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ESTUDO DAS PROPRIEDADES DIELÉTRICAS DE AMOSTRAS LÍQUIDAS E
PASTOSAS EM FUNÇÃO DA TEMPERATURA
ALINE BATISTA RANGEL
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE
DARCY RIBEIRO – UENF
CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ
FEVEREIRO 2010
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II
ESTUDO DAS PROPRIEDADES DIELÉTRICAS DE AMOSTRAS LÍQUIDAS E
PASTOSAS EM FUNÇÃO DA TEMPERATURA
ALINE BATISTA RANGEL
Dissertação submetida à avaliação da banca examinadora
como requisito para a obtenção do título de mestre em física
na área de Ciências Naturais.
Orientador: Prof. Edson Corrêa da Silva
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE
DARCY RIBEIRO – UENF
CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ
FEVEREIRO 2010
III
ESTUDO DAS PROPRIEDADES DIELÉTRICAS DE AMOSTRAS LÍQUIDAS E
PASTOSAS EM FUNÇÃO DA TEMPERATURA
ALINE BATISTA RANGEL
Dissertação submetida à avaliação da banca examinadora
com requisito para a obtenção do título de mestre em física
na área de Ciências Naturais.
Aprovada em 09 de Fevereiro de 2010.
Comissão Examinadora:
____________________________________________________________
Prof. : Helion Vargas (Doutor em Física) - LCFIS/CCT/UENF
____________________________________________________________
Prof. : Marcelo da Silva Sthell (Doutor em Física) - LCFIS/CCT/UENF
____________________________________________________________
Prof. : Antônio Manoel Mansanares ( Doutor em Física) – UNICAMP
____________________________________________________________
Prof. Edson Corrêa da Silva (Doutor em Física) – LCFIS/CCT
Orientador
IV
“Jamais considere seus estudos uma obrigação, mas
como uma oportunidade invejável para aprender a
conhecer a influência libertadora da beleza do reino do
espírito, para seu próprio prazer pessoal e para
proveito da comunidade à qual seu futuro trabalho
pertencer''
( Albert Einstein).
V
Dedico aos meus pais, Wilson e Maura, pela
oportunidade de estudar, pelo carinho e apoio que
sempre me deram, aos meus irmãos, Nixon e Ederson,
pelos conselhos e palavras de incentivo. Ao meu
noivo, Carlos Jonathan, pela paciência e compreensão
por todos os momentos que estive ausente. E a minha
amada prima Lidiane Santiago Batista (em memória)
pelos inesquecíveis momentos de alegria e motivação.
VI
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus por me proporcionar vontade, coragem e conduzir sempre
os meus caminhos.
Ao meu orientador e Professor Edson Corrêa da Silva, pelo seu caráter, pelo
compromisso com seu papel de orientador e por ter acreditado e confiado no meu
trabalho.
Aos meus pais, Wilson e Maura, pelos seus ensinamentos de vida, apoio,
confiança e companheirismo nos momentos mais difíceis de minha vida.
Á CNPq e FAPERJ pelos auxílios que permitiram ter infra-estrutura para
desenvolvimento deste projeto de mestrado.
Á Profa. Lireny Gonçalves pelo fornecimento das amostras de gorduras, assim
como todas as informações de caracterização das mesmas.
Ao Prof. Helion Vargas pela qualidade e estrutura que imprime no LCFIS que
dirige.
Aos colegas de turma, pela amizade e companheirismo compartilhados durante
toda a pós-graduação.
Ao aluno de doutorado de Ciências Naturais Francisco de Assis Léo Machado por
sua dedicação e seus importantes auxílios.
Ao aluno de Iniciação Cientifica Thalles Custódio Cordeiro, pela boa vontade,
dedicação e constante participação nas medidas.
Ao técnico do Laboratório de Ciências Físicas, Luis pela incessante colaboração
e auxílio durante os trabalhos.
Ao Pós-Doutorando André Oliveira Guimarães pela importante participação e o
desenvolvimento deste trabalho.
Ao aluno de Doutorado Israel Andrade Esquef pela colaboração no
desenvolvimento dos programas de obtenção de dados.
Aos amigos de laboratório Erick, Luiza, Aline, Sílvia, Wlly pela amizade e
participações ao longo deste tempo de formação.
RESUMO
Com o avanço do conhecimento científico novos materiais têm sido
desenvolvidos e materiais existentes vem sendo preparados com cada vez mais
qualidade. Dentre eles destacam-se os óleos e gorduras que, por apresentarem uma
vasta aplicabilidade nos ramos industrial e tecnológico, despertam forte interesse no
domínio de suas propriedades físicas.
No presente trabalho é proposta a aplicação da metodologia de medidas elétricas
para a obtenção da constante dielétrica em função da temperatura de um conjunto de
amostras (óleos vegetais, óleos minerais e gorduras em geral). O arranjo experimental
consiste de uma ponte RCL (fonte de alimentação), um controlador de temperatura e
uma célula capacitiva formada por um capacitor, um dissipador de calor, um termopar
adaptado em uma das placas capacitivas e um sistema de elementos Peltier. A célula
foi projetada e construída neste trabalho.
O sistema eletrônico (célula capacitiva) é alimentado por um sinal alternado
enviado pela ponte RCL que, como resposta, recebe duas componentes de tensão e
duas de corrente. Com essas componentes a ponte RCL calcula a capacitância do
material entre as placas do capacitor. A constante dielétrica é determinada a partir da
razão entre a capacitância do capacitor preenchido (amostra dielétrica), e a capacitância
do capacitor vazio (ar). As medidas de capacitância são obtidas dentro do mesmo
intervalo de temperatura. Definida a montagem experimental a capacitância espúria total
(a que não é da célula do aparato experimental) é obtida e utilizada para a calibração do
sistema.
Para avaliar a confiabilidade da célula capacitiva construída foram realizadas
medidas preliminares a temperatura ambiente com amostras de constante dielétrica
conhecida na literatura. São elas: óleo mineral, vaselina, glicerinas (99,5% de pureza e
glicerina comum de uso pessoal), margarina e óleo de cino. Os resultados para o óleo
mineral, a vaselina, glicerina de 99,5% de pureza e o óleo de rícino se aproximaram
bastante dos valores esperados. Quanto à glicerina comum, comercial, as medidas
obtidas apresentaram alguma variação em função do tempo, devido, provavelmente, ao
fato da glicerina ser higroscópica, absorvendo água do ambiente, além das impurezas
em sua composição.
Foram realizadas medidas com misturas de biodiesel de canola e de babaçu em
diesel de petróleo, sendo possível observar a sensibilidade da técnica na distinção de
diferentes amostras quanto à sua composição e origem dos óleos precursores.
VIII
Expressivos foram os resultados do estudo das misturas de óleo de soja com
óleo de soja hidrogenado, submetidas ou não a processo químico de interesterificação.
Esse processo é importante na produção de produtos alimentícios com baixo teor de
gorduras trans. Medidas de constante dielétrica como função da temperatura foram
realizadas com a glicerina 99,5% de pureza. Foi observada uma diminuição do valor da
constante dielétrica com o aumento da temperatura, como esperado, e detectada uma
transição de fase em torno de 18
0
C, demonstrando essa habilidade da metodologia.
Palavras-Chave: constante dielétrica, óleos e gorduras, biodiesel, dependência
com temperatura e materiais dielétricos.
IX
ABSTRACT
Science evolution has been responsible for the enhancement of the quality
of the manufacturing processes and development of new materials. Among them pasty
oil materials are presenting nowadays a wide applicability in industrial and technological
sectors, for instance in food and fuel demands. So, the knowledge of their physical
properties and behavior with temperature as well has been though as very useful for
technical people dealing with these materials. In this work we are presenting the
application of a methodology based in the obtainment of the dielectric constant as a
function of temperature for a set of samples (vegetable oils, mineral oils, fats in general
for instance). The experimental apparatus consists of a RCL bridge, a temperature
controller and a capacitive cell formed by a capacitor, a heat sink, a thermocouple
adapted in one of the capacitive plates and a system of Peltier elements. This capacitive
cell was designed and built within this work. The capacitive cell is powered by an
alternating signal sent by the bridge. The system response to the RCL signal comprises
two components of the voltage and two of the current. With this information the bridge
calculates the values of capacitance and other relevant electrical parameters
(impedance, inductance). The dielectric constant is determined from the ratio between
the capacitance of the capacitor (dielectric sample), and capacitance of the capacitor gap
(air), since the geometry and dimensions of the capacitor does not change and provided
both measurements are obtained within the same temperature range. In order to
evaluate the reliability of the built capacitive cell some calibration experiments were
carried out with known dielectric constant samples as: mineral oil, vaseline, glycerin
99,5%, castor oil and margarine. The results are very close to the literature data. In the
case of commercial glycerin experimental values presents some variations compared
with literature data due to the fact that glycerin is hygroscopic, absorbing water from
environment, and due to the presence of some impurities.
The methodology was applied in the study of biodiesel mixtures with petroleum
diesel and has demonstrated its ability in distinguishing the samples concerning
composition and different precursor oils involved in the biodiesel production.
Expressive results were obtained in the study of mixtures of soybean and
hydrogenated soybean in the process aiming the production of foodstuffs with low trans
fat content.
Dielectric constant measurements as a function of temperature were carried out
for the glycerin 99,5% purity. One observed the diminishing of the constant as
X
temperature increases, as expected. The rate of dielectric constant variation with
temperature permitted clearly the detection of a phase transition well known around 18
0
C
showing this methodology ability.
Keywords: dielectric constant, pasty materials, biodiesel, temperature dependence and
dielectric materials.
II
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS............................................................................................. IV
LISTA DE TABELAS ............................................................................................ VI
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO............................................................................... 1
1.1 - Objetivos ................................................................................................... 4
1.1.1 - Objetivos Específicos ............................................................................... 4
1.2 - Justificativas............................................................................................. 4
CAPÍTULO 2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ..................................................... 6
2.1 - Capacitores e Medida da Constante Dielétrica ........................................ 6
2.2 – Visão Macroscópica dos Dielétricos........................................................ 9
2.2.1 – Polarização Elétrica................................................................................. 9
2.2.2 - Dipolo Elétrico......................................................................................... 11
2.2.3 – Dielétricos Polares e Apolares............................................................... 14
2.3 – Visão Microscópica dos dielétricos........................................................16
2.3.1 - Polarizabilidade e a Equação de Clausius Mossotti.............................. 19
CAPÍTULO 3 - MATERIAIS E MÉTODOS............................................................22
3.1 Materiais .....................................................................................................22
3.1.1 – Glicerina (1,2,3 propanotriol ou glicerol)................................................ 22
3.1.2 - Gorduras interesterificadas .................................................................... 24
3.1.3 - Óleo de Rícino........................................................................................ 28
3. 1.4 - Óleo Mineral .......................................................................................... 30
3.1.5 - Vaselina Líquida..................................................................................... 31
3.1.6 - Biodiesel................................................................................................31
3.1.6.1 - Biodiesel de Canola............................................................................. 33
3.1.6.2 – Biodiesel de Babaçú........................................................................... 34
3.2 - Descrição do Arranjo Experimental.........................................................36
3.2.1 - Controlador de temperatura ................................................................... 38
3.2.2 – Medidpr RCL.......................................................................................... 39
3.3 – Determinação da Capacitância espúria e da constante dielétrica ....44
CAPÍTULO 4 – RESULTADOS EXPERIMENTAIS ..............................................47
4.1 – Medidas com o ar...................................................................................47
4.2 - Medidas a temperatura ambiente com amostras de constante dielétrica
conhecida.........................................................................................................49
III
4.2.1 - Óleo mineral, vaselina, óleo de rícino e glicerina de 99,5% de pureza.. 49
(Amostras referenciais)...................................................................................... 49
K Literatura*.........................................................................................................52
4.3 - Medidas a temperatura ambiente com amostras de constante dielétrica
não conhecida..................................................................................................52
4.3.1 - Misturas de óleo de soja em óleo de soja totalmente hidrogenado com e
sem reação de interesterificação....................................................................... 52
4.3.2 - Mistura de biodiesel de canola em diesel para diferentes concentrações54
4.4 – Medidas de constante dielétrica com variação de temperatura .........56
4.4.1 - Glicerina de 99,5% de pureza ................................................................ 56
CAPÍTULO 5 – CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS............................................60
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................62
IV
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1: Esquema de Capacitor de Placas Paralelas.................................................................7
FIGURA 2: Um dielétrico polar submetido à um campo elétrico externo.........................15
FIGURA 3: Material dielétrico formado por dipolos intrínsecos sob a ação de um campo
elétrico externo.................................................................................................................................................16
FIGURA 4: Dielétrico formado por dipolos intrínsecos sob a ação de um campo elétrico
externo
E
v
, e formação do campo elétrico dos dipolos e do campo total interno
macroscópico. .................................................................................................................................................17
FIGURA 5: Constituintes apolares de um dielétrico sem momentos de dipolo intrínseco.
