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Universidade Federal de Pernambuco
Centro de Ciências Sociais Aplicadas
Departamento de Ciências Administrativas
Programa de Pós-Graduação em Administração - PROPAD
Luisa Maria Rodrigues Diniz
Análise das Dimensões da Sustentabilidade dos
Pontos de Cultura em Pernambuco
Recife, 2009
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2
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
CLASSIFICAÇÃO DE ACESSO A TESES E DISSERTAÇÕES
Considerando a natureza das informações e compromissos assumidos com suas fontes, o
acesso a monografias do Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade
Federal de Pernambuco é definido em três graus:
- "Grau 1": livre (sem prejuízo das referências ordinárias em citações diretas e indiretas);
- "Grau 2": com vedação a pias, no todo ou em parte, sendo, em conseqüência, restrita a
consulta em ambientes de biblioteca com saída controlada;
- "Grau 3": apenas com autorização expressa do autor, por escrito, devendo, por isso, o
texto, se confiado a bibliotecas que assegurem a restrição, ser mantido em local sob chave
ou custódia;
A classificação desta dissertação/tese se encontra, abaixo, definida por seu autor.
Solicita-se aos depositários e usuários sua fiel observância, a fim de que se preservem
as condições éticas e operacionais da pesquisa científica na área da administração.
_________________________________________________________________________
tulo da Monografia: Análise das Dimensões da Sustentabilidade dos Pontos de Cultura
em Pernambuco.
Nome do Autor: Luisa Maria Rodrigues Diniz
Data da aprovação: 29/05/2009
Classificação, conforme especificação acima:
Grau 1 ( X )
Grau 2 ( )
Grau 3 ( )
Recife, Janeiro de 2010:
___________________________________
Assinatura da autora
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Análise das Dimensões da Sustentabilidade dos Pontos de
Cultura em Pernambuco
Luisa Maria Rodrigues Diniz
Orientadora: Profa. Cristina Amélia Pereira de Carvalho, Dra.
Dissertação apresentada como requisito
complementar para obtenção do grau de
Mestre em Administração, na área de
concentração em Gestão Organizacional, do
Programa de Pós-Graduação em
Administração da Universidade Federal de
Pernambuco.
Recife, 2009
4
Diniz, Luisa Maria Rodrigues
Análise das Dimenes da Sustentabilidade dos Pontos de
Cultura em Pernambuco/ Luisa Maria Rodrigues Diniz. -
Recife : O autor, 2009.
109 folhas : fig.,quadro, abrev. e siglas.
Dissertação (Mestrado) Universidade Federal de
Pernambuco. CCSA. Administração, 2009.
Inclui bibliografia e apêndice.
1. Desenvolvimento Sustentável 2. Sustentabilidade
Organizacional. 3. Políticas Públicas. I. Título.
658 CDU (1997) UFPE
658 CDD (22.ed.) CSA2009-069
5
6
AGRADECIMENTOS
A realização deste trabalho foi possível devido ao apoio de muitas pessoas, cada
uma de forma diferente e fundamental para o processo. A todos, meu carinho eterno:
Agradeço à minha família, pelo incentivo e torcida. Em especial, à pequena
Heleninha, que em noites difíceis, trazia a alegria de seu sorriso e as “longas conversas”
numa linguagem bem particular.
Aos meus grandes amigos Faola e Lívio, pelas ligações de incentivo, sempre
rezando pelo meu êxito.
À professora Cristina, pela paciência e valiosas orientações. Muito obrigada!
Aos professores Carla Pasa e Fernando Bastos pelos ensinamentos desde a fase de
qualificação do projeto. E, ainda, pelos ensinamentos colhidos nas suas produções
científicas.
Aos professores do PROPAD, por compartilhar conhecimentos nas disciplinas
cursadas durante o mestrado.
À turma 13 de Mestrado, grupo que fiz fortes amizades.
À turma 4 de Doutorado.
À Secretaria do PROPAD. Irani e estagiárias, obrigada!
A todos aqueles a quem entrevistei, por terem compartilhado comigo seus saberes e
por possibilitarem um novo olhar sob a realidade.
A CAPES E CNPQ pelo apoio financeiro.
Ao grupo do Observatório da Realidade Organizacional.
(Para alguém, como eu, que o acreditava mais fazer amizades fortes e verdadeiras, o
grupo provou, com o carinho e disponibilidade, a possibilidade de, a qualquer momento da
vida, construir laços fraternos).
À Deus por permitir que tudo se realizasse.
7
A Deus por nunca me deixar faltar nada e por
manter sempre minha lucidez.
8
RESUMO
O Programa Cultura Viva é uma potica pública federal elaborada e implantada na gestão
de Gilberto Gil no Ministério da Cultura. O discurso deste programa apresenta uma forma
diferenciada de se trabalhar a cultura no país, historicamente preterida da agenda
governamental: o reconhecimento da cultura como cidadania e o seu papel fundamental
na consolidação do processo democrático. O foco do programa são os grupos culturais que
até então o foram contempladas pelas políticas blicas governamentais. Entre os
propósitos do Programa está a sustentabilidade destes grupos. Nesta pesquisa analisa-se os
Pontos de Cultura, expressões culturais que envolvem a comunidade em atividades de arte,
cultura, cidadania e economia solidária. A sustentabilidade tratada aqui abrange, além do
aspecto econômico (geralmente destacada quando se trata do âmbito organizacional), as
dimensões técnico-gerencial, social e potica. A análise dos dados colhidos em entrevistas
com os Pontos de Cultura mostrou que níveis diferenciados do impacto do PCV nas
dimensões da sustentabilidade, bem como não foram percebidas contribuões do programa
em todas as organizações entrevistadas. Transcorridos quatro anos do programa é o
momento de fazer um balanço das ações desenvolvidas e, a partir de um diagnóstico do
PCV, providenciar ajustes e melhorias.
Palavras-chave: Programa Cultura Viva. Pontos de Cultura. Políticas blicas.
Sustentabilidade.
9
ABSTRACT
The Living Culture is a federal public policy developed and deployed in the management of
Gilberto Gil at the Ministry of Culture. The speech of this program presents a different way
of working culture in the country, historically like the governmental agenda: there is a
recognition of culture and citizenship and its role in consolidating the democratic process.
The gap is also in its aim to give more autonomy to cultural organizations from a shared
management. Among the purposes of the Program is the sustainability of these groups. This
research analyzed in the Points of Culture, cultural expressions that involve the community
in activities of art, culture, citizenship and solidarity economy. Sustainability concerns
addressed here beyond economical aspect (usually highlighted when the organizational
context), the technical and managerial dimensions, social and political. The analysis of data
collected from interviews with the Points of Culture showed that there are varying levels of
impact of PCV on the dimensions of sustainability, and were not perceived contributions of
the program in all the organizations interviewed. Passed 4 years of the program is the time
to take stock of actions carried out until now and, from an analysis of the program, provide
adjustments and improvements.
Key-words: Alive Culture Program. Points of Culture. Public Policy. Sustainability.
10
LISTA DE FIGURAS E QUADROS
Figura 1-
Dimensões e Categorias para a Análise da Sustentabilidade
59
Quadro 1 - Exemplos de Definições de Cultura
29
Quadro 2 - Temáticas Norteadoras das Políticas Públicas Culturais
34
Quadro 3 - Indicadores para a Análise da Sustentabilidade
56
Quadro 4 - Dimensões para a Análise da Sustentabilidade dos Pontos de
Cultura de Pernambuco
68
11
SIGLAS E ABREVIATURAS
CCLF Centro Cultural Luiz Freire
FUNDARPE Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco
IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
MINC Ministério da Cultura
PCV Programa Cultura Viva
PPA Plano Plurianual
SPHAN Serviço do Patrimônio Histórico e Arstico Nacional
12
Sumário
1 Introdução 14
1.1 Objetivos 16
1.1.2 Objetivo Geral 16
1.2.1 Objetivos Específicos 16
1.2 Justificativa 16
2 Fundamentação Teórica 18
2.1 Histórico das Políticas Públicas Culturais do Brasil 18
2.2 Breve Estudo da Relação Cultura e Desenvolvimento 25
2.3 Uma Nova Perspectiva no Discurso das Políticas Públicas Culturais
Atuais
33
3 O Programa Cultura Viva 39
3.1 As Outras Ações do Programa 41
4 Desenvolvimento Sustentável: Origens e Conceito 45
4.1 Sustentabilidade e suas Múltiplas Perspectivas 49
4.2 Sustentabilidade Organizacional 52
4.3 Dimensões e Indicadores para a Análise da Sustentabilidade
Organizacional: Modelos Inspiradores da Pesquisa
54
5 Metodologia do Estudo 61
5.1 Delineamento da Pesquisa 61
5.2 Coleta de Dados 61
5.3 As Organizações Estudadas 63
5.3.1 O Centro Cultural Coco de Umbigada 63
5.3.2 O Centro Cultural Luiz Freire 65
5.3.3 O Centro Maria da Conceição 67
5.4 Dimensões para Análise 68
5.5 Tratamento de Dados 72
6 A Análise das Dimensões da Sustentabilidade dos Pontos de Cultura
as Influências do Programa Cultura Viva
73
6.1 Descrição e Análise da Dimensão Econômica da Sustentabilidade 74
6.2 Descrição e Análise da Dimensão Política da Sustentabilidade 78
6.2.1 Legitimidade 78
6.2.2 Capacidade de Influenciar os Processos Sociais e as Políticas
Públicas
80
6.2.3 Nível de Articulação em Redes 82
13
6.3 Descrição e Análise da Dimensão Social da Sustentabilidade 84
6.4 Descrição e Análise da Dimensão Técnico-Gerencial da
Sustentabilidade
86
6.4.1 Quadro de Recursos Humanos 86
6.4.2 Capacidade de Organização e Gestão do Trabalho 88
7 Sustentabilidade: a interdependência das dimensões 93
8 Conclusão 95
Referências 99
Apêndice A – Roteiro de Entrevistas 105
14
1 Introdução
O campo da cultura no Brasil sempre foi influenciado pelo dirigismo do Estado e
investimentos do mercado. A atuação do poder público restringia-se à preservação do
patrimônio cultural, e a iniciativa privada beneficiou a indústria cultural de massa,
negligenciando a cultura popular. Com o início da gestão do ministro Gilberto Gil no
Ministério da Cultura (MinC), em 2003, esse quadro vem apresentando mudanças, pois
anuncia uma nova perspectiva para a forma de trabalhar o setor cultural. Nos seus
discursos, o governo reconhece a cultura como cidadania - um direito assegurado na
Constituição Federal - e o seu papel fundamental na consolidação do processo democrático.
O MinC desde o início apresentou uma dinâmica diferente de conduzir sua potica
pública cultural, realizou, por exemplo, uma série de consultas e fóruns para estimular a
participação de diversos segmentos da área artística e da sociedade em geral; a temática
destas discussões era a lei de incentivos fiscais que a partir daí passou por alterações
principalmente no que diz respeito à criação de critérios e normas que permitissem uma
melhor distribuição dos recursos (CALABRE, 2007). Essas mudanças vistas a partir desta
gestão tornam-se mais significativa quando comparada às políticas culturais anteriores, cujo
histórico pode ser sintetizado por expressões como “autoritarismo, caráter tardio,
descontinuidade, desatenção, paradoxos, impasses e desafios” (RUBIM, 2007b, p. 11).
O Programa Cultura Viva (PCV) foi criado em 2004 para atender a esta nova
perspectiva. Comem o PCV cinco ações: Ponto de Cultura, Ação Griô, Agente de
Cultura Viva, Agente de Cultura Digital e Escola Viva. A ação prioritária é o Ponto de
Cultura: são selecionadas organizações por meio de edital público que recebem recursos do
Governo Federal para realizarem seus trabalhos (compra de instrumentos, figurinos,
equipamentos multimídias, contratação de profissionais para cursos e oficinas, produção de
espetáculos, eventos culturais etc.). Os Pontos de Cultura são expressões culturais que
envolvem a comunidade em atividades de arte, cultura e cidadania. Hoje, existem mais de
650 Pontos de Cultura distribuídos pelo país; em Pernambuco são 44 (MAPAS DA REDE,
2009).
O governo tem a pretensão, com o programa, de possibilitar a divulgação das
diferentes manifestações sociais até então preteridas pelas poticas blicas; apresentando
15
para toda a sociedade a diversidade de características de um povo (BRASIL, 2004).
Desesconder o Brasil, reconhecer e reverenciar a cultura viva de seu povo” é a fala do
ministro Gilberto Gil (BRASIL, 2004, p. 4) sobre o programa. É este propósito que mais
chamou a atenção da autora para a pesquisa do PCV, pois anuncia o objetivo de dar
visibilidade para as variadas manifestações culturais, desde orquestras sinfônicas ou corais
até a cultura dos terreiros de candomblé.
Destaca-se também o propósito do Programa Cultura Viva de possibilitar mais
autonomia às organizações culturais a partir de uma gestão compartilhada, viabilizando
através de recursos financeiros e aparato tecnológico a sua continuidade. No texto do PCV,
o governo mostra o seu interesse também de ver os Pontos de Cultura crescendo em suas
ações respeitando sua identidade e conquistando sua sustentabilidade.
Neste contexto, destacam-se, portanto, diversas e relevantes temáticas para a análise
do PCV: cidadania, democracia, participação, autonomia, sustentabilidade, entre outras.
Escolheu-se o aspecto da sustentabilidade dos Pontos para análise neste trabalho, questão
que no ano de 2008 foi pauta das discussões dos principais atores que participam ou
participaram deste programa.
Determinado o tema, foi necessário definir o que é sustentabilidade e viu-se que há
uma diversidade de definições. Neste trabalho, a sustentabilidade é entendida como a
capacidade das organizações continuarem a desenvolver suas atividades em conformidade
com seus valores e preservando sua identidade.
O segundo passo foi definir as dimensões para análise - um novo desafio, pois a
abordagem dos autores remete à sustentabilidade ou atrelada às questões ambientais ou
reduzida ao aspecto financeiro.
O contato inicial com os Pontos, as leituras dos relatórios e documentos dos eventos
ocorridos, principalmente, nos anos de 2006 e 2007, mostraram que o interesse de muitas
das organizações em participar do PCV justificava-se, inicialmente, pelo aspecto
econômico da sustentabilidade representava o PCV, embora temporariamente, uma fonte
de recurso financeiro para as organizações - entretanto, na continuidade das pesquisas,
observou-se que outros aspectos também foram considerados pelas organizões culturais,
por exemplo, o aspecto político do programa.
Assim, entende-se que para entender a sustentabilidade das organizações deve-se
estudá-las de forma abrangente, e nesta pesquisa fez-se a análise por 4 dimensões: potica,
técnico-gerencial, social e econômica. Através da análise de cada uma delas, procurou-se
16
responder a questão que guia esse trabalho: qual a contribuição do Programa Cultura
Viva para a sustentabilidade dos Pontos de Cultura de Pernambuco?
No intuito de viabilizar esta investigação, foram traçados os seguintes
objetivos:
1.1. Objetivos
1.1.1 Objetivo Geral
Analisar como o Programa Cultura Viva contribui para a sustentabilidade dos
Pontos de Cultura de Pernambuco nas dimensões social, econômica, potica e técnico-
gerencial.
1.1.2 Objetivos Específicos
- Descrever o Programa Cultura Viva identificando o fundamento de seus projetos e
ações;
- Definir e descrever as dimensões e parâmetros da sustentabilidade pertinentes à
análise dos Pontos de Cultura;
- Verificar como as práticas organizativas dos Pontos de Cultura em direção à sua
sustentabilidade são orientadas pelo discurso e prática do Programa Cultura Viva.
1.2. Justificativa
O Programa Cultura Viva tem caráter experimental e inovador, não tem modelo
único nem impõe forma de gestão, assim, os resultados não são previsíveis e, como
reconhece o ex-ministro da Cultura Gilberto Gil, provavelmente surpreendentes: “que
acontece quando se solta uma mola comprimida, quando se liberta um pássaro, quando se
abrem as comportas de uma represa? Veremos...” (BRASIL, 2004, p. 8).
Transcorridos quatro anos do lançamento do PCV, é o momento de ver os
resultados do programa e nesta dissertação o propósito é a análise no que diz respeito à
sustentabilidade dos Pontos de Cultura. Foram propostas para isso quatro dimensões:
econômica, técnico-gerencial, social e potica.
17
A definição destas dimensões foi fruto de pesquisas em trabalhos de autores que
construíram modelos de quadros analíticos para a análise da temática. Observou-se que
carência de trabalhos no que diz respeito à sustentabilidade de organizações e aqueles que
tratam do tema fazem seus estudos em organizações não-governamentais e sob variadas
dimensões. Pretende-se, portanto contribuir com a elaboração de um quadro que possibilite
o estudo da sustentabilidade, mais próximo da realidade observada nos Pontos, servindo
assim como ferramenta para a avaliação da política governamental.
Quanto ao campo teórico, o estudo visa contribuir com o resgate histórico das
políticas públicas culturais, evidenciando assim que o PCV de fato tem um caráter
diferenciado quando comparado com as poticas governamentais anteriores. Bem como,
apresentar os conceitos e dimensões da sustentabilidade no âmbito organizacional, e
mostrar que o tema não é modismo, nem mais uma ferramenta de gestão para substituir
outras práticas de administração, como alerta Tostes (2006), mas sim um conceito
fundamental e estratégico para providenciar a continuidade das organizações.
Pretende também este trabalho servir como subsídio para os Pontos de Cultura
entrevistados, no que diz respeito às mudaas provocadas por seu ingresso no PCV, bem
como sua participação na construção desta política.
18
2 Fundamentação Teórica
O referencial teórico para um trabalho é responsável pela fundamentação do estudo
e permite que o pesquisador identifique os autores que podem contribuir para o
desenvolvimento da pesquisa.
Neste trabalho, num primeiro momento, fez-se um estudo das políticas públicas
culturais brasileiras: apresenta-se o histórico destas poticas no intuito de conhecer como
os governos anteriores tratavam o setor cultural. No item “Breve histórico da relação
cultura e desenvolvimentoo apontadas as mudanças nesta relação ocorridas ao longo do
tempo; estudo pertinente, pois anuncia o atual governo que um de seus propósitos é
promover o entrelace entre cultura e desenvolvimento. O item seguinte - Uma nova
perspectiva no discurso das poticas públicas culturais atuais- trata do direcionamento das
políticas atuais, mostrando que as suas diretrizes sugerem que a cultura seja instrumento
para o desenvolvimento sustentável.
2.1 Histórico das Políticas Públicas Culturais do Brasil
As necessidades, os desejos, os imaginárioso outros – no entanto,
as idéias que deveriam responder a umas e outros seguem muito
freqüentemente sendo as mesmas, em muitas partes do mundo. Isso
é verdadeiro quando o tema é política cultural (COELHO, 2007,
p.9).
Nos estudos atuais, a cultura é apresentada como elemento fundamental para o
exercício da cidadania e a consolidação da democracia e por isso é colocada como pauta
principal na elaboração de políticas públicas. O seu histórico, entretanto, mostra que o foco,
muitas vezes, distanciava-se desta perspectiva. Para Rubim (2007b), não houve poticas
públicas culturais nacionais no Brasil colônia, nem no segundo império ou na chamada
República Velha (1889-1930).
Em 1808, a corte portuguesa veio instalar-se no Brasil e por esse motivo D. João VI
fez investimentos em variados setores para que o país pudesse recebê-la, entre eles, na
cultura, e os fez ao ponto de igualar os investimentos na cultura aos outros segmentos da
economia (CESNIK; BELTRAME, 2005). Para ilustrar, cita-se que foi, nesse período,
publicado o primeiro livro (1808), criada a Biblioteca Nacional (1811), a Escola Real de
19
Ciências, Artes e Ofícios (1813), a Filarmônica (1837), entre outras iniciativas (CESNIK;
BELTRAME, 2005). Rubim (2007) explica que não se deve considerar essas ações
efetivamente poticas públicas para a cultura, pois o investimento na cultura, na realidade,
tratava-se de personalizadas atitudes culturais de Dom Pedro II (exemplifica citando o
estímulo à inauguração dos Institutos Históricos e Geográficos). Salienta ainda que, em
tempo colonial, a monarquia portuguesa negava as culturas indígenas e africanas, além de
submeter a colônia a rigorosos controles (por exemplo, a proibição de instalar imprensas,
censura de livros e jornais estrangeiros, dificultava o desenvolvimento da educação, em
especial a implantação de universidades, entre outras ações) (RUBIM, 2007b, p. 13).
Esse contexto o foi substancialmente modificado com a independência brasileira.
O Estado continuou despendendo pouca atenção à cultura vista como um privilégio ou
ornamento em uma sociedade que imperava a exclusão social (COUTINHO, 2000 apud
RUBIM, 2007). Nos primeiros anos da República, a relação cultura e Estado foi agravada
com a crise de 1929, onde a cultura era percebida como dispêndio. Houve a dissociação
entre desenvolvimento e cultura e somente em meados dos anos 90, limitadamente,
começou a mudar (MOISÉS, 2001) esta percepção.
Considera Calabre (2007) que no governo de Vargas foram implementadas as
primeiras poticas blicas de cultura no Brasil que tiveram por objetivo promover maior
institucionalidade para o segmento cultural foi criado, nesta época, o Instituto Nacional
de Cinema Educativo, Instituto Nacional do Livro e o primeiro Conselho Nacional de
Cultura. De acordo com Cury (2002), as obras produzidas neste período tinham por
propósito a consolidação da identidade nacional, ajustada ao gosto do Estado centralizador.
Em 1934, assume Gustavo Capanema o Ministério da Educação e Saúde que definiu
seu perfil administrativo próprio: promover o vínculo entre educação e cultura às poticas
de desenvolvimentoembora o modo de promover esse desenvolvimento tenha sido pouco
democrático (MOISÉS, 2001). Nesta década, em 1937, criou-se o SPHAN (Serviço do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), depois denominado por IPHAN
1
(Instituto do
Patrimônio Hisrico e Artístico Nacional), considerado por Moisés (2001) um exemplo
paradigmático do padrão de desenvolvimento institucional defendido no governo. Ele
1
O IPHAN é contemplado pela Constituição Federal de 1988 no artigo 216 que define patrimônio cultural por
suas formas de expressão; seus modos de criar, fazer e viver; as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; e
os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico,
ecológico e científico (www.iphan.gov.br). Vê-se portanto que a Constituição de 88 traz um conceito amplo
de patrimônio cultural.
20
surgiu a partir de discussões entre o ministro Capanema e sua equipe, que incluía o poeta
Mário de Andrade, e foi reflexo de um projeto atento à diversidade que singulariza a
cultura brasileira” (MOISÉS, 2001, p. 26).
Mário de Andrade pensou a cultura como algotão vital como o pão” e pôde
mostrar suas inovações quando estava à frente do Departamento de Cultura do município
de São Paulo: propôs uma definição ampla de cultura, que foi além de considerá-la como
belas artes, abrangendo também as culturas populares. Entendia o patrimônio como algo
pertencente o as elites, mas pertinente aos diferentes estratos da sociedade; patrocinou
também, embora estivessem fora de sua jurisdição administrativa, duas missões
etnográficas para as regiões amazônica e nordestina a fim de pesquisar sobre seus acervos
culturais (RUBIM, 207b, p.15). Rubim (2007b) aponta o experimento de Mário de Andrade
como inovador, embora não escapasse ileso às deficiências e problemas próprios do
momento histórico-político dos anos 30.
O anteprojeto elaborado por Mário de Andrade, que resultaria no SPHAN, sofreu
significativas mudanças e ficou de lado aquilo que representava o mais desafiador para seu
tempo: “a memória dos grupos populares, das etnias que compõem a brasilidade, da
diversidade dos saberes e fazeres do país” (BOTELHO, 2007). A redação final foi de
Rodrigo Melo Franco de Andrade (que dirigiu a instituição de 1937 a 1967). No modelo
que foi implantado, os técnicos do IPHAN realizavam a escolha dos patrimônios, não havia
a participação da sociedade. Embora se reconheça a importância da preservação patrimonial
– “ameaçado muitas vezes pelo tempo e pelo próprio processo de desenvolvimento do país”
(MOISÉS, 2001, p.27) críticas porque privilegiou a preservação de igrejas católicas,
barrocas, erguidas pelos colonizadores portugueses, preterindo o patrimônio material e
imaterial de elementos que demonstram a diversidade da cultura brasileira, a exemplo de
“sítios e áreas ligadas à tradição religiosa e cultural indígena, afro-brasileira, judaica e dos
diferentes grupos de imigração estrangeira” (MOISÉS, 2001, p.28).
Ainda no Estado Novo, o setor cultural foi alvo da censura por meio do DIP
2
(Departamento de Imprensa e Propaganda, criado no governo de Getúlio Vargas), mais
estruturado e com maior abrangência e poder de penetração na sociedade, em comparação
2
A criação do DIP foi precedida por três outros órgãos - o Departamento Oficial de Publicidade (DOP), o
Departamento de Propaganda e Difusão Cultural (DPDC), e o Departamento Nacional de Propaganda (DNP),
que se sucederam a partir de 1931. Nenhum deles, no entanto, desfrutou do grau de autonomia e abrangência
do DIP, dada a conjuntura especificamente diferente em que atuaram (DICIONÁRIO HISTÓRICO-
BIOGRÁFICO BRASILEIRO. CPDOC - Fundação Getulio Vargas, 2009).
21
com as suas “versões” anteriores. Eram proibidas quaisquer manifestações culturais que
demonstrassem, mesmo que levemente, contrariar o regime ditatorial. O governo utilizava-
se de algumas das expressões culturais como meio de consolidar o Estado Novo e a
ideologia autoritária que lhe dava sustentação (MOISÉS, 2001).
Reconhece Rubim (2007b) que o Estado nacional, principalmente pela presença de
Capanema no Ministério da Educação e Saúde, pela primeira vez, realizava um conjunto de
intervenções na área da cultura, porém apresentava além de uma face “afirmativa” (a
elaboração de legislações, das ações e instituição de novas organizações de cultura), uma
face “negativa” (a censura, repressão, opressão).
