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[...] os indivíduos que utilizam a linguagem o fazem sempre por iniciativa
pessoal, mas sua ação verbal só tem os efeitos que tem pela existência de
um sistema que o usuário compartilha com os outros membros da
comunidade lingüística de que faz parte. À luz dessa analogia, não admira
que Saussure tenha qualificado a língua como um fenômeno social, e que
tenha caracterizado a lingüística como um ramo da psicologia social (I
LARI
,
2005: 58-59).
Ricoeur (2000) é mais objetivo quanto à relação histórico-social da linguagem,
enquanto Barthes (1979) retoma a linguagem como instituição social, mas não
apresenta uma distinção explícita entre língua e linguagem. Foucault (1967),
diferentemente, acrescenta que “[...] a linguagem não será mais do que um caso
particular da representação (para os clássicos) ou da significação (para nós)”
(F
OUCAULT
, 1967: 67).
Verificamos que Ricoeur (2000) e Barthes (1979) não rompem com o estruturalismo
saussuriano em termos de definição de língua, antes retomam o posicionamento do
Curso e depois o modificam; de outro modo, Foucault (1967) distingui-se ressaltando
o aspecto mais semântico-referencial da língua, enquanto significação nas palavras:
Na sua raiz primeira, a linguagem é feita, como diz Hobbes, de um sistema
de notas que os indivíduos escolheram, antes de mais nada, para si
próprios: graças a essas marcas podem eles recordar as representações,
ligá-las, dissociá-las e operar sobre elas. São essa s notas que uma
convenção ou uma violência impuseram à coletividade; mas, de toda a
maneira, o sentido das palavras só pertence à representação de cada um,
e, conquanto seja aceita por todos, não tem outra existência senão no
pensamento dos indivíduos tomados um a um: «É das idéias daquele que
fala», diz Locke, «que as palavras são os signos, e ninguém as pode
aplicar, imediatamente como signos, a outra coisa senão às idéias que ele
próprio tem no espírito» (F
OUCAULT
, 1967: 115).
A teoria cognitivista defendida por Lakoff e Johnson, por sua vez, demonstra certa
ruptura no conceito de linguagem, apresentando-a como uma capacidade humana
de representação do mundo para si e para os outros, como evidência do sistema
conceptual humano, Dessa forma, a língua ultrapassa a imanência do código
definindo-se, assim, como sendo extra-código, inserida nesse sistema conceptual.
Nas palavras dos autores,
Na maioria dos pequenos atos da nossa vida cotidiana, pensamos e agimos
mais ou menos automaticamente, seguindo certas linhas de conduta, que
não se deixam apreender facilmente. Um dos meios de descobri-las é
considerar a linguagem. Já que a comunicação é baseada no mesmo
sistema conceptual que usamos para pensar e agir, a linguagem é uma