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MARIA DE FÁTIMA XAVIER
Evidências de Validade do CAT-A e Rorschach para
Avaliação da Cognição.
ITATIBA
2009
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ii
MARIA DE FÁTIMA XAVIER
Evidências de Validade do CAT-A e Rorschach para
Avaliação da Cognição.
Tese de doutorado apresentada ao Programa
de Pós-Graduação Stricto Sensu em
Psicologia da Universidade São Francisco
para obtenção de título de doutora.
ORIENTADORA: PROFª D. ANNA ELISA DE VILLEMOR - AMARAL
ITATIBA
2009
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iii
Ficha catalográfica elaborada pelas Bibliotecárias do Setor de
Processamento Técnico da Universidade São Francisco.
157.93 Xavier, Maria de Fátima.
X21e Evidências de validade do CAT-A e Rorschach para
avaliação da cognição. / Maria de Fátima Xavier. --
Itatiba, 2009.
147 p.
Tese (doutorado) Programa de Pós-Graduação Stricto
Sensu em Psicologia da Universidade São Francisco.
Orientação de: Anna Elisa de Villemor-Amaral.
1. Avaliação psicológica. 2. Validade de critério.
3. Precisão. 4. Percepção. 5. Técnicas projetivas. I. Título. II.
Villemor-Amaral, Anna Elisa de.
Oliveira. I I. Título.
v
A memória de meu pai José Xavier da Silva que
continua iluminando o meu caminho.
À minha mãe, ao meu filho Rodrigo, meu marido Hélcio pelo incentivo,
entusiasmo, apoio e carinho que sempre me dedicaram.
Agradecimentos
É importante salientar que a realização desta pesquisa foi possível devido à
autorização e confiança da direção da escola, assim como pelo concurso de inúmeras
pessoas, as quais manifesto minha profunda gratidão.
À Secretaria de Educação do Estado de São Paulo SEE, pelo apoio e financiamento a
esta pesquisa.
A professora Dra. Anna Elisa de Villemor-Amaral, agradeço não apenas pela orientação
consistente e segura em todas as fases desta pesquisa, mas pela contribuição em minha
formação no método Rorschach e por todos esses anos de trabalho conjunto, desde o
mestrado. Admiro a sua vida acadêmica, não como mestre, mas principalmente como
pesquisadora, bem como sua conduta profissional, tornando-se uma referência segura.
Ás professoras doutoras Latife Yazigi e Blanca Susana Guevara Werlang pelas
sugestões pontuais apresentadas durante a banca de qualificação e defesa. Agradeço as duas
pela simpatia, tranqüilidade, sabedoria e inspiração.
Agradeço, ainda, a profa. Dra. Ana Paula Porto Noronha pela importante contribuição
na banca de defesa.
Aos professores doutores Cláudio Garcia Capitão e Ricardo Primi pelas contribuições
trazidas na banca de qualificação. Gostaria de agradecer ao Cláudio Capitão pelas
orientações na teoria psicanalítica e psicopatologia, assim como na banca de defesa deste
trabalho. Agradeço, ainda, ao Ricardo Primi por tantas idéias essenciais que direcionaram
este trabalho e principalmente pela generosidade ao compartilhar alguns livros nos quais
encontrei base para análise do CAT-A.
vii
Aos professores do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia que
contribuíram diretamente em minha formação de professora pesquisadora, a saber: Dr.
Fermino Fernandes Sisto; Dra. Acácia Aparecida Angeli dos Santos e Dra. Maria Cristina
de Azevedo Joly.
A ex-secretária do mestrado, Sra. Roseli Polecci, pela gentileza e atenção dispensadas,
assim como aos demais funcionários da USF.
Aos amigos e colegas do curso de doutorado, pelo incentivo e companhia nesse
percurso. Agradeço em especial a Yeda que incentivou e que em alguns momentos facilitou
essa caminhada.
A Monalisa Muniz por realizar as codificações dos protocolos desta pesquisa, tanto do
Rorschach, como do CAT-A como juíza e, sobretudo, pela disponibilidade em discutir
sobre o melhor tratamento estatístico dos dados. Assim como, ao Fabian Rueda pela
correção dos protocolos do DFH.
Aos pais e responsáveis legais pelas crianças, que autorizaram a participação das
mesmas neste trabalho. Agradeço em especial as crianças que aceitaram participar desta
pesquisa, sem ganho direto, contribuindo incondicionalmente para concretização da mesma.
Ao meu filho Rodrigo, pelo carinho, amor, paciência e compreensão ao dispensar
minha presença, em vários momentos, para que pudesse me dedicar ao desenvolvimento
desta pesquisa. Agradeço ao meu marido Hélcio pelo apoio, carinho, amor e
companheirismo constante, principalmente nos momentos mais difíceis. Sem o apoio de
vocês isto não seria possível. Esta é mais uma conquista nossa!
viii
Aos meus pais pela formação e ensinamentos valorosos que ajudaram na formação da
minha personalidade. Em especial pelo incentivo e investimento no meu ideal acadêmico.
Agradeço aos meus irmãos pelo carinho, apoio e amor constante
Aos meus sogros Adolpho e Dalva pelo carinho e ensinamentos. Minha gratidão,
especialmente, por me motivarem a ser melhor e principalmente a acreditar que algumas
coisas são para sempre.
A Deus pelo dom da vida e a oportunidade de aprender com os meus erros.
Renova-te.
Renasce em ti mesmo.
Multiplica os teus olhos, para verem mais.
Multiplica-se os teus braços para semeares tudo.
Destrói os olhos que tiverem visto.
Cria outros, para as visões novas.
Destrói os braços que tiverem semeado,
Para se esquecerem de colher.
Sê sempre o mesmo.
Sempre outro. Mas sempre alto.
Sempre longe.
E dentro de tudo.
Cecília Meireles
x
Resumo
Xavier, M. F. (2009). Evidências de Validade do CAT-A e Rorschach para Avaliação da
Cognição. Tese de Doutorado, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia,
Universidade São Francisco, Itatiba SP, 147 p.
Este trabalho teve como objetivo analisar a evidência de validade de critério por grupos
contrastantes nas técnicas CAT-A, Rorschach e DFH. O estudo foi conduzido para verificar
se os indicadores de níveis de percepção adaptada para o CAT-A correlacionam-se com as
variáveis da tríade cognitiva do Método Rorschach. Além disso, investigou até que ponto
os grupos extremos em relação ao Desenho da Figura Humana são discriminados quanto
aos indicadores de cognição tanto no CAT-A quanto no Rorschach. Ao lado disso, fez-se
ainda um estudo de precisão entre avaliadores com o propósito de dar maior confiabilidade
aos resultados obtidos no CAT-A e Rorschach. Para atender ao objetivo, esta pesquisa foi
dividida em duas etapas. Na primeira, com intuito de separar grupos extremos (cognição
elevada e cognição rebaixada) aplicou-se o DFH-escala Sisto em 139 crianças de ambos os
sexos freqüentando a e série do ensino fundamental de uma escola da rede pública da
cidade do interior do Estado de São Paulo. A partir dos dados do DFH, na segunda etapa
participaram 46 crianças, sendo 32 com cognição abaixo do esperado para a idade e 14 com
cognição elevada. A coleta de dados do DFH foi coletiva enquanto que as do CAT e do
Rorschach ocorreram individualmente, totalizando três sessões. Os dados demonstraram
que as categorias de indicadores destacadas para verificar o nível de percepção no CAT-A e
as variáveis do Rorschach, apresentaram boa precisão pelo sistema de avaliadores. Do
mesmo modo os índices de correlação significativa entre os instrumentos permitiram
encontrar evidências de validade para o CAT-A e o Rorschach. Quanto aos indicadores que
avaliam o nível de percepção no CAT-A, obtiveram-se diferenças de média entre os dois
grupos, cognição elevada e cognição abaixo do esperado para idade, denotando
convergência entre os resultados do DFH e o CAT-A. Já no Rorschach os dois grupos se
diferenciaram nas variáveis A, S, FQu e WDA%. Assim, conforme o esperado, o
Rorschach apresenta indicadores que permitem avaliar a cognição, mas, no que se refere às
variáveis que não apresentaram correlação significativa com os indicadores do CAT-A,
pode-se inferir que, mesmo avaliando aspectos cognitivos, provavelmente representam
fatores cognitivos diferentes ou manifestações distintas devido às características peculiares
dos estímulos em cada cnica. Tal achado permite demonstrar a contribuição deste estudo
para a área da avaliação psicológica, uma vez que traz mais evidencias de validade para o
CAT-A.
Palavras-chave: avaliação psicológica, validade de critério, precisão, percepção, técnicas
projetivas.
Resúmen
Xavier, M. F. (2009). Evidencias de la Validez del CAT-A y Rorschach para Evaluación de
la Cognición, Tesis de Doctorado, Programa de Post Grado Stricto Sensu en Psicología,
Universidad São Francisco, Itatiba SP, 147p.
Este estudio tuvo como objetivo analizar la evidencia de la validez de criterio por parte de
grupos contrastantes en las técnicas CAT-A, Rorschach y DFH. El estudio se realizó para
averiguar si los indicadores de niveles de percepción adaptados para el CAT-A se
correlacionan con las variables de la tríada cognitiva del Método Rorschach. Además, se
investigó la medida en que los grupos contrastantes en relación al Dibujo de la Figura
Humana son discriminados cuanto a los indicadores de cognición tanto en el CAT-A cuanto
en el Rorschach. Además de eso, hubo también un estudio de precisión entre los
evaluadores con el propósito de dar mayor confiabilidad a los resultados obtenidos en el
CAT-A y Rorschach. Para alcanzar al objetivo, esta investigación se dividió en dos etapas.
Al principio, con la intención de separar grupos extremos ( cognición elevada y cognición
rebajada) se aplicó el DFH- escala Sisto en 139 niños de ambos los sexos que asisten el 1º y
grado de la escuela primaria a una escuela publica de una ciudad del interior de Estado
de São Paulo. A partir de los datos del DFH, en la segunda etapa participarón 46 niños,
siendo 32 con cognición abajo del esperado para la edad y 174 con cognición elevada. La
recolección de los datos del DFH fue colectiva mientras las del CAT-A y del Rorschach
ocurrieron individualmente, totalizando tres sesiones. Los datos demostraron que las
categorías de los indicadores destacadas para averiguar el nivel de percepción en el CAT-A
y las variables del Rorschach, presentaron una buena precisión por el sistema de los
evaluadores. Del mismo modo los índices de correlación significativa entre los
instrumentos permitieron encontrar evidencias de validez para el CAT-A y el Rorschach.
Cuanto a los indicadores que evaluar el nivel de percepción en CAT-A, se obtuvieron
diferencias de promedio entre los dos grupos, cognición elevada y cognición abajo el
esperado para la edad, lo cual denota convergencia entre los dos resultados del DFH y el
CAT-A. Ya en el Rorschach, los dos grupos se diferenciaron en las variables A, S, FQu y
WDA%. Así conforme el esperado, el Rorschach presenta indicadores que permiten evaluar
la cognición, pero, en lo que se refiere a las variables que no presentaron correlación
significativa con los indicadores de CAT-A, se puede deducir que, mismo evaluando
aspectos cognitivos, es probable que representen factores cognitivos diferentes o
manifestaciones distintas debido a las características peculiares de los estímulos en cada
técnica. Tal resultado nos permite demostrar la contribución de este estudio para el área de
evaluación psicológica, ya que aporta mas evidencias de validez para el CAT-A.
Palabras clave; evaluación psicológica, validez de criterio, precisión, percepción, técnicas
de proyección.
xii
Abstract
Xavier, M. F. (2009). CAT-A and Rorschach Validity Evidences for Cognition Assessment.
Doctoral Thesis, Stricto Sensu Post-Graduation in Psychology Program, São Francisco
University, Itatiba-SP, 147 p.
This work aimed at analyzing criterion validity evidences by contrasting groups on
CAT_A, Rorschach and DFH techniques. The study was conducted to verify if the
indicators of adapted perception levels for CAT-A correlate with cognitive triad variables
of Rorschach method. Besides, it investigated if extreme groups in relation to DFH are
discriminated as to indicators of cognition on CAT-A and Rorschach. Moreover, an inter-
rater reliability study was made, aiming at bringing more confiability to results obtained on
Cat-A and Rorschach. In order to meet the objective, this research was divided in two steps.
At the first one, in order to separate extreme groups (elevated cognition and lowered
cognition), DFH-scale Sisto was administrated in 139 children, both genders, attending at
middle school 1st and 4th grades in a public school located in the state of São Paulo. From
DFH data, at the second step 46 children were participants, so that 32 with cognition bellow
expected for their age and 14 with elevated cognition. DFH data collection was collective,
while CAT and Rorschach were individual, on a total of three sessions. Data demonstrated
that indicators categories that were highlighted to verify the level of perception on CAT-A
and Rorschach variables presented good inter-rater reliability. Likewise, significant
correlation rates between instruments allowed the finding of validity evidences to CAT-A
and Rorschach. As to indicators assessing the level of perception on CAT-A, mean
differences were obtained between both groups, elevated cognition and cognition bellow
expected for their age, denoting convergence between DFH and CAT-A results. On
Rorschach both groups differentiate on A, S, FQu e WDA% variables. Therefore, as
expected, Rorschach presents indicators that allow cognition assessment, but, as to
variables that did not present significant correlation with CAT-A indicators, it can be
inferred that even assessing cognitive aspects, they probably represent different cognitive
factors or distinct manifestations due to peculiar characteristics of each technique stimuli.
Tal finding allows the demonstration of this study contribution to psychological assessment
area, once it brings more validity evidences to CAT-A
Keywords: psychological assessment, perception, criterion validity, precision, projective
techniques.
xiii
Sumário
Lista de Tabelas
xiii
Lista de Anexos
xiv
Introdução
1
1 As Técnicas Projetivas
7
1.1 Projeção e Apercepção
11
1.2. O Teste de Apercepção Infantil com Figuras de Animais CAT-A
15
1.2.1 Estudos e Pesquisas com o CAT
28
1.3 O Método de Rorschach
44
1.3.1 Sistema Compreensivo (SC)
46
1.3.2 Estudos com o Método de Rorschach
57
1.4 Teste do Desenho da Figura Humana (DFH Escala - Sisto)
67
2 Percepção e Cognição
75
3 Método
81
3.1 Participantes (1ª. etapa)
81
3.2 Instrumento
81
3.2.1 Procedimento
82
3.3 Participantes (2ª. etapa)
83
3.4 Instrumentos
84
3.4.1 Procedimento
92
4 Resultados e Discussão
95
xiv
5 Considerações Finais
122
6 Referências
128
Anexos
138
xv
Lista de Tabelas
Tabela 1 Índice de concordância Kappa entre juiz A e juiz B dos fatores que
compõem as variáveis do método Rorschach destacadas para este estudo.
97
Tabela 2 Índice de concordância Kappa entre juiz A e juiz B dos níveis de
percepção verificados no CAT-A.
99
Tabela 3 Diferenças de média entre os dois grupos nos indicadores do Rorschach
destacados para verificar a cognição por meio do t de Student.
100
Tabela 4 Diferenças de média entre a 1ª. e 4ª. séries nos indicadores do
Rorschach destacados para verificar a cognição por meio do t de Student.
104
Tabela 5 Diferenças de média entre os dois grupos nos indicadores de níveis de
percepção verificados no CAT-A por meio do t de Student.
110
Tabela 6 Diferenças de média, por meio do t de Student, entre a . e 4ª. séries
nos indicadores destacados para verificar o nível de percepção no CAT-A.
112
Tabela 7 Coeficiente de correlação de Pearson entre as variáveis W, D, Dd< S,
DQ+, DQv e os indicadores de níveis de percepção no CAT A.
114
Tabela 8 Coeficiente de correlação de Pearson entre as variáveis F, FQ-, FQu,
FQo, FQ+ e os indicadores de níveis de percepção no CAT A.
115
Tabela 9 Coeficiente de correlação de Pearson entre as variáveis H, (H), Hd,
(Hd), A, (A), Ad, (Ad) e os indicadores de níveis de percepção no CAT A.
116
Tabela 10 Coeficiente de correlação de Pearson entre as variáveis Zf, PSV,
Sum6, WSum6, GHR, PHR, WDA% e os indicadores de níveis de percepção no
CAT A.
117
xvi
Lista de Anexos
Anexo1 Termo de Aprovação da Pesquisa pelo Comitê de Ética da Instituição 138
Anexo2 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 139
Anexo 3 Folha de Avaliação do CAT-A 141
1
Introdução
Os testes psicológicos no Brasil vêm sendo alvo de estudo e especulações desde o
início do século passado, quando médicos, educadores e psicólogos fizeram pesquisas,
traduções e adaptações, utilizando conhecimentos que foram desenvolvidos na Europa e
nos EUA, com o intuito de realizar um diagnóstico. Este é resultante da avaliação
psicológica que busca diagnosticar, por meio de várias técnicas psicológicas, o problema de
uma pessoa, objetivando uma intervenção. Apesar desta produção, no início da década de
1960, tanto no Brasil como em outros países, ocorreu uma crise na área da avaliação
psicológica que ocasionou um declínio no uso dos testes e outras formas objetivas de
avaliação. Essa crise foi desencadeada por questões ideológicas, epistemológicas e
principalmente pela descrença nos testes psicológicos que desencadeou questionamentos
relativos a sua validade e fidedignidade (Hutz & Bandeira, 2003).
No Brasil, nos últimos dez anos, observaram-se alguns indicadores de mudança, tais
como, o aumento de pesquisadores qualificados na área; a implantação linhas de pesquisas
em vários programas de pós-graduação; a criação de um programa de pós-graduação na
área de avaliação psicológica; o aumento da quantidade e qualidade das publicações; o
surgimento de uma revista especializada e o aparecimento de vários laboratórios de
pesquisa na área. Deve-se pontuar que houve, também, uma maior conscientização dos
psicólogos quanto à necessidade de qualificação e controle do material utilizado na área,
por meio discussões promovidas pelas sociedades científicas e Conselho Federal de
Psicologia (CFP) (Hutz & Bandeira, 2003; Noronha & Vendramini, 2003)
No contexto internacional a preocupação com a utilização dos instrumentos
psicológicos pelos profissionais vem sendo algum tempo tema de pesquisas, dentre elas
pode-se citar as de Rossini e Moretti (1977); Watkins, Campbell, Nieberdong e Hallmark
2
(1995); Belter e Piotrowski (2001). Embora os seus dados apontem uma tendência à
diminuição de ênfase tanto no uso como no ensino de várias técnicas de avaliação
psicológica, dentre elas as técnicas projetivas, pontuam que pouco mudou quanto às
técnicas específicas mais ensinadas e mais utilizadas nos últimos 15 anos. No que se refere
às técnicas projetivas, por exemplo, o Rorschach e o TAT lideram o ranking das técnicas
ensinadas e utilizadas pelos profissionais. Os testes neuropsicológicos, de acordo com
Belter e Piotrowski (2001), indicaram uma ascendência neste ranking. Esses autores
identificaram como fatores responsáveis pelo ensino e utilização dos instrumentos de
avaliação psicológica desde a pressão do mercado de trabalho, o atendimento psicológico
proporcionado pelos diversos planos de saúde até a orientação teórica do corpo docente dos
programas de pós-graduação em psicologia clínica.
No Brasil, esse cenário não é muito diferente como se pode constatar no estudo de
Herzberg e Mattar (2005) que fizeram um levantamento dos procedimentos clínicos
utilizados pelos psicólogos do Departamento de Psicologia Clínica do Instituto de
Psicologia da Universidade de São Paulo com o objetivo de comparar os resultados com os
obtidos em 1995 (Herzberg, Erdman & Becker, 1995). Constataram que o TAT se manteve
na liderança das preferências, sua utilização passou de 92% para 73%, o CAT-A caiu de
83% para 58%. Enquanto algumas técnicas mantiveram-se praticamente os mesmos índices
de utilização, a saber: DFH de Machover é utilizado por 69%; o Rorschach por 65% e o
Desenho Livre por 58%. Quanto à queda na utilização do CAT-A, de acordo com as
autoras, tal fato pode estar relacionado com o parecer desfavorável do CFP por considerar
que não há estudos recentes que comprovem a sua validade.
Na revisão literária de estudos brasileiros com o CAT-A, constatou-se a escassez de
estudos que buscaram evidência de validade, precisão e normatização para o instrumento.
Em função disso e da importância dessa técnica como método de investigação da
3
personalidade infantil, esta pesquisa está contribuindo com mais um estudo de precisão e
evidência de validade.
Entretanto, é importante ressaltar algumas dificuldades encontradas quanto a precisão e
validade nas análises dos instrumentos projetivos infantis. Uma delas é inerente aos
instrumentos que refletem e são influenciados pelo desenvolvimento emocional e cognitivo.
Ao lado disso, encontra-se uma grande amplitude de variáveis implicadas na personalidade
do sujeito, que se inter-relacionam de modo bastante complexo, o que dificulta a elaboração
de indicadores bem definidos e facilmente correlacionáveis com critérios externos e ainda
cria problemas para se atingir alto grau de concordância quando os dados são avaliados por
profissionais diferentes. Apesar dessa complexidade é possível buscar maneiras de analisar
as respostas com um grau de precisão tal que vários profissionais experientes possam
chegar a conclusões bastante semelhantes, evitando-se a interferência excessiva da
subjetividade do avaliador na interpretação dos resultados.
Na pesquisa de mestrado, que objetivou verificar a auto-estima no CAT-A (Silva,
2005), construí-se um sistema de classificação das respostas, com critérios bem definidos
de análise dos dados. Esse sistema diminuiu as possibilidades de variações nas conclusões
dos profissionais, permitindo confiabilidade e uniformidade nos resultados. Tais resultados
e o interesse em continuar os estudos de validade e precisão do CAT-A determinaram a
escolha deste trabalho.
Uma das razões porque se optou por fazer esse estudo, foi a necessária continuidade de
estudos que permitam maior confiabilidade no uso desse instrumento, porém, a opção por
enfocar um aspecto específico da personalidade, a cognição, decorreu da idéia de que um
dos indicadores de validade desse teste seria a possibilidade de diferenciação das
dificuldades cognitivas das afetivas. Sabe-se que isso é largamente aceito como possível,
mas não se encontraram pesquisas que evidenciem isso.
4
Assim, pautou-se na sistematização para análise da cognição que Teglasi (2001) fez
para o TAT, procurando-se seguir a mesma lógica no CAT. Tal autor propõe categorias de
indicadores que abarcam três dimensões do funcionamento cognitivo: integração
perceptual, pensamento concreto e abstrato e processamento da informação. Dentre os
diversos indicadores propostos por esse autor, destacou-se para o presente a integração
perceptual e o nível da percepção, por verificar que os mesmos convergem com a proposta
de análise de Bellak e Bellak (1949/1991). È importante destacar que, apesar dos autores do
CAT-A não indicarem o teste para avaliação direta da cognição, mas consideram o grau de
percepção como função do ego, que em seus múltiplos aspectos, revela o nível geral de
funcionamento do indivíduo.
Vale destacar que o propósito desta pesquisa é verificar em que medida o CAT-A
possibilita a análise de aspectos da cognição, supondo que isto forneceria novas evidências
de validade para a compreensão da dinâmica da personalidade como um todo e das relações
entre aspectos cognitivos e emocionais. Apesar desta inter-relação é possível observar em
que medida a cognição implica no funcionamento da personalidade do indivíduo. Assim, o
avaliador teria condições de verificar, na construção da história, a capacidade do indivíduo
resolver um problema, pois esta tarefa envolve a dimensão perceptivo-cognitiva. Desta
forma, seria possível constatar em que medida as variáveis implicadas na solução da
situação problema dizem respeito ao nível da inteligência e funcionamento intelectual, ou a
fatores emocionais. Isto é possível no método Rorschach, o que era verificado desde o
início, pelo seu criador (Rorschach, 1920/1974) uma vez que este chamou atenção ao fato
de que as respostas revelam níveis diferentes de complexidade e organização do estímulo,
mas foi com o Sistema Compreensivo (Exner, 1999), que o estudo desses aspectos foi mais
detalhado, por meio da elaboração da Tríade Cognitiva. Diante disto, esse instrumento foi
5
utilizado nesta pesquisa, pois oferece uma sistematização para avaliação do funcionamento
cognitivo.
O estudo está estruturado em capítulos que nortearam a organização do texto. O
primeiro versa sobre as técnicas projetivas, o problema da validação e precisão do ponto de
vista clínico e psicométrico, bem como as dificuldades de realizar estudos de evidências de
validade das técnicas projetivas, apontando seus alcances e limitações para os diversos
propósitos. Em seguida aborda os conceitos de projeção e apercepção que são utilizados em
psicologia e psicanálise, temas considerados relevantes na fundamentação teórica deste
estudo, uma vez que duas técnicas projetivas serão enfocadas, o CAT-A e o Método do
Rorschach. A seguir apresenta o CAT-A, sua utilização, fundamentação teórica, os
pressupostos que a sustenta, o significado das pranchas, forma de avaliação e interpretação
propostas por alguns autores, estudos e pesquisas que buscaram evidências de validade e
precisão.
Ainda, no primeiro capítulo, descreve-se o Rorschach, desde a fundamentação teórica, a
avaliação, a descrição das variáveis, seu significado e as estratégias de interpretação.
Posteriormente os estudos desenvolvidos no Brasil que conferem evidências de validade e
precisão a esse instrumento. Em seguida apresenta-se o Teste do Desenho da Figura
Humana (DFH Escala -Sisto), que foi utilizado nesta pesquisa para discriminar os grupos
com nível cognitivo alto e baixo.
O segundo capítulo traz algumas considerações e definições de cognição e percepção a
partir das idéias de Piaget, Teglasi e Dworetzki. O terceiro capítulo enfoca o delineamento
da pesquisa participantes, instrumentos utilizados, etapas da pesquisa, as categorias de
indicadores de integração da percepção e níveis de percepção como parâmetros para avaliar
a cognição no CAT-A. As variáveis da tríade cognitiva do Rorschach destacadas para esta
6
pesquisa e o procedimento empregado. Finalmente, apresenta-se a descrição dos resultados,
a discussão, as considerações finais, as referências e os anexos
7
1 As Técnicas Projetivas
As técnicas projetivas têm como objetivo investigar a dinâmica e estrutura da
personalidade. A sua caracterização se por um estímulo ambíguo e indefinido para o
sujeito, que não revela explicitamente o seu verdadeiro propósito. Isso possibilita ao
indivíduo fornecer informações muitas vezes inconscientes, a respeito de seus sentimentos
e suas características de personalidade (Alves, 2004; Cunha, 2000).
De acordo com Villemor-Amaral (2006), no momento que o indivíduo realiza o que lhe
é pedido, seja desenho, história ou impressão, ele utiliza o repertório interno de imagens e
vivências registrado a partir de sua experiência. Sendo assim, essa tarefa concreta só
adquire o significado que a completa quando associada à singularidade das características
da personalidade, os processos psíquicos e a história de vida do sujeito.
Aponta ainda que as técnicas projetivas originam-se de um enfoque clínico no qual se
examina o indivíduo na interação com o observador por meio do seu comportamento
manifesto ou não, o que possibilita recolher o maior número possível de informações dos
diversos aspectos do seu mundo psíquico. Com base nesses dados, o profissional faz o
diagnóstico e planeja o processo de intervenção.
Esse diagnóstico é resultante da avaliação psicológica que se define como um processo
que busca descrever, por meio de várias técnicas psicológicas - entrevistas, observação
clínica e informações disponíveis sobre a história do indivíduo - a melhor compreensão
possível do universo psíquico de uma pessoa ou de um grupo (Ocampo & Arzeno, 1987). É
necessário considerar que as informações da avaliação psicológica são obtidas no contexto
relacional entre cliente e psicólogo, sendo, portanto, sensíveis às influências desse contexto.
Além disso, o indivíduo “se modifica no tempo em função de sua experiência, de seus
8
relacionamentos significativos, do contexto no qual está inserido” (Tavares, 2003, p. 127).
Com isso, é importante refletir que o psicodiagnóstico, resultante do processo de avaliação
psicológica, não pode ser considerado como definitivo, uma vez que está sujeito a
modificações no tempo em função de múltiplos fatores, inclusive as possíveis limitações
das técnicas empregadas.
Além disso, vale ressaltar que “é a teoria que fundamenta o método, é o pressuposto
subjacente de determinismo psíquico que apóia as inferências feitas a partir dos resultados”
(Villemor-Amaral, 2006, p. 164). Pontua ainda, que esses princípios apontam alguns
paradoxos que estão relacionados com a natureza do fenômeno que se quer apreender,
quando se utilizam procedimentos psicométricos para validação e precisão das técnicas
projetivas.
Essas considerações conduzem aos problemas relativos aos procedimentos científicos
utilizados que, muitas vezes, apresentam resultados insatisfatórios. Eles podem ser
sintetizados em quatro pontos principais, são eles, a natureza dos fenômenos abordados que
nem sempre são observáveis diretamente pelo comportamento; a ocorrência de
determinados fenômenos que podem ser verificados uma única vez, em um único
indivíduo, não se repetindo em outra pessoa e nem no mesmo sujeito em outro momento; a
natureza da tarefa por meio de estímulos pouco definidos que podem gerar uma amplitude
de respostas, tantas quantas forem o número de indivíduos submetidos aquela tarefa. Nesse
caso é importante esclarecer que a individualidade das respostas se apresenta no conjunto,
embora respostas isoladas possam ser semelhantes ou repetidas. Finalmente o paradoxo
resultante do fato de que, em pesquisa, quanto mais complexo o número de variáveis maior
deveria ser o número dos participantes, mas no caso das técnicas projetivas as aplicações
requerem um tempo longo, assim como as análises, o que reduz o tamanho da amostra
(Villemor-Amaral, 2006).
9
De acordo com Güntert (2001), os critérios psicométricos podem ser utilizados nos
estudos com instrumentos projetivos. Para isso, faz-se necessário, tanto para a técnica
projetiva quanto para o teste psicométrico, identificar e fundamentar claramente o seu
método e o construto para o qual ele foi elaborado, não precisando necessariamente ser
objetivo. Portanto, o enfoque seria quanto à clareza e não quanto à objetividade dos
pressupostos avaliados.
Os critérios psicométricos permitem ao profissional trabalhar com mais segurança e,
também, selecionar o instrumento que melhor condiz com sua necessidade. Portanto,
quando se fala de critérios psicométricos remete-se, principalmente, aos estudos de
padronização, precisão e validade.
Segundo Anastasi e Urbina (2000), “a maioria das pesquisas de validação publicadas
sobre técnicas projetivas é inconclusiva, em virtude de deficiências de procedimento nos
controles experimentais ou nas análises estatísticas, ou ambas (p. 357). Essas autoras,
ainda, constataram que a validade de critério, geralmente utilizando grupos contrastantes,
tem sido a mais utilizada na validação de técnicas projetivas. No entanto, observaram uma
crescente tendência das pesquisas em buscar a validade de construto dos instrumentos
projetivos, testando-se hipóteses específicas da fundamentação teórica dos instrumentos
que podem ser comprovadas ou refutadas.
A validação de um teste diz respeito à verificação do quanto ele mede realmente aquilo
que se propõe medir e quão bem ele o faz (Anastasi & Urbina, 2000; Arias, 1996;
Cronbach, 1996; Pasquali, 2003). Um teste nunca é totalmente válido, o que existe são
estudos de evidência de validade para determinada população, determinados indicadores.
Sendo assim, o teste propriamente dito não é validado, mas sim, a sua interpretação (Arias,
1996). De acordo com Anastasi e Urbina (2000), os instrumentos psicológicos podem ter
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sua validade evidenciada com base em três procedimentos de validação: descrição do
conteúdo, predição do critério e identificação do construto.
Os procedimentos de validação de predição do critério indicam a efetividade de um
teste em predizer o desempenho de um indivíduo em atividades especificadas. Nesse tipo
de validade uma medida de algo externo ao teste, verificando-se o resultado da relação
dessa variável com o teste. Isso pode ser feito por meio de testes medindo o mesmo
construto, construtos relacionados ou construtos diferentes avaliados ao mesmo tempo
(concorrente) ou com um intervalo de tempo no qual houve uma intervenção (preditiva).
Dentre os vários tipos de validade, esta pesquisa optou pelo procedimento de validade
de critério por meio de grupos contrastantes. Esse tipo de validade será utilizado uma vez
que se pretende trabalhar com grupos extremos separados por idade e nível de
desenvolvimento cognitivo.
