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descendentes europeus, portadores do progresso e da civilidade”
62
. Os relatos da
viagem do governador evidenciam fortemente o desejo da “transformação de um
vazio, o deserto num Éden, numa nova canaan”
63
, objetivo que seria alcançado com
a participação da inteligência e do braço do homem disposto a trabalhar,
representado pelos imigrantes. Os obreiros da civilização são os colonos nascidos
no Rio Grande do Sul, “descendentes de alemães e italianos, toda uma gente forte e
decidida, disposta ao trabalho, levando aqueles rincões, até há pouco incultos por
abandonados a prosperidade e riquezas”.
64
Em relação à existência de “vazios demográficos”, o historiador José Carlos
Radin
65
nos mostra que o sertão trazia consigo a ideia de ausência de civilidade, e
se entendia que sua conquista efetiva faria parte de um projeto patriótico, de espírito
bandeirante. Assim, nesse período, nas representações construídas no Oeste de
Santa Catarina, implícita ou explicitamente, convocavam-se “os mais corajosos” para
a tarefa de efetivar tal projeto. Os colonizadores brancos, descendentes de italianos,
alemães e poloneses, na maioria das vezes apareciam com uma espécie de missão
atribuída de levar a civilização aos espaços não civilizados.
Por isso, colocava-se a necessidade de superar esse modo de ser e de
trabalhar, pois não interessava aos governantes, nem às elites, por não se inserir na
perspectiva do progresso e da civilização almejados. Mas era nesse sentido que,
oficialmente, colocava-se a “ocupação efetiva do território” e a “conquista do sertão”
como forma de tornar plena a construção do Brasil, pois, além de dar unidade
territorial, tal conquista era considerada imprescindível na construção da própria
nação.
Em se tratando da idéia de construção de região, dentro dessa idéia de
territorialidade, convém não esquecer que os aspectos relacionados as divisões
“naturais” acabam sendo os que menos importam. Para os historiadores Bernardete
Ramos Flores e Élio Cantalício Serpa,
Na delimitação de fronteiras, a língua, o habitat, a realidade social,
tanto quanto as classificações mais naturais, apóiam-se em traços
que não tem nada de natural, sendo em ampla medida, o produto de
uma imposição arbitrária, quer dizer, de um estado anterior de
relação de forças no campo de lutas pela delimitação legítima.(...) O
discurso regionalista é, portanto, um discurso performático, que visa
62
RENK, Arlene, 2006, p. 32.
63
BOITEUX, José Arthur, 1931, p. 7-8.
64
Idem, p.10.
65
RADIN, José Carlos, 2006.