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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS – UFAL
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO
MESTRADO EM DINÂMICAS DO ESPAÇO HABITADO - DEHA
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
AS ESQUADRIAS NA INTER-RELAÇÃO ENTRE OS CHEIOS
E VAZIOS NA COMPOSIÇÃO DO ESPAÇO CONSTRUÍDO
José David Pacheco Guerra
MACEIÓ
2007
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JOSÉ DAVID PACHECO GUERRA
AS ESQUADRIAS NA INTER-RELAÇÃO ENTRE OS CHEIOS
E VAZIOS NA COMPOSIÇÃO DO ESPAÇO CONSTRUÍDO
Dissertação apresentada à
Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade
Federal de Alagoas - UFAL,
como requisito exigido pelo
Programa de Pós-Graduação
em Dinâmicas do Espaço
Habitado – DEHA, para
obtenção do título de Mestre
em Arquitetura e Urbanismo.
MACEIÓ
2007
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Catalogação na fonte
Universidade Federal de Alagoas
Biblioteca Central
Divisão de Tratamento Técnico
Bibliotecária Responsável: Helena Cristina Pimentel do Vale
G934e Guerra, José David Pacheco.
As esquadrias na inter-relação entre os cheios e vazios na composição no espaço
construído / José David Pacheco Guerra. – Maceió, 2007.
137 f. : il.
Orientador: Flávio Antonio Miranda de Souza.
Dissertação (mestrado em Arquitetura e Urbanismo : Dinâmicas do Espaço
Habitado) – Universidade Federal de Alagoas. Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo. Maceió, 2007.
Bibliografia: f. 131-133.
Anexos: f. 134-137.
1. Arquitetura – Composição. 2. Espaço (Arquitetura). 3. Esquadria. I. Título.
CDU: 72.04
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos os professores idealizadores e realizadores do Programa de Pós
Graduação DEHA pela abnegação e seriedade com que conduzem este empreendimento,
fundamental para o engrandecimento desta UFAL e para qualificação de profissionais da
arquitetura.
Agradeço aos membros da Banca Examinadora pelo tempo desprendido para ler e
ouvir as palavras contidas neste trabalho.
Agradeço em especial ao amigo Flávio pelo incentivo e estímulo dado para que eu
ingressasse no Curso de Pós Graduação. E também em especial agradeço ao orientador
Professor Dr. Flávio A. M. de Souza, pelas orientações e pela paciência na condução deste
longo período de desenvolvimento desta dissertação.
RESUMO
Este trabalho parte do pressuposto de que para compreender e interpretar os espaços
arquitetônicos é necessário conhecer com profundidade cada parte constituinte da totalidade
arquitetônica. Sendo assim, neste trabalho busca-se uma maior compreensão do processo
evolutivo das inter-relações entre os elementos componentes do binômio cheios e vazios.
Dentre outros elementos construtivos, destacam-se as portas e janelas, conhecidas de modo
genérico como esquadrias. Os dados foram obtidos a partir da literatura que foi revisada de
forma a permitir a compreensão sobre a utilização das esquadrias na composição do espaço
arquitetônico através da linha do tempo. Em seguida, foram feitas análises compositivas e
espaciais das esquadrias na arquitetura, utilizando edificações residenciais em Maceió. As
análises deste estudo sugerem que as esquadrias são consideradas, em larga escala, elementos
arquitetônicos controladores de fluxos de pessoas, ar e luz naturais, sendo destacadas dos
demais elementos construtivos, dada a sua multiplicação por todo o edifício, fato este que
afeta consideravelmente o espaço quanto ao seu dimensionamento, funcionamento e aos seus
aspectos plástico e sensitivo. Ao longo do tempo, as esquadrias parecem ter evoluído muito
pouco em relação às alterações de funções enquanto elemento arquitetônico, variando, porém,
de forma substancial enquanto elemento compositivo. Cada parte do edifício está para a
linguagem arquitetônica como as letras estão para a linguagem escrita ou falada.
Palavras-chave: Composição, espaço arquitetônico, esquadrias.
ABSTRACT
This work is based on the assumption that in order to understand and apprehend the
architectural space it is necessary to exam in detail each part that constitutes the totality of
architecture. Therefore, the aim of this work is to understand the incremental process of
interrelationships between the architectural elements existent in the so-called masses and non-
existent masses. Among these elements, windows and doors can be highlighted, being
generally known as entrance ways. Data were gathered from a literature review that allowed a
better understanding on the use of entrance ways in the composition of architectural spaces,
over time. Following that, it was analyzed the use of composition of selected, residential
buildings in Maceió. Data analyses suggest that windows and doors are considered, in large
scale, architectural elements that control the flow of individuals, air and natural light, being
highlighted from others constructive elements, given its spread use all over the buildings,
which in turn considerably affects space in relation to its dimensions, functioning and other
sensitive and compositive aspects. In general terms, entrance ways appear not to have evolved
significanlty over time considering them as an architectural element, but have substantially
evolved as a compositive element. One should consider each part of the building in relation to
composition as letters of the alphabet to form both the spoken or written languages.
Key words: Composition, architectural space, entrance ways.
SUMÁRIO
LISTA DAS ILUSTRAÇÕES .................................................................................................9
INTRODUÇÃO ......................................................................................................................13
- CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES.............................................................................13
- O PROBLEMA..................................................................................................................14
- OBJETO DE ESTUDO......................................................................................................15
- OBJETIVOS DO TRABALHO.........................................................................................16
- METODOLOGIA ..............................................................................................................18
- ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO...........................................................................19
CAPÍTULO 1 - CONSIDERAÇÕES CONCEITUAIS.......................................................20
1.1. INTRODUÇÃO AO CAPÍTULO 1............................................................................20
1.2. A RESPEITO DA ARQUITETURA..........................................................................20
1.3. A RESPEITO DOS CHEIOS E VAZIOS, COMPOSIÇÃO, DAS PARTES E O
TODO, DAS ESQUADRIAS. ....................................................................................22
CAPÍTULO 2 - AS SUPERFÍCIES DELIMITADORAS DO ESPAÇO ..........................32
2.1. INTRODUÇÃO AO CAPÍTULO 2............................................................................32
2.2. AS SUPERFÍCIES HORIZONTAIS – OS PISOS E TETOS....................................33
2.3. AS SUPERFÍCIES VERTICAIS – AS PAREDES....................................................37
CAPÍTULO 3 - OS BURACOS NAS PAREDES................................................................43
3.1. INTRODUÇÃO AO CAPÍTULO 3............................................................................43
3.2. MODOS DE COMO OS BURACOS SÃO APRESENTADOS NA COMPOSIÇÃO
ARQUITETÔNICA....................................................................................................44
3.2.1. OS VAZIOS .......................................................................................................44
3.2.2. NICHOS .............................................................................................................45
3.2.3 COBOGÓS..........................................................................................................45
3.2.4 GRADES.............................................................................................................46
3.2.5. PORTAS.............................................................................................................47
3.2.6. JANELAS...........................................................................................................47
3.3. AS RELAÇÕES ENTRE AS ABERTURAS E OS PLANOS DEFINIDORES DO
ESPAÇO .....................................................................................................................48
3.4. AS PORTAS ...............................................................................................................52
3.4.1. AS PORTAS INTERNAS......................................................................................53
3.4.2. AS PORTAS EXTERNAS.....................................................................................54
3.5. AS JANELAS .............................................................................................................59
CAPÍTULO 4 - AS ESQUADRIAS NA DINÂMICA DO ESPAÇO E DO TEMPO.......63
4.1. INTRODUÇÃO AO CAPÍTULO 4............................................................................63
4.2. CONTEXTUALIZAÇÃO NA HISTÓRIA GERAL DA ARQUITETURA..............64
4.3. CONTEXTUALIZAÇÃO NA HISTÓRIA DA ARQUITETURA BRASILEIRA....89
CAPÍTULO 5 - AS ESQUADRIAS NO ESPAÇO RESIDENCIAL .................................97
5.1. INTRODUÇÃO AO CAPÍTULO 5............................................................................97
5.2. A CASA......................................................................................................................97
CAPÍTULO 6 - A RESIDÊNCIA ATUAL: DA CASA AO APARTAMENTO. AS
MUDANÇAS DE RELAÇÃO PORTAS / JANELAS /ESPAÇO ....................................104
6.1. INTRODUÇÃO AO CAPÍTULO 6..........................................................................104
6.2. AS CASAS CONTEMPORÂNEAS.........................................................................104
6.3. OS EDIFÍCIOS DE APARTAMENTOS .................................................................106
6.4. DA CASA AO APARTAMENTO – MACEIÓ COMO REFERÊNCIA.................107
6.4.1. TIPO 1 ..................................................................................................................110
6.4.2. TIPO 2 ..................................................................................................................111
6.4.3. TIPO 3 ..................................................................................................................114
6.4.4. TIPO 4 ..................................................................................................................117
6.4.5. TIPO 5 ..................................................................................................................120
6.4.6. TIPO 6 ..................................................................................................................122
6.4.7. TIPO 7 ..................................................................................................................124
CAPÍTULO 7 - CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................128
7.1. LIMITAÇÕES DA DISSERTAÇÃO.......................................................................128
7.2. IMPLICAÇÕES PARA ESTUDOS FUTUROS......................................................128
7.3. CONTRIBUIÇÕES PARA A PRÁTICA DA ARQUITETURA.............................129
7.4 CONCLUSÃO 130
BIBLIOGRAFIA..................................................................................................................131
ANEXOS ...............................................................................................................................134
ANEXO A ..........................................................................................................................134
ANEXO B...........................................................................................................................135
ANEXO C...........................................................................................................................136
ANEXO D ..........................................................................................................................137
9
LISTA DAS ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - PRINCÍPIO COMPOSITIVO NA METODOLOGIA DO CATÁLOGO ..............27
Figura 2 – O CATÁLOGO.......................................................................................................28
Figura 3 - O ANTICATÁLOGO..............................................................................................28
Figura 4 – PORTA: O TODO E AS PARTES.........................................................................30
Figura 5 – JANELA: O TODO E AS PARTES.......................................................................30
Figura 6 – PLANTA LIVRE....................................................................................................33
Figura 7 – ESPAÇO PRIMITIVO............................................................................................35
Figura 8 – PLANO 1- SUPERFÍCIES HORIZONTAIS SUPERIORES: TETOS..................35
Figura 9 – VARIÁVEIS DAS SUPERFÍCIES SUPERIORES ...............................................35
Figura 10 – NOVAS FORMAS COMO SOLUÇÃO ESTRUTURAL....................................35
Figura 11 – NOVAS FORMAS COMO SOLUÇÃO ESTRUTURAL....................................36
Figura 12 – SUPERFÍCIES INFERIORES: PISOS.................................................................36
Figura 13 – SUPERFÍCIES INFERIORES: PISOS.................................................................36
Figura 14 – PLANO VERTICAL.............................................................................................37
Figura 15 – PLANO 2- SUPERFÍCIES VERTICAIS .............................................................37
Figura 16 – PLANO 2- SUPERFÍCIES VERTICAIS: PAREDES EXTERNAS....................38
Figura 17 – PLANO 2- SUPERFÍCIES VERTICAIS: PAREDES INTERNAS.....................38
Figura 18 – PLANO 2- SUPERFÍCIES VERTICAIS: FORMAS VARIÁVEIS ....................38
Figura 19 – SUPERFÍCIES HORIZONTAIS E VERTICAIS: COMPOSIÇÃO ESPACIAL 38
Figura 20 – SUPERFÍCIES HORIZONTAIS E VERTICAIS: COMPOSIÇÃO ESPACIAL 39
Figura 21 – SUPERFÍCIES HORIZONTAIS E VERTICAIS: COMPOSIÇÃO ESPACIAL 39
Figura 22 – PERCEPÇÃO DO ESPAÇO INTERIOR E EXTERIOR.....................................39
Figura 23 – PERCEPÇÃO DO ESPAÇO – LUZ ....................................................................39
Figura 24 – PERCEPÇÃO DO ESPAÇO – LUZ.....................................................................41
Figura 25 – PLANO DE QUADRO.........................................................................................41
10
Figura 26 – PLANOS VERTICAIS COMO DELIMITAÇÃO DO ESPAÇO URBANO – OS
EDIFICIOS................................................................................................................41
Figura 27 – PLANOS VERTICAIS COMO DELIMITAÇÃO DO ESPAÇO URBANO – OS
EDIFICIOS................................................................................................................41
Figura 28 – PLANOS VERTICAIS COMO DELIMITAÇÃO DO ESPAÇO URBANO – OS
EDIFICIOS................................................................................................................42
Figura 29 – VAZIOS................................................................................................................44
Figura 30 – NICHOS................................................................................................................45
Figura 31 – COBOGÓ..............................................................................................................46
Figura 32 – GRADES...............................................................................................................46
Figura 33 – PORTAS ...............................................................................................................47
Figura 34 – JANELAS ...........................................................................................................48
Figura 35 – BURACOS NAS SUPERFÍCIES DELIMITADORAS DO ESPAÇO................49
Figura 36 – ABERTURAS COMO ELEMENTOS PROMOTORES DA CONTINUIDADE
ENTRE OS ESPAÇOS ADJACENTES...................................................................50
Figura 37 – AS ABERTURAS COMO ELEMENTOS DEFINIDORES DE FLUXOS.........50
Figura 38 - ABERTURAS DENTRO DE PLANOS ...............................................................50
Figura 39 – ABERTURAS NOS CANTOS.............................................................................51
Figura 40 – ABERTURAS ENTRE OS PLANOS ..................................................................51
Figura 41 – IGREJA NOTRE DAME DU HAUT – RONCHAMP FRANÇA.......................52
Figura 42 – ABERTURAS DE ENTRADA E RECURSOS DE REALCE.............................55
Figura 43 – ABERTURAS DE ENTRADA E RECURSOS DE REALCE.............................56
Figura 44 – RELAÇÃO DOS CHEIOS E VAZIOS E VOLUMETRIA .................................58
Figura 45 – RELAÇÃO DOS CHEIOS E VAZIOS E VOLUMETRIA .................................59
Figura 46 – DÓLMEN (cerca de 1000 anos a.C). Carnac, Bretanha.......................................66
Figura 47 – CROMLECH DE STONEHENGE (cerca de 3500 a.C.) .....................................67
Figura 48 – CROMLECH DE STONEHENGE. Desenho esquemático da planta..................68
Figura 49 – HIPOGEU EM HAL SAFLIENI (entre 3500 e 3000 a.C.) ..................................69
Figura 50 – NEWGRANGER (cerca de 3250 a.C.) Vista do corredor....................................70
11
Figura 51 – NEWGRANGER (cerca de 3250 a.C.).................................................................70
Figura 52 – PARTENOM.........................................................................................................72
Figura 53 - EVOLUÇÃO DA PLANTA DO TEMPLO GREGO ...........................................73
Figura 54 – CASARIO MEDIEVAL .......................................................................................75
Figura 55 – MURALHAS DE CARCASSONE. .....................................................................76
Figura 56 – TEMPLOS GÓTICOS..........................................................................................78
Figura 57 – VITRAL GÓTICO................................................................................................79
Figura 58 – PERSPECTIVA NA IDADE MÉDIA..................................................................80
Figura 59 – DIFERENÇAS CONSTRUTIVAS BÁSICAS ENTRE O GÓTICO E
RENASCIMENTO....................................................................................................82
Figura 60 – TRATAMENTO DE MASSA DIFERENCIAM MANIFESTAÇÕES
ESTILÍSTICAS.........................................................................................................83
Figura 61 – MIES VAN DER ROHE.......................................................................................86
Figura 62 – WALTER GROPIUS............................................................................................86
Figura 63 – FRANK LLOYD WRIGTH..................................................................................87
Figura 64 – LE CORBUSIER ..................................................................................................87
Figura 65 – MORADIA DOS ÍNDIOS XAVANTES .............................................................90
Figura 66 – CASA YAWALAPITI..........................................................................................91
Figura 67 – CASA YAWALAPITI – PLANTA BAIXA.........................................................91
Figura 68 – CASA YAWALAPITI – DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL......................................92
Figura 69 – CASA WAIÃPI.....................................................................................................92
Figura 70 – CASA PALAFÍTICA NIPUKU............................................................................93
Figura 71 – CASA PALAFÍTICA NIPUKU COM PAREDES DE PAXIÚBA E ESCADA
IÚRA .........................................................................................................................93
Figura 72 – EVOLUÇÃO DA RELAÇÃO ENTRE CHEIOS E VAZIOS NO BRASIL
SEGUNDO LÚCIO COSTA.....................................................................................96
Figura 73 – SEC XVI INFLUÊNCIA INDÍGENA/ARQUITETURA VERNÁCULA
PORTUGUESA.........................................................................................................98
Figura 74 – SÉC XVII - XVIII INFLUÊNCIA MEDIEVAL-RENASCENTISTA
PORTUGUESA.........................................................................................................99
12
Figura 75 – AERÍFERO........................................................................................................100
Figura 76 – CASAS DE ESTILO ECLÉTICO COM PORÃO ALTO – SÉCULO XIX. .....101
Figura 77 – A CASA SE AFASTA DOS LIMITES DOS TERRENOS – séc XX - 1900 -
1920.........................................................................................................................102
Figura 78 – JANELAS COM VENEZIANAS EM EDIFÍCIOS DE APARTAMENTOS....107
Figura 79 – CASAS DE PORTA E JANELA........................................................................110
Figura 80 – CASAS DE MUROS BAIXOS EM VIAS PÚBLICAS.....................................111
Figura 81 – CASAS DE MURO ALTO.................................................................................112
Figura 82 – MURO ALTO INTEGRADO À COMPOSIÇÃO DO EDIFÍCIO.....................113
Figura 83 – PORTA DE ACESSO - AS DUAS FACES DE JANUS ...................................114
Figura 84 – CASAS DE CONDOMÍNIO - CHEIOS E VAZIOS À MOSTRA....................115
Figura 85 – EDIFÍCIO SÃO CARLOS..................................................................................116
Figura 86 – PRIMEIROS EDIFÍCIOS RESIDENCIAIS MULTIFAMILIARES.................118
Figura 87 – PRIMEIROS EDIFÍCIOS RESIDENCIAIS MULTIFAMILIARES.................119
Figura 88 – PRIMEIROS EDIFÍCIOS RESIDENCIAIS MULTIFAMILIARES.................120
Figura 89 – EDIFÍCIOS COM TRATAMENTO DE SUPERFÍCIES PREDOMINANTE..121
Figura 90 – EDIFÍCIOS COM TRATAMENTO DE SUPERFÍCIES PREDOMINANTE..121
Figura 91 – EDIFÍCIOS COM TRATAMENTO DE SUPERFÍCIES PREDOMINANTE..122
Figura 92 – FACHADAS ENFAIXADAS.............................................................................123
Figura 93 – FACHADAS ENFAIXADAS OU MISTAS......................................................124
Figura 94 – EDIFÍCIOS DE ALTO PADRÃO......................................................................125
Figura 95 – EDIFÍCIOS DE ALTO PADRÃO......................................................................126
13
INTRODUÇÃO
- CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
Este trabalho representa um grande esforço, dada a distância habitual entre
aqueles que se dedicam ao exercício da arquitetura, no sentido de elaborar projetos e
construções, e às práticas de pesquisa acadêmica e de escrever sobre seu pensamento. Não só
a respeito do que é feito por si, mas também a partir de reflexões decorrentes de análises sobre
a produção da arquitetura de modo geral.
É comum entre as pessoas e, dentre estas, boa parte dos arquitetos projetistas e
outros profissionais — cujo exercício da profissão apresenta essencialmente um caráter
técnico — estabelecerem uma rígida separação equivocada acerca do binômio: teoria-prática.
Geralmente são duas idéias interpretadas como antagônicas. A primeira é vista como sendo o
ato de observar; pensar e repensar sobre o que é observado e transformar as impressões e
pensamentos em longos discursos vagos, de difícil compreensão, que nada têm de
aplicabilidade lógica para a realidade. Talvez tal idéia decorra do fato de alguns teóricos
serem prolixos e de pouco objetivo na exposição de suas idéias, por vezes recorrendo ao uso
de um vocabulário inacessível às pessoas não envolvidas ou pouco acostumadas com
determinado tema do discurso. A prática, ao contrário, é sempre referida como sendo o
resultado palpável, concreto, de uma ação claramente compreendida. Talvez, de forma
igualmente equivocada, como sendo resultado de uma ação compreensível de imediato por
todos os sentidos do observador. Esta postura é vista como se a prática adviesse apenas do ato
físico, desvinculada do processo de pensamento.
Para tornar mais complexa a compreensão da inter-relação teoria-prática, é
corrente nos discursos daqueles que se referem aos dois, no campo da arquitetura, recorrerem
a termos cujas conceituações são extremamente subjetivas, como bem se referiu Zevi (1984.
p. 15):
Se na verdade, quisermos ensinar a saber ver a arquitetura, devemos,
antes de mais, propormos a clareza de método. O leitor médio que percorre os livros
de estética e crítica arquitetônica fica horrorizado com a imprecisão dos termos:
‘verdade’, ‘movimento’, ‘força vitalidade’, ‘sentido dos limites’, ‘harmonia’,
‘graça’, ‘repouso’, ‘escala’, ‘balance’, ‘proporção’, ‘luz e sombra’, ‘eurritmia’,
‘cheios e vazios’, ‘simetria’, ‘ritmo’, ‘massa’, ‘volume’, ‘ênfase’, ‘caráter’,
‘contraste’, ‘personalidade’, ‘analogia’ – são atributos da arquitetura que os vários
14
autores registram, freqüentemente sem precisar a que se refere. Todos têm
certamente um lugar legítimo na história da arquitetura, mas com uma condição: que
tenha sido esclarecida a essência da arquitetura.
Aos termos supracitados ainda poder-se-iam acrescer outros, dentre os quais os
mais freqüentes são os termos “leve” e “pesado” como qualificação do espaço arquitetônico,
seja referindo-se a uma parte ou à totalidade.
Tecer uma crítica a críticos e a teóricos da arquitetura não consiste no conteúdo
deste trabalho. Também não se deseja chegar à pretensão de “ensinar a saber ver arquitetura”,
mas sim, a uma revisão bibliográfica, cuja maioria dos compêndios pesquisados refere-se à
teoria, crítica e história da arquitetura . Este trabalho consistirá em uma reflexão teórica sobre
o exercício da arquitetura, desenvolvido entre a prancheta e as salas de aula de desenho e
projeto arquitetônico, permeado pela incursão em canteiros de obra, desde a egressão do curso
técnico de nível médio em edificações, o que em seguida motivou-me a ingressar no curso de
graduação em arquitetura e urbanismo.
Certamente esta vivência contribuiu sobremaneira para a compreensão de que a
interdependência da teoria e prática reflete diretamente na interpretação das qualidades dos
espaços arquitetônicos, que conseqüentemente conduz a procedimentos metodológicos
conscientes, tanto para a análise dos espaços arquitetônicos existentes, quanto na elaboração
de projetos e construções de novos espaços.
A partir desta premissa, quando na oportunidade de empreender uma pesquisa
com vistas à elaboração de uma dissertação que atenda aos requisitos de um curso de pós-
graduação, foram evitados temas cujo conteúdo fosse essencialmente técnico. Sendo assim, o
trabalho assume uma conotação teórica e prática, partindo-se da análise das partes e de um
todo, onde as esquadrias serão interpretadas como partes do todo arquitetônico, intimamente
associado aos conceitos de cheios e vazios no contexto compositivo.
Visando atender a determinados requisitos normativos característicos de uma
dissertação de mestrado, a seguir estão expostos de forma sucinta os tópicos que nortearão o
desenvolvimento do trabalho.
- O PROBLEMA
Os elementos arquitetônicos têm características aparentemente definidas, que ao
observador podem representar uma função primeira e, para muitos, pode ser vista como única.
Geralmente tais funções mais claras são de ordem física: um muro representa um limite, uma
15
barreira; uma coluna representa um elemento estrutural cuja função é sustentar cargas; um
telhado representa proteção, ao desempenhar sua principal função de impedir a ação das
intempéries no interior dos edifícios. Mas, além destas características, eles poderão
representar outras funções, de modo implícito, as quais estão presentes no espaço; conferindo-
lhes as mais diversas atribuições de valores, de caráter simbólico, afetivo ou de outra
natureza, cuja evidência decorre de interpretações subordinadas a condições emocionais,
ambientais, sociais e culturais ou a uma carga de conhecimentos específicos no âmbito de
outras áreas de conhecimento técnico-científico, como, principalmente, a psicologia,
antropologia, ergonomia e semiologia.
Mesmo aqueles envolvidos no processo de intervenção no espaço construído nem
sempre se apercebem da multiplicidade de funções que determinadas partes constituintes de
um todo possuem, conseqüentemente limitando o processo de criação destes espaços.
- OBJETO DE ESTUDO
As aberturas dos edifícios serão objeto de estudo deste trabalho, por serem “umas das
letras do alfabeto arquitetônico” de grande abrangência de valores e significados. Dependendo
das várias maneiras pelas quais podem ser tratadas, elas influenciam sobremaneira os aspectos
estéticos e funcionais do edifício, além de representarem um marco referencial entre o
ambiente interno e o externo, do público e privado e às vezes, os limites físicos do urbanismo
e da arquitetura. Dentre as várias maneiras pelas quais tais aberturas podem ser alteradas a
mais corrente é o emprego de esquadrias, por isso neste trabalho será dada maior ênfase a
estes elementos de regulação das aberturas dos edifícios.
O termo esquadria engloba a priori portas e janelas, e os elementos derivados ou
assemelhados destas. O que, à primeira vista, parecerá um tanto quanto pretensioso
desenvolver um tema que abre diversas possibilidades de interpretações ou maneiras de
explorá-lo por conta de suas próprias características, a de serem as esquadrias, dentre aqueles
elementos anteriormente referidos, as detentoras de maior multiplicidade de usos. Mas essas
serão aqui abordadas como elementos de composição do espaço construído a partir dos planos
delimitadores do espaço arquitetônico.
Este trabalho parte do pressuposto que as interpretações acerca das relações entre o
homem e o espaço podem se dar a partir de cada uma das partes que compõem o todo
arquitetônico. Assim sendo, as abordagens podem assumir diferentes conotações, em que
fenômenos específicos do estudo das diversas áreas de atuação técnica- científica, já referidas,
16
estão entre si imbricados. No próprio campo da arquitetura, o tema poderá ser abordado sob
diferentes níveis de interesse. Onde se observa na escassa bibliografia um maior número de
exemplares de conteúdo técnico relativos ao desenho de detalhes construtivos das esquadrias,
ou suas possibilidades quanto aos aspectos específicos da área de pesquisa tecnológica
aplicada ao conforto ambiental. A temática das esquadrias como elementos que regulam e
controlam os acessos visuais e físicos de um ambiente para o outro, parece pouco explorado.