Em meados dos anos 40 e nos anos 50, o destaque era para o processo de aplicação
de recursos privados na cultura, não havendo nenhuma participação do poder Público nesta
iniciativa; foram os empresários, motivados a conseguir “status social”, que financiaram os
ditos investimentos. São os mecenas da época: Franco Zampari, Francisco Matarazzo
Sobrinho, Assis Chateaubriand, Paulo Bittencourt, entre outros. Todos eles alavancaram em
alguns segmentos a cultura nos seus estados, a exemplo da construção do Museu de Arte de
São Paulo (MASP), da criação da Companhia Cinematográfica Vera Cruz, do Museu da
Arte Contemporânea do Rio de Janeiro etc. (CESNIK; BELTRAME, 2005).
Em 1964, com o início da ditadura militar (1964-1985), o Estado retomou o projeto
de uma maior institucionalização do campo da produção artístico-cultural. Nos primeiros
anos do regime ditatorial, a cultura estava em segundo plano, priorizava-se a área da
educação e somente no final do governo de Médici foi elaborado um Plano de Ação
Cultural (PAC)
3
, apresentado como um projeto de financiamento de eventos culturais
(CALABRE, 2007).
No governo de Geisel, segundo Calabre (2007, p.91), houve “um efetivo
fortalecimento da área da cultura com a criação de óros estatais que passaram a atuar em
novas áreas, tais como: Conselho Nacional de Direito Autoral, Conselho Nacional de
Cinema, Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro e a Fundação Nacional de Arte”.
Em 1970, um redirecionamento da política cultural com a substituição do
Departamento de Assuntos Culturais pela Secretaria de Assuntos Culturais mostrou outro
3 A meta do PAC era a implementação de um ativo calendário de eventos artísticos das mais variadas áreas
(música, teatro, circo, folclore e cinema). Permitiu também o deslocamento de artistas para se apresentarem
em outros estados: “como, por exemplo, grupos do sul se apresentavam em Recife; artistas catarinenses em
Belém; músicos cariocas em Fortaleza ou amazonenses em Florianópolis, provocando uma intensa circulação
e interação cultural nas mais diversas regiões brasileiras” (CALABRE, 2005, p. 5)
22
enfoque da potica cultural do governo: uma clara divisão em vertente patrimonial e outra
de produção, circulação e consumo da cultura (CALABRE, 2007).
Destaca-se, em 1975, o lançamento do primeiro plano de ão governamental no
país que aponta princípios norteadores para a política cultural: a Política Nacional de
Cultura (PNC). Os redatores desta potica defendiam a brasilidade cultural, propondo a
preservão da “originalidade, genuinidade, peculiaridade, enraizamento, tradição, fixidez,
personalidade, vocação, perenidade, consciência nacional” (RUBIM, 2007b, p.44).
Entendiam seus ideólogos que a maneira de obter uma unidade nacional era preservando a
diversidade. A forma encontrada para viabilizar a unificação da política cultural foi a
realização de encontros nacionais de cultura reunindo representantes culturais de todos os
estados da federação. No Encontro de Secretários de Cultura, realizado em 1976, em
Salvador, Raymundo Moniz de Aragão, então presidente do Conselho Federal de Cultura
expressa na abertura o propósito do trabalho: “o almejado é a unidade e não a
uniformidade” (RUBIM, 2007b, p. 46).
Vê-se que os governos autoritários deram maior atenção à cultura, porém as ações
visavam instrumentalizá-la. Segundo Rubim (2007, p. 4), a atuação do Estado na cultura
visava, na verdade, domesticar seu caráter crítico; submetê-la aos interesses autoritários;
buscar sua utilização como fator de legitimação das ditaduras e, por vezes, como meio para
a conformação de um imaginário de nacionalidade”. Moisés (2001) sobre esse momento da
história do Brasil afirma que, se por um lado, a ação dos governos militares na área da
cultura foi acompanhada da criação e reordenação de instituições, demonstrando assim seu
objetivo de ampliar o papel do Estado, por outro lado, mostrou “sua face repressiva ao
censurar filmes, peças de teatro, publicações e outras formas de expressão cultural”
(MOISÉS, 2001, p. 31-32).
Após 20 anos de governos autoritários, abre-se espaço para uma nova experiência
democrática na gestão pública de cultura; a mudança de regime político provocou várias
tentativas de reestruturação da administração pública federal; foram criados vários
ministérios, entre eles, o da Cultura (MOISÉS, 2001).
No governo do presidente Sarney, o novo Ministério da Cultura enfrentou rios
problemas financeiros e administrativos e na tentativa de criar novas fontes de recursos
criou a Lei Sarney com o propósito de atrair investimentos privados para o fomento da
cultura, mediante isenção fiscal às empresas investidoras. Segundo Moisés (2001, p.33), “a
idéia do presidente Sarney era de que ao Estado cabia facilitar as condições de
23
entendimento entre as empresas privadas e os produtores culturais, evitando que os
governos interferissem no processo”; entretanto, deixou com o mercado as decisões na área.
Na Constituição de 1988, embora apresente em seu texto a responsabilidade do
Estado em relão à cultura, concretamente, não se observou mudanças significativas.
Anuncia a Constituição Federal/88 que:
Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos
culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e
incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais.
Em 1990, ocorre a primeira eleição por voto direto no Brasil depois do regime
militar e vence Fernando Collor de Melo. Encontra-se neste período democrático o que
dizem os autores Cesnik e Beltrame (2005) o ápice do processo ditatorial atrasado: o
extintos todos os organismos de cultura que existiam e houve o rebaixamento do Ministério
da Cultura à Secretaria (ligada a Presidência da República), como represália aos artistas que
apoiaram seu opositor Luis Inácio Lula da Silva. Foi também neste período revogada a Lei
Sarney.
Os estados e municípios começaram a elaborar suas próprias leis e sistemática de
política cultural para fomentar a cultura. Nos moldes da Lei Sarney, com significativas
correções, foi criada a Lei Mendonça (1990) no município de São Paulo, que foi seguida
por outros estados e também municípios que, inspirando-se nela, adotaram o mesmo
formato (CESNIK; BELTRAME, 2005).
Resumidamente, assim era o formato: o produtor artístico preenchia um cadastro
junto aos órgãos do governo, apresentando um projeto no qual constava a descrição e o
orçamento, depois da aprovação deste, estaria habilitado para buscar financiadores no setor
privado. Ao final do projeto, prestava contas junto ao governo quanto à aplicação dos
recursos conseguidos. O benefício desta sistemática para o empresariado estava no
abatimento, no seu ISS ou IPTU, de determinado percentual sob o valor investido (na Lei
Mendonça, no município de São Paulo, era de 70%).
Em 1991, foi promulgada a lei federal Rouanet (um aprimoramento da Lei Sarney),
seu texto legal é ainda hoje a base de toda a política de incentivos praticada no Brasil.
Inicialmente, não foi significativa a participação, principalmente, das pessoas sicas o
rigor formal, em defesa da transparência administrativa, atrapalhou a integração da
sociedade civil. Sem dúvida, comparada com as políticas praticadas anteriormente,
percebeu-se uma maior participação das entidades representativas de setores culturais,
24
entretanto por serem as empresas os principais financiadores, os padrões mercadológicos
continuavam prevalecendo.
Em 1992, com o presidente Itamar Franco é recriado o Ministério da Cultura.
Rubim (2007b) aponta que as ambigüidades do período de transição e construção da
democracia (1985-1993) refletiam no âmbito cultural, que pode ser ilustrado na análise da
implantação dos Ministérios da Cultura que neste período sucederam dez ministros: cinco
no governo Sarney, 2 no governo Collor e 3 no governo de Itamar.
No governo de Fernando Henrique Cardoso, com o ministro da cultura Corrêa
Weffort, houve melhor aparelhamento e também o aumento do investimento deste
segmento. Moisés (2001, p. 43) afirma que a partir daí “o ministério passou a orientar-se
por objetivos voltados para a democratização da administração da cultura, a democratização
do acesso da população aos bens culturais e, ao mesmo tempo, maximização de
mecanismos de fomento. Revela, entretanto, que o investimento na cultura ainda era feito
de forma desigual nas diversas regiões do Brasil e que havia a necessidade de uma política
que diminuísse as distâncias sociais.
Em tempos do ministro da cultura Gilberto Gil, nomeado, em 2003, pelo presidente
Luis Inácio Lula da Silva, a proposta é atuar na área cultural sob três frentes: a
configuração de um sistema nacional de financiamento, a construção de uma potica
cultural de envergadura nacional e, finalmente, a democratização cultural
4
.
Rubim (2007) avanços no discurso do ministro Gilberto Gil, pois propõe uma
forma diferente de tratar o setor cultural e fazer potica blica, veja-se: ênfase no papel
ativo do estado na formulação e implementação de poticas de cultura (faz críticas ao
governo anterior por ter substituído o Estado pelo mercado, através das leis de incentivo);
conexão do Estado com a sociedade (desafio de formular e implementar poticas culturais
em circunstâncias democráticas) e ampliação do conceito de cultura (adotando o conceito
antropológico”), abrangendo assim não as culturas cultas (eruditas), mas também as
culturas populares. Afirma ainda o autor que a atuação do Ministério da Cultura nestes
casos se o é inaugural, representa um diferencial comparado as políticas anteriores, a
exemplo do apoio à cultura indígena ou às queses de afirmação sexual.
Acrescenta-se também, como avanço do setor cultural, a cultura ser percebida pelo
governo federal como elemento para a promoção do desenvolvimento. Neste tocante, tendo
4
Texto originalmente publicado na edição nº 7, de agosto de 2003, do boletim Poticas Sociais
acompanhamento e análise, editado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) (MinC, 2007).
25
em vista as mudanças que ocorreram ao longo do tempo quanto à relão entre cultura e
desenvolvimento, apresenta-se um breve estudo para sua melhor compreensão.
2.2. Breve Estudo da Relação Cultura e Desenvolvimento
Com a importância dada aos impactos sociais e ambientais do
crescimento econômico, tornou-se claro que o desenvolvimento era
um conceito muito mais abrangente do que o crescimento
econômico (SACHS, 2005).
A relação cultura e desenvolvimento, nos anos 40 e 50, foi muito discutida por
antropólogos e depois por economista e sociólogos, chamados teóricos da modernização.
Entre os últimos, preponderava a idéia que a cultura dos países subdesenvolvidos era um
obstáculo ao desenvolvimento e por isso deveriam transferir as instituições e valores
ocidentais para os países subdesenvolvidos, “ainda que a descargas de canhão e golpes de
baioneta” (COSTA, 2006, p.2).
No segundo pós-guerra, de acordo com Moisés (2008), as concepções
economicistas ainda orientavam a economia e a sociologia norte-americana e estabeleciam,
também, a impossibilidade da relação cultura-desenvolvimento (apontavam a exclusão da
dimensão cultural do desenvolvimento). Entendiam que o desenvolvimento depende
sempre da existência de certas condições prévias
5
que, no caso da cultura, foram tratadas
mais de forma negativa do que positiva (Moisés, 2008).
Somente nas últimas 4 décadas a relação entre cultura e desenvolvimento foi vista
de forma diferente. Hermet (2002) aponta que os responsáveis de somarem novamente a
cultura na pauta do desenvolvimento foram as grandes organizações de apoio ao
desenvolvimento (cita o Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento, a
Organização Internacional do Trabalho, a CEPAL, o PNUD e a UNESCO). Essas
organizações perceberam que somente levando a cultura em consideração teriam as
populações-objeto envolvidas nos seus projetos, colaborando com a sua implementação.
5 Esta idéia vem do estudo clássico de W. W. Rostow que fundamentou muitos programas governamentais
impulsionados por organismos internacionais. Para o autor, o desenvolvimento pode ocorrer “se e quando
certas peculiaridades culturais estiverem ausentes, deixando, assim, de operar como obstáculo estrutural à sua
ocorrência; ou, pelo contrário, quando condições muito particulares existem e condicionam a emergência do
desenvolvimento” (ROSTOW, 1960 apud MOISÉS, 2008, p. 19).
26
Realizaram, principalmente em 1995, simpósios, grupos de trabalho, publicações sobre a
importância do elemento cultural “como recurso para a luta contra a miséria dos povos”
(HERMET, 2002, p.87).
Hermet (2002), de forma inica, diz que, na realidade, a cultura foi levada em
consideração por ser o último aspecto inexplorado dos esforços desenvolvidos em nível
internacional para estimular o desenvolvimento econômico” (ARIZPE apud HERMET,
2002, p.88). Ainda sob uma visão crítica, Gilberto Rits (apud HERMET, 2002) questiona
se a inclusão da cultura nas discussões sobre o desenvolvimento realmente abrem uma nova
perspectiva para repensá-lo ou se continua a perseguir o mesmo objetivo, sendo somente
uma extensão da lógica mercantil numa linguagem mais atraente.
Para Moisés (2008), um dos primeiros passos para a mudança da visão sobre a
relação cultura e desenvolvimento foi a instituição do PNUD (Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento), o qual substituiu os indicadores econômicos por indicadores
humanos, passando a considerar a noção de desenvolvimento humano. Neste conceito além
de enfatizar as potencialidades e capacidades do indivíduo humano, também anuncia o
direito à valorização e acesso das pessoas à sua cultura:
Essa foi uma primeira tentativa para pensar intelectual e
praticamente o desenvolvimento não apenas como fator de
crescimento econômico, mas também de progresso entendido como
mudança qualitativa das condições de vida das pessoas (MOISÉS,
2008, p. 21).
Lima (2007) salienta que, em 1970, a UNESCO também passou a questionar o
modelo de desenvolvimento baseado exclusivamente no crescimento econômico e na
racionalidade técnica. Em 1982, a Conferência Mundial sobre as Poticas Culturais,
realizada no México, reconheceu a importância da dimensão cultural no desenvolvimento,
focando o crescimento o no aspecto quantitativo, mas tratando-o em termos
qualitativos – “ou seja, a satisfação das aspirações espirituais e culturais do homem”
(LIMA, 2007, p. 4). Podem-se citar outras ações da UNESCO que evidenciam esta
mudança de enfoque: a produção do relatório Nossa Diversidade Criadora (publicado em
1996), desenvolvida por uma comissão (Comissão Mundial de Cultura e Desenvolvimento)
composta conjuntamente com a ONU, em 1992, e a Conferência Intergovernamental sobre
Política Cultural para o Desenvolvimento (em 1998, no México). A partir deste evento, foram
elaboradas recomendações para os países membros, entre elas, fazer das políticas públicas
culturais estratégias para o desenvolvimento.
27
Outros organismos internacionais também inseriram a cultura na pauta de discussão do
desenvolvimento: o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) realizou, em 1999, o
Fórum Desenvolvimento e Cultura; o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(PNUD) que, em 2004, no seu relatório abordou o tema diversidade cultural; o BID e o Banco
Mundial, que em parceria com os governos dos Estados (por exemplo, Havana, Quito,
Salvador, Rio de Janeiro, Olinda, Recife) financiaram ações e projetos nas áreas de
preservação do patrimônio histórico e arquitetônico e, também, ambos financiaram
investigações relativas à cadeia produtiva das indústrias criativas (RUBIM et all, 2005).
Quanto a UNESCO, o objetivo de entrelaçar cultura e desenvolvimento foi defender
os modelos de desenvolvimento endógenos e diversificados dos países recém
independentes ou daqueles do Terceiro Mundo (o que ocorreu a partir da década de 70).
Encaravam, portanto, a cultura como um elemento para se construir um roteiro alternativo
de desenvolvimento, visto que os modelos hegemônicos de desenvolvimento que visavam à
planificação da economia dos países periféricos apresentavam mal sucedidas experiências
(CANCLINI apud PITOMBO, 2007). O ideal do modelo era providenciar o livre mercado,
o crescimento econômico e fazer com que países periféricos fossem incluídos no sistema
econômico mundial, aumentariam assim as riquezas mundiais e conseqüentemente
reduziriam as desigualdades sociais interna e externa entre os países. Entretanto, os
modelos hegemônicos não foram capazes de resolver os problemas socioeconômicos dos
países periféricos, nem reduzir as diferenças entre os países ricos e os países pobres, na
realidade, ocasionou o oposto:
O aumento significativo do desemprego do caráter estrutural em
todos os países do planeta; aumento da distância entre países
cêntricos e periféricos; aumento das desigualdades sociais internas
e a conseqüente violência em escala planetária (KNOOPP E
DARBILLY, 2007).
Para Celso Furtado (1984), não havia a possibilidade de todos usufruírem do estilo
de vida vendido pelo capitalismo industrial, denominava essa idéia - ter economias de
países periféricos similares a países ricos - como mito do desenvolvimento:
(...) o estilo de vida criado pelo capitalismo industrial sempre será o
privilégio de uma minoria. (...) Sabemos agora de forma irrefutável
que as economias da periferia nunca serão desenvolvidas, no
sentido de similares às economias que formam o atual centro do
sistema capitalista. (...) Cabe, portanto, afirmar que a idéia de
desenvolvimento econômico é um simples mito. (FURTADO,
1996, p. 89).
28
Outro modelo de desenvolvimento era evidentemente necessário. Pitombo (2007)
aponta que eventos como o Mundiacult (no xico, em 1992), a proposição do decênio
Mundial para o Desenvolvimento Cultural (1988-1997), a Conferência Intergovernamental
de Estocolmo sobre Políticas Culturais para o desenvolvimento e a Proclamação da
Declaração Universal sobre diversidade cultural são ações expressivas realizadas para a
revisão de conceitos e discussão e implementação de projetos que levassem em conta a
dimensão cultural do desenvolvimento. O que é um desafio pela complexidade dos termos
(cultura e desenvolvimento), principalmente, quando se trata do conceito de cultura.
Não nessa seara uniformidade entre os autores, existe concordância somente
quanto à dificuldade de definir o termo - Williams Raymond (1992), Hermet (2002),
Eagleton (2005), Migueles (2003) para citar alguns autores que apresentam diferentes
definições. E, ainda, são variadas as áreas que tratam deste tema - antropologia, sociologia,
história, geografia etc.; apontando uma abundância de significados e poucos consensos.
Se retomarmos os conceitos originários, encontramos a definição de cultura
relacionada aos significados de cultivo agrícola”, “natureza”, “lavoura”
(RAYMOND,1992); até definições mais abrangentes, como entende Eliot (apud
EAGLETON, 2005, p.161) que cultura é “o modo de vida de um povo, do nascimento ao
túmulo, da manhã até a noite e mesmo durante o sono”.
Pitombo (2007), em artigo sobre as mudanças no conceito de cultura da UNESCO,
cita a definição de cultura formulada, em 1982, na Conferência Mundial sobre Políticas
Públicas (Mondiacult); que foi concebida “como um conjunto de aspectos distintivos,
espirituais e materiais, intelectuais e afetivos que caracterizam uma sociedade ou um grupo
social” (PITOMBO, 2007, p.129). Percebemos o caráter amplo da definição, pois engloba
as artes, as letras, os modos de vida, os direitos fundamentais do ser humano, os sistemas
de valores, as tradições e as crenças (PITOMBO, 2007).
De acordo com Cuche (2002), teamos duas perspectivas de análise para a cultura:
minimalista e a maximalista. A primeira aponta “a cultura dominante, das elites, como a
única cultura legítima e verdadeira”; às demais culturas seriam “subprodutos inacabados”
(Cuche, 2002, p. 148) e mera imitação da cultura dominante. a segunda perspectiva,
apresenta dois lados, àqueles que defendem que o hierarquização entre culturas e os
que consideram a cultura popular superior à cultura das elites (assim consideram porque
esta cultura vem da criatividade do povo, considerada superior à criatividade das elites).
Ambas são consideradas teses extremas, pois se se entende que as culturas aproveitam
29
elementos uma das outras, “portanto não seriam totalmente dependentes nem totalmente
autônomas” (SIMÕES; DARBILLY, 2007, p. 2).
Para Migueles (2003, p. 2), o termo cultura é apresentado como um imenso
‘guardachuva’
6
sob o qual são abrigados os mais variados fenômenos”, e todos eles tem
seus usos necessários, não se podendo apontar qual o ‘certo’; portanto, quando se fala em
cultura é preciso definir sob qual enfoque abordá-la.
Thiry-Cherques (2001) apresenta um estudo (Kroeber & Kluckhohn, 1952),
publicado em 1950, que aponta 164 conceitos para cultura, demonstrando assim que ainda
se está longe de uma aceitação universal. O quadro está transcrito abaixo:
Quadro 1 - Exemplos de Definições de Cultura
Tipo/Definição
Antropológico As redes de significado que o ser homem constrói e na qual também se insere (adaptado de
Geertz, 1973).
Arqueológico Os vestígios materiais de um determinado grupo.
Comportamental Comportamento humano (modo de vida) compartilhado e aprendido. Uma abstração a
partir do comportamento. Comportamento aprendido.
Estrutural Idéias, símbolos ou comportamentos padronizados e inter-relacionados.
Funcional O modo como os seres humanos resolvem problemas de adaptação ou da vida em comum. Um
conjunto de técnicas para ajustar o ser humano a outros seres humanos e ao ambiente.
Histórico O acervo social que passa às gerações futuras.
Mental Complexo de idéias ou hábitos apreendidos, que inibem os impulsos e distinguem as pessoas dos
animais. O modo de pensar, sentir e viver. Um conjunto de orientações padronizadas para problemas
recorrentes.
Normativo Ideais, valores ou regras da vida.
Romântico “As coisas mais nobres (...) luz e doçura (...) para qual tendem os homens” (Arnold, 1869 apud
Bodley, 1994).
Simlico Consumo de significados arbitrários compartilhados por uma sociedade.
Sociológico Formas de organização das sociedades. Uma sociedade e o seu modo de vida.
Tecnológico As técnicas, tecnologias e produtos de um grupo.
pico Tudo que está incluído em uma lista de tópicos, como organizações sociais, religião, etc.
Vago genérico O complexo de características espirituais, materiais, intelectuais e emocionais que
caracterizam uma sociedade ou um grupo social. Inclui não só as artes e letras, mas também os modos de
vida, os direitos fundamentais do homem, o sitema de valores, tradições e crenças.
Fonte: Thiry-Cherques (2001)7
Não tem esta pesquisa a pretensão de esgotar ou dar uma definição de cultura, e
sim, salientar a diversidade de significados, mostrando assim a complexidade de tratar do
tema, principalmente quando associado ao desenvolvimento.
Retomando a discussão sobre a relação entre cultura e desenvolvimento, PORTO
(2004) destaca que, tratando-se de Brasil, há insuficiência histórica do debate sobre a
6
Termo utilizado por Geertz (GEERTZ, C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC - Livros
Técnicos e Científicos, 1989) e citado por Migueles (2003).
7
O quadro foi adaptado e ampliada a partir de Bodley (Bodley, John H. Cultural anthropology: tribes, states
and global system, 1994)
30
relação de cultura com democracia e/ou direitos sociais, conseqüentemente, a relação entre
cultura e desenvolvimento.
Nas poticas culturais brasileiras, a cultura é instrumento da ação social (utilizando-
a como estratégia para o resgate da auto-estima de crianças e jovens das periferias, ou para
a redução da violência nas cidades); o quê acaba preterindo o seu caráter político e
reivindicatório, bem como desconsidera a importância da cultura no processo de
democratização e no fortalecimento da cidadania. As intenções o, sem vida, boas,
concorda-se assim com Porto (2004), que os resultados com o público atendido por
programas culturais para a inclusão social o positivos; deve-se, entretanto ter o cuidado
para não olhar a ação cultural esvaziada do seu potencial potico transformador,
aproximando-a do assistencialismo” (PORTO, 2004, p.111).
Segundo Knoopp e Darbilly (2007), o projeto de desenvolvimento do Brasil foi
exógeno e economicista, inserido no sistema econômico mundial de forma subalterna,
preterindo o seu contexto histórico e cultural. Cita esses autores a alternativa de
desenvolvimento proposta por Celso Furtado, onde indica que para mudar tal situação é
necessário levar em consideração os aspectos históricos-culturais particulares do Brasil,
portanto pensar numa forma de desenvolvimento pautado na lógica endógena:
Cumpre-nos pensar em desenvolvimento a partir de uma
visualização dos fins substantivos que desejamos alcançar, e não da
lógica dos meios que nos é imposta do exterior. A superação do
impasse estrutural que está no fundo de nossa crise somente será
lograda se o desenvolvimento futuro conduzir a uma crescente
homogeneização de nossa sociedade e abrir espaço à realização das
potencialidades de nossa cultura (FURTADO, 1984, p.30).
Para Furtado (1984, p.30), num país como o Brasil, falar de desenvolvimento
como reencontro com o gênio criativo de nossa cultura e como realização das
potencialidades humanas pode parecer simples fuga na utopia”, embora reconhecesse isto,
entendia que para pensar em opções de desenvolvimento era fundamental uma reflexão
prévia sobre a cultura brasileira.
30 décadas se apresentava a necessidade de outro tipo de desenvolvimento,
tendo em vista principalmente o insucesso da lógica neo-liberal. Tratar o desenvolvimento
somente sob o aspecto econômico não é suficiente, deve-se acrescentar outras dimensões: a
social, a política e a institucional (KLIKSBERG apud KNOPP; DARBILLY, 2007).
Amartya Sen (2000, p. 52-53) propõe uma via alternativa ao modelo de
desenvolvimento econômico vigente, qualificado como uma “política cruel de
31
desenvolvimento”, a base de “sangue, suor e lágrimas”. Para o autor, o desenvolvimento
consiste na eliminação de privações de liberdade que limitam as escolhas e as
oportunidades das pessoas de exercer ponderadamente sua condição de agente” (SEN,
2000, p. 10). O prêmio Nobel, em 1998, acredita na possibilidade de um desenvolvimento
“socialmente amigável” e nesta forma alternativa de desenvolvimento pretende-se o
empoderamento individual e coletivo, a partir de mecanismos institucionais. Sobre as idéias
de Sen, falam Knopp e Darbilly (2007) que:
Desenvolver é empoderar os indivíduos, ampliar a consciência
sobre a sua condição, aumentar a sua capacidade de ação e sua
liberdade substantiva. Neste sentido, ter poder é ter acesso a
recursos que permitam ao sujeito renegociar as suas formas de
inserção social.
A expansão da liberdade é a principal idéia da abordagem de Sen: é fim e é meio
para o desenvolvimento. Em poucas palavras, a teoria do autor trata do desenvolvimento
como liberdade; a liberdade como uma capacidade e com possibilidades de escolha: com
oportunidades sociais adequadas, os indivíduos podem efetivamente moldar seu próprio
destino e ajudar uns aos outros” (SEN, 2000, p. 26).
