um Blog, como Efimova e Hendrick (2005), que sugerem a
observação de
45
:
a) trilhas de memes: referências e idéias que atravessam diferentes blogs
demonstram a influência da estrutura social por trás deles; b) padrões de
leituras de blogs: a leitura continuada dos mesmos blogs e mesmo a relação
das listagens de links entre blogs podem indicar laços comunais; c) padrões
de linkagem: ainda que links possam ter uma grande variedade de usos e
objetivos, eles podem mostrar o valor e recomendação de outros blogs a
partir da percepção do blogueiro, como também a interconexão entre blogs;
d)conversações em blogs:o conjunto de feedback que emerge a partir do
post em um blog pode indicar o contexto compartilhado e um sistema de
relacionamentos entre os interagentes; e) indicadores de eventos: a menção
da participação nos mesmos encontros facilitam o fortalecimento de
relacionamentos e mesmo o desenvolvimento de novas relações; f)marcas
“tribais”, espaços de grupo e diretórios de blogs: os blogs podem apresentar
certos indicadores de que compõem uma comunidade, como links para um
mesmo diretório de blogs ou utilização do recurso de webrings (EFIMOVA;
HENDRICK, apud PRIMO, 2005, p. 237).
Esses indicadores são percebidos em uma comunidade formada, no
entanto, em uma comunidade que vem sendo construída em um Blog, percebe-se
que os itens d) conversações em blogs” e “e) indicadores de eventos” são mais
fáceis de serem percebidos, visto que as conversações surgem e intensificam-se a
partir dos post do Blog, que contribuem para a interação. Além disso, a troca de
informações que se a partir de atividades similares contribui para o fortalecimento
das relações. Entende-se aqui que a construção de uma comunidade virtual a partir
de um Blog dá-se entre internautas e não entre links, conforme Primo e Smaniotto
(2006). Nesse momento, é importante voltar para os conceitos apresentados no
terceiro capítulo, que trata da interação mútua e reativa. No início, os Blogs tinham
45
Memes são modelos evolutivos de transferência de informação.
70
um caráter mais voltado à interação reativa, pois o autor descrevia dados sobre si e
referenciava suas pesquisas e temas de interesse por meio de links para sites,
publicações ou mesmo para outros Blogs. Com a massificação de seu uso, os Blogs
tornaram-se espaços de interação mútua, em que as discussões e os comentários
assumiram um papel importante, protagonizando muitas vezes discussões, de
acordo com Primo (2007). As discussões que aparecem na maioria das vezes por
meio dos comentários acabam por suscitar a formação de comunidades, que se
encontram nesse novo espaço de fluxos, consoante Castells (2002).
Cabe destacar que a leitura de textos ou a participação como seguidores de
um determinado Blog não assegura a formação de uma comunidade virtual. Primo e
Smaniotto (2006) destacam esse aspecto na formação das comunidades. Para o
autor:
Blogs incorporam características de meios antecedentes e podem servir
como espaços virtuais para a constituição de comunidades. Contudo, uma
comunidade se articula e se mantém através de interações mantidas no
tempo, sendo que seus participantes apresentam um sentimento de
pertença ao grupo e sentem-se responsáveis pela manutenção da
comunidade (PRIMO, p. 234).
Conforme o autor, o Blog é um excelente espaço conversacional, cabe
analisar, entretanto, se pode ser um espaço de formação e manutenção de
comunidades virtuais. O fato de um Blog receber vários visitantes, não fornece
subsídios para a criação de uma comunidade, mas a “qualidade da relação entre os
interagentes” (PRIMO, 2006, p. 237). Compreende-se que a formação de uma
comunidade não perpassa somente por números matemáticos que apontem grandes
visitações com comentários em um Blog, mas pela construção que se por meio
dos vínculos que se formam a partir desses comentários.
Importa frisar que Primo (2006, p. 246) destaca alguns tipos de recursos que
podem ser utilizados para retomar as conversações, são eles:
a) tecnológicos (links, permalinks trackbacks e janelas de comentários);
b) linguísticos (sumários, citações, vocativos).
Com a análise do estudo em questão, destacam-se os links como recursos
tecnológicos utilizados para interconectar Blogs, posts e mesmo comentários, que
podem ser externos, apontando para outra gina na web ou mesmo internos
71
(conectando para um post próprio anterior no mesmo Blog). os linguísticos são
percebidos por meio de uso dos vocativos, a fim de conectar conversações,
principalmente na janela de comentários, de acordo com Primo (2006, p. 246).
De posse desses conceitos, percebe-se a articulação que a ferramenta pode
desencadear entre os sujeitos e seus múltiplos usos, tanto educacionais como
organizacionais, segundo Primo (2006), e, cada vez mais, descarta-se o conceito
limitado a um diário íntimo, que pressupõem um espaço de pensamento egocêntrico.
4.3 CAPITAL SOCIAL NO BLOG
Conforme visto, uma comunidade virtual constitui-se a partir de uma rede
social mediada pelo computador, composta pelos atores sociais e pelas conexões
entre eles, que, nesse caso, compreendem os laços sociais. Na formação das
comunidades estão os laços e relações sociais que ligam os sujeitos por meio da
interação, consoante Bassani et. al. (2009).
Os laços permitem estabelecer como encontra-se a relação de confiança em
dada sociedade. No caso deste estudo, de que forma os laços que se constroem no
Blog colaboram no fomento de uma comunidade virtual.
Os laços de confiança que se apresentam são divididos em fortes e fracos,
conforme a intensidade das relações que são produzidas. Recuero (2009) apresenta
conceitos de laços fortes e fracos embasados em um estudo de Granovetter (1973 e
1983). Conforme a autora,
Laços fortes são aqueles que se caracterizam pela intimidade, pela
proximidade e pela intencionalidade em criar e manter uma conexão entre
duas pessoas. Os laços fracos, por outro lado, caracterizam-se por relações
esparsas, que não traduzem proximidade e intimidade. Laços fortes
constituem-se em vias mais amplas e concretas para as trocas sociais,
enquanto os fracos possuem trocas mais difusas (RECUERO, 2009, p. 41).
Para Castells (1999), os laços fracos são facilmente vistos na formação das
redes. O fato dos laços fracos aparecerem com maior intensidade que os fortes o
enfraquece a comunidade virtual perante a comunidade física, visto que, a partir do
surgimento de laços fracos, consolidam-se os laços fortes. Conforme o autor,
72
Os laços fracos são úteis no fornecimento de informações e na abertura de
novas oportunidades a baixo custo. A vantagem da rede é que ela permite a
criação de laços fracos com desconhecidos, num modelo igualitário de
interação, no qual as características sociais o menos influentes na
estruturação, ou mesmo no bloqueio, da comunicação. De fato, tanto off-line
como on-line, os laços fracos facilitam a ligação de pessoas com diversas
características sociais, expandindo assim a sociabilidade pra além dos
limites socialmente definidos no auto-reconhecimento. Nesse sentido a
internet pode contribuir para a expansão dos vínculos sociais numa
sociedade que parece estar passando por uma rápida individualização e
ruptura cívica. Parece que as comunidades virtuais são mais fortes do que
os observadores em geral acreditam. Existem registros substanciais de
solidariedade recíproca na Rede, mesmo com usuários com laços fracos
entre si.
(...) A Internet favorece a expansão e a intensidade dessas centenas de
laços fracos que geram uma camada fundamental de interação social para
as pessoas que vivem num mundo tecnologicamente desenvolvido.
(CASTELLS, 1999, p. 445).
Em um Blog, os laços podem ser percebidos pela ferramenta comentários,
que produz a reação mútua, conforme Primo e Recuero (2003). Esses comentários,
por sua vez, geram os laços que acabam por se transformar no capital social
produzido por determinados sujeitos que interagem. Aqui o capital social é entendido
como um bem coletivo que busca garantir a confiança mútua e o compromisso entre
pessoas e organizações no ambiente social e político, em que se situa a estrutura
social, segundo Colemann (1988).