A abordagem deste trabalho será centrada na questão da composição arquitetural
sob o aspecto funcional e plástico que tais elementos conferem ao espaço construído. Não
devendo, no entanto, ater-se no estudo de composições e decomposições geométricas de cada
elemento constituinte de uma porta ou janela em si, ou relacionadas com as fachadas das
quais fazem parte.
As aberturas dos edifícios são objeto de estudo deste trabalho por serem também o
elemento central da conhecida relação de cheios e vazios da composição arquitetônica. Por
vezes, necessariamente, serão incluídos no discurso outros elementos a elas diretamente
relacionados, como vãos livres, superfícies maciças das paredes, nichos, entre outros que se
relacionam diretamente na composição do espaço construído. De modo que contribuam com
as idéias centrais dos textos de cada seção.
Destacar as esquadrias dentre tantas partes da arquitetura deve-se ao fato de que
representam muito mais que artefatos de madeira ou quaisquer outros materiais, providos ou
não de adornos; cujas finalidades mais óbvias estão intimamente ligadas à busca de proteção e
manutenção de privacidade. Assim, como por terem as esquadrias bem mais significados que
vão além daqueles de simples abertura para a passagem, ou para o debruçar de pessoas. Por
elas serem responsáveis pela presença de ar e luz natural no espaço arquitetônico, como
também pelo controle de insolação no interior das edificações, representa, independentemente
da cultura ou época, qualidade de vida para o usuário do espaço construído. Pois o controle
adequado destes agentes físicos significa melhores condições de salubridade e conforto acima
de quaisquer outros valores atribuídos ao edifício.
- OBJETIVOS DO TRABALHO
Os objetivos do trabalho partem da premissa de que, para melhor criar um espaço
satisfatório para as necessidades humanas, se deve conhecer no máximo todos os recursos
materiais que o compõem e os efeitos que estes possam causar ao ambiente e
conseqüentemente aos usuários; levando-se em consideração a gama de variantes ambientais,
17
sócio-culturais, psico-fisiológicas que influem na inter-relação homem espaço. Sendo assim, o
trabalho tem como:
OBJETIVOS GERAIS
Este trabalho tem como objetivo geral estudar as esquadrias na relação
entre os cheios e vazios na composição do espaço construído, empreendendo
uma análise destes elementos nos diferentes estágios da história da arquitetura.
O que se espera é contribuir para o conhecimento necessário destes elementos
(esquadrias) como parte compositiva da arquitetura a ser considerada no
processo projetual. Para isto, será necessário empreender uma revisão
bibliográfica, que subsidie as colocações que constituirão parte do conteúdo da
dissertação.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
a) - Analisar os usos de portas e janelas ao longo do processo histórico da
arquitetura, identificando suas diferentes configurações e empregos em
diferentes épocas e culturas.
b) - Explorar o conhecimento de suas funções além daquelas mais comumente
conhecidas, visando a aumentar as possibilidades de aproximação entre
expectativas de projeto e a obra realizada, no que depende deste elemento
arquitetônico, quanto à composição plástica e valorização dos espaços
interiores.
c) - Analisar as diferentes maneiras com que os buracos feitos nas paredes
— ou deixados entre elas com o propósito de pôr uma porta, janela, grade ou
mantê-los livres de qualquer peça acessória — contribuem não apenas como
elemento de composição plástica das fachadas, como também na valorização
dos usos dos espaços, visto que as mesmas dirigem fluxos de pessoas afetando
assim o dimensionamento e funcionamento dos ambientes.
18
- METODOLOGIA
Este trabalho adota uma retrospectiva histórica da arquitetura e analisa as
utilizações das esquadrias na composição dos espaços construídos, para ampliar o
conhecimento sobre estes elementos, cuja importância para a percepção e valorização das
formas e seus efeitos no espaço, pouco são registrados na literatura especializada.
Os poucos exemplares bibliográficos específicos sobre esquadrias, principalmente
sob a forma de abordagem pretendida, conduziram à predominância da pesquisa em
compêndios cujo teor refere-se à teoria, crítica e história da arquitetura.
A partir da análise do conteúdo desta bibliografia procura-se estabelecer uma
relação entre o que diz respeito à Arquitetura como um todo e suas partes. Neste caso,
buscou-se sempre que possível uma compreensão dos conceitos e posicionamentos dos
autores pesquisados, “extraindo” o que se aplicaria mais diretamente às esquadrias
relacionadas, com o que concerne o conceito de cheios e vazios na composição arquitetônica.
Como o tema também insere-se em outros campos de estudo além da arquitetura,
recorreu-se á pesquisa de bibliografia de apoio. Bibliografia de apoio é aqui considerada
aquela que é específica de outras áreas de atuação técnica e científica cujo teor está inserido
no âmbito das ciências humanas ou que contribuem para a compreensão da representação do
espaço ocupado pelo homem, como a semiologia, antropologia, filosofia e psicologia.
Paralelamente foi feita uma coleta de imagens da cidade, no caso Maceió, que
representam as dinâmicas da composição arquitetônica. Foram enfocados apenas edifícios
residenciais locais, cuja dinâmica do uso das esquadrias das fachadas refletem a realidade
destes elementos em outras tipologias.
Por fim foi feita a seleção de imagens que ilustram o trabalho. As imagens
compreendem fotos em campo, reprodução de fotos de livros ou revistas, desenhos
reproduzidos de livros ou revistas e desenhos do próprio autor. Foram todos escolhidos de
forma criteriosa, de modo a facilitar a compreensão do conteúdo do trabalho.
19
- ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO
Esta parte apresenta de forma sucinta o conteúdo dos sete capítulos que compõem este
trabalho.
. O Capítulo Um apresenta um conteúdo cujo teor reveste-se das reflexões oriundas da
revisão bibliográfica de conotação conceitual. Aborda conceitos gerais da arquitetura e
assunto mais diretamente ligado ao objeto do trabalho, como o que se refere ao discurso sobre
as partes e o todo arquitetônico; os cheios e vazios, e das esquadrias.
O Capítulo Dois expõe uma visão conceitual com abordagem analítica dos espaços
arquitetônicos a partir das superfícies delimitadoras do espaço construído, nas quais as
aberturas, tendo ou não a inserção de portas e janelas ou outros acessórios semelhantes
constituem-se em elementos primordiais na composição. Não só na composição das fachadas
e conseqüente configuração volumétrica do exterior dos edifícios como na composição dos
espaços interiores.
O Capítulo Três refere-se às diversas formas de inserção de aberturas dos edifícios
consideradas neste capítulo como buracos nas paredes, onde estão relacionados alguns
elementos de composição arquitetônica como o vazio propriamente dito, nichos, cobogós
grades, portas e janelas.
O Capítulo Quatro tem um enfoque histórico. Onde inicialmente busca-se a relação
que engloba aberturas e espaços arquitetônicos, ao longo dos períodos mais marcantes da
história geral da arquitetura. E em um segundo item a abordagem restringe-se a um panorama
da arquitetura no Brasil, na qual busca-se identificar a evolução das esquadrias na composição
dos espaços brasileiros.
O Capítulo Cinco constitui-se em uma continuação do capítulo anterior onde o
enfoque histórico são as esquadrias na casa brasileira. Apresenta a evolução da relação das
esquadrias em diferentes tipos de casas urbanas até os primeiros anos do século XX. Este
capítulo tem por objetivo embasar o conteúdo do capítulo seguinte.
O Capítulo Seis apresenta um paralelo entre a residência unifamiliar — a casa— e
residência multifamiliar — o apartamento — como formas atuais de moradia. Nelas
identifica-se diferenciações nas relações de cheios e vazios nas composições de fachadas de
casa e de edifícios de apartamentos.
O Capítulo Sete compreende as considerações finais, no qual constam as limitações da
dissertação; implicações para estudos futuros e contribuições para a prática da arquitetura.
Encerrando , segue a bibliografia e os anexos.
20
CAPÍTULO 1 - CONSIDERAÇÕES CONCEITUAIS
1.1. INTRODUÇÃO AO CAPÍTULO 1
Para discorrer sobre qualquer parte interveniente na formação do todo, é
conveniente inteirar-se de certos aspectos da totalidade. Da qual uma parte, ao ser interpretada
como que destacada do contexto geral, não deixará de ser relacionada a outros elementos para
a sua melhor compreensão, porque juntos formam um sistema integrado de valores que
resultam na configuração geral do todo do qual é parte. Sendo assim, muitos dos
posicionamentos a respeito do fenômeno arquitetônico poderão ser aplicados a cada uma das
partes constituintes do todo. Daí, ao referir-se às esquadrias sob ótica compositiva do espaço
arquitetônico, é imprescindível relacioná-las com o plano no qual estão inseridas, o que
estabelece a relação íntima destes elementos com os cheios e vazios constituintes do espaço
arquitetônico.
Por esta razão, a priori, será exposta de forma introdutória uma abordagem de
conotação conceitual a respeito da arquitetura. A seguir, para não incorrer na falta de
definição de termos ou conceitos inerentes à arquitetura e ao conteúdo específico do trabalho,
na medida do possível tentar-se-á tornar claros expressões ou conceitos correlatos ao tema.
1.2. A RESPEITO DA ARQUITETURA
A arquitetura como construir portas,
de abrir; ou como construir o aberto;
construir, não como o ilhar e prender,
nem construir como fechar secretos;
construir portas abertas, em portas;
casas exclusivamente portas e teto.
O arquiteto: o que abre para o homem
(tudo se sanearia desde casas abertas)
portas por onde, jamais portas contra;
por onde, livres: ar luz razão certa.
(João Cabral de Melo Neto)
A arquitetura, a despeito de quaisquer das mais diversas interpretações e
conceituações que lhes sejam conferidas, é um fenômeno, complexo e contraditório (SILVA,
21
1983, p 9). Tal condição decorre de ter como objeto primeiro organizar espaços para o
homem, ser igualmente dotada de complexidades e contradições, de modo a satisfazê-lo em
seus anseios de bem-estar, respeitadas suas condições cultural, social, econômica, ambiental
etc. Esta complexidade, portanto, torna a arquitetura um campo vasto e fértil à imaginação e
discussão de teóricos e críticos, como forma de tentar compreender e explicar as mais diversas
manifestações do fenômeno arquitetônico.
Tanto os edifícios como os espaços exteriores por eles definidos constituem-se na
realidade arquitetônica. Realidade visível, porém decorrente do plano das idéias e das
imagens mentais, o que a faz um fenômeno de conceitos abstratos e subjetivos. Desta
abstração e subjetividade que lhes são peculiares suscita os mais diversos conceitos, dos
quais, a título de exemplo, vale ressaltar alguns.
Arquitetura pode ser definida como termo de qualidade. Segundo Nikolaus
Pevsner (apud. SILVA, 1985. p. 26) “de modo geral, tudo que contém espaço suficiente para
que o ser humano possa mover-se em seu interior é um edifício; o termo arquitetura aplica-se
somente aos edifícios cuja construção é de molde a produzir-nos emoções de ordem estética”.
Portanto o termo é um adjetivo.
Segundo Eco (apud SILVA, 1985. pp. 19; 20) “arquitetura é substantivo que
designa objetos físicos concretos (manufatos) que delimitam espaços (externos e internos
relativamente aos objetos) a fim de permitirem que funcionem: descer, subir, entrar, sair,
abrigar-se das intempéries; reunir-se, dormir, comer, rezar, celebrar acontecimentos, incutir
reverência”. Não há diferença entre arquitetura e edificação.
Para Lúcio Costa (1962) “arquitetura é fundamentalmente arte, não o é menos,
fundamentalmente, construção. É, pois, a rigor, construção concebida com intenção plástica.
Intenção esta que a distingue, precisamente da simples construção”.
O rol de conceitos aqui apresentados poderia ser bem extenso e díspar. Mas, é
quase unanimidade entre os teóricos, a analogia entre arquitetura e linguagem. Sobre tal
opinião muitos são os exemplos ao longo da história da arquitetura:
Segundo Duran (apud SILVA, 1985. p 22), “os elementos (arquitetônicos) são
para a arquitetura o que as palavras são para a linguagem, o que as notas são para a
música, e sem o seu perfeito conhecimento é impossível seguir adiante”.
Em 1845, os editores da Revue Générale de l’Architecture também se valiam da
analogia lingüística para afirmar que o trabalho dos artistas modernos era a busca de uma
nova linguagem arquitetônica, adequada aos tempos presentes, como substituto do alfabeto
arquitetônico do passado. A expressão alfabeto arquitetônico passou a desfrutar de trânsito
22
livre nos círculos estudiosos. Também adquiriu popularidade o conceito de linguagem
arquitetônica, de emprego corrente na França e fora dela (SILVA, op cit. 1985. p 23).
Portanto, uma porta, uma janela, uma coluna, uma coberta, entre outros
elementos, são partes constituintes deste alfabeto formador do todo arquitetônico; são agentes
responsáveis pelas diferentes maneiras de como a arquitetura é manifesta. Estão para a
arquitetura como os vocábulos estão para a linguagem escrita ou falada. A maneira de como
estes elementos estão dispostos na composição arquitetônica do edifício é que atribuirá ao
observador sensações que podem ser entendidas de maneira análoga a uma forma de
comunicação, e como tal estará passível das mais diversas interpretações.
1.3. A RESPEITO DOS CHEIOS E VAZIOS, COMPOSIÇÃO, DAS PARTES E O
TODO, DAS ESQUADRIAS.
Sem as partes não pode haver o todo, sem o todo, o conceito das
partes não tem sentido. A idéia de ‘todo’ implica partes, mas cada uma dessas partes
precisa ser considerada como um todo composto de suas próprias partes (Dalai
Lama).
Como tentativa de melhor esclarecer o sentido com que serão colocados alguns
termos inerentes ao assunto, convém, dada a subjetividade que os envolve, mesmo aqueles
que, em uma primeira vista pareçam definidos, vale tecer algumas considerações conceituais
sobre eles.
As esquadrias, na inter-relação entre cheios e vazios na composição do espaço
construído, conduzem à necessidade de discorrer, com profundidade condizente com os
propósitos do trabalho, sobre essencialmente seu significado. Antes, porém torna-se
necessário uma abordagem a respeito do sentido dos termos ou conjunto de termos correntes
nos discursos arquitetônicos, no qual insere-se o tema presente. Tais como cheios e vazios,
composição, as dicotomias parte e todo e, por fim, esquadrias.
Comecemos por analisar as partes referidas como cheios e vazios. A expressão
“cheios e vazios” são plurais, talvez por estar na sua multiplicidade e por serem dentre todas
as que fundamentam a própria razão do fenômeno arquitetônico. Comumente referem-se
respectivamente às paredes e às aberturas ou envasaduras nas quais serão adicionadas ou não
portas, janelas ou elementos equivalentes.
23
Um dos mais importantes princípios da composição arquitetônica é o
que determina perfeito equilíbrio entre os cheios e os vazios nos paramentos
verticais, levando-se em conta as proporções das superfícies e volumes, as cores e a
textura dos materiais (CORONA E LEMOS. 1989. p 126).
É comum, ao recorrer a esta dicotomia referir-se à configuração exterior dos
edifícios; de sua composição essencialmente plástica. No entanto a verdade arquitetônica
estende-se ou se configura essencialmente pelo interior do espaço geométrico delimitado não
só pelos paramentos verticais das paredes, mas também pelos planos horizontais
representados por pisos e tetos, onde serão desenvolvidas as mais diversas atividades
humanas. Neste aspecto vale enfatizar que estas atividades são desenvolvidas no espaço
“vazio” entre a justaposição destes planos. Conforme sugere a milenar expressão oriental
atribuída à sabedoria de Lao-tzu (séc, VI a.C., apud CHING, 1999):
Reunimos trinta raios e chamamos de roda;
Mas é do espaço onde não há nada
Que a realidade da roda depende.
Giramos a argila para fazer um vaso;
Mas é do espaço onde não há nada que a utilidade do vaso depende.
Perfuramos portas e janelas para fazer uma casa;
E é desses espaços onde não há mais nada que a utilidade da casa depende.
Portanto, da mesma forma que nos aproveitamos daquilo que é, devemos reconhecer
a utilidade do que não é.
Daí, interpretando as aberturas de uma parede sob a ótica de Lao-tzu pressupõe-se
que a importância delas reside na sua própria essência, a despeito de qualquer aparência
material. Uma porta ou janela afirma-se pela própria condição de regular os vazios, por onde
se deixará passar maior ou menor quantidade de ar ou luz; maior ou menor quantidade de
pessoas ou objetos, ou o próprio olhar, o que constitui sua função primeira. Da mesma forma
sugere que o espaço entre os planos, “o volume vazio,” é a essência da arquitetura, pois
conforme já referido é nele que se processam as realizações humanas. Assim como para
Rasmussen (1986, p.38), o arquiteto pode chegar à conclusão de que a finalidade de sua
vocação é dar forma aos materiais com que trabalha. De acordo com sua concepção, o
material de construção é o veículo da arquitetura. Mas é possível ter uma concepção muito
diferente. Em vez de elaborar a composição com formas estruturais, com os sólidos de uma
construção, os planos delimitadores do espaço — paredes, pisos e tetos — pode-se trabalhar
24
com o espaço vazio, ao qual se refere como cavidades entre os sólidos, e considerar a
formação desse espaço o verdadeiro significado da arquitetura.
Diante do exposto, observa-se que, as relações entre cheios e vazios vão além de
uma inter-relação de elementos concretos. Busca-se uma seqüência rítmica entre as partes
abertas e fechadas das paredes. Na composição dos espaços arquitetônicos somam-se outros
princípios com os quais os cheios e vazios vão conferir outros valores que podem ser tomados
como princípios da composição arquitetônica. Tais princípios, dada à subjetividade que lhes
são peculiares, recaem em alguns daqueles termos de conceitos imprecisos que se referiu
ZEVI, citado na introdução deste trabalho, como: proporção, equilíbrio, ritmo, harmonia,
contraste, entre outros. Imprecisos, talvez, mas com certeza todos essenciais na composição
arquitetônica.
Portanto, para o próprio termo composição não se incorporar de imprecisão,
convém discorrer sobre ele.
Nada mais sedutor é a Composição. É o verdadeiro domínio do artista, sem limites
nem fronteiras além do impossível. O que é compor? É colocar juntas, soldar, unir as
partes de um todo. Estas partes, por sua vez, são os Elementos de Composição.
Assim como vocês (os alunos) realizarão suas concepções com paredes, aberturas,
abóbodas, tetos – todos eles Elementos de Arquitetura, - assim vocês estabelecerão
sua composição com cômodos, vestíbulos, acessos e escadas. Estes são os
Elementos de Composição (GUADET, apud MARTINEZ, 2000, p.159.).
Composição é o ato de compor. Por sua vez, compor é formar ou construir de
diferentes partes, ou de várias coisas
1
..
Em arquitetura, compor consiste em “dispor os elementos necessários a atender
ao conjunto de necessidades, de tal maneira que sirvam ao fim a que se destinam criando-se,
também, espaços e formas belos, agradáveis e harmoniosos” (CORONA E LEMOS, 1989. p.
139).
Para se compor algo, deduz-se, com base nos conceitos acima referidos, ser necessário
um número de elementos maior que uma única unidade. Cada elemento considerado constitui-
se em parte formadora de um todo. Este, por sua vez, constitui a própria composição. Sendo
assim, entende-se que composição e todo se confundem, bem como o discurso a respeito de
composição, das partes e o todo e da relação entre cheios e vazios. Assim como outros temas
1
HOLLANDA, Aurélio B. de. Dicionário Eletrônico Aurélio
25
correlatos como métodos projetuais são ocorrências que estão imbricadas e discutir sobre uma
ou outra incorrem em conceitos que se sobrepõem, se não integralmente, mas sim
parcialmente.
Os teóricos de arquitetura já empregavam o termo composição desde o século
XVIII, embora se deva a Julien Guadet o estabelecimento de seu significado preciso,
como equivalente de criação arquitetônica. Na concepção clássica, o termo
composição é mais aplicável à arquitetura e à música que à pintura e à escultura, por
que somente nas duas primeiras modalidades a obra de arte se compõe de elementos
previamente existentes (SILVA op. cit, 1985, p 23).
Assim sendo, baseado na afirmação supra citada, de SILVA, entende-se, portanto,
que desde o processo projetual à concretização de uma obra a composição arquitetônica não
se traduz apenas pelo arranjo de elementos decorativos, mas pelo conjunto dos elementos
intervenientes no espaço de modo a torná-lo exeqüível, utilizável, confortável (nas mais
diversas interpretações do termo conforto) e dotado de valores que correspondam a uma
realidade cultural de modo a atender às necessidades dos usuários do espaço.
Ao tratar do processo do projeto, vê-se que o “arquiteto chega a uma disposição
geral que o satisfaz; essa disposição é chamada de ‘partido’ e apresenta as relações mútuas entre os
‘elementos de composição do programa’. Essa disposição pode ter surgido da readaptação de um tipo
arquitetônico existente; em qualquer dos casos, temos uma ‘forma-base” (MARTINEZ, 2000. p.129).
O autor acima referido adota uma distinção entre os termos elementos de
arquitetura e elementos de composição. Segundo ele, há uma diferença essencial entre uma e
outra classe de elementos, que corresponde ao processo projetual em andamento.
Os ‘Elementos de Arquitetura’ são coisas concretas, têm natureza definida, são
encontrados nos livros dos tratadistas. Trasladados para o campo da arquitetura
moderna são coisas verdadeiras: Janelas que se compram, portas standard, artefatos.
Os ‘Elementos de Composição’ são abstrações. São mais como conceitos:
ambientes de certas proporções, de dimensões relativamente definidas, porém
sempre, por princípio, longe do grau de definição que têm ‘naturalmente’ os
Elementos de Arquitetura. (MARTINEZ, op. cit., p 129).
As composições na arquitetura clássica e nas manifestações arquitetônicas que
nela se baseavam, estavam submissas não só às limitações construtivas mas, sobretudo, à
obediência às ordens arquitetônicas vigentes e a tratados que ditavam as posturas de
organização das construções, o que refletia na configuração plástica dos edifícios, marcados
26
pela simetria, repetição de elementos padronizados, repetições eqüidistantes dos cheios e
vazios, modulação rígida, entre outros meios de expressão permitidos. Tal fato se observa no
Renascimento, Neoclássico, Eclético, perdurando até finais do Século XIX, início do XX.
Contrapondo-se à rigidez das ordens clássicas identifica-se o catálogo como a
metodologia de projeto livre, que se contrapõe às ordens clássicas ou cânones. Naquele o
projetista vale-se de todo o rol de elementos arquitetônicos que dispõe usando-os de forma
individualizada ou não, como lhe convém, ao conceber um espaço para determinado fim. A
exposição deste método aqui é pertinente porque primeiro ilustra de modo sucinto, mas
satisfatório, a dinâmica conceitual da composição através das aberturas nas fachadas (Fig. 1).
Segundo, de forma consciente ou não, parece ser a prática atual entre os arquitetos. Diferente,
porém, dos primórdios de seu emprego, quando se revestia de postura ideológica, cujo ideal
era libertar-se do aprisionamento das ordens clássicas como regente das composições
arquitetônicas.
Etimologicamente, catálogo, termo de origem grega (katalogos) significa relação ou
lista sumária, metódica e geralmente alfabética, de pessoas ou coisas
2
. Para Zevi (1984, p. 18)
catalogar significa sistematizar. Para ele catálogo é o critério segundo o qual cada elemento
arquitetônico, seja uma janela, porta, peça estrutural etc. pode ser definido isolada e
individualmente, sem preocupação com a uniformização tão rigidamente adotada no
classicismo. Ele toma a janela como referência na composição das fachadas para exemplificar
a postura projetual do catálogo, o que é válido para qualquer outro elemento ou parte
arquitetônica:
O classicismo seleciona um módulo para as janelas dum palácio renascentista; em
continuação estuda a seqüência dos módulos, as relações entre vazios e cheios, os
alinhamentos horizontais e verticais, quer dizer, a sobreposição das ordens. O
arquiteto moderno liberta-se destas preocupações formais para se lançar numa tarefa
de nova semantização, muito mais complexa e proveitosa... Cada janela é uma
palavra que vale por si própria, pelo que diz, para aquilo que serve; não é necessário
delineá-la, proporcioná-la. Pode adotar qualquer forma: retangular, quadrada,
circular, elíptica, triangular, ser composta, ter um perfil livre (op. cit. p.180).
2
CUNHA, Antônio Geraldo da. Apud SILVA, 1985, p.136).
27
a
b
c
a – classicismo antigo
b – pseudo-moderno
em ambos há uma
preocupação com o módulo,
com sua repetição, com a
relação entre cheios e vazios,
com os alinhamentos, em
resumo, com tudo menos com
as janelas.
cO catálogo dá um novo
valor semântico a cada
elemento e procede depois a
sua junção
Figura 1 - PRINCÍPIO COMPOSITIVO NA METODOLOGIA DO CATÁLOGO
Fonte: ZEVI, 1984
A colocação dos elementos deve corresponder mais fielmente às
necessidades funcionais. As relações de simetria, equilíbrio visual, proporção ou
quaisquer outros elementos de composição
3
são relegados a planos secundários.
Conforme Silva (ibdem, p.136), muitas das mais despretensiosas obras de arquitetura
seguem esse princípio sem, talvez, aspirar à condição de arquétipo modernista.
Atualmente há inúmeros edifícios de apartamentos, de tipo mais
convencional onde a disposição das janelas nas fachadas, dimensão, o material e o
funcionamento das mesmas indicam de modo racional a natureza do ambiente interno
que devem iluminar e ventilar. Como há também aqueles onde seu envoltório
totalmente de vidro, impede de, paradoxalmente, se estabelecer uma correspondência
com o interior do edifício, podendo ter ele uso residencial, de escritório comercial, ou
qualquer outro uso (Fig.2 e Fig.3).
3
MARTINEZ, op. cit. Elementos de composição são abstratos. Ex.: proporção equilíbrio,etc.
28
Figura 2 – O CATÁLOGO
Fonte: SILVA, 1985.
Figura 3 - O ANTICATÁLOGO
Fonte: SILVA, 1985.
O termo composição evoca o binômio parte e todo, o que por sua vez requer
reflexões sobre esta relação. A relação entre as partes e o todo arquitetônico é questão
discutida freqüentemente no campo da teoria da arquitetura.
Um todo não é simples, é complexo e consiste de partes. Ele não pode ser como a
alma de Platão, um todo único que é absoluto, indestrutível e imutável (SMUTS
apud MAHFUZ, 1995, P. 33).