Cita-se também o outro tipo de desenvolvimento”
8
, no qual se levaria em conta a
qualidade de vida de todos os integrantes de uma comunidade. Seria, portanto, segundo
Knoopp e Darbilly (2007), um desenvolvimento sustentável e integral, inclusivo, local no
qual se primaria pela melhoria da qualidade de vida da comunidade, acreditando-se nas
capacidades locais e no desenvolvimento do potencial humano. Os autores alertam,
entretanto, que o foco no local não significa que a visão deva ser limitada, ou traduzir-se
para um sentido paroquial ou localista, mas no sentido de perceber e aproximar àqueles que
são semelhantes na sua história e que tenham problemas interconectados”:
Deve-se entender o local não como uma mera demarcação
político-administrativa ou apenas uma escala espaço-territorial,
senão, como um espaço com características similares e
problemáticas socioeconômicas comuns (KNOOPP; DARBILLY,
2007, p.7).
Os autores reforçam a importância dos projetos de desenvolvimento locais estejam
sempre em consonância com o global.
8
Knoop e Darbily usam este termo de Coraggio (2006), que, em termos genéricos, quer dizer “um proceso
dinámico de ampliación de las capacidades locales para lograr la mejoría (…) sostenida de la calidad de la
vida de todos los integrantes de una población”.
32
Segundo Goulart, Vieira e Carvalho (2005, p.11) são necessárias estratégias “rumo
ao desenvolvimento integral das localidades, enfatizando suas peculiaridades, sem perder
de vista sua inserção na sociedade global”. O isolamento e o atomismo são geradores de
alienação.
É importante ainda refletir sobre mais um aspecto: embora, entenda-se a
importância de atrelar a cultura ao desenvolvimento, deve-se ter o cuidado de não reduzir
essa relação a uma natureza essencialmente instrumental (LOIOLA; MIGUEZ, 2007), no
sentido de pensar a dimensão cultural do desenvolvimento somente quanto a aumento de
empregos, comercialização de produtos e serviços culturais ou desenvolvimento da
indústria cultural. Essa relação na verdade tem a ver com geração de riquezas simbólicas,
fortalecendo a diversidade cultural, a inclusão da sociedade em todas as dimensões a
cultural, a social e a econômica. Segundo Celso Furtado (1984, p.32), uma “política de
desenvolvimento deve ser posta a serviço do processo de enriquecimento cultural”.
Focando o caso brasileiro, especificamente, o governo Lula, o discurso do
presidente aponta para uma nova visão que o Estado tem hoje da cultura, onde diz que a
cultura está investida de um papel estratégico:
[A cultura] como base da construção e da preservação da
nossa identidade, como espaço para a conquista plena da
cidadania, e como instrumento para a superação da exclusão
social” (BRASIL, 2006, p.5).
Diz, ainda, o discurso do governo que a cultura é tratada em todas as suas
dimensões: da simbólica à econômica - tanto pelo fortalecimento da auto-estima de nosso
povo, quanto pela sua capacidade de gerar empregos e de atrair divisas para o país”
(BRASIL, 2006, p.5).
O entrelace cultura e desenvolvimento pode ser percebido também no discurso do
ministro Gilberto Gil, em palestra no Instituto Rio Branco:
O Ministério da Cultura, como eu disse, tem insistido na
abordagem das conexões entre cultura e desenvolvimento e na
necessidade de ampliar seu papel, somando às políticas tipicamente
compensatórias aquelas capazes de diagnosticar e estimular o
mercado, ou seja, as empresas e os empreendedores brasileiros que
atuam no setor cultural. Trata-se de uma abordagem mais
abrangente e integrada.
9
9
Disponível em <http://www.cultura.gov.br/site/2007/10/02/economia-da-cultura/>. Acesso em Março/2008).
33
Esta abordagem é reafirmada ainda por Juca Ferreira, hoje ministro da cultura, que
trata a cultura como vetor e catalisador do desenvolvimento social e econômico do Brasil”
(BRASIL, 2006, p. 8). Em seu discurso, também se refere às novas teorias do
desenvolvimento no tocante a sustentabilidade e indica a cultura como elemento decisivo
do desenvolvimento.
Percebe-se, portanto que nos discursos governamentais cultura e desenvolvimento
estão alinhados; é preciso, entretanto, questionar e avaliar como esses temas apresentados
tão harmoniosamente no campo das iias vêm sendo concretizados.
2.3 Uma Nova Perspectiva no Discurso das Políticas
Públicas Culturais Atuais
“É outra e é nova a visão que o Estado brasileiro tem, hoje, da
cultura(Luiz Inácio Lula da Silva, texto de abertura do Programa
Cultural para o Desenvolvimento do Brasil, 2006)
Os discursos do governo e as pesquisas atuais sobre o campo cultural mostram que
as políticas públicas culturais sinalizam para uma nova perspectiva na forma de trabalhar o
campo cultural.
Dos discursos governamentais, destacam-se dois documentos do governo - A
Imaginação a Serviço do Brasil e Programa Cultural para o Desenvolvimento do Brasil
que evidenciam a nova proposta a ser trabalhada. O primeiro é o programa de Políticas
Públicas de Cultura elaborado pelo Partido dos Trabalhadores que serviu de inspiração ao
Governo Lula e traz o diagnóstico do campo cultural e os conceitos estruturantes do
programa; o segundo, trata de conceitos que fundamentam a gestão cultural deste governo e
relata as ações implementadas no primeiro ano de mandato, além de indicar as estratégias e
desafios para o próximos anos de governo.
No quadro abaixo, apresenta-se as temáticas norteadoras aplicadas na construção
das políticas públicas culturais do governo atual:
34
Quadro 2: Temáticas Norteadoras das Políticas Públicas Culturais
“A Imaginação a Serviço do Brasil” Programa Cultural para o Desenvolvimento do
Brasil
- Cultura como Política de Estado - Planejamento
das Políticas Públicas de Cultura como direito
básico e permanente do cidadão;
- Afirmação da identidade nacional por meio das
identidades culturais regionais;
- Financiamento das Políticas Públicas de Cultura:
fundos públicos; leis de incentivo fiscal; proposta
de ampliação das linhas de crédito das agências
financeiras públicas à produção e difusão cultural;
- Cultura como fator de desenvolvimento humano:
geração de emprego e renda e fator de inclusão
social;
- Gestão Democrática;
- Regionalização das Políticas Públicas de Cultura;
- Estímulo à produção e difusão cultural regional;
- Mecanismos de participação popular: formação
dos conselhos;
- Implantação de um "Sistema Nacional de Política
Cultural";
- Ampliação do orçamento do MinC compatível
com as suas tarefas constitucionais;
- Transversalidade nas políticas de cultura:
integração entre os ministérios (Educação, Meio
Ambiente, Comunicação, Ciência e Tecnologia,
Indústria e Comércio e Turismo) e trabalho
conjunto com os Estados.
- Estímulo a participação da sociedade para
dialogar com o governo, iniciado em 2003 através
das Câmaras Setoriais do Livro, da Leitura, da
Dança, do Teatro, do Circo, da Música, das Artes
Visuais e do Conselho Superior do Cinema, por
exemplo;
- Resgate do papel do Estado: neste documento,
Juca Ferreira afirma que cabe ao Estado
“promover e estimular o desenvolvimento cultural
e da sociedade”; e sendo assim o governo chama
para si a responsabilidade quanto à cultura;
- Reorganização institucional orientada por uma
visão mais estratégica para dotar o Estado de
equipamento apropriado para suas ações e
distribuição dos temas e áreas da cultura em
secretarias, fundações, institutos e agências para
um “funcionamento mais sistêmico e integrado”
(BRASIL, 2006, p. 17). Com a reforma definiu-se
melhor as competências de cada área
administrativa, evitando-se excessiva centralização
ou confusão nas competências.
Fonte: Imaginação a Serviço do Brasil, 2005 e Programa Cultural para o Desenvolvimento do
Brasil, 2006.
Por estes documentos pode-se inferir que há, nos discursos, o compromisso do
governo de observar a cultura como um direito do cidadão, observado principalmente
35
quando disponibiliza canais para a participação (através de conselhos e câmaras setoriais),
bem como por trazer elementos como gestão democrática e identidades culturais regionais.
Rubim (2007) e Faria (2003) reconhecem que de fato identificam-se avaos nas
políticas culturais; visto na proposta da diversidade cultural, no papel ativo do Estado, no
processo de democratização, na ampliação do conceito de cultura, na participação da
sociedade civil na discussão etc.
A questão da diversidade cultural destaca-se na pauta de discussões, principalmente,
por estarmos num país grande e vasto de manifestações culturais. A ação do governo, neste
sentido, foi a criação de uma Secretaria própria para tratar da diversidade cultural –
Secretaria da Identidade e da Diversidade, entendendo que a identidade do país não pode
refletir a homogeneização das manifestações culturas e sim respeitá-las nas suas diferenças
e diversidades de expressões. Esta Secretaria é uma estratégia para pôr em prática ações
mais específicas nesta seara:
A criação, no âmbito do Ministério da Cultura, de uma Secretaria
da Identidade e da Diversidade Cultural tem um caráter estratégico
na nova postura do MinC, de formular e implementar políticas
públicas ativas na Cultura. Ativas no sentido da promoção da
cultura tanto do ponto de vista de seus aspectos econômicos, de
inclusão social e cidadania, bem como da importância da cultura
como produção simbólica. A afirmação positiva da diversidade e
pluralidade cultural brasileira, nos termos aqui expostos busca
estimular e promover ações transversais de promoção da
diversidade cultural brasileira e do intercâmbio cultural no
território nacional. (Disponível em:
http://www.cultura.gov.br/ministerio_da_cultura/secretarias/index.
php?p=10028&more=1&c=1&pb=1, acesso em maio/2008)
Quanto ao conceito de cultura, o atual ministério trabalha com uma definição mais
ampla que complementa a iia de diversidade cultural. No primeiro governo de Lula, o
esforço foi para o uso de um conceito mais abrangente para a cultura o conceito dito
antropológico” que revelava a intenção de abrir “fronteiras para outras modalidades de
culturas: populares, afro-brasileiras, indígenas, de gênero de orientação sexuais, das
periferias, da dia áudio-visual, das redes informáticas etc.” (RUBIM, 2007, p. 12). Fala-
se de uma atuação inaugural do ministério, tendo em vista que são reduzidas a ações
governamentais anteriores que abrangeram tais modalidades culturais.
Outra questão é a atuação do estado. A dura crítica do governo atual ao anterior
(FHC/Weffort) foi pela ausência de ações mais diretas do Estado no campo cultural e a sua
substituição e submissão ao mercado, através das leis de incentivos fiscais (RUBIM, 2007).
36
A lei de incentivos culturais trouxe investimentos privados para a esfera blica o
que poderia indicar um avanço para o setor; entretanto, não é uma potica suficiente;
acabou por favorecer grupos empresariais que se aproveitavam da renúncia fiscal, e que
financiavam somente projetos de seu interesse, àqueles que promoviam a divulgação de seu
produto ou da sua instituição (FARIA, 2003). Somente os produtos e eventos artísticos que
trouxessem um bom retorno, quanto à dia e exposição de suas marcas recebiam os
investimentos. Os projetos de “maior apelo mercadológico” eram financiados; “aos feios,
sujos e malvados, resta à exclusão” (BRANT, 2003, p.11). Se persistisse nesta sistemática –
políticas blicas reduzidas às leis de incentivo fiscal o governo estaria favorecendo a
privatização da cultura e o fortalecimento das marcas dos patrocinadores do evento;
valorizando somente o mercado, a velocidade por ele exigida e a eficácia das gestões. O
perigo, alertado por Brant (2003), é que tudo isso acabaria por ser entendido como algo
espontâneo, como desejo democrático das multidões, livremente escolhidos pelas leis do
mercado e pela liberdade de expressão” (FEIJÓ, 2003, p.21). Assim, a cultura estaria à
mercê de outro tipo de censura a econômica, pois as empresas que gozam das leis de
incentivos fiscais somente aprovam os projetos que realmente podem dar retorno
mercadológico.
No que diz respeito à democratização, segundo Egg (apud FARIA, 2003, p.46),
democratizar a cultura é principalmente:
Proporcionar a indivíduos, grupos e comunidades instrumentos
necessários para que, com autonomia, possam desenvolver a sua
vida cultural e participar nos processos socioculturais”.
Embora a CF/88 tenha anunciado o processo de democratização, não foi visto na
realidade. Rubim (2007) destaca que se pode perceber com a gestão de Gil abertura para o
diálogo com a sociedade: o essencial desafio de formular e implementar poticas culturais
em circunstâncias democráticas foi nitidamente colocado na agenda do ministério
(RUBIM, 2007, p.12). Foi realizada uma série de consultas e fóruns para estimular a
participação de diversos segmentos da área artística e da sociedade em geral - a temática
inicial destas discussões foi a lei de incentivos fiscais. Depois, fez consultas à sociedade
para a revisão das poticas de financiamento, concorrência de projetos e uso de editais para
a definição do Fundo Nacional de Cultura. Salienta-se ainda a constante realização de
seminários, câmaras setoriais, conferências.
37
Outra iniciativa da gestão de Gil foi trabalhar de forma transversal com os outros
ministérios, por exemplo, o Plano Plurianual (PPA) possibilitou desenvolver programa do
MinC junto com os Ministérios da Educação, do Turismo, do Meio Ambiente, do Trabalho,
dos Esportes, da Integração Nacional e das Relações Exteriores, e também com outras
instituições públicas. O PPA também tem o propósito de promover as instituições federais
como estratégia descentralizadora e nacionalizante do MinC, pois muitas destas instituições
tem atuação demasiada em estados como São Paulo e Rio de Janeiro tradicionais centros
culturais e econômicos - e escasso nos outros estados brasileiros.
Cita-se também os projetos desenvolvidos pelas secretarias e organismos do
Ministério da Cultura que seguem esta nova perspectiva (RUBIM, 2007): o Sistema
Nacional de Cultura - articulação dos governos federal, estadual e municipal – vital a
institucionalização a médio e longo prazo, reduzindo os riscos das intemries conjunturais;
o Plano Nacional de Cultura que a partir de grupos de discussão, com participação da
sociedade civil e do MinC, vem sendo debatido em todos os estados brasileiros e o
Programa Cultura Viva – que será adiante apresentado.
Embora se reconheça os avanços, sérias limitações ainda não foram vencidas pelo
MinC. É necessária a continuidade da reforma administra, tendo em vista que a infra-
estrutura do ministério não é suficiente para a demanda dos projetos em desenvolvimento
nem para a ampliação de suas ações; a necessidade de realização de mais concursos
públicos para o preenchimento do seu defasado quadro de recursos humanos, bem como
capacitação para os servidores existentes (RUBIM, 2007).
Outro ponto é colocar na pauta de discussão a questão do financiamento da cultura,
restrita ainda as leis de incentivos fiscais ausência de uma potica de financiamento da
cultura em plenitude corrói muitas das iniciativas do ministério, inclusive aquela primordial
de fazer o estado assumir um papel mais ativo na cultura” (RUBIM, 2007, p. 16); e a
avaliação e consolidação dos canais de participação da sociedade civil e dos artistas.
Acrescenta-se a lista, a conquista de no nimo um por cento do orçamento para a
cultura. Rubim (2007) entende que o aumento no orçamento representaria a garantia de:
[...] papel ativo e poder de decisão do estado sobre as verbas
públicas; mecanismos simplificados de acesso aos recursos;
instancias democticas de deliberação acerca dos financiamentos;
distribuição justa dos recursos, considerando as regiões, os
segmentos sociais e a variedade de áreas culturais; modalidades
diferenciadas de financiamento em sintonia com os tipos distintos
de articulação entre cultura e mercado, acionando, por exemplo:
38
empréstimo, micro-crédito, fundo perdido, fundo de investimento,
mecenato, marketing cultural etc. (RUBIM, 2007, p.17)
anos a cultura é preterida da pauta das discussões das poticas blicas
governamentais; o anúncio desta nova perspectiva do governo representa um avanço para o
setor cultural, mas se sabe que para o real exercício do direito à cultura ainda muitos
desafios a serem enfrentados.
39
3 O Programa Cultura Viva
O Cultura Viva é hoje a maior ação do MinC para dar realidade ao
desejo de disponibilização de bens e serviços culturais a todos. Um
trabalho para promover a autonomia das comunidades, garantindo
que essas possam formar seus produtores de cultura. (BRASIL,
2006, p. 25)
O Programa Cultura Viva (PCV) foi criado em 6 de julho de 2004 e contempla
iniciativas culturais que envolvem a comunidade em atividades de arte, cultura, cidadania e
economia solidária(BRASIL, 2004, p.10); apresenta-se como uma oportunidade para as
manifestações culturais populares se beneficiarem de recursos governamentais, o que não
acontecia por meio da Lei Roaunet, onde a infra-estrutura do MinC era utilizada de forma
desigual e não contínua, impossibilitando a formação de ações sustentáveis.
O Programa abrange as seguintes ações: Pontos de Cultura, Agenda Cultura Viva,
Cultura Digital, Escola Viva e Ação Griô. Os Pontos de Cultura, objeto desta pesquisa, são
organizações culturais selecionadas por editais públicos para articular e impulsionar as
ações que já são desenvolvidas nas comunidades (BRASIL, 2004), desenvolvidas de forma
livre e flexível. É propósito do programa preservar a autonomia dos Pontos e evitar o risco
de o estado ou a iniciativa privada apoderarem-se da gestão das organizações culturais, por
isso não há modelo preestabelecido para o funcionamento dos Pontos de Cultura, “nem de
instalações sicas, nem de programação ou atividade” (BRASIL, 2004, p.20). Revela Célio
Turino (2006, p.1), secretário de Programas e Projetos Culturais e coordenador do
Programa Cultura Viva que o “modelo de construção do programa é flexível, orgânico,
menos preocupado com a estrutura e mais com o fluxo, a permanência e as ações
continuadas”
O Programa mostra, portanto, uma forma nova de fazer política blica a partir da
proposta de utilizar um modelo flevel de gestão. As ações o sendo realizadas e as
experiências acabam por provocar transformações na maneira como são desenvolvidas. O
oposto do que se costuma perceber na elaboração e implementação de políticas blicas
que é a institucionalização das estruturas e sua forma hierarquizada. A própria cartilha do
Programa esclarece que “não tem uma resposta acabada a todo esse processo que apenas se
40
inicia, mas, tenta identificar caminhos; ou, pelo menos, identificar aqueles caminhos que
não devem ser trilhados” (BRASIL, 2004, p.16). Segundo ainda a Cartilha (BRASIL, 2004,
p.16) é “uma troca entre iguais que aprendem entre si e se respeitam na diferença”, tenta
evitar assim uma estrutura fortemente institucionalizada, pesada na forma de gestão e
controle, muito comum na burocracia pública.
Para este contexto, propõe o PCV uma Gestão Compartilhada e Transformadora
para os Pontos de Cultura que tem por objetivo estabelecer novos parâmetros de gestão e
democracia na relação entre Estado e Sociedade” (BRASIL, 2004, p. 33). A intenção é que
os grupos culturais participem não só para dizerem “o quê” querem (ou precisam), mas para
dizerem “como” querem; envolve o empoderamento, a autonomia e o protagonismo social.
A autonomia é concebida como práticas que são realizadas pelos grupos culturais
respeitando sua dinâmica própria local, como processos de modificação das relações de
poder ou como exercícios de liberdade. Assim não é vista como “uma prática futura, nem
espontânea, nem mesmo uma técnica social, potica ou cultural, mas a própria realização,
os atos concretos de participação e afirmação social” (BRASIL, 2004, p. 34).
o protagonismo social ocorre à medida que os movimentos sociais são
reconhecidos como sujeitos de suas próprias práticas; podendo, assim, intervir nas poticas
de desenvolvimento social, nos hábitos da sociedade e na elaboração de políticas públicas.
Quanto ao empoderamento, é percebido como um processo a ser conquistado pelos
Pontos de Cultura. Entende-se que foi a partir da participação dos grupos culturais no
Programa Cultura Viva que esses movimentos passaram a ser reconhecidos como sujeitos
de manifestações culturais legítimas e, assim, transformaram a relação entre eles e o
governo local, passando estes últimos a respeitá-los e reconhecê-los, o que foi retratado no
depoimento de Beth de Oxum (coordenadora do Ponto Sambada do Coco de Umbigada):
“Nós, o Povo do Santo, aqui em Pernambuco, estamos com a auto-
estima levantada. Com o Ponto de Cultura foi a primeira vez que,
de fato, fomos reconhecidos como cultura e recebemos uma
estrutura para trabalhar. Os terreiros de Candombsempre foram
vistos com intolerância. Quantas vezes fomos saqueados pela
polícia que tirava todos os nossos fundamentos. No poo do
Palácio do Campo das Princesas [sede do governo do estado] estão
jogados, feito pó, todos os nossos fundamentos, os Ibais [panelas],
os Ilu [instrumentos musicais, atabaques] os assentamentos
[pedras]. Agora, quando a polícia aparece, nós dizemos: ‘O que
vocês querem? Somos Ponto de Cultura, reconhecidos pelo
governo federal’. E a zabumba que foi dos nossos avós e tem mais
de 150 pode tocar a sambada, onde os fundamentos do Santo
seguram a Cultura Popular: a ciranda, o samba de coco, o maracatu
41
e todos os encontros de brincantes” (Beth de Oxum, Ponto de
Cultura “Memória e Produção da Cultura Popular Coco de
Umbigada”; Olinda – Pernambuco) - (TURINO, 2006, p.2).
Com o PCV, quer também o Ministério concretizar a articulação entre as
organizações culturais a partir dos Pontos, estimulando-os a trabalhar em contato uns com
os outros e de forma horizontal, sem qualquer tipo de hierarquia. A pretensão é fazer uma
teia que vai entrelaçando as ações culturais existentes, segundo Célio Turino:
“a idéia de rede ganha aqui centralidade para potencializar a
articulação entre as diferentes formas de organização comunitária e
do movimento social, e destas com o poder público” (TURINO,
2006, p.1).
A cultura, portanto, seria a base comum para unir a rede. O governo expressa com o
PCV seu entendimento que a partir do desenvolvimento da cultura pode-se ter o
desenvolvimento econômico, social e humano. O Programa objetiva potencializar a criação
e produção local e “encontrar alternativas de desenvolvimento humano sustentável junto às
comunidades e movimentos sociais que visa atingir” (BRASIL, 2004, p.38).
3.1 As Outras Ações do Programa
A Ação Agente Cultura Viva ocorre junto aos Pontos de Cultura e em parceria
com o Ministério do Trabalho, através da Secretaria do Primeiro Emprego, estimulando que
jovens entre 16 e 24 anos trabalhem em atividades junto aos Pontos com o auxílio
financeiro de R$ 150,00 mensais. Esta ação tem o objetivo de despertar o interesse dos
jovens a profissões relacionadas à cultura e daí possibilitar alternativas nas comunidades
periféricas.
Cada Ponto de Cultura define a capacitação que será oferecida aos jovens e a
coordenação do Programa contribui com o acompanhamento em educação popular,
empreendedorismo cultural e microcrédito. O objetivo desta ação é “fomentar a geração de
renda nas próprias comunidades, a partir de uma economia solidária” (BRASIL, 2004).
A ação Cultura Digital fornece a cada Ponto de Cultura um kit multimídia
compostos por uma pequena ilha de edição com computador conectado à internet, câmeras
de vídeo e de fotografia, entre outros equipamentos para que a comunidade possa produzir
vídeos registrando as atividades que desenvolvem e para divulgar suas ações.
42
Disponibiliza ainda o Estúdio Livre
10
que é um espaço na web para armazenamento
de produções multimídias, como vídeos, áudios, animações, entre outros, onde os Pontos de
Cultura o utilizam para a troca de experiências e discussões políticas.
Todas as tecnologias oferecidas trabalham com softwares livres e com essas
ferramentas tecnológicas podem compartilhar suas experiências em gestão pública com
todos os Pontos de Cultura em atuação. O MinC entende que esta ação possibilita a
inclusão digital, que seria o alicerce para o processo de democratização. E tendo em vista
que vivemos numa sociedade que o que mais se valoriza é o acesso à informação, são
válidos os esforços para encontrar alternativas possíveis para a inclusão de todos nos
processos de aquisição de conhecimento (RIBENBOIM, 2003).
Destaca-se também que a manipulação de todas as tecnologias (seja a produção dos
filmes sobre a comunidade e a arte dos Pontos ou a programação das páginas na internet) é
criada pela comunidade que a utiliza, resguardando assim seu protagonismo e sua
autonomia.
Outra ação do Programa Cultura Viva trabalha com a aproximação da cultura e as
escolas: a ação Escola Viva, que resgata a integração cultura e educação.
A idéia de criar a ação surgiu a partir do edital do Prêmio Escola Viva, de maio de
2007, que premiava Pontos de Cultura, Pontões, Redes de Pontos ou organizações
vinculadas às Redes, que possuíam iniciativas envolvendo ações intencionais de ensino/
aprendizagem. Desta forma, valorizam-se práticas culturais e educacionais desenvolvidas
nos Pontos de Cultura, Pontões de Cultura ou Redes de Pontos de Cultura, em conjunto
com instituições educacionais formais (escolas públicas) e não formais (museus,
bibliotecas, Pontos de Cultura, entre outros).
Esta ação trabalha em duas frentes: a primeira estimula as escolas que
desenvolvem propostas inovadoras, onde a cultura é o elemento estruturante, a
apresentarem seus projetos pedagógicos e transformarem-se, assim, em Pontos ou de
Pontos em escola cultural brasileira (BRASIL, 2004, p.27). A segunda frente é estabelecer
parceria direta com as escolas, por exemplo, a adoção do Segundo Tempo
11
, programa
governamental do Ministério dos Esportes.
10
O Estúdio Livre é um conceito de ambiente colaborativo em constante desenvolvimento que tem por
objetivo a formação de espaços reais e virtuais que estimulem e permitam a produção, a distribuição e o
desenvolvimento de mídias livres; os Pontos de Cultura são parceiros e neste espaço virtual promove
discussões políticas e trocas de experiências.
