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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
A Associação dos Geógrafos Brasileiros
(AGB) - origens, idéias e transformações:
notas de uma história
Charlles da França Antunes
Orientador: Prof. Dr. Ruy Moreira
Niterói, 2008
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ii
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
A Associação dos Geógrafos Brasileiros
(AGB) - origens, idéias e transformações:
notas de uma história
Charlles da França Antunes
Tese apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Geografia, do
Departamento de Geografia da
Universidade Federal Fluminense, para
obtenção do tulo de Doutor em
Geografia.
Orientador: Prof. Dr. Ruy Moreira
Niterói, dezembro de 2008
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iii
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
A Associação dos Geógrafos Brasileiros
(AGB) - origens, idéias e transformações:
notas de uma história
Charlles da França Antunes
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________
Prof. Dr. Ruy Moreira
(orientador)
_____________________________________________
Prof. Dr. Carlos Walter Porto-Gonçalves
(Departamento de Geografia - UFF)
______________________________________________
Prof. Dr. José Carlos Milléo de Paula
(Departamento de Geografia - UFF)
______________________________________________
Prof. Dr. Manoel Fernandes de Sousa Neto
(Departamento de Geografia - USP)
______________________________________________
Prof. Dr. Marcos Antônio Campos Couto
(Departamento de Geografia – FFP/UERJ)
______________________________________________
Prof. Dr. Paulo Roberto Raposo Alentejano
(Departamento de Geografia – FFP/UERJ)
iv
Esta tese é dedicada à memória de
Martha Ramscheid Figueiredo
Cláudio Barbosa da Costa
Andréa Saleme Bertassoni
que existiram como pessoas daquelas que podemos chamar de muito
especiais, e que, de maneiras bem diferentes, foram muito importantes
para que eu chegasse, aqui, nesse momento.
Muito obrigado!
v
A Minha família (é muito bom poder fazer isso)...
Cristiano Tavares Santos da França Antunes, que com esse nome, só
poderia ser meu filho (e da Elisete, é claro!), a minha “criatura de pouca
sombra”, e que momento atual atende pela alcunha de “Cris-Pererê”;
Elisete Tavares dos Santos Jorge, minha esposa, companheira;
Mãe, pai, irmãos e sobrinhos
A AGB e aos homens e mulheres que estiveram ao longo dessas sete
décadas trabalhando para que a Associação continuasse existindo.
vi
Agradecimentos
Ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal
Fluminense.
A Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), local de trabalho e de
luta.
Ao Instituto de Estudos Brasileiros (IEB/USP), pelo acesso as informações
e reprodução de material imprescindível para a pesquisa.
A Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB), objeto desta tese, que
sempre esteve com suas portas abertas, tanto em São Paulo, quanto em
Niterói, permitindo que seus arquivos pudessem ser mexidos e remexidos
na busca daquele tesouro perdido, daquele “achado”.
Aos professores José Bueno Conti e Dora do Amarante Romariz pelas
muitas horas de conversas sobre as histórias da AGB.
Aos amigos da turma do Doutorado, sempre trocando idéias e
telefonemas recheados das mesmas perguntas “E aí, já escreveu?
“Quantas páginas?”, “Já entregou para o orientador?”; “E o prazo? Vai
cumprir?”.
Ao Ruy Moreira, amigo e orientador desde os tempos da graduação, e que
me acolheu no mestrado, e agora a confiança no doutorado.
Aos amigos que “viraram” banca – Carlos Walter, Paulinho “Chinelo”,
Marcos Couto, José Carlos e Manoel Fernandes, que tiveram que ler esse
monte de coisas bem rapidinho para avaliar e “bater” pouquinho.
Manoel Fernandes, amigo de quase vinte anos, parceiro e “leitor” atento
das minhas reflexões quase nunca escritas.
Glauber, o nosso Diretor, o chefe, amizade das boas, que na calma de
sempre deu a tranqüilidade que o assessor (eu) precisava para terminar
esta tese.
Mônica Saad, que segurou a assessoria do CEH quando eu, o outro
assessor estava ausente; garantiu o suprimento de biscoitos e
reclamava porque eu escrevia demais.
vii
Jorge Mitrano e Marcela Rangel, alunos que viraram amigos, que viraram
padrinhos, que viraram compadres e que viraram padrinhos novamente, e
que são amigos sempre... e que vão ter que me aturar por muito tempo.
Aos amigos paulistas Douglas, Thomaz e Sônia, que mesmo à distância
(agora encurtada pela internet), estiveram sempre perto.
Felipe e Astrogildo, alunos, amigos, companheiros de AGB e de conversas
sobre a história do pensamento geográfico brasileiro.
Edy, sempre disponível para fazer as tarefas mais chatas e que tomavam
muito tempo.
Felippe Rainha, pela disposição de fazer os mapas em poucas horas.
A Silvia, Cristiane, Eliane, minha segunda família que agora cresceu e está
cheia de pequenas e lindas criaturas.
Aos AMIGOS de longa data e de SEMPRE: Karol, Santana, Ilana, Cláudia,
Eusébio, Jorge Braga, Renato, Leon, Eduardo Maia, Amélia, Valter,
Alexandre, Marcos sar, Washington, João Luiz, Fabrícia, sem os quais
nada disso estaria acontecendo.
Aviso importante: “tranquilinho vai voltar!!!”
viii
Um trabalho como uma tese não pode ser realizado sem ajuda.
Muitos amigos e familiares, presentes ou não no momento da escrita,
colaboraram para sua produção. Mas a contribuição mais importante deles
todos foi sem dúvida alguma, no suporte pessoal, emocional e afetivo...
pelo menos nos últimos 41 anos... Assim... vão juntos nas páginas dessa
tese.
ix
“Nestes 30 anos de histórias da moderna geografia
brasileira, a A.G.B. de ter sempre um lugar de destaque.
Ela o deve a metodologia que adotou, desde o começo, a
qual lhe permitiu ser sensível às conquistas universais de
nossa ciência, sem deixar de ser fiel as raízes em que
plantou seu trabalho, a terra brasileira. Por isso, através
mais de cinco lustros de atividade incessante a ambas tem
servido, com igual desvelo e com tão bons resultados.
Fazendo conhecidas, através, de trabalhos exemplares, as
regiões do país, onde, ano apos ano, acampam suas
Assembléias Gerais, vem por outro lado, dando contribuição
substancial ao progresso da ciência geral. Esse sentido
regional e, ao mesmo tempo, universalista da geografia
brasileira encontra toda autenticidade na Associação dos
Geógrafos Brasileiros e é uma das razões de sua força.
Outro e o espírito que anima suas reuniões e atividades,
onde o principio da camaradagem é um dogma que
ninguém contraria. Esse espírito facilita as transfusões de
conhecimentos e experiências, o debate franco, vivaz e, as
vezes, áspero das idéias, e até mesmo, o aprendizado, pois
os mais jovens ombreiam com os mais calejados no trato
dos temas da especialidade. Nesse sentido, a A.G.B. é uma
escola, em que não poucos adquirem ou aperfeiçoam o
gosto pela pesquisa, o amor a investigação e ao trabalho
em equipe, com tudo o que ensina a disciplina e
desprendimento, sem inibir o talento ou o brilho”.
(apresentação do Boletim Baiano de Geografia n.1, 1960)
x
RESUMO
A AGB surge num contexto da Geografia brasileira chamado por muitos de
período de institucionalização da moderna ciência geográfica. A AGB, nascida
durante a década de trinta do século passado é uma expressão recente do
fenômeno da história social da geografia no Brasil. Ao lado de um conjunto de
outras instituições já existentes ou ainda que surgiram logo após sua criação, vai
conformar não esse período, mas a possibilidade de produzir e pensar a
Geografia no Brasil na perspectiva de uma dada modernidade científica. Nesse
sentido, o que pretendemos com essa tese é recuperar e contar uma história
sobre as origens, as idéias e transformações vividas e passadas na/da AGB entre
1934 e 1979, e assim, propor uma profunda mudança nos modos de olhar a
Associação. E, modificando um pouco o nosso léxico, perceber seu papel na
formação profissional, sua importância na elaboração, apropriação e
disseminação de idéias da/na ciência geográfica no Brasil. Essas opções todas
resultam, entretanto, daquilo que a própria história recente da Geografia nos
legou a imensa proximidade entre a AGB e as transformações percebidas na
ciência geográfica e na sociedade brasileira nos anos posteriores a 1934. A teia
que se foi urdindo, como poderemos perceber, entre os discursos presentes nos
eventos e publicações da AGB, que reclamam uma investigação. Nesse sentido,
acabar por discutir os modos, os meios e os processos, que consignaram à AGB
um destacado papel no seio dessa comunidade científica no Brasil, e assim,
buscar compreender em que medida e de que maneiras a AGB e o movimento
em seu entorno foram responsáveis pela consolidação da Geografia no Brasil. Por
tudo isso, a história da AGB pode confundir-se com muitas outras histórias
contadas a partir das transformações ocorridas na sociedade e na geografia
brasileira nos últimos decênios. A AGB, ao ser concebida e representada pelos
sujeitos do campo, como o espaço oficial, legítimo, e um dos de maior
representatividade, coloca-se como uma das instâncias fundamentais e própria
para a compreensão da conformação do conhecimento da Geografia brasileira.
Palavras-chave: Associação dos Geógrafos Brasileiros; História do Pensamento
Geográfico; História Institucional; Memória; Geografia Brasileira.
xi
ABSTRACT
The AGB appeared in a context of Brazils Geography called the period of
institutionalization of the modern geographic science by many. The AGB, which
was born during the decade of thirty of the last century, is a recent expression of
the social history of the Geography in Brazil as a phenomenon. Together with a
range of other institutions that existed or that appeared after its creation, it will
conform not only this period, moreover the possibility to think and produce
Geography in Brazil according to the perspectives of a scientific modernity.
According to this, in this theses we intend to recover and tell the history about
the origins, ideas and transformations that happened in/at AGB during the years
between 1934 and 1979, and them propose a very deep change in the way which
the Association has been observed the last years. On the other hand, it can’t be
forgotten its importance to the formation of professionals and its contribution in
the elaboration, appropriation and dissemination of ideas about the geographic
science in Brazil. As the same time so many options are a result of the legacy left
by the recent Geography a very intense proximity between AGB and changes
that happened to the geography and to the Brazilian society after the year of
1934. A web that is formed as we can see, in the speeches, events, and
publications of AGB that complain for an investigation. With this purpose discuss
the manners and processes that consigned a detached paper in the inner of the
scientific community of Brazil, so as to comprehend in which ways the AGB and
its movement were responsible for the consolidation of the Geography in Brazil.
Accordingly AGB history may confuse with histories of the transformations that
occurred in the Brazilian society and geography during the last decades. The AGB
when conceived and represented by the subjects of the field, as the official,
genuine very representative, constitutes as one of the most fundamentals
instances and proper to the comprehension about the conformation of the
knowledge of the Brazilian Geography.
Key words: Association of Brazilian Geographers; History of the Geographic
Thinking; Institutional History; Memory; Brazilian Geography
xii
LISTA DE ABREVIAÇÕES
Assembléia Geral Extraordinária AGE
Assembléia Geral Ordinária AGO
Associação dos Geógrafos Brasileiros AGB
Boletim Baiano de Geografia BBG
Boletim Carioca de Geografia BCG
Boletim Mineiro de Geografia BMG
Boletim Paranaense de Geografia BPRG
Boletim Paulista de Geografia BPG
Congresso Brasileiro de Geógrafos CBG
Conselho Nacional de Geografia CNG
Encontro Nacional de Estudantes de Geografia ENEG
Encontro Nacional de Geógrafos ENG
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE
Instituto de Estudos Brasileiros IEB
Instituto Histórico Geográfico Brasileiro IHGB
Movimento Estudantil ME
Seção Regional SR
Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro SGRJ
Universidade de São Paulo USP
Universidade do Brasil UB
Universidade do Distrito Federal UDF
xiii
LISTA DE FIGURAS
Página
Figura 1 Ata de Fundação da AGB 49
Figura 2 Ata de Fundação da AGB 50
Figura 3 Fundadores da AGB 52
Figura 4 Diploma de Sócio da AGB 62
Figura 5 Estatuto da AGB - 1934 63
Figura 6 Carta de pedido de demissão de Abousse Bastide 79
Figura 7
Ofício da AGB para Diretor do Ensino Secundário do Distrito
Federal
80
Figura 8 Capa da Revista "Geografia", nº 1 - ano I 100
Figura 9 Ofício das Edições Cultura Brasileira para a AGB 102
Figura 10 Expediente da Revista "Geografia", nº 1 - ano I 104
Figura 11 Capa e Sumário da Revista "Geografia", nº 2 - ano I 105
Figura 12 Panfleto publicitário das Edições Cultura Brasileira - frente 106
Figura 13 Panfleto publicitário das Edições Cultura Brasileira - verso 107
Figura 14 Capas das Revistas "Geografia", nº 1, 2e3, e 4 - ano II 108
Figura 15 Boletim da AGB - 1ª fase 111
Figura 16 Capa do Boletim da AGB, nº 2 - 2ª fase 114
Figura 17 Capa do Boletim da AGB, nª 5 - 2ª fase 116
Figura 18 Capa dos Anais da AGB - volume I 118
Figura 19
Primeira página do Boletim da Seção Regional do Rio de
Janeiro - 1948 129
Figura 20
Capa do Boletim da Seção Regional do Rio de Janeiro (novo
formato)
130
Figura 21 Capa do Boletim Carioca de Geografia, nº 1 - ano III - 1950 131
Figura 22
Capa e índice do Boletim Carioca de Geografia - ano XXXII -
1982 132
Figura 23 Capa do Boletim Paulista de Geografia, nº 1 - ano I - 1949 140
Figura 24 Capa do Boletim Mineiro de Geografia, nº 1 - ano I - 1957 152
Figura 25 Capa do Boletim Baiano de Geografia, nº 1 - ano I - 1960 158
Figura 26 Capa do Boletim Baiano de Geografia, nº 8 - ano II - 1961 159
Figura 27 Primeiro logotipo da AGB - 1935 183
Figura 28 Segundo logotipo da AGB - 1945 184
Figura 29 Terceiro logotipo da AGB - 1979 184
Figura 30
Presentes à assembléia de fundação da Seção Rio de Janeiro
da AGB 199
Figura 31 Objetivos do Núcleo de Salvador da AGB 203
Figura 32 Canção da AGB 229
Figura 33 Abertura do I Congresso Brasileiro de Geógrafos (1954) 257
Figura 34 Mesa de trabalho no I CBG (1954) 257
Figura 35 Discurso de abertura do I CBG (1954) 258
Figura 36 Mapa dos trabalhos de campo do I CBG (1954) 261
xiv
LISTA DE TABELAS
Página
Tabela 1 Missão francesa universitária 42
Tabela 2 Primeiros sócios da AGB 57
Tabela 3 Indicação de novos associados da AGB 58
Tabela 4 Palestras nas reuniões da AGB (1934-1940) 75
Tabela 5 Presidentes da AGB (1934-2008) 83
Tabela 6 Artigos da Revista "Geografia" (1935-1936) 109
Tabela 7 Contribuições no Boletim da AGB (1935-1936) 112
Tabela 8 Anais da AGB (1946-1964) 120
Tabela 9 Artigos do Boletim Carioca de Geografia (1948-1982) 133
Tabela 10 Artigos do Boletim Paulista de Geografia (1949-1976) 143
Tabela 11 Artigos do Boletim Mineiro de Geografia (1957-1963) 154
Tabela 12 Artigos do Boletim Paranaense de Geografia (1960-1963) 156
Tabela 13 Artigos do Boletim Baiano de Geografia (1960-1961) 161
Tabela 14 Autores - Boletins Carioca e Paulista (1948-1982) 177
Tabela 15 Cursos de Geografia no Brasil (1934-1945) 186
Tabela 16 Assembléias Gerais Ordinárias da AGB (1945-1970) 208
xv
LISTA DE GRÁFICOS
Página
Gráfico 1
Anais da AGB – proporção de publicação de teses (1946-
1964) 165
Gráfico 2 Anais – relação entre nº de autores e nº de teses 166
Gráfico 3 Anais da AGB – proporção de publicação de Comunicações
(1948-1964) 167
Gráfico 4 Boletim Paulista de Geografia – autores e artigos (1949-
1976) 169
Gráfico 5 Boletim Paulista de Geografia – comparação entre nº de
autores e nº de artigos (1949-1976)
170
Gráfico 6 Boletim Paulista de Geografia – artigos segundo a escala
(1949-1976) 171
Gráfico 7 Boletim Mineiro de Geografia – nº de artigos por autor
(1957-1963) 172
Gráfico 8 Boletim Mineiro de Geografia – artigos segundo a escala
(1957-1963) 173
Gráfico 9 Boletim Paranaense de Geografia – artigos segundo a escala
(1960-1963)
174
Gráfico 10
Boletim Carioca de Geografia – número de artigos por autor
(1948-1982) 175
Gráfico 11
Boletim Carioca de Geografia – comparação dos artigos
segundo a escala (1948-1982) 176
LISTA DE MAPAS
Página
Mapa 1 Presidentes da AGB 85
Mapa 2 Seções Regionais e Núcleos da AGB 205
Mapa 3
Assembléias Gerais Ordinárias da AGB 209
Mapa 4
Congressos Brasileiros de Geógrafos 252
Mapa 5
Encontros Nacionais de Geógrafos 269
xvi
SUMÁRIO
Pág.
Introdução...
E as razões de algumas escolhas ...............................................................
16
1 – Origens: A Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB) na Geografia
Brasileira................................................................................................
27
surgimento na Geografia brasileira..............................................................
32
1.2. A Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB): origens e personagens.....
48
1.3. Algumas controvérsias sobre a origem: AGB ou AGBs?.......................... 65
1.4. AGB: primeiros encontros da comunidade.............................................
72
1.5. Propostas de periodização da história da AGB na Geografia brasileira ......
86
2 – Idéias: os primeiros debates e as publicações pioneiras da AGB.......
94
pioneirismo na publicação acadêmica geográfica...................................
99
2.1.1. A Revista “Geografia”.................................................................. 100
2.1.2. O Boletim da Associação dos Geógrafos Brasileiros..........................
110
2.2. As Novas Publicações:
ampliando a divulgação da produção acadêmica
da emergente geografia brasileira.......................................................
117
2.2.1. Os Anais da Associação dos Geógrafos Brasileiros............................
117
2.2.2. O Boletim Carioca de Geografia.....................................................
128
2.2.3. O Boletim Paulista de Geografia....................................................
140
2.2.4. O Boletim Mineiro de Geografia.....................................................
152
2.2.5. O Boletim Paranaense de Geografia...............................................
155
2.2.6. O Boletim Baiano de Geografia......................................................
158
2.3. Publicações da AGB: autores e temas
recorrentes num momento de
conformação do campo científico na geografia brasileira.........................
162
3
Transformações: da construção da institucionalidade à renovação
em movimento..................................................................................
179
3.1. A reforma estatutária de 1945: projetando a instituição nacional.............
185
e iniciando de um projeto nacional de entidade............................
195
seus associados.......................................................................
206
3.1.3.
Os Congressos Brasileiros de Geógrafos: afirmação de uma
identidade...............................................................................
248
depois, mudanças de rumo.................................................................
262
3.3. 1978 e a ruptura: somente a ponta do iceberg..................................... 270
em cena.................................................................................
276
3.4. A Reforma Estatutária de 1979: a democratização da AGB.....................
284
4 – Concluindo .......................................................................................
292
5 – Bibliografia.......................................................................................
299
Introdução
... e as razões de algumas escolhas
17
história do pensamento geográfico
1
produzido no Brasil não
costuma ser um tema freqüente em eventos científicos
organizados por geógrafos, em dissertações e teses apresentadas
nos programas de pós-graduação em Geografia, e também nas páginas das
revistas e periódicos de Geografia
2
. Este fato, conforme analisa Pereira (2000)
3
,
chega mesmo a surpreender quando se considera, numa perspectiva histórica, a
centralidade da discussão geográfica nas interpretações e propostas de
organização da sociedade brasileira. Uma história ainda não escrita nos leva a
pensar em qual história se deve escrever ou qual história merece ser escrita e,
por outro lado, qual deve ser a escrita dessa história. A primeira questão levanta
o problema da validade e da legitimidade dos eventos, evidências, fatos, indícios,
vestígios
4
, que podem ser apropriados como históricos pela sua relevância. A
segunda questão diz respeito ao modo como uma mesma história pode ter
muitas versões, a depender de quem a escreve, dos documentos dos quais se
utiliza, do método do qual se apropria. A não-escrita, até então, dessa história
da Geografia poderia se explicar, em grande parte, pela pequena importância
dada à história das Associações Científicas em geral e, de modo mais específico,
a Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB). Foram poucos até agora os
1
“Por pensamento geográfico entende-se um conjunto de discursos a respeito do espaço que
substantivam as concepções que uma dada sociedade, num momento determinado, possui acerca
do seu meio (desde o local ao planetário) e das relações com ele estabelecidas. Trata-se de um
acervo histórico e socialmente produzido, uma fatia da formação cultural de um povo. Nesse
entendimento, os temas geográficos distribuem-se pelos variados quadrantes do universo da
cultura. Eles emergem em diferentes contextos discursivos, na imprensa, na literatura, no
pensamento político, na ensaística, na pesquisa científica etc.” (Moraes, 1989:32)
2
Situação contraria a avaliação e a expectativa de Horacio Capel quanto a presença do campo no
interior das pesquisas geográficas: “Con toda esta evolución, la historia de la geografía es hoy un
campo extraordinariamente rico y diverso, con una larga tradición de investigaciones realizadas
desde el interior de la disciplina. Desde el primer Congreso Internacional de Geografía, realizado en
Amberes (1871) prácticamente todas las reuniones han dedicado atención a estos temas,
generalmente en secciones específicas dedicadas a «Historia de la Geografía y Geografía
Histórica». Más recientemente desde 1968, se ha creado en el seno de la Unión Geográfica
Internacional una comisión dedicada a la «Historia del pensamiento geográfico», que ha estimulado
nuevas investigaciones y en el seno de la cual se han debatido comunicaciones sobre los temas
más variados: viajes, historia de las ideas, marcos filosóficos, biografías de científicos, historia del
lenguaje y de los métodos geográficos, instituciones, etc. Como era de esperar, en todos estos
trabajos se mezclan, a la vez, los que acuden a la historia desde las preocupaciones surgidas de la
práctica científica o profesional actual, y los que se interesan por el pasado en mismo; los que
utilizan técnicas históricas tradicionales, y los que buscan nuevos caminos con el empleo de
técnicas filológicas, bibliométricas, o iconográficas; o los que tratan de situar sus investigaciones
en el campo más general de la historia de la ciencia, junto a los que las conciben todavía como
trabajos con una finalidad legitimadora y dignificadora de la disciplina” (Capel, 1989:9).
3
Questão apresentada durante mesa redonda “História do Pensamento Geográfico: instituições,
institucionalização e produção do conhecimento”, realizada no XII Encontro Nacional de Geógrafos
Florianópolis/2000, e que foi depois publicada na Revista Terra Brasilis,nº2, jul-dez de 2000,
pág.113.
4
Ver Ginzburg, 1989
A
18
trabalhos
5
realizados sobre a AGB, ou que pelo menos fizessem referências
consistentes a ela. Como também foram poucas as pesquisas voltadas
exclusivamente à história da geografia universitária
6
.
Esta “pequena importância” ou ausência historiográfica propõe que a
história da AGB interessa bem pouco ou é plenamente dispensável para a
compreensão da Geografia brasileira e seus novos rumos. Diríamos, então, que o
primeiro obstáculo é o de convencer as pessoas da necessidade, da validade, da
legitimidade dessa história.
As dificuldades, entretanto, não pairam nem param apenas no campo
historiográfico, quando esse trabalho se pretende uma tese de doutorado na área
de Geografia e não de História. E é fundamental convencer a comunidade dos
geógrafos de duas coisas, ao menos: a importância da Associação que reúne
profissionais e estudantes de uma ciência para aqueles que a fazem, e a
relevância da AGB na formação de uma comunidade científica e de um campo
epistemológico no Brasil.
O desenvolvimento de pesquisas historiográficas sobre o processo de
institucionalização de um determinado campo de saber científico-disciplinar,
indiscutivelmente, coloca-se como estratégia vital para que tais comunidades
possam conhecer não apenas suas tendências científicas, mas, sobretudo seus
limites e potencialidades no domínio político-cultural (Machado, 2002).
Figueirôa (2000) apresenta importante contribuição quando destaca a
forma reduzida com que historicamente as instituições científicas vêm sendo
tratadas no interior da história das ciências, onde sua atuação e importância são
desconsideradas como locus de produção do conhecimento.
“(...) a história das instituições científicas, durante muito
tempo, esteve reduzida a uma dimensão comemorativa.
Decênios, jubileus, cinqüentenários e centenários constituíam
ocasiões propícias à produção de textos normalmente
elogiosos, às vezes ufanistas, em que história da instituição
era expurgada dos problemas cotidianos “menores” e
exibiam-se apenas as contribuições à ciência, concebida,
unicamente, como um conjunto de conhecimentos, aplicáveis
ou não. Nem de longe esses espaços institucionais foram
reconhecidos como locais privilegiados para a atividade
5
Dissertações de Mestrado, como a de Zusmam (1996), Scarim (2000) e Barcellos (1996);
coletânea de artigos, como a Revista Terra Livre nº 22 (AGB,2004).
6
Tese de Doutorado de Mônica Sampaio Machado, apresentada no Programa de pós-graduação em
Geografia da USP em 2002, é talvez o único estudo sobre o assunto.
19
científica, cada qual, a um tempo, produto e produtor de
seu momento histórico” (Figueirôa, 2000:118)
As instituições científicas devem ser observadas como portadoras e
resultantes de formas históricas de institucionalização de saberes, como
produtoras e produtos de determinados tempos e locais, culturas e sociedades,
visceralmente conectadas a demandas, grupos, influências, indivíduos, visões de
mundo e utopias. Com essa dimensão ampliada poderemos melhor compreender
as questões que herdamos, juntamente com nossas instituições e práticas
(Figueirôa, 2000).
A história de uma ciência se faz necessária ao próprio processo de fazer
ciência. Para Sousa Neto (2000:138) “a história de uma ciência ou disciplina
científica não é resultado apenas de processos estritamente científicos, mas
produto de uma série de opções interpretativas dos mesmos fatos que foram
jogados no esquecimento”.
As histórias disciplinares desempenham um papel importante na
estruturação e reestruturação constante dos campos de saber proporcionando
aos profissionais que trabalham com a ciência uma visão de si mesmos, da
comunidade à qual pertencem e o sentido de seu trabalho. Através da história da
disciplina se forjam e difundem as ideologias que dão coesão à comunidade
cientifica: que são seus fundadores, suas figuras mais destacadas, os objetivos e
relevância social de seu trabalho e as relações de cooperação, diálogo ou mesmo
conflito com outras disciplinas ou campos de conhecimento (Capel, 1989). A
história nos ajuda a compreender nossa identidade, como sujeitos de e
sujeitados a certos processos, como membros participantes de uma comunidade
científica (Sousa Neto, 2000).
Nesse sentido, o que pretendemos com este trabalho é propor uma
profunda mudança nos modos de olhar a AGB. E, modificando um pouco o nosso
léxico, perceber seu papel na formação profissional, sua importância na
elaboração, apropriação e disseminação de idéias da/na ciência geográfica no
Brasil.
Essas opções todas resultam, entretanto, daquilo que a própria história
recente da Geografia nos legou – a imensa proximidade entre a AGB e as
transformações percebidas na ciência geográfica e na sociedade brasileira nos
anos posteriores a 1934. A teia que se foi urdindo, como poderemos perceber,
entre os discursos presentes nos eventos da AGB, que reclamam uma
20
investigação. Nesse sentido, acaba por discutir os modos, os meios e os
processos, que consignaram à AGB um destacado papel no seio dessa
comunidade científica no Brasil, e assim, buscar compreender em que medida e
de que maneiras a AGB e o movimento em seu entorno foram responsáveis pela
consolidação da Geografia no Brasil. Por isso, vez ou outra vão se cruzar os
caminhos entrelaçados da AGB, dos professores, dos estudantes e dos cursos de
Geografia. É possível até afirmar que sem a existência, idéias e práticas, e
intervenções e transformações da AGB, a partir de 1934, a história da Geografia
no Brasil teria sido outra.
A história da ciência teve, desde o princípio, uma forte ligação com a
realização de certo projeto de modernidade que estava colado, de modo
inextricável, com a formação dos Estados Nacionais e todos os antecedentes
colonialistas europeus, sendo um campo intrinsecamente excludente. Em
princípio, em função de uma forte tradição epistemológica, a história das ciências
se resumiu a investigar as mudanças ocorridas em seu interior no âmbito das
transformações de seus paradigmas
7
.
A nova historiografia em história social da ciência busca romper com essa
leitura, propondo haver uma ciência a se estudar também a partir de
comunidades científicas
8
que a seu tempo, em seus países, a partir da
conjuntura que viveram e sob as condições sociais, políticas e econômicas às
quais estiveram submetidas local e internacionalmente, produziram um corpo de
métodos, campos de investigação, objetos de pesquisa e verdades resultantes
desses processos. Desse modo, a nova historiografia propõe que para além do
velho mundo há uma história da ciência a ser contada
(Sousa Neto, 2001).
Nas duas últimas décadas e mais nomeadamente no decênio final do
século XX, a crítica a essa historiografia ganhou um forte impulso, qualificando-
se por uma excepcional pesquisa de fontes e respaldada pela crítica à
7
Neste sentido um exemplo é o trabalho de KUHN, Thomas S. A estrutura das revoluções
científicas. 4ª ed. São Paulo:Perspectiva, 1996. O trabalho de Kuhn alcançou o mérito fundamental
de apontar a relação inextricável de fatores científicos e extra-científicos na própria formulação e
validação do conhecimento científico, abrindo uma linha de investigação bastante profícua que
permitiu que à História da Ciência viesse associar-se outras disciplinas (como a Psicologia, a
Sociologia, a Antropologia etc).
8
A existência de uma comunidade científica especializada modela o pensamento de seus
integrantes e, com o tempo, origina o que tem denominado estilos de pensamento que determinam
a eleição de problemas científicos, as perguntas que são feitas, guiam as observações, estabelecem
regras para se trabalhar e ainda predeterminam o vocabulário que se há de utilizar. (Capel, 1999)
21
historiografia mimética
9
. As investigações começaram a voltar suas atenções
para instituições científicas e/ou profissionais e, ainda, para períodos que
antecedem os marcos da interdição historiográfica a que fomos submetidos
(Sousa Neto, 2001).
Ao estudar-se a história de uma instituição que é ao mesmo tempo
cultural, científica e profissional, como a Associação dos Geógrafos Brasileiros
(AGB), deve-se levar em consideração alguns elementos que são essenciais. Em
princípio, ela é feita por pessoas, umas fartamente nomeadas e outras
absolutamente anônimas que, juntas, no caldo do cotidiano institucional, dão
àquilo que produzem um sabor coletivo. Esse sabor coletivo é passível de ser
apreciado por intermédio de documentos datados escritos, fotografias,
cartazes, sons e de versões orais que a memória de indivíduos e grupos
documenta. Depois as relações se dão mediante rituais, com suas exigências
materiais e produções simbólicas. E, por fim, sementes que são espalhadas
pelos periódicos e textos avulsos, em maior ou menor escala, sendo mais ou
menos eficientes e que são responsáveis por propagandear as idéias
hegemônicas em dada conjuntura, além de certas matrizes teóricas e científicas.
Tudo isso, claro, no interior de um contexto histórico mais amplo que o de uma
instituição, comunidade profissional e mesmo Estado Nacional. Assim
“a história deve contribuir para que os sujeitos se conscientizem
do papel desta no passado, para, a partir daí, conquistar a
liberdade. Ou seja, a atitude contemplativa sobre uma história
cristalizada contribui para sua reprodução ou para sua eternização
nos moldes em que foi estruturada. Deste modo aos estudar um
campo, deve-se tomar o cuidado de não reproduzir acriticamente
a história. Toda história deve ser analisada de forma a captar e
compreender qual a sua contribuição para se fazer avançar o
conhecimento”. (Daher, 2003:36)
Estudar a história de uma disciplina, ou mesmo, as histórias das
instituições presentes nessa história, pode contribuir de maneira significativa
para o debate epistêmico dessa disciplina. Estudar a episteme de uma dada
ciência implica em fazer história.
9
“No caso do Brasil e da América Latina, particularmente, essa abordagem teórica da História das
ciências acarretou, além do anacronismo e da descontextualização, um segundo e grave problema.
Ou seja, ao partir de um referencial essencialmente eurocêntrico e positivista, forjado para outras
realidades e, por tanto, adotado pela via de um “mimetismo historiográfico” (ef. SALDAÑA,
1993:74-78) conduziu a uma visão estreita de passado, não tendo dado conta de uma prática
científica concreta que, embora tivesse existência material nos arquivos, bibliotecas e museus, não
podia e não conseguia, dessa forma, encontrar seu lugar” (Figueirôa, 2000:119)
22
Por tudo isso, a história da AGB pode confundir-se com muitas outras
histórias contadas a partir das transformações ocorridas na sociedade e na
geografia brasileira nos últimos decênios. Porém algumas e importantes
diferenças parecem marcar a singular história dessa Associação de Geógrafos.
A AGB, nascida durante a década de trinta do século passado é uma
expressão recente do fenômeno da história social da geografia no Brasil. O seu
surgimento e posterior desenvolvimento, inclusive, é decorrente de uma dada
concepção de geografia. A AGB, portanto, é resultado de uma história
institucional muito mais longa no âmbito da geografia brasileira, e é não apenas
portadora de certa institucionalidade profissional, mas chanceladora de modos de
produzir conhecimento e do conhecimento que produz. Em outras palavras sua
epistemologia, enquanto portadora da epistemologia de uma ciência, não está
descolada da história social da comunidade científica, de suas instituições, dos
ritos simbólicos que determinam ingresso e permanência, das políticas de
fomento, dos círculos de afinidades
10
, etc. Dessa forma, para Escolar (1996)
“Em Geografia, consequentemente, como em qualquer outra
ciência social, não basta deixar de lado questões psicológicas
e/ou sociais, com o propósito de isolar o processo de
produção de conhecimento e indagar dele de maneira
asséptica; pela simples razão que não haveria o que indagar.
Não esqueçamos que as ciências sociais orientam-se em
conhecer objetos psicológicos e/ou sociais. Ou, portanto, o
epistemólogo que deixa de lado ambas as questões não
contaria (sem ter que rotular-se como isento de
preconceitos) com nenhum objeto científico sobre o qual
trabalhar; ou, em prejuízo próprio, seria obrigado a
incorporar à análise condições sociais que determinam, de
certa forma, o desenvolvimento desse tipo de conhecimento
científico, onde a identidade parcial sujeito-objeto da
investigação é evidente”. (Escolar, 1996:23)
Aqui a discussão busca perceber a validade epistemológica impressa pelas
instituições aos saberes e como o conhecimento encontra uma comunidade que o
veicula e que o legitima, sendo produtora de problemas que só encontram
solução no interior de uma certa prática profissional (Bourdieu, 2000). Em outras
palavras os saberes não se desvinculam das instituições que o pronunciam, o
produzem, o sacramentam.
Ao pensar uma associação de geógrafos no seu sentido amplo, pode-se
dizer que em um país onde a universidade era incipiente e os cursos de geografia
10
Berdoulay, 1999.
23
estavam nascendo, era exatamente nessa instituição que se conformava uma
institucionalização profissional e científica.
O processo de acompanhamento ao longo do tempo, de uma parte da
memória institucional de uma grande e complexa associação científica como a
AGB, exigiu que recorressemos a alguns materiais formadores de memória
coletiva. Em primeiro lugar o documento, definido em sua forma mais ampla,
assumido aqui como material impresso, que determinou a representação da
publicação da AGB e de seus associados, as resoluções e anais de seus eventos,
suas revistas, seus estatutos, suas imagens, além de outros meios de informação
e divulgação da Geografia na AGB. Em segundo, a memória, tanto individual
como coletiva de um conjunto de associados, que desempenharam funções
importantes na associação e que recordam seletivamente suas respectivas
trajetórias e rumos, tanto da AGB quanto da Geografia brasileira, através de
depoimentos orais obtidos a partir de entrevistas abertas e livres. Neste sentido,
o principal mérito da relação documento e memória foi poder comparar
seletivamente algumas linhas de tensão entre fatos e versões nas diferentes
fases porque passaram a Geografia e a AGB nos anos que foram analisados.
Portanto, a palavra seletividade representa um papel fundamental na relação
entre documento e memória e é perfeitamente claro que este processo nunca
contemplará a todos, pois seria extremamente difícil escrever a história total da
AGB, vista por todos os ângulos. Esta é apenas uma das possíveis visões que
este assunto evocará.
Os documentos de domínio público refletem duas práticas discursivas:
como gênero de circulação, como artefatos do sentido de tornar público, e como
conteúdo, em relação aquilo que está impresso em suas páginas (Spink, 2000).
São produtos em tempo e componentes significativos do cotidiano;
complementam, completam e competem com a narrativa e a memória. Os
documentos, como registros são produtos da interação com o outro
desconhecido, porém significativo e freqüentemente coletivo. São documentos
que estão à disposição, simultaneamente traços de ação social e a própria ação
social. Sua presença reflete o adensamento e ressignificação do processo que
tem em seu foco recente a própria construção social do espaço. São
elementos/processos sócio-históricos de construção de saberes e fazeres, assim
“Os documentos são produtos sociais tornados públicos.
Podem refletir as transformações lentas em posições e
24
posturas institucionais assumidas pelos aparelhos simbólicos
que permeiam o dia-a-dia ou, no âmbito das redes sociais,
pelos agrupamentos e coletivos que dão forma ao informal,
refletindo o ir e vir de versões circulantes assumidas ou
advogadas. Para os grupos profissionais, situados
simultaneamente no institucional e no cotidiano, o mundo
das publicações é igualmente
rico, permitindo acesso às
coalizões de pensamento e diálogo” (Spink, 2000:136)
Como práticas discursivas, os documentos assumem diferentes formas.
Arquivos diversos, diários oficiais e registros, jornais e revistas, publicidade,
relatórios e anais são algumas das possibilidades. Tudo tem algo a contar, o
problema maior é aprender a ouvir. Nas palavras de Spink “o acaso é um
elemento importante e nunca dever ser descartado; os pesquisadores no campo
da produção de sentidos aprendem a ser catadores permanentes de materiais
possivelmente pertinentes” (Spink,2000:137). O domínio do documento, e do
que ele pode conter permite uma leitura mais completa e profunda do historiador
(Thompson, 1992). A escolha de material foi feita a partir de uma análise inicial
do campo.Assim para o geógrafo que se dispõe a fazer uma pesquisa no campo
da história da Geografia, e mais detidamente, na história da Geografia brasileira,
é muito importante, tal como, para o historiador, o domínio sobre a essa
metodologia que permite o trabalho com os documentos impressos e, sobretudo,
na sua relação com a memória.
Estas opções permitiram entender de que forma a escolha do instrumento
se relaciona com os propósitos do pesquisador e ao mesmo tempo como os
pressupostos teóricos nortearam as interpretações. Sem dúvida a forma
escolhida para a discussão é parte de posicionamento que privilegia a pesquisa
qualitativa com todas as implicações metodológicas pertinentes ao campo. Esta
interação se em certo contexto, numa relação constantemente negociada. No
relato está em foco o que a pessoa traz, os argumentos utilizados e a explicação
dada para torná-los plausíveis, ou seja, o que ocorre numa dada situação, dentro
de uma seqüência de atividades. Numa conversa o locutor posiciona-se e
posiciona o outro, ou seja, quando falamos selecionamos o tom, as figuras, os
trechos de história, os personagens que correspondem ao posicionamento
assumido diante do outro que é posicionado por ele. As posições não são
irrevogáveis, mas continuamente negociadas. Em outras palavras “o sentido é
produzido interativamente e a interação presente não inclui apenas alguém que
25
fala e outro que ouve, mas todos “os outros” que ainda falam, que ainda ouvem
ou que, imaginariamente, poderão falar ou ouvir. É sob esse ângulo que o
diálogo amplia-se, incluindo interlocutores presentes e ausentes” (Pinheiro,
2000:194)
Muitas das questões - talvez sua maioria – tenham se formulado no
decorrer da pesquisa e do trabalho em arquivos documentais. Disso evidencia-se
a importância dada aos projetos coletivos como espaço ou fórum de debates e
construção do nosso conhecimento sobre história oral.
Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB) origens, idéias e
transformações: notas de uma história; é um estudo dessa associação, ao longo
de sua existência, desde seu nascimento até aproximadamente o final da década
de 1970. A proposição é a da apresentação dessa história no interior da
Geografia brasileira a partir da estruturação, do que aqui estaremos chamando
de
Notas Históricas, que são núcleos de articulação de idéias, forma e
conteúdos, e que, articuladas em si e entre si, possibilitam a arrumação de uma
dada história institucional, valorizando os temas, as ações dos sujeitos que
fazem essa história, e combinando tempos distintos e interdependentes nesse
processo de recomposição.
A primeira Nota refere às origens, onde trataremos o contexto do
surgimento da AGB, enquadrando-a como uma das bases da institucionalização
da geografia brasileira pós-1930, juntamente com os cursos universitários, o
IBGE e o ensino da disciplina na chamada rede de educação básica. Ainda
explorando essa nota, serão destacados os primeiros passos dados pela
associação e seus personagens pioneiros. Serão tratadas nessa nota também as
“diversas origens” da AGB, desde a controvérsia sobre a origem/criação até as
suas origens/recriações ao longo de sua história de existência. A inserção da AGB
numa possível periodização da geografia brasileira também será elemento de
tratamento.
A segunda Nota contém as Idéias. Na construção desse núcleo de
articulação serão destacadas as publicações pioneiras da AGB. Produções que
ocorreram a partir de 1934, e serão avaliados até a década de 1970, e que
foram produzidos na recém formada associação e, posteriormente, em suas
seções regionais. Os elementos da construção da referida nota, são as revistas,
boletins e anais das reuniões. Os produtos das publicações serão posteriormente
26
analisados na perspectiva da compreensão da contribuição da AGB para a
formação/conformação do campo científico da geografia no Brasil.
A terceira Nota a ser desenvolvida nesse trabalho é a das
Transformações. A AGB, ao longo de sua história de existência e atuação
como a mais importante associação científica da geografia brasileira,
experimentou uma série de reformas estatutárias e organizacionais. A segunda
dessas reformas vai assinalar na história da AGB o início da construção de seu
projeto de consolidação enquanto uma associação de caráter nacional. O
conjunto dos elementos e das ações, parte implementada, por reforma
estatutária, vai cimentar o caminho para efetivação de seu projeto nacional.
Nesse núcleo, as reformas estatutárias serão tratadas como exponenciais
transformações na estrutura política e organizacional da AGB e com significativas
repercussões na geografia no Brasil. Para entendermos esse caminhar,
apresentaremos a criação das seções regionais, suas características gerais e
singulares enquanto ampliação das bases da comunidade agebeana; a realização
das Assembléias Gerais Ordinárias, que durante muito tempo se constituíam nos
encontros da associação e de seus associados, e um pouco da história de cada
uma delas seus estudos, participantes e decisões. Merecerá destaque nesse
estudo sobre a AGB, a criação dos Congressos Brasileiros de Geógrafos, que se
tratado enquanto afirmação de uma identidade de geógrafo e de um projeto de
geografia que vinha sendo germinado por aqueles que se organizaram no interior
da associação e nas principais instituições que conformavam a chamada base da
moderna geografia brasileira. O movimento de renovação crítica da geografia
brasileira e sua relação de alimentação recíproca com a AGB, a criação das
seções locais, a ação/movimento dos estudantes e professores da educação
básica são os novos agentes dessa transformação.
27
Capítulo 1
Origens:
A Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB)
na Geografia Brasileira
28
oda história tem o seu começo, e o começo da história associativa,
que reúne estudiosos e interessados no pensamento geográfico
brasileiro, embora seja breve, não começa com a AGB. Sabemos que
a história da AGB confunde-se com a história da institucionalização da Geografia
universitária no Brasil pós-1930, e depois, portanto, com a própria geografia
brasileira. No entanto, estamos buscando nesse trabalho, trazer á lume a idéia
de que a história associativa [na] geografia, ou melhor dizendo, no tocante ao
pensar/produzir conhecimento geográfico no Brasil, diferente assim da idéia de
uma geografia brasileira ou [da] geografia brasileira, tem seu início, mesmo que
bastante embrionário, nas chamadas sociedades geográficas.
Toda tentativa de realizar uma reconstrução do processo de
autonomização temática e metodológica da Geografia enquanto disciplina através
de um levantamento das instituições que se vinculam à produção deste
conhecimento em qualquer que seja o recorte nacional-estatal escolhido,
encontra seu primeiro antecedente histórico na formação das chamadas
Sociedades Geográficas
11
.
As sociedades de geografia são instituições do século XIX e estão ligadas
de modo inextricável à ação colonialista e imperialista ocorrida durante esse
período, mais marcadamente ainda entre o último quartel dos oitocentos e as
duas décadas iniciais do século XX, com forte predominância européia e entre os
europeus com marcada hegemonia da França, Alemanha e Inglaterra
(Zusmam,1996). A primeira dessas sociedades foi fundada em 1821 em Paris,
seguida pela de Berlim em 1828 e a de Londres em 1830. As primeiras entre as
latino-americanas foram a do México, em 1833, e a do Brasil, em 1838
12
.
Entretanto, embora o surgimento desse tipo de instituição tenha sido lento em
seus cinqüenta anos iniciais (1820-1870), pode-se dizer que nos anos
subseqüentes elas cresceram de modo vertiginoso, principalmente no período
que vai de 1870 a 1914
13
, por coincidência o mesmo apontado por Hobsbawn
(1997) como aquele em que se dá o surgimento dos Estados nacionais em escala
11
Numa primeira aproximação é possível distinguir dois tipos de instituições: aquelas formadas no
século XIX que apareceriam como centros eminentemente culturais agrupando “exploradores” e
“aficionados” e aquelas associações do século XX cujas atividades têm seu centro de interesse na
formação e o aperfeiçoamento dos professores. (Capel, 1977 apud Zusmam, 1996)
12
Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro (SGRJ)
13
Segundo Capel (1981:183) entre 1821 e 1878 foram criadas cerca de 50 sociedades geográficas,
em 1885 existiam 94 delas, em 1897 elas eram 107. A maioria dessas sociedades, membros
associados e revistas, é claro, estavam na Europa (cerca de 85%).
T
29
planetária. Nesse sentido, poder-se-ia dizer que as sociedades estão associadas
a dois fenômenos inseparáveis: o imperialismo europeu e a conformação do
mundo a partir de recortes territoriais nacionais.
Considerar as Sociedades Geográficas como instituições, significa
conceituá-las como estruturas materiais e organizativas, onde se constituem
relações sociais e, portanto, relações de poder (Zusmam,1996). As instituições
devem ser estudadas tanto na sua função social explícita o que se estabelece
em seus objetivos formais (estatutos) quanto naquelas nunca expressadas
claramente (Escolar, 1996).
Realizar uma leitura destas instituições a partir do contexto histórico nas
quais se constituíram apresenta-se como uma tarefa relevante poucas vezes
empreendida. Isto permite não ressignificar o seu papel em relação a
problemática acima apresentada mas também em relação aos projetos políticos
em curso, nas conjunturas históricas nas quais elas se constituíram.
No âmbito da história das ciências, as sociedades representam, por sua
vez, uma riquíssima possibilidade de investigação. Inicialmente, porque muitas
das controvérsias científicas, de mais de uma área do conhecimento, vão estar
no seu interior. Controvérsias que vão desde o estabelecimento de autonomias
disciplinares até as questões relacionadas a problemas teóricos e metodológicos.
Para Capel (1989)
“La institucionalización y la profesionalización, con la
consiguiente formación de comunidades científicas, ha
desempeñado, en efecto, un papel esencial en la constitución
y en el desarrollo de las disciplinas científicas. Através de
dichas comunidades, apoyadas en instituciones docentes e
investigadores, ha avanzado el proceso de especialización que
tan decisivo ha sido para el progreso científico desde los
siglos XVIII y XIX.
La sóciología de la ciencia ha puesto claramente de relieve la
importancia de los foros comunitarios y de los aspectos
institucionales en los procesos de socialización académica y
en la selección y aceptación de conceptos científicos. A través
de la creación y potenciación de comunidades científicas es
como normalmente se deja sentir la acción social sobre el
desarrollo del pensamiento científico (Capel, 1989:18)”.
Depois, em uma época em que as instituições científicas como um todo
estavam adquirindo novas formas, para vir depois conformar universidades e
modernos institutos de pesquisa. Foi nesse tipo de sociedade que funcionaram
verdadeiras escolas, se constituíram redes de pesquisa, publicações de
30
periódicos, guias de instrução para exploradores, dicionários geográficos,
realização de congressos e amplos processos de difusão e propaganda ante a
opinião pública.
Capel (1979), com propriedade, destaca a relação entre a Geografia e as
Sociedades de Geografia.
“En el proceso de institucionalización de la geografía en la
universidad incidieron también, de forma secundaria, otros
factores. Conviene volverse ahora hacia ellos. Entre estos
factores destacaremos la presión de las sociedades de
geografía en favor del reconocimiento de un estatus
universitario a la ciencia geográfica (Capel,1979:10).
Um estudo de sociedades geográficas pode revelar uma história social da
ciência geográfica. Pode revelar por dentro das controvérsias, quais eram as
principais questões científicas, pelo menos no âmbito da Geografia, naquele
contexto histórico. Outra importante leitura a ser feita diz respeito ao próprio
modo como, de dentro das chamadas Sociedades de Geografia e suas comissões
científicas, é possível perceber o modo como as disciplinas científicas foram se
tornando autônomas, consolidando campos próprios e estabelecendo outras
formas de institucionalização profissional.
O professor Pasquale Petrone, em entrevista concedida a Revista Estudos
Avançados da USP, ressalta o lugar destacado da AGB na Geografia brasileira,
sem deixar de considerar as associações de existência anterior.
“A Associação dos Geógrafos Brasileiros, fundada em São
Paulo, foi a primeira entidade voltada para uma Geografia
científica. Não se trata, com a afirmação acima, de
menosprezar ou menoscabar o que existia, a exemplo do
Instituto Histórico e Geográfico, no Rio de Janeiro, em São
Paulo, ou em outras partes do país. Mas é que as atividades
dessas entidades tinham outro significado, embora
freqüentemente de inegável importância, e sobre isso parece
que não caibam dúvidas. Porém, dentro de uma perspectiva
rigorosamente científica, a Associação dos Geógrafos
Brasileiros inovou. Como organização foi pioneira, sob vários
aspectos, dado que posteriormente outras entidades,
voltadas para outros campos científicos, surgiram a partir do
paradigma representado pela Associação dos Geógrafos
Brasileiros. Parece-me importante, também, o fato de tal
entidade ter surgido em São Paulo, de certa forma no bojo da
Faculdade de Filosofia, e que tenha crescido sempre
estreitamente vinculada à Universidade. Cabe insistir, embora
autônoma, entidade particular e, portanto, não oficial, a
Associação dos Geógrafos Brasileiros funcionou sempre em
31
sintonia com a USP. Foram muitos os alunos da Universidade
que tiveram a oportunidade de crescer intelectualmente
freqüentando a Associação” (Petrone, 1994:6)
O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) e a Sociedade de
Geografia do Rio de Janeiro (SGRJ), podem ser entendidos como o início da
história associativa da geografia no Brasil. Entendidas como aquelas instituições
que reuniram, num primeiro momento, os estudiosos e interessados em
geografia, carregando ou não em si o título e a denominação de geógrafos. Afinal
o que existia e era produzido antes de 1930, quando do surgimento do IBGE, da
AGB e dos cursos de graduação no cenário da Geografia, também era geográfico.
No entanto, é a AGB, objeto desse estudo, que vai fazer, no nosso
entendimento, a diferença nessa história associativa na geografia brasileira.
Primeiro porque a AGB vai viver em seu início a fase de transição entre o fim
século XIX e início do XX, assumindo heranças e ao mesmo tempo ultrapassando
os limites dessas instituições existentes no Brasil. Segundo, porque é a AGB a
associação que vai efetivamente se articular com as outras instituições que vão
formar as bases da geografia brasileira no pós-1930, e que alguns autores vão
chamar de “moderna”. Depois, porque é a AGB que vai ao longo de sua história,
articular a base da chamada comunidade de geógrafos no Brasil (estudantes,
professores e técnicos), desde sua fundação até os dias atuais.
32
1.1
Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB): o contexto de seu
surgimento na Geografia brasileira
A AGB surge num contexto da Geografia brasileira chamado por muitos de
período de institucionalização da ciência geográfica, ao lado de um conjunto de
outras instituições já existentes ou ainda que surgiram logo após sua criação, vai
conformar não esse período, mas a possibilidade de produzir e pensar a
Geografia no Brasil na perspectiva de uma dada modernidade científica. O
período da institucionalização da geografia no Brasil se revela altamente
interessante. A armação de um aparato institucional dedicado a essa disciplina
data da década de 1930 com a organização dos cursos universitários de
Geografia em São Paulo (1934) e no Rio de Janeiro (1935), a normatização da
disciplina no ensino básico de alguns Estados, a fundação da Associação dos
Geógrafos Brasileiros (1934), a criação, pelo Estado, do Conselho Nacional de
Geografia (1937) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (1938). É
correto afirmar que a criação dessas instituições se coloca como estratégia
utilizada na busca da cientificidade, da legitimidade e da inserção da profissão na
modernidade. Tais atos, interligados, rapidamente conformam uma comunidade
de geógrafos no país.
A criação da AGB vai combinar com a criação dos primeiros cursos de
graduação em Geografia no país, e também com alterações no ensino dessa
disciplina nas escolas no nível do que hoje chamamos de Educação Básica. Esse
cenário é que tentaremos construir nas próximas páginas, de forma possibilitar a
compreensão do processo de formação/consolidação inicial AGB.
As primeiras tentativas para a consolidação de uma tradição de ciência
estabelecida surgiram por volta do fim do século XIX. Porém, não se pode
entender essa questão separada dos condicionamentos sociais que influenciaram
tanto a atividade científica quanto a vida e carreiras dos pesquisadores. Assim,
merecem destaques os condicionamentos relativos ao ambiente cultural mais
amplo e as próprias instituições de pesquisas e associações científicas. Para se
tentar entender de que forma os fatores e valores culturais facilitam ou inibem o
33
trabalho científico faz-se necessário uma reflexão sócio-histórica que permita
compreender a dinâmica e a complexidade da relação entre ciência e sociedade.
A relação entre a institucionalização da geografia e a construção de uma
base política de massas, com uma larga ampliação do mercado cultural, não
conheceu ainda um tratamento mais sistemático. A idéia de institucionalização
associa-se a noção de profissionalização, quando se fala em institucionalização
da Geografia, na realidade está sendo mencionado o processo de formação de
seu campo científico-disciplinar, que por sua vez está diretamente relacionado à
implementação de novas instituições de ensino e pesquisa que possibilitaram a
formação de profissionais especializados em Geografia orientados pelas
modernas concepções e práticas científicas (Machado, 2002).
Um dos mais conhecidos entre os que escreveram uma história da
Geografia no país é José Veríssimo da Costa Pereira, responsável pelo capítulo “A
Geografia no Brasil”, que compõe o primeiro volume da obra de Azevedo (1955,
p. 349-460) As ciências no Brasil
14
. José Veríssimo situa o nascimento científico
da Geografia no Brasil por volta dos anos 30 do século XX e em torno do
Conselho Nacional de Geografia (CNG) e da Universidade de São Paulo e
Universidade do Brasil, dando ao primeiro o título de “órgão oficial máximo da
ciência geográfica no país”. Destaca entre outras coisas uma fase fortemente
marcada pela influência das ciências matemáticas, físicas e naturais na geografia
brasileira, que vai até a primeira década do século XX e estaria soldada pela
forte influência da leitura de naturalistas estrangeiros. Após esse período destaca
mudanças metodológicas decorrentes da influência da sociologia, da história, da
economia e da estatística.
Andrade (1982) considera que nos primeiros anos do século XX tenham
surgido no Brasil, trabalhos de interesse geográfico bastante relevantes, embora
ressalte que não metodologicamente geográficos. No entanto, considera também
que foi com Delgado de Carvalho, que se iniciou a implantação do pensamento
geográfico científico no país.
Embora não se possa deixar de reconhecer a existência de importantes
idéias geográficas no país no período compreendido entre o final do século XIX e
as duas primeiras décadas do século XX, Machado (2002), destaca com muita
propriedade que
14
Para essa tese estamos trabalhando com a versão editada em 1994 pela Editora da UFRJ.
34
“o verdadeiro impulso de modernização do saber geográfico é
recebido com a implantação das instituições mencionadas
15
e
das relações estabelecidas entre seus profissionais. Diversos
geógrafos
16
que dedicaram estudos à historiografia da
geografia brasileira, guardando as devidas especificidades de
seus trabalhos, apresentam também sua modernização a
partir do processo institucional” (Machado, 2002:14)
É certo também, como nos adverte Quaini (1996), que não se pode
confundir a história de uma disciplina com a da sua institucionalização.
Advertidos, no entanto, a escolha que fizemos para esse trabalho foi a de
trabalharmos justamente com o processo que conhecemos como
institucionalização, uma vez que entendemos que a história de uma disciplina
não define o entendimento sobre ela, mas dá grandes elementos para sua
compreensão.
A história da Geografia no Brasil não foge àquilo que foi a regra
historiográfica para as demais ciências no país e padece, nesse sentido, das
mesmas interdições conceituais e ideológicas. A história da Geografia no Brasil,
produto de uma certa forma de fazer a história da ciência no país elegeu como
data natal, a década de 1930 (Sousa Neto, 2002).
Presente, formalmente, nos currículos escolares desde o século XIX, a
Geografia vai conhecer sua formação no âmbito universitário a partir da
terceira década do século XX com o surgimento dos primeiros cursos de
formação de professores (as) de geografia. Através do decreto nº 19.851, de 11
de abril de 1931, Francisco Campos renovava o ensino superior brasileiro com a
introdução do sistema universitário. Segundo a nova organização, a fundação de
uma universidade no país exigiria a incorporação de, pelo menos, três institutos
de ensino superior, dentre os quais deveriam estar incluídos os de Direito,
Medicina e Engenharia, ou, em substituição a um deles, a Faculdade de
Educação, Ciências e Letras (Rocha, 1994).
Foi em São Paulo que primeiramente surgiu uma instituição de nível
superior organizada sob as regras do novo sistema. Em Decreto datado de 25 de
janeiro de 1934, o Governador Armando Sales de Oliveira fundou a Universidade
de São Paulo. Em continuidade a esse processo de criação de universidades e
15
CNG/IBGE, AGB, USP,UDF/UB
16
Moraes (1982), Machado (1995), Andrade (1982), Monteiro (1980), Pereira (1955), para lembrar
alguns.
35
criação de cursos de formação em Geografia, em 1935, também seria criada no
Rio de Janeiro, tendo como idealizador Anísio Teixeira, a Universidade do Distrito
Federal, absorvida em 1938 pela Universidade do Brasil. Em ambas instituições,
estava presente a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, que passou a se
constituir, segundo Azevedo (1971), na medula do novo sistema.
Azevedo afirma ainda que as Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras
tinham como proposta, ao serem criadas, o “duplo fim de desenvolvimento da
cultura filosófica e científica e de formação de professores
secundários.”(1971:700). É interessante que lembremos que até então, os(as)
docentes(as) que atuavam no ensino secundário eram oriundos ou de outras
profissões (advogados, sacerdotes, etc) ou então autoditadas, isto quando não
eram apenas profissionais em início de carreira que exerciam o magistério até
encontrar uma boa posição nas suas profissões de origem (Rocha, 1994).
Nos anos 30, com a institucionalização da Geografia no ensino superior
brasileiro, o princípio de produção de conhecimento geográfico passou a ser o
acadêmico. Isso equivale a dizer que a academia direcionou os critérios e regras
para elaboração da linguagem, para a diferenciação disciplinar e a formulação da
identidade profissional na área. Foi, pois, nas instituições superiores que se
estruturou a carreira do professor de Geografia. A universidade passou a ser o
locus privilegiado para a profissionalização, para a produção do conhecimento
geográfico, para a institucionalização de regras legítimas do campo científico.
Pelas razões a que nos referimos acima, sobretudo, a Universidade de São Paulo
e a Universidade do Distrito Federal (depois Universidade do Brasil), tornaram-se
proeminentes nesta tarefa.
“A universidade erigiu (...) uma nova modalidade cultural,
implicando num tipo de reflexão constante e pontuado de
exigências próprias, respaldado tanto na produção de um
conhecimento voltado para a carreira, quanto num saber que
exigia as preocupações com a transmissão. O profissional
universitário é, ao mesmo tempo, professor. A transmissão
dos conteúdos gera o esforço de sistematização dos sistemas
de pensamento expresso em grandes nteses,
frequentemente apoiado em grandes discursos sobre o
método. Procedimentos desta natureza são típicos da
academia: o ‘homo academicus’ gosta do acabado. Daí a
permanente discussão teórica como resultado do papel
professoral”. (Arruda, 1995: 116)
36
A contribuição desses cursos de Geografia e História (à época encontravam-
se ainda juntos), ministrados por professores contratados na Europa, seria
inquestionável em se tratando da difusão da orientação moderna, tanto no
campo da pesquisa geográfica quanto para o ensino secundário de geografia.
“Ao movimento de renovação ligaram-se estreitamente
diversos especialistas estrangeiros, que foram ativos
transmissores da cultura geográfica moderna. Imprimindo a
orientação científica dos métodos de pesquisas geográficas,
introduzindo ou aperfeiçoando a técnica das observações
sobre o terreno, estimulando as pesquisas iniciais, divulgando
os processos modernos do ensino geográfico, estabelecendo e
sistematizando as normas de elaboração e de redação de um
trabalho geográfico, descendo, posteriormente, ao
esclarecimento de pormenores técnicos relacionados com o
trabalho de campo, nas pesquisas originais de geografia
regional, debatendo, em seminários ou em tertúlias, temas e
questões da maior importância geográfica, os professores
estrangeiros imprimiram, efetivamente, uma grande
orientação ao movimento renovador da geografia no Brasil.
Pela primeira vez no país, os estudos geográficos e as
pesquisas realizadas foram levados a efeito ou tiveram a
orientação de geógrafos propriamente ditos” (Pereira,
1994:439-440).
A importância da instituição curso universitário vai aparecer de maneira
bastante clara, porém ortodoxas, nas palavras de José Veríssimo da Costa
Pereira. O professor apresenta seu ponto de referência para refletirmos sobre o
processo de criação dos cursos universitários de Geografia no Brasil e sua
importância na consolidação dessa ciência dentro dos marcos institucionais
modernos. Para Pereira (1994), a inexistência dos cursos superiores de Geografia
limitava ou mesmo impedia a realização de pesquisas ou trabalhos geográficos
em acordo com os princípios que se construía para a ciência de modo geral e, em
especial, para a Geografia. Não é difícil perceber a importância dada à criação
dos cursos superiores de Geografia em suas palavras, mesmo mostrando
compreender a importância da obra daqueles que se intitulavam geógrafos,
reconhecendo o valor de seu trabalho. No entanto, afirmava a necessidade de
legitimação desse saber a partir de uma formação universitária específica,
considerando a referida formação imprescindível ao trabalho, tanto no
magistério, como nas pesquisas e preparação de teses.
“Em consonância com os princípios geográficos gerais
estabelecidos pelos fundadores da nova ciência, princípios,
37
aliás, refundidos e ampliados pelos grandes mestres que se
lhes seguiram, os estudiosos da Geografia do Brasil, em sua
maior parte, não puderam até o terceiro decênio do século
atual, realizar pesquisas, bem assim elaborar e apresentar
trabalhos à altura dos requisitos exigidos pelo importante
ramo do saber humano. Imbuídos do espírito da Geografia,
mas não realmente penetrados de ciência, aos diletantes
brasileiros faltou, por infelicidade, uma boa formação
geográfica. Imprescindível ao magistério e ao preparo de
trabalhos, teses e pesquisas, tal formação, no Brasil, somente
poderia assegurar-se, como sucedeu na Europa, através do
ensino da Geografia em grau superior e mediante o
desempenho de um programa bem definido, ministrado
dentro das universidades. Nesse sentido, entretanto, não
havia universidade no Brasil. As investigações científicas de
caráter ou de interesses geográficos, sem método seguro e
objetivo específico, se processavam nas instituições ou nos
organismos técnico-administrativos, oficiais ou particulares,
que, desde a Comissão Geológica do Império até o advento
do Conselho Nacional de Geografia, foram fundados e criados
para atender aos imperativos do desenvolvimento econômico
do país.
Do exposto, quanto ao ponto de vista técnico legal, se infere
que, até o início do quarto decênio do corrente século, não
existiam geógrafos no Brasil, isto é, profissionais oficial e
convenientemente preparados para conseguirem, do melhor
modo, auscultar, em contato com a natureza e a vida
humana e social, a trama de combinações inerentes ao fato
geográfico e, em escala progressiva, sentir e registrar, numa
síntese expressiva, viva e documentada, todo o dinamismo e
a riqueza total da complexa realidade que a Geografia
estuda” (Pereira, 1994:437)
Andrade (1982:185), quando reflete sobre a as questões que envolvem a
formação e a institucionalização da geografia na dimensão do pensamento
científico corrobora a avaliação feita por José Veríssimo sobre a importância da
formação de Geografia no nível superior para a realização plena da pesquisa
geográfica. Para o autor “sendo a Geografia apenas uma matéria ensinada no
nível secundário e que ainda não adquirira o prestígio de cátedra universitária,
era colocada em um segundo plano, dificultando o acesso aos meios necessários
às pesquisas”.
Mas, se, no Brasil, até as primeiras décadas
17
do século XX, de fato, ainda
não se implantara a Universidade, contudo, nele existiam instituições, práticas
17
“Em 1920, o governo federal declarou instituída a Universidade do Rio de Janeiro, resultado da
junção da Escola Politécnica, da Faculdade de Medicina e de duas faculdades livres de Direito pré-
existentes. O projeto não preconizava atividade de pesquisa ou qualquer investigação cientifica e
38
e experiências, que conformaram uma atmosfera de possibilidades ao
surgimento da Geografia como saber universitário.
Uma indispensável sede de saber efetivamente invadia os espíritos; e por
seu turno, uma renovação educacional em bases amplas atormentava uma
vigorosa minoria de intelectuais, sobretudo de educadores
18
. Excepcionalmente
dominante, essa minoria passou a reclamar, com veemência, a reforma integral
do sistema educativo no país. Em conseqüência, a implantação, na década de
1930, do sistema universitário, condicionado pelo estatuto das universidades
brasileiras, ao pôr em equação e ao solucionar o problema da formação técnica e
científica dos futuros mestres e pesquisadores, veio resolver, também o
importante caso da formação dos geógrafos e professores de geografia no Brasil.
A criação dos cursos de Geografia no Brasil, tanto em São Paulo como no
Rio de Janeiro têm na presença de profissionais estrangeiros, e em especial os
franceses
19
, uma indisfarçável marca de influência que se constituiu através de
diversas “missões” que chegaram ao Brasil, na década de 1930, ora contratada
por aqueles que estão no governo, ora por integrantes da elite econômica
regional, que por vezes se colocavam em situação de divergência com o projeto
político e econômico em curso.
As missões científicas dos anos 30 não constituem um caso excepcional da
presença francesa em território brasileiro. O século XIX, especialmente, assiste à
chegada de um número impressionante de estrangeiros ao Brasil, com a
transferência da Corte portuguesa para o Rio de Janeiro (1808). O país se abre
como campo de investigação para os cientistas europeus
20
. O Brasil começa a ser
visitado por toda a sorte de viajantes: pintores, botânicos, zoólogos, etnógrafos,
pedagógica. Assim, as demandas de criação de uma verdadeira universidade permaneciam questão
central entre as elites intelectuais do país (Ferreira:1999:278)”
18
“A década de 1920 constituiu um momento de reflexão e de debates entre os intelectuais e
educadores brasileiros acerca da educação nacional. Os debates – que se realizaram sob inspiração
da Associação Brasileira de Educação (ABE), fundada em 1924 continham criticas que em grande
parte, se dirigiam as limitações do sistema universitário existente (Vicenzi, 1986:17 apud
Ferreira,1999:278)”.
19
“Do ponto de vista dos professores estrangeiros, foram os franceses que impulsionaram a
Geografia universitária no Rio de Janeiro. Estes traziam consigo toda uma consolidada formação
em Geografia, inspirada nos então grandes mestres franceses tais como Jean Brunhes, Emmanuel
de Martonne e Albert Demangeon, todos de alguma forma influenciados por Paulo Vidal de La
Blache” (Machado, 2002:48).
20
No que diz respeito aos franceses podemos destacar a presença do naturalista Saint-Hilaire, que
desembarca no Brasil em 1816 e aqui levanta material para uma importante obra científica (Flora
Brasilae Meridionalis, 1822), além de deixar registradas as andanças pelo país em nove volumes.
Nessa mesma época, ainda sob os cuidados da Coroa portuguesa, vem ao Rio de Janeiro uma
missão cultural francesa, convocada por D. João VI, para a criação da Escola Real de Ciências,
Artes e Ofícios. O mestre mais importante do grupo é Jean-Baptiste Debret, que permanece quinze
anos no Brasil (Peixoto, 1995).
39
geólogos e comerciantes. As Academias científicas européias induzem os
governos a mandarem expedições ao Brasil.
Mas não apenas os franceses e, com eles, a França vêm até o Brasil;
brasileiros também saem para estudar em Paris. Alguns grandes nomes do café
se formam em Paris, ou pelo menos, estabelecem fortes ligações com a cidade.
No século XX, essa relação se intensifica, quando membros de uma certa elite
vão estudar na França ou em outras Universidades européias, com destaque
para a história da AGB, de Rubem Borba de Moraes
21
(Peixoto, 1995).
O final do século XIX e as primeiras cadas do século XX podem ser
descritos como momento de intenso contato com a França, tanto no plano
científico, quanto no plano cultural.
Os anos 20 merecem particular destaque quando falamos em relações
culturais franco-brasileiras, pois em 1925 um importante passo é dado no
sentido da intensificação destas relações. Trata-se da criação, por iniciativa do
grupo do jornal O Estado de São Paulo, do Liceu Franco-Brasileiro, considerado
um embrião da futura Universidade de São Paulo (Cruz Costa, 1945 apud
Peixoto, 1995). Segundo Cruz Costa, aqui estiveram o psicólogo Pierre Janet
(1920); o psicólogo Henri Pierón (1925); Fauconnet (1927); o padre Yves de la
Bière (1927); Paul Rivet (1928); e também o médico e psicólogo George Dumas
(1926). George Dumas, eminente médico e professor da Faculdade de Paris,
formado também em Filosofia e Doutor em Letras, e que tinha também a
qualidade de ser profundo conhecedor da realidade brasileira, é quem preside a
instalação dos institutos franco-brasileiros de alta cultura em São Paulo e no Rio
de Janeiro, que mantinham estreitas relações com a Universidade de Paris
(Lefévre, 1993)
P. Fauconnet e Georges Dumas, na segunda metade de 1927,
enfatizavam a necessidade de criação de uma Faculdade de Filosofia, Ciências e
Letras em São Paulo. Neste sentido, Dumas, teria se comprometido a enviar,
anualmente, ao Brasil professores de várias Universidades francesas
(Cardoso,1982 apud Peixoto,1995). Georges Dumas (1886-1946), é, então,
nesse contexto de aproximação, o elo com o Brasil, tornando-se figura chave na
organização da vinda dos franceses para a FFCL da USP e para a Faculdade
Nacional de Filosofia, principalmente pelo excelente transito entre as autoridades
21
Rubem Borba de Moraes foi, em 1934, um dos fundadores da AGB, e nos anos que seguiram à
fundação, um dos sócios mais ativos.
40
diplomáticas francesas e, ao mesmo tempo, uma inserção importante no campo
intelectual e acadêmico francês. O fato de ser normalien e professor Sorbonne
lhe franqueava o acesso a uma rede de nomes respeitados, espalhados por
diferentes instituições francesas (Ferreira, 1999). Nomes esses que depois foram
contatados para virem para o Brasil.
O que diferenciou o processo de contratação em São Paulo e no Rio de
Janeiro foi que, o primeiro se deu a partir de uma articulação da elite paulista
22
,
e na segunda empreitada houve o convite por vias oficiais, com a autorização
direta de Getúlio Vargas
23
. Para Machado (2002:57) “De fato, as missões
universitárias francesas no Brasil foram orientadas a partir de duas vertentes
ideológicas distintas, uma de ordem anticlerical e outra católica
24
. Essas
vertentes irão também refletir na Geografia universitária brasileira, tanto em São
Paulo quanto no Rio de Janeiro”.
Para São Paulo, vieram entre tantos outros, professores como: Émile
Coornaert (Historiador); Paul Arbousse Bastide (Cientista Social); Pierre
Deffontaines (Geógrafo); Etienne Borne (Filósofo); Fernand P. Braudel
(Historiador); Lévi-Strauss (Cientista Social); Pierre Monbeig (Geógrafo);
François Perroux (Economista); Roger Bastide (Cientista Social); Pierre
Frammont (Economista); Roger Dion (Geógrafo); Pierre Gourou (Geógrafo).
Entre os professores que vieram para o Rio de Janeiro, destacam-se:
Poirier (Filosofia); Onbredonne (Psicologia); Jacques Lambert (Sociologia);
22
“Agindo de maneira independente, em 25 de janeiro de 1934, o governo de São Paulo criou a
USP, mediante a incorporação de algumas escolas superiores já existentes, de diversos institutos
técnicos-cientificos mantidos pela administração estadual e ainda a recém-fundada Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras. Enfraquecidos pelo movimento que em 1930 tinha trazido Vargas ao
poder, os paulistas desejavam recuperar sua posição hegemônica no quadro nacional. Uma
formação intelectual apurada e que privilegiasse as ciências sociais despontava como meta
fundamental para a constituição de uma nova elite política paulista (Freitas, 1992 apud Ferreira,
1999:279)”.
23
Para Machado (2002:6) “É importante registrar que o estabelecimento da Geografia universitária
na cada de 1930 foi produto da modernização política e institucional promovida pelo Governo
Vargas, que acabou atingindo diversos setores da sociedade e se manifestando na criação de
inúmeros órgãos administrativos de caráter regulador, com objetivos centralizadores,
desenvolvimentistas e nacionalistas. Não apenas o ensino superior recebe grande impulso mas a
vida política, econômica e cultural do país”.
24
A instalação do Estado Novo em 1937 permitiu a eliminação da UDF. O projeto original da UDF,
que contrariava a orientação oficial de subordinação ao Governo Federal, pretendia uma formação
de um novo tipo de intelectual, iniciado na pesquisa cientifica e crente na ação diretiva da
educação, e referenciado numa educação laica, ia de encontro aos interesses de alguns grupos
dirigentes no poder. Com a eliminação da UDF, os seus quadros foram integrados a Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras da Universidade do Brasil em 1939. O intelectual católico Alceu de
Amoroso Lima foi um dos responsáveis pela orientação impressa a nova faculdade, exercendo os
grupos católicos um papel relevante na definição dos cursos e na contratação de professores
(Ferreira, 1999).
41
Fortunat Strowski (Literatura Francesa); André Gros (Política); Gilbert (Geografia
Humana); Antoine Bom (História Antiga e Medieval). Antes, em 1936, coube a
um outro grupo de franceses iniciar as atividades da Universidade do Distrito
Federal: Émile Brehier (Filosofia); Eugène Albertini (História); Henri Hauser
(História); Henri Tronçon (História); Gaston Leduc (Lingüística), Pierre
Deffontaines (Geografia), Francis Ruellan (Geógrafo) e Robert Garric (Literatura).
Pierre Deffontaines, Robert Garric e François Perroux foram os únicos que
lecionaram tanto no Rio de Janeiro, como em São Paulo (Peixoto, 1995).
As missões universitárias dos anos 30 devem ser entendidas como um
desdobramento desse intercâmbio que se intensifica com a criação dos Liceus no
Brasil. A criação da Universidade com missões francesas atende a um duplo
interesse: por um lado, o interesse francês na “conquista da América (e do
Brasil); por outro lado, a demanda da elite local brasileira no sentido de ilustrar-
se, de modernizar-se, de formar quadros” (Peixoto, 1995:5). A criação das
Universidades de São Paulo e do Distrito Federal aqueceu as relações culturais já
então estabelecidas entre o Brasil e a França.
O conjunto de professores franceses que vieram para Brasil, tanto para a
USP, quanto para a UDF (depois, UB), era bastante heterogêneo. A diversidade
se dava pela idade com que chegavam aqui, suas formações e titulações,
experiências profissionais, tempo de permanência e até mesmo, opção religiosa.
O quadro
25
a seguir (adaptado de Peixoto, 1995), mostra um resumo da vida
desses franceses e sua permanência, onde podemos destacar alguns com
influência direta na formação dos cursos de Geografia no Brasil.
25
O quadro foi produzido a partir de informações apresentadas por Peixoto (1995) e Lefebvre
(1993) sobre a permanência dos professores franceses no Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande
do Sul.
42
Tabela 1
Missão Francesa Universitária
Nome Nascimento
Formação
Chegada e
Saída do
Brasil
Idade Permanência
Instituição
Émile Coornaert 1886 Historiador 1934-1935 48 anos 1 ano
USP
Paul Arbousse Bastide 1889 Cientista Social
1934-1945 35 anos 11 anos
USP
Pierre Deffontaines 1894 Geógrafo 1934-1935 40 anos 1 ano
USP
1936-1939 3 anos
UDF
Etienne Borne Filósofo 1934-1935 1 ano
USP
Jean Maugué 1904 Filósofo 1935-1944 31 anos 9 anos
USP
Fernand P. Braudel 1902 Historiador 1935-1938 33 anos 3 anos
USP
Claude Lévi-Strauss 1908 Cientista Social
1935-1938 27 anos 3 anos
USP
Pierre Monbeig 1908 Geógrafo 1935-1946 27 anos 11 anos
USP
François Perroux 1903 Economista 1936-1937 32 anos 1 ano
USP
René Courtin Economista 1937-1938 1 ano
USP
Jean Gagé 1902 Historiador 1938-1945 33 anos 8 anos
USP
Roger Bastide 1896 Cientista Social
1938-1954 40 anos 16 anos
USP
Pierre Frammont 1896 Economista 1938-1939 42 anos 1 ano
USP
Paul Hugon 1903 Economista 1938-1972 35 anos 34 anos
USP
Georges Gurvitch 1894 Cientista Social
1947-1949 53 anos 2 anos
Gilles G. Granger Filósofo 1947-1953 6 anos
Roger Dion Geógrafo 1947-1948 1 ano
UB
Émile G. J. Léonard 1891 Historiador 1948-1950 57 anos 2 anos
Martiel Guéroult Filósofo 1948-1949 1 ano
Pierre Gourou 1900 Geógrafo 1948-1950 48 anos 2 anos
USP
Charles Mozaré 1913 Cientista Social
1949-1951 35 anos 2 anos
USP
Jean Glénisson 1921 Historiador 1957-1958 36 anos 1 ano
Paul Rivet Cientista Social
1951-1952 1 ano
Francis Ruellan Geógrafo 1940-1956 16 anos
UB
1951-1952 1 ano
USP
Philippe Wolf Historiador 1951-1952 1 ano
Maurice Lombard Historiador 1954-1955 1 ano
Fréderic Mauro Historiador 1953-1955 2 anos
M. Bataillon Historiador 1953-1954 1 ano
Jacques Godechot Historiador 1953-1954 1 ano
Robert Garric Letras 1934-1935 1 ano
USP
1936 - ? ?
UDF
Philippe Arbos Geógrafo 1937-1939 2 anos
UDF
André Gilbert Geógrafo 1939-1945 6 anos
UB
Henri Hauser Historiador 1936-1939 3 anos
UDF
Eugene Abertini Historiador 1936-1939 3 anos
UDF
André Gros Economista 1939-1945 6 anos
UDF
Jacques Lambert Cientista Social
1937-1938 1 ano
PA
1939-1945 6 anos
UB
Henri Poirier Filósofo 1939-1945 6 anos
UB
Gaston Leduc Economista 1936-1939 3 anos
UDF
Etienne Souriau Filósofo 1936-1939 3 anos
UDF
Fonte: Peixoto (1995) e Lefebvre (1990), adaptado por Charlles da França
43
A criação das faculdades de filosofia, onde o ensino geográfico em grau
superior passou a ser professado e orientado com o sentido da pesquisa, teve,
pois, decisiva influência na qualidade dos trabalhos geográficos, posteriormente
levados a efeito no país. Através dos cursos de graduação e de especialização, à
que se seguiram medidas complementares outras, estimulando os jovens
pesquisadores, foi possível aos referidos institutos universitários fornecerem às
exigências brasileiras certo número de profissionais aptos ao empreendimento da
tarefa no campo específico da Geografia. Esse contorno institucional outorgou à
Geografia brasileira, possibilidades e condições concretas de seu
desenvolvimento, permitindo a constituição da profissão do geógrafo e do
professor de Geografia para o ensino fundamental, médio e superior.
Para Abreu (2006:131), é possível concluir que a chegada dos mestres
franceses, em meados dos anos 30, em vez de detonar um processo
inteiramente novo, veio dar impulso a um movimento que havia se iniciado
nas décadas anteriores e que, “tal como ocorrera na Alemanha e na França do
século 19, teve sua origem nas pressões, estímulos e demandas provenientes do
ensino médio”. Entretanto, não dúvida de que, com os cursos universitários e
a com a chegada dos mestres franceses, a chamada “Geografia moderna” se
instalou com solidez no Brasil.
um certo consenso sobre definição das instituições que, de alguma
forma, participam, ou mesmo definem o inicio da chamada “Geografia moderna”
brasileira – IBGE, USP e UDF (com seus cursos de graduação) e a AGB. Nesse rol
comum de instituições não tem lugar para o ensino de geografia enquanto
disciplina no ensino do que hoje chamamos de escola básica. A ausência para
alguns autores aparece como algo justificado pela própria explicação do que
pode ser considerado como geografia moderna. Se um dos pilares dessa
geografia é a criação de cursos de graduação em geografia, justamente para
formar os profissionais que iriam atuar na área, considerar-se-ia o ensino dessa
disciplina na sua versão escolar, realizada por profissionais oriundos das mais
diferentes áreas do conhecimento entre eles, engenheiros, médicos, militares,
advogados, como um período que antecede a moderna geografia. Consideração
deve ser feita ainda sobre as referências teórico-metodológicas dessa geografia
que seguia sendo ensinada nos ginásios brasileiros como forma de não
reconhecê-la como aquela que recebeu a denominação de moderna.
44
Embora seja inegável que, com a criação dos cursos universitários, a
Geografia tenha atingido um novo patamar em seu processo de desenvolvimento
no Brasil, fixar exclusivamente seu nascimento em meados da década de 1930
acaba por encobrir a importância do ensino de Geografia nas escolas e o papel
que vinha desempenhando alguns professores, como, por exemplo, já 25
anos - Carlos Delgado de Carvalho
26
, com um trabalho consistente sobre ensino
de Geografia, que amparado na distribuição dos conteúdos desta disciplina
fundamentados em métodos de pesquisa e ensino
27
no Colégio D. Pedro II, no
Rio de Janeiro, fazia críticas a forma como esse conteúdo era ensinado.
Ao final do século XIX, a Geografia estava começando a garantir um lugar
nos currículos das escolas
28
, em alguns países da Europa com mais força, mas
também no Brasil, que de maneira mais tímida. Wooldridge (apud Goodson,
1990:240) afirma que “se a Geografia deve ser ensinada nas escolas, ela deve
ser aprendida nas universidades”. A afirmação sugere a importância da formação
universitária da disciplina em questão, sugere também a aceitação da
importância do ensino da geografia nas escolas, e mais, a relevância da “base”
escolar na conformação da ciência geográfica como campo de saber
29
.
Para Goodson (1990), quando analisa o caso da Inglaterra e também
Capel (1977), quando relata o caso espanhol, a geografia escolar aparece como
a responsável pela implementação do ensino universitário da disciplina.
Resolvemos, então aqui, também assumir o ensino da geografia nas escolas
26
Em 1910, Delgado de Carvalho publica Brésil Meridional. Durante a década de 1930, Delgado
de Carvalho irá travar uma verdadeira guerra contra o ensino descritivo e enciclopédico então
reinante nas escolas de nível elementar e médio do país. Nesse período empenha esforços para
mudar o currículo do Colégio Pedro II. Publica compêndios escolares (1913) e importante obra
metodológica (1925).
27
“Talvez influenciado pela Escola Nova, que promovia um ensino que levava o aluno a aprender a
pensar, Delgado de Carvalho aponta a necessidade de novos pressupostos pedagógicos para o
ensino de Geografia. Defendia que o professor deveria auxiliar os alunos na construção do
conhecimento por meio de estímulo da observação empírica. Assim, acreditava que o meio no qual
vivesse o aluno deveria se tornar, em qualquer tema abordado, o assunto principal do estudo.
Todos os conceitos da Geografia física deveriam ser referenciados na realidade brasileira, e aqueles
que não o fossem não deveriam exigir estudos aprofundados. Criticou o ensino mnemônico e
execrou a mera nomenclatura de lugares e dados estatísticos. Sustentou um estudo que partisse
da Geografia elementar, pois o objeto da Geografia era a Terra como habitat do homem” (Campos,
2005:80-81)
28
Para Goodson (1990:236), “matéria estava emergindo das dores iniciais do parto, quando
parecia ser apenas um pouco mais que uma monótona coleção de fatos e cifras”.
29
Mackinder (apud Goodson 1990:237) formula uma questão em 1897, na Inglaterra: ”como a
Geografia pode se tornar uma disciplina?”. Mackinder estava consciente de que a demanda por
uma Geografia acadêmica a ser ensinada nas universidades podia ser gerada apenas através do
estabelecimento de uma posição mais creditada nas escolas.
45
como uma das referências da institucionalização da chamada geografia moderna
no Brasil.
Capel (1977), quando vai tratar da institucionalização da Geografia e da
formação da comunidade científica de geógrafos, destaca a importância da
presença da geografia no ensino primário e secundário daquele país, onde a
criação das cátedras universitárias permite seguir o ritmo desse processo de
institucionalização, e que existira uma correlação estreita entre o crescimento da
escolarização básica e a correspondente demanda de professores de Geografia, e
a criação das cátedras universitárias. Ainda que o tema exija maior investigação,
os dados e informações disponíveis parecem indicar que esta correlação existe.
“Los factores que condujeron a la existência institucionalizada
de esta comunidad, están directamente relacionados con la
presencia de la geografía en la enseñanza primaria y
secundaria en el momento en que los países europeos inician
el rápido proceso de difusión de la enseñanza elemental, fue
la necesidad de formar profesores de geografía para las
escuelas primarias y medias el factor esencial que condujo a
la institucionalización de la geografía en la universidad y a la
aparición de la comunidad científica de los geógrafos” (Capel,
1977:1)
O mesmo Capel (1977) ao tratar da institucionalização da “nova
geografia”, frente ao panorama que apresenta frente aos expostos na metade do
século XIX, quando a geografia aparece “extraordinariamente pujante e
expansiva em muitos países cinqüenta anos depois”, sendo ensinada em grande
número de universidades e presente em todos os programas de educação
elementar e secundário, recebendo contribuições teóricas por parte de uma ativa
comunidade de cientistas e editando revistas especializadas, destaca novamente
a importância do ensino de geografia nas escolas no processo relatado.
“El factor esencial que conduce a la institucionalización de
la geografía y a la aparición de la comunidad científica
de los geógrafos es la presencia de esa ciencia en la
enseñanza elemental y secundaria a mediados del siglo
XIX. La tradición de enseñar a los niños las nociones
elementales acerca de nuestro planeta a través de la
"Geografía" y la relación antigua entre Geografía e Historia,
contribuyeron probablemente a que la asignatura "Geografía"
figurara en los programas de la enseñanza primaria y
secundaria, de forma residual y generalmente unida a la
historia, en el momento en que comienza el gran proceso de
difusión de la enseñanza elemental en toda Europa
(Capel,1977:8)”. [grifos nossos]
46
No Brasil, a partir de 1936, formar-se-iam os(as) primeiros(as)
professores(as) licenciados para atuar no ensino secundário, oriundos das novas
faculdades criadas poucos anos antes.
“Com êsse acontecimento inaugurou-se, de fato, uma nova
era do ensino secundário, cujos quadros docentes,
constituídos até então de egressos de outras profissões,
autodidatas ou práticos experimentados no magistério,
começaram a renovar-se e a enriquecer-se, ainda que
lentamente, com especialistas formados nas faculdades de
Filosofia que, além, do encargo da preparação cultural e
científica, receberam por acréscimo, o da formação
pedagógica dos candidatos ao professorado do ensino
secundário” (Azevedo, 1971:761).
Petrone (1993), comentando o ensino de geografia no período anterior ao
surgimento dos cursos de formação de professores(as), confirma que a regra
mencionada por Lourenço Filho e Fernando de Azevedo se aplicava perfeitamente
também para esta disciplina.
“Realmente Geografia era feudo’ do bacharel em Direito ou
do cidadão curioso que gostava de ‘pedras’ ... e que pensava
em formar museus de curiosidade da Terra, inclusive porque
gostava de olhar os astros... Assim, na primeira série do
ginásio estudava-se cosmografia: o que é planeta, o sistema
solar, etc. (...) O conjunto do corpo docente desse período
não era bem formado, mas havia excelentes professores
auto-didatas. Apenas eles constituíam as exceções. Mas as
coisas não devem funcionar à base de exceções, mas sim de
regras.” (1993:13)
Pela primeira vez, surgiam professores (as) que haviam tido uma formação
que os (as) qualificava para o exercício do ensino de geografia, formação esta
assentada numa concepção científica dessa ciência.
Para Rocha (1994)
“A importância deste acontecimento é significativa para a
propagação da orientação moderna de geografia escolar.
Devemos lembrar que vários autores responsáveis pela
historiografia existente sobre a ciência geográfica no Brasil
são categóricos ao afirmar que a criação dos cursos de
geografia, em nível superior inauguraram a fase moderna da
geografia no país. Podemos perfeitamente afirmar que os(as)
novos(as) professores(as) eram formados à luz dessa nova
orientação e por ela muito foram influenciados quando
assumiram postos nas salas de aulas, além do que, naquele
período, começaram a surgir também manuais didáticos
veiculadores dessa nova orientação.
47
Não queremos com isso afirmar de forma determinista que
todos os(as) egressos(as) dos cursos de formação de
professores de geografia passaram a ser seguidores da nova
orientação, porque outros fatores continuaram a contribuir
para a manutenção, ainda, de um ensino assentado na
orientação mais tradicional. Porém é inquestionável o fato
desses cursos terem começado a lançar no mercado de
trabalho profissionais minimamente dotados de uma
formação científica de geografia, e que, de forma mais ou
menos intensa, passaram a reelaborar os conhecimentos
adquiridos na academia, transpondo didaticamente essa nova
concepção para suas aulas”. (1994 :177)
A Geografia ensinada nas escolas foi, em última análise, uma peça
importante no processo de disseminação e popularização dessa disciplina na
sociedade brasileira, de uma certa forma de pensar/fazer/ensinar a ciência
geográfica, com seus novos métodos, conceitos e conteúdos. Dessa forma
consideramos essa modalidade de ensino de Geografia como parte integrante da
chamada fase de institucionalização da geografia no Brasil, e em consequência,
da compreensão do contexto de surgimento da AGB.
Assim chegamos ao fim da construção desse quadro que serve de
referência sobre as condições que haviam, ou que estavam se formando, quando
do momento de criação da AGB. As relações que se estabelecem na Geografia no
Brasil a partir dessas instituições anteriormente abordadas, e somando a elas o
IBGE, foram fundamentais para, num primeiro momento, o nascimento, e
depois, o crescimento e a expansão da AGB. A relação também é de
reciprocidade, quando essas instituições também se desenvolvem a partir da
comunicação institucional estabelecidada com a AGB, seus personagens e suas
práticas. Contudo, esse processo de institucionalização, onde AGB,
universidades, escolas e IBGE, nascem e amadurecem, e com elas a Geografia
brasileira, somente foi possível pelas condições históricas de produção do
conhecimento geográfico que se mantinha no Brasil nas décadas anteriores a
1930.
48
1.2
A Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB):
origens e personagens
Mas qual a motivação para a criação de associação científica de Geografia?
Algumas possibilidades de avaliação podem ser tentadas nesse momento.
Podemos inicialmente perguntar o por quê do surgimento de associações, de
qualquer tipo que sejam. Em primeiro lugar podemos pensar na reunião de um
determinado grupo de afinidades, que tenham alguns elementos em comum,
como por exemplo, a sua formação profissional. As afinidades podem ser outras,
como a identificação de uma dada origem nacional, ou mesmo regional, de um
estado ou de uma cidade; podem ser afinidades de gostos ou mesmo de torcida
por algum evento ou agremiação. Outra possibilidade de formação de associação
é a necessidade de se reunir em torno de alguma reivindicação, alguma
necessidade coletiva ou mesmo a partir de uma pauta específica. Diante dessas
possibilidades, ou mesmo de outras, qual foi a motivação para a fundação da
AGB?
Estamos aqui apresentando um entendimento sobre o surgimento da AGB
que ultrapassa o limite dado pela cronologia de criação de uma associação. O
surgimento da AGB não se limita ao tempo de sua formação inicial, daqueles
primeiros momentos, semanas ou mesmo meses, após a sua fundação.
Preferimos considerar, pelo menos nesse momento, que o surgimento da AGB
vai durar pelos menos os seus primeiros dez anos de vida, e em conseqüência
disso, o contexto social e cientifico desse surgimento deve ter igual período de
avaliação. Importante pensar que a construção da AGB ao longo desses anos é
também uma importante transição entre o que havia de instituições
geográficas no Brasil e o que viria a ser as possibilidades associativas da
Geografia no Brasil.
49
Figura 1
Fonte: IEB/USP – Acervo Caio Prado Júnior
50
Figura 2
Fonte: IEB/USP – Acervo Caio Prado Júnior
51
Em 17
30
de setembro de 1934, o professor Pierre Deffontaines
31
reuniu
em sua casa da Avenida Angélica n.133, na cidade de São Paulo – SP, estudiosos
de procedências políticas diferentes e formações profissionais dispares. São eles:
o geólogo e professor da Escola Politécnica da USP, Luis Flores de Moraes
Rego
32
; o historiador e bibliotecário e, a partir de 1935, Diretor da Biblioteca
Municipal,
Rubens Borba de Morais
33
e o advogado e estudante do curso de
História e Geografia, Caio Prado Junior
34
; e juntos fundaram formalmente a
30
Em muitas publicações da própria AGB, aparece o dia 7 de setembro como a data de sua
fundação e não o dia 17 como está registrado na Ata de Fundação. Parece, ao nosso entendimento,
que essa pequena diferença justifica-se pelo não conhecimento durante muito tempo da Ata de
Fundação da Associação devido ao seu desaparecimento. Assim, a informação que a AGB havia
sido fundada no dia 7 de setembro, acabou sendo disseminada e publicada em vários documentos,
boletins e anais, sendo, inclusive declarada no registro dos Estatutos que foram reformados em
1945. Talvez a simbologia da data em referência à Independência do Brasil tenha estimulado tal
informação, como também a proximidade de representação dos números “7” e “17”.
31
Pierre Deffontaines nasceu em Limoges em 21 de fevereiro de 1894 e morreu em Paris em 5 de
novembro de 1978. Desde muito cedo demonstrou interesse pela geografia e acabou por dedicar
toda a sua vida ao desenvolvimento desse campo de conhecimento. Seus primeiros estudos foram,
contudo, no campo do Direito, em que se licenciou em 1916, em Poitiers. Em seguida mudou-se
para Paris e passou a freqüentar a Sorbonne, onde obteve o diploma de estudos superiores de
Geografia e História em 1918.
Nos anos seguintes, Deffontaines seguiu as etapas usuais da carreira do magistério na França:
agrégé d’histoire et géographie em 1922, bolsista da Fundação Thiers (1922-1925), professor e
diretor do Instituto de Geografia na Faculdade Católica de Lille (1925-1939), chargé de cours de
geografia pré-histórica na Ecole d’Anthropologie de Paris. Obteve o título de doutor em geografia
pela Sorbonne em 1932 e foi secretário geral da Sociedade de Geografia de Lille de 1932 a 1937.
Deffontaines chega ao Brasil, em 1934, com 40 anos de idade onde funda e assume a Cadeira de
Geografia Humana da Universidade de São Paulo (USP). Nos anos seguintes, mesmo sem se fixar
de maneira definitiva no país, manteve contatos regulares com o Brasil. Foi o criador da cadeira de
geografia na UDF, e lecionou de 1936 a 1938. Foi também um dos principais responsáveis pela
criação do Conselho Nacional de Geografia e da Revista Brasileira de Geografia. Promoveu,
igualmente, a participação do Conselho Nacional de Geografia do Brasil no Comitê Internacional de
Geografia. Além de sua intensa atividade intelectual, era um militante católico extremamente
atuante.
32
Nasceu no dia 9 de agosto de 1896, na cidade do Rio de Janeiro, nesta cidade cursou o Colégio
militar e ingressou na Escola de Minas de Ouro Preto, tendo concluído o curso em 1917 como um
dos alunos mais brilhantes que haviam passado pela referida escola. Ministrou aulas de
graduação na Escola Politécnica e de pós-graduação no Instituto de Engenharia com temática em
Geologia de São Paulo. Realizou, juntamente com Ribeirão Costa, a criação dos cursos de
Engenheiros de Minas e Metalurgistas em 1939. Faleceu no dia 25 de julho de 1940, com apenas
43 anos.
33
Nasceu em Araraquara, SP, em 23 de janeiro de 1899. Estudou Biblioteconomia nos Estados
Unidos, como bolsista da Fundação Rockfeller. Em 1940 fundou o Curso de Biblioteconomia da
Escola de Sociologia e Política de São Paulo, que dirigiu e onde lecionou por vários anos. Foi um
dos fundadores da Associação Paulista de Bibliotecários. Na década de 50, atuou com destaque em
organismos internacionais na Europa e Estados Unidos, tais como a Biblioteca da ONU e o Centro
de Informações da ONU. Faleceu em 2 de setembro de 1986.
34
Nasceu na cidade de São Paulo em 11 de fevereiro de 1907. Pertencia à aristocrática família
Prado, de certa tradição na sociedade paulista, dona de riquezas e importante participação na
economia local. Estudou Direito na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, onde formou-se
em 1928. Mantendo-se ativo na militância comunista (ainda que restrita) elegeu-se deputado
estadual por São Paulo em 1947, mas foi cassado no ano seguinte quando o Partido Comunista foi
colocado na ilegalidade. Homem de negócios, fundou a Editora Brasiliense e a Gráfica Urupês. À
primeira, fundada com Monteiro Lobato, em 1944. Pela editora publicou de 1955 a 1964 a Revista
Brasiliense, editada por vários intelectuais.
52
Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB), e segundo o próprio Deffontaines,
sobre o modelo da Association de Geógraphes Français.
Figura 3
Fundadores da AGB
35
Caio Prado Junior
Reunidos numa pensão de uma rua da capital paulista, quatro homens, de
formações distintas e de idades diversas o mais velho tinha 40 anos e o mais
novo apenas 27; reuniram-se para fazer uma história ter início. Eram quatro
homens reunidos por um deles e que se juntaram naquele momento para fundar
uma associação. Um deles era francês e os outros três brasileiros. Um apenas
era geógrafo, um outro era geólogo, outro advogado, e o último era bibliotecário.
Em 1934, Caio “descobriu” a geografia e sua utilidade, mérito que sempre atribuiu a Pierre
Deffontaines. Dessa forma a geografia tornou-se seu instrumento de trabalho para o conhecimento
do país e para a elaboração da própria História, produzindo importantes estudos na disciplina. Caio
Prado Júnior morreu em 1990.
35
As fotos não correspondem a data em que foi fundada a AGB. Não foi possível encontrar
nenhuma fotografia do sr. Luiz Flores de Moraes Rego.
53
Juntos resolveram fundar a Associação dos Geógrafos Brasileiros, pretensiosa
iniciativa diante a presença minoritária dos formados em Geografia, contudo, sob
forte influência daquele único, até o momento, com formação na referida ciência.
Terminado o dia dezessete de setembro de 1934, estava fundada a AGB.
Para fundá-la, diz Claire Deffosse (1998 apud Seabra, 2004:14), interpretando
Monbeig: Deffontaines, “[...] reuniu junto a si algumas pessoas das quais
nenhum geógrafo, mas notáveis locais, todos francófonos. [...] Ele apóia-se,
pois, no modelo das sociedades francesas que tinham permitido a
institucionalização da Geografia na França
36
”.
Em princípio, como dito anteriormente, a história de qualquer
associação é feita por pessoas, umas fartamente nomeadas e/ou outras
absolutamente anônimas que, juntas, no caldo do cotidiano institucional, dão
àquilo que produzem um sabor coletivo. No caso da AGB, foi formada, pelo
menos em seu início de vida e atividades por pessoas que ou eram fartamente
nomeadas ou viriam a ser muito em breve durante a própria existência da
associação. Interessante é que apenas o professor Pierre Deffontaines, o único
geógrafo do grupo formador inicial, vai fazer sua história de destaque
profissional no âmbito da Geografia, os demais a farão em diferentes áreas do
conhecimento, algumas inclusive, não coincidentes com sua formação inicial.
Visando reunir-se para palestras e debates e organizar-se para a
realização de estudos e pesquisas interessando à Geografia, assim a associação
teria por fim: 1. reuniões periódicas dos membros, com exposição de um assunto
de Geografia brasileira por um dos membros, seguida de discussão; 2.
organização de excursões em comum para estudo de uma questão; 3.
constituição de uma biblioteca especializada em Geografia, por colaboração dos
membros e doações (livros, revistas e cartas) (Zusmam, 1996) e (Seabra,
2004).
Os então presentes à reunião que formou a AGB, dividiram-se nas
atribuições e tarefas para construir a associação, o que foi registrado na ata de
fundação em sua primeira página:
“O sr. Caio Prado Junior foi indicado para secretário,
cabendo-lhe redigir as atas e ficando a seu cargo os demais
serviços de secretaria”.
36
Vale importante ressalva quanto a diferença da natureza do Estado francês e do Estado brasileiro
– o primeiro unitário e o segundo federativo.
54
“Para presidente foi indicado o Prof. Pierre Deffontaines. Para
tesoureiro o sr. Rubem Borba de Moraes. A organização da
biblioteca e ao fichário com indicação de todos os livros,
revistas e cartas existentes nas bibliotecas de São Paulo ficou
a cargo dos srs. Rubem Borba de Moraes e Caio Prado
Junior”. (AGB,1934:1)
Entre os quatro presentes, somente Luis Flores de Moraes Rego, não
assumiu formalmente nenhum cargo ou atribuição que fosse registrada na ata de
fundação da associação, no entanto teve expressiva participação nos primeiros
anos da AGB, com presença sempre constante nas reuniões, nas tarefas e
indicações de futuros cios. Ficou decidido a realização de reuniões periódicas,
com datas e horários definidos, e ainda o seu formato, a fim de dar conta das
finalidades da associação.
“As reuniões serão realizadas na primeira e terceira segunda-
feira de cada mês, às 20 horas e meia, na residência do prof.
Deffontaines avenida Angélica n. 133.” A primeira reunião
ordinária fica fixada para o dia 1º de outubro.
As reuniões se comporão de duas partes: 1. exposição e
discussão. A exposição durará no máximo meia hora; 2.
relatório de livros e artigos de Geografia. As comunicações
poderão ser feitas em português ou francês”. (AGB,1934:1)
A reunião de fundação tratou ainda da necessidade de uma contribuição
financeira para sustentação da associação, o que ficaria a cargo do tesoureiro
seu recolhimento. No entanto o valor da contribuição ficaria a cargo de cada um
dos membros da AGB.
“(...) Cada membro terá completa liberdade para fixação da
sua cota. Caberá ao tesoureiro indagar de cada um,
individualmente, o montante de sua contribuição”.
(AGB,1934:1)
Demonstrando muito entusiasmo com o projeto de criação da associação,
os membros presentes a esse momento histórico, definiram o calendário de
reuniões e os temas e sócios que iriam tratá-los, anotando tudo isso na ata de
fundação, o que registra, mesmo que de maneira muito simples e formal, uma
certa disposição daqueles quatro indivíduos, de realização desses momentos de
discussão e de funcionamento da associação
37
.
37
As reuniões que inicialmente aconteciam na casa do professor Pierre Deffontaines, com a adesão
do Dr. Geraldo Horácio Paula Souza, então Diretor do Instituto de Higiene, que passou a ser um
dos membros mais assíduos, passaram a se realizar na sede do referido Instituto, depois de
animadora acolhida pelo mesmo.
55
“Foram propostos e aceitos como objetos a serem tratados,
os seguintes assuntos:
1º. Esquema de um programa para o estudo do solo em São
Paulo, pelo sr. Morais Rego - 1º de outubro.
2º. Etapas do povoamento de São Paulo nos XVI e XVII
séculos, pelo sr. Rubens de Morais - 6 de novembro.
3º. As formas kársticas no vale da Ribeira de Iguape, pelo sr.
Moraes Rego. Data a ser fixada.
4º. Ensaios dos tipos de povoamento no Estado de São Paulo,
pelo prof. Deffontaines -15 de outubro.
5º. Ensaio de divisão regional do Estado de São Paulo, pelo
prof. Deffontaines . Data a ser fixada.
6º. Contribuição para o estudo da repartição da propriedade
fundiária rural no Estado de São Paulo, pelo sr. Caio Prado
Júnior - 19 de novembro.
A forma bastante simples de criação da AGB mereceu destaque e foi
lembrada, mesmo quinze anos após aquele 17 de setembro, na apresentação
dos Anais da II Assembléia Geral da associação, realizada em 1946, em Lorena,
São Paulo; e no discurso proferido pelo professor Aroldo de Azevedo na abertura
da V Assembléia Geral Ordinária, em 1950, na cidade de Belo Horizonte.
“A fundação da Associação dos Geógrafos Brasileiros não teve
a cercá-la nenhum formalismo, nem repercutiu no noticiário
da época. Processou-se num ambiente de extrema
simplicidade, na residência do Prof. Pierre Deffontaines, à
avenida Angélica, na capital paulista, em setembro de 1934.
Além do eminente mestre francês, apenas um reduzido grupo
de estudiosos de assuntos brasileiros assistiu ao nascimento
de nossa agremiação” (AGB, 1949:3)
“Assim reunidos, fundaram sem nenhum alarde a estão
modestíssima ASSOCIAÇÃO DOS GEÓGRAFOS BRASILEIROS”
(AGB,1953:8)
Além dos sócios fundadores prof. Pierre Deffontaines, prof. Luiz Flores
de Morais Rego, Dr. Rubens Borba de Morais e Dr. Caio Prado Júnior, passaram a
figurar no quadro da AGB, em sua fase inicial, nos seus primeiros meses de
funcionamento, ainda no ano de 1934, mais os seguintes
38
: srs. Eddy
Crissiuma (engenheiro químico e estudante de Geografia e História da FFCL-
USP); Carlos Wright (Técnico da Secretaria da Agricultura do Estado de São
Paulo e aluno de Historia Natural); Paul Arbousse Bastide (Sociólogo);
Geraldo Horácio de Paula Sousa (Medico Sanitarista, Diretor do Instituto de
Higiene); Antônio Carlos Couto de Barros; Antonieta de Paula Souza
38
Atas das reuniões ordinárias e extraordinárias da AGB (1934) e Seabra(2004)
56
(estudante de Geografia e Historia); Maria Conceição Vicente de Carvalho
(química industrial e estudante de Geografia e História da FFCL-USP); Agenor
Machado (Engenheiro do Instituto Geográfico e Geológico IGG); Affonso
Antonio Rocco (estudante de Geografia e Historia); Astrogildo Rodrigues de
Mello (estudante de Geografia e História da FFCL-USP); João Dias da Silveira
(estudante de Geografia e História da FFCL-USP); Edmond Dufond e Teodoro
Knecht (Geólogo), todos sócios efetivos, e ainda o sr. Jean Vellard,
morador de Niterói, RJ, como o primeiro sócio correspondente da Associação.
Esses senhores e essas senhoras representam na história da AGB o seu primeiro
grupo de associados. Podemos assim dizer, que esse foi seu corpo associado
fundador. A esses pioneiros, no ano de 1935, juntaram-se outros que, como
sócios efetivos ou sócios correspondentes, ao término do ano, consolidaram o
corpo de associados da AGB. São eles: John Lane, Guilherme Wendell, Pierre
Monbeig, Eurípedes Simões, Major Mario Travassos, Levy-Strauss, Pierre
Mangue, Ferdinand Braudel, Nelson Camargo, Rozendo Sampaio Garcia,
José Orlandi, Jo Bonifácio de Souza Amaral, Henrique Dal Pagetto,
Carlos Amadeu de Camargo, Aroldo de Azevedo, Fernando Guedes
Galvão e Ruy Calazans, como sócios efetivos; e o General Moreira
Guimarães, Alberto Betim Paes Leme, Everardo Backheuser, Estanislau
Bousquet, Cyro Berlinck, Teodoro Sampaio, Pedro de Araújo, Theodureto
de Camargo, Domingos Ruffolo, Hildebrando Siqueira, Pedro Bernardo
Guimarães, General Luis Sombra, Leônidas de Castro Lessa, Franz
Messner, como sócios correspondentes.
Fato importante dessa lista de primeiros associados é a presença de vários
estudantes, fato possível na AGB desde sua criação até a reforma estatutária de
1936 (direito que vai ser recuperado em 1979). Vale lembrar, ainda sobre
essa fundamental questão que, Caio Prado Júnior - fundador da Associação e seu
Secretário-Geral dos primeiros anos, era estudante do curso de Geografia e
História da USP.
Na tabela a seguir montamos uma exposição dos dois primeiros anos de
reuniões
39
da AGB, destacando o momento de aceitação de cada sócio, sua
categorização, bem como a presença ao longo desses 14 meses, em 22 reuniões.
39
As vinte e duas Reuniões Ordinárias ocorreram no período 1935-1936, e foram relatadas em sua
maioria por Caio Prado Junior, que ocupava o cargo de secretário-geral da AGB. O livro de atas,
onde estão registrados os relatos dessas reuniões, encontra-se sob os cuidados do Instituto de
Estudos Brasileiros (IEB-USP).
57
Tabela 2
1 11ª 12ª
01/10
1934
15/10
1934
05/11
1934
19/11
1934
03/12
1934
17/12
1934
07/01
1935
04/02
1935
18/02
1935
18/03
1935
01/04
1935
15/04
1935
Pierre Deffontaines
Luiz Flores Moraes Rego
Rubens Borba de Moraes
Caio Prado Junior
Eddy Crissiuma
Carlos Wright
Paul Arbousse Bastide
Geraldo H. de Paula Souza
Antonio C. Couto de Barros
Reinhard Maack
Theodoro Knecht
Antonietta de Paula Souza
Maria da C. Vicente de Carvalho
Agenor Machado
Affonso Rocco
Astrogildo R. de Mello
João Dias da Silveira
Edmond Duffond
Jean Vellard
General Moreira Guimarães
Alberto Betim Paes Leme
Everardo Backheuser
Estanislau Bousquet
John Lane
Cyro Berlinck
Guilherme Wendell
Pierre Monbeig
Eurípedes Simões
Teodoro Sampaio
Pedro de Araújo
Major Mario Travassos
Levy-Strauss
Pierre Mangué
Ferdinand Braudel
Theodureto de Camargo
Domingos Ruffolo
Nelson Camargo
Rozendo Sampaio Garcia
Hildebrando Siqueira
José Orlandi
Sra. Monbeig
Sra. Levi-Strauss
Sra. Bastide
Sra. Braudel
Sr. Berveler
Pedro Bernardo Guimarães
José Bonifácio de Souza Amaral
Henrique Dal Pagetto
Carlos Amadeu de Camargo
Aroldo de Azevedo
General Luis Sombra
Leonidas de Castro Lessa
Franz Messner
Fernando Guedes Galvão
Ruy Calazans
58
Todos os sócios citados foram, como determinavam os estatutos da
Associação, apresentados por um membro efetivo, onde por vezes, o próprio
indicado estava presente a Reunião Ordinária que avaliava a solicitação. Os
relatos apresentados nas atas dos dois primeiros anos não indicavam nenhuma
recusa de indicação feita pelos sócios. A formação do corpo de associados da
AGB, reforçado pelas exigências estatutárias, estabelece-se pela conformação do
que podemos chamar de “circulo de afinidades”
40
. A indicação dos novos sócios
pelos já então sócios efetivos corpo a essa composição. Assim, e o individuo
da relação direta de outro individuo, seja por motivo acadêmico, político, ou
mesmo meramente pessoal que vai garantir a possibilidade de indicação para
pertencimento a esse novo grupo social, e também a garantia de sua aceitação.
A tabela a seguir mostra as indicações de sócios ocorridas nos dois primeiros
anos de vida da AGB.
Tabela 3
Candidato a Sócio Sócio responsável pela Indicação Categoria
Ruy Calazans Agenor Machado Efetivo
Theodoro Knecht Caio Prado Junior Efetivo
Edmond Duffond Caio Prado Junior Efetivo
John Lane Caio Prado Junior Efetivo
Pierre Monbeig Caio Prado Junior Efetivo
Eurípedes Simões Caio Prado Junior Efetivo
Major Mario Travassos Caio Prado Junior Efetivo
Domingos Ruffolo Caio Prado Junior Correspondente
José Orlandi Caio Prado Junior Efetivo
Pedro Bernardo Guimarães Caio Prado Junior Correspondente
Aroldo de Azevedo Caio Prado Junior Efetivo
Franz Messner Caio Prado Junior Correspondente
Leonidas de Castro Lessa Carlos Amadeu de Camargo Correspondente
Teodoro Sampaio Geraldo Horacio de Paula Souza Correspondente
Pedro de Araújo João Dias da Silveira Correspondente
Carlos Amadeu de Camargo John Lane Efetivo
General Moreira Guimarães Luiz Flores Moraes Rego Correspondente
Alberto Betim Paes Leme Luiz Flores Moraes Rego Correspondente
Everardo Backheuser Luiz Flores Moraes Rego Correspondente
Estanislau Bousquet Luiz Flores Moraes Rego Correspondente
Guilherme Wendell Luiz Flores Moraes Rego Efetivo
Theodureto de Camargo Luiz Flores Moraes Rego Correspondente
General Luis Sombra Luiz Flores Moraes Rego Correspondente
Jean Vellard Paul Arbousse Bastide Correspondente
Levy-Strauss Paul Arbousse Bastide Efetivo
Pierre Mangué Paul Arbousse Bastide Efetivo
Cyro Berlinck Rubens Borba de Moraes Efetivo
Ferdinand Braudel Rubens Borba de Moraes Efetivo
40
Ver Berdolay, 1999
59
José Bonifácio de Souza Amaral Rubens Borba de Moraes Efetivo
Henrique Dal Pagetto Rubens Borba de Moraes Efetivo
Fernando Guedes Galvão Rubens Borba de Moraes Efetivo
Fonte: Atas das Reuniões da AGB/1934-1936, adaptado por Charlles da França
Quais motivos levaram à reunião de três profissionais, que até então,
tinham pouca ou mesmo nenhuma vinculação com a Geografia, com outro
profissional, que embora formado em Geografia, havia chegado a poucos meses
no Brasil, para a formação de uma associação geográfica de cunho cultural e
científico?
A AGB, segundo o próprio professor Deffontaines (1935 apud
AGB,1949:3), ressaltando a oportunidade do aparecimento da nova entidade
cultural, explica que a mesma “foi fundada em redor da cadeira de Geografia da
Universidade de São Paulo, e que reúne estudiosos e amadores da Geografia,
animados da mesma paixão de descobertas e compreensão do seu país”. Ainda,
segundo Deffosse (1998), Deffontaines para estabelecer esta Cadeira ele funda
em São Paulo a Associação dos Geógrafos Brasileiros. Assim, desde o início, a
Associação e a Cadeira, uma alimenta a outra, mas a criação de uma associação
de geógrafos brasileiros não se limita ao alcance de uma cadeira de uma
instituição universitária: é aqui preciso considerar tanto ou mais as intenções dos
fundadores brasileiros (Seabra, 2004).
Zusman (1996; 2000), em sua dissertação e em artigo publicado no
Boletim Paulista de Geografia
41
, respectivamente, apresenta o debate sobre a
relação entre a AGB e a elite paulista então dominante na década de 1930, e o
entrosamento da Associação com o projeto político-econômico do Estado. A
Geografia teria um papel importante na execução do projeto de modernização e
progresso do país, e em especial do Estado de São Paulo, onde “abrigada na sua
particularidade epistemológica (enquanto saber globalizador) e apoiada na
cientificidade garantida pela adscrição a Escola Francesa (enquanto marco
conceitual com legitimidade apoiada na tradição disciplinar) (Zusman, 2000:19-
20)”, se apresenta como um saber com potencialidade para dar legitimidade
processo de valorização territorial e do desenvolvimento regional. Nesse
contexto, a existência de uma associação que reunisse em seu corpo associado
professores franceses da disciplina e articulasse representantes de outras áreas
do conhecimento, mas que tivessem em comum o referido projeto para o Estado
41
Boletim Paulista de Geografia (BPG), n.78 , 2000, p.7-32.
60
de São Paulo, poderia ser entendida como uma possibilidade de dar conjunto a
esses agentes e ser mais uma envolvida no processo de desenvolvimento do
projeto de modernização em pauta.
Moraes Rego (1935 apud Zuzman, 1996), sinaliza alguns dos objetivos da
AGB que não estão reproduzidos nos escritos de suas atas ou estautos. São
afirmações que revelam muito mais o objetivo daqueles que estavam no seu
processo inicial de construção. O sr. Luiz Flores de Moraes Rego, sócio ativo e
sempre presente nos primeiros anos da AGB em São Paulo, sendo inclusive
responsável pela indicação de um número bastante significativo de novos
associados, busca demonstrar a importância das tarefas que lhe correspondem
realizar à AGB, principalmente das tarefas a serem desenvolvidas dentro de todo
o quadro de transformações e mudanças econômicas que vivenciava o Estado de
São Paulo nas décadas de 1930 e 1940, e que redefiniria os objetivos desta
instituição geográfica.
“A Associação de Geógrafos Brasileiros, fundada em São
Paulo, tem por objetivo geral o desenvolvimento dos estudos
geográphicos do paiz, especialmente São Paulo e das regiões
adjacentes (...).
Promoverá o conhecimento dessas regiões sobre diversos
pontos de vista mas com orientação essencialmente
geográfica, isto é, sem perder de vista o methodo
geográphico baseado nos princípios bem conhecidos de
extensão, da coordenação e da causalidade.
Servirá como coordenadora e animadora dos esforços no
sentido de valorizar vastos territórios brasileiros.
A Associação, além de ser orgão de desenvolvimento da
cultura paulista, desempenhará um papel relevante de
caráter prático na evolução moderna da vida econômica do
Brasil.
De um lado fará a propaganda das regiões a desenvolver
junto ao capital e sou commercio, tornando conhecidos seus
recursos e suas possibilidades. De outro cooperará com os
governos da União e estaduais para a resolução das questões
ligadas ao progresso desses territórios.
A influência da Associação fara-se-à sentir junto às
populações locais, mostrando-lhes o interesse que dedicam
ao melhoramento de suas condições econômicas as classes
esclarecidas do Brasil.”
61
Nesses fragmentos de artigo
42
publicado no Jornal “O Estado de São
Paulo”, Moares Rego transparece o entrosamento da AGB com o projeto político-
econômico do Estado de São Paulo.
Esta apresentação de Moraes Rego é mais explicativa e clara em relação
aos objetivos da AGB que os próprios estatutos da associação. Nela é possível
ver a inter-relação entre a associação e o projeto político-econômicos da elite
dirigente do Estado de São Paulo. Apoiada em sua particularidade epistemológica
como saber globalizador e na cientificidade garantida pela inscrição da Escola
Francesa cujo marco conceitual estava legitimado por uma tradição disciplinar, a
Geografia se apresenta como um saber com características adequadas para
justificar a tarefa política de modernização e progresso do Brasil e, em particular
de São Paulo, especialmente naqueles aspectos vinculados a valorização
territorial e o desenvolvimento regional (Zusman, 1997).
Ainda para Zusman (1997)
“El caracter históricamente globalizador del conocimiento
geográfico permite que en un ámbito institucional reconocido
como una Asociación de Geógrafos se agrupen especialistas
en diferentes áreas: historiadores, geólogos, médicos,
políticos. La conjunción de esta heterogeneidad de saberes
aparecía como requisito para tematizar de diferentes maneras
el proyecto territorial y legitimarlo. Podríamos preguntarnos
si,por ejemplo, una asociación de geólogos podría haber
reunido a intelectuales formados en tan diversas áreas sin
cuestionarse la legitimidad de esta institución. El carácter
globalizador del conocimiento geográfico no permite la
efectivización de tal tipo de cuestionamiento. A su vez, a
pesar de los vínculos de AGB con la USP ella consigue salvar
algunas de las restricciones establecidas por las propias
exigencias académico-universitarias. Ella podía agrupar
miembros de la Escuela Politécnica con miembros de la
Facultad de Filosofía, Ciencias y Letras, por ejemplo”.
A diferença entre os objetivos apontados por Moraes Rego e os Estatutos
da AGB tem entre eles um enorme fosso. A intensidade e a intencionalidade das
proposições publicadas pelo Dr. Luiz Flores contrastam enormemente com a
simplicidade dos sete artigos que compõem o estatuto proposto e aceito pelos
sócios da Associação, o que, no entanto, não retira da pauta, nem estabelece
contradições definitivas entre o que de fato foi proposto e as intenções do
42
Artigo publicado em outubro de 1935, e que segue em anexo nessa tese.
62
mesmo. As primeiras dezenas de associados à AGB, identificados e lidos de seu
lugar de origem social, suas ocupações e rede de relações, no mínimo mostram
que objetivos mais ampliados e qualificados estariam motivando a participação
nesse novo lugar de constituição de relações associativas, sejam elas cientificas,
culturais ou políticas.
Figura 4
Fonte: IEB/USP – Acervo Caio Prado Júnior
Os estatutos da AGB foram definidos pouco tempo depois de sua criação.
No dia dezessete de dezembro de 1934, com a presença de P. Arbousse B’Astide,
Luiz Flores Morais Rego, Geraldo H. Paula Souza, Rubens Borba de Morais, Carlos
Wright, Eddy Crissiuna, Astrogildo de Melo e Caio Prado Júnior, realizou-se a
sexta reunião ordinária da Associação, quando a Diretoria provisória apresentou
um projeto de Estatutos. Posto em discussão o assunto, foram, depois de
debates, aprovados os seguintes artigos, que vieram a compor o primeiro
estatuto da AGB.
63
Figura 5
Fonte: IEB/USP – Acervo Caio Prado Júnior
O estatuto apresentado e aprovado era bastante simples e de poucos
artigos, que nas palavras de Aroldo de Azevedo (1950:6) “mais faziam lembrar
64
um simples regulamento das tarefas domésticas do que a magna-carta de uma
sociedade científica”, mas que de alguma forma começava a definir o status
da associação. O primeiro artigo apresentava não somente o objetivo mais geral
da associação tem por fim a pesquisa e divulgação de assuntos geográficos.”,
como também sinalizava a forma de realização concreta desses objetivos, ou
seja, através de reuniões periódicas, excursões em conjunto de seus membros”.
A importância dada a publicação/divulgação do que efetivamente fosse produzido
pelos membros, individualmente ou coletivamente, aparece na
determinação/desejo de uma publicação periódica. Aqui vale uma ressalva sobre
a enorme dificuldade de publicação e manutenção de um periódico,
principalmente diante as condições técnicas e materiais disponíveis nos anos da
década de 1930, principalmente para uma incipiente associação, mesmo esta
dispondo de articulação com representantes da elite local.
A definição de categorização de cios é outra importante definição do
presente estatuto. Essa questão vai ainda ser muito debatida no interior da
associação. Nessa primeira versão de regramento da entidade aparece apenas
uma categoria dos denominados membros efetivos, a outra categorização diz
respeito ao que foi chamado de membros correspondentes. Essa distinção não
se faz pelo mérito, titulação ou mesmo condição social ou acadêmica; fez-se pela
condição de residente ou não na cidade de São Paulo ou proximidades. A
categorização por mérito é assunto que vai ser tratado nas próximas reformas
estatutárias. No entanto, a possibilidade de participação como membro da
associação estava anotada no artigo do estatuto que assim definia Os
candidatos a membros efetivos e correspondentes deverão ser indicados por um
membro efetivo e aceitos por maioria de votos em reunião da Associação”.
Assim, mesmo não havendo ainda nenhuma clara distinção entre os membros
que residissem na cidade de São Paulo, a participação na associação somente se
daria diante a apresentação e aceitação da maioria dos então sócios efetivos, o
que poderia de alguma forma indicar as preferências por alguns a detrimento de
outros. Outra questão que emerge dessa definição do tipo de associado diz
respeito as atribuições e possibilidades dos tipos de sócios. Os membros
correspondentes estavam isentos do pagamento de sua contribuição, mas
também não poderiam indicar ou votar a indicação de um novo membro, seja ele
efetivo ou correspondente, como também não poderiam votar ou serem votados
para a composição da diretoria da associação.
65
O estatuto também define parte dos objetivos da AGB, pensados pelos
seus fundadores e presentes na ata de fundação e nas atividades realizadas e
seus primeiros anos de existência. A realização de reuniões periódicas para a
discussão de temas relevantes, artigos e livros produzidos e a promoção de
pesquisas, com articulação entre seus próprios membros ou em parceria com
outras instituições
43
.
1.3
Algumas controvérsias sobre a origem: AGB ou AGBs?
A literatura disponível sobre a Associação dos Geógrafos - os livros e
textos que versam sobre a história do pensamento geográfico brasileiro, e em
especial, sobre as primeiras décadas do século XX dessa história, são unânimes
em dizer que a AGB foi fundada em 1934, em São Paulo, a partir da articulação
de Pierre Deffontaines com alguns eminentes personagens da elite paulistana.
Até não encontramos nenhum problema, e até arriscamos dizer que não
discordância alguma na composição dessa história. No entanto, não podemos
dizer que essa é a única história de criação da AGB. Podemos dizer, isto sim, que
talvez existam outras histórias da criação, ou melhor, outras histórias de
criação, de origem de outras AGBs, ou por assim dizer, de um único
agrupamento de geógrafos, numa dada associação, carregando o nome de AGB.
E isso tudo ainda nos anos que se seguem a 1934 e que antecedem 1945.
Afinal quantas AGBs existiram nos primeiros anos de história da
associação? Eram duas AGBs? Três ou mais AGBs? Ou uma única. Afinal quantas
eram nesse período?
É inegável a articulação da formação da AGB com a criação dos cursos
universitários de Geografia. Se por um lado a AGB nasce em São Paulo articulada
ao recém criado curso de Geografia na USP; por outro, o Brasil conhece até o
final da década de 1930 a criação de mais dois cursos superiores de Geografia
o da extinta UDF, em 1936; e a da atual UFPR (Curitiba), em 1938
44
. As
informações disponíveis nos permitem afirmar uma relação bastante estreita,
mas não exclusiva, entre a criação desses cursos e de outros, com a criação dos
43
Ver artigos 4º, 5º e 6º do Estatuto da AGB de 1934.
44
Censo do Ensino Superior, INEP,2002.
66
então denominados núcleos e seções regionais da AGB, principalmente durante
as décadas de 1940, 1950 e 1960.
Durante o período compreendido entre a fundação da AGB, em 1934 e a
sua segunda grande reforma em 1945, e principalmente no período mais
incipiente, que são justamente seus primeiros seis ou sete anos de vida, tem-se
noticia da existência de quatro lugares onde a “marca AGB” estava sendo
registrada como lugar de articulação e/ou de reunião de interessados na ciência
geográfica e em seus saberes e fazeres – São Paulo, Curitiba, Amparo (SP) e Rio
de Janeiro. Uma rápida leitura dessas histórias nos deixa com poucas certezas e
muitas dúvidas sobre o processo de criação da AGB. Então, passamos a
pesquisar um pouco mais os documentos da Associação, de forma a tentar,
senão resolver a questão, pelo menos dirimir algumas dúvidas e jogar um pouco
mais de luz sobre a criação da AGB, e quem sabe denominá-lo, a partir de então
como um processo de criação. Passamos, assim, a tentar desvendar o que de
fato foi, no período em questão, cada presença da AGB nessas cidades diferentes
de São Paulo.
A presença da AGB em Curitiba se deu a partir da criação de um núcleo
municipal da associação. Isso se fez, em sua primeira versão em 23 de agosto de
1936, “por iniciativa do antropólogo José Loureiro Fernandes e seu amigo
Francisco Beltrão, que freqüentavam as reuniões da AGB em São Paulo (...)”
(Crocetti, 2004:127-128).
Ainda, segundo Crocetti (2004), o núcleo não funcionava como uma seção
corporativa de geógrafos, e sim, como uma espécie de extensão da AGB que
funcionava em São Paulo, mas assumindo um caráter mais parecido com um
fórum científico de reuniões acadêmicas livres, ou seja
“não se discutiam somente a ciência geográfica, mas faziam-
se seções para discutir saúde pública, questões de direito,
edificações populares, saneamento, etc., já que os perfis de
seus sócios eram diversos, médicos, engenheiros, advogados,
filósofos, e não existiam profissionais de Geografia, uma vez
que o curso de geografia em Curitiba ainda não havia sido
criado, fato que ocorreu em 26 de fevereiro de 1938, na
recém fundada Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do
Paraná” (Crocetti, 2004:128).
Somente na década de 1950, após a reforma dos estatutos ocorrida em
1945, é que o núcleo municipal de Curitiba vai dar lugar na Seção Regional do
Paraná. As informações contidas no texto de Zeno Crocetti, preparado para a
67
publicação na Revista Terra Livre, 22, que foi editada em comemoração aos
setenta anos da AGB, não deixam dúvidas que, pelo menos em Curitiba, a
presença da AGB se fazia a partir de um núcleo, ou como o próprio autor revela,
uma extensão da AGB que existia em São Paulo. Posição confirmada a partir das
palavras do próprio presidente da AGB, o professor Pierre Monbeig, quando, por
volta de 1943, avaliava a existência da AGB: “modestamente, uma AGB que
funciona em São Paulo, com filial em Curitiba, mantém reuniões regulares e uma
publicação irregular (revista Geografia)”
45
.
Referências a presença da AGB na cidade de Amparo (SP) aparecem no
Boletim da AGB. No entanto, as principais referências são feitas à cidade, e não a
existência de um cleo da AGB, constituído e organizado. As referências a
cidade aparecem desde o primeiro ano da AGB, quando da realização da 10ª
Reunião Ordinária, em 18 de marco de 1935, em que o professor João Dias da
Silveira indica o sr. Pedro de Araújo, morador da referida cidade, como sócio-
correspondente da associação.
Quando o assunto é a existência de uma AGB ou coisa do gênero no Rio de
Janeiro antes de 1945, o debate fica então um pouco mais complexo.
Poderíamos dizer que havia uma AGB São Paulo e outra, Rio de Janeiro? Para
Mauricio de Almeida Abreu (1994), a AGB Rio de Janeiro surgiu em 1945,
quando a reforma estatutária ocorrida nesse mesmo ano vai conceber a
existência das Seções Regionais
46
e de um corpo Diretor de caráter mais amplo,
ocupando a função de uma espécie de Diretoria Nacional. Para Orlando Valverde
(1991, 1992 e 1996), existia outra AGB, no Rio de Janeiro, desde 1936. Essa
questão vai ganhando em polêmica e em dúvidas a cada leitura feita.
Partindo da premissa da consistência das informações do professor
Orlando Valverde, podemos dizer que a AGB teve histórias de criação nos seus
anos iniciais. Para Valverde (1992), Pierre Deffontaines, da mesma forma que
articulou a criação da AGB em São Paulo, em 1934, e após ter deixado o Estado
de São Paulo e a USP, em 1935, foi para o Rio de Janeiro para trabalhar na
criação do curso de Geografia da UDF, onde articulou também a criação de outra
AGB, agora em 1936. Ainda, segundo Valverde, duas são as explicações
possíveis para a iniciativa de Deffontaines de criar outra AGB: uma, seria o
45
Geografia. In: Manual Bibliográfico de Estudos Brasileiros. Rubens Borba de Moraes, 1949:329.
46
Inicialmente foram fundadas as Seções Regionais de São Paulo (1945) e do Rio de Janeiro
(1945). Posteriormente foram criadas as Seções Regionais de Minas Gerais (1955), de Pernambuco
(1955) e do Paraná (1953).
68
temor de que a repressão política da ditadura estadonovista acabasse com a AGB
“paulista”; e outra, a inspiração no modelo da Association des Geógraphes
Français, mas com caráter federativo.
O histórico da AGB redigido para o Boletim da Associação dos Geógrafos
Brasileiros, em seu primeiro número, publicado na Seção “Boletins de
Associações Integradas no Conselho Nacional de Geografia” da Revista Brasileira
de Geografia ano III, nº1, janeiro-março do ano de 1941, parece contribuir para
reforçar a tese da existência de uma “AGB”, no Rio de Janeiro, anterior a 1945.
“Na verdade, em grande parte graças ao dinamismo do
professor Pierre Deffontaines (que se passou da Universidade
de São Paulo para a do Distrito Federal), o movimento
geográfico tomou corpo no Rio de Janeiro. Lá, também,
um grupo de geógrafos de boa vontade começou a reunir-se
periodicamente; e, assim, teve a “Associação” o seu
primeiro e promissor núcleo filiado.
Atualmente, nas duas grandes metrópoles do litoral e
do planalto brasileiro, trabalha-se com o mesmo desejo de
colaboração: a concretização a mais perfeita de tal objetivo
se encontra precisamente neste “Boletim”, que acaba de
aparecer. Graças à compreensão total e à gentileza do
Presidente do “Conselho Nacional de Geografia” e de seu
secretário-geral, tornou-se possível a publicação de um
“Boletimda “Associação dos Geógrafos Brasileiros”, no qual
serão resumidas as “comunicações” feitas, tanto no centro
fundador paulista, como no cleo do Rio de Janeiro.”
[grifos nossos]
O texto do Boletim também faz importante referência ao professor Pierre
Deffontaines, creditando a ele a centralidade, o incentivo e a criação do, então
denominado “núcleo filiado”. As expressões “núcleo filiado” e “núcleo do Rio de
Janeiro”, que aparecem nesse documento oficial da Associação dos Geógrafos
Brasileiros pode reforçar os indícios que havia de fato, na história agebeana
anterior a 1945, um núcleo na cidade do Rio de Janeiro, ou mesmo, conforme
Valverde, uma “outra” Associação dos Geógrafos Brasileiros. A presença das
expressões destacadas reforça a tese de que havia alguma organização que
reunia geógrafos (uma vez que haviam formados na disciplina a partir do
curso de Geografia da UDF e depois da UB), e interessados na ciência ou no
conhecimento produzido a partir dela. O texto sugere também uma articulação,
mesmo que frágil, de colaboração e de conhecimento entre os dois centros. A
expressão “núcleo” sugere uma centralidade a partir de São Paulo, onde existiria
a matriz da AGB, esse fato [da existência de um núcleo] difere das referências
69
mais contundentes de Valverde, mas não invalida, pelo menos a priori, sua
afirmação.
Outros indícios da questão apresentada por Orlando Valverde estão
presentes na suas falas, quando da entrevista concedida a Roberto Schimidt de
Almeida, em 27/09/1996, e acessada por nós através da tese de doutoramento
de Sérgio Adas (2006). Nessa entrevista, Valverde (1996) destaca a existência
de uma AGB carioca, e em atividade na segunda metade da década de 1930:
“A AGB carioca, durante muito tempo funcionou em sala do
Edifício Iguaçu, portanto era prestígio total. Entre a
representação do IBGE havia as chamadas associações
doutas. Eu vou ver se consigo reproduzir: Academia Brasileira
de Ciências, Clube de Engenharia, Instituto Histórico
Geográfico, Sociedade Brasileira de Geografia e Associação
dos Geógrafos Brasileiros”. (Valverde, 1996 apud Adas,
2006:28)
Valverde continua na entrevista detalhando os participantes da Associação
e algumas particularidades de sua ação, como por exemplo, o distanciamento
durante alguns anos frente a AGB existente em São Paulo, fato que ocorre até o
início da década de 1940, mas que demonstra de certa forma a existência de
grupos articuladores da Geografia e da AGB nos dois principais centros
formadores.
“Eu me lembro, vários professores estrangeiros e nacionais
vieram lá, eu assisti palestras de Otton Leonardos, do Josué
de Castro, do Preston James, lá, e eram dirigidas primeiro
pelo professor Deffontaines. Quando Deffontaines foi embora,
Silvio Fróes de Abreu continuou como presidente da AGB
carioca. São Paulo e Rio trabalhavam paralelas sem ter
contato. em São Paulo, quem salvou, quem ressuscitou a
AGB, foi Pierre Monbeig com seu grupo, o Aroldo de Azevedo,
o Araújo [José Ribeiro de Araújo Filho], Dirceu Lino de Matos,
o... enfim aquele grupo... Ari França, eles criaram o grupo de
lá, mas ficavam duas AGBs e sem contato. Foi em 1943, que
se realizou então, por iniciativa de Monbeig, veio ao Rio de
Janeiro, propôs fazer uma reunião conjunta e criar a AGB
nacional.” (Valverde, 1996 apud Adas, 2006:29)
Valverde quando destaca a existência de uma presidência formal da
associação no Rio de Janeiro, que antes ocupada por Pierre Deffontaines, passa
com sua partida para a França à Silvio Fróes de Abreu, alimenta ainda mais a
sua versão sobre a existência de uma “AGB-Carioca”, e em conseqüência disso, a
70
controvérsia entre a existência dessa outra AGB ou de um núcleo articulado a
AGB de São Paulo.
Em entrevista a Revista GeoSul, do Departamento de Geociências da
Universidade Federal de Santa Catarina, publicada na edição de número 11, ano
VI, 1991, e depois re-publicada no número 12/13, ano VI de 1991, edição
especial de entrevistas, o professor Orlando Valverde fala da criação da AGB
Carioca em 1936, e dá detalhes
“A AGB em São Paulo foi criada por um grupo de discípulos e
admiradores de Pierre Deffontaines, entre eles, o mais
notável foi Caio Prado Júnior (...) Após a quartelada em 1935,
Caio Prado Júnior foi preso (...) Pierre Doffontaines veio antes
para o Rio de Janeiro, onde começou o curso, eu me
matriculei logo no ano seguinte (1936). Deffontaines
promoveu reuniões estimulantes, feitas no Instituto Nacional
de Tecnologia, na avenida Venezuela, e a maioria dos
elementos que a elas aderiram era de geólogos. Não havia
então geógrafos no Rio de Janeiro nem no Brasil. (...) O fato
é que a AGB do Rio de Janeiro nada tinha a ver com a
de São Paulo. Deffontaines queria era fundar um núcleo de
estudos geográficos. Eu me lembro de várias conferências
realizadas no Rio, como a de Josué de Castro, Otto Henry
Leonardos, Silvio Fróes de Abreu e pelo próprio Deffontaines,
eram reuniões noturnas. (...) Eu coletava inclusive as
mensalidades, que custavam três mil réis. Quando entreguei
a tesouraria, deixei como legado para outra diretoria a
“fabulosa” quantia de 15 mil réis, em dinheiro (naquele
tempo, não havia transações em cheques; era tudo “ao
vivo”). Minha sucessora foi Dora Romariz. Que fim levaram as
atas que fiz, não sei; isso pertence ao passado (1991:239)”.
[grifos nossos]
Valverde ao detalhar o processo de criação da AGB do Rio de Janeiro,
revela informações não apenas sobre a existência de duas AGBs, como também,
a pouca relação entre elas. Sobre esta informa a movimentação de ambos os
lados para não afinar a relação, mas sobretudo, a proposta de fazer existir
uma só associação.
“Só em 1943, Pierre Monbeig substituindo Deffontaines em
São Paulo, decidiu, combinando conosco no Rio, fazer uma
assembléia conjunta, da AGB, na qual se elaborou um novo
estatuto, unificando a entidade (1991:239)”.
E, finalmente, a quais conclusões chegamos sobre a controvérsia sobre a
existência de uma ou mais AGBs no periodo que antecede a reforma estatutaria
de 1945?
71
As informações originadas nas entrevistas e artigos do professor Orlando
Valverde nos levam a crer sobre a existência sim de uma AGB no Rio de Janeiro,
criada também por Pierre Deffontaines, nos anos entre 1936 e 1945, assim como
uma AGB em São Paulo. No entanto, os documentos que dispomos, aqueles
emitidos pela AGB, nesse caso a de São Paulo, apontam para a existência de
uma AGB no Rio de Janeiro, mas a tratam como um núcleo da AGB, e que foram
regulados a partir de uma reunião da AGB, ocorrida no dia 19 de fevereiro de
1940.
A existência de um núcleo da AGB, tal qual no regulamento da AGB
pressupõe a existência dessa fração da Associação e ao mesmo tempo um certo
controle por parte da AGB em São Paulo. No entanto, a existência de uma outra
AGB pode parecer a garantia de uma certa independência frente aquela de São
Paulo, com rumos próprios e pouca ou nenhuma articulação entre elas.
Assim, pelo menos por enquanto, vamos aceitar a explicação mais ampla
para essa questão, qual seja: a existência de alguma forma de organização mais
sistemática da AGB no Rio de Janeiro, não importando, nesse momento de nossa
pesquisa, afirmar se era uma espécie de núcleo ou mesmo uma outra AGB. Muito
embora, saibamos que a diferença é significativa, e que extrapola o simples
debate semântico ou de natureza organizacional. As respostas necessitam de
pesquisa mais aprofundada nesse específico episódio da história da AGB.
72
1.4
AGB: primeiros encontros da comunidade
“Para professores e alunos ou ex-alunos
universitários, a AGB constituía um lugar que
oferecia algumas vantagens para a
complementaridade das atividades de ensino e
pesquisa da universidade. Facilitava o contato
entre professores e alunos de disciplinas afins e o
contato destes com quadros técnicos ou
intelectuais ligados a outros setores públicos ou
não existentes na cidade de São Paulo ou fora
dela ou, ainda, em visita à universidade ou à
cidade. Para estes a AGB oferecia uma
possibilidade de contato com pessoas da
universidade, inclusive vindas do exterior, dentro
de uma área de conhecimento bastante
abrangente, pouco configurada em suas
“delimitações” e que era acessível a contribuições
muito variadas, indo desde a Geologia até a
etnogeografia ou dos estudos mais próximos dos
relativos rigores da “Geografia Científica”, que os
professores franceses estavam trazendo, aos
relatos de “impressões de viagens” em que,
mesmo os não geógrafos, cientistas ou não,
podiam esforçar-se por apresentar, também,
abordagens daquilo que se consideravam
“geográfico”” (Seabra, 2004:39)
A AGB em sua fundação tinha como um dos principais objetivos, reunir os
geógrafos (os poucos que o eram), os estudantes do curso de Geografia e
Historia (recém-criado) e os demais interessados no estudo da ciência
geográfica. As reuniões acadêmicas e administrativas, primeiros encontros da
nascente comunidade, foram fundamentais para sua constituição. Nos primeiros
anos, a AGB, foi o lugar do debate e do encontro entre profissionais e estudantes
(muitos profissionais com outra formação). Constituídos a partir de uma rede
de afinidades, esses encontros da “comunidade geográfica”, debateram sobre
temas diversos, mas, sobretudo, sobre o Estado de São Paulo (no caso, nos dois
primeiros anos, sem nenhuma controvérsia sobre a existência de outra AGB,
73
diferente daquela fundada em São Paulo), e tomaram muitas decisões acerca dos
rumos da Associação.
Nos primeiros dois anos de existência da AGB as sessões de apresentação
de trabalhos e palestras tratavam na maioria das oportunidades de resultados de
estudos realizados pelos sócios ou por pessoas sem vínculo com a Associação.
Nesse período foi possível através das atas das reuniões fazer um levantamento
dos temas e autores dessas comunicações, que foram algumas publicadas como
artigo na Revista Geografia, outras como relatos na seção intitulada “Boletim da
Associação dos Geógrafos Brasileiros” (dentro da Revista Geografia), e por fim,
outras que apenas ficaram no registro de sua ocorrência no livro de atas. Nos
anos que seguem ao final de 1935, quando não encontramos mais os registros
detalhados das reuniões através dos livros de atas da Associação, as sessões de
debates culturais e científicos e as decisões administrativas continuaram a
ocorrer. Um levantamento dessas atividades foi possível através do Boletim da
AGB (no ano de 1936, ainda como parte da Revista Geografia, e depois como
publicação isolada nos anos de 1941 a 1944), e de preciosa pesquisa feita pelo
professor Manoel Seabra, da Universidade de São Paulo, para seu artigo
publicado na Revista Terra Livre, da AGB, no ano de 2004.
As reuniões eram realizadas à noite, de início na av. Angélica, onde morou
Deffontaines; depois, desde 1935 até o começo da década de 1940, no Instituto
de Higiene, do qual Horácio Paula Souza, sócio da AGB, era o Diretor; em
seguida, no Instituto de Educação Caetano de Campos, na Praça da República; e
finalmente, na Biblioteca Municipal de São Paulo, que era dirigida por Rubens
Borba de Moraes, um dos fundadores da Associação.
Por decisão de seus fundadores, registrada na sua Ata, teria a AGB duas
reuniões mensais (as primeiras e terceiras segundas-feiras), divididas em duas
partes: uma exposição, em português ou francês, de no máximo meia hora,
seguida de discussão, e relatório de livros e artigos de Geografia, tendo sido,
inclusive, na própria ata de fundação, explicitados as primeiras seis sessões, com
seus respectivos responsáveis, e que assim, fechariam o ano de sua fundação.
As sessões eram realizadas a partir da apresentação dos sócios, mas
também contavam com a participação de pessoas estranhas ao quadro de
associados, quando ratificadas pela assembléia. O procedimento de convite
acabava sendo uma restrição e um problema, o que foi resolvido passando os
oradores a serem convidados a fazer parte da Associação.
74
As reuniões ordinárias vão se seguindo e dando os contornos do corpo
inicial da AGB. As reuniões realizadas durantes os primeiros anos, apontam para
uma vida de muita riqueza de debates entre os associados e a tomada de
importantes decisões, principalmente para uma associação que acabara de
nascer. Alguns associados começam a fazer sua história, e que vai ser longa, na
associação nesses primeiros meses. E fazem isso principalmente com a
presença nas reuniões e participação nas comunicações de cunho acadêmico
apresentadas. Entre eles podemos destacar: Caio Prado Junior, que foi o
principal articulador da associação nos dois primeiros anos, estabelecendo a
comunicação entre os associados, correspondendo-se com Pierre Deffontaines,
que havia ido para o Rio de Janeiro, e acima de tudo, fazendo os registros da
Associação e garantindo a publicação da revista “Geografia”; Pierre Monbeig, que
tendo chegado em São Paulo em 1935 com a tarefa de substituir o professor
Pierre Deffontaines, participa logo das primeiras reuniões da AGB, e em 1935
assume sua presidência, cargo que vai ocupar até 1946, transformando-se no
presidente que mais tempo ficou no cargo, e estando a frente da AGB no seu
dificil período inicial, e no seu primeiro momento de transformação estrutural,
ocorrido em 1945, com a reforma estatutária; Aroldo de Azevedo, que vai ser um
dos principais articuladores da AGB em São Paulo e responsável pela publicação
do Boletim Paulista de Geografia nas suas primeiras décadas.
No conjunto das reuniões, além dos muitos debates sobre as
apresentações de trabalhos de pesquisa e relatos de viagem, inúmeras decisões
foram tomadas sobre diferentes questões tratadas pelos sócios que a
frequentavam, e tinham o importante papel de definir rumos, da associação,
da Geografia e do lugar político que ocupariam a partir da existência e ação da
AGB. Nos anos de existência da AGB, as palestras estiveram quase sempre
ligadas a uma e até duas apresentações por reunião de resultados de estudos de
associados ou de pessoas convidadas. Depois as palestras ficaram mais escassas
e dificilmente aconteciam na quantidade inicial, mas, mesmo com dificuldades
elas continuaram a acontecer nos anos que seguiram até 1945, quando a
reforma dos estatutos muda a estrutura organizacional da Associação.
75
Tabela 4
Palestras e Trabalhos apresentados nas reuniões da AGB
(1934-1940)
Data
Título da Palestra Nome do Palestrante
1934
Esquema de um programa para o estudo do solo
em São Paulo
Luiz Flores de Moraes Rego
1934
Ensaios sobre os tipos de povoamento no Estado de
São Paulo
Pierre Deffontaines
1934
Geografia da Citricultura em São Paulo Carlos Wright
1934
Etapas do povoamento de São Paulo Rubens Borba de Moraes
1934
Estudos geográficos e geológicos no Estado do
Paraná
Reinhardt Maak
1934
Contribuição para o estudo da repartição da
propriedade fundiária rural no Estado de São Paulo
Caio Prado Júnior
1934
Ensaio de divisão regional do Estado de São Paulo Pierre Deffontaines
1934
A colonização japonesa no Estado de São Paulo Eddy Crissiuma
1935
Regiões naturais do Estado de São Paulo Luiz Flores de Moraes Rego
1935
Regiões do Estado de São Paulo Carlos Wright
1935
A região de Ponce na chapada do Mato Grosso John Lane
1935
A região do vale da Ribeira de Iguape Theodoro Knecht
1935
A Chapada Diamantina Luiz Flores de Moraes Rego
1935
A distribuição da população no Brasil Caio Prado Júnior
1935
Viagem ao Espírito Santo; vale do Rio Doce - e
Baia:capital e região de Ilhéus
Geraldo Horácio de Paula Souza
1935
A cartografia paulista Luiz Flores de Moraes Rego
1935
Contribuição para o estudo das influências étnicas
no Estado de São Paraná
Caio Prado Júnior
1935
O Chaco Boreal Jean Albert Vellard
1935
À margem de fatos geográfioc sulamericanos Mário Travassos
1935
Notas de viagem no interior da Baía Carlos Amadeu de Camargo Andrade
1935
Colonização no Norte do Paraná Pierre Monbeig
1935
A industria salineira no Estado do Rio de Janeiro Caio Prado Júnior
1935
A aerofotogrametria no levantamento cartográfico Agenor Machado
1935
Aspecto geral e fisiografia do Nordeste do Brasil Luiz Flores de Moraes Rego
1936
A zona do cacau no sul do estado da Baía Pierrre Monbeig
1936
O Valle do Tocantins - Araguaya Luiz Flores de Moraes Rego
1936
Os Guayaqui do Paraguai Jean Albert Vellard
1936
Entre os Bororos no Mato Grosso Claude Lévy-Strauss
1936
A região de Cabo Frio Pierre Deffontaines
1936
Estrada Mairynk - Santos João Dias da Silveira
1936
Ensaio de aplicação do método cartográfico para
pesquisas sociais
Bruno Rundolfer
1936
Um assunto de geografia econômica de São Paulo François Perroux
1936
Impressões de viagem ao longo do Rio Paraná Antonieta de Paula Souza
1936
A geografia e a geologia de Roraima Glycon de Paiva
1937
Geologia da Serra do Mar no Estado de São Paulo Theodoro Knecht
1937
Plano de levantamento do Estado de São Paulo Agenor Machado
1937
Observações sobre o desenvolvimento das vias de
comunicações do Estado de São Paulo
Pierre Monbeig
1937
Considerações geográficas sobre a febre amarela
silvestre
Geraldo Horácio de Paula Souza
1937
O relevo do Rio Grande do Sul Luiz Flores de Moraes Rego
1937
Homenagem a Emannuel de Martonne Luiz Flores de Moraes Rego
76
1937
A organização da cartografia na França e a
possibilidade de desenvolvimento da cartografia no
Brasil Emannuel de Martonne
1937
Evolução do povoamento de São Paulo João Dias da Silveira
1938
Homenagens ao General Couto Magalhães e a
Theodoro Sampaio
Luiz Flores de Moraes Rego
1938
Alguns problemas do povoamento e da ocupação do
solo da região de Piracicaba
Alice Piffer Cannabrava
1938
Algumas regiões do Ceará Luiz Flores de Moraes Rego
1938
Homenagem a Euclides da Cunha Luiz Flores de Moraes Rego
1938
Mato Grosso Milton Vargas
1938
Aspectos geográficos da cultura do algodão em São
Paulo
Garibaldi Dantas
1938
Aspectos geográficos e geológicos do Mato Grosso Aníbal Alves Bastos
1939
A região do Brasil Central e Acre Claude Lévy-Strauss
1939
O Nordeste brasileiro Luiz Flores de Moraes Rego
1939
O problema da criação em Mato Grosso Ruy Cardoso
1939
Os Mocambos do Nordeste Josué de Castro
1939
A região da Noroeste em São Paulo e no sul do
Mato Grosso
Pierre Monbeig
1939
A Baixada Fluminense Renato Silveira Mendes
1939
Casa Branca - aspectos da história e geografia com
ênfase no estudo da cidade
Maria Aparecida Pantoja
1939
Nossa guerra atmosférica Sampaio Ferraz
1939
O atlas geológico do Brasil Luiz Flores de Moraes Rego
1940
Homenagem à memória do General Moreira
Guimarães
Aroldo de Azevedo
1940
Alguns problemas brasileiros em face da Geografia
Humana
Sálvio de Almeida Azevedo
1940
Influências estruturais sobre o revelo das regioões
cristalinas de São Paulo Luiz Flores de Moraes Rego
1940
Uma viagem ao Canal do Panamá Geraldo Horácio de Paula Souza
1940
Estudos sobre um trecho da Mantiqueira João Dias da Silveira
1940
Paisagens rurais do Estado de São Paulo Pierre Monbeig
1940
Reflexões sobre a fitoecologia do Brasil Félix Rawitscher
1940
Impressões de viagem ao norte do Brasil Rafael Rocha Campos
1940
Homenagem à memória do professor Moraes Rego Pierre Monbeig
1940
Primeiras conclusões de uma excursão ao Itatiaia João Dias da Silveira
1940
Imigração e colonização no Estado de São Paulo Sálvio de Almeida Azevedo
1940
Evolução ferroviária de São Paulo Odilon Nogueira de Matos
1940
A zona cacaueira do sul da Baía Júlio de Abreu Filho
1940
Uma viagem ao sul do Mato Grosso Antônio Cândido Vicente de Azevedo
1940
Levantamento agrogeológico do Estado de São
Paulo José Setzer
1940
Estudos sobre o Vale do Paraíba Caio Dias Batista
1940
Geomorfologia da Bacia Platina Fernando Flávio Marques de Almeida
1940
A vida das Saúvas Amês Pinto Viegas
1940
O ensino da Geografia no curso secundário Pierre Monbeig
Fonte: Seabra, 2004, adaptado por Charlles da França
A continuidade da existência da AGB não foi tarefa fácil, como hoje
também não é. Apesar do natural impulso inicial, a manutenção de uma
77
associação cientifica disciplinar e sempre mais dificil quando a comunidade que,
pelo menos em tese, a vai sustentar ou mesmo ser sua motivação, ainda não
existe, ou como no caso da AGB e da Geografia, estão de certa forma nascendo
juntos e coexistindo. Algumas análises podem apontar para uma relação de
alimentação recíproca. Algumas dificuldades sinalizadas vão desde a inexistência
de uma referência de sede e localização, até a participação dos associados nas
reuniões. Caio Prado Junior, em sua atividade como Secretário, muitas vezes
explicitava suas preocupações sobre a ausência dos associados nas reuniões,
como na carta-circular enviada aos associados em 29 de janeiro de 1935:
“Saudações,
Na ultima reunião da Associação, 21 do corrente,
compareceram apenas cinco membros. Devido a este exíguo
comparecimento, não se realizou a reunião, ficando adiada
para a seguinte a matéria inscrita na sua ordem do dia.
Quero crer que este fato não signifique um desinteresse dos
membros pela vida da Associação. E contudo um mao
sintoma. A nossa Associação vive das suas reuniões e do
trabalho em colaboração de seus membros. Caso estes não
se esforcem por acompanhar com assiduidade as reuniões, a
Associação estará totalmente condenada ao desaparecimento.
Não queremos crer que esta hipotese se realize; mas
precisamos da boa vontade de todos. Temos deante de nós
um vasto campo de estudos, quase inexplorado, e que
merece um esforço, não pelo alto significado cientifico que
encena, como ainda pelo interesse pratico que representa. E
portanto de esperar que a Associação continue, tornando
assim possivel a realização do programa que traçou. A
proxima reunião realiza-se na primeira segunda-feira de
fevereiro, dia 4. Contamos firmemente com a sua presença”.
Logo na primeira reunião, após a criação da AGB, os sócios da associação
deliberaram sobre a realização do primeiro estudo sistemático que a mesma faria
no terreno dos vários tipos de solos paulista, ficando ainda combinada uma
primeira excursão para estudo dos solos graníticos de São Roque/SP.
Em reunião ocorrida ainda no ano de fundação da AGB (dezembro de
1934), o professor Pierre Deffontaines apresentou um projeto de divisão regional
do Estado de São Paulo, e que segundo o próprio, serveria de base de estudos
para um plano definitivo. Deffontaines sugeriu ainda que a AGB se dedicasse
inteiramente a este trabalho. Assim ficou decidido que cada membro presente,
na reunião seguinte fizesse a escolha do assunto que, dentro desse trabalho,
quisesse particularmente pesquisa. Caio Prado Junior, quando convocou a
78
primeira reunião do ano de 1935, alertou os associados da importância da
empreitada assumida pela AGB: “Além disso, será nesta reunião assentado
definitivamente o plano de tabalho para o estudo da divisão regional do Estado
de São Paulo, que é, como o prezado consócio sabe, a tarefa que a associação
propôs como programa imediato de trabalho
47
”.
Na mesma reunião em que foi apresentado e aprovado o projeto de
estatuto para a AGB, Luiz Flores de Moraes Rego propôs que fosse escolhida a
nova diretoria da associação, uma vez que essa seria a ultima reunião do ano.
Apesar de aprovada a proposta de Moraes Rego, a nova diretoria apenas foi
eleita na reunião ocorrida em 07 de janeiro de 1935, quando o sociólogo francês
Paul Abousse Bastide assumiu a presidência da AGB, tendo Caio Prado Junior e
Rubens Borba de Moraes como Secretário e Tesoureiro, respectivamente.
Nas reuniões eram tomadas decisões sobre as mais diferentes propostas
levadas pelos associados. Uma dessa propostas foi apresentada por Moraes
Rego, que propôs que a AGB fosse responsável pela erguimento de marcos em
dois pontos da cidade de São Paulo por onde passasse o Trópico de Capricórnio.
O próprio Moraes Rego, com o apoio de Agenor Machado, ficou com a incubência
do proposto, que a executou, segundo relato em reunião posterior.
Outra questão importante nesse primeiros meses de existência e
atividades da AGB foi proposta por Moraes Rego, que sugeriu que fosse criada na
associação, a categoria de “Sócio-Honorário”
48
, para atender e homenagear
nomes importantes da sociedade paulista. Esse foi um dos primeiros pontos de
conflito e divergência entre aquele pequeno grupo de associados. A proposta foi
combatida por Rubens Borba de Moraes e Caio Prado Junior, que alegavam que o
espirito que deveria nortear a AGB era o da participação na associação e do
compromisso com a ciencia geográfica, o que acabou, após debate e votação,
com a rejeição da proposta.
Ainda no ano de 1935, mais precisamente no dia 30 de outubro, o
professor Paul Abousse Bastide, alegando a necessidade de se dedicar a
Sociedade de Sociologia, cuja relação se fazia com sua formação inicial, envia
47
Carta-Circular enviada aos sócios da AGB em janeiro de 1935, assinada por Caio Prado Junior,
então Secretario da Associação.
48
A categoria cio-Honorário vai aparecer após a reforma estatutária realizada em 1945. Os
Estatutos de 1936, traziam referências a uma categoria de associado denominado “sócio de honra”,
que, ao fim, representam a mesma coisa, apenas com nomes diferentes.
79
carta ao Secretário da AGB, comunicando seu desligamento do cargo de
Presidente da Associação.
Figura 6
Fonte: IEB/USP – Acervo Caio Prado Júnior
80
Outro importante assunto tratado nas reuniões da AGB, e que vai, de
alguma forma definir um perfil de atuação não só de alguns dos seus associados,
mas como também da própria associação, foi a proposta feita na reunião do dia
04 de novembro de 1935 pelo professor Aroldo de Azevedo para a criação de
uma Comissão para a elaboração de um programa para o ensino de Geografia. A
Comissão foi constituida pelo próprio Aroldo de Azevedo, pela sra. Maria da
Conceição Vicente de Carvalho e pelo professor Pierre Monbeig, que em um
tempo bastante curto, fizeram uma proposta que foi enviada ao sr. Dr. Nóbrega
da Cunha, então Diretor de Ensino Secundário do Distrito Federal, através de
carta
49
datada de 16 de novembro de 1935, assinada por Caio Prado Junior, e
que seguiu com cópia para o sr. Gustavo Capanema, Ministro da Educação e
Saúde Pública; sr. Cantidio de Moura Campos, Secretário de Educação e Saúde
Pública do Estado de São Paulo e para o professor Fernando de Azevedo, Diretor
do Instituto de Educação de São Paulo.
Figura 7
Fonte: IEB/USP – Acervo Caio Prado Júnior
49
Carta que faz parte do acervo de Caio Prado Junior, disponível no IEB-USP.
81
Ao final do ano de 1936 a AGB aprovou um novo estatuto, agora mais
detalhado que aquele primeiro de 1934. Os estatutos foram formalmente
registrados em junho de 1938, pelo então presidente Pierre Monbeig, no Registro
de Títulos e Documentos do Cartório Arruda, sob número 130.034. Esses
estatutos eram formados por sete (7) títulos, que divididos em trinta e três (33)
artigos, versavam sobre as seguintes questões: Das Finalidades e do Patrimônio
(4 artigos); Dos Associados (5 artigos); Da Diretoria (7 artigos); Da Comissão
Consultiva (2 artigos); Das Reuniões (6 artigos); Da Revista (3 artigos); e
Disposições Gerais e Transitórias (6 artigos). Entre inúmeros asssuntos tratados
nos sete títulos e trinta e três artigos desse estatuto destacamos: 1- a definição
de categorizaçao entre os sócios, que os estatutos em questão apresentam
que a AGB possuiria sócios efetivos, que seriam propostos por no mínimo três
outros sócios, depois de ouvida a Comissão Consultiva; e sócios de honra
50
, que
seriam os grandes beneméritos da associação, propostos em reunião por cinco
sócios efetivos e aceitos por pelo menos ¾ dos sócios presentes a reunião. A
categoria sócio correspondente continua existindo conforme definição dos
estatutos anteriores; 2- a composição e a eleição da Diretoria e da
Comissão Consultiva, onde um Presidente, um Secretário-Geral e um
Tesoureiro formariam a Diretoria da AGB por um mandato de um ano, três
outros sócios efetivos formariam a Comissão Consultiva; 3- a definição das
reuniões, onde a AGB realizaria reuniões ordinárias a cada 15 dias (divididas em
expediente e comunicações), duas reuniões administrativas anuais (inicio da
gestão, onde seria apresentado o plano de ação, e encerramento da gestão,
onde seria apresentado o relatório da Diretoria); 4- a Revista, onde a
publicação da Revista Geografia ficaria sob a responsabilidade de uma direção
científica (um Diretor da AGB), coadjuvado por uma Comissão de quatro
membros, todos eleitos pelos sócios efetivos, por ocasião da eleição da Diretoria.
Os assuntos comerciais e administrativos referentes a revista ficariam a cargo de
um Redator-Secretário, nomeado anualmente pelo Diretor. Outra importante
questão tratada nesse estatuto (na seção das Disposições Gerais e Transitórias),
diz respeito aos Núcleos Filiados, quando determina que os mesmos deveriam
obedecer ao regulamento interno no que concerne as suas relações com a sede
da associação e as disposições dos estatutos que foram aprovados em 1936.
50
Essa categoria de sócio havia sido rejeitada em reunião da AGB pouco mais de um ano antes.
82
Interessante a referência as esses núcleos em um estatuto datado de 1936,
quando esse assunto vai fazer parte efetiva do corpo da AGB, pelo menos do
ponto de vista da formalização, a partir de 1945, ou pelo menos tratado mais
precisamente a partir de 1940 quando foram motivo de atenção e de
regulamentação aprovada e publicada em fevereiro desse mesmo ano.
Essas são apenas algumas dentre as muitas questões que foram tratadas
nas reuniões entre os associados da AGB, mas que infelizmente, a
indisponibilidade das Atas dessas reuniões não nos permite fazer um quadro
mais apurado dessas questões.
Ao longo de sua história de mais de 70 anos a AGB foi dirigida por muitas
profissionais e de diferentes lugares e vinculações. A história que começa em
1934 e que se extende até os dias atuais, revela algumas particularidades na
ocupação do principal cargo da Associação sua presidência, como: 59
exercícios de presidência, alguns com dois anos de mandato, outros com poucos
dias; 42 presidentes diferentes, onde 34 eram homens e apenas 8 mulheres
(sendo que seis foram eleitas para o cargo, uma que era vice-presidente,
assumiu após renúncia do presidente eleito e outra assumiu alguns dias a
presidência em função também de renúncia). No período entre a fundação e a
primeira reforma estatutária (1934-1936), ocuparam o cargo 3 presidentes
diferentes; entre a primeira e a segunda reforma estatutária (1936-1945), o
cargo foi ocupado por uma única pessoa; entre a segunda e a quarta reforma
dos estatutos (1945-1970), 16 profissionais ocuparam o principal cargo da AGB;
entre a quarta e quinta reforma estatutária (1970-1979), 5 presidentes
diferentes estiveram à frente da associação; e por fim, da reforma ocorrida em
1979 até os dias de hoje
51
, o cargo de presidente da AGB foi ocupado por 18
pessoas diferentes.
Nas tabelas a seguir é possivel ver os profissionais que ocuparam o
principal cargo da AGB ao longo de sua historia de pouco mais de 70 anos. Nessa
lista destacam-se: Pierre Monbeig, que ocupou o cargo por 11 anos; José
Verissimo da Costa Pereira, que presidiu a AGB em três ocasiões, ficando no
cargo 4 anos; João Dias da Silveira, que esteve na presidência em quatro
ocasiões, onde se destaca a diferença de tempo entre uma presidência e outra,
tendo sido aquele que ocupou o cargo com maior diferença entre os mandatos,
51
Não estaremos considerando para esta periodização a reforma ocorrida em 1992, por não ter
ocorrido mudanças significativas na organização da AGB
83
sendo o primeiro no periodo 1947-1948 e o último no período 1969-1970.
Destacam-se também, Aroldo de Azevedo
52
, Dirceu Lino de Mattos e Ney Strauch
e Carlos Walter Porto-Gonçales, com dois mandatos cada um. Os demais
presidentes, em toda historia da Associação, ocuparam apenas um mandato
cada. A diferença se faz a partir de 1970, quando após a reforma estatutária, o
mandato passa a ser dois anos e não mais renovado anualmente.
Tabela 5
Presidentes da AGB – 1934-1945
Período
Presidente
Instituição de
Origem
1934-35
Pierre Deffontaines USP
1935 Paul Arbousse Bastide USP
1936-37
Pierre Monbeig USP
1937-38
Pierre Monbeig USP
1938-39
Pierre Monbeig USP
1939-40
Pierre Monbeig USP
1940-41
Pierre Monbeig USP
1941-42
Pierre Monbeig USP
1942-43
Pierre Monbeig USP
1943-44
Pierre Monbeig USP
1944-45
Pierre Monbeig USP
Fonte: Anais e Atas da AGB / adaptado por Charlles da França.
Presidentes da AGB – 1945-1970
Período
Presidente
Instituição de
Origem
1945-46
Pierre Monbeig USP
1946-47
Pierre Monbeig (e, interinamente, Aroldo de
Azevedo) USP
1947-48
João Dias da Silveira USP
1948-49
José Veríssimo da Costa Pereira IBGE/PEDRO II
1949-51
José Veríssimo da Costa Pereira IBGE/PEDRO II
1951-52
João Dias da Silveira USP
1952-53
José Veríssimo da Costa Pereira IBGE/PEDRO II
1953-54
Aroldo de Azevedo USP
1954-55
Mário Lacerda de Melo UFPE
1955-56
Dirceu Lino de Mattos USP
1956-57
Dirceu Lino de Mattos USP
1957-58
Ary França USP
1958-59
Nilo Bernardes IBGE/UFRJ
1959-60
Gilberto Osório de Andrade UFPE
1960-61
Paquale Petrone USP
1961-62
Manoel Corrêa de Andrade UFPE
1962-63
Milton Santos UFBA
1963-64
José Francisco de Camargo USP
52
No caso do professor Aroldo de Azevedo uma das vezes em que ocupou a Presidência da AGB
(1946-1947), foi interinamente, em substituição ao Professor Pierre Monbeig.
84
1964-65
Lúcio de Castro Soares IBGE
1965-66
Victor Antônio Peluso Junior UFSC
1966-67
João Dias da Silveira USP
1967-68
Ney Strauch IBGE / ESCOLA NAVAL
1968-69
Ney Strauch IBGE / ESCOLA NAVAL
1969-70
João Dias da Silveira USP
Fonte: Anais e Atas da AGB / adaptado por Charlles da França.
Presidentes da AGB – 1970-1979
Período Presidente
Instituição de
Origem
1970-72 José Ribeiro de Araújo Filho USP
1972-74 Lísia Maria Cavalcanti Bernardes IBGE/UFRJ
1974-76 David Márcio Santos Rodrigues UFMG
1976-78 José César de Magalhães Filho IBGE
1978-79 Marcos Alegre UNESP
Fonte: Anais e Atas da AGB / adaptado por Charlles da França.
Presidentes da AGB 1979-2006
Período Presidente
Instituição de
Origem
1979 (jul-dez)
Armem Mamigonian UFSC
1979 (dez) Beatriz Pontes UNESP
1980 (jan-jul)
Carlos Walter Porto Gonçalves Seção Rio de Janeiro
1980-82 Ruy Moreira Seção Rio de Janeiro
1982-84 Sheila Bitencourt Salek Spada UFF
1984-86 Orlando Valverde IBGE
1986-88 José Borzacchiello da Silva UFC
1988-90 Arlete Moysés Rodrigues UNICAMP
1990-92 Armando Correa da Silva USP
1992-94 Zeno Soares Crocetti Seção Curitiba
1994-96 Odette Seabra USP
1996-98 Antônio Thomaz Junior UNESP
1998-2000 Carlos Walter Porto Gonçalves UFF
2000-2002 Dirce Maria Suertegaray UFRGS
2002-2004 Bernardo Mançano UNESP
2004-2006 Jorge Luiz Borges Seção Rio de Janeiro
2006 (mai-jul)
Marisia Buitoni PUC-SP
2006-2008 Edvaldo Moretti UFGD
2008-2010 Alexandrina Luz UFSE
Fonte: Anais e Atas da AGB / adaptado por Charlles da França.
O mapa mostra a distribuição dos ocupantes do cargo de presidente da
AGB, segundo o Estado da Federação de origem dos mesmos.
85
Mapa 1
86
1.5
Propostas de Periodização da História da AGB na Geografia
Brasileira
A história da AGB no interior da história da geografia brasileira pode ser
contada de diversas formas e a partir de também diversas matrizes de inserção e
influência no cenário nacional de produção dessa ciência.
Alguns autores que se dedicaram, ou que ainda se dedicam a história do
pensamento geográfico brasileiro apresentaram algumas propostas de
periodização da Geografia brasileira. Periodizações essas que vão desde a
explicitação de um panorama da história dessa ciência desde os tempos mais
distantes no Brasil, como o precioso trabalho de José Veríssimo da Costa Pereira
(1953); até os mais, digamos assim, contemporâneos em suas análises e
propostas, como o trabalho do professor Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro
(1980). Alguns outros geógrafos também fazem parte da lista de produtores de
idéias sobre a Geografia brasileira e sua possível periodização histórica, e entre
eles podemos destacar, Aroldo de Azevedo, Nilo Bernardes, Manuel Correia de
Andrade, Lia Osório Machado. No entanto, apesar de a AGB aparecer citada em
por esses autores, em poucas a Associação apareceu destacada com uma
periodização própria que avaliasse sua presença na construção da Geografia
brasileira.
Tentando dar voz a participação da AGB no cenário de construção dessa
Geografia brasileira, apresentaremos, a seguir, as propostas de três entre esses
diversos autores - dois consagrados e outro bem mais jovem, de periodização
dessa história de presença da AGB.
Para Scarim (2000), se procurássemos dividir o percurso da construção da
geografia acadêmica brasileira, mesmo que de uma maneira um tanto linear,
poderíamos chegar a importantes propostas. Primeiro, se procurássemos dividir
esse percurso em períodos, teríamos duas opções básicas. Uma seria aquela que
buscaria o entendimento das chamadas escolas de pensamento hegemônico em
cada período, e dessa maneira teríamos uma primeira classificação em quatro
grandes períodos, iniciando nossa análise em 1934: o primeiro período que vai
de 1934 até a década de 1960 com a hegemonia da escola francesa; outro entre
a década de 1960 e 1970 com a disputa, entre a escola francesa e
quantitativista, com ganho de terreno para a segunda; um terceiro que vai do
87
final da década de 1970 até o início da década de 1990, com hegemonia das
tendências marxistas; e por fim após a década de 1990, um pluralismo com
retornos, descobertas, recuos e novas descobertas. A partir dessa primeira
proposta poderíamos, no interior desse percurso, compreender a inserção da
AGB como elemento importante dessa história e da disseminação dos projetos de
cada uma dessas chamadas (com muitos cuidados e ressalvas), “escolas de
pensamento hegemônico”. A primeira fase de influência no percurso é bastante
clara, quando tratamos da influência francesa na geografia no Brasil e, por
conseguinte, na AGB. A AGB foi fundada sob direção de Pierre Deffontaines e
inspirada no modelo da Associação dos Geógrafos Franceses, e mais do que isso,
passou os seus primeiros dez anos de existência sob domínio de um outro
francês – Pierre Monbeig, que fortemente influenciado por Vidal de Lablache, não
só controlou a AGB como influenciou uma geração inteira de geógrafos formados,
principalmente na USP. Uma análise bastante preliminar dos artigos e estudos
publicados pela AGB, e as sessões de estudos e palestras organizados,
principalmente em São Paulo, mostram uma clara e evidente influência da
geografia francesa no Brasil, e no caso em questão, na AGB. A segunda fase
descrita por Scarim encontra na AGB, principalmente no embate entre os
geógrafos organizados nas duas principais seções regionais da associação São
Paulo e Rio de Janeiro, manifestação significativa daquilo que podemos chamar
de “disputa de hegemonia”. Nas Assembléias da AGB, nas apresentações dos
estudos/teses nesses eventos e daquilo que era publicado nos principais boletins
da AGB Paulista e Carioca de Geografia, manifestava-se a tal “disputa de
hegemonia”, servindo a AGB e suas instâncias como um dos seus lugares de
consagração. As outras fases propostas por Scarim também têm na AGB
lugar/palco de realização/vizualização de suas diferenças, desde as rupturas
epistemológicas levadas a cabo na década de 1970, com incríveis repercussões
nas formas de organização e atuação da AGB, até a incrível (por vezes dispersa)
diversidade que se apresenta a partir da década de 1990.
Scarim (2000), apresenta ainda em seu trabalho uma outra periodização
que leva em consideração a política acadêmica, essa sim, mais centrada na AGB.
A partir dessa proposta teríamos três grandes períodos. Um primeiro que vai da
88
criação da AGB, em 1934, até 1946, marcado por ser essencialmente paulista
53
;
um segundo de 1946 a 1978/79, na busca da construção de uma entidade
nacional, mas com o centralismo nos catedráticos, marcado por um domínio
paulista na primeira década e depois por um revezamento entre Rio de Janeiro e
São Paulo; e por fim o terceiro, que vai de 1978/79 até os dias atuais, não mais
caracterizado por esse perfil catedrático/regional, mas sim pelo perfil
teórico/ideológico definido a partir do movimento de renovação crítica.
Outra proposta de periodização apresentada por Scarim (2000), é a
possibilidade de pensar a partir da idéia de gerações. Partindo da idéia de Ortega
y Gasset, que apresenta a formação de gerações de quinze anos, teríamos, na
geografia brasileira, de seu início até os dias atuais, cinco gerações. A primeira
que iria de 1934 a 1949, marcada pela influência quase total da geografia
francesa, pela construção do tri AGB-CNG/IBGE-Universidades, centrada no
eixo Rio de Janeiro-São Paulo e pela difusão da concepção de geografia
moderna; a segunda geração, de 1949 a 1964, marcada pela perspectiva de
integração do território brasileiro e pela construção do conhecimento sobre esse
território através das assembléias anuais da AGB, realizadas em diferentes
lugares do país, e pela iniciativa de intercâmbio com centros de pesquisa ma
Europa (principalmente a França) e EUA; a terceira geração, de 1964 a 1979,
vive o embate com a ditadura militar (ou seu consenso, segundo alguns
intelectuais), a influência marcante da geografia quantitativa, principalmente a
partir do IBGE, UNESP-Rio Claro e setores da UFRJ, e o refluxo da influência da
geografia francesa, com um racha no seio da comunidade onde o
questionamento da hegemonia norte-americana é levado para esses Centros, e o
questionamento ao autoritarismo político é levado à crítica a cátedra e às
lideranças da AGB; a quarta geração, de 1979 a 1994, é aquela que inicia com
um discurso de crise, que vive a construção de uma perspectiva crítica para a
geografia brasileira, com ampla participação dos estudantes e professores do
ensino fundamental e médio nos encontros da AGB, com, também, grande
perspectiva de transformação social no Brasil; a quinta geração é aquela
posterior a 1994, que pouco sente a influência do clima político efervescente da
década de 1980, somente pelos livros, filmes e histórias contadas por aqueles
53
Ressalva deve ser feita frente a existência de uma AGB carioca. No entanto, não impede a
pertinência da proposta uma vez que o autor deixa clara a noção de primazia e não de
exclusividade.
89
que dela participaram mais ativamente, mas que presencia um debate
desconexo entre inúmeras perspectivas teóricas, vários encontros
temáticos/disciplinares, uma AGB existente em quase todo território nacional
com inúmeras seções locais (municipais) ativas, encontros nacionais com mais
de três mil participantes, mas também um sentimento de crise, derivado da crise
do emprego, do sucateamento das universidades públicas e de um projeto de
forte referências neoliberais e de presença marcante na produção e na forma de
organização da sociedade brasileira.
Bernardes (1982) apresenta uma periodização da Geografia brasileira
dividida em cinco fases, a contar de 1934, quando da criação do primeiro curso
de graduação em Geografia. A primeira fase seria marcada pelos trabalhos
precursores de Delgado de Carvalho e que, a partir de 1934, sofreu um forte
predomínio da influencia do pensamento da chamada escola francesa
Lablachiana.
Com os trabalhos de Preston James, e principalmente de Leo Waibel, em
especial no Rio de Janeiro, com a ida de um pequeno grupo de geógrafos
brasileiros, em meados da década de 1940, para estudar em universidades
norte-americanas, inicia-se a segunda fase. Essa segunda fase, para Bernardes,
não eliminou a influencia anterior na produção de muitos geógrafos.
A terceira fase teria se iniciado com a realização do XVIII Congresso
Internacional de Geografia, no Rio de Janeiro, em 1956, com a difusão de novos
métodos e novos temas em Geografia Física (com Tricart), Geografia Urbana
(com Rochefort) e Regionalização, além do aumento da influencia francesa,
agora com a Geografia Social de Pierre George. Essa fase se consubstancia
melhor na década de 1960, “marcada pelo desenvolvimento da Geografia Tópica
e pela difusão da nova teoria de regionalização (...). Ela culmina com os
primeiros estudos de regiões polarizadas e outra sobre regiões homogêneas do
Brasil, realizadas no IBGE” (1982:526). A quarta fase ocorre ao longo da década
de 1970 com a propagação dos métodos quantitativos e com a preocupação com
as teorias e os modelos. Essa fase resultou, para Bernardes (1982:526) “numa
segunda aproximação com a Geografia de alguns centros norte-americanos e foi
inicialmente inspirada por Brian Berry (1968) e muito influenciada por John
Cole”. A quinta e última fase da proposta de periodização elaborada pelo
professor Nilo Bernardes, inicia-se com o advento da Geografia Radical e com a
realização do 3º Encontro Nacional de Geógrafos (Fortaleza-CE, 1978) e o
90
surgimento dessa corrente no interior da AGB. Para Bernardes (1982:526) “a
aplicação do marxismo na explanação geográfica foi, inicialmente, resultado de
uma reação de alguns ao quantitativismo e ao corpo teórico desenvolvido no
contexto da realidade do hemisfério norte”. Ao finalizar a construção dessas
cinco fases, o professor Nilo Bernardes ressalta que refere-se “as cinco
tendências principais como “fases” da Geografia brasileira porque cada uma
delas surge de maneira clara em determinados momentos. Mas, tais tendências
coexistem ainda no momento atual
54
” (Bernardes, 1982:526).
Outra proposta de periodização é apresentada por Carlos Augusto de
Figueiredo Monteiro, em obra intitulada “A Geografia no Brasil (1934-1977)
Avaliação e Tendências”, publicada pelo Instituto de Geografia da Universidade
de São Paulo, em 1980. Nesse trabalho, Monteiro, apresenta como primeiro
capítulo uma “tentativa de periodização na evolução da pesquisa geográfica no
Brasil a partir de 1934”, onde ressalta que o levantamento da produção
geográfica brasileira a partir de 1934 constitui-se num objeto de pesquisa
considerável não pelo volume do acervo e complexidade de sua classificação
como também pela apreciação crítica do ponto de vista metodológico.
Para Monteiro (1980), ponto de partida foi o levantamento da produção
contida nos anais da AGB, não por se tratar do próprio organismo aglutinador
da nossa comunidade de pesquisadores como pelo seu caráter nacional; o
conteúdo da Revista Brasileira de Geografia (RBG), editada pelo IBGE a partir de
1939; e o acervo de teses defendidas na Universidade de São Paulo no setor de
Geografia, processo iniciado em 1944. A partir desses levantamentos e dentro do
segmento temporal 1934-1977, foram esboçados pelo autor, quadros
cronológicos nos quais se procurou ordenar: os eventos políticos-institucionais
básicos ligados à geografia; as entradas de subsídios externos; as reuniões e
certames geográficos nacionais e internacionais e seu impacto efetivo sobre a
análise geográfica brasileira e as reuniões da AGB. Assim, os cruzamentos dessas
informações levaram a caracterização de quatro períodos na geografia brasileira.
O primeiro, de 1934 a 1948, chamado de “A implantação da geografia científica”,
processo iniciado pela criação da Universidade de São Paulo e especialmente de
sua Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, logo seguida pela do Rio de
Janeiro, pela fundação da AGB e pela criação do IBGE. A orientação metodológica
54
A proposta do professor Nilo Bernardes tem forte foco, na explicitação de algumas das fases, na
Geografia desenvolvida no Rio de Janeiro, e em especial, no IBGE.
91
que se reflete nesse período, e subseqüente, é aquela da escola francesa sobre a
égide lablachiana, com presença de De Martonne, Brunhes, Lucian Febvre e
Demangeon. A influência norte-americana menos clara, não é desprezível, com
Hartshorne e Preston James. Ainda, nesse primeiro período ocorre a primeira
década de existência da AGB e seus primeiros passos rumo ao seu crescimento
nacional.
O segundo período vai de 1948 a 1956, chamado de “A cruzada agebeana
de difusão nacional”, onde a AGB, com o entusiasmo após a reformulação dos
estatutos em 1945, e principalmente após as assembléias de Lorena (1946) e Rio
de Janeiro (1947) vai iniciar seu processo de nacionalização com a criação de
seções regionais, realização de reuniões em diferentes estados da federação e
produtivos trabalhos de campo. A importância, para a AGB, desse período é
expressa com muita clareza nas palavras de Monteiro (1980:15) “Não se pode
dizer que nesse período estão contidas as mais memoráveis, ou mais
importantes para os rumos da jovem geografia brasileira, mas parece certo
admitir que entre Goiânia (1948) e Garanhuns (1955), houve um estilo peculiar
e inconfundível de reuniões agebeanas”. Durante esse período dá-se a saída dos
orientadores básicos da geografia no Brasil, que em caráter permanente aqui
haviam atuado: Waibel, Monbeig e Ruellan, que retornaram aos seus países de
origem.
O terceiro período, definido por Monteiro (1980:18), intitulado “A caminho
da afirmação: época”, vai de 1956 à 1968, assim “O XVII Congresso
Internacional de Geografia realizado no Rio de Janeiro (8 a 18 de agosto) é o
marco de transição da fase de formação para aquela em direção à afirmação,
onde se imagina sejam colhidos frutos evidenciadores da existência de uma
comunidade ativa de geógrafos pesquisadores”. Onde a própria preparação e a
realização do Congresso foram uma prova da capacidade dessa comunidade
de geógrafos em se organizar e de pesquisar.
Outra importância dada por Monteiro ao Congresso no caminho da
afirmação da geografia brasileira foi a da contratação de vários professores
universitários de geografia para cursos especiais aos docentes universitários e ao
corpo técnico. Entre eles destacam-se: Jean Tricart, Jean Dresh e Orlando
Ribeiro.
92
No tocante a AGB, Monteiro (1980), destaca que nesse período,
principalmente a partir da Assembléia realizada na cidade de Colatina-ES (1957),
a comunidade geográfica participante desses eventos da associação, começa a
esboçar sinais de insatisfação e desejo de mudança nos rumos da entidade e
principalmente, de suas assembléias. Nessa assembléia, a primeira após a
realização do Congresso Internacional, absorveu-se “algumas normas
internacionais, notadamente a realização de um “simpósio”, onde temas
relevantes eram destacados e os estudos eram mais aprofundados”.
Ainda sobre a AGB, Monteiro (1980:23), destaca a crescente influência da
associação nos doze anos de duração desse período, que segundo o autor é
fruto da cruzada do período anterior”, onde se chegou a formação do que vai
chamar de “novos grupos regionais”. Monteiro ainda chama a atenção para o
crescimento da participação das Assembléias de AGB, fato que vai ser tratado
pela própria associação em momentos posteriores.
Monteiro (1980:25), conclui sobre a apreciação do período ressaltando que
“essa fase inicial de afirmação de novos estudos geográficos
contrapôs do lado interno uma série de profundas
transformações em nosso meio geográfico e sócio-econômico.
Do exterior vieram novas tendências e feições trazendo a
esse período substanciais transformações tanto nos temas
quanto nos paradigmas usados para alguns desses temas.
Acrescente-se a isso o crescimento de nossas
comunidades regionais de geógrafos. Tudo isso nos
trouxe uma indisfarçável diversificação de centros de
interesse, de tendências e sobretudo de receptividade aos
novos fluxos de informação e difusão das inovações” [grifos
nossos].
Ainda sobre a apreciação realizada por Monteiro destacamos a referência
feita pelo autor no tocante ao crescimento das por ele chamadas “comunidades
regionais de geógrafos”, onde, através da combinação criação de cursos de
graduação; formação de seções regionais ou núcleos municipais da AGB e a
criação de boletins de divulgação da produção científica, foi possível conformar
as referidas comunidades. A partir disso, temos não a ampliação da
comunidade geográfica no Brasil, como também a criação e ampliação de uma
comunidade agebeana. Essas comunidades, elementos desses recém criados
centros de formação e difusão científica, vão, mesmo que de maneira bastante
preliminar, constituir lugares de diversificação da produção geográfica no Brasil.
93
O quarto e último período proposto por Monteiro é intitulado A Caminho
da Afirmação: época (1968-1977)”. Neste período o autor destaca como
marcas importantes a realização da Conferência Nacional de Geografia
CONFEGE, patrocinada pela Fundação IBGE, no Rio de Janeiro, em 1968, e que
serviu de palco para a “proclamação oficial” da adoção de novas práticas de
análise geográfica, a partir da chamada “Revolução Quantitativa”. Dois outros
conjuntos de acontecimentos marcam esse período, segundo Monteiro. O
primeiro diz respeito a presença da chamada Geografia Quantitativa no Brasil -
quando em 1971 ocorre no Rio de Janeiro a reunião da Comissão da UGI para
estudo de Métodos Quantitativos e a criação, em Rio Claro SP, da Associação
de Geografia Teorética, com a publicação do primeiro número de seu Boletim. O
segundo conjunto de acontecimentos diz respeito a AGB quando da realização
da XXIII Assembléia Geral Ordinária, em Montes Claros (1968), quando se
propõe substancial maneira de trabalhar, propondo-se estudos de temas mais
específicos; e quando, em 1970, a AGB procede reforma de seus estatutos,
substituindo a realização de assembléias anuais por Encontros Nacionais de
Geógrafos (ENG), a cada dois anos.
Levando em consideração o esforço de cada um dos autores,
anteriormente mencionados empreenderam para a realização dessas propostas
de periodização da história recente da geografia no Brasil e, em alguns casos, da
presença da AGB como parte desse processo de construção da ciência e apesar
das diferenças existentes entre as proposições de Scarim (2000) e Monteiro
(1980) e Bernardes (1982)- a primeira parte de um conjunto bastante amplo de
idéias de combinações e articulações de fatos, acontecimentos e escolhas;
enquanto as duas outras, são de fato, mais centradas numa forma de visualizar a
própria historia oficial da ciência geográfica e de suas instituições, vale o esforço
e contribuição de cada um e vamos considerá-las para nossa posterior
construção propositiva. E que será apresentada ao final desse trabalho.
94
Capítulo 2
Idéias:
os primeiros debates e as
publicações pioneiras da AGB
95
“... dia virá em que no Brasil haverá de,
indubitavelmente, surgir uma modalidade brasileira
de tratar os assuntos geográficos...”
José Veríssimo da Costa Pereira (1953)
96
o Brasil, o surgimento de uma divulgação científica própria
relaciona-se com a produção científica no país, evidenciando uma
mobilização e interesse da comunidade científica em divulgar
suas atividades. Em parte, a ação de divulgar ciência insere-se nas discussões
internas à comunidade científica sobre seu papel social e político, tornando-se
um instrumento junto ao público de legitimidade do papel da ciência e do
cientista.
A ação de difusão e de divulgação pelos cientistas, no início do século XX,
precisa ser inserida no contexto histórico marcado pela institucionalização e pela
profissionalização da ciência no Brasil. A divulgação científica parece assumir um
novo papel social relacionado às atividades dos cientistas e passa a ser percebida
como indispensável tanto para divulgar novos conhecimentos como para evitar
um isolamento da comunidade científica em relação à sociedade (Mendes, 2004).
Capel (1981) destaca a importância das revistas científicas como lugar de
realização das discussões das comunidades ligadas às diversas ciências e como
prova da vitalidade de uma disciplina.
“En la ciencia contemporánea los congresos especializados y
las revistas científicas contituyen los lugares en los que esta
discusión comunal se realiza. Su existência es una prueba de
la vitalidad de una disciplina y un requisito indispensable para
su crecimiento. El estudio de la historia del pensamiento
geográfico no puede realizarse sin aludir a estas estructuras
organizativas que, además de contribuir a la difusión y
contratación de las ideas científicas, son tambiém ocasión
para crear y afianzar prestigios profesionales y, en muchos
casos, un excelente mercado de traballo” (Capel, 1981: 207).
No que se refere à Geografia, as palavras de Capel são reafirmadas pelas
inúmeras publicações e, principalmente, quando essas se ampliam a partir da
criação dos Boletins das Seções Regionais e dos Anais da AGB.
As revistas periódicas específicas de diferentes áreas contribuem para criar
ou reafirmar um campo, estabelecer ou manter dominação, passar ideologia e
manter viva a memória do campo.
Daher (2003), aprofunda o debate sobre a importância e o papel dos
periódicos ao se referir a eles como “instâncias de consagração”, porque são
únicos em seus campos.
“As Revistas periódicas ao socializarem os produtos dos
agentes dos específicos campos, contribuem para a
N
97
conformação da cultura desse campo e da conquista de
visibilidade no âmbito científico, cultural e social,
funcionando, deste modo, como “instâncias de consagração”.
(Daher,2003:48).
Sendo assim, o estudo de periódicos é uma das formas mais privilegiadas
de apreensão dos modos de funcionamento e pensamento de um campo. Quais
os temas mais recorrentes? Quais os autores que mais publicaram? Esses
autores e seus temas permitem visualizar a formação de uma forma própria de
pensar/fazer a Geografia no Brasil? Alguns desses questionamentos podem ser
tentados respostas através da análise dos periódicos publicados pela AGB e suas
Seções Regionais, tendo como referência algumas das reflexões de sobre o
assunto feitas por Bourdieu (1994), onde mostra que a escolha de temas se
relaciona às chances de reconhecimento e legitimação das áreas de
conhecimento e de seus produtores.
“O que é percebido como importante e interessante é o que
tem chances de ser reconhecido como importante e
interessante pelos outros; portanto, aquilo que tem a
possibilidade de fazer aparecer aquele que o produz como
importante e interessante aos olhos dos outros” (Bourdieu,
1994:125).
Um grande número de revistas, boletins, jornais impressos, jornais
eletrônicos, artigos na internet das seções locais e da nacional indicam a
importância da AGB na construção da Geografia. Escritos e lidos, em sua
maioria, por geógrafos, demonstram uma das formas pelas quais se constrói, se
modifica, se altera ou se reconstrói a Geografia. Ressalte-se, contudo, que não
apenas as publicações da AGB contribuiram com este processo, pois textos e
livros foram e são editados pelas universidades e por outros agentes sem a
participação da AGB ou dos geógrafos associados. No entanto, analisando os
textos das revistas da AGB, verifica-se que, em geral, são instigantes e
demonstram as pesquisas em andamento, em fase de conclusão ou
concluídas; permitem a circulação das idéias, dos conceitos, do arcabouço teórico
e da metodologia utilizada; retratam as condições, contribuições, questões e
problemas encontrados na vida de trabalho, estudo e pesquisa. É preciso ter
clareza que a própria AGB
55
não realiza pesquisas acadêmicas no sentido restrito
55
Podemos fazer uma pequena ressalva a título destaque para os Trabalhos de Campo realizados
durante as Assembléias Anuais da AGB no período 1946-1969 e a alguns projetos desenvolvidos
pela AGB em determinados momentos de sua história.
98
do termo, mas as difunde. A ação política realizada pelos cios ou pela direção
da AGB implica em realização de pesquisas no sentido amplo e em divulgação da
Geografia e dos geógrafos.
.
99
2.1
A Revista Geografia e o Boletim da Associação dos Geógrafos
Brasileiros: pioneirismo na publicação acadêmica geográfica
A divulgação da produção de uma dada ciência seja em qualquer tempo,
sempre foi uma possibilidade a ser buscada. A possibilidade de fazer chegar aos
seus pares o artigo produzido, o estudo feito, a descoberta ou o ensaio, mas
também um veículo de legitimação de um determinado campo ou grupo
associado. Não foi diferente na Geografia brasileira e não poderia ser também
diferente na AGB. O pioneirismo da AGB nas publicações de revistas e boletins é
não marcante para a própria associação, quando publica sua primeira revista
a pouco mais um ano de sua própria fundação, como também para a Geografia
brasileira, quando se torna o único e depois
56
, um dos dois principais órgãos de
divulgação dessa mesma ciência e seus primeiros estudiosos. As palavras de Aziz
Ab’ Saber, quando faz um balanço dos vinte e cinco anos de Geografia em São
Paulo (1934-1959), em artigo publicado na seção “Comentário”, do Boletim
Paulista de Geografia, número 34, de março de 1960, deixam bastante claro a
importância dessas pioneiras publicações.
“Duas publicações geográficas, modernas pelo seu espírito e
pelo caráter de suas colaborações, serviram de órgãos de
divulgação para a primeira geração de estudiosos de
Geografia que gravitaram em torno da recém-criada
Universidade de São Paulo, ambas publicadas pela Associação
dos Geógrafos Brasileiros: entre 1935 e 1936, a revista
Geografia, e, entre 1941-1944, o Boletim da Associação dos
Geógrafos Brasileiros” (BPG,1960:79).
O período entre 1934 e 1945, corresponde para a AGB o seu momento
mais difícil depois da sua fundação. Mas se esse momento foi difícil para a sua
existência diante as maiores dificuldades, foi também um importante período
enquanto uma associação promissora. Foram nesses difíceis anos que foram
editadas as primeiras e sistemáticas publicações, não da própria associação,
como também da Geografia brasileira. Essas publicações foram a importante
Revista Geografia e o Boletim da AGB.
56
Em 1939, criada a Revista Brasileira de Geografia, que é editada pelo IBGE
100
2.1.1
A Revista “Geografia”
Figura 8
Fonte: IEB/USP
Desde a fundação da AGB, a idéia de uma publicação regular foi objeto de
consideração. Em 1935, a Associação dos Geógrafos Brasileiros, através de
reconhecido empenho do então secretário da Associação, o Dr. Caio Prado
Júnior, conseguiu publicar a Revista Geografia”, que foi a primeira revista da
moderna ciência geográfica no Brasil.
A revista “Geografia” foi gestada nos primeiros meses de existência da
AGB. Caio Prado Junior, empenhou-se profundamente para que a mesma
pudesse de fato acontecer, sendo, sem dúvida, seu principal articulador. Graças
101
ao empenho e as relações sociais do Secretário da Associação, nos dois anos de
edições (1935 e 1936), foram postos em circulação oito números de “Geografia”.
Durante as primeiras reuniões ordinárias da AGB, realizadas a cada 15
dias, a Revista, entre outras ações da Associação foram sendo tratadas e
consolidadas. As correspondências entre Caio Prado e o professor Pierre
Deffontaines, também importantes para a concretização da revista, uma vez que
Deffontaines era um grande entusiasta da idéia de a Associação ter um órgão de
divulgação cientifica e era uma importante referência para Caio Prado.
A realização da Revista Geografia e o seu projeto de chegar aos
professores de Geografia e aos interessados na ciência, e sobretudo de fazer
difundir um certo tipo de conhecimento, levou Caio Prado Junior, a partir de suas
articulações e conhecimento da sociedade paulistana a estabelecer contatos para
a publicação de maneira profissional da Revista através de uma editora que não
pudesse fazer a impressão do material como também distribuí-la. Em
correspondências trocadas entre o Secretário Caio Prado Junior e a Direção das
Edições Cultura Brasileira, podemos identificar esse esforço levado a cabo para a
efetivação do projeto de publicação da revista. Em fevereiro de 1935, em carta
assinada por Bandesse & Coutinho, endereçada a AGB, aos cuidados de Caio
Prado Junior, a Cultura Brasileira, apresenta a proposta para concretizar o
acordado verbalmente entre eles. Nessa correspondência a editora informa que a
revista teria uma periodicidade trimestral, que não teria custos para a
Associação, que os mesmos seriam de responsabilidade da Editora, e que seriam
cobertos pela publicidade presente na revista. A Editora informa ainda que faria a
distribuição da revista por assinatura e também por venda avulsa. Em
correspondência datada de 14 de fevereiro de 1935, Caio Prado Junior, em nome
da AGB, comunicou aceitar todos os termos do acordo proposto pelas Edições
Cultura Brasileira, o que de fato, viabilizaram a publicação da revista Geografia.
102
Figura 9
Fonte: IEB/USP – Acervo Caio Prado Júnior
Em carta-circular enviada aos membros correspondentes, datada de 25 de
marco de 1935, e assinada por Caio Prado Junior, a AGB, informa sobre a
brevidade do lançamento da revista Geografia, e do objetivo da publicação em
sua articulação com os princípios da Associação.
103
“Acha-se no prelo, devendo brevemente sair a publicidade o
primeiro número de Geografia, publicação trimestral da nossa
Associação, que assim, apesar das dificuldades e obstáculos
que teve de vencer, vem preencher um dos pontos
fundamentais do seu programa: divulgar os conhecimentos
geográficos e interessar o público por uma ciência da maior
importância cultural e prática” (Circular-AGB, 25 de março de
1935)
Continua na Circular, a AGB a destacar a importância do projeto e a
necessidade do apoio e empenho de todos os associados para que a Revista
Geografia se realize enquanto projeto de divulgação da ciência geográfica.
“Precisamos nesta emergência do apoio de todos os membros
da Associação. Vimos por isso solicitar-lhe com empenho que
contribua com o seu esforço para que possamos fazer de
GEOGRAFIA uma publicação digna da nossa Associação e da
ciência brasileira. Esta contribuição poderá ser sob a forma de
sugestões, notas, artigos, ou qualquer outra da sua
conveniência. Em todo caso, de uma colaboração constante
com a qual contamos, na certeza de que o prezado colega
compreendera o alcance deste empreendimento” (Circular-
AGB, 25 de março de 1935)
A diretoria da AGB definiu a Comissão de Redação da revista Geografia
composta pelos seguintes sócios: Luiz Flores de Moraes Rego, Geraldo Horacio de
Paula Souza, Agenor Machado e Caio Prado Junior. Essa Comissão era
responsável pela edição da revista, desde o recebimento dos textos e
contribuições até o envio dos mesmos para a confecção da revista na Cultura
Brasileira. A partir do segundo número da revista, a Comissão de Redação
passou a contar também com a participação do professor Pierre Monbeig, recém
chegado da França para substituir o professor Deffontaines.
104
Figura 10
Fonte: IEB/USP
No primeiro número da revista Geografia é possível encontrar sete artigos,
sendo o primeiro, de autoria do professor Pierre Deffontaines, uma espécie de
apresentação, intitulada “A Associação dos Geógrafos Brasileiros (introdução)”,
onde o autor apresenta o Brasil destacando sua grandiosidade e diversidade
geográfica, a importância dos estudos geográficos e o papel da AGB e da revista
Geografia nesse cenário. Os outros seis artigos, alguns dos quais,
105
apresentados e discutidos nas reuniões ordinárias da AGB, por seus associados,
completam a revista
(ver tabela 6).
O segundo número da revista em seu primeiro ano apresenta algumas
alterações na estrutura interna em relação ao primeiro numero já editado. Nesse
segundo número além dos artigos, duas outras seções estão presentes: Críticas
e Notas; Boletim da Associação dos Geógrafos Brasileiros. Na primeira nova
seção será “feita a revista dos livros e artigos de maior interesse aparecidos no
Brasil e no estrangeiro”, por diversos autores (quase sempre sócios da AGB),
incluem-se, também nessa seção outras notas de interesse geográfico; na
segunda, figuram pequenos textos sobre assuntos diversos, apresentados nas
reuniões da AGB.
Figura 11
Fonte: IEB/USP
A apresentação do segundo número da revista Geografia, evidencia a
importância dessa revista numa Geografia brasileira que estava dando seus
primeiros passos em uma nova fase.
106
“GEOGRAFIA obteve do público brasileiro uma acolhida
inesperada. Isto prova que a lacuna preenchida era deveras
sensível. Sobretudo entre os membros do magistério
secundário foi grande o sucesso. Recebemos deles grande
numero de cartas solicitando informações e animando-nos a
persistir em nossos propósitos. Explica-se. Os professores de
geografia do paiz o podiam deixar de sentir a falta de um
órgão especializado; as revistas estrangeiras são
praticamente inacessíveis a maioria deles. Faltava-lhes assim
toda e qualquer informação regular sobre assuntos
geográficos. Quanto ao grande público, “GEOGRAFIA” provou
que já existe da parte dele um enorme interesse por assuntos
técnicos desta natureza” (AGB, 1935:2).
A parceria com as Edições Cultura Brasileira prossegue nesse segundo
número. Material impresso é preparado pela Editora para fazer a divulgação da
Revista Geografia.
Figura 12
Fonte: IEB/USP – Acervo Caio Prado Júnior
107
Figura 13
Fonte: IEB/USP – Acervo Caio Prado Júnior
Após quatro números editados pela Comissão original, é criada pela AGB,
uma espécie de Coordenação da Revista, que era formada por um Diretor
Pierre Monbeig; por um Secretário José de Oliveira Orlandi; e por uma
Comissão de Redação – Luiz Flores de Moraes Rego, Agenor Machado, Caio Prado
Junior e Geraldo Horácio de Paula Souza. Essa última composição foi a
responsável pelos 4 números (em três edições), da revista Geografia, no ano de
1936.
108
Figura 14
109
Detalhe curioso na capa dessas três edições é a presença do nome do
professor Pierre Deffontaines ainda como presidente da AGB (completa a
informação da capa o professor João Dias da Silveira, como Secretário). O que
pode ter sido feito com a intenção de homenagem ao professor Deffontaines,
pode também se constituir num erro histórico, uma vez que no ano de 1935 o
referido professor não ocupava mais o cargo em questão, sendo substituído,
primeiro pelo sociólogo Paul Abousse Bastide, e depois pelo geógrafo Pierre
Monbeig.
Na tabela abaixo é possível encontrar os oito números da Revista
Geografia, com os trabalhos publicados e seus respectivos autores.
Tabela 6
Título do Artigo Autor Número
Volume
Ano
A Associação dos Geógrafos Brasileiros (Introdução)
Pierre Deffontaines 1 I 1935
Considerações preliminares sobre a gênesis e a
distribuição dos solos no Estado de S. Paulo
Luiz Flores de Moraes
Rego 1 I 1935
Contribuição para história do povoamento de São
Paulo até o fim do século XVIII Rubem Borba de Moares 1 I 1935
Distribuição da propriedade fundiária rural do Estado
de São Paulo Caio Prado Júnior 1 I 1935
A Citricultura em S. Paulo Carlos Wrigth 1 I 1935
Formações estruturais, particularmente Karsticas, do
município de Apiaí (Estado de S. Paulo) Theodoro Knecht 1 I 1935
Concentração japonesa em São Paulo
Eddy de Freitas
Crissiuma 1 I 1935
Regiões e paísagens do Estado de São Paulo -
primeiro esboço de divisão regional Pierre Deffontaines 2 I 1935
Notas sobre parte da Região da Chapada de Mato
Grosso
John Lane 2 I 1935
Notas sobre uma viagem ao Espírito Santo e Baia
Geraldo H. de Paula
Souza 2 I 1935
Em torno de uma definição da Geografia
General Moreira
Guimarães
2 I 1935
O fator geográfico na formação e no
desenvolvimento da cidade de S. Paulo Caio Prado Junior 3 I 1935
A zona pioneira do norte do Paraná Pierre Monbeig 3 I 1935
As feiras de Burros de Sorocaba Pierre Deffontaines 3 I 1935
A Serra de Cubatão: comparação com um canto das
Cevences Francesas Emmanuel de Martonne 4 I 1935
Guyana Maranhense Clycon de Paiva 4 I 1935
Immigracao e Colonisacao
Astrogildo Rodrigues de
Mello 4 I 1935
A Industria Têxtil Paulista
Branca da Cunha
Caldeira 4 I 1935
O valle do Tocantins - Araguaya
Luis Flores de Moraes
Rego 1 II 1936
Os Guayakis do Paraguai J. A Vellard 1 II 1936
Mascates Pierre Deffontaines 1 II 1936
110
A vida no Pantanal
Capitao Frederico
Rondon 2 e 3 II 1936
A Região do Itatyaia e as Agulhas Negras Americo R.Netto 2 e 3 II 1936
A Industria metallurgica no Estado de Minas Gerais Pierre Monbeig 2 e 3 II 1936
Os Guayaki no Paraguay J. Vellard 2 e 3 II 1936
“Cornélio Procópio”
Euripedes Simões de
Paula 2 e 3 II 1936
Problemas econômicos nacionais (o porto do Rio
Grande) Sud Mennucci 2 e 3 II 1936
Excursão ao Roraima Glycon de Paiva 4 II 1936
Subdivisão do município de Blumenau Sud Mennucci 4 II 1936
Pequeno guia do viajante activo
Pierre Deffontaines e C.
Barbosa de Oliveira 4 II 1936
2.1.2
O Boletim da Associação dos Geógrafos Brasileiros
O Boletim da Associação dos Geógrafos Brasileiros teve dois momentos na
historia da Associação. O primeiro remete-se ainda a 1934, quando da realização
da Reunião Ordinária da AGB, Caio Prado Junior propos que a Associação
publicasse um Boletim; os sócios presentes aprovaram a publicação que deveria
ser editado trimestralmente e que deveria ser chamado de Boletim da Associação
dos Geógrafos Brasileiros, e que deveria ainda, a Diretoria ficar incumbida de dar
os passos necessários para que isso ocorresse. De acordo com a discussão
ocorrida na reunião, o Boletim deveria trazer em seu conteúdo principalmente as
sínteses das apresentações das comunicações feitas pelos associados e
convidados nas reuniões da AGB. O primeiro número veio a lume na segunda
edição da Revista Geografia (ano 1,nº 2, 1935), trazendo o texto da
comunicação apresentada por Caio Prado Junior intitulada “Contribuições para o
estudo das influencias étnicas no Estado do Paraná”. A partir desse número da
revista Geografia, todos os seguintes trouxeram no seu interior a seção
denominada de Boletim da AGB.
111
Figura 15
Fonte: IEB/USP
112
As contribuições publicadas no Boletim da AGB em seus dois anos de
existências foram as seguintes:
Tabela 7
Título Autor Ano
Data
Numero
A margem de factos Geográficos Sul-
Americanos
Major Mario Travassos 1 1935
3
A Industria Salineira no Estado do Rio
de Janeiro
Caio Prado Junior 1 1935
3
O levantamento aerofotogramétrico da
cidade de S. Paulo
Agenor Machado 1 1935
4
Aspectos geológicos e fisiograficos
gerais do nordeste do Brasil
Moraes Rego 1 1935
4
A Zona de cacau no sul do Est. da Bahia Pierre Monbeig 2 1936
1
Entre os Bororos em Mato Grosso Levy-Strauss 2 1936
2 e 3
Estrada Mairynk-Santos João Dias da Silveira 2 1936
2 e 3
A Região de Cabo-Frio Pierre Deffontaines 2 1936
2 e 3
Impressões de viagem ao longo do Rio
Paraná
Antonietta de Paula Souza 2 1936
4
Fonte: Revista “GEOGRAFIA” (AGB, 1936-1936)
Num segundo momento, o Boletim da Associação dos Geógrafos
Brasileiros veio suceder a Revista Geografia, que foi extinta em 1936, dois anos
após sua primeira edição. O Boletim da AGB, nessa segunda fase, e que passou a
ser numerado como inicial, teve seu primeiro número editado em 1941 e o
último em 1944, resultando num total de cinco edições. O Boletim da AGB, em
seus primeiros números era uma espécie de relatório das atividades
desenvolvidas pela associação e seus “núcleos filiados”
57
no período
correspondente.
O primeiro número do Boletim da Associação dos Geógrafos Brasileiros foi
publicado sob os cuidados do Conselho Nacional de Geografia, vindo a aparecer
nas páginas da Revista Brasileira de Geografia, nº1 do ano III, referente a
janeiro-março de 1941, na seção da referida revista intitulada “Atividades
Geográficas”, ocupando um total de dez (10) páginas. Nessa seção eram
publicados outros boletins de outras associações e institutos integrados ao
Conselho Nacional de Geografia, como, por exemplo, o Boletim do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro. A expressa gratidão ao CNG está nas páginas
do Boletim, que “graças à compreensão total e à gentileza do Presidente do
57
Grupos de interessados na Geografia, localizados em cidades diferentes de São Paulo, poderiam
constituir um núcleo filiado à AGB. Têm-se notícias da existência de três núcleos filiados na história
da AGB no período compreendido entre os anos de 1934 e 1945, a saber: Curitiba, Amparo e Rio
de Janeiro. Muito embora, para esse último permanece a dúvida se era um núcleo filiado ou outra
AGB. Em 19 de fevereiro de 1940, em reunião, a AGB leu, discutiu e aprovou o projeto de autoria
do prof. Aroldo de Azevedo, que tratava da regulamentação dos núcleos filiados.
113
Conselho Nacional de Geografia e de seu secretário-geral, tornou-se possível a
publicação de um “Boletim” da “Associação dos Geógrafos Brasileiros”. (IBGE,
1941:181)
A primeira edição do Boletim se encontra dividido em quatro seções, a
saber: I-Histórico; II-Os Atuais Associados; III-Resenha dos Últimos Trabalhos e
IV-A AGB e o Nono Congresso de Geografia. Na primeira seção, apresenta um
histórico que trata da criação da AGB, dos primeiros elementos que constituíram
a associação e das comunicações que foram apresentadas nos primeiros anos de
sua existência. O histórico apresenta ainda, informações sobre a revista
Geografia e sua importância, nascimento e prematuro fim. A segunda seção
apresenta uma lista dos associados à AGB tendo como referência os inscritos até
31 de agosto de 1940, o que resultava num total de 79 sócios, onde, dentre eles,
é possível destacar a presença dos franceses, Pierre Monbeig, Pierre
Deffontaines, Paul Arbousse Bastide, Juliet Monbeig, Claude Levi-Strauss; e dos
brasileiros Caio Prado Junior, Armando Sales de Oliveira, Julio de Mesquita Filho,
Geraldo Horácio de Paula Sousa, Rubens Borba de Moraes, Aroldo de Azevedo,
Ary França, Cristóvão Leite Castro, Silvio Fróis de Abreu, Maria da Conceição
Vicente de Carvalho, entre muitos outros. A terceira seção apresenta um resumo
das atividades realizadas na AGB, no período entre 20 de novembro de 1939 -
quando se deu a eleição da Diretoria da associação, até 25 de fevereiro de 1940.
A quarta e última seção trata da participação da AGB no Congresso de
Geografia, onde a associação deliberou pela organização de uma “verdadeira
Geografia de São Paulo”, divida em diversos temas. É informado ainda nessa
seção a não realização plena do trabalho, o que resultou no envio para o
Congresso de apenas os trabalhos que puderam ser concluídos e não da obra
completa como pretendido.
A segunda edição do Boletim da AGB (ano II, nº2) é datada de março de
1942. Essa edição, diferentemente da primeira edição, não foi publicada como
parte integrante da Revista Brasileira de Geografia. A partir desse número, o
Boletim da AGB passou a ser publicado pela própria associação e em formato
específico e próprio. Nas palavras da pequena apresentação do Boletim, a
direção da AGB, assim anuncia
“Com o presente, inicia a A.G.B. a sua publicação em caráter
autônomo, afim de melhor atender aos objetivos que a
levaram à criação deste pequeno espelho de suas atividades
sociais e culturais.
114
Ao entregá-lo aos seus associados, a Diretoria da A.G.B.
cumpre o grato dever de agradecer o apoio recebido, até
aqui, por parte do Conselho Nacional de Geografia, bem como
espera corresponder à confiança nela depositada pelos
prezados consócios”
Figura 16
Esse segundo número do Boletim foi publicado com um total de vinte
páginas e dividido da seguinte forma: Apresentação; Atividades Sociais;
Atividades Culturais; Informações do Núcleo Curitiba. Na primeira seção, a
Diretoria da associação apresenta as razões da publicação do Boletim no então
formato e do caráter autônomo assumido. Na segunda seção é informada a
115
eleição dos novos dirigentes da AGB, da inclusão de novos associados, onde se
destacam Nice Lecocq, Dirceu Lino de Matos e José Ribeiro de Araújo Filho. Na
terceira seção são apresentadas as atividades realizadas pela AGB no período
entre 24 de março e 17 de novembro de 1941. Na última seção, o Boletim
apresenta informações sobre o Núcleo de Curitiba da AGB, com destaque para a
constituição de seu quadro social, as atividades desenvolvidas e para a eleição
da primeira Diretoria, agora adaptada ao regulamento elaborado pela AGB,
ficando assim constituída: Diretor Dr. José Loureiro Fernandes; Secretário
Dr. Osvaldo Pilotto; Tesoureiro – Dr. Osvaldo Lacerda.
O Boletim de número 5
58
, editado em novembro de 1944, foi o último
dessa pequena série da então principal publicação da AGB. A apresentação desse
número registra algumas informações para entendermos não só a importância da
publicação para a AGB, como também as dificuldades encontradas (e que não
eram poucas), para a garantia da existência e periodicidade do Boletim.
“O número 5 do Boletim reúne, como as anteriores,
comunicações feitas nas sessões quinzenais da Associação
dos Geógrafos Brasileiros.
A publicação deste número tem significado especial, por duas
razões:
1º. Sai a lume ao completar a A.G.B. 10 anos de
existência. Neste sentido é uma afirmação mais da vontade
de prosseguir no trabalho geográfico;
2º. – pela primeira vez são publicados 2 números no
espaço de um ano, tendo sido também aumentada a tiragem,
para 1.000 exemplares. Pretendemos publicar nos anos
vindouros, a exemplo do que foi feito em 1944, um número
em Maio e outro em Novembro.
Lutando a Associação dos Geógrafos Brasileiros, como todas
as sociedades não oficiais que trabalham
desinteressadamente no terreno científico, com carência de
recursos para manter publicações, o apoio decidido e
sobremodo honroso para o nosso grupo de estudiosos, do
Magnífico Reitor da Universidade de São Paulo, tem
assegurado a manutenção deste Boletim. (...)” (AGB,1944:1)
Apesar do conteúdo (textos e noticiários) para publicação saírem do
próprio espaço da AGB, ou seja, o resultado e informações das comunicações
feitas em suas reuniões quinzenais, a transformação desse material em um
Boletim sempre demandou muito trabalho e enfrentou grandes dificuldades. As
dificuldades eram geradas principalmente pela falta de recursos financeiros, mas
58
Não foi possível localizar os Boletins da AGB de números 3 e 4.
116
também somava-se a isso, a pouca experiência de uma associação que acabava
de completar 10 anos de existência. A alternativa para a publicação de seus
Boletins sempre foi a da realização de parcerias com as instituições das quais se
encontrava próxima. Se num primeiro momento foi o IBGE, através da Revista
Brasileira de Geografia (editando o número 1 do Boletim), num momento
seguinte a parceria é com a universidade, que colabora com a publicação dos
demais números.
Figura 17
117
2.2
As Novas Publicações da AGB: ampliando a divulgação da
produção acadêmica da emergente geografia brasileira
A AGB, que na metade da década de 1930 havia publicado a Revista
Geografia, que mesmo sendo bastante efêmera (durou apenas 2 anos), ocupou
importante lugar na história da Associação e da Geografia universitária brasileira
em seus primeiros anos de vida, e o Boletim da AGB, em sua segunda fase, no
período entre 1941 e 1944 (5 meros); agora um salto de qualidade e de
quantidade com a criação dos Anais da AGB, em 1945 e com a publicação dos
Boletins que vão surgindo nas Seções Regionais. Em 1948, Seção Regional do
Rio de Janeiro lançou o Boletim da Seção Regional, e que depois em 1949,
passou a se chamar Boletim Carioca de Geografia. Em 1949, a Seção Regional de
São Paulo, lançaria o primeiro número do Boletim Paulista de Geografia. As
Seções Regionais de Minas Gerais e do Paraná criaram os Boletins Mineiro e
Paranaense de Geografia, respectivamente em 1957 e 1960. O Núcleo de
Salvador, da Seção Regional do Rio de Janeiro, cria em 1960 o Boletim Baiano de
Geografia. Juntos esses Boletins ocuparam importante papel na disseminação do
pensamento geográfico no Brasil.
2.2.1
Os Anais da Associação dos Geógrafos Brasileiros
Com o fim do Boletim da AGB e com a Reforma Estatutária realizada em
1945, que instituiu a realização de Assembléias Gerais Ordinárias anualmente,
surge a publicação intitulada Anais da Associação dos Geógrafos Brasileiros,
assim definida novos estatutos da entidade:
“Art. 24 Haverá uma publicação periódica da Associação,
que terá o título de Anais da Associação dos Geógrafos
Brasileiros”
118
Figura 18
Publicada pela Diretoria Nacional da entidade, trás no seu interior as teses
apresentadas e aprovadas
59
nas reuniões, as comunicações, os simpósios e os
relatórios dos trabalhos de campo realizados no local da assembléia e arredores;
além de um noticiário da assembléia realizada e um relatório das atividades
acontecidas nas seções regionais e núcleos municipais no ano da reunião da
associação. Por longos anos foi a única publicação sob responsabilidade da
Diretoria Nacional.
59
As Teses/Estudos, Comunicações Orais ou Comunicações em Simpósios, apresentadas durante as
Assembléias Gerais Ordinárias da AGB, apenas eram publicadas nos Anais se tivessem, por parte
do respectivo parecerista (no caso das teses) e dos sócios efetivos presentes às sessões para esse
fim, a aprovação e indicação para publicação.
119
Os Anais da Associação dos Geógrafos Brasileiros continham as produções
dos principais geógrafos brasileiros que participavam das Assembléias Gerais
Ordinárias que a entidade realizava a cada ano, de 1946 a 1969. Após 1970,
com a reforma estatutária realizada nesse ano, e que instituiu a realização a
partir de 1972 dos Encontros Nacionais de Geógrafos, os Anais da Associação dos
Geógrafos Brasileiros, mudaram de forma e passaram a não mais ser a
publicação da Assembléia Geral da Associação, mas sim a publicação do Encontro
Nacional de Geógrafos e que continham as informações e decisões da assembléia
que acorria em seu interior.
Durante as três primeiras edições dos Anais da AGB, foi publicado para
cada um deles, um único volume dos Anais. A partir do Volume IV e
permanecendo até o volume XI, foram publicados para cada assembléia dois
volumes dos Anais o Tomo I, englobando o noticiário e os trabalhos aprovados
nessa reunião anual (Estudos, Comunicações e Simpósios), e o Tomo II, que
trazia os Relatórios das pesquisas de campo realizados nos locais da assembléia.
A partir do volume XII, correspondendo a XIV Assembléia Geral Ordinária, a AGB
passou a publicar somente o volume único dos Anais, que continha as teses e
comunicações apresentadas e aprovadas para tal, deixando os relatórios dos
trabalhos de campo para uma publicação denominada de avulso. A professora
Dora do Amarante Romariz, então Diretora dos Anais da AGB, na apresentação
do XII Volume dos Anais da AGB, justifica assim a mudança no modelo de
publicação.
“Acontece, porém, que a demora com que vários chefes de
equipe entregam os seus relatórios, acarretava sensível
prejuízo, não só à Associação (que não podia divulgar o
resultado das pesquisas que se comprometera realizar) como
também àqueles chefes de equipe que, tendo cumprido com
sua obrigação, precisavam esperar, às vezes anos, que fosse
completado o material necessário ao volume, para ver, então,
publicado o seu trabalho.
Decidiu assim o Conselho Diretor da AGB, que fosse criada
uma nova publicação que, denominada “Avulso”, desse
pronta divulgação aos relatórios entregues, passando então
constar dos ANAIS, apenas a matéria que constituía o Tomo
I.” (AGB, 1960:1)
Os Anais representavam, junto com a Revista Brasileira de Geografia, as
publicações de maior relevância dentro do cenário da Geografia brasileira de
então.
120
Ao longo de mais de vinte anos de existência, foram publicados 16
volumes dos Anais, 6 volumes contendo os relatórios das pesquisas de campo, 6
avulsos (relatório dos trabalhos de campo), e um volume com os resumos das
teses e comunicações, e outro com o guia das excursões realizadas no II
Congresso Brasileiros de Geógrafos (Rio de Janeiro 1965). Nas tabelas
60
a
seguir, encontraremos as teses (estudos), comunicações e simpósios e seus
respectivos autores, e que foram publicadas nos volumes dos Anais da AGB,
correspondendo as assembléias anuais realizadas pela associação.
Tabela 8
Anais da II AGO - 1946
Estudos
Tema Autor
O município de Ituiutaba Speridião Faissol
Notas sobre o Rio Tiete na Região de Itu e Salto Antônio Rocha Penteado
A Vila de Icapara Nice lecocq Muller
O Vale do Paraíba Antônio Teixeira Guerra
O Bairro da Lapa Aroldo de Azevedo
Pequenas notícias de uma excursão a Angra dos reis Pedro Geiger
A Divisão Regional do Brasil / A Divisão Regional do Estado de São Paulo
Sessão Plenária
Anais da III AGO - 1947
Estudos
Tema Autor
Parecerista /
modalidade
A Vegetação e o Uso da Terra no Planalto
Central Leo Heinrich Waibel Comunicação Oral
Alguns Aspectos do Relevo no Planalto
Central Brasileiro Francis Ruellan Comunicação Oral
Geomorfologia da Região do Jaguaraguá,
em São Paulo Aziz Nacib Ab'Saber Orlando Valverde
Paísagens Rurais no Município de Campinas
Nice Lecoc Muller Comunicação Oral
Anais da IV AGO - 1948
Estudos
Tema Autor
Contribuição à Geomorfologia da Região Oriental de Santa
Catarina Fernando F. M. Almeida
Os seis fatores da formação dos solos José Setzer
Alguns aspectos da paísagem rural no município de Olímpia Ely Goulart Pereira de Araújo
Vigilengas do Baixo-Amazonas Antonio Rocha Penteado
O caiçara na região de Itanhaem José Ribeiro de Araújo Filho
Contribuição ao estudo da vinha no Estado de São Paulo -
região de São Roque Dirceu Lino de Mattos
O Planalto Brasileiro e os problemas da classificação de suas
formas de relevo Aroldo de Azevedo
O Sudoeste Goiano
Aziz Nacib Ab' Saber e Miguel
Costa Júnior
60
As tabelas foram por nós organizadas a partir das informações coletadas nos sumários dos Anais
da AGB e nas atas das assembléias, publicados no período entre 1946 e 1964.
121
Anais da V AGO - 1950
Estudos
Tema Autor Parecerista
Variações do nível do mar ao longo do
litoral da África Ocidental Antônio Teixeira Guerra Ruy Osório de Freitas
Vegetación halófila de la costa uruguaya
Jorge Chebartaroff João Dias da Silveira
Aspectos da vegetação de Diamantina Dora do Amarante Romariz
João Dias da Silveira
Notas sobre a cidade de Diamantina e
seus habitantes
Lysia Maria Cavalcanti
Bernardes
Octavio Barbosa
A cultura da banana na Baixada de
Itanhaen
José Ribeiro de Araújo
Filho
Maria da Conceição
Vicente de Carvalho
As chácaras paulistanas Alice Piper Canabrava Lucio de Castro Soares
Contribuição ao estudo das feiras de
gado - Feira de Santana e Arcoverde Ney Strauch Lucio de Castro Soares
Bases geológicas del relieve uruguayo Alberto Pochintesta Octavio Barbosa
Anais da VI AGO - 1951
Estudos
Tema Autor
Notas sobre alguns sambaquis e terraços do litoral de
Laguna (Santa Catarina)
Antônio Teixeira Guerra
São Luiz do Maranhão (primeiros estudos) Aroldo de Azevedo
A cidade de Olímpia (estudos de Geografia Urbana) Ely Goulart Pereira de Araújo
Propriedades de japoneses na região de Cotia
Emília da Costa Nogueira e
Francisca M. Nunes
A Região de Santa Isabel Aziz Nacib Ab' Saber
Anais da VII AGO - 1952
Estudos
Tema Autor Parecerista
O estado atual dos solos do município de
Itapecerica,SP José Setzer Jorge Chebataroff
Notas sobre formas aparentes de
pequenas "cuestas" na Baixada
Fluminense
Pedro Geiger Jorge Chebataroff
A cidade de Cruzeiro - notas de
geografia urbana Nilo Bernardes Nice Lecoc Muller
Aspectos da geografia urbana de
Londrina Neyde Prandini Elza Coelho de Souza
O povoamento do Norte de Paraná
Sallete Magdalena
Cambiaghi
Nilo Bernardes
Aspectos geográficos e problemas da
região de Corumbataí Pasquale Petrone Pedro Geiger
Regiones naturales de Rio Grande del
Sur y del Uruguay
Jorge Chebataroff José Setzer
Paisagens do Rio Grande do Sul
(impressões de viagem) Aroldo de Azevedo Nilo Bernardes
122
Anais da VIII AGO - 1953
Estudos
Tema Autor Parecerista
Esquema general de la evolución de las
costas platenses
Jorge Chebataroff Francis Ruellan
A Serra Negra, uma relíquia geomórfica
e higrófita nos tabuleiros
pernambucanos
Gilberto Osório de Andrade
Aziz Nacib Saber
A Serra Negra, uma "ilha" da caatinga Mário Lacerda de Melo
Lysia Maria Cavalcanti
Bernardes
Contribução à geografia carioca: notas
sobre a geografia do bairro Laranjeiras
Ruth Matos Almeida
Simões Ary França
Cruz das Almas e Arapiraca, duas zonas
produtoras de fumo (estudos
preliminares)
Miguel Alves de Lima Aroldo de Azevedo
Anais da IX AGO - 1954
Estudos
Tema Autor Parecerista
Contribuição à geomorfologia do litoral
paulista Aziz Nacib Ab Saber Francis Ruellan
Os tipos de vegetação do Brasil
(elementos para uma classificação
fisionômica) Edgar Kuhlmann Jorge Chebataroff
O uso da terra no leste da Paraíba Orlando Valverde Dirceu Lino de Mattos
Notas sobre a evolução da ocupação
humana na Baixada Fluminense
Pedro Geiger e Ruth L.
Santos Renato Silveira Mendes
Possibilidades de povoamento na Bacia
do
São Francisco
Ruth Lopes da Cruz
Magnanini José Ribeiro de Araujo Filho
Observações relativas ao minério de ferro
e à siderurgia no planalto de Minas Gerais
Ney Strauch Octávio Barbosa
Contribuição ao estudo da Campanha
Gaúcha Miguel Alves de Lima Antônio Rocha Penteado
Anais da X AGO - 1955
Estudos
Tema Autor Parecerista
Os mais recentes níveis glácio-eustáticos
na costa pernambucana Gilberto Osório de Andrade
Miguel Alves de Lima
O regime fluvial do Tietê na região de São
Paulo Eline de Oliveira Santos Gilberto Osório de Andrade
Um exemplo de levantamento linear
aplicado à geografia João Soukup Gilberto Osório de Andrade
Vilas e Cidades do Brasil Colonial (Ensaio
de Geografia Urbana Retrospectiva) Aroldo de Azevedo
José Veríssimo da Costa
Pereira
A Colonização nos arredores de Curitiba
Lysia Maria Cavalcanti
Bernardes Ary França
Alguns aspectos da população da cidade
de São Paulo José Ribeiro de Araújo Filho
Tabajara Pedroso
Contribuição ao estudo da região
suburbana de São Paulo
Antônio Rocha Penteado Dora do Amarante Romariz
Os fatores da industrialização de São
Paulo Dirceu Lino de Mattos
Lysia Maria Cavalcanti
Bernardes
Contribuição ao estudo do Cabo Santo
Agostinho Walter Alberto Egler Elina de Oliveira Santos
Nazaré, um porto ferroviário do
Recôncavo Baiano Milton de Almeida Santos Odilon Nogueira de Matos
123
Anais da XII AGO - 1957
Estudos
Tema Autor Parecerista
A Superficie de Aplainamento Pilocênica
do Nordeste do Brasil Gilberto Osório de Andrade
Mário Lacerda de Melo
O Bordo Oriental da Borborema na Área
de Vitória de Santo Antão Manoel Correia de Andrade
Nilo Bernardes
O Crescimento Recente da Cidade de
Salvador Ana Dias da Silva Carvalho Odilon Nogueira de Matos
As Indústrias da Cidade de Salvador
(distribuição geográfica)
M
ilton Santos e Ana Dias da
Silva Carvalho Tabajara Pedroso
Ituberá, Porto Cacaueiro Rejuvenescido
pela Indústria
Milton Santos
Ely Goulart Pereira de
Araújo
Simpósio
O "Habitat" Rural no Brasil (presidência: Nilo Bernardes)
Tema Autor
Contribuição par
a uma discussão sobre problemas de "habitat" rural
no Brasil
Nilo Bernardes
Estado atual do conhecimento sobre "habitat" rural no Brasil Elza Coelho de Souza Keller
Considerações sobre o estudo do "habitat" rural no Brasil Michel Tabuteau
Apontamentos s
obre o "habitat" rural no Vale do Paraíba (Estado de
São Paulo) Nice Lecocq Muller
Aspectos do "habitat" rural no Nordeste do Brasil Mário Lacerda de Melo
Fisionomia do "habitat" rural no baixo Ceará-Mirim Mário Lacerda de Melo
Um tipo de "habitat" rural do litoral paranaense Lúcio de Castro Soares
Resultado dos Debates Nilo Bernardes
Anais da XIII AGO - 1958
Estudos
Tema Autor Parecerista
O recife anular das rocas (um registro de
recentes variações eustáticas no atlântico
equatorial)
Gilberto Osório de Andrade Antônio Rocha Penteado
Contribuição à geologia da região sul da
série Açungui (estado do Paraná)
João José Bigarella e Riad
Salamuni Nilo Bernardes
Praderas de la América del Sur Templada
Jorge Chebataroff Aziz Nacib Ab'Saber
Acción recíproca entre el viento y los
vegetales Jorge Chebataroff Gilberto Osório de Andrade
Importância da posição como fator do
desenvolvimento do Rio de Janeiro
Lysia Maria Cavalcanti
Bernardes
Nice Lecocq Muller
Contribuição à Geografia urbana de Mogi
das Cruzes José Domingos Tirico Mario Lacerda de Melo
Aspectos da atividade pesqueira em
Pernambuco Hilton Sette
Ely Goulart Pereira de
Araújo
Ocupação humana no Baixo Cassiporé Nilo Bernardes José Ribeiro de Araújo Filho
Caracterização da sub-região da "Mata
Seca" em Pernambuco Manoel Correia de Andrade Dora do Amarante Romariz
Aspectos geográficos de la región litoral
platense uruguaya y su relación com el
turismo Gladys Mirta Lima Ipar Aziz Nacib Ab'Saber
124
Anais da XIV AGO - 1959
Estudos
Tema Autor
Problemas morfológicos da área drenada do rio Jiquiá e
Coruripe, nas Alagoas Manuel Correia de Andrade
Tipos de floresta de Pernambuco Dárdano de Andrade Lima
Função do serviço rodoviário em aglomerados sertanejos de
Pernambuco Rachel Caldas Lins
Simpósio (presidente: Mário Lacerda de Melo)
O "Habitat" Urbano no Brasil: Problemas do Estudo das Metrópoles
Tema Autor
Os problemas do estudo das metrópoles brasileiras Mário Lacerda de Melo
Geografia das metrópoles brasileiras. Os estudos
existentes: seus caracteres e sua orientação Aroldo de Azevedo
Notas sobre o fenômeno urbano no Brasil Pasquale Petrone
Relação entre a população e a produção industrial das
cidades brasileiras Pedro Pinchas Geiger
Divisões principais e limites externos do Grande Rio de
Janeiro
Maria Terezinha de Segadas
Soares
A área suburbana de São Paulo e sua caracterização Antonio Rocha Penteado
Quadro sumário da nomenclatura das zonas urbanas Lysia Maria Cavalcanti Bernardes
Anais da XV AGO - 1960
Estudos
Tema Autor
Notas para a fitogeografia de Mossoró, Grossos e Areia
Branca Dárdano de Andrade Lima
Diferentes combinações do meio natural na zona da mata
nordestina (introdução ao estudo da variação dos fatores
naturais na agro-indústria do açúcar
Rachel Caldas Lins e Gilberto
Osório de Andrade
A cultura do sorgo na várzea do Açu Terezinha Alves de Melo
Distribuição dos serviços comerciais no Estado de
Pernambuco (ensaio metodológico para um estudo dos
serviços no Brasil) Michel Rochefort
Simpósio
Aspectos Geográficos do problema Agrário Brasileiro, Especialmente no Nordeste
Temas Autor
Apresentação Manuel Correia de Andrade
A geografia agrária como ramos da
geografia econômica Orlando Valverde
Interesse de um estudo de orçamentos
para a geografia agrária Michel Rochefort
Significado do núcleo colonial do Pium
para o aproveitamento dos vales de Paul
no Rio Grande do Norte
Bertha K. Becker
apresentado por Nilo
Bernardes
A propriedade rural no vale médio do
Paraguaçu Milton Santos
A irrigação no sertão pernambucano:
sua influência na economia regional
Humberto Carneiro
As migrações internas e as influências da
estrutura fundiária como condicionante
do fenômeno, no Nordeste
José Francisco de Camargo
apresentado por José
Ribeiro Araújo Filho
O Recôncavo açucareiro da Bahia Norma Ramos de Freitas
apresentado por Ana
Dias de Carvalho
Conclusões Gerais Manuel Correia de Andrade
125
Comunicações
Tema Autor
Posições das superfícies aplainadas no
Nordeste Aziz Nacib Ab' Saber
Local Climate and city climate Takeski John Sekiguti
A importância da cartografia para o
geógrafo João Soukup
apresentada por João
Ribeiro Araújo Filho
Pium - japonês no Rio Grande do Norte Antônio Campos e Silva
Aspectos geográficos da comercialização
do cacau na Bahia
Antônio Dias Erdens e Milton
Santos
apresentada por
Milton Santos
As chuvas e o escoamento na bacia do
Paraguassú - enchentes de 1960
Nilda Guerra de Macedo e
Dorcas Ferreira Chagas
apresentada por
Teresa Cardoso da
Silva
Indústria e consequências urbanas em
Brusque, Santa Catarina
Armem Mamigonian
Uma nova denominação para a região
semi-árida do Nordeste
Tertius Rosado Maia
apresentada por João
Batista Cascudo
Rodrigues
Pela rápida aplicação da lei de irrigação
no Nordeste: prioridade para a
perenização do rio Açu
Luiz Maranhão e Severino de
Oliveira
apresentada por Luiz
Maranhão
Anais da XVI AGO - 1961
Estudos
Tema Autor
A vegetação da faixa costeira sul-riograndense Irmão Juvêncio
Pescadores das ilhas da Guanabara Haidine da Silva Barros
Contribuição ao e
studo geográfico de um setor hortícola do
município de Teresópolis Aluizio Capdeville Duarte
Uma sistemática para a análise das encostas
Arhur Barthelmess e Heloisa
Barthelmess
Simpósio
Colonização e Valorização Regional
Presidência: Lysia Bernardes -
Secretaria: Léa Goldenstein
Temas Autor
Geografia e Colonização Lysia Maria Cavalcanti Bernardes
La Contribution de la colonisation allemande à la mise em
valeur du Rio Grande do Sul
Jean Roche (Fac. De Letras da
Univ. de Toulouse)
Contribuição da Colonização Italiana para o
desenvolvimento agrícola do Brasil Orlando Valverde
Notas sobre nucleos recentes de colonização nos campos
gerais do Paraná Altiva Pilatti Balhana
Experiência de colonização numa área tropical: a Baixada do
Ribeira Pasquale Petrone
Colonização e utilização da terra no território do Amapá
Nilo Bernardes (apresentado por
Nice Licocq Muller)
Criação de colônias agrícolas nos arredores de Salvador Antônia Déa Erdens
Colônia leiteira de Boqueirão
Sônia Esmeralda Cerqueira Bremer
e Helena da Gama Lobo D´Eça
Comunicações
Tema Autor
O conglomerado do baixo pirapama: um caso de depósito
coluvial de blocos elaborados por decomposição sub-aérea
Gilberto Osório de Andrade e Rachel
Caldas Lins
A Gruta de Itambé e suas relações com o relevo de
cuestas Aldo Anhezini
126
Métodos de trabalho nos estudos de Geografia Aplicada
Maria Alice dos Reis Araújo e José
Bueno Conti
Salvador e a organização de seu espaço imediato Anna Dias de Carvalho
Ensaio sobre a zona de influência de Belo Horizonte Yves Leloup
Aspectos da pesca em Natal Antônio Campos e Silva
Geografia Econômica do Nordeste Potiguar
Orlando Valverde, Myriam Guimar
Gomes Coelho Mesquita e Léa
Scheinvar
O Ensino de Geografia nas Universidades dos Estados
Unidos
Aroldo de Azevedo
Anais da XVII AGO - 1962
Estudos
Tema Autor
O Porto de Paranaguá
José Cézar de Magalhães Filho (apresentada por
Lysia Bernardes)
Município de Meridiano Elisione Ract de Almeida e José Bueno Conti
Simpósio – Presidência de Orlando Valverde
Geografia e Planejamento Regional
Temas Autor
Estudo crítico de planejamentos regionais no Nordeste Salomão Serebrenick
Nordeste, planejamento e geografia Mário Lacerda de Melo
Problemas da agricultura San-franciscana: zona do baixo curso
Bispo de Penedo
(conferência)
Planejamento na SUDENE Celso Furtado (conferência)
A contribuição do Laboratório de Geomorfologia e Estudos
Regionais para os trabalhos de planejamento Milton Santos
A Divisão de Geografia do Conselho Nacional de Geografia e os
Estudos de Planejamento
Lysia Maria Cavalconti
Bernardes
Cacheta, madeira para lápis, sua extração nas baixadas
pantanosas do litoral meridional Helena da Gama Lobo D´ Eça
Comunicações
Tema
Autor
Aracajú, síntese de geografia urbana José Alexandre Diniz
Geomorfologia da região de Natal Antônio Campos e Silva
Plataforma, suburbio ferroviário de Salvador Walter Sarmento e Cléa de Oliveira
Um exemplo de reconstituição paleogeográfica através dos
sedimentos grosseiros
Teresa Cardoso da Silva e Douracy
Soares
Bairros rurais no município de Piracicaba Nice Lecocq Muller
Implantação industrial no Brasil Sudeste Salomão Turnowski
Juiz de Fora, estudo de um centro industrial Ignez de Moraes Costa
Juiz de Fora, capital da Zona da Mata de Minas Gerais Lysia Maria Cavalcanti Bernardes
Um aspecto da análise pluviométrica no Estado de São
Paulo: máximas em 24 horas
Carlos Augusto de Figueiredo
Monteiro
Aspectos geográficos da função portuária de Porto
Epitácio, tendo em vista a indústria predatória da madeira
Alvanir de Figueiredo
Ocorrências de paleo-pavimentos detriticos no Rio Grande
do Sul Aziz Nacib Ab’Saber
127
Anais da XIX AGO - 1964
Estudos
Tema Autor
Organização Urbana do Estado de São Paulo, analisada
pela circulação de ônibus inter-municipais Juergen Richard Langenbuch
Simpósio – Coordenador Orlando Valverde
"Problemas de Classificação do Uso da Terra"
Temas Autor
A Contribuição dos Estudos do Uso da Terra para a
Geografia Agrária Orlando Valverde
Estrutura Agrária e Condições morfo-clímato-edáficas Dirceu Lino de Matos
Contribuição metodológica aos estudos de uso da terra
Elza Coelho de Souza Keller
A utilização da terra em duas áreas serranas do
Nordeste Aluizio Capdeville Duarte
Colonização e uso da terra na Região de Bragantina do
Pará Antônio Rocha Penteado
O estudo atual dos solos no Estado de São Paulo Guido Ranzani
Comunicações
Tema Autor
Evolução recente da paísagem no Nordeste Kempton Webb
Geografia Rural, Geografia Agrária e Contabilidade
Agrícola Alfredo Zinck
Pesquisa Direta como método para estudo geográfico
das grandes correntes de tráfego no Estado da Bahia Joaquim Júlio de Oliveira
A medida da hierarquia urbana nos países
subdesenvolvidos
Milton Santos (apresentada por Sylvio
Bandeira de Melo)
Considerações sobre a estratigrafia dos sedimentos
cenozóicos em Pernambuco
Gilberto Ozório de Andrade e João
José Bigarella
A metodologia da Geografia Industrial Armem Mamigonian
Caracteristicas fundamentais do clima de Santos e o
problema de sua classificação Elina de Oliveira Santos
Contribuição ao estudo da hinterlândia de Aracajú Roberto Lobato Azevedo Correa
As indústrias no Estado da Bahia através do Censo de
1960 Walney Morares Sarmento
128
2.3.2
Os Boletins das Seções Regionais
Com a criação das Seções Regionais, que na verdade representavam uma
espécie de “escola” de Geografia nesses locais do Brasil, com a presença sempre
marcante da universidade e seu curso formador, era muito “natural” que
surgissem espaços de publicação das pesquisas e trabalhos produzidos nesses
lugares, e que foram, inclusive, determinantes para a criação dessas seções
regionais e, em momento posterior, para a “elevação” dos núcleos municipais a
condição também de seções regionais. Nesse contexto de movimento, surgiram
os boletins, Carioca, Paulista, Baiano, Mineiro e Paranaense.
2.2.2
O Boletim Carioca de Geografia
Editado pela primeira vez em 1948, com o nome de Boletim da Seção
Regional do Rio de Janeiro, o Boletim Carioca (ganhou esse nome em 1950),
tem uma história de existência que vai até o ano de 1982
61
.
O Boletim Carioca de Geografia
62
, foi a primeira publicação de uma Seção
Regional da AGB. Ao longo de sua existência publicou artigos de toda a ordem.
No entanto, tal como os outros boletins das demais seções regionais que foram
sendo criados, publicou em sua maior parte produção dos principais associados
de sua área de influência, ou seja, eram os geógrafos do Rio de Janeiro
associados à AGB que ocuparam a maior parte do que aparece em suas páginas.
61
No ano de 1982, é publicado o último número do Boletim Carioca de Geografia. Com a reforma
estatutária ocorrida em 1979, a agora Seção Local Rio de Janeiro, vai finalizar a publicação do
Boletim. Para a Seção não se trata apenas de uma mudança de nome, uma vez que a publicação
passa a se chamar “Espaço e Sociedade”, mas, sobretudo uma mudança de concepção no projeto
da publicação. A mudança do nome significava uma oportunidade de deixar para traz o passado e
tudo o que ele representava na AGB e para a Geografia brasileira e assim dar lugar as novas
formas de expressão que ganharam força no final da década de 1970.
62
Estaremos chamando de Boletim Carioca a publicação da Seção Regional do Rio de Janeiro desde
1948, incorporando assim, o período do Boletim da Seção do Rio de Janeiro.
129
Figura 19
O Boletim nasce com a ousada proposta de ser bimestral. No entanto,
partir de 1949 o Boletim passa a ser trimestral. O primeiro número, publicado
em janeiro de 1948, ainda no seu primeiro formato, pequeno, trazia no seu
interior três artigos: Notas para um estudo do clima do Vale do Piabanha (Rio de
Janeiro), de autoria de Dora do Amarante Romariz; Notas sobre a organização
de um mapa de vegetação da região do "Mato Grosso" de Goiás, de autoria de
Speridião Faissol; e Importância biogeográfica de recentes modificações
propostas ao Código Florestal, de autoria de Luiz Emygdio de Mello Filho;
noticiário da seção e do Congresso Internacional; além da lista de sócios da
seção e da composição da nova Diretoria. Com esse primeiro formato padrão
gráfico e periodicidade, foram publicados seis (6) edições no ano de 1948. Os
130
números 5 e 6 (setembro e novembro de 1948), são publicados numa única
edição e trazem no seu expediente pela primeira vez uma composição de
Comissão do Boletim, composta pelos professores Alfredo José Porto Domingues,
Lysia Maria Cavalcanti Bernardes, Nilo Bernardes e Elza Coelho de Souza; e a
figura de um Redator-Secretário, que era o professor Speridião Faissol.
No ano de 1949, o Boletim, ainda com o nome de Seção Regional, ganha
novo formato, agora um pouco maior (formato esse que vai durar até a sua
extinção), e uma nova composição da Comissão responsável pela sua publicação
Lucio de Castro Soares assume a função de Redator-Secretário, e os
professores Ney Strauch e Edgard Kuhlmann assumem os lugares de Nilo
Bernardes e Alfredo José Porto Domingues, publicou quatro (4) números. Nesse
mesmo ano, a Seção do Rio de Janeiro, por intermédio de seu Conselho Diretor,
definiu as normas e procedimentos para publicação no Boletim, através do
documento intitulado “Regulamento do Boletim” um conjunto de regras
dispostas em 16 artigos, que agrupados em quatro capítulos (Do Boletim, Do
Redator-Secretário, Da Comissão do Boletim e Das Disposições Finais e
Transitórias), regulavam a publicação, desde sua concepção até sua tiragem.
Figura 20
131
Em 1950, o Boletim, em seu terceiro ano de existência, ganha o nome
que o vai fazer ficar conhecido Boletim Carioca de Geografia - nome esse que
vai levar até 1982, quando é extinto. A primeira edição de 1950, tem como
Redator-Secretário a professora Elza Coelho de Souza, e na Comissão os
professores Lysia Maria Cavalcanti Bernardes, Carlos Augusto Figueiredo
Monteiro, Antônio Teixeira Guerra e Ruth B. Lopes da Cruz. A nova estrutura
desse boletim vai apresentar a seguinte composição: resumo das comunicações
(textos das apresentações durante as reuniões da seção), contribuições (que
eram textos mais densos, semelhante aos artigos), comentário bibliográfico,
noticiário e atividades da seção regional. Essa estrutura de organização do
conteúdo do boletim prosseguiu até 1957, quando foi introduzida uma
interessante seção intitulada “aspectos da geografia carioca”, que apresentava
sempre um artigo sobre a cidade do Rio de Janeiro.
Figura 21
132
O Boletim Carioca foi até o ano de 1962 publicado sempre muito bem
acabado, diagramação especial e papel de ótima qualidade, fruto de trabalho
profissional e financiamento do IBGE e, algumas vezes somado a patrocínio
advindo de publicidade em suas páginas. A partir do volume XVI, publicado em
1964, passou a ter, por motivos financeiros, uma diagramação e uma impressão
mais simples, conforme observação presente nesse número.
“Por motivos de ordem financeira e numa tentativa de
atualizar o BOLETIM CARIOCA DE GEOGRAFIA, a Diretoria da
SRRJ houve por bem publicar, em um mesmo número, a
matéria referente a DOIS anos.
Pelos mesmos motivos, o Boletim será apresentado,
temporariamente, dentro de padrões de impressão mais
modestos” (BCG,1964)
Essa impressão em padrões mais modestos vai durar até o início da
década de 1970, quando o Boletim vai recuperar, em parte, a qualidade de sua
diagramação, impressão e publicação.
O último Boletim Carioca publicado no ano de 1982, correspondendo ao
32º ano de sua existência, foi seu primeiro número temático, onde foi destaque
Amazônia:problemas e impasses”. Nesse número é possível encontrar artigos de
autoria de Lia Osório Machado, Milton Santos, Orlando Valverde e Bertha
Becker, entre outros.
Figura 22
133
Tabela 9
Boletim Carioca de Geografia (1948-1971)
AUTOR TÍTULO ANO VOL
Dora de Amarante Romariz
Notas para um estudo do clima do
Vale do Piabanha (Rio de Janeiro) 1 1948 I
Speridião Faissol
Notas sobre a organização de um
mapa de vegetação da região do
"Mato Grosso" de Goiás 1 1948 I
Luiz Emygdio de Mello Filho
Importância biogeográfica de
recentes modificações propostas ao
Código Florestal 1 1948 I
Lucio de Castro Soares
Função Regional de Formosa 2 1948 I
Alfredo J. P. Domingues
Regiao Centro-Ocidental da Bahia 3 1948 I
Beneval de Oliveira
Contribuição para o Estudo do
Litoral do Municipio de Laguna 4 1948 I
Speridião Faissol
Uma Viagem ao Planalto Central 5 e 6 1948 I
Victor Peluso Jr
Duas Vilas no Estado de Santa
Catarina 5 e 6 1948 I
Elza Coelho de Sousa
Aspectos Geográficos do Bas
Languedoe: Região de Montpellier
5 e 6 1948 I
Pierre Gourou
O Problema Geográfico Chinês 5 e 6 1948 I
Lysia Maria Cavalcante
Bernardes
Notas sobre o desenvolvimento da
pesca no litoral do Rio de Janeiro
1 1949 II
Edgar Kuhlmann
A Flora do Distrito de Ibiti,
município de Amparo (Moysés
Kuhlmann e Eduardo Kuhn) 1 1949 II
Myriam Gomes Coelho
Mesquita A Região Econômica de Lyon 1 1949 II
Fábio de Macedo Soares
Guimarães
Conceito de Geografia Regional e
Terminologia das Divisões
Geográficas 4 1949 II
Nilo Bernardes
Notas para o Estudo do Clima de
Nova Friburgo 4 1949 II
Annete Ruellan Geografia Médica e Colonização 4 1949 II
Lúcio de Castro Soares
Contribuição ao Estudo da
Ocupação Humana do Território do
Amapá 2 e 3 1949 II
Pedro Geiger Os Alpes Franceses do Norte 2 e 3 1949 II
Carlos Borges Schmidt Paisagens Rurais 2 e 3 1949 II
Dora de Amarante Romariz
A Comitiva Goiana e o Seu Modo de
Vida 1 1950 III
Pedro Geiger
As Veredas e os Gerais na região do
Rio Preto na Bahia (estudo de
geografia humana)
1
1950 III
Jorge Chebataaroff Origem das Praias do Uruguai 1 1950 III
Romualdo Ardissone
Aspectos da Geografia das Cercas
Argentinas 1 1950 III
Antônio Teixeira Guerra
Contribuição da Geomorfologia ao
Estudo dos Sambaquis 4 1950 III
Elza Coelho de Sousa
Águas da Prata, uma Estância
Mineral
4 1950 III
Ruth Boucharud Lopes da
Cruz
Notas Sobre a Ocorrência do Caroá
no Nordeste 4 1950 III
Daniel Faucher Géographie Agraire 4 1950 III
Henry Pratt L'homme Et Le Sol 4 1950 III
Annette Ruellan
Estudo Preliminar Sobre a
Distribuição dos Índices Esplênicos
e Parasitórios da Malária no Estado
2 e 3
1950 III
134
de Goiás em Relação com as
Condições Geográficas
Lysia Maria Cavalcante
Bernardes
Notas Sobre a Cidade de
Diamantina e seus Habitantes 2 e 3 1950 III
Reinhard Maack
Notas Preliminares Sobre Clima,
Solos e Vegetação do Estado do
Paraná
2 e 3 1950 III
Speridião Faissol A Colonização no Estado de Goiás
2 e 3 1950 III
Antônio Teixeira Guerra Litoral da África Ocidental 2 e 3 1950 III
João Gonçalves de Sousa
Custos de Produção e Preços de
Venda dos Produtos Agrícolas do
Distrito Federal
1
1951 IV
Moacir M. F. Silva
Sentido Geopolítico das Ligações
Terrestres Rio de Janeiro-Salvador
1 1951 IV
Jorge Chebataroff
Epigenia do Arroio Maldonado na
Serra Balena
1
1951 IV
Antônio Teixeira Guerra
A Noção de "Erosão"no Modelado
do Relevo Terrestre 1 1951 IV
J. Fernando Carneiro "Imigração e Colonização no Brasil"
2, 3 e
4 1951 IV
Walter Alberto Egler Problemas Agrários do Brasil
2, 3 e
4 1951 IV
Dora de Amarante Romariz
Aspectos da Vegetação de
Diamantina
2, 3 e
4 1951 IV
Francis Ruellan
Estudo Preliminar da Geomorfologia
do Leste da Mantiqueira
2, 3 e
4 1951 IV
Jean Gottmann
"L'Amerique" Os Caracteres
Originais do Novo Mundo
2, 3 e
4 1951 IV
James B. Vieira da Fonseca O Ensino da Geografia
2, 3 e
4
1951 IV
Gottfried Pfeifer
"Posição do Brasil no
Desenvolvimento Cultura-
Geográfico do Novo Mundo" 1 e 2 1952 V
Ruth Mattos Almeida Simões
A Cultura da Agave no Brasil 1 e 2 1952 V
Nilo Bernardes
A Cidade de Cruzeiro - Notas de
Geografia Urbana 1 e 2 1952 V
André Meynier "Crítica da Nação de Monções" 1 e 2 1952 V
Heldio Xavier Lenz Cesar Pralognan - La Vanoise 1 e 2 1952 V
Orlando Valverde
O Sistema de Roças e a
Conservação dos Solos na Baixada
Fluminense
3 e 4 1952 V
Pedro Pinchas Geiger
Notas sobre formas aparentes de
pequenas "cuesta"na Baixada da
Guanabara 3 e 4 1952 V
Lindalvo Bezerra dos Santos
Considerações sobre alguns
problemas do Nordeste
3 e 4 1952 V
Orlando Valverde
O Sertão e as Serras - O Centro-
Norte do Ceará - Estudo Geográfico
para localizaçào de uma missão
rural
3 e 4 1952
V
André Cailleux
"Paris et I'agglomeration
parisienne" "La Géologie" 3 e 4 1952 V
João José Bigarella
Contribuição ao estudo da planície
sedimentar da parte norte da Ilha
de Santa Catarina"
1 e 2
1953 VI
Manuel Diegues Júnior
Bases Econômicas e Sociais na
Formação das Alagoas 1 e 2 1953 VI
Walter Alberto Egler
Aspectos Georáficos da Cultura do
Cacau na Bahia 1 e 2 1953 VI
Paul Veyret Géographie de I'Elevage" 1 e 2 1953 VI
135
James B. Vieira da Fonseca
Interpretação dos Programas de
Geografia para Curso Ginasial -
Sugestões para o ensino
1 e 2
1953 VI
Lysia Maria Cavalcante
Bernardes
Aplicação de Classificações
Climáticas do Brasil 3 e 4 1953 VI
Preston E. James
"Trends in Brazilian Agricultural
Development" 3 e 4 1953 VI
Francis Ruellan
Estudos Geomorfológicos na Zona
Urbana do Rio de Janeiro 3 e 4 1953 VI
Orlando Valverde
Relatório Técnico da Excursão ao
Rio Grande do Norte 3 e 4 1953 VI
Pedro Pinchas Geiger
A respeito de "Produtos
valorizados" 3 e 4 1953 VI
José Veríssimo da Costa
Pereira
Desenvolvimento e Fontes da
Geografia no Brasil nos Séculos XVI
e XVII 1 e 2 1954 VII
Pierre Monbeig
Papel e valor do ensino da
Geografia e de sua pesquisa 1 e 2 1954 VII
José Veríssimo da Costa
Pereira
Desenvolvimento e Fontes da
Geografia no Brasil durante o
Séculos XVIII 3 e 4 1954 VII
Roberto Galvão
Aspectos Gerais de algumas
Fazendas no Município de Amapá 3 e 4 1954 VII
Efrain Orbegoso Rodrigues
Considerações em torno da Terra e
do Homem no Peru 3 e 4 1954 VII
Delnida Martinez Alonso
Notas para o Estudo do Núcleo
Colonial de Santa Cruz (Secção de
Piranema) 1 e 2 1955 VIII
Orlando Valverde
Reconhecimento Geográfico no
Município de Pompéu, M.G. 1 e 2 1955 VIII
José Veríssimo da Costa
Pereira
Análise preliminar dos tipos de
povoamento no Brasil,
principalmente sob o ponto de vista
de sua morfologia
3 e 4 1955
VIII
José Veríssimo da Costa
Pereira
Contrastes Regionais da terra norte
– americana 3 e 4 1955 VIII
E. Teixeira Leite, Affonso
Várzea e Maria Conceição
Vicente de Carvalho
Veríssimo: o Homem, o Professor, o
Geógrafo
3 e 4 1955
VIII
Lysia Maria Cavalcante
Bernardes
Alguns problemas da aplicação do
sistema de Köppen ao Brasil 1 e 2 1956 IX
Amélia Alba Nogueira
Vargem Grande (alguns aspectos
geográficos) 1 e 2 1956 IX
Hilgard O'Reilly Sternberg
Die europäische Kolonisation
Südbrasiliens de Leo Waibel 1 e 2 1956 IX
Hilton Sette
Origem e evolução urbana de
Garanhuns
1 e 2 1956 IX
Maria do Carmo Corrêa
Galvão Sistemas Agrícolas no Congo Belga 1 e 2 1956 IX
Gilberto Osório de Andrade
A via do rio Formoso, na costa sul
de Pernambuco
3 e 4 1956 IX
Pierre Deffontaines
As invernadas: Tipos de migrações
do gado na América do Sul 3 e 4 1956 IX
F. A. Van Baren
Problemas relativos à gênese dos
solos tropicais
1 e 2 1957 X
Jayme Sta. Rosa
Fundamentos geográficos da
indústria química brasileira 1 e 2 1957 X
Nilo Bernardes
O problema do estudo do habitat
rural no Brasil 1 e 2 1957 X
Pedro Pinchas Geiger
Exemplos de hierarquia de cidades
no Brasil 3 e 4 1957 X
Maria do Carmo Corrêa Lavradores brasileiros e 3 e 4 1957 X
136
Galvão portugueses na Vargem Grande
Jean Tricart
Alguns problemas geomorfológicos
da Bahia 3 e 4 1957 X
Michel Blochu e Pedro
Pinchas Geiger
A respeito de "Mapas econômicos
das cidades e regiões do Rio de
Janeiro e São Paulo"
3 e 4 1957
X
Maurício Silva Santos
Como encarar o ensino da
Geografia do Brasil no terceiro
ginasial 3 e 4 1957 X
Mônica Mary Cole
A savana brasileira 1 e 2 1958 XI
Aluízio Peixoto Boynarde e
Maria Thereza Soares
Santa Teresa, um bairro residencial
no centro do Rio de Janeiro
1 e 2 1958
XI
Jean Roche
Alguns problemas sugeridos pelo
estudo da colonização alemã no Rio
Grande do Sul 1 e 2 1958 XI
M. T. de Segadas Soares A primeira vila portuguesa no Brasil
1 e 2 1958 XI
Hilgard O'Reilly Sternberg Uma nova paisagem agrária 3 e 4 1958 XI
Nilo Bernardes
Sobre a roça e a fazenda no Brasil 3 e 4 1958 XI
M. T. de Segadas Soares
O conceito geográfico de bairro e
sua exemplificação na cidade do Rio
de Janeiro
3 e 4 1958
XI
Mário Lacerda de Melo
Tipos de Localização de Cidades em
Pernambuco 3 e 4 1958 XI
Lysia Maria Cavalcante
Bernardes
Evolução da paisagem urbana do
Rio de Janeiro até o início do século
XX 1 e 2 1959
XII
Milton Santos
Notas de viagem à Costa do
Marfim: economia comercial e
transformações da paisagem
geográfica na A. O. F.
1 e 2 1959 XII
Myriam Gomes Coelho
Mesquita
Aspecto Geográfico do
Abastecimento do Distrito Federal
em gêneros alimentícios de base 1 e 2
1959
XII
Amélia Alba Nogueira e J.
Tricart
Contribuição ao estudo dos
sedimentos litorâneos do sul
doBrasil 3 e 4 1959
XII
Pierre Deffontaines
Meditação geográfica sobre o Rio de
Janeiro 3 e 4
1959
XII
Lilia Veirano
Aspectos característicos da
colonização menonita 3 e 4
1959
XII
Michel Rochefort
A organização urbana da Amazônia
Brasileira 3 e 4
1959
XII
Lysia Maria Cavalcante
Bernardes
Função defensiva do Rio de Janeiro
e seu sítio original 1 e 2
1960 XIII
Michel Tabutlau
Notas sobre a região de Ponte Nova
e Viçosa 1 e 2
1960 XIII
Orlando Valverde
O Noroeste da Mata Pernambucana
( A região Timbaúba )
1 e 2
1960 XIII
Alceu Magnanini
Origem e distribuição do Cerrado da
Caatinga e do Pantanal no Brasil
3 e 4 1960 XIII
Armen Mamigonian
A Indústria em Brusque ( Santa
Catarina ) e suas conseguências
sobre a vida urbana
3 e 4
1960
XIII
Mario Lacerda de Melo e
Manuel Correia de Andrade
Um Brejo de Pernambuco: A Região
de camocim de São Felix
3 e 4
1960
XIII
José Cézar de Magalhães
A lenha e o carvão vegetal no
abastecimento e consumo do
Estado da Guanabara
1 e 2 1961
XIV
José Hesketh Lavareda
Abastecimento da cidade do Recife
em carne e leite 1 e 2 1961 XIV
Michel Rochefort
O problema da classificação do 1 e 2 1961 XIV
137
habitat
Lysia Maria Cavalcante
Bernardes
As grandes vias de comunicações
do setor ocidental da Baixada da
Guanabara, nos primeiros séculos
da colonização
3 e 4 1961
XIV
Walter Alberto Egler
O sertão de Pernambuco 3 e 4 1961 XIV
Walter Alberto Egler
Problemas Agrários do Brasil 3 e 4
1961 XIV
Walter Alberto Egler
Zonas pioneiras do oeste de Santa
Catarina 3 e 4
1961 XIV
Roberto Lobato Corrêa
Uma experiência de colonização na
Baixada Fluminense 1 1962 XV
José Alexandre Felizola Diniz
Aracajú, síntese de Geografia
Humana 1 1962 XV
Milton Santos
Alguns problemas das grandes
cidades nos países
subdesenvolvidos 1 1962 XV
Paulo Norberto Hack e Lucy
Pinto Gallego
O Criatório Leiteiro no Vale Médio
do Paraíba do Sul - A Fazenda SL
1 1963-1964 XVI
Orlando Valverde
O Arroz no Maranhão 1 1963-1964 XVI
Gerard Prost
As Grandes Obras nos Países Baixos
1 1963-1964 XVI
Maria Francisca Tereza
Cavalcanti Cardoso e Maria
Emilia Teixeira de Castro
Botelho
Madureira - Tentativa de
determinação da área de influência
de um sub-centro da metrópole
carioca 1 1965-1966 XVII
Alceo Magnanini
A Recuperação de Solos nos
Cerrados 1 1965-1966 XVII
Salomão Turnowski
A Ocupação Agrícola no Médio São
Francisco - a área de Cabrobó 1 1965-1966 XVII
Írio Barbosa da Costa Geografia do Brasil (David Márcio)
1 1967 XVIII
Maria da Conceição de M.
Coutinho Beltrão e Lina
Maria Kneip
Arqueologia e Geomorfologia:
tentativa de uma abordagem
interdisciplinar
1 1967 XVIII
Ângela de Biase Ferrari
Notas sobre os alemães no Espírito
Santo 1 1967 XVIII
Jorge Chebataroff Geomorfologia da Uruguai
1 1967 XVIII
Pedro Pinchas Geiger
O que é Regionalização 1 1967 XVIII
Antônio Teixeira Guerra
Ocorrência de Lateritos no Alto
Purús 1 1968 XIX
Antônio Teixeira Guerra
Notas sobre as habitações rurais do
Território do Rio Branco 1 1968 XIX
Antônio Teixeira Guerra
Contribuição ao estudo da
geomorfologia e do quaternário do
litoral de Laguna (Santa Catarina) 1 1968 XIX
Antônio Teixeira Guerra
Conceito de Poder Nacional e
Segurança Nacional 1 1968 XIX
Michel Rochefort
Mecanismos Econômicos e sua
Influência para a Geografia Humana
1 1969 XX
Anaik Volkin
Sobre os Métodos da Climatologia
Tropical, ramo da Geografia 1 1969 XX
Mauricio de Almeida Abreu e
Maria do Socorro Diniz
As causas do crescimento recente
de Itaboraí - Vendas das Pedras
1 1970 XXI
Diretoria de Pesquisa sa
SRRJ da AGB Uso da Terra em Guaratiba 1 1970 XXI
Brian J. L. Berry
Relações entre o Desenvolvimento
Econômico Regional e o Sistema
Urbano - O caso do Chile
1 1970 XXI
Speridião Faissol
Regionalização - análise
Quantitativa 1 1970 XXI
Ruth Lopes da Cruz
Magnanini e Olga Maria
Buarque de Lima
Uma Medida da Função de Direção
das Cidades Brasileiras 1 1971 XXII
138
Hilda Campos
CAMPOS - Notas decorrentes de
uma pesquisa sobre migrações 1 1971 XXII
Elisa Mendes de Almeida e
Olga Maria Buarque de Lima
Analise Fatorial de 3 areas
Metropolitanas - Belo Horizonte,
Curitiba e Porto Alegre 1 1971 XXII
Ian Burton
A Revolução Quantitativa e a
Geografia Teorética 1 1971 XXII
David Harvey
Explanation in Geography -
Comentário Bibliográfico e Notas a
margem por Speridião Faissol 1 1971 XXII
Zila Mesquita Melo
A Política de Desenvolvimento
Urbano no Processo de
Desenvolvimento Nacional
1
1972 XXIII
Ana Maria de Souza Bicalho
e outros
Transformações na Periferia Urbana
do Rio de Janeiro: crescimento e
diversificação da pecuária leiteira
1 1972 XXIII
Gilda Campos Impellizieri de
S. Martins
Contribuição ao Estudo da Estrutura
Interna da Área Metropolitana do
Rio de Janeiro. O caso de Xerém
(Duque de Caxias)
1 1972 XXIII
Maria do Socorro Diniz
A Rede de Localidades Centrais do
Rio Grande do Sul, determinada
através da Teoria dos Grafos 1 1972 XXIII
Maria do Socorro Diniz
Um Aspecto da Urbanização no
Estado do Espírito Santo
1 1972 XXIII
Irio Barbosa da Costa
Contribuição para o Estudo da
Pesca no Nordeste 1 1972 XXIII
Pedro Pinchas Geiger, Joao
Rua e Luiz Antonio Ribeiro
Notas sobre aplicações de Modelo
Probabilístico de Distribuição Poison
ao Sistema Urbano
1 1972 XXIII
Irio Barbosa da Costa
Comentário do Livro Didático
intitulado "Geografia Ativa" 1 1972 XXIII
Edmon Nimer
Importância das florestas para a
qualidade do meio ambiente
1 1973/1974/1975
XXIV
Marina Sant'Anna
Análise do crescimento econômico
da região Centro-Sul no século
XVIII baseada nos elementos
fornecidos pela teoria da base de
exportação
1 1973/1974/1975
XXIV
José Cézar de Magalhães
A energia elétrica no Estado do Rio
de Janeiro 1 1973/1974/1975
XXIV
Rivaldo Pinto de Gusmão
Características gerais da
organização agrícola do Estado do
Rio de Janeiro - um estudo através
de análise fatorial 1 1973/1974/1975
XXIV
Marlene Teixeira e William
G. Soares
Integração de Maricá à área
metropolitana do Rio de Janeiro 1 1973/1974/1975
XXIV
Edmon Nimer
Os fatores meteoroclimáticos e os
processos naturais de meio
ambiente
1 1976 XXV
Edmon Nimer
Organização do espaço e ecologia 1 1976 XXV
Maria Luiza Fernandes
Pereira e Jorge Xavier da
Silva
Estruturas e texturas
subsuperficiais na praia de Grumari
1 1976 XXV
Antônio José Teixeira Guerra
Fusão Guanabara-Rio de Janeiro 1 1976 XXV
Iná Elias de Castro, Naria
Helena Lacorte e Nelza
Araújo
O processo de urbanização no
continente africano 1 1976 XXV
Miriam Limoeiro
O mito do método 1 1976 XXV
Maria Cecília de Oliveira
Micotti Estruturalismo 1 1976 XXV
Maria das Graças Oliveira
Noções de Estatística 1 1976 XXV
139
Hilda da Silva
O Povoamento do Nordeste 2 1976 XXVI
Hilda da Silva
O Sistema Urbano do Nordeste 2 1976 XXVI
Hilda da Silva
Mudanças de população: um estudo
de pequenas cidades nos estados
do Maranhão, Pernambuco e São
Paulo no Brasil 2 1976 XXVI
Hilda da Silva
A natureza da política habitacional
para grupos de baixa e média renda
no Rio de Janeiro e seus efeitos no
modelo residencial da referida
cidade 2 1976 XXVI
Fábio Macedo Soares
Guimarães Divisão Regional do Brasil 1 1977-1978 XXVIII
Maria Francisca Thereza C.
Cardoso
Desequlíbrios regionais -
formulações teóricas 1 1977-1978 XXVIII
Haidina da S. B. Duarte e
William Gonçalves Soares
Análise de critérios de população na
identificação de zonas internas na
região metropolitana do Rio de
Janeiro
1 1977-1978 XXVIII
Leila Christina Dias Carvalho
Levantamento bibliográfico sobre
desenvolvimento e política regional
no Brasil - 1960/1978 1 1977-1978 XXVIII
Lia Osório Machado
Urbanização e migração na
Amazômia Legal : sugestão para
uma abordagem geopolítica
1 1982 XXXII
Rosângela Araújo Vilela
Mobilidade ocupacional e espacial
dos puquenos produtores
camponeses na fronteira agrícola
da Amazônia
1 1982 XXXII
Lia Osório Machado e Bertha
Becker
Relações de trabalho e mobilidade
na Amazônia brasileira: uma
contribuição 1 1982 XXXII
Milton Santos
Organização do espaço e
organização social : o caso de
Rondônia
1 1982 XXXII
Mariana Miranda
Padrões de uso da terra na área da
Belém - Brasília 1 1982 XXXII
Maria Célia Nunes Coelho e
Raymundo Garcia Cota
Carajás: processo decisório e
impacto espacial
1 1982 XXXII
Orlando Valverde
Desenvolvimento e equilíbrio
ecológico 1 1982 XXXII
140
2.2.3
O Boletim Paulista de Geografia
Figura 23
O Boletim Paulista de Geografia (BPG) surge em 1949, tendo seu primeiro
número publicado em março desse mesmo ano, e permanecendo até os dias de
hoje publicando a produção geográfica brasileira. O Boletim Paulista de Geografia
é a única publicação da AGB, daquelas que nasceram nos anos das décadas de
1940 a 1960, que continua a ser publicada.
Para o professor
Aroldo de Azevedo, que escreve a apresentação do
primeiro número, o BPG, como vai ficar conhecido no interior da comunidade
141
geográfica o Boletim Paulista de Geografia, apesar de um nome novo, era, como
projeto de publicação, uma continuidade de publicação anterior da Associação,
quando esta ainda não havia feito a reforma estatutária que criou a possibilidade
de formação das seções regionais.
“Com efeito, o BOLETIM PAULISTA DE GEOGRAFIA nada mais
é do que uma continuação do Boletim da Associação dos
Geógrafos Brasileiros, publicado nos anos de 1941 a 1944.
Com a reforma dos Estatutos da A.G.B., processada em junho
de 1945, seu núcleo original veio a se transformar na atual
Seção Regional de São Paulo, tendo sido suspensa a
publicação daquele Boletim, por motivos óbvios.” (BPG,
1949:1)
Mesmo sendo publicações diferentes, e após a reforma estatutária, de
escalas de influência também diferentes, pelo menos no que se propõe, o
professor Aroldo de Azevedo, que por mais de uma década foi responsável pela
organização do BPG, ao tratá-lo como uma continuidade do boletim da AGB,
evidencia em seu discurso uma certa centralidade da Seção Regional de São
Paulo, ou mesmo uma certa dificuldade em definir o que é uma associação com
um nome nacional com sede em São Paulo, ou uma associação paulista com um
nome e um projeto nacional.
O primeiro número do BPG, trás junto com ele, uma história de quinze
anos de Geografia universitária paulista e de igual tempo de existência da AGB.
Essas duas instituições que tiveram até então suas existências articuladas entre
si, estiveram presentes em outras publicações da própria AGB – a Revista
Geografia e o Boletim da Associação dos Geógrafos Brasileiros, que de alguma
forma publicaram os produtos da pesquisas, dos pensamentos e observações de
uma “geração” de geógrafos que se formava então em São Paulo, e que falava
sobre São Paulo e sobre o Brasil. No entanto, segundo Azevedo (BPG,1949:1), “a
Seção Regional de São Paulo não poderia deixar de possuir seu órgão próprio,
apesar de modesto, a fim de permitir que os geógrafos que lhe são filiados
tenham maiores oportunidades de apresentar o resultado de seus estudos e de
seus trabalhos de campo”. A responsabilidade de publicação de um Boletim,
nesse determinado momento da história da Associação e da Geografia paulista
era ainda maior, uma vez que havia de se considerar a contribuição do até então
construído e apontar importantes perspectivas para o futuro, não da
142
Associação, como também da própria Geografia paulista e de seus interlocutores.
Assim
“Com o presente número, inicia-se a publicação do BOLETIM
PAULISTA DE GEOGRAFIA, órgão da seção de São Paulo da
Associação dos Geógrafos Brasileiros. Sua responsabilidade é
um pouco maior do que a de outras publicações de seu
gênero: em primeiro lugar, porque será o espelho de nova
geração de geógrafos, que, à sombra da A.G.B., vem
trabalhando conscientemente, embora de maneira silenciosa,
em terras paulistas; em segundo lugar, porque traz
consigo uma tradição de cultura geográfica, que não deve
nem pode desonrar.” (BPG, 1949:1)
Os objetivos relacionados ao Boletim Paulista de Geografia ficam bastante
claros, muito embora pareça também bastante amplos, o que pode ser
facilmente entendido dado o contexto de sua época, ou seja, de início de vida de
uma Associação e de uma ciência em sua versão institucional e formativa em
âmbito universitário, onde as referências de diálogo se fazem na busca do
encontro de caminhos, tanto epistemológicos, como metodológicos, e mesmo
políticos.
“Ao colocar-se ao lado de outras publicações geográficas
existentes no país, às quais saúda muito cordialmente, não
aspira senão concorrer, na pequenez de seus esforços, pelo
levantamento e pelo progresso da Geografia brasileira.
Dentro deste objetivo, procurará oferecer aos seus leitores
contribuições originais de valor, quer dentro do quadro da
Geografia Física e Biológica, quer dentro do âmbito da
Geografia Humana, em seu mais amplo sentido, sem
esquecer o campo fascinante da Geografia Regional. A par
disso, visará diretamente o ensino de geográfico, através de
debates sobre temas metodológicos, de trechos escolhidos de
autores selecionados ou de comentários bibliográficos.
Refletirá, enfim como é justo, um pouco da vida e das
atividades internas da Seção Regional, de que é órgão.”
(BPG, 1949:1) [grifos nossos]
Dentre os objetivos explicitados pelo professor Aroldo de Azevedo, têm
destaque aqueles que seriam mais comuns a uma publicação de caráter
geográfico em sua época, ou seja, a noção de que o Boletim iria oferecer as
contribuições nos mais diferentes campos da Geografia. No entanto, duas
importantes passagens “saltam aos olhos” e merecem destaque nesse fragmento
de texto de Azevedo, e que foram por nós grifados. O primeiro diz respeito ao
esforço “pelo levantamento e pelo progresso da Geografia brasileira”, onde a
143
expressão “Geografia brasileira” começa aparecer como um substantivo de maior
freqüência e onde a idéia de progresso se afirma diante a possibilidade de um
certo rigor metodológico, com uma marca positivista de ciência. O segundo, diz
respeito ao lugar que ocupará o Boletim, que, ao mesmo tempo, que se propõe a
somar esforços na busca do posicionamento da Geografia brasileira num plano
mais elevado no interior das ciências, afirma em outro tempo que esse Boletim
refletirá “como é justo” as atividades internas e a vida da Seção Regional. De
certo, parece fato comum na dinâmica das Seções Regionais e de seus Boletins,
a explicitação da produção acadêmica dentro de uma inexorável relação entre a
Seção Regional, a universidade principal daquela localidade onde estava a
maioria dos seus principais sócios, e o Boletim dessa Seção.
Tabela 10
Boletim Paulista de Geografia (1949-1968)
AUTOR TÍTULO ANO
Aziz Nacib Ab'Saber
Regiões de circundesnudação pós-
cretácea no Planalto Brasileiro
1 1949
F. L. d'Abreu Medeiros
A feira de burros de Sorocaba 1 1949
Nice Lecocq Müller
Uma vila do litoral paulista - Icapara 1 1949
Renato da Silveira Mendes
Cultura e comércio da laranja na região
da Guanabara
1 1949
Antônio Rocha Penteado
Vigilengas do Baixo Amazonas 2 1949
Aroldo de Azevedo
O Planalto Brasileiro e o problema da
classificação de suas formas de relêvo
2 1949
J. R. de Araújo Filho O caiçara na região de Itanhaém 2 1949
Nice Lecocq Müller
Oxford, cidade de ontem e de hoje 2 1949
Paul Le Cointe
A Floresta Amazônica 2 1949
Aroldo de Azevedo e João Dias da
Silveira
O ensino da Geografia na Faculdade de
Filosofia da Universidade de São Paulo
3 1949
Aziz Nacib Ab'Saber
Algumas observações geológicas e
geomorfológicas - Notas prévias
3 1949
Carlos Borges Schmidt
A habitação rural na região de
Paraitinga 3 1949
Fernando F. M. de Almeida
Relêvo de "Cuestas"na Bacia
sedimentar do rio Paraná
3 1949
João Dias da Silveira e Aroldo de
Azevedo
O ensino da Geografia na Faculdade de
Filosofia da Universidade de São Paulo
3 1949
João Soukup
Mapas em projeção asimutal
equidistante e oblíqua 3 1949
Odilon Nogueira de Matos
Evolução nas vias de comunicação no
Estado do Rio de Janeiro
3 1949
Aziz Nacib Ab'Saber
A Serra do Mar e a Mata Atlântica em
São Paulo
4 1950
Aziz Nacib Ab'Saber e Miguel Costa
Júnior
Contribuição ao estudo do Sudoeste
Goiano 4 1950
Dirceu Lino de Mattos
Contribuição ao estudo da vinha do
Estado de São Paulo - A Região de São
Roque
4 1950
José Veríssimo da Costa Pereira
O espírito geográfico na obra de 4 1950
144
Euclides da Cunha
Paulo C. Florençano
A Serra do Mar e a Mata Atlântica em
São Paulo - Fotografias aéreas
comentadas por Aziz Nacib Ab'Saber
4 1950
Aroldo de Azevedo
"Os Sertões"e a Geografia 5 1950
Aroldo de Azevedo
São Paulo, metrópole moderna -
Comentários de fotografias aérea de
Paulo C. Florençano 5 1950
Aroldo de Azevedo
"La Mediterranée et le Monde
méditerranéen à l'époque de Philippe
Il"- Fernand Braudel 5 1950
Aroldo de Azevedo
"Contribuíção à Geologia dos Derrames
Basálticos do Sul do Brasil" - Viktor
Leinz
5 1950
Ary França
Novas diretrizes em Geografia Humana
5 1950
Ely Goulart Pereira de Araújo
Alguns aspectos da paisagem rural do
município de Olímpia
5 1950
Humberto de Campos
Os "vareiros"do Rio Parnaíba 5 1950
Josué de Camargo Mendes
O problema da idade das camadas de
São Paulo 5 1950
Nice Lecocq Müller
"La Géographie Humaine - Maurice Le
Lannou 5 1950
Paulo C. Florençano
São Paulo, metrópole moderna -
Fotografias aéreas comentadas por
Aroldo de Azevedo
5 1950
Renato da Silveira Mendes
"Les principales puissances et la vie
économique du monde" Meynier,
Perpilou, François et Mangin 5 1950
Antônio Rocha Penteado
Paisagens do Tietê - Fotografias
comentadas 6 1950
Aroldo de Azevedo
Regiões climato-botânicas do Brasil 6 1950
Carlos Borges Schmidt
Povoamento ao longo de uma estrada
paulista - Resultado de um
caminhamento realizado entre a Serra
de Quebra-Cangalha e a cidade de
Cunha
6 1950
J. R. de Araújo Filho A "vila"de Itanhaém 6 1950
Louis Papy
Os sistemas de cultura e suas
modalidades 6 1950
Paulo C. Florençano
Paisagens do Tietê - Fotografias aéreas
comentadas por Antônio Rocha
Penteado 6 1950
Ary França
Paisagens do litoral norte de São Paulo
- comentários de fotografias aéreas de
Paulo C. Florençano
7 1951
Aziz Nacib Ab'Saber
Paisagens rurais do Sudoeste goiano
entre Itumbiara e Jataí
7 1951
Dirceu Lino de Mattos
Bases geográficas da vida econômica
no Vale do Itapicurú - Maranhão
7 1951
Miguel Costa Júnior e Aziz Nacib
Ab'Saber
Paisagens rurais do Sudoeste Goiano
entre Itumbiara e Jataí
7 1951
Paulo C. Florençano
Paisagens do litoral norte de São Paulo
- Fotografias aéreas comentadas por
Ary França
7 1951
Ruy Ozório de Freitas
Relevos policiclicos na tectônica do
Escudo Brasileiro
7 1951
Alfonso Trujillo Ferrari
Traços essenciais da Geografia Física do
Peru 8 1951
Antônio Teixeira Guerra
Notas sôbre alguns sambaquis e
terraços do litoral de Laguna Santa
Catarina 8 1951
145
Aroldo de Azevedo
Teresina, capital do Piauí - Comentário
de fotografias
8 1951
Aroldo de Azevedo
"Paisagens Culturais da Baixada
Fluminense" - Renato Silveira Mendes 8 1951
Aziz Nacib Ab'Saber "Cours de Géomorphologie"- J. Tricart 8 1951
João Dias da Silveira
Considerações em torno da Geografia
Tropical
8 1951
Odilon Nogueira de Matos
"A baixada do Rio Itanhaém: estudo de
geografia regional" J. R. de Araújo Filho
8 1951
Odilon Nogueira de Matos
"Viagem ao Maranhão" - Aroldo de
Azevedo e Dirceu Lino de Mattos
8 1951
Roger Bastide
O Folclore brasileiro e a Geografia 8 1951
Roger Bastide
"Photographies aériennes" - P.
Chombart de Lauwe 8 1951
Roger Bastide
"La formetion de la population
parisienne em XIX ême. Siècle" - Louis
Chevalier 8 1951
Antônio Rocha Penteado
Belém, metrólope da Amazônia -
Fotografias comentadas
9 1951
Ely Goulart Pereira de Araújo
A cidade de Olímpia (Estudo de
Geografia Urbana)
9 1951
Emília da Costa Nogueira e
Francisca M. Nunes
Propriedades de japonêses na Região
de Cotia 9 1951
Fernando F. M. de Almeida
A propósito dos "Relêvos policíclicos na
tectônica do Escudo Brasileiro 9 1951
Francisca M. Nunes e Emília da
Costa Nogueira
Propriedades de japonêses na Região
de Cotia 9 1951
Ruy Ozório de Freitas
Sôbre a origem da Bacia de São Paulo 9 1951
Aroldo de Azevedo
Relevo e estrutura da Cadeia dos
Cárpatos 10 1952
Ary França
As paisagens humanizadas da ilha de
São Sebastião 10 1952
Aziz Nacib Ab'Saber
Paisagens e problemas rurais da região
de Santa Isabel
10 1952
Fernando F. M. de Almeida
Contribuíção à geomorfologia da região
oriental de Santa Catarina
10 1952
Ignácio Nobutaka Takeda
A feira de Campina Grande, na Paraíba
- Fotografias comentadas 10 1952
José Mauro de Vasconcelos
A vida nas salinas de Macau 10 1952
Nice Lecocq Müller
A feira de Campina Grande, na Paraíba
- Fotografias comentadas 10 1952
Aziz Nacib Ab'Saber
A cidade do Salvador - Fotografias
comentadas 11 1952
Dirceu Lino de Mattos
Contribuição ao estudo da Vinha no
Estado de São Paulo - A região de
Jundiaí 11 1952
Monteiro Lobato
Cidades mortas 11 1952
Pasquale Petrone
Aspectos geográficos e problemas da
região de Corumbataí
11 1952
Pierre Monbeig
"Photographies Aériennes" - Chombart
de Lauwe 11 1952
Pierre Monbeig
"Histoire du Commerce" - Lacour-Gayet
11 1952
Ruy Ozório de Freitas
Textura da drenagem e sua aplicação
geomorfológica
11 1952
Antônio Rocha Penteado
Problemas da zona rural na região de
Caraparú e Inhangapí (Baixo
Amazonas) 12 1952
Aroldo de Azevedo
Paisagens do Rio Grande do Sul
(Impressões de viagem) 12 1952
146
Elina O. Santos
Geomorfologia da região de Sorocaba e
alguns de seus problemas
12 1952
João Dias da Silveira
Aspectos do Marrocos francês -
Fotografias comentadas 12 1952
Léon Foucault
Demonstração experimental do
movimento de rotação da Terra
12 1952
Aroldo de Azevedo
Cinco anos de existência 13 1953
Aziz Nacib Ab'Saber
O Planalto da Borborema, na Paraíba -
Fotografias comentadas
13 1953
Gustavo Barroso O drama da sêca no Sertão Nordestino 13 1953
Josué de Camargo Mendes
Tabuleiros de arenito mesozóico a
nordeste de Cuiabá (Mato Grosso)
13 1953
Karl Heinrich Paffen
A Geografia científica na Alemanha de
hoje 13 1953
Aziz Nacib Ab'Saber
Na região de Manaus - Fotografias
comentadas
14 1953
João Soukup
Os diagramas geográficos e sua
aplicação 14 1953
Pasquale Petrone
As indústrias paulistas e os fatores de
sua expansão
14 1953
Raimundo Moraes
O fenômeno da inundação na Amazônia
14 1953
Aroldo de Azevedo Cuiabá, capital de Mato Grosso 15 1953
Aziz Nacib Ab'Saber
A Cidade de Manaus (Primeiros
estudos) 15 1953
Fernando F. M. de Almeida
Considerações sobre a geomorfogênese
da Serra do Cubatão
15 1953
João Soukup
Os cartogramas e sua aplicação em
Geografia 15 1953
Monteiro Lobato
O drama das geadas nos cafesais
paulistas
15 1953
Pierre Monbeig
Os modos de pensar na Geografia
Humana 15 1953
Francis Ruellan
O papel das enxurradas no modelado
do relevo brasileiro (Primeira parte)
Conclusão
13 /14 1953
Aroldo de Azevedo
A Geografia em São Paulo e sua
evolução 16 1954
Nice Lecocq Müller
Em menos de um século, a cidade de
São Paulo viu alterar-se profundamente
sua fisionomia urbana - Fotografias
comentadas 16 1954
Olavo Baptista Filho
Ecologia e aspectos demográficos do
Estado de São Paulo
16 1954
Pierre Monbeig
Aspectos geográficos do crescimento da
cidade de São Paulo
16 1954
Aziz Nacib Ab'Saber
O Planalto dos Parecis, na região de
Diamantino (Mato Grosso) - Fotografias
comentadas 17 1954
Carlos Drumond
Uma "ilha"borôro na toponímia
brasileira 17 1954
Pierre Deffontaines
Ensaio de geografia urbana de New
York 17 1954
Tadeu Rocha
A Geografia moderna em Pernambuco 17 1954
Antônio Teixeira Guerra
Pluviação e enxurrada 18 1954
Fernando F. M. de Almeida
Diário de uma viagem mineralógica
pela Província de São Paulo no ano de
1805 18 1954
Francis Ruellan
Primeira excursão geográfica inter-
universitária brasileira - Notas prévias
18 1954
Kanji Kagami
Contribuição à geografia urbana de 18 1954
147
Nagoia
Luís Schwalbach
O problema da emigração humana no
quadro contemporâneo
18 1954
Oswaldo Benjamim de Azevedo
O Brasil em face do comércio mundial 18 1954
José Bonifácio de Andrada e Silva e
Martim Francisco Ribeiro de
Andrada
Viagem mineralógica na Província de
São Paulo - (Primeira parte)
16/17 1954
Martim Francisco Ribeiro de
Andrada e José Bonifácio de
Andrada e Silva
Viagem mineralógica na Província de
São Paulo – (Conclusão)
16/17 1954
Caio Prado Júnior
A evolução da Geografia e a posição de
Aires de Casal 19 1955
Jean Roche
Porto Alegre, metrópole do Brasil
Meridional 19 1955
Luiz Melo Rodrigues
Duas décadas a serviço da Geografia 19 1955
Pasquale Petrone
Contribuição ao estudo da região do
Cariri, no Ceará 19 1955
João Soukup
Levantamentos expeditos em pesquisas
de Geografia
20 1955
Mário Lacerda de Melo
Os estudos regionais e o papel das
Universidades 20 1955
Pasquale Petrone
Crato, "Capital" da região do Cariri 20 1955
José Setzer
Os solos do Município de São Paulo
(Primeira parte)
20 1955
Aroldo de Azevedo A Geografia a serviço da política 21 1955
João Soukup
A prancheta e sua utilização em
trabalhos geográficos
21 1955
Pierre Deffontaines
Mediterrâneo Americano e Mediterrâneo
Europeu 21 1955
Viktor Leinz
O petróleo de Nova Olinda 21 1955
Aziz Nacib Ab'Saber
Depressões periféricas e depressões
semi-áridas no Nordeste do Brasil 22 1956
Kurt Hueck
Mapa fitogeográfico do Estado de São
Paulo 22 1956
Nice Lecocq Müller
Contribuição ao estudo do Norte do
Pará 22 1956
Pasquale Petrone
A propósito da cultura do abacaxi em
Brodósqui 22 1956
José Setzer
Os solos do Município de São Paulo
(Segunda parte) 22 1956
Aroldo de Azevedo
Os geógrafos paulistas e o XVIII
Congresso Internacional de Geografia
23 1956
Aziz Nacib Ab'Saber A Terra Paulista 23 1956
J. R. de Araújo Filho O café, riqueza paulista 23 1956
Pasquale Petrone
O homem paulista 23 1956
Aroldo de Azevedo e Pierre
Deffontaines Paisagens de Mato Grosso 24 1956
Elina O. Santos
Ponta Grossa, capital regional do oeste
do Paraná
24 1956
Fernando F. M. de Almeida O Planalto Basáltico da Bacia do Paraná
24 1956
Oswaldo Benjamim de Azevedo
Blocos econômicos internacionais 24 1956
Pierre Deffontaines e Aroldo de
Azevedo Paisagem de Mato Grosso 24 1956
José Setzer
Os solos do Município de São Paulo
(Conclusão) 24 1956
Aroldo de Azevedo Embriões de cidades brasileiras 25 1957
José Francisco de Camargo
Pequeno vocabulário de Demografia
para usos dos geógrafos
25 1957
148
Josué de Camargo Mendes
Grutas calcáreas na Serra da
Bodoquena, Mato Grosso
25 1957
L. Dudley Stamp
O levantamento dos recursos terrestres
25 1957
Antônio Rocha Penteado
Aspectos atuais da Geografia francêsa 26 1957
Aziz Nacib Ab'Saber
O problema das conexões antigas e da
separação da drenagem do Paraíba e
do Tietê
26 1957
J. Tricart
O café na Costa do Marfim 26 1957
Josué de Camargo Mendes
Notas sôbre a Bacia sedimentar
Amazônica 26 1957
Aroldo de Azevedo Arraiais e corrutelas 27 1957
J. R. de Araújo Filho A cultura da banana no Brasil 27 1957
José Veríssimo da Costa Pereira
A moderna produção geográfica do
Brasil e seus aspectos metodológicos
27 1957
Pasquale Petrone
No Rio Paraná, de Porto Epitácio a
Guaíra - Relatório de viagem
27 1957
Ana Dias da Silva Carvalho
Feira de Santana e o comércio do gado 28 1958
Antônio Rocha Penteado
Geografia e Sociologia, segundo Max.
Sorre 28 1958
J. Tricart
Notas sôbre as variações quaternárias
do nível marinho
28 1958
Jean Roche
As bases físicas e a ocupação do solo
no Rio Grande do Sul 28 1958
N. G.Chprintsine
A primeira Expedição Russa ao Brasil 28 1958
Antônio Rocha Penteado
Novos estudos da Geografia Humana
Brasileira - Pierre Monbeig
29 1958
Harry Taylor
Uma região produtora de sorgo nos
Estados Unidos 29 1958
João José Bigarella e Riad Salamuni
Contribuição à geologia da região sul da
Série Açunguí (Estado do Paraná)
29 1958
José Domingos Tírico
Rua da Consolação, uma das artérias
da Capital paulista 29 1958
Riad Salamuni e João josé Bigarella
Contribuição à geologia da região sul da
Série Açunguí (Estado do Paraná)
29 1958
Antônio Rocha Penteado
Aix-en-Provence, uma cidade do
Mediterrâneo francês
30 1958
Aroldo de Azevedo Dez anos de existência 30 1958
Aziz Nacib Ab'Saber
Aptidões agrárias do solo maranhense
(Notas prévias)
30 1958
Dirceu Lino de Mattos
Impressões de viagem à Zona
Bragantina do Pará
30 1958
José Francisco de Camargo
Migrações internas e desenvolvimento
econômico no Brasil
30 1958
Aroldo de Azevedo
Contribuição para um Vocabulário
Geológico 29/30 1958
J. Tricart
Divisão morfoclimática do Brasil
Atlântico Central 31 1959
Michel Tabuteau
A Circulação Urbana 31 1959
Milton Santos
A Cultura do cacau na Costa do Marfim 31 1959
Aroldo de Azevedo
Alexander von Humboldt, naturalista e
geógrafo 32 1959
Carlos Borges Schmidt
Tropas e tropeiros 32 1959
João Soukup
A I Reunião de Consulta sobre
Cartografia 32 1959
Milton Santos
Contribuição ao estudo dos centros de
cidades: o exemplo da cidade de
Salvador 32 1959
Pierre Deffontaines
Posição da Geografia Humana - Por que
Geografia Humana
32 1959
149
Antônio Rocha Penteado
A agricultura itinerante e o problema da
fixação do homem ao solo, no Congo
Belga 33 1959
Aroldo de Azevedo
Aldeias e aldeamentos de indios 33 1959
J. R. de Araújo Filho
O centro da cidade de Salvador 33 1959
José Francisco de Camargo
Características e tendências principais
das migrações internas no Brasil, nas
suas relações com a urbanização e a
industrialização 33 1959
Nice Lecocq Müller
Carl Ritter, o homem e o geógrafo 33 1959
Aziz Nacib Ab Saber
Vinte e cinco anos de Geografia em São
Paulo (1934-59) 34 1960
Egon Shaden
Humboldt e a Etnologia americana 34 1960
João Soukup
Um Atlas de Portugal 34 1960
José Domingos Tírico
A paisagem natural na região de Mogi
das Cruzes (primeiros estudos)
34 1960
Orville A Derby
Relevo, estrutura e drenagem no Brasil 34 1960
Oswaldo Benjamim de Azevedo
Posição do Brasil em face do comércio
internacional 34 1960
Pierre Vennetier
Brazzaville: alguns aspectos de uma
cidade da África Negra Francesa 34 1960
Aroldo de Azevedo
Estrutura econômica do Rio Grande do
Norte 35 1960
José Domingos Tírico
Sousas, subúrbio de Campinas 35 1960
Ruy Ozório de Freitas
Geologia aplicada à barragem do Rio
Saracuruna, no município de Duque de
Caxias (RJ) 35 1960
Antônio Rocha Penteado
Aspectos geográficos, paisagens e
problemas de Angola
36 1960
Armando Navarro Sampaio
A importância da Geografia nos
planejamentos florestais
36 1960
Aroldo de Azevedo
A obra de Gilbero Freyre examinada à
luz da Geografia
36 1960
Dyrceu Teixeira
Relevo e padrões de drenagem na
soleira cristalina de Queluz (São Paulo)
36 1960
Pierre Vennetier
Uma aldeia de pescadores na costa
conguesa 36 1960
Aroldo de Azevedo
Notas sobre o ensino da Geografia em
Universidades dos Estados Unidos
37 1961
Dyrceu Teixeira
Relevo e padrões de drenagem na
chaminé vulcânica do Itatiaia 37 1961
Milton Santos e Antônia Déa Erdens
Aspectos geográficos da
comercialização do cacau na Bahia
37 1961
National Research Council e
Association of American
Geographers Uma carreira em Geografia 37 1961
Nilda Guerra de Macedo, Teresa
Cardoso da Silva e Dorcas Ferreira
Chagas
As chuvas e o escoamento na Bacia do
Paraguaçu, BA 37 1961
Oswaldo Benjamim de Azevedo
As crises mundiais e o Brasil 37 1961
Antônio Rocha Penteado
Considerações em torno de um Atlas de
Santa Catarina 39 1961
Aroldo de Azevedo
São Paulo: da vila quinhentista à
metrópole regional 39 1961
Dyrceu Teixeira
Uma barcana na Praia do Pontal em
Cabo Frio, RJ 39 1961
Oswaldo Benjamim de Azevedo
Intercambio mercantil do Brasil após a
Segunda Guerra Mundial
39 1961
Pasquale Petrone
Notas sobre os sistemas de cultura na
Baixada do Ribeira, SP
39 1961
150
Alceu Maynard de Araújo Áreas culturais e folclore brasileiro 40 1964
J. R. de Araújo Filho Nota Explicativa 40 1964
João Bertoldo de Oliveira
Aspectos físicos da área abrangida pela
seção de extensão agrícola de São João
da Boa Vista 40 1964
Josué de Camargo Mendes
Aspectos da Sedimentação nas Praias
(Praia Grande, Estado de São Paulo)
40 1964
Nelson de la Corte "Hommes et Terres Du Nord" 40 1964
Oswaldo Benjamim de Azevedo
O comércio do Brasil com os países
socialistas 40 1964
Adilson Avansi de Abreu
A colonização ítalo-germânica no
Espírito Santo 44 1967
André Libault Tendenciais atuais da Cartografia 44 1967
Erasmo D´Almeida Magalhães
Geografia e Linguística: sugestão de
ensino 44 1967
José Bueno Conti
A intensidade do efeito orográfico sobre
as precipitações na região do Puy-de-
Dome (França) 44 1967
Manoel Correia de Andrade
Condições naturais e sistema de
exploração da terra no Estado de
Pernambuco 44 1967
Pasquale Petrone O problema Rodesiano 44 1967
Uyvão Antônio Pegaia
Estudo Geográfico dos cemitérios de
São Paulo 44 1967
Antônio Olivio Ceron
As categorias dimensionais de
propriedades agrícolas: técnicas de
agrupamento
45 1968
Elsione E. Ract de Almeida
Capivari - Cachoeira: a grande
hidrelétrica paranaense
45 1968
José Pereira de Queiroz Neto e
Antônio Cristofoletti
Ação e escoamento superficial das
águas pluviais na Serra de Santana
(Estado de São Paulo)
45 1968
Liliana Lagana Fernandes
Aspectos da organização do espaço no
bairro rural dos Pires, município de
Limeira (Estado de São Paulo) 45 1968
Manoel Correia de Andrade
Latifúndio, cana-de-açucar e côco no
norte de Alagoas
45 1968
Pierre George
Reflexões sobre a noção de região em
Geografia e sua aplicação
45 1968
Antônio Olivio Ceron
Alguns padrões de utilização da terra
agrícola no Planalto Central de São
Paulo 47 1972
Lea Goldenstein e Rosa Ester
Rossini O bairro industrial do Jaguaré, SP 47 1972
Dieter Jahn
Recenseamento na União Soviética
(Relatório)
47 1972
José Pereira Queiróz Neto
O Simpósio sobre o Quaternário do
Brasil de Sudeste
47 1972
José Pereira Queiróz Neto
Considerações sobre o VIII Congresso
INQUA, Paris 1969. 47 1972
José Pereira Queiróz Neto e Paulo
Nakashima
Observações sobre os solos da região
de Parelheiros: Contribuição ao estudo
da pedogênese regional 48 1973
Antônio Olivio Ceron e Miguel Cezar
Sanchez
Alguns problemas de análise das
distribuições espaciais: exemplos de
variáveis agrícolas no espaço paulista 48 1973
Ligia Celoria Poltroniéri
Aspectos da economia agrícola na
porção centro-oeste do Estado de São
Paulo
48 1973
João Baptista Soares de Gouvêa
Correlações e algumas considerações a
respeito do ecossistema da floresta
48 1973
151
perenifólia paludosa litorânea na região
cacaueira baiana
Elina de Oliveira Santos João Dias da Silveira 48 1973
José Bueno Conti
Maria de Lourdes Pereira de Souza
Radesca
48 1973
Armando Corrêa da Silva
Características dos espaço econômico
industrial
48 1973
Adilson Carvalho e carlos Laerte
Rotta
Estudos das formações superficiais do
município de Atibaia, SP 49 1974
Beatriz Maria Soares Pontes
Os centros industriais do Estado de São
Paulo
49 1974
João Baptista Soares de Gouvêa
Considerações e reconhecimento
fitogeográfico em áreas do baixo curso
do Vale do Rio Doce (Espírito Santo) 49 1974
Antonia Maria Ferreira Monteiro,
Ana Luiza Coelho Netto e Maria
Regina Mousinho de Meis
Formação Macacu - Variações texturais
e aproveitamento econômico
49 1974
Armando Corrêa da Silva
Desenvolvimento industrial e Geografia
(Comentário sobre uma abordagem
geográfica) 49 1974
José Pereira Queiróz Neto
Tendências atuais das pesquisas de
solos em São Paulo
50 1976
José Ribeiro de Araújo Filho O café em São Paulo 50 1976
Armen Mamigonian
O processo de industrialização em São
Paulo
50 1976
Maria Adélia A de Souza
Regionalização: tema geográfico e
político - O caso paulista
50 1976
Antônio Olivio Ceron
Distância do mercado e intensidade do
uso da terra como fatores de
localização da força de trabalho agrícola
no Estado de São Paulo 50 1976
Aroldo de Azevedo
A geografia francesa e a geração dos
anos setenta
50 1976
José Bueno Conti Aroldo de Azevedo 50 1976
Fonte: Boletim Paulista de Geografia (1949-1976)
152
2.2.4
Boletim Mineiro de Geografia
Figura 24
A Seção Regional de Minas Gerais comemorava pouco mais de dois anos
de vida quando publicou a primeiro número do Boletim Mineiro de Geografia,
fruto de grande empenho da seção, que em seu período de afirmação,
153
expressava a tentativa de ampliar o alcance da experiência geográfica no campo
da pesquisa e da divulgação científica.
O Diretor da Seção Regional de Minas Gerais, o professor Tabajara
Pedroso, que assinou o primeiro texto de apresentação do número inicial do
Boletim Mineiro de Geografia (BMG), destacou as dificuldades e também as
expectativas com a publicação da Seção.
“Afinal, está o primeiro Boletim da Seção Mineira da
Associação dos Geógrafos Brasileiros. Não foram poucos os
sacrifícios para atingirmos esse “desideratum”, porque as
nossas verbas, ainda escassas, não nos têm permitido a
largueza necessária à iniciativa. Esperamos publicar,
doravante, dois números por ano. Este será o nosso ensaio.
Na qualidade de Diretor da AGB Mineira, cumpre-me destacar
a dedicação do prof. Élzio Dolabela, a quem devemos, quase
que exclusivamente, o presente número. Esperamos que os
colegas brasileiros revelem as imperfeições que porventura se
encontrem em nosso primeiro boletim, na certeza de que
chegaremos, um dia, à regularidade atual das nossas
congêneres” (BMG/AGB, 1957:1)
Importante lembrança fez o Diretor da Seção do empenho do professor
Élzio Dolabela, que, segundo suas palavras, vai ser o grande responsável pela
edição do primeiro número do Boletim. Ézio Donabela foi o Diretor do Boletim
apenas em seu número inicial, função depois assumida pelo professor David
Márcio, e em seguida por mais dois outros associados
63
.
A grande expectativa com o Boletim Mineiro, que é também expressa na
apresentação do primeiro número, é a de sua regularidade e da possibilidade de
chegar à longa vida de outros Boletins, como o Carioca e o Paulista. No entanto,
a existência do BMG foi mais curta e irregular que o desejado. Entre os anos de
1957 e 1966, foram 12 números editados, no entanto em sete edições e com um
longo intervalo (4 anos) entre o primeiro e o segundo número. O BMG conseguiu
uma existência mais longa do que alguns outros Boletins da AGB (Paranaense e
Baiano), mas longe da expectativa nele depositado. Nesses quase dez anos
foram publicados quase trinta trabalhos que deram importante contribuição para
afirmação da AGB e da Geografia em Minas Gerais.
Na tabela a seguir os artigos publicados no Boletim Mineiro de Geografia,
com seus respectivos autores.
63
Guiomar Goulart de Azevedo e Getúlio Vargas Barbosa
154
Tabela 11
Boletim Mineiro de Geografia (1957-1963)
Título do Artigo Autor Volume
Ano
Favelas de Belo Horizonte Roger Teuliéres 1 I 1957
A cidade industrial Alisson P. Guimarães 1 I 1957
O Tupi na Geografia mineira Fausto Teixeira 1 I 1957
Advertência de Cressey Tabajara Pedroso 1 I 1957
O problema dos formadores do Amazonas Alberto Vanderley 1 I 1957
Um eclipse total do Sol Ézio Dolabela 1 I 1957
"Migomaspa", meteorito dos mais raros Marcos M. Rubinger 1 I 1957
Noticia sobre o Karst na Mata de Pains Getúlio V. Barbosa 2 e 3 II 1961
A zona pioneira do norte do Paraná em
1920 Tabajara Pedroso 2 e 3 II 1961
La commune de la Roche-Blanche Guiomar G. Azevedo 2 e 3 II 1961
Um trecho do litoral central do Espírito
Santo Getúlio V. Barbosa 4 e 5 III 1962
Tipos de aglomerações e hierarquia das
cidades de Minas Gerais Yves Leloup 4 e 5 III 1962
A pecuária no nordeste de Minas Alisson P. Guimarães 4 e 5 III 1962
Comentário Bibliográfico: "L Epiderme de
la Terre" David Márcio S. Rodrigues 4 e 5 III 1962
Alguns aspectos e problemas da
industrialização do Estado de Minas Gerais
Pierre George 6 e 7 IV 1963
Os primórdios do povoamento e a evolução
econômica da região de Sete Lagoas,
Minas Gerais Guiomar G. de Azevedo 6 e 7 IV 1963
Evolução Morfológica do horst cristalino de
Champeix, França David Márcio S. Rodrigues 6 e 7 IV 1963
Comentário Bibliográfico: "Les hautes
terres du Massif Central, Tradicion
paysanne et économie agrícole"
Raymond Pébayle 6 e 7 IV 1963
A horticultura no Vale do Barreiro, Minas
Gerais Faraildes Vale Marques 8 e 9 V 1964
A propagação das usinas de gusa em
Minas Gerais Alisson P. Guimarães 8 e 9 V 1964
A solução do problema da região
contestada entre Minas Gerais e Espírito
Santo
Getúlio V. Barbosa 8 e 9 V 1964
O Quadrilátero Ferrífero e seus problemas
geomorfológicos
Getúlio V. Barbosa e David
Márcio S. Rodrigues 10 e 11 VI 1965
A Geografia no Colégio Universitário da
Universidade Federal de Minas Gerais
Paulo Rogério J. Alvim e
Olga C. Pacheco 10 e 11 VI 1965
A Rizicultura irrigada no Rio Grande do Sul
Raymond Pébayle 10 e 11 VI 1965
Condições climáticas de Minas Gerais David Márcio S. Rodrigues 12 VII 1966
O significado da estrutura geológica para o
mapeamento geomorfológico de Minas
Gerais Getúlio V. Barbosa 12 VII 1966
Aspectos da cultura do abacaxi na região
de Lagoa Santa, Minas Gerais
Fabiano Marques dos
Santos e Ivo das Chagas 12 VII 1966
Fonte: Boletim Mineiro de Geografia (1957-1963)
155
2.2.5
Boletim Paranaense de Geografia
O Boletim Paranaense de Geografia, publicação da Seção Regional do
Paraná, foi editado pela primeira vez em 1960, quando foi posto ao público seu
número inicial, sob os cuidados do Conselho de Pesquisa da Universidade do
Paraná. O então diretor da Seção, o professor João José Bigarella fez a
apresentação desse primeiro número, onde destacou a importância do Boletim,
as dificuldades sempre encontradas em empreitadas como essa e a relação de
construção recíproca entre o Boletim e a Seção Regional.
“O presente número inicia, dentro de suas limitações, a
publicação do Boletim Paranaense de Geografia, órgão da
Secção Regional do Paraná da Associação dos Geógrafos
Brasileiros.
Não obstante o aspecto modesto, que a circunstância do
aparecimento forçosamente impõe a uma publicação desta
natureza, a sua concretização implica na necessidade de um
meio científico local já amadurecido.
Apesar de várias tentativas anteriores, somente agora
começa a se formar um ambiente geográfico propício, local,
que promete um desenvolvimento ponderável. Tal
desenvolvimento, condicionado à maior seriedade com que se
vem encarando o ensino da Geografia em nosso meio,
ultimamente, tem possibilitado uma reorganização paulatina
desta Seção Regional. Todavia, reconhecemos a existência de
grandes deficiências, particularmente na parte didática da
Geografia, no Paraná, que sem dúvida constitui um óbice à
livre e ampla evolução das pesquisas geográficas neste
Estado.
Contudo, muitas das dificuldades estão sendo superadas aos
poucos, de tal sorte que a Secção Regional do Paraná da
A.G.B. tem podido realizar pelo menos uma parte das suas
finalidades.
Ultrapassada esta fase, esperamos que este primeiro número
do Boletim Paranaense de Geografia seja o prelúdio de uma
seqüência normal de outros neste esforço para o
soerguimento das pesquisas geográficas no Paraná”.
(BPG,1960:2)
Não resta dúvida sobre as dificuldades de produção de um Boletim ou uma
revista de Geografia, principalmente a partir de uma Associação que dispunha de
poucos recursos, e que no caso de suas seções regionais, contava também o fato
de ter pouca história de existência. A Seção Regional do Paraná, embora
tenhamos notícias de movimentações desde o final da década de 1930, quando
156
era apenas um grupo de interessados na ciência geográfica, que ao fim das
contas, constituíam um núcleo da AGB, vai se constituir com um pouco mais
de consistência na década de 1950. Assim, a criação de um Boletim é sim um
instrumento de auto e retro-alimentação.
O ambiente a que se refere Bigarella, diz respeito não somente as
articulações em torno da retomada do movimento da AGB no Paraná, mas
também a existência, agora com mais corpo, de uma comunidade de geógrafos,
que poderia alimentar a AGB e em conseqüência o Boletim.
O Boletim Paranaense de Geografia existiu enquanto publicação da AGB,
entre os anos de 1960 e 1963. Neste período publicou 9 (nove) edições. A partir
do ano de 1964, em função do fechamento da Seção Regional da AGB no Estado
do Paraná, passou a ser publicado pela Universidade Federal do Paraná, e nesse
ano publicou em uma única edição os números 10, 11, 12, 13, 14 e 15,
rompendo, assim, seu vínculo com a AGB e parte de suas ligações com a
Geografia.
A partir do número 21, editado em 1966, o Boletim Paranaense de
Geografia teve seu nome modificado para Boletim Paranaense de Geociências,
rompendo, assim, seu segundo vínculo, agora com a Geografia paranaense, pelo
menos em seu nome e em sua relação com um dado campo científico.
Tabela 12
Boletim Paranaense de Geografia (1960-1963)
Autor Artigo ano
data
Instituto de Geologia Paísagens Paranaenses I - Escarpa devoniana 1 1 1960
Heloisa Barthelmess
Comentário geomorfológico sobre o Vale do
Ivaí 1 1 1960
João José Bigarella
A propósito da "contribuição ao estudo dos
sedimentos litorâneos do sul do Brasil
(Nogueira e Tricart)
1 1 1960
Altiva Pilatti Balhana
Duas pequenas indústrias agrárias de Santa
Felicidade 1 1 1960
Artur Barthelmess
Interpretação do padrão de drenagem
econômica do Estado do Paraná
1 1 1960
Comentário Bibliográfico
A cronologia do Quaternário em função das
oscilações do nível do mar, na obra de F.E.
Zeuner "Dating the past"
1 1 1960
Instituto de Geologia
Paísagens Paranaenses II - Interflúvio
Passauna-Barigui (Curitiba) 2 2 e 3
1961
Heloisa Barthelmess
Interferências do comportamento de uma
drenagem 2 2 e 3
1961
Wladimir Cavallar Kavaleridze
A estratigrafia do quaternário no Marrocos.
Paleosolos e paleoclima 2 2 e 3
1961
Reinhard Maack A modificação da paísagem natural pela 2 2 e 3
1961
157
colonização e suas consequências no norte do
Paraná
Olodemar Blasi
Algumas notas sobre a jazida arqueológica de
3 Morrinhos - Querência do Norte - Rio Paraná
2 2 e 3
1961
Gilberto Kurowski Aspectos gerais da erosão no Norte do Paraná 3 6 e 7
1962
Roberto M. Klein
Notas sobre algumas pesquisas fitosóciológicas
no sul do Brasil 3 6 e 7
1962
Rubens Braga
Contribuição ao estudo fitogeográfico do
Estado do Paraná: Serra dos Dourados
3 6 e 7
1962
Artur Barthelmess Ocupação e organização do Paraná Velho 3 6 e 7
1962
Antonio Christofoletti Estudos hidrológicos 3 6 e 7
1962
Reinhard Maack Considerações sobre Spitzbergen 3 6 e 7
1962
Altiva Pilatti Balhana
Roteiro para estudo da casa rural no sul do
Brasil
3 6 e 7
1962
Patrick J. V. Delaney e Juan
Goñi
Correlação preliminar entre as formações
Gondwânicas do Uruguai e Rio Grande do Sul,
Brasil 4 8 e 9
1963
Walter F. Piazza
O italiano e a sua contribuição à agricultura
em Santa Catarina (Notas preliminares) 4 8 e 9
1963
Antonio Christofoletti Aspectos geográficos da cidade de Araras (SP)
4 8 e 9
1963
Oldemar Blasi e Igor Chmyz
Jazida arqueológica de J. Lopes (rio
Avaí,Paraná) 4 8 e 9
1963
M. I. Neistadt e V. Gudelis
Problemas do Holocêno -
traduzido do sumário
em ingês por Rubens Viana 4 8 e 9
1963
H.P. Veloso e Roberto M. Klein
As comunidades e associações vegetais da
mata pluvial do sul do Brasil. Comentário de
João José Bigarella 4 8 e 9
1963
H.P. Veloso e Roberto M. Klein
Aspectos fitofisionômicos da mata pluvial da
costa Atlântica do sul do Brasil. Comentário de
João José Bigarella
4 8 e 9
1963
Gilberto Osório de Andrade e
João José Bigarella
Contribuição à Geomorfologia e
Paleoclimatologia do Rio Grande do Sul e do
Uruguai
4 8 e 9
1963
Fonte: Boletim Paranaense de Geografia (1960-1963)
158
2.2.6.
Boletim Baiano de Geografia
Figura 25
O Boletim Baiano de Geografia e a primeira das publicações de fôlego
criado por um Núcleo Local da AGB - o Núcleo Salvador, vinculado a Seção
Regional do Rio de Janeiro. O Boletim Baiano, assim como o Boletim Paranaense,
teve também uma existência efêmera enquanto publicação sob responsabilidade
da AGB – ambos nasceram como publicação da AGB e depois de algumas edições
passaram a ser editados pelas universidades as quais estavam àquela seção
regional ou núcleo municipal, mais próximos e articulados.
159
Inicialmente o Boletim Baiano de Geografia (BBG) foi publicado pelo
Núcleo de Salvador, e depois Seção Regional da Bahia (1963), com a
colaboração da Reitoria e do Laboratório de Geomorfologia e Estudos Regionais
da Universidade da Bahia. Nessas condições são publicados sete números em
seis edições, entre os anos de 1960 e 1962. A partir do ano de 1965, quando da
publicação do volume 8, números 9,10 e 11 (os três números em um único
volume), do BBG, passa ser uma publicação do Laboratório de Geomorfologia e
Estudos Regionais da Universidade Federal da Bahia com a colaboração da AGB,
a situação e as posições de importância se invertem, o que parece, nesse caso,
uma tentativa de continuidade do Boletim. No que se refere aos agentes do caso
em questão, as articulações em torno do Laboratório são anteriores à do núcleo
da AGB, e, em função dos acontecimentos políticos no Brasil na década de 1960,
acabaram também sendo posteriores.
A imagem a seguir, na capa do Boletim Baiano de Geografia, volume 8,
não se identifica qualquer referência à AGB. As informações sobre a colaboração
da AGB vão aparecer no expediente desse volume.
Figura 26
160
O Boletim Baiano de Geografia foi
“Mais uma publicação periódica, dedicada a Geografia no
Brasil... Mais um fruto da grande árvore que é a Associação
dos Geógrafos Brasileiros. E, exatamente na alma dessa
organização modelar que buscamos inspiração e exemplo, ao
lançarmos ao público este primeiro número do Boletim Baiano
de Geografia.
(...)
Este Boletim Baiano de Geografia quer, pois, ser mais de
Geografia que Baiano... Não estamos deslembrados da
advertência de Vidal de La Blache, para quem geógrafo e “um
homem de sua região”. Mas não queremos sacrificar a
preocupações de aldeia a ambição de contarmos com a
colaboração efetiva de outros geógrafos, que não os da
Bahia, quer escrevam quer não sobre as paisagens e
aspectos geográficos do nosso Estado. Nem queremos
esquecer as lições e conselhos que nos assistiram e
animaram, desde as primeiras atividades geográficas
baianas, em 1950, até a organização do grupo de trabalho
que agora se acha reunido no Laboratório de Geomorfologia e
Estudos Regionais da Universidade da Bahia e derredor do
núcleo local de Salvador, da Associação dos Geógrafos
Brasileiros.” (BBG,1960:3-4)
Bastante significativa a apresentação do primeiro número do BBG editado.
Num primeiro instante a demonstração de articulação com o processo de
construção da AGB, construção essa que se manifestava, principalmente com a
criação de núcleos locais e seções regionais nos mais diferentes Estados do país;
depois pela proposição de ser um Boletim baiano apenas no limite de seu nome,
e não na essência da produção e autores que nele serão divulgados, caso dos
outros Boletins das demais Seções Regionais da AGB, pelo menos no tocante aos
autores.
161
Tabela 13
Boletim Baiano de Geografia (1960-1961)
AUTOR TÍTULO ANO
Jean Tricart
Problemas geomorfológicos do litoral
oriental do Brasil 1 1960
Milton Santos
Aspectos geográficos da concorrência
entre diversos meios de transporte na
zona cacaueira da Bahia
1 1960
Teresa Cardoso da Silva
Repercussões da sedimentação
cretácica sobre o relevo baiano 1 1960
Michel Rochefort
Como a presença de uma grande
cidade diversifica as aglomerações de
uma região
2
1960
Jean Tricart, Nilda Guerra de Macedo,
Paul Le Bourdiec
Tentativa de melhoria do método de
estudo das areias
2 1960
Anna Carvalho
Contribuição para um estudo da
Geografia industrial 2 1960
Orlando Valverde, Myriam Gomes
Coelho Mesquita
Reconhecimento geográfico em
Araruama e Saquarema
3 1960
Milton Santos
Uma comparação entre as Zonas
Cacaueiras do Estado da Bahia (Brasil)
e a Costa do Marfim 3 1960
Jean Tricart
A contribuição do Centro de Geografia
Aplicada para a "mise em valeur" do
Estado da Bahia 3 1960
Jean Tricart, Teresa Cardoso da Silva
Um exemplo da evolução kárstica em
meio tropical seco: o morro de Bom
Jesus da Lapa (Bahia) 5 e 6 1961
Milton Santos
Alguns problemas do crescimento da
Cidade de Salvador 5 e 6 1961
Anna Carvalho
Salvador e a organização de seu espaço
imediato 5 e 6 1961
Norma Ramos de Freitas
As estruturas agrárias pretéritas e
causas de sua modificação no
recôncavo açucareiro da Bahia 5 e 6 1961
162
2.3
Publicações da AGB: autores e temas recorrentes num
momento de conformação do campo científico na geografia
brasileira
Um balanço das publicações da AGB nos permite construir um quadro,
nesse momento ainda simples, das características dessa produção, que vai desde
a quantidade de material produzido até a identificação de alguma temática mais
recorrente, ou mesmo da presença mais efetiva de algum autor e sua possível
influência no forma de pensar e produzir na AGB. Desse modo, um ponto de
partida útil e importante para se pensar a trajetória de cada publicação, e por
conseguinte da AGB, na construção do campo de conhecimento da Geografia
brasileira é o mapeamento do conjunto de produtos dos diversos autores
presentes nos Boletins e Anais da AGB.
As Revistas, Boletins e Anais, ao serem concebidos e representadas pelos
sujeitos do campo, como o espaço oficial, legítimo, e um dos de maior
representatividade, coloca-se como uma das instâncias fundamentais e próprias
para a compreensão do conhecimento do campo científico. Desse modo, as
publicações impõem-se como fonte importante de dados na medida que através
delas foram recriados, socializados e cristalizados concepções, ideologias e
habitus, constituindo material empírico imprescindível para o conhecimento da
constituição do campo em estudo.
O uso da terminologia campos pertence ao senso comum e à
conceituação científica. Em termos de senso comum, utilizamos, no espaço
acadêmico, sem muito questionar, as expressões “campo da geografia”, “campo
da educação” etc. para nos referirmos à especificidade de um agrupamento
social, mais ou menos vinculado ao mundo profissional ou, se quisermos, a um
agrupamento que desenvolve, na divisão social do trabalho. Mas também a
utilização dos termos conforme os conceitos desenvolvidos na sociologia crítica
de Pierre Bourdieu. É, a partir desse autor, que utilizaremos o nosso conceito de
campo científico.
Uma das virtudes da teoria do campo é que ela permite romper com o
conhecimento primeiro, necessariamente parcial e arbitrário cada um o
campo com uma certa lucidez, mas a partir de um ponto de vista dentro do
163
campo, que ele próprio não vê. A incerteza, a indeterminação presente no social
é o que legitima a pluralidade das visões do mundo (Bourdieu, 2000). Ainda
Os campos são os lugares de relações de força que implicam
tendências imanentes e probabilidades objetivas. Qualquer que
seja o campo, ele é objeto de luta tanto em sua representação
quanto a sua realidade. Todo campo, o campo científico por
exemplo, é um campo de forças e um campo de lutas para
conservar ou transformar esse campo de forças (Bourdieu,
2003:25).
Cada campo é o lugar de constituição de uma forma específica de capital.
O capital científico é uma espécie particular do capital simbólico (o qual, sabe-se,
é sempre fundado sobre atos de conhecimento e reconhecimento) que consiste
no reconhecimento atribuído pelo conjunto de partes-concorrentes no interior do
campo científico.
A estrutura do campo é, grosso modo, determinada pela distribuição do
capital científico num dado momento. Em outras palavras, os agentes (indivíduos
ou instituições) caracterizados pelo volume de seu capital determinam a
estrutura do campo em proporção ao seu peso, que depende do peso de todos os
outros agentes, isto é, de todo o espaço.
É nesta perspectiva que pensaremos a constituição do campo científico da
Geografia brasileira forjado, nesse caso, no interior da AGB e ainda, perceber o
desafio de construir uma reflexão de um campo a partir de outras reflexões, às
vezes até concorrentes, oferecidas pelos próprios agentes, os mesmos que
constituem o campo em sua forma e conteúdo. Ainda mais, em se tratando de
um “campo científico”, em que se pressupõe que os agentes que dele participam
também procuram recorrentemente refleti-lo. Bourdieu assim compreende a
noção de “campo científico”:
(...) enquanto sistema de relações objetivas entre posições
adquiridas (em lutas anteriores), é o lugar, o espaço de jogo de
uma luta concorrencial. O que está em jogo especificamente
nessa luta é o monopólio da autoridade científica definida, de
maneira inseparável, como capacidade técnica e poder social; ou,
se quisermos o monopólio da competência científica,
compreendida enquanto capacidade de falar e de agir
legitimamente (isto é, de maneira autorizada e com autoridade),
que é socialmente outorgada a um agente determinado.
(Bourdieu, 1994:122)
164
Nesse sentido, embora para muitos não pareça assim, a história da
Associação dos Geógrafos Brasileiros é caracterizada em larga escala por ter
formado, em curso, ao longo e ao largo dos processos e estruturas formais de
aprendizagem das Escolas e Universidades, um numero bastante expressivo de
estudantes e profissionais. Essa formação, embora para outros possa parecer,
não esteve ou está, desvinculada das instituições de educação formal e,
portanto, não pode ser dissociada também de suas formas. É nos lugares onde
se realiza aquilo que concebemos por escola que os se realizam, essa estrutura e
suas muitas facetas são seu território primário, embora posteriormente como
veremos adiante possibilite uma educação além das fronteiras dos muros
institucionais.
Uma das perspectivas emergentes e necessárias de estudo no campo da
Geografia brasileira nos últimos anos tem sido a tentativa de análise de sua
história como forma de compreensão tanto do processo de estruturação de seu
campo quanto do processo de construção dos agentes que o compõem. Busca-
se, desse modo, compreender a história social de sua produção e consolidação.
Estudar a história de um campo é fundamental para a compreensão do
processo de constituição desse campo. Assim, a história deve contribuir para que
os sujeitos se conscientizem do papel desta no passado, para, a partir daí,
conquistar a liberdade. Toda história deve ser analisada de forma a captar e
compreender qual a sua contribuição para se fazer avançar o conhecimento.
Assim, o que pretendemos nesse momento, além dos levantamentos
realizados das publicações da AGB e suas produções, é fazer alguns ensaios de
análise da recorrência de elementos nessa produção – temas (escalas) e autores.
Os Anais da AGB em sua história de existência enquanto a principal
publicação da Associação dos Geógrafos Brasileiros e uma das mais importantes
do Brasil, publicaram teses, textos referentes às Comunicações Orais
apresentadas individualmente pelos associados e Comunicações Temáticas
apresentadas durante os Simpósios. Essas foram as contribuições e resultados
de investigações científicas levadas a cabo por diferentes pesquisadores, de
diferentes instituições no Brasil, e que tinham em comum o fato de pertencerem
a alguma Seção Regional ou Núcleo da AGB. Foram ao longo de quase 25 anos,
publicados 16 volumes dos Anais contendo as contribuições acadêmicas.
As teses, consideradas como as contribuições mais importantes dos Anais,
representam o maior número de textos presentes na publicação. Foram 91 teses
165
publicadas, de 56 autores diferentes. Apesar de um aparente equilíbrio na
relação entre de número de teses e número de autores, encontramos alguns
autores, àqueles que notadamente gozavam de maior influência e maior
presença na AGB, que tiveram uma quantidade de teses publicadas acima dessa
média. São os mesmos autores que, nos Boletins das Seções Regionais, vão
confirmar esse domínio, sendo novamente os responsáveis pela maior
concentração de artigos editados. Foram os autores de maior participação nos
Anais: Gilberto Osório de Andrade (PE) e Jorge Chebataroff (Uruguai), ambos
com cinco teses cada; Aroldo de Azevedo (SP) e Aziz Nacib Ab’Saber (SP), com
quatro teses cada; Antônio Rocha Penteado (SP), José Ribeiro Araújo Filho (SP),
Lysia Bernardes (RJ), Manoel Correia de Andrade (PE) e Milton Santos (BA),
todos com três teses cada. Esses nove autores publicaram juntos trinta e três do
total de noventa e uma teses. No gráfico 1 podemos identificar o peso da
participação desses nove autores no total das teses publicas nos Anais da AGB.
Gráfico 1
Fonte: Anais da AGB / 1946-1964
Outro dado importante é o que sinaliza a relação entre o número de teses
e o número de autores. Os números que surgem dessa relação tornam-se
bastante significativos e reveladores quando a origem dos autores (Estados e
países) é tomada como base de referência. Os autores das teses têm origem em
apenas cinco Estados brasileiros (São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraná
e Bahia) e dois outros países diferentes do Brasil (França e Uruguai), o que vem
36%
64%
9 autores que mais publicaram
47 outros autores
Anais da
AGB
-
Proporção de Publicação de Teses
1946
-
1964
166
reforçar a tese de uma extrema concentração, menos da produção geográfica no
Brasil e mais da participação no fórum principal da AGB as Assembléias Gerais
Ordinárias, reservada à poucos em função do modelo instituído.
Gráfico 2
2
5
8
16
4
4
18
25
21
34
2
6
1
1
56
91
0
20
40
60
80
100
120
140
160
BA PE PR R J SP Uruguai França Total
Origem do Autor
Relação entre Nº de Autores e Nº Teses
Nº de Tes es
Nº de Autores
Fonte: Anais da AGB / 1948-1964
As teses, em seus conteúdos, abordam diferentes temáticas dentro de um
largo espectro disponível naquilo que podemos chamar de “geográfico”. Os
trabalhos que foram publicados versam sobre temas numa escala bem definida,
mais especificamente de assuntos dentro de um determinado estado ou mesmo
município brasileiro. Com destaque para os trabalhos sobre o Estado de São
Paulo, com 25 teses; Pernambuco, com 10 teses; Rio de Janeiro, com 6 teses;
Bahia e Paraná, com 5 teses cada. Ainda podemos destacar a presença de 6
teses sobre temas uruguaios e 4 que tratam o Brasil numa perspectiva de
totalidade.
Outra modalidade presente nos Anais são as Comunicações Orais. Essas
Comunicações começaram a fazer parte efetivamente das Assembléias, e
consequentemente, dos Anais da AGB, somente a partir de 1960, quando da
realização de sua 15ª edição. No entanto, algumas Comunicações foram
apresentadas e publicadas, de forma esporádica, em 1948, 1953 e 1954. Nas
oito edições das AGOs onde essa modalidade se fez mais presente, foram
167
apresentadas 46 Comunicações, com 48 autores diferentes (muitas comunicação
foram apresentadas por vários autores juntos). Tal como nas Teses, alguns
associados tiveram mais do que uma Comunicação publicada, entre eles: Antônio
Campos e Silva (BA), Milton Santos (BA), Aziz Nacib Ab’Saber (SP), cada um
com três publicadas; Lysia Bernardes (RJ), Carlos Augusto de Figueiredo
Monteiro (SP) e Gilberto Osório de Andrade (PE), com duas cada. Esses seis
autores juntos foram responsáveis por quinze do total de quarenta e seis
comunicações. Todos os outros autores, diferentes desses já citados, foram
responsáveis pela publicação de uma Comunicação cada.
Gráfico 3
Fonte: Anais da AGB / 1948-1964
As Comunicações tinham como principal característica ser o resultado de
um estudo que tivesse como referência o tratamento de determinados assuntos
na escala estadual, ou seja, questões referentes aos estados da federação, que
na maioria das vezes, era o estado de pertencimento do autor. Do total de 46
comunicações apenas uma dizia respeito ao Brasil como um todo, oito são
temáticas e uma outra tratava da questão do ensino de Geografia nos Estados
Anais da AGB
-
Proporção de Publicação de Comunicações
1948-1964
33%
67%
6 autores que mais publicaram
42 outros autores
168
Unidas da América, o restante (36), tratava de alguma forma dos estados
brasileiros, isoladamente ou em conjunto.
Alguns autores que aparecem na lista daqueles que mais publicaram
textos referentes às comunicações apresentadas nas AGOs, são os mesmos que
também apareceram na lista dos que mais publicaram teses, isto é em si um fato
importante para compreendermos o processo de predomínio e/ou influência de
um determinado grupo de intelectuais na produção levada à público pela AGB, e
em conseqüência, a formação de um certo tipo de pensar/produzir Geografia no
Brasil em função da importante contribuição da Associação.
O Boletim Paulista de Geografia, como a mais antiga publicação da
Geografia brasileira em funcionamento merece algum destaque na análise de sua
produção. O BPG, não é importante pela sua existência de cinqüenta anos de
atividades ininterruptas, como pela qualidade daquilo que foi colocado em suas
páginas, e com isso, do papel que assumiu em diferentes momentos históricos
como um lugar de produção geográfica destacada. O BPG, foi assim uma das
publicações da Geografia no Brasil que exerceram o papel de formação de
diversos intelectuais da Geografia, pelo caminho do lugar de publicação e como
lugar de leitura sobre o que se produzia, principalmente em o Paulo. Através
da presença destacada de alguns autores em seus números editados, é possível
afirmar que o BPG serviu não para alavancar um certo tipo de fazer
geográfico, como também para legitimar a produção de alguns profissionais, que
sem dúvida, construíram influências e definiram caminhos do ensino/pesquisa
geográfica.
Ao longo do período que escolhemos para a nossa análise, de 1949
(quando foi criado o BPG), até 1976 (quando os primeiros sinais do movimento
de renovação crítica apareceram no BPG), foram editados 50 números do
Boletim. O que vale, nesse momento destacar nessas cinqüenta edições? Em
primeiro a quantidade de artigos foram 262 publicados nessas edições,
produzidos pelas mãos de 212 autores diferentes. Esses números iniciais, por
eles mesmos causam grande impressão. Afinal é não é possível desconsiderar
a força de uma publicação que em vinte e sete anos publica essa quantidade de
artigos e envolvendo tantas pessoas.
É notório o domínio de alguns profissionais no BPG. Quando avaliamos a
significativa expressão na presença de alguns autores no Boletim, alguns nomes
tomam o lugar de destaque, e o primeiro deles é o de Aroldo de Azevedo. O
169
professor Aroldo de Azevedo publicou nas primeiras duas décadas do BPG um
total de 30 artigos, sendo 28 individualmente e 2 outros em parceria com mais
um autor. Outro que se destaca é o professor Aziz Nacib Ab’Saber, que no
mesmo período contribuiu para a vitalidade do BPG, com 18 artigos individuais e
2 em parceria. Esses dois profissionais, sem sombra de dúvida, não
dominaram numericamente a produção do Boletim, como a partir dessa
produção definiram rumos da pesquisa influenciando muitos outros profissionais
e estudantes. No gráfico 4 aparecem destacados os seis profissionais que mais
artigos publicaram no BPG.
Gráfico 4
30
20
11
10
8
7
262
0
50
100
150
200
250
300
Aroldo de
Azevedo
Aziz
Ab'Saber
Antônio
Rocha
Penteado
Pasquale
Petrone
Nice
Lecocq
Muller
João
Soukup
Total
Boletim Paulista de Geografia - autores e número de artigos
(1949-1976)
Fonte: Boletim Paulista de Geografia / 1949-1976
O impacto desses seis profissionais na relação entre o número de artigos
publicados e o número de autores é surpreendente. Juntos Aroldo de Azevedo,
Aziz Ab’Saber, Antônio Penteado, Pasquale Petrone, Nice Lecocq Muller e João
Soukup, publicaram 86 artigos (de um total de 262), enquanto o outros 206
autores (que completam os 212 autores) publicaram 176 artigos. O gráfico 5
mostra a proporção dessa comparação.
170
Gráfico 5
Boletim Paulista de Geografia -
comparação entre nº de autores e nº de artigos
1949-1976
33%
67%
6 autores que mais publicaram 206 outros autores
Fonte: Boletim Paulista de Geografia / 1949-1976
Outro dado importante a ser destacado na análise do BPG, é sobre qual a
escala predominante nos artigos publicados. Algumas produções da AGB
assumiram o projeto de divulgação de produções científicas mais vinculadas ao
Estado de origem da publicação, ou seja, mais vinculadas à produção da área de
influência daquela Seção Regional ou Núcleo Municipal. Pesou sobre a Seção São
Paulo e o BPG, em função do que foi a AGB nos seus primeiros anos, em sua
atuação quase que restrita a São Paulo, a marca de produzir e, principalmente,
colocar a público uma geografia paulista.
171
Gráfico 6
21
262
59
262
16
262
70
262
23
262
73
262
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Brasil Est. São Paulo o Paulo Outros Estados Outros países Temáticos/Teóricos
es cala do ar tigo
Boletim Paulista de Geografia - artigos segundo a escala
1949-1976
Nº de artigos por escala total de artigos
Fonte: Boletim Paulista de Geografia / 1949-1976
É possível perceber, a partir do gráfico 6 , que a despeito do significativo
número de artigos que tratam do Estado e da Cidade de São Paulo, não para
caracterizar, pelo menos no tocante à quantidade da produção do BPG, que este
foi um veículo de uma geografia que tratava exclusivamente de São Paulo. Na
ordem, os artigos do Boletim assim apresentam-se divididos: temáticos/teóricos,
27%; outros estados, 27%; Estado de São Paulo, 23%; outros paises, 9%;
Brasil, 8% e Cidade de São Paulo, 6% do total de artigos publicados no período
analisado. É certo que quase um terço dos artigos tratam de São Paulo (Estado e
Município), e é a pouca expressão dos trabalhos que fazem uma análise que
privilegiasse o Brasil em sua totalidade. Apesar dessa primazia, o BPG ocupou
mais de 70% de seus artigos para tratar de “lugares diferentes de São Paulo”, só
para aproveitar a expressão muita usada pelo professor Aroldo de Azevedo, e
que aqui não tem a carga pejorativa presente nos discursos do professor em
questão.
No entanto, é bem diferente quando analisamos a origem dos autores. O
BPG foi no período que estamos considerando, um Boletim de pouquíssimo
172
espaço para autores vinculados a outras Seções Regionais e Núcleos Municipais,
sendo, nesse caso, uma publicação paulista de fato.
O Boletim Mineiro de Geografia, ao longo de seus poucos anos de
existência, tornou público apenas sete edições, correspondendo a 12 números.
Nessas edições estão presentes 27 artigos escritos por 18 autores diferentes,
conforme distribuição que segue no gráfico 7.
Gráfico 7
5
4
3
2 2
11
27
0
5
10
15
20
25
30
Getúlio V.
Barbosa
David
Márcio S.
Rodrigues
Alisson P.
Guimarães
Tabajara
Pedroso
Guiomar G.
de A zevedo
Outros
autores
Total de
artigos
Autore s
Bole tim M ine iro de Ge ografia - nº de artigos por autor
1957-1966
Nº de artigos
Fonte: Boletim Mineiro de Geografia / 1957-1966
Em um Boletim de tão curta existência (os nove anos de intervalo entre a
primeira e última edição representam menos tempo do que parece, uma vez que
entre o primeiro e o segundo número foram quatro ano de espera), e que teve
tantas dificuldades para garantir a sua publicação, é passível de entendimento o
fato de seus autores serem quase sempre vinculados a Seção Regional de Minas
Gerais. Essas circunstâncias acabaram gerando um boletim de características
bem domésticas.
Acompanhando o perfil regional (de Seção) dos autores, os temas e suas
respectivas escalas também não fugiram à regra. O Boletim Mineiro de Geografia
apresenta, quase que exclusivamente, temas referentes ao Estado de Minas
Gerais. Do total de 27 artigos publicados em seus nove anos de atividades, 55%
tratam do Estado e nenhum trata do Brasil em sua totalidade. A marca de ser
173
boletim destinado aos estudos do lugar da Seção Regional responsável, que
aparece em outras publicações da AGB, também é do BMG.
Gráfico 8
0
27
14
27
1
27
5
27
2
27
5
27
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Brasil Minas Gerais Belo Horizonte Outros Estados Outros paises Temático/Teórico
e scala dos artigos
Boletim Mineiro de Geografia - artigos segundo escala
1957-1966
Nº de artigos Nº total de artigos
Fonte: Boletim Mineiro de Geografia / 1957-1966
O Boletim Baiano de Geografia em seus apenas dois anos de existência
enquanto publicação da AGB, tornou público sete números, entre os anos de
1960 e 1961. No entanto, tivemos acesso a apenas cinco números, que foram
publicados em quatro edições. Esses números representam 13 artigos, de
responsabilidade de 10 autores diferentes. Entre os autores presentes no BBG,
destacam-se o professor Jean Tricart com 4 artigos, o professor Milton Santos
com 3 artigos e as professoras Anna Carvalho e Tereza Cardoso da Silva com
dois artigos cada.
O BBG é mais um dos Boletins da AGB que assume um lugar regional
quando tratamos do conteúdo de seus artigos. Talvez a influência do Laboratório
ao qual estava ligado, e que depois o assumiu, tenha sido o grande responsável
por esse perfil. Entre os 13 artigos que tivemos acesso, 9 fazem referência ao
Estado da Bahia, ou seja, quase 70% do total publicado.
174
O Boletim Paranaense de Geografia no período em que esteve sob domínio
da AGB (1960-1963), publicou apenas nove números, em cinco edições. Apenas
o primeiro número correspondia uma única edição, as demais foram edições
correspondendo a dois números cada. Ao final foram poucos artigos nessa curta
história - vinte e seis, sendo produzidos por 21 autores diferentes, uma relação
muito equilibrada, onde nenhum autor publicou mais do que dois artigos.
A maioria dos artigos estava inscrito no campo da chamada Geografia
física. Outra marcante característica do Boletim é o fato dele ter mais metade do
total de artigos tratando do Estado do Paraná, o que contrasta com a escala
Brasil, que nos números que avaliamos, não teve nenhum artigo nessa
dimensão. O Boletim Paranaense constituiu-se numa publicação de caráter
regional bastante evidente.
Gráfico 9
Boletim Paranaense de Geografia - artigos segundo a escala
1960-1963
54%
28%
9%
9%
Paraná Outros Estados Outros países Temático/Teórico
Fonte: Boletim Paranaense de Geografia / 1960-1963
175
O Boletim Carioca de Geografia em seus 34 anos de existência (1948-
1982), 47 edições, contendo 176 artigos de 120 autores diferentes, vai
representar importante e diversificada contribuição para a produção do
conhecimento geográfico no Brasil. O BCG é uma das publicações sob
responsabilidade de Seções/Núcleos, de maior vitalidade da história da
Associação, posição que dividiu com o BPG.
Tal como em outros Boletins, no BCG também encontramos autores
responsáveis por um número maior de artigos publicados do que a média
histórica da publicação. Entre os autores que se destacaram no Boletim,
encontramos alguns que também tiveram importante participação na Associação,
assumindo inclusive sua Presidência (José Veríssimo da Costa Pereira, Lysia
Bernardes e Orlando Valverde), e que também publicaram com relevância nos
Anais da AGB.
Gráfico 10
8
8
7 7 5
5
4
4
176
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
Annio
Teixeira
Guerra
Pedro
Pinchas
Geiger
Lysia
Bernardes
Orlando
Valverde
Hilda da
Silva
Walter
Egler
Speridião
Fais s ol
Jos é
Verís sim o
Pereira
Total de
artigos
autores
Boletim Carioca de Geografia - número de artigos por autor 1948-1982
Nº de artigos
Fonte: Boletim Carioca de Geografia / 1948-1982
Uma diferença marca a concentração do número de artigos publicados no
BCG por alguns autores frente a outros Boletins, principalmente o Paulista, que é
sua intensidade. No primeiro, os três autores de maior presença foram
responsáveis pela publicação de 23 artigos (13% do total), enquanto no BPG, os
três maiores publicaram 61 artigos (23% do total). No geral, o BCG é o menos
176
concentrado em alguns nomes do que o BPG e outros boletins da AGB. Apesar
dessa diferença não para não dizer da importância desses autores mais
destacados no BCG para a AGB, principalmente na Seção do Rio de Janeiro, uma
vez que foram profissionais nos quais a Seção se apoiou por longo tempo, tendo
sido influenciada de maneira bastante significativa em seus rumos.
Outra característica do BCG que o coloca numa situação de diferenciação
frente aos demais boletins da AGB, diz respeito ao que aqui estamos chamando
de “escala dos textos” que foram publicados. A escala de tratamento dos temas
propostos em cada texto, e que diante da classificação apresentada nesta tese,
mostra uma configuração bastante interessante, e que pode ser observada no
gráfico 11.
Gráfico 11
29
176
14
176
14
176
67
176
24
176
28
176
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Brasil Estado do Rio de
Janeiro
Cidade do Rio de
Janeiro
Outros Estados Outros paises Teóricos/Temáticos
escala
Boletim Carioca de Geografia -
comparação dos artigos segundo escala
1948-1982
Artigos por esc ala Total de artigos
Fonte: Boletim Carioca de Geografia / 1948-1982
Diferente de outras publicações, no BCG a escala Brasil ocupa lugar
privilegiado, sendo a segunda em números de artigos, fato que talvez possa ser
explicado pela relação entre a AGB e o IBGE, estreitas pela presença na AGB de
profissionais ligados ao Instituto, sendo inclusive esses os que mais publicaram
no Boletim. Ainda nessa questão, outro ponto de diferença, aparece nas escalas
Estado e Cidade (no caso, Rio de Janeiro), que ocupam os lugares de menores
quantidades de referências, bem diferentes de outros boletins.
177
A análise dos autores e sua recorrência internamente aos Boletins revela o
domínio e a influência que esses senhores e senhoras tiveram em cada uma
dessas publicações e nas Seções da AGB às quais estavam vinculados.
Outra possibilidade de entendimento do perfil de cada um dos Boletins da
AGB e do papel desempenhado pelos seus mais diferentes autores, é analisar a
presença/recorrência desses autores em mais de uma publicação.
Numa comparação entre os Boletins Paulista e Carioca de Geografia,
chegamos aos reveladores números: entre os 212 autores do BPG, que
publicaram 262 artigos e os 120 autores, que publicaram 172 artigos no BCG,
apenas 14 - sendo 6 estrangeiros e 8 brasileiros, tiveram a possibilidade de
publicar seus trabalhos nos dois boletins. Os números em si revelam a
inexistência de articulação entre as duas Seções Regionais, pelo menos no
tocante a disponibilidade para o intercâmbio entre suas publicações. O mais
expressivo é que entre os 8 brasileiros, apenas dois eram do Rio de Janeiro e um
de São Paulo.
Tabela 14
Autores que publicaram nos Boletins Paulista e Carioca
Brasileiros Estrangeiros
Antônio Teixeira Guerra (RJ) Francis Ruellan (França)
Carlos Borges Schmidt (SP) Jean Tricart (França)
José Veríssimo da Costa Pereira (RJ) Jean Roche (França)
Mário Lacerda de Melo (PE) Pierre Monbeig (França)
Manoel Correia de Andrade (PE) Pierre Deffontaines (França)
Milton Santos (BA) Michel Tabuteau (França)
João José Bigarella (PR)
Armen Mamigonian (SC)
Fonte: Boletim Paulista de Geografia/1949-1976 e Boletim Carioca de Geografia/1948-1982
Ampliando a análise desses dados à comparação com outros Boletins
(Mineiro, Paranaense e Baiano), não encontramos situação diferente: somente
dois autores brasileiros e um estrangeiro, tiveram seus trabalhos publicados em
mais de dois Boletins professores Milton Santos e Jean Tricart, que além do
BPG e BCG, publicaram também no Boletim Baiano; e o professor João José
Bigarella, que publicou no Boletim Paranaense, além dos dois já citados.
178
179
Capítulo 3
Transformações:
da construção da institucionalidade à renovação
em movimento
180
“A grande contribuição da AGB ao desenvolvimento da
Geografia brasileira, ... decorre do fato de que ela
reunia geógrafos de pontos diversos do País, para
debaterem temas e questões e realizar, em conjunto,
trabalhos de pesquisa de campo; divulgava os
métodos e técnicas e também os princípios
dominantes nos centros mais adiantados. Ela difundiu
métodos de trabalho numa época em que não haviam
cursos de pós-graduação em Geografia, contribuindo
para consolidar a formação dos geógrafos mais novos
ou menos experientes. Realizando reuniões em
pontos diversos do terrítório nacional e fazendo
pesquisas, a AGB deu ensejo a que se conhecesse
melhor estas áreas e os seus problemas.”
(Manoel Correia de Andrade, 1987).
181
AGB é uma daquelas entidades, que pela sua longa existência
poderia marcar presença de maneira indiscutível na história das
instituições científicas do Brasil. No entanto, a própria história da
AGB, desde sua fundação até os dias atuais, não reforça sua presença nesse
seleto grupo de entidades, como também sua permanência com destaque. A AGB
é uma associação de porte nacional que construiu sua história em busca de
reconhecimento e de uma forte institucionalidade, e que passados mais de
quarenta anos de atividades viu-se transformanda num movimento de grande
diversidade, e por vezes, de intensa radicalidade dentro de uma ciência, onde foi
palco e protagonista de inúmeras histórias transformações e construções. As
transformações sofridas, provocadas e assumidas pela AGB foram muitas ao
longo de sua história.
As primeiras transformações se remetem ao próprio tempo de nascimento
da AGB no distante ano de 1934, quando, ao ser fundada, rompe, mesmo que
modestamente, com algumas das tradições na relação entre a sociedade
brasileira e as suas “regras” no tocante a existência e ao funcionamento das
associações culturais e científicas (o que, a principio não será uma regra da AGB
em suas primeiras décadas de existência). O professor Aroldo de Azevedo em
seu discurso na abertura da quinta Assembléia Geral Ordinária da AGB, em 1950,
lembra algumas dessas questões, quando relata alguns episódios da criação da
associação.
“Quando a notícia foi aos poucos chegando ao conhecimento
dos homens cultos da cidade de São Paulo, formularam-se
muitas perguntas, que escondiam críticas ou dúvidas
honestas: por que fundar-se uma sociedade geográfica, se
São Paulo possuía seu venerando Instituto Histórico e
Geográfico? Por que se lhe dava um nome tão amplo,
nacional, se sua sede não era no Rio de Janeiro e
congregava geógrafos residentes em terras paulistas?...
Perguntas razoáveis, sem nenhuma dúvida, mas que
puderam ser respondidas sem grande dificuldade. De fato, a
existência do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo
não poderia constituir uma razão para a não fundação de
uma Associação de Geógrafos; e isto porque constituíra
uma tradição o fato de dedicar-se aquele venerando sodalício
muito mais à História do que à Geografia.
(...)
Restava justificar a denominação escolhida por aquele grupo
de idealistas, congregados em 1934 Associação dos
Geógrafos Brasileiros, tendo por sede a cidade de São Paulo.
Tratava-se, aqui, de destruir uma espécie de tabu, que
A
182
ordenava que toda sociedade de nome nacional deveria ter
sua sede na capital da República. Ao que me consta,
realmente, nunca ante fora fundada uma sociedade cultural
de âmbito nacional com sede fora da cidade do Rio de
Janeiro. Coube ao prof. Deffontaines, na sua qualidade de
europeu eminente e possuidor de visão bem mais larga que
muitos de nós outros, dar a palavra decisiva: ponderou ele,
em primeiro lugar, que não existe lei alguma à face da Terra
que obrigue a esse exclusivismo e demonstrou que, muito
pelo contrário, em várias nações, e das mais cultas do globo,
haviam sido fundadas associações com nomes nacionais,
embora sediadas em cidades outras que não eram as capitais
dos respectivos países. Na verdade, limitar-me-ei a vos
apresentar um exemplo expressivo, porque se refere a uma
nação tão vasta como a nossa: a “American Geographical
Society” tem sua sede em Nova-York e, não, na capital dos
Estados-Unidos. Por outro lado, lembrou o prof. Deffontaines
um argumento rigorosamente geográfico em favor da
localização da sede da recém-fundada associação: sendo a
cidade de São Paulo o maior centro urbano do Planalto
Brasileiro e constituindo este, por sua vez, a maior e mais
importante das porções do nosso país, nada mais justo que
tivesse a honra de conter a sede da Associação dos Geógrafos
Brasileiros. Parece-me que não será preciso acrescentar
cousa alguma a argumento tão repleto de cristalina lógica,
com vantagem de ser estritamente geográfico...” (AGB,
1953:6-7)
As questões a que se refere o professor Aroldo de Azevedo, embora não
tratem de transformações necessariamente operadas no interior da AGB ao longo
de sua existência, fazem referência ao nascimento da Associação, que de certa
forma, promove algumas rupturas, mesmo que não possíveis de serem
analisadas externamente ao ato em si. Se o próprio nascimento da AGB é um ato
de ruptura, o que dizer de seus dois primeiros anos de existência, onde boa
parte dos associados era formada por estudantes do Curso de Geografia e
História da Universidade de São Paulo, e não havia ainda, nos estatutos da AGB,
qualquer distinção
64
entre os associados.
Sem nos preocuparmos, nesse momento, com qualquer ordem cronológica
que combine a existência da AGB com as tranformações operadas em seu
interior, lembremos de outro significativo exemplo de tranformação ocorrida na
Associação. Embora aparente, pois se remete à forma, a transformação das
imagens de identificação da AGB são bastante importantes, pois se remetem as
64
O que vai acontecer na Reforma Estatutária de 1936.
183
formas de representação dessa associação. Representações que podem ser
desde a sua simples marca impressa de sua logomarca, até os significados dos
símbolos impressos por sua marca na Geografia brasileira.
No ano seguinte a sua criação, a AGB apresenta o seu primeiro logotipo,
tentando assim imprimir sua marca de existência através de suas publicações
(Revistas, Boletins, Informativos). Esse primeiro logotipo vai existir até o período
da reforma estatutária de 1945 (embora é possível notar a presença do logotipo
em alguns eventos da AGB até os anos da década de 1950, como uma espécie
de bandeira da AGB). Esse primeiro logotipo, traz, e não poderia ser diferente,
em se tratando de Geografia, nos anos trinta, um mapa na sua representação.
Apesar do nome de identificação nacional brasileiros, do mapa do Brasil, o que
poderia representar a idéia de nacional, e todos os significados que isaso pode
ter, a referência a São Paulo também está presente.
Figura 27
1º logotipo da AGB
O segundo logotipo, que da mesma forma do primeiro, traz nome da
Associação, sua sigla, o mapa do Brasil, o nome São Paulo, mostra também o
ano de fundação, além é claro de um desenho com um acabamento mais preciso.
O círculo vai dar uma noção de simetria. Esse logotipo vai estar presente na
Associação, em todas as suas publicações, de suas Seções e Núcleos até o final
da década de 1970, quando é substituído pelo atual logotipo, com a três letras
iniciais de seu nome.
184
Figura 28
2º logotipo da AGB
O logotipo atual da AGB, que vai ocupar esse lugar a partir do final da
década de 1970, vem impregnado de significados. Primeiro, representa do ponto
de vista político a ruptura com aqueles símbolos e seus sentidos do passado de
diferenças e segregação na AGB. Segundo porque, do ponto de vista estético,
representava algo novo, mais moderno, de transformação, e isso se ajustava ao
momento que a AGB estava experimentando. Depois de dois logotipos tarzendo
referências do mapa do Brasil e de São Paulo, uma ruptura visual também era
necessária
65
.
Figura 29
3º logotipo da AGB
As transformações mais significativas promovidas na/da AGB foram
marcadas em suas reformas estatutárias, principalmente as de 1945, 1970 e
1979. E é isso que veremos tratado nos próximos passos desta tese.
65
No ano de 2006, o Boletim Paulista reeditou o segundo logotipo, mas o fez a título de publicação
de edição histórica.
185
3.1
A Reforma Estatutária de 1945: projetando a instituição nacional
Entre 1934 e 1945, a AGB teve uma atividade incipiente e irregular.
Manteve-se dentro de um âmbito regional, praticamente restrita aos Estados de
São Paulo e do Rio de Janeiro, embora figurassem no seu quadro social alguns
geógrafos do Paraná. Durante esse tempo, suas atividades deram-se,
principalmente, no interior da USP, envolvendo seus participantes num cotidiano
essencialmente acadêmico, intenso, mas interno, e no interior do Conselho
Nacional de Geografia (CNG), onde os geógrafos cariocas se encontravam.
A verdade é que, de início, como bem lembrou Monbeig (1946:119), “a
despeito de seu nome, não conseguiu a Associação dos Geógrafos Brasileiros
estender sua atividade além das fronteiras do Estado de São Paulo”. Ainda
Monbeig, por volta de 1943, avaliava a existência da AGB (...) modestamente
uma AGB que funciona em São Paulo, com filial em Curitiba, mantém reuniões
regulares e publicação irregular (revista Geografia)” (Apud Seabra, 2004:14)
Aroldo de Azevedo, em seu discurso, na abertura do I Congresso Brasileiro
de Geógrafos, realizado em 1954, na cidade de Ribeirão Preto, São Paulo, fez
referência à criação da AGB e a escolha de seu nome como um ato audácia.
“Por isso mesmo, embora se encontrasse na Capital paulista
e tivesse a seu lado apenas três pessoas, não deu ouvidos à
observação daqueles que achavam que a nova Associação
deveria ser exclusivamente paulista; num rasgo de audácia,
num gesto que talvez pudesse ter algo de quixotesco naquele
ano de 1934, desprezando tradições enraizadas, não titubeou
em lhe dar o nome, realmente pretensioso para a época, de
Associação dos Geógrafos Brasileiros”.(Azevedo,1954:12)
Os estudiosos da história do pensamento geográfico brasileiro, e que, em
algum momento, debruçaram-se sobre a história da AGB, o unânimes em
apontar a existência de uma AGB antes e outra pós-1945. Para a AGB, 1945 é
marcado pelo reforma estatutária que muda completamente a forma de
organização da associação e que cria as condições para que seu projeto nacional,
ou pelo menos, a atuação se para além das fronteiras do Estado de São
Paulo. Em 1945, a Geografia brasileira não está apenas restrita às duas
instituições formadoras USP e UDF (a atual UFRJ), vários cursos e em várias
partes do Brasil já haviam iniciado suas atividades.
186
Tabela 15
Cursos de Geografia no Brasil, segundo ano de criação 1934-1945
Universidade Ano de Criação
Universidade de São Paulo 1934
Universidade Federal do Rio de Janeiro 1936
Universidade Federal do Paraná 1938
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul 1940
Universidade Federal da Bahia 1941
Universidade Federal de Minas Gerais 1941
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro 1941
Universidade do Estado do Rio de Janeiro 1941
Pontifícia Universidade Católica de Campinas 1942
Universidade Católica de Pernambuco 1943
Universidade Federal do Rio Grande do Sul 1943
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais 1945
Fonte: Censo do Ensino Superior/INEP-2002
Com o crescimento do número de geógrafos licenciados em universidades,
a AGB se multiplica e sofre uma considerável mudança. A mudança institucional
veio a partir de 1945 com a reforma estatutária.
O professor Aroldo de Azevedo, em discurso na sessão de abertura da X
Assembléia Geral Ordinária da AGB, realizada na cidade de Garanhuns, em 1955,
destaca a importância e o caráter estruturante das mudanças operadas pela
Reforma Estatutária de 1945.
“Através da reforma dos estatutos realizada em 1945, eu vi a
Associação estruturar-se sob novas bases, ao adotar uma
espécie de sistema federativo, com a criação das Secções
Regionais, cujo trabalho de união, mais forte, encontra-se em
Assembléias Gerais (...) algo que se assemelha a um
Congresso Nacional de Geógrafos de todo o Brasil. A obra de
expansão e de enraizamento da nossa A.G.B. faz-se de
maneira lenta, sem açodamento, porque exige, antes de
tudo, a firmeza do terreno, a constituição de uma base sólida
(representada por um grupo escolhido de geógrafos), para
que a nova unidade venha a instalar-se.” (AGB, 1959:12)
A mudança ocorrida na AGB pode ser entendida como sua primeira
significativa mudança de fase. Lembramos que outras mudanças de fase
institucional e política ainda marcaram a/na história da associação. A AGB saiu
de seu período de infância para entrar na adolescência, conforme avaliação
187
apresentada pela professora Nice Lecocq Muller em alguns artigos publicados em
jornal
66
.
“Fundada em 1934, por obra e graça de Pierre Deffontaines,
mantida através de onze longos difíceis e heróicos anos pelo
trabalho e de Pierre Monbeig, a Associação dos Geógrafos
Brasileiros saiu em 1945 de sua infância para enfrentar o
sempre delicado período de adolescência, passando, então,
por verdadeira “crise” de crescimento. A mudança de situação
fez-se em função da criação de ambiente já mais favorável às
suas atividades, graças ao funcionamento, então de alguns
anos, da Faculdade de Filosofia e do Conselho Nacional de
Geografia.” (Muller, 1961:46)
Apesar do romantismo, e por vezes de certo exagero ao tratar da AGB em
seus primeiros anos e da importância de alguns de seus principais personagens,
a apresentação da professora Nice Lecocq Muller vai ilustrar de maneira bastante
interessante o momento de mudança e, por que não, de algumas rupturas na
dinâmica organizacional da associação.
Ainda, a professora Nice Lecocq Muller avalia, no mesmo tom, essa nova
fase da AGB, quando a associação chega ao que ela vai denominar de
“maturidade”. Assim
“Bem distante estava dos tempos heróicos, das reuniões
com três pessoas... A A.G.B. adquiria personalidade,
definindo-se em sua função nacional, criando forças para
enfrentar a maturidade. Como em todas as crises de
crescimento, também ela teve seus períodos difíceis. Mas
soube enfrentá-los, sabendo continuar a crescer, como um
todo harmônico, como um organismo sadio” (Muller,
1961:46).
Um aspecto da maior relevância para caracterizar esse período repousa no
início da intensa atividade global da AGB, realizando uma verdadeira “cruzada”
de divulgação científica e difusão profissional da Geografia pelo território
nacional. A realização das Assembléias Gerais Ordinárias e Congressos em
diversas cidades e estados do país, os trabalhos de campo e suas pesquisas
decorrentes, a publicação dos Anais e Boletins, a participação em eventos
internacionais e a criação das secções regionais, são aspectos da maior
66
A professora Nice Lecocq Muller, então sócia efetiva da AGB e Assistente da Cadeira de Geografia
Humana da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, na qualidade
de Secretária-Geral da Associação, escreveu uma série de artigos que foram publicados na “Folha
de Londrina”, PR, entre junho e julho de 1961. Em linguagem acessível ao grande público,
procurou contar um pouco da vida da AGB. Esses artigos foram agrupados e depois publicados no
Boletim Paulista de Geografia nº38 (1961).
188
relevância para o entendimento da construção do projeto de âmbito nacional da
AGB. Parte significativa desses acontecimentos se deu em função da reforma
estatutária realizada em 1945, quando a partir daí, podemos dizer que se inicia
uma nova fase na vida institucional/acadêmica e política da AGB. Vale destacar
que a reforma não se deu em si mesma, ou seja, na verdade, o estatuto e
qualquer que seja sua estrutura ou reformulação, refletem as condições e
imposições vividas em seu momento pela associação, seus membros e a
realidade sócio/econômica/ e política no qual se encontra inserida.
Resumidamente, os estatutos refletem vida que os iluminam e não somente o
contrário.
Em 1945, a AGB conhece sua segunda reforma estatutária. A segunda de
um total de seis reformas
67
em sua história umas de maiores repercussões e
alterações no formato organizacional e político da associação, e outras de poucas
alterações, podendo ser entendidas como pequenos ajustes no percurso.
Em sessão realizada no dia 4 de junho de 1945, em uma das salas da
Biblioteca Municipal, na capital paulista, depois de ampla e cuidadosa discussão,
aprovaram, os sócios da AGB, os novos estatutos. A discussão sobre a
necessidade de reforma dos estatutos da AGB foi realizada tanto pelos sócios em
São Paulo, como pelos sócios que residiam no Rio de Janeiro, que
“(...) Graças à iniciativa de Jorge Zarur, Fábio Macedo Soares
Guimarães e Orlando Valverde, apoiados por Cristóvão Leite
de Castro, tiveram início as “dermarches no sentido de se
processar uma reforma nos Estatutos da A.G.B., a fim de que
pudesse esta realizar, de maneira completa, suas grandes
finalidades”. (AGB, 1946:5)
Ou ainda, segundo Muller (1961)
“Estudiosos da nova disciplina iam percebendo o interesse
das reuniões da ainda modesta agremiação de São Paulo,
desejando que em outros centros do país algo semelhante
fosse criado. Do Rio de Janeiro partiu a iniciativa, em grande
parte por inspiração de Jorge Zarur; um grupo de geógrafos
cariocas reunindo-se aos paulistas estudou uma estruturação
da A.G.B. que permitisse fosse se formando uma rede
nacional de centros de estudos geográficos: foi a reforma
estatutária de 1945.” (Muller, 1961:46)
67
A AGB em sua história iniciada em 1934 realizou até o ano de 2007, seis reformas estatutárias, a
saber: a primeira em 1936, a segunda em 1945, a terceira em 1963, a quarta em 1970 e a quinta
em 1979. e a sexta e última em 1992.
189
Sob a presidência do professor Pierre Monbeig, a assembléia da AGB
especialmente convocada para a discussão e reforma dos Estatutos em vigor
desde 1936, teve início na noite do dia 04 de junho. No início da assembléia,
além do professor Monbeig, estavam presentes os seguintes associados: Odilon
Nogueira de Mattos, Joaquim Alfredo da Fonseca, Maxim Tolstoi Carone,
Astrogildo Rodrigues de Mello, Maria da Conceição Vicente de Carvalho, Maria da
Conceição Martins Ribeiro, Ruy Ribeiro Franco, Ruy Ozório de Freitas, Ary França,
Renato Silveira Mendes, Nice Lecocq Muller, José Ribeiro de Araújo Filho, Maria
Henriqueta Fonseca, Elí Piccolo, Elina Oliveira Santos, Eduardo Alcântara, Antônio
Rocha Penteado, João Dias da Silveira, Dirceu Lino de Mattos, Fernando Flávio
Marques de Almeida e Aroldo de Azevedo. Algumas ausências foram notadas e
justificadas, como por exemplo, dois dos principais articuladores da AGB no Rio
de Janeiro os professores Fábio de Macedo Soares Guimarães e Jorge Zarur.
Seguindo a ordem estabelecida para o processo de reforma estatutária presente
nos estatutos em vigência, o presidente da AGB fez a leitura dos nomes dos
associados que se encontravam em pleno gozo das suas prerrogativas, por se
acharem quites com a tesouraria, chegando a um total de 36 (trinta e seis)
associados. Nessas condições, o presidente da AGB declarou que com a presença
dos vinte e dois associados garantiriam a legalidade para a assembléia deliberar
sobre a reforma dos estatutos da associação, uma vez que dentro dos termos do
estatuto em vigor seriam necessários, pelo menos, a metade dos sócios efetivos
para a realização plena do processo.
Em rápida exposição de motivos apresentada na abertura dos trabalhos de
reforma estatutária, e depois publicada nas atas da mesma, o professor Pierre
Monbeig apresenta algumas das razões da necessidade de mudança dos
estatutos da AGB.
“A Associação tem tido seu campo de ação praticamente
limitado à cidade de São Paulo, uma vez que os Núcleos
Filiados não produziram os esperados resultados, e que a
sugestão de mais estreita colaboração, apresentada pelo
grupo de geógrafos do Rio de Janeiro, abria uma
oportunidade para se colocar a Associação dentro de um
âmbito mais largo, de modo poder receber a colaboração de
estudiosos da Geografia residentes noutros pontos do país.”
(AGB, 1948:2)
190
O professor Monbeig esclareceu ainda que o projeto de modificação dos
estatutos, embora tenha sido apresentado apenas com a assinatura dos
membros da Diretoria da AGB, foram resultado de prolongada discussão entre
diversos associados, de São Paulo e do Rio de Janeiro.
Apresentada a proposta de reformulação, a mesma foi sendo discutida
ponto a ponto, a partir das indicações dos associados presentes. O Estatuto
aprovado numa organização de 9 títulos artigos, consolidou uma estrutura
organizacional mais sofisticada que na sua primeira versão, com um formato
mais detalhado e procurando demonstrar um projeto de associação mais
maduro e organizado. Podemos destacar entre os artigos dos novos estatutos
aqueles que são os estruturantes do projeto que se inicia nessa nova fase da
AGB. Em resumo, os novos estatutos regulam cinco grandes eixos: dos objetivos
da associação, da composição de seu corpo associado, do formato do seu corpo
diretor, das formas e periodicidade das reuniões e publicações da associação, e
da forma de organização da associação.
Quanto aos objetivos da associação, destacam-se os seguintes artigos:
Art.2º - “Para atingir seus objetivos, a Associação promoverá
o conhecimento e o intercâmbio de idéias entre seus
associados, através de reuniões periódicas e outros meios;
realizará e auxilia pesquisas geográficas; manterá
publicações periódicas; proporá medidas para o
aperfeiçoamento do ensino geográfico em todos os seus
graus; e procurará, por meio da fundação de Secções
Regionais e Núcleos Municipais ou em cooperação com
organizações similares, irradiar suas atividades pelo território
do país”
Art - “A Associação não poderá tomar parte em
manifestações políticas ou religiosas, nem tratar de qualquer
assunto estranho aos seus objetivos”
O artigo 2º, na verdade apresenta um espectro bastante amplo das
finalidades da associação, que vão desde o intercâmbio de idéias até a
proposição de medidas para o desenvolvimento e o aperfeiçoamento do ensino
da Geografia, desde os níveis mais elementares da escola até os escalões mais
destacados da vida universitária. Nesse, vale ressaltar a preocupação da AGB e
de seus associados com a questão do ensino da Geografia, que era então, visto
como lugar importante para a produção da pesquisa geográfica, e também de
sua própria existência como disciplina.
191
O artigo é o que, daqueles que integram o título dos objetivos da
associação, o que merece maior atenção. Primeiro pela determinação de
impedimento de participação da associação em atividades políticas e religiosas, o
que parece ser uma falsa busca á uma posição de neutralidade que a AGB, na
verdade, nunca desempenhou, vide suas articulações políticas
68
para a realização
das reuniões anuais, ou mesmo das pesquisas e trabalhos que a associação
desenvolveu sob encomenda
69
, principalmente para o poder público.
Outro importante eixo de estruturação dos estatutos é o que vai tratar da
forma e dos critérios de associação à AGB. No título “Dos Associados”, o estatuto
aprovado nessa reforma vai regular a questão em tela. O estatuto aprovado cria
para a AGB, três categorias de sócios: os efetivos, os cooperadores e os
honorários. A classificação é claramente de caráter meritocrático e excludente,
onde a entrada em uma ou outra categoria dependia tanto da indicação de
outros associados diplomados na categoria superior, como também numa
avaliação do desempenho acadêmico do solicitante.
Os sócios efetivos seriam aqueles que possuíssem titulação acadêmica e
trabalho geográfico de comprovado valor e que tivessem seu nome indicado por
pelo menos 3 sócios efetivos. O nome desse associado indicado seria avaliado
em uma assembléia geral da AGB, juntamente com um exemplar do seu
trabalho, que caso considerado relevante, e aprovado pela maioria dos sócios
efetivos presentes á Assembléia, esse seria considerado aprovado, e então
passaria a compor o quadro dos sócios efetivos depois da devida diplomação. Os
sócios cooperadores seriam aceitos entre os interessados na Geografia e em
ciências afins e entre professores auxiliares, estudantes universitários e, grande
número de professores secundários de Geografia. Deveriam ser indicados e
aceitos em reunião da Seção Regional a que pretendesse associação. Os sócios
honorários seriam os grandes beneméritos da Associação. Teriam que ser
indicados por um mínimo de cinco sócios efetivos, e aceitos por pelo menos três
quartos dos sócios efetivos da Associação.
Essa classificação de associados, diferente da que então vigorava na AGB
nos seus dois primeiros anos de existência que distinguia apenas sócios e
68
A realização das Assembléias Gerais Ordinárias da AGB contava sempre com o apoio de políticos
representantes dos Poderes Executivo e Legislativo, estaduais e municipais, do local de realização
do evento. Não raro, essas autoridades assumiam a presidência de honra da Assembléia. A escolha
dos locais, também não raro, levava em consideração essas articulações prévias.
69
Trabalho de Levantamento das Características Geográficas da região da Bacia do Paraná-Uruguai
para a Comissão Inter-Estadual da Bacia do Paraná-Uruguai.
192
sócios correspondentes; da segunda classificação, resultado dos estatutos
aprovados em 1936 - que criou os sócios efetivos e sócios de honra, além da
manutenção dos sócios correspondentes; vai permanecer até a reforma
estatutária, em 1979. É possível a partir dessa categorização de sócios, fazer um
paralelo da AGB, com seus efetivos e colaboradores; com a estrutura dos cursos
universitários, com suas cátedras e assistentes.
A reforma estatutária altera também a composição da direção da
Associação, bem como a forma e local de sua escolha, agora por eleição direta. A
partir desse momento a AGB seria dirigida por um Conselho Diretor, que seria
composto por uma Diretoria, uma Comissão Consultiva e dois ex-presidentes. A
Diretoria teria a seguinte formação: Presidente, Secretário-Geral, Tesoureiro-
Geral e Diretor dos Anais; e que teriam mandato de um ano, sendo sempre
eleitos na Assembléia Geral da Associação. A Comissão Consultiva teria mandato
de três anos, sendo renovada anualmente em um terço de sua composição.
Somente os sócios efetivos poderiam votar e ser eleitos para o Conselho Diretor
da AGB. Questão importante no processo de eleição da Diretoria era a
obrigatoriedade de que dois, dos quatro cargos existentes – o de secretário-geral
e de tesoureiro-geral, fossem da Seção Regional da cidade sede e foro da AGB,
ou seja, de São Paulo, o que de fato garantiria, mesmo com a presidência sendo
ocupada por integrantes de outras seções regionais, uma hegemonia paulista a
frente da Associação. Detalhe curioso nesse processo de eleição do Conselho
Diretor é a possibilidade de fazer o voto por correspondência.
É nessa reforma que tem origem a principal publicação da Associação -
Anais
70
da AGB, conforme o Título V das publicações, em seu artigo 24, que
decide que “haverá uma publicação periódica da Associação, que terá o título de
Anais da Associação dos Geógrafos Brasileiros”. Inicia-se então um período que
tem seu começo em 1946 e se estende até 1964
71
de domínio, do vigor dos
Anais da AGB.
O projeto inicial da AGB, de ser de fato uma associação brasileira, e não
apenas de São Paulo, ou mesmo, do Rio de Janeiro, começa a despontar na
alteração de sua estrutura organizacional, que agora vai permitir a criação de
70
Ver capítulo 2, item 2.3, dessa tese, para maiores informações sobre os Anais da AGB.
71
Embora as assembléias gerais da AGB no formato definido na reforma de 1945, tenham ocorrido
até 1969 é, somente até o ano de 1964, que a AGB publica os Anais correspondentes as suas
reuniões ordinárias.
193
Seções Regionais e Núcleos Municipais
72
. Esse passo permite a efetivação da
presença orgânica da associação em diferentes estados da federação. A criação
das Seções Regionais foi definida e regulada pelo reformulado estatuto da
seguinte forma: para criar uma Seção Regional, de existência autônoma e que
poderia abranger mais de um estado, deveria ser apresentado um requerimento
assinado por no mínimo 10 pessoas. Junto a esse requerimento deveria seguir
informações a respeito das atividades culturais dos seus signatários e uma
proposta de projeto de regulamento para a Seção. A Seção seria dirigida por
uma Diretoria, com mandato de um ano (composta por um diretor, um secretário
e um tesoureiro), mais uma Comissão Consultiva formada por três membros
(que opinaria sobre a adesão ou não de novos sócios cooperadores). As Seções
Regionais deveriam fixar normas para a organização dos Núcleos Municipais a ela
vinculados.
Concluindo, a reforma estatutária determinou que todos os sócios que a
AGB possuía até essa data, passariam a condição de cooperadores, como assim
mostra seu art. 40
“Aprovados os presentes Estatutos, os atuais sócios efetivos
da Associação dos Geógrafos Brasileiros passarão,
automaticamente à categoria de sócios cooperadores,
devendo declarar imediatamente qual a Seção Regional a que
desejam pertencer”.
Processo é continuado pelo artigo 41 que define que
“Para efetivar-se a readaptação do atual quadro social da
Associação dos Geógrafos Brasileiros, a Assembléia que
aprovar os presentes Estatutos elegerá, dentre os associados,
uma comissão de cinco membros, credenciados de acordo
com o artigo dos presentes Estatutos e dos quais pelo
menos dois residentes fora da sede”
.
Assim, por força dos novos Estatutos, a própria assembléia que os aprovou
realizou a eleição dos membros da Comissão Especial - os primeiros cinco “sócios
efetivos”, destinada a iniciar a readaptação do quadro social da Associação. Após
apuração, o resultado foi o seguinte: Pierre Monbeig (20 votos), Fabio Macedo
Soares Guimarães (20 votos), Jorge Zarur (20 votos), Aroldo de Azevedo (18
votos), Fernando Flávio Marques de Almeida (10 votos), João Dias das Silveira (9
votos), Maria da Conceição Vicente de Carvalho (3 votos), Francis Ruellan (2
72
Os núcleos apareciam tanto na reforma estatutária de 1936 sob a denominação de núcleos
filiados, quanto numa normatização própria e especifica do assunto discutido e aprovado em 1940
e intitulado “Regulamento dos Núcleos Filiados”.
194
votos), Ary Franç a (1 voto), Odilon Nogueira de Matos (1 voto) e Ruy Osório de
Freitas (1 voto). Diante desse resultado, o Presidente da AGB proclamou
membros da referida Comissão Especial os srs. Aroldo de Azevedo (SP), Fábio de
Macedo Soares Guimarães (RJ), Fernando Flávio Marques de Almeida (SP), Jorge
Zarur (RJ) e Pierre Monbeig (SP). Coube a eles, também por força dos Estatutos,
indicar quinze outros nomes (7 de São Paulo e 8 do Rio de Janeiro), que foram
os seguintes: Alberto Ribeiro Lamego (RJ), Ary França (SP), Caio Prado Júnior
(SP), Carlos Miguel Delgado de Carvalho (RJ), Cristóvão Leite de Castro (RJ),
Everardo Backheuser (RJ), Fernando Raja Gabaglia (RJ), João Dias da Silveira
(SP), José Stezer (SP), Lucio de Castro Soares (RJ), Maria da Conceição Vicente
de Carvalho (SP), Orlando Valverde (RJ), Renato Silveira Mendes (SP), Rui
Osório de Freitas (SP) e Silvio Fróes Abreu (RJ). Ficou, assim, constituído no dia
27 de junho de 1945 o primeiro quadro de sócios efetivos da AGB.
No dia 4 de agosto de 1945, na cidade de São Paulo, de acordo com o
novo estatuto, reuniu-se a primeira Assembléia Geral Ordinária, cuja finalidade
consistia em eleger os membros do novo Conselho Diretor da AGB. A eleição do
Conselho Diretor se deu de forma secreta e tendo como votantes apenas os
sócios efetivos. Ao final do processo eleitoral chegou-se a seguinte resultado e
composição do primeiro Conselho Diretor da AGB após a reforma estatutária:
Presidente, Pierre Monbeig; Secretário-Geral, Aroldo de Azevedo; Tesoureiro-
Geral, Fernando Marques de Almeida; Diretor dos Anais, Jorge Zarur; e membros
da Comissão Consultiva: João Dias da Silveira (com mandato por três anos),
Silvio Fróes Abreu (com mandato por dois anos) e Carlos Delgado de Carvalho
(com mandato de um ano). A Composição do Conselho atendeu as expectativas
de representação dos dois grupos – o de São Paulo, mais atuante e influente, e o
do Rio de Janeiro, que começava a se organizar enquanto grupo na AGB.
A reforma de 1945, foi sem dúvida alguma fundamental para cimentar o
caminho da construção do projeto de uma AGB, com caráter institucional amplo
e de dimensões nacionais, prometido e esperado desde sua fundação. A
possibilidade de criação, sob controle, de Seções Regionais e Núcleos municipais,
foi passo importante dado rumo ao projeto de colocar não só a AGB, mas
também a Geografia brasileira no cenário nacional, ou de um Brasil que
precisava e estava sendo “descoberto”, conforme não raro era ouvido nas
palavras por demais conservadoras de Aroldo de Azevedo, quando evocava o
195
“bandeirantismo” da AGB, ou nas linhas da letra da “Canção da AGB” que
reproduzia o mesmo ideário onde “A AGB redescobre a Nação”.
3.1.1
A criação das seções regionais: ampliando as
bases da comunidade e iniciando um projeto nacional de entidade
Não se pode dizer que um estatuto dirige exclusiva e solitariamente o
fazer político de uma associação. No entanto, esse estatuto expressa esse
mesmo fazer, promove, aprova ou rejeita a ação política da associação, em sua
diversidade e contradições. A reforma estatutária realizada em 1945, que
apontava para a criação de partições da AGB e que naquele momento eram
denominadas de Seções Regionais ou Núcleos Municipais, não ampliavam as
bases de presença e atuação da AGB, e assim tecendo seu campo de forças;
como também poderiam ser entendidas como um instrumento de aproximação
da estrutura organizativa da associação com a forma de estruturação federativa
do Brasil, com seus estados, territórios e municípios.
O artigo dos estatutos da AGB aponta para a criação dessas Seções e
Núcleos numa evidente relação condicional com seus objetivos definidos.
Art.2º - “Para atingir seus objetivos a Associação promoverá
o conhecimento e o intercâmbio de idéias entre seus
associados, através de reuniões periódicas e outros meios;
realizará e auxilia pesquisas geográficas; manterá
publicações periódicas; proporá medidas para o
aperfeiçoamento do ensino geográfico em todos os seus
graus; e procurará, por meio da fundação de Secções
Regionais e Núcleos Municipais ou em cooperação com
organizações similares, irradiar suas atividades pelo
território do país”. [grifos nossos]
Ao lado desse aspecto juntava-se outro, tão importante quanto - a cada
nova Assembléia, realizada anualmente em diferentes localidades e diferentes
regiões brasileiras, eram recrutados novos sócios entre os professores locais e, à
medida que se iam implantando novas universidades, públicas e particulares,
196
instalavam-se novos centros ou seções regionais da AGB. Naquela época, os
participantes contavam-se ainda às dezenas.
E assim foi se formando a rede das seccionais, com o tempo recobrindo,
parte dos estados da Federação, e então ajudando a consolidar na formação do
que viriam a ser os núcleos regionais, a partir das famosas “escolas locais” de
geógrafos.
Com a realização de duas assembléias, Campina Grande-PB (1952) e
Garanhuns-PE (1955), e a incorporação dos docentes de Geografia da Região
Nordeste, a AGB ampliava-se com a criação da Seção Regional de Pernambuco;
tal como já ocorrera em Minas Gerais, que sediara a Assembléia de 1950,
gerando, assim outra Seção Regional da AGB; desse modo surgindo a “escola de
Recife” e a “escola mineira”, para ficarmos em dois conhecidos exemplos.
No período compreendido entre os anos de 1945 e 1970, período esse
estabelecido entre duas importantes reformas estatutárias, a AGB construiu seis
seções regionais: São Paulo, Rio de Janeiro ambas com bastante história de
existência, mas só formalmente instaladas no ano de 1945; Paraná, Minas Gerais
e Pernambuco, criadas nos anos da década de 1950 e Bahia, criada nos anos
iniciais da década de 1960.
Cada uma dessas seções carregava histórias em comum e singularidades
que valem a pena serem destacadas nessa tese.
A Seção Regional de São Paulo foi criada diretamente pelos Estatutos
da AGB, reformados em 1945. Embora pudesse parecer que a Seção Regional de
São Paulo existisse, o que existia era a Associação dos Geógrafos Brasileiros
que tinha sido criada em São Paulo, por profissionais em sua maioria originários
de São Paulo, e que teve sua atuação até a data da reforma estatutária,
prioritariamente em São Paulo, mas que contraditoriamente a tudo isso tinha em
seus discursos a intenção em ter uma atuação maior do que as restrições
estabelecidas pelas condições materiais e de articulação. Assim, a Seção
Regional de São Paulo, junto com a do Rio de Janeiro foram as primeiras a serem
criadas nesse novo projeto de instituição, e foram também as primeiras e únicas
a serem assim criadas. No entanto, no caso de São Paulo, as condições de
organização já estavam postas, havia uma comunidade de geógrafos e de
associados a AGB bastante relevante, o que sem dúvida facilitou o processo de
adaptação a nova realidade funcional da Associação.
197
A Seção Regional do Rio de Janeiro, como já destacado, foi criada na
forma administrativa no mesmo processo que estabeleceu a reforma estatutária
de 1945. No entanto, também tal como a seção de São Paulo, a Seção do Rio de
Janeiro passou por um processo próprio de criação e de escolha de sua primeira
Diretoria. O processo teve início tão logo terminada a reforma dos Estatutos da
Associação dos Geógrafos Brasileiros, realizada na cidade de São Paulo em julho
de 1945, mas somente cerca de dois meses mais tarde foi realmente instalada
no Rio de Janeiro essa Seção Regional.
Por iniciativa do professor Jorge Zarur, foi convocada uma Assembléia para
tratar da fundação de uma Seção Regional da Associação dos Geógrafos no
Distrito Federal, depois de ter ele entendimentos superficiais com algumas das
principais figuras das atividades geográficas nessa unidade federada. A
Assembléia foi realizada no dia 15 de setembro, conforme indicado nas atas da
Seção publicadas nos Anais da AGB.
“Aos quinze dias do mês de setembro, respondendo à
convocação feita por todos os meios de comunicação,
reuniram-se na sede do Conselho Nacional de Geografia,
Praça Getúlio Vargas, 15, andar , às quinze horas, vinte e
uma pessoas que assinaram a lista de presença e tomaram as
primeiras deliberações”. (AGB,1945)
Nos primeiros momentos da Seção Regional do Rio de Janeiro, alguns
nomes se destacaram, entre eles os professores Jorge Zarur, Everardo
Backheuser, Miguel Alves de Lima, João José Maria Kox, Hilgard O’Reilly
Sternberg, Antônio José de Matos Musso, Lysia Maria Cavalcanti e Eloísa de
Carvalho. No entanto, é possível, sem cometer nenhuma injustiça, que os dois
primeiros foram personagens de destaque nesse primeiro momento de criação da
Seção nos moldes da reforma estatutária, principalmente pela liderança no
processo, o que pode ser lido nas atas disponíveis.
“Assumiu a presidência o professor Everardo Backheuser que,
após algumas palavras introdutórias, apresentou o professor
Jorge Zarur, que fez uma ampla explanação sobre as normas
e objetivos da Associação dos Geógrafos Brasileiros, historiou
suas atividades e, finalmente, explicou o que se pretendia
fazer no Distrito Federal, com a criação de uma entidade
cujas finalidades também foram esclarecidas”. (AGB,1945)
Fez parte também dessa assembléia a eleição de uma comissão para a
elaboração de um anteprojeto do Regimento da Seção Regional Rio de Janeiro.
Para essa comissão foram eleitos os professores Everardo Backheuser, Antônio
198
José de Matos Musso e Miguel Alves de Lima
73
. Ficou ainda, estabelecido que a
comissão se reuniria em futuro próximo para a elaboração do trabalho e que
convocaria tão depressa fosse possível uma nova reunião de todos os
interessados para o exame do seu trabalho e, se possível, a eleição da primeira
Diretoria e instalação da Seção Regional.
A nova assembléia para instalação da Seção Regional foi realizada no dia
27 de setembro de 1945, na sede do Conselho Nacional de Geografia. Nessa
ocasião foi apresentada e aprovada a proposta de regimento para a Seção,
devendo esse regimento, vigorar por um semestre, conforme texto da ata da
referida assembléia. Procedeu-se ainda, nessa mesma assembléia a eleição do
primeiro Conselho Diretor da Seção Regional, que ficou constituído pelos
seguintes sócios: Diretor - Everardo Backheuser; Secretário - Miguel Alves de
Lima; Tesoureiro - João José Maria Kox; Comissão Consultiva - Jorge Zarur,
Hilgard O’Reilly Sternberg e Antônio José de Matos Musso.
73
Os nomes eleitos para a Comissão, bem como suas atribuições estão registradas na Ata da
Assembléia, que foi, em parte, transcrita no volume II dos Anais da Associação dos Geógrafos
Brasileiros, publicado em 1952.
199
Figura 30
200
A Seção Regional do Paraná, que tinha como sede a cidade de Curitiba,
foi instalada oficialmente no dia 31 de janeiro de 1953, tendo nessa mesma data
tomado posse a sua primeira Diretoria, com a seguinte composição: Diretor
Reihard Maak; Secretário – Arthur Barthelmess; Tesoureiro – Augusto Waldriges;
Comissão Consultiva Regional JoLoureiro Fernandes, Oldemar Blasi e Felipe
de Souza Miranda Júnior; Diretor de Pesquisas João José Bigarella e Diretor do
Boletim – Jacyra Godói Barbosa Pupo.
Apesar de fundada apenas em 1953, a Seção Regional do Paraná, tem
junto com São Paulo e Rio de Janeiro, uma das mais antigas histórias de
organização, que remonta os primeiros anos de existência da AGB. Sua história
começa ainda como um “núcleo”, na cidade de Curitiba, no distante ano de 1936,
quando um grupo de profissionais se reunia numa espécie de extensão da AGB
que funcionava em São Paulo, assumindo um caráter mais parecido com um
fórum científico de reuniões acadêmicas livres.
A idéia inicial da formação de uma Seção Regional da AGB em Minas
Gerais surgiu em setembro de 1947, quando um grupo de interessados,
principalmente professores da Faculdade de Filosofia da Universidade de Minas
Gerais reuniu-se com tal intuito. Essa aspiração embrionária, no entanto,
encontrou obstáculos intransponíveis e a base inicial exigida não foi constituída
(Lourenço, 2004)
Um novo impulso à possibilidade da instalação de uma seção regional em
Minas Gerais veio com a realização da V Assembléia Geral Ordinária da AGB em
Belo Horizonte, ocorrida em 1950. Cumprindo a função “pioneira” (Monteiro,
1980), a AGB aglutinou esforços e militantes, demonstrando a necessidade da
organização da AGB em Minas Gerais. O discurso de Aroldo de Azevedo,
proferindo um apelo para a criação da Seção e para a ampliação e
desenvolvimento do conhecimento geográfico em território mineiro indica a
natureza desse momento.
“Por tudo isso, sinto-me inteiramente à vontade para vos
lançar um caloroso apêlo, a vós todos geógrafos militantes,
professores de Geografia ou simples interessados pelo
progresso de nossa ciência: colaborai conosco nesta obra
eminentemente cultural; congregai-vos a êste grupo de
idealistas sem formalismos, mas conscientes do trabalho que
201
vêm realizando; ajudai-nos a fundar a seção Regional de
Minas Gerais” (AGB, 1953:9)
74
Consolidavam-se assim as necessidades que colocariam na ordem do dia a
instalação de Seção AGB em Minas Gerais.
A Seção Regional de Minas Gerais foi instalada provisoriamente a 14 de
janeiro de 1955
75
, tendo sua diretoria inicial, eleita nessa data, a seguinte
constituição: Diretor Tabajara Pedroso; Secretário Alisson Pereira
Guimarães; Tesoureiro – Onofre Gabriel de Castro; Comissão Consultiva Regional
– Olinto Orsine de Castro, Floriano de Paula e Waldemar Lobato.
A instalação solene da Seção Regional de Minas Gerais teve lugar no dia
26 de março de 1955. Nessa solenidade as Seções Regionais de São Paulo e do
Rio de Janeiro fizeram-se representar, respectivamente, pelos professores Aroldo
de Azevedo e José Veríssimo da Costa Pereira. Estiveram ainda em Belo
Horizonte para participar dessa solenidade, os doutores Fábio de Macedo Soares
Guimarães, Secretário Geral do Conselho Nacional de Geografia e Nilo Bernardes,
Secretário Assistente do CNG, prestigiando, com sua presença, o início dos
trabalhos da Seção Regional de Minas Gerais (Lourenço, 2004).
A Seção Regional de Pernambuco teve origem no Núcleo de Recife da
AGB, que era vinculado a Seção Regional do Rio de Janeiro. Por ocasião da
Assembléia realizada na cidade de Campina Grande, em 1952, um grupo de
geógrafos presentes e com o aval da Diretoria da AGB, deu o primeiro passo
para a formação do Núcleo Municipal e que logo em seguida viu-se formalmente
instalado. Passados pouco mais de dois anos e depois de avaliada a situação do
referido Núcleo que já havia realizado várias atividades científicas-culturais, onde
seus sócios tinham participado de Assembléias Gerais Ordinárias e
possuindo sócios efetivos em seus quadros, pode o Núcleo reivindicar a elevação
à categoria de Seção Regional. Assim, a Seção Regional de Pernambuco, foi
instalada provisoriamente a 26 de junho de 1954, e teve a sua diretoria inicial
constituída pelos professores: Gilberto Osório de Andrade, como Diretor; Mário
Lacerda de Melo, como Secretário; e Hilton Sette, como Tesoureiro. A
constituição da diretoria foi modificada pela eleição realizada a 2 de abril de
74
AGB Anais da Associação dos Geógrafos Brasileiros. Volume IV 1949-1950. São Paulo. 1953.
p. 9.
75
A seção regional foi criada com sede na cidade de Belo Horizonte regida pelo regulamento da
AGB, nos termos de seus estatutos, aprovados em São Paulo em 4 de julho de 1945.
202
1955, quando passaram a integrá-la os seguintes sócios efetivos: Diretor – Mário
Lacerda de Melo; Secretário Manuel Correia de Andrade; Tesoureiro Hilton
Sette; Comissão Consultiva Regional Gilberto Osório de Andrade, Tadeu Rocha
e José Lavareda.
A instalação solene, entretanto, só teve lugar por ocasião da X Assembléia
Geral Ordinária da AGB, realizada na cidade pernambucana de Garanhuns. Coube
ao professor Aroldo de Azevedo, em cujo período da presidência havia sido
fundada a Seção Regional de Pernambuco, declará-la solenemente instalada,
momentos antes de pronunciar o discurso oficial de inauguração da X Assembléia
Geral. (AGB,1957)
A Seção Regional da Bahia, foi oficialmente instalada quando da
realização da XVIII Assembléia Geral Ordinária da AGB, ocorrida em Jequié-BA,
em 1963. A Seção foi organizada a partir do Núcleo Local de Salvador, que então
era vinculado à Seção Regional do Rio de Janeiro, e vinha de atividades desde o
final da década de 1950, tendo inclusive editado o Boletim Baiano de Geografia,
ainda na condição de Núcleo. O fato de o processo de transformação do núcleo
em Seção Regional ocorrer no ano de 1963, durante a Assembléia de Jequié,
justifica-se não pelo estado de realização da AGO, mas também pelo fato do
professor Milton Santos, um dos maiores articuladores da geografia e da AGB no
Estado da Bahia, estar ocupando a presidência da AGB no período.
O Núcleo Salvador e depois Seção Regional da Bahia, mantinham estreitas
relações com o Laboratório de Geomorfologia e Estudos Regionais da Faculdade
de Filosofia da Universidade da Bahia, que tinha o professor Milton Santos como
um dos seus principais articuladores. Essas relações permitiram que a sede da
AGB fosse no Laboratório e que o Boletim Baiano de Geografia fosse feito em
parceria e depois fosse assumido por ele.
Alguns nomes se destacaram na condução do núcleo/seção da AGB na
Bahia, entre eles Anna Carvalho e Nilda Guerra, além do próprio Milton Santos.
203
Figura 31
Além dessas lembradas Seções Regionais, a AGB contou ainda nesse
seu processo de construção de uma base nacional, com os Núcleos Municipais
organizados em Natal (RN), Porto Alegre (RS), Florianópolis (SC), João Pessoa
(PB) e Aracajú.
A AGB agora com seu novo corpo administrativo e estrutura funcional,
segue realizando suas atividades quase quinzenalmente em cada uma das seções
regionais, e também as atividades de caráter mais nacional, tentando dar os
passos mais decisivos em direção ao projeto que se inicia em 1934, mas que
somente a partir de 1945 é que assume formas mais próximas daquilo que se
pretendia como um projeto de associação nacional, pelo menos em seu início de
atuação. Assim, a partir da ação da AGB e de suas duas Seções Regionais e da
204
criação e consolidação dos cursos de Geografia nas nascentes Universidades
brasileiras, vão surgindo em diferentes pontos do país núcleos de formação na
ciência geográfica que reúnem profissionais e estudantes e que, posteriormente,
darão a luz a novas seções regionais e núcleos locais.
205
Mapa2
206
3.1.2
As Assembléias Gerais Ordinárias: os encontros da Associação e
seus associados
A reforma estatutária ocorrida em 1945 criou na estrutura da AGB duas
modalidades de Assembléias Gerais - as Ordinárias, que deveriam ocorrer a cada
ano, e sempre que possível, em diferentes localidades do país; e as
Extraordinárias, que deveriam ocorrer sempre que necessário na sede da
Associação, ou seja, na cidade de São Paulo, conforme indicam os artigos do
reformulado estatuto.
“Art. 20 A Associação dos Geógrafos Brasileiros realizará
reuniões ordinárias e extraordinárias, em assembléia geral”
“Art. 21 Haverá anualmente uma reunião ordinária da
Assembléia Geral em data e local fixados pelo Conselho
Diretor, de preferência no período de férias escolares”
É considerada como a primeira Assembléia Geral Ordinária aquela ocorrida
na cidade de São Paulo, em 1945, na ocasião da reforma estatutária.
A segunda Assembléia Geral Ordinária aconteceu na cidade de Lorena,
Estado de São Paulo, em janeiro de 1946. Essa é de fato a primeira assembléia
que vai dar início ao modelo de reunião que a AGB vai consolidar como sendo
aquele pretendido, ou seja, que tenha as condições de reunir os sócios efetivos e
cooperadores para se fazer o debate acadêmico de suas produções e ao mesmo
tempo, realizar as atividades necessárias para a efetivação da associação em seu
novo projeto.
As Assembléias Gerais Ordinárias de Lorena (1946) e do Rio de Janeiro
(1947) ensaiaram um modelo de reunião que, além da apresentação de estudos
ou teses submetidas à análise crítica de relatores mais experimentados, havia
a realização de trabalhos de campo, efetuados durante alguns dias por grupos
trabalhando sob orientação de um coordenador. A experimentação desse período
inicial atingiu uma aprovação que, a partir da Assembléia Anual de Belo
Horizonte (1950) se constituía num modelo que iria continuar com crescente
êxito.
No período compreendido entre o ano de 1945, quando da primeira
assembléia, e o ano de 1970, quando da reforma estatutária que modifica a
organização interna da AGB instituindo os Encontros Nacionais de Geógrafos
207
(ENG), e data final de análise das assembléias no presente trabalho foram
realizadas 25 edições das mesmas, sendo: 3 (três) administrativas 1945, 1956
e 1970, onde, na primeira e na última, ocorreram reformas estatutárias; 2
(duas) realizadas junto com Congressos Brasileiros de Geógrafos (CBG) em
1954 e 1965; e 20 (vinte) conforme o modelo proposto, que acomodava
trabalhos de campo, apresentação de teses e comunicações, simpósios e
decisões administrativas.
As 25 assembléias que serão tratadas neste trabalho ocorreram
anualmente entre 1945 e 1970, com exceção para o ano de 1949. Aconteceram
em 22 cidades diferentes do país, compreendendo 14 Estados da Federação, o
que vem demonstrar uma disposição bastante grande da AGB e de seus
associados em conhecer e se fazer presente em diferentes lugares do Brasil, e
ainda a efetivação do projeto de construção da Associação em sua dimensão
nacional. Os 14 estados que sediaram as Assembléias da Associação, foram
assim distribuídos
76
: 3 da Região Sul, 4 da Região Sudeste, 2 da Região Centro-
Oeste e 5 da Região Sudeste. Maiores detalhes sobre datas, cidades, natureza e
localização das assembléias são possíveis de serem visualizadas na tabela e no
mapa a seguir.
76
Foi usado como referência nessa distribuição, as atuais 5 regiões oficiais do Brasil. Tendo sido
desconsiderado a divisão regional em vigor à época de cada assembléia.
208
Tabela 16
Assembléia Geral Ordinária (AGO) da AGB / 1945-1970
Assembléia
Data Cidade Estado
Natureza da Assembléia
I 1945 São Paulo SP
Administrativa/Reforma Estatutária
II 1946 Lorena SP Acadêmico-administrativa
III 1947 Rio de Janeiro RJ Acadêmico-administrativa
IV 1948 Goiânia GO Acadêmico-administrativa
V 1950 Belo Horizonte MG Acadêmico-administrativa
VI 1951 Nova Friburgo RJ Acadêmico-administrativa
VII 1952 Campina Grande PB Acadêmico-administrativa
VIII 1953 Cuiabá MT Acadêmico-administrativa
IX / I CBG 1954 Ribeirão Preto SP Acadêmico-administrativa
X 1955 Garanhuns PE Acadêmico-administrativa
XI 1956 Rio de Janeiro RJ Administrativa
XII 1957 Colatina ES Acadêmico-administrativa
XIII 1958 Santa Maria RS Acadêmico-administrativa
XIV 1959 Viçosa MG Acadêmico-administrativa
XV 1960 Mossoró RN Acadêmico-administrativa
XVI 1961 Londrina PR Acadêmico-administrativa
XVII 1962 Penedo AL Acadêmico-administrativa
XVIII 1963 Jequié BA Acadêmico-administrativa
XIX 1964 Poços de Caldas MG Acadêmico-administrativa
XX / II CBG 1965 Rio de Janeiro RJ Acadêmico-administrativa
XXI 1966 Blumenau SC Acadêmico-administrativa
XXII 1967 Franca SP Acadêmico-administrativa
XXIII 1968 Montes Claros MG Acadêmico-administrativa
XXIV 1969 Vitória ES Acadêmico-administrativa
XXV 1970 São Paulo SP Administrativa/Reforma Estatutária
Fonte: Anais da AGB/adaptado por Charlles da França
209
Mapa 3
210
As assembléias, em sua dinâmica organizacional, apresentavam
proposições que combinavam diferentes componentes organizacionais. O
primeiro momento era o da reunião preparatória administrativa, onde eram
tratadas as questões administrativas e operacionais que dariam funcionalidade
ao restante da assembléia, como: escolhidos os relatores dos estudos/teses;
distribuídas as equipes de trabalho de campo, com a escolha dos respectivos
coordenadores; leitura e aprovação da ata da assembléia anterior; apresentação
e aprovação de resoluções e moções. Outro momento desse conjunto seria a
sessão de abertura, onde também eram diplomados os novos sócios efetivos,
que eram apresentados e defendidos nesse processo de promoção a essa nova
categoria. As contribuições acadêmicas que definiam um pouco desse perfil da
AGB tinham lugar nas sessões de estudos, onde eram apresentadas as
teses/estudos, as comunicações e conferências, os simpósios e relatórios das
pesquisas de campo; trabalhos de campo, organizados por equipe e por área de
atuação.
Nas sessões de estudos, as teses e as comunicações eram apresentadas e
debatidas, e a partir da indicação do relator/parecerista, as teses apresentadas
eram indicadas ou não para a publicação nos Anais da Associação dos Geógrafos
Brasileiros. As comunicações e os textos produzidos para os simpósios também
eram indicados para a publicação nesses mesmos Anais.
Os relatórios dos trabalhos de campo realizados pelas diferentes equipes e
que eram apresentados e discutidos também nas sessões de estudos, também
mereciam publicação nos Anais da AGB. Num primeiro momento, apareceram
junto com os estudos; depois como o volume II dos Anais, referente a cada
assembléia; num terceiro momento, em função da dificuldade de recebimento
dos relatórios, o que atrasava a publicação do volume I, esses relatórios
passaram a serem publicados na forma de “avulsos”, conforme informado
anteriormente.
As Assembléias, que na verdade eram os encontros que a AGB realizava
com os seus sócios, constituíam os espaços de circulação e debate de idéias e da
produção da Geografia que se fazia no Brasil, e vez por outra, da produção
ocorrida em outros países, principalmente aqueles com os quais o Brasil tinha
mais relações estabelecidas a França, em função de sua presença no país, seja
através dos intelectuais aqui radicados, seja através da matriz teórico-
211
metodológica de grande influência em nosso país naqueles momentos iniciais; os
Estados Unidos, num momento posterior, também por influência teórica-
metodológica; o Uruguai, pela presença sempre marcante da Associação dos
Geógrafos Uruguaios nos eventos realizados pela AGB. Mas era, sobretudo, o
Brasil, o tema/assunto mais tratado nos estudos e comunicações apresentadas
nas assembléias.
As assembléias anuais aconteceram entre os anos 1945 e 1970. Com a
reforma estatutária levada a cabo em 1970, na cidade de São Paulo, quando da
realização da XXV Assembléia Geral Ordinária, de caráter administrativo, as
assembléias não terminaram, o que ocorreu foi a mudança da operacionalidade
dessas reuniões. As assembléias anuais passaram a serem realizadas a cada dois
anos, agora, conjuntamente com eventos denominados “Encontros Nacionais de
Geógrafos (ENGs)”, e mantendo-se os “Congressos Brasileiros de Geógrafos”,
realizados a cada dez anos, tendo por data de referência o primeiro congresso
realizado em 1954, na cidade de Ribeirão Preto, e substituindo os ENGs quando
de sua realização. Assim, em cada um desses eventos, e que se realizam a cada
dois anos, é realizada a Assembléia Geral Ordinária da AGB. O que de fato foi
alterado foi a percepção do associado, que, se num primeiro momento tinha a
“reunião” da AGB como seu lugar de referência acadêmico-institucional, isso
agora é repassado para o ENG.
Das 25 edições da Assembléia Geral Ordinária da AGB, em quatro
77
delas
não houve publicação dos Anais, o que de fato constitui-se uma perda para a
memória da associação e da geografia brasileira, e de certa maneira, um
pequeno problema para esse trabalho.
A seguir apresentaremos um breve resumo das particularidades de cada
Assembléia realizada, destacando suas principais discussões e contribuições.
A I Assembléia Geral Ordinária, foi realizada na Cidade de São Paulo,
no dia quatro de junho de 1945, em uma das salas da Biblioteca Municipal de
São Paulo, sob a presidência do professor Pierre Monbeig. Essa primeira
Assembléia Geral foi convocada especialmente para a discussão dos estatutos da
Associação. Com a presença de vinte e dois (22) associados, foi feita a discussão
a partir de um projeto de estatutos elaborado pelos membros da Diretoria. Ao
final da Assembléia, estava aprovado um novo estatuto para a Associação, em
77
XXI AGO, Blumenau, 1966; XXII AGO, Franca-SP,1967; XXIII AGO, Montes Claros-MG, 1968 e
XXIV AGO, Vitória-ES, 1969.
212
substituição àquele que vigorava desde 1936. O professor Pierre Monbeig foi
eleito presidente para o primeiro mandato de uma Diretoria, agora sob a nova
forma de organização da Associação, que previa a existência de uma AGB
Nacional e, num primeiro momento de duas seções regionais (de São Paulo e do
Rio de Janeiro).
A II Assembléia Geral Ordinária, foi realizada na cidade de Lorena,
Estado de São Paulo, entre os dias 21 e 27 de janeiro de 1946. A escolha da
cidade de Lorena para sede da primeira Assembléia após a reforma dos
estatutos, se deu em função de ser essa cidade a terra natal do professor Aroldo
de Azevedo (figura de forte influência na AGB, em São Paulo), e por esse ter ali
uma enorme rede de relacionamentos construídos pela inserção de sua família
nos círculos principais da vida política e econômica da cidade. Outra justificativa
para a realização da AGO na cidade de Lorena, e que aparece em alguns
documentos da AGB, é o fato de estar, a cidade, no meio do caminho entre os
dois centros principais de formação em Geografia, onde estavam localizadas as
duas Seções Regionais. No entanto, apesar da importância desse fato
(localização), acreditamos que a primeira justificativa (rede de relacionamentos)
tenha sido a decisiva.
A Assembléia foi oficialmente instalada em sessão realizada na noite do dia
21 de janeiro de 1946, na sala do tribunal do Júri, no edifício da Prefeitura
Municipal de Lorena, sob a presidência do professor Pierre Monbeig, então
presidente da AGB, e secretariada pelos professores Aroldo de Azevedo e
Fernando Marques de Almeida, respectivamente secretário-geral e tesoureiro da
Associação. O prefeito da cidade de Lorena, o sr. Brás de Olivas, esteve
pessoalmente fazendo a recepção dos participantes da assembléia. Estiveram
presentes nessa assembléia 31 (trinta e um) associados, um número ainda
bastante reduzido de pessoas quando comparado com o que a AGB ainda iria
reunir em seus eventos, mas ao mesmo tempo, um número significativo de
associados diante o caráter bastante elitista da associação e do histórico de
“sobrevivência” nos últimos anos, principalmente no período compreendido entre
os anos de 1937 e 1944. Nessa reunião foram oficialmente proclamados os
primeiros sócios honorários da AGB, o professor Francis Ruellan e o Embaixador
José Carlos de Macedo Soares. A seguir foram lidas e debatidas as três primeiras
teses da história das Assembléias da AGB: O Município de Ituiutaba, de autoria
do professor Speridião Faissol, sócio cooperador da Seção Regional do Rio de
213
Janeiro; Notas sobre o Rio Tietê na Região de Itu e Salto, de autoria do professor
Antônio Rocha Penteado, sócio cooperador da Seção Regional de São Paulo; e
A Vila de Icapara, de autoria da professora Nice Lecocq Muller, sócia
cooperadora também da Seção Regional de São Paulo. Algumas comunicações
orais foram apresentadas: O Vale do Paraíba”, de autoria do sócio cooperador
Antônio Teixeira Guerra, da Seção Regional do Rio de Janeiro; “A Região da
Lapa, bairro subúrbio da cidade de São Paulo”, de autoria do sócio efetivo da
Seção Regional de São Paulo, Aroldo de Azevedo; e Angra dos Reis”, de
autoria de Pedro Pinchar Geiger, sócio cooperador da Seção do Rio de Janeiro.
A segunda Assembléia Geral foi ainda palco de uma importante discussão
acerca da divisão regional do Brasil, que acabara de ser aprovada pelo Conselho
Nacional de Geografia. Nessa mesma ocasião o professor Pierre Monbeig
apresentou os resultados dos estudos realizados pela Seção Regional de São
Paulo sobre a divisão regional do Estado de São Paulo (trabalho iniciado nos
primeiros anos de vida da AGB).
A assembléia contou com a presença de nomes ilustres da Geografia
francesa e com grande influência na Geografia brasileira: Francis Ruellan e Pierre
Dansereau. O primeiro elevado a condição de sócio honorário, e o segundo, que
em assembléia próxima, também seria indicado para a mesma categoria, uma
vez que a proposta foi apresentada ainda nessa assembléia. A assembléia contou
com a colaboração do Conselho Nacional de Geografia que aí se fez representar
pelo seu secretário-geral, o engenheiro Christovam Leite de Castro e pelo coronel
Frederico Rondon, membro do Diretório Central, além da equipe de geógrafos do
Conselho.
Os presentes à assembléia, nas pesquisas de campo percorreram a cidade
de Lorena e seus arredores, e ainda, a serra da Bocaina e a serra da Mantiqueira,
divididos em três equipes: Geomorfologia, Biogeografia e Geografia Humana, que
foram chefiadas pelos professores Miguel Alves de Lima, Pierre Dansereau e Lísia
Maria Cavalcanti (e depois, pelo professor Aroldo de Azevedo), respectivamente.
Após a realização das pesquisas de campo, os relatórios foram apresentados em
sessão da assembléia, onde cada chefe de equipe apresentou as considerações
sobre o que haviam realizado, sendo seguidos pelas secretárias científicas
professoras Mariam Tiomno e Dora do Amarante Romariz, que deram uma visão
de conjunto das regiões percorridas, sendo completada pela palavra do professor
Francis Ruellan. Foram realizadas ainda, uma excursão com os participantes da
214
assembléia à Serra da Bocaina (Lorena-Silveiras-Barreiro), e uma visita à Fábrica
de Pólvora Presidente Vargas (em Piquete).
A AGO foi marcada pela realização de várias atividades sociais envolvendo
os associados da AGB e a sociedade de Lorena, face às relações estabelecidas na
cidade e a importância do evento, que reunia professores universitários e
pesquisadores de importantes instituições das duas principais cidades do país.
Entre as atividades sociais do evento, detacaram-se: visita ao Solar Batista de
Azevedo, missa rezada pelo padre Ambrósio Cox, banquete oferecido no Cassino
dos Oficiais e jantar na residência da família Arnolfo de Azevedo (esse último
somente para alguns participantes).
Na sessão de encerramento (presidida pelo professor Ruellan), após a
leitura do relatório da gestão que se encerrava, foi aprovado um voto de aplauso
à ação da Diretoria cujo mandato estava acabando e ainda o envio de mensagem
de simpatia aos sócios fundadores da AGB, na qual lhes participasse o êxito da II
AGO e o apreço pela importância assumida por cada nesse importante momento
vivido pela associação. Foi realizada ainda a eleição dos membros do Conselho
Diretor da AGB, tendo sido o professor Pierre Monbeig reconduzido a presidência
da AGB por mais um período, tendo os professores Aroldo de Azevedo, como
Secretário-Geral; Fernando Marques de Almeida, como Tesoureiro; Jorge Zarur,
como Diretor dos Anais; e Alberto Ribeiro Lamego, como membro da Comissão
Consultiva.
A III Assembléia Geral Ordinária da AGB, ocorrida na cidade do Rio de
Janeiro, no período de 24 a 30 de novembro de 1947, teve seus trabalhos
realizados na sede do Conselho Nacional de Geografia. A assembléia foi
solenemente instalada no dia 24 de novembro de 1947, sob a presidência do
professor Aroldo de Azevedo, presidente interino da Associação (uma vez que o
presidente, o professor Pierre Monbeig, havia viajado de regresso à França, em
dezembro de 1946); e secretariada pelo professor Rui Osório de Freitas, também
interino no cargo de secretário-geral da AGB (ocupando o cargo que era do
professor Aroldo de Azevedo).
O número de sócios efetivos e que se fizeram presentes ainda era bastante
pequeno. Achavam-se presentes: o professor Francis Ruellan, sócio honorário; os
sócios efetivos: Alberto Ribeiro Lamego (RJ), Aroldo de Azevedo (SP), Christovan
Leite de Castro (RJ), Fábio de Macedo Soares Guimarães (RJ), Fernando Flávio
Marques de Almeida (SP), João Dias da Silveira (SP), José Setzer (SP), José
215
Veríssimo da Costa Pereira (RJ), Maria da Conceição Vicente de Carvalho (RJ),
Orlando Valverde (RJ), Renato da Silveira Mendes (SP), Rui Osório de Freitas
(SP) e Silvio Fróes de Abreu (RJ). Além de alguns sócios cooperadores das
seções regionais do Rio de Janeiro e de São Paulo e outros interessados.
A assembléia continuou com a entrega dos respectivos diplomas aos sócios
efetivos presentes. Foram apresentadas e aprovadas as propostas de diplomação
à categoria de sócios-efetivos os seguintes associados: Reinhard Maak, José
Loureiro Fernandes e Virgílio Correia Filho. A diplomação do professor Leo
Waibel, como sócio-honorário
78
, embora apresentada, acabou não ocorrendo pela
falta de quórum suficiente para tal aprovação, embora os presentes tenham sido
favoráveis a proposta.
Foram realizadas três sessões para discussão de teses e comunicações
orais, onde os trabalhos a seguir foram apresentados
79
: “A Vegetação e o Uso
da Terra no Planalto Central”, por Leo Heinrich Waibel; “Alguns Aspectos do
Relevo no Planalto Central Brasileiro”, por Francis Ruellan; “Paisagens Rurais no
Município de Campinas”, por Nice Lecoc Muller; “Geomorfologia da Região do
Jaguaraguá, em São Paulo, de Aziz Nacib Ab'Saber; “Crescimento da Cidade de
São Paulo”, de Pasquale Petrone; “A Noção de Região Geográfica e sua Aplicação
ao Brasil”, de Antônio Rocha Penteado.
Durante três dias os associados presentes a Assembléia puderam
participar de pesquisas de campo realizadas na Baixada Fluminense, e que foram
coordenadas pelos professores João Dias da Silveira e José Veríssimo da Costa
Pereira, que, em sessão destinada para esse fim, fizeram a apresentação do
relatório preliminar.
Nessa assembléia, o Conselho Diretor da AGB apresentou um conjunto de
normas de trabalho que deveriam definir o funcionamento da assembléia em
questão e de outras que seguiriam a ela. As normas foram discutidas e após
aprovação pelos presentes à assembléia foram registradas na em sua ata:
- Os trabalhos escritos deverão ser examinados por um relator
nomeado pelo Presidente da Associação e, depois de terem o
respectivo parecer, serão lidos e postos em discussão.
78
A nomeação do professor Leo Waibel como sócio-honorário nunca veio a ocorrer. Não foi possível
encontrar nos documentos e demais registros da AGB os motivos dessa não nomeação. Não
sabemos se a questão nunca mais foi apresentada, ou então a teria sido apresentada e rejeitado a
indicação.
79
Os três últimos trabalhos constantes da lista são teses, e que foram devidamente relatadas por
um sócio-efetivo indicado pelo Conselho Diretor.
216
- Os trabalhos de autoria de sócios cooperadores deverão ser
apresentados à Assembléia por um dos sócios efetivos.
- As comunicações orais poderão ser feitas tanto pelos sócios
efetivos como pelos sócios cooperadores, entrando em debate
imediatamente após sua realização.
- Todos os sócios que fizerem comunicações verbais
comprometem-se a apresentar, dentro do prazo de sessenta (60)
dias, à Diretoria da Associação, o texto completo ou um resumo
por escrito.
- As excursões serão realizadas dentro de um plano
estabelecido por uma Comissão Especial, de que farão parte o
Presidente da Associação e três outros sócios efetivos, pelo
mesmo designado.
- Compete à Comissão Especial, referida no item anterior,
elaborar o Relatório Final das excursões realizadas.
- A Diretoria poderá convidar pessoas estranhas ao quadro
social da Associação para assistirem aos trabalhos da Assembléia
Geral.
As resoluções apresentadas pelo Conselho Diretor e aprovadas pelos
sócios presentes, demonstram um caráter bastante diretivo que a associação
pretendia para a realização de suas assembléias, bem como da condução dos
trabalhos no interior da mesma, além da marcante distinção entre os associados,
quanto aos seus direitos e possibilidades, o que fica bem definido e claro, quando
o associado cooperador pode ser capaz e competente para fazer um trabalho,
mas não tem o direito de apresentá-lo na Assembléia. Essas são regras que iriam
vigorar por um bom tempo nas assembléias da AGB, sofrendo, no passar do
tempo, apenas algumas pequenas alterações.
A Assembléia foi encerrada com uma manifestação de agradecimento ao
professor Pierre Monbeig, que embora não estivesse presente, foi, por solicitação
da AGO, comunicado do ocorrido, recebendo cópia do relatório onde constava tal
homenagem.
A eleição do Conselho Diretor levou o professor João Dias da Silveira à
condição de Presidente da AGB.
A IV Assembléia Geral Ordinária da AGB, realizada em Goiânia, entre
os dias 15 e 22 de dezembro de 1948, constituiu, por muitas razões, um marco
dos mais importantes na historia da Associação, principalmente no que diz
respeito ao caráter e ao funcionamento das assembléias. A dinâmica das
assembléias, proposta esboçada em Lorena e experimentada no Rio de Janeiro,
tem em Goiânia um ponto de culminância, onde são fixadas normas de trabalho
217
geográfico e de orientação de pesquisa (formato das apresentações das
comunicações e teses), e a metodologia para a realização dos trabalhos de
pesquisa de campo e sua posterior apresentação. Essas definições tiveram
grande repercussão nas demais assembléias realizadas.
A assembléia foi instalada em sessão solene realizada no auditório do
Museu do Estado, na noite do dia 15 de dezembro de 1948. O então Governador
do Estado de Goiás, o Dr.Jerônimo Coimbra Bueno, alçado a categoria de
Presidente de Honra da Assembléia, coordenou os momentos iniciais da AGO,
declarando-a oficialmente aberta. A presença de autoridades do Estado de Goiás
e da prefeitura de Goiânia foi expressiva na solenidade de abertura do evento,
que contou com a participação de 10 sócios efetivos e 25 sócios cooperadores,
além de um numeroso público interessado nas discussões, mas ainda não
associado à AGB. Nessa mesma sessão, agora sob coordenação do professor Ary
França, Secretário-Geral da Associação, foi lida, discutida e aprovada a ata da
terceira Assembléia Geral Ordinária, realizada no Rio de Janeiro, no ano anterior;
a divisão dos grupos para as pesquisas de campo e a organização das
comunicações que seriam apresentadas nos dias seguintes.
No dia 16 de dezembro, segundo dia de realização da AGO, foi realizada a
primeira pesquisa de campo dessa assembléia. Os participantes, sob a
coordenação geral do professor José Veríssimo da Costa Pereira, dividiram-se em
cinco equipes, chefiadas pelos professores: Aroldo de Azevedo, Lucio de Castro
Soares, Maria da Conceição Vicente de Carvalho e Fernando Marques de Almeida
e fizeram pesquisa sobre a geografia urbana de Goiânia. Os resultados das
pesquisas, foram como previa o regulamento, apresentados em sessão na AGO.
Outras duas excursões foram realizadas com os participantes da AGO – a
primeira até uma fazenda, em Inhaúmas (GO), e a segunda aos municípios de
Jaraguá e Anápolis.
Em sessões para fins acadêmicos foram apresentados os seguintes
trabalhos
80
na AGO: “Contribuição à Geomorfologia da Região Oriental de Santa
Catarina”, de Fernando Flavio Marques de Almeida; “Os seis fatores da formação
dos solos”, de José Setzer; “Alguns aspectos da paísagem rural no município de
Olímpia”, de Ely Goulart Pereira de Araújo; “Vigilengas do Baixo-Amazonas”, de
Antonio Rocha Penteado; “O caiçara na região de Itanhaém”, de José Ribeiro de
80
Os nove primeiros trabalhos foram aprovados para serem publicados nos Anais da IV AGO.
218
Araújo Filho; “Contribuição ao estudo da vinha no Estado de São Paulo - região
de São Roque”, de Dirceu Lino de Mattos; “O Planalto Brasileiro e os problemas
da classificação de suas formas de relevo”, de Aroldo de Azevedo; “O Sudoeste
Goiano”, de Aziz Nacib Ab' Saber e Miguel Costa Júnior; “Geomorfogênese da
Serra do Espinhaço”, de Fernando Flavio Marques de Almeida; Tipos de
indústrias dos municípios paulistas (e) Tipologia dos municípios paulistas, ambos
de autoria de Lucila Hermann; Contribuição para o estudo das vias de
comunicação do Rio de Janeiro, de Odilon Nogueira de Matos; Notas sobre a
cultura e o comércio da laranja na região da Guanabara, de Renato Silveira
Mendes; Anotações paleogeográficas para servirem à geomorfologia do Brasil, de
Aziz Nacib Ab’Saber; Regionalismo e Administração, de Mário Wagner Vieira da
Cunha.
No último dia de realização da AGO teve lugar uma palestra sobre a
“valorização do Planalto Central e os problemas ligados à mudança da Capital
Federal para o Planalto Central”, que foi conferida pelo Governador do Estado de
Goiás, o engenheiro Jerônimo Coimbra Bueno.
Na sessão de encerramento, realizada na noite do dia 21 de dezembro, a
diretoria que encerrava seu mandato, leu e aprovou o relatório da gestão que se
encerrava, bem como os relatórios das seções regionais do Rio de Janeiro e de
São Paulo. Na mesma ocasião foi realizada a eleição da nova Diretoria, que ficou
assim constituída: Presidente – José Veríssimo da Costa Pereira; Secretário Geral
Fernando Flávio marques de Almeida; Tesoureiro Geral Ary França; Diretor
dos Anais Aroldo de Azevedo; Membro da Comissão Consultiva Renato da
Silveira Mendes. Essa é a primeira vez, desde a sua fundação, que a presidência
da AGB fica com um profissional de outra cidade diferente de São Paulo, no caso
o Rio de Janeiro.
A V Assembléia Geral Ordinária da AGB, reunida em Belo Horizonte-
MG, realizada entre os dias 23 e 31 de janeiro de 1950, foi instalada oficialmente
em solenidade ocorrida no Salão Nobre do Instituto de Educação da capital
mineira. A sessão de abertura foi inicialmente coordenada pelo professor José
Veríssimo da Costa Pereira, então presidente da AGB. A presidência dos
trabalhos e principalmente da sessão de abertura foi dada ao Governador do
Estado de Minas Gerais, o Dr. Milton Campos, então presente na assembléia. A
sessão de abertura também foi prestigiada por diversas outras autoridades civis
e militares, entre elas: os Reitores da Universidade de Minas Gerais e do Ginásio
219
Estadual, Comandantes da Policia Militar do Estado, Presidente do Instituto
Histórico e Geográfico de Minas Gerais, Presidente e Secretário da Associação
dos Geógrafos Uruguaios (Jorge Chebataroff e Alberto Ponchitesta),
representantes da Arquidiocese, representante da delegação do Conselho
Nacional de Geografia (Fernando Antônio Raja Gabaglia), Diretor da Imprensa
Oficial do Estado de Minas Gerais e o Chefe do Departamento de Geografia da
Universidade de Siracusa EUA (Preston James), entre outros. Fizeram uso da
palavra além do presidente da AGB e do Governador do Estado, os professores
Tabajara Pedroso e Aroldo de Azevedo. Ainda nessa sessão foi lida a carta
enviada pelo presidente da União Geográfica Internacional, o professor George B.
Cressey, onde fez saudação à AGB e os participantes da AGO.
O discurso oficial da AGB foi feito pelo professor Aroldo de Azevedo, fato
ocorrido em muitas outras assembléias. Nesse discurso podemos destacar
considerações sobre a visão que predominava nesses primeiros anos de
existência da AGB no que se refere aos “lugares diferentes de São Paulo”
81
de
ocorrência das reuniões da Associação, marcada por uma dada lógica de
compreensão da chegada à outras localidades como fruto de uma ação
desbravadora. O professor Aroldo de Azevedo em todos os seus discursos
publicados nos Anais da AGB, faz uso, e por muitas vezes abuso, da
comparação dos participantes das assembléias e da própria AGB com os
Bandeirantes. Apesar das palavras serem proferidas pelo professor Aroldo de
Azevedo, a impressão que fica a partir da leitura dos documentos produzidos
pela AGB e pela influência de Aroldo de Azevedo na Associação, principalmente
da Seção Regional de São Paulo, é que pelo menos na essência, o seu discurso
acaba por representar uma certa visão institucional predominante.
Em várias sessões foram apresentados e discutidos os seguintes
trabalhos
82
: “Variações do nível do mar ao longo do litoral da África Ocidental”,
de Antônio Teixeira Guerra; “Vegetación halófila de la costa uruguaya”, de Jorge
Chebartaroff; “Aspectos da vegetação de Diamantina’, de Dora do Amarante
Romariz; “Notas sobre a cidade de Diamantina e seus habitantes”, de Lysia Maria
Cavalcanti Bernardes; “A cultura da banana na baixada de Itanhaen”, de José
Ribeiro de Araújo Filho; “As chácaras paulistanas”, de Alice Piper Canabrava;
81
Frase presente em vários discursos do professor Aroldo de Azevedo ao se referir a qualquer
localidade diferente da cidade de São Paulo.
82
Os oito primeiros trabalhos foram aprovados para figurarem nos Anais da AGB referente à
assembléia em questão.
220
“Contribuição ao estudo das feiras de gado - Feira de Santana e Arcoverde”, de
Ney Strauch; “Bases geológicas del relieve uruguayo”, de Alberto Pochintesta;
“Contribuição à metodologia do trabalho de campo”, de Alceu Magnanini; “Notas
de uma excursão ao Pantanal Motogrossense”, de Sulamita Brito e Castro; “Um
estudo de Geografia Humana: veredeiros e geralistas” , de Pedro Pinchas Geiger;
“Núcleo Colonial de Santa-Cruz”, de Speridião Faissol; “Mello Leitão e a
Geografia”, de José Lacerda de Araújo Feio; “Toponímia: suas regras e
evolução”, de Everardo Backheuser; “Evolução da cidade de Franca (primeiro
estudos)”, de Pasquale Petrone; “As regiões climato-botânicas do Brasil”, de
Aroldo de Azevedo; “Tentativa de delimitação da região cacueira para fim de um
estudo econômico”, de Milton Santos; “A fazenda do Morro Redondo”, de Milton
Santos “Étude préliminaire sur la répartition des indices spléniques et
parasitaires de la malaria dans l' Etat de Goiaz em relation avec les conditions
géographiques”, de Annete Ruellan.
Ainda como parte da programação da assembléia foram realizadas cinco
palestras sobre assuntos diversos, realizadas por profissionais de destaque,
alguns inclusive, no cenário da geografia mundial, a saber: “Métodos e objetivos
de pesquisa Geográfica”, por Preston James; “Les variations du niveau marin
autour de I'Atlantique depuis le Pliocène”, por Francis Ruellan; “Observações
feitas na excursão à Lagoa Santa e à Gruta da Lapinha”, por Francis Ruellan;
“Zonas fisicas del Uruguay y los Microclimas”, por Jorge Chebartaroff; “Limites
inter-estaduais de Minas Gerais”, por Benedito Quintino dos Santos.
Os trabalhos de campo foram desenvolvidos em duas fases: a primeira foi
uma curta excursão de estudos à região de Lagoa Santa e à Gruta da Lapinha,
da qual participaram todos os geógrafos presentes; a segunda foi a realização de
duas excursões científicas à região siderúrgica de Barão de Cocais e à região do
Alto Maciço Quartzolítico do Caraça, e uma excursão para estudos de geografia
urbana na própria cidade de Belo Horizonte. A pesquisa da região de Barão de
Cocais foi dirigida pelo professor Aroldo de Azevedo, enquanto as pesquisa de
região do Caraça e de Belo Horizonte foram dirigidas por Francis Ruellan e Dirceu
Lino de Mattos, respectivamente.
Ao final da Assembléia, o quadro de sócio da AGB foi ampliado com mais
sete novos sócios efetivos: Alfredo José Porto Domingues, Aziz Nacib Ab’Saber,
Hilgard O’Reilly Sternberg, Speridião Faissol, José Ribeiro de Araújo Filho,
Antônio Rocha Penteado e Nice Lecocq Muller.
221
Ainda na sessão de encerramento procedeu-se, ainda, a eleição da nova
Diretoria da AGB para o ano de 1950, reconduzindo o professor José Veríssimo
da Costa Pereira na presidência da Associação.
A VI Assembléia Geral Ordinária foi realizada na cidade de Nova
Friburgo, entre os dias 26 de janeiro e 3 de fevereiro de 1951. A Assembléia teve
por sede o Ginásio de Nova Friburgo, da Fundação Getúlio Vargas, que foi posto
à disposição da Associação.
Nas sessões de estudos foram apresentadas nove teses, sendo que as
quatro últimas teses não foram publicadas: “Notas sobre alguns sambaquis e
terraços do litoral de Laguna (Santa Catarina)”, de Antônio Teixeira Guerra;
“São Luiz do Maranhão (primeiros estudos)”, de Aroldo de Azevedo; “A cidade
de Olímpia (estudos de Geografia Urbana)”, de Ely Goulart Pereira de Araújo;
“Propriedades de japoneses na região de Cotia”, de Emília da Costa Nogueira e
Francisca M. Nunes; “A Região de Santa Isabel”, de Aziz Nacib Ab' Saber;
“Coluviões da Serra do Cubatão”, de José Carlos Rodrigues; “A Barra do Itaípe
(BA), de Milton Santos; “A incidência do Arroio Maldonado na Serra Balleña
(Uruguai), de Jorge Chebataroff; “Geografia do Curare”, de Alberto Jacobina.
As pesquisas de campo foram realizadas no próprio município de Nova
Friburgo, onde as equipes foram divididas da seguinte forma para a realização do
trabalho: 1) Zona Urbana de Nova Friburgo: Equipe 1- João Dias da Silveira,
Odilon Nogueira de Matos e Lysia Maria Cavalcanti Bernardes (os caracteres do
sitio, a origem e a evolução da cidade), Equipe 2 - chefiada por José Ribeiro de
Araújo Filho e composta por Ely Goulart Pereira de Araújo, Hilda da Silva, Ignez
Amélia Leal Teixeira Guerra, Maria da Glória Carvalho Campos, Milton Santos e
Olga Leite Pinto Buarque de Lima ( Estudo das funções de Nova Friburgo); 2)
Zona Rural de Nova Friburgo: 2 equipes orientadas pelo professor Ary França
a primeira de Geografia Humana: Elza Coelho de Souza, Emília da Costa
Nogueira, Heraldo Faria Cidade, José Veríssimo da Costa Pereira, Maria Cecília
França, Nilo Bernardes, Paquale Petrone e Speridião Faissol; e a segunda, de
Vegetação e Pedologia: Dora do Amarante Romariz, Hélio Ramos da Costa, Jorge
Chebataroff e Moacyr Pavageau. As equipes percorreram os distritos sede,
Riograndina, Campo do Coelho e Refúgio; 3) Geografia Física: equipe formada
por Aziz Nacib Ab’ Saber, Antônio Teixeira Guerra, Lucio de Castro Soares e
Murilo Navarro Pereira.
222
Na sessão administrativa realizada ao final da Assembléia foi escolhido o
novo Conselho Diretor, que teve o professor João Dias da Silveira eleito para seu
segundo mandato à frente da AGB. Os professores Aziz Nacib Ab’Saber, Antônio
Rocha Penteado e José Veríssimo da Costa Pereira, completaram o Conselho
Diretor.
A VII Assembléia Geral Ordinária foi realizada na cidade de Campina
Grande – PB, entre os dias 11 e 19 de janeiro de 1952, e contou com a presença
de 15 sócios efetivos e 19 sócios cooperadores. A assembléia teve início no dia
11 de janeiro, no Salão Nobre do Aliança Club de Campina Grande, sob a
presidência do professor João Dias da Silveira. A sessão de abertura contou com
as presenças do Prefeito de Campina Grande, e do Governador do Estado José
Américo de Almeida, e que conforme a tradição da AGB, assumiu a presidência
de honra da Assembléia saudando os geógrafos presentes e ressaltando o
significado daquela reunião no Estado da Paraíba. Na sessão de abertura
falaram pela AGB os associados José Ribeiro de Araújo Filho, Milton Santos e
Jorge Chebataroff. A sessão administrativa, que organizou os trabalhos da AGO,
aconteceu logo após a sessão solene de abertura e definiu pela realização de 5
sessões plenárias, sendo 3 para debates das teses e 2 restantes destinadas à
apresentação dos relatórios preliminares das pesquisas de campo. Outros
assuntos tratados na sessão administrativa foram: a leitura e aprovação da ata
da AGO anterior (Nova Friburgo, 1951), divisão das equipes de campo e acertos
das condições de realização dos trabalhos da própria AGO.
Durante as três sessões para apresentação das teses, 12 trabalhos
estiveram no centro dos debates: “Regiões Naturais do Rio Grande do Sul e
Uruguai”, de Jorge Chebataroff; “A Cidade de Cruzeiro notas de geografia
urbana”, de Nilo Bernardes; “Centros de população do Distrito de São Paulo, em
1940 e 1950”, de Eduardo Alcântara de Oliveira; “O estado atual dos solos do
município de Itapecirica-SP, de José Setzer, e “Paisagens do Rio Grande do Sul
(impressões de viagem), de Aroldo de Azevedo; “Aspectos e problemas da região
de Corumbataí Estado de São Paulo”, de Pasquale Petrone; “Coruputaba: uma
fazenda do médio vale do Paraíba”, de Roberto Flávio C. Galvão; “Mapa genético
do solo Folha de Jaú”, de José Setzer; “Pequenas cuestas na Baixada de
Guanabara”, de Pedro Geiger; “Fazenda da Conceição”, de Miriam Mesquita;
“Londrina: estudo de geografia urbana”, de Neyde Prandini; e “População e
povoamento do Norte do Paraná”, de Salette Cambiaghi.
223
Os trabalhos de campo, parte sempre importante das pesquisas realizadas
durante uma AGO, foram relatados e discutidos em sessão realizada após
aquelas destinadas aos debates das teses. As pesquisas de campo foram
realizadas em duas fases distintas: uma em que todas as equipes tiveram por
centro de estudos a própria cidade de Campina Grande e outra em que os
associados foram para estudar as regiões do Sertão de Curema e do Brejo
Paraibano. Na fase destinada aos estudos da cidade de Campina Grande, foram
organizadas três equipes geografia física, chefiada pelo professor Aziz Nacib
Ab’Saber; geografia urbana, chefiada pela professora Nice Lecocq Muller, e
dividida em 4 sub-equipes: a) sítio urbano - Antônio Rocha Penteado, b)
situação Brás Berlanga Martinez, c) funções urbanas Dora de Amarante
Romariz, d) origem e crescimento Nice Lecocq Muller; e geografia rural,
chefiada pelo professor João Dias da Silveira, e dividida em 3 sub-grupos: a)
região de queimada José Ribeiro de Araújo Filho, b) região a NO de
campina Grande - Elza Coelho de Souza, c) região de Alagôa Seca - Nilo
Bernardes. A fase de Campina Grande contou ainda com estudos das condições
pedológicas, realizadas pelo professor José Setzer.
A segunda fase das pesquisas de campo foi realizada em duas áreas
distintas, para onde se dirigiram os participantes, divididos em várias equipes.
Para as pesquisas na Região do Brejo Paraibano, foram duas equipes. A primeira
de geografia urbana, sob a chefia da professora Eloísa de Carvalho; a segunda
de geografia rural, sob chefia de Nilo Bernardes, dividiu-se em três sub-grupos:
o de leste, o de oeste e o central, orientados respectivamente por José Veríssimo
da Costa Pereira, Pedro Geiger e Nilo Bernardes. as pesquisas realizadas na
Região do Sertão de Curema, foram feitas por uma equipe, que trabalhou
sempre em conjunto e sob a chefia de Aziz Ab’ Saber.
As sessões de apresentação dos relatórios das pesquisas de campo
realizadas na segunda fase e de encerramento, ocorreram na cidade de João
Pessoa; a primeira ocorreu no salão principal do Grupo Escolar da capital
paraibana, e a segunda no Auditório do Instituto de Educação de João Pessoa. A
sessão de encerramento contou com a presença do Dr. Luiz Rodrigues
Secretário de Educação e Saúde do Estado da Paraíba, que representando
oficialmente o sr. Governador, assumiu a presidência de honra da Assembléia.
Na parte administrativa dessa sessão foram lidos e aprovados os relatórios da
gestão que se encerrou e realizada a eleição dos novos membros da Diretoria da
224
AGB, onde o professor José Veríssimo da Costa Pereira foi eleito para o seu
terceiro mandato à frente da Associação.
A VIII Assembléia Geral Ordinária foi realizada na cidade de Cuiabá-
MT, no período de 17 a 26 de julho de 1953, e contou com a presença de 50
sócios, assim distribuídos: 1 (um) sócio honorário, da França; 19 sócios efetivos,
sendo 9 de São Paulo, 4 do Rio de Janeiro, 1 de Pernambuco e 1 do Uruguai; 30
sócios cooperadores, sendo 9 do Rio de Janeiro, 9 de São Paulo, 6 do Paraná, 1
de Pernambuco, 1 de Minas Gerais, 1 do Mato Grosso, 1 do Rio Grande do Sul e
1 da Bahia. A assembléia teve seu início antes mesmo da sessão preparatória,
com as visitas que o Conselho Diretor e alguns outros associados fizeram as
autoridades locais e as principais instituições da cidade. No dia 17 de julho, ainda
na parte da manhã, cumprindo então o já instituído cerimonial, os associados da
AGB fizeram visitas oficiais à Assembléia Legislativa, ao Tribunal de Justiça, à
Prefeitura e ao Palácio do Governo. Na tarde desse mesmo dia 17 de julho,
reuniram-se então, em sessão preparatória, a fim de que fossem organizadas as
equipes de trabalho e distribuídas as teses aos relatores, conforme deliberação
aprovada em assembléias anteriores.
Na noite do dia 17 de julho, no auditório do tradicional Colégio Estadual de
Cuiabá, foi instalada pelo então presidente da AGB - o professor JoVeríssimo
da Costa Pereira, a oitava Assembléia Geral Ordinária da associação. A sessão de
abertura contou com a presença do Governador do Estado do Mato Grosso, o Dr.
Fernando Correia da Costa, recebeu a presidência de honra da Assembléia e
oficializou a abertura da reunião. Em nome dos associados presentes, falou o
sócio Mário Lacerda de Melo, e em nome dos geógrafos estrangeiros presentes
falou o professor Jorge Chebataroff, presidente da Associação dos Geógrafos
Uruguaios.
Após a solenidade de abertura da Assembléia, foram iniciados os trabalhos
administrativos da mesma, que foram secretariados pela professora Nice Lecocq
Muller (SP), onde foi lida, discutida e aprovada a ata da assembléia anterior
(Campina Grande-1952), e repassados os encaminhamentos da sessão
preparatória.
A assembléia continuou no dia seguinte, no Palácio da Instrução, quando
foi realizada a primeira sessão plenária, onde foram entregues pelo presidente da
AGB, os diplomas de sócio-efetivo aos recém eleitos: Mário Lacerda de Melo,
Eurípides Simões de Paula, Elina de Oliveira Santos e Paquale Petrone. Ainda
225
nessa sessão foram feitas as primeiras comunicações, a primeira pelo professor
Aziz Nacib Ab’Saber “Geomorfologia de uma linha de quedas apalachiana típica
do Estado de São Paulo”
83
; a segunda apresentação foi feita pelo sócio João Jo
Bigarella sobre “Contribuição ao estudo da planície litorânea do Paraná”
84
.
Na segunda sessão plenária realizada no dia 19 de julho, foram
apresentadas duas outras comunicações orais referentes ao trabalho que a Seção
Regional de São Paulo estava preparando para o IV centenário da cidade de São
Paulo, em parceria com o Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia,
Ciência e Letras da Universidade de São Paulo. As comunicações, que não foram
publicadas nos Anais da assembléia em questão, foram apresentadas pelo
professor Aroldo de Azevedo “Plano de trabalho e os métodos de pesquisa”, e
pela professora Nice Lecocq Muller – “Centro da cidade de São Paulo”.
Na noite do dia 19 de julho foi realizada a terceira sessão plenária, onde
foram relatadas e debatidas as primeiras duas teses inscritas para essa
assembléia. A primeira tese “Contribuição à geografia carioca: notas sobre a
geografia do bairro de Laranjeiras”, de autoria de Ruth Mattos Almeida Simões,
foi relatada pelo professor Ary França; e a segunda “A Serra Negra, uma relíquia
geomórfica e higrófita nos tabuleiros pernambucanos”, de autoria de Gilberto
Osório de Andrade, foi relatada pelo professor Aziz Nacib Ab’Saber. No dia
seguinte, na continuação da terceira sessão, aconteceu a apresentação da tese
de Mário Lacerda de Melo, intitulada “A Serra Negra, uma “ilha” da caatinga”,
que foi relatada pela professora Lysia Maria Cavalcanti Bernardes. As três teses,
após debate, foram aprovadas para publicação nos Anais da AGB.
Em sessões realizadas alguns dias depois mais três teses foram
apresentadas e discutidas: a de autoria de Jorge Chebataroff, intitulada
“Esquema general de la evolución de lás costas platenses”, relatada por Francis
Ruellan; a de Miguel Alves Lima, cujo título “Cruz das Almas e Arapiraca, duas
zonas produtoras de fumo”, e que foi relatada pelo professor Aroldo de Azevedo;
e por fim a tese de autoria de Antônio Taddei, relatada pelo Professor Pasquale
Petrone, intitulada “Pantanais Matogrossenses”; sendo que esta última não foi
publicada nos Anais da AGB referente a essa assembléia.
As sessões seguintes, realizadas nos dias 24 e 25 de julho foram
dedicadas à apresentação dos relatórios das pesquisas realizadas nos trabalhos
83
Publicada nos Anais da AGB, volume VII, tomo I, 1955.
84
Não publicada nos Anais da AGB da assembléia referente.
226
de campo ocorridos nos dias 21, 22, e 23 do mês em questão. Em quatro
equipes foram distribuídos os associados presentes. Ao professor Aroldo de
Azevedo coube dirigir o grupo que estudou “A Cidade de Cuiabá”. O professor
Mário Lacerda de Melo orientou o grupo que estudou a “Região ribeirinha do
médio Cuiabá” e a “Área açucareira de Leverger”. O professor Francis Ruellan
teve ao seu cargo a direção da equipe que estudou a “Chapada dos Guimarães”,
cabendo finalmente ao professor Aziz Nacib Ab’Saber a responsabilidade da
equipe que estudou “O Planalto dos Parecis”.
Os presentes a essa assembléia mais uma vez saíram do local onde foram
realizadas as sessões de debates acadêmicos para homenagear o general
Cândido Mariano da Silva Rondon. Os associados da AGB se reuniram no “Campo
de Ourique”, junto ao marco que assinala o centro geodésico da América do Sul
para prestarem uma homenagem à Rondon, onde foi feita a leitura, pelo
presidente da AGB, de uma mensagem
85
enviada pelo próprio general à
Associação.
No último dia da assembléia foi realizada sessão onde foram tratadas
questões de ordem administrativa (leitura e aprovação do relatório da gestão),
além da apresentação, discussão e aprovação de resoluções, que seguem
divididas em dois grupos - o primeiro, que diz respeito à própria Associação:
1) “Referendar o patrocínio da Associação dos Geógrafos Brasileiros em
relação ao I Congresso Brasileiro de Geógrafos, a se realizar em São Paulo, como
parte das comemorações do IV Centenário de sua fundação”;
2) “Sugerir ao Conselho Diretor a ser eleito que a IX Assembléia Geral da
Associação dos Geógrafos Brasileiros seja realizada concomitantemente com o I
Congresso Brasileiro de Geógrafos”;
3) “Determinar que o mandato da Diretoria que seeleita na Assembléia
de Cuiabá terminará com o encerramento dos trabalhos da IX Assembléia
Geral, na forma dos Estatutos”;
4) “Recomendar às Seções Regionais da Associação dos Geógrafos
Brasileiros a adoção, em seus assuntos internos, do uso de “RESOLUÇÕES””;
5) “Recomendar à Diretoria a ser eleita em Cuiabá que entre em contato
com associações idôneas e de finalidades científicas idênticas às da Associação
85
Cópia da mensagem segue em anexo
227
dos Geógrafos Brasileiros de outros países americanos a fim de ser fundada uma
Federação das Associações de Geógrafos das Américas”;
6) “Seja a Diretoria da Associação dos Geógrafos Brasileiros autorizada a
fazer um caloroso apelo aos órgãos do Poder Público no sentido de aproveitar o
conhecimento e a experiência de geógrafos especializados todas as vezes que
forem constituídas comissões técnicas destinadas a examinar problemas relativos
à terra e ao homem”.
O segundo grupos de resoluções, que tratava de posicionamento da AGB
sobre assuntos de interesse da sociedade:
1) “Dirigir-se às autoridades competentes solicitando que sejam adotadas
as medidas necessárias de modo a ser preservada como parque florestal a
reserva de mata Serra Negra, no município de Floresta”;
2) “Sugerir ao Governo Federal a criação de reservas para a conservação
da flora e da fauna, propiciando uma regulamentação para a preservação da
fauna útil em geral”.
Nessa sessão também foi eleita e empossada a nova direção da associação
que teve o professor Aroldo de Azevedo como seu presidente, que a despeito de
sua enorme influência na AGB, assumiu, por eleição, apenas uma vez o cargo
principal
86
da associação. Nessa eleição, a professora Dora de Amarante Romariz
foi escolhida como Diretora dos Anais, função que vai ocupar por quinze
mandatos consecutivos, tormando-se a profissional que mais tempo permaneceu
no Conselho Diretor da AGB, em toda sua história.
A IX Assembléia Geral Ordinária da AGB, ocorrida em 1954, na cidade de
Ribeirão Preto, Estado de São Paulo, foi realizada simultaneamente com o I
Congresso Brasileiro de Geógrafos, conforme deliberado pela assembléia anterior
(Cuiabá-1953), assumindo o caráter somente administrativo, reservando a parte
acadêmica para o Congresso.
A Assembléia foi realizada em duas sessões, uma no dia 19 e outra no dia
28 de julho e contou com a participação de 2 sócios honorários e 33 sócios
efetivos. Na primeira sessão foram empossados os novos sócios, com destaque
para a posse do Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, como sócio
honorário. Foram ainda empossados Eloísa Carvalho (RJ), Ely Goulart Pereira de
86
O professor Aroldo de Azevedo, na gestão do Conselho Diretor do 1946-1947, era Secretário
Geral, tendo assumido interinamente a presidência, em substituição ao professor Pierre Monbeig.
228
Araújo (SP), Gilberto Osório de Andrade (PE), João José Bigarella (PR). Ney
Strauch (RJ), Tabajara Pedroso (MG) e Walter Albert Egler (RJ), todos como
efetivos.
Nessa sessão discutiu-se ainda a questão da fundação da Federação das
Associações dos Geógrafos da América (F.A.G.A.). Outro assunto de grande
interesse também abordado foi a da possível colaboração da Associação dos
Geógrafos Brasileiros com a Comissão Interestadual da Bacia Paraná-Uruguai.
Na segunda sessão a Diretoria que estava no final mandato fez a
apresentação do relatório da gestão, que foi lido pelo presidente da AGB,
professor Aroldo de Azevedo. Em seguida foi efetuada a eleição dos novos
dirigentes da AGB, com o seguinte resultado: Mário Lacerda de Mello
Presidente; Pasquale Petrone Secretário-Geral; Aziz Nacib Ab’Saber
Tesoureiro-Geral; Dora de Amarante Romariz Diretora dos Anais; e Victor
Antônio Peluzo Júnior – Comissão Consultiva.
Ainda nessa sessão, o sócio Tadeu Rocha (PE), ofereceu à Associação, em
função do seu 20º aniversário, a CANÇÃO DA AGB, com letra e música de sua
autoria, que passou a ser considerado o hino da Associação.
229
Figura 32
230
A X Assembléia Geral Ordinária da AGB foi realizada em 1955, mais
precisamente no período de 3 a 11 de julho, na cidade de Garanhuns. Essa foi a
segunda assembléia da AGB realizada na Região Nordeste (a primeira ocorreu
três anos antes, em 1952, na cidade de Campina Grande PB), e a primeira
ocorrida no Estado de Pernambuco – que já possuía uma Seção Regional da AGB,
ainda que com uma diretoria provisória. A assembléia foi muito importante para
a história da Associação, principalmente pelo fato da instalação solene da Seção
Regional de Pernambuco.
A assembléia teve inicio no dia 3 de julho com a realização da sessão
preparatória, onde foram organizadas as equipes de trabalho de campo, a
distribuição das teses aos respectivos relatores, a discussão e aprovação da ata
da IX assembléia, realizada em Ribeirão Preto, além da proclamação de três
novos sócios efetivos, eleitos durante o ano social de 1954-1955, os professores
João Soukup (SP), Miguel Alves de Lima (RJ) e Heldio Xavier Lenz César (RJ).
A instalação solene da Assembléia se deu na noite do dia 3 de julho, no salão
nobre do Colégio Santa Sofia (onde foram realizadas todas as sessões da
assembléia), tendo a presença de diversas autoridades locais e do Estado de
Pernambuco, com destaque para o prefeito de Garanhuns, o Dr. Celso Galvão,
que presidiu a sessão. O professor Aroldo de Azevedo, em cujo mandato como
presidente fora fundada a Seção Regional de Pernambuco, por ocasião da
solicitação do professor Mario Lacerda de Melo, então presidente da AGB, fez um
discurso em nome dos geógrafos presentes a assembléia, onde destacou a
importância histórica da AGB e de seus fundadores e primeiros associados, além
de fazer um balanço dos primeiros vinte anos da Associação e de sua
contribuição para a ciência geográfica no Brasil, onde, para ele “orgulhamo-nos
da obra científica e verdadeiramente nacional que vem sendo levada a efeito pela
nossa Associação, sem alardes (...)” (AGB, 1959:14)
. Ainda no discurso do
professor Aroldo de Azevedo aparece uma expressão que vai marcar de maneira
significativa a atuação/participação no interior da AGB, que é o chamado
espírito agebeano”. Mas afinal, qual o significado de tal expressão? Nas palavras
do próprio Aroldo de Azevedo é “não é uma simples figura de retórica nem
produto da imaginação dos “apaixonados” pela A.G.B., porque existe realmente,
conforme tereis oportunidade de verificar com os próprios olhos.”
231
Nas sessões que se seguiram foram apresentadas 11 teses, 2
comunicações e 1 relatório de pesquisa, além de uma conferência, a saber:
1) Teses: “Os mais recentes níveis glácio-eustáticos na costa pernambucana”,
de Gilberto Osório de Andrade; “O regime fluvial do Tietê na região de São
Paulo”, de Eline de Oliveira Santos; “Um exemplo de levantamento linear
aplicado à geografia”, de João Soukup; “Vilas e Cidades do Brasil Colonial
(Ensaio de Geografia Urbana Retrospectiva)”, de Aroldo de Azevedo; “A
Colonização nos arredores de Curitiba”, de Lysia Maria Cavalcanti Bernardes;
“Alguns aspectos da população da cidade de São Paulo”, de Jo Ribeiro de
Araújo Filho; “Contribuição ao estudo da região suburbana de São Paulo”, de
Antônio Rocha Penteado; “Os fatores da industrialização de São Paulo”, de Dirceu
Lino de Mattos; “Contribuição ao estudo do Cabo Santo Agostinho”, de Walter
Alberto Egler; “Nazaré, um porto ferroviário do Recôncavo Baiano”, de Milton de
Almeida Santos; “A Serra de Ororobá”, de Manoel Correia de Andrade.
2) Comunicações: “Problema da Interferência dos Processos na Caracterização
do Relevo Nordestino”, por Aziz Nacib Ab’Saber; “A Cidade do Recife”, por Mario
Lacerda de Melo.
3) Conferência: “Região e Cultura”, por Dr. Gilberto Freyre.
4) Relatório de Pesquisa: Comissão da Bacia do Paraná-Uruguai
87
, por Dirceu
Lino de Matos
87
No mês de setembro de 1954, foi assinado na cidade de São Paulo um importante convênio
entre a Comissão Interestadual da Bacia do Paraná-Uruguai, de um lado, e a Associação dos
Geógrafos Brasileiros, de outro, através do qual esta última comprometeu-se a apresentar um
estudo preliminar a respeito da geografia física, humana e econômica da área abrangida pelas
mencionadas bacias fluviais integrantes da Bacia Platina. O Conselho Diretor da AGB criou uma
Comissão de Estudos constituída pelos seguintes sócios: Presidente – Dirceu Lino de Matos;
Secretário Blás Berlanga Martinez; Membros Antônio Rocha Penteado, Dora de Amarante
Romariz, Reinhard Maak, Tabajara Pedroso, Vitor Peluso Júnior. Participaram ainda da equipe, os
geógrafos: Elza Coelho de Souza Keller, Lysia Bernardes, Nilo Bernardes, Aziz Nacib Ab’Saber, Ney
Strauch, Walter Egler, Antônio Rocha Penteado, Maria da Conceição Vicente de Carvalho, entre
outros. Completou a equipe número bastante significativo de outros profissionais, sendo 14
cartógrafos e desenhistas, 12 calculistas, 32 coletores de dados, 1 contador e 18 datilógrafos.
O trabalho foi realizado a partir de informações já existentes sobre a área e do envio de
questionários a mais de 700 prefeituras dos municípios dos Estados abrangidos pela Bacia. Além
dessas informações, a Comissão foi buscar pessoalmente dados em cinco Estados diferentes e em
diversos órgãos de governo. No dia 31 de janeiro de 1955, pouco mais de três meses após seu
início, a Comissão Especial deu por terminado seu trabalho e o professor Dirceu Lino de Mattos fez
a entrega do trabalho encomendado pela Comissão Interestadual da Bacia do Paraná-Uruguai. O
resultado foi um verdadeiro atlas da área estudada e numerosos relatórios parciais, resultando em
dezenas de mapas e centenas de páginas de relatórios e comentários. O conjunto desse estudo foi
constituído da seguinte forma: Regiões naturais da Bacia do Paraná-Uruguai, geologia, relevo,
clima, solos, vegetação, hidrografia, população, geografia agrária, produção agrícola e pastoril,
problemas agrícolas, energia, indústria, transportes, estudos especiais; todos os itens foram
apresentados na forma de mapas e textos explicativos.
232
A sessão de encerramento foi realizada na noite do dia 11 de julho, e
contou com a presença de diversas autoridades do Estado de Pernambuco, entre
elas o Secretário de Estadual de Educação, o Dr. Aderbal Jurema, que na
qualidade de representante do Governador do Estado, ocupou a presidência de
Honra da assembléia em sua sessão solene de encerramento da assembléia.
As seguintes resoluções foram aprovadas na Assembléia:
1ª) Solicitar do Governo Federal seja elevada à Estação Meteorológica de
classe, a atual Estação de classe em funcionamento na cidade de Garanhuns,
devido às características particulares e altamente favoráveis do clima do planalto
de Garanhuns;
2ª) Solicitar ao Governo do Estado de Pernambuco que seja pavimentada com
asfalto ou concreto, no mais breve prazo possível a estrada de rodagem de
Recife a Garanhuns, tendo em vista que esta cidade está fadada a ser das mais
importantes “estações de saúde” do Estado e, mesmo, de todo o Nordeste;
3ª) Solicitar ao Governo do Estado que tome as necessárias providências no
sentido de ser cumprido o art. 15 do Ato das Disposições Transitórias da
Constituição de Pernambuco no qual se prevê a transformação de Garanhuns em
“estância medicinal”;
4ª) Solicitar ao Governo do Estado a construção de estradas que venham facilitar
o escoamento da produção da área rural dos municípios de Garanhuns e Bom
Conselho, notadamente a produção cafeeira, a maior de todo o Nordeste.
A XI Assembléia Geral Ordinária, prevista para 1956, na cidade do Rio de
Janeiro, não aconteceu nos moldes consagrados, em função da realização do
XVIII Congresso Internacional de Geografia, que ocorreu na mesma cidade, mês
de agosto,
e onde a AGB e seus diretores e principais associados estiveram
amplamente envolvidos. Assim, o Conselho Diretor da AGB decidiu pela
realização de uma assembléia de cunho meramente administrativo, com a
presença dos membros do referido Conselho e Diretores das Seções Regionais.
233
A Assembléia que foi realizada no dia 8 de julho de 1956, foi antecedida
por uma visita ao túmulo do professor José Veríssimo da Costa Pereira
88
, onde,
em nome da Associação, falou o sócio Odilon Nogueira de Matos.
A Assembléia, que teve como sede do Conselho Nacional de Geografia
(CNG), e que contou com a participação de 37 (trinta e sete) sócios, foi instalada
na tarde do dia 08/07/1956, em sessão única, onde foi lida e aprovada a ata da
X AGO; a leitura do relatório da gestão que então se encerrava e a eleição para o
novo Conselho Diretor para o período 1956-1957. Para a composição da nova
gestão foram escolhidos os sócios efetivos: Dirceu Lino de Matos Presidente;
Nice Lecocq Muller Secretária-Geral; Odilon Nogueira de Matos Tesoureiro-
Geral; Dora de Amarante Romariz Diretora dos Anais; Maria da Conceição
Vicente de Carvalho – Comissão Consultiva.
Uma importante decisão tomada nessa assembléia foi a da realização de
uma seção denominada “Simpósio”, no interior das assembléias seguintes. Os
sócios presentes avaliaram demandas demonstradas anteriormente, onde
indicavam a necessidade de reorientação acadêmica das AGOs, devendo torná-
las mais “produtivas
89
”. Com a decisão de realização do “simpósio” na XII AGO,
decidiu-se também que o mesmo trataria do tema “Habitat Rural no Brasil”.
A XII Assembléia Geral Ordinária, realizada na Cidade de Colatina, no
Estado do Espírito Santo no período de 2 a 11 de julho de 1957. A Assembléia
teve início em uma das salas do tradicional Colégio Nossa Senhora do Brasil, com
a realização da sessão preparatória dos trabalhos, presidida por Dirceu Lino de
Mattos. Nessa sessão, foram feitas a apresentação do programa de trabalho, a
leitura e aprovação da ata da Assembléia anterior (realizada em 1956, no Rio de
Janeiro), a distribuição das teses que seriam apresentadas aos respectivos
relatores. Foram também anunciados os trabalhos que seriam apresentados no
“simpósio”, que apareceu pela primeira vez numa assembléia da AGB e que
havia sido decidido e escolhido na assembléia anterior. As equipes de trabalhos
de campo e pesquisa foram escolhidas e distribuídas para que iniciassem seus
trabalhos no dia seguinte. Cada equipe contou com um grupo de associados e
coordenadores, distribuídos na reunião.
88
Sócio efetivo da AGB, tendo sido por três vezes Presidente da Associação, o professor José
Veríssimo da Costa Pereira, faleceu no dia 06 de agosto de 1955.
89
Termo presente na Ata da Assembléia em questão.
234
Na noite do dia 2 de julho de 1957, no Clube Recreativo de Colatina, foi
realizada a sessão solene de instalação da XII Assembléia Geral Ordinária da
AGB, que foi presidida pelo Dr. Emilio Zanotti, Secretário Estadual de Educação
do Espírito Santo, que representava o sr. Governador do Estado. Estiveram ainda
presentes nessa sessão, o prefeito de Colatina e diversas outras autoridades
locais.
Na sessão de abertura foram proclamados os novos sócios efetivos da
AGB: os professores Milton Santos (BA), Hilton Sette (PE) e o Engenheiro
Salomão Serebrenick (RJ). Apenas o professor Milton Santos estava presente
para receber o diploma de sócio efetivo.
Durante a assembléia, nas sessões de estudos, foram apresentadas e
discutidas 6 (seis) teses: A Superfície de Aplainamento Pilocênica do Nordeste do
Brasil, de autoria de Gilberto Osório de Andrade, e relatada por Mário Lacerda de
Melo; O Bordo Oriental da Borborema na Área de Vitória de Santo Antão, de
autoria de Manoel Correia de Andrade, relatada por Nilo Bernardes; O
Crescimento Recente da Cidade de Salvador, de autoria de Ana Dias da Silva
Carvalho, relatada por Odilon Nogueira de Matos; As Indústrias da Cidade de
Salvador (distribuição geográfica), de autoria de Milton Santos e Ana Dias da
Silva Carvalho, relatada por Tabajara Pedroso; Ituberá, Porto Cacaueiro
Rejuvenescido pela Indústria, de autoria de Milton Santos, relatada por Ely
Goulart Pereira de Araújo; A pesca da baleia no litoral do Nordeste, de autoria de
José H. Lavareda, relatada por José Ribeiro de Araújo Filho.
Os trabalhos de campo foram realizadas a partir da definição de cinco
grupos que se ocuparam das seguintes pesquisas: 1) Área urbana de Colatina,
sob a direção de Lysia Bernardes; 2) Área rural de Colatina, chefiado por Lúcio
de castro Soares; 3) Região de Linhares, sob orientação de Mário Lacerda de
Melo; 4) Região de colonização (Santa Tereza e Santa Leopoldina), sob chefia de
Pasquale Petrone; e 5) Região Pioneira, chefiado por Ary França.
A sessão de encerramento da Assembléia foi realizada no dia 11 de julho,
no Salão do Clube Recreativo de Colatina, contou com a presença de autoridades
estaduais e locais e foi presidida pelo sr. Raul Giuberti, Prefeito de Colatina.
A XIII Assembléia Geral Ordinária realizada na cidade de Santa Maria-
RS, a primeira ocorrida na Região Sul do Brasil e a única ocorrida no Estado,
desenrolou-se entre os dias 6 e 15 de julho do ano de 1958.
235
Utilizando as dependências do Colégio Santana, local onde foram
realizadas todas as sessões, a AGB deu continuidade a sua história, reunindo-se
em mais uma assembléia. A sessão preparatória foi realizada na tarde do dia 6
de julho e tratou da aprovação da ata da AGO anterior, da apresentação do
calendário da assembléia em questão, da organização dos trabalhos de campo e
suas respectivas equipes e coordenadores e também da distribuição das teses
pelos respectivos relatores.
A instalação oficial da AGO foi realizada no Salão do Centro Cultural de
Santa Maria, sob a coordenação do professor Ary França – Presidente da AGB.
Os três dias que se seguiram foram dedicados às pesquisas de campo.
Cinco foram as áreas por elas focalizadas: 1) Cidade de Santa Maria, 2) Zona
Rural de Santa Maria, 3) Planalto (com centro em Júlio de Castilhos), 4)
Depressão do Jacuí (centro em Cachoeira do Sul) e 5) Campanha (centro de São
Gabriel). Estiveram essas cinco equipes sob a direção, respectivamente, de:
Dirceu Lino de Mattos, Ney Strauch, Gilberto Osório de Andrade, Nilo Bernardes e
Nice Lecocq Muller, sendo que a elaboração dos relatórios foi feita no decorrer
dos dias 10, 11 e 12 de julho.
Os trabalhos
90
que seguem foram àqueles apresentados, discutidos e
avaliados nas quatro sessões realizadas para esse fim: “O recife anular das rocas
(um registro de recentes variações eustáticas no atlântico equatorial)”, de
Gilberto Osório de Andrade; “Contribuição à geologia da região sul da série
Açungui (estado do Paraná)”, de João José Bigarella e Riad Salamuni; “Praderas
de la América del Sur Templada”, de Jorge Chebataroff; “Acción recíproca entre
el viento y los vegetales”, de Jorge Chebataroff; “Importância da posição como
fator do desenvolvimento do Rio de Janeiro”, de Lysia Maria Cavalcanti
Bernardes; “Contribuição à Geografia urbana de Mogi das Cruzes”, de José
Domingos Tirico; “Aspectos da atividade pesqueira em Pernambuco”, de Hilton
Sette; “Ocupação humana no Baixo Cassiporé”, de Nilo Bernardes;
“Caracterização da sub-região da "Mata Seca" em Pernambuco”, de Manoel
Correia de Andrade; “Aspectos geográficos de la región litoral platense uruguaya
y su relación com el turismo”, de Gladys Mirta Lima Ipar; “O Sistema Elétrico de
Paulo Afonso”, de Tadeu Rocha; “Nota preliminar sobre medições em arenitos
cólicos mesozóicos (Botucatu e Tacuarembé) do Brasil Meridional e Uruguai”, de
90
Apenas não foram publicados nos Anais da AGB de referência da XIII AGO, os quatro últimos
trabalhos listados.
236
João Jo Bigarella e Riad Salamuni; “Abastecimento alimentar da cidade de
Recife”, de José H. Lavareda; e “Uruguay, pais en crisis”, de Pablo Fierro Vignoli.
Nessa AGO foram diplomados como sócios efetivos os professores Manoel
Correia de Andrade e José Francisco de Camargo. Foram eleitos para o Conselho
Diretor: Nilo Bernardes Presidente; Pasquale Petrone Secretário Geral; Nice
Lecocq Muller Tesoureira-Geral; Dora de Amarante Romariz Diretora dos
Anais; e João Dias da Silveira – Conselho Consultivo.
A XIV Assembléia Geral Ordinária foi realizada na cidade de Viçosa,
Minas Gerais, mais precisamente na Escola de Agricultura, entre os dias 6 e 16
de julho de 1959. Na manhã do dia 6 de julho foi realizada a sessão
preparatória, onde foi discutida e aprovada a ata da assembléia anterior,
constituída as equipes de trabalho de campo e dados os informes sobre o
programa da assembléia, das teses e comunicações que seriam apresentadas, e
ainda, das mudanças no regimento das AGO, onde se destacava a instituição da
emissão de certificados aos participantes da reunião. Na noite do mesmo dia, no
Salão Nobre da Escola, sob a coordenação do professor Nilo Bernardes (então
presidente da AGB), foi realizada a abertura solene da assembléia, que teve
como presidente de honra o sr. Juarez de Souza Carmo Secretário do Interior,
representando o Governador do Estado de Minas Gerais, que apoiou
financeiramente o evento. Em seu discurso de abertura da Assembléia, o
professor Nilo Bernardes ressaltou que a reunião em curso estava comemorando
os 25 anos de existência da AGB.
Na assembléia em questão foram experimentadas duas resoluções de
muito impacto na dinâmica das mesmas e da própria AGB, e que foram definidas
e formalizadas pelo Conselho Diretor da Associação. A primeira foi a criação da
Comissão de Teses e Comunicações, que passou a exercer, de modo antecipado,
o papel dos relatores individuais. A segunda, de ação mais contundente sobre a
dinâmica da AGB e seu principal evento, definiu a fixação de número máximo de
participantes nas AGOs com cotas para as Seções Regionais (33 de SP, 33 do RJ,
11 de MG, 11 do PR e 11 de PE), deliberação que não só reforçava a idéia de um
projeto segregador para fora da AGB, como também internamente entre as
Seções Regionais – uma AGB de poucos e para poucos.
As duas primeiras sessões plenárias de caráter mais acadêmico foram
destinadas à realização do Simpósio “O Habitat urbano no Brasil problemas do
estudo das metrópoles brasileiras”, dirigido pelo professor Mário Lacerda de
237
Melo, onde foram apresentados diversos trabalhos. As demais sessões desse
mesmo caráter foram apresentadas as teses, comunicações e relatos
preliminares das pesquisas de campo realizadas nos quatro dias destinados para
esse fim.
As pesquisas de campo foram realizadas a partir da divisão dos associados
presentes em três grupos: o primeiro grupo, chefiado pelo professor Antônio
Rocha Penteado, com 35 membros, estudou a área de Ponte Nova; o segundo
grupo, chefiado pelo professor Manoel Correia de Andrade, com 28 membros,
estudou a Região de Ubá; e o terceiro grupo, chefiado pela professora Elza
Coelho de Souza Keller, com 30 membros, estudou a Região de Viçosa.
Na sessão de encerramento, realizada no dia 16 de julho, durante o
expediente de entrega dos certificados de participação na assembléia (fato que
ocorria pela primeira vez), foi realizada homenagem ao professor Pierre
Deffontaines, sócio mais antigo e fundador da AGB, presente à assembléia.
A XV Assembléia Geral Ordinária foi realizada na cidade de Mossoró,
Rio Grande do Norte no período de 6 a 16 de julho de 1960. A assembléia teve
início com a sua sessão preparatória na manhã do dia 6, no Auditório do Colégio
Diocesano Santa Luzia. A pauta dessa sessão foi composta dos seguintes itens:
1- Discussão e aprovação da ata da assembléia anterior; 2- Definição do
Programa da Assembléia; 3-Composição das Equipes de Trabalho de Campo; 4-
Apresentação das teses e comunicações orais encaminhadas a Assembléia; 5-
Distribuição dos Trabalhos referentes ao Simpósio; 6- Expediente de
correspondência e credenciamento de representantes a participação na
Assembléia.
A sessão de instalação solene da XV assembléia se deu no dia 6 de julho,
no Auditório do Instituto de Educação de Mossoró, com a presença de diversas
autoridades, entre elas, o Senador da República o Dr. Dix-Ruit, membro da
oligarquia local, que fez, em nome da cidade de Mossoró, saudação a AGB e aos
presentes. Nessa mesma sessão, falou em nome da AGB o professor Nilo
Bernardes, ressaltando a historia e a importância da Associação. Ainda, nessa
sessão foram proclamados os novos sócios efetivos: as professoras Ruth Mattos
Almeida Simões e Maria Terezinha de Segadas Soares e o professor Edgar
Kuhlmann. O presidente da AGB, o professor Gilberto Osório de Andrade, fez o
último discurso da noite, declarando instalada a XV Assembléia Geral Ordinária
da AGB.
238
Nos dez dias de duração da XV AGO foram realizadas 16 sessões de
trabalhos, sendo 12 sessões plenárias, onde foram discutidas as teses,
apresentados os trabalhos do simpósio e comunicações orais, e apresentados os
relatórios das pesquisas de campo; duas sessões administrativas; e as sessões
de abertura e encerramento do evento.
As três primeiras sessões plenárias da assembléia foram ocupadas para a
realização do simpósio “Aspectos geográficos do problema agrário brasileiro,
especialmente no Nordeste”, que foi presidido pelo professor Manuel Correia de
Andrade, tendo por secretária a associada Maria Alice dos Reis Araújo. No
simpósio foram apresentados os seguintes trabalhos: “A geografia agrária como
ramos da geografia econômica”, por Orlando Valverde; “Interesse de um estudo
de orçamentos para a geografia agrária”, por Michel Rochefort; “Significado do
núcleo colonial do Pium para o aproveitamento dos vales de Paul no Rio Grande
do Norte”, de Bertha K. Becker (apresentado por Nilo Bernardes); “A propriedade
rural no vale médio do Paraguaçu”, por Milton Santos; “A irrigação no sertão
pernambucano: sua influência na economia regional”, por Humberto Carneiro;
“As migrações internas e as influências da estrutura fundiária como
condicionante do fenômeno”, no Nordeste, de José Francisco de Camargo
(apresentado por José Ribeiro Araújo Filho); “O Recôncavo açucareiro da Bahia”,
de Norma Ramos de Freitas (apresentado por Ana Dias de Carvalho).
Na ultima sessão administrativa, dividida em duas ordens do dia, foram
discutidas as moções e recomendações, com vistas a próximas assembléias; e
lido, discutido e aprovado o relatório de atividades realizadas na gestão que se
encerrava.
A XVI Assembléia Geral Ordinária foi realizada na cidade de Londrina,
Paraná no período de 6 a 17 de julho de 1961.
A reunião foi inciada com a sessão preparatória realizada nas
dependências do Colégio Londrinense, sob presidência do professor Pasquale
Petrone, Presidente da AGB, e secretariada pela professora Nice Lecocq Muller,
Secretária-Geral da entidade. Nessa reunião discutiu-se a ata da assembléia
anterior, horários e a programação da assembléia que estava iniciando, bem
como a divisão dos sócios participantes pelas diferentes equipes de pesquisa.
Nesse mesmo dia e local teve lugar a sessão solene de instalação da XVI
AGO, que contou com a participação de mais de 100 geógrafos de todo o país e
teve suas atividades divididas em quatros grandes partes: 1) Simpósio a respeito
239
da “Colonização e Valorização Regional”; 2) Apresentação e discussão das teses;
3) Apresentação e discussão das comunicações orais; 4) realização dos trabalhos
de campo e apresentação dos relatórios preliminares das pesquisas realizadas, e
foi presidida pelo Prefeito de Londrina, sr, Milton Teles.
Ainda na sessão de abertura, foram proclamados como sócios efetivos os
professores Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro, Anna Dias de Carvalho,
Dárdano de Andrade Lima, José Domingos Tírico e Rachel Caldas Lins.
As três primeiras sessões plenárias foram destinadas a realização do
Simpósio intitulado “Colonização e Valorização Regional foi organizado e
presidido pela professora Lysia Bernardes, onde foram expostos e discutidos, a
partir da apresentação de trabalhos, os seguintes temas: “Geografia e
Colonização”, de Lysia Maria Cavalcanti Bernardes; “La Contribution de la
colonisation allemande à la mise em valeur du Rio Grande do Sul”, de Jean
Roche (Fac. De Letras da Univ. de Toulouse); “Contribuição da Colonização
Italiana para o desenvolvimento agrícola do Brasil”, de Orlando Valverde; “Notas
sobre núcleos recentes de colonização nos campos gerais do Paraná”, de Altiva
Pilatti Balhana; “Experiência de colonização numa área tropical: a Baixada do
Ribeira”, de Pasquale Petrone; “Colonização e utilização da terra no território do
Amapá”, de Nilo Bernardes (apresentado por Nice Licocq Muller); “Criação de
colônias agrícolas nos arredores de Salvador”, de Antônia Déa Erdens; “Colônia
leiteira de Boqueirão”, de Sônia Esmeralda Cerqueira Bremer e Helena da Gama
Lobo D´Eça.
As seguintes teses foram discutidas: “A vegetação da faixa costeira sul-
riograndense”, de Irmão Juvêncio; “Pescadores das ilhas da Guanabara”, de
Haidine da Silva Barros e “Contribuição ao estudo geográfico de um setor
hortícola do município de Teresópolis”, de Aluizio Capdeville Duarte.
Foram apresentadas ainda as comunicações: “O conglomerado do baixo
pirapama: um caso de depósito coluvial de blocos elaborados por decomposição
sub-aérea”, por Gilberto Osório de Andrade e Rachel Caldas Lins; “A Gruta de
Itambé e suas relações com o relevo de cuestas”, por Aldo Anhezini; “Métodos
de trabalho nos estudos de Geografia Aplicada”, por Maria Alice dos Reis Araújo
e José Bueno Conti; “Salvador e a organização de seu espaço imediato”, por
Anna Dias de Carvalho; “Ensaio sobre a zona de influência de Belo Horizonte”,
por Yves Leloup; “Aspectos da pesca em Natal”, por Antônio Campos e Silva;
“Geografia Econômica do Nordeste Potiguar”, por Orlando Valverde, Myriam
240
Guimar Gomes Coelho Mesquita e Léa Scheinvar; “O Ensino de Geografia nas
Universidades dos Estados Unidos”, por Aroldo de Azevedo.
As pesquisas em trabalho de campo foram realizadas por quatro equipes
que sob orientação percorreram o município de Londrina e também municípios
vizinhos. As áreas visitadas e estudadas foram as seguintes: 1) Geografia
Urbana de Londrina, dirigida pelo professor Pedro Pinchas Geiger; 2) A Fazenda
Monte Alegre, sob a direção do professor Manoel Correia de Andrade; 3) A
Região de Jacarezinho, orientada pela professora Ely Goulart Pereira de Araújo;
4) A Região de Maringá-Cianorte, dirigida pela professora Dora de Amarante
Romariz. Como de outras vezes, quatro sessões-plenárias foram reservadas para
a apresentação e discussão dos relatórios preliminares referentes a tais trabalhos
de campo.
Na sessão de encerramento, realizada no Salão Nobre do Colégio
Londrinense, foram eleitos os novos dirigentes da AGB, tendo o professor Manoel
Correia de Andrade sido escolhido para presidir a Associação.
A XVII Assembléia Geral Ordinária foi realizada na cidade de Penedo,
Estado de Alagoas, no Salão Nobre do Museu São Francisco. A AGO contou com a
participação 114 sócios, sendo 18 efetivos e 96 cooperadores, e onde mais três
sócios passaram a condição de efetivos: Brás Berlanga Martinez, Celeste
Rodrigues Maio e Teresa Cardoso da Silva.
Durante quatro dias foram realizadas as pesquisas de campo, onde os
presentes à Assembléia distribuíram-se pelas seguintes equipes: 1) Geografia
Urbana de Penedo, dirigida por Lysia Bernardes; 2) Baixo São Francisco, chefiada
por Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro; 3) Município de Arapiraca, sob
direção de Elza Coelho de Souza Keller e 4) Município de Itabaiana, dirigida por
Milton Santos.
Nas sessões de estudos as teses “O Porto de Paranaguá”, de José Cézar de
Magalhães Filho, e apresentada por Lysia Bernardes; “Município de Meridiano”,
de Elisione Ract de Almeida e Jo Bueno Conti, foram apresentadas e
discutidas. Também estiveram em debate as Comunicações “Aracajú, síntese de
geografia urbana”, por José Alexandre Diniz; “Geomorfologia da região de Natal”,
por Antônio Campos e Silva; “Plataforma, suburbio ferroviário de Salvador”, por
Walter Sarmento e Cléa de Oliveira; “Um exemplo de reconstituição
paleogeográfica através dos sedimentos grosseiros”, por Teresa Cardoso da Silva
241
e Douracy Soares; “Bairros rurais no município de Piracicaba”, por Nice Lecocq
Muller; “Implantação industrial no Brasil Sudeste”, por Salomão Turnowski; “Juiz
de Fora, estudo de um centro industrial”, por Ignez de Moraes Costa; “Juiz de
Fora, capital da Zona da Mata de Minas Gerais”, por Lysia Maria Cavalcanti
Bernardes; “Um aspecto da análise pluviométrica no Estado de São Paulo:
máximas em 24 horas”, por Carlos Augusto Figueiredo Monteiro; “Aspectos
geográficos da função portuária de Porto Epitácio, tendo em vista a indústria
predatória da madeira”, por Alvanir de Figueiredo; “Ocorrências de paleo-
pavimentos detriticos no Rio Grande do Sul”, por Aziz Nacib Ab Saber.
O Simpósio “Geografia e Planejamento Regional”, foi presidido pelo
professor Orlando Valverde e contou com a presença do Superintendente da
SUDENE, o professor Celso Furtado, na qualidade de conferencista. Nesse
simpósio foram apresentadas cinco comunicações e ainda uma conferência sob a
responsabilidade do Bispo de Penedo.
Em sessão especial foi feita homenagem ao associado Walter Alberto
Egler, que havia falecido em agosto do ano anterior.
Na última sessão adminstrativa foi realizada a eleição do novo Conselho
Diretor, que teve o professor Milton Santos como Presidente.
A sessão de encerramento foi realizada com a presença do Governador do
Estado de Alagoas e do Prefeito de Penedo. Em nome da AGB falou o consócio
Caio Prado Júnior, que depois de longa ausência voltou a participar das
Assembléias da Associação que ajudou a fundar.
A XVIII Assembléia Geral Ordinária foi realizada na cidade de Jequié,
Bahia, entre os dias 6 e 16 de julho de 1963. Essa assembléia ocorreu poucos
meses após a reforma dos estatutos da AGB (a terceira das reformas da história
da associação)
91
. A assembléia em pauta teve seu início no Salão Nobre da
Câmara Municipal de Jequié, a partir da realização da sessão preparatória para a
constituição das equipes de campo, leitura e aprovação da ata da assembléia
anterior, informes sobre a reforma estatutária realizada em abril (na cidade de
São Paulo) e informes sobre a criação da Seção Regional da Bahia, a partir da
transformação do Núcleo Municipal de Salvador, de acordo com os Estatutos. A
sessão solene de instalação da assembléia foi realizada no Cine Jequié, cuja
presidência dos trabalhos coube ao Governador do Estado da Bahia Dr.
91
A realização das assembléias gerais ordinárias e extraordinárias, foi na referida reforma,
confirmada como questão fundamental para a disseminação do projeto institucional da AGB.
242
Lomanto Junior. A sessão contou também com a presença de várias autoridades,
do Estado e do Município de Jequié. O professor Milton Santos, então presidente
da AGB coordenou os trabalhos da Assembléia, e o professor Orlando Valverde
foi o responsável pela apresentação oficial da AGB.
A primeira sessão plenária da AGO foi realizada na manhã do dia 7 de
julho, e nela teve lugar uma mesa-redonda (atividade pouco comum nas AGOs),
sobre “O Ensino de Geografia e a Formação Profissional do Geógrafo”, que
contou com a participação dos professores José Cezar de Magalhães Filho e Lívia
de Oliveira, que falaram sobre o ensino de geografia; e do professor Milton
Santos, que falou sobre a profissão do Geógrafo.
Nas sessões de apresentação dos estudos foram discutidas as seguintes
comunicações: “Contribuição ao estudo da Escarpa Arenítica-basáltica do Estado
de São Paulo”, por Olga Cruz; “O povoado de Várzea Grande”, por Maria Alice
dos Reis Araújo; “A fazenda de café escravocrata”, por Orlando Valverde; “A
zona fumageira de Cruz das Almas”, por Nicole Lacroix; “Pedogênese e
morfogênese nas colinas de Loess Alsaciano”, por Alfred Zinck; “Novas
observações sobre vegetação das restingas e dos terraços litorâneos em
Pernambuco”, por Inalda Maria de Biase (apresentada por Dárdamo de Andrade
Lima); “Notas prévias sobre os taboleiros litorâneos da formação de Barreiras,
na Paraíba”, por Bernardo Issler; “O papel da indústria na organização do
Espaço Regional, por Pedro Pinchar Geiger; “A estrutura ocupacional da Grande
Buenos Aires”, por Elena Chiozza; “Núcleos de povoamento da Alta
Araraquarense”, por José Bueno Conti; “Revisão da Divisão Regional do Brasil”,
por Cel. Waldir da Costa Godolphim; “Áreas de influência comercial no
Nordeste”, por Lysia Maria Cavalcanti Bernardes; “Notas prévias sobre pesquisas
de migrações internas no Rio Grande do Sul”, por Gervásio Rodrigues Neves. E
ainda a palestra proferida pelo professor Jean Dresch, intitulada “Aspectos
Geomorfológicos das quatro áreas estudadas pelas equipes de trabalho de
campo”.
Entre os dias 8 e 11 de julho, os participantes, divididos em 4 grupos
realizaram os trabalhos de campo, focalizando as seguintes áreas: 1) Região de
Jaguará-Maracá, sob direção de Amélia Nogueira Moreira; 2) A área de Vitória da
Conquista, sob chefia de Tereza Cardoso do Silva; 3) A Cidade de Jequié, sob
orientação de Nice Lecocq Muller; e 4) A Região de Itabuna-Ilhéus que teve a
orientação de Orlando Valverde.
243
Fato importante ocorrido nessa assembléia foi a posse da primeira
Diretoria da recém instalada Seção Regional da Bahia. O professor Milton Santos,
na qualidade de presidente da AGB, coordenou a sessão realizada no dia 15 de
julho.
A sessão de encerramento ocorreu no Salão Nobre do Fórum de Jequié,
onde ocorreu também a última sessão administrativa onde foram discutidas as
diversas propostas e moções, o relatório da gestão que se encerrava e a eleição
e posse da nova Diretoria, com o professor José Francisco de Camargo ocupando
a Presidência.
A XIX Assembléia Geral Ordinária, realizada na cidade de Poços de
Caldas, entre os dias 4 e 14 de julho de 1964. A assembléia ocorreu num
momento bastante conturbado da história recente do Brasilpoucos meses após
o golpe militar, ocorrido em março desse mesmo ano, fato que não aparece
tratado ou mesmo citado, em nenhum documento por s encontrado ou
estudado. Fato significativo foi a presença de militares à assembléia e o registro
dessa presença, sob o título de contribuição ativa (sic).
A assembléia teve lugar no salão do Departamento de Turismo da
Prefeitura de Poços de Caldas. A sessão preparatória cuidou de avaliar e aprovar
a ata da assembléia anterior, da escala das teses e comunicações que seriam
apresentadas, bem como da composição das equipes de trabalho de campo e da
tomada de ciência das justificativas dos sócios efetivos ausentes.
Na noite do dia 4 de julho, foi realizada a sessão de instalação oficial da
assembléia, sob a coordenação do professor José Francisco de Camargo, então
presidente da AGB. A sessão, como rotina nas cidades por onde eram
realizadas, contou com a presença de diversas autoridades locais, que tiveram
agradecimento pelo apoio dado para a realização da reunião explicitado pelo
presidente da AGB. O professor José de Camargo lembrou ainda que a
assembléia comemorava os trinta anos da fundação da Associação.
Nas diversas sessões de trabalho foram apresentadas as seguintes
comunicações: “Evolução recente da paisagem no Nordeste”, de Kempton Webb;
“Geografia Rural, Geografia Agrária e Contabilidade Agrícola”, de Alfredo Zinck;
“Pesquisa Direta como método para estudo geográfico das grandes correntes de
tráfego no Estado da Bahia”, de Joaquim Júlio de Oliveira; “A medida da
hierarquia urbana nos países subdesenvolvidos”, de Milton Santos (apresentada
por Sylvio Bandeira de Mello); “Considerações sobre a estratigrafia dos
244
sedimentos cenozóicos em Pernambuco”, de Gilberto Osório de Andrade e João
José Bigarella; “A metodologia da Geografia Industrial”, de Armem Mamigonian;
“Contribuição ao estudo da hinterlândia de Aracajú”, de Roberto Lobato Azevedo
Correa; “As indústrias no Estado da Bahia através do Censo de 1960”, de
Walney Morares Sarmento; “Notas iniciais de um estudo das industrias de
Vitória”, de Clodomiro Moreira Filho; “Estrutura Comercial de Rio Claro”, de
Pérola Emilia Liberato. Ainda foram apresentadas três teses pelos seus
respectivos autores: “Organização Urbana do Estado de São Paulo, analisada
pela circulação de ônibus inter-municipais”, de autoria de Juergen Richard
Langenbuch; “A vida urbana em Alagoas: a importância dos meios de transporte
na sua evolução”, de autoria de Roberto Lobato Azevedo Correa; e
“Características fundamentais do clima de Santos e o problema de sua
classificação”, de autoria de Elina de Oliveira Santos. Ocorreu ainda nessa
assembléia o simpósio "Problemas de Classificação do Uso da Terra", onde foram
apresentadas seis comunicações de autores diferentes, sob a coordenação do
professor Dirceu Lino de Mattos.
Os dias 7, 8 e 9 de julho foram totalmente dedicados aos tradicionais
trabalhos de campo, e outros dois dias para a sistematização das informações e
montagem do relatório preliminar. As pesquisas foram realizadas pelas equipes
assim divididas: 1) Problemas geomorfológicos do Planalto de Poços de Caldas,
sob orientação do professor Fernando Marques de Almeida; 2) Paisagens rurais
dos rebordos do planalto de Poços de Caldas, sob orientação do professor Dirceu
Lino de Mattos; 3) A indústria vinhateira no sul de Minas Gerais, sob
coordenação do professor Manoel Correia de Andrade; e 4) Problemas e
possibilidades econômicas de Poços de Caldas, coordenado por José Domingos
Tirico.
A semelhança do que havia ocorrido na Assembléia Geral Ordinária de
Jequié, ocorrida no ano anterior, o Conselho Nacional de Geografia participou
dessa assembléia não com o envio de delegação, como pela montagem de
uma Exposição dos seus produtos e serviços, no salão onde foram realizadas as
atividades culturais.
Esta foi a última assembléia geral ordinária da AGB onde houve a
publicação dos Anais da Associação dos Geógrafos Brasileiros. Depois dessa
assembléia, ainda no formato definido em 1945, foram realizadas mais cinco
245
edições da AGO, sendo que uma delas foi concomitante ao Congresso
Brasileiro de Geógrafos (Rio de Janeiro, 1965).
Em função da não publicação dos Anais da AGB referentes às Assembléias
Gerais Ordinárias realizadas nos anos de 1965 (Rio de Janeiro-RJ), 1966
(Blumenau-SC), 1967 (Franca-SP), 1968 (Montes Claros-MG) e 1969 (Vitória-
ES), e também da não existência das respectivas Atas no acervo da AGB (em sua
sede, em São Paulo), não foi possível resgatar mais do que algumas poucas
informações sobre essas reuniões. Assim, o material encontrado limita a
compreensão dos fatos e episódios ocorridos em cada uma delas, ficando apenas
na identificação de sua ocorrência (tabela 16), e algumas outras informações
pontuais.
A XXIII Assembléia Geral Ordinária foi realizada na cidade de Montes
Claros, no Estado de Minas Gerais, em julho de 1968.
A assembléia apresentou uma novidade em sua organização – a realização
de um levantamento preliminar das condições da região, para que os
participantes da reunião pudessem, no transcorrer dos trabalhos, analisá-lo mais
detidamente, concordando ou recusando. Tal levantamento preliminar, que
orientou a Assembléia, foi elaborado pelas geógrafas Amélia Alba Nogueira
Moreira, Bertha Becker, Maria Terezinha Segadas Soares, Maria Aparecida Arruda
e Jane Souza e Silva e pelos estudantes e professores do curso de Geografia da
Faculdade de Filosofia da Fundação Universitária do Norte de Minas, todos sob
orientação de Lysia Bernardes. O relatório indicou em quais áreas deveriam ser
realizadas as pesquisas de campo, a saber: 1) Porteirinha (uma paisagem de
transição); 2) Rio Verde (a dinâmica da organização agrária na área de
invernadas); 3) Coração de Jesus e Brasília de Minas (um trecho das Gerais na
Região de Montes Claros). A quarta equipe estudaria o crescimento de Montes
Claros em relação à sua função social.
A XXIV Assembléia Geral Ordinária foi realizada na cidade de Vitória,
no Estado do Espírito Santo, entre os dias 6 e 15 de julho de 1969, e contou com
amplo apoio do Governo do Estado.
Foi realizado na noite do primeiro dia da assembléia um simpósio sobre
“Áreas Metropolitanas”, sob direção da professora Marília Velloso Galvão e
relatado pelo professor Speridião Faissol, que teve como sede o auditório da
Companhia Vale do Rio Doce.
246
As pesquisas de campo foram realizadas a partir da distribuição dos
participantes da AGO em quatro equipes: 1) Área Metropolitana de Vitória,
chefiada por Elza de Souza Keller; 2) Região de Vitória, chefiada por Roberto
Lobato Correia; 3) Vale do Itapemirim, chefiada por Ary França; 4)
Geomorfologia da foz do rio Doce, chefiada por Aziz Nacib Ab’Saber.
No último dia da reunião, à guisa de conclusão, foi realizada uma mesa-
redonda sobre a cidade de Vitória. Na sessão administrativa de encerramento foi
eleito o novo Conselho Diretor que trazia no seu principal cargo o professor João
Dias da Silveira, em seu terceiro mandato a frente da AGB.
Chegado ao fim das Assembléias Gerais Ordinárias da AGB, e após o breve
relato do ocorrido em cada uma das suas edições, é possível tentar construir um
“estado da arte” das mesmas - o que foi em comum e/ou singular que permitisse
ampliar a posibilidade de entendimento de sua natureza e a sua importância para
a AGB.
A realização das reuniões em diferentes partes do país serviu para a
organização de Núcleos e Seções Regionais, ampliando a base de associados,
mas também de intervenção da Associação e de influência daqueles que
ocupavam acadêmica ou politicamente lugar de destaque nas entranhas da AGB.
Detalhe que merece ser destacado no tocante aos lugares de realização das
Assembléias é a quase inexistência de participação das universidades nesse
processo. As Assembléias tiveram como sede os mais diferentes espaços
(escolas, clubes, cinemas, museus, câmaras municipais, empresas públicas e
privadas), nas mais de duas dezenas de edições, e o espaço das universidades
como lugar das principais atividades só vai acontecer na XIV AGO (Viçosa-1959),
na Escola de Agricultura (hoje, Universidade Federal de Viçosa); XX AGO / II
CBG, realizado na Pntifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e
na XXIV AGO, onde algumas atividades foram realizadas nas dependências da
Universidade Fedral do Espírito Santo (UFES). Fato interessante uma vez que a
AGB e depois suas Seções Regionais e cleos Municipais sempre tiveram forte
vínculo com os cursos de Geografia dos seus Estados e Cidades.
As Assembléias foram sem dúvida o ponto alto da AGB nas décadas de
1940, 1950 e 1960. Lugar da reunião da comunidade geográfica que estava se
formando em várias partes do país, lugar de debate acadêmico e de produção de
conhecimento. No entanto, as assembléias também foram um lugar de
construção bastante antagônico, onde o projeto institucional de consolidação da
247
comunidade de geógrafos e da geografia no Brasil contrastava com uma prática
de diferenciação, catapultada pela categorização dos sócios e por uma prática
bem pouco democrática.
248
3.1.3
Os Congressos Brasileiros de Geógrafos:
afirmação de uma identidade
“Em 1954, celebrou-se o Centenário de fundação da Cidade de São
Paulo, o que ensejou a realização, pela AGB, do I Congresso Brasileiro de
Geógrafos na cidade paulista de Ribeirão Preto, a partir do que se firmaria a
tradição de realizar “Congressos Nacionais” a cada dez anos”. Essa é uma frase
presente em algumas publicações da AGB e que noticia a realização do I CBG e
sua continuidade pelos anos que se seguem.
No entanto, ao estudarmos a AGB, algumas questões nos foram colocadas
no desafio de compreender a história dessa associação e de seus eventos. Qual o
cenário encontrado na Geografia brasileira e na AGB quando da realização do I
Congresso Brasileiro de Geógrafos? Responder a essa pergunta e assim
reconstruir esse cenário e fundamental para compreender as razões e os motivos
que levaram a realização do referido congresso.
Passados vinte anos, tanto da criação do curso de graduação em Geografia
no Brasil quanto da fundação da AGB, o cenário a que nos referimos diz respeito
aos fóruns que essa comunidade, fruto dessas instituições e também daquelas
outras (IBGE e Escolas), que juntas formavam as bases da chamada
institucionalidade geográfica, havia organizado e, de certa forma,
fundamentado como sendo os lugares de interseção da produção geográfica
nacional.
Também merece destaque na reconstrução desse cenário a Sociedade de
Geografia do Rio de Janeiro, que embora não faça parte do objeto desta tese,
aparece nessa história como a instituição responsável pela organização dos
Congressos de Geografia que conhecemos em nossas terras desde o século XIX e
que se fizeram presentes até meados do século XX. A Sociedade de Geografia do
Rio de Janeiro, no período que corresponde a existência da AGB e da Geografia
nas universidades brasileiras, ou seja, o período da construção de uma
comunidade de geógrafos no sentido mais definitivo do termo, realizou, entre
1909 e 1954, onze edições do Congresso Brasileiro de Geografia. Em sua
concepção original, tais eventos foram concebidos de modo a ocorrerem
249
anualmente, coincidindo com a semana de comemoração da Independência do
Brasil.
“A proposta de realização dos congressos surgira em 1908,
quando José Artur Boiteux, secretário da SGRJ, sugeriu que
se levasse adiante a iniciativa no país, a começar pelo Rio de
Janeiro, então capital da República. A inspiração viera do
exterior. Consta que Boiteux teria se impressionado com o
brilho com o qual havia se realizado em Genebra, naquele
mesmo ano, o IX Congresso Internacional de Geografia, que
ele próprio tivera oportunidade de assistir. A partir de tal
modelo, iniciou-se a preparação do I Congresso Brasileiro de
Geografia, realizado no ano seguinte sob a coordenação da
SGRJ e com apoio substantivo do Governo Federal” (Pereira,
2007).
Entre 1909 e 1926 foram realizados oito Congressos Brasileiros de
Geografia: Rio de Janeiro (1909) , São Paulo (1910), Curitiba (1911), Recife
(1915), Salvador (1916), Belo Horizonte (1919), Paraíba do Norte (1922), Vitória
(1926). os outros três Congressos de Geografia, apenas vão acontecer no
período entre 1940 e 1954: Florianópolis (1940), Rio de Janeiro (1944) e Porto
Alegre (1954).
A AGB que existia formalmente com um Conselho Diretor Nacional, com
duas Seções Regionais - São Paulo e no Rio de Janeiro, e com núcleos municipais
que davam bons sinais em Pernambuco e em Minas Gerais, até o ano de 1954
havia realizado oito Assembléias Gerais Ordinárias
92
, e que correspondiam até
a presente data ao que havia de mais significativo em matéria de reunião da
comunidade, quantitativa e qualitativamente falando.
As Assembléias realizadas em 1948 (Goiânia-GO) e 1950 (Belo Horizonte-
MG), apontavam para uma estrutura de organização que seria definitivamente
consolidada naquelas realizadas em 1951 (Nova Friburgo-RJ), 1952 (Campina
Grande-PB) e 1953 (Cuiabá-MT), e que garantiria que fossem um lugar de
debate (através das teses e comunicações) e produção (através das pesquisas de
campo) de conhecimento geográfico de qualidade.
O que teria levado então aos sócios e diretores da AGB à decisão de
organização de um Congresso Brasileiro de Geógrafos, uma vez que existia no
âmbito da AGB um evento que permitia o debate a divulgação científica, e que
existia, embora fora do cenário próprio de intervenção da associação, um
Congresso de Geografia?
92
Ver tabela 16
250
O professor Aroldo de Azevedo, um dos principais articuladores da AGB em
São Paulo, e um dos mais contundentes defensores das instituições
fundamentalmente geográficas, apresenta alguns desses motivos em seu
discurso na abertura do I Congresso Brasileiros de Geógrafos, realizado em
1954, na cidade de Ribeirão Preto – SP.
“Por que realizar um Congresso de Geógrafos, se têm sido
realizados tantos Congressos de Geografia, o último dos quais
o XI, reuniu-se em Pôrto Alegre, em maio do corrente ano?.
A resposta a esta pergunta é muito simples: em um
Congresso de Geografia, tomam parte ativa todos quantos
nele se inscrevem. Bastando que se interessem pelo seu
sucesso, independentemente de sua especialização; geólogos
ou economistas, matemáticos ou juristas, militares ou
geógrafos profissionais, cirurgiões ou historiadores,
sociólogos ou botânicos, odontologistas ou etnógrafos, quí-
micos ou arquitetos, sumidades em qualquer ramo do saber
humano ou simples curiosos, todos, indistintamente, na
medida de seus conhecimentos ou de sua audácia, podem
oferecer sua contribuição, quer através de tese, quer através
de seu voto em plenário. O resultado, como é de se esperar,
nem sempre é muito lisongeiro e a Geografia deixa de
receber, via de regra, o ambicionado número de contribuições
realmente valiosas e verdadeiramente geográficas. A
situação, muitas vêzes, torna-se bastante delicada, porque os
geógrafos presentes vêem-se, com freqüência, numa difícil
encruzilhada: ou fechar os olhos e tapar os ouvidos, deixando
que tudo seja aprovado, embora em desacôrdo com a própria
consciência; ou agir com relativo rigor, numa tentativa de se-
parar o jôio do trigo, o que sempre traz contrariedades,
quando não máguas que ficam.
Muito pelo contrário, no Congresso que hoje inicia os seus
trabalhos, são os Geógrafos que têm voz ativa e dão a última
palavra, não podendo jamais ser esquecido o ponto de vista,
o interêsse e a metodologia da Geografia. O Regulamento e
Regimento Interno, em seu artigo 27, são bastante explícitos
a êste respeito, quando estabelecem que as teses e
comunicações (levem, pelo menos: 1. apresentar inegável
interêsse geográfico; 2. resultar de trabalhos originais de
pesquisa ou de interpretação).
Com isso, não se pretende menosprezar ou negar o valor das
contribuições dos que se dedicam às ciências com as quais a
Geografia tem profundas e indissolúveis afinidades. O que se
deseja é que tais contribuições sejam apresentadas em
função do ponto de vista e do interêsse da Geografia e não,
exclusivamente, da especialidade de seu autor. Em última
análise: o geógrafo deve sempre aparecer, venhamos nós a
examinar um problema ligado ao quadro natural ou à
paísagem criada pelo homem; porque, antes de tudo e acima
de tudo, êste é um Congresso de Geógrafos”. (AGB, 1954)
251
O professor Aroldo de Azevedo, deixa bastante claro em suas palavras os
motivos que levaram a construção do I CBG garantia de um espaço específico
dos geógrafos, onde a partir de seus trabalhos e contribuições pode-se-ia fazer a
consolidação desse campo do conhecimento, além do claro reconhecimento
daqueles que poderiam se aventurar na produção científica qualificada desse
campo.
Apesar da participação daqueles principais personagens da Geografia de
São Paulo e do Rio de Janeiro, e que estavam a frente da AGB, tanto em seu
Conselho Diretor Nacional, quanto das Seções Regionais e Núcleos Municipais,
nos Congressos de Geografia, pricipalmente em suas três últimas edições (1940,
em Florianópolis; 1950, no Rio de Janeiro e 1954, em Porto Alegre), as idéias
balisadoras que aparecem nos discurso do professor Aroldo de Azevedo é de
certa forma reconhecida e assumida por eles.
Os Congressos Brasileiros de Geógrafos, a partir de sua primeira edição
em 1954, passaram a ocorrer a cada dez anos (com exceção para o segundo,
que ocorreu onze anos após o primeiro). A realização do Congresso não anulava
a realização da Assembléia Geral Ordinária da AGB, que passava então a ocorrer
simultâneamente ao CBG. Em toda a sua história de existência a AGB realizou
seis edições do Congresso Brasileiro de Geógrafos: 1954, Ribeirão Preto-SP;
1965, Rio de Janeiro-RJ; 1974, Belém-PA; 1984, São Paulo-SP; 1994, Curitiba-
PR e 2004, Goiânia-GO. A distribuição desses congressos é apresentada no mapa
a seguir.
252
Mapa 4
253
O I Congresso Brasileiro de Geógrafos, realizado em Ribeirão Preto,
mobilizou de maneira bastante significativa a comunidade geográfica brasileira. A
realização das Assembléias Gerais da AGB, que ao fim das contas era um
encontro da Associação e seus associados, não comprometia, pelos relatos,
documentos e entrevistas, tanto a Associação como o ocorrido com o I CBG. A
história de concepção e organização do CBG faz-se necessário contar, uma vez
que as intenções e expectativas quanto a proposta da realização de Congressos
de Geógrafos, de alguma forma, já conseguimos fazê-lo.
O I CBG, tem sua data escolhida em função de uma agenda externa a AGB
a comemoração do centenário de fundação da Cidade de São Paulo. A
intenção era participar dos eventos programados para o ano que marcaria a
data, e assim realizar o Encontro nesse mesmo ano e na Cidade de São Paulo,
conforme texto publicado no BPG,nº13 (1953:76)
“O ano de 1954 será de grande importância para a cidade de
São Paulo, pois a 25 de janeiro a capital paulista completará
quatro culos de existência. No desejo de tomar parte nas
comemorações dessa efeméride, a exemplo de outras
associações de fins culturais, deliberou o Conselho Diretor da
AGB, em reunião levada a efeito em janeiro do ano corrente,
convocar o Primeiro Congresso Brasileiro de Geógrafos, isto
é, um conclave de proporções mais amplas do que as
costumeiras assembléias gerais, onde tomarão assento não
apenas os sócios da AGB, mas todos quantos, no país, vêm-
se dedicando a trabalhos realmente geográficos. Para isso,
contou com o apoio integral da Comissão do IV Centenário de
São Paulo, que se prontificou, numa demonstração de alto
espírito de colaboração e larga visão, a custear parte das
despesas necessárias a um empreendimento de tamanha
relevância”.
Lançada a idéia ela foi logo assumida pela AGB e suas instâncias
deliberativas, tanto o Conselho Diretor, como citado anteriormente, como a
Assembléia Geral, que reunida no ano anterior (Cuiabá-MT), delibera pela
realização do evento e todo apoio necessário para tornar possível o proposto.
Além da participação junto as comemorações do centenário, o texto do
BPG destaca um ponto importante, que se remete à concepção do Congresso
evento de proporções mais amplas, tanto na quantidade de participantes, quanto
da identificação desses participantes, como aqueles, que mesmo não sócios,
estariam produzindo realmente trabalhos geográficos [grifos nossos],
254
numa clara manifestação de marcação de uma identidade em torno da produção
e formação geográfica.
Uma vez tomada essa decisão, resolveu imediatamente o Conselho Diretor
da AGB, nomear uma Comissão Organizadora, formada por 21 membros, em sua
maioria de São Paulo, mas com outros do Rio de Janeiro e do Paraná, e uma
Comissão Executiva, que tinha Aroldo de Azevedo como presidente. Foram, a
partir da ação da Comissão Executiva, formadas duas sub-comissões
Regulamento e Regimento Interno, presidida por Ary França, e Temário,
presidida por João Dias da Silveira. A sub-comissão montada para esse fim,
preparou um minucioso regulamento
93
para o I CBG, contendo oito títulos e trinta
e cinco artigos; e a sub-comissão do Temário, preparou uma lista de três títulos
gerais, com trinta e quatro sub-títulos. Muita mobilização e sistemática de
organização para a realização do Congresso.
No entanto, toda a preparação sofreu um duro revés houve diferenças
no entendimento dos acordos firmados entre a AGB e a Comissão do
Centenário, impedindo que o Congresso fosse realizado na cidade de São Paulo,
na data prevista e como parte das comemorações que ocorreriam naquele ano,
na cidade
“Após prolongadas gestões junto à Comissão do IV
Centenário da Cidade de São Paulo, chegou a Comissão
organizadora do I Congresso Brasileiro de Geógrafos à
conclusão de que seria impossível aceitar o apoio financeiro
daquela autarquia e, consequentemente, levar a efeito o
citado conclave na Capital paulista, conforme fôra anunciado”
(BPG, 1954:89).
Nessa emergência, deliberou aquela Comissão Organizadora transferir a
sede do Congresso para uma cidade do interior do Estado, cuja região oferecesse
interesse sob o ponto de vista geográfico e onde pudesse encontrar o
indispensável amparo para uma iniciativa de tamanha relevância, que exigia
necessariamente despesas superiores aos recursos com que contava a AGB.
Assim, a Comissão Organizadora tomou a decisão de não mais realizar o
Congresso em São Paulo e transferi-lo para a cidade de Ribeirão Preto, cujo
apoio foi declarado pelo Prefeito da cidade e pelo Diretor da Faculdade de
Medicina, reestruturando suas comissões, regulamento e programação, pois,
uma vez sem os recursos da Comissão do IV Centenário, a proposta de
93
O Regulamento do I CBG, segue nos anexos nesta Tese.
255
programação do CBG teria que ajustar-se à essa nova situação, tornando-se
mais modesta no tocante aos seus gastos. Face à essas condições a Comissão
Organizadora aprovou a seguinte resolução:
“Considerando as dificuldades insuperáveis que apareceram
para a realização do Congresso na cidade de São Paulo,
principalmente por não ter sido possível aceitar o prometido
apoio financeiro da Comissão do IV Centenário;
Considerando as facilidades oferecidas, quer quanto à
hospedagem, quer quanto ao transporte em excursões, por
parte do Sr. Prefeito Municipal de Ribeirão Preto e por parte
do Sr. Diretor da Faculdade de Medicina da mesma cidade;
Considerando, outrossim, que a cidade de Ribeirão Preto e a
região conhecida pelo nome de Nordeste de São Paulo não
foram objeto, até à presente data, de nenhum, estudo
geográfico sistemático e de conjunto, apesar da importância
que apresentam sob o ponto de vista da geografia física e da
geografia humana, em seu mais amplo sentido;
Considerando, ainda, que coube ao Conselho Diretor da AGB
tomar a iniciativa de convocar esse Congresso, não sendo
conveniente nem justo que se venha a perder a primazia de
tão oportuna e feliz idéia;
Considerando, finalmente, que fazendo realizar o Congresso
numa das mais importantes cidades paulistas, símbolo da
expansão cafeeira e da força realizadora da gente
bandeirante, e procurando levar a efeito o estudo geográfico
de uma área tão expressiva do Estado, a AGB presta, em
última análise, uma homenagem à Capital paulista, no ano
em que comemora seus quatro séculos de existência;
RESOLVE: escolher como sede do I Congresso Brasileiro de
Geógrafos a cidade de Ribeirão Preto, fazendo realizar os
seus trabalhos entre 19 e 28 de julho do ano corrente”. (BPG,
1954:90)
Em conseqüência dessa deliberação, foram extintas algumas comissões da
organização anterior, sendo criada uma Comissão Executiva com mais amplos
poderes que a anterior, tendo como presidente o Presidente da AGB, como vice-
presidente o Diretor da Seção Regional de São Paulo, como secretário o
Secretário-Geral da AGB, como secretário o Secretário da Seção Regional de
São Paulo, como tesoureiro o Tesoureiro-Geral da AGB, e como tesoureiro
o Tesoureiro da referida Seção Regional.
256
Nestas condições, a nova Comissão Executiva foi assim formada:
PRESIDENTE - Aroldo de Azevedo; VICE-PRESIDENTE José Ribeiro de Araújo
Filho; SECRETÁRIO Dirceu Lino de Matos; SECRETÁRIO Pasquale
Petrone; TESOUREIRO Ary França; TESOUREIRO Brás Berlanga
Martinez.
Realizado no período de 19 a 28 de julho de 1959 e tendo reunido 172
participantes e mais 28 entidades, o I CBG teve seu amplo temário distribuído
nas atividades que já eram praticadas nas AGOs – discussão de teses e
comunicações, conferências e mesas-redondas, realização de trabalhos de campo
e uma exposição de Geografia e Cartografia. Ao longo dos dias foram realizadas
as sessões acadêmicas e culturais, onde os trabalhos eram apresentados e
debatidos, e as sessões administrativas, correspondentes à IX AGO, que ocorreu
simultâneamente ao I CBG.
O Congresso teve início na tarde do dia 19 de julhgo com a sessão
preparatória para a eleição da Mesa Diretora do Congresso, bem como dos
Presidentes de Honra do mesmo.
Ficou a Mesa assim constituída: Presidente Pierre Monbeig; Vice-
Presidente Aroldo de Azevedo; Primeiro-Secretário Maria da Conceição
Vicente de Carvalho; Segundo-Secretário – Tabajara Pedroso.
Para Presidentes de Honra do Congresso foram escolhidos: Lucas Nogueira
Garcez, Governador do Estado de São Paulo; Tte.Ce. Alfredo Condeixa Filho,
Prefeito Municipal de Ribeirão Preto e o Desembargador Florêncio de Abreu,
Presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
A sessão de instalação do Congresso ocorreu no Salão da Legião Brasileira
de Ribeirão Preto, onde após vários discursos, teve início o evento.
257
Figura 33
Figura 34
258
Figura 35
259
A programação contou com a contribuição para os debates dos seguintes
trabalhos:
1) Teses:
“Contribuição à geomorfologia do litoral paulista”, de Aziz Nacib Ab Saber;
“Os tipos de vegetação, do Brasil (elementos para uma classificação
fisionômica)”, de Edgar Kuhlmann;
“O uso da terra no leste da Paraíba”, de Orlando Valverde;
“Notas sobre a evolução da ocupação humana na Baixada Fluminense”, de Pedro
Geiger e Ruth L. Santos;
“Possibilidades de povoamento na Bacia do São Francisco”, de Ruth Lopes da
Cruz Magnanini;
“Observações relativas ao minério de ferro e à siderurgia no planalto de Minas
Gerais”, de Ney Strauch;
“Contribuição ao estudo da Campanha Gaúcha”, de Miguel Alves de Lima;
“Influências da Bacia do São Francisco na resolução dos problemas rodoviários e
hidroelétricos de Minas Gerais”, de Benedito José de Souza;
“Algunas particularidades de la evolución del relieve del Uruguay y del Rio
Grande del Sur”, de Jorge Chebataroff
2) Comunicações:
- “O problema geomorfogenético nos estudos de relevos policíclicos e epicíclicos
nas bordas do Atlântico”, por Francis Ruellan;
- “Notas para um estudo do "habitat" rural na zona cacaueira da Bahia”, por
Milton Santos;
- “Situação atual do ensino e das pesquisas geográficas no Paraná”, por
Reinhard Maack;
- “Distribuição fitogeográfica e filogenia das orquídeas americanas”, por F.G.
Brieger
3) Conferência: proferida por Pierre Monbeig, intitulada “Geografia e
Colonização”
4) Mesas-Redondas:
- “O Problema da recuperação dos solos esgotados”, com a participação de
Hilgard O’Reilly Sternberg (presidente), Francis Ruellan, João Quintiliano de
Avelar Marques (representante do Instituto Agronômico de Campinas), Moacyr
Pavageau (prresidente da Sociedade Brasileira de Ciências do Solo), Jorge
260
Chebataroff, Dierceu Lino de Mattos, Charles Jacques Jean Hogenboom
(presidente da Cooperativa Agro-pecuária da Fazenda Holambra, Pierre Monbeig,
Miguel Alves de Lima (Serviço de Educação Rural do Ministério da Educação);
- “O ensino de geografia e seus problemas”, que ocorreu sem a participação de
convidados.
As pesquisas de campo realizadas Congresso foram previamente
programadas, o que envolveu vários associados em sua organização, uma vez
que os mesmos foram realizados em diversos municípios da região de Ribeirão
Preto. As equipes foram assim divididas:
1) Ribeirão Preto e arredores, chefiada por Ary França e sub-dividida em seis
grupos: a) Situação e sítio urbano, sob direção de João Dias da Silveira; b) O
desenvolvimento da cidade e suas grandes etapas, sob direção de José Veríssimo
da Costa Pereira; c) As funções, o centro e os bairros, dirigido por Antônio Rocha
Penteado; d) Os problemas urbanos, dirigido por José Ribeiro de Araújo Filho; e)
A circulação geral e urbana, sob direção de Renato da Silveira Mendes; f) A zona
rural, sob direção de Ary França.
2) Região Norte de Ribeirão Preto. A pesquisa, dirigida por Pierre Monbeig foi
realizada dividida em dois grupos: a) Geografia Física, sob coordenação de
Otávio Barbosa; b) Geografia Humana, sob coordenação de Dirceu Lino de
Mattos.
3) Região Sudeste de Ribeirão Preto. A excursão foi dirigida pelo professor
Mário Lacerda de Mello, e sub-dividida em dois grupos: a) Geografia Física, sob
coordenação de Aziz Nacib Ab’Saber; b) Geografia Humana, sob coordenação de
Mário Lacerda de Mello.
4) Região Sudoeste de Ribeirão Preto. A pesquisa foi dirigida pelo professor
Nilo Bernardes, e também sub-dividida em dois grupos: a) Geografia Física, sob
coordenação de Alfredo José Porto Domingues; b) Geografia Humana, sob
coordenação de Lysia Bernardes.
5) Área de Ribeirão Preto até Franca. A pesquisa foi dirigida pelo professor
Francis Ruellan e sub-dividida em três grupos: a) Petrografia e Geomorfologia,
sob coordenação de Ruy Osório de Freitas; b) Geomorfometria; c) Geografia
Humana, sob coordenação de Ney Strauch.
261
Figura 36
262
3.2
As Reformas Estatutárias de 1963 e 1970: primeiro, ajustes no
percurso e depois, mudanças de rumo
A AGB chegou a década de 1960 já tendo realizada duas grandes reformas
estatutárias (1936 e 1945): a primeira iniciou o projeto de institucionalização da
Associação, definindo normas e regras de seu funcionamento, além da definição
de seu perfil; e a segunda, não consolidou o perfil acadêmico a ser
percorrrido, como apresentou para a comunidade de geógrafos o projeto
institucional que se pretendia nacional. Após essas duas experiências, a AGB
viveu nos anos sessenta e depois, no início da década de 1970, mais duas
reformas estatutárias. Uma, a ocorrida no ano de 1963, se apresentou como
uma necessidade de ajustes no percurso que havia sido definido no distante
1945; e outra, a realizada em 1970, diferente da primeira, não consolidou os
padrões organizacionais existentes, como promoveu importantes transformações
na AGB, o que aqui estamos chamando de mudança de rumos, mas sem perder
a direção já estabelecida.
Nos dias 27 e 28 de abril de 1963, numa das salas do Externato
Pequenópolis, na cidade de São Paulo, foi realizada uma Assembléia Geral
Extraordinária da AGB, com a finalidade de discutir o ante-projeto de reforma
dos estatutos proposta elaborado pelo Conselho Diretor da Associação a partir de
uma comissão composta pelos sócios: Nilo Bernardes (RJ), Dora de Amarante
Romariz (SP) e Milton Santos (BA).
A primeira sessão da assembléia foi realizada na tarde do dia 27 de abril.
A sessão foi aberta pelo presidente da AGB - o professor Milton Santos, que fez
conforme estatutos em vigor, a chamada dos sócios presentes para a verificação
do quórum mínimo necessário para a realização da reforma. Estiveram presentes
a essa primeira sessão 35 sócios efetivos
94
. Tendo verificado que o quorum era
94
Milton Santos, Nice Lecocq Muller, Dora de Amarante Romariz, Mario Lacerda de Melo, Manoel
Correia de Andrade, Elina O. Santos, Blaz Berlanga Martinez, José Domingos Tirico, Odilon
Nogueira de Matos, Antônio Rocha Penteado, Celeste Rodrigues Maio, Aziz Nacib Ab’Saber, Renato
Silveira Mendes, Edgard Kuhlmann, João Dias da Silveira, Ary França, Maria da Conceição Vicente
de Carvalho, Caio Prado Júnior, José Francisco de Camargo, Tereza Cardoso da Silva, Carlos
Augusto de Figueiredo Monteiro, Tabajara Pedroso, Aroldo de Azevedo, Paquale Petrone, Lindalvo
Bezerra dos Santos, Orlando Valverde, Lucio de Castro Soares, Lysia Maria Cavalcanti Bernardes,
Elza Coelho de Souza Keller, Maria Therezinha Segadas Soares, Nilo Bernardes, Ely Goulart Pereira
de Araújo, José Ribeiro de Araújo Filho, Jo Herskoth Lavarédia e Fernando Flávio Marques de
Almeida.
263
suficiente para a realização da assembléia e de seus propósitos, o professor
Milton Santos, ao justificar a necessidade de modificações nos estatutos e de
explicar os procedimentos que levaram a feitura da proposta pela designada
Comissão, propôs que o projeto então apresentado fosse aprovado na totalidade,
o que provocou a primeira, e talvez única grande discordância do processo.
Orlando Valverde e Nilo Bernardes, sócios da Seção Regional do Rio de Janeiro,
se opuseram a proposta do presidente da Associação. Ao final da discussão foi
aprovada uma proposta conciliadora, que manteve a redação do projeto
elaborado pela comissão e, ao mesmo tempo, garantiu a possibilidade de
apresentação de emendas pelos presentes, como assim foi feito. Acertado o
rumo, e possuindo um texto-base, a reforma estatutária seguiu seu curso, a
partir das propostas de emendas e alterações dos sócios efetivos presentes e
posterior discussão e aprovação das mesmas.
A Comissão responsável pela apresentação da proposta de novos estatutos
teve como base os estatutos aprovados em 1945, assim sendo foram, ao final
das contas, apresentadas algumas alterações do que estava, até então valendo.
Entre as proposições mais significativas destacamos:
1) A manutenção dos artigos que delimitavam os princípios da AGB e seus limites
de atuação;
2) No Título DOS ASSOCIADOS, houve uma troca de vocábulo que modificou a
forma de identificar e comprovar a produção acadêmica do candidato a sócio
efetivo da Associação. No lugar de trabalho comprovado, passou a figurar nos
novos estatutos a expressão trabalho de reconhecido valor científico. Da
mesma forma que na redação anterior, a nova redação determina que a
avaliação da validade do trabalho ficaria a cargo da Comissão Diretora, no
entanto, a nova redação impõe que o trabalho apresentado seja não somente
comprovado sobre sua existência e originalidade, mas agora pesa sobre ele a
exigência de uma aceitação quanto a seu mérito, seu valor, com toda
subjetividade que isso pode ter.
3) Ainda no Título DOS ASSOCIADOS, foram definidas as novas condições para a
indicação e aceitação dos sócios efetivos, que determinavam que o candidato
tivesse pelo menos dois anos de participação na Seção Regional ou Núcleo
Municipal ou ter participado de pelo menos duas Assembléias Gerais. Proposta
para criação da categoria de sócio benemérito foi rejeitada.
264
4) Houve proposta para alteração da periodicidade das Assembléias Gerais
Ordinárias, onde as mesmas seriam realizadas a cada dois anos, diferente do que
havia até a data da reforma, que era a periodicidade anual. Foi vencedora a
proposta da manutenção da anualidade das Assembléias, proposta defendida
pelo presidente da AGB, professor Milton Santos;
5) Outra questão importante foi sobre a composição da Diretoria, onde foi
proposta e rejeitada a emenda de criação do cargo de vice-presidente. Ainda no
ítem COMPOSIÇÃO DA DIRETORIA, a proposição de permitir que sócios
cooperadores pudessem fazer parte da Diretoria da AGB foi apresentada, mas
logo foi retirada e sequer foi discutida. Ao sócio cooperador foi permitido apenas
a Direção das Seções Regionais ou Núcleos Municipais.
6) Quanto a organização das Seções Regionais e Núcleos, os novos Estatutos
limitavam as suas existências. Não poderia haver mais de uma Seção Regional
em cada Estado e mais do que um Núcleo por município.
Ao final das discussões sobre os artigos dos estatutos, sua redação e
emendas, ficou decidido que uma Comissão eleita teria a incumbência de dar a
redação final aos novos estatutos, seguindo aquilo que fora aprovado na
Assembléia. A Comissão foi formada pelos professores Aroldo de Azevedo, Odilon
de Matos e Ary França. Foi decidido ainda que as Seções Regionais e Núcleos
Municipais teriam o prazo de um ano para se adaptarem as novas regras de
funcionamento. Os novos estatutos aprovados passaram a valer a partir da
Assembléia Geral Ordinária ocorrida naquele mesmo ano em Jequié, Estado da
Bahia.
Fato importante dessa assembléia, que mesmo fora do objetivo principal
de reforma estatutária, foi considerado e aclamado, foi a indicação do sr. Rubem
Borba de Moraes, sócio fundador da AGB, como sócio honorário, o que foi
proposto pelo professor Aziz Ab’Saber e aceito por todos os presentes.
Ao final do processo de reformas dos estatutos, o que foi aprovado foi
confirmar o projeto iniciado em 1945, e que pelo tempo e pela experiência de
quase vinte anos de realização de Assembléias e formação de Seções Regionais e
Núcleos, ampliando a base social da AGB, necessitava de ajustes de percurso. A
reforma não apontou para nenhuma transformação nas estruturas da Associação
e tão pouco de sua forma de organização.
265
No dia 10 de julho de 1970, na Escola de Sociologia e Política da USP, foi
realizada a Assembléia Geral Extraordinária que havia sido convocada para
reforma dos estatutos da AGB, e da qual participaram 28 sócios efetivos
95
.
A assembléia presidida pelo professor João Dias da Silveira, então
presidente da AGB, teve os trabalhos de reforma estatutária iniciados a partir de
um ante-projeto de estatutos que havia sido elaborado pela Comissão Especial
(designada para esse fim na última AGO), e que foi aprovado em bloco, para
depois ser discutido ponto a ponto, conforme sugestões que eram apresentadas
por escrito à mesa diretora da assembléia, pelos sócios efetivos presentes. Como
previa os estatutos, a assembléia foi considerada aberta e permanente, sendo
apenas interrompida para a realização das refeições.
Tendo como pontos de referência os estatutos que vigoravam desde a
última reforma realizada em 1963 e o projeto de novos estatutos elaborado pela
Comissão Especial, a discussão seguiu sendo feita, sempre com a intervenção de
muitos associados a cada ponto apresentado. Assim, ao final da assembléia
extraordinária, que durou três dias, tendo se encerrada no dia 12
96
de julho de
1970, foram aprovados os novos estatutos da AGB, onde importantes e
significativas mudanças foram feitas frente aos estatutos de 1963. O resultado
foi um estatuto dividido em oito títulos e cinqüenta e três artigos, que reproduzia
estruturas dos estatutos anteriores, mas que também apontava para profundas
transformações. O começo, comum a todos os estatutos, trata dos objetivos da
associação, onde o que fora aprovado apresenta, além dos objetivos gerais da
AGB, outros oito itens que vêm explicitar ainda mais seus intentos, que vão
desde “promover o desenvolvimento da geografia no Brasil”, passando por
“estimular o estudo e o ensino da geografia, propondo medidas para seu
aperfeiçoamento”, e por “promover encontros, congressos, exposições,
conferências e publicações (...)”, até “zelar pela ética profissional” e “representar
95
Pasquale Petrone, Aluízio Capdeville Duarte, José Cezar Magalhães Filho, Manoel Fernando
Gonçalves Seabra, Carlos Augusto Figueiredo Monteiro, Lysia Maria Cavalcanti Bernardes, Odilon
Nogueira de Mattos, José Ribeiro de Araújo Filho, Ney Strauch, João Dias da Silveira, Allisson
Pereira Guimarães, José Alexandre Filizola Diniz, José Francisco de Camargo, Lea Goldenstein,
Manoel Correa de Andrade, Ely Pereira Goulart de Araújo, Maria Alice dos Reis Araújo, Maria de
Lourdes de Souza Radesca, Elina de Oliveira Santos, Berta Koiffmann Becker, Nice Lecocq Muller,
Edgar Kuhlmann, Ruy Osório de Freitas, Roberto Lobato Azevedo Correa, Brás Berlanga Martinez,
Armem Mamigonian, Eurípedes Simões de Paula, Dora Amarante Romariz.
96
No dia 12 de julho de 1970, quando encerrada a Assembléia Geral Extraordinária da AGB para
fins de reforma estatutária, teve início no mesmo local a XXV Assembléia Geral Ordinária da AGB,
que iria tratar dos assuntos administrativos da Associação, como: aprovação do relatório da
gestão, encaminhamentos sobre as publicações e eleição da nova diretoria da AGB.
266
a geografia brasileira e o pensamento dos Geógrafos do Brasil junto aos poderes
públicos e às entidades de classe, culturais e técnicas”; esse último objetivo
deixou claro as intenções da AGB em assumir, agora de forma mais sistemática e
decisiva, o lugar de representação dos profissionais de geografia e a própria
ciência diante suas necessidades e imposições. Ainda no título dos objetivos, vai
permanecer o artigo que impede a Associação de tomas parte em quaisquer
manifestações de ordens políticas ou religiosas.
No título Dos Associados, o novo estatuto mantém a estrutura
hierarquizada entre seus associados, com a presença agora de quatro
categorias: Titulares, Honorários
97
, Cooperadores e Correspondentes
98
. Os sócios
titulares vêm ocupar o lugar dos então Sócios Efetivos; os Sócios Honorários e
Cooperadores são mantidos e ocorre ainda, o retorno dos chamados Sócios
Correspondentes (que existiam na primeira edição dos estatutos, em 1934, e
que quando reformados em 1936, deixaram de existir). Os sócios titulares
mereceram nesses estatutos um conjunto de quatro artigos e vários itens e
parágrafos para sua regulamentação, evidenciado o destaque para tal categoria,
e que segundo os mesmos estatutos poderiam pleitear tal posição àqueles
com grau universitário e vínculo “com a pesquisa geográfica”, com
pertencimento mínimo de dois anos no quadro social da AGB, com participação
em pelo menos uma reunião da Associação, ser apresentado por pelo menos três
sócios titulares e submeter seu nome e seu curriculum vitae ao Conselho Diretor
e depois à Assembléia Geral. O sócio cooperador constituía-se numa categoria
“destinada às pessoas que se dediquem a estudos geográficos ou que se
interessem pelo progresso da geografia”, e que fosse indicado por um sócio
titular, devendo ainda ser encaminhado à Secretaria Regional ou do Núcleo Local
a que o candidato iria pertencer. Tal como nas versões anteriores dos Estatutos
(1945 e 1963), o sócio cooperador apenas se vinculava à Seção Regional ou ao
Núcleo local, diferentemente dos Sócios Titulares que possuíam um vínculo
também com a AGB em sua dimensão nacional.
97
O sócio honorário seria aquele que, por ser considerado grande benemérito da Associação ou da
Geografia, tenha sido proposto por cinco cios Titulares (pelo menos), e aceito pela maioria dos
Sócios Titulares.
98
Segundo o estatuto aprovado, o sócio correspondente seria aquele residente no exterior e que
estivesse, de alguma forma, vinculado à geografia brasileira. O candidato a sócio correspondente
deveria ser indicado por pelo menos cinco sócios titulares e aprovado pelo voto de três quartos dos
sócios presentes a uma Assembléia.
267
Ainda permaneceu, após essa reforma, a decisão que apenas os sócios
titulares poderiam votar e ser votados. Somente esses sócios possuíam nos
estatutos reformados pela assembléia de 1970 a indicação de seus direitos e
deveres, ou seja, qualquer possibilidade de exercício de participação e decisão
estava exclusivamente restrito à essa categoria.
Seguindo a análise dos estatutos aprovados após a reforma instalada em
1970, encontramos no seu Título III – Dos Órgãos de Direção, algumas
mudanças no formato de organização interna do corpo diretor da AGB.
Conforme, ainda os estatutos anteriores, a reforma de 1970 manteve a órgãos
de direção da AGB da seguinte forma: Assembléia Geral, Conselho Diretor e
Comissão Executiva (anteriormente denominada Diretoria). A Assembléia Geral
Ordinária ou Extraordinária, continuaram a ser os lugares máximos de decisão da
AGB. As alterações nos órgãos de direção ocorreram principalmente na
composição do Conselho Diretor, que passou a ser formado por representantes
de cada Seção Regional
99
, por quatro representantes da Assembléia Geral
100
, por
um representante dos Núcleos Locais de cada Seção Regional e pelo último
presidente da Associação, com um mandato de dois anos. A Comissão Executiva
que também sofreu alterações em sua composição, era formada pelos seguintes
membros: Presidente, Vice-Presidente, Secretário-Executivo, Sub-Secretário,
Tesoureiro e Coordenador de Publicações, onde obrigatoriamente, o Secretário-
Executivo e o Tesoureiro, deveriam residir em São Paulo. A Comissão era eleita
para um mandato de dois anos por ocasião das Assembléias Gerais, de forma
indireta, sendo escolhida pelos membros do Conselho Diretor, o que tornava a
escolha um processo ainda mais fechado e excludente.
Outra importante transformação imposta por essa reforma foi quanto as
formas de reuniões da AGB. No período iniciado com a reforma estatutária de
1945 e terminado com a reforma de 1970, a AGB realizava suas Assembléias
Gerais anualmente. Os novos estatutos, em seu artigo 28 definiram que “a
Associação dos Geógrafos Brasileiros promoverá a cada dois anos a sua
Assembléia Geral, reunião de caráter administrativo, simultâneamente com um
Encontro Nacional de Geógrafos, de caráter cultural”.
99
Cada Seção Regional terá como representante no Conselho Diretor, o seu Diretor e um Sócio
Titular por ela eleito em Assembléia. As Seções Regionais que contavam com mais de um quinto
dos Sócios Titulares da Associação, tinham direito a um terceiro representante, também eleito em
Assembléia.
100
A eleição dava-se por voto secreto.
268
O modelo institucional da AGB construído em 1945 e reforçado em 1963,
perdurou até 1970, quando, entre outras mudanças, as assembléias anuais são
substituídas por encontros bienais e congressos decenais. Em que pese a
manutenção das estruturas hierárquicas na entidade, mantidas nas figuras dos
sócios efetivos, agora titulares, dos sócios honorários, dos sócios cooperadores e
dos sócios correspondentes, notava-se a inflexão da restrição do modelo, pois
um conjunto expressivo do contingente cada vez maior de participantes tinha
sua condição tolhida ou reduzida nos processos de decisão e ação. Tais tensões,
grosso modo, implicavam na distinção entre os sócios titulares que estavam no
“topo” da pirâmide do conhecimento produzindo pesquisas e os demais
participantes relacionados ao ensino e/ou aprendizagem da Geografia (Lourenço,
2004).
269
Mapa 5
270
3.3
1978 e a ruptura: somente a ponta do iceberg
O movimento que se estruturou na Geografia brasileira no final dos anos
70 e avançou pela década de 1980, caracterizou-se por um forte conteúdo
ideológico. E isso tinha perfeita razão de ser, em virtude de estarmos em plena
luta pela abertura política do país. Almeida (2000:103), ressalta que, no caso da
Geografia, três espaços foram prioritários de lutas, “enquanto se aguardava os
movimentos do tabuleiro do poder político nacional que se desenrolava no
Congresso Nacional”. O primeiro desses espaços foi a universidade; o segundo
foi AGB; e o terceiro espaço era a “geografia oficial”, isto e as instituições de
planejamento governamental, e nesse espaço o destaque era o IBGE.
No entanto, foi na AGB, o objeto dessa tese que essas transformações
tiveram maior impacto, principalmente se considerarmos o curto intervalo de
tempo percorrido nesse processo de transformação. Entre as instituições mais
fortemente ligadas à Geografia brasileira, foi sem dúvida a AGB àquela que mais
rápida e profundamente sentiu em sua estruturação e projeto político o
movimento de transformação/renovação em curso a partir do final dos anos da
década de 1970.
“Uma análise de documentos e textos referentes aos
encontros e congressos nacionais na área, constata, na
década de 1980, expressivo aumento da discussão dos
fundamentos da Geografia e seu papel na sociedade, no
ensino e em outras instituições sociais. A ampliação de
espaço para temas referentes ao questionamento dos
fundamentos da Geografia faz parte e um projeto explícito da
AGB, que vivenciava também alterações no seu próprio
significado e funcionamento”. (Cavalcanti,1998)
O Movimento de Renovação pelo qual passou a Geografia é, com certeza,
singular no conjunto das ciências no Brasil. E de onde vem esta singularidade?
Podemos dizer que vem do olhar histórico do processo, um olhar que envolve os
diversos sujeitos/atores que fazem parte dessa história. Duas características são
fundamentais para o entendimento da singularidade da renovação recente da
Geografia. A primeira refere-se à forma/processo, que tem no ano de 1978 sua
referência emblemática. Essa renovação é ao mesmo tempo epistemológica e
política. As críticas que eram feitas e as insatisfações que acabaram por gerar a
ruptura eram não apenas sobre qual estatuto epistemológico a Geografia deveria
271
ser produzida nas universidades e nas escolas, remetendo a um olhar científico,
mas também sobre qual e para quem seria produzida a Geografia, completando
um claro projeto de sociedade, do qual a Geografia deveria participar. A segunda
característica refere-se aos agentes dessa renovação. Diferentemente de outras
ciências no Brasil, a Geografia não teve nos acadêmicos os principais atores da
transformação científica. A Geografia é talvez a única ciência que, no Brasil, em
sua história recente, passou por um processo tão radical de transformação do
pensar/produzir sem a direção exclusiva, ou mesmo principal, da Academia.
Para a Geografia, o processo de renovação teve início e meio na
intervenção daqueles que estavam fora da Academia os professores do então
de e graus –, e naqueles que estavam nas Universidades e que eram
tratados como espectadores os estudantes. Foi a união desses dois segmentos
que garantiu o processo de renovação. Ao mesmo tempo, estudantes e
professores, que estavam fora da Academia, e também aqueles poucos que,
mesmo na Academia, conseguiam realizar a crítica, mostravam sua insatisfação
com as bases teóricas que fundamentavam o pensar geográfico, mostravam
também sua preocupação com o fazer geográfico, ou seja, a serviço de que
projeto de sociedade estaria essa ciência, os intelectuais e suas instituições.
Alfredo Bosi ensina que datas são pontas de icebergs, servem apenas para
nos fazer sobreviver a um possível naufrágio. Como uma série de números
dispostos em uma certa ordem, as datas servem menos para fechar
possibilidades do que para abri-las e colocá-las sob a chama de uma profunda
iluminação histórica:
Mas de onde vêm a força e a resistência dessas combinações
de algarismos? 1492, 1792, 1822, 1922... Vêm daquelas
massas ocultas de que as datas são índices. Vêm da relação
inextricável entre o acontecimento, que elas fixam com a sua
simplicidade aritmética, e a polifonia do tempo social, do
tempo cultural, do tempo corporal, que pulsa sob a linha de
superfície dos eventos. (Bosi, 1992, p. 19).
Por isso, entre datas, muitas, 1978 talvez seja uma daquelas que mais
marcaram e marcam a Geografia brasileira dos últimos decênios deste século.
Entretanto, esse conjunto de algarismos, coincidentemente, gira em torno de
outros acontecimentos importantíssimos para a história recente da ciência
geográfica no Brasil. Mas, se 1978 aparece como uma grande data, a discussão
vinha sendo feita: as grandes rupturas se preparavam. Aqui e ali, geógrafos
272
descontentes, sobretudo os mais jovens, mas também os menos jovens,
reuniam-se para falar dos novos rumos. A aglutinação, em nível nacional, foi
possível graças exatamente aos encontros e publicações promovidos pela AGB e
pelos estudantes. A razão dessa importância está na conjuntura vivida à época.
Vivíamos no período a ascensão dos movimentos sociais operários, a
reconstrução do Movimento Estudantil, a véspera da anistia aos exilados e o
surgimento de um sem número de organizações que consubstanciariam a
fundação posterior do Partido dos Trabalhadores, o PT.
A importância de 1978 está naquilo que antes acontecera, a ascensão
de uma forte institucionalidade geográfica ligada aos ditames do regime de
chumbo; uma Geografia aplicada, voltada para o planejamento, baseada em
teorias sistêmicas e locacionais e com fortes ligações com os interesses daqueles
que faziam acontecer o milagre brasileiro. Assim, seria necessário um breve
retrospecto, inclusive para compreender, a partir de certos currículos, a forte
matematização e tecnificação do discurso, combatido de modo veemente por
aqueles que se propuseram uma verdadeira guerrilha epistemológica. Havia, nos
anos que antecederam Fortaleza, uma espécie de guerra surda no interior da
Geografia brasileira, guerra que exprimia a luta duríssima realizada naquele
estado de exceção e de Atos Institucionais. Não se trata, claro, de uma caça aos
nomes simplesmente, mas de uma compreensão ao que se pensava e às ações
que faziam implementar os círculos de afinidade, dentro das instituições
geográficas, e mais, no interior de uma extensa teia de poder político, dentro
daquela sociedade.
Caso consideremos muitos dos processos em sua inteira significação,
perceberemos que 1978 refletiu, dentro da Geografia, as lutas sociais que se
realizavam fora dela, representando uma clara opção contra o regime à época
constituído e um front de disputa política.
Nas palavras dos então jovens autores como Ruy Moreira, Ariovaldo
Umbelino de Oliveira e Antonio Carlos Robert Moraes, era preciso colocar a
Geografia a serviço da luta por uma nova sociedade.
“A busca de uma Geografia crítica e atuante deve confundir-
se com as lutas sociais voltadas para a transformação da
sociedade. Deve ser orgânica desses movimentos sociais, ao
mesmo tempo produto e instrumento deles. O encontro de
uma ‘Geografia Nova’ só pode vir da luta por um espaço novo
numa sociedade nova”. (Moreira, 1980:24).
273
“A Geografia Crítica manifesta-se como a da perspectiva de
oposição a uma realidade social e espacial contraditória e
injusta, fazendo do conhecimento geográfico uma arma de
combate à situação instituída” (Moraes, 1982:42).
“Esse compromisso com a transformação da sociedade
reserva-nos, certamente, um papel importante junto aos
trabalhadores no esclarecimento das muitas formas
(espaciais) que a burguesia utiliza para aumentar a sua
exploração” (Oliveira, 1980: 17).
Claro que, como campo, àquela época havia dissensões, que não eram
pequenas, entre aqueles que conformaram esse campo da Geografia Crítica.
Entretanto, pouco se sabe sobre quais eram os embates políticos e intelectuais
entre aqueles que consolidaram a Geografia Crítica como campo, segundo define
Moraes (1982: 43): “uma espécie de ‘frente ética’”.
Hoje, passados 30 anos, é possível ver quais eram as diferenças e no que
elas se constituíram, no âmbito institucional e político. Uma das razões advém
das transformações sofridas no interior desse mundo rapidamente mutante, na
opção por novas abordagens teóricas, na aliança com novos compromissos
políticos e, por fim, é claro, na depuração do campo que foi a Geografia Crítica.
O episódio do III ENG, em 1978, em Fortaleza, vem expressar na verdade
um processo que vinha tomando corpo na sociedade brasileira, que, a bem da
verdade, nunca o abandonou a busca pela garantia dos direitos democráticos.
O III ENG foi rigorosamente um encontro, não apenas no sentido formal dos
profissionais de Geografia, mas também de experiências que vinham se
desenvolvendo em todo o Brasil, em diferentes lugares, por diferentes pessoas,
dentro de uma perspectiva crítica. Um encontro que aconteceu num momento
em que a sociedade brasileira passava por grandes transformações, com o
reaparecimento de importantes agentes sociais, como o Movimento Operário e o
Movimento Estudantil. Esses desdobramentos que se desencadearam, de forma
pública e mais intensa, a partir do III ENG, na verdade foram resultados de um
longo período de maturação. Esse evento que, no fundo, se tornou um clássico
divisor de águas, refletiu os processos relacionados às insatisfações e
preocupações, que já resplandeciam tênuamente sobre os rumos dessa ciência
no país. No ano de 1978, na verdade, o que existiu foi um encontro dessas
coisas que vinham desenvolvendo-se e, a partir dali, pode-se dizer que se
274
construiu um movimento com algum nível de articulação. O ano de 1978 é,
assim, conforme Armando Corrêa da Silva, uma ruptura:
Como não ocorria a ruptura política, a ruptura teórica
descansava no leito da indiferença oficial. No entanto, ambas
ocorreram no mesmo ano de 1978, como mudança de poder
na Associação dos Geógrafos Brasileiros e como irrupção do
debate intelectual para além dos muros das Academias e
Institutos, através do livro de Milton Santos, “Por uma
Geografia Nova” (Silva, 1983:76).
Ou ainda, como afirma Moraes
“O Encontro da AGB de 78 é um marco. Tem gente até que
minimiza isso, mas eu arriscaria dizer que quem o minimiza
como marco é porque não esteve lá. É muito rápida essa
hegemonia. Parece que você tem um dique contendo, na hora
que abre... [...] Foi muito rápido o processo e é o processo de
uma geração. De certo modo, a hegemonia cumpre o objetivo
inicial que se desenhou em 75/76/77. O objetivo era esse:
renovar. Renovou, agora é tocar para frente... (Moraes, apud
Scarim, 2001:154).
Essa produção do novo, crítico e elaborado a partir de outros e inovadores
pressupostos teóricos, em especial, no Brasil, não encontrou, em princípio, no
ambiente da universidade, campo fértil para sua construção. Os Departamentos
de Geografia das universidades brasileiras, em sua grande parte com posturas
conservadoras e autoririas, só bem mais tarde vão incorporar em sua agenda o
debate sobre os novos rumos que se seguiam na Geografia brasileira e, a partir
disso, materializar, através de seus currículos e publicações, a produção dessa
Geografia, que ganhou a marca de crítica.
No entanto, através dos congressos, encontros e publicações organizados
pela AGB e dos encontros organizados pelos estudantes, o embate científico se
fez mais intensamente polêmico e, dessa forma, a renovação ganhou dimensão
nacional, e profissionais e estudantes que produziam, de forma ainda marginal,
no Brasil, tornaram-se referências importantes desse processo, conforme avalia
Moreira:
... o terceiro encontro da AGB foi aquele do marco de
mudança da Geografia no Brasil. Os vários grupos, até então
clandestinos na Geografia, análogo aos grupos clandestinos
na política e na sociedade brasileira, saíam da
clandestinidade, com a sociedade abrindo-se um pouco mais
democraticamente. Assim, eles vieram à tona, se
275
apresentaram e disseram: “aqui estamos nós”, e então,
vamos começar a fazer uma discussão juntos. A força do
Encontro de 1978, em Fortaleza, veio exatamente desta
movimentação, deste rio subterrâneo, e não das academias,
tanto que quando nos encontramos em 1979, na Assembléia
para mudar o estatuto da AGB, mudamos com aquela
radicalidade toda, porque não foram os professores
universitários que criaram a realidade de 1978 (Moreira, apud
Scarim, 2001:107).
Muitos dos geógrafos que tanta influência teórica ou política tiveram no
Movimento de Renovação da Geografia não estavam nas universidades, que se
afirmavam em sua postura conservadora. Eles estavam nas escolas de e
graus, nos cursinhos pré-vestibulares ou, ainda, nos cursos de graduação.
Ao fim de mais de 30 anos, a renovação que, gestada nos Congressos e
Reuniões da AGB e nos encontros de estudantes, começou a se firmar como
renovação que tentava alcançar a ciência geográfica em todas as suas dimensões
e manifestações, desde a pesquisa pura até o ensino nos diversos graus,
representou uma busca profunda de novos fundamentos de um discurso teórico.
Fundamentos esses que derivam da perspectiva ideológica em que se ponha.
Contudo, “qualquer discurso contribui com a realização de suas propostas
ideológicas, quando fundado em sólida base epistemológica. Teoria e
Epistemologia geram-se mutuamente (...)” (Moreira,1980:21)
276
3.3.1
O Movimento Estudantil de Geografia e a AGB: os novos atores
entram em cena
“quando os novos personagens entraram em
cena, vimos o início de uma sociabilidade
fundada na solidariedade de classe e pela
qual as chamadas classes populares
passaram a fazer parte da cena histórica,
não como atores desempenhando papéis
pré-fixados, mas como sujeitos criando a
própria cena através de sua própria ação e,
com isso, “constituíram um espaço público
além do sistema de representação política”
permitida, ou seja, o espaço da participação
cívica e trabalhista”. (Sader,1988:15)
Qual a importância da participação dos estudantes na construção histórica
da Geografia no Brasil após 1970? Quais os efeitos do Movimento Estudantil
sobre a renovação da Geografia e sobre a Associação dos Geógrafos Brasileiros
(AGB)? Eis algumas questões que ganham entre nós significado especial, dada a
presença marcante desse movimento na história recente de rupturas na
Geografia brasileira.
Respostas a essas questões resultam, entretanto, daquilo que a própria
história recente da Geografia nos legou a imensa proximidade entre o
Movimento Estudantil de Geografia e as transformações percebidas nos anos
posteriores a 1978. A teia que se foi urdindo, como podemos perceber entre os
discursos que habitaram os eventos da Associação dos Geógrafos Brasileiros
(AGB) e os fóruns dos estudantes, reclama uma investigação, uma vez que,
depois daquela Fortaleza de julho, os estudantes passaram a ser considerados
como profissionais em formação (Antunes & Sousa Neto, 2003).
Os intensos movimentos executados pela ciência geográfica no percurso
de sua renovação a partir da década de 1970 floresceram como crítica e
renovação internas ao campo científico. Como afirma Moreira, “a renovação de
uma ciência está em linha de relação direta com a consciência que têm os seus
intelectuais das questões que a história a ela está pondo, colocando-a em crise”
(Moreira, 1982:5).
277
Nessa perspectiva, consideramos fundamental para a compreensão da
dinâmica assumida pela ciência geográfica no Brasil, nas últimas décadas, o
entendimento da intervenção do Movimento Estudantil de Geografia, num
espectro científico e político. Os estudantes que viam na chamada “Geografia
Crítica” uma forma de instrumentalização, uma base teórica para poder fazer a
sua militância política, não mais concebiam uma Geografia descolada da análise
da realidade, de acordo com a qual, segundo Armando Corrêa da Silva: “A
Geografia não tem por que continuar a ser um pequeno mundo’ no qual vivem
apenas professores, geógrafos profissionais e estudantes, olhando circunspectos
e orgulhosos do seu próprio umbigo” (Silva, 1983:134).
A necessidade de democratização da AGB e, conseqüentemente, da
reformulação de seus estatutos, que previam uma participação diferenciada no
quadro de possíveis associados aqueles que de alguma forma tinham um
envolvimento com a Geografia, profissionais ou estudantes –, foi marcada por
importante episódio da vida dos estudantes de Geografia e, por razão direta, de
sua organização. Nesse período, compreendido entre os anos de 1978 e 1979,
apesar de estarmos vivendo sob armas e amarras impostas pelo regime
autoritário que as elites brasileiras nos impunham sob guarda dos militares, os
estudantes de todo o país, ainda que de maneira tímida, davam sinais de
organização e reivindicação. Era o início de uma nova etapa na organização
estudantil.
Nesse processo que, de alguma maneira, colaborou na criação das
condições favoráveis para que se acelerassem os debates sobre os rumos e a
natureza dos discursos geográficos no Brasil, merecem destaque o Movimento
Estudantil e os geógrafos que militaram no âmbito da AGB. Não abandonando o
conteúdo e o fio condutor do movimento, ativaram no âmbito geográfico a busca
de maior espaço de atuação no interior de seus órgãos representativos, como a
AGB, as próprias salas de aulas e outros locais, que, no cômputo geral,
pudessem garantir a exposição e debates das questões pertinentes à ciência
geográfica. Nessa direção, os estudantes começaram, com outros profissionais
descontentes com os rumos da Geografia, a tomar posições estratégicas que
ampliassem os locais de atuação. Dentro dessa conjuntura, vamos identificar a
ocorrência de acontecimentos e sujeitos históricos que se tornaram os
impulsionadores e, em parte, os responsáveis pelas metamorfoses que se
iniciaram no interior dos discursos dessa ciência, no final dos anos de 1970 e
278
início dos de 1980. Isso propõe que o caminho a percorrer em uma investigação
sobre o Movimento Estudantil é fundamentalmente o da ação política mais geral,
nomeadamente e conjunturalmente situada dentro de um processo social maior.
O Movimento Estudantil teve participação fundamental no processo de
renovação da Geografia brasileira. O Movimento Estudantil garantiu, através da
possibilidade de intervenção comprometida com um projeto de mudança e, ao
mesmo tempo, descomprometida com as estruturas político-administrativas dos
Departamentos formadores, as reformas curriculares e a democratização das
estruturas internas da Universidade. Foram os estudantes que, literalmente,
“colocaram na parede” os “donos das verdades” geográficas de outrora. A ação
direta do movimento, que estava a se nutrir dos novos rumos, daqueles
professores que apresentavam um novo pensar geográfico, questionando e
forçando mudanças curriculares ou de natureza das políticas departamentais,
acabou por detonar as transformações.
A análise objetiva da Geografia brasileira e da AGB do presente não pode
prescindir da determinação precisa do significado da participação dos estudantes
no processo de renovação científica e de transformação da Associação. Nela
estão contidas algumas das orientações básicas que dirigem o curso desse
processo. Sua atuação adquire expressão renovadora quando associada a
outras forças de renovação; sua força ganha vitalidade quando integrada a
um processo já desencadeado.
Não obstante, é preciso compreender sua luta, esclarecer sua premente
necessidade de encontrar um campo de ação. E, mais do que isso, é
indispensável elucidar sua importância como força no processo de renovação da
Geografia.
O Movimento Estudantil marcou sua presença no cenário político brasileiro
desde o início do século. Alguns dirigentes políticos que fizeram a história
recente do Brasil à frente de movimentos políticos começaram sua experiência
política como dirigentes estudantis. Alguns dos principais profissionais que
produzem a Geografia nestas últimas décadas e que exercem forte influência
sobre o que é pensado e produzido nas Universidades e nos fóruns da AGB
fizeram parte do Movimento Estudantil de Geografia.
O engajamento dos estudantes adquire uma conotação criadora. Converte-
os num dos agentes da práxis que intenta dinamizar o sistema através da
implantação de uma nova ordem social que supere, em definitivo, o status quo.
279
Cabe, todavia, averiguar os caminhos dessa práxis e o significado de que ela
deverá revestir-se na transformação da Geografia brasileira.
A identidade, portanto, de um dado movimento de área tem como âncora
a disciplina que lhe suporte. Logo, o fortalecimento do Movimento Estudantil
de Geografia depende da renovação e fortalecimento da própria ciência
epistemológica e, socialmente, depende do robustecimento da comunidade de
geógrafos e da consolidação das instituições que o fazem ser o que é. A crítica
dos fundamentos epistemológicos é outro passo fundamental, porquanto a
simples proclamação não torna a Geografia uma “práxis” social transformadora,
ou um instrumento dessa “práxis”, se os termos são assim mais corretos.
Desenvolvê-la implica responder no plano teórico às três questões gerais, postas
pela epistemologia às ciências: a Geografia, “o que é”, para que serve” e “para
quem serve” (Moreira, 1980:21). Não se pode fazer movimento estudantil em
Geografia se não se faz ciência geográfica. Essa é a condição sine qua non para a
existência desse movimento: conhecer e produzir, profundamente, a ciência
mesma que o faz historicamente ser. Não movimento estudantil de Geografia
sem produção geográfica feita por estudantes. Se é preciso produzir ciência, não
como estudantes isolados, mas por dentro do Movimento Estudantil de
Geografia, então é necessário que a estrutura organizativa interna do movimento
permita esse fenômeno. Permita, em suma, organizar os estudantes, com vistas
a fazer uso da ciência geográfica em torno das ações que tenham como
fundamento a ciência.
Dois eram os lugares possíveis de fazer ecoar os sons da mudança: os
Departamentos de Geografia e os fóruns da AGB. O primeiro estava controlado,
em sua maioria, por setores conservadores, os quantitativos e os positivistas; o
segundo, pelos mesmos grupos que formavam a oligarquia dos Departamentos.
Não restava muito a fazer, se a ação se desse apenas no âmbito do científico.
Nesse sentido, as mudanças teriam que se dar tanto no âmbito científico como
no político. Podemos até arriscar a dizer que as mudanças políticas, naquele
momento, poderiam ser mais importantes. O Movimento Estudantil é o agente
que vai proporcionar as transformações nesses dois lugares: na AGB, após a
intervenção no III Encontro Nacional de Geografia (ENG), e, posteriormente, na
Plenária Estatutária de 1979; nos Departamentos, com as denúncias e lutas
diárias pela democratização. Foram os estudantes que levaram para o interior da
Academia, por meio de seus encontros, semanas de Geografia, palestras e
280
publicações, o pensamento daqueles que estavam propondo esse novo
pensar/fazer geográfico.
A democratização da AGB, que se agitava desde o início dos anos de 1970,
e que culminou em 1978, permitiu que aqueles que estavam fora da Academia e,
portanto, fora do eixo mais direto da AGB, pudessem ocupar os seus fóruns de
debates para divulgar as idéias da Geografia renovada. O cotidiano das seções
locais foi fundamental para esse processo, cotidiano agora permitido pela
entrada dos estudantes e professores do então 1º e 2º graus.
Com todos esses ingredientes e fatores assinalados acima, o panorama
que estava se configurando, de um lado evidenciava a seara geográfica, onde
fosse possível, não ficando impassível à compreensão da natureza de seus
discursos. Por outro lado, mas de forma imbricada, o movimento estudantil
continuava sustentando as bandeiras gerais da redemocratização da sociedade
brasileira, principalmente no que tocava à orientação das políticas educacionais,
cujas ações passavam pelo desvendamento do vínculo propagado pelo Estado
entre educação e segurança nacional, assim como reformulação dos mecanismos
responsáveis pelo cerceamento das liberdades de expressão, como o AI-5 e o
Decreto 477.
No meio de toda essa história, com grande impacto sobre ela, estiveram
os estudantes. Mas não estiveram apenas como aqueles que, quando mais
ninguém esperava tomaram de assalto a plenária final de 1978 e, de súbito,
viraram o jogo. Estes estudantes, muitos deles, estavam também no Congresso
da UNE em Ibiúna, outros fundavam depois a CUT, alguns viviam os últimos
anos do PCB sem Prestes, outros haviam acabado de se tornar professores
universitários. Boa parte daquilo que consolidou a Geografia saiu, não por
encanto, da cabeça desses jovens que viam na Geografia um instrumento
revolucionário e que, em forma de frente ampla, revolucionaram a Geografia
Brasileira.
uma questão de fundo que é, numa sociedade que constrói um meio
técnico-científico-informacional, a demanda de conhecimento ganha em
dimensão, o que pressiona pela massificação /democratização da Universidade e,
com isso, coloca o problema da qualidade acadêmica tendo que ser debatida no
contexto amplo. O elitismo está com seus dias contados. O debate
marcadamente ideologizado, também é de uma outra relação de conhecimento
com a sociedade que estamos carecendo. Os estudantes de Geografia com
281
militância mais consistente, insatisfeitos com os encaminhamentos oficialescos
da sua ciência, criaram, com os profissionais mais experientes, um importante
movimento de pressão.
Além das discussões que ocorriam em algumas salas de aula dos centros
produtores do conhecimento geográfico, a partir da fundamentação política mais
ampla, e dos textos que circulavam, inoculando uma série de novas inquietações,
o movimento foi se organizando no sentido de fazer parte de órgãos
representativos relacionados à difusão da Geografia, como a AGB, instituição
que, avaliada na perspectiva estudantil, poderia ser mais bem articulada,
transformando-se num condutor a mais para a ampliação dos espaços de
problematização tão almejados pelos responsáveis pelo movimento de politização
do setor.
Dentro desse quadro mais geral, as ações da militância estudantil e de
profissionais em torno da Geografia começaram a apresentar debates
relacionados ao contexto político mais geral da sociedade brasileira, mas numa
escala mais próxima às problematizações específicas dessa ciência.
Exatamente no momento em que a excitação das discussões sobre os
projetos políticos referentes ao caráter da abertura política alcançou graus
elevados de temperatura, ocorreu o III ENG, fórum que repercutiu os rumores
das ruas. Nesse evento, além das perspectivas mais internas sobre os rumos da
Geografia, deram-se as discussões sobre o papel político que a AGB deveria
desempenhar.
Modificar inicialmente a natureza da AGB, para consubstanciar uma
entidade democrática e resgatar um canal de expressão dirigido para as
questões da produção do saber geográfico no plano acadêmico e do ensino no
País, esse era o objetivo; em suma, transformar a entidade numa instância
aglutinadora dos que fazem do saber geográfico o seu ponto de incursão na
sociedade:
A interlocução que tivemos foi essa, a possível, da academia,
afinal de contas, o que a AGB reunia? Academia. O que a
Geografia reunia? Academia. Quando, dentro da AGB, nós
percebemos isso, rapidamente partimos para botar os
professores de e graus dentro dela, isso foi no
finalzinho de 1980, começo de 1981, porque o que nós
queríamos para a Geografia, depois quisemos para a AGB
uma entidade da sociedade civil, envolvida na mesma luta
geral da sociedade brasileira, uma sociedade diferente etc. e
282
tal! Então, olhando para o espectro do segmento da
Geografia e mapeando as suas movimentações, na época,
percebemos que só haviam dois segmentos que estavam
nesta perspectiva de envolvimento geral, no movimento de
mudança da sociedade brasileira, os professores do e
graus e os estudantes universitários. Deslocamos a AGB para
uma espécie de concentração nos professores do e
graus, mas não é uma massa que tenha, como os professores
universitários, a mesma presença (Moreira, apud Scarim,
2001:111).
Esse fato foi concretizado no ano seguinte (1979), quando, em reunião
extraordinária, em São Paulo, se desencadeou a mudança no regulamento
interno da AGB. O resultado dessa reorganização no plano administrativo-político
permitiu, finalmente, a participação de estudantes e de outros geógrafos que,
até então, não tinham sido contemplados com a adesão. Um dos saldos, talvez o
mais positivo, provocado pelo fluxo de mudanças iniciadas em Fortaleza, de certa
maneira, foi o fortalecimento do processo de intervenção estudantil nas
discussões da Geografia. Esses jovens não tomaram à força a AGB de 1934,
como muitos, que abandonaram a Associação após as mudanças, ainda hoje
querem fazer crer. Fizeram também por sua disposição intelectual, por suas
experiências externas à Geografia, por suas perspectivas políticas. A busca do
entendimento do papel dos estudantes e de seus movimentos serve para revelar
até onde, e de que modo, a plenária de 1978 foi sacudida por aquela onda de
novos sócios da AGB.
Ao tentar construir uma idéia quanto à importância e à participação do
movimento estudantil de Geografia nas últimas décadas, podemos fazê-lo
através das intervenções realizadas por esse movimento dentro dos limites da
organização que o mesmo vem desenhando desde 1978, quando da retomada
democrática da União Paulista dos Estudantes de Geografia (UPEGE) pelos
estudantes de esquerda; da realização do I Encontro Nacional de Estudantes de
Geografia (ENEG), em 1979, e também da realização da Assembléia Geral
Extraordinária da AGB para fins de reformulação de seus estatutos.
O cenário que se configurava no Brasil contagiou o ambiente da AGB e
principalmente o dos estudantes de Geografia. Os estudantes, sobretudo os de
São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Goiás, apresentavam sinais de organização
através de entidades que, de maneira ainda discreta, iam dando conta das
políticas que, apresentadas pelo discurso da ciência geográfica, estavam na
283
ordem do dia numa sociedade reprimida. A Geografia, em particular, viveu um
estado de efervescência. Em várias partes do país, surgiram movimentos de
crítica e renovação que impulsionaram a ciência no caminho de sua
redescoberta. Os estudantes tiveram um papel muito importante nesse
momento, questionando a ordem autoritária vigente na sociedade brasileira e na
AGB. Então a AGB, de certa forma, sofreu a crítica de todo um autoritarismo na
forma de aceitação dos sócios. Ela levava a uma crítica pertinente às suas
estruturas internas, mas essa crítica veio no bojo geral de todas as formas
autoritárias.
uma diferença porque na década de 70 queríamos fazer
política, era necessário fazer política. Na década de 80
queríamos fazer política, mas com o mínimo de sustentação
na epistemologia, que não nos bastava apenas fazer
política, queríamos que a política fosse instrumentada por um
discurso com o mínimo de rigor teórico conceitual aceitável,
com um mínimo de fundamentação ontológica e
epistemológica...(Moreira, apud Scarim, 2001:115-116).
A mudança política, a que se refere Ruy Moreira, foi acompanhada de uma
ação de ruptura com a antiga forma de produção do saber em Geografia no
Brasil, o que, em outras palavras, quer dizer também uma ruptura
epistemológica. Um ‘corte epistemológico’ se opera radicalmente em uma
ciência se emerge de fundo mergulho crítico nos próprios fundamentos em que a
ciência está apoiada (Moreira, 1980:21).
Depois, a AGB, por muitos anos nesse processo, sustentou-se graças à
ação dos estudantes e, de certo modo, foi para muitos uma grande escola. Por
isso, aí entram algumas questões: Por que os estudantes que conseguiram
mudar a AGB precisavam de um movimento estudantil? Qual a diferença de
qualidade, em termos de formação política e científica, oferecida pela AGB e pelo
Movimento Estudantil de área? Em outras palavras: o que os estudantes
aprenderam e aprenderiam no Movimento Estudantil que não era oferecido na
AGB? Uma das possíveis respostas é que, no Movimento Estudantil, os
estudantes eram detentores de maior autonomia para formular política
cientificamente. Além disso, o Movimento Estudantil possibilitava uma ação
política direta, sem restrições, sem limites se na AGB os estudantes faziam a
política pela ciência, no caso do Movimento Estudantil de área os estudantes
284
faziam política e depois buscavam formas de consolidar sua atuação com a
produção intelectual específica.
O Movimento de renovação crítica, seus modos, meios e processos
constituíram um destacado papel no seio dessa comunidade científica no Brasil, o
que pode ser comprovado a partir da análise de documentos e textos referentes
aos encontros e congressos nacionais na área, na década de 1980, nos quais se
percebe expressivo aumento da discussão dos fundamentos da Geografia e de
seu papel na sociedade, no ensino e em outras instituições sociais.
A compreensão desse processo faz-se plena a partir do entendimento das
medidas e das maneiras pelas quais o Movimento Estudantil em Geografia foi
responsável para consolidação do campo epistemológico da Geografia Crítica no
Brasil. Essa construção epistemológica, que foi depois abrigar-se até nas páginas
dos livros didáticos, entrar nos circuitos mais conservadores, fazer escola enfim,
foi em parte constituída por um grupo de estudantes, muitos recém-egressos dos
movimentos sociais, grande parte deles com fortes ligações com a esquerda que
arrastou a Ditadura, reconstruindo a UNE, fundando a CUT, mudando os rumos
da AGB. Por isso, vez ou outra vão se cruzar os caminhos entrelaçados da AGB e
dos estudantes, de uma AGB que, a partir de 1979, passou a contar em seu
quadro de sócios com estudantes de graduação, agora considerados profissionais
em formação. É possível até afirmar, com algum risco, que sem o Movimento
Estudantil de Geografia, a história da Geografia Crítica no Brasil teria sido outra,
como outra foi a AGB pós-1978.
3.4
A Reforma Estatutária de 1979: a democratização da AGB
A reforma de 1979, foi sem dúvida a maior transformação ocorrida na AGB
em toda sua história. Talvez rivalize, no aspecto da organização interna da
Associação, a reforma ocorrida em 1945. Mas, quando falamos de
transformações tanto no aspecto organizacional, quanto de mudança de
mentalidade, de objetivos, de natureza, de sentido de existência e do lugar que
vai ocupar na/e diante a sociedade, a AGB, sofreu, sem sombras de dúvida, em
285
1979, sua maior e mais radical transformação. A AGB viveu o que viria a ser um
dos momentos de maior expressividade de força daqueles que reivindicavam a
emergência democrática da associação. Reunidos em São Paulo, das mais
diferentes partes do país, professores universitários e professores secundários,
estudantes de graduação e de pós-graduação, sócios efetivos e cooperadores, e
ainda aqueles que não eram ou não podiam ser sócios, debateram
calorosamente cada ponto daquele que seria o estatuto que vigoraria, na sua
essência e maior parte dos artigos, até os dias de hoje.
Mas o que aconteceu naquele julho de 1979? Quais foram de fato as
marcas dessa transformação? Um relato da Assembléia, seus acontecimentos e
personagens fazem necessário ser conhecidos para chegarmos ao final disso
conseguindo responder algumas dessas questões, ou pelo menos, tentando
entender um pouco desse processo de transformação.
Conforme deliberado na Assembléia Geral da AGB, ocorrida
simultâneamente com o Encontro Nacional de Geógrafos, realizado em
Fortaleza, em 1978, deveria ocorrer em julho de 1979 uma Assembléia Geral
Extraordinária para fins de reforma dos estatutos vigentes, reivindicação clara e
contundente daqueles que estavam sendo excluídos diante uma AGB cada vez
mais elitista e segregadora. O distanciamento, por opção política, das questões
que estavam sendo postas pela sociedade brasileira, no processo de abertura
política que estavam em curso à época, reforçou a necessidade de mudanças. É
nesse cenário que foi realizada a referida Assembléia.
No dia 28 de julho de 1979, foi iniciada a Assembléia no Anfiteatro do
Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas da Universidade de São Paulo, na cidade de São Paulo. Na manhã
desse mesmo dia, o professor Marcos Alegre, presidente da AGB, eleito no
ENG, declarou aberta a Assembléia, justificando os motivos de sua convocação
através de um pequeno histórico - desde a realização do último Encontro até o
processo de regulamentação da profissão de Geógrafo. Nesse primeiro momento
estiveram presentes os seguintes sócios titulares
101
: Gervásio Rodrigo Neves,
Marcos Alegre, José Alexandre Diniz, Ney Strauch, Manoel Correia de Andrade,
101
A Ata da Assembléia apenas lista os nomes dos sócios titulares, uma vez que a distinção entre
os sócios era bastante contundente e apenas os titulares podiam exercer o direito de voto, assim
sendo, de decidir os rumos da Associação. No entanto, é possível na leitura da Ata identificar
nomes de alguns cios cooperadores que participaram do processo. A Ata segue como anexo
dessa tese.
286
William Gonçalves Soares, Roberto Schimidt de Almeida, Carlos Walter Porto
Gonçalves, José Ribeiro de Araújo Filho, Pedro Roberto Vaghi, José Bueno Conti,
José Cezar Magalhães Filho, Dulce Maria Alcides Pinto, Eduardo Pazzera Junior,
Yara Marinho da Costa, Casimiro Medeiros Jacobs, Lea Goldenstein, Judith de La
Corte, Manoel F. Gonçalves Seabra, Lívia de Oliveira, Maria da Conceição Vicente
de Carvalho, Beatriz Maria Soares Pontes, Regina Célia Bega dos Santos, Armem
Mamigonian, Silvana Maria Pintaldi, Jorge Soares Marques, Maria Luiza
Fernandes Pereira, Mauro Sérgio F. Argento, Fauze Saadi, Euda M. Caldas de
Souza, Neyde Maria Santos Gonçalves, Ivaldo Cassemiro Martins, Maurício de
Abreu, Salomão Turnowski, Myrna Terezinha R. Viana, Margarida Maria de
Andrade, Maria Beatriz Imenez e José Marinho de Gusmão Pinto. Apesar da lista
nomes constante da Ata não representar a totalidade dos presentes, ela se faz
importante nesse momento para, pelo menos, identificarmos àqueles sócios
titulares da AGB que participaram desse processo de reforma. É possível
também, através da leitura de Atas de outras assembléias identificarmos a
freqüência de alguns nomes que vinham se fazendo representar nas reuniões da
AGB desde algum tempo, e outros que vão aparecer no cenário
recentemente. Nomes de longa, e também de curta lembrança, identificados ou
não com um modelo de AGB construído na sucessão dos anos e das reformas da
Associação.
Na sessão inicial da reforma de 1979 foram apresentados três ante-
projetos de estatutos. O primeiro projeto assinado por um grupo de dez sócios
titulares e encaminhado pela Seção Regional do Rio de Janeiro; o segundo
assinado também por um grupo de dez sócios titulares, e encaminhado pela
Núcleo de Presidente Prudente-SP; e um terceiro encaminhado pelo sócio titular
José Cezar de Magalhães (que presidiu a AGB no período 1976-1978). Segundo
informação dada pelo presidente da AGB, que coordenava a reunião, os dois
primeiros projetos estavam em conformidade com os Estatutos vigentes, uma
vez que foram apresentados dentro do prazo, sendo que o último havia sido
encaminhado fora do prazo estabelecido.
A composição da mesa que dirigiu os trabalhos da assembléia foi o
primeiro ponto de divergência daquela que foi a mais disputada das reformas
estatutárias realizadas pela AGB. Não relato de grandes embates na outras
reformas, somente pequenas divergências dentro de um grupo muito pequeno
de sócios aos quais eram permitidos participação. O Conselho Diretor, para a
287
reforma de 1979, designou e solicitou que o plenário referendasse os seguintes
sócios para conduzirem os trabalhos: Gervásio Rodrigo neves, para Presidente;
José Alexandre Diniz, para Vice-Presidente; William Gonçalves Soares e Judith de
La Corte, para Secretários. Houve por parte de alguns presentes a solicitação de
alteração da composição da mesa com a inclusão de um sócio-cooperador que
fosse estudante, tornando-a mais representativa daquele momento. Os
proponentes da nova composição da mesa indicaram o estudante Diamantino
Pereira, que inicialmente foi rejeitado por alguns sócios titulares, alegando que o
mesmo não era sócio-cooperador, a situação foi contornada pelo presidente da
mesa que convidou o estudante à participação como representante do Centro de
Estudos Geográficos
102
, que era entidade associada à AGB.
A segunda divergência na organização da Assembléia deu-se em torno das
normas gerais (regimento interno) que regulariam a mesma, e que foram lidas
pelo presidente da mesa. Alguns sócios e não-sócios presentes fizeram o uso da
palavra discordando de alguns pontos apresentados. A principal polêmica deu-se
em torno de dois pontos: de votação ou não de um ante-projeto em bloco, e do
direito à consulta ou o voto daqueles que estavam presentes e não eram sócios-
titulares. Com relação ao direito ao voto existiram aqueles que, baseando-se no
estatuto vigente até então, defendiam que somente os sócios-titulares poderiam
exercer o direito de voto para fazer a reforma, existiam também outros que
defendiam que os presentes deveriam ser consultados, a fim que sua opinião
fosse levada em consideração. Diante disso, estabeleceu-se intensa discussão,
de um lado aqueles resistentes a qualquer forma de mudança e de outro aqueles
que entendiam que o momento político era absolutamente diferente (iniciado
mais intensamente no ano anterior, em Fortaleza), e que a Assembléia deveria
se colocar de forma soberana e, entendendo o momento que a AGB vivenciava,
assumir que os presentes, sem distinção, deveriam exercer o direito de votar,
assim os sócios-titulares deveriam transferir para o plenário esse direito, como
foi proposto por Ruy Moreira. O entendimento dos proponentes, diferente
daqueles que resistiam, foi que a proposta não estava ferindo os estatutos, uma
vez que a decisão estaria sendo tomada pelos próprios sócios-titulares. Após
muito debate, suspensão da sessão e retomada dos trabalhos, o presidente da
mesa apresentou a decisão que apenas os sócios titulares teriam direito a voto e
102
Centro de Estudos Geográficos era a denominação do Centro Acadêmico de Geografia da USP.
288
que qualquer proposta seria aprovada com se obtivesse dois terços dos votos
dos titulares presentes, e em seguida apresentou o novo regimento da
assembléia que foi aprovado pela quase totalidade dos sócios titulares presentes.
O regimento continha as seguintes questões: 1) A verificação do quorum se daria
a partir dos sócios titulares presentes à Assembléia; 2) Consulta aos presentes
sobre a necessidade ou não da necessidade de realização da reforma dos
estatutos; 3) Apresentação dos ante-projetos seria pela ordem de entrada na
AGB; 4) Os projetos seriam votados em bloco para efeito de discussão, sem
prejuízo de acréscimos ou alterações. A proposta foi aprovada sob protesto do
sentido não democrático da mesma.
Sobre a consulta sobre a necessidade de reforma dos estatutos da AGB
houve muita discussão, e o tom imposto foi o da emergência da reforma dos
estatutos e da própria AGB uma vez que o modelo que vigorava, construído
desde seus primeiros dias e aprofundados em reformas seguintes, era de uma
estrutura administrativa anti-democrática e fechada que alienava a maioria de
seus sócios (cooperadores) das decisões da Associação, e impedia a participação
de muitos outros. As mudanças na sociedade brasileira e as transformações na
sua realidade sócio-política, obrigavam a AGB a mudar suas formas de
organização e seus objetivos. Não dava mais para admitir a principal associação
de geógrafos do país com práticas internas marcadas pela falta de democracia e
com um olhar para fora de seus domínios embaçados pelo conservadorismo de
sua estrutura e pela prática daqueles que se revezavam no seu controle. Após
discussão a proposta de fazer a reforma foi aprovada, segundo o regimento da
Assembléia, pela totalidade dos sócios titulares presentes.
Dois projetos
103
de mudança dos estatutos foram apresentados. O
primeiro, encaminhado pela Seção Regional do Rio de Janeiro, foi apresentado
por José Cezar Magalhães Filho; o segundo, encaminhado pelo Núcleo de
Presidente Prudente, foi apresentado por Beatriz Maria Soares Pontes. As linhas
gerais de cada proposta sobre a categorização dos sócios e estrutura interna de
organização e poder foram explicitadas, conforme solicitação. A primeira
proposta eliminava o Conselho Diretor e algumas restrições aos sócios não-
titulares em ocupar cargos, como o de presidente e vice-presidente, continuando
103
O terceiro ante-projeto, de autoria de JoCezar Magalhães Filho, não foi entregue no prazo
definido pelo Conselho Diretor. A mesa diretora da Assembléia decidiu que o mesmo não entraria
em votação, no entanto o autor não estaria impedido de apresentá-lo sob forma de emendas
durante a discussão dos demais ante-projetos.
289
a existir as Seções Regionais e Núcleos Locais. A segunda proposta eliminava as
categorias de sócios e dava total poder de decisão e mesmo administração às
Assembléias Nacional, Regional e dos Núcleos. Houve intensa discussão sobre as
propostas e após a votação chegou-se ao seguinte resultado: a proposta
encaminhada pelo Rio de Janeiro recebeu 5 (cinco) votos e a proposta
encaminhada por Presidente Prudente recebeu 25 (vinte e cinco), do total de 31
(trinta e um) sócios titulares presentes à votação. Assim a proposta apresentada
pela professora Beatriz Pontes, foi considerada vencedora e a aprovada em
bloco, servindo de base para a discussão da reforma dos estatutos.
Entre os pontos tratados na primeira sessão a partir das emendas dos
presentes e que posteriormente passaram a compor o estatuto que foi definido
na reforma, destacamos aqueles de maior impacto e que maiores transformações
impingiram à AGB. O primeiro ponto de destaque foi o relativo a estruturação da
AGB. Foi proposta a extinção das Seções Regionais e dos Núcleos Municipais,
dando lugar às Seções Locais, o que depois de discussão foi aprovado. O
segundo ponto importante no processo de discussão foi sobre a proposta de
inclusão nos objetivos da Associação da frase, que correspondia a uma idéia
clara de princípios, lutar pela democratização da sociedade brasileira em seus
vários níveis de poder”. A proposta de José Zuquim causou amplo debate e foi
rejeitada pela maioria daqueles que podiam e estavam votando no momento. O
terceiro ponto foi o relativo a categorização dos sócios, onde a proposta da
eliminação das categorias de sócios, determinando assim o fim da distinção entre
eles, foi debatida com muita convicção entre as partes que apresentavam e
defendiam propostas diferentes sobre tão crucial assunto. O calor da discussão
resultou inclusive em ameaça de retirada da assembléia daqueles que
discordavam dos encaminhamentos que estavam sendo dados, principalmente
daqueles que rumavam para um projeto mais democrático e com maior
participação na entidade. Ao final foi aprovada a proposta de não existência de
quaisquer categorias de sócios.
A assembléia seguiu seu segundo dia de trabalho com a mesa diretora
apresentando sua segunda composição. Em função de viagem do professor
Gervásio Rodrigo Neves, assumiu a Presidência da mesa o professor Alexandre
Diniz, que até então ocupara a Vice-Presidência. A presença de sócios titulares
foi um pouco menor nessa segunda sessão, que tratou, entre diversos temas,
alguns considerados por nós bastante importantes na consolidação do projeto de
290
transformação da AGB. O primeiro grande debate do dia foi sobre a estruturação
da AGB, onde foi aprovado que a partir daquele momento a AGB a nível nacional
seria constituída pela Assembléia Geral Nacional e administrada por uma
Comissão Diretora composta por uma Diretoria Executiva e por um Conselho
Consultivo e a nível local seria constituída pela Assembléia Geral local e
administrada por uma Diretoria Executiva. O segundo ponto de polêmica nessa
segunda sessão foi sobre a fixação da anuidade e da distinção de seu pagamento
(com desconto de 50%) para os estudantes que se filiassem à AGB. A proposta
de diferença de pagamento defendida por Ruy Moreira e Armen Mamigonian,
entre outros, foi condenada por outros associados que achavam que não deveria
haver nenhuma diferença de pagamento, e aqueles que achavam e defendiam
que deveriam pagar menos os associados com menor pode aquisitivo. A Mesa
diretora encaminhou a votação da questão em dois momentos: o primeiro que
não houvesse nenhuma distinção de valor entre as anuidades, proposta que foi
rejeitada por apenas um voto de diferença. Assim sendo, tendo sido aprovado
que haveria a diferença faltava definir quem as teria, a mesa encaminhou então
o segundo momento de votação, onde foi votado a proposta de que se
discriminasse para efeitos de pagamento todos os menos aquinhoados, e a
proposta foi rejeitada, ficando a decisão de pagamento diferenciado pata todos
os estudantes de graduação que se filiarem à AGB.
Após a discussão da anuidade dos sócios, a Mesa Diretora foi outra vez
modificada, e novamente em função da necessidade de viagem do Presidente. O
professor Alexandre Diniz comunicou sua impossibilidade de continuar à frente
dos trabalhos e assumiu em seu lugar a professora Beatriz Maria Soares Pontes,
que a conduziu até o seu final.
O professor Marcos Alegre, ainda Presidente da AGB, propôs que no título
DAS DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS, fosse incluído um novo parágrafo com o
seguinte conteúdo: “Com a aprovação do presente Estatuto, fica extinto o
mandato da atual Diretoria Nacional e se procede a eleição de uma Comissão
Administrativa que dirigirá a AGB a nível nacional pelo período de seis meses,
após o que passará o poder à nova Diretoria eleita em Assembléia Geral
Extraordinária, convocada para este fim”. Assim a proposta do professor Marcos
Alegre, que foi aprovada por unanimidade dos sócios titulares ainda presentes,
decretou o fim de uma era na AGB, de onde partiria o começo de uma nova
história. A Comissão Administrativa eleita para cumprir um mandato de seis
291
meses e preparar a transição tão necessária entre o velho e o novo/tranformador
estatutos e convocar e preparar a AGE para eleição da nova Diretoria da AGB, foi
composta da seguinte forma: Presidente Armen Mamigionian; Secretário
Carlos Walter Porto Gonçalves; Tesoureiro José Marinho de Gusmão Pinto, que
seriam auxiliados por Ariovaldo Umbelino de Oliveira, Ruy Moreira, Ana Maria
Marongoni e mais um estudante-sócio.
Após debates sobre uma série de questões que seguiram sendo
apresentadas e votadas, a reforma chegou ao seu final. Foi instituída uma
Comissão que deu a redação final do novo estatuto, que tinha a seguinte
composição: Beatriz Maria Soares Pontes, Ana Maria Marangoni e Judith de La
Corte.
Essa foi a reforma que colocou definitivamente a AGB em seus marcos
mais democráticos, principalmente no tocante a forma de representação dos
sócios no interior da associação, e apresentou para a AGB a possibilidade de se
constituir como uma associação de representação de uma comunidade que é
formada na diversidade entre professores, técnicos e estudantes, e que foram
complementados mais tarde com a criação da Gestão Coletiva.
O resultado disso tudo, de todo esse processo, com todas as suas
dificuldades, conflitos e contradições, é a AGB que temos hoje. A AGB que
queremos ainda não é essa, resultado de 74 anos de existência ... mas foram
dados enormes e significativos passos ... depende do nosso trabalho e
compromisso ... depende de nosso conhecer de sua história, e uma acaba de
ser contada ... e quem quiser que conte outra.
292
4 – Concluindo...
293
Ocorre muitas vezes em nossa vida de não escrevermos sobre aquilo que
costumamos falar. Entretanto, ao longo do tempo o fato de termos dito tantas
coisas ao sabor do vento nos obrigou a retirar do silêncio as palavras escritas e
escrevê-las é foi única forma de nos livrarmos da repetida tentação de nunca
assumi-las, registrar sua paternidade e oficiar em definitivo um certo dizer. Essa
colheita das palavras aéreas
104
nem sempre é fácil, mas seu continuado existir
uma fala após a outra, acaba por tecer uma teia que se vai construindo no nosso
modo de ver e verbalizar as coisas. Isso nos faz sentir que este trabalho foi
sendo escrito lenta e sutilmente, abstrata e desagregadamente, até ganhar uma
forma quase definitiva, ao ponto de o seu peso, o das palavras, fazê-las, enfim,
pousar sobre o papel.
E é claro que essa cimentação temporária tem sua história, seu processo,
acabando por se dar em função das coisas que foram se encadeando ao longo do
tempo, ao ponto de ganhar ou de requerer historicidade. A história, nesse caso,
vai assumindo contornos mais visíveis e oferecendo maior consciência a quem
pretende entendê-la.
Ao final dessa longa história, que começou para a AGB em 1934, mas que
não começou com a AGB em 1934, que terminou em 1979 nas nossas escolhas
para essa tese, mas que também não terminou em 1979 para a AGB, chegamos
à algumas considerações acerca de sua própria existência, bem como de sua
contribuição para a formação de uma comunidade de geógrafos no Brasil e para
a consolidação de um campo científico que aqui podemos chamar de Geografia
brasileira.
A primeira das considerações que gostaríamos de fazer é sobre a
periodização da história da AGB. Após ler a história da Associação a partir das
escolhas metodológicas que fizemos para construir essa tese, chegamos a uma
proposta que, assim como as demais apresentadas no primeiro capítulo, é
apenas mais uma tentativa de compreender a história da AGB, seus processos,
convergências e rupturas. Assim pensamos a AGB e sua inserção histórica a
partir das notas que organizam o trabalho origens, idéias e transformações.
Refletindo a partir das origens chegamos a situação onde a AGB poderia ser
pensada como uma associação que teve no período compreendido entre os anos
104
Das Palavras Aéreas é o título do LIII Romance do Romanceiro da Inconfidência, em que Cecília
Meireles diz: “Ai, palavras, ai, palavras,/ que estranha potência, a vossa!/ Ai, palavras, ai,
palavras,/ sois de vento, ides no vento,/ no vento que não retorna,/ e, em tão rápida existência,/
tudo se forma e transforma!”
294
de 1934 e 1980 cinco momentos de nascimento/renascimento. O primeiro é
aquele que vai de 1934 até 1936 quando a AGB é fundada tem em seu quadro
associativo, vários estudantes e onde o espírito dominante era o da criação.
Ainda marcam esse período as reuniões quinzenais de apresentação de estudos
ou simplesmente relato de viagens (onde o tema São Paulo era predominante).
Esse primeiro momento de origens é finalizado pela reforma estatutária ocorrida
em 1936. O segundo momento de origem é aquele entre os anos de 1937 e
1945, entendido como uma fase difícil para a AGB, onde esteve muito
centralizada na figura do professor Pierre Monbeig (que a presidiu por todo o
período), onde os núcleos existente eram dispersos e sem nenhuma articulação.
O marco inicial é sem dúvida a reforma estatutária, a primeira de muitas, e que
não define o modelo de associação com marcas institucionais, como surge a
primeira categorização entre os possíveis sócios que não tinha a dimensão
espacial como a definidora. O terceiro momento de origem é o que foi
determinado com a reforma estatutária de 1945 e que durou até o ano de 1969.
Nesse período ocorre a afirmação institucional da AGB, a expansão pelo Brasil é
vislumbrada como possível e realizável, onde as Assembléias Gerais realizam
parte desse papel. O quarto momento foi fincado entre os anos de 1970 e 1978,
tendo como determinante inicial a reforma estatutária de 1970 e as mudanças de
rumos por ela determinadas, a transformação da associação e seus eventos para
um público bastante numeroso (a AGB é uma associação de “massa”), e a
ampliação de seu caráter acadêmico. O quinto e último momento de origem
(pelo menos para essa tese), foi duplamente marcado em seu início, primeiro
pelos episódios ocorridos no ENG e depois pela reforma estatutária de 1979.
Assim a AGB experimenta a tensão das transformações mais radicai, onde o
caráter político da Associação é mais explicitado e sua presença no país se faz de
maneira mais pulverizada e ampliada com a criação das seções locais. A
experimentação de um modelo mais democrático de organização e gestão causa
grande impacto na AGB e em seus associados (nos que permanecem e nos que
saem).
Em linhas gerais podemos dizer que a AGB tem cinco origens e três
nascimentos: o primeiro em São Paulo em 1934 (e poderia ter sido gêmeos – Rio
de Janeiro em 1936); o segundo em 1945, quando nasce para o Brasil e já não é
mais um bebê (poderíamos dizer que adolescente); e 1970 não ocorre
295
nascimento, somente contrações, mas sem dilatação; o terceiro em 1979, só que
nesse momento foi a fórceps.
A história da Geografia no Brasil é também aquela acumulada, e
socializada nos anais das reuniões e congressos da AGB, nos boletins e demais
periódicos, nos manuais, nos livros e revistas, nos símbolos, nos rituais, nos
estatutos e regimentos, etc, e que contribuem para a conformação da história da
cultura deste campo
. Quando avaliamos a existência da AGB através das suas
idéias (segunda nota dessa tese), encontramos quatro momentos. O primeiro
entre os anos de 1934 e 1944. Nos anos de 1935 e 1936, com a publicação da
Revista “Geografia”, procurando demonstrar a força inicial da Associação e seus
sócios, e nos anos entre 1934 e 1944 com a realização das muitas sessões
científicas e culturais. O segundo momento vai de 1945 até 1965 com a
publicação de diversos Boletins e dos Anais da AGB. As reuniões culturais das
Seções Regionais e dos Núcleos afirmam a vitalidade da apresentação e trocas
dessas idéias, e que agora não são mais restritas ao Estado de São Paulo. O
terceiro momento começa aproximadamente na metade da década de 1960 com
o esvaziamento das publicações da AGB a extinção da maioria dos Boletins
(sobrevivendo apenas o Carioca e o Paulista) e dos Anais da AGB. O quarto
momento vai de 1965, com a publicação dos resumos do II CBG (não mais os
textos completos) até 1979 com a ampliação do caráter de debate e diálogo mais
comprometido da AGB. Esse último período tem por marco inicial o início do fim
das publicações da AGB e como marca de sua extensão a fragilidade teórica dos
seus debates, realizados nas Assembléias Gerais.
As Transformações como nota articuladora da história da AGB
confundem-se em muito com os momentos das Origens, pois cada momento de
transformação/ruptura é sucedido de nascimento e marcado por uma reforma
estatutária. A partir dessa nota temos a história da AGB apresentada em quatro
grandes momentos de transformações. O primeiro em 1936, dois anos após a
fundação da AGB, quando é realizada a primeira reforma estatutária, que
apresentou à Associação sua primeira regulamentação formal mais definida e
detalhada; o segundo momento é o da reforma de 1945, quando a AGB reafirma
seu princípio institucional e apresenta seu projeto de existência nacional, tanto
para a Associação, quanto para a própria comunidade; o terceiro momento
inicia-se em 1970, a luz da quarta reforma estatutária, que marca o início do fim
de uma Associação de poucos e para poucos, onde a expansão dos cursos
296
universitários e por conseqüência, da comunidade, já apresentava os sinais
dessas mudanças. O fim das Assembléias e a instituição dos Encontros Nacionais
de Geógrafos, assim como a ampliação dos mandatos dos Conselhos Diretores,
foram marcas desse momento. Por fim, o quarto momento, iniciado em 1978,
mas somente afirmado em 1979, quando da mais radical reforma estatutária
realizada na AGB, onde as bases que sustentaram a Associação por mais de
quatro décadas sofreram forte abalo, tendo inclusive, algumas, vindo
literalmente abaixo. A AGB deixa de ser uma instituição, forte marca de seu
passado desenhado desde 1936, e passa a ser mais um movimento, que se
renova a cada dia, numa contradição de surgimento/crise/ressurgimento que,
por vezes, chegamos a ter dificuldade de compreensão dessa vitalidade, que
nem sempre é tão explícita e visível.
Outra consideração a título de conclusão dessa tese diz respeito ao papel
da AGB na conformação da comunidade de geógrafos no Brasil. Não
desconsiderando a existência daqueles que se pretendiam ou se apresentavam
como geógrafos nos anos anteriores a AGB e aos cursos de graduação em
Geografia, apostamos na noção de formação de uma comunidade de geógrafos
no Brasil, justamente no período da história dessa ciência em nosso país que
combina com a existência destas citadas instituições. Assim o papel da AGB, no
nosso entendimento, foi fundamental para que ocorrência desse processo de
formação de comunidade, que é entendido não apenas pela existência dos
formados na disciplina, mas, sobretudo pelo contato, articulação e relação entre
os geógrafos e seus pares. Assim sendo, a AGB pelo seu caráter associativo e
pelas suas práticas de encontros, seja através das históricas reuniões semanais e
nas assembléias e ENGs, seja através de suas publicações, desempenhou um
papel fundamental para que os geógrafos pudessem se reunir e se reconhecer,
formando assim uma comunidade, fato imprescindível para a constituição e
consolidação do campo científico da Geografia no Brasil.
Outra conclusão possível desse estudo é justamente sobre o papel da AGB
na formação do campo da Geografia brasileira. O processo de conformação do
campo da Geografia brasileira ocorreu de forma similar ao da Geografia em
muitos outros cantos do mundo, da Geografia alemã e francesa, de modo
especial esta última. Assim, a trajetória se processou: a criação de Escolas de
formação de geógrafos, criação de associações de classe ou científicas ligadas,
inicialmente às Escolas e, por fim, a criação de periódicos específicos. E, neste
297
mesmo sentido, processou-se a criação do campo no Brasil (sem a rigidez da
forma e dos tempos de execução).
A AGB, ao ser concebida e representada pelos sujeitos do campo, como o
espaço oficial, legítimo, e um dos de maior representatividade, coloca-se como
uma das instâncias fundamentais e própria para a compreensão da conformação
do conhecimento da Geografia brasileira. Deste modo, a AGB impôs-se como
fonte importante na medida em que, através dela, foram recriados, socializados
e cristalizadas concepções, ideologias e habitus, geradores de uma cultura
específica, configurando material empírico imprescindível para o conhecimento
da constituição do campo em estudo.
Vários campos organizam-se entre as décadas de 1930 e 1950. A temática
cientifização, modernização e nacionalização atravessa todos eles. Dentre os
campos que buscaram estruturar-se no Brasil, nesse período, está o da
Geografia. Assim, utilizamos a noção de campo como espaço de posições (ou de
postos) cujas propriedades dependem das posições nestes espaços, podendo ser
analisadas independentemente das características de seus ocupantes (em parte
determinadas por elas), e no qual o espaço das posições ocupadas pelos agentes
define-se em função dos objetos que estão em disputa e dos interesses
envolvidos, acabando por gerar modalidades específicas de organização e de
sobrevivência internas, que funcionam como reguladoras da produção e das
relações ao próprio campo.
A criação do Curso de Geografia, na USP e depois na UDF e, concomitante,
da Associação dos Geógrafos Brasileiros, na década de 1930, foram outros
investimentos que indicam o movimento do grupo pela inserção no campo
científico e demarca, também, as disputas internas que passam a acontecer, pois
os diferentes campos bem como os sujeitos que os compõem, estão em
constante disputa em busca de diferencião, de mais espaço e poder. Buscam
mudanças de posições, de legitimidade, de reconhecimento e status, mas, esta
busca nem sempre aparece de forma explícita. As estruturas de posição dos
campos influenciam os habitus dos atores que neles se formam.
Ao buscar e conquistar a sua autonomização, cada campo constrói a sua
cultura específica, seguindo uma trajetória em função dos diferentes eventos
históricos que enfrentou, que vivenciou. Os campos, neste sentido, não são
criados desatrelados e não representam um investimento individual. Eles vão se
constituindo, criando a sua lógica, o seu habitus num processo de relações
298
internas e externas com outros campos e movimentos, sendo assim o produto de
uma dada história. Neste sentido o campo científico da Geografia brasileira foi se
delineando no interior de um contexto mais abrangente, no qual vários outros
campos estavam também em busca de autonomia e legitimação. O que
queremos aqui destacar é o papel e a importância da AGB nesse processo de
delineamento do que estamos chamando de Geografia brasileira. A AGB foi, o
que podemos chamar de “escola de formação”, lugar onde gerações inteiras
encontraram o espaço de diálogo e também de diferenças e disputas, que as
formaram, não enquanto comunidade, mas também enquanto profissionais e
intelectuais.
Essas são algumas poucas considerações sobre o trabalho que acabamos
de apresentar sob a forma de uma tese sobre a história de uma associação que
representou e representa a mais importante entidade da Geografia brasileira e
que tem suas histórias institucionais num envolvimento/movimento impossíveis
de serem separadas. Assim, conforme já dissemos em capítulos anteriores, não é
possível pensar a história da Geografia no Brasil sem considerar a história de
atuação da Associação dos Geógrafos Brasileiros.
299
5 - Bibliografia
300
Associação dos Geógrafos Brasileiros (1934-1936). Atas das Sessões da AGB.
Associação dos Geógrafos Brasileiros (1936-1979). Atas das Assembléias de
Reforma Estatutária da AGB.
Associação dos Geógrafos Brasileiros. "Estatutos." (1938, 1945, 1963, 1970 e
1979)
Associação dos Geógrafos Brasileiros.(1935-1936) Revista Geografia Nº 1-8.
Associação dos Geógrafos Brasileiros.(1941-1944) Boletim da AGB.
Associação dos Geógrafos Brasileiros.(1945-1965) Anais da AGB.
Associação dos Geógrafos Brasileiros.(1949-1976) Boletim Paulista de Geografia.
Associação dos Geógrafos Brasileiros.(1948-1949) Boletim da Seção Regional Rio
de Janeiro.
Associação dos Geógrafos Brasileiros.(1949-1982) Boletim Carioca de Geografia.
Associação dos Geógrafos Brasileiros.(1957-1963) Boletim Mineiro de Geografia.
Associação dos Geógrafos Brasileiros.(1960-1964) Boletim Baiano de Geografia.
Associação dos Geógrafos Brasileiros.(1960-1964) Boletim Paranaense de
Geografia
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