Recuero (2005, p. 97) destaca que o capital social na Internet “constitui-se em
um conjunto de recursos de um determinado grupo, obtido através da comunhão dos
recursos individuais, que pode ser usufruído por todos os membros do grupo, e que
está baseado na reciprocidade”.
A autora sugere algumas características para a construção do capital social
na análise dos blogs, que segundo ela são:
a) Suporte Social (relacional e de confiança no ambiente social) a primeira
forma de capital social verificada nos Blogs é o suporte;
b) Informação (cognitivo) apesar de as informações disponibilizadas nos
Blogs terem um rápido espraiamento, como as relações de confiança são maiores, é
possível obtê-las também de forma altamente especializada;
c) Empenho para solucionar os problemas do grupo (institucional) outro
aspecto interessante do capital social da comunidade é o empenho dos membros
em construir soluções para as dificuldades da comunidade (RECUERO, 2005, p.
100).
73
O mapeamento dos laços em um Blog, por exemplo, pode ser feito com a
utilização do software AGNA, que permite a visualização da rede por meio de um
gráfico. Nesse software, os dados sobre as interações são inseridos em uma tabela
que, automaticamente, representa essa interação por meio de um gráfico.
A seguir apresenta-se o modelo de uma representação de rede social feita
com a utilização do software Agna:
Figura 5 – Rede Social
Fonte: Bassani et. al. (2009)
Desta forma é possível fazer as relações entre os tipos de laços produzidos
numa determinada ferramenta social.
Conforme visto, os blogs podem enriquecer as relações de confiança de um
determinado grupo.
74
5 ORGANIZAÇÃO DOS DADOS DA PESQUISA
Este capítulo apresenta o relato das atividades feitas com os sujeitos da
pesquisa durante o processo da pesquisa-ação no período de 06 de abril a 14 de
dezembro de 2009. Conforme apresentado no capítulo 2, a pesquisa envolveu sete
grandes momentos. Inicialmente foi realizado o resgate teórico para a construção do
projeto de pesquisa, posteriormente foram realizados vários contatos com as escolas
para delinear a proposta de investigação. A partir disso, foi possível iniciar o
processo junto às escolas conforme apresentado nas seções a seguir.
5.1 PRIMEIRAS PERCEPÇÕES SOBRE TURISMO
Nos primeiros encontros, a pesquisadora dedicou-se a descobrir quais eram
as expectativas dos participantes, realizando um diagnóstico situacional, a fim de
averiguar o que entendiam por turismo. Nesses encontros, os alunos manifestaram
suas opiniões, indicando o que para eles era realizar turismo. A partir dos debates,
orientados pela pesquisadora, os grupos das Escolas A e B perceberam-se como
turistas, principalmente quando realizavam viagens nas férias e visitas a parentes.
Nesse momento, os alunos, dispostos em grupos, foram convidados a explorar um
grande mapa do Rio Grande do Sul. Na atividade, divertiram-se procurando cidades
vizinhas de Novo Hamburgo e cidades que tinham visitado no Rio Grande do Sul
(figuras 6 e 7).
75
Figura 6 - Alunos procuram cidades vizinhas de Novo Hamburgo
Fonte: pesquisadora. Abril de 2009.
Figura 7 - Alunos, com auxílio da pesquisadora, procuram cidades já visitadas
Fonte: pesquisadora. Abril de 2009.
A fim de aproximar os pais e/ou responsáveis pelos alunos ao estudo, cada
um levou um mapa para casa, com a tarefa de localizar outras cidades visitadas
pelos demais membros da família e por amigos.
Dando continuidade ao estudo diagnóstico, os grupos foram convidados a
conhecer outras cidades consideradas turísticas no estado por meio de folhetos
(figura 8).
76
Figura 8 – Pesquisa em Folheteria Turística do RS.
Fonte: pesquisadora. Abril de 2009.
Para dar continuidade, os alunos começaram a ser instigados sobre o que
poderia ser um atrativo turístico e o que se considera atrativo em Novo Hamburgo.
Salienta-se que este estudo de Novo Hamburgo vem ao encontro dos conteúdos
trabalhados tanto na Escola A como na Escola B, visto que estudar Novo Hamburgo
faz parte do currículo escolar e que, no dia 05 de abril de 2009, foi comemorado o
octogésimo segundo aniversário de emancipação político-administrativa do
município. Os estudantes também foram questionados sobre os serviços e
equipamentos que se somam à atividade turística. Posteriormente, observaram um
mapa de Novo Hamburgo (figura 9).
Figura 9 – Pesquisa no mapa Turístico de NH
Fonte: pesquisadora. Abril de 2009.
Essas atividades desencadearam um interesse maior pelo assunto, ao
mesmo em que estimularam a curiosidade sobre a proposta de trabalho.
77
5.2 APROPRIAÇÃO DA FERRAMENTA SOCIAL
Após as atividades de percepção inicial da pesquisa, somou-se ao grupo
uma estagiária de pedagogia do Centro Universitário Feevale, a fim de auxiliar na
criação e no desenvolvimento da ferramenta Blog. Na hospedagem do Blog, levou-
se em consideração questões como facilidade de acesso e conectividade nas
Escolas A e B e, nesse sentido, utilizou-se o Blogger
46
.
Voltando às cidades turísticas vistas por meio de folhetos, os alunos foram
convidados a visitá-las também pela Internet, para comparar as informações obtidas
através de cada uma das mídias. Dessa forma, visitaram-se Blogs voltados ao
Turismo
47
e Blogs que falavam sobre cidades
48
. Assim os alunos conheceram o
Blog Novos Roteiros Turísticos em Novo Hamburgo (figura 10), elaborado
especialmente para o desenvolvimento desta pesquisa.
Figura 10 – Layout e texto inicial do Blog Novos Roteiros Turísticos em Novo Hamburgo
Fonte: www.turismonomeubairro.blogspot.com. Abril de 2009.
46
Blogger, disponível em: <http://www.blogger.com>. Acesso em: 06 de abr. 2009, às 8h.
47
Foram realizadas visitas aos Blogs http://vidadeviajante.com.br; www.turismoevariedades.com;
http://www.blogtur.com.br; http://fotomurilobasei.blogspot.com.
48
Blogs visitados: http://literaturaeriodejaneiro.blogspot.com/; http://reportandoideias.blogspot.com.
78
Para organizar a postagem no Blog, foi definido que tanto a Escola A como a
Escola B teriam senha de administradores, o que possibilitou as postagens no Blog.
As senhas foram encaminhadas por meio de permissões para as professoras
regentes de classe e para as professoras responsáveis pelo laboratório de
informática da escola. As professoras regentes de ambas as escolas não utilizaram
suas senhas e deixaram o uso por conta das professoras responsáveis pelos
laboratórios de informática. Os primeiros endereços de postagens foram
discriminados como:
a) Escola A: novos roteiros turísticos em Novo Hamburgo
b) Escola B: professora Cristina Dorneles
Nesse primeiro momento, houve o auxílio da pesquisadora para as
postagens, posteriormente, os sujeitos da pesquisa foram se apropriando da
ferramenta e utilizando um novo endereço eletrônico para efetuá-las.
5.3 MÚLTIPLAS ABORDAGENS DO TURISMO
O fato de o turismo estar ligado a diversas áreas do conhecimento favorece
sua adaptação ao currículo escolar. Na medida em que a pesquisadora trabalhou
com conceitos sobre a atividade turística, as professoras exploravam suas
abordagens tanto cultural como ambiental em sala de aula. Outro aspecto a ser
observado foi sobre os tipos de serviços e equipamentos que estão ligados ao
turismo bem como os profissionais envolvidos. Nesse aspecto, a pesquisadora fez
questão de acompanhar os grupos em suas saídas técnicas, visto sua formação
como guia de turismo
49
. Utilizaram-se esses conhecimentos sobre receptividade,
informações gerais e dados históricos, atratividade, para demonstrar aos alunos
como atua um profissional dessa área, aproveitando para voltar o olhar dos alunos
para questões relacionadas à infraestrutura turística. As saídas técnicas ocorreram
simultaneamente ao processo de investigação, ou seja, durante as postagens no
Blog e da realização do diagnóstico do potencial turístico dos bairros,
49
Guia de turismo é uma profissão regulamentada pelo Ministério do Turismo. A formação do guia
compreende aspectos voltados à história, geografia, artes, relações humanas, dicção e oratória.
