Download PDF
ads:
FERRAMENTA COMPUTACIONAL PARA SIMULAÇÃO VIA
MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS DO COMPORTAMENTO
TERMOMECÂNICO TRIDIMENSIONAL DE ESTRUTURAS EM
SITUAÇÃO DE INCÊNDIO
José Carlos Lopes Ribeiro
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
ESCOLA DE ENGENHARIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE ESTRUTURAS
“FERRAMENTA COMPUTACIONAL PARA SIMULAÇÃO VIA
MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS DO COMPORTAMENTO
TERMOMECÂNICO TRIDIMENSIONAL DE ESTRUTURAS EM
SITUAÇÃO DE INCÊNDIO”
José Carlos Lopes Ribeiro
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Engenharia de Estruturas da Escola de Engenharia da
Universidade Federal de Minas Gerais, como parte
dos requisitos necessários à obtenção do título de
“Doutor em Engenharia de Estruturas”.
Comissão Examinadora:
__________________________________ __________________________________
Prof. Dr. Ricardo Hallal Fakury Prof. Dr. Estevam Barbosa de Las Casas
DEES – UFMG (Orientador) DEES – UFMG (Co-orientador)
__________________________________ __________________________________
Prof. Dr. Prof. Dr.
__________________________________ __________________________________
Prof. Dr. Prof. Dr.
Belo Horizonte, Novembro de 2009
ads:
“Depois de algum tempo, você aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer
mesmo a longas distâncias. E o que importa não é o que você tem na vida, mas quem
você tem na vida. E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher.
Você descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de
você muito depressa, por isso sempre devemos deixar as pessoas que amamos com
palavras amorosas; pode ser a última vez que as vejamos.
Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva, mas isso não te
dá o direito de ser cruel. Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você
quer que ame, não significa que esse alguém não o ama. Aprende que o tempo não é
algo que possa voltar para trás.
Portanto... plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe
traga flores. E você aprende que realmente pode suportar... que realmente é forte, e que
pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais. E que realmente a
vida tem valor e que você tem valor diante da vida! Nossas dúvidas são traidoras e nos
fazem perder o bem que poderíamos conquistar, se não fosse o medo de tentar.”
William Shakespeare
À memória do meu querido pai,
exemplo de honestidade e paciência.
À minha querida mãe,
exemplo de dedicação e carinho.
À minha querida Gisele,
por compreender amorosamente os
momentos que não pude estar ao seu lado.
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
Fernando Pessoa
iv
AGRADECIMENTOS
“Assim, minha alma vos louvará sem calar jamais.
Senhor, meus Deus, eu vos bendirei eternamente.”
Salmos 29, 13.
A Deus, acima de tudo.
Ao meu pai e à minha mãe, por terem me educado no caminho do bem e da verdade, e
por terem me ensinado os verdadeiros valores e a força do amor.
À Gisele, minha amiga, companheira, alegria dos meus dias, pela cumplicidade nos
momentos mais difíceis, pelo incentivo, apoio, amor e carinho desmedidos.
Ao Prof. Ricardo Hallal Fakury, pela imensa confiança em mim depositada, pela
amizade, apoio, dedicação e orientação competente ao longo de todo este trabalho.
Ao Prof. Estevam Barbosa de Las Casas, pela amizade, pelo apoio e discussões técnicas
e pela co-orientação imprescindível para realização deste trabalho.
Ao Dr. Eduardo de Souza Neto, pelas discussões e sugestões que engrandeceram este
trabalho e pelo código do programa HYPLAS, gentilmente cedido e fundamental no
desenvolvimento das análises não-lineares implementadas no trabalho.
Ao Vanderli, Cibele e Rodrigo, amigos verdadeiros, pela amizade, apoio, conselhos e
incentivo. Ao Gustavo e José Luiz, os mestres que me iniciaram nesta jornada.
A todos professores e funcionários do Departamento de Engenharia de Estruturas da
UFMG, pela atenção e disponibilidade sempre que foi necessário. E a todos que, direta
ou indiretamente, contribuíram para a realização deste trabalho.
À equipe do CIMNE (UPC), pelas licenças fornecidas do programa GID que
proporcionou extrema facilidade na modelagem e geração de malhas. E ao CBCA, pelo
apoio financeiro sem o qual seria impossível o desenvolvimento deste trabalho.
v
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO ................................................................................... 1
1.1 - GENERALIDADES..................................................................................................... 1
1.2 - OBJETIVOS .............................................................................................................. 5
1.3 - JUSTIFICATIVA DO TEMA ......................................................................................... 6
1.4 - ORGANIZAÇÃO DO TEXTO ....................................................................................... 7
CAPÍTULO 2 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA........................................................... 9
2.1 - GENERALIDADES..................................................................................................... 9
2.2 - CARACTERÍSTICAS DOS INCÊNDIOS ......................................................................... 9
2.2.1 - A curva do incêndio natural............................................................................. 9
2.2.2 - Curvas de incêndio nominais......................................................................... 11
2.2.3 - Curvas de incêndio paramétricas ................................................................... 12
2.2.4 - Curvas BFD ................................................................................................... 12
2.3 - ENSAIOS DE LABORATÓRIO ................................................................................... 15
2.3.1 - Generalidades................................................................................................. 15
2.3.2 - Ensaios-padrão de resistência ao fogo........................................................... 17
2.3.3 - Ensaios de elementos estruturais em fornos .................................................. 17
2.3.4 - Ensaios em escala real em Cardington .......................................................... 21
2.4 - VERIFICAÇÃO DE ELEMENTOS ESTRUTURAIS EM SITUAÇÃO DE INCÊNDIO ............. 24
2.4.1 - Obtenção da distribuição de temperatura....................................................... 25
2.4.2 - Propriedades mecânicas dos materiais em altas temperaturas....................... 27
2.5 - SIMULAÇÃO NUMÉRICA DO COMPORTAMENTO ESTRUTURAL EM INCÊNDIO........... 32
2.5.1 - Análise estrutural com não-linearidades geométrica e material .................... 32
2.5.2 - Análise térmica de estruturas em situação de incêndio ................................. 33
2.5.3 - Dimensionamento de estruturas em situação de incêndio ............................. 36
2.5.4 - Análise termomecânica de elementos estruturais .......................................... 39
2.5.5 - Comparação de resultados experimentais com análises numéricas............... 42
2.5.6 - Considerações finais ...................................................................................... 43
CAPÍTULO 3 - ANÁLISE TÉRMICA....................................................................... 44
3.1 - INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 44
3.2 - MECANISMOS DE TRANSFERÊNCIA DE CALOR........................................................ 44
3.2.1 - Condução ....................................................................................................... 45
3.2.2 - Convecção...................................................................................................... 49
vi
3.2.3 - Radiação......................................................................................................... 59
3.3 - PROBLEMAS DE DOMÍNIO SÓLIDO .......................................................................... 62
3.4 - APLICAÇÃO DO MEF À TRANSFERÊNCIA DE CALOR .............................................. 63
3.4.1 - Método dos Resíduos Ponderados ................................................................. 63
3.4.2 - Equações básicas do MEF ............................................................................. 64
3.4.3 - Formulação para o MEF da transmissão de calor.......................................... 66
3.4.4 - Problemas estacionários................................................................................. 69
3.4.5 - Problemas transientes .................................................................................... 69
3.4.6 - Resolução do sistema de equações lineares................................................... 75
CAPÍTULO 4 - ANÁLISE MECÂNICA.................................................................... 78
4.1 - INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 78
4.2 - FORMULAÇÃO DE ELEMENTOS FINITOS COM BASE EM DESLOCAMENTOS............... 79
4.2.1 - Variáveis nodais............................................................................................. 79
4.2.2 - Relação entre deformações e deslocamentos em análises com pequenas
deformações................................................................................................... 81
4.2.3 - Relação entre tensões e deformações em análises com linearidade
material .......................................................................................................... 82
4.2.4 - Princípio dos Trabalhos Virtuais ................................................................... 84
4.3 - ANÁLISE NÃO-LINEAR GEOMÉTRICA ..................................................................... 86
4.3.1 - Definição do gradiente de deformação .......................................................... 87
4.3.2 - Medidas de deformações ............................................................................... 89
4.3.3 - Medidas de tensões ........................................................................................ 91
4.3.4 - Formulação para Elementos Finitos .............................................................. 93
4.3.5 - Matriz de rigidez tangente espacial ............................................................... 95
4.3.6 - Funções isotrópicas de tensores simétricos ................................................... 99
4.3.7 - Solução não-linear - Método de Newton-Raphson...................................... 104
4.3.8 - Modelos constitutivos elásticos para análises em grandes deformações..... 109
4.4
- ANÁLISE NÃO-LINEAR MATERIAL........................................................................ 110
4.4.1 - Critérios de escoamento independentes da tensão média ............................ 110
4.4.2 - Critérios de escoamento dependentes da tensão média ............................... 114
4.4.3 - Regras de encruamento................................................................................ 121
4.4.4 - Regra de fluxo e potencial plástico.............................................................. 125
4.4.5 - Definição do problema incremental constitutivo elasto-plástico................. 126
4.4.6 - Adaptação do problema incremental ao critério de von Mises.................... 128
4.4.7 - Adaptação do problema incremental ao critério de Drucker-Prager ........... 133
4.4.8 - Adaptação do Método de Newton-Raphson à não-linearidade material ..... 142
4.5
- ANÁLISE INCREMENTAL ...................................................................................... 149
4.5.1 - Corte automático do incremento de carga ................................................... 151
4.5.2 - Procedimentos mais apurados de convergência........................................... 152
vii
CAPÍTULO 5 - ANÁLISE TERMOMECÂNICA E IMPLEMENTAÇÃO
COMPUTACIONAL ....................................................................................... 155
5.1 - INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 155
5.2 - PROCESSO DE SOLUÇÃO DO PROBLEMA TERMOMECÂNICO .................................. 156
5.2.1 - Cálculo das forças nodais devido às deformações térmicas ........................ 157
5.2.2 - Correção do incremento de deformações devido às deformações térmicas 158
5.2.3 - Cálculo de tensões na presença de deformações térmicas........................... 159
5.3 - VISÃO GERAL DO PROGRAMA THERSYS 2.0 .......................................................... 160
5.3.1 - Corte automático do incremento de tempo.................................................. 163
5.3.2 - Características do programa Thersys 2.0 ..................................................... 164
5.3.3 - Comunicação entre os programas Thersys 2.0 e GID.................................. 171
5.3.4 - Interface com o usuário................................................................................ 172
5.3.5 - Estruturação do programa Thersys 2.0 em classes ...................................... 182
CAPÍTULO 6 - ESTUDOS DE CASO E VALIDAÇÃO DO THERSYS 2.0......... 189
6.1 - GENERALIDADES................................................................................................. 189
6.2 - ANÁLISE TÉRMICA .............................................................................................. 192
6.2.1 - Pilar misto em perfil I totalmente revestido por concreto ........................... 192
6.3 - ANÁLISE MECÂNICA ........................................................................................... 194
6.3.1 - Flambagem de um pilar de aço em perfil I.................................................. 194
6.3.2 - Formação de rótula plástica em viga mista de aço e concreto..................... 201
6.3.3 - Viga de aço com alma senoidal sujeita à flexão.......................................... 206
6.4 - ANÁLISE TERMOMECÂNICA ................................................................................ 209
6.4.1 - Pilar de aço em perfil I com flexão no eixo de maior inércia...................... 209
6.4.2 - Pilar de aço em perfil I com flexão no eixo de menor inércia..................... 214
6.4.3 - Viga de aço com momentos fletores nas extremidades ............................... 218
6.4.4 - Viga de aço com alma senoidal sujeita à flexão.......................................... 221
6.4.5 - Pilar misto tubular preenchido com concreto .............................................. 227
6.4.6 - Viga mista de aço e concreto ....................................................................... 233
CAPÍTULO 7 - CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................... 241
7.1 - DISCUSSÃO E CONCLUSÕES ................................................................................. 241
7.2 - AVALIAÇÃO GLOBAL DO TRABALHO ................................................................... 247
7.3 - SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ............................................................. 248
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 250
viii
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 2.1 – Evolução da temperatura dos gases em um incêndio natural ................ 10
FIGURA 2.2 – Comparação entre a curva de incêndio-padrão e resultados de
ensaios ..................................................................................................................... 13
FIGURA 2.3 – Forno de ensaios do CTICM com as portas abertas e todos
queimadores trabalhando a plena potência, apenas para demonstração (fonte:
BARNNET, 1992)................................................................................................... 16
FIGURA 2.4 – Ensaio de uma viga mista no forno do Warrington Research Centre
(fonte: WAINMAN e KIRBY, 1988a).................................................................... 18
FIGURA 2.5 – Retirada da viga mista do forno após o ensaio (fonte: WAINMAN
e KIRBY, 1988a)..................................................................................................... 18
FIGURA 2.6 – Vista interna do forno mostrando o posicionamento dos termopares
na viga mista e o pilar indicativo no piso do forno (fonte: WAINMAN e
KIRBY, 1988a) ....................................................................................................... 19
FIGURA 2.7 – Forno do Warrington Research Centre para ensaios de pilares de
aço à compressão axial (fonte: WAINMAN e KIRBY, 1988a).............................. 20
FIGURA 2.8 – Ensaio de um pilar de aço à flexo-compressão no forno do CTICM
(fonte: BARNETT, 1992)........................................................................................ 21
FIGURA 2.9 – Edifício de estrutura mista utilizado nos ensaios em Cardington
(fonte: LAWSON, 2001)......................................................................................... 22
FIGURA 2.10 – Compartimento de escritório após o ensaio em Cardington (fonte:
LAWSON, 2001)..................................................................................................... 23
FIGURA 2.11 – Isotermas para um pilar de concreto de 300 mm x 300 mm (CEB) .... 25
FIGURA 2.12 – Fatores de redução para os aços estruturais ......................................... 28
FIGURA 2.13 – Fatores de redução para os concretos estruturais................................. 30
FIGURA 2.14 – Fatores de redução à tração para os concretos estruturais ................... 31
FIGURA 3.1 – Fluxo de calor em um elemento tridimensional infinitesimal ............... 46
FIGURA 3.2 – Formação da camada limite em um fluxo convectivo ........................... 52
FIGURA 3.3 – Resfriamento de uma placa quente horizontal com a face para baixo... 56
FIGURA 3.4 – Resfriamento de uma placa quente vertical ........................................... 56
ix
FIGURA 3.5 – Resfriamento de uma placa quente horizontal com a face para cima.... 57
FIGURA 3.6 – Variação do coeficiente de convecção com a inclinação da placa......... 58
FIGURA 3.7 – Emissividade total de uma mistura de 10% CO
2
, 10% H
2
O e 80% N
2
... 60
FIGURA 3.8 – Absortividade total de uma mistura de 10% CO
2
, 10% H
2
O e 80% N
2
.... 61
FIGURA 3.9 – Condições de contorno em um problema de domínio sólido................. 62
FIGURA 3.10 – Variação da temperatura no intervalo de tempo t.............................. 70
FIGURA 3.11 – Comparação da eficiência dos métodos de solução............................. 77
FIGURA 4.1 – Forças e deslocamentos nodais considerados em um elemento
finito tridimensional ................................................................................................ 80
FIGURA 4.2 – Vetores posição e movimento de um corpo sob deformação ................ 87
FIGURA 4.3 – Decomposição polar do gradiente de deformação................................. 88
FIGURA 4.4 – Iterações do Método de Newton-Raphson........................................... 104
FIGURA 4.5 – Método de Newton Raphson para pequenas deformações .................. 105
FIGURA 4.6 – Método de Newton-Raphson para grandes deformações..................... 106
FIGURA 4.7 – Critérios de escoamento de Tresca e von Mises .................................. 112
FIGURA 4.8 – Critérios de escoamento de Mohr-Coulomb e Drucker-Prager ........... 115
FIGURA 4.9 – Outros critérios de escoamento dependentes da tensão média ............ 118
FIGURA 4.10 – Curvas de falha e de fissuração para o concreto (Launay e Gachon
apud CHEN, 1988)................................................................................................ 120
FIGURA 4.11 – Regra de encruamento isotrópico....................................................... 121
FIGURA 4.12 – Regra de encruamento cinemático..................................................... 123
FIGURA 4.13 – Problema incremental constitutivo elasto-plástico ............................ 126
FIGURA 4.14 – Algoritmo implícito de integração das equações elasto-plásticas...... 127
FIGURA 4.15 – Algoritmo de integração implícito para o critério de von Mises ....... 129
FIGURA 4.16 – Algoritmo de Newton-Raphson para solução da equação de
retorno para o critério de von Mises...................................................................... 130
FIGURA 4.17 – Esquema de integração implícito para o critério de von Mises ......... 131
FIGURA 4.18 – Relação constitutiva tangente consistente para von Mises ................ 132
FIGURA 4.19 – Esquemas de integração implícitos para o critério de Drucker-
Prager..................................................................................................................... 135
FIGURA 4.20 – Seleção do algoritmo de retorno para o critério de Drucker-Prager .. 136
x
FIGURA 4.21 – Algoritmo de integração implícito para o critério de Drucker-
Prager..................................................................................................................... 137
FIGURA 4.22 – Algoritmo de retorno univetorial à superfície do cone de Drucker-
Prager..................................................................................................................... 138
FIGURA 4.23 – Algoritmo de retorno bivetorial ao ápice do cone de Drucker-
Prager..................................................................................................................... 139
FIGURA 4.24 – Relação constitutiva tangente consistente para Drucker-Prager........ 140
FIGURA 4.25 – Tangente consistente com o algoritmo de retorno à superfície do
cone ....................................................................................................................... 141
FIGURA 4.26 – Tangente consistente com o algoritmo de retorno ao ápice do cone . 141
FIGURA 4.27 – Método de Newton-Raphson para elasto-plasticidade em
pequenas deformações........................................................................................... 142
FIGURA 4.28 – Problema incremental finito elasto-plástico....................................... 145
FIGURA 4.29 – Método de Newton-Raphson para elasto-plasticidade em grandes
deformações........................................................................................................... 147
FIGURA 4.30 – Algoritmo incremental-iterativo com incrementos fixos e corte
automático dos incrementos de carga.................................................................... 150
FIGURA 4.31 – Método de comprimento de arco esférico para um sistema com
um grau de liberdade ............................................................................................. 154
FIGURA 5.1 – Algoritmo macro do programa Thersys 2.0......................................... 161
FIGURA 5.2 – Tipos de forças distribuídas em superfícies......................................... 168
FIGURA 5.3 – Interação entre o Thersys 2.0 e o GID por meio do problem type....... 171
FIGURA 5.4 – Tela de abertura do programa Thersys 2.0........................................... 172
FIGURA 5.5 – Tela principal do GID com o menu Thersys........................................ 173
FIGURA 5.6 – Tela de entrada dos dados gerais da análise......................................... 173
FIGURA 5.7 – Tela de configuração da análise mecânica........................................... 174
FIGURA 5.8 – Tela de configuração da análise térmica.............................................. 175
FIGURA 5.9 – Tela de seleção da curva de incêndio................................................... 175
FIGURA 5.10 – Tela de seleção dos materiais............................................................. 176
FIGURA 5.11 – Tela de ajuste do modelo de Drucker-Prager..................................... 176
FIGURA 5.12 – Tela de edição das propriedades dos materiais.................................. 177
FIGURA 5.13 – Tela de definição das restrições nodais.............................................. 178
xi
FIGURA 5.14 – Tela de definição dos carregamentos nodais ..................................... 178
FIGURA 5.15 – Tela de definição dos carregamentos distribuídos............................. 178
FIGURA 5.16 – Telas de definição das condições de contorno térmicas .................... 179
FIGURA 5.17 – Tela de seleção dos resultados gerais................................................. 180
FIGURA 5.18 – Tela de seleção de um resultado específico ....................................... 180
FIGURA 5.19 – Tela de monitoramento da análise ..................................................... 181
FIGURA 5.20 – Relações funcionais entre as classes que compõem o Thersys 2.0.... 182
FIGURA 5.21 – Classe TFEShape e classes derivadas................................................ 184
FIGURA 5.22 – Classe TLBMaterial e classes derivadas............................................ 185
FIGURA 5.23 – Classe TFire e classes derivadas........................................................ 186
FIGURA 5.24 – Classe TSolver e classes derivadas .................................................... 187
FIGURA 5.25 – Classe TModel e classes derivadas .................................................... 187
FIGURA 5.26 – Classe TIsoFunc e classes derivadas.................................................. 188
FIGURA 6.1 – Dimensões e discretização do pilar misto............................................ 192
FIGURA 6.2 – Temperaturas obtidas na análise térmica (420 minutos)...................... 193
FIGURA 6.3 – Comparação das temperaturas entre o Thersys 2.0 e o ensaio............. 193
FIGURA 6.4 – Dimensões e discretização do pilar de aço bi-apoiado ........................ 194
FIGURA 6.5 – Resultados da flambagem elástica (pilar bi-apoiado) .......................... 195
FIGURA 6.6 – Comparação dos deslocamentos no centro do vão (flambagem
elástica do pilar bi-apoiado) .................................................................................. 196
FIGURA 6.7 – Resultados da flambagem elasto-plástica (pilar bi-apoiado) ............... 197
FIGURA 6.8 – Comparação dos deslocamentos no centro do vão (flambagem
elasto-plástica do pilar bi-apoiado) ....................................................................... 197
FIGURA 6.9 – Comportamento puramente plástico (rótula plástica).......................... 198
FIGURA 6.10 – Dimensões e discretização do pilar de aço engastado-livre............... 199
FIGURA 6.11 – Comparação dos deslocamentos na extremidade livre (flambagem
elástica do pilar engastado-livre)........................................................................... 199
FIGURA 6.12 – Resultados da flambagem elástica (pilar engastado-livre)................. 200
FIGURA 6.13 – Dimensões e carregamento do modelo de viga mista........................ 201
FIGURA 6.14 – Discretização do modelo de viga mista ............................................. 202
FIGURA 6.15 – Deslocamentos obtidos na análise da viga mista ............................... 203
FIGURA 6.16 – Resultados obtidos na análise da viga mista (DP1) ........................... 204
xii
FIGURA 6.17 – Resultados obtidos na análise da viga mista (DP2) ........................... 204
FIGURA 6.18 – Resultados obtidos na análise da viga mista (DP3) ........................... 205
FIGURA 6.19 – Resultados obtidos na análise da viga mista (DP4) ........................... 205
FIGURA 6.20 – Dimensões da viga de aço com alma senoidal................................... 206
FIGURA 6.21 – Discretização do modelo da viga de aço com alma senoidal............. 207
FIGURA 6.22 – Resultados obtidos na análise da viga com alma senoidal................. 207
FIGURA 6.23 – Deslocamentos obtidos na análise da viga com alma senoidal.......... 208
FIGURA 6.24 – Dimensões e discretização do pilar de aço ........................................ 209
FIGURA 6.25 – Resultados do pilar de aço (3 faces expostas).................................... 210
FIGURA 6.26 – Deslocamento horizontal no meio do comprimento (3 faces
expostas)................................................................................................................ 211
FIGURA 6.27 – Resultados do pilar de aço (4 faces expostas).................................... 212
FIGURA 6.28 – Deslocamento horizontal no meio do comprimento (4 faces
expostas)................................................................................................................ 213
FIGURA 6.29 – Dimensões e discretização do pilar de aço ........................................ 214
FIGURA 6.30 – Resultados do pilar de aço (
ε
res
= 0,5) ............................................... 215
FIGURA 6.31 – Resultados do pilar de aço (
ε
res
= 0,7) ............................................... 215
FIGURA 6.32 – Deslocamentos obtidos na análise do pilar de aço (
ε
res
= 0,5)........... 216
FIGURA 6.33 – Deslocamentos obtidos na análise do pilar de aço (
ε
res
= 0,7)........... 216
FIGURA 6.34 – Temperaturas na metade do comprimento (
ε
res
= 0,5)....................... 217
FIGURA 6.35 – Dimensões da viga de aço analisada.................................................. 218
FIGURA 6.36 – Discretização e condições de contorno da viga de aço...................... 218
FIGURA 6.37 – Resultados da análise da viga de aço ................................................. 219
FIGURA 6.38 – Deslocamento vertical no centro do vão............................................ 220
FIGURA 6.39 – Dimensões da viga de aço com alma senoidal................................... 221
FIGURA 6.40 – Discretização do modelo da viga de aço com alma senoidal............. 222
FIGURA 6.41 – Resultados da viga com alma senoidal sem revestimento térmico
(SR) ....................................................................................................................... 223
FIGURA 6.42 – Resultados da viga com alma senoidal e com 12 mm de Blaze
Shield II na alma do perfil (BS12) ........................................................................ 224
FIGURA 6.43 – Resultados da viga com alma senoidal e com 25 mm de Blaze
Shield II na alma do perfil (BS25) ........................................................................ 225
xiii
FIGURA 6.44 – Deslocamento vertical no meio do vão da viga com alma senoidal .. 226
FIGURA 6.45 – Dimensões do pilar misto tubular preenchido com concreto............. 227
FIGURA 6.46 – Discretização do modelo do pilar misto tubular ................................ 228
FIGURA 6.47 – Resultados obtidos na análise do pilar misto (DP1) .......................... 229
FIGURA 6.48 – Resultados obtidos na análise do pilar misto (DP2) .......................... 229
FIGURA 6.49 – Resultados obtidos na análise do pilar misto (DP3) .......................... 230
FIGURA 6.50 – Resultados obtidos na análise do pilar misto (DP4) .......................... 230
FIGURA 6.51 – Deslocamentos na metade do comprimento do pilar misto ............... 231
FIGURA 6.52 – Comparativo de resultados (adaptado de RIBEIRO et al., 2008)...... 232
FIGURA 6.53 – Dimensões e carregamento do modelo de viga mista........................ 233
FIGURA 6.54 – Discretização do modelo de viga mista ............................................. 234
FIGURA 6.55 – Resultados obtidos na análise da viga mista (DP1) ........................... 235
FIGURA 6.56 – Resultados obtidos na análise da viga mista (DP2) ........................... 236
FIGURA 6.57 – Resultados obtidos na análise da viga mista (DP3) ........................... 237
FIGURA 6.58 – Resultados obtidos na análise da viga mista (DP4) ........................... 238
FIGURA 6.59 – Deslocamentos no meio do vão da viga mista................................... 239
xiv
LISTA DE TABELAS
TABELA 1.1 – Número de incêndios por ano em edificações no Estado de São
Paulo (SEITO et al., 2008)........................................................................................ 2
TABELA 1.2 – Estatísticas do Corpo de Bombeiros do Estado de SP, E.U.A. e
Reino Unido (SEITO et al., 2008) ............................................................................ 3
TABELA 1.3 – Causas possíveis de incêndios no Estado de São Paulo no ano de
2006 (SEITO et al., 2008)......................................................................................... 4
TABELA 2.1 – Valores de
θ
m
, t
m
e s
c
utilizados na expressão de BARNETT
(2002a)..................................................................................................................... 14
TABELA 2.2 – Fatores de redução para os aços estruturais .......................................... 27
TABELA 2.3 – Fatores de redução para os concretos estruturais.................................. 29
TABELA 3.1 – Expressões para obtenção das propriedades térmicas do ar
atmosférico .............................................................................................................. 53
TABELA 3.2 – Obtenção do número de Nusselt ........................................................... 54
TABELA 3.3 – Coeficientes de convecção ajustados por minimização do erro............ 57
TABELA 4.1 – Tipos de análise quanto à variação da geometria.................................. 86
TABELA 5.1 – Elementos finitos previstos pelo Thersys 2.0...................................... 167
TABELA 6.1 – Convenção de símbolos adotada nas figuras....................................... 191
TABELA 6.2 – Tempo de resistência ao incêndio para o pilar de aço......................... 213
TABELA 6.3 – Comparação do tempo de resistência ao incêndio .............................. 217
TABELA 6.4 – Comparação do tempo de resistência ao incêndio .............................. 220
xv
LISTA DE SÍMBOLOS
Letras romanas minúsculas
c calor específico, coesão do material segundo o critério de Mohr-Coulomb
f
ay
resistência ao escoamento do aço estrutural laminado
f
c
resistência à compressão uniaxial do concreto
f
sy
resistência ao escoamento do aço estrutural trefilado
f
t
resistência à tração uniaxial do concreto
g aceleração da gravidade (9,81 m/s
2
)
k
c,
θ
coeficiente de redução da resistência à compressão uniaxial do concreto com a
temperatura
k
E,
θ
coeficiente de redução do módulo de Young do aço laminado com a temperatura
k
Ec,
θ
coeficiente de redução do módulo de Young do concreto com a temperatura
k
sE,
θ
coeficiente de redução do módulo de Young do aço trefilado com a temperatura
k
sy,
θ
coeficiente de redução da resistência ao escoamento do aço trefilado com a
temperatura
k
t,
θ
coeficiente de redução da resistência à tração uniaxial do concreto com a
temperatura
k
y,
θ
coeficiente de redução da resistência ao escoamento do aço laminado com a
temperatura
p tensão hidrostática
q fluxo de calor (quantidade de calor por unidade de área e por unidade de tempo)
t tempo decorrido desde a ignição do incêndio
u/A fator de massividade (relação entre o perímetro da seção transversal exposto ao
incêndio e a sua respectiva área)
Letras romanas maiúsculas
A área
E
a
módulo de Young do aço estrutural laminado
xvi
E
c
módulo de Young do concreto
E
c,sec,
θ
módulo secante do concreto em alta temperatura
E
s
módulo de Young do aço estrutural trefilado
E
t
módulo tangente do material (em regime elasto-plástico)
G módulo de cisalhamento
I
1
primeiro invariante do tensor de tensões
I
2
segundo invariante do tensor de tensões
I
3
terceiro invariante do tensor de tensões
J
2
segundo invariante do tensor de tensões desviadoras
J
3
terceiro invariante do tensor de tensões desviadoras
K módulo de elasticidade volumétrico
L comprimento de um elemento estrutural, comprimento característico (dimensão
sobre a qual se desenvolvem as correntes de convecção)
M momento fletor aplicado no elemento estrutural
M
pl
momento fletor correspondente à plastificação da seção transversal
N força axial de compressão aplicada no elemento estrutural
N
fe
força axial de compressão correspondente à flambagem teórica de Euler
N
y
força axial de compressão correspondente à plastificação da seção transversal
R
2
medida do grau de proximidade de uma regressão em relação aos dados reais
Letras romanas minúsculas em negrito
a matriz completa do módulo tangente espacial consistente
f
ext
vetor das forças externas
f
int
vetor das forças internas (devido às tensões internas)
f vetor de fluxos nodais equivalentes
i representação vetorial do tensor identidade de segunda ordem
r vetor das forças residuais
s vetor de tensões desviadoras
u vetor de deslocamentos nodais
xvii
Letras romanas maiúsculas em negrito
B operador gradiente discreto (para pequenas deformações), tensor de deformação
de Cauchy-Green pela esquerda
C tensor de deformação de Cauchy-Green pela direita
D matriz de condutividade térmica, matriz da relação constitutiva
D
e
matriz da relação constitutiva elástica
D
ep
matriz da relação constitutiva elasto-plástica
F gradiente de deformação
F
gradiente de deformação incremental
G operador gradiente espacial completo (para grandes deformações)
I
S
representação matricial do tensor identidade simétrico de quarta ordem
J matriz Jacobiana da transformação de coordenadas
K matriz de rigidez térmica, matriz de rigidez mecânica
K
T
matriz de rigidez tangente espacial
M matriz de massa
N vetor das funções de forma, vetor de fluxo plástico
U tensor de mudança de forma pela direita
V tensor de mudança de forma pela esquerda
Letras gregas minúsculas
α
coeficiente combinado de transmissão de calor por convecção e radiação,
difusividade térmica, coeficiente de dilatação térmica
α
c
coeficiente de convecção (W/m
2
ºC)
α
r
coeficiente de transmissão de calor por radiação
β
esquema de integração temporal
gradiente, derivada
ε
cu,
θ
deformação correspondente à resistência à compressão uniaxial do concreto em
alta temperatura
ε
p
deformação plástica acumulada
ε
res
emissividade resultante de uma superfície
ε
th
deformação térmica (m/m)
xviii
φ
inclinação da normal da superfície em relação ao vetor da gravidade g, ângulo de
atrito interno do material segundo o critério de Mohr-Coulomb
λ
condutividade térmica, fator de carga
ν
viscosidade cinemática, coeficiente de Poisson
θ
temperatura do material, terceira coordenada de Haigh-Westergaard
θ
0
temperatura ambiente inicial, geralmente adotada igual a 20ºC
θ
a
temperatura do aço
θ
c
temperatura do concreto
θ
f
,
θ
g
temperatura do fluido (gases quentes oriundos do incêndio)
θ
s
temperatura em um ponto qualquer do sólido
ρ
densidade (massa por unidade de volume)
ξ
tolerância dos algoritmos iterativos de resolução de sistema de equações
ξ
abs
tolerância do método iterativo simples em valor absoluto da variável
considerada como critério de convergência
ξ
perc
tolerância do método iterativo simples em termos de porcentagem da norma da
variável considerada como critério de convergência
ξ
tol
tolerância do método de Newton-Raphson em termos de porcentagem da norma
da variável considerada como critério de convergência
Letras gregas maiúsculas
operador diferencial (gradiente)
variação, incremento
γ
multiplicador plástico
t incremento de tempo
Φ função matemática do critério de escoamento
Γ
x
contorno do corpo sólido com uma condição de contorno x qualquer especificada
domínio do corpo sólido
Ψ função de potencial plástico
xix
Letras gregas minúsculas em negrito
δ delta de Kronecker
ε
vetor de deformações quaisquer, vetor de deformações totais
d
ε vetor de deformações desviadoras
e
ε
vetor de deformações elásticas
p
ε vetor de deformações plásticas
th
ε vetor de deformações térmicas
vol
ε vetor de deformações volumétricas
σ
vetor de tensões de Cauchy
τ vetor de tensões de Kirchhoff
xx
RESUMO
RIBEIRO, J. C. L. Ferramenta computacional para simulação via Método dos
Elementos Finitos do comportamento termomecânico tridimensional de estruturas
em situação de incêndio. Tese de Doutorado. 259p. Programa de Pós-Graduação em
Engenharia de Estruturas, Escola de Engenharia, Universidade Federal de Minas
Gerais. Belo Horizonte, 2009.
Nos últimos anos, vários países têm se preocupado com a análise e o projeto de
estruturas metálicas e mistas em situação de incêndio. No Brasil, a norma ABNT NBR
14323:1999, relacionada às estruturas de aço e estruturas mistas de aço e concreto,
encontra-se atualmente em processo de revisão. O texto-base de revisão dessa norma,
fundamentado principalmente em pesquisas e normas européias (EN 1992-1-2:2004,
EN 1993-1-2:2005 e EN 1994-1-2:2005), permite o dimensionamento de estruturas
metálicas e mistas em situação de incêndio por meio de resultados de ensaios, de
métodos avançados de análise estrutural e térmica e de métodos simplificados.
Considerando-se o conservadorismo intrínseco dos métodos simplificados, os elevados
custos envolvidos na realização de ensaios e a rara disponibilidade de programas de
computador amigáveis que permitam o uso de análises avançadas, o presente trabalho
tem por objetivo o desenvolvimento de uma ferramenta computacional para simulação
do comportamento de elementos estruturais em situação de incêndio via análise
termomecânica transiente e não-linear de modelos tridimensionais, com base no Método
dos Elementos Finitos. Vários exemplos de elementos estruturais de aço e mistos foram
modelados e os resultados obtidos foram comparados e avaliados criticamente face a
resultados de procedimentos de normas européias e de valores provenientes de literatura
especializada. A ferramenta desenvolvida neste trabalho se mostrou capaz de realizar
análises avançadas e de fornecer subsídios para avaliação dos métodos simplificados
propostos em normas, de modo que esses métodos possam ser melhorados e otimizados.
Palavras-chave: análise termomecânica, segurança contra incêndio, Método dos
Elementos Finitos, estruturas metálicas, estruturas mistas.
xxi
ABSTRACT
RIBEIRO, J. C. L. Computational program for Finite Element Method simulation of
thermomechanical behavior of three-dimensional structures in fire condition.
Doctoral Thesis. 259p. Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Estruturas,
Escola de Engenharia, Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2009.
The last years in world, many countries have concerned about analysis and design of
structures exposed to fire. In Brazil, the code ABNT NBR 14323:1999 – dealing with
steel and composite structures – is currently being reviewed. The review proposal text
for this norm has its basis on European research works and standards (EN 1992-1-
2:2004, EN 1993-1-2:2005 and EN 1994-1-2:2005). This norm presents procedures for
designing steel and composite structures in fire condition by test results, advanced
methods of structural and thermal analyses and simplified methods. Considering the
intrinsic conservatism of the simplified methods, the high costs in testing and the
difficulty in having access to computer friendly software that permits advanced analysis,
this work had as objective to develop a computer software for simulation of structural
behavior under fire condition by transient and nonlinear three-dimensional
thermomechanical analysis, based on the Finite Element Method. Several examples of
steel and composite structural elements were analyzed. The obtained results were
compared and critically evaluated considering the procedures of European standards and
results from the technical literature. The computer software proved to be a powerful tool
doing advanced nonlinear analysis and providing means of validation for the simplified
methods proposed in standards in order to improve and optimize them.
Key words: thermomechanical analysis, fire safety, Finite Element Method, steel
structures, composite structures.
CAPÍTULO 1 - Introdução
1
INTRODUÇÃO
1.1 - Generalidades
De forma cada vez mais intensa, vários países, em especial os desenvolvidos, têm se
preocupado em estabelecer regras e procedimentos mais avançados e realísticos para
garantir a segurança das edificações em situação de incêndio. Essa preocupação advém
da necessidade de se minimizar o risco à vida e reduzir a perda patrimonial,
conseqüências potenciais de um incêndio.
O risco à vida humana provém da exposição severa dos usuários da edificação à fumaça
ou ao calor e do eventual desabamento de elementos construtivos sobre os usuários ou
sobre a equipe de combate ao incêndio. A perda patrimonial se deve à destruição parcial
ou total da edificação provocada pelo incêndio, dos estoques, documentos,
equipamentos e acabamentos da edificação.
A segurança contra incêndio consiste da combinação de sistemas de proteção ativos
(detecção de calor ou fumaça, chuveiros automáticos, corpo de bombeiros, entre outros)
e passivos (resistência ao fogo das estruturas, compartimentação, saídas de emergência
2
e outros). Esses sistemas devem garantir a fuga dos ocupantes da edificação, minimizar
os danos à própria edificação, às edificações adjacentes e à infra-estrutura pública, e
ainda a segurança das operações de combate ao incêndio. O foco do presente trabalho
situa-se no estudo da resistência ao fogo de elementos estruturais e subsistemas de aço e
mistos de aço e concreto.
Todos os países têm aprendido com os grandes incêndios e com o Brasil não foi
diferente. A urbanização alucinante dos grandes centros provocou um aumento brutal do
risco desse tipo de sinistro. Em São Paulo, esse fato culminou com os incêndios dos
edifícios Andraus e Joelma, com um grande número de vítimas, não apenas as que
morreram, mas também as pessoas envolvidas diretamente nesses incêndios que tiveram
suas vidas afetadas, causando várias mudanças comportamentais e traumas psicológicos
pós-incêndio. Indiretamente, toda a população brasileira foi afetada, pois a televisão
apresentou ao vivo essas tragédias (SEITO et al., 2008).
Outras tragédias seguiram-se no país, com vítimas nas cidades do Rio de Janeiro e de
Porto Alegre, entre outras. Essas tragédias provocaram mudanças na legislação, nas
corporações de bombeiros, nos institutos de pesquisa e, principalmente, foi iniciado um
processo de formação de técnicos e pesquisadores preocupados com essa área do
conhecimento.
Para se ilustrar a importância desse tema, pode-se observar na TAB.1.1 o crescimento
das estatísticas do número de incêndios por ano em edificações no Estado de São Paulo,
segundo levantamento feito pelo Corpo de Bombeiros (SEITO et al., 2008).
TABELA 1.1 – Número de incêndios por ano em edificações no
Estado de São Paulo (SEITO et al., 2008)
Tipo de
edificação
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997
Residencial 5342 5670 4930 4894 5729 6183 6352 6833
Comercial 1654 1600 901 1517 1674 1780 1687 1884
Industrial 1020 1071 1586 850 1041 1077 993 1006
Total 8016 8341 7417 7261 8444 9040 9032 9723
3
O Brasil ainda carece de uma centralização das estatísticas de incêndio, sendo que a
maioria dos dados é obtida de modo fragmentado, por meio de cada Corpo de
Bombeiros da Federação. Por esse mesmo motivo, não há uma terminologia
padronizada para apresentação das estatísticas entre os Corpos de Bombeiros, sendo
difícil fazer comparações.
Com relação ao número de óbitos por incêndio, a TAB.1.2 mostra resumidamente a
comparação entre as estatísticas do Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo,
E.U.A. e Reino Unido. Nessa tabela pode-se observar que a situação no Brasil em 2003
era mais grave que a situação nos E.U.A e Reino Unido em 1995. Em outras palavras,
fica evidente a pouca importância e o tratamento tardio que foram dados à segurança
contra incêndio no Brasil.
TABELA 1.2 – Estatísticas do Corpo de Bombeiros do Estado de SP,
E.U.A. e Reino Unido (SEITO et al., 2008)
Local
Total de
incêndios
Óbitos
Risco de óbito/
1000 incêndios
Observações
Estado de SP 7156 76 10,6 Ano base 2003
Reino Unido 68376 549 8,1 Ano base 1995
E.U.A. 425500 3695 8,7 Ano base 1995
E.U.A. 379900 1440 3,8 Ano base 1997
Ainda de acordo com as estatísticas do Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo, no
ano de 2004 ocorreram 37.975 incêndios de diferentes proporções somente no Estado de
São Paulo, sendo que em cerca de metade deles não foi possível determinar a causa real.
Nos demais casos, as instalações elétricas inadequadas, que acabam causando curtos-
circuitos e sobrecargas, só ficam atrás dos “atos incendiários” provocados por
vandalismo ou doença mental.
A TAB.1.3 mostra o percentual aproximado das causas possíveis de incêndios no
Estado de São Paulo no ano de 2006. Deve-se atentar para o fato de que os incêndios
relatados nessa tabela, bem como no parágrafo anterior, incluem todos os incêndios para
os quais o Corpo de Bombeiros foi acionado, ou seja, considerando incêndios em
edificações residenciais, comerciais e industriais e incêndios florestais.
4
TABELA 1.3 – Causas possíveis de incêndios no Estado de São Paulo
no ano de 2006 (SEITO et al., 2008)
Causa Possível Incêndios Percentual
Ato incendiário 13653 27,0 %
Instalações elétricas inadequadas 3677 7,3 %
Displicência ao cozinhar 1059 2,0 %
Prática de ações criminosas 966 1,9 %
Ignição espontânea 909 1,8 %
Brincadeira de crianças 705 1,4 %
Displicência de fumantes com pontas de cigarro/fósforo 696 1,3 %
Superaquecimento de equipamento 591 1,2 %
Outras causas 26652 52,7 %
Nos últimos anos no Brasil, com o crescimento do número de incêndios mostrado nas
estatísticas, houve um aumento significativo do interesse pela análise e projeto de
estruturas metálicas e mistas em situação de incêndio. Dessa forma, a partir de
pesquisas realizadas em algumas universidades, entre elas a UFMG, a USP e a UFOP,
desenvolveu-se uma norma sobre esse assunto, a ABNT NBR 14323:1999.
Atualmente, a ABNT NBR 14323:1999 se encontra em processo de revisão. Uma
comissão formada por pesquisadores de renomadas universidades brasileiras e por
profissionais de conceituadas empresas e entidades representativas elaborou o texto-
base de revisão dessa norma, tornado público em agosto de 2003 e atualmente em fase
de ajustes para ser submetido à apreciação da Comissão de Estudos do Comitê
Brasileiro de Construção Civil da ABNT (CB-02).
O texto-base de revisão da ABNT NBR 14323:1999, que será tratado neste trabalho
como PR-NBR 14323:2003, é fundamentado principalmente em pesquisas e normas
européias (EN 1992-1-2:2004, EN 1993-1-2:2005 e EN 1994-1-2:2005) e permite o
dimensionamento de estruturas metálicas e mistas em situação de incêndio por meio de
resultados de ensaios, de métodos avançados de análise estrutural e térmica e de
métodos simplificados.
A realização de ensaios para situações específicas raramente é feita na prática, tendo em
vista a necessidade de laboratórios altamente especializados e os altos custos
envolvidos. O uso de um método avançado de análise estrutural e térmica, no qual os
princípios da engenharia de incêndio são aplicados de maneira realística a situações
5
específicas, também dificilmente ocorre, pois exige estudos complexos e programas de
computador sofisticados, raramente disponíveis, de custo elevado e de manuseio pouco
amigável. Nessas circunstâncias, normalmente se opta pelo emprego de métodos
simplificados, que se resumem na interpretação de tabelas ou no uso de procedimentos
analíticos elementares, considerando os elementos estruturais isolados e com
distribuição de temperatura pouco precisa, o que geralmente conduz a resultados
conservadores e, portanto, contrários à economia.
Nesse contexto, este trabalho foi dedicado ao dimensionamento de estruturas de aço e
mistas usando-se um método avançado de análise estrutural e térmica. Foi implementado
um programa de computador com base no Método dos Elementos Finitos, com
elementos tridimensionais, para simulação do comportamento de elementos estruturais
de aço e mistos em situação de incêndio. Procurou-se validar a ferramenta computacional
desenvolvida por meio de comparações com métodos de dimensionamento analítico já
consolidados, com resultados experimentais constantes em literatura especializada e
com outros métodos apresentados nas normas européias utilizadas como base para o
PR-NBR 14323:2003 (EN 1992-1-2:2004, EN 1993-1-2:2005 e EN 1994-1-2:2005).
1.2 - Objetivos
Este trabalho tem por objetivo a implementação de um algoritmo com base no Método
dos Elementos Finitos para análise termomecânica acoplada de estruturas
tridimensionais de aço e mistas de aço e concreto em situação de incêndio, tornando
possível:
obter a distribuição de temperatura, tensões e deformações em qualquer ponto de
um elemento estrutural sob efeito de uma variação térmica, com ou sem material
de revestimento contra fogo;
analisar o comportamento de elementos e subsistemas estruturais em situação de
incêndio, sob regime de grandes deslocamentos e grandes deformações;
obter a capacidade resistente de elementos isolados ou de subsistemas
estruturais, buscando substituir os onerosos ensaios realizados em fornos;
verificar a capacidade de isolamento térmico de elementos de
compartimentação.
6
1.3 - Justificativa do tema
Em pesquisas no nível de mestrado, realizadas na própria UFMG, FIGUEIREDO
JÚNIOR (2002) e RIBEIRO (2004) demonstraram que o uso do Método dos Elementos
Finitos na análise térmica de estruturas submetidas à condição de incêndio conduz a
resultados muito bons, semelhantes aos obtidos em ensaios de laboratório.
Internacionalmente, entre diversos outros pesquisadores, VILA REAL (1988 e 1993)
utilizou o Método dos Elementos Finitos na análise termomecânica de sólidos obtendo
também bons resultados. Foster e seus colaboradores (FOSTER et al., 2004), por meio
do programa Vulcan, com base no Método dos Elementos Finitos, obtiveram resultados
numéricos muito próximos dos valores obtidos em ensaios de incêndio.
Adicionalmente, JOHANSSON e GYLLTOFT (2001) mostraram que a simulação
numérica de pilares mistos em situação de incêndio, por meio do programa Abaqus,
conduz a resultados muito precisos, quando comparados com ensaios experimentais.
No Brasil, LANDESMANN (2003) e CALDAS (2008) demonstraram que o uso da
análise termomecânica permite simular com boa precisão o comportamento das
estruturas aporticadas em situação de incêndio.
Como se pode observar, o Método dos Elementos Finitos é uma ferramenta poderosa
para simulação do comportamento das estruturas, tanto a temperatura ambiente quanto
em situação de incêndio, fornecendo bons resultados, próximos dos observados em
ensaios.
No entanto, observa-se que a grande maioria dos pesquisadores tem trabalhado com
programas que utilizam elementos do tipo viga-pilar, como se pode constatar mais
adiante no subitem 2.5. Esses programas são mais rápidos e mais fáceis de ser
utilizados, mas envolvem várias simplificações para modelagem do comportamento
mecânico e para determinação da distribuição de temperatura na seção transversal dos
elementos. Alguns poucos programas, geralmente comerciais, permitem a modelagem
de uma estrutura com elementos tridimensionais tetraédricos e hexaédricos, entretanto,
são de uso difícil e exigem um grande esforço para modelagem do problema em
7
situação de incêndio, por não serem desenvolvidos especificamente para tal tipo de
análise.
O tema deste trabalho tem sua relevância calcada na importância de se ter um método
avançado para simulação do comportamento de elementos isolados e de subsistemas
estruturais de aço e mistos, no campo tridimensional, e ainda, de se ter uma ferramenta
computacional de uso simples, especialmente desenvolvida para este tipo de análise e
com facilidade para posterior evolução do código em face às pesquisas futuras.
Salienta-se que este trabalho busca viabilizar, a custos reduzidíssimos, um número
bastante grande de simulações, permitindo inclusive a avaliação dos atuais
procedimentos de cálculo das normas nacionais e internacionais e o desenvolvimento de
novos métodos simplificados de cálculo.
Sendo totalmente produzido no Brasil, este trabalho terá possibilidade de ser
posteriormente ampliado, permitindo o desenvolvimento de novas frentes de pesquisa.
1.4 - Organização do texto
Na estruturação do presente trabalho, o capítulo 2 apresenta a revisão bibliográfica,
focada em informações sobre várias curvas de incêndios (nominais e paramétricas), nos
conceitos envolvidos nos ensaios de laboratório para simulação do comportamento de
elementos estruturais em situação de incêndio e nas considerações das normas EN 1992-
1-2:2004, EN 1993-1-2:2005 e EN 1994-1-2:2005 para verificação da resistência de
elementos estruturais em situação de incêndio. Ao final, são mostrados alguns dos
trabalhos mais importantes desenvolvidos na área de Engenharia de Segurança Contra
Incêndio.
No capítulo 3 são apresentados os conceitos básicos dos principais mecanismos de
transferência de calor: condução, convecção e radiação, bem como o desenvolvimento
teórico da formulação para análise térmica via Método dos Elementos Finitos de
problemas de domínios sólidos.
8
No capítulo 4 são discutidos os conceitos e formulações para a análise não-linear
geométrica, os critérios elasto-plásticos empregados em análise não-linear material e os
algoritmos iterativo-incrementais para solução dessas formulações. Nesse capítulo são
apresentados também os conceitos e modo de funcionamento do algoritmo de corte
automático do incremento de carga.
O capítulo 5 apresenta a teoria envolvida no acoplamento entre as análises térmica e
mecânica, relativa à consideração das deformações térmicas na análise mecânica.
Adicionalmente, é mostrada a ferramenta computacional desenvolvida neste trabalho
para simulação do comportamento de estruturas de aço e mistas de aço e concreto em
situação de incêndio. São apresentadas as principais características do programa, sua
interação com o pré e pós-processador gráfico utilizado, interface com o usuário e a
estruturação do programa em classes.
No capítulo 6 são mostrados os modelos analisados neste trabalho, envolvendo várias
geometrias, materiais e condições de contorno. Os resultados obtidos com a análise
numérica são comparados com resultados disponíveis na literatura e com aqueles
obtidos pelos procedimentos prescritos no EN 1992-1-2:2004, EN 1993-1-2:2005 e
EN 1994-1-2:2005, visando validar o programa desenvolvido neste trabalho e
demonstrar a sua aplicabilidade.
O capítulo 7 apresenta as conclusões, envolvendo os estudos de caso analisados, a
avaliação global deste trabalho e recomendações para pesquisas futuras.
Salienta-se que, embora alguns assuntos sejam relativamente conhecidos, em especial os
conceitos apresentados nos capítulos 2 a 4, optou-se por incluí-los neste trabalho para
tornar o texto mais compreensível como um todo e mais fácil de ser consultado.
CAPÍTULO 2 - Revisão Bibliográfica
2
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 - Generalidades
Este capítulo apresenta as características dos incêndios, discorrendo-se sobre as curvas
de incêndios naturais, nominais e paramétricas, os conceitos envolvidos nos ensaios em
laboratório para simulação do comportamento de elementos estruturais em situação de
incêndio e as linhas gerais que as normas EN 1992-1-2:2004, EN 1993-1-2:2005 e
EN 1994-1-2:2005 utilizam como base para verificação da resistência de elementos
estruturais. Ao final, são mostrados alguns trabalhos desenvolvidos na área de
Engenharia de Segurança Contra Incêndio.
2.2 - Características dos incêndios
2.2.1 - A curva do incêndio natural
Para a ocorrência de um incêndio, é necessária a existência simultânea de três fatores:
uma fonte de calor, o combustível e o comburente (o oxigênio). O início do incêndio se
dá quando a mistura (combustível e oxigênio) está na temperatura suficiente para que
ocorra a combustão.
10
A principal característica descritiva de um incêndio em uma edificação é a curva que
fornece a temperatura dos gases (
θ
g
) em função do tempo de incêndio, mostrada de
forma genérica na FIG.2.1.
g
θ
Tempo
Flashover
(inflamação generalizada)
abcd
FIGURA 2.1 – Evolução da temperatura dos gases em um incêndio natural
A partir dessa curva, é possível se obter a máxima temperatura atingida pelos elementos
estruturais e, portanto, determinar suas resistências ao incêndio. Essa curva apresenta
quatro fases sucessivas:
a)
Fase inicial ou fase de ignição, durante a qual as temperaturas permanecem baixas
e o incêndio é considerado de pequenas proporções, sem riscos à estrutura. No
entanto, é uma fase crítica quanto à salvaguarda de vidas humanas, pois é a fase
em que se produzem os gases tóxicos.
b)
Fase de propagação, durante a qual o fogo se espalha por radiação ou por contato
direto, dando-se, em um determinado instante, a inflamação súbita dos gases, de
modo que o incêndio propaga-se a todo o compartimento. Esse momento é
denominado flashover ou inflamação generalizada, sendo o instante a partir do
qual as temperaturas aumentam rapidamente.
c)
Fase de desenvolvimento pleno, decorrendo-se a queima do material combustível e
mantendo-se as temperaturas praticamente constantes.
d)
Fase de extinção ou fase de arrefecimento, com uma diminuição progressiva da
temperatura dos gases por falta de combustível, oxigênio ou por resfriamento
externo (bombeiros ou outros).
11
2.2.2 - Curvas de incêndio nominais
A curva temperatura × tempo de incêndio depende da geometria do compartimento
incendiado, das características térmicas dos materiais de vedação, da quantidade de
material combustível e do grau de ventilação do ambiente. Simplificadamente, os
regulamentos apresentam várias maneiras de modelar a temperatura dos gases em um
compartimento incendiado por meio de curvas de incêndios nominais e paramétricas.
As curvas nominais são curvas convencionadas que podem ser definidas por uma
fórmula simples e independem da dimensão ou tipo dos edifícios. O EN 1991-1-2:2002
estabelece três curvas de incêndios nominais:
a)
Incêndio-padrão da ISO 834-1 (1999):
(
)
18log345
10
+
+
=
t
og
θ
θ
(2.1)
b)
Incêndio para elementos exteriores:
(
)
o
tt
g
ee
θθ
+=
8,332,0
313,0687,01660
(2.2)
c)
Incêndio de hidrocarbonetos:
(
)
o
tt
g
ee
θθ
+=
5,2167,0
675,0325,011080
(2.3)
onde
θ
g
é a temperatura dos gases no tempo t (em ºC),
θ
o
é a temperatura ambiente
inicial, geralmente adotada igual a 20ºC, e t é o tempo decorrido desde a ignição do
fogo (em minutos).
VILA REAL (2003) enfatiza que a curva de incêndio padrão da ISO 834-1 (1999) é a
utilizada nos ensaios de laboratório em fornos para determinação da resistência ao fogo
dos elementos estruturais. Embora com pouca realidade física, o propósito da utilização
desta curva normalizada foi, e continua a ser, o de unificar os programas térmicos dos
ensaios em fornos, permitindo a comparação de resultados experimentais obtidos em
laboratórios diferentes.
