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A ideia de Jakobson acerca da interação entre os diversos elementos
constituivos do poemas pode também ser percebida em outros trechos de seus
escritos, como por exemplo no que destacamos a seguir (JAKOBSON, 2004, p. 70):
Fenômenos como a interação entre as equilavências e discrepâncias
sintáticas, morfológicas e léxicas, como os diferentes tipos de
contiguidades semânticas, similaridades, sinonímias e antonímias,
[...] todos esses fenômenos estão a exigir uma análise sistemática,
análise esta indispensável à compreensão e interpretação dos vários
mecanismos gramaticais da poesia.
Assim, Jakobson propõe que a análise dos poemas deve procurar levantar
tanto os paralelismos e as simetrias quanto os constrastes entre as classes
gramaticais
4
, entre os fonemas, os morfemas, as isotopias, a sintaxe, as rimas, os
versos, o ritmo, a distribuição das estrofes. Coquet (1975, p. 37) vai ao encontro de
Jakobson quando afirma que a análise de um poema deveria revelar os paralelismos
ou rupturas gramaticais, fônicos, prosódicos e/ou semânticos e as relações entre
eles. As análises jakobsonianas sempre procuraram descrever qual a funcionalidade
discursiva dos fatos gramaticais. Esse seria um resumo dos procedimentos que
devem ser investigados quando da leitura de um poema. Nos próximos capítulos
poderão ser verificados exemplos práticos de tal tipo de descrição, nos estudos
analíticos realizados por nós.
Além da imensa contribuição de Roman Jakobson, não podemos deixar de
mencionar os estudos de Ferdinand de Saussure sobre os anagramas
5
, certamente
precursores dos estudos semiolinguísticos de poesia.
Na linguagem corrente, um anagrama é simplesmente a “transposição de
letras de palavra ou frase para formar outra palavra ou frase diferente”
6
. Um exemplo
4
Cf. Jakobson (2004, p. 74): “Entre as categorias gramaticais utilizadas em paralelismos e contrastes
estão, com efeito, todas as classes de palavras, variáveis e invariáveis, as categorias de número,
gênero, caso, grau, tempo, aspecto, modo e voz, as classes de concretos e abstratos, de animados e
inanimados, os nomes próprios e comuns, as formas afirmativas e negativas, as formas verbais finitas
e infinitas, pronomes e artigos definidos e indefinidos e os diversos elementos e construções
sintáticos”.
5
Jakobson (s.d., p. 199, tradução nossa) afirma: “Nessa pesquisa, Saussure abre oportunidades sem
precedentes para o estudo linguístico da poesia”.