11
O Segundo Tempo ocorre antes ou depois do horário das aulas, é “ [...] um segundo turno, [onde] crianças e
jovens participao de oficinas e atividades culturais diversas, integradas ao cronograma escolar, a partir das
43
A quinta ação é o Griô que tem por principal proposta “reaprender com os griôs (ou
mestres da tradição oral) o jeito de construir o conhecimento integrado à ancestralidade
(BRASIL, 2004, p.27). Esta ação também tem o propósito de reunir a cultura com a
educação.
A palavra Griô “é o ‘abrasileiramentoda palavra francesa griot, usada por jovens
africanos que foram estudar em universidades francesas. Eles, movidos pela preocupação
com a preservação de seus contadores de histórias, que carregam consigo a tradição oral (“a
morte de um griot representa um incêndio em uma biblioteca”, diziam), consolidaram um
conceito e uma atividade secular entre seu povo, também expressado na palavra dielis. Os
griôs são pessoas que acumularam conhecimentos das comunidades e podem ser chamados
de “patrimônio cultural imaterial” (BRASIL, 2004).
Propõe, portanto, o PCV, com essas ações: (a) a participação direta das
organizações culturais nas políticas públicas (de forma democrática e flexível), sem
encaixá-las em modelos do “mainstream empresarial, no intuito de preservar suas
identidades e as suas formas de trabalho; (b) aproximar a educação à cultura (tendo em
vista que educação e cultura têm o potencial de transformar a realidade das comunidades) e,
ainda, (c) viabilizar o trabalho transversal entre os Ministérios do governo (o PCV tem
parcerias com Ministério do Trabalho, através do Programa de Estímulo ao Primeiro
Emprego, atuando em parceria na ação Agente Cultura Viva; foi também iniciada uma
parceria com o Ministério do Desenvolvimento Agrário, para a criação de Pontos de
Cultura em área rural). Cita-se também a parceria com o Ministério das Comunicações que
viabiliza a instalação das Antenas GESAC nos Pontos de Cultura. E, na ação Escola Viva,
está em fase de articulação uma parceria com o Ministério da Educação, integrando a ação
ao Fórum Mais Educação.
Por tudo que foi apresentado sobre o Programa, vê-se que ele sinaliza para
mudanças significativas e em sintonia com os valores e demandas contemporâneas da área
cultural: democratização da cultura, diversidade cultural e valorização das experiências
locais. Os recursos financeiros e não financeiros deram lego para que as comunidades
pudessem desenvolver suas atividades culturais, entretanto, após 4 anos de programa,
interessa-nos saber qual foi contribuição do Programa Cultura Viva para a sustentabilidade
dos Pontos. Para este questionamento, torna-se necessário entender a definição de
diretrizes e parâmetros curriculares que estabelecem o tema transversal cultura” (Programa Cultura Viva,
2004, p.27).
44
sustentabilidade, pois não tem um conceito simples, assunto pelo qual nos dedicamos a
seguir.
45
4 Desenvolvimento Sustentável: Origens e Conceito
O crescimento é uma condição necessária, mas de forma alguma
suficiente [...] para se alcançar a meta de uma vida melhor, mais
feliz e mais completa para todos. (SACHS, 2008, p.13)
O termo desenvolvimento sustentável precede ao da sustentabilidade; surge na
década de 70 quando das discussões sobre uma alternativa para o desenvolvimento a partir
do crescimento econômico. Neste período, a corrente Liberal e a corrente Estruturalista
antagonizavam-se nos debates sobre modelos de desenvolvimento nos países da América
Latina. A primeira é “defensora do mercado como mecanismo regulador por excelência e
do individualismo como motor da ação social” (GOULART; VIEIRA; CARVALHO, 2005,
p.14), entendiam que copiar os modelos de países desenvolvidos faria com que os demais
países atingissem o mesmo patamar de desenvolvimento e crescimento econômico. A
segunda corrente questionava essa lógica, “especialmente mediante a formulação de
categorias teórico-empíricas como a dicotomia centro-periferia na estruturação do sistema
econômico mundial e as características intrínsecas e particulares do subdesenvolvimento
(GOULART; VIEIRA; CARVALHO, 2005, p.14). As transformações econômicas e os
acontecimentos da crise de 70 acabaram por negar as expectativas tanto dos modelos sob
orientação liberal quanto os keynesianos, pois notaram que, ao contrário do que previam, as
transformações ocorreram não por causa da expansão do mercado, mas também pela
regulação social, através de exincias impostas pelo movimento dos trabalhadores e
populares, por exemplo, os movimentos ambientalistas.
Segundo Costa e Santos (2007), para muitas organizações de movimentos
contestatórios, as catástrofes ambientais ocorridas nos anos 50 e 60 serviram de base para
incluir o tema de preservação ambiental nas suas lutas. O movimento dos ambientalistas
criticou fortemente o modelo de desenvolvimento em bases estritamente econômicas. Neste
contexto, a problemática ecológica passa gradualmente a se deslocar do âmbito nacional
para o âmbito internacional, ocorreram importantes eventos na década de 70: a Conferência
das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, em Estocolmo, 1972, e a criação do
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), em 1975.
46
Nos preparativos que antecederam a Conferência das Nações Unidas sobre
Ambiente Humano, debatiam-se de um lado as idéias do economismo arrogante” e do
outro, o “fundamentalismo ecológico” (Sachs, 2000). A primeira considerava as
preocupações com o meio ambiente exageradas e prejudiciais aos países em
desenvolvimento, entendia que havia a possibilidade, a partir do desenvolvimento
industrial, dos países periféricos poderem se equiparar ao padrão dos países centrais; a
segunda apontava uma catástrofe e que o crescimento demasiado da industrialização
exauriria os recursos naturais. No encontro de Estocolmo, ambas as posições extremas
estavam descartadas, reconheceu-se a necessidade do crescimento econômico, desde que
fosse socialmente receptivo e que respeitasse os todos favoráveis ao meio ambiente na
sua implantação (SACHS, 2007).
Destaca-se sobre a proposta extrema de ‘crescimento zero’ os ensinamentos de
Sachs:
O desafio consiste na redefinição das formas e usos do crescimento
e não na desistência do crescimento. Em todo caso, a proposta de
não crescimento baseia-se numa lógica que de certo modo peca,
quando invoca o fantasma da exaustão dos recursos: também uma
economia estacionária consome recursos. Por que, eno, nos
contentarmos com um estado estacionário em vez de postularmos
uma taxa negativa de crescimento? (SACHS, 1986, p.53).
Ainda na Conferência de Estocolmo (1972), surgiram dos debates dois termos com
o propósito de combinar o desenvolvimento econômico com a defesa do meio ambiente: o
ecodesenvolvimento e o desenvolvimento sustentável. O primeiro foi criado por Ignacy
Sachs e sua abordagem é fundamentada na harmonização entre os objetivos sociais,
ambientais e econômicos. Na prática seria, por exemplo, a utilização de novas tecnologias
que possibilitassem o reaproveitamento dos resíduos, conservação de energia, água, entre
outros recursos; bem diferente do tipo de crescimento considerado pela sociedade
capitalista.
Para Sachs (1986, p.10):
O ecodesenvolvimento é um caminho promissor tanto para países
ricos como para países pobres. Para estes mais do que nunca, a
alternativa se coloca em termos de projetos de civilização originais
ou de não-desenvolvimento, não mais parecendo possível nem,
sobretudo, desejável a repetição do caminho percorrido pelos países
industrializados [...].
O segundo termo desenvolvimento sustentável começou a formar-se no
encerramento da reunião de Cocoyoc, no México, em 1974, consolidando-se com o
47
relatório Brundtland, em 1987 (CASTRO, 1996). Na década de 80, a defesa do meio
ambiente e da ecologia eram temas centrais nas agendas dos diversos atores; no âmbito
internacional, entre 1985 e 1990, foram realizadas dezessete conferências mundiais sobre
esta temática (COSTA e SANTOS, 2007). O Relatório Brundtland, conhecido também por
Nosso Futuro Comum”, foi publicado em 1987, pela CMMAD (Comiso Mundial sobre
o Meio Ambiente e o Desenvolvimento) e é citado como a principal referência no debate
sobre sustentabilidade (SANTOS, 2005). Nesse relatório é divulgada uma das definições
mais conhecidas sobre desenvolvimento sustentável: é aquele que atende as necessidades
do presente sem comprometer a capacidade de as gerações futuras atenderem as suas
(BRUNDTLAND, 1991). O conceito tem ênfase ambientalista; entretanto, quando se trata
da esfera social, econômica e cultural “remete para mecanismos de inclusão, crescimento
sustentável e preservação da identidade” (GOULART; VIEIRA; CARVALHO, 2005,
p.51).
Em 1992, na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento a Rio-92 - foi desenvolvida a Agenda 21 que apresenta um conjunto de
diretrizes e recomendações sobre como as nações devem agir para que ocorra o
desenvolvimento de forma sustentável (Costa e Santos, 2007). O plano de ação proposto
pela Agenda 21, que aponta metas para o século XXI, fez o conceito de desenvolvimento
sustentável ser concretizado em ações. Suas premissas conduziram vários países a iniciarem
seus programas de sustentabilidade.
Embora a Agenda 21 trace um plano global de ação, a pretensão é atuar em
atividades locais e por isso, segundo a Comiso Mundial para o Meio Ambiente e
Desenvolvimento – CMMAD, no capítulo 28 da Agenda 21 Global, reforça que,
[...] a participação e cooperação das autoridades locais será um fator
determinante na realização de seus objetivos. As autoridades locais
constroem, operam e mantêm a infra-estrutura econômica, social e
ambiental, supervisionam os processos de planejamento,
estabelecem as políticas e regulamentações ambientais locais e
contribuem para a implementação de políticas ambientais nacionais
e subnacionais. Como nível de governo mais próximo do povo,
desempenham um papel essencial na educação, mobilização e
resposta ao público, em favor de um desenvolvimento sustentável.
Muitas nações e regiões, seguindo as recomendações apontadas na Agenda 21 para
o desenvolvimento sustentável, criaram as suas próprias agendas. Na Conferência Rio +5,
em 1997, cerca de 65 países e duas mil comunidades locais haviam elaborado sua
Agenda 21 e na Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (“Rio+10”), que
48
ocorreu em Joanesburgo, na África do Sul, computa-se no nimo o dobro desse número
(NOVAES, 2003). Contudo, constatou-se, na mesma reunião, que após dez anos, poucas
metas tinham sido cumpridas.
Quanto ao conceito de desenvolvimento sustentável, a definição do Relatório
Brundtland, embora seja a mais divulgada, é contestada por pesquisadores. Entre as críticas,
Castro (1996) aponta que além da indefinição do próprio termo, também não foram
considerados, nos debates do relatório, pontos-chave como o conflito de interesses entre
Norte-Sul, o poder e influência das empresas multinacionais e seu poder de oposição às
iniciativas contrárias às suas estratégias globais.
Pronk & Ul Haq (apud VAN BELLEN, 2002) consideram o desenvolvimento como
sustentável quando:
O crescimento econômico traz justiça e oportunidades para todos os
seres humanos do planeta, sem privilegiar algumas espécies, sem
destruir os recursos naturais que são finitos e também sem
ultrapassar a capacidade de carga do sistema.
Para Constanza (apud TOSTES, 2006), o conceito de desenvolvimento sustentável
deve estar incluído na relação dinâmica entre o sistema econômico humano e o sistema
ecológico. Para essa relação ser sustentável, reforça a importância de assegurar que a vida
humana possa continuar indefinidamente, por meio do crescimento e desenvolvimento da
sua cultura, observando que os efeitos das atividades humanas permaneçam dentro de
fronteiras adequadas, de modo a não destruir a diversidade, a complexidade e as funções do
sistema ecológico de suporte à vida.
Conforme Baroni (1992), elaborar uma definição para o conceito de
desenvolvimento sustentável ainda produz diversas interpretões, “mas o consenso existe
quando se trata de reduzir a poluição ambiental, diminuir o índice de pobreza e eliminar
desperdícios”.
Para Sachs (2007), ainda não há uniformidade sobre as dimensões ou essencialidade
do desenvolvimento sustentável. Ilustra o conceito como um trevo de 3 folhas eficiência
econômica, conservação ambiental e equidade social; revela ainda a possibilidade de
acrescentar outras pétalas: a cultural, a espacial e a tecnológica.
Visto tudo isto, é certo que o conceito de desenvolvimento focado no progresso e
crescimento econômico está ultrapassado e, como afirma Hermet (2002, p.81), “na
49
realidade, o desenvolvimento social, a justiça, a igualdade, a democracia e a proteção ao
meio ambiente contam tanto quanto o crescimento”.
Os desastres ambientais do século XX, conseqüência do modelo de
desenvolvimento capitalista (exploratório e consumista), serviram de alerta para a
necessidade de se pensar em outra vertente de desenvolvimento. “O fracasso das regras
existentes é prelúdio para a busca de novas regras” (KUHN, 1975, p.95).
4.1 Sustentabilidade e suas Múltiplas Perspectivas
Assim como o conceito de desenvolvimento sustentável, a definição de
sustentabilidade esteve inicialmente relacionada à questão ambiental e não há conceito
único. Segundo Loureiro e Callou (2007, p. 215), a mais difundida definição refere-se ao
não esgotamento dos recursos naturais que poderão ser necessários a gerações atuais e
vindouras”. O conceito, portanto, relaciona-se com a idéia de “preservação e de
conservação de recursos naturais limitados e não renováveis, ou seja, aqueles gastos sem
uma devida racionalização e podendo escassear numa perspectiva futura(LOUREIRO;
CALLOU, 2007, p.215).
A partir do relatório de Brundtland, amplia-se este debate, acrescentando-se outros
enfoques, entre eles o social, cultural, financeiro e político. Rattner (2004, p.8) afirma que:
O mais importante avanço na evolução do conceito de
sustentabilidade é representado pelo consenso crescente que esta
requer e implica democracia política, eqüidade social, eficiência
econômica, diversidade cultural, proteção e conservação do meio
ambiente. Esta síntese, ainda que não aceita por todos, tende a
exercer uma influência poderosa na teoria e na prática social, nos
anos vindouros.
Para Bonfim (2008), o termo sustentabilidade passou a ser conhecido e disseminado
no âmbito da militância e das conferências mundiais sobre a questão do desenvolvimento
sustentável nas décadas de 1980 e 1990. Um dos grandes marcos foi a Conferência Mundial
no Rio de Janeiro, a ECO 92, que reuniu atores governamentais e não-governamentais para
discutir e propor ões relacionadas à questão do desenvolvimento e preservação do meio
ambiente, ou seja, do desenvolvimento sustentável. A Agenda 21 é o documento oficial
dessa Conferência, que contém propostas de ações no âmbito internacional e local.
50
Costabeber e Caporal (apud LOUREIRO; CALLOU, 2007) trabalham com um
conceito de sustentabilidade classificando-a nas dimensões social, cultural e econômica de
uma sociedade. O estudo da sustentabilidade, por esses autores, é uma busca incessante de
pontos de equilíbrio. Os autores apresentam uma perspectiva multidimensional de uma
pirâmide constituída pelas seguintes bases: ecológica, econômica, social (primeiro nível);
cultural, potica (segundo vel) e ética (terceirovel):
“Na ênfase à dimensão cultural, o consideradas as atitudes
respeitosas para com a cultura local (os valores, os conhecimentos,
os saberes), e ressaltam que esta dimensão deve ser analisada como
ponto de partida nos projetos de desenvolvimento
(COSTABEBER; CAPORAL apud LOUREIRO; CALLOU, 2007).
Esta falta de precisão ao conceito de sustentabilidade, para Rattner (2004), reflete a
indecisão prevalecente das elites em definir um plano e programa de ação coerentes, que
aceitem e incorporem as crescentes críticas dirigidas ao modelo de desenvolvimento
convencional e ainda dominante. A fórmula apontada pelos discursos poticos e científicos
do desenvolvimento economicamente viável, socialmente eqüitativo e ecologicamente
sustentável” não se concretiza na prática; ainda o há formas e meios que combine o
progresso tecnológico e a produtividade à protão e conservação dos recursos naturais e
do meio ambiente.
Em meio da diversidade de conceitos, é necessário, portanto, definir qual a
perspectiva que será considerada nesta pesquisa e, dentre os estudiosos, considera-se os
estudos de Sachs (2007) o mais pertinente, pois apresenta a sutentabilidade por 7
dimensões; explora assim na sua obra a multidimensionalidade do fenômeno da
sustentabilidade. Apresenta-se, abaixo, a sustentabilidade a partir das dimensões de
Sachs
12
:
1. Sustentabilidade social: a primeira dimensão apontada por Sachs (2007) “vem na
frente, por se destacar como a própria finalidade do desenvolvimento, sem contar com a
probabilidade de que um colapso social ocorra antes da catástrofe ambiental (Sachs,
2000, p. 71). Nas palavras de Bonfim (2008) tem como pressuposto “a diminuição das
polarizações ricos/ pobres, incluídos/excluídos, informados/não informados etc.”.
Prevê, entre outros aspectos, o alcance de um justo grau de homogeneidade social e
distribuição eqüitativa de renda (SACHS, 2007).
12
Em outra obra, Sachs (2007) desdobra a dimensão da sustentabilidade política (2007) em duas dimensões:
político nacional e político internacional.
51
2. Sustentabilidade cultural: pre a continuidade e equilíbrio entre o respeito à
tradição e inovação, bem como a “capacidade de autonomia para elaboração de um
projeto nacional integrado e endógeno, além da autoconfiança combinada com a
abertura para o mundo” (Sachs, 2000, p. 85-86). Esta dimensão é apontada por Sachs
como a mais difícil de ser concretizada, pois pretende alcançar a modernização sem
rupturas da identidade cultural.
3. Sustentabilidade ambiental: afirma o autor que vem em decorrência das dimensões
anteriores (Sachs, 2000) é respeitar e aumentar a capacidade de autodepuração dos
ecossistemas naturais.
4. Sustentabilidade ecológica: o uso seletivo e não predatório dos recursos naturais
associado ao investimento em pesquisas e tecnologias que viabilizem o
desenvolvimento industrial, urbano e rural de forma mais eficiente (Bonfim, 2008).
5. Sustentabilidade econômica: alerta Sachs (2000) que esta dimensão aparece como
necessidade, mas de forma alguma é condição prévia para as anteriores. Nas palavras de
Bonfim (2008, p.3) é “condição das organizações, comunidades, países e hemisférios de
alocar e gerir recursos de investimentos públicos e privados, de forma eficiente”.
6. Sustentabilidade espacial (SACHS, 2000) /territorial (SACHS, 2007): “distribuição
territorial equilibrada de assentamentos humanos e atividades” (Sachs, 2000, p. 86).
7. Sustentabilidade potica: o autor enumera nesta dimensão três aspectos:
democracia definida em termos de apropriação universal dos direitos humanos;
desenvolvimento da capacidade do Estado para implementar o projeto nacional, em
parceria com todos os empreendedores; e um nível razoável de coesão social”. Aponta
ainda um corolário que é a sustentabilidade do sistema internacional:para manter a paz
e para o estabelecimento de um sistema de administração para o patrimônio comum da
humanidade” (SACHS, 2000, p. 72).
O autor alerta que esses critérios devem ser interpretados como pontos de
referência, “indicadores mais da direção desejada dos processos do que de um estado final”,
pois entende que não estamos na presença do ponto zero de uma situação estática
(sustentabilidade ou falta de sustentabilidade) (SACHS, 2007). O autor inclusive propõe a
utilização do termo desenvolvimento “integral”; sugerindo que todos os adjetivos dados ao
desenvolvimento (econômico, social, político, cultural, sustentável ecologicamente e
humano) sejam substituídos pela palavra “integral”, enfatizando seu entendimento que o
52
desenvolvimento sustentável ocorre em diversas dimensões, não podendo ocorrer de forma
isolada.
É a perspectiva multidimensional do conceito de sustentabilidade que guia esta
pesquisa. O ambiente percebido a partir de uma visão mais ampla considerando a pobreza,
a desigualdade social, a falta de trabalho, as concentrações urbanas e tantos outros
problemas que estão intrinsecamente relacionados. O enfoque dado à cultura no trabalho
reflete o entendimento de usá-la como um meio para este tipo de desenvolvimento - o
sustentável: deslocar, assim, a cultura de uma posição subalterna para estratégia de
desenvolvimento. É transformar a ideologia do Estado como provedor do setor cultural e
começar a elaborar estratégias que viabilizem a sustentabilidade das organizações culturais.
Na verdade, Celso Furtado (1984) já indicava que o debate sobre as oões do
desenvolvimento exigia uma reflexão prévia sobre a cultura brasileira. O autor afirmava
que:
“uma política cultural que se limita a fomentar o consumo de bens
culturais tende a ser inibitória de atividades criativas e a impor
barreiras para a inovação [...] A política de desenvolvimento deve
ser posta a serviço do processo de enriquecimento cultural”
(FURTADO, 1984, p. 32).
O autor indagava, portanto, sobre como seria a relação entre a cultura como sistema
de valores e o processo de desenvolvimento das forças produtivas; como os primeiros
poderiam evitar a contaminação de padrões de comportamentos estrangeiros.
4.2 Sustentabilidade Organizacional
Pode-se analisar a sustentabilidade sob dois âmbitos: o mais geral, que trata da
sociedade e do ambiente, e o organizacional. O primeiro âmbito trata da sustentabilidade
relacionada ao ecossistema (TOSTES, 2006), os autores apresentados no item anterior
trabalham sob esta perspectiva mais ampla. Esta pesquisa, por ter as organizações culturais
como objeto de estudo, trabalhará com o segundo âmbito.
Assim como ocorre com seu conceito, as variáveis para a análise da sustentabilidade
organizacional não são únicas, variam na concepção dos autores. Segundo Falconer (1999
apud MAGALHÃES et all, 2005), a sustentabilidade organizacional é obtida através da
combinação ótima das fontes de financiamento”; pois considera que a forma de captação
de recursos é que assegura a autonomia e o reconhecimento das organizações. Entende
53
também que a preocupação com a aquisição dos recursos - sejam eles financeiros, materiais
ou humanos deve acompanhar o cuidado de utilizá-los de forma eficiente e duradoura,
para que a organização alcance seus propósitos de maneira continuada.
Cruz e Estraviz (2000 apud MAGALHÃES et all., 2005) também associam a
sustentabilidade à captação de recursos: para a sua manutenção e dos seus projetos, as
organizações devem se preocupar em obterem recursos e não podem restringir-se a uma
única fonte. Os autores dividem as fontes de captação de recursos em sete grupos:
indivíduos, eventos especiais, empresas, governo, fundações, instituições religiosas e
geração de renda própria.
Para Ramos (apud Tostes, 2006), a sustentabilidade de uma organização é aquela
que se baseia no tride viabilidade econômica, equilíbrio ecológico e inclusão social. A
autora afirma que o conceito traz uma relação entre os fatores econômicos e ambientais, e a
sua implantação depende que os envolvidos se preocupem em manter o meio ambiente
também para as gerações futuras.
Noleto (2003) acrescenta a importância das parcerias é fundamental saber
selecionar parceiros, avaliar os riscos e identificar os fatores que justificam e levam à
procura da parceria. Aponta a parceria como “o grande desafio das organizações que
desejam crescer em suas frentes de atuação”.
Menezes (2008), em seus estudos sobre ONGs, fala que a sustentabilidade se
confirma com a consolidação de alguns pressupostos fundamentais para desenvolver e
executar seu trabalho que seriam, por exemplo, “a qualificação da equipe técnica da ONG;
o impacto de suas ações para o blico-alvo, bem como de seu efeito multiplicador; e a
implantação de uma potica de planejamento, monitoramento e avaliação do trabalho
desenvolvido”. Salienta ainda a importância de se levar em conta, na sustentabilidade
institucional, as inter-relações entre aspectos operacionais, comportamentais e aqueles
aspectos inerentes a sua existência como organização (a missão, a visão e a proposta
política de intervenção no mercado social), objetivando, assim, a eficácia dos resultados.
Para Armani (2006), o termo sustentabilidade organizacional passou por alguns
avanços conceituais, desde a década de 1980, período marcado pelo desenvolvimento
expressivo de organizações da sociedade civil no Brasil. O conceito de sustentabilidade
para as ONGs restringia-se a autosustentação; após discussões sobre o tema, adquiriu maior
complexidade.
54
Armani (2006) apresenta 3 avanços conceituais: o primeiro desconstrói a idéia que a
organização tem que ser autosustentável. O segundo avanço diz respeito ao projeto
institucional permanente, o qual pode ser definido “como a capacidade institucional de se
relacionar criativamente com ambientes instáveis, visando à credibilidade da sua imagem
perante a sociedade” (Magalhães et all., 2005, p.6). E terceiro, a organização deve
constantemente reinventar-se para ser sustentável deve acompanhar as transformações
sociais para continuar atendendo ao seu propósito social. Em síntese, segundo Armani
(2006, p.6):
Se, no nível micro de uma organização em particular, a
sustentabilidade pode ser definida como a capacidade de sustentar
de forma duradoura o valor social do projeto institucional a partir
da interação criativa com contextos mutáveis; no nível macro-
social, a sustentabilidade pode ser tomada como o grau de
correspondência (legitimação social pública) entre a ação coletiva
das ONGs e as concepções, políticas e mecanismos (públicos e
privados) de enfrentamento da pobreza e das desigualdades e de
promoção do desenvolvimento.
Todos esses autores contribuíram para a construção do quadro analítico elaborado
para analisar a sustentabilidade dos Pontos de Cultura a partir da implementação do
Programa Cultura Viva. “Desmistificaram”
13
o conceito de sustentabilidade que ora foca
somente o aspecto ecológico (conforme as origens do termo) ou ora somente os aspectos
econômicos, como de regra recaem as análises organizacionais. A perspectiva aceita é a
multidimensionalidade, optando pelas variáveis potica, social, econômica e técnico-
gerencial.
Feito um levantamento bibliográfico destaca-se o estudo de dois autores que em
suas pesquisas sobre sustentabilidade de ONGs elaboraram quadros analíticos que
nortearam a construção das dimensões utilizadas nesta pesquisa: os trabalhos de Armani
(2001) e Tostes (2006).