12
2.2.3 - Curvas de incêndio paramétricas
O EN 1991-1-2:2002 também define, no Anexo A, as curvas paramétricas de evolução
da temperatura em função do tempo, que, contrariamente às curvas nominais, dependem
de certos parâmetros físicos:
densidade de carga de incêndio (quanto maior a carga de incêndio, maior será a
duração do incêndio);
condições de arejamento, função principalmente da geometria, dimensões e
distribuição das aberturas do compartimento (grandes aberturas de ventilação
implicam em incêndios rápidos, porém mais severos);
propriedades das paredes envolventes do compartimento de incêndio (paredes que
absorvem energia limitam a temperatura do incêndio).
Diferentemente das curvas nominais, as curvas paramétricas distinguem-se por
possuírem a fase de arrefecimento. Assim, essas curvas pretendem traduzir de modo
mais apropriado os incêndios reais, considerando os principais parâmetros que
influenciam a extensão e o desenvolvimento dos incêndios. As expressões relativas às
curvas paramétricas e suas limitações quanto ao fator de abertura, fator de absorção de
energia pelas paredes, carga de incêndio, área máxima de piso e altura máxima do
compartimento, podem ser consultadas diretamente no EN 1991-1-2:2002.
2.2.4 - Curvas BFD
BARNETT (2002a e 2002b) propõe em seu trabalho uma expressão geral para
modelagem de curvas de incêndio, denominadas por ele de “curvas BFD”, dada por:
z
mog
e
+=
θθθ
(2.4)
onde
θ
g
é a temperatura dos gases no tempo t (em ºC),
θ
o
é a temperatura ambiente
inicial (em ºC),
θ
m
é o incremento máximo de temperatura acima de
θ
o
(em ºC) e z é o
coeficiente temporal adimensional dado por:
(
)
cm
sttz /lnln
2
=
(2.5)
13
sendo t o tempo decorrido desde a ignição do fogo (em minutos), t
m
o tempo em que
θ
m
ocorre (em minutos) e s
c
o fator de forma da curva.
A FIG.2.2 ilustra algumas curvas de incêndio possíveis de serem obtidas por ajuste da
expressão de Barnett com dados de testes realizados em laboratório. Essa figura mostra
também a curva do incêndio-padrão apenas para fins de comparação.
0
200
400
600
800
1000
1200
0 15 30 45 60 75 90 105 120 135 150 165 180
Tempo (min)
Temperatura dos gases (ºC)
Incêndio-padrão
Car test
Odeen test
Cardinton test 5
Swedish test D2
FIGURA 2.2 – Comparação entre a curva de incêndio-padrão e resultados de ensaios
A expressão proposta por Barnett utiliza apenas três fatores distintos para descrever
qualquer curva de incêndio: a máxima temperatura dos gases, o tempo (no qual essa
temperatura ocorre) e uma constante de forma para a curva. A constante de forma é um
número adimensional, que pode ser obtido em correlação com o coeficiente de pirólise e
o fator de abertura (ventilação) do compartimento. A TAB.2.1 mostra os valores dos
três fatores citados para alguns tipos de ensaios citados em literatura.
14
TABELA 2.1 – Valores de
θ
m
, t
m
e s
c
utilizados na expressão de BARNETT (2002a)
Ensaios citados
em literatura
θ
m
(ºC)
t
m
(min) s
c
Odden test 860 48 0,7
Car test 590 13 1,0
Swedish test D2 850 21 1,6
EBS test 22 930 18 1,8
JFRO test R 800 10 1,8
JFRO test Q 1070 13 1,7
EBS test 9 1125 19 1,3
EBS test 16 1030 11 1,2
CIB / W14 (a) 960 15 0,3
CIB / W14 (b) 980 20 1,2
CTICM test 35 1120 14 1,7
CTICM test 63 1242 9 1,6
Cardington test 2 1100 29 0,8
Cardington test 5 1160 39 1,6
Cardington test 6 740 115 4,5
Cardington test 7 1260 19 1,9
Uma outra vantagem da expressão de Barnett consiste no fato de utilizar-se apenas uma
expressão para a fase de aquecimento e resfriamento do incêndio, ao contrário da curva
paramétrica proposta pelo EN 1991-1-2:2002, que utiliza duas expressões.
Barnett utilizou 142 ensaios de incêndio, obtidos da literatura, para modelar sua
expressão, sendo que 87% dos dados se ajustaram muito bem. Os combustíveis
utilizados para os ensaios foram: madeiras, petróleo, querosene, poliuretano,
automóveis, cadeiras e mobílias. A massa total de combustível variou entre 3 kg e
5100 kg e as temperaturas máximas de incêndio entre 500ºC e 1200ºC.
15
2.3 - Ensaios de laboratório
2.3.1 - Generalidades
A compreensão de um aspecto do comportamento de uma estrutura sempre se inicia a
partir de observações do comportamento de modelos físicos de experimentos
cuidadosamente planejados e executados ou de acidentes. De modo geral, incêndios
acidentais podem contribuir com algumas especulações qualitativas enquanto que
somente experimentos planejados fornecem resultados mais precisos e uma melhor
compreensão quantitativa dos fenômenos (WANG, 2002).
A realização de ensaios em fornos tem por objetivo a avaliação criteriosa do
comportamento de elementos ou de subsistemas estruturais expostos a um incêndio de
interesse. Esse tipo de experimento, praticado por vários laboratórios, implica em
incertezas devido:
aos resultados de ensaios de componentes e sistemas estruturais de dimensões
que não correspondem à realidade (não se pode aplicar sempre o efeito de
escala);
à aplicação de um programa de aquecimento térmico que não corresponde a um
incêndio real.
Essas considerações têm sido levantadas desde os primeiros ensaios na década de 60,
visando reduzir incertezas e imprecisões. Assim, com o desenvolvimento de novas
técnicas, as investigações experimentais foram se tornando mais confiáveis e precisas,
permitindo simular o comportamento de estruturas em situação de um incêndio real,
conforme estudos apresentados por SCHLEICH (1993).
Segundo BARNETT (1992), um dos mais famosos laboratórios de ensaios foi
construído no Centro Técnico-Industrial da Construção Metálica (CTICM), em
Maizières-lès-Metz, na França. Esse laboratório possui um grande forno que tem
respondido às necessidades de pesquisas, permitindo o ensaio de modelos de vários
tamanhos e grande capacidade de controle do experimento durante sua execução
(FIG.2.3). Em atividade desde a década de 70, o CTICM tem sido uma grande fonte de
16
dados experimentais para a engenharia de estruturas, obtidos dos ensaios já realizados
em suas instalações.
FIGURA 2.3 – Forno de ensaios do CTICM com as portas abertas e todos queimadores
trabalhando a plena potência, apenas para demonstração (fonte: BARNNET, 1992)
O forno do CTICM tem uma área de piso de 5,75 m x 7,75 m e uma altura de 3,00 m.
As paredes têm uma espessura de 35 cm de material refratário e, na parte frontal,
existem duas portas que permitem total acesso a seu interior. As dimensões internas
podem ser reduzidas para 5,75 m × 4,60 m por meio de uma parede transversal
removível. O forno é dotado de 9 janelas de observação para acompanhamento do
ensaio e de 16 queimadores de alta pressão que injetam de 25 a 90 litros por hora de
combustível, correspondendo a 13 × 10
6
cal/h. Com essas características, esse forno
atinge temperaturas de até 1200 ºC durante a realização de um ensaio.
Para aplicação do carregamento, o forno possui ao seu redor um pórtico de reação com
6 atuadores de grande curso suportando 300 kN cada e outros 6 atuadores de 1500 kN
cada. O sistema tem um mecanismo que permite manter o nível de carga constante
durante o ensaio, mesmo com as deformações sofridas pelo protótipo.
17
2.3.2 - Ensaios-padrão de resistência ao fogo
Os ensaios-padrão de resistência ao fogo são realizados em fornos a gás ou a óleo, de
acordo com a ISO 834-1 (1999), de modo que a curva temperatura × tempo represente,
na média de vários termopares instalados no interior do forno, a Eq.2.1 (WANG, 2002).
Em geral, os ensaios realizados em fornos podem ser classificados em quatro categorias:
elementos estruturais: compreende à determinação do comportamento estrutural
de vigas de aço e mistas, isoladas e contínuas, lajes de concreto armado e mistas,
pilares de aço e mistos;
elementos de divisórias: permite determinar o comportamento estrutural de
paredes com ou sem juntas horizontais e sua conexão com elementos estruturais;
equipamentos mecânicos: permite determinar se um duto que atravessa vários
compartimentos de uma edificação (ar condicionado, por exemplo) pode
funcionar ou não como um caminho para disseminação do incêndio; e
elementos de compartimentação: corresponde à determinação da capacidade de
um elemento de compartimentação de manter a estanqueidade e o isolamento
térmico.
Os ensaios que envolvem o comportamento de elementos estruturais são os de maior
interesse neste trabalho e, portanto, são descritos a seguir.
2.3.3 - Ensaios de elementos estruturais em fornos
WAINMAN e KIRBY (1988a e 1988b), pesquisadores do Warrington Research Centre,
no Reino Unido, apresentam vários resultados de ensaios em fornos de vigas mistas de
aço e concreto e pilares de aço preenchidos com alvenaria, submetidos ao incêndio-
padrão da ISO 834-1 (1999).
Com relação às vigas mistas, Wainman e Kirby fornecem as temperaturas obtidas nos
ensaios por meio de termopares localizados em vários pontos das vigas e o
deslocamento vertical no meio do vão em função do tempo de incêndio, até que as vigas
apresentassem um deslocamento limite de um trinta avos do vão (WOOLLEY, 1988).
18
A FIG.2.4 mostra o forno utilizado por Wainman e Kirby para ensaios de vigas mistas.
Nessa figura podem-se observar os atuadores de carga já devidamente posicionados
para o ensaio. A FIG.2.5 ilustra a retirada da viga mista após a realização do ensaio.
FIGURA 2.4 – Ensaio de uma viga mista no forno do Warrington Research Centre
(fonte: WAINMAN e KIRBY, 1988a)
FIGURA 2.5 – Retirada da viga mista do forno após o ensaio
(fonte: WAINMAN e KIRBY, 1988a)
19
Os termopares foram colocados no meio da alma da viga mista em quatro pontos ao
longo do vão. Na mesa superior, foram colocados em dois pontos e na mesa inferior em
três pontos ao longo do vão, sempre a ¼ da largura das mesas. O transdutor de
deslocamento foi adaptado na mesa inferior da viga mista, no meio do vão. Alguns
desses sensores podem ser observados na FIG.2.6.
FIGURA 2.6 – Vista interna do forno mostrando o posicionamento dos termopares na
viga mista e o pilar indicativo no piso do forno (fonte: WAINMAN e KIRBY, 1988a)
No que se refere aos pilares de aço, Wainman e Kirby fornecem as temperaturas obtidas
nos ensaios por meio de termopares localizados a ¼ da largura das mesas e a
aproximadamente ¼ da alma e o deslocamento vertical dos pilares ensaiados.
A FIG.2.7 ilustra o ensaio, realizado por Wainman e Kirby, de um pilar de aço
preenchido com alvenaria à compressão axial. O pilar é engastado na base e rotulado na
extremidade em que o atuador hidráulico é adaptado, possuindo um comprimento
efetivo de 0,7 vezes o comprimento do perfil. A carga de ensaio é aplicada ao perfil
metálico e então é mantida fixa durante a aplicação do incêndio nas quatro faces. O
tempo limite de resistência ao incêndio foi adotado conforme WOOLLEY (1988),
sendo o tempo para o qual o perfil não é mais capaz de manter o nível de carga
aplicado, apresentando colapso.
20
a) Forno para ensaios de pilares de aço b) Pilar de aço após o ensaio
FIGURA 2.7 – Forno do Warrington Research Centre para ensaios de pilares de aço à
compressão axial (fonte: WAINMAN e KIRBY, 1988a)
Wainman e Kirby também realizaram ensaios de pilares expostos ao incêndio pelas
quatro faces à flexo-compressão. Nesses ensaios também é fornecido o deslocamento
horizontal no centro do pilar.
Além dos experimentos citados, também foram realizados ensaios com pilares de aço
sem preenchimento de alvenaria, pilares pertencentes a estruturas de vedação com
apenas uma face exposta ao incêndio e parte da alma exposta e pilares pertencentes a
estruturas de vedação com uma face exposta ao incêndio e a alma preenchida por
alvenaria.
Dentre os vários experimentos realizados no forno do Warrington Research Centre, os
resultados de alguns ensaios foram catalogados por WAINMAN e KIRBY (1988a e
1988b), servindo de base a várias pesquisas sobre o comportamento de estruturas em
situação de incêndio, inclusive neste trabalho, como se verá no capítulo 6.
21
Apenas para ilustração, a FIG.2.8 mostra a realização de um ensaio de flexo-
compressão no forno do CTICM. São utilizados dois atuadores verticais para aplicação
dos momentos fletores nas extremidades do pilar e um atuador horizontal para aplicação
da força axial de compressão.
a) Forno para ensaios de pilares de aço à flexo-compressão b) Pilar após o ensaio
FIGURA 2.8 – Ensaio de um pilar de aço à flexo-compressão no forno do CTICM
(fonte: BARNETT, 1992)
2.3.4 - Ensaios em escala real em Cardington
Na década de 90 foram realizados vários ensaios de incêndio em escala real em
Cardington, na Inglaterra. LAWSON (2001) destaca que esses ensaios envolveram seis
compartimentos de um edifício de oito andares, como mostrado na FIG.2.9, com área
plana de 30 m x 45 m.
A estrutura do edifício se caracterizava como um pórtico indeslocável. As vigas foram
projetadas como vigas mistas, rotuladas em suas extremidades, em aço com resistência
ao escoamento de 275 MPa. As lajes eram do tipo mistas com fôrma de aço incorporada,
com nervuras trapezoidais de 55 mm de altura e altura total de 130 mm. Uma malha de
22
armaduras do tipo A142 (barras de 6 mm de diâmetro, espaçadas de 200 mm de centro a
centro, com resistência ao escoamento de 600 MPa) foi posicionada na laje de 15 mm a
40 mm acima do topo das nervuras da fôrma de aço. O concreto utilizado era de baixa
densidade com resistência característica à compressão igual a 35 MPa.
FIGURA 2.9 – Edifício de estrutura mista utilizado nos ensaios
em Cardington (fonte: LAWSON, 2001)
Em vários ensaios realizados, apenas as vigas principais e os pilares foram revestidos,
ficando as vigas secundárias sem revestimento contra fogo. Em um desses ensaios, foi
incendiado um compartimento de 136 m² com mobília típica de escritório. Na FIG.2.10
pode-se observar o efeito de membrana apresentado pela laje após o ensaio.
23
a) Efeito de membrana no vigamento sem revestimento térmico
b) O vigamento sem revestimento térmico mostra-se deformado, porém
estável,mesmo tendo atingido temperaturas da ordem de 1100 ºC
FIGURA 2.10 – Compartimento de escritório após o ensaio
em Cardington (fonte: LAWSON, 2001)
24
2.4 - Verificação de elementos estruturais em situação de incêndio
A verificação da capacidade resistente de elementos estruturais em situação de incêndio
é um processo extremamente complexo e que engloba um elevado número de variáveis.
Assim, as normas têm procurado simplificar e classificar os procedimentos de análise
em níveis de complexidade crescente.
As normas EN 1992-1-2:2004, EN 1993-1-2:2005 e EN 1994-1-2:2005 estabelecem as
seguintes alternativas para verificação dos elementos estruturais:
a)
Dados tabulares: são soluções de projeto padronizadas, obtidas com base em
ensaios ou simulações avançadas, de modo a cobrir uma grande faixa de variação
das dimensões do componente, fornecendo sempre resultados conservadores.
Essas soluções são apresentadas em tabelas contendo limitações para as dimensões
da seção transversal do componente, sendo aplicáveis a elementos estruturais
individuais, expostos ao incêndio em todo o seu comprimento.
b)
Métodos simplificados de cálculo: também são soluções simplificadas e
adequadas para cálculo de elementos estruturais individuais, tendo-se por base
hipóteses conservadoras para determinação da capacidade de uma seção
transversal resistir a uma combinação de ações relevante em altas temperaturas.
c)
Métodos avançados de cálculo: são métodos de cálculo em que os princípios de
engenharia são aplicados de forma realística em aplicações específicas, visando
simular o comportamento global da estrutura, de subsistemas ou até de elementos
estruturais individuais com qualquer tipo de seção transversal. Esses métodos
devem idealmente ser aplicáveis a qualquer curva de incêndio, desde que as
propriedades do material sejam conhecidas para a faixa de temperaturas relevante
ao problema. Adicionalmente, os métodos avançados devem conter ao mesmo
tempo um modelo de resposta térmica (para a distribuição de temperatura) e um
modelo de resposta mecânica (para simulação do comportamento estrutural).
d)
Ensaios: os métodos de cálculo com base em resultados de ensaios devem ser
utilizados quando os demais métodos não são aplicáveis. Esses métodos também
podem ser utilizados para validação da precisão dos outros métodos.
25
2.4.1 - Obtenção da distribuição de temperatura
A verificação de elementos estruturais em situação de incêndio exige, para os métodos
simplificados e para os métodos avançados de cálculo, a determinação da distribuição
de temperatura nesses elementos.
Os métodos simplificados geralmente trabalham com distribuições de temperatura
obtidas por meio de gráficos de isotermas, de fórmulas analíticas conservadoras ou de
algoritmos computacionais.
Nas seções de concreto, devido à baixa condutividade térmica do material, formam-se
elevados gradientes de temperatura. Assim, o aquecimento do concreto mostra-se difícil
de ser equacionado e, geralmente, trabalha-se com gráficos de isotermas. A FIG 2.11
mostra as isotermas apresentadas pelo CEB FIP MODEL CODE (1982) para a seção
transversal de um pilar quadrado de 300 mm de lado, exposto ao incêndio-padrão por
todos os lados, para os tempos de 30, 60, 90 e 120 minutos.
100ºC
200
300
400
500
600
30'
150 mm
150 mm
100ºC
200
300
600
700
800
60'
150 mm
150 mm
400
500
600
900
90'
150 mm
150 mm
400
500
200
300
100ºC
700
800
700
120'
150 mm
150 mm
500
600
300
400
200ºC
800
900
FIGURA 2.11 – Isotermas para um pilar de concreto de 300 mm x 300 mm (CEB)
O EN 1992-1-2:2004 também apresenta algumas isotermas para elementos estruturais
de concreto com seções transversais de uso comum.
26
De modo contrário, o aquecimento de elementos estruturais de aço é mais fácil de ser
equacionado devido à alta condutividade térmica desse material, o que faz com que os
gradientes de temperatura sejam muito menores que no concreto.
O EN 1993-1-2:2005 apresenta fórmulas analíticas para determinação da temperatura
em elementos de aço com ou sem revestimento térmico. Segundo RIBEIRO (2004), os
resultados obtidos por tais expressões são muito bons comparando-se com os valores
obtidos por meio de modelos via Método dos Elementos Finitos.
Com relação aos elementos mistos de aço e concreto, o EN 1994-1-2:2005 sugere, para
as vigas mistas, a utilização das fórmulas analíticas para o perfil de aço em conjunto
com os gráficos de isotermas para a laje de concreto. Para as lajes mistas, recomenda-se
o uso de expressões analíticas ou isotermas específicas para tais elementos e, para os
pilares mistos, o uso de modelos computacionais se mostra mais aplicável.
Os métodos avançados de cálculo, em função do maior grau de refinamento das
análises, necessitam de distribuições de temperatura mais precisas. Assim, destaca-se o
uso de modelos computacionais ou de formulações ajustadas com resultados de ensaios,
tendo-se por base os princípios e hipóteses da teoria de transferência de calor.
O EN 1994-1-2:2005 recomenda, para os métodos avançados de cálculo, que o modelo
de resposta térmica considere, além das ações térmicas (curvas de incêndio) prescritas
pelo EN 1991-1-2:2002, a variação das propriedades térmicas dos materiais com a
temperatura, gerando um acoplamento entre as análises térmica e mecânica.
Adicionalmente, os efeitos da exposição térmica não-uniforme e da umidade (no caso
de concretos) também podem ser considerados quando apropriado.
Tendo por objetivo a implementação computacional para o Método dos Elementos
Finitos, RIBEIRO (2004) apresenta as expressões de condutividade térmica, calor
específico e massa específica variáveis com a temperatura para o aço e o concreto,
segundo o EN 1994-1-2:2005. Ribeiro também apresenta as propriedades térmicas,
variáveis com a temperatura, de alguns materiais de revestimento térmico de uso
comum em estruturas metálicas e estruturas mistas de aço e concreto.
27
2.4.2 - Propriedades mecânicas dos materiais em altas temperaturas
WANG (2002) afirma que a verificação dos elementos estruturais em altas temperaturas
deve considerar os efeitos estruturais do incêndio no comportamento da estrutura,
causados por mudanças nas propriedades mecânicas do aço e do concreto (ambos
materiais tornam-se menos resistentes e mais flexíveis em altas temperaturas) e por
deformações devido à variação de temperatura.
Para utilização dos métodos avançados de cálculo, as normas EN 1992-1-2:2004,
EN 1993-1-2:2005 e EN 1994-1-2:2005 apresentam a variação da resistência e da
rigidez do aço e do concreto com a temperatura, bem como as deformações térmicas dos
dois materiais. Essas modificações nas propriedades mecânicas dos materiais devem-se
a vários fenômenos observados em diferentes experimentos (WANG, 2002).
2.4.2.1 - Aços estruturais
Considerando-se os aços laminados, as degenerescências da resistência ao escoamento
(f
ay
) e do módulo de Young (E
a
) com o aumento de temperatura são representadas,
respectivamente, pelos fatores de redução k
y,
θ
e k
E,
θ
., mostrados na TAB.2.2.
TABELA 2.2 – Fatores de redução para os aços estruturais
Aços laminados Aços trefilados
Temperatura
θ
(ºC)
ay
ay
y
f
f
k
θ
θ
,
,
=
a
a
E
E
E
k
θ
θ
,
,
=
sy
sy
sy
f
f
k
θ
θ
,
,
=
s
s
sE
E
E
k
θ
θ
,
,
=
20 1,000 1,000 1,000 1,000
100 1,000 1,000 1,000 1,000
200 1,000 0,900 1,000 0,870
300 1,000 0,800 1,000 0,720
400 1,000 0,700 0,940 0,560
500 0,780 0,600 0,670 0,400
600 0,470 0,310 0,400 0,240
700 0,230 0,130 0,120 0,080
800 0,110 0,090 0,110 0,060
900 0,060 0,0675 0,080 0,050
1000 0,040 0,045 0,050 0,030
1100 0,020 0,0225 0,030 0,020
1200 0,000 0,000 0,000 0,000
28
A TAB.2.2 também mostra, para os aços trefilados, as degenerescências da resistência
ao escoamento (
f
sy
) e do módulo de Young (E
s
) com o aumento de temperatura,
representadas, respectivamente, pelos fatores de redução
k
sy,
θ
e k
sE,
θ
.
A comparação do comportamento dos fatores de redução para os aços laminados e para
os aços trefilados pode ser observada graficamente por meio da FIG.2.12.
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
0 200 400 600 800 1000 1200
Temperatura (ºC)
Fator de redução, k
k
y,
θ
k
E,
θ
k
sy,
θ
k
sE,
θ
FIGURA 2.12 – Fatores de redução para os aços estruturais
Com relação às deformações térmicas dos aços estruturais (
ε
th
), o EN 1993-1-2:2005
recomenda a utilização da Eq.2.6, sendo
θ
a
a temperatura do aço em graus Celsius.
>×+
<
×+×+×
=
Cº860 para10200620
Cº860750para0,011
Cº750para104,0102,110416,2
5
2854
aa
a
aaa
th
θ,
θ
θ
θθθ
ε
(2.6)
Segundo o EN 1993-1-2:2005, o patamar nos valores da deformação térmica que ocorre
na faixa de 750ºC a 860ºC deve-se às mudanças de fase no aço de perlita (ferro
α +
carboneto de ferro Fe
3
C) para austenita (ferro γ).
29
2.4.2.2 - Concretos estruturais
As propriedades mecânicas dos concretoso mais variáveis que as dos aços. PHAN e
CARINO apud WANG (2002) desenvolveram um estudo das propriedades mecânicas
de concretos em altas temperaturas (incluindo-se concretos de alta resistência) e
observaram que os valores apresentados no EN 1994-1-2:2005 podem ser considerados
como um limite inferior para vários ensaios de concretos com resistências usuais.
O EN 1994-1-2:2005 apresenta a degenerescência da resistência à compressão uniaxial
(
f
c
), representada pelo fator k
c,
θ
, e a deformação correspondente à resistência à
compressão uniaxial (
ε
cu
) para os concretos de densidade normal (NC) e para os
concretos leves (LC) com o aumento da temperatura, conforme a TAB.2.3.
TABELA 2.3 – Fatores de redução para os concretos estruturais
c
c
c
f
f
k
θ
θ
,
,
=
c
c
Ec
E
E
k
θ
θ
,
,
=
θ
ε
,cu
Temperatura
θ
(ºC)
NC LC NC LC NC
20 1,000 1,000 1,000 1,000 0,0025
100 1,000 1,000 0,625 0,625 0,0040
200 0,950 1,000 0,432 0,455 0,0055
300 0,850 1,000 0,304 0,357 0,0070
400 0,750 0,880 0,188 0,220 0,0100
500 0,600 0,760 0,100 0,127 0,0150
600 0,450 0,640 0,045 0,064 0,0250
700 0,300 0,520 0,030 0,052 0,0250
800 0,150 0,400 0,015 0,040 0,0250
900 0,080 0,280 0,008 0,028 0,0250
1000 0,040 0,160 0,004 0,016 0,0250
1100 0,010 0,040 0,001 0,004 0,0250
1200 0,000 0,000 0,000 0,000 0,0250
Nota: O símbolo NC denota o concreto de densidade normal e LC o concreto leve.
Segundo o EN 1994-1-2:2005, o módulo de Young do concreto em altas temperaturas
(
E
c,
θ
) e o módulo secante (E
c,sec,
θ
) podem ser obtidos pelas expressões:
θ
θ
θ
ε
,
,
,
2
3
cu
c
c
f
E =
(2.7)
θ
θ
θ
ε
,
,
sec,,
cu
c
c
f
E =
(2.8)
30
Com base na Eq.2.7 e na Eq.2.8, pode-se concluir que a degenerescência do módulo de
Young e do módulo secante dos concretos, representada pelo fator
k
Ec,
θ
, pode ser obtida
por meio da Eq.2.9, apresentado na TAB.2.3.
θ
θθθθ
θ
εε
ε
,
,
20,20,
2
3
,,
2
3
20,
,
,
0025,0
/
/
cu
c
cuc
cuc
c
c
Ec
k
f
f
E
E
k ===
(2.9)
A FIG.2.13 mostra comparativamente o comportamento dos fatores de redução para os
concretos de densidade normal e para os concretos leves com o aumento da temperatura.
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
0 200 400 600 800 1000 1200
Temperatura (ºC)
Fator de redução, k
k
c,
θ
(LC)
k
Ec,
θ
(NC)
k
c,
θ
(NC)
k
Ec,
θ
(LC)
FIGURA 2.13 – Fatores de redução para os concretos estruturais
A resistência à tração uniaxial dos concretos (
f
t
) pode ser ignorada, conservadoramente.
No entanto, em métodos simplificados ou avançados, o EN 1992-1-2:2004 permite
considerar a degenerescência dessa propriedade com a temperatura, representada pelo
fator
k
t,
θ
, conforme a seguinte expressão:
<
==
CC
CC
f
f
k
t
t
t
º600º100
500
100
0,1
º100º200,1
,
,
θ
θ
θ
θ
θ
(2.10)
31
CALDAS (2008) constata que o fator de redução da resistência à tração,
k
t,
θ
, é
aproximadamente o fator de redução da resistência à compressão, k
c,
θ
, elevado ao cubo.
Essa aproximação é utilizada no presente trabalho, possibilitando o cadastro apenas dos
fatores
k
c,
θ
. A FIG.2.14 mostra comparativamente os fatores de redução da resistência à
tração do concreto segundo o EN 1992-1-2:2004 e a aproximação utilizada nesse
trabalho, para concretos com agregados silicosos.
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
0 200 400 600 800 1000 1200
Temperatura (ºC)
Fator de redução, k
k
t,
θ
(EN 1994-1-2:2004)
k
t,
θ
= (k
c,
θ
Entre 550 ºC e 700 ºC, a diferença torna-
se grande. Porém, nessa faixa tem-se
no máximo 10% da resistência à tração,
sendo improvável que a análise numérica
atinja tal nível de redução.
FIGURA 2.14 – Fatores de redução à tração para os concretos estruturais
Com relação às deformações térmicas dos concretos estruturais (
ε
th
), WANG (2002)
afirma que essas deformações são complexas e influenciadas por um grande número de
variáveis, sendo compostas pela dilatação térmica, pela deformação de
creep e por
tensões geradas pela dilatação térmica transiente. O EN 1994-1-2:2005 apresenta, de
modo simplificado, a deformação térmica dos concretos por meio da expressão:
>
×+×+×
=
Cº700para0,014
Cº700Cº20para103,2109108,1
31164
c
ccc
th
θ
θθθ
ε
(2.10)
32
2.5 - Simulação numérica do comportamento estrutural em incêndio
Nos subitens a seguir serão enumerados alguns trabalhos correlacionados com a
presente pesquisa visando mostrar os recentes avanços na área de Engenharia de
Segurança Contra Incêndio.
Dar-se-á ênfase aos seguintes temas: análise estrutural com não-linearidades geométrica
e material, análise térmica de estruturas em situação de incêndio, dimensionamento de
estruturas em situação de incêndio, análise termomecânica de elementos estruturais e
comparação de resultados experimentais com análises numéricas.
2.5.1 - Análise estrutural com não-linearidades geométrica e material
CHEN (1982), CHEN e HAN (1988) e CHEN e ZHANG (1991) são importantes
referências para o estudo do comportamento não-linear dos materiais, análise elasto-
plástica do aço e do concreto, equações constitutivas, critérios de escoamento e outros
assuntos ligados ao estudo da plasticidade em engenharia de estruturas.
CRISFIELD (1991 e 1997) é outra importante referência para o estudo das não-
linearidades geométricas e materiais. Em seus livros, o autor apresentou vários métodos
e abordagens para análise não-linear de sólidos e estruturas pelo Método dos Elementos
Finitos, bem como fluxogramas para análises elasto-plásticas e para análises com não-
linearidades geométricas, além de alguns métodos para aceleração da convergência dos
modelos numéricos.
SIMO e HUGHES (1997) também apresentaram alguns métodos para análise não-linear
de sólidos, placas, cascas e estruturas pelo Método dos Elementos Finitos.
Apresentaram ainda equações constitutivas de modelos elasto-plásticos, com ou sem
encruamento, além de modelos que tratam da viscoplasticidade e de algoritmos de
integração aplicados à plasticidade e à viscoplasticidade.
SMITH e GRIFFITHS (1997) são uma importante referência para programação de
computadores com base no Método dos Elementos Finitos. Eles forneceram vários
33
algoritmos para implementação de análises estática e dinâmica de estruturas de barras,
bidimensionais e tridimensionais. Apresentaram também algoritmos para análises que
englobam não-linearidades materiais, análises de fluxos estacionários e transientes e
problemas acoplados.
Recentemente, Souza Neto e seus colaboradores (SOUZA NETO
et al., 2006)
publicaram um livro que trata de vários métodos computacionais para plasticidade,
abordando análises com não-linearidades geométricas, plasticidade, visco-plasticidade,
hiper-elasticidade e hiper-plasticidade. Os autores descreveram vários modelos
constitutivos, comentando desde a formação das relações constitutivas não-lineares até
os algoritmos implícitos de integração dessas relações constitutivas. Ao final da
apresentação de cada critério para tratamento das não-linearidades materiais, os autores
mostraram o desenvolvimento de algoritmos na linguagem FORTRAN para
implementação computacional.
2.5.2 - Análise térmica de estruturas em situação de incêndio
VILA REAL (1988), em sua dissertação de mestrado, apresentou a formulação utilizada
no desenvolvimento de um programa para análise térmica bidimensional via Método
dos Elementos Finitos. O programa elaborado permite a obtenção do campo de
temperaturas em regimes estacionário e transitório, para problemas planos e
axissimétricos, lineares ou não-lineares e das tensões térmicas, utilizando um modelo
constitutivo elástico-linear. Vila Real também utilizou funções de forma hierárquicas de
grau sucessivamente crescente de acordo com as necessidades verificadas em casos de
elevados gradientes térmicos.
HUANG e USMANI (1994) forneceram algoritmos para análise térmica de domínios
sólidos com contornos convectivos-radiativos. Também apresentaram algoritmos para
análise de transformação de fase e para análises térmicas adaptativas. Forneceram ainda
alguns exemplos com soluções analíticas para validação de algoritmos computacionais.
34
VILA REAL e OLIVEIRA (1997) modelaram, via Método dos Elementos Finitos, a
evolução no tempo dos campos de temperatura em perfis laminados metálicos sujeitos à
ação do fogo, correspondente à curva de incêndio-padrão ISO 834, idêntica à atual ISO
834-1 (1999). Os resultados obtidos da análise bidimensional transiente foram
comparados com os obtidos pelos procedimentos do EN 1993-1-2:1995. Vila Real e
Oliveira concluíram que a maior parte da alma dos perfis I na realidade se aquece mais
rapidamente do que preconizam os procedimentos do EN 1993-1-2:1995.
GHOJEL (1998) abordou em seu trabalho um novo modelo para tratar da transferência
de calor em compartimentos incendiados. O modelo de Ghojel considerou, para a
emissão e absorção de radiação, as propriedades radiativas dos principais produtos da
combustão, como o gás carbônico, o gás nitrogênio e o vapor de água, obtidos em
ensaios usando madeira como combustível. Além disso, o autor propôs um novo
modelo para cálculo do coeficiente de convecção em incêndios naturais. Os resultados
obtidos com o modelo proposto se mostraram muito próximos dos resultados obtidos
por meio de ensaios para elementos de aço.
SILVA e CALMON (2000) desenvolveram um programa de análise térmica com base
no Método dos Elementos Finitos para domínios bidimensionais denominado
PFEM_2D. Esse programa é capaz de determinar campos de temperaturas para
diferentes tipos de estruturas e condições de contorno, realizando análises linear e não-
linear, no que se refere às propriedades térmicas dos materiais. Silva e Calmon
analisaram um perfil soldado VS 600x114 por meio do PFEM_2D e dos procedimentos
da ABNT NBR 14323:1999, obtendo temperaturas maiores ao usar os procedimentos da
norma. Analisando elementos de concreto, Silva e Calmon concluíram que após uma
hora de exposição ao incêndio-padrão, a temperatura praticamente só varia numa faixa
de 20 cm próxima à superfície.
FIGUEIREDO JÚNIOR (2002) descreveu, em sua dissertação de mestrado, a
formulação utilizada no desenvolvimento de um programa para análise térmica
bidimensional via Método dos Elementos Finitos. Em seu trabalho, Figueiredo
descreveu as prescrições da ABNT NBR 14323:1999, do EN 1993-1-2:1995 e do
35
EN 1994-1-2:1994, comparando os resultados obtidos por essas normas com os
resultados do seu programa computacional. Esse programa, denominado
Caltemi, foi
desenvolvido com base no programa
Caltep, criado por ZÁRATE e OÑATE (1993) no
CIMNE (UPC), e realiza análise térmica não-linear transiente ou estacionária.
BARNETT (2002a e 2002b) propôs em seus trabalhos um novo equacionamento para
os incêndios naturais por meio de uma única expressão denominada por ele de “curvas
BFD”. Para essas curvas, apenas três elementos são requeridos para modelagem de um
incêndio natural: a máxima temperatura dos gases, o tempo em que essa temperatura
ocorre, e o fator de forma da curva. Esse último parâmetro é obtido por uma relação
entre o coeficiente de pirólise e o fator de abertura. Dentre as principais vantagens desse
modelo podem ser citadas a utilização de apenas uma equação, tanto para a fase de
aquecimento quanto para a fase de resfriamento, e a facilidade de adaptação do modelo
para dados obtidos em ensaios, sendo possível a descrição de qualquer incêndio natural.
RIBEIRO (2004) apresentou, em sua dissertação de mestrado, a formulação utilizada no
desenvolvimento de um programa para análise térmica tridimensional transitória não-
linear via Método dos Elementos Finitos. Em seu trabalho, Ribeiro apresentou as
prescrições do PR-NBR 14323:2003 e de normas européias, comparando as
temperaturas obtidas por tais procedimentos com os resultados da análise numérica. O
programa, denominado
Thersys, foi validado por meio de comparações com o programa
Caltemi, desenvolvido por FIGUEIREDO JÚNIOR (2002) na UFMG, com o programa
Safir, desenvolvido por Jean-Marc Franssen na Universidade de Liège, e com resultados
de ensaios existentes na literatura científica.
REGOBELLO (2007) abordou, em sua dissertação de mestrado, a elevação de
temperatura em seções transversais de elementos estruturais de aço e mistos de aço e
concreto, via ANSYS 9.0, com o objetivo de avaliar as equações propostas pelo método
simplificado de cálculo da ABNT NBR 14323:1999. Para casos de seções transversais
usuais não contempladas por essa norma, Regobello observou a necessidade de se
empregar modelos avançados de cálculo ou de se estudar e desenvolver ferramentas
analíticas apropriadas para tais situações.
36
2.5.3 - Dimensionamento de estruturas em situação de incêndio
No Brasil, uma das primeiras referências relacionada ao dimensionamento de estruturas
em situação de incêndio se deve a SILVA (1997). O autor apresentou, em sua tese de
doutorado, o estudo do comportamento das estruturas de aço em altas temperaturas, as
curvas temperatura-tempo dos gases que envolvem as chamas e as expressões para a
determinação da ação térmica e seu efeito nas peças estruturais. O autor analisou a
influência da ventilação, da carga de incêndio e da geometria da seção transversal na
temperatura dos elementos estruturais. Ao final, Silva ainda apresentou as
recomendações para um método simplificado de dimensionamento das peças estruturais
em situação de incêndio, considerando a influência das não-linearidades geométricas e
materiais e das deformações térmicas.
MARTINS (2000) abordou, em sua dissertação de mestrado, as prescrições da ABNT
NBR 14323:1999 para o dimensionamento de elementos estruturais de aço em situação
de incêndio, incluindo as características dos incêndios, os conceitos relativos a ações e
segurança, obtenção do TRRF, tipos de revestimento contra fogo, procedimentos para
obtenção da elevação de temperatura nos elementos estruturais e os métodos para
obtenção das resistências de cálculo. Martins desenvolveu nesse trabalho um exemplo
completo de dimensionamento em situação de incêndio de um edifício comercial
segundo a ABNT NBR 14323:1999. Também foi desenvolvido um programa para
dimensionamento estrutural de barras em situação de incêndio e a temperatura ambiente.
SILVA (2001) publicou um livro que trata das estruturas de aço em situação de
incêndio, descrevendo as características dos incêndios, a determinação da temperatura
nos elementos estruturais, a segurança e o comportamento das estruturas em situação de
incêndio e o método simplificado de dimensionamento. O autor apresentou ainda os
materiais de revestimento contra fogo, os procedimentos de dimensionamento das
estruturas em situação de incêndio e alguns conceitos básicos sobre estruturas de
concreto armado em situação de incêndio.
Posteriormente, SILVA e FAKURY (2002) introduziram na comunidade científica
internacional a publicação dos padrões brasileiros para o cálculo de estruturas de aço em
37
situação de incêndio, descrevendo e aplicando as principais recomendações normativas
vigentes no país.
BAILEY (2001 e 2004) apresentou um método simplificado de dimensionamento de
pisos mistos apoiados em grelhas de vigas de aço com base no comportamento do
sistema. Esse método tem por base a ação de membrana da laje e a mudança das
charneiras plásticas com a temperatura, permitindo que várias vigas internas do sistema
de piso permaneçam sem material de revestimento contra fogo. Bailey discutiu as
hipóteses adotadas nos métodos de projeto atuais, que são conservadoras, e comparou
resultados de ensaios em situação de incêndio com o método proposto.
SPÍNDOLA (2002) apresentou, em sua dissertação de mestrado, as bases teóricas do
procedimento de cálculo desenvolvido por BAILEY (2001), que considerou o trabalho
conjunto de vigas e lajes, permitindo que as vigas secundárias possam ficar sem
revestimento térmico. É mostrado como o procedimento pode ser aplicado à realidade
brasileira, com uso de produtos fabricados no Brasil e da norma de projeto ABNT NBR
14323:1999. Ao final, são apresentados exemplos práticos de dimensionamento,
evidenciando a economia obtida com o procedimento apresentado.
Posteriormente, Fakury e seus colaboradores (FAKURY
et al., 2004a e 2004b)
demonstraram como o método de dimensionamento apresentado por BAILEY (2001 e
2004) pode ser utilizado por meio do emprego de produtos fabricados no Brasil e de
normas de projeto brasileiras. Ainda propuseram duas modificações: a primeira
relacionada com o uso de temperaturas mais precisas nas lajes por meio da utilização do
programa
Thersys, desenvolvido por RIBEIRO (2004), e a segunda relacionada com a
redução de custos e tempo de construção empregando-se telas soldadas pré-fabricadas.
Os autores apresentaram um exemplo prático de dimensionamento, onde se pode
observar a economia obtida na quantidade de material de revestimento térmico.
NÓBREGA (2003) abordou, em sua dissertação de mestrado, o dimensionamento em
situação de incêndio de pilares mistos constituídos por um perfil H de aço totalmente ou
parcialmente revestido por concreto e de pilares constituídos por um perfil tubular
38
circular ou retangular preenchido por concreto. Nóbrega utilizou o programa
Caltemi,
desenvolvido por FIGUEIREDO JÚNIOR (2002) na UFMG, para obtenção da
distribuição de temperatura na seção transversal dos pilares. É feita uma avaliação
crítica dos métodos simplificados de cálculo previstos pelo EN 1994-1-2:1994, no que
se refere à precisão e à consistência dos resultados obtidos.
Ainda com relação aos pilares mistos, COSTA (2005) apresentou, em sua dissertação de
mestrado, os procedimentos das normas nacionais e internacionais para dimensionamento
em situação de incêndio de pilares mistos constituídos por um perfil tubular circular ou
retangular preenchido por concreto. O autor apresentou também a adaptação desses
procedimentos para dimensionamento com um concreto refratário de alto desempenho
denominado CRAD, utilizando o programa
Thersys, desenvolvido por RIBEIRO (2004)
na UFMG, para obtenção da distribuição de temperatura na seção transversal dos
pilares. Ao final, é feita uma avaliação crítica dos procedimentos utilizados,
comparando-se os resultados obtidos com o concreto convencional e com o CRAD.
No exterior, Vila Real e seus colaboradores (VILA REAL
et al., 2002) estudaram o
problema da flambagem lateral com torção de vigas fletidas em torno do eixo de maior
inércia em situação de incêndio. Utilizando o programa
Safir, com base no Método dos
Elementos Finitos, para considerar as não-linearidades geométrica e material,
verificaram que as prescrições do EN 1993-1-2:1995 se tornam inseguras a
temperaturas de 700 ºC e determinaram novas expressões para consideração da
flambagem lateral com torção em tais situações.
Posteriormente, Vila Real e seu grupo (VILA REAL
et al., 2004) estenderam o estudo
realizado à pré-norma prEN1993-1-2, comparando suas prescrições com as do
EN 1993-1-2:1995, com resultados de modelos numéricos obtidos pelo programa
Safir e
com o modelo proposto anteriormente. Observaram que a pré-norma prEN1993-1-2
também apresenta resultados contrários à segurança em relação à flambagem lateral
com torção para temperaturas próximas de 700 ºC.
Uma grande contribuição para o projeto e dimensionamento de estruturas de aço em
situação de incêndio se deve a FRANSSEN e ZAHARIA (2006). Em seu livro, os
39
autores apresentaram todos os itens envolvidos no projeto estrutural com base nas
normas européias: as bases do projeto, as ações mecânicas, as ações térmicas, os
métodos para determinação das temperaturas nos elementos estruturais e os métodos
para determinação da estabilidade estrutural. Além da verificação de pilares, vigas e
lajes, os autores também apresentaram as bases para a verificação de ligações em
situação de incêndio, fornecendo vários exemplos de cálculo.
GUIMARÃES (2007) apresentou, em sua dissertação de mestrado, algumas
metodologias para o dimensionamento do material de revestimento térmico de
estruturas de aço em situação de incêndio. A autora também apresentou em detalhes a
aplicação do programa de computador Super Temp Calc (STC) para análise térmica e
dimensionamento de pilares, revestidos ou não, em contato com alvenarias. Ao final,
são feitas comparações entre os métodos utilizados, bem como sugestões de emprego
para a prática de projeto.
COSTA (2008) abordou, em sua tese de doutorado, os efeitos do calor sobre as
propriedades térmicas e mecânicas dos materiais - concreto e aço - e suas influências no
comportamento estrutural de edifícios de concreto armado. Também são apresentados
os métodos de cálculo disponíveis na literatura técnica internacional para o projeto de
estruturas de concreto armado em situação de incêndio e a proposta de um método
simplificado expedito e mais preciso para o projeto de elementos estruturais. A autora
ainda destaca o objetivo de fornecer informações às futuras revisões de normas
pertinentes ao projeto de estruturas de concreto e às pesquisas subseqüentes.
2.5.4 - Análise termomecânica de elementos estruturais
VILA REAL (1993), em sua tese de doutorado, apresentou a formulação utilizada no
desenvolvimento de um programa para análise bidimensional, via Método dos
Elementos Finitos, da solidificação e do comportamento termomecânico de peças
produzidas em moldes metálicos. O programa permite a obtenção do campo de
temperaturas em regimes estacionário e transitório e das tensões e deformações devido
às temperaturas e às ações externas. Vila Real utilizou o modelo elasto-viscoplástico de
Perzyna para análise do material a ser moldado.
40
LANDESMANN (2003) apresentou, em sua tese de doutorado, um modelo
computacional para análise não-linear elasto-plástica de estruturas de aço, planas e
aporticadas, sob condições de incêndio. Para determinação da distribuição de
temperatura, o autor utilizou um procedimento não-linear transiente de transferência de
calor com base no Método dos Elementos Finitos. O comportamento estrutural foi
investigado por meio de princípios de plasticidade concentrada, funções de estabilidade
e superfícies inelásticas de redução de resistência. Os resultados obtidos, para um grupo
selecionado de estruturas aporticadas, foram examinados tomando-se por base o
programa
Safir e recomendações previstas por normas nacionais e internacionais.
KIRCHHOF (2004) apresentou, em sua dissertação de mestrado, a elaboração de um
modelo numérico tridimensional para viga mista, objetivando simular satisfatoriamente
seu comportamento estrutural em situação de incêndio e em temperatura ambiente. A
autora aborda as vigas mistas formadas por perfil I de aço conectado a lajes de concreto
por conectores de cisalhamento. O modelo numérico permite tratar o cisalhamento
longitudinal entre a laje e a viga, bem como a separação vertical entre esses materiais
(
uplift). Os resultados obtidos foram comparados com valores de análises numéricas e
experimentais extraídos da literatura científica. Na modelagem numérica, foi utilizado o
programa
Abaqus.
Huang e seus colaboradores (HUANG
et al., 2004) descreveram um elemento não-
linear do tipo viga-pilar para análise tridimensional de pórticos de seção transversal
quaisquer. A formulação permite a consideração das não-linearidades geométrica e
material, sendo adequada para modelagem das grandes deformações obtidas em
situação de incêndio. É apresentado um exemplo numérico utilizando-se material
elástico-linear para demonstrar a precisão dos elementos em grandes deformações.
Ainda para mostrar as capacidades da formulação, é apresentada a análise numérica de
uma viga mista do tipo
slim-floor.
MOUÇO (2008) desenvolveu, em sua dissertação de mestrado, uma ferramenta
computacional de análise avançada que realiza análise inelástica de estruturas aporticadas
de aço e mistas de aço e concreto em condição de incêndio. Para análise térmica, o autor
41
utilizou um algoritmo não-linear que considera automaticamente os efeitos da exposição
não-uniforme do elemento estrutural ao fogo. O comportamento mecânico inelástico foi
simulado por meio de princípios de plasticidade concentrada e funções de estabilidade,
utilizando-se um modelo com formulação corrotacional e grandes deslocamentos.
SUAZNÁBAR VELARDE (2008) abordou, em sua dissertação de mestrado, o
comportamento de pilares de aço em situação de incêndio, por meio de simulações
numéricas utilizando-se o programa Vulcan e de códigos desenvolvidos em Matlab.
Foram empregadas análises não-lineares geométricas e materiais, a curva de incêndio
prescrita na ISO 834-1 (1999) e a variação das propriedades termomecânicas de quatro
tipos de aços. Os resultados obtidos serviram de base para a construção de curvas para
determinação da temperatura crítica a partir de métodos padronizados pela norma
EN 1993-1-2:2005 e pelo PR-NBR 14323:2003.
CALDAS (2008) apresentou, em sua tese de doutorado, o desenvolvimento e a
implementação de modelos numéricos não-lineares para análise térmica e mecânica de
estruturas de aço, concreto e mistas de aço e concreto em situação de incêndio. Caldas
utilizou um elemento de viga tridimensional capaz de simular o comportamento
termomecânico de estruturas por meio de plasticidade distribuída. Para simular lajes de
concreto, um elemento de casca, composto por camadas com um modelo constitutivo de
dano, foi utilizado. Caldas ainda considerou um elemento de mola para simulação de
ligações semi-rígidas, acoplado aos elementos de viga. Os modelos foram validados por
comparações com resultados numéricos e experimentais encontrados em literatura.
Recentemente, KIMURA (2009) abordou, em sua dissertação de mestrado, a análise
numérica do comportamento de pilares de aço em situação de incêndio, considerando as
condições de compartimentação do ambiente sob incêndio. Foram desenvolvidos
modelos tridimensionais para realização da análise termo-estrutural no programa
ANSYS 9.0. A capacidade resistente e as temperaturas obtidas na análise computacional
foram comparadas com os resultados provenientes dos procedimentos das normas
ABNT NBR 14323:1999 e EN 1993-1-2:2005. Em situações onde a distribuição de
temperatura ocorre de modo não-uniforme, observou-se que os procedimentos das
normas conduzem a resultados discrepantes ao comportamento previsto nas simulações.
42
2.5.5 - Comparação de resultados experimentais com análises numéricas
Huang e seus colaboradores (HUANG et al., 2000) apresentaram as bases teóricas do
programa
Vulcan, que tem sido progressivamente desenvolvido há alguns anos na
Universidade de Sheffield, na Inglaterra. Esse programa permite a modelagem
tridimensional de estruturas em situação de incêndio, utilizando elementos do tipo viga-
pilar e elementos de placas. Os autores modelaram três ensaios de incêndio em pórticos
mistos realizados em 1995 e 1996, em Cardington, também na Inglaterra, e também
observaram uma excelente concordância dos resultados numéricos com os ensaios. A
modelagem numérica considerou o efeito de membrana das lajes em situação de
incêndio, utilizando elementos de placa geometricamente lineares e não-lineares.
JOHANSSON e GYLLTOFT (2001) desenvolveram um estudo analítico e experimental
sobre o comportamento de pilares mistos de aço e concreto, esbeltos e de seção circular,
sendo o carregamento aplicado excentricamente, ora na seção de concreto, ora na seção
de aço ou ainda em ambos os materiais simultaneamente. Eles modelaram os espécimes
ensaiados no programa
Abaqus e utilizaram o modelo de plasticidade de von Mises para
o aço e o modelo de Drucker-Prager para o concreto, obtendo boa concordância entre a
análise numérica e a experimental. Observaram que o comportamento dos pilares é
extremamente influenciado pela forma de aplicação do carregamento e que, quando se
utiliza apenas a aderência entre o aço e o concreto, a seção mista trabalha com iteração
total somente se o carregamento for aplicado em ambos os materiais.
Foster e seus colaboradores (FOSTER
et al., 2004) apresentaram os resultados de
ensaios em pequena escala de lajes sem restrições a deslocamentos horizontais em
situação de incêndio. O objetivo dos ensaios era investigar a influência da curvatura,
devido à temperatura, nos mecanismos de falha das lajes retangulares. Observaram que
o mecanismo de falha das lajes em altas temperaturas difere do assumido nos métodos
simplificados de projeto, resultando em altos deslocamentos no meio do vão, que
conduzem à formação de fissuras de grande profundidade na direção do menor vão da
laje. Foram feitas algumas modelagens numéricas com o programa
Vulcan, desenvolvido
na Universidade de Sheffield, obtendo-se resultados bem próximos dos ensaios.
43
Lim e seu grupo (LIM
et al., 2004) compararam modelos numéricos com base no
Método dos Elementos Finitos de lajes de concreto armado em situação de incêndio
com resultados de ensaios, obtendo valores muito próximos. Os modelos numéricos
abrangeram lajes armadas em uma e em duas direções com várias condições de
contorno, com as análises feitas pelo programa
Safir. As análises demonstraram que o
comportamento das lajes com restrições axiais é muito sensível ao tipo de apoio.
Resultados de ensaio mostraram que o tempo de falha é muito maior que o predito por
cálculos com base na teoria das charneiras plásticas, sendo a ação de membrana a
principal responsável por essa resistência adicional e pelo aumento de deformações
durante um incêndio prolongado.
Recentemente, FRATTI (2009) apresentou, em sua dissertação de mestrado, um estudo
do comportamento não-linear de ligações metálicas do tipo “chapa de topo” em situação
de incêndio. Foi proposto um modelo numérico-computacional tomando-se por base o
método dos componentes (EN 1993-1-2:2005), permitindo-se a determinação de curvas
momento-rotação-temperatura (M-R-T) de ligações, segundo o modelo exponencial
proposto por Ramberg-Osgood. Os resultados numéricos obtidos pelo autor foram
comparados com dados experimentais obtidos na literatura, indicando boa correlação.
2.5.6 - Considerações finais
Por meio dos trabalhos anteriormente expostos, conclui-se que a simulação numérica do
comportamento de um elemento estrutural ou subsistemas estruturais em situação de
incêndio via Método dos Elementos Finitos freqüentemente conduz a bons resultados,
próximos dos observados em ensaios. Adicionalmente, o uso de modelos numéricos que
contemplem não-linearidades geométricas, materiais e térmicas tem-se mostrado uma
ferramenta importante para simulações e conseqüente aprimoramento dos métodos
simplificados de cálculo prescritos nas normas.
CAPÍTULO 3 -
Análise Térmica
3
ANÁLISE TÉRMICA
3.1 - Introdução
A análise térmica desenvolvida neste trabalho visa basicamente determinar a
distribuição de temperatura nos elementos estruturais em situação de incêndio, de modo
que uma análise mecânica tenha os subsídios necessários para a avaliação da perda de
resistência e de rigidez do material estrutural com o aumento de temperatura.
O objetivo desse capítulo consiste em apresentar os mecanismos de transferência de
calor, bem como a formulação para análise térmica via Método dos Elementos Finitos
obtida por meio do Método dos Resíduos Ponderados.
3.2 - Mecanismos de transferência de calor
A transferência de calor pode ser entendida como a propagação de energia de uma
região para outra, devido à diferença de temperatura entre elas. Habitualmente
consideram-se três mecanismos básicos de transferência de calor: condução, convecção
e radiação.
45
3.2.1 - Condução
A condução é um processo pelo qual o calor é transmitido de uma região a elevada
temperatura para outra de temperatura mais baixa dentro de um meio (sólido, líquido ou
gasoso), ou entre meios diferentes em contato físico direto. Na transmissão de calor por
condução, a energia é transmitida por meio do movimento cinético ou pelo impacto
direto de moléculas, no caso de fluidos em repouso, sem apreciável deslocamento das
moléculas. No caso de sólidos isolantes, a transferência de energia se faz por meio da
vibração da rede molecular devido ao movimento atômico. Nos sólidos condutores, a
transferência de calor por condução se deve também ao movimento translacional dos
elétrons livres.