Para verificar a precisão das variáveis que avaliam cognição no Rorschach e no CAT-
A, nesta pesquisa adotou-se o estudo de precisão entre avaliadores que consiste em verificar
o grau de concordância existente entre os mesmos. A fidedignidade do avaliador pode ser
encontrada pela pontuação independente dos protocolos do teste. Desta forma, os dois
escores obtidos por todos os sujeitos testados possibilitam estimar a precisão do avaliador
por meio de correlação de coincidências.
De acordo com Anastasi e Urbina (2000), para os testes projetivos de personalidade
“existe tanta a necessidade de uma medida da fidedignidade do avaliador quanto dos
coeficientes de fidedignidade mais comuns” (p.96). A precisão do avaliador pode ser
encontrada por meio do resultado da pontuação independente de uma amostra dos
protocolos do teste. Os dois resultados são correlacionados e o coeficiente de correlação
encontrado é uma medida de precisão do avaliador. Ao lado disso, essas autoras chamam a
11
atenção para outros fatores que garantem a confiabilidade nas análises das técnicas
projetivas, que estão diretamente relacionados ao grau de conhecimento da técnica, ao
domínio da teoria que a sustenta e a experiência dos profissionais.
Retomando as questões sobre as normas e validade das técnicas projetivas, Bellak e
Bellak (1949 / 1991) afirmam que “desde que se aceite a hipótese básica do fenômeno da
projeção, ou apercepção, o caso individual pode se auto-sustentar” (p.25). No entanto,
acreditam que normas são essenciais para os testes projetivos, pois possibilitam estabelecer
padrões de avaliação que orientem a interpretação dos resultados. Para tanto é
imprescindível conhecer os conceitos que fundamentam o CAT-A, os quais serão
enfocados em seguida.
1.1 Projeção e Apercepção
É fundamental para esta pesquisa trazer a definição de dois construtos que
fundamentam as técnicas projetivas, Projeção e Apercepção. O conceito de projeção foi
utilizado por Freud em 1895 ao estudar a Histeria, entendendo como o deslocamento da
culpa, negação da realidade e projeção do ódio no outro. Em 1911, na análise do caso
Schereber, o termo projeção aparece relacionado à patologia, como característico da
paranóia. Nesse contexto, a projeção é usada como um mecanismo de defesa que expulsa
um desejo intolerável à consciência, sendo, portanto, um processo inconsciente. Mais tarde,
em 1913, em Totem e Tabu, Freud amplia esse conceito, constatando que o indivíduo
atribui à realidade externa desejos e emoções não aceitos por ele como seus, dos quais é
parcialmente inconsciente (Anzieu, 1981).
12
Freud (1913/1969), portanto, usou o construto projeção como uma ação psíquica
defensiva. Entretanto, quando a expressão “métodos projetivos para o estudo da
personalidade”, foi introduzida por Frank em 1939 (conforme citado por Anzieu, 1981), em
artigo publicado no Journal of Psychology, o conceito de projeção já vinha associado a uma
concepção inovadora e bastante ampliada. Esse autor usou o termo “métodos projetivos”
para explicar as semelhanças entre três técnicas de avaliação da personalidade, o teste de
associação de palavras de Jung (1904), teste de manchas de tinta de Rorschach (1920) e o
Teste de Apercepção Temática TAT de Murray (1935)), mostrando que a semelhança
entre elas residia no fato de que aí estava em jogo uma projeção - exteriorização de
aspectos da personalidade não perceptíveis de outro modo, retirando-se do termo o caráter
meramente defensivo desse fenômeno. Ocorre que essas técnicas não seguiam a
metodologia psicométrica utilizada pela maioria dos testes da época, baseando-se na
abordagem clínica, sua credibilidade vinculava-se exclusivamente à teoria que lhes deu
origem (Van Kolck, 1975).
As técnicas projetivas têm como objetivo investigar a dinâmica e a estrutura da
personalidade, caracterizando-se pela apresentação de material ambíguo e indefinido que
permita ao sujeito, ao dar a resposta, projetar seus conteúdos internos. Essas técnicas, de
acordo com Anzieu (1981), são divididas em duas categorias, os testes projetivos temáticos,
cujo modelo são os testes de apercepção temática, que revelam os conteúdos significativos
da personalidade, bem como a natureza dos conflitos, desejos, relações com o ambiente,
mecanismos de defesa, enfim revelam a dinâmica da personalidade. Ao lado disso, os testes
projetivos estruturais, como o Rorschach, que tem o papel de revelar a estrutura da
personalidade, ou seja, o seu equilíbrio, a maneira como o indivíduo apreende o mundo.
Essa distinção é de certa forma pouco precisa, na medida em que na prática, tanto nos testes
13
projetivos temáticos quanto nos estruturais, a interpretação do conteúdo e a forma das
respostas revelam a dinâmica e estrutura da personalidade (Tardivo, 1992).
Outro conceito importante para a compreensão das técnicas projetivas é o de
apercepção. Foi adotado por Bellak em 1950 (citado por Anzieu, 1981), indicando o
“processo pelo qual a experiência nova é assimilada e transformada pelo traço da
experiência passada de cada um, de modo a formar um todo novo” (p.265), portanto, a
apercepção é uma interpretação e como tal sentido à experiência. Kagan (1966)
esclarece que esse termo se refere à integração de uma percepção nova com a experiência
passada e com o estado psicológico atual do indivíduo. Para esse autor, técnica de
apercepção temática compreende uma noção ampliada de apercepção que pode ser
entendida como qualquer tarefa que exija interpretação de estímulos ou cenas por meio de
um relato. Nesse sentido, Murray (1973) afirma que toda resposta dada ao teste
evidenciaria uma interpretação pessoal, havendo uma identificação por parte do sujeito com
o personagem principal da história, devendo o conteúdo manifesto ser analisado buscando-
se seus aspectos latentes, isto é, as determinações e motivações inconscientes deflagradas
ao se dar à resposta, sendo essa a função da interpretação.
Assim, quando se pede ao sujeito para compor um relato a partir de um estímulo,
considera-se que sejam necessárias a participação dos processos - primário (ego-prazer) e
secundário (ego-realidade). O primeiro é caracterizado pela necessidade de descarga e
satisfação imediata dos desejos e dessa forma, as associações promovidas remetem o
sujeito às suas necessidades internas, fantasias e desejos. O processo secundário tem a
função de moderador do processo primário, obedecendo ao princípio de realidade, da lógica
e da coerência (Shentoub, 1990).
De acordo com Hartmann (1968), o indivíduo elabora a sua resposta remetendo-se a
associações do processo primário. Este, por sua vez, é caracterizado pela necessidade de
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descarga e satisfação imediata, pela ausência de coerência e relações lógicas. Para
responder a tarefa, o sujeito deve-se organizar e fazer uso da lógica, seqüência e coerência,
ordenando os elementos da história em concordância com o estímulo. Sendo assim, a
resposta ao teste projetivo é elaborada e verbalizada por meio do ego, que deve ser capaz de
rebaixar a tensão provocada pelo estímulo, identificar-se com o personagem principal e
encontrar uma solução satisfatória para os conflitos que emergem em cada tema, dando
uma resposta coerente ao estímulo. Quanto maior a integração do ego, mais recursos o
indivíduo dispõe para elaborar a resposta de forma adaptada, quanto menor essa integração,
menos adaptado se encontra o sujeito e maior será o grau de distorção aperceptiva do
estímulo (prova de realidade). Quanto menor a integração, mais o indivíduo se distanciaria
da tarefa, e seria incapaz de elaborar uma resposta em conformidade com a instrução ou
então perderia a distância entre ele próprio e o objeto (imagens na prancha). Tudo isso se
refere tanto ao conteúdo das histórias como os aspectos mais formais que, por sua vez,
envolvem na sua estruturação a dimensão perceptivo-cognitiva.
Cabe ainda ressaltar que a percepção é função do campo de estimulação de fatores
externos, sendo assim, quanto menos estruturado for o campo perceptivo, maior a
possibilidade de o indivíduo exteriorizar conteúdos de seu mundo interno sobre o material
apresentado (Anzieu, 1981). Enquadram-se nessas características as figuras do CAT. Em
razão da sua importância e sendo objeto desse estudo, a seguir, serão feitas considerações a
respeito do surgimento, fundamentos e formas de avaliações, interpretações e estudos
encontrados na literatura.
15
1.2. O Teste de Apercepção Infantil com Figuras de Animais CAT-A
O CAT-A faz parte do grupo das técnicas temáticas que tem por objetivo eliciar
processos projetivos sob a forma de histórias. É um descendente direto do Teste de
Apercepção Temática-TAT, de Henry Murray, considerado um instrumento projetivo
eficaz para avaliação de adultos, mas que não atendia, satisfatoriamente, as necessidades
com crianças pequenas, dada as características dos estímulos figuras com situações mais
pertinentes ao mundo adulto. A partir de suas experiências com crianças, o CAT-A foi
criado por Leopold Bellak e Sonya Sorel Bellak em 1949, ao constatarem que é mais fácil
para crianças pequenas identificarem-se com animais do que com pessoas (Bellak &
Bellak, 1949 / 1991). Em 1965 foi publicada uma forma humana (CAT-H), na qual as
figuras de animais foram substituídas por pessoas e, posteriormente, em 1952 foi lançado
um suplemento do CAT, o CAT-S composto por figuras de animais em situações diferentes
do primeiro.
Enquanto estímulo, as figuras de animais apresentam uma natureza mais ambígua em
relação à idade, sexo e a cultura. Essa característica representa uma vantagem em
comparação a outras técnicas similares, partindo do pressuposto de que as imagens de
animais evocam a fantasia com mais facilidade, fato que pode ser observado nas fábulas,
nos contos de fadas e no papel que têm os animais nos jogos infantis, nos desenhos
animados da televisão e histórias em quadrinhos. Pode-se concluir que os animais têm um
importante papel nas fantasias e nas angústias infantis (Bellak & Hurvich, 1965).
O referencial teórico que fundamenta o CAT-A é o psicanalítico e o seu propósito é
estudar a dinâmica das relações interpessoais, a natureza e a força dos impulsos e
tendências, assim como as defesas organizadas contra eles. As situações escolhidas para
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compor cada prancha referem-se a aspectos importantes do desenvolvimento da criança,
como as fases oral, anal, fálica, complexo edipiano, reações diante da cena primária, etc
(Tardivo, 1992; Van Kolck, 1975). Esses aspectos serão explicados na descrição das
pranchas que compõem o teste, baseado no manual de Bellak e Bellak, (1991) e Hirsch
(1987).
A primeira prancha traz três pintinhos sentados ao redor de uma mesa com uma grande
tigela de comida e atrás a figura vagamente esboçada de uma galinha ou galo. Explora os
problemas da fase oral, ou seja, o quanto a criança se sente suficientemente alimentada por
um ou outro pai, a comida podendo ser vista como recompensa, ou sua ausência como
castigo e ainda podendo surgir temas de competição entre os irmãos.
A prancha dois traz a figura de um urso puxando uma corda de um lado, enquanto outro
urso e um filhote puxam do outro lado, podendo ser percebida como luta, temor à agressão
ou, de uma forma mais branda, um jogo - cabo de guerra. Pode evocar a cooperação com
um dos ursos, a rivalidade, a angústia de castração, medo do triunfo e assim por diante.
A próxima prancha contém a figura de um leão com cachimbo e bengala sentado em
uma cadeira, no canto aparecendo um ratinho num buraco. Geralmente o leão é visto como
a figura paterna e a bengala, às vezes, é usada para torná-lo velho - a quem não se precisa
temer -como defesa. Se o leão for percebido como figura paterna forte, é importante
observar se é bom ou mau. A maioria das crianças se identifica com o ratinho, mas pode
acontecer de se identificarem com o leão, ou ainda alternam essa identificação, o que pode
indicar conflito entre submissão e autonomia.
A prancha quatro tem como estímulo a imagem de um canguru fêmea com chapéu,
carregando uma cesta com uma garrafa de leite, acompanhada por um filhote de bicicleta e
levando um bebê na bolsa. Surgem em geral temas de rivalidade fraterna e preocupações
relativas ao nascimento de outros filhos. É importante observar se a criança se coloca de
17
forma regressiva ou manifesta desejo de crescimento e autonomia. Pode ainda surgir temas
relacionados à relação materna e paterna.
A prancha cinco mostra um quarto na penumbra com uma cama de casal ao fundo e
dois ursinhos num berço. Favorece histórias referentes à cena primária, ou seja, à
observação mais ou menos fantasiada das relações sexuais entre os pais. As duas crianças
no berço podem desencadear temas de manipulação e exploração mútua.
Observa-se na prancha seis uma caverna com dois ursos vagamente delineados ao fundo
e um menor deitado em primeiro plano. Esta figura favorece novamente histórias
relacionadas à cena primária, como na prancha anterior, acrescentando-se o aparecimento
de problemas edipianos e situações referentes à masturbação noturna.
Quanto à prancha sete percebe-se a figura de um tigre mostrando dentes e garras
saltando em cima de um macaquinho que também está saltando no ar, num ambiente de
mata. Este estímulo pode mobilizar o medo da agressão, mostrando como a criança lida
com essa situação.
Na prancha seguinte aparece a gravura de dois macacos adultos tomando chá, um
terceiro falando com um macaquinho e na parede um quadro de uma macaca mais velha. É
possível observar o papel que a criança atribui a si na constelação familiar, sua relação com
o mundo dos adultos, aspectos da educação e como são percebidos a mãe e o pai, se
permissivos ou punitivos.
A prancha nove mostra um quarto na penumbra visto através de uma porta aberta de um
cômodo iluminado. um coelhinho sentado numa cama de criança olhando pela porta.
Pode revelar medo do escuro, da solidão, do abandono ou curiosidade em relação ao outro
quarto, novamente a situação edipiana e de como percebe a relação entre os pais.
Finalmente a prancha dez traz um cachorrinho deitado sobre os joelhos de um cachorro
maior, ao lado do banheiro, sendo que ambas as figuras apresentam um mínimo de
18
expressão. Sugere castigos, revela dados sobre a concepção moral da criança, controle de
esfíncter e masturbação, indicando a reação frente às regras sociais e a disciplina.
A análise do CAT fundamenta-se no princípio básico de que as interpretações que o
indivíduo faz do estímulo são uma apercepção idiossincrática, ou seja, a pessoa o interpreta
à sua maneira, em função de suas necessidades e motivações. Para orientar o profissional
nessa interpretação, o manual de Bellak e Bellak (1991) propõe que se analise cada história
a partir de 10 categorias principais, a saber:
1) O Tema Principal Nesse item verifica-se o que o sujeito apreende de cada prancha, a
história relatada, ou seja, sobre qual ou quais temas gira a história e se uma inter-relação
entre os mesmos.
2) Herói Principal É a figura mais importante ao redor da qual a história foi montada.
Partindo do pressuposto que a história contada pela criança é sobre ela mesma, portanto se
houver vários personagens num relato verifica-se com quem o sujeito mais se identifica.
Ainda nessa categoria os autores trazem o subitem auto-imagem que se refere ao conceito
que o indivíduo tem de si mesmo, de seu papel social e a imagem do seu corpo.
3) As Principais Necessidades e Impulsos do Herói Incluem-se aqui necessidades de
conduta do herói que podem estar relacionados aos da criança, a qualidade dos impulsos,
expectativas idealizadas, tais como inteligência e coragem, atribuídas a figuras
significativas do seu cotidiano. Os autores apresentam dois subitens: personagens, objetos
ou circunstancias introduzidos ou omitidos, devem ser interpretados como desejos ou
dificuldades dos sujeitos a tais situações.
4) Concepção do Ambiente Considera-se esse conceito uma combinação complexa de
autopercepção inconsciente com distorções aperceptivas dos estímulos por imagens de
memórias do passado. Aqui é introduzido o item: Identificação - é importante observar com
qual membro da família a criança se identifica e o sentido dessa identificação.
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5) Figuras Vistas Como... É importante observar como a criança percebe as pessoas ao
seu redor e como reage a elas.
6) Os Conflitos Significativos É necessário verificar não a natureza dos conflitos, mas
também as defesas que o indivíduo usa para lidar com a ansiedade gerada por tais conflitos.
7) A Natureza das Ansiedades É primordial identificar as principais ansiedades e a fonte
delas, ou seja, do que estas decorrem. Segundo os autores do CAT-A as ansiedades mais
importantes são aquelas relacionadas à agressão física, punição, a falta de amor ou a perda
dele (desaprovação) e ao medo de ser abandonado (solidão e falta de apoio).
8) As Principais Defesas Cabe observar e analisar quais são os recursos que o indivíduo
dispõe para se defender dos impulsos, pois dessa forma é possível avaliar a estrutura e o
caráter do sujeito.
9) Adequação do Superego Avalia-se a severidade do superego por meio da relação entre
a natureza da transgressão, a indulgência ou severidade. Isto é, sob quais circunstâncias o
superego do sujeito é muito rígido e sob quais ele é mais tolerante.
10) A Integração do Ego Este item indica o nível de funcionamento da personalidade, ou
seja, a capacidade da criança se acomodar entre impulsos e demandas da realidade de um
lado e a direção do seu superego de outro. Nesse item importam também as características
formais. O sujeito consegue contar histórias coerentes com os estímulos, ou abandona a
gravura e elabora histórias sem nenhuma relação aparente. As respostas são estereotipadas
ou criativas e mais ou menos originais. Consegue na trama do enredo chegar a uma solução
adequada e realista, ou apresenta um pensamento desestruturado, bizarro. É capaz de ir de
uma situação do passado da história para uma solução no futuro. Esses fatores devem ser
avaliados levando em consideração a idade cronológica da criança, nível intelectual e a sua
singularidade. Verifica-se a adequação dos processos que dirigem e mantêm o pensamento
20
de forma adaptada, controle de impulsos, tolerância à ansiedade, adequação perceptiva,
atenção, concentração, memória, o emprego da linguagem, conceitos e estrutura da história.
Para este estudo é relevante os itens que compõem a análise dos aspectos estruturais ou
formais das histórias como maturidade do ego, que se refere ao que é esperado em termos
de tarefa solicitada ao sujeito, de acordo com a sua idade cronológica. Sendo assim, serão
apresentadas as formas de interpretação sugeridas por outros autores como: Hirsch (1984),
Shentoub (1969/1990) Tardivo (1992) e Teglasi (2001) por considerá-las complementares a
avaliação dos aspectos formais contidas no manual do instrumento. Além disso, mostram
que é possível avaliar a cognição por meio de técnicas projetivas
Inicialmente Hirsch (1979 / 1987) propôs nove itens para a interpretação do CAT-A,
posteriormente Hirsch (1984) ampliou e reorganizou esse esquema e o dividiu em três
categorias e dez pautas. A primeira categoria a Percepção da situação estímulo refere-se
em que medida a percepção do indivíduo está adequada ao estímulo. Observa-se que
animais ou personagens nas pranchas e se existe desconhecimento do estímulo. Essa
categoria compreende três indicadores, a saber, Percepção do conteúdo animal se os
animais são vistos e de que forma. Verifica-se as omissões, adições e distorções.
Percepções e elaborações pouco usuais em relação à identidade dos animais. Percepção do
conteúdo de realidade compreende a percepção dos elementos ambientais da prancha
(omissões, acréscimos e distorções no conteúdo de realidade). Visualiza e distingue as
pranchas que indicam elementos característicos do habitat natural do homem, daquelas que
apresentam um cenário natural adequado à vida dos animais. Percepção da ação dos
personagens se a ação dos personagens é coerente com as características reais dos
estímulos.
A categoria a Estória como tarefa inclui indicadores relacionados às possibilidades
adaptativas da criança para enfrentar uma situação nova, a qual testa as suas funções
21
egóicas relativas à memória, linguagem e o processamento do pensamento. Essa pauta é
composta por quatro itens, são eles: Seqüência temporal, que objetiva observar se a criança
é capaz de construir uma estória com começo meio e fim. Como utiliza os três tempos da
ação (passado, presente e futuro). A Coerência e logicidade da estória, diz respeito a
concordância das diferentes situações colocadas no relato, a integração da estória.
Características da linguagem empregada - observa-se o tipo de linguagem utilizada pela
criança e sua relação com padrões evolutivos, a situação atual e ao meio sociocultural.
Capacidade criativa e adequação ao clichê - avalia-se o interjogo entre a capacidade criativa
da criança e a adequação ao clichê, entendido como as estórias que são comumente
desencadeadas pelas pranchas.
A pauta Aspectos dinâmicos da história agrupa os indicadores relativos a Descrição da
interação, papéis determinados e problemática básica - avalia-se como se a interação
entre os personagens da estória, quais os papéis atribuídos e a situação da criança no
contexto familiar. Dinâmica inconsciente, ansiedades e defesas - neste item observa-se a
qualidade das relações objetais, que tipo de vínculos objetais predominam, as relações
fantasiadas, as ansiedades ligadas as mesmas e as defesas utilizadas. Tentativas de solução
da problemática colocada, diz respeito à solução do conflito, se houve ou não e como
ocorreu.
Hirsch (1984) propõe que se faça uma análise final que sintetize todas as pautas
supracitadas. Evidencia que é importante apontar as conclusões diagnósticas e prognósticas
em forma de hipóteses, considerando que as informações foram baseadas em um único
instrumento e que as mesmas precisam ser corroboradas por meio de uma avaliação
completa envolvendo outros métodos.
Shentoub (1969 / 1990) elabora um sistema de interpretação das respostas dadas por
crianças ao Teste de Apercepção Temática (TAT) que foi utilizado por Montagna (1987)
22
em seu estudo com o CAT-A, o mesmo será descrito posteriormente. Esse sistema inclui os
seguintes aspectos para a interpretação do TAT. Características manifestas da produção
relativas ao tempo de latência inicial, pausa dentro da história, necessidade ou não de
questionar a natureza das histórias. A partir do relato, é importante distinguir os Fatores de
rigidez que se referem às descrições, apegos a detalhe, racionalizações, temática de estilo
obsessivo, tendência geral à restrição. Os Fatores de labilidade que dizem respeito a
histórias teatrais, valorização de detalhes, labilidade nas identificações, presença de temas
de medo, recusas. A partir dessas colocações, surgem dois fatores, aquele que facilita o
curso da história e sua conclusão (Fatores de progressão da narrativa) e outro, que ao
contrário, impede a progressão da narrativa (Fatores que paralisam a narrativa).
Tardivo (1992) elaborou um referencial de análise que contemplou diversas categorias
de indicadores dos aspectos da personalidade para cada prancha. Apresentou também, itens
para análise dos aspectos formais ou estruturais dos relatos. Apontou para a importância
desse tipo de análise, uma vez que a tarefa dada a criança exige organização da
personalidade para que a mesma possa efetivar a atividade, contar histórias. Essa tarefa
envolve diversos aspectos importantes como o desenvolvimento, inteligência e os afetivos.
Dessa forma, considerou para a análise formal os itens relativos ao Tempo total das
histórias, que se refere ao tempo utilizado pelo sujeito para completar as histórias (inclui as
pausas e o inquérito). Tempo de reação - essa variável diz respeito ao tempo que o sujeito
leva para iniciar sua narrativa, após receber a prancha. Decurso da ação na história - esse
item refere-se ao tempo que a ação acontece, ou seja, passado, presente e futuro. Esse
indicador dá indícios do nível de evolução dos sujeitos, além de revelar como se organizam.
Estudo do uso da lógica - verifica-se a possibilidade da criança relatar situações ou ações
coerentes, considerando três possibilidades: bom, regular e mau. Estudo do uso da
linguagem - nesse item avalia-se a linguagem em relação ao que é esperado à idade da
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criança e atribui-se bom, regular e mau. A variável Quantidade de palavras nas histórias -
verifica-se o número de palavras contidas nas histórias como um indicador de capacidade
de expressão, pois denota a riqueza de vocabulário.
Teglasi (2001) criou um sistema de avaliação da cognição de crianças e adolescentes a
partir das histórias do TAT. Para esse autor, a narração é uma tarefa de desempenho que
revela aspectos do pensamento e as estratégias cognitivas que o indivíduo utiliza na
resolução de problema, assim como as diferentes competências. Desta forma, estabeleceu
procedimentos para avaliar três dimensões cognitivas que, segundo esse autor, o indivíduo
utiliza na elaboração de histórias a partir de um estímulo, quais sejam: integração
perceptual, pensamento concreto e abstrato e processamento da informação que inclui
vários aspectos da atenção e do raciocínio.
Para esta pesquisa foi destacado a integração perceptual e níveis de percepção que será
explicado, enquanto as outras duas categorias de indicadores serão apenas descritas, pois
não serão utilizadas neste trabalho. Elas serão apresentadas de acordo com a sequência
estabelecida pelo autor.
1. Integração Perceptual
Grau de Congruência com o Estímulo
- Desconsidera ou interpreta mal as emoções, ou percepção das emoções básicas ou dos
relacionamentos retratados;
- Desconsidera ou se equivoca com relação às idades dos personagens;
- Atribui importância exagerada a detalhes irrelevantes do estímulo;
- A ênfase é mais perceptual do que conceitual;
- Vacila ou mostra-se indeciso sobre o significado do estímulo. Indica inabilidade na
interpretação da cena e não na definição do objeto;
24
- Ignora algum elemento que seria importante para a história, embora a percepção seja
adequada;
- Apreende os relacionamentos e os afetos que são relacionados com o estímulo, mas não
capta a sutileza dos afetos, sua intensidade, ou a seqüência dos acontecimentos não se
encaixa de modo preciso com a cena;
- A narrativa reflete um conjunto de acontecimentos realísticos e uma compreensão
apropriada de causalidade social (da relação social implícita). A história está de acordo com
uma compreensão dos aspectos psicológicos retratados e reflete uma seqüência de
acontecimentos precisamente convergente com a configuração do estímulo.
Níveis Integração Perceptual
- Divergente: Confunde as emoções e os relacionamentos ou interpreta mal. Falha em
reconhecer as tensões no estímulo.
- Literal: uma dificuldade de captar o significado implícito. Ele consegue identificar as
idades e emoções dos personagens, mas falha em identificar o processo psicológico que
conecta cada evento, cada emoção, cada ação. A narrativa fica ancorada no momento e na
descrição da cena, mas não revela as conexões causais implícitas entre passado, presente e
futuro.
- Impreciso. O narrador reconhece o estado de tensão e a história captura, de modo geral, as
implicações do estímulo em relação às emoções e relacionamentos retratados. Entretanto o
ajuste não é preciso, que a história pode não combinar com as pistas mais sutis do
contexto ou estabelece uma relação de causa e efeito levemente imprópria ou vaga.
- Acurado. O narrador inclui todas as pistas e sutilezas na interpretação das emoções e
relacionamentos, mesmo a despeito de possíveis omissões ou confusões em detalhes
pequenos, apesar disso os sentimentos e os relacionamentos são entendidos na sua sutileza.
25
Existe uma interpretação significativa da configuração do estímulo que captura de modo
acurado e específico o clima da cena.
2. Pensamento concreto X abstrato:
- O narrador interpreta o estímulo literalmente. uma expressão mínima dos
pensamentos, das intenções, dos sentimentos ou dos conflitos. Os sentimentos estão presos
ao estímulo e não as características de pensamento ou eventos da história que explicam a
prancha;
- O indivíduo tem dificuldade em compreender a tarefa da narração. O relato transforma-se
numa descrição dos componentes da prancha sem extrair o significado;
- A circunstância externa e interna não muda ou ausência de eventos transitórios. O
narrador não explica adequadamente nenhuma mudança no sentimento ou na circunstância.
- Os interesses são extremamente triviais. Enfatiza as rotinas diárias;
- Os estados, as intenções ou os motivos internos são descritivos dos estímulos de forma
vaga, simplista, presos a ações ou eventos (finalidades, causas, ou antecedentes obscuros);
- O narrador desenvolve uma história que não se atém só na explicação do que está
acontecendo no retrato. A abstração é definida pelo grau da representação interna dos
objetos percebidos. O nível de abstração pode ser classificado como enumerativa
(nomeação dos objetos), descritivo (descreve qualidades e características objetivas do
estímulo), ou aperceptivo (interpretando além das características objetivas do retrato).
3. Processamento da Informação
- O narrador respostas irrelevantes, conteúdo tolo, conversa estranha (insignificante) ao
receber instruções ou ao narrar a história;
- O narrador se queixa de estar entediado ou quer parar ("quanto mais?”);
- Elabora histórias na primeira pessoa ou personalizadas, indicando inabilidade para
distanciar o self das demandas objetivas da tarefa;
26
- Desconsidera o cenário na narração da história;
- O desfecho da história não resolve adequadamente o conflito, a tensão, ou o dilema
central levantado;
- Os personagens enfatizam a gratificação imediata ou o ganho material;
- Os personagens atuam ou reagem sem claramente definir o problema ou o objetivo;
- As ações não são direcionadas e ocorrem sem planejamento ou antecipação;
- Os personagens tiram conclusões impróprias ou prematuras, não entendem os fatos, não
consideram as alternativas;
- Os personagens se comportam de forma contraditória ao que pensam e de como deveriam
agir;
- Processo narrativo desorganizado (pensamentos personalizados, perseveração, conteúdo
divergente do estímulo, ou reatividade emocional ao estímulo);
- Conteúdo ou convicção social inaceitável (por exemplo, hostilidade ou violência extrema,
conteúdo estranho);
- Níveis incompatíveis de conceitualização (As idéias não seguem uma lógica);
- Confusão de pensamento mágico; lógica incongruente; idéias fragmentadas, incompletas;
- A auto-apresentação não é congruente com as convenções sociais;
- As idéias e as necessidades de todos os personagens descritos são consideradas na
resolução do problema, em lugar de centrar-se em um personagem;
- Existe uma relação significativa entre os personagens;
- Os personagens mantêm sua individualidade (convicções, intenções, resultados) ao
interagirem mutuamente (convergindo precisamente com o estímulo).
Níveis de integração Cognição Experiência
- Desorganizado: este nível é atribuído a eventos improváveis ou grotescamente ilógicos;
discrepância entre o estímulo e a história: conteúdo estranho, socialmente inaceitável;
27
seqüência de eventos altamente improvável, fantasiosa; abandono de um personagem em
um estado extremo.
- Rudimentar: em lugar de distorção idiossincrática, um processo marcadamente
simplificado de raciocínio (possivelmente um "gosto descritivo”) incorporando conexões
causais mínimas. Os sentimentos ou os estados internos não são explicados além das
reações simples. As inferências causais são inexistentes, extremamente rudimentares, ou
vagas.
- Superficial: as narrativas retratam uma coordenação mais complexa das idéias do que os
níveis 1 e 2. incerteza (falta da especificidade) de elementos da história e conformidade
superficial com “scripts” culturais denota uma visão estereotipada dos eventos ou relações.
- Realístico: os eventos descritos são realísticos e indicam coerência entre estados internos
e circunstancias externa entre diferentes personagens. As intenções estáveis do personagem
guiam as ações apropriadas para alcançar propósitos ou resolução de problema.
- Complexo e responsável: a narrativa denota uma compreensão das complexidades do
mundo psicológico e a flexibilidade na resolução de problemas, equilibrando as
necessidades e aspirações a curto e longo prazo de vários personagens, assim como,
sentimentos, intenções dos pensamentos, ações, e deselance entre os personagens.
Produção de idéias/níveis de pensamento associativo
- Associação tangencial: a história divaga à medida que uma idéia provoca outra sem
enlaces causais aparentes entre elas ou a um conceito central. As respostas podem
inicialmente estarem relacionadas ao estímulo, mas podem mudar de direção
subseqüentemente. O conteúdo pode ser tangencial ao estímulo e/ou personalizado.
- Associação linear: as idéias são introduzidas lineares na associação ao estímulo, ao evento
precedente da história (por exemplo, elaborações repetitivas de uma idéia tal como uma
série de ações), ou à emoção.
28
- Associação padronizada: As idéias são introduzidas de acordo com as experiências ou
estereótipos culturais ou subculturais. A seqüência das idéias é formulada tendo como base
(uma história, um filme, ou um programa de televisão) ou pode ser uma repetição literal de
experiências familiares.
- Associação lógica: as idéias são introduzidas de modo que integram as várias dimensões
da experiência em um contexto comum. A lógica e a coerência da narrativa são evidentes
(os eventos, os pensamentos, os sentimentos, as ações, e os resultados são congruentes). As
premissas da história e os detalhes são claramente relacionados.
- Associação integrativa: os elementos da história são coesivos e organizados em torno de
um tema central, guiada por convicções claramente pro sociais e realísticas.
Vale frisar que a categoria de indicadores de integração perceptual e níveis de
percepção proposta por Teglasi (2001) para o TAT, foi adaptada e operacionalizada para o
CAT-A. Isso pode ser conferido em método.
Em seguida serão apresentados alguns estudos estrangeiros que buscaram evidência de
validade, precisão e normatização para o CAT. Logo após, em ordem cronológica serão
expostas as pesquisas brasileiras encontradas nos últimos quinze anos.
1.2.1 Estudos e Pesquisas com o CAT
Bellak e Bellak (1949 / 1991), com intuito de comprovar a eficácia do CAT-A na
avaliação da dinâmica da personalidade infantil, fizeram um estudo de validade do qual
participaram 200 crianças entre 3 e 10 anos. Na interpretação dos protocolos utilizaram o
método de análises às cegas. Para confirmar os dados, compararam os resultados das
análises do protocolo de cada criança com o material obtido, a respeito dos antecedentes da
29
mesma, com a assistente social. Constataram que as gravuras suscitaram problemas que
haviam sido apontados pela profissional e que as respostas dadas às pranchas puderam
esclarecer melhor a dinâmica desses problemas. Os autores admitem que publicaram o
teste com base numa amostra muito pequena devido à dificuldade de se organizar uma
investigação mais ampla, e evidenciam a necessidade de mais estudos que possam
contribuir com dados adicionais.
Na revisão de literatura, encontrou-se alguns estudos de normatização e validade do
CAT-A, como por exemplo, o estudo de Byrd e Whitherspoon (1954 conforme citados por
Tardivo, 1992) com crianças de idade pré-escolar. Esses autores buscaram verificar a
correlação entre a produção dessas crianças e as áreas de conflito indicadas por Bellak e
Bellak encontrando, em geral, uma alta correlação.
Boulanger-Beleyguier (1957) verificou como se dava a percepção em crianças
relacionando com a idade. Foram participantes 105 crianças de ambos os sexos com idades
entre 3 e 8 anos. Esse estudo teve como foco os aspectos estruturais e perceptivos do teste
que buscou distinguir a incidência do estímulo e da personalidade na percepção dos
sujeitos. Considerou que com o aumento da idade o número de omissões diminui e que
estas se relacionam com os aspectos evolutivos e não com a índole do conflito, ou seja, as
adições e omissões têm relação com a idade da criança. Esse autor constatou que as
crianças de até 6 anos omitiram a galinha na prancha 1, o rato na prancha 3 e o canguru
pequeno na prancha 4. Nas pranchas 5 e 6 não observou referência a cena primária,
manipulação e exploração mútuas, e ainda na prancha 6 notou que um dos ursos era
frequentemente omitido, principalmente pelas meninas de todas as idades. Quanto a
prancha 9 ocorreu adições por crianças de todas as idades, talvez pelo fato da mesma
apresentar apenas um animal. O tema da toalete não apareceu com freqüência entre as
meninas, isto pode ser explicado, aqui, por uma limitação cultural da prova.
30
De acordo com esse autor, com o aumento da idade apareceria um maior número de
respostas populares. Constataram 8 respostas populares em todo o teste das crianças de 3
anos, sendo que aos 4, 7 e 15 anos esse número ficou entre 17 e 20. Concluiu que o grau de
socialização possibilita a construção de histórias tão semelhantes por crianças diferentes,
apresentando uma solução da problemática desencadeada pelos estímulos mais de acordo
com as normas estabelecidas. As adições são mais freqüentes nas idades extremas, mas por
causa de mecanismos diferentes. Os menores adicionam porque prestam pouca atenção aos
estímulos os quais muitas vezes são utilizados como distração. Enquanto os maiores
incluem outros personagens com o objetivo de enriquecer e tornar a história mais pessoal
ou artística.
Tardivo e Herzberg (1989) verificaram a percepção em crianças de 5 a 8 anos de ambos
os sexos e obtiveram resultados diferentes dos de Boulanger-Belleyguier (1957). Para esse
estudo selecionaram as pranchas 1, 2, 3, 5, 6 e 9 em função do tempo disponível para o
mesmo. Verificaram que na prancha 1 a galinha foi percebida com elevada freqüência por
todas as crianças, tanto aos 5 como aos 8 anos e o galo de forma mais reduzida. Os dados
indicaram que aos 5 anos 68% perceberam a galinha e 31% o galo; aos 8 anos 86% a
galinha e 12% o galo. Esse resultado contraria os achados de Boulanger-Belleyguier (1957)
que apontam a omissão da galinha por crianças de 5 anos. Quanto as distorções, quando
comparadas as percepções adequadas na fase de associação, as autoras observaram que
ocorreram mais em crianças de 8 anos do sexo masculino. Com relação ao percepto comida
esteve presente em mais de 80% dos sujeitos de todas as idades e sexos, confirmando que o
tema alimentação conforme apontado por Bellak e Bellak (1992) é referido pela maioria
das crianças. As adições de personagens não foram significativas nesse grupo de crianças.
Na prancha 2, a maior parte dos sujeitos com elevada freqüência os três ursos, sendo
que o urso que está é percebido por 98%, seguido do pequeno (93%). Na prancha 3, a
31
figura do leão é constatada por todas as crianças enquanto o rato é visto com mais
freqüência aos 5 anos. Tal dado contraria os achados da pesquisa anterior que encontrou
omissão do rato aos 5 anos. Na prancha 5 houve elevada percepção de um urso em todas as
crianças. Já os dois ursos são vistos com maior freqüência aos 8 anos, enquanto os meninos
de 5 anos apresentaram maior distorção da percepção dos dois ursos. O berço foi percebido
com mais freqüência do que a cama do casal. Quanto a prancha 6 o urso menor foi
verificado por quase todos os sujeitos, este é mais distorcido pelas crianças de 5 anos e o
urso adulto é visto com maior freqüência do que os dois por crianças de 8 anos. Esses
resultados também contrariam os de Boulanger-Belleyguier (1957) que encontrou um
número maior de omissões do urso grande. Finalmente na prancha 9 a figura do coelho é
percebida pela maioria e o número de distorções aumentou com a idade. As crianças de 5
anos apresentaram mais adições do que na prancha anterior.
Rosenblatt (1958) verificou que com o aumento da idade as histórias evoluíam de uma
simples enumeração, maior apego ao estímulo até uma interpretação mais subjetiva do
estímulo. Participaram dessa pesquisa 400 crianças com idades de 6 a 10 anos, de ambos os
sexos. Observou que aos 6 anos as histórias são curtas, com conteúdo limitado e com
bastante ênfase na descrição. Essas crianças indicaram poucas necessidades, emoções e
apresentaram finais vagos ou ausentes. Já nos relatos das crianças de 7 anos verificou uma
maior interação entre os personagens com adição de figuras, geralmente persecutórias.
Construíram histórias mais longas com finais mais claros e realistas.
As crianças de 8 anos usaram a fantasia mais livremente o que possibilitou um conteúdo
mais rico e variado. As histórias foram mais longas e os finais muito elaborados. as de 9
e 10 anos elaboraram histórias mais constritas e com um maior grau de esteriotipia, sendo
novamente mais curtas e os personagens mais especificados e individualizados. Apareceu a
preocupação a respeito da moralidade, a culpa e a fantasia agressiva estavam latentes.
32
Na seqüência, Rosenblatt (1958) pontua que no geral as histórias das crianças maiores
apresentavam um maior número de atividades cooperativas, sentimentos de independência
por parte do personagem infantil, assim como finais mais definidos. Quanto as diferenças
na produção em relação ao sexo, verificou que as meninas geralmente produzem histórias
mais longas e com final feliz. Atribuem qualidades pessoais, dão nomes próprios aos
personagens e mesmo aos animais mais selvagens se preocupam em dar-lhes uma casa,
uma família. os meninos produzem histórias com personagens mais independentes, com
ações mais violentas. Adicionam geralmente animais selvagens e o-lhes o habitat
adequado e não os personificam.
Vale destacar a relevância desses estudos, para esta pesquisa, que avaliaram a
percepção dos estímulos, a qualidade e a forma da produção das histórias em crianças
relacionando com a idade. Eles mostraram que é possível, por meio da análise estrutural da
história, utilizar o CAT-A para verificar o desenvolvimento cognitivo.
Com o propósito de fazer um levantamento, Hirsch (1984) descreve vários estudos que
objetivaram verificar a validade e a normatização do CAT-A. Expõe as pesquisas de
Haworth (1966) que publicou por volta de 100 trabalhos até essa data. No entanto, a autora
esclarece que muitas pesquisas se baseiam numa amostra pequena e não explicam quais as
provas estatísticas que utilizaram para a análise dos resultados.
Essa mesma autora, dando seqüência a sua pesquisa na literatura, menciona um estudo
que procurou comparar o CAT-A com uma avaliação sociométrica, tendo como objetivo
verificar se havia diferenças significativas entre a produção de crianças consideradas
populares pelo grupo “estrelas” - e a aquelas mais afastadas “solitárias” - ou seja,
crianças que não eram eleitas nem rejeitadas. Utilizou-se alunos do 5º., 6º. e 7º. graus e
constataram que as crianças consideradas “estrelas” construíram histórias nas quais
apareceram impulso agressivo junto com uma forte necessidade de aquisição e conquista,
33
predominando relações interpessoais satisfatórias, enquanto no “solitários” os relatos eram
muito breves, com conteúdo escasso, com elevado grau de ansiedade e sentimentos hostis
para com as figuras parentais que eram vividas como persecutórias e extremamente
punitivas (Lumkin, 1962, conforme citado por Hirsch, 1984).
Estudos comparando as duas versões do CAT, forma Animal e Humana, com o objetivo
de verificar qual das duas possibilita uma melhor avaliação da personalidade de crianças,
foram realizados por Lawton (1966) que aplicou o CAT-A (forma Animal) e o CAT-H
(forma Humana) em 24 alunos de jardim de infância e 28 do 2º. grau, constatando que as
duas formas eliciaram, na maioria dos casos, os mesmos mecanismos de defesa e as
diferenças não foram significativas. O estudo de Neuringer e Livesay (1970), com
propósito semelhante, buscou avaliar a produção de 30 crianças com ansiedade leve,
moderada e alta, observando que não houve diferença significativa quando compararam os
níveis de ansiedade com a produção das crianças no CAT-A e no CAT-H, concluindo que
as duas técnicas são equivalentes. Tal achado é uma raridade na área de instrumentos
projetivos, o que deve ser considerado positivo, pois mesmo que os resultados não
indicaram diferenças significativas, as formas dos testes são diferentes, o que possibilita ao
profissional escolher entre uma e outra que julgar mais adequada no uso particular de um
caso.
Seguindo uma direção semelhante dos estudos supracitados, encontra-se no Brasil a
pesquisa de Jacquemin e Martins (1976) que verificaram se o CAT-H pode ser considerado
uma forma paralela do CAT-A. Para isto, compararam essas duas formas do instrumento a
partir de análises qualitativas e quantitativas. Observaram que a forma humana do CAT, na
maioria dos casos, mostrou-se mais adequado para crianças de sete e oito anos, pois
favoreceu na formulação das histórias. Constataram ainda que o CAT-A facilita a projeção
de sentimentos negativos, o CAT-H a projeção de conteúdos relativos ao relacionamento
34
familiar. Concluíram que, tanto o CAT-A, como o CAT-H são semelhantes quanto aos
temas, motivações e identificações. Constataram que as poucas diferenças são resultados
das variações dos estímulos nas duas formas.
No que concerne à investigação de crianças com problemas emocionais e de conduta,
Souza (1952, conforme citado por Tardivo, 1992) comparou o grupo de alunos adaptados à
situação escolar com o de crianças que apresentavam problemas de conduta. Verificou-se
que o segundo grupo se identificava com figuras que se mostravam inferiores ou rejeitadas
e o meio ambiente era descrito nas histórias como frustrante e agressivo. Constatou-se que
as crianças mais perturbadas apresentavam mais adições, especialmente de situações de
castigo, violência e acidentes. Os finais dos relatos, em geral eram mais negativos, o herói
se mostrava na defensiva frente a um mundo caracterizado pela falta de afeto e compaixão.
Quanto ao primeiro grupo demonstrou identificações com figuras valorizadas e as histórias,
em geral, apresentavam um desfecho positivo.
Com relação o desempenho no CAT de crianças com problemas de conduta, Grassano
(1996) realizou estudos classificando-as de acordo com traços indicativos de fobia, histeria,
obsessão, impulsiva e tendências psicopática, depressivas, psicóticas (esquizofrênicas).
Cabe destacar, que na literatura pesquisada, não há referência a nenhum tipo de tratamento
estatístico dos dados que pudesse conferir uma maior confiabilidade aos resultados
relativos ao grupo.
Inicialmente, Grassano (1996) descreve os resultados de crianças com traços fóbicos,
evidenciando ansiedade exacerbada que determina um rendimento produtivo ou
improdutivo diante dos estímulos. O personagem infantil foge de situações de perigo por
medo. Observou que adições de personagens bons, presentes, mas não na percepção da
prancha, na história. Quando predomina defesas contrafóbicas a criança ressalta as
35
qualidades do personagem infantil descrevendo-o mais inteligente, esperto, corajoso e
capaz de enfrentar os perigos externos.
Quanto as que apresentam características de histeria, a autora supracitada, encontrou
dados que mostram que a percepção da prancha fica influenciada pela repressão das
situações que se relacionam aos conflitos sexuais, ciúmes e ansiedades inerentes a estes,
necessitando ser negados e omitidos. Os relatos são sucintos apresentando omissões,
bloqueio da fantasia e falta de associação. Entretanto as histórias indicam discriminação de
passado, presente e futuro e o personagem infantil é descrito como ingênuo, bom,
obediente, aceitando as determinações impostas pelos adultos.
Os indivíduos com traços obsessivos, observou-se que a produção no CAT é assinalada
por defesas, especialmente de controle das emoções. Dessa forma, existe uma preocupação
em perceber a realidade externa de maneira mais objetiva e excessivo detalhismo.
Geralmente as crianças obsessivas descrevem os personagens infantis, solitários, isolados,
indecisos e cheios de dúvidas (Grassano, 1996).
No que se refere ao desempenho de crianças com traços impulsivos e tendências
psicóticas, a autora supracitada verificou que apresentam um curso associativo rápido, com
dificuldade para analisar a prancha, conteúdo pobre e pouca possibilidade criativa. O
personagem infantil apresenta características de poder e violência ao objeto temido. O
personagem se transforma no poderoso agressor que engana, ataca, mata, rouba, ou devora.
Quanto às crianças com características depressivas, indicam uma produção pobre, com
histórias curtas e bloqueadas. Não desenvolvem o conflito e detêm-se na necessidade
passado e presente, faltando a perspectiva de futuro. Quando esta utiliza defesas maníacas,
verifica-se que dão respostas rápidas ao estímulo, um número alto de associações e com
ritmo acelerado.
36
Na pesquisa, Grassano (1996) diferencia a produção de crianças psicóticas
(esquizofrênicas) daquelas que apresentam características esquizóides, de nível neurótico.
Nas esquizóides verificou-se riqueza de imaginação com expressão das fantasias. A
percepção, a descrição e definição do estímulo são adequadas. Os personagens são descritos
com pouca atividade lúdica e motora. Por conta do distanciamento afetivo a percepção do
clima emocional é baixa. Compreende as instruções e geralmente elaboram histórias
completas e com imaginação. As crianças esquizofrênicas indicam percepções distorcidas,
muitas adições e negação perceptual. A narração contem fabulações e contaminações na
mesma prancha ou entre pranchas, palavras sem sentido, incompreensíveis. Indicam ainda,
falta de adequação da histórias com os estímulos, elaboram histórias vagas e confusas. Os
personagens pequenos são atacados, mortos, devorados, protegidos por personagens
descritos como monstruosos (bichos, animais ferozes, devoradores, sanguinários,
fantasmas) e com grande poder. Na tentativa de controlar sua preocupação a criança usa
defesas de tipo obsessivo, contando os objetos da prancha, descrevendo cada parte dos
componentes do estímulo, seguindo um ritual.
Teglasi (2001) sistematizou para o TAT categorias de indicadores para avaliar a
cognição de crianças e adolescentes. Para tanto, considerou três dimensões cognitivas:
integração perceptual, pensamento concreto e abstrato, processamento da informação, que
segundo o autor, estão envolvidas na tarefa de narração a partir de estímulos. Esse autor,
além de aplicar o TAT, utilizou o WISC III em alguns sujeitos, mas não apresentou
estudo estatístico dos dados, assim como não relacionou os dados dos instrumentos.
Conclui que é possível por meio da narração verificar o nível de cognição, pois essa tarefa
revela aspectos do pensamento, as estratégias cognitivas e as diferentes competências que o
indivíduo utiliza ao elaborar a história. Constatou ainda, que nem sempre os resultados das
técnicas projetivas são corroborados por testes mais objetivos de avaliação da inteligência.
37
Objetivando elaborar uma sistematização da interpretação da resposta ao CAT-A, a
partir do esquema de interpretação de Bellak e Bellak (1954), da proposta de Haworth
(1962) e Shentoub (1969) para o TAT, Montagna (1987) discutiu os pontos de aproximação
e complementação dos aspectos que abrangem tanto a análise do conteúdo quanto a análise
formal da interpretação da resposta. A autora constatou a viabilidade dessa proposta, na
qual elaborou categorias de interpretação a partir do que esses autores postulam, por meio
de um estudo de caso clínico.
Uma pesquisa com 30 sujeitos paulistanos, do sexo masculino, primogênitos, na faixa
etária de 4 a 6 anos, utilizou o CAT-A e os dados de entrevistas com os pais para verificar
as relações de interferência da família nas condições psíquicas de irmãos em rivalidade.
Percebeu-se que os dados fornecidos pelos pais comparados ao resultado do teste
possibilitaram uma visão mais clara da percepção dos pais com relação aos filhos e dos
filhos com relação aos pais (Rocha, 1989).
Com o propósito de estabelecer normas para o CAT-A e o Teste das Fábulas de Düss,
tendo como parâmetro a população de São Paulo, Tardivo (1992) verificou como
respondem a essas técnicas crianças ditas “normais”, observando como são suas histórias,
desde temas escolhidos, até as categorias de conteúdo que surgem com mais freqüência,
além de comparar esses dados com a idade e o sexo. Participaram dessa pesquisa 128
crianças de 5 a 8 anos, sendo que 26 foram selecionadas para a pesquisa piloto, a partir da
qual foram elaboradas as categorias para interpretação das técnicas. Outro objetivo foi de
buscar evidência de validade por meio da correlação dos resultados das duas técnicas,
comparando-as ainda com os resultados de outro estudo que realizou com o procedimento
de Desenhos-Estórias (D-E).
Na discussão dos resultados essa autora comparou os mesmos para verificar diferenças
e semelhanças no desempenho de crianças “normais” nas três técnicas projetivas,
38
procurando abordar aspectos da dinâmica da personalidade dos sujeitos revelados pelos três
instrumentos. Concluiu o estudo enfocando que em alguns aspectos as três técnicas
coincidem, em outros se complementam e em alguns se opõem, mas que de maneira geral
encontrou coerência entre os resultados obtidos nos três instrumentos. Verificou-se que no
CAT surge mais material latente assim como no D-E, enquanto no teste de Düss são mais
presentes aspectos manifestos e conscientes.
Os dados obtidos na análise dos aspectos formais ou estruturais indicam que no item
tempo total das histórias ficou entre 4 e 7 minutos. O menor tempo, em geral, foi
observado nas histórias das primeiras pranchas. Com relação às diferenças encontradas
entre o tempo de produção dos meninos e das meninas, o que ficou evidente foi o fato das
meninas apresentarem sempre um tempo total superior ao dos meninos, em todas as
pranchas. Quanto ao tempo de reação a média foi de 6,22 segundos entre os meninos de 5
anos e o máximo de 18,76 segundos entre os meninos de 8 anos. As meninas mostraram
precisar de um tempo maior para iniciar a sua história. No que se refere ao Decurso da ação
na história ficou evidente a maior incidência do tempo presente em todas as histórias de
todos os sujeitos. Em seguida o futuro e por último o passado. Esse último apareceu mais
entre as crianças mais velhas. Pode-se supor que o uso do passado implica uma maior
elaboração, que ocorre entre as crianças mais velhas, sendo que as menores são mais
imediatistas e impulsivas.
No que tange ao uso da lógica observou-se que a avaliação (bom) predominou entre as
crianças mais velhas em ambos os sexos. No geral predominaram as categorias (bom e
regular) sobre a avaliação (mau). Essa última apareceu mais entre as crianças menores.
Entre as meninas a avaliação (bom) predominou sobre as demais. Quanto a variável uso da
linguagem houve um predomínio da avaliação boa, seguida da regular e muito pouca a
avaliação mau. Sendo assim, constatou-se o uso adequado da linguagem na maioria dos
39
participantes. No último item formal quantidade de palavras utilizadas, o número médio de
palavras sem contar com as do inquérito, foi de no mínimo 49 palavras entre os meninos de
5 anos e de 113 entre as meninas de 7 anos. Incluindo as palavras adicionadas no inquérito,
esse número aumenta o mínimo para 60 e o máximo para 139. Esse grupo de crianças que
obtiveram um maior número de palavras apresentou em outros indicadores respostas com
conteúdos problemáticos. Pode-se concluir que puderam expressar mais deixando
transparecer as dificuldades internas e externas.
Com o objetivo de estudar os aspectos afetivos e cognitivos envolvidos nos diferentes
modos de reconstituição da história do Chapeuzinho Vermelho, por crianças, Souza (1999)
verificou as influências do nível operatório, os aspectos afetivos e as diferenças entre sexo
nessa reconstituição, por meio do CAT-A, o Método de Rorschach e as Provas Operatórias
de Piaget. Participaram 30 crianças, divididas por idades e sexo (9, 10 e 11 anos) de uma
escola particular da cidade de São Paulo. Constatou-se três níveis de reconstituição da
história: nível I-reconstituição fantasiosa, nível II-reconstituição concreta e nível III-
reconstituição interpretativa, os quais foram associados as características principais dos
períodos pré-operatório, operatório-concreto e operatório-formal, respectivamente. Os
resultados indicaram que a maioria dos sujeitos foi classificada no nível II de reconstituição
do conto, confirmando a hipótese sobre a influência do nível operatório no tipo de
reconstituição da história, pois a maioria classificou-se no nível II (intermediário) ou no
nível III (conservador) para a prova de Conservação de Peso. Observou-se ainda, que os
aspectos afetivos influenciam no tipo de reconstituição da história. Quanto ao sexo
verificou diferenças no tipo de reconstituição realizada pelos meninos (nível II) em relação
as meninas(nível III), o que pode ter sido influenciado pela característica da heroína do
conto.
40
Fundamentada num enfoque clínico que tem como parâmetro o sujeito, seu contexto e
sua história pessoal, uma pesquisa objetivou analisar o conteúdo latente dos pesadelos e o
conteúdo de histórias infantis contadas no CAT, partindo do pressuposto que ambos são
determinados por uma dinâmica inconsciente. Para esse estudo de caso, utilizou-se também
os testes H.T.P., Desenho da Família e o Bender (Carotenuto, 2000).
Objetivando verificar se os instrumentos Desenho da Figura Humana (DFH) e o Teste
de Apercepção Infantil (CAT-A) são sensíveis na identificação de crianças que sofreram
abuso sexual e, ainda, se estes instrumentos diferenciam o grupo de crianças abusadas do
grupo de crianças que não sofreram abuso sexual. Para tanto, participaram do estudo 30
crianças de ambos os sexos, com a idade entre 6 e 10 anos em dois grupos distintos. Um
grupo de 15 crianças que apresentavam histórico de violência sexual e o outro grupo foi
constituído por 15 crianças de uma Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino
Fundamental, que não tinham este histórico. Constatou-se que os dois instrumentos foram
sensíveis e conseguiram discriminar o grupo de pesquisa do grupo de controle e detectar
situações de abuso sexual no grupo de pesquisa. A autora concluiu que evidência de
validade concorrente entre os dois instrumentos, apesar do número pequeno de
participantes (Fonseca, 2005).
Benczik (2005) verificou se o CAT-A é sensível para diferenciar meninos com e sem
TDAH. Participaram desse estudo 40 crianças do sexo masculino que foram divididas em
dois grupos: grupo I foi composto por 20 meninos com TDAH com idades entre 5 e 11
anos, freqüentando desde a pré-escola até a 6
a
. série, de escolas particulares e municipais de
quatro cidades do interior de São Paulo. O grupo II foi composto por 20 meninos sem
TDAH entre 5 a 11 anos de idade, freqüentando desde a pré-escola até a 6
a
. série, de cinco
escolas particulares e municipais de duas cidades do interior de São Paulo. Para essa
pesquisa a autora destacou e adaptou categorias de indicadores do CAT-A que pudessem
41
discriminar os dois grupos, a partir da avaliação sugerida por Tardivo (1992). Os resultados
indicaram além de evidência de validade, precisão entre avaliadores.
Cunha (2005) observou as relações entre as dificuldades de aprendizagem na escrita
com o nível intelectual, criatividade e o maturacional de crianças de . série do ensino
fundamental. Para tanto, utilizou-se a Escala de Avaliação na Aprendizagem na Escrita
(ADAPE), a prova de conservação de comprimento, a prova de posições possíveis dos
dados sobre um suporte e o CAT-H. Participaram dessa pesquisa 40 crianças, de ambos os
sexos, de duas escolas da rede pública de ensino da cidade de Uberlândia / MG. Os
resultados indicam que houve uma correlação positiva e significativa entre as variáveis
conservação de comprimento e criatividade. Com relação as escolas, observou-se que
localizada na região mais central obteve diferenças significantes entre as variáveis erros do
ditado e conservação de comprimento. Quanto a variável maturidade emocional, não
constatou dados correlacionais significantes com os erros no ditado, o nível de criatividade
bem como a operatoriedade. Isso pode ser explicado pela maioria dos sujeitos encontrar-se
num nível de maturidade dentro do esperado para sua faixa etária.
Com o propósito de buscar evidência de validade entre as categorias de indicadores de
auto-estima destacadas para o CAT A e os itens do H.T.P, correlacionou os dados destes
instrumentos com a escala de auto-relato, EMAE Forma A destinada a verificar a auto-
estima. Participaram desse estudo 32 crianças, entre 7 e 10 anos, de ambos os sexos,
freqüentando de 2ª. a 4ª. série do ensino fundamental de uma escola da rede pública da
cidade do interior do Estado de São Paulo. A coleta de dados do CAT ocorreu
individualmente enquanto que do EMAE e HTP em duplas, em duas sessões. Os dados
demonstraram que as categorias de indicadores destacadas para verificar o nível da auto-
estima no CAT-A, apresentaram boa precisão pelo sistema de avaliadores, indicando que
são confiáveis para avaliar os níveis de auto-estima. Do mesmo modo os índices de
42
correlação entre instrumentos permitiram encontrar evidência de validade para o CAT-A e
HTP (Silva & Villemor-Amaral, 2006).
Objetivando verificar o grau de concordância entre avaliadores independentes
destacaram categorias de indicadores relativos ao tipo de relação com a figura materna a
serem analisados a partir de critérios previamente estabelecidos por Tardivo (1992),
visando melhor confiabilidade dos resultados obtidos com CAT-A. Participaram dessa
pesquisa duas juízas que analisaram 31 protocolos. As avaliadoras eram psicólogas
clínicas, com conhecimentos da teoria psicanalítica e bastante prática com a técnica em
estudo. Formadas mais de 10 anos, tinham experiência no atendimento psicológico em
psicodiagnóstico e psicoterapia. Fizeram as análises independentes e às cegas quanto ao
objetivo dessa pesquisa. Verificou-se a fidedignidade das avaliadoras pela pontuação dos
protocolos do teste nos indicadores selecionados. Desta forma, o escore obtido por todos os
sujeitos testados, a partir da análise das duas avaliadoras, possibilitou estimar a precisão por
meio de correlação de coincidências. Verificou-se que os índices apresentados pelo Kappa,
para maioria dos indicadores de relação materna, podem ser considerados satisfatórios.
Desse modo, constatou-se que a possibilidade de desenvolvimento de um sistema de análise
com critérios ainda mais claramente definidos e detalhados permitirá que análises feitas por
vários profissionais experientes permitam atingir conclusões bastante semelhantes,
evitando-se com isso a interferência excessiva da subjetividade do avaliador na
interpretação dos resultados, ponto central dos questionamentos sobre a validade das
técnicas projetivas (Villemor-Amaral & Xavier, 2007).
Vale destacar que na pesquisa descrita anteriormente (Silva & Villemor-Amaral, 2006)
construiu-se um sistema de classificação das respostas, com critérios bem definidos de
análise dos resultados. Esse sistema diminuiu as possibilidades de variações nas conclusões
43
dos profissionais, permitindo confiabilidade, uniformidade nos resultados e precisão entre
avaliadores.
Como se pode constar, no Brasil, alguns autores fizeram estudos de evidências de
validade correlacionando o CAT-A com outras variáveis. A maioria deles procurou criar
um referencial de análise para o CAT-A. Dentre eles Tardivo (1992) buscou, além de
elaborar categorias de interpretação normatizadas, verificar evidência de validade das
mesmas, comparando-as com os resultados de outros testes projetivos. Fonseca (2005)
elaborou um referencial de análise para o CAT e o DFH (Desenho da Figura Humana) que
pudesse discriminar um grupo de crianças com histórico de abuso sexual do grupo sem esse
histórico e constatou evidências de validade com outras variáveis. Benczik (2005) destacou
e adaptou categorias de indicadores do CAT-A com o propósito de discriminar o grupo de
crianças com diagnóstico de TDAH do grupo de crianças sem TDAH, a partir da avaliação
sugerida por Tardivo (1992). Os resultados indicaram além de evidência de validade,
precisão entre avaliadores. A pesquisa de Silva e Villemor-Amaral (2006) elaborou
categorias de indicadores de auto-estima, com critérios bem definidos, a serem verificadas
no CAT-A. Os resultados apontaram evidência de validade e precisão entre avaliadores. O
estudo de Villemor-Amaral e Xavier (2007) destacou indicadores relativos a relação
materna, a partir do referencial de análise de Tardivo (1992) e evidenciou concordância
satisfatória entre avaliadores para a maioria dos indicadores. Portanto, vale ressaltar a
importância dessas pesquisas que elaboraram um esquema de interpretação, sendo que uma
delas criou categorias amplas o suficiente para agrupar um número grande de interpretações
e ao mesmo tempo que fossem específicas e claras. As outras elaboraram ou adaptaram
categorias de indicadores para avaliar um aspecto da personalidade a ser verificado no
CAT, com crianças do Estado de São Paulo.
44
A partir desse levantamento, confirmou-se que é imprescindível a continuidade de
pesquisas de evidência de validade para o CAT-A que, neste estudo, será correlacionado
com o Método Rorschach e com os resultados do Desenho da Figura Humana Escala
Sisto (DFH-Escala-Sisto) que será utilizado para separar os grupos extremos. A seguir
serão apresentadas as características gerais do Método Rorschach, assim como a
interpretação de alguns indicadores da Tríade Cognitiva, os estudos no Brasil que
conferiram evidência de validade ao instrumento.
1.3 O Método de Rorschach
O médico suíço Herman Rorschach, especialista em Psiquiatria na cidade de Zurique,
criou o método de Rorschach. Em 1918 elaborou as pranchas do instrumento, que
resultaram num total de dez e continuou trabalhando nas aplicações e na fundamentação
teórica do instrumento até 1920. Apesar de -lo concluído nesse ano, este foi publicado
em 1921 com o titulo de Psychodiagnostik. Denominou este método de Teste de
Interpretação de Formas”. Após algumas alterações, o nomeou de Teste ou Método de
Rorschach. Ele faleceu em 1922, interrompendo os estudos do seu instrumento (Anzieu,
1981).