...............................................................................................................................................................................18
FIGURA 6: Dietrico apolar sujeito a um campo não-nulo.............................................................18
FIGURA 7: Um pedo de material dietrico, com uma esfera de raio R.................................19
FIGURA 8: Estrutura molecular da glicerina ( glicerol)................................................22
FIGURA 9: Ilustração da reação de esterificação formando o triacilglicerol. Triacilglicerol
- porção à esquerda: glicerol, porção à direita ácidos graxos. Fórmula
55
H
98
O
6
Os
grupos R
1
,
R
2
e
R
3
são geralmente grupos alquilas de cadeias longas podendo conter ou
não insaturações............................................................................................................................................25
FIGURA 10: Processo de hidrogenação de um ácido graxo mono-insaturado o ácido
oléico...................................................................................................................................................................26
FIGURA 11: Esquema da reação de interesterificação química................................................27
FIGURA 12: Reação de transesterificação: Processo de produção do biodisell.................32
FIGURA 13: Ilustração dos percentuais mínimos de mistura de biodiesel ao diesel
estabelecidos pela Lei n° 11.097/05......................................................................................................33
FIGURA 14: Arranjo experimental ..........................................................................................................37
FIGURA 15: (a) Representão esquemática do recipiente para constituir o capacitor. Os
sulcos 1, 2 permitem o encaixe das placas que constituem os eletrodos do capacitor e a
perfuração 3 permite a adaptação do conjunto peltier e dissipador de calor; (b) Representa
as placas de cobre que constitui as armaduras do capacitor, a seta 4 aponta para onde
será adaptado o termopar. ..........................................................................................................................38
FIGURA 16: Controlador de Temperatura............................................................................................39
FIGURA 17: medidor RCL usado nas medidas de capacitância................................................39
FIGURA 18: Visor da Ponte RCL............................................................................................................41
V
FIGURA 19:. Diagrama de fase para a voltagem e corrente. .........................................................41
FIGURA 20: Representação gráfica vetorial do parâmetro Z, em que X é a componente
imagiria, R a componente real,
φ
e
δ
são ângulos formados entre o vetor resultante e
suas componentes. ........................................................................................................................................44
FIGURA 21: (a) ilustração da associação em paralelo e (b) ilustração da associação em
série.....................................................................................................................................................................45
FIGURA 22: Gfico da capacitância do ar em função da frequência.........................................47
FIGURA 23: Gfico da capacitância da vaselina em função da frequência.............................48
FIGURA 24: Gráfico da constante dielétrica da glicerina de 99,5%, óleo de rícino, óleo
mineral e da vaselina em fuão da frequência...................................................................................50
FIGURA 25 : Constante dielétrica em função da concentração de misturas de óleo de
soja em óleo de soja totalmente hidrogenada com e sem a reação de interesterificação.
...............................................................................................................................................................................54
FIGURA 26: Constante: dielétrica em função da concentração de biodiesel de canola em
diesel...................................................................................................................................................................55
FIGURA 27: Constante: dielétrica em função da concentração de biodiesel de babaçu
canola em diesel. ...........................................................................................................................................55
FIGURA 28: Constante dielétrica da glicerina de 99,5% de pureza em função da
temperatura......................................................................................................................................................57
FIGURA 29 :Taxa de variação da constante dielétrica da glicerina de 99,5% de pureza
com a temperatura em função da temperatura..................................................................................58
VI
LISTA DE TABELAS
TABELA 1: Composição química média das sementes de mamona.....................................28
TABELA 2: Variação da viscosidade de óleos vegetais em função da temperatura. ......29
TABELA 3. Composição química do óleo de babaçu...................................................................35
TABELA 4: Expressões doslculos internos do equipamento RCL meter...........................43
TABELA 5: Valores de constante dielétrica conhecidos na literatura e os medidos
experimentalmente para as amostras de glicerina de 99,5 % de pureza, óleo de rícino, óleo
mineral e vaselina...........................................................................................................................................52
TABELA 6: Valores de constante dielétrica com o percentual de erro das misturas de
óleo de soja em óleo de soja totalmente hidrogenado com e sem interesterificação........53
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO
1
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO
Com a utilização de novas técnicas de análise e controle, e o desenvolvimento de
equipamentos já disponíveis em laboratórios, os materiais recém-descobertos, além dos
mais tempo conhecidos estão sendo desenvolvidos com maior qualidade e um
elevado desempenho funcional.
Tal progresso científico-tecnológico vem contribuindo significativamente para o
avanço do estudo dos líquidos que, na história da Física, não avançou tão rapidamente
como o estudo dos sólidos e dos gases. Particularmente, o estudo de cristais dentro dos
sólidos detém uma maior quantidade de trabalhos publicados devido à sua organização
interna no nível de átomos e moléculas, simplificando, por isso, a formulação de
modelos que conseguem explicar com sucesso as propriedades macroscópicas
observadas.
No caso dos líquidos o problema maior reside na complexidade das interações
entre moléculas, dificultando a elaboração de modelos para explicar suas propriedades.
Mesmo assim existem trabalhos teóricos que usam técnicas de simulação para criar um
modelo tridimensional a fim de melhor compreender as relações entre suas estruturas e
o fator de estrutura interatômicas.
uma série de trabalhos teóricos e experimentais sobre alguns tipos especiais
de líquidos como a água (YANG, B. 1991), além de cristais líquidos que vêm se
mostrando uma área com grande avanço em suas pesquisas e integrante em diversos
periódicos especializados em Física.
O estudo por uma classe particular de líquidos denominada óleos, por muito
tempo não teve o destaque que realmente merecia. Porém, devido às vastas
possibilidades de aplicações de óleos e gorduras vegetais nos ramos tecnológico e
industrial, nos últimos anos, vêm-se ampliando pesquisas de reconhecimento científico
relativas às propriedades físicas de óleos vegetais.
Na área da Química, da Engenharia Química e da Ciência de Alimentos é notável
o forte interesse por parte dos pesquisadores em desenvolver pesquisas a fim de se ter
um maior conhecimento das propriedades dos óleos.
Nestas pesquisas o conhecimento detalhado de sua composição permite o seu
uso em dispositivos importantes em diversas áreas industriais como: indústria de
cosméticos, indústria de lubrificantes, indústria alimentícia, além de, principalmente, a
indústria petrolífera que injeta fortes incentivos em pesquisas nesta área.
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO
2
Para o desenvolvimento dessas pesquisas e um maior conhecimento sobre as
propriedades físicas destes materiais, várias técnicas têm sido utilizadas, tais como:
técnicas fototérmicas (medidas de propriedades térmicas e ópticas); RMN (Ressonância
Magnética Nuclear); espectroscopias ópticas (Visível, Infravermelho, UV);
espectroscopia de Raios-X e medidas elétricas (constante dielétrica),
As técnicas fototérmicas têm se mostrado extremamente adequadas para
estudos de materiais sólidos, líquidos e pastosos, sejam estudos espectroscópicos ou
de caracterização térmica. As vantagens são: o seu caráter não destrutivo, a não
necessidade de preparação especial das amostras, o fato de serem aplicáveis a
amostras opticamente muito absorvedoras ou muito transparentes, e mesmo muito
espalhadoras de luz. (VITORIANO, A, 1996)
A técnica de (RMN) utilizada em pesquisas vem se mostrando fundamental, por
tratar-se de uma técnica que permite obter informações sobre movimento das
moléculas, tempo de relaxação e sítios das mesmas.
Técnicas de espectroscopia (raios-X, infravermelho e ultravioleta) também
têm sido amplamente utilizadas na caracterização de óleos. Há na literatura trabalhos na
caracterização de óleos comestíveis, manteiga e gorduras através da espectroscopia de
infravermelho com transformada de Fourier.
Estudos sobre propriedades dielétricas para caracterização de óleos vegetais tais
como: óleo de Palma, óleo de Andiroba, óleo de Babaçu, óleo de Buriti e óleo de
Copaíba foram reportados por Vitorino, 1996. A grande diversidade de aplicações
destes óleos vem despertando grande interesse de setores estratégicos da economia
global, como alimentos, fármacos, produtos naturais e combustíveis. Como exemplo,
temos a transformação de azeite de dendê em combustível “limpo“ que pode ser
utilizado em motores a diesel, com o mesmo rendimento de motores convencionais, com
vantagens de baixo custo e alto impacto na preservação ambiental. (CIÊNCIA HOJE,
2004).
O conhecimento das propriedades físicas de óleos e gorduras é bastante
importante que os mesmos são amplamente utilizados pela sociedade de um modo
geral - seja na alimentação para a preparação de alguns alimentos e no consumo de
manteigas e gorduras comestíveis, seja nas indústrias que utilizam óleos como
lubrificantes em máquinas. Na indústria de cosméticos o uso de óleo é abundante já que
se trata da matéria-prima principal destes produtos.
Neste trabalho é proposta a implantação de uma metodologia de medidas
dielétricas no Laboratório de Ciências Físicas da UENF que contribuirá para o
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO
3
desenvolvimento de novas pesquisas, além de complementar estudos já realizados
envolvendo biocombustíveis e materiais oleaginosos, em geral. Tal metodologia é
constituída de uma célula capacitiva onde serão realizadas análises das constantes
dielétricas com variação de temperatura de um conjunto de materiais como: óleos
vegetais diversos, biodiesel, margarina, gorduras entre outros materiais líquidos ou
pastosos.
O Capítulo 2 consiste de uma revisão bibliográfica sobre a teoria eletromagnética
clássica de materiais dielétricos que fundamentam as técnicas experimentais deste
trabalho.
Após, trataremos da metodologia usada para desenvolver a investigação
proposta, descreveremos os materiais e amostras, além de um detalhamento da técnica
de metodologia de constante dielétrica usada nesta pesquisa. O desenvolvimento da
célula capacitiva e a montagem experimental para realização das medidas de
capacitância serão abordados no capítulo 3, bem como os equipamentos necessários
para desenvolver este trabalho.
Em seguida, no capítulo 4 apresentamos os resultados obtidos discutindo e
destacando os principais, além de justificar os aspectos essenciais para entendimento
dos resultados.
E finalmente, com o capítulo 5, o trabalho será finalizado com as conclusões
referentes à parte de resultados, e suas implicações para estudos futuros além de
sugestões pertinentes que possam agregar valor ao trabalho
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO
4
1.1 - Objetivos
Este trabalho tem como objetivo:
Estudar a metodologia de medidas de propriedades dielétricas;
Estabelecer a montagem do aparato experimental;
Determinar as constantes dietricas em função da temperatura de um
sistema de amostras líquidas e pastosas, tais como óleos vegetais, biodiesel, margarinas
e gorduras em geral;
1.1.1 - Objetivos Específicos
Identificar a temperatura de transição das amostras, analisando as
propriedades dielétricas e o comportamento das mesmas neste processo;
Estudar a estabilidade temporal das amostras sob uma temperatura fixa;
1.2 - Justificativas
Os materiais oleaginosos representam um dos principais produtos da economia
nacional, devido à sua grande aplicabilidade nos setores industrial e tecnológico. A atual
política de energia alternativa contribui para tornar esses materiais o principal foco de
investimentos e pesquisas avançadas. O uso cotidiano dos óleos vegetais na dieta
humana leva à necessidade de se avaliar melhor o seu grau de resistência e qualidade.
Em indústrias de lubrificantes e cosméticos, eles são matérias-primas com propriedades
fundamentais aos seus produtos. Nesse sentido, torna-se cada vez mais necessário um
estudo detalhado das propriedades físicas desses materiais, a fim de conhecer a sua
potencialidade e funcionalidade.
Grandes esforços têm sido feitos mediante técnicas diversas como Fototérmica,
Espectroscopias e Ressonâncias, para a caracterização química e física desses
materiais. Tais estudos contribuem para o desenvolvimento científico, bem como para o
progresso de novas tecnologias.
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO
5
A metodologia de propriedades dielétricas de amostras oleaginosas e pastosas
em função da temperatura, utilizada neste trabalho, é mais uma técnica importante para
a caracterização física desses materiais.
CAPÍTULO 2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
6
CAPÍTULO 2 – FUNDAMENTAÇÃO TRICA
Nesse capítulo será feita uma abordagem geral dos modelos teóricos que
suportam este trabalho experimental. As teorias são baseadas em princípios clássicos e
são conhecidas nos textos da literatura científica. Para tanto, iremos nos fundamentar
em livros textos e trabalhos científicos sobre tais assuntos e que estão devidamente
referenciados por todo o capítulo.
2.1 - Capacitores e Medida da Constante Dielétrica
Um capacitor é um dispositivo eletrônico capaz de acumular cargas entre dois
eletrodos de geometria bem definida e separados por uma distância (d) conhecida. Ao
acumular cargas os capacitores armazenam energia que fica contida no campo elétrico
entre as placas. A capacidade de acúmulo de cargas por unidade de potencial elétrico
aplicado é definida como capacitância:
V
Q
C
=
(2.1)
Daí a capacitância de um capacitor ser medida no Sistema Internacional, em
Coulomb por volt (C/V), uma unidade denominada Farad (F) em homenagem ao físico
inglês Michael Faraday.( DE SOUZA, F.F. 2005). A constante de proporcionalidade, C,
depende somente da geometria das placas e do meio que estiver entre elas, conforme
veremos a seguir.
A geometria mais simples conhecida é aquela de capacitores formados por placas
planas e paralelas. Se duas placas condutoras de área A são dispostas paralelamente
separadas por uma distância d, e entre elas é aplicada uma diferença de potencial
(voltagem) V, conforme a FIGURA1, a capacitância deste capacitor é
d
A
C
o
ε
=
(2.2)
onde
0
ε
= 8,85 x 10
-12
C
2
.N
-1
.m
-2
(F.m
-1
) é a permissividade elétrica do vácuo (ou do ar),
CAPÍTULO 2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
7
A é a área de cada placa e d é a disncia entre elas.
Fonte: BICALHO, F, DA SILVA, 2006
FIGURA 1: Esquema de Capacitor de Placas Paralelas
Nota-se que a capacitância de um capacitor depende apenas da sua geometria e
dimensões, am da constante dielétrica do meio, mas o da voltagem aplicada.
Do ponto de vista prático os capacitores m dimenes pequenas e podem
acumular quantidades apreciáveis de carga, principalmente se existe um meio material
dielétrico colocado entre suas placas.
Colocar um dietrico torna possível manter uma mesma carga acumulada para um
potencial V mais baixo (caso da fonte de teno desligada), ou manter o mesmo potencial
com uma carga acumulada maior (caso da fonte de tensão ligada). Em ambos os casos
significa uma capacitância aumentada.
A capacitância de um capacitor com dimensões fixas quando existe um dielétrico
entre as placas é maior do que a capacitância do mesmo capacitor quando há vácuo entre
as placas. Quando o espaço entre as placas encontra-se completamente preenchido com
o dielétrico, a razão C sobre C
0
(capacincia no vácuo) denomina-se constante dielétrica K
do material:
o
C
C
K =
(2.3)
Quando a carga é constante, Q = C
0
V
0
= CV e C/C
0
=V
0
/V. Nesse caso a equação
(2.3) pode ser reescrita na forma:
CAPÍTULO 2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
8
K
V
V
0
=
(2.4)
De fato, quando um material é inserido entre as placas enquanto a carga é mantida
constante (sem a aplicação de fonte de tensão), a diferença de potencial entre as placas
diminui de um fator K. Portanto, o campo elétrico entre as placas deve diminuir do mesmo
fator (SEARS; ZEMANSKY, 2004)
K
E
E
o
=
(2.5)
onde
K
, é uma grandezasica adimensional, e é sempre maior do que a
unidade para qualquer material dielétrico.
