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José Castello, hoje colunista fixo do Prosa e Verso, do jornal O Globo, editou o
suplemento quando ele se dividiu em dois: Idéias e Livros, aos sábados, e Idéias e Ensaios,
aos domingos. Em seu artigo, Castello critica a imprensa brasileira atual pela ausência de
debate, pois para ele “assinaturas diferentes defendem o mesmo ponto de vista”
131
. Na sua
opinião, a exceção fica por conta dos suplementos literários, marcados pelo pluralismo de
opiniões. No entanto, mesmo os suplementos não suscitam polêmicas como antigamente.
Até os anos oitenta, alguns debates ainda movimentaram a nossa vida literária,
alguns deles realizados através das páginas do Jornal do Brasil. José Guilherme Merquior
iniciou a carreira de crítico no Suplemento Dominical com apenas 19 anos. Em janeiro de
1974, ele publica o artigo “Estruturalismo dos pobres”, em que condena a aplicação
indiscriminada de métodos “científicos” pela crítica literária:
(...) o estruturalismo é o paraíso do Método; a nova crítica, por exemplo, se alimenta do mito
do Modelo mecanicamente aplicável. Pós-graduandos incrivelmente ignaros, outrora
incapazes, por simples analfabetismo, de empreender a interpretação de obras pejadas de
referências culturais, agora se entregam sem nenhuma inibição à volúpia de aplicar a torto e a
direito modelos “científicos” de análise. O Método está ao alcance de todos (em módicas
prestações); e “o crítico é o seu método”, sentencia com fervor um dos mais recentes
oficiantes do culto estruturalista.
132
A década de setenta foi marcada pela crescente influência do pensamento estruturalista
nas ciências sociais, sobretudo no meio acadêmico do Rio de Janeiro. Ao preconizar uma
análise literária neutra, alheia à vida social, o estruturalismo logo sofreu forte oposição do
pensamento engajado
133
. No mesmo artigo, Merquior afirma que, graças ao estruturalismo,
“prospera o mais franco terrorismo terminológico”, o que é satirizado logo no início do texto:
Se você quer estudar letras, prepare-se: que idéia faz você, já não digo da metalinguagem,
mas, pelo menos, da gramática generativa do código poético? Qual a sua opinião sobre o
rendimento, na tarefa de equacionar a literariedade do poemático, de microscopias montadas
na fórmula poesia da gramática/gramática da poesia? Quantos actantes você é capaz de
discernir na textualidade dos romances que provavelmente (tres-)leu?
134
Em janeiro de 1985, a seção Folhetim, da Folha de S. Paulo, publica o poema-cartaz
Pós-tudo, de Augusto de Campos, poeta ligado ao movimento concretista, cujo princípio
norteador consiste em explorar a forma e o significante, colocando em primeiro plano a
estrutura verbo-visual. A 31 de março do mesmo ano, o jornal publica artigo de Roberto
Schwarz, que, a partir da composição de Augusto de Campos, critica o projeto estético
131
CASTELLO, José. Laboratório de idéias. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro: 07 out. 2006. Idéias e livros.
132
MERQUIOR, José Guilherme. O estruturalismo do pobre. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro: 27 jan. 1974. Idéias e livros.
133
Cf. SÜSSEKIND, Flora. “Um tiro no estruturalismo”. In: Literatura e vida literária. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985. p.
29-41
134
MERQUIOR op. cit. nota 5