30
fotografia. Um signo fotográfico representa a realidade que retrata (a paisagem de uma praça,
por exemplo), que, por sua vez, em princípio, é seu objeto. Mas, dependendo do ângulo, da
textura, das cores ou ausência delas, dos contrastes de luz e sombra, das coisas e situações
“congeladas” naquele momento captado pelo fotógrafo, ela nos propõe mensagens que não
estavam necessariamente contidas na leitura da realidade fora da fotografia, seu objeto
dinâmico − a paisagem pura e simples como se apresenta ao mundo. A fotografia, então, pode
suscitar outros diferentes objetos imediatos
3
– verdades geradas pelo signo – ambíguos e que
entram em conflito com o mundo interior do receptor.
Quando falamos na simbologia do vampiro, estamos cientes de que ele representa
o lendário do “morto que supostamente sai do seu túmulo para vir sugar o sangue dos vivos”
(CHEVALIER, 2003, p. 30). Há, portanto, uma clara diferença entre a palavra “vampiro” e a
idéia de vampiro, ou mesmo entre a imagem do vampiro e essa mesma idéia. No entanto, as
leituras subjetivas a que este vampiro pode vir a nos remeter, a carga emotiva que ele é capaz
de nos despertar – seja, no caso do filme, pela plasticidade da cena em que está inserido; seja,
no exemplo do livro, por uma descrição detalhada de sua medonha aparência física – nos
colocam o mesmo signo numa relação icônica de leitura, que pode nos suscitar diversos
objetos, sugeridos por relação analógica com signos que remetem a medo, angústia, nojo,
sensualidade, etc., de acordo com a forma pela qual este signo se apresenta a nós.
Julio Plaza serve-se de uma metáfora usada por Jacques Derrida que nos será
muito útil para compreender as peculiaridades do ícone. Segundo Derrida, todo signo mantém
com seu objeto um movimento centrífugo e um movimento centrípeto, “isto é, que tende à
comunicação no primeiro caso, e à autopreservação concretiva no segundo” (PLAZA, 2003,
p. 22). O símbolo, considerado o signo mais completo da semiótica de Peirce − no sentido de
ter suas três partes (signo, objeto e interpretante
4
) muito claras e definidas − mantém com o
seu objeto um movimento fortemente centrífugo. Ou seja, imaginando o signo como o centro
desse movimento e o objeto a extremidade, a mensagem se desloca fortemente no sentido
signo/objeto. Diferentemente, o ícone tem uma grande força em si mesmo, deslocando o
movimento da mensagem de seu objeto para o próprio signo, para o centro.
3
De acordo com Peirce, objeto dinâmico designa as coisas como elas se encontram na realidade, enquanto que
objeto imediato é a representação desta realidade pelos signos. SANTAELLA, Lúcia. O que é Semiótica. São
Paulo: Brasiliense, 2004. p.59.
4
O interpretante é considerado a terceira parte do signo peirceano, em que a primeira é o próprio signo e a
segunda é o objeto. Interpretante é a referência sígnica que temos em nossa mente para entendermos outros
signos, disparando assim o processo de semiose, em que um signo remete a outro de forma infinita. COELHO
NETTO, J. Teixeira. Semiótica, Informação e Comunicação. São Paulo: Perspectiva, 2003. p.56