Casas cearenses – estudo de caso: um lugar para identidade e sustentabilidade
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fonte, ao mesmo tempo em que é um espaço, a casa, para quem a conhece e habita, torna-se
lugar:
A casa como lugar está cheia de objetos comuns. Nós os conhecemos através do
uso; não lhes prestamos atenção como fazemos com as obras de arte. Eles são quase
uma parte de nós mesmos, estão muito próximos para serem vistos. [...] O lar é um
lugar íntimo. Pensamos na casa como lar e lugar, mas as imagens atraentes do
passado são evocadas não tanto pela totalidade do prédio, que somente pode ser
visto, como pelos seus elementos e mobiliários, que podem ser tocados e também
cheirados: o sótão e a adega, a lareira e a janela do terraço, os cantos escondidos,
uma banqueta, um espelho dourado, uma concha lascada. (TUAN, 1983, p.159).
O lugar onde moram é a primeira associação que as pessoas do senso comum
estabelecem com a denominação casa. Representa, portanto, um consensus gentium. A
palavra casa lembra-lhes o espaço onde dormem, comem, conversam e convivem, ou seja,
está de acordo com a definição: “a building for human beings to live in”
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(GURALNIK, 1986,
p.168). Este espaço construído para abrigar as funções humanas mais fundamentais está
intimamente ligado com quem nele mora. Indagadas sobre o significado de casa, duas
senhoras responderam respectivamente: “É o meu porto seguro, é para lá que quero sempre
voltar” e “é o lar, o aconchego”. Dimensões históricas, simbólicas e religiosas são citadas por
Cheers (2006) ao destacar a complexidade da casa, aspectos que estão ligados com o ser
humano e suas necessidade imateriais.
Consoante se percebe, a casa, para o ser humano, é, primeiramente, um espaço
necessário, o qual, uma vez instalado e habitado, supre a demanda por abrigo, segurança,
proteção e acomodação. Entretanto, enquanto estas necessidades básicas vão sendo satisfeitas,
também se estabelecem – através do tempo, das relações sociais e das práticas cotidianas – as
relações afetivas com a casa, que passa a ser chamada de lar. É a experiência vivida que faz
com que um espaço indiferenciado torne-se um lugar, dotado de valores e intimamente
conhecido pelo seu usuário. (TUAN, 1983).
Há também a vinculação da expressão à noção de família e às suas tradições. Pode
remeter à família em si, com seus componentes (pai, mãe, filho, marido, avô, amigos
próximos, etc.), ou até mesmo aos seus haveres ou bens. Segundo se observa, no entanto, é
comum associar a família em si e os seus haveres à edificação que os abriga, ou seja, a
residência familiar. Enquanto, numa visão tradicional, a família pode representar a unidade
fundamental de uma casa, esta última pode traduzir a unidade espacial da cidade.
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A construção para os seres humanos morarem (tradução da autora).