Download PDF
ads:
UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES
SARA LÍVIA DA SILVA FERNANDES DA MATTA
CARACTERIZAÇÃO MOLECULAR DE CICHLIDAE
(ACANTHOPTERYGII; PERCIFORMES) DA BACIA DO ALTO RIO
PARANÁ UTILIZANDO GENE MITOCONDRIAL CITOCROMO C
OXIDASE SUBUNIDADE I (COI)
Mogi das Cruzes, SP
2010
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES
SARA LÍVIA DA SILVA FERNANDES DA MATTA
CARACTERIZAÇÃO MOLECULAR DE CICHLIDAE
(ACANTHOPTERYGII; PERCIFORMES) DA BACIA DO ALTO RIO
PARANÁ UTILIZANDO GENE MITOCONDRIAL CITOCROMO C
OXIDASE SUBUNIDADE I (COI)
Orientador: Prof. Dr. Alexandre Wagner Silva Hilsdorf
Mogi das Cruzes, SP
2010
Dissertação apresentada ao Curso de Pós-
graduação em Biotecnologia da Universidade
de Mogi das Cruzes como parte dos requisitos
para obtenção do Título de Mestre em
Biotecnologia.
Área de Concentração: Taxonomia Molecular
ads:
14
DEDICATÓRIA
Gostaria de dedicar essa dissertação de mestrado aos meus pais
Airton e Margarete pelo carinho e incentivo durante todos esses anos,
além de seus esforços para contribuir com minha educação.
Dedico também a Paola Lumazini de Moraes por me fazer
acreditar que tudo é possível e por estar sempre ao meu lado,
comemorando cada conquista.
15
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço a Deus, pois sem Ele não haveriam méritos e
conquistas.
Agradeço ao meu orientador Profº Drº Alexandre Wagner Silva Hilsdorf pela
oportunidade de crescimento profissional e ensinamentos durante esses anos.
Aos professores da Pós- graduação em Biotecnologia da Universidade de
Mogi das Cruzes, em especial a Profª Drª Maria Santina de Castro Morini que desde
o início confiou em meu trabalho.
Ao Profº Drº Cláudio de Oliveira da UNESP de Botucatu pela atenção e por
auxiliar em minha pesquisa durante esses dois anos. Agradeço também por ceder
gentilmente às amostras de Cichlidae do Alto Paraná.
Ao Profº Drº Alexandre Pires Marceniuk por me ajudar na identificação
morfológica da nova espécie de Australoheros e correção da dissertação.
Ao Profº Drº Vítor Fernandes Oliveira de Miranda pelos ensinamentos durante
minha graduação e pós-graduação e por aceitar fazer parte da banca de defesa.
A toda minha família, meus pais Airton e Margarete, minhas irmãs Mariana e
Larissa por me ajudar nos dias difíceis e estarem sempre ao meu lado. Aos meus
avôs Lourdes, Osvaldo, Irinéia e Durval pelos carinhos e conselhos durante toda a
minha vida. A Paola por todos esses anos de carinho e incentivo.
Agradeço em especial a Ana Paula e Rogério, pelos dias de alegria que me
ajudaram a esquecer um pouco o mestrado..rs..Aos meus tios Ari, Flávia e Tia Lú.
Agradeço aos meus primos, pelas brincadeiras e risadas.
A todos os amigos do Laboratório de Microbiologia do Núcleo Integrado de
Biotecnologia coordenado pelo Profº Drº Wellington.
As minhas eternas amigas Nathália Urizzi, Nathália Hoff, Lívia e Aline por
todos esses anos de cumplicidade e carinho.
Agradeço de coração as amigas que fiz para a vida toda, que me ajudaram,
me fizeram rir e sempre estiveram ao meu lado: Jú, Fabi, Karlota, Taty, Corina (Cô
uai), Carol, Tamara (Tatá). Vocês são muito especiais. Não esquecendo, ao Gustavo
pelos “grandes conselhos” e por me ajudar nas coletas. Agradeço também a Léia,
que conheci há pouco tempo, mas já me ajudou em várias situações.
16
A Marisa e Clauber pela amizade e companheirismo, além é claro, das boas
risadas.
Agradeço também a Márcia, por ter me ajudado financeiramente nos
sequenciamentos. A Luisa Simbine pela amizade. A Marie (técnica do Nib) por ser
sempre gentil e prestativa.
Enfim, agradeço a todos que de alguma maneira fizeram parte desses anos
de luta e conquistas.
Muito Obrigado!!!
17
“A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao seu tamanho
original".
Albert Einstein
18
RESUMO
A taxonomia e a sistemática têm demonstrado um grande desenvolvimento nos
últimos anos, devido à incorporação de técnicas que utilizam marcas no DNA que
diferenciam dois ou mais indivíduos, denominados marcadores moleculares. Esses
métodos permitem avaliar as relações entre os xons assim como a sua história
evolutiva. Recentemente foi proposto um curto segmento de 648 nucleotídeos da
extremidade 5’ do gene mitocondrial Citocromo c Oxidase I para distinguir e
identificar grupos que possuem classificação incerta, além de alocar as espécies em
categorias taxonômicas corretas. Esse gene foi um dos principais componentes da
padronização da metodologia denominada DNA barcoding”, cuja finalidade é formar
alianças internacionais de investigação da diversidade da vida eucariótica por meio
da criação de um banco de dados de sequências parciais de DNA do gene COI,
promovendo assim, o processo de automação de identificação das espécies. Deste
modo, o presente trabalho teve por objetivo caracterizar molecularmente às espécies
de peixes pertencentes à família Cichlidae, provenientes da Bacia do Alto Rio
Paraná, utilizando o gene mitocondrial Citocromo c Oxidase subunidade I, bem
como, apresentar evidências de uma nova espécie de Australoheros para os rios de
cabeceiras do Alto Rio Tietê. Foram coletadas de 5 a 10 amostras de tecido de cada
espécie de Cichlidae para a extração de DNA. Posteriormente, o gene COI foi
amplificado, utilizando-se os primers Fish-F2 e Fish-R2. Após a amplificação, as
amostras foram sequenciadas, alinhadas com o aplicativo ClustalW e analisadas por
meio do programa MEGA 4, utilizando o todo de Neighbor- Joining modelo
Kimura-2-parameter com bootstrap de 3000 réplicas. Para verificar a existência de
uma nova espécie do gênero Australoheros, foi utilizada a comparação de
sequências do gene Citocromo b com a utilização dos primers Fish-cytB-F e
H15149, além de estudos morfológicos utilizando uma série de medidas e
contagens. Para o Alto Paraná foram caracterizadas 15 espécies de Cichlidae
distribuídas em 9 gêneros. A divergência intraespecífica obtida foi de 0,5% com
mínimo de 0% e ximo de 1%. a divergência média interespecífica foi de 19%,
com mínimo de 3% e máximo de 30%. Na análise do gene Citocromo b as
divergências interespecíficas para o gênero Australoheros variaram de 3% a 7%. A
espécie do Alto Tietê diferencia das demais descritas na literatura por meio de
caracteres morfológicos e moleculares. A menor divergência foi encontrada entre as
espécies Australoheros sp. e Australoheros ribeirae e maior divergência entre
Australoheros sp. e Australoheros scitulus. O caractere morfológico que mais se
destacou foi o comprimento do pedúnculo caudal em percentagem do comprimento
padrão, a espécie Australoheros sp. possui maior pedúnculo em comparação com
as demais espécies descritas. Diante destes resultados, podemos inferir que o
espécime encontrado no Alto Tie trata-se de uma nova espécie. Entretanto,
estudos complementares serão necessários para compreender a biologia,
comportamento e a morfologia da nova espécie de Australoheros encontrada no Alto
Tietê.
Palavras-chave: Taxonomia, DNA barcode, COI, Cichlidae, Australoheros.
19
ABSTRACT
The taxonomy and systematic have been showing a great development in the last
years due to the incorporation of techniques, which use marks on the DNA that
differentiate two or more individuals, called molecular markers. These methods allow
assess the relationships between the taxons as well as its evolutionary history.
Recently, a short fragment of 648 nucleotides from near the 5’ of mitochondrial gene
cytochrome c oxidase I was proposed to distinguish and identify groups that have
uncertain classification, also allocating the species under correct taxonomic
categories. This gene was one of the main components of the methodology
standardization called DNA barcoding”, which aims to form international
organizations of the eukaryotic life diversity investigation by creating a database
containing partial sequences of gene cytochrome c oxidase subunit I (COI) of
mitochondrial DNA, promoting the automation of species identification process.
Therefore, the goal of the present study is to characterize fishes of the Cichlidae
family sampled of the Upper Paraná river watershed by using the mitochondrial gene
COI, as well as, to present evidences of a new species of Australoheros genus for
the Upper Tietê River. Five to ten tissue samples of each Cichlidae species were
obtained for DNA isolation. Then, COI was amplified using the Fish-F2 and Fish-R2
primers. After the amplification, the samples were sequenced, aligned, with the
ClustaIW application and analyzed by MEGA 4 program, using the Neighbor-Joining
method, Kimura-2-parameter model with bootstrap of 3000 support. To ascertain the
presence of a new species of Australoheros in the Upper Tietê River, molecular data
by the amplification of cytochrome b sequences with the Fish-cytB-F and H15149
primers, and morphological studies using a series of measures and countings were
used. To Upper Paraná River, 15 species were characterized and distributed under
9 Cichlidae genus. The average of the intraspecific divergence was 0,5%, ranging
from 0% the minimum to 1% the maximum. On the other hand, the average
interspecific divergence was 19%, being 3% the minimum, and 30% the maximum. In
the analysis of cytochcrome b, the interspecific divergences to Australoheros genus
ranged from 3% to 7%. The Upper Tietê species is different from the others
described in the published scientific literature because of morphological and
molecular characters. The lowest divergence was found between the Australoheros
sp. and Australoheros ribeirae species, and the highest, between Australoheros sp.
and Australoheros scitulus. The main morphological character was the caudal
peduncle length in usual length percentage, the Australoheros sp. species has a
bigger peduncle than the other species’ ones. Based on the present data, we can
infer that the species of Australoheros found in Upper Tie river is a new one.
However, additional studies shall be used to understand the new Australoheros new
specie’s biology, behavior and morphology, found on Upper Tietê river.
Key-words: Taxonomy, DNA barcode, COI, Cichlidae, Australoheros.
20
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 Australoheros facetus: espécie tipo do gênero. Fonte: Fishbase
(2009)...................................................................................................25
Figura 2 Mapa ilustrativo dos pontos de coleta dos espécimes de ciclídeos da
Bacia do Alto Paraná............................................................................31
Figura 3
Amostras de DNA de ciclídeos em gel de agarose a 0,8% corado com
brometo de etídio.................................................................................38
Figura 4 Gel de agarose a 1,5% de amostras de DNA amplificadas com o primer
Fish-F2, Fish-R2 para o gene do citocromo c oxidase subunidade 1
(COI) ....................................................................................................40
Figura 5 Divergência média intraespecífica das espécies de ciclídeos
encontrados no Alto paraná ................................................................43
Figura 6 Fenograma das relações entre as espécies de Cichlidae coletadas no
Alto Paraná ..........................................................................................45
Figura 7 Australoheros sp. nova espécie............................................................46
Figura 8 Número de espinhos da nadadeira anal ..............................................50
Figura 9 Número de raios da nadadeira anal .....................................................51
Figura 10 Número de espinhos da nadadeira dorsal............................................51
Figura 11 Número de raios da nadadeira peitoral ................................................52
Figura 12 Número de rastros no primeiro epibranquial ........................................52
Figura 13 Número de rastros no primeiro ceratobranquial ...................................53
Figura 14 Fenograma ilustrando as relações entre as sequências do gene
mitocondrial citocromo b das espécies do gênero
Australoheros .......................................................................................55
21
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Espécies incluídas no gênero Australoheros e suas distribuições
geográficas...........................................................................................26
Tabela 2 Amostras dos espécimes coletados na bacia do Alto Paraná...............30
Tabela 3 Sequência de primers do gene COI testados nas reações de PCR......33
Tabela 4 Sequência de primers do gene Citocromo b utilizados nas reações de
PCR. ....................................................................................................34
Tabela 5 Reagentes utilizados nas reações de sequenciamento .......................35
Tabela 6 Frequência média de bases ( ATCG) do gene Citocromo c oxidase
subunidade I (COI)...............................................................................41
Tabela 7 Divergência entre as espécies de ciclídeos da bacia do Alto Rio
Paraná..................................................................................................43
Tabela 8 Dados morfométricos de Australoheros sp. ..........................................47
Tabela 9 Dados merísticos de Australoheros sp... ..............................................48
Tabela 10 Divergências genéticas interespecíficas do gene Citocromo b entre as
espécies do gênero Australoheros.......................................................54
22
LISTA DE ABREVEATURAS E SIGLAS
COI Citocromo c oxidase subunidade I
DNA Ácido desoxirribonucleico
dNTP Desoxiribonucleotídeo (A, G, C, ou T)
EDTA Ácido Etilenoaminotetracético
MgCl
2
Cloreto de Magnésio
µL Microlitro
mM Milimolar
ng Nanograma
pb Pares de bases
PBS Tampão Fosfato de sódio dibásico - fosfato de sódio monobásico
PCR Reação em cadeia da polimerase, do inglês Polymerase Chain Reaction
pmol Picomol
RNA Ácido Ribonucléico
Taq Enzima termoestável derivada da bactéria Thermus aquaticus
TAE Tampão Tris-acetato e EDTA
UV Luz ultravioleta
23
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................14
1.1 Marcadores Moleculares .....................................................................................14
1.2
DNA Barcoding....................................................................................................16
1.3
Bacia do Alto Rio Paraná ....................................................................................19
1.3.1 Características da bacia do Alto Paraná.......................................................19
1.3.2 Diversidade Ictiofaunística . ..........................................................................21
1.4
Cichlidae..............................................................................................................22
1.4.1 Gênero Australoheros...................................................................................24
2 OBJETIVOS...........................................................................................................28
2.1
Geral....................................................................................................................28
2.2
Específicos ..........................................................................................................28
3 MÉTODO................................................................................................................29
3.1
Coleta das Amostras ...........................................................................................29
3.2
Extração de DNA.................................................................................................32
3.3
Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) ...........................................................32
3.4
Purificação do Produto de PCR...........................................................................34
3.5
Sequenciamento..................................................................................................34
3.6
Análise Estatística dos Dados .............................................................................35
3.6.1
Análises Moleculares ...................................................................................35
3.6.2
Estudo Morfológico do gênero Australoheros ..............................................36
4 RESULTADOS.......................................................................................................38
4.1 Extração de DNA.................................................................................................38
4.2
Teste para a escolha dos Primers .......................................................................39
4.3
Sequenciamento..................................................................................................40
4.4
Fenogramas e Divergências Genéticas dos Cichlidae do Alto Paraná................41
4.5
Nova espécie de Australoheros para as cabeceiras do Alto Rio Tietê ................46
4.5.1
Dados Morfológicos......................................................................................46
4.5.2
Dados Moleculares.......................................................................................53
5 DISCUSSÃO..........................................................................................................56
24
5.1
Relações genéticas entre as espécies de Cichildae do Alto Rio Paraná.............56
5.2 Australoheros sp. espécie nova ..........................................................................60
6 CONCLUSÕES ......................................................................................................63
REFERÊNCIAS.........................................................................................................64
14
1 INTRODUÇÃO
1.1 Marcadores Moleculares
O conhecimento da diversidade biológica é crucial em qualquer estudo
relacionado às ciências da vida, no qual o reconhecimento das espécies assim como
a atividade de nomeá-las é fundamental para o estudo do comportamento, evolução
ou qualquer área relacionada a organismos vivos (SAVAGE, 1995).
