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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
MESTRADO
WENDEL JERONIMO DE ALBUQUERQUE FREIRE
A PARCERIA JORNAL E ESCOLA EM PROJETO PEDAGÓGICO: UM ESTUDO À
LUZ DA TEORIA DA REPRESENTAÇÃO SOCIAL
NITERÓI
2010
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WENDEL JERONIMO DE ALBUQUERQUE FREIRE
A PARCERIA JORNAL E ESCOLA EM PROJETO PEDAGÓGICO: UM ESTUDO À
LUZ DA TEORIA DA REPRESENTAÇÃO SOCIAL
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Educação da Universidade Federal
Fluminense, como requisito parcial para a
obtenção do grau de Mestre.
Orientadora: Profª. Dra. MARY RANGEL
Niterói
2010
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WENDEL JERONIMO DE ALBUQUERQUE FREIRE
A PARCERIA JORNAL E ESCOLA EM PROJETO PEDAGÓGICO: UM ESTUDO À LUZ
DA TEORIA DA REPRESENTAÇÃO SOCIAL
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Educação da Universidade Federal
Fluminense, como requisito parcial para a
obtenção do grau de Mestre.
Aprovada em ___ de fevereiro de 2010.
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________________________
Profª. Dra. MARY RANGEL – Orientadora
UFF
_______________________________________________________________
Profª. Dra. MARSYL BULKOOL METRAU
Universidade Salgado de Oliveira
_______________________________________________________________
Prof. Dra. MARISE MARIA SANTANA DA ROCHA
Universidade Federal de São João Del-Rei
Niterói
2010
À Amanda Pezzino Freire e ao Henrique Pezzino Freire
AGRADECIMENTOS
Aos professores e pesquisadores com quem convivi.
Aos companheiros do Instituto Ary Carvalho.
À estimada professora Mary Rangel.
“Para se tornar um cidadão livre, é preciso formar
opiniões próprias com toda independência de
espírito. Para ser um cidadão livre é preciso
dominar a mídia.” (Nicole Herr, 1997, p. 12).
RESUMO
O presente trabalho pretende, através de um estudo reflexivo, investigar os
significados construídos pelos educadores sobre o programa de jornal e educação O
Dia na Sala de Aula. Para esse entendimento da parceria entre uma empresa de jornal
impresso e escolas, a pesquisa recebe a contribuição dos conceitos de Representações
Sociais e de Mídia-educação, dois alicerces para a reflexão sobre a relação entre
espaço escolar e veículo de comunicação, para a discussão do jornalismo como forma
de conhecimento e do conhecimento prático dos educadores a respeito do projeto
mídia-educativo O Dia na Sala de Aula.
Palavras-chave: jornal e educação, representações sociais, mídia-educação.
ABSTRACT
This study aims, through a reflective study, to investigate the meanings
constructed by teachers about the program of newspaper in education O Dia na Sala de
Aula. For this understanding of the partnership between a newspaper and schools,
research receives the contribution of the concepts of Social Representations and Media
Education, two foundations for this reflection on the relationship between the school and
communication vehicle for the discussion of journalism as a form of knowledge and for
the compreention of the practical knowledge of educators about the media education
project O Dia na Sala de Aula.
Keywords: newspapers in education, social representations, media education.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...............................................................................................................10
1 COMPASSO TEÓRICO ..............................................................................................13
2 MÍDIA-EDUCAÇÃO: REFLEXÕES E PRÁTICAS DE UM TERCEIRO ESPAÇO
.........................................................................................................................................18
2.1 Educar para uma ambiência comunicacional ...........................................................19
2.2 Mídia-educação em três momentos: breve relato de uma experiência ....................22
3 MÍDIA-EDUCAÇÃO E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS ..............................................27
3.1 Conhecimentos desconsiderados e hierarquias abstratas .......................................28
3.2 Educação: fluidez e complexidade ...........................................................................29
3.3 Mídia-educação: possibilidade de mudança das Representações Sociais ..............31
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ....................................................................37
5 CONSTRUÇÕES E PRÁTICAS ..................................................................................50
5.1 Pré-análise ...............................................................................................................50
5.2 Análise descritiva ......................................................................................................51
5.3 Análise referencial ....................................................................................................53
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................59
REFERÊNCIAS ..............................................................................................................62
10
INTRODUÇÃO
Nesta introdução, apresento-me como pesquisador e esclareço meu interesse na
realização desta pesquisa. Graduado em Letras (Língua Portuguesa / Literatura) e pós-
graduado em Tecnologia Educacional, venho trabalhando, sete anos, como mídia-
educador em um projeto de Jornal e Educação.
A ideia de usar a mídia impressa como um elemento pedagógico não é nova. Já
no final do século XIX, educadores espanhóis discutiam o uso do jornal na escola no
intuito de substituir a leitura obrigatória de Cervantes. A primeira pessoa na história a
utilizar o jornal na sala de aula foi a italiana Maria Montessori, na segunda metade do
século XIX. Depois, no início do século XX, foi a vez do educador francês Célestin
Freinet, que levou não apenas a mídia impressa como também a própria imprensa para
a educação.
O primeiro jornal impresso a utilizar o jornal, sistematicamente, em sala de aula
foi o norte-americano The New York Times, em 1932. Nos anos 1970, mais de 350
jornais americanos contavam com educadores na implantação de programas de jornal
na escola. Hoje, mais de 700 empresas jornalísticas patrocinando tais programas
nos Estados Unidos.
Na Europa, segundo a ANJ (Associação Nacional de Jornais), iniciativas como
essa são comuns; na Suécia, Dinamarca e Noruega, por exemplo, 100% dos jornais
têm programas educacionais. Destacam-se na América do Sul programas de Jornal e
Educação do Brasil, Argendina e Chile (in: <http://www.anj.org.br/?q=node/44> ).
No Brasil, o gaúcho Zero Hora, em 1980, foi pioneiro em Jornal e Educação e,
hoje, são mais de 60 empresas jornalísticas com esta iniciativa, todas ligadas à
Associação Nacional de Jornais, que promove encontros nacionais para intercâmbio de
ideias.
11
Assim a ANJ conceitua Programa de Jornal e Educação:
É uma iniciativa em prol da leitura, levada a efeito por empresa
jornalística associada à ANJ, que envolva necessariamente:
a) a distribuição de exemplares diários do veículo ao público leitor por
ela selecionado, por um período nunca inferior a um semestre letivo;
b) a capacitação dos agentes de leitura envolvidos, de maneira
sistemática e permanente;
c)
a avaliação, pelo menos bienal, do processo e dos resultados, para
promover a conseqüente continuidade, em função dos benefícios
constatados em termos da formação de leitores qualificados: leitores
que tenham ampliada a sua capacidade de serem autores de suas
próprias ideias e formas de expressão, conquistando uma autonomia
progressiva no seu modo de agir, pensar e ler; leitores que ampliem
a sua capacidade de serem cidadãos, capazes de compreenderem o
seu contexto e participarem ativamente da vida em sociedade por
um mundo melhor. (ANJ, 2004)
Faço parte de uma dupla de educadores de uma empresa de comunicação
carioca. Juntos, colaboramos com quarenta e cinco escolas públicas da rede municipal
do Rio de Janeiro. O projeto “O Dia na Sala de Aula” é uma iniciativa em prol da leitura
e da cidadania, através do uso sistemático do Jornal em sala de aula. Desde 1995, o
projeto distribui exemplares de jornal, incentiva os professores a utilizá-los como
ferramenta pedagógica e objeto de estudo e favorece o encontro de educadores e a
troca de experiências.
Buscamos formar leitores através: de “Visitas Pedagógicas” com professores
(nas escolas), para levantar suas necessidades e dificuldades quanto ao uso do jornal,
em uma busca conjunta de soluções para a prática pedagógica; de “Encontros
Temáticos” mensais com autores, educadores e pesquisadores discutindo temas
relevantes para o cotidiano escolar; de “Oficinas” com alunos, visando incentivar o
protagonismo pela criação de rádios e jornais escolares; da “Jornada de Educação O
Dia na Sala de Aula”, encontro anual com palestras e oficinas simultâneas, exposições
temáticas, feira de livros e apresentações culturais a fim de refletir e divulgar trabalhos
que agreguem valor à educação; da “Troca de Experiências”, que é realizada a cada
semestre, quando os professores expõem e assistem à exposições de diferentes
experiências educativas. Nos últimos anos, temos incluído na agenda do projeto O Dia
12
na Sala de Aula encontros trimestrais sobre a Educação Especial (em parceria com o
Instituto Helena Antipoff) e capacitações para professores para o trabalho com
Educação Sexual.
O trabalho pedagógico realizado pelo Projeto justifica-se pela natureza
transdisciplinar da matéria jornalística, pelos diversos gêneros textuais presentes cuja
exploração didática é reconhecida e estimulada pelos Parâmetros Curriculares
Nacionais –, pela aproximação entre conteúdos escolares e cotidiano e pelo
enriquecimento que o meio impresso provoca com relação ao vocabulário e ao
repertório do aluno. Assim, o jornal pode ser utilizado de modo disciplinar ou
multidisciplinar, servir como recurso pedagógico para ensinar determinado conteúdo ou
tornar-se objeto de estudo, ser trabalhado inteiro ou em recortes ou, ainda, ser um
exercício de cidadania a partir do momento em que os alunos são capazes de escrever
seu próprio jornal.
Esta pesquisa pretende investigar as representações sociais de diretores,
coordenadores e professores sobre a parceria Jornal/Escola em projeto pedagógico, no
intuito de avaliar o processo e seus resultados, como é percebida pelos sujeitos a quem
O Dia na Sala de Aula se destina e as possibilidades de sua contribuição às escolas.
Além do conceito de representações sociais, observados em Moscovici (2003) e
Jodelet (2001), o conceito de dia-educação (BELLONI, 2001; RIVOLTELLA, 2001)
atravessará a pesquisa como alicerce para a reflexão sobre a relação entre espaço
escolar e veículo de comunicação, para a discussão do jornalismo como forma de
conhecimento (MEDITSCH, 1997) e do conhecimento que os educadores construíram
(representações sociais) sobre o Projeto mídia-educativo O Dia na Sala de Aula.
13
1 COMPASSO TEÓRICO
Na música erudita há diversas velocidades de compasso, são os chamados
andamentos. Podemos, numa mesma composição, encontrar diversos andamentos. À
guisa de exemplo, a composição Romeu e Julieta, do músico ucraniano Sergei
Prokofiev, apresenta, entre outros, os andamentos lento, moderato (entre lento e
rápido) e vivace (rápido).
Os cotidianos compostos socialmente podem, do mesmo modo, apresentar
diferentes tempos, e não linearmente, um após o outro, mas também de maneira
simultânea, sobreposta e complexa. Podemos encontrar noções céleres, lentas e
moderadas entrelaçadas, sofisticadamente, num mesmo desenrolar diário de um
determinado grupo social.
A Representação Coletiva foi apresentada pelo sociólogo Émile Durkheim (1989)
como uma construção de diversos espíritos que, combinados, atravessaram gerações,
acumulando conhecimentos. Durkheim elaborou uma teoria da religião, do pensamento
mítico e da magia, argumentando que tais fenômenos são produto de uma comunidade
ou coletividade. Essa consciência coletiva produz, no entendimento do sociólogo, ideias
e imagens. O modelo de sociedade contemporâneo a Durkheim era, destaca Guareschi
14
(1994), estático e tradicional, pensado para tempos em que a mudança se processava
lentamente”.
Com inspiração na teoria da Representação Coletiva, de Durkheim, Serge
Moscovici (2003) inicia, no campo da Psicologia Social, seu estudo sobre o que viria se
chamar Representações Sociais. Se Durkheim atravessava um tempo quase estático,
Moscovici, por sua vez, formula sua teoria vivenciando uma sociedade em que as
mudanças são mais aceleradas pelos avanços tecno-científicos. Entendendo que o
conceito de representações coletivas fora criado num mundo de transformações lentas,
Moscovici chegava a uma teoria que procurava dar conta de sociedades do mundo
moderno.
Ainda mais céleres são as mudanças acompanhadas por Certeau (2001): suas
reflexões sobre o cotidiano tratam de estratégias fugazes e de redes antidisciplina
traçadas diariamente pelos usos dos consumidores.
