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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
MESTRADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA
ASPECTOS PSICOAFETIVOS E INTERAÇÕES
INTERPESSOAIS EM ADOLESCENTES
EM CONFLITO COM A LEI
TÁRCIA RITA DAVOGLIO
Orientador: Prof. Dr. Gabriel José Chittó Gauer
Porto Alegre, novembro de 2009
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
MESTRADO EM PSICOLOGIA
Tárcia Rita Davoglio
Dissertação apresentada no Programa de Pós-
Graduação em Psicologia da Faculdade de
Psicologia da Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul, como
requisito parcial para obtenção de Grau de
Mestre em Psicologia Clínica.
Prof. Dr. Gabriel José Chittó Gauer
Orientador
Porto Alegre, Novembro de 2009.
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DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)
Alessandra Pinto Fagundes Bibliotecária CRB10/1244
D266a
Davoglio, Tárcia Rita
Aspectos psicoafetivos e interações interpessoais em adolescentes em
conflito com a lei/ Tárcia Rita Davoglio. – Porto Alegre, 2009.
81 f. : il.
Diss. (Mestrado) – Fac. de Psicologia, PUCRS, 2009.
Orientador: Prof. Dr. Gabriel José Chittó Gauer.
1. Personalidade. 2. Adolescente em conflito com a lei - Avaliação
Psicológica. 3. Comportamento anti-social. 4. Psicopatia. 5. Violência – prevenção
e controle. 6. Interação Interpessoal. I. Gauer, Gabriel José Chittó II. Título.
Tárcia Rita Davoglio
ASPECTOS PSICOAFETIVOS E INTERAÇÕES INTERPESSOAIS
EM ADOLESCENTES EM CONFLITO COM A LEI
Comissão Examinadora
Prof. Dr. Gabriel José Chittó Gauer
Presidente
Prof. Dr. José Carlos de Carvalho Leite
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)
Profª Drª. Silvia Pereira da Cruz Benetti
Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS)
Porto Alegre, Novembro de 2009
Para Marina e Rafael,
meus filhos
AGRADECIMENTOS
O trabalho científico é antes de tudo o resultado do esforço solitário do pesquisador,
que se motiva e se norteia pelo seu próprio desejo de questionar e conhecer. Amenizar
esta solitude e a árdua tarefa que se prolongam por dias e noites, por vezes beirando a
atemporalidade, é uma verdadeira benção provinda das pessoas e instituições que
investem na Ciência. Algumas delas contribuem anônima e indiretamente, mas nem por
isso de forma menos significativa. Outras, felizmente, têm rostos e nomes que não se
deseja esquecer após a conclusão da pesquisa; ao contrário, merecem ser nomeadas,
referendadas e agradecidas.
Meu primeiro agradecimento é dirigido ao Programa de Pós-Graduação em
Psicologia da PUCRS que, acolhendo minha demanda pela reflexão formal e o saber
sistemático, após muitos anos de atividade clínica, oportunizou meu retorno ao meio
acadêmico. Agradeço também à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES) que financiou parcialmente esta pesquisa; ao Conselho Nacional de
Desenvolvimento em Pesquisa, CNPq que financiou a bolsa produtividade do Orientador
(301885/2007-9) e a bolsa de Iniciação Científica da graduação (113966/2007-5).
Sou sincera e profundamente grata ao meu orientador, Dr. Gabriel José Chittó
Gauer, pela boa vontade e disponibilidade com que me recebeu no Grupo de Pesquisa,
partilhando comigo um trabalho cujo maior mérito é seu. Tive o privilégio de, a partir das
adversidades, desvendar um novo espaço e ser aceita. Juntos, vencemos o desafio de nos
conhecer e tecer um projeto conjunto, que para mim, se antes era impensável, tornou-se
uma oportunidade de mergulhar num tema instigante e contemporâneo.
Aos meus queridos colegas, especialmente os que fazem parte grupo de pesquisa
“Avaliação e Intervenção em Saúde Mental” do Programa de Pós Graduação em
Psicologia da PUCRS, devoto meu afeto e gratidão. Mais do que parceiros numa jornada
intelectual, são pra mim amigos, almas-gêmeas, cúmplices e críticos, sempre prontos a
ouvir, acolher, ajudar. Apesar de muito grata a todos, meu agradecimento nomeado é para
meu fiel parceiro de coleta, Guinter Lühring, que com sua irreverência e bom-humor
amenizou a exaustão, o calor e o impacto doloroso de tantas histórias, tão verídicas
quanto duras, que ouvimos por meses a fio.
À Fundação de Assistência Sócio-Educativa (FASE) do Rio Grande do Sul, pela
valorização atribuída ao nosso projeto. Uma instituição pública preserva sua
singularidade por meio das características de sua equipe. Inúmeros monitores e
funcionários merecem ser homenageados pela dedicação e seriedade com que exercem
suas funções. Neste momento, posso apenas citar os nomes de Liana Lemos Gonçalves e
Cláudio Augusto Rosa Tomasini, diretor da Unidade de Novo Hamburgo. Certamente,
não poderia esquecer os internos da FASE, adolescentes que, a despeito da distância que
se encontram do mundo acadêmico, generosamente, partilharam sua subjetividade
conosco, sem a qual esta pesquisa não seria factível.
À professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Drª Jandyra Maria
Guimarães Fachel, que com paciência, disponibilidade e com toda competência
conduziu-me pelo desconhecido caminho da estatística, possibilitando as análises que
embasaram esse estudo. Ao Prof. Silvio José Lemos de Vasconcelos pela enorme
colaboração ao longo da pesquisa. E ao Dr. David Kosson que, mesmo a distância, se fez
bastante presente, explorando com nosso incentivo a tecnologia virtual.
Meu profundo e carinhoso agradecimento a minha família, especialmente minhas
irmãs Nelita e Rosane (Bibi e Jane) pelo implacável estímulo às minhas escolhas. Aos
meus queridos filhos, Rafael e Marina, que me enchem de orgulho, nada me cobram e
que serão sempre minha maior fonte de energia e inspiração.
E, finalmente, para Luciano, que me encontrou tão longe e que me faz feliz.
Muito obrigada!
Quando aquele que caminha na obscuridade canta,
Nega sua ansiedade,
Mas nem por isso passa a ver mais claro.
Sigmund Freud
SUMÁRIO
RESUMO ..........................................................................................................................11
ABSTRACT ......................................................................................................................13
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS .......................................................................15
LISTA DE QUADROS E TABELAS...............................................................................17
INTRODUÇÃO.................................................................................................................18
Referências...............................................................................................................22
SEÇÃO I - REVISÃO DA LITERATURA ......................................................................24
PERSONALIDADE E PSICOPATIA: IMPLICAÇÕES DIAGNÓSTICAS NA
INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA.....................................................................................24
Introdução ................................................................................................................24
Infância, Adolescência e Juventude no contexto da violência.................................26
Classificação das manifestações desviantes precoces..............................................28
Evolução da pesquisa com Psicopatia em crianças e adolescentes..........................31
Perspectivas Atuais e Futuras ..................................................................................34
Considerações Finais................................................................................................36
Referências...............................................................................................................37
SEÇÃO II – ESTUDO EMPÍRICO ..................................................................................44
ESTUDO DAS INTERAÇÕES INTERPESSOAIS, AFETIVAS E NÃO-VERBAIS EM
ADOLESCENTES EM CONFLITO COM A LEI, BASEADO NO INVENTÁRIO DE
PSICOPATIA DE HARE:VERSÃO JOVENS (PCL:YV)...............................................44
Introdução ................................................................................................................44
Método .....................................................................................................................51
ETAPA 1: Tradução da IM-P por especialistas e adaptação à realidade brasileira,
treinamento e preparação da equipe para a coleta de dados.....................................51
Apresentação do Instrumento...................................................................................51
Tradução e adaptação à realidade brasileira.............................................................52
Treinamento da equipe.............................................................................................53
ETAPA 2: Coleta de dados e apresentação e discussão dos resultados...................55
Participantes.............................................................................................................55
Instrumentos.............................................................................................................56
Procedimentos éticos e de coleta de dados ..............................................................57
Resultados ................................................................................................................58
Confiabilidade inter-avaliadores.......................................................................58
Consistência interna..........................................................................................60
Correlações entre instrumentos e variáveis sócio-demográficas ......................61
Discussão dos resultados...................................................................................63
Considerações finais.................................................................................................71
Referências...............................................................................................................73
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................78
Referências ...............................................................................................................79
ANEXOS...........................................................................................................................81
ANEXO A - Aprovação da Comissão Científica do Programa de Pós Graduação em
Psicologia da PUCRS.................................................................................................81
ANEXO B - Aprovação do Comitê De Ética em Pesquisa da Pucrs.........................81
ANEXO C - Declaração de Consentimento para a Pesquisa da FASE......................81
ANEXO D- Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.......................................81
ANEXO E - Questionário de Dados Sócio-Demográficos e Uso de Substâncias .....81
11
RESUMO
A Psicopatia é considerada um transtorno de etiologia multifatorial, que apresenta
tanto características de personalidade quanto reações comportamentais, agressivas ou
não, evidentes nas relações interpessoais. A atual freqüência e intensidade de
manifestações anti-sociais envolvendo jovens têm levado ao crescente interesse nas
pesquisas com o construto da Psicopatia dirigido a crianças e adolescentes e na validação
de novos instrumentos de avaliação. Esta dissertação de mestrado, quantitativa,
transversal, descritiva e correlacional, envolveu as propriedades psicométricas do
Inventário de Psicopatia de Hare: versão jovens (Hare Psychopathy Checklist:Youth
Version, [PCL:YV]) e da Medida Interpessoal de Psicopatia (Interpersonal Measure of
Psychopathy, [IM-P]) para fins de adaptação e validação à realidade brasileira. Na seção
I, encontra-se a revisão teórica a respeito da classificação e implicações diagnósticas
relacionadas à personalidade e a Psicopatia durante a infância e a adolescência. A
classificação das manifestações desviantes precoces, a evolução da pesquisa com
Psicopatia em crianças e adolescentes, bem como suas perspectivas atuais e futuras são
abordadas, sem a intenção de esgotar o tema. Na seção II, apresenta-se o estudo empírico
realizado com 83 adolescentes masculinos em conflito com a lei, com idade média de
16,3 anos, predominantemente caucasianos e com baixa escolaridade. Todos os
participantes cumpriam medida sócio-educativa em regime de privação de liberdade, na
Fundação de Assistência Sócio-Educativa (FASE) da cidade de Novo Hamburgo/RS, no
período da coleta. Os resultados serviram de base para a descrição das características
sócio-demográficas e para o estudo dos aspectos afetivos, interpessoais e não verbais
associados à Psicopatia em adolescentes em conflito com a lei, a partir da IM-P e do
PCL:YV. Inicialmente, o desenvolvimento da versão original da IM-P, o processo de
tradução e adaptação para o Português (Brasil) da medida, bem como os procedimentos e
treinamentos para a aplicação dos instrumentos são descritos. Em seguida, a pesquisa de
campo é relatada, na qual a IM-P foi pontuada durante a entrevista de avaliação do
PCL:YV, realizada por um entrevistador e um observador, juntamente com o
preenchimento do questionário de dados sócio-demográficos/uso de substâncias e dos
itens de Respostas Emocionais Subjetivas. As propriedades psicométricas de consistência
interna (0,80; p<0,001;N=83) e confiabilidade inter-avaliadores (0,84;p<0,001;N=20)
para a IM-P apresentaram resultados substanciais. A correlação entre a presença de traços
de Psicopatia, medida pelo PCL:YV e a presença de déficits nas interações interpessoais
e afetivas mensuradas pela IM-P, mostrou-se positiva e significante (r=0,49; p<0,001;
N=83). A continuidade da pesquisa sobre o construto no contexto brasileiro, com a
utilização destes instrumentos, é recomendada antes que os resultados obtidos nesta
amostra possam ser generalizados.
12
Palavras-chave:
Avaliação Psicológica, Personalidade, Adolescentes Infratores, Comportamento Anti-
social, PCL:YV, IM-P, Psicometria
Área conforme classificação CNPq
7.07.00.00-1 (Psicologia)
Sub-área conforme classificação CNPq
7.07.10.00-8 (Fundamentos e Medidas em Psicologia)
13
ABSTRACT
Psychopathy is considered a multifactorial etiology disorder that presents both
personality characteristics and behavioral reactions, aggressive or not, evident in
interpersonal relationships. The actual frequency and intensity of antisocial
manifestations involving youths has increased the interest in the researches with the
Psychopath construct directed to child and adolescents and in the validation of new
evaluation instruments. This master’s dissertation, a quantitative, cross-section,
descriptive and correlational study, involved the psychometric properties of the Hare
Psychopathy Checklist: Youth Version (PCL:YV) and the Interpersonal Measure of
Psychopathy (IM-P), aiming at the adaptation and validation to Brazilian reality. In
section I, a theoretical review about the classification and diagnostic implications related
to the personality and the psychopathy during childhood and adolescence was performed.
The classification of the early deviant manifestations, the evolution of the research with
psychopathy in child and adolescents, as well as its actual and future perspectives are
addressed, without intending to exhaust the subject. In the section II, the empirical study
performed with 83 male adolescents in conflict with the law, with the average age of
16.3, predominantly Caucasian and low schooling is presented. All participants attended
social educative measure in incarceration, in Fundação de Assistência Sócio Educativa
(FASE Social Educative Assistance Foundation) in the city of Novo Hamburgo/RS, in
the collect period. The results served as base to the description of the social demographic
characteristics and for the study of the affective, interpersonal and nonverbal aspects
associated to psychopathy in adolescence in conflict with the law, through the IM-P and
of the PCL:YV. Initially, the development of the original version of the IM-P, the process
of translation and adaptation to Portuguese (Brazil) of the measure, as well as the
procedures and training to the application of the instruments are described. Forthwith, the
field research is related, in which the IM-P was punctuated during the evaluation
interview of the PCL-YV, performed by an interviewer and an observer, along with the
writing up of the questionnaire of social demographic data/substances use and of the
Subjective Emotional Response items. The internal consistency psychometric properties
(α=.80; p<0.001; N=83) and interevaluators reliability (W=.84; p<0.001; N=20) to the
IM-P presented substantial results. The correlation between the presence of Psychopathic
traits, measured by PCL: YV and the presence of deficits in the interpersonal and
affective interactions mensurated by IM-P, has proved to be positive and significant
(r=.49; p<0.001; N=83). Before the results obtained in this work is generalized, we
recommend the continuity of this research in order to improve this construct in the
Brazilian reality.
Key Words: Psychological Evaluation, Personality, Offender Adolescents, Antisocial
Behavior, PCL:YV, IM-P, Psychometry
14
Area According to the National Council of Technological and Scientific
Development:
7.07.01.03-2 (Construction and Validity of Tests, Scales and other psychological
measures).
15
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
AACAP American Academy of Child and Adolescent Psychiatry
APA American Psychological Association
APSD Antisocial Process Screening Device
CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior
CCI Coeficiente de Correlação Intra-classe
CEP Comitê de Ética em Pesquisa
CFP Conselho Federal de Psicologia
CPS Childhood Psychopathy Scale
CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico
DP Desvio Padrão
DSM Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
FASE Fundação de Atendimento Sócio-Educativo
ICD/CID Classificação Internacional de Doenças
IHA Índice de Homicídios na Adolescência
IM-P Medida Interpessoal de Psicopatia
OMS Organização Mundial da Saúde
OPS Organização Panamericana de Saúde
PCL – R Inventário de Psicopatia de Hare
PCL: YV Inventário de Psicopatia de Hare:Versão Jovens
PCL-SV Inventário de Psicopatia de Hare: Versão de Rastreamento
16
PUCRS Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
SSPSF Statistical Package for the Social Sciencesfor Windows
RES Respostas Emocionais Subjetivas
TC Transtorno de Conduta
TDAH Transtorno de Déficit de Atenção por Hiperatividade
TPAS Transtorno de Personalidade Anti-Social
UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância
WISC Escala de Inteligência Wechsler para Crianças
17
LISTA DE QUADROS E TABELAS
Quadro 1 - Síntese de pesquisas utilizando a IM-P...........................................................48
Tabela 1 - Concordância Inter-avaliadores para a IM-P....................................................59
Tabela 2 - Concordância Interavaliadores para os itens da IM-P......................................60
Tabela 3 - Consistência Interna da IM-P...........................................................................61
Tabela 4 - Correlações IM-P, PCL:YV, RES....................................................................62
Tabela 5 - Correlações da IM-P com Itens RES do Observador e Versatilidade Criminal
...........................................................................................................................................62
Tabela 6 - Correlações do PCL:Y com Itens RES do Entrevistador e Versatilidade
Criminal.............................................................................................................................62
18
INTRODUÇÃO
Na atualidade, a definição de Psicopatia está sendo retomada, especialmente no
cenário internacional, associada à pesquisa empírica dirigida a crianças e adolescentes.
Embora o construto não figure nos principais manuais diagnósticos em uso, nas últimas
décadas, pode-se acompanhar um grande mero de pesquisas dirigidas a ele,
desvinculando-o exclusivamente dos comportamentos anti-sociais manifestos,
delinqüentes e criminosos. Passou-se a observar também os componentes afetivos e
relacionais, que são intrínsecos ao transtorno, segundo os conceitos de Cleckley
(1941/1988) e Hare (1991).
É comum a utilização de uma variedade de termos para aludir aos comportamentos
sociais desviantes (Lilienfeld,1994), tais como: Psicopatia, Sociopatia, Transtorno de
Personalidade Dissocial e Transtorno de Personalidade Anti-Social (TPAS). A Psicopatia,
na concepção de Cleckley (1941/1988) e Hare (1991), e o TPAS (APA,2002)
representam entidades distintas (Steuerwald e Kosson, 2000). Por isso, em situações
clínicas e forenses, a distinção entre esses conceitos é tanto complexa quanto
fundamental. Por exemplo, nem sempre é fácil qualificar quando uma atitude é apenas
violenta ou transgressora e quando se apresenta como violência ou transgressão de
características psicopatas, isto é, sem sinais de remorso, culpa e empatia, especialmente
quando se refere aos adolescentes.