Primeiramente foram utilizados dados morfológicos para a identificação das
espécies, pois naquele momento eram as ferramentas disponíveis aos
pesquisadores que deram início aos estudos de sistemática. Com o
desenvolvimento de novas técnicas, o estudo da biodiversidade tornou-se mais
amplo e conciso. Uma das primeiras técnicas a serem utilizadas foi à eletroforese
de proteínas em géis de amido (MANWELL e BAKER, 1963). Sequências de genes
de DNA ribossômico, assim como, de DNA mitocondrial dominaram a sistemática
molecular na cada de 80 (AVISE, 1994). Desde o final da década de 70 muitos
pesquisadores começaram a utilizar o DNA mitocondrial em estudos envolvendo
estrutura populacional, relações filogenéticas e como ferramenta para compreender
os vários aspectos biológicos e evolutivos de uma grande variedade de organismos
(WILSON et al.1985; AVISE et al. 1987; MORITZ et al. 1987).
John Avise reconheceu que divergências na sequência do DNA mitocondrial
poderiam fornecer registros da história evolutiva dentro de uma espécie, ligando os
estudos da genética populacional com a sistemática podendo estabelecer
investigações, esses estudos foram chamados de filogeografia (AVISE et al., 1987).
O DNA mitocondrial (mtDNA) tem sido amplamente utilizado nos estudos
filogenéticos de animais pois, sua taxa de evolução é superior quando comparado
com genes nucleares, resultando no acúmulo de diferenças entre espécies
diretamente relacionadas. A transmissão do DNA mitocondrial garante que as
variações que possam vir a ocorrer sejam geradas apenas por mutações, ao
contrário do genoma nuclear, em que a variação pode ser introduzida por meio de
recombinação (BROWN et al., 1979; MOORE 1995; MINDELL et al., 1997). As
15
diferenças que ocorrem nas sequências são muito maiores entre espécies do que
dentro da espécie, podendo deste modo, obter a distinção entre grupos
taxonômicos.
A taxonomia e a sistemática têm demonstrado um grande desenvolvimento
nos últimos anos, devido à incorporação de técnicas que utilizam marcas no DNA
que diferenciam dois ou mais indivíduos, denominados marcadores moleculares.
Esses todos de análise permitem avaliar as relações entre os táxons assim como
a sua história evolutiva (GRECHKO, 2002).
O uso de marcadores genéticos tem como objetivo revelar polimorfismos de
DNA entre indivíduos geneticamente relacionados. Atualmente existem inúmeras
técnicas disponíveis, sendo que cada uma utiliza uma estratégia particular para
detectar tal polimorfismo (SUNNUCKS, 2000). A biologia molecular apresenta uma
vasta área de atuação. Na genética da conservação tem possibilitado estimar níveis
de heterozigose, análise de estruturas populacionais, endemismo, biodiversidade,
identificação e acompanhamento da dispersão de espécies invasoras (SOLÉ-CAVA,
2001).
Os marcadores moleculares têm demonstrando ser uma ferramenta efetiva
para o mapeamento e diagnósticos genéticos, taxonomia molecular, análises da
integridade genética e estudos evolutivos (CARNEIRO et al., 1996). Informações
moleculares são muitas vezes fontes de caracteres que permitem a resolução das
relações filogenéticas e taxonômicas em situações em que a morfologia não pode
resolver. Como exemplo, Sezaki et al. (2005) utilizaram técnicas moleculares para
distinguir duas espécies de enguia a fim de evitar a exploração demasiada e
consequentemente o desaparecimento de uma única espécie. Essas duas espécies
são dificilmente distinguíveis a partir de suas características externas, e, além disso,
possuem valores comerciais diferentes.
As abordagens da taxonomia molecular podem ser definidas como métodos
baseados na comparação de sequências de DNA que permitem a distinção entre
espécimes de acordo com suas variações interespecíficas. Esse método tem
apresentado muitas vantagens tais como: (1) os dados podem ser obtidos a partir de
um número reduzido de exemplares; (2) táxons morfologicamente indistinguíveis
podem ser separados; (3) uma única técnica molecular pode ser aplicada a diversos
táxons (BLAXTER e FLOYD, 2003).
16
Revisões taxonômicas recentes feitas em aves mostram que espécies
reconhecidas só puderam ser definidas, em partes, com base em divergências
nucleotídicas em seu mtDNA (AVISE e ZINK, 1988; GILL e SLIKAS, 1992; MURRAY
et al., 1994; BANKS et al., 2003).
1.2 DNA Barcoding
Os genes codificadores de proteínas mitocondriais possuem maior
variabilidade quando comparado com genes ribossomais, por isso, são melhores
para distinguir espécies relativamente próximas. Ao mesmo tempo, a análise entre
sequências de genes mitocondriais são mais simples, pois não apresentam
inserções e deleções, que são frequentes em genes ribossomais (FOLMER et al.,
1994). Devido ao seu aparente melhor desempenho, recentemente foi proposto um
segmento de 648 nucleotídeos da extremidade 5’ do gene mitocondrial Citocromo c
Oxidase I (COI ou Cox1). De acordo com Hebert et al. (2003a; 2003b) esse
fragmento seria suficiente, em muitos metazoários, para distinguir e identificar
grupos que possuem classificação incerta, além de alocar os espécimes em
categorias taxonômicas.
Essa região possui uma série de características consideradas vantajosas para
o seu uso como, por exemplo; (1) por ser uma região curta pode ser obtida
facilmente para um grande número de táxons com uma pequena quantidade de
primers; (2) é uma sequência facilmente alinhada; (3) é informativa para distinguir
espécies próximas, pois possui variabilidade semelhante a outros genes
codificadores de proteínas (HEBERT et al., 2003a).
Esse gene foi um dos principais componentes da padronização da
metodologia, denominada DNA barcoding”, que ganhou importância em 2004 com a
criação do “Consortium for the BarCode of Life (CBOL)”, cujo objetivo é formar
alianças internacionais de investigação da diversidade da vida eucariótica
(MARSHALL, 2005), por meio da criação de um banco de dados de sequências
17
parciais de DNA do gene COI, promovendo deste modo o processo de automação
de identificação das espécies.
Diversos consórcios foram formados para auxiliar no estabelecimento do
CBOL, de modo a restringir os grupos de estudo. Por exemplo, The Lepidoptera
Barcode of Life é um banco de dados de sequências de COI que auxilia na
caracterização das espécies de borboletas e mariposas; All Birds Barcoding
Initiative difundido em 2005, visa reunir dados de aproximadamente 10.000
espécies conhecidas de pássaros de todo o mundo; “The Fish Barcode of Life
Initiative (Fish-Bol)” é uma biblioteca eletrônica de referência que contêm sequências
de COI de peixes, tanto de água doce quanto marinhos.
O método de DNA Barcoding usa a divergência entre sequências do gene
Citocromo c oxidase para facilitar a caracterização das espécies. Esse estudo tem
como objetivo a construção de bibliotecas de referência para espécies conhecidas.
Resultados anteriores mostram que o emprego desse todo é eficaz para a
identificação das espécies, a qual 95% mostraram sequências de COI distintas
(HEBERT et al., 2003b; 2004; WARD et al. 2005; HAJIBABAEI et al., 2007). Têm
como vantagens a identificação de espécimes imaturos, espécies extintas,
indivíduos em diferentes estágios do ciclo de vida e possíveis espécies crípticas. A
metodologia tem aplicabilidade em grupos de animais como aves, lepidópteras,
peixes, moscas entre outros (HEBERT et al., 2003a; HUBERT et al., 2008; WARD et
al., 2005; IVANOVA et al., 2007).
Em alguns peixes Neotropicais, é complicado compreender os processos de
especiação que originaram a diferenciação em espécies, devido à reduzida
variabilidade morfológica associada a alguns grupos. Nestes casos, estudos
moleculares têm um papel fundamental para esclarecer estes problemas de
identificação, pois são capazes de mostrar a diversidade genética presente nesses
grupos (TURNER et al., 2004).
Segundo Hajibabaei et al. (2007) o DNA Barcode pode auxiliar em outros
estudos como na filogenia, taxonomia e na genética de populações. Na taxonomia
pode ser rotineiramente utilizado para a identificação de espécimes e contribuir para
a investigação de espécies sem definição taxonômica. Em estudos filogenéticos
pode ser um ótimo ponto de partida para a seleção de táxons com ambiguidades
filogenéticas e a utilização das sequências depositadas no banco de dados do
Barcode pode ser utilizada para construção de árvores filogenéticas. Já em Genética
18
de populações pode oferecer o primeiro sinal de divergências populacionais e
facilitar o estudo comparativo da diversidade populacional de muitas espécies.
Alguns grupos taxonômicos não puderam ser prontamente distinguidos até o nível
de espécie como alguns cnidários bentônicos, grupos de anfíbios e algumas
espécies de gastrópodes, possivelmente porque esses grupos eram formados por
espécies com tempo de divergência bastante reduzido (WAUGH, 2007).
De acordo com Kress et al. (2005) a metodologia de DNA barcode não foi
eficiente para Angiospermas pois, a taxa mutacional do COI em plantas é mais lenta
comparado com animais. Com isso, esses pesquisadores propuseram a utilização
do espaçador intergênico trnH-psbA para a identificação de plantas com flores.
De acordo com Stoeckle et al. (2005) existe uma série de obstáculos para a
aplicação do DNA Barcode entre eles: (1) grupos com baixa diversidade gênica em
suas sequências; (2) espécies que divergiram recentemente; (3) detecção de
híbridos; (4) pseudogenes nucleares (Numts), que são cópias inativas semelhantes
e até mesmo idênticas de genes em outros lugares do genoma. São identificados
quando é feita a tradução para sequências de proteínas, e segundo Mallet e Willmott
(2003), o tamanho do gene não é suficiente para permitir a discriminação entre
espécies.
Algumas críticas também são feitas em relação à metodologia de DNA
Barcode. De acordo com Lipscomb et al. (2003) DNA Barcoding é uma “caricatura
da taxonomia real”, pois reduz a identificação taxonômica a uma tarefa meramente
técnica ao invés de gerar ciência baseada em hipóteses. Porém a proposta do DNA
Barcoding é unir pesquisas moleculares e morfológicas para o aprimoramento do
processo de identificação de espécies (DESALLE et al., 2005).
Outras sequências de DNA também foram sugeridas para esse mesmo fim,
como dos genes mitocondriais 16S rRNA e Citocromo b, porém, por questões de
padronização e pelo aparente melhor desempenho, o CBOL adotou como sequência
padrão o fragmento do gene COI (VENCES et al., 2005).
No Brasil, vários estudos envolvendo DNA barcoding são realizados para
diferentes grupos animais, entre eles, estudos com tartarugas marinhas que ocorrem
no litoral brasileiro (VARGAS et al., 2009), identificação de espécies dessaros da
família Thamnophilidae e Tyrannidae (VILAÇA et al., 2006; CHAVES et al., 2008),
identificação de mamíferos como quirópteros (REDONDO et al., 2008) e carnívoros
19
(TRIGO et al., 2008) e identificação de espécies novas de peixes (BENINE et al.,
2009).
Os conjuntos de dados moleculares podem auxiliar em casos onde as
características morfológicas não conseguem esclarecer relações a respeito da
sistemática, formando assim hipóteses mais consistentes.
Pesquisadores que utilizam DNA Barcoding pretendem tornar possível o uso
da metodologia molecular para alocar indivíduos em grupos taxonômicos e facilitar a
descoberta de novas espécies (MORITZ e CICERO, 2004).
1.3 Bacia do Alto Rio Paraná
1.3.1 Características da bacia do Alto Paraná
O Sistema do Alto Paraná, uma das bacias hidrográficas mais importantes do
Brasil, possui aproximadamente 900.000 km
2
e abrange o norte do Estado do
Paraná, sul do Mato Grosso do Sul, a maior parte do Estado de São Paulo, sul de
Minas Gerais, sul de Goiás e uma área do Paraguai oriental adjacente ao Mato
Grosso do Sul, que inclui o Reservatório de Itaipu, antigamente Salto de Sete
Quedas (BONETTO, 1986; BRITSKI e LANGEANI, 1988). A bacia do Alto Paraná
pertence à região ictiofaunística do Paraná, que inclui o sistema dos Rios da Prata-
Uruguai-Paraná- Paraguai representando o segundo maior sistema de drenagem da
América do Sul (LOWE-MCCONNELL, 1999).
Essa bacia é constituída por vários tipos de fitofisionomias como, Florestas
estacionais semideciduais, Cerrados, Florestas Ombrófilas Mistas, Campos
Rupestres e Matas de Galeria (HUECK e SEIBERT, 1981).
O nível de conservação da planície obedece a um gradiente, de acordo com a
proximidade de centros urbanos. Quanto maior a aproximação das cidades, maior o
nível de antropização (AGOSTINHO e ZAHWSKI, 1996), além de centros urbanos, a
bacia do Alto Paraná drena regiões industriais e agrícolas, constituindo uma região
20
excessivamente explorada. Esse quadro é responsável pelo empobrecimento da
fauna, principalmente em relação às espécies de grande porte. Esse impacto
assume proporções alarmantes apenas em áreas restritas da bacia, ou seja,
naquelas com maiores concentrações populacionais e industriais na qual os
recursos hídricos são impróprios para o consumo ou exigem elevados custos para
seu tratamento (AGOSTINHO et al., 2002).
Além disso, mais de 70% da produção hidrelétrica do país é gerada nessa
região, devido às inúmeras represas presentes nesse local, transformando os
principais afluentes do rio Paraná (Grande, Tietê, Paranapanema e Iguaçu) em uma
sucessão de lagos artificiais (LOWE-MCCONNELL, 1999).
Esses ambientes muitas vezes são representados por reservatórios artificiais,
o que aumenta consideravelmente a presença de espécies exóticas. Procedimentos
como construção de barragens, uso descontrolado de pesticidas e fertilizantes,
destruição de florestas, principalmente da vegetação ripária, assoreamentos e
introdução de espécies de outras bacias têm afetado fortemente as comunidades de
peixes (BÖLHKE et al., 1978; MENEZES, 1996; CASTRO e MENEZES, 1998).
Riachos e cabeceiras são ambientes que devem receber prioridade em estudos
relacionados à taxonomia, sistemática, evolução e biologia das espécies, pois frente
ao processo de antropização, são os primeiros a serem afetados, e como resultado,
perdemos muita informação a respeito da real biodiversidade local (CASTRO e
MENEZES, 1998; CASTRO, 1999).
O Alto Paraná é uma área que desde o início do Terciário vem sofrendo
atividades tectônicas, o que pode explicar os diversos eventos de captura de
cabeceiras, como ocorrido entre os rio Paraíba do Sul e Tietê (AB’SABER, 1998).
Esses eventos também podem explicar a distribuição de algumas espécies do Alto
Paraná ocorrer em drenagens vizinhas como o rio Paraíba do Sul, Ribeira do
Iguape, Rio São Francisco e algumas drenagens litorâneas (LANGEANI, 1989;
WEITZMAN e MALABARBA, 1999; RIBEIRO, 2006; RIBEIRO et al., 2006; SERRA et
al., 2007).
De acordo com Malabarba (1998) houve no passado conexões entre o rio
Tietê e drenagens costeiras devido a uma antiga adaptação do rio Paraíba, essas
conexões podem ter ocorrido em outras áreas do Alto Paraná, sendo necessários
estudos mais aprofundados, como filogeografia, para a melhor compreensão a
respeito da diversidade aquática deste local.
21
Diversas espécies comuns são citadas para as porções do Alto Paraná,
Ribeira de Iguape, rios costeiros do sudeste brasileiro e rio o Francisco
(LANGEANI, 1989; OLIVEIRA e BRITSKI, 2000; BRITTO e CASTRO, 2002;
OYAKAWA et al., 2005) e de acordo com Serra et al. (2007) foi encontrada uma
comunidade característica de peixes do Alto Tietê em riachos litorâneos do Estado
de São Paulo.
1.3.2 Diversidade Ictiofaunística
A América do Sul possui a maior riqueza de espécies de peixes de água doce
do mundo, porém, a avaliação e compreensão dessa rica diversidade são afetadas
pelo conhecimento incompleto da ecologia, biologia e sistemática (MENEZES,
1996).
