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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO URBANO
MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO URBANO
ANA CAROLINA DE MORAES ANDRADE BARBOSA
IMAGEM, PAISAGEM E SITUAÇÃO
IMAGEM, PAISAGEM E SITUAÇÃOIMAGEM, PAISAGEM E SITUAÇÃO
IMAGEM, PAISAGEM E SITUAÇÃO
Análise Visual da Orla da praia de Boa Viagem
Recife 2010
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2
ANA CAROLINA DE MORAES ANDRADE BARBOSA
IMAGEM, PAISAGEM E SITUAÇÃO
IMAGEM, PAISAGEM E SITUAÇÃOIMAGEM, PAISAGEM E SITUAÇÃO
IMAGEM, PAISAGEM E SITUAÇÃO
Análise Visual da Orla da praia de Boa Viagem
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
graduação em Desenvolvimento Urbano da
Universidade Federal de Pernambuco, para
obtenção do Título de Mestre em
Desenvolvimento Urbano.
Orientador: Profº. Dr. José de Souza Brandão Neto
Co-orientador: Profº. Dr. João Batista Guedes
Recife 2010
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3
Barbosa, Ana Carolina de Moraes Andrade
Imagens, paisagem e situação:
a
nálise visual da
orla da praia de Boa Viagem /
Ana Carolina de
Moraes Andrade Barbosa. – Recife: O Autor, 2010.
200 folhas. : il., fig., tab.
D
(
mestrado
)
Univers
idade Federal
de Pernambuco. CAC. Desenvolvimento Urbano,
2010.
Inclui bibliografia
.
1.
Desenvolvimento
urbano
.
2.
Paisagens
. I.
Título.
711.4
CDU (2.ed.)
UFPE
UFPEUFPE
UFPE
711.4
CDD (2
2.
ed.)
CA
C20
10
-
5
1
4
5
“Simplicidade e surpresa,
materialidade e imaterialidade,
do objeto ao espaço.”
Shin & Tomoko Azumi
6
Dedico este trabalho a meus pais, Ana Maria
e Carlos Alberto, modelos reais de
perseverança, parceria e honestidade.
7
AGRADECIM
AGRADECIMAGRADECIM
AGRADECIMENTOS
ENTOSENTOS
ENTOS
Ao meu orientador Zeca Brandão,
pela valiosa contribuição na orientação deste
trabalho.
Ao meu co-orientador Joca Guedes, por apresentar o design dos lugares da cidade
de forma tão apaixonante.
A todos que compõem o MDU pela dedicação, eficiência e partilha do
conhecimento adquirido, em especial os professores Fernando Diniz, Luiz Amorim e
Ney Dantas, bem como as funcionárias Rebeca e Catarina;
A CAPES, pelo suporte financeiro;
Ao Prof. Dr. Leonardo Castilho, do curso de Design da UFPE;
Aos meus colegas de mestrado e ao petit comité Lourival Costa, Renata Caldas e
Rafaella Estevão;
Aos atenciosos entrevistados Luiz Eduardo Indio da Costa, Fernando Chacel, Jairo
Lima Filho, Ângela Carneiro Cunha e o Programa de Acessibilidade do CREA, Guto
Indio da Costa, Pablo Bennetti, Olga Campista, Bruno Barreto e Kátia Gomes.
Aos estimados professores da UFCG, em especial: Glielson Nepomuceno, Grace
Sampaio, Carla Pereira e Levi Galdino.
Aos familiares e amigos, por acompanharem este processo de aprendizado e
amadurecimento;
A minha irmã Ana Carla, ao meu noivo Thiago Loureiro e ao meu cunhado Felipe,
por tudo;
E, aos meus pais, por terem me dado a régua e o compasso.
8
RESUMO
RESUMORESUMO
RESUMO
Este trabalho procura estudar o espaço urbano, referenciando-se nos
procedimentos de análise visual que consideram as práticas espaciais cotidianas
como instância para a apreensão da forma da cidade. Distingue-se na valorização
de elementos diversos como componentes da paisagem urbana, em especial
mobiliários urbanos, uma vez que a qualidade do espaço é percebida, entre outros
assuntos, pelo design do mobiliário, por sua interatividade com o usuário e pela
influência configuracional exercida no ambiente. A pesquisa centra-se no tema do
design de cidade e os referenciais teóricos que fomentam os procedimentos
analíticos são elaborados a partir de Lynch, Cullen e do Grupo Internacional
Situacionista. O trabalho propõe a adoção de um conjunto de ferramentas, que
embora de origens distintas - a exemplo das vertentes analíticas da imagem,
paisagem e situação - resulta em uma proposta de análise visual urbana a partir de
uma escala que inclui o mobiliário presente no meio. Neste intuito, adota como
estudo de caso a composição formal da Orla de Boa Viagem, na cidade do Recife.
A análise proposta considera o observador como um sujeito vivenciador e
conhecedor da cidade e, por isso, o ponto de vista do pedestre em movimento é
adotado como o referencial de escala espacial. Tais considerações levam a uma
reflexão sobre o caráter das permanências urbanas como forças atuantes na
construção da identidade de um local, atreladas aos processos de mudança
existentes na dinâmica da cidade, cuja continuidade de suas especificidades é
resultado da articulação da estrutura física do bairro e das práticas sociais
cotidianas.
Palavras
PalavrasPalavras
Palavras-
--
-chave:
chave:chave:
chave:
observador, mobiliário urbano, paisagem.
9
ABSTRACT
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACT
This work aims to study the urban space having as base the procedures of visual
analysis that consider the practical daily use of space as instance for the apprehen-
sion of the form of the city. It is distinguished in the valuation of diverse elements as
components of the urban landscape, specifically urban furniture. Thus the quality of
the space is perceived, among other subjects: for the design of the furniture, its rela-
tion with the user and the exerted formal influence in the environment. The research is
centered in the subject of design of a city and the theoretical foundations that foment
the analytical procedures elaborated by Lynch, Cullen and the International Situacion-
ist group. This work considers the adoption of a set of tools, that although having dis-
tinct origins - as the analytical sources of the image, landscape and situation - results
in a proposal of urban visual analysis based on a scale that includes the present furni-
ture in the environment. With this intention it adopts as a case study the formal com-
position of the Edge of Boa Viagem, in the city of Recife. The analysis proposed con-
siders the observer as a citizen that is an explorer and an expert of the city. Therefore,
the point of view of the pedestrian in movement is adopted as the reference of space-
scale. Such expositions take us to a reflection about the character of the urban ele-
ments while operating forces in the construction of the identity of a place, associated
to the existing process of change in the dynamics of the city, whose continuity of its
characteristics is a result of the joint of the physical structure of the quarter and it’s
daily social practices.
Keywords:
Keywords:Keywords:
Keywords: observer, urban furniture, landscape.
10
LISTA DE TABELAS E FIGURAS
LISTA DE TABELAS E FIGURASLISTA DE TABELAS E FIGURAS
LISTA DE TABELAS E FIGURAS
Tabela 01: Classificação dos mobiliários urbanos.....................................................53
Tabela 02: Classificação dos mobiliários urbanos e equipamentos urbanos para a
ABNT............................................................................................................................54
Figura 01: Construção da Paisagem urbana no ambiente natural.............................18
Figura 02: Orla de Boa Viagem...................................................................................22
Figura 03: Delimitação geográfica do objeto de estudo............................................25
Figura 04: Praça de Boa Viagem................................................................................32
Figura 05: Terceiro Jardim...........................................................................................36
Figura 06: Recifes e edificações de Boa Viagem.......................................................43
Figura 07: Esquema da estrutura do trabalho por capítulos......................................50
Figura 08: Edifício da Bauhaus, Dessau.....................................................................51
Figura 09: O processo do design (B. Lobach) ..........................................................56
Figura 10: Rio de Janeiro, década de 30....................................................................57
Figura 11: Quiosques, Rio de Janeiro, década de 30................................................58
Figura 12: Leblon, Rio de janeiro................................................................................58
Figura 13: Ipanema, Rio de janeiro.............................................................................59
Figura 14: Demolição do Pórtico de Ipanema............................................................61
Figura 15: Ipanema após a demolição do pórtico, novembro de 2009.....................62
Figura 16: Salvador shopping.....................................................................................62
Figura 17: Exemplos de mobiliários que seguem as características formais e
contextuais da cidade em sua função e configuração. Foto 1: torre de iluminação
pública com alto-falante que reproduz música natalina do final do ano em Gramado,
RS. Foto 2: luminária em formato de antigos lampiões em Ouro Preto, MG.............68
Figura 18: Avenida Boa Viagem, Boa Viagem, Recife. Exemplo de um mesmo
mobiliário disposto em contextos com características
diversas........................................................................................................................68
Figura 19: Avenida Ataufo de Paiva, Leblon, RJ.........................................................69
Figura 20: Orlas das Praias de Boa Viagem e Copacabana sob o ângulo de visão da
escala humana............................................................................................................74
Figura 21: Vistas aéreas dos mesmos trechos da figura anterior..............................78
Figura 22: Imagens do observador em movimento no bairro do Leblon...................79
11
Figura 23: Capa Outrage. Architectural Review, edição especial, Outrage, junho de
1955.............................................................................................................................80
Figura 24: Mapas mentais de Boston desenvolvidos por Lynch a partir das
entrevistas com os observadores...............................................................................84
Figura 25: Exemplo de planta com indicação dos pontos de vista da seqüência de
percurso.......................................................................................................................90
Figura 26: The Naked City, exemplo do mapa psicogeográfico, Debord 1957.........92
Figura 27: Diagrama do processo de Design da cidade...........................................92
Figura 28: Processo de urbanização de uma praia....................................................97
Figura 29: Dia 8 de dezembro, dia de Iemanjá, Salvador, BA....................................97
Figura 30: Praia do Pina, Recife, PE...........................................................................98
Figura 31: Divisão dos setores..................................................................................100
Figura 32: Esquema com indicação dos pontos de vista da seqüência de
percurso.....................................................................................................................103
Figura 33: Setor 1, ponto 1........................................................................................104
Figura 34: Setor 1, ponto 2........................................................................................105
Figura 35: Setor 1, ponto 3........................................................................................106
Figura 36: Esquema com indicação dos pontos de vista da seqüência de
percurso.....................................................................................................................107
Figura 37: Setor 2, ponto 1........................................................................................108
Figura 38: Setor 2, ponto 2........................................................................................109
Figura 39: Setor 2, ponto 3........................................................................................110
Figura 40: Posto salva-vidas demolido durante as obras do Projeto Orla...............111
Figura 41: Esquema indicativo dos pontos da seqüência de percurso...................111
Figura 42: Setor 3, ponto 1........................................................................................112
Figura 43: Setor 3, ponto 2........................................................................................113
Figura 44: Setor 3, ponto 3........................................................................................114
Figura 45: Esquema indicativo dos pontos de vista da seqüência de percurso.....115
Figura 46: Setor 4, ponto 1........................................................................................116
Figura 47: Setor 4, ponto 2........................................................................................117
Figura 48: Setor 4, ponto 3........................................................................................118
Figura 49: Esquema indicativo dos pontos de vista da seqüência de percurso.....119
Figura 50: Setor 5, ponto 1........................................................................................120
Figura 51: Setor 5, ponto 2........................................................................................121
Figura 52: Esquema indicativo dos pontos de vista da seqüência de percurso.....122
Figura 53: Setor 6, ponto 1........................................................................................123
12
Figura 54: Setor 6, ponto 2........................................................................................124
Figura 55: Um dos acessos à praia..........................................................................126
Figura 56: Desvios da ciclovia...................................................................................127
Figura 57: Detalhe das luminárias de Boa Viagem...................................................131
Figura 58: Torres de iluminação de Boa Viagem......................................................132
Figura 59: As torres de iluminação de Boa Viagem mais altas que os coqueiros.. 133
Figura 60: Torres de iluminação do Leblon, RJ........................................................134
Figura 61: Torres de distribuição de rede elétrica....................................................135
Figura 62 e 63: Atuais caixas coletoras de lixo da Orla de Boa Viagem..................136
Figura 64: Antiga lixeira de Boa Viagem, retirada pelo Projeto Orla.........................136
Figura 65: Sistema semafórico da Avenida Boa Viagem..........................................137
Figura 66: Sistema semafórico da Avenida Paulista, SP..........................................138
Figura 67 e 68: Sinalização da Praia de Boa Viagem...............................................138
Figura 69: Sinalização do Jardim Botânico do Rio de Janeiro com clara influencia da
praia na configuração do mobiliário..........................................................................138
Figura 70: Telefone público.......................................................................................138
Figura 71: Esquema comparativo entre o projeto dos mobiliários do Leblon e os
implantados em Boa Viagem com foco na articulação configuracional entre os
mobiliários e suas funções.......................................................................................140
Figura 72: Quadras de tênnis e basquete................................................................141
Figura 73: Pista de skate...........................................................................................142
Figura 74: Bancos, Copacabana, RJ........................................................................142
Figura 75: Golas de árvores, em especial coqueiros...............................................143
Figura 76: Molduras de árvores, em especial coqueiros.........................................143
Figuras 77 e 78: Brinquedos.....................................................................................144
Figura 79: Mobiliários urbanos para ginástica.........................................................145
Figura 80: Academia da Cidade...............................................................................145
Figura 81: Banheiro público de Boa Viagem............................................................146
Figura 82: Banheiro de Copacabana, RJ..................................................................146
Figura 83: Abrigo de Ônibus.....................................................................................147
Figura 84: Abrigo de Ônibus com transparência, Salvador, BA...............................147
Figura 85: Os quiosques de Boa Viagem que estão sendo substituídos................147
Figura 86: Quiosque proposto pelos projetistas entrevistados do Projeto Orla......148
Figura 87: Os novos quiosques que estão sendo implantados...............................148
Figura 88: Quiosques de Copacabana, RJ...............................................................149
Figura 89: Integração dos quiosques da Orla de Copacabana com a praia...........149
13
Figura 90: Postos Salva-vidas...................................................................................150
Figuras 91: Estrutura móvel atualmente utilizada pelos guardas salva-vidas..........150
Figura 92: Comparação entre os mobiliários de Boa Viagem e das Orlas do Rio de
janeiro. Integração de várias funções em uma mesma estrutura de mobiliário.......152
Figura 93: Uso do nível subterrâneo para banheiros e cozinhas.............................155
Figura 94: Quiosque fechado e iluminado durante a noite, Copacabana, RJ.........155
Figura 95: Pórtico implantado em Ipanema pelo Projeto Rio Cidade demolido em
setembro de 2009, RJ...............................................................................................156
Figura 96: Avenida Paulista, SP................................................................................156
Figura 97: Orientação da forma, Boa Viagem..........................................................157
Figura 98: Orientação da forma, Boa Viagem..........................................................157
Figura 99: Orientação da forma, Boa Viagem..........................................................158
Figuras 100 e 101: Orientação da forma, Copacabana...........................................158
Figuras 102, 103 e 104: Orientação da forma, Leblon.............................................159
Figura 105: Vista da praia de uma das ruas de acesso à orla.................................160
Figura 106: Visualização da praia em direção ao interior do bairro.........................160
Figura 107: Sábado, outubro de 2009 às 12h e 30min............................................162
Figura 108: Sábado, outubro de 2009 às 19h..........................................................163
Figura 109: Mobiliários com luminárias no Leblon, RJ.............................................164
Figuras 110 e 111: Configuração da orla alterada durante eventos temporários....165
Figura 112: Estudo de pessoas estáticas na praia de Boa Viagem durante o dia..168
Figura 113: Estudo de pessoas estáticas no calçadão durante o dia.....................169
Figura 114: Esquema representativo do uso da praia por pessoas estáticas.........170
Figura 115: Estudo de pessoas estáticas no calçadão durante a noite..................172
Figura 116: Esquema representativo do uso da praia por pessoas estáticas.........172
Figura 117: Ocupação da Orla durante a noite de Maceió, AL................................173
Figura 118: Ocupação da Orla durante a noite do Rio de Janeiro, RJ....................174
Figura 119: Mapa pscicogeográfico do estudo realizado na Orla de Boa Viagem.177
Figura 120: Quiosque de flores com anuncio publicitário, França...........................185
Figura 121: Avenida Ataufo de Paiva, Leblon - RJ. Adição de várias funções nas
estruturas de mobiliários urbanos, reduzindo a quantidade de barreiras físicas e
visuais na calçada e configuração diferenciada para vagas de carro para pessoas
com dificuldades de mobilidade...............................................................................187
Figura 122: Em Recife, no recente Projeto da Avenida Conde da Boa Vista
(concluído em 2006), por exemplo, os abrigos de ônibus foram projetados e
implantados de forma que prejudicam a circulação dos pedestres na calçada.....188
14
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLASLISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas
AL - Alagoas
Av. – Avenida
CREA – Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia
ESDI – Escola Superior de Desenho Industrial
KM – Kilometro
PE – Pernambuco
RJ – Rio de Janeiro
UFPE – Universidade Federal de Pernambuco
UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
15
SUM
SUMSUM
SUMÁRIO
ÁRIOÁRIO
ÁRIO
Introdução .......................................................................................................... 18
CAPÍTULO 1 .................................................................................................. 34
1 Design de Cidade ........................................................................................... 34
1.1 Design ....................................................................................................... 35
1.1.1 Design Industrial ................................................................................. 39
1.2 Design Urbano ou Desenho Urbano? ....................................................... 42
1.3 Os Observadores ...................................................................................... 47
1.4 Mobiliários Urbanos .................................................................................. 50
CAPÍTULO 2 .................................................................................................. 64
2 Ferramentas de Análise .................................................................................. 64
2.1 Análise visual ............................................................................................. 67
2.1.1 Kevin Lynch ......................................................................................... 72
2.1.2 Gordon Cullen ..................................................................................... 74
2.1.3 Internacional Situacionista .................................................................. 77
2.2 Ferramentas de Análise ............................................................................ 79
2.3 A Forma do Produto Urbano ..................................................................... 84
2.3.1 Ferramentas de análise da forma ....................................................... 88
CAPÍTULO 3 .................................................................................................. 90
3 Estudo de Caso .............................................................................................. 90
3.1 O objeto de estudo ................................................................................... 96
3.2 Apresentação dos setores ...................................................................... 101
CAPÍTULO 4 ................................................................................................ 130
4 Análise Visual da Orla da Praia de Boa Viagem ............................................ 130
4.1. Análise dos Mobiliários Urbanos ............................................................ 133
4.1.1 Orientação da forma e Proporção ........................................................ 156
16
4.1.2 Temporalidade ..................................................................................... 163
Iluminação e ocupação do espaço ............................................................ 163
4.2.1.1 O movimento natural e o estudo de pessoas estáticas ................. 167
4.4 Mapa Psicogeográfico ............................................................................ 177
CAPÍTULO 5 ................................................................................................ 180
5 Conclusão ..................................................................................................... 181
5.1 Parâmetros para projeto de mobiliário urbano ....................................... 186
REFERÊNCIAS ................................................................................................. 191
Referências Bibliográficas ............................................................................. 191
Referências das Imagens: ............................................................................ 199
17
INTROD
INTRODINTROD
INTRODU
UU
UÇÃO
ÇÃOÇÃO
ÇÃO
“De sua configuração depende o fato de
um objeto ser aceito ou não.“
Bernd Löbach
18
INTROD
INTRODINTROD
INTRODU
UU
UÇÃO
ÇÃOÇÃO
ÇÃO
Este trabalho discute os estudos das práticas espaciais cotidianas e se distingue na
valorização dos mais diversos elementos como componentes da paisagem urbana.
A ênfase desta pesquisa recai sobre o espaço público como projeto para o usuário,
através da inserção de mobiliários urbanos.
O estudo tem como objetivo apreender o espaço, tomando como referência os
limites do que a vista alcança, indo além de sua aparência. Para tanto, concentra-se
no tema de leitura da Forma Urbana, em especial nos estudos sobre a Análise
Visual e na utilização de conjuntos de mobiliários urbanos na construção da
paisagem das cidades. Deste modo, referenciam-se, teoricamente, os campos da
história das cidades e da morfologia urbana.
Entendemos que os mobiliários urbanos apresentam uma forte dimensão visual que
colabora com a qualidade da identidade das cidades. Assim, o espaço urbano é
valorizado, entre outros fatores, pela sua interatividade com o usuário e pela
influência que este exerce na imagem, paisagem ou situação dos espaços em que
está inserido.
A imagem é para Lynch (2006:2) a combinação de quase todos os sentidos em
operação, é a percepção parcial da cidade, fragmentária, misturada com
considerações de outra natureza. a paisagem, para Cullen (1971), não está
associada às lembranças e significados, denota uma composição de elementos
físicos - como edifícios, mobiliários urbanos, ruas e vegetação - capaz de despertar
atitudes imediatas. A situação, para o grupo Internacional Situacionista, possui o
mesmo sentido de percepção dos autores citados anteriormente. Porém, neste
caso, trata-se da ão perceptiva associada à vivência, ou seja, a imagem ou a
paisagem é tratada como um momento que varia dependendo da experiência,
única, vivenciada pelo observador: a situação.
19
A Análise Visual estuda as qualidades perceptíveis da paisagem urbana, baseando-
se na experiência topológica do observador em movimento. Com isso, são
estudados conceitos de análise visual e como eles são aplicados a teóricos que
trabalham com a relação entre a composição configuracional do ambiente urbano e
o observador em movimento, em atividades cotidianas. Desta forma, os conceitos
básicos utilizados no trabalho são baseados no estudo da formação da imagem da
cidade, desenvolvido por Lynch (1982), no dinamismo visual registrado por Cullen
(1983), e, por fim, no argumento de exploração do ambiente urbano como lugar de
vida defendido pelo grupo Internacional Situacionista
1
, IS. Todos os trabalhos,
desenvolvidos em meados da década de 1960, formam um conjunto de
ferramentas que, apesar dos diferentes focos analíticos, imagem, paisagem e
situações, têm semelhanças que fortalecem a importância da mudança de escala
na análise do espaço urbano, a fim de que o observador se torne também um
vivenciador e conhecedor da cidade.
Define-se como paisagem um espaço aberto que se abrange com um olhar. A
paisagem é entendida como uma realidade materializada fisicamente num espaço
que se chama, nesta pesquisa, de natural - se considerada antes de qualquer
intervenção urbana - ou construída, onde se inscrevem os elementos e as estruturas
construídas pelo homem, com determinada cultura, designada também como
paisagem cultural (MASCARO, 2008).
Figura 01: Construção da Paisagem urbana no ambiente natural.
1
JAQUES, Paola Berenstein. Internacional Situacionista: Apologia da Deriva: Escritos situacioni
Internacional Situacionista: Apologia da Deriva: Escritos situacioniInternacional Situacionista: Apologia da Deriva: Escritos situacioni
Internacional Situacionista: Apologia da Deriva: Escritos situacionis
ss
stas sobre a
tas sobre a tas sobre a
tas sobre a
cidade
cidadecidade
cidade. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2003. SADLER Simon. The Situacionist City.
. The Situacionist City.. The Situacionist City.
. The Situacionist City. Cambridge: The MIT
Press, 1998. DEBORD, Guy. A Sociedade do Espetáculo. Rio de Janeiro, Contraponto, 1997.
Paisagem Natural
Paisagem Urbana formada pela pa
i
sagem
natural e construída.
20
a Paisagem urbana é um conceito que exprime a arte de tornar coerente e
organizado, visualmente, o emaranhado de edifícios, ruas e espaços que
constituem o ambiente urbano. Tal concepção foi primeiramente formulada por
Gordon Cullen em The Architectural Review, vindo posteriormente a dar forma ao
livro “Paisagem Urbana”, em 1961.
A leitura da paisagem é tratada, neste estudo, através da análise visual. Assim,
considera-se não a forma urbana como um todo, como também, as
características formais dos elementos urbanos específicos. Pretende-se
compreender a cidade do ponto de vista formal da paisagem urbana, por meio do
uso cotidiano da cidade. Desta forma, o trabalho se relaciona com a teoria da
Forma Urbana e do Urbanismo Cotidiano
2
no aspecto analítico, e não de uma
construção metodológica de projeto.
A pesquisa trabalha ainda a simbiose de procedimentos metodológicos que
possibilitam a análise visual da relação formal existente entre os mobiliários urbanos
e o espaço da cidade, tendo a Orla de Boa Viagem, na cidade do Recife, como
estudo de caso principal. A noção de importância desta aplicação de ferramentas
de análise parte do pressuposto de que, a utilização do estudo do observador e/ou
do usuário em movimento, é parte do levantamento de dados, e essencial para o
desenvolvimento de um bom projeto urbano.
As ferramentas metodológicas utilizadas na análise se baseiam, principalmente, no
estudo de experimentação da cidade das teorias urbanísticas citadas acima,
associadas à dinamicidade das relações que Lobach (2001) estabelece entre o
processo de design e o processo de uso do produto industrial; assim como, o
conceito de design como ferramenta de comunicação, e as teorias da experiência
visual de Dondis (1997); os padrões de desenvolvimento formal e percepção visual
2
Lefebvre, participou brevemente do grupo Internacional Situacionista, contribuindo com sua publicação de
1946, Introdução à Crítica da Vida Cotidiana, onde escreve que “o marxismo, em seu conjunto, é, de fato, um
conhecimento crítico da vida cotidiana”.
21
de Arnheim (1986); e, por fim, o Método de Análise Visual de Equipamentos no Meio
Urbano, desenvolvido por Guedes (2005).
Para uma melhor fundamentação do estudo elaborado, este trabalho está
estruturado em capítulos, de modo a facilitar a compreensão do tema proposto,
bem como do seu desenvolvimento. O Capítulo 1 estabelece a relação entre o
design e o urbanismo, delimita as áreas de atuação de cada campo disciplinar,
centrando-se no tema que envolve o design e sua inclusão na cidade, além disso,
classifica e define os mobiliários urbanos, da forma como são tratados durante a
pesquisa. O Capítulo 2 apresenta os conceitos teóricos chave, referentes às
ferramentas de análise da forma urbana e de análise visual, que norteiam o estudo
realizado nos capítulos seguintes. O Capítulo 3, cujo nome é O Estudo de Caso,
apresenta ao mesmo tempo que analisa à formação das paisagens do espaço
escolhido como cenário para o desenvolvimento do projeto. O Capítulo 4 trata da
Análise da Orla da Praia de Boa Viagem por meio de seus elementos e da
dinamicidade configuracional da paisagem urbana. O último, Capítulo 5 e
Conclusão, demonstra uma reflexão para o exercício do projeto, com propostas de
parâmetros para intervenções urbanas, definindo o projeto e sua conceituação.
Problema
Problema Problema
Problema
A idéia de desenvolver um estudo sobre a análise visual da cidade, com foco no
mobiliário urbano, surgiu da necessidade pessoal de intervir com um projeto de
produto para a Orla de Boa Viagem. Ao considerar a configuração formal do
contexto, observou-se que esta é constituída por uma família” de mobiliários
urbanos desconexa e despreocupada com a linguagem da paisagem. Trata-se de
um problema comum - na maioria das cidades brasileiras - de desordem visual,
intensificada pela utilização de diferentes estilos e cores que, geralmente,
representam a prefeitura ou as próprias companhias prestadoras de serviços.
22
Este trabalho parte do pressuposto de que o mobiliário urbano constitui o lugar
3
, o
espaço do usuário. Por isso, em conjunto com outros elementos complementares
qualifica a paisagem urbana. Tal mobiliário contribui para a estética, a
funcionalidade e o significado dos espaços, da mesma forma que promove a
segurança e o conforto dos usuários, merecendo a atenção dos planejadores
preocupados com a qualificação do ambiente de poder público. Sabe-se que a
constituição de uma família de elementos é fundamentada em um princípio de
coerência formal, a qual envolve a concepção de cada elemento a partir de
conceitos comuns que caracterizem o conjunto (MOURTHÉ, 1998)
4
.
O que se procura neste trabalho o respostas para perguntas do tipo: como a
forma de um mobiliário urbano interfere na paisagem urbana? Quais componentes
morfológicos de um espaço urbano devem ser levados em consideração para o
projeto de mobiliário urbano? Como identificar estes componentes? E, qual o papel
da análise visual da paisagem urbana no processo de design e re-design da
cidade?
Justificativa
JustificativaJustificativa
Justificativa
Justifica-se a escolha do tema, por observar dificuldades na articulação entre a
micro e a macroescala nos projetos urbanos, ou seja, entre a cidade e o objeto.
Então, este estudo se propõe a analisar a situação socioespacial entre o ambiente e
os elementos de mobiliário urbano, a fim de que estes possam se ajustar à
identidade do espaço.
A leitura da paisagem urbana tem como prioridade a visão do observador em
movimento e o uso cotidiano da cidade através da imagem, de sua representação e
3
“A experiência origem ao lugar (...) o lugar antropológico, é simultaneamente princípio de sentido para
aqueles que o habitam e principio de inteligibilidade para quem o observa”. FERRARA, Lucrécia d’Alessio.
D
DD
De
ee
esign em Espaços
sign em Espaçossign em Espaços
sign em Espaços. São Paulo. Rosari. 2002. P. 16-18.
23
percepção existente. Em 1960, Kelvin Lynch publicou A imagem da cidade, em 1961
Gordon Cullen reuniu seus diversos artigos publicados na revista “Arquitectural
Review” em capítulos do livro A paisagem urbana. Nesses trabalhos, a cidade mais
palpável do que nunca, tornou-se uma sucessão de imagens selecionadas, cada
vez mais ocupadas com o trivial: calçadas, lugares de encontro, e manifestações
artísticas populares.
Com isso, os princípios básicos alicerçados no estudo da forma da cidade,
desenvolvidos por Lynch são os pontos imagísticos que devem ser associados a
conceitos como legibilidade e visualidade para permitirem o entendimento da
imagem urbana. Cullen considera o dinamismo visual como uma categoria presente
nos espaços urbanos, associando-os ao movimento de quem dele se utiliza. Os
conceitos propostos pelo pensamento situacionista também nortearão os
referenciais teóricos da pesquisa, tais como: a psicografia e a deriva; a clara
mudança de escala e área de atuação, a fim de se alcançar a transformação da
vida cotidiana.
Essas possibilidades de estudar o meio urbano, considerando a categoria do
movimento, serão desdobradas de acordo com os conceitos básicos
Figura 02: Orla de Boa Viagem.
24
mencionados. O estudo de forma detalhada da leitura da paisagem urbana, com
foco no observador em movimento, abona-se na intenção de sintetizar algumas
ferramentas de análise do espaço urbano, desenvolvidas pelos autores
mencionados, num estudo de caso para a apreensão da forma urbana tomando
como referência a análise visual da Orla da Praia de Boa Viagem.
A Orla foi escolhida como estudo de caso, devido à visibilidade singular da
paisagem constituída por elementos construídos e naturais, formada por um plano
de fundo contínuo, tanto de prédios, avenida e calçadas quanto de praia, mar e
coqueiros. Além disso, são atribuídos vários tipos de usos a este conjunto de
elementos espaciais, tais como: ambiente de trabalho, com comerciantes fixos e
ambulantes; lazer; esporte; circulação.
Trata-se de uma praia metropolitana, um espaço urbano público que integra o
ambiente construído com o natural; com isso, é - na maioria dos casos - um local
que deve ser compreendido e tratado de forma diferente. As especificidades
paisagísticas e urbanas destes tipos de praias caracterizam o ambiente como
complexo, utilizado com funções diversas e de formas bem diferenciadas, com
usuários locomovendo-se em velocidades, meios, direções e objetivos diferentes.
Tais considerações levam a uma reflexão sobre o caráter das permanências
urbanas, enquanto forças atuantes na construção da identidade de um local,
atreladas aos processos de mudança existentes na dinâmica urbana, cuja
continuidade de suas especificidades é resultado da articulação da estrutura física
do bairro e das práticas sociais cotidianas.
Objeto de estudo
Objeto de estudo Objeto de estudo
Objeto de estudo
Para a análise visual do meio ambiente urbano, este trabalho centra o objeto de
estudo na relação entre os elementos da cidade que compreendem os mobiliários
urbanos e a leitura da paisagem. Em especial, a Orla da Praia de Boa Viagem, na
25
cidade do Recife (figura 03), e seus elementos urbanos que contribuem para uma
abrangência da composição visual do local.
Para relacionar o mobiliário e o ambiente urbano se propõe adotar o termo design
de cidade, ao invés de design urbano ou desenho urbano. Neste sentido Kaliski
(1999) coloca que
O design de cidade procura novos significados e invenções através da
recombinação e a extrapolação dos elementos visuais. Utilizando o que
existe, o design de cidade é uma forma de bricolagem. O designer de
cidade reúne narrativas de lugar ordenado para intensificar e interpretar de
forma mais visível as histórias comuns da vida da cidade. O debate
negocia o processo de narrativas individuais e grupais combinadas com a
disposição destas narrativas em objetos e lugares feita pelo designer. A
cidade projetada desta maneira é a cidade simultânea da vida cotidiana,
celebrada na literatura moderna e na arte e procurada mas negada pela
arquitetura moderna e pelo design urbano (p. 107)
5
.
Esta argumentação traduz o que o design de cidade acrescenta para o design
urbano, seja qual for o seu campo disciplinar: a prioridade da vida diária como um
componente de bom urbanismo - este é o tema que cerca o primeiro capítulo. Ou
seja, tanto do ponto de vista do design de produto como do urbanista, deve-se
aprender da cidade e viver a cidade para poder produzir para ela, independente da
escala do projeto que se pretende intervir.
5
Tradução da autora.
26
Figura 03: Delimitação geográfica do objeto de estudo.
Objetivos
ObjetivosObjetivos
Objetivos
O objetivo geral da pesquisa consistiu em estudar a leitura da paisagem
urbana através da análise visual, atrelada à forma urbana como um todo,
como também, as características confuguracionais dos elementos
específicos. Deste modo, objetiva-se aplicar ferramentas de análise visual na Orla
da Praia de Boa Viagem, a fim de se compreender a composição formada pelos
mobiliários urbanos inseridos no local.
Objetivos Específicos:
explorar conceitos teóricos que valorizem o uso cotidiano da cidade
como meio de análise e etapa do processo projetual de intervenção
urbana;
identificar ferramentas de experimentação da cidade como método de
leitura da paisagem urbana;
27
estudar a família de mobiliários urbanos da Orla da Praia de Boa
Viagem;
fornecer parâmetros para projetos de intervenções urbanas no local;
caracterizar o diálogo entre mobiliários urbanos e ambientes que
valorizam a paisagem contemplativa.
Hipóteses
HipótesesHipóteses
Hipóteses
A forma urbana pode ser apreendida e analisada de muitas maneiras. Porém, todos
os métodos e abordagens levam a um senso comum: o da leitura e compreensão
dos elementos que compõem e identificam as partes da cidade para a estruturação
do todo. Dentro dessa perspectiva, supõe-se que as teorias de compreensão da
forma urbana atuam como ferramentas de análise que se complementam e que
possibilitam estudos urbanos dentro de um processo específico para realidades
diversas.
Apesar da aplicação de um conjunto de ferramentas de análise, este trabalho não
propõe a formatação de uma nova técnica de projeto. Sugere a tentativa de
“enxergar” a cidade, visando, portanto, o estudo do objeto cidade em sua última
instância: a experimentação como ferramenta primordial de análise da cidade. O
estudo de caso é defendido pela hipótese da necessidade de se aprender a cidade
para produzir cidade. Neste momento, é introduzido o poder da experiência visual
humana como ferramenta primordial de pesquisa e de projeto. Porém, não são
descartadas as noções de importância dos outros sentidos humanos para a
vivência urbana, mas tratadas como temas complementares a serem pesquisados
em estudos análogos.
Uma segunda proposição trata da atuação multidisciplinar como artifício para
soluções projetuais mais adequadas. Esta pesquisa acredita que os mobiliários
urbanos são produtos, assim como os comercializados, submetidos às limitações
produtivas e à escala industrial. Por isso, supõe-se, entre outras profissões, que as
28
ferramentas do design industrial agregadas às técnicas do paisagismo, da
arquitetura e do urbanismo, são fundamentais para o projeto de produtos para o
meio urbano.
Metodologia
MetodologiaMetodologia
Metodologia
A metodologia da pesquisa está estruturada segundo dois eixos de investigação, e
cada um destes eixos o subdivididos em duas etapas. O primeiro tem como
objetivo estabelecer uma reflexão com foco na análise visual e no uso cotidiano da
cidade, ao longo de estudo teórico; por isso, é subdividido em design de cidade e
ferramentas de análise da forma urbana. O segundo é composto, inicialmente, pelo
estudo dos processos metodológicos utilizados no desenvolvimento do Projeto
Orla
6
da praia de Boa Viagem, assim como do Projeto Rio Cidade
7
, principalmente
no bairro do Leblon, no Rio de Janeiro. Além do objeto de estudo da pesquisa,
outros projetos e espaços foram utilizados para uma análise comparativa entre
metodologias e resultados. Por fim, este eixo tratou de articular as ferramentas de
análise estudadas e aplicá-las em campo.
1.
1. 1.
1. Do mobiliário urbano à cidade
Do mobiliário urbano à cidadeDo mobiliário urbano à cidade
Do mobiliário urbano à cidade
1.1 Design de
1.1 Design de 1.1 Design de
1.1 Design de c
cc
cidade
idadeidade
idade
Nesse primeiro momento, o estabelecidos conceitos fundamentais da pesquisa
como o Design de Cidade, o Desenho Urbano e os Observadores, por meio de
aspectos teóricos e conceituais sobre os produtos urbanos de design e o seu
público alvo.
6
O Projeto Orla foi aprovado pela prefeitura do Recife e teve as obras iniciadas em 2007. Propôs o
reordenamento dos oito quilômetros da Avenida Boa Viagem com intervenções nas áreas de calçadas,
iluminação, quadras, playground, quiosques de coco, equipamentos urbanos, pista de cooper”, ciclovia e
estacionamentos.
7
O Programa Rio Cidade, foi criado pela Prefeitura do Rio de Janeiro em 1993, atuou nos trechos principais dos
bairros com maior incremento comercial e circulação de veículos e pedestres. Consistiu em diversas
intervenções urbanas nas vias mais importantes dos principais bairros cariocas. O programa seguiu o formato
de concurso para a contratação de projetos para 3 Projetos de Estruturação Urbana e 40 Bairros da cidade e
outras 37 Favelas transformadas em bairros populares no programa Favela-Bairro.
29
Dois grupos de indivíduos são estabelecidos: os “observadores treinados”, os
projetistas, aqueles que, de fato, observam; e os “observadores destreinados”, os
usuários do mobiliário urbano, aqueles que utilizam a cidade em ações cotidianas.
O último grupo ainda pode ser categorizado de acordo com os meios de transporte
utilizados pelos indivíduos, classificando-os em: motoristas e passageiros, ciclistas
e pedestres. Vale salientar que, neste trabalho, por questões de delimitação do
objeto de pesquisa, é priorizada a observação do pedestre, não excluindo a
importância das outras classificações no projeto urbano.
Um dos pontos de intercessão entre o design e o urbanismo é estabelecido e
trabalhado por meio de um estudo conceitual e classificatório que trata os
mobiliários urbanos como produtos com preocupações industriais que, o
produzidos em escala industrial, se repetem na cidade ou parte dela e, por isso,
equipam e formam espaços -, mesmo que não tenham características comerciais.
Fontes documentais:
Fontes documentais: Fontes documentais:
Fontes documentais:
Foram consideradas, sobretudo, as produções bibliográficas de autores que
abordam o design e o desenho urbano como ferramentas multidisciplinares de
projeto, tais como: Lobach (2001), Dondis (2003), Munari (2002), Cardoso (2004),
Souza (2001), Bonsiepe (1978), Ferrara (1993), Zevi (2002), Del Rio (1999), Brandão
(2004, 2008).
Para definir o estudo conceitual de mobiliários urbanos, serão referenciados autores
como Serra (1996), Mouthé (1998), Kohlsdorf (1996) e Guedes (2005).
1.
1.1.
1.2
22
2
Imagem, p
Imagem, pImagem, p
Imagem, paisagem e
aisagem e aisagem e
aisagem e s
ss
situação
ituaçãoituação
ituação
Nesta etapa buscou-se conhecer o ponto de vista mais tangível da cidade.
Encontrou-se, nos anos 1960, com Lynch, Cullen e o grupo Internacional
Situacionista, as teorias e os procedimentos que aproximam o projetista do seu
estudo de caso. Neste sentido a análise visual é tratada como ferramenta de coleta
30
de dados que simula a ação do pedestre e diminui a escala espacial de trabalho. As
ferramentas de análise visual do espaço são associadas a conceitos da forma do
produto urbano através de Arnheim, Dondis, Guedes e Lobach -, uma vez que,
para compreender o comportamento do todo formal é necessário analisar não o
espaço como também os produtos que o compõem.
As ferramentas chave de análise do espaço urbano foram coletadas nesta etapa e
nortearam o desenvolvimento do segundo eixo de investigação, a aplicação delas
na Orla de Boa Viagem.
Fontes documentais:
Fontes documentais: Fontes documentais:
Fontes documentais:
Para o estudo das questões centrais deste trecho da pesquisa foram abordados
autores que tratam da forma urbana, da análise visual e do urbanismo cotidiano
como Lynch (1975, 1960, 1981); Cullen (1961) e o grupo formado pelo Internacional
Situacionista (DEBORD, 1997; JAQUES, 2003; SADLER, 1998).
Procedimentos metodológicos:
Procedimentos metodológicos:Procedimentos metodológicos:
Procedimentos metodológicos:
Tendo como base as fontes documentais acima citadas, foi construída uma revisão
bibliográfica das principais ideias dos autores e relativos ao campo de investigação
proposto no projeto, ao tratar da morfologia e análise visual, abordando a teoria do
urbanismo cotidiano e o mobiliário urbano. A construção da revisão partiu de
âmbitos mais gerais da morfologia urbana, segundo os conhecimentos
arquitetônicos, convergindo para o estudo formal do mobiliário urbano como
produto desenvolvido para um grande grupo de usuários.
2. Análise
2. Análise 2. Análise
2. Análise do método e do resultado
do método e do resultado do método e do resultado
do método e do resultado
2.1
2.1 2.1
2.1 Estudo dos procedimentos
Estudo dos procedimentosEstudo dos procedimentos
Estudo dos procedimentos
metodológicos utilizado
metodológicos utilizadometodológicos utilizado
metodológicos utilizados
s s
s
O segundo eixo de pesquisa é caracterizado pela análise dos procedimentos
metodológicos que foram utilizados no desenvolvimento do Projeto Orla, estudo de
caso da pesquisa, e no Rio Cidade, em especial no Leblon. O programa que
envolve o projeto implantado no bairro do Rio de Janeiro, em 1993, foi escolhido,
31
sobretudo, por dois motivos complementares: a equipe multidisciplinar composta
por um arquiteto, um paisagista e um designer; e o resultado que trouxe ao projeto
prêmios; e ao bairro, identidade, conforto e beleza.
Portanto, para esta análise buscou-se aplicar entrevistas semiestruturadas,
pessoalmente, com os principais envolvidos nos projetos urbanos em questão. As
entrevistas, que sofreram modificações de acordo com os entrevistados, seguem no
volume em anexo desta dissertação. Os dados coletados não foram analisados de
forma sistemática. Porém, serviram para fortalecer a hipótese que trata as diversas
áreas que compreendem um projeto urbano por meio dos diversos aspectos
profissionais.
Fontes
Fontes Fontes
Fontes d
dd
documentais:
ocumentais:ocumentais:
ocumentais:
- Entrevistados do Projeto Orla:
1- Jairo Lima Filho, arquiteto e urbanista da Colméia Arquitetura e Engenharia,
responsável pelo projeto básico;
2- Bruno Barreto, arquiteto e urbanista contratado para compor a equipe
responsável pelo projeto executivo e pelo detalhamento;
3- Kátia Gomes, arquiteta e urbanista da Colméia Arquitetura e Engenharia, gerente
do projeto executivo;
4- Ângela Carneiro Cunha, arquiteta e urbanista consultora de acessibilidade do
Projeto Orla, hoje Coordenadora do Programa de Acessibilidade do CREA de
Pernambuco.
- Entrevistados do Rio Cidade – Leblon:
1- Guto Indio da Costa, designer de produtos, responsável pelo projeto de
mobiliários urbanos;
2- Luiz Eduardo Indio da Costa, arquiteto e urbanista, coordenador do projeto
urbano;
3- Fernando Chacel, paisagista, formado em arquitetura e urbanismo, responsável
pelo projeto paisagístico que compreende os estudos da vegetação e dos
grafismos da calçada;
32
4- Olga Campista, arquiteta e urbanista da prefeitura do Rio de Janeiro e gerente
geral do concurso Rio Cidade, hoje é Secretária de Cultura da mesma prefeitura;
5- Pablo Bennetti, arquiteto e urbanista professor do curso de arquitetura e
urbanismo da UFRJ. Participou do Programa Rio-Cidade através do projeto do
bairro de Botafogo.
2.2
2.22.2
2.2
Análise
AnáliseAnálise
Análise v
vv
visual da Orla da Praia de Boa Viagem
isual da Orla da Praia de Boa Viagemisual da Orla da Praia de Boa Viagem
isual da Orla da Praia de Boa Viagem
O último passo aplicou em campo as ferramentas estudadas no primeiro eixo da
pesquisa. Para isto, a síntese das ferramentas de análise do espaço urbano,
elaboradas pelos autores mencionados, foi direcionada para a análise de
apreensão da forma urbana do estudo de caso desta pesquisa.
De antemão, vale ressaltar a importância da deriva dos situacionistas e da visão
serial de Cullen na construção dessa etapa metodológica de visualidade dos
capítulos 4 e 5. Além disso, para a análise dos dados coletados, vale ressaltar
igualmente o uso dos recursos gráficos de representação do espaço do mapa
metal de Lynch e do mapa pscicogeográfico dos situacionistas, tais como:
desenhos, montagens e fotografias; assim como a adaptação das propostas
metodológicas de Dondis, Guedes e Arnheim que se fundem no conceito da
dinâmica formal na Orla da Praia de Boa Viagem, em especial no capítulo 5.
Fontes d
Fontes dFontes d
Fontes doc
ococ
ocu
uu
umentais:
mentais:mentais:
mentais:
Foram abordados para a construção dessa síntese Lynch (1960), Cullen (1961), os
escritos sobre os Internacionais Situacionistas (Debord, 1997; Jaques, 2003 e
Sadler, 1998), acrescidos de Guedes (2005), Lobach (2001), Arnheim (1988) e
Dondis (1997). O Projeto Orla disponibilizado para esta pesquisa, em meio digital,
pela EMLURB, prefeitura do Recife. E, por fim, o projeto de mobiliários urbanos do
Rio Cidade – Leblon, disponível no livro Indio da Costa (GRUNOW, 2008).
Procedimentos metodológ
Procedimentos metodológProcedimentos metodológ
Procedimentos metodológi
ii
icos:
cos:cos:
cos:
Assim como nos estudos dos referenciais teóricos do trabalho, o instrumento base
de pesquisa da investigação científica é a observação, neste caso, das cidades do
33
Recife e Rio de janeiro. Para este trabalho foram registrados fenômenos da
realidade de diferentes formas (anotações, gráficos esquemáticos, registros
fotográficos), que sistematizaram os dados coletados.
Encontra-se, a seguir, a estruturação esquemática em capítulos do trabalho com
base na metodologia apresentada.
Figura 07: Esquema da estrutura do trabalho por capítulos.
34
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 1CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 1
Design de Cid
Design de CidDesign de Cid
Design de Cida
aa
ade
dede
de
“O design é a exploração criativa da restrição.“
Inflate
35
1 Design de
1 Design de 1 Design de
1 Design de Cidade
CidadeCidade
Cidade
A forma, a função e o significado do espaço público estão entre as principais
preocupações do Design Urbano e/ou Desenho Urbano. Este capítulo estabelece
uma relação conceitual entre as duas áreas de conhecimento, esclarecendo
definições e propondo características que delimitem o trabalho do designer na
cidade, tanto a área específica do Urbanismo como a categoria do design.
1.1 Design
1.1 Design1.1 Design
1.1 Design
O uso do termo inglês design - é bastante abrangente, e de forma generalista é
definido como uma atividade desenvolvida pelo homem no sentido de conceber
algo de novo, ligado a questões de uso, produção, mercado, utilidade, qualidade
formal, estética ou produtos industriais.
Uma definição adequada - atualmente utilizada para o design - é a do International
Concil of Societies of Industrial Design (ICSID) que o apresenta como “uma
atividade criativa cujo objetivo é estabelecer as múltiplas qualidades dos objetos,
processos, serviços e seus sistemas em todo seu ciclo de vida. Por isso, design é o
fator central da inovativa humanização da tecnologia e o fator crucial das mudanças
culturais e econômicas”.
O termo inglês “design” origina-se de designare e signum, palavras em latim, que
significam desejo e marca, respectivamente. Para a tradução da palavra, foi preciso
diferenciar design de drawing, e, com isso, o projeto diferente do desenho, que a
profissão envolve outras atividades metodológicas, além da representação
bidimensional dos objetos projetados, como ocorre na língua espanhola, em que
existe a distinção entre as palavras diseño referente ao design, e dibujo ao desenho.
na língua portuguesa, por volta da década de 1950, adotou-se a expressão
"desenho industrial", pois, naquela época, era proibido o uso de palavras
estrangeiras para designar cursos em universidades nacionais. Atualmente a
36
legislação do MEC, para cursos superiores, utiliza o termo design, por entender que
este sintetize melhor a essência da prática profissional.
Ferrara (2002) estabelece uma relação de forma complementar e não excludente da
ação do designer e do desenhista. Todo designer é desenhista, e essa
simultaneidade permite perceber a relação que se estabelece entre a função e o
uso, entre o produto e o seu cotidiano, que envolve sistemas produtivo e
reprodutivo. Sem a reflexão do designer, o desenhista industrial tem sua ação
regulada pela tecnologia ou pela técnica, que passam a ser seu único parâmetro,
seu único valor (op. cit., p. 54).
Porém, muito além de conceituações termológicas não é possível entender o design
sem considerar o contexto econômico, social e cultural que o fortaleceu
historicamente. A Revolução Industrial
8
mimetiza a contiguidade funcional pela
multiplicidade e simultaneidade de tecnologias, funções e formas. E foi nesse
estágio do capitalismo que o design se firmou como ferramenta não de luxo,
mas principalmente de lucro, desempenhando papel vital na criação da riqueza
industrial.
Segundo Cardoso (2004), na Inglaterra, século XVII, as grandes empresas
necessitavam do design como uma das etapas do processo produtivo e,
normalmente, encarregavam um trabalhador ou profissional com experiência e
habilidade das artes para implantar sistemas industriais de fabricação, ou seja, os
primeiros designers eram operários, artistas ou arquitetos.
No início do século XX, os fundadores da Bauhaus, escola que passou a inovar e
buscar a arquitetura moderna de produtos a bairros, adotaram a palavra Gestaltung,
8
A Revolução Industrial ocorreu em meados do século XVIII, na Inglaterra, e teve início com a fabricação de
tecidos de algodão. A primeira fase da Revolução Industrial foi a expansão da indústria têxtil. A queda nos
custos de produção, resultantes da mecanização do trabalho, aumentou a quantidade de produtos
comercializados, sobretudo, com a entrada no mercado de países que antes não possuíam condições de
comercializar. O retorno desta comercialização é investido na transformação de pequenas oficinas artesanais
em grandes fábricas. A segunda fase, seria o desenvolvimento das indústrias de bens de produção e da
construção das estradas de ferro. O design foi a resposta encontrada pelos artistas e arquitetos para os
problemas decorrentes do grande aumento da industrialização causado pela Revolução Industrial. Lobach
(2001).
37
para o ato de praticar a gestalt, ou seja, criar formas para artefatos. Quando
traduzida para o inglês, adotou-se "design", já usada para se referir a "projetos".
Figura 08: Edifício da Bauhaus, Dessau.
Um dos principais objetivos da Bauhaus era unir arte, artesanato e tecnologia por
meio da utilização de máquinas, com destaque para a produção industrial no
desenho de produtos. A Escola foi criada em 12 de abril de 1919, na cidade alemã
de Weimar, sob a direção geral de Walter Gropius. Durante seu curto período de
existência, passou por três etapas diferentes que coincidiram com as suas três
sedes:
a) a primeira fase, de 1919 a 1927, foi a expressionista, caracterizada pela livre
expressão de sentimentos e sensações, refletindo uma visão pessimista e
individualista, bem ao caráter da Alemanha do pós-guerra;
b) a segunda fase foi o formalismo estético, uma proposta para novas concepções
formais para os produtos alemães com formas simples e racionais, utilizando a
padronização e a estandardização como parâmetros de projetos para o design;
38
c) finalmente, a fase do racionalismo radical, com ênfase na produção arquitetônica,
ocorreu entre os anos de 1927 e 1929, enquanto Hannes Meyer dirigiu a Bauhaus,
na cidade de Dessau (SOUZA, P.L.P.: 2001).
Atualmente a corrente do formalismo é ainda muito aplicada e vista por muitos
designers como a raiz da razão e do progresso do design (ibid, p. 17-18). Após o
fim da segunda Guerra Mundial, Max Bill, Inge Scholle, Walter Zeischegg e Otl
Aicher fundaram, em 1951, na cidade de Ulm, a Hochschule für Gestaltung,
conhecida como Escola de Ulm. Esta Escola extinguiu-se por si mesma, em 1968,
por motivos econômicos derivados da falta de recursos condicionados à mudança
ideológica da escola, algo que não foi aceito pelos professores e alunos.
Na década de 1950, uma parcela da sociedade brasileira acreditava na
necessidade de se formar profissionais de design no Brasil, a fim de suprir a
demanda de projetos necessária para acompanhar o desenvolvimento da indústria
nacional. Por isso, o primeiro curso chamado Desenho Industrial, fundado em 1950
e instalado nas dependências do Museu de Arte de São Paulo (MASP), foi dirigido
pela arquiteta italiana Lina Bo Bardi (BARDI, 1982, p.12). Em 1963, é criada a Escola
Superior de Desenho Industrial, no Rio de Janeiro, ESDI, quando de fato começam
a ser formados os primeiros Desenhistas Industriais do país e o termo design é
adotado como sinônimo do curso superior.
Não é possível enterder o conceito do design sem observar as relações produtivas
que se estabelecem com a substituição da técnica artesanal e manufatureira pelas
tecnologias da produção em série e em linha de montagem, que introduzem a
tipificação e a reprodutibilidade. Em consequência disto, vale considerar também,
as relações socioculturais que apresentam outra compreensão da vida útil dos
objetos, outro modo de consumo, outro comportamento, outros espaços, outro
cotidiano.
É a história do design que expande seus objetivos de não tornar os objetos
belos, mas também gerar lucros e transmitir ideias. Com relação aos julgamentos
39
de beleza e desejo e às instruções para a produção de bens industriais, Forty
(2007) afirma que:
Pode ser tentador separar os dois sentidos e tratá-los de maneira
independente, mas isso seria uma grande equívoco, pois a qualidade
especial da palavra design é que ela transmite ambos os sentidos, e a
conjunção deles em uma única palavra expressa o fato de que são
inseparáveis: a aparência das coisas é, no sentido mais amplo, uma
consequência das condições de sua produção (p. 12).
São essas reflexões que distinguem os objetos de design dos objetos de arte, uma
vez que, o grau ilimitado de imaginação artística e expressão de sentimentos no
processo projetual do designer, não são as principais variáveis que o sentido à
função de um objeto de design, e sim a maneira como as atribuições do objeto irá
se comunicar com a imaginação e os sentimentos do consumidor ou usuário. Neste
caso, extrapolando as funções práticas dos produtos, aponta-se a mudança dos
sujeitos alvo, que participam ativamente ou não, do processo criativo.
1.1.1 Design Industrial
Lobach (2001) afirma que as associações profissionais concordam que, como na
maioria dos países o termo design foi adotado de forma ampla e irrestrita, seria
mais adequado grafar design industrial, para esta categoria, e que seria definido
como segue: um processo de adaptação dos produtos de uso, fabricados
industrialmente, às necessidades físicas e psíquicas dos usuários ou grupos de
usuários.
Por isso, para o desenvolvimento deste estudo adotaremos o conceito de Design
Industrial, para a ação de projetar produtos que, por motivos de manutenção,
reposição e fabricação consideram questões produtivas e tecnológicas no processo
projetual. E Designer,
para o ator, o sujeito das ações intelectocriativas/projetuais.
Para o ICOGRADA (Internacional Council of Graphic Design Association): “O design
industrial ou design de produto caracteriza-se pelo universo de bens de consumo e
40
de capital capazes de auxiliar o ser humano no desempenho de suas mais variadas
tarefas” (FONTOURA, 1998, p. 445).
Lobach (2001:11) considera que o processo de design industrial deve vir associado,
em qualquer situação, no mínimo, de cinco pontos de vista, colocados aqui
brevemente:
1. o usuário que utiliza o ambiente criado artificialmente com
naturalidade e sem maiores reflexões;
2. o fabricante do ambiente criado artificialmente, na maioria dos casos o
cliente;
3. o crítico marxista que contempla este fabricante como o vendedor que
obriga seus empregados a comprar o produto de seu próprio
trabalho;
4. o designer que ao trabalhar no projeto de um produto, coloca-se entre
os interesses do cliente e aqueles dos usuários, e deve representar os
interesses destes frente aos daqueles.
5. o advogado dos usuários do ambiente criado artificialmente que
busca expressar os interesses destes. Esta postura supõe
independência de toda coação.
O autor estabelece conceituações a partir de cada um dos cinco pontos de vista,
destas vale ressaltar o julgamento de design para o advogado do usuário: “Design
é o processo de adaptação do ambiente “artificial” às necessidades físicas e
psíquicas dos homens na sociedade” (LOBACH, op. cit., p.14).
A atividade fim do design é a configuração de objetos, levando em consideração
aspectos de natureza produtiva, utilitária, cultural, política, ideológica, etc. De
acordo com Costa (1998), o design não é o produto ou a manifestação material das
41
formas visuais, e sim o processo que conduz à obtenção do produto ou da
mensagem. Trata-se de articular, sistematicamente, determinar a sequência de
procedimentos, coordenar dados, desenvolver modelos para a solução de
problemas, preparar a compreensão, o controle e a predição de todos os
processos.
Como profissão, o design está relacionado às artes aplicadas, à arquitetura, à área
de comunicação, à engenharia, e a todo tipo de atividade produtiva humana. O
termo costuma ser associado a um segundo termo, que especifica e qualifica a
atividade desenvolvida, tais como: design gráfico, design de produto, design de
moda, design de interior, etc. Outra destas categorias é a do design urbano,
entendida aqui, como o design industrial para a cidade - o design de mobiliários
urbanos. Porém, a sua correlata na língua inglesa, urban design, é traduzida para o
português, também, como desenho urbano que se refere a um campo disciplinar do
urbanismo.
Em 1978, Bonsiepe propõe a ciência do meio ambiente, a que estariam
subordinadas univocamente as ciências auxiliares ou ramos científicos: design
ambiental, ciência do design. A ciência do meio ambiente seria concebida como um
novo ramo das ciências humanas. Em um ambiente artificial, a tarefa do design
consiste precisamente em possibilitar aos usuários a compreensão do significado
dos objetos e dos sistemas. Neste caso, da inter-relação espaço e produto, os
termos que vingaram foram design de interiores e design urbano, categoria, esta
última, que ainda não possui área de atuação claramente definida e, muitas vezes, a
ação do designer se confunde com a do urbanista.
Rykwert (1976) em The idea os the town critica a prática urbana funcionalista que
reduz a cidade exclusivamente à perspectiva da economia e dos problemas de
tráfego ou dos serviços. Este trabalho acusa esta prática, hipoteticamente, como
uma das variáveis de resistência que dificultam a atuação profissional do designer
na cidade.
42
1.2 Design Urbano ou Desenho Urbano?
1.2 Design Urbano ou Desenho Urbano? 1.2 Design Urbano ou Desenho Urbano?
1.2 Design Urbano ou Desenho Urbano?
Diante das tentativas de construção de espaços urbanos democráticos e
confortáveis que fizeram parte da reconstrução das cidades européias parcialmente
destruídas na segunda guerra mundial, surgem os problemas que dão corpo à
estrutura teórica do Desenho Urbano. Por isto, o termo se estabeleceu como
conceito onde a qualidade de vida é prioridade, tanto como elemento físico quanto
sócio-cultural, responsável pela produção de lugares que possibilitem as pessoas
aproveitá-los e usá-los em sua capacidade máxima.
O desenho urbano aos poucos se constituiu como disciplina acadêmica,
fundamentada na relação da qualidade espacial como o principal agente que pode
promover ou restringir o movimento e a permanência de pessoas. Esta relação
fundamenta o grande número de estudos direcionados à compreensão deste tema
e aplicação no processo projetual enquanto atividade profissional.
Nos anos 1960, uma série de protestos da própria população, insatisfeita com a
qualidade questionável dos projetos urbanos desvalorizou o planejamento urbano
que passou por um processo de desespacialização, deixando de ser propositivo e
passando a ser normativo. O resgate do desenho no planejamento urbano ocorreu
a partir dos anos 1980, nas cidades americanas e européias, porém, no formato de
operações urbanas. Naquele momento, os projetos urbanos passaram a ser frutos
de parcerias entre o poder público e o setor privado. No Brasil, ainda são poucas as
cidades que programam uma política propositiva de requalificação urbana, a
maioria permanece com uma atitude normativa (BRANDÃO, 2008).
Assim, o desenho urbano revela-se preocupado com o desenho dos espaços
enquanto cenário de comportamentos e atividades. Está focado na diversidade de
atividades que contribui na criação de espaços urbanos de sucesso e, em particular
com a estrutura física que suporta essas funções e atividades propostas. Nesse
sentido, segundo Del Rio (1999: 51-54), o desenho urbano é o campo disciplinar
43
que trata da dimensão físico-ambiental da cidade, como conjunto de sistemas
físico-espaciais e sistemas de atividade que interagem com a população, através de
suas vivências, percepções e ações cotidianas.
Del Rio também observa que não existe uma definição precisa do real significado
do desenho urbano, visto que alguns autores propõem definições que, às vezes, se
opõem. Por isso, o autor considera o desenho urbano como uma atividade de
abordagem metodológica que comporta quatro subáreas, são elas: a análise visual,
a percepção ambiental, os estudos comportamentais, além das interpretações
morfológicas
9
.
O Desenho Urbano considera o arranjo, de um determinado número de edifícios,
conectados por espaços públicos e privados, de tal maneira que configuram uma
única composição. Este tipo de projeto envolve comumente um raio que vai além do
espaço de implantação de um projeto, isto é, muitos proprietários, usuários e
agências governamentais.
Consequentemente, a prática do Desenho Urbano exige conhecimentos e
habilidades. Alguns autores reivindicam que é uma disciplina focalizada, que está
relacionada principalmente com a qualidade tridimensional de um espaço urbano.
Outros acreditam nesta atividade como uma resolução de problemas, nos
fragmentos da cidade, aplicada à tomada de decisão espacial (BRANDÃO,
2004:10).
Em termos de escala de intervenção, há, igualmente, algumas conceituações que
concluem erroneamente o pequeno projeto como de arquitetura; e o grande projeto
como de urbanismo. Porém, o projeto urbano é definido pelo caráter de legibilidade
e impermeabilidade de um fragmento da cidade com o seu entorno -
interpenetração entre ruas, quadras, espaços públicos e edifícios - e não pela
escala.
9
Ibdem.
44
Uma maneira de limitar a área de intervenção pode ser de acordo com o grau de
homogeneidade encontrado neste espaço, além disso, estes fragmentos urbanos
estão provavelmente conectados a outras áreas da formação de intervenções
maiores e mais heterogêneas.
A expressão desenho urbano é corrente na língua portuguesa, definida como
parte da história do planejamento urbano do país. Porém, de acordo com as
conceituações e práticas do design e do desenho urbano, observa-se que existe
certa confusão de definições das áreas no Brasil. Por isso, o campo ainda tende a
ser tratado de forma limitada, onde deve ser uma atividade multidisciplinar,
interessada tanto no processo de transformação da forma urbana quanto no espaço
resultante de tal processo.
Figura 09: O processo do design (B. Lobach).
Assim, considera-se o desenho urbano a disciplina que lida com o procedimento de
dar forma e função a bairros ou a cidades em geral, além de coordenar ões em
relação à dimensão físico-espacial do urbano e suas funções, e dirigir o processo
45
de transformação de uma área ou da cidade. Combinando questões técnicas,
sociais e estéticas, projetistas urbanos atuam em todas as escalas do
desenvolvimento socioespacial.
Portanto, o compromisso do design para o urbano caracteriza-se pelo estudo do
espaço não como um objeto isolado, mas integrado a todas as atividades
existentes, relacionadas à configuração do espaço estudado. Segundo Alexander
(1977), os problemas de design, mais que de ordem projetual são de natureza
contextual. Com isso, para um projeto de design urbano faz-se necessário o estudo
do comportamento ambiental, a verificação sistemática das inter-relações entre o
ambiente e o comportamento humano e suas implicações para o projeto. É
importante investigar, também, qual o interesse do público na nova proposta e
quais são os elementos essenciais que afetam este interesse, pois, o projeto
adequado deve responder a três grupos básicos de satisfação do usuário: visual,
funcional e comportamental.
Entre as categorias do design, Lobach (2001) utiliza o “design ambientalpara unir
o conceito do ambiente ao do design. O resultado, porém, continua sendo um
conceito geral, que se desdobra em vários tipos de configurações do ambiente.
Dessa forma, o design industrial é, portanto, uma especialidade da configuração do
meio ambiente (fig. 09). Assim, para o autor, as especialidades da configuração do
ambiente são: arquitetura; design industrial; e, configuração dos meios de
comunicação (op. cit., p. 17).
A relação entre o design industrial e o desenho urbano resulta numa solução final
que se refere à combinação de princípios metodológicos que poderão ser aplicados
ao desenvolvimento de produtos industrializados, mas que, neste caso específico,
leva em consideração características peculiares aos mobiliários urbanos de acordo
com um contexto e ambiente determinados. Para isso, o designer precisa trabalhar
também com a visão do espaço e atribuição da paisagem, concepções que ainda
se encontram deficientes no campo disciplinar do design industrial. Em
46
contrapartida, esta intersecção entre projetistas padece com a ausência da visão
pontual do arquiteto e urbanista.
Na visão dos entrevistados, vale ressaltar algumas opiniões a respeito do ponto de
interseção entre o design e o urbanismo, tais como:
Design é uma coisa e arquitetura é outra coisa. Podem trabalhar junto, mas a visão industrial
é a visão do designer. Não é uma visão do arquiteto. A gente pode fazer um móvel. Sei fazer
um móvel, um sofá bonito. Sei fazer uma mesa bonita, mas isso não é fazer design. Isso é
desenhar um móvel bonito. Fazer design é ver como isso vai ser produzido em grande
escala, como é que vão ser industrializados, quais são os processos de industrialização
(Luiz Eduardo Indio da Costa).
Uma coisa que a gente discutia muito, que foi a base do Rio Cidade, é por que as pessoas
se afastavam do espaço público. Então, eu acho que o espaço público, hoje, ele tem que ter
um atrativo. E um bom design é um bom atrativo. O Rio Cidade Leblon todo mundo adora.
Porque é um projeto exemplar. Inclusive, inovador. O poste era um poste diferente, com
rebatedor, que a gente nunca tinha experimentado. Essas coisas são fundamentais pra dar
audiência mesmo. Porque o urbanismo é ambiente. É você se sentir bem naquele espaço.
Eu acho que o grande designer é aquele que saca isto. Não precisa ser nada luxuoso, mas
ele tem que ter o olhar daquela cultura, para quem ele está trabalhando (Olga Campista).
Eu sinto que o design tem que apoiar um conceito urbano, e tem que trabalhar nessa
sintonia, mas também com autonomia. Um banco bonito, uma luminária bonita, um ponto de
ônibus diferente faz significar isto. Na escala da cidade você tem um diálogo que tem que
ser suficientemente comunicativo (Pablo Bennetti).
O ambiente urbano deve ser trabalhado de maneira multidisciplinar, com
delimitações profissionais que sejam complementares e não excludentes. Assim
sendo, o desenho urbano permanece como disciplina do urbanismo como está
sendo tratado atualmente, em algumas universidades do Brasil, considerando que o
termo é consolidado na língua portuguesa; e, o design para o urbano como uma
categoria do design.
Para solucionar parte das confusões conceituais, são substituídos, para o
desenvolvimento desta pesquisa, os termos citados “design urbano” e “design
ambiental” - que podem ainda ser confundidos com desenho urbano ou design de
interior respectivamente - por “Design de Cidade” como propôs Jane Jacobs (1961)
e Lynch (1982), City Design.
O Design de Cidade é o processo criativo de atribuir aos objetos qualidades
relacionadas não às necessidades produtivas de seu público-alvo, como
também, propriedades que incluam características formais, históricas e culturais de
47
uma cidade. Trata-se do design de mobiliários urbanos. o desenho urbano é o
campo disciplinar que aborda a dimensão da cidade e deve promover sistemas
espaciais integrados entre si e com a população através de suas vivências e
percepções.
A escala de trabalho que une essas conceituações é estabelecida no espaço
urbano que é utilizado pelo pedestre por meio de ações cotidianas, incluindo as
influências mútuas que são estabelecidas entre pedestres, mobiliários e paisagens.
E, se relaciona, portanto, diretamente sob o ponto de vista da noção de importância
que examina até que ponto a qualidade do mobiliário urbano pode influenciar no
sucesso ou no fracasso do projeto de Desenho Urbano.
A concepção do mobiliário urbano depende intimamente da relação entre as
metodologias projetuais do urbanismo e do design industrial, uma vez que estas
duas áreas de conhecimento se fundem, inicialmente, nas suas principais
justificativas: a cidade e o seu público-alvo, ou seja, seus habitantes e toda
diversidade que os acompanha. Por isto, o estudo da leitura da paisagem urbana
como propõe o objetivo deste trabalho é alicerçado na escala humana, não do
usuário, mas também, do pedestre, enquanto utiliza a sua cidade. O público alvo e
o seu ambiente de uso se transformam nas ferramentas primordiais de análise do
espaço urbano, assim, do pedestre é considerada sua visão, e da cidade suas
paisagens que permitem ser percebidas por tal observador.
1.3 Os
1.3 Os 1.3 Os
1.3 Os Observadores
ObservadoresObservadores
Observadores
O design de produtos para o mercado possui como público alvo os consumidores.
Nesta pesquisa, utilizaremos o conceito de “observador treinado” utilizado por
Lynch (1987)
10
, para identificar o projetista interessado em intervir no mobiliário, ou
10
O observador treinado esapto a identificar os elementos urbanos ou pontos imagísticos que incentivam a
formação da imagem pública da cidade.
48
melhor, no espaço urbano. Dessa forma, o público alvo do design de cidade se
torna o observador destreinado”, aquele que utiliza o ambiente criado
artificialmente com naturalidade e sem maiores reflexões (Lobach: 2001). Como
citado na Introdução deste documento, motoristas e passageiros, ciclistas e
pedestres são considerados “observadores destreinados”, porém o foco desta
pesquisa prioriza a observação e a escala do pedestre.
Este tópico trata da escala humana, não como ferramenta de projeto utilizada
pelo projetista mas também como fonte de pesquisa e coleta de dados por meio do
pedestre. Neste momento, pretende-se expandir a visão detalhista do produto do
designer industrial e focar a visão macroespacial do arquiteto, em prol da escala do
usuário do espaço urbano.
O observador treinado” é tratado como quem possui o interesse para a execução
de uma observação direcionada. É o sujeito munido de instrumentos e técnicas,
predisposto a analisar as partes que compõem a morfologia urbana, considerando
a forma resultante desta relação, a configuração geral do meio ambiente. o
pedestre é o indivíduo com atitudes desinteressadas em relação ao “observador
treinado”, que, obviamente, o necessita de critérios e ferramentas de observação
ao se tornar usuário de um espaço e seus equipamentos
11
.
Para Ferrara (1993), a manifestação mais concreta do lugar urbano é constituída por
usos e hábitos, na mesma medida em que lugar é a manifestação concreta do
espaço. Assim, de maneira geral, o espaço urbano é entendido como um ambiente
em que o ser humano, como cidadão ou hospedeiro, tem uma liberdade total de
circulação e onde é possível a interação livre e o controlada entre indivíduos
supostamente autônomos.
Especificamente o espaço público é entendido com base no encontro, na co-
presença de estranhos. Como um espaço de expressão coletiva, da vida
11
É importante notar que este tipo de observação é sempre interessada, porém, assistemática, desprovida de
uma neutralidade.
49
comunitária, do estar com e entre os outros. É também um local de acessibilidade
totalmente livre, em qualquer momento e para qualquer um.
Segundo Benévolo (1993), tratam-se de “Lugares da cidade dotados de uma
dimensão material e simbólica que permitem o encontro, no anonimato, de
indivíduos de classes sociais, etnias e religiões diferentes”.
De modo óbvio, o espaço é produzido para o homem, e sobre isso Indio da Costa
considera que:
Eu acho que toda a interferência, toda a intervenção, tanto urbanística
como arquitetônica, é uma interferência em relação ao homem. O homem
é que tem que ser a escala do projeto. É ter uma formação humanística.
Eu acho que os arquitetos tendem ao contrário, mas, às vezes, como todo
mundo, se perdem um pouco na deformação profissional. É natural que a
gente tenha e tem que ter a humildade de perceber que não consegue ver
um problema sob todos os aspectos. É por isso que eu acho que as
equipes ajudam muito.
Portanto, este trabalho utiliza o pedestre e sua ação cotidiana de uso da cidade
como foco principal da análise do espaço urbano. Cullen (1983) considera esta
ação como o dinamismo visual, uma categoria presente nos espaços urbanos,
associando-os ao movimento de quem dele se utiliza. Nesta perspectiva, Cullen
coloca o conceito de Navegação Urbana e como categoria desta teoria a
Alfabetização Visual. Para o autor, o “corpo se relaciona instintivamente e
continuamente com o meio-ambiente, trata-se do sentido de localização, noção do
aqui e do além” (ibid., p. 11). A noção de importância do movimento do pedestre é
desdobrada ainda por meio do conceito da Visão Serial, onde a progressão
uniforme do caminhante vai sendo pontuada por uma série de contrastes súbitos
que têm grande impacto visual e dão vida ao percurso. O autor defende que,
qualquer intervenção urbana deverá promover, portanto, a articulação de espaços a
qual só pode ser experimentada através do movimento.
Um dos conceitos que incorporam a ideia de um observador em movimento, como
elemento fundamental para a percepção do espaço construído é do grupo
Internacional Situacionista, pois tomar conhecimento ou posse dos lugares implica
50
explorá-los, uma vez que, toda orientação é possível num mundo conhecido.
Esse é o princípio da deriva, procedimento situacionista de reconhecimento de um
lugar urbano: experimentá-lo.
Em Zevi (2002) encontra-se também, de modo mais explícito, a importância do
movimento para a compreensão plena do espaço. Segundo o autor, todos que
refletiram sobre esse tema sabem que o caráter essencial da arquitetura, o que a
distingue das outras atividades artísticas, está no fato de agir com um vocabulário
tridimensional, o que inclui o homem.
A teoria do movimento natural, baseada na estrutura teórica da sintaxe espacial,
refere-se à relação entre a disposição configuracional e os testes padrões espaciais
do uso, isto é, a ocupação e o movimento de pedestres no espaço, e como este
movimento é afetado pela configuração espacial. A teoria do movimento natural
indica que o teste padrão do movimento de pedestres, em um sistema urbano, é
gerado primeiramente pela configuração da grade urbana
12
, ou seja, indica a noção
de importância da análise a respeito da circulação do pedestre, e o uso do espaço
como um todo, no desenvolvimento de um projeto urbano.
Por fim, este trabalho trata do que uns chamam de navegação urbana; e outros, de
deriva, como ato do pesquisador, o projetista. E o movimento natural, primordial
para a análise do espaço, como a ação cotidiana executada pelo pedestre e/ou
usuário do mobiliário urbano.
1.4
1.41.4
1.4
Mobiliários Urbanos
Mobiliários UrbanosMobiliários Urbanos
Mobiliários Urbanos
O mobiliário urbano sempre esteve presente nas cidades como complemento da
urbanização. É possível observar, ou ter conhecimento da existência do banco de
12
HILLIER, B, A Penn, et al 'Natural Movement: configuration and attraction in urban pedestrian movement' Env
EnvEnv
Envi-
i-i-
i-
ronment and Planning B: Planning and De
ronment and Planning B: Planning and Deronment and Planning B: Planning and De
ronment and Planning B: Planning and Design
signsign
sign, 1993.
51
pedra, da bica d´água nos largos e praças, e dos lampiões a gás em algumas
cidades que preservam as características históricas do espaço urbano do século
XVIII e XIX (MOURTHÉ, 1998:7).
Figura 10: Rio de Janeiro, década de 30.
O surgimento do mobiliário urbano está ligado às reformas urbanas que
aconteceram na maioria das cidades no século XVII. As mudanças foram
necessárias, entre outros motivos, devido às infraestruturas básicas, como as de
acessibilidade, com a construção de portas monumentais, aquedutos, fontes,
calçamento, iluminação e também, na construção de hospitais, mercados e
cemitérios.
No Brasil, as reformas urbanas tiveram como principal cenário a cidade do Rio de
Janeiro que, como Capital Federal, em 1902, e com a posse do presidente
Rodrigues Alves, teve como prefeito indicado o engenheiro Pereira Passos, e o
médico sanitarista Oswaldo Cruz, para a saúde pública. A metrópole passou a ter
prédios modernos, avenidas largas e bem iluminadas e não mais foi tomada por
52
epidemias, por causa das ruas sujas, vielas escuras e insalubres, onde o esgoto
ainda corria a céu aberto.
Segundo Valença (1984), os equipamentos de mobiliário urbano da cidade do Rio
de Janeiro, à época das reformas urbanas, resumiam-se a quiosques e postes de
iluminação pública.
Hoje, tornaram-se equipamentos de controle de trânsito, de serviços, de lazer, de
publicidade, decorativos, entre outros. O termo Mobiliário Urbano é utilizado para
definir os objetos usados de forma interativa na paisagem urbana e em sua
tradução do inglês urban furniture e, também, do francês mobilier urbain, fazendo
clara alusão à mobília doméstica. Da mesma maneira que sofás, luminárias e
mesas atendem às necessidades dos moradores daquele espaço, especial atenção
precisa ser dedicada às expectativas do cliente ou público alvo de um mobiliário
urbano, usuário coletivo.
Figura 11: Quiosques, Rio de Janeiro, década de 30.
53
Entende-se por mobiliário urbano todo o conjunto de elementos de utilidade pública
que equipam os espaços e vias públicas, tais como: cabines de telefone público,
semáforos, placas de sinalização viária, postes de iluminação, paradas de ônibus,
bancas de jornal e flores, bancos, sanitários, bebedouros e, igualmente, os
elementos que, tradicionalmente, compõem o cenário urbano das cidades como as
fontes e os monumentos.
Para o paisagista Fernando Chacel “O mobiliário urbano tem o lado utilitário e tem
também o lado muito voltado para a indústria, e isso é uma coisa que vocês
(designers) têm muito. Porque a indústria ainda controla muito o resultado do
designer, ainda controla”.
Autores como Serra (1996) utilizam o termo “elementos urbanos” para denominar
peças que compõem, de forma interativa (ou não), a paisagem das cidades.
Guedes (2005) prefere utilizar o termo equipamento urbano”, classificando-os pelo
seu porte. Assim como Mouthé (1998), este trabalho adota “mobiliário urbano” para
referir-se a qualquer elemento ou móvel urbano, com exceção de grandes
edificações.
Existem diversos princípios utilizados para a classificação dos mobiliários urbanos.
Alguns autores enfatizam os quesitos relacionados à função ou porte/tamanho,
como critérios determinantes das categorias classificatórias dos equipamentos
(Serra, 1996; Mourthé, 1998; Kohlsdorf, 1996; Guedes 2005). Os elementos formais
ou simbólicos pouco ou nunca aparecem como quesito classificatório.
54
Autor
AutorAutor
Autor
Serra
SerraSerra
Serra
Mourthé
MourthéMourthé
Mourthé
Kohlsdorf
KohlsdorfKohlsdorf
Kohlsdorf
Guedes
GuedesGuedes
Guedes
Termo
TermoTermo
Termo
Elementos
urbanos
Mobiliário
urbano
Elementos
complementares
Equipamentos
Urbanos
Princípio de
Princípio de Princípio de
Princípio de
classific
classificclassific
classifica
aa
ação
çãoção
ção
Funcional Funcional Dimensional e
Funcional
Dimensional e
formal
Classificação
Classificação Classificação
Classificação
de
de de
de
mobiliários
mobiliários mobiliários
mobiliários
u
uu
ur
rr
rbanos
banosbanos
banos
Elementos de
urbanização e
limitação;
Elementos de
descanso;
Elementos de
iluminação;
Elementos de
jardinagem e
água;
Elementos de
serviço
público;
Elementos
comerciais;
Elementos de
limpeza.
Elementos
decorativos;
Mobiliário de
serviço;
Mobiliário de
lazer;
Mobiliário de
comercializaçã
o;
Mobiliário de
sinalização;
Mobiliário de
publicidade.
Elementos de
informação
apostos;
Pequenas
construções;
Mobiliário
urbano.
Equipamentos
de pequeno,
médio e
grande porte.
Tabela 01: Classificação dos mobiliários urbanos.
55
De acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas, ABNT, os
equipamentos urbanos
13
e os mobiliários urbanos
14
o classificados de maneira
distinta:
Equipamento Urbano Todos os bens públicos e privados, de utilidade pública,
destinados à prestação de serviços necessários ao funcionamento da cidade,
implantados mediante autorização do poder público, em espaços públicos e
privados.
Mobiliário Urbano Todos os objetos, elementos e pequenas construções
integrantes da paisagem urbana, de natureza utilitária ou não, implantados
mediante autorização do poder público, em espaços públicos e privados.
Categorias e
Subcategorias
Classificação
ClassificaçãoClassificação
Classificação
Equipamento U
Equipamento UEquipamento U
Equipamento Ur
rr
rbano
banobano
bano
Mobiliário U
Mobiliário UMobiliário U
Mobiliário Ur
rr
rbano
banobano
bano
Circulação e
Transporte
Estacionamento, logradouros
públicos, vias, terminais e
estações do sistema de
transporte em suas diversas
modalidades.
Abrigo, acesso ao metrô,
bicicletário, espelho
parabólico, pequeno
ancoradouro, rampa,
escadaria, semáforo,
sinalização horizontal.
Cultura e Religião
Biblioteca, cemitério e
crematório, centro cultural,
centro de convenção,
cinema, concha acústica,
jardim botânico, jardim
zoológico, horto florestal,
museu, teatro, templo.
Arquibancada, palanque,
coreto, cruzeiro, escultura,
estatuária, estação de via
sacra, macro, mastro,
monumento, mural, obelisco,
oratório, painel, pira,
plataforma, palco, placa
comemorativa.
Esporte e Lazer Autódromo, kartódromo,
campo e pista de esportes,
clube, estádio, ginásio de
esporte, hipódromo, marina,
piscina pública, parque,
praça.
Aparelho de televisão coletivo,
brinquedo, churrasqueira,
circo, mesa, assentos, parque
de diversões, playground,
quadras de esporte.
Infraestrutura
Sistema de Correios e telégrafos, rádio e televisão, Caixa de correio,
13
Equipamento Urbano. Classificação – NBR 9284 – MAR/1986.
14
Mobiliário Urbano. Classificação – NBR 9283 – MAR/1986.
56
comunic
a
ção
telefonia.
cabine telefônica,
orelhão, estrada de
galeria telefônica,
orelhão, posteação,
fiação, torre, antena.
Sistema de
energia
Combustível doméstico canalizado,
energia elétrica.
Entrada de galeria
de gás, entrada de
galeria de luz e
força, tampão,
posteação, fiação,
torre, respiradouro.
Sistema de
iluminação
pública
Luminária, poste de
luz, fiação.
Sistema de
saneamento
Abastecimento de água, esgotamentos
sanitário e pluvial, limpeza urbana,
lavanderia coletiva.
Bebedouro, chafariz,
fonte, tanque,
entrada de galeria
de águas, tampão,
grade, tampa, lixeira,
respiradouro,
sanitário público.
Segurança
pública e
Proteção
Corpo-de-bombeiros, delegacia,
instalações militares, posto policial,
posto de salvamento.
Balaustrada, cabine,
defensa, frade,
grade, gradil,
guarita, hidrante,
muro, mureta, cerca,
posto salva-vidas.
Abastecimento Armazém, silo, central de
abastecimento, mercado municipal,
posto de abastecimento de veículos,
supermercado.
Administração
pública
Sedes dos Poderes Executivo,
Legislativo e Judiciário.
Assistência
social
Asilo, centro social comunitário, centro
de triagem, creche, orfanato,
penitenciária, reformatório
Educação Colégio, escola, escola técnica,
faculdade, universidade.
Saúde Ambulatório, centro de saúde, hospital,
posto de saúde.
Abrigo Abrigo, refúgio,
caramanchão,
pavilhão, Pérgula,
57
qu
i
o
sque.
Comércio Banca, barraca,
carrocinha, trailer.
Informação e
comunicação
visual
Posto, cabine,
anúncios, relógio,
termômetro
eletrônico, placa de
logradouro e de
informação.
Ornamentação
da paisagem e
Ambientação
urbana
Arborização, banco,
assento, canteiro,
chafariz, fonte,
escultura, estátua,
espelho d´água,
jardineira, vaso,
mirante, obelisco,
queda d´água.
Tabela 02: Classificação dos mobiliários urbanos e equipamentos urbanos para a ABNT.
Com base na classificação da ABNT, utilizaremos o termo Mobiliário Urbano
Mobiliário UrbanoMobiliário Urbano
Mobiliário Urbano,
sempre que necessário, para nos referir àquela área correspondente à parte do
desenho urbano das cidades, e que interage com seus usuários e com o contexto
sociocultural e ambiental. Os produtos considerados como mobiliários urbanos
também seguem as normas da tabela 02. Os princípios de classificação utilizados
nesta pesquisa, dimensional e formal, se baseiam em Guedes, e estão descritos na
tabela 01. E, assim como Mourthé (1998), para indicar um conjunto de mobiliários
urbanos com coerência formal, utilizaremos o termo família de mobiliários urbanos.
58
Figura 12: Leblon, Rio de janeiro
Figura 13: Ipanema, Rio de janeiro
O mobiliário urbano pode estar inserido em diversos ambientes, de forma
personalizada ou padronizada, em toda uma cidade. Contribui para a estética e
para a funcionalidade dos espaços, da mesma forma que promove a segurança e o
conforto dos usuários, merecendo a atenção dos planejadores preocupados com a
qualificação do ambiente de poder público. Sabe-se que a constituição de uma
59
família de elementos é fundamentada em um princípio de coerência formal, que
envolve a concepção de cada elemento a partir de conceitos comuns que
caracterizam esses elementos como um conjunto (MOURTHÉ, 1998).
Segundo Lynch (1980:13), a personalização do espaço pode contribuir para a
legibilidade da cidade, ou seja, o conjunto de elementos influencia na formação da
identidade da cidade, ou de parte dela, permitindo funcionar também como limite
de regiões com diferentes linguagens entre os elementos urbanos. No Rio de
Janeiro, por exemplo, bairros vizinhos e com traçados urbanos semelhantes, como
Ipanema e Leblon, são facilmente diferenciados, se levarmos em consideração o
conjunto de mobiliários urbanos implantados em cada um deles, ver figuras 13 e 14.
O pórtico implantado em Ipanema, durante o Projeto Rio Cidade, foi demolido em
setembro de 2009. Um forte exemplo do impacto negativo causado pela população
devido à forma e à função desconexas com a demanda do bairro e impostas por
um mobiliário de grande porte (figuras 14 e 15). O pórtico deve ser implantado a fim
de se formalizar um espaço, porém a própria forma urbana composta pelas
Figura 14: Demolição do Pórtico
de
Ipanema.
Figura 15: Ipanema após a demolição do
pórtico, novembro de 2009.
60
edificações e pelo cruzamento entre vias configurou este espaço por si só, ou seja,
a implantação deste mobiliário não possui nenhum tipo de função prática para o
local específico de Ipanema.
“Visto que a aparência do produto atua positiva ou negativamente sobre o usuário
ou sobre o observador, ela provoca um sentimento de aceitação ou rejeição do
produto” (LOBACH, 2001:159). A configuração de produtos tem adquirido maior
importância em nossa sociedade competitiva. Hoje em dia, o passeio a pé, nas
calçadas, concorre com os carros e os shoppings. Além disso, a importância que é
destacada para a aparência das calçadas é bem menor que o design de interior
aplicado aos shoppings (figura 17). Neste sentido, é impensável que empresas
comerciais e produtoras de mercadorias não dediquem alguma atenção à
configuração dos produtos e do ambiente de consumo (op. cit., p. 162).
Figura 16: Salvador shopping.
Entende-se por legibilidade tudo aquilo que pode ser lido, decifrado e
compreendido. Para que uma cidade possa ser legível, é necessário que seus
espaços sejam pensados, projetados de forma a permitir que seus habitantes
61
possam interpretar, reconhecer, como um conjunto, seus bairros, marcos e vias
(Lynch, 1997).
A identidade da cidade ou de um lugar é normalmente descrita através da imagem
que os indivíduos têm deste lugar, dos hábitos da população residente, das suas
representações sociais e também, das intervenções que esta produz com a
implantação de equipamentos de sinalização, de mobiliário e ade adornos como
vasos e plantas.
A importância de uma identidade está na leitura que esta propicia ao indivíduo, na
possibilidade de apropriar as impressões que este venha a construir em relação ao
espaço coletivo, público, entre outros. Por exemplo, a legibilidade é, para o homem,
o elo estratégico no processo de orientação.
Isso ocorre também, quando o indivíduo consegue facilmente identificar os marcos,
os bairros ou vias da cidade e, assim, estabelecer uma relação harmoniosa entre
ele e o mundo a sua volta, sem o medo decorrente da desorientação, criado pela
situação de não identificação e legibilidade espacial. Vale ressaltar, ainda, que um
conjunto de mobiliários urbanos pode ajudar a posicionar, no tempo, a paisagem
da uma cidade, como ocorre em Ouro Preto, onde os mobiliários seguem o estilo
formal em harmonia com a arquitetura remanescente do local. Neste caso,
procurou-se interferir o mínimo possível no espaço tombado de Ouro Preto,
adotando um estilo para a luminária que segue o modelo dos lampiões antigos,
contemporâneo à arquitetura da cidade, e a fiação elétrica transferida para a rede
subterrânea, no início da década de 1980 (MOURTHÉ 1998).
No desenvolvimento de projetos ligados à área urbana, o desafio do projetista é
criar formas e sistemas funcionais que atendam aos problemas definidos por todo
um contexto. Esta pesquisa trabalha a relação entre as configurações visuais
dispostas numa paisagem, e propõe o uso da morfologia da cidade como
facilitador na criação de formas e usos para os mobiliários urbanos.
62
Figura 17: Exemplos de mobiliários que seguem as características formais e contextuais da cidade
em sua função e configuração. Foto 1: torre de iluminação pública com alto-falante que reproduz
música natalina do final do ano em Gramado, RS. Foto 2: luminária em formato de antigos lampiões
em Ouro Preto, MG.
No caso do mobiliário urbano, a solução de um problema não pode ser tipificada
como ideal e definitiva, pois qualquer variável no contexto pode transformar essa
solução em um novo dilema. É muito comum encontrar nas cidades produtos
urbanos sem nenhum vínculo formal com o seu entorno (figuras 18 e 19). Produtos
63
desenvolvidos com características denominadas de universais, mas que não se
encaixam na maioria dos ambientes onde são instalados.
O ajuste estabelece uma relação de coexistência entre forma e contexto,
considerando que o projeto do produto é o resultado final ajustado por meio do
estudo da cidade. Um melhor ajuste compreende uma construção de formas mais
eficazes, isto é, um espaço mais legível, identificável.
Figura 18:
Avenida Atau
l
fo de Paiva, Leblon, RJ.
Figura 19:
Avenida Boa Vi
a
gem, Boa Viagem,
Recife. Exemplo de um mesmo mobiliário
disposto em contextos com características
diversas.
64
CAPÍTULO
CAPÍTULO CAPÍTULO
CAPÍTULO 2
22
2
Ferramentas de Analise
Ferramentas de AnaliseFerramentas de Analise
Ferramentas de Analise
“A presença física tem também
exigências de outro tipo, exigências de
memória e de ordem
(...).”
(...).”(...).”
(...).”
Joseph Rykwert
65
2
22
2
Ferramentas de Análise
Ferramentas de Análise Ferramentas de Análise
Ferramentas de Análise
Este capítulo se concentra, preferencialmente, no tema de leitura da forma urbana,
propõe a adoção de um conjunto de ferramentas que resulta em uma proposta de
análise visual da cidade a partir de uma escala que inclui o mobiliário como parte
integrante da paisagem urbana. Por isto, as ferramentas de análise da forma do
mobiliário urbano também foram estudadas, uma vez que se comportam como
elementos formadores do todo configuracional. A análise proposta considera o
observador como um sujeito vivenciador e conhecedor da cidade e, por isso, o
ponto de vista do pedestre em movimento é adotado como o referencial de escala
espacial.
A arquitetura consagrou o uso do termo forma urbana como meio de descrever a
estrutura espacial da cidade. Tal descrição tem, como ponto de partida, o estudo
morfológico dos elementos que, articulados entre si e com o todo, compõem a
paisagem urbana. O significado da expressão forma urbana não é um dado
objetivo, com respostas disponíveis na realidade física da cidade. Seus significados
são construídos por um olhar culturalmente determinado.
A compreensão da forma de uma cidade é obtida a partir do conhecimento da
história daquela sociedade. De acordo com GEDDES (1994), a tríade Lugar –
Trabalho Povo, o se trata apenas da análise do lugar, como também do seu
povo e como eles sobreviviam e sobrevivem. Por isso, a cidade é a tradução da
história de um povo. Uma história que adquire informações com o decorrer do
tempo que se relaciona com o espaço, através de uma forma mutável, ou seja, a
dinâmica de uma cidade modifica a forma dela. Em outras palavras, de acordo com
Rossi (1995, p.57) a forma da cidade é sempre a forma de um tempo da cidade, e
existem muitos tempos na forma da cidade.
O valor da história se relaciona com a formação de um espaço através da memória
coletiva dos povos, entendida como relação da coletividade com o lugar e com a
ideia dele. Esta memória permite e ajuda a compreender o significado da estrutura
66
urbana, da sua individualidade, da arquitetura da cidade. Nesta perspectiva, a
memória coletiva trabalha associando o lugar e sua estrutura formal ao uso dele,
atribuídos pelos seus habitantes. Assim, forma-se a união entre o passado e o
presente que situa espacialmente o cidadão. De forma que, a memória conforma a
realidade, mas também se conforma nela. E essa conformação permanece em seus
fatos únicos, em seus monumentos, na ideia que temos deles.
O argumento teórico desenvolvido neste trabalho privilegia o entendimento da forma
da cidade, e como se percebe esta forma. De acordo com Lynch, a forma urbana é
descompromissada e adaptável aos objetivos e às percepções de seus cidadãos.
Assim, as formas físicas são reforçadas pelo seu uso especial ou seu tipo de
usuário. Em outras palavras, o autor acredita que o senso comunitário pode se
concretizar espacialmente. Entende-se que a forma urbana é a organização social
do espaço em grande escala.
O ambiente urbano tem uma forma com relações e inter-relações de elementos
urbanos que interagem com o observador através de imagens visíveis nítidas ou
desordenadas, que atribuem significados, associações e identidades de um
determinado lugar.
A cidade é extremamente visível. Quanto à forma física exterior, existem ambientes
que chamam ou repelem a atenção, que facilitam ou dificultam a organização ou a
diferenciação. Isso se assemelha à facilidade ou à dificuldade com que o adaptável
cérebro humano é capaz de memorizar materiais associados ou desconexos. O
mecanismo perceptivo é tão adaptável, que cada grupo humano consegue
distinguir as partes de sua paisagem, perceber e conferir significado aos detalhes
relevantes. Isso sempre acontecerá, por mais indiferenciado que o mundo possa
parecer a um observador de fora.
O caráter multidisciplinar do urbanismo aponta a pluralidade de enfoques pelos
quais podemos compreender a cidade. Olhar a cidade a partir da sua
materialidade, da configuração da forma urbana é uma das maneiras pelas quais
67
identificamos os espaços socialmente utilizados. A contribuição teórica com este
enfoque vem, principalmente, de autores como Sitte (1992), que o urbanista
propõe modificações com vistas não ao reaproveitamento do espaço, como
também à harmonia deste, acreditando num centro de uma cidade artisticamente
monumental. Além das teorias de Rossi (1995), que relacionam sempre a
construção da cidade com o tempo e a situação em que esta vive.
Nessa vertente morfológica, incorpora-se ao objeto forma urbana a abordagem dos
processos de organização social na cidade. Não se pode deixar de citar alguns
estudiosos da sintaxe espacial urbana, que analisam como os testes padrões de
uso de um espaço podem ser determinados pelas propriedades morfológicas da
configuração específica deste, e buscam, através da lógica social que é atribuída ao
espaço, um melhor desempenho morfológico. Neste sentido, Holanda et al (2002)
defendem a conceituação da forma urbana como situação relacional, ou seja, as
maneiras de compreensão e representação da forma urbana estão em função,
necessariamente, do desempenho morfológico quanto a expectativas socialmente
definidas.
Em síntese, pode-se afirmar que a forma da cidade funciona como um instrumento
para o conhecimento do meio urbano. O argumento deste trabalho se enquadra
nesta perspectiva conceitual e reflexiva que assume a característica morfológica
como o principal identificador dos espaços socialmente utilizados.
2
22
2.1
.1.1
.1
Análise v
Análise vAnálise v
Análise visual
isualisual
isual
A análise visual tem como objetivo identificar os elementos que contribuem para a
compreensão do espaço urbano, ou seja, como os lugares são percebidos.
Constitui um meio privilegiado de leitura e interpretação dos elementos visuais do
espaço urbano, de reconhecimento da informação captada visualmente (sinais ou
manifestações externas).
68
O espaço urbano pode ser apreendido de maneiras distintas, dependentes de um
conjunto de fatores externos e internos ao observador. Os fatores externos são
relativos ao meio onde o observador se coloca, priorizando a configuração visual
percebida diretamente pelo observador. Enquanto que os fatores internos se
referem ao próprio indivíduo, receptor de informação, e reportam-se a aspectos de
natureza psicofisiológica e sociocultural.
Para Arnheim (1986: 16), a visão não é apenas um registro mecânico de elementos,
mas sim a apreensão de padrões estruturais significativos. Caso contrário, o artista
nada mais seria do que um registrador mecânico, tanto quanto seu instrumento de
visão.
Os fatores externos referem-se ao campo de visão experimentado pelo observador,
nesta perspectiva o pedestre é visto como elemento visual componente da
paisagem urbana. Estes fatores são influenciados por categorias como a posição
do observador, o deslocamento dele e a temporalidade
15
, por exemplo.
Quando o campo de visão está abaixo da linha do horizonte, o observador percebe
com maior evidência os planos verticais, como fachadas dos edifícios, mobiliários
urbanos e calçadas, e adquire informação de natureza visual localizada naquele
espaço. Trata-se de uma observação em pequena escala, com o observador
“destreinado” como sujeito primordial (figura 20).
15
Guedes coloca a modalidade Temporalidade como primordial para a análise visual do espaço, uma vez que
procura identificar a variância temporal decorrente da observação, considerando que uma paisagem formada
de um único ponto visual pode sofrer modificações decorrentes de efeitos temporais.
69
Figura 20: Orlas das Praias de Boa Viagem e Copacabana sob o ângulo de visão da escala humana.
Figura 21: Vistas aéreas dos mesmos trechos da figura anterior.
No entanto, se o observador se colocar num ponto mais alto, depara-se com
informação mais global, que lhe fornece dados sobre relações estruturais entre os
espaços exteriores como vias, praças, largos e o ambiente construído como um
todo (figura 21).
Se o observador estiver parado, aquilo que é percebido é exclusivamente limitado
ao campo de visão daquele ponto. Porém, se o observador se encontrar em
movimento, vai sendo confrontado com uma sequência de acontecimentos, sendo
que a forma construída passa a ser percebida como uma sucessão de momentos
70
ou situações articulados num certo intervalo de tempo, constituindo um fenômeno
de movimento
16
(figura 22).
Figura 22: Imagens do observador em movimento no bairro do Leblon.
Nos fatores internos do observador, destacam-se os aspectos ligados à captação
de sensações, às memórias e aos valores. As sensações são responsáveis pela
entrada em contacto do indivíduo com o meio ambiente e constituem-se na ligação
mais próxima e imediata da consciência com a realidade objetiva.
As sensações não permitem uma reprodução da realidade, mas fornecem os
elementos para que esta ocorra na percepção e na consequente construção de
imagens mentais. Assim, a partir dos elementos urbanos observados visualmente,
uma imagem é compreendida por meio de vários outros elementos de caracteres
16
Neste caso, Guedes sugere a modalidade Deslocamento, baseada na visão serial de Cullen.
71
subjetivos e simbólicos, relativos ao observador. As memórias e os valores
influenciam a estruturação dessas imagens e o seu relacionamento com outras
informações, atribuindo ao conhecimento de uma cidade uma interpretação pessoal
da mesma.
Diversos autores têm desenvolvido metodologias de leitura e interpretação dos
elementos visuais do espaço urbano. Neste estudo, estes referem-se às
abordagens propostas por Kevin Lynch em “A Imagem da Cidade”, 1960, com a
análise de três cidades norte-americanas; Gordon Cullen em Paisagem Urbana”,
1961, escrito sob o ponto de vista do cenário urbano britânico; e, os artistas de
vanguarda, Internacional Situacionista, com o livro publicado pelo líder do grupo,
Guy Debord, “A sociedade do espetáculo”, de 1967, em Paris.
Os autores referidos partem do princípio básico de que a leitura da paisagem
permite refletir sobre o cotidiano e possibilita a compreensão do espaço urbano. Daí
o seu interesse pelas condições e pelos elementos perceptíveis da forma urbana,
cuja análise não pode se ausentar da visão, assim como da sensação que cada
indivíduo interpreta, da cidade em que vive, como espaço de convivência e não
de trânsito.
O que é colocado em evidência, quando retomamos às publicações lançadas na
década de 60, mesmo em regiões distintas, não é o objeto singular para ser
assumido como modelo, ao contrário, cada atribuição que é dada à paisagem
urbana reporta a um elenco de requisitos da cidade, que não nascem
autonomamente de uma bagagem técnica ideal organizada pelo arquiteto e contida
basicamente no funcionalismo urbanístico, mas das observações empíricas, da
colheita de dados, mesmo mínimos, sobre a experiência do visível.
Uma distinção básica entre as abordagens de Lynch e Cullen é que o primeiro
apresenta uma versão mais abstrata que o segundo. Cullen, em particular, confere
um eminente destaque às qualidades estéticas das cidades, dando continuidade a
72
uma abordagem iniciada nos finais do século XIX, com as teorias paisagísticas,
também designadas por “análises pictóricas”, e desenvolvidas por Camillo Sitte.
Todas essas abordagens apóiam-se no estudo de situações urbanas existentes. E,
para além da preocupação de ler e interpretar o espaço urbano, os Internacionais
Situacionistas consideram que as metodologias mais flexíveis, que descrevem a
experiência do público alvo de um projeto, podem ser utilizadas como suporte do
projetista para manipular a forma urbana e melhorar a qualidade ambiental.
2.1.1 Kevin Lynch
Em 1960, Lynch publicou “A Imagem da Cidade”, o resultado de um estudo piloto
que descreve e analisa três diferentes cidades americanas: Boston, Los Angeles e
Jersey City, a partir da interpretação que delas fazem um certo número de
habitantes de cada uma destas cidades. Na introdução, refere que se trata de um
livro sobre o “aspecto das cidades” e que pretende questionar a sua importância e
as possibilidades da sua alteração. Atua muito mais no âmbito dos fatores internos
referidos na Análise Visual que levam o observador a construir uma imagem, uma
vez que o principal objetivo é, segundo diz, conferir um significado à forma urbana.
O autor destaca essa noção pela importância decisiva que assume no espaço
urbano, como fator básico de orientação, e argumenta que, no processo de
orientação, o vínculo estratégico é a imagem ambiental, a representação
generalizada do espaço exterior. Entende que a imagem é produto de sensações
imediatas e da memória de experiências anteriores.
Lynch costuma ser citado como um dos pioneiros da análise visual urbana.
Entretanto, nesse estudo, procedente da psicologia experimental, ele busca
entender como a imagem do espaço urbano é percebida e apreendida pelos
sujeitos, baseia-se não na análise da configuracão dos objetos que compõem estes
espaços, mas de que maneira estes objetos são percebidos. Por isso, o interesse
de Lynch concentra-se na legibilidade” do meio urbano, por ele definida como a
73
“facilidade com a qual as partes podem ser reconhecidas e organizadas numa
estrutura coerente” (Lynch, 1960: 13). O autor busca a compreensão da imagem,
porém não considera a cidade como uma manifestação de linguagem, mas a
imagem da cidade como uma manifestação do seu visual.
Assim, propõe-se a analisar a estrutura visual dessa imagem a fim de identificar os
elementos que a constituem. Esta análise tem o auxílio de entrevistas realizadas
com os moradores das cidades americanas estudadas, com o objetivo de construir
mapas mentais que relatassem as partes mais presentes na memória e os
deslocamentos mais expressivos, por exemplo.
Destarte, encontra cinco elementos constitutivos - as vias, que asseguram a
conexão contínua entre um ponto e outro; os nós, pontos de intersecção, como a
estação de trem, metrô e o aeroporto; os marcos
17
, elementos de destaque na
paisagem urbana, que constituem os pontos referenciais e que, genericamente,
informam o sistema de orientação numa cidade; os bairros, demarcados pelo
reconhecimento de um caráter homogêneo, como uma unidade temática; e,
finalmente, os limites que representam a fronteira entre zonas da cidade que têm
uma existência distinta - uma vez conhecidos e avaliados cada um destes
elementos, segundo as suas próprias características, são operados de forma
simbiótica, dependente, ou seja, uma via é reconhecida como tal se for formada
por nós e marcos, por exemplo.
Para Lynch, a imagem da cidade resulta da relação entre o observador e o
observado, podendo variar significativamente entre os observadores. Lynch
determina três componentes fundamentais para a formação da imagem da cidade:
identidade, estrutura e significado, observando ainda que os objetos possam ter um
significado tanto prático, quanto afetivo.
17
Para Rykwert, os marcos não são apenas visuais. “As pessoas tendem a selecionar como marco algo que
sobressaia, algo que tenha desempenhado um papel na vida de sua cidade: uma prefeitura, um mercado (...)”.
RYKWERT, Joseph. A Sedução do Lugar. A História e o Futuro da Cidade. São Paulo. Martins Fontes. 2004. P.
185.
74
Por fim, o urbanista defende que um meio ambiente ordenado pode atuar como
referencial ou como gerador de atividades urbanas, oferecendo segurança e, com
isso, aumentando o potencial de experiência humana na cidade. Nesta perspectiva,
para Rykwert, sem os referenciais ou pontos de orientação, um cidadão não
consegue entender o seu lar.
2.1.2 Gordon Cullen
Um ano após a publicação de “A Imagem da Cidade”, Gordon Cullen publica
“Paisagem Urbana” (Townscape), em Londres. Tal como na visão de Lynch, o
ponto de referência da abordagem paisagística de Cullen é a capacidade de
percepção visual: a cidade como objeto da percepção dos seus habitantes. O autor
defende que o olhar atento e curioso de um observador não ocioso, capaz de se
surpreender e interessar-se pelo que experimenta, é o necessário para
compreender a forma urbana.
Cullen é sucessor da noção tridimensional, movida pelo gosto artístico, abordada
por Sitte, onde, através de uma análise das cidades na história, propõe reavaliar a
cidade através de seus espaços existentes, principalmente suas praças. Sitte se
destacava pelo seu caráter urbano e artístico. Ordenamento era para o autor tornar
os espaços atrativos e não numa articulação de edifícios independentes sobre uma
malha viária. Por isso, Cullen trabalha seu método de análise focado no observador
em movimento, com base nos conceitos de conhecer a cidade como observador
estático, pelas suas melhores torres, pontes, ruas e praças abordados por Sitte.
Na introdução, Cullen considera o planejamento urbano uma manifestação da
necessidade de produzir ordem, perfeição e concordância, mas o Townscape
determina o sucesso de uma cidade através da sua capacidade de despertar
atitudes emotivas - entusiasmo e dramatismo - em função da justaposição de
elementos físicos como: escala, textura, cores, estilo, singularidade.
75
Nota-se, agora, um autor que, assim como Lynch, busca a compreensão da
paisagem a partir de seus elementos urbanos, porém, de um ponto de vista mais
real e palpável ao observador. Os elementos aqui referidos se tratam de árvores,
mobiliários, ao invés de bairros e vias, por exemplo.
O termo townscape remonta a quase uma década antes da publicação do livro
homônimo, e tem como principal porta- voz a revista inglesa “Architectural Review”.
Essa revista enfatizava a necessidade de retorno aos valores visuais da forma
urbana e, com isso, tornou-se o canal de divulgação das temáticas que
embasariam a formação da disciplina definida hoje como urban design.
Cullen, quando diretor de arte e assistente da revista, mostra, em uma de suas
capas, sequências de fotos e desenhos de mobiliário urbano, fiação elétrica,
árvores mal podadas, publicidade. Tal capa ilustra de maneira muito evocativa a
confusão criada pelos planejadores urbanos da época.
76
Figura 23: Capa Outrage. Architectural Review, edição especial, Outrage, junho de 1955.
As abordagens desenvolvidas por Cullen relacionam visões pontuais e globais dos
espaços urbanos. Por isso, o estudo refere-se mais aos fatores externos da Análise
Visual que levam o observador a construir uma imagem. Porém, não são dadas
explicações sobre os aspectos estruturais dos espaços analisados, nem são
relacionadas as suas características físicas com o contexto social, cultural ou
significativo, onde se inserem.
Para Cullen o ordenamento da paisagem possui outra perspectiva da abordagem
de Lynch, o autor defende que, se uma cidade se apresenta monótona,
incaraterística ou amorfa, ela não cumpre sua missão; o que não nega os princípios
de reconhecimento, segurança e orientação, mas acredita que eles dependem das
peculiaridades inesperadas do meio urbano, captadas pelo movimento do
observador. Com base nisso, propõe uma análise sinética do 'cenário' urbano
através do recurso à visão serial ou análise sequencial como meio de transmitir a
77
experiência urbana: “Embora o transeunte possa atravessar a cidade a passo
uniforme, a paisagem urbana surge na maioria das vezes como uma sucessão de
surpresas ou revelações súbitas. É o que se entende por Visão Serial” (CULLEN,
1983, p. 11)
Essa abordagem, dando ênfase à necessidade de criar ambientes visualmente
complexos e à percepção visual do espaço em movimento colocou Cullen num
papel inovador, frequentemente realçado em estudos desenvolvidos no âmbito da
psicologia ambiental e da percepção visual. Estes estudos admitem que a
complexidade ambiental possa ser importante para o bem-estar dos homens.
2.1.3 Internacional Situacionista
O movimento de cunho político e artístico, Internacional Situacionista (IS), foi ativo
na década de 60 e aspirava por transformações do meio urbano que começavam
na mudança de escala do planejamento e no foco da vida cotidiana. O grupo
propôs uma revolução do cotidiano, fundada na idéia de experimentação dos
lugares da cidade.
A importância dessa noção, para os situacionistas, era a ausência de paixão do
pensamento urbano contemporâneo, que resultavam na espetacularização das
cidades. O grupo foi um dos primeiros a criticar radicalmente o movimento moderno
em arquitetura e urbanismo, principalmente o funcionalismo separatista da Carta de
Atenas e a racionalidade de Le Corbusier.
O integrante do grupo situacionista, que ainda se destaca, é o do ativista político
Guy Debord, por seu livro “A Sociedade do Espetáculo”, publicado em (1967) com
grande repercussão no cenário francês e europeu. O livro chama a atenção para o
fato de a imagem ter substituído a realidade. Isso ocorre de forma tão predominante
na vida contemporânea, que a própria sociedade se transformou em espetáculo.
78
Os situacionistas não pretendiam propor um modelo de cidade pré-definido, mas a
construção realmente coletiva das cidades, que depende da participação ativa dos
cidadãos, o que seria possível por meio da revolução da vida cotidiana. Para isso, a
tese central situacionista era a de que se chegaria a essa revolução contra a
banalidade do cotidiano por meio da construção de situações, ou como defendeu
Lefebvre, construção de momentos. Estuda-se agora um grupo que não mais trata
de observadores, mas de construtores de situações. O cidadão, para o pensamento
situacionista, deve se transferir do papel de figurante para vivenciador” de
situações criadas por ele mesmo.
Esse procedimento seria uma revolução cultural, através da qual se chegaria à
construção total de um ambiente, o qual fundamenta a idéia central do Urbanismo
Unitário, ou segundo Berenstein (2003), uma teoria urbana crítica. O Urbanismo
Unitário não tinha a pretensão de se tornar uma doutrina ou modelo de espaço
urbano, mas sim, uma crítica ao urbanismo.
Para essa construção total de um ambiente, os situacionistas desenvolveram um
método baseado na apropriação do espaço urbano pelo pedestre, ao andar sem
rumo, à deriva, que estava diretamente relacionada ao estudo do ambiente urbano
por meio de construções de mapa psicogeográficos, a psicogeografia.
Por fim, nota-se que o grupo trabalhou a análise visual do ambiente urbano com
base não no que é percebido pelo observador em movimento, mas também,
pela experiência deste mesmo cidadão comum em sua vida corriqueira. Do ponto
de vista dos fatores da análise visual, percebe-se que, não se pode afirmar que o
grupo atuou como um fator externo ou interno isoladamente. O grupo do mesmo
modo que critica os funcionalistas que ignoram a função psicológica da ambiência,
propõe métodos articuláveis de análise e compreensão do meio ambiente urbano
que relacionavam a experiência da vida cotidiana com a formação dos mapas de
estudo.
79
2
22
2.
..
.2
22
2
Ferramentas de Análise
Ferramentas de Análise Ferramentas de Análise
Ferramentas de Análise
A análise visual da paisagem urbana é feita, na pesquisa, de acordo com a forma
da cidade desenvolvida por Lynch (1987), com base nos elementos físicos que
incentivam a formação da imagem pública da urbe, ou seja, a imagem que a cidade
ou parte dela tem para um mesmo grupo socioeconômico de indivíduos.
Lynch, em sua pesquisa, disponibilizava nas ruas o que ele chamava de observador
“treinado”, que deveria identificar os elementos urbanos ou pontos imagísticos,
como vias, marcos, limites. Os observadores treinados mapeavam inicialmente o
que eles identificavam como referenciais importantes os possíveis pontos
imagísticos incentivadores da formação da imagem da cidade. A partir de pesquisa
de campo, eram identificadas as referências urbanas representadas em mapas
“psico-geográficos”, ou segundo Lynch, mapas mentais, para a busca da imagem
urbana, a partir das experiências públicas frutos de suas operações cotidianas.
80
Figura 24: Mapas mentais de Boston desenvolvidos por Lynch a partir das entrevistas com os
observadores.
Lynch, quando analisa a cidade de uma forma geral, adota a escala maior da forma
urbana sem uma preocupação específica com os objetos de escala menor, como
mobiliários urbanos e vegetação, por exemplo. A investigação centra-se mais no
desenho das ruas, nos marcos visuais dos bairros e limites. Nesta perspectiva,
Cullen acrescenta outra contribuição significativa para a análise visual urbana,
apresentando o conceito que ele denomina de “the relationship art”, o qual propõe
a reunião dos elementos urbanos, considerando que a relação visual deles
constituem a formação da paisagem urbana. Fazem parte deste conceito elementos
de várias escalas, desde os edifícios, à publicidade e ao tráfego.
81
Para Cullen, a paisagem urbana é vista não como decoração, nem como um estilo
para preenchimento de espaços vazios, como calçada; é vista como um elemento
urbano que deve ser utilizado de modo a criar um ambiente vivo e humano.
Cullen (1983:10) propõe a classificação de três categorias de análise: em primeiro
lugar, a Visão Serial, ou seja, a imagem do aqui e a imagem do além, que vem a ser
a imagem que se constrói na medida em que nos movimentamos.
Figura 25: Exemplo de planta com indicação dos pontos de vista da sequência de percurso.
A segunda é a categoria do Local, trata-se do sentido de localização, que diz
respeito a nossa posição no espaço, assim como a reação que temos perante este
posicionamento. O Conteúdo é a terceira categoria, e está relacionada com a
identidade e personalidade da própria constituição da cidade, e tudo o que a
individualiza (Ibid., p. 13-14).
82
O ponto culminante da pesquisa de Cullen sustenta que a compreensão e a
percepção do espaço têm um caráter sequencial. O autor defende que qualquer
intervenção urbana deverá promover, portanto, a articulação de espaços a qual
pode ser experimentada através do movimento. Por isso, a visão serial trata de uma
técnica de leitura cinética do espaço urbano, cujo objetivo visa à apropriação do
espaço que ocorre ao longo de um percurso, assim como a identificação dos
elementos e efeitos visuais mais expressivos e portadores de informação sobre a
configuração física de um determinado percurso. No livro “Paisagem Urbana”, esse
procedimento é realizado por meio de uma série de registros fotográficos.
Para Cullen, “a progressão uniforme do caminhante vai sendo pontuada por uma
série de contrastes súbitos que têm grande impacto visual e dão vida ao percurso”.
Do ponto de vista situacionista, estas técnicas sequenciais implicam na exploração
do lugar urbano. Essa é a lógica da dérive, ou deriva, o método situacionista de
reapropriação da cidade, que consistia em andar apressadamente por ambiências
diversas, deixando-se levar pelas solicitações que a própria paisagem faz e aos
encontros que a cidade cria.
Figura 26: The Naked City, exemplo do mapa psicogeográfico, Debord 1957.
83
A deriva é uma técnica urbano-situacionista para tentar desenvolver, na prática, a
idéia de construção de situações através da psicogeografia. Para o pensamento
urbano situacionista, a cidade tornou-se lugar-chave das investigações em
psicogeografia, cujo objetivo consistia em estabelecer novas formas de habitar a
cidade. A psicogeografia estudava o ambiente urbano, sobretudo os espaços
públicos, através das derivas, e tentava mapear os diversos comportamentos
afetivos diante dessa ação básica do caminhar na cidade.
Numa perspectiva ampla, após a análise dos diferentes procedimentos de
apropriação do espaço urbano, é natural estabelecer uma relação que enxerga a
deriva como a visão serial de Cullen realizada apressadamente, por um andar sem
rumo; e a psicogeografia como o mapa mental de Lynch realizado a partir da
experiência do caminhar pela cidade.
Um estudo comparativo entre as ferramentas de análise estudadas pode ser
realizado com foco no observador, no sujeito interessado em analisar o ambiente
urbano. Para Cullen (1983), à medida que o observador se desloca, o espaço se
revela através de fragmentos visuais que, uma vez remontados cognitivamente,
permitirá a compreensão da paisagem urbana.
para os situacionistas, este mesmo movimento significava a rendição do
pedestre aos prazeres da cidade, a exploração do potencial urbano como
experiência ontológica vivida. Esta é a base da ideia de construção de situações
que deveriam ocorrer durante a passagem por diferentes cenários e conflitos, por
exemplo. A situação é construída de modo a ser experimentada por quem a fez;
assim, o observador em movimento passa a ser o vivenciador de experiências,
inclusive, no meio urbano.
Essa exploração do potencial urbano permite, para Lynch, que o observador se
familiarize com o ambiente, enfatize o que é visto num processo constante de
interação que define a paisagem não apenas visual, como também mental, uma vez
que o papel do observador, diante do seu ambiente, para Lynch é o de selecionar,
84
organizar e conferir significado àquilo que vê. Trata-se da construção de imagens
que podem variar entre observadores diferentes.
Portanto, possuímos um conjunto de ferramentas que, apesar dos diferentes focos
analíticos: imagem, paisagem e situações possuem semelhanças que fortalecem a
importância da mudança de escala na análise do espaço urbano, a fim de que o
observador se torne também um vivenciador e conhecedor da cidade. Além da
noção essencial de que o caráter primordial da arquitetura está no fato de agir com
um vocabulário tridimensional, que inclui o homem.
Todas as ferramentas estudadas almejam a apropriação do espaço urbano.
Considerando que os aspectos citados são os mais relevantes para este estudo de
análise visual, uma forma de se obter um único conjunto de ferramentas é através
da composição ou síntese dos métodos analisados, ou seja:
a) explorar a cidade através do andar apressado, e do registro da visão
sequenciada das passagens rápidas por ambiências diversas;
b) a partir desta experiência do observador, mapear o espaço com base nos
elementos urbanos que se destacam durante o deslocamento, resultando numa
cartografia das diversas ambiências psíquicas, a representação gráfica da
exploração da cidade.
2
22
2.3
.3.3
.3
A
AA
A
Forma
FormaForma
Forma
do Produto
do Produtodo Produto
do Produto
Urbano
UrbanoUrbano
Urbano
O estudo de caso desta pesquisa é analisado sob o ponto de vista da discussão
defendida sobre a experimentação da cidade dos autores expostos. Porém, estes
conceitos ainda o associados à dinamicidade das relações que Lobach (2001)
estabelece entre usuário–produto industrial (processo de design) e as relações
usuário-produto industrial (processo de uso). Ao processo de design procuram-se
atribuir conceitos analíticos que permitam a captação do espaço que se pretende
intervir, como a Orla de Boa Viagem.
85
Lobach (2001:197) associa ao “designer como expert em planejamento e
configuração do entorno, o designer municipal” à tarefa de atuar representando o
público, inclusive influenciar a prática de projetos de interesse coletivo e as
estruturas de comunicação e decisão no âmbito dos Poderes Executivo e
Legislativo.
O autor considera que compete a este designer a elaboração das funções estéticas,
práticas e simbólicas dos mobiliários urbanos. Ele é, neste caso, o emissor de uma
mensagem em forma de um produto industrial. Lobach denomina esta parte da
cadeia de comunicação de produção estética ou processo de design.
Assim, parte do que torna uma cidade ordenada visualmente, ou seja, legível, são
os produtos que a compõe. A respeito do design como elemento comunicador,
Bennetti citou durante a entrevista que:
Na escala da cidade você tem um diálogo que tem que ser
suficientemente comunicativo pra que um forasteiro identifique aquilo da
maneira que se pensou (...) As cidades têm que ser inteligíveis para as
pessoas, sobretudo para quem não a conhece. Então, todos os
elementos tanto gráficos, quanto simbólicos têm que passar uma
coerência ao que se destina.
Segundo Dondis (2003), a experiência visual humana é fundamental ao
aprendizado, para que possamos compreender o meio ambiente e reagir a ele; a
informação visual é o mais antigo registro da história humana. Além da análise do
espaço por meio do conhecimento visual, Dondis também contribui com este
trabalho no sentido de propor técnicas de captação do estudo de caso, mas não
fomenta um modelo metodológico. Para o autor, “o maior perigo que pode ameaçar
o desenvolvimento de uma abordagem do alfabetismo visual é tentar envolvê-lo
num excesso de definições” (op. cit., p. 15).
86
Figura 27: Diagrama do processo de Design da cidade.
A noção de importância do contraste na visão é entendida por Dondis como a
ferramenta que torna o olhar eficaz com os padrões que observamos mais claros.
Para a autora, a luz cria estes padrões e permite que a observação seja
reconhecida e armazenada no cérebro. “Assim, os olhos e o processo de visão
estendem-se em muitas direções, extrapolando o ato de ver e atingindo os
domínios e as funções da inteligência”.
As técnicas visuais listadas por Dondis são utilizadas como meio para compreensão
da expressão visual do conteúdo. Além destes procedimentos, não se pode negar a
interpretação pessoal como um importante fator. Contudo, as técnicas de Dondis
são definidas, com seu oposto, como foram propostas, em termos de polaridade,
tais como a simplicidade e a complexidade tratadas aqui como ordem e desordem
visual.
Nesse sentido, a inspeção do mecanismo formal visa - por meio das categorias
visuais de Arnheim (1986) a um equilíbrio, direção, força e tensão, entre outros -
87
que pretendem estabelecer relações estruturais, não substituir a intuição
espontânea, mas aguçá-la, sustentá-la e tornar seus elementos comunicáveis.
Arnheim estabelece um estudo de investigação visual que, somado ao conceito de
configuração e à sua relação com o espaço define categorias de padrões de
desenvolvimento formal, a partir principalmente do equilíbrio, além de direção, força
e tensão, entre outras. Por isso, os conceitos deste autor foram uma forte referência
para este trabalho, uma vez que ele trata da importância de se compreender o que
acontece e qual a dinâmica das formas de um objeto, antes que se possa avaliá-lo
para algum uso ou intervenção.
Estudando padrões de desenvolvimento formal, a partir do equilíbrio, direção, força
e tensão, entre outros elementos presentes na forma, Arnheim estabelece um
método de investigação visual que, somado ao conceito de configuração e à sua
relação com o espaço, torna-se fundamental na elaboração da análise visual da
forma.
Assim, para completar o estudo do ponto de vista da análise visual do produto
mobiliário urbano, trabalhou-se também com a Metodologia de análise visual de
equipamentos no meio urbano
18
desenvolvida por Guedes (2005). O método é
baseado na articulação de modalidades de análise, que são agrupadas em três
categorias: o modo visual, a qualidade da forma, e a configuração do meio, que,
por sua vez, compõem-se de diversas modalidades complementares.
O método possui um caráter relacional, visto que as análises são efetuadas a partir
da elaboração de arranjos que são formados entre as conexões das modalidades.
Cada combinação mostra o caminho percorrido e revela parte do problema
investigado. De acordo com Guedes, o resultado é um método que procura ordenar
e explicitar os diversos níveis de complexidade que envolvem a análise da forma
18
Metodologia proposta por João Batista Guedes, em sua Tese de Doutorado desenvolvida no Programa de
Pós-Graduação em Desenvolvimento Urbano da Universidade Federal de Pernambuco. GUEDES, João Batista.
Design no Urbano. Metodologia de Análise Visual de Equipamentos no Meio Urbano. Tese de Doutorado.
Recife, novembro de 2005.
88
dos equipamentos urbanos: uma abordagem em que a paisagem é tratada como
parte integrante da configuração geral dos equipamentos nela presentes.
A categoria qualidade da forma deve ser entendida como o conjunto de conceitos
que possibilitam a caracterização e a compreensão de uma forma visual. Esta
categoria funciona como mediadora entre as demais categorias do método, uma
vez que fornece os elementos conceituais, permitindo estruturar a definição e
orientar a observação de uma forma. Além disso, como se trata de uma praia, a
configuração da orla pode variar de acordo com agentes temporais, por isso, a
modalidade temporalidade também será bastante explorada.
2.3.1 Ferramentas de análise da forma
É importante salientar que, no campo do design, Dondis (2001:24) coloca suas
técnicas visuais como agentes no processo de compreensão da linguagem visual.
Grande parte do seu trabalho se baseia na Teoria Geral da Gestalt e nas suas leis,
porém centrados apenas na forma bidimensional ou plana
19
. Os elementos visuais
constituem a substância básica de tudo aquilo que vemos. Por isso, as técnicas
visuais do design bidimensional de Dondis são trabalhadas, nesta pesquisa,
adequadas à forma tridimensional, determinada pela evolução da superfície
côncava e/ou convexa
20
.
Dondis (2001:141-159) cria um conjunto de modalidades em uma disposição
antagônica de técnicas que o adotadas como instrumentos para a elaboração de
arranjos visuais, tais como: contraste e harmonia; instabilidade e equilíbrio;
assimetria e simetria; irregularidade e regularidade; complexidade e simplicidade;
fragmentação e unidade; profusão e economia; exagero e minimização;
espontaneidade e previsibilidade; atividade e estase; ousadia e sutileza; ênfase e
19
Para Lobach (2001:161) o elemento mais importante de uma figura é a forma, da qual podemos distinguir dois
tipos: forma espacial e forma plana. Forma espacial é a forma tridimensional de um produto. E a forma plana é
aquela obtida pela projeção de um produto sobre um plano.
20
A respeito dos estudos desenvolvidos a partir de 1919 na Bauhaus. Ver Azenha Jr. João; Wick, Rainer K.
Pedagogia da Bauhaus. São Paulo. Martins Fontes. 1989.
89
neutralidade; transparência e opacidade; variação e estabilidade; distorção e
exatidão; profundidade e planura; justaposição e singularidade; acaso e
seqüencialidade; agudeza e difusão; e episodicidade e repetição.
As propostas metodológicas de Dondis, Guedes e Arnheim se fundem no conceito
da dinâmica formal. Neste sentido, os autores demonstram a noção de importância
a respeito da maneira como os elementos visuais são percebidos. E a análise visual
é associada, objetivamente em Dondis e Guedes, ao conceito de Modo Visual, aqui
definido como a maneira que o sujeito observador percebe a forma visualizada.
Portanto, com base nos conceitos de Guedes o trabalhadas, de maneira
articulada, no capítulo 4, as modalidades do posicionamento e da temporalidade.
90
CAPÍTULO
CAPÍTULO CAPÍTULO
CAPÍTULO 3
33
3
Estudo de C
Estudo de CEstudo de C
Estudo de Ca
aa
aso
soso
so
“Toda percepção é também pensamento.
Rudolf Arnheim
91
3
33
3
E
EE
Es
ss
studo de Caso
tudo de Casotudo de Caso
tudo de Caso
Construção de p
Construção de pConstrução de p
Construção de pais
aisais
aisa
aa
agens
gens gens
gens
No início do século XX, surgem em São Paulo os bairros formalmente inspirados na
cidade-jardim
21
, e que se tornam padrões de urbanização para as áreas
residenciais das camadas de maior poder aquisitivo do país. Trata-se da casa
edificada no meio do lote, totalmente recuada e cercada de jardins
22
. Esse padrão
substitui o velho modelo de edificações geminadas, alinhadas ao longo das ruas, e
forma, ainda hoje, importantes áreas nas cidades brasileiras, visto que é tido como
o protótipo ideal de habitação para todos.
O modelo da casa isolada e do bairro verde persiste no ideário das camadas mais
abastadas e de setores significativos das classes médias urbanas. Dessa forma,
nas cidades de ocupação sazonal das grandes metrópoles e ao longo da costa,
criam-se loteamentos que visam reproduzir tal modelo. São construções à beira-
mar, junto às represas ou em áreas de montanha, que contêm, na essência, a idéia
de possibilitar a compra de um espaço em que o usuário possa construir a sua
casa segundo padrões urbanísticos que, raramente, são obtidos em sua primeira
residência.
Essa forma de ocupação urbana visa basicamente à apropriação de um valor
paisagístico significativo, intrínseco à região sobre o qual se implanta. Somente no
início do século XX estes loteamentos de trechos significativos da zona costeira do
país passaram a ser socialmente aceitos como uma figura urbana.
O mar, como valor cênico e paisagístico, e a praia, como espaço para o lazer, são
incorporados, nessa época, ao repertório urbano brasileiro. Refletiam ideários
21
A cidade jardim é um modelo de cidade concebido por Ebenezer Howard, no final do século XIX, buscou-se
um equilíbrio entre o crescimento econômico e os problemas sociais integrados ao desenho da paisagem. A
comunidade era autônoma e cercada por um cinturão verde.
22
Subsídios para um projeto de gestão / Brasília: MMA e MPO, 2004. (Projeto Orla). Pág. 44.
92
provenientes do continente europeu e dos Estados Unidos, onde o usufruto das
praias já se consolida no final do século XIX e início do século XX.
23
Figura 28: Processo de urbanização de uma praia.
Ter um imóvel em frente ao mar vira interesse das elites, e nas cidades de porte
surgem bairros que foram construídos, tendo Copacabana, marco desse processo,
como principal referencial.
23
Ibdem pág. 46.
93
A via beira-mar vira sinônimo de modernidade e a praia assume a função urbana da
praça e do parque, sendo utilizada como centro de encontro e lazer por um público
amplo.
Segundo Villaça (2001):
(...) A partir do final do século passado, no caso do Rio; da década de
1940, no caso de Santos; e a partir da década de 1960 nos do Recife e
Fortaleza, as praias passaram a concorrer fortemente com outros sítios
como local agradável para a moradia das burguesias. Começaram a
exercer tal fascínio sobre as camadas de mais alta renda que sobre seu
sítio limitado desabou uma violenta demanda para a localização
residencial (p. 181-188).
Os projetos paisagísticos definiram os calçadões de passeios à beira-mar e
desfrutar das vistas panorâmicas é uma nova função também a ser explorada como
atrativo para o turismo. O mobiliário urbano a ser instalado deveria atender às novas
necessidades de seus frequentadores assumindo outras características formais e
funcionais relacionadas à beleza natural do mar e às novas atividades ali realizadas,
tais como: a instalação de quiosques, posto guarda-vidas, bancos, chuveiros e
sanitários.
As mudanças dos hábitos da população urbana, que viu nas caminhadas nos
calçadões à beira-mar uma atividade cotidiana de melhoria da qualidade de vida e
do culto ao corpo, demandaram produtos necessários ao desenvolvimento dessas
atividades, tais como: aparelhos para prática de exercícios físicos; quadras poli-
esportivas; e vias específicas para tráfego de bicicletas e patins. Nestas áreas para
pedestres é possível ser banhista, esportista, consumidor, trabalhador, ciclista, e, na
maioria dos casos, participante de atividades de lazer como festas e manifestações
culturais das mais variadas (figura 29). Vale ressaltar a quantidade de produtos que
são implantados de acordo com a variância temporal ocorrida nas praias, como:
cadeiras e guarda-sol (figura 29), postos de comidas e bebidas, além de
comerciantes ambulantes (figura 30).
94
Figura 29: Dia 8 de dezembro, dia de Iemanjá, Salvador, BA.
Figura 30: Praia do Pina, Recife, PE.
Desde a consolidação dos calçadões que temos hoje, décadas de 1950 e 1960,
estes espaços ainda sofrem constantemente processos de reordenamento a fim de
se cumprir todas as funções que uma orla demanda: de acessibilidade, de
circulação, de contemplação, de estar e lazer.
As Orlas podem ser dispostas em áreas o litorâneas como também no limite
de lagos, açudes, rios e manguezais. Os limites aquáticos são para Lynch
95
(1997:73), na maioria dos casos, magníficos exemplos de limite visível, gigantes em
suas dimensões, que podem expor toda uma cidade aos nossos olhos.
Em único ambiente urbano concentra-se a construção de várias paisagens: de um
lado uma massa edificada, construída, comumente residencial; uma via pública de
papel fundamental para a cidade; um calçadão repleto de mobiliários urbanos; e,
por fim, a praia e o mar. Trata-se de um local de encontro, de reunião social, e de
ampla complexidade. Por isso, esta dissertação se desenvolve em torno deste
espaço, em especial orlas marítimas, e seu ordenamento visual como item
complementador de convivência urbana, visando à necessidade do pedestre, com
especial atenção para a configuração dos calçadões.
Praias são feições deposicionais no contato entre terra emersa e água, comumente
constituídas por sedimentos arenosos, podendo também ser formadas por seixos e
por sedimentos lamosos. A praia de Boa Viagem pode ser classificada, segundo o
princípio de classificação tipológica das praias da zona costeira brasileira,
apresentada pelo Projeto Orla do Governo Federal (2004), como uma praia urbana
residencial ou turística adensada, uma vez que é composta por terrenos à beira-mar
ocupados por construções verticalizadas, alto adensamento de construções e
população, e paisagem totalmente formada com antropismo. Uma proposta de
reordenamento para este tipo de praia, dificilmente terá êxito, sem uma estreita
articulação com a gestão de seu entorno, o que implica o estabelecimento de um
jogo interescalar na definição e implementação de metas planejadas.
É necessário que as orlas brasileiras deixem de ser apenas matérias de cartão-
postal e passem a ser entendidas como áreas estratégicas das cidades; para que
haja o reconhecimento da relação direta que existe entre as práticas políticas, a
forma urbana e sua representação social. A compreensão de que a configuração e
o tratamento das orlas não é uma questão meramente estética, mas de valorização
da identidade da cidade como um todo, pode ser o ponto de partida para uma
mudança de postura do poder público, quanto à responsabilidade sobre sua
imagem. Em suma, a praia é, sem dúvida, o maior e mais democrático espaço
96
público de uma cidade. Por isso, o resgate da cidadania, proposto por tantos
Planos Estratégicos, poderia ter início com a valorização desses espaços.
3
33
3.1 O objeto
.1 O objeto .1 O objeto
.1 O objeto de estudo
de estudode estudo
de estudo
O Objeto apresentado neste capítulo é a Orla que compõem o calçadão da Avenida
Boa Viagem, na capital de Pernambuco. Com uma extensão de 8 km e uma área
total de 74 mil m².
Há 300 anos, a praia de boa viagem, recortada por mangues e apinhada de
cajueiros e coqueirais, era onde os moradores do Recife se despediam a quem ia
embora aos navios rumo ao sul. Em 06 de junho de 1707, o fidalgo Baltazar da
Costa Passos cedeu espaço para a construção de uma capela para as missas dos
remotos moradores e freqüentadores em férias. A Igreja de Nossa Senhora da Boa
Viagem, símbolo cultural e marco do bairro.
A ocupação da praia se manifestou através do interesse de poucas famílias
pioneiras que a ocupavam com casas de veraneio. Bem depois que a cidade se
encontrava urbanizada, em 1920, e cedendo a pressões políticas das burguesias, é
o que o estado introduz melhorias na infra-estrutura viária e, mais tarde, na de
saneamento e de comunicações.
No início da urbanização da orla, a terra tem seu preço elevado em função de uma
demanda de alta renda que incide sobre terras privilegiadas e bem localizadas,
embora com acessibilidade precária. A Avenida Boa Viagem, inaugurada no
governo de Sérgio Loreto, em 20 de outubro de 1924, é uma via que marcou a
urbanização do local, tornando a orla não só a mais famosa do Recife, como
também, referência de modernidade do país. Com isso, na década de 1970, a orla
oceânica recifense começou a se transformar em local de residência permanente
das camadas de alta renda.
97
A partir disso, as edificações da orla seguem baseadas em vários estilos
contemporâneos, projetos arquitetônicos que envolvam a utilização dos materiais
associados a indústrias de alta tecnologia da década de 1980 e 1990, como
revestimento metálico, vidros e pedras. Com poucos adornos e elaboração formal,
linhas retas e formas geométricas; resultando, na maioria, em prédios com formato
de paralelepípedo, com largura e profundidade desproporcionalmente menores que
a altura.
Com relação às edificações representativas da praia, boa parte foi substituída pelos
prédios de luxo, com exceção de algumas casas, patrimônios históricos, da Praça
de Boa Viagem e dos Três Jardins; os quais sofreram reformas que interferiram no
projeto original. Com isso, nota-se que a orla não se constitui de consideráveis
apelos históricos em sua composição.
O mar de Boa Viagem interfere consideravelmente na leitura de todo o bairro.
Apenas na praia é possível visualizar o bairro de frente, ou seja, a maioria das
edificações é direcionada para o mar. Assim, no primeiro contato que se pode fazer
com o bairro, a impressão percebida é de que se entra por trás. Portanto, o mar se
configura como o marco
24
mais significativo de Boa Viagem. Além disso, essa orla é
o maior espaço público de que os moradores dispõem para áreas de lazer,
descanso e contemplação do bairro.
A praia é delimitada pelas praias do Pina e da Piedade (figura 03), numa disposição
retilínea. É nela onde acontece a maioria dos eventos sociais da zona sul da cidade,
tais como: a abertura oficial do verão, os torneios esportivos, o Carnaval, e o
reveillon. No calçadão, encontram-se instalados quiosques que comercializam água
de coco, equipamentos para ginástica, quadras poli-esportivas, parques infantis e
24
Os conteúdos das imagens das cidades remetem às formas físicas e são classificados por Lynch em cinco
elementos: vias, os canais de circulação ao longo dos quais o observador se locomove de modo habitual;
limites, os elementos caracterizados como fronteiras entre duas fases; bairros, regiões de uma cidade com
características comuns que os identificam; pontos nodais, junções, locais de interrupção do transporte, um
cruzamento ou uma convergência de vias; Marcos, pontos de referência, elemento externo de destaque.
LYNCH, Kevin. A Imagem da Cidade
A Imagem da CidadeA Imagem da Cidade
A Imagem da Cidade. São Paulo. Martins Fontes. 1982. P. 51-53.
98
pistas de cooper, skate, patins e bicicletas. Dispõe de uma infraestrutura de água,
esgoto, rede elétrica, telefonia e segurança pública.
Hoje, a praia de Boa Viagem é um dos cartões postais do Recife e também seu
lugar de mais elevado índice de alta renda. A orla da praia até o Pina possui o maior
IDH-M
25
no Atlas do Desenvolvimento Humano no Recife, elaborado pela Prefeitura
do Recife em 2005, tendo atingido o índice da área com os imóveis mais
valorizados da capital.
Segundo o Plano Diretor do Recife
26
, Boa Viagem possui mais de 100 mil
habitantes, excluindo-se as pessoas que embora o durmam, transitam
diariamente pelo bairro, que é um dos principais corredores viários para os que
saem e chegam à cidade.
. .
. É em Boa Viagem onde encontramos hoje boa parte do
fluxo empresarial, comercial e turístico do Recife, reunindo grande número de bares,
restaurantes, centros de compras, hotéis e empresas com foco na prestação de
serviços e bens de consumo. Ainda, de acordo com a mesma fonte de pesquisa, o
bairro concentra 22,4% do total da área a ser construída ou em construção no
Recife.
Como referências espaciais, destacam-se a Praça de Boa Viagem (fig. 04), onde se
localizam a Igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem e a feira de artesanato, os três
Jardins (fig. 06), os recifes e os altos prédios de luxo (fig. 07). De antemão, ao
observar os mobiliários urbanos destes marcos culturais, Praça de Boa Viagem e os
Jardins, nota-se que não apresentam a mesma linguagem configuracional que
aqueles dispostos na orla, caracterizando uma dessemelhança visual e simbólica
aplicada a contextos diversos.
25
O IDH-M é uma síntese de três dimensões do desenvolvimento humano: longevidade, educação e renda.
Fonte: RECIFE, Prefeitura; PNUD. Atlas do Desenvolvimento Humano no Recife. 2005.
26
Plano Diretor do Recife. Recife. Prefeitura do Recife. 2004.
99
Figura 04: Praça de Boa Viagem.
Figura 05: Terceiro Jardim.
100
Figura 06: Recifes e edificações de Boa Viagem.
O Projeto Orla para Boa Viagem, desenvolvido pela Colméia Arquitetura e
Engenharia e implantado pela Construtora Camilo Brito, foi aprovado no ano 2007,
tendo um investimento de cerca de R$ 18 milhões, que foram investidos em um
novo planejamento urbano para toda a extensão da orla. O projeto incluiu
intervenções na área dos passeios públicos (calçadas), iluminação, quiosques,
pista de cooper, ciclovia, estacionamentos, entre outros elementos do mobiliário
urbano.
O antigo calçadão, em pedra portuguesa, foi substituído por tijolos intertravados
(calçamento com blocos de cimento colorido que se encaixam). O projeto que
envolve iluminação é chamado de Programa Reluz e trocou todos os postes da orla,
cerca de 270, por outros 131, com 20 metros de altura, com maior potencial de
luminescência. A nova proposta para a ciclovia do bairro se estende por toda
extensão da orla do Pina até a divisa com Jaboatão dos Guararapes, na Região
Metropolitana. Para isso, algumas áreas de estacionamento foram readequadas. A
obra acarretou na diminuição das vagas, de 1.500 para 480, com 82 exclusivas para
ônibus de turismo.
101
Segundo Del Rio (1999), o sentido do lugar é gerado na sobreposição de três
esferas de nossa consciência: atividades de uso, atributos físicos propriamente
ditos e as concepções e imagens. Em vista disso, este autor enfatiza que:
O Homem se comunica através de um processo cognitivo, que é a
construção do sentido em nossas mentes. Este processo possui três fases
distintas: percepção (campo sensorial), seleção (campo da memória), e
atribuição de significados (campo do raciocínio), num curso que leva a dois
fins precisos, ou seja, ação e memorização (p. 92).
Diante desse fato, avaliar o impacto que tais transformações poderão trazer ao
cotidiano dos frequentadores do local ao final de 12 meses de realização das obras
do Projeto Orla, justifica a realização de um estudo desta natureza, no que diz
respeito à importância da análise das dinâmicas urbanas no desenvolvimento de
projetos que envolvam mudanças significativas na configuração do espaço
habitacional, como o que está em andamento na orla do Recife.
3
33
3.2 Apresentação dos set
.2 Apresentação dos set.2 Apresentação dos set
.2 Apresentação dos seto
oo
ores
resres
res
Os 8 km de extensão da Orla foram divididos em seis setores ponderando critérios
de uso como a predominância de banhistas em um trecho, e esportistas em outros;
e paisagísticos, que consideram a configuração da praia, da vegetação e da largura
do calçadão, por exemplo.
É convencional numerar elementos urbanos tendo como ponto de partida o
posicionamento do centro da cidade. Porém, os seis setores da orla foram divididos
no sentido oposto, uma vez que é considerada, além da direção de circulação dos
veículos na Avenida à beira-mar, a Praça de Boa Viagem, onde também se localiza
o Mercado de Boa Viagem, como o centro do bairro. Por isso, foram tomados como
referenciais para o inicio da divisão dos setores.
102
Figura 31: Divisão dos setores.
Limitação geográfica de cada setor:
1. compreende, em quase toda sua extensão, a região conhecida como
Setúbal. Tem início na divisa dos bairros Boa Viagem e Piedade até a
Praça de Boa Viagem, marco principal do setor (figuras 33, 34 e 35);
2. inicia após a Praça de Boa Viagem e se estende a a Rua Bruno
Veloso, onde estão localizados os dois hotéis mais conhecidos da
Avenida Boa Viagem, o Recife Palace e o Internacional Palace (figuras
37, 38 e 39);
3. localiza-se entre a Rua Bruno Veloso e o Edifício Acaiaca, marco
principal do trecho, um dos poucos edifícios com arquitetura
103
remanescente da década de 1960, existentes no bairro (figuras 42, 43
e 44);
4. está situado na continuação do Setor 3 até a extensão do Jardim,
onde está localizada a Padaria Boa Viagem, ponto de referência do
setor, e a vegetação começa a ficar mais densa (figuras 46, 47 e 48);
5. trecho que compreende os 3 Jardins de Boa Viagem, onde se
localizam os parques infantis, a Academia da Cidade
27
e maior Pólo
Gastronômico da Avenida Boa Viagem (figuras 50 e 51);
6. trecho da Orla referente ao bairro Pina. Estão localizados restaurantes,
quadras de tênis e futebol (figuras 53 e 54).
Por meio da técnica de reapropriação da cidade dos Situacionistas, a deriva, e do
caráter sequencial de compreensão e percepção do espaço de Cullen, a Orla de
Boa Viagem foi explorada observando as solicitações que a própria paisagem faz e
aos encontros que ela cria.
Dessa forma, acreditando que a imagem da cidade se constrói na medida em que
nos movimentamos, foi realizada a técnica de leitura cinética da orla com o objetivo
de apropriação do espaço, ao longo do percurso, assim como a identificação dos
elementos e efeitos visuais mais expressivos e portadores de informação sobre a
configuração física do caminho. Esse procedimento é realizado por meio de uma
série de registros fotográficos, assim como no livro de Cullen, “Paisagem Urbana”.
Os conceitos que envolvem a psicogegrafia dos situacionistas e o mapa metal de
Lynch também nortearam o estudo dos setores da orla. As imagens seqüenciais do
espaço são atribuídas a colagens, esquemas gráficos e desenhos, a fim de se
apresentar por meio gráfico o estudo da maneira mais próxima à experiência
vivenciada pelo observador treinado (figuras 32 a 54 e 119).
27
Programa implantado em 2002 em toda a cidade como política de promoção à saúde, disponibiliza equipamentos e
aulas de ginástica , bem como acompanhamento médico e nutricional com profissionais da área.
104
Durante este estudo, foi possível analisar as imagens com relação ao ordenamento
e desordenamento visual, e as causas configurativas que classificam estes atributos
perceptivos como o tratamento superficial
28
e a proporção
29
dos mobiliários
urbanos, por exemplo.
Para Lobach (2001), o ordenamento visual significa uma oferta de percepção com
baixo conteúdo de informação. Em consequência, este tipo de configuração é
rapidamente compreendido, sem precisar desviar ou prender a atenção do
observador, tornando a ação do pedestre mais fácil de ser exercida. Ainda, para o
mesmo autor:
(...) a ordem uma sensação de segurança. Ao captar e compreender
rapidamente em todos os seus detalhes, os objetos de ordem elevada
liberam a percepção para outros estímulos. Ao contrário, um ambiente
altamente complexo, onde a percepção humana recebe uma
multiplicidade de informações, dá uma sensação de insegurança, que
pode atuar sobre a psique humana (LOBACH, 2001, p. 167).
Por outro lado, a desordem visual ou complexidade, como qualifica Dondis
(2003:144) e Lobach (2001:169), é a formulação oposta da ordem, compreende
uma confusão visual constituída por inúmeros contrastes e elementos que dificultam
a comunicação de uma informação formal e comprometem a atenção do
observador por mais tempo.
Dessa forma, a desordem visual é utilizada como um atributo, do ponto de vista
urbano, inadequado, uma vez que, ao atrair nossa atenção e demandar maiores
esforços para a captação de estímulos, dificultam o uso cotidiano da cidade e seus
elementos urbanos.
28
Para Guedes (2005) “o tratamento superficial é uma modalidade que se ocupa da aparência final das formas;
esta modalidade, parte integrante do conteúdo formal, investiga o aspecto de como as superfícies se
apresentam”.
29
Para Guedes (2005) No conceito de proporção, o caráter da dimensão e de escala assume um papel
bastante importante, visto ser a dimensão um dos elementos referenciais no estudo das proporções. No método
investigativo de Guedes, procurou-se identificar as relações de dimensões dos equipamentos e relacioná-las
com as dimensões existentes no meio.
105
A seguir são apresentados todos os setores, com ênfase na configuração disposta
pelos mobiliários urbanos na paisagem.
Setor
SetorSetor
Setor
1:
1:1:
1:
Figura 32: Esquema com indicação dos pontos de vista da seqüência de percurso.
106
107
108
109
Setor 2:
Setor 2:Setor 2:
Setor 2:
Figura 36: Esquema com indicação dos pontos de vista da seqüência de percurso.
110
111
112
113
Setor 3:
Setor 3:Setor 3:
Setor 3:
Figura 40: Posto salva-vidas demolido durante as obras do Projeto Orla.
Figura 41: Esquema com indicação dos pontos de vista da seqüência de percurso.
114
115
116
117
Setor 4:
Setor 4:Setor 4:
Setor 4:
Figura 45: Esquema com indicação dos pontos de vista da seqüência de percurso.
118
119
120
121
Setor 5:
Setor 5:Setor 5:
Setor 5:
Figura 49: Esquema com indicação dos pontos de vista da seqüência de percurso.
122
123
124
S
SS
Se
ee
etor 6:
tor 6:tor 6:
tor 6:
Figura 52: Esquema com indicação dos pontos de vista da seqüência de percurso.
125
126
banheiro
30
,
30
Para alguns autores pequenas edificações como os banheiros da Orla de Boa Viagem não são considerados
mobiliários urbanos.
127
Durante a análise sequencial da Orla, é possível entender que apesar da repetição
periódica dos mobiliários urbanos em toda extensão do calçadão, os setores
apresentam características visuais e funcionais diferentes. Por isso, este capítulo,
trata da construção das várias paisagens que constituem a Orla de Boa Viagem.
São apresentados casos predominantemente ordenados (setor 4 figura 48) e
desordenados (setor 3 figura 42). Percebe-se também que a mesma configuração
da orla é repetida para todos os setores, com exceção de parte do setor 4, isso
resulta na profusão de elementos visuais no setor 1, o que não ocorre na
composição dos setores com maior largura no calçadão, 4 e 5 por exemplo.
O mobiliário é tratado, neste trabalho, como um produto de cunho essencialmente
industrial, por isso, deve ser produzido para que seja aplicado de forma repetitiva, a
fim de se equipar um significado espaço de circulação. Porém, o design industrial
permite que sejam trabalhadas modulações e articulações que sejam adaptáveis ao
contexto. Estes conceitos podem evitar a profusão de elementos visuais sem
comprometer a função prática do espaço.
O tratamento superficial, mais especificamente as cores aplicadas nos mobiliários
urbanos, foi um atributo encontrado no estudo, relacionado, muitas vezes, à
desordem visual. De acordo com Lobach (2001), o uso de cores fortes e intensas
pode ser praticado por algumas empresas, com o objetivo de provocar a compra,
desviando a atenção dos consumidores da possível escolha por produtos com
cores neutras. Porém, quando se trata de paisagem o foco principal não é um
comprador, mas o pedestre; não é a compra, e sim a ação cotidiana; e os produtos
não estão numa prateleira à venda; mas dispostos no espaço de convívio, prontos
para serem utilizados. Por isso, não só os próprios mobiliários urbanos como
também o ambiente que eles compõem precisa comunicar com eficácia suas
funções.
Portanto, a aplicação de cores fortes e saturadas, na orla de Boa Viagem, cria
contrastes excessivos e uma estrutura visual formada por várias cores diferentes
128
saturadas (figura 43 do setor 3) que, ao invés de evitarem alguma monotonia na
forma urbana, confundem os efeitos estéticos que se pretendiam obter com o uso
das cores.
Além disso, em termos de acessibilidade vale ressaltar o que a consultora deste
tema do Projeto Orla, Ângela Carneiro Cunha, citou durante entrevista a respeito do
tratamento superficial do piso: “uma calçada muito desenhada confunde a pessoa
de baixa visão, ela acha que é buraco ou degrau”.
O conceito de proporção, tratado também como um elemento de complexidade da
paisagem, também resulta em contrastes que manipulam a visão à força da
proporção dos mobiliários. Para Dondis (1997:127), a relação entre o significado de
um elemento visual mais enfático, por sua dimensão, com outros elementos
também importantes é de primeiro plano, com fundo, dramatizando a importância
do elemento desproporcionalmente maior.
Figura 55: Um dos acessos à praia.
129
Figura 56: Desvios da ciclovia.
Esse é o efeito do contraste de escala causado pelo grande dimensionamento dos
mobiliários, perante a visualização do mar e a escala humana. De acordo com a
disposição dos postes e do desenho da ciclovia, o ciclista precisa desviar dos 25
metros de altura das torres de iluminação enquanto pedala (figura 56). Para ter
acesso à praia, é necessário procurar uma passagem ou atravessar, pular os
bancos que limitam os 8 km de extensão do calçadão (figura 55). O visitante que
vai à Orla pelo bairro de Boa Viagem, nas ruas perpendiculares à Avenida Boa
Viagem, antes de ver o mar se depara com o banheiro público (figura 42 do setor 3).
Assim, o significado relativo à proporção e à figura e fundo proposto por Dondis e
citado anteriormente, pode ser desdobrado no caso de Boa Viagem, ao se referir
aos grandes mobiliários como elemento visual de primeiro plano na paisagem; e o
mar é entendido como o fundo, onde deveria ser formulado o contrário, uma vez
que o artefato contemplativo possui maior poder cênico e deve agregar valor à
configuração do espaço de contemplação.
130
CAPÍTULO
CAPÍTULO CAPÍTULO
CAPÍTULO 4
44
4
Análise Visual da Orla da Praia de Boa V
Análise Visual da Orla da Praia de Boa VAnálise Visual da Orla da Praia de Boa V
Análise Visual da Orla da Praia de Boa Vi
ii
iagem
agemagem
agem
“O princípio oposto ao ritmo é o princípio do contraste.”
Bernd Löbach
131
4
44
4
Análise Visual da Orla da Praia de Boa Vi
Análise Visual da Orla da Praia de Boa ViAnálise Visual da Orla da Praia de Boa Vi
Análise Visual da Orla da Praia de Boa Via
aa
agem
gemgem
gem
Este capítulo procura apresentar a simbiose de procedimentos metodológicos que
possibilitem a análise visual da relação formal existente entre os mobiliários urbanos
e o espaço da cidade. Apresenta a análise dos mobiliários da Orla de Boa Viagem,
como eles se comportam diante da forma urbana existente, da paisagem natural e
de seus efeitos de variância temporal. Por fim, como instrumento de síntese das
análises e compreensão das informações pesquisadas é construído um mapa
psicogeográfico, que procura ressaltar os elementos principais que caracterizam o
estudo de caso.
Dada à natureza da investigação, optou-se por trabalhar com dados qualitativos,
baseados na escala visual do observador em movimento, indicada pelos itens 1.2 e
1.3 do primeiro capítulo; e nos procedimentos propostos pela base teórica da
pesquisa (Capítulo 2).
Além disso, são pesquisadas também, como estudos de caso, outras orlas, bairros
e cidades, em especial o Leblon, no Rio de Janeiro. Em 1993, a equipe formada
pelo arquiteto Luis Eduardo Indio da Costa foi uma das vencedoras do concurso de
ideias da prefeitura carioca, voltado à requealificação do eixo comercial do Leblon.
O projeto fez parte do Programa Rio Cidade, promovido pela gestão de César Maia
(prefeito) e Luiz Pablo Conde (secretário de urbanismo). A equipe, que contava
ainda com o designer Guto Indio da Costa, o paisagista Fernando Chacel e a
lighting designer Esther Stiller recebeu o prêmio em 1998, pela IF Design Award.
A Avenida Ataulfo de Paiva, reformada, é uma referência de ordenamento visual
resultante de um trabalho submetido a um programa que exigiu, segundo o
arquiteto Luiz Eduardo Indio da Costa:
que o projeto tivesse passado, presente e futuro. Quer dizer, na verdade,
ele respeitou a história do bairro porque ele mantinha a pedra portuguesa
foi redesenhada, mas foi mantida -, o meio-fio de granito foi
redesenhado, mas foi mantido -, a idéia de colocar jardineiras nas
calçadas é uma idéia muito usada no Rio de Janeiro todo, de botar vaso
na calçada, jardineira na calçada. E nós fizemos isso tudo de uma forma
132
muito organizada. Foi uma releitura dessa história toda e trouxemos para
uma linguagem atual. E o mobiliário urbano ficou a ponta mais avançada
em termos de futuro, até porque, mobiliário urbano não tinha,
praticamente, passado.
A respeito da relação configuracional do projeto urbano e do bairro - foco principal
deste trabalho - segundo o arquiteto, surgiu em decorrência de uma análise
bastante profunda e de um diagnóstico muito correto do bairro. Sobre isto, o
designer Guto Indio da Costa descreve este processo de análise e desenvolvimento
da seguinte forma:
Bom, na verdade, o que o Leblon não tinha antigamente era nenhum tipo
de ordenamento no mobiliário urbano, não é? Era caótico. Primeiro,
porque a fiação aérea era horrorosa. Era muito forte. Depois, porque cada
empresa trabalhava independentemente. Então, tinha um poste de
iluminação, da Rio Luz, tinha um poste de sinal de trânsito, da Sete Rio,
tinha o poste de orelhão que era, na época, a TeleRJ. Cada um com um
produto diferente, entendeu? E eles não se comunicavam também. Então,
cada um ia lá e botava o seu poste. Havia esquina, cruzamento no Leblon,
que a gente tinha mais de 16 postes. Quer dizer, completamente surreal.
Além desses todos, tinham os postes com os nomes das ruas, que
também era um outro cara que botava. Então, a gente conseguiu limpar,
não é? Tirar aquela bagunça. Tinham alguns que tinham 20 postes no
cruzamento. A gente conseguiu botar sempre 4. Então, assim, como o
nosso histórico era caótico, o projeto Leblon teve muita preocupação
nesse ordenamento, não é? Esse ordenamento visual foi muito importante.
Então, a gente, por conta das árvores, que eram muitas no Leblon a
iluminação da rua ficava muito fraca na calçada -, a gente, então, resolveu
fazer o rebatedor, a iluminação baixinha, e ele se repete a cada 15 metros.
Praticamente cria uma linha, não é? A cada 15 metros, um poste, com a
linha toda ordenada. Para aquele mobiliário que ficava solto a lixeira,
orelhão, o abrigo, lata de lixo –, a gente resolveu agregar a esta
modulação de 15 metros. Então, quer dizer, você tem sempre um poste a
cada 15 metros e, sempre, um deles tem ou uma lixeira, ou um orelhão,
ou um abrigo de ônibus, no mesmo poste, não é? O semáforo de
sinalização passando também por um poste só. Então, assim, esse
ordenamento visual, eu acho que causa uma sensação de muito bem-
estar. Como você ter uma casa com tudo arrumadinho ou você ter uma
casa com tudo entulhado, cada um botou o sofá em um lugar e quando
você viu, tinha um sofá junto de uma mesa de jantar, uma cadeira da
mesa de jantar está na sala.
Por isso, o projeto foi aprofundado
31
para estabelecer um estudo analítico entre
metodologias e resultados de dois projetos de requalificação, um iniciado em 1993
31
Em anexo as entrevistas com os projetistas do Leblon e a análise cinética registrada por meio fotográfico do
bairro.
133
e o outro em 2007, ainda em andamento, em bairros valorizados das duas capitais
brasileiras em questão, Rio de Janeiro e Recife.
4
44
4.1.
.1..1.
.1.
Análise dos M
Análise dos MAnálise dos M
Análise dos Mobiliários Urbanos
obiliários Urbanosobiliários Urbanos
obiliários Urbanos
Os mobiliários urbanos da orla foram analisados a fim de se identificar e caracterizar
os aspectos formais, em especial, da inter-relação entre eles, a paisagem e o
contexto do local. Tenta-se compreender as referências formais que auxiliaram no
projeto destes produtos e estabelecer uma relação entre as funções dos mobiliários
buscando exemplificar soluções convenientes, que valorizam a paisagem e o bom
funcionamento da calçada como espaço de circulação.
Toda forma visual é concebida com a finalidade de o satisfazer seus aspectos
configuracionais e simbólicos, mas também de ter a capacidade de comunicar o
observador sobre si mesma e seu próprio mundo, ou ainda sobre outros tempos e
lugares. Por isso, o conceito central desta análise do objeto é o da forma, assim
como os elementos que a conformam (como suas funções demandadas) e os
elementos que resultam dela.
A orla, no geral, dispõe de:
Equipamentos de iluminação - torre de iluminação pública;
134
Figura 58: Torres de iluminação de Boa Viagem.
Figura 57: Detalhe das luminárias de Boa Viagem.
De acordo as entrevistas realizadas com os projetistas do Projeto Orla, as torres de
iluminação e os bancos foram os únicos mobiliários projetados especificamente
para o local. A proposta destas torres inclui iluminação tanto para a calçada como
para a Avenida. Estas estruturas dispõem de um sistema sensorial que permitem a
variação da intensidade da luz de acordo com o tráfego de carros da Avenida.
O conceito do projeto das torres condiz com a imponência, altura e o apelo
tecnológico das edificações do bairro. Referente aos carros, o mobiliário cumpre
sua função prática de maneira satisfatória. Porém, com relação à iluminação da
calçada, por se tratarem de torres mais altas que os coqueiros (figura 59) dispostos
em todo o calçadão, são projetadas sombras dessas árvores, escurecendo a área
que deveria ser plenamente iluminada. As torres do Leblon têm braços com alturas
mais elevadas e iluminação direcionada para a via, e mais rebaixada para a da
calçada, com iluminação rebatida que não ofusca o pedestre (figura 60). Ou seja,
alternativas diferentes foram desenvolvidas para um mesmo mobiliário que deve
atuar para situações distintas, a via e a calçada.
135
Figura 59: As torres de iluminação de Boa Viagem são mais altas que os coqueiros.
Figura 60: Torres de iluminação do Leblon, RJ.
136
Equipamentos de rede elétrica - torres de distribuição de rede elétrica;
Figura 61: Torres de distribuição de rede elétrica.
Este tipo de equipamento pode ser implantado em outros mobiliários como os
próprios quiosques ou torres de iluminação pública, evitando o excesso de
elementos no espaço visual e de circulação.
137
Equipamentos de limpeza - caixas coletoras de lixo;
Estes mobiliários não foram desenvolvidos exclusivamente para a Orla, encontram-
se à venda, por isso seguem requisitos de projeto que levam pouco em
consideração as especificidades locais do espaço urbano de implantação. Dessa
forma, não podem ser analisados sob o ponto de vista do foco desta pesquisa.
Porém, vale recordar as antigas lixeiras (figura 64) que foram retiradas com o
Projeto Orla, funcionavam como um marco e identificavam, por sua singularidade, o
calçadão de Boa Viagem. Além disso, eram um dos poucos mobiliários que se
mantinham bem conservados desde a sua implantação, devido às parcerias
estabelecidas com empresas privadas que utilizavam o mobiliário como meio
publicitário.
Figura 62 e 63: Atuais caixas coletoras de lixo da Orla de Boa Viagem.
138
Figura 64: Antiga lixeira de Boa Viagem, retirada pelo Projeto Orla.
Equipamentos de comunicação - painéis, relógios digitais, comerciais,
sinalização;
O sistema semafórico da Avenida Boa Viagem disponibiliza uma sinalização visível e
eficaz, porém, não condiz com a paisagem urbana da orla. A forma do mobiliário
remete a um pórtico com aparência robusta, grosseira, que não segue os princípios
formais nem da paisagem construída e nem da natural.
Figura 65: Sistema semafórico da Avenida Boa Viagem.
139
Como exemplo, podemos citar a Avenida Paulista, em São Paulo, composta apenas
por uma paisagem predominante de edificações, utiliza na forma do equipamento
de sinalização uma clara preocupação com a forma urbana.
Figura 66: Sistema semafórico da Avenida Paulista, SP.
Voltando à Praia de Boa Viagem, percebemos que rias placas alertam os
banhistas à proibição da prática de esportes aquáticos e ao perigo causado pela
existência de tubarões no mar. As sinalizações utilizam cores de alerta como
amarelo e vermelho, mas não seguem uma mesma concepção nem na forma do
mobiliário e nem no design gráfico da mensagem, muito menos com o restante dos
mobiliários urbanos da Orla.
no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, o projeto de sinalização do parque dispõe
de uma identidade formal e visual que é mantida e adaptada aos diferentes tipos de
mensagens: informativas, de alerta ou proibitivas. A forma destes mobiliários segue
características do ambiente natural que compõem o espaço público, diferente do
equipamento de sinalização de Boa Viagem.
140
Figura 67 e 68: Sinalização da Praia de Boa Viagem. Figura 69: Sinalização do Jardim Botânico do
Rio de Janeiro com clara influencia da praia na configuração do mobiliário.
Equipamentos de telefonia pública;
Assim como as lixeiras, o “orelhão” não foi projetado para a Orla. É importante
ressaltar que, durante sua implementação, não foi elaborado nenhum tipo de
sinalização para deficientes visuais, podendo machucá-los com um choque entre a
cabeça do pedestre e a estrutura superior do mobiliário.
Figura 70: Telefone público.
141
Os mobiliários listados anteriormente são comparados aos que têm as mesmas
funções práticas do Leblon, principalmente em relação à linguagem que eles
estabelecem entre si. Em Boa Viagem, não claramente conexões
configuracionais entres estes mobiliários. No Leblon, as estruturas, além de
seguirem um mesmo conceito projetual, são dispostas de forma modular e
estabelecem uma interdependência funcional e estética, tornando mais nítida à
família, a sintonia, que existe entre os mobiliários, e mais singular a identidade do
espaço (figura 71).
As torres de iluminação indireta das calçadas, e direcional das vias carroçáveis,
foram desenvolvidas pelo designer Guto Indio da Costa e pela lighting designer
Esther Stiller. Os postes são multifuncionais, agregam-se a peças de sinalização
viária e semafórica, recebem os telefones públicos de cabine translúcida, as lixeiras
e os abrigos das paradas de ônibus para Grunow (2008:8) caracterizados pelo
banco enxuto e pelo perfil em arco delgado dos elementos estruturais e de
cobertura.
142
Figura 71: Esquema comparativo entre o projeto dos mobiliários do Leblon e os
implantados em Boa Viagem com foco na articulação configuracional entre os mobiliários e
suas funções.
Boa Viagem
Leblon
Boa Viagem
143
Equipamentos esportivos e de lazer;
Figura 72: Quadras de tênnis e basquete. Figura 73: Pista de skate.
Equipamentos de descanso - bancos.
Os mobiliários destinados ao descanso ou à contemplação, os assentos, se
estendem por toda a orla e funcionam também como o guarda-corpo da orla, sendo
uma barreira sica de acesso à praia. Este limite se torna exagerado, uma vez que
dificulta a integração da calçada com a praia e, por isso, o mar poucas vezes é
contemplado por quem utiliza o calçadão. Por isso, cita-se o caso dos bancos de
Copacabana que, por sua configuração, aproximam os banhistas dos pedestres.
144
Figura 74: Os bancos que se estendem por toda orla de Boa Viagem. Figura 75: Bancos,
Copacabana, RJ.
Mobiliários de proteção da vegetação.
Figura 76: Molduras de árvores, em especial coqueiros.
145
Equipamentos infantis;
Figuras 77 e 78: Brinquedos.
146
Equipamentos para ginástica;
Figura 79: Mobiliários urbanos para ginástica.
Figura 80: Academia da Cidade.
147
Equipamentos de saneamento - banheiros.
Figura 81: Banheiro público de Boa Viagem.
Figura 82: Banheiro de Copacabana, RJ.
Em Copacabana, dois conceitos que valorizam a paisagem foram utilizados no
projeto do banheiro, proposto pelo Projeto Rio Orla
32
: o uso de materiais
translúcidos e o uso do espaço subterrâneo. Dessa forma, o elemento principal de
32
Projeto implantado pela Prefeitura do Rio de janeiro em 1990, responsável pelas intervenções urbanas das
Orlas que vão do bairro do Leme ao Pontal no Rio de Janeiro.
148
contemplação, o mar, pode ser comunicado de forma mais eficaz, em comparação
com o banheiro da Orla de Boa Viagem.
Mobiliários de transporte - abrigo para parada de ônibus;
Assim como em Copacabana, citada no item anterior, o conceito de transparência
foi utilizado nos pontos de ônibus da Orla marítima de Salvador – BA (figura 84).
Figura 83: Abrigo de Ônibus. Figura 84: Abrigo de Ônibus com transparência, Salvador, BA.
Mobiliários para comércio - quiosques;
Figura 85: Os quiosques de Boa Viagem que estão sendo substituídos.
149
Figura 86: Quiosque proposto pelos projetistas entrevistados do Projeto Orla.
Figura 87: Os novos quiosques que estão sendo implantados.
Os quiosques de Boa Viagem estão sendo substituídos por novas estruturas (figura
87) com sistemas e materiais menos rústicos que os antigos (figura 85), nenhum
deles está pronto para ser utilizado. Assim como nos banheiros implantados no
Projeto Orla Rio, os quiosques de Copacabana seguem o mesmo conceito, utilizam
o subsolo como cozinha para os quiosques, permitindo maior espaço e ampliação
dos serviços prestados (figura 88). E se estruturam por meio de materiais
translúcidos e espelhados que amenizam o impacto do produto industrial
implantado no ambiente natural.
150
Vale ressaltar também a proposta de conexão entre a calçada e a praia, que o
espaço projetado pelo escritório Indio da Costa em Copacabana fornece (figura 89),
ao contrário dos quiosques de Boa Viagem, os quais são de uso quase exclusivo de
pedestres e pouco servem banhistas.
Figura 88: Quiosques de Copacabana, RJ.
Figura 89: Integração dos quiosques da Orla de Copacabana com a praia.
151
Mobiliários de segurança pública e proteção - postos salva-vidas.
Figura 90: Postos Salva-vidas.
Figuras 91: Estrutura móvel atualmente utilizada pelos guardas salva-vidas.
152
Os postos salva-vidas estão atualmente sem uso prático (figura 91). Trata-se de
estruturas construídas nas décadas de 1940 que se tornaram patrimônio histórico
do local. Atualmente os salva-vidas trabalham na areia da praia com aparelhamento
móvel.
Os banheiros públicos, brinquedos, equipamentos de ginástica e postos salva-vidas
seguem características visuais similares, uma vez que são mobiliários de grande e
médio porte, em seus usos e utilizam cores saturadas em seu tratamento
superficial. Trata-se de elementos que seguem uma mesma concepção de projeto,
formam uma família de mobiliários urbanos entre si, e fortalecem a identidade do
local.
Em contrapartida, esses mobiliários, apesar de formarem uma família de mobiliários
urbanos, não têm a mesma coerência formal com o contexto paisagístico. A
dimensão e o posicionamento dos banheiros públicos desvalorizam as
características naturais e contemplativas da orla.
No Rio de Janeiro, foram encontradas soluções mais adequadas para esses
mobiliários implantadas nas praias metropolitanas. A paisagem é valorizada com a
compactação de vários mobiliários em uma mesma estrutura, evitando a desordem
visual causada pelo excesso de equipamentos (figura 92). O Posto Salva-vidas
funciona também como banheiro público, informações turísticas e chuveiro. Além
disso, o formato em barco do mobiliário carioca - de grande porte - se comporta da
maneira menos agressiva à contemplação mar.
Em Boa Viagem, alguns dos mobiliários urbanos implantados, por não atenderem
corretamente às demandas e usos aos quais deveriam corresponder, como por
exemplo, os chuveiros e o bicicletário, acabam tornando-se elementos praticamente
inexistentes. Por conta disso, criam-se adaptações por força da necessidade. Os
barraqueiros instalam chuveiros gratuitos na areia da praia para atender às
solicitações dos clientes. E os ciclistas estacionam suas bicicletas junto a postes,
árvores e telefones públicos.
153
Figura 92: Comparação entre os mobiliários de Boa Viagem e das Orlas do Rio de janeiro.
Integração de várias funções em uma mesma estrutura de mobiliário.
Para Dondis (1997), a categorização dos conceitos estilísticos e as variações
técnicas são de grande utilidade na compreensão e no controle dos meios visuais.
O conhecimento da natureza de todos os componentes da comunicação visual
oferece um meio de buscar métodos de design que propiciem alguma certeza
quanto ao acerto das soluções projetadas. Portanto, segundo as categorias da
comunicação visual de Dondis, os mobiliários urbanos da Orla podem ser
caracterizados da seguinte maneira:
Ipanema, Rio de jane
i
ro.
Boa Viagem.
154
a) Simetria:
As formas dos mobiliários adotam uma concepção visual caracterizada pela lógica
e pela simplicidade absoluta, mas que se torna estática, e mesmo enfadonha. “O
equilíbrio também pode ser obtido através da variação de elementos e posições
que equivale a um equilíbrio de compensação” (ibid., 142).
b) Complexidade:
O conjunto formado pelos mobiliários, na calçada, compreende uma complexidade
visual constituída por diferentes linguagens e concepções configuracionais. O
ambiente se torna muitas vezes desordenado - ausente de ordem - ou seja, de
síntese visual livre de elaborações secundárias.
c) Unidade:
Os banheiros públicos, brinquedos, equipamentos de ginástica e postos salva-
vidas, apesar de comporem um ambiente complexo, por sua hiperdimensionalidade
e suas cores saturadas, conservam o mesmo parentesco, por isso, formam uma
unidade.
d) Profusão:
O oposto de economia, para Dondis, é uma organização visual excessiva,
carregada de elementos. No caso da orla, isso se na exagerada utilização dos
elementos, em que a um único mobiliário, normalmente de grande ou médio porte,
é atribuída uma única função, tornando profusa a quantidade de grandes objetos na
paisagem que atendem a diversas necessidades.
e) Ênfase:
O realce dos mobiliários urbanos (através de suas cores, formas e dimensões)
contra um fundo que predomina a uniformidade, a paisagem natural. A neutralidade,
segundo Dondis, pode ser o procedimento mais eficaz para vencer a resistência do
observador, e mesmo sua caoticidade.
155
f) Repetição:
Além da repetição periódica de quase todos os mobiliários urbanos, na calçada,
que diz respeito à função de equipar um meio urbano, na orla, este item é
encontrado também na configuração dos objetos em si. Principalmente nos
mobiliários de ginástica, os quais tendem a uma modularidade, uma repetição de
elementos numa só composição.
Por fim, como classificados, os mobiliários urbanos da Orla de Boa Viagem são
objetos desconexos, desprovidos de uma linguagem que torne facilmente
identificável uma linha de produtos de um espaço específico. Parecem não utilizar a
forma urbana como requisito norteador de projeto e, por vezes, ofuscam a
paisagem contemplativa do mar. Para isso, três atributos formais, utilizados em
projetos referenciais, o sugeridos para mimetizar os mobiliários no meio:
superfícies transparentes; a exploração do nível subterrâneo; e a compactação de
várias funções em um único mobiliário, evitando o excesso de elementos na
calçada.
Para a etapa da concepção projetual, esses atributos devem ser associados às
tecnologias do design industrial, como alternativas que influenciam no processo de
fabricação, a fim de se contrapor à configuração fisica e esteticamente pesada dos
mobiliários analisados. Esta proposta é ressaltada pela hipótese da possibilidade
de compreender os processos de fabricação que extrapolam a pré-moldagem e
buscar a capacidade específica industrial de produzir objetos que incorporem uma
concepção de beleza, como a que está nas prateleiras e nós consumimos por
opção.
A relação entre a forma do produto e o seu processo de fabricação é uma das
claras questões que diferenciam os mobiliários de Boa Viagem e do Leblon. No
primeiro caso, nota-se a limitação projetual na exploração de materiais e processos
que chegam a comprometer os sistemas funcionais de produtos como os
quiosques e postos salva-vidas. no Leblon, tecnologias do mobiliário são
aplicadas às soluções de Guto Indio da Costa, caracterizadas por produtos
156
articuláveis, tais como: o uso do nível subterrâneo, tanto para os banheiros como
para as cozinhas dos quiosques (figura 93); e o sistema de abrir e fechar dos
quiosques de Copacabana com portas de vidro que permitem que a estrutura,
quando fechada, funcione como uma grande luminária (figura 94).
Figura 93: Uso do nível subterrâneo para banheiros e cozinhas. Figura 94: Quiosque fechado e
iluminado durante a noite, Copacabana, RJ.
4
44
4.1.1
.1.1.1.1
.1.1
Orientação da forma e Proporção
Orientação da forma e ProporçãoOrientação da forma e Proporção
Orientação da forma e Proporção
A orientação da forma investiga o sentido para onde esta se orienta, e é uma etapa
das mais relevantes para determinação de uma nova forma a ser implantada no
meio ambiente. Neste sentido, Guedes analisou um pequeno recorte geográfico do
bairro Ipanema, no Rio de Janeiro. Segundo ele, a diversidade formal promovida
pela implantação de elementos parece ignorar as características existentes no meio,
sendo sublinhada pelos diferentes vetores presentes em um mesmo ambiente.
Um caso contrário pode ser visto na Avenida Paulista, em São Paulo, os mobiliários
implantados respeitam o sentido vertical da massa arquitetônica, facilitando a
promoção do equilíbrio visual no meio (figura 96).
157
Figura 95: Pórtico implantado em Ipanema pelo Projeto Rio Cidade demolido em setembro de 2009,
RJ.
Figura 96: Avenida Paulista, SP.
Portanto, a orientação formal indica o modo como a configuração urbana se
desenvolve, a partir dos pontos referenciais. Na orla de Boa Viagem, os prédios e
alguns mobiliários orientam a forma para cima (figura 97), a praia, o mar, a
avenida e a o calçadão direcionam na horizontal de maneira contínua (figura 98).
158
Figura 97: Orientação da forma, Avenida Boa Viagem.
Ao observarmos a forma dos mobiliários urbanos da Orla é possível perceber que
predomina o sentido vertical condizente com a configuração dos edifícios
construídos na Avenida Boa Viagem, porém, desarmônico com a paisagem
horizontal da linha do horizonte e da praia. A análise da orientação da forma dos
mobiliários foi realizada no setor 3, entretanto, representa a situação de todos os
setores.
Figura 98: Orientação da forma, Avenida Boa Viagem.
A Academia da Cidade, implantada no setor 5, é um dos poucos exemplos de
ordenamento da orientação formal da Orla de Boa Viagem. Esta paisagem é
construída a partir de direções mais próximas à horizontalidade do mar. Além do
uso de formas orgânicas que são associadas à natureza.
159
Figura 99: Orientação da forma, Academia da Cidade.
A paisagem litorânea de Copacabana, no Rio de Janeiro, é ressaltada pela
harmonia na relação dos mobiliários com a paisagem natural de maneira dinâmica,
tecnológica, suave mas não monótona.
Figuras 100 e 101: Orientação da forma, Copacabana.
No bairro do Leblon, também no Rio de Janeiro, é perceptível a sintonia da
multidisciplinaridade da equipe do projeto submetido ao Rio Cidade em 1993. Um
160
dos aspectos da intervenção, que também permite esta percepção, é a
configuração dos elementos visuais da Avenida Ataulfo de Paiva; o diálogo dos
desenhos e vegetações do paisagista, Fernando Chacel, com o design dos
mobiliários urbanos projetados por Guto Indio da Costa; e, com as soluções
urbanísticas do arquiteto Luis Eduardo Indio da Costa (figuras 102, 103 e 104).
Durante a entrevista, Chacel declarou que “No caso do Leblon foi uma equipe
totalmente diferente das outras do Rio Cidade. Uma das razões desse projeto ter
dado certo, foi porque nós trabalhamos em equipe e associados (...) E essa foi a
grande diferença do Leblon, foi muito interessante, porque foi um trabalho
respeitoso.”.
Figuras 102, 103 e 104: Orientação da forma, Leblon.
161
Por fim, essa análise de orientação formal possui o objetivo de enfatizar a
importância do equilíbrio relacional entre todas as direções formais das
configurações existentes no meio. Com exceção das torres de iluminação, que são
relacionadas em termos formais diretamente aos edifícios de Boa Viagem, e os
bancos com o formato visual do mar, por exemplo, pode-se considerar que não
equilíbrio formal que constitua uma família de mobiliários urbanos na Orla estudada.
Ou melhor, existe equilíbrio apenas na orientação formal dos objetos isolados, como
os exemplos citados anteriormente.
Esse ordenamento é mais forte quando se trata da verticalidade dos altos Edifícios
da Avenida à beira mar, neste caso não a orientação formal prevalece como
também a proporção dimensional entre os equipamentos do ambiente. Para
Arnheim (1986:185) “A semelhança de tamanho mantém juntos os itens. É quase
impossível estabelecer uma relação visual direta entre, digamos, uma figura humana
e um alto edifício”.
Para Guedes, a hierarquia baseada na importância relacional configurativa e
dimensional é certamente um fator. Portanto, os grandes e altos equipamentos de
Boa Viagem prevalecem como os principais pontos imagísticos do bairro. Alguns
mobiliários urbanos: os postos salva-vidas, os banheiros, chuveiros e os postes de
iluminação têm escalas condizentes com o ambiente construído de edifícios. A
composição contrastante em relação à escala humana funciona como barreira
visual que ofusca o panorama natural minguando a força da praia e do mar na
paisagem do bairro (figuras 105 e 106).
162
Figura 105: Vista da praia de uma das ruas de acesso à orla,
Figura 106: Visualização da praia em direção ao interior do bairro.
163
4
44
4.1.
.1..1.
.1.2
22
2
Temporalidade
TemporalidadeTemporalidade
Temporalidade
Iluminação e ocupação do espaço
A temporalidade é uma das modalidades de análise presentes no método de
análise visual
33
do espaço urbano proposto por Guedes (2005), e procura identificar
a variância temporal envolvida no processo da observação, tendo por finalidade
estudar as modificações na configuração do espaço provocadas pelos efeitos
temporais, incluindo os eventos públicos.
O estudo mostra que o observador, realizando suas análises em diversos horários,
dias ou anos, não precisa deslocar-se para obter diferentes configurações de um
mesmo espaço. Nesta perspectiva, os elementos relativos às condições de tempo
podem ser definidos como indicadores da duração dos períodos observados,
possibilitando subdividir a observação em períodos curtos, médios ou longos.
De acordo com Guedes (2005:192), entendem-se por períodos curtos, aqueles que
são observados em intervalos de até vinte e quatro horas, incluindo os diversos
horários do dia e da noite. Por períodos médios, entendem-se aqueles cujos
intervalos compreendem mais de uma semana de observação. Os períodos longos
identificam-se pelos demorados intervalos empreendidos na observação do meio,
mas cuja duração depende, sobretudo, daquilo que se deseja averiguar, como as
interferências configuracionais provocadas pelas estações do ano, e as
modificações ocorridas no decorrer dos anos; que podem ser analisados
diacronicamente ou mesmo por uma perspectiva de compreensão histórica.
Em Boa Viagem, por se tratar de uma Orla litorânea, este estudo é de grande
relevância, principalmente no que diz respeito à ocupação do espaço, ou seja, a
orla não possui o mesmo fluxo de pedestres, se compararmos o período do verão
33
A metodologia de análise visual trata de um método que possibilita a análise da forma dos mobiliários
urbanos em relação ao meio em que estes se inserem. O todo proposto é baseado na articulação das
modalidades de análise, que são agrupadas em três categorias: o modo visual, a qualidade da forma, e a
configuração do meio. GUEDES, João Batista. Design no Urbano. Metodologia de análise visual de
equipamentos no meio urbano. Tese de Doutorado. 2005.
164
com o do inverno, por exemplo. O mesmo acontece em períodos curtos como a
noite e o dia, não o tipo de ocupação sofre modificações significativas como
também a visualização configuracional do ambiente. Para Arheim (1986:39), a
configuração perceptiva por contraste pode mudar consideravelmente quando sua
orientação espacial ou seu ambiente muda. As formas visuais se influenciam
mutuamente.
Os primeiros estudos a respeito das variações temporais foram realizados com o
observador posicionado no setor 3 (diagrama de divisão dos setores na página 95,
figura 31), em um sábado, em horários distintos, durante o dia e a noite.
Figura 107: Sábado, outubro de 2009 às 12h e 30min.
165
Figura 108: Sábado, outubro de 2009 às 19h.
A visualização dos elementos da orla apresenta maior contraste de figura e fundo, e
com isso, maior visibilidade, nos horários da manhã, como: os pedestres, a
vegetação e os mobiliários urbanos. Nos horários da noite, enfatizam-se os
mobiliários iluminados. Na Orla de Boa Viagem, apenas um mobiliário tem
iluminação própria, além das torres de iluminação, os quiosques. Porém, a
iluminação é um forte elemento de ordenameto visual, torna os espaços iluminados
mais legíveis e valorizados, por isso deveria estar mais presente com iluminação
direcionada para a calçada e os mobiliários.
A configuração perceptiva é o resultado de uma interação entre o objeto físico e o
meio de luz agindo como transmissor de informação
34
. Quando este meio se
modifica e o objeto permanece da mesma maneira, a configuração é percebida de
modo diferente, podendo comprometer o desempenho do produto e do meio.
34
Arnheim coloca um terceiro elemento relevante da percepção, as condições que prevalecem no sistema
nervoso do observador. Pág. 40.
166
Figura 109: Mobiliários com luminárias no Leblon, RJ.
É na orla de Boa Viagem onde ocorrem os eventos mais significativos do bairro,
como a festa de réveillon, o Carnaval e os campeonatos de esportes de praia
(figuras 110 e 111). O meio urbano também é modificado temporariamente
35
a partir
da ocorrência desses eventos, que modificam a configuração em função da
instalação de mobiliários específicos temporários.
35
Para Guedes a modalidade de temporalidade presta-se ao registro e análise desses eventos, no sentido de
definir uma espécie de calendário do tipo e ocorrência dessas alterações, possibilitando uma melhor
compreensão dos efeitos provocados por este tipo de evento ao meio ambiente urbano. p. 192.
167
Figuras 110 e 111: Configuração da orla alterada durante eventos temporários.
4.2.1.1 O movimento natural e o estudo de pessoas estáticas
Este tópico introduz uma análise de como os testes padrões de uso do espaço da
Orla podem ser determinados pelas propriedades morfológicas da configuração
especifica do espaço público. Esta análise foi realizada com base nas ferramentas
do princípio de movimento natural, com o objetivo de entender como ocorre a
distribuição dos pedestres no contexto que compreende a Praia de Boa Viagem.
Atualmente, os espaços públicos parecem proceder dos princípios do
“enclausuramento” e da irregularidade derivados de praças medievais tradicionais.
Sitte (1989), considera este “enclausuramento”, definido pelo agrupamento de
massas arquitetônicas em torno de um espaço aberto, como a propriedade
fundamental. Apesar da grandiloquência do mar, estes princípios procedem para
quem caminha no calçadão de Boa Viagem, uma vez que a sensação de
enclausuramento é causada no pedestre por uma massa arquitetônica de edifícios
muito densa de um lado e o limite físico dos bancos do outro, o que dificulta a
exploração da praia por quem não é banhista.
168
Porém, os espaços mais agregados à grade urbana permitem uma maior interação
social, e podem fornecer aos usuários um sentido de bem estar, de conforto e de
prazer, característicos dos espaços públicos. Consequentemente, determinariam
finalmente a preferência pelo público a tais espaços. A qualidade e a variedade de
elementos e de mobiliários urbanos é outra propriedade importante que fazem parte
integrante da atração de um lugar. Vale ressaltar a importância de conexões visuais
e físicas com os arredores, como uma propriedade necessária para assegurar o
fluxo constante dos pedestres.
A teoria do movimento natural, baseada na estrutura teórica da sintaxe espacial,
refere-se à relação entre a disposição configuracional e os testes padrões espaciais
do uso, isto é, a ocupação e o movimento de pedestres no espaço e como este
movimento é afetado pela configuração espacial. A teoria do movimento natural
indica que o teste padrão do movimento de pedestres, em um sistema urbano, é
gerado primeiramente pela configuração da grade urbana - neste trabalho, a
configuração da orla de Boa Viagem - como os pedestres tendem a seguir o mais
curto e a maioria de caminhos diretos.
Este estudo se justifica pela atenção que deve ser dada aos efeitos de uso do
espaço causados por intervenções urbanas. E objetiva trazer novas possibilidades
técnicas de análise visual da morfologia da cidade direcionadas ao uso do espaço,
além da composição da paisagem como tratado nos outros itens deste capítulo.
Cullen (1971) defende que qualquer intervenção urbana deverá promover, portanto,
a articulação de espaços a qual só pode ser experimentada através do movimento.
Como o estudo de caso se refere a um espaço localizado à beira mar, e com
funções que são, para seus visitantes, mais recreativas, a análise do seu uso levou
em consideração a temporalidade proposta por Guedes. Neste caso, os usos do
espaço público são atribuídos de forma diferente no decorrer do tempo, dias,
estações do ano. Em toda área litorânea é comum o maior fluxo de pessoas no final
de semana. Por isso, o dia em que foi realizada a observação foi um sábado de
verão, no mês de outubro de 2009.
169
Durante a análise cinética apresentada anteriormente pode-se observar que quem
pratica caminhada e corridas no calçadão e na areia percorre vários setores, por
isso seria inviável considerar este tipo de pedestre para a análise comparativa do
movimento natural entre setores da Orla. Encontra-se a seguir um estudo de
observação dos pedestres que predominam estacionários no calçadão e na praia,
no dia observado. Os pontos azuis indicam homens; os pontos vermelhos,
mulheres; e, os pontos amarelos, crianças. Este estudo é representado por meio de
um esquema que reproduz apenas as partes de cada setor que foram registradas, e
não a Orla inteira, trata-se de um resumo da ocupação usual do espaço.
170
Dia
Ocupação da praia durante o dia:
Figura 112: Estudo de pessoas estáticas na praia de Boa Viagem durante o dia.
Fig. 112 (a)
Fig. 112 (b)
Fig. 112 (e)
Fig. 112 (c)
Fig. 112 (d)
Fig. 112 (f)
171
Ocupação do calçadão durante o dia:
Figura 113: Estudo de pessoas estáticas no calçadão de Boa Viagem durante o dia.
Fig. 113 (c)
Fig. 113 (e)
Fig. 113 (d)
Fig. 113 (f)
Fig. 113 (c)
Fig. 113 (d)
172
Esquema de ocupação do espaço por pedestres durante o dia:
Figura 114: Esquema representativo do uso da praia por pessoas estáticas.
Durante o dia o fluxo de pessoas é mais intenso na Praia, em especial nos setores
2, 3 e 6 (Figura 112 itens b, c e f). O esquema mostra que alternativas devem ser
geradas para estimular o uso do calçadão, que se apresenta quase deserto nos
setores 4, 5 e 6 (Figura 113 itens d, e e f).
Noite
NoiteNoite
Noite
Durante a noite, pode-se perceber que toda a extensão da praia se apresenta
uniformemente deserta. Por isso, não são apresentadas imagens e esquemas desta
situação. Apenas alguns atratores como os eventos temporários que ocorrem na
praia de Boa Viagem, os jogos esportivos e shows, trazem movimento mais intenso
de pessoas na praia, no período da noite.
No calçadão, além da contemplação da paisagem natural, existem atratores
permanentes como os quiosques que vendem lanches e bebidas também durante a
noite. Encontra-se a seguir o estudo do efeito destes atratores com relação ao uso
do espaço à noite.
173
Calçadão durante a noite:
Fig. 115 (a)
Fig. 115 (b)
Fig. 115 (c)
Fig. 115 (d)
Fig. 115 (f)
Fig. 115 (e)
174
Fig. 115 (e)
Figura 115: Estudo de pessoas estáticas no calçadão de Boa Viagem durante a noite.
A penúltima e a antepenúltima imagem são do setor 5 (figura 115 e e f),
representam o calçadão e a calçada contrária ao mar da Avenida Boa Viagem, a
qual apresenta bastante movimento em bares e restaurantes que não se estendem
para a Orla.
Esquema de ocupação do espaço por pedestres durante a noite:
Figura 116: Esquema representativo do uso da praia por pessoas estáticas.
Fig. 115 (g)
175
O esquema que representa as pessoas estáticas no calçadão demonstra o mau uso
de um espaço de caráter recreativo, no período da noite. Os setores permanecem
desertos e os quiosques, que deveriam ser os principais atratores deste período,
não exercem adequadamente esta função.
Vale ressaltar outras Orlas de cidades brasileiras que utilizam a gastronomia como
principal agente atrator de um espaço de convivência mais intenso, como Maceió,
em Alagoas e Rio de Janeiro, RJ. Em Maceió, a orla é dividiva em dois pólos
comerciais durante a noite; de um lado, é disposta uma feira de artesanato; e do
outro, os quiosques se aglomeram e investem na venda de comidas típicas,
dispõem mesas e cadeiras na areia para os consumidores. No Rio de Janeiro, os
quiosques se distribuem por toda a Orla de Copacabana, mesas e cadeiras são
dispostas tanto na praia quanto no calçadão e de acordo com a estrutura de
cozinha e atendimento que os quiosques dispõem, permitem uma variedade
gastrônomica que oferece serviços que vão desde o à la carte ao fast food,
tornando a orla num grande complexo de alimentação (figura 117 e 118).
Figura 117: Ocupação da Orla durante a noite de Maceió, AL.
176
Figura 118: Ocupação da Orla durante a noite do Rio de Janeiro, RJ.
A teoria do movimento natural sugere que nos sistemas urbanos, o primeiro gerador
de padrões de movimento de pedestres é a disposição configuracional do espaço.
Os atratores, geralmente, funcionam como niveladores e multiplicadores dos
padrões básicos estabelecidos por esta configuração. O entendimento da
configuração espacial como a principal geradora de padrões de movimento, é
fundamental para a compreensão do movimento de pedestres, da distribuição de
atratores e, por fim, da morfologia urbana.
No espaço estudado, permanecem e se movimentam um grande número de
pessoas durante toda a semana. Porém, de acordo com os estudos de uso
encontram-se espaços considerados incluídos e não-incluídos, áreas dinâmicas,
com movimento intenso de pessoas e, em contrapartida, outras desertas. Isto,
estimulou o estudo para a compreensão de como ocorre e quais são as variáveis
que interferem na distribuição do movimento natural dos pedestres na Orla
litorânea.
Com isso, a análise configuracional realizada na orla prova que qualidades locais
dos espaços estabelecidos influenciam no uso da calçada e da praia por pedestres.
Porém, observou-se que estas qualidades locais estão fortemente relacionadas: a)
177
a pouca integração dos espaços, tornando a calçada e a praia ambientes distintos
e não associados, sendo esta a principal variável influenciadora do movimento na
praia durante o dia; e, b) ao layout do sistema comercial, em especial dos
quiosques, que interfere no movimento do calçadão, principalmente à noite.
Portanto, de acordo com a teoria do movimento natural, a configuração espacial da
orla é um agente que pode promover ou restringir o movimento e a permanência de
pessoas. Segundo HILLIER et al. (1993, p. 31 e 32), em uma situação onde
convergência de movimento, configuração e atração, todos trabalhando em
sincronia, “haveria poderosas razões lógicas para preferir a configuração como a
principal causa do movimento”.
Do ponto de vista turístico, segundo o Projeto Orla do Governo Federal (2004),
quanto mais atrativos sociais uma determinada praia tiver a oferecer, como feiras de
artesanato, vida noturna, festas, prática de esportes, ou seja, valores sociais
essencialmente urbanos, melhor ela será, definindo assim, uma melhor qualidade
de praia.
Além disso, destacamos a importância que o mobiliário urbano tem na configuração
espacial de uma orla e na complementação e melhoria da qualidade dos serviços
ofertados à beira-mar, pois desempenham funções ligadas diretamente às
necessidades urbanas da sociedade contemporânea.
4
44
4.4 Mapa Psic
.4 Mapa Psic.4 Mapa Psic
.4 Mapa Psico
oo
ogeográfico
geográficogeográfico
geográfico
A partir da pesquisa de campo, foram mapeados os pontos mais relevantes para o
entendimento da Orla de Boa Viagem sob o ponto de vista deste estudo. Assim
como na pesquisa de Lynch, o mapa mental ou psicogeográfico busca a paisagem
urbana a partir das experiências públicas, frutos de suas operações cotidianas, as
quais foram desenvolvidas por meio da ferramenta urbano-situacionista, a deriva. A
ferramenta tentar desenvolver, na prática, a ideia de construção de situações
178
através da psicogeografia. Para o pensamento urbano-situacionista, a cidade
tornou-se lugar-chave das investigações em psicogeografia, cujo objetivo consistia
em estabelecer novas formas de habitar a cidade.
Diante da vivência do espaço público, da ação básica do caminhar nas calçadas,
tentou-se mapear os diversos comportamentos significativos e relevantes para o
conhecimento do ambiente estudado.
Vale ressaltar que a psicogeografia manifesta a ação direta do meio geográfico
sobre a afetividade. Uma forma de cartografar as diferentes ambiências psíquicas
provocadas. Por isso, um mapa psicogeográfico ilustra uma maneira de apreender
o espaço urbano através da experiência afetiva e pessoal desses espaços,
organizando os “dados coletados” do observador treinado desta pesquisa, por
exemplo. Desta forma, para qualquer outro cidadão que não vivenciou a cidade,
este mapa pode não ter sentido algum.
A construção deste mapa potencializa a visão global do espaço estudado, o
resumo dos principais dados coletados sobre o ambiente que se pretende
aprofundar. Neste estudo de caso, o mapa funciona como a síntese dos 8 km de
extensão da Orla de Boa Viagem, ressaltando as paisagens dos setores que se
diferenciam por questões como a largura da calçada, a vegetação ou o excesso de
mobiliários nas ruas perpendiculares à Avenida. Além disso, aponta demandas de
uso, como os trechos mais movimentados e os que necessitam de maior atenção
projetual para atraírem pedestres.
179
Figura 119: Mapa pscicogeográfico do estudo realizado na Orla de Boa Viagem.
180
CAPÍTULO
CAPÍTULO CAPÍTULO
CAPÍTULO 5
55
5
Concl
ConclConcl
Conclu
uu
usão
sãosão
são
“O espetáculo em geral, como uma
concreta inversão da vida, é um
movimento autônomo do não vivente.”
Guy Debord
181
5
55
5
Conclusão
ConclusãoConclusão
Conclusão
A qualidade da paisagem urbana é percebida, entre outras coisas, pelo des
desdes
design
ignign
ign do
mobiliário urbano, por sua interatividade não com o usuário, mas também pela
influência exercida no ambiente que o envolve. Tal paisagem tem como ponto de
partida o estudo morfológico dos elementos que adquirem informações, com o
decorrer do tempo e articulados, entre si e com o todo, compõem a forma
formaforma
forma
u
uu
ur
rr
rbana
banabana
bana.
Trata-se da relação entre a forma da cidade e a forma do produto
forma do produtoforma do produto
forma do produto
urbano
urbanourbano
urbano. A
constituição de uma família de mobiliários é fundamentada num princípio de
coerência formal que envolve a concepção de cada elemento, a partir de conceitos
comuns, concebidos de forma holística, na interação e integração das
características ambientais de cada bairro, cidade ou região. Isto não significa que
uma família de mobiliários urbanos é harmoniosa apenas por possuir um mesmo
tipo de material ou princípio formal, é necessário também ser condizente com a
função e a paisagem do lugar, caso contrário, o conjunto permanece desconexo.
Este trabalho não possui caráter avaliativo e sim analítico. Com relação às
características formais da Orla da Praia de Boa Viagem, primeiramente vale ressaltar
uma observação de Cullen (1983: 130-134) que se assemelha ao que pode ser
concluído do estudo realizado na Orla: ao analisar as ruas e as calçadas da Europa,
no final da década de 1950, o autor menciona a monotonia promovida pela falta de
exploração adequada dos inúmeros formatos, cores e texturas dos revestimentos
existentes e critica a pouca inventividade na utilização dos diversos recursos e
materiais disponíveis.
Constatou-se, na orla, que os mobiliários existentes seguem um mesmo princípio
conceitual de projeto
36
, porém, de acordo com a análise visual, na maioria dos
casos não condizem com a paisagem natural e contemplativa da praia. Além disso,
pode ser destacada, na Orla de Boa Viagem, a ausência de implantação de alguns
36
Como o hiperdimensionamento dos produtos, o uso do concreto e a aplicação de cores saturadas.
182
mobiliários após o Projeto Orla, como chuveiros
37
e bicicletários, que deveriam ter
sito inseridos para dar suporte aos banhistas e ciclistas. Estas exposições permitem
o arremate da desconsideração dos mobiliários urbanos como elementos que
equipam a cidade por parte dos projetistas.
Outra questão que foi concluída, em termos gerais da análise, é a segregação
configuracional existente entre os espaços que compõem a orla, ou seja, as
diferentes linguagens compositivas que formam a beira-mar de Boa Viagem. Um
forte exemplo disto é observado na implantação do Projeto Orla apenas em lado da
Avenida, assim, calçadas paralelas não parecem pertencer ao mesmo contexto: de
um lado percebem-se torres de iluminação com tecnologias mais modernas e
fiação subterrânea; e, do outro, antigas luminárias com fiação aparente que
continuam desordenando toda a paisagem. Além disso, os Jardins e a Praça de
Boa Viagem também não se apresentam integrados em termos configuracionais á
orla, caracterizando uma dessemelhança visual e simbólica aplicada a contextos
diversos.
Nas páginas 120 e 121, do capítulo 3, é rematado, entre outros temas, o uso
excessivo de contrastes na composição das paisagens estudadas, referente
principalmente ao tratamento superficial - cor - e a proporção entre elementos
configuracionais. Neste sentido, para aguçar um significado, o contraste pode
torná-lo mais importante e mais dinâmico, contudo, o uso demasiado de cores e
dimensões contrastantes em diferentes elementos tende a dramatizar a importância
de vários significados. Nessa observação encontra-se o significado essencial da
palavra contraste: ressaltar um elemento contra outro ou, como observado, notar
várias informações que concorrem visualmente entre si. (DONDIS: 2003, p. 119).
A intenção do lugar ordenado citada nas análises é a de fornecer ao pedestre a
sensação de segurança durante seu exercício de movimento natural na cidade.
Segurança relacionada o só à não violência, mas também à certeza que os
37
O projeto Orla removeu os antigos chuveiros, inutilizados e com tecnologias ultrapassadas, do calçadão.
183
elementos que formam o conjunto de uma cidade pertencem a ela e não a qualquer
uma. Assim como, costumamos almejar a sensação de ter uma casa própria,
composta por móveis e objetos de decoração que dialoguem da forma mais
harmônica entre si, e que, da mesma forma, carreguem significados da história e da
personalidade de seus habitantes.
Trata-se de uma ordem que, apesar de ser, predominantemente, configuracional
carrega um elenco de relações e inter-relações de significados e associações. Por
isso, influencia no sentimento de identificação que faz com que as pessoas se
refiram àquela cidade como àquela cidade, e, esta cidade como a minha cidade.
Os mobiliário
mobiliáriomobiliário
mobiliários
ss
s
urbano
urbanourbano
urbanos
ss
s ajudam a compor a paisagem e a imagem das cidades na
prestação de serviços mais interativos, estabelecendo uma relação entre o usuário e
o mundo a sua volta, tornando a cidade ou o bairro mais legível, com seus marcos
facilmente identificáveis e agrupados num modelo geral, sem o medo decorrente da
desorientação, criada pela situação de excitação e desconhecimento.
O estudo do meio urbano, considerando a categoria do movimento, desdobradas
de acordo com os conceitos básicos mencionados de Lynch, Cullen e Internacional
Situacionista enfatiza a noção da importância de se experimentar a cidade. Assim
como, dos elementos urbanos responsáveis por tal experiência, uma vez que
apenas o fato de haver mobiliário, por exemplo, associa-se à existência de sinais
permanentes de convivência e inter-relação do homem e seu meio, ocupação que
confere à cidade um caráter mais humano e diverso.
A hipótese de valorizar a mudança de escala da análise do ambiente urbano se
fundamenta no conceito de que o papel primordial do arquiteto contemporâneo
estrutura sua base na vida cotidiana, na construção de imagens e na exploração de
ambiências. Suposição que não invalida o pensamento da vida cotidiana como
espaço e intervenções, ainda que minúsculas, como a construção de uma situação.
Segundo Cullen,
184
Um número excessivo de arquitetos tem andado demasiado ocupado,
com os projetos de grande escala planos diretores, planos nacionais,
planos cósmicos, etc. - excluindo muitas vezes os interesses de âmbito
local e particular. Em conseqüência disto, o arquiteto começou a perder a
capacidade de ver diretamente (as coisas) pois apenas (as)
mentalmente.
Para a arquitetura, essa hipótese talvez cause certo estranhamento, signifique o
afastamento da obsessão pela grandiloquência, porém, quiçá, estabeleça um novo
diálogo com o usuário. Um novo foco cujo objetivo visa à mudança da paisagem
urbana, permitindo o reconhecimento do espaço e a composição de imagens que
atribuam significados e identidade, estimulando assim, a construção espontânea de
situações.
A presunção que defende a leitura e compreensão dos elementos que compõem e
identificam as partes da cidade para a estruturação do todo, por meio da
observação em escala humana, pode ser atribuída a esta mudança de escala que
insere a visão pontual da produção do designer associada em equilíbrio à visão da
macroespacial de trabalho do arquiteto. Neste sentido, metodologias de ambas as
áreas de conhecimento são entrelaçadas, com foco em um objetivo comum:
satisfação do usuário/observador comum, ou no caso desta pesquisa, o pedestre.
Dessa forma, tanto a hipótese de experimentação da cidade simulando as
atividades cotidianas do pedestre como ferramenta primordial de análise da cidade,
quanto a atuação multidisciplinar, focada neste trabalho a partir das mútuas
contribuições das tarefas do designer e do arquiteto, como artifício para soluções
projetuais mais adequadas são ratificadas e tidas como complementares.
Nesse sentido, para Chacel, paisagista do Rio Cidade, uma das razões do sucesso
do projeto do Leblon foi a formação da equipe: “discutimos a arquitetura, o design e
o paisagismo, cada um sabendo a sua área de atuação e seus limites, mas onde
cada um também tinha que conhecer a área de atuação do outro”. Por isso, talvez,
esta mesma razão tenha contribuído, a partir da construção unilateral da paisagem
urbana, na Orla da Praia de Boa Viagem, para o desordenamento visual identificado
na Análise do Estudo de Caso.
185
Para a entrevistada, coordenadora do Rio Cidade, Olga Campista, “o urbanismo
não se faz sozinho. Eu acho que o design tem um caráter fundamental, que é dar a
qualificação das áreas públicas (...) o espaço público, hoje, ele tem que ter um
atrativo. E um bom design é um bom atrativo”.
Uma série de conceitos vem sendo constantemente citada em trabalhos no âmbito
da morfologia urbana, que juntos têm como objetivo um ambiente blico e rico em
oportunidades, através da maximização das escolhas contidas nele. Embora tais
idéias não sejam conclusivas, são peças-chave na produção dos espaços
democráticos e precisam estar presentes desde os processos de planejamento,
revitalização e inclusão dos espaços públicos nas cidades; resumem-se em:
Permeabilidade: é um dos conceitos responsáveis pela vitalidade do
ambiente construído e é representado pela capacidade que um
espaço urbano tem de oferecer as pessoas escolhas de caminhos
através dele e para outros pontos da cidade. A permeabilidade deve
estar presente tanto fisicamente quanto visualmente e depende da
forma que o espaço é organizado.
Legibilidade: é uma característica visual importante; ela existe quando
a cidade ou parte dela é facilmente reconhecida e organizada em um
padrão coerente para seus habitantes. Uma cidade legível seria
aquela onde todas suas regiões fossem facilmente identificadas,
agrupadas e compreendidas.
Integração: é a mais importante variável espacial responsável pela
articulação entre espaços. Está relacionada ao movimento, neste
sentido, o maior movimento de pessoas ocorre nos espaços mais
integrados. Para a sintaxe espacial define um sistema de noção de
rotas topologicamente mais curtas e caminhos mais lógicos para se
trafegar entre um local e outro.
186
Além disso, a análise desenvolvida permitiu ressaltar conceitos que englobam os
parâmetros, desdobrados empiricamente nos capítulos 3 e 4, tais como: a análise
visual da paisagem e dos mobiliários urbanos existentes, a orientação da forma, a
proporção e a temporalidade. Todos os subsídios de projeto citados aproximam de
maneira mais sistemática a forma urbana do local de intervenção da forma do
produto a ser projetada para o espaço. E, por fim, destaca-se o parâmetro que
desencadeou a hipótese do problema desta pesquisa: a experimentação da cidade,
a importância de enxergar a cidade como seus habitantes a enxergam.
A análise visual e metodológica dos estudos de caso deste trabalho pretende
contribuir para a configuração e o reordenamento de novos espaços com foco no
projeto de famílias de mobiliários urbanos, e facilitar a compreensão de um diálogo
estabelecido por uma linguagem que utiliza formas, todas interdependentes entre si
e dos demais fatores envolvidos no contexto. Neste sentido, a articulação de
métodos e disciplinas permitiu indicar parâmetros mais direcionados à orientação
do design de produtos urbanos. Este conjunto de parâmetros foi construído com
base nos principais elementos entendidos como os causadores da desordem visual
na praia de Boa Viagem ou da ordem visual no Leblon, indicados tanto pela análise
empírica da pesquisa (capítulos 3 e 4) quanto pelas entrevistas (anexo).
5
55
5.1
.1 .1
.1 Parâmetros para projeto de mobiliário urbano
Parâmetros para projeto de mobiliário urbanoParâmetros para projeto de mobiliário urbano
Parâmetros para projeto de mobiliário urbano
1
11
1-
--
-
A história do lu
A história do luA história do lu
A história do lugar
gargar
gar:
::
:
A compreensão da forma de uma cidade depende do conhecimento da história
daquela sociedade, o se trata apenas da análise do lugar, como também do seu
povo e como eles sobreviviam e sobrevivem. A história se relaciona com o espaço
através da forma, que é mutável, a partir das mudanças ocorridas no transcorrer do
tempo (ver páginas 64 e 65 do capítulo 2).
Com relação ao projeto do Leblon, Chacel afirma que “Nós levamos muito em conta
que nós estamos trabalhando um bairro com uma história muito acentuada. E que
187
nós poderíamos tentar uma contemporaneidade na nossa solução, respeitando a
ambiência daquele bairro”.
Figura 120: Quiosque de flores com anuncio publicitário, França.
2
22
2-
--
-
Manutenção
ManutençãoManutenção
Manutenção:
::
:
A manutenção foi, sem dúvida, um dos grandes itens que limitaram o projeto dos
mobiliários urbanos. Todo produto possui um tempo de vida útil, e para se manter
útil, enquanto vivo, precisa de manutenção. Uma luminária, por exemplo, necessita
da troca periódica de sua lâmpada. Da mesma forma, nenhum produto por ser
projetado totalmente imune ao vandalismo.
Segundo Jairo Filho, da Colméia Arquitetura e Engenharia: “na verdade, a gente
trabalha com o poder público e eles não fazem manutenção, eles fazem
substituir o equipamento, mas não fazem manutenção, esse conceito nem existe.
Então, você não pode caprichar muito nos detalhes, por isso, a gente trabalha numa
dimensão muito restrita”.
Além da possibilidade dos recursos tecnológicos existentes reverterem este quadro,
uma solução para esse problema é o trabalho em parceria, do poder público com o
setor privado. Em outros países, muitos mobiliários dispõem de publicidade e, por
isso, são mantidos por grandes empresas que se divulgam nas ruas (figura 120).
Esta parceria pode ser ampliada e envolver a manutenção não só do mobiliário com
a publicidade, mas também da área em que ele se insere, incluindo outros
elementos urbanos daquele trecho. Além da mídia exterior, empresas privadas -
188
tais como shoppings, supermercados e lojas - implantadas nos espaços de
intervenção, podem adotar uma área pública para manter o espaço e seus
elementos urbanos propostos pela prefeitura.
Para o designer Guto Indio da Costa, “o bom mobiliário, além das questões
funcionais, estéticas, estruturais e tal, ele tem que vir acompanhado de uma solução
financeira autossustentável. Eu acho que ele tem que se justificar e se manter por si
só, não é?”.
3
33
3-
--
-
A
AA
Adição de
dição dedição de
dição de
mais de uma função numa mesma estrutura:
mais de uma função numa mesma estrutura:mais de uma função numa mesma estrutura:
mais de uma função numa mesma estrutura:
Agregando-se várias funções numa estrutura de mobiliário, evita o excesso de
elementos visuais e, com isso, a desordem visual. Este recurso é bastante
utilizado no processo de design para o mercado, uma vez que torna o produto mais
atrativo e funcional. Esta relação é estabelecida entre a Orla de Boa Viagem e a
Avenida Ataulfo de Paiva, no Leblon nas páginas 132 e 142 do capítulo 4.
4
44
4-
--
-
Acessibilidade:
Acessibilidade:Acessibilidade:
Acessibilidade:
Acessibilidade
no urbanismo significa proporcionar aos cidadãos a possibilidade e
condição de uso com "segurança e autonomia" do espaço público, incluindo os
mobiliários urbanos, as vias de circulação e os transportes coletivos. O Design
Universal é o design de produtos e de ambientes para serem usados por todas as
pessoas, na maior extensão possível, sem a necessidade de adaptação ou design
especializado. É também conhecido, na Europa, como Design para Todos (Design
for All). Seus princípios incluem a facilidade de uso e entendimento do design,
assim como a minimização de riscos e consequências adversas de ações
acidentais ou não intencionais.
Esse parâmetro está intimamente ligado ao parâmetro anterior, uma vez que esses
conceitos, no ambiente urbano, não significam apenas permitir que pessoas com
mobilidade reduzida exerçam suas atividades. Mas tornar fácil o uso da cidade para
189
seus cidadãos, permitindo maior espaço de circulação e, com isso, diminuindo o
número de obstáculos nas calçadas.
Com relação aos deficientes visuais, por exemplo, Ângela Carneiro afirma que “tem
que usar a sinalização tátil, mas no mínimo. Temos que explorar a comunicação
natural e só quando precisar, realmente, aplicar um piso tátil. Mas as pessoas usam
em demasia, para mostrar que usam. (...) Na realidade essa palavra acessibilidade
vai ser considerada quando não for mais um item isolado, tem que ser inserida
no projeto”.
Figura 121: Avenida Ataufo de Paiva, Leblon - RJ. Adição de várias funções nas estruturas de
mobiliários urbanos, reduzindo a quantidade de barreiras físicas e visuais na calçada e configuração
diferenciada para vagas de carro para pessoas com dificuldades de mobilidade.
5
55
5-
--
-
Produção:
Produção:Produção:
Produção:
Os mobiliários urbanos são produtos, assim como os comercializados, submetidos
às limitações produtivas e à escala industrial. Isso não significa, por exemplo, que
todas as torres de iluminação de uma cidade devem ser obrigatoriamente idênticas.
Como demonstrado na página 132, a mesma estrutura industrial e modular das
torres do Projeto de Guto Indio da Costa para o projeto do Leblon funcionam
também como mobiliários de sinalização, telefone público e abrigo de ônibus.
190
Figura 122: Em Recife, na Rua Ernesto de Paula Santos, Boa Viagem, por exemplo, os abrigos de
ônibus foram projetados e implantados de forma que prejudicam a circulação dos pedestres na
calçada.
Por fim, esta pesquisa propõe a relação entre duas áreas de conhecimento o design
e o urbanismo e um resultado disto que se refere à combinação de princípios
metodológicos que poderão ser aplicados ao desenvolvimento de produtos
industrializados que levam em consideração características peculiares aos
mobiliários urbanos de acordo com um contexto e ambiente determinado, o design
de cidade. Este primeiro resultado estimula o aprofundamento de outros que
amplifiquem as atuações profissionais em prol de uma cidade mais diversa e
acessível.
191
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Subsídios para um projeto de gestão / Brasília: MMA e MPO, 2004.
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Figura 11: Ermakoff, George. Augusto Malta e o Rio de Janeiro. 1903 1936. Casa
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Figura 14: http://oglobo.globo.com/rio/mat/2009/08/30/passarela-do-obelisco-de-
ipanema-esta-sendo-demolida-neste-domingo-767387305.asp
200
Figura 16: Salvador shopping.
http://herdeirodocaos.wordpress.com/2007/08/12/salvador-shopping-a-arquitetura-
da-nudez/
Figura 17: Foto 1: a autora. Foto 2: www.flickr.com.br.
Figura 21: www.flickr.com.br
Figura 23: Ian Nairn e o man
Ian Nairn e o manIan Nairn e o man
Ian Nairn e o manifesto Subtopia
ifesto Subtopiaifesto Subtopia
ifesto Subtopia. Lorenza Pavesi. Disponível em:
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A Imagem da CidadeA Imagem da Cidade
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Figura 25: CULLEN, Gordon. P
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aisagem Urbanaaisagem Urbana
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Figura 28: Subsídios para um projeto de gestão
Subsídios para um projeto de gestãoSubsídios para um projeto de gestão
Subsídios para um projeto de gestão / Brasília: MMA e MPO, 2004.
(Projeto Orla).
Figura 29: www.flickr.com.br.
Figura 57: Arquiteto Bruno Barreto.
Figura 66: www.flickr.com.br .
Figura 84: www.flickr.com.br.
Figura 86: Projeto de quiosque proposto para a Orla de Boa Viagem, desenvolvida
pela equipe da Colméia Arquitetura e Engenharia, cedido pelo arquiteto Bruno
Barreto.
Figura 93: www.flickr.com.br.
Figura 94: www.flickr.com.br .
201
Figura 95: João Batista Guedes.
Figura 96: www.flickr.com.br.
Figura 109: http://www.arcoweb.com.br/arquitetura/urbanismo-anos-90-24-01-
2001.html.
Figuras 110 e 111: www.flickr.com.br.
Figura 117: www.flickr.com.br.
Figura 120: www.flickr.com.br.
As demais figuras foram produzidas pela autora, Ana Carolina Barbosa.
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