79
caracterizando-se como o principal tema das postagens (Apêndice B - Roteiros e
saídas técnicas efetuadas nas Escolas A e B).
5.4 ESCOLAS EM REDE
Ao longo da pesquisa, foram realizadas 44 postagens pelos sujeitos. Dessas
44 postagens resultaram 103 comentários. A estrutura do Blog encontra-se no
apêndice C.
5.5 DO ESPAÇO VIRTUAL AO TERRITORIAL
A culminância da investigação-ação foi o encontro presencial entre os
sujeitos da pesquisa, que ocorreu no dia 14 de dezembro, quando as turmas das
escolas A e B conheceram-se. O encontro ocorreu na brinquedoteca de uma das
escolas (figura 11), onde os sujeitos apresentaram-se e comentaram a respeito dos
encontros virtuais.
Figura 11 – O encontro presencial
Fonte: pesquisadora. Dezembro de 2009.
80
A dinâmica de apresentação contou, no início, com os alunos oferecendo
balas e pirulitos para aqueles colegas com quem haviam feito comentários e/ou
conversado via Blog (figura 12).
Figura 12 – Conhecendo os colegas “virtuais
Fonte: pesquisadora. Dezembro de 2009.
Um dos pontos marcantes do encontro foi quando as “blogueiras” mais
assíduas conheceram-se pessoalmente. Além de compartilharem comentários no
Blog sobre Novos Roteiros Turísticos em Novo Hamburgo, compartilharam seus
Blog particulares (figura 13).
Figura 13 – Interação, ações colaborativas
Fonte: pesquisadora. Dezembro de 2009.
A análise desses dados será apresentada no próximo capítulo.
81
6 ANÁLISES DA PESQUISA
Este capítulo apresenta as análises finais deste estudo, sobre o tema
proposto, relacionando os referenciais teóricos abordados nos capítulos 1, 3 e 4 com
a pesquisa de campo apresentada no capítulo 5. Num primeiro momento apresenta
as percepções sobre Turismo feitas no estudo e, posteriormente, aquelas que
indicam as questões relacionadas à formação de uma comunidade virtual.
O mapeamento das informações foi feito com base nas postagens e
comentários do Blog Novos Roteiros Turísticos em Novo Hamburgo. A fim de
esclarecer a que se propõe a análise, é importante resgatar o objetivo geral, que
busca analisar se a formação de uma rede social de inclusão digital pode favorecer o
fortalecimento do turismo receptivo em Novo Hamburgo, oportunizando a reflexão e
discussão de seus moradores sobre o potencial turístico de seus bairros.
Uma das etapas para buscar esse fortalecimento foi realizada no decorrer
dos encontros por meio da abordagem sobre o turismo, quando os sujeitos da
pesquisa foram provocados, com relação à importância da atividade turística nos
campos econômico, cultural, político e social. A análise dessa abordagem foi feita
com base na observação participante e nas postagens e comentários
desencadeados no blog, apresentados no item 6.1 - Percepções sobre o Turismo.
Já, o fato de se utilizar as TICs como instrumento de Inclusão para discutir
essa temática sobre o Turismo, é analisado sobre o enfoque dos comentários do
Blog e da interação que ocorre no mesmo, que são apresentados no item 6.2 -
Interação na Formação da Comunidade Virtual.
Para responder o problema da pesquisa são retomados os resultados das
duas análises feitas anteriormente que visam elucidar a questão Como fortalecer o
turismo receptivo em Novo Hamburgo utilizando as Tecnologias da Comunicação e
Informação como instrumento de inclusão social?
82
6.1 PERCEPÇÕES SOBRE O TURISMO
Considerando os conceitos de turismo discutidos ao longo do estudo,
percebem-se os diferentes enfoques dados à temática pelos autores. Em um dado
momento, é apresentado como um importante fator econômico, porém com
características voltadas ao social, conforme Oliveira (2000). O fato de o turismo ser
uma área maleável e possuir características de interdisciplinaridade permite que seja
estudado com outras áreas. Além disso, conforme visto, o Turismo necessita de
outras áreas do conhecimento para se consolidar, como afirma Denker (1998).
Nesse sentido, quando se trata do turismo como um fator econômico, ele se alia à
pesquisa naquilo que busca fomentar como uma comunidade que nessa
atividade formas de diversificação de renda. Por outro lado, quando assume sua
vertente mais social, soma-se ao pensar econômico, pois incentiva a valorização de
um novo espaço físico, que pode vir a ser explorado turisticamente. Dito isso, é
importante analisar a pertinência que o mesmo tem ao servir de pano de fundo para
discussões no Ensino Fundamental, nesse caso específico, em duas escolas da
Rede Pública de Novo Hamburgo, com sujeitos que se encontram no quarto ano na
nova formatação do ensino básico no município, chamado de quarto ano de 9 anos.
Apesar da nomenclatura, nem todos os sujeitos estavam nessa faixa etária
50
, alguns
deles tinha idade mais avançada, outros completaram noves anos no decorrer do
ano letivo.
Para compreender a inserção do Turismo no Ensino Fundamental, é
interessante entender alguns processos pelos quais as escolas da Rede blica
passam atualmente. A orientação na Rede Municipal de Ensino em Novo Hamburgo
é o trabalho por projetos pedagógicos. Esses projetos podem ter diversas
abordagens e até mesmo mais de uma abordagem ao longo do ano ou
diferenciarem-se pelo grau de abrangência de um determinado conteúdo. No caso
das Escolas A e B da pesquisa, há um grande projeto sendo trabalhado ao longo do
ano, sob orientação da Secretaria de Educação e Desporto do Município
51
, que trata
de estudar sobre Novo Hamburgo. No caso do quarto ano de 9 anos, esse grande
50
O sujeitos da pesquisa encontram-se na faixa etária compreendida entre 8 e 14 anos.
51
Disponível em: <http://www.novohamburgo.rs.gov.br/index.php?language=1&subject=282>. Acesso
em: 20 de dez. 2009, às 19h.
83
projeto se une aos conteúdos curriculares estabelecidos via Ministério da Educação
e Desporto
52
, que, nesta divisão seriada, trata de construir saberes sobre a cidade
onde se situa a escola. Ao se observar essas informações, se identifica a
pertinência da proposta de pesquisa, que, ao tratar do turismo, acaba por relacioná-
lo aos conteúdos de sala de aula, quando entende a atividade turística como uma
forma de enriquecimento existencial histórico-humanístico, profissional e econômico,
de acordo com Beni (2001). Essas questões aparecem no decorrer da observação
dos sujeitos da pesquisa principalmente após as saídas técnicas. O caráter de
investigação-ação utilizado permitiu que a pesquisadora participasse de todo o
processo, como orienta Thiollent (2008), e fez que ela se apropriasse também dos
comportamentos apresentados pelos sujeitos, o que se soma às análises.
Apresentam-se, a seguir, as análises específicas deste estudo, conforme as
categorias relacionadas ao turismo, evidenciadas na análise do Blog:
a) Atratividade: ao analisar-se o que os sujeitos indicaram como locais que
possam ser representativos para o que um visitante procura, os bairros
contemplados pelas Escolas A e B cumprem esse papel, levando em conta que esse
visitante busca realização pessoal e social a partir daquilo que observa, conforme
Beni (2001). Tanto o Bairro A como o B oferecem essas possibilidades. Segundo as
postagens dos sujeitos no Blog, nota-se, no Bairro A, locais ricos em atrativos
naturais e culturais. No Bairro B, por sua vez, os locais apresentam serviços e
equipamentos necessários para o desenvolvimento da atividade. Essa idéia
complementa ao pensamento de Ruschmann (2002), quando a autora aponta que a
motivação determina o deslocamento do visitante. Na categoria Atratividade,
encontram-se outras subcategorias, que serão vistas a seguir.
a.1) Atrativos Naturais: este atrativo apresentado pelos sujeitos da
pesquisa pode ter uma abordagem muito significativa para a cidade, visto que a
maioria das trilhas que podem ser feitas em Novo Hamburgo encontram-se no Bairro
Rural de Lomba Grande. Na zona urbana da cidade, três parques abertos à
população, porém, somente um encontra-se junto ao centro histórico
53
. O fato da
trilha ser próxima a uma Instituição de Ensino que possui um Museu pode vir a ser
considerado um atrativo bastante visitado na cidade, porque os elementos unem-se.
52
Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php>. Acesso em: 20 de dez. 2009, às 19h30min.
53
Centro Histórico: denominação dada para o perímetro da cidade antiga (SILVA, 1996).
84
O atrativo trilha, postado pelos sujeitos da Escola A, pode ser observado a seguir
(figura 14).
Figura 14 – A trilha
Fonte: www.turismonomeubairro.blogspot.com
Além da trilha, os sujeitos da Escola A descobriram outros locais com
atratividade natural no bairro, como pode ser visto na postagem abaixo (figura 15)
que representa a vegetação diversificada.
Figura 15 – A natureza está aqui
Fonte: www.turismonomeubairro.blogspot.com
85
As postagens sobre a vegetação da Escola A suscitaram um fato curioso no
bairro da Escola B, quando os sujeitos indicaram que as ruas do bairro tem nomes
de árvores. Essa é uma peculiaridade na cidade, que pode ser vista como um
diferencial, o que vem ao encontro do pensamento de Ignarra (2003). Este
comentário sobre o nome das árvores pode ser visto abaixo (figura 16).
Figura 16 – As ruas tem nomes de árvores
Fonte: www.turismonomeubairro.blogspot.com
a.2) Atrativos Culturais: os atrativos culturais acabam por ser um dos
destaques dos roteiros estruturados. Contam a história da cidade e tornam-se um
dos principais elementos que desencadeiam a motivação nos visitantes, consoante
Ruschmann (2002). O fato do Monumento ao Imigrante ser um atrativo histórico que
remete à emancipação da cidade, de possuir vista panorâmica e de ser aberto
visitação possibilita que ele seja um atrativo pertinente aos roteiros que possam ser
comercializados. Seguem, na postagem a seguir, algumas imagens deste atrativo
(ver figura 17).
86
Figura 17 – A chave da cidade
Fonte: www.turismonomeubairro.blogspot.com
Na figura a seguir (figura 18), os sujeitos contemplam o bairro de cima do
atrativo Monumento ao Imigrante. Observando o texto da postagem, pode-se
perceber que esses mesmos sujeitos utilizam termos vinculados ao turismo, como
a palavra “mirante”.
Figura 18 – Monumento ao Imigrante, um mirante na cidade
Fonte: www.turismonomeubairro.blogspot.com
A Escola A identificou outros atrativos culturais no bairro, como o Museu do
Índio Tükuna. O museu apresentou-se rico em atratividade, conforme pode ser visto
87
na postagem a seguir (figura 19). Além do Museu, os sujeitos identificaram a Igreja
do bairro, atrativo cultural e também a senhora Erica Sarlet, moradora ilustre e
pesquisadora.
Figura 19 – Visita ao Museu do Índio Tükuna
Fonte: www.turismonomeubairro.blogspot.com
b) Infraestrutura turística: é formada por equipamentos e serviços
turísticos. Soma-se aos atrativos para o desenvolvimento do turismo. De acordo com
Oliveira (2005) os atrativos necessitam da infraestrutura para o desenvolvimento do
turismo. Dividem-se em duas subcategorias.
b.1) Equipamentos Turísticos: o bairro da Escola B contempla uma rie
de equipamentos turísticos . Esses equipamentos qualificam os roteiros que podem
ser oferecidos. Os sujeitos da Escola B visitaram um hotel e conheceram a estrutura
para acomodação dos visitantes. A figura seguir representa uma das postagens do
hotel (figura 20).
88
Figura 20 – A chegada ao Hotel
Fonte: www.turismonomeubairro.blogspot.com
As postagens sobre o hotel o bastante ilustrativas e trazem muitas
informações sobre o turismo. Isso desencadeou uma série de comentários,
demonstrando o interesse dos sujeitos pelo tema. Este dado pode ser visto a seguir
(figura 21).
Figura 21 – Comentários sobre a visita ao hotel
Fonte: www.turismonomeubairro.blogspot.com
89
Além desse tipo de equipamento, os sujeitos da Escola B identificaram outro
equipamento: o Centro de Eventos FENAC. Acostumados a ir a festas e atividades
ligadas à educação nos Pavilhões da FENAC, desta vez conheceram como é feita a
organização de um evento. Além disso, descobriram que os eventos da FENAC
movimentam a economia da cidade, inclusive com turistas estrangeiros, conforme
pode ser visto a seguir, na próxima postagem (figura 22).
Além destes equipamentos, o bairro da Escola B conta com serviços para o
turismo como uma central de táxis, que fica próxima aos Pavilhões da FENAC.
Outro dado importante é o fato de que a feira movimenta também a economia para
os moradores locais, visto que alguns alugam os pátios de suas casas como
estacionamento para os visitantes e outros trabalham com alimentação durante os
eventos. Todas essas características vem ao encontro daquilo que Oliveira (2000)
entende por turismo, já que constituem um conjunto de resultados econômicos,
políticos, sociais e culturais.
Figura 22 – FENAC e os eventos
Fonte:
www.turismonomeubairro.blogspot.com
c) Eventos Turísticos
Na entrevista com o diretor comercial da Fenac perguntaram detalhes sobre
o evento Festa Nacional do Calçado e, semanas após essa visita, voltaram à Fenac,
dessa vez para conferir os detalhes da festa que estava acontecendo. Os sujeitos na
festa podem ser vistos na postagem a seguir (figura 23).
90
Figura 23 – Artista retrata Hebe Camargo na Festa do Calçado
Fonte:
www.turismonomeubairro.blogspot.com
d) Oferta turística dos bairros
As categorias apresentadas até agora podem ser identificadas, segundo
Ruschmann (1999) e Oliveira (2005), como a oferta turística dos bairros das Escolas
A e B. Ambos os autores apontam que a soma dos atrativos com os equipamentos e
serviços constituem a base para o desenvolvimento do turismo.
e) Sustentabilidade: o pensar turístico pode promover uma associação
entre a comunidade que vai receber os visitantes e a preservação do seu espaço,
consoante Moesch (2002), aspecto visto quando os sujeitos da Escola A postaram
sobre seu bairro e remeteram ao fato de ele possuir uma rica vegetação e ruas
calmas, até mesmo com plantas exóticas, o que foi visto anteriormente nos atrativos
naturais. Esse aspecto de valorização do espaço é abordado por Cruz (2000),
quando a autora chama a atenção para a sustentabilidade do turismo, que, ao
beneficiar os visitantes, não compromete a comunidade local. É impossível realizar
turismo sem impactar a localidade receptora, porém, à medida que os sujeitos
acostumem-se a respeitar o espaço físico no presente e são estimulados a fazerem-
no sempre, tendem a zelar por esse mesmo espaço no futuro e contribuem
sobremaneira com o processo de favorecer suas representações culturais. As
postagens a seguir, representadas nas próximas categorias, vinculam-se à
sustentabilidade da atividade turística.
91
Na sustentabilidade do Turismo, apareceram, em sala de aula, comentários
sobre a acessibilidade. Nas primeiras visitas, a pesquisadora, no seu papel de guia
de turismo, chamou atenção sobre esse aspecto; nas demais, os dois grupos
observaram por conta própria e comentaram sobre a importância da acessibilidade
no que diz respeito à mobilidade urbana e ao atendimento aos mais diversos
visitantes.
e) Identidade: O incentivo do olhar sobre o turismo no seu bairro
desencadeou atitudes de respeito com o local de moradia. O fato de o turismo estar
muitas vezes ligado ao sol e à praia não desmotivou o comportamento desses
sujeitos, pelo contrário, criou um comprometimento em observar o que se possui no
Bairro e que pode desencadear em expectativas para os visitantes. Esse aspecto
pode ser visto na postagem a seguir sobre o local onde um dos sujeitos mora (figura
24).
Figura 24 – A Vila
Fonte:
www.turismonomeubairro.blogspot.com
Ao mesmo tempo em que os moradores percebem seu bairro como um local
de atratividade, nesse seu novo olhar, está o pertencimento à cidade, de acordo com
Yázigi (2002). Isso fica evidente no comentário da postagem a seguir (figura 25).
92
Figura 25 –A Vila e a Feevale
Fonte:
www.turismonomeubairro.blogspot.com
f) Inclusão
O fato do bairro não possuir o maior número de atrativos da cidade não o
exclui das propostas de turismo, ele se soma a outros para estabelecer a oferta
turística da cidade. Exemplo disso é que os bairros das Escolas A e B
complementam-se e podem qualificar o turismo, em conseqüência, o próprio
território, como orienta Yázigi (2002), dado que pode evidenciado na postagem
abaixo (figura 26).
Figura 26 – As ruas do bairro
Fonte: www.turismonomeubairro.blogspot.com
93
Segundo Ruschmann (2002), as políticas blicas devem levar em
consideração ações do turismo que se articulam a outras propostas, favorecendo o
desenvolvimento e não agredindo as comunidades. As comunidades devem
participar do planejamento, dizendo que tipo de atividades podem e querem
desenvolver no seu espaço, conforme Molina (2004). O olhar da comunidade deve
ser respeitado e deve ser visto também por quem está de fora. A seguir, a postagem
apresenta um local do bairro de onde pode-se contemplar o centro da cidade (figura
27).
Figura 27 – Vista do centro de Novo Hamburgo
Fonte:
www.turismonomeubairro.blogspot.com
A seguir, apresentam-se as postagens que se referem à proposta de
formação de uma comunidade virtual.
6.2 INTERAÇÃO NA FORMAÇÃO DA COMUNIDADE VIRTUAL
A formação de uma comunidade virtual tem como requisito inicial a ideia de
um grupo de pessoas que estabeleça relações entre si, conforme Recuero (2003) e
que leve adiante discussões sobre determinados assuntos por um tempo suficiente
para formar relações pessoais, como orienta Rheingold (1996). O Blog Novos
94
Roteiros Turísticos em Novo Hamburgo
54
apresenta essas características, logo,
constitui uma comunidade virtual.
Entretanto, antes de categorizar o Blog Novos Roteiros Turísticos em Novo
Hamburgo, é relevante estabelecer algumas considerações que estão presentes em
sua formação como o fato de os sujeitos terem sido convidados a participar dele em
virtude da proposta da pesquisa. Tanto os sujeitos da Escola A como os da Escola B
não começaram a discussão de forma espontânea, mesmo assim, conforme poderá
ser visto no percorrer das postagens no Blog, levaram adiante essas discussões. O
fato de serem instigados a participar também tem a ver com a necessidade de
apropriação desses sujeitos do Blog, demonstrado sua institucionalização como
novo espaço virtual, o que Recuero (2003) indica como sendo o território da nova
comunidade.
Cabe aqui destacar algumas limitações da pesquisa, que aparecem ao levar
em conta às questões de conexão nas Escolas A e B. Em alguns dias, não havia
como os sujeitos conectarem-se, em detrimento disso, as postagens limitavam-se,
visto a escassa disponibilidade de equipamento e de recursos humanos qualificados
para atender essa demanda em outros horários. Mesmo as escolas sendo
participantes do projeto Escola Aberta, o uso dos computadores durante os finais de
semana era limitado, evidenciando essas mesmas dificuldades apontadas. Essas
limitações vêm ao encontro do que foi discutido quanto a se oferecer as condições
necessárias para o incentivo à Inclusão Digital, apontado por Lemos (2002), Amadeu
(2003), Warschauer (2006) e Santos (2008). Parece provável que essa questão não
será resolvida tão cedo, mas o fato de as Escolas A e B engajarem-se nas
atividades propostas ao longo da pesquisa pode vir a estimular o poder público e a
própria comunidade escolar a encontrar soluções para minimizar esse problema.
Por meio da tecnologia, pode haver a aproximação dos atores sociais e,
nesse sentido, a construção de conhecimento ocorre de maneira mais diversificada e
até mesmo mais interessante para quem participa do processo, principalmente
quando, por meio dessa interação, somam-se conhecimentos.
Dando continuidade aos aspectos da análise que indicam a construção de
uma comunidade virtual, serão apresentadas e evidenciadas as categorias
encontradas no Blog:
54
Disponível em: <http://turismonomeubairro.blogspot.com>.
95
a) Apropriação: a partir do momento em que os sujeitos apropriaram-se da
tecnologia, sentiram-se mais comprometidos para participar da pesquisa. Entende-
se a apropriação sob dois aspetos: um voltado ao uso da máquina e outro às
ferramentas sociais, nesse segundo caso, ao uso do Blog. Ratifica-se aqui a fácil
utilização dessa ferramenta social que, segundo Amaral et.al. (2009), é uma das
características que massificou seu uso na Internet. Outro fato que evidencia a
apropriação da ferramenta pode ser visto por meio das assinaturas das postagens e,
principalmente, na ferramenta comentários. No início, utilizavam somente o
endereço eletrônico fornecido pela pesquisadora. Segue abaixo a postagem que
apresenta essa característica (figura 28).
Figura 28 - Nosso Bairro Vila Nova
Fonte:
http://www.turismonomeubairro.blogspot.com
Ou o endereço da professora do laboratório, conforme pode ser visto na
figura 29.
96
Figura 29 - Nossa Turma
Fonte: http://www.turismonomeubairro.blogspot.com
À medida que foram descobrindo a ferramenta Blog, ao longo do estudo,
foram identificando-se com ela e construindo uma relação de identidade no espaço
virtual. Essa relação ultrapassou o Blog Novos Roteiros Turísticos e estabeleceu-se
por meio de outros Blogs no ciberespaço, transcendendo limites e ampliando as
formas de comunicação, conforme Castells (2003). Os sujeitos das Escolas A e B
criaram outros Blogs e encontraram-se nesses outros espaços, onde encontraram
outros sujeitos.
b) Relações identitárias: após um sujeito da Escola A utilizar seu endereço
eletrônico particular para se tornar um “seguidor“ do Blog, a maioria dos demais
sujeitos sentiu-se estimulado a fazer o mesmo. Nessa etapa da pesquisa, percebeu-
se maior envolvimento dos sujeitos com a ferramenta e, consequentemente, com a
proposta de trabalho. É importante salientar que somente um sujeito da Escola A
não teve autorização dos responsáveis para permitir o uso da sua imagem ou de
qualquer outra identificação no Blog. Por isso as fotografias tiradas durante as
saídas técnicas tiveram que passar por uma verificação criteriosa, a fim de não
expor a imagem do sujeito em questão. O que chamou a atenção nessa situação foi
o fato de os demais sujeitos terem entendido que estavam participando de uma
atividade diferenciada, assim sempre acabavam consolando o sujeito que não
participava daquilo que eles chamavam de “a melhor parte”, ou seja, a
97
representação de sua imagem ou de seus textos em um espaço midiático de grande
abrangência, o que vem ao encontro daquilo que Castells (2002) entende como a
construção da identidade nas relações com o outro. O fato de que a maioria quis
tornar-se seguidor do Blog também pode ser analisado sob o enfoque apresentado
por Recuero (2009), quando a autora aponta-o como uma ferramenta que possibilita
nova leitura dos sujeitos, feita por eles mesmos para os outros. Essas
representações dos sujeitos aparecem por meio de suas fotografias ou por meio de
um ícone representativo de sua personalidade, conforme pode ser observado no
“campo seguidores” do Blog. A figura a seguir apresenta um dos sujeitos da Escola
B utilizando sua representação própria para fazer comentários sobre uma postagem
dos sujeitos da Escola A (figura 30).
Figura 30 - Relações Identitárias
Fonte:
http://www.turismonomeubairro.blogspot.com
c) Interação Mútua: ao observar as negociações entre os sujeitos, os
conhecimentos que foram construídos sobre o turismo e sua posterior socialização,
percebe-se a interação mútua apontada por Primo (2007). Essas relações também
acabaram por estabelecer um processo comunicativo, que refletiu em trocas
significativas para os sujeitos envolvidos, segundo Recuero (2009). As figuras a
seguir, que retratam comentários sobre uma postagem de turismo, apresentam esse
processo. A figura 31 apresenta a postagem sobre a visita, evidenciando
profissionais da área do turismo.
98
Figura 31 - Visita ao Hotel Locanda
Fonte: http://www.turismonomeubairro.blogspot.com
À medida que os sujeitos oferecem uma informação por uma ferramenta
social, essa informação circula e é impossível prever o tipo de situação
comunicacional que será gerada dessa interação. Isso pode ser visto ao se observar
a figura abaixo, que representa os primeiros comentários referentes à postagem dos
alunos da Escola B.
Figura 32 - Interação e conhecimento
Fonte:
http://www.turismonomeubairro.blogspot.com
99
Os avanços tecnológicos permitem o maior fluxo da informação, de acordo
com Castells (2002). Dessa forma, os sujeitos que utilizam a tecnologia acostumam-
se a intervir na comunicação e a tornarem-se mais críticos com as informações. Isso
pode ser visto na figura 33, em que se estabelecem mais relações entre os sujeitos
sobre profissões ligadas ao turismo e também em relação à busca de outras
informações sobre o hotel (figura 33).
Figura 33 - Comunicação Livre
Fonte:
http://www.turismonomeubairro.blogspot.com
A construção dos conceitos sobre as profissões e os serviços prestados no
hotel foi feita com base nas relações anteriores dos sujeitos, em que um contribuiu
na formação do outro. Isso se deu de forma colaborativa, como poder ser visto na
figura 34.
100
Figura 34 - Ações colaborativas
Fonte: http://www.turismonomeubairro.blogspot.com
O conhecimento é compartilhado e tende a ser ampliado à medida que as
relações entre os interagentes aumentam. Isso fica evidente na figura 35.
Figura 35 - Conhecimento compartilhado
Fonte:
http://www.turismonomeubairro.blogspot.com
Na medida em que compartilhamento de informações, as relações
aumentam e estabelecem-se interconexões com outros sujeitos. As figuras 36 e 37
representam essa troca de conhecimentos.
101
Figura 36 - Relações virtuais
Fonte:
http://www.turismonomeubairro.blogspot.com
Figura 37 - Estabelecendo interconexões
Fonte:
http://www.turismonomeubairro.blogspot.com
A fala dos sujeitos nessas postagens remete ao fator interação do Blog na
formação de uma comunidade virtual, ao mesmo tempo em que representa o caráter
de interatividade da ferramenta, que, em uma grande via que vai e volta, retoma o
comentário postado e permite que ocorra de fato a interação, consoante Primo
(2007). A figura 38 mostra isso, quando o sujeito da Escola A demonstra conhecer o
hotel visitado pela Escola B pelo fato de tê-lo conhecido virtualmente.
102
Figura 38 - Construindo uma comunidade virtual
Fonte: http://www.turismonomeubairro.blogspot.com
O fato de o Blog ter características assíncronas, em que os sujeitos não
precisam estar conectados o tempo todo para interagir, como orienta Recuero
(2009), favorece o aprendizado. Algumas postagens permaneceram no Blog por um
longo tempo sem comentários, mas, na medida em que houve interesse, os sujeitos
comentaram a respeito do assunto. Esse fator implica um caráter de pesquisa, o que
vem a ser mais um elemento a favor do Blog, pois possibilita abordagens voltadas
para a educação.
d) Conhecimento: essa categoria é facilmente percebida no Blog,
principalmente quando se observa que o uso da ferramenta social na educação
proporciona, conforme Rodrigues (2006), a apropriação de um novo espaço para o
aprendizado. O caráter de cientificidade da ferramenta permite, entre vários
aspectos, utilizá-la como um instrumento de comparação entre um bairro e outro,
fator apontado por Gutierrez (2003). o fato de o Blog concorrer com o tradicional
ambiente de aula e oportunizar um espaço de interação, conforme apontado por
Rosa e Isla (2008), confere-lhe uma posição de destaque por seu caráter
pedagógico. A velha redação sobre “como foi meu passeio” deu lugar a uma
exposição multimídia com fotos, filmes, sons. A figura abaixo sobre a Disney é uma
representação dos efeitos multimídia que os sujeitos utilizaram ao postar no Blog.
103
Figura 39 - Viagem à Disney – Interação e Multimídia no Blog
Fonte:
http://www.turismonomeubairro.blogspot.com
e) Autonomia: com a utilização dos Blogs, os sujeitos têm a oportunidade
de tornarem-se os novos emissores de conteúdos, segundo Lemos (2008), já que
podem produzir informações e construir conhecimento sob diversos olhares.
f) Conexões: as conexões estabelecidas no Blog permitiram percebê-lo
como um incentivo à formação das comunidades virtuais, visto que, ao se analisar o
grafo produzido pelo software Agna (figura 40), percebe-se que os sujeitos da
Escola A e da Escola B estão conectados e têm laços que podem ser considerados
fortes, em uma abordagem voltada à interação, de acordo com Primo (2007).
104
Figura 40 - Visão geral do Blog
Fonte: pesquisadora. Dezembro de 2009
O gráfico abaixo (figura 41) representa as interconexões estabelecidas pelos
sujeitos em outros blogs, em uma interação que se aproxima de uma rede social.
Figura 41 - Rede Social
Fonte: pesquisadora. Dezembro de 2009
g) Comunidade virtual: entende-se que o Blog Novos Roteiros Turísticos
em Novo Hamburgo pode ser caracterizado uma comunidade virtual de
aprendizagem. Cabe destacar aspectos que evidenciam essa afirmação.
105
No que diz respeito a uma comunidade de aprendizagem virtual, consoante
Paloff (2002), o Blog atende os requisitos apontados pela autora, que são:
- interação ativa, na medida em que envolveu os conteúdos sobre turismo e
o ato comunicacional entre os interagentes;
- aprendizagem colaborativa, a construção do conhecimento ocorreu entre
os sujeitos das Escolas A e B, não houve uma interferência direta do professor;
- o significado sobre as questões que envolviam o turismo foram construídas
socialmente, na interação entre sujeitos das Escolas A e B, profissionais da área e
outros colaboradores;
- o compartilhamento ocorreu durante a construção dos conhecimentos, em
uma abordagem colaborativa;
-as expressões de apoio ocorreram quando mais de um sujeito auxiliou na
construção de conceitos do turismo. Esse fato é evidenciado na postagem dos
comentários a seguir (figura 42).
Figura 42 – Formação da Comunidade Virtual
Fonte:
http://www.turismonomeubairro.blogspot.com
Os laços permitiram analisar como estavam as relações de confiança entre
os sujeitos das Escolas A e B. Nesse caso, a relação entre as duas escolas, mesmo
tendo conexões fortes e laços de aprendizagem fortes, não é caracterizada ainda
como detentora de um forte capital social, visto que fatores como intimidade e ajuda
mútua são difíceis de perceber na faixa etária em que os sujeitos se encontram. Já o
fato de os sujeitos apropriarem-se uns dos Blogs pessoais dos outros promoveu o
106
capital social entre eles, em que esses laços puderam ser comprovados pela própria
teoria das redes, quando os sujeitos, além de se encontrarem em um blog por meio
de incentivo, encontraram-se por interesses próprios. Isso vem ao encontro do que
Recuero (2003) apresenta como:
- suporte social, a colaboração que aparece nos comentários dos sujeitos
quando percebem os atrativos turísticos do outro bairro;
- informações crescentes e construtivas na conceituação de dados históricos
sobre profissionais da área;
- empenho para solucionar os problemas do grupo acabam aparecendo no
Blog muito mais como aspectos voltados à aprendizagem, tendo em vista as
questões apresentadas anteriormente que dizem respeito à faixa etária dos sujeitos.
Dito isso, percebe-se a importância da ferramenta Blog na construção do
capital social dos sujeitos das Escolas A e B.
6.3 ANÁLISES FINAIS
Como resultado final da pesquisa-ação percebeu-se, num primeiro
momento, a pertinência de estudar em conjunto o turismo e a inclusão digital por
meio das TICs. Foi possível articular estas duas áreas para produzir conhecimento
científico.
O segundo aspecto também é permeado pelas duas áreas, quando se
percebe que existem diversos locais com atratividade turística na cidade e que o
turismo pode promover, por meio de discussões públicas, a reflexão sobre o prazer
de morar num local agradável, onde a infraestrutura, a acessibilidade, o patrimônio
natural e cultural estão relacionados ao dia a dia. o fato de utilizar as TICs para
promover os debates de articulação de novos espaços turísticos em direção a uma
política pública participativa foi comprovado como eficiente.
Pensar sobre o turismo pode favorecer a apropriação do espaço na cidade,
na medida em que incentiva o olhar do morador para evidenciar as potencialidades
de seu bairro. No caso dos bairros Vila Nova e Ideal, foi possível descobrir rios
locais que podem ser considerados turísticos, conforme características abordadas
nas análises do turismo feitas no item 6.1. Como exemplo dessa abordagem pode-
107
se destacar a riqueza da atratividade natural presente na “trilha” e a percepção
sobre as ruas do bairro, que retratam a tranquilidade de um local do qual se avista o
centro da cidade, ambos descobertos pelos sujeitos da Escola A. Os atrativos
culturais também estão presentes neste Bairro, que possui o Monumento ao
Imigrante, patrimônio histórico da cidade, local que os sujeitos da Escola A e da
Escola B não conheciam detalhadamente. Esses mesmos sujeitos da Escola A
também apresentaram, por meio das postagens, o Museu do Índio Tükuna, com
curiosidades sobre uma cultura diferente, mas presente na formação do brasileiro.
o Bairro Ideal, comentado pela Escola B, conta com equipamentos prontos a
receber o visitante, como o Centro de Eventos da FENAC, um grande complexo
turístico para feiras e eventos. Não se discute aqui se os sujeitos da Escola B
conheciam ou não o local, mas, ao visitá-lo novamente, redescobriram a FENAC
como um importante elemento para o desenvolvimento econômico da cidade,
quando identificaram a estrutura necessária para um evento, os profissionais
envolvidos e a capacitação técnica que devem buscar para ser profissionais desta
área. O hotel visitado cumpriu com as expectativas dos sujeitos, os profissionais
apresentaram toda a estrutura para a Escola B. Os sujeitos da Escola B, por sua
vez, descobriram em meio à receptividade dos recepcionistas, gerente e camareiras,
o que é ser hospitaleiro.
Nota-se que, o incentivo proposto pelo tema da pesquisa sobre o turismo
nos dois bairros da cidade desencadeou em novas propostas para a criação de um
novo roteiro para Novo Hamburgo, mas que foi possível em virtude da
aproximação das informações entre os sujeitos dos dois bairros por meio de uma
ferramenta social, no caso deste estudo, o Blog.
Mais uma vez ressalta-se a facilidade de uso da ferramenta, apontada por
Amaral et. al. (2009) e sendo apropriada por diversos públicos, no caso, crianças e
jovens. Este estudo permitiu a conversação entre os dois grupos que não se
conheciam e proporcionou a construção de um novo saber compartilhado e
transformado em conhecimento. No Blog Novos Roteiros Turísticos em Novo
Hamburgo, formou-se uma comunidade virtual de aprendizagem, conforme Palloff
(2002). As características apontadas pela autora que mais se destacam são aquelas
relacionadas à autonomia dos sujeitos para construir o seu aprendizado e o
compartilhamento dessas descobertas com os sujeitos da outra escola. Nas visitas
técnicas, os sujeitos tinham que apropriar-se ao máximo das informações, para
108
compartilhar com os demais sujeitos, aspecto que vem novamente ao encontro do
pensamento de Paloff (2002), que indica que o aprendizado virtual torna o sujeito
interdependente, isso pode ser dito porque as respostas que buscavam sobre o
turismo não eram propriedades suas, mas aquilo que Lemos (2008) aponta como a
liberação da informação e que Recuero (2009, p. 97) acrescenta como um fator que
desencadeia o “capital social na internet”, já que os conhecimentos construídos
pelos sujeitos da Escola A eram compartilhados com os sujeitos da Escola B, ou B
com A e os novos conhecimentos sobre turismo eram obtidos pela reciprocidade dos
envolvidos.
Enfim, diante desse contexto, este estudo apresenta como resposta ao
problema proposto, a identificação de que é possível fortalecer o turismo receptivo
em Novo Hamburgo utilizando as tecnologias da comunicação por meio de uma
comunidade virtual, que, articulada num espaço virtual de discussão coletiva, pode
promover discussões sobre seu espaço de moradia e, consequentemente, trazer as
bases conceituais para o planejamento de novas políticas blicas para o
desenvolvimento do turismo.
109
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O turismo é um setor que movimenta a economia, visto a integração de
diversas atividades do seu arranjo produtivo. Na medida em que favorece à
população o acesso aos benefícios que a atividade turística propõe, ele pode, por
meio de seu crescimento, gerar emprego e renda. Outro fator que merece destaque
é a concepção do turismo com o fortalecimento de uma determinada localidade, seja
em aspectos voltados à atratividade de seu patrimônio natural ou cultural,
fortalecendo a preservação da cultura local. Esse fortalecimento da comunidade
pode-se dar por meio da cooperação entre os agentes que pensem no turismo como
um meio para a promoção de desenvolvimento social.
Embora deva considerar-se que nem tudo que se apresenta na atividade
turística é fator positivo, principalmente ao se levar em conta aspectos vinculados à
sustentabilidade do turismo e sua implicação nas comunidades receptoras, tanto nos
aspectos naturais, em se tratando do impacto ambiental ou como aculturação
dessas comunidades. Entretanto, cabe aqui destacar os aspectos voltados para a
construção de um turismo ordenado e que traga bons resultados. Nesse sentido, é
necessário utilizar ferramentas que potencializem as destinações turísticas,
ressaltando riquezas naturais, culturais, históricas, assim como o patrimônio
imaterial dessas mesmas comunidades.
A fim de preparar essa comunidade para lidar com a sua oferta turística,
principalmente no direcionamento do planejamento turístico, é importante dotá-la
com ferramentas que possibilitem o acesso às informações. Oportunizar o
pensamento estratégico é um dos focos deste estudo.
Diante deste contexto, evidenciam-se ações que devem ser fomentadas pelo
governo local na promoção de políticas públicas que auxiliem nesse
desenvolvimento. A sensibilização da comunidade local, diante dos atrativos que seu
bairro possui, pode ser uma dessas atitudes. a inserção da tecnologia nesse
espaço, também pode oportunizar o desencadeamento dessas ações, quando
viabiliza a manifestação dos sujeitos envolvidos no processo e entende que o
conhecimento por meio das TICs pode favorecer à autonomia dos sujeitos.
Na sociedade da informação, conforme sugere Castells (2002), o
conhecimento é o fator determinante para o engajamento entre desenvolvimento
110
social e econômico. Por isso, a construção de políticas públicas que desencadeiem
melhorias para todos pode ser uma tarefa construída coletivamente.
O estudo permitiu identificar a formação de uma comunidade virtual que
refletisse sobre o turismo e perceber que esta comunidade, construída sob a
interface da tecnologia, tem o potencial de desencadear ações por meio do
conhecimento compartilhado para repensar políticas públicas que desenvolvam seu
bairro, em conseqüência, um espaço maior, a cidade. O fato de redescobrir novos
locais na cidade aponta para o crescimento da atividade turística, que nas novas
potencialidades, mais atrativos que possam ser oferecidos aos visitantes.
Acentuam-se as aqui as percepções de Cruz (2002) quando trata a respeito
das paisagens no turismo, e os referenciais apontados por Molina (2004), quando
entende que um novo tipo de turismo pode ser feito, um tipo de turismo que advém
do novo turista, o qual traz consigo vários olhares. Nem sempre o turista busca uma
paisagem espetacular, às vezes ele apenas quer conviver em meio à normalidade
dos outros. Ou quer isolar-se e não conhecer a cultura local. Este pode ser um dos
desafios na contemporaneidade: propor um novo olhar para o seu espaço, sob o
enfoque da reciprocidade das relações entre os sujeitos, oportunizando que o
sentido de proximidade provocado por meio das tecnologias, amplie as relações
entre visitantes e comunidade receptora.
O estudo entende que o turismo, pelas características de sociabilidade que
apresenta, pode romper com o isolamento, provocando contato entre diversas
culturas e favorecendo interações. Contudo, precisa de ferramentas para promover
essa articulação, que pode ocorrer por meio das TICs, nesse caso, contribuindo para
a formação de políticas públicas que são construídas pela participação entre os
sujeitos, de forma que eles mesmos possam assegurar a implementação das
diretrizes estabelecidas. Além disso, este estudo desencadeou numa proposta na
Rede Municipal de Ensino de Novo Hamburgo, quando oportunizou que duas
escolas pudessem refletir sobre o papel de seu bairro num contexto maior. Este
aspecto foi potencializado por uma perspectiva de inclusão digital, que pode ser
estendida a outras escolas ou mesmo associações de bairros na cidade. O potencial
de uma comunidade virtual é ela descobrir que pode ser protagonista de suas ações
projetadas para o espaço físico.
111
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2009, às 14h.
118
APÊNDICE A
119
AVALIAÇÃO DE PROJETO DE PESQUISA – COMITÊ DE ÉTICA
120
APÊNDICE B
121
ROTEIROS EM NOVO HAMBURGO
Com acompanhamento da pesquisadora
Escola A
a) Visita ao Monumento ao Imigrante
Local: Sociedade Aliança Novo Hamburgo
Data: 29/5/2009
Sujeito da Escola A realizando apontamentos sobre o local
Atividades de sala de aula sobre a Visita ao Monumento
Postagens no Blog
122
b) Visita ao Museu do Índio
Local: Fundação Evangélica de Novo Hamburgo
Data: 16/4/2009
Alunos assistindo a apresentação da guia do Museu do índio Tükuna
c) Visita à Feevale
Local: Centro Universitário Feevale Campus I
Data: 10/6/2009
Alunos conhecem o Estúdio da TV Feevale
Alunos conhecem a AGECOM (Agência Experimental de Comunicação da Feevale)
123
Alunos conhecem o Laboratório de Turismo da Feevale
d)City -Tour em Novo Hamburgo, visitando os principais atrativos e pontos
turísticos da cidade, como Monumento ao Sapateiro, Igrejas, Centro Histórico de
Hamburgo Velho, Bairro Rural de Lomba Grande, Centro Comercial, Praça do
Imigrante, Espaço Cultural Albano Hartz e Receptivo Turístico.
Data: 12/11/2009
Alunos conheceram atrativos e pontos turísticos na cidade
124
Escola B
a)Visita ao Hotel Locanda
Local: Rua Araxá, defronte à FENAC
Data: 16/4/2009
Profissionais recebem os alunos no Hotel Locanda
Hospitalidade: alunos recebem lanche no hotel
b) Visita ao Centro de Eventos da FENAC
Data: 30/6/2009
Local: Rua Araxá, 505
Diretor apresentando a infraestrutura da FENAC
125
Aluna realizando apontamentos sobre a visita
c) City-Tour em Novo Hamburgo, visitando os principais atrativos e pontos
turísticos da cidade, como Monumento ao Sapateiro, Monumennto ao Imigrante,
Igrejas, Centro Histórico de Hamburgo Velho, Bairro Rural de Lomba Grande, Centro
Comercial, Praça do Imigrante, Espaço Cultural Albano Hartz e Monumento à Paz e
Receptivo Turístico.
Data: 14/12/2009
A Lomba que deu origem ao nome do Bairro Lomba Grande
126
O Encontro dos sujeitos da pesquisa
127
APÊNDICE C
128
ESTRUTURA DO BLOG
129
APÊNDICE D
130
MAPA DE LOCALIZAÇÃO
131
APÊNDICE E
132
Prefeitura Municipal de Novo Hamburgo
Estado do Rio Grande do Sul
SECRETARIA DE,EDUCAÇÃO E DESPORTO
NOVO HAMBURGO – CAPITAL NACIONAL DO CALÇADO
TERMO DE AUTORIZAÇÃO DE USO DE IMAGEM
Eu .........................................................................................................................,
RG n° .................................., inscrito no CPF sob n° .........................................,
Residente à Rua ........................................................., n ° ..............., apto ..........
Novo Hamburgo – RS, (nacionalidade) ..........................................., responsável
por ......................................................................................., aluno da E.M.E.F.
Imperatriz Leopoldina AUTORIZO o uso da imagem (fotografia) do meu filho para
ser utilizada na publicação do Blog Novos Roteiros Turísticos em Novo Hamburgo. O
Blog apresenta um trabalho que é desenvolvido pelas turmas de série de 9 anos
das E.M.E.F. Imperatriz Leopoldina e Pres. Affonso Penna, em parceria com a
Diretoria de Turismo de Novo Hamburgo e o Centro Universitário Feevale.
O endereço eletrônico do Blog é
www.turismonomeubairro.blogspot.com.
A presente autorização é concedida a título gratuito e, além de permitir a publicação
no Blog, abrange o uso da imagem acima mencionada das seguintes formas: (I)
folhetos em geral (encartes, mala direta, catálogo, etc.); (II) folder de apresentações;
(III) anúncios em revistas e jornais em geral; (IV) home Page; (V) cartazes.
Por esta ser a expressão da minha vontade declaro que autorizo o uso acima
descrito sem que nada haja a ser reclamado a título de direitos de imagem ou
qualquer outro, e assino a presente autorização.
Novo Hamburgo, .................de....................................de 2009
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Assinatura do responsável
Nome do aluno:
Por seu Responsável Legal
Centro Administrativo Leopoldo Petry – Rua Guia Lopes, n.º4201, bairro Canudos – 93410-340
Novo Hamburgo - RS - Telefone (51) 3594.9999
www.novohamburgo.rs.gov.br
“Contribua com o Fundo Municipal da Criança e Adolescente”.
“Doe Sangue, Doe Órgãos,
Doe Medula Óssea
, SALVE UMA VIDA”.
133
Prefeitura Municipal de Novo Hamburgo
Estado do Rio Grande do Sul
SECRETARIA DE,EDUCAÇÃO E DESPORTO
NOVO HAMBURGO – CAPITAL NACIONAL DO CALÇADO
TERMO DE AUTORIZAÇÃO DE USO DE IMAGEM
Eu .........................................................................................................................,
RG n° .................................., inscrito no CPF sob n° .........................................,
Residente à Rua ........................................................., n ° ..............., apto ..........
Novo Hamburgo – RS, (nacionalidade) ..........................................., responsável
por ......................................................................................., aluno da E.M.E.F. Pres.
Affonso Penna AUTORIZO o uso da imagem (fotografia) do meu filho para ser
utilizada na publicação do Blog Novos Roteiros Turísticos em Novo Hamburgo. O
Blog apresenta um trabalho que é desenvolvido pelas turmas de série de 9 anos
das E.M.E.F. Affonso Penna e Imperatriz Leopoldina, em parceria com a Diretoria de
Turismo de Novo Hamburgo e Centro Universitário Feevale.
O endereço eletrônico do Blog é
www.turismonomeubairro.blogspot.com.
A presente autorização é concedida a título gratuito e, além de permitir a publicação
no Blog, abrange o uso da imagem acima mencionada das seguintes formas: (I)
folhetos em geral (encartes, mala direta, catálogo, etc.); (II) folder de apresentações;
(III) anúncios em revistas e jornais em geral; (IV) home Page; (V) cartazes.
Por esta ser a expressão da minha vontade declaro que autorizo o uso acima
descrito sem que nada haja a ser reclamado a título de direitos de imagem ou
qualquer outro, e assino a presente autorização.
Novo Hamburgo, .................de....................................de 2009
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