O atual Índice de Homicídios na Adolescência ([IHA]; UNICEF, 2009),
desenvolvido para medir o impacto da violência nesta faixa etária, monitorar o fenômeno
e avaliar a aplicação de políticas públicas, divulgado em julho de 2009, apontou que os
homicídios representam 46% de todas as causas de mortes entre adolescentes brasileiros,
em geral cometidos com arma de fogo. Além disso, o IHA estimou que o número de
adolescentes assassinados entre 2006 e 2012 irá ultrapassar a 33 mil, caso permaneçam as
atuais condições de vida. Revelou ainda que fatores como raça, gênero, idade e territórios
aumentam as chances de um adolescente ser vítima de homicídio. Segundo o Índice, os
meninos entre 12 a 18 anos têm quase 12 vezes mais probabilidade de serem assassinados
do que as meninas dessa mesma faixa etária. os adolescentes negros têm quase três
vezes mais chance de morrer assassinados do que os brancos.
19
Dados como esses impactam sobre os fatores de risco e proteção aos adolescentes e
crianças, demandando pelo investimento nas pesquisas que tentam elucidar e diagnosticar
detalhadamente a etiologia e a evolução de transtornos mentais que podem estar
subjacentes a essas manifestações de violência. se sabe que diversos fatores de
natureza bio-psico-social associados ao comportamento anti-social na infância: ser do
sexo masculino, receber cuidados maternos e paternos inadequados, viver em meio à
discórdia conjugal, ser criado por pais agressivos e violentos, ter mãe com problemas de
saúde mental, residir em áreas urbanas e ter nível sócio-econômico baixo (Shaw &
Emery,1988; Loeber, 1990). Contudo, a presença de comportamento anti-social na
infância e adolescência não implica necessariamente o estabelecimento de um
diagnóstico clínico, ou a necessidade de intervenções jurídicas, podendo, por outro lado,
ser um sintoma de uma variedade de quadros clínicos.
No Brasil, na perspectiva jurídica e social, antes dos 18 anos os jovens são
considerados inimputáveis, mas ao infringirem a lei estão sujeitos à legislação especial
que prevê medidas disciplinares e de segurança específicas, gradualmente mais rigorosas
(Brasil, 1990): 1) advertência; 2) obrigação de reparar o dano; 3) prestação de serviços à
comunidade; 4) liberdade assistida; 5) inserção em regime de semi-liberdade; 6)
internação com restrição de liberdade. Os dados oficiais (Silva e Gueresi, 2003) revelam
que as medidas de internação com restrições de liberdade são majoritariamente aplicadas
aos adolescentes se comparadas com as demais medidas sócio-educativas propostas pelo
Estatuto da Criança e do Adolescente ([ECA]; Brasil,1990), sendo menos de 10% do total
de adolescentes privados de liberdade. Contudo, não há dados conclusivos (Silva e
Gueresi, 2003) se isto se deve ao fato das medidas em meio aberto simplesmente serem
menos utilizadas, ou se de fato os adolescentes estão envolvidos em atos infracionais
mais violentos ou apresentam maiores comprometimentos de ordem psicoafetiva ou
podem ser mais beneficiados com estas intervenções.
Com base na análise de diversos estudos, Gallo e Williams (2008), apontam que o
adolescente em conflito com a lei apresenta características muito semelhantes,
independentemente da cultura em que vive. Quase todas as características relacionadas
são critérios importantes para quadros clínicos picos da infância e adolescência (ver
APA, 2002). As principais incluem: violação persistente de normas e regras sociais,
comportamento desviante das práticas culturais vigentes, dificuldade para socializar, uso
precoce de tabaco, de drogas e bebida alcoólica, história de comportamento anti-social,
20
envolvimento em brigas, impulsividade, humor depressivo, tentativas de suicídio,
ausência de sentimento de culpa, hostilidade, destruição de patrimônio público,
institucionalização, incidentes incendiários, vandalismo, rejeição por parte de professores
e colegas, envolvimento com pares desviantes, baixo rendimento acadêmico, fracasso e
evasão escolar.
Na perspectiva clínica, especialistas e pesquisadores concordam que os traços e
comportamentos que caracterizam quadros clínicos, como a Psicopatia, começam a se
manifestar muito precocemente (Forth & Burke, 1998), abrindo a possibilidade de
identificá-los ainda durante a estruturação da personalidade. Porém, a avaliação da
personalidade é por si mesma uma temática controversa e complexa, quer seja do ponto
de vista da pesquisa, da clínica ou do judiciário. Quando se refere às crianças ou
adolescentes as dificuldades tendem a se intensificar, muitas vezes, levando os
pesquisadores e clínicos a hesitarem no uso de classificações diagnósticas, temendo
estigmatizações e rótulos que de algum modo comprometam o desenvolvimento posterior
desses jovens (Kernberg, Weiner & Bardenstein, 2003). A falta de enfrentamento desta
polêmica, em parte, pode ser responsável pelas escassas estratégias técnicas e políticas
sociais de intervenções precoces disponíveis a essa população, as quais poderiam
contribuir muito para prevenir, minimizar ou evitar o agravamento de transtornos
psicopatológicos como a Psicopatia, explícitos em idades mais avançadas (Forth &
Burke, 1998; Kernberg et al., 2003).
Como em todo transtorno de personalidade, na Psicopatia o diagnóstico é baseado
em aspectos essencialmente clínicos, a partir de dados de entrevistas e anamnese,
observação longitudinal e contribuições familiares e escolares. Os exames de
neuroimagem, ainda que possam contribuir, até o momento, oferecem dados pouco
conclusivos e não são determinantes na avaliação diagnóstica (Dalgalarrondo, 2000).
Dessa forma, a instrumentalização através de técnicas e instrumentos psicológicos
padronizados é um recurso importante tanto para aumentar a confiabilidade do
diagnóstico, quanto para amparar e facilitar a atuação dos profissionais envolvidos.
O Inventário de Psicopatia de Hare: Versão Jovens ([Hare Psychopathy Checklist:
Youth Version - PCL:YV]; Forth, Kosson & Hare, 2003), derivado do Inventário
Revisado para Psicopatia de Hare ([Hare Psychopathy Checklist-Revised: PCL-R];
Hare,1991) é um instrumento amplamente utilizado nas pesquisas internacionais.
Consiste em uma escala com 20 itens para a avaliação de traços de Psicopatia em
21
adolescentes entre 12 a 18 anos. Utiliza uma entrevista semi-estruturada e informações
colaterais para medir características interpessoais, afetivas e comportamentais
relacionados à concepção de Psicopatia tradicional.
No entanto, cada vez mais tem se discutido a relevância de identificar com maior
fidedignidade os aspectos afetivos típicos das personalidades psicopáticas, exibidos nas
interações interpessoais e através de uma linguagem não-verbal. Outro instrumento,
então, a Medida Interpessoal de Psicopatia ([Interpersonal Measure of Psychopathy, IM-
P]; Kosson, Forth, Steuerwald, & Kirkhart, 1997) foi desenvolvida na tentativa de avaliar
diretamente as interações interpessoais reais que se estabelecem entre o examinando e o
entrevistador no próprio processo de avaliação, sendo um coadjuvante nas investigações
diagnósticas. A IM-P, composta por 21 itens, é baseada na idéia de que uma avaliação
direta de comportamentos evidentes em uma situação específica, a entrevista, reduz a
necessidade de julgamentos subjetivos na medição de aspectos interpessoais da
Psicopatia.
Os estudos com instrumentos específicos para avaliar traços de Psicopatia em
jovens começam a se fazer presentes na realidade brasileira. Esta pesquisa quantitativa,
descritiva e correcional, de delineamento transversal, propôs-se a investigar os aspectos
psicoafetivos e as interações interpessoais da Psicopatia baseados no PCL:YV, em uma
amostra de 83 adolescentes masculinos em conflito com a lei, cumprindo medida em
restrição de liberdade. Especificamente, objetivou: comparar os escores totais do
PCL:YV com a pontuação da IM-P, dando ênfase as questões de validação; identificar as
características sócio-demográficas desta amostra, correlacionado-as com os resultados
dos instrumentos e identificar as respostas emocionais subjetivas do entrevistador ao
participante, durante a aplicação da IM-P.
De acordo com as recomendações e normatização do Conselho Federal de
Psicologia (CFP), novos instrumentos de avaliação demandam sempre por extensos
estudos de validação e adaptação a fim de assegurar suas qualidades psicométricas em
diferentes contextos. Atendendo a essa demanda, a pesquisa, então, iniciou-se pela
tradução para o Português (do Brasil) e avaliação das propriedades psicométricas
preliminares da IM-P, quanto à confiabilidade inter-avaliadores e a consistência interna,
para em seguida fazer as análises de correlação com os demais instrumentos,
contribuindo também com os estudos de validação do PCL:YV, em andamento no
22
Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul (PUCRS).
Para a realização desta pesquisa previamente foi elaborado um projeto intitulado
Estudo dos aspectos afetivos e das interações interpessoais em adolescentes infratores,
baseado no Inventário de Psicopatia de Hare: versão jovens”, aprovado pela Comissão
Científica da Faculdade de Psicologia da PUCRS (Anexo A). Além disso, o Comitê de
Ética em Pesquisa da PUCRS já havia aprovado o protrocolo de registro CEP 07/03708,
no qual este estudo se insere, intitulando-se “Avaliação psicológica e situação jurídico-
penal de adolescentes”(Anexo B). Foi obtida ainda junto a Fundação de Assistência
Sócio-Educativa (FASE) autorização para coleta de dados para a pesquisa na qual se
inclui este estudo (Anexo C).
Esta dissertação de Mestrado integra a Linha de Pesquisa Etiologia, Diagnóstico e
Tratamento em Transtornos Mentais do grupo de pesquisa Avaliação e Intervenção em
Saúde Mental, orientado pelo Prof. Dr. Gabriel José Chittó Gauer. Sua apresentação foi
estruturada em duas partes, atendendo a normatização do Programa de Pós-Graduação em
Psicologia da PUCRS. Na seção I encontra-se uma revisão da literatura a respeito das
implicações diagnósticas envolvendo a personalidade, a psicopatia e a adolescência. Na
seção II, apresenta-se o estudo empírico realizado com adolescentes masculinos, entre 13
e 19 anos, que cumpriam medida sócio-educativa em regime de privação de liberdade na
FASE da cidade de Novo Hamburgo/RS. A seguir encontram-se as considerações finais
sobre a dissertação realizada. Em anexo estão as autorizações para realização da pesquisa,
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, Questionário de dados sócio-demográficos
e de uso de substâncias (QSDUS).
Referências
Associação Psiquiátrica Americana. (APA; 2002). Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais Revisado – DSM-IV-TR. 4ª. ed. Porto Alegre: Artmed.
Brasil (1990). Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil/Leis/L8069.htm. Acesso em 30/01/2009.
Cleckley, H. (1941/1988). The mask of sanity. St. Louis, MO: Mosby.
23
Dalgalarrondo, P. (2000). Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais. Porto
Alegre: Artes Médicas Sul.
Forth, A.E. & Burke, H.C. (1998). Psychopathy in Adolescence: assessment, violence and
developmental precursors. In: Cooke, D. J., Forth,A. E., Hare,R.D(1998).
Psichopathy: Theory, Research and Implications for Society. Dordrecht, The
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24
SEÇÃO I - REVISÃO DA LITERATURA
PERSONALIDADE E PSICOPATIA: IMPLICAÇÕES DIAGNÓSTICAS
NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA
Introdução
As pesquisas contemporâneas têm apontado nas experiências infantis a presença de
fatores de risco elevado para o desenvolvimento de quadros psicopatológicos. Uma
revisão sobre o desenvolvimento de transtornos de personalidade relacionou diversos
estudos confirmando que crianças e jovens submetidos a experiências traumáticas (abuso
físico/psicológico, negligência, doença mental parental, punição excessiva e agressiva e
outros formas da vitimização, como tiranizar e intimidar), seriam potencialmente mais
vulneráveis à presença de traços ou sintomas de transtornos de personalidade (Johnson,
McGeoch, Caskey Abhary, Sneed, & Bornstein, 2005).
Os transtornos envolvendo a personalidade, depois de cristalizados, associam-se
fortemente à violência, abuso de drogas, tentativas de suicídio, comportamentos
destrutivos e criminosos, institucionalização, prejuízo global no rendimento e
desorganização familiar (Ruegg & Frances, 1995). Atingem, portanto, dimensões que vão
além do próprio indivíduo, refletindo-se sobre o contexto social, demandando por atenção
de políticas públicas e sociais voltadas para a prevenção e a intervenção precoce.
Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais ([DSM-VI-R]
APA, 2002), os traços de personalidade são expressos por padrões persistentes de
perceber, relacionar-se com e pensar sobre si mesmo ou sobre o ambiente. Quando estes
traços se mostram inflexíveis e desadaptativos para a cultura do sujeito, causando mal
estar subjetivo ou prejuízo funcional importante, podem caracterizar um transtorno de
personalidade. O transtorno de personalidade manifesta-se, então, em pelos menos duas
áreas da vida, podendo envolver a cognição, a afetividade, o funcionamento interpessoal
e o controle dos impulsos, não sendo apenas uma resposta a estressores específicos.
Ainda assim, o contato com a realidade mantém-se preservado e, quase sempre, estes
traços não são intimamente percebidos pelo sujeito como estranhos ou indesejáveis,
25
avaliando positivamente (portanto, de modo equivocado) o impacto dos mesmos sobre o
ambiente (O’Connor & Dyce, 2001).
As duas principais classificações nosológicas dos transtornos mentais (OMS, 2007;
APA, 2002), não recomendam o diagnóstico de transtornos de personalidade antes dos 17
ou 18 anos, tendo em vista que a personalidade ainda estaria em formação e, portanto,
não totalmente consolidada para receber estes diagnósticos (Vijay, Langley & Links,
2006). Porém, concordam que esses transtornos iniciam-se precocemente e tendem a
durar quase toda a vida, sendo relativamente freqüentes entre a população geral, com
prevalência entre 10 a 13% (Abrams & Horowitz, 1996; Lenzenweger, 1999). Não
surgem, então, de modo repentino, tendo precursores de suas características básicas
presentes ainda na infância, consolidando-se e estabilizando-se posteriormente
(O’Connor & Dyce, 2001), deixando em aberto uma grande discussão dirigida às
questões diagnósticas, terapêuticas e prognósticas associadas ao momento evolutivo em
que esses transtornos podem de fato ser identificados.
Em grande parte, foi a própria evolução na abordagem dos transtornos de
personalidade com adultos que intensificou as discussões sobre a adaptação deste
conceito para crianças e adolescentes, especialmente, no que se refere à Psicopatia
(Salekin & Frick, 2005). A Psicopatia consiste em um transtorno de personalidade que
envolve tanto características comportamentais desviantes, quanto aspectos afetivos e
relacionais, cuja etiologia e desenvolvimento ainda são pouco conhecidos. A busca de
uma terminologia mais apropriada (Achenbach, 1991; Wangby, Bergman, & Magnusson,
1999), bem como o desenvolvimento de instrumentos de avaliação dirigidos à psicopatia
em jovens (Lynam, 1997; Forth, Kosson & Hare, 2003) têm sido preocupação recorrente
nas pesquisas atuais com esta população.
Esta revisão de literatura, realizada por meio de pesquisa em bases de dados
(Pubmed, Psychoinfo, Medline) e em material bibliográfico relacionado, sem a intenção
de esgotar o tema, objetivou examinar o construto da Psicopatia associado ao
desenvolvimento da personalidade em crianças e adolescentes. Foram privilegiadas as
questões diagnósticas dos comportamentos desviantes precoces sugestivos de traços
incipientes de Psicopatia. A partir de descritores amplos, como personalidade anti-social,
transtorno de conduta, psicopatia e delinqüência, relacionados à infância e adolescência,
foram localizados um grande número de artigos e obras disponíveis sobre a temática, em
geral em língua inglesa, produzidos especialmente nas duas últimas décadas.
26
Essencialmente, esses materiais não apresentaram grande diversidade de informações,
porém, priorizaram a replicação de estudos empíricos e o debate de aspectos conceituais e
diagnósticos no curso da infância e adolescência, caracterizando o foco e a evolução das
pesquisas com estas amostras.
Infância, Adolescência e Juventude no Contexto da Violência
Na atualidade, o relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF,
2001) faz uma importante declaração que atribui valor ao desenvolvimento psíquico da
criança para a sociedade. Enfatiza, com base nos conhecimentos científicos e
neuropsicológicos atuais, que até por volta do sexto ano de vida, uma criança já
desenvolveu as bases de sua auto-estima, o sendo de moralidade, empatia,
responsabilidade, bem como a capacidade de aprendizado e de relacionamento social. São
afirmações que reforçam a hipótese de que as experiências da infância têm influência
significativa sobre o desenvolvimento da personalidade (Johnson, Quigley & Sherman,
1997).
De acordo Pilotti (1995), os conceitos de infância e criança são complementares e
interdependentes. O sentido da palavra criança pressupõe a dinâmica do desenvolvimento
individual, apontando para a dimensão mais psicológica; a palavra infância remete à
dinâmica social, histórica e cultural em que esta criança efetivamente se insere. No
Brasil, a criança é legalmente definida e apresentada pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente ([ECA]; Brasil,1990) como a pessoa que possui idade entre 0 e 12 anos
incompletos.