Um meio prático de se medir a constante dielétrica de um material é determinar a
capacitância de um mesmo capacitor, primeiro vazio (sem o meio dielétrico) equação (2.2)
e depois preenchido com o material dielétrico. Uma vez que a geometria do capacitor não
muda, a constante dietrica, que é a permissividade relativa, é dada pela razão:
o
o
o
d
A
d
A
C
C
K
ε
ε
ε
ε
===
(2.6)
Este se o procedimento a ser adotado no desenvolvimento deste trabalho,
levando em consideração a variação da constante dielétrica em função da temperatura e
da sistemática de amostras em estudo.
CAPÍTULO 2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
9
2.2 Visão Macroscópica dos Dielétricos
2.2.1Polarização Elétrica
Os efeitos causados por um campo elétrico aplicado a um meio dielétrico são
completamente descritos pelas equações de Maxwell em meio material.
..
L
D
ρ
=
r
(2.7)
0=× E
r
(2.8)
Onde
E
r
é o vetor campo elétrico,
D
r
o vetor deslocamento elétrico e
L
ρ
é
definido como a densidade de cargas livres, cargas que se encontram nas placas
condutoras do capacitor. Porém, em um dielétrico é conveniente separar a carga total
T
ρ
em duas contribuições,
L
ρ
, definida, e
P
ρ
que é a densidade de cargas de
polarização, que estão ligadas ao meio dielétrico. As cargas de polarização são aquelas
induzidas pelas cargas livres e essas podem ser definidas como:
p
P
ρ
=
r
.
(2.9)
Onde
P
r
é o vetor polarização elétrica do meio e de (2.9) vemos que não haverá
cargas de polarização quando
P
r
for uniforme em todo o espaço, pois
0.
=
P
.
Podemos ainda mostrar a existência de uma relação entre
DE
r
r
,
e
P
r
, usando uma das
equações de Maxwell na forma diferencial:
PLT
E
ρ
ρ
ρ
ε
+
=
=
r
0
.
(2.10)
CAPÍTULO 2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
10
Usando (2.9) vemos que:
(
)
L
PE
ρ
ε
=
+
r
r
0
.
(2.11)
Devido à (2.7):
(
)
PED
r
r
r
+
=
0
ε
(2.12)
Além disso, para um meio homogêneo e linear temos:
ED
r
r
ε
=
(2.13)
EP
r
r
χ
=
(2.14)
onde
χ
é a susceptibilidade elétrica do meio que fornece a informação de quão
polarizável é o material e possui a mesma unidade da permissividade elétrica, o que
pode ser visto usando (2.12) e (2.13):
(2.15)
A partir desta equação pode-se definir a constante dielétrica
K
como sendo:
o
K
ε
χ
+= 1
(2.16)
Usando a equação (2.16) pode-se escrever a polarização do meio como:
χ
ε
ε
+
=
0
CAPÍTULO 2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
11
EKP
r
r
0
)1(
ε
=
(2.17)
É importante ressaltar que as grandezas
ε
e
χ
são tratadas como escalares
admitindo-se a homogeneidade e linearidade do material e também campos elétricos
pouco intensos. Se alguma dessas condições não for cumprida (anisotropia e efeitos
não lineares),
ε
e
χ
devem ser tratadas como tensores e passam a depender da
direção e da intensidade do campo elétrico que é aplicado (JACKSON, J.D., 1983).
2.2.2 - Dipolo Elétrico
Uma entidade extremamente importante no estudo de meios dielétricos é o dipolo
elétrico. Um dipolo elétrico é formado por duas cargas iguais e de sinais opostos
separadas por uma distância d (pequena do ponto de vista macroscópico) e a ele está
associada uma grandeza chamada momento de dipolo elétrico que é definida,
matematicamente, como:
dqp
r
r
=
(2.18)
O vetor momento de dipolo elétrico está sempre orientado no sentido da carga
negativa para carga positiva. A unidade comumente usada para
p
r
é o Debye (D) que
é uma homenagem a Peter J. W. Debye, físico americano de origem holandesa que
muito contribuiu para o entendimento dos materiais dielétricos (DEBYE, P.J.W., 1945).
No S.I. 1 D é aproximadamente 3,335 x 10
-3
C.m, considerando-se a carga
elementar 1,6 x 10
-19
C e separação entre as cargas de 10
-10
m (1 angstrom) . O campo
elétrico produzido por um dipolo está profundamente ligado ao seu momento de dipolo
p
r
através da expressão (BÖTTCHER,C.J.F, 1952)
CAPÍTULO 2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
12
=
35
).(3
4
1
r
p
r
rrp
E
o
p
r
r
r
r
r
πε
(2.19)
A equação (2.19) mostra que o campo de um dipolo cai muito rapidamente
quando
r
cresce devido a termos de
3
r
(interação de curta distância) e, ainda, que o
campo dipolar é máximo se
r
é paralelo ao eixo do dipolo. A equação (2.19) pode ser
escrita de uma forma mais compacta usando-se notação tensorial, segue que
(BÖTTCHER, C.J.F. 1952):
pE
p
r
r
.Τ=
(2.20)
Sendo o tensor T conhecido como tensor interação dipolo-dipolo dado por:
Ι=Τ
23
3
4
1
r
rr
r
o
r
r
πε
(2.21)
*
onde I é a matriz identidade 3x3. A equação (2.19) será importante
quando se trata de meios dielétricos polares. O conceito de dielétrico polar ou apolar
tem a ver com a constituição microscópica do material e como ele reage a campos
elétricos aplicados externamente. No primeiro caso as moléculas que compõem o
material possuem
0
p
r
(porém, macroscopicamente, não campo efetivo) e
quando da aplicação de um campo externo estes dipolos microscópicos (moléculas
polares) tendem a se alinhar com esse campo. No segundo caso as moléculas do
material tem
0
=
p
v
(moléculas apolares) e se a elas é aplicado um campo elétrico
haverá uma deformação da mesma surgindo assim um momento de dipolo induzido que
será alinhado com o campo externo (FROHLICH, H. 1958).
Quando um campo elétrico externo age sobre um dielétrico formado por
constituintes que possuem dipolos elétricos intrínsecos, como ocorre com a água, esses
dipolos sofrem a ão de forças elétricas, o que causa torques que tendem a orientar os
CAPÍTULO 2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
13
vetores momento de dipolo na mesma direção e sentido que o campo externo aplicado,
fazendo com que a energia potencial de interação seja minimizada.
Ep
r
r
×=
τ
(2.22)
que será máximo quando
p
r
e
E
v
estiverem orientados perpendicularmente um
ao outro. O trabalho necessário para que
p
r
alinhe-se com
E
v
é definido como:
θ
cos. EpEpU
r
r
r
r
==
(2.23)
É importante notar de (2.23) que, e pela definição de produto escalar, a
energia de interação do dipolo e o campo externo dependem de
θ
cos
, ou seja, o
ângulo de orientação
θ
fundamental para o conhecimento da polarização efetiva do
dielétrico, mais precisamente a distribuição dessas orientações será a chave para
entender o comportamento de um dielétrico em um campo externo aplicado
(BÖTTCHER, C.J.F., 1952, FROHLICH, H., 1958).
A energia vai ser mínima quando
0
=
θ
º (paralela) e será máxima
quando
π
θ
=
(antiparalela) além do que a agitação térmica tem um papel importante
no sentido de que ela minimiza os efeitos de alinhamento com o campo externo. Isto cria
pequenos domínios de volume
V
(macroscópico) em que a polarização media
P
r
é
diferente de zero, devido a uns poucos dipolos alinhados
p
r
, e pode ser definida
como:
V
p
P
=
r
r
(2.24)
onde
P
r
é a densidade média de dipolos que estão orientados com o campo
exterior. É importante salientar que essa discussão se aplica tanto a dielétricos polares
(dipolos permanentes) quanto a apolares (dipolos induzidos), como veremos a seguir.
CAPÍTULO 2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
14
2.2.3Dielétricos Polares e Apolares
O comportamento elétrico dos materiais se distingue entre isolantes e
condutores. Materiais constituídos por átomos ou moléculas neutras, sem portadores de
cargas móveis, o chamados de isolantes ou dielétricos. Quando um material dielétrico é
colocado na presença de um campo elétrico externo ele se torna polarizado devido a dois
processos microscópicos diferentes:
1- Moléculas simétricas sem momento de dipolo intrínseco, chamadas de moléculas
apolares, são deformadas pelo campo aplicado para adquirirem um momento de dipolo
induzido, alinhado com o campo aplicado.
2- Moléculas com momento de dipolo intrínseco, chamadas de moléculas polares.
Estas ao serem submetidas a um campo elétrico externo, seus dipolos procuram se
orientar na direção e no sentido do campo. Na ausência de um campo aplicado, a agitação
térmica faz com que a orientação dos dipolos seja aleatória, e o há alinhamento efetivo
ao longo de uma direção preferencial, exceto no caso especial de materiais ferroelétricos.
É interessante notar que as moléculas polares, na presença de campo
externo, também estão sujeitas à deformação descrita no primeiro processo, mas,
geralmente o processo orientacional uma contribuição maior para a polarização. Outro
conceito importante na teoria macroscópica dos dielétricos é o de campo interno. rios
dipolos no interior de um dielétrico se alinhados com um campo externo, produzem um
campo elétrico macroscópico
µ
E
r
, que é a soma vetorial dos campos elétricos
produzidos por cada dipolo.
A FIGURA 2 mostra um esquema ideal de um elemento de volume contendo vários
dipolos elétricos na presea de um campo elétrico externo.
CAPÍTULO 2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
15
Fonte : MACHADO, K.D., 2004
FIGURA 2: Um dielétrico polar submetido à um campo elétrico externo
Esta situão é importante, porque o campo efetivo
int
E
r
macroscópico
dentro do dielétrico é menor do que o campo externo
E
r
. Note que o campo elétrico
macrospico, no interior do material é dado pela soma vetorial:
µ
EEE
r
r
r
+=
int
(2.25)
No caso de dietricos formados por moléculas apolares verifica-se o mesmo
efeito, sendo que o campo de dipolo resultante, agora, é originado de dipolos induzidos
pela ação do campo externo.
Materiais dielétricos mais complexos são constituídos tanto por moléculas
polares como por moculas apolares. O campo elétrico externo aplicado orienta os dipolos
intrínsecos em sua direção, além de produzir dipolos induzidos que também tendem a se
alinhar com ele. Novamente verifica-se que a orientação dos dipolos com o campo externo
diminui o campo no interior do material.
CAPÍTULO 2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
16
2.3 Visão Microscópica dos dielétricos
Do ponto de vista microscópico, um dielétrico sob a ação de um campo
externo está sujeito a uma combinão de dois fatores: os momentos de dipolo intrínsecos
dos constituintes do dielétrico podem ser orientados na direção do campo externo, ou
então, se o material não tem dipolos intrínsecos, o campo externo pode provocar o
aparecimento de dipolos elétricos induzidos (MACHADO, K.D., 2004). Vejamos
separadamente cada um destes fatores
Esta orientação, pom, em geral o é perfeita, porque sofre também a inflncia
da temperatura do sistema que tende a perturbar o alinhamento. A FIGURA 3 apresenta
uma configuração possível para um material dielétrico submetido a um campo elétrico
externo.
Fonte: MACHADO, K.D., 2004
FIGURA 3: Material dielétrico formado por dipolos intrínsecos sob a ão de um campo
elétrico externo
Como conseqüência do alinhamento parcial dos vetores momento de dipolo
na direção e sentido do campo externo aplicado, aparece, em cada volume V do material,
onde V suficiente para ser tratado como infinitesimal do ponto de vista macroscópico, mas
grande o suficiente para conter vários momentos de dipolo microspicos, um momento de
dipolo microscópico resultante que é a soma dos momentos de dipolo individuais, ou seja,
=
i
i
pp
r
r
(2.26)
CAPÍTULO 2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
17
É conveniente dividir esta grandeza pelo volume
V
r
, para obter a polarização
elétrica, que é independente do tamanho desse volume conhecido como polarização
elétrica, ou polarizão,
P
r
, dada por:
=
i
i
p
V
P
r
r
1
(2.27)
Note que, antes de o campo elétrico ser aplicado, os momentos de dipolo estavam
orientados aleatoriamente, e assim
0=P
r
. Quando o campo elétrico é ligado, os dipolos
se orientam, produzindo um
P
r
diferente de zero. A unidade da polarização é C/m
2,
já que
a unidade de momento de dipolo é C.m. (MACHADO, K. D, 2004). Observando a
FIGURA 4 é possível verificar o que ocorre com os dielétricos formados por constituintes
por momentos de dipolo intrínsecos.
Fonte: MACHADO, K.D., 2004
FIGURA 4: Dielétrico formado por dipolos intrínsecos sob a ação de um campo elétrico
externo
E
v
, e formação do campo elétrico dos dipolos
µ
E
r
e do campo total interno
macroscópico
int
E
r
.
Um material dielétrico que o possui momento de dipolo intrínseco também
pode sofrer a influência de campos elétricos externos. Isso porque, apesar de não ter
int
µ
CAPÍTULO 2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
18
moléculas ou outros constituintes polares, ele é formado por apolares, nos quais o
centro ''geométrico'' das cargas positivas coincide com o centro das cargas negativas,
como na FIGURA 5 desde que o campo elétrico externo esteja desligado.
Fonte: MACHADO, K.D., 2004
FIGURA 5: Constituintes apolares de um dielétrico sem momentos de dipolo intrínseco.
Quando o campo externo é ligado, as cargas negativas e positivas, que
antes estavam, em média, na mesma posição, sofrem a ação de campo elétrico e da
força elétrica por eles causada, de modo que eles se separam por certa distância. Essa
separação não aumenta indefinidamente, porque também existe a força elétrica entre as
cargas, que, afinal, é o fator responsável pela existência das moléculas do dielétrico.