4.3 Dimensões e Indicadores para a Análise da
Sustentabilidade Organizacional: Modelos Inspiradores
da Pesquisa
Não há um modelo único que apresente os indicadores e parâmetros para a análise
da sustentabilidade. O modelo de Armani (2006) foi desenvolvido para a análise da
13
Expressão utilizada por Tostes (2006) em seus estudos sobre a sustentabilidade em ONG da Bahia.
55
sustentabilidade de ONGs, devido as significativas transformações nas estruturas destas e
para responderem ao novo contexto brasileiro que estavam inseridas, cita-se: a participação
de novos atores no campo social (Organizações Sociais, OSCIP, fundações de filantropia
empresarial, Instituto para a Responsabilidade Social Ethos); nova geração de entidades
dentro do Terceiro Setor que se mostravam muito mais aptas às mudanças do Estado
brasileiro; o investimento das empresas em educação, criando fundações filantrópicas, bem
como as alterações da legislação, possibilitando o reconhecimento das ONGs como
organizações privadas, mas com fins públicos.
Todas essas mudanças geraram profundas transformações de caráter organizacional
e operacional e, nessa nova realidade, elas passam a buscar incessantemente o seu
desenvolvimento institucional e a sua sustentabilidade (TOSTES, 2006).
Entre os diversos desafios, as organizações precisavam qualificar tecnicamente o
trabalho, clarear e compartilhar o projeto político/missão institucional, promover uma
cultura e metodologias/instrumentos de planejamento estratégico e de monitoramento e
avaliação, aperfeiçoar os mecanismos de gestão, qualificar a participação interna e a
democratização dos processos decisórios etc. (TOSTES, 2006). Com isso, cada entidade
passa a ter de dedicar mais tempo, pessoas e recursos para atividades-meio relativas ao
fortalecimento das condições de sua sustentabilidade potica e financeira (ARMANI,
2006).
Assim, a sustentabilidade é trabalhada a partir de uma série de fatores que
influenciam no êxito duradouro” das ONGs e ao desenvolvimento institucional
14
como
fator crucial para a ocorrência da sustentabilidade. O autor aponta a importância da
credibilidade, legitimidade, capacidade de gestão estratégica, habilidade e força para
influenciar processos políticos das poticas públicas, mecanismos de governança
institucional entre outros.
Partindo de uma dupla dimensão (nível de cada organização e nível mais geral do
conjunto das ONGs), Armani (2006) formula algumas variáveis com seus respectivos
indicadores para avaliar a sustentabilidade.
14
Armani revela que “embora exista uma rica discuso sobre o desenvolvimento organizacional e
institucional das organizações não-governamentais brasileiras, não existe uma definição clara e compartilhada
do que seja o desenvolvimento institucional” (Tostes, 2006, p. 40). Não aprofundaremos a discussão neste
trabalho por não ser a linha escolhida pra a análise nesta pesquisa.
56
Quadro 3: Indicadores para a análise da sustentabilidade das ONGs
Indicadores de sustentabilidade – variáveis ao
nível da organização
Indicadores de sustentabilidade – variáveis no
conjunto das organizações
- Capacidade de geração/captação de recursos
em relação às necessidades (trienais ou anuais)
de recursos da organização;
Índice de diversificação das fontes de apoio,
tanto em número como no tipo de financiadores;
Proporção das receitas não-vinculadas
(provenientes de geração própria e de apoios de
caráter institucional) em relação às receitas
vinculadas (apoios específicos a programas e
projetos, entre outros);
Grau de dependência em relação a recursos de
origem internacional (presumindo-se que, no
longo prazo, a organização é tanto mais
sustentável quanto maior for a extensão de
recursos acessados no próprio país);
vel e tipo de condições (técnico-gerenciais e
políticas) e expectativas expressas pelo
financiador (em relação à autonomia da ONG).
Densidade das relações com financiadores e
grau de interlocução sobre propensões
institucionais e escolhas estragicas mútuas;
Grau de desenvolvimento e qualidade dos
instrumentos de accountability e de
demonstração de resultados da organização;
Nível de desenvolvimento “interno”: (i) grau
de relevância social contextualizada da missão e
da estratégia de intervenção institucional; (ii)
grau de compartilhamento da identidade e da
missão e/ou nível de tensões e de conflitos; (iii)
grau de estabilidade e efetividade das estruturas
e modos de governança da instituição; (iv)
capacidade e parâmetros para gestão estratégica
(utilização de instrumentos gerenciais, PMA,
entre outros), e (v) perfil ético político,
qualificação técnica e índice de rotatividade dos
recursos humanos.
Nível de desenvolvimento “ampliado”: (i)
credibilidade (e grau de conhecimento) da
organização diante de seu público beneficiário,
movimentos sociais, outras ONGs, agências de
cooperação etc.; (ii) capacidade para influenciar
processos de mobilização social e de impactar a
agenda pública e as políticas públicas, e (iii)
capacidade para estabelecer diálogo, parcerias e
trabalho conjunto com outras instituições.
Grau de credibilidade agregado às ONGs
como setor em vel nacional e internacional;
Grau de iniciativa e participação do setor na
interlocução pública sobre seu marco legal e
sobre as formas de apoio públicas e privadas ao
setor ONG no país;
Grau de desenvolvimento e amadurecimento
quanto à legislação específica sobre apoio às
ONGs;
– Capacidade das ONGs enquanto “campo” para
dialogar e influenciar as conceões políticas e
modalidades de apoio dos financiadores
nacionais e internacionais;
Grau de aceitação por parte da legislação
específica (principalmente a legislação
pertinente às OSCIPs) e por parte dos governos
(municipais, estaduais e federal) de que as
ONGs devem manter-se como sujeitos políticos
autônomos, mesmo quando apoiadas com
recursos públicos;
Qualidade dos padrões e instrumentos de
controle social sobre as ONGs financiadas por
recursos públicos.
Fonte: Adaptado de Armani, 2006.
57
Armani acrescenta, ainda, nove parâmetros, a seguir analisados a partir de Tostes
(2006, p.41), que também auxiliam no estudo da sustentabilidade:
1. Base social, legitimidade e relevância da missão: refere-se à amplitude da base social das
organizações e das suas alianças; também relevante é analisar quais o os fatores e o nível de
legitimidade perante sua base, seus apoios, a mídia, o poder público, as universidades, as igrejas etc.
2. Autonomia e credibilidade: “neste tocante é fundamental ver qual o grau e as formas de
‘responsabilização pública’ (accountability) da organização, isto é, seu grau de transparência e suas
formas de prestação de contas para os mais próximos e para a sociedade. Qual o grau de autonomia
da organização e quais os fatores que podem pô-la em risco. E também ver em que medida a
organização tem ‘poder de convocatória’ e é capaz de tornar-se referência pública para questões
específicas (ARMANI, 2001, p. 26).
3. Sustentabilidade: a análise parte dacompatibilidade entre o nível da receita e as
necessidades da organização, assim como os tipos de receitas e de financiadores e suas
‘condicionalidades’, o nível de recursos próprios, a relação entre financiamento institucional e por
projeto, o grau de financiamento nacional, e as potenciais tensões entre missão e sustentabilidade
(ARMANI, 2001, p. 27).
4. Organização do trabalho e gestão democrática e eficiente: reflexão sobre
questionamentos como “quão adequadas e eficientes o as formas de organização do trabalho?
Como se o processo de tomada de decisões e quão participativo e democrático ele é? Qual é o
grau de delegação de responsabilidades? Quão eficientes são os instrumentos da gestão
administrativo-financeira?” (ARMANI, 2001, p. 27).
5. Quadro de recursos humanos adequados: análise das pessoas que trabalham nestas
organizações quanto aos aspectos da “adequação a quantidade, o perfil (ético, político, de gênero
etc.) e da qualificação técnica dos recursos humanos e oportunidades de capacitação” (ARMANI,
2001, p. 27); observam-se também os níveis salariais e as condições de trabalho; bem como analisa
as formas alternativas de agregar colaboradores (voluntários, militantes, estagiários, cooperantes e
outros).
6. Sistema de Planejamento, Monitoramento e Avaliação (PMA) participativo e eficiente:
trata do grau de desenvolvimento e consolidação do sistema de planejamento, monitoramento e
avaliação do trabalho, e o grau de adequação ao tipo de trabalho e ao tipo de organização; grau de
flexibilidade e inovação no uso dessas ferramentas, e estímulo ao aprendizado contínuo; utilização
de indicadores, e nível de participação dos beneficiários e de outros parceiros no processo de PMA”
(ARMANI, 2001, p. 27).
7. Capacidade de produção e sistematização de informações e conhecimentos: trabalha a
“capacidade de pesquisa e de produção de dados e informações relevantes socialmente assim como
a capacidade de sistematizar e de socializar experiências, e o grau de contribuição à construção de
58
argumentos fundamentados para o debate público e acadêmico sobre questões sociais e de
desenvolvimento” (ARMANI, 2001, p. 27).
8. Poder para influenciar processos sociais e políticas públicas: é a “capacidade de planejar,
promover e influenciar processos de mobilização, organização e articulação sociais, especialmente a
capacidade de incidir sobre o processo de constituição de atores e movimentos e sobre as políticas
públicas” (ARMANI, 2001, p. 27).
9. Capacidade para estabelecer parcerias e ões conjuntas: diz respeito às iniciativas e
consolidação de parcerias na sociedade civil, participação em redes de intercâmbio, atuação
conjunta com outros atores de forma consorciada. Também a capacidade de interlocução com o
poder público, com órgãos de pesquisa, com a mídia e com o setor privado” (ARMANI, 2001, p.
28).
A combinação e a adaptação dos nove parâmetros com os indicadores de
sustentabilidade (variáveis em nível da organização e variáveis em nível do conjunto das
organizações) serviram para subsidiar a construção do modelo de análise de
sustentabilidade elaborado por Tostes (2006) para a análise do Instituto Arco Íris, entidade
não-governamental, qualificada como uma OSCIP, fundada em meados de 1997 por
pessoas que conviviam com HIV/Aids, seus familiares, amigos e profissionais de saúde.
Entendendo que o modelo de Armani se embasou numa perspectiva quantitativa, a autora
fez adaptações por querer para a sua pesquisa uma abordagem qualitativa. A denominação
de indicadores/parâmetros proposta por Armani (2006) foi substituída pela autora pelo
termo categorias, por considerar que esta terminologia era mais apropriada à abordagem
metodológica utilizada
15
.
A estrutura de análise de Tostes tem 4 dimensões e cada uma com 3 categorias
conforme figura a seguir:
15
Indicador de sustentabilidade é a representação quantitativa de certo parâmetro que fornece informações
sobre um fenômeno que é importante para o desenvolvimento sustentável. Isso significa que a escolha dos
indicadores é um reflexo da maneira como é definida a sustentabilidade, da escolha do sistema de referência
para o qual se procura a sustentabilidade e da escolha das informações para representar o modelo escolhido
(BRUYN; DRUINEN apud TOSTES, 2006).
59
Figura 1: Dimensões e Categorias para a Análise da Sustentabilidade das ONGs por Tostes
Fonte: ARMANI (2001).
Na dimensão sócio-política, a autora trata, na primeira categoria, do enraizamento
social e político da organização, onde analisa o grau de aproximação das ações da ONG
com a comunidade. Na segunda categoria - capacidade para influenciar processos sociais e
políticas públicas pode-se perceber a legitimidade da organização, autonomia e potencial
para sugerir e transformar as poticas públicas; e a última categoria capacidade para
estabelecer parcerias e ações conjuntas analisa-se a importância das parcerias para a
sustentabilidade da organização.
A dimensão técnico-gerencial trabalha com a capacidade de gestão e organização
do trabalho, onde podemos caracterizar a forma de gestão praticada nas organizações (o
quão participativo e democrático é o processo de tomada de decisão). Na segunda categoria
capacidade de produção e sistematização de informações e conhecimentos trabalha-se
com a forma como as experiências e informações são compartilhadas entre as ONGs,
revelando a importância de trabalhar em rede. E a terceira categoria – capacidade de
60
adequação de recursos humanos permite identificar o perfil das pessoas que trabalham
nas organizações, bem como observar a habilidade/capacidade para o trabalho.
Na dimensão financeira, a sustentabilidade é analisada a partir da capacidade de
geração/captação de recursos em relação às necessidades de recursos da organização,
podendo aqui fazer uma análise da quantidade e tipo de fonte de receita, as dificuldades na
captação de recursos e as estratégias adotadas para superá-las.
A quarta dimensão controle governamental e social possibilita a análise dos
padrões e instrumentos de controle do governo quanto à sustentabilidade das organizações.
Aqui também observamos o grau de controle exercido pelas organizações em relação às
políticas públicas, bem como a relão entre a dependência financeira e o controle social.
Afirma a autora que a análise de todas essas dimensões resulta em um bom
diagnóstico da realidade organizacional e o seu potencial para desenvolver-se de forma
sustentável. Todas as categorias foram levadas em consideração para a construção do
quadro analítico proposto para este trabalho, adequando à realidade dos Pontos de Cultura,
objeto de análise deste estudo.
61
5 Metodologia do Estudo
É indispensável em um trabalho científico a utilização de um todo. A escolha do
todo adequado é fundamental para que os objetivos do trabalho sejam alcançados, pois
ele possibilita maior objetividade e permite ser compreendido e discutido entre as pessoas
que terão acesso ao conhecimento gerado pela pesquisa.
Nesta sessão, tendo em vista os objetivos traçados, apresento o delineamento da
pesquisa, fontes de coleta de dados, as organizações estudadas, dimensões para análise e a
técnica para tratamento dos dados.
5.1 Delineamento da Pesquisa
Esta pesquisa procura identificar as contribuições de um programa de governo o
Cultura Viva para a sustentabilidade das organizações culturais vinculadas a ele os
Pontos de Cultura. A estratégia adotada foi a abordagem qualitativa, pois este tipo de
pesquisa está baseada em uma visão que a realidade é construída por indivíduos
interagindo com seu mundo social” (MERRIAM, 1998, p. 6). De acordo com Denzin e
Lincoln (2006, p.17) “consiste em um conjunto de práticas materiais e interpretativas que
dão visibilidade ao mundo”, onde os pesquisadores “estudam as coisas em seus cenários
naturais, tentando entender, ou interpretar, os fenômenos em termos dos significados que as
pessoas a eles conferem”.
5.2 Coleta de Dados
Em pesquisas qualitativas deve-se utilizar diferentes meios de coletas de dados a fim
de combinar diversas fontes para garantir uma melhor compreensão do fenômeno,
aproximando-se o máximo possível da realidade (GIL, 1994). Para este estudo escolheu-se
as técnicas: entrevistas semi-estruturadas, observação não-participante, análise documental
e levantamento bibliográfico.
62
Por participar do grupo de pesquisa do Observatório da Realidade Organizacional-
UFPE, tive acesso a material com entrevistas aos Pontos em áudio, vídeos de eventos e atas
de reuniões de onde pude retirar relevantes verbalizações que auxiliaram na análise da
temática. Entretanto, foi necessário ir a campo, visitar Pontos de Cultura, conversar com
seus integrantes, para o melhor entendimento da realidade pesquisada.
Em Pernambuco são 44 (BRASIL, 2008) Pontos de Cultura, destes escolhi 3 Pontos
para serem entrevistados. A escolha destes Pontos não foi aleatória, mas baseada em
critérios: (a) grupos que já desenvolviam suas atividades antes de serem Pontos de Cultura;
(b) que tivessem tradição na comunidade; e (c) 2 (dois) dos grupos apresentassem estrutura
formal (Ponto Negras Raízes e Ponto Quartas Literárias) e o outro grupo, o (Ponto Coco
de Umbigada).
Entrevistei os coordenadores destes 3 (três) Pontos de Cultura a partir de um roteiro
de entrevista semi-estruturada (Apêndice 1). A entrevista semi-estruturada, conforme
Triviños (1987, p.146), é:
[...] aquela que parte de certos questionamentos sicos, apoiados
em teorias e hipóteses que interessam à pesquisa, e que, em
seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de novas
hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas
do informante. Desta maneira, o informante, seguindo
espontaneamente a linha de seu pensamento e de suas experiências
dentro do foco principal colocado pelo investigador, começa a
participar na elaboração do conteúdo da pesquisa.
Quanto à observação não-participante, visitei os Pontos de Cultura escolhidos, o que
possibilitou um contato direto da pesquisadora com o campo. Esta proximidade permitiu
maior conhecimento do contexto social das organizações e pode-se perceber a legitimidade
dos Pontos perante a comunidade onde estão inseridos, bem como conhecer os seus
integrantes, a sua articulação com outras organizações culturais e com os órgãos do
governo. O propósito também foi conhecer as práticas gerenciais destas organizações, as
mudanças ocorridas a partir do Programa Cultura Viva e a forma como o Programa m
sendo implementado para, assim, perceber se suas ações contribuem para o crescimento
dos Pontos de forma sustentável.
A participação em reuniões dos Pontos, organizadas pela regional do MINC,
também foram fundamentais, pois possibilitaram o acesso a representantes não
entrevistados na pesquisa.
63
A análise documental deu-se por pesquisas em livros, dissertações e teses, revistas,
discursos oficiais, atas de reuniões e demais documentos, notícias, sites na internet. Foram
também considerados os textos de legislações pertinentes ao tema.
5.3 As Organizações Estudadas
5.3.1. O Centro Cultural Coco de Umbigada
O Centro Cultural Coco de Umbigada é uma organização que tem por objetivo dar
continuidade às tradições da cultura afro-brasileira especialmente o coco de umbigada,
dança que tem mais de 100 anos de existência. O Centro está localizado em Guadalupe,
bairro em Olinda-PE, e há 10 anos iniciou suas atividades. Tem suas rzes na sambada da
família de coquistas da Aldeia de Paratibe-Paulistas-PE família Barbosa - que realizavam
esta manifestação de forma espontânea e tradicional: era cantada, dançada e improvisada
por mestres anônimos da nossa cultura popular. Com a morte de dois dos seus
representantes mais velhos - os avós Mestre João Amâncio e Mestre da Hora no século
passado – o coco se calou na aldeia por quase 40 anos.
O resgate desta dança popular vem sendo realizado nos últimos 26 anos,
principalmente pela mãe-de-santo Beth de Oxum, casada com um descendente nato da
aldeia de Paratibe. Foi em junho do ano de 1998 que a família voltou a fazer o coco, assim
descrito por Beth de Oxum:
[...] a gente [no terreiro] tem o Coco, que é uma brincadeira que
tem no Nordeste. Ela, dita pelos pesquisadores, nasce nas senzalas,
se prolifera Nordeste afora: Coco de praia, de salão, de rojão, de
furada, de quebrada, de pisada, de embolada, ente muitos outros o
Coco de Umbigada que é a vertente que a gente traz e... cada lugar
que ela chega ela tem uma especificidade, uma peleja diferente, os
instrumentos mudam. Ela tem uma peculiaridade que é a pisada, a
roda, praticamente quase todas as vertentes do Coco têm a roda, é
uma brincadeira que tem a gira, a energia da gira, onde as pessoas
se vêem, se percebem. (Beth de Oxum, 2008)
Não foi um movimento fácil. O primeiro desafio foi convencer os mestres e suas
famílias a retomarem o coco. O segundo desafio foi enfrentar a intolerância às suas crenças
religiosas de matriz africana por parte da igreja católica, dos evangélicos e das autoridades
64
policiais - nos dias que ocorriam a sambada, a polícia rondava o terreiro de 4 a 5 vezes por
apresentação.
Inicialmente as apresentações se realizavam no quintal do terreiro de Beth de Oxum,
mas, devido o aumento no número de pessoas que vinham assistir a apresentação, foi para a
rua, tendo em vista que a casa ficou pequena para receber o público. Além da sambada,
também são exibidos filmes sobre a cultura afro-brasileira no cine-clube, localizado, antes
de ingressar no PCV, na casa de Beth.
O principal objetivo de realizar a sambada é fazer a família voltar a dançar o coco,
e, assim, repassar para os jovens e crianças as tradições de seus ancestrais, possibilitando o
conhecimento das músicas de raiz, tendo em vista que essa geração tem contato com as
sicas tocadas nas rádios e apresentadas na TV. A pretensão de Beth é divulgar as
sicas do coco e do maracatu:
O que se toca na televio e o que se toca no dio? Não se conhece
música de raiz, não se escuta música de raiz, eno se a gente não
botar na roda, se a gente não botar para fora, não botar na rua, eles
[descendentes] não o saber... eles vão saber o que toca
realmente na rádio, na televisão. Atitude! Vamos botar essas coisas
para fora, vamos abrir esse baú, vamos cantar Coco, vamos
convidar o povo que canta, porque enterrar quem teve Coco há 100
anos atrás, não é possível que não tenha ninguém vivo ainda para
cantar (Beth de Oxum, 2008).
O grupo também formou, 4 anos, o coco de umbigadinha que é a sambada das
crianças, que aprendem a tradição do coco nas oficinas ministradas pelos mestres, ou por
Beth e sua família. São elas que abrem a sambada todos os primeiros sábados dos meses:
[foi] cantando, botando todo mundo na roda para cantar, quer dizer,
a onda é botar todo mundo pra cantar, todo mundo pra dançar, e
assim é que a gente faz: ensinando a eles começou a rolar o Coco
de Umbigadinha (Beth de Oxum, 2008).
Por localizar-se num bairro carente de Olinda, o Centro Cultural Coco de Umbigada
realiza oficinas para os jovens da comunidade, a grande maioria sem muita perspectiva de
trabalho nem capacitação. Para os integrantes do grupo, este trabalho, seja com a música e
dança ou com os ensinamentos nas oficinas, representa um meio de reforçar a renda da
família, bem como tirar da ociosidade e dos vícios as crianças e jovens do bairro.
Em 2004, com o lançamento do Programa Cultura Viva, viram a possibilidade de
dar maior visibilidade a suas atividades, estruturar a rádio comunitária e uma sala para a
inclusão digital, bem como a conquista de uma nova sede para o Centro. Não tinham, na
65
época da seleção do PCV, CNPJ (um dos critérios exigidos pelo edital), por isso
inscreveram-se no programa tendo como entidade proponente a ONG de Direitos Humanos
e Desenvolvimento Local Sustentável - Djumbay, e tornaram o terreiro num Ponto de
Cultura. Embora mantivessem uma relação harmoniosa com a ONG, em 2007, a
organização obteve o seu registro e o CNPJ, pois necessitavam de mais autonomia,
principalmente quanto ao aspecto da gestão financeira (a entidade proponente recebia parte
da verba por ceder a sua identidade institucional).
Percebeu-se, na entrevista com Beth de Oxum, que a decisão do grupo participar do
PCV foi motivada pelo aspecto financeiro o repasse das verbas blicas, o investimento
em equipamentos (o kit multimídia), mas principalmente pela possibilidade do grupo, uma
vez conveniado com o MinC, ter maior visibilidade junto a sociedade, bem como pela
oportunidade de, pela primeira vez, ver grupos de cultura popular participando das poticas
públicas.
Hoje, no Centro, atuam dois Pontos de Cultura: o Núcleo de Memória e Produção
de Cultura Popular Coco de Umbigada e o Ensinamento de Mãe Preta. O primeiro tem o
objetivo de tornar-se referência na produção, pesquisa e acervo da cultura popular, em
especial a cultura do coco” (BRASIL, 2006). O segundo tem por propósito o
empoderamento e valorização da comunidade de candomblé do Recife, com foco no gênero
feminino (as mães-de-santo do candomblé).
5.3.2 O Centro Cultural Luiz Freire
O Centro Cultural Luiz Freire (CCLF), localizado em Olinda PE, é uma
organização não-governamental que atua, desde 1972, com o propósito de contribuir para
o movimento de reordenamento político-institucional do país e para o fortalecimento das
organizações populares” (ITEIA, 2009). Surgiu de um grupo de pessoas, que em época da
ditadura militar, reuniam-se em um dos casarões do tio histórico de Olinda para discutir
sobre democracia, produzir atividades culturais e projetos de desenvolvimento comunitários
(ITEIA, 2009).
Sua missão, apresentada no site do CCLF, é:
Contribuir para a radicalização da democracia na sociedade,
promovendo a expansão, qualificação e consolidação da participação
66
cidadã e da prática dos Direitos Humanos, vivenciados como um
processo educativo e cultural (CCLF, 2006).
Nos seus primeiros anos, já se pode destaca resultados significativos das suas ações:
a criação da Lei do Prezeis
16
(resultado da assessoria jurídica do CCLF à organização do
movimento popular pelo direito à moradia) e a criação, em 1984, da primeira televisão de
rua da América Latina a TV VIVA (instalada no casarão do CCLF), que tem por missão
a radicalização da democracia na sociedade e no estado, pela efetivação dos direitos
humanos e combate às exclusões” (TV VIVA, 2009).
No Centro, são trabalhados diversos eixos temáticos: criaa e adolescente, direitos
humanos, educação, indígenas e quilombolas. Os aspectos políticos, como a discussão
sobre a democracia, também são pauta para os debates e atividades desenvolvidas no
Centro. A partir de suas ações o CCLF quer consolidar o seu papel como ator político em
áreas de atuação em conformidade com os desafios da conjuntura nacional, destaca-se: sua
participação na fundação do Movimento Nacional de Direitos Humanos MNDH e no
movimento pró-constituinte; colaborou na elaboração do Estatuto da Criança e do
Adolescente; estimula a prática do monitoramento de poticas públicas na área de justiça e
segurança; participou da criação da Associação Brasileira de ONGs - Abong; articula e/ou
promove divulgação das ações dos diferentes atores sociais e movimentos populares;
integra o Movimento Latino-Americano de deo e participa da cena cultural
pernambucana (ITEIA, 2009).
São realizados seminários, grupos de discussão e oficinas na sede do CCLF, entre
elas as oficinas de leitura o projeto Quartas Literárias, que se tornou Ponto de Cultura,
surge neste espaço.
Inicialmente, a proposta das Quartas Literárias era realizar apresentações dos
trabalhos resultantes das oficinas oferecidas no CCLF, mas nos primeiros meses houve
uma participação significativa do blico externo que mesmo sem divulgação, compareceu
ao CCLF para participar das apresentações. As Quartas Literárias, portanto, foram criadas
pelos professores e oficineiros a partir da idéia de resgatar as antigas rodas, para refletir
sobre o direito à brincadeira, ao lazer e ao ócio um espaço alternativo para
16
O PREZEIS - Plano de Regularização das Zonas Especiais de Interesse Social, é uma experiência, em
Recife, no campo dos programas de urbanização de favelas, que se tornou referência para a gestão municipal
no Brasil, que culminou, após debates com as organizações populares, em lei (Lei Nº 14.947/87).
