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acontecimentos: apresenta o nascimento da Beltraneja
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dois anos antes do registrado pela sua
biografia e antecipa o casamento dos reis Fernando e Isabel em um mês,
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entre outros.
Em El largo atardecer del caminante, Abel Posse reconstroi o manuscrito
imaginário do conquistador Álvar Núñez Cabeza de Vaca, que tem como narrador e
protagonista o velho conquistador derrotado, morando em Sevilha. Publicado em 1992,
exatamente 500 anos após a Conquista, o romance recebeu o Prêmio Internacional
Extremadura-América 92, instituído pela Comissão Espanhola do V Centenário. Na
reelaboração do seu manuscrito, Cabeza de Vaca vai à biblioteca da Torre de Fradique, em
busca de alguns mapas, para localizar e ver como os cartógrafos iam precisando a forma da
terra que pisou, um dia, como um mistério. Nessa biblioteca, conhece Lucía de Aranha, que
ele rebatiza como Lucinda. A jovem, que já havia lido a crônica de viagens Naufrágios,
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de
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Joana de Castela nasceu em 1463, filha de dona Joana, irmã do rei de Portugal e casada com o rei de Castela
Henrique IV. Contudo, Henrique IV, sem filhos do casamento anterior, tinha a fama de ser impotente. Quando
esse fato já era bem conhecido de todos, a rainha dá a luz uma menina que o povo imediatamente apelida de
Beltraneja, devido ao suposto envolvimento da rainha num caso amoroso com o nobre D. Beltrán de La Cueva.
Joana foi considerada ilegítima pelos grandes de Castela, que se recusaram a reconhecê-la. (Cf. BERNAND &
GRUZINSKI, 2001, p. 71-72).
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De acordo com cronologia de Posse, o casamento dos reis católicos ocorreu em 18 de novembro de 1469.
Conforme BERNAND & GRUZINSKI, (2001, p. 71), o mesmo ocorreu em 19 de outubro de 1469.
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Naufrágios, relato histórico escrito pelo conquistador depois de seu retorno à Espanha, publicado em 1542, em
Zamora, e, em 1555, em Valladolid, consta de 38 breves capítulos em que Cabeza de Vaca, utilizando-se da
primeira pessoa do plural, faz um apanhado do que ele apresenta como um testemunho do que teria sofrido,
visto, conhecido e feito na América. Cabeza de Vaca descreve suas aventuras e as de seus três companheiros
(Dorantes, Castillo e Estevão), supostamente vividas desde o dia 17 de junho de 1527, data da partida do porto
de San Lúcar de Barrameda, até o dia de seu regresso à Espanha, em 1537. O espanhol relata três desafortunados
naufrágios sofridos pela tripulação, seguidos de uma série de dificuldades, desafios e encontros com o
imprevisível (tempestades, doenças, ameaça do inimigo (índios arqueiros), fome, sede, frio, animais
desconhecidos, sol, chuva, etc.). Uma parte do relato concentra-se no sofrido transcurso da viagem dos
sobreviventes pelas áridas planícies do sudoeste americano, escapando de uma tribo para caírem prisioneiros de
outra, até que, um dia, Castillo decidiu fazer uma espécie de performance ritual, que consistiu em fazer o sinal da
cruz sobre índios que estavam doentes, ao qual eles responderam, imediatamente, declarando-se curados. A
partir de então, os espanhóis, segundo apreciação do narrador de Naufrágios, teriam passado a ser considerados
seres sobrenaturais, e sua fama espalhou-se rapidamente por toda a região. À medida que avançavam em direção
ao México, multidões de índios seguiam seu caminho, chamando-os de “filhos do sol”. Durante o período em
que esteve percorrendo o golfo do México, Cabeza de Vaca recolheu as primeiras observações etnográficas
sobre as populações indígenas, publicada, então, no seu relato. De volta à Espanha, foi nomeado governador do
Paraguai, em 1542. Pero Hernández, relator da expedição do Rio da Prata, descreve, em Comentários (1555), o
breve governo de Cabeza de Vaca em terras americanas. Hernández relata que o então governador defendeu a
liberdade dos índios, tentou estabelecer um governo justo, baseado na moral católica e no respeito às
comunidades indígenas. Clérigose políticos corruptos, porém, o destituíram, e ele foi preso, enviado à Espanha e
julgado como traidor. Cabeza de Vaca morre por volta de 1558 e 1564. Há várias versões sobre os seus últimos
dias de vida. Alguns historiadores, como Ruy Díaz Gusmán, afirmam que sua reabilitação foi tamanha que,
depois do retorno do exílio, teria sido nomeado presidente do Conselho das Índias, recebendo um soldo anual de
2 mil ducados. Outras fontes, porém, asseguram que o conquistador tornou-se prior de um convento em Sevilha.
O paulista Paulo Markun, ex-apresentador do programa de entrevista Roda Viva, da TV Cultura, em recente
lançamento (novembro/2009), reconstitui a trajetória do conquistador, a partir das memórias de Naufrágios e
Comentários, acrescidas de mais de 900 páginas de documentos do processo judicial a que foram submetidos
Cabeza de Vaca e também seus adversários na Espanha. De posse desse processo, que reúne mais de cem
depoimentos de testemunhas apresentadas pelos acusadores e pelo próprio Cabeza de Vaca, Markun “confirma”