Assim, é como se cada molécula fosse '' esticada'', estando às cargas
negativas unidas às positivas por uma ''mola'' microscópica, como pode ser visto na
FIGURA 6.
Fonte: MACHADO, K.D., 2004
FIGURA 6: Dielétrico apolar sujeito a um campo o-nulo.
Quando o campo é novamente desligado, as '' molas'' fazem com que as
cargas voltem a ficar situadas no mesmo lugar. Quanto maior o campo externo, mais
CAPÍTULO 2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
19
R
ext
E
r
- +
- +
+
+
+
+
+
+
+
-
-
-
-
-
distendidas ficam as molas, e se o campo for muito grande, as moléculas são partidas,
como ocorre com uma mola submetida a um esforço muito grande, e o material pode ser
destruído. (MACHADO, K.D., 2004).
É cil perceber na FIGURA 6 que o campo externo induz a formação de
dipolos elétricos, chamados, por esse motivo, de dipolos induzidos. Os vetores momento
de dipolo dos dipolos se orientam na mesma dirão e sentido que o do campo externo, e
assim, aparece uma polarização
P
r
, da mesma forma como no caso dos dipolos
intrínsecos.
2.3.1 - Polarizabilidade e a Equação de Clausius Mossotti
Suponhamos uma amostra de material dietrico submetida a um campo externo.
Dentro desse material, defini-se uma esfera imaginária de raio R macroscópicota
macrospico, mas que engloba muitas moléculas. Essa esfera envolve um dipolo
específico, representado na FIGURA 7 por um ponto no seu centro.
FIGURA 7: Um pedaço de material dielétrico, com uma esfera de raio R
O campo que age sobre o dipolo no centro da esfera, que é o campo
molecular
E
m
é a soma de três campos elétricos:
321
EEEE
m
r
r
r
r
+
+
=
(2.28)
CAPÍTULO 2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
20
onde o
1
E
r
é o campo elétrico externo ,
2
E
r
é o campo gerado pelos dipolos fora da
esfera de raio
R
e o
3
E
r
o campo dos dipolos dentro da esfera. Os dipolos situados fora da
esfera podem ser substituídos por uma densidade efetiva de cargas de polarização sobre a
superfície externa.
Na FIGURA 7 fica claro que a densidade superficial de carga de polarizão
apresenta uma configuração dipolar e gera o campo
2
E
r
no sentido do campo externo,
conforme a expressão:
PE
o
r
r
ε
3
1
2
=
(2.29)
O campo
3
E
r
gerado pelas moléculas que se encontram dentro da cavidade
esférica é nulo se considerarmos que existem muitos dipolos dentro da cavidade
orientados aleatoriamente. Esta situação prevalece quando o material for um líquido ou um
s. Aqui consideramos que o meio material é um líquido ou um s de forma que
3
E
r
=0.
Assim, o campo molecular definido por (2.29) será:
PEE
m
v
r
r
0
3
1
ε
+=
(2.30)
Para materiais composto por várias moléculas diferentes
3
E
r
não é nulo,
podendo obter valores diferentes dependendo das posições das moléculas dando origem a
comportamentos anisotrópicos. Se no meio dielétrico houver
N
moculas por unidade de
volume, todas com o mesmo momento de dipolo, a polarizão induzida no meio se
ind
pNP
r
r
=
em que
m
Ep
ind
r
r
α
=
e, combinando essas duas expressões, obtemos:
CAPÍTULO 2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
21
+= PENP
rrr
0
3
1
ε
α
(2.31)
E sabendo que
(
)
EKP
o
r
r
ε
1=
(2.32)
podemos escrever a polarizabilidade combinando (2.31) e (2.33)
=
2
1
3
0
K
K
N
ε
α
(2.33)
Conhecida como a equação de Clausius-Mossotti e representa um dos
primeiros esforços para a compreensão da polarização elétrica dos materiais. Sua
fundamental importância é o fato de permitir relacionar as grandezas macroscópicas - a
constante dielétrica ·com as grandezas microscópicas a polarizabilidade
α
, mas ela
tem uma limitação de ser aplicável apenas para substâncias altamente diluídas ou
gasosas.
Na equação de Clausius-Mossotti, o número de moléculas por unidade de
volume, N , pode ser expresso em termos da massa molar
M
da molécula e da
densidade
ρ
por meio da relação:
M
N
N
A
ρ
=
(2.34)
sendo
A
N
o número de Avogadro (6,022x10
23
mol
-1
)
CAPÍTULO 5 – MATERIAIS E MÉTODOS
22
CAPÍTULO 3 - MATERIAIS E MÉTODOS
Neste capítulo serão descritos materiais e as técnicas experimentais utilizados
para realizar o trabalho. Os materiais que são alvos deste estudo são: glicerina, misturas
de gorduras com e sem reação de interesterificação para baixo teor de isômero trans,
óleo de rícino, óleo mineral, vaselina e biodiesel de canola. A técnica usada para
estudar esses materiais fornece informações a respeito de suas características
dielétricas à temperatura ambiente e com variação da temperatura.
3.1 Materiais
3.1.1 – Glicerina (1,2,3 propanotriol ou glicerol)
Glicerina é um liquido viscoso, incolor, inodoro, higroscópico e com sabor
adocicado. O termo glicerol aplica-se somente ao composto puro, 1,2,3 propanotriol,
enquanto o termo glicerina aplica-se à purificação de compostos comerciais que contém
normalmente quantidades maiores ou iguais a 95% de glicerol (MORRISON, L.R. 1994)
No caso da utilização do glicerol em humanos, para fins terapêuticos, como em
remédios, por exemplo, a terminologia encontrada em sua especificação deve ser
glicerol USP (MORRISON, L.R.1994). Sua molécula pode ser representada pela FIGURA
(8):
Fonte: ARRUDA. P. V , 2007
FIGURA 8: Estrutura molecular da glicerina ( glicerol)
Ela tem três grupos hidroxílicos (OH-) hidrofílicos que o responsáveis por sua
solubilidade em água; é higroscópica (i.e. absorve água do ar); seu ponto de fusão é
17,8°C; evapora com decomposição a 290°C; é miscível em água e etanol. A glicerina é
CAPÍTULO 5 – MATERIAIS E MÉTODOS
23
normalmente usada na preparação de diversos produtos tais como remédios, produtos
de uso pessoal, comida, bebida, tabaco, produtos farmacêuticos, alimentação, bebidas,
filmes de celulose, papel, resinas, entre outros, todavia o seu uso é condicionado ao seu
grau de pureza, que deve estar usualmente acima de 95%.
A implantação da nova lei federal, relacionada à aplicação dos recursos
energéticos, obrigará até 2010 um aumento para 5% o acréscimo de biodiesel no diesel
comum (B2) (ANP, 2009; PINTO, A.C., 2005 ) . Com isto, haverá um aumento na
produção do biodiesel e conseqüentemente um aumento na oferta de glicerina.
Estima-se uma oferta de 138 milhões de litros/ano de glicerol no ano de 2010
(.ALVAREZ; V.A TERENZI; KENNY, 2004). De acordo com levantamento da Associação
Brasileira da Indústria Química (AABIQUIM), a capacidade de produção das indústrias
químicas é de 35,8 mil toneladas ao ano, mas a produção situa-se em torno de 12,9 mil,
para um consumo anual de 13,5 mil toneladas. Desse volume, 48,9% são destinados à
produção de cosméticos. Outros 14,5% são utilizados pela indústria farmacêutica,
11,9%, pelo setor de tintas e vernizes e o restante é vendido a outros segmentos.
A glicerina bruta constituída por (glicerol, sabões, água, álcool, ácidos graxos e
sais) gerada na obtenção de biodiesel constitui 10% da produção e destes 10%, 80% é
glicerol. Mesmo com suas impurezas convencionais, a glicerina bruta constitui um
subproduto que pode ser comercializado. No entanto, o mercado é muito mais favovel à
comercialização da glicerina purificada
A glicerina bruta vegetal apresenta cerca de 30% de impureza (FERRARI, R.A.,
2005) ,o que evidencia a necessidade de purificá-la, a fim de viabilizar seu emprego no
setor industrial. As principais impurezas presentes na glicerina oriunda do biodiesel são
catalisador, álcool e ácidos graxos. Estas impurezas dependem da natureza da oleaginosa
e do tipo de catálise empregada na preparação do biodiesel.
A glicerina grau 99,5% de pureza gera importantes ganhos para a indústria do
biodiesel. Cerca de 20% de uma molécula de óleo vegetal é formada por glicerina. A
glicerina torna um óleo mais denso e viscoso. Após a reação de transesterificação que
converte a matéria graxa em ésteres (biodiesel), a massa racional final é constituída de
duas fases (pesada e leve), separáveis por decantação ou centrifugação (CALDEIRA;
A., M., 2007).
A aplicação industrial da glicerina bruta resultante do processo de
transesterificação de óleos e gorduras residuais na produção de biodiesel, entretanto,
requer processos complexos e onerosos para que essa matéria-prima alcance as
exigências em grau de pureza necessárias para esses fins, que a tecnologia exigida
CAPÍTULO 5 – MATERIAIS E MÉTODOS
2
4
para purificação, além de ter um elevado custo, é dominada por poucas empresas no
Brasil (DINIZ, G. 2005). Por outro lado, o acúmulo de glicerina residual gerada, em
aterros, cria um problema ambiental devido a sua alta demanda de oxigênio.
Atualmente, porém, os preços dessa glicerina originada da produção do biodiesel
vêm sofrendo forte pressão de queda em função da oferta, especialmente nos mercados
europeu e americano, o que, muitas vezes, torna seu processo de refino
economicamente inviável, particularmente quando as unidades de produção são de
pequena escala e estão localizadas distantes dos centros de refino e do mercado
consumidor.
Nesse sentido, aplicação da glicerina em outros processos industriais torna-se
uma solução para redução dos problemas gerados na cadeia produtiva do biodiesel.
A glicerina utilizada na realização deste trabalho foi a glicerina bi-destilada de
99,5% de pureza, LOTE: 20081058, fabricada pelo laboratório ©FURLAB Artigos
para Laboratório.
3.1.2 - Gorduras interesterificadas
As gorduras podem ser classificadas como saturadas e insaturadas, dependendo
da ligação química presente no ácido graxo. Se um ácido graxo tem todos os átomos de
hidrogênio possíveis em sua molécula, é chamado de saturado. No entanto, se alguns
dos átomos de hidrogênios estiverem ausentes e a ligação comum simples entre átomos
de carbono for substituída por uma ligação dupla, o ácido graxo será insaturado,
podendo ser classificado em: mono-insaturado caso só exista uma única ligação dupla e
poli-insaturado caso houver mais de uma.
Os óleos e gorduras são formados por diversos compostos simples.
Quimicamente eles são ésteres, o componente alcoólico é invariavelmente o glicerol
(triol, três grupos hidroxílicos) e o componente ácido é formado pelos ácidos
monocarboxílicos não ramificados (ácidos graxos). Os glicerídeos geralmente contem
dois ou três ácidos graxos diferentes. Os óleos e gorduras são misturas de glicerídeos
de diversos ácidos graxos (ésteres de glicerol), cuja composição é dependente do tipo e
origem da matéria prima. Nos óleos predominam glicerídeos de ácidos insaturados e
são líquidos na temperatura ambiente e nas gorduras predominam glicerídeos de ácidos
saturados, sólidos.
Óleos e gorduras são ambos triglicerídeos. Sua molécula consiste de três
moléculas de ácido graxo esterificada em uma molécula de glicerol, como visto abaixo:
CAPÍTULO 5 – MATERIAIS E MÉTODOS
25
Fonte: : © 2009 DUPLAT.com, 2009
FIGURA 9: Ilustração da reação de esterificação formando o triacilglicerol. Triacilglicerol
- porção à esquerda: glicerol, porção à direita ácidos graxos. Fórmula
55
H
98
O
6
Os
grupos R
1
,
R
2
e
R
3
são geralmente grupos alquilas de cadeias longas podendo conter ou
não insaturações
As gorduras animais tendem a ser gorduras saturadas, e são sólidas à
temperatura ambiente. Manteiga, banha, sebo e a gordura da carne são exemplos
destas. Os óleos vegetais são insaturados, líquidos à temperatura ambiente com ponto
de fusão muito baixo, sendo, então, instáveis demais para o uso de frituras e não são
suficientemente sólidos para serem usados como gordura nos bolos e produtos de
panificação. Porém, o seu endurecimento é possível graças ao processo denominado
hidrogenação ( Ver FIGURA 10).
CAPÍTULO 5 – MATERIAIS E MÉTODOS
26
Fonte: OPHARDT, C, 2004
FIGURA 10: Processo de hidrogenação de um ácido graxo mono-insaturado o ácido
oléico.
Esse processo gera gordura trans, retificando as moléculas insaturadas através
de um reajuste dos átomos de hidrogênio na altura da ligação dupla. Essas gorduras
alteradas são sólidas à temperatura ambiente, garantindo maior consistência aos
alimentos e aumento do tempo de prateleira de alguns produtos, sendo utilizadas,
principalmente, em bolos e produtos de panificação. O problema é que, os ácidos
graxos trans vêm preocupando a sociedade devido às suas implicações negativas à
saúde. Diversos estudos têm sugerido uma relação direta entre as gorduras trans e o
aumento de doenças cardiovasculares e o ncer. Em resposta, a Organização Mundial
da Saúde - OMS – estabeleceu que a ingestão diária máxima de gordura trans não deve
ser superior a 1% das calorias diárias ingeridas, e no Brasil a nova legislação exige a
menção nos rótulos dos valores em gramas por porção do alimento. Diante disso, os
processadores de alimentos estão sendo obrigados a buscarem alternativas imediatas
’’livre de trans’’.
Uma solução que se tem mostrado a principal alternativa para preparação de
gorduras plásticas livre de trans é processo denominado interesterificação química. Em
contraste à hidrogenação, este processo não promove a isomerização de duplas
ligações dos ácidos graxos e não afeta o grau de saturação dos mesmos. Na reação de
interesterificação os ácidos graxos permanecem inalterados, mas ocorre a redistribuição
dos mesmos nas moléculas triacilglicerólicas. (RIBEIRO, A.P.B., 2009) Desta forma, a
CAPÍTULO 5 – MATERIAIS E MÉTODOS
27
interesterificação química causa a modificação da composição triacilglicerólica de um
óleo ou gordura e, consequentemente, de suas propriedades físicas.