Böhlke et al. (1978) estimaram que o número de espécies de água doce
neotropicais chegaria a 5000. Vinte anos depois, Schaefer (1998) estima um número
de 8.000 espécies, representando um oitavo de toda a biodiversidade estimada de
vertebrados viventes. Deste modo, devido à carência de informação da diversidade,
estão sendo utilizadas metodologias como os marcadores genéticos e moleculares
para peixes Neotropicais visando o conhecimento de características de interesse
econômico, bem como a preservação de unidades evolutivamente significativas
(RYDER, 1986).
De acordo com Castro e Menezes (1998) o sistema do Alto Paraná,
principalmente na região do Estado de São Paulo possui os maiores rios do Estado.
Estes canais são habitados por espécies de médio a grande porte como curimbatás
(Prochilodus spp), piaparas (Leporinus sp.), pintados e cacharas (Pseudoplatystoma
spp) e jaús (Zungaro zungaro). Essas espécies normalmente possuem extensas
distribuições geográficas e importância na pesca comercial e de subsistência.
Associados a estes rios, existe um grande número de riachos e cabeceiras,
habitados por espécies de pequeno porte, com distribuição geográfica restrita, com
pouco ou nenhum valor comercial. Essas espécies o dependentes da vegetação
22
ripária para sua alimentação, abrigo e reprodução e representam 50% do total de
peixes de água doce descritas para a América do Sul mostrando um elevado grau
de endemismo (BÖHLKE et al., 1978; LOWE-MCCONNELL, 1999).
Em inventário feitos por Langeani et al. (2007) foram encontrados para o Alto
Paraná 310 espécies de peixes distribuídas em 11 ordens e 38 famílias, número
superior a inventário feito anteriormente por Bonetto (1986), no qual foram
apontadas 130 espécies. Foi observada maior riqueza de peixes da ordem
Siluriformes e Characiformes representando cerca de 80% das espécies.
A Ictiofauna do Alto Paraná é constituída, em sua maioria, por espécies
detritívoras (iliófagas e bentófagas) e piscívoras, que também ocorrerem em grande
número de indivíduos, correspondendo a uma considerável biomassa de peixes
capturados (AGOSTINHO e JÚLIO JR., 1999).
1.4 Cichlidae
A família Cichlidae é um grupo monofilético que compreende
aproximadamente 1600 espécies válidas (ESCHMEYER e FONG, 2010). Possui
ampla distribuição geográfica, com representantes encontrados na América do Sul,
Central, Cuba, Espanha, em toda a África, Madagascar, Índia, Sri Lanka, Síria, Israel
e Irã (STIASSNY, 1991; CHAKRABARTY, 2006; SPARKS e SMITH, 2004;
MARESCALCHI, 2005). A monofilia da família é suportada por caracteres
morfológicos (ZIHLER, 1982; GAEMERS, 1984; STIASSNY, 1987) e moleculares
(STREELMAN e KARL 1997; FARIAS et al., 1999; 2000).
O grupo dos ciclídeos é rico em espécies com taxa de especiação
extremamente rápida, formada por peixes altamente especializados (KORNFIELD,
1978; THOMPSON, 1979). São considerados peixes de água doce secundários,
identificados como um grupo que derivou a partir de espécimes marinhos. Existem
casos em que espécies são encontradas vivendo em águas salobras ou nadando
em águas marinhas (MURRAY, 2001).
23
Ciclídeos possuem hábitos diurnos, formam ninhos, possuem cuidado
parental dos ovos e larvas e são adaptados aos mais variados ambientes, apesar de
ocorrerem com maior frequência em águas calmas.
Em relação ao número de espécies, os ciclídeos africanos são mais
expressivos quando comparados aos ciclídeos Neotropicais, que por outro lado,
apresentam comportamento, morfologia e ecologia variados (Nelson, 2006).
Acredita-se que a divisão entre os ciclídeos Sul Americanos e os Africanos
aconteceu no cretáceo, após a fragmentação da Gondwanna mais de 100
milhões de anos (STIASSNY, 1987; NELSON, 2006). Após terem se instalado na
América do Sul, conseguiram atingir a América Central e do Norte, principalmente no
México. São encontrados também na Europa, como fósseis, e nas Antilhas
(MURRAY, 2001).
De acordo com Kocher (2004), a partir de um único ancestral, surgiram
aproximadamente 2.000 espécies de ciclídeos em pelo menos 10 milhões de anos
nos lagos do leste da África. Essa informação demonstra a rápida taxa de
especiação que ocorre entre os ciclídeos como um todo.
De acordo com Nelson (2006), a família Cichlidae é taxonomicamente
classificada como:
Classe – Osteichthyes
Sub-Classe – Actinopterygii
Infra-Classe – Teleostei
Divisão – Euteleostei
Infra-Divisão – Neoteleostei
Super-Ordem – Acanthopterygii
Série – Percomorpha
Ordem – Perciformes
Sub-Ordem – Labroidei
Família – Cichlidae
No sistema do Alto Rio Paraná os ciclídeos são representados pelos gêneros
Geophagus Heckel 1840, Crenicichla Heckel, 1840; Cichlasoma Swainson, 1839;
Australoheros Rican e Kullander, 2006; Satanoperca Günther, 1862; Cichla Bloch e
24
Schneider, 180; Astronotus Swainson, 1839; Gymnogeophagus Miranda Ribeiro,
1918; Oreochromis Günther, 1889 e Tilapia Smith, 1840 (Langeani et al., 2007).
1.4.1 Gênero Australoheros
O gênero Australoheros pertence à subfamília Cichlasomatinae (tribo Heroini)
com espécies encontradas na bacia do Rio da Prata, nos tributários do rio Paraná,
rio Paraguai e principalmente no sistema do rio Uruguai. Sua distribuição se estende
a oeste na cordilheira dos Andes, na Argentina indo para o leste nas drenagens
costeiras do Atlântico, Uruguai e no Brasil, incluindo a drenagem de São Francisco.
Pode ocorrer também na bacia do rio Tocantins. Sua distribuição é superior em
comparação a outros ciclídeos do grupo Heroini, estendendo-se por todo o
continente Sul - americano. É o único gênero dessa tribo que ocorre fora da bacia
Amazônica, e apesar de pertencer aos ciclídeos Sul - americanos, é mais
relacionado com os Heroini da mesoamérica e das Antilhas (RICAN e KULLANDER,
2008).
É um grupo monofilético suportado por sinapomorfias como o padrão de
coloração na fase reprodutiva onde se observa a interrupção das listras (5-7) em sua
parte mediodorsal e presença de xantóforos na base da nadadeira caudal em
juvenis (RICAN e KULLANDER, 2006). A interrupção das listras, anteriormente
considerada como característica diagnóstica para a espécie Cichlasoma facetum,
hoje suporta a monofilia do gênero.
Rican e Kullander (2006) recentemente descreveram o gênero Australoheros,
e a princípio, foram reconhecidas quatro espécies: Australoheros facetus (JENYNS,
1842), Australoheros tembe (CASCIOTTA, GÓMEZ e TORESANI, 1995),
Australoheros scitulus (RICAN e KULLANDER, 2003) e Australoheros kaaygua
(CASCIOTTA, ALMIRÓN e GÓMEZ, 2006). A Tabela 1 apresenta as espécies que
foram posteriormente descritas e suas distribuições geográficas. De acordo com
Rican e Kullander (2008) a biogeografia de Australoheros ao longo do baixo Paraná,
e na maioria da parte ocidental da Argentina, ainda é pouco conhecida, porém
25
estudos indicam que Australoheros facetus é provavelmente o grupo-irmão de A.
guarani. Australoheros facetus é encontrado somente em drenagens costeiras do
Rio da Prata, mas não ao longo do rio Uruguai (onde Australoheros minuano é
encontrado). Para as drenagens do Alto Paraná, encontramos representantes de A.
guarani, e para essa drenagem não são conhecidos os limites de distribuição de A.
facetus.
A complexidade e a diversidade de formas das espécies, além da grande
distribuição geográfica, tornam o gênero Australoheros um dos mais diversificados
dentro da tribo Heroini (RICAN e KULLANDER, 2008).
Em levantamentos ictiofaunísticos até agora realizados para o Alto Paraná,
foram encontrados para o gênero Australoheros somente a espécie Australoheros
facetus (LANGEANI et al., 2007) (Figura 1). Devido às inúmeras espécies descritas
nos últimos anos, é possível ainda que existam espécies que não foram descritas,
fazendo-se necessários estudos a respeito da taxonomia utilizando ferramentas
moleculares e morfológicas para o reconhecimento do gênero e estimativa da
biodiversidade.
Figura 1
. Australoheros facetus: espécie tipo do gênero. Fonte:
Fishbase (2009)
26
Espécie Distribuição
Australoheros forquilha Rican e Kullander, 2008 Bacia do Alto Rio Uruguai
(Argentina e Brasil)
Australoheros charrua Rican e Kullander, 2008 Drenagens do Rio Uruguai (Brasil)
Australoheros minuano Rican e Kullander, 2008 Médio e Baixo Rio Uruguai (Brasil
e Uruguai)
Australoheros guarani Rican e Kullander, 2008 Tributários do Baixo Rio Paraguai
(Paraguai)
Australoheros autrani Ottoni e Costa, 2008 Bacia do Rio São João (Sudeste
do Brasil)
Australoheros barbosae Ottoni e Costa, 2008 Bacia do Rio Paraíba do Sul, Rio
Preto (Minas Gerais)
Australoheros ipatinguensis Ottoni e Costa, 2008 Bacia do Rio Doce (Minas Gerais)
Australoheros macacuensis Ottoni e Costa, 2008 Bacia do Rio Macacu (Rio de
Janeiro)
Australoheros macaensis Ottoni e Costa, 2008 Bacia do Rio Macaé (Sudeste do
Brasil)
Australoheros muriae Ottoni e Costa, 2008 Rio Muriaé, Bacia do Rio Paraíba
do Sul (Sudeste do Brasil)
Australoheros paraibae Ottoni e Costa, 2008 Rio do Peixe, Rio Paraíba do Sul
(Brasil)
Australoheros ribeirae Ottoni, Oyakawa e Costa, 2008 Bacia do Rio Ribeira do Iguape
(Brasil)
Australoheros robustus Ottoni e Costa, 2008
Córrego da Areira, Bacia do Rio
Paraíba do Sul (Brasil)
Australoheros saquarema Ottoni e Costa, 2008
Bacia do Rio Mato Grosso,
Sistema Lagoa de Saquarema. RJ
Australoheros taura Ottoni e Cheffe, 2009
Bacia do Alto Rio das Antas, Rio
Grande do Sul (Brasil)
Tabela 1
. Espécies incluídas no gênero Australoheros e suas distribuições geográficas. Fonte:
Eschmeyer (2010).
27
Australoheros kaaygua Casciotta, Almirón e Gómez,
2006
Bacia do Rio Iguaçu (Brasil e
Argentina) tributários do Alto Rio
Uruguai (Brasil)
Australoheros tembe (Casciotta, Gómez e Toresanni,
1995)
Bacia do Rio Paraná e Rio
Uruguai (Argentina)
Australoheros scitulus (Rican e Kullander, 2003) Tributários do Baixo Rio Uruguai
(Argentina, Uruguai e Brasil)
Australoheros facetus (Jenyns, 1842) Argentina, Brasil, Chile e Uruguai
Continuação da tabela 1.
28
2 OBJETIVOS
2.1 Geral
Caracterizar por meio de dados moleculares as espécies de Cichlidae da
bacia do Alto Rio Paraná utilizando gene mitocondrial Citocromo c Oxidase
subunidade I;
Apresentar evidências de uma nova espécie de Australoheros para os rios
de cabeceiras do Alto Rio Tietê.
2.2 Específicos
Realizar o sequenciamento de segmentos parciais do gene mitocondrial
COI para as espécies da família Cichlidae encontradas no Alto Paraná;
Avaliar o desempenho das sequências do gene COI para a caracterização
das espécies de peixes;
Apresentar evidências de uma nova espécie de Australoheros para a
bacia do Alto Rio Tietê utilizando dados moleculares e morfológicos.
29
3 MÉTODO
3.1 Coleta das Amostras
Amostras de tecidos foram adquiridas em colaboração com o Laboratório de
Biologia e Genética de Peixes do Profº Drº Cláudio de Oliveira da Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” campus Botucatu.
Os métodos de coleta utilizados na captura dos espécimes incluíram a
técnica de pesca elétrica, redes de espera incluindo puçás, vara e anzol. Após a
obtenção dos indivíduos, partes da nadadeira e músculo foram retirados e
conservados em etanol 95%, e os indivíduos posteriormente fixados em formol 10%
para futuras análises morfológicas. Foram adquiridos de 5 a 10 amostras de tecido
de cada espécie para posterior extração de DNA. Os espécimes foram coletados na
bacia do Alto Rio Paraná em diversas localidades conforme apresentado na Tabela
2. A Figura 2 indica as localidades das coletas ao longo do Alto Rio Paraná.
30
Espécie Número do Lote/ nº de
acesso do tecido
Localidade Data
Crenicichla haroldoi LBP 6712 (31750) Rio Paraná/Bacia do
Prata
01/VII/2008
Crenicichla britskii LBP 5218 (26402, 26403,
26404, 26405, 26459,
26460, 26461)
Rio Paraná/ Rio do Prata 31/X/2007
Crenicichla sp. LBP 6421 (29973, 29974,
29975, 29976, 29977)
Rio Tibagi/ Bacia do
Prata
05/VI/2008
Crenicichla sp. LBP 2593 (17219, 17220,
17221, 17222, 17223)
Rio Tietê/Miraluz- SP 17/II/2005
Crenicichla sp. LBP 2993 (19658, 19659,
19660)
Rio Tietê/Rio Paraná 23/IX/2004
Cichla piquiti LBP 6720 (32030) Rio Paraná/Bacia do
Prata
01/VII/2008
Cichla kelberi LBP 5192 (26758, 26695,
26693, 26696, 26692)
Rio da Prata/ Rio Paraná 31/X/2007
Cichla sp. LBP 3492 (20147, 20148,
20149, 20150, 20151,
20152, 20153, 20154.)
Rio Tietê/Rio Paraná 01/I/2006
Cichlasoma
paranaense
LBP 5001 (32210, 32211,
32212, 25905, 25906,
25907)
Rio Grande/Rio Paraná 09/IV/2007
Australoheros riberae LBP 4630 (34801, 34802,
34803, 4630, 35523)
Jaguary/ Ribeira de
Iguape
17/XI/2008
Australoheros sp. (6b30, ID62, ID81, ID83,
ID94, ID96, ID102, ID109,
ID112, ID116, ID117,
ID120, ID157.
Cabeceiras do Alto Rio
Tietê
2008/2009
Geophagus
brasiliensis
LBP 5950 (28089, 28090,
28091, 27917, 27919)
Rio Grande/ Bacia do
Prata
10/I/2008
Geophagus
brasiliensis
1B02, ID46, 5B36 Rio Tietê/ Rio Paraitinga/
Rio Jundiaí
24/I/2008
Oreochromis niloticus
ID155(1), (2), (3), (4), (5) Rio Tietê/ Reservatório
Jundiaí
X/2009
Tilapia rendalli ID154 (1), (2), (3), (4), (5) Rio Tietê/ Reservatório
Jundiaí
X/2009
Astronotus
crassipinnis
LBP 5193 (26681, 26680,
26682, 26683, 26684,
26679.)
Rio da Prata/ Rio Paraná
31/X/2007
Satanoperca
pappaterra
LBP 5194 (26745, 26748,
26749, 26747, 26746,
26750)
Rio da Prata/ Rio Paraná
31/X/2007
Tabela 2. Amostras dos espécimes coletados na bacia do Alto Rio Paraná
31
Figura 2
. Mapa ilustrativo dos pontos de coleta dos espécimes de ciclídeos da Bacia do Alto
Paraná. Nota: Cada ponto representa um local de coleta. Fonte: SpeciesLink (2001)
32
3.2 Extração de DNA
Para a extração do DNA total foram utilizadas partes da nadadeira peitoral e
rastros branquiais. Foi utilizado o kit de extração Illustra
TM
Tissue&Cells
genomicPrep Mini Spin Kit (GE Healthcare Life Sciences) de acordo com os
procedimentos descritos pelo fabricante. O protocolo consiste basicamente na
homogeneização do tecido utilizando tampão PBS (Fosfato de sódio dibásico a
50mM, fosfato de sódio monobásico a 50mM, pH 7,4), lise do tecido para a
liberação do conteúdo citoplasmático, remoção do RNA, purificação da amostras
para a remoção das proteínas e posterior precipitação do DNA.