67
experimentação artística, tendo a literatura como principal eixo, mas dialogando com outras
linguagens artísticas (teatro, fotografia, dança e música).
O ingresso no PCV ocorreu em 2006, com o objetivo de reestruturar a ação, desde a
infra-estrutura à sistemática de organização das apresentações e divulgação das mesmas, e
ainda trazer melhorias para as oficinas; o projeto foi chamado de Requalificação das
Quartas Literárias”.
5.3.3 O Centro Maria da Conceição
O Centro Maria da Conceição foi criado em 1982 por um grupo de moradores do
Morro da Conceição, um bairro pobre de Recife PE, preocupado com a falta de espaço e
atividades de educação, cultura e lazer para os jovens e crianças dos bairros. O nome do
Centro é em memória a Dona Conceição, mulher negra que foi moradora do bairro e
sempre preocupada com o bem-estar da sua comunidade. As ações do Centro refletem os
ensinamentos que Dona Conceição repassou em vida, principalmente, o acolhimento e
aconselhamento dos jovens e adultos da comunidade e o estímulo ao trabalho coletivo para
a solução das necessidades da comunidade.
Tem por missão:
Promoção do protagonismo na perspectiva do estímulo a identidade
ambiental, de gênero e étnico-racial, utilizando a pedagogia Aprendizagem
pela Prática Cultural como instrumento de repasse de informões,
formação técnica-educativa e incentivo ao desenvolvimento sustentável em
morros e comunidades remanescentes de quilombo (BRASIL, 2009-A).
É propósito do Centro educar a partir da valorização da cultura local, propagando o
respeito as diferenças e principalmente a valorização dos valores e princípios dos povos
africanos.
Entre as ações desenvolvidas pelo Centro, cita-se: a Escola/Creche Maria da
Conceição (desenvolve atividades educativas e artísticas, tendo como proposta pedagógica
repassar os conhecimentos do currículo escolar tradicional de forma lúdica e interativa,
além das atividades nas áreas de estética, culinária afro, teatro, dança, música percussiva e
artes plásticas nas salas de aula do Centro); Encontro com as Raízes um evento que
ocorre no meio da rua onde os mestres da tradição oral compartilham seus conhecimentos
com jovens estudantes); Negras Raízes (projeto que tem o propósito de favorecer o
intercâmbio entre quilombos urbanos morro da zona norte do Recife e quilombos rurais
68
comunidades remanescentes de quilombo – visando o desenvolvimento econômico e
cultural destas comunidades); Comunicação para Cultura (estímulo a produção cultural a
partir de ferramentas digitais, incentivando os jovens a serem os protagonistas de suas
próprias histórias, expressando, assim, seu ponto de vista, com foco na sociedade em que
vivem) etc.
Em 2004, o Centro ingressa no PCV a partir do projeto Negras Raízes que propõe a
produção de um musical criado a partir de pesquisas ao patrimônio cultural e resgate das
histórias dos quilombos urbanos e rurais. Para a realização do musical são realizadas
oficinas que além de divulgar a cultura afro-brasileira também gera renda com suas
atividades culturais. Para a coordenadora do projeto, Mãe Lúcia, tornar-se Ponto de Cultura
deu uma re-oxigenada” na ação. O principal foco do Ponto é o público infantil e jovem
justifica-se, pois o Centro está localizado num bairro pobre de Recife, carente de atividades
educativas e artísticas.
5.4 As Dimensões para Análise
No quadro analítico abaixo estão as dimensões, os parâmetros e os elementos que
serão investigados na pesquisa para a análise da sustentabilidade dos Pontos de Cultura.
Quadro 4: Dimensões para a Alise da Sustentabilidade dos Pontos de Cultura de Pernambuco.
DIMENSÕES PARA A ANÁLISE DA SUSTENTABILIDADE
DIMENSÕES Parâmetros Elementos para Análise na Pesquisa
Legitimidade - Reconhecimento e respeitabilidade do publico
externo;
- Proximidade com o público beneficiário.
Capacidade de influenciar nos processos sociais
e políticas públicas
- Participação do Ponto de Cultura no processo de
implementação do PCV;
- Participação em fóruns, conselhos e associações;
- Possibilidades de influências e alterações na dinâmica
da política pública.
Dimensão
política da
sustentabilidade
Nível de articulação em rede - Participação do Ponto de Cultura quanto à articulação
com outros Pontos em prol de uma mudança ou
constituição de políticas públicas;
- Participação do Ponto de Cultura quanto à articulação
com outros Pontos em prol de uma troca de recursos
entre eles.
69
Organização do trabalho e forma de gestão dos
Pontos de Cultura
- Aceitação e reconhecimento da liderança dos
coordenadores;
- Tomada de decisão;
- Participação dos integrantes;
- Divisão das tarefas;
- Dinâmica de planejamento das ações.
Dimensão
técnico-gerencial
da
sustentabilidade
Quadro de recursos humanos adequados - Qualificação técnica das pessoas que atuam na
organização;
- Oportunidades de capacitação para o crescimento
profissional dos integrantes.
Capacidade de geração de recursos - Ações para a geração/captação de recursos. Dimensão
econômica da
sustentabilidade
Diversificação das fontes de apoio - Ações para a diversificação das fontes de apoio.
Dimensão social
para a
sustentabilidade
Continuidade /
Difusão do projeto
- Repasse de conhecimento e experiência para a
continuidade do trabalho organizacional, por outros
atores
Fonte: Elaboração própria, 2008.
O quadro analítico é resultado de um estudo em diversos autores que trabalham com
a sustentabilidade. Houve mudança no quadro apresentado no projeto de dissertação para
atender aos novos aspectos observados somente depois das primeiras visitas aos Pontos de
Cultura. Inicialmente, conhecendo somente os modelos teóricos, distinguia-se claramente
cada parâmetro, entretanto, na análise de dados viu-se que as dimensões inter-
relacionavam. Preferiu-se, entretanto, manter a análise dividida em dimensões para que
todos os parâmetros fossem discutidos no trabalho.
A primeira dimensão política da sustentabilidade trata da força política dos
Pontos de Cultura em relação ao seu poder de influenciar, constituir e alterar poticas
públicas. Para esta dimensão, 3 parâmetros foram vistos: legitimidade (analisada a partir
do reconhecimento e respeitabilidade do público externo e da proximidade com o público
beneficiário), capacidade de influenciar os processos sociais e as poticas blicas e nível
de articulação em rede.
Esses elementos foram trabalhados por SANTOS (2005) na sua tese sobre a
sustentabilidade potica de uma organização não-governamental o Gapa-Ba (Grupo de
Apoio à Prevenção à Aids da Bahia); entende a autora que para a sustentabilidade potica é
necessário o reconhecimento das organizações, por seus parceiros, como atores sociais de
confiança (SANTOS, 2005, p.129). Pretende-se com estes elementos perceber o grau de
reconhecimento e proximidade com o público beneficiário dos Pontos de Cultura a partir
das ações que desenvolvem para as comunidades onde estão inseridos.
70
O segundo parâmetro - capacidade de influenciar os processos sociais e as poticas
públicas foi destacado do trabalho de Armani (2001) e trata da análise sobre o real papel
da sociedade civil (nesta dissertação, os Pontos de Cultura) nas discussões junto ao governo
(participação em fóruns, conselhos e possibilidades de influenciar e alterar a dinâmica da
política pública). Nas palavras de Armani (2001, p. 27) é:
Capacidade de planejar, promover e influenciar processos de mobilização,
organização e articulação sociais, especialmente a capacidade de incidir
sobre o processo de constituição de atores e movimentos e sobre as políticas
públicas.
Será investigado também o nível de articulação em rede. Para Reis e Meira (2005) o
nível de articulação em redes é outro indicador importante para análise da sustentabilidade,
pois representa a sociabilidade externa; defendem ser fundamental para a sustentabilidade
das organizações (nos seus estudos tratavam de empreendimentos de economia solidária) a
cooperação mútua.
Tratando do PCV, entende-se como fundamental para a continuidade e
aperfeiçoamento do programa que haja comunicação e trocas entre os Pontos de Cultura,
governo e sociedade, para que suas experiências possam contribuir para melhorias na
realidade dos demais Pontos. O próprio governo federal, na cartilha do Programa Cultura
Viva, destaca a importância de se trabalhar em rede, com o propósito de realizar,
principalmente, trocas de conhecimentos.
A segunda dimensão técnico-gerencial tem por objetivo a análise da forma de
gestão, de organização do trabalho e do quadro de recursos humanos adequados.
A relevância de estudar a forma de gestão e organização do trabalho está na análise
da eficiência dos Pontos a partir de suas práticas organizacionais. Salamon (1997) aponta
esta dimensão como “um desafio especialmente delicado para as organizações conhecidas
por sua flexibilidade, criatividade e sensibilidade às sugeses e preocupações populares”.
Entretanto, é algo que deve ser encarado com seriedade, pois o organizações e por isso
enfrentam sérios desafios no âmbito da administração e do controle institucionais.
A variável ‘quadro de recursos humanos adequados’ é a grande preocupação de
muitos autores que trabalham com o terceiro setor (ARMANI, 2006; TOSTES, 2006;
SALAMON, 1997), eles entendem que perante o novo contexto apresentado para estas
organizações, o atual perfil profissional não atende às demandas exigidas.
Nesta pesquisa esta variável trata da qualificação técnica dos integrantes dos Pontos
de Cultura: verificar suas dificuldades e perceber a contribuição do PCV em viabilizar
71
crescimento/informações aos integrantes dos Pontos. Também é foco da análise os
funcionários do MinC, pois afetam diretamente na implementação do PCV.
A dimensão econômica trata da capacidade de geração de recursos e diversificação
das fontes de apoio. Esses dois parâmetros são fundamentais, pois a independência
financeira dos Pontos significa autonomia para essas organizações, possibilitando uma
participação livre nas discussões das poticas públicas. Falconer (1999) considera que
independente das características desses recursos (filantrópicos ou comercias, pequenos ou
de grandes proporções, pontuais ou de longo prazo), deve-se considerar suas restrições e as
melhores estratégias para obtê-los. Santos (2006) ressalta que o relevante para a
sustentabilidade é a competência para combinar essas fontes.
A quarta e última dimensão é a social. Nas pesquisas realizadas para este trabalho,
a dimensão social da sustentabilidade é, também, analisada pelos autores de diferentes
formas e, apontam dois âmbitos para a análise: interno e externo, por isso, a dimensão mais
difícil para definir os parâmetros.
Para Reis e Meira (2005), a dimensão é observada por aspectos sociais internos; os
autores fazem o destaque nos laços sociais, pois entendem que estes interferem
decisivamente na gestão dos empreendimentos, e, assim, na sua sustentabilidade.
Armani, analisa a dimensão relacionando a sustentabilidade à base social das organizações:
“importante é ver a relevância social e a consistência de sua missão e os valores que impregnam a
vida institucional” (ARMANI, 2001, p. 26).
Embora ambas sejam pertinentes ao estudo da sustentabilidade e o sejam
excludentes, optou-se nesta pesquisa pela perspectiva de Armani (2001), primeiro porque
para atender a perspectiva de Reis e Meira (2005) seria necessária a descrição do nculo
tuo dos integrantes das organizações, pois são responsáveis pela definição do processo
social de trabalho e de produção, exigindo da autora mais tempo inserida nos Pontos de
Cultura para entender as características e o grau de coesão; segundo, a partir da análise da
sustentabilidade por sua base social pode-se fazer uma ligação com a legitimidade estudada
na dimensão política.
Assim, a dimensão social neste trabalho trata da continuidade/difusão do projeto, e
refere-se ao repasse das organizações de suas experiências e conhecimentos para a
continuidade de seu projeto por outros atores (SANTOS, 2005). Este parâmetro está entre
os eixos que promovem a sustentabilidade, o das organizações, mas principalmente
72
dos projetos que desenvolvem: fazer com que haja a continuidade da missão, bem como
propagar essa missão ao ponto de ser realizada em outros espaços.
Na análise de cada dimensão, inicialmente, descreve-se a realidade dos Pontos no
tocante a cada parâmetro/elemento sob análise, e, depois, identificam-se as contribuições do
PCV para aquele aspecto.
5.5 Tratamento dos Dados
Segundo Gil (1994), a análise dos dados tem o objetivo de organizá-los e sumarizá-
los, no intuito de conduzir às respostas do problema de pesquisa; a interpretação dos dados
tem como propósito a ampliação do sentido das respostas, estabelecendo relações entre os
conhecimentos já obtidos anteriormente. Estas etapas, análise e interpretação, aparecem
intimamente relacionadas (GIL, 1994).
Nesta pesquisa, a análise dos dados ocorreu concomitante à coleta (MERRIAM,
1998), assim permitiu uma avaliação do processo e possibilitou reflexão anterior para as
entrevistas seguintes. Foi utilizada a técnica de análise de conteúdo.
Na análise de conteúdo o ponto de partida é a mensagem, considerando-se as
condições contextuais de seus produtores, assenta-se na concepção crítica e dinâmica da
linguagem (PUGLISI; FRANCO, 2005, p. 13).
Segundo Minayo (2003, p. 74) “o que está escrito, falado, mapeado, figurativamente
desenhado e/ou simbolicamente explicitado sempre será o ponto de partida para a
identificação do conteúdo manifesto (seja ele explícito e/ou latente)”. Nesta perspectiva
foram analisadas as falas dos entrevistados e as informações trazidas nos documentos que
apresentam e fundamentam o PCV.
73
6. Análise das Dimensões da Sustentabilidade dos
Pontos de Cultura – as influências do PCV.
A sustentabilidade nesta pesquisa é entendida como a capacidade das organizações
continuarem a desenvolver suas atividades em conformidade com seus valores e
preservando sua identidade. Identifica-se esta perspectiva quando do estudo do PCV,
observa-se que há a preocupação do programa com a continuidade e o fortalecimento de
ações desenvolvidas por grupos culturais existentes, resguardando a autonomia destes.
Propósito que está explícito na Cartilha do Programa:
Conforme Milton Santos, em sua inovadora geografia crítica, “a
utopia deve ser construída a partir das possibilidades, a partir do
que já existe como germe e, por isso, se apresenta como algo
factível”. Esta foi a direção da construção do programa: criar ampla
linha de ação a partir do que existe e já atua, com legitimidade
comunitária (BRASIL, 2004, p.11).
O foco do Programa, portanto, são as organizações/ações culturais que podem ter
continuidade, visto que um dos critérios para a selão dos Pontos
17
é a apresentação de
processos criativos continuados” e capacidade em agregar outros atores sociais parceiros
públicos ou privados, garantindo a sustentabilidade futura da proposta”:
O objetivo é fazer uma integração dos Pontos em uma rede global
que aconteça a partir das necessidades e ações locais. A interação
entre o global e o local deve respeitar o crescimento das ações
desenvolvidas em cada Ponto de Cultura, de modo que eles
ganhem musculatura e estrutura óssea e conquistem sua
sustentabilidade e emancipação (BRASIL, 2004, p. 16)
E, ainda:
O papel do Ministério da Cultura é o de agregar recursos e novas
capacidades a projetos e instalões já existentes, oferecendo
equipamentos que amplifiquem as possibilidades do fazer artístico
e recursos para uma ação contínua junto às comunidades (BRASIL,
2004, p.18).
Visto que é propósito do governo através do PCV a sustentabilidade dos Pontos de
Cultura, este trabalho procura identificar como o programa contribuiu para a
sustentabilidade, analisando cada uma das dimensões: econômica, potica, social e técnico-
gerencial.
17
Edital de Divulgação nº 1de 16 de julho de 2004.
74
6.1 Descrição e Análise da Dimensão Econômica da
Sustentabilidade
O PCV para os Pontos de Cultura apresenta-se de imediato como uma fonte de
recursos: as organizações culturais recebem do governo, ao se inserir no programa, em
parcelas, recurso financeiro para investir nas atividades realizadas pelos grupos. Pelo PCV,
cada Ponto recebe:
Até 185 mil reais, em parcelas semestrais, para investir no prazo de
dois anos e meio, conforme projeto definido pelo próprio Ponto
(BRASIL, 2004, p. 21).
E, também:
50 bolsas do Programa Primeiro Emprego do Ministério do
Trabalho e Emprego, no valor de 150 reais, para jovens de 16 a 24
anos. Cada bolsa tem a duração de seis meses. Findo o prazo, outro
jovem é selecionado. O jovem ganha para desenvolver o projeto do
Ponto e freqüentar cursos que o capacitem para gerar renda própria
a partir da cultura, e melhor exercer sua cidadania (Cartilha, p. 21).
O valor recebido da primeira parcela, no mínimo, de 25 mil reais deve destinar-se a
aquisição de equipamento multimídia em software livre (programas fornecidos pela
coordenação do programa), composto por microcomputador, mini-estúdio para gravar cd,
câmera digital e ilha de imagem.
Entretanto, analisar o impacto do PCV nas organizações culturais que participam do
programa somente por esta ótica – como fonte de recurso – é reduzir o conceito de
sustentabilidade à sustentação financeira, o que não é o objetivo deste trabalho. A
sustentabilidade está relacionada à idéia de continuidade e as parcelas referidas, repassadas
pelo PCV, não tem esse caráter.
Para atender a perspectiva de sustentabilidade econômica defendida neste trabalho,
analisa-se os parâmetros capacidade das organizações gerarem recursos e a diversificação
das fontes de apoio, pois se entende que, para a manutenção das organizações e dos seus
projetos, devem se preocupar em obter recursos por diferentes fontes e não se restringir a
uma única.
A proposta do governo, apresentada na Cartilha do PCV, coaduna com esta iia na
medida que entende que o repasse das parcelas é, inicialmente, para dar fôlego às
75
atividades, mas, principalmente, potencializar outras iniciativas de ações por parte dos
grupos culturais, gerando assim novas fontes de recursos:
O Ministério reconheceu a pluridimensionalidade da experiência
cultural [...reconhecendo] a cultura como economia, geradora de
crescimento, emprego e renda. O Programa Cultura Viva, assim
como os Pontos de Cultura, atua nestas três dimensões (BRASIL,
2004, p.11).
Nos Pontos de Cultura entrevistados é possível perceber alguns avanços no que diz
respeito a estes aspectos apontados. O Coco de Umbigada, com o ingresso no PCV,
recebeu o kit multimídia, tornando possível no Ponto a estruturação de uma sala de
computadores com acesso a internet para a comunidade de Guadalupe, bem como equipou
um estúdio para a produção de deos. Essa infra-estrutura, acessível aos jovens da
comunidade, tem gerado novas oportunidades de trabalho, cita-se a produção de deos e
fotos dos eventos da comunidade (casamentos, aniversário etc.), que são serviços prestados
por um preço abaixo do mercado para atrair clientes. Também a partir do programa foi
montado um estúdio para a rádio, possibilitando a divulgação das músicas e dos trabalhos
realizados no Centro.
No Ponto Quartas Literárias, foi o recurso advindo do PCV que assegurou a
continuidade das apresentações, pois o CCLF que até então mantinha a ão, não
disponibilizava mais de recursos para as reformas necessárias. O repasse financeiro do
programa foi utilizado para a reestruturação, principalmente, da infra-estrutura das
apresentações parte da primeira parcela (R$30.000,00) foi aplicada na construção do
palco, pagamento de técnicos e especialistas de fora do CCLF (convidados para trabalhar
nas oficinas), na aquisição de livros, para viabilizar a participação de artistas, e na compra
de material para as oficinas. Ainda falta receber duas parcelas atrasadas (somando
54.000,00) que serão destinadas para o projeto das oficinas de capacitação de jovens e para
o redimensionamento do sistema elétrico.
O PCV, portanto, para o Ponto, foi fundamental para a realização das melhorias na
infra-estrutura, mas, passados 4 (quatro) anos, não apresentou, ainda, avanços quanto a
capacidade de geração de recursos.
Quanto ao Ponto de Cultura Negras Raízes, para a coordenadora, o PCV deu uma
re-oxigenada” nas atividades já desenvolvidas:
76
[...] É um programa muito legal ... Quando a gente apresenta o
projeto, a nossa perspectiva é que o projeto traga apoio financeiro,
mas ele traz elementos que eu nunca vi em projeto nenhum, e
trabalho com projetos 26 anos. o conheço nenhum projeto
que tenha aberto possibilidades como o Cultura Viva (Lúcia dos
Prazeres, 2008).
A contribuição do PCV para este parâmetro pode ser identificada quando da análise
do projeto que concorreu no edital dos Pontos de Cultura. O projeto tem por resultado final
a realização de um espetáculo musical e, até a sua apresentação, o Ponto desenvolve
oficinas com temáticas que contribuem para a construção deste espetáculo: oficina de
dança, de teatro, de música, de estética negra e culinária negra. Foi a partir destas oficinas
que surgiram ações externas que geram renda para o Centro e para seus participantes:
contratos, por exemplo, com a Coordenadoria da Mulher, que rendeu R$ 70.000,00 para o
Centro e seus integrantes, e parceria com a Diretoria de Combate ao Racismo.
Destaca-se também a aquisição do kit multimídia, que gerou oportunidades de
trabalho aos jovens da comunidade:
O kit multimídia trouxe muitas possibilidades. Jovens que
ganharam dinheiro pelas ações que desenvolviam, trabalhando com
filmagens e fotografia (Lúcia dos Prazeres, 2008).
Quanto ao segundo parâmetro – diversificação das fontes de recursos – sobressaem-
se algumas ações desenvolvidas pelo Ponto que levam à sustentabilidade econômica da
organização. Embora o PCV não atue diretamente neste parâmetro, faz-se o registro, pois se
considera importante para a análise da sustentabilidade dos Pontos entrevistados.
Entre as fontes de recursos do Coco de Umbigada citam-se as apresentações da
sambada, embora se reconheça sua escassez (em Pernambuco, acontecem de 2 a 3
apresentações por ano); para o ano de 2009, o projeto de produção e distribuição dos
produtos culturais do terreiro: são produções de roupas, adereços, utensílios e peças em
barro e panelas. Pretendem também participar dos editais lançados pelo governo com o
foco na distribuição do produto dos artesãos e costureiras:
Não há a intenção da usura-lucro. A proposta é ter uma cooperativa
a partir da lógica da economia solidária (Lúcia dos Prazeres, 2008).
77
Acrescenta-se ainda como fonte de recursos (que se destaca nas organizações da
sociedade civil com propósitos sociais nas suas atividades, como é o caso do Coco de
Umbigada) as doações de particulares pessoas jurídicas ou físicas. Em visitas do Pontão
de Gestão
18
, no segundo semestre de 2007, ao Coco de Umbigada, discutiu-se a
possibilidade de sistematizar as doações: os “Amigos da Sambada”, que até o momento não
iniciou.
Nas Quartas Literárias, quanto a este parâmetro, a coordenadora do Ponto
informou que, por hora, não nenhuma estratégia para a busca de fontes alternativas de
recurso. Reconhecem que o Ponto só conta com uma fonte de apoio que são os recursos do
PCV, e estes estão sempre em atraso, o que, conseqüentemente, dificulta o
desenvolvimento das atividades planejadas. Admite que necessidade de articular com
empresas ou particulares uma sistemática de doações, bem como, trabalhar em conjunto
com outros Pontos para a realização de trocas entre os grupos. Embora se reconheça o
grande potencial para que essas trocas aconteçam, a atuação ainda é reduzida.
O Negras Raízes tem com fonte de recurso a prestação de serviços: os integrantes
dos Pontos visitam organizações ou secretarias do Estado e Município e oferecerem as
oficinas apresentam seus projetos pedagógicos de valorização da cultura negra. O Ponto
já prestou serviços para entidades particulares, ONGs de grande porte, governo do Estado e
FUNDARPE, a antiga FUNABEM (Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor), Cruzada
de Ação Social e para a Rede Municipal de Ensino.
Recebem também doação anual de um grupo de amigos italianos (6.000 euros);
considerada uma contribuição significativa, pois podem contar de forma regular e certa
com este dinheiro (diferentemente dos recursos do Programa).
A contribuição do PCV, portanto, para a sustentabilidade econômica dos Pontos
entrevistados está nas oportunidades que surgem a partir do desenvolvimento de atividades
secundárias ao projeto apresentado ao PCV, reconhece-se, entretanto que é ainda muito
reduzida. Entende-se que o recurso financeiro é importante para o Ponto para atender às
necessidades mais urgentes, mas o assegura a sua sustentabilidade e, ao contrário, pode
gerar dependência e acomodação.
18 O projeto Pontão de Cultura UFPE – Rede integrada dos Pontos de cultura de Pernambuco (RIAPC) foi criado com objetivo de ser um espaço de articulação entre os
Pontos de Cultura de Pernambuco, desenvolvendo atividades de formação e acompanhamento (de forma presencial e à distância); fomentando e difundindo a cultura de
acordo com suas vocações locais, contemplando diversas linhas do Programa Cultura Viva (do qual faz parte), servindo como suporte, apoio, espaço de socialização e
difusão das ações dos Pontos de Cultura de Pernambuco utilizando meios de comunicação disponíveis na universidade ou a serem instalados (UFPE,2006).
78
6.2. Descrição e Análise da Dimensão Política da
Sustentabilidade
A dimensão política da sustentabilidade neste trabalho é analisada por três
parâmetros: legitimidade; capacidade de influenciar os processos sociais e as poticas
públicas e nível de articulação em rede. Foi distribuído em subtópicos para melhor análise.
6.2.1. Legitimidade
A legitimidade para este estudo relaciona-se diretamente com o reconhecimento e
respeitabilidade do publico externo. O ingresso de organizações, de cultura popular
principalmente, no PCV, beneficiou sua imagem junto à comunidade, pois o Ponto de
Cultura tornou-se uma marca (um selo) para os Pontos.
Quanto a este parâmetro, percebe-se o impacto do PCV de forma mais evidente no
Ponto Coco de Umbigada:
No início a gente teve problemas com os evangélicos, pastores,
porque você sabe que na periferia as igrejas vêm negando o ori
da alma brasileira, negando a cultura popular, negando essa coisa
construída historicamente, por nós e por nossos ancestrais [...] Essa
ação era desenvolvida, e quando o Ministério da Cultura lançou
esse edital para reconhecer o que já vinha sendo feito, reconhecer o
que já tinha de raiz, a matriz africana, aí legitimou (Beth de Oxum,
2008).
O PCV, portanto, certificou que naquele local sede do terreiro também se faz
cultura. A comunidade mudou seu olhar sob o terreiro e nota-se que também há avanços
junto ao governo, por exemplo, com a criação do Pólo de Guadalupe no Carnaval de 2008:
Um pólo ... pense num pólo! Um pólo que funcionou..., foi um
pólo oficial da Fundarpe. Então a gente quebrou um paradigma na
perspectiva de que trazer a cultura popular pro palco 1. Isso é
fundamental, entendeu? Trazer a Cultura popular pro palco 1.
Vinte mil reais esse palco ... um palco desse nível pra cultura
popular. Um som caríssimo também. Porque a cultura popular não
pode mais ficar no palco 2 (Beth de Oxum, 2008).
Apresentar a cultura do terreiro no palco principal refletiu no fortalecimento do
Centro e por conseqüência gerou oportunidades de trabalho para o Ponto:
Então depois do Carnaval, eu posso dizer que o espaço de trabalho
da gente ampliou muito. Deu um tapa também na cara da
79
comunidade, num bom sentido, no sentido do pertencimento ainda.
No sentido desse largo poder ser de fato um largo de cultura
popular. Então a gente hoje não precisa mais esperar que a
prefeitura faça isso. Quantas ações não deixam de ser feitas porque
as pessoas esperam a prefeitura fazer. Então a gente tem que se
aproximar dos pontos e tomar a rédea dessa história na mão
(Beth de Oxum, 2008).
Outro aspecto, percebido com o ingresso no PCV, foi a maior aproximação com o
público beneficiário, pois os Pontos quando selecionados para o programa comprometem-
se a promover oficinas para os jovens da comunidade:
Por meio do programa Cultura Viva, o MinC estará envolvendo
milhões de jovens no desenvolvimento de aptidões culturais e
artísticas. Investimento que, certamente, reverterá em benefício de
toda a sociedade brasileira, eis que atuando em favelas e ajudando
a cicatrizar nossas explosivas feridas sociais. (BRASIL, 2004,
p.11)
O bairro do Guadalupe é um local carente, onde vivem pessoas pobres e jovens sem
oportunidades no mercado de trabalho; a comunidade, portanto passa a ver de forma
positiva toda ação que é desenvolvida em prol da qualificação. A realização das oficinas
pelos Pontos de Cultura contribui para o desenvolvimento dos jovens, bem como auxilia na
renda da família, pois muitos receberam bolsas por participarem das oficinas:
A gente atendeu como bolsista 54, fora os que não são bolsista.
Desse resultado, uns vinte se empoderaram literalmente com a
música e o músicos e isso deu um resultado, pra gente,
maravilhoso. (Beth de Oxum, 2008)
E quando há reconhecimento do público quanto às ações desenvolvidas,
fortalecimento da legitimidade.
Quanto ao Ponto Negra Raízes e Centro Cultural Luiz Freire (sede das Quartas
Literárias), são organizações já reconhecidas pela comunidade, não só pelo PCV, mas pelas
ações que já desenvolviam.
Mesmo antes de ser Ponto, nossa relação sempre foi muito boa
com a comunidade, senão não estava vivo! Tudo que a gente fez
até hoje foi sugestão da comunidade. Tudo! (Lúcia dos Prazeres,
2008)
Entretanto, reconhece a coordenadora do Negras Raízes que a partir do PCV,
principalmente quando da aquisão dos kits multimídia, foi possível gerar mais
oportunidades aos jovens.
80
Nossa meta o 100 jovens. Se a gente conseguir que esses 100
jovens tenham uma compreensão básica para utilizar esse
mecanismo da internet para se favorecer e favorecer a sua
comunidade e conseguir garantir uma ação que possa sustentar
esses jovens; eu estarei muito feliz (Lúcia dos Prazeres, 2008).
Embora seja relevante a atuação do PCV nas comunidades através das ações
desenvolvidas pelos Pontos de Cultura, entende a coordenadora do Negras Raízes que
ainda muito trabalho para desmistificar a imagem reproduzida por anos, pois ainda pesa
o preconceito: “não é fácil ser de morro, ser negro, muitas vezes o conseguimos nem
passar para a sala da secretária”.
6.2.2. Capacidade de influenciar os processos sociais e as
políticas públicas
A proposta do governo com o PCV é realizar junto aos Pontos uma gestão
compartilhada e transformadora, que envolve os conceitos de empoderamento, autonomia e
protagonismo social. De fato, comparada com outras políticas públicas, o PCV tem uma
proposta de participação da sociedade civil na discussão e construção de políticas nunca
vista antes em governos anteriores, entretanto, divergem os Pontos quanto ser efetiva sua
participação nos encontros organizados pelo MinC ou se são capazes realmente de provocar
mudanças na política pública.
Para a coordenadora do Coco de Umbigada um dos motivos que fez participar do
programa foi a possibilidade do protagonismo das comunidades:
Quem imaginaria que a cultura popular estaria participando de
discussões como o Plano Nacional da Cultura? Quando a sociedade
civil organizada discutia sobre isso? Eu saía muito daqui
(referindo-se ao terreiro) por causa da música, saía muito por
afora por causa da música, mas como protagonista de gestão de
Ponto de Cultura foi agora ... tá rolando (Beth de Oxum, 2008)
Afirma, porém, que é um processo que está em construção e ainda há muito trabalho
para vivenciar uma potica compartilhada, mas acredita que já está acontecendo:
Foi muito difícil implementar o programa, eu via em Brasília que
aquilo era briga de poder. O Gil deixou um legado de ter garantido
nessa política a participação da cultura popular. Agora, diga-se de
passagem que os Pontos já existiam na sociedade, nas diversas
comunidades (Beth de Oxum, 2008).
81
O integrante das Quartas Literárias que geralmente participa dos eventos de
discussões poticas, embora reconha que do ponto de vista político o PCV é importante,
vê que as oportunidades que os Pontos tem para debater sobre potica pública não estão
sendo aproveitadas. As discussões são superficiais e muitas vezes fogem do foco proposto.
Pode-se observar nos diálogos do Estúdio Livre, que, em 2006 e 2007, por causa
das dificuldades que os Pontos tiveram com a prestação de contas e os atrasos no repasse
das parcelas, os encontros resumiam-se às reclamações dos Pontos quanto a burocracia e
dificuldades administrativas do MinC, o que naquele momento aera pertinente devido a
gravidade das conseqüências do não recebimento do recurso.
O entrevistado no CCLF alerta que já está na hora de aprofundar as discussões
políticas, que é na verdade a grande inovação do programa. Sobre isso, afirma:
Temos que qualificar o debate. Temos uma poderosa ferramenta na
mão, mas não se sabe o quê fazer. No caso dos fóruns um canal
legítimo. O diálogo não é qualificado por causa da pouca formação
política dos Pontos. A maioria não está preparada (Afonso, 2008).
A coordenadora do Negras Raízes também não vê mais de forma positiva a
realização de tantos fóruns:
Se fosse participar de todos os fóruns e conselhos, não faria mais
nada. Às vezes parece que a realização de tantos fóruns e reuniões
é para tirar o foco daquilo que realmente tem que lutar
politicamente. Enquanto estou no fórum, brigando por cargos, para
ter poder de nada, me tira do foco (Lúcia dos Prazeres, 2008).
Entende Lúcia dos Prazeres (coordenadora do Ponto Negras Raízes) que teria um
melhor aproveitamento se nas reuniões debatessem sobre sustentabilidade dos Pontos,
apresentando alternativas e estratégias para isso:
É desgastante! Consome energia participar dos eventos! É melhor
gastar aqui dentro (no Ponto). Tinha muito mais a contribuir se
descobrisse, por exemplo, uma forma de sustentabilidade (Lúcia
dos Prazeres, 2008).
Reconhece, porém, que há o aspecto positivo nessas reuniões:
Tudo é de mão-dupla. Nos fóruns às vezes temos um
“avançozinhonos nossos ganhos (Lúcia dos Prazeres, 2008).
Nesses quatro anos de PCV, o impacto do programa na sustentabilidade política é
percebido no que diz respeito à disponibilização de diferentes canais para a participação,
seja por fóruns, conselhos, encontros ou ambiente virtual. O governo reconhece, assim, os
Pontos de Cultura como atores políticos na construção e execução das poticas públicas
82
culturais. Se neste aspecto avançou, reconhece-se que a capacidade para influenciar e
alterar a dinâmica de poticas públicas ainda não se efetivou, os canais o são utilizados
em sua plenitude e os debates não estão qualificados, a pauta das discussões muitas das
vezes reduz-se à questões operacionais do programa.
6.2.3. Nível de Articulação em Redes
O vel de articulação em redes é o terceiro parâmetro para a análise da
sustentabilidade na dimensão potica, trata da capacidade das organizações de estabelecer
parcerias, fundamental para a continuidade das ações.
A formão de uma rede de Pontos é, na verdade, o grande propósito do PCV: “uma
integração dos Pontos em uma rede global que aconteça a partir das necessidades e ações
locais” (BRASIL, 2004, p.16).
Destaca-se o papel fundamental de cada um dos Pontos para a efetivação desta rede:
[...] Ponto de Cultura como espaço de sedimentação da macro rede
Cultura Viva - de organização da cultura em nível local e de
mediação na relação entre Estado e sociedade e entre os outros
Pontos, constituindo redes por afinidade (BRASIL, 2004, p. 17)
[...]
O Ponto de Cultura é a ação prioritária do Programa Cultura Viva e
articula todas as suas demais ações. Ele é a referência de uma rede
horizontal de articulação, recepção e disseminação de iniciativas e
vontades criadoras (BRASIL, 2004, p. 20).
Ocorre, entretanto, que muitas organizações localizadas no mesmo município ou em
bairros próximos nunca realizaram qualquer tipo de troca, o que foi justificado pelos Pontos
entrevistados pela falta de tempo para articularem-se. Àqueles Pontos que iniciaram as
parcerias, elas ainda se apresentam de forma modesta.
Para a coordenadora do Coco de Umbigada, o Ponto é bem articulado,
quinzenalmente reúnem-se para discutir formas de fortalecimento das redes de matrizes
africanas e a importância de oficinas para os agentes jovens e dos seminários (julho/2006).
Atualmente, formou parcerias com Cinema de Animação, com o Maracatu de Aliança, com
o Pilares de um Recife, Canal Capibaribe e Tainá (Casa de Cultura). Neste último a
proposta principal é a troca de experiências e conhecimentos. a expectativa de outras
83
articulações acontecerem a partir de editais do MinC específicos para a troca entre os
Pontos
19
.
Essas articulações entre os Pontos, entretanto, não acontece com a grande maioria
dos grupos. Em uma das oficinas realizadas pelo Pontão de Gestão, um representante de um
Ponto justificou que a rede não acontece porque de certa forma os Pontos são concorrentes,
tendo em vista que disputam por editais ou outros financiamentos.
O evento da Teia
20
que seria uma oportunidade para fortalecer a rede dos Pontos
tem sofrido críticas principalmente quanto à forma que vem sendo conduzida. Desabafa a
coordenadora do Negras Raízes:
É maravilhoso (referindo-se ao evento Teia), mas é preciso ser
repensado. Fica zanzando em infinidades de coisas, mas o
aprofunda em nada, não se discute nada mais aprofundado (Lúcia
dos Prazeres, 2008).
Para o Ponto Quartas Literárias, a Teia é mais uma oportunidade de discutir política
pública, que é a principal pretensão do CCLF, mas participa do coro quanto à necessidade
de rever a organização do evento:
A Teia do ano passado (2007) foi dispersiva. O fórum acontecendo
no mesmo tempo que as atividades ocorriam. Nem deu para
conhecer os Pontos, nem deu tempo para o debate político. Esse
ano, após as reclamões, parece-me que vai ser diferente (Afonso,
2008).
O estabelecimento das parcerias é considerado pelos Pontos e para o PCV um meio
importante para garantir a sustentabilidade, entretanto a capacidade para estabelecê-las
precisa ser trabalhada com mais eficácia, sendo necessário inicialmente um maior
envolvimento dos Pontos com a formação da Rede.
No Festival de Inverno em Garanhuns (2008), os Pontos durante o evento
debateram sobre a construção da Rede e a necessidade de seu fortalecimento a partir,
principalmente, de recursos tecnológicos (as facilidades da comunicação e trocas de
experiências pelo ambiente virtual) e foi, na oportunidade, proposto pelo MinC a sua
ampliação para os países do MERCOSUL, contactando organizações culturais daqueles
países.
19
Cita-se entre os editais, o de Bolsas de Intercâmbio Cultura Ponto-a-Ponto.
20
O evento Teia é um encontro organizado pelo Ministério da Cultura que rne os Pontos de Cultura de todo
o Brasil. A primeira edição aconteceu em abril de 2006, em São Paulo, reunindo 440 Pontos (dos 443
conveniados na época). Em 2007 foi realizada em Belo Horizonte e, em 2008, o evento foi em Brasília, com a
participação de 670 delegados de Pontos de Cultura de 23 estados da federação. O evento tem por objetivo
discutir sobre as ações do Programa Cultura Viva e os rumos para o ano seguinte.
84
Embora seja uma ação positiva, entende-se, que o foco principal deveria
permanecer no fortalecimento da Rede de Pontos, local e nacionalmente, para depois
trabalhar em uma ação mais abrangente.
Visto todos os parâmetros, reconhece-se que a contribuição do PCV às organizações
culturais entrevistadas quanto à dimensão potica está principalmente na maior visibilidade
aos Pontos de Cultura, providenciado por canais originados a partir do programa. Com o
PCV, os Pontos, atualmente, têm maior participação nas discussões poticas, pois
participam dos fóruns e debates organizados pelo governo, bem como a promoção de uma
rede de relacionamentos entre os Pontos, o que permite a troca de informações e
experiências e fomenta o debate sobre as dificuldades que vivenciam.
6.3. Descrição e Análise da Dimensão Social da
Sustentabilidade
A dimensão social, neste trabalho, refere-se à continuidade das ações desenvolvidas
pelos Pontos de Cultura a partir do repasse do conhecimento e experiências para além do
universo organizacional, com o propósito de dar continuidade ao projeto. Propõe-se,
portanto, ultrapassar os limites da comunidade, onde o projeto é desenvolvido, e dar
conhecimento às ações desenvolvidas.
Neste tocante, observa-se, a princípio, a possibilidade de efetivar-se este propósito a
partir do PCV por fornecer os kits multimídias e instalar as ilhas de edição nos Pontos de
Cultura. Com essa ação o programa tem o objetivo de possibilitar o registro e divulgação
das atividades desenvolvidas pelas organizações culturais:
“Nosso objetivo é que os artistas populares consigam materializar
sua criatividade também em produtos audiovisuais e digitais
usando a tecnologia como forma de divulgação(BRASIL, 2004,
p.7).
Permite, portanto, que cada Ponto, à sua maneira, filme o seu dia-a-dia, as pessoas
de sua comunidade, contando suas histórias ou desenvolvendo sua arte:
O sucesso do programa envolve a interação, a troca de informações
e a ampla distribuição de conhecimento que só pode se realizar
plenamente por instrumentos de comunicação e difusão bastante
eficazes (BRASIL, 2004, p.30).
85
Foi o que aconteceu no Centro Coco de Umbigada, a aquisição dos kits
possibilitou o registro de suas atividades. No Centro, os integrantes do Ponto estão
produzindo vídeos que mostram as histórias das pessoas da comunidade, com o roteiro e
produção dos próprios moradores do bairro. Atualmente, os esforços direcionam-se para o
fortalecimento da rádio comunitária. A pretensão é mostrar à comunidade as músicas do
coco e do maracatu, pois não tem espaço nas rádios comerciais.
Outro canal de comunicação on line é o Mapa das Redes, criado pelo Ministério da
Cultura para promover o diálogo entre os Pontos e destes com a sociedade e governo, O
Mapa das Redes é também um canal de divulgação dos Pontos, pois além de mostrar a
localização e um breve histórico e apresentação dos Pontos, disponibiliza vídeos com
depoimentos sobre a importância das atividades desenvolvidas.
No Ponto Quartas Literárias não nenhuma ação específica com o propósito de
difusão do projeto em outros espaços a partir deste meio disponibilizado. Justifica-se, pois,
por ser projeto do CCLF, utilizam a divulgação do próprio centro, no tocante às suas ações.
Observa-se que esta dimensão também se realiza a partir de outras iniciativas, por
exemplo, o desenvolvimento do próprio projeto dos Pontos já concretiza a divulgação dos
mesmos. O Ponto Coco de Umbigada divulga suas tradições culturais através dos mestres,
nas escolas e nas oficinas realizadas nos terreiros, e ainda pelos vídeos que exibem no
cineclube. O cineclube é um espaço que foi criado para a divulgação da cultura negra e dos
trabalhos do Ponto de Cultura.
também a realização da sambada que acontece todos os primeiros bados dos
meses, no átrio da igreja, no bairro de Guadalupe, próximo a casa onde funciona o centro.
Nota-se que a cada apresentação cresce o público para assisti-los.
No Ponto Negras Raízes, a propagação de sua missão realiza-se nas próprias
oficinas, divulgando a cultura dos quilombos através da música, das vestimentas ou da
culinária. O Ponto, atualmente, dedica-se a difundir o projeto aos quilombos rurais. Levam,
portanto para fora do Centro Maria da Conceição os preceitos que regem a organização: a
valorização da cultura negra. Eles se propõem a fazer um resgate da história dos quilombos,
um trabalho junto com os jovens, visando à produção de um musical para circular no país
todo, extrapolando os limites das comunidades.
No Quartas Literárias, efetiva-se a divulgação do projeto a partir das
apresentações no CCLF, que sensibiliza a sociedade para a importância do projeto: dar
visibilidade aos artistas que estão fora do eixo comercial.
86
Para a sustentabilidade dos Pontos, quanto à dimensão social, é fundamental que a
proposta de difusão de conhecimentos e experiências seja contemplada nos projetos, pois
somente com o registro e divulgação das ações, sejam educativas ou artísticas,
possibilidade de assegurar sua continuidade por outros agentes.
6.4. Descrição e Análise da Dimensão Técnico-Gerencial
da Sustentabilidade
Na análise da dimensão técnico-gerencial dois aspectos destacam-se: a gestão e as
pessoas que comem as organizações. São parâmetros desta dimensão o quadro de
recursos humanos adequado e a gestão praticada nos Pontos.
6.4.1. Quadro de Recursos Humanos.
O ingresso dos grupos e organizações culturais no Programa Cultura Viva exigiu
significativas mudanças na forma de administrar suas atividades para que se adequassem à
formalidade própria da administração pública. Cita-se o projeto técnico a ser apresentado
para o edital de seleção do PCV que exigia: plano de trabalho, justificativa do projeto,
cronograma de trabalho, cronograma de metas, entre outros documentos. O certame público
para muitos Pontos, principalmente àqueles que existiam somente como movimento
cultural, era uma grande novidade, pois nunca haviam participado de seleção por editais,
por isso, inicialmente, houve dificuldade para apresentar a documentação exigida.
Neste contexto, um quadro de recursos humanos capacitado para atender a essas
novas demandas de conhecimento era fundamental para a sustentabilidade, seja quanto aos
funcionários do Ministério que atendem ao PCV ou quanto aos integrantes dos Pontos de
Cultura.
Em relação aos primeiros, a crítica dos Pontos de Cultura foi quanto ao número
reduzido de funcionários para atender ao programa. Em discussões no Estúdio Livre, o
MinC reconheceu que havia de fato falta de pessoal tanto nas representações regionais (no
caso do Nordeste e Norte eram 6 funcionários para atender os Pontos), quanto em Brasília
(no recebimento das prestação de contas), inviabilizando o atendimento junto aos Pontos
(Estúdio Livre, 2005). Tendo em vista a inexperiência de muitos Pontos com o trâmite da
87
administração pública, o acompanhamento mais próximo do MinC amenizaria as
dificuldades na entrega da documentação.
Quanto ao quadro de recursos humanos dos Pontos, a diversidade de grupos
organizacionais que se tornaram Pontos de Cultura faz a tarefa de analisar o seu perfil um
desafio por sua complexidade: Pontos que são organizações civis sem fins lucrativos que
participaram de outros editais do governo ou convênios com empresas e, portanto, não
tiveram seus integrantes muitas dificuldades na elaboração dos documentos, e Pontos que
não tinham nenhuma experiência com as formalidades exigidas pelo programa. Estes
últimos foram os mais críticos nesta fase do PCV:
[há] dificuldades de domínio nos mecanismos de gestão,
notadamente na relação com o MinC, especialmente dos pontos de
cultura do segmento da cultura popular, que o estavam
habituados ou não tinham relação com esses mecanismos
burocráticos (Carta dos fóruns, Dezembro/2007).
Entende-se que se a proposta do PCV é possibilitar a continuidade das atividades
dos Pontos de Cultura, o aspecto humano quanto à capacitação dos seus integrantes é
fundamental, mas não avançou nos primeiros anos de implementação do Programa.
Destaca-se a iniciativa do Pontão de Gestão.
Em 2007, foram organizadas oficinas pelo Pontão de Gestão, na tentativa de troca
de informações com os Pontos, para refletirem e discutirem sobre temáticas gerenciais.
Nas primeiras reuniões, face o depoimento dos Pontos sobre as teorias da
Administração o se adequarem a sua realidade, estabeleceu-se que os cursos ocorreriam
em forma de oficinas, cujo método fundamental é o da construção coletiva, “a várias
os”, sem produtos e conceitos pré-determinados da ciência administrativa.
Seria, portanto, um espaço para que pudessem trocar experiências e colher mais
informações sobre gestão, principalmente, para contribuir com a organização dos Pontos.
Foram definidos os temas: Comunicação e Marketing Cultural, Planejamento Estratégico e
Participativo e Captação de Recursos.
No decorrer do processo, a equipe do Pontão notou que embora fossem temas
definidos pelos próprios Pontos, o houve a participação esperada, seja a ausência dos
Pontos nas oficinas, seja a pouca participação nas discussões, ocasionando a dispersão cada
vez maior dos Pontos nos encontros, provocando desânimo nos oficineiros. No relatório
anual apresentado pelo Pontão foram apontadas as seguintes justificativas para a falta de
interesse dos Pontos:
88
(a) tinham a percepção de que o Projeto Pontão de Cultura estava
vinculado politicamente ao Ministério da Cultura e, portanto,
representava os interesses políticos deste órgão, (b) as ações
paralelas de outros atores do campo da cultura que tinham interesse
político de assumir a liderança da rede dos Pontos em Pernambuco,
(c) interesse dos participantes dos Pontos em obter das oficinas
rmulas e artefatos gerenciais prontos, portanto não adequaram-se
ao método das oficinas e (d) a imagem da Universidade e, em
decorrência da equipe que a representava, que impunha relativo
distanciamento e resistência entre o “acadêmico” e o saber
popular”.
A proposta de capacitação o obteve os resultados esperados, mas serviu para
repensar a forma de abordar conhecimentos sobre práticas gerenciais junto aos Pontos.
Quanto a este parâmetro, a atuação do PCV foi deficiente, pois para contribuir com
a sustentabilidade nesta dimensão, o desenvolvimento de cursos de formação para os
gestores culturais e integrantes dos Pontos é fundamental. A capacitação do quadro de
recursos humanos nãoé fundamental para a análise deste parâmetro, mas reflete também
no próximo, na capacidade de organizar o trabalho de forma eficiente.
6.4.2. Capacidade de Organização e Gestão do Trabalho
Para entender o impacto do PCV para a sustentabilidade na dimensão gerencial,
analisa-se, primeiramente, os seguintes elementos em cada Ponto: aceitação e
reconhecimento da liderança dos coordenadores, tomada de decisão, participação dos
integrantes, divisão das tarefas e dinâmica de planejamento das ações.
No Ponto Coco de Umbigada, quanto à aceitação e reconhecimento da liderança
da coordenadora, Beth de Oxum, é fundada no reconhecimento dos integrantes do Centro e
da comunidade pelo seu trabalho junto aos artistas da sambada e aos mestres. Ela foi a
grande incentivadora e quem reiniciou as atividades do Centro, conseguiu arregimentar
pessoas para retomarem a sambada e ainda convenceu os mestres a retornar os
ensinamentos das tradições dos seus ancestrais.
No que diz respeito à tomada de decisões, os integrantes participam das discussões,
mas só são finalizadas com a anuência da coordenadora. No tocante a dinâmica de trabalho
89
do Ponto, as atividades são realizadas de forma coletiva, os integrantes atuam nas
atividades que mais se identificam e que julgam poder contribuir com o seu conhecimento e
prática, seja nas oficinas de teatro de bonecos, ritmo e vídeos.
No Ponto Negras Raízes não também definição formal das atividades a serem
realizadas. Hoje a ONG tem uma ação permanente que são as atividades com as crianças
(desde a pré-escola, ensino fundamental e creche) e oferecem também oficinas (vídeo,
fotografia, teatro, rádio, dança e música).
Na elaboração dos projetos, há a participação de todos: o texto é feito pela a
coordenadora, uma equipe é encarregada de fazer pesquisas e repassar informações
auxiliando-a na elaboração da proposta (buscam, por exemplo, informações sobre como
aquele projeto é trabalhado nacionalmente); uma das integrantes da ONG é responsável
pelo orçamento, enquanto outro dá um arranjo visual (estético) no projeto.
também a preocupação com a participação de todos na tomada de decisões, são
realizadas reuniões 1 vez por mês. Nestas reuniões cada equipe apresenta como está o
andamento das suas atividades, momento para sugerir e opinar sobre o trabalho. É feito
também um planejamento nimo das ações do dia-a-dia.
Nas Quartas Literárias, inicialmente, antes de tornarem-se Ponto, já ocorriam as
apresentações dos alunos das oficinas, mas eram realizadas de forma bastante flexível e
assistemática: os artistas se inscreviam no CCLF para apresentarem a sua arte, seja sica,
literatura, teatro etc. Foi a partir da seleção e depois de tornar-se Ponto de Cultura que
perceberam a importância de sistematizar o seu trabalho e algumas modificações na gestão
das ações foram necessárias. Primeiro, elaboraram um proposta de trabalho exigência do
edital, e que serviu para direcionar suas atividades e identificar os envolvidos com o
projeto. Para cumprir com a proposta apresentada para o MinC, admitiram que tiveram que
melhor sistematizar as ações no Ponto, que antes eram realizadas de forma bem flexível e
muitas vezes até intimista (visando somente os participantes do CCLF). A principal
alteração na gestão das apresentações foi a melhor organização das oficinas, quanto a
freqüência e continuidade, e também quanto a organização do evento elaborou-se um
calendário para as apresentações e organizaram por temáticas.