A interesterificação de misturas de óleos vegetais totalmente hidrogenados com
óleos líquidos representa atualmente a melhor opção para produção de gorduras livre de
trans com diversas finalidades industriais. Face à sua importância econômica e grande
disponibilidade, o óleo de soja (OS) apresenta-se como matéria-prima interessante para
a elaboração de frações gordurosas isentas de ácidos graxos trans. Para que haja
aumento do ponto de fusão destas frações, o uso do óleo de soja totalmente
hidrogenado (OSTH), também zero trans, mostra-se altamente favorável. (O’BRIEN, R.D.,
1995).
Na reação de interesterificação os óleos e gorduras, isentos de umidade, foram
aquecidos e o catalisador metóxido de sódio- adicionado em proporções apropriadas
(0,1 a 0,5%), para otimizar o consumo da matéria-prima. A reação ocorreu em intervalos
de tempo controlados, conduzida sob vácuo, a 100 °C, com finalização mediante a
adição de água, que promove a inativação do catalisador. As alíquotas foram
cuidadosamente lavadas com água destilada (80°C) para retirada dos sabões formados,
e em seguida secas a 110ºC, por 30 min.
As amostras de óleo de soja em óleo de soja totalmente hidrogenado sem e com
a reação de interesterificação foram cedidas pelo Laboratório de óleos e Gorduras da
Unicamp, sob orientação da Profa. Lireny Gonçalves.
Um esquema da reação de interesterificação química utilizada nessas amostras é
ilustrado na FIGURA 11.
Fonte: RIBEIRO, A.P.B, 2009
FIGURA 11: Esquema da reação de interesterificação química
Fase oleosa
Secagem 100°C/15 min
pressão reduzida
Reação sob pressão reduzida - 100°C
Inativação do catalisador
Secagem sob pressão reduzida
Fase oleosa interesterificada
Lavagem – água (90°C)
Fase oleosa
Secagem 100°C/15 min
pressão reduzida
Reação sob pressão reduzida - 100°C
Inativação do catalisador
Secagem sob pressão reduzida
Fase oleosa interesterificada
Lavagem – água (90°C)
CAPÍTULO 5 – MATERIAIS E MÉTODOS
28
3.1.3 - Óleo de Rícino
No Brasil a mamona (Ricinus Communis L.) é utilizada desde a era colonial,
quando dela era extraído o óleo para lubrificar os inúmeros engenhos de cana de
açúcar, sendo conhecida por diversas denominações mamoeira, rícino, carrateira e
bafureira ( SCHNEIDER, R.C.S, 2002).
Conhecida por ser uma planta que se desenvolve de forma nativa em diversas
regiões do Brasil, a mamoeira vem conquistando espaços no ramo oleoquímico,
contribuindo para o crescimento de indústria rícinoquímica.
Da semente obtém-se o óleo responsável por grande parte das aplicações da
mamona, o óleo de rícino. O óleo corresponde a cerca de 48,6% (m/ m) do total da
semente, como mostra a TABELA 1.
TABELA 1: Composição química média das sementes de mamona.
Fonte: Florea et al, 2001
No geral, o óleo obtido da semente de mamona é um líquido espesso, muito
viscoso, cuja cor varia, de incolor ao amarelo-escuro, com cheiro e sabor variados,
algumas vezes muito desagradável e nauseoso.
Os índices deste óleo poderão depender da variedade e das condições de
manejo da cultura. O principal constituinte deste óleo é o triacilglicerol do ácido
ricinoléico, denominado triricinoleína.
Composição química % (m/m)
Óleo 48,6
Água 5,5
Proteínas 17,9
Carboidratos 13,0
Fibras 12,5
Cinzas 2,5
CAPÍTULO 5 – MATERIAIS E MÉTODOS
29
A sua extraordinária capacidade de adaptação, a multiplicidade de aplicações
industriais para o seu óleo, como fertilizante e suplemento protéico e a tendência de
preços crescentes colocam a mamona entre as oleaginosas mais importantes. O óleo de
rícino pode ser empregado como substituto de derivados do petróleo em tintas, em
matéria-prima para fabricação de nylon, entre outras aplicações industriais.
Além disso, o óleo de elevada qualidade é muito utilizado na fabricação de
cosméticos. Também é muito usado por apresentar características como a viscosidade
elevada, que o torna superior aos outros óleos. Na TABELA 2, pode-se observar que,
tanto na temperatura de 40ºC quanto na de 100ºC, a viscosidade do óleo de rícino é
maior. Além disso, com a variação de temperatura este óleo apresenta maior
estabilidade. Quando usado como lubrificante, tem grande importância em temperaturas
altas e em temperaturas baixas.
TABELA 2: Variação da viscosidade de óleos vegetais em função da temperatura.
Fonte: JUNIOR, A.F, 1986
No geral, a aplicação do óleo de rícino e de outros óleos nos processos
mecânicos está relacionada ao teor de insaturações, pois o excesso de ácidos
saturados gera problemas de endurecimento a baixa temperatura e o excesso de
poliinsaturados facilita a oxidação em temperaturas mais elevadas.
Neste sentido, o óleo de cino é uma matriz privilegiada, pois é rico em ácidos
monoinsaturados e apresenta biodegrabilidade superior a 90%.
Na alimentação, o consumo ocorre em margarina líquida na forma de ésteres de
poliglicerol do ácido ricinoléico. Como medicamento, apresenta propriedades purgativas
Óleo
Viscosidade (N.m
-2
.s)
40ºC 100ºC
Canola 51,0 10,0
Soja 28,5 7,5
Rícino 293,0 20,0
Linhaça 30,0 7,0
CAPÍTULO 5 – MATERIAIS E MÉTODOS
30
e tem capacidade de penetrar facilmente na pele. Estimula gado, vesícula e cólon,
melhorando a circulação linfática e favorecendo o sistema imunológico. Compressas de
óleo de rícino são utilizadas para reduzir inflamações e melhorar assimilação intestinal.
O óleo de rícino utilizado foi adquirido em comércio local, destinado a uso
farmacêutico. Fabricado pelo laboratório Tayuyna Ltda.
3. 1.4 - Óleo Mineral
Óleo mineral (também chamado parafina líquida, petrolato líquido pesado, óleo
branco ou vaselina líquida) é um produto secundário derivado da destilação do petróleo
no processo de produção da gasolina. É um óleo transparente, incolor e quimicamente
quase inerte. É um produto de baixo custo, produzido em grandes quantidades. (
CAMPESTRE.COM.BR)
O princípio básico para a obtenção do Óleo Mineral Branco é a remoção dos
compostos orgânicos tidos como impurezas, que se encontram presentes nos derivados
do petróleo. As impurezas que são removidas neste processo são: insaturações
(olefinas), enxofre, nitrogênio, oxigênio e hidrocarbonetos aromáticos. O Óleo Mineral
Branco é obtido em dois graus de qualidade: Grau Técnico e Grau Medicinal.
Óleo Mineral Branco Medicinal deve apresentar as seguintes características: ser
incolor, inodoro (quando frio) e insípido. Esse material deve seguir os padrões
especificados em Farmacopéias e podem ser usados com total segurança nas indústrias
farmacêutica, cosmética e alimentícia. A este óleo podem ser adicionados antioxidantes
para aumentar a sua estabilidade quando estocados..( CAMPESTRE.COM.BR)
Possui diversas aplicações, como óleo para refrigeração e isolamento de
transformadores elétricos de potência; para transporte e armazenagem de metais
alcalinos (evitando a reação destes com a umidade atmosférica); como laxante (ao
lubrificar as fezes e não permitindo a absorção excessiva de água nos intestinos); como
hidratante (em cremes e loções), lubrificante, etc. É também usado em forma de
emulsão (mistura de água, sabão e óleo mineral) no combate a pulgões e colchonilhas
em plantas. Devido ao seu grau de pureza também é utilizado em outros seguimentos
como o da indústria têxtil servindo de lubrificante durante o processo de tratamento de
fibras principalmente nas de cor branca que não podem agregar impurezas que confiram
cor ou que possam interagir com os corantes.
O óleo mineral utilizado também foi adquirido em comércio local, destinado a
uso medicinal. Fabricado pelo Laboratório ©Mantercop.
CAPÍTULO 5 – MATERIAIS E MÉTODOS
31
3.1.5 - Vaselina Líquida
Assim como o óleo mineral, a vaselina também é um derivado do petróleo,
passando por processos básicos de refinação mais comumente conhecidos como
destilação fracionada. Deste processo os produtos derivados de petróleo são divididos
em diversas categorias, sendo a vaselina classificada na categoria de lubrificantes.
Esses lubrificantes são óleos quimicamente constituídos por hidrocarbonetos, e
dependendo do tamanho da cadeia carbônica, os mesmos apresentam diferenças
quanto às suas especificações como densidade, viscosidade, ponto de fulgor, entre
outros (ANVISA). É o caso da vaselina e óleo mineral.
A vaselina líquida utilizada foi adquirida a nível local, indicada para uso pessoal,
além de lubrificantes de ignições variadas. Fabricado pelo laboratório FARMAX.
3.1.6 - Biodiesel
O biodiesel é um combustível obtido a partir de matérias-primas vegetais ou
animais. As matérias-primas vegetais são derivadas de óleos vegetais tais como soja,
mamona, colza (canola), palma, girassol e amendoim, entre outros, e as de origem
animal são obtidas do sebo bovino, suíno e de aves. Incluem-se entre as alternativas de
matérias-primas os óleos utilizados em fritura (cocção).
O biodiesel compõe, junto com o etanol, importante oferta para o segmento de
combustíveis. Ambos são denominados de biocombustíveis por serem derivados de
biomassa (matéria orgânica de origem vegetal ou animal que pode ser utilizada para a
produção de energia), menos poluentes e renováveis. (CARTILHA - SEBRAE)
Os fatores ambientais e a elevação dos preços do petróleo favorecem a
expansão do mercado de produtos combustíveis derivados da biomassa no mundo todo,
predominando o etanol, para uso em automóveis, e biodiesel, para caminhões, ônibus,
tratores, transportes marítimos, aquaviários e em motores estacionários para a produção
de energia elétrica, nos quais o óleo diesel é o combustível mais utilizado. Esse
combustível é utilizado para substituição do óleo diesel, em percentuais adicionados no
óleo diesel ou integral.
A tecnologia para a produção de biodiesel predominante no mundo é a rota
tecnológica de transesterificação metílica, nas quais óleos vegetais ou sebo animal são
CAPÍTULO 5 – MATERIAIS E MÉTODOS
32
misturados com metanol que, associados a um catalisador, produz biodiesel. A opção
pelo metanol, principalmente em outros países, se deu pelo alto custo do etanol.
A transesterificação é o processo de separação do glicerol do óleo vegetal. Cerca
de 20% de uma molécula de óleo vegetal é formada por glicerina. A molécula de óleo
vegetal é formada por três ésteres ligados a uma molécula glicerina, o que faz dele um
triglicídio. A glicerina torna o óleo mais denso e viscoso. Durante o processo de
transesterificação, a glicerina é removida do óleo vegetal, deixando o óleo mais fino e
reduzindo sua viscosidade (BIODIESELBR.COM.BR).
Fonte: http://www.scielo.br/img/revistas/qn/v30n5/a54fig01.gif
FIGURA 12: Reação de transesterificação: Processo de produção de Biodiesel
O biodiesel de qualidade deve ser produzido seguindo especificações industriais
restritas, conforme a norma internacional ASTM D6751l. No Brasil, a Agência Nacional
do Petróleo Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) emitiu a portaria n º 255,
especificando as características do produto.
A Lei 11.097/05 introduz o biodiesel na matriz energética. Complementa o
marco regulatório do novo segmento um conjunto de decretos, normas e portarias,
estabelecendo prazo para cumprimento da adição de percentuais mínimos de mistura
de biodiesel ao diesel mineral (FIGURA 13)
CAPÍTULO 5 – MATERIAIS E MÉTODOS
33
Fonte: Cartilha de Biodiesel Sebrae
FIGURA 13: Ilustração dos percentuais mínimos de mistura de biodiesel ao diesel
estabelecidos pela Lei n° 11.097/05.
As projeções mundiais previstas para 2020 pela IEA International Energy
Agency assinalam crescente substituição das fontes de combustível de origem fóssil
pelas fontes renováveis de origem de biomassa, dentre elas as derivadas da cana-de-
açúcar e do milho, para a produção de etanol, e as derivadas dos óleos vegetais de
canola, de soja, de mamona, entre outros, para a produção de biodiesel.
3.1.6.1 - Biodiesel de Canola
A canola (Brassica napus) está inserida na categoria de plantas
oleaginosas. Dela se extrai o óleo de canola, que vem a ser o produto mais saudável
para esta categoria pelos baixos teores de gordura saturada (RENARD, M., 1994 e
TOMM,G.O., 2002). A canola cultivada no Brasil (Pará e Rio Grande do Sul), é uma
seleção geneticamente modificada da colza (Brassica napus L. var. oleífera, é uma
crucífera que possui de 40 a 46% de óleo no grão, e de 34 a 38% de proteína no farelo.
Além do alto teor, o óleo obtido é de excelente qualidade pela composição em ácidos
graxos. O interesse dos produtores no plantio de Canola tem crescido em função da
garantia de compra e do preço pago, constituindo-se uma alternativa de cultura de
inverno (TOMM, G.O., 2002). Dentre esses aspectos positivos no consumo da canola na
alimentação, um novo cenário começa a abrir mercado para a cultura: o biodiesel. É
uma cultura que se encontra em fase de expansão, devido a que quando comparado
CAPÍTULO 5 – MATERIAIS E MÉTODOS
34
com os outros óleos existentes, o óleo de canola apresenta o menor teor de
monoinsaturados e de poliinsaturados.
Os grãos de canola produzidos no Brasil possuem 38% de óleo,
aproximadamente o dobro dos 18% da soja. A transformação da canola em
biocombustível permite aproveitar os grãos que sofreram excesso de chuva na colheita,
seca, ou outros fatores que comprometem a qualidade para comercialização.
O cultivo de canola possui grande valor sócio-econômico por possibilitar a
produção de óleos vegetais no inverno, vindo se somar à produção de soja no verão, e
assim, contribuir para otimizar os meios de produção (terra, equipamentos e pessoas)
disponíveis. A grande disponibilidade de áreas adequadas ao cultivo de canola no
estado do Rio Grande do Sul (RS) é ilustrada pelo fato de que o RS cultiva atualmente
área bem inferior aos 2 milhões de hectares de trigo que já cultivou no passado.
Portanto, a produção de canola nestas áreas poderá permitir a expansão da produção
de óleo para utilização como biodiesel, além de expandir o emprego desse óleo para
consumo humano e contribuir decisivamente para tornar o Brasil em um importante
exportador desse produto.
O biodiesel de canola utilizado para realização deste trabalho foi cedido pelo
laboratório de Química da UENF (LCQUI).
3.1.6.2 Biodiesel de Babaçú
O coco de babaçu é uma palmácea (Orbignya martiana) encontrada com grande
quantidade de nos estados de Mato Grosso, Tocantins, Piauí e, principalmente,
Maranhão, tendo em vista que um quarto do território maranhense é coberto por esta
palmeira nativa. O Maranhão é o maior produtor de amêndoas de babaçu, sendo
responsável por quase 80% da produção nacional, ou seja, 113.395 toneladas, ano
base 2003. (IBGE, 2004).
O principal produto extraído do babaçu, e que possui valor mercantil e industrial,
são as amêndoas contidas em seus frutos. As amêndoas - de 3 a 5 em cada fruto - são
extraídas manualmente em um sistema caseiro tradicional e de subsistência. É
praticamente o único sustento de grande parte da população interiorana sem terras das
regiões onde ocorre o babaçu.
Do fruto apenas 6 a 8% são sementes. Destas sementes são extraídos de 65 a
68% de um óleo de cor branca a levemente amarelada. Esta cor vai depender da
CAPÍTULO 5 – MATERIAIS E MÉTODOS
35
temperatura, pois o Óleo de Babaçu apresenta-se como uma gordura à temperatura
ambiente. O óleo de babaçu apresenta odor e sabor suave característico.
O principal destinatário das amêndoas do babaçu são as indústrias locais de
esmagamento, produtoras de óleo cru. Constituindo cerca de 65% do peso da amêndoa,
esse óleo é subproduto para a fabricação de sabão, glicerina e óleo comestível, mais
tarde transformado em margarina, e de uma torta utilizada na produção de ração animal
e de óleo comestível. Suas folhas servem de matéria-prima para a fabricação de
utilitários cestos, abanos, peneiras, esteiras, portas, armadilhas, gaiolas, etc.
(PENSA/USP, 2000).
O estipe do babaçu, quando apodrecido, serve de adubo; se em boas condições,
é usado em marcenaria rústica. Das palmeiras jovens, quando derrubadas, extrai-se o
palmito e coleta-se uma seiva que, fermentada, produz um vinho bastante apreciado
regionalmente. As amêndoas verdes - recém-extraídas, raladas e espremidas com um
pouco de água em um pano fino fornecem um leite de propriedades nutritivas
semelhantes às do leite humano, segundo pesquisas do Instituto de Recursos Naturais
do Maranhão.
A casca do coco, devidamente preparada, fornece um eficiente carvão, fonte
exclusiva de combustível em várias regiões do nordeste do Brasil. Outros produtos de
aplicação industrial podem ser derivados da casca do coco do babaçu, tais como etanol,
metanol, coque, carvão reativado, gases combustíveis, ácido acético e alcatrão.
Contudo, o potencial do babaçu continua inexplorado sendo possível o
aproveitamento econômico para produção de carvão, óleo combustível, gás, lubrificante
e óleo comestível. No que tange à produção de óleo combustível, o óleo de babaçu
possui características excelentes para produção de biodiesel, devido à sua composição
ser predominantemente láurica (Tabela 3). Este fato facilita a reação de
transesterificação, pois os ésteres láuricos são compostos de cadeias curtas que
interagem mais eficaz e efetivamente com o agente transesterificante e com o
catalisador, de modo a se obter um produto (biodiesel) de excelentes características
físico-químicas, inclusive quando o catalisador é diferente do NaOH, que é o mais
utilizado. Quando se usa catalisadores heterogêneos e óleo de babaçu para síntese de
biodiesel, se obtêm maiores rendimentos em relação aos outros óleos. (LIMA, R.O., et
al. , 2007). O biodiesel de babaçu utilizado para a realização deste trabalho também foi
cedido pelo laboratório de Química da UENF (LCQUI).
Tabela 3: Composição química do óleo de babaçu
CAPÍTULO 5 – MATERIAIS E MÉTODOS
36
Ácido graxo Contribuição percentual
Ácido caprílico (C8:0) 05,0%
Ácido cáprico (C10:0) 06,0%
Ácido láurico (C12:0) 44,0%
Ácido mirístico (C14:0) 17,0%
Ácido palmítico (C16:0) 08,0%
Ácido esteárico (C18:0) 04,5%
Ácido oléico (C18:1) 14,0%
Ácido linoléico (C18:2) 02,0%
Fonte: LIMA, R.O., et al. , 2007
3.2 - Descrição do Arranjo Experimental
Os experimentos para medir a constante dielétrica foram todos realizados no
Laboratório de Física da Universidade Estadual Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf).
Para fazer a aquisição dos dados da capacitância o arranjo experimental é constituído
dos seguintes equipamentos: um controlador de temperatura modelo LFI-3751 fabricado
pela Wavelength Eletronics, uma ponte RCL modelo PM6304 da Fluke, um sistema de
elementos Peltier, uma célula capacitiva e um dissipador de calor. (FIGURA 14).
CAPÍTULO 5 – MATERIAIS E MÉTODOS
37
FIGURA 14: Arranjo experimental
A dependência das propriedades elétricas dos materiais com a frequência do
sinal aplicado se dá, na maioria dos casos, para freqüências altas (acima de MHz)
(BÖTTCHER, C.J.F 1952). Foram realizadas medidas onde foram aplicados campos
oscilantes de 1.0 V de amplitude com varredura de frequência e freqüências fixas em 10
e 100kHz. As medidas foram obtidas a temperatura ambiente e com variação entre 8 a
40°C.
A célula capacitiva foi construída a partir de um recipiente de material teflon no
formato bico com dimenes externas de 60x60x60 mm
3
, onde foram acomodadas duas
placas paralelas de cobre de dimensões 19,7x6,02 mm
2
, separadas de 2 mm. Para
acomodar tais placas foram feitos cortes (sulcos) na parte interna do citado recipiente com
as seguintes dimensões 23,5x4x6,52 mm
3
.
Em uma das laterais do mesmo recipiente foi feita uma perfuração para adaptar o
elemento Peltier e o dissipador de calor com dimensões respectivamente de 1,5 mm
2
e 2,3
mm
2
. Na parte superior de uma das placas foi adaptado um termistor a fim de coletar a
temperatura da amostra durante os experimentos. (FIGURA 15(a) e (b) ). Optamos por
fazer placas de cobre pelo motivo dele ser um material mais flevel e assim
proporcionando maior facilidade de confeccionar as mesmas, além de ser um excelente
condutor.
CAPÍTULO 5 – MATERIAIS E MÉTODOS
38
FIGURA 15 : (a) Representação esquetica do recipiente para constituir o capacitor. Os
sulcos 1, 2 permitem o encaixe das placas que constituem os eletrodos do capacitor e a
perfuração 3 permite a adaptação do conjunto peltier e dissipador de calor; (b) Representa
as placas de cobre que constitui as armaduras do capacitor, a seta 4 aponta para onde
será adaptado o contato elétrico.
Devido às pequenas quantidades disponíveis de certas amostras, e à intenção de
aproveitá-las para realizar, repetidamente, as medidas, alula construída foi de pequenao
olume.
3.2.1 - Controlador de temperatura
O controle de temperatura para as medidas de constante dielétrica foi feito
através do feedback de um termistor, acoplado ao suporte dos capacitores, que será
enviado ao controlador de temperatura para manter (inverter) o sentido da corrente
aplicada ao elemento Peltier, a fim de aumentar (diminuir) a temperatura do suporte.
Diferente de outros tipos de sistemas de temperatura, este equipamento permite que
processos de aquecimento/ resfriamento sejam realizados de forma bastante simples e
eficiente. Neste sistema o elemento Peltier trabalha como uma “bomba de calor”,
dependendo do sentido da corrente, ele pode fornecer calor retirando-o de uma das
placas dos capacitores e aquecendo a amostra ou retirando calor da amostra e
transferindo-o para as placas, resfriando a mesma.
2
1
3
2
1
3
Capacitor-eletrodoCapacitor-eletrodo
4
( b )
( a )
CAPÍTULO 5 – MATERIAIS E MÉTODOS
39
FIGURA 16: Controlador de Temperatura
3.2.2 – Medidpr RCL
A Ponte RCL automática [Programmable Automatic] é usada para medidas
precisas de resistência, capacitância e indutância. A sua precisão básica é de 0,1% em
medidas de capacitância e pode-se variar a freqüência de trabalho de 50 Hz a 100 kHz.
As voltagens-teste estão disponíveis em: 2V, 1V e 50 mV (rms) ( FIGURA 17)
FIGURA 17 : medidor RCL usado nas medidas de capacitância.
CAPÍTULO 5 – MATERIAIS E MÉTODOS
40
O componente a ser medido é conectado ao instrumento via painel frontal através
de um cabo-teste de quatro fios ou por um adaptador teste de quatro terminais. As
medidas são realizadas usando um sistema de quatro fios. O resultado da medida, a
dimensão e o símbolo do circuito equivalente são todos mostrados em um visor de cinco
dígitos, o qual é atualizado na taxa de duas medidas por segundo, aproximadamente.
Um microprocessador controla o processo de medida, computa o valor
medido e transfere o resultado para o visor. No modo AUTO (automático) o parâmetro
dominante e secundário, R, C ou L do componente verificado é automaticamente
selecionado pelo visor.
Em adição ao modo AUTO, os seguintes modos podem ser selecionados:
• componentes em série ou em paralelo;
• impedância Z;
• ângulo de fase F;
• fator de qualidade Q, fator de dissipação D;
• voltagem componente Vx, corrente componente Ix.
A voltagem e a corrente do componente são medidas e convertidas em
valores binários. Desses valores o processador calcula os parâmetros elétricos do
componente. De acordo com a seleção do parâmetro pelo painel frontal, diferentes
parâmetros são mostrados. Acionando o modo AUTO ou pressionando a tecla SER/PAR
quando o modo AUTO for selecionado, os parâmetros dominante e secundário
(resistência, capacitância ou indutância) são mostrados. Em adição, os parâmetros
selecionados podem ser mostrados manualmente (Q, D, Z, F, Vx ou Ix).
No modo AUTO o microprocessador determina os parâmetros dominantes
(resistência, capacitância e indutância) e secundários (Q, D, Z e
φ
), e apresenta-os
juntamente com o símbolo do circuito equivalente. Se um dos parâmetros for
manualmente selecionado, este parâmetro é calculado e mostrado, conforme a FIGURA
18. Após isso, o próximo ciclo de medidas começa com as medidas resultantes.
CAPÍTULO 5 – MATERIAIS E MÉTODOS
41
Fonte: FLUKE MANUAL, 1999.
FIGURA 18: Visor da Ponte RCL
Como o principio de medida desse equipamento é baseado em medidas de
tensão e correntes alternadas, as mesmas são representadas por uma linguagem
denominada fasores. (FIGURA 19). São medidos sete parâmetros.
O seguinte diagrama de fase e a TABELA de fórmulas (TABELA 4) mostram as
bases matemáticas para os cálculos internos do valor do componente.
Fonte: FLUKE MANUAL, 1999.
FIGURA 19: Diagrama de fase para a voltagem e corrente.
V: Voltagem
I: corrente;
V1, V2: 0º– voltagem, 90º – voltagem;
φ
: ângulo de fase entre I e V;
α
ângulo de fase entre I e V1.
CAPÍTULO 5 – MATERIAIS E MÉTODOS
42
Em cada ciclo de medida, os seguintes componentes são determinados:
Vp, Vq, Ip, Iq.
Uma vez determinado estes valores, o microprocessador calcula a resistência
equivalente em série R
s
a reatância equivalente em série X
s
, o fator de qualidade Q, o
fator de dissipão D, a resisncia em paralelo R
p
, a capacincia em rie ,C
s
a
capacitância em paralelo C
p,
a indutância em rie L
s,
a indutância em paralelo L
p
e
impedância Z (FLUKE MANUAL; 1995), de acordo com expressões mostradas na TABELA
4.
CAPÍTULO 5 – MATERIAIS E MÉTODOS
43
TABELA 4: Expressões dos lculos internos do equipamento RCL meter
Rs
22
IqIp
VqIqVpIp
Rs
+
+
=
Cs
Xsw
Cs
1
=
Xs
22
IqIp
VpIqVqIp
Xs
+
+
=
Cp
Xs
Q
w
Cp
+
=
2
1
1
1
Q
Rs
Xs
Q =
Ls
w
Xs
Ls =
D
Xs
Rs
D =
Lp
w
Xs
Q
Lp
+
=
2
1
1
Rp
RsQRp ).
2
1( +=
Z
22
XsRsZ +=
Para
0
Xs
-
reatância
capacitiva.
se
0
X
a reatância é indutiva,
e se
0
Xs
a reatância é
capacitiva
Para
0
Xs
-
reatância
capacitiva.
Para
0
Xs
-
reatância
indutiva.
Para
0
Xs
-
reatância
indutiva.
CAPÍTULO 5 – MATERIAIS E MÉTODOS
44
Vale ressaltar que o parâmetro impedância Z é dado como o somatório das
contribuições da resistência equivalente em série R
s
- grandeza real e a reatância
equivalente em série X
s
- grandeza imaginária, conforme a FIGURA 20.
Fonte: FLUKE MANUAL , 1999.