A lei fundamental que rege a transmissão de calor por condução foi proposta por J. B.
Fourier em 1822. Segundo essa lei, a quantidade de calor que atravessa uma área
A,
normal à direção do fluxo calorífico, na unidade de tempo, é proporcional ao produto da
área pelo gradiente térmico:
dn
d
AQ
θ
λ
=
(3.1)
onde
Q é a quantidade de calor que atravessa a área A,
λ
é a constante de
proporcionalidade, denominada
condutibilidade ou condutividade térmica do material,
A é a área da seção transversal através da qual o calor flui por condução, medida
perpendicularmente à direção do fluxo e
d
θ
/dn é o gradiente de temperatura na seção,
isto é, a razão de variação da temperatura
θ
com a distância, na direção n do fluxo de calor.
A condutividade térmica do material depende da sua composição química, do seu estado
físico, textura e da sua temperatura. Dessa forma, a condutividade térmica varia entre
valores muito afastados. Sua unidade é dada no sistema internacional por W/mºC.
O sinal negativo na Eq.3.1 serve para assegurar que o fluxo de calor ocorre em sentido
contrário ao gradiente de temperatura. A quantidade de calor por unidade de área e por
unidade de tempo é chamada fluxo de calor, sendo dada por:
dn
d
A
Q
q
θ
λ
==
(3.2)
46
Essa é a expressão matemática para o princípio básico da condução de calor
unidimensional em regime permanente.
Para determinação das equações básicas que governam a condução de calor em um
sólido, considerou-se um elemento tridimensional infinitesimal em um domínio
,
conforme a FIG.3.1. Foram consideradas também as hipóteses de isotropia, meio
contínuo, homogeneidade térmica, isto é, as propriedades do material são independentes
do ponto considerado, e permanência térmica, ou seja, a condutividade térmica e o calor
específico são variáveis com a temperatura.
dzdydx
x
q
q
x
x
+
dzdxdy
y
q
q
y
y
+
dydxdz
z
q
q
z
z
+
dydxq
z
dzdyq
x
dzdxq
y
dz
dy
dx
y
x
z
FIGURA 3.1 – Fluxo de calor em um elemento tridimensional infinitesimal
Aplicando-se a primeira lei da termodinâmica, Lei de Conservação da Energia, no
elemento infinitesimal tridimensional apresentado na FIG.3.1, tem-se:
fluxo de
calor que
entra
fluxo de
calor que
sai
calor
gerado
internamente
variação da
energia interna
do elemento
=
+
(3.3)
47
Se o calor que flui na direção dos eixos
x, y e z por unidade de comprimento na unidade
de tempo é denominado
q
x
, q
y
e q
z
, respectivamente, a diferença entre o fluxo que sai e o
que entra no elemento é dada por:
++
++
+
x
x
xy
y
yz
z
z
qdx
x
q
qdzdyqdy
y
q
qdzdxqdz
z
q
qdydx
(3.4)
Sendo
Q o calor gerado no interior do elemento por unidade de volume e por unidade de
tempo, o calor gerado no elemento na unidade de tempo pode ser dado por:
dzdydxQ
(3.5)
A variação da energia interna na unidade de tempo pode ser expressa por:
dzdydx
t
c
θ
ρ
(3.6)
onde
c é o calor específico do material,
ρ
é a densidade do material e
θ
(x, y, z, t) é a
distribuição de temperatura.
Substituindo-se os termos desenvolvidos na equação da conservação de energia tem-se:
=
+
+
t
cQdzdydx
z
q
y
q
x
q
dzdydx
z
y
x
θ
ρ
(3.7)
Dividindo-se todos os termos por
dx dy dz, obtém-se:
0=
+
+
+
t
cQ
z
q
y
q
x
q
z
y
x
θ
ρ
(3.8)
Aplicando-se a lei de Fourier (Eq.3.2) à Eq.3.8, chega-se à
equação diferencial da
condução de calor
:
0=
+
+
+
t
cQ
zzyyxx
zyx
θ
ρ
θ
λ
θ
λ
θ
λ
(3.9)
48
Segundo as hipóteses da homogeneidade térmica e isotropia, a condutividade térmica
λ
é constante em qualquer ponto do material e em qualquer direção. Aplicando essa
hipótese sobre a Eq.3.9, obtém-se:
0
2
2
2
2
2
2
=
+
+
+
t
c
Q
zyx
θ
λ
ρ
λ
θθθ
ou 0
2
=
+
t
c
Q
θ
λ
ρ
λ
θ
(3.10)
sendo
c
ρ
λ
a difusibilidade térmica do material e o operador diferencial.
Caso não exista geração interna de calor (Q = 0), tem-se a equação de Fourier:
0
2
=
t
c
θ
λ
ρ
θ
(3.11)
Em regime permanente (
0=
t
θ
), tem-se a equação de Poisson:
0
2
=+
λ
θ
Q
(3.12)
Em regime permanente e não havendo geração interna de calor, tem-se a equação de
Laplace:
0
2
=
θ
(3.13)
3.2.1.1
- Condições iniciais e de contorno
Para solucionar a equação diferencial da condução de calor (Eq.3.9), deve-se especificar
as condições iniciais (no tempo
t = t
0
no domínio ) e as condições de contorno na
superfície Γ para um problema particular. As condições de contorno podem ser
divididas em essenciais ou naturais:
a) condições iniciais
O campo inicial de temperaturas deve ser especificado no domínio como:
()
(
)
em,,0,,,
0
zyxzyx
θ
θ
=
(3.14)
49
b) condições de contorno essenciais ou de Dirichlet
As condições de contorno essenciais correspondem a temperaturas prescritas numa
parte do contorno:
(
)
θ
θ
θ
Γ
=
em,,, tzyx
(3.15)
c) condições de contorno naturais ou de Neumann
As condições de contorno naturais correspondem a fluxos de calor prescritos numa
parte do contorno, saindo do domínio na direção normal
n ao contorno:
()
q
tzyxq
n
q Γ=
= em,,,
θ
λ
(3.16)
Esse fluxo é tomado igual a zero para uma superfície perfeitamente isolada.
3.2.2
- Convecção
A convecção é um processo pelo qual o calor é transmitido entre as partes em
movimento de um fluido (líquido ou gasoso) ou entre esse e superfícies sólidas a
diferentes temperaturas.
As correntes de convecção num fluido estão sempre associadas a diferenças de pressão.
Quando as correntes de convecção desenvolvem-se devido unicamente à diferença de
densidade do fluido oriunda dos gradientes térmicos, a convecção é dita
natural. Se as
diferenças de pressão forem motivadas por causas externas como ventiladores, bombas,
explosões ou reações de queima, a convecção é dita
forçada.
Em muitos casos, e particularmente na análise térmica de uma estrutura em situação de
incêndio, a convecção ocorre entre um fluido e a superfície de um sólido. Portanto, as
velocidades desenvolvidas pelo fluido como conseqüência das correntes de convecção
não necessitam ser determinadas, sendo o processo de transferência de calor por convecção
utilizado apenas como um tipo de condição de contorno para o domínio sólido.
50
Isaac Newton, observando o fenômeno da convecção, propôs em 1701 que a quantidade
de calor que atravessa uma área
A é proporcional à diferença entre a temperatura do
fluido e a temperatura da superfície do sólido. Essa relação é conhecida como
lei de
arrefecimento de Newton
e é expressa por:
(
)
fscc
AQ
θ
θ
α
=
(3.17)
onde
Q
c
é a quantidade de calor que atravessa a área A,
α
c
é a constante de
proporcionalidade, denominada
coeficiente de transmissão de calor por convecção, A é
a área da interface sólido-fluido através da qual o calor flui por convecção, medida
perpendicularmente à direção do fluxo,
θ
s
é a temperatura da superfície do sólido e
θ
f
é
a temperatura média do fluido.
O fluxo de calor devido à convecção é dado por:
()
fsc
c
A
Q
q
θθα
==
(3.18)
Utilizando-se a convecção como condição de contorno para um problema de domínio
sólido, tem-se uma condição de contorno natural denominada
contorno convectivo. Para
essa condição tem-se o fluxo de calor prescrito numa parte Γ
c
do contorno por:
(
)
cfsc
n
q
Γ=
= em
θθα
θ
λ
(3.19)
3.2.2.1
- Coeficientes para convecção forçada
A combustão é um tipo de reação química que ocorre em altas temperaturas, com
desprendimento de calor em quantidade suficiente para manter a temperatura da reação.
Na maioria dos incêndios em edificações, o combustível envolvido geralmente é de
natureza celulósica e, em certos casos, de material hidrocarboneto. Tais materiais,
quando sofrem reações de combustão, produzem vários gases, entre eles CO
2
, N
2
e
vapores de água. Essa reação ocorre com um notório aumento de volume, pressão e
temperatura, quando se comparam os produtos com os reagentes.
51
Em um compartimento incendiado, o aumento de volume proporcionado pela
combustão dos materiais presentes faz com que as correntes de convecção geradas no
meio sejam de direções extremamente aleatórias e de altas velocidades. Em tais casos,
fica configurada uma convecção forçada, sendo as correntes convectivas independentes
do gradiente térmico entre os gases e a superfície da estrutura.
O EN 1991-1-2:2002 recomenda simplificadamente, para o coeficiente de transferência
de calor por convecção
α
c
entre os gases e a superfície da estrutura, os valores de
25 W/m
2 o
C (para as curvas de incêndio-padrão e incêndio em estruturas externas),
50 W/m
2 o
C (para a curva de incêndio de hidrocarbonetos) e 35 W/m
2 o
C (para modelos
de incêndios naturais). Esses valores produzem bons resultados quando se tem uma
curva de incêndio do tipo padrão, ou seja, de comportamento monotônico.
GHOJEL (1998) afirmou que, para incêndios naturais, bons resultados são obtidos se
α
c
for assumido variando de zero, no início da combustão, até um valor máximo, quando
as temperaturas dos gases e do elemento de aço se tornam iguais (
t = t
g=s
). O modelo
proposto por Ghojel pode ser expresso por:
sgc
sg
sg
c
tt
ttt
t
=
=
=
>=
=
para CºW/m10
para CºW/m
50
2
2
α
α
(3.20)
sendo o parâmetro
t
g=s
calculado pela relação exponencial:
max
0009,0
500
g
t
sg
et =
=
(3.21)
onde
t
g=s
e t
g
max
devem ser dados em segundos e t
g
max
deve ser obtido por curvas de
temperatura de incêndios reais, encontradas por meio de ensaios.
Segundo Ghojel, os resultados obtidos com o modelo apresentado se mostraram muito
próximos dos resultados obtidos em ensaios.
52
3.2.2.2
- Coeficientes para convecção natural
As superfícies da estrutura que não estão diretamente expostas ao incêndio não têm as
correntes convectivas influenciadas pela reação de combustão, como mostrado em
3.2.2.1. Em tais casos, as correntes de convecção são formadas devido à diferença de
densidade do ar oriunda dos gradientes térmicos, caracterizando uma convecção natural.
O uso dos coeficientes simplificados preconizados no EN 1991-1-2:2002 e mostrados
no subitem anterior, nesse caso, superestima extremamente o arrefecimento da estrutura.
INCROPERA (1992) apresenta a obtenção do coeficiente de convecção natural do ar
atmosférico por:
L
N
UL
c
λ
α
=
(3.22)
onde
α
c
é o coeficiente de transferência de calor por convecção, em W/m
2
ºC, N
UL
é o
número de Nusselt,
λ
é a condutividade térmica do ar, em W/mºC (conforme a
TAB.3.1), e
L é o comprimento característico, em metros, correspondente à dimensão
sobre a qual se desenvolvem as correntes de convecção, conforme a FIG.3.2.
u(y)
θ
s
>
f
θ
Fluido quiescente
f
θ
ρ
f
,
g
x, u
y, v
L
Perfil de velocidades
do fluido
Placa quente
FIGURA 3.2 – Formação da camada limite em um fluxo convectivo
53
A condutividade térmica do ar atmosférico e outras propriedades de interesse, como a
difusividade térmica, a viscosidade cinemática e o número de Prandtl, foram
equacionadas por RIBEIRO (2004) na forma de regressões polinomiais calculadas com
base nos valores tabulares apresentados por INCROPERA (1992). Essas expressões são
reproduzidas na TAB.3.1, sendo válidas para Cº1200Cº20
ar
θ , onde
θ
ar
é a
temperatura do ar em ºC.
TABELA 3.1 – Expressões para obtenção das propriedades térmicas do ar atmosférico
Propriedade Expressão Correlação
Massa específica
(kg/m³)
2345,100341,0105884,5
105358,4103913,1
2
6
3
9
4
12
+×+
+××=
arar
ararar
θθ
θθρ
R
2
= 0,9993
Calor específico
(J/kg ºC)
82,996135915,0
1042695,11040016,8
2
4
3
8
++
+×+×=
ar
ararar
c
θ
θθ
R
2
= 0,9970
Condutividade
(W/m ºC)
(
)
3
2
5
3
8
101688,23094884,0
1012886,81045993,4
×++
+××=
ar
ararar
θ
θθλ
R
2
= 0,9996
Difusividade
térmica
(m²/s)
(
)
6
2
5
3
8
10672,1419898,0
100017,5109429,8
×++
+××=
ar
ararar
θ
θθα
R
2
= 0,9997
Viscosidade
cinemática
(m²/s)
(
)
6
2
5
3
9
10104,1210785,0
10101,5107692,9
×++
+×+×=
ar
ararar
θ
θθ
ν
R
2
= 0,9999
Número de
Prandtl
(adimensional)
ar
ar
arr
a
P
ν
=
-
O número de Nusselt depende da posição em que se encontra a superfície em relação ao
eixo vertical. A TAB.3.2 fornece as expressões para sua obtenção para diversas
situações, onde
P
r
é o número de Prandtl (obtido na TAB.3.1) e R
AL
é o coeficiente de
Rayleigh, dado por:
(
)
να
θθβ
3
Lg
R
fs
AL
=
(3.23)
54
onde
g é a aceleração da gravidade, tomada igual a 9,81 m/s
2
,
β
é o coeficiente de
expansão da camada limite, em K
-1
,
θ
s
é a temperatura da superfície, em ºC,
θ
f
é a
temperatura do fluido, no caso o ar, em ºC,
α
é a difusividade térmica do ar, em m
2
/s,
obtida conforme a TAB.3.1, e
ν
é a viscosidade cinemática do ar, em m
2
/s, obtida
conforme a TAB.3.1.
TABELA 3.2 – Obtenção do número de Nusselt
Descrição Ilustração Expressão
Placa vertical com a
superfície quente ou fria
2
27/8
16/9
6/1
492,0
1
387,0
825,0
+
+=
r
AL
UL
P
R
N
Placa inclinada com a
superfície fria, para cima,
ou com a superfície quente,
para baixo
φ
g
Mesma equação acima, corrigindo-se a
aceleração da gravidade g por g.sen
φ
no cálculo de R
AL
(Eq.3.23),
sendo válida para 30º
φ
90º
Placa horizontal com a
superfície quente, para
cima, ou com a superfície
fria, para baixo
7
3/1
7
4/1
10para,15,0
10para,54,0
>=
<=
ALALUL
ALALUL
RRN
RRN
Placa horizontal com a
superfície fria, para cima,
ou com a superfície quente,
para baixo
4/1
27,0
ALUL
RN =
O coeficiente de expansão da camada limite
β
mede a extensão da variação da
densidade em resposta a uma variação de temperatura numa pressão constante.
Simplificadamente, esse coeficiente é dado pelo inverso da temperatura média da
película
T
f
, em Kelvin:
fsf
T
θθ
β
+
==
21
(3.24)
55
A formulação apresentada por Incropera permite a obtenção do coeficiente de
transferência de calor por convecção natural para placas planas de comprimento
característico
L, com um ângulo
φ
qualquer em relação ao vetor gravidade g.
No entanto, para implementação computacional via Método dos Elementos Finitos,
torna-se necessário informar, para cada superfície sujeita à convecção natural, o
comprimento característico da superfície e o tipo de resfriamento que a superfície está
submetida (TAB.3.2).
Neste trabalho, visando a obtenção de uma formulação simplificada e de emprego
prático para implementação computacional (função apenas do ângulo
φ
entre a
superfície e o vetor gravidade), aplicou-se a formulação apresentada por Incropera ao
problema de resfriamento de uma placa quente de aço com 1,0 cm de espessura,
adotando-se uma temperatura inicial de 1200 ºC para a placa de aço e 20 ºC para o
fluido. Para o cálculo da perda de calor por convecção e radiação, utilizou-se a
formulação proposta pelo EN 1994-1-2:2005 com base no fator de massividade da placa
e com incremento temporal de 60 segundos, sendo o coeficiente de convecção calculado
para cada incremento. Foram considerados cinco comprimentos característicos
L para a
placa, variando de 0,25 m a 5,00 m, que correspondem, aproximadamente, às dimensões
típicas das peças de uma estrutura. Adicionalmente, considerou-se a inclinação da placa
variando de 0º (superfície quente para baixo) a 180º (superfície quente para cima).
A curva temperatura da placa × tempo
é ilustrada na FIG.3.3 para a placa na horizontal,
com a face quente para baixo. A FIG.3.4 ilustra o caso da placa na vertical e a FIG.3.5
mostra os resultados para a placa com a superfície quente para cima. São mostradas
também as curvas de resfriamento considerando-se um coeficiente de convecção fixo,
ajustado de modo a minimizar o erro, relativo à temperatura da placa, durante o
processo de resfriamento.
56
0
200
400
600
800
1000
1200
0 30 60 90 120 150 180 210 240
Tempo (minutos)
Temperatura da placa (ºC)
= 2,524 W/m² ºC
L = 0,25 m
L = 0,6 m
L = 1,5 m
L = 3,0 m
L = 5,0 m
α
c
FIGURA 3.3 – Resfriamento de uma placa quente horizontal com a face para baixo
0
200
400
600
800
1000
1200
0 30 60 90 120 150 180 210 240
Tempo (minutos)
Temperatura da placa (ºC)
= 7,073 W/m² ºC
L = 0,25 m
L = 0,6 m
L = 1,5 m
L = 3,0 m
L = 5,0 m
α
c
FIGURA 3.4 – Resfriamento de uma placa quente vertical
57
0
200
400
600
800
1000
1200
0 30 60 90 120 150 180 210 240
Tempo (minutos)
Temperatura da placa (ºC)
= 8,419 W/m² ºC
L = 0,25 m
L = 0,6 m
L = 1,5 m
L = 3,0 m
L = 5,0 m
α
c
FIGURA 3.5 – Resfriamento de uma placa quente horizontal com a face para cima
Por meio da formulação apresentada, ajustou-se o valor do coeficiente de convecção
para vários ângulos de inclinação da placa, como mostrado na TAB.3.3.
TABELA 3.3 – Coeficientes de convecção ajustados por minimização do erro
Inclinação
φ
da
superfície (graus)
Coeficiente
α
c
ajustado (W/m
2
ºC)
Máxima diferença no
valor do coeficiente
α
c
Erro na
temperatura (ºC)
0 2,524 0,505 12,48
30 5,686 0,913 8,72
40 6,152 1,058 9,34
50 6,502 1,127 9,53
60 6,759 1,139 9,44
70 6,935 1,121 9,37
80 7,039 1,099 9,74
90 7,073 1,099 9,80
180 8,419 1,251 6,28
Variando-se a espessura da placa entre 1,0 cm e 50,0 cm, a temperatura inicial entre
150 ºC e 1200 ºC, o comprimento característico entre 0,25 m e 5,00 m e alternando-se o
material da placa entre aço e concreto, o coeficiente de convecção para cada incremento
temporal obtido pela formulação apresentada por Incropera e o valor ajustado mostrado
58
na TAB.3.3 diferem entre si no máximo em 1,251 W/m
2
ºC. Comparando-se as
temperaturas da placa durante o resfriamento com o coeficiente ajustado (fixo) e o
resfriamento com o coeficiente calculado a cada incremento, a diferença máxima obtida
é de 12,48 ºC.
Os valores do coeficiente de convecção mostrados na TAB.3.3 podem ser ajustados em
função da inclinação da superfície por meio de regressão polinomial, conforme ilustrado
na FIG.3.6, resultando em uma boa correlação. A maior vantagem do uso dessa equação
para obtenção do coeficiente de convecção é sua fácil implementação em um programa
de elementos finitos, uma vez que a mesma pode ser aplicada tanto para o aço quanto
para o concreto, para comprimentos característicos de 0,25 m a 5,00 m e para uma larga
faixa de temperaturas e espessuras dos elementos estruturais, sendo função unicamente
do ângulo de inclinação da placa
φ
.
α
c
= -0,1799
φ
4
+ 1,8318
φ
3
- 6,1301
φ
2
+ 8,5955
φ
+ 2,6335
R
2
= 0,9980 Equação válida para
θ
>
θ
f
0,00
1,00
2,00
3,00
4,00
5,00
6,00
7,00
8,00
9,00
0,0000 0,5236 1,0472 1,5708 2,0944 2,6180 3,1416
φ
- Ângulo entre a normal da superfície e o vetor g (radianos)
α
c
- Coeficiente de convecção natural (W/m² ºC)
θ
f
φ
g
n
θ
FIGURA 3.6 – Variação do coeficiente de convecção com a inclinação da placa
Ressalta-se que esse procedimento é válido quando temperatura da placa
θ
é maior que
a do fluido
θ
f
. Em caso contrário, deve-se adotar na regressão π -
φ
no lugar de
φ
.
59
3.2.3 - Radiação
A radiação térmica é o processo de transmissão de calor entre corpos por emissão ou
absorção de radiações eletromagnéticas. Contrariamente à convecção e à condução, a
radiação não necessita da presença de um meio material para que possa ocorrer. Sabe-
se, inclusive, que a transmissão de calor por radiação tem sua eficiência máxima no
vácuo.
Simplificadamente, o mecanismo da radiação consiste na emissão de ondas
eletromagnéticas por um corpo aquecido, que, ao serem absorvidas por um receptor,
transformam-se em energia térmica. O fluxo máximo de calor que pode ser emitido de
uma superfície por radiação é dado pela lei de Stefan-Boltzmann:
4
θσ
=q
(3.25)
onde
q é o fluxo de calor emitido pela superfície aquecida, em W/m
2
,
σ
é a constante de
proporcionalidade de Stefan-Boltzmann, igual a 5,6697 × 10
-8
W/m
2
K
4
, e
θ
é a
temperatura absoluta da superfície (em Kelvin).
A Eq.3.25 é válida para os chamados irradiadores perfeitos ou corpos negros. Os corpos
reais não preenchem os requisitos de um irradiador perfeito, pelo que o fluxo de calor
emitido corresponde a uma fração dos corpos negros, sendo expresso por:
4
θσε
=q
(3.26)
sendo
ε
a emissividade da superfície (0 <
ε
< 1).
Por outro lado, no caso de um fluido gasoso envolvendo um corpo sólido, o fluido emite
calor por radiação
q
inc
para a superfície do sólido, que o absorve dependendo de sua
absortividade
η
, numa quantidade igual a
η
q
inc
. Fazendo-se a troca líquida de calor
entre a superfície e a vizinhança, tem-se que o fluxo líquido de calor emitido por
radiação
q é igual à quantidade emitida menos a quantidade absorvida:
incs
qq
ηθσε
=
4
(3.27.a)
ou ainda
44
fs
q
θσηθσε
=
(3.27.b)
60
Pode-se demonstrar que, para superfícies cinzentas, isto é, aquelas que não absorvem
integralmente a energia radiante incidente,
ε
=
η
e o calor trocado será então:
(
)
44
fsres
q
θθσε
=
(3.28)
sendo
q a quantidade líquida de calor emitido por radiação, em W/m
2
,
ε
res
a
emissividade resultante da superfície,
θ
s
a temperatura absoluta da superfície do sólido
(em Kelvin) e
θ
f
a temperatura absoluta média do fluido (em Kelvin).
O EN 1994-1-2:2005 recomenda simplificadamente para a emissividade resultante da
superfície o valor de 0,7, considerando-se a troca de calor por radiação entre os gases
quentes da combustão e uma superfície típica de aço ou concreto. O PR-NBR
14323:2003, no entanto, recomenda para a emissividade resultante o valor de 0,5.
GHOJEL (1998) afirma que ótimos resultados são obtidos quando se utiliza a Eq.3.27.b
com os valores da emissividade
ε
(FIG.3.7) e da absortividade
η
(FIG.3.8) de uma
mistura de 10% de gás carbônico, 10% de vapor de água e 80% de gás nitrogênio,
correspondente aos gases resultantes da combustão completa de material celulósico
seco.
1,5 atm
1 atm
2 atm
3 atm
0,55
0,5
0,4
0,3
0,2
0,45
0,35
0,25
0
400 800 1200 1600
Temperatura (Kelvin)
Emissividade
( )
ε
FIGURA 3.7 – Emissividade total de uma mistura de 10% CO
2
, 10% H
2
O e 80% N
2
61
300
491
682
873
1064
1255
300
491
682
873
1064
1255
0
0.2
0.4
0.6
0.8
1
θ
f
(Kelvin)
θ
s
(Kelvin)
P = 1 atm
Absortividade
(
η
)
0,8
0,6
0,4
0,2
FIGURA 3.8 – Absortividade total de uma mistura de 10% CO
2
, 10% H
2
O e 80% N
2
FIGUEIREDO JÚNIOR (2002) observa que os resultados obtidos com o modelo de
Ghojel se mostraram bastante próximos dos resultados obtidos por ensaios no caso de
elementos de aço. Entretanto, estudos adicionais são necessários para se verificar a
aplicabilidade desse modelo em elementos de concreto e mistos de aço e concreto.
Neste trabalho, optou-se por utilizar a formulação com a emissividade resultante fixa
(Eq.3.28) para evitar a dificuldade de implementação do modelo proposto por Ghojel.
Reescrevendo-se a Eq.3.28 de forma similar à utilizada para convecção, obtém-se:
(
)
fsr
q
θ
θ
α
=
(3.29)
com o coeficiente de transmissão de calor por radiação
α
r
definido por
(
)
(
)
22
fsfsresr
θθθθσεα
++=
(3.30)
Utilizando-se a radiação como condição de contorno para um problema de domínio
sólido, tem-se uma condição de contorno natural denominada
contorno radiativo. Para
essa condição tem-se o fluxo de calor prescrito numa parte
Γ
r
do contorno por:
(
)
rfsr
n
q Γ=
= em
θθα
θ
λ
(3.31)
62
3.3 - Problemas de domínio sólido
Para os corpos sólidos, as trocas de calor no domínio (volume do corpo) ocorrem apenas
por condução, segundo a Eq.3.9. Estando um corpo sólido envolvido por um fluido,
conforme a FIG.3.9, pode-se utilizar a convecção juntamente com a radiação como
condição de contorno para o problema de domínio sólido
(contorno convectivo-
radiativo
), além de um fluxo de calor prescrito. Nessa condição, o fluxo de calor é dado
numa parte
Γ
q
do contorno saindo na direção n normal ao contorno por:
()
(
)
(
)
qfsrfsc
tzyxq
n
q Γ++=
= em,,,
θθαθθα
θ
λ
ou
()
(
)
qfs
tzyxq
n
q Γ+=
= em,,,
θθα
θ
λ
(3.32.a)
(3.32.b)
onde
q(x,y,z,t) é o fluxo de calor prescrito no instante t e
α
é o coeficiente combinado de
transmissão de calor por convecção e radiação (Eq.3.30), expresso por
(
)
(
)
22
ou
fsfsrescrc
θθθθσεααααα
+++=+=
(3.33)
sendo as temperaturas dadas em Kelvin.
Correntes de convecção
Correntes de convecção
Radiação
Troca de calor
por condução
no domínio
Troca de calor por convecção,
radiação e fluxo prescrito no contorno
Condição de contorno natural
Temperatura prescrita no contorno
Condição de contorno essencial
θ
f
θ
s
α
c
α
r
λ
Γ
q
Γ
θ
n
α
c
FIGURA 3.9 – Condições de contorno em um problema de domínio sólido
63
3.4 - Aplicação do MEF à transferência de calor
3.4.1 - Método dos Resíduos Ponderados
Muitos problemas de engenharia são regidos por uma equação diferencial válida em um
domínio
, sujeita a condições de contorno em Γ. Porém, de forma geral, só para alguns
casos simples se conhecem soluções analíticas para essas equações diferenciais. Assim,
a determinação da função desconhecida
u (solução do problema) é feita utilizando-se
métodos numéricos.
Na solução via métodos numéricos o domínio
é discretizado, associando-se a cada
ponto da discretização uma variável
a
j
que terá de ser calculada. Essas variáveis,
juntamente com funções de forma apropriadas
N
j
, definem û como uma aproximação da
função desconhecida
u no domínio por:
aN===
=
m
j
jj
aNûu
1
(3.34)
sendo
û considerada uma boa aproximação se o resíduo
()
==
=
m
j
jj
aNAûAR
1
(3.35)
for pequeno no domínio
, para A um operador diferencial.
No método dos resíduos ponderados, os parâmetros
a
j
são escolhidos de modo a tornar
nulo não o valor do resíduo
R
, mas sim certas médias ponderadas. Considerando-se W
i
um conjunto de funções de peso independentes, tem-se:
0=
dRW
i
(3.36)
A escolha das funções de peso
W
i
pode ser definida para diferentes métodos:
a) Método da colocação pontual
O resíduo é forçado a ser nulo em um número m de pontos do domínio.
64
b) Método da colocação por subdomínios
O domínio é subdividido em m subdomínios nos quais a integral do resíduo é forçada
a ser nula.
c) Método de Galerkin
As funções de peso W
i
são escolhidas de modo da serem iguais às funções de forma
utilizadas na aproximação de
u. Assim:
0=
dRN
i
(3.37)
Se
A é um operador diferencial simétrico então o método de Galerkin gera matrizes
simétricas, o que é preferido na prática para o uso posterior do método dos elementos
finitos.
Estendendo-se o conceito do método dos resíduos ponderados às condições de contorno,
há necessidade de se considerar um novo resíduo no contorno
Γ:
()
==
=
Γ
m
j
jj
aNBûBR
1
(3.38)
Aplicando-se o conceito de nulidade das médias ponderadas utilizado no método dos
resíduos ponderados e considerando-se um conjunto de funções de peso independentes
para o contorno, tem-se:
0=Γ
Γ
Γ
dRW
i
(3.39)
3.4.2 - Equações básicas do MEF
A expressão básica da transferência de calor é dada pela Eq.3.9. Rearranjando-se os
termos da expressão em um domínio
, pode-se escrever:
=
+ em0
t
c
r
T
θ
ρρθ
D
(3.40)
65
onde
θ
representa a temperatura, t a variável tempo,
ρ
a densidade do material, c o calor
específico,
ρ
r
= Q a densidade de calor devido uma fonte de calor interna e D
corresponde à matriz constitutiva, formada pelas condutividades térmicas:
=
z
y
x
λ
λ
λ
00
00
00
D
(3.41)
O símbolo
indica o operador gradiente, sendo expresso por:
T
zyx
=
(3.42)
As condições de contorno às quais está sujeito o problema de domínio sólido podem
ser:
Condição de Dirichlet, que fixa a temperatura
θ
a um valor previamente
conhecido sobre um contorno particular;
θ
θθ
Γ= em0
(3.43)
Condição de Neumann, que fixa o gradiente de temperatura normal à superfície.
(
)
qf
qq
Γ
=
+
+
em0
θ
θ
α
n
(3.44)
onde:
θ
é a temperatura com valor conhecido no contorno;
α
é o coeficiente de transmissão de calor por convecção-radiação (Eq.3.33);
q é o fluxo de calor com valor conhecido no contorno, normal ao mesmo;
θ
é a temperatura na superfície do sólido;
θ
f
é a temperatura dos gases fora do domínio;
[]
T
zyx
nnn=n , vetor de normais ao contorno;
[]
θ
=== Dnq
T
zyxn
qqqq , é o vetor gradiente de temperatura normal a Γ
q
.
66
Em função dos valores dos parâmetros da Eq.3.44, tem-se:
a) contorno isolado
Representa um fluxo de calor nulo na interface do domínio com o meio externo:
0 pois ,0
=
=
=
α
qqn
(3.45.a)
b) contorno com entrada ou saída de calor
Representa um fluxo de calor de valor conhecido no contorno:
0 que vezuma ,
=
=
α
qqn
(3.45.b)
c) contorno com entrada ou saída de calor por convecção-radiação
Representa um fluxo de calor no contorno em função da diferença de temperatura
entre o meio externo e o domínio, sendo dado pelas leis da termodinâmica por:
(
)
0 que vezuma ,
=
= qq
f
θ
θ
α
n
(3.45.c)
3.4.3
- Formulação para o MEF da transmissão de calor
A aplicação do método dos elementos finitos exige como ponto de partida a existência
de uma forma integral que expresse o mecanismo global do sistema. Essa forma integral
pode ser obtida aplicando-se o método dos resíduos ponderados à equação diferencial
do problema (Eq.3.40) e à condição de contorno (Eq.3.44).
Escrevendo-se a expressão do resíduo para a equação diferencial, obtém-se:
t
cR
r
T
+=
θ
ρρθ
D
(3.46)
que, ao aplicar-se o conceito de nulidade das médias ponderadas, chega-se a
0=
+=
t
cdRW
r
TT
i
θ
ρρθ
DW
(3.47)
67
Repetindo-se o procedimento acima para as condições de contorno, tem-se:
(
)
f
qqR
q
θ
θ
α
+
+
=
Γ
n
(3.48)
Logo:
(
)
(
)
0=Γ++=Γ
ΓΓ
Γ
fn
T
i
qdRW
q
θθα
qW
(3.49)
Conjugando-se os resíduos obtidos nas expressões acima obtém-se a expressão seguinte,
denominada
equação de resíduos:
()
0=Γ+++
+
Γ
f
T
r
TT
q
t
c
αθαθθ
θ
ρρθ
DWDW
(3.50)
Na equação de resíduos não foi considerada a parcela correspondente ao resíduo da
condição de contorno essencial (Dirichlet), pois sendo as temperaturas conhecidas, o
resíduo pode ser exatamente anulado pela imposição das temperaturas prescritas.
Integrando-se por partes o termo
T
D
θ
segundo o Teorema de Green e reagrupando-
se a expressão obtida, vem:
+
+Γ+
Γ+Γ+Γ
t
c
T
r
TTTT
q
θ
ρρθθ
αθ
WWDWDW
0=ΓΓ+Γ+Γ+
ΓΓΓΓ+Γ
ααα
αθαθθ
f
TT
q
TT
qq
q WWWDW
(3.51)
Sendo as funções de peso arbitrárias, pode-se tomar
ii
WW = , o que leva a:
+
+Γ+
Γ+Γ+Γ
t
c
T
r
TTTT
q
θ
ρρθθ
αθ
WWDWDW
0=Γ+ΓΓΓ
ΓΓΓΓ+Γ
ααα
αθαθθ
f
TT
q
TT
qq
q WWWDW
(3.52)
68
Cabe ressaltar que a integral
Γ
Γ
θ
θ
DW
T
pode ser ignorada, uma vez que a mesma
ocorre no contorno de temperaturas prescritas (
Γ
θ
), sendo essas impostas ao nível da
resolução do sistema de equações. Assim, simplificando-se a Eq.3.52, chega-se a:
+
+
t
c
T
r
TTT
θ
ρρθ
WWDW
0=Γ+ΓΓ
ΓΓΓ
αα
αθαθ
f
TT
q
T
q
q WWW
(3.53)
Após a discretização do domínio em elementos finitos, as temperaturas são interpoladas
no interior de cada elemento como:
)(e
ii
N Na==
θθ
(3.54)
onde
N é a matriz das funções de forma definidas em cada elemento e a
(e)
é o vetor dos
valores das temperaturas nodais do elemento (
e).
O vetor de gradientes em cada elemento é obtido por:
)()( ee
BaNag ===
θ
(3.55)
sendo a matriz
[]
n
BBBB ,...,,
21
= e B
i
dado por:
T
iii
i
z
N
y
N
x
N
=B
(3.56)
O vetor de fluxos de calor pode ser determinado em função dos valores nodais de
temperatura pela expressão:
)(e
DBaq =
(3.57)
Substituindo-se a Eq.3.54 e a Eq.3.55 na Eq.3.53 e fazendo-se
W igual a N, segundo o
método de Galerkin (HUANG e USMANI, 1994), obtém-se um sistema matricial de
equações que pode ser escrito na forma:
fKa
a
M =+
t
(3.58)
69
onde
M é a matriz de massa, K é a matriz de rigidez térmica, f é o vetor de fluxos
nodais equivalentes e
a é o vetor de incógnitas contendo a temperatura em todos os nós
da malha.
Para cada elemento, as matrizes
M, K e f podem ser obtidas pelas seguintes expressões:
)(
)(
)(
e
Te
e
c
= NNM
ρ
(3.59)
Γ
Γ+=
)()(
)(
)(
ee
e
TTe
α
α
α
NNDBBK
(3.60)
ΓΓ
Γ+Γ=
)()()(
)()(
)()(
ee
q
e
e
f
T
e
q
Te
r
Te
q
α
α
θαρ
NNNf
(3.61)
3.4.4 - Problemas estacionários
Para problemas estacionários, a temperatura não varia com o tempo, assim o termo
t /a
é nulo e o sistema de equações se reduz a:
fKa
=
(3.62)
Obtidas as temperaturas nodais a, os fluxos de calor em cada ponto de integração de
Gauss são calculados por meio da Eq.3.57.
3.4.5 - Problemas transientes
A Eq.3.58 é resultante apenas da discretização do espaço, representando um sistema de
equações diferenciais ordinárias de primeira ordem. Na solução desse sistema de
equações empregam-se métodos numéricos que requerem a discretização no domínio do
tempo.
A discretização no tempo que será utilizada corresponde a uma aplicação do método das
diferenças finitas, baseado nas hipóteses:
a Eq.3.58 é satisfeita apenas em pontos discretos t
n+
β
de cada intervalo de tempo
t em que se discretizou o domínio tempo (FIG.3.10);
70
as temperaturas variam linearmente ao longo do intervalo de tempo t, desde o
instante
t
n
até t
n+1
= t
n
+ t.
t
n+1
θ
Tempo
t
n
t
n+
β
t
(1− ) ∆t
t
(Vetor )a
ββ
FIGURA 3.10 – Variação da temperatura no intervalo de tempo
t
As temperaturas
a
n+
β
no instante t
n+
β
= t
n
+
β
t podem ser dadas então por:
()
(
)
()
+=
++
1...,,1,0
0,1
com/
1
Nn
tt
nnnn
β
β
β
aaaa
(3.63)
sendo
N o número total de intervalos de tempo e
β
é um parâmetro que define dentro de
cada intervalo de tempo o instante em que a Eq.3.58 é satisfeita.
Pela segunda hipótese, a derivada da temperatura em relação ao tempo é constante
dentro de cada intervalo e dada por:
tt
nn
n
=
+
+
aa
a
1
β
(3.64)
Substituindo-se a Eq.3.63 e a Eq.3.64 na Eq.3.58, chega-se à seguinte fórmula de
recorrência:
n
n
nnn
n
tt
a
M
faK
M
+=
+
+
+++
+
ββ
β
βββ
β
(3.65)
71
As matrizes
M
n+
β
, K
n+
β
e f
n+
β
são avaliadas no instante t
n+
β
. Reescrevendo-se a fórmula
de recorrência de outra forma, obtém-se:
βββ
+++
=
nnn
faK
ˆ
ˆ
(3.66)
onde
β
β
β
β
+
+
+
+
=
n
n
n
t
K
M
K
ˆ
(3.67.a)
n
n
nn
t
a
M
ff
+=
+
++
β
β
ββ
ˆ
(3.67.b)
Resolvido o sistema de equações (Eq.3.66) para
a
n+
β
, as temperaturas no final do
intervalo de tempo
t
n+1
são dadas por:
nnn
aaa
+=
++
ββ
β
1
1
1
1
(3.68)
sendo essas as temperaturas
a
n
quando se avança para o intervalo de tempo seguinte.
Em função do valor do operador
β
na Eq.3.65, obtém-se vários esquemas de integração
no tempo, sendo mais conhecidos os esquemas de:
a) esquema explícito de Euler:
β
= 0
b) esquema implícito de Crank-Nicolson:
β
= 1/2
c) esquema implícito de Galerkin:
β
= 2/3
d) esquema implícito de Backward-Euler:
β
= 1
O algoritmo mostrado tem os mesmos critérios de estabilidade tanto para problemas
lineares quanto para problemas não-lineares. Segundo HOGGE (1981), para
β
< ½ os
esquemas de integração são
condicionalmente estáveis enquanto que, para ½
β
1,
são designados de
incondicionalmente estáveis, mesmo que tal convergência ocorra
com oscilações.
72
À medida que
β
se aproxima da unidade, as oscilações na resolução do problema
diminuem e para o esquema de Backward-Euler, não há oscilações, sendo, de modo
geral, a solução obtida com esse esquema subestimada. VILA REAL (1988) sugere
como solução de compromisso a utilização do esquema de Galerkin, demonstrando que
tal esquema faz com que a solução numérica aproxime-se rapidamente da solução exata.
Vila Real apresenta vários processos iterativos de resolução do sistema dado na Eq.3.66,
sendo o mais simples o denominado
método iterativo simples, descrito a seguir.
3.4.5.1 - Método iterativo simples
No método iterativo simples, a solução obtida no passo anterior é utilizada para obter a
solução atual. O processo de solução para problemas lineares e não-lineares é dado pela
seqüência:
Cálculos iniciais
1) Tomar n = 0, i = 0 e t
n
= 0;
2)
Fixar as condições iniciais
0
aaa
=
=
+ nn
β
(temperaturas iniciais).
Para cada intervalo de tempo
3) Calcular as matrizes
β
+n
M e
β
+n
K de acordo com a Eq.3.59 e a Eq.3.60,
respectivamente, se
i = 0 ou se as propriedades (
ρ
, c ou
α
) variarem com
i
n
β
+
a .
Caso contrário ir para o passo 5.
=
+
==
E
j
eT
nn
e
c
1
)(
)(
NNMM
ρ
β
Γ
=
Γ
=
+
Γ+==
α
α
αβ
α
E
k
e
T
E
j
T
nn
ee
1
)(
1
)()(
NNDBBKK
4)
Calcular a matriz:
β
β
β
β
+
+
+
+
=
n
n
n
t
K
M
K
ˆ
73
5)
Calcular o vetor f
n+
β
de acordo com a Eq.3.61 para i = 0, quando as condições
de contorno mudarem durante o intervalo de tempo
n = n + 1 e durante as
iterações
i = i + 1 (mudança no valor de q , de
α
ou de
θ
f
). Caso contrário, ir para
o passo 7.
Γ
=
Γ
Γ
=
Γ
=
+
Γ+Γ=
α
α
αβ
αθρ
E
j
e
f
T
E
j
e
q
T
E
j
e
r
T
n
e
q
e
q
e
q
1
)(
1
)(
1
)(
)()()(
NNNf
6)
Calcular a matriz:
n
n
nn
t
a
M
ff
+=
+
++
β
β
ββ
ˆ
7)
Resolver o sistema de equações:
βββ
+
+
+
+
=
nn
i
n
fKa
ˆ
ˆ
11
8)
Verificação da convergência:
A verificação da convergência dos resultados é feita por análise da diferença
entre os resultados da iteração
i+1 e os resultados da iteração i. Essa análise pode
ser feita de várias formas. A seguir são mostrados dois métodos:
- pela norma euclidiana: o critério de convergência é satisfeito quando a norma
da diferença entre os resultados da iteração
i+1 e os resultados da iteração i
são menores que uma porcentagem
ξ
perc
da norma dos resultados da iteração
i+1, denominada “tolerância”.
perc
i
n
i
n
i
n
ξ
β
ββ
×
+
+
+
+
+
100
1
1
a
aa
- pelo erro máximo: o critério de convergência é satisfeito quando a maior
diferença, em módulo, entre os resultados da iteração
i+1 e os resultados da
iteração
i é menor que uma tolerância
ξ
abs
(em ºC) pré-fixada.
abs
i
n
i
n
Max
ξ
ββ
+
+
+
aa
1
9)
Caso a convergência não seja atendida, fazer i = i + 1, e voltar ao passo 3. Caso
contrário, ir para o passo 10.
10)
Tomar
1+
++
=
i
nn
ββ
aa .
74
11)
Avaliar a temperatura no instante t
n+1
de acordo com a Eq.3.68.
nnn
aaa
+=
++
ββ
β
1
1
1
1
12)
Se n = N - 1, onde N é o número total de intervalos de tempo, então ir para o
passo 13, caso contrário tomar
t
n+1
= t
n
+ t, n = n + 1, i = 0 e voltar ao passo 3.
13)
Fim da análise térmica não-linear.
3.4.5.2 - Critérios para discretização no tempo
Como já visto anteriormente, para ½
β
1 o sistema de equações é
incondicionalmente estável, mesmo que haja oscilações na convergência. Porém,
dependendo da geometria do problema, da discretização da malha de elementos finitos e
do intervalo de tempo adotado, essas oscilações podem provocar a convergência para
soluções numéricas que fogem à realidade.
HUANG, H. C. e USMANI, A. S (1994) recomendam, para garantir a convergência
fisicamente correta das soluções, que se utilize no esquema de integração um intervalo
de tempo da ordem de:
2
h
c
t
λ
ρ
<
(3.69)
onde
t é intervalo de tempo, em segundos,
ρ
é a massa específica do material, em
kg/m
3
, c é o calor específico do material, em J/kg ºC,
λ
é a condutividade térmica do
material, em W/m ºC, e
h é a dimensão característica dos elementos (distância entre dois
nós muito próximos), em metros.
Segundo as recomendações de FIGUEIREDO JÚNIOR (2002) e através do
processamento de vários problemas, concluiu-se que bons resultados são obtidos com
análise térmica via MEF quando a dimensão característica dos elementos é menor que
50 mm, para concreto, e 10 mm, para aço. Com base nesses parâmetros e na Eq.3.69,
RIBEIRO (2004) sugere como solução de compromisso o uso de um intervalo de tempo
da ordem de 5,0 segundos.
75
3.4.6 - Resolução do sistema de equações lineares
Tanto para problemas estacionários (Eq.3.62) como para problemas transitórios
(Eq.3.66), sempre se recai na resolução de um sistema de equações lineares do tipo:
fKa
=
(3.70)
onde
K é uma matriz simétrica, f é um vetor conhecido, e a é o vetor de incógnitas.
Para resolução dos sistemas de equações lineares podem ser utilizados:
a) métodos diretos: são aqueles que, a menos de erros de arredondamento, fornecem a
solução exata do sistema linear, caso ela exista, após um número finito de
operações aritméticas.
b) métodos iterativos: são aqueles que utilizam um algoritmo iterativo para converter
um vetor
a
(k)
em outro, a
(k+1)
, que depende de a
(k)
, K e f, e, a princípio, consiste
em uma melhor aproximação da solução do sistema de equações. O critério de
parada é dado pela comparação da norma da diferença entre os valores da
iteração
k+1 e os valores da iteração k, com uma tolerância
ξ
, em ºC:
ξ
+ )()1( kk
aa
(3.71)
3.4.6.1 - Comparação dos métodos de solução utilizados
No desenvolvimento deste trabalho foram utilizados para resolução do sistema de
equações lineares os seguintes métodos:
Fatorização de Cholesky (método direto)
Método de Gauss-Seidel (método iterativo)
Método dos Gradientes Conjugados Pré-Condicionado (método iterativo)
O algoritmo da fatorização de Cholesky utilizado foi obtido de WEAVER e
JOHNSTON (1984). Os algoritmos do Método de Gauss-Seidel e do Método dos
Gradientes Conjugados Pré-Condicionados foram obtidos de CRISFIELD (1986).
76
Com relação à convergência, a fatorização de Cholesky, por ser um método direto, é um
processo finito e, teoricamente, obtém a solução de qualquer sistema não singular de
equações. Os métodos iterativos, no entanto, podem apresentar problemas de
convergência para alguns problemas térmicos, sobretudo quando se utilizam grandes
intervalos de tempo.
Com relação ao número de operações, sendo
n a ordem da matriz K, a fatorização de
Cholesky requer um total de operações aritméticas da ordem de
n
3
enquanto que os
métodos iterativos requerem 2
n
2
operações por iteração. Se o número de iterações dos
métodos iterativos for menor que
n/2, o esforço computacional requerido por tais
métodos será menor. Por isso, para sistemas de grande porte, os métodos iterativos são
mais recomendados.
Com relação aos erros de arredondamento, os métodos diretos apresentam sérios
problemas com esses erros. Os métodos iterativos, no entanto, são insensíveis aos erros
de arredondamento, pois a convergência, uma vez assegurada, independe da
aproximação inicial. Assim, apenas os erros cometidos na última iteração afetam a
solução, pois os erros cometidos nas iterações anteriores não levarão à divergência do
processo nem à convergência a outros valores que não a solução.
3.4.6.2 - Recomendações práticas
Através do processamento de vários modelos de estruturas em situação de incêndio e
exemplos citados em literatura, observou-se que:
para verificação da convergência do algoritmo não-linear (subitem 3.4.5.1), o
critério de melhor desempenho consiste em considerar a convergência atingida
se a norma euclidiana ou o erro máximo for satisfeito. O erro máximo torna-se
muito severo em altas temperaturas, sendo no entanto funcional quando as
temperaturas tendem para 0 ºC, faixa em que a norma euclidiana não converge
(divisão por zero). Por outro lado, a norma euclidiana é capaz de manter
constante o nível percentual de erro na malha em toda a análise;
77
os valores das tolerâncias utilizadas no controle da norma euclidiana e do erro
máximo que possibilitaram a maior velocidade de convergência, sem alterar
perceptivelmente as temperaturas para problemas de estruturas em situação de
incêndio, são, respectivamente:
ξ
perc
= 0,001 e
ξ
abs
= 0,000001 ºC;
para que os métodos iterativos utilizados não promovam influência nos
resultados maior do que os critérios de convergência mencionados no subitem
3.4.5.1, deve-se utilizar para
ξ
um valor de no máximo 1/25 da tolerância
ξ
perc
;
os tempos obtidos de processamento dos modelos, para os três métodos de
resolução das equações lineares utilizados, sugerem um comportamento próximo
ao mostrado na FIG.3.11. Assim, para se obter a maior velocidade de
processamento, deve-se escolher o método de resolução das equações de acordo
com o número de incógnitas do modelo.
3000
50000
Número de incógnitas do sistema
Tempo de processamento
Fatorização de
Cholesky
Gauss-Seidel
Gradientes Conjugados
Pré-Condicionado
FIGURA 3.11 – Comparação da eficiência dos métodos de solução
CAPÍTULO 4 -
Análise Mecânica
4
ANÁLISE MECÂNICA
4.1 - Introdução
Na análise mecânica de um problema estrutural, utiliza-se basicamente três entidades
relacionadas entre si: tensões (
σ
), deformações (
ε
) e deslocamentos (d). As relações
entre essas grandezas podem ser lineares ou não-lineares. Segundo LOURENÇO
(1999), as causas típicas do comportamento não-linear são:
não-linearidade material: quando a lei constitutiva que rege a relação
σ
×
ε
do
material é não-linear;
não-linearidade geométrica: quando os deslocamentos e/ou as deformações são
de tal magnitude que a configuração inicial não pode mais ser utilizada para
exprimir equilíbrio e compatibilidade;
não-linearidade de contato: quando as alterações nas condições de apoio e/ou
aplicação das forças são tais que as condições de apoio iniciais não podem mais
ser utilizadas para exprimir equilíbrio e compatibilidade.
79
Para simulação do comportamento de estruturas em situação de incêndio, serão
utilizadas no presente trabalho apenas as não-linearidades geométrica e material.
O objetivo desse capítulo consiste em apresentar as formulações para a análise não-linear
geométrica, os critérios elasto-plásticos que serão utilizados na análise não-linear
material, bem como os algoritmos incrementais empregados no processo de solução
dessas formulações.
4.2 - Formulação de elementos finitos com base em deslocamentos
O tipo de formulação utilizada nos problemas de mecânica estrutural depende das
variáveis escolhidas como incógnitas do problema. VILA REAL (1993) mostra que há
três tipos de formulações:
formulação com base em deslocamentos: é derivada do Princípio da Energia
Potencial Mínima e busca garantir a continuidade do campo de deslocamentos
entre os elementos adjacentes;
formulação com base em tensões: é derivada do Princípio da Energia
Complementar Mínima e busca garantir a continuidade do campo de tensões;
formulação mista ou híbrida: os deslocamentos e as tensões são adotados
simultaneamente como incógnitas.
Neste trabalho adotou-se uma formulação com base em deslocamentos, em que esses
são as incógnitas do problema, sendo o campo de tensões obtido por meio do campo de
deslocamentos calculado.
4.2.1 - Variáveis nodais
A FIG.4.1 apresenta um elemento finito tridimensional típico, sendo as componentes do
deslocamento do nó
i dadas por u
i
, v
i
e w
i
, segundo os eixos X, Y e Z, respectivamente.
As forças nodais
Pu
i
, Pv
i
e Pw
i
são tomadas de acordo com esses deslocamentos.
80
X
Y
Z
gerico
i
P
v
i
,v
i
P
u
i
,u
i
P
w
i
,w
i
FIGURA 4.1 – Forças e deslocamentos nodais considerados em um
elemento finito tridimensional
Assim, os deslocamentos e as forças nodais, para um dado elemento com
n nós, podem
ser representados por:
=
n
e
d
d
d
M
1
e
=
n
e
f
f
f
M
1
(4.1)
sendo:
=
i
i
i
i
w
v
u
d
e
=
i
i
i
i
Pw
Pv
Pu
f
(4.2)
Conhecidos os deslocamentos nodais e adotando-se o procedimento habitual do Método
dos Elementos Finitos, os deslocamentos em qualquer ponto do elemento são dados por:
=
==
=
n
i
ii
e
w
v
u
1
dNdNd
(4.3)
onde:
n é o número de nós do elemento;
[]
n
NNNN ,...,,
21
= ;
N
i
= N
i
I, em que N
i
é a função de forma do i-ésimo nó relativo ao elemento utilizado e I
é a matriz identidade de ordem 3, para problemas tridimensionais, ou de ordem 2,
para problemas bidimensionais.
81
4.2.2 - Relação entre deformações e deslocamentos em análises com pequenas
deformações
O estado de deformação em um ponto de um elemento finito pode ser calculado com
base nos deslocamentos nodais. Para problemas com pequenas deformações (linearidade
geométrica), sendo
L a matriz dos operadores diferenciais, as deformações,
representadas pelo vetor
,ε
se relacionam com os deslocamentos d pela expressão:
dLε
=
(4.4)
Substituindo-se a expressão dos deslocamentos (Eq.4.3) na Eq.4.4, obtém-se:
=
====
n
i
ii
ee
1
dBdBdNLdLε
(4.5)
onde
[]
n
BBBB ,...,,
21
= e B
i
é o operador gradiente discreto relacionado ao i-ésimo
nó do elemento finito considerado. A medida de deformação obtida por meio da Eq.4.4
é denominada
deformação de Biot ou de engenharia.
Para problemas tridimensionais, tem-se:
=
=
Y
N
Z
N
X
N
Z
N
X
N
Y
N
Z
N
Y
N
X
N
ii
ii
ii
i
i
i
i
yz
xz
xy
z
y
x
0
0
0
00
00
00
e
2
2
2
Bε
ε
ε
ε
ε
ε
ε
(4.6)
Para problemas bidimensionais (
ε
xz
=
ε
yz
= 0),
ε
z
é calculado indiretamente para estado
plano de tensões e tomado igual a zero para estado plano de deformações, tendo-se:
=
=
X
N
Y
N
Y
N
X
N
ii
i
i
i
z
xy
y
x
0
0
e
2
Bε
ε
ε
ε
ε
(4.7)
82
4.2.3 - Relação entre tensões e deformações em análises com linearidade material
Ao ser solicitado por ações externas, se um corpo se deforma, isso provoca o
surgimento de um estado de tensões. Assim, há uma relação entre as tensões e as
deformações. Se o corpo regressar à configuração inicial ao serem retiradas as
solicitações, diz-se que é um corpo elástico, e se houver uma relação linear entre as
tensões e as deformações, diz-se que o corpo possui linearidade material.
