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A malária é uma doença infecciosa que ao lado da AIDS e da tuberculose, constituem as três
principais causas de mortalidade no mundo, sendo responsáveis por cerca de seis milhões de
mortes por ano. De acordo com a OMS, de 300 a 500 milhões de novos episódios de malária e
mais de dois milhões de mortes ocorrem por ano, principalmente entre crianças menores de cinco
anos na África sub-Sahariana. Devido à indisponibilidade de uma vacina viável contra a malária,
uma das principais estratégias para o controle da mesma tem sido o diagnóstico precoce e o
tratamento com antimaláricos seguros e eficazes. No entanto, a eficácia deste tratamento é
limitada pela emergência de cepas de Plasmódium falciparum (P. falciparum) resistentes aos
antimaláricos. Hoje, o conhecimento sobre a contribuição dos fatores genéticos do hospedeiro
envolvidos na resposta terapêutica das principais classes de antimaláricos é limitado. Contudo,
sabe-se que variações genéticas em genes humanos que codificam para enzimas envolvidas na
biotransformação de diferentes fármacos podem contribuir para diferenças interindividuais na
resposta terapêutica ou toxicidade a várias drogas, estando relacionadas aos desfechos de falha
terapêutica e efeitos adversos. As isoenzimas CYP2B6 e CYP2C8 humanas, ambas envolvidas na
metabolização de uma ampla variedade de fármacos, incluindo antimaláricos, são codificadas por
genes polimórficos, caracterizados por diferentes polimorfismos de base única (SNPs). Algumas
destas variantes caracterizam fenótipos de metabolização lenta e possivelmente estão envolvidas
na modulação do metabolismo dos antimaláricos. Considerando esta hipótese, este estudo teve
como objetivos: (i) análise descritiva das variantes alélicas nos genes CYP2B6 e CYP2C8 em
populações moçambicanas provenientes de três regiões distintas e (ii) obter as frequências
genotípicas e haplotípicas dos polimorfismos identificados. O estudo serviu igualmente para
fornecermos informações capazes de nortear futuros estudos de associação para avaliar o impacto
destes polimorfismos na eficácia terapêutica e/ou eventos adversos. Para atingir esses objetivos,
amostras de sangue de 360 doadores de sangue foram coletadas num cartão de filtro “FTA Classic
Cards” (Whatman) e genotipadas por PCR-RFLP. As frequências das variantes alélicas no
CYP2B6 foram 0,060 (64C>T), 0,426 (516G>T), 0,00 (777C>A), 0,41 (785A>G) e 0,004
(1459C>T), enquanto a frequência da variante selvagem foi de 0,183. Para o gene CYP2C8 as
frequências das variantes alélicas foram: 0,048, 0,005, 0,16 e 0,00 para as mutações 416G>A,
792C>G, 805A>T e 1196A>G, respectivamente. Não foram encontradas diferenças significativas
entre as frequências das mutações encontradas na variável gênero para os dois genes. Também
não foram encontradas diferenças significativas na distribuição das frequências genotípicas e
haplotípicas entre indivíduos das três regiões estudadas, mostrando uma distribuição homogênea
das mutações nas populações incluídas neste estudo. Nossos resultados mostram que os
polimorfismos presentes nos genes CYP2B6 e CYP2C8, sabidamente envolvidos na alteração do
metabolismo de uma variedade de drogas, ocorrem nas populações estudadas, corroborando os
resultados reportados em outros estudos realizados em populações africanas. Assim, fazem-se
necessários estudos de associação incluindo estes genes para um melhor entendimento sobre a
importância destes polimorfismos no tratamento da malária nestas populações.