FIGURA 20: Representação gráfica vetorial do parâmetro Z, em que X é a componente
imagiria, R a componente real,
φ
e
δ
são ângulos formados entre o vetor resultante e
suas componentes.
3.3 – Determinação da Capacitância espúria e da constante dielétrica
Conforme abordado nas considerações teóricas a constante dielétrica é
obtida a partir da razão entre as capacincias dos capacitores preenchidos e as
capacitâncias dos capacitores vazios (ar) (equação 2.6). No entanto, na prática
experimental, os resultados de constantes dietricas obtidos podem apresentar valores
aparentes. Isto porque nas medidas têm-se, além de contribuições da amostra,
contribuições das capacitâncias espúrias, geradas pelo posicionamento de fios, e
contribuições eletrônicas, geradas pelos equipamentos de medida.
De forma a eliminar tais contribuões indesejáveis às medidas, foi calculada
a capacitância real da célula capacitiva vazia (valor teórico), a partir de
d
A
C
o
o
ε
=
, onde
o
ε
é a permissividade do vácuo,
A
a área das placas e
d
a distância entre elas,
obtendo o valor teórico de 0,67.pF.
Uma vez calculado o valor teórico da capacitância da célula capacitiva vazia,
partimos para a determinação da capacitância espúria total presente no arranjo montado.
22
X
R
Z
+
=
CAPÍTULO 5 – MATERIAIS E MÉTODOS
45
Mas, para isso, foi necessário estudar os possíveis casos de associação, paralelo ou em
série, que as mesmas estariam com a capacitância da célula vazia (valor teórico). Foi
verificado que nesse arranjo a capacitância espúria total não se apresentava em rie com
a capacitância teórica em vazio, sendo o caso de associação em série descartado. Isto
porque o resultado da razão mostrado na FIGURA 25 (b) corresponderia,
matematicamente, a um valor de capacitância equivalente menor que a menor delas, o que
o é o nosso caso. Isto implica em que a capacitância espúria e a capacitância teórica
apresentavam-se associadas em paralelo (FIGURA 21(a)).
(a) (b)
FIGURA 21: (a) ilustração da associação em paralelo e (b) ilustração da associação em
série.
Nesse caso a capacitância espúria fica conhecida quando se mede a
capacitância da célula em vazio
eq
C
e a diminui do valor de capacitância teórica
Teórico
C
(conforme a FIGURA 21(a)). É necessário que seja realizado o conhecimento da
capacitância espúria
esp
C
sempre antes de cada medida com a amostra, a fim de que as
condições ambientais (variação de temperatura entre 21 e 28 ºC e umidade relativa do ar)
o variem tanto as capacitâncias equivalentes lidas pela ponte RCL
eq
C
entre uma
medida (com o ar) e outra (com amostra).
C
teórico
C
esp
C
teórico
C
esp
espo
espo
eq
CC
C
C
C
+
=
C
esp
C
teórico
teóricoeqesp
C
C
C
=
espTeóricoeq
C
C
C
+
=
CAPÍTULO 5 – MATERIAIS E MÉTODOS
46
Vale lembrar que, quando é colocada uma amostra qualquer, o valor de
capacitância calculado pela ponte RCL corresponde às contribuições tanto da própria
amostra quanto das influências espúrias. O valor real da capacitância da amostra é,
portanto, obtido a partir da diferença entre a capacitância equivalente
eq
C
lida pela ponte
RCL e a capacitância espúria
esp
C
, medida antes desta (FIGURA 21a).
A constante dielétrica nesse trabalho foi, então, obtida a partir da razão entre o
valor real de capacitância com a amostra e o valor da capacitância Teórica
Teórico
C
,
conforme a equação
Teórica
amostraeq
amostra
C
C
K
)(
=
, ambas as medidas obtidas a mesma
temperatura, ou na mesma faixa de temperatura.
CAPÍTULO 4 – RESUTADOS E DISCUSSÕES
47
0 3000 6000 9000 12000 15000 18000 21000
2,6
2,7
2,8
2,9
3,0
3,1
3,2
3,3
3,4
3,5
Cacitância (pF)
Frequência (Hz)
Ar
CAPÍTULO 4 – RESULTADOS EXPERIMENTAIS
Segue neste capítulo a apresentação de resultados experimentais utilizando a
metodologia apontada nos capítulos anteriores.
4.1 – Medidas com o ar
FIGURA 22: Gráfico da capacitância do ar em função da frequência
Na metodologia de propriedades dielétricas deve-se ter um máximo de cuidado
na implementação do aparato experimental. Dependendo do posicionamento de fios e
equipamentos eletrônicos as capacitâncias espúrias, que são influências indesejáveis às
medidas, podem vir a surgir. Para isso, neste trabalho, foram realizados vários testes
com o ar a temperatura ambiente (25ºC) (FIGURA 22, a fim de determinar a faixa de
frequência, onde se tem certa independência das capacitâncias espúrias com a
frequência.
A partir dos resultados da FIGURA 22 foi possível observar que a capacitância do
ar diminui com o aumento da frequência. No entanto, essa variação não é devida
somente ao ar, mas deve-se principalmente às capacitâncias espúrias, já que não é
CAPÍTULO 4 – RESUTADOS E DISCUSSÕES
48
0 3000 6000 9000 12000 15000 18000 21000
3,7
3,8
3,9
4,0
4,1
4,2
4,3
4,4
4,5
Vaselina
Capacitância (pF)
Frequência (Hz)
esperado na literatura variações das propriedades dielétricas dos materiais em
freqüências abaixo dos MHz.
Além disso, foi observado que acima de 9 kHz, a taxa de variação das
capacitâncias espúrias com a freqüência é diminuída tendendo a uma independência
com a frequência em torno do valor de capacitância de 2,7 pF. Esse mesmo
comportamento era esperado quando se colocasse dielétricos (amostras) diferentes do
ar, que as influências das capacitâncias espúrias e das contribuições eletrônicas são
inerentes ao arranjo experimental, não devendo variar para diferentes amostras. Nesse
sentido, foram analisados os resultados obtidos com as amostras, confirmando esse
mesmo comportamento das influências espúrias, que já era esperado (FIGURA 23).
Como exemplo, é mostrado o gráfico da FIGURA 24, para vaselina, em que se
tem uma curva semelhante àquela do resultado obtido com o ar, dando base às
discussões anteriores.
FIGURA 23: Gfico da capacitância da vaselina em função da frequência
Esses resultados contribuíram para a determinação da região de frequência em
que as capacitâncias espúrias tornam-se invariantes, ou seja, a região de frequência de
maior confiabilidade para a análise da constante dielétrica, dando início à etapa de
avaliação da potencialidade da célula construída, mediante a realização de medidas
com amostras de constantes dielétricas conhecidas na literatura.
CAPÍTULO 4 – RESUTADOS E DISCUSSÕES
49
4.2 - Medidas a temperatura ambiente com amostras de constante dielétrica
conhecida
4.2.1 - Óleo mineral, vaselina, óleo de rícino e glicerina de 99,5% de pureza
(Amostras referenciais)
Uma vez fixado o arranjo experimental e conhecida a faixa de frequência a ser
adotada, iniciou-se a etapa de medidas com amostras de valores de constante dielétrica
conhecidos na literatura, como o óleo mineral, o óleo de rícino, a vaselina e a glicerina
de 99,5% de pureza. Com elas, foi possível avaliar a confiabilidade e a potencialidade
da célula capacitiva construída, ao comparar os valores obtidos experimentalmente com
os valores da literatura para a mesma faixa de temperatura.
Os resultados experimentais das amostras citadas anteriormente mostraram-se
satisfatórios, pois apresentaram compatibilidade com os valores de constante dielétrica
encontrados na literatura. A seguir estão apresentados os resultados experimentais
(FIGURA 24) e os respectivos valores de constante encontrados na literatura (TABELA
4).
CAPÍTULO 4 – RESUTADOS E DISCUSSÕES
50
FIGURA 24: Gráfico da constante dielétrica da glicerina de 99,5%, óleo de rícino, óleo mineral e da vaselina em função da frequência.
9000 12000 15000 18000 21000
40,0
40,8
41,6
42,4
43,2
44,0
44,8
45,6
Constante dielétrica (K)
Parameter Value Error
A 44,56826 0,02303
B -5,33833E-5 1,595E-6
Glicerina 99,5%
Ajuste Linear
Constante dielétrica (K)
9000 12000 15000 18000 21000
4,4
4,5
4,6
4,7
4,8
4,9
5,0
Parameter Value Error
A 4,72945 0,0041
B -1,36073E-6 2,8395E-7
Óleo de Rícino
Ajuste Linear
9000 12000 15000 18000 21000
2,3
2,4
2,5
2,6
2,7
2,8
2,9
Frequência (Hz)
Parameter Value Error
A 2,52347 0,00479
B 4,43183E-6 3,32107E-7
Óleo Mineral
Ajuste Linear
Frequência (Hz)
9000 12000 15000 18000 21000
2,3
2,4
2,5
2,6
2,7
2,8
2,9
Parameter Value Error
A 2,61338 0,00334
B 1,42071E-7 2,31306E-7
Vaselina
Ajuste Linear
CAPÍTULO 4 – RESUTADOS E DISCUSSÕES
51
De acordo com a FIGURA 24 pode-se observar que as medidas da constante
dielétrica para as quatro diferentes amostras apresentam-se praticamente invariantes
com a freqüência a partir da faixa de 9 kHz, conforme foi discutido anteriormente.
Além disso, observa-se que os resultados obtidos experimentalmente mostraram-se
bastante consistentes com os valores da literatura. Para a amostra glicerina de 99,5%
de pureza foi encontrado um valor de constante dielétrica em torno de 43,5 - 44, valor
este compatível ao esperado, entre 43,5 e 48,5 a temperatura ambiente (25ºC). As
medidas com óleo de rícino e vaselina mostraram-se também satisfatórias. Para o óleo
de rícino, medido a 16ºC, o valor de constante dielétrica obtido esteve de acordo com o
esperado 4,7, enquanto que para a vaselina a medida foi de 2,6, valor este
compreendido dentro da margem esperada, entre 2,2 - 2,9 ( TABELA 5). Dependendo
da destinação e diferentes aplicações da vaselina, sejam elas medicinais, tecnológicas
ou industriais, a sua composição original é alterada por compostos adicionados e o seu
estado físico pode modificar. Nesse sentido, de forma a abranger as diferentes formas
de vaselina encontradas, é caracterizada na literatura a faixa de valores esperados para
esse material.
Para uma melhor interpretação dos resultados medidos com a vaselina algumas
questões, além das diferentes formas que este material pode se apresentar, podem ser
consideradas, como por exemplo: i) erros experimentais devido à variação na
temperatura do laboratório (entre 21 e 28ºC), umidade relativa do ar no dia de medida ii)
erros experimentais concernentes à manipulação e o reposicionamento das placas
capacitivas, gerando possíveis mudanças na distância entre elas, que apesar de serem
bem pequenas são suficientes para perturbar uma medida de amostra de constante
dielétrica razoavelmente pequena, como é o caso.
Por outro lado, as medidas obtidas com o óleo mineral (petrolato líquido), em
torno de 2,6
±
0,5, indicaram uma pequena diferença em relação ao valor da literatura
2,1. Essas diferenças podem ser atribuídas aos erros experimentais conforme foi
discutido anteriormente para o caso da vaselina. Vale ressaltar que as contribuições
eletrônicas para capacitâncias espúrias presentes no aparato experimental também
contribuem, significativamente, na indução de erros dos valores medidos. Conforme
discutido (no Capítulo de Materiais e Métodos) essas influências externas às medidas
são bem expressivas, especialmente nos casos de amostras com constante dielétrica
razoavelmente pequena, como os da vaselina e do óleo mineral, as mais sujeitas a
estas variações.
CAPÍTULO 4 – RESUTADOS E DISCUSSÕES
52
TABELA 5: Valores de constante dielétrica conhecidos na literatura e os medidos
experimentalmente para as amostras de glicerina de 99,5 % de pureza, óleo de rícino, óleo
mineral e vaselina.
*http://www.asiinstr.com/technical/Dielectric%20Constants.htm#Section
Uma vez finalizada a etapa de avaliação do potencial de reprodutibilidade e
confiabilidade nos resultados, deu-se início ao estudo das propriedades dielétricas de
amostras de constantes dielétricas não conhecidas. Dessas amostras fizeram parte a
glicerina e outras oleaginosas fabricadas por Laboratórios como: o LCQUI da UENF, e o
Laboratório de Óleos e Gorduras da Unicamp, sob a direção da Profa. Lireny Gonçalves.
As medidas para essas amostras serão abordadas no item a seguir.
4.3 - Medidas a temperatura ambiente com amostras de constante dielétrica
não conhecida
4.3.1 - Misturas de óleo de soja em óleo de soja totalmente hidrogenado com e
sem reação de interesterificação
Os resultados das medidas da constante dielétrica para as amostras de
óleo de soja em óleo de soja totalmente hidrogenado com e sem reação de
interesterificação, estão apresentados na TABELA 6. Os resultados nela apresentados
são os valores médios de constante dielétrica dos dois grupos de amostras nas
diferentes concentrações de óleo de soja em óleo de soja totalmente, obtidos a partir da
Temperatura
(22 - 28ºC)
K Literatura* K - medido
Glicerina 99,5%
42,5 – 48,5 43,5
±
0,4
Óleo de Rícino (16ºC)
4,7 4,7
±
0,2
Óleo Mineral
2,1 2,6
±
0,3
Vaselina 2,2 – 2,9 2,6
±
0,2
CAPÍTULO 4 – RESUTADOS E DISCUSSÕES
53
média entre 4 e 5 repetições. O erro foi estimado a partir do desvio da constante
dielétrica medida para cada repetição em relação ao valor médio dessas repetições.
TABELA 6: Valores de constante dielétrica com os erros de medida das misturas de
óleo de soja em óleo de soja totalmente hidrogenado com e sem interesterificação.
.
Na FIGURA 25 abaixo está ilustrado o gráfico da constante dielétrica da mistura
de óleo de soja em óleo de soja totalmente hidrogenado com e sem interesterificação. A
partir desse resultado observa-se que os valores medidos de constante dielétrica para
esses dois grupos de amostras apresentam-se na faixa de 2,8 4,5, faixa esta que
compreende valores de constante dielétrica de diversas oleaginosas em geral.
Em relação ao comportamento da constante dielétrica com a concentração
verifica-se que as amostras de 50% e 60% de óleo de soja em óleo de soja totalmente
hidrogenado com e sem reação de interesterificação apresentaram valores de constante
dielétrica bastante próximos. Por outro lado, na concentração de 70%, foi observada
uma diferença entre os resultados medidos, com um pico em torno de 4,5 na mistura
com interesterificação. Em seguida, na concentração de 80%, é observado um aumento
da constante dielétrica da mistura sem interesterificação, sendo o seu pico em torno de
4,3, enquanto que para a mistura com interesterificação o valor da constante dielétrica é
diminuído. Por fim, na concentração de 90%, o valor da constante dielétrica da mistura
sem interesterificação apresenta o menor valor medido entre todas as amostras de
ambos os grupos, enquanto que para a mistura com interesterificação o resultado obtido
Mistura sem
Interesterificação
Mistura com
Interesterificação
50%
2,09,3
±
1,08,3
±
60%
3,08,3
±
3,08,3
±
70%
2,09,3
±
3,05,4
±
80%
3,03,4
±
2,01,4
±
90%
2,07,3
±
1,01,4
±
CAPÍTULO 4 – RESUTADOS E DISCUSSÕES
54
50 60 70 80 90
3,0
3,2
3,4
3,6
3,8
4,0
4,2
4,4
4,6
4,8
5,0
Constante (K)
Concentração (% soja)
Mistura sem interesterificação
Mistura com interesterificação
10KHz ( 25ºC)
mantém o mesmo valor da concentração de 80%, isto é, 4,1. Este comportamento pode
estar relacionado com parâmetros das amostras como a fração de sólidos, ponto de
fusão, diâmetro de partículas e cinética de cristalização, cujo estudo é perspectiva de
continuidade deste trabalho.
FIGURA 25: Constante dielétrica em função da concentração de misturas de óleo de
soja em óleo de soja totalmente hidrogenada com e sem a reação de interesterificação.
4.3.2 - Mistura de biodiesel de canola em diesel para diferentes concentrações
Os resultados das medidas de constante dielétrica para as misturas de biodiesel
de canola em diesel com diferentes concentrações estão indicados no gráfico da
FIGURA 26 e 27. Observa-se que, à medida que a concentração de biodiesel de canola
e de babaçu em diesel é aumentada, o valor da constante dielétrica aumenta. Os
resultados das medidas variam de um valor mínimo 2,52 (100% diesel) para um valor
máximo de 3,9 para 100% biodiesel na concentração de 100% biodiesel de canola,
como esperado.
Conforme observado na FIGURA 26 os resultados obtidos apresentam um
comportamento próximo ao linear podendo ser ajustados por uma reta. Este ajuste
permite, então, determinar os coeficientes angular e linear dessa reta que estão
associados à taxa de variação da constante dielétrica da mistura com a concentração e
CAPÍTULO 4 – RESUTADOS E DISCUSSÕES
55
0 20 40 60 80 100
2,0
2,5
3,0
3,5
4,0
4,5
5,0
5,5
Y = A + B * X
Parameter Value Error
------------------------------------------------------------
A 2,26062 0,04192
B 0,02757 8,66432E-4
------------------------------------------------------------
R SD N P
------------------------------------------------------------
0,99558 0,08865 11 <0.0001
------------------------------------------------------------
Constante (K)
Biodiesel de babaçú em diesel (%)
0 20 40 60 80 100
2,0
2,5
3,0
3,5
4,0
4,5
5,0
5,5
Y = A + B * X
Parameter Value Error
------------------------------------------------------------
A 2,26062 0,04192
B 0,02757 8,66432E-4
------------------------------------------------------------
R SD N P
------------------------------------------------------------
0,99558 0,08865 11 <0.0001
------------------------------------------------------------
Constante (K)
Biodiesel de babaçú em diesel (%)
ao valor de constante dielétrica do diesel, respectivamente. Os coeficientes linear e
angular obtidos são, respectivamente: A=2,58
±
0,03 e B= 0,0129
±
0,0007.
FIGURA 26: Constante: dielétrica em função da concentração de biodiesel de canola
em diesel
FIGURA 27: Constante: dielétrica em função da concentração de biodiesel de babaçu
em diesel.
A figura 27 mostra o resultado obtido com o biodiesel de babaçu em diesel
para as mesmas concentrações do caso anterior. Este resultado revela um
CAPÍTULO 4 – RESUTADOS E DISCUSSÕES
56
comportamento similar ao do gráfico da figura 26, isto é que à medida que a
concentração de biodiesel (canola ou babaçu) aumenta a constante dielétrica, também é
aumentada. Outro detalhe a se observar é que o arranjo experimental teve sensibilidade
para identificar diferenças entre as constantes dielétricas dos biodieseis medidos, sendo
3,9 para o canola e 5,1 para o babaçu. Os coeficientes linear e angular obtidos a partir
do gráfico da figura 27 são, respectivamente: A=2,26
±
0,04 e B= 0,0257
±
0,0007.
Esses resultados revelam a sensibilidade da técnica, bem como a potencialidade
da célula capacitiva que foi capaz de identificar variações na constante dielétrica para
diferentes concentrações de biodiesel de canola e de babaçu em diesel. Isto ocorrerá
sempre que o valor da constante dielétrica do biodiesel não for muito próximo daquele
do diesel de petróleo e pode prestar informações importantes aos pesquisadores ligados
à área técnica de desempenho de combustíveis.
4.4 – Medidas de constante dielétrica com variação de temperatura
4.4.1 - Glicerina de 99,5% de pureza
Nas etapas anteriores os experimentos foram realizados à temperatura
ambiente. Apresento agora resultados de experimentos com temperatura controlada.
Para isso foi necessária uma reorganização no arranjo experimental, com adequações
no posicionamento do elemento Peltier, termistor e dissipador de calor para melhor
praticidade da célula capacitiva.
Nesta etapa foram realizadas medidas da constante dielétrica da glicerina com
99,5% de pureza em função da temperatura, no intervalo entre 12ºC e 40ºC. Vale
lembrar que o ponto de fusão dessa amostra é em torno dos 18ºC, sendo esperado,
portanto, anomalias nos valores de constante dielétrica próximas a essa região de
transição.
A partir dos dados experimentais da constante dielétrica da glicerina com 99,5%
de pureza, como função da temperatura, foi traçado o gráfico da FIGURA 28. Dele é
possível perceber que à medida que a temperatura aumenta a constante dielétrica é
diminuída. Este comportamento está de acordo com o esperado que o aumento da
temperatura contribui para um maior grau de desordem dos dipolos elétricos,
dificultando então a polarização elétrica e, conseqüentemente, diminuindo a constante
dielétrica.
CAPÍTULO 4 – RESUTADOS E DISCUSSÕES
57
Outro detalhe observável é que as variações da constante dielétrica nas
temperaturas mais abaixo ou mais acima do ponto de fusão (18ºC) (Webbook.Nist.) são
pequenas quando comparadas às variações do mesmo parâmetro ocorrida nas
temperaturas em torno do ponto de fusão (destacado pelo retângulo). Esse
comportamento pode ser atribuído ao fato de que, durante uma transição de fase, as
propriedades estruturais e físicas do material sofrem mudanças significativas, refletindo,
portanto, numa expressiva variação da constante dielétrica.
Ainda desse gráfico é possível perceber que a constante dielétrica sofre
diminuição com o aumento da temperatura em variações pequenas cujas taxas
aumentam até atingirem a região de fusão, onde se tem o máximo de variação,
verificada pela distorção na curva demarcada pelo retângulo e, à medida que a
temperatura se afasta para direita desta região, a constante dielétrica volta a apresentar
variações pequenas com a temperatura.
Com o intuito de melhor visualizar o comportamento da variação da constante
dielétrica com a temperatura, além de complementar as discussões feitas acima, foi
traçada uma curva da taxa de variação da constante dielétrica (derivada da curva da
FIGURA 28). O resultado obtido está ilustrado na FIGURA 29.
FIGURA 28: Constante dielétrica da glicerina de 99,5% de pureza em função da
temperatura.
8 12 16 20 24 28 32 36 40 44
44
45
46
47
48
49
50
Constante (K)
Temperatura ºC
Glicerina 99,5%
100KHz
Ponto de Fuo ( 18º)
CAPÍTULO 4 – RESUTADOS E DISCUSSÕES
58
FIGURA 29: Taxa de variação da constante dielétrica da glicerina de 99,5% de pureza
com a temperatura em função da temperatura
Com base neste gráfico verifica-se que a taxa de variação da constante dielétrica
da glicerina 99,5% com a temperatura varia de acordo com a região de temperatura em
que é medida. Além disso, é facilmente observado que a taxa de variação com a
temperatura é maior para regiões de temperatura próximas à temperatura de fusão, em
torno de 16 ºC e 20 ºC. Observa-se, também, mais claramente neste gráfico, que para
temperaturas menores que as temperaturas dentro da região de transição, a taxa de
variação da constante é aumentada à medida que se aproxima em torno dos 18º,
enquanto que à medida que as temperaturas tornam-se maiores que 18º até atingirem
28ºC, a taxa de variação da constante é diminuída consideravelmente com a
temperatura, indicando que a mesma varia sensivelmente nesta região de temperatura.
E para finalizar a análise deste gráfico é notado que a partir dos 28ºC a taxa de variação
é diminuída, mas com dependência menor da região de temperatura, tendendo para
valores em torno de 0,5 (
0
C)
-1
(saturação) em temperaturas maiores que 40ºC.
Essa dependência da taxa de variação da constante dielétrica com a temperatura
em diferentes regiões de temperatura está associada às diferentes propriedades
dielétricas presentes nos dois estados físicos considerados (sólido-líquido). Esses
8 12 16 20 24 28 32 36 40 44
0,00
0,05
0,10
0,15
0,20
0,25
0,30
0,35
0,40
Taxa de variação de K
da Glicerina 99,5% com T (
0
C)
-1
Temperatura (ºC)
CAPÍTULO 4 – RESUTADOS E DISCUSSÕES
59
resultados demonstram a sensibilidade da metodologia aqui apresentada na detecção
de transições de fase em materiais líquidos e pastosos.
CAPÍTULO 4 – RESUTADOS E DISCUSSÕES
60
CAPÍTULO 5 – CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS
Neste trabalho foi implementada a metodologia de obtenção de propriedades
dielétricas de materiais líquidos e pastosos e em seguida foram realizados testes de
calibração e de avaliação do potencial de confiabilidade dos resultados obtidos.
Um sistema experimental baseado em uma célula capacitiva foi projetado e
construído no âmbito deste trabalho. Providências para a calibração da célula, obtenção
da capacitância espúria, definição da faixa de frequência do sinal a utilizar e verificação
da reprodutibilidade foram tomadas.
A verificação do desempenho funcional da célula capacitiva construída foi
procedida comparando os resultados obtidos experimentalmente com valores de
constante dielétrica (à temperatura ambiente) reportados na literatura. Foram
utilizados materiais como: vaselina, glicerina 99,5% de pureza, óleo de rícino e óleo
mineral. Esses resultados permitiram verificar o bom desempenho funcional da lula
capacitiva construída, que os valores obtidos experimentalmente foram compatíveis
com os valores de constante dielétrica encontrados na literatura.
Para os resultados obtidos com as amostras de óleo de soja em óleo de soja
totalmente hidrogenado, com e sem reação química de interesterificação, os valores de
constante dielétrica colocaram-se na faixa de 3,8 – 4,6, que são característicos da
maioria dos óleos e gorduras. Isto permite concluir que o aparato experimental
apresenta uma boa reprodutibilidade e credibilidade nos seus resultados medidos.
As medidas com biodiesel de canola e de babaçu misturados em diesel de
petróleo para diferentes concentrações (5%, 10%, 15%, 20%, 30%, 40%,50%, 60% e
80%) mostraram que à medida que a concentração do biodiesel no diesel é aumentada,
a constante dielétrica da mistura também aumenta. Isto permitiu concluir que a célula
capacitiva construída é sensível o suficiente para distinguir diferenças entre diferentes
amostras analisadas quanto à composição e ao particular óleo precursor da produção
do biodiesel.
O aparato experimental permitiu medidas com controle da temperatura
(introdução de elemento Peltier, termistor, dissipador de calor) o que foi aplicado para
amostras de glicerina com 99,5% de pureza no intervalo entre 12ºC e 44ºC. Os
resultados mostraram que a constante dielétrica é diminuída com o aumento de
temperatura, já que o alinhamento dos dipolos elétricos é dificultado pela agitação
térmica. Além disso, foi observada uma anomalia nos valores da constante dielétrica em
torno da temperatura de fusão da glicerina 99,5% (18ºC). Esses resultados permitiram
CAPÍTULO 4 – RESUTADOS E DISCUSSÕES
61
concluir que o desempenho funcional do arranjo experimental com variação de
temperatura mostrou-se satisfatório, uma vez que foi capaz de enxergar diferentes
valores da constante dielétrica com variação de temperatura e identificar uma transição
de fase a partir de diferenças expressivas dos valores de constante dielétrica medidos.
As perspectivas futuras na seqüência deste trabalho serão:
Contrapor os resultados da constante dielétrica com outros parâmetros
conhecidos para essa sistemática de amostras de óleos destinados à produção de
alimentos com baixo teor de gorduras trans como fração de sólidos, ponto de fusão,
diâmetro de partículas e cinética de cristalização.
Analisar as propriedades dielétricas de amostras de glicerina bruta gerada a partir
da processo de produção de diferentes tipos de biodieseis, como o de soja, babaçu,
canola, de frituras, entre outros, fabricados no laboratório de Química da Uenf (LCQUI).
Estudar um conjunto de materiais pastosos de importância tecnológica como
biocombustíveis, alimentos, óleos da Amazônia para aplicações em lubrificação,
alimentos, produtos de cuidados com a saúde da pele, amadurecimento de frutas e
outros poderão ser estudados com a metodologia aqui proposta.
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