O Método de Rorschach é um instrumento que analisa aspectos subjetivos, mas é
composto por uma atividade que envolve solução de problemas e permite uma exploração
objetiva do estilo de estruturação cognitiva. Esta abrange estímulos uniformes, aplicação
padronizada, codificação formal e diretrizes interpretativas específicas. Embora as
respostas do instrumento não possam ser classificadas como certo ou errado, elas podem ser
codificadas de maneira precisa e objetiva (Rorschach, 1921/1942 conforme citado por
45
Weiner, 2000; Exner & Sendín, 1999). De acordo com Weiner (2000), este método é
considerado subjetivo, pois a realização da tarefa servirá como um desencadeador da
fantasia. Assim, as produções de fantasia fornecerão informações relevantes e importantes
referentes ao sujeito, independente da característica objetiva do estímulo, da forma de
aplicação ou da estruturação cognitiva do sujeito. Dessa forma, essa técnica possibilita uma
avaliação objetiva e subjetiva dos dados coletadas, possibilitando, também, investigar tanto
a estrutura como a dinâmica da personalidade.
É importante destacar que alguns aspectos do comportamento do sujeito manifestos
durante a aplicação e as respostas idiográficas que o puderam ser codificadas a partir do
conjunto das generalizações, podem ser consideradas, pois fornecem indicadores
qualitativos acerca do funcionamento da personalidade do indivíduo (Exner & Sendín,
1999). Diante disso, esse método quando utilizado em conjunto com outros instrumentos
que investigam a personalidade, fornece dados que identificam diversos aspectos da
dinâmica e estrutura da personalidade do indivíduo (Weiner, 2000). De acordo com esse
autor o Rorschach pode ser interpretado de diferentes maneiras, conforme a abordagem
teórica que o avaliador faz uso, porém, todas devem convergir sempre para um mesmo
resultado.
Para a realização desta pesquisa, no Rorschach será priorizado os aspectos mais
objetivos da análise das informações, enfocando-se a abordagem quantitativa de
determinados indicadores da Tríade Cognitiva. A abordagem adotada é o Sistema
Compreensivo para a codificação, interpretação e análise dos resultados.
46
1.3.1 Sistema Compreensivo (SC)
O Sistema Compreensivo (SC) foi desenvolvido por John Exner Jr. na década de 70,
nos Estados Unidos. A proposta inicial não era criar mais um sistema de classificação e
sim unificar as contribuições dos principais estudiosos do método, na época (Villemor-
Amaral, Silva Neto & Nascimento, 2003). Esse sistema está fundamentado em três pilares
que consistem na padronização da aplicação, na codificação objetiva e precisa e em uma
base de dados normativos. Tais características permitem aos profissionais que utilizam esse
sistema, maior segurança ao ponderar sobre suas conclusões clínicas, assim como precisão
nas informações resultantes da conclusão das análises. Para relatar os dados resultantes da
codificação utiliza-se o Sumário Estrutural, que permite uma organização criteriosa,
facilitando a análise das informações contidas nos protocolos o que permite atribuir valor as
inferências empiricamente registradas. Quanto à codificação cada resposta recebe uma série
de códigos que possibilita a análise dos resultados.
A primeira e menos complexa é a Localização da resposta, que se refere à parte da
mancha em que a resposta foi visualizada. Os códigos utilizados são: W para resposta
Global; D para resposta de Detalhe Comum; Dd para resposta de detalhe incomum e S é
incluído no código de localização sempre que uma área de espaço em branco for utilizada.
Para verificar a qualidade do processamento envolvido ao formular a resposta, acrescenta-
se o código de Qualidade Evolutiva DQ que compreende símbolos e critérios, a saber,
DQ+, que representa resposta sintetizada; DQo, indica reposta ordinária; DQv/+, refere-se
a resposta sintetizada e DQv, representa resposta vaga (Exner, 1999).
A codificação dos Determinantes é uma tarefa mais complexa, pois exige que o
examinador considere todas as possibilidades que contribuem para que a mancha se pareça
47
com aquilo o indivíduo visualizou. Sendo assim, os determinantes referem-se às
características na mancha que faz com que o sujeito atribua à prancha uma determinada
resposta. Os Determinantes se dividem em sete categorias e refletem aspectos do processo
cognitivo envolvido na resposta (Exner e Sendín, 1999). O determinante Forma (F) indica
as respostas dadas ao estímulo baseadas apenas nas características formais da mancha. O de
Movimento (M) refere-se às respostas em que atribuem movimento ao conteúdo, sejam eles
ativos ou passivos, como por exemplo, um menino andando de bicicleta. Os códigos de
Movimento estão divididos em três categorias M, FM, m, englobando movimento humano
(duas crianças se abraçando), animal (um lobo subindo a montanha) ou movimento
inanimado (a folha caindo).
A categoria de determinantes Cor Cromática foi dividida em quatro variáveis C, CF,
FC, Cn, atribuídas as respostas em que há a inclusão da cor independente do predomínio ou
não da forma. A categoria Cor Acromática é utilizada para as respostas que se pautaram
nas características de cinza, preto e branco, envolvendo os aspectos formais ou não da
mancha. Esta categoria foi dividida em três itens e os códigos são C’, C’F, FC’.
Os determinantes de sombreado tem três subcategorias e cada uma com três símbolos
para determinar os diferentes usos do sombreado. O determinante Textura é usado para as
respostas nas quais os sombreados são percebidos de forma a representar um fenômeno tátil
e seus códigos são: T, TF, FT. O determinante Perspectiva ou Profundidade abrangem os
códigos V, VF e FV. Utiliza-se esses códigos para respostas que se basearam nas
caracterizadas do sombreado para atribuir profundidade ou dimensionalidade ao objeto
visualizado, sem forma definida ou envolvendo a forma como secundária ou primária. O
Sombreado Difuso é usado para respostas baseadas nas características de claro-escuro da
mancha, que não envolvem textura e dimensão, sendo seus códigos: Y, YF e FY. O
determinante Forma Dimensão FD é atribuído para respostas que abrangem profundidade,
48
distância ou dimensão não relacionados com o sombreado, mas baseada na forma, ou seja,
usa-se para as respostas em que a impressão de dimensionalidade é baseada no tamanho ou
no contorno da mancha na prancha (Exner, 1999).
A categoria Pares (2) e Reflexos, cada um desses determinantes representa uma
resposta na qual a simetria da mancha foi usada para especificar dois objetos idênticos. A
codificação dos reflexos que são: rF e Fr a simetria também deve estar envolvida e os
objetos devem ser idênticos, mas a resposta inclue um reflexo como sendo uma imagem em
espelho. O primeiro código não requer forma específica, o segundo, requer. Quando um
determinante reflexo for classificado, um par não é assinalado.
Determinantes Mistos (BLEND) envolvem vários determinantes combinados e estão
presentes quando ao menos uma resposta apresenta mais de um determinante. Os BLENDs
devem ser codificados na seqüência em que os determinantes foram aparecendo na
resposta.
A Qualidade Formal FQ é uma característica importante do processo de codificação e
traz informações relevantes sobre o grau de ajuste perceptivo do indivíduo, ou seja, indica
quanta percepção incomum ou inadequada pode ocorrer, sem que isso esteja diretamente
relacionado a uma percepção inadequada da realidade. A qualidade formal é utilizada para
atribuir qualidade a percepção, isto é, se a área da mancha corresponde com a forma do
objeto descrito. Sendo assim, sempre que, direta ou indiretamente, a forma for utilizada,
um código de qualidade formal será empregado (Weiner, 2000). Para essa codificação,
utiliza-se quatro códigos, sendo que dois indicam respostas boas em ajuste formal, quais
sejam: + (Superior) e o (ordinária), a diferença entre eles consiste no detalhamento
articulado da forma que é dado na resposta, assim, a qualidade formal + sugere mais
detalhe especificado. O código u é atribuído as respostas incomuns, mas que podem ser
49
facilmente vista pelo observador. Verifica-se que o os contornos da mancha envolvidos não
foram violadas significativamente, no entanto, o conteúdo utilizado para aquela área refere-
se a uma freqüência baixa mencionada pelos sujeitos de pesquisa. O código é utilizado
na resposta na qual se constatou o uso da forma inadequado ou distorcido e há uma
desconsideração dos contornos da área usada.
A codificação do conteúdo das respostas consiste em algumas abreviações em inglês
para a categoria à qual o objeto em questão pertence. Consiste numa tarefa simples,
objetiva e menos complexa. Dessa forma, o código H indica o conteúdo humano, respostas
relativas à figura humana inteira; (H) representa figura pára humana inteira, de ficção ou
mitológica, como bruxas, anões e palhaços; Hd refere-se a forma humana incompleta,
partes da figura humana, assim braço de pessoa é codificado com Hd, da mesma forma
(Hd) é empregado para figuras pára- humanas incompletas. Ainda relacionado aos
conteúdos humanos, o Hx é utilizado quando a resposta faz referencia à experiências
humanas como felicidade e ódio. Quanto aos conteúdos animais adota-se a mesma lógica
do conteúdo humano, explicitado acima, respeitando a seqüência: A; (A); Ad e (Ad). O
código An é assinalado nas respostas em que o conteúdo anatômico é mencionado e se
diferencia do Sx. O primeiro refere-se a parte interna do organismo seja humano ou animal,
por exemplo, útero, estrutura óssea, muscular e, o segundo, à parte externa, como nádegas,
seios. O código Xy refere-se a conteúdos de Raios-X e pode incluir partes do esqueleto ou
órgãos. É importante assinalar que resposta que faz menção a conteúdo anatômico não pode
receber o código An, se for mencionado conteúdos de Raios-X, como por exemplo, a
radiografia de um coração, nesse caso, apenas o código Xy pode ser atribuído. Bl é usado
para perceptos de sangue tanto humano quanto animal; Cg é empregado para qualquer
artigo de vestimenta e Fd para tudo que é comestível para seres humanos e animais.
50
Quanto às respostas que envolvem perceptos de pinturas, ilustrações ou desenhos, o
código Art é empregado. Para respostas com conotação cultural ou histórica como capacete
romano ou cocar de índio, utiliza-se o código Ay. As respostas cujos conteúdos se
relacionam à natureza ou topografia atribuem-se os códigos Bt para conteúdos de vida
vegetal como árvores, folhas e plantas. Estes se diferem de Na que, por sua vez, se
relacionam a uma grande diversidade de conteúdos do meio ambiente como água, mar e
sol.
Considerando ainda os aspectos naturais, existe o código para paisagem Ls, que se
diferencia dos dois últimos supracitados, pois envolve perceptos de paisagem como
montanha, ilha recifes de corais, pântano. O código Cl é utilizado apenas para o conteúdo
nuvem, suas variações como neblina devem ser classificados como Na. As respostas
referentes à perceptos de mapa ou que envolvem à geografia aplica-se o código Ge. Para as
respostas que tem o conteúdo fogo ou fumaça utiliza-se Fi e para explosão Ex. As que
envolvem perceptos que são produtos da ciência ou associados mesma e à ficção têm o
símbolo Sc como código. Embora exista várias possibilidades de codificações para os
conteúdos das respostas, às vezes, aparecem respostas cujo conteúdo é singular,
idiossincrático, nestes casos o código utilizado é Id.
As respostas populares referem-se a conteúdos atribuídos as pranchas, pela maioria dos
grupos de pessoas da pesquisa e, desta forma obtiveram uma alta freqüência estatística.
Assim, é identificada pelo código P e devem ser consultadas no Manual de Codificação
considerando a prancha, a localização e os critérios para cada uma delas. Outra importante
codificação refere-se à atividade organizativa, o código Z, a ele é atribuído um valor
numérico, que se refere ao número de vezes que o indivíduo uma pontuação Z. O
código analisado isoladamente não tem muito valor interpretativo dos dados, mas a sua
freqüência Zf e o total dos valores de Z que é representado pelo ZSum que é relevante.
51
Esses dois últimos fornecem informações relativas ao esforço do indivíduo em organizar os
campos de estímulo, que são desestruturados e ambíguos. Isto implica no interjogo entre
elementos cognitivos, afetivos e motivacionais. Assim, cada pontuação indica que o sujeito
organizou e atribuiu um sentido, ou seja, criou uma relação significativa entre os elementos
do estímulo.
A codificação da atividade organizativa pode ser de quatro formas, desde que o
indivíduo, em sua resposta inclua aspectos formais da mancha. Para resposta global utiliza-
se o ZW, exceto quando a qualidade evolutiva da resposta é v. O código ZA é empregado
quando em uma mesma resposta dois ou mais objetos separados são citados e foram
percebidos em áreas adjacentes da mancha em relação significativa. o ZD se diferencia
de ZA, no sentido de que os objetos visualizados na mancha, se encontram em áreas que
não se tocam, opostas. O ZS é atribuído para resposta em que integra o espaço em branco
com outras áreas da mancha.
Finalmente os Códigos Especiais (CE), estas variáveis indicam a presença de
características incomuns nas respostas. Embora essa codificação seja a etapa mais difícil,
ela é extremamente importante, pois é aqui que se pode quantificar várias características
das respostas que foram interpretadas qualitativamente. Sendo assim, os CE serão
destacados com maior atenção por suas características e também por serem relevantes nesta
pesquisa. Existe quatorze CE no SC, sendo que seis são relativos a Verbalizações Inusuais,
dois são atribuídos para Perseveração e Falha na Integração, quatro envolvem
Características Especiais de Conteúdo, um é utilizado para Respostas Personalizadas e um
para Fenômeno Especial de Cor e os Códigos Especiais Múltiplos.
As Verbalizações Inusuais fornecem informações referentes aos aspectos cognitivos do
sujeito, mais precisamente das suas “derrapadas” cognitivas. Desse modo, a desorganização
cognitiva manifesta-se verbalmente e pode ser evidenciada neste instrumento de três
52
formas, as Verbalizações Desviantes DV que se destacam pelo uso de neologismos e
redundâncias, além de respostas circunstanciais que incluem divagações e de frases
inadequadas (DR).
As Combinações Inadequadas refere-se a impressões e/ou idéias que não convergem
com os princípios de realidade, como por exemplo, um homem com cabeça de cavalo.
Assim relações irreais são inferidas entre imagens, objetos ou atividade atribuída ao objeto.
Tais combinações são subdivididas em: Combinação Incongruente INCOM, que é relativo
à condensação de detalhes da mancha que são inadequadamente combinadas em um único
objeto. A Combinação Fabulada FABCOM, envolvem uma relação implausível entre dois
ou mais objetos identificados na mancha e o último código de Combinações Inadequadas
CONTAM, diz respeito a duas ou mais impressões, numa mesma área da mancha, que
foram fusionadas numa única resposta de forma a violar a realidade, causando prejuízo na
adequação de cada uma das impressões. Para melhor compreensão disto cita-se como
exemplo a resposta o rosto de um inseto-boi(p.73), neste exemplo o indivíduo percebeu
o inseto e o rosto de um boi e une as idéias, fusionando-as em uma única resposta, o “rosto
de um inseto-boi”. O ALOG refere-se ao uso espontâneo do raciocínio forçado para
justificar a resposta. O indivíduo utiliza a lógica não convencional, representando uma
forma de pensamento frouxo e simplista.
É importante observar os casos em que as respostas são excessivamente generalizadas
que a partir de um detalhe da mancha abrange toda ela ou ainda redundantes. Isto pode
constituir uma forma de disfunção cognitiva ou uma sinalização de preocupação
psicológica e, conseqüentemente CEs são atribuídos. Quanto à perseveração PSV que se
refere a respostas consecutivas, deve-se observar se esta ocorre em um mesmo cartão, com
a mesma classificação: localização, DQ, determinantes, FQ e conteúdo Z. Já PSV mecânica
refere-se ao mesmo objeto nas pranchas e a perseveração do conteúdo geralmente não
53
ocorre no mesmo cartão, a pessoa identifica o objeto como sendo o mesmo visto
anteriormente, em outra prancha.
Vale destacar que algumas características das respostas são consideradas especiais e
que tendem a refletir aspectos cognitivos específicos ou projeções do Self. Sendo assim,
existem quatro códigos especiais relacionados a alguma característica do pensamento,
relações interpessoais e auto-imagem. Assim, o código AB é usado para duas classes de
respostas, quando o conteúdo das respostas faz referencia a experiências humanas,
registrando emoção ou experiência sensorial atribui-se Hx. As respostas M sem forma, tais
como: “Essa coisa toda representa depressão, é toda preta e sombria” (Exner, 1999, p. 77).
O código AB é adotado para conteúdo abstrato. Os códigos AB e Hx podem ser
empregados para uma mesma resposta que indica conteúdo relativo a emoção humana ou
experiência sensorial a objetos com forma definida. O movimento agressivo AG, é
empregado para todas as respostas de movimento (M, FM, m) que está ocorrendo a
agressão. O código COP é usado para todas as respostas de movimento que envolve dois ou
mais objetos numa relação positiva e cooperativa.. Com relação, ainda, as características
especiais atribuídas aos conteúdos, o código rbido MOR, é atribuído para as respostas
em que o objeto é identificado como morto, destruído, em ruínas, estragado, danificado,
ferido ou quebrado e, ainda, quando atribui característica ou sentimento disfórico a um
objeto.
As respostas que o sujeito menciona experiências de sua vida seja presente ou passado,
ou ainda usa pronomes pessoais para justificar e/ou esclarecer a resposta, atribui-se o
código PER. Existe outro fenômeno especial envolvendo a identificação da cor em que o
sujeito, em determinadas partes da mancha ou em toda a mancha acromática, identifica a
presença de cor. Diante disto, o código projeção de cor CP será atribuído. Com relação,
54
ainda, aos CEs é importante destacar que para uma mesma resposta pode ser necessário
atribuir mais de um CE, o que seria denominado de códigos especiais múltiplos, no entanto,
dentre os treze CEs, sete PSV, AB, AG, COP, MOR, PER e CP são independentes uns dos
outros, podendo ser utilizados sempre que se fizer necessário. Quanto aos outros é preciso
atenção na codificação, pois podem ou não ter inter-relação com outros CEs.
Tendo em vista a grande quantidade de categorias de indicadores e códigos utilizados
no SC foram selecionados alguns que compõem a Tríade Cognitiva que é formada pelo
Processamento da Informação, a Mediação e a Ideação. Esses agrupamentos estão
compostos por variáveis que fornecem informações sobre como o indivíduo capta, traduz e
responde as demandas do seu meio, se de forma adaptada ou não. Grande parte do seu
ajustamento perceptivo dependerá da qualidade dos processos de mediação que permite a
sua adequação, flexibilidade e capacidade adaptativa as exigências reais das situações
apresentadas. Os aspectos ideativos informam como o sujeito conceitualiza as informações
captadas e traduzidas pelos processos anteriores.
Desse modo, foi selecionado para este estudo variáveis dos três agrupamentos. Do
Processamento da Informação foram selecionados os itens: Lambda (L) que verifica a
proporção de respostas de forma pura, pois indica uma percepção simplificada da situação,
na qual o indivíduo evita processar as emoções e atribuir complexidade a seus perceptos.
W:D:Dd reflete o esforço no processamento dos dados, pois a resposta W exige maior
investimento de energia, abrange toda a mancha. É importante na pontuação desse
indicador fazer uma análise qualitativa das W, levando em conta que o DQ que as
acompanha (W+ e Wv) indica níveis diferentes de elaboração cognitiva. A variável W:M
mostra a relação entre o nível de aspiração e a necessidade de resultados. Para crianças a
proporção de respostas considerada aos 5 - 6 anos é de 8:1 e aos 9 - 10 anos 4:1. A variável
Zf fornece informação com relação a motivação do indivíduo, quanto mais motivado maior
55
o gasto de energia. As DQ informam como o indivíduo trabalha cognitivamente a área de
localização escolhida. Esta variável está relacionada diretamente com o nível de
desenvolvimento intelectual e a capacidade de operacionalização de análise e síntese. A
DQ+ indica a capacidade do indivíduo em realizar análise e síntese o que exige uma
elaboração cognitiva mais elaborada. A DQv refere-se a uma forma mais primitiva e
imatura do indivíduo processar a informação. È comum em crianças pequenas, mas é
esperado que com o aumento da idade haja um decréscimo. A PSV (perseveração das
respostas) que pode ocorrer intraprancha na qual o sujeito emite respostas idênticas na
mesma prancha ou em pranchas diferentes (interprancha). Esse tipo de resposta assinala
uma falta de agilidade cognitiva, uma rigidez no processamento que pode decorrer de
vários fatores, neurológico, intelectual e emocional.
No agrupamento que se refere a Mediação Cognitiva destacou-se a variável P. Diz
respeito as respostas mais comuns quanto a localização e conteúdo. Essas informam sobre a
capacidade do sujeito em ver as coisas como as demais pessoas, ou seja, indicam o grau de
adaptação do sujeito ao grupo que pertence. Outra variável importante é WDA% que
possibilita verificar o índice de adequação da percepção, considerando as respostas
atribuídas em áreas usuais (soma de o + u sobre o total de resposta XA%).
De acordo com Exner e Sendín (1999) na Ideação os Códigos especiais Críticos (DV,
DR, INC, FAB, ALOG e CONT) “são utilizados para identificar lapsos, deslizamentos ou
falhas lógicas no curso da ideação” (p.106). Para verificar o grau do transtorno cognitivo é
necessário considerar o conjunto desses códigos que geralmente aparecem com certa
regularidade nas respostas. Isto indica graus de incompetência ou disfunção cognitiva.
Nessa análise considera-se os níveis 1 e 2 de alguns indicadores. Esse contínuo pode ser
verificado por três segmentos. O primeiro inclui as variáveis DV1, INC1 e DR1 que
indicam um deslize cognitivo moderado; as DV2, FAB1, INC2 e ALOG informam a
56
presença de falhas importantes na ideação do sujeito. Os indicadores DR2, FAB2 e CONT
apontam para uma disfunção cognitiva grave, um transtorno do pensamento generalizado e
severo. Na análise dos CEs deve-se observar se estão associados aos mesmos
determinantes, conteúdos, localizações, etc. ou se agrupam de alguma forma particular. Isto
se faz necessário, pois contribui no esclarecimento dos problemas de ideação do indivíduo.
Os Códigos DV1 e DV2, o primeiro indica breves lapsos de pensamento resultado de
uma verbalização distorcida diminuindo a precisão e clareza da comunicação, o segundo
aponta um deslize cognitivo mais grave, no qual a linguagem não tem valor comunicativo.
A INC1 refere-se a condensações de vários detalhes incompatíveis com a realidade o que
revela fracasso na capacidade de discriminação do sujeito e uma forma muito concreta de
raciocínio enquanto a INC2 reflete uma lógica incongruente e maior afastamento da
realidade. As DR1 indicam uma forma mais grave na expressão verbal, na qual implica
uma falta de controle da impulsividade ideativa. Nas DR2 essa impulsividade ideativa é
maior e prejudica a capacidade do individuo manter a lógica de seu pensamento. Nas FAB1
o indivíduo integra os dados porque a sua ideação está desorganizada ou é muito imatura,
assinalando uma falha na atividade de síntese. nas FAB2 existem alterações graves e
freqüentes da conceitualização, pois o sujeito se afasta da realidade e apresenta uma
capacidade de julgamento falho. As ALOG implicam relações lógicas simplistas, errôneas e
utiliza-se um pensamento concreto. E a última variável a CONT refere-se a uma
desorganização cognitiva mais grave, pois o individuo faz uma fusão de experiências
irreais.
As respostas M implicam algum tipo de projeção e pressupõem uma criação pessoal,
pois é o único determinante que não existe nas pranchas. Esse tipo de resposta está
relacionada com a maior parte das atividades psicológicas como o raciocínio, a imaginação,
a atividade de postergação da descarga, a atividade ideacional deliberada, o autoconceito e
57
o campo das relações objetais. Segundo Weiner (2000, p. 120) a proporção de Ma:Mp
denota a percepção de movimento ativos e passivos atribuídos as figuras humanas vista em
ação, que revelam “o uso da ideação de modo realista e voltado para a ação, visando à
solução de problemas e o planejamento de cursos de ação deliberados”.
Em suma, a análise das respostas dadas pelos indivíduos às manchas pode determinar o
seu desenvolvimento cognitivo e outros aspectos de sua personalidade. Isto pode ser
constatado por vários estudos que mostraram a riqueza desse material e as possibilidades
interpretativas do perfil psicológico oferecido por esse método projetivo. Sendo assim, a
seguir apresentar-sealguns estudos que corroboram a utilização do método de Rorschach
para a análise das questões relativas a organização e funcionamento da personalidade.
1.3.2 Estudos com o Método de Rorschach
A partir do levantamento de publicações, encontrou-se alguns estudos que utilizaram as
respostas de movimento humano M no Rorschach para verificar a cognição, mais
especificamente a criatividade. Stark (1962) apresentou uma redefinição da inteligência no
sentido da elaboração, de previsão e planejamento. Pontua que os resultados das respostas
M no Rorschach podem ser considerados como indicadores de aptidão para a previsão e
planejamento criativo. Dudek (1967) ao estudar artistas criativos constatou que M está
relacionado com criatividade e com produtividade idealizadora, mas não reflete o grau de
talento, motivação ou a capacidade produtiva criativa. Dana (1968) observou que a variável
M se relaciona a seis construtos, a saber, adiamento, sentido de tempo, inteligência,
criatividade, fantasias e relações interpessoais. Frank (1979) afirma que Rorschach
observou que as respostas de movimento humano M refletiam a vida interior dos
58
indivíduos, principalmente a inteligência, criatividade e imaginação. Esse autor ressalta que
suas pesquisas mostram que as M parece ser mais indicativo da capacidade para a
imaginação e fantasia do que de inteligência e criatividade. A pesquisa de Joseph e Pillai
(1986) avaliou a validade de índices projetivos de criatividade por meio do Rorschach e das
respostas dadas a um teste de pensamento criativo em estudantes. Verificaram que as M
foram consideradas como uma medida significativa para a diferenciação entre indivíduos
de alta e baixa criatividade.
Exner (1969) divulgou resultados de uma pesquisa em que verificaram que todas as
variáveis codificadas no Sistema Compreensivo (SC) apresentaram concordância
substancial entre avaliadores. Constataram coeficientes de estabilidade de 0,80 para Z, FC,
assim como para outras variáveis inclusas no estudo e superiores a 0,70 para R, CF+C, P
(Exner & Weiner, 1995).
Um estudo de validade de predição da Escala de Prognóstico do Rorschach apontou
evidencia de validade de predição dos resultados da intervenção psicoterápica. A partir
disso, os autores discutiram as vantagens de considerar o Rorschach como um método e
não apenas um teste (Meyer & Handler, 1997).
Com o propósito de ampliar os estudos com o método Rorschach e avaliar o rigor
psicométrico do mesmo, Exner (1997) estudou cinqüenta adultos não-pacientes, tendo
como objetivo verificar a fidedignidade do instrumento por meio do teste-reteste. Os
resultados referentes a algumas variáveis do Sumário Estrutural apresentaram coeficientes
de estabilidade superiores a 0,80 e outras variáveis indicaram correlações superiores a 0,70
no reteste.
Estudos brasileiros desenvolvidos com a finalidade de verificar a validade e precisão
entre avaliadores encontrou-se três respectivamente e um de padronização. Silva Neto
59
(1999) estudou vinte protocolos de sujeitos jogadores patológicos. Todos estes protocolos
foram codificados pelo pesquisador e recodificados por outro psicólogo treinado no SC. O
resultado indicou que a maioria das variáveis apresentou valores de Kappa que indicam
precisão substancial ou excelente. Nesse sentido Duarte (2000) trabalhou com grupos
extremos e comparou 31 mães de crianças autistas com 31 mães de crianças sem histórico
de comprometimento da saúde mental, procurando fazer uma distribuição homogênea por
gênero da criança e por idade da criança e da mãe. Avaliou dez características de
personalidade relativas as hipóteses do estudo. A codificação dos protocolos foi efetuada
pela pesquisadora e vinte protocolos foram sorteados e codificados por um juiz com prática
e conhecimento do Rorschach, de acordo com SC. Os resultados indicaram valor de Kappa
adequado e todas as variáveis utilizadas na pesquisa apresentaram precisão satisfatória ou
excelente. Santoantonio (2001), também desenvolveu pesquisas com o mesmo objetivo.
Participaram do estudo 30 adolescentes com lúpus eritematoso sistêmico e 30 adolescentes
sem a doença. Todos os protocolos foram codificados pela pesquisadora que foi auxiliada
por sua orientadora de doutorado e por uma supervisora externa. Quinze protocolos de cada
grupo foram sorteados e codificados por dois psicólogos experientes e qualificados no SC.
Os resultados confirmam os estudos anteriores.
Com o objetivo de analisar a história do psicodiagnóstico do Rorschach no Brasil,
desde a sua introdução na década de 30, Pasian (2002) buscou publicações em livros,
periódicos, dissertações, tese, etc., sobre estudos normativos. Encontrou-se, no período de
1935 a 2002 dezenove pesquisas de normatização. Destas, cinco na área infantil, três para
pré-adolescentes e adolescentes, oito com adultos, uma incluindo adolescentes e adultos,
outra com crianças e adolescentes e uma para idosos. A maioria desses estudos ocorreu até
a década de 70 ou teve seus dados coletados nesse período. Essas pesquisas abordaram
60
várias faixas etárias, vários sistemas teóricos e diversas regiões do Brasil. Isto dificultou a
análise comparativa e a generalização dos dados. Diante disso, essa autora destaca a
importância de aproximação entre profissionais e pesquisadores do método Rorschach que
incorporem os avanços técnicos das diferentes correntes teóricas. Isto traria melhorias tanto
na utilização clínica do método como nas pesquisas.
Hisatugo, Del Porto e Yazigi (2004) verificaram as características comuns em pacientes
depressivos com ideação suicida por meio da escala de ideação suicida de Beck (BSI) e do
índice S-COM do Rorschach no SC. Participaram desse estudo 10 pacientes depressivos
unipolares, que usavam medicação, com idade entre 25 e 63 anos. Os resultados indicam
que o histórico de tentativas suicidas, autonegligência, automutilação, podem estar
relacionadas com as características detectadas na personalidade dos participantes e que
estão presentes nas variáveis que indicaram ideação suicida. Assim, esses dados convergem
com os encontrados no BSI e no índice S-COM do Rorschach corroborando os achados
sobre suicídio. Os resultados dessa pesquisa conferiram evidência de validade para o
Método de Rorschach.
O Rorschach ainda foi estudado no Brasil com a finalidade de padronizá-lo para a
população brasileira. Dessa forma, Nascimento (2002) desenvolveu um estudo de precisão
e padronização do método Rorschach. Foram participantes dessa pesquisa 200 sujeitos não
pacientes da cidade de São Paulo. Com relação a precisão das codificações os resultados
indicam índice acima de 0,80 para a maioria das variáveis do Rorschach. Além disso,
descreveu os dados normativos para a população brasileira. Em outra pesquisa semelhante
Nascimento (2004) e Silva Neto (2004) sugerem novas normas para a utilização e avaliação
desse Método para algumas regiões do Brasil.
Ao lado disso, vale mencionar que alguns estudos relevantes, porém não relacionados
diretamente às qualidades psicométricas do Rorschach, têm sido divulgados. Pesquisas
61
buscando indicadores de suicídio (Yazigi & Silva, 2004), e relacionados ao Transtorno
Obsessivo-Compulsivo (Antunez & Yazigi, 2004; Antunez, Del Porto & Yazigi, 2004,
Souza & Chaves, 2004), apresentam resultados que atribuem ao Rorschach o mérito de um
instrumento válido e confiável.
Diversos autores utilizaram o método Rorschach em crianças com o intuito de
investigar a vida psíquica. Dentre eles destaca-se a pesquisa de Dworetzki (1939) que
utilizou o método Rorschach para analisar o desenvolvimento da percepção em crianças.
Participaram desse estudo 200 crianças a partir de 2 anos e quatro meses de idade.
Observou as alterações desencadeadas pelo desenvolvimento cognitivo no nível da
percepção. Assim, considerou que o método Rorschach permite verificar a percepção e que
a mesma está atrelada ao desenvolvimento. Sendo assim, com a evolução o nível de
percepção se diferenciaria em termos de complexidade e integração.
O estudo de Beizmann (1970) buscou discriminar aspectos do funcionamento mental de
crianças no Rorschach. Participaram dessa pesquisa 360 crianças consideradas “normais”,
com idades entre 2 anos e nove meses e 10 anos. Constatou-se que, em geral, os
significados das variáveis do Rorschach, tanto para adulto como para crianças não alteram.
No entanto, verificou que as crianças indicaram menor número de respostas populares ou
banais, de movimento humano, de forma e menor grau de acuidade perceptiva. Segundo a
autora tais diferenças procedem do nível de maturidade intelectual, social e afetiva.
Jacquemin (1975), com intuito de determinar critérios de avaliação das seguintes
categorias de respostas ao método Rorschach, a saber: D, Dd, F, os conteúdos e o fator
adicional banalidade (Ban). Além disso, elaborou um atlas a partir das respostas de crianças
de 3 a 10 anos com indicações de localização G, D, Dd e Ddl, determinantes F (F+, F±, F-),
do fator adicional Ban e dos conteúdos. O teste foi aplicado em 480 crianças com idades
62
que variaram de 3 a 10 anos e 11 meses, frequentando escolas públicas de Ribeirão Preto,
de ambos os sexos. Para estabelecer critérios de inclusão e exclusão dos participantes,
aplicou-se o teste Goodenough para as crianças com idades entre 3 e 5 anos. A partir dos
resultados incluiu-se na pesquisa crianças com QI igual ou maior que 90. Já para os sujeitos
com idades a partir de 6 anos aplicou-se o teste Matrizes Progressivas de Raven escala
especial, determinando como índice mínimo Percentil 50 para inclusão na amostra.
A pesquisa de Adrados (1985) objetivou elaborar um manual com normas para
avaliação do Rorschach. Participaram dessa pesquisa 700 crianças de escolas públicas e
particulares, com idades entre 7 e 14 anos, sendo 100 sujeitos para cada idade e destes 50
de cada sexo. Além do método Rorschach foi aplicado o teste matrizes Progressivas de
Raven com o propósito de comparar os itens representativos da inteligência no Rorschach e
os dados do Raven. Foi aplicada a forma infantil para as crianças de 7 a 10 anos e 11
meses, para as demais utilizou-se a escala geral. Dentre as cinco variáveis observadas,
constatou-se que a F+%, F%, as globais secundárias G.S., as M e A% foram as mais
significativas. As quatro primeiras indicaram aumento progressivo do raciocínio lógico dos
7 aos 14 anos. Assim foi possível observar que na percepção, à medida que aumenta a
idade, a tendência a generalizar apressadamente diminui, bem como a capacidade de
abstração, síntese, planejamento e a capacidade criadora. Contudo, o indicador mais
significativo foi F+% extenso que denota a capacidade de concentração e atenção. Quanto
ao item A% foi muito alto nas crianças de 10 anos e nível intelectual elevado. Esse
resultado surpreendeu, pois indica rigor e rigidez intelectual que estende a esfera do
pensamento da criança tornando-o estereotipado. Tal resultado não pode ser justificado
dessa forma, pois verificou-se que o controle intelectual é bastante espontâneo. Assim,
pode indicar conformismo social e mecanismo de adaptação ao pensamento coletivo.
63
Exner e Weiner (1995) criaram um sistema de avaliação e interpretação do Rorschach
(SC) para crianças e adolescentes. Preconizam que o método pode ser aplicado em crianças
de todas as idades, mas pontuam a necessidade de uma aplicação adequada e, ainda, que o
profissional tenha conhecimentos sobre o desenvolvimento da personalidade, assim como
da psicopatologia. Observaram que as limitações intelectuais levam a respostas mais
empobrecidas, com preponderância de F. As respostas M são raras e dificilmente dão
respostas que envolvem as sutilezas de nuances das pranchas acromáticas. Apresentam
poucas respostas DQ+, assim como uma qualidade formal pobre com baixo X+% e um
número alto de respostas incomuns e menos. Com relação ao conteúdo das respostas,
indicam pouca variedade, sendo que aparece mais botânica, animal, perceptos de paisagem.
Güntert (1996) estudou a personalidade de crianças com nódulo vocal. Participaram
desta pesquisa 40 crianças com idades entre 6 e 10, sendo que 20 tinham nódulo vocal e 20
sem nenhum distúrbio vocal. Os resultados foram avaliados seguindo o SC e indicaram que
as crianças com nódulo diferiam do grupo controle nos seguintes aspectos: CDI que denota
dificuldade de relacionamento interpessoal e de enfrentamento das situações e demandas
sociais; Sum T rebaixado indica baixo reconhecimento de suas necessidades afetivas assim
como menor possibilidade de adequar suas atitudes para obter satisfação de suas
necessidades; Hd e Ad aumentados significa imaturidade quanto a autopercepção e a
percepção do outro, com tendência a noções fragmentadas, distorcidas e incompletas,
indicando conflitos de identidade e de relação; determinantes mistos reduzidos e Lambda
aumentado, denota funcionamento cognitivo menos complexo, empobrecimento
psicológico; DQ+ rebaixado indica diminuição da capacidade para raciocínio mais
elaborado; X+% reduzido, mostra tendência a dar respostas menos convencionais.
Constatou-se que todas essas características revelam dificuldades de relacionamento
64
associados as dificuldades cognitivas dificultando a comunicação verbal. Esses dados
conferem evidencia de validade ao instrumento.
Semer (1999) objetivou estudar a personalidade de crianças com enurese. Para tanto
comparou 26 crianças com enurese com 26 crianças sem enurese. Os dados indicaram
índice de egocentrismo significativamente mais baixo em crianças enuréticas. Assim os
resultados apontam que as crianças com enurese apresentam auto-estima baixa. Tais
resultados indicam evidencia de validade para a variável índice de egocentricidade.
Silva (2002) verificou as principais características do processamento da informação de
crianças portuguesas ao responder o método Rorschach e verificar a relação com o fracasso
escolar e dificuldades de aprendizagem. Participaram desse estudo 376 crianças de ambos
os sexos com idades entre 6 e 10 anos, estudantes de escolas públicas. Os resultados
mostraram que a qualidade do processamento da informação dos participantes permite
questionar a educação portuguesa. Assim, os dados possibilitaram atestar que falta na
educação portuguesa meios que favoreçam a mobilização da atenção e do interesse por uma
apreensão mais ajustada do meio que rodeia a criança, assim como, os vários aspectos de
um objeto, a percepção da caracterização que constitui a situação problema. Além disso,
observou-se que os dados indicam um processamento da informação aparentemente
desatento, negligente, impulsivo, causando conseqüências na mediação. Consequentemente
a qualidade formal da maioria das respostas é ruim. Assim a média de FQ- para as idades
de 6 a 10 anos foi: 0.34, 0.32, 0.33, 0.29 e 0.32, indicando que esses valores não
diminuíram ao longo desses 5 anos, como se esperava. Isto levou o autor a questionar o tipo
de educação que a maioria dessas crianças recebe e a possível influência sobre as
dificuldades e fracasso escolar das mesmas.
O estudo de Silva e Dias (2004) verificou entre o conjunto de variáveis da tríade
cognitiva do método Rorschach, quais as que mais se relacionam com ovel intelectual ou
65
expressa melhor o nível da amostra. Para tanto, a amostra foi composta por 259 crianças de
ambos os sexos com idades entre 6 e 10 anos, freqüentando escolas públicas de Lisboa. O
nível intelectual foi avaliado pelo teste Matrizes Progressivas Coloridas (MPC) de Raven.
Destacaram 16 variáveis da tríade cognitivas, são elas, Processamento da informação: W,
D, Dd, S, DQ+, DQv, DQv/+, W+, D+, WD+, Zf; Mediação: XA%, X+%, X% e Ideação:
M.
Os autores fizeram análises por faixa etária e agrupamentos de idades compondo assim
os subgrupos. Apresentar-se-á os resultados dos agrupamentos por considerá-los relevantes.
Os dados não indicaram correlação positiva significativa da MPC com a variável Zf, assim
como as respostas W e as que integram o espaço em branco, S, que geralmente são
pontuadas com uma nota Z. resposta W e S que indicam baixa atividade intelectual.
Estas respostas apresentam um nível de complexidade organizativa quando codificadas com
DQ+. Desta forma, entende-se que a variável Zf, isoladamente, não se relaciona com o
nível intelectual, da mesma forma que este é avaliado pelas MPC. Isto porque as respostas
DQ+ implicam iniciativa de organização e construção.
Constataram que as correlações entre MPC e as variáveis do Rorschach nos subgrupos
com resultados de nível intelectual abaixo da média são raras. Já nos grupos com nível
intelectual acima da média, ocorrem predominantemente com as variáveis do
processamento da informação no agrupamento de 6, 7 e 8 anos, enquanto no grupo de 7, 8 e
9 isto ocorre com variáveis da mediação e no grupo de 8, 9 e 10 verificaram correlação
significativa com X+%. Tais resultados corroboram a consistência da hipótese que indica
relação entre operações perceptivo-cognitivas presentes no ato de responder ao Rorschach e
o nível intelectual da pessoa que executa a tarefa.
66
Quanto ao predomínio de correlação significativa com os itens do processamento da
informação nas faixas etárias de 6, 7 e 8 anos, pode ser explicado pela natureza do teste de
inteligência utilizado. Os itens que compõem a primeira série e alguns da segunda série da
MPC referem-se a problemas de completar figuras. Esta tarefa exige pouco raciocínio
abstrato e conceituação. Assim, aproxima-se mais de uma atividade que envolve
processamento da informação. Outro aspecto que deve ser considerado é a ausência de
respostas M nos 3 subgrupos com nível intelectual acima da média. Pode-se atestar que o
período etário da amostra dessa pesquisa, as respostas M se encontram em fase de
estabelecimento, sofrendo, por isso, as implicações do desenvolvimento. Sabe-se que as
respostas M, embora exijam um nível intelectual médio, envolvem outros componentes
como: motivacionais, de identidade pessoal. Assim pode-se admitir que em geral elas não
têm que figurar como indicadores de nível intelectual elevado. Concluíram que os
resultados atribuíram consistência as hipóteses subjacentes as variáveis e que estas, de
modos diferentes, implicam operacionalidade intelectual de complexidades diversas.
Constataram ainda, que como teste de nível intelectual o método Rorschach não é uma
técnica adequada.
Scortegagna (2007) verificou se o método de Rorschach é sensível para identificar
crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual, diferenciando-os dos sujeitos sem esse
histórico. Participaram desse estudo 76 sujeitos, de ambos os sexos com idades entre 10 e
14 anos, freqüentando escolas estaduais, de nível socioeconômico médio-baixo. A amostra
foi dividida em dois grupos distintos. O primeiro grupo foi composto de 36 sujeitos vítimas
de abuso sexual intrafamiliar, que residiam com seus familiares ou em instituições. O
segundo grupo foi constituído por 40 indivíduos sem histórico documentado de abuso, que
não estavam em tratamento psicoterápico, sem queixas específicas relativas à aprendizagem
67
e comportamento. O método Rorschach (SC) foi aplicado nos dois grupos e destacou-se as
variáveis relacionadas à autopercepção, relacionamento e percepção interpessoal;
percepção da realidade e estresse situacional. Os resultados obtidos por meio do teste
MANOVA revelaram diferenças significativas entre os dois grupos nos indicadores m, Bl.
Além disso, constatou-se que as respostas de conteúdo An, MOR, Sx e FQ- indicaram
pontuações mais altas no grupo vitimizado em comparação com as não vítimas. Assim,
concluiu-se que os indivíduos vitimizados apresentaram uma autopercepção distorcida,
auto-estima rebaixada que pode ser decorrente do abuso sofrido.
Ao longo dos anos, o Método de Rorschach recebeu uma grande atenção em termos de
estudos de evidência de validade na população adulta. Alguns estudos semelhantes
ocorreram na infantil, não nas mesmas proporções. Portanto, esta pesquisa pode contribuir
com um estudo de evidência de validade e precisão entre avaliadores para essa população
tanto para o Método de Rorschach como para o CAT-A.
É importante destacar que os dois instrumentos permitem verificar aspectos perceptuais
- cognitivos e afetivos do funcionamento da personalidade. Entretanto, o Método de
Rorschach agrupou as variáveis relacionadas à cognição. Vale ressaltar, ainda, que se
utilizou um instrumento quantitativo do desenvolvimento cognitivo infantil, o Desenho da
Figura Humana (DFH-Escala Sisto), que será descrito a seguir.
1.4 Teste do Desenho da Figura Humana (DFH Escala - Sisto)
Ao longo dos anos, aumentou-se o interesse em estudar os desenhos infantis e isto pode
ser constatado, na última década do século passado, com a publicação de vários trabalhos
68
que enfocaram o uso do desenho da figura humana com forma de analisar diversos aspectos
da personalidade da criança. Dentre eles, pode-se destacar alguns estudos que buscaram
avaliar o caráter evolutivo dos desenhos de crianças, como Burt (1921), Harris (1963) e
Wechsler (2003).
É importante destacar que o pesquisador que conseguiu verificar com segurança o
aspecto intelectual no desenvolvimento dos desenhos das crianças, foi Florence
Goodenough (1927). Para tanto, elaborou uma teoria sobre as manifestações das crianças
relacionando com o estudo psicométrico da inteligência. Além disso, estabeleceu critérios
nos quais fundamentou a construção do teste, quais sejam, ser uma tarefa simples para
crianças pequenas e ao mesmo tempo complexa suficientemente em seus detalhes; ser um
tema motivador a crianças; a familiaridade com a figura humana de todas as crianças e a
pouca variabilidade em seus aspectos essenciais. Para Goodenough (1964) ao desenhar, a
criança expressa não aquilo que vê, mas o que conhece sobre a pessoa humana.
Inicialmente Florence Goodenough empregou o desenho da figura de um homem e a
análise consistia em verificar a uniformidade da vestimenta masculina nos desenhos. Nesse
contexto, a escala inicial caracterizada pela autora foi constituída, a partir de 100 desenhos
escolhidos aleatoriamente entre 4000 trabalhos de crianças americanas de 4 a 10 anos de
idade. Os desenhos foram classificados tendo como critério as mudanças que ocorriam
conforme o aumento da idade cronológica, perfazendo um total de 40 itens. Esse sistema
passou por 5 revisões até chegar à escala final em 1926, com 51 critérios para a análise dos
desenhos de figura humana. Constatou-se, que à medida que as crianças se desenvolviam,
incluíam mais detalhes realísticos nos desenhos (Goodenough, 1964; Harris, 1963).
Segundo Sisto (2005), o DFH, nos últimos anos, tem sido muito utilizado na clínica
psicológica, além de ser o foco da vários estudos em diversos países. Isto pode ser
explicado por sua característica não verbal, portanto, é facilmente aplicado em crianças que
69
não sabem ler, possibilitando a avaliação do seu desenvolvimento intelectual. Harris (1963)
ressalta que, o termo mais adequado seria aptidão, por considerar que a tarefa exige
operações mentais requeridas pelo trabalho que o indivíduo tem pela frente (os itens de um
teste, por exemplo). A partir dessa concepção de inteligência ou aptidão, assim como no
estudo das operações cognitivas, esse autor revisou as interpretações atribuídas aos
desenhos infantis.
Para Harris (1963), ao desenhar, a criança projeta o conceito que tem do corpo humano.
Em outros termos, o autor sugere que os desenhos refletem a compreensão das
características essenciais do conceito de ser humano. Na constituição desse conceito, a
atividade mental implícita envolve a capacidade de perceber e discriminar semelhanças,
abstrair e classificar objetos segundo suas diferenças e semelhanças e, ainda, a capacidade
de categorizar os objetos a partir do conhecimento de classes. Assim, elaborou uma escala
ampliando o uso do DFH até a adolescência, agregando novos itens para aumentar a
confiabilidade e validade da escala. Apesar disso, não atingiu o seu objetivo, pois a sua
escala não se mostrou eficaz na avaliação do desenvolvimento intelectual dos adolescentes.
Sendo assim, a escala final proposta pelo autor conteve 73 itens para a avaliação da figura
masculina e 71 para a feminina. Concluiu, ainda, que a escala de Goodenough foi muito
bem elaborada, pois encontrou poucos erros. Além disso, sugeriu que fosse desenhado além
do homem, uma mulher e um desenho de si, para uso projetivo do teste.
É importante destacar que vários outros autores utilizaram os desenhos como técnica
projetiva, dentre eles, Hammer (1958), Jolles (1952), Levy (1958) e Machover (1949).
Apesar de se embasar em sua experiência clínica, principalmente com adultos e
adolescentes, Machover (1949) elaborou um sistema de análise para crianças tendo como
70
base a teoria psicanalítica. Esse sistema é criticado por não oferecer nenhuma forma de
tabulação dos dados o que dificulta uma avaliação mais precisa dos itens.
De acordo com Koppitz (1976), são possíveis dois tipos de análises para os Desenhos
de Figura Humana, a saber, a técnica projetiva, utilizada para desvendar conflitos
inconscientes e traços de personalidade e, ainda, a verificação dos aspectos da maturação
cognitiva. Sendo assim, a autora considera que um item pode ter significado tanto projetivo
como maturacional. Para exemplificar essas duas possibilidades de análises, Koppitz (1976)
cita que a omissão de um item pode ser comum para crianças de certa idade, do ponto de
vista desenvolvimental, enquanto a omissão do mesmo item em idade mais avançada pode
significar dificuldades emocionais. Assim, pontua que para se realizar uma avaliação
adequada da criança pelo DFH deve-se conhecer os aspectos cognitivos e projetivos dos
desenhos. Concordante com Koppitz, Kellog (1959) concluiu que a idade e a maturidade
são condicionantes da estrutura do desenho da criança.
Baseada nesses pressupostos, a autora elaborou duas escalas para crianças, uma para
avaliação dos aspectos maturacionais e outra dos problemas emocionais. Para a construção
da escala de desenvolvimento, selecionou-se 30 itens relativos à evolução, a partir de sua
experiência, do sistema de Goodenough (1927) e Harris (1963). Para o seu estudo aplicou o
DFH em 1856 crianças com idades entre 5 e 12 anos, de ambos os sexos, freqüentando o
jardim de infância e o primário de escolas de públicas. Excluiu-se crianças com defeitos
físicos e com rebaixamento intelectual. O teste foi aplicado pelos professores das crianças,
em suas salas de aulas e coletivamente. No jardim de infância a autora aplicou o teste
individualmente. Posteriormente verificou-se a presença dos 30 itens nos protocolos,
dividindo-se a porcentagem de sujeitos que apresentaram certos itens por níveis de idade,
71
agrupando-se em quatro categorias: itens esperados, itens comuns, itens bastante comuns e
itens excepcionais (Koppitz, 1976).
A primeira categoria de itens esperados foi composta por aqueles que estavam presentes
de 86% a 100% dos desenhos em certo nível de idade, pois crianças normais tendem a
apresentar estes itens de acordo com a faixa etária correspondente. Sendo assim, a ausência
desses itens é considerada significativa, indicando imaturidade excessiva, ou regressão por
problemas emocionais. A segunda categoria itens comuns, refere-se às respostas de 51% a
85% das crianças. Apesar dos itens estarem presentes em mais da metade dos protocolos de
crianças, em certo nível de idade, porém não com tanta freqüência para serem considerados
essenciais. Os itens denominados bastante comuns foram constatados em menos da metade
dos protocolos, de 16% a 50%. Como aparecem com certa freqüência não foram
considerados inusuais. Finalmente, a categoria dos itens excepcionais foi evidenciada em
15% ou menos dos protocolos analisados e considerados não usuais. Aventou-se que esses
itens são respondidos por crianças com desenvolvimento mental acima da média ou
superior (Koppitz, 1976).
A autora constatou que a freqüência dos itens esperados aumenta em função da idade.
Dessa forma, elaborou uma escala com itens específicos a serem observados para cada
nível de idade. Além disso, a autora incluiu os itens esperados, comuns, bastante comuns e
excepcionais correspondente de cada idade para ambos os sexos, pois considerou o fato de
que os meninos amadurecem em tempo diferente do das meninas e que apresentam
diferenças peculiares em seus DFH. Observou, ainda, que os itens excepcionais decrescem
até os 10 anos e após esta idade não identificou mudanças significativas na evolução dos
DFH. (Koppitz, 1976).
72
Além desses autores que fizeram estudos com o DFH e elaboraram escalas de avaliação
para o mesmo, outros estudiosos, no exterior, têm se preocupado em analisar sua validade
ao longo das cadas (Noller & Weider, 1950; Swensen, 1968; Feher, Vandecreek &
Teglasi, 1983; Aikman, Belter & Finch, 1992, entre outros), embora não elaboraram uma
fundamentação teórica para o teste. No Brasil, Wechsler (1996) se preocupou em fazer um
estudo normativo e assim como Koppitz a autora avaliou desenhos da figura feminina e
masculina, e a partir da soma das duas figuras constituiu um escore total. Além disso, a
autora solicitava a criança que escrevesse uma história sobre cada um dos desenhos. Para
analisar a figura masculina deve-se observar 58 itens, enquanto a figura feminina apresenta
53 critérios para a correção. Na composição de sua escala observou-se itens esperados,
comuns, incomuns e excepcionais para cada faixa etária dos 8 aos 11 anos. O estudo de
precisão teste-reteste de sua escala, apresentou índices adequados com correlações entre 0,2
e 0,8 e por meio do coeficiente alfa que variou de 0,7 a 0,8. Em contrapartida, Flores-
Mendoza, Camargos, Farias, Paiva, Carvalho & Carvalho (2003) estudaram a validade
concorrente entre o Raven e o DFH e encontraram correlações positivas baixas e
significativas em algumas idades, sugerindo que o DFH pode estar medindo um construto
diferente da capacidade cognitiva, contrariando os achados por Weshsler (1996).
Pasquali (1996) encontrou boas correlações com o Teste não Verbal de Raciocínio
Infantil e ainda forneceu diferenciações por idade para as figuras masculina, feminina e o
total. Entretanto, não foram apresentadas as idades que são diferenciadas pelos itens
avaliados nos desenhos e isto é uma limitação constatada nessa pesquisa. Sendo assim, a
análise dos desenhos pelos critérios estabelecidos por Weshsler (1996), podem levar a
resultados equivocados.
73
É importante destacar que apesar de muito utilizado no Brasil, são poucos os estudos
que objetivaram verificar as qualidades psicométricas do DFH. Atualmente, Sisto (2005)
desenvolveu um sistema de avaliação para o DFH por meio do modelo de Rasch. Esse
modelo parte da premissa que uma pessoa, ao responder a um item, expressa certo nível de
habilidade. Desse modo, a probabilidade de acerto a um item com dificuldade constante,
aumenta em razão desses níveis de habilidade dos indivíduos (Rasch, 1960). Assim,
pessoas mais habilidosas desenharão itens mais difíceis. Considerando esses pressupostos
avaliou-se quatro questões principais, a saber: o ajuste dos itens ao modelo de Rasch,
verificando a unidimensionalidade da escala; o funcionamento diferencial dos itens em
função do sexo, procurando verificar a existência de itens que favorecessem o sexo
masculino ou feminino; procurou-se estabelecer uma seqüência hierárquica de itens em
razão da dificuldade dos itens bem como apresentar os agrupamentos de itens com níveis de
dificuldade semelhantes.
O teste do Desenho da Figura Humana Escala Sisto (2005) apresenta vários estudos
de evidências de validade satisfatórias, sobre o funcionamento interno do teste, tanto para
avaliação do sexo feminino como para o masculino. Possui evidências de validade de
construto, pela diferenciação de idade cronológica e evidência de validade convergente com
o Teste das Matrizes Progressivas de Raven. Constatou-se ainda evidência de validade de
critério por grupos contrastantes em relação ao desenvolvimento cognitivo na perspectiva
piagetiana.
O Teste do Desenho da Figura Humana (DFH) é utilizado quando se pretende avaliar
habilidades cognitivas não-verbais. O seu uso freqüente é determinado pela facilidade e
rapidez na aplicação o que o torna apropriado para ser usado com pessoas com dificuldades
de atenção ou comunicação oral, por ser familiar a todas as pessoas e pouco influenciado
74
por diferenças culturais. A reprodução da figura humana para avaliar habilidades cognitivas
das crianças é muito atrativa por ser tratar de uma atividade lúdica e fazer parte da rotina
das crianças (Sisto, 2005). Sendo assim, Sisto (2005) elaborou um sistema de avaliação
para o DFH a partir da escala de Goodenough. O sistema de Sisto será utilizado nesta
pesquisa.
A precisão do teste foi verificada pelo Alfa de Cronbach, modelo de Rasch e pelo
método das duas metades de Spermam- Brown. O Alfa de Cronbach apresentou
coeficientes de 0,89 e 0,87. No modelo de Rasch o coeficiente geral foi de 0,82 para a
escala feminina e 0,87 para a escala masculina. No método das metades de 0,84 e 0,82
respectivamente, no teste-reteste os valores variaram entre 0,80 e 0,92 e entre avaliadores
de 0,86 a 0,91. Participaram desse estudo 2750 crianças, sendo 48,73% (1340) do sexo
masculino e 51,27% (1410) do sexo feminino, freqüentando desde a pré-escola até a quarta
série do ensino fundamental, em escolas públicas (72,1%) e particulares (27,9%) de cidades
do interior de São Paulo. Como se pode constatar, o Teste do Desenho da Figura Humana
(DFH - escala Sisto) foi escolhido como parâmetro por trazer em seu manual estudos
significativos de validade e precisão. Ele será utilizado para verificar o nível intelectual das
crianças e a partir dos dados separar os grupos extremos e os seus resultados serão
comparados com os dados encontrados no CAT-A e Rorschach.
Conforme mencionado anteriormente, o aspecto que será enfocado neste estudo é a
cognição. Para tanto, o próximo capítulo trará a fundamentação teórica desse construto
assim como da percepção enquanto dimensão cognitiva.
75
2 Percepção e Cognição
Para as considerações sobre cognição, este estudo baseou-se na teoria de
desenvolvimento cognitivo de Jean Piaget. Quanto à percepção, que segundo Teglasi
(2001) é uma dimensão cognitiva e desta forma inseparável do desenvolvimento intelectual,
se pautará na própria hipótese perceptivo-cognitivo das variáveis que compõe a tríade
cognitiva do método Rorschach, pois ao responder o teste o indivíduo precisa estruturar
cognitivamente o campo recorrendo a atenção, percepção, a memória, a tomada de
decisão, e a análise gica, por um lado, e a formação da imagem, por outro, mediante
processos de associação, atribuição e simbolização(Weiner, 1999, p. 22). Assim, quando
se pede ao sujeito para dizer o que poderia ser o estímulo, está implícito que a resposta não
deve ser um” borrão de tinta, pois a pergunta o se refere a identificação do cartão, mas
do que é possível ser. A identificação do estímulo refere-se as suas características
implicando mecanismos perceptivos, pois ao dar a resposta o indivíduo atribui um
significado ao borrão de tinta e isto envolve a dimensão perceptivo-cognitivo. Da mesma
forma, quando é solicitado ao indivíduo que construa uma história a partir de uma cena,
para resolver tal tarefa precisa estruturar o estímulo pautando-se na análise lógica,
interpretação, fazendo associação entre as partes atribuindo significado a partir de sua
percepção do estímulo.
Segundo Teglasi (2001), as narrativas aperceptivas temáticos permitem a avaliação da
complexidade de esquemas cognitivos envolvidos na interpretação significativa baseada
numa percepção exata da cena retratada no estímulo. Assim, as histórias do TAT revelam o
pensamento e a capacidade perceptiva do indivíduo. Quando o sujeito interpreta a cena
fornece informação sobre a percepção (detalhes da cena) e também conceitual (o
76
significado da cena). Sendo assim, uma percepção exata e integrada do estímulo incluiria
uma relação entre o conceito e os elementos percebidos, por exemplo, uma faca na cozinha
é uma ferramenta, mas numa sala de aula é uma arma. Assim, um nível elevado da
integração perceptual exige a organização das sugestões emocionais e interpessoais
contidas nas figuras (expressão facial, postura) e das características do estímulo que realce
o contexto (objetos, fundo, vestuário). Dessa forma os modos de apreensão definem o
quadro perceptivo no qual se mescla o conteúdo, a resposta. As estruturas conceituais
(jogos, expectativas, ou esquemas) organizam a entrada perceptual significativa da
informação. A permanência do objeto e as várias conservações são exemplos comuns de
tais estruturas (Piaget, 1978). Para Piaget a centralização (o foco em um aspecto do objeto)
é um processo perceptual que conduz a distorção do objeto formulando impressões parciais,
aparte do contexto.
Segundo Piaget (1978), a idade de 7/8 anos marca o começo da reversibilidade das
operações mentais que é a possibilidade de pensar a ação e sua anulação por meio da
representação do objeto. Nessa mesma faixa etária Dworetzki (1939) observou o fim das
condensações e o início de percepções adequadas. A partir dessa idade a criança é capaz de
abandonar o ponto de vista subjetivo e pode ver os objetos tais como são. Assim existe uma
interdependência entre a percepção e o egocentrismo do pensamento. O egocentrismo
estreita o campo de percepção, pois apreende como absoluta a percepção imediata
individual, sendo capaz de lidar com a lógica das relações. A criança deve então, no curso
de seu desenvolvimento, apreender o objeto sob vários aspectos, passando por várias etapas
que representam adaptações mais e mais complexas percepção global superficial; análise
que implica percepção de vários dados ao mesmo tempo, mas que impede a visão do todo e
por último a possibilidade de realizar estruturas variáveis (enumeração, descrição e
interpretação).
77
Essa autora estudou a evolução da percepção por meio do teste de figuras de duplo
sentido e o Rorschach. Observou mudanças na forma ou modo de apreensão da realidade
no curso do desenvolvimento, identificando formas de apreensão muito precoces,
relacionando-as com o desenvolvimento cognitivo e intelectual, estabeleceu ainda, uma
correspondência entre a predominância de uma ou outra modalidade no Rorschach e
diferentes faixas etárias ou diferentes níveis de desenvolvimento. Verificou quatro estágios
estruturais evolutivos, são eles: estruturação primitiva sincrética que se traduz num
pensamento difuso e indiferenciado; análise primitiva; análise lógica refere-se a capacidade
de integrar detalhes e dar uma resposta global precisa, mas ainda uma predominância
das respostas fragmentárias e o modo de estruturação superior que é caracterizado por um
pensamento sintético.
Segundo Piaget (1978) o desenvolvimento do pensamento gico passaria por fases
sucessivas, em função do desenvolvimento biológico, da interação com o meio e da
equilibração das estruturas de pensamento. Isto se daria desde um período sensório-motor
(0 - 2 anos), passando por um período pré-operatório (2 7 anos), período operatório
concreto (7/8 10/11 anos) até o período operatório - formal (10/11 anos idade adulta).
Nos dois primeiros períodos a criança conhece o mundo; primeiro, por meio de esquemas
motores de ação e segundo por suas imagens mentais e sua capacidade simbólica para
representá-lo e distinguir significante de significado. No período das operações concretas, o
pensamento está centrado nas suas experiências concretas. No último o período das
operações formais, o real não é mais a única possibilidade de ocorrência dos fatos. A
capacidade operatória se alarga e confere uma maior flexibilidade ao pensamento. Segundo
Piaget (1978) apenas por volta dos 11/12 o indivíduo é capaz de resolver problemas por
hipótese pura ou da pura possibilidade, não necessitando da realidade.
78
Quando houver diferenciação entre o mundo externo e o eu, equilíbrio entre assimilação
e acomodação no pensamento infantil, é que a criança poderá estruturar a realidade de
forma operatória, isto é, aplicando estruturas de classes e relações. Isso ocorrerá no
período das operações concretas (7/8 a 10/11 anos). Nesse estágio a criança consegue
passar da ação para a operação, integrando esquemas de seriação, de classificação e
correspondência, de identidade e negação. Ao considerar situações estáticas será capaz de
considerar as transformações observadas, além das configurações atuais, sendo capaz de
reverter no pensamento o que foi feito na ação, a isto Piaget (1978) chamou de
reversibilidade. Nesse período, o pensamento conserva seus vínculos com o mundo real, o
que leva a criança dar soluções aos problemas empiricamente, baseadas na experiência
concreta.
Ainda de acordo com esse autor o egocentrismo do pensamento infantil provoca a
incapacidade da consciência relacionar logicamente e isto ocorrerá até por volta de 7/8
anos. Algumas conseqüências do egocentrismo são a incapacidade sintética e a
justaposição. A última refere-se a dificuldade da criança fazer síntese e compreender a
relação entre as partes e o todo, nesse caso a criança justaporá os objetos e os fatos. A
justaposição pode ser observada na linguagem da criança, na qual se constatará a ausência
de ligações entre os juízes sucessivos pela ausência de conjunções ou pelo emprego apenas
do termo “e”. Essa falta de ligações objetivas acarretará no pensamento da criança excesso
de ligações subjetivas o que pode ser identificado pelo sincretismo. Aqui a criança liga tudo
a tudo impossibilitando verificar as relações existentes entre os elementos. O sincretismo é
uma tendência que se manifesta no desenvolvimento da compreensão e raciocínio da
criança antes dos 7/8 anos e no pensamento verbal entre os 8 e 11/12 anos.
Considerando as etapas de desenvolvimento cognitivo (Piaget, 1978), espera-se que as
respostas ao CAT-A sejam influenciadas pelo nível operatório da criança. Assim, no
79
período pré-operatório, haja predominância de histórias fantasiosas, isto é, que
interferência maior de elementos pessoais na apreensão da cena retratada, levando a uma
interpretação e percepção distorcida da mesma. Além disso, pode ocorrer a justaposição de
idéias e o sincretismo de pensamento (junção sem que esteja explicitada a ligação entre
eles). O pensamento capta a informação, mas não assimila totalmente, apenas a justapõe a
outra idéia (preponderante). Assim, a criança indica dificuldade em construir história a
partir do estímulo apresentado, pois ao fazê-lo, adiciona elementos externos, guiando-se
mais por pensamentos e sentimentos individuais levando a uma apreensão fantasiosa. Já no
estágio das operações concretas, o relato da criança se atém ao estímulo, elaborando
respostas precisas, convergentes com a cena retratada, uma vez que o pensamento se aplica
predominantemente às informações reais e concretas disponíveis. Finalmente no período
das operações formais, espera-se que o indivíduo elabore histórias interpretativas,
ultrapassando as informações concretas contidas no estímulo, revelando a capacidade para
abstração, perceber e lidar com intenções, estabelecer relações lógicas entre os
personagens, entre as causas das ações destes e suas conseqüências, entre os meios e os
fins.
Diante do que foi abordado até aqui, pode-se definir cognição como a capacidade do
indivíduo fazer relações entre as várias informações disponíveis, facilitando a compreensão
de acontecimentos complexos, proporcionando adaptação. Assim, as emoções têm efeitos
no processamento das informações, no como e no que pensamos, ou seja, efeitos na
cognição como um todo (Sendín, 1999).
Tendo sido contextualizado a percepção como uma dimensão cognitiva que evolui
conforme o desenvolvimento e varia de acordo com a capacidade intelectual, supõe-se que
o desempenho das crianças no Rorschach e no CAT-A se diferenciará segundo o nível
intelectual e série. Portanto, o objetivo desta pesquisa foi verificar a precisão entre
80
avaliadores e analisar a evidência de validade de critério por grupos contrastantes entre o
CAT-A e Rorschach. O estudo foi conduzido para verificar se os indicadores de níveis de
percepção adaptada para o CAT-A correlacionam-se com as variáveis, destacadas para este
estudo, da tríade cognitiva do Método Rorschach. Além disso, investigou até que ponto os
grupos extremos em relação ao Desenho da Figura Humana e as séries são discriminados
quanto aos indicadores de cognição tanto no CAT-A quanto no Rorschach.
81
3 Método
3.1 Participantes (1ª. etapa)
Na primeira etapa, para separar os grupos extremos quanto ao nível cognitivo no DFH
escala Sisto, participaram do estudo 139 crianças. Desse total, 77 eram do sexo feminino e
62 masculino. As idades variaram de 7 a 12 anos, sendo que 27 crianças tinham 7 anos, 22
(8 anos), uma de 9 anos, 45 com 10 anos, 33 com 11 anos e uma de 12 anos. Todos os
sujeitos matriculados numa escola da rede pública de uma cidade do interior do estado de
São Paulo, freqüentando a 1ª. série (N= 49) e a . série ( N= 90) do ensino fundamental.
Em seguida os sujeitos foram agrupados em dois grupos, considerando a pontuação no
DFH. Sendo assim, o grupo 1 foi composto por 14 crianças que apresentaram no DFH alta
pontuação, destas 5 eram da 1ª. série e 9 da 4ª. série. O grupo 2 foi formado por 16 sujeitos
da 1ª. série e 16 da 4ª. série totalizando 32 crianças que obtiveram resultados no DFH
abaixo do esperado para a idade. A professora de classe e a coordenadora pedagógica foram
entrevistadas com o intuito de informarem se havia crianças que apresentavam algum
histórico conhecido de alteração perceptual importante que pudesse comprometer a
realização dos testes.
3.2 Instrumento
O Teste do Desenho da Figura Humana (DFH Escala Sisto) - propõe avaliar
aspectos cognitivos em crianças. Na presente pesquisa, optou-se por utilizar o sistema de
82
Sisto que consta de 30 itens selecionados a partir dos 51 itens do teste original de Florence
Goodenough destacados em 1926. Os 30 itens que devem ser verificados no teste são os
seguintes: 1. boca; 2. nariz; 3. braço-perna; 4. roupa; 5. pescoço; 6. tronco; 7. coordenação
motora; 8. duas ou três peças de vestir; 9. pernas; 10. pés; 11. pescoço integrado; 12. pernas
e braços na posição; 13. pupila; 14. ombros; 15. cabelos; 16. braços; 17. dedos; 18. olhos;
19. braço, cotovelo-ombro; 20. contorno de braços e pernas; 21. contorno de tronco; 22.
traços fisionômicos; 23. desenho sem transparência; 24. vestimenta coerente; 25. contorno
da cabeça; 26. boca e nariz; 27. quatro peças de vestir; 28. polegar; 29. queixo e 30.
orelhas. É importante ressaltar que esse instrumento tem vários estudos de precisão e
evidência validade, conforme citado na revisão de literatura.
No que se refere ao estudo de evidência de validade Sisto (2005) apresenta no manual
do instrumento vários estudos com resultados satisfatórios de evidências de validade de
construto, pela diferenciação de idade cronológica, validade de critério por grupos
contrastantes em relação ao desenvolvimento cognitivo e evidências de validade
convergente com o teste das Matrizes Progressivas de Raven. Além disso, a precisão do
instrumento foi verificada pelo Alfa de Cronbach, modelo de Rasch e pelo método das duas
metades de Spermam-Brown. Os resultados indicaram precisão satisfatória do teste
3.2.1 Procedimento
Após o contato com a escola solicitando autorização para aplicação dos instrumentos
(das duas etapas da pesquisa), o projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética da
Universidade São Francisco (anexo 1). Em seguida o Termo de Consentimento Livre e
83
Esclarecido (anexo 2) foi enviado aos responsáveis das crianças que autorizaram a
participação na pesquisa.
O DFH (Escala-Sisto, 2005) foi aplicado coletivamente em uma sessão e para este
procedimento distribuiu-se lápis e folha para o desenho e solicitou-se às crianças que
colocassem o nome, a idade, o sexo e a série que freqüentavam. As crianças que não
souberam escrever essas informações foram auxiliadas pela professora de classe e a
pesquisadora. Após isso, as crianças receberam instruções quanto à realização da tarefa da
seguinte forma: “Agora eu gostaria que você(s) desenhasse(m) uma pessoa com a maior
quantidade de detalhes que você(s) conseguir (em). Não é preciso colorir” (p.178). A
criança foi informada que poderia usar a borracha sempre que necessário e que o desenho
deveria ser feito a lápis e a mão livre. O desenho da figura humana foi avaliado por um
psicólogo experiente e com domínio da técnica. Para tanto, considerou-se presença ou
ausência dos itens em cada critério, atribuindo-se 1 para presença e 0 para ausência, sendo
que a pontuação geral do sujeito foi o produto da soma total das pontuações de cada item.
3.3 Participantes (2ª. etapa)
Participaram do segundo momento desta pesquisa 46 sujeitos que foram selecionados a
partir dos dados do DFH escala Sisto e agrupados em dois grupos, tendo como critério o
resultado abaixo ou acima do esperado para a idade, no teste. Desse total, 21 (45,7%)
frequentando a 1ª. série e 25 (54,3%) a 4ª. série do ensino fundamental. No que tange ao
agrupamento de crianças com resultado elevado no DFH, este foi composto por 14 sujeitos,
sendo 5 da 1ª. série e 9 da 4ª. série. O grupo com cognição abaixo do esperado para idade
foi formado por 32 crianças (16 da 1ª. série e 16 da 4ª. série). Quanto ao sexo 25 (54,3%)
feminino e 21 (45,7%) masculino. As idades dos participantes variaram entre 7 e 12 anos
84
(M=8, 9130 e DP=1, 41148), sendo que 23,9% (N=11) com 7 anos, 21,7% (N=10) com 8
anos, 50% (N=23) de 10 e com 11 e 12 anos 2,2% (N=1) respectivamente.
3.4 Instrumentos
O Teste de Apercepção Infantil com Figuras de Animais - Children’s
Apperception Test - CAT-A - é composto por uma série de 10 pranchas com figuras de
animais em várias situações humanas. Destina-se a crianças de 3 a 10 anos de ambos os
sexos e é analisado a partir de dez variáveis que devem ser observadas em cada história, são
elas: o tema principal; herói principal; as principais necessidades e impulsos do herói;
concepção do ambiente; como as figuras são vistas; os conflitos significativos; a natureza
das ansiedades; as principais defesas; adequação do superego; a integração do ego. Para
esta pesquisa, adaptou e operacionalizou as categorias de indicadores de integração
perceptual e níveis de percepção do sistema de avaliação da cognição elaborado por Teglasi
(2001) para o TAT. Esse sistema foi utilizado por considerar que o mesmo acrescenta e
converge com a análise do CAT-A proposta por Bellak e Bellak (1949 / 1991), como pode
ser verificado em seguida.
Quanto aos estudos que constataram evidências de validade e precisão satisfatória para
o CAT-A encontrou-se o de Tardivo (1992) que elaborou um sistema de análise
normatizada para CAT-A. Fonseca (2005) elaborou categorias de indicadores que
pudessem discriminar um grupo de crianças com histórico de abuso sexual do grupo sem
esse histórico. Benczik (2005) adaptou categorias de indicadores do referencial de análise
de Tardivo (1992) com o propósito de discriminar crianças com diagnóstico de TDAH do
grupo de crianças sem TDAH. Silva e Villemor-Amaral (2006) elaboraram categorias de
85
indicadores de auto-estima a serem verificadas na CAT-A. Villemor-Amaral e Xavier
(2007) destacaram indicadores relativos a relação materna do referencial de Tardivo (1992)
e encontraram concordância satisfatória entre avaliadores.
1. Integração Perceptual
- Grau de Congruência com o Estímulo
1.1 - Desconsidera ou interpreta mal as emoções, ou percepção das emoções básicas ou
dos relacionamentos retratados, como por exemplo, excluir um personagem ou expressar
uma tensão que não está relacionada com a cena retratada.
Exemplo: Na prancha 7 relata que o tigre esta brincando de pega-pega com o macaco ou
ainda omiti o tigre. Na prancha 1 omite o esboço da galinha ou fala que estão sentados ao
redor de uma mesa para conversar, brincar.
1.2- Desconsidera ou se equivoca com relação às idades dos personagens. Exemplo: na
prancha 1 perceber todos como galinhas. Na prancha 2 ver todos os ursos como filhotes.
1.3- Atribui importância exagerada a detalhes irrelevantes do estímulo. Exemplo: dá grande
importância a cortina da prancha 5; ao piso na prancha 3; a árvore da prancha 4.
1.4- A ênfase é mais perceptual do que conceitual: foco em elementos isolados do estímulo
sem fazer relações significativas entre eles. Exemplo: na prancha 3 enfatizar a bengala sem
fazer relação com outros elementos da prancha ou com o leão. Na prancha 4 a bicicleta de
forma isolada sem relacioná-la ao contexto retratado.
1.5- Vacila ou mostra-se indeciso sobre o significado do estímulo. Indica inabilidade na
interpretação da cena e não na definição do objeto. Exemplo: Na prancha 6 não consegue
interpretar se o urso esta dormindo ou acordado, na prancha 2 que a corda está sendo
puxada.
86
1.6- Ignora algum elemento que seria importante para a história, embora a percepção seja
adequada, desconsidera alguma característica central na representação do clima da prancha.
Exemplo: na prancha 2 ignora a corda, um objeto que fornece sugestões contextuais
importantes.
1.7- Apreende os relacionamentos e os afetos que são relacionados com o estímulo, mas
não capta a sutileza dos afetos, sua intensidade, ou a seqüência dos acontecimentos não se
encaixa de modo preciso com a cena. A descrição da cena é vaga, o contexto pode não estar
desenvolvido, ou seja, os fatos que precederam; ou uma lógica falha, um raciocínio
ingênuo. Exemplo: na prancha 2 não deixa claro a relação de disputa de um lado e ajuda do
outro. Na prancha 8 não deixa claro que uma reunião de família de macacos, na prancha
1 que estão sentados a mesa para uma refeição.
1.8- A narrativa reflete um conjunto de acontecimentos realísticos e uma compreensão
apropriada de causalidade social (da relação social implícita). A história está de acordo com
uma compreensão dos aspectos psicológicos retratados e reflete uma seqüência de
acontecimentos precisamente convergente com a configuração do estímulo, o que sugere
uma organização eficiente entre padrões de percepção e significado conceitual.
Exemplo: deixa claro na prancha 8 a reunião familiar e na prancha 2 a relação de disputa e
ajuda.
- Níveis de Integração Perceptual
É importante destacar que na análise dos níveis de integração perceptual, o avaliador
deve ponderar o quão bem a história explica o que está acontecendo na figura,
considerando as emoções e os relacionamentos. Quem analisa deve dar menor peso para as
omissões, excesso de inclusões ou a distorção dos objetos retratados.
87
Neste estudo considerou-se a pontuação da integração perceptual para pontuar os níveis
de percepção, pois se observou que estão relacionados, apesar de Teglasi (2001) não fazer
esta relação de forma explícita. Assim, estabeleceu-se que os indicadores 1.1- Desconsidera
ou interpreta mal as emoções, ou percepção das emoções básicas ou dos
relacionamentos retratados; 1.2- Desconsidera ou se equivoca com relação às idades dos
personagens; 1.3- Atribui importância exagerada à detalhes irrelevantes do estímulo,
referem-se ao nível 1 de percepção. Já os indicadores 1.4- A ênfase é mais perceptual do
que conceitual: foco em elementos isolados do estímulo sem fazer relações significativas
entre eles; 1.5- Vacila ou mostra-se indeciso sobre o significado do estímulo, convergem
com o nível 2. Quanto aos itens 1.6- Ignora algum elemento que seria importante para a
história, embora a percepção seja adequada e 1.7- Apreende os relacionamentos e os afetos
que são relacionados com o estímulo, mas não capta a sutileza dos afetos, sua intensidade,
ou a seqüência dos acontecimentos não se encaixa de modo preciso com a cena, dizem
respeito ao nível 3. Enquanto a variável 1.8- A narrativa reflete um conjunto de
acontecimentos realísticos e uma compreensão apropriada de causalidade social (da relação
social implícita) está de acordo com o nível 4. Desta forma, esses parâmetros foram
utilizados para pontuar o nível perceptual. Por este abranger todos os aspectos que deverão
ser avaliados na análise da percepção, enquanto dimensão cognitiva, no estudo de
correlação entre os instrumentos para avaliação da cognição foi considerado apenas o
resultado do nível da percepção. São eles:
Nível um: Divergente Confunde as emoções e os relacionamentos ou interpreta mal. Falha
em reconhecer as tensões no estímulo. Basicamente os problemas a seguir sugerem que
falta ao narrador parâmetros internos para dimensionar as pistas retratadas na prancha.
Interpreta mal expressões faciais, desacordo com as idades, ou o tipo de problema retratado
não combina, destoa com a configuração do estímulo; o narrador omite um personagem
88
principal da história; enfatiza detalhes irrelevantes sem perceber a gestalt e não percebe
uma tensão óbvia.
Exemplo: Prancha 6 (1ª. série 8 anos e 3 meses).
Um dia mamãe urso morreu. O urso ficou sozinho. O pai morreu e o filhotinho com a
mãe ficou. veio um monte de urso. apareceu dois ursos grandão. Aí depois morreu os
três e aí acabou a história. (Por que eles morreram?). Por causa que eles tava doente.
Falha no reconhecimento da tensão retratada na prancha (enquanto os ursos dormem, o
ursinho está acordado). Assim, o tipo de problema retratado destoa com a configuração do
estímulo e indica falta de lógica dos fatos.
Nível dois: Literal - uma dificuldade de captar o significado implícito. Ele consegue
identificar as idades e emoções dos personagens, mas falha em identificar o processo
psicológico que conecta cada evento, cada emoção, cada ação. A narrativa fica ancorada no
momento e na descrição da cena, mas não revela as conexões causais implícitas entre
passado, presente e futuro. Às vezes acontece do indivíduo falar sobre pontos da figura,
quase como cenas sobrepostas, separadas, sem relacionar bem uma com a outra. Ou seja,
nessa história não uma incompatibilidade grosseira entre as emoções e relacionamentos
e nem personagens importantes omitidos, trata-se mais de emoções ou ações simplistas,
vagas e estereotipadas.
Exemplo: Prancha 6 (1ª. série 7 anos e 6 meses)
Tem três ursos grandão e um pequenininho e um monte de pedras e os matos. Só. (O que
estão fazendo?). Eles tão dormindo e o pequenininho ta olhando pra fora. Só. (Por que o
pequeninho está olhando pra fora?). Que tem um monte de mato e ele não queria dormir.
(Por quê?). Não sei. (O que aconteceu depois?). Nada.
89
O narrador consegue identificar os personagens, idades e a tensão retratada, mas a
narrativa não deixa claro (passado, presente e futuro), descreve o momento e ainda retrata
as emoções, ações de forma simplista.
Nível três: Impreciso - O narrador reconhece o estado de tensão e a história captura, de
modo geral, as implicações do estímulo em relação às emoções e relacionamentos
retratados. Entretanto o ajuste não é preciso, que a história pode não combinar com as
pistas mais sutis do contexto ou estabelece uma relação de causa e efeito levemente
imprópria ou vaga. Outro indicador dessa imprecisão seria o narrador ignorar ou perceber
mal o objeto principal.
Exemplo: Prancha 6 (1ª. série 7 anos e 3 meses)
Era uma vez três famílias que estavam dormindo, mas o que menos estava dormindo era
o ursinho, estava olhando para a neve. Até que gostou tanto que fugiu. E aconteceu que a
manhã chegou e os pais não tinham percebido que o filho tinha fugido. Ele foi para uma
caverna que tinha um monte de mel. Então se assustaram e foram procurar o filho. Até que
chegaram a um buraco que era uma armadilha. Entraram e ficaram congelados.
Reconhece a tensão retratada (enquanto os pais dormiam o filho estava acordado), mas
afasta-se do conteúdo de realidade habitual (introduz um ambiente de neve). Utiliza “três
famílias” em vez de três ursos (percebe mal os objetos retratados)
Nível quatro: Acurado - O narrador inclui todas as pistas e sutilezas na interpretação das
emoções e relacionamentos, mesmo a despeito de possíveis omissões ou confusões em
detalhes pequenos, apesar disso os sentimentos e os relacionamentos são entendidos na sua
sutileza. Existe uma interpretação significativa da configuração do estímulo que captura de
modo acurado e específico o clima da cena.
90
Exemplo: Prancha 1 (1ª. série 7 anos e 3 meses)
Era uma vez três pintinhos que eram muito travessos. A mamãe galinha foi buscar
comida. Trouxe-a e foi fazer as compras e disse: - Esperem eu voltar, não se sirvam
sozinhos. Então como eram muito travessos, comeram tudo sozinhos. O mais travesso era o
do meio. (o que aconteceu?) Ouviram na porta que a mãe estava chegando e foram para o
quarto deles. A mãe veio e viu que não tinha mais comida. Foi até o quarto e bateu neles.
Assim aprenderam que não deviam desobedecer a mãe e servir sozinhos.
Aqui o narrador incluiu todas as pistas, emoções e relacionamentos (os personagens
interatuam em função da comida). Contém os três tempos (passado, presente e futuro).
Seqüência lógica, precisão nas palavras utilizadas. Elaborou uma história criativa sem se
afastar muito do clima da cena retratada.
O Método de Rorschach (Sistema Compreensivo) - é composto por dez lâminas
com manchas de tinta, de 18,5 por 25 cm, das quais cinco são acromáticas e cinco
cromáticas (duas em vermelho e preto e três policromáticas), que são, em geral,
escassamente estruturadas. Para sua aplicação, utilizou-se papel sulfite para anotações das
respostas do sujeito e suas reações, e a folha de localização, que consiste numa reprodução
monocromática das dez manchas, na qual se anotou a área das respostas dadas.
Posteriormente foram pontuadas e codificadas no que se refere à localização, qualidade
evolutiva, determinantes, qualidade formal, conteúdos, popularidade, atividade organizativa
e códigos especiais. A codificação das respostas do Rorschach resultou no sumário
estrutural, que representa a composição das freqüências dos códigos, várias proporções,
razões, porcentagens e derivações numéricas, a partir dos quais foram geradas as
interpretações relativas às características e ao funcionamento psicológico, assim como o
cognitivo. Para avaliação cognitiva pauta-se nas variáveis que compõem a tríade cognitiva,
91
a saber: Processamento da Informação que é composta pelos itens Lambda, OBS e HVI, Zf,
W:D:Dd, W:M, análise da DQ, Zd, PSV e sequência de localização. Já a Mediação é
formada por variáveis que indicam o grau de ajustamento perceptivo. Assim, para sua
análise considera-se os indicadores: respostas Populares, Qualidade Formal (X+%, F+%,
Xu%, X-%, S-%), CONFAB, sequência de homogeneidade e níveis de distorção das FQ-,
WDA%. Finalmente a Ideação possibilita interpretar como o indivíduo aplica os conceitos
as informações captadas e decifradas pelos processos anteriores. Esta é composta pelas
variáveis: EB introversivo e EBPer, análise do lado de eb, relação a:p e Ma:Mp, índice de
intelectualização, MOR, análise dos Códigos Especiais Críticos, Qualidade Formal, níveis
de distorção e aspectos qualitativos das M.
No que se refere a estudos brasileiros desenvolvidos com a finalidade de verificar a
validade e precisão entre avaliadores, vale destacar o de Silva Neto (1999), que estudou
vinte protocolos de sujeitos jogadores patológicos. O resultado indicou que a maioria das
variáveis apresentou valores de kappa que indicam precisão substancial ou excelente. Nesse
sentido Duarte (2000), estudou grupos extremos e comparou mães de crianças autistas com
o grupo de es de crianças sem esse histórico. Os resultados indicaram valor de Kappa
adequado. Santoantonio (2001), também desenvolveu pesquisas com o mesmo objetivo. Os
resultados foram satisfatórios. Güntert (1996) estudou a personalidade de crianças com
nódulo vocal. Os dados conferiram evidência de validade ao instrumento. Semer (1999)
objetivou estudar a personalidade de crianças com enurese. Os resultados indicaram
evidência de validade para a variável índice de egocentricidade. Hisatugo, Del Porto e
Yazigi (2004) verificaram as características comuns em pacientes depressivos com ideação
suicida por meio da escala de ideação suicida de Beck (BSI) e do índice S-COM do
Rorschach no SC. Os dados convergem com os encontrados no BSI e no índice S-COM do
92
Rorschach corroborando os achados sobre suicídio. Os resultados dessa pesquisa
conferiram evidência de validade para o Método de Rorschach.
O Rorschach ainda foi estudado no Brasil com a finalidade de padronizá-lo para a
população brasileira. Dessa forma, Nascimento (2002) desenvolveu um estudo de precisão
e padronização do método Rorschach. Com relação a precisão das codificações os
resultados indicam índice satisfatório para a maioria das variáveis do Rorschach. Em outra
pesquisa semelhante Nascimento (2004) e Silva Neto (2004), sugerem novas normas para a
utilização e avaliação desse Método para algumas regiões do Brasil.
3.4.1 Procedimento
As crianças que foram autorizadas pelos responsáveis e concordaram em participar
foram encaminhadas às sessões de avaliação individual, na própria instituição de ensino, no
seu período de aula. Os instrumentos foram aplicados em duas sessões.
Inicialmente a criança foi informada, pela pesquisadora, sobre o procedimento de
aplicação dos testes, em seguida aplicou-se o Método de Rorschach (SC), individualmente,
seguindo às instruções contidas no manual de Exner (1999), que consiste em entregar o
primeiro cartão ao sujeito e perguntar O que isto poderia ser?”, e sucessivamente
apresentar todos os cartões até o décimo, sendo que todas as respostas serão anotadas
literalmente pelo aplicador, bem como as reações que o sujeito apresentar. Na fase
seguinte, o inquérito, o aplicador entregou novamente cada cartão ao sujeito, repetindo cada
resposta dada e solicitou que indicasse a área da mancha onde viu aquilo e o que fez com
93
que se parecesse com o que foi visto. Suas explicações foram anotadas e na folha de
localização assinalado em que parte da mancha ele viu.
Os protocolos do Rorschach foram codificados conforme os critérios do Sistema
Compreensivo. Existe uma grande quantidade de códigos que devem ser atribuídos a cada
resposta dada pelos indivíduos, conforme sua localização na mancha, seus determinantes,
freqüência das respostas populares, conteúdo e características especiais contidas nas
verbalizações. Para esse estudo considerou algumas variáveis do agrupamento que
representam a Tríade Cognitiva: Processamento da Informação Lambda (L) W:D:Dd, Zf,
PSV, DQ+, DQv; Mediação Cognitiva - WDA% e Ideação M e os Códigos Especiais
Críticos (DV, DR, INC, FAB, ALOG e CONT). Vale informar que 33% dos protocolos do
Rorschach foram avaliados por dois juízes independentes e cegos quanto aos resultados dos
outros instrumentos, com o propósito de assegurar confiabilidade nos resultados e também
para verificar a sua precisão.
A aplicação do CAT-A foi individual conforme a recomendação de Hirsch (1987),
com a seguinte instrução: “Vou mostrar para você algumas pranchas; queria que você me
fizesse uma história com cada uma delas, na qual você me diga o que aconteceu antes, o
que está acontecendo agora, e o que acontecerá depois”. (p.150). As pranchas foram
apresentadas uma após a outra, seguindo a seqüência estabelecida no manual do teste; e
anotou-se as histórias literalmente, bem como os comentários feitos pelos sujeitos. O
inquérito foi aplicado no final das histórias para pedir esclarecimentos sobre o que o sujeito
disse, ou para estimular a criança a fazer mais associações.
Para as análises dos protocolos utilizou-se a ficha de avaliação (anexo 3) que contém
os indicadores de integração e nível perceptual para avaliar cognição. Foram pontuados por
presença (P) ou ausência (A), em cada prancha, na parte de análise da integração
94
perceptual. Os resultados foram transportados para uma tabela geral considerando o nível
de percepção que será usado na correlação entre os instrumentos e no estudo de precisão
entre juízes. A pontuação geral do sujeito foi produto da soma total das pontuações da
integração perceptual e partir disto foi verificado a predominância do nível, que será
considerado presente toda vez que em mais da metade das histórias houver um predomínio
do mesmo. Para assegurar maior confiabilidade nos resultados e também para verificar a
precisão nas análises do CAT-A, 26,08% dos protocolos dos sujeitos, foram submetidos à
análise de dois juízes independentes e cegos quanto aos resultados dos outros instrumentos.
É importante destacar que para verificar a precisão entre juízes nas análises tanto do
Rorschach como do CAT-A os protocolos foram sorteados ao acaso. Para o CAT-A
utilizou-se uma amostra menor por se tratar de uma análise que demanda um tempo maior,
mas a porcentagem utilizada, nesta pesquisa, esta dentro do recomendado por Exner e cols.
(1995 conforme citado por Santoantonio, 2001) que recomenda a recodificação dos
protocolos, por outro avaliador, em torno de 25% a 35%.
Vale informar que os avaliadores foram orientados para analisar cada história
separadamente. Depois deveriam verificar se os mesmos padrões se repetem no conjunto
das histórias. Caso se observem diferenças significativas nesse critério de uma história para
outra, isto deveria ser compreendido não como presença de problemas cognitivos, mas sim
emocionais. Problemas emocionais deverão ser compreendidos com o auxílio do clichê da
prancha e o conteúdo da história. Caso os padrões nos itens analisados sejam freqüentes e
constantes, aí sim é possível inferir sobre o nível intelectual da criança ou sua cognição.
95
4 Resultados e Discussão
Para as análises dos resultados entre os grupos formados com base no desempenho no
DFH escala Sisto (2005), atribuiu-se zero ao grupo com nível cognitivo abaixo do
esperado para idade e um ao grupo com rendimento acima do esperado para a idade. Esse
procedimento foi adotado a fim de viabilizar as análises com os demais instrumentos. A
partir dessa separação analisou-se a diferença de média entre os grupos, utilizando o t de
Student, para verificar se os mesmos se diferenciavam nas respostas dadas ao Rorschach e
ao CAT-A. Além disso, verificou-se quais os indicadores do CAT-A selecionados para
avaliar o nível de percepção correlacionavam de forma positiva e significativa com as
variáveis da tríade cognitiva do Rorschach (SC).
Antes de fazer as análises dos dados relativos à diferença de média, entre grupos, nas
respostas dadas ao Rorschach e CAT-A, é necessário verificar o grau de precisão dos
resultados obtidos. Nesse sentido, para que as análises das variáveis do Rorschach
pudessem ser desenvolvidas com maior confiabilidade, os protocolos foram,
primeiramente, codificados pela pesquisadora e revisados pela orientadora. Posteriormente,
os protocolos foram recodificados por uma juíza independente e cega quanto ao resultado
do DFH, ou seja, não tinha conhecimento a que grupo os protocolos pertenciam. Da mesma
forma procedeu-se com as análises dos protocolos do CAT-A. Nos casos que não houve
concordância entre as avaliadoras, tanto no Rorschach como no CAT-A, a orientadora
decidiu pela melhor codificação e análise. Para este procedimento, sorteou-se aleatoriamente
15 (33%) dos protocolos do Método Rorschach e 12 (26,08%) do CAT-A.
Com relação ao CAT-A a juíza analisou um número menor de protocolos, por
considerar que esse número era suficiente para o estudo de precisão entre avaliadores. É
importante pontuar que, antes da avaliação do CAT-A pela juíza, a pesquisadora analisou
96
alguns protocolos com a profissional a fim de garantir uma boa compreensão da categoria
de indicadores destacadas para esta pesquisa, segundo o referencial de Teglasi (2001).
Utilizou-se esse procedimento, por considerar que tais indicadores, mesmo visando maior
objetividade nas análises, ainda, necessitavam de uma avaliação mais subjetiva, que
demanda experiência do profissional.
No que diz respeito aos resultados encontrados nas variáveis do Rorschach da tríade
cognitiva e nos indicadores de percepção do CAT-A pelos avaliadores, optou-se por
padronizar um escore único entre os mesmos para viabilizar as análises de precisão entre
juízes, pois o índice Kappa pode ser utilizado em variáveis categóricas, ou seja, aquelas que
assumem valores de 0 ou 1. Assim, atribuiu-se zero para ausência e um para presença do
indicador.
Posteriormente os dados dos testes foram analisados pelo Kappa, que apresenta os
seguintes índices de confiabilidade: pobre, para valores menores de 0,20; suficiente, para
valores entre 0,21 e 0,40; moderada, para valores entre 0,41 e 0,60; boa, para valores entre
0,61 e 0,80; e muito boa, para valores entre 0,81 e 1,00. Os resultados da precisão entre
avaliadores podem ser visualizados na Tabela 1.
97
Tabela 1 Índice de concordância Kappa entre juiz A e juiz B dos fatores que compõem as
variáveis do método Rorschach destacadas para este estudo.
Variáveis
Kappa
P
W
0,98
0, 000
D
0,95
0, 000
Dd
0,95
0, 000
M
0,96
0, 000
FQ+
“a”
-
FQo
0,97
0, 000
FQu
FQ-
0,94
0,94
0, 000
0, 000
DQ+
0,93
0, 000
DQv
1,00
0, 000
H
0,98
0, 000
Hd
1,00
0, 000
(H)
1,00
0, 000
(Hd)
0,86
0, 000
A
0,99
0, 000
Ad
0,97
0, 000
(A)
1,00
0, 000
(Ad)
“a”
-
GHR
0,92
0, 000
PHR
0,80
0, 000
PSV
0,50
0, 000
98
Tabela 1 Índice de concordância Kappa entre juiz A e juiz B dos fatores que compõem as
variáveis do método Rorschach destacadas para este estudo (cont.).
Variáveis
Kappa
P
Zf
0,91
0, 000
DV
0,67
0, 000
DR
0,75
0, 000
INCOM
0,49
0, 000
FABCOM
0,75
0, 000
ALOG
1,00
0, 000
CONTAM
“a”
-
“a”= a estatística Kappa não calculada, pois as variáveis são constantes
Para o estudo de precisão entre juízes destacou-se os indicadores que direta ou
indiretamente estão relacionados às variáveis que compõem a tríade cognitiva utilizadas
neste estudo. Para tanto, aplicou-se o Kappa a fim de verificar se as codificações eram
fidedígnas. O índice Kappa nos indicadores W, D, Dd,, M, FQo, FQu, FQ-, DQ+, DQv, H,
Hd, (H), (Hd), A, Ad, (A), GHR, Zf e ALOG apresentaram valor de confiabilidade muito
bom (de 0,86 a 1,00). As variáveis PHR, DR, FABCOM e DV indicaram boa precisão (de
0,67 a 0,80). Os indicadores INCOM e PSV denotaram valores moderados (0,49 e 0,50).
Quanto aos itens FQ+, (Ad) e CONTAM o índice Kappa não pôde ser calculado, pois estes
indicadores estavam ausentes nos protocolos e receberam pontuação zero. Essa variável
(zero) constante não pode ser calculada pelo Kappa, o que permite inferir uma correlação
de 1,00, pois essa ausência evidencia concordância entre os avaliadores.
Quanto ao estudo de precisão entre juízes relativo aos indicadores de nível de percepção
do CAT-A, destacados para este estudo, os dados podem ser verificados na Tabela 2.
99
Tabela 2 Índice de concordância Kappa entre juiz A e juiz B dos níveis de percepção
verificados no CAT-A.
Variáveis
Kappa
P
Nível 1 - Divergente
0,97
0, 000
Nível 2 Literal
0,60
0, 000
Nível 3 - Impreciso
0,52
0, 000
Nível 4 - Acurado
0,60
0, 000
De acordo com a tabela 2 o índice de concordância entre avaliadores nas variáveis:
Nível 3 impreciso (0,52), nível 2 literal e nível 4 acurado (0,60 respectivamente)
indicam valores moderados de confiabilidade nas análises. O indicador nível 1 divergente
apresentou índice Kappa (0,97) denotando muito boa precisão entre juízes. Tal resultado
indica que o indicador nível divergente apresenta um grau maior de objetividade,
permitindo concordância entre avaliadoras. Os demais indicadores exigem uma análise
mais subjetiva e isto demanda prática e experiência no uso da técnica e do próprio
referencial de análise utilizado.
Os resultados de confiabilidade entre avaliadores, tanto nas variáveis do Rorschach
destacadas para esta pesquisa como os indicadores que avaliam o nível de percepção no
CAT-A, estão de acordo com o conceito de precisão encontrado na literatura pesquisada. Se
a precisão de um teste é avaliada a partir do grau de acordo ocorrido nas análises de juízes
independentes, por meio de correlação de coincidências (Anastasi & Urbina, 2000), pode-se
admitir a precisão das análises e codificações do material desta pesquisa, tanto do
Rorschach como do CAT-A.
100
Posterior a análise de precisão entre juízes, as codificações das respostas ao método
Rorschach foram inseridas no programa RIAP 5 para compor o Sumário Estrutural (Exner,
1999; Exner & Sendin 1999) que contém os indicadores destacados para esta pesquisa.
Após a análise das variáveis selecionadas, fez-se uma avaliação exploratória com intuito de
verificar eventuais resultados significativos não previstos nas hipóteses iniciais. Assim, para
verificar se houve diferença de média nas respostas ao Rorschach, entre o grupo de
cognição elevada e cognição abaixo do esperado para a idade, conforme resultados do
DFH, utilizou-se o t de Student. Os resultados podem ser observados na Tabela 3.
Tabela 3 Diferenças de média entre os dois grupos nos indicadores do Rorschach
destacados para verificar a cognição por meio do t de Student.
Variáveis
Grupo
N
Média
t
gl
P
W
0
1
32
14
5, 2500
5, 7143
-0, 485
44
0, 630
D
0
1
32
14
9, 4375
9, 9286
-0, 354
44
0, 725
Dd
0
1
32
14
4, 8125
6, 0714
-0, 956
44
0, 345
M
0
1
32
14
1, 6875
2, 0000
-0, 534
44
0, 596
S
0
1
32
14
1, 1563
2, 7143
-2, 495
44
0, 016
H
0
1
32
14
1, 6875
1, 9286
-0, 408
44
0, 685
101
Tabela 3 Diferenças de média entre os dois grupos nos indicadores do Rorschach
destacados para verificar a cognição por meio do t de Student (cont.).
Variáveis
Grupo
N
Média
t
gl
P
Hd
0
1
32
14
1, 8750
0, 7857
1, 579
44
0, 121
(H)
0
1
32
14
1, 0000
1, 2857
-0, 903
44
0, 371
(Hd)
0
1
32
14
0, 1875
0, 2857
-0, 731
44
0, 469
A
0
1
32
14
8, 4688
11, 5000
-2, 228
44
0, 031
Ad
(A)
0
1
0
1
32
14
32
14
1, 7188
1, 5000
0, 2188
0, 3571
0, 377
-0, 877
44
44
0, 708
0, 386
GHR
0
1
32
14
1, 7500
2, 4286
-1, 331
44
0, 190
PHR
0
1
32
14
3, 5938
2, 2857
1, 340
44
0, 187
Lambda
0
1
32
14
2, 2700
4, 3879
-1, 613
44
0, 114
Zf
0
1
32
14
7,19
8, 21
-0, 935
44
0, 355
102
Tabela 3 Diferenças de média entre os dois grupos nos indicadores do Rorschach
destacados para verificar a cognição por meio do t de Student (cont.).
Variáveis
Grupo
N
Média
t
gl
P
PSV
0
1
32
14
0, 3125
0, 2857
0, 132
44
0, 896
DQ+
0
1
32
14
2, 9063
2, 6429
0, 418
44
0, 678
DQv
0
1
32
14
1, 3438
0, 9286
0, 577
44
0, 567
FQo
0
1
32
14
7, 1875
8, 1429
-1, 088
44
0, 283
FQu
0
1
32
14
4, 1250
7, 2143
-3, 469
44
0, 001
FQ-
0
1
32
14
7, 3750
6, 2857
0, 810
44
0, 422
WDA%
0
1
32
14
0, 6316
0, 7464
-2, 162
44
0, 036
Sum6
0
1
32
14
1, 9063
1, 7857
0, 174
44
0, 862
WSum6
0
1
32
14
5, 4063
5, 4286
-0, 010
44
0, 992
Conforme pode ser constatado na Tabela 3 o grupo cujo o DFH indicou um nível
intelectual acima da média, apresentou um número maior de respostas nos indicadores FQu
103
(P=0,001), WDA% (P=0,036) S (P=0,16), A (P=0,031). A partir desses dados pode-se
aventar que as crianças que deram respostas de FQu tendem a ter uma percepção melhor
que no grupo de crianças com baixo nível intelectual, que estas tiveram mais respostas
FQ-, embora a diferença não seja estatisticamente significativa. Pessoas com FQu tendem a
utilizar conteúdos pessoais e originais, acrescentando elementos a percepção convencional,
tornando-a peculiar, idiográfica. Assim, o indivíduo é capaz de “orientar sua percepção em
função de suas necessidades” (Exner & Sendín, 1999, p. 92).
Quanto às respostas de conteúdo A que são esperadas em crianças e fáceis de serem
vistas nas manchas por exigirem menor esforço, as análises indicaram diferença de média
significativa entre os dois grupos. Conforme os dados, o grupo com cognição elevada,
segundo o DFH, elaborou mais respostas de conteúdo A. É possível afirmar que esses
indivíduos resolvem problemas de forma adequada e prática, sem muito dispêndio de
energia intelectual. Esse dado converge com os achados de Adrados (1985) que justificou o
fato do grupo de nível intelectual maior apresentar um índice elevado de respostas de
conteúdo animal ser decorrente de conformismo social, mecanismo de adaptação ao
pensamento coletivo. Tal resultado diverge do postulado de Exner e Weiner (1995) que
encontraram mais respostas A em crianças e adolescentes com QI igual ou abaixo de 70. É
importante verificar que, mesmo não sendo significativo, o grupo de nível cognitivo abaixo
do esperado para a idade, apresentou mais resposta DQv. Talvez isso tenha contribuído
para aumentar a diferença significativa de média de respostas de conteúdo animal entre os
grupos.
De acordo com os dados da tabela 3, o grupo de nível cognitivo acima do esperado para
a idade, apresentou um número elevado de respostas incluindo o espaço em branco. Tal
resultado pode indicar busca de independência, auto-afirmação e tendência a assertividade,
assim como negativismo, oposicionismo a tarefa proposta e hostilidade. Com relação a
104
variável WDA% verifica a qualidade formal, portanto o nível de adequação da percepção,
nas respostas que são W e D.
Os resultados indicaram que as diferenças de médias entre os dois grupos na maioria
das variáveis destacadas para verificar o nível de cognição não foram significativas. Diante
disso, uma razão possível pode advir da natureza do teste utilizado para separar os dois
grupos que parece medir o rendimento, a evolução gráfica, portanto avalia aspectos mais
quantitativos relativos ao desenvolvimento cognitivo não-verbal. Segundo Kellog (1959), a
idade e a maturidade são condicionantes da estrutura do desenho. Já o método Rorschach,
segundo Exner e Sendín (1999, p 42) “pode medir aspectos mais qualitativos do
funcionamento intelectual”. Isto permite verificar outras variáveis que intervém no
desempenho de um indivíduo, como: aspectos afetivos e motivacionais. Além disso, é
importante destacar, que um alto ou baixo desempenho intelectual pode ser melhor avaliado
pelo conjunto de dados e não por cada indicador isoladamente. Diante disso, verificou se a
média das respostas nas variáveis do Rorschach relativas a tríade cognitiva, destacadas para
este estudo, se diferenciariam segundo a séries (Tabela 4).
Tabela 4 Diferenças de média entre a 1ª. e 4ª. séries nos indicadores do Rorschach
destacados para verificar a cognição por meio do t de Student.
Variáveis
Séries
N
Média
t
gl
P
W
1
4
21
25
4, 9048
5, 8000
-1, 021
44
0, 313
D
1
4
21
25
9, 7619
9, 4400
0, 251
44
0, 803
105
Tabela 4 Diferenças de média entre a 1ª. e 4ª. séries nos indicadores do Rorschach
destacados para verificar a cognição por meio do t de Student (cont.).
Variáveis
Séries
N
Média
t
gl
P
Dd
1
4
21
25
4, 7619
5, 5600
-0, 652
44
0, 518
M
1
4
21
25
1, 4286
2, 0800
-1, 221
44
0,229
S
1
4
21
25
1, 0000
2, 1600
-1, 963
44
0, 056
H
1
4
21
25
1, 7143
1, 8000
-0, 157
44
0, 876
Hd
1
4
21
25
2, 0952
1, 0800
1, 594
44
0, 118
(H)
1
4
21
25
1, 3810
0, 8400
1, 909
44
0, 063
(Hd)
1
4
21
25
0, 3810
0, 0800
2, 588
44
0, 013
A
1
4
21
25
8, 1429
10, 4400
-1, 795
44
0, 080
Ad
(A)
1
4
1
4
21
25
21
25
1, 5714
1, 7200
0, 1905
0, 3200
-0, 277
-0, 888
44
44
0, 783
0, 379
106
Tabela 4 Diferenças de média entre a 1ª. e 4ª. séries nos indicadores do Rorschach
destacados para verificar a cognição por meio do t de Student (cont.).
Variáveis
Séries
N
Média
t
gl
P
GHR
1
4
21
25
2, 1905
1, 7600
0, 904
44
0, 352
PHR
1
4
21
25
3, 6667
2, 8000
0, 951
44
0, 347
Lambda
1
4
21
25
3, 8295
2, 1460
1, 378
44
0, 175
Zf
1
4
21
25
6,33
8,48
-2, 207
44
0, 033
PSV
1
4
21
25
0, 2857
0, 3200
-0, 182
44
0, 856
DQ+
1
4
21
25
2, 4286
3, 1600
-1, 278
44
0, 208
DQv
1
4
21
25
0, 8571
1, 5200
-1, 004
44
0, 321
FQo
1
4
21
25
7, 0952
7, 8000
-0, 864
44
0, 392
FQu
1
4
21
25
5, 0952
5, 0400
0, 060
44
0, 953
FQ-
1
4
21
25
6, 6667
7, 3600
-0, 556
44
0, 581
107
Tabela 4 Diferenças de média entre a 1ª. e 4ª. séries nos indicadores do Rorschach
destacados para verificar a cognição por meio do t de Student (cont.).
Variáveis
Séries
N
Média
t
gl
P
WDA%
Sum6
1
4
1
4
21
25
21
25
0, 6648
0, 6680
1, 8095
1, 9200
-0, 063
-0, 173
44
44
0, 950
0, 864
WSum6
1
4
21
25
5, 3333
5, 4800
-0, 072
44
0, 943
As variáveis do Rorschach, conforme pode ser observado na Tabela 4, que
apresentaram diferenças de médias significativas em favor das crianças da 4ª. série foram: S
(P=0,056) e Zf (P= 0,033). Respostas que abrangem o espaço em branco relacionam a
busca de assertividade, independência e auto-afirmação de um lado e hostilidade e oposição
de outro. A Zf elevada nesse grupo indica alto nível de motivação e iniciativa. Geralmente
investem mais energia do que o esperado no processamento da informação. Como se pode
observar na Tabela acima essas crianças não tiveram uma diferença de média significativa
na DQ+. Geralmente Zf se correlaciona positivamente com DQ+ indicando que o indivíduo
teve o cuidado de organizar a informação efetivando um “trabalho cognitivo sofisticado e
complexo” (Exner & Sendín, 1999, p. 140). Assim, é possível aventar que as respostas Wo
elevaram a nota Z. Finalmente o grupo de crianças da 1ª. série mostrou um maior índice de
respostas (Hd) (P=0,013). Isto converge com o postulado de Exner e Sendín (1999), pois
pontuam que a partir dos dez anos pode-se esperar um maior número de respostas de
conteúdo H em relação as (H) Hd e (Hd). Tal dado assinala uma percepção mais limitada e
108
parcial da imagem de si mesmo do outro, baseando sua percepção em experiências mais
imaginárias do que reais. Considerando que a maioria das crianças da .série tem 7/8 anos
é possível afirmar que são indivíduos mais imaturos e com percepção ainda pouco
integrada e realística. Essas distorções podem dificultar a tomada de decisões, a solução dos
problemas e principalmente suas relações interpessoais.
Quanto as outras variáveis não houve diferenças de médias significativas entre o grupo
de crianças da 1ª. e 4ª. série, indicando que entre estas faixas etárias as diferenças são
baixas nesses indicadores. A partir dos resultados e das operações mentais que as variáveis
exigem, dentre elas pode-se pontuar: elevado índice de atenção, concentração, raciocínio
lógico mais refinado, percepção mais integrada e acurada, motivação, capacidade de análise
e síntese, etc., pode-se atestar que faltam a essas crianças meios que possibilitam a
mobilização da atenção e do interesse por uma apreensão mais ajustada do meio que a
rodeia, assim como a descoberta dos vários aspectos e dimensões de qualquer objeto, de
uma situação-problema caracterizando e dimensionando as possibilidades de resolvê-la a
partir de uma percepção adequada. Além disso, é importante destacar que segundo Piaget
(1978) as crianças deste estudo estão na fase das operações concretas. Nesse período a
criança faz uso da capacidade operatória apenas por meio de objetos que ela possa
manipular e de situações que ela possa vivenciar ou acessar a experiência. Assim, é
possível pensar que as manchas do método Rorschach, por constituírem um material pouco
estruturado, exigem, além de capacidade cognitiva uma demanda de experiências e
vivências que permitiriam associações variadas e ricas. Sendo assim, o tipo de resposta está
atrelada a riqueza de experiências proporcionadas pelo meio em que vive.
Os dados encontrados que diferenciam as crianças por rie, que por sua vez, está
atrelada a idade da criança, assim como ao nível intelectual (grupo acima e abaixo do
esperado para a idade) corroboram os resultados encontrados na pesquisa de Dworetzki
109
(1939). Esta autora observou mudanças na forma ou modo de apreensão da realidade no
curso do desenvolvimento, identificando formas de apreensão muito precoces,
relacionando-as com o desenvolvimento cognitivo e intelectual, estabelecendo ainda, uma
correspondência entre a predominância de uma ou outra modalidade no Rorschach e
diferentes faixas etárias ou diferentes níveis de desenvolvimento. Verificou estágios
estruturais evolutivos, quais sejam, estruturação primitiva sincrética que se traduz num
pensamento difuso e indiferenciado e análise primitiva que pode estar relacionado às
respostas das crianças do grupo de cognição baixa e de 1ª. série que indicaram média alta
de respostas de conteúdo Hd comparado a média da 4ª. série. Já que, algumas variáveis,
como FQu, S, A e WDA%, indicaram um número de respostas abaixo da média do grupo
de cognição alta e a Zf, que representa o número de vezes que o indivíduo deu respostas
que receberam pontuação Z, observou-se que nos protocolos das crianças de 4ª. série esta
média de pontuação foi maior em relação ao grupo da 1ª. série. Sendo assim, é possível
afirmar que as crianças do grupo de cognição elevada, assim como as de 4ª. série, deram
respostas utilizando uma análise lógica que se refere a capacidade de integrar detalhes e dar
uma resposta global precisa, e ainda, apontaram um modo de estruturação superior que é
caracterizado por um pensamento sintético, conforme constatado na pesquisa de Dworetzki
(1939).
No que se refere a diferença de média das respostas ao CAT-A dadas pelo grupo de
cognição alta e baixa separados pelo DFH, aplicou-se o teste t Student. Os dados podem ser
conferidos na Tabela 5.
110
Tabela 5 Diferenças de média entre os dois grupos nos indicadores de níveis de percepção
verificados no CAT-A por meio do t de Student.
Variáveis
Grupo
N
Média
t
gl
P
Nível 1 Divergente
0
1
32
14
0, 1875
0, 1429
0, 360
44
0, 721
Nível 2 Literal
0
1
32
14
0, 5938
0, 0714
3, 677
44
0, 001
Nível 3 Impreciso
0
1
32
14
0, 1250
0, 2143
4, 602
44
0, 449
Nível 4 Acurado
0
1
32
14
0, 0938
0, 5714
-3, 988
44
0, 000
Conforme pode ser observado na tabela 5 as crianças do grupo de cognição abaixo do
esperado para a idade, segundo DFH, elaboraram histórias com nível de percepção literal,
indicando diferença de média em relação ao grupo 1. Tal dado correlaciona positivamente
com o resultado do DFH. Isto indica, segundo Teglasi (2001), que as crianças constroem
narrativas ancoradas no momento e na descrição da cena, mas não conseguem identificar o
processo psicológico que conecta cada evento, cada emoção e cada ação. É possível falar
sobre pontos da figura retratada no estímulo como cenas sobrepostas, separadas, sem
relacionar bem uma com a outra. Geralmente elaboram histórias que retratam as emoções e
ações dos personagens de forma simplistas, vagas e estereotipas.
No que se refere às crianças do grupo de cognição elevada, estas fizeram narrativas
num nível de percepção acurada, sugerindo uma interpretação adequada e significativa da
111
cena retratada no estímulo e ainda conseguiram capturar de forma precisa e específica o
clima da cena. Indicaram nas histórias todas as pistas e sutilezas ao interpretarem as
emoções e relacionamentos. Além disso, desenvolveram narrativas seguindo uma ordem
cronológica dos fatos, considerando passado, presente e futuro. Pode-se observar sequência
lógica e precisão nas palavras utilizadas, o que não impediu histórias criativas sem se
afastarem do clima da cena (Teglasi, 2001).
Considerando o nível de operação intelectual a partir das fases de desenvolvimento
cognitivo estabelecidas por Piaget (1978) pode-se aventar que as crianças que elaboraram
histórias condizentes com o nível de percepção literal, estejam numa fase de transição entre
a pré-operacional e operações concretas. Isto pode ser constatado no tipo de narrativa na
qual se observa apego excessivo aos detalhes e informações concretas da prancha, mas
também apontam esses detalhes separadamente sem fazer uma relação adequada entre os
mesmos. as crianças consideradas pelo DFH de nível intelectual elevado, portanto acima
do esperado para a sua idade, apresentaram narrativas com características interpretativas
dos estímulos, ultrapassando as informações concretas contidas nos mesmos, conferindo-
lhes novos significados, sem se afastarem do clima da cena. Essas características denotam
interpretação e abstração da cena retratada coincidindo com o estágio das operações
formais, portanto superior ao esperado para a idade destas crianças.
Após a análise de diferenças de médias entre os dois grupos separados pelo DFH,
verificou se esta diferença ocorreria, também por série. Os resultados podem ser observados
na Tabela 6.
112
Tabela 6 Diferenças de média, por meio do t de Student, entre a 1ª. e 4ª. séries nos
indicadores destacados para verificar o nível de percepção no CAT-A.
Variáveis
Séries
N
Média
t
gl
P
Nível 1 Divergente
1
4
21
25
0, 3333
0, 0400
2, 771
44
0, 008
Nível 2 Literal
1
4
21
25
0, 5714
0, 3200
1, 732
44
0, 090
Nível 3 Impreciso
1
4
21
25
0, 0952
0, 2000
-0, 974
44
0, 335
Nível 4 Acurado
1
4
21
25
0, 0000
0, 4400
-3, 973
44
0, 000
Quanto à diferença de média entre a 1ª. e 4ª. série nos indicadores que avaliam o nível
de percepção, constatou-se que as criança de primeira série construíram histórias que
coincidiram com o nível divergente (p= 0,008), denotando uma interpretação inadequada
ou confundindo os relacionamentos e emoções, falhando no reconhecimento das tensões
retratadas no estímulo. Isto pode decorrer da falta de parâmetros internos para dimensionar
as pistas da prancha, levando a uma interpretação inadequada das expressões faciais e das
idades, assim como, o tipo de problema especificado não combina com a configuração do
estímulo. Além disso, geralmente omitem o personagem principal, enfatizam detalhes
irrelevantes sem perceber a gestatlt. As crianças da 4ª. série elaboraram histórias que
correspondem ao nível de percepção acurado (P=0,000) convergindo com o nível
intelectual elevado, segundo o DFH. Esse tipo de narrativa inclui todas as pistas e sutilezas
na interpretação das emoções e relacionamentos, mesmo ocorrendo algumas omissões ou
113
confusões de detalhes pequenos, os sentimentos e os relacionamentos são entendidos na sua
sutileza. Conseguem atribuir uma interpretação significativa a configuração do estímulo
capturando de modo acurado e específico o clima da cena (Teglasi, 2001).
Analisando os resultados a partir das etapas de desenvolvimento cognitivo (Piaget,
1978), observa-se que as crianças da 1ª. série que construíram histórias que correspondem
ao nível de percepção divergente, indicaram um funcionamento intelectual do período pré-
operatório, apesar de estarem, considerando a idade 7/8 anos, no estágio das operações
concretas. O fato de construírem história com características de pensamento da fase anterior
pode estar relacionado a não superação total do estágio anterior, mantendo características
de pensamento do mesmo, talvez devido a transição de uma fase para outra ter ocorrido
recentemente ou ainda estar ocorrendo. Sendo assim, no estágio pré-operacional é esperado
que haja predominância de histórias fantasiosas, isto é, com interferência maior de
elementos pessoais na apreensão da cena retratada, levando a uma interpretação e
percepção distorcida da mesma. Além disso, pode ocorrer a justaposição de idéias e o
sincretismo de pensamento (junção sem que esteja explicitada a ligação entre eles). O
pensamento capta a informação, mas não assimila totalmente, apenas a justapõe a outra
idéia (preponderante). Assim, a criança indica dificuldade em construir história a partir do
estímulo apresentado, pois ao fazê-lo, adiciona elementos externos, guiando-se mais por
pensamentos e sentimentos individuais, levando a uma apreensão fantasiosa. As crianças de
4ª. série, segundo Piaget encontram-se no estágio das operações concretas. Assim, é
possível, de um lado, verificar características dessa fase nas respostas ao CAT-A, pois
construíram narrativas acuradas e convergentes a cena retratada, mas, de outro,
estabeleceram novas relações entre os elementos, interpretando a cena conferindo relações
entre as múltiplas informações denotando características de pensamento operatório formal.
114
Para atender o objetivo desta pesquisa, relacionou-se os resultados das variáveis do
Rorschach e dos indicadores do CAT-A selecionados para esta pesquisa. Esses dados
podem ser conferidos na Tabela 7.
Tabela 7 Coeficiente de correlação de Pearson entre as variáveis W, D, Dd< S, DQ+,
DQv e os indicadores de níveis de percepção no CAT A.
W
D
Dd
S
DQ+
DQv
Nível 1
divergente
r
P
-0, 18
0, 235
-0, 04
0, 810
-0, 11
0, 480
-0, 14
0, 346
0, 13
0, 386
-0, 10
0, 520
Nível 2
literal
r
P
-0, 01
0, 935
0, 01
0, 931
0, 07
0, 664
-0, 14
0, 345
-0, 13
0, 405
0, 05
0, 728
Nível 3
impreciso
r
P
0, 13
0, 392
-0, 16
0, 292
-0, 23
0, 126
-0, 22
0, 141
0, 07
0, 645
-0, 07
0, 648
Nível 4
acurado
r
P
0, 06
0, 671
0, 15
0, 317
0, 21
0, 159
0, 48
0, 001
-0, 030
0, 849
0, 08
0, 582
(**) Correlação significativa no nível p<0,01.
Na Tabela 7 nota-se que concordância positiva e moderada (r= 0,48) entre a variável
S e o nível acurado indicando que o grupo de cognição elevada deu mais respostas ao
Rorschach usando o espaço em branco. Diante disso, é possível aventar que essas crianças
buscam independência, auto-afirmação e indicam tendência a assertividade, integração ou
reversão figura fundo, denotando maior flexibilidade de pensamento (Exner & Sendín,
1999). Assim, formulam respostas ao Rorschach e ao CAT-A, nas quais é possível observar
uma exploração mais livre e rica dos estímulos. Isto segundo Teglasi (2001) possibilita
115
relatos precisos, coerentes incluindo todas as pistas e sutilezas na interpretação das
emoções e relacionamentos.
Tabela 8 Coeficiente de correlação de Pearson entre as variáveis F, FQ-, FQu, FQo, FQ+
e os indicadores de níveis de percepção no CAT A.
F
FQ-
FQu
FQo
FQ+
Nível 1 divergente
r
P
-0, 15
0, 328
-0, 13
0, 390
-0, 01
0, 949
-0, 21
0, 167
.(a)
-
Nível 2 literal
r
P
0, 24
0, 112
0, 17
0, 255
-0, 15
0, 329
-0, 07
0, 626
.(a)
-
Nível 3 impreciso
r
P
-0, 25
0, 088
-0, 15
0, 317
-0, 11
0, 476
-0, 03
0, 843
.(a)
-
Nível 4 acurado
r
P
0, 07
0, 649
0, 04
0, 774
0, 27
0, 069
0, 30
0, 046
.(a)
-
(**) Correlação significativa no nível p<0,01.
“a”= estatística não calculada, pois as variáveis são constantes
Segundo os dados da Tabela 8 constatou-se que houve correlação positiva e baixa (r= 0,
30) entre o indicador nível acurado do CAT-A e a variável FQo do Rorschach. Esse
resultado coincide com o estudo de normatização do método Rorschach, no qual observou-
se que a maioria das respostas é codificada como o, pois a freqüência das respostas + é
bastante baixa em todos os grupos. As respostas FQo envolvem contornos da mancha que
existem e são geralmente consistentes com a forma do objeto que o indivíduo identifica e
descreve (Exner, 1999). Segundo Exner e Sendín (1999) essa variável indica o grau de
adequação do indivíduo que está relacionado a adequação perceptiva. Tal dado é
convergente com o nível de percepção acurado, pois segundo Teglasi (2001) a narrativa
116
apresenta uma sequência lógica, precisão nas palavras utilizadas. A história é criativa, mas
retrata o clima da cena.
Tabela 9 Coeficiente de correlação de Pearson entre as variáveis H, (H), Hd, (Hd), A,
(A), Ad, (Ad) e os indicadores de níveis de percepção no CAT A.
H
(H)
Hd
(Hd)
A
(A)
Ad
(Ad)
Nível 1
divergente
r
P
-0, 07
0, 662
0, 02
0, 906
-0, 14
0, 347
-0, 10
0, 497
-0, 04
0, 787
-0, 13
0, 396
-0, 01
0, 963
.(a)
-
Nível 2
literal
r
P
-0, 03
0, 846
0, 10
0, 501
0, 33
0, 027
0, 18
0, 243
-0, 28
0, 061
0, 07
0, 641
0, 10
0, 517
.(a)
-
Nível 3
impreciso
r
P
0, 12
0, 415
0, 09
0, 568
-0, 02
0, 882
-0, 08
0, 613
-0, 01
0, 946
-0, 23
0, 129
-0, 26
0, 083
.(a)
-
Nível 4
acurado
r
P
-0, 01
0, 945
-0, 21
0, 168
-0, 24
0, 116
-0, 05
0, 750
0, 37
0, 012
0, 22
0, 136
0, 11
0, 467
.(a)
-
(**) Correlação significativa no nível p<0,01.
“a”= estatística não calculada, pois as variáveis são constantes
Na Tabela 9 verificou-se que a variável detalhe humano - Hd correlacionou de forma
positiva e baixa (r= 0, 33) com o nível literal de percepção. Tal resultado denota que o grupo
de cognição abaixo do esperado para a idade, de acordo com o DFH, deu mais respostas de
conteúdo Hd. É possível hipotetizar que esse grupo é menos amadurecido e tem noções mais
distorcidas sobre si mesmo e os demais (Exner & Sendín, 1999). Esse dado converge com o
nível de percepção literal, revelando que ao fazer o relato o indivíduo prende-se no momento
e na descrição da cena e não revela as conexões causais implícitas entre passado presente e
futuro. Geralmente fala sobre pontos da figura, quase como cenas sobrepostas, separadas sem
fazer relação uma com a outra (Teglasi, 2001). entre o indicador nível acurado e a variável
117
conteúdo animal A apresenta concordância positiva e baixa (r= 0, 37). Isto mostra que
uma tendência do grupo de cognição elevada elaborar histórias utilizando palavras precisas,
obedecendo uma sequência lógica, incluindo todas as pistas, emoções e relacionamentos
retratados na cena (Teglasi, 2001). Quanto as respostas de conteúdo animal supõe uma
atividade cognitiva menos complexa, mas de boa definição do estímulo, indicando que o
indivíduo responde à tarefa utilizando a energia necessária, resolvendo os problemas de forma
simples, prática e aceitável (Exner & Sendín, 1999).
Tabela 10 Coeficiente de correlação de Pearson entre as variáveis Zf, PSV, Sum6,
WSum6, GHR, PHR, WDA% e os indicadores de níveis de percepção no CAT A.
Zf
PSV
Sum6
WSum6
GHR
PHR
WDA%
Nível 1
divergente
r
P
-0, 14
0, 369
-0, 23
0, 133
0, 08
0, 585
0, 07
0, 626
-0, 06
0, 694
-0, 12
0, 412
-0, 00
0, 978
Nível 2
literal
r
P
-0, 10
0, 493
0, 21
0, 170
0, 08
0, 621
0, 04
0, 773
-0, 03
0, 837
0, 28
0, 064
-0, 20
0, 187
Nível 3
impreciso
r
P
0, 05
0, 768
-0, 01
0, 933
-0, 17
0, 246
-0, 14
0, 345
0, 05
0, 743
0, 05
0, 730
0, 04
0, 789
Nível 4
acurado
r
P
0, 20
0, 176
-0, 03
0, 851
-0, 01
0, 928
0, 00
0, 982
0, 05
0, 754
-0, 25
0, 089
0, 20
0, 183
** Correlação significativa no nível p<0,01.
Por meio dos resultados demonstrados na Tabela 10, pode-se constatar que não foram
encontradas correlações significativas entre os itens do CAT-A que avaliam nível de
percepção e os indicadores Zf, PSV, Sum6, WSum6, GHR, PHR e WDA%. É importante
destacar que o método Rorschach, assim como o CAT-A não se destinam especialmente a
118
avaliação do funcionamento perceptivo-cognitivo, embora as respostas pressupõem essas
operações. Com exceção do Zf e do WDA%, as outras variáveis estão mais relacionadas
com problemas emocionais e de identidade mais específicos. O WDA% é muito abrangente
e não é tão refinado, colaborando mais para descartar patologias graves. Vale pontuar que
esse indicador verifica a qualidade formal, portanto o nível de adequação da percepção nas
respostas que são W e D. Provavelmente as crianças da 1ª. série presas a certas minúcias
irrelevantes deram mais respostas FQ- associadas a Dd. Apesar das crianças da 1ª. e 4ª.
séries não se diferenciarem quanto a freqüência FQo e FQ- e Dd, mas associando todas
essas informações e, ainda, observando que WDA% é maior nas crianças da 4ª. série, pode-
se inferir que isto decorra de uma menor quantidade de Dd associado com FQ- neste grupo.
Analisando as demandas cognitivas exigidas tanto pelo CAT-A como pelo Método
Rorschach, é possível definir o tipo de processamento intelectual comum às tarefas. Assim,
as duas provas exigem fluência verbal, vocabulário, associação entre as partes do estímulo,
percepção adequada e interpretação. Nesse caso, supõe-se que, subjacente a elas, esteja
algum tipo de raciocínio comum, denominado raciocínio verbal. Aqui parece que as
variáveis do Rorschach e os indicadores do CAT-A estão avaliando raciocínios diferentes.
Pode-se aventar que essas variáveis do Rorschach que não indicaram correlação
significativa e positiva com o CAT-A, não avaliam diretamente o nível perceptivo, mas tem
uma relação com a acuidade perceptiva, pois Zf indica o esforço para organizar o campo do
estímulo. Assim, cada vez que aparece uma pontuação Z, indica foram postos em
andamento fatores cognitivos, afetivos e motivacionais” (Exner & Sendín, 1999, p.43),
possibilitando a realização de uma tarefa complexa, de criação pessoal. Quanto às respostas
PSV, encontra-se uma alta frequência em crianças pequenas. Essa variável assinala rigidez
no processamento da informação, falta de agilidade cognitiva que pode decorrer de vários
119
fatores, dentre eles déficit intelectual ou algum tipo de bloqueio psicológico oriundo de
fatores emocionais. Os itens Sum6 e WSum6 verifica os lapsos, deslizes ou falhas gicas
no curso da ideação. Já GHR indica representação positiva de si e dos outros; PHR
representações problemáticas distorcidas, confusas e ilógicas e WDA% possibilita verificar
o índice de adequação da percepção (Exner & Sendín, 1999).
Quanto aos indicadores que verificam o nível de percepção no CAT-A pela natureza
dos mesmos, que segundo Teglasi (2001) avaliam como o indivíduo percebe a cena retrata
e quão bem ele elabora a história explicando o que está acontecendo na figura,
considerando as emoções e os relacionamentos, podem exigir uma capacidade de
processamento da informação que estaria relacionada à habilidade de percepção de
emoções que envolve desde a capacidade de identificar emoções em objetos, condições
físicas, em outras pessoas e em si mesmo, até a capacidade de expressar as emoções e as
necessidades a elas relacionadas, e ainda conseguir avaliar se uma expressão emocional é
autêntica, constatando sua veracidade, falsidade ou tentativa de manipulação.
Com base nos resultados desta pesquisa é possível inferir que os indicadores que
avaliam o nível de percepção no CAT-A possibilitam verificar os aspectos relativos à
dimensão percepção-cognitiva uma vez que os mesmos convergem com os dados do DFH.
Quanto ao método Rorschach constatou-se que algumas variáveis da tríade cognitiva
correlacionaram com o CAT-A indicando que estão avaliando o mesmo construto,
percepção cognitiva, ou seja, indicam como o indivíduo percebe e processa
cognitivamente as informações e em seguida adapta essa elaboração as convenções. Quanto
a diferença de média de respostas entre o grupo de cognição elevada e de cognição baixa,
segundo o DFH, nos itens do método Rorschach selecionados para esta pesquisa, constatou-
se que alguns se diferenciaram denotando que o nível intelectual da criança determina o
120
tipo de resposta dada ao teste. Além disso, vale destacar que o método Rorschach é mais
desafiador a crianças em termo de processamento, por se tratar de estímulos menos
estruturados do que o CAT-A.
A partir dos dados e considerando a necessidade de estudos de evidência de validade
para o CAT-A e ainda a constatação da lacuna existente na literatura científica brasileira de
estudos envolvendo o construto cognição e o CAT, essa pesquisa tem um caráter inédito
neste aspecto. Portanto, vale ressaltar que os resultados encontrados possibilitam afirmar
que as categorias de indicadores destacadas para verificar o nível de percepção no CAT-A
podem ser consideradas um referencial confiável de análise desse aspecto da personalidade.
No que se refere aos resultados do método Rorschach relativos ao DFH é possível
atestar que algumas variáveis da tríade cognitiva avaliam a cognição. No entanto, como a
maioria dos indicadores da tríade cognitiva não se diferenciou significativamente quanto à
média de respostas dos dois grupos, pode-se hipotetizar que o método Rorschach é uma
técnica que avalia os aspectos mais qualitativos envolvidos no funcionamento intelectual,
de um lado e, de outro que o DFH é uma medida que verifica o nível maturacional (Burt,
1921, Harris,1963 & Wechsler, 2003). Esse por sua vez, considera o número de acertos na
realização do desenho da figura humana, ou seja, mede o rendimento da criança. Outra
hipótese diz respeito a natureza dos instrumentos utilizados nesta pesquisa. O método
Rorschach e o CAT-A avaliam habilidades cognitivas verbais, pois é solicitado, no
primeiro, que o indivíduo fale com o que se parece aquela mancha e, no segundo, que
elabore uma história a partir de uma figura. Já no Teste do Desenho da Figura Humana
(DFH) instrui-se o indivíduo a fazer um desenho de uma pessoa com a maior quantidade de
detalhes que conseguir. Assim, segundo Sisto (2005), esse teste é utilizado quando se
pretende avaliar habilidades cognitivas não-verbais (Sisto, 20005). Essas características
121
divergentes podem ter influenciado no resultado do Rorschach relativo a diferenciação
entre os dois grupos separados pelo DFH.
Quanto a concordância significativa entre alguns itens do Rorschach com os
indicadores que avaliam nível de percepção no CAT-A indica que estão avaliando alguma
atividade cognitiva implicadas nas respostas aos dois instrumentos. No que se refere as
demais variáveis que não apresentaram correlação significativa com os indicadores do
CAT-A, pode-se aventar que até podem avaliar a cognição, mas que provavelmente
analisam estruturas diferentes desse construto.Tal achado permite pontuar a importante
contribuição desse estudo para a área da avaliação psicológica.
O capítulo seguinte traz considerações sobre o que foi aqui discutido, bem como
algumas das limitações da pesquisa.
122
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
É importante pontuar algumas dificuldades encontradas ao se fazer estudo de precisão e
validade dos instrumentos projetivos infantis. Uma delas é inerente aos instrumentos que
refletem e são influenciados pelo desenvolvimento emocional e cognitivo. Ao lado disso,
encontra-se uma grande amplitude de variáveis implicadas na personalidade do sujeito, que
se interrelacionam de modo bastante complexo, dificultando a elaboração de indicadores
bem definidos e facilmente correlacionáveis com critérios externos. Além disso, por sua
característica subjetiva cria problemas para se atingir alto grau de concordância quando os
dados são avaliados por profissionais diferentes. Apesar dessa complexidade, de acordo
com Anatasi e Urbina (2000) é possível aplicar critérios psicométricos que permitem a
utilização desses instrumentos com mais segurança, pois se espera que um teste possua
certas características para seu uso adequado. Estas compreendem precisão e evidência de
validade. Diante disso, o objetivo principal deste estudo foi analisar a evidência de validade
de critério por grupos contrastantes entre o CAT-A, Rorschach e DFH. O estudo foi
conduzido para verificar com quais variáveis da tríade cognitiva do Rorschach os
indicadores de níveis de percepção adaptados para o CAT-A correlacionariam de forma
significativa e positiva. Além disso, investigou até que ponto os grupos extremos em
relação ao Desenho da Figura Humana e as séries são discriminados quanto aos indicadores
de cognição, tanto no CAT-A quanto no Rorschach. Assim, é possível atestar que o
objetivo desta pesquisa foi atendido, pois encontrou-se diferenças de médias significativas
entre os grupos contrastantes e as séries, nas respostas dadas ao CAT-A e ao Rorschach,
indicando que esses instrumentos possibilitam verificar a evolução de processos cognitivos.
Ainda constatou-se precisão satisfatória entre avaliadores nas análises dos protocolos, tanto
do Rorschach como do CAT-A.
123
No que se refere à avaliação cognitiva utilizando as técnicas projetivas, inúmeras
dificuldades e limitações são encontradas, uma delas diz respeito à falta de estudos
brasileiros, com proposta semelhante que pudesse ser utilizado como padrão de referência
para esta pesquisa. De fato, encontrou-se a publicação de Tardivo e Herzberg (1989). Essas
autoras verificaram a percepção em crianças de 5 a 8 anos de ambos os sexos. Apontaram
que é possível, por meio da análise estrutural da história, utilizar o CAT-A para verificar o
desenvolvimento cognitivo. Apesar dessas autoras verificarem se o que era percebido pelas
crianças nas pranchas do CAT-A tinha relação com a idade e consequentemente com a
cognição, seus dados não permitem comparação com este estudo, pois exploraram os temas
mais frequentes nas histórias, distorção, omissão e adição de personagens. O estudo de
Adrados (1985) usou o método Rorschach e o teste matrizes Progressivas de Raven, com o
propósito de comparar os itens representativos da inteligência no Rorschach e os dados do
Raven. Encontrou-se um resultado convergente com esta pesquisa relativo à diferença de
média de respostas de conteúdo animal a favor dos sujeitos com nível intelectual elevado o
que foi corroborado nesse estudo.
Outra dificuldade se refere ao critério bem definido para a comparação, porque as
variáveis relacionadas à personalidade são múltiplas. Assim, para esta pesquisa, adaptou-se
as categorias de indicadores de integração e nível de percepção do referencial de análise da
cognição no TAT elaborado por Teglasi (2001), com intuito de definir um critério que
pudesse ser observado no CAT-A, comparado com os resultados do método de Rorschach e
DFH. Dessa forma, para melhor clareza do estudo, reduziu-se a amplitude de análises sobre
a dinâmica infantil que a técnica CAT-A possibilita. Quanto ao método de Rorschach,
utilizou-se o referencial de análise da tríade cognitiva, visando um tratamento estatístico
das respostas.
124
Outro fato importante a se destacar é relativo a definição de percepção enquanto uma
dimensão cognitiva. Encontrou-se embasamento na própria hipótese perceptivo-cognitivo
das variáveis que compõe a tríade cognitiva do método Rorschach, pois ao responder o
teste o indivíduo precisa estruturar “cognitivamente o campo recorrendo a atenção,
percepção, a memória, a tomada de decisão, e a análise lógica, por um lado, e a formação
da imagem, por outro, mediante processos de associação, atribuição e simbolização”
(Weiner, 1999, p. 22). Além disso, a fundamentação dos indicadores elaborados por Teglasi
(2001) para avaliar cognição, partiu da hipótese desse autor de que as narrativas
aperceptivas temáticas permitem a avaliação da complexidade de esquemas cognitivos
envolvidos na interpretação significativa, que é baseada numa percepção exata da cena
retratada no estímulo. Assim, considerou-se que, ainda, por meio das respostas ao teste, é
possível verificar as operações mentais utilizadas pelo indivíduo, que segundo Piaget
(1978) dizem respeito ao estágio cognitivo do sujeito. Sendo assim, utilizou-se o postulado
de Piaget sobre a evolução cognitiva para verificar se a fase em que a criança se encontra
determinaria o nível de sua percepção e consequentemente a construção da história.
No que se refere a utilização das técnicas projetivas para a avaliação da personalidade, a
literatura destaca a importância de estudos quantitativos envolvendo essas técnicas. Assim,
de acordo com Güntert (2001), os critérios psicométricos podem ser utilizados nos estudos
com instrumentos projetivos. Para isso faz-se necessário, tanto para a técnica projetiva
quanto para o teste psicométrico, identificar e fundamentar claramente o seu método e o
construto para o qual ele foi elaborado, não precisando necessariamente ser objetivo. Sendo
assim, optou-se por enfocar um aspecto específico da personalidade, a cognição, e pautou-
se na sistematização para análise deste construto que Teglasi (2001) fez para o TAT,
procurando seguir a mesma lógica no CAT. Esse sistema permitiu adaptar categoria de
125
indicadores bem definidos e com certa objetividade dos pressupostos avaliados,
possibilitando a utilização de critérios psicométricos.
Diante do exposto, buscou-se verificar por meio de análises estatísticas se os
indicadores de nível de cognição a serem observadas no CAT-A e os itens que compõem as
variáveis destacadas do Rorschach para avaliar a cognição convergem de alguma maneira.
Além disso, verificou-se o grau de correlação entre juízes na utilização dos critérios de
análise propostos. Os resultados indicaram concordância positiva e significativa, conferindo
confiabilidade aos indicadores de nível de percepção no CAT-A, ou seja, apresentaram boa
precisão para avaliar o nível de percepção, enquanto dimensão cognitiva. As variáveis
destacadas no Rorschach para avaliar a cognição indicaram muito boa precisão pelo sistema
de avaliadores. Quanto as diferenças de média entre os dois grupos, cognição elevada e
rebaixada, distinguidos pelo DFH se diferenciaram nas respostas dadas ao Rorschach nas
variáveis: A (conteúdo animal), S (espaço em branco), FQu (qualidade formal incomum) e
WDA% (índice de adequação da percepção). Tais dados indicam que o Rorschach permitiu
avaliar diferenças no desempenho cognitivo entre crianças de e série. É importante
destacar que a não diferenciação na média das respostas entre os dois grupos nas demais
variáveis pode ser explicada pela natureza dos dois instrumentos. O DFH avalia a
inteligência não-verbal (Sisto, 2005), enquanto o Rorschach possibilita analisar habilidades
de raciocínio verbal. Outro aspecto que diferencia esses instrumentos é relativo à
fundamentação teórica. O DFH baseia-se na evolução do grafismo que, segundo
Goodenough (1964), a ordem evolutiva no desenho, particularmente no caso da figura
humana, é constante quaisquer que sejam os antecedentes sociais das crianças. A autora
concluiu que a criança desenha o que sabe, e portanto, não realiza um trabalho estético, mas
sim intelectual. Quanto ao método de Rorschach, este está pautado na hipótese da
126
percepção gestáltica do estímulo. Assim, pode-se hipotetizar que tais variáveis permitem
avaliar dimensões cognitivas diferentes das que o DFH possibilita.
Os indicadores que avaliam o nível de percepção na CAT-A indicaram diferenças de
média entre os dois grupos (cognição elevada e cognição abaixo do esperado para a idade).
Isto demonstra que existe uma convergência entre os dados do DFH e o CAT-A, indicando
que a categoria de indicadores destacados para analisar o nível de percepção no CAT-A
possibilita avaliar a cognição.
No que se refere ao resultado de diferenças de médias entre o Rorschach e as séries
constatou-se que as variáveis Zf e S apresentaram média mais alta no grupo de 4ª. série.
Esses resultados indicam que são crianças que investem mais energia no processamento da
informação e busca assertividade, independência e auto-afirmação. As crianças da . série
indicaram média alta nas resposta de (Hd) assinalando uma percepção mais limitada e
distorcida do outro (Exner & Sendín, 1999). Já os indicadores do CAT-A se diferenciaram
em relação as séries. Assim, as crianças da 1ª. série elaboraram histórias que indicaram
nível de percepção divergente coincidindo com a fase pré-operatória (Piaget, 1978).
Considerando que as crianças dessa série têm entre sete e oito anos, portanto estão na fase
das operações concretas, deveriam responder ao teste indicando operações mentais relativas
a esta fase. Sendo assim, é possível aventar que essas crianças estejam numa fase transitória
entre a pré-operacional e operação concreta.
Os resultados obtidos no estudo de correlação entre os indicadores do CAT-A e as
variáveis do Rorschach, apontaram concordância positiva baixa e moderada entre as
variáveis S (respostas que utilizaram o espaço em branco da mancha), FQo (qualidade
formal ordinária), A (conteúdo animal) e nível de percepção acurado. Essas respostas
indicam assertividade, independência e auto-afirmação. Além disso, exigem pouco
dispêndio de energia, mas adequada, convergindo com o objeto identificado e o contorno
127
da mancha (Exner & Sendín, 1999). Isto corresponde ao nível acurado que denota precisão,
sequência lógica, narrativas criativas sem se afastar da cena retratada (Teglasi, 2001). Já o
nível literal correlacionou positivamente com a variável Hd, indicando uma percepção mais
limitada e distorcida de si e do outro (Exner & Sendín, 1999), convergindo com o nível de
percepção literal, pois a narrativa descreve o momento, retrata as emoções e ações de forma
simplista (Teglasi, 2001). Quanto às variáveis do Rorschach que não correlacionaram
significativamente com o CAT-A é difícil encontrar uma explicação coerente, pois faltam
publicações com enfoque semelhante desta pesquisa, que pudessem fornecer parâmetros
para uma justificativa plausível. Nesse caso, é possível supor que, subjacente as respostas
dadas aos dois instrumentos, haja algum tipo de raciocínio comum, denominado raciocínio
verbal. Apesar disto, aqui parece que essas variáveis do Rorschach e os indicadores do
CAT-A estão avaliando raciocínio diferente implicados na percepção-cognitiva, que pode
ser justificado pela natureza dos estímulos. O CAT-A demanda mais raciocínio lógico,
enquanto o Rorschach envolve mais habilidade cognitiva relacionada a percepção.
Considerando os achados desta pesquisa, acredita-se ter contribuído com um referencial
de análise para o CAT-A que possibilita a avaliação do nível perceptivo em crianças de sete
a dez anos, de ambos os sexos. Espera-se ainda que a realização de outras pesquisas possa
superar as limitações deste estudo, especialmente no que se refere ao número de
participantes e a falta de heterogeneidade entre o número dos componentes dos grupos
(cognição elevada e abaixo do esperado para a idade), dificultando uma melhor
caracterização do nível de percepção-cognitiva. Assim, futuros estudos poderão contribuir
para a ampliação dos conhecimentos desse construto e para o aprimoramento dos
instrumentos e procedimentos técnicos empregados na avaliação psicológica.
128
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137
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Psicólogo.
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Alegre, RS.
138
139
Anexo 2 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(1ª via)
Termo De Consentimento Livre E Esclarecido
Unidade Acadêmica Da Área De Ciências, Humanas E Sociais.
Universidade São Francisco
Título da Pesquisa: Evidências de Validade do CAT-A e Rorschach para Avaliação da
Cognição.
Eu,.........................................................................................Idade..................RG....................
Endereço....................................................................................................................................
responsável legal por:......................................................................., dou meu consentimento
livre e esclarecido para que ele (a) participe como voluntário (a) da pesquisa supracitada,
sob a responsabilidade das pesquisadoras Maria de Fátima Xavier da UAACHS, do
Doutorado em Psicologia da Universidade São Francisco e da Orientadora Professora Dra.
Anna Elisa de Villemor-Amaral.
Assinando este Termo de Consentimento estou ciente de que:
1 - O objetivo da pesquisa é fazer um estudo de evidência de validade entre as categorias
de indicadores de cognição das técnicas C.A.T. e Rorschach correlacionando-os com o
DFH (Escala-Sisto), que são técnicas de avaliação da personalidade e da cognição.
2- Serão realizados três encontros com as crianças nos quais será aplicado o DFH, o
Rorschach e o CAT-A. Durante o estudo será solicitado a criança que faça um desenho,
conte algumas histórias e diga com que algumas manchas de tinta se parecem. Esse
procedimento não tem tempo certo, mas pode, no total, ocupar cerca de 2h e 30m;
3- Esses exames costumam ser bem aceitos e não trazem nenhum risco conhecido a criança;
4- Obtive todas as informações necessárias para poder decidir conscientemente sobre a
participação de meu filho (a) na referida pesquisa;
5- Estou livre para interromper a qualquer momento a participação de meu filho (a) na
pesquisa;
6 Os dados pessoais de meu filho (a) serão mantidos em sigilo e os resultados gerais
obtidos por meio da pesquisa serão utilizados apenas para alcançar os objetivos do trabalho,
expostos acima, incluída sua publicação na literatura científica especializada;
7- Poderei contatar o Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade o Francisco para
apresentar recursos ou reclamações em relação à pesquisa ou ensaio clínico pelo telefone:
11 -45348040;
8- Poderei entrar em contato com a responsável pelo estudo, Maria de Fátima Xavier,
sempre que julgar necessário pelo telefone 19- 3434-0479;
9- Este Termo de Consentimento é feito em duas vias, sendo que uma permanecerá em meu
poder e outra com a pesquisadora responsável.
Itatiba, junho de 2008. Data:.......................
_____________________________ __________________________
Assinatura do Responsável Legal Maria de Fátima Xavier
Pesquisadora Responsável
140
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(2ª via)
Termo De Consentimento Livre E Esclarecido
Unidade Acadêmica Da Área De Ciências, Humanas E Sociais.
Universidade São Francisco
Título da Pesquisa: Evidências de Validade do CAT-A e Rorschach para Avaliação da
Cognição.
Eu,.........................................................................................Idade..................RG....................
Endereço....................................................................................................................................
responsável legal por:......................................................................., dou meu consentimento
livre e esclarecido para que ele (a) participe como voluntário (a) da pesquisa supracitada,
sob a responsabilidade das pesquisadoras Maria de Fátima Xavier da UAACHS, do
Doutorado em Psicologia da Universidade São Francisco e da Orientadora Professora Dra.
Anna Elisa de Villemor-Amaral.
Assinando este Termo de Consentimento estou ciente de que:
1 - O objetivo da pesquisa é fazer um estudo de evidência de validade entre as categorias
de indicadores de cognição das técnicas C.A.T. e Rorschach correlacionando-os com o
DFH (Escala-Sisto), que são técnicas de avaliação da personalidade e da cognição.
2- Serão realizados três encontros com as crianças nos quais será aplicado o DFH, o
Rorschach e o CAT-A. Durante o estudo será solicitado a criança que faça um desenho,
conte algumas histórias e diga com que algumas manchas de tinta se parecem. Esse
procedimento não tem tempo certo, mas pode, no total, ocupar cerca de 2h e 30m;
3- Esses exames costumam ser bem aceitos e não trazem nenhum risco conhecido a criança;
4- Obtive todas as informações necessárias para poder decidir conscientemente sobre a
participação de meu filho (a) na referida pesquisa;
5- Estou livre para interromper a qualquer momento a participação de meu filho (a) na
pesquisa;
6 Os dados pessoais de meu filho (a) serão mantidos em sigilo e os resultados gerais
obtidos por meio da pesquisa serão utilizados apenas para alcançar os objetivos do trabalho,
expostos acima, incluída sua publicação na literatura científica especializada;
7- Poderei contatar o Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade o Francisco para
apresentar recursos ou reclamações em relação à pesquisa ou ensaio clínico pelo telefone:
11 -45348040;
8- Poderei entrar em contato com a responsável pelo estudo, Maria de Fátima Xavier,
sempre que julgar necessário pelo telefone 19- 3434-0479;
9- Este Termo de Consentimento é feito em duas vias, sendo que uma permanecerá em meu
poder e outra com a pesquisadora responsável.
Itatiba, junho de 2008. Data:.......................
______________________________ __________________________
Assinatura do Responsável Legal Maria de Fátima Xavier
Pesquisadora Responsável
141
Anexo 3 - Folha de Avaliação do CAT-A
Nome: No. Do Protocolo:
Série: Data de nascimento: Idade: Data:
1. Integração Perceptual
A. Grau de Congruência com o Estímulo
Preencher com P (presença) A (ausência) para cada item relacionado aos indicadores de
integração perceptual (grau de congruência com o estímulo).
Indicadores
Cartões
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
1.1 - Desconsidera ou interpreta mal
as emoções, ou percepção das
emoções básicas ou dos
relacionamentos retratados, como por
exemplo excluir um personagem ou
expressar uma tensão que não está
relacionada com a cena retratada.
Exemplo: Na prancha 7 relata que o
tigre esta brincando de pega-pega com
o macaco ou ainda omiti o tigre. Na
prancha 1 omite o esboço da galinha
ou fala que estão sentados ao redor de
uma mesa para conversar, brincar.
1.2- Desconsidera ou se equivoca com
relação às idades dos personagens.
Exemplo: na prancha 1 perceber todos
como galinhas. Na prancha 2 ver todos
os ursos como filhotes.
1.3- Atribui importância exagerada à
detalhes irrelevantes do estímulo.
Exemplo: grande importância a
cortina da prancha 5, ou ao piso na
prancha 3.
1.4- A ênfase é mais perceptual do que
conceitual
(foco em elementos isolados do
estímulo sem fazer relações
significativas entre eles). Exemplo: na
142
prancha 3 enfatizar a bengala sem
fazer nenhuma relação com outros
elementos da prancha ou com o leão.
Na prancha 4 a bicicleta de forma
isolada sem relacioná-la ao contexto
retratado.
1.5- Vacila ou mostra-se indeciso
sobre o significado do estímulo. Indica
inabilidade na interpretação da cena e
não na definição do objeto.
Exemplo: Na prancha 6 não consegue
interpretar se o urso esta dormindo ou
acordado.
1.6- Ignora algum elemento que seria
importante para a história, embora a
percepção seja adequada, desconsidera
alguma característica central na
representação do clima da prancha.
Exemplo: na prancha 2 ignora a corda,
um objeto que fornece sugestões
contextuais importantes.
1.7- Apreende os relacionamentos e os
afetos que são relacionados com o
estímulo, mas não capta a sutileza dos
afetos, sua intensidade, ou a seqüência
dos acontecimentos não se encaixa de
modo preciso com a cena. A descrição
da cena é vaga, o contexto pode não
estar desenvolvido, ou seja, os fatos
que precederam; ou uma lógica falha,
um raciocínio ingênuo. Exemplo: na
prancha 2 não deixa claro a relação de
disputa de um lado e ajuda do outro.
Na prancha 8 não deixa claro que
uma reunião de família de macacos.
1.8- A narrativa reflete um conjunto
de acontecimentos realísticos e uma
compreensão apropriada de
causalidade social (da relação social
implícita). A história está de acordo
com uma compreensão dos aspectos
psicológicos retratados e reflete uma
seqüência de acontecimentos
precisamente convergente com a
configuração do estímulo, o que
sugere uma organização eficiente
143
entre padrões de percepção e
significado conceitual.
Exemplo: deixa claro na prancha 8 a
reunião familiar e na prancha 2 a
relação de disputa e ajuda.
Observação: As duas últimas categorias exigem mais precisão e harmonia entre o estímulo
e a história. Os outros centram mais na explicação do que está acontecendo na figura.
144
Tabela para pontuação do nível integração perceptual (Exemplo).
O avaliador deve avaliar cada história quanto ao nível e preencher a tabela abaixo indicando
o nível que pode ser: 1, 2, 3, e 4.
Protocolos
Cartões
No.
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31
32
33
34
35
36
37
38
145
É importante destacar que na análise dos níveis de integração perceptual, o avaliador
deve ponderar o quão bem a história explica o que está acontecendo na figura,
considerando as emoções e os relacionamentos. Quem analisa deve dar menor peso para as
omissões, excesso de inclusões ou a distorção dos objetos retratados.
B- Níveis Integração Perceptual
Nível um: Divergente Confunde as emoções e os relacionamentos ou interpreta mal.
Falha em reconhecer as tensões no estímulo. Basicamente os problemas a seguir sugerem
que falta ao narrador parâmetros internos para dimensionar as pistas retratadas na prancha.
Interpreta mal expressões faciais, desacordo com as idades, ou o tipo de problema retratado
não combina, destoa com a configuração do estímulo; o narrador omite um personagem
principal da história; enfatiza detalhes irrelevantes sem perceber a gestalt e não percebe
uma tensão óbvia.
Exemplo: Prancha 6 (1ª. série 8 anos e 3 meses)
Um dia mamãe urso morreu. O urso ficou sozinho. O pai morreu e o filhotinho com a
mãe ficou. veio um monte de urso. Aí apareceu dois ursos grandão. Aí depois morreu os
três e aí acabou a história. (Por que eles morreram?). Por causa que eles tava doente.
Falha no reconhecimento da tensão retratada na prancha (enquanto os ursos dormem, o
ursinho está acordado). Assim, o tipo de problema retratado destoa com a configuração do
estímulo e indica falta de lógica dos fatos.
Nível dois: Literal - uma dificuldade de captar o significado implícito. Ele consegue
identificar as idades e emoções dos personagens, mas falha em identificar o processo
psicológico que conecta cada evento, cada emoção, cada ação. A narrativa fica ancorada no
momento e na descrição da cena, mas não revela as conexões causais implícitas entre
146
passado, presente e futuro. Às vezes acontece do indivíduo falar sobre pontos da figura,
quase como cenas sobrepostas, separadas, sem relacionar bem uma com a outra. Ou seja,
nessa história não uma incompatibilidade grosseira entre as emoções e relacionamentos
e nem personagens importantes omitidos, trata-se mais de emoções ou ações simplistas,
vagas e estereotipadas.
Exemplo: Prancha 6 (1ª. série 7 anos e 6 meses)
Tem três ursos grandão e um pequenininho e um monte de pedras e os matos. Só. (O
que estão fazendo?). Eles tão dormindo e o pequenininho ta olhando pra fora. Só. (Por que
o pequeninho está olhando pra fora?). Que tem um monte de mato e ele não queria dormir.
(Por quê?). Não sei. (O que aconteceu depois?). Nada.
O narrador consegue identificar os personagens, idades e a tensão retratada, mas a
narrativa não deixa claro (passado, presente e futuro), descreve o momento e ainda retrata
as emoções, ações de forma simplista.
Nível três: Impreciso - O narrador reconhece o estado de tensão e a história captura, de
modo geral, as implicações do estímulo em relação às emoções e relacionamentos
retratados. Entretanto o ajuste não é preciso, que a história pode não combinar com as
pistas mais sutis do contexto ou estabelece uma relação de causa e efeito levemente
imprópria ou vaga. Outro indicador dessa imprecisão seria o narrador ignorar ou perceber
mal o objeto principal.
Exemplo: Prancha 6 (1ª. série 7 anos e 3 meses)
Era uma vez três famílias que estavam dormindo, mas o que menos estava dormindo era
o ursinho, estava olhando para a neve. Até que gostou tanto que fugiu. E aconteceu que a
manhã chegou e os pais não tinham percebido que o filho tinha fugido. Ele foi para uma
caverna que tinha um monte de mel. Então se assustaram e foram procurar o filho. Até que
chegaram a um buraco que era uma armadilha. Entraram e ficaram congelados.
147
Reconhece a tensão retratada (enquanto os pais dormiam o filho estava acordado), mas
afasta-se do conteúdo de realidade habitual (introduz um ambiente de neve). Utiliza “três
famílias” em vez de três ursos (percebe mal os objetos retratados)
Nível quatro: Acurado - O narrador inclui todas as pistas e sutilezas na interpretação das
emoções e relacionamentos, mesmo a despeito de possíveis omissões ou confusões em
detalhes pequenos, apesar disso os sentimentos e os relacionamentos são entendidos na sua
sutileza. Existe uma interpretação significativa da configuração do estímulo que captura de
modo acurado e específico o clima da cena.
Exemplo: Prancha 1 (1ª. série 7 anos e 3 meses).
Era uma vez três pintinhos que eram muito travessos. A mamãe galinha foi buscar
comida. Trouxe-a e foi fazer as compras e disse: - Esperem eu voltar, não se sirvam
sozinhos. Então como eram muito travessos, comeram tudo sozinhos. O mais travesso era o
do meio. (o que aconteceu?) Ouviram na porta que a mãe estava chegando e foram para o
quarto deles. A mãe veio e viu que não tinha mais comida. Foi até o quarto e bateu neles.
Assim aprenderam que não deviam desobedecer a mãe e servir sozinhos.
Aqui o narrador incluiu todas as pistas, emoções e relacionamentos (os personagens
interatuam em função da comida). Contém os três tempos (passado, presente e futuro).
Seqüência lógica, precisão nas palavras utilizadas. Elaborou uma história criativa sem se
afastar muito do clima da cena retratada.
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