A adolescência, por sua vez, constituiu-se em um processo fundamentalmente
biológico, durante o qual se acelera o desenvolvimento cognitivo e a estruturação da
personalidade (Organización Panamericana de la Salud, [OPS], 1985). Abrange as idades
de 10 a 19 anos, divididas nas etapas de pré-adolescência (dos 10 aos 14 anos) e de
adolescência propriamente dita (de 15 a 19 anos) e representa “uma das formações
culturais mais poderosas da nossa época” (Calligaris, 2000, p.9). O conceito de
juventude, por outro lado, estende-se dos 15 aos 24 anos e resume uma categoria
essencialmente sociológica, indicativa do processo de preparação do indivíduo para
27
assumir o papel adulto na sociedade, tanto no plano familiar quanto no profissional (OPS,
1985).
Do ponto de vista jurídico, no entanto, baseado nessas definições o ECA (Brasil,
1990) preconiza os parâmetros de intervenções legais e de proteção destinados às
crianças e adolescentes brasileiros que cometem atos infracionais e/ou violentos. Porém
do ponto de vista desenvolvimental e social, atualmente os limites entre o final da
infância, adolescência e início da vida adulta são cada vez mais imprecisos.
Partindo-se desses pressupostos, examinar a infância e a adolescência
contextualizadas com a violência e a criminalidade presentes na sociedade deste século
traz a tona questões paradoxais. Se por um lado, crianças e adolescentes são muitas vezes
vítimas de abusos, maus tratos e experiências traumáticas, de outro, podem ser agentes de
atos violentos, que praticam precocemente, e que podem persistir ou se cristalizar ao
longo do tempo. A violência, nas suas mais distintas manifestações, é aqui entendida
quando, durante uma interação, um ou vários sujeitos agem de maneira direta ou indireta,
maciça ou esparsa, causando danos a uma ou a mais pessoas em graus variáveis, podendo
atingir sua integridade física ou sua integridade moral ou suas posses ou suas
participações simbólicas e culturais (Michaud, 1989).
Na infância são comuns as manifestações de agressividade, impulsividade,
ansiedade, e em algumas ocasiões, até mesmo os comportamentos delinqüentes
(Achenbach, 1991), que podem ou não envolver violência. Por este motivo, neste estudo,
considerou-se que os comportamentos violentos, transgressores, anti-sociais e psicopatas
não são, necessariamente, equivalentes. Desse modo, os comportamentos anti-sociais e
transgressores e as alterações nas relações interpessoais podem caracterizar apenas
sintomas isolados e transitórios em crianças e adolescentes (Forth & Burke, 1998).
Porém, quando esses comportamentos se tornam persistentes, repetitivos ou violentos
passam a ter significado psicopatológico, constituindo-se, por exemplo, nos componentes
essenciais do Transtorno de Conduta e do Transtorno Desafiador Opositivo, pelos
critérios diagnósticos do DSM-IV-R (APA, 2002). Estes transtornos infantis, segundo
pesquisadores e especialistas clínicos, podem evoluir (Forth & Burke,1998; Loeber,
Burke, Lahey, Winters & Zera, 2000; Veirmeiren, 2003) ou ainda serem parte um estágio
inicial (Patterson, DeBaryshe & Ramsey, 1989; Patterson, Reid & Dishion,1992;
Patterson, DeGarmo & Knutson, 2000) de transtornos formalmente reconhecidos na
28
idade adulta, como o Transtorno de Personalidade Anti-Social ([TPAS] APA,2002;
OMS,2007) ou a Psicopatia (Hare, 1991).
Devido à evolução das características desses transtornos ao longo da infância e
adolescência e pelo agravamento da criminalidade envolvendo jovens (ver
UNICEF,2009) nas últimas décadas passou-se a enfatizar a relevância clínica dos
problemas comportamentais de crianças com menos de seis anos, como indicadores de
possíveis dificuldades futuras (Campbell, 1995). Nesta perspectiva, os autores não
desvalorizam o processo pelo qual cada fase evolutiva é relevante e peculiar nas suas
manifestações e na formação da personalidade (Kernberg,Weiner & Bardenstein, 2003).
Classificação das Manifestações Desviantes Precoces
A literatura internacional atual tem freqüentemente utilizado uma nomenclatura
específica para referir problemas comportamentais que não se configuram ainda, pela sua
intensidade e permanência, como categorias nosográficas, porém, evidenciam a
existência de problemas contrastantes entre si, observados em análises empíricas. Os
termos internalização e externalização foram, então, difundidos na tentativa de fazer
distinção entre problemas que envolvem, respectivamente, conflitos com o self e aqueles
que dizem respeito à interação com o ambiente (Wangby et al.,1999), antes que tenham
efetivamente se consolidado em transtornos.
Pesquisadores que se dedicam às investigações empíricas do comportamento
infantil envolvendo agressividade, desobediência, intolerância a frustração,
oposicionismo, impaciência, fraco controle dos impulsos, fugas, roubos, entre outros,
acreditam que essas manifestações podem ser englobadas na definição operacional de
problemas de externalização (Achenbach, 1991/ Bordin, Mari & Caeiro, 1995; Lambert,
Wahler, Andrade & Bickman, 2001), relacionando-as intimamente com aspectos anti-
sociais (Fischer, Rolf, Hasazi & Cummings, 1984). As questões de internalização, por sua
vez, ficariam relacionadas a problemas depressivos, ansiosos, queixas somáticas e
retraimento social. Essa terminologia, diferente da encontrada na nosologia clássica,
tende a facilitar a descrição de problemas com crianças pequenas, especialmente quando
se pretende fazer referência às manifestações de externalização, evitando-se o peso
subjacente à expressão anti-social ou Psicopata.
29
Os problemas de externalização e o comportamento anti-social são apontados como
os que apresentam maior prevalência na infância entre os meninos, maior estabilidade ao
longo do tempo e maior probabilidade de evoluírem para quadros clínicos mais graves na
adolescência e na vida adulta, se comparados aos problemas de internalização (Pettit,
Bates, Dodge & Meece, 1999; Wangby et al., 1999). Os pesquisadores salientam que a
tendência aos comportamentos de externalização não constitui um diagnóstico em si e,
por isso, pode ser encontrado em crianças que nunca venham a desenvolver transtornos
específicos. Porém, há evidências empíricas (Keenan & Shaw,1998; Patterson, DeGarmo,
Knutson, 2000) que sustentam a hipótese de que tais manifestações podem ser
identificadas precocemente, já em torno dos 18 meses, e o início precoce seria um
indicador de maior gravidade do quadro e maior tendência a persistir ao longo da vida
(American Academy of Child and Adolescent Psychiatry [AACAP], 1997).
Quando persistentes, os problemas de externalização abrangem ou associam-se aos
sintomas encontrados nos critérios diagnósticos para Transtorno de Conduta (TC),
Transtorno Desafiador Opositivo, Transtornos Disruptivos e, em parte, para o Transtorno
de ficit de Atenção e Hiperatividade (APA, 2002). Segundo diversos estudos
mencionados por Pacheco, Alvarenga, Reppold, Piccinnini e Hutz (2005) esta relação é
mais freqüente quanto menor a idade da criança. A tendência permanente para apresentar
comportamentos incômodos e perturbadores ao ambiente, o envolvimento em atividades
perigosas e até mesmo ilegais são encontrados na essência destes transtornos,
especialmente o de conduta. São comportamentos que se caracterizam por causar maior
impacto aos demais do que ao próprio sujeito, o qual não apresenta sinais de empatia,
sofrimento psíquico ou constrangimento com as próprias atitudes (Earls, 1994).
Os Transtornos de Conduta, então, tipicamente, se manifestam muito cedo, entre o
início da infância e a puberdade e podem persistir até a idade adulta (Robins, 1991) com
taxas de prevalência que variam de 6 a 16% para o sexo masculino (APA, 2002). Podem
ser acompanhados por comorbidades, como o Transtorno de ficit de Atenção e
Hiperatividade (TDAH), comportamento agressivo, déficit intelectual, convulsões e
comprometimento do sistema nervoso central (por consumo de álcool/drogas no período
pré-natal, infecções, uso de medicamentos, traumas cranianos), além de antecedentes
familiares positivos para hiperatividade e comportamento anti-social. Essas comorbidades
tendem a ser mais freqüentes quando o transtorno de conduta inicia-se antes dos 10 anos.
É freqüente também o TC apresentar-se associado ao baixo rendimento escolar e a
30
dificuldades de relacionamento com colegas, resultando em limitações acadêmicas e
sociais ao indivíduo (AACAP;1997).
Essas manifestações comportamentais persistentes tendem a se modificar gradual e
progressivamente no decorrer do desenvolvimento infantil. Assim, os comportamentos
anti-sociais mais graves, tais como, brigas com armas, assaltos e arrombamentos,
geralmente são antecedidos por comportamentos mais leves, como trapacear, gazear aula,
furtar objetos de baixo valor e mentir (Rutter,1992). Com o tempo, pode somar-se ainda o
consumo abusivo de álcool e drogas (Loeber & Dishion,1983) e, especialmente nas
meninas, ocorrer o surgimento de quadros depressivos ou ansiosos (Rutter, 1992).
É possível que as características típicas destes comportamentos anti-sociais variem
de acordo com a idade em que se iniciam. Moffitt (1993), a partir deste pressuposto,
distinguiu dois grupos de anti-sociais: um grupo com padrão de comportamento anti-
social persistente ao longo da vida e outro limitado à adolescência. No primeiro grupo,
os comportamentos anti-sociais iniciam-se na idade pré-escolar, com reações manifestas
de oposicionismo e desafio, os quais ao evoluir resultam em sérios problemas de conduta
na adolescência e na vida adulta. No segundo grupo, os comportamentos anti-sociais são
circunscritos à juventude, estando fortemente apoiados na vantagem imediata e pelo
grupo de pares, sendo que estes adolescentes são capazes de manifestar atitudes pró-
sociais quando percebidas como recompensadoras.
Para alguns pesquisadores (Farrington, 1995; Veirmeiren, 2003), os
comportamentos anti-sociais que ocorrem na infância são protótipos de comportamentos
delinqüentes que poderão se manifestar mais tarde, sob a forma de transtornos de
personalidade. É justamente devido à intensidade e freqüência de delitos e crimes
envolvendo meninos e meninas nos dias atuais, que nota-se um crescente interesse teórico
e aplicado no construto da Psicopatia dirigido a crianças e adolescentes (Trevothan &
Walter,1989; Forth, Hart & Hare,1990; Chandler & Moran,1990).
Segundo Farrington (2005), a definição de Psicopatia sintetizada e utilizada nas
pesquisas atuais é derivada das contribuições teóricas originalmente propostas sobre o
construto e embasada em estudos empíricos. Envolve três importantes aspectos assim
caracterizadas:
1. Um estilo interpessoal enganador e arrogante, incluindo desinibição ou charme
superficial, egocentrismo ou um senso grandioso de auto-estima; mentira, trapaça,
manipulação e enganação.
31
2. Experiência afetiva deficiente, com pouca capacidade de sentir remorso, culpa e
empatia; uma consciência fraca, insensibilidade, afeto superficial e falha em
aceitar responsabilidade pelas ações (utilizando-se de negação, desculpas, etc.).
3. Um estilo de comportamento impulsivo ou irresponsável, incluindo tédio, busca
contínua por emoção, falta de metas a longo prazo, impulsividade, falha em
pensar antes de agir e um estilo de vida parasita (dívidas, hábitos de trabalho
insatisfatórios, etc.).
Nessa perspectiva, baseada nas idéias de Cleckley (1941/1988) e Hare (1991),
pode-se inferir que a Psicopatia sempre envolve comportamentos anti-sociais, porém,
nem todos os comportamentos anti-sociais devem ser atribuídos à Psicopatia. Segundo
Morana (2004), a Psicopatia, basicamente, pode ser compreendida sob dois aspectos: o
descritivo e o psicodinâmico. Do ponto de vista descritivo, constitui um transtorno com
conseqüências sociais, que se manifestam no comportamento do sujeito, levando-o a
condutas anti-sociais, cuja natureza poderá ser de ordem neurótica ou psicótica. Do ponto
de vista psicodinâmico, observam-se alterações na estrutura de personalidade, nas quais o
indivíduo estabelece uma relação distorcida com as pessoas, com os afetos e com as
normais sociais.
Evolução da Pesquisa com Psicopatia em Crianças e Adolescentes
A possibilidade de identificar e tratar transtornos de personalidade nas populações
jovens é ainda incipiente, embora, em 1940, Cleckley tivesse reconhecido a Psicopatia
como um transtorno de personalidade que tem suas raízes estabelecidas na infância e
adolescência. Dados históricos apontam que na mesma década, Karpman tentou organizar
formalmente alguns eventos de caráter científico para discutir a aplicabilidade do
construto da Psicopatia a essas amostras jovens (Salekin & Frick, 2005). Salekin e Frick
(2005) descreveram também diversos trabalhos realizados por pesquisadores como
McCord e McCord e Quay, nos anos 60. McCord e McCord observaram em seus estudos
com jovens que a Psicopatia assumia características distintas daquelas encontradas em
outros TC, sendo que apenas 14 % da amostra estudada apresentavam características
semelhantes aos traços de Psicopatia, demonstrando que não eram quadros idênticos.
Assim, nesse momento havia preocupações com a classificação psicopatológica na
32
infância, levando outro pesquisador, Quay, a propor que os avanços terapêuticos estariam
diretamente associados a uma melhor definição do que seria um “não psicopata”,
tentando com isto definir subtipos de delinqüência juvenil. Embora a intenção deste
último autor estivesse direcionada para a distinção entre o que é um comportamento anti-
social típico da adolescência e o que vai muito além, sua proposta foi criticada por acabar
gerando confusão conceitual, dificultando ainda mais as escassas pesquisas da época.
Passado mais de meio século, estas questões ainda continuam pouco exploradas do
ponto de vista teórico e empírico, especialmente no que concerne a alguns pontos, tais
como: a definição clara do conceito de Psicopatia, suas bases etiológicas, a real
possibilidade de ser reconhecida precocemente e se, com isto, poderia apresentar melhor
evolução (Salekin & Frick, 2005). Somente a partir dos anos 90 houve uma retomada dos
estudos com crianças e adolescentes em relação ao construto da Psicopatia, parcialmente
devido à evolução das pesquisas com amostras adultas, que se revelaram promissoras.
Modelos teóricos sofisticados (Gorestein & Newman, 1980; Hare, Hart & Haper, 1991)
enfatizando os déficits cognitivos e afetivos característicos da Psicopatia surgiram ao lado
de instrumentos de avaliação como o PCL-R (Hare, 1991), difundindo a descrição da
Psicopatia como um transtorno mais amplo e complexo do que o TPAS.
Pesquisas que tentaram associar possíveis traços de Psicopatia com diagnósticos
nosográfico, já consolidados para a infância e adolescência, também fortaleceram a
aplicabilidade do construto às populações jovens. Pesquisadores como Lynam
(1997;1998) fomentaram a hipótese de que alguns TC poderiam ser melhor descritos
como traços incipientes de Psicopatia. Com base nisso, estudos empíricos com crianças
que apresentavam comorbidades de TC, atenção, hiperatividade e impulsividade
permitiram identificá-las com padrões de comportamento anti-sociais mais graves e
agressivos e com uma série de déficits neuropsicológicos (por exemplo, pobres respostas
na modulação afetiva, incapacidade para postergar gratificações), bastante semelhantes
aqueles reconhecidos na Psicopatia adulta.
Tais pesquisas com crianças e adolescentes geraram, gradualmente, o
desenvolvimento de instrumentos e métodos de avaliação confiáveis e específicos para
estas faixas etárias. Além de medidas de auto-relato, como o CPS ([Childhood
Psychopathy Scale]; Lynam, 1997) e de relato de informantes como o APSD ([Antisocial
Process Screening Device]; Frick & Hare, 2001), surgiram importantes escalas de
avaliação como o Inventário de Psicopatia de Hare: Versão Jovens ([ Hare Psychopathy
33
Checklist: youth version; PCL:YV]; Forth, Kosson, & Hare, 2003), pontuado através de
informações provindas de uma entrevista com o adolescente e de dados institucionais.
Este, o PCL:YV, nos estudos recentes tem apontado a presença de dimensões distintas do
construto da Psicopatia, envolvendo aspectos interpessoais, afetivos e comportamentais
(Cooke & Michie, 2001; Forth, Kosson & Hare, 2003), além das transgressões legais e
criminais típicas das personalidades anti-sociais.
As pesquisas empíricas sobre a Psicopatia em jovens utilizando o PCL:YV já
revelaram dados importantes. De acordo com uma revisão realizada recentemente por
Vincent, Odgers, McCormick e Corrado (2008) os estudos apontaram que: adolescentes
que apresentam histórico precoce de delitos mais graves e repetitivos tendem a apresentar
pontuações mais elevadas no PCL:YV; as pontuações do PCL:YV têm sido encontradas
em associação com a presença de Transtorno do Comportamento Disruptivo, alterações
nas funções executivas e déficits nas relações interpessoais; em comparação com os
meninos, os resultados do PCL:YV para as meninas não oferecem contribuições
significativas quanto a reincidência criminal, violenta ou não.
Na realidade brasileira, estudos com instrumentos diagnósticos específicos para a
Psicopatia em jovens são muito incipientes e os resultados ainda não generalizáveis.
Contudo, o PCL:YV está traduzido para a língua portuguesa do Brasil (Gauer,
Vasconcellos & Werlang, 2006), bem como o seu manual, e sendo utilizado em pesquisas
empíricas no meio acadêmico (Beheregaray, 2008; Ronchetti, 2009; ver também Schmitt,
Pinto, Gomes, Quevedo & Stein, 2006) demonstrando acompanhar as tendências
internacionais na pesquisa de traços de Psicopatia em adolescentes.