O comportamento elástico linear entre tensões e deformações foi proposto por Robert
Hooke em 1676. A Teoria da Elasticidade estabelece que a lei constitutiva dessa relação
no interior de cada elemento finito é dada por:
e
dBDεDσ ==
(4.8)
onde
σ
é o vetor de tensões, D é a matriz discreta do operador constitutivo e
ε
é o vetor
de deformações dado na Eq.4.6 e na Eq.4.7.
A matriz constitutiva elástica linear para materiais isotrópicos é dada por:
T
S
GKG iiID
+=
3
2
2
(4.9)
onde:
G é o módulo de cisalhamento:
()
ν
+
=
12
E
G
(4.10)
K é o módulo de elasticidade volumétrico:
()
ν
213
=
E
K
(4.11)
E é o módulo de elasticidade ou módulo de Young;
ν
é o coeficiente de Poisson;
I
S
é a representação matricial do tensor identidade simétrico de quarta ordem;
i é a representação vetorial do tensor identidade de segunda ordem.
83
Para problemas tridimensionais, tem-se:
=
yz
xz
xy
z
y
x
τ
τ
τ
σ
σ
σ
σ ,
=
5,000000
05,00000
005,0000
000100
000010
000001
S
I e
=
0
0
0
1
1
1
i
(4.12)
e, para problemas de estado plano de deformações, tem-se:
=
z
xy
y
x
σ
τ
σ
σ
σ
,
=
1000
05,000
0010
0001
S
I e
=
1
0
1
1
i
(4.13)
Nos problemas de estado plano de tensões, SOUZA NETO (2006) demonstra que a
matriz constitutiva consistente pode ser calculada a partir da matriz constitutiva obtida
para o estado plano de deformações por meio da expressão:
=
=
=
32,1,
32,1,
com/
4,4,44,
j
i
jiijij
DDDDD
(4.14)
No caso de existirem deformações iniciais na análise, ε
0
, devido a variações térmicas,
por exemplo, e ainda se o corpo estiver sujeito a um estado inicial de tensão, σ
0
, como
ocorre na presença de tensões residuais, a Eq.4.8 pode ser reescrita na forma:
(
)
00
σεεDσ
+
=
(4.15)
sendo o vetor das deformações térmicas dado por
iε T
=
α
0
(4.16)
onde
α
é o coeficiente de dilatação térmica (1/ºC) e T é a variação de temperatura (ºC)
do material em relação à temperatura de referência da análise.
84
4.2.4
- Princípio dos Trabalhos Virtuais
As equações de equilíbrio podem ser obtidas por diversos processos, sendo o mais
utilizado para aplicações estruturais o Princípio dos Trabalhos Virtuais.
Considera-se um único elemento sujeito a forças nodais f
n
e
, a forças de volume b e a
forças de superfície t, as quais produzem um estado de tensão
σ estaticamente
equilibrado. Sendo esse elemento sujeito a deslocamentos nodais virtuais arbitrários
e
d ,
os quais produzem deslocamentos
d e deformações internas
ε compatíveis, pelo
Princípio dos Trabalhos Virtuais pode-se escrever:
Γ
=++
eee
eTeTeTe
n
Te
dvdvda σεbdtdfd
(4.17)
onde Γ
e
e
e
correspondem, respectivamente, ao contorno e ao volume do elemento.
Por meio das Eq.4.5 e Eq.4.8, tem-se que:
(
)
TTe
T
eT
NddNd
==
(4.18)
e
(
)
TTe
T
eT
BddBε
==
(4.19)
Substituindo-se as Eq.4.18, Eq.4.19, Eq.4.15 e Eq.4.5 na Eq.4.17 e, uma vez que os
deslocamentos nodais virtuais
e
d são arbitrários, obtém-se:
Γ
+
+++=
ee
eee
eTeT
eTeTe
n
eeT
dvdv
dvdadv
00
σBεDB
bNtNfdBDB
(4.20)
ou
eee
fdK =
(4.21)
onde:
K
e
é a matriz de rigidez do elemento, dada por
=
e
eTe
dvBDBK
(4.22)
85
d
e
é o vetor dos deslocamentos nodais incógnitos;
f
e
é o vetor das forças nodais equivalentes, dadas por:
eee
b
e
t
e
n
e
00
σε
ffffff ++++=
(4.23)
f
n
e
é o vetor das forças aplicadas diretamente nos nós do elemento;
f
t
e
é o vetor das forças de superfície do elemento:
Γ
=
e
eTe
t
datNf
(4.24)
f
b
e
é o vetor das forças de volume ou forças de corpo:
=
e
eTe
b
dvbNf
(4.25)
e
0
ε
f é o vetor das forças equivalentes ao estado de deformação inicial:
=
e
eTe
dv
0
0
εDBf
ε
(4.26)
e
0
σ
f é o vetor das forças equivalentes ao estado de tensão inicial:
=
e
eTe
dv
0
0
σBf
σ
(4.27)
As equações anteriores são aplicáveis quando se considera um único elemento. Para se
obter a contribuição dos vários elementos que constituem a malha da estrutura, basta
somá-los por meio do Método da Rigidez Direta (Método dos Deslocamentos com um
enfoque matricial), obtendo-se um sistema global de equações de equilíbrio da forma:
fdK
=
(4.28)
Após resolvida, a Eq.4.28 fornece os deslocamentos para todos os nós da estrutura. As
deformações e tensões em cada elemento podem ser obtidas pelas Eq.4.5 e Eq.4.15,
respectivamente.
86
4.3 - Análise não-linear geométrica
As não-linearidades geométricas correspondem às não-linearidades da estrutura devido
às variações na geometria, tais como mudanças de forma e rotações, que podem causar
alterações consideráveis na condição e posição de equilíbrio da estrutura. Em tais casos,
a rigidez da estrutura K é uma função dos deslocamentos d. A TAB.4.1 mostra os tipos
de análise utilizadas neste trabalho em função das deformações e dos deslocamentos,
tendo as medidas de tensões e deformações com base na Formulação Lagrangeana e na
Formulação Euleriana, vistas a seguir.
TABELA 4.1 – Tipos de análise quanto à variação da geometria
Formulação utilizada
Tipo de
análise
Descrição
Lagrangeana Euleriana
Pequenos
deslocamentos
e deformações
Os deslocamentos e as rotações são pequenos,
não há alterações nem na geometria e nem na
forma (área, espessura, etc.). Uma aproximação
de primeira ordem pode ser utilizada.
Tensões e
deformações de
engenharia
Tensões e
deformações de
engenharia
Grandes
deslocamentos
e deformações
Os deslocamentos, as rotações e as
deformações são grandes. As mudanças de
forma (área, espessura, etc.) devem ser
consideradas na análise.
2ª tensões de
Piola-Kirchhoff
e deformações
de Green
Tensões de
Cauchy e
deformações de
Hencky
Existem basicamente duas alternativas para as formulações utilizadas:
formulação Lagrangeana ou material: em que todas as quantidades são referidas à
configuração original, indeformada;
formulação Euleriana ou espacial: todas as quantidades são referidas à
configuração final, deformada.
LOURENÇO (1999) afirma que, em análises não-lineares geométricas, as diferenças
entre as duas formulações são reduzidas. No caso de se considerar não-linearidades
materiais, as diferenças tornam-se maiores, mas raramente ultrapassam 5%. Na análise
não-linear material, as maiores diferenças ocorrem para os modelos constitutivos
dependentes do caminho de carga, tais como os modelos de plasticidade e fissuração.
Nesses modelos, o estado de deformação total depende da seqüência de aplicação do
carregamento, pelo que a Formulação Euleriana é mais atrativa, segundo SOUZA
87
NETO (2006). Visando a implementação de modelos de plasticidade, a Formulação
Euleriana foi adotada neste trabalho.
4.3.1
- Definição do gradiente de deformação
As deformações citadas no subitem 4.2.2 estão relacionadas com pequenos
deslocamentos. A obtenção da formulação para grandes deslocamentos parte da
definição das quantidades físicas básicas (movimento e deformação) e de sua relação
matemática correspondente. Fisicamente, ao se aplicar um esforço sobre um corpo, ele
sai da posição original para uma nova posição de equilíbrio (FIG.4.2).
X
Y
Z
u
x
X
Indeformada Deformada
FIGURA 4.2 – Vetores posição e movimento de um corpo sob deformação
O movimento (vetor u) pode ser definido por meio de um vetor de posição nas
configurações deformada (vetor x) e indeformada (vetor X) com a expressão:
Xxu
=
(4.29)
A forma diferencial do vetor x é dada pela expressão:
XFX
X
x
x ddd =
=
(4.30)
sendo F o gradiente material de deformação dado por
=
=
Z
z
Y
z
X
z
Z
y
Y
y
X
y
Z
x
Y
x
X
x
X
x
F
(4.31)
88
O gradiente de deformação F contém informações sobre a mudança de volume, a
mudança de forma e rotações sofridas por um ponto no corpo deformado. Em um ponto
qualquer do corpo, a mudança de volume é dada por:
()
Fdet
0
0
==
ρ
ρ
dV
dV
(4.32)
onde, na configuração deformada, dV é o volume infinitesimal e
ρ
é a massa específica,
e, na configuração indeformada, dV
0
é o volume infinitesimal e
ρ
0
é a massa específica.
4.3.1.1
- Decomposição polar
Aplicando-se a decomposição polar ao gradiente de deformação (FIG.4.3), tem-se:
RVURF
=
=
(4.33)
onde R é o tensor ortogonal de rotação (R
T
R = I), U e V são tensores simétricos
positivos de mudança de forma pela direita e pela esquerda, respectivamente.
p
dp
l
1
l
2
Configuração
de referência
e
1
e
2
e
1
e
2
U dp
ϕ
(
)
U
R
R
V
F
R dp
dx=F dp
α
α
x
Configuração
deformada
FIGURA 4.3 – Decomposição polar do gradiente de deformação
89
Os tensores de mudança de forma U e V tamm podem ser expressos por:
CFFU ==
T
, BFFV ==
T
(4.34)
onde C e B são, respectivamente, os tensores de deformação de Cauchy-Green pela
direita e pela esquerda.
4.3.1.2
- Decomposição espectral
Como os tensores U e V são simétricos, por meio do teorema espectral pode-se concluir
que eles admitem a decomposição espectral:
=
=
3
1
i
T
iii
llU
λ
,
=
=
3
1
i
T
iii
eeV
λ
(4.35)
sendo
λ
i
os autovalores de U (e também de V), l
i
os autovetores de U referenciados à
configuração Lagrangeana e e
i
os autovetores de V referenciados à configuração
Euleriana.
4.3.2
- Medidas de deformações
CRISFIELD (1997) apresenta uma expressão geral para medidas de deformações com
base nas direções Lagrangeanas principais. Essas medidas de deformações constituem a
família dos tensores de deformação Lagrangeanos:
()
()
[]
=
=
0ln
0
1
m
m
m
m
m
U
IU
E
(4.36)
onde m é um número real e ln[] é o tensor logaritmo de []. Equivalentemente, em
termos da decomposição espectral de U, tem-se:
()
()
=
=
3
1
i
T
iii
m
f llE
λ
(4.37)
sendo
()
()
=
=
0ln
01
1
m
m
m
f
i
m
i
i
λ
λ
λ
(4.38)
90
Os valores que m pode assumir definem os membros da família dos tensores de
deformação. As medidas de deformações mais comuns são Green-Lagrange (m = 2),
Biot (m = 1), Hencky (m = 0) e Almansi (m = -2).
SOUZA NETO (2006) apresenta uma expressão análoga à Eq.4.36, porém com base nas
direções Eulerianas principais, constituindo a família dos tensores de deformação
Eulerianos:
()
()
[]
=
=
0ln
0
1
m
m
m
m
m
V
IV
ε
(4.39)
Em termos da decomposição espectral de V, tem-se:
()
()
=
=
3
1
i
T
iii
m
f eeε
λ
(4.40)
A deformação de Hencky (m = 0) é comumente utilizada na análise plástica de metais
sujeitos a grandes deformações. Para HIBBIT (1998), a principal motivação para o uso
dessa medida de deformação é que, quando se comparam as tensões verdadeiras em
função das deformações logarítmicas, os modelos numéricos coincidem com resultados
de ensaios de tração, compressão e torção.
Devido à figuração do tensor logaritmo ln[] na Eq.4.39, a forma mais prática para se
calcular a deformação de Hencky é obtida reescrevendo-se a Eq.4.40 em função do
gradiente de deformação F:
()
=
=
3
1
ln
2
1
i
T
iii
eeε
β
(4.41)
sendo
β
i
os autovalores de F F
T
e e
i
os autovetores de F F
T
.
Com relação ao cálculo dos autovalores e autovetores, o algoritmo das Transformações
de Jacobi é um dos mais utilizados, conforme PRESS et al. (1990).
91
4.3.3
- Medidas de tensões
Conceitualmente, a tensão é definida como a relação entre força e unidade de área.
Assim, quando os gradientes de deslocamentos u/X são pequenos em comparação
com a unidade, não é relevante em que configuração, deformada ou indeformada, é
medida a área onde a força é aplicada. No entanto, para grandes deslocamentos, a
hipótese anterior não é mais válida, sendo necessário definir com precisão a
configuração a que as tensões se referem.
Para aplicações em engenharia, geralmente o conhecimento das tensões é requerido na
configuração deformada, ou seja, a força total dividida pela área de aplicação real
(deformada). Essas tensões são simbolizadas pelo vetor σ e recebem a denominação de
tensões de Cauchy ou tensões reais. BATHE (1996) demonstra que as tensões de
Cauchy são energeticamente conjugadas com as deformações de Hencky. A expressão
seguinte mostra os componentes do vetor
σ e do tensor σ
ˆ
correspondente:
[]
==
zzyzx
yzyyx
xzxyx
T
yzxzxyzyx
σττ
τστ
ττσ
τττσσσ
σσ
ˆ
(4.42)
Na mecânica dos sólidos, referenciar os deslocamentos e deformações à configuração
indeformada é também uma forma utilizada para descrever a estática e a cinemática de
uma estrutura sujeita a grandes deslocamentos. Nessa abordagem, todas as quantidades
têm de estar referidas à configuração original (Formulação Lagrangeana).
Em análises não-lineares, a medida de tensão mais utilizada, referente à configuração
indeformada, ou seja, força total dividida pela área indeformada, é o
primeiro tensor de
tensões de Piola-Kirchhoff
P
ˆ
. O primeiro tensor de tensões de Piola-Kirchhoff e as
tensões de Cauchy se relacionam pela seguinte expressão (SOUZA NETO, 2006):
(
)
T
= FσFP
ˆ
det
ˆ
(4.43)
92
O
segundo tensor de tensões de Piola-Kirchhoff
S
ˆ
é utilizado como uma medida de
tensão energeticamente conjugada com as deformações de Green-Lagrange, visto que
são referidas à configuração indeformada (SOUZA NETO, 2006). Esse tensor, no
entanto, não tem um significado físico direto.
O tensor de tensões de Cauchy e o segundo tensor de tensões de Piola-Kirchhoff se
relacionam pela seguinte expressão (CRISFIELD, 1991; BATHE, 1996):
(
)
T
= FσFFS
ˆ
det
ˆ
1
(4.44)
Uma outra medida de tensões de interesse em análises com não-lineridades geométricas
é a tensão de Kirchhoff, cujo tensor é simbolizado por
τ
ˆ
. As tensões de Kirchhoff são
freqüentemente empregadas na formulação de vários modelos constitutivos, se
relacionando com as tensões de Cauchy por meio da expressão (SOUZA NETO, 2006):
(
)
σFτ
ˆ
det
ˆ
=
(4.45)
A medida de tensões denominada
tensão de engenharia é uma simplificação para
análises mecânicas que envolvem pequenas deformações e deslocamentos. A partir
dessa consideração, tem-se que x X, e portanto, F I. Aplicando-se essas
aproximações na Eq.4.44, chega-se em:
Sσ
ˆ
ˆ
engenharia de Tensão =
(4.46)
A tensão de engenharia pode ser utilizada com qualquer medida de deformação.
Particularmente, a deformação de engenharia ou de Biot é mais atrativa, uma vez que
exige um menor esforço computacional. De fato, em análises de pequenas deformações
e deslocamentos, o vetor de deslocamentos u possui componentes muito próximas de
zero, e portanto, as deformações de Almansi, Hencky, Biot e Green se resumem em:
X
u
ε
=engenharia de Deformação
(4.47)
93
4.3.4 - Formulação para Elementos Finitos
A aplicação do Princípio dos Trabalhos Virtuais às expressões de equilíbrio pode ser
vista como um ponto de partida para a obtenção da formulação para elementos finitos
com base em deslocamentos.
Assim, de forma análoga à desenvolvida no subitem 4.2.4, o Princípio dos Trabalhos
Virtuais pode ser escrito de forma apropriada para a análise não-linear geométrica com
base na Formulação Lagrangeana:
fugutuSE
T
c
T
c
T
c
T
dvdadv
δδρδδ
++=
Γ
0
(4.48)
onde é o volume (domínio) do corpo, Γ é o contorno (fronteira) do corpo, δ
E é o
incremento virtual de deformações de Green-Lagrange,
S é o segundo tensor de tensões
de Piola-Kirchhoff,
δ
u
c
é o vetor do campo contínuo de deslocamentos virtuais, t é o
vetor das forças de superfície,
ρ
0
é a densidade do material (indeformado), g é a
aceleração da gravidade (
ρ
0
g = b, sendo b o vetor das forças de corpo) e f é o vetor das
forças aplicadas diretamente nos nós da malha de elementos finitos.
A versão espacial (Formulação Euleriana) do Princípio dos Trabalhos Virtuais considera
o equilíbrio da estrutura na posição deformada. Sendo
ϕ
o mapeamento da deformação
do corpo,
ε as deformações de Hencky, σ as tensões de Cauchy, a Eq.4.48 adquire a
seguinte forma (SOUZA NETO, 2006):
() () ()
fugutuσε
T
c
T
c
T
c
T
dvdadv
δδρδδ
ϕϕϕ
++=
Γ
(4.49)
onde a densidade do material deformado
ρ
é dada pela Eq.4.32
Segundo CRISFIELD (1991), o cálculo não-linear de estruturas é freqüentemente um
processo incremental e iterativo, ou seja, a carga total deve ser aplicada gradualmente à
estrutura, que atinge o equilíbrio de modo iterativo. Assim, o vetor das tensões
incógnitas
1
1
+
+
k
n
σ , correspondente à iteração k+1 do passo de carga n+1, deve ser
decomposto no vetor das tensões
k
n
1+
σ
e no vetor dos incrementos de tensões σ
.
94
Aplicando-se esses conceitos na Eq.4.49, referida à configuração deformada no instante
n+1, chega-se a:
() () () ()
1111 +
+
Γ
+
+
++=+
n
T
c
T
cnn
T
cn
TT
dvdadvdv fugutuσεσε
δδρδδδ
ϕϕϕϕ
(4.50)
Com algum esforço algébrico, a Eq.4.50 pode ser desenvolvida de modo semelhante ao
demonstrado no subitem 4.2.4 para obter-se uma formulação matricial adequada para o
MEF, considerando-se que o campo de deslocamentos virtuais δ
u
c
é arbitrário. SOUZA
NETO (2006) apresenta o desenvolvimento dessas expressões, obtendo:
() () () ()
+
+
Γ
++
++=
ϕϕϕϕ
δ
dvdvdadv
n
T
n
T
n
T
n
T
1111
σBbNtNfuGaG
(4.51)
ou ainda
ruK
=
δ
T
(4.52)
onde
K
T
é a matriz de rigidez tangente espacial da estrutura no instante n+1, dada por:
()
=
ϕ
dv
T
T
GaGK
(4.53)
G é o operador gradiente espacial completo;
a é a matriz completa do módulo tangente espacial consistente (conforme a Eq.4.62);
δ
u é o vetor dos incrementos de deslocamentos nodais (discretos) incógnitos;
r é o vetor das forças residuais no instante n+1, expresso por:
(
)
ext
nn
int
11 ++
= fufr
(4.54)
f
int
(u
n+1
) é o vetor das forças internas do modelo de elementos finitos:
(
)
()
++
=
ϕ
dv
n
T
n
int
11
σBuf
(4.55)
ext
n
1+
f é o vetor das forças externas:
() ( )
+
Γ
+++
++=
ϕϕ
dvda
n
T
n
T
n
ext
n 1111
bNtNff
(4.56)
e as demais variáveis já foram definidas no subitem 4.2.4.
95
Para o desenvolvimento da análise incremental-iterativa, é interessante que a aplicação
gradual do carregamento externo seja feita por meio de um
fator de carga
λ
, na forma:
ext
n
ext
n
ff
11 ++
=
λ
(4.57)
onde
f
ext
é o vetor das forças externas calculado apenas uma única vez no início do
algoritmo incremental pela equação
Γ
++= dvda
TText
00
bNtNff
(4.58)
sendo
t
0
as forças de superfície e b
0
as forças de corpo. Neste trabalho, adotou-se que
todas as forças são referidas à configuração inicial.
4.3.5 - Matriz de rigidez tangente espacial
A matriz de rigidez tangente pode ser definida por meio da relação entre as forças
residuais e os deslocamentos:
1
1
+
+
=
n
n
T
u
u
r
K
(4.59)
Para a Formulação Euleriana (espacial), como visto no subitem anterior na Eq.4.51 e na
Eq.4.52, a matriz de rigidez tangente pode ser especialmente definida pela Eq.4.53:
()
=
ϕ
dv
T
T
GaGK
(4.53)
onde
[]
n
GGGG ,...,,
21
= e G
i
é a matriz do operador gradiente espacial completo
referente ao i-ésimo nó do elemento finito considerado, no instante
n+1.
SOUZA NETO (2006) apresenta o desenvolvimento algébrico para montagem da matriz
G, obtendo para problemas bidimensionais:
=
yi
yi
xi
xi
i
N
N
N
N
,
,
,
,
0
0
0
0
G
(4.60)
96
e, para problemas tridimensionais
=
zi
zi
zi
yi
yi
yi
xi
xi
xi
i
N
N
N
N
N
N
N
N
N
,
,
,
,
,
,
,
,
,
00
00
00
00
00
00
00
00
00
G
(4.61)
sendo
N
i,x
a derivada da função de forma referente ao i-ésimo nó em relação à
coordenada
x (na configuração deformada).
Quanto à obtenção do módulo tangente espacial consistente
a, referente ao instante n+1,
SOUZA NETO (2006) demonstra a derivação da versão linearizada do Princípio dos
Trabalhos Virtuais aplicado à Formulação Euleriana (espacial), obtendo a forma
tensorial do módulo tangente espacial consistente
â por meio da expressão:
()
jkillm
km
ij
ijkl
δσF
F
τ
F
a
ˆ
ˆ
ˆ
ˆ
det
1
ˆ
=
(4.62)
onde
ij
τ
ˆ
é o tensor de tensões de Kirchhoff,
lm
F
ˆ
é o tensor do gradiente de deformações,
il
σ
ˆ
é o tensor de tensões de Cauchy e
jk
δ é o delta de Kronecker.
Ao se utilizar a deformação de Hencky como medida de deformações para análises não-
lineares geométricas, conforme a Eq.4.41, e considerando-se a relação entre o tensor de
deformação de Cauchy-Green pela esquerda e o gradiente de deformação, Eq.4.34,
pode-se escrever o tensor de tensões de Kirchhoff como uma função implícita:
(
)
(
)
(
)
(
)
1111
ˆˆ
ˆˆ
ˆ
ˆ
++++
=
n
triale
n
triale
nn
FBετFτ
(4.63)
sendo que o índice
e trial indica que a deformação considerada é uma tentativa elástica
utilizada nos algoritmos de plasticidade para cálculo das tensões. Quando não se
considera a não-linearidade material (plasticidade) na análise, deve-se utilizar a própria
deformação elástica:
triale
n
e
n 11
ˆˆ
++
= εε .
97
Expressando-se o termo
kmij
Fτ
ˆ
/
ˆ
por meio da regra da cadeia, obtém-se:
1
1
1
1
1
1
ˆ
ˆ
:
ˆ
ˆ
:
ˆ
ˆ
ˆ
ˆ
+
+
+
+
+
+
=
n
triale
n
triale
n
triale
n
triale
n
n
F
B
B
ε
ε
τ
F
τ
(4.64)
sendo que o símbolo “:” denota o produto tensorial.
Substituindo-se a Eq.4.64 na Eq.4.62, com algumas operações algébricas chega-se a:
()
[
]
jkil
ijkl
ijkl
δσBLD
F
a
ˆ
ˆ
:
ˆ
:
ˆ
det2
1
ˆ
=
(4.65)
onde
D
ˆ
é a forma tensorial do operador constitutivo tangente consistente D (o mesmo
utilizado em análises com pequenas deformações), dada por
triale
n 1
ˆ
ˆ
ˆ
+
=
ε
τ
D
(4.66)
L
ˆ
é a forma tensorial da derivada da função logarítmica de
triale
n 1
ˆ
+
B
[
]
triale
n
triale
n
1
1
ˆ
ˆ
ln
ˆ
+
+
=
B
B
L
(4.67)
B
ˆ
é o tensor de quarta ordem referente à deformação de Cauchy-Green pela esquerda
(
)
(
)
il
triale
njk
jl
triale
nikijkl
11
ˆˆˆ
++
+= BδBδB
(4.68)
A implementação computacional do cálculo do produto tensorial
[]
ijkl
BLD
ˆ
:
ˆ
:
ˆ
exige que
os tensores sejam convertidos para a forma matricial completa, e então pode-se fazer
diretamente o produto matricial [
D L B]. Fazendo-se essa conversão, o módulo tangente
espacial consistente
â, resultado da Eq.4.65, também estará na forma matricial completa
a, de modo que o produto matricial G
T
aG também poderá ser feito diretamente.
Os algoritmos que fazem a montagem do operador constitutivo tangente consistente
D
para pequenas deformações geralmente apresentam o resultado na forma matricial
discreta. A Eq.4.69.a mostra como os termos de um tensor
â são organizados na forma
98
matricial discreta para problemas bidimensionais. SOUZA NETO (2006) demonstra que
a forma matricial completa deve ser organizada conforme mostrado na Eq.4.69.b, para
que os termos correspondentes sejam corretamente multiplicados na Eq.4.53 e no
produto matricial [
D L B]. Especificamente para a conversão do operador constitutivo
tangente consistente
D em problemas elásticos ou com plasticidade associativa, pode-se
utilizar das simetrias:
klijjilkjiklijkl
DDDD
ˆˆˆˆ
=== , chegando-se a
=
=
2222221222212211
1222121212211211
2122211221212111
1122111211211111
2
121212221211
221222222211
111211221111
2
ˆ
aaaa
aaaa
aaaa
aaaa
aaa
aaa
aaa
D
completa
D
discreta
ijkl
a
a
a
(4.69.a)
(4.69.b)
Analogamente, estendendo-se as dimensões dos índices
i, j, k e l do tensor â para 3,
pode-se escrever a forma matricial discreta para problemas tridimensionais conforme a
Eq.4.70.a (também muito utilizada pelos algoritmos que fazem a montagem do operador
D para pequenas deformações). A forma matricial completa é dada por:
=
=
333333233313333233223312333133213311
233323232313233223222312233123212311
133313231313233213221312133113211311
323332233213323232223212323132213211
223322232213223222222212223122212211
123312231213123212221212123112211211
313331233113313231223112313131213111
213321232113213221222112213121212111
113311231113113211221112113111211111
3
131313231312133313221311
231323232312233323222311
121312231212123312221211
3313
33233312333333223311
221322232212223322222211
111311231112113311221111
3
ˆ
aaaaaaaaa
aaaaaaaaa
aaaaaaaaa
aaaaaaaaa
aaaaaaaaa
aaaaaaaaa
aaaaaaaaa
aaaaaaaaa
aaaaaaaaa
aaaaaa
aaaaaa
aaaaaa
a
aaaaa
aaaaaa
aaaaaa
D
completa
D
discreta
ijkl
a
a
a
(4.70.a)
(4.70.b)
99
4.3.6 - Funções isotrópicas de tensores simétricos
Segundo OGDEN (1984), uma função tensorial é dita isotrópica se, e somente se, ela
pode ser representada na forma:
()
2
210
XXIXY
ααα
++=
(4.71)
onde
(
)
(
)
(
)
(
)
() () ()()
() () ()()
XXX
XXX
XXX
32122
32111
32100
III
III
III
,,
,,
,,
αα
αα
α
α
=
=
=
(4.72)
são funções dos invariantes principais de
X.
Adicionalmente, se o domínio de
Y é um conjunto de tensores simétricos inversíveis,
então
Y é uma função isotrópica se, e somente se, pode-se representá-la por:
()
1
110
++= XXIXY
βββ
(4.73)
onde os escalares
β
Γ
(Γ = 0, 1, -1) são funções dos invariantes principais de X.
Uma forma alternativa à Eq.4.71 e à Eq.4.73 é a representação das funções tensoriais
isotrópicas em termos dos valores principais (autovalores). É importante destacar que tal
forma é essencial para a solução da Eq.4.67 e para montagem do operador tangente
consistente
D de alguns modelos de plasticidade que somente podem ser descritos em
termos das tensões principais.
Assim, em termos dos autovalores, uma função de um tensor simétrico é isotrópica se, e
somente se, existe uma função escalar
y :
n
, tal que:
()
==
==
p
i
i
T
ii
p
i
ii
yy
11
qqEXY
(4.74)
onde
p é o número de autovalores distintos de Y (e de X), E
i
são as autoprojeções de X
(e de
Y) e q
i
são os autovetores de X (e de Y) . No espaço bidimensional, os autovalores
y
i
de Y são obtidos a partir dos autovalores x
i
de X por:
(
)
()
122
211
xxyy
xxyy
,
,
=
=
(4.75)
100
No espaço tridimensional, os autovalores
y
i
são dados por:
(
)
()
()
2133
1322
3211
xxxyy
xxxyy
xxxyy
,,
,,
,,
=
=
=
(4.76)
sendo que, para valores arbitrários
a, b e c, a função y tem a propriedade de simetria:
()
(
)
bcacba
xxxyxxxy ,,,,
=
(4.77)
4.3.6.1 - Derivada de funções tensoriais isotrópicas
Com base nos conceitos anteriores e tendo o foco na solução da Eq.4.67, é necessário
um aprofundamento no campo das funções isotrópicas de tensores simétricos com vista
à diferenciação. Assim, assumindo-se que uma função tensorial
Y é diferenciável, sua
derivada pode ser designada por um tensor de quarta ordem na forma:
()
(
)
X
XY
X
d
d
D
(4.78)
Em um espaço
n-dimensional, se X tem n autovalores distintos (p n), por meio da
Eq.4.74 pode-se chegar a:
()
=
+
n
i
i
i
i
T
i
d
d
y
d
dy
1
X
E
X
EX
D
(4.79)
ou, aplicando-se a regra da cadeia
()
∑∑
==
+
n
i
n
j
j
T
i
j
ii
i
d
dx
x
y
d
d
y
11
X
E
X
E
X
D
(4.80)
Para fins de cálculo computacional da Eq.4.80, as autoprojeções, definidas pela Eq.4.74
em função dos autovetores, devem ser convertidas da forma matricial para a forma
vetorial apropriada. Assim, para problemas bidimensionais (
i = 1,2), tem-se a forma:
[]
i
yxyyxx
i
yyyx
yxxx
i
T
i
D
i
qqqqqq
qqqq
qqqq
== qqE
2
(4.81.a)
101
sendo que, para problemas de estado plano de deformações, a componente z deve ser
incluída separadamente, na forma
[]
[]
=
=
=
=
1000:plano ao
0 :plano No
33
3)(i
2) 1, (i
qq
qq
E
T
i
yxyyxx
i
yyyx
yxxx
i
T
i
EPD
i
qqqqqq
qqqq
qqqq
(4.81.b)
Para problemas tridimensionais (
i = 1,2,3), todas as componentes devem estar presentes:
[]
i
zxzyyxzzyyxx
i
zzzyzx
zyyyyx
zxyxxx
i
T
i
D
i
qqqqqqqqqqqq
qqqqqq
qqqqqq
qqqqqq
== qqE
3
(4.81.c)
4.3.6.2 - Derivadas no espaço bidimensional
Para o espaço bidimensional, a equação característica (que fornece os autovalores) pode
ser escrita como uma equação quadrática em função do primeiro e segundo invariantes,
respectivamente
I
1
e I
2
:
(
)
210
21
2
,==+
α
αα
IxIx
(4.82)
CARLSON e HOGER (1986) demonstram que a substituição das soluções da Eq.4.82
na Eq.4.80 conduz às seguintes soluções para a derivada tensorial:
()
[]
=
+
+
=
∑∑
==
21
2
1
2
1
1
1
21
2
1
2
1
2211
21
21
xx
x
y
x
y
x
y
xx
x
y
xx
yy
T
ppp
TTT
p
iiI
EEEEEEI
X
αβ
βα
β
α
D
(4.83)
onde
y
1
, y
2
, x
1
e x
2
são dados pela Eq.4.75, E
α
é dado pela Eq.4.81.a e I
p
e i
p
são os
tensores identidade de quarta e de segunda ordem relativos ao estado plano, dados por
=
5000
010
001
,
p
I e
=
0
1
1
p
i
(4.84)
102
Em problemas de estado plano de deformação, a componente perpendicular ao plano
deve ser incluída na derivada. Visando isso, deve-se considerar a autoprojeção
E
3
dada
pela Eq.4.81.b na montagem de
Y na Eq.4.74, adotando-se o valor máximo de p = 3.
Nesse caso, as derivadas de
Y no plano são dadas pela Eq.4.83 e as derivadas
perpendiculares ao plano são obtidas por:
()
=
+
+
+
+
=
=
2133
3
3
3
1
3
3
3
1
2133
3
3
2
1
3
3
3
3
3
xx
x
y
x
y
x
y
xx
x
y
x
y
x
y
TT
p
T
p
TTT
EEiEEi
EEEEEE
X
α
α
α
α
α
D
(4.85)
sendo que, tanto na Eq.4.83 quanto na Eq.4.85, deve-se utilizar os tensores identidade
I
p
e
i
p
expandidos para o estado plano de deformação:
=
0000
05000
0010
0001
,
p
I e
=
0
0
1
1
p
i
(4.86)
4.3.6.3 - Derivadas no espaço tridimensional
Para o espaço tridimensional, a equação característica (que fornece os autovalores) se
transforma em uma equação cúbica em função do primeiro, segundo e terceiro
invariantes, respectivamente
I
1
, I
2
e I
3
:
(
)
3210
32
2
1
3
,,==+
α
ααα
IxIxIx
(4.87)
CHEN (1988) apresenta um método de solução para a equação característica cúbica em
função das coordenadas de Haigh-Westergaard. SOUZA NETO (2006) demonstra que a
substituição dessas soluções na Eq.4.80, tendo-se o tensor
X na forma vetorial
correspondente dada por:
[]
132312332211
xxxxxx=X
(4.88)
e os tensores
I
S
e i conforme apresentados na Eq.4.12, conduz às soluções para a
derivada tensorial mostradas a seguir.
103
()
()()
()
()
()
()
==
+
=++
+
+
=
∑∑
==
=
321
2
1
2
1
1
1
65432
2
1
321
3
1
3
1
3
1
2
2
xxx
x
y
x
y
x
y
xxxsssss
d
d
s
xxx
x
y
xx
xxx
xx
d
d
xxxx
y
T
S
cba
TTTT
S
ij
j
T
i
j
i
c
T
cb
T
bcb
a
T
acba
a
Scb
caba
a
iiI
iiXiiXXXI
X
X
EE
EEEE
EE
I
X
X
X
D
(4.89)
sendo a derivada tensorial
dX
2
/dX dada por
()
ilkjikjlkjilljik
ijkl
XXXX
d
d
δδδδ
+++=
2
1
2
X
X
(4.90)
e os escalares s
1
, s
2
, ..., s
6
definidos por
()
+
=
c
c
b
c
ca
ca
ca
x
y
x
y
xx
xx
yy
s
1
2
1
()
+
+
=
c
c
b
c
ca
ca
ca
ca
c
x
y
x
y
xx
xx
xx
yy
xs
2
2
2
()()
+
+
=
c
c
a
a
a
c
c
a
caca
ca
x
y
x
y
x
y
x
y
xxxx
yy
s
23
3
1
2
+=
b
c
c
a
ca
c
x
y
x
y
xx
sxs
1
34
+=
b
c
a
c
ca
c
x
y
x
y
xx
sxs
1
35
()()
()
b
c
ca
ca
c
c
a
a
ca
c
a
c
c
a
ca
ca
ca
ca
c
x
y
xx
xx
x
y
x
y
xx
x
x
y
x
y
xx
xx
xx
yy
xs
+
+
+
=
2
2
23
2
6
2
(4.91)
104
Voltando-se ao cálculo da derivada tensorial
L
ˆ
dada na Eq.4.67, o uso das expressões
anteriores relativas ao cálculo de derivadas de funções tensoriais isotrópicas se mostra
plenamente aplicável, tomando-se a Eq.4.75 e a Eq.4.76 na forma:
()
triale
nii
comxy
1
ln
+
== BX (i = 1,2,3)
(4.92)
e portanto
iii
xxy /1/
=
(i = 1,2,3)
(4.93)
Ressalta-se que a formulação apresentada neste item apresenta os resultados das
derivadas tensoriais na forma matricial discreta. Novamente, o tensor deve ser
convertido para a forma matricial completa para que a Eq.4.65 possa ser adequadamente
calculada.
4.3.7
- Solução não-linear - Método de Newton-Raphson
O Método de Newton-Raphson é um dos procedimentos incrementais e iterativos mais
atrativos para resolução de problemas não-lineares devido a sua convergência assintótica
quadrática. A sua seqüência de cálculo pode ser compreendida observando-se a FIG.4.4.
f
n
+1
n
+1
K
T
1
2
r
(0)
f
n
+1
int
(0)
f
n
+1
int
(1)
r
(1)
f
n
+1
int
(2)
r
(2)
u
n
+1
(1)
u
n
+1
(2)
δ
u
(1)
δ
u
(2)
u
f
K
T
f
n
n
=
u
n
(0)
u
n
+1
ext
ext
int
FIGURA 4.4 – Iterações do Método de Newton-Raphson
105
Primeiramente, considere-se uma análise incremental iterativa não-linear, contudo, sem
o efeito da não-linearidade geométrica (pequenas deformações). Considere-se ainda que
os deslocamentos e as forças externas estão em equilíbrio no instante n, dados por u
n
e
ext
n
f . Sendo x
n
as coordenadas da estrutura,
n
ε as deformações e
n
σ as tensões na última
configuração de equilíbrio (n), os deslocamentos no instante n+1, denominados u
n+1
,
podem ser obtidos de modo iterativo por meio do procedimento mostrado na FIG 4.5.
(i) k = 0. Ajustar o deslocamento inicial e a força residual:
()
(
)
ext
nnnn
fufruu
1
int0
1 ++
==
λ
(ii) Calcular a matriz constitutiva tangente consistente:
1
/
ˆ
+
=
n
εσD
(iii) Calcular a matriz de rigidez tangente:
=
=
NGaussPts
i
iiii
T
iT
Jw
1
BDBK
(iv) k = k +1. Resolver o sistema de equações:
(
)
(
)
1
=
kk
T
ruK
δ
(v) Aplicar a correção de Newton-Raphson para deslocamentos:
(
)
(
)
(
)
kk
n
k
n
uuu
δ
+=
++
1
11
(vi) Atualizar as deformações:
(
)
(
)
k
n
k
n 11 ++
= uBε
(vii) Utilizar o algoritmo de integração da relação constitutiva para atualizar as tensões
σ
e outras variáveis de estado
α
(como deformação plástica acumulada, etc.):
()
(
)
(
)
(
)
(
)
(
)
k
nn
k
n
k
nn
k
n 1111
,
ˆ
,,
ˆ
++++
== εαααεασσ
(viii) Calcular o vetor de forças internas:
()
=
+
=
NGaussPts
i
ii
k
in
T
i
Jw
1
,1
int
σBf
(ix) Atualizar o vetor de forças residuais:
ext
n
ffr
1
int
+
=
λ
(x) Verificar a convergência:
SE
tol
ext
ξ
fr / ENTÃO FAZER
(
)
(
)
(
)
k
nn 11 ++
=
e FIM
CASO CONTRÁRIO IR PARA (ii).
FIGURA 4.5 – Método de Newton Raphson para pequenas deformações
106
Para fins de implementação computacional, a convergência do Método de Newton-
Raphson também pode ser averiguada pela norma do vetor de forças residuais. SOUZA
NETO (2006) recomenda a adoção do seguinte verificador:
OUiaConvergênc
tol
tol
ext
×
=
1000
%100
ξ
ξ
r
f
r
(4.94)
A inclusão da não-linearidade geométrica no algoritmo de análise mostrado na FIG.4.5
é feita alterando-se os itens relativos à montagem da matriz de rigidez, (ii) e (iii), ao
cálculo da deformação, (vi), e ao cálculo das tensões e das variáveis de estado, (vii),
observando-se os conceitos apresentados nos subitens 4.3.4 e 4.3.5. Essas modificações
são mostradas na FIG.4.6.
(i) k = 0. Ajustar o deslocamento inicial e a força residual:
()
(
)
ext
nnnn
fufruu
1
int0
1 ++
==
λ
(ii) Calcular a matriz constitutiva tangente consistente:
()
[
]
jkil
ijkl
ijkl
δσBLD
F
a
ˆ
ˆ
:
ˆ
:
ˆ
det2
1
ˆ
=
sendo:
triale
n 1
ˆ
ˆ
ˆ
+
=
ε
τ
D
,
[
]
triale
n
triale
n
1
1
ˆ
ˆ
ln
ˆ
+
+
=
B
B
L
,
(
)
(
)
il
triale
njk
jl
triale
nikijkl
11
ˆˆˆ
++
+= BδBδB
e
(
)
triale
n
triale
n 11
ˆ
2exp
ˆ
++
= εB
(iii) Calcular a matriz de rigidez tangente:
=
=
NGaussPts
i
iiii
T
iT
Jw
1
GaGK
(iv) k = k +1. Resolver o sistema de equações:
(
)
(
)
1
=
kk
T
ruK
δ
(v) Aplicar a correção de Newton-Raphson para deslocamentos:
(
)
(
)
(
)
kk
n
k
n
uuu
δ
+=
++
1
11
continua...
FIGURA 4.6 – Método de Newton-Raphson para grandes deformações
107
...continuação
(vi) Atualizar o gradiente de deformações:
() ()
(
)
1
11
++
=
k
nx
k
n
uIF
(vii) Utilizar o algoritmo de integração da relação constitutiva para atualizar as tensões
σ
e outras variáveis de estado
α
(como deformação plástica acumulada, etc.):
()
(
)
(
)
(
)
(
)
(
)
k
nn
k
n
k
nn
k
n 1111
,
ˆ
,,
ˆ
++++
== FαααFασσ
(viii) Calcular o vetor de forças internas:
()
=
+
=
NGaussPts
i
ii
k
in
T
i
Jw
1
,1
int
σBf
(ix) Atualizar o vetor de forças residuais:
ext
n
ffr
1
int
+
=
λ
(x) Verificar a convergência:
SE
tol
ext
ξ
fr / ENTÃO FAZER
(
)
(
)
(
)
k
nn 11 ++
=
e FIM
CASO CONTRÁRIO IR PARA (ii).
FIGURA 4.6 – Método de Newton-Raphson para grandes deformações
Novamente deve-se ressaltar que o índice “
e trial” indica que a deformação considerada
é uma tentativa elástica utilizada nos algoritmos de plasticidade. Quando a análise não
considera a plasticidade, deve-se utilizar a própria deformação elástica:
triale
n
e
n 11
ˆˆ
++
= εε .
4.3.7.1 - Obtenção do gradiente de deformações no MEF
O cálculo do gradiente de deformações mostrado no item (vi) da FIG.4.6 pode ser
otimizado por meio dos procedimentos que serão discutidos a seguir.
O algoritmo de cálculo da matriz de rigidez tangente no item (iii) exige que a matriz
G e
o jacobiano |
J
i
| sejam avaliados na última posição de equilíbrio
()
k
n 1+
x
. Visto que a
matriz
G consiste de um arranjo das derivadas das funções de forma em relação à última
configuração de equilíbrio,
N
x
, conclui-se que tal algoritmo pode ser reutilizado no
cálculo do gradiente de deformação.
Assim, sendo
N
ξ
a matriz das derivadas das funções de forma em relação às
coordenadas naturais (locais) do elemento finito,
(
)
k
n 1+
u
os deslocamentos nodais relativos
108
à última configuração de equilíbrio e
X as coordenadas nodais referentes à configuração
indeformada, pode-se definir a matriz Jacobiana da transformação de
ξ para
()
k
n 1+
x
por:
()
()
k
nx
zyx
N
N
N
zyx
zyx
zyx
1
111
,1
,1
,1
/
...
...
...
+
+=
=
= uXNJ
ξ
ζ
η
ξ
ξ
ζζζ
ηηη
ξξξ
MMM
(4.95)
O valor de |
J
i
| pode então ser imediatamente obtido.
De posse da matriz
N
ξ
e da matriz Jacobiana J
x/
ξ
, a matriz das derivadas das funções de
forma em relação à configuração deformada
N
x
é dada por:
ξξ
NJN
1
/
=
xx
(4.96)
A montagem da matriz
G é mostrada na Eq.4.60 e na Eq.4.61.
A matriz Jacobiana da transformação de
X para
(
)
k
n 1+
x
pode ser obtida por meio da matriz
das derivadas
N
x
e dos deslocamentos nodais
(
)
k
n 1+
u
, segundo a expressão:
()
(
)
(
)
()
()
()
()
()
()
()
k
nx
z
y
x
xX
wvu
N
N
N
z
w
z
v
z
u
y
w
y
v
y
u
x
w
x
v
x
u
z
wz
z
vy
z
ux
y
wz
y
vy
y
ux
x
wz
x
vy
x
ux
z
Z
z
Y
z
X
y
Z
y
Y
y
X
x
Z
x
Y
x
X
1
111
,1
,1
,1
/
...
...
...
100
010
001
1
1
1
+
=
=
=
=
=
uNI
J
MMM
(4.97)
Finalmente, o gradiente de deformações é dado pelo inverso da transposta da matriz
Jacobiana
J
X /x
, ou seja:
()
()
T
xX
k
n
k
n
Z
z
Y
z
X
z
Z
y
Y
y
X
y
Z
x
Y
x
X
x
+
+
=
=
=
/
1
1
J
X
x
F
(4.98)
109
4.3.8 - Modelos constitutivos elásticos para análises em grandes deformações
4.3.8.1
- Modelo elástico simplificado - Lei de Hooke
CRISFIELD (1991) mostra analiticamente alguns exemplos de não-linearidade
geométrica em que faz uso de um modelo constitutivo elástico simplificado com base na
Lei de Hooke. Para tal, no algoritmo mostrado na FIG.4.6, item (ii), utiliza-se a Eq.4.9
(ou a Eq.4.14 em casos de estado plano de tensões) para cálculo da matriz
D. Com
relação ao item (vii), adota-se a expressão:
vold
KG εεσ
εDσ
+=
=
2
(4.99)
onde
σ
é o vetor das tensões de Cauchy, D é a relação constitutiva elástica de pequenas
deformações, dada na Eq.4.9, e
ε é o vetor das deformões elásticas de Hencky
(logarítmicas).
4.3.8.2 - Modelo de Hencky
SOUZA NETO (2006) utiliza o modelo constitutivo elástico de Hencky para a
modelagem de estruturas sujeitas a grandes deformações (hiperelasticidade). Esse
modelo é derivado da Lei de Hooke simplificada, substituindo-se as tensões de Cauchy
pelas tensões de Kirchhoff e utilizando-se o vetor de deformações elásticas de Hencky:
εD
FF
τ
σ
det
1
det
==
(4.100)
BRUHNS
et al. (2004) argumentam que estudos feitos por Anand em 1979 e 1986
indicaram que o modelo de Hencky é realístico e conduz a um bom ajuste com dados
experimentais para uma variedade de materiais de engenharia sob deformações
moderadas.
Recentemente, por meio de procedimentos com bases físicas e matemáticas sólidas,
esses autores demonstraram que o modelo de Hencky é essencialmente consistente com
as teorias Eulerianas de inelasticidade finita e de plasticidade para metais com base no
segundo invariante desviador
J
2
.
110
4.4 - Análise não-linear material
As não-linearidades materiais referem-se ao comportamento não-linear da relação entre
a tensão e a deformação devido à plasticidade, fluência, fissuração, fraturas, etc. Neste
trabalho será tratada apenas a não-linearidade material devido à plasticidade,
independente da velocidade de deformação do material (
rate-independent plasticity).
Esse comportamento plástico é caracterizado por deformações irreversíveis que ocorrem
em um material quando um dado nível de tensão é atingido, assumindo-se que as
deformações plásticas se desenvolvem instantaneamente.
A teoria da plasticidade fornece as relações matemáticas que caracterizam o
comportamento elasto-plástico de um material. As seguintes hipóteses são necessárias
para modelar o comportamento plástico:
um critério de escoamento: que define o limite elástico, ou seja, determina o nível
de tensões em que o comportamento plástico se inicia;
uma regra de encruamento: utilizada para descrever as mudanças que ocorrem na
superfície de escoamento com o avanço das deformações plásticas, de modo que
escoamentos subseqüentes possam ser definidos;
uma regra de fluxo: que define as deformações plásticas (intensidade e direção)
em função do nível de tensão instalado.
Essas hipóteses serão analisadas em detalhes nos subitens a seguir.
4.4.1 - Critérios de escoamento independentes da tensão média
O início do comportamento plástico de um material isotrópico pode ser modelado por
um critério de escoamento, que pode ser expresso por uma função escalar:
(
)
0,...,,
21
=
Φ kk
ij
σ
(4.101)
onde
σ
ij
é o estado de tensões em um ponto do corpo na forma indicial e k
n
(
κ
, T) é a n-
ésima constante de resistência do material, dependente do parâmetro de encruamento
κ
e da temperatura
T.
111
Observações experimentais permitem concluir, com alguma aproximação, que o
escoamento plástico nos metais pode ser considerado independente da
tensão
hidrostática
ou tensão média, dada por:
(
)
33
1
1
I
zyxm
=++=
σσσσ
(4.102)
onde
I
1
é o primeiro invariante do tensor de tensões.
Assim, os critérios de escoamento mais adequados para análise estrutural de metais são
os critérios de Tresca e de von Mises, pois esses critérios independem da tensão média.
4.4.1.1 - Critério de Tresca
Em 1864, a partir de resultados experimentais, Tresca elaborou a hipótese de que a
deformação plástica ocorria sempre que a tensão de cisalhamento máxima atingisse o
valor limite
σ
0
/2, sendo
σ
0
a tensão de escoamento do material. A expressão do critério
de Tresca é dada por:
(
)
()
(
)
0,,,,
01332210
==Φ TMax
ij
κσσσσσσσσσ
(4.103)
As tensões principais
σ
1
,
σ
2
e
σ
3
correspondem às raízes reais da equação cúbica:
0
32
2
1
3
= III
σσσ
(4.104)
sendo
I
1
, I
2
e I
3
, respectivamente, o primeiro (Eq.4.102), o segundo (Eq.4.105) e o
terceiro (Eq.4.106) invariantes do tensor de tensões:
(
)
222
2 xzyzxyzxzyyx
I
τττσσσσσσ
+++++=
(4.105)
222
3
2
xyzxzyyzxxzyzxyzyx
I
τστστστττσσσ
+=
(4.106)
Ao invés de se usar a Eq.4.104 para se obter as tensões principais, pode-se também
utilizar um procedimento com base nas coordenadas de Haigh-Westergaard (Eq.4.107):
()
()
+
+
=
3/2cos
3/2cos
cos
3
2
2
3
2
1
πθ
πθ
θ
σ
σ
σ
σ
σ
σ
J
m
m
m
(4.107)
112
onde:
σ
m
é a tensão hidrostática ou tensão média (Eq.4.102);
J
2
é o segundo invariante do tensor de tensões desviadoras, dado por:
()
(
)
()
()
222
222
2
6
1
zxyzxyxzzyyx
J
τττσσσσσσ
+++++=
(4.108)
θ
é a terceira coordenada de Haigh-Westergaard, dada por:
3
0,
2
33
cos
3
1
2/3
2
3
1
π
θθ
=
J
J
(4.109)
J
3
é o terceiro invariante do tensor de tensões desviadoras:
=
3
2
3
2
3
2
det
3
yxz
zyzx
yz
zxy
yx
xzxy
zyx
J
σσσ
ττ
τ
σσσ
τ
ττ
σσσ
(4.110)
O critério de Tresca define, no espaço das tensões principais (o espaço de Haigh-
Westergaard), um prisma hexagonal regular e de comprimento infinito, cujo eixo
hidrostático (
σ
1
=
σ
2
=
σ
3
) é perpendicular ao plano desviador Π (ver FIG.4.7.a). A
projeção desse prisma no plano desviador
Π é um hexágono regular (ver FIG.4.7.b).
a) Critérios de escoamento no espaço
de tensões principais
Plano desviador
σ
1
σ
2
σ
3
Eixo
hidrostático
Π
Superfície de
escoamento de
Tresca
Superfície de
escoamento de
von Mises
b) Critérios de escoamento no
plano desviador
Π
Hegono
de Tresca
Círculo de
von Mises
σ
1
'
σ
2
'
σ
3
'
Estado de
cisalhamento puro
0
3
2
σ
Osgood
apud
CHEN (1988)
FIGURA 4.7 – Critérios de escoamento de Tresca e von Mises
113
4.4.1.2 - Critério de von Mises
O critério de escoamento de von Mises surgiu como conseqüência da necessidade de se
criar uma alternativa ao critério de Tresca, pois esse apresenta algumas dificuldades
matemáticas para a sua aplicação a problemas tridimensionais devido à falta de
continuidade da derivada da superfície de escoamento. Assim, em 1913, von Mises
sugeriu que o escoamento plástico se inicia quando o segundo invariante do tensor de
tensões desviadoras,
J
2
, atinge um valor crítico:
()
()
0,
3
1
,
020
==Φ TJ
ij
κσσσ
(4.111)
ou ainda
(
)
(
)
0,3,
2
020
==Φ TJ
ij
κσσσ
(4.112)
sendo
σ
0
a resistência ao escoamento à tração e
σ
e
a tensão equivalente de von Mises
2
3J
e
=
σ
(4.113)
O critério de von Mises representa, no espaço das tensões principais, a superfície de um
cilindro com o mesmo eixo do prisma hexagonal de Tresca (o eixo hidrostático),
conforme é mostrado na FIG.4.7.a. A interseção desse cilindro com o plano desviador
Π
é um círculo de raio igual a
0
3/2
σ
, como ilustrado na FIG.4.7.b.
O fato de se utilizar no critério de Tresca a tensão limite
0
σ
e no critério de von Mises a
tensão
3/
0
σ
faz com que, no plano desviador Π, o círculo de von Mises passe
exatamente nos vértices do hexágono de Tresca (FIG.4.7.b). Porém, para um estado de
cisalhamento puro, o critério de von Mises apresenta um valor que é
()
155,13/2
vezes maior que o fornecido pelo critério de Tresca.
CHEN (1988) demonstra que as superfícies de Tresca e von Mises são convexas,
atendendo às considerações energéticas para superfícies de escoamento. Com relação à
validação experimental, Osgood em 1947
apud CHEN (1988), entre vários outros
pesquisadores, mostrou que resultados de ensaios em tubos de alumínio de paredes finas
com carregamento radial situam-se entre as superfícies de Tresca (no máximo 7,4%
acima dessa) e de von Mises (no máximo 6,85% abaixo dessa), conforme a FIG.4.7.b.
