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Universidade Federal de Pernambuco
Centro de Ciências Sociais Aplicadas
Departamento de Ciências Administrativas
Programa de Pós-Graduação em Administração - PROPAD
Monique Mallon
A Influência do Contexto Institucional no Processo
de Reinstitucionalização da Festa do Divino Espírito
Santo no centro de Florianópolis.
Recife, 2006
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2
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
CLASSIFICAÇÃO DE ACESSO A TESES E DISSERTAÇÕES
Considerando a natureza das informações e compromissos assumidos com suas fontes, o
acesso a monografias do Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade
Federal de Pernambuco é definido em três graus:
- "Grau 1": livre (sem prejuízo das referências ordinárias em citações diretas e indiretas);
- "Grau 2": com vedação a cópias, no todo ou em parte, sendo, em conseqüência, restrita à
consulta em ambientes de biblioteca com saída controlada;
- "Grau 3": apenas com autorização expressa do autor, por escrito, devendo, por isso, o texto,
ser confiado a bibliotecas que assegurem a restrição, ser mantido em local sob chave ou
custódia.
A classificação desta dissertação se encontra, abaixo, definida por seu autor.
Solicita-se aos depositários e usuários sua fiel observância, a fim de que se preservem as
condições éticas e operacionais da pesquisa científica na área da administração.
_________________________________________________________________________
tulo da Dissertação: A influência do Contexto Institucional no Processo de
Reinstitucionalização da Festa do Divino Espírito Santo no Centro de Florianópolis.
Nome do Autor: Monique Mallon
Data da aprovação: 31 de março de 2006.
Classificação, conforme especificação acima:
Grau 1
Grau 2
Grau 3
Recife, 31 de março de 2006:
___________________________
Assinatura do autor
x
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3
Monique Mallon
A Influência do Contexto Institucional no Processo
de Reinstitucionalização da Festa do Divino Espírito
Santo no Centro de Florianópolis.
Orientadora: Dra. Cristina Amélia Pereira de Carvalho.
Dissertação apresentada como requisito
complementar para obtenção do grau de
Mestre em Administração, área de
concentração em Organizações e
Trabalho, do Programa de Pós-Graduação
em Administração PROPAD, da
Universidade Federal de Pernambuco.
Recife, 2006
4
Mallon, Monique
A influência do contexto institucional no processo
de reinstitucionalização da Festa do Divino Espírito
Santo no Centro de