Temos, grosso modo, um Durkheim no andamento cotidiano lento, um Moscovici
de tempo moderato e um vivace narrado por Certeau. O tempo moderato da teoria das
Representações Sociais, de Moscovici, me parece mais oportuno ao estudo da parceria
entre Jornal e Escola. O primeiro, de um tempo largo, maior mesmo que o tempo
percorrido pelo programa O Dia na Sala de Aula, que existe 14 anos, não será
objeto desta pesquisa. O cotidiano fugaz de Certeau também não atenderá à pesquisa
embora atravessar parte deste texto pelo fato de O Dia na Sala de Aula não se
tratar de uma imposição disciplinar, mas, antes, uma construção aberta às intervenções
dos professores que participam desse programa, e por se desenhar a partir de um
tempo médio, que abriga construções permitidas por um período de meses ou anos.
Sobre a diferença entre representações coletivas e representações sociais, diz
Moscovici em entrevista a um jornal paulista:
...as representações coletivas eram algo de institucional como o
sistema religioso ou mesmo o científico e se referiam a um problema
da estabilidade social. O problema da sociologia durkheimiana era o
problema da integração e da estabilidade. a noção de representação
social, que associei ao mundo moderno, tem mais relação com a prática
15
cotidiana, a linguagem cotidiana e a algo que se costuma chamar de
“senso comum” (MOSCOVICI, 2003 b).
O mundo comete epistemicídios diários (SANTOS, 2007), quando deixa,
sistematicamente, de reconhecer formas de conhecimento que não partem do domínio
tecnico-científico. O senso comum é uma dessas formas de conhecimento e
organização do conhecimento, deslegitimada pelo pensamento único e dominante,
tomada como central na teoria das representações sociais, de Moscovici.
A mídia tem um papel fundamental como mediadora das representações sociais,
mas não tem o poder de criá-las. Diria Certeau (1994) que os “consumidores”,
entendidos frequentemente como passivos, são, em certa medida, criadores: os
binômios produção-consumo e leitura-escritura são similares nesse sentido. Os leitores
tornam o texto habitável à maneira de um apartamento alugado (CERTEAU, 1994). A
mídia é um grande produtor e o espectador um consumidor-leitor que constrói sentidos
(representações sociais) a partir de suas “bricolagens”. As representações sociais são
aproximações de sentido que os consumidores fazem de um determinado objeto.
Na sua busca pela verdade, o filósofo iluminista René Descartes (1596-1650)
entendeu que o homem a alcançaria, somente, suprimindo radicalmente o imaginário e
a vontade. Como afirma Gerard Duveen, no prefácio do livro de Serge Moscovici
(2003), Descartes foi contra o relativismo inerente à cultura, proclamando que da razão
nasceria a certeza, a verdade. Resgatando a importância dos aspectos cultural e social
na produção do conhecimento, Moscovici opõe-se ao cartesianismo em uma ciência da
cultura “desprovida de razão”, como queriam seus críticos que foi se construindo a
partir do texto La psychanalyse, son image et son public, de 1961, dando forma ao
campo de estudos em Representações Sociais.
Anticartesiana, a noção de Moscovici nos traz uma “teoria geral dos fenômenos
sociais” e uma “teoria específica dos fenômenos psíquicos”, defendendo que o que as
sociedades pensam de seus modos de vida, o sentido que conferem a suas instituições
e as imagens que partilham, constituem uma parte essencial de sua realidade e não
simplesmente um reflexo seu” (Moscovici, 2003, p. 173).
16
Sem multiplicar as gavetas racionalistas, Moscovici, a partir de uma disciplina
plural a Psicologia Social –, constituiu um campo sem lhe dar muros, ou seja, criou
um plano teórico amplo sem dar conceitos fechados que pudessem impedir seu
crescimento. A prova de que a ausência de muros era profícua está no fato de
podermos encontrar referências às Representações Sociais e usos da teoria em
diversos estudos de Comunicação, Medicina, Educação, entre outros campos do
conhecimento.
Esta pesquisa, a exemplo do estudo apresentado em “A representação no
enfrentamento do problema da influência social da televisão” (RANGEL, 2004, p. 29-
48), busca sua sustentação na teoria da representação social com o intuito de agir
sobre um problema concreto. Nesta pesquisa, o problema concreto é a parceria Jornal
e Escola: como ela se constitui, no entendimento dos educadores, e como ela se faz
presente nas suas práticas pedagógicas.
As representações sociais constituem uma forma de conhecimento coletivo que
facilita a comunicação, a interpretação e, consequentemente, as relações em
sociedade. Nas palavras de Jodelet: “elas nos guiam no modo de nomear e definir
conjuntamente os diferentes aspectos da realidade diária” (2001, p. 17).
Este nomear e renomear cotidiano se desenrola em três aspectos destacados
por Almeida (2005): comunicação, reconstrução do real e domínio do mundo. A
representação é social, nasce de uma demanda por um entendimento, realiza-se no
objeto codificado que permeia as trocas comunicação e, neste sentido, as
representações sociais são entendidas como moduladoras do pensamento, pois
regulam uma dinâmica social (ALMEIDA, 2005, p. 122). As apropriações dos objetos
pela prática cotidiana constituem uma reconstrução permanente da realidade,
funcionando, assim, como guias de interpretação e organização da realidade (Ibdem).
E é justamente esse guia, constituído na comunicação e na reconstrução do real, que
permite aos sujeitos (que o elaboram no sabor e labor diário) o domínio do mundo
neste nomear de Almeida eu acrescentaria a palavra simbólico: o domínio simbólico do
mundo.
17
À grande teoria (SÁ, 1998) de Moscovici, de perspectiva psicossociológica,
somam-se os contributos teóricos de três de seus assistentes de pesquisa Jean-
Claude Abric, Willem Doise e Denise Jodelet que tripartiram o caminho das
representações sociais, sem perderem de vista a origem de suas proposições. Abric
traz à grande teoria uma dimensão cognitivo-estrutural, Doise faz uma abordagem
sociológica das representações sociais e Jodelet, que com sua abordagem processual,
de olhar antropológico, manteve-se mais próxima de Moscovici.
O andamento moderato de Moscovici, além de permitir variações teóricas, não
se prende a um campo de pesquisa, podendo ser compor pesquisas em Psicologia,
Comunicação, Saúde, Educação, entre outros.
18
2 MÍDIA-EDUCAÇÃO: REFLEXÕES E PRÁTICAS DE UM TERCEIRO ESPAÇO
1
Eu que não sou jornalista, mas sim educador, trabalho no jornal, em um
programa de Jornal e Educação, e não tanto na escola. Falarei a partir desse meu
entre-lugar tomo emprestado, aqui, o conceito do indo-britânico Homi Bhabha –,
constituído numa negociação permanente de formas e funções entre o comunicacional
e o educacional, nem mais aquele espaço da comunicação, nem aquele outro da
educação, mas um terceiro espaço.
Pretendo refletir nestas páginas sobre a presença maciça da mídia em nosso
cotidiano, sobre a velocidade e abundância de informações graças a eficiência
crescente das tecnologias da inteligência e da comunicação
2
e sobre a necessidade
de complexificar tais questões, em colaboração com crianças e jovens, para uma
compreensão deste ambiente. E também apontar uma prática (nada nova, mas nada
dispensável) como possibilidade de transformação do telespectador em protagonista,
numa hibridização potencialmente emancipatória.
1
Texto publicado em: FREIRE, Wendel (Org.). Tecnologia e educação: as mídias na prática docente.
Rio de Janeiro : WakEditora, 2008.
2
Segundo Iolanda Cortelazzo (2002), Tecnologias da Informação designa toda forma de gerar,
armazenar, processar e reproduzir a informação. Exemplos de suportes de armazenamento de
informações são: o papel, os arquivos, os fichários, as fitas magnéticas, os discos óticos. Dispositivos
que permitem o seu processamento são os computadores e os robôs, e exemplos de aparelhos que
possibilitam a sua reprodução são a máquina de fotocopiar, o retroprojetor, o projetor de slides.
Tecnologias da Comunicação são as formas de veicular a informação (livro, revista, correio, fax, jornal,
rádio, tv, internet etc.).
19
2.1 Educar para uma ambiência comunicacional
Tinha os olhos na janela que dava para o escuro. Pensava não sei bem o que,
mas o fato é que tive meu pensamento cortado, entre uma estação e outra do metrô,
por uma publicidade: uma série de fotos forjando o movimento de um menino, numa
corrida que terminava vendendo salsichas.
Não há como deixar de reconhecer a criatividade da peça e o sucesso em
alcançar o consumidor onde ele menos espera. Mas o que isso provoca? O que
produz vivermos cercados nas ruas por mobiliários urbanos anunciando programas
para nosso fim-de-semana e outdoors, busdoors, indoors vendendo shampoos, pílulas
de felicidade, enterros e tudo o mais?
Estamos o tempo inteiro passando através de portas publicitárias abertas à
revelia, sem contar as janelas de casa, TV e internet. uma poluição visual, sonora,
informacional quase insuportável, num excesso de informação (publicitária ou noticiosa)
que não nos permitem refletir, ouvir a si, enxergar o outro ou maturar ideias – ou, ainda,
sequer tê-las. Nosso modus vivendi está profundamente influenciado pela
comunicação, que constitui hoje muito mais que um corpo transmissor de informação,
como veremos aqui.
Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown compuseram uma canção (O Silêncio) cuja
poesia me serviu para desencadear, entre professores e entre alunos, uma reflexão
sobre o conceito de tecnologia e a poluição comunicacional que nos cerca, sobre as
mudanças que as tecnologias, precisamente, as tecnologias da informação e da
comunicação, geram em nossa sociedade. A poesia diz que
antes de existir computador existia tevê / antes de existir tevê / existia
luz elétrica / antes de existir luz elétrica existia bicicleta / antes de existir
bicicleta existia enciclopédia / antes de existir enciclopédia / existia
alfabeto / antes de existir alfabeto existia a voz / antes de existir a voz
existia o silêncio / o silêncio / foi a primeira coisa que existiu / um silêncio
que ninguém ouviu / astro pelo céu em movimento / e o som do gelo
derretendo / o barulho do cabelo em crescimento / e a música do vento /
e a matéria em decomposição / a barriga digerindo o pão / explosão de
semente sob o chão / diamante nascendo do carvão / homem pedra
planta bicho flor / luz elétrica tevê computador / batedeira, liquidificador /
20
vamos ouvir esse silêncio meu amor / amplificado no amplificador / do
estetoscópio do doutor / no lado esquerdo do peito, esse tambor
(ANTUNES, 2006, p. 253).
No silêncio possibilidade de ouvir a barriga digerindo o pão. Mas o que
quebra essa possibilidade (o silêncio) se não o adestramento do aparelho fonador
buscando a comunicação oral, se não a escrita, a imprensa e outras tantas tecnologias
que se seguiram? Leio o jornal e vejo TV enquanto uma média vai ajudando a descer o
pão; meus olhos passam por 27 outdoors no caminho para o trabalho e também no
caminho para o trabalho um livro vai sendo lido para aquele curso que me promete um
upgrade profissional –; durante o dia dezenas de mensagens eletrônicas,
documentos, conversas sobre as últimas de Brasília, intervalos para cigarros e lanches
rápidos; o dia segue, a vida segue: um dia vai se colando ou sobrepondo ao outro,
vamos acumulando horas trabalhadas, corridas, engolidas, com intervalos mal nutridos.
Haja saúde para a correria cotidiana! E haja plasticidade cerebral para digerir
tamanha fartura informacional! Imagine as crianças e adolescentes; como podem ser
capazes de julgar, pensar e contextualizar a montanha de fatos e dados diários que vão
surgindo na escola, na rua, em casa, no play etc.? De um modo geral, não aprendem a
contextualizar, a pesquisar, a selecionar informação.
A sociedade contemporânea está mergulhada num caudaloso fluxo
comunicacional e, mediante esse fato, quem afirme que estamos vivendo a Era do
Conhecimento. Entretanto, o conhecimento exige reflexão (tempo e maturação) e
seleção (critério, crítica), duas práticas um pouco modés para nossos dias. Havendo
necessidade de um rótulo, chamemos de Era da Informação este cenário pós-moderno.
A relação tempo-critério me recorda uma frase de Sêneca: nenhum vento sopra
a favor de quem não sabe para onde ir”. Acontece que além de não se ter ideia de
um destino a revolução pós-industrial (caracterizada pelo desenvolvimento da
informática, das telecomunicações e da automação) tem o carregado no acelerador.
Chacoalhamos freneticamente no banco de trás mãos distantes do volante. Em que
21
direção estamos indo? Qual é o nosso projeto de Sociedade? Qual é o nosso projeto
de Educação? E a mídia com isso?
faz algum tempo que a mídia vem sendo utilizada como recurso pedagógico,
auxiliando o professor no ensino de Língua Portuguesa, Matemática, Geografia, História
etc. Mas os meios de comunicação devem ser incluídos, sobretudo, como objetos de
estudo para que os jovens tenham uma compreensão menos superficial de sua época,
da influência midíática no jogo democrático, no discurso ideológico e no consumo.
Aristóteles falava em três ambiências da sociedade grega: da vida contemplativa,
da vida política, da vida prazerosa (do corpo). Muniz Sodré acrescenta uma quarta
ambiência, referindo-se à sociedade contemporânea, o bios midiático:
Implica a midiatização, por conseguinte, uma qualificação particular da
vida, um novo modo de presença do sujeito no mundo (...) Partindo-se
da classificação aristotélica, a midiatização ser pensada como tecnologia
de sociabilidade ou um novo bios, uma espécie de quarto âmbito
existencial, onde predomina (muito pouco aristotelicamente) a esfera
dos negócios, com uma qualificação cultural própria (a “tecnocultura”)
(SODRÉ, 2002, p. 24-25).
A mídia, mais que transmissor de informação, é uma ambiência, uma forma de
vida. O que se passa no mundo é representado no discurso midiático. Esse discurso
desenha o real pautando as conversas do dia-a-dia, ditando comportamentos, vestindo
os corpos e mentes de cores e formas do interesse de uma lógica global, de um
pensamento único.
São fundamentais tempo e critério para que a velocidade da informação e da
comunicação não nos atordoe. Tempo e critério para processarmos o cotidiano e
termos como resultado uma verdadeira Era do Conhecimento.
Qualquer projeto de sociedade e de educação deve levar em conta a mídia
enquanto espaço público (repleto de discursos o mais presente deles proveniente da
classe dominante) e enquanto ambiência. A mídia-educação não será a solução para
as mazelas da sociedade e da educação. No entanto, para o melhoramento da
22
sociedade e da educação, faz-se necessária a transformação do espectador em
cidadão - no que a mídia-educação pode contribuir significativamente.
2.2 Mídia-Educação em três momentos: breve relato de uma experiência
na década de 20, do século XX, o educador Célestin Freinet confeccionava
com seus alunos um jornal escolar. De para cá, muitas tecnologias surgiram, depois
da imprensa, mas os jornais escolares permanecem extremamente válidos,
principalmente, no que diz respeito a tomada da palavra e da palavra crítica pelas
crianças e adolescentes e a sua participação da vida social. Muitos dos jornais
escolares que tenho visto dão uma excessiva ênfase no produto, num aparente esforço
para “mostrar serviço”. Nota-se que são apanhados de textos encomendados por
professores e produzidos, individualmente, pelos alunos. Mas não estará no caminho
percorrido pelos alunos, na curiosidade e criação, no espírito da colaboração e no texto
coletivo o melhor da experiência de se fazer um jornal escolar?
Junto com alunos de série de uma escola pública do Rio de Janeiro, foi
possível a realização de uma experiência extremamente significativa para mim e,
acredito, para eles também. Foram três momentos educativos nos quais os alunos
conheceram a produção do jornal, uma breve história das dias e suas implicações no
mundo contemporâneo e, por fim, produziram seu próprio jornal.
O primeiro momento aconteceu com a chegada a uma redação multimídia
3
, onde
os alunos conheceram o dia-a-dia
4
dinâmico dos profissionais envolvidos no processo
3
Segundo o livro comemorativo dos 50 anos do jornal O Dia, o conceito de multimídia está relacionado
ao aproveitamento, num mesmo espaço sico, de mídias diversas. O que significa dizer que, na redação,
a informação bruta é trabalhada de acordo com a mídia que irá veiculá-la. A mesma história colhida pelo
repórter recebe tratamento compatível com o jornal impresso, on-line, rádio ou TV
4
No mesmo livro, há uma descrição de como corre, aproximadamente, um dia na vida de um jornal:
6:00 - O chefe de reportagem chega à redação e começa a pautar os assuntos do dia, atento à apuração
da madrugada e às agendas;
7:00 - Os primeiros repórteres a chegar recebem suas pautas, são orientados e dão início à apuração;
10:30 - A primeira reunião de pauta do dia é feita com o coordenador de produção e os chefes de
reportagem repassando suas pautas;
23
jornalístico, as diversas fontes de notícias, as editorias e as rádios. Eles também
percorreram o Parque Gráfico e aprenderam sobre os aspectos técnicos e logísticos da
impressão e distribuição. O que temos aqui é o mesmo de quando assistimos a um
“making off” de um filme: conhecemos escolhas e recortes, montagens, truques,
técnicas e efeitos utilizados na sua produção. Não deixamos de usufruir da magia do
cinema, mas mudamos enquanto espectadores.
Depois da visita ao jornal, os alunos me receberam na escola para uma conversa
aberta, sem conclusão, sobre o que é mídia e para que, juntos, refletíssemos sobre os
modos como ela afeta nossas vidas. Levei comigo algumas transparências para uma
breve história dos meios de comunicação e algumas perguntas para estímulo de outras
(deles). Falamos sobre campanhas publicitárias e criamos uma para um produto
imaginado a ideia era, realizando uma campanha, deixar que percebessem alguns
artifícios publicitários, como a fabricação de desejos e necessidades. Conversamos
sobre programas de TV e, através de uma dinâmica de debate, com um grupo
argumentando a favor da TV e outro contra-argumentando, os alunos expuseram suas
ideias e desconstruíram qualquer maniqueísmo sobre a mídia com próprias conclusões.
A culminância do trabalho veio com o terceiro momento: os alunos fizeram uma
aula-passeio, ou melhor, aula das descobertas (lição de Freinet), nos arredores da
escola e adotaram a postura de “repórteres”. Eles tomaram nota e fotografaram tudo
aquilo que perceberam no seu meio urbano, aspectos positivos e/ou negativos, que
fossem digno de registro. Eles notaram o desleixo com as calçadas e com o lixo, o
13:00 - Começam a chegar os editores. Após uma rápida reunião com os chefes, eles iniciam o trabalho
de edição da cobertura do dia;
14:30 - Na sala multimídia, editores executivos e editores de área apresentam suas pautas e discutem a
edição do dia seguinte;
16:00 - O caderno D e os suplementos estão fechando. Enquanto isso, designers e redatores começam
seu trabalho;
17:00 - O mapa da edição, com a posição dos anúncios e horários de fechamento de cada gina é
distribuído para os editores;
18:00 - Tem início o fechamento do jornal. Segundo o horário determinado, as páginas começam a ser
enviadas para a pré-impressão;
18:30 - Os editores apresentam o status das matérias e manchetes para o dia seguinte;
21:30 - A primeira página do jornal é fechada, encerrando a primeira edição. As pessoas começam a
deixar a redação. Chega a equipe da madrugada;
23:00 - As últimas notícias e as retificações são dispostas nas páginas que substituem as anteriores;
24
desrespeito dos motoristas que buzinavam em frente a um hospital e criticaram a
ausência de uma área de lazer. Aprenderam e ensinaram sobre seu bairro enquanto
contavam sobre os transtornos da obra do Estádio Olímpico João Havelange às
vésperas dos jogos Panamericanos e apontavam canteiros; enquanto entravam e
exploravam um espaço que nunca tinham visitado, o Museu do Trem; enquanto
observavam com outros olhos o que sempre estivera ali.
Voltando à sala de aula, os alunos fizeram a seleção daquilo que julgaram
importante (do mesmo modo como as reuniões de pauta decidem as edições
jornalísticas), segundo seus critérios, e produziram um jornal. No lugar de “mostrar
serviço”, o jornal produzido trouxe prestação de serviço, informação e entretenimento
em diversos gêneros textuais
5
. Protagonismo, cidadania, escrita individual e coletiva,
leitura de mundo: alguns pontos que poderiam ser destacados para explicar, mas que
não dão conta do que vivi com aqueles alunos. O processo de composição do jornal
foi, sobretudo, um exercício de pensar, criticamente, mídia e sociedade. Fossem
encomendas de textos, como trabalhos de casa, o exercício e a experiência não teriam
acontecido, teríamos apenas preenchido papéis com textos pouco significativos.
Impressos em papel especial, coloridos ou não, xerocados ou copiados à mão,
postos num mural para a comunidade escolar, distribuídos em malas diretas ou, ainda,
disponíveis na internet: são escolhas mediante razões e possibilidades de cada grupo
de alunos e de cada escola. As novidades tecnológicas vêm agilizar o trabalho, que
antes era feito caracter por caracter, na imprensa, mas nem sempre (quase nunca) são
emancipatórias em seus usos. Como os meios lineares e analógicos não
desaparecerão com o surgimento das mídias não-lineares e digitais, as práticas
pedagógicas que se apresentaram libertadoras no passado não precisam ser
esquecidas em nome da novidade, mas renovadas nesses ares.
24:00 - Os repórteres de plantão assumem seus postos e tomam conta da cidade até a manhã seguinte,
quando o dia recomeça.
5
O jornal é um veículo rico em gêneros textuais (reportagem, crônica, anúncio, cartaz, quadrinho, artigo,
charge etc.), o que contribui para exploração de diferentes linguagens, estruturas e sentidos.
25
O relato aqui tratou de jornal impresso; outros alunos poderiam ter optado pelo
rádio, utilizando microfone e aparelho de som ou o podcasting
6
, disponível na internet;
outros, ainda, poderiam ter produzido um vídeo com celulares, exibindo-o na TV ou
publicando na rede. A frase de efeito do sítio “You Tube”, broadcast yourself, sugere ao
usuário que se vista de mídia, ou seja, que ele próprio se torne um produtor de
conteúdos e os veicule nesse espaço de memória extensiva ao seu corpo. Embora o
estímulo seja direcionado ao indivíduo, há uma enorme potencialidade de um vestir-se
coletivo para mostrar mais que vaidades e fetiches, exibindo fazeres renegados e
notícias de pontos de vista vários para que acrescentem algo às crônicas mesmíssimas
dos grandes meios.
Para encerrar este capítulo, que trouxe mais um relato do que uma narrativa,
trago as falas de Sabrina e Thamara, duas alunas que participaram da atividade:
Eu achei esta reunião muito interessante, porque desperta uma
curiosidade muito legal. É bom porque a gente pode dialogar. Eu acho
que esse trabalho tem que continuar em outras escolas.
Sabrina (Aluna do 6º ano)
Eu gostei muito, pois esta aula nos ensinou que não devemos ser
levados por tudo que é bonito e nem pela mídia.
Thamara (Aluna do 6º ano)
Cabe, ainda, expor as considerações de Elvira e Conceição, educadoras que
acompanharam a atividade com os alunos e alunas do 6° ano:
Achei interessante o trabalho sobre a “mídia” desenvolvido pela equipe
do jornal O Dia com uma turma de série. É fundamental que esse
trabalho tenha continuidade, porque oportunidade aos alunos de
expressar suas idéias e seus conhecimentos sobre o mundo que os
cerca. Foram enfocados os aspectos positivos e negativos da mídia,
dando oportunidade aos alunos de serem cidadãos críticos e
conscientes da realidade que os circunda. Essa tarefa contribui para o
aprimoramento da expressão oral e escrita, que tem apresentado
deficiência ao longo dos últimos anos.
6
O podcasting é um veículo para publicação de vídeo, áudio e imagens na internet.
26
Elvira (Professora de Português)
O tema abordado, Mídia, foi bastante importante, principalmente por dar
uma visão crítica dos diferentes meios de comunicação, despertando
nos alunos a importância de sermos consumidores ativos, formando
opinião a respeito do que nos é oferecido.
Conceição (Coordenadora Pedagógica)
27
3 MÍDIA-EDUCAÇÃO E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
Dentro da dinâmica das sociedades modernas, a despeito da supremacia tecno-
científica, diversas maneiras de produzir conhecimento se impõem. Este capítulo
pretende abordar as relações entre formas conhecimento as Representações Sociais,
o Jornalismo e outras produções midiáticas – e a necessidade de uma educação
voltada para a mudança de postura do leitor/espectador e de suas representações a
partir da leitura crítica dos meios de comunicação.
Dos anos 1960 guardamos os ecos de um grande vozerio que se impôs,
criticamente, às instituições e aos discursos, provocando o que Foucault (1979) chamou
de insurreição dos saberes dominados. O estrondo insurreto era contra o poder
coercitivo e totalitário da ciência, que, garantida pela visão positivista, figurava – e figura
ainda – como o único saber legítimo e a única tradução possível da realidade.
Uma das primeiras discussões para quebrar tal monopólio foi encabeçada por
Moscovici, que apontava a parcialidade do positivismo e sua insuficiência para tratar de
outras dimensões da realidade (GUARESCHI, 1995). Esta crítica epistemológica deu
origem, anos mais tarde, à Teoria da Representação Social, que lança luz sobre formas
de conhecimento prático construídas pelos sujeitos em suas apropriações cotidianas
dos objetos.
28
O conceito de representação social nasce no campo da Psicologia Social, com
Moscovici (2003), numa releitura da Teoria da Representação Coletiva, do sociólogo
Émile Durkheim (1989), e é composto, além de elementos da Sociologia e da
Psicologia, de questões da área de Comunicação. Pode ser compreendido como
concepções, percepções, apreensões, interpretações, configurações e acepções
(RANGEL, 1994) compartilhadas com a finalidade de dar sentido e movimento à vida
social.
Moscovici (2003) não levantou os tradicionais muros que se costumam construir
ao redor de uma definição, deixando à teoria das representações sociais um campo de
pesquisa ampliado. É possível encontrá-la permeando estudos na área de saúde,
comunicação, educação, psicologia, sociologia, entre outros. Ainda, a teoria de
Moscovici, apresenta desdobramentos em três abordagens: uma antropológica, com
Denise Jodelet; outra sociológica, com Willem Doise e uma terceira com a ênfase
cognitivo estrutural de Jean-Claude Abric (SÁ, 1998).
3.1 Conhecimentos desconsiderados e hierarquias abstratas
No estado resignado em que se encontra o mundo, não falta quem acredite em
“fim da História”, quem o dê crédito a movimentos sociais e ridicularize qualquer
militância emancipatória. Mas, como bem nos lembra Santos (2007), o ideal tríplice da
modernidade (liberdade, igualdade e fraternidade) continua vivo; portanto, a ideia de
uma sociedade mais justa permanece de pé.
Foucault, em um curso oferecido no Collège de France em 1976, propôs a
genealogia dos saberes, cujo projeto era reavaliar saberes locais subalternizados;
Santos (2007), no Fórum Mundial Social, propôs uma ecologia dos saberes, que seria o
diálogo da ciência com saberes populares e marginais, num exercício de superação das
hierarquias epistemológicas. Santos propõe uma crítica à razão indolente, aquela que
se considera exclusiva, para compor um fazer contra-hegemônico no combate ao
“epistemicídio” – desperdício de experiências sociais.
29
Podemos dizer que as representações sociais consistem em redes de
interpretação, construídas na comunicação diária dos grupos sociais para a orientação
dos seus fazeres. Explicitar essas redes e fazeres é, sem dúvida, uma prática contra-
hegemônica, na medida em que valida saberes desconsiderados.
A relativização da verdade científica proporciona o rompimento com o que
Santos (2007) chamou de monocultura do saber e o aparecimento de formas de
conhecimento que estavam excluídas. Dentre esses modos de conhecimento,
destacamos neste artigo o senso comum representação social –, o jornalismo e o
conhecimento pop engendrado pela mídia.
3.2 Educação: fluidez e complexidade
7
Nos anos 60 e 70, diversos autores procuraram dar conta das diversas
mudanças na educação impelidas pela vertiginosa evolução da mídia. Os mídia-
educadores (ou educomunicadores) vieram experimentar a mídia em sala-de-aula, ou
em ambientes alternativos a ela, a fim de levar à educação o colorido que ela não
teriam sabido acompanhar, tornando-se obsoleta.
Marshall McLuhan foi capaz de prever importantes mudanças na Escola, numa
época em que ainda o se falava em uma convergência entre comunicação e
educação. A visão do papa da comunicação chegou a perceber que as escolas
dispensam, mais e mais, energias diversas, preparando os escolares para um mundo
que não existe. E antecipou que haverá um dia - talvez este seja uma realidade -
em que as crianças aprenderão muito mais - e muito mais rapidamente - em contato
com o mundo exterior do que no recinto da escola. McLuhan também deu conta de que
era necessário que a educação fosse permanente, abandonando a cultura do diploma,
fechada num corpo de conhecimentos (LIMA, 1978). Felizmente, este mídia-educador
avant garde errou ao prenunciar que o professor desapareceria e que o livro daria lugar
7
Trecho publicado no sítio eletrônico da Associação Nacional de Jornais. Disponível em:
http://www.anj.org.br/jornaleeducacao/biblioteca/artigos/educacao-fluidez-e-complexidade. Acesso em
11/12/09.
30
às publicações periódicas; mas é incontestável o quanto a informação abundante vem
transformando o papel do professor e do livro.
Hoje, mergulhados no ciberespaço, estamos nos habituando à maneira de leitura
não-sequencial e fluida presente no hipertexto. A aparência do hipertexto pode, à
primeira vista, ser fragmentada, mas devemos entendê-lo tomando a semântica o
hibridismo internet (inter, do latim, reciprocidade; net, do inglês, rede). Segundo Pierre
Lévy (2000), a rede tem uma relação de interdependência, o que nos remete ao esforço
de Edgar Morin e seu pensamento complexo. Morin defende que devemos abandonar o
pensamento compartimentado, passando a fazer conexões (ou, lembrando a palavra
inglesa tão frequente entre os internautas, links) entre a parte e o todo, a buscar
relações e inter-retro-ações entre cada fenômeno e seu contexto.
A ciência econômica é a ciência humana mais sofisticada e a mais formalizada -
exemplifica Morin -; contudo, os economistas são incapazes de estar de acordo sobre
suas predições, geralmente errôneas (MORIN, 2004). Tal erro acontece porque a
economia é a ciência mais avançada na matemática e a mais atrasada humanamente.
Morin quer, com seu pensamento complexo, reformar a cabeça cheia - aquela com o
saber acumulado, empilhado, sem um princípio de organização e de seleção - e fazê-la
bem-feita, dispondo ao mesmo tempo de uma aptidão geral para colocar e tratar os
problemas e de princípios organizadores que permitam ligar os saberes e lhes dar
sentido (Idem). A cabeça bem-feita esbarra num paradoxo para se efetivar como projeto
global: para reformar o pensamento deve-se reformar a escola, mas como reformar a
escola sem, antes, reformar o pensamento?
Um outro problema com a escola surge com aquela frase feita que diz: a escola
prepara para a vida. O aluno que hoje deixa a faculdade, passou cerca de 20 anos de
sua vida sendo preparado para um mundo que não existe, pois é cada vez menor o
período em que todos os conhecimentos são redesenhados. Esse anacronismo foi
apontado por McLuhan (apud LIMA, 1978), que antecipou com sucesso o quadro de
velocidade informacional que atingiria nossos dias, a celeridade das descobertas, das
novidades tecnológicas etc.
31
Para as próximas gerações, necessitamos focar nossos esforços pedagógicos no
processo, na busca de soluções comuns, na construção social do conhecimento e não
mais nos conteúdos prontos, no conhecimento fechado. Focar no processo significa
preparar o aluno para utilizar todos os mecanismos de pesquisa disponíveis e municiá-
lo da memória rizomática da rede de computadores.
O sujeito, outrora centralizado, hoje fluido, passou a viver num processo contínuo
de mutação, seja no relacionamento com o outro, seja na construção da própria
identidade. E essa fluidez atravessa e é atravessada pela informática, que, conforme
Pierre Lévy, não é uma tecnologia definida e sim um processo contínuo. Essa metáfora
da fluidez, utilizada durante o texto, foi criada pelo sociólogo Zygmunt Bauman (2000)
para explicar o estágio presente da era moderna, designado por outros autores como
pós-moderno. Segundo ele, a modernidade líquida se caracteriza pela extraordinária
mobilidade e inconstância, pela ausência de dimensões espaciais claras. O sujeito
educador precisa adquirir a dinâmica do mercúrio: encarnar uma forma mutável
produtiva, que acompanhe a nova plasticidade mundial, mas com uma toxidez positiva,
que contagie o aluno com o desejo e o prazer pelo conhecimento em movimento.
3.3 Mídia-educação: possibilidade de mudança das representações sociais
O conceito de mídia-educação começa a se formar no início do século XX, sob
grande influência da Escola de Frankfurt, com a preocupação de defender as crianças e
adolescentes dos males midiáticos, em uma primeira concepção da mídia como um
vilão para os seus frágeis usuários. Na América Latina, a dia-educação ganha força
com a educação popular, por uma comunicação alternativa e pelo estabelecimento da
democracia (RIVOLTELLA, 2001; FANTIN, 2006).
Na década de 70, Mário Kaplún, amigo de Paulo Freire, igualmente envolvido
com a educação popular, realizava programas de rádio educativos desenvolvendo seus
métodos Cassete-Foro e Leitura Crítica. O primeiro levava comunicação participativa
aos produtores rurais de cooperativas agrícolas no Uruguai; o segundo, propunha
32
criticidade aos destinatários dos conteúdos midiáticos e dava origem ao termo
educomunicação (BORTOLIERO, 2006).
A dia-educação desenvolve-se para além da inoculação, partindo em direção
de uma concepção integrada, constituindo um campo confluente educação-
comunicação de intervenção social. Compreende que as tecnologias de informação e
de comunicação, por serem parte indissociável da vida social, devem ser pensadas
pela comunidade escolar, em especial a escola blica, atuando no sentido de
compensar as terríveis desigualdades sociais e regionais que o acesso desigual a estas
máquinas está gerando”. (BELLONI, 2001, p.10).
Pensemos a ação dia-educativa na observação do jornalismo e das
representações sociais.
Representações sociais constituem uma forma de conhecimento, uma visão
consensual da realidade (JODELET, 2001), que circula nos discursos, está
estreitamente ligada à comunicação e tem nas mídias um importante mediador.
Moscovici (2003 b) não acredita, entretanto, que as representações sejam produzidas
pela mídia; o que ela faz é acelerar, afrouxar e, talvez, dirigir o fluxo das
representações. Façamos algumas considerações sobre como as representações
sociais são permeadas pelo conhecimento jornalístico ou pop dos meios de
comunicação e de que maneira a mídia-educação pode intervir nessa equação.
Definido como História escrita à queima-roupa e considerado por uns como
ciência mal feita, por outros como ciência menor, o jornalismo é uma forma de produção
de conhecimento que não pretende revelar os mesmos aspectos da realidade nem
possui o tempo de maturação da ciência (MEDITSCH,1997).
Uma questão negativa relacionada ao Jornalismo é, segundo Meditsch (1997), a
falta de transparência quanto à produção dessa forma de conhecimento e suas
condicionantes a subjetividade e as condições técnicas e econômicas dos jornalistas
somadas aos jogos de poder e interesses.
A notícia é apresentada ao público como sendo a realidade e, mesmo
que o público perceba que se trata apenas de uma versão da realidade,
33
dificilmente terá acesso aos critérios de decisão que orientaram a equipe
de jornalistas para construí-la, e muito menos ao que foi relegado e
omitido por estes critérios, profissionais ou não (MEDITSCH, 1997).
Embora uma pequena parcela da sociedade reconheça a produção jornalística
como recorte da realidade, a maioria entende o jornalismo como reflexo autêntico da
realidade. O leitor/espectador consome as notícias, de modo geral, como verdade
absoluta. Dada a diferença entre o peso discursivo da pessoa jurídica (empresa
midiática) e da pessoa física (cidadão comum), podemos imaginar a influência da
primeira sobre as representações da segunda.
O conhecimento pop que a mídia engendra teve, recentemente, um exemplo
extremo de sua “validade”. Limito-me a citá-lo, pois uma análise iria requerer outro
artigo. Em um concurso público para escriturários, realizado pela Prefeitura de
Taubaté, situada a 130 km de São Paulo, duas questões “indigestas” peço licença ao
leitor para este juízo de valor – chamaram atenção pelo “conteúdo” abordado: Big
Brother Brasil e Casal Global. Transcrevo as questões acompanhadas de gabarito:
78 – Alexandre, Bianca e Fernando participaram de que edição do
programa Big Brother Brasil?
a) BBB 5
b) BBB 6
c) BBB 7
d) BBB 8
79 Que famoso casal “global” anunciou, recentemente, o fim do
casamento?
d) Tarcísio Meira e Glória Menezes
e) Lázaro Ramos e Taís Araújo
f) Luciano Huck e Angélica
g) Rodrigo Hilbert e Fernanda Lima
(Folha de São Paulo, 18/04/2008)
34
Certamente, um servidor não deve ser avaliado pelo número de horas que passa
assistindo novelas, programas de auditório ou reality shows. Mas o fato é que o
cotidiano social é permeável e tais produções circulam e geram entendimentos,
interpretações, ideias e metáforas utilizadas reproduzidas ou transfiguradas para
estar no mundo e digerir sua complexidade.
Na pesquisa “A representação no enfrentamento do problema da influência social
da televisão” (RANGEL, 2004, p. 29-48), os ditames de padrões midiáticos de beleza
puderam ser explicitados a partir das respostas de 32 adolescentes à pergunta “O que
você vê na TV?”:
“as garotas do Gugu... que corpo... queria ter igual”; “Carolina Ferraz...
ela é show! linda! 'quem dera' eu ter aquele corpo...”, ou Malhação...
que eu não tenho 'grana' nem para 'malhar', nem para conhecer gente
assim... até tristeza, tenho que ser gorda e pobre”; (...) “Luciana
Gimenez e Adriana Galisteu... são lindas, magras, altas, ricas...
também... são modelos... coisa que nunca vou ser na vida”; “Gosto mais
de ver quando aparece uma modelo... fico 'vidrada' na Gisele.. bonita...
rica...também... não posso comer o que ela falou que come... verdura...
fruta... só como coisa que engorda... arroz, feijão, batata” (Idem, p. 37).
A mídia nada determina, mas prescreve (SODRÉ, 2002); e o faz de modo
abundante, visto que é, podemos nos arriscar a dizer, a principal mediadora das
representações sociais. A “sociogênese” da representação social do cidadão comum
se nas interações interpessoais, numa ambiência cotidiana fortemente midiatizada;
portanto, nessas interações, muito de como se compreende o mundo é permeado do
olhar midiático sobre a realidade.
Tal olhar é, grosso modo, direcionado por empresas de comunicação que, a
despeito de serem concessões públicas, são pertencentes à classe dominante, com
óbvios interesses na manutenção do status quo. Sendo a moral midiática
contemporânea apenas mercadológica (SODRÉ, 2002), as empresas de comunicação
têm como motivação principal, como em qualquer outro setor, o lucro e o bem estar dos
seus acionistas.
35
A mídia fala do mundo para vendê-lo ou para agilizá-lo em termos
circulatórios sua verdadeira agenda é a do liberalismo comercial. Sua
moral utilitarista, com o mercado como vetor de mudanças (portanto, um
moral liberal de comerciantes, anglo-saxônica em seu velho acento
liberal sobre o individualismo e mercado), não contempla a utilidade
social, pelo contrário, é privatista e redutora da sensibilidade quanto ao
coletivo (Idem, p. 64).
O alto volume informacional, próximo da onipresença, não precisa ser abaixado
em função disso, mas ser um aliado num fazer contra-hegemônico que explore da mídia
o que ela tem de melhor: seu potencial como fator de mudança social. Uma lição dada
por Paulo Freire em toda sua obra foi mostrar que educar é um ato político. E não
uma ação verdadeiramente política que não busque uma mudança na sociedade.
A “sociogênese” da representação social se num cotidiano fortemente
banhado no líquido amniótico comunicacional, carregando o misto do que se reproduz e
transfigura. Autonomia, tal como democracia, não é algo dado, mas a ser eternamente
perseguido. Buscar mudanças representacionais pode significar gerar ambiências
sociais em processo autônomo.
Flament (1989) discute as possibilidades de mudança, considerando
reformulações progressivas, graduais, de percepções e conceitos, ou,
então, a forte “ruptura” com a realidade, provocando a “desestruturação”
dos núcleos centrais da representação; num e noutro caso, a renovação
das práticas do dia-a-dia podem, então introduzir novas representações
(RANGEL, 1997, p. 29-30).
Entretanto, uma forma libertadora de educação problematiza o que está posto,
inculcado, enraizado, não se propõe a introduzir e, assim, repetir um modelo
prescritivo –, mas a favorecer a elaboração autônoma de novas representações.
A mídia-educação, em princípio um estímulo ao uso escolar de tecnologias
comunicacionais, tendo ampliado seu olhar e aplicação, surge como um campo de
intervenção social. Abre-se ao exercício da cidadania, através do incentivo às formas
experimentais e alternativas de comunicação e ao pensamento autônomo. Um campo
36
que possibilita ao oprimido desfazer-se das construções imagéticas do opressor,
mudando suas representações hospedeiras da ideologia dominante.
Uma ão midia-educativa deve levar seus alunos a perceberem a produção
jornalística como recorte que é e não como realidade que pretende ser, a
recepcionarem as ideias e imagens do conhecimento jornalístico e do conhecimento
pop com uma postura ativa, a consumirem-nas como produtores de sentidos e usos
diversos – à maneira descrita por Certeau (1994).
Obviamente, a mídia educação não tem por fim a suspensão do entretenimento e
da informação, mas esmera-se para que sendo a televisão o chiclete dos olhos
8
os
programas pálidos e sem gosto sejam cuspidos ou mascados pela presença crítica.
Com a repetição continuada deste exercício, o leitor/espectador tem a oportunidade de
refletir, questionar e, por fim, reformular suas representações.
Uma reelaboração da realidade, constituída socialmente, deveria se desvencilhar
da pauta neoliberal, impressa por empresas de comunicação, e desconstruir
representações como aquelas da pesquisa citada.
Dois aspectos da representação social destacados por Moscovici (2003), a saber
a convencionalização dos objetos e a prescrição de realidades, compõem uma camada
cognitiva que permeia nosso agir e pensar. Talvez não seja possível atuar,
permanentemente, fora de convenções e prescrições, mas, com esforço crítico
frequente, pode-se modificar representações e, então, permitir uma vivência cotidiana
mais emancipada de amarras alheias.
8
A frase, citada por Fernando Sabino, já foi atribuída a Frank Lloyd Wright e a John Mason Brown.
37
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
De uma teoria matriz, proposta por Moscovici, temos pelo menos três matizes
teóricas, com Denise Jodelet, Jean-Claude Abric e Willem Doise; e com diferentes
matizes teóricos, haverá diferentes caminhos metodológicos. A teoria das
Representações Sociais acolhe uma gama enorme de possibilidades metodológicas e
tem como “característica singular”, amplamente democrática, “não privilegiar qualquer
método particular de pesquisa” (FARR apud ALMEIDA, 2005, p. 135). Cada
abordagem teórica aponta suas orientações metodológicas (SÁ, 1998; ALMEIDA,
2005):
a abordagem cognitivo-estrutural de Jean-Claude Abric, que propõe
hierarquias entre os conteúdos da representação, introduzindo a noção de
núcleo central e elementos periféricos, onde o núcleo central “é o
elemento mais estável da representação, o que mais resiste à mudança” e
a transformação da representação se dá pelos flancos, “por uma mudança
do sentido ou da natureza de seus elementos periféricos” (ABRIC, 2001,
p. 163), aponta o método experimental como caminho para a
quantificação e qualificação dos objetos;
38
a abordagem societal ou sociológica de Willem Doise, que procura
articular explicações de ordem individual e de ordem societal (em
dinâmicas interacionais, posicionais ou de valores e de crenças gerais),
realiza estudos relacionais através de métodos quantitativos;
a abordagem processual ou culturalista de Denise Jodelet, que mantém
atual a proposição original de Moscovici e entende as representações
como “definições partilhadas” nos processos e produtos simbólicos dos
indivíduos, construídas como uma “visão consensual da realidade”
(JODELET, 2001), utiliza técnicas e métodos qualitativos.
O pesquisador que estiver trabalhando na perspectiva teórica de Jodelet
trabalhará sobre métodos qualitativos. Aquele que venha a optar por Abric, sobre o
método experimental. Sob as proposições de Doise, os métodos quantitativos farão
maior sentido. Estas relações atribuídas, porém, não devem constituir uma camisa-de-
força.
Para esta pesquisa, foi tomado como norte a perspectiva culturalista de Jodelet
(2001) na investigação qualitativa dos dados obtidos.
Considerando-se a mídia como uma importante mediadora das representações
sociais, é relativamente comum encontrar pesquisas que tomam a teoria de Moscovici
(2003), utilizando o jornal como recurso (há, por exemplo, coletas de textos jornalisticos
para constituir um corpus de pesquisas que utilizam softwears de processamento
analítico como o Alceste e o Evoc). Aqui, o jornal aparece como elemento constituinte
de um projeto pedagógico. O corpus a ser analisado é constituído pelas falas dos
educadores a propósito da parceria entre Jornal e Escola.
Para o estudo de tal parceria em um projeto pedagógico, foi imprescindível o
levantamento de dados. Utilizaram-se, então, entrevistas com 23 educadores, entre
coordenadores pedagógicos, professores e diretores, cujas questões e respostas se
apresentam a seguir.
39
Entrevistas
Questões:
1. O que é, para você, O Dia na Sala de Aula?
2. Como o programa de Jornal na Sala de Aula contribui com o cotidiano
escolar?
3. Como o jornal e outras mídias são aproveitados em sala de aula?
Todos os entrevistados concordaram com a citação do primeiro nome para a
identificação das respostas. Dei-lhes garantia de não expor seus sobrenomes ou a
designação de suas Escolas.
Respostas:
Cristina
1. Eu acredito bastante na seriedade do Programa, em termos
pedagógicos. Poderia ser algo para, simplesmente, incentivar o uso do
jornal e até, quem sabe, algo que de alguma forma incentivasse o jornal
"O Dia", porém, eu sinto que é um trabalho que está sempre abraçando
a Educação, principalmente a pública que é realmente o público do
Programa. Gosto muito da preocupação o Programa tem com relação ao
que o professor busca, a questão da formação, dos interesses.
2. A contribuição do jornal se de rias formas: na sala de aula,
através das atividades (alunos); através da linha do tempo afixada em
um dos murais no corredor principal da escola (esta contribuição está
relacionada a toda a comunidade escolar); através dos encontros para
os professores (ligada à formação do profissional e, portanto, o ganho é
tanto do professor quanto do aluno, indiretamente).
3. De uma forma geral as mídias são utilizadas como recurso para os
assuntos tratados pelos professores. Infelizmente, ainda não posso dizer
que todo o grupo as utiliza de forma crítica, mas como tudo na Educação
é um processo longo, percebo em alguns momentos que este processo
está se iniciando.
40
Angela
1. O Projeto "O Dia na Sala de Aula" complementa o trabalho diário do
professor junto aos alunos. Vejo este Projeto acontecendo e dando
frutos a cada dia. Com o varal da página do jornal colocado no tio
de nossa Escola semanalmente, os alunos passaram a se interessar e
se motivar em relação à leitura de outras mídias.
2. Como o tema do nosso Projeto Pedagógico este ano é o Meio
Ambiente, o jornal contribui com notícias ligadas ao tema. Além disso, os
professores trabalham todos os cadernos, principalmente classificados,
cadernos culturais, matérias ligadas a Ciências, letras retiradas do jornal
e encartes de propagandas para Alfabetização de nossos alunos. Este
ano, contribuiu muito com a revista sobre os 200 anos da chegada da
Família Real, revista sobre a China e notícias ligadas à atualidade em
geral. Os professores gostariam que o jornal abordasse mais temas
ligados a Ciências, Saúde e Meio Ambiente.
3. Acho que respondi na questão anterior. A Escola possui um
Laboratório de Informática e Oficina de Animação. Os professores
utilizam o Laboratório com seus alunos regularmente. Vários trabalhos
foram e estão sendo realizados utilizando o jornal e a internet, assim
como vários softwares educativos. Este ano foi realizado um
documentário sobre os 200 anos da chegada da Família Real em power
point, através de fotos retiradas de jornais, revistas e internet.
Márcio
1. Representa a possibilidade de oferecer ao aluno contato com
informações atuais e fatos relevantes tanto em relação ao município do
Rio de Janeiro quanto em relação ao mundo.
2. Desenvolve o interesse pela leitura de outro tipo de material impresso,
incentiva a produção de texto, oportuniza o contato com diferentes
linguagens e incentiva a busca de informações.
3. Pesquisas, reescrita do material, construção de texto a partir de
charges e de outros materiais, montagem de jornal da turma,etc
Douglas
1. Um projeto que apóia a atuação do professor fornecendo material
atual e de qualidade para incrementar as aulas.
2. Ajuda nas discussões, nas pesquisas... Podemos estudar as letras, as
manchetes... Mantém os alunos e o professor conectados ao cotidiano
local e mundial.
41
3. O material é usado como fonte de pesquisas. As fontes iconográficas
são usadas como recursos de gêneros literários. As imagens são
usadas para produção de texto e descrição. As manchetes são
discutidas. Os quadrinhos e jogos servem como apoio didátido e o
material ainda serve como auxílio à alfabetização lingüística e
matemática.
Ana Cristina
1. Possibilidade de contato direto com um veículo de comunicação que
contribui para o desenvolvimento da leitura.
2. Auxilia na prática da leitura de diversos tipos de textos.
3. Trabalhos de grupo, pesquisas, lançamento e fixação de conteúdos.
Flávia
1. É uma oportunidade única de inserir dia (jornal), no dia-a-dia na
sala de aula. Com isso, podemos ler, nos informar, ver o boletim do
tempo, ler e refazer, matérias, títulos, manchetes..
2. O programa é uma forma de oportunizar a inserção de mídias no
conteúdo e no cotidiano escolar.
3. Conseguimos fazer vídeos, jornais e transformar as aulas em
momentos prazerosos.
Irene
1. É bom é mais um recurso do professor e dos alunos, que nem sempre
tem oportunidades de ter acesso aos meios de comunicação.
2. Na exploração de diferentes textos e linguagens. Na análise crítica
das informações e pesquisas através de diferentes tipos de textos.
3. Em debates, pesquisas, pontuação e comparando e analisando as
diferenças dos textos.
Isabel
1. O dia na sala de aula é mais um "instrumento" facilitador na relação
ensino aprendizagem .
42
2. O jornal na sala de aula, contribui para desenvolver nos alunos o
hábito da leitura e escrita, em pesquisas , em artes, em trabalhar com
eles diferentes tipos de textos, em saber dos fatos atuais do cotidiano.
3. Como um suporte, um apoio no processo de ensino-aprendizagem, no
desenvolvimento da leitura, que temos o projeto da Secretaria: Rio,
uma cidade de leitores.
Mônica
1. É um Programa do Instituto Ary Carvalho, que proporciona a muitas
pessoas (alunos e comunidade escolar) o acesso ao jornal e notícias
que estão veiculando na mídia.
2. Um grande auxílio para a formação continuada do professor, o
Programa também traz a oportunidade de levantar questões atuais e
mostrar que estas questões são lidas por várias outras pessoas e com
isso gerar situações de debates e questionamentos. com os alunos
menores, podemos trabalhar com artes e reaproveitamento do jornal.
3. São utilizadas como fonte de pesquisa, atividades para fixação de
conteúdos e tema de produções de textos.
Claudia
1. É um projeto que veio acrescentar uma nova dimensão ao ato de ler,
interpretar e produzir textos; de utilizar os mais simples textos, ade
propaganda, para realizar atividades de diversas áreas do
conhecimento. É uma grande brincadeira muito séria.
2. O jornal trouxe para a minha classe a oportunidade de estreitar o
contato com a leitura, através das notícias, de debater o seu conteúdo e
relacionar os fatos ocorridos com o conteúdo trabalhado na escola,
estabelecendo, dentro de suas limitações, relações de causalidade,
inclusive com fatos históricos. Estimulou a busca pelos diferentes tipos
de textos e a organização do material a ser lido e trabalhado, entre
outros.
3. O jornal é utilizado em diversas atividades como algumas que foram
citadas na pergunta anterior e até a sobra do jornal recortado é
reciclada, estimulando uma postura ecologicamente correta. Usamos
também a internet para pesquisas, diversos vídeos em DVD e músicas,
onde os temas apresentados nos mesmos são explorados, tornando a
aprendizagem mais agradável. Recentemente, vivenciamos o projeto
"Momento Bossa Nova", onde usamos músicas da época e que
envolveu pesquisas que variaram da origem do estilo e do seu nome,
passando pelos compositores e intérpretes até a produção de livro com
43
dobraduras, histórias em quadrinhos e painéis, culminando no Momento
Bossa Nova, com apresentação de músicas e a presença dos pais.
Luciana
1. Uma possibilidade de ampliar as informações dos alunos, levando-os
a conhecer o jornal em todos os aspectos: fotografias, textos,
mensagens, arte final, classificados... Na maioria dos casos é o único
contado entre o educando e a imprensa escrita.
2. O Programa torna muitas das atividades mais interessantes: oferece a
oportunidade do manuseio e leitura de um material diferente que pode
ser amplamente explorado.
3. O material é utilizado nas aulas de diversas maneiras: contribui para
as atividades de raciocínio matemático, para ampliação de vocabulário,
estudo e descrição de imagens, produção de textos, atividades artísticas
e artesanais.
Robson
1. Um projeto educacional de uma empresa privada que oferece e
mantém parceria com escolas públicas. Acredito que um dos objetivos
dessa empreitada seja, a longo/médio prazo, criar e estimular um novo
público leitor desse tipo de texto específico com o qual uma empresa
jornalística, basicamente, lida: o texto informativo. Além dessa
particularidade, o projeto proporciona um interessante diálogo com o
ambiente escolar, caracterizado pelo fomento de uma consciência
cidadã, que as leituras e reflexões que aquele tipo de texto provoca.
2. O jornal chega na escola como mais uma fonte de leitura e pesquisa,
acaba assumindo o status de mais um material didático, proporcionando
o mesmo apoio que o livro didático oferece, com a vantagem de mostrar
conteúdos muito mais próximos à realidade do aluno. Outra
característica marcante, é que pelo fato de expormos o jornal no pátio da
escola e na entrada do prédio da Educação Infantil, o jornal transforma-
se numa fonte de informação e em momentos pontuais, como reunião
de pais, fonte de formação – para toda a comunidade escolar.
3. Conforme já disse, o jornal assume a condição de material didático,
acessível a todos os alunos da escola, na sala de aula e em outros
momentos. Jornal, essencialmente, corrobora a importância da cultura
escrita na sociedade atual. Apesar de sempre estimularmos a oralidade
44
como um elemento essencial da linguagem, a escrita vira o objeto de
muitos momentos de aprendizagem. O jornal vira um estímulo à
produção de textos de outros tipos: poéticos, narrativos e imagéticos,
entre outros.
André
1. É uma parceria de imenso valor, não na divulgação da mídia, mas
também, como auxiliar nas atividades pedagógicas da Escola.
2. Nossa parceria faz parte do cotidiano da Escola. Durante este ano,
o foco do Projeto Político Pedagógico é o resgate dos valores, nas
diversas ações do ser humano: no passado, no presente e no futuro.
Daí, a importância das discussões e debates provenientes das questões
abordadas no jornal.
3. Através de debates, recortes de notícias trabalhadas em sala de aula,
assim como, a utilização nos jornais-murais. Também existe, o
reaproveitamento dos jornais, como material das oficinas de reciclagem
desenvolvidas, não ministradas pelos professores, mas também, pelo
grupo de apoio (merendeiras) da escola.
Vitor
1. Um interessante projeto de aproximação e inclusão da mídia jornal ao
cotidiano dos alunos e professores e comunidade, que por meios
próprios dificilmente conseguiriam ter acesso diariamente as
informações veiculadas.
2. Este permite que tenhamos acesso fácil e critico as informações que
tratam dos fatos e fenômenos do cotidiano, nos ajudando a entender a
realidade.
3. São utilizados em dinâmicas e como fonte complementar de
informação. Servem como referência para desenvolvermos projetos em
que os alunos se tornem também produtores de mídia.
Heloísa
1. O Dia na Sala de aula é um programa que enriquece a prática
pedagógica dos professores através das várias capacitações sobre
leitura e escrita e necessidades especiais e da entrega do jornal O Dia,
45
para as salas de aula que contribui para o diálogo sobre os
acontecimentos no dia a dia e amplia o conhecimento dos educandos.
2. O programa do Jornal na sala de aula contribui para despertar o gosto
pela leitura e da pesquisa. Aumenta o vocabulário e enriquece a escrita
dos textos narrativos. Motiva o contato com o mundo exterior. Desperta
a reflexão, o modo de abordar os conhecimentos e atitude critica.
3. O jornal e outras mídias são aproveitados para desenvolver a lógica e
ajudar o educando a emitir hipóteses relevantes a partir dos indicadores
aplicados a través da prática de atividades sobre ação, linguagem e
imagem. Devem ser estimuladas as relações, as inter-relações e
interações que podem ser estabelecidas entre parâmetros como meio
ambiente, trabalho e cultura. Podem ser suporte de escrita independente
da sua especificidade. O professor após conhecer as mídias existentes
deve escolher a que deseja utilizar e observar as necessidades ou
expectativas dos educandos e promover um diálogo para que participem
da escolha.
Andréa
1. Um projeto que busca a formação de leitores críticos de um mundo de
notícias subjetivas. Aprende-se também a ler imagens, organizar
espaços e lidar com publicações diversas.
2. Os alunos veem registrado nos jornais as coisas que ouviram na TV
ou que foram comentadas em seus portões, calçadas... reforçando a
idéia de que o que é dito pode ser escrito. As fotos, montagens e efeitos
de computador contidos no jornal levam os alunos ao desejo de ler a
informação (formação de leitores).
3. Os jornais da semana o colocados expostos na sala de aula num
varal com barbante à vista dos alunos. CD’s são utilizados com cantigas
e músicas do projeto em questão, DVD’s também são oferecidos com
temas pertinentes. também o cantinho da leitura com livros para
manuseio dos alunos.
Ione
1. Excelente oportunidade para o professor desenvolver com os alunos
habilidades como ler, escrever, compreender, assimilar e reproduzir.
46
2. Conhecimento do dinamismo do espaço ocupado e/ou utilizado pelo
homem. É uma viagem pelo espaço terrestre e pelo espaço sideral
estudado pelo homem.
3. O jornal, a televisão e a internet possibilitam a atualização constante
do tema abordado na resposta anterior.
Joice
1. Para mim é a oportunidade de trabalhar com meus alunos, de forma
mais intensa, com o jornal. Trabalhamos com produção de texto, análise
da linguagem jornalística, além de utilizarmos os textos para estudos
gramaticais. Outros professores da escola utilizam também o jornal de
acordo com suas áreas de conhecimento.
2. Os alunos têm mais oportunidade de entrar em contato com as
notícias, de saber como elas são produzidas ( visitas guiadas à redação
e ao parque gráfico). Além disso, as palestras oferecidas e as trocas de
experiência possibilitam a renovação das práticas pedagógicas em sala
de aula. As visitas a museus e centros culturais propiciam aos alunos
outras oportunidades de aquisição de conhecimento fora do ambiente
escolar, ampliando horizontes.
3. Além do jornal, utilizamos em sala de aula outros recursos como
vídeos ligados diretamente à matéria e filmes - utilizados como ponto de
partida para debates e produções textuais. Algumas turmas já estão
tendo acesso também à Internet, mais especificamente a sites
educativos, sempre visando à ampliação do conhecimento. A sala de
leitura da escola é bem estruturada, permitindo aos alunos mais uma
oportunidade para a aquisição do saber.
Edilce
1. É um programa de muita importância para o trabalho da escola, pois
nos auxilia no desenvolvimento cultural e no aprimoramento das
produções orais e escritas.
2. Contribui para ampliar o hábito de leitura, escrita e pesquisa devido à
riqueza de informações nele contida, fazendo com que o mesmo se
torne um instrumento para a formação da consciência, da percepção e
da atenção para os fatos da língua e do mundo.
47
3. Os diversos temas apresentados no jornal são utilizados por
professores e alunos no cotidiano escolar. É um trabalho que o se
esgota, pois pode ser desenvolvido nas diversas áreas do
conhecimento. Através dos textos apresentados no jornal, trabalhamos
os diversos conteúdos do planejamento escolar (produção de texto,
dicionários, manchetes, passatempos e outros) levando os alunos a
perceberem a gramática no contexto do jornal.
Sandra
1. É a oportunidade de proporcionar aos alunos o hábito da leitura,
colocando-os informados através das reportagens. Com relação aos
professores, os encontros que são realizados são bastante acolhedores
e esclarecedores.
2. As palestras e as trocas de experiência, que são oferecidas para nós
professores, como disse, são bastante esclarecedoras contribuindo
positivamente e com relação aos alunos, estes desenvolvem o hábito de
se informar através dos jornais que são expostos semanalmente na linha
do tempo (toda vez que são trocadas, eles corres para lê-los).
Dependendo da atividade desenvolvida, o jornal é mais um recurso
utilizado dentro da sala de aula.
3. As mídias em geral são aproveitadas para informação e pesquisa.
o jornal, especificamente, além da informação e trabalhos de pesquisa,
também são aproveitados para confecção de mural e trabalhos
artísticos.
Cristiano
1. Apesar de estar ciente que o jornal "O DIA" é uma empresa, o projeto
"o dia na sala de aula" tem um cunho realmente pedagógico. Todas as
ações o voltadas para o fazer pedagógico do professor, o que gera
um grande incentivo para o corpo docente.
2. O projeto possui diversas ações, tais como: palestras, jornadas,
trocas de experiências, seminários e o recebimento do próprio jornal.
Tudo isto contribui no que diz respeito à formação continuada do
profissional e dinamiza a sua prática em sala de aula. Portanto, não tem
como dizer que o projeto não contribui no cotidiano escolar.
3. O jornal é aproveitado de diversas formas, tais como: pesquisas,
discussões, produções de textos e etc. Além do jornal, mídias como os
vídeos, por exemplo, também são aproveitados para fins de discussões,
produções textuais e entretenimento.
48
Márcia
1. O projeto O Dia na Sala de Aula é um dos elementos mais
importantes no meu planejamento diário. Recebemos os jornais na
segunda feira pela manhã bem cedo. Por isso nosso primeiro momento
é a separação e distribuição dos jornais paras as outrs 10 salas da
escola (Projeto Jornaleiro). Logo depois, a Classe Especial 1 arruma o
varal de notícias na frente da escola com as capas dos jornais da
semana. Separamos as capas do ATAQUE pois elas são expostas
também. Visto o grande interesse pelos esportes da comunidade
escolar. As reportagens de saúde e educação são destaques nos murais
da secretaria e dos professores. De livre acesso a todos que queiram
ler. Depois "lemos" juntos os jornais da semana para separarmos as
notícias mais importantes da semana para o "Mural de Notícias". Esta
parte é toda feita pelos alunos , sendo que a professora auxilia como
"leitora" das reportagens selecionadas pela turma. No ATAQUE vemos
as tabelas dos campeonatos em andamento (carioca e/ou brasileiro,sul
americano) para atualização do mural. Mais tarde também abastecemos
a Hemeroteca da Escola com fotos, frases, algarismos, jogos, charges e
encartes. Eles são usados por todos os professores da escola em
pesquisas e trabalhos para exposição nos murais. A Classe Especial 2
faz a distribuição dos jornais no turno da tarde. Como a turma é mais
infantil que a da manhã ,eu costumo fazer jogos e brincadeiras com
palavras e fotos das revistas do jornal.
2. No cotidiano escolar o uso do jornal é bastante frequente.
Matemática: jogos como sudoku, tabelas do campeonato, encartes com
preços, etc. Português: Leitura e interpretação de reportagens, artigos,
cartas classificados; construção de manchetes, jogos de cruzadinhas e
produção de textos. História e Geografia: o jornal leva o aluno a
curiosidade dos fatos e lugares diferentes do mundo, como também
mostra encartes como destaque em temas históricos. Ciências: Toda
semana temos lido o destaque das reportagens sobre reciclagem, lixo,
energia alternativa etc. Estas são algumas das atividades que
fazemos no nosso dia a dia.
3. Tanto o jornal, como a TV, o DVD e a Internet são usados nas
atividades da escola com os alunos dentro dos projetos trabalhados. O
Jornal serve de fonte de apoio para as pesquisas, como também a
internet. Nossa sala de leitura também é muito bem estruturada e os
alunos se sentem a vontade em usá-la. colocamos em nosso
planejamento de 2010 uma reformulação do uso e da troca de
experiências com o projeto, para que os professores novos se utilizem
melhor desta grande fonte de trabalho e apoio. O que percebemos é que
os alunos gostam de ver, conhecer e usar o jornal na escola,como
também levam este prazer de ler para casa.
49
Eliane
1. Para mim, como gestora de uma escola, uma boa parceria possui
valor inestimável. Oferecer aos alunos um meio de comunicação tão rico
é uma oportunidade para expandir horizontes e facilitar a compreensão
da vida em sociedade e das difíceis relações humanas. Foi uma parceria
muito esperada (anos) e muito trabalhada (sempre).
2. Com o programa, os alunos passam a ter chance de manusear
jornais, em busca de informações, imagens, ideias... Conseguiram
perceber outros espaços e realizações, bem como o desenrolar de
alguns fatos. Passaram, também, a analisar, criticamente, o que leem.
Enfim, o programa ajuda a tornar mais dinâmico e ativo o dia-a-dia da
escola.
3. Como incentivo aos trabalhos, fonte de informação, despertar de
aptidões... Em nossa escola, a criançada trabalha com jornal (O DIA),
com rádio (Rádio Criança), com revistas (Nós da Escola e Escola e
Família - publicações da Prefeitura), além da internet (Laboratório de
Informática), TV, animações, cartazes e painéis. Aos poucos, os
professores interessados vão dominando a tecnologia e conseguem
fazer uso dela em seu dia-a-dia. Vários projetos foram e estão sendo
desenvolvidos pelos professores, tendo as várias mídias como
instrumento no processo de criação, bem como o resultado final ser a
própria mídia.
Para exame dos dados acima, será aplicado o método investigativo da análise de
conteúdo, uma composição de diversas técnicas de análise, em três fases
interpretativas: pré-análise, análise descritiva e análise referencial.
No capítulo seguinte, a análise das respostas dos educadores é realizada na
busca por semelhanças, palavras e ideias cuja frequência desperta inferências
importantes na investigação das representações sociais. Dessa análise é
compreendida a construção que se faz sobre o projeto O Dia na Sala de Aula e a
meneira como esse conhecimento prático se dá no cotidiano escolar.
50
5 CONSTRUÇÕES E PRÁTICAS
O método investigativo da análise de conteúdo tem origem bastante longínqua,
nas primeiras tentativas de interpretação para os livros sagrados; mas sua
configuração, seus princípios e conceitos fundamentais aparecem bem detalhados no
denso trabalho de Laurence Bardin, Análise de conteúdo, de 1977 (TRIVIÑOS, 2006).
A análise de conteúdo, composta de uma série de técnicas de análise, tornou-se um
eficaz meio para o estudo das comunicações escritas, orais e não-verbais. O método
pode, portanto, ser aplicado a textos jornalísticos, documentos, filmes, livros, bem como
à observação de gestos e expressões faciais, por exemplo, surgidos durante uma
entrevista.
Bardin (1986) destaca três fases no trabalho interpretativo: pré-análise, análise
descritiva e análise referencial. Essas três fases foram seguidas nesta investigação.
5.1 Pré-análise
Na pré-análise, foi reunido e organizado o material para constituição do corpus
de pesquisa (os dados primários) para, então, ser realizada a leitura geral, “flutuante”
51
(BARDIN, 1986). Essa leitura teve também a finalidade de realização de uma análise
preliminar, introdutória às fases seguintes.
5.2 Análise descritiva
Na análise descritiva, aconteceu a exploração do material organizado na pré-
análise. Nessa fase, foi possível elencar as ideias levantadas pela leitura flutuante,
buscando sínteses em semelhanças.
A análise descritiva das falas dos sujeitos, coletadas nas entrevistas, permitiu a
identificação das seguintes ideias:
O projeto O Dia na Sala de Aula, bem como os outros projetos de Jornal e
Educação em todo Brasil, tem como objetivo maior a formação de leitor, o fomento ao
hábito da leitura. Esse objetivo se corroborado em diversos trechos, como se
destaca a seguir:
O programa O Dia na Sala de Aula contribui para despertar o gosto pela
leitura e da pesquisa.
(...) apoio no processo de ensino-aprendizagem, no desenvolvimento da
leitura, já que temos o projeto da Secretaria: Rio, uma cidade de leitores.
Um projeto que busca a formação de leitores críticos (...)
Possibilidade de contato direto com um veículo de comunicação que
contribui para o desenvolvimento da leitura.
É um projeto que veio acrescentar uma nova dimensão ao ato de ler,
interpretar e produzir textos; de utilizar os mais simples textos, até
propaganda, para realizar atividades de diversas áreas do
conhecimento.
Os educadores entrevistados, no entanto, colocam em suas falas, em seu
entendimento, um outro objetivo, ao lado da formação do leitor, rompendo, na prática,
qualquer hierarquia ou centralidade que exista. Para esses, a formação do professor é
percebida como objetivo do programa, como se pode notar nos seguintes recortes:
52
A contribuição do jornal se (...) através dos encontros para os
professores (ligada à formação do profissional e, portanto, o ganho é
tanto do professor quanto do aluno, indiretamente).
Gosto muito da preocupação que o programa tem com relação ao que o
professor busca, a questão da formação, dos interesses.
(...) as palestras oferecidas e as trocas de experiência possibilitam a
renovação das práticas pedagógicas em sala de aula.
Um grande auxílio para a formação continuada do professor (...)
(...) é um programa que enriquece a prática pedagógica dos professores
através das várias capacitações sobre leitura e escrita e necessidades
especiais e da entrega do jornal (...)
Todas as ões são voltadas para o fazer pedagógico do professor, o
que gera um grande incentivo para o corpo docente (...) palestras,
jornadas, trocas de experiências, seminários e o recebimento do próprio
jornal. Tudo isto contribui no que diz respeito à formação continuada do
profissional e dinamiza a sua prática em sala de aula.
Tudo isto contribui no que diz respeito à formação continuada do
profissional e dinamiza a sua prática em sala de aula. Portanto, não tem
como dizer que o projeto não contribui no cotidiano escolar.
O projeto, que tem uma previsão de realização no espaço escolar, ultrapassa, na
prática, as paredes da sala de aula e os muros da escola:
(...) através da linha do tempo afixada em um dos murais no corredor
principal da escola (esta contribuição está relacionada a toda a
comunidade escolar).
(...) o jornal transforma-se numa fonte de informação e em momentos
pontuais, como reunião de pais, fonte de formação para toda a
comunidade escolar.
Também existe, o reaproveitamento dos jornais, como material das
oficinas de reciclagem desenvolvidas, não ministradas pelos
professores, mas também, pelo grupo de apoio (merendeiras) da escola.
(...) projeto de aproximação e inclusão da mídia jornal ao cotidiano dos
alunos e professores e comunidade, que por meios próprios dificilmente
conseguiriam ter acesso diariamente as informações veiculadas.
O que percebemos é que os alunos gostam de ver, conhecer e usar o
jornal na escola,como também levam este prazer de ler para casa.
As palavras mais frequentes nas falas dos educadores foram “contribuição” (nas
variações: contribui, contribuindo, contribuiu) e “oportunidade” (acompanhada pelo
53
neologismo “oportunizar”), a primeira com dezesseis aparições, a segunda com onze.
Estão presentes, também, algumas palavras com sentidos associados: proporciona,
enriquece, desperta, motiva; incentivo, estímulo; auxiliar, acrescentar. A representação
social que os educadores constroem de O Dia na Sala de Aula se apresenta,
sobretudo, como contribuição (com o fazer docente) e oportunidade (para o fazer
docente).
5.3 Análise referencial
Na análise referencial, foi feita a associação entre a base teórica e as ideias
identificadas e exemplificadas nas falas, trazendo elementos para a argumentação
sobre o valor e as possibilidades pedagógicas do jornal.
Os professores apropriaram-se do projeto cujo objetivo maior é o incentivo à
leitura – e ressignificaram seu papel na escola. Afinal, uma importante função da
pesquisa de representações sociais é, justamente, auxiliar ressignificações, pois “as
representações sociais enquanto sistemas de interpretação que regem nossa relação
com o mundo e com os outros orientam e organizam as condutas e as comunicações
sociais” (JODELET, 2001, p. 22). Desse modo, o programa O Dia na Sala de Aula se
transforma em um grande incentivo para o corpo docente, um programa que enriquece
a prática pedagógica dos professores, indo muito além do estímulo ao hábito de ler e da
ferramenta pedagógica para formar leitores altamente críticos.