114
Devido à maior facilidade matemática de uso em problemas tridimensionais e, portanto,
maior velocidade de cálculo computacional, e por fornecer resultados mais próximos
dos obtidos em ensaios que outros critérios, o critério de von Mises será utilizado neste
trabalho para análise do comportamento do aço estrutural em situação de incêndio.
4.4.2 - Critérios de escoamento dependentes da tensão média
Segundo VILA REAL (1993), os critérios de escoamento dependentes da tensão média
se adaptam melhor ao comportamento de materiais não metálicos, como rochas, solos e
concretos. Esses critérios são marcados pela presença do primeiro invariante do tensor
de tensões
I
1
em suas formulações.
CHEN (1988) utiliza o termo
critérios de falha para os critérios de escoamento
dependentes da tensão média, justificando que geralmente esses critérios são aplicados a
materiais perfeitamente plásticos ou frágeis, e, portanto, o escoamento implicaria em
falha, ou seja, a resistência ao escoamento é também a tensão limite de resistência.
Conforme CHEN (1988), os critérios de escoamento dependentes da tensão média mais
utilizados são mostrados a seguir.
4.4.2.1 - Critério de Mohr-Coulomb
O critério de Mohr-Coulomb foi desenvolvido em 1900, podendo ser considerado como
uma generalização do critério de Tresca. Ambos os critérios têm base na hipótese de
que a tensão de cisalhamento máxima é a única medida que define o escoamento do
material. Porém, ao invés de se admitir uma tensão limite constante como no critério de
Tresca, no critério de Mohr-Coulomb a tensão limite depende da tensão média:
()
()
() () ()
0cossen
3
cos
3
3
sensen
3
,,
2
2
1
=
+
+
++=Φ
TTcT
J
JT
I
c
ij
φφ
π
θ
π
θφφσ
(4.114)
onde
φ
(T) é o ângulo de atrito interno do material dependente da temperatura, c(T) é a
coesão do material em função da temperatura,
I
1
é o primeiro invariante do tensor de
tensões (Eq.4.102),
J
2
é o segundo invariante do tensor de tensões desviadoras
(Eq.4.108) e
θ
é a terceira coordenada de Haigh-Westergaard (Eq.4.109).
115
Os parâmetros
φ
e c podem ser obtidos, para uma dada temperatura T, por correlação
com resultados de ensaios à tração (
f
t
) e à compressão (f
c
) uniaxial por meio das
expressões:
φ
φ
φ
φ
sen 1
cos2
ou
sen 1
cos2
+
=
=
c
f
c
f
tc
(4.115)
+
=
+
=
tc
tc
t
c
ff
ff
f
f
1
sen
sen 1
sen 1
φ
φ
φ
(4.116)
O critério de Mohr-Coulomb representa, no espaço das tensões principais, uma pirâmide
hexagonal irregular, conforme mostrado na FIG.4.8.a. A interseção dessa pirâmide com
o plano desviador
Π é um hexágono irregular, como ilustrado na FIG.4.8.b.
b) Critérios de escoamento no
plano desviador
Π
Mohr-Coulomb
Drucker-Prager
(vértices externos)
σ
1
'
σ
2
'
σ
3
'
ρ
t
ρ
c
θ
=60
ο
ρ
Drucker-Prager
(vértices internos)
a) Critérios de escoamento no espaço
de tensões principais
σ
1
σ
2
σ
3
Eixo hidrostático
Superfície de
escoamento de
Mohr-Coulomb
Superfície de
escoamento de
Drucker-Prager
FIGURA 4.8 – Critérios de escoamento de Mohr-Coulomb e Drucker-Prager
Apenas duas grandezas,
ρ
c
e
ρ
t
, são necessárias para determinar o hexágono de Mohr-
Coulomb no plano desviador
Π. Essas grandezas correspondem à segunda variável de
Haigh-Westergaard ajustada para compressão simples (
θ
= 60º) e para tração simples
(
θ
= 0º), respectivamente:
φ
φφ
ρ
sen 3
sen 3/22cos62
1
=
Ic
c
(4.117)
116
φ
φφ
ρ
sen 3
sen 3/22cos62
1
+
=
Ic
t
(4.118)
SMITH (1997) afirma que o critério de Mohr-Coulomb é muito utilizado na Mecânica
dos Solos para modelagem de solos saturados que possuem um esqueleto resistente,
como areias quartzosas densas. Segundo CHEN (1988), esse critério também é bastante
utilizado para modelagem de concretos sob baixas tensões de confinamento. A principal
vantagem desse critério é a variação da resistência ao escoamento com a coordenada
θ
.
4.4.2.2 - Critério de Drucker-Prager
O critério de Drucker-Prager, formulado em 1952, é uma simples modificação do
critério de von Mises, onde se introduziu a influência da tensão média na resistência ao
escoamento, resultando na expressão:
()
(
)
(
)
0,,
21
=+=Φ TcJITc
ij
ηησ
(4.119)
sendo
η
e c constantes do material, I
1
o primeiro invariante do tensor de tensões
(Eq.4.102) e
J
2
o segundo invariante do tensor de tensões desviadoras (Eq.4.108).
No espaço das tensões principais, o critério de escoamento de Drucker-Prager
representa um cone regular de base circular, conforme mostrado na FIG.4.8.a. A
interseção desse cone com o plano desviador
Π é um círculo, como ilustrado na
FIG.4.8.b, cujo raio
ρ
é dado em função do primeiro invariante I
1
pela expressão:
(
)
1
2 Ic
ηρ
=
(4.120)
Com o objetivo de aproximar o critério de Drucker-Prager ao critério de Mohr-
Coulomb, pode-se reescrever a Eq.4.119 na forma:
()
(
)
(
)
(
)
0,,,
21
=+=Φ TcTJITc
ij
ξηξησ
(4.121)
onde
c é a coesão do material e os parâmetros
η
e
ξ
são obtidos em função da
aproximação requerida com o critério de Mohr-Coulomb.
117
As duas aproximações mais utilizadas consistem no ajuste do critério de Drucker-Prager
de modo a coincidir com o critério de Mohr-Coulomb nos vértices externos ou nos
vértices internos do hexágono irregular (FIG.4.8.b). A coincidência nos vértices
externos é obtida adotando-se (SOUZA NETO, 2006):
()
φ
φ
η
sen 33
sen 6
=
e
()
φ
φ
ξ
sen 33
cos6
=
(4.122)
Por outro lado, a coincidência nos vértices internos é obtida por:
()
φ
φ
η
sen 33
sen 6
+
=
e
()
φ
φ
ξ
sen 33
cos6
+
=
(4.123)
Os cones interno e externo de Drucker-Prager são também denominados
cone de tração
e
cone de compressão, respectivamente. Ressalta-se que, em ambos os casos, o ápice do
cone de Drucker-Prager coincide com o ápice da pirâmide de Mohr-Coulomb.
Uma terceira aproximação possível consiste em ajustar o raio
ρ
da base do cone de
Drucker-Prager, dado pela Eq.4.120, com o valor médio entre os vértices externos
(Eq.4.122) e os vértices internos (Eq.4.123) do critério de Mohr-Coulomb. Para essa
aproximação, basta fazer os parâmetros
ξ
e
η
do material iguais às médias dos valores
apresentados na Eq.4.122 e Eq.4.123, obtendo-se:
()
φ
φ
η
2
sen93
sen 18
=
e
()
φ
φ
ξ
2
sen93
cos18
=
(4.124)
Também nesse caso, o ápice do cone de Drucker-Prager coincide com o ápice da
pirâmide de Mohr-Coulomb.
SOUZA NETO (2006) também mostra o caso de ajuste do cone de Drucker-Prager com
estados de tensões uniaxiais de tração (
f
t
) e compressão (f
c
). Nesse caso, as mesmas
tensões uniaxiais de falha são obtidas considerando-se:
3
sen 3
φ
η
= e
3
cos2
φ
ξ
=
(4.125)
Evidentemente, em tal ajuste o ápice do cone de Drucker-Prager não coincide com o
ápice da pirâmide de Mohr-Coulomb.
118
Uma desvantagem do critério de Drucker-Prager é a não consideração da variação da
resistência ao escoamento com a coordenada
θ
. Em contrapartida, a principal vantagem
matemática do uso do critério de Drucker-Prager em relação ao critério de Mohr-
Coulomb é a não existência de quinas na superfície de escoamento no plano desviador,
conduzindo a um cálculo mais rápido e com menores complicações numéricas, pois não
é necessário trabalhar no espaço das tensões principais (CHEN, 1988).
Além disso, para tensões de confinamento mais elevadas, a superfície de escoamento do
concreto no plano desviador
Π se aproxima de um círculo, sendo esse critério mais
apropriado para modelagem de concretos que o critério de Mohr-Coulomb.
4.4.2.3 - Outros critérios de escoamento dependentes da tensão média
CHEN (1988) apresenta outros critérios de escoamento dependentes da tensão média,
conforme a FIG.4.9, também muito utilizados para modelagem de concretos.
c) Ottosen
σ
1
σ
2
σ
3
θ
σ
oct
τ
oct
θ
= 60º
θ
= 0º
a) Bresler-Pister
σ
1
σ
2
σ
3
σ
oct
τ
oct
b) Hsieh-Ting-Chen
σ
oct
τ
oct
θ
= 60º
θ
= 0º
σ
1
σ
2
σ
3
θ
d) Willam-Warnke
σ
1
σ
2
σ
3
θ
σ
oct
τ
oct
θ
= 60º
θ
= 0º
FIGURA 4.9 – Outros critérios de escoamento dependentes da tensão média
O critério proposto por Bresler-Pister, datado de 1958, é uma generalização do critério
de Drucker-Prager, no qual é inserido um terceiro parâmetro que permite que a relação
τ
oct
×
σ
oct
seja parabólica. No entanto, como ocorre no critério de Drucker-Prager, o
critério de Bresler-Pister também é independente da coordenada
θ
(como mostrado na
seção no plano desviador).
119
O critério de Hsieh-Ting-Chen, de 1982, é um modelo de quatro parâmetros no qual se
admite que a relação
τ
oct
×
σ
oct
seja parabólica e que haja uma dependência da
coordenada
θ
no plano desviador. Trata-se de um modelo mais refinado que os demais,
exigindo quatro ensaios em diferentes estados de tensões para sua calibração. Esse
modelo fornece bons resultados para o concreto com pequenas tensões de confinamento.
Um outro modelo de quatro parâmetros muito utilizado é o critério de Ottosen, de 1977.
Esse modelo tem as mesmas vantagens que o critério de Hsieh-Ting-Chen e ainda
admite uma variação da seção no plano desviador de triangular para circular com o
aumento da tensão média, sendo um dos melhores critérios para modelagem do
concreto. No entanto, também se exige quatro estados de tensões para sua calibragem.
Segundo CHEN (1988), o critério mais refinado para modelagem do concreto é o
critério de Willam-Warnke, um modelo de cinco parâmetros, e, portanto, que exige
cinco ensaios em diferentes estados de tensões para sua calibração. Esse modelo admite
que a relação
τ
oct
×
σ
oct
seja parabólica e que a seção no plano desviador seja um traço
de elipse, variando de uma forma triangular para circular com o aumento da tensão
média.
KOHNKE (1997) destaca que o programa ANSYS, um sistema mundialmente
conhecido para análises por elementos finitos desenvolvido pela empresa americana
Swanson Analysis Systems Inc., disponibiliza os critérios de Mohr-Coulomb, Drucker-
Prager e Willam-Warnke para análise de ruptura de materiais frágeis, como o concreto.
A razão para se ter disponível modelos de dois e de cinco parâmetros em um programa
de computador é que, apesar de os critérios de Mohr-Coulomb e Drucker-Prager não
serem modelos tão refinados como o critério de Willam-Warnke, segundo CHEN
(1988), os resultados obtidos por uma análise utilizando os modelos de dois parâmetros
consistem em uma razoável aproximação da realidade, com um esforço computacional
muito menor que com o modelo de Willam-Warnke.
Assim, no presente trabalho, pretende-se utilizar o critério de Drucker-Prager para
análise do comportamento do concreto em situação de incêndio, ficando os modelos
120
mais refinados, como o critério de Ottosen e o critério de Willam-Warnke, como
sugestões para implementação em trabalhos futuros. Ressalta-se que os fenômenos
típicos do concreto como fissuração, expansão de volume sob cargas de compressão
(dilatância), amolecimento e degradação da rigidez sob cargas cíclicas não são
considerados pelas formulações apresentadas.
Nas análises que serão feitas neste trabalho, o elemento estrutural será solicitado até um
nível de carregamento pré-determinado, após o qual o incêndio terá início, degradando
progressivamente as propriedades mecânicas dos materiais até que sejam atingidas
deformações excessivas, falhas ou instabilidade. Assim, carregamentos cíclicos não
serão utilizados nas análises.
Adicionalmente, como o presente trabalho trata de elementos estruturais mistos de aço e
concreto convencionais (vigas e pilares), não se esperam altas tensões de confinamento,
de modo que a fissuração também não será um efeito determinante nas análises, como
se pode observar na FIG.4.10, obtida experimentalmente por Launay e Gachon
apud
CHEN (1988).
1
2
3
4
1
2
3
Fissuração
Falha
θ
= 60º
θ
= 0º
ρ
/
f
c
-I
1
/ f
c
-4 -6 -8 -10
-12
Limite elástico
FIGURA 4.10 – Curvas de falha e de fissuração para o concreto
(Launay e Gachon
apud CHEN, 1988)
121
4.4.3 - Regras de encruamento
As regras de encruamento estabelecem como devem ocorrer as mudanças em uma
superfície de escoamento à medida que as deformações plásticas se processam, de modo
a se definir como ocorrem os escoamentos subseqüentes.
Embora essas regras possam ser aplicadas a qualquer um dos critérios de escoamento,
apenas o critério de von Mises (utilizado para análise do aço estrutural) será passível de
encruamento neste trabalho. Segundo KOHNKE (1997), a modelagem do concreto por
meio do critério de Mohr-Coulomb não deve levar em consideração o encruamento,
devendo-se tratar o material como perfeitamente plástico. No entanto, a formulação que
será apresentada a seguir pode ser adaptada a qualquer critério.
Há várias regras de encruamento propostas em literatura. As mais largamente utilizadas
são as regras de
encruamento isotrópico, encruamento cinemático e encruamento misto,
sendo essa última uma combinação das duas primeiras.
4.4.3.1 - Encruamento isotrópico
A regra de encruamento isotrópico considera que, com as deformações plásticas, a
superfície de escoamento se expande uniformemente sem distorção ou translação, como
mostrado na FIG.4.11.
σ
ε
σ
0
(0)
b) Diagrama tensões-deformões
ε
σ
d
d
E
t
=
σ
0
(
κ
1
)
σ
0
(
κ
1
)
σ
0
(
κ
2
)
E
σ
2
σ
1
σ
3
A
B
a) Representação na superfície de escoamento
Superfície de
escoamento inicial
F =
σ
0
(0)
Superfície de
escoamento subsequente
F =
σ
0
(
κ
1
)
FIGURA 4.11 – Regra de encruamento isotrópico
122
De modo geral, a função escalar que define a superfície de escoamento tem a forma da
Eq.4.126, sendo
κ
o parâmetro de encruamento:
(
)
(
)
(
)
0,,
00
=
=
Φ TF
ijij
κ
σ
σ
σ
σ
(4.126)
O parâmetro de encruamento
κ
pode estar relacionado ao trabalho plástico total W
p
,
tendo-se um encruamento energético, ou à deformação plástica efetiva
ε
p
, tendo-se um
encruamento por deformação. A forma incremental para o primeiro caso é dada por:
p
ijijpep
dddWd
εσεσκ
===
(4.127)
e, no segundo caso, tem-se
p
ij
p
ijp
ddCdd
εεεκ
==
(4.128)
onde
σ
e
é a tensão efetiva, d
ε
p
é a variação da deformação plástica efetiva, C é uma
constante ajustada para cada critério de escoamento por correlação com um estado de
tensões uniaxial e
p
ij
d
ε
é a componente plástica (indicial) da variação de deformação
=
p
z
p
zy
p
zx
p
yz
p
y
p
yx
p
xz
p
xy
p
x
p
ij
ddd
ddd
ddd
d
εεε
εεε
εεε
ε
(4.129)
Considerando-se o encruamento por deformação (
d
κ
= d
ε
p
), a variação da tensão de
escoamento é dada por:
(
)
pp
dTEd
ε
σ
=
0
(4.130)
sendo
E
p
o módulo plástico em função da temperatura. O módulo plástico relaciona-se
com o módulo de elasticidade
E e com o módulo tangente E
t
pela expressão:
EE
E
E
EEE
t
t
p
tp
/1
111
==+
(4.131)
Apesar de ser de fácil aplicação, a regra de encruamento isotrópico não permite simular
o efeito de Bauschinger que consiste no fato de a resistência ao escoamento de um
material (à compressão, por exemplo), após ter sofrido deformação plástica, ser mais
baixa do que a tensão de escoamento inicial na direção oposta (ou seja, à tração).
123
4.4.3.2 - Encruamento cinemático
A regra de encruamento cinemático admite que a superfície de escoamento é rígida.
Assim, com as deformações plásticas, a superfície sofre uma translação em relação à
superfície de escoamento inicial, como mostra a FIG.4.12.
σ
ε
σ
0
b) Diagrama tensões-deformações
ε
σ
d
d
E
t
=
σ
0
σ
0
σ
2
σ
1
σ
3
A
B
a) Representação na superfície de escoamento
O
O'
α
ij
Superfície de
escoamento inicial
F
(
σ
ij
)
=
σ
0
Superfície de
escoamento subsequente
F
(
σ
ij
-
α
ij
)
=
σ
0
FIGURA 4.12 – Regra de encruamento cinemático
Nesse caso, a função escalar que define a superfície de escoamento é modificada pela
inserção das coordenadas do centro dessa superfície
α
ij
. De modo geral, a expressão da
superfície de escoamento tem a forma da Eq.4.132:
(
)
(
)
(
)
0,
00
=
=
Φ TF
ijij
σ
σ
σ
σ
(4.132)
onde
ijijij
α
σ
σ
= são as tensões reduzidas.
Essa regra de encruamento foi primeiramente proposta por Prager em 1955, que definiu
a variação do centro da superfície de escoamento
d
α
ij
com as deformações plásticas por:
p
ijij
dcd
εα
=
(4.133)
onde
c é uma constante de encruamento, característica para o material analisado.
No entanto, CHEN (1988) demonstra que a regra de encruamento de Prager pode
apresentar algumas inconsistências quando aplicada a subespaços de tensões. Por esse
motivo, em 1959, Ziegler propôs uma modificação na regra de encruamento de Prager:
(
)
pijijíj
dad
ε
α
σ
α
=
(4.134)
124
onde
a é uma constante positiva de encruamento do material e
σ
ij
corresponde ao estado
de tensões atual. Para o critério de von Mises, CHEN (1988) demonstra que a constante
a, em função da temperatura, é dada por:
(
)
(
)
(
)
TTETa
p 0
/
σ
=
(4.135)
4.4.3.3 - Encruamento misto
A combinação das duas regras de encruamento anteriores fornece a regra de
encruamento misto que admite tanto uma expansão da superfície de escoamento quanto
a sua translação, por meio da expressão:
(
)
(
)
(
)
0,,
00
=
=
Φ TF
ijijij
κ
σ
α
σ
σ
σ
(4.136)
Na regra de encruamento misto, o incremento de deformação plástica pode ser
decomposto em dois componentes colineares:
cin
ij
iso
ij
p
ij
ddd
εεε
+=
(4.137)
onde
iso
ij
d
ε
está associado com a expansão e
cin
ij
d
ε
está associado com a translação da
superfície de escoamento. Esses dois componentes podem ser expressos por:
()
10com
1
=
=
M
dMd
dMd
p
ij
cin
ij
p
ij
iso
ij
εε
εε
(4.138)
sendo
M o parâmetro de encruamento misto.
Substituindo-se o termo
iso
ij
d
ε
da Eq.4.138 no lugar do termo
p
ij
d
ε
da Eq.4.128, obtém-
se uma nova expressão para a variação da tensão de escoamento (anteriormente
Eq.4.130):
(
)
pp
dTEMd
ε
σ
=
0
(4.139)
125
Analogamente, substituindo-se o termo
cin
ij
d
ε
da Eq.4.138 no lugar do termo
p
ij
d
ε
da
Eq.4.133, obtém-se uma nova expressão para a variação do centro da superfície de
escoamento (anteriormente Eq.4.134):
(
)
(
)
pijijíj
dMad
ε
α
σ
α
= 1
(4.140)
Apesar de o apelo prático da regra de encruamento misto, SOUZA NETO (2006)
comenta que o encruamento cinemático tem o inconveniente de introduzir anisotropia
no material, dificultando o tratamento computacional da plastificação e da montagem da
matriz da relação constitutiva. Por esse motivo, e como não serão consideradas cargas
cíclicas neste trabalho, optou-se por utilizar a regra de encruamento isotrópico para
modelagem dos aços estruturais.
4.4.4 - Regra de fluxo e potencial plástico
A regra de fluxo é utilizada para se obter as deformações plásticas que ocorrem quando
o estado de tensões atinge a superfície de escoamento. Em analogia com problemas de
fluxos de fluidos ideais, pode-se definir a função de
potencial plástico
(
)
k
ij
,
σ
Ψ por:
ij
p
ij
d
σ
γε
Ψ
=
(4.141)
onde
γ
> 0 é uma função escalar que varia ao longo da história do processo de
deformação, denominada por multiplicador plástico.
O gradiente da superfície de potencial plástico
∂Ψ/
σ
ij
define a direção N do vetor de
incrementos de deformações plásticas
p
ij
d
ε
, enquanto que a magnitude do vetor é
determinada pelo parâmetro de carregamento
γ
.
A regra de fluxo é denominada
associativa quando a superfície de potencial plástico e a
superfície de escoamento coincidem, ou seja,
(
)
(
)
kk
ijij
,,
σ
σ
Φ
=
Ψ
, e, assim, a Eq.4.141
adquire a forma simplificada:
N
γ
σ
γε
=
Φ
=
ij
p
ij
d
(4.142)
126
Segundo CHEN (1988), tem-se poucas evidências experimentais relativas às funções de
potencial pstico (não-associativas). Portanto, o uso da regra de fluxo associativa para os
materiais de uso comum em engenharia é feito preferencialmente por razões práticas.
4.4.5 - Definição do problema incremental constitutivo elasto-plástico
Com base nos conceitos anteriores, pode-se definir a expressão para a atualização das
deformações elásticas durante um fluxo plástico. Assim, seja
e
n
ε
o vetor de deformações
elásticas no instante
n e ε o incremento de deformações totais durante o fluxo plástico.
O vetor de deformações elásticas no instante
n+1,
e
n
1+
ε
, pode ser obtido por:
()
1,1,1
1
1
,
+++
+
+
+=
+=
+=
npnij
e
n
e
n
pe
n
e
n
ee
n
e
n
εσγ
Nεεε
εεεε
εεε
(4.143)
SOUZA NETO (2006) demonstra que, adotando-se a mesma lógica para a variável de
estado, pode-se também definir uma expressão para atualização dessa variável durante o
fluxo plástico. Para a regra de encruamento isotrópico por deformação, a variável de
estado consiste basicamente na deformação plástica efetiva
ε
p
. Sendo E
p
o módulo
plástico (Eq.4.131), tem-se que:
Pnpnp
E
γ
ε
ε
+
=
+ ,1,
(4.144)
Com as definições anteriores de critérios de escoamento, regras de encruamento e regras
de fluxo, o problema incremental constitutivo elasto-plástico pode ser resumido no
sistema de equações mostrado na FIG.4.13.
Dados, no instante n, o vetor de deformações elásticas
e
n
ε e a deformação plástica efetiva
ε
p,n
,
resolver o sistema de equações:
(
)
pnpnp
npnij
e
n
e
n
E
γεε
εσγ
+=
+=
+
+++
,1,
1,1,1
,Nεεε
para as incógnitas
e
n
1+
ε ,
1, +np
ε
e
γ
, sujeitas às restrições:
(
)
(
)
0,0,0
1,1,1,1,
=
Φ
Φ
++++ npnijnpnij
ε
σ
γ
ε
σ
γ
FIGURA 4.13 – Problema incremental constitutivo elasto-plástico
127
A solução desse problema incremental permite somente duas possibilidades
mutuamente exclusivas:
γ
= 0. Nesse caso não há fluxo plástico e nem evolução das variáveis de estado,
de modo que o incremento é puramente elástico. Adicionalmente, as restrições
são automaticamente satisfeitas;
γ
> 0. Nesse caso há fluxo plástico com possível evolução das variáveis de
estado. As restrições se resumem a:
(
)
0,
1,1,
=
Φ
++ npnij
ε
σ
, sendo o incremento
elasto-plástico.
A natureza desse problema exige para a sua solução o estabelecimento de um algoritmo
de dois passos, no qual dois conjuntos de equações (incremento puramente elástico e
retorno elasto-plástico) são empregados seqüencialmente e a solução final é selecionada
como a realmente válida pelo conjunto de restrições. Esse tipo de algoritmo tem a
vantagem de assegurar a convergência no instante
n+1, sendo denominado esquema de
integração backward-Euler
ou integração implícita (FIG.4.14).
(i) Dados de entrada:
e
n
ε ,
ε
p,n
, ε
(ii) Passo 1: Tentativa elástica (
γ
= 0)
()
()
trial
np
trial
n
trial
triale
n
trial
n
np
trial
np
e
n
triale
n
1,1
11
,1,
1
,
++
++
+
+
Φ=Φ
=
=
+=
ε
σ
εε
σ
εσ
εεε
SE Φ
trial
0 ENTÃO
()
(
)
trial
n
n
1
1
+
+
=
e FIM
Deformações elásticas “trial”
Deformação plástica efetiva “trial”
Tensões elásticas equivalentes
Critério de escoamento
Verifica se há fluxo plástico
(iii) Passo 2: Algoritmo de retorno (
γ
> 0). Resolver o sistema de equações:
()
()
()
=Φ
=
+=
=
++
++
++
++++
0,
,
1,1
11
1,1,
1,111
npn
e
nn
p
trial
npnp
npn
triale
n
e
n
E
ε
σ
γεε
εγ
σ
εσ
σNεε
Deformações elásticas corrigidas
Deformação plástica efetiva
Cálculo das tensões de Cauchy
Critério de escoamento atendido
(iv) FIM
FIGURA 4.14 – Algoritmo implícito de integração das equações elasto-plásticas
128
4.4.6
- Adaptação do problema incremental ao critério de von Mises
O critério de plasticidade de von Mises foi descrito no subitem 4.4.1.2. Porém, por
conveniência, as suas equações básicas serão reapresentadas. Assim, essencialmente, o
critério de von Mises compreende:
1)
Uma lei elástica linear dada por:
ee
εDσ :=
(4.145)
onde D
e
é o tensor da relação constitutiva elástica (Eq.4.9).
2)
Uma função de escoamento da forma:
()
(
)
(
)
p
J
εσσ
020
3, =Φ σσ
(4.146)
onde
σ
0
é a tensão de escoamento uniaxial em função da deformação plástica
efetiva (ou deformação plástica acumulada).
3)
Uma regra de fluxo associativa:
σ
Nε
Φ
==
γγ
p
(4.147)
sendo o vetor de fluxo N explicitamente dado por
s
s
σ
N
2
3
=
Φ
=
(4.148)
4)
Uma regra de encruamento associativa, com a equação de evolução para a
variável interna de encruamento dada por:
γε
==
p
p
ε
3
2
(4.149)
4.4.6.1
- Algoritmo de integração implícito
SOUZA NETO (2006) apresenta o desenvolvimento passo a passo do algoritmo de
integração implícito mostrado na FIG.4.14 de modo específico para o critério de von
Mises. O algoritmo obtido é apresentado na FIG.4.15 em forma de pseudo-código.
129
(i) Dados de entrada:
ε (vetor do incremento de deformações total),
e
n
ε (vetor de deformações elásticas),
ε
p,n
(deformação plástica efetiva).
(ii) Tentativa elástica: dado o incremento de deformações
ε
e as variáveis de estado em t
n
,
calcular a tentativa de estado elástico (trial):
EPFLAG = 0 Análise elástica
trial
nS
trial
n
trial
n
triale
nd
trial
n
triale
nv
trial
n
triale
nv
triale
n
triale
nd
triale
nzz
triale
nyy
triale
nxx
triale
nv
np
trial
np
e
n
triale
n
q
GKp
1
1
11
1,11,1
1,11,
1,1,1,
1,
,1,
1
2
3
2;
;
3
+
++
++++
+++
+++
+
+
+
=
==
=
++
=
=
+=
sIs
εs
iεε
εεε
ε
ε
εεε
ε
εε
(iii) Verificar a violação da função de escoamento:
(
)
() ()
SAIReFazerENTÃO
0SE
1
1,01
nn
trial
np
trial
n
q
=
+
++
εσ
(iv) Algoritmo de retorno: resolver a equação:
()
(
)
03
,01
=+=Φ
+
γεσγγ
np
trial
n
Gq
VAI PARA o algoritmo da FIG.4.16
(Cálculo de
∆γ
usando o método de Newton-Raphson)
(v) Atualizar as variáveis de estado:
EPFLAG = 1 Análise elasto-plástica
γεε
ε
γ
+=
+=
+=
==
+
+++
+++
+
+
+++
npnp
triale
nvn
e
n
nnn
trial
n
trial
n
n
trial
nn
G
p
q
G
pp
,1,
1,11
111
1
1
111
3
1
2
1
3
1;
isε
isσ
ss
(vi) SAIR.
FIGURA 4.15 – Algoritmo de integração implícito para o critério de von Mises
130
(i) Inicializar o contador de iterações k, a estimativa inicial para
γ
e o resíduo
correspondente na função de escoamento:
()
(
)
np
trial
n
qk
,01
0
;0;0
εσγ
=Φ==
+
(ii) Processar uma iteração segundo o algoritmo de Newton-Raphson:
p
EG
d
d
d =
Φ
= 3
γ
Derivada residual
d
Φ
=
γγ
Nova estimativa para
γ
(iii) Verificar a convergência:
(
)
4.16.FIG.da algoritmo aoVoltar ENTÃOSE
3
,01
tol
np
trial
n
Gq
ξ
γεσγ
Φ
+=Φ
+
(iv) Voltar em (ii).
FIGURA 4.16 – Algoritmo de Newton-Raphson para solução da equação de retorno
para o critério de von Mises
Deve-se observar nos códigos anteriores que, como o algoritmo de retorno para o
critério de von Mises no plano desviador é radial (visto que a normal N tem a direção
radial do cilindro de von Mises), a componente hidrostática da tensão e da deformação
são mantidas intactas durante o fluxo plástico. Assim, o algoritmo trabalha apenas com
as componentes desviadoras da tensão e da deformação, conforme mostrado na
FIG.4.17. Adicionalmente, os seguintes símbolos devem ser definidos para os
algoritmos apresentados:
EPFLAG é uma variável binária que indica se o ponto de Gauss em análise
atingiu a plastificação (
EPFLAG = 1) ou permaneceu na fase elástica
(
EPFLAG = 0), considerando-se a aplicação do incremento de deformações
;ε
I
S
é a matriz do tensor identidade simétrico de quarta ordem (Eq.4.12);
i é o vetor do tensor identidade de segunda ordem (Eq.4.12).
131
N
n
+1
σ
n
+1
σ
1
σ
3
σ
2
σ
n
Superfície de
escoamento inicial
Superfície de
escoamento atualizada
Eixo hidrostático
σ
n
+1
trial
s
n
+1
trial
s
n
s
n
+1
N
n
+1
s
1
s
2
s
3
superfície em
t
n
superfície em
t
n
+1
Plano Desviador (
π
)
(a) Representação nas tensões principais (b) Representação no plano desviador
FIGURA 4.17 – Esquema de integração implícito para o critério de von Mises
4.4.6.2
- Algoritmo para obtenção da relação constitutiva tangente consistente
CHEN (1988) demonstra que, no instante n+1, as tensões podem ser calculadas em
função da relação constitutiva tangente elasto-plástica por meio da relação:
triale
nd
trial
n
etriale
n
ep
n
q
G
1
1
2
11
:
6
:
+
+
++
== εIDεDσ
γ
(4.150)
sendo a matriz do tensor identidade simétrico desviador de quarta ordem dada por
T
Sd
iiII
3
1
=
(4.151)
SOUZA NETO (2006) afirma que uma maior velocidade (menor número de iterações)
do algoritmo de Newton-Raphson mostrado na FIG.4.5 e na FIG.4.6 é atingida com o
uso de uma relação constitutiva tangente consistente com o algoritmo de integração da
FIG.4.15 (
backward-Euler). Para esse propósito, conforme o algoritmo da FIG.4.16,
deve-se substituir na Eq.4.150 a expressão de
γ
, dada como solução da seguinte
expressão:
()
(
)
03
,01
=+=Φ
+
γεσγγ
np
trial
n
Gq
(4.152)
132
Adicionalmente, nas expressões anteriores deve-se considerar que
trial
n
q
1+
é dado pela
seguinte expressão, conforme mostrado no algoritmo da FIG.4.15:
triale
nd
triale
nd
trial
n
trial
n
GGq
11,11
:
2
3
2
2
3
2
2
3
++++
=== εIεs
(4.153)
Com as considerações anteriores, a relação constitutiva tangente consistente pode então
ser obtida a partir de:
triale
n
ep
1+
=
ε
σ
D
(4.154)
O algoritmo correspondente é apresentado na FIG.4.18.
(i) Dados de entrada:
EPFLAG (indicador de fase elasto-plástico),
1+n
σ
(vetor de tensões de Cauchy),
γ
(multiplicador plástico).
(ii) Montagem da matriz constitutiva elasto-plástica:
SE
EPFLAG = 1 ENTÃO
Obtenção do vetor de fluxo
(
)
3/
,1,1,11 zznyynxxnn
p
++++
+
+=
σ
σ
σ
iσs
111 +++
=
nnn
p
σIσ
1
=
Snorm
σ
norm
σ
s
N =
Obtenção dos parâmetros
α
e
β
+
=
=
+=
+
+
+
p
trial
n
trial
n
norm
trial
n
EG
q
G
q
G
G
Gq
3
1
6
3
12
3
2
3
1
2
1
1
γ
β
γ
α
γσ
Montagem da matriz constitutiva
TTT
S
ep
K iiNNiiID ++
=
βα
3
1
(iii) Montagem da matriz constitutiva elástica:
SE
EPFLAG = 0 ENTÃO
TT
S
e
KG iiiiID +
=
3
1
2
(iv) SAIR.
FIGURA 4.18 – Relação constitutiva tangente consistente para von Mises
133
4.4.7
- Adaptação do problema incremental ao critério de Drucker-Prager
O critério de plasticidade de Drucker-Prager foi descrito no subitem 4.4.2.2. Por
conveniência, as suas equações básicas serão reapresentadas a seguir como base para a
obtenção do algoritmo de integração.
Assim, o critério de escoamento de Drucker-Prager é definido por:
1)
Uma lei elástica linear dada por:
ee
εDσ :=
(4.155)
onde D
e
é o tensor da relação constitutiva elástica (Eq.4.9).
2)
Uma função de escoamento:
()
(
)
(
)
cIJc
ξη
+=Φ σσσ
12
,
(4.156)
onde
J
2
é segundo invariante do tensor de tensões desviadoras (Eq.4.108), I
1
é o
primeiro invariante do tensor de tensões (Eq.4.102),
c é a coesão do material em
função da deformação plástica efetiva (ou deformação plástica acumulada),
ξ
e
η
são parâmetros do material obtidos em função do ajustamento escolhido segundo
as Eq.4.122, Eq.4.123, Eq.4.124 e Eq.4.125.
3)
Uma regra de fluxo:
σ
Nε
Ψ
==
γγ
p
(4.157)
sendo Ψ a função de potencial plástico definida por
()
(
)
(
)
σσσ
12
, IJc
η
+=Ψ
(4.158)
onde
η
é uma função do ângulo de dilatância do material,
ψ
, obtida por meio
das Eq.4.122, Eq.4.123, Eq.4.124 e Eq.4.125, considerando-se
ψ
no lugar de
φ
.
134
De modo diferente do critério de von Mises, o critério de Drucker-Prager apresenta um
ponto de singularidade na superfície de escoamento: o ápice do cone. Assim, duas
possibilidades distintas de fluxo plástico podem ocorrer:
1)
Fluxo plástico na superfície do cone, onde a função de escoamento é derivável
(FIG.4.19.a). Nesse caso, o vetor de fluxo é (definido unicamente) normal à
superfície do cone:
()
is
s
σ
NN
3
2
1
1
12
η
+=
Ψ
=
+
+
trial
n
trial
n
a
J
(4.159)
e o incremento da variável interna de encruamento
ε
p
é então dado por
2
9
2
3
1
:
3
2
ηγε
+==
pp
p
εε
(4.160)
2)
Fluxo plástico no ápice do cone de Drucker-Prager (FIG.4.19.b). Nesse caso, a
regra de fluxo pode ser explicitamente definida por:
bbaa
p
NNε
γγ
+=
(4.161)
onde N
a
é o vetor de retorno normal à superfície do cone e N
b
é o vetor de
retorno situado sobre o eixo hidrostático
()
iN
i
s
s
N
3/1
3
2
12
1
=
+=
+
+
b
trial
n
trial
n
a
J
η
(4.162)
O incremento da variável interna de encruamento
ε
p
torna-se função de
γ
a
e
γ
b
, na forma:
()
2
2
9
2
3
1
:
3
2
baa
pp
p
γγηγε
++== εε
(4.163)
Para regras de fluxo associativas, deve-se fazer Ψ Φ, o que corresponde a adotar
η
η
= nas expressões anteriores (Eq.4.159 a Eq.4.163).
135
N
n
+1
σ
n
+1
σ
1
σ
3
σ
2
σ
n
Superfície de
escoamento inicial
Superfície de
escoamento atualizada
Eixo hidrostático
σ
n
+1
trial
s
n
+1
trial
s
n
s
n
+1
N
n
+1
s
1
s
2
s
3
superfície em
t
n
superfície em
t
n
+1
Plano Desviador (
π
)
(a) Retorno à superfície do cone
N
a
Superfície de escoamento
inicial
Φ
n
Superfície de escoamento
atualizada
Φ
n
+1
Eixo
hidrostático
σ
n
+1
trial
N
b
σ
n
+1
(b) Retorno ao ápice do cone
FIGURA 4.19 – Esquemas de integração implícitos para o critério
de Drucker-Prager
136
4.4.7.1
- Algoritmo de integração implícito
A estratégia para seleção do algoritmo implícito de retorno apropriado (FIG.4.19) a ser
utilizado em um incremento elasto-plástico é relativamente simples, tendo por base a
garantia de que o estado pós-retorno satisfaz rigorosamente as equações de retorno. Em
essência, a estratégia de retorno deve satisfazer os seguintes passos:
1)
Primeiramente, deve-se aplicar o procedimento de retorno à superfície do cone.
2)
Verificar a validade do retorno utilizado: se, após a obtenção de
γ
a partir da
condição de consistência, a seguinte expressão for satisfeita:
(
)
0
12
+
γ
GJ
trial
n
s
(4.164)
então o retorno à superfície do cone é válido e o estado atualizado
correspondente deve ser aceito, conforme a FIG.4.20.
3)
Caso contrário, aplicar o algoritmo de retorno ao ápice do cone. O resultado
obtido será necessariamente válido e não exigirá uma verificação adicional.
σ
n+
1
σ
n+
1
trial
()
s
2
J
()
0
12
>
+
γ
GJ
trial
n
s
()
0
12
<
+
γ
GJ
trial
n
s
σ
n+
1
σ
n+
1
trial
I
1
Ápice
()
1, +np
c
εξ
Donio
elástico
1
η
FIGURA 4.20 – Seleção do algoritmo de retorno para o critério de Drucker-Prager
SOUZA NETO (2006) apresenta o algoritmo de integração implícito adaptado para o
critério de Drucker-Prager, com base nos conceitos anteriores. A FIG.4.21 reproduz
esse algoritmo na forma de pseudo-código.
137
(i) Dados de entrada:
ε (vetor do incremento de deformações total),
e
n
ε (vetor de deformações elásticas),
ε
p,n
(deformação plástica efetiva).
(ii) Tentativa elástica: Calcular a tentativa de estado elástico (
trial).
EPFLAG = 0 Análise elástica
triale
nv
trial
n
triale
nd
trial
n
triale
nv
triale
n
triale
nd
triale
nzz
triale
nyy
triale
nxx
triale
nv
np
trial
np
e
n
triale
n
KpG
1,11,1
1,
11,1,1,1,1,
,1,
1
;2
3
;
++++
+
++++++
+
+
==
=++=
=
+=
ε
ε
εεεε
εε
εs
iεε
εεε
(iii) Verificar a violação da função de escoamento:
()
(
)
() ()
SAIReFazerENTÃO
0SE
11
1,112
trial
nn
trial
np
trial
n
trial
n
cpJ
++
+++
=
+
εξη
s
(iv) Algoritmo de retorno: verificar os 2 retornos possíveis à superfície de escoamento.
a. Efetuar o retorno ao plano principal:
EPFLAG = 1 e VAI PARA o algoritmo da FIG.4.22.
b. Verificar a validade do retorno ao plano principal:
SE
()
0
12
+
γ
GJ
trial
n
s ENTÃO VAI PARA (v) O retorno é válido!
c. Efetuar o retorno ao ápice:
EPFLAG = 2 e VAI PARA o algoritmo da FIG.4.23.
(v) Atualizar as deformações elásticas:
isε
K
p
G
n
n
e
n
32
1
1
11
+
++
+=
(vi) SAIR.
FIGURA 4.21 – Algoritmo de integração implícito para o critério de Drucker-Prager
138
(i) Inicializar a estimativa inicial para
γ
a
e o resíduo correspondente na função de
escoamento Φ:
(
)
(
)
np
trial
n
trial
na
cpJ
,112
;0
εξηγ
+=Φ=
++
s
(ii) Processar uma iteração para
γ
a
segundo o algoritmo de Newton-Raphson:
2
,1,
9
2
3
1
ηγεε
++=
+ anpnp
Atualiza
1, +np
ε
2
9
2
3
1
ηξηη
γ
+=
Φ
=
p
a
EKG
d
d
d
Derivada residual
d
aa
Φ
=
γγ
Nova estimativa para
γ
a
(iii) Verificar a convergência:
()
(
)
(
)
1,112 +++
+=Φ
npa
trial
na
trial
n
cKpGJ
εξγηηγ
s
SE
tol
ξ
Φ
ENTÃO atualizar
()
a
trial
nn
trial
n
trial
n
a
n
Kpp
J
G
γη
γ
=
=
++
+
+
+
11
1
12
1
1 s
s
s
Voltar ao algoritmo da FIG.4.21.
(iv) Voltar em (ii).
FIGURA 4.22 – Algoritmo de retorno univetorial à superfície do
cone de Drucker-Prager
139
(i) Inicializar a estimativa inicial para
γ
a
e
γ
b
e o resíduo correspondente:
()
(
)
(
)
0
/
,112
=
==
++
b
npa
trial
n
trial
na
cKprGJ
γ
εξγηηγ
s
(ii) Processar uma iteração de Newton-Raphson (somente para
γ
b
):
()
2
2
9
2
3
1
baap
γγηγε
++=
pnpnp
ε
ε
ε
+=
+ ,1,
Atualiza
1, +np
ε
(
)
p
bap
E
Kd
ε
γ
γ
η
ξ
η
+
=
9
2
Derivada residual
d
r
bb
=
γγ
Nova estimativa para
γ
b
(iii) Verificar a convergência:
()
()
1,1
11
++
++
=
+=
npn
ba
trial
nn
cpr
Kpp
εξη
γγη
SE
tol
r
ξ
ENTÃO atualizar
iσ
11 ++
=
nn
p
Voltar ao algoritmo da FIG.4.21.
(iv) Voltar em (ii).
FIGURA 4.23 – Algoritmo de retorno bivetorial ao ápice do
cone de Drucker-Prager
4.4.7.2
- Algoritmo para obtenção da relação constitutiva tangente consistente
A elaboração do algoritmo para montagem da relação constitutiva tangente consistente
para o critério de Drucker-Prager, de modo diferente da sistemática apresentada para o
critério de von Mises, envolve dois algoritmos de retorno possíveis. Conseqüentemente,
dois operadores tangentes consistentes podem ser obtidos: um relativo ao retorno à
superfície do cone e outro relativo ao retorno ao ápice do cone.
SOUZA NETO (2006) apresenta os passos necessários para a obtenção das derivadas
parciais das tensões em relação às deformações elásticas (
trial) compatíveis com cada
algoritmo de integração implícito.
140
Adicionalmente, com base nos conceitos anteriormente apresentados, SOUZA NETO
(2006) também ilustra a seqüência de cálculo utilizada na montagem de um algoritmo
computacional. A FIG.4.24 reproduz esse algoritmo de cálculo da relação constitutiva
tangente consistente para o critério de Drucker-Prager na forma de pseudo-código.
(i) Dados de entrada:
EPFLAG (indicador de fase elasto-plástico),
1+n
σ
(vetor de tensões de Cauchy),
triale
n 1+
ε
(vetor de deformações elásticas trial),
γ
a
e
γ
b
(multiplicadores plásticos).
(ii) Montagem da matriz constitutiva elástica:
SE
EPFLAG = 0 ENTÃO
TT
S
e
KG iiiiID +
=
3
1
2
e VAI PARA (iv)
(iii) Montagem da matriz constitutiva elasto-plástica:
(
)
triale
nnep 11
/
++
= εσD
a. Calcular o vetor de fluxo unitário:
()()()()()()
[]
triale
nd
triale
nd
unit
d
triale
zxd
triale
yzd
triale
xyd
triale
zzd
triale
yyd
triale
xxd
triale
nd
triale
nv
triale
n
triale
nd
triale
nzz
triale
nyy
triale
nxx
triale
nv
1,1,
2
,
2
,
2
,
2
,
2
,
2
,1,
1,
11,
1,1,1,1,
2
3
++
+
+
++
++++
=
+++++=
=
++=
εεε
ε
iεε
εεεεεε
ε
εεεε
b. Selecionar o algoritmo de cálculo da tangente consistente:
SE
EPFLAG = 1 ENTÃO VAI PARA o algoritmo da FIG.4.25.
SE
EPFLAG = 2 ENTÃO VAI PARA o algoritmo da FIG.4.26.
(iv) SAIR.
FIGURA 4.24 – Relação constitutiva tangente consistente para Drucker-Prager
141
(i) Dados de entrada:
pa
unit
d
triale
nd
EGK ,,,,,,,,
1,
γηηξ
+
εε
(ii) Calcular a tangente consistente
(
)
triale
nnep
11
/
++
= εσD com o algoritmo univetorial de
retorno à superfície do cone:
2
9
2
3
1
1
ηξηη
α
+++
=
p
EKG
=
+
triale
nd
a
GA
1,
2
12
ε
γ
=
+
α
γ
GGB
triale
nd
a
1,
2
2
ε
α
KGC 2=
(
)
α
η
η
KKD
=
1
() ()
(
)
T
T
unit
d
Tunit
d
T
unit
d
unit
dSep
A
DCBA iiεiiεεεID
++++=
3
ηη
(iii) Voltar ao algoritmo da FIG.4.24.
FIGURA 4.25 – Tangente consistente com o algoritmo de retorno à superfície do cone
(i) Dados de entrada:
pa
unit
d
triale
nd
EGK ,,,,,,,,
1,
γηηξ
+
εε
(ii) Calcular a tangente consistente
(
)
triale
nnep
11
/
++
= εσD
com o algoritmo bivetorial de
retorno ao ápice do cone:
()
2
2
9
2
3
1
baap
γγηγε
++=
()
ba
p
p
E
K
γγη
ε
ξ
ηα
+
+=
9
2
=
α
η
K
KA 1
()
++
+=
+ ba
triale
nd
p
p
E
KKB
γγηη
ε
ξ
ηη
α
η
3
2
3
2
2
1
2
1,
ε
()
T
unit
d
T
ep
BA εiiiD +=
(iii) Voltar ao algoritmo da FIG.4.24.
FIGURA 4.26 – Tangente consistente com o algoritmo de retorno ao ápice do cone
142
4.4.8
- Adaptação do Método de Newton-Raphson à não-linearidade material
4.4.8.1
- Elasto-plasticidade em pequenas deformações
O método de Newton-Raphson foi descrito no subitem 4.3.7 como um dos
procedimentos incrementais e iterativos mais simples para solução de problemas via
MEF com não-linearidades. Mostrou-se ainda, na FIG.4.5 daquele item, o algoritmo
básico do Método de Newton-Raphson, adaptado para análises em pequenas
deformações (linearidade geométrica).
A adaptação do algoritmo do Método de Newton-Raphson da FIG.4.5 para consideração
da não-linearidade material nas análises (em regime de linearidade geométrica) é
realizada basicamente em dois pontos:
No item (ii), adaptando-se o cálculo da matriz constitutiva tangente consistente
para o critério utilizado: Hencky, von Mises e Drucker-Prager.
No item (vii), adaptando-se o cálculo das tensões a partir das deformações
elásticas anteriores
n
ε e do incremento de deformações totais ε , em função do
critério utilizado. Nos casos de critérios elasto-plásticos, o algoritmo de
integração implícito adequado deve ser utilizado.
Essas modificações, bem como a adaptação para se trabalhar com o incremento de
deformações, ao invés das deformações totais, podem ser observadas na FIG.4.27.
(i) k = 0. Ajustar o deslocamento inicial e a força residual:
()
(
)
ext
nnnn
fufruu
1
int0
1 ++
==
λ
(ii) Calcular a matriz constitutiva tangente consistente:
1
/
ˆ
+
=
n
εσD
Elasticidade:
– Critério de Hencky: D
e
é calculado pela Eq.4.9.
Elasto-plasticidade:
– Critério de von Mises: D
ep
é calculado pelo algoritmo da FIG.4.18.
– Critério de Drucker-Prager: D
ep
é calculado pelo algoritmo da FIG.4.24.
continua...
FIGURA 4.27 – Método de Newton-Raphson para elasto-plasticidade em
pequenas deformações
143
...continuação
(iii) Calcular a matriz de rigidez tangente:
=
=
NGaussPts
i
iiii
T
iT
Jw
1
BDBK
(iv)
k = k +1. Resolver o sistema de equações:
(
)
(
)
1
=
kk
T
ruK
δ
(v) Aplicar a correção de Newton-Raphson para deslocamentos:
(
)
(
)
(
)
kk
n
k
n
uuu
δ
+=
++
1
11
(vi) Atualizar as deformações totais e o incremento de deformações:
()
(
)
k
n
k
n 11 ++
= uBε
deformações totais (apenas informativo)
(
)
(
)
n
k
n
uuBε =
+1
incremento de deformações totais
(vii) Utilizar o algoritmo de integração da relação constitutiva para atualizar as tensões
de Cauchy
σ e outras variáveis de estado α (como deformação plástica
acumulada, etc.), em função das deformações elásticas
e
ε
e do incremento de
deformação
ε .
Elasticidade:
– Critério de Hencky:
(
)
εεσ ,
e
é calculada pela Eq.4.100.
Elasto-plasticidade:
– Critério de von Mises:
(
)
εεσ ,
e
é calculada pelo algoritmo da FIG.4.15.
– Critério de Drucker-Prager:
(
)
εεσ ,
e
é calculada pelo algoritmo da FIG.4.21.
(viii) Calcular o vetor de forças internas:
()
=
+
=
NGaussPts
i
ii
k
in
T
i
Jw
1
,1
int
σBf
(ix) Atualizar o vetor de forças residuais:
ext
n
ffr
1
int
+
=
λ
(x) Verificar a convergência:
SE
tol
ext
ξ
fr / ENTÃO FAZER
(
)
(
)
(
)
k
nn 11 ++
=
e FIM
CASO CONTRÁRIO IR PARA (ii).
FIGURA 4.27 – Método de Newton-Raphson para elasto-plasticidade em
pequenas deformações
144
4.4.8.2
- Elasto-plasticidade em grandes deformações
A definição da equação de fluxo plástico para problemas com grandes deformações tem
por base a decomposição multiplicativa do gradiente de deformações em duas partes:
uma elástica e outra plástica, conforme a expressão:
p
n
e
nn
111 +++
= FFF
(4.165)
ou ainda, fazendo-se a decomposição polar (subitem 4.3.1.1):
p
n
p
n
e
n
e
n
p
n
p
n
e
n
e
nn
111111111 +++++++++
== RVRVURURF
(4.166)
A diferença básica entre a formulação da elasto-plasticidade em grandes deformações e
em pequenas deformações consiste na aproximação numérica adotada para a equação de
fluxo plástico. SOUZA NETO (2006) comenta que a estrutura da equação de fluxo
plástico mais apropriada para uso com plasticidade em grandes deformações é mostrada
na expressão a seguir, visto que a mesma permite a integração da função exponencial
por meio do algoritmo de
backward-Euler, por exemplo:
p
n
e
n
n
Te
n
p
n
FR
τ
RF
1
1
11
exp
+
+
++
Ψ
=
γ
(4.167)
Adicionalmente, é necessário introduzir o conceito do gradiente de deformação
incremental. Sendo F
n
o gradiente de deformação no instante n e F
n+1
o gradiente de
deformações no instante
n+1, o gradiente de deformação incremental é definido por:
[]
+=
=
=
+
+
+
uIFFF
FFF
FFF
nnn
triale
n
e
n
nn
x
1
1
1
1
(4.168)
onde I é o tensor identidade,
x
n
é o operador diferencial relativo às coordenadas nodais
no instante
n e u é o incremento de deslocamentos nodais entre os instantes n e n+1.
Com base nas expressões anteriormente definidas (Eq.4.166, Eq.4.167 e Eq.4.168), é
possível finalmente derivar a equação para atualização do gradiente de deformações
elásticas em termos do gradiente de deformação incremental:
e
n
n
Te
n
e
n
e
n
1
1
11
exp
+
+
++
Ψ
=
R
τ
RFFF
γ
(4.169)
145
Assim, de forma análoga às pequenas deformações, o problema incremental finito
elasto-plástico pode ser resumido no sistema de equações mostrado na FIG.4.28.
Dados, no instante n, o gradiente de deformações elásticas
e
n
F , a deformação plástica efetiva
np,
ε
e o gradiente de deformações incremental F
, resolver o sistema de equações:
pnpnp
e
n
n
Te
n
e
n
e
n
E
γεε
γ
+=
Ψ
=
+
+
+
++
,1,
1
1
11
exp R
τ
RFFF
para as incógnitas
e
n 1+
F ,
1, +np
ε
e
γ
, sujeitas às restrições:
(
)
(
)
0,0,0
1,1,1,1,
=
Φ
Φ
++++ npnijnpnij
ε
τ
γ
ε
τ
γ
FIGURA 4.28 – Problema incremental finito elasto-plástico
A Eq.4.169 pode ser simplificada utilizando-se a definição de
triale
n 1+
F (Eq.4.168) e se
ambos os lados da igualdade forem pós-multiplicados por
Te
n 1
+
R
, resultando:
Ψ
=
+
+++
1
111
exp
n
Te
n
triale
n
e
n
τ
RFV
γ
(4.170)
E, invertendo-se o termo exponencial:
Te
n
triale
n
n
e
n 11
1
1
exp
++
+
+
=
Ψ
RF
τ
V
γ
(4.171)
Fazendo-se uma pós-multiplicação adicional de cada lado da igualdade pela sua
transposta, chega-se à expressão:
()
2
11
1
1
2exp
triale
n
e
n
n
e
n ++
+
+
=
Ψ
VV
τ
V
γ
(4.172)
E, ao rearranjar os termos e tirar a raiz quadrada em ambos os lados, é possível obter:
Ψ
=
+
++
1
11
exp
n
triale
n
e
n
τ
VV
γ
(4.173)
146
Finalizando-se, aplica-se a função tensorial logarítmica em ambos os lados da igualdade
(conceito da deformação de Hencky), chegando-se à expressão:
1
11
+
++
Ψ
=
n
triale
n
e
n
τ
εε
γ
(4.174)
Como pode ser observado, a Eq.4.174, obtida a partir do problema incremental finito
elasto-plástico e utilizando-se a deformação de Hencky, é semelhante à expressão
utilizada no problema incremental infinitesimal elasto-plástico (conforme a FIG.4.13).