As testagens psicológicas clássicas, por sua vez, utilizando instrumentos como a
Escala de Inteligência Wechsler para Crianças (WISC) ou o teste de Rorschach, são
abordagens que oferecem dados que confirmam os resultados encontrados nas escalas
específicas para a avaliação da Psicopatia. De acordo com Kernberg et al (2003) quanto
aos aspectos cognitivos, medidos pelo WISC, crianças e adolescentes com traços de
Psicopatia ou TPAS apresentaram pontuações mais baixas na área verbal do que na de
execução. Evidenciariam nisto suas limitações com o significado emocional das palavras,
com a visão de conjunto, com a flexibilização de estratégias e com a percepção da
conexão entre os elementos e as proporções. o teste de Rorschach quando aplicado
nessa população apresentou vazio de respostas de agressão, ausência de vínculos, alta
taxa de egocentrismo, maior grau de grandiosidade e menor taxa de ansiedade (Kernberg
34
et al. 2003). Esses elementos projetivos estariam revelando a desvalorização dos afetos
alheios e a propensão à exploração emocional, características comumente encontradas na
Psicopatia.
A estabilidade dos comportamentos anti-sociais ao longo da adolescência ou nos
períodos de transição entre as etapas de desenvolvimento foi identificada como uma
preocupação recorrente nas pesquisas com adolescentes e crianças. Vuchinich, Bank e
Paterson (1992) avaliaram 206 pré-adolescentes, por meio de um estudo longitudinal,
iniciado quando os participantes tinham 10 e 12 anos. Os resultados indicaram que o
comportamento anti-social permaneceu estável durante a pré-adolescência.
Perspectivas Atuais e Futuras
Com relação ao desenvolvimento de novas pesquisas com o construto da Psicopatia
aplicado a infância e adolescência ainda um grande número de questões fundamentais
que se mantêm sem resposta, especialmente, quanto à utilidade do construto ou a melhor
forma de conceituá-lo e medi-lo nestas populações. Diversos pesquisadores apontaram
possibilidades futuras, a partir de suas próprias experiências empíricas. Selekin e Frick
(2005), por exemplo, sugerem que as pesquisas deveriam focar na investigação da
Psicopatia levando em conta uma visão mais ampla das questões psicopatológicas da
infância e adolescência, visando gerar novos conhecimentos sobre a etiologia, o grau de
estabilidade temporal em relação ao desenvolvimento e o grau de comorbidade que deve
ser esperado em amostras jovens. Para os autores, os estudos com essas amostras não
deveriam restringir-se a busca de evidências apenas dos traços característicos da
Psicopatia adulta, estando abertas para considerar manifestações inusitadas em fases
precoces.
Preocupações quanto à clara distinção entre o que é típico da adolescência e o que
pode ser considerado expressão de Psicopatia são referidas por vários autores (Seagrave
& Grisso, 2002; Skeem & Cauffman, 2003), acirrando o debate sobre as implicações de
estender o construto da Psicopatia para os adolescentes. Eles argumentam que alguns
aspectos da Psicopatia (por exemplo, irresponsabilidade, egocentricismo, falta de
planejamento e premeditação), são características da juventude e, por isso, não podem ser
incluídos como sintomas de Psicopatia. Porém, outros pesquisadores consideraram que
35
esse é um risco inerente à pesquisa de quase todos os quadros psicopatológicos, partindo-
se do princípio de que freqüentemente os sintomas são uma intensificação ou variações
de aspectos tidos como normais (Cicchetti & Richters, 1997; Selekin & Frick, 2005).
Com base nos comportamentos delinqüentes, as investigações atuais tendem a
evidenciar que a idade de início e a persistência dos atos infracionais cometidos pelos
adolescentes são importantes preditores da severidade e continuidade da prática de
comportamentos anti-sociais (Farrington, 1995; Silva & Rosseti-Ferreira, 2002;
Tremblay, 2000). Ainda que os traços de Psicopatia possam não ser absolutamente
estáveis ao longo do desenvolvimento, especialmente na passagem da adolescência para a
idade adulta, muitos pesquisadores acreditam que este pode ser um problema comum na
avaliação de traços de personalidade. Para Selekin e Frick (2005) esta variabilidade na
trajetória do transtorno ao longo do desenvolvimento, ao invés de um obstáculo, poderia
ser útil para a investigação dos fatores que favorecem ou aumentam esta estabilidade,
considerando também o reconhecimento dos fatores protetores para a criança ou
adolescente.
Por outro lado, as comorbidades bastante comuns na infância e adolescência podem
fazer com que os traços de Psicopatia sejam confundidos com os encontrados em outros
transtornos comuns a esta faixa etária, enfatizando preocupações quanto à diferenciação
diagnóstica. Nesse sentido, os autores reafirmam que a essência da Psicopatia manifesta-
se nos aspectos afetivos e interpessoais (Frick, 2002; Kosson, Forth, Steuerwald &
Kirkhart,1997, muito mais do que nos comportamentos transgressores. Deste modo, as
pesquisas futuras poderiam explorar estratégias de avaliação por meio da combinação de
diferentes informantes, além da própria criança, como professores, pais, pares, registros
clínicos e institucionais (Kamphaus & Frick, 1996; Farrington, 2005), priorizando as
características afetivas e interpessoais destas amostras.
Segundo Hare e Neumann (2008) novas investigações de traços psicopatas em
crianças e adolescentes são vitais para determinar suas trajetórias e sua adaptação e
fixação (ou ausência delas) para outros indivíduos e para a comunidade em geral. A
comparação entre crianças que apresentam transtornos de personalidade com aquelas que
não apresentam seria mais produtivo do que comparar adultos com crianças (Kernberg et
al.,2003) embora esta seja a tendência de maioria das pesquisas. Além disso,
recomendam esforços adicionais na compreensão dos fatores biológicos, neurológicos,
36
psicológicos e sociais que dão início a personalidade Psicopata e a mantém (Salekin,
2002).
Neste sentido, Farrington (2005) apontou que os estudos longitudinais são
essenciais, nos quais as medidas de traços de Psicopatia devem ser repetidas em
diferentes idades, embora reconheça ser um grande desafio a obtenção dessas amostras. O
autor propôs até mesmo um roteiro seqüencial de estudos envolvendo: a definição e
conceituação da Psicopatia adolescente, a validação de instrumentos diagnósticos, os
estudos longitudinais investigando fatores de desenvolvimento e risco e as intervenções.
Além disso, sugeriu que uma maior aplicação dos dados conhecidos sobre a etiologia
do transtorno, ainda que não sejam completos, possa servir de subsídio para o
planejamento e desenvolvimento de programas preliminares de prevenção e tratamento.
Considerações Finais
Conforme a revisão de literatura evidenciou, os atuais resultados das pesquisas
sobre traços de Psicopatia na infância e adolescência não são conclusivos, porém,
evidenciam a prevalência dos problemas de externalização, conduta ou anti-sociais nesta
população. A presença destas características em crianças e adolescentes não determina
necessariamente a atribuição de um diagnóstico clínico, ainda que, com freqüência,
possam evoluir para quadros psicopatológicos, como TC, TPAS, Psicopatia e
comorbidades variadas.
Desse modo, diversos pesquisadores acreditam que seja bastante útil investigar os
traços de Psicopatia em adolescentes e crianças dentro da concepção geral dos transtornos
de personalidade, considerando assim a sintomatologia associada aos aspectos evolutivos,
bem como a etiologia multifatorial. A possível presença de características afetivas e
interpessoais da Psicopatia (tais como a ausência de remorso, empatia ou sensibilidade)
deveria ser apurada com meticulosidade, pois, constituem critérios de diferenciação
diagnóstica de suma importância, se apresentados concomitantemente aos aspectos
comportamentais (Hare & Neumann, 2008; Selekin & Frick, 2005).
Observou-se que, apesar dos atuais achados empíricos, a aplicação do construto da
Psicopatia à infância e adolescência continua enfrentando divergências, especialmente,
associadas a preocupações de ordem social e legal. Infere-se que algumas medidas
37
propostas com o intuito de evitar rótulos e estigmatizações, podem ser úteis em certa
proporção, porém, trazem consigo, intrinsicamente, a relutância na abordagem objetiva
destes sintomas, o que pode significar a inacessibilidade a qualquer tentativa terapêutica.
Por outro lado, a cautela em oferecer estes diagnósticos é bastante aceitável, porque,
quando manejados inadequadamente poderiam perpetuar a exclusão social destas crianças
e adolescentes. Contudo, pesquisadores como Kernberg et al. (2003) acreditam que
muitos destes prognósticos são reservados por si próprios, não tendo tanta relação com a
nomeação diagnóstica; ao contrário, quando oportuna, tal classificação ofereceria uma
possibilidade de intervenção diferenciada a estas crianças, aumentando as chances de
uma melhor evolução.
Embora as pesquisas sobre Psicopatia envolvendo crianças e adolescentes sejam
árduas, demandem cuidados éticos delicados e por ultrapassar barreiras clínicas,
institucionais, legais e sociais, elas avançaram consideravelmente nas duas últimas
décadas em outros países. Ao chegar à realidade brasileira, a pesquisa sobre Psicopatia
em jovens carrega a vantagem de poder se apoiar nos avanços obtidos por
pesquisadores internacionais e em instrumentos psicométricos confiáveis, como o
PCL:YV. É possível, no entanto, que os resultados dessas pesquisas, quer sejam em
amostras brasileiras ou internacionais, encontrem seu mérito maior em beneficiar
efetivamente as gerações futuras, representando, em última análise, um esforço visionário
na tentativa de reduzir a violência e gerar qualidade de vida e de vínculos ao indivíduo e à
sociedade.
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44
SEÇÃO II – ESTUDO EMPÍRICO
ESTUDO DAS INTERAÇÕES INTERPESSOAIS, AFETIVAS E NÃO-VERBAIS
EM ADOLESCENTES EM CONFLITO COM A LEI BASEADO NO
INVENTÁRIO DE PSICOPATIA DE HARE: VERSÃO JOVENS (PCL:YV)
Introdução
A elevada prevalência de homicídios (46%) como causa de morte entre
adolescentes brasileiros (UNICEF, 2009) e a constante participação de jovens em atos
infracionais envolvendo violência e agressividade contra as vítimas, coloca o
comportamento anti-social na adolescência como um problema de saúde pública. Esses
atos e suas conseqüências demandam por intervenções jurídicas, médico-hospitalares,
sociais e psicológicas que afetam os indivíduos e a sociedade e oneram a todos. Em
decorrência, as tentativas de clara distinção entre manifestações transgressoras
transitórias ou circunstanciais e quadros psicopatológicos de etiologia multifatorial, como
a Psicopatia, apontam para a relevância da pesquisa empírica com este construto, dirigida
à população adolescente.
A Psicopatia pode ser considerada uma forma específica e extrema de Transtorno
de Personalidade (Steuerwald & Kosson, 2000) e, como tal, apresenta um estilo
interpessoal disfuncional e típico, como elemento central (Widner & Frances,1985). A
essência do transtorno manifesta-se nas interações perturbadas que a pessoa mantém com
os outros (Millon, 1981; Vaillent,1987), sendo identificada por uma série de critérios
afetivos e comportamentais definidos por Cleckley (1941/ 1988) e revistos por Hare
(1991).
O atual conceito de Psicopatia, baseado nesses critérios, descreve a presença de um
estilo interpessoal enganador e arrogante, desinibido, egocêntrico e auto engrandecido,
levando a pessoa a mentir, trapacear e manipular facilmente. As experiências afetivas são
deficitárias, nas quais a pessoa apresenta pouca capacidade para sentir remorso, culpa e
empatia, tendendo para a insensibilidade e incapacidade para aceitar responsabilidade
pelas ações praticadas. o comportamento mostra-se impulsivo ou irresponsável, com
45
busca contínua por emoção, falta de metas a longo prazo, falha em pensar antes de agir e
um estilo de vida parasita (Farrington, 2005).
O comportamento interpessoal é, então, um elemento crucial na descrição e
diagnóstico dos Transtornos de Personalidade (Widiger & Frances, 1985) como a
Psicopatia (Kosson, Forth, Steuerwald & Kirkhart, 1997). A crítica principal dirigida à
maioria dos estudos sobre a relação entre os Transtornos de Personalidade e o
comportamento interpessoal é a utilização exclusiva de medidas retrospectivas de auto-
relato na pesquisa destes aspectos (Bornstein, 2003). Uma revisão da literatura, proposta
por Klonsky, Oltmanns & Turkheimer (2002), concluiu que os indivíduos com desordens
de personalidade são freqüentemente inábeis para se ver realisticamente e para avaliar
adequadamente o seu comportamento sobre as outras pessoas, engrandecendo-se ou
minimizando suas responsabilidades, o que torna seu auto-relato pouco fidedigno para a
pesquisa.
Para controlar essa fonte de erro nos auto-relatos, tornou-se comum obter
informações colaterais através de parentes ou amigos que conhecem bem o sujeito
pesquisado (Oltmanns, Turkheimer & Strauss, 1998). Porém, os autores apontam a
probabilidade dos padrões para julgamento e comportamento interpessoal do informante
ser semelhantes àqueles do sujeito, se ambos estiveram dentro da mesma família (irmãos,
pais) ou escolheram viver junto (esposos, amigos). Desse modo, a observação direta do
comportamento interpessoal (Bornstein, 2003), vem sendo apontada como um recurso
importante na pesquisa dos transtornos que envolvem a personalidade. A observação e
identificação de comportamentos específicos em situações críticas para o funcionamento
interpessoal adaptável pode ser útil para compreender as dificuldades interpessoais que se
repetem e que sustentam esses transtornos (Leising, Sporberg & Rehbein, 2006).
Embora a etiologia ainda não esteja totalmente esclarecida, os traços de
personalidade mal adaptados presentes nos Transtornos de Personalidade podem ser
causados pela interação de fatores de risco tanto genéticos quanto ambientais (Caspi,
McClay, Moffitt, Mill, Martin, Craig, et al., 2002; Foley, Eaves, Wormley, Silberg, Maes,
Kuhn et al., 2004), cuja identificação precoce pode ser determinante para o
desenvolvimento e evolução desses quadros. É, por isso, relevante que esses traços sejam
identificados precocemente em adolescentes e jovens antes que se cristalizem ou tragam
maiores prejuízos (Forth, Kosson & Hare, 2003; Kosson et al., 1997).
46
Preocupações dessa natureza geraram o desenvolvimento de instrumentos
psicométricos como o Inventário de Psicopatia de Hare: Versão Jovens ([Psychopathy
Checklist:Youth Version, PCL:YV]; Forth et al., 2003),derivado do Inventário para
Psicopatia de Hare-Revisado ([Hare Psychopathy Checklist – Revised,PCL-R]; Hare,
1991/ Morana, 2004). Estudos envolvendo a utilização do PCL-YV têm revelado escores
mais elevados para adolescentes em regime de privação de liberdade e adolescentes que
manifestam uma freqüência mais alta de comportamentos anti-sociais, bem como
abusadores de álcool e drogas (Kosson, Cyterski, Neumann, Steuerwald & Walker-
Mathews, 2002).
O PCL:YV consiste em uma escala com 17 itens para a avaliação de traços de
Psicopatia em adolescentes de 12 a 18 anos e mais três itens específicos para o
comportamento criminal, cujos estudos de validação das propriedades psicométricas para
a sua utilização no Brasil encontram-se em andamento. foi realizada a adaptação e
tradução da escala (Gauer, Vasconcellos & Werlang, 2006) e do manual do PCL:YV para
o Português, bem como um estudo preliminar das propriedades psicométricas do
PCL:YV em 103 adolescentes em conflito com a lei, em restrição de liberdade
(Ronchetti, 2009). A confiabilidade inter-avaliadores (0,92; p<0,001; N=20) e
consistência interna (0,83; N=89) encontradas nesse estudo foram significativas.
Embora ainda não se tenha estudos de análise fatorial concluídos para o PCL:YV
na amostra brasileira, as análises internacionais consolidadas (Harpur, Hare &
Hakstian,1989; Hare, 1991; Forth et al., 2003), revelaram pelo menos duas dimensões da
Psicopatia bastante distintas. A dimensão denominada de Fator 1 refere-se aos traços
afetivos e interpessoais, tais como, a insensibilidade, a falta de empatia e de
culpabilidade, as manipulações e a mentira, correlacionado fortemente com o narcisismo
e algumas alterações no processamento de informações (Harpur et al., 1989; Kosson et
al., 1997). A segunda dimensão, o Fator 2, reflete os comportamentos indicativos de um
estilo de vida instável e anti-social, perceptíveis no controle empobrecido da raiva, no
estilo de vida parasitário e no comportamento irresponsável e criminoso, relacionando-se
com as características do Transtorno de Personalidade Anti-Social (TPAS) e aos
transtornos de abuso de substâncias (Harpur et al., 1989; Kosson et al.,1997)
Pesquisadores como Kosson et al., (1997) apontam que avaliar a dimensão
interpessoal da Psicopatia (relacionada ao Fator 1) é ainda mais difícil do que avaliar a
sua dimensão social. Justificam esta afirmação argumentando que os aspectos de
47
personalidade exigem mais habilidades e maior grau de inferência, sendo mais
susceptíveis à subjetividade do entrevistador, demandando pela utilização de medidas
padronizadas que, dentro do possível, minimizem esses riscos. De acordo com os autores,
as dificuldades para avaliar as relações interpessoais e não-verbais em contextos de
investigação e pesquisa têm também representado um obstáculo importante para a
validação e fidedignidade de outros instrumentos de avaliação de Psicopatia e das
personalidades anti-sociais.
Em função dessa realidade, desenvolveram a Medida Interpessoal de Psicopatia
([Interpersonal Measure of Psychopathy, IM-P]; Kosson et al.,1997) para avaliar
comportamentos interpessoais e aspectos não verbais das interações sugeridas como
típicas nas entrevistas com psicopatas. A IM-P objetiva avaliar diretamente as interações
interpessoais reais que se estabelecem entre o examinando e o entrevistador. Segundo os
autores (Kosson et al., 1997), a medida é baseada na idéia de que uma avaliação direta de
comportamentos evidentes em uma situação específica, a entrevista, reduz a necessidade
de julgamentos subjetivos na medição de aspectos interpessoais da Psicopatia. Ou seja,
diante do fato da entrevista contar com a participação do sujeito supostamente psicopata,
seria possível detectar evidências do seu funcionamento patológico, por meio de suas
atitudes e reações em direção ao entrevistador.