Entendendo a obra arquitetônica como um sistema integrado de várias partes que
se inter-relacionam e que juntas conferem valorização plástica espacial aos edifícios,
pressupõe-se que conhecê-las em toda sua extensão possível confere à obra construída maior
correspondência com as expectativas e com o imaginário que se formam naqueles envolvidos
29
desde os primeiros passos do processo projetual. Há de convir, porém, que as interpretações
que sejam dadas a qualquer das partes arquitetônicas não se esgotam, por serem as mesmas tal
qual a própria arquitetura em sua totalidade revestidas de valores subjetivos, igualmente
sujeitas às mais diferentes interpretações, à mercê de condições emocionais, psicológicas,
educacionais, culturais, ambientais, nas mais diversas estratificações sociais que estejam
enquadrados aqueles que as julguem.
. Eleger uma parte entre tantas que compõem uma obra arquitetônica, fará daquela um
todo que conseqüentemente poderá ser analisado por partes.
As aberturas das paredes dos edifícios apresentam-se pelo menos sob três condições:
Aberturas livres de qualquer elemento regulador (vãos livres); aberturas parcialmente
fechadas com elementos fixos de massa, pedra ou assemelhados (elemento vazado ou
cobogó
4) ou de ferro, madeira ou similares (grades); e aberturas com inserção de elementos
de controle de fluxos de luz, ar e pessoas (portas e janelas, Fig. 4 e Fig. 5). Cada alternativa de
vazar as paredes apresenta características funcionais específicas, principalmente no tocante à
iluminação, ventilação. Mas do ponto de vista da composição plástica poderão satisfazer, em
alguns casos, a condições semelhantes cujos efeitos na volumetria poderão ser
experimentados, direcionando a escolha que se fará conforme a intenção plástica que se tenha:
seja para separar ou unir planos ou volumes, marcarem superfícies, estabelecer ritmos ou
outras condições compositivas desejadas. Podendo ainda terem suas composições
complementadas com tratamento de massa como frisos, baixos-relevos, texturas ou cor.
30
Figura 4 – PORTA: O TODO E AS PARTES
Fonte: SALLES E GUERRA 1985.
Figura 5 – JANELA: O TODO E AS PARTES
Fonte: SALLES E GUERRA, 1985.
31
Ao referir-se à parte arquitetônica — esquadria — se torna incômodo ou até
mesmo impróprio referir-se no singular, visto que esquadrias congregam às portas e janelas,
basicamente, vários outros elementos que com elas se repetem no edifício. Constituem-se em
elementos freqüentes na inter-relação compositiva dos cheios e vazios.
O termo esquadria, como se verifica no jargão da construção civil, assim como o
termo esquadrejar, relaciona-se diretamente com o termo esquadro, o que se refere de modo
geral a qualquer processo de representação ou de construção geométrica onde se toma como
principal referência às linhas ortogonais ou às que a estas estão relacionadas.
Para Albenaz (et al. 2003. p.237). esquadria é: 1 – Elemento destinado a
guarnecer vãos de passagem, ventilação e iluminação. O termo é mais aplicado quando
referido aos vãos de portas, portões e janelas. 2 – O mesmo que esquadro. No campo da
arquitetura o termo esquadria refere-se essencialmente às aberturas nas paredes dos edifícios
pelas quais passam ar, luz e/ou pessoas. Sob esta ótica, no entanto, podem ser dadas diferentes
interpretações ao termo. Comumente consideram-se esquadrias apenas ao conjunto de
elementos de preenchimento destas aberturas, constituídas pelos marcos, caixilharias e folhas
de madeira, ferro ou outro material que possibilitem a regulagem das mesmas. Por outro lado,
o sentido do termo pode ser estendido para qualquer abertura nas paredes, providas ou não
destes elementos reguladores de fluxos de ar, luz ou pessoas; como também para outros
artefatos diretamente relacionados com o conjunto, como peitoril, soleira, umbral, vergas etc.
Visto que estes, na maioria das vezes, estão intimamente ligados ao processo de composição,
tanto plástica como funcional. Nesse sentido, se pode incluir, também, no conceito de
esquadrias, as grades fixas ou móveis, cobogós
, painéis de vidros autoportantes ou montados
em caixilhos.
Ao que tudo indica, das esquadrias a mais antiga é a porta, termo latim que
designa passagem, entrada, acesso. “A etimologia da palavra janela deriva do latim vulgar
januella, diminutivo de janua (ou ianua) que designava a porta, passagem, entrada, acesso. Já
jãnus (iãnus), substantivo masculino, designa passagem, arcada, pórtico ou galeria abobada no
fórum, onde os banqueiros e cambistas tinham suas lojas: Jãnus medius, ‘a bolsa de Roma’,
isto é, o meio do templo de Jano onde ficavam os banqueiros”
4
.
4
JORGE. Ver anexo A.
32
CAPÍTULO 2 - AS SUPERFÍCIES DELIMITADORAS DO
ESPAÇO
2.1- INTRODUÇÃO AO CAPÍTULO 2
Os planos delimitadores do espaço construído são os objetos centrais do discurso
deste capítulo, considerados aqui como sendo aqueles que definem os espaços nos quais as
atividades humanas são desenvolvidas. Faz-se necessário tecer uma exposição sobre aqueles
por se constituírem uma parte com a qual os vazios estão intimamente ligados na composição
das formas arquitetônicas, bem como das diferentes maneiras de dispô-los em que decorrem
as diferentes expressões da arquitetura.
A arquitetura é geralmente concebida – projetada – realizada – construída – em
resposta a um conjunto de condições existentes (CHING, p 9. 1999).
No processo projetual busca-se atender a tais condições tomando-se como
instrumentação todo o conhecimento da inesgotável gama de elementos arquitetônicos
passíveis de serem interpretados de maneira análoga a cada sinal gramatical em consonância
com o alfabeto empregado na linguagem escrita ou falada, onde arrumados de forma
harmônica transmitem uma mensagem.
A composição arquitetônica constitui-se assim em um arranjo, ou organização destes
elementos que geram formas e espaços que “determinam as maneiras como a
arquitetura pode promover iniciativas, trazer respostas e comunicar significados” (op
cit.).
Dentre estes elementos, dos quais o projetista recorre para compor formas e
espaços, são as superfícies parte essencial por serem estas os agentes delimitadores do espaço
arquitetônico, sobre as quais outras partes arquitetônicas somam características a priori
tangíveis, de ordem física. Dessas suscitam características intangíveis, revestidas de carga
subjetiva, suscetíveis das mais variadas sensações e interpretações, cuja compreensão se faz
objeto de estudo de outras vertentes do campo técnico-científico em especial a antropologia,
sociologia, psicologia e semiótica.
33
São as superfícies substratos para diversos componentes que qualificam o espaço,
cujas qualidades são interpretadas de acordo com critérios de valores característicos de uma
época, cultura ou estratificação sócio-econômica. Destes componentes, os vazios, nos quais
poderão estar presentes portas, janelas, ou outro tipo de tratamento que venha ter as
envasaduras, se configuram nos principais meios de percepção do espaço interior por
permitirem a entrada de luz que torna possível a percepção e daí a interpretação das formas,
seus efeitos físicos e seus significados.
São as paredes, tetos e pisos, estes planos definidores de espaços e, como tal, o que
neles for adicionado ou subtraído influenciará decisivamente nas características deste espaço
por eles definidos.
As próximas linhas deste capítulo serão dedicadas a uma análise das superfícies como
composição do espaço. Estas superfícies se apresentam sob diversas disposições, mas como
tentativa de facilitar a comunicação, serão predominantemente aqui representadas por planos
verticais ou horizontais, que justapostos formam o vazio interior do sólido geométrico, que se
constitui no espaço essencial da arquitetura, por ser neste onde todas as atividades que
garantem a existência humana são desenvolvidas. Outras disposições somente serão
apresentadas quando extremamente necessárias à compreensão da exposição. Ainda assim,
vale ressaltar que, por mais elaborados que sejam os modos de representação (gráfica ou outro
meio que a automação possibilite) do espaço, nunca será possível ter claras as impressões e
sensações que os elementos possam significar no espaço concreto.
2.2 - AS SUPERFÍCIES HORIZONTAIS – OS PISOS E TETOS
.
Esquema estrutural proposto por Le Corbusier –onde os planos horizontais (as lajes) predominam
sobre os verticais ( colunas)
Figurra 6 – PLANTA LIVRE
Fonte: BAKER, 1998
34
As superfícies horizontais (Fig. 6) que compõem o espaço correspondem aos pisos
e tetos. Supõe-se que a necessidade de se proteger do sol e chuvas levou o homem primitivo a
explorar primeiramente esta posição, constituindo-se nas primeiras soluções para abrigar-se
das intempéries. Para tal, as superfícies verticais se limitavam entre os elementos de
sustentação.
Geralmente não são referidos como integrantes do conceito de cheios e vazios.
Como já foi mencionado, o binômio refere-se mais comumente às paredes verticais e suas
aberturas, sempre associado às superfícies que compõem a volumetria externa dos edifícios.
Os efeitos desta relação estão presentes na composição dos espaços interiores, portanto devem
ser considerados como primordiais na qualificação dos mesmos. Nesse sentido, as superfícies
horizontais certamente têm influência menor por não aparecerem ou aparecerem pouco aos
olhos do observador, quando vistos externamente nos edifícios. Entretanto, nos espaços
interiores, aquelas assumem papel mais importante na composição das formas, contribuindo
para a caracterização da ambiência e, por conseguinte, influenciando na percepção e
sensações dos usuários do lugar. Tais impressões não decorrem somente do que é percebido
pela visão como também por outros sentidos, comumente menos exercitados pelos seres
humanos.
Quanto aos planos inferiores constituídos pelos pisos, pouco se pode relacioná-los
diretamente com os vazios de aberturas. Neles, as aberturas estão limitadas aos desníveis que
geram outros planos e às aberturas de acesso a porões e a outros pavimentos, onde não se
verificam semelhanças estruturais, funcionais, nem plásticas com aquelas presentes nas outras
superfícies. Entretanto, aqueles representam a base para outros elementos da arquitetura e
influenciam nas qualidades espaciais. A partir do modo como sejam tratados quanto à forma,
cor, diagramação e tipo de revestimento; texturas. E que possibilitarão maior ou menor
aproveitamento da luz que entra através das aberturas verticais nas paredes e horizontais nos
tetos, promovendo diferentes possibilidades de efeitos no espaço (Fig. 7 a Fig. 13).
As superfícies superiores que constituem os tetos assumem papel mais relevante,
sob a ótica das relações entre os cheios e vazios na composição do espaço interior dos
edifícios, notadamente pelas variadas possibilidades de disposições das superfícies (plano
horizontal ou inclinado, superfícies curvilíneas etc). Como também por serem essas, depois
das superfícies verticais das paredes, mais acessíveis ao olhar do observador do que são os
planos dos pisos. Elas estão diretamente relacionadas com as aberturas de domus ou
35
clarabóias e pelas interrupções do plano do teto que formam os vazios das aberturas de pátios,
os quais analogicamente se constituem em grandes janelas abertas para o céu.
Figura 7 – ESPAÇO PRIMITIVO
- A necessidade de proteger-se levou o homem a
intervir na paisagem natural, criando proteção contra
as intempéries e outros elementos agressivos.
Figura 8 – PLANO 1 – SUPERFÍCIE
HORIZONTAL: TETO
As superfícies horizontais, ao que tudo indica,
pareceu-lhe a mais propícia a garantir-lhe a proteção
desejada, constituindo-se em cobertura superior de
seus abrigos..
Figura 9 – VARIÁVEIS DAS SUPERFÍCIES
SUPERIORES: PLANOS INCLINADOS
As necessidades estruturais e aquelas que
garantissem maior possibilidade de proteção
contribuem na variação na disposição destas
superfícies superiores.
Figura 10 – VARIÁVEIS DAS SUPERFÍCIES
SUPERIORES: SUPERFÍCIES CURVAS
Conquistar espaços cada vez maiores constituiu-se
sempre um desafio que levou à criação de novas
formas, como solução estrutural.
36
Figura 11 – SUPERFÍCIES HORIZONTAIS
INFERIORES: PISOS
– As superfícies horizontais inferiores, correspondem
aos pisos dos espaços construídos.
Figura 12 SUPERFÍCIES HORIZONTAIS
INFERIORES: PISOS
O tratamento que se dá às superfícies dos pisos
contribui para a qualificação do espaço, somado às
outras partes constituintes da composição
arquitetônica.
Figura 13 – SUPERFÍCIES HORIZONTAIS
INFERIORES: PISOS
Texturas, cor, desníveis são algumas variantes que
interagem com a luz do ambiente, seja ela artificial ou
a natural vinda das aberturas de vãos de portas ou
janelas
.
37
2.3- AS SUPERFÍCIES VERTICAIS – AS PAREDES
Figura 14 – PLANO VERTICAL
Fonte:.BARDI, 1966
Conforme já foi mencionado, o todo arquitetônico resulta das partes que juntas
somam valores que conseqüentemente acarretam em valores da arquitetura na sua totalidade.
As superfícies horizontais, embora menos vistas que as verticais, não deixam de imputar
efeitos que somam aos gerados a partir das características das superfícies verticais que as
sustentam ou simplesmente se contrapõem às horizontais quando apenas se constituem em
septos divisores de espaço (Fig. 14). O conjunto delas, indubitavelmente, exerce maior
importância na conformação do espaço interior dos edifícios. Enquanto que, quando o edifício
é visto por fora, e há predomínio das superfícies verticais, às vezes as unicamente vistas, essas
são as responsáveis pela configuração volumétrica do edifício (Fig. 15 a Fig. 24).
Figura 15 – PLANO 2 – SUPERFÍCIE
VERTICAL: PAREDES EXTERNAS
Da necessidade primeira de erguer superfícies
horizontais (e suas variantes) e depois mantê-las
acima de suas cabeças surgem as superfícies
verticais como elementos de sustentação das
coberturas.
38
Figura 16 – PLANO 2 – SUPERFÍCIES
VERTICAIS: PAREDES EXTERNAS
As superfícies verticais externas delimitam e
dão a forma mais facilmente captada pelo olhar.
Definem o que está dentro e fora do espaço
construído.
Figura 17 – PLANO 2 – SUPERFÍCIES
VERTICAIS: PAREDES INTERNAS
Quando no espaço interior as superfícies
verticais definem os diferentes ambientes deste
espaço.
Figura 18 – SUPERFÍCIES VERTICAIS:
FORMAS VARIÁVEIS
Como as outras, as superfícies verticais podem
assumir diferentes formas introduzindo no
espaço outros valores e significados.
Figura 19 - SUPERFÍCIES VERTICAIS
E HORIZONTAIS: COMPOSIÇÃO
ESPACIAL.
O somatório das superfícies horizontais
(superiores e inferiores) e as verticais definem o
espaço objeto da arquitetura
.
39
Figura 20 – SUPERFÍCIES VERTICAIS
E HORIZONTAIS: COMPOSIÇÃO
ESPACIAL
A inserção ou exclusão de uma superfície afeta
o espaço. As superfícies perimetrais possibilitam
o total bloqueio visual com o meio exterior
enquanto sua exclusão integra o meio exterior ao
interior.
Figura 21– SUPERFÍCIES VERTICAIS E
HORIZONTAIS: COMPOSIÇÃO DO
ESPAÇO
Os volumes decorrentes das diversas
combinações de forma das superfícies
perimetrais conferem a elas ambigüidade de
valores. Decorrentes das vistas que se tenham de
dentro ou de fora. Conseqüentemente os aspectos
dos espaços gerados por elas decorrem das
diferentes maneiras destas superfícies se
relacionarem.
Figura 22 SUPERFÍCIES VERTICAIS:
DEFINIÇÃO DE INTERIOR E
EXTERIOR
Pressupõe-se que da percepção das formas e
dos elementos que constituem o espaço suscitam
os conceitos, as impressões, sensações,
interpretações que se tem do mesmo. Cuja
percepção se dá a partir de todos os sentidos. No
ser humano a visão é o mais exercitado. Sendo
assim, a presença da luz é imprescindível, tanto
interna como externamente, para a percepção do
espaço e da obra arquitetônica.
Figura 23 – PERCEPÇÃO DO ESPAÇO -
LUZ
As formas arquitetônicas são percebidas e
diferenciadas umas das outras sob a ação da luz,
tanto externamente como no interior dos
edifícios. Para perceber o seu interior é
necessário adentrá-lo, o que é possível através
de portas. E iluminá-los, o que é possibilitado
através principalmente pelas janelas.
40
Figura 24– PERCEPÇÃO DO ESPAÇO-
LUZ
– Conforme atesta GIEDION (op cit)
A luz e o espaço são inseparáveis.
A luz produz sensação de espaço.
O espaço é aniquilado pela escuridão.
Tal fato se deve à própria posição geométrica que estas superfícies apresentam.
Por estarem diretamente no interior do campo limitado pelo cone visual. Recurso explorado
com consciência a partir do Renascimento, com a descoberta e desenvolvimento dos
processos geométricos aplicados no desenho em perspectiva. Cujo referencial para o ponto de
partida para a representação gráfica do espaço tridimensional é o que geometricamente é
conhecido como “plano do quadro”, superfície vertical na qual serão identificados o horizonte
e as linhas responsáveis pela representação de profundidade (linha de fuga ou fugantes), ou da
própria tridimensionalidade do espaço (Fig. 25).
Plano vertical, no qual situam-se pontos de partida para a representação tridimensional do espaço, A
PERSPECTIVA
Figura 25 – PLANO DE QUADRO
Fonte: Autor, 2006.
São as superfícies verticais que definem mais claramente o conceito topológico do
que está “fora e do que está dentro” de um dado espaço, o exterior e o interior (fig. 53).
Estabelece limites entre os ambientes.
As superfícies verticais que delimitam o espaço que caracteriza um edifício ao
mesmo tempo em que determinam o objeto da arquitetura, o edifício, definem o objeto do
41
urbanismo, o conjunto de variantes do espaço entre eles (a paisagem, as vias de acesso as
condições de tráfego, etc.(fig. 26 a fig. 28).
Assim como paredes, colunas, etc., são os elementos que compõem os edifícios, os
edifícios são os elementos que compõem a cidade (DURAND, apud. MAHFUZ.
1995, p.38).
Croqui do autor
Figura 26– PLANOS VERTICAIS COMO DELIMITAÇÃO DO ESPAÇO URBANO –
OS EDIFICIOS
Fonte: I. CHING, 1999 Esquematização do autor
A distribuição espontânea do casario (formas, cor, o espaçamento entre as casas, os desenhos de portas e
janelas) define o dinamismo do espaço urbano da Piazza Del Campo, Siena
, Itália.
Figura 27 – PLANOS VERTICAIS COMO DELIMITAÇÃO DO ESPAÇO URBANO – OS
EDIFICIOS
42
Fonte: CHING, 1999 Esquematização do autor
Na Praça São Pedro, Roma, observa-se a forma geométrica, circular, onde o jogo de cheios das colunas e
os vazios entre elas definem um círculo que delimita a praça e conduz à catedral.
Figura 28– PLANOS VERTICAIS COMO DELIMITAÇÃO DO ESPAÇO URBANO – OS
EDIFICIOS
Os diversos elementos que caracterizam as expressões estilísticas dos diferentes
períodos referenciais da historia da arquitetura predominantemente compõem as superfícies
verticais dos edifícios: colunatas, frontões, frisos, cornijas e outros adereços correntes desde a
arquitetura grego-romana às reinterpretações renascentistas e de suas vertentes daqueles
elementos clássicos, bem como as soluções estruturais góticas e outras manifestações até a
possibilidade da sua própria eliminação, quando do advento da planta livre. Quando, pelo
menos do ponto de vista estrutural, as superfícies verticais se resumiram às superfícies
mínimas das colunas de concreto, possibilitando a flexibilidade de opção entre o cheio de uma
parede apenas como fechamento ou leveza e transparência dos grandes painéis de vidro.
A respeito destes painéis transparentes surge uma dúvida conceitual de serem os
mesmos grandes janelas (vazios de piso a teto e de um canto a outro do vão possível) ou de
serem paredes (cheios) contínuas, transparentes. Dado principalmente pelo semblante
“monolítico”, uniforme e por vezes monótono na maneira de como foram abusivamente
empregados na arquitetura dita internacional. Isto, de certo modo, envolve o conceito de parte
e todo, conforme insinua Pignatari, na apresentação do já referido trabalho de A.Jorge ao
sentenciar que “Do templo grego sem janelas ao arranha-céu só feitos de janelas , assiste-se
ao extraordinário processo de a parte virar um todo”.
43
CAPÍTULO 3 - OS BURACOS NAS PAREDES
3.1. INTRODUÇÃO AO CAPÍTULO 3
Este capítulo aborda aspectos gerais sobre os espaços referidos como vazios em
oposição às superfícies de fechamento dos edifícios, comumente referidas como cheios.
Antes, porém ainda nesta introdução é necessário esclarecer a opção pela expressão “buracos
nas paredes”.
Em arquitetura, a expressão buraco é pouquíssimas vezes usada, embora em
outras áreas de atuação profissional parece não ocorrer o mesmo
5
. Tal fato pode ser
decorrente de mero preconceito acerca do termo, visto que no meio popular muitas vezes é
usado com conotação jocosa, ou até mesmo chula. Outra justificativa da omissão do termo
entre os arquitetos decorre, talvez, do fato da literatura especializada em arquitetura ter
incorporado a expressão cheios e vazios e nesta o vocábulo vazio engloba indistintamente os
espaços deixados nas paredes das fachadas para a passagem das pessoas ao interior do
edifício. O termo é vago, conforme salientou Zevi, dentre vários outros usuais no discurso
arquitetônico.
Independentemente de qualquer que seja o termo considerado, tais buracos ou
aberturas se constituem em elemento arquitetônico de fundamental importância. É um
elemento construtivo que confere ao espaço o real sentido de ser arquitetura, pois a partir
destes elementos é dada a possibilidade do homem entrar, sair transitar e perceber todas as
características e significados deste espaço, no qual ele exercerá diferentes papéis inerentes às
suas diversas necessidades.
Neste trabalho, porém, entende-se por vazio uma das qualidades atribuídas a
determinado buraco, diga-se arquitetônico, espaço ou uma lacuna propositadamente presente
na composição arquitetônica com fins específicos, esteja nas superfícies das paredes ou nas
superfícies dos pisos e dos tetos. Sendo assim, os “buracos” arquitetônicos são aqui
sucintamente apresentados quanto ao modo de como estão inseridos nas superfícies
delimitadoras do espaço como: os vazios, e aqueles que recebem algum tipo de tratamento ou
acessório com fins estéticos ou de regulagem das aberturas, tais como nichos, cobogós,
grades, portas, janelas como.exemplos mais corriqueiros, entre outros.
5
Ver emprego do termo “buraco” em outras áreas técnicas científicas, segundo HOLLANDA. Ver anexo B
44
Como os referidos buracos estão diretamente relacionados com as superfícies
delimitadoras do espaço, serão abordadas as relações entre as aberturas e estes planos e depois
será dado a partir daí maior enfoque às portas e janelas.
3.2- MODOS DE COMO OS BURACOS SÃO APRESENTADOS NA
COMPOSIÇÃO ARQUITETÔNICA
3.2.1- OS VAZIOS
São os buracos arquitetônicos desprovidos de qualquer peça acessória de
fechamento ou regulagem de fluxos. Geralmente assegura uma constante continuidade visual
entre ambientes, estejam compondo o interior do edifício ou superfícies externas (Fig. 29).
a b
Fonte: AU, nº 93, 2000. Fonte: Autor, 2007.
c
Fonte: Projeto, 1992
a- vazio de forma quadrangular; b- vazio de forma circular; c- vazio de forma irregular
(orgânica).
Figura 29 – VAZIOS
45
Quando recebem alguma peça acessória que regula as características dimensionais
e plásticas do buraco aberto na superfície. Apresentam variadas maneiras de intervenção,
dentre as quais as mais conhecidas em todo processo evolutivo da arquitetura são as
seguintes:
3.2.2- NICHOS
Constitui-se em uma espécie de baixo-relevo ou cavidade nas paredes sem, no
entanto, atravessá-las. São mais freqüentes na arquitetura religiosa do passado, em que as
grossas paredes permitiam tais cavidades, onde geralmente abrigavam estátuas. São pouco
correntes na arquitetura contemporânea (Fig. 30).
Fonte: CORONA e LEMOS, 1989. Fonte: CORONA e LEMOS, 1989.
Figura. 30 - NICHO
3.2.3- COBOGÓS
De acordo com Corona e Lemos (1989, p.138),
(…) é o nome que se dá, principalmente no Norte do Brasil, ao tijolo furado ou ao
elemento vazado feito de cimento empregado na construção de paredes perfuradas,
cuja função principal seria a de separar o interior do exterior, sem prejuízo da luz
natural e da ventilação. Nome que se generalizou para designar os elementos
celulares usados como quebra-sol. Parece que o combogó brasileiro filia-se
diretamente aos tijolos perfurados das construções norte-africanas, como sugere a
forma da palavra evidentemente negra. Existem as formas COBOGÓ E
CAMBOGÊ, esta usada por Philip Goodwin no seu livro “Brazil Builds”.
O cobogó (Fig. 31) é um elemento vazado que teve o seu uso muito difundido no
Nordeste Brasileiro, pela Escola de Arquitetura do Recife, a partir do movimento modernista,
46
pela sua adequação ao clima da região, o que explica o equívoco de ser uma invenção
genuinamente daquela escola.
Outra versão para origem do termo vem também do Recife, embora sua
veracidade careça de uma investigação mais acurada. Diz-se que o termo cobogó é a forma
abreviada dos sobrenomes de três sócios que primeiro produziram estes elementos em escala
comercial: Coimbra, Borges & Góis. A variação combogó decorreu quando da saída de um
dos sócios da empresa, mudando assim o nome da firma para Companhia Borges e is.
Fonte: Projeto, 1993
Figura 31 – COBOGÓ
3.2.4- GRADES
São peças de fechamento parcial dos vazios, geralmente de madeira, ferro ou
alumínio. Tem como função vedar o acesso ou passagem através de um vão aberto, sem. no
entanto impedir a visibilidade a ventilação e a iluminação naturais. Podem ser fixas, móveis
ou removíveis (Fig. 32).
Fonte: CORONA e LEMOS, 1989.
Figura 32 – GRADES
47
3.2.5- PORTAS
São as aberturas controladas por folhas de madeira, ferro ou outro material, que
dão acesso a pessoas, veículos, e animais a um edifício; com fins específicos. Constitui-se em
um marco referencial da entrada ou saída de um edifício ou entre um ambiente e outro do
interior deste (Fig. 33).
a b
Fonte: SALLES E GUERRA, 1985. Foto do autor, 2007.
a – Porta interna do Convento de Marechal Deodoro;
b – Porta de entrada de uma residência.