Após a extração, as amostras foram avaliadas quanto a integridade e
concentração de DNA por meio de gel de agarose a 0,8% em tampão TAE 1X
(0.04M Tris-acetato, 0.001M EDTA) corado com brometo de etídio (1mg/mL),
digitalizados sob luz UV e por meio de espectrofotômetro (NanoDrop
®
ND-1000).
3.3 Reação em Cadeia da Polimerase (PCR)
Para a amplificação da região do gene Citocromo c oxidase subunidade I
(COI) foram realizadas reações de PCR contendo DNA template a 50ng/ µL, 10pmol
de primer, 2,5 mM de MgCl
2
, 1U de Taq DNA Polimerase, 2,5 mM de dNTP e água
esterilizada para um volume final de 50 µL. O programa utilizado para as
amplificações consiste em: 94°C por 3 minutos, 94°C por 1 minuto, 55°C por 1
minuto, 72°C por 1 minuto e 40 segundos em um total de 35 ciclos. As reações
foram realizadas em termociclador (Peltier Thermal Cicler PTC 200-MJ Research).
Géis de agarose a 1,2% (70V) foram feitos para verificar as amplificações e
posteriormente digitalizados em fotodocumentador ImageQuant 300 (GE Healthcare
Life Sciences), utilizando-se luz UV. Para preparação das reações de PCR um
controle negativo foi usado como indicador da não contaminação das demais
33
amostras, sendo que o mesmo é preparado com todos os componentes, porém, sem
o DNA. As amostras foram preparadas em fluxo laminar com esterilização do
material em raios UV.
Foram testados 4 pares de primers do gene COI para a obtenção de bandas
consistentes. Dois pares foram cedidos gentilmente pelo Profº Drº Cláudio de
Oliveira da Universidade Estadual Paulista. Os primers testados foram: L6252, H
7271, e L5698, H5934. Outros dois pares foram sintetizados de acordo com Ward et
al. (2005) Fish-F1, Fish-R1 e Fish-F2, Fish-R2 (Tabela 3).
Primers Sequência
L6252 5’ AAG GCG GGG AAA GCC CCG GCA G 3’
H7271 5’ TCC TAT GTA GCC GAA TGG TTC TTT T 3
L5698 5’ AGG CCT CGA TCC TAC AAA GKT TTA GT 3’
H5934 5’ GGG TGC CAA TGT CTT TGT GGT T 3’
Fish-F1 5’ TCAACCAACCACAAAGACATTGGCAC 3’
Fish-R1 5’ TAGACTTCTGGGTGGCCAAAGAATCA 3
Fish-F2 5’ TCGACTAATCATAAAGATATCGGCAC 3’
Fish-R2 5’ ACTTCAGGGTGACCGAAGAATCAGAA 3’
Para a caracterização da possível espécie nova de Australoheros sp. foram
utilizados primers do gene Citocromo b (Tabela 4) de acordo com Kocher et al.
(1989) Glu-DGL e H15149 e Irwin et al. (1991) Fish-cytB-F e H15915.
As condições de amplificação do Citocromo b seguem o protocolo descrito
para o gene COI.
Tabela 3. Sequência de primers do gene COI testados nas reações de PCR
34
Primers Sequência
Glu-DGL 5’ TGA CTT GAA RAA CCA YCG TTG 3’
Fish-cytB-F
5 ACC ACC GTT GTT ATT CAA CTA CAA GAA C’ 3’
H15149 5’ AAA CTG CAG CCC CTC AGA ATG ATA TTT GTC CTC A 3’
H15915 5’ AAC TGC CAG TCA TCT CCG GGT TAC AAG AC 3’
3.4 Purificação do produto de PCR
Após a avaliação em gel de agarose, o produto amplificado da região de
interesse foi purificado para a utilização na reação de sequenciamento. As amostras
foram purificadas utilizado o kit “GFX
TM
PCR DNA e Gel Band Purification” (GE
Healthcare), segundo recomendações do fabricante.
A verificação da qualidade das purificações foi feita por meio de eletroforese
em gel de agarose a 1,5% (65V) corado com brometo de etídio.
3.5 Sequenciamento
O sequenciamento foi realizado segundo o método de interrupção de cadeia
(SANGER et al., 1977) utilizando-se o kit DYEnamic ET Terminator premix (GE
Healthcare). As reações foram feitas no Centro de Estudos do Genoma Humano da
Universidade de São Paulo. O protocolo de preparação da reação de
sequenciamento encontra-se na Tabela 5. As condições de temperatura para
realizar as reações foram: 95ºC por 20 segundos, 55ºC por 15 segundos, 60ºC por 1
minuto em um total de 30 ciclos.
Tabela 4. Sequência de primers do gene Citocromo b utilizados nas reações de PCR.
35
O material foi analisado no equipamento de sequenciamento automático ABI
Prism 3730 (Applied Biosystems). Foram feitas duplicatas de cada amostra para a
obtenção de sequências consenso.
Reagentes Quantidade
Amostra de DNA purificado 1µL (Amostra de DNA a 20 ng)
DYEnamic ET terminator 4 µL (2 µl de buffer tampão e 2 µl de prémix)
Primer (5 pmol/ µL) 1 µL
Água ultrapura Completar para 10 µL de reação.
3.6 Análise Estatística dos Dados
3.6.1 Análises Moleculares
As sequências foram editadas utilizando o programa BIOEDIT Sequence
Alignment Editor 7.0.9 (HALL, 1999) para a obtenção de sequências consenso. É
realizado esse procedimento para que a sequência em estudo seja fidedigna ao
representado no genoma, aumentando a confiabilidade dos resultados.
As análises taxonômicas dos dados moleculares para o gene COI foram
realizadas com o programa MEGA 4 (TAMURA et al., 2007), utilizando o método de
Neighbor- Joining (SAITOU e NEI, 1987) modelo Kimura-2-parameter (KIMURA,
1980) com bootstrap de 3000 plicas. As sequências foram alinhadas utilizando o
aplicativo ClustalW (THOMPSON et al., 1994).
Tabela 5. Reagentes utilizados nas reações de sequenciamento.
36
Kimura-2-parameter (K2P) é o modelo que assume diferentes probabilidades
de ocorrer substituições de bases nucleotídicas, ou seja, probabilidades diferentes
de ocorrer transições e transversões. Diferentemente, o modelo Jukes Cantor
assume que as mudanças de nucleotídeos podem ocorrer aleatoriamente, ou seja,
igual probabilidade de ocorrer mudanças de bases. O modelo Kimura-2-parameter
foi utilizado por questão de padronização da técnica de DNA Barcode. Esse é o
melhor modelo quando as distâncias entre os xons são baixas (NEI e KUMAR
2000).
Neighbor- Joining é um método para a reconstrução de árvores a partir de
uma matriz de distância e de acordo com o princípio da evolução mínima (minimum
evolution). A distância entre cada par de espécies é a soma dos comprimentos dos
ramos que os unem na árvore, combinando os nós da árvore até encontrar uma
combinação que fornece a menor soma de comprimento de ramos, resultando em
árvores sem raiz denominadas fenogramas (SAITOU e NEI, 1987).
para a análise das sequências do gene Citocromo b foi utilizado o método
de Evolução Mínima modelo Kimura-2-parameter com bootstrap de 3000 réplicas.
Para o citocromo b foi utilizado esse método, pois a topologia da árvore encontrada
corroborou com a divergência genética par a par entre as espécies. Foi gerada,
contudo, uma árvore de evolução mínima sem raiz. O método da evolução mínima
estima o comprimento total dos ramos de cada possível topologia. Depois de avaliar
todas as possíveis topologias, o método escolhe a topologia com o menor
comprimento total de ramos.
3.6.2 Estudo Morfológico do gênero Australoheros
A análise morfológica foi baseada em caracteres morfométricos e merísticos
descritos por Kullander (1987). Adicionalmente, a nova espécie foi diferenciada por
meio de dados morfológicos encontrados na literatura (Rican e Kullander, 2008;
Ottoni e Costa, 2008; Ottoni, Oyakawa e Costa, 2008; Ottoni e Cheffe, 2009;
37
Casciotta, Almirón e Gómez, 2006; Casciotta, Gómez e Toresanni, 1995; Rican e
Kullander, 2003). Foram utilizados os valores máximos e mínimos para a
comparação com os dados presentes na literatura.
As medidas morfométricas foram feitas com paquímetro utilizando precisão de
décimo de milímetro, e as contagens foram realizadas utilizando lupa
estereoscópica.
Após a obtenção dos dados morfométricos e merísticos, estes foram inseridos
em planilhas utilizando o programa Microsoft Office Excel 2003 para a análise
estatística.
38
4 RESULTADOS
4.1 Extração de DNA
As extrações de DNA utilizando o kit Illustra
TM
Tissue&Cells genomicPrep
Mini Spin Kit, apresentaram pouca degradação e DNA suficiente para a realização
da PCR (Figura 3).
M
Figura 3
. Amostras de DNA de ciclídeos em gel de
agarose a 0,8% corado com brometo de etídio. Nota:
M= Marcador λ-Hind III.
6557 pb
23130
pb
9416 pb
4361
pb
39
4.2 Teste para escolha dos primers
Foram testados 4 pares de primers para o gene COI e 2 pares para o gene
Citocromo b. Foram avaliados parâmetros como reprodutibilidade, intensidade e
uniformidade das bandas obtidas. Para o COI,
os primers L6252 e H7271 (Oliveira,
C. comunicação pessoal), resultaram em bandas de 1000 pb, porém não foi possível
amplificar todas as amostras do lote. os primers L5698 e H5934 (Oliveira, C.
comunicação pessoal.) obtiveram reprodutibilidade, porém as bandas possuíam
aproximadamente 300 pb, o que poderia representar um pseudogene.
os pares de primers Fish-F1, Fish-R1 e Fish-F2, Fish-R2 (Ward et al.,
2005), obtiveram reprodutibilidade para todas as amostras e bandas consistentes de
700 pb. Foi escolhido para a amplificação de todas as amostras o par Fish-F2, Fish-
R2, pois as bandas eram mais intensas no gel comparadas com as bandas
utilizando os primers Fish-F1, Fish-R1 (Figura 4). O par de primer escolhido inicia o
anelamento no começo do gene COI, aproximadamente a partir de 40 pb.
Para a amplificação do gene Citocromo b foi utilizado o par de primers Fish-
cytB-F e H15149 devido à uniformidade e reprodutibilidade das bandas que tiveram
resultado superior as bandas amplificadas com o par Glu-DGL e H15915.
As purificações utilizando o kit “GFX
TM
PCR DNA e Gel Band Purification”
foram satisfatórias, a qual foi possível obter quantidade suficiente de DNA para
posterior sequenciamento.
40
4.3 Sequenciamento
As sequências após serem obtidas, foram alinhadas e editadas para a
construção dos fenogramas e análise dos dados de similaridade. Os cromatogramas
apresentaram picos definidos e sequências concisas.
Figura 4
. Gel de agarose 1,5% de amostras de DNA
amplificadas com o primer Fish-F1, Fish-R1 para o
gene do Citocromo c oxidase subunidade 1 (COI).
Nota: M= Marcador 100 pb.
M
600 pb
41
4.4 Fenogramas e Divergências Genéticas dos Cichlidae do Alto
Paraná
Após o sequenciamento e tratamento das sequências consenso, estas foram
analisadas para se obter árvores por meio dos dados moleculares. Foi obtido um
total de 89 sequências do gene COI com 544pb, incluindo 15 espécies dentro de 9
gêneros. Dos 544 nucleotídeos foram observados: 304 sítios conservados, 235 sítios
variados e 18 sítios únicos. A composição nucleotídica indicou maior quantidade de
bases C e T (Tabela 6).
Gene A T C G
COI 23,2% 29,8% 30,3% 16,6%
A média de divergência intraespecífica no grupo dos ciclídeos do Alto Paraná
foi de 0,5%, com o mínimo de 0% e máximo de 1%. Já a divergência média
interespecífica foi de 19%, com mínimo de 3% e máximo de 30%.
Para a espécie Crenicichla britskii a divergência genética intraespecífica foi
de 0%. Espécimes que anteriormente não possuíam classificação, representados
como Crenicichla sp. tiveram divergência de 1% a 3%. Para os demais grupos de
ciclídeos, Crenicichla britskii, obteve divergência média interespecífica de
aproximadamente 25%.
Cichlasoma paranaense obteve divergência intraespecífica variando de 0% a
1% com média interespecífica de 21,5%. A menor divergência interespecífica foi
para a espécie Cichla sp. (18%) e maior para Tilapia rendalli (25%).
Tabela 6
. Frequência média de bases (ATCG) do gene Citocromo c
oxidase subunidade I (COI).
42
Astronotus crassipinnis teve divergência intraespecífca de 0% e média de
divergência interespecífica de 19,5% com menor divergência para Cichla kelberi
(15%) e maior para Tilapia rendalli (24%).
As espécies Cichla piquiti e Cichla kelberi obtiveram divergência dia de
6%.
A divergência intraespecífica para os exemplares da espécie Satanoperca
pappaterra foi de 0%, com média interespecífica de 21,5%. A menor divergência foi
observada em relação às espécies de Geophagus brasiliensis com 18% e
divergência máxima para as espécies de Oreochromis niloticus.
Dentro da espécie Geophagus brasiliensis a divergência foi de 0%, com
média interespecífica de 22,5%. A menor divergência (18%) foi observada para a
espécie Satanoperca pappaterra e maior (27%) para a espécie Crenicichla sp.
proveniente do rio Tibagi, Bacia do Prata.
A espécie nova de Australoheros sp. comparada com a espécie Australoheros
ribeirae tiveram divergência nucleotídica de 4% e para a espécie Australoheros
facetus de 3%. Entre os exemplares de Australoheros sp. a divergência foi de 0%. A
média interespecífica foi de 23%, com menor diferenciação para as espécies Cichla
sp. e Tilapia rendalli e maior para Crenicichla haroldoi.
Australoheros ribeirae possui divergência intraespecífica de 0% com média
interespecífica de 23% com maior divergência para a espécie Cichla sp. e menor
para a espécie Crenicichla haroldoi.
Entre os indivíduos pertencentes à espécie Tilapia rendalli a divergência
nucleotídica foi de 0% e média interespecífica de 23%, com menor divergência para
a espécie Australoheros ribeirae (18%) e maior para Crenicichla haroldoi (28%).
Oreochromis niloticus também mostra divergência intraespecífica de 0% porém a
média interespecífica foi de 20,5%, com menor divergência para Tilapia rendalli e
maior para Crenicichla haroldoi. Os dados acima foram sumarizados e apresentados
na Tabela 7, o qual é mostrado à divergência entre as espécies de Cichlidae
coletados no Alto Paraná. A Figura 5 apresenta o padrão das divergências dias
interespecíficas entre os ciclídeos do Alto Paraná.
43
Figura 5. Divergência média intraespecífica entre de ciclídeos encontrados no Alto Paraná.
Divergência Média Interespecífica dos Ciclídeos do Alto Paraná
0
5
10
15
20
25
30
Média interespefica
Crenicihla britiskii
Cichlasoma paranaense
Astronotus crassipinnis
Satanoperca pappaterra
Geophagus brasiliensis
Australoheros sp.
Australoheros ribeirae
Tilapia rendalli
Oreochromis niloticus
Cichla piquiti
Cichla kelberi
Tabela 7. Divergência entre as espécies de ciclídeos da bacia do Alto Rio Paraná
44
O fenograma na Figura 6 mostra as relações entre os ciclídeos da bacia do
Alto Paraná. Cada ramo representa um conjunto de indivíduos, exceto os ramos que
compreendem as espécies do gênero Crenicichla e Cichla, que estão representados
todos os exemplares analisados. As espécies do gênero Australoheros compartilham
um clado assim como as espécies Oreochromis niloticus e Tilapia rendalli. O
conjunto de espécimes classificados como Cichla sp. podem ser caracterizadas
parte como Cichla piquiti e parte como Cichla kelberi.