Adicionalmente, pode-se concluir que todos os algoritmos para cálculo de elasto-
plasticidade vistos anteriormente, aplicáveis a pequenas deformações, nomeadamente o
algoritmo de integração implícito para obtenção das tensões e o algoritmo para obtenção
da relação constitutiva tangente consistente, também são válidos para grandes
deformações, desde que se trabalhe com deformações de Hencky e com tensões de
Kirchoff (usar τ no lugar de σ nos algoritmos citados).
Visto que os algoritmos elasto-plásticos não trabalham diretamente com o gradiente de
deformação incremental F
, que é a variável original quando se trata de análises com
não-linearidade geométrica, torna-se necessário adaptar o algoritmo de Newton-
Raphson para converter o gradiente de deformação elástico,
triale
n 1
+
F
, na deformação
elástica de Hencky,
triale
n 1+
ε . Assim, a deformação elástica de Hencky,
e
ε , permanece
como a variável cinemática a ser guardada na memória do computador durante uma
análise, tanto em regime de pequenas deformações quanto em grandes deformações.
A obtenção das deformações elásticas de Hencky referentes à tentativa elástica (estado
trial) é feita por meio dos seguintes passos:
Primeiramente, deve-se recuperar o tensor de deformações de Cauchy-Green
pela esquerda, referente ao instante n. Conforme demonstrado no subitem 4.3.2,
esse cálculo deve ser realizado por meio dos autovetores e autovalores de
e
n
ε :
[
]
e
n
e
n
εB 2exp=
(4.175)
147
A obtenção de F
é feita por meio da Eq.4.168.
O tensor de deformações de Cauchy-Green pela esquerda referente à tentativa
elástica é calculado por meio da expressão:
Te
n
TTe
n
e
n
Ttriale
n
triale
n
triale
n +++
=== FBFFFFFFFB
111
(4.176)
Finalmente, pode-se então obter o tensor de deformações de Hencky referente à
tentativa elástica:
(
)
triale
n
triale
n 1
2
1
1
ln
++
= Bε
(4.177)
A FIG.4.6 mostra a adaptação do algoritmo do Método de Newton-Raphson da FIG.4.5
para consideração da não-linearidade geométrica. Inserindo-se naquele algoritmo os
conceitos aqui apresentados para consideração da não-linearidade material, chega-se ao
algoritmo mostrado na FIG.4.29.
(i) k = 0. Ajustar o deslocamento inicial e a força residual:
()
(
)
ext
nnnn
fufruu
1
int0
1 ++
==
λ
(ii) Calcular a matriz constitutiva tangente consistente:
()
[
]
jkil
ijkl
ijkl
δσBLD
F
a
ˆ
ˆ
:
ˆ
:
ˆ
det2
1
ˆ
=
sendo:
Elasticidade:
– Critério de Hencky: D
e
é calculado pela Eq.4.9.
Elasto-plasticidade:
– Critério de von Mises: D
ep
é calculado pelo algoritmo da FIG.4.18.
– Critério de Drucker-Prager: D
ep
é calculado pelo algoritmo da FIG.4.24.
e ainda:
[]
triale
n
triale
n
1
1
ˆ
ˆ
ln
ˆ
+
+
=
B
B
L
,
(
)
(
)
il
triale
njk
jl
triale
nikijkl 11
ˆˆˆ
++
+= BδBδB
e
(
)
triale
n
triale
n 11
ˆ
2exp
ˆ
++
= εB
(iii) Calcular a matriz de rigidez tangente:
=
=
NGaussPts
i
iiii
T
iT
Jw
1
GaGK
continua...
FIGURA 4.29 – Método de Newton-Raphson para elasto-plasticidade em
grandes deformações
148
...continuação
(iv)
k = k +1. Resolver o sistema de equações:
(
)
(
)
1
=
kk
T
ruK
δ
(v) Aplicar a correção de Newton-Raphson para deslocamentos:
(
)
(
)
(
)
kk
n
k
n
uuu
δ
+=
++
1
11
(vi) Atualizar as deformações totais e as deformações elásticas logarítmicas
trial:
Calcula as deformações totais:
()
()
()
T
nnn
k
nnn
x
11
2
1
1
1
111
ln
+++
+++
=
=
FFε
uIF
Calcula as deformações elásticas trial:
(
)
()
[]
[]
[]
triale
n
triale
n
triale
n
Te
n
triale
n
e
n
e
n
n
n
k
n
x
1
2
1
11
1
1
1
lnln
2exp
+++
+
+
==
=
=
+=
=
BVε
FBFB
εB
uIF
uuu
(vii) Utilizar o algoritmo de integração da relação constitutiva para atualizar as tensões
de Cauchy
σ e outras variáveis de estado α (como deformação plástica
acumulada, etc.), em função das deformações elásticas de Hencky referentes ao
estado de tentativa elástica
triale
n 1+
ε e da deformação plástica efetiva
np
trial
np ,1,
εε
=
+
.
Elasticidade:
– Critério de Hencky:
)(
1
triale
n+
ετ é calculada pela Eq.4.100.
Elasto-plasticidade:
– Critério de von Mises:
)(
1
triale
n+
ετ é calculada pelo algoritmo da FIG.4.15.
– Critério de Drucker-Prager:
)(
1
triale
n+
ετ é calculada pelo algoritmo da FIG.4.21.
Atualização das tensões de Cauchy:
(
)
1
1
11
det
+
++
=
nnn
τFσ
(viii) Calcular o vetor de forças internas:
()
=
+
=
NGaussPts
i
ii
k
in
T
i
Jw
1
,1
int
σBf
(ix) Atualizar o vetor de forças residuais:
ext
n
ffr
1
int
+
=
λ
(x) Verificar a convergência:
SE
tol
ext
ξ
fr / ENTÃO FAZER
(
)
(
)
(
)
k
nn 11 ++
=
e FIM
CASO CONTRÁRIO IR PARA (ii).
FIGURA 4.29 – Método de Newton-Raphson para elasto-plasticidade em
grandes deformações
149
4.5 - Análise incremental
Ao se considerar o comportamento não-linear de uma estrutura, seja nos aspectos
geométricos ou materiais, a análise mecânica torna-se um processo tipicamente
incremental e iterativo. Em tais casos, não há outra solução numérica que permita a
obtenção direta das tensões, deformações e deslocamentos.
A análise incremental consiste em dividir o carregamento da estrutura em vários
incrementos e aplicá-los gradualmente, de modo que se verifique o equilíbrio (tensões
e/ou deslocamentos) iterativamente antes da aplicação do próximo incremento de
solicitações. O método incremental mais comum tem por base o uso de uma matriz de
rigidez tangente, que relaciona o incremento de deformações com o incremento de
tensões, conforme já mostrado anteriormente para o Método de Newton-Raphson.
O foco principal deste item consiste na discussão sobre o funcionamento do
procedimento incremental que rege a aplicação gradual do carregamento à estrutura,
visto que o equilíbrio iterativo por meio do Método de Newton-Raphson já foi
demonstrado anteriormente para as análises lineares e para as análises com não-
linearidades geométricas e/ou materiais.
Dentre as várias formas possíveis para aplicação incremental do carregamento, o
procedimento mais simples consiste em aplicar um fator a todas as forças, fator este que
é aumentado proporcionalmente por um valor pré-fixado a cada ciclo do procedimento
incremental.
A FIG.4.30 ilustra os principais passos da análise incremental com a adoção de
incrementos fixos. Adicionalmente, é mostrado também como o algoritmo do corte
automático do incremento de carga (subitem 4.5.1) deve interagir com o ciclo do
procedimento incremental. Nesse algoritmo, o ciclo do procedimento incremental é
finalizado quando o programa de carregamento é completado com sucesso (o último
incremento prescrito converge) ou quando o número de cortes sucessivos do incremento
de carga atinge o limite da matriz de sub-incrementos.
150
Divide o incremento do
fator de carga ∆λ pela
metade e reinicia a partir
da última solução
convergida
Gravação dos resultados
solicitados relativos ao
incremento λ
Ciclo dos incrementos de carga
Sim
Entrada de dados e
inicialização
Fim da análise!!!
Deformações excessivas?
OU
Deslocamentos excessivos?
OU
É o último incremento de
carga?
Não
Incremento de
carga muito
pequeno
Incrementa o fator
de carga: λ = λ + ∆λ
Núcleo da Alise Mecânica
Cálculo das forças residuais
r = f
int
λ
fext
Montagem da matriz de
rigidez K e solução do
sistema de equações
Atualiza os deslocamentos u
e as coordenadas nodais
lculo das forças internas
nos elementos f
int
Ciclo das iterações de equilíbrio
Não
Número máximo
de iterões
excedido
Falha na
atualizão
das tensões
Falha na
solução
do sistema
As forças
residuais
convergiram?
lculo das forças residuais
r = f
int
λ f
ext
Sim
FIGURA 4.30 – Algoritmo incremental-iterativo com incrementos fixos e
corte automático dos incrementos de carga
151
4.5.1
- Corte automático do incremento de carga
O corte automático do incremento de carga é uma facilidade extremamente importante
para análises não-lineares. Freqüentemente tem-se o problema da convergência para
uma solução de equilíbrio não ser atingida, sendo necessária a redução do incremento de
carga.
O algoritmo mostrado na FIG.4.30 possui o seguinte comportamento: quando a
convergência para uma solução de equilíbrio não se verifica, o procedimento de corte do
incremento de carga é ativado dividindo-se o valor do incremento em dois sub-
incrementos. Em seguida, o passo de carga atual é reiniciado (a partir da última solução
convergida) com os sub-incrementos reduzidos.
Segundo SOUZA NETO (2006), as causas de falha da convergência são:
O incremento de carga é muito grande. Isso ocorre quando a carga total prescrita
é superior à carga limite da estrutura. Nesse caso, a norma residual diverge ou
simplesmente não converge após um número razoável de iterações. Uma
possível alternativa para se aumentar o raio de convergência é a incorporação do
line-search nas iterações de equilíbrio (subitem 4.5.2).
O algoritmo de integração numérica das equações constitutivas dependentes da
história de carregamento falha em algum ponto de integração de Gauss. Isso
geralmente ocorre quando se têm incrementos de deformações excessivamente
grandes. Os modelos constitutivos com não-linearidade material elevada são
particularmente propensos a esse tipo de comportamento patológico.
O sistema de equações lineares não pode ser resolvido por apresentar um pivô
negativo ou nulo na matriz de rigidez. Isso pode acontecer para modelos de
materiais cujo operador tangente pode se tornar singular sob certos estados de
tensões. Adicionalmente, tal comportamento também pode acontecer nos casos
onde se têm grandes não-linearidades geométricas que degeneram alguns pivôs
na matriz de rigidez, como acontece nos fenômenos de flambagem.
152
4.5.2
- Procedimentos mais apurados de convergência
Pelos subitens anteriores claramente observa-se que, devido à plasticidade e à não-
linearidade geométrica, um grande esforço computacional é requerido, ao se comparar
com a análise linear elástica. Além disso, o elemento utilizado, a discretização da
estrutura, a definição das condições de contorno e a definição do processo não-linear de
solução do problema são itens fundamentais para a obtenção de bons resultados, mas
que podem onerar ainda mais o processamento numérico do problema.
A princípio, soluções precisas das equações não-lineares podem ser obtidas se os
incrementos de carga a cada iteração forem suficientemente pequenos. No entanto,
seguindo-se esse raciocínio, pode-se chegar a um número tal de incrementos que torna
proibitiva a análise de um problema de maiores proporções, mesmo considerando-se o
grande crescimento da capacidade de processamento dos computadores. Assim, muitos
pesquisadores têm-se dedicado ao desenvolvimento de métodos numéricos eficientes
que forneçam resultados precisos a custos razoáveis.
A questão básica de uma análise não-linear é determinar o vetor de deslocamentos a
partir de um vetor de forças e de uma matriz de rigidez dependente desses
deslocamentos. Os algoritmos de solução mais freqüentemente utilizados são o de
Newton-Raphson e suas variações (CRISFIELD, 1991). Buscando-se otimizar o
desempenho, geralmente utilizam-se processos modificados, em que a matriz de rigidez
é atualizada a certos números pré-determinados de iterações.
O método de Newton-Raphson completo exige poucas iterações para solução de um
incremento, devido à convergência quadrática. No entanto, esse método pode não ser
adequado para análises de não-linearidades geométricas e materiais por exigir avaliação
e fatoração da matriz de rigidez a cada iteração. Para ser vantajoso, devem ser utilizados
grandes incrementos de carga, o que também pode ser incompatível com a necessidade
de pequenos incrementos para se manter a precisão e a estabilidade numérica.
O método de Newton-Raphson modificado de maior uso consiste em adotar a mesma
matriz de rigidez para todas as iterações de um incremento de carga, atualizando-se essa
153
matriz apenas a cada novo incremento. Assim, evita-se o trabalho de recalcular e fatorar
diversas vezes a matriz de rigidez. No entanto, esse método apresenta convergência
linear e, nos problemas com grandes não-linearidades, pode apresentar uma
convergência muito lenta ou até mesmo não convergir.
Segundo CHEN (1988), a lentidão e falta de convergência, problemas potenciais do
método de Newton-Raphson modificado, ocorrem principalmente devido a um
amolecimento repentino durante um incremento de carga, como acontece em problemas
de plasticidade. Nesses casos, é preciso um número muito grande de iterações para que
haja convergência. Como nas situações práticas, existe um limite para o número de
iterações, o processamento pode ser interrompido por falta de convergência.
Visando contornar o problema de lentidão do processo, costuma-se empregar os
denominados esquemas de aceleração. Um procedimento muito conhecido é o line
search (CRISFIELD, 1991). Nesse procedimento, o algoritmo escolhe uma direção no
espaço para a busca de uma melhor aproximação para a solução. Para isto, procura-se
um escalar tal que, multiplicado pelo vetor unitário em uma certa direção, torna mínima
a energia potencial total na direção.
Com relação ao problema da convergência em pontos limites, como máximos e
mínimos de cargas ou pontos de bifurcação, o método mais utilizado para transpor esses
pontos é o arc-length ou método de comprimento de arco (CRISFIELD, 1991),
mostrado na FIG.4.31. Esse método é de grande valia para problemas que podem parar
de convergir por razões numéricas sem que tenha havido uma ruptura da estrutura. Para
tais problemas, o comportamento da estrutura somente é determinado com clareza se a
análise for além dos pontos limites. Em estruturas de concreto, devido ao amolecimento,
esse método se destaca por permitir a construção de todo o diagrama força-deslocamento.
Em essência, o método de comprimento de arco consiste em uma restrição ao avanço
dos incrementos de carga durante as iterações, forçando a convergência para o valor
correto (FIG.4.31).
154
Carregamento
λ
q
λ
0
q
λ
1
q
λ
3
q
λ
2
q
u
1
u
2
u
3
u
0
Deslocamento
u
δ
u
0
δ
u
1
δ
u
2
l
(u
0
,
λ
0
q
)
(
u
1
,
λ
1
q
)
(
u
2
,
λ
2
q
)
(
u
3
,
λ
3
q
)
FIGURA 4.31 – Método de comprimento de arco esférico para
um sistema com um grau de liberdade
CRISFIELD (1991) considerou que o método de comprimento de arco associado ao
procedimento de line search é a técnica numérica mais apropriada para análise de
estruturas sujeitas à não-linearidades geométricas e materiais, pois uma análise além da
carga limite permite uma melhor investigação do comportamento da estrutura. Métodos
do tipo Newton-Raphson, embora mais largamente utilizados, impõem dificuldades à
passagem por pontos limites por aplicar cargas constantes a cada incremento.
No entanto, conforme se verá no capítulo 6 deste trabalho, em análises termomecânicas
visando à simulação do comportamento de estruturas em situação de incêndio, o
carregamento inicial da estrutura (em temperatura ambiente) não produz um esforço
mecânico capaz de promover problemas de convergência, sendo que tais efeitos
ocorrem sempre sob altas temperaturas, fase em que as forças permanecem constantes.
Adicionalmente, para fins deste trabalho, o primeiro ponto crítico foi adotado como
sendo o fim da análise, dispensando-se o uso de um algoritmo mais refinado como o
arc-length.
CAPÍTULO 5 -
Análise Termomecânica e Implementação Computacional
5
ANÁLISE TERMOMECÂNICA E IMPLEMENTAÇÃO
COMPUTACIONAL
5.1 - Introdução
A simulação do comportamento de elementos estruturais em situação de incêndio
envolve simultaneamente a análise térmica, que visa basicamente determinar a
distribuição de temperatura nos elementos estruturais, e a análise mecânica, que visa
simular os deslocamentos, deformações e tensões internas na estrutura, considerando a
perda de resistência e de rigidez do material estrutural com o aumento de temperatura.
O objetivo deste capítulo consiste em apresentar os conceitos envolvidos no
acoplamento entre as análises térmica e mecânica. Adicionalmente, será apresentada a
ferramenta computacional desenvolvida neste trabalho para simulação do
comportamento de estruturas de aço e mistas de aço e concreto em situação de incêndio,
denominada Thersys 2.0 (Sistema para simulação via Método dos Elementos Finitos do
comportamento termomecânico 3D de estruturas em situação de incêndio).
156
5.2 - Processo de solução do problema termomecânico
A solução de um problema termomecânico, relativo a estruturas em situação de
incêndio, é um sistema claramente acoplado, uma vez que as temperaturas influenciam
nas propriedades mecânicas dos materiais e nas deformações térmicas e que as
deformações influenciam na densidade, e conseqüentemente, no campo de temperaturas.
No entanto, segundo VILA REAL (1993), em uma análise incremental-iterativa, os
incrementos geralmente são pequenos o suficiente para que a variação da densidade,
dada pela norma do gradiente de deformação (Eq.4.32), seja muito pequena dentro do
intervalo em que o incremento é considerado. Assim, a resolução do problema mecânico
com base em uma configuração térmica relativa ao início do intervalo não promove
erros que possam prejudicar a precisão do sistema.
Considerando-se essa observação, VILA REAL (1993), LANDESMANN (2003),
CALDAS (2008) e vários outros pesquisadores adotam o procedimento da resolução
consecutiva de dois sistemas de equações dentro de cada intervalo: um sistema
resultante da integração da equação de condução de calor (análise térmica) e um sistema
correspondente às equações incrementais de equilíbrio (análise mecânica).
Uma vez que no capítulo 3 foi descrita a solução do problema térmico e no capítulo 4 a
solução do problema mecânico com não-linearidades geométricas e materiais, a seguir
será apresentada apenas a forma como ocorre a conexão dos dois problemas. Esse
vínculo se dá basicamente por meio da equação da deformação total, expressa por:
thpe
εεεε ++=
(5.1)
onde
ε é o vetor das deformações totais,
e
ε é o vetor das deformações elásticas,
p
ε é o
vetor das deformações plásticas e
th
ε é o vetor das deformações térmicas.
O EN 1994-1-2:2005 apresenta os alongamentos normalizados L/L do aço, do
concreto de densidade normal e do concreto leve em função da temperatura T em uma
direção no espaço.
157
Em regime de pequenas deformações e pequenos deslocamentos, os alongamentos
normalizados correspondem diretamente à deformação térmica. Assim, o vetor das
deformações térmicas em função dos alongamentos normalizados é dado por:
(
)
iε
L
TL
th
=
(5.2.a)
Para problemas que envolvem grandes deformações e/ou grandes deslocamentos (não-
linearidade geométrica), o vetor das deformações térmicas em função dos alongamentos
normalizados deve ser expresso na forma da deformação de Hencky:
(
)
iε
+=
L
TL
th
1ln
(5.2.b)
A seguir serão enumeradas as modificações que devem ser incluídas nos algoritmos de
cálculo apresentados no capítulo 4 de modo a incorporar o efeito das deformações
térmicas na análise termomecânica.
5.2.1
- Cálculo das forças nodais devido às deformações térmicas
Inicialmente, na primeira iteração de um incremento de tempo, devem-se subtrair das
forças internas do modelo (que são devido às tensões internas) as forças nodais devido
às deformações térmicas. Assim, a Eq.4.54 adquire a forma:
=
+
+
iteraçõesdemaisnas
iteraçãona
1
int
1
int
ext
n
ext
n
th
ff
fff
r
λ
λ
(5.3)
onde f
th
é o vetor de forças nodais devido às deformações térmicas, dado por
=
=
NGaussPts
i
ii
th
ii
T
i
th
Jw
1
εDBf
(5.4)
e
th
i
ε é o incremento de deformações térmicas no i-ésimo ponto de Gauss no
incremento de tempo considerado (n a n+1)
th
n
th
n
th
εεε =
+1
(5.5)
158
Conforme pode ser observado na Eq.5.4, um aumento de temperatura provoca o
aparecimento de forças nodais positivas. Por outro lado, por meio da Eq.5.3 e da
Eq.4.52, é possível concluir que forças térmicas positivas provocam um estado de tração
no modelo de elementos finitos de modo que a estrutura se desloca aumentando suas
dimensões (dilatação térmica).
Uma vantagem importante dessa forma de incorporação das deformações térmicas é a
estabilização do modelo numérico na primeira iteração de um incremento de tempo,
devido ao pseudo estado de tração causado pelo aumento de temperatura.
Visto que o algoritmo de Newton-Raphson, a cada iteração, adiciona os deslocamentos
devido às forças residuais r ao vetor de deslocamentos nodais, na segunda iteração, a
malha já apresenta um deslocamento equivalente à deformação térmica. Por esse
motivo, da segunda iteração em diante, não se deve continuar subtraindo as forças
térmicas f
th
das forças internas do modelo.
5.2.2
- Correção do incremento de deformações devido às deformações térmicas
Ao se calcular as deformações referentes à tentativa elástica,
triale
n 1+
ε , utilizadas pelos
algoritmos de cálculo de tensões (com ou sem plasticidade), deve-se remover o
incremento de deformações térmicas do incremento de deformações referentes à
tentativa elástica. Visto que as deformações térmicas não produzem tensões, esse
procedimento permite que apenas a parcela do incremento de deformações mecânicas
seja considerada pelos algoritmos de integração das relações constitutivas.
Assim, em regime de pequenas deformações e pequenos deslocamentos, o cálculo de
triale
n 1+
ε é realizado por meio da expressão:
(
)
(
)
()
+=
=
+
+
e
n
thtriale
n
n
k
n
εεεε
uuBε
1
1
(5.6.a)
onde
e
n
ε é o vetor das deformações elásticas no instante n (fim do incremento anterior) e
th
ε é calculado por meio da Eq.5.5 e da Eq.5.2.a.
159
Para problemas que envolvem grandes deformações e/ou grandes deslocamentos (não-
linearidade geométrica), o cálculo de
triale
n 1+
ε é realizado por meio da expressão:
(
)
()
[]
[]
=
=
=
+=
=
++
+
+
thtriale
n
triale
n
Te
n
triale
n
e
n
e
n
n
n
k
n
x
εBε
FBFB
εB
uIF
uuu
1
2
1
1
1
1
1
ln
2exp
(5.6.b)
sendo
th
ε calculado por meio da Eq.5.5 e da Eq.5.2.b.
Diferentemente do cálculo das forças nodais devido às deformações térmicas, deve-se
observar que as Eq.5.6.a e Eq.5.6.b são válidas para todas as iterações referentes a um
incremento de carga, visto que o deslocamento de referência das expressões é sempre o
deslocamento do final do último incremento, u
n
, e não o deslocamento da última
iteração.
5.2.3
- Cálculo de tensões na presença de deformações térmicas
O cálculo de tensões é realizado a partir da integração das relações constitutivas com
base nas deformações referentes à tentativa elástica,
triale
n 1
+
ε . Visto que a parcela relativa
às deformações térmicas já foi removida da análise por meio da formulação apresentada
no subitem anterior, as tensões calculadas serão exclusivamente devido às deformações
elásticas, não sendo necessária nenhuma modificação nesses algoritmos.
As modificações mostradas nos itens anteriores referentes à inclusão das deformações
térmicas podem ser facilmente implementadas nos algoritmos incrementais-iterativos de
Newton-Raphson apresentados na FIG.4.27 e na FIG.4.29, mesmo com a característica
de corte automático do incremento de carga mostrada no algoritmo da FIG.4.30.
160
5.3 - Visão geral do programa Thersys 2.0
O programa desenvolvido neste trabalho, denominado Thersys 2.0, consiste em um
ambiente computacional onde é possível modelar um elemento estrutural isolado ou
subsistemas estruturais e simular numericamente, via método dos elementos finitos, o
comportamento do modelo em situação de incêndio.
O ambiente gráfico para modelagem da estrutura a ser analisada e geração da respectiva
malha de elementos finitos é proporcionado pelo pré e pós-processador gráfico GID,
elaborado pelo CIMNE (2004), por meio de modificações na configuração do problem
type para problemas térmicos desenvolvido por RIBEIRO (2004). O programa GID
também é utilizado para visualização de resultados e geração de gráficos.
Basicamente, os passos que devem ser seguidos na simulação de uma estrutura são:
Modelagem da estrutura no pré-processador GID;
Definição dos materiais e suas propriedades termomecânicas;
Definição das condições de contorno térmicas (arrefecimento e curva de
incêndio desejada) e mecânicas (restrição de deslocamentos e forças externas);
Definição do programa de carregamento: primeiramente são aplicadas as forças
e, posteriormente, estando a estrutura em equilíbrio, é aplicado o incêndio, sob
forças constantes, até que algum critério de parada do ensaio seja atingido
(WOOLLEY, 1988);
Geração da malha de elementos finitos no pré-processador GID;
Utilização do programa desenvolvido neste trabalho para realização da análise
termomecânica da estrutura; e
Visualização dos resultados (temperaturas, deslocamentos, deformações, tensões
e capacidade resistente ao incêndio considerado) e geração de gráficos por meio
do pós-processador GID.
O programa Thersys 2.0 consiste no núcleo do ambiente de simulação, reunindo em si
todas as etapas que o processamento numérico do problema exige. O funcionamento do
programa pode ser melhor compreendido observando-se o algoritmo da FIG.5.1.
161
Análise Mecânica
Análise Térmica
lculo das forças residuais
r = f
int
f
th
λ
fext
Montagem da matriz de
rigidez K e solução do
sistema de equações
Atualiza os deslocamentos u
e as coordenadas nodais
lculo das forças internas
nos elementos f
int
Divide o incremento de
tempo t pela metade e
reinicia o incremento a
partir da última solução
convergida
Gravação dos
resultados solicitados
Ciclo das iterações de equilíbrio
Não
Número máximo
de iterações
excedido
Falha na
atualização
das tensões
Falha na
solão
do sistema
Sim
As forças
residuais
convergiram?
Entrada de dados e
inicialização
Fim da análise!!!
Obtenção do tempo de
resistência ao incêndio.
lculo das forças residuais
r = f
int
λ f
ext
Análise mecânica inicial
(Algoritmo da FIG.4.30)
lculo da temperatura
dos gases (incêndio)
Montagem e solução do
sistema de equações
As temperaturas
convergiram?
Não
Sim
Início do incêndio
Deformações excessivas?
OU
Deslocamentos excessivos?
OU
É o último incremento de
tempo?
Sim
Próximo intervalo de tempo
t = t +t
Não
Incremento de
tempo muito
pequeno
Ciclo dos incrementos de tempo
FIGURA 5.1 – Algoritmo macro do programa Thersys 2.0
162
Simplificadamente, o programa é composto de dois blocos básicos: um de análise
térmica e outro de análise mecânica. O bloco relativo à análise térmica corresponde ao
algoritmo desenvolvido por RIBEIRO (2004) e foi totalmente incorporado pelo
Thersys 2.0. O bloco correspondente à análise mecânica foi desenvolvido neste trabalho
com base nas teorias apresentadas no capítulo 4.
Além de simulações termomecânicas de estruturas em situação de incêndio, o programa
também permite a realização de análises puramente térmicas e de análises puramente
mecânicas.
No caso de simulações termomecânicas, o bloco correspondente à análise mecânica é
acionado de duas formas diferentes: primeiramente para aplicação do carregamento
(análise mecânica inicial) e posteriormente para fazer com que o carregamento
permaneça constante enquanto ocorre a evolução do incêndio, via análise térmica, uma
vez que o aumento da temperatura promove a degradação das propriedades mecânicas
dos materiais.
Tanto a análise puramente mecânica quanto a análise mecânica inicial (no caso de
análises termomecânicas) são realizadas pelo algoritmo mostrado na FIG.4.30. O
segundo tipo de análise mecânica, que é acionado juntamente com a análise térmica, é
realizado conforme o algoritmo mostrado na FIG.5.1, derivado do código anterior.
Nesse segundo tipo de análise mecânica, não há incrementação do fator de carga
λ
(carregamento constante durante o incêndio). Assim, o corte do incremento de carga
λ
em decorrência de uma falha (FIG.4.30) foi substituído por um corte na variável que
promove a degradação das propriedades mecânicas dos materiais estruturais, ou seja, o
incremento de tempo t (FIG.5.1).
Ressalta-se que os critérios de parada da análise puramente mecânica se mantém na
análise termomecânica: deformações excessivas, deslocamentos excessivos e último
incremento de carga/tempo. A análise também é interrompida se o incremento de tempo
t, após o corte automático, se tornar muito pequeno (adotou-se o limite de 0,25
segundo neste trabalho).
163
5.3.1
- Corte automático do incremento de tempo
De forma análoga ao corte do incremento de carga em análises puramente mecânicas, o
corte automático do incremento de tempo é uma importante ferramenta para análises
termomecânicas não-lineares. Freqüentemente, tem-se o problema da convergência para
uma solução de equilíbrio não ser atingida, sem no entanto o modelo de elementos
finitos apresentar o comportamento característico de uma falha: instabilidades, rótulas
plásticas, grandes deslocamentos ou grandes deformações.
Os casos com problemas de convergência geralmente ocorrem porque, para um dado
incremento de tempo, o aumento de temperatura é suficientemente alto para
proporcionar uma forte redução da resistência e/ou rigidez dos materiais estruturais. A
grande redução na capacidade portante da estrutura frente ao carregamento constante
funciona de modo similar à aplicação de um grande incremento de carga em uma
análise puramente mecânica: o incremento deixa de ser compatível com as limitações
numéricas dos algoritmos integradores, proporcionando a falha.
Em tais casos de falha da análise mecânica, deve-se retomar a análise a partir da última
solução convergida, usando-se um incremento menor. Em análises termomecânicas,
esse incremento refere-se à variável do incremento de tempo t.
Assim, o algoritmo mostrado na FIG.5.1 possui o seguinte comportamento: quando a
convergência para uma solução de equilíbrio não se verifica, o procedimento de corte do
incremento de tempo é ativado dividindo-se o valor do incremento à metade. Em
seguida, o intervalo de tempo atual é reiniciado (a partir da última solução convergida)
com o incremento de tempo reduzido.
Como geralmente o corte do incremento de tempo ocorre quando se está próximo da
capacidade resistente da estrutura ao incêndio, é interessante que, após o corte do
incremento de tempo, se registre os resultados a cada incremento. Assim, se o intervalo
entre gravações dos resultados era, por exemplo, a cada 10 incrementos de tempo, a
partir de um corte do incremento de tempo os resultados passam a ser gravados a cada
incremento de tempo.
164
5.3.2
- Características do programa Thersys 2.0
A seguir serão mostradas as características do programa Thersys 2.0 no que se refere às
curvas de incêndio, propriedades dos materiais, tipos de elementos previstos, condições
de contorno e métodos de solução dos sistemas de equações.
5.3.2.1
- Curvas de incêndio
Visando a análise de qualquer problema termomecânico, o programa Thersys 2.0 foi
elaborado com a possibilidade de uso das seguintes curvas de incêndio:
Incêndio definido pelo usuário;
Incêndio-padrão (EN 1991-1-2:2002);
Incêndio externo (EN 1991-1-2:2002);
Incêndio de hidrocarbonetos (EN 1991-1-2:2002);
Odden test (BFD);
Car test (BFD);
Swedish test D2 (BFD);
EBS test D2 (BFD);
JFRO test R (BFD);
JFRO test Q (BFD);
EBS test 9 (BFD);
EBS test 16 (BFD);
CIB/W14 (a) (BFD);
CIB/W14 (b) (BFD);
CTICM test 35 (BFD);
CTICM test 63 (BFD);
Cardington test 2 (BFD);
Cardington test 5 (BFD);
Cardington test 6 (BFD);
Cardington test 7 (BFD).
165
Na opção “incêndio definido pelo usuário”, o programa permite que a curva de incêndio
seja fornecida através de uma tabela de valores: tempo × temperatura dos gases. Para
valores intermediários aos fornecidos na tabela, o programa faz interpolação linear. Essa
opção torna possível o uso de uma curva de incêndio cuja equação não esteja
implementada no programa.
As curvas de incêndio correspondentes a resultados de ensaios são modeladas através
das equações de Barnett (curvas BFD), mostradas em 2.2.4.
5.3.2.2
- Propriedades dos materiais
O programa Thersys 2.0 foi desenvolvido de modo a utilizar todas as propriedades
relevantes variáveis com a temperatura para qualquer material. O programa pode
trabalhar com os seguintes materiais:
material definido pelo usuário;
aço estrutural laminado, segundo o EN 1994-1-2:2005;
aço estrutural trefilado, segundo o EN 1994-1-2:2005;
concreto de densidade normal com 0%, 2%, 4%, 6%, 8% e 10% de umidade,
segundo o EN 1994-1-2:2005;
concreto de baixa densidade, segundo o EN 1994-1-2:2005;
ISOBRAX, segundo informações do fabricante (FAKURY e RIBEIRO, 2005);
Blaze Shield II, segundo SILVA (2001);
concreto celular autoclavado, segundo catálogo do fabricante (SICAL);
placas de vermiculita, segundo MARTINS (2000);
ar atmosférico, segundo INCROPERA (1992).
Na opção “material definido pelo usuário”, o programa permite que as propriedades do
material (massa específica, calor específico, condutividade térmica, alongamento
térmico, coeficiente de redução do módulo de elasticidade com a temperatura e
coeficiente de redução da resistência com a temperatura) sejam fornecidas por meio de
tabelas: temperatura × valor da propriedade. Para valores intermediários aos fornecidos
na tabela, o programa faz interpolação linear.
166
Os demais materiais permitidos pelo programa já possuem suas propriedades
equacionadas internamente no programa, conforme as referências citadas.
5.3.2.3
- Elementos finitos previstos
O programa Thersys 2.0 utiliza elementos finitos isoparamétricos dos tipos:
bidimensionais, em análises mecânicas de estado plano de tensões, estado plano
de deformações e análises térmicas planas;
tridimensionais, em análises térmicas, mecânicas e termomecânicas (simulação
de incêndio) de estruturas espaciais (3D).
A TAB.5.1 ilustra os elementos previstos pelo Thersys 2.0, bem como o número de
pontos de Gauss possíveis no domínio e no contorno dos elementos. Entre parênteses, é
mostrado o número padrão de pontos de Gauss adotado pelo programa para cada
elemento finito.
5.3.2.4
- Condição inicial
Em análises térmicas e termomecânicas, o programa admite como condição inicial um
único valor de temperatura prescrita em todo o domínio no início da análise
(tempo t = 0). Essa condição é dada pela Eq.3.14.
5.3.2.5
- Condições de contorno mecânicas
O programa Thersys 2.0 permite a modelagem de restrições nodais ao deslocamento nas
direções globais X, Y e Z em análises mecânicas e termomecânicas.
O ambiente de modelagem no GID permite que as restrições nodais sejam aplicadas em
nós, superfícies e volumes. Assim, na etapa de geração da malha de elementos finitos,
as condições aplicadas nas superfícies e volumes são transferidas para os nós dos
elementos pertencentes a essas entidades.
167
TABELA 5.1 – Elementos finitos previstos pelo Thersys 2.0
Denominação
Pontos de
Gauss no
domínio
Pontos de
Gauss no
contorno
Esquema
Elemento triangular lagrangiano
de 3 nós
1, 3 ou 4
(3)
1, 2 ou 3
(1)
a
b
c
Elemento triangular serendíptico
de 6 nós
1, 3 ou 4
(3)
1, 2 ou 3
(2)
a
b
c
d
ef
Elemento quadrilateral lagrangiano
de 4 nós
4 ou 9
(4)
2 ou 3
(2)
ab
c
d
Elemento quadrilateral serendíptico
de 8 nós
4 ou 9
(9)
2 ou 3
(3)
ab
c
d
e
f
g
h
Elemento quadrilateral lagrangiano
de 9 nós
4 ou 9
(9)
2 ou 3
(3)
ab
c
d
e
f
g
h
i
Elemento tetraédrico lagrangiano
de 4 nós
1, 4 ou 5
(4)
1, 3 ou 4
(1)
a
b
c
d
Elemento tetraédrico serendíptico
de 10 nós
1, 4 ou 5
(4)
1, 3 ou 4
(3)
a
b
c
d
e
f
g
h
i
j
Elemento hexaédrico lagrangiano
de 8 nós
8 ou 27
(8)
4 ou 9
(4)
a
b
c
e
d
f
g
h
Elemento hexaédrico serendíptico
de 20 nós
8 ou 27
(27)
4 ou 9
(9)
a
b
c
e
d
m
f
g
h
i
j
k
l
n
o
p
qr
s
t
168
5.3.2.6
- Carregamentos
Os carregamentos podem ser aplicados no modelo de elementos finitos nas direções
globais X, Y e Z. O Thersys 2.0 permite três tipos básicos de carregamentos:
aplicação de forças diretamente nos nós;
aplicação de forças distribuídas em superfícies;
aplicação de peso próprio (forças distribuídas em volumes).
A aplicação de forças nos nós exige basicamente a informação da direção (X, Y ou Z) e
da intensidade. Já as forças devido o peso próprio são desenvolvidas em função do vetor
da aceleração da gravidade e da massa específica dos materiais.
As forças distribuídas em superfícies podem apresentar três tipos de variação, conforme
a FIG.5.2:
constante: nesse caso basta informar a direção da força distribuída (X, Y ou Z) e
a sua intensidade F1;
linear: deve-se informar a direção da força distribuída (X, Y ou Z), os pontos de
controle P1 e P2, e a intensidade da força distribuída nos pontos de controle F1 e
F2, respectivamente;
parabólica: é necessário informar a direção da força distribuída (X, Y ou Z), os
pontos de controle P1 e P2 e a intensidade máxima dessa força no ponto médio
entre P1 e P2.
F1
F2
P2
P1
P2
P1
F1
(a) Constante (b) Linear
(c) Parabólica
F1
FIGURA 5.2 – Tipos de forças distribuídas em superfícies
169
5.3.2.7
- Condições de contorno térmicas
O programa admite quatro formas distintas de condições de contorno térmicas:
nós com temperatura prescrita, segundo a Eq.3.15;
superfícies com fluxo de calor prescrito, segundo a Eq.3.16;
superfícies com troca de calor por convecção e radiação, segundo a Eq.3.32;
geração de calor interno, atuando no domínio do elemento, segundo a Eq.3.10.
Para a condição de troca de calor por convecção e radiação, citada na interface do
programa como “condição de exposição térmica”, são possíveis quatro combinações:
Incêndio (EN): a troca de calor ocorre por radiação e por convecção forçada com
o coeficiente convectivo fixo (conforme o EN 1991-1-2:2002) entre a superfície
e os gases quentes do incêndio;
Incêndio (Ghojel): a troca de calor ocorre por radiação e por convecção forçada
com o coeficiente convectivo variável (segundo o modelo de GHOJEL, 1998)
entre a superfície e os gases quentes do incêndio;
Arrefecimento (EN): a troca de calor ocorre por radiação e por convecção
natural com o coeficiente convectivo fixo (conforme o EN 1991-1-2:2002) entre
a superfície e o ar ambiente;
Arrefecimento (Ribeiro): a troca de calor ocorre por radiação e por convecção
natural com o coeficiente convectivo variável (conforme a regressão apresentada
na FIG.3.6) entre a superfície e o ar ambiente. Essa condição de contorno é
influenciada pelo ângulo entre a normal da superfície e o vetor da aceleração da
gravidade.
O programa Thersys 2.0 considera que o ar ambiente possui sempre a temperatura dada
na condição inicial, independente do tempo. Para as condições de incêndio, o programa
considera a temperatura dos gases quentes por meio da curva de incêndio selecionada.
170
5.3.2.8
- Métodos de solução dos sistemas de equações
No desenvolvimento do programa Thersys 2.0, procurou-se otimizar o desempenho do
algoritmo de solução, visto ser o ponto de maior uso de processamento computacional.
Dessa forma, o programa armazena as matrizes de rigidez em skyline e possibilita a
solução do sistema de equações pelos métodos:
Fatorização de Cholesky;
Método de Gauss-Seidel;
Método dos Gradientes Conjugados Pré-Condicionado.
Caso seja utilizado um dos métodos iterativos, deve-se informar qual o nível de precisão
desejada. Em análises térmicas, o método recomendado e o nível de precisão
(tolerância) para cada tipo de problema constituem assuntos já tratados em 3.4.6.
No entanto, para as análises mecânicas e análises termomecânicas realizadas neste
trabalho, observou-se que os algoritmos iterativos freqüentemente exigem muitas
iterações para se atingir o nível de tolerância requerido pelo algoritmo de solução do
problema termomecânico. Adicionalmente, em problemas com fortes não-linearidades
materiais ou geométricas, pode haver não-convergência do algoritmo de solução.
Assim, no presente trabalho utilizou-se sempre a fatorização de Cholesky para solução
das análises termomecânicas, ficando a verificação de melhores métodos de solução
como sugestão para desenvolvimentos futuros.
5.3.2.9
- Algoritmo de solução do problema termomecânico não-linear
O algoritmo empregado para solução do problema incremental utilizado como base das
análises mecânicas e termomecânicas é o Newton-Raphson com incrementos fixos de
carga/tempo, já comentado no capítulo 4. Adicionalmente, o algoritmo também conta
com as ferramentas de corte automático do incremento de carga/tempo.
A estruturação do programa Thersys 2.0 permite a futura implementação do algoritmo
de solução arc-length para fins de pesquisa. No entanto, conforme discutido no
capítulo 4, tal algoritmo não foi empregado no presente trabalho.
171
5.3.3
- Comunicação entre os programas Thersys 2.0 e GID
O programa Thersys 2.0 foi desenvolvido para trabalhar em conjunto com o pré e pós-
processador gráfico GID (CIMNE, 2004). A interação entre esses dois programas ocorre
por meio do problem type, criado neste trabalho com o objetivo de manusear os dados
necessários à análise termomecânica, como ilustrado na FIG.5.3.
GID
Pré-processador
Arquivos de
dados
Thersys 2.0
Processador
Arquivos de
resultados
GID
Pós-processador
.mat
Definição dos materiais
.prb
Definição dos dados
gerais do problema
.cnd
Definição das condições
de contorno
.geo
Definição dos símbolos
das condições de contorno
.sim
Associação dos símbolos
às condões de contorno
.bas
Formatação para gerar
o arquivo de dados
.bat
Shell do sistema operacional
para carregar o Thersys
.tcl
Códigos para otimização
da interface em TCL-TK
Thersys – Problem Type
.mat
Definição dos materiais
.prb
Definição dos dados
gerais do problema
.cnd
Definição das condições
de contorno
.geo
Definição dos símbolos
das condições de contorno
.sim
Associação dos símbolos
às condões de contorno
.bas
Formatação para gerar
o arquivo de dados
.bat
Shell do sistema operacional
para carregar o Thersys
.tcl
Códigos para otimização
da interface em TCL-TK
Thersys – Problem Type
.txt
nome.txt
Informações gerais da análise
.post
.res
nome.post.res
Resultados nodais da malha
-GRAF
.txt
nome-GRAF.txt
Gráfico do resultado selecionado
.err
nome.err
Mensagens de erros ocorridos
Arquivos de resultados
.txt
nome.txt
Informações gerais da análise
.post
.res
nome.post.res
Resultados nodais da malha
-GRAF
.txt
nome-GRAF.txt
Gráfico do resultado selecionado
.err
nome.err
Mensagens de erros ocorridos
Arquivos de resultados
.sol
.dat
nome.dat
Arquivo de dados da análise
nome.sol
Arquivo temporário para
reinício da análise
FIGURA 5.3 – Interação entre o Thersys 2.0 e o GID por meio do problem type
O problem type consiste em um conjunto de arquivos que o GID utiliza para
personalizar a modelagem, definindo os dados do problema, os materiais, as condições
de contorno e demais parâmetros necessários para a modelagem. No problem type
também são definidos os símbolos que são associados às condições de contorno, para
facilitar a visualização do modelo, bem como rotinas em linguagem TCL-TK para
melhorar a manipulação das janelas, efetuar leitura e gravação de tabelas em arquivos e
outras operações mais complexas (arquivos “.tcl”).
172
O fluxo de utilização dos programas ocorre na seguinte seqüência: com o modelo bi ou
tridimensional pronto, os materiais definidos e as condições de contorno aplicadas,
efetua-se no GID a geração da malha de elementos finitos. Após essa operação, o GID
pode gerar um arquivo de dados que será lido pelo Thersys 2.0. O formato desse arquivo
de dados também é definido pelo problem type, estando parametrizado no arquivo “.bas”.
Através do comando calculate, o GID executa as rotinas prescritas no arquivo “.bat”
que concluem por carregar o programa Thersys 2.0, orientando esse a ler o arquivo de
dados, efetuar a análise e gerar os arquivos de resultados. Ao término da análise, o GID
automaticamente muda para o modo de pós-processamento, procedendo à leitura dos
arquivos de resultados.
No item a seguir são mostradas as telas de interface do Thersys 2.0 com o usuário.
Como já discutido, essas telas são providas pelo problem type desenvolvido para o GID.
5.3.4
- Interface com o usuário
Ao iniciar o programa Thersys 2.0 dentro do ambiente do GID, o programa exibe a tela
de abertura mostrada na FIG.5.4.
FIGURA 5.4 – Tela de abertura do programa Thersys 2.0
173
Na tela principal do GID, mostrada na FIG.5.5, o problem type disponibiliza o menu
Thersys, com todas as funções necessárias para a modelagem de problemas térmicos,
mecânicos e termomecânicos (simulação de incêndio) via programa Thersys 2.0.
FIGURA 5.5 – Tela principal do GID com o menu Thersys
O menu Dados gerais aciona a tela mostrada na FIG.5.6, na qual pode-se editar a
identificação da análise, escolher o tipo de análise, ajustar a necessidade ou não de gerar
o arquivo de reinício e configurar o vetor da aceleração da gravidade.
FIGURA 5.6 – Tela de entrada dos dados gerais da análise
174
O menu Análise mecânica permite o acesso à tela apresentada na FIG.5.7. Essa tela é
responsável pelas configurações da análise mecânica, tais como a seleção da formulação
para deformações, consideração do peso próprio dos materiais, seleção do algoritmo de
solução não-linear, seleção do algoritmo de solução do sistema de equações mecânicas e
ajuste dos critérios de parada da análise.
FIGURA 5.7 – Tela de configuração da análise mecânica
O menu Análise térmica mostra a tela da FIG.5.8, onde o usuário pode ajustar os
seguintes parâmetros da análise térmica: curva de incêndio, temperatura inicial,
tolerância do algoritmo não-linear, algoritmo de solução do sistema de equações
térmicas e parâmetros temporais da análise térmica, tal como o esquema de integração.
O botão de seleção da curva de incêndio permite o acesso à tela da FIG.5.9, na qual é
possível selecionar a curva de incêndio a ser utilizada na análise, dentre as apresentadas
no subitem 5.3.2.1. A opção “incêndio definido pelo usuário” coloca a tabela na lateral
esquerda da tela no modo de edição, sendo possível a entrada de uma curva genérica por
meio dos valores tempo × temperatura dos gases.
175
FIGURA 5.8 – Tela de configuração da análise térmica
FIGURA 5.9 – Tela de seleção da curva de incêndio
A
o se escolher uma curva de
incêndio diferente de “incêndio
definido pelo usuário”, essa
tabela permanece desabilitada.
176
Para definição dos materiais, o GID utiliza a tela mostrada na FIG.5.10. Nessa tela é
possível criar, apagar e modificar os materiais do modelo. Para cada material, pode-se
definir o tipo de material (conforme o subitem 5.3.2.2), o modelo matemático do
comportamento mecânico (critério de escoamento), a espessura (para problemas 2D) e
as demais propriedades mecânicas.
FIGURA 5.10 – Tela de seleção dos materiais
Para o modelo matemático de Drucker-Prager, pode-se ajustar os parâmetros com o
critério de Mohr-Coulomb. Para tal, o botão “
φ
,c” propicia o acesso à tela mostrada na
FIG.5.11, onde o programa converte ângulo de atrito e coesão em tensões limites.
FIGURA 5.11 – Tela de ajuste do modelo de Drucker-Prager
177
As propriedades dos materiais que variam com a temperatura (massa específica, calor
específico, condutividade, alongamento, coeficiente de redução da rigidez e coeficiente
de redução da resistência) podem ser editadas por meio dos botões na base da tela
mostrada na FIG.5.10. Acionando-se esses botões, uma tela semelhante à apresentada
na FIG.5.12 é mostrada, exibindo o comportamento da propriedade com a temperatura.
Se o tipo de material for “definido pelo usuário”, a tabela à esquerda da FIG.5.12 é
habilitada e o usuário pode então digitar o valor da propriedade com a temperatura.
FIGURA 5.12 – Tela de edição das propriedades dos materiais
Com relação às condições de contorno mecânicas, o menu Restrições nodais permite o
acesso à tela mostrada na FIG.5.13, onde o usuário pode aplicar restrições nas direções
globais X, Y e/ou Z em nós, superfícies e volumes do modelo.
O menu Carregamentos exibe as telas mostradas na FIG.5.14, para carregamentos
nodais, e na FIG.5.15, para carregamentos distribuídos. Em ambos os casos, deve-se
sempre informar a direção global da força, X, Y ou Z. Para forças distribuídas, é
necessário informar também o tipo de variação da força, as intensidades envolvidas com
o tipo de variação e os pontos de controle, cujas coordenadas podem ser obtidas
diretamente do modelo no GID. O subitem 5.3.2.6 apresenta maiores informações.
Se o tipo de material não for
definido pelo usuário”, essa tabela
permanece desabilitada. Nesse
caso, o gráfico ao lado representa a
propriedade do material selecionado
na FIG.5.10 (concreto normal 4%).
178
FIGURA 5.13 – Tela de definição das restrições nodais
FIGURA 5.14 – Tela de definição dos carregamentos nodais
FIGURA 5.15 – Tela de definição dos carregamentos distribuídos
179
Com relação às condições de contorno térmicas, as telas do Thersys 2.0 que permitem
suas definições são acionadas pelos menus Temperaturas prescritas e Condições
térmicas, mostradas na FIG.5.16 e descritas a seguir:
a) temperatura prescrita: é aplicável nos nós (2D e 3D), em linhas (2D e 3D) e em
superfícies (apenas 3D).
b) exposição térmica: é aplicável em linhas (2D) e em superfícies (3D). Os tipos
possíveis de exposição térmica foram discutidos no subitem 5.3.2.7.
c) fluxo de calor prescrito: é aplicável em linhas (2D) e em superfícies (3D).
d) geração de calor: é aplicável em superfícies (2D) e em volumes (3D).
(a) Temperaturas prescritas (b) Exposição térmica
(c) Fluxo de calor prescrito (d) Geração de calor interno na malha
FIGURA 5.16 – Telas de definição das condições de contorno térmicas
180
Com relação aos resultados das análises, o Thersys 2.0 permite que o usuário selecione
aqueles de interesse para serem gravados, durante e ao final do processamento, por meio
do menu Resultados gerais, conforme a FIG.5.17. Nessa tela, o usuário também pode
configurar a apresentação das informações da análise no arquivo “.txt” (ver FIG.5.3).
Quando se deseja visualizar o deslocamento de um nó durante a evolução de uma
análise, pode-se utilizar o menu Resultados específicos para selecionar o nó em questão,
conforme a FIG.5.18. O gráfico é registrado no arquivo “-
GRAF.txt” (ver FIG.5.3).
FIGURA 5.17 – Tela de seleção dos resultados gerais
FIGURA 5.18 – Tela de seleção de um resultado específico
181
Ao se iniciar uma análise no Thersys 2.0, seja por meio de uma chamada do programa
GID ou para uma análise independente do pré/pós processador, o programa exibe a tela
mostrada na FIG.5.19. Nessa tela, as informações da análise em processamento são
divididas em quatro grupos: dados gerais da análise, informações sobre o
processamento, informações relativas ao comportamento mecânico e informações
relativas à análise térmica. Nessa tela também é possível acompanhar a evolução do
deslocamento do nó selecionado no menu Resultado específico por meio do gráfico
deslocamento × tempo de incêndio.
FIGURA 5.19 – Tela de monitoramento da análise
182
5.3.5
- Estruturação do programa Thersys 2.0 em classes
O programa Thersys 2.0 foi desenvolvido na linguagem Delphi utilizando-se o conceito
de programação orientada a objeto, visando a modularidade, a reusabilidade e novos
desenvolvimentos do código (PRESSMAN, 1995). A linguagem Delphi foi escolhida
por ser de alto nível (próxima à linguagem humana), por ter grandes facilidades para
desenvolvimento da interface e por permitir a programação orientada a objeto.
A FIG.5.20 ilustra as relações funcionais entre as classes básicas que compõem o
programa Thersys 2.0. O núcleo do programa corresponde à classe TMain, responsável
por gerenciar as análises: leitura do arquivo de dados, acionamento das análises por
incrementos, acionamento da gravação de resultados e interface com o usuário. A classe
TMain comunica inicialmente com as classes TMaterial e TMesh no processo de leitura
do arquivo de dados. Durante a análise, a classe TMain comunica-se com as classes
TThermic e TMechanic (análises) e com a classe TResult (gravação de resultados).
TMechanic
TThermic
Driver para solução
de problemas
térmicos
TSolver TModel TIsoFunc
TMaterial
TFire
TShape TMesh
TResult
Interface para
gravação de
resultados
Biblioteca de funções
isotrópicas de
tensores simétricos
Biblioteca de
curvas de
incêndio
Biblioteca de
integradores de
relações constitutivas
Biblioteca de
algoritmos de solução de
sistemas de equações
TMain
Gerenciador da
biblioteca de
elementos finitos
Driver para solução
de problemas
menicos
Gerenciador da
biblioteca de
materiais
Interface de
armazenamento
de dados
da malha
Gerenciador de
análises e interface
com o usuário
FIGURA 5.20 – Relações funcionais entre as classes que compõem o Thersys 2.0
183
A classe TResult é responsável por efetuar a geração de todos os arquivos de resultados
da análise, conforme mostrado na FIG.5.3. O padrão utilizado por essa classe
corresponde ao formato usado pelo GID. A geração de um novo formato de resultados
pode ser feita derivando-se uma nova classe a partir de TResult e sobrescrevendo-se o
método SaveRes. Essa classe também é responsável pela gravação do arquivo “.sol” que
habilita o reinício da análise após uma interrupção qualquer.
A classe TThermic corresponde ao núcleo da análise térmica, sendo a classe que
gerencia todos os dados e coeficientes relativos ao problema térmico, faz o cálculo de
todas as matrizes térmicas e vetores de fluxos nodais e faz a montagem do sistema de
equações para cálculo das temperaturas e fluxos de calor nodais.
Durante a análise térmica, a classe TThermic comunica-se com as classes: TFire,
responsável por fornecer a temperatura dos gases do incêndio; TSolver, responsável pela
solução do sistema de equações; TShape, responsável pelo cálculo das funções de forma
dos elementos finitos e suas derivadas; TMaterial, responsável por fornecer as
propriedades térmicas dos materiais do modelo; e TMesh, responsável por fornecer as
coordenadas nodais, incidência dos elementos e as condições de contorno térmicas.