Uma parceria que, em princípio, se limitaria a Jornal e Escola ultrapassa esse
âmbito e, a partir de um cotidiano escolar dinâmico, chega às casas, aos vizinhos, pais
e avós dos alunos. Trata-se de uma ação que pode trazer de volta o velho hábito de
reunião familiar dialógica em substituição ao que temos nas salas onde a televisão
ocupa um lugar central.
“Contribuição” e “oportunidade” acabam por resultar em uma renovação das
práticas pedagógicas em sala de aula, em um processo de ensino-aprendizagem
interdisciplinar e dialógico.
54
Tais renovações acontecem quando promovemos trocas de experiências
encontros que reunem educadores de escolas do Município do Rio de Janeiro, em
junho e novembro, no auditório do jornal O Dia –, fazendo escolas de diferentes bairros
se comunicarem, expondo atividades, propostas de trabalho e projetos diversos não
apenas em jornal, mas integrando diferentes mídias.
São projetos em mídia-educação que poderiam ser divididas em três propostas
pedagógicas, como veremos em Rivoltella (2001), que contextualiza o conceito em três
perspectivas:
crítica (educação para a mídia, com o olhar crítico sobre o objeto);
tecnológica (educação com a mídia, pelo seu uso como instrumento
pedagógico);
produtiva (educação através da mídia, quando se produz uma comunicação
alternativa na apropriação criativa das ferramentas midiáticas), como podemos
ver no quadro abaixo
9
.
Contextos e Pedagogias em MÍDIA-EDUCAÇÃO
Contexto Educação Mídia como Pedagogia / Proposta Objetivo
Crítico “para” a mídia Suporte, objeto Moral, inoculatória
Leitura crítica
Ideológica
Das Ciências Sociais
Defender os sujeitos
Cultivar o discernimento
Formar o sujeito
consciente
Formar o sujeito reflexivo
Tecnológico
“com” a mídia
Recurso
Instrumental
Construtivista
Sustentar o processo de
ensino-aprendizagem
Produzir conhecimento
colaborativamente
9
Tradução livre da tabela apresentada por Pier Cesare Rivoltella no livro “Media education: modelli,
esperienze, profilo disciplinare”.
55
Psicossocial Refletir sob
entre mídia e fenômenos
sociais
Produtivo
“na” mídia
Linguagem
Funcional
Alfabético
Expressivo
Permitir que o sujeito
interaja com a mídia
Promover a consciência
da linguagem
Uso criativo da mídia
Fazer uso sistemático do jornal em sala de aula amplia o conhecimento da língua
e do mundo, desenvolve o senso crítico, aguça a sensibilidade e a imaginação do
aluno. Para o professor, o jornal pode ser um recurso auxiliar de ensino muito valioso,
que permite retratar o mundo e acompanhar sua constante mutação em atualizações
diárias.
A despeito de darmos acesso ao jornal impresso, nossas iniciativas educativas
não ignoram a entrada maciça da TV e do rádio no cotidiano dos educandos, mas
trabalhamos simultaneamente todos os meios. Amesmo porque há no Grupo O Dia
de Comunicação outros veículos rádio, internet (jornal on-line) e TV o que resulta na
redação multimídia. O conceito de (redação) multimídia está relacionado ao
aproveitamento, num mesmo espaço físico, de diferentes mídias. Isso significa que na
redação a informação bruta é trabalhada de acordo com a mídia que iveiculá-la. A
mesma história colhida pelo repórter recebe tratamento compatível com o jornal
impresso, on-line, rádio ou TV. A compreensão disso pode alavancar inúmeras
possibilidades para um Programa de Jornal e Educação.
A prática mídia-educativa nas Escolas que fazem parte do programa O Dia na
Sala de Aula ressoa em três frentes: educação para as mídias, educação com as
mídias e educação nas mídias. Tais formas não necessariamente se apresentam
separadas, podendo surgir em coro. Construindo uma intertextualidade com o quadro
de Rivoltella (2001), podemos ter:
56
Prática mídia-educativa das Escolas
Contexto Educação Mídia como Atividades
Crítico
“para” a mídia
Suporte, objeto
Resgate dos valores
Discussões e debates provenientes das questões
abordadas no jornal
Acesso fácil e crítico às informações que tratam
dos fatos e fenômenos do cotidiano
Formação de leitores
Tecnológico
“com” a mídia
Recurso
as mídias são utilizadas como recurso para os
assuntos tratados pelos professores
atividades de raciocínio matemático, para
ampliação de vocabulário
letras retiradas do jornal e encartes de
propagandas para Alfabetização de nossos
alunos
assume a condição de material didático
desperta o gosto pela leitura e da pesquisa
estímulo à produção de textos
reaproveitamento dos jornais, como material das
oficinas de reciclagem desenvolvidas
desenvolve a lógica e aj
udar o educando a emitir
hipóteses relevante
desenvolve com os alunos habilidades como ler,
escrever, compreender, assimilar e reproduzir
produção de texto, análise da linguagem
jornalística, além de utilizarmos os textos para
estudos gramaticais
trabalha os diversos conteúdos do planejamento
escolar
hemeroteca
Produtivo
“na” mídia
Linguagem
Utilização nos jornais-murais
Cartazes e painéis
57
Projetos em que os alunos se tornem também
produtores de mídia
O Estado brasileiro, através dos Parâmetros Curriculares Nacionais, admite e
incentiva que se introduzam e explorem as mídias nas escolas. Desta maneira, aponta
para uma nova organização curricular da Educação Básica no Brasil, definindo os
objetivos para o trabalho com rádio, tv, videocassete, câmara fotográfica, gravadora,
computador etc.
E por que educar para as dias, com as mídias e nas mídias? Len Masterman
nos dá uma lista com alguns bons motivos:
o consumo elevado das mídias e a saturação à qual chegamos;
a importância ideológica das mídias, notadamente através da publicidade;
a aparição de uma gestão da informação nas empresas (agências de
governo, partidos políticos, ministérios etc.);
a penetração crescente das mídias nos processos democráticos (as
eleições são antes de tudo eventos midiáticos);
a importância crescente da comunicação visual e da informação em todos
os campos (fora da escola, que privilegia o escrito, os sistemas de
comunicação são essencialmente icônicos);
a expectativa dos jovens a serem formados para compreender sua época
(que sentido em martelar uma cultura que evita cuidadosamente as
interrogações e as ferramentas de seu tempo?);
o crescimento nacional e internacional das privatizações de todas as
tecnologias da informação (quando a informação se torna uma mercadoria,
seu papel e suas características mudam). (MASTERMAN, Len apud
BELLONI, Maria L. 2001, p.10)
A professora Maria Luiza Belloni acrescenta uma razão que julga mais geral e
mais importante:
(...) a escola deve integrar as tecnologias de informação porque elas
estão presentes e influentes em todas as esferas da vida social, cabendo à
escola, especialmente à escola pública, atuar no sentido de compensar as
terríveis desigualdades sociais e regionais que o acesso desigual a estas
máquinas está gerando. (BELLONI, Maria L. 2001, p.10).
Belloni frisa que especialmente na rede pública de ensino devem ser criados e
desenvolvidos projetos mídia-educacionais. Entendo que levar jornais às escolas é,
sem dúvida, dar a milhares de crianças acesso a uma tecnologia que, normalmente,
58
não chegaria em suas casas ao contrário do que acontece com a TV e o rádio, que,
segundo o IBGE, estão presentes, respectivamente, em 90,5% e 88,1% dos lares
brasileiros (IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, 2003).
A partir do observado nas falas sobre os usos pedagógicos da mídia, é possível
observar que o uso tecnológico, ou instrumental, vigora nas escolas. Os dois outros
contextos mídia-educativos crítico e produtivo são preteridos. A exploração
instrumental do jornal pode ser importante em um primeiro instante, mas o uso
pedagógico no contexto crítico pode contribuir com a formação de cidadãos com
olhares independentes, com capacidade vital de leitura; igualmente, o contexto
produtivo é uma oportunidade para a franca expressão desses olhares e para o
exercício da cidadania.
A ênfase no contexto instrumental, encontrada na observação das entrevistas,
será sem dúvida um índice importante para futuras estratégias do Programa, que
incentivará o uso crítico e produtivo do jornal no espaço escolar.
59
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa sobre a parceria Jornal/Escola à luz da teoria das representações
sociais já tem contribuído significativamente para a organização das ideias acerca do
projeto pedagógico O Dia na Sala de Aula. Ideias que serão desenvolvidas a partir do
ano de 2010, com uma participação maior dos professores na elaboração do calendário
de atividades do Programa. Ao longo das reflexões, foi aumentado o entendimento das
atitudes, dos julgamentos de valor e do conhecimento sobre o Projeto O Dia na Sala de
Aula. A pesquisa também foi de expressiva importância no sentido de repensar as
práticas mídia-educativas e reformular o encaminhamento dos encontros e eventos
realizados pelo Projeto.
A análise das respostas, empregando-se o método de Análise de Conteúdo, com
base em Bardin (1986), com especial atenção às etapas de análise descritiva e análise
referencial, revelou a maneira positiva como os professores percebem o uso didático-
pedagógico do jornal.
Entendendo, como Denise Jodelet, a “representação como uma forma de saber
prático, ligando um sujeito a um objeto” (2001, p. 27), podemos dizer que os
professores apreendem o projeto Jornal e Educação com as seguintes ideias: de que a
presença do Projeto O Dia na Sala de Aula no espaço escolar é uma contribuição ao
60
trabalho do professor e uma oportunidade para a sua formação continuada e de que o
jornal, levado à escola, ultrapassa seus muros, uma vez que o Projeto chega às
famílias, através dos comentários dos alunos.
No capítulo MÍDIA-EDUCAÇÃO E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS, afirmo que o
campo confluente educação/comunicação é propício à mudanças das representações
sociais, que são construídas pelos sujeitos, leitores e ouvintes do mundo
comunicacional. As representações sociais elaboradas pelos educadores não deverão,
de forma alguma, sofrer alterações a menos que esse seja o seu curso natural –;
muito pelo contrário, tais representações deverão nortear uma série de mudanças no
programa O Dia na Sala de Aula.
O uso prevalescente da mídia impressa nas escolas é, segundo os educadores,
o tecnológico. Valoriza-se, sobremaneira, a utilização do jornal como ferramenta, como
recurso para o ensino dos conteúdos curriculares, em detrimento do contexto crítico
(formação de um ator social reflexivo) e produtivo (da expressão através de suas
próprias mídias). Esse índice aponta a necessidade de redesenhar o Projeto,
estimulando, ainda mais, a educação para a mídia, o uso da dia como objeto de
estudo crítico, e a educação na mídia, como produção colaborativa e criativa de meios
de comunicação escolares.
Qualquer pesquisa encontra impulso em uma questão geradora, um problema
que demande a dedicação reflexiva em busca de contribuições para os envolvidos. A
PARCERIA JORNAL E ESCOLA EM PROJETO PEDAGÓGICO: UM ESTUDO À LUZ
DA TEORIA DA REPRESENTAÇÃO SOCIAL teve como mola propulsora o seguinte
questionamento: O que pensam os educadores sobre o O Dia na Sala de Aula, como
este projeto é realizado na prática cotidiana e como esta parceria contribui com a
comunidade escolar?
O estudo indicou a percepção do projeto como um aliado na formação
continuada dos professores e a preferência por um viés dia-educativo em detrimento
de outros que seriam de grande importância para o processo de ensino-aprendizagem.
Portanto, depreendo elementos que ajudarão a traçar ações efetivas para o fomento do
61
estudo crítico (na educação para as mídias), para o incentivo da produção de mídias
escolares (jornais, rádios, blogs etc.) e para atender ainda mais aos educadores no
permanente estudo para o enriquecimento de suas práticas seja intensificando as
oficinas pedagógicas, realizadas nas escolas, ou ampliando os encontros com autores
e pesquisadores envolvidos com o cotidiano escolar.
Penso ter recebido desta pesquisa apontamentos preciosos que nortearão,
desde já, o desenvolvimento desta específica parceria entre Jornal e Escola.
62
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