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Assim, “o significante cinematográfico não pode ser encarado com o
estatuto de veículo neutro e transparente ao serviço imediato de um significado
manifesto só ele importante, e, pelo contrário, tende a inscrever o seu próprio jogo, a
encarregar-se de uma parte cada vez mais importante da significação de conjunto do
filme” (METZ, 1980, p.42). Neste sentido, recorre-se a Morin, que evoca as técnicas
do cinema, como provocações, acelerações e intensificações da projeção-
identificação, através de um esquema intitulado Técnicas de excitação da
participação afetiva, propondo o estudo dos procedimentos adotados na elaboração
de filmes, como iluminação, ângulos de filmagem, mobilidade da câmera, sucessão
de planos, etc. para compreender a subjetividade que atua na relação do espectador
com o filme. Fundamentos que serão bastante úteis no decurso da pesquisa, para o
estudo dos elementos, que em conjunto, contribuem para a formação de um
imaginário da violência nos filmes em questão.
Segundo Metz (1980, p.122), a capacidade de ficção não se refere apenas à
capacidade de inventar ficções, de construir histórias, de elaborar a diegese, mas é,
antes de tudo “a existência historicamente constituída, e muito mais generalizada, de
um regime de funcionamento psíquico socialmente regulado, que se chama
precisamente ficção. Antes de ser uma arte, a ficção é um fato”. Sob este aspecto, a
afirmação de que todo filme é um filme de ficção, não é contraditória, quando nos
referimos ao documentário. Da mesma forma, há a ocorrência do duplo reforço da
função perceptiva, através do mecanismo cinematográfico, que simultaneamente,
proporciona a impressão de realidade, a partir dos signos fornecidos pelo material
fílmico e a situação de imobilidade que o predispõe interiormente, a receber o filme.
As técnicas do cinema são provocações, acelerações e intensificações da
projeção–identificação (MORIN, 1991, p.157). Podem ocorrer através da fotografia,
dos ângulos e enquadramentos, como foi visto anteriormente. Neste contexto, os
realizadores podem confiar a outros elementos, e não apenas aos personagens, a
tarefa de exprimirem estados de alma. Como por exemplo, determinadas paisagens
ou a própria música, matéria afetiva em movimento e elemento estruturador dos
filmes estudados. Segundo Morin (1991, p.159), a música de um filme constitui “um
verdadeiro catálogo de estados de alma”. Não se trata de uma simples reprodução