Com o objetivo de investigar o uso da IM-P em pesquisas internacionais, associada
com as diversas versões do Inventário de Psicopatia de Hare (PCL), foi realizada, como
parte desta pesquisa, uma revisão da literatura disponível em bases de dados online,
voltadas para a área da Saúde Mental e do Direito e em material bibliográfico
relacionado. Foram utilizados os seguintes descritores: psychopathy; reliability;
interpersonal measure; IM-P; PCL-R; PCL-SV (Hare Psychopathy Checklist Screening
Version); PCL:YV. Foram encontrados apenas seis artigos em língua inglesa relatando
pesquisas realizadas com o intuito de verificar as propriedades psicométricas da IM-P
e/ou correlações com o PCL e suas versões derivadas. Desses seis, apenas três estavam
voltados para a população adolescente, nos quais se utilizou a IM-P juntamente com o
PCL:YV. Os detalhes destes artigos podem ser observados no quadro 1:
48
Quadro 1 - Síntese de pesquisas utilizando a IM-P
Estudo/Autor Características da
Amostra/ Coleta
Instrumentos Publicação Resultados
Vassileva, J.;
Kosson,D. S.;
Abramowitz,
C.; Conrod, P.
(2005)
200 homens
encarcerados por
duas semanas ou
mais, entre 17 a 39
anos. Confiabilidade
obtida pela pontuação
entrevistador e
observador ao vivo
IM-P,
PCL-R
Publicado
*CCI = 0,76 (N =200)
IM-Px PCL-R Fator 1=0,56
IM-Px PCL-R Fator 2 =0,24
Zolondek, S.;
Lilienfeld,S.O.;
Patrick, C.J;
Fowler,K.A.
(2006)
100 presos
masculinos
(N final= 93), idade
média 32,3
IM-P
PCL-R
Publicado
*CCI = 0,77 (0,60 a 0,83) (N=25)
Consistência interna: 0,89(N=100)
IM-P x PCL-R: r=0,43 (p<0,001)
IM-Px Fator 1: r=0,59 (p<0,001)
IMP x Fator 2: r=0,23 (p<0,05)
Bauer (1999)
80 adolescentes
femininas
encarceradas entre
14 e 19 anos
PCL:YV
IM-P
Dissertação
IM-P x PCL:YV: r =0,53
Forth (1995)
Amostra combinada
106 adolescentes
encarcerados
masculinos e 50
adolescentes
masculinos da
comunidade
PCL:YV
IM-P
Estudo não
publicado**
IM-P x PCL:YV: r = 0,32
Kosson,
Cyterski,
Steuerwarld,
Newmann &
Walker-
Matthews
(2002)
82 adolescentes
masculinos em
condicional
PCL:YV
IM-P
Publicado
PCL:YV x IM-P
r=0,37
* CCI: Coeficiente de Correlação Intraclasse para concordância inter-avaliadores; ** Relatado no Manual
do PCL:YV (Forth, Kosson & Hare, 2003)
49
Quadro 1 - Síntese de pesquisas utilizando a IM-P (Continuação)
Estudo/Autor Características da
Amostra/ Coleta
Instrumentos Publicação Resultados
Kosson,D.S.;
Steuerwald,B.L;
Forth, A.E;
Kirkhart, K.J.
(1997).
ESTUDO 1
98 presos masculinos,
entre 18 a 45 anos
Confiabiliadade
obtida pela pontuação
entrevistador e
observador ao vivo.
IM-P (21 itens)
PCL-R
Publicado
* CCI= 0,83 (N=27)
Consistência interna: 0,91(N=98)
(correlações item-total corrigidas
variam 0,30 a 0,81, média de
0,55).
IM-P x PCL-R: r =0,51 (p<0,001)
Kosson,D.S.;
Steuerwald,B.L;
Forth, A.E;
Kirkhart, K.J.
(1997).
ESTUDO 2
92 universitários (47
mulheres e 45
homens), entre 17 e
45 anos (média de
21,0). Confiabilidade
obtida através
observação de vídeo-
tape
IM-P (18 itens)
PCL:SV
Publicado
*CCI = 0,60 (N=25)
Consistência interna: 0,75 (N=92)
(correlações item-total variaram
de 0,01 a 0,68).
IM-P x PCL:SV: r=0,26 (p<0,1)
Nota: * CCI: Coeficiente de Correlação Intraclasse para concordância inter-avaliadores
Novos instrumentos de avaliação demandam sempre por extensos estudos de
validação e adaptação a fim de assegurar suas qualidades psicométricas em diferentes
contextos. O Conselho Federal de Psicologia (CFP) por meio da resolução 002/2003,
definiu e regulamentou o uso, a elaboração e a comercialização de testes e instrumentos
psicológicos. Em seu artigo 7º, destaca que os testes estrangeiros devem ser traduzidos
para o português e adequados a realidade nacional a partir de estudos realizados com
amostras brasileiras, considerando a relação de contingência entre as evidências de
validade, precisão e dados normativos com o ambiente cultural onde foram realizados os
estudos para sua elaboração. Esta mesma resolução também dispõe, no artigo 4º, sobre os
requisitos mínimos e obrigatórios para os instrumentos de avaliação psicológica como os
inventários e escalas, recomendando especial ênfase na definição do construto e dos
propósitos para os quais foi desenvolvido; apresentação de evidências empíricas de
validade e precisão das interpretações propostas para os escores, justificando os
procedimentos específicos adotados, além da apresentação de dados empíricos sobre as
propriedades psicométricas dos itens. Recomenda ainda a apresentação clara dos
procedimentos de aplicação e correção e das condições nas quais o teste deve ser
aplicado, para que haja a garantia da uniformidade dos procedimentos.
50
Entre os atributos de um instrumento, estabelecidos psicometricamente, encontra-se
a padronização, referindo-se a um padrão de procedimentos, desde a aplicação até a
interpretação dos dados, estabelecendo, se possível, o desempenho do grupo normativo
(Anastasi & Urbina, 2000); a fidedignidade, entendida como a consistência interna da
medida (Sisto, 2005); e a validade que investiga se realmente o instrumento mede o que
diz estar medindo. No entanto, a fidedignidade (ou confiabilidade) é uma condição
necessária, mas insuficiente por si só para garantir a validade do instrumento (Bunchaft &
Cavas, 2002), pois, a falta de validade aumenta o erro sistemático (viés), enquanto a falta
de confiabilidade aumenta o erro aleatório (Carmines & Zeller, 1990).
A confiabilidade, então, pode ser definida como o grau em que o resultado medido
reflete o resultado verdadeiro, ou seja, o quanto uma medida está livre da variância dos
erros aleatórios. Medir a confiabilidade pela consistência interna significa basicamente
verificar o grau em que as variáveis observáveis do construto estão medindo a mesma
coisa (Hayes, 1998), onde podem ser estimadas a confiabilidade de cada variável
observável, a confiabilidade do construto e o coeficiente alfa de Cronbach (1996). Além
disso, a confiabilidade entre avaliadores, onde diferentes pesquisadores realizam as
mesmas medições em um sujeito, permite estimar novamente a precisão da medida
(Hulley, Cummings, Browner, Grady, Hearst, & Newman, 2003).
Considerando-se assim, tanto a relevância de estudos empíricos com novos
instrumentos de avaliação quanto estudos envolvendo o construto da Psicopatia, foi
realizada esta pesquisa transversal, descritiva e correlacional. O objetivo principal foi
investigar as interações interpessoais e afetivas da Psicopatia relacionadas ao PCL:YV
em adolescentes em conflito com a lei, partindo das propriedades psicométricas da IM-P,
replicando e estendendo algumas pesquisas internacionais realizadas. Representa parte
de um projeto de pesquisa mais amplo envolvendo o PCL:YV, desenvolvido pelo grupo
de pesquisa Avaliação e Intervenção em Saúde Mental, do Programa de Pós-Graduação
em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
A partir da tradução para a ngua Portuguesa (Brasil), dos critérios psicométricos
de confiabilidade e consistência interna da IM-P e das correlações com os demais
instrumentos utilizados, especialmente com o PCL:YV, investigou-se os aspectos
afetivos, interpessoais e não-verbais associados à Psicopatia em 83 adolescentes
masculinos em conflito com lei. Esses dados vêm auxiliar os estudos de validação do
PCL:YV em andamento para amostras brasileiras e contribuem para a pesquisa do
51
construto da Psicopatia em jovens, disponibilizando para os pesquisadores brasileiros
informações sócio-demográficas sobre os adolescentes infratores e novos instrumentos
complementares ao diagnóstico precoce dos traços de Psicopatia.
O estudo foi dividido em duas etapas: a primeira referiu-se ao processo de
tradução/adaptação da IM-P e procedimentos para aplicação dos instrumentos. A segunda
etapa consistiu na pesquisa de campo propriamente dita, realizada com 83 adolescentes
que cumpriam medida sócio-educativa em regime de privação de liberdade, seguida da
apresentação e discussão dos resultados.
MÉTODO
ETAPA 1: Tradução da IM-P por Especialistas e Adaptação à Realidade Brasileira,
Treinamento E Preparação Da Equipe Para A Coleta De Dados
Apresentação do Instrumento
A IM-P (versão original de Kosson, Kirkhart e Steuerwald, 1993; Kosson et al,
1997) consiste em uma escala de 21 itens que o avaliador utiliza para mensurar uma
variedade de interações interpessoais e comportamentos não-verbais estabelecidos entre o
participante e o entrevistador durante a entrevista Sua finalidade é focar no que é
manifestado pelo participante, para além das verbalizações, revelando o que está latente
no funcionamento interpessoal que ele estabelece com os demais. As questões de
interesse são as seguintes reações do participante: 1) Interromper; 2) Recusa a tolerar
interrupções; 3) Desrespeitar os limites profissionais; 4) Desrespeitar os limites pessoais;
5) Testar o entrevistador; 6) Fazer comentários pessoais; 7) Fazer solicitações ao
entrevistador; 8) Tender a ser tangencial; 9) Evitar lacunas; 10) Apresentar tranqüilidade
ou descontração atípica; 11) Frustrar-se diante do não confrontamento; 12) Perseverar;
13) Apresentar superioridade ética; 14) Apresentar narcisismo explícito; 15) Fazer alusão
ao entrevistador em histórias pessoais; 16) Buscar por aliança; 17) Apresentar
comportamento dramático; 18) Irritar-se; 19) Apresentar respostas impulsivas; 20)
Apresentar valentia expressa; 21) Fazer contato intenso do olhar.
52
No desenvolvimento da versão original da IM-P, inicialmente, os pesquisadores
utilizaram três fontes de subsídios: a revisão da literatura teórica e empírica relevante; as
intuições clínicas baseadas nas impressões formadas pelos pesquisadores durante
entrevistas com detentos e os levantamentos informais de investigadores de Psicopatia em
toda a América do Norte (Kosson et al., 1997). O objetivo era identificar as interações
características das experiências clínicas com os indivíduos psicopatas, tentando criar itens
com um nível intermediário de especificidade. No intuito de controlar a possibilidade de
haver um número reduzido de tipos específicos de interações interpessoais, reduzindo
assim a variância experimental para avaliar seus efeitos, foram inicialmente gerados 29
itens. Foram mantidos na versão final apenas 21, os quais apresentaram uma variância
maior que 0,30 após as correlações de item-total.
Para cada um dos 21 itens, o avaliador decidiu a pontuação, graduada de 1 a 4,
considerando como a atitude ou a dinâmica interpessoal percebida na entrevista
descreveu o indivíduo ou a interação com o mesmo, marcando: (1) não se aplica: quando
o sentimento ou reação nunca ocorreu ou de maneira alguma era típica durante a
interação; (2) aplica-se em parte: quando o sentimento ou reação era evidente até certo
ponto ou raramente era apresentado; (3) aplica-se bem: quando o sentimento ou reação
estava presente de modo significativo ou freqüentemente apresentado durante sua
interação; (4) aplica-se completamente: quando o sentimento ou reação era claramente
evidente, apresentado de forma consistente ou freqüentemente.
O avaliador deveria também estimar o número de vezes que cada interação ou
comportamento de interesse ocorreu durante a entrevista, registrando a freqüência, a fim
de facilitar a pontuação final. Após, a pontuação foi computada com base na soma
simples de todos os itens pontuados, produzindo a contagem total da escala.
Tradução e adaptação à realidade brasileira
A versão original da IM-P foi concedida ao grupo de pesquisa diretamente por um
dos autores, David S. Kosson. A tradução do Inglês para o Português, adaptada das
recomendações de Beaton, Bombardier, Guillemin & Ferraz (2002), foi realizada por três
especialistas graduados em Psicologia e/ou Psiquiatria, proficientes na Língua Inglesa.
Cada um realizou uma tradução independente, resultando em três versões, as quais foram
comparadas entre si, originando uma única versão consensual em Português. A versão
53
traduzida para o Português foi re-traduzida para o Inglês por dois juízes independentes
que residiram em países de língua inglesa, um pós-graduado em Psicologia e outro
professor de ngua inglesa, chegando-se novamente, por síntese, a uma única versão em
inglês. A versão retro-traduzida para o inglês foi apresentada para um dos autores
(Kosson et al., 1997) para análise e ajustes de tradução. A versão da IM-P, devidamente
aprovada pelos autores consiste na escala final em Português utilizada neste estudo.
Treinamento da Equipe
A entrevista semi-estruturada, recomendada pelo manual do PCL-YV (Forth,
Kosson & Hare, 2003) foi também norteadora para a aplicação da IM-P, a exemplo dos
estudos internacionais. Para a aplicação do PCL:YV, os pesquisadores haviam sido
treinados em 2007 pelo Dr. David Kosson, pesquisador convidado pelo grupo de pesquisa
no qual este projeto está inserido, que veio ao Brasil financiado pelo CNPq (Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
Para a aplicação da IM-P, levando-se em conta as críticas de alguns estudos quanto
a esta ser uma entrevista muito estruturada para observar aspectos de personalidade
(Zolondek et al.,2006) e de que as informações provindas da mesma entrevista poderiam
influenciar mutuamente as pontuações dos dois instrumentos (Vassileva et al., 2005),
diferentemente do estudo original conduzido pelos autores (Kosson et al, 1997), optou-se
por:
a) Treinar os pesquisadores para a aplicação da IM-P;
b) Utilizar um entrevistador e um observador em cada entrevista;
c) Permitir ao entrevistador a ampliação da entrevista para além das questões semi-
estruturadas, sempre que fosse conveniente e que fosse uma iniciativa do
participante, tornado-a menos formal.
O treinamento ao qual os pesquisadores se submeteram considerou a dificuldade de
identificar e a relevância da observação objetiva e minuciosa dos aspectos não-verbais
sutis que emergem durante a entrevista com psicopatas, visando minimizar os efeitos da
subjetividade do avaliador. Por meio de material audiovisual extraído de filmes e de
entrevistas veiculadas na dia e/ou online foram realizados alguns encontros onde os
pesquisadores foram instruídos a pontuar os itens da IM-P, simulando a sua aplicação
54
efetiva. A seguir, as pontuações foram discutidas a partir das cenas que as justificaram
em relação ao que era proposto em cada item da escala.
A observação de alguns pesquisadores (Vassileva et al., ) de que seria conveniente a
pontuação da IM-P sem que o avaliador tivesse conhecimento do desempenho do
participante nos demais instrumentos, visando preservá-la de possíveis contaminações,
apontaram a necessidade da IM-P e do PCL-YV não serem pontuados pelo mesmo
avaliador. No entanto, a legislação e as condições físicas de pesquisa no Brasil dificultam
a utilização de recursos de filmagem e gravação, não sendo esta uma prática usual em
situações de avaliação, especialmente com a população carcerária e menor de idade,
diferentemente de outros países. Diante destas questões, decidiu-se por realizar a coleta
de dados em vivo, ou seja, com a presença de dois pesquisadores em cada entrevista,
ainda que isto pudesse implicar em outros vieses.
O entrevistador foi orientado a conduzir a entrevista tornando-a menos formal e
mais amistosa, porém, preservando a sistematização indicada na aplicação do
instrumento. Deste modo, permitindo-se tempo maior para a evidenciação de reações não
verbais voluntárias, o participante poderia ter uma atitude mais espontânea se assim
desejasse. As instruções do rapport inicial fizeram menção à presença do observador,
estendendo a ele todas as responsabilidades éticas inerentes ao processo, embora
enfatizasse o papel do entrevistador na condução da entrevista.
Foram realizadas cinco entrevistas piloto com a amostra, as quais não foram
computadas na amostra final do estudo. Além de calibrar a utilização do instrumento,
tiveram um caráter de experimentação do setting, permitindo a escolha do local mais
adequado para a realização das entrevistas nas dependências da Instituição, bem como o
posicionamento físico mais favorável de cada pesquisador em relação ao participante. O
posicionamento escolhido foi aquele que deixou o entrevistador frente a frente com o
participante, e o observador num plano de fundo, levemente mais afastado, com visão
privilegiada de ambos, mas sem enfatizar sua presença ou obstruir a visão lateral do
participante. Deste modo, se o participante desejasse poderia olhar diretamente para o
entrevistador, porém, tendo condições de desviar o olhar para o observador a qualquer
momento, sem prejuízo da relação frontal com o entrevistador.
Optou-se também por não realizar as entrevistas nos consultórios de atendimento
médico/psicológico ou sala da assistência social da FASE, por duas razões. Primeiro
porque ficavam muito próximas de áreas de circulação de técnicos, podendo gerar
55
desconforto ou suspeita no participante quanto a confidencialidade das entrevistas.
Segundo, porque os adolescentes demonstraram uma atitude mais descontraída e
receptiva fora destes espaços onde habitualmente comparecem para atividades de rotina
da Instituição. As entrevistas foram, então, realizadas em um salão amplo o qual
geralmente é utilizado para eventos sociais e recreativos.
ETAPA 2: Coleta de dados e apresentação e discussão dos resultados
Participantes
A Fundação de Assistência Sócio-Educativa (FASE), Unidade de Novo
Hamburgo/RS, onde a pesquisa foi realizada, possui capacidade para manter abrigados 60
adolescentes masculinos, distribuídos em quatro setores. Devido à rotatividade das
internações durante o período em que a coleta se realizou (outubro de 2008 a fevereiro de
2009), foi possível obter uma amostra final para a pesquisa de 83 adolescentes em
situação de conflito com a lei, que estavam cumprindo medida na em regime de privação
de liberdade, conforme preconiza o Estatuto da Criança e Adolescente (ECA; 1990).
Foram recrutados aleatoriamente da lista de internos da Instituição e voluntariamente
aceitaram participar sem nenhum ganho direto, concordando em assinar o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido. Os critérios de exclusão consistiram na presença de
sinais e sintomas psicóticos, retardo mental ou deficiência auditiva, clinicamente
reconhecidos.
A amostra na totalidade era proveniente de cidades do Rio Grande do Sul, próximas
a região metropolitana de Porto Alegre, 72,3% composta por caucasianos. A idade média
dos participantes foi de 16,3 (DP=1,12) variando entre a idade nima de 13 (1,2%) e a
máxima de 19 anos (2,4%). O nível de escolaridade situou-se entre o ano do Ensino
Fundamental (3,6%) e o ano do Ensino Médio (1,2%) sendo que a maioria freqüentava
a (14,5%), a (25,5) ou a (20,5%) séries do Ensino Fundamental. Por outro lado,
constatou-se que a repetência escolar foi freqüente entre os participantes, que em média
repetiram 2,4 (DP=1,65) anos de escola e apenas 12% nunca reprovaram. Em geral,
antes da internação, estes adolescentes residiam com os pais (33,7%) ou com pelo menos
um dos pais (44,5%), em residências onde coabitavam em média 4,6 (DP=2,73) pessoas.
Em média, os participantes possuíam 4 irmãos (DP=2,83).
56
A situação sócio-econômica familiar, traduzida em número de salários
correspondentes ao piso mínimo nacional, não foi relatada por 61,4% dos participantes e
entre os demais que responderam (37,4%), a renda familiar variou de quase um até cinco
salários mínimos, considerando-se que a maioria dos pais estava empregada com vínculo
trabalhista formal (43,4% das mães e 44,6 dos pais). Entre as mães, apenas 8,4 % faziam
uso abusivo de substâncias, enquanto 31,3% dos pais utilizavam regularmente alguma
droga. No entanto, entre os adolescentes, antes da internação na FASE, 48,2% utilizavam
bebidas alcoólicas diariamente e 32,5% de uma a duas vezes na semana.
Quanto à infração legal pela qual cumpriam a atual medida sócio-educativa, 9,6%
respondiam por furto, mas a maioria dos adolescentes era responsabilizada por delitos
mais graves: assalto (55,4%), homicídio (8,4%), tentativa de homicídio (7,2%), latrocínio
(6,0%) e tráfico de drogas (6,0%), entre outros (7,2%). A maioria dos participantes
(72,3%) cumpria medida em privação da liberdade pela primeira vez, porém 20,5% eram
reincidentes na FASE e 7,2% dos adolescentes tinham três ou mais passagens pela
Instituição. Entre os participantes 51,3% já tiveram também um familiar ou parente
próximo preso ou cumprindo medida sócio-educativa.
Instrumentos
Nessa etapa vários instrumentos foram aplicados. A IM-P foi pontuada durante a
entrevista realizada para a aplicação do PCL:YV (Forth et al., 2003). O PCL:YV propõe-
se a identificar traços de Psicopatia em adolescentes, sendo preenchido a partir da
entrevista semi-estruturada e informações colaterais (obtidas, no caso, com os monitores
da FASE). É composto por 17 itens, que investigam aspectos comportamentais,
interpessoais, afetivos e anti-sociais. ainda três itens específicos: comportamento e
versatilidade criminal e violação da liberdade condicional, sendo necessário ter praticado
mais de cinco atos criminosos diferentes para ter escore máximo. A pontuação do
PCL:YV utiliza-se de uma escala que varia de 0 a 2: quando o item não se aplica ao
adolescente, ele não apresenta os traços ou comportamento em questão, ou apresenta
características opostas ou inconsistentes (0); quando se aplica em certa medida (1);
quando se aplica ao adolescente sendo o comportamento consistente com as
características ou intenção do item (2).
57
Utilizou-se também uma lista de Respostas Emocionais Subjetivas, proposta por
Kosson et al. (1997), para ser utilizada como fonte adicional de informações a cerca das
interações interpessoais durante a entrevista, focando nas emoções e afetos que o
participante suscitou no entrevistador e no avaliador no decorrer da mesma.As seguintes
categorias de emoções foram avaliadas: confusão em relação às informações, atenção ao
participante, afetividade/acolhimento com o participante, temor ao participante,
divertimento, descrença/ ceticismo, culpa, desejo de evitar a confrontação. Neste estudo,
o entrevistador e o observador, independentemente um do outro, identificaram suas
reações emocionais subjetivas, após a conclusão da entrevista, pontuando com a mesma
graduação de 1 a 4, utilizada para a pontuação da IM-P.
Incluiu-se ainda, além do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, um
questionário de dados sócio-demográficos e de uso de substâncias (QSDUS) que foram
preenchidos durante a entrevista. Foram coletadas por meio deles informações sobre o
adolescente, tais como: idade, procedência, escolaridade, família, histórico breve de
intervenções clinicas e legais e consumo de substâncias.
Procedimentos Éticos e de Coleta de Dados
Antes do início da pesquisa, o projeto foi submetido à Comissão Científica da
Faculdade de Psicologia da PUCRS para análise e aprovação (Anexo A). Representa
parte de uma pesquisa mais ampla sobre Psicopatia já em andamento no Grupo de
Pesquisa Avaliação e Intervenção em Saúde Mental, sob a orientação do Prof. Dr. Gabriel
José Chittó Gauer, aprovado pela Comissão de Ética em Pesquisa, sob o registro CEP
07/03708 conforme ofício 0934/07-CEP (Anexo B). Além disso, o consentimento para a
coleta de dados na FASE foi aprovado conforme declaração anexa (Anexo C).
As entrevistas foram realizadas nas dependências da FASE de Novo
Hamburgo/RS, sem nenhum ganho direto e imediato para o participante, sendo a
aplicação dos instrumentos feita sempre em duplas, compostas por graduados em
Psicologia/Psiquiatria, devidamente treinados para a aplicação dos instrumentos, sendo
que um conduziu a entrevista e o outro observou. Os monitores da FASE encaminhavam
o adolescente, escolhido aleatoriamente da lista de internos, até a sala de entrevista, para
receber dos pesquisadores informações detalhadas a cerca desta pesquisa e da sua
58
implicação na mesma. As entrevistas foram efetivamente realizadas somente com os
adolescentes que aceitaram participar, mediante assinatura do termo de Consentimento
Livre e Esclarecido.
Cada entrevista teve duração aproximada de 60 a 90 minutos, sendo explorados
aspectos educacionais, laboral, educacional, hábitos e rotinas, história criminal,
relacionamento familiar e relações íntimas, permitindo pontuar através dela todos os
demais instrumentos. As informações colaterais sobre a conduta do adolescente na
Instituição, quando necessárias, foram obtidas através dos monitores da FASE, servindo
como recurso complementar, em caso de dúvidas, para a pontuação do PCL:YV.
O estudo de confiabilidade foi realizado entre outubro e novembro de 2008. A coleta
do restante ocorreu no período de novembro de 2008 a fevereiro de 2009. Todas as
análises estatísticas foram realizadas através do Statistical Package for the Social
Sciences for Windows (SPSSFW), versão 13.0 e 16.0.
Resultados
Confiabilidade inter-avaliadores
A confiabilidade inter-avaliadores para a IM-P foi determinada a partir da
pontuação da escala por um psiquiatra e dois psicólogos, para 20 entrevistas com
adolescentes que cumpriam medida sócio-educativa na FASE. Os resultados estatísticos,
obtidos através do coeficiente de concordância de Kendall (W), revelaram grau de
concordância satisfatória para os escores totais (W=0,84; p<0,001). Os 21 itens
apresentaram coeficientes de concordância que variaram de 0,33 a 1, como pode ser
observado na tabela 1.
59
Tabela 1 - Concordância Inter-avaliadores para a IM-P
Porém, o item 7 apresentou um resultado não analisável pelo programa estatístico,
gerando um ajuste automático do SPSS, indicando haver uma variabilidade muito
pequena nas pontuações dos avaliadores neste item, além de uma baixa pontuação
(somente 1 participante pontuou diferente e acima de 1 no item 7, para todos os juízes).
Atribuiu-se o fato ao baixo valor de discordância do item, sendo que o resultado persistiu
mesmo após a tentativa de corrigir esse empate por meio de cálculo manual, através da
fórmula matemática específica. Diante disso, foi realizada uma tentativa de retirar o item
7 da soma dos escores para calcular o coeficiente dos escores totais, bem como outros
itens que apresentaram concordância menor que 0,50. O resultado final do Kendall,
considerando estas providências, é demonstrado na tabela 2.
IM-P W Sig.
Item 1 0,68 0,004
Item 2 0,51 0,063
Item 3 0,79 0,001
Item 4 0,65 0,007
Item 5 0,81 0,001
Item 6 0,78 0,001
Item 7 0,33 0,457
Item 8 0,45 0,126
Item 9 0,71 0,003
Item 10 0,65 0,007
Item 11 1,00 0,001
Item 12 0,48 0,092
Item 13 0,60 0,017
Item 14 0,75 0,001
Item 15 0,69 0,004
Item 16 0,61 0,015
Item 17 0,75 0,001
Item 18 0,68 0,004
Item 19 0,51 0,059
Item 20 0,76 0,001
Item 21 0,54 0,041
Total 0,84 0,001
60
Tabela 2 - Concordância Inter-avaliadores para os itens da IM-P
W
Sig. Número de itens Itens excluídos
0,842 0,001 21 Nenhum
0,858 0,001 20 7
0,865 0,001 19 7 e 8
0,865 0,001 18 7, 8, 12
Consistência Interna
A consistência interna da IM-P foi calculada pelo Alfa de Cronbach revelando
coeficiente de 0,796 (p<0,001; N=83). Apenas 5 dos 21 itens apresentaram resultados
abaixo do referencial (0,30) utilizado para a permanência do item na construção da escala
original, como demonstra a tabela 3, após as correlações item-total. No entanto, somente
os itens 7 e 8, quando retirados alteraram positivamente o resultado do Alfa de Cronbach,
elevando-o respectivamente para 0,80 e 0,81.
61
Tabela 3 - Consistência Interna da IM-P
IM-P
Correlação Item-Total
Corrigida
Alfa de Cronbach se
item for deletado
Item 1 ,357 ,788
Item 2 ,303 ,791
Item 3 ,433 ,787
Item 4 ,184 ,795
Item 5 ,350 ,788
Item 6 ,371 ,789
Item 7 -,181 ,800
Item 8 ,016 ,811
Item 9 ,388 ,785
Item 10 ,511 ,777
Item 11 ,395 ,788
Item 12 ,309 ,790
Item 13 ,590 ,771
Item 14 ,546 ,773
Item 15 ,429 ,784
Item 16 ,299 ,792
Item 17 ,404 ,784
Item 18 ,414 ,784
Item 19 ,415 ,784
Item 20 ,547 ,773
Item 21 ,207 ,796
Correlações entre instrumentos e variáveis sócio-demográficas
Foram realizadas análises estatísticas de correlação entre os resultados da IM-P e
outras medidas e variáveis sócio-demográficas. Confirmando a correlação de construto
entre a IM-P e o PCL:YV houve correlação positiva e significante entre os resultados
totais das duas escalas, conforme a tabela 4. Por outro lado, a IM-P também
62
correlacionou com as respostas emocionais subjetivas do observador (RESo), mas não
com as do entrevistador.
Tabela 4 - Correlações IM-P, PCL:YV, RES
N= 83; ** p< 0,001
Quanto às correlações da pontuação total da IM-P com cada item de Respostas
Emocionais Subjetivas (RES) do observador e a versatilidade criminal, e as correlações
da pontuação total do PCL:YV com cada item de RES do entrevistador e a versatilidade
criminal, aquelas que apresentaram significância podem ser observadas nas tabelas 5 e 6.
Tabela 5 - Correlações da IM-P com Itens RES do Observador e Versatilidade Criminal
** p< 0,001 * p< 0,05
Tabela 6 - Correlações do PCL:Y com Itens RES do Entrevistador e Versatilidade
Criminal
** p< 0,001 * p< 0,05
PCL:YV RES
Total Observador Entrevistador
IM-P
0,49 ** 0,41 ** 0,27
Itens RES observador IM-P
Atenção 0,43
**
Divertimento 0,22
*
Temor / Apreensão 0,41
**
Desejo evitar confrontação 0,45
**
Versatilidade criminal 0,39
**
Itens RES Entrevistador
PCL:YV
Afetividade/Acolhimento - 0,23
*
Temor / Apreensão 0,38
**
Desejo evitar confrontação 0,40
**
Versatilidade criminal 0,71
**
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Foram feitas tentativas de correlacionar alguns dados sócio-demográficos, tais
como, idade, escolaridade, número de internações, entre outros, com as pontuações da
IM-P. Considerando-se que essas análises, por meio de técnicas estatísticas diversas, não
revelaram resultados estatisticamente significativos, os mesmos não estão sendo
apresentados de forma detalhada neste estudo. Esta correlação não significativa da IMP
com dados sócio-demográficos foi observada também em outros estudos (Zolondeck et
al., 2006), considerando-se assim que estes aspectos, não têm associação direta com os
déficits interpessoais mensurados pela medida.
Discussão Dos Resultados
As avaliações, especialmente as que envolvem populações especiais, exigem do
avaliador não apenas zelar pela utilização de instrumentos validados para aquela
demanda, como também estar devidamente treinado para utilizar os instrumentos
disponíveis a fim de garantir a alta qualidade dos resultados (Hutz e Bandeira, 2003). Foi
com este intuito que, antes de iniciar a aplicação tanto do PCL:YV quanto da IM-P,
tornou-se pré-requisito aos pesquisadores participarem de treinamentos específicos para o
manejo adequado dos instrumentos.
Quanto aos dados sócio-demográficos observou-se que, de modo geral, não
apresentaram incongruências quando comparados com os últimos dados oficiais sobre os
adolescentes em conflito com a lei, coletados pelo Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (IPEA) e redigidos por Silva e Gueresi (2003), utilizando os micro-dados do
IBGE obtidos pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), de 1992 e 2001.
Deste modo, a idade dia dos adolescentes pesquisados na FASE situou-se entre 16 e
17 anos (63,4%). Foram incluídos neste estudo dois adolescentes com mais de 18 anos
porque, para fins legais, a aplicação da medida sócio-educativa considera a idade do
menor na época em que o ato infracional foi cometido. Assim, alguns permanecem na
Instituição além da idade limite para maioridade legal (18 anos). Chamou a atenção,
porém, o fato de 20,1 % desta amostra ter entre 13 e 15 anos, ou seja, os adolescentes
estão se envolvendo em delitos graves desde muito jovens, o que parece ser uma
tendência observada também em outros estados do país, segundo Silva e Gueresi (2003).
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Em relação ao gênero, a legislação preconiza que no cumprimento de medida em
restrição de liberdade os alojamentos sejam separados por sexo. A FASE de Novo
Hamburgo/RS, onde a pesquisa foi realizada, atende exclusivamente a população
masculina, razão pela qual a amostra constituiu-se apenas de homens. No entanto, a
literatura aponta que os traços psicopatas e comportamentos anti-sociais manifestos
diferem em relação ao sexo, provavelmente exacerbados pela cultura, que impõe
expectativas de gênero, sendo que os comportamentos explicitamente agressivos e
violentos, que demandam mais intervenções jurídicas, são típicos nos meninos
(Cummings & Leschied, 2002; APA, 2002). Isto explicaria também porque, de modo
geral, a população adolescente masculina é preponderante no cumprimento de medidas
sócio-educativas em restrição de liberdade. Segundo os dados do IPEA (Silva e Gueresi,
2003), 90% dos adolescentes em medida de privação de liberdade no Brasil são do sexo
masculino.
A etnia neste estudo apontou que 72,3 % da amostra foi composta por adolescentes
caucasianos, revelando-se um dado diferente da pesquisa realizada pelo IPEA (Silva e
Gueresi, 2003), a qual constatou serem afro-descendentes 60% dos adolescentes em
medida de privação de liberdade no país. Entende-se que esta diferença pode estar
associada à descendência tipicamente européia dos habitantes do Rio Grande do Sul, em
especial os da região do Vale dos Sinos (que é majoritariamente Germânica), sendo,
portanto, esperado um maior número de brancos entre a população do estado.
A baixa escolaridade observada entre os participantes foi coerente com os
resultados encontrados em outros estudos (Patterson, DeBaryshe & Ramsey, 1989; Rossi,
2001; Gallo & Williams, 2008). Os adolescentes pesquisados em sua maioria reprovaram
até três vezes durante a vida escolar. Apenas uma pequena parcela não apresentou déficits
educacionais por reprovação (12%), o que pode ser indicativo de que a maioria destes
adolescentes estava mais exposta a situações propícias para a realização do ato
infracional e comportamentos delinqüentes em geral. Isto é justificado porque, enquanto a
freqüência à escola é vista como um fator de proteção ao desenvolvimento de
comportamentos anti-sociais, o abandono e o fracasso escolar são freqüentemente
apontados como fatores de risco (Paterson, Reid, Dishon, 1992; Gallo & Williams, 2008).
No Brasil, entre os adolescentes em conflito com a lei, quase 90% não concluiu o Ensino
Fundamental e mais da metade não freqüentava a escola quando levada à Justiça (Silva &
Gueresi, 2003).
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A partir desses dados pode-se inferir que o desejo de obter satisfação imediata não é
compatível com a continuidade da escolarização, a qual pressupõe um projeto a longo
prazo. A análise das informações obtidas mediante o exame de 123 prontuários de
atendimento de adolescentes, submetidos a medidas sócio-educativas no interior de São
Paulo, em 2002 (Gallo & Williams, 2008), constatou que o fato de o adolescente não
freqüentar a escola foi associado ao número crescente de reincidências de medidas sócio-
educativas, ao uso de entorpecentes e, também, ao emprego de armas. Os autores
apontam que quando o adolescente está inserido no ambiente escolar os traços anti-
sociais e psicopatas, tendem a ser trabalhados, uma vez que a permanência na escola
pressupõe o desenvolvimento de habilidades sociais para a interação com os pares, o
respeito à autoridade, a submissão às normas e aquisição de recursos intelectuais para
solução de problemas.
Ao se considerar que a maioria dos pais dos adolescentes da amostra desempenhava
atividade profissional formal (ou seja, com vínculo empregatício e/ou remuneração fixa)
e, no entanto, 61,4% dos participantes não quiseram ou não souberam responder qual a
renda familiar média, pode-se pensar que as questões financeiras não são explicitadas
nestas famílias, possivelmente de modo intencional. De um lado, é provável que os pais
não mencionem sua real condição financeira e, deste modo, buscam não ficar submetidos
às demandas familiares; de outro, os adolescentes também não explicam de onde obtém
recursos para adquirir drogas e bens de consumo, como celulares, aparelhos eletrônicos e
roupas, como se houvesse um acordo de silêncio que perpetua o descompromisso e a
irresponsabilidade entre os membros da família. Além disso, segundo o relato dos
próprios participantes, muitos dos bens adquiridos com o dinheiro dos atos infracionais
cometidos pelo adolescente são utilizados por toda a família, a qual troca a verdade pelo
conforto, onde “esconder” ou “omitir” passa naturalmente a fazer parte da sua dinâmica
interpessoal.
A maioria dos adolescentes residia com familiares quando praticou o ato
infracional, sendo que 78,2% com ambos ou um dos pais. Dados similares foram também
obtidos em outras pesquisas com adolescente em privação de liberdade (Silva e Gueresi,
2003; Sento-Sé, 2003), alertando para o fato de que o conflito com a lei não está
necessariamente associado à situação de rua ou abandono familiar. Outro dado
significativo do atual estudo é que 51,3% dos adolescentes afirmaram ter no mínimo um
parente em primeiro ou segundo grau que já foi preso ou cumpriu medida sócio-
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educativa. Deste modo as representações familiares merecem ser mais bem examinadas,
considerando que as famílias sugerem um papel fundamental na realidade destes
adolescentes. Em consonância com o que havia sido observado por Lima (como citado
em Santos e Oliveira, 2005), os adolescentes deste estudo relataram conflitos e violência
nos vínculos familiares; porém também descreveram um forte sentimento afetivo e de
preocupação especialmente com a mãe, com expectativas quanto a suas visitas e a sua
compreensão.
O nível sócio-econômico tem sido referido como um fator determinante e
desencadeante da violência, especialmente àquela associada à violência homicida. Porém,
os jovens que praticam a violência homicida seriam mais afetados pelos diversos efeitos e
manifestações da concentração de renda mais do que pela pobreza em si. É a pobreza
dentro da riqueza, ou seja, são os contrastes entre ambas, que maximiza o potencial para
crimes mais violentos (Waiselfisz, 2009). É por meio dessa convivência em um mesmo
espaço social de adolescentes “pobres” e “ricos” que se potencializa a revolta e dificulta a
busca por reconhecimento social dos menos favorecidos na direção da construção de sua
identidade (Teixeira & Vicentin, 2001). Pode-se, então, compreender porque motivo os
alvos preferenciais do delito juvenil associado ao roubo são roupas, objetos de marcas,
bonés, tênis, relógio, ou tudo o mais de que se sentem expropriados e que representam
status de consumo na sociedade contemporânea (Silva e Gueresi, 2003). Assim, o furto e
o assalto foram identificados como os atos infracionais prioritários entre a população
adolescente, fato confirmado também nesta amostra (65%).
A classificação de delitos no ECA (Brasil,1990) é diferente da classificação no
Código Penal. Para o ECA a medida de internação é aplicada ao autor de atos infracionais
cometidos mediante grave ameaça ou violência contra a pessoa ou pela reiteração no
cometimento de outras infrações graves. Para as demais infrações prevê outras opções de
medidas sócio-educativas. O roubo é um delito contra o patrimônio, assim como o
latrocínio; a lesão corporal e o homicídio são delitos contra a pessoa, e o estupro é
considerado crime contra os costumes. Porém, para o ECA, qualquer delito pode
constituir-se “ato infracional cometido com grave ameaça ou violência contra a pessoa”.
O furto, então, está sujeito a privação de liberdade se seu cometimento tiver sido
reiterado e sua natureza considerada grave.
Entre os adolescentes pesquisados, a maioria está cumprindo a atual medida sócio-
educativa na FASE devido à prática de delitos envolvendo arma de fogo: 21,60% por
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homicídio, tentativa de homicídio e latrocínio; mais de 50% estiveram envolvidos em
assaltos, nos quais quase sempre há a utilização de armas de fogo. Atualmente, segundo o
Índice de Homicídios na Adolescência ([IHA] UNICEF, 2009) os homicídios
representam 45% das causas de morte entre os adolescentes. O risco de assassinato é
maior para a faixa etária de 19 a 24 anos, e decresce a partir daí, sendo que a maior parte
dos homicídios ocorre por arma de fogo. Além disso, de acordo com dados apresentados
por diversas fontes (Loeber & Stouthamer-Loeber, 1998; Ministério da Justiça,1998;
Cummings e Leschied, 2002;) infrações que envolvem agressões diretas contra as
vítimas, como assalto, homicídios ou tentativas e latrocínio são praticadas com maior
freqüência por jovens do sexo masculino, sendo cometidos nas proximidades da
residência dos menores.
Os dados deste estudo confirmam essas tendências, sendo que 55,4% das medidas
foram decorrentes da prática de assalto. A totalidade da amostra afirmou ter praticado os
atos infracionais nas proximidades de sua cidade de origem. Considera-se possível, com
isto, que os vínculos com os pares influenciem nestes dados, pois em geral os delitos são
praticados em duplas ou grupos de adolescentes que se conhecem desde a infância,
havendo entre eles uma mútua influência na prática do ato.
Além dos delitos freqüentemente praticados pelos adolescentes, a pesquisa revelou
que 7% da amostra estavam na FASE por ter cometido infrações categorizadas como
“outras”: atentado violento ao pudor, vandalismo, incêndio. Por outro lado, muitos delitos
não chegam a ter a autoria revelada e deste modo, muitos adolescentes deixam de
responder pelos mesmos. Com base nisso, vale a pena destacar que nem sempre o ato
infracional pelo qual o adolescente estava cumprindo a atual medida foi o mais grave que
cometeu. Isto é particularmente verdadeiro para o porte ilegal de arma e o tráfico de
drogas muito comum entre os meninos, sendo motivo da internação apenas para 7% nesta
amostra.
Quanto aos resultados das análises estatísticas, obtidos através das pontuações dos
instrumentos, pode-se inferir várias questões a cerca das propriedades psicométricas da
IM-P e do PCL:YV. Nos resultados dos estudos internacionais encontrados utilizando a
IM-P, aplicada com as versões do Inventário de Psicopatia de Hare descritos no quadro
1, quatro deles realizaram a confiabilidade inter-avaliadores chegando a resultados que
variaram de 0,60 a 0,83, para amostras de diferentes tamanhos. Neste estudo, a
confiabilidade realizada por 3 juízes apresentou um coeficiente de concordância, sem
68
exclusão de nenhum item, de 0,84 (p<0,001; N=20), considerado elevado. Optou-se pelo
Kendall, por razões de conveniência, considerando a pouca variabilidade de resultado se
calculado pelo CCI. Este coeficiente de concordância (W=0,84) não é apenas
estatisticamente significativo, como também o é clinicamente, considerando que fatores
interpessoais e não-verbais são muito difíceis de serem mensurados objetivamente,
sofrendo um grande impacto dos aspectos intrínsecos da própria interação que se
estabelece durante a avaliação, da personalidade e da subjetividade dos envolvidos no
processo.
A maioria dos itens no estudo de confiabilidade da IM-P não apresentou problemas,
porém, alguns merecem considerações. O item 7 foi considerado o mais crítico, pois, não
foi possível obter uma variância nas respostas dos avaliadores para os vinte participantes,
compatível com o necessário para que fosse estatisticamente válido. Mesmo após a
tentativa de correção dos empates através de cálculos matemáticos específicos, o
problema persistiu. Diante disto, considerou-se a possibilidade de exclusão deste item
para o cálculo da confiabilidade, elevando deste modo resultado final para 0,86
(p<0,001).
No aspecto qualitativo o item 7 refere-se ao participante fazer “solicitações ao
entrevistador”, havendo questões legais que podem ter contribuído para tornar a
pontuação do item sem efeito. Na realidade Institucional dos adolescentes em regime de
privação de liberdade no Brasil, é parte do regulamento não poder receber nenhum objeto
ou algo tangível, ou mesmo as visitas entrarem na Instituição carregando-os. Deste modo,
está intrínseca à condição destes adolescentes não solicitarem nada extra-oficialmente
(sob pena inclusive de serem submetidos a sanções), especialmente àqueles a quem não
estão seguros de que possam acobertá-los. Esse fato poderia estar associado aos
resultados encontrados nesta amostra, o que aponta para a necessidade de testar o item 7
em amostras diferentes.
Os demais itens que apresentaram concordância inter-avaliadores mais baixas foram
o 8 e o 12 (respectivamente: Tende a ser tangencial; Perseveração). Contudo, os
resultados destes itens não podem ser explicados pelas mesmas do item 7, considerando-
se haver a necessidade de maior observação dos mesmos em outras amostras ou em
amostras maiores, antes de se pensar em generalizações ou em exclusão. De qualquer
forma, o impacto da retirada dos mesmos sobre o resultado total da confiabilidade, neste
estudo, mostrou-se menor do que a retirada isolada do item 7.
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Quanto à confiabilidade da IM-P ressalta-se ainda que o melhor resultado nos
estudos internacionais descritos no quadro 1 foi obtido com a comparação da pontuação
realizada pelo entrevistador e por um observador ao vivo, ficando em 0,83 para 27
entrevistas ( Kosson et al., 1997), porém para uma amostra adulta. Deste modo, observa-
se que o coeficiente mais elevado encontrado na amostra de adolescentes brasileiros
(W=0,84) pode estar relacionado também ao acompanhamento direto e ao vivo da
entrevista, possibilitando a maior visibilidade das interações interpessoais.
A consistência interna da IM-P medida pelo alfa de Cronbach (0,796), mostrou-se
muito similar as demais pesquisas, sendo que nos estudos empíricos internacionais ( ver
quadro 1) o valor de alfa, para amostras um pouco maiores, variou de 0,75 a 0,91. No
entanto, a análise na atual amostra apontou novamente o item 7 evidenciando-se como
discrepante, após a correção item-total. Além dele, o item 8 também mostrou alguma
incongruência. No entanto, se excluídos estes itens do cálculo total, a melhora no
resultado do alfa não chegou a ser expressiva (0,80). Ressalta-se que mesmo mantendo
apenas 16 itens na IM-P, ou seja, excluindo-se todos os itens que se apresentaram abaixo
de 0,30 após as correlações item-total (a saber: itens 4, 7, 8, 21) a consistência interna
permaneceu quase que inalterada (0,81). Deste modo, levando-se em conta o tamanho da
amostra pesquisada ser relativamente pequeno e o fato deste estudo ser bastante
incipiente no Brasil, sugere-se que a exclusão de qualquer item da IM-P deva ser mais
bem apreciada com base na continuidade dos estudos com mais amostras.
Embora alguns itens tenham apresentado uma variação maior após a correção item
total, no geral, ela foi entre 0,02 a 0,59, excluindo-se o item 7 que apresentou resultado
negativo (- 0,18). Assim, não aparecem incongruências substanciais com os resultados
internacionais, os quais também tiveram valores de alfa baixo para alguns itens. Acredita-
se, com isso, que para a consistência interna da IM-P o que foi considerado de maior
significado foi o resultado final do alfa para o item após a correlação item-total, mais do
que a variância individual de cada item (Kosson et al., 1997).
A correlação obtida na presente pesquisa entre as pontuações do PCL:YV e da IM-P
(r= 0,49; p<0,001; N=83), embora em termos absolutos possa não ser muito elevada, no
contexto, demonstrou-se significativa. Em termos clínicos, isto evidencia que a presença
de traços de Psicopatia mensuradas pelo PCL:YV está positiva e significativamente
associada a presença de déficits na interação interpessoal e não-verbal do participante,
constatada pela IM-P. Os três estudos internacionais explorando esta a correlação (Forth,
70
1995; Bauer 1999; Kosson et al., 2002), encontrados no quadro 1, apresentaram
resultados que variam de 0,32 a 0,53. Porém, ressalta-se que esta correlação maior
(r=0,53) foi obtida num estudo com 80 adolescentes femininas (Bauer, 1999), sabendo-se
que em casos de Psicopatia a diferença de nero é um aspecto relevante. Nos demais
estudos que dão os resultados da correlação entre a IM-P e as versões adultas do PCL
(Kosson et al., 2007), os resultados obtidos foram 0,26 e 0,51; outro estudo ( Vassileva et
al, 2005) referiu apenas a correlação entre a IM-P e os fatores do PCL-R sendo de 0,56
para o fator 1 e de 0,24 para o fator 2.
Quanto as Respostas Emocionais Subjetivas ao participante, as pontuações do
Observador e do Entrevistador correlacionaram de maneira diferente com os resultados
da IM-P. Houve uma correlação positiva e significativa entre as respostas emocionais do
observador e a pontuação na IM-P (r=0,41; p<0,001) ou seja, pontuações mais elevadas
na IM-P correlacionaram com mais reações emocionais no observador, mas não no
entrevistador. Embora se considere a subjetivamente de cada pesquisador, com isto
acredita-se que a tarefa de condução da entrevista e o envolvimento direto com o
entrevistado, talvez possam dificultar a observação minuciosa dos próprios sentimentos
do entrevistador, reforçando positivamente a utilidade de instrumentos objetivos na coleta
de dados envolvendo a personalidade.
No entanto, nem todos os itens de Resposta Emocional Subjetiva apresentaram
correlação. Entre as variáveis de RES do observador, as que correlacionam com a IM-P
foram a atenção (0,43; p,<0,001) e divertimento (0,22; p<0,05). ), as quais podem estar
refletindo a tendência ao charme superficial e ao encantamento típico das estruturas
psicopatas. O temor/apreensão do observador correlacionou com a IM-P (0,41; p<0,001)
e do entrevistador correlacionou com o PCL:YV (0,38; p<0,001). Do mesmo modo, o
desejo de evitar a confrontação correlacionou tanto com a IM-P (0,45; p<0,001) quanto
com o PCL:YV (0,40; p<0,001 ). Isso sugere que o participante com maior probabilidade
de ter traços de Psicopatia tende a causar certa defensividade no pesquisador, levando-o a
evitar provocá-lo de algum modo.
A versatilidade criminal, por sua vez, apresentou correlação leve com IM-P (0,39,
p<0,001) enquanto para o PCL:YV apresentou uma correlação muito mais significativa
(0,71; p<0,001). Considerou-se que isto está coerente com a estruturação de ambos os
instrumentos, pois os comportamentos criminais relatados, contidos na versatilidade
criminal, diriam respeito à conduta explorada no PCL:YV, enquanto que a IM-P foi
71
desenvolvida para medir aspectos afetivos e interpessoais. É, portanto, esperado que o
comportamento criminal não correlacione alto com a IM-P (Kosson et al, 2007).
Um dado interessante é que a afetividade e acolhimento para com o participante
correlacionou significativa e negativamente com a pontuação do PCL:YV (-0,23; p<
0,05). Ou seja: quanto maior a presença de traços de Psicopatia menor a disposição do
entrevistador para acolher afetivamente o participante. Este dado parece convergir com a
hipótese de que a ausência de empatia, a insensibilidade e o comportamento anti-social
ou criminal, características do funcionamento psicopata, afetam os vínculos interpessoais
diretos (Kosson et al, 1997; Forth et al., 2003).
Considerações Finais
Os adolescentes em conflito com a lei, cumprindo medida sócio-educativa com
privação de liberdade pesquisados neste estudo, apresentaram um perfil bastante pico,
tendo idade média entre 16 e 17 anos, embora houvesse um número considerável de
adolescentes bem mais jovens (20%). Em sua maioria eram brancos, com baixa
escolaridade e história de fracasso e evasão escolar; residiam com familiares e fizeram
uso abusivo de algum tipo de droga. A maioria estava cumprindo este tipo de medida pela
primeira vez. Embora os atos infracionais que motivaram a atual internação envolvam
violência, relacionada especialmente à prática de assaltos e homicídios, nem sempre este
delito pelo qual está respondendo judicialmente constituiu episódio único ou mais grave
já praticado pelo adolescente.
Os aspectos interpessoais e afetivos, subjacentes ou concomitantes, a esses
comportamentos criminais e anti-sociais evidentes nesta amostra, constituíram o foco de
interesse específico deste estudo. As manifestações afetivas e não-verbais que surgem na
dinâmica interpessoal nem sempre são fáceis de serem identificadas e, principalmente,
mensuradas, razão pela qual a utilização de instrumentos padronizados, que facilitem esta
tarefa a clínicos e pesquisadores que investigam a Psicopatia, são de suma importância.
Do ponto de vista psicométrico, os resultados deste estudo indicaram que as
pontuações da IM-P são consistentes e confiáveis em todos os avaliadores, com um grau
de consistência interna elevado. Como referido por Kosson et al., (1997), acredita-se
que a pontuação da IM-P não sofre influências significativas do viés do avaliador. Houve
72
correlação positiva e significante entre os resultados do PCL:YV e IM-P, indicando
validade de construto. Porém, como são resultados muito incipientes, demanda maior
investigação antes de ser generalizados.
Acredita-se que neste estudo o treinamento prévio oferecido aos pesquisadores
sobre a utilização da escala mostrou-se essencial para a homogeneidade da interpretação
de cada item. Nesse sentido, a ausência de um manual de recomendações mais detalhadas
sobre a descrição e pontuação dos itens também reforçou a utilidade do treinamento.
Seria interessante que houvesse orientações escritas mais específicas sobre a abrangência
e interpretações de cada item da IM-P, a exemplo do manual do PCL:YV, conferindo,
assim, melhor padronização às pesquisas com novas amostras.
Alguns itens da IM-P apresentaram incongruências reveladas através das análises
estatísticas, no entanto, a maioria dos itens mostrou-se adequada. Embora a amostra
utilizada tenha sido relativamente modesta (N=83), acredita-se que seja oportuna a
revisão mais detalhada destes itens, inclusive com o auxilio de abordagens estatísticas
específicas. Isto permitiria, talvez, a exclusão de itens inadequados com maior segurança
e, se for o caso, a redução da escala, facilitando a sua aplicação, porém, sem prejuízos
para qualidade da medida.
Após a conclusão da pesquisa empírica, alguns questionamentos foram suscitados e
permanecem em aberto em relação à aplicabilidade e utilidade clínica da IM-P. Acredita-
se que sejam necessários mais estudos e debates para determinar, por exemplo:
1. Se um único entrevistador poderia aplicar tanto a IM-P quanto o PCL:YV sem
contaminações ou sobreposição de resultados. Por questões práticas, a utilização de
avaliadores distintos para os dois instrumentos torna-se onerosa e nem sempre viável,
especialmente no contexto clínico. Por outro lado, a possibilidade de utilização de
recursos de filmagem em vídeo, como em alguns estudos internacionais, ainda é uma
prática a ser introduzida na realidade brasileira.
2. Se é necessário pontuar a IM-P a partir de outras medidas, além do PCL:YV, a
fim de investigar a covariância de métodos. Outros estudos (Zolondek et al.,2006;
Vassileva et al, 2005) já questionaram a possibilidade de muitos dos comportamentos
interpessoais medidos pela IM-P estarem sendo avaliados, implicitamente, pelo próprio
PCL:YV. A disponibilidade da análise fatorial do PCL:YV para amostras brasileiras,
certamente, poderá contribuir para elucidar este ponto.
73
3. Se a utilização da IM-P não estando associada ao PCL:YV (ou outras versões
como PCL-R ) ofereceria uma contribuição importante a avaliação clínica da Psicopatia;
ou se apenas indicaria a presença de traços de transtornos de personalidade em geral, e
não especificamente aqueles associados a Psicopatia.
4. Se a aplicação da IM-P pontuada fora de uma situação tão formal quanto a
proposta pela entrevista semi-estruturada do PCL:YV poderia oferecer maiores
informações sobre o comportamento interpessoal dos participantes. Sabe-se que as
características de personalidade tendem a se apresentar de modo mais efetivo e intenso
em situações cotidianas, nas quais o sujeito pode demonstrar mais abertamente seu estilo
interpessoal típico (Zolondeck e col, 2006).
5. Se em amostras não carcerárias estes comportamentos interpessoais investigados
pela IM-P poderiam emergir em maior intensidade e quantidade, tendo em vista os
regulamentos disciplinares das Instituições. Estudos com populações adolescentes que
não cumprem medidas sócio-educativas ou não cumprem medida com restrição de
liberdade poderiam ser bastante úteis neste sentido.
6. Se a pouca habilidade para empatizar e decodificar aspectos não-verbais e afetivos
nos demais, característicos das personalidades psicopatas, poderiam se refletir nos
resultados da IM-P. Sabe-se que os déficits receptivos para detectar reações emocionais
de baixa intensidade, como medo, raiva, tristeza e ansiedade, típicos da Psicopatia, tem
sido alvo de diversas pesquisas (Steuerwald & Kosson, 2000; Kosson, Suchy & Mayer,
2002). Uma possibilidade, então, seria associar a IM-P a alguma medida destes déficits
receptivos, a fim de correlacionar os resultados.
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78
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Psicopatia, como descrita neste estudo, consiste em uma forma específica e
extrema de transtorno de personalidade (Steuerwald & Kosson, 2000), evidenciada por
um estilo interpessoal disfuncional e típico, denotando profunda ausência de remorso e
empatia, incapacidade de amar e frieza emocional incomum para com o bem-estar e o
direito dos outros (Cleckley,1941/1988; Hare, 1991). Sua essência, então, pode ser
identificada nas interações perturbadas que a pessoa mantém com os demais (Kosson,
Forth, Steuerwald, & Kirkhart, 1997), inclusive com o próprio avaliador.
A literatura atual apresentada no estudo de revisão, respaldada em dados empíricos,
evidenciou que os problemas de externalização, conduta e comportamentos anti-sociais,
envolvendo ou não agressão e violência explícitas, vem sendo detectados em crianças
cada vez mais jovens. O termo anti-social é quase sempre utilizado, genericamente, para
descrever boa parte desses comportamentos. No entanto, comportamentos anti-sociais
não implicam necessariamente a presença de um diagnóstico clínico. Podem, a princípio,
caracterizar desde uma manifestação típica do processo de desenvolvimento, ou ainda
uma comorbidade de diversos transtornos psíquicos, até um critério diagnóstico para
Transtornos específicos (APA, 2002). Em decorrência, a relevância de uma avaliação
minuciosa, precoce e ampla destes aspectos não deve ser negligenciada por clínicos e
pesquisadores, os quais precisam amparar-se em medidas diagnósticas confiáveis que
facilitem sua intervenção, a fim de reconhecer e diferenciar transtornos de personalidade
mais complexos, como a Psicopatia.
O estudo empírico evidenciou que instrumentos como o PCL:YV e a IM-P vêm
apresentando resultados psicométricos satisfatórios na população jovem pesquisada,
embora ainda demandem por extensos estudos de validação antes de serem recomendados
para uso corrente na realidade brasileira. Os resultados da consistência interna e da
confiabilidade inter-avaliadores para a IM-P foram considerados elevados. A correlação
entre a pontuação do PCL:YV e da IM-P foi positiva e significante. As reações subjetivas
do entrevistador e do avaliador ao participante, observadas por meio das análises
estatísticas, contribuíram para demonstrar a importância das interações afetivas e
interpessoais durante a avaliação psicológica.
79
Instrumentos como os utilizados nesta pesquisa representam recursos diagnósticos
que oferecem a possibilidade de ampliar a investigação da Psicopatia, aproximando a sua
caracterização do conceito clássico, ainda que o mesmo não figure nas classificações
diagnósticas atuais para os transtornos mentais. Esta conceituação direciona a Psicopatia
para questões que envolvem o desenvolvimento e a estruturação da personalidade e,
assim, os aspectos afetivos, interpessoais e não-verbais podem contribuir oferecendo
pistas importantes a cerca da presença do transtorno.
No que se refere ao contexto adolescente brasileiro, a presença de comportamentos
anti-sociais leva, especialmente os meninos, a se confrontarem com a lei logo no início da
adolescência. no Brasil cerca de 10 mil adolescentes internos em Instituições,
cumprindo medida sócio-educativa em privação de liberdade, segundo o último
levantamento oficial (Silva e Gueresi, 2003). Esse número não parece abranger
suficientemente os delitos juvenis envolvendo violência que são diariamente noticiados,
em um cenário de mais de 30 milhões de adolescentes na idade de 12 a 21 anos existentes
no país. De acordo com os autores, significa que para cada 10 mil adolescentes
brasileiros, existem menos de três privados de liberdade, em uma das 190 instituições
sócio-educativas disponíveis no país. Para fins de pesquisa como a que esta se propôs,
esses dados sugerem a necessidade dos estudos futuros estenderem-se para além dos
adolescentes que já cumprem medida sócio-educativa.
Por fim, é importante destacar que a pesquisa com crianças e adolescentes
envolvendo a Psicopatia não pretende sugerir que a personalidade se mantém imutável,
particularmente na passagem da adolescência para a idade adulta. Ao contrário, ao se
tentar detectar precocemente estes traços acredita-se na capacidade dos jovens em
promover mudanças substanciais em sua estrutura, principalmente quando apoiados e
estimulados por intervenções psicossociais e/ou clínicas adequadas as suas necessidades
individuais ou familiares.
Referências
Associação Psiquiátrica Americana. (APA; 2002). Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais Revisada – DSM-IV-TR. 4ª ed. Porto Alegre: Artmed.
Cleckley, H. (1941/1988). The mask of sanity. St. Louis: Mosby.
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Hare, R. D. ( 1991 ). Manual for the Psychopathy Checklist-Revised. Toronto: Multi-
Health Systems.
Kosson, D.S.; Forth,A.E.; Steuerwald, B.L., & Kirkhart,K.J. (1997). A new method for
assessing behavior of psychopathic individuals:preliminary validation studies.
Psychological Assesment. vol.9,nº2.
Silva, E.R., & Gueresi, S. (2003). Adolescentes em conflito com a lei: situação do
atendimento institucional no Brasil. Brasília: Instituto de Pesquisa Aplicada e
Econômica,IPEA/Ministério da Justiça.
Steuerwald, B. L, & Kosson, D.S. (2000). Emotional experiences of the psychopath . In :
C.B. Gacono.The clinical an forensic assessment of psychopathy: a pratictioner´s
guide . Publish by Lawrence Erbaum Associates.
81
ANEXOS
ANEXO A - Aprovação da Comissão Científica do Programa de Pós-Graduação em
Psicologia da PUCRS
ANEXO B - Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da PUCRS
ANEXO C - Declaração de Consentimento para a Pesquisa da FASE
ANEXO D- Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
ANEXO F - Questionário de Dados Sócio-Demográficos e Uso de Substâncias (QSDUS)
82
83
ANEXO B - Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da PUCRS
84
ANEXO C - Declaração de Consentimento para a Pesquisa da FASE
85
Anexo D
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Estamos realizando um estudo de avaliação psicológica e psicossocial com
adolescentes que cumprem medida sócio-educativa na FASE, o qual é importante para
ajudar os profissionais a compreender os fatores que contribuíram para a internação e
para, no futuro, apoiar intervenções terapêuticas precoces aos adolescentes. Esta
pesquisa implica na sua participação em uma entrevista realizada por psicólogo ou
psiquiatra. Além disso, seu prontuário poderá ser examinado para verificar o histórico na
FASE e o tipo de delito que resultou na medida sócio-educativa, bem como, algum
monitor poderá ser chamado para fornecer informações sobre sua conduta na
Instituição. Esta pesquisa está vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia
da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, PUCRS, sob a coordenação
do Prof. Dr. Gabriel Gauer, pesquisador do grupo de pesquisa Avaliação e Intervenção
em Saúde Mental e Bioética Clinica.
Salientamos que as informações coletadas são confidenciais e serão utilizadas tão
somente para fins de pesquisa. Os dados obtidos serão colocados à disposição da
pesquisa anonimamente e sua identidade será mantida no mais rigoroso sigilo. Serão
omitidas todas as informações que permitam identificá-lo.Sua participação nesse estudo
é voluntária, porém, seu maior desconforto será quanto à disponibilidade do tempo
necessário para a atividade. Seu beneficio será a contribuição para a compreensão do
fenômeno estudado e para a produção de conhecimento científico que poderá ajudar os
adolescentes.
Eu_________________________________________________________
declaro que fui informado sobre os objetivos especificados acima de forma clara
e detalhada. Recebi informações especificas sobre o procedimento no qual
estarei envolvido, do desconforto que a pesquisa pode acarretar e dos
benefícios esperados. Todas as minhas dúvidas foram respondidas com clareza
e sei que poderei solicitar novos esclarecimentos a qualquer momento aos
pesquisadores pelo fone (51)33203550, ramal 7735, ou ao Comitê de Ética em
pesquisa da PUCRS através do fone 3320 3345.
____________________________________ _____/_____/________
Assinatura do participante Data
____________________________ _______________________
Dr. Gabriel J.C.Gauer Tárcia Rita Davoglio
Pesquisador Orientador Pesquisadora do PPGP/PUCRS
86
Anexo E - QUESTIONÁRIO SÓCIO-DEMOGRÁFICOS E USO DE SUBSTÂNCIAS
Nº _______________ Data:________________
1. Idade:....................... 2. Cor (1) B (2) P (3) M (4) A
3. Procedência :.................................... 4.Naturalidade:...............................................
5. Grau de Escolaridade (1) 1
o
grau incompleto (2) 2
o
grau incompleto
6. Atualmente cursando: .......................................................................................
7. Freqüentava a escola antes de iniciar o cumprimento da MSE? (1) S (2) N
8. Quantos anos repetiu a escola? (1) (2) (3) (4) (5 ou mais)
9. Há quantos anos parou a escola? (1) (2) (3) (4) (5 ou mais)
Situação Familiar
10. Com quem mora? (responsáveis)
(1) Pais (2) Avós (3) Tios (4) Irmãos (5)Amigos (6) Outros:
11. Renda média da família (em Salários Mínimos):
(1)menos de 1 (2) 1-2 (3) 2-5 (4) 5-10 (5) mais de 10 (6)NS
12. Quantos familiares moram na mesma casa:
13. Número de Irmãos:.....................................................................................
14. Algum familiar preso ou em MSE? (1)Sim (2)Não 15.Quantos?
16. Quem? (1)Pai (2)Mãe (3)Irmã(o) (4)Tio(s) (5)Outros:
17. Profissão da Mãe: 18. Uso de álcool/drogas (1) S (2) N
19. Profissão da Pai: 20. Uso de álcool/drogas (1) S (2 ) N
Delito
21. Tipo de delito relacionado à MSE:
(1) Furto (2)Assalto (3) Homicídio (4)Tentativa (5)Latrocínio (6)Outro:
22. Quantas vezes já esteve em MSE:......................................................
História Médica Pregressa:
23. Você já sofreu acidente em que bateu a cabeça? (1)Sim (2)Não
24. Quantas vezes?..................... 23. Com que idade?...................
25. Perdeu a consciência? (1)Sim (2)Não
26. Já teve alguma doença física confirmada? (1)Sim (2)Não
27. Qual?................................................................................................................
28. Faz algum tipo de tratamento?........................................................................
29. Faz tratamento/acompanhamento psiquiátrico? (1)Sim (2)Não
Uso de drogas
30. Você já fumou cigarro (não maconha)? (1)Sim (2)Não
31. De um ano para cá você fumou algum cigarro? (1)Sim (2 )Não
32. Que idade tinha quando fumou o primeiro cigarro:
eu tinha ...... anos ( ) não me lembro
33. Você já experimentou maconha (ou haxixe?) (1)Sim (2)Não
34. De um ano para cá você usou maconha? (1)Sim (2)Não
35. Que idade tinha quando experimentou maconha pela primeira vez?.
eu tinha .... anos ( ) não me lembro
87
36. Você já usou cocaína, “crack”, pasta de coca ou outra forma? (1)Sim (2)Não
37. De um ano para cá você usou cocaína, “crack”, pasta de coca ou outra forma da
droga?
(1)Sim (2)Não
38. Que idade tinha quando experimentou cocaína, “crack”, pasta de coca ou outra forma
pela primeira vez?.
( ) eu tinha ....... anos ( ) não me
lembro
39. Você já cheirou algum produto para sentir um “barato” ou ter uma sensação agradável
(exceto cocaína)? (1)Sim (2) Não
40. De um ano para cá você cheirou algum produto para sentir um “barato” ou ter uma
sensação agradável? (1) Sim (2) Não
41. Que idade tinha quando experimentou algum produto para sentir um “barato” ou ter
uma sensação agradável pela primeira vez? eu tinha ........ anos ( ) não me
lembro
42. Se você já usou alguma outra substância psicoativa, escreva o nome daquele que usou
por último: (1)Loló/Cola (2)Ácido (3)Ecstasy (4) Outra:........
43. Você já tomou alguma bebida alcoólica?
(1)Sim (2)Não
44. De um ano para cá você tomou alguma bebida alcoólica?
(1)Sim (2)Não
45. Que idade tinha quando tomou uma bebida alcoólica pela primeira vez?
eu tinha ........ anos ( ) não me
lembro
46. Qual o tipo de bebida alcoólica que você tomou por último?
(1) cerveja ou chopp (2) pinga/uísque/ vodka (3)Vinho (4) Outro:
47. Com que freqüência costuma beber ou usar drogas?
(1) diariamente
(2) eventualmente (mais de 2x/semana)
(3) ocasionalmente (1-2x/semana)
(4) raramente ( 1- 2x/mês)
48. Você acha que o uso de tal ou tais substâncias influenciaram na prática de seu delito?
(1)Sim (2)Não
49. Você já sofreu punição disciplinar por uso de drogas dentro da FASE?
(1)Sim (2)Não
50. Fora da FASE você já comercializou drogas?
(1)Sim (2)Não
51. Qual? (1) maconha (2)cocaína (3)crack (4) duas anteriores (5) todas
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