A classe TMechanic é o núcleo da análise mecânica, responsável por gerenciar todos os
parâmetros e incrementos de carga relativos ao problema mecânico, por efetuar o
cálculo da matriz de rigidez tangente, do vetor de forças nodais, do sistema de equações
para cálculo dos deslocamentos, e por efetuar o cálculo das deformações, tanto em
regime linear quanto em regime não-linear geométrico.
Na análise mecânica, a classe TMechanic comunica-se com as classes: TSolver,
responsável pela solução do sistema de equações; TModel, responsável pelo cálculo das
relações constitutivas dos materiais e pelo cálculo das tensões e deformações plásticas;
TIsoFunc, responsável pelo cálculo das derivadas dos tensores isotrópicos; TShape,
responsável pelo cálculo das funções de forma dos elementos finitos e suas derivadas;
TMaterial, responsável por fornecer as propriedades mecânicas dos materiais em função
da temperatura; e TMesh, responsável por gerenciar as coordenadas nodais,
deslocamentos nodais, incidência dos elementos e as condições de contorno mecânicas.
184
A classe TShape é responsável pelo gerenciamento das classes relativas aos vários tipos
de elementos finitos, derivados da classe principal TFEShape, conforme a FIG.5.21. A
classe TFEShape estabelece os parâmetros básicos para definição dos elementos e para
interface com os demais objetos que compõem o programa.
As classes TFETriangle, TFEQuadrilateral, TFETetrahedra e TFEHexahedra são
derivadas da classe TFEShape e contêm as tabelas de pontos de Gauss, formulação de
cálculo do Jacobiano e das derivadas cartesianas para cada tipo de elemento. As classes
derivadas TFET3, TFET6, TFEQ4, ..., TFEHE20 contêm as funções de forma e as
derivadas locais do elemento finito isoparamétrico em questão.
TFEShape
TFETriangle
TFEQuadrilateral
TFETetrahedra
TFEHexahedra
Biblioteca de
elementos
triangulares (2D)
Biblioteca de
elementos
quadrilaterais (2D)
Biblioteca de
elementos
tetraédricos (3D)
Biblioteca de
elementos
hexaédricos (3D)
Biblioteca de
elementos
finitos
isoparamétricos
TShape
Gerenciador da
biblioteca de
elementos finitos
TFET3
TFET6
TFEQ4
TFEQ8
TFEQ9
TFETE4
TFETE10
TFEHE8
TFEHE20
Elemento triangular
de 3 nodos
Elemento quadrilateral
de 9 nodos
Elemento quadrilateral
de 8 nodos
Elemento quadrilateral
de 4 nodos
Elemento triangular
de 6 nodos
Elemento tetraédrico
de 4 nodos
Elemento hexaédrico
de 20 nodos
Elemento hexaédrico
de 8 nodos
Elemento tetraédrico
de 10 nodos
Relação de herança
(classes derivadas)
Relação funcional
Relação de herança
(classes derivadas)
Relação funcional
FIGURA 5.21 – Classe TFEShape e classes derivadas
185
A classe TMaterial é responsável pelo gerenciamento das classes relativas aos vários
tipos de materiais, derivadas da classe principal TLBMaterial, conforme a FIG.5.22. A
classe TLBMaterial estabelece as propriedades que todos materiais devem ter, bem
como os parâmetros de interface com as demais classes do Thersys 2.0.
As classes derivadas de TLBMaterial contêm as equações das propriedades que variam
com a temperatura para cada tipo de material: massa específica, calor específico,
condutividade, alongamento, coeficiente de redução da rigidez com a temperatura e
coeficiente de redução da resistência com a temperatura. As demais propriedades, como
o módulo de Young, coeficiente de Poisson, módulo de rigidez tangente, resistência à
tração e compressão uniaxial, são configuráveis para todas as classes na fase de leitura
do arquivo de dados. Para os materiais definidos pelo usuário, derivados de TLBUser, a
classe TSpline é requerida para gerenciar as tabelas das propriedades × temperatura.
TLBMaterial
TLBUser
Material definido pelo usuário
Biblioteca de
equações de
materiais
TLBSteelLam
Aço laminado EN1994-1-2:2005
TLBSteelTref
Aço trefilado EN1994-1-2:2005
TLBConcNorm
Concreto de densidade normal EN1994-1-2:2005
TLBConcLight
Concreto de baixa densidade EN1994-1-2:2005
TLBBlazeShield
Blaze Shield II (SILVA, 2001)
TLBConcCel
Concreto celular autoclavado (SICAL)
TLBVermPlate
Placa de vermiculita (MARTINS, 2000)
TLBAirAtm
Ar atmosférico (INCROPERA, 1992)
Gerenciador da biblioteca de materiais
TSpline
Curvas das
propriedades x temperatura
Relação de herança
(classes derivadas)
Relação funcional
Relação de herança
(classes derivadas)
Relação funcional
TMaterial
FIGURA 5.22 – Classe TLBMaterial e classes derivadas
186
A classe TFire é utilizada em análises térmicas para gerenciar a curva de incêndio
empregada na análise. O Thersys 2.0 contém 19 curvas de incêndio já implementadas
(subitem 5.3.2.1), sendo classes derivadas de TFire. Adicionalmente, o programa tem
disponível a classe TFireUser, que corresponde a uma curva de incêndio definida pelo
usuário. A classe TFireUser utiliza a classe TSpline para gerenciar a tabela da
temperatura dos gases × tempo de incêndio.
TFire
TFireUser
TFireOddenTest
Incêndio definido pelo usuário
Incêndio Odden Test (Barnett)
Biblioteca de
curvas de
incêndio
TFireHidrocarbon
TFireExternal
Incêndio hidrocarbonetos EN1991-1-2:2002
Incêndio est. Externa EN1991-1-2:2002
TFireCarTest
Incêndio Car Test (Barnett)
TFireSwedishD2
Incêndio Swedish Test D2 (Barnett)
TFireEBSD2
Incêndio EBS Test D2 (Barnett)
TFireJFROTestR
Incêndio JFRO Test R (Barnett)
TFireEBS9
Incêndio EBS Test 9 (Barnett)
TFireEBS16
Incêndio EBS Test 16 (Barnett)
TFireCIBW14a
Incêndio CIB / W14 (a) (Barnett)
TFireCIBW14b
Incêndio CIB / W14 (b) (Barnett)
TFireCTICM35
Incêndio CTICM Test 35 (Barnett)
TFireCTICM63
Incêndio CTICM Test 63 (Barnett)
TFireCardington2
Incêndio Cardington Test 2 (Barnett)
TFireCardington5
Incêndio Cardington Test 5 (Barnett)
TFireCardington6
Incêndio Cardington Test 6 (Barnett)
TFireCardington7
Incêndio Cardington Test 7 (Barnett)
TFireJFROTestQ
Incêndio JFRO Test Q (Barnett)
TSpline
Curva temperatura x tempo
TFireStandard
Incêndio padrão EN1991-1-2:2002
Relação de herança
(classes derivadas)
Relação funcional
Relação de herança
(classes derivadas)
Relação funcional
FIGURA 5.23 – Classe TFire e classes derivadas
187
Tanto para análises térmicas (TThermic) quando para análises mecânicas (TMechanic),
o Thersys 2.0 utiliza a classe TSolver para gerenciamento do sistema de equações na
forma skyline e solução dos sistemas de equações. Existem três métodos de solução
disponíveis no programa que foram implementados em classes derivadas de TSolver,
conforme mostra a FIG.5.24: Método de Cholesky, Método de Gauss-Seidel e Método
dos Gradientes Conjugados Pré-Condicionado. A utilização desses métodos já foi
discutida nos capítulos 3 e 4.
TSolver TSLVCholesky
Método de Cholesky
Biblioteca de
algoritmos de solução de
sistemas de equações
TSLVGaussSeidel
Método de Gauss-Seidel
TSLVGradConj
Método dos Gradientes Conjugados Pré-Condicionado
FIGURA 5.24 – Classe TSolver e classes derivadas
Em análises mecânicas, o cálculo das relações constitutivas dos diversos materiais, das
tensões e das deformações plásticas (algoritmo de integração de Backward-Euler) é
disponibilizado pela classe TModel, mostrada na FIG.5.25. O Thersys 2.0 conta com
três modelos de materiais já implementados: Modelo de Hencky, elástico; Modelo de
von Mises, elasto-plástico independente da tensão média; e Modelo de Drucker-Prager,
elasto-plástico dependente da tensão média. O modelo de Drucker-Prager permite o
ajustamento com o modelo de Mohr-Coulomb na rotina TModelDP.Create(adjust). A
variável adjust pode assumir os quatro tipos de ajustes discutidos no subitem 4.4.2.2.
TModel TModelElast
Modelo de Hencky (elástico)
Biblioteca de
integradores de relações
constitutivas
TModelVM
Modelo de von Mises (elasto-plástico)
TModelDP
Modelo de Drucker-Prager (elasto-plástico)
FIGURA 5.25 – Classe TModel e classes derivadas
188
Ainda em análises mecânicas, o cálculo de autovalores, autovetores, autoprojeções e das
derivadas dos tensores isotrópicos, utilizados para a obtenção da matriz constitutiva
tangente espacial (algoritmo de grandes deformações), é feito pela classe TIsoFunc.
Essa classe apresenta duas classes derivadas, conforme mostrado na FIG.5.26:
TIsoFunc2D, com as rotinas adaptadas para análise mecânica bidimensional; e
TIsoFunc3D, com as rotinas adaptadas para análise mecânica tridimensional.
TIsoFunc
TIsoFunc2D
Funções isotrópicas para tensores 2D
Biblioteca de funções
isotrópicas de
tensores simétricos
TIsoFunc3D
Funções isotrópicas para tensores 3D
FIGURA 5.26 – Classe TIsoFunc e classes derivadas
Com relação às tabelas utilizadas pelo programa Thersys 2.0 por meio das classes
TFireUser e TLBUser, cabe ressaltar que a classe TSpline foi desenvolvida de modo a
realizar interpolações lineares, visto apresentar o melhor funcionamento no caso de
funções descontínuas (como ocorre com o calor específico dos materiais).
CAPÍTULO 6 -
Estudos de Caso e Validação do Thersys 2.0
6
ESTUDOS DE CASO E VALIDAÇÃO DO THERSYS 2.0
6.1 - Generalidades
Este capítulo apresenta os modelos analisados neste trabalho, envolvendo várias
geometrias, materiais e condições de contorno. Os resultados obtidos pela análise
numérica por meio do programa Thersys 2.0 são comparados com resultados
disponíveis na literatura e com aqueles obtidos pelos procedimentos prescritos no EN
1992-1-2:2004, EN 1993-1-2:2005 e EN 1994-1-2:2005, visando validar o programa
Thersys 2.0 e demonstrar a sua aplicabilidade.
De modo geral, com exceção dos casos explicitamente discutidos, as seguintes
considerações foram adotadas em todos os modelos:
Nas análises térmicas e termomecânicas, utilizou-se a curva de incêndio-padrão
dada pelo EN 1991-1-2:2004;
Nas faces com convecção forçada (incêndio) utilizou-se o coeficiente de troca de
calor por convecção
α
c
igual a 25 W/m² ºC e, nas faces com convecção natural
190
(arrefecimento), adotou-se
α
c
conforme a FIG.3.6. A emissividade resultante
(
ε
res
) utilizada nas análises é discutida separadamente para cada situação;
Utilizou-se o esquema de Galerkin (
β
= 2/3) para integração temporal, conforme
o subitem 3.4.5, com uma tolerância
ξ
perc
de 0,001 e
ξ
abs
de 10
-6
ºC, segundo o
subitem 3.4.6.2;
Os materiais utilizados nas análises têm suas propriedades variáveis com a
temperatura determinadas segundo o subitem 2.4.2 e conforme as prescrições
das normas EN 1992-1-2:2004, EN 1993-1-2:2005 e EN 1994-1-2:2005;
Nas análises mecânicas e termomecânicas, utilizou-se sempre a formulação para
grandes deformações (não-linearidade geométrica) apresentada neste trabalho. O
peso próprio dos materiais não foi considerado nas análises;
Utilizou-se o algoritmo de Newton-Raphson com incrementos fixos e corte
automático do incremento de carga para solução do problema mecânico não-
linear. A tolerância
ξ
tol
utilizada foi de 10
-5
;
Na discretização dos modelos, foram utilizados elementos quadrilaterais de 4
nós com integração de ordem 2 × 2 para problemas térmicos bidimensionais;
Para problemas mecânicos e termomecânicos tridimensionais, foram utilizados
na discretização dos modelos elementos tetraédricos de 4 nós com integração de
ordem 4 e, em alguns casos, utilizaram-se elementos hexaédricos de 8 nós com
integração de ordem 2 × 2 × 2;
Considerando-se que o maior modelo analisado neste trabalho possui 14851 nós,
optou-se por utilizar o Método de Cholesky para solução do sistema de equações
em todas as análises;
Nas análises que compreendem elementos estruturais mistos de aço e concreto,
adotou-se interação completa entre os dois materiais;
191
O tempo de processamento de cada análise foi obtido utilizando-se um
computador Pentium 4 com velocidade de 3,20 GHz, com 2,0 GB de memória
RAM e com disco rígido tipo SATA com capacidade de 149 GB.
Nas figuras mostradas neste capítulo, todas as cotas são dadas em milímetros.
Adicionalmente, adotou-se a convenção de símbolos mostrada na TAB.6.1.
TABELA 6.1 – Convenção de símbolos adotada nas figuras
Símbolo Definição
Face exposta ao incêndio
Face com arrefecimento
Deslocamento restringido
Carregamento
¦
Tempo de processamento
Tempo máximo de incêndio obtido na simulação
FAD Fator de ampliação dos deslocamentos
Com relação às malhas de elementos finitos dos modelos, utilizou-se como “semente”
para o algoritmo de geração de malhas do GID o valor de 10 mm para elementos de aço
e 50 mm para elementos de concreto. Esses valores correspondem à dimensão máxima
do maior lado de um elemento, sendo obtidos por meio de refinamento gradual das
malhas utilizadas (teste de malha), conforme o subitem 3.4.5.2.
O número de elementos utilizado nas análises, que será apresentado a seguir para cada
estudo de caso, corresponde ao nível de refinamento que forneceu variações na
distribuição de temperatura menores que 5 ºC e que não promoveu alterações
significativas na carga crítica (plastificação ou flambagem), para análises mecânicas, ou
na capacidade resistente do modelo ao incêndio, para análises termomecânicas.
192
6.2 - Análise Térmica
Conforme discutido no subitem 5.3, o algoritmo de análise térmica utilizado neste
trabalho foi implementado e validado por RIBEIRO (2004). Assim, análises adicionais
para validação dessa implementação não são necessárias. Apenas a título de ilustração,
será apresentado a seguir o resultado da análise térmica de um pilar misto submetido a
uma curva de incêndio não padronizada.
6.2.1
- Pilar misto em perfil I totalmente revestido por concreto
HUANG et al. (2007) analisaram um pilar misto constituído por um perfil I laminado
UC 152x152x37 revestido por uma seção de concreto de 300x300 mm². A temperatura
dos gases do incêndio tem duas fases ascendentes: de 0 a 35 minutos, variando de 20ºC
a 200ºC, e de 120 a 195 minutos, variando de 200ºC a 700ºC. Posteriormente, os gases
continuam com um leve aumento de temperatura, chegando a 420 minutos com 800 ºC.
Esse modelo foi analisado no programa Thersys 2.0 utilizando-se um intervalo de tempo
t de 60 segundos. As temperaturas obtidas foram comparadas com os valores obtidos
experimentalmente por Huang et al. no ponto A do perfil de aço. As dimensões e a
malha de elementos finitos do modelo são mostradas na FIG.6.1.
1241 nós
1176 elems
0:00:29
¦
162
154
8,04
11,5
300
300
R 7,61
· A
FIGURA 6.1 – Dimensões e discretização do pilar misto
193
Ressalta-se que, na análise térmica realizada, o concreto foi considerado com umidade
de 8% do peso do concreto (valor utilizado por Huang et al. em simulações numéricas).
A FIG.6.2 ilustra as temperaturas obtidas para o tempo de 420 minutos de incêndio,
considerando-se uma emissividade resultante de 0,5 e de 0,7.
(a)
ε
res
= 0,5
(b)
ε
res
= 0,7
FIGURA 6.2 – Temperaturas obtidas na análise térmica (420 minutos)
A FIG.6.3 mostra a curva de incêndio e a evolução das temperaturas obtidas pelo
Thersys 2.0, bem como a temperatura obtida experimentalmente. A maior diferença
entre as temperaturas é de +8,2%, para
ε
res
de 0,5, e de +10,6%, para
ε
res
de 0,7.
0
100
200
300
400
500
600
700
800
0 60 120 180 240 300 360 420 480
Tempo de incêndio (min)
TemperaturaC)
Temperatura dos gases
Thersys 2.0 ( = 0,7)
Thersys 2.0 ( = 0,5)
Resultados de ensaio
ε
res
ε
res
FIGURA 6.3 – Comparação das temperaturas entre o Thersys 2.0 e o ensaio
194
6.3 - Análise Mecânica
Os exemplos mostrados a seguir foram elaborados com o objetivo de validar a
implementação do algoritmo de análise mecânica do Thersys 2.0, bem como demonstrar
a potencialidade do programa.
6.3.1
- Flambagem de um pilar de aço em perfil I
Este exemplo corresponde a um perfil I soldado CS 250x52 (250 x 250 x 9,5 x 8,0) com
2500 mm de comprimento, submetido a uma força axial de compressão e com uma
excentricidade inicial d
o
de L /100. O pilar é bi-rotulado e a análise mecânica visa obter
a força crítica de flambagem elástica. As dimensões do modelo e a discretização em
elementos finitos são mostradas na FIG.6.4.
250
250
8,0
9,5
Seção AA
x
z
x
z
AA
N
2500
d
o
= 25 mm
5875 nós
16773 elems
Elástico: 7:10:10
¦
Elasto-plástico: 1:25:34
¦
Aço estrutural:
- Elástico: critério de Hencky
- Elasto-plástico: von Mises
E
a
= 205 GPa
ν
= 0,3
FIGURA 6.4 – Dimensões e discretização do pilar de aço bi-apoiado
195
Os incrementos de carga utilizados na análise mecânica foram de 10% da força de
flambagem teórica de Euler. Os resultados obtidos na análise (tensões e deslocamentos)
podem ser vistos na FIG.6.5. Observa-se que a força axial máxima atingida pelo perfil
foi 5,78% acima da força de flambagem teórica.
Flambagem de Euler
N
fe
= 8012 kN
Fator de carga último
N / N
fe
= 1,0578
FAD = 1,0
FIGURA 6.5 – Resultados da flambagem elástica (pilar bi-apoiado)
Como o Thersys 2.0 utiliza a formulação de grandes deformações, o programa permite
que a análise continue acima da carga de flambagem. No entanto, o modelo descrito
neste exemplo apresentou elementos com deformação excessiva (Jacobiano negativo),
de modo que a continuação da análise somente seria possível com remalhamento, uma
técnica não implementada no programa.
A FIG.6.6 mostra o deslocamento horizontal analítico no centro do vão em comparação
com o resultado apresentado pelo programa Thersys 2.0. A curva obtida pelo
Thersys 2.0 é mais rígida porque, sob regime de grandes deformações, a seção
transversal do perfil aumenta sob efeito de força de compressão, e conseqüentemente, a
inércia do perfil também. O deslocamento analítico é dado por meio da expressão:
fe
o
x
N
N
d
d
=
1
(6.1)
196
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
1,2
0 5 10 15 20 25
Deslocamento normalizado (dx/do)
Fator de carga ( N/N
fe
)
Thersys 2.0
Solução analítica
do = L / 100 = 25mm
FIGURA 6.6 – Comparação dos deslocamentos no centro do vão
(flambagem elástica do pilar bi-apoiado)
Uma segunda análise foi realizada incluindo-se o comportamento não-linear do
material. Nessa análise, adotou-se uma resistência ao escoamento do aço, f
ay
, de 300
MPa. Os resultados obtidos (tensões, deslocamentos e deformação plástica acumulada)
podem ser vistos na FIG.6.7.
Observa-se que a força axial máxima atingida pelo perfil foi 72,7 % da força de
plastificação da seção transversal, sendo que a força máxima analítica é de 77,3 % da
força de plastificação. Ou seja, a força máxima obtida pelo Thersys 2.0 foi 6,3% menor
que a força máxima analítica.
FAKURY (2000) demonstra que a força axial máxima analítica, caso se despreze as
tensões residuais, é obtida pela interseção das curvas de deslocamentos horizontais d
x
considerando-se o comportamento puramente elástico e o comportamento puramente
plástico, conforme mostrado na FIG.6.8. A curva do comportamento elástico é obtida
por meio da Eq.6.1 e a do comportamento plástico é obtida em função da força axial N,
fazendo-se o equilíbrio da seção transversal plastificada (rótula plástica), como
mostrado na FIG.6.9.
197
Força axial de plastificação
N
y
= 1979 kN
Fator de carga último
N / N
y
= 0,7267
FAD = 5,0
FIGURA 6.7 – Resultados da flambagem elasto-plástica (pilar bi-apoiado)
0,00
0,25
0,50
0,75
1,00
1,25
1,50
0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0
Deslocamento normalizado (dx/do )
Fator de carga ( N / N
y
)
Thersys 2.0
Comportamento elástico (analítico)
Comportamento plástico (analítico)
do = 25 mm
Fatorximo (analítico) = 0,773
Fatorximo (Thersys 2.0) = 0,727
FIGURA 6.8 – Comparação dos deslocamentos no centro do vão
(flambagem elasto-plástica do pilar bi-apoiado)
198
f
ay
f
ay
a
(
)
()()
[]
+=
==
abttdtfN
dNabtafM
fffway
xffay
222
2
d
b
f
t
f
t
w
FIGURA 6.9 – Comportamento puramente plástico (rótula plástica)
Ressalta-se que o cálculo analítico não considera a influência da plastificação na
estabilidade do perfil, ao contrário do modelo de elementos finitos. Esse fato é
responsável pelo abatimento da curva mostrada na FIG.6.8 na zona acima de 60 % da
força de plastificação. Deve-se destacar que, na análise realizada, as tensões residuais
do perfil não foram consideradas, o que provocaria um abatimento ainda maior da curva
de força × deslocamento.
Voltando-se ao problema de deformação excessiva da primeira análise e com o objetivo
de demonstrar a capacidade do programa Thersys 2.0 de continuar a análise para forças
acima do limite de flambagem, elaborou-se um terceiro modelo consistindo em um pilar
de aço mais robusto, com comprimento de 8000 mm, engastado-livre, com uma força
axial de compressão e uma força transversal de desestabilização de N /
1726. As
dimensões do modelo e a discretização em elementos finitos são mostradas na FIG.6.10.
Os incrementos de carga utilizados na análise foram de 10% da força axial de
plastificação, N
y
. Para ultrapassar o ponto crítico, o Thersys 2.0 utilizou o recurso de
corte automático do incremento de carga. A FIG.6.11 mostra os deslocamentos obtidos
na extremidade livre do pilar. Nesse caso, o deslocamento analítico também é obtido
por meio da Eq.6.1. No entanto, essa equação não consegue retratar o comportamento
do pilar em grandes deformações.
Para fins ilustrativos, a FIG.6.12 retrata o comportamento (deslocamentos) do pilar em
função do fator de carga
λ
aplicado. Adotou-se como fim da análise mecânica o fator de
carga máximo igual a 3.
199
431
499
54,0
89,5
Seção AA
y
z
y
z
AA
N
8000
14851 nós
58980 elems
40:49:42
¦
N / 1726
o estrutural:
Critério de Hencky
E
a
= 205 GPa
ν
= 0,3
FIGURA 6.10 – Dimensões e discretização do pilar de aço engastado-livre
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
-12 -10 -8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8
Deslocamento (m)
Fator de carga ( N / N
fe
)
Thersys 2.0
Solução analítica
Deslocamento
vertical
Deslocamento
horizontal
FIGURA 6.11 – Comparação dos deslocamentos na extremidade livre
(flambagem elástica do pilar engastado-livre)
200
λ = 0,0
λ = 1,0 λ = 1,01
λ = 1,05 λ = 1,10 λ = 1,5
λ = 2,0 λ = 2,5 λ = 3,0
FIGURA 6.12 – Resultados da flambagem elástica (pilar engastado-livre)
201
6.3.2
- Formação de rótula plástica em viga mista de aço e concreto
Nesse exemplo analisou-se o comportamento de uma viga mista de aço e concreto
formada por um perfil VS 300x47 (300 x 150 x 12,5 x 8,0), com resistência ao
escoamento de 250 MPa, sobreposta por uma laje de concreto com 800 mm de largura
por 110 mm de espessura. Adotou-se para o concreto uma resistência de cálculo
à compressão f
c
de 17 MPa, que segundo as prescrições do EN 1992-1-1:2004
corresponde a uma resistência de cálculo à tração f
t
de 1,32 MPa e ao módulo de Young
de 24968 MPa. O aço e o concreto foram modelados com interação completa.
A viga mista é bi-apoiada, com um vão total de 4530 mm, sendo solicitada por forças
concentradas P espaçadas de 1133 mm, conforme mostrado na FIG.6.13.
y
z
y
z
A
A
565,5
P
P
P
P
= 134,9 kN
1133
1133
1133
4530
150
300
8,0
12,5
Seção AA
800
110
Laje de
concreto
Perfil de aço
VS 300x47
150
300
8,0
12,5
Seção AA
800
110
Laje de
concreto
Perfil de aço
VS 300x47
o estrutural:
Critério de von Mises
f
ay
= 250 MPa
E
a
= 205 GPa
ν
= 0,3
Concreto
:
Critério de Drucker-Prager
f
c
= 17,0 MPa
f
t
= 1,32 MPa
E
c
= 24,97 GPa
ν
= 0,2
FIGURA 6.13 – Dimensões e carregamento do modelo de viga mista
202
As forças concentradas P foram calculadas de modo que a viga mista atinja o momento
de plastificação no centro do vão de 30540 kN.cm, considerando a interação total entre
o perfil de aço e a laje de concreto. FAKURY et al. (2004) apresentam em seu trabalho
o cálculo do momento de plastificação para vigas mistas similares a este exemplo, tanto
para a temperatura ambiente quanto em situação de incêndio.
A FIG.6.14 mostra a discretização do modelo analisado em elementos finitos.
Considerou-se na análise os quatro ajustes para o critério de Drucker-Prager discutidos
no capítulo 4. Para identificar os resultados obtidos em função de cada tipo de ajuste foi
utilizado o código mostrado na legenda da FIG.6.14.
y
z
x
y
z
x
11845 nós
51365 elems
DP1: 18:01:31
¦
DP2: 14:06:14
¦
DP3: 08:28:29
¦
DP4: 25:10:08
¦
Modelo de ½ vão
DP1 - Drucker-Prager ajustado para tração e compressão uniaxiais simultaneamente
DP2 - Drucker-Prager coincidente com Mohr-Coulomb nos vértices externos (compressão uniaxial)
DP3 - Drucker-Prager coincidente com Mohr-Coulomb nos vértices internos (tração uniaxial)
DP4 - Drucker-Prager ajustado para o raio médio entre os vértices externos e internos
FIGURA 6.14 – Discretização do modelo de viga mista
A FIG.6.15 ilustra os deslocamentos verticais no centro do vão obtidos com o
Thersys 2.0 e analiticamente, conforme o procedimento da ABNT NBR 8800:1986,
com base na inércia efetiva transformada da seção mista (igual a 26300 cm
4
), obtida
pela transformação da laje de concreto em uma seção transversal de aço equivalente.
Essa transformação é realizada por meio da largura efetiva da laje, b
ef
, que é convertida
para uma largura efetiva transformada, b
ef,tr
, com base na expressão:
c
a
eftref
E
E
bb =
,
(6.2)
203
A partir da largura efetiva transformada, as demais propriedades da laje de concreto são
calculadas por meio das expressões:
c
tref
trc
treftrc
ta
ab
I
abA
=
=
com
12
3
,
,
,,
(6.3)
onde A
c,tr
é a área transformada da seção de concreto, I
c,tr
é a inércia transformada, a é a
espessura comprimida da laje de concreto e t
c
é a espessura total da laje. Por essas
expressões, verifica-se que a parte da laje sob tração é desprezada nos cálculos.
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
1,2
-140-120-100-80-60-40-200
Deslocamento vertical (mm)
Fator de carga ( M / M
pl
)
Thersys 2.0 (DP1)
λ
= 1,1663
Thersys 2.0 (DP2)
λ
= 1,1484
Thersys 2.0 (DP3)
λ
= 0,7530
Solução analítica
Thersys 2.0 (DP4)
λ
= 0,8928
FIGURA 6.15 – Deslocamentos obtidos na análise da viga mista
Na FIG.6.15 observa-se que os ajustes DP1 e DP2 resultam em resistência última
superior ao cálculo analítico, enquanto que DP3 e DP4 se mostram inferiores. O ajuste
com o raio médio de Mohr-Coulomb (DP4) é o que mais se aproxima do cálculo
analítico, resultando em um fator de carga último de 0,8928. Observa-se ainda que as
flechas elásticas (rigidez inicial) obtidas por cálculo analítico são semelhantes às obtidas
pelo Thersys 2.0. A FIG.6.16 até a FIG.6.19 mostram os resultados obtidos nas análises.
204
Fator de carga
último = 1,1663
FAD = 3,0
FIGURA 6.16 – Resultados obtidos na análise da viga mista (DP1)
Fator de carga
último = 1,1484
FAD = 3,0
FIGURA 6.17 – Resultados obtidos na análise da viga mista (DP2)
205
Fator de carga
último = 0,7530
FAD = 3,0
FIGURA 6.18 – Resultados obtidos na análise da viga mista (DP3)
Fator de carga
último = 0,8928
FAD = 3,0
FIGURA 6.19 – Resultados obtidos na análise da viga mista (DP4)
206
6.3.3
- Viga de aço com alma senoidal sujeita à flexão
Este exemplo corresponde a uma viga de aço com alma senoidal sujeita a momentos
iguais aplicados nas extremidades. A resistência ao escoamento do aço é de 300 MPa e
a viga possui um vão de 4400 mm. A espessura de alma t
w
é de 2,0 mm, a amplitude da
onda b
w
é de 40 mm e o período da onda w é de 155 mm. As demais dimensões do perfil
e vinculações da viga são mostradas na FIG.6.20.
x
z
x
z
A
A
M
4400
Aço estrutural:
Critério de von Mises
f
ay
= 300 MPa
E
a
= 205 GPa
ν
= 0,3
M
200
425
2,0
12,5
Seção AA
200
425
2,0
12,5
Seção AA
40
155
Seção BB
B
B
FIGURA 6.20 – Dimensões da viga de aço com alma senoidal
Na análise via elementos finitos, utilizaram-se incrementos de carga de 10 % do
momento de plastificação da seção transversal da viga (igual a 30937 kN.cm). PLAIS
(2005) comenta que o momento de plastificação é obtido pelo produto do módulo
plástico pela resistência ao escoamento, descontando-se a contribuição da alma devido à
sua reduzida espessura e à configuração corrugada na direção longitudinal.
A FIG.6.21 mostra a discretização do modelo analisado em elementos finitos. Foram
utilizados elementos hexaédricos de 8 nós por questões de facilidade de construção da
malha, visto que a geometria envolve espessuras muito reduzidas, o que tende a elevar
muito o número de elementos quando se utilizam tetraedros.
207
y
z
x
y
z
x
9405 nós
6048 elems
12:59:11
¦
Modelo de ½ vão
FIGURA 6.21 – Discretização do modelo da viga de aço com alma senoidal
Os resultados obtidos na análise (tensões, deformações plásticas e deslocamentos)
podem ser vistos na FIG.6.22. Claramente, observa-se a formação de rótula plástica com
a linha neutra plástica evidente à meia altura do perfil. Observa-se também que a mesa
comprimida demonstra elevados deslocamentos laterais (fora do plano de flexão).
Fator de carga
último = 1,060
FAD = 1,0
FIGURA 6.22 – Resultados obtidos na análise da viga com alma senoidal
208
A FIG.6.23 mostra, comparativamente, os deslocamentos verticais no centro do vão
analítico e obtido com o Thersys 2.0. Pelos conceitos da Resistência dos Materiais, a
flecha elástica d
z
no centro do vão L em uma viga bi-apoiada com momentos M
aplicados nas extremidades e momento de inércia I
y
é dada pela expressão:
ya
z
IE
ML
d
8
2
=
(6.4)
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
1,2
-240-200-160-120-80-400
Deslocamento vertical (mm)
Fator de carga ( M / M
pl
)
Thersys 2.0
Analítico
Thersys 2.0 / Analítico = 6,0 %
Fatorximo caso
toda a alma pudesse
p
lastificar sem sofrer
instabilidade: 1,072
FIGURA 6.23 – Deslocamentos obtidos na análise da viga com alma senoidal
O carregamento para o qual as mesas atingem o escoamento se mostrou idêntico entre o
modelo numérico e a solução analítica, correspondendo ao momento de plastificação do
perfil. Após o escoamento das mesas, todo carregamento adicional se deve à
plastificação da alma. No exemplo, o momento máximo atingido pelo perfil na análise
via elementos finitos foi 6,0 % maior que o momento de plastificação teórico. Caso toda
a alma do perfil pudesse plastificar sem apresentar instabilidade, o fator máximo teórico
seria de 1,072.
Por meio dos estudos de caso apresentados neste item, observa-se um bom ajuste entre
os resultados numéricos e analíticos, podendo-se considerar o programa
Thersys 2.0
validado para análises mecânicas. Discussões adicionais serão apresentadas no capítulo 7.
209
6.4 - Análise Termomecânica
A seguir serão exibidos vários estudos de caso envolvendo o comportamento térmico
(incêndio) e mecânico de elementos estruturais convencionais. Estes estudos têm por
objetivo validar o algoritmo de análise termomecânica do programa
Thersys 2.0.
6.4.1 - Pilar de aço em perfil I com flexão no eixo de maior inércia
LANDESMANN et al. (2005) e CALDAS (2008) analisaram o comportamento de um
pilar constituído por um perfil laminado IPE 360 com 4000 mm de comprimento, bi-
apoiado, submetido a uma força axial de compressão de 30 % da força axial de
plastificação,
N
y
, e a um momento fletor de 20 % do momento de plastificação, M
pl
. As
dimensões do perfil, vinculações e malha utilizada são mostradas na FIG.6.24.
Seção AA
y
z
y
z
AA
N
= 0,3
N
y
4000
170
360
8,0
12,7
R 18,0
M = 0,2 M
pl
N
M
o estrutural:
Critério de von Mises
f
ay
= 250 MPa
E
a
= 205 GPa
ν
= 0,3
N
y
= 1818,36 kN
M
pl
= 25480,83 kN.cm
7425 nós
4736 elems
3 faces: 03:49:53
¦
4 faces: 03:28:07
¦
Apenas nos
exemplos com 4
faces expostas
FIGURA 6.24 – Dimensões e discretização do pilar de aço
210
A malha de elementos finitos foi gerada com elementos hexaédricos de 8 nós por
questões de facilidade de construção. No entanto, procurou-se manter o mesmo nível de
refinamento discutido no início deste capítulo. O pilar foi analisado com incêndio em 3
e 4 faces, conforme a FIG.6.24. No caso de incêndio em 3 faces, a face protegida
corresponde à mesa do perfil que é comprimida pelo momento fletor. Utilizou-se na
análise um incremento de tempo
t de 15 segundos e emissividade resultante
ε
res
de 0,5.
Os resultados obtidos na análise com 3 faces expostas (tensões de von Mises,
deformações plástica, deslocamentos e temperaturas) são mostrados na FIG.6.25. O
deslocamento horizontal no meio do comprimento do pilar é mostrado na FIG.6.26, em
comparação com os deslocamentos obtidos por LANDESMANN
et al. (2005),
CALDAS (2008) e por meio do programa Safir, tamm utilizado por Landesmann.
FAD = 10
00:15:42
FIGURA 6.25 – Resultados do pilar de aço (3 faces expostas)
O programa
Thersys 2.0 interrompeu a análise com 15:42 (15 minutos e 42 segundos),
apresentando um tempo de resistência ao incêndio-padrão maior que o obtido pelo
Safir (15:00), Caldas (14:53) e Landesmann (14:28). Considerando-se apenas a
plastificação do perfil, o tempo de resistência ao incêndio é de 16:12, com nítida
formação de rótula plástica (FIG.6.26).
211
-50
-45
-40
-35
-30
-25
-20
-15
-10
-5
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18
Tempo de incêndio (min)
Deslocamento horizontal (mm)
Thersys 2.0 (15:42)
Thersys 2.0 (16:12) - Apenas plastificação
SAFIR (15:00)
Landesmann et al. (14:28)
Caldas (14:53)
-22
-21,5
-21
-20,5
-20
14 14,5 15 15,5 16
FIGURA 6.26 – Deslocamento horizontal no meio do comprimento (3 faces expostas)
A curva de deslocamento
× tempo de incêndio obtida pelo Thersys 2.0 na análise com
não-linearidade material e geométrica apresenta uma interrupção abrupta, conforme
mostrado na ampliação à direita da FIG.6.26. No entanto, a curva finaliza em um trecho
praticamente vertical, demonstrando ser um ponto de equilíbrio quase instável.
Na FIG.6.25 pode-se observar o desenvolvimento de um gradiente térmico entre a mesa
protegida e a alma de 151 ºC. Esse gradiente térmico é o responsável pelo fluxo de
cisalhamento que surge entre a mesa e a alma, fluxo esse que atinge o máximo valor nas
extremidades do perfil. A perda de parte da capacidade portante frente à presença de um
alto fluxo de cisalhamento é responsável pela incapacidade do perfil de suportar o
carregamento aplicado nas extremidades, ao contrário do que ocorre nos outros modelos
que apresentaram a formação de rótula plástica.
Isso ocorre porque os programas utilizados por CALDAS (2008) e LANDESMANN
et
al
. (2005), incluindo o Safir, prevêem elementos de viga, ou seja, elementos que não são
capazes de simular efeitos localizados como o fluxo de cisalhamento nas extremidades
do pilar devido ao gradiente térmico entre a mesa protegida e a alma (FIG.6.25).
212
Para a análise com 4 faces expostas, os resultados obtidos (tensões de von Mises,
deformações plástica, deslocamentos e temperaturas) são mostrados na FIG.6.27. O
deslocamento horizontal na metade do comprimento do pilar é mostrado na FIG.6.28,
juntamente com os deslocamentos obtidos por CALDAS (2008), LANDESMANN
et al.
(2005), e por meio do programa Safir (conforme Landesmann).
FAD = 20
00:11:30
FIGURA 6.27 – Resultados do pilar de aço (4 faces expostas)
Nesse exemplo, a análise com o programa
Thersys 2.0 foi até 11:30 (11 minutos e 30
segundos), com um tempo de resistência ao incêndio menor que o obtido por Caldas
(11:52), Safir (12:01) e Landesmann (13:09). Como no caso de incêndio em 3 faces, ao
se considerar apenas a plastificação do perfil, o programa alcança um tempo maior de
resistência ao incêndio, atingindo 13:02, com nítida formação de rótula plástica
(FIG.6.28) e apresentando um bom ajuste com os resultados obtidos por Landesmann.
No modelo que considera a não-linearidade material e geométrica do pilar, o programa
Thersys 2.0 interrompeu a análise com 11:30, devido à não convergência do algoritmo
de não-linearidade geométrica, com cortes sucessivos do incremento de tempo.
213
-50
-45
-40
-35
-30
-25
-20
-15
-10
-5
0
02468101214
Tempo de incêndio (min)
Deslocamento horizontal (mm)
Thersys 2.0 (11:30)
Thersys 2.0 (13:02) - Apenas plastificação
SAFIR (12:01)
Landesmann et al. (13:09)
Caldas (11:52)
FIGURA 6.28 – Deslocamento horizontal no meio do comprimento (4 faces expostas)
A não convergência do algoritmo de não-linearidade geométrica ocorre devido à
instabilidade local do perfil na região da junção da mesa comprimida e da alma. Nessa
região, além das tensões de compressão devido ao carregamento externo e da redução
da rigidez do aço devido à elevada temperatura, há ainda o fluxo de cisalhamento
devido ao gradiente térmico, conforme já discutido anteriormente.
De modo resumido, os tempos de resistência ao incêndio obtidos pelo programa
Thersys 2.0 para o pilar de aço podem ser observados comparativamente na TAB.6.2.
TABELA 6.2 – Tempo de resistência ao incêndio para o pilar de aço
Variação na resistência ao incêndio
via Thersys 2.0
Modelo
Base de
Comparação
Resistência
ao incêndio
(hora:min:seg)
Não-linearidades
geométrica e
material
Somente
não-linearidade
material
0:15:42 0:16:12
SAFIR 0:15:00 4,67% 8,00%
Landesmann 0:14:28 8,53% 11,98%
3 faces
expostas
Caldas 0:14:53 5,49% 8,85%
0:11:30 0:13:02
SAFIR 0:12:01 -4,30% 8,46%
Landesmann 0:13:09 -12,55% -0,89%
4 faces
expostas
Caldas 0:11:52 -3,09% 9,83%
214
6.4.2 - Pilar de aço em perfil I com flexão no eixo de menor inércia
WAINMAN e KIRBY (1988a) apresentaram os resultados de um ensaio conduzido na
Ghent Université, na Bélgica, onde um pilar de aço H 400 x 400 com 3950 mm de
comprimento, bi-apoiado, foi submetido a uma força axial de compressão de 3400 kN,
com uma excentricidade dos apoios de 180 mm na direção do eixo de menor inércia. A
FIG.6.29 ilustra as dimensões do perfil, vinculações, excentricidade da força e malha
utilizada na análise numérica realizada neste trabalho.
y
z
y
z
AA
N = 3400 kN
3950
Seção AA
431
499
54,0
89,5
180
o estrutural:
Critério de von Mises
f
ay
= 238 MPa
E
a
= 205 GPa
ν
= 0,3
7275 nós
28764 elems
ε
res
= 0,5 04:38:02
¦
ε
res
= 0,7 03:07:24
¦
FIGURA 6.29 – Dimensões e discretização do pilar de aço
A análise termomecânica foi realizada com incremento de tempo
t de 30 segundos e
emissividades resultantes
ε
res
de 0,5 (de acordo com o EN 1994-1-2:1994) e de 0,7 (de
acordo com o EN 1994-1-2:2005). Os resultados obtidos na análise (tensões de von
Mises, deformações plástica e temperaturas) são mostrados na FIG.6.30, para a análise
com
ε
res
de 0,5, e na FIG.6.31, para a análise com
ε
res
de 0,7.
215
FAD = 10
ε
res
= 0,5
00:42:42
FIGURA 6.30 – Resultados do pilar de aço (
ε
res
= 0,5)
FAD = 10
ε
res
= 0,7
00:36:29
FIGURA 6.31 – Resultados do pilar de aço (
ε
res
= 0,7)
Claramente pode-se observar que o fim das análises, apesar de ocorrerem em tempos
diferentes devido às emissividades resultantes usadas, e conseqüentemente às diferentes
intensidades do incêndio, conduzem a resultados semelhantes, ao se comparar as
tensões de von Mises, deformações plásticas e temperaturas.
216
O deslocamento horizontal na metade do comprimento do pilar e o deslocamento
vertical no topo do pilar são mostrados na FIG.6.32 e na FIG.6.33, em comparação com
os deslocamentos obtidos no ensaio reportado por WAINMAN e KIRBY (1988a).
-10
0
10
20
30
40
50
60
70
80
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
Tempo de incêndio (min)
Deslocamentos (mm)
Thersys 2.0 ( = 0,5)
WAINMAN e KIRBY (1988a)
Deslocamento
vertical no
topo do pilar
Deslocamento
horizontal na
metade do
comprimento
ε
res
FIGURA 6.32 – Deslocamentos obtidos na análise do pilar de aço (
ε
res
= 0,5)
-10
0
10
20
30
40
50
60
70
80
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
Tempo de incêndio (min)
Deslocamentos (mm)
Thersys 2.0 ( = 0,7)
WAINMAN e KIRBY (1988a)
ε
res
Deslocamento
vertical no
topo do pilar
Deslocamento
horizontal na
metade do
comprimento
FIGURA 6.33 – Deslocamentos obtidos na análise do pilar de aço (
ε
res
= 0,7)
217
Observa-se nas figuras anteriores que a análise com
ε
res
de 0,5 conduz a resultados
muito bons, quando comparados com os obtidos no ensaio reportado por WAINMAN e
KIRBY (1988a). Adicionalmente, a TAB.6.3 mostra a comparação entre os tempos de
resistência ao incêndio obtidos no ensaio e por meio do programa
Thersys 2.0.
TABELA 6.3 – Comparação do tempo de resistência ao incêndio
Thersys 2.0
Ensaio
(min:seg)
ε
res
= 0,5
ε
res
= 0,7
46:00 42:42
(-7,2 %)
36:29
(-20,7 %)
O uso da emissividade resultante de 0,7 se mostrou conservador em relação ao resultado
experimental. Assim, optou-se por comparar as temperaturas obtidas no ensaio com os
resultados do
Thersys 2.0 para a emissividade de 0,5, conforme a FIG.6.34. No tempo
de 40 minutos (próximo à falha), o
Thersys 2.0 apresenta temperaturas 5,0 % e 23,0 %
maiores que as obtidas no ensaio, respectivamente, na mesa e na alma do perfil.
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
1000
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
Tempo de incêndio (min)
Temperatura (ºC)
Gases (EN1991-1-2:2002) Gases (Ensaio)
F1 (Thersys 2.0) F1 (Ensaio)
F2 (Thersys 2.0) F2 (Ensaio)
W (Thersys 2.0) W (Ensaio)
R (Thersys 2.0) R (Ensaio)
Observações:
Incêndio pado (EN1991-1-2:2002)
ε
res
= 0,5
α
c
= 25 W/m² ºC
Ensaio (WAINMAN e KIRBY, 1988a)
x
F1
x
F2
x
R
x
W
FIGURA 6.34 – Temperaturas na metade do comprimento (
ε
res
= 0,5)
218
6.4.3 - Viga de aço com momentos fletores nas extremidades
LANDESMANN et al. (2005) e CALDAS (2008) analisaram o comportamento de uma
viga de aço IPE 360 com 5000 mm de vão, bi-apoiada, submetida a momentos fletores
nas extremidades iguais a 40 % do momento de plastificação do perfil,
M
pl
. As
dimensões do perfil e o carregamento são mostrados na FIG.6.35.
z
y
z
y
A
A
0,4 M
pl
5000
o estrutural:
Critério de von Mises
f
ay
= 250 MPa
E
a
= 205 GPa
ν
= 0,3
M
pl
= 25481 kN.cm
0,4 M
pl
170
360
8,0
12,7
Seção AA
FIGURA 6.35 – Dimensões da viga de aço analisada
A malha de elementos finitos foi gerada com elementos hexaédricos de 8 nós, de modo
similar ao exemplo 6.4.1. Utilizou-se na análise o incremento de tempo
t de 15
segundos e emissividade resultante
ε
res
de 0,5. As vinculações (restrições nodais) e a
discretização do modelo são apresentadas na FIG.6.36.
5247 nós
3328 elems
06:26:12
¦
Modelo de ½ vão
x
y
z
x
y
z
FIGURA 6.36 – Discretização e condições de contorno da viga de aço
219
Os resultados obtidos na análise (tensões de von Mises, deformações plástica,
deslocamentos e temperaturas) são mostrados na FIG.6.37 para o tempo máximo de
resistência ao incêndio-padrão obtido pelo
Thersys 2.0.
FAD = 2,0
00:15:09
Modelo de ½ vão
FIGURA 6.37 – Resultados da análise da viga de aço
Observa-se por meio das deformações plásticas que a mesa inferior da viga de aço
atinge o escoamento antes da mesa superior. Isso ocorre porque a temperatura da mesa
inferior é maior que a temperatura da mesa superior, visto que o perfil é exposto ao
incêndio em apenas 3 faces. Conseqüentemente, a redução na resistência do aço é maior
na mesa inferior que na mesa superior, fazendo com que a linha neutra plástica se
desloque para cima, como pode ser observado por meio das tensões de von Mises.
220
O deslocamento vertical no meio do vão da viga é mostrado na FIG.6.38, em
comparação com os deslocamentos obtidos por LANDESMANN
et al. (2005),
CALDAS (2008) e por meio do programa Safir, também utilizado por Landesmann.
Como se pode observar, os resultados obtidos na análise com o programa
Thersys 2.0
são muito bons, tendo-se por base os resultados obtidos nos outros trabalhos citados.
-300
-250
-200
-150
-100
-50
0
0 2 4 6 8 101214161820
Tempo de incêndio (min)
Deslocamento vertical (mm)
Thersys 2.0 (15:09)
Landesman (17:30)
Safir (16:02)
Caldas (15:49)
FIGURA 6.38 – Deslocamento vertical no centro do vão
O programa
Thersys 2.0 interrompeu a análise com 15:09 (15 minutos e 9 segundos),
apresentando um tempo de resistência ao incêndio um pouco menor que o obtido por
Caldas (15:49), Safir (16:022) e por Landesmann (17:30). Comparativamente, os
tempos de resistência ao incêndio são apresentados na TAB.6.4.
TABELA 6.4 – Comparação do tempo de resistência ao incêndio
Base de
comparação
Resistência ao
incêndio
(hora:min:seg)
Resistência ao
incêndio via
Thersys 2.0
00:15:09
SAFIR 00:16:02 -5,51%
Landesmann 00:17:30 -13,43%
Caldas 00:15:49 -4,21%
221
6.4.4 - Viga de aço com alma senoidal sujeita à flexão
Nesse exemplo analisou-se uma viga de aço com alma senoidal sujeita a momentos
aplicados nas extremidades do perfil no valor de 40 % do momento de plastificação
(omitindo-se a contribuição da alma conforme mencionado no subitem 6.3.3). O aço
possui resistência ao escoamento de 300 MPa e o vão é de 4400 mm. As dimensões do
perfil, as vinculações e o carregamento mecânico são mostrados na FIG.6.39.
x
z
x
z
A
A
4400
Aço estrutural:
Critério de von Mises M
pl
= 30937 kN.cm
f
ay
= 300 MPa
E
a
= 205 GPa
ν
= 0,3
0,4 M
pl
200
425
2,0
12,5
Seção AA
200
425
2,0
12,5
Seção AA
40
155
40
155
Seção BB
BB
0,4 M
pl
FIGURA 6.39 – Dimensões da viga de aço com alma senoidal
A malha de elementos finitos foi gerada com elementos hexaédricos de 8 nós por
questões de facilidade de construção, uma vez que a geometria do perfil compreende
espessuras muito reduzidas, elevando demasiadamente o número de elementos ao se
utilizar tetraedros. A FIG.6.40 ilustra a discretização do modelo em elementos finitos.
A viga foi analisada com incêndio aplicado em 3 faces, conforme a FIG.6.40, de modo
que a mesa comprimida do perfil é atingida pelo incêndio em apenas três faces.
Utilizou-se um incremento de tempo
t inicial de 20 segundos e emissividade resultante
ε
res
de 0,7, conforme o EN 1993-1-2:2005. Adicionalmente, foram consideradas três
situações: sem revestimento térmico, com revestimento térmico constituído por 12 mm
de Blaze Shield II (apenas na alma) e com revestimento térmico de 25 mm de Blaze
Shield II (apenas na alma).
222
y
z
x
y
z
x
Modelo de ½ vão
SR
9405 nós
6048 elems
16:52:16
¦
BS12
13527 nós
10136 elems
19:15:32
¦
SR – Sem revestimento térmico
BS12 – Blaze Shield II (12 mm) apenas na alma
BS25 – Blaze Shield II (25 mm) apenas na alma
BS25
13527 nós
10136 elems
92:02:03
¦
FIGURA 6.40 – Discretização do modelo da viga de aço com alma senoidal
Os resultados obtidos na análise da viga de aço sem revestimento térmico (tensões de
von Mises, deformação plástica, deslocamentos e temperaturas) são mostrados na
FIG.6.41. O rápido aquecimento da alma devido à sua pequena espessura faz com que,
no tempo máximo de resistência ao incêndio (12:59), a mesma atinja a temperatura de
709 ºC, enquanto que a mesa superior atinge 530 ºC e a mesa inferior 631 ºC.
Devido à alta temperatura observada na alma, esse elemento sofre uma forte redução da
resistência e da rigidez, apresentando escoamento antes das mesas do perfil.
Adicionalmente, a redução da resistência e da rigidez da alma com o aumento de
temperatura proporciona, mesmo com a forma senoidal da alma, a instabilidade da mesa
comprimida na direção vertical. Nesse caso, o programa
Thersys 2.0 não consegue
continuar a análise, falhando por divisões sucessivas do incremento de tempo, antes de
atingir o escoamento de ambas as mesas.
Para a análise da viga de aço com revestimento térmico na alma, os resultados são
apresentados na FIG.6.42, para o revestimento com 12 mm de espessura, e na FIG.6.43,
para o revestimento com 25 mm de espessura.
223
Modelo de ½ vão
FAD = 6
00:12:59
FIGURA 6.41 – Resultados da viga com alma senoidal sem revestimento térmico (SR)
Na FIG.6.42 observa-se que o revestimento de 12 mm de Blaze Shield II faz com que a
alma apresente uma temperatura de 316 ºC no tempo máximo de resistência ao incêndio
(15:19), enquanto que a mesa inferior chega ao valor médio de 630 ºC. Com isso, a
estabilização da mesa superior na direção da sua espessura (direção vertical) é melhor
que no caso da alma sem revestimento térmico (SR).
Nesse caso, a mesa inferior escoa sob tração, deslocando a linha neutra plástica para
cima. A mesa superior não atinge o escoamento, pois sendo a sua temperatura menor
que na mesa inferior, a redução de resistência desse elemento também é menor.
224
Modelo de ½ vão
FAD = 6
00:15:19
FIGURA 6.42 – Resultados da viga com alma senoidal e com 12 mm de
Blaze Shield II na alma do perfil (BS12)
Na FIG.6.43 observa-se que o revestimento de 25 mm de Blaze Shield II faz com que a
temperatura da alma chegue a 115 ºC no tempo máximo de resistência ao incêndio
(17:16). Nesse mesmo tempo, a mesa inferior chega ao valor médio de 640 ºC. A
estabilização da mesa superior pela alma é ainda mais efetiva nesse caso, de modo que a
mesa comprimida começa a apresentar escoamentos localizados.
Devido à alta temperatura da mesa inferior, esse elemento escoa por tração sob valores
elevados de deformação plástica e provocando o deslocamento da linha neutra plástica
em direção à mesa comprimida.
225
Modelo de ½ vão
FAD = 6
00:17:16
FIGURA 6.43 – Resultados da viga com alma senoidal e com 25 mm de
Blaze Shield II na alma do perfil (BS25)
A FIG.6.44 mostra os deslocamentos obtidos no meio do vão na direção vertical para as
três situações estudadas. Adicionalmente, essa figura também mostra o tempo de
resistência ao incêndio calculado analiticamente, conforme o procedimento iterativo
indicado no EN 1993-1-2:2005, considerando-se as seguintes situações:
(A)
adotando-se um fator de massividade único para o perfil (incluindo a alma);
(B)
adotando-se um fator de massividade para a mesa superior (com a face superior
não exposta) e outro para a mesa inferior (com todas as faces expostas).
226
-55
-50
-45
-40
-35
-30
-25
-20
-15
-10
-5
0
02468101214161820
Tempo de incêndio (min)
Deslocamento vertical (mm)
Thersys 2.0 - SR (12:59)
Thersys 2.0 - BS12 (15:19)
Thersys 2.0 - BS25 (17:16)
Cálculo analítico B (15:25)
u /A flange inf. = 169 m
u /A flange sup. = 89 m-¹
Cálculo analítico A (11:15)
u /A perfil = 249 m-¹
FIGURA 6.44 – Deslocamento vertical no meio do vão da viga com alma senoidal
Observa-se que os resultados numéricos dos modelos que possuem revestimento
térmico na alma do perfil apresentam-se compatíveis com o cálculo analítico B, ao se
considerar um fator de massividade para cada mesa do perfil.