Não divisão formal das tarefas, elas são assumidas pelos profissionais do CCLF
que auxiliam a coordenadora nas oficinas e apresentações. A coordenação assume a
realização das atividades culturais-artísticas, conduz as reuniões, fecha as temáticas e os
90
artistas que irão se apresentar no evento, bem como define as temáticas das oficinas e os
profissionais que trabalharão nela.
Quando se trata de assuntos relacionados à discussão política e participação junto ao
governo nos fóruns ou debates, é outro integrante que atua, a coordenadora assume não ter
o mesmo interesse para estes questionamentos políticos quanto o outro membro. Se há,
portanto uma divisão de funções bem explícita, citaria duas: a artística e a política –
harmoniosamente divida entre dois dos integrantes do Ponto.
Infere-se, quanto a estes elementos do parâmetro organização do trabalho, que
predomina nos Pontos a informalidade nas relações interpessoais e a flexibilidade na
organização do trabalho. Respeitando este contexto, o PCV não interfere na organização do
trabalho, deixando os Pontos livres quanto à gestão de suas ações:
O modelo de gestão precisa ser flexível e moldável, respeitando a
dinâmica própria do movimento social, que continua existindo
independente de ser ou não um Ponto de Cultura (BRASIL, 2004,
p. 33).
Outro aspecto da dimensão técnico-gerencial da sustentabilidade das organizações é
a dinâmica de planejamento de ações: o modo como essa organização se vê e se planeja. O
planejamento das ações é elemento fundamental para a análise da sustentabilidade
organizacional, pois se entende que assim é possível preparar-se para o futuro, visando à
continuidade das ações da organização. Percebemos nos Pontos entrevistados que a
preocupação com o planejamento.
No Ponto Sambada do Coco de Umbigada, a coordenadora tem projetos em
andamento visando a não-depenncia ao PCV. Planejam participar de outros editais do
governo, principalmente os prêmios, que são recursos que lhe permite maior flexibilidade
para a destinação destes. Também organizam parcerias com outros Pontos de Cultura
com o objetivo de trocar experiências e também organizar apresentações e feiras em
conjunto, possibilitando a arrecadação de dinheiro e a divulgação dos trabalhos das
costureiras e artesãos das comunidades, gerando novas fontes de recursos.
Atualmente, uma das principais preocupações é dar visibilidade a Rádio
Comunitária Amnésia (a casa de memória do coco), para a divulgação das músicas dos
terreiros. Foram gravados alguns trabalhos com grupo de hip-hop, com as crianças do coco
91
de umbigadinha, com a sambada de coco e mais dez bandas. O esforço agora é divulgar o
trabalho através da Rádio. Considera a coordenadora do Ponto que assim quebrará o
paradigma das rádios comerciais, potencializando as rádios livres:
E pode ser uma revolução silenciosa mesmo, que cada um esteja
fazendo dentro do seu sentimento (Beth de Oxum, 2008).
Outro projeto é o lançamento do Tele-centro em parceria com a Serpro:
Primeiro tele centro de Olinda inclusive. Perspectiva social de
inclusão digital com compromisso pedagógico de que o
computador é um instrumento importante de informação e de
comunicação, nessa perspectiva. A gente ta aí com mais de 15
blogs como resultado da primeira oficina (Beth de Oxum, 2008).
Está nos planos também a participação em outros editais do governo. Recentemente,
o projeto Escola de Ensinamento de Mãe Preta tornou-se também Ponto de Cultura. É uma
escola de vivência, reunindo as ialorixás de PE.
Cita-se, entre outras ações a serem implementadas, a formação de um grupo - os
“Amigos da Sambada”, com pessoas de fora da comunidade e a melhor organização da
festa que ocorre nos primeiros sábados do mês. Entre as necessidades para a organização da
festa aponta-se: melhoria do som; melhor distribuição das barracas que vendem bebida e
comida; instalação de banheiros públicos e melhoria na iluminação da rua (que serão
solicitados à prefeitura de Olinda); diversificar as linguagens utilizadas na festa (por
exemplo, exposição de adereços, artesanato, fotos, murais; apresentação de teatro e cinema
de animação); pensar em novas formas de divulgação da festa, tendo em vista que todos
haveria uma atividade cultural diferente. A iia também abrange a articulação com outros
pontos, por exemplo, cinema (com Lula Gonzaga, coordenador do Cinema de Animação),
teatro de mamulengos (com Lúcia dos Prazeres) ou artesanatos (com o grupo do Pró-
criança).
No Negras Raízes, o Centro faz um planejamento geral a cada cinco anos. As
reuniões acontecem no final de cada ano, para discutir e planejar o inqüênio 2009-2013.
O centro trabalha em três eixos (cultura, educação e comunicação), na reunião do início de
dezembro de 2008, foram apresentados pelas equipes do Centro projetos nestes eixos para a
sustentabilidade do Ponto. O Negras Raízes acredita que tem um grande serviço a prestar
para a sociedade:
s sabemos tocar,s sabemos dançar, nós sabemos dar aula, nós
sabemos escrever, mas como a gente transforma isso num produto
social? Como eu pego este elemento que a gente vem construindo e
transforma num produto do mercado? (Lúcia dos Prazeres, 2008)
92
As grandes questões que orientam as discussões sobre o futuro do Ponto são: como
gerar renda através do conhecimento que eles possuem, como ampliar este trabalho que
realizam na comunidade para umblico maior e como gerar a independência financeira do
Maria da Conceição. E isso a gente ainda não sabe!” revela a coordenadora do Ponto. Uma
das idéias é estudar o banco de projetos que possuem e foram elaborados durante todos os
anos de existência do Negras Raízes, para ver quais ações podem desenvolver para
assegurar a independência financeira. O interesse dos participantes, além de divulgar a
cultura e tradição negra, é providenciar sustento para os que trabalham no Centro e trazer
oportunidades para os jovens da comunidade.
Entende-se que pensar em sustentabilidade, em qualquer de suas dimensões, exige
planejamento, pois requer refletir sobre o futuro, sobre as ações a serem desenvolvidas e as
estratégias a serem implementadas. O PCV também não interfere neste aspecto, deixando
os Pontos tomarem suas próprias decisões.
93
7 Sustentabilidade: interdependência das
dimensões
A análise de cada uma das dimensões da sustentabilidade dos Pontos de Cultura fez
perceber que há na verdade uma inter-ligação entre cada um dos seus parâmetros.
A imbricação entre as dimensões é percebida, por exemplo, quando tratamos da
dimensão econômica, no tocante à ‘diversificação das fontes de apoio’, pois não como
dissociar da dimensão política, quanto ao parâmetro da legitimidade. O reconhecimento do
público e a confiança nas ações que desenvolvem facilitam a proximidade da sociedade
junto ao Ponto, possibilitando parcerias e trocas entre as organizações culturais e outras
entidades. Perceptível, por exemplo, no Centro Cultural Maria da Conceição que recebe
recursos financeiros de uma organização européia porque entende como relevante o papel
do centro na comunidade onde está inserido.
Acrescenta-se ainda nesta ligação, a relevância da dimensão social, pois a
divulgação da missão e/ou projetos dos Pontos fortalece a sua legitimidade, tendo em vista
que a divulgação das ações desenvolvidas permite que a comunidade reconheça o
importante papel assumido por estas organizações, seja por dar continuidade à cultura
popular, muitas vezes preterida da potica blica, bem como por seu trabalho junto às
crianças e jovens, que é um dos fundamentos de todos os projetos aprovados pelo Programa
Cultura Viva. A relação contrária também ocorre, pois é necessário acreditar na
legitimidade da missão dos Pontos para buscar outros atores que dêem continuidade ao
projeto.
Ainda quanto à associação das dimensões política e econômica, nota-se que uma
suporte à outra, na medida em que para participar com autonomia e questionar as poticas
públicas, os Pontos de Cultura devem ser independentes, principalmente no aspecto
financeiro, em relação ao governo. O propósito do PCV com o repasse das verbas,
apresentado em seu discurso, é fomentar as atividades antes realizadas pelas
organizações culturais, possibilitando até mesmo a geração de fontes alternativas de
recursos, bem como gerar renda para os envolvidos no processo. Entende-se que somente
94
assim, sem dependência financeira, é possível uma efetiva participação dos agentes na
discussão política do país.
Por outro lado, percebe-se que o aumento do número de parceiros, doadores,
financiadores, indica o fortalecimento da base social e conseqüentemente ampliam sua
legitimidade diante da sociedade.
Outra associação pode ser percebida quando da análise da dimensão potica com a
dimensão social. No que diz respeito ao parâmetro ‘formão de redes entre Pontos’,
observa-se que uma vez atendendo a dimensão potica possibilitando a aproximação
entre os Pontos e efetivamente as trocas entre os mesmos viabilizaria a dimensão social,
pois é uma forma de promover a troca de conhecimentos e experiências, inicialmente entre
Pontos, mas que posteriormente poderia estender-se:
[...] E um novo tipo de troca se estabelece, tanto em redes locais a
partir do Ponto, como globais por afinidade temática, territorial
(rede estudantil, da terra, de percussão, de dança, literária). Por
estados e regiões, como a bacia hidrográfica do o Francisco, o
Recôncavo Baiano e todas as outras múltiplas possibilidades a
serem inventadas quando as pessoas se unem (BRASIL, 2004,
p.37).
Por tudo isto, embora tenha optado nesta pesquisa por trabalhar com a
sustentabilidade por quatro dimensões, reconhece-se a sua interdependência. E tratando-se
das contribuições do PCV, identifica-se que as ações do programa não trazem resultados
isolados, mas refletem nas diversas dimensões da sustentabilidade dos Pontos.
95
8 Conclusão
“A sustentabilidade é um processo, não um estado que se atinge e
se mantém” (PEZULLO, p. 161).
O Programa Cultura Viva apresenta-se como uma potica inovadora em diversos
aspectos: gestão transformadora e compartilhada entre governo e Pontos de Cultura,
disponibilização de canais para a participação dos grupos culturais nos debates poticos,
foco nas manifestações de cultura popular (historicamente preteridas da pauta das poticas
públicas do Estado) e a promoção de ações que visam à sustentabilidade.
A pesquisa teve como objetivo analisar, de fato, quais foram as contribuições do
Programa Cultura Viva para a sustentabilidade das organizações culturais a partir da ação
Ponto de Cultura. Para isso, primeiro, fez-se um estudo da sustentabilidade para
desmistificar” o seu conceito. O tema quando trabalhado no âmbito organizacional, em
geral, reduz-se ao aspecto financeiro; porém, nesta pesquisa, considerou-se o caráter
multidimensional da sustentabilidade e foram estudadas as dimensões potica, técnico-
gerencial, social e econômica. A sustentabilidade, portanto, é compreendida como a
capacidade que as organizações m de manter seu funcionamento, cumprindo com os seus
objetivos, sem prejudicar sua autonomia e identidade.
Entretanto, nem sempre o que está no discurso, ocorre na prática. As entrevistas aos
Pontos de Cultura Coco de Umbigada, Negras Raízes e Quartas Literárias foram
fundamentais para identificar quais as contribuições do Programa. Embora os Pontos de
Cultura reconheçam os avanços advindos do Programa, tem sérias críticas à forma como foi
implementado. Se por um lado, os Pontos de Cultura apontam vantagens por participarem
do PCV (entre elas, cita-se a importância dos recursos financeiros para o desenvolvimento
de suas ações, maior participação em fóruns e debates, bem como maior proximidade com
o governo federal), por outro lado, listam uma série de reivindicações que devem ser
discutidas.
O trabalho de análise dos dados mostrou que há níveis diferenciados do impacto do
PCV nas dimensões da sustentabilidade, bem como não foram percebidas contribuições do
programa em todas as organizações entrevistadas.
96
Quanto à dimensão social, a sustentabilidade ocorre quando a organização repassa
seus conhecimentos e experiências a outros atores, o Programa Cultura Viva contribuiu
neste aspecto a partir do aparelhamento dos Pontos com kits multimídia para a produção de
vídeos e fotos das suas atividades culturais: os vídeos registram as atividades desenvolvidas
nos Pontos e as histórias das pessoas da comunidade, importante material para divulgação
do projeto. A pretensão é fazer com que novos atores se envolvam com o projeto e seja
reconhecido também fora da região que está inserido.
No tocante a dimensão econômica, é percebida a sustentabilidade quando a
organização apresenta capacidade de geração/captação de recursos. No que diz respeito a
este elemento, cita-se novamente a aquisição dos kits multimídia que gerou uma atividade
secundária, considerada uma fonte alternativa de renda: a produção de deos e fotos em
eventos da comunidade. Bem como, a proximidade com o governo, a partir do convênio,
possibilitou maior reconhecimento das organizações culturais: ser Ponto de Cultura é um
certificado para aquela organização cultural, e isso gerou novas parcerias para a realização
das oficinas desenvolvidas pelos Pontos.
Quanto ao aspecto técnico-gerencial, assegura-se a sustentabilidade quando se
apresenta uma organização do trabalho eficiente e quadro de recursos humanos adequados.
Quanto ao primeiro elemento, no que diz respeito à gestão dos Pontos, não houve
interferência direta do PCV, as organizações estão livres para desenvolverem suas
atividades da forma que melhor atenda as necessidades de cada Ponto, mesmo porque as
organizações culturais desenvolvem suas ações independente de serem Pontos, e por isso
devem ter sua dinâmica respeitada.
Em relação ao aspecto quadro de recursos humanos, destacam-se as críticas ao
Programa feitas pelos Pontos entrevistados. Os Pontos entendem que o número de
funcionários que atendiam os Pontos, em Brasília e nas regionais, era insuficiente, o que
gerou desgastes entre os Pontos e o governo, principalmente na fase de elaboração e
entrega dos projetos e prestação de contas. Quanto ao elemento qualificação técnica,
novamente insatisfação: foram poucas as iniciativas para a capacitação dos integrantes dos
Pontos.
Concorda-se com Menezes (2008) que entre os pressupostos que devem ser
consolidados para a ocorrência da sustentabilidade está a qualificação técnica, pois somente
com quadro de recursos humanos adequado, as organizações estarão preparadas para
atender às demandas do ambiente que estão inseridas.
97
Registra-se que este ano foi ofertado pelo Comuna
21
o Programa de Formação em
Gestão Cultural, curso de formação específica em gestão cultural que contempla atividades
presenciais e educação à distância. Pretende-se com esse programa reduzir a lacuna da
capacitação dos gestores culturais, fundamentada na construção do saber:
Todo o curso será desenvolvido em linguagem simples e
consistente, de forma a atingir agentes culturais de diferentes níveis
de formação escolar. Trabalharemos no intuito de buscar uma
formação voltada para o auto-aprendizado, para a flexibilização de
raciocínio, contribuindo para a construção de espaços de cultura
política e para a democratização do saber (Programa de Formação
em Gestão Cultural, 2009, p. 5).
No aspecto político, os avanços foram mais significativos. A contribuição do PCV à
sustentabilidade dos Pontos pôde ser observada em ambos os elementos da dimensão:
quanto à legitimidade e nível de articulação em rede.
O Programa permitiu uma maior proximidade dos Pontos com a comunidade,
principalmente no Ponto Coco de Umbigada que historicamente era visto de forma
negativa. Reconhece-se que o preconceito com o terreiro ainda existe, mas avanços foram
percebidos. Outro aspecto é a participação dos Pontos em fóruns, debates e eventos do
governo. Os Pontos são chamados para debater e construir as poticas públicas culturais do
país, o que não era observado anos atrás.
Quanto ao nível de articulação em rede, este elemento é fundamento do PCV, os
Pontos de Cultura na verdade levam esse nome, pois são parte da ilustração da rede de
Pontos:
O Cultura Viva é uma rede horizontal de articulação, recepção e
disseminação de iniciativas culturais inovadoras e o Ponto de
Cultura é a ponta desta rede, um organizador da cultura em nível
local, um centro de referência para novas conexões em rede
(BRASIL, 2004, p. 20).
Dos Pontos entrevistados, somente o Quartas Literárias não apresenta ações para a
formação da rede. Justifica-se, pois o projeto na verdade é mais uma das atividades
desenvolvidas pelo Centro Cultural Luiz Freire, e este já consti uma rede de ligações com
os mais diversos atores do cenário cultural, até mesmo mais ampla que a rede proposta pelo
Cultura Viva.
21
O Comuna – Comunidade Santo Antônio – é uma sociedade civil sem fins lucrativos que em 2008 tornou-
se Pontão de Cultura para a realização do Programa de Formação em Gestão Cultural dos Pontos de Cultura.
98
A formação da rede é fundamental para a sustentabilidade da dimensão potica dos
Pontos, pois reunidos há maior possibilidade de atuação política no cenário nacional.
Por fim, conclui-se que a sustentabilidade, por ser um processo e o uma meta a
ser alcançada, deve ser continuamente estimulada em cada uma das suas dimensões. O
coordenador do Programa Cultura Viva, lio Turino, quando questionado se era possível
perceber a sustentabilidade dos Pontos de Cultura a partir do Programa Cultura Viva,
respondeu positivamente:
Acho que sim. Principalmente a sustentabilidade da ação. Não a
econômica propriamente dita, porque ainda é preciso muito mais
tempo. Mas a dos pontos se empoderarem, se perceberem enquanto
promotores de cultura e serem reconhecidos. Pernambuco é um
bom exemplo. Acabamos de ter o encontro em Garanhuns (Casa
PE, dos pontos de Cultura, durante o Festival de Inverno), em que
o protagonismo foi essencialmente dos pontos de cultura, inclusive
da proposição da rede dos pontos de cultura do Mercosul, além da
construção de uma rede audiovisual dos pontos. Recentemente,
Beth de Oxum (do Coco de Umbigada, Olinda), esteve em Cuba
fazendo um filme (Pernancubanos, da TV Viva) e tudo isso é em
decorrência do ponto de cultura. Essa é uma verdade que
evidentemente vem sendo construída. É um processo muito longo,
que ainda exige muito tempo para plantar e que a gente já começa a
ver ganhos bem efetivos (Célio Turino, 2008
22
)
De fato é evidente a maior participação dos grupos populares nos debates poticos,
principal contribuição do PCV, entretanto ainda um longo caminho a percorrer. É uma
política que está em permanente construção e o envolvimento e a participação mais efetiva
dos Pontos é fundamental para sua evolução. Transcorridos 4 (quatro) anos do programa, é
o momento de fazer um balanço das ações desenvolvidas até aqui, uma reflexão com a
participação de todos os atores que constituem o PCV, para, a partir de um diagnóstico do
programa, sejam providenciados ajustes e melhorias.
22
Entrevista concedida à Rede Enraizados, dispovel em http://www.rede.enraizados.com.br/?p=204, acesso
em 02.05.2009.
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105
Apêndice A - Roteiro de Entrevistas
ROTEIRO DE ENTREVISTA
I) PONTO DE CULTURA: _______________________________________________________
- SEDE DO PONTO DE CULTURA: _______________________________________________
II) ENTREVISTADO: ___________________________________________________________
III) PCV
- Qual foi a motivação para submeter o projeto ao PCV? (o quê esperavam?)
- Quem construiu o projeto enviado ao edital de seleção do PCV?
- Em que o PCV contribuiu para as Quartas Literias?
- Na sua opinião, quais os acertos e problemas do PCV?
IV) SUSTENTABILIDADE (análise geral) (FRISAR QUE A ANÁLISE RELACIONA-SE AO
PCV)
- Tem-se falado muito nas reuniões/oficinas sobre sustentabilidade dos Pontos de Cultura: O QUE É
PARA VC SUSTENTABILIDADE?
- Como vc avalia a sustentabilidade deste Ponto?
- Vc pode apontar ações do PCV que diretamente favorecem a sustentabilidade dos Pontos?
V) DIMENSÕES
- ATIVIDADES
- Ano de início das atividades:
- Como surgiu a idéia?
- Ano da seleção como Ponto de Cultura:
- Quais as atividades que vcs desenvolvem?
- Como vc avalia essas atividades? (Há planos para ampliar e melho-las)?
- Qual o perfil do público que freqüenta o Pt.?
- Vem muitas pessoas? (É bastante freqüentado?)
- Como acontece a publicidade dos eventos realizados no Pt.? Vc percebeu se houve maior interesse
com o decorrer dos anos? Se sim, a quê atribui isso?
106
- Vc notou diferença quanto a visibilidade da organização depois de tornar-se Pt.? (sociedade,
mídia, poder público)?
- Como o público e quem se apresenta nos eventos (artistas) o Pt.? Qual a importância que eles
dão aos eventos?
- INTEGRANTES:
- Quem e quantos são os responveis pelo desenvolvimento destas atividades?
- Têm voluntários?
- Na sua opinião porquê as pessoas trabalham no Pt? (O quê motiva os integrantes a participarem do
Ponto ou deste tipo de trabalho)por ordem de importância:
- é o trabalho - gostam de trabalhar com cultura - por serem artistas
- Vc que as pessoas estão engajadas com o projeto? Quais ões o realizadas no intuito de
engajar os integrantes? (ex. filmes, reuniões, palestras)
- Há quanto tempo estas pessoas trabalham com Cultura? Estão desde o início?
- Houve mudança nos quadros após a inserção no PCV?
- O que é necessário para trabalhar com este tipo de atividade? Na sua opinião o pessoal do Pt. está
preparado para desempenhar as atividades?
- Que ações o realizadas no intuito de capaci-los? Vc necessidade de capacitação dessas
pessoas?
- GESTÃO
- Como é o dia-a-dia do Ponto?
- Como são definidos os eventos?
- Há planejamento das atividades nos Pontos de Cultura? Há reuniões?
- Como ocorre o acompanhamento e avaliação das atividades realizadas pelo Ponto de Cultura?
- Quem toma as decisões? (Em conjunto? Quais instâncias participam?)
- O processo de decisão é tranqüilo? (É lento? As pessoas estão preparadas para tomar decisões?)
- Quanto à comunicação (interna/externa), quais os instrumentos utilizados (formais ou informais)?
DIMENSÃO POLÍTICA
- Vcs costumam participar de fóruns, conselhos etc.? Poderia ter uma maior participação nestes
eventos?
- Vc é quem geralmente participa desses fóruns? (Já tinha alguma experiência com esse processo
de participação?)
- Vc percebeu que, com o PCV, as organizações culturais estão mais participativas? Realmente
houve mudanças em relação à participação nas políticas públicas?
107
- Vc acredita que há realmente a possibilidade de mudar algo de concreto (editais, legislações,
programas governamentais)? (Vc pode apontar algo de concreto que vcs modificaram nos editais,
nas políticas públicas com a participação de vcs?)
- BENEFICIÁRIOS:
- Há atividades comoformação de jovens” (descrito nos objetivos do projeto)?
- Como acontecem?
- Vc recebe algum tipo de avaliação (feedback) dos beneficiários das suas ações?
- A comunidade é próxima ao Pt.? Como eles vêem vcs?
- Quais os impactos das atividades do Pt. na comunidade? (produzem algum tipo de mudança?)
- Eles participam da organização das atividades? Já mudaram alguma coisa nas atividades?
- ARTICULAÇÃO
- Entre os objetivos do projeto estava a articulação e mobilização de artistas e grupos culturais -
como está esta articulação? Vc percebeu se houve mudaas nessa relação após serem Pt. de
Cultura?
- PARCERIAS/AUTONOMIA
- Qual a relação com os outros Pontos de Cultura? Há troca de recursos?planos para a promoção
das trocas de recursos? Vc acha que os Pontos estão articulados (idéia de Rede)? O que falta para a
Rede acontecer/ampliar?
- Como é a articulação do Ponto com empresários, ONGs, secretarias, autoridades (locais, estaduais,
federais)? Em que medida eles participam ou influeciam na política e na dinâmica organizacional?
- Vc entende que o seu Ponto de cultura tem autonomia?
- Quais fatores vc considera que podem pôr em risco a autonomia da organização?
- DIMENSÃO FINANCEIRA
- INFRA-ESTRUTURA
- A estrutura onde o Pt. está é apropriada para desenvolver suas atividades?
- Entre os objetivos do projeto estava a reforma da infra-estrutura do espaço: houve significativas
mudanças com o PCV?
MÓVEIS: instalações, mobília, equipamentos.
IMÓVEIS: sede, quadras, salas, anexos.
108
- INSTITUCIONAL
- Quem é responsável pela documentação do Pt.:
- Quanto à documentação conbil/fiscal (NF, recibos, extratos, planilhas/ impostos,
contribuições, taxas)
- Quanto à documentação administrativa (Cartas, ocios, atas etc.)
- Quanto à documentação de projetos (estudos, propostas, contratos, relatórios)
- Quanto ao material de escritório, limpeza e conservação
- Há dificuldade quanto a organização do papelório exigido pelo MinC?
- Quem é o responsável pelas atividades prestação de contas (geral e MINC)?
- FONTE DE RECURSOS
- Como se mantém o Ponto?
( ) Produtos/serviços comercializados pelo Ponto
( ) Subsídios governamentais (nível institucional)
( ) Subsídios não governamentais (nível institucional)
( ) Doações monetárias (nível individual)
( ) Trabalho voluntário
( ) Doações não monerias
- Vc notou se, após tornarem-se Pt., houve alguma mudança: apareceram novos apoios para o
projeto (empresas, doações, políticos)?
- As receitas cobrem as despesas? (Qual o déficit?)
(Solicitar que analise a capacidade de geração/captação de recursos em relação às necessidades
(mensal/anual) de recursos do Ponto)
VI) FINALIZAÇÃO
- Vc vê que os objetivos do projeto estão realmente sendo colocados na prática? (atividades
realizadas X alcance dos objetivos)
- Tem planos para ampliar o projeto em outros locais? O quê é feito para isso?
– Quais suas expectativas em relação ao PCV daqui para frente? Quais as possibilidades de
melhorias ou quais os erros a se repetirem?
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