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Percebemos nesta primeira fase a forte imposição da linguagem de cada mestre,
valendo lembrar que muitos eram expoentes reconhecidos de movimentos estéticos tanto da
arte quanto da arquitetura: “os próprios mestres das oficinas eram quase que exclusivamente
artistas dedicados às belas-artes, e certamente durante os anos de Weimar a abordagem era
tudo, menos imparcial” (CARMEL-ARTHUR, 2001, p. 15).
Em cada laboratório uma ação. Apresentava-se assim o paradoxo de uma Escola
que queria concretizar a noção de obra de arte total. As ações individuais dos mestres foram
questionadas, como aponta Rainer Wick (1989, p. 42), pelas palavras de Hans Wingler:
O grande “x” da questão está em ver de que forma se poderá encontrar uma solução
para o grande abismo existente entre a atividade que exercemos em nossas oficinas e
a atual situação da indústria e do comércio no mundo exterior... O contato com a
indústria e com o trabalho industrial no mundo exterior só pode ser conseguido
paulatinamente. Uma hipótese a ser considerada seria a de o trabalho nas oficinas da
Bauhaus voltar-se à criação dos protótipos (que servissem de exemplo ao artesanato
e à indústria). Os alunos que tivessem passado pela Bauhaus estariam em condições,
com os conhecimentos que lá tivessem adquirido, de influir decisivamente sobre as
(empresas) artesanais existentes, e sobre as fábricas industriais...
Essa ênfase à produção industrial apresenta uma grande mudança dentro da
Bauhaus. Neste momento, resgata-se muitos valores e posicionamentos modernistas, mais
especificamente do expressionismo e do construtivismo. O contato com estes movimentos
possibilitou as influências de Theo van Doesburg, teórico do grupo neoplasticista holandês De
Stijl, que, de forma agressiva e dogmática, criticou o que vinha sendo trabalhado na Escola.
O que os mestres realizam é o que ensinam. E o que realizam? Cada um faz aquilo
que lhes inspira seu humor, distantes que estão, e muito, de uma disciplina rigorosa.
Onde podemos encontrar pelo menos tentativas de um trabalho conjunto?... Onde há
uma unificação das várias disciplinas? Onde é que se encontram ao menos tentativas
de se chegar a uma obra de arte unificada, de uma configuração unitária de espaço,
forma e cor? Quadros... nada além de quadros e quadrinhos, artes gráficas e
esculturas isoladas. O que Feininger mostra já foi feito na França, e muito melhor,
há dez anos (Cubismo de 1912). Suas aquarelas mais recentes são uma infusão
aguada de Klee! O próprio Klee rabisca desvarios do tipo dos que se encontram, às
vezes até mais bonitos, na pintura dos loucos de Prinzhorn. Kandinsky continua
repetindo suas decorações esfumaçadas e confusas... Arbitrária e caprichosamente!
Mais arbitrários e mais caprichosos, intelectualizados e destituídos de força intuitiva,
além de acanhadamente ponteados, são os trabalhos de G. Muche. As borratadas
ocas e pomposas de Itten têm por objetivo único a produção de um efeito exterior.
Os trabalhos de Schlemmer são experimentos, que já conhecemos de outros
escultores... De autoria do senhor diretor, Gropius, existe no cemitério de Weimar
um monumento expressionista, que enquanto produto de uma incursão literária
barata não pode concorrer nem mesmo com as esculturas de Schlemmer... Para se
alcançarem os objetivos traçados pela Bauhaus em seu programa seriam necessários
outros mestres, mestres que soubessem o que é necessário para se dar forma a uma
obra de arte homogênea, e que provassem por atos sua capacidade de levá-la a
efeito... (HUSZAR apud WICK, 1989, p. 43).