Figura 33 – PORTAS
3.2.6- JANELAS
É a abertura cuja função é permitir a entrada de luz e ventilação naturais; controlar
o fluxo de chuvas e de raios solares, cujo fluxo é controlado por folhas de madeira ou outro
material, bem como garantir a privacidade, segurança e proteção vistas para exterior (Fig. 34).
48
a b
Fonte: SALLES E GUERRA, 1985 Fonte: Trikem. 2000.
a – janela de madeira; c – Janela de PVC e vidro
Figura 34– JANELAS
3.3 - AS RELAÇÕES ENTRE AS ABERTURAS E OS PLANOS DEFINIDORES DO
ESPAÇO
Nenhuma continuidade visual ou espacial é possível em espaços
adjacentes sem aberturas nos planos que delimitam um campo espacial. Portas
permitem a entrada em um recinto e determinam os padrões de movimento e uso
dentro dele. Janelas permitem que a luz penetre o espaço e ilumine as superfícies de
um recinto; estabelecem relações visuais entre o recinto e os espaços adjacentes e
propiciam a ventilação natural do espaço (CHING, 1999. p.158).
As aberturas destinam-se a permitir fluxos de pessoas, ar e luz, integrando
ambientes de diferentes modos, a depender do fim a que se destine o ambiente ou o edifício
na sua totalidade. A regulação destas aberturas se dá a partir da necessidade de se permitir ou
vetar, ou regular para mais ou para menos estes fluxos dependentemente das necessidades
reais dos ambientes que implicam nas contingências projetuais decorrentes de necessidades
técnicas que visem a aperfeiçoar os edifícios quanto aos condicionantes diversos que
conduzem aos resultados da obra construída.
Enquanto abrir buracos em paredes com fins de acessar os espaços
tridimencionais contidos entre elas estava estritamente subordinado às limitações estruturais,
só era possível fazê-los nos planos verticais. No entanto, atualmente as técnicas construtivas
permitem vazar, sem comprometimento estrutural quaisquer dos planos delimitadores do
espaço (Fig. 35).
49
a
.
c
b
Fonte: autor, 2007.
a – no plano vertical superior;
b – nos planos verticais exterior e interior;
c – as várias formas do interior são percebidas
por meio da luz que passam pelas
aberturas
.
Figura 35 –BURACOS NAS
SUPERFÍCIES DELIMITADORAS DO
ESPAÇO
As aberturas promovem a interação entre os espaços. Por muito tempo, as formas
das aberturas de vãos estiveram subordinadas às formas decorrentes das necessidades técnicas
construtivas dos elementos estruturais. Só a partir dos finais do século XIX, com o uso do aço
e o advento do concreto armado, estas se libertaram assumindo as mais diferentes formas e
dimensões. Em quaisquer dos planos referidos, a presença de aberturas é possível; dando ao
espaço interior diferentes possibilidades de acesso de luz, o que permite vislumbrar os
diferentes elementos que compõem o espaço interior, como também, se necessário,
estabelecer uma integração mais efetiva entre o interior e exterior. Sua localização, suas
dimensões e formas, bem como a quantidade delas no recinto, podem “diluir” a delimitação
do espaço, ocasionando assim uma “permeabilidade” do recinto ou entre os recintos com os
quais as mesmas estão diretamente relacionadas (Fig. 36). Elas podem determinar fluxos que
interferem na relação entre os aspectos dimensionais e funcionais, conferindo assim ao espaço
valorizações diversas (Fig. 37).
50
Figura 36 – AS ABERTURAS COMO ELEMENTOS PROMOTORES DA
CONTINUIDADE ENTRE OS ESPAÇOS ADJACENTES.
Fonte: CHING, 1999.
Figura 37 – AS ABERTURAS COMO ELEMENTOS DEFINIDORES DE FLUXOS.
Fonte: CHING, 1999.
A versatilidade funcional dos recintos pode decorrer da versatilidade destas
aberturas que são obtidas das diferentes maneiras de regulá-las através das esquadrias, seja
porta ou janela ou outro meio.
As aberturas afetam o espaço físico de diversas maneiras, das quais as que nos
primeiros momentos do processo projetual devem ser observadas são a quantidade, dimensão,
localização, proporção. Isto tem em vista atingir um grau no mínimo satisfatório no que diz
respeito à qualificação dos ambientes ou do edifício como todo, no tocante à conjugação de
valores que resultem no atendimento pleno de requisitos estéticos e funcionais.
51
As aberturas interferem no dimensionamento dos ambientes internos, fato que
decorre da característica das aberturas nos planos verticais, principalmente quando usadas
como portas, por definirem fluxos de pessoas entre os ambientes, determinando faixas de
circulação, e as caracterizadas pelas janelas ocuparem trechos das paredes onde, por vezes,
necessita-se colocar peças do mobiliário ou outro equipamento. Visando à otimização do
espaço, a área efetiva de utilização dos ambientes deve estar isenta da área necessária às
circulações e de funcionamento das esquadrias que regulam tais aberturas (Fig. 38 a 40).
Centralizada Excêntrica Agrupada Encravada Clarabóia
Uma abertura pode estar situada totalmente dentro de um plano de parede ou teto e ser circundada em todos os
lados pela superfície do plano.
Figura 38 - ABERTURAS DENTRO DE PLANOS
Ao longo de 1 aresta Ao longo de2 arestas Virando 1 canto Agrupada Clarabóia
Uma abertura pode estar situada ao longo de uma aresta de um plano de parede ou teto. Em ambos os casos, a
abertura se situará em um canto de um espaço.
Figura 39 – ABERTURAS NOS CANTOS
Vertical Horizontal ¾ do vão Parede inteira Clarabóia
Uma abertura pode se estender verticalmente entre os planos de piso e teto ou horizontalmente entre dois planos
de parede. Pode crescer em tamanho, ocupando espaço inteiro de uma parede.
Figura 40 – ABERTURAS ENTRE OS PLANOS
Fonte: CHING, 1999
A importância das aberturas e muito de suas influências no interior
são remetidas para o exterior e vice-versa, dada a característica de promover uma interação de
ocorrências entre dois meios, o externo e o interno (Fig. 41). Esta interação se dá em dois
níveis: um, quando se dá no interior do edifício, promovendo a comunicação entre ambientes
internos; outro quando se dá entre as aberturas das paredes perimetrais do edifício e seu
52
entorno. No primeiro caso, a interação se faz na maioria dos casos pelas aberturas controladas
pelas portas; enquanto no segundo, por meio das portas de acesso externo e principalmente
janelas.
As aberturas externas destacam-se como elemento primordial na composição
plástica dos edifícios. A depender de sua posição, quantidade e forma, as aberturas conferirão
ao edifício diferentes aspectos plásticos. Inserem-se tanto na composição de planos como no
jogo entre volumes, de modo a promover diferentes possibilidades formais.
O assunto abordado até aqui, nesta seção, referiu-se aos buracos das paredes, sem
considerar quaisquer diferenciações ou alterações introduzidas pelos elementos de regulação
destes vazios. Para dotar de segurança e estabelecer níveis de conforto aos usuários dos
recintos é necessário dotá-los de elementos de fechamento, total ou parcial, temporário ou
permanente. Tenta-se, sempre que possível, a manutenção da interação com o exterior. Bem
como a captação do que dele é conveniente ou necessário para o bem-estar, como ventilação e
iluminação naturais. Do mesmo modo por meio deles evita-se a incidência de poeiras,
intempéries e insolação excessivas, invasão de privacidade, ruídos, entre outros agentes
agressores indesejados.
a b
a - espaço interior da capela; b – vista externa
Figura 41 – IGREJA NOTRE DAME DU HAUT – RONCHAMP FRANÇA
Fonte: CHING, 1999.
Dentre os elementos que compõem as aberturas das paredes, podem-se relacionar
dois grupos distintos que de modo geral têm por objetivo regular os fluxos de pessoas; ar ou
luz naturais para e pelo interior dos edifícios: um é elemento de massa, vazado, ou cobogós. O
outro, o das esquadrias, que reúne portas e janelas e suas variantes, como grades portões,
cancelas. Dentre estes elementos serão as portas e janelas o objeto das abordagens a seguir.
53
3.4. AS PORTAS
A porta representa de forma decisiva como o separar e o ligar são as
duas faces de um mesmo ato... Em um sentido tanto imediato como simbólico, tanto
corporal como espiritual, somos a cada instante aqueles que separam o ligado ou
ligam o separado” (SIMMEL, 1986. p.29).
A porta, como as duas faces de Jano, representa o ser em trânsito,
permeabilidade e reversibilidade, a decisão regida pela dialética do abrir e do
fechar” (JORGE, 1995, p 23).
Para discorrer sobre as portas no contexto das relações entre os cheios e vazios é
conveniente considerar que o elemento porta se repete em todo o edifício sob duas maneiras:
1- Nos planos das paredes entre ambientes ou recintos do interior do edifício – as portas
internas.
2- Nos planos das fachadas dos edifícios – as portas externas.
3.4.1- AS PORTAS INTERNAS
As portas no interior dos edifícios têm em comum em qualquer tipologia
arquitetônica a função de separar os diferentes recintos com usos comuns ou diferenciados
entre si. Suas dimensões, materiais com que são feitas ou algumas especificidades decorrerão
de valores econômicos, funcionais, estéticos ou normativos.
A posição de uma porta em um determinado recinto, por estar sempre relacionada
com as portas de outros recintos do todo interior, é determinante no estabelecimento de fluxos
que, conforme já mencionado, interferem tanto nas relações dimensionais como funcionais
dos ambientes.
Às funções físicas de abrir e fechar um vão, como já observado, somam-se outros
valores variantes decorrentes dos vários fatores sócio-culturais, como de modo geral estão
passíveis os muitos agentes do fenômeno arquitetônico. Uma porta tem significado bem
diferente para as culturas alemã e a norte-americana
6
.
O ponto de vista norte americano de que o espaço deve ser partilhado
é particularmente perturbador para o alemão. Os significados da porta aberta e da
6
HALL. O texto integral Ver anexo C
54
porta fechada são completamente diferentes nos dois países (HALL, p 123.
1977).
3.4.2- AS PORTAS EXTERNAS
À porta de casa quem virá bater?
Uma porta aberta: entro
Uma porta fechada: antro
O mundo bate do outro lado de minha porta
(Pierre Albert-Birot)
As portas externas exercem a função de permitir ou vetar o acesso ao edifício como
um todo. Quando fisicamente abertas sugerem permissividade ao acesso interior, quando
fechadas o veto. Cada vez mais o número de portas externas tende a diminuir em diferentes
tipologias e finalidades das edificações. Tendência acentuada a cada dia pela necessidade cada
vez maior de segurança, o que se obtêm com maior facilidade através da diminuição das
aberturas para o exterior.
A porta de acesso à edificação estabelece relação direta com o espaço exterior,
onde nem sempre se observa constância ou uma previsibilidade de fluxos e direção de
transeuntes.
O que leva à necessidade, às vezes, de incluir na composição dos planos de uma
fachada ou entre o jogo de volumes uma identificação visual realçando o acesso dentre as
outras partes integrantes da composição volumétrica do todo. Por vezes esta identificação
também pode promover proteção contra agentes agressivos naturais como chuva e insolação
excessivas.
Entrar em um edifício, em uma sala de um edifício ou em um campo definido de
espaço externo envolve o ato de penetrar em um plano vertical que distingue um
espaço de outro e separa o ‘aqui’ do ‘ali (CHING, p. 238).
Uma entrada pode ser identificada, definida ou realçada de maneiras diversas. A
partir da própria composição dos elementos da esquadria propriamente dita (os elementos de
fechamento – folha, caixilhos, ferragens etc.) dotando-a de diferenciações entre as demais de
um conjunto. Isto conferirá ao vazio uma identificação própria com relação ao cheio
circundante(s). Outras maneiras são as que se complementam com elementos das massas dos
cheios, por meios mais sutis do que por uma porta propriamente dita, fisicamente construída
55
independentemente de que ou como esteja construída. Dentre estes recursos arquitetônicos os
mais freqüentemente empregados estão os desníveis dos planos do piso, uma diferenciação de
altura de teto, por uma marquise, ou pelo espaço entre colunas, entre outros à mercê da
inventividade do projetista. Porém o estabelecimento do espaço interno e externo, público e
privado de modo a garantir segurança e preservação da intimidade se tornam efetivos com a
inserção da porta como a vemos materializada. É o elemento de regulação da
abertura/fechamento do vazio do plano vertical.
A porta de acesso ao edifício geralmente não se repete. Quando isto ocorre há uma
hierarquização, onde aquela é tida como a porta principal; a que dela dá-se início a todos os
caminhos pelo interior, e que comporá com os recursos acima referidos como identificação ou
destaque no plano ou no jogo de volumes com os quais está diretamente relacionado (Fig. 42e
Fig. 43).
a
b
c
a- Abertura recuada entre colunas. Espaço intercolúneo. Abertura no próprio plano.
b- Desníveis no piso. Espaço intercolúneo. Espaço entre pórtico
c- Abertura simples no próprio plano. Abertura com frisos laterais e superiores.
Abertura no mesmo plano destacada por pórtico.
Figura 42 – ABERTURAS DE ENTRADA E RECURSOS DE REALCE
Fonte: CHING, 1999.
56
a
b
c
a- Aberturas subordinadas à forma e direção de fluxo.
b- Abertura pouco recuada no próprio plano. Abertura protegida por anexo. Abertura muito recuada
no plano.
c- Aberturas destacadas pela própria forma ou pela forma da volumetria ou planta.
Figura 43 – ABERTURAS DE ENTRADA E RECURSOS DE REALCE
Fonte: CHING,1999.
De caráter relevante, quanto à composição plástica dos edifícios, são os diversos
aspectos visuais que se podem obter por meio dos desenhos das folhas de fechamento das
esquadrias, que a depender da intenção plástica desejada quando da ação projetual, entre a
alternativa de se optar, pura e simplesmente, por um vão livre, aberto, sem esquadrias,
propriamente ditas, e optar por um fechamento com desenho rebuscado, complementados por
adornos circundantes. Existe uma enorme gama de acabamentos a serem experimentados.
Observa-se que, nas edificações de grande porte, as minúncias de forma e
elementos de composição das folhas das portas e janelas exercem papel secundário na
composição do todo; que constitui as fachadas e volumetria externa dos edifícios, já que, para
57
dominar visualmente as grandes edificações, o observador necessita de uma distância grande.
O que torna os detalhes das esquadrias quase sempre imperceptíveis. Quando estes detalhes
são observados, a relação com o todo se torna mais difícil. O mesmo não ocorre com aquelas
edificações de pequeno porte que tenha a sua totalidade captada pelo olhar do observador a
uma curta distância.
Talvez deste fato decorra a escassez de registros de detalhamentos das esquadrias
e acessórios correlatos ao longo da história da arquitetura, tendo em vista que o tratamento de
massa das paredes circundantes das esquadrias, conforme já mencionado, correspondem
predominantemente à caracterização estilística das diferentes fases da arquitetura.
Mesmo considerando que: em arquitetura busca-se sempre aliar funcionalidade e
beleza, tanto na composição das formas do interior como nas relações dos cheios e vazios.
Estes compõem o plano ou volume que determina o aspecto plástico exterior dos edifícios, há
de convir que as implicações funcionais e dimensionais no interior dos ambientes podem ser
mais comprometedoras que os aspectos plásticos. Porém, na composição volumétrica externa,
a disposição das aberturas assume papel relevante quanto ao aspecto plástico dos edifícios. A
relação das esquadrias com os planos constituintes da volumetria dos edifícios, de modo geral,
permite possibilidades diversas de composição volumétrica gerando diferentes valores
formais. Dentre estas várias possibilidades, seguem-se alguns exemplos ilustrativos (Fig. 44 e
Fig. 45):
58
a b
Fonte:CHING, 1999.
c d
Fonte: AU, Nº 92, 2000.. Fonte: Editora G. GILLI
e f
Fonte: CHING, 1999.
a-b-Subtração da forma: os vazios gerados dão lugar a esquadrias recuadas.
c-d-Os vazios se interpõem aos volumes puros, onde os elementos de fechamento destes vazios. pouco
influem na configuração plástica do todo.
e-f- As esquadrias aparecem dissipadas na composição dada a variedade de texturas com as quais
foram tratadas as paredes.
Figura 44 – RELAÇÃO DOS CHEIOS E VAZIOS E VOLUMETRIA
59
a b
Fonte:SUMMERSON, 1989. Fonte: BRUAND, 1997.
c d
Fonte: CHING, 1999.
e
Fonte: CHING, 1999.
a-b- A justaposição entre os cheios e vazios preenchidos pelas janelas conferem textura nos planos
que compõem a volumetria prismática dos edifícios;
c-d-e- A abertura principal ou única no eixo do edifício acentua a simetria do conjunto.
Figura 45 – RELAÇÃO DOS CHEIOS E VAZIOS E VOLUMETRIA
3.5. AS JANELAS
A janela, na arquitetura, é obviamente um signo metonímico que logo
se metaforiza, quando tem, sob si, hipostaseado, o olho, pelo qual o edifício-gente
olha e espia para fora, muitas vezes vedando a operação contrária, através dos mais
variados artifícios, da cortina ao vidro espelhado. É um buraco na parede, diverso,
porém, do buraco de uma porta, portão ou portal: Por este vão e vêm corpos e
objetos; pelo outro, espraia-se (ou concentra-se) o olhar. (Décio Pignatari
7
).
7
Décio Pignatari. Na apresentação de “O Desenho da Janela”, de JORGE.
60
A partir de análises sobre a porta, JORGE (op cit) vincula a origem da janela a
uma variação posterior ocorrida com a porta, uma “diminuição”, uma subtração da sua parte
inferior, conhecida atualmente como peitoril. Enquanto a função da porta é a priori permitir a
passagem de pessoas, as janelas acumulam as duas funções: passagem para pessoas (por
meio do olhar), para a luz e para o ar.
A mudança é física e, sobretudo qualitativa, na medida em que altera completamente
a função de passagem dos homens, deslocamento físico dos corpos para a passagem
da luz, do ar, do olhar (JORGE. id. 1995
).
Dentre todos os artefatos que se enquadram no conceito de esquadria como sendo
os elementos de fechamento parcial ou total e todas as peças acessórias para o controle e
adornos dos buracos das paredes, a janela se constitui naquele que vem despertando mais o
interesse de especialistas. Fato que talvez se explique pela sua crescente multiplicidade nas
fachadas ao longo do processo histórico da arquitetura e às suas múltiplas funções ou
características, das quais se podem relacionar algumas, onde em todas elas se verifica a
ambigüidade intervindo no espaço físico como sugere a própria etimologia da palavra: fechar
X abrir, segurança X insegurança, extroverter X introverter, mostrar X esconder, abafar X
ventilar, escurecer X iluminar.
A janela dentre os elementos da sintaxe arquitetônica apresenta um nível de
complexidade especialmente sedutor, na medida em que ela relaciona o espaço do interior
com o do exterior (da cidade), aciona reflexões urbanísticas, questões sobre imagem e
visibilidade, assim como, questões mais internas ao objeto, como forma, função, proporção,
composição. A janela parece ser o elemento privilegiado que incorpora na sua natureza a
totalidade dos problemas da arquitetura. Ou seja, o recorte temático, aparentemente singelo,
assume a proporção problemática do todo (o objeto arquitetônico – GOULART, 1997. p. 48).
A janela é o elemento de inserção do ambiente habitado pelo homem na paisagem,
no espaço urbano, na cidade. Mediadora entre o interno e externo, ela qualifica e quantifica
esta condição. A ação intermediadora da janela entre os espaços interior e exterior implica
uma determinada forma de arbitrar a relação tempo e espaço. A luz informa ao ambiente o
transcorrer do tempo. Ver janela ou ver através da janela é alternativa que se coloca tanto ao
observador interno ao edifício, quanto ao externo (GOULLART. op. cit.).
A janela é um elemento arquitetônico de múltiplas funções, o que faz com que o
processo de projeto de edificações assuma uma decisão de multi-critérios
61
envolvendo clima, parâmetros sócio-arquiteturais, técnico-econômicos e psico-
fisiológicos (PEREIRA apud GOULLART,1992. p 71).
São inúmeras as afirmações quanto à necessidade básica do homem em ter a
presença de janelas em seu ambiente. Entretanto vem se tornando crescente o número de
edificações onde alguns ambientes ou até mesmo todo o edifício não possuem janelas. Nesse
sentido deve-se levar em conta dois fatores: primeiro, quando por ordem funcional de
determinadas edificações o uso das janelas se tornam prejudiciais ao desempenho energético
através do aumento de trocas térmicas indesejáveis; ou quando para a otimização das
atividades exercidas no ambiente se tornam dispensáveis, a exemplos de centros comerciais,
estúdios fonográficos, centros cirúrgicos, entre outros. Segundo, de uma forma involuntária
decorrente de zoneamentos deficientes ou decorrentes das contradições normativas e de
exigências do mercado imobiliário, cuja postura é ocupar o máximo do espaço permitido por
unidades vendáveis, objetivando o maior lucro em detrimento da melhor qualidade do espaço
construído, condição exemplificada principalmente nas edificações multifamiliares verticais.
As janelas vêm, a cada dia, se tornando objeto de estudo entre especialistas,
principalmente nos Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, Itália, França e Finlândia. Mas
quase todos abordam os aspectos técnicos. Pouquíssimos são aqueles que abordam suas inter-
relações com os usuários dos ambientes nos quais se possam analisar aspectos fisiológicos e
psicológicos deles com relação às janelas, assim como seus valores estéticos na composição
dos planos delimitadores dos espaços construídos.
De igual modo, no Brasil, a abordagem dos estudos se volta quase que totalmente
aos aspectos técnicos, sendo poucos os que enveredam por outras abordagens que as
esquadrias, em especial as janelas, possibilitam. Entre estes, estão os trabalhos “O Desenho da
Janela” e “A Sintaxe da Janela” do já referido Luís Antônio Jorge.
Há, porém, muitas pesquisas que relacionam dados comportamentais de pessoas
que vivenciam ambientes com janelas ou sem elas. Muitas delas evidenciam que as pessoas
preferem muito mais um ambiente com janela a essa ausência. Tais pesquisas se voltam mais
para edifícios escolares, industriais, comerciais e de escritórios. Ainda assim os psicólogos
apontaram para a necessidade de mais pesquisas sobre a percepção das pessoas e sobre as
reações em viver e trabalhar em ambientes sem janelas (GOULLART, op. cit).
De modo geral, a literatura a respeito das portas e janelas — além da abordagem
no campo da tecnologia de construção, empregada na arquitetura — não é diferente quando se
62
refere ao estudo da reação humana em edificações residenciais sem janelas. Mesmo assim, as
pesquisas feitas em residências demonstram muitas reações desfavoráveis à ausência de
janelas, mesmo em banheiros (COLLINS, 1975, apud.GOULLART, 1997).
As relações das portas e janelas com o espaço e seus usuários passaram por
alterações que estão diretamente associadas às dinâmicas dos usos do espaço construído ao
longo do processo histórico da arquitetura. Tais alterações vão além daquelas promovidas
pelos avanços das técnicas construtivas ocorridas nos finais do século XIX e início do século
XX. Os intercâmbios entre diferentes povos, em diferentes épocas, foram intensificados
principalmente no período das grandes navegações, e até recentemente com a retomada dos
estudos das esquadrias, como elemento contribuinte para um bom desempenho energético e
do conforto, através dos recursos da arquitetura bioclimática. Tais alterações são observadas
nas mais diversas finalidades que se destine o edifício.
63
CAPÍTULO 4 - AS ESQUADRIAS NA DINÂMICA DO ESPAÇO
E DO TEMPO
4.1. INTRODUÇÃO AO CAPÍTULO 4
Esta seção trata do registro de dados históricos que situam, de certo modo, a
relação das aberturas dos espaços construídos ao longo das principais fases da história da
arquitetura. Está dividida em duas partes. A primeira delas refere-se à história geral da
arquitetura; a outra situa as relações dos cheios e vazios na arquitetura brasileira.
É bastante limitada a literatura que trate especificamente das esquadrias, sob a
ótica interpretativa de sua contribuição, tanto física como psicológica no espaço arquitetônico;
muito menos no que se refere ao seu processo de evolução em um contexto histórico, quando,
no máximo, são citadas de relance.
A tal lacuna podem-se atribuir fatores. Há de se supor que um dos mais plausíveis
seja o fato de as mesmas serem interpretadas do ponto de vista material. Como se elas fossem
apenas um elemento arquitetônico de construção relativamente simples, cujas finalidades
básicas estão diretamente associadas à necessidade primitiva do homem de:
1- proteger-se contra fatores adversos à sua sobrevivência;
2- promover a manutenção de sua privacidade;
3- definir o que é espaço exterior ou interior, público ou privado;
Como no transcurso dos diferentes períodos de referência da história da
arquitetura as esquadrias não experimentaram transformações marcantes, estariam sempre
suas aberturas subordinadas às limitações estruturais e de materiais empregados na
manufatura.
Outro aspecto considerado quanto à pouca atenção dada às esquadrias pelos
literatos da arquitetura, possivelmente é o fato destes predominantemente dedicarem atenção
às obras monumentais como os templos e palácios, entre outros de dimensões similares, como
se fosse o fenômeno arquitetônico restrito à existência destes exemplares de construções, nos
quais os elementos que identificam as manifestações estilísticas da arte de construir
marcavam estas construções pelos tratamentos estruturais ou de revestimentos de massa dos
planos (os cheios), de modo que os vazios estando desprovidos ou não de peças de
fechamento, independentemente do nível de rebuscamento de seu desenho, pouco influíam na
composição como um todo. Entretanto nas construções de pequeno porte, principalmente nas
64
residenciais geralmente relegadas ao esquecimento, as janelas e portas exercem a mesma
valoração compositiva daqueles elementos de massa de recobrimento das superfícies dos
grandes edifícios.
Daí a necessidade de empreender uma pesquisa em bibliografia especializada na
crítica, história e teoria da arquitetura. Nas quais de forma indireta procurou-se estabelecer um
elo de ligação entre os registros gerais da arquitetura e os pretendidos, especificamente
referentes às esquadrias. Entretanto vale ressaltar o trabalho de Luís Antônio Jorge, intitulado
de “O Desenho da Janela”, o qual muito contribuiu para o teor deste capítulo.
Primeiramente a evolução histórica das esquadrias será aqui tratada seguindo, na
medida do possível, a linha cronológica adotada de praxe nos compêndios de história das artes
e arquitetura, isto é, partindo-se da pré-história, seguindo para a antiguidade clássica, idade
média, renascimento, por fim o período moderno até os dias atuais. A seguir será dado
enfoque à presença destes elementos na arquitetura brasileira.
4.2. CONTEXTUALIZAÇÃO NA HISTÓRIA GERAL DA ARQUITETURA
Nossos antepassados habitam a Terra há cerca de meio milhão de anos.
Certamente, desde então, devem ter usado utensílios para facilitar suas atividades, ainda que
os mais rudimentares, encontrados e empregados “in natura,” servindo-lhes como extensão
de seus corpos, como pedaços de paus para fazer cair um fruto ou uma pedra para arremessar
contra um inimigo. Mais tarde (400.000 anos) aparecem indícios de elaboração e alguns
utensílios. Elaborar utensílios é tarefa mais complexa. Requer, antes de tudo, capacidade de
pensar, e uma vez capaz disto, o homem foi descobrindo que determinados paus ou pedras
tinham uma forma mais fácil de manejar que os outros objetos e os guardou “destinando-os a
servir de utensílios porque havia começado a estabelecer uma relação entre a forma e a
função” (JANSON, 1972. pp. 18; 19).
As primeiras obras de arte, das quais se tem notícia, têm cerca de 20.000 anos.
Essas já apresentavam um certo grau de segurança e refinamento. O homem do paleolítico
destacou-se como notável artista pelo que produziu e pelo importante papel que a arte devia
apresentar em suas vidas. Entretanto, tinha como principais abrigos as saliências de rochas e
cavernas.
As pinturas rupestres de Lascoux, (15.000-10.000 a.C.) entre outros poucos
exemplares, são o principal testemunho da ocupação destes espaços naturais. O encontro das
figuras ocorreu por acaso dada a quase inacessibilidade onde se encontravam. O excelente
65
estado de conservação das pinturas é atribuído ao fato de terem tido aqueles homens extremo
cuidado na execução dos motivos pictóricos como, principalmente, em procurar fazê-los nos
mais recônditos e profundos trechos das cavernas. Fortes indícios levam especialistas à quase
certeza de que tais pinturas tinham um caráter muito mais transcendental que simplesmente
decorativos. Indubitavelmente foram feitas como parte de um ritual de magia para assegurar o
êxito de uma expedição de caça. No entanto, muitos enigmas a respeito ainda estão por ser
decifrados, dentre eles é o porquê precisavam estar em lugares tão inacessíveis. É possível
que, muito mais que um rito de magia, representasse algo de divino que a proximidade com o
exterior significasse a profanação daquelas imagens e de seus ritos, parte de um culto sagrado.
Se por um lado a seleção de objetos que lhes proporcionassem melhor manuseio, indiciava
uma compreensão da relação forma e função, por outro lado, ao “descobrir” e fazer uso das
cavernas, começaram a atribuir significados distintos entre exterior e interior, qualificando as
diferenciações entre os dois espaços. Neste aspecto, as aberturas das cavernas podem ser
interpretadas, mesmo antes da existência da arquitetura nos termos de arte de planejar e
construir espaços, como sendo rudimento de “portas ou pórticos de suas residências ou
templos” A partir deste “marco” de transição, evidenciava-se uma compreensão dos
significados entre exterior e interior. Quanto mais se afastassem da “porta” para o interior da
caverna, a crescente escassez da luz garantia-lhes a segurança de seus cultos. As trevas agiam
como elemento de “fechamento daqueles espaços de devoção ou moradia”.
É sabido que o sol, o fogo, as trevas, entre outras manifestações da natureza
tinham significações sagradas para povos primitivos. Neste caso é cabível a suposição de que
a abertura de uma caverna representasse também um ponto de referência entre a luz (do sol) e
as trevas, nas quais se estabelecia uma relação com as forças sobrenaturais.
As primeiras construções datam de cerca de 8.000 a.C. Daí alguns poucos
exemplares se preservaram, na maioria construções dedicadas às práticas religiosas. As
aberturas destas construções estavam sempre relacionadas à morte ou a divindades.
Representavam a passagem entre a vida e a morte ou entre luz e trevas. Alguns exemplos
notáveis são construções megalíticas como os dólmens de Carnac (fig. 46), construções
trilíticas que serviam de tumbas. De configuração similar aos pórticos, simbolizavam porta de
acesso à “mansão dos mortos”.
66
Figura 46 – DÓLMEN (cerca de 1000 anos a.C). Carnac, Bretanha.
Fonte: História Del Arte. Janson, 1972.
O cromlech de Stonehenge (Fig. 47 e Fig. 48) constitui-se em uma sucessão de
trilíticos que definem um espaço interior circular. Dado ao grande trabalho que a construção
deste cromlech tenha exigido, desde seu planejamento à escolha e transporte dos megalíticos
demonstram a sua importância. Sobre este monumento há várias hipóteses para justificar sua
construção, dentre as quais a mais aceitável é que tenha sido erigido para fins religiosos. Seja
a que se relaciona com cultos funerários ou religiosos, ou com a astronomia, os espaços
vazios do conjunto dos trílitos eram “preenchidos” pela luz do sol. O que respalda os
partidários da relação com o sol como divindade é o fato de o conjunto da estrutura estar
orientado precisamente no ponto em que o sol incide no dia do solstício de verão naquela
região.
67
Figura 47 – CROMLECH DE STONEHENGE (cerca de 3500 a.C.)
Fonte: Atlas do Extraordinário, 1995.
68
Figura 48 – CROMLECH DE STONEHENGE. Desenho esquemático da planta
Fonte: Atlas do Extraordinário,1995.
Outras construções primitivas testemunham que as aberturas feitas entre blocos ou
buracos abertos na própria rocha priorizavam a passagem da luz à ventilação. O que se
verifica ainda em construções de períodos subseqüentes, notadamente em culturas que tinham
as forças da natureza, principalmente o sol como expressão maior de sua religiosidade. Como,
por exemplo, o Hipogeu em Hal Saflieni ( 3.500 a 3.000 a.C.), câmara subterrânea que servia
de túmulo, ricamente trabalhada, sendo originalmente suas paredes talhadas na rocha
pintadas de vermelho. Esta construção primitiva constitui-se em um exemplar onde a relação
entre os cheios e vazios é realçada pelo jogo de claro e escuro proporcionado pela luz
(originalmente, supõe-se ser do fogo de tochas) (Fig. 49). Outro exemplo é a mais estreita
sepultura de corredor da Europa, em Newgrange, Irlanda. Possui uma única abertura a
69
sudeste, na direção exata do nascer do sol no solstício de inverno na latitude local. Durante
cerca de vinte minutos em cada manhã um tênue raio de sol entra pela abertura que se localiza
por cima da entrada, e atinge a bacia de pedra no fim do corredor (Fig. 50 e 51)
Figura 49 – HIPOGEU EM HAL SAFLIENI (entre 3500 e 3000 a.C.)
Fonte: Atlas do Extraordinário, 1995.
70
Figura 50 – NEWGRANGER (cerca de 3250 a.C.) Vista do corredor
Fonte: Atlas do Extraordinário, 1995.
a
b
a- Planta
b- Corte
Figura 51 – NEWGRANGER (cerca de 3250 a.C.).
Fonte: Atlas do Extraordinário, 1995.
71
Giedion (apud JORGE, 1995) observara que a luz produz a sensação de espaço.
Segundo ele “o espaço é aniquilado pela escuridão. A luz e o espaço são inseparáveis”. A
pertinente observação é facilmente constatada em qualquer espaço, mas ao sentimento
profundamente religioso da relação entre luz e espaço sugerido por A. Jorge, ainda que
passível de controvérsia é patente até o período gótico. A janela, segundo este autor, “é mais
que uma simples operação de redução da porta, constitui uma das formas pela qual
conquista-se o espaço, amplia-se os limites da linguagem que o opera e lhe dá sentido”. Em
suma, é incontestável a importância da entrada de luz nos espaços para a percepção de suas
qualidades e valores, o que é possível por meio das aberturas, seja uma porta, uma janela ou
outra forma de envasadura. Entretanto, ao que parece, nos primórdios da arquitetura as
aberturas limitavam-se às passagens, a “janus”. A sala de entrada do complexo funeral de
Zoser, segundo indícios, é o primeiro espaço autenticamente construído onde aparecem
aberturas que são tidas como as primeiras “janelas”.
Tanto os templos egípcios como os gregos careciam destas aberturas. Giedion ao
analisar a relação entre a iluminação e o conceito de espaço, observa que, na arquitetura
egípcia, uma característica marcante é a necessidade de espaços pouco iluminados. A
escuridão, para os egípcios tinha um significado religioso (JORGE, op. cit, 1995). Como na
pré-história, para os egípcios a escuridão era onde se podia estabelecer contato com as forças
sobrenaturais e os seus símbolos mais sagrados permaneciam ocultos nas partes mais escuras.
Possivelmente razões semelhantes às dos egípcios para a quase inexistência de janelas nas
suas construções, justifiquem também a sua raridade na Ásia Ocidental, nos palácios reais da
Assíria e Babilônia.
A antiguidade clássica notabilizou-se pela arquitetura greco-romana que, pode-se
dizer, objetivava em sua arquitetura alcançar uma harmonia entre as partes. A relação dos
cheios e vazios estava subordinada não só à condição material das técnicas construtivas
vigentes, como principalmente, a posteriori, ao vocabulário das ordens arquitetônicas: os
tipos de colunas, as aberturas, frontões e ornamentos, todos padronizados segundo as cinco
ordens, toscana, dórica, jônica, coríntia e compósita.
Ao referir-se à arquitetura grega associa-se de imediato, a imagem dos templos (Fig.52 e Fig.
53), que de fato correspondem às obras de maior expressividade estética da cultura
arquitetônica daquele povo. Dedicados aos Deuses, considerados por alguns críticos mais
objeto de estudo do campo da escultura ou urbanismo de que mesmo da arquitetura, os
templos gregos caracterizavam-se pelas colunatas dispostas ao longo do perímetro da
72
construção. O jogo dos cheios e vazios é constituído pela alternância das colunas e os espaços
entre elas delimitando o templo e o entorno com uma espécie de terraço, o peristilo. A cela do
templo só possuía uma porta de acesso e nenhuma janela. Constituia-se de uma plataforma
elevada sobre o solo na qual se erguia uma série de colunas que sustentam o entablamento
contínuo que apóia o teto. Provavelmente por não serem concebidos como a casa dos fiéis,
mas sim como a morada impenetrável dos Deuses, os mesmos apresentam uma única porta
que dá acesso à cela da divindade.
a
b
a-Vista do Templo b-Planta
52 - PARTENOM
Fonte: ZEVI, 1978
73
53 – EVOLUÇÃO DA PLANTA DO TEMPLO GREGO
Fonte: ZEVI,1978.
Os vazios constantes na composição dos espaços eram constituídos pelos vãos dos
intercolúneos como decorrência da composição dos elementos estruturais trilíticos, tão
característicos dos chromelechs.
Embora os recursos materiais constituíssem uma condição determinante na
configuração dos templos, os mesmos refletiam a própria filosofia grega que defendia os
hábitos ao ar livre. Exprimiam-se fora dos espaços interiores e das habitações humanas, fora
mesmo dos templos divinos. Quando o faziam, usavam os recintos sacros, as acrópoles, os
teatros descobertos. O que leva a alguns historiadores defender que a história das acrópoles se
enquadra mais no plano do urbanismo e os templos no da escultura do que mesmo da
arquitetura. Tanto é que, o que chegou até hoje de informação mais freqüente que nos
referenciem são os exemplos dos templos monumentais. Sobre a arquitetura dos espaços das
residências ou para outros fins do cotidiano, não só sobre a cultura grega como de outras,
pouco se sabe com precisão, principalmente no tocante à especificidade do tema deste
trabalho. Ainda assim há indícios de que as residências gregas de um modo geral estenderam
suas características principais até a cultura romana.
A cultura romana é tida como responsável pelo esplendor da arquitetura, não só a
que caracteriza o período clássico como também a registrada em períodos subseqüentes,
entretanto vale ressaltar que os avanços verificados na arquitetura e construção romanas têm
sua origem na arquitetura helênica.
Quando os templos gregos chegam às margens da Sicília e da Itália Meridional o
espaço compreendido entre o alinhamento das colunatas e as paredes da cela das divindades, o
peristilo, passa a ser mais amplo e profundo, o que sugere que os povos da península itálica
tinham uma tendência para acentuar os espaços, com vistas a humanizar os espaços fechados
herdados da civilização helênica (ZEVI, 1978. p.51.). Os gregos pouco usaram as colunatas
74
no interior de seus templos, enquanto os romanos as interiorizam. Esta postura conferia uma
plasticidade diferenciada dos predecessores, notadamente pela presença da parede maciça
exterior e circundante da edificação, na qual os vazios constituídos por nichos ou as
envasaduras das portas e janelas se apresentam ainda subordinados às condições estruturais.
Dos templos gregos originaram-se as ordens arquitetônicas que os romanos a
incorporaram, reinterpretaram e disseminaram por toda Europa e territórios sob seu domínio.
Aquelas, a priori, não se constituíram apenas como elemento de composição plástica ou
ornamentos, mas também como composição estrutural.
Na África do Império Romano, as aberturas se iniciavam no chão, possibilitando a
passagem, o deslocamento dos seus usuários, enquanto iluminava-os e ventilava-os. A maior
parte dos ambientes tinha uma única abertura: a entrada (JORGE. 1995. p. 25).
O fascínio da cultura romana estendeu o emprego das ordens para outros tipos de
edifícios, além dos templos, como também é sabido, para outros períodos subseqüentes
(notadamente em manifestações estilísticas diversas em pleno esplendor renascentista). Aí,
muitas vezes os elementos que a caracterizam (colunas, frontão, entablamento, entre outros)
parecem apenas decorativos, como é visto principalmente no enquadramento de nichos,
janelas, portas e pórticos. Vale ressaltar aqui que, na busca de uma unidade compositiva, é
facilmente identificável a correlação dos “semivazios” dos nichos e vazios das esquadrias, e
vãos com os cheios compreendidos pelas paredes, colunas e frontões.
Em obediência a uma seqüência histórica, seria natural como introdução ao novo
período tecer uma abordagem sobre a arquitetura proto-cristã, bizantina e românica.
Entretanto, no tocante ao objeto central deste estudo, isto pode ser dispensável sem prejuízo,
considerando-se que neste período, dentre as transformações registradas na arquitetura, as
mais marcantes se configuram como sendo as transformações funcionais e dimensionais do
espaço. Isto seria um reflexo das necessidades de novos usos decorrentes da filosofia cristã
instaurada e disseminada no Oriente Próximo e principalmente na Europa. Nesta época é que
se verifica o declínio da hegemonia romana, caracterizando de modo referencial histórico o
fim do período clássico e início do longo período (século V aos meados do século XV)
conhecido como Idade Média.
Originariamente, os castelos medievais eram apenas residências dos senhores
feudais, onde ao redor dos quais se desenvolveram os burgos que gradativamente às custas de
uma economia que tinha como base a produção campesina cresceram até configurar-se em
cidades cuja população necessitava de novos serviços de características mais urbanas. Os
espaços ou construções essenciais na cidade da idade média eram muralhas, palácio comunal
75
— sede da administração civil — e uma espécie de “praça” onde comumente funcionava o
mercado. A muralha, sobretudo, por seu caráter defensivo, solidamente construída, rodeava o
aglomerado urbano, protegendo-o das invasões inimigas. Porém, não só muralhas
desempenhavam papel defensivo. As ruas sinuosas e estreitas e os becos muitas vezes sem
saída convertiam-se em embaraçosas armadilhas, onde das janelas mais altas os moradores se
valiam de arremessos de tudo que pudesse abater o inimigo invasor. Na maioria, senão na
totalidade das casas medievais as portas e janelas eram dispostas sem qualquer preocupação
estética. Essas estavam à mercê das necessidades de ventilar e, principalmente iluminar o
interior das edificações e das limitações estruturais das grossas paredes (Fig. 54).
Figura 54 – CASARIO MEDIEVAL
Fonte: Conhecer. Ed. Abril, 1970
A igreja e o palácio comunal, geralmente mais centrais, constituem-se no símbolo
permanente das duas grandes aspirações medievais: a religiosidade e a organização política. A
praça onde funcionava o mercado, finalmente, era o ponto de troca de mercadorias, e
conseqüentemente elemento vital à economia.
Dentre as manifestações da arquitetura, observa-se neste período o convívio de
duas ocorrências que se contrapõem. Uma consiste na rusticidade das construções leigas e dos
76
castelos senhoriais. Onde, como aliados, estão as limitações estruturais com a predominância
dos cheios de grossas paredes sobre os vazios das poucas aberturas das portas e janelas e as
necessidades de armazenar o excedente da produção do campo, víveres, defender-se dos
freqüentes ataques, etc. assim as construções caracterizavam-se como reflexo das próprias
adversidades terrenas não só representadas pelos recursos técnicos construtivos como também
das necessidades cotidianas. Às conveniências estruturais aliavam-se as necessidades de
segurança, resultando nas construções austeras, de grossas muralhas, onde as envasaduras só
apareciam a partir de alturas elevadas. Segundo A. Jorge, na França feudal, observa-se uma
evidente preocupação com a defesa da propriedade, pelo emprego de aterros, cercas, fossos,
muralhas (além da torre, símbolo do poder, do dominium), o que de certa maneira, podia
impedir a criação de aberturas na sua parte inferior (fig. 55).
Figura 55 – MURALHAS DE CARCASSONE.
Fonte: Conhecer, Ed. Abril, 1970
As janelas permanecem como meio de acesso à luz, notadamente quando em
grandes edificações como nos mosteiros. Tanto nestas edificações como nas casas de moradia
os peitoris eram altos; não só como medida de proteção, como também para a obtenção de
maior difusão da luminosidade natural nos ambientes internos. A transparência dos vidros, até
então consistia em tecnologia sofisticada para os padrões da época, o que limitava seu
emprego só nas edificações religiosas ou edifícios públicos, enquanto nas residências o tecido
77
e papel encerado os substituíam. As casas medievais apresentavam variações, de acordo com
a região e a época; embora muitas características permanecessem comuns
8
.
Por outro lado, das manifestações arquitetônicas da idade média a arquitetura dos
godos é a que melhor representa a arquitetura do medievo quanto ao porte monumental e
requintes de detalhes. Nas construções dos templos góticos, o notável avanço dos recursos
técnicos estruturais proporcionou uma inovação plástica e espacial com as possibilidades de
aumentar os vãos das naves e das paredes, ainda que com o descomunal predomínio da altura
sobre a largura (Fig. 56). Esses templos serviram como mola propulsora para as grandes obras
arquitetônicas renascentistas. O vidro, a partir de então, assume uma presença constante
juntamente com o metal que o emoldura, possibilitando o efeito de luz interior através dos
vitrais (Fig.57). Desta feita, a arte de construir reflete a convicção religiosa fundamentada na
filosofia teocêntrica.
As transformações na configuração urbana nas cidades medievais, à medida que
cresciam, proporcionaram em seus habitantes nova relação com as esquadrias, principalmente
com as janelas. Estas não mais representam apenas a entrada de luz e segurança. Passam a
representar também o meio de contato visual com o exterior, de modo a permitir a
contemplação da paisagem urbana. Nas melhores cidades da Europa, no final da Idade Média,
existia uma situação que impelia para a rua seus habitantes, proporcionando,
conseqüentemente, uma sociedade urbana mais extrovertida: “A janela é, de fato o grande
divertimento e a grande tentação, maravilhosamente aberta para a rua como é, embora
abrigada dos indiscretos, por todo o andar e pelo anteparo eventual dos batentes articulados
da persiana. Num certo sentido, as aberturas dos olhares e ouvidos alheios, permitia a
contemplação urbana” (JORGE, op. cit. 1995, pp 39; 40).
8
A. Jorge faz minunciosa descrição de uma cidade medieval da França que se assemelha às características de
outras espalhadas pela Europa. Ver anexo D.
78
a b
Fonte: Conhecer Ed. Abril, 1970. Fonte: JANSON, 1972.
Figura 56 – TEMPLOS GÓTICOS
a - Catedral de Bamberg, Alemanha.
b.- Catedral de Chartres, França.
79
.
Figura 57 – VITRAL GÓTICO.
Fonte: JANSON, 1972.
A partir daí, provavelmente, são desenvolvidos os diversos modelos e peças
adicionais às folhas principais das esquadrias com vistas a possibilitar privacidade ou
exposição aos transeuntes; bem como melhor adequação aos hábitos e climas, variantes de
região em região. É nesse momento, segundo Jorge, que as janelas foram dotadas de recursos
que aproximaram-na do funcionamento do olho. Ela deixou de ser um buraco na parede, para
80
tornar-se um instrumento de visão que se interrompe ou diminui de intensidade
convenientemente.
A inter-relação do olhar com a janela relaciona-se de forma substancial com a
história da arquitetura da Renascença e fundamenta os conhecimentos que vêm suprir a
necessidade de representar o espaço tridimensionalmente no plano bidimensional,
estimulando o desenvolvimento dos métodos de representar o espaço em perspectiva, cuja
contribuição vai além do seu emprego no plano pictórico. A este respeito, segundo Alberti
(apud. JORGE, 1995, p.51), “o quadro (da pintura) é uma janela transparente pela qual nós
vislumbramos uma seção do mundo visível”. A possibilidade de representar o espaço tal como
ele se apresenta na natureza permitiu assim, no campo da arquitetura, melhor representar o
espaço a ser construído, o que contribuiu sobremaneira para os avanços nas resoluções
espaciais da arquitetura, e que se verificou principalmente no período renascentista.
O desconhecimento da técnica da perspectiva como recurso de representar a paisagem, e nela
a própria arquitetura se verifica nas pinturas medievais (Fig. 58), que, como prenúncio da
necessidade de limitar o campo visual, o que é possível por meio de um quadro, de maneira
análoga à visão que se tem através de uma porta ou janela, era freqüente os pintores da época
enquadrarem o motivo principal de seus trabalhos num destes elementos ou em meio a arcos
ou intercolúneos greco-romanos como tentativa de representar a profundidade do espaço de
uma cena. Foi o recurso que perdurou até meados da Renascença, quando se descobriu o
método geométrico da construção perspéctica.
a b
a - Giotto b - Paolo Ucello
Figura 58 – PERSPECTIVA NA IDADE MÉDIA.
Fonte: Gênios da Pintura, Ed. Abril, 1973
81
A arquitetura da Renascença é caracterizada pelo resgate de valores da arquitetura
da antiguidade greco-romana reinterpretada segundo os valores da época. Para alguns autores
a arquitetura renascentista representa uma reação à arquitetura gótica que, embora detentora
de reconhecido valor, não deixava de ser a expressão máxima de uma cultura bárbara. No
entanto é naquela que um dos expoentes da arquitetura deste período, Filippo Brunelleschi,
vai buscar inspiração para desenvolver métodos construtivos que culminou com a sua obra
mais notável, a cúpula da Catedral de Santa Maria Del Fiore, em Florença.
No Renascimento, a arquitetura baseava-se nas regras matemáticas, subordinando
a composição plástica às ordens clássicas. Esta característica extrapola as necessidades
estruturais como se pode verificar principalmente nos motivos dos adornos
predominantemente colocados em conjunto com as aberturas de portas, janelas ou nichos.
Embora o esplendor da arquitetura na Renascença se verifique na Itália, em todos
os seus estágios de desenvolvimento, os padrões renascentistas de construir, obedientes às
ordens da antiguidade, espalharam-se por toda a Europa, assumindo peculiaridades regionais.
Movimentos seguiram-se, em que alguns artistas e arquitetos demonstravam uma inquietação
em seguir integralmente os ditames das ordens vigentes, configurando-se em um movimento
estilístico e não numa forma diferente de fazer arquitetura. Primeiramente o Maneirismo,
cujas características principais eram os adornos e efeitos pictóricos sutis inseridos na
composição aos elementos reconhecidamente das ordens greco-romanas. Mais tarde,
culminando cronologicamente o período renascentista, segue o Barroco (séc. XVI – XVIII),
para o qual as ordens seguidas ao longo da Renascença são radicalmente alteradas, com ritmo
mais dinâmico, verificando-se a inserção exagerada de adornos. Surgiu na Itália, estendendo-
se posteriormente para outros países, sobretudo latinos (Fig. 59 e Fig. 60).
82
a
c
b
d
a- ARCO GÓTICO – ogival ou em ponta, é típico deste estilo. ARCO RENASCENTISTA – tem a
forma curvilínea, de pêra inspiração romana clássica.
b- COLUNA GÓTICA – construída de feixes de pilares, sustentáculo para a estrutura da abóboda.
COLUNA RENASCENTISTA – simples,empregadas também em pórticos e arcadas.
c- ABÓBODA GÓTICA – arcos ogivais encontram-se no alto apoiados sobre colunas. ABÓBODA
RENASCENTISTA – tem a forma de semicírculo ou arco pleno, formando a superfície do teto.
d- JANELA GÓTICA – Alta estreita, apresentam vitrais coloridos encimada por arco ogival.
JANELA RENASCENTISTA – geralmente quadrada e mais ampla que a gótica. O vidro
transparente e incolor dá maior claridade.
Figura 59 – DIFERENÇAS CONSTRUTIVAS BÁSICAS ENTRE O GÓTICO E
RENASCIMENTO
Fonte: Enciclopédia Conhecer. Ed. Abril, 1970
83
a
b c
a- b-c- elementos maneiristas
Figura 60 – TRATAMENTO DE MASSA DIFERENCIAM MANIFESTAÇÕES
ESTILÍSTICAS
Fonte: SUMMERSON, 1982.
Notadamente o desenho das portas e janelas, mais especificamente de suas folhas,
com seus postigos, bandeiras, pinásios e outros recursos que estruturam e regulam suas
aberturas, embora muitas vezes ricamente trabalhadas, pouco influem na composição do todo
arquitetônico, em obras monumentais o que talvez explique a escassez de registro
bibliográfico destes elementos funcionais das esquadrias, não só deste período como em
outros ao longo do curso da história da arquitetura. Até então em todas as manifestações da
arquitetura, a relação entre os cheios das paredes, e os vazios das portas e janelas, do ponto de
vista compositivo das fachadas, se dá basicamente pelo ritmo imposto pelo jogo
compreendido pelas quantidades, dimensões e forma destas aberturas e os adornos ou
84
elementos estruturais entre elas, que se configuram como tratamento das superfícies. Isto
tomando como referência a arquitetura monumental dos templos, palácios e igrejas. Mas na
pouca referida arquitetura civil o desenho das folhas das esquadrias dado a menor proporção
dos edifícios certamente exerce papel mais marcante na composição plástica das fachadas,
ainda que estas sejam passíveis de limitações estruturais, o que se verificará em períodos
seguintes até o advento dos avanços de técnicas estruturais verificados no fim do século XIX
e início do século XX. Daí, talvez por não serem submissas às ordens impostas aos moldes de
construir, a arquitetura civil, em especial a residencial seja a responsável pela variadíssima
gama de tipos de esquadrias de madeira que existem espalhadas por todo mundo.
Com base na bibliografia relativa à arquitetura, conforme fora dito, são poucas as
referências à arquitetura civil, residencial. Talvez por constituírem-se as grandes obras em
constante desafio ao domínio de técnicas que tornem possível cada vez mais vencer grandes
vãos. Nesse sentido as construções góticas e renascentistas, cada uma com suas características
estilísticas peculiares se configuram, até então, as principais expressões da busca do espaço
livre ideal que atendam às necessidades não só física como culturais de cada época.
O século XIX caracterizou-se mais por reformas urbanísticas do que, ao contrário
dos períodos predecessores, pela arquitetura. Representa para a arquitetura um período pouco
criativo onde a tentativa de resgatar valores normativos da Renascença deu início à arquitetura
Neoclássica. O principal legado deste século fundamenta-se nas primeiras propostas para
soluções da cidade moderna (ZEVI op. cit).
Não só motivada pela insatisfação ao resgate de padrões do passado, mas a soma
de diversos fatores políticos, sociais e econômicos, neste contexto os efeitos da Revolução
Industrial, culminaram com a possibilidade de realizar o que Laugier, segundo Summerson
(1982, p.94) profetizara em 1753. Para Laugier a “arquitetura em relevo”, característica do
renascimento deveria ser abandonada; as partes também deveriam ser abandonadas. Para ele o
edifício ideal deveria ser feito inteiramente com colunas. Colunas que sustentassem vigas que,
por sua vez, suportassem uma cobertura. O que naquele momento poderia ser tido como
absurdo decorrente do pensamento abstrato de um filósofo.
Com os avanços tecnológicos do final do século XIX a abstração do pensamento
de Laugier passa a ser possível de se tornar realidade. Laugier defendia, o que há quase dois
séculos depois se tornou o fundamento dos ideais, da história e das conquistas da arquitetura
moderna — o princípio da “planta-livre”.
85
O interesse voltava-se para a construção das unidades residenciais para a família
média, da habitação dos operários e camponeses até então resumida em pequenos e sufocantes
cômodos justapostos. As necessidades sociais já não impõem mais à arquitetura os temas
suntuosos e monumentais. Embora o domínio da técnica construtiva do aço e do concreto
armado assim permitisse.
“A arquitetura moderna reproduz o sonho gótico no espaço, e,
explorando acertadamente a nova técnica para realizar com extremo apego e audácia
as suas intuições artísticas, estabelece com os amplos vitrais, que se tornaram agora
paredes de vidro, o contato absoluto entre os espaços interior e exterior”
(ZEVI, op.
cit. p. 90).
Com certeza, os avanços nos conhecimentos dos novos métodos construtivos,
primeiramente com as estruturas de aço e a seguir com o advento do concreto armado que
originaram a realização da planta livre, não só proporcionaram a liberdade do
dimensionamento dos espaços interiores dos edifícios como possibilitou também a liberdade
das aberturas das superfícies das paredes até então rigorosamente subordinadas às grossas
paredes estruturais ou ao conjunto trilítico das colunatas e vergas.
Neste período se efetiva as maiores transformações na concepção das aberturas de
portas e janelas, verificadas nas mais diversas tendências da arquitetura moderna.
Principalmente nas obras dos mais notáveis representantes da arquitetura internacional, como
Mie Van der Rohe, Walter Gropius, cujos edifícios se configuram em grandes prismas de
vidro onde os conceitos de cheios e vazios se confundem (Fig. 61 e Fig. 62 ). Do organicista
Frank Lloyd Wrigth e do expoente maior do racionalismo, Le Corbusier; nas suas obras
verifica-se uma maior preocupação com a integração entre os espaços interiores e destes com
a paisagem circundante conseguida através de grandes aberturas (Fig. 63 e Fig. 64).
86
Figura 610 – MIES VAN DER ROHE
Fonte: Enciclopédia Conhecer, Ed.Abril, 1970.
Figura 62 – WALTER GROPIUS
Fonte: GROPIUS, 1988.
87
Figura 63 – FRANK LLOYD WRIGHT
Fonte: ALEXANDER, 1979.
Figura 64– LE CORBUSIER
Fonte:BAKER,1998.
88
A partir de então, o crescente avanço tecnológico verificado nos mais variados
campos de atuação tem proporcionado aos arquitetos da atualidade maior liberdade na criação
de espaços, tanto relativa à forma quanto às suas dimensões. Como também na criação de
elementos arquitetônicos, considerados no âmbito dos detalhes ou fragmentos, que por meio
de novos materiais e equipamentos disponíveis conferem à obra determinadas peculiaridades.
Porém, o emprego de tais recursos, devido aos altos custos, ficou restrito a grandes obras
institucionais. Quase sempre custeadas por governos ou grupos privados, detentores de
posição econômica privilegiada que, por meio da arquitetura expõem para mundo o seu
poderio, não só econômico como também político e cultural.
Enquanto isso, as esquadrias utilizadas na arquitetura tradicional, como nas
residenciais, comerciais e outras de pequeno e médio porte, acessíveis à maioria das
populações, repetem modelos que vêm sendo usados desde épocas remotas. O que é
compreensível pelo fato de o novo nem sempre ser desejado pela estrutura hegemônica da
sociedade. A chegada do novo causa um choque.
Quando uma variável se introduz num lugar, ela muda relações preexistentes
estabelece outras (SANTOS, 1997. p 98). O novo se contrapõe ao velho, mas nem sempre o
exclui. A coexistência do novo e do velho não se justifica apenas para simplesmente abrandar
o sentimento nostálgico, mas pelo conjunto de variáveis, da combinação e relação que existem
entre elas. A adoção do novo concretiza-se mais facilmente nos grandes centros que o
“inventam”, ou o incorporam e o propagam. Os centros menores, por estarem mais afastados
geograficamente e culturalmente daqueles, retardam a adoção do novo, mantendo de forma
voluntária ou involuntária laços mais estreitos com a tradição, embora esta seja propulsora do
novo. Da mesma forma, em uma mesma sociedade o novo é absorvido pelas classes
economicamente mais favorecidas. Não se faz aqui necessário se estender no discurso sobre a
tríade novo, velho, tradição. Mas diante do exposto, ainda que com brevidade, demonstra-se
que nela reside uma justificativa da coexistência, na arquitetura, de elementos de diferentes
épocas, seja de ordens construtiva, formal, funcional. Justifica o fato de manutenção de
técnicas de manufatura e elementos construtivos primitivos na elaboração de esquadrias
contemporâneas, notadamente nas feitas de madeira, concomitantemente aquelas que
empregam os mais avançados produtos industrializados, como os variados tipos de vidros e
materiais estruturadores como o alumínio, o PVC ou elementos reguladores das aberturas por
meio de controles remotos ou células foto sensíveis.
Atualmente são bem maiores que outrora as possibilidades do emprego das
esquadrias, seja nos modos de fabricação, seja nos diferentes materiais, seja na concepção
89
plástica ou funcional. Embora os avanços tecnológicos ainda sejam discretos, no tocante à
maneira como são regulados, restritos apenas às ferragens e alguns acessórios ou comandos,
enquanto que, paradoxalmente a posturas ambientalistas, a madeira é a matéria-prima mais
explorada, principalmente nos países em desenvolvimento. Isso ocorre na manufatura de
esquadrias, a exemplo do Brasil, em detrimento de outros materiais como o ferro, alumínio e
o PVC, ou outros que venham a ser desenvolvidos com a eficácia semelhante a das esquadrias
de madeira, no tocante à versatilidade de emprego, à segurança e à beleza.
4.3 CONTEXTUALIZAÇÃO NA HISTÓRIA DA ARQUITETURA
BRASILEIRA
Vivem muito juntos em umas casas mui grandes de palmas que chamam ocas e com
tanta paz que põe espanto, e com terem as casas sem portas e suas cousas sem chave
por nenhum modo furtam uns aos outros ( José de Anchieta, Cartas jesuíticas 3).
Assim como foi iniciado com a pré-história o item anterior deste capítulo, a
despeito de ser ou não arquitetura a forma de ocupação de espaços naturais que serviam de
abrigo, ao discorrer sobre o emprego de portas e janelas como elementos reguladores das
aberturas na arquitetura brasileira vale mencionar as construções indígenas. Isto porque por
mais primitivas e rudimentares que fossem apresentavam uma organização espacial e social e,
sem exagero, a exemplo do que se prega com tanta ênfase na arquitetura contemporânea
apresentavam quase sempre uma perfeita adequação ao clima e às suas necessidades
cotidianas. E juntando-se a este fato, deve-se considerar que a arquitetura vernácula brasileira
tem sua origem no saber-fazer indígena que mais tarde, quando da colonização européia,
juntou-se a este o saber fazer português. Embora tenham vingado na colônia os sistemas
construtivos do colonizador, é inegável a presença de alguns costumes do índio preservados
em muitas construções vernáculas. Principalmente naquelas regiões mais afastadas do contato
com recursos vindos do exterior.
As técnicas construtivas indígenas baseavam-se de modo geral no extrativismo
vegetal. A madeira, palhas, folhas e cipós retirados das florestas consistiam na matéria-prima
de todas as partes da construção de suas moradias. Entretanto, dependendo da tribo ou das
condições locais cada uma dispunha destes recursos diferentemente, no que diz respeito à
dimensão, formas; dentre outras características peculiares de cada povo indígena.
Não são encontrados nos seus abrigos, quaisquer que fossem as tribos, exemplares
do emprego de janelas. Estas apenas são insinuadas, em alguns casos, em aberturas no alto
90
das ocas como que para circulação de ar ou decorrentes da própria condição construtiva das
ocas. Apenas uma ou duas aberturas no máximo serviam de acesso. Como nas tribos xavantes
e na casa Yawalapiti do alto Xingu (Fig. 65 a Fig. 68). Estas aberturas de acesso, ao que tudo
indica eram desprovidas de peças que ao molde de portas permitissem fechá-las. Mas é
possível que se em algumas ocasiões se fizesse necessário fechar esta peça de fechamento
também seria de palha. Estas aberturas além de permitir o acesso, como função principal, à
oca, serviam também, quando abertas, como meio de captação de ventilação e iluminação
naturais para o interior. Observa-se que a partir delas eram distribuídos os setores com
funções específicas. Demonstrando ter, ainda que de modo intuitivo um sentido daquilo que
um dia viria a ser chamado de funcionalismo.
a b
a b
a – Corte e planta de uma casa Xavante.
b – Abrigos de uso temporário (em expedição de caça).
Figura 65 – MORADIA DOS ÍNDIOS XAVANTES
Fonte:–NOVAES et al.1983.
Em “a” o espaço de cada família nuclear é delimitado pelas esteiras. As divisórias a partir da
“porta” de entrada definem um círculo no qual são distribuídas as esteiras de cada família. Em “b”
as posições de cada família se repetem nas barracas independentes. Onde todas as portas se voltam
para o interior delimitando uma área de convivência entre as famílias.
A; B e C - Localização das famílias nucleares
1-“Paredes” de estacas de taquara e folhas de palmeiras que delimitam o “corredor” a partir da
“porta de entrada.
2-Esteiras de dormir.
3-“Biombo” que protege o namoro da noiva.
4-Estaca central
5-Fogueira
91
Figura 66 – CASA YAWALAPITI
Fonte: NOVAES et al.1983.
Figura 67 – CASA YAWALAPITI – PLANTA BAIXA
Fonte: NOVAES et al.1983.
92
Figura 68 – CASA YAWALAPITI – DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL
Fonte: NOVAES et al. 1983.
Outras tribos adotavam construções totalmente abertas, sem portas ou janelas de
modo a parecer preceder as varandas atuais nas quais penduram-se redes tal qual aqueles
nativos. Estas casas eram construídas diretamente no solo ou de forma palafítica, suspensas
sobre estacas de modo a lembrar uma construção sobre pilotis. Em ambas as formas de
construir apenas a coberta lhes dava a principal proteção, enquanto outras fechavam as
superfícies verticais com lascas de madeira, onde as frestas entre as lascas permitiam
passagem de ar e luz (Fig.69 a Fig. 71).
a b
Figura 69 – CASA WAIÃPI
a –
Casa palafítica b – Casa térrea
Fonte: NOVAES et al. 1983.
93
Figura 70 – CASA PALAFÍTICA NIPUKU
Fonte: NOVAES et al. 1983.
Figura 71 – CASA PALAFÍTICA NIPUKU COM PAREDES DE PAXIÚBA E
ESCADA IÚRA
Fonte: NOVAES et al. 1983
94
Sabe-se que, quando o Brasil foi conquistado, a Europa vivia o auge do
Renascimento. Mas nas três primeiras décadas de ocupação o que os novos habitantes faziam
aqui em termos de construção eram de rusticidade condizente com as dificuldades
proporcionadas pela distância do reino e a hostilidade local. Portas e janelas de seus abrigos
eram reduzidas às extremamente necessárias e toscamente confeccionadas. Segundo Lemos
(1989. p.18) “Todos depoimentos e crônicas antigas falam do uso da técnica construtiva dos
índios nas primeiras construções reinóis no solo da colônia recém descoberta”.
Só a partir da quarta década de ocupação, intensificam-se as expedições
colonizadoras. Com elas tem início a formação de núcleos de habitação onde os colonos
impunham seus conhecimentos às suas construções. Para Lemos, “a grande contribuição
portuguesa deu-se no campo das técnicas”, pois, conforme já mencionado, diz ele,
“vingaram na colônia os sistemas construtivos da península, e daí aquele ‘ar’ tão
característico” (LEMOS. op cit). Este “ar” tornou-se presente em várias cidades espalhadas
por todo o Brasil, nas quais buscaram se adaptar às diferentes condições climáticas e
materiais.
É fato que, tanto nas construções urbanas como principalmente nas rurais, a
produção e o uso da arquitetura no Brasil colonial baseavam-se no trabalho escravo, daí seu
nível tecnológico ser dos mais precários. As poucas informações a respeito das construções
rurais na colônia (principalmente residenciais), levam à suposição de que os modelos seriam
oriundos da arquitetura vernácula portuguesa adaptada às condições locais. E essa adaptação,
certamente variaria de critérios segundo o pensamento de seu usuário e conforme a mão-de-
obra disponível trabalhando os materiais oferecidos pelo meio ambiente (LEMOS,.ibdem.
1989 p 25). Dessa forma o que se refere à arquitetura dessas edificações valida a suposição de
que as mesmas condições eram empregadas na manufatura das esquadrias, dentre outros
elementos utilitários do cotidiano.
Pode-se afirmar com segurança que durante o período colonial a arquitetura
residencial urbana estava baseada em um tipo de lote com características bastante definidas
(FILHO, 1978. p. 22). De acordo com antigas tradições urbanísticas de Portugal, as vilas e
cidades apresentavam ruas de aspecto uniforme, com residências construídas sobre o
alinhamento das vias públicas e paredes laterais sobre os limites dos terrenos.
Sendo assim, uma única fachada era vista, o que se intenções plásticas ocorriam a
seus construtores que, aliás, eram muitas vezes os idealizadores e futuros moradores, pouco
sobrava-lhes para ornamentos. Eram exceções as casas de esquina, tendo estas duas fachadas
voltadas para as vias públicas, porém com o mesmo trato simples. As variações eram poucas.
95
A casa popular urbana colonial praticamente teve a mesma planta pelo Brasil em geral, e isso
se deveu as próprias condições de regulamentação dos lotes. Quase sempre estreitos e
compridos. Assim a solução repetitiva das plantas era dispor os cômodos encarreirados ao
longo de um corredor. O da frente, com janela e porta no alinhamento da rua quase sempre era
a sala de visitas, quando não abrigava uma oficina ou loja. Os cômodos intermediários
acessíveis pelo corredor eram os quartos de dormir. Tal posição os mantinha sempre
naturalmente mal iluminados e ventilados. Situação que era amenizada no quarto contíguo à
sala de visitas por meio de uma porta, quase sempre de folha dupla. As paredes divisórias
comumente não chegavam a encostar-se na coberta cuja cumeeira geralmente atingia grande
altura. Mais tarde nas casas mais abastadas introduziam os forros de madeira, sob o qual
encimando as paredes eram colocadas grades que permitiam melhor circulação de ar.
Segundo Filho (ibdem), as casas eram construídas de modo uniforme e, em certos
casos, tal padronização era fixada nas Cartas Régias ou em posturas municipais. Dimensões e
número de aberturas, altura dos pavimentos e alinhamento com as edificações vizinhas foram
exigências correntes no século XVIII. Revelam uma preocupação de caráter formal, cuja
finalidade era, em grande parte, garantir para as vilas e cidades brasileiras uma aparência
portuguesa (LEMOS. ibdem. p.26).
No século XIX um novo tipo de residência, casa de porão alto, representava uma
transição entre os velhos sobrados e as casas térreas. Embora conservando-se as formas de
habitar dependentes do trabalho escravo, não havia margem para grandes mudanças (id. p.33).
É entre o final do século XVIII e início do XIX que tem registros dos primeiros exemplares de
janelas venezianas.
São sensíveis as gradativas mudanças de tipologias das casas coloniais ao longo
dos anos, mas no que se refere aos fechamentos dos vãos pelas portas e janelas a primeira
grande transformação se deu quando da fabricação do vidro plano em lâminas de maiores
tamanhos do que aqueles até então conhecidos. As mudanças verificaram-se efetivamente nas
relações dos cheios e vazios, como reflexo da evolução de técnicas construtivas. Segundo
Costa (apud ABCI) “nas casas mais antigas, presumivelmente nas dos fins do século XVI e
durante todo século XVII, os cheios teriam predominado; à medida, porém, que a vida se
tornava mais fácil e mais policiada, o número de janelas ia aumentando; já no século XVIII
cheios e vazios se equilibram, e no começo do século XIX predominam francamente os vãos;
de 1850 em diante as ombreiras — cada uma das peças verticais dos vãos de portas e janelas
— quase se tocam, até que a fachada, depois de 1900 (Fig. 72) se apresenta praticamente toda
96
aberta, tendo os vãos muitas vezes ombreira comum. O que se observa, portanto, é a tendência
para abrir sempre, e cada vez mais” (GOULART, 1997. p. 44).
.
Estes desenhos de Lúcio Costa (“Documentação Necessária”, Revista do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional, Nº 1) Esquematizam a variação havida, no correr dos séculos, na relação entre os
cheios e vazios das fachadas das construções brasileiras (CORONA e LEMOS, p126).
Figura 72 – EVOLUÇÃO DA RELAÇÃO ENTRE CHEIOS E VAZIOS NO BRASIL
SEGUNDO LÚCIO COSTA
Fonte: CORONA e LEMOS, 1989
A tendência referida por Costa se efetiva com as possibilidades advindas da planta
livre. Tal recurso proporcionou a liberdade de aumento dos vãos das esquadrias conforme
mencionado anteriormente, estabelecendo assim para as aberturas o fim da dependência direta
das estruturas do edifício. Isto acarretou novas possibilidades de composição onde cheios e
vazios não se restringem somente aos planos verticais das paredes, mas a todos os planos
delimitadores do espaço. Sobre os quais trata o próximo capítulo.
97
CAPÍTULO 5 -AS ESQUADRIAS NO ESPAÇO
RESIDENCIAL
5.1. INTRODUÇÃO AO CAPÍTULO 5
Neste capítulo será feita uma síntese sobre as relações entre as portas e janelas na
dinâmica no espaço construído no decorrer de um determinado período. Para tal será tomada
como referência a arquitetura residencial brasileira. O período considerado, do renascimento,
quando do descobrimento do Brasil aos anos que antecederam os eventos que contribuíram,
de certo modo, para a configuração das formas atuais de residir. Necessariamente serão
retomados alguns pontos de conotação histórica abordados anteriormente. Porém, aqui serão
expostos os eventos mais marcantes no tocante ao tema em estudo.
Supõe-se que o processo da dinâmica do espaço residencial tenha ocorrido em
outras tipologias de construções ou usos, talvez em maior ou menor intensidade; não cabe no
momento estabelecer comparações. Porém, a escolha da arquitetura residencial na abordagem
deste capítulo se deve ao fato de que seu objetivo é o morar, que é um ato comum a todos os
seres humanos, independentemente de classe sócio-econômica, profissão ou credo. Portanto,
de um modo ou de outro é um espaço vivenciado por todos. Por isso supõe-se que seja de
mais fácil entendimento o que será aqui exposto.
5.2. A CASA
O homem detém-se frente à porta. Introduz a chave na fechadura, a
faz girar, empurra e entra. Logo, volta a fechar a porta. O homem ingressou em sua
casa. Penetrou no seu ambiente próprio e familiar, onde se reconhece. Sente-se
isolado do mundo como se defendesse a si próprio dentro de sua carcaça, sente-se na
intimidade (SACRISTE, p.9, 1968).
Tal isolamento se evidencia principalmente a partir do renascimento. Pois até
então as edificações reuniam, na grande maioria, muitas atividades cotidianas. Uma casa não
só servia de moradia como também era local para executar diversas tarefas inerentes às
práticas economicamente produtivas. No uso da casa exclusivamente como moradia, a porta
assume definitivamente o papel de separar o público e o privado.
98
No espaço urbano, o homem sociabiliza-se, mas não reconhece a sua
individualidade, sente-se inseguro por não poder dominá-lo. A porta passa a ser um
signo, carregado de valor simbólico, sendo o elo de dois mundos antagônicos: o
social e o particular. Estar abrigado, acomodar-se, estar protegido, reconhecer-se,
isolar-se, estar seguro, são termos usualmente associados ao âmbito familiar
(MIGUEL, 2003. p 21).
Os portugueses trouxeram consigo suas experiências que juntaram a algumas
influências indígenas e mais tarde a da mão-de-obra africana, mas, mesmo com todas as
adversidades locais impuseram seus modos de construir (Fig. 73.). Inicialmente espalhadas a
ermo, uma porta e algumas e umas poucas janelas eram suficientes. No espaço urbano as
portas eram o divisor direto entre o meio urbano e o familiar.
Figura 73 – SEC XVI INFLUÊNCIA INDÍGENA/ARQUITETURA VERNÁCULA
PORTUGUESA
Fonte: BARDI, 1985.
Pode-se afirmar com segurança que durante o período colonial a arquitetura
residencial urbana estava baseada em um tipo de lote com características bastante
definidas. De acordo com antigas tradições urbanísticas de Portugal, as vilas e
cidades apresentavam ruas de aspecto uniforme, com residências construídas sobre o
alinhamento das vias públicas e paredes laterais sobre os limites dos terrenos
(FILHO, 1978. p.22.).
Desse modo, uma única fachada era vista. E se intenções plásticas ocorriam a seus
construtores, que, aliás, eram muitas vezes os idealizadores e futuros moradores, pouco lhes
sobrava para ornamentos. Eram exceções as casas de esquina, tendo estas duas fachadas
voltadas para as vias públicas, porém com o mesmo trato simples. As variações eram poucas.
A casa popular urbana colonial praticamente teve a mesma planta pelo Brasil em geral, e isso
se deveu às próprias condições de regulamentação dos lotes que eram quase sempre estreitos e
99
compridos. Assim a solução repetitiva das plantas era dispor os cômodos encarreirados ao
longo de um corredor (Fig. 74).
a b
c d
1- loja;2- corredor de entrada para a
residência, independente loja;
3- salão; 4- alcovas; 5- sala de viver ou varanda;
6- cozinha e serviços.
e f
a-Casas mais simples nos limites da frente e dos lados do lote
b-Maior quantidade de janelas e portas indicava maior poder aquisitivo do proprietário
c-Seção esquemática de um sobrado;
d-Planta baixa de um sobrado tipicamente colonial;
e-f- As alcovas ( quartos) não tinham janelas para o exterior, o que as mantinha mal iluminadas e
não-ventiladas durante todo o dia.
Figura 74 – SÉC XVII - XVIII INFLUÊNCIA MEDIEVAL-RENASCENTISTA
PORTUGUESA
Fonte: FILHO, 1978.
100
O cômodo da frente, com janela e porta no alinhamento da rua, quase sempre era a
sala de visitas, quando não abrigava uma oficina ou loja.Os cômodos intermediários
acessíveis pelo corredor eram os quartos de dormir. Tal posição os mantinha sempre
naturalmente mal iluminados e ventilados. Situação que era amenizada no quarto contíguo à
sala de visitas por meio de uma porta, quase sempre de folha dupla. As paredes divisórias
comumente não chegavam a encostar-se na coberta cuja cumeeira geralmente atingia grande
altura. Mais tarde, nas casas mais abastadas, introduziam os forros de madeira, sob o qual
encimando as paredes eram colocadas grades que permitiam melhor circulação de ar, os
aeríferos (Fig. 75).
Figura 75 – AERÍFERO
Fonte: BITTENCOURT e CÂNDIDO, 2005.
As casas eram construídas de modo uniforme e, em certos casos, tal padronização
era fixada nas Cartas Régias ou em posturas municipais. Dimensões e número de aberturas,
altura dos pavimentos e alinhamento com as edificações vizinhas foram exigências correntes
no século XVIII. Revelam uma preocupação de caráter formal, cuja finalidade era, em grande
parte, garantir para as vilas e cidades brasileiras uma aparência portuguesa (FILHO, 1978.
p.26).
Se até o início do século XVIII a arquitetura nacional era moldada à maneira
portuguesa, o mesmo não se pode afirmar com a do século XIX. A partir deste século, dois
fatores contribuíram para a gradativa melhoria das técnicas construtivas: a presença da Missão
Cultural Francesa e a fundação da Academia de Belas-Artes, favorecendo assim a ocorrência
de construções mais refinadas. De linhas neoclássicas ou neogóticas predominantemente na
arquitetura civil e tendo predominado o ecletismo na residencial.
101
Contudo, a implantação da casa no lote permanecia do mesmo modo que
anteriormente, apresentando apenas uma fachada frontal e a dos fundos, com exceção as de
esquina e os palacetes mais abastados. O que levava os construtores a se esmerarem mais na
qualidade da execução das esquadrias que se mostravam na rua em detrimento daquelas dos
fundos, geralmente de feitio mais rústico.
Dessa época, surge nova tipologia residencial, a casa de porão alto (Fig. 76),
representava uma transição entre os velhos sobrados e as casas térreas. E traz com ela um
novo elemento na fachada, uma faixa como embasamento com inserção de aberturas de
pequenas janelas ou óculos para iluminar e ventilar o porão, geralmente destinado à
criadagem. Embora se conservando as formas de habitar dependentes do trabalho escravo, não
havia margem para grandes mudanças funcionais.
Figura 76 – CASAS DE ESTILO ECLÉTICO COM PORÃO ALTO – SÉCULO XIX.
Fonte: Bardi, 1985.
Depois desta tipologia surgem os primeiros exemplares das casas soltas em uma
das laterais do lote, onde dava espaço para a inserção de jardim. Apresentando assim pela
primeira vez os problemas de ligação interior e exterior, que não fosse diretamente à rua,
como até então. Porém o contato entre as residências e jardins era meramente formal, visto
que a altura do porão o distanciava do interior da casa.
Por volta dos últimos anos do século XIX e no início do XX, antes de 1914, podia-se
considerar como completa a primeira etapa da liberação da arquitetura em relação
aos limites dos lotes. Fundiam-se, desse modo, duas tradições: a das chácaras e a dos
sobrados (FILHO, op.cit).
Registra-se também dessa época as primeiras experiências arquitetônicas das
quais se iniciam um processo que, passando pelo Art-Nouveau e pelo Neocolonial
conduziriam ao movimento modernista. A partir do final do século XIX e início do XX as
casas se afastam de todos os lados do lote (Fig. 77).
102
a
b
Pavimento térreo:
1- terraço; 2- escritório ou sala de visitas;
3- sala de estar; 4- sala de jantar; jardim de inverno;
6- cozinha; 7- copa; 8- lavabo; 9- coberta para automóvel. Na edícula:
10- galinheiro; 11- dormitório de criadas; 12- banho; 13- tanque; 14- garagem.
No andar superior:
15- dormitório;
16- banheiro.
c
a- Vista; b- planta baixa do pavimento térreo; c- planta baixa do pavimento superior.
Figura 77 – A CASA SE AFASTA DOS LIMITES DOS TERRENOS – séc XX - 1900 -
1920
Fonte: FILHO, 1978.
São sensíveis as gradativas mudanças de tipologias das casas ao longo dos anos.
Observa-se que até início do século XX tais mudanças se deram mais no âmbito dos
tratamentos de massa, revelando uma maior dedicação aos resultados formais do que mesmo
funcional. As mudanças mais marcantes na disposição dos cômodos e na relação entre eles e
a definição de zonas por usos afins distintos, vêm ocorrer a partir das manifestações
103
modernistas na arquitetura, bem como sob influência de novos hábitos incentivados pelos
novos bens de consumo lançados no mercado pela industrialização crescente.
É um fato, as diferentes tipologias residenciais que surgiam: o emprego de portas
e janelas. Enquanto elementos controladores das aberturas dos planos não passavam por
mudanças marcantes. Porém, nesse sentido, alguns eventos pontuais podem ser relacionados
como significativos na evolução das esquadrias:
-A fabricação do vidro plano;
-O emprego das venezianas (século XIX);
-Com o ecletismo surgiram folhas com partes superiores variáveis de formas
semicirculares em composição com tratamento de massa rebuscado.
-Emprego de adornos e grades de ferro fundido com motivos florais Art-Nouveau
em fechamentos parciais das folhas de portas.
-Industrialização no século XX – introdução de emprego de novos materiais e
soluções arquitetônicas, como esquadrias de ferro laminados (serralharia), brise-soleil e a
profusão de largas janelas e portas abertas para a paisagem, frutos dos preceitos modernistas,
possibilitados pelas estruturas de concreto armado.
104
CAPÍTULO 6 - A RESIDÊNCIA ATUAL: DA CASA AO
APARTAMENTO. AS MUDANÇAS DE RELAÇÃO
PORTAS / JANELAS /ESPAÇO
6.1. INTRODUÇÃO AO CAPÍTULO 6
Neste capítulo serão abordadas as relações das esquadrias das edificações
residenciais a partir de observação de diferentes tipologias distintas que refletem de certo
modo posturas políticas, culturais e sócio-econômicas na formação da configuração das
habitações, o que da mesma maneira refletirão na configuração da paisagem urbana. Para tal,
primeiramente estão expostos três grupos distintos de moradias unifamiliares nos quais se
verifica particularidades quanto ao objeto central deste estudo. Depois são abordados aspectos
da composição das superfícies de edifícios residenciais multifamiliares, os edifícios de
apartamentos. São igualmente divididos em grupos de configurações distintas, observando
nos mesmos diferentes posturas projetuais quanto ao emprego das esquadrias na composição
plástica das fachadas desde os primeiros a serem construídos até os de construção mais
recente.
O campo de estudo destas edificações será a cidade de Maceió, embora seja
recorrente expor alguns exemplos de outras cidades e de localidades próximas à capital
alagoana, quando é necessário para uma melhor compreensão do conteúdo apresentado.
6.2. AS CASAS CONTEMPORÂNEAS
Praticamente o que se vê atualmente nas casas residenciais, no que se refere à
composição do interior, técnicas construtivas, programas de necessidades, zonas básicas de
distribuição dos recintos (social, íntima e de serviço), começa a se formar mais claramente no
final do século XIX e começo do século XX.
Dentre os fatores propulsores das transformações ocorridas na construção do
espaço residencial estão alguns eventos dos quais vale ressaltar os de maior relevância:
a) O emprego do tijolo de barro cozido que, segundo indícios, foi adotado
pioneiramente pelos imigrantes (italianos e alemães) como solução para o problema das obras
necessárias ao beneficiamento do café, onde se verificou que a taipa não se prestava para
todas as obras requeridas para a produção cafeeira. Popularizou-se quando os imigrantes o
105
empregavam nas construções de suas próprias casas e a partir das obras proletárias, também
nas obras suntuosas dos fazendeiros receptivos à modernidade européia.
A classe média, conservadora, ainda crente na alta eficácia e segurança da taipa de
seus avós, foi a última a adotar a nova técnica construtiva. Adotou-a copiando e
ampliando o partido da pequena casa do operário imigrante de corredor descoberto,
a primeira a ter janelas laterais, além daquelas abrindo para rua
(LEMOS, 1989.
p. 61).
b) Outro evento importante no quadro da arquitetura nacional, principalmente na
residencial, foi a primeira guerra mundial, de 1914 a 1918. Os obstáculos nas comunicações
com a Europa neste período resultaram nas dificuldades de importação dos materiais de
construção empregados na arquitetura eclética em voga naquela época.
Talvez não viessem de fora a areia, o tijolo e a cal das argamassas - o resto era
europeu. Assim, quase tudo não era fabricado aqui, como telhas de Marselha,
grades, portões, peitoris, grimpas de ferro fundido ou forjado, dobradiças, trincos,
fechaduras e maçanetas que eram avidamente escolhidos em profusos catálogos; e
mais ainda, vidros planos, lisos ou lapidados... (LEMOS, op. cit.).
Daí o ritmo das construções no país caiu vertiginosamente, voltando a crescer com
o término da guerra; contudo a indústria local voltada ao abastecimento das obras permanecia
modesta. O que de positivo se pode tirar dos quatro anos de abstinência é que mesmo tendo
fim a guerra, as importações não foram retomadas com o mesmo ritmo anterior. O que
estimulou, de certo modo, a criação de soluções nacionais surgidas da necessidade de
improvisações a partir do emprego das matérias primas locais, proporcionando os alicerces de
uma arquitetura mais brasileira.
Os construtores atuaram conforme as circunstâncias e gastos locais e, francamente,
não podemos dar nomes corretos aos ‘estilos’ surgidos a partir dos primeiros anos da
década de vinte nas várias cidades brasileiras (LEMOS, id.).
c) A Semana de Arte Moderna em l922 e a crescente industrialização consolidam
as transformações mais definitivas da arquitetura nacional.
As artes antecipam o momento político de trinta com as manifestações na semana de
vinte e dois na tentativa de ruptura com os arcaísmos que tolhem a inteligência
brasileira, em nome da conciliação do universal e do nacional, do tradicional e do
106
moderno. Com vistas ao futuro, há um ímpeto de destruir vínculos com um passado
que nada mais teria a dizer ao presente. Por outro caminho, a corrente Neocolonial,
participante também no momento de comemoração do centenário da independência
político administrativa nacional, procura no passado os vínculos que fortaleçam o
sentimento nativista nas expressões culturais (SILVA, 1991. p.23.).
A partir de então se efetiva a chamada Arquitetura Moderna. Os muitos conceitos
sob este rótulo refletem diretamente nas muitas maneiras de expressão da forma arquitetônica,
acarretando uma abundância de soluções estilísticas (se é que assim podem ser chamadas as
diferentes maneiras de como as casas eram concebidas) e técnico-construtivas que tornam o
quadro da arquitetura bastante diversificado até os dias atuais. Fica bem visível esta tendência
a se expandir ainda mais com a crescente gama de produtos industrializados para a construção
e o domínio de novas técnicas construtivas que tornaram possível as primeiras construções de
edifícios residenciais multifamiliares em grandes centros.
6.3. OS EDIFÍCIOS DE APARTAMENTOS
Conforme exposto anteriormente, as transformações do espaço residencial
brasileiro, casa — residências unifamiliares — passaram por um processo evolutivo gradual
ao longo da história da arquitetura. Com os edifícios de apartamento não ocorreu o mesmo.
Na verdade a evolução de nosso apartamento tem como base a manipulação de seus
variados programas de necessidades pelos seus promotores, ou incorporadores, que
se regem mais pelas leis de mercado imobiliário do que pelos usos, costumes e
anseios próprios de um determinado quadro cultural (LEMOS, 1989. p77).
A história dos edifícios de apartamento no Brasil pode ser contada em três fases.
A primeira de 1925 até a Segunda Guerra Mundial; a segunda de 1945 até meados de 1970 e a
terceira, daí até os dias atuais, (LEMOS,op.cit.). A partir de então, vários tipos de planta são
propostos com soluções programáticas diferenciadas; a fim de contemplar as diferentes
exigências das diversas parcelas do mercado de destino. Quanto à solução formal na sua quase
totalidade, não passam de grandes prismas cujas superfícies são trabalhadas em jogos de cor
entre os cheios e vazios.
As janelas dos primeiros edifícios de apartamento eram predominantemente com
venezianas de madeira e vidro. Compostas muitas vezes com múltiplas folhas que permitiam
107
maior eficácia quanto ao controle de variações de vento e luz naturais. Visto que ainda não era
acessível o uso de aparelhos condicionadores de ar. (Fig.78).
Figura 78 – JANELAS COM VENEZIANAS EM EDIFÍCIOS DE APARTAMENTOS
Fonte: ABA, 1971
Talvez decorrente de problemas de manutenção e custo, e mais tarde com a
popularização dos aparelhos condicionadores de ar, foram cedendo lugar às janelas de
caixilhos de alumínio com fechamento de vidro, cujo emprego persiste atualmente.
6.4. DA CASA AO APARTAMENTO – MACEIÓ COMO REFERÊNCIA
Nas próximas linhas serão analisadas as relações das portas e janelas com o
espaço construído contemporâneo, tomando-se como base alguns pontos abordados nos
capítulos anteriores. Para tal foram selecionados dois grupos de residências da cidade de
Maceió. Um composto por residências unifamiliares — as casas. O outro por residências
multifamiliares verticais — edifícios de apartamentos. Os tipos de edificações foram
selecionados segundo alguns critérios, a saber:
a) Por serem essas residências detentoras de características mais marcantes nas
relações das aberturas dos planos definidores do espaço construído, edifício.
b) Promovem diretamente as características fisionômicas do espaço construído,
cidade. Sendo aqui considerados os planos verticais, principalmente aqueles responsáveis pela
108
configuração externa dos edifícios, ou seja, os planos das fachadas que, conforme já fora
abordado oportunamente, contribuem para a delimitação e aparência do espaço cidade.
c) Sejam construídas ou não baseadas em planejamento arquitetônico, as
residências dos dois grupos refletem, de certo modo, parte dos processos da dinâmica do
desenvolvimento urbano. Os aspectos observados, embora frutos de pesquisa local, refletem
possivelmente a realidade de outras cidades brasileiras.
d) Não são estas edificações obras arquitetônicas de exceção. E sim representam
quantitativamente e qualitativamente um perfil da produção da arquitetura local.
As relações usuário/espaço acontecem diferentemente quando em uma casa ou em
um apartamento. Tudo começa a partir da relação do futuro usuário com o processo de
construção, ou melhor, antes, quando da elaboração dos primeiros traços que nortearão o
projeto e a construção. Ao futuro morador de uma casa é dado no mínimo o direito de opinar
sobre o espaço que será seu. Se não há planejamento arquitetônico, a relação é ainda mais
estreita, pois nestes casos tanto os traçados do modelo da casa — quando são feitos — e a
construção são conduzidos pelos próprios usuários. Este é um procedimento mais freqüente
em bairros menos valorizados ou periféricos da cidade, nos quais as casas são contíguas umas
às outras como a perpetuar a maneira colonial quanto à implantação no lote urbano. Nestes
casos é marcante a presença de portas, janelas e grades de ferro, o que denota o menor custo
deste tipo de esquadria com relação a outros materiais (Fig 79). Por outro lado, o futuro
morador de um apartamento usufruirá de um espaço concebido sem qualquer participação sua.
No máximo, vê projetado em um quadro na parede de um estande de venda o espaço que virá
a ser sua residência. Feita para atender mais uma necessidade de mercado do que às reais
necessidades dos usuários, do ponto de vista estético, funcional e principalmente de conforto.
Uma casa é feita com base em valores absolutos, ou seja, quem vai morar é quem
determina como quer a sua casa dentro de suas condições e seus valores. Visa-se a atender a
necessidades específicas do usuário. Exceto aquelas feitas em conjuntos habitacionais para
atender à população de baixa renda que se enquadram no conceito de residências
multifamiliares. Um apartamento ou o edifício de apartamentos é concebido com base em
valores relativos. Visa-se a atender a requisitos mercadológicos onde o interesse econômico
do investidor é prioritário. De resto, pressupõem-se quais valores devem ser considerados
com base no senso comum de uma determinada parcela da sociedade que garanta o mercado.
Quem se enquadrar no programa arquitetônico estabelecido, terá mais chance de viver
109
satisfatoriamente. Do contrário, buscará formas de adaptação, modificando o espaço pré-
concebido ou modificando comportamentos da família.
Morar em casa significa maior interação com o meio exterior, visto que, quando
se abre uma porta ou janela os contatos com os componentes do entorno se fazem de forma
direta. Daí morar em apartamento significar para alguns uma forma de isolamento. Isolamento
que se confunde com segurança. Segurança que não mais existe nas ruas. O que pressupõe
não mais existir nas casas, tão próximas às ruas. Impressão ou fato, isto vem mudando o perfil
das cidades através de medidas que mudam gradativamente as relações
pessoa/esquadrias/espaço e espaço interior/espaço exterior.
Nesse sentido, observa-se mais claramente nas casas urbanas uma crescente
valorização de recursos de segurança contra intrusões em detrimento de valores plásticos. E
até mesmo em detrimento de meios para captação de ventilação e iluminação naturais. E isto
se dá comumente a partir da construção de altos muros, fechados em toda extensão,
arrematados em cima por cercas eletrificadas de modo a esconder total ou parcialmente (mais
da metade, geralmente) o volume da edificação (Fig. 81). O que deixa de justificar ou passa a
justificar menos, as preocupações com soluções plásticas volumétricas de modo a contemplar
valores estéticos, já que os volumes não podem ser vistos na sua plenitude. Ao menos que
estes muros sejam concebidos como elemento volumétrico do conjunto muro/casa o que
comumente não ocorre. Quanto às portas e janelas, estas são dotadas de grades; na maioria
dos casos, colocadas improvisadamente como anexo às esquadrias, sem qualquer preocupação
plástica aparente.
Este é o quadro da maioria dos bairros de classe média, nos quais por preferência
ou outras circunstâncias as pessoas permanecem nas suas moradias, em ruas tradicionais, ao
contrário do que podem oferecer os condomínios fechados. Estrutura residencial urbana na
qual os muros não escondem as casas, mas apenas delimitam grandes áreas, de modo a
oferecer segurança e áreas naturalmente verdejantes, perdidas nos diversos pontos da cidade,
lá fora (Fig. 84). Neste caso, as possibilidades de composição plástica do edifício podem ser
exploradas de modo mais eficaz pelo projetista e melhor contemplada pelo usuário ou pelos
poucos transeuntes. Como que para atender a este propósito, por meio de instrumento
normativo próprio, proíbem a construção de muros frontais e parte dos laterais do lote, e
aumentam a distância entre este e a casa.
Diante das transformações ocorridas nas residências unifamiliares, observa-se
também uma mudança de relacionamento das aberturas de portas e janelas nas tipologias
tomadas como exemplo neste capítulo. Em tempo no qual a violência urbana não preocupava
110
tanto como hoje, o passeio público (calçada) e a rua eram extensão da própria casa.
Necessariamente as portas e janelas permaneciam abertas o dia todo, dada a pouca ou
nenhuma ventilação oferecida pelas poucas aberturas nas fachadas da frente e do fundo.
Naquelas casas justapostas não é raro, ainda hoje, os vizinhos promoverem na calçada
encontros amistosos à noite ou em dias de folga. Um hábito que aos poucos vão perdendo,
principalmente naquelas residências onde a porta externa da casa passou a ser o portão que,
no muro, confinam a todos no interior. O espaço público, calçada e rua, nesse caso funcionam
de forma análoga com a circulação que une cada uma das unidades residenciais dos edifícios
de apartamentos. Desse modo, em Maceió verificam-se três tipos predominantes de
edificações residenciais unifamiliares. As quais estão relacionadas a seguir (Fig. 79 a Fig. 84).
6.4.1. TIPO 1
São as casas coladas em toda extensão dos lotes, aos moldes das primeiras casas do
Brasil Colonial. Na maioria com uma porta e uma janela na fachada. Não apresentam recuos
frontais. Predominantemente as esquadrias das fachadas são de ferro. Presentes em bairros
populares ou periféricos da cidade (Fig. 79).
a b
c
a- Casas na Cambona – Fachada Oeste; .b- Casas na Cambona – Fachada Leste. c- Casas em
Jaraguá.
Figura 79 – CASAS DE PORTA E JANELA
Fonte: Autor, 2007.
111
6.4.2. TIPO 2
Casas soltas no lote, ou encostadas apenas parcialmente numa das laterais. Neste
grupo enquadram-se aquelas com características marcantes dos anos 60 e 70 (Fig. 80).
Localizadas na maioria dos bairros tidos como privilegiados Suas fachadas, às vezes bem
elaboradas, escondem-se com o decorrer do tempo por trás de altos muros, perdendo assim o
sentido estético de elementos de composição das fachadas ou volumes. Poucas são aquelas
que permanecem com muros originalmente baixos. As novas construções que sucedem a
estas são geralmente de muros altos (Fig. 81 a Fig.83).
a
b c
a, b e c – Casas no bairro do Farol que ainda preservam os muros originalmente baixos, deixando à
mostra as relações dos planos da fachada e esquadrias.
Figura 80 – CASAS DE MUROS BAIXOS EM VIAS PÚBLICAS
Fonte: Autor, 2007.
112
a
b
a- A relação entre os cheios e vazios, para o observador resume-se aos planos dos muros e os dos
portões que em muitos casos apresentam composição desassociada do corpo da casa.
b- O volume principal da edificação é visto parcialmente. O muro obstrui a visão de dentro para fora
e vice-versa. Neste caso, portões vazados e fendas entre planos do muro garantem continuidade
espacial mínima.
Figura 81 – CASAS DE MURO ALTO
Fonte: Autor, 2007.
113
a
b c
a- Do mesmo modo que a da foto anterior, esta casa apresenta apenas o muro como vista principal
para quem o observa da via pública.
b- O todo é percebido gradualmente a partir dos elementos do muro que se repetem em outros pontos
da casa.
c- O tratamento dos planos do muro são repetidos no corpo da casa mantendo uma unidade entre as
partes.
Figura 82 – MURO ALTO INTEGRADO À COMPOSIÇÃO DO EDIFÍCIO
Fonte: Autor,2007.
114
a b
a- Ambigüidade da porta – ENTRADA – integrando o exterior ao interior.
b- Ambigüidade da Porta – SAÍDA – integrando o interior ao exterior.
Figura 83 – PORTA DE ACESSO - AS DUAS FACES DE JANUS
Fonte: Autor, 2007.
6.4.3. TIPO 3
Casas no interior de condomínios ou loteamentos fechados (Fig. 84). Os
condicionantes normativos destes empreendimentos imobiliários favorecem a composição
plástica das edificações, por serem desprovidas de muros frontais, terem recuos maiores do
que em áreas abertas da cidade. Verifica-se que embora destinados à classe economicamente
privilegiada, detentora de acesso a materiais mais arrojados ou inovadores, não se libertam
das tradicionais esquadrias de madeiras. Outros tipos, como esquadrias de PVC, vidros
autoportantes ou outro material são quase inexistentes.
115
a
b c
a- Fachada Leste. As esquadrias compõem a volumetria e garantem a ventilação natural através de
escamas móveis e bandeiras de treliça
b- “Seteira” separa os dois volumes acentuando a composição simétrica.
c- Planos, volumes, janelas, portas e vazios aparecem na composição volumétrica.
Figura 84 – CASAS DE CONDOMÍNIO - CHEIOS E VAZIOS À MOSTRA
Fonte: Autor, 2004.
Em Maceió, o primeiro edifício com fins residenciais data de 1960 — o edifício
São Carlos. Suas janelas todas de vidro se justificam pela paisagem urbana, enriquecida pela
vista que se tem do mar, pelo menos nas salas dos amplos apartamentos, tão comuns nos
primeiros edifícios, aos moldes de casas confortáveis empilhadas umas sobre as outras (Fig.
85 e Fig.86).
116
a b
c
a- Vista b- Janela da sala c- Planta
Figura 85 – EDIFÍCIO SÃO CARLOS
Fonte: SILVA, 1991.
Do primeiro edifício maceioense até os atuais há considerável diversificação de
programa, que é acompanhada de forma discreta pelas soluções compositivas das fachadas.
Observa-se uma repetição de soluções, em que as opções de revestimentos das superfícies
externas variam de materiais e custos, proporcionais ao poder aquisitivo da fatia do mercado a
quem se destinam as vendas. Observa-se a exclusividade de janelas de vidro e caixilhos de
alumínio nas paredes externas em todos os ambientes em quaisquer dos níveis dos edifícios. E
sua inserção nas fachadas do ponto de vista da composição plástica é adotada diferentemente
de acordo com o padrão econômico dos mesmos. Assim, naqueles onde o custo deverá ser
menor, as janelas aparecem menores. O contrário, a abundância de vidros nas fachadas ocorre
117
mais freqüentemente nos destinados a classes mais abastadas. O que coincide, no caso de
Maceió, com as melhores localizações quanto à paisagem litorânea, estejam estes prédios à
beira-mar ou à beira das encostas, com vista igualmente privilegiada.
O que se verifica em um grande número de edifícios de apartamentos, como
solução compositiva na volumetria desses, é o uso de revestimentos escuros. Contrastando
com cores claras como tentativa de aumentar ilusoriamente a dimensão real das janelas.
Assim imita-se o escuro do vidro fumê ou, menos freqüentemente, na cor bronze contido, em
geral, num vão da janela verdadeira de aproximadamente 1,10m x 1,10m. O que dá a falsa
impressão de serem dotados de grandes janelas aos moldes da janela rasgada proposta por
Corbusier, ou por vezes parecendo imitar os planos envidraçados inadequados ao uso
residencial. Igualmente falsa é a impressão de equilíbrio entre cheios e vazios que tais
soluções geram.
Assim, em Maceió pode-se distinguir grupos de edifícios residenciais com
características compositivas das fachadas comuns entre si, nos quais a inserção das janelas na
relação de cheios e vazios de sua volumetria assumem valorizações diversas. E cada um deles
apresenta uma relação direta com o valor de mercado ou determinada época em que foram
construídos. Nestes tipos são evidentes composições onde as janelas se apresentam de forma
direta ao observador, onde a composição com os cheios se dá através de tratamento de
superfície, seja por pintura ou outro tipo de revestimento. Outro tipo se caracteriza pela
tentativa de camuflar a verdadeira janela em faixa de revestimento escuro, dotando as
fachadas de “falsas janelas rasgadas”. O terceiro tipo marcante é aquele que reúne maior
quantidade de vidros em janelas e guarda-corpos.
Em meio as estes tipos predominantes selecionados observa-se variações. Não
raro há os que apresentam na sua composição volumétrica duas ou mais das características
acima referidas.
6.4.4. TIPO 4
Os edifícios mais antigos de Maceió (Fig. 86 a Fig. 87) são dotados de janelas
grandes nas salas e quartos. Diferentemente daqueles pioneiros, paulistas, não foi feito o uso
de janelas venezianas, mas predomina até nos atuais as janelas com caixilharias de alumínio e
vidro. Quando construídos, não eram usados os aparelhos condicionadores de ar, o que a
posteriori impeliu seu usuário para fazer buracos nas paredes e instalar os aparelhos,
118
agredindo a composição original. Seguindo o primeiro, vieram outros. Desta feita na praia da
Pajuçara (Fig. 87). E depois o primeiro no bairro do Farol (Fig. 88).
a b
a- Primeiro edifício de apartamentos de Maceió.Situado à beira mar, na sua composição volumétrica
percebe-se o recurso estrutural adotado. Transparecendo a modulação vertical das colunas, vigas e
as lajes marcando na fachada cada pavimento. Das janelas rasgadas deduz-se o ambiente interno de
acordo coma metodologia do catálogo.
b- Quando construídos não eram previstos os aparelhos condicionadores de ar.
Figura 86 – PRIMEIROS EDIFÍCIOS RESIDENCIAIS MULTIFAMILIARES
Fonte: autor, 2007.
119
a c
b
a-b- Características comuns: Seguindo os mesmos princípios formais e construtivos que o anterior,a
modulação da estrutura, janela rasgada em todos os ambientes, com vista para a praia.
c- Ausência de local para aparelhos condicionadores de ar. Este edifício é o pioneiro do gênero na
orla da Pajuçara.
Figura 87 – PRIMEIROS EDIFÍCIOS RESIDENCIAIS MULTIFAMILIARES
Fonte: Autor, 2007.
120
Entre os primeiros do gênero, em Maceió, este edifício é exceção quanto ao bairro, pioneiro no bairro
do Farol,como no tipo de janelas com vidro e venezianas. Mais recente que os anteriores, na
composição de sua fachada não se percebe com clareza os elementos estruturais. Contudo sua
configuração sugere ter sido concebido segundo a metodologia do catálogo, como nos anteriores.
Figura 88 – PRIMEIROS EDIFÍCIOS RESIDENCIAIS MULTIFAMILIARES
Fonte: Autor, 2007.
6.4.5. TIPO 5
Edifícios que se caracterizam por volumetria mais simples, cujos revestimentos
externos são à base de tintas texturizadas. Verifica-se nestes tipos um predomínio de
composição plástica nos planos das fachadas, onde todas as janelas aparecem claramente
como elemento compositivo. Geralmente visam a atender a uma parcela de mercado com
poder aquisitivo baixo a mediano. Além destes aspectos têm em comum as esquadrias de
alumínio e vidro, com aberturas maxim-ar ou corrediças. Situam-se em áreas de valorização
imobiliária inferior àquelas mais privilegiadas, como as da beira-mar e adjacências e nas
extremidades de encosta (Fig. 89 a Fig. 91).
121
a b
a- Os cheios (paredes externas) são tratados com pintura texturizada, onde os diferentes tons de cinza
conferem uma impressão de relevo na fachada, destacando as janelas maxim-ar de alumínio e vidro.
b- Detalhe: os elementos básicos da composição das fachadas deste edifício, as janelas, e cor.
Figura 89 – EDIFÍCIOS COM TRATAMENTO DE SUPERFÍCIES PREDOMINANTE
Fonte: Autor, 1989.
a b
a-b- As fachadas laterais leste e oeste repetem-se integralmente. Janelas de alumínio com folhas
corrediças repetem-se em todos os lados. Talvez tal medida seja satisfatória do ponto de vista
econômico ou estético. Mas certamente não é o ideal do ponto de vista do conforto térmico das
unidades residenciais
Figura 90 – EDIFÍCIOS COM TRATAMENTO DE SUPERFÍCIES PREDOMINANTE
Fonte: Autor, 2007.
122
a
b
c d
a- Com orientação semelhante ao anterior, as fachadas longitudinais voltadas uma para o leste outra
para o oeste. Porém os buracos das paredes são tratados de forma diferente: No leste, janelas.
b- No oeste predominam vazios de forma circular que contribuem para melhor circulação de ar.
c –d- As limitações das janelas corrediças de alumínio e vidro requerem improvisação (telas e
laminado de alumínio) para amenizar insolação excessiva ou assegurar proteção, agredindo a
fachada do edifício para melhoria da ventilação e iluminação naturais.
Figura 91 – EDIFÍCIOS COM TRATAMENTO DE SUPERFÍCIES PREDOMINANTE
Fonte: Autor, 2007.
123
6.4.6. TIPO 6
As soluções compositivas das fachadas dos edifícios listados neste grupo vêm se
tornando repetitiva há uns dez anos. Muitos ainda em fase de construção se caracterizam pela
alternância de faixas, marcando as linhas horizontais que delimitam os peitoris, e os limites
horizontais das janelas, estendendo-se por toda a fachada. Fica evidente a intenção de fazer
desaparecer as janelas (sempre de alumínio preto e vidro fumê), tendo como fundo
revestimento preto, contrastando com o revestimento claro das faixas dos peitoris. Tal
procedimento sugere que as janelas são elementos visualmente incômodos na composição
volumétrica destes edifícios. As janelas escuras, no fundo preto, “desaparecem,” adotando
aparência falsa de janelas rasgadas em toda extensão das fachadas (Fig. 92 e Fig. 93).
a b
c d
a-b-c-d- A configuração prismática destes edifícios é atenuada pelas faixas, muitas vezes curvas,
distribuídas ao longo das fachadas. Os prédios podem ser vistos como um monolítico listrado sem
janelas ou como uma sucessão de planos intercalados pelas falsas janelas rasgadas.Solução que vem
se repetindo exaustivamente na paisagem.
Figura 92 – FACHADAS ENFAIXADAS
Fonte: Autor, 2007
124
a b
a-b- Estes mantêm a mesma postura dos anteriores (quanto ao uso das faixas), porém introduzem
planos com as janelas aparentes, e vazios no coroamento do edifício, evitando a exclusividade das
faixas na volumetria como nos exemplos mostrados anteriormente.
Figura 93 – FACHADAS ENFAIXADAS OU MISTAS
Fonte: Autor, 2007.
6.4.7. TIPO 7
Estes edifícios caracterizam as áreas mais nobres do mercado imobiliário local.
Destinados à camada de poder aquisitivo mais alto. Alguns elementos os distinguem dos
demais, quanto à configuração plástica das volumetrias: os revestimentos das superfícies na
quase totalidade são de pedras naturais (mármore ou granito) e há presença abundante de
vidros, tanto nas esquadrias como em guarda-corpos. No entanto, com exceção de alguns
poucos que apresentam vidro temperado ou laminado colorido. Predominam as janelas
comuns de vidro sobre caixilhos de alumínio com folhas corrediças ou maxim-ar (Fig. 93 e
Fig. 94).
125
a
b
a- Varandas e janelas recuadas sobre fundo escuro soltam a massa dos peitoris contínuos revestidos
de granitos. Esquadrias de alumínio e vidro.
b- As superfícies revestidas de mármore destacam os rasgos nos quais estão recuadas as janelas de
vidro. Na varanda, guarda- corpo de vidro.
Figura 94 – EDIFÍCIOS DE ALTO PADRÃO
Fonte: Autor, 2007.
126
a b
a- Na fachada frontal as varandas originais foram todas fechadas com esquadrias de vidro
temperado, impedindo o vento forte do mar sem perder a vista privilegiada.
b- Na lateral as janelas ocupam quase toda a largura dos quartos. O peitoril tem altura em torno de
1,00m, mas o revestimento de cerâmica preta dá a aparência de um pano de vidro em cada módulo
dos pavimentos.
Figura 95 – EDIFÍCIOS DE ALTO PADRÃO
Fonte: Autor 2007.
Diante do exposto, no decorrer dos cinco capítulos que compõem o presente
trabalho, e deste sexto, que ora se encerra, podem ser levantadas algumas questões quanto à
relação dos cheios e vazios na composição dos espaços construídos. As quais não apresentam
qualquer caráter conclusivo, mas conforme será exposto no próximo capítulo, abre
possibilidades para outras discussões.
Com o sexto capítulo, encerra-se a linha evolutiva traçada acerca dos buracos das
paredes, sejam eles vazios, ou tenham janelas, portas, grades, cobogós ou outros. Cujo início
se deu primeiramente na pré-história; passando pela Antiguidade Clássica, Idade Média e
Renascimento, chegando até o Movimento Modernista. Depois o foco foi centrado no
transcurso da arquitetura no Brasil, desde o período colonial até o momento atual, tendo como
referência a arquitetura residencial. Embora a abordagem do tema tenha sido a partir daí,
restrito às aberturas de edifícios residenciais, o que neles foi observado corresponde de certo
127
modo às relações dos cheios e vazios em outras arquiteturas: empresarial, comercial, entre
outras.
Daí, pode-se inferir que os recursos de controle das aberturas dos edifícios têm
apresentado evolução lenta, se comparados com outros recursos materiais e construtivos
empregados na composição arquitetônica ao longo do tempo. Mesmo considerados os novos
materiais com os quais podem ser idealizadas.
Assim, fica a expectativa de que, a partir da necessidade de dotar os edifícios de
meios mais eficientes quanto ao uso dos recursos naturais, novas formas de controles de
aberturas proporcionem novas relações entre os cheios e vazios, tanto na composição das
fachadas como no interior dos edifícios.
128
CAPÍTULO 7 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho buscou-se o início de um aprofundamento de conhecimento de um
dos elementos ou conjunto de elementos que se constituem das mais importantes partes da
obra arquitetônica: As aberturas de vãos com seus diferentes tratamentos ou meios de
controles que as fazem deixarem de ser um simples buraco na parede.
O que foi exposto constitui-se em um singelo demonstrativo do que o tema abre
espaço para as mais diversas abordagens, somando-se àquelas abordagens técnicas mais
comumente exploradas. Além disso, o tema é objeto de estudo de outros campos de atuação
profissional, técnico e científico, que por vezes mantêm interface com a arquitetura. O que
corrobora a idéia de que é necessário aprofundar-se mais na pesquisa sobre esta, como sobre
outras partes constituintes do todo arquitetônico.
Os estudos que embasam este trabalho ratificam a convicção anterior de que para
melhor analisar, criticar ou fazer arquitetura é fundamental conhecer o máximo, sob diversas
abordagens, todos os elementos que a constituem. Não só a respeito das esquadrias, como
também de outros elementos que, somados, vão compor os planos delimitadores do espaço, o
que, conseqüentemente, acarretará na valorização da arquitetura como um todo.
7.1. LIMITAÇÕES DA DISSERTAÇÃO
As limitações da dissertação decorrem principalmente do fato das pesquisas que a
embasaram predominantemente limitou-se a uma revisão bibliográfica na qual não foram
encontrados exemplares que abordassem as relações entre as esquadrias e o binômio cheios e
vazios sob a ótica da composição dos planos delimitadores do espaço e as conseqüentes
possibilidades formais da volumetria dos edifícios.
7.2. IMPLICAÇÕES PARA ESTUDOS FUTUROS
Este trabalho representa apenas o começo de uma abordagem pouco explorada
sobre as relações dos elementos arquitetônicos na composição do espaço. Desta feita, o
elemento escolhido foi esquadria, como regulador das aberturas dos planos delimitadores do
espaço construído, tendo como principais representantes as portas e janelas.
129
Cada um de seus capítulos pode ser desdobrado. Constituem diferentes
abordagens de temas correlatos. A partir deles, é possível elaborar outros trabalhos acerca de
questões que no transcurso das pesquisas ocorreram. O que aqui foi explorado representa o
mínimo do conhecimento que se deve ter sobre esta parte da arquitetura. Nesse sentido, acerca
do tema podem ser desenvolvidas no futuro, questões, como:
a)- No âmbito da psicologia ambiental: - Que relações se pode estabelecer entre as
aberturas dos edifícios e o comportamento de seus usuários?
b)- A contribuição da arquitetura residencial para disseminação da enorme gama
de detalhes das esquadrias de madeira, até os dias atuais, deve-se ao fato de terem sido feitas,
na maioria, à revelia das ordens arquitetônicas?
c)- O que a presença ou ausência de aberturas em salas de aula pode afetar a
relação ensino-aprendizagem?
7.3. CONTRIBUIÇÕES PARA A PRÁTICA DA ARQUITETURA
O tema desenvolvido neste trabalho não se constitui uma novidade. Como se sabe,
mesmo sendo real a escassez de bibliografia especializada, as esquadrias têm-se tornado
objeto de estudo em diferentes áreas em que as relações dos seres humanos entre si e destes
com o ambiente construído despertam a atenção pela consciência que se tem da interação que
ocorre, em diferentes culturas, entre o espaço construído e seus usuários, assim como entre os
ambientes do interior de um edifício e os ambientes exteriores do entorno, cuja inter-relação
se dá a partir, ou por meio de buracos abertos nos planos delimitadores do espaço construído,
estejam eles vazios ou providos de quaisquer que sejam os elementos reguladores ou
estéticos.
Assim, espera-se que este trabalho contribua, no mínimo, para dar início a
análises mais aprofundadas não só sobre a parte arquitetônica aqui explorada como também
sobre outras que venham a igualmente atribuir valores aos espaços a construir. Chamar a
atenção para o conhecimento mais profundo de cada parte arquitetônica, de modo a refletir em
uma arquitetura que melhor corresponda aos anseios e às necessidades dos usuários, constitui-
se uma forma de contribuição para a prática da arquitetura, assim como aqueles tópicos
apontados como implicações para estudos futuros entre outros que são inerentes à prática
projetual.
130
7.4. CONCLUSÃO
Conhecer o máximo que se pode sobre as partes que compõem o todo
arquitetônico, com o intuito de ter como resposta a este conhecimento uma melhor
qualificação dos espaços, nos quais o homem desenvolverá suas atividades, foi a premissa que
conduziu o encaminhamento deste trabalho.
Sendo assim, conclui-se que:
- A abordagem do tema não esgota as diversas possibilidades de pesquisas e
discussões necessárias que objetivem um emprego cada vez mais eficaz das diversas maneiras
de tratamento dos espaços vazios dos planos delimitadores dos edifícios.
- Os objetivos deste trabalho foram alcançados quando no seu curso foram obtidos
respostas ou esclarecimentos às proposições preliminares. Nesse sentido foi observado que os
usos de portas e janelas, como outros meios de controle de acesso de pessoas, ar e luz naturais
nos ambientes ou com fins estéticos, simbólicos ou outros, tanto no interior como no exterior
dos edifícios, foram empregados segundo fatores sociais, culturais, religiosos, como também
subordinados às condições técnicas construtivas vigentes em diferentes épocas. Deste modo a
configuração plástica dos edifícios reflete a realidade de cada povo em cada época.
- As esquadrias ou elementos assemelhados considerados no trabalho, imputam
valores aos edifícios que são considerados sob dois pontos:
1) Quando estes valores decorrem de característica material, física, de ordem objetiva, são
tidos como elemento de arquitetura.
2) Quando elementos arquitetônicos originam-se valores subjetivos, tais como harmonia,
equilíbrio, aconchego, conforto, etc.. Cujos valores são tidos como elementos de composição.
Estes dois conceitos traduzem a sentença de que cada parte tem características implícitas,
além daquelas comumente mais facilmente identificadas e compreendidas que qualificam o
todo arquitetônico.
- Diante do exposto é evidente que os elementos, sejam de arquitetura ou de
composição, das relações entre cheios e vazios, contribuem diretamente na composição
plástica das fachadas que compõem a volumetria externa do edifício como também na
valorização dos espaços interiores. Em face da tendência pela qual passa a arquitetura atual de
atender com maior ênfase às questões ambientais diante das necessidades urgentes de melhor
uso dos recursos naturais é de se esperar que novas posturas quanto à disposição do conjunto
de elementos da relação entre os cheios e vazios aumentem a importância de seu papel na
configuração do edifício tanto sob o ponto de vista funcional como estéticos.
131
BIBLIOGRAFIA
ABA – Arquitetura Brasileira do Ano, 1971. CAB – Cadernos de Arquitetura Brasileira,
Supplementum V.
ALBERNAZ, Maria Paula; LIMA, Cecília Modesto. Dicionário Ilustrado de Arquitetura. 3.
ed. São Paulo: Pro Editores, 2003.
ALEXANDER, Chistopher. Função da Arquitetura Moderna. Biblioteca Salvat de Grandes
Temas. Rio de Janeiro: Salvat Editora do Brasil, S.L., 1979.
ARTE NO BRASIL. São Paulo: Editora Abril, 1979.
ATLAS DO EXTRAORDINÁRIO. Lugares Misteriosos. Ediciones Del Prado. São Paulo:
Verbo, 1995. 1 v.
BACHELARD, Gaston. A Poética do Espaço. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Editora
Abril, 1984.
BAKER, Geoffrey H. Le Corbusier: uma análise da forma. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
BARDI, Pietro Maria. Engenharia e Arquitetura na Construção. Edição de Copyright Banco
Sudameris do Brasil S.A, 1985.
BITTENCOURT, Leonardo; CÂNDIDO, Christhina. Introdução à Ventilação Natural.
Maceió: EDUFAL, 2005.
BRUAND, Yves. Arquitetura Contemporânea no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 1997.
CARVALHO, Benjamim de. A História da Arquitetura. Rio de Janeiro: Edições de Ouro,
1979.
CHING, Fancis D.K. Arquitetura – Forma, Espaço, Ordem. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
CORONA, Eduardo e LEMOS, Carlos Alberto Cerqueira. Dicionário da Arquitetura
Brasileira. São Paulo: Artshow Books, 1989.
COSTA, Lúcio. Sobre Arquitetura. Porto Alegre: Centro de Estudos Universitários de
Arquitetura, 1962, 1 v.
DELZELL, William Ronald. Arquitetura. Edições Melhoramentos de São Paulo, 1977.
ENCICLOPÉDIA CONHECER Volumes, Editora Abril.
ENCICLOPÉDIA DELTA LAROUSE Volumes A-B; H-M; P-S.
FILHO, Nestor Goulart Reis. Quadro da Arquitetura no Brasil. 4. ed. São Paulo: Perspectiva,
1978.
132
GINZBURG, Carlo. Mitos, Emblemas e Sinais. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.
GLUSBERG, Jorge. Para uma Crítica da Arquitetura. São Paulo: Projeto Editores
Associados Ltda, 1986.
GOULART, Chrystianne. “Janela” – Elemento do Ambiente Construído. Uma Abordagem
Psicológica da Relação “Homem-Janela”. Dissertação de Mestrado da Universidade Federal
de Santa Catarina, Florianópolis – SC, 1997.
GROPIUS, Walter. Bauhaus: Novarquitetura. Coleção Debates. São Paulo: Perpectiva, 1988.
HALL, Edward T.A. Dimensão Oculta. Rio de Janeiro, 1997.
JANSON, H.W. História del Arte. Rio de Janeiro: Labor S.A., 1972.
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1997.
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MAHFUZ, Edson da Cunha. Ensaio sobre a Razão Compositiva. Belo Horizonte:
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MIGUEL, Jorge Marão Carnielo. A Casa. Imprensa Oficial da Universidade Estadual de
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NETTO, J. Texeira Coelho. A Construção do Sentido na Arquitetura. Editora Perspectiva.
NIEMEYER, Oscar. Como se faz Arquitetura. Editora Vozes. Petrópolis, 1986.
NOVAES, Sylvia Caiuby; LADEIRA, Maria Elisa et al. Habitações Indígenas. São Paulo:
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PEVSNER, Nikolaus. Os pioneiros do desenho moderno: de William Morris a Walter
Gropius. São Paulo: Martins Fontes, 1980.
RASMUSSEN, Steen Eiler. Arquitetura Vivenciada. São Paulo: Martins Fontes, 1986.
RODRIGUES, José Wasth. Documentário Arquitetônico. 4. ed. Belo Horizonte: Itatiaia. São
Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1979.
RYBCZYNSKI, Witold. Casa: pequena história de uma idéia. Rio de Janeiro: Record, 2002.
SACRISTE, Eduardo. Qué és la casa? Buenos Aires: Editorial Columba, 1968.
133
SALLES, Sônia e GUERRA, David. Inventário das esquadrias antigas do interior de
Alagoas. Trabalho de conclusão de curso (Estágio Supervisionado sob orientação da Profª
Geísa Brayner Ramalho). Departamento de Arquitetura e Urbanismo – UFAL, 1985.
SALLUT, Elza César. Quero Casa com Janela. São Paulo: Ática, 1982.
SANTOS, Milton. Metamorfose do Espaço Habitado. São Paulo: HUCITEC, 1997.
SCHMID, Aloísio Leoni. A Idéia de Conforto. Curitiba: Pacto Ambiental, 2005.
SCRUTON, Roger. Estética da Arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 1979.
SEVCENKO, Nicolau. O Renascimento. São Paulo: Editora da Universidade de Campinas
UNICAMP, 1988.
SILVA, Elvan. Uma Introdução ao Projeto Arquitetônico. Porto Alegre: Editora da
Universidade, UFRGS; Brasília: MEC/SESu/PROED, 1983.
SILVA, Elvan. Arquitetura e Semiologia. Porto Alegre: Sulina Representações, 1985.
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1991.
SIMMEL, G. Costruccion de Ciudades Según Principios Artísticos. Barcelona: G.Gilli, 1984.
SNYDER, James C. e CATANESE, Anthony. Introdução à Arquitetura. Rio de Janeiro:
Editora Campus Ltda, 1984.
STROETER, João Rodolfo. Arquitetura e Teorias. São Paulo: Nobel, 1986.
SUMMERSON, John. A Linguagem Clássica da Arquitetura. São Paulo: Martins Fontes,
1982.
TELLES, Augusto Carlos da Silva. Atlas dos Monumentos do Brasil. 2. ed. Rio de janeiro:
MEC, SEAC/FENAME, 1980.
ZEVI, Bruno. Saber Ver a Arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 1978.
ZEVI, Bruno. A linguagem Moderna da Arquitetura. Lisboa: Publicações Dom Quixote,
1984.
134
ANEXOS
ANEXO A
Jãnus (Ian), substantivo próprio masculino (Jano), era a divindade das portas de passagem.
Foi um dos principais deuses romanos, e dos mais antigos, chamado “deus dos deuses” no
hino dos sálios. Era o primeiro a ser mencionado nas preces, e o primeiro a receber a porção
do sacrifício. Jano é mencionado também guardião do Universo, o abridor e fechador de
todas as coisas, olhando para dentro e para fora da porta, e passou a ser o deus dos inícios –
por exemplo, da primeira hora do dia e do primeiro mês do ano – Ianuarius – e de todas as
aberturas. Do mesmo modo que as aberturas realizadas num muro unem dois espaços, o de
dentro e o de fora, Jano era representado com duas faces (bifrons), uma voltada para frente e
a outra para trás, sugerindo vigilância constante ou simbolizando sua sabedoria, como
conhecedor do passado e adivinho do futuro. “Seu duplo rosto aparece sobre algumas das
primeiras moedas romanas. É o deus dos amanheceres e o guardião do nascimento”.
(JORGE, 1995).
135
ANEXO B
Alguns significados do termo “buraco”, segundo Dicionário Aurélio Digital:
1. Depressão natural ou artificial da superfície externa de um corpo; cavidade.
2. Abertura de certa extensão feita numa superfície; escavação.
3. Abertura natural ou artificial que traspassa uma superfície ou um corpo sólido.
6. Espaço oco na parte interna de um corpo, e que pode atingir ou não o exterior.
Entre outros.
O termo empregado em alguns campos científicos:
Buraco biológico. 1. Engenharia Nuclear. Num reator nuclear, cavidade que
permite a colocação de animais ou plantas próximos da região ativa, para experiência sobre
os efeitos da radiação ou bombardeio de neutros; saída biológica.
Buraco branco. 1. Cosmologia. Região teórica de intensa gravidade, que
compreende uma singularidade e um horizonte de eventos do qual a matéria e a energia
emergem.
Buraco coronal. 1. Astronomia. Região da coroa solar onde as emissões do
extremo ultravioleta e de raios X são anormalmente baixas ou ausentes; lacuna coronal.
Buraco negro. 1. Cosmologia. Região do espaço-tempo intensamente curva, que
consiste numa singularidade cercada por um horizonte de eventos. 2. Estado que a matéria
atinge ao sofrer um colapso gravitacional no qual nem a luz, a matéria ou qualquer outro
tipo de sinal podem escapar.
Buraco ótico. 1. Anatomia. Cada uma de duas aberturas no osso esfenóide, uma
de cada lado, pelas quais transita o nervo ótico do mesmo lado.
Entre outros.
136
ANEXO C
“O ponto de vista norte-americano de que o espaço deve ser partilhado é particularmente
perturbador para o alemão.”
(...) Edifícios particulares e públicos na Alemanha muitas vezes têm portas duplas, para
proteção sonora, como acontece com diversos quartos de hotel. Além disso, a porta é levada
muito a sério pelos alemães. Os alemães que chegam na América acham nossas portas
frágeis e leves. Os significados da porta aberta e da porta fechada são completamente
diferentes nos dois países. Nos escritórios, os norte-americanos mantêm as portas abertas;
os alemães conservam-nas fechadas. Na Alemanha, a porta fechada não significa que a
pessoa por trás dela deseje ficar sozinha, não ser perturbada, ou esteja fazendo algo que não
deseja que ninguém mais veja. Simplesmente, os alemães acham que as portas abertas
representam algo mal feito ou desarrumado. Fechar porta preserva a integridade do
aposento e proporciona uma linha protetora entre as pessoas. De outra maneira, elas se
envolveriam demasiado umas com as outras. Um de meus pacientes alemães comentou; Se
nossa família não tivesse portas, precisaríamos mudar nosso estilo de vida. Sem portas,
teríamos muito mais brigas, muito mais...quando a pessoa não pode falar, retira-se para trás
de uma porta...Se não houvesse portas, eu estaria sempre ao alcance de minha mãe.
(...) A política de portas abertas dos negócios norte- americanos e o modelo de portas
fechadas da cultura de negócios alemã provoca conflitos nas sucursais e subsidiárias de
firmas norte-americanas na Alemanha. (...) Certa vez, fui chamado para aconselhar uma
firma que opera em todo o mundo. Uma das primeiras perguntas foi:’Como se faz para que
os alemães mantenham as portas abertas?’ Nesta companhia, as portas abertas estavam
fazendo os alemães sentirem-se expostos e davam a toda operação um ar desusadamente
relaxado e pouco profissional. As portas fechadas, por outro lado, transmitiam aos
americanos a sensação de que existia um clima de conspiração por ali, e eles eram deixados
de fora. A questão é que, estejam as portas abertas ou fechadas, isto não significará a
mesma coisa nos dois países”.
137
ANEXO D
Do mosteiro para as edificações leigas, chegamos às casas dos ‘nobres’, na França
feudal, onde observa-se uma evidente preocupação com a defesa da propriedade, pelo
emprego de aterros, cercas, fossos, muralhas (além da torre, símbolo do poder, do
dominium), o que de certa maneira podia impedir a criação de aberturas na sua parte
inferior. Vejamos a descrição do historiador francês George Duby (1991, p71): “ Dois
níveis, nenhuma abóboda. No andar inferior, poucas aberturas, cavidades de despejo no solo,
uma lareira central, uma cisterna, um celeiro sem dúvida, mas uma parte ao menos servindo
de cozinha. No andar superior, ‘nobre’, seis grandes aberturas, várias chaminés, murais,
uma porta a que se tinha acesso por uma escada externa...A parte publica aparece
essencialmente disposta para o festim: o senhor aí se mostrava alimentando seus amigos, em
plena luz: janelas, lareiras, luminárias, os pratos trazidos em cerimônia do espaço inferior
onde servidores subalternos os preparavam. Quanto ao quarto, lugar de ‘intimidade’, de
liberdades, pode-se pensar que era aqui contíguo, isolado da sala por uma parede,
desaparecida,ou mesmo por uma simples tapeçaria como em Vendôme ou em Troys...” O
quarto guardava tanto as “intimidades” quanto as “posses” (entre as quais, as próprias
mulheres, principalmente como precaução contra o adultério), a fortuna, os pertences de
valor. Esses, porém, poderiam ser expostos, como demonstração de riqueza e poder, mas não
no quarto, indevassável também pelo olhar alheio, visto que situado sempre num nível
superior, e iluminado e aquecido pelo fogo (que também glorifica).
Assim como o espaço de vivência, onde se localizavam os ambientes mais prestigiosos,
era o do nível superior – o primeiro andar – os quartos (sobretudo os das mulheres) tendiam
a se voltar para o interior, para o lado do pátio, enquanto as salas eram instaladas de
preferência no lado da fachada, ou seja, da rua. Essa disposição vai atravessar séculos e
fronteiras.
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