O gênero Crenicichla formou um único ramo suportado por 90% de bootstrap,
havendo separação entre as espécies Crenicichla haroldoi e Crenicichla britskii. Os
espécimes Crenicichla sp. de 1 a 11 podem ser classificados como Crenicichla
britskii.
45
19659
19660
19658
17223
17222
17221
17219
Crenicichla britsk ii
Crenicichla britsk ii(2)
Crenicichla britskii(3)
29973
29974
29976
Crenicichla sp.
20154
Cichla piquiti
20152
20151
20149
Cichla k elberi(3)
20147
20150
Cichla k elberi(5)
Cichla k elberi
Cichla k elberi(2)
Cichla k elberi(4)
0.02
Figura
6
.
Fenograma das relações entre as espécies de Cichlidae coletadas no
Alto Paraná utilizando o método de análise Neighbor- Joining modelo Kimura-2-
parameter. Nota: Ex.= Exemplar. A espécie Australoheros ribeirae não pertence à
Bacia do Alto Paraná. Cada ramo representa mais de um exemplar exceto para
as espécies do gênero Crenicichla e Cichla.
Cichlasoma paranaense
Satanoperca pappaterra
Geophagus brasiliensis
Astronotus crassipinnis
Tilapia rendalli
Oreochromis niloticus
Australoheros ribeirae
Australoheros facetus
Australoheros
sp. Tie
Crenicichla haroldoi
Crenicichla sp.(ex.17219)
Crenicichla sp.(ex.17221)
Crenicichla sp.(ex.17222)
Crenicichla sp.(ex.17223)
Crenicichla sp.(ex.19658)
Crenicichla sp.(ex.19659)
Crenicichla sp.(ex.19660)
Crenicichla britskii (ex.26459)
Crenicichla britskii (ex.26460)
Crenicichla britskii (ex.26461)
Crenicichla sp. (ex.29974)
Crenicichla sp.(ex.29976)
Crenicichla
sp.
(ex.29973)
Crenicichla
sp. (
ex.
17220)
Cichla sp (ex.20154)
Cichla piquiti
Cichla sp (ex.20152)
Cichla sp (ex.20151)
Cichla sp (ex.20149)
Cichla cf. kelberi (ex.26692)
Cichla cf. kelberi (ex.26693)
Cichla cf. kelberi (ex.26696)
Cichla
cf
.
kelberi
(ex.26758
)
Cichla sp.(ex.20147)
Cichla sp. (ex.20150)
Cichla
cf.
kelberi
(
ex.26695
)
70
99
98
100
99
99
90
46
4.5 Nova espécie de Australoheros para as cabeceiras do Alto
Rio Tietê
4.5.1 Dados Morfológicos
Nos rios de cabeceiras pertencentes à Bacia do Rio Tietê foi reconhecida uma
nova espécie pertencente ao gênero Australoheros, a qual foi diferenciada das
demais espécies do gênero com base em características morfológicas e
moleculares.
A espécie do Alto Tietê (Figura 7) é popularmente chamada de Cará-verde,
por possuir uma coloração verde típica. Possui listras interrompidas na porção
mediodorsal (perto da cabeça), e em juvenis, ocorre à presença de xantóforos na
base da nadadeira caudal. Os dados morfométricos e merísticos são apresentados
nas Tabelas 8 e 9.
Figura 7. Australoheros sp. nova espécie. Fonte: Marceniuk (2009)
47
Medida N Min- Max Média
Comprimento Padrão (mm) 23 27,7 – 129,5 78,5
Altura do corpo 23 11,4 – 61,7 35,4
Comprimento da nadadeira peitoral 23 7,2 – 38,5 23,1
Comprimento da nadadeira pélvica 23 7,1 – 69,6 40,3
Comp. do último espinho da
nadadeira dorsal
23 3,1 – 20,4 11,7
Altura do pedúnculo caudal 23 4,4 – 24,4 7,2
Comp. do pedúnculo caudal 23 4,3 – 11,3 7,2
Comprimento da mandíbula
superior
23 2,6 – 16,4 9,2
Comp. da mandíbula inferior 23 4,1 – 21,9 12,4
Comprimento da cabeça 23 10 - 44 27,6
Comprimento do focinho 23 3,1 – 18,3 10,6
Diâmetro orbital 23 3,8 – 11,8 8,3
Largura pré-orbital 23 1,2 – 10,1 5,3
Altura da Cabeça 23 9,6 – 48,1 28,1
Largura interorbital 23 3 – 20,8 10,8
Tabela
8
. Dados morfométricos em porcentagem do comprimento padrão de
Australoheros sp. Nota: N = Número de indivíduos examinados; Min = Medida
mínima; Max =Medida máxima.
48
Contagens N Min- Max
Espinhos da nadadeira dorsal 23 16 -17
Raios da nadadeira dorsal 23 8 - 11
Espinhos da nadadeira anal 23 7- 8
Raios da nadadeira anal 23 7- 8
Espinhos da nadadeira pélvica 23 1
Raios da nadadeira pélvica 23 5
Raios da nadadeira caudal 23 22
Raios da nadadeira peitoral 23 13- 14
Epibranquial 23 3- 4
Ceratobranquial 23 9 -10
Total de Vértebras 23 26
Pares de costelas 23 10
Vértebras pré- caudais 23 14
Escamas da linha lateral superior 23 16- 17
Escamas da linha lateral inferior 23 7 -10
Morfologicamente, Australoheros sp. difere de Australoheros autrani por
possuir menor número de raios da nadadeira anal (7-8 vs. 9-10; Figura 9), menor
número de rastros no primeiro arco epibranquial (3-4 vs. 5-6; Figura 12) e menor
número de rastros do primeiro arco ceratobranquial (9-10 vs. 14-16; Figura 13).
Australoheros sp. pode ser diferenciada da espécie Australoheros barbosae
por possuir menor número de raios da nadadeira anal (7-8 vs. 9-10; Figura 9), menor
número de rastros no primeiro arco epibranquial (3-4 vs. 6-8; Figura 12) e menor
número de rastros do primeiro arco ceratobranquial (9-10 vs.15-17; Figura13). A
nova espécie difere de Australoheros charrua por possuir maior número de rastros
no primeiro arco epibranquial (3-4 vs. 2; Figura 12) e maior número de rastros do
primeiro arco ceratobranquial (9-10 vs. 6-8; Figura 13).
Australoheros sp. difere das espécies Australoheros facetus e Australoheros
forquilha por possuir menor número de rastros do epibranquial (3-4 vs. 6-7, Figura
12) e maior número de rastros do ceratobranquial (3-4 vs. 2; Figura 13). Difere da
Tabela
9
. Dados merísticos de Australoheros sp. Nota: N = Número de
indivíduos examinados; Min = Medida mínima; Max =Medida máxima.
49
espécie Australoheros guarani por ter maior mero de rastros do epibranquial (3-4
vs. 2; Figura 12) e maior número de rastros do ceratobranquial (9-10 vs. 8, Figura
13).
A nova espécie é diferenciada de Australoheros ipatinguensis por possuir
menor número de raios da nadadeira anal (7-8 vs. 9; Figura 9), maior número de
espinhos da nadadeira dorsal (16-17 vs. 15; Figura 10) e menor número de rastros
do ceratobranquial (9-10 vs. 13-14; Figura 13).
Australoheros sp. difere da espécie Australoheros kaaygua e Australoheros
tembe por possuir maior número de espinhos da nadadeira anal (7-8 vs. 5-6; Figura
8) e para a espécie Australoheros kaaygua por possuir maior número do
epibranquial (3-4 vs. 2; Figura 12) e maior número de rastros no ceratobranquial (9-
10 vs. 6-8; Figura 13).
Australoheros sp. é diferenciada da espécie Australoheros macacuensis por
possuir menor número de rastros do epibranquial (3-4 vs. 6-7; Figura 12) e menor
número de rastros do ceratobranquial (9-10 vs. 14-15; Figura 13). Difere também da
espécie Australoheros macaensis por possuir menor número de rastros do
ceratobranquial (9-10 vs. 15-16; Figura 13).
A nova espécie é diferenciada de Australoheros minuano por possuir maior
número de raios da nadadeira peitoral (13-14 vs. 12; Figura 11), maior número de
rastros do epibranquial (3-4 vs. 2; Figura 12) e maior número de rastros do
ceratobranquial (9-10 vs. 6-8; Figura 13). Difere também da espécie Australoheros
miriae por possuir menor número de raios da nadadeira anal (7-8 vs. 9-10; Figura 9),
maior número de espinhos da nadadeira dorsal (16-17 vs. 15; Figura 10) e menor
número de rastros do ceratobranquial (9-10 vs. 13-16; Figura 13).
Australoheros sp. difere de Australoheros paraibae por possuir menor número
de rastros do epibranquial (3-4 vs. 7-8; Figura 12) e menor número de rastros do
ceratobranquial (9-10 v.s 13-16; Figura 13). Difere de Australoheros ribeirae por
possui menor número de rastros do epibranquial (3-4 vs. 5-7; Figura 12) e menor
número de rastros do ceratobranquial (9-10 v.s 15-16; Figura 13). Difere também da
espécie Australoheros robustus por possuir menor número de rastros do
ceratobranquial (9-10 vs. 13-16; Figura 13).
A nova espécie difere de Australoheros saquarema por possuir menor número
de raios da nadadeira anal (7-8 vs. 9; Figura 9), e menor mero de rastros do
ceratobranquial (9-10 v.s 13-14; Figura 13). Difere da espécie Australoheros taura
50
por possuir menor número de rastros do epibranquial (3-4 vs. 6-7; Figura 12) e
menor número de rastros do ceratobranquial (9-10 v.s 15-16; Figura 13). E por fim,
difere da espécie Australoheros tembe por possuir maior número de espinhos da
nadadeira anal (7-8 v.s 5-6; Figura 8).
Figura 8. Número de espinhos da nadadeira anal.
Número de espinhos da nadadeira anal
7
8
5
6
5
6
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
Espécies
de espinhos
Australoheros sp.
Australoheros kaaygua
Australoheros tembe
51
Figura 10. Número de espinhos da nadadeira dorsal
Figura 9. Número de raios da nadadeira anal
Número de espinhos da nadadeira dorsal
16
17
15 15
14
15
16
17
18
Espécies
de espinhos
Australoheros sp.
Australoheros muriae
Australoheros
ipatinguensis
Número de raios da nadadeira anal
7
8
9
10
9
10
9
10
9 9
6
7
8
9
10
11
Escies
Nº de raios
Australoheros sp.
Australoheros autrani
Australoheros barbosae
Australoheros muriae
Australoheros ipatinguensis
Australoheros saquarema
52
Figura 11. Número de raios da nadadeira peitoral
Número de raios da nadadeira peitoral
13
14
12
11
12
13
14
15
Espécies
de raios
Australoheros sp.
Australoheros minuano
Número de rastros no primeiro epibranquial
1
2
3
4
5
6
7
8
9
Espécies
de rastros
Australoheros sp.
Australoheros autrani
Australoheros barbosae
Australoheros charrua
Australoheros facetus
Australoheros guarani
Australoheros kaaygua
Australoheros m inuano
Australoheros forquilha
Australoheros m acacuensis
Australoheros taura
Australoheros paraibae
Australoheros ribeirae
1500 pb
Figura 12. Número de rastros no primeiro epibranquial
53
4.5.2 Dados Moleculares
De acordo com os dados moleculares gerados, foram alinhadas 37
sequências do gene
Citocromo
b de aproximadamente 368pb o qual foi encontrado
321 sítios conservados, 45 sítios variados e 8 sítios únicos. As sequências são
compostas por 31,9% de timina, 27,7% de citosina, 24,7% de adenina e 15,7% de
guanina.
O fenograma ilustrado na Figura 14, mostra que a espécie
Australoheros
sp.
forma uma clado distinto em relação as demais espécies representadas. As
comparações entre as sequências das espécies foram feitas utilizando espécimes
Figura 13. Número de rastros do primeiro ceratobranquial
Número de rastros do primeiro ceratobranquial
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
Espécies
de rastros
Australoheros sp.
Australoheros autrani
Australoheros barbosae
Australoheros ipatinguensis
Australoheros muriae
Australoheros charrua
Australoheros kaaygua
Australoheros minuano
Australoheros guarani
Australoheros macacuensis
Australoheros paraibae
Australoheros robustus
Australoheros ribeirae
Australoheros taura
Australoheros macaensis
Australoheros saquarema
54
sequenciados para o presente trabalho e espécimes depositados no banco de dados
GenBank
.
A espécie do Tietê está mais relacionada com
Australoheros ribeirae
e
distante de
Australoheros scitulus
, corroborando com a divergência genética de 3%
para A.
ribeirae
e 7% para A.
scitulus
.
A Tabela 10 reporta a divergência genética entre as espécies do gênero
Australoheros
, demonstrando a divergência intraespecífica da espécie
Australoheros
sp. de 0% e divergência interespecífica variando de 3% a 7%.
Os ramos são sustentados com
bootstrap
acima de 76 indicando robustez dos
grupos formados.
Amostra/Divergência 1 2 3 4 5 6 7
1.
Australoheros
sp.
0%
2.
Australoheros ribeirae
3% 0%
3.
Australoheros kaaygua
4% 3% 0%
4.
Australoheros minuano
4% 4% 4% 0%
5.
Australoheros tembe
5% 4% 4% 6% 0%
6.
Australoheros facetus
5% 3% 4% 4% 4% 0%
7.
Australoheros scitulus
7% 6% 6% 7% 6% 5% 0%
Tabela
10
. Divergências genéticas interespecíficas do gene Citocromo b entre as
espécies do gênero Australoheros.
55
Australoheros sp. Tiet
Australoheros sp. Tiet(2)
Australoheros sp. Tiet(3)
Australoheros sp. Tiet(4)
Australoheros sp. Tiet(5)
Australoheros sp. Tiet(6)
Australoheros sp. Tiet(7)
Australoheros sp. Tiet(8)
Australoheros sp. Tiet(9)
Australoheros sp. Tiet(10)
Australoheros sp. Tiet(11)
Australoheros ribeirae
Australoheros ribeirae(2)
Australoheros ribeirae(3)
Australoheros ribeirae(4)
Australoheros ribeirae(5)
Australoheros k aaygua
Australoheros minuano
Australoheros tembe
Australoheros tembe(2)
Australoheros scitulus(2)
Australoheros scitulus(3)
Australoheros scitulus
Australoheros facetus
Australoheros facetus(2)
Australoheros facetus(3)
Australoheros facetus(4)
Australoheros facetus(5)
Australoheros facetus(6)
0.005
Australoheros sp.
Australoheros sp.
Australoheros sp.
Australoheros sp.
Australoheros sp.
Australoheros sp.
Australoheros sp.
Australoheros sp.
Australoheros sp.
Australoheros sp.
Australoheros sp.
Australoheros sp.
Australoheros ribeirae
Australoheros ribeirae
Australoheros ribeirae
Australoheros ribeirae
Australoheros ribeirae
Australoheros kaaygua (AY998658)
Australoheros minuano
(AY998659)
Australoheros tembe (AY998660)
Aust
raloheros tembe
(AY843373)
Australoheros scitulus (AY998661)
Australoheros scitulus (AY998662)
Australoheros scitulus (AY998663)
Australoheros facetus (AY998667)
Australoheros facetus (AY998666)
Australoheros facetus (AY998664)
Australoheros facetus (AY843387)
Australoheros facetus (AY843386)
100
96
100
99
98
80
76
79
F
igura 1
4
.
Fenograma ilustrando as relações entre as sequências do gene mitocondrial Citocromo b das
espécies do nero Australoheros utilizando método de evolução mínima modelo K2P. Nota: Os códigos
entre parênteses indicam o número de acesso no Genbank. O grupo vermelho pertence a bacia do Alto Rio
Tietê. O grupo azul pertence a bacia de Ribeira de Iguape. Verde pertence a bacia do Alto Rio Uruguai.
Roxo pertence à bacia do médio e baixo Rio Uruguai. O grupo em laranja pertence a bacia do Rio Paraná e
Uruguai. O grupo em amarelo pertence a bacia do baixo Uruguai e por fim, o grupo em preto está
distribuídos em diversas bacias na Argentina, Brasil, Chile e Uruguai.
56
5 DISCUSSÃO
5.1 Relações genéticas entre as espécies de Cichlidae do Alto
Rio Paraná
Por meio da análise do gene COI foram obtidos diversos agrupamentos
específicos e supra-específicos dos ciclídeos do Alto Paraná.
O primeiro agrupamento compreende as espécies
Oreochromis niloticus
e
Tilapia rendalli
. Essas duas espécies foram usadas para o enraizamento do
fenograma por serem os únicos representantes do grupo dos ciclídeos africanos. As
tilápias foram introduzidas em várias partes do mundo por possuir características
propícias para o cultivo. Os principais objetivos para sua introdução foram o
repovoamento de reservatórios e rios, controle da vegetação aquática e cultivo em
pesqueiros e pisciculturas (ATZ, 1954; RIEDEL, 1965).
Em 1953 foi introduzido na região sudeste do Brasil a primeira espécie de
tilápia,
Tilapia rendalli
originária do antigo Congo Belga (AZEVEDO, 1955). Essa
espécie foi inicialmente trazida para o Brasil para o controle da vegetação que
obstruía as turbinas de hidrelétricas, posteriormente foi levada para o nordeste para
o repovoamento de açudes e o desenvolvimento da piscicultura. Devido ao baixo
rendimento da
Tilápia rendali
, em 1971 foi importada da Costa do Marfim a tilápia
nilótica (
Oreochromis niloticus
) e a tilápia de Zanzibar (
Oreochromis urolepis
hornorum
) (LOVSHIN, 1976).
Em estudos filogenéticos realizados com o grupo dos ciclídeos, é comum as
espécies
Oreochromis niloticus
e
Tilapia rendalli
compartilharem um mesmo ramo.
Essa hipótese é corroborada por resultados encontrados por Farias
et al
. (1999;
2000),o qual utilizando o gene 16S propuseram a filogenia de Cichlidae, separando
em grupos como Ciclídeos Neotropicais, Africanos, e o grupo basal compartilhado
pelo ciclídeos de Madagascar e Índia. Nesse trabalho, os gêneros
Oreochromis
e
Tilapia
dividiram um clado, com
bootstrap
de 97. Sparks (2004) propõe para esses
57
dois gêneros africanos a mesma hipótese, onde
Oreochromis
e
Tilapia
também
compartilharam um clado com 96 de bootstrap.
Outro agrupamento formado refere-se às espécies do gênero
Australoheros.
Incluído nesse clado, estão as espécies de
Australoheros facetus
, encontrada em
levantamentos ictiofaunísticos para a bacia do Alto Paraná (LANGEANI
et al
., 2007),
Australoheros ribeirae
, endêmica da bacia do Ribeira de Iguape, não pertence ao
Alto Paraná, foi incluída na análise para propor a hipótese de nova espécie para o
grupo dos
Australoheros
do Alto Tietê. Esse grupo foi formado corroborando a
existência de uma nova espécie desse gênero de acordo com a diversidade
interespecífica observada dentro do gênero, variando de 3% a 4% e
bootstrap
de
100.
Outro clado pode ser observado entre os gêneros
Astronotus
e
Cichla
. A
espécie
Astronotus crassipinnis
é encontrada recentemente na bacia do Alto Rio
Paraná, possivelmente depois da soltura de exemplares de aquário (GRAÇA e
PAVANELLI, 2007), e anteriormente identificada como
Astronotus ocellatus
(Agassiz, 1831) (KULLANDER, 2003b). Para o Alto Paraná são descritas somente
duas espécies do gênero
Cichla
:
Cichla kelberi
e
Cichla piquiti
, as quais foram
introduzidas na bacia. A espécie
Cichla kelberi
, popularmente conhecida como
“tucunaré-amarelo” e originária da bacia Amazônica, foi introduzida para a utilização
na pesca esportiva, e atualmente está entre as espécies mais abundantes da região
(JÚNIOR
et al
., 2003). Anteriormente era reconhecida na bacia do Alto Rio Paraná
como
Cichla monoculus
(Spix e Agassiz, 1831) (KULLANDER e FERREIRA, 2006).
A espécie
Cichla piquiti
, popularmente conhecida como “tucunaré-azul”, possui
distribuição geográfica entre a bacia dos rios Tocantins e Araguaia, e foi introduzida
no Alto Paraná com espécimes provenientes da bacia do rio Tocantins (OLIVEIRA,
2007). Essa espécie era identificada como
Cichla
sp. para o Alto Paraná (GRAÇA e
PAVANELLI, 2007).
Os gêneros
Astronotus
e
Cichla
estão fortemente relacionados e
compartilham um clado o qual corrobora a hipótese sugerida por diversos autores.
Essa hipótese foi observada utilizando os genes 16S, citocromo
b
, ATPase e
sequências nucleares (FARIAS
et al
., 1999; 2000; ZARDOYA
et al
. 1996), e como
visto no presente trabalho, essa hipótese também é corroborada utilizando-se o
gene COI.
58
Os espécimes identificados como
Cichla
sp. foram reconhecidos como
Cichla
piquiti
(exemplares 20154, 20152, 20151 e 20149) por possuir divergência
nucleotídica nula e compartilharem um clado com 99 de
bootstrap
. Os espécimes
Cichla
sp (exemplar 20147). e
Cichla
sp. (exemplar 20150), foram identificados como
Cichla
cf.
kelberi
por compartilhar um clado único
e possuir divergência nucleotídica
de 1%, com um ramo sustentado por bootstrap de 98, indicando robustez do grupo
formado (HEBERT
et al
., 2003a).
Os espécimes identificados a
priori
como
Cichla kelberi
foram classificados
como
Cichla
cf.
kelberi
, pois os exemplares 26695, 26692, 26693 e 26696 não
compartilham o mesmo clado, o qual o foi possível confirmar o exemplar que
representa a espécie
Cichla kelberi
verdadeira. O espécime identificado como
Cichla
aff.
kelberi
(26695) possivelmente pertence a uma outra espécie. Essa hipótese é
sustentada pela divergência nucleotídica encontrada entre esse espécime e os
demais identificados como
Cichla
cf
. kelberi
(exemplar 26758, 26692, 26693 e
26696), com divergência de 3%. Como as espécies de
Cichla
foram introduzidas no
Alto Paraná, é possível que tenha ocorrido à introdução de outras espécies desse
gênero, provenientes de bacias hidrográficas diferentes. Estudos envolvendo maior
número de exemplares são necessários para corroborar essa hipótese.
Os indivíduos pertencentes à espécie
Cichlasoma paranaense
compartilharam um único clado, com divergência genética de 0% entre eles,
indicando que todos pertençam à mesma espécie. Essa espécie possui distribuição
excepcionalmente na Bacia do Alto Rio Paraná (GRAÇA e PAVANELLI, 2007).
Outro agrupamento observado compreende as espécies
Satanoperca
pappaterra
e
Geophagus brasiliensis
. Esse clado é sustentado por duas hipóteses. A
primeira refere-se à espécie
Satanoperca pappaterra
. Para a bacia do Rio Paraná,
essa espécie era incluída no gênero
Geophagus
Heckel, 1840, e identificada como
Geophagus jurupari
Heckel, 1840. Atualmente sabe-se que a espécie
Geophagus
jurupari
é restrita a bacia do baixo Amazonas, ocorrendo para o Alto Paraná
somente a espécie identificada como
Satanoperca pappaterra
, que possui
distribuição nas Bacias dos rios Amazonas, Guaporé e Paraná-Paraguai
(KULLANDER, 2003a) A outra hipótese refere-se à filogenia do grupo dos ciclídeos.
De acordo com a hipótese filogenética da família Cichlidae,
Satanoperca
faz parte
da subfamília Geophaginae, assim como
Geophagus brasiliensis
(FARIAS 1999;
2000), sustentando a intrínseca relação entre essas duas espécies.
59
Por fim, o agrupamento formado pelas espécies do gênero
Crenicichla
. As
espécies de
Crenicichla
que não puderam ser identificadas por meio das
características morfológicas foram identificadas na análise do gene COI.
Crenicichlas
sp. (17219, 17221, 17222, 17223, 19658, 19659, 19660, 29974, 29976,
29973) foram reconhecidas como C.
britskii
por possuir divergência de 1% e formar
um clado com
bootstrap
de 90. Quando são observados índices menores de 2%
pode-se inferir que divergência intraespecífica, ou seja, diferença populacional
que geralmente é inferior 1% (AVISE, 2000). Diferentemente do espécime
Crenicichla
sp. (17220), que possui divergência de 3%, ficando separada das
demais por um clado distinto. Esse indivíduo pode ser classificado como outra
espécie de
Crenicihla
não representada na presente análise.
Para o Alto Paraná são descritas cinco espécies pertencentes ao gênero
Crenicichla
(LANGEANI
et al
., 2007). Contudo, de acordo com Graça e Pavanelli
(2007) foram identificadas somente quatro. Para Langeani
et al
. (2007) é
reconhecida a espécie
Crenicichla jaguarensis
(Haseman,1911). Essas espécies
descritas possuem distribuição pela Bacia do Rio Paraná, e possivelmente, o
espécime
Crenicihla
sp. (17220), pode ser qualquer uma das espécies descritas
para a Bacia do Rio Paraná.
As divergências genéticas encontradas entre as espécies de Cichlidae são
superiores em comparação com Characidae.
Astyanax
e
Bramocharax
, os quais
possuem valores de divergência abaixo de 2% (VALDEZ - MORENO
et al
., 2009),
indicando a recente formação do grupo (HEBERT
et al
., 2003a).
A divergência nucleotídica máxima encontrada entre gêneros de Cichlidae
apresentada no presente trabalho foi de 29%, a qual é superior quando comparada
com os peixes de água doce da Guatemala e México, que possuem divergência de
16% entre gêneros. Esse índice é ainda superior quando confrontado com os
resultados de Ward
et al
. (2009) que compararam 273 gêneros de peixes e
obtiveram a divergência máxima interespecífica de 24,18% .
As espécies marinhas possuem menores divergências em relação aos peixes
de água doce, o que pode ser observado comparando os ciclídeos do Alto Paraná
com as espécies de peixes marinhos da Austrália, 29%
vs
. 20% (Ward, 2005). A
fragmentação dos rios e lagos de água doce a partir das redes continentais levaram
a maior estruturação genética entre as populações de peixes, acentuando as
60
divergências nucleotídicas em comparação as espécies marinhas (WARD
et al
.,
1994).
A composição nucleotídica obtida indica maior porcentagem de bases C e T
como observado em grupos de teleósteos (WARD
et al
., 2005, WARD e HOLMES,
2007).
As relações estabelecidas entre os
taxa
por meio da análise do gene COI
refletiram a filogenia do grupo proposta por Farias
et al
. (1999) e Sparks e Smith
(2004) demonstrando que o COI pode ser um indicador na seleção de táxons para
estudos filogenéticos e além disso, as sequências de DNA obtidas nos projetos de
DNA
barcoding
podem ser adicionadas ao conjunto de sequências utilizadas para
elaboração de filogenias (HAJIBABAEI
et al
.,2007). O
barcode
foi eficiente para a
caracterização das espécies de ciclídeos do Alto Paraná.
5.2 Australoheros sp. nova espécie
O conjunto de dados morfológicos e moleculares teve importância
fundamental para propor a hipótese de uma nova espécie de
Australoheros
para o
Alto Rio Tietê.
Historicamente as espécies do gênero
Australoheros
encontradas no sudeste
do Brasil, incluindo a bacia do Alto Paraná, bacia do rio Ribeira de Iguape e a bacia
do rio Paraíba do Sul foram designadas como
Cichlasoma facetum
(Jenyns 1842),
ou
Australoheros facetus
(ARAÚJO e NUNAN, 2005; LANGEANI
et al
., 2007;
PEREIRA e OYAKAWA, 2003 ).
Castro
et al
. (2004), em levantamentos feitos para a bacia do Rio Grande no
estado de São Paulo, identificaram os espécimes possivelmente de
Australoheros
facetus
como
Cichlasoma facetum
. Assim como para o Alto Paranapanema, Martins
e Barrella (2008) classificaram um ciclídeo popularmente conhecido como cara-
verde e identificaram como pertencendo à espécie
Cichlasoma facetum
.
Estudos anteriores consideravam o gênero
Australoheros
como um pequeno
grupo de espécies, o qual era identificado como
Cichlasoma
Swainson, 1839. Muitas
61
espécies foram identificadas como
Cichlasoma facetum
(JENYNS, 1842),
especialmente para o Alto Paraná.
No Brasil, a espécie
Australoheros facetus
possui distribuição no Rio Grande
do Sul e principalmente na Bacia do rio Paraná. Para a bacia do rio Paraíba do Sul,
foram descritas recentemente quatro espécies pertencentes ao gênero
Australoheros
e
para a
bacia do rio Ribeira de Iguape descrita até hoje uma espécie,
Australoheros ribeirae
(OTTONI e COSTA, 2008;
OTTONI, OYAKAWA e COSTA,
2008).
Para a bacia do rio Paraná foi registrada até hoje somente três espécies do
gênero
Australoheros:
A. facetus
,
A. tembe
e
A. guarani
(LANGEANI
et al
. 2007;
RICAN e KULLANDER, 2008). De acordo com os resultados apresentados no
presente trabalho, uma nova espécie do gênero
Australoheros
ocorre nas
cabeceiras do Alto Tietê. Esta nova espécie se diferencia por dados morfológicos e
moleculares das espécies recentemente descritas para as bacias vizinhas como
Ribeira de Iguape (OTTONI, OYAKAWA e COSTA, 2008) e Paraíba do Sul (OTTONI
e COSTA, 2008).
Australoheros
sp. compartilha características morfológicas únicas com as
demais espécies do gênero como, listras interrompidas na porção mediodorsal e
juvenis com xantóforos na base da nadadeira caudal (RICAN e KULLANDER, 2006).
As divergências nucleotídicas que separam as espécies de
Autraloheros
variaram de 3% a 7%, similares as encontradas por Rican e Kullander (2006) o qual
obtiveram valores superiores a 4%. Várias espécies da tribo Heroini estão separadas
por divergências de sequencias de Citocromo
b
menores,
Astatheros alfari
e A.
bussingi
possuem 2,5% de divergência, separando essas duas espécies
(LOISELLE, 1997; MARTIN e BERMINGHAM, 1998). A composição nucleotídica
observada é típica do gene citocromo
b
encontrada em ciclídeos, onde predominam
bases T e C (FARIAS
et al
., 2001).
Diante dos resultados apresentados no presente trabalho, é válido ressaltar a
importância da conservação de
habitats
, principalmente nas cabeceiras dos rios,
onde um elevado grau de endemismo. Espécies endêmicas são importantes para
estudos voltados a biodiversidade e qualidade ambiental, principalmente para
espécies que ocorrem em margens de rios, pois se tornam mais suscetíveis as
ações antrópicas. Isso implica no desaparecimento de espécies de peixes que,
muitas vezes, ainda não foram descritas na literatura científica. A taxonomia
62
utilizando ferramentas moleculares e estudos morfológicos nos leva a entender os
processos relacionados à sistemática de um modo mais conciso, auxiliando deste
modo nos levantamentos da biodiversidade. Além disso, foi proposta a hipótese de
uma nova espécie de
Australoheros
para as cabeceiras do Alto Rio Tietê por meio
de dados moleculares e morfológicos.