No entanto, para o perfil sem revestimento térmico na alma, observa-se que a viga falha
antes do previsto pelo cálculo analítico B, o qual tem por base a plastificação da seção
transversal da viga em temperatura elevada. Esse fato demonstra a conclusão já
discutida para o modelo sem revestimento térmico: devido à forte redução da rigidez da
alma pela sua temperatura elevada, a mesa superior do perfil (comprimida) começa a
apresentar instabilidade, o que provoca a falha antes da plastificação total da seção.
Por outro lado, a FIG.6.44 ilustra claramente para o perfil de alma senoidal estudado
neste exemplo que, por apresentar a alma com espessura muito reduzida, a consideração
do fator de massividade do perfil como um todo faz com que o cálculo analítico A se
demonstre muito conservador. O tempo de resistência ao incêndio obtido dessa forma é
substancialmente menor que o obtido pelo método dos elementos finitos, até mesmo
para o perfil sem revestimento térmico na alma.
227
6.4.5 - Pilar misto tubular preenchido com concreto
RIBEIRO et al. (2008) analisaram o comportamento de um pilar misto formado por um
perfil tubular com diâmetro externo de 355,6 mm, espessura de 5,6 mm, preenchido
com concreto. O pilar possui ainda 8 armaduras de 22 mm de diâmetro, 4000 mm de
comprimento, sendo bi-engastado e com a extremidade superior livre para aplicação de
uma força de compressão de 3071 kN, equivalente a 60 minutos de incêndio (RIBEIRO
et al., 2008). Na metade do comprimento, o pilar possui uma excentricidade de 20 mm.
O tubo possui resistência ao escoamento de 235 MPa e as armaduras de 400 MPa. As
dimensões do pilar misto, as vinculações e o carregamento são mostrados na FIG.6.45,
bem como as propriedades mecânicas do concreto utilizado no preenchimento.
N
= 3071 kN
4000
z
y
z
y
vo = 20 (L/200)
AA
o estrutural: laminado Concreto:
Critério de von Mises Critério de Drucker-Prager
f
ay
= 235 MPa (tubo) f
c
= 30,0 MPa
f
ay
= 400 MPa (armaduras) f
t
= 1,92 MPa
E
a
= 205 GPa E
c,sec,
θ
= 12,0 GPa
ν
= 0,3
ν
= 0,2
Umidade = 4%
5
,
6
50
φ
22
Seção A-A
35
5
,
6
FIGURA 6.45 – Dimensões do pilar misto tubular preenchido com concreto
A malha de elementos finitos foi gerada com elementos tetraédricos de 4 nós. Utilizou-
se na análise um incremento de tempo
t de 20 segundos e emissividade resultante
ε
res
de 0,5. A FIG.6.46 mostra a discretização do modelo analisado.
228
7393 nós
33864 elems
DP1: 16:17:16
¦
DP2: 17:30:25
¦
DP3: 05:18:15
¦
DP4: 196:13:32
¦
DP1 - Drucker-Prager ajustado para tração e compressão uniaxiais simultaneamente
DP2 - Drucker-Prager coincidente com Mohr-Coulomb nos vértices externos (compressão uniaxial)
DP3 - Drucker-Prager coincidente com Mohr-Coulomb nos vértices internos (tração uniaxial)
DP4 - Drucker-Prager ajustado para o raiodio entre os vértices externos e internos
Modelo de ½ vão e
½ seção transversal
ε
res
= 0,5
FIGURA 6.46 – Discretização do modelo do pilar misto tubular
O pilar foi analisado com a condição de incêndio atuando em toda a face externa do
tubo. Considerou-se na análise os quatro ajustes para o critério de Drucker-Prager
discutidos no capítulo 4, referenciando-se ao código mostrado na legenda da FIG.6.46.
Da FIG.6.47 até a FIG.6.50 observa-se os resultados obtidos nas análises: tensões de
von Mises, deformações plásticas acumuladas, deslocamentos e temperaturas. Na
FIG.6.51 pode-se observar os deslocamentos horizontais na metade do comprimento do
pilar em função do tempo de incêndio para os quatro ajustes utilizados na análise.
Os resultados obtidos mostram que os ajustes DP1 e DP2 resultam em tempos de
resistência ao incêndio maiores que o obtido por RIBEIRO
et al. (2008) e DP3 e DP4
em tempos de resistência menores. O ajuste com o raio médio de Mohr-Coulomb (DP4)
é o que mais se aproxima do tempo de resistência obtido por Ribeiro
et al., sendo
19,5 % menor que esse. Porém, tal modelo apresentou problema de convergência, com
divisão excessiva do incremento de tempo e aumento do tempo total de análise.
229
FAD = 2
01:30:37
Modelo de ½ vão e
½ seção transversal
FIGURA 6.47 – Resultados obtidos na análise do pilar misto (DP1)
FAD = 2
01:28:56
Modelo de ½ vão e
½ seção transversal
FIGURA 6.48 – Resultados obtidos na análise do pilar misto (DP2)
230
FAD = 2
00:24:47
Modelo de ½ vão e
½ seção transversal
FIGURA 6.49 – Resultados obtidos na análise do pilar misto (DP3)
FAD = 2
00:48:19
Modelo de ½ vão e
½ seção transversal
FIGURA 6.50 – Resultados obtidos na análise do pilar misto (DP4)
231
0,0
20,0
40,0
60,0
80,0
100,0
120,0
140,0
160,0
180,0
0 102030405060708090100
Tempo de incêndio (mim)
Deslocamento horizontal (mm)
Thersys 2.0 DP1 (01:30:37)
Thersys 2.0 DP2 (01:28:56)
Thersys 2.0 DP3 (00:24:47)
Thersys 2.0 DP4 (00:48:19)
Solão anatica (00:60:00)
RIBEIRO et al. (2008)
Solão numérica (00:49:35)
TWILT et al. (1994)
FIGURA 6.51 – Deslocamentos na metade do comprimento do pilar misto
RIBEIRO
et al. (2008) obtiveram a força axial máxima suportada pelo pilar misto para
60 minutos de incêndio (3071 kN) por meio de um procedimento simplificado com base
no EN 1994-1-2:2005 – item 4.3, considerando-se a distribuição de temperatura em
todo o volume do elemento estrutural. O procedimento consiste em obter:
a força axial de plastificação de cálculo da seção transversal do pilar;
a rigidez efetiva à flexão considerando-se a influência da temperatura;
a carga elástica crítica, por meio de uma análise de flambagem teórica;
o índice de esbeltez do pilar misto;
a resistência axial de cálculo, com base na curva c do EN 1993-1-1:2005.
No trabalho de RIBEIRO
et al. (2008) é realizada uma comparação com os resultados
apresentados por TWILT
et al. (1994), também mostrados na FIG.6.51. Esses
resultados foram obtidos por um programa de computador desenvolvido e verificado
por Valexy (TWILT
et al., 1994). O programa foi ajustado de modo a apresentar
conformidade com os mais recentes resultados de ensaios. Para o exemplo em questão,
Twilt apresenta os resultados para 60, 90 e 120 minutos de incêndio (FIG.6.52).
232
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
5000
0306090120
Tempo de incêndio (min)
Resistência à compressão axial (kN)
Dados tabulares
EN 1994-1-2:2005
todo simplificado
RIBEIRO et al. (2008)
Resistência à
temperatura
ambiente
TWILT et al.
(
1994
)
Umidade do
concreto: 4%
00:49:35
FIGURA 6.52 – Comparativo de resultados (adaptado de RIBEIRO
et al., 2008)
Tendo-se por base a boa concordância entre os resultados obtidos por RIBEIRO
et al.
(2008) e os resultados obtidos por TWILT
et al. (1994), fez-se a extrapolação dos
resultados obtidos por Twilt para 30 minutos de incêndio, indicado na FIG.6.52 pela
linha tracejada. Assim, a interseção da extrapolação dos resultados de Twilt com a linha
horizontal relativa à força axial obtida por Ribeiro para 60 minutos de incêndio fornece
o tempo máximo (49:35) esperado para o modelo de Twilt sujeito à força de 3071 kN.
Considerando-se o tempo de resistência ao incêndio do modelo de TWILT
et al. (1994)
com base na extrapolação acima, observa-se na FIG.6.51 que o comportamento dos
resultados obtidos pelo
Thersys 2.0 se mantém. No entanto, o ajuste DP4 apresenta
melhor concordância, sendo 2,6 % menor que o resultado extrapolado de Twilt.
Adicionalmente, evidencia-se nos modelos analisados que o modo de falha do pilar
misto ocorre basicamente por formação de rótula plástica na metade do comprimento e
próximo às extremidades engastadas. Porém, mesmo o momento fletor sendo maior nos
engastes, a deformação plástica acumulada indica que a plastificação é maior na metade
do comprimento do pilar. Isso ocorre porque nessa seção às temperaturas são mais altas
e, conseqüentemente, o material apresenta menor resistência e rigidez.
233
6.4.6 - Viga mista de aço e concreto
Nesse exemplo analisou-se o comportamento da viga mista de aço e concreto descrita
por FAKURY
et al. (2004) em situação de incêndio. O modelo de elementos finitos é o
mesmo analisado em temperatura ambiente no subitem 6.3.2 e reproduzido abaixo na
FIG.6.53. Nesse caso, as forças concentradas
P foram calculadas de modo que a viga
mista atinja o momento de plastificação no centro do vão de 4511 kN.cm, o que
correspondente a 30 minutos de incêndio, conforme obtido por FAKURY
et al. (2004).
y
z
y
z
A
A
565,5
PP
PP= 19,92 kN
1133
1133
1133
4530
150
300
8,0
12,5
Seção AA
800
110
Laje de
concreto
Perfil de aço
VS 300x47
Aço estrutural:
Critério de von Mises
f
ay
= 250 MPa
E
a
= 205 GPa
ν
= 0,3
Concreto
:
Critério de Drucker-Prager
f
c
= 17,0 MPa
f
t
= 1,32 MPa
E
c,sec,
θ
= 6,80 GPa (secante)
ν
= 0,2
Umidade = 4%
FIGURA 6.53 – Dimensões e carregamento do modelo de viga mista
Em relação ao modelo analisado em temperatura ambiente, a principal modificação
consiste no módulo de Young do concreto. Conforme mostrado no subitem 6.3.2, para
análise em temperatura ambiente foram utilizadas as prescrições do EN 1992-1-1:2004,
obtendo-se o módulo de Young de 24968 MPa. No entanto, em situação de incêndio o
EN 1994-1-2:2005 recomenda utilizar-se o módulo secante do concreto
E
c,sec,
θ
, que
resulta no valor de 6800 MPa para a temperatura de 20ºC, segundo a Eq.2.8.
234
A FIG.6.54 mostra a discretização do modelo da viga mista em elementos finitos
tetraédricos de 4 nós. Foram considerados os quatro ajustes para o critério de Drucker-
Prager discutidos no capítulo 4. Utilizou-se o código mostrado na legenda da FIG.6.54
para identificar os resultados obtidos em função de cada tipo de ajuste.
y
z
x
y
z
x
12845 nós
56397 elems
DP1: 64:09:28
¦
DP2: 77:21:33
¦
DP3: 69:49:38
¦
DP4: 63:11:23
¦
DP1 - Drucker-Prager ajustado para tração e compressão uniaxiais simultaneamente
DP2 - Drucker-Prager coincidente com Mohr-Coulomb nos vértices externos (compressão uniaxial)
DP3 - Drucker-Prager coincidente com Mohr-Coulomb nos vértices internos (tração uniaxial)
DP4 - Drucker-Prager ajustado para o raio médio entre os vértices externos e internos
Modelo de ½ vão
FIGURA 6.54 – Discretização do modelo de viga mista
Utilizou-se na análise termomecânica um incremento de tempo
t de 20 segundos e
emissividade resultante
ε
res
de 0,5, conforme adotado no trabalho de FAKURY et al.
(2004). Na face superior da laje sujeita a resfriamento por convecção natural, utilizou-se
a condição de contorno térmica denominada “arrefecimento (Ribeiro)”, já discutida no
subitem 5.3.2.7. Nessa condição de contorno, a troca de calor ocorre por radiação e por
convecção natural, com o coeficiente convectivo variável conforme a regressão
apresentada na FIG.3.6.
A FIG.6.55 até a FIG.6.58 mostram os resultados obtidos nas análises: tensões de von
Mises, deformações plásticas acumuladas, deslocamentos e temperaturas.
235
Modelo de ½ vão
FAD = 1,0
00:34:22
FIGURA 6.55 – Resultados obtidos na análise da viga mista (DP1)
Na FIG.6.55 observa-se os resultados da análise com o ajuste DP1. A formação da
rótula plástica no meio do vão ocorre com maior deformação plástica na mesa inferior
do perfil de aço, que apresenta maior temperatura e conseqüentemente maior redução da
resistência ao escoamento do aço.
Observa-se também o acúmulo de deformação plástica na extremidade do perfil (apoio)
na interface entre o perfil e a laje de concreto. Essa plastificação ocorre devido ao fluxo
de cisalhamento ser mais intenso próximo aos apoios de uma viga bi-apoiada. Esse
fenômeno pode ser observado em todos os ajustes (FIG.6.55 a FIG.6.58).
236
Modelo de ½ vão
FAD = 1,0
00:35:07
FIGURA 6.56 – Resultados obtidos na análise da viga mista (DP2)
A FIG.6.56 mostra os resultados obtidos para o ajuste DP2. Observa-se que os
resultados são muito próximos aos apresentados com o ajuste DP1, sendo que o ajuste
DP2 permitiu alcançar um tempo de resistência ao incêndio 2,2 % maior que o obtido
pelo ajuste DP1. Em relação ao tempo de resistência obtido por FAKURY
et al. (2004),
o ajuste DP2 resultou em um tempo de resistência 17 % maior que aquele.
Como já evidenciado nos exemplos 6.3.2 e 6.4.5, os ajustes DP1 e DP2 apresentam
resultados muito próximos e freqüentemente superiores aos obtidos em literatura.
237
Modelo de ½ vão
FAD = 1,0
00:27:58
FIGURA 6.57 – Resultados obtidos na análise da viga mista (DP3)
Os resultados da análise com o ajuste DP3 são mostrados na FIG.6.57. Observa-se que a
laje apresenta um acúmulo de deformação plástica maior que o obtido por meio dos
ajustes DP1 e DP2. Isso ocorre porque, no ajuste DP3, a superfície de Drucker-Prager
coincide com a de Mohr-Coulomb nos vértices internos (tração uniaxial), subestimando
a resistência do material à compressão, que é o esforço predominante na laje.
Assim, o tempo de resistência ao incêndio obtido com o ajuste DP3 é sempre menor que
o tempo de resistência obtido com os demais ajustes (vide exemplos 6.3.2 e 6.4.5).
Nesse caso, o ajuste DP3 resultou em um tempo de resistência ao incêndio 6,8 % menor
que o obtido por FAKURY
et al. (2004).
238
FAD = 1,0
00:33:45
Modelo de ½ vão
FIGURA 6.58 – Resultados obtidos na análise da viga mista (DP4)
O último ajuste utilizado na análise (DP4) consiste em se empregar o raio médio entre
os vértices internos e externos da superfície de Mohr-Coulomb para se ajustar o cone de
Drucker-Prager. Os resultados obtidos por esse ajustamento são mostrados na FIG.6.58.
Evidentemente, os resultados obtidos se mostram intermediários aos obtidos por meio
dos ajustes DP1, DP2 e DP3. Nos exemplos 6.3.2 e 6.4.5, o ajuste DP4 era o que mais
se aproximava dos resultados constantes em literatura. No entanto, nesse exemplo, o
ajuste DP4 apresentou um tempo máximo de resistência ao incêndio 12,5 % maior que o
obtido por FAKURY
et al. (2004). Assim, DP3 se apresenta como o ajuste de menor
desvio em relação ao resultado de literatura.
239
FAKURY
et al. (2004) obtiveram o momento de plastificação da viga mista para 30
minutos de incêndio (4511 kN.cm) por meio do procedimento simplificado prescrito no
EN 1994-1-2:2005. Esse procedimento consiste em:
calcular a temperatura de cada elemento do perfil (mesas e alma), sendo que a
temperatura da laje é dada por uma tabela para cada 5 mm de espessura;
calcular o coeficiente de redução da resistência de cada elemento do perfil e de
cada camada de concreto da laje em função das temperaturas;
calcular as forças resultantes em cada elemento e em cada camada da laje como
sendo o produto: resistência
× coeficiente de redução × área de influência;
fazer o equilíbrio de forças determinando a posição da linha neutra plástica e o
momento de plastificação correspondente.
Na FIG.6.59 observa-se os deslocamentos verticais no meio do vão da viga mista em
função do tempo de incêndio para os quatro ajustes utilizados na análise.
-350
-300
-250
-200
-150
-100
-50
0
0 5 10 15 20 25 30 35 40
Tempo de incêndio (min)
Deslocamento vertical (mm)
Thersys 2.0 DP1 (00:34:22)
Thersys 2.0 DP2 (00:35:07)
Thersys 2.0 DP3 (00:27:58)
Thersys 2.0 DP4 (00:33:45)
Solução analítica (00:30:00)
FAKURY et al. (2004)
FIGURA 6.59 – Deslocamentos no meio do vão da viga mista
240
Os resultados mostram um espalhamento menor que o observado no exemplo 6.4.5.
Porém, enquanto que no exemplo 6.4.5 o ajuste DP4 é o de menor desvio em relação ao
resultado de literatura, no presente exemplo o ajuste DP3 é que se apresenta com o
menor desvio, conforme os resultados obtidos por FAKURY
et al. (2004).
Concluindo-se, os estudos de caso termomecânicos apresentados neste capítulo
mostram uma boa concordância entre os resultados obtidos por meio do programa
Thersys 2.0 e os resultados de outros programas, de ensaios e de métodos analíticos. Os
exemplos com elementos estruturais de aço apresentam um bom comportamento do
modelo numérico, tanto para efeitos de instabilidade quanto para efeitos de plasticidade.
No entanto, os problemas que envolvem elementos estruturais de concreto apresentam
uma dispersão dos resultados maior ou menor em função dos estados de tensão
presentes nos modelos e dos ajustes utilizados nas análises. Porém, como se observou
nos exemplos, o ajuste do cone de Drucker-Prager por meio do raio médio entre os
vértices internos e externos da superfície de Mohr-Coulomb (DP4) freqüentemente
conduz a bons resultados quando se compara com os resultados de ensaios e de cálculos
analíticos apresentados em literatura.
Com base nas conclusões acima, pode-se considerar o programa
Thersys 2.0 validado
para análises termomecânicas. Algumas informações adicionais para a melhoria dos
resultados aqui apresentados são discutidas no capítulo 7.
CAPÍTULO 7 -
Considerações Finais
7
CONSIDERAÇÕES FINAIS
7.1 - Discussão e conclusões
No presente trabalho foi desenvolvido um programa computacional com base no
Método dos Elementos Finitos para realização de análises termomecânicas de estruturas
tridimensionais de aço e mistas de aço e concreto em situação de incêndio.
O programa recebeu a denominação
Thersys 2.0 (Sistema para simulação via Método
dos Elementos Finitos do comportamento termomecânico 3D de estruturas em situação
de incêndio
) e teve por base o programa Thersys 1.0 (Sistema para simulação via MEF
da distribuição 3D de temperatura em estruturas em situação de incêndio
),
desenvolvido por
RIBEIRO (2004) na Universidade Federal de Minas Gerais.
O programa
Thersys 2.0 foi elaborado na linguagem Delphi, utilizando-se o paradigma
de programação orientado a objetos. Essa metodologia de construção de códigos
computacionais tem conquistado campo na área de mecânica computacional devido às
características de modularidade, reusabilidade e de facilidade para efetuar novos
desenvolvimentos dos códigos.
242
Dentre as principais características do programa
Thersys 2.0, pode-se enumerar:
Possibilidade de adoção de várias curvas de incêndio além da prescrita na norma
EN 1991-1-2:2002, inclusive, curvas provenientes de resultados de ensaios;
Possibilidade de uso de qualquer material com todas as propriedades térmicas
variáveis com a temperatura, bem como possibilidade de modelagem da redução
do módulo de Young (rigidez) e da resistência com a temperatura;
Condição de contorno “arrefecimento”, com uso do coeficiente de convecção
variável com a posição da face em relação ao vetor da gravidade (FIG.3.6);
Possibilidade de uso de três algoritmos de solução para os sistemas de equações,
tanto térmico quanto mecânico, podendo-se empregar o algoritmo mais rápido
para cada modelo específico;
Possibilidade de se considerar ou não a não-linearidade geométrica nas análises
mecânicas (regime de grandes deformações e grandes deslocamentos), sendo
possível a determinação da carga crítica de flambagem de um modelo qualquer;
Disponibilidade de dois critérios de plastificação (não-linearidade material): von
Mises e Drucker-Prager, sendo possível a implementação de novos critérios
apenas derivando-se a classe básica
TModel;
Possibilidade de cortar automaticamente o incremento de carga para melhorar a
convergência em análises mecânicas, bem como o incremento de tempo para
melhorar a convergência em análises termomecânicas.
Com o programa desenvolvido nesta pesquisa foi possível o estudo de alguns elementos
estruturais em situação de incêndio, conforme apresentado no capítulo 6.
Com relação à análise térmica, os algoritmos utilizados no presente trabalho foram
implementados e validados por RIBEIRO (2004). Desse modo, análises adicionais para
validação dessa implementação não são necessárias. Apenas para ilustração, estudou-se
o comportamento térmico de um pilar constituído por um perfil I revestido por concreto,
segundo HUANG
et al. (2007). Observou-se que a maior diferença entre os resultados
obtidos pelo programa e as respectivas temperaturas obtidas em experimentos foram de
8,2 % para
ε
res
de 0,5 e de 10,6 % para
ε
res
de 0,7.
243
Com relação à análise mecânica, deve-se destacar que os algoritmos implementados no
Thersys 2.0 têm por base o trabalho de SOUZA NETO (2006), conforme discutido no
capítulo 4. Souza Neto consolidou o funcionamento desses algoritmos por meio do
programa
HYPLAS (Program for implicit small and large strain finite element analysis
of hyperelastic and elastoplastic solids
), desenvolvido para análises mecânicas
bidimensionais.
Buscando validar e também demonstrar a potencialidade do programa
Thersys 2.0,
foram analisados vários exemplos com diferentes condições de contorno e utilizando-se
sempre o algoritmo de não-linearidade geométrica (em todos os modelos).
O primeiro exemplo foi relativo à flambagem global de um perfil de aço bi-apoiado e,
em uma segunda análise, engastado e livre. Nesse estudo demonstrou-se e validou-se a
capacidade do programa em análises com grandes deformações e grandes
deslocamentos. Incluiu-se ainda uma análise de flambagem elasto-plástica na qual a
força axial máxima obtida pelo
Thersys 2.0 foi 6,3 % menor que a força máxima teórica.
No que se refere a problemas envolvendo plasticidade, foi analisada a formação de
rótula plástica em uma viga mista de aço e concreto, utilizando-se os quatro ajustes para
o critério de Drucker-Prager descritos no capítulo 4. Os resultados obtidos com o
Thersys 2.0 apresentaram concordância razoável com os resultados obtidos por meio
dos procedimentos do EN 1994-1-1:2004, sendo que o modelo com o critério de
Drucker-Prager ajustado a partir do raio médio entre os vértices internos e externos do
critério de Mohr-Coulomb (DP4) mostrou a melhor concordância, atingindo 0,8928 do
momento de plastificação teórico.
Ainda envolvendo a plasticidade em análises puramente mecânicas, estudou-se também
a formação de rótula plástica em uma viga de aço com alma senoidal, obtendo-se o
momento máximo, por meio do
Thersys 2.0, 6,0 % maior que o momento teórico
apresentado por PLAIS (2005). O modelo analisado apresentou grandes deslocamentos
a partir do instante em que o incremento de carga no
Thersys 2.0 atinge o valor teórico,
demonstrando que, em tais tipos de viga, a contribuição da alma pode ser ignorada no
cálculo do momento de plastificação, como observado por PLAIS (2005).
244
Com relação à análise termomecânica (simulação de incêndios), o programa
Thersys 2.0
utiliza o procedimento de acoplamento fraco, também utilizado por VILA REAL (1993),
LANDESMANN (2003) e CALDAS (2008). Esse procedimento consiste em desacoplar
o problema térmico do problema mecânico de modo a se resolver consecutivamente
dois sistemas de equações independentes em cada intervalo de tempo.
Assim, visando validar e também demonstrar a potencialidade do programa
Thersys 2.0
na simulação de elementos estruturais em situação de incêndio, analisou-se vários
exemplos no presente trabalho, conforme discutidos a seguir.
O primeiro estudo consistiu na análise de um pilar de aço IPE360, bi-apoiado, com
ambas as extremidades sujeitas a uma força de compressão de 30% da força axial de
plastificação e ao momento fletor de 20% do momento de plastificação. Uma primeira
análise foi realizada com o perfil sujeito ao incêndio em três faces (a mesa comprimida
permaneceu protegida) e, na segunda análise, com todas as faces expostas ao incêndio.
Os tempos de resistência ao incêndio obtidos foram comparados com os apresentados
por
LANDESMANN et al. (2005) e por CALDAS (2008). No caso do incêndio em três
faces, a menor diferença foi obtida ao comparar os resultados do
Thersys 2.0 com o
programa SAFIR (+4,67 %) e, no caso do incêndio em quatro faces, com o programa
desenvolvido por Caldas (-3,09 %). Nesse estudo foi possível observar alguns efeitos
localizados, como o fluxo de cisalhamento nas extremidades do pilar devido ao
gradiente térmico entre a mesa protegida e a alma.
Ainda com relação a pilares de aço, estudou-se também o modelo de um pilar
H 400 x 400, bi-apoiado, sujeito a uma força axial de 3400 kN, com uma excentricidade
de 180 mm de modo a flexionar em torno do eixo de menor inércia. Os resultados
obtidos foram comparados com os oriundos do ensaio apresentado por WAINMAN e
KIRBY (1988a). Para uma emissividade resultante de 0,5, a análise numérica com o
Thersys 2.0 forneceu um tempo de resistência ao incêndio 7,2 % menor que o obtido no
ensaio. Ao se considerar a emissividade resultante de 0,7, a simulação numérica
resultou em um tempo de resistência 20,7 % menor que o experimental, evidenciando
que, nessa análise, a emissividade de 0,7 é relativamente severa.
245
Um outro estudo realizado consistiu na análise de uma viga de aço sujeita ao momento
fletor de 40% do momento de plastificação em ambas as extremidades. A viga é exposta
ao incêndio por três faces, de modo que a mesa comprimida permanece protegida do
incêndio. O tempo de resistência ao incêndio obtido com o
Thersys 2.0 foi comparado
com os apresentados por LANDESMANN
et al. (2005) e CALDAS (2008). A menor
diferença foi obtida ao comparar o resultado do
Thersys 2.0 com o programa
desenvolvido por Caldas (-4,21 %). Nesse exemplo, o deslocamento vertical no centro
do vão apresentou um bom ajuste entre o programa
Thersys 2.0 e os demais utilizados
como base de comparação.
Analisou-se também a viga de aço com alma senoidal para a qual foi realizada a análise
mecânica anteriormente citada. Nesse caso, a viga foi carregada com momentos nas
extremidades iguais a 40% do momento de plastificação e, posteriormente, simulou-se o
incêndio. No estudo, considerou-se a viga com a alma exposta ao incêndio e com uma
camada de Blaze Shield II de 12 mm e de 25 mm sobre a alma do perfil. No modelo
com a alma exposta, o perfil resistiu menos tempo que o previsto por cálculo analítico.
Observou-se que a mesa comprimida apresenta deslocamentos laterais elevados,
juntamente com a redução de rigidez da alma com a temperatura, que configuram
indícios de flambagem lateral com torção. O modelo com o revestimento de 12 mm
atingiu o mesmo tempo de resistência ao incêndio que o obtido via cálculo analítico, e
no modelo com 25 mm de revestimento, o tempo de resistência foi ainda maior, de
modo que a mesa comprimida apresentou pontos de escoamento localizado,
demonstrando a maior efetividade da alma em estabilizar a mesa do perfil.
Com relação aos elementos mistos de aço e concreto, estudou-se o comportamento de
um pilar misto tubular preenchido com concreto, apresentando as extremidades
engastadas e submetido a uma força axial de 3071 kN, equivalente a 60 minutos de
incêndio, conforme RIBEIRO
et al. (2008). O pilar foi analisado utilizando-se os quatro
ajustes para o critério de Drucker-Prager descritos no capítulo 4. Os resultados obtidos
apresentaram concordância razoável com a solução analítica obtida por RIBEIRO
et al.
(2008). O modelo com o critério de Drucker-Prager ajustado a partir do raio médio entre
os vértices internos e externos do critério de Mohr-Coulomb (DP4) apresentou o melhor
246
ajuste, sendo 19,5 % menor que o tempo de resistência ao incêndio obtido por Ribeiro.
Ao se comparar com o tempo de resistência obtido por TWILT
et al. (1994), para esse
mesmo estudo, o tempo de resistência obtido com o
Thersys 2.0 se mostrou 2,6 %
menor.
Outro elemento misto de aço e concreto analisado em situação de incêndio foi a viga
mista para a qual foi realizada a análise mecânica (anteriormente citada). O
carregamento aplicado foi calculado para que a viga suporte 30 minutos de incêndio,
segundo o estudo de FAKURY
et al. (2004). Também se considerou na análise, por
meio do
Thersys 2.0, os quatro ajustes para o critério de Drucker-Prager descritos no
capítulo 4, obtendo-se uma boa concordância com o tempo de resistência dado por
FAKURY
et al. (2004). Destacou-se que, para esse exemplo, o uso do critério de
Drucker-Prager ajustado com os vértices internos do critério de Mohr-Coulomb (DP3)
forneceu o melhor ajuste, resultando em um tempo de resistência ao incêndio 6,8 %
menor que o obtido por Fakury. O ajuste DP4, nesse caso, resultou em um tempo de
resistência 12,5 % maior que o obtido analiticamente.
Concluindo, por meio dos estudos de caso analisados observou-se que o programa
desenvolvido neste trabalho apresentou um bom ajuste entre os resultados obtidos e os
resultados de outros programas de elementos finitos, de ensaios ou de cálculos
analíticos com bases no EN 1992-1-2:2004, EN 1993-1-2:2005 e EN 1994-1-2:2005.
Assim, pode-se considerar o programa
Thersys 2.0 validado para análises térmicas,
mecânicas e termomecânicas (simulação de incêndios).
De modo geral, observou-se que os exemplos com elementos estruturais de aço
apresentaram uma boa concordância entre os resultados obtidos nas simulações com o
Thersys 2.0 e os resultados de outros programas, de ensaios e de métodos analíticos.
No entanto, os problemas que envolvem elementos estruturais de concreto apresentaram
uma dispersão dos resultados maior ou menor em função dos estados de tensão
presentes nos modelos e dos ajustes utilizados nas análises, devido ao uso do critério de
Drucker-Prager para modelagem do comportamento do concreto.
247
Observou-se ainda que, os estados de tensão predominantemente uniaxiais, como no
caso da viga mista, resultam em melhores ajustes do critério de Drucker-Prager,
enquanto que os estados de tensão multiaxiais, como no caso do pilar misto tubular,
resultam em ajustes com grande dispersão.
O uso de critérios mais apurados que Drucker-Prager deverá promover uma melhor
qualidade dos resultados. No entanto, ressalta-se que critérios com vértices que
permitem indeterminação do correto estado de tensões, como ocorre no critério de
Mohr-Coulomb quando algumas tensões principais são iguais (
σ
1
=
σ
2
ou
σ
2
=
σ
3
),
devem ser evitados. Em estudos realizados ao longo do presente trabalho, o critério de
Mohr-Coulomb não demonstrou robustez devido ao problema citado, resultando
freqüentemente em instabilidade dos modelos numéricos, com interrupção prematura
das análises.
7.2 - Avaliação global do trabalho
O programa computacional desenvolvido no presente trabalho resolve o problema
acoplado de transferência de calor e análise de tensões, tendo-se em consideração a
degradação das propriedades dos materiais com a temperatura.
Comparando-se as pesquisas realizadas até o presente e as análises desenvolvidas neste
trabalho, pode-se considerar que o mesmo representa uma contribuição adicional no que
se refere à compreensão, caracterização e simulação do comportamento de estruturas de
aço e mistas de aço e concreto em situação de incêndio.
Assim, a contribuição principal do presente trabalho encontra-se no desenvolvimento de
uma ferramenta sofisticada que permite promover novas pesquisas na área de estruturas
em situação de incêndio, devido à sua facilidade para simular o comportamento de
estruturas considerando-se a não-linearidade geométrica e material em altas
temperaturas. Adicionalmente, esse trabalho não encerra em si próprio, visto que a
estrutura do programa orientada a objeto permite o teste e a implementação de novos
algoritmos, de modo a simular o comportamento de elementos estruturais com
geometrias e características diversas das aqui apresentadas.
248
7.3 - Sugestões para trabalhos futuros
Durante o desenvolvimento do presente trabalho, observou-se que alguns fenômenos e
comportamentos estruturais merecem estudos complementares e podem ser abordados
em pesquisas posteriores. Assim, os seguintes temas são sugeridos:
Analisar a possibilidade de implementação de relações constitutivas mais
apuradas para simulação do comportamento do concreto. Sugere-se o estudo dos
critérios de Ottosen e Willam-Warnke, conforme comentado no capítulo 4;
Visto que o concreto é tratado como um material com a superfície de
escoamento dependente da tensão média, ou seja, sem o fechamento da mesma
na direção da tensão hidrostática compressiva, propõe-se analisar a
implementação de modelos de fissuração no
Thersys 2.0, bem como o
comportamento desses modelos em alta temperatura;
No caso das vigas de aço de alma senoidal em situação de incêndio, observou-se
na literatura uma grande deficiência atual de dados experimentais, sendo uma
frente de pesquisa ainda com grande potencial de desenvolvimento;
No decorrer deste trabalho, visando a simulação de flambagem local em perfis
de aço, estudou-se a aplicação do Método dos Elementos Finitos ao problema de
flambagem de placas por meio de elementos tridimensionais sólidos (tetraedros
e hexaedros). Porém, devido à grande diferença entre a espessura e as demais
dimensões das placas, os geradores de malha criam elementos muito distorcidos
e os resultados obtidos mostram um elevado enrijecimento dos modelos,
resultando em cargas críticas de flambagem da ordem de 5,4 vezes os valores
limites obtidos por cálculos analíticos.
Segundo CASTRO E SILVA (2006), os elementos sólidos tradicionais não
representam bem o comportamento de placas, principalmente em casos de
instabilidade. Em tais casos, uma melhor precisão pode ser obtida ao se utilizar o
elemento do tipo
shell.
249
Assim, como solução para esse tipo de simulação, recomenda-se o estudo da
flambagem de placas por meio de elementos tridimensionais enriquecidos com
funções adicionais. Alternativamente, caso a implementação do elemento do tipo
shell seja mais interessante, recomenda-se o estudo de métodos para estimar a
distribuição de temperatura ao longo da espessura desse tipo de elemento, bem
como a sua influência na rigidez, na resistência e no desenvolvimento das
tensões e deformações de origem térmica.
Ao longo do presente trabalho estudou-se o desenvolvimento de um modelo
numérico para modelagem da transferência de calor por radiação em domínios
não sólidos, o que viabilizaria a análise de proteções térmicas do tipo caixa,
conforme sugerido por RIBEIRO (2004). No entanto, os resultados obtidos
divergiram dos cálculos analíticos com base na Transferência de Calor. Assim,
visando eliminar uma limitação atual do programa
Thersys 2.0, sugere-se o
estudo e desenvolvimento desse tema.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Referências Bibliográficas
1.
ABNT, NBR 14323. “Dimensionamento de estruturas de aço de edifícios em
situação de incêndio”, Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro,
1999.
2.
ABNT, PR-NBR 14323. “Dimensionamento de estruturas de aço e de estruturas
mistas aço-concreto de edifícios em situação de incêndio”, Associação Brasileira
de Normas Técnicas, Projeto de Revisão da NBR 14323, 2003. (Disponível no sítio
www.dees.ufmg.br, em 12/10/2009).
3.
ABNT, NBR 8800. “Projeto e execução de estruturas de aço de edifícios”,
Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro, 1986.
4.
BAILEY, C. G. “Membrane action of composite floor systems in fire”. Third
International Workshop – Structures in Fire. Paper S7-1. p. 335-352. Ottawa –
Canada, 2004.
5.
BAILEY, C. G. “Membrane action of unrestrained lightly reinforced concrete slabs
at large displacements”. Engineering Structures, 23. p. 470-483. Reino Unido,
2001.
6.
BARNETT, C. “Fire safety in tall buildings”. Council on Tall Buildings and Urban
Habitat. Committee 8A. McGraw-Hill, Inc. United States of America, 1992.
7.
BARNETT, C. R. “BFD curve: a new empirical model for fire compartment
temperatures”. Fire Safety Journal 37. p. 437-463. Elsevier Science Ltd, 2002a.
8.
BARNETT, C. R. “Erratum to BFD curve: a new empirical model for fire
compartment temperatures”. Fire Safety Journal 37. p. 719. Elsevier Science Ltd,
2002b.
251
9.
BATHE, K. J. “Finite Element Procedures”. Prentice-Hall. New Jersey, EUA, 1996.
10.
BRUHNS, O. T.; XIAO, H. e MEYERS, A. “Finite bending of a rectangular block
of an elastic Hencky material”. Journal of Elasticity, Springer, Holanda, 2004.
11.
CALDAS, R. B. “Análise numérica de estruturas de aço, concreto e mistas em
situação de incêndio”. Tese de Doutorado. Curso de Pós-Graduação em Engenharia
de Estruturas. Escola de Engenharia da UFMG. Belo Horizonte, 2008.
12.
CARLSON, D. E. e HOGER, A. “The derivative of a tensor-valued function of a
tensor”. Quart. Appl. Math. 44 (3). p. 409-423. 1986.
13.
CASTRO E SILVA, A. L. R. “Análise numérica não-linear da flambagem local de
perfis de aço estrutural submetidos à compressão uniaxial”. Tese de Doutorado.
Curso de Pós-Graduação em Engenharia de Estruturas. Escola de Engenharia da
UFMG. Belo Horizonte, 2006.
14.
CEB – FIP MODEL CODE. “Design of concrete structures for fire resistance.
Preliminar draft of appendix to the CEB – FIP Model Code”, 1982.
15.
CEN, EN 1991-1-2:2002: “Actions on structures: Part 1-2: General actions –
Actions on structures exposed to fire”. EUROCODE 1, European Committee for
Standardization, Bruxelas, Bélgica, 2002.
16.
CEN, EN 1992-1-1:2004: “Design of concrete structures: Part 1-1: General rules
and rules for buildings”. EUROCODE 2, European Committee for Standardization,
Bruxelas, Bélgica, 2004.
17.
CEN, EN 1992-1-2:2004: “Design of concrete structures: Part 1-2: General rules –
Structural fire design”. EUROCODE 2, European Committee for Standardization,
Bruxelas, Bélgica, 2004.
18.
CEN, EN 1993-1-2:1995: “Design of steel structures: Part 1-2: General rules –
Structural fire design”. EUROCODE 3, European Committee for Standardization,
Bruxelas, Bélgica, 1995.
252
19.
CEN, EN 1993-1-2:2005: “Design of steel structures: Part 1-2: General rules –
Structural fire design”. EUROCODE 3, European Committee for Standardization,
Bruxelas, Bélgica, 2005.
20.
CEN, EN 1994-1-1:2004: “Design of composite steel and concrete structures: Part
1-1: General rules and rules for buildings”. EUROCODE 4, European Committee
for Standardization, Bruxelas, Bélgica, 2004.
21.
CEN, EN 1994-1-2:1994: “Design of composite steel and concrete structures: Part
1-2: General rules – Structural fire design”. EUROCODE 4, European Committee
for Standardization, Bruxelas, Bélgica, 1994.
22.
CEN, EN 1994-1-2:2005: “Design of composite steel and concrete structures: Part
1-2: General rules – Structural fire design”. EUROCODE 4, European Committee
for Standardization, Bruxelas, Bélgica, 2005.
23.
CHEN, W. F. “Plasticity in Reinforced Concrete”. McGraw-Hill. Nova Iorque,
1982.
24.
CHEN, W. F. e HAN, D. J. “Plasticity for Structural Engineers”. Springer-Verlag.
Nova Iorque, 1988.
25.
CHEN, W. F. e ZHANG, H. “Structural Plasticity – Theory, Problems, and CAE
Software”. Springer-Verlag. Nova Iorque, 1991.
26.
CIMNE. Centro Internacional de Métodos Numéricos em Engenharia. GID Pré/pos
Processador Gráfico – Versão 7.2. Barcelona, 2004.
27.
COSTA, C. N. “Dimensionamento de elementos de concreto armado em situação
de incêndio”. Tese de Doutorado. Escola Politécnica, Universidade de São Paulo.
São Paulo, 2008.
28.
COSTA, R. E. N. “Projeto de pilares mistos preenchidos com concreto refratário de
alto desempenho à temperatura ambiente e em situação de incêndio”. Dissertação
253
de Mestrado. Curso de Pós-Graduação em Engenharia de Estruturas. Escola de
Engenharia da UFMG. Belo Horizonte, 2005.
29.
CRISFIELD, M. A. “Finite elements and solution procedures for structural
analysis”. Vol I: linear analysis. Pineridge Press Limited. Swansea, Reino Unido,
1986.
30.
CRISFIELD, M. A. “Non-linear Finite Element Analysis of Solids and Structures”.
Volume 1: Essentials. John Wiley & Sons. Chichester, 1991.
31.
CRISFIELD, M. A. “Non-linear Finite Element Analysis of Solids and Structures”.
Volume 2: Advanced Topics. John Wiley & Sons. Chichester, 1997.
32.
FAKURY, R. H. “Estudos Avançados em Estruturas de Aço”. Publicação Interna
do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Estruturas da UFMG. Belo
Horizonte, 2000.
33.
FAKURY, R. H. e RIBEIRO, J. C. L. “ISOBRAX – Cartas de cobertura”.
Relatório de Consultoria Técnica à Magnesita S. A., Escola de Engenharia da
UFMG. Belo Horizonte, 2005.
34.
FAKURY, R. H.; RIBEIRO, J. C. L. e LAS CASAS, E. B. “Projeto de vigas mistas
semicontínuas em situação de incêndio a partir de análise térmica via MEF”. XXXI
Jornadas Sud-Americanas de Ingeniería Estructural. 20 p. Mendoza – Argentina,
2004.
35.
FAKURY, R. H.; RIBEIRO, J. C. L.; LAS CASAS, E. B. e PANNONI, F. D.
“Projeto de pisos mistos aço-concreto em situação de incêndio considerando a
interação entre vigas e laje”. XXXI Jornadas Sud-Americanas de Ingeniería
Estructural. p. 19. Mendoza – Argentina, 2004a.
36.
FAKURY, R. H.; RIBEIRO, J. C. L.; LAS CASAS, E. B. e PANNONI, F. D. “Um
método avançado de cálculo para pisos mistos de aço e concreto em situação de
254
incêndio”. XXV Iberian Latin American Congress on Computational Methods in
Engineering. p. 17. Recife – Brasil, 2004b.
37.
FIGUEIREDO Jr., F. P. “Simulação via método dos elementos finitos da
distribuição de temperatura em estruturas metálicas e mistas no caso de incêndio”.
Dissertação de Mestrado. Curso de Pós-Graduação em Engenharia de Estruturas.
Escola de Engenharia da UFMG. Belo Horizonte, 2002.
38.
FOSTER, S. J.; BURGESS, I. W. e PLANK, R. J. “High-temperature experiments
on model-scale concrete slabs at high displacement”. Third International Workshop
– Structures in Fire. Paper S5-5. p. 259-270. Ottawa – Canada, 2004.
39.
FRANSSEN, J. M. e ZAHARIA, R. “Design of steel structures subjected to fire –
Background and design guide to Eurocode 3”. 2
nd
edition, Les Éditions de
l’Université de Liège. Bélgica, 2006.
40.
FRATTI, J. M. “Análise inelástica de estruturas metálicas com ligações semi-
rígidas em situação de incêndio”. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-
Graduação em Engenharia, COPPE/UFRJ. Rio de Janeiro, 2009.
41.
GHOJEL, J. I. “A new approach to modeling heat transfer in compartment fires”.
Fire Safety Journal 31. p. 227-237. Elsevier Science Ltd, 1998.
42.
GUIMARÃES, P. P. O. “Sobre o dimensionamento do revestimento contra fogo de
estruturas de aço”. Dissertação de Mestrado. Escola Politécnica, Universidade de
São Paulo. São Paulo, 2007.
43.
HIBBITT; KARLSSON e SORENSEN, Inc. “Abaqus – Theory Manual – Release
6.3”. HKS. Pawtucket, 1998.
44.
HOGGE, M. A. “Comparison of Two-Level and Tree-Level Integration Schemes
for Non-Linear Heat Conduction” in ZIENKIEWICZ, O. C., LEWIS, R. W. and
MORGAN, K. “Numerical Methods in Heat Transfer” – Chapter 4. p. 75-90. John
Wiley & Sons LTD. Reino Unido, Bristol, 1981.
255
45.
HUANG, H. C. e USMANI, A. S. “Finite element analysis of heat transfer”.
Springer-Verlag London Limited, 1994.
46.
HUANG, Z. F., TAN, K. H., PHNG, G. H. “Axial Restraint Effects on the Fire
Resistance of Composite Columns Encasing I-Section Steel”. J. Constr. Steel Res.,
63. p. 437-447. 2007.
47.
HUANG, Z.; BURGESS, I. W. e PLANK, R. J. “3D modeling of beam-columns
with general cross-sections in fire”. Third International Workshop – Structures in
Fire. Paper S6-5. p. 323-334. Ottawa – Canada, 2004.
48.
HUANG, Z.; BURGESS, I. W. e PLANK, R. J. “Non-linear modelling of three
full-scale structural fire tests”. Proc. First International Workshop on Structures in
Fire. p. 53-70. Copenhagen, 2000.
49.
INCROPERA, F. P. e DEWITT, D. P. “Fundamentos de transferência de calor e de
massa”. Terceira edição. Editora Guanabara Koogan S. A. Rio de Janeiro, 1992.
50.
ISO 834-1. Fire resistance tests – Elements of buildings construction, Part 1:
General requirements. ISO – International Organization for Standardization.
Geneva, 1999.
51.
JOHANSSON, M. e GYLLTOFT, K. “Structural behavior of slender circular steel-
concrete composite columns under various means of load application”. Steel and
Composite Structures. Vol. 1, No. 4. p. 393-410. 2001.
52.
KIMURA, E. F. A. “Análise termo-estrutural de pilares de aço em situação de
incêndio”. Dissertação de Mestrado. Escola de Engenharia de São Carlos,
Universidade de São Paulo. São Carlos, 2007.
53.
KIRCHHOF, L. D. “Análise numérica de vigas mistas aço-concreto em
temperatura ambiente e em situação de incêndio”. Dissertação de Mestrado.
Universidade de São Paulo – Engenharia Civil. São Carlos, 2004.
256
54.
KOHNKE, Peter. “ANSYS – Theory Reference – Release 5.4”. SAS IP.
Canonsburg – PA, 1997.
55.
LANDESMANN, A.; BATISTA, E. M.; ALVES, J. L. D. “Implementation of
advanced analysis method for steel-framed structures under fire conditions”. Fire
Safety Journal, vol. 40, p. 339-366. 2005.
56.
LANDESMANN, Alexandre. “Modelo não-linear inelástico para análise de
estruturas metálicas aporticadas em condições de incêndio”. Tese de Doutorado
apresentada ao Programa de Pós-Graduação de Engenharia da UFRJ. Rio de
Janeiro, 2003.
57.
LAWSON, R. M. “Fire engineering design of steel and composite buildings”.
Journal of Constructional Steel Research 57. p. 1233-1247. Elsevier Science Ltd,
2001.
58.
LIM, L.; BUCHANAN, A. e MOSS, P. “Analysis and design of reinforced
concrete slabs exposed to fires”. Third International Workshop – Structures in Fire.
Paper S7-2. p. 353-368. Ottawa – Canada, 2004.
59.
LOURENÇO, P. B. “Métodos computacionais na mecânica dos sólidos não-
linear”. Relatório 99-DEC/E-1. Guimarães – Portugal, 1999.
60.
MARTINS, M. M. “Dimensionamento de estruturas de aço em situação de
incêndio”. Dissertação de Mestrado. Curso de Pós-Graduação em Engenharia de
Estruturas. Escola de Engenharia da UFMG. Belo Horizonte, 2000.
61.
MOUÇO, D. L. “Modelo inelástico para análise avançada de estruturas mistas aço-
concreto em situação de incêndio”. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-
Graduação em Engenharia, COPPE/UFRJ. Rio de Janeiro, 2008.
62.
NÓBREGA, A. P. M. “Análise do comportamento de pilares mistos aço-concreto
em situação de incêndio”. Dissertação de Mestrado. Curso de Pós-Graduação em
Engenharia de Estruturas. Escola de Engenharia da UFMG. Belo Horizonte, 2003.
257
63.
OGDEN, R. W. “Non-linear elastic deformations”. Ellis Horwood. Chichester, 1984.
64.
PLAIS, W. “Perfis de alma senoidal”, Versão 1.0, CODEME Engenharia S. A.,
Betim, Brasil, 2005.
65.
PRESS, W. H.; FLANNERY, B. P.; TEUKOLSKY, S. A. e VETTERLING, W. T.
“Numerical recipes in Pascal”. Cambridge University Press. Nova Iorque, EUA,
1990.
66.
PRESSMAN, Roger S. “Engenharia de Software”. Makron Books do Brasil, 1995.
67.
REGOBELLO, R. “Análise numérica de seções transversais e de elementos
estruturais de aço e misto de aço e concreto em situação de incêndio”. Dissertação
de Mestrado. Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo. São
Carlos, 2007.
68.
RIBEIRO, J. C. L. “Simulação via método dos elementos finitos da distribuição
tridimensional de temperatura em estruturas em situação de incêndio”. Dissertação
de Mestrado. Curso de Pós-Graduação em Engenharia de Estruturas. Escola de
Engenharia da UFMG. Belo Horizonte, 2004.
69.
RIBEIRO, J. C. L.; FAKURY, R. H.; LAS CASAS, E. B. “Eurocode structural fire
design and its application for composite circular hollow section columns”. Journal
of the Brazilian Society of Mechanical Sciences and Engineering, vol. XXX, No 1,
p.39-46. 2008.
70.
SCHLEICH, J. B.; BOUILLETTE, J. P.; HASS, R.; PRESTON, R. e SANDMAN,
T. “International - Fire engineering design for steel structures: state of the art”.
International Iron and Steel Institute. Bruxelas, 1993.
71.
SEITO, A. I.; GILL, A. A.; PANNONI, F. D.; ONO, R.; SILVA, S. B.; DEL
CARLO, U.; SILVA, V. P. “A segurança contra incêndio no Brasil”. Projeto
Editora, São Paulo, 2008.
258
72.
SILVA, C. J. e CALMON, J. L. “Análise térmica bidimensional em regime
transiente pelo Método dos Elementos Finitos. Aplicação em estruturas metálicas e
mistas em condições de incêndio”. Revista Engenharia, Ciência e Tecnologia –
Edição nº 17. p. 72-82. Setembro / Outubro, 2000.
73.
SILVA, V. P. “Estruturas de aço em situação de incêndio”. Tese de Doutorado.
Escola Politécnica (PEF). São Paulo, 1997.
74.
SILVA, V. P. “Estruturas de aço em situação de incêndio”. Zigurate Editora. São
Paulo, 2001.
75.
SILVA, V. P. e FAKURY, R. H. “Brazilian standards for steel structures fire
design”. Fire Safety Journal 37. p. 217-227. Elsevier Science Ltd. 2002.
76.
SIMO, J. C. e HUGHES, T. J. R. “Computational Inelasticity”. Springer-Verlag.
Nova Iorque, 1997.
77.
SMITH, I. M. e GRIFFITHS, D. V. “Programming the Finite Element Method”.
Third Edition. John Wiley & Sons. Chichester, 1997.
78.
SOUZA NETO, E. A.; PERIĆ, D. e OWEN, D. R. J. “Computational methods for
plasticity: Theory and application”. Draft version of 1
st
edition distributed in Non-
Linear Computational Mechanic Course - UFMG. Belo Horizonte, 2006.
79.
SPÍNDOLA, C. C. “Dimensionamento de pisos mistos em situação de incêndio
com proteção apenas nas vigas principais”. Dissertação de Mestrado. Curso de Pós-
Graduação em Engenharia de Estruturas. Escola de Engenharia da UFMG. Belo
Horizonte, 2002.
80.
SUAZNÁBAR VELARDE, J. S. “Sobre o comportamento de pilares de aço em
situação de incêndio”. Dissertação de Mestrado. Escola Politécnica, Universidade
de São Paulo. São Paulo, 2008.
259
81.
TWILT, L.; HASS, R.; KLINGSCH, W.; EDWARDS, M.; DUTTA. D. “Design
guide for structural hollow section columns exposed to fire”. Construction with
hollow steel sections, CIDECT. Verlag TÜV Rheinland, Alemanha, 1994.
82.
VILA REAL, P. M. M. “Incêndio em estruturas metálicas – Cálculo estrutural”.
Edições Orion, 1ª edição. Amadora – Portugal, 2003.
83.
VILA REAL, P. M. M. “Modelação por elementos finitos da solidificação e
comportamento termo-mecânico de peças vazadas em moldações metálicas”. Tese
de Doutorado. Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Porto –
Portugal, 1993.
84.
VILA REAL, P. M. M. “Modelação por elementos finitos do comportamento
térmico e termo-elástico de sólidos sujeitos a elevados gradientes térmicos”.
Dissertação de Mestrado. Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto,
Porto – Portugal, 1988.
85.
VILA REAL, P. M. M. e OLIVEIRA, C. A. M. “Modelação por elementos finitos
do comportamento térmico de perfis metálicos sujeitos à acção do fogo”. V
Encontro Nacional de Mecânica Computacional. p. 415-424. Guimarães – Portugal,
1997.
86.
VILA REAL, P. M. M.; CAZELI, R.; SIMÕES DA SILVA, L.; SANTIAGO, A. e
PILOTO, P. “The effect of residual stresses in the lateral-torsional buckling of steel
I-beams at elevated temperature”. EuroSteel. p. 1437-1448. Coimbra – Portugal,
2002.
87.
VILA REAL, P. M. M.; LOPES, N.; SIMÕES DA SILVA, L. e FRANSSEN, J. M.
“Improvement of the current version of the EC3 for the lateral-torsional buckling of
unrestrained steel beams under fire conditions”. Third International Workshop –
Structures in Fire. Paper S4-2. p. 169-186. Ottawa – Canada, 2004.
88.
WAINMAN, D. E. e KIRBY, B. R. “Compendium of UK standard fire test data –
unprotected structural steel – 1”. BSC Swinden Laboratories. Reino Unido, 1988a.
260
89.
WAINMAN, D. E. e KIRBY, B. R. “Compendium of UK standard fire test data –
unprotected structural steel – 2”. BSC Swinden Laboratories. Reino Unido, 1988b.
90.
WANG, Y. C. “Steel and composite structures – Behaviour and design for fire
safety”. Spon Press, 1
st
edition. Londres, Reino Unido, 2002.
91.
WEAVER, W. e JOHNSTON, P. R. “Finite elements for structural analysis”.
Prentice-Hall, Inc. Nova Jersey, 1984.
92.
WOOLLEY, W. D. “Fire protection for structural steel in buildings”. ASFPCM /
SCI / FTSG. Second edition - Yellow book. Reino Unido, 1988.
93.
ZÁRATE, F. C. e OÑATE, E. “Caltep: Programa para el cálculo transitorio de la
ecuación de Poisson”. Publicação CIMNE nº 27. Barcelona, 1993.
______________________
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo