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2.1. O ingresso peculiar.
A entrada de Chico da Silva no meio artístico cearense se deu de maneira um tanto
quanto particular. Diferente dos pintores de sua geração, tais como Antônio Bandeira
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,
Aldemir Martins
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, Barboza Leite
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e outros, Chico da Silva não costumava freqüentar os
ateliês coletivos – embriões da Associação Cearense de Belas Artes (CCBA) e Sociedade
Cearense de Artes Plásticas (SCAP) - que aglutinavam jovens e experientes artistas ávidos
por leituras, discussões e práticas em arte
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; nem circulava entre intelectuais, literatos e
artistas plásticos que rotineiramente nos cafés e livrarias da cidade se encontravam para
refletir sobre as modernas concepções estéticas em movimento. Seu percurso parece fugir a
este roteiro comum, impresso recorrentemente nas trajetórias de seus contemporâneos.
Com Bandeira, por exemplo, a dinâmica de integração se estabeleceu a partir destes
núcleos de formação. Originário do meio estudantil, assim como Aldemir Martins, aos
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Nascido no ano de 1922, Antônio Bandeira encontra nas primárias aulas de desenho de Dona Mundica sua
experiência inicial com a atividade artística. Espírito irrequieto e dinâmico, Bandeira juntamente com o grupo de
novos e veteranos artistas fundam em 1941 o Centro Cultural de Belas Artes, mais tarde chamado de Sociedade
Cearense de Artes Plásticas (SCAP). Por intermédio de Jean Pierre Chabloz, em 1945, viaja para o Rio participando
nesta cidade de diversas amostras e exposições. Ganha uma bolsa para Paris, onde estuda por cinco anos na École
Nationale Superieure des Beaux Arts. Entre idas e vindas ao exterior, passa por importantes centros artísticos como
Itália, Londres e Bruxelas. Morre em 1967, na cidade de Paris (ESTRIGAS, 2001).
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“Pintor, desenhista e gravador, Aldemir Martins nasceu em Ingazeiras, Ceará, em 1922. Em 1947 transfere-se para
São Paulo. No ano de 1955, obteve o prêmio de ‘Melhor Desenhista nacional’. Em 1959, obteve o prêmio de ‘Viagem
ao Estrangeiro do salão nacional de Arte Moderna’. (...) Suas obras se encontram em museus e coleções no Brasil e
exterior” (GALVÃO, 2008:135).
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“Desenhista, pintor e gravador, Barboza Leite nasceu em Uruoca, em 1920. Foi um dos fundadores da Sociedade
Cearense de Artes Plásticas. Estudou gravura com Henrique Oswaldo e Goeldi. Participou de diversas coletivas e
salões oficiais, obtendo premiação no III Salão de Abril (pequena medalha de ouro); IV Salão de Abril (2º Prêmio de
pintura); (...) Entre as suas individuais, destacam-se as do Museu Nacional de Belas Artes (1951), no Rio de Janeiro, e
a da Casa Raimundo Cela (1982) em Fortaleza. Foi premiado no Salão de Abril em 1946/47/48/49. Faleceu em
Campos, em 1996” (Ibidem: 136).
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Ao narrar a formação da Sociedade Cearense de Artes Plásticas (SCAP), Mário Baratta, pintor e crítico carioca de
grande influência nas transformações do cenário local, elenca uma série de oficinas artísticas que funcionavam em
Fortaleza: “Um dia, nas conversas de oficina, lembrei que poderíamos nos organizar num grupo, numa sociedade e
assim realizarmos salões, exposições e outras atividades artísticas. A idéia foi bem acolhida e eu saí a correr oficina
por oficina convidando os artistas para uma sessão que iríamos realizar no Centro Estudantil Cearense. E eu
comecei a fazer minha procissão de passos. Primeiro, fui à oficina de F. Ávila – ficava na então Travessa S. Paulo,
no quarteirão entre Senador e Gen. Sampaio, lado sul, quase no meio da quadra. De lá, além do Ávila, veio o
Raimundo Kampos (R. Kampos). Na Major Facundo, lado do sol, no quarteirão limitado pela Pedro Pereira e Pedro
I, estava a oficina do Delfino. Ele foi a reunião programada e levou Raimundo Garcia. Na Pedro Pereira, quase em
frente ao prédio do INPS, estava a oficina de Santos Dumont, que compareceu com o irmão que pintava paisagens de
uma ingenuidade imensa. Ainda na Pedro Pereira, pouco antes do cruzamento com a Senador Pompeu, do mesmo
lado, morava e trabalhava o Mestre Georgemir (George Miranda), que também atendeu ao nosso chamado. Da sala
técnica do 1º Distrito das Secas (DNOCS) foram o índio Cordeiro, o F. Matos, que depois foi professor de desenho
no Colégio Militar, e o Jaime Silva. No prédio onde funciona a Prefeitura Municipal, estava o Clube Iracema, e
alugavam as lojas do andar térreo. Numa dessas lojas, achava-se instalado o atelier do Sr. Miranda Relvas, que se
dedicava unicamente à ampliação de retratos a pastel. Dos artistas que ali trabalhavam, lembro-me que, entre
outros, foram o Barrica, o Barboza Leite e o Expedito Branco (...) (ESTRIGAS, 2004: 112-113).