63
6 CONCLUSÕES
O gene citocromo c oxidase subunidade I oferece novas informações a
respeito da identidade das espécies de Cichlidae coletadas na bacia do Alto Rio
Paraná;
O gene COI foi efetivo para a identificação das espécies de ciclídeos do Alto
Paraná;
Foram identificadas para o Alto Paraná 15 espécies distribuídas em 9 gêneros
de Cichlidae de acordo com a análise do gene COI;
A espécie do gênero Australoheros encontrada no Alto Tietê trata-se de uma
nova espécie; essa hipótese foi proposta por meio de caracteres morfológicos e
moleculares.
64
REFERÊNCIAS
AB’SABER, N. A. Megageomorfologia do território brasileiro. In: Geomorfologia do
Brasil (Cunha, S. B e Guerra, A. J. T eds). Rio de Janeiro: Bertand Brasil, 1998. p.
71-106.
AGOSTINHO, A. A. e ZALEWSKI, M. A planície alagável do alto rio Paraná:
importância e preservação (Upper Paraná River floodplain: Importance and
Preservation). Maringá: EDUEM, 1996. p. 100.
AGOSTINHO, A. A.; JÚLIO JR., H. F. Peixes da bacia do Alto Rio Paraná. In:
Estudos Ecológicos de Comunidades de Peixes Tropicais. (Lowe-McConnell, R.
H. ed.) São Paulo: Edusp, 1999. p. 374-400.
AGOSTINHO, A. A.; THOMAZ, S. M. e KESHIYU-NAKATANI. A Planície de
Inundação do Alto rio Paraná. In: SEELIGER, U.; CORDAZZO, C. e BARBOSA, F.
Os Sites e o Programa Brasileiro de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração.
Belo Horizonte: [s.m], 2002. p. 101-124.
ARAÚJO, J. R. S. e G. W. NUNAN. Ictiofauna do rio Paraíba do Sul: danos
ambientais e sociais causados por barragens, hidrelétricas e poluição no trecho
fluminense. Rio de Janeiro: CPDMA-ALERJ, 2005. p. 59.
ATZ J.W. The peregrinating Tilapia. Animal Kingdom, v. 57, p. 148-155. 1954.
AVISE, J. C.; ARNOLD, J.; BALL, R. M.; BERMINGHAM, E.; LAMB, T.; NEIGEL, J.
E.; REEB, C. A e SAUNDERS, N. C. Intraspecific phylogeography: the mitochondrial
DNA bridge between population genetics and systematics. Annual Review of
Ecology and Systematics, v. 18, p. 489-522, 1987.
AVISE, J. C. e ZINK, R. M. Molecular genetic divergence between avian sibling
species: king and clapper rails, long-billed and short-billed dowitchers, boat-tailed
and great-tailed grackles, and tufted and black-crested titmice. Auk, v.105, p. 516–
528, 1988.
AVISE, J. C. Molecular markers, natural history and evolution. New York:
Chapman e Hall, 1994.
65
AVISE, J.C. Phylogeography: the history and formation of species. Harvard
University Press. 2000.
AZEVEDO, P. Aclimação da tilápia no Brasil. Chácaras e Quintais, v. 2, p. 191–92,
1955.
BANKS, R. C.; CICERO, C.; DUNN, J. L.; KRATTER, A. W. ; RASMUSSEN, P. C.;
REMSEN, J. V.; RISING, J.A e STOTZ, D. F. Fortyfourth supplement to the
Ornithologists’ Union checklist of North American birds. Auk, v. 120, p. 923–931,
2003.
BENINE, R. C.; MARIGUELA, T. C.; OLIVEIRA, C. New species of Moenkhausia
Eigenmann, 1903 (Characiformes: Characidae) with comments on the Moenkhausia
oligolepis species complex. Neotropical Ichthyology, v. 7, p. 1-168, 2009.
BLAXTER, M e FLOYD, R. Molecular taxonomics for biodiversity surveys: already
and reality. Trends in Ecology and Evolution, v. 18, p. 268-269, 2003.
BÖHLKE, J.; WEITZMAN, S. H. e MENEZES, N. A. Estado atual da Sistemática de
peixes de água doce da América do Sul. Acta Amazônica, v. 8, p. 657- 677, 1978.
BONETTO, A. A. The Paraná river system. In: The ecology of river systems
(Davies, B. R. e Walker, K. F eds.). Dordrecht: Dr. W.Junk Publishers, 1986. p. 541-
555.
BRITSKI, H. A. e LANGEANI, F. Pimelodus paranaensis, sp.n., um novo
Pimelodidae (Pisces, Siluriformes) do Alto Paraná, Brasil. Revista Brasileira de
Zoologia, v. 5, p. 409-417, 1988.
BRITTO, M. R. e CASTRO, R. M .C. New Corydoradine catfish (Siluriformes:
Callichthyidae) from the upper Paraná and São Francisco: the sister group of Brochis
and most of Corydoras species. Copeia, v. 4, p. 1006-1015, 2002.
BROWN, W. M.; PRAGER, E. M.; WANG, A. e WILSON, A. C. Mitochondrial DNA
sequences in primates: tempo and mode of evolution. Journal of Molecular
Evolution, v. 18, p. 225-239, 1979.
CARNEIRO, M. S. ; VILARINHOS, A. D. ; SILVA, S. O. E. ; OLIVEIRA, R. P. ;
NICKEL, O. Suitability of RAPD markers for the early identification of somaclonal
variants of banana. In: Reunião Anual da Sociedade Barsileira de Bioquímica e
66
Biologia Molecular, 1996, Caxambú. XXV Reunião Anual da Sociedade Brasileira
de Bioquímica e Biologia Molecular, v. 1, p. 39, 1996.
CASCIOTTA, J. R.; GÓMEZ, S. E. e TORESANI, N. I. ‘Cichlasoma’ tembe, a new
cichlid species from the río Paraná basin, Argentina (Osteichthyes: Labroidei).
Ichthyological Exploration of Freshwaters, v. 6, p. 193–200, 1995.
CASCIOTTA, J. R.; ALMIRÓN A. E. e GÓMEZ, S. E. A new species of Australoheros
(Teleostei: Perciformes: Cichlidae) from the río Iguazú basin, Argentina.
Zoologische Abhandlungen Dresden, v. 55, p. 77–83, 2006.
CASTRO, R. M. C. e MENEZES, N. A.. Estudo diagnóstico da diversidade de peixes
do Estado de São Paulo. In: Biodiversidade do Estado de São Paulo, Brasil:
Síntese do conhecimento ao final do século XX (Castro, R. M. C ed.). São Paulo:
WinnerGraph, 1998. p.1-13.
CASTRO, R. M. C. Evolução da Ictiofauna de riachos sul-americanos: padrões
gerais e possíveis processos causais. In: Ecologia de Peixes de Riachos: Estado
Atual e Perspectivas (Caramaschi, E.P.; Mazzoni, R.; Bizerril, C. R. S. F.; Peres-
Neto, P. R. eds.). Ecologia Brasiliensis, Rio de Janeiro, v. 6, p. 139 155, 1999.
CASTRO, R. M. C.; CASATTI, L.; SANTOS, H. F.; MELO, A. L. A.; MARTINS, L. S.
F.; FERREIRA, K. M.; GIBRAN, F. Z.; BENINE, R. C.; CARVALHO, M.; RIBEIRO, A.
C.; ABREU, T. X.; BOCKMANN, F. A.; PELIÇÃO, G. Z.; STOPIGLIA, R. e
LANGEANI, F. Estrutura e composição da ictiofauna de riachos da bacia do rio
Grande no estado de São Paulo, sudeste do Brasil. Biota Neotropica, v. 4, p.1-39,
2004.
CHAKRABARTY, P. Systematics and historical biogeography of Greater Antillean
Cichlidae. Molecular Phylogenetcs and Evolution, v. 39, p. 619–627, 2006.
CHAVES, A. V.; CLOZATO, C.L.; LACERDA, D.R.; SARI, E.H.R.; SANTOS, F.R.
Molecular taxonomy of Brazilian tyrant-flycatchers (Passeriformes, Tyrannidae).
Molecular Ecology Resources, v. 8, p. 1169 - 1177, 2008.
CRIA. SpeciesLink, Dados e ferramentas. Campinas: Centro de Referência em
Informação Ambiental, 2001. Disponível em: http://splink.cria.org.br. Acesso em: 2
de Fevereiro de 2010.
67
DESALLE, R.; EGAN, M. G.; SIDDALL, M. The unholy trinity: taxonomy, species
delimitation and DNA barcoding. Philosophical Transactions of the Royal Society
B: Biological Sciences, v. 360, p. 1905-1916, 2005.
ESCHMEYER, W. N. (ed.). Catalog of Fishes. Versão eletrônica. Disponível em:
http://www.calacademy.org. Acesso em: 3 de Fevereiro de 2010.
FARIAS, I. P.; ORTI, G.; SAMPAIO, I.; SCHNEIDER, H. e MEYER, A. Mitochondrial
DNA phylogeny of the family Cichlidae: monophyly and fast molecular evolution of
the Neotropical assemblage. Journal of Molecular Evolution, v. 48, p. 703–711,
1999.
FARIAS, I. P.; ORTI, G. e MEYER, A. Total evidence: molecules, morphology, and
the phylogenetics of cichlid fishes. Journal of Experimental Zoology, v. 288, p. 76–
92, 2000.
FARIAS, I. P.;ORTI, G.; SAMPAIO, I.; SCHNEIDER, H.; MEYER, A. The cytochrome
b gene as a phylogenetic marker: the limits of resolution for analyzing relationships
among cichlid fishes. Journal of Molecular Evolution, v. 53, p. 89–103, 2001.
FOLMER, O.; BLACK, M.; HOEH, W.; LUTZ, R. e VRIJENHOEK, R. DNA primers for
amplification of mitochondrial cytochrome c oxidase subunit I from diverse metazoan
invertebrates. Molecular Marine Biology and Biotechnology, v. 3, p. 294-299,
1994.
FROESE, R e PAULY, D. Editors 2010. Fishabase. World Wide Web electronic
publication. Disponível em: www.fishbase.org. Acesso em: 01 de Fevereiro de 2010.
GAEMERS, P. A. M. Taxonomic position of the Cichlidae (Pisces, Perciformes) as
demonstrated by the morphology of their otoliths. Netherlands Journal of Zoology,
v. 34, p. 566–595, 1984.
GILL, E. B e SLIKAS, B. Patterns of mtDNA genetic divergence in North American
crested titmice. Condor, v. 94, p. 20–28. 1992.
GRAÇA, W. J. e PAVANELLI, C. S. Peixes da planície de inundação do Alto Rio
Paraná e áreas adjacentes. Maringá: Eduem, 2007. p. 241.
GRECHKO, V.V. Molecular DNA markers in phylogeny and systematics. Russian
Journal of Genetics, v. 38, p. 851-868, 2002.
68
HAJIBABAEI, M.; SINGER, G. A.; HEBERT, P. D. N.; HICKEY, D. A. DNA barcoding:
how it complements taxonomy, molecular phylogenetics and population genetics.
Trends in Genetics, v. 23, p. 167-172, 2007.
HALL, T. A. BioEdit: a user-friendly biological sequence alignment editor and
analysis program for Windows 95/98/NT. Nucleic Acids Symposium Series, v. 41,
p. 95-98, 1999.
HEBERT, P. D. N.; CYWINSKA, A.; BALL, S. L. e WAARD, R. D. Biological
identifications through DNA barcodes. Proceedings of the Royal Society, v. 270, p.
313–322, 2003a.
HEBERT, P. D. N.; RATNASINGHAM, S.; DEWAARD, J. R. Barcoding animal life:
cytochrome c oxidase subunit 1 divergences among closely related species.
Proceedings Biological Sciences, v. 270, p. 96-99. 2003b.
HEBERT, P. D. N.; STOECKLE, M. Y.; ZEMLAK, T. S.; FRANCIS, C. M.
Identification of birds through DNA Barcodes. PLoS Biology, v. 2, p. 1567-1663,
2004.
HUBERT, N.; HANNER, R.; HOLM, E.; MANDRAK, N. E.; TAYLOR, E.; BURRIDGE,
M.; WATKINSON, D.; DUMONT, P.; CURRY, A.; BENTZEN, P.; ZHANG, J.; APRIL,
J. e BERNATCHEZ, L. Identifying Canadian freshwater fishes through DNA
barcodes. Plos One 3, p. 2490, 2008.
HUECK, K. e SEIBERT, P. Vegetationskarte von Südamerika. Sttutgart, 1981. v.2
IRWIN, D. M.; KOCHER, T. D.; WILSON, A. C. Evolution of cytochrome b gene in
mammals. Molecular Biology and Evolution, v. 2, p. 13–34, 1991.
IVANOVA, N. V.; ZEMLAK, T. S.; HANNER, R. H.; HEBERT, P. D. N. Universal
primer cocktails for fish DNA barcoding. Molecular Ecology Notes, v. 7, p. 544–548,
2007.
JENYNS, L. Fish: the zoology of the voyage of H. M. S. Beagle, under the command
of captain Fitzroy, R. N., during the years 1832 to 1836. London: Smith Elder and Co,
1842.
JÚNIOR, J. H. J.; CUNICO, A. M.; GUBIANI, E. A.; FERNANDES, R.; DIAS, R. M.;
GRAÇA, W. J.;GOMES, L. C. Ictiofauna. In: A planície de inundação do Alto Rio
Paraná- site 6-PELD/CNPq. Relatório Anual (2003). Coordenação AGOSTINHO,
69
A.A.; THOMAZ, S.M.; RODRIGUES, L.; GOMES, L.C. Maringá. EDUEM: NUPÉLIA,
p. 77-99, 2003.
KIMURA, M. A simple method for estimating evolutionary rate of base substitutions
through comparative studies of nucleotide sequences. Journal of Molecular
Evolution, v. 16, p. 111-120, 1980.
KOCHER, T. D.; THOMAS, W. K.; MEYER, A.; EDWARDS, S. V.; PAABO, S. F.;
VILLABLANCA, F. X.; WILSON, A. C. Dynamics of mtDNA evolution in animals:
amplification and sequencing with conserved primers. Proceedings of the National
Academy of Sciences of the United States of America, v. 86, p. 6196–6200,
1989.
KOCHER, T. D. Adaptive evolution and explosive speciation: the cichlid fish model.
Nature, v. 5, p. 288-298, 2004.
KORNFIELD, I. Evidence for rapid speciation in African cichlid fishes. Experientia, v.
34, p. 335–336, 1978.
KRESS, W. J.; WURDACK, K. J.; ZIMMER, E. A.; WEIGT, L. A.; JANZEN, D.H. Use
of DNA barcodes to identify flowering plants. Proceedings of the National
Academy of Sciences of the United States of America, v. 102, p. 8369-8374,
2005.
KULLANDER, S.O. A new Apistogramma species (Teleostei, Cichlidae) from the Rio
Negro in Brazil and Venezuela. Zoological Scripta, v.16, p. 259-270, 1987.
KULLANDER, S.O. Family Synbranchidae (Swamp-eels). In: REIS, R. E.;
KULLANDER, S. O.; FERRARIS, Jr. C.J. (Ed). Check list of the freshwater fishes
of South na Central America. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003 a. p. 594-595.
KULLANDER, S.O. Family Cichlidae (Cichlids). In: REIS, R.E.; KULLANDER,S.O.;
FERRARIS, Jr. C.J. (Ed). Check list of the freshwater fishes of South na Central
America. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003 b. p. 605-654.
KULLANDER, S. O. e FERREIRA, E. J. G. A review of the South American cichlid
genus Cichla, with descriptions of nine species of Teleostei: Cichlidae.
Ichthyological Exploration of Freshwaters, v. 17, p. 289-398, 2006.
70
LANGEANI, F. Ictiofauna do Alto Curso do rio Tietê (SP): taxonomia.
Universidade de São Paulo, São Paulo, Dissertação de Mestrado, 1989.
LANGEANI, F.; CASTRO, R. M. C.; OYAKAWA, O. T.; SHIBATTA, O. A.;
PAVANELLI, C. S.; CASATTI, L. Diversidade da ictiofauna do Alto rio Paraná:
composição atual e perspectivas futuras. Biota Neotropica, Campinas, v. 7, n. 3, p.
183 -197, 2007.
LIPSCOMB, D.; PLATNICK, N.; WHEELER, Q. The intellectual content of taxonomy:
a comment on DNA taxonomy. Trends in Ecology and Evolution, v. 18, p. 65-66,
2003.
LOISELLE, P. V. Two new cichlid species from the rio Sixaola drainage, Costa Rica.
Aqua, Journal of Ichthyology and Aquatic Biology, v. 2, p.1-10, 1997.
LOWE-MCCONNELL, R. H. Estudos ecológicos de comunidades de peixes
tropicais. São Paulo: EDUSP, 1999. 584p.
LOVSHIN, L.L. Sumário dos métodos para cultivo de tilápias. Fortaleza: DNOCS,
1976. p. 5.
MALABARBA, M. C. Phylogeny of fossil Characiformes and paleobiogegraphy of the
Tremembe Formation, São Paulo, Brazil. In Phylogeny and classification of
Neotropical fishes (Malabarba, L. R.; Reis, R. E.; Vari, R. P.; Lucena, Z. M. S. e
Lucena, C. A. S eds.). Porto Alegre: EDIPUCRS,1998. p. 69-84.
MALLET, J e WILLMOTT, K. Taxonomy: renaissance or Tower of Babel? Trends in
Ecology and Evolution, v. 18, p. 57-59, 2003.
MANWELL, C.; BAKER, C. M. A. A sibling species of sea cucumber discovered by
starch-gel electrophoresis. Comparative Biochemistry and Physiology, v. 10, p.
39–53, 1963.
MARESCALCHI, O. Karyotype and mitochondrial 16S gene characterizations in
seven South American Cichlasomatini species (Perciformes, Cichlidae). Journal of
Zoological Systematics and Evolutionary Research, v. 43, p. 22–28, 2005.
MARSHALL, E. Will DNA bar codes breathe life into classication?. Science, v.307, p.
1037, 2005.
71
MARTIN, A. P e BERMINGHAM, E. Systematics and evolution of lower Central
American cichlids inferred from analysis of cytochrome b gene sequences.
Molecular Phylogenetics and Evolution, v. 9, p. 192–203, 1998.
MARTINS, A.G e BARRELLA, W. Peixes da Serra de Paranapiacaba. Revista
Eletrônica de Biologia, v.1, p. 16-35, 2008.
MENEZES, N. A. Methods for assessing freshwater fish diversity. In Biodiversity in
Brazil (Bicudo, C.E.M e Menezes, N.A. eds.). São Paulo: CNPq, 1996. p. 289-295.
MINDELL, D. P.; SORENSON, M. S.; HUDDLESTON, C. J.; MIRANDA, H. C.;
KNIGHT, A.; SAWCHUK, S. J.; YURI, T. Phylogenetic relationships among and
within select avian orders based on mitochondrial DNA. In: Avian molecular
evolution and systematics (Mindell, D. ed). San Diego: Academic Press, 1997. p.
211–245.
MOORE, W. S. Inferring phylogenies from mtDNA variation: Mitochondrial-gene trees
versus nuclear-gene trees. Evolution, v. 49, p. 718–726, 1995.
MORITZ, C.; T. E. DOWLING e W. M. BROWN. Evolution of animal mitochondrial
DNA. Relevance for population biology and systematics. Annual Review of Ecology
and Systematics, v. 18, p. 269-292, 1987.
MORITZ, C. e CICERO, C. DNA barcoding: promise and pitfalls. PLoS Biology, v. 2,
p. 1529-1531, 2004.
MURRAY, B. W.; MCGILLIVRA, Y. W. B.; BARLOW, J. C.; BEECH, R. N.;
STROBECK, C. The use of cytochrome B sequence variation in estimation of
phylogeny in the Vireonidae. Condor, v. 96, p. 1037–1054, 1994.
MURRAY, A. M. The fossil record and biogeography of the Cichlidae (Actinopterygii:
Labroidei). Biological Journal of the Linnean Society, v. 74, p. 517–532, 2001.
NEI, M e KUMAR, S. Molecular Evolution and Phylogenetics. Oxford: Oxford
University Press, 2000.
NELSON, J. S. Fishes of the world. 4.ed.. New York: John Wiley e Sons Inc, 2006.
p. 601.
72
OLIVEIRA, J. C. e BRITSKI, H. A. Redescrição de Taunaya bifasciata (Eigenmann e
Norris, 1900), comb. nova, um bagre enigmático do Estado de São Paulo
(Siluriformes, Pimelodidae, Heptapterinae). Papéis Avulsos de Zoologia, v. 41, p.
119-133, 2000.
OLIVEIRA, A.V. Relações genéticas entre populações do gênero Cichla introduzidas
na bacia do rio Paraná, evidenciadas por marcadores nucleares e do genoma
mitocondrial. In: Peixes da planície de inundação do Alto Rio Paraná e áreas
adjacentes. Maringá: Eduem, 2007. p. 241.
OTTONI, F. P.; OYAKAWA, O. T. e COSTA, W. J. E. M. A new species of the genus
Australoheros from the rio Ribeira do Iguape basin, São Paulo, Brazil (Labroidei:
Cichlidae: Cichlasomatinae). Vertebrate Zoology, v. 58, p. 75-81, 2008.
OTTONI, F. P. e COSTA, W. J. E. M. Taxonomic revision of the genus Australoheros
Rican e Kullander, 2006 (Teleostei: Cichlidae) with descriptions of nine new species
from southeastern Brazil. Vertebrate Zoology, v. 58, p. 207 – 232, 2008.
OTTONI, F. P e CHEFFE, M. M. A new species of Australoheros from the upper rio
das Antas, laguna dos Patos System, southern Brazil. Spixiana, v. 32, p. 153- 159,
2009.
OYAKAWA, O. T.; AKAMA, A. e ZANATA, A. M. Review of the genus Hypostomus
Lacépède, 1803 from Ribeira de Iguape basin, with descriptions of a new species
(Pisces, Siluriformes, Loricariidae). Zootaxa, v. 921, p. 1-27, 2005.
PEREIRA, E. H. e OYAKAWA, O. T. Isbrueckerichthys epakmos, a new species of
loricariid catfish from the rio Ribeira de Iguape basin, Brazil (Teleostei: Siluriformes).
Neotropical Ichthyology, v. 1, p. 3-9, 2003.
REDONDO, R.A.F.; BRINA, L.P.S.; SILVA, R.F.; DITCHFIELD, A.D. e SANTOS,
F.R. Molecular systematics of the genus Artibeus (Chiroptera: Phyllostomidae).
Molecular Phylogenetics and Evolution, v. 49, p. 44-58, 2008.
RIBEIRO, A. C. Tectonic history and the biogeography of the freshwater fishes from
the coastal drainages of eastern Brazil: an example of faunal evolution associated
with a divergent continental margin. Neotropical Ichthyology, v. 4, p. 225-246,
2006.
RIBEIRO, A. C.; LIMA, F. C. T.; RICCOMINI, C. e MENEZES, N. A. Fishes of the
Atlantic rainforest of Boracéia: tetimonies of the Quaternary fault reactivation within a
73
Neoproterozoic tectonic province in Southeastern Brazil. Ichthyological Exploration
Freshwaters, v. 17, p. 157-164, 2006.
RICAN, O. e KULLANDER, S. O. 'Cichlasoma' scitulum: a new species of cichlid fish
from the Río de La Plata region in Argentina, Brazil, and Uruguay. Copeia, v. 2003,
p.794–802, 2003.
RICAN, O. e KULLANDER, S. O. Character and tree-based delimitation of species in
the “Cichlasoma” facetum group (Teleostei, Cichlidae) with the description of a new
genus. Journal of Zoological Systematics and Evolutionary Research, v. 44, p.
136-152, 2006.
RICAN, O. e KULLANDER, S. O. The Australoheros (Teleostei: Cichidae) species of
the Uruguay and Paraná River drainages. Zootaxa, v. 1724, p. 1-51, 2008.
RIEDEL, D. Some remarks on the fecundity of tilapia (T. mossambica Peters) and its
introduction into Middle Central America (Nicaragua) together with a first contribution
towards the limnology of Nicaragua. Hidrobiologia, v. 25, p. 357-388, 1965.
RYDER, O. A. Species conservation and systematics: the dilema of subspecies.
Trends in Ecology e Evolution, v. 1, p. 9-10, 1986.
SAITOU, N e NEI, M. The neighbour-joining method: a new method for
reconstructing phylogenetic trees. Molecular Biology and Evolution, v.4, p. 406-
425, 1987.
SANGER, F; NICKELEN, S; COULSON, A. R. DNA sequencing with chain
terminating inhibitors. Proceedings of the National Academy of Sciences of the
United States of America, v. 74, p. 5463-5467, 1977.
SAVAGE, J.M. Systematics and the biodiversity crisis. BioScience, v. 45, p. 673-
679, 1995.
SCHAEFER, S.A. Conflict and resolution: impact of new taxa on phylogenetic studies
of the neotropical cascudinhos (Siluroidei: Loricariidae). In: Phylogeny and
Classification of Neotropical Fishes (Malabarba, L.R.; Reis, R.E.; Vari, R.P.;
Lucena, Z.M.S e Lucena, C.A.S eds.). Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998. p. 375-400.
74
SERRA, J. P.; CARVALHO, F. R. e LANGEANI, F. Ichthyofauna of the rio Itatinga in
the Parque das Neblinas, Bertioga, São Paulo: composition and biogeography. Biota
Neotropica, v. 7, p. 82-86, 2007.
SEZAKI, K.; ITOI, S.; WATABE, S. A simple method to distinguish two commercially
valuable eel species in Japan Anguilla japonica and A. anguilla using polymerase
chain reaction strategy with a species-specific primer. Fisheries Science, v. 71, p.
414–421, 2005.
SOLÉ-CAVA A. M.. Biodiversidade molecular e genética da conservação. In:
Biologia Molecular e Evolução (MATIOLI, S. R eds.) Ribeirão Preto: Holos, 2001.p.
172-192.
SPARKS, J. S. e SMITH, W. L. Phylogeny and biogeography of cichlid fishes
(Teleostei: Perciformes: Cichlidae). Cladistics, v. 20, p. 501–517, 2004.
STIASSNY, M. L. J. Cichlid familial intrarelationships and the placement of the
Neotropical genus Cichla (Perciformes: Labroidei). Journal of Natural History, v.
21, p. 1311–1331, 1987.
STIASSNY, M.L.J. Phylogenetic intrarelationships of the family Cichlidae: an
overview. In: Cichlid Fishes: Behaviour, Ecology and Evolution (Keensleyside,
M.H.A. ed.). London: Chapman Hall, 1991. p. 1–35.
STOECKLE, M.; WAGGONER, P.E.; AUSUBEL, J.H. Barcoding life, illustrated.
Goals, rationale, results. Disponível em: www.barcoding.si.edu. Acesso em:
25/10/2008, 2005.
STREELMAN, J. T. e KARL, S. A. Reconstructing labroid evolution with single-copy
nuclear DNA. Proceedings of the Royal Society of London B, v. 264, p. 1011–
1020, 1997.
SUNNUCKS, P. Efficient genetic markers for population biology. Tree, London, v.15,
p.199-203, 2000.
TAMURA, K.; DUDLEY, J.; NEI, M. e KUMAR, S. MEGA 4: Molecular Evolutionary
Genetics Analysis (MEGA) software version 4.0. Molecular Biology and Evolution,
v. 24, p. 1596 -1599, 2007.
THOMPSON, K. W. Cytotaxonomy of 41 species of Neotropical Cichlidae. Copeia, v.
1979, p. 679–691, 1979.
75
THOMPSON, J. D.; HIGGINS, D. G e GIBSON, T. J. CLUSTAL W: improving the
sensitivity of progressive multiple sequence alignment through sequence weighting,
position specific gap penalties and weight matrix choice. Nucleic Acid Research, v.
22, p. 4673-4680, 1994.
TRIGO, T.C.; FREITAS, R.O.; KUNZLER, G.; CARDOSO, L.; SILVA, J.C.R.;
JOHNSON, W.E.; O’BRIEN, S.J.; BONATTO, S.L.; EIZIRIK, E. Inter-species
hybridization among neotropical cats of the genus Leopardus, and evidence for an
introgressive hybrid zone between L. geoffroyi and L. tigrinus in southern Brazil.
Molecular Ecology, v. 17, p. 4317- 4333, 2008.
TURNER, T. F.; MCPHEE, M. V.; CAMPBELL, P. e WINEMILLER, K. O.
Phylogeography and intraspecific genetic variation of prochilodontid fishes endemic
to rivers of northern South America. Journal of Fish Biology, v. 64, p. 186– 201,
2004.
VALDEZ-MORENO, M.; IVANOVA, N. V.; ELÍAS-GUTIÉRREZ, M.; CONTRERAS-
BALDERAS, S.; HEBERT, P. D. N. Probing diversity in freshwater fishes from Mexico
and Guatemala with DNA barcodes. Journal of Fish Biology, v. 74, p. 377–402,
2009.
VARGAS, S. M.; ARAÚJO, C. F; SANTOS, F. R. DNA barcoding of Brazilian sea
turtles (Testudines). Genetics and Molecular Biology, v. 32, p. 608-612, 2009.
VENCES, M.; THOMAS, M.; VAN DER MEIJDEN, A.; CHIARI, Y.; VIEITES, D. R.
Comparative performance of the 16S rRNA gene in DNA barcoding of amphibians.
Frontiers in Zoology, v. 2, p. 1-12, 2005.
VILAÇA, S. T.; LACERDA, D. R.; SARI, H. E. R.; SANTOS, F. R. DNA-based
identification to Thamnophilidae (Passeriformes) species: The first barcodes of
Neotropical birds. Revista Brasileira de Ornitologia, v. 14, p. 7-13, 2006.
ZARDOYA, R.; VOLLMER, D. M.; CRADDOCK, C.; STREELMAN, J. T.; KARL, S.
A.; MEYER, A. Evolutionary conservation of microsatellite flanking regions and their
use in resolving the phylogeny of cichlid fishes (Pisces: Perciformes). Proceedings
of the Royal Society of London B, v. 263, p. 1589–1598, 1996.
ZIHLER, F. Gross morphology and configuration of digestive tracts of Cichlidae:
phylogenetic and functional significance. Netherlands Journal of Zoology, v. 32, p.
544-571, 1982.
76
WARD, R. D.; WOODWARK, M.; SKININSKI, D. O. F. A comparison of genetic
diversity levels in marine, freshwater and anadromous fish. Journal of Fish Biology,
v.44, p. 213-232, 1994.
WARD, R. D.; ZEMLAK, T. S.; INNES, B. H.; LAST, P. R.; HEBERT, P. D. N. DNA
barcoding Australia’s fish species. Philosophical Transactions of the Royal
Society B: Biological Sciences, v. 359, p. 1847-1857, 2005.
WARD, R. D. e HOLMES, B. H. An analysis of nucleotide and amino acid variability
in the barcode region of cytochrome c oxidase I (cox1) in fishes. Molecular Ecology
Notes, v. 7, p. 899–907, 2007.
WARD, R. D.; HANNER, R. H. e HEBERT, P. D. N. The campaign to DNA barcode
all fishes, FISH-BOL. Journal of Fish Biology, v. 74, p. 329–356, 2009.
WAUGH, J. DNA barcoding in animal species: progress, potential and pitfalls.
BioEssays, v. 29, p. 188-197, 2007.
WILSON, A. C.; R. L. CANN, M.; GEORGE, U. B.; GYLLENSTEN, K. M.;
HELMBYCHOWSKI, R. G.; HIGUSHI, E. M.; PALUMBI, R. D.; SAGE, M.
Mitochondrial DNA and two perspectives on evolutionary genetics. Biological
Journal of Linnean Society, v. 26, p. 375-400, 1985.
WEITZMAN, S. H. e MALABARBA, L. R. Systematics of Spintherobolus (Teleostei:
Characidae: Cheirodontinae) from Eastern Brazil. Ichthyological Exploration
Freshwaters, v.10, p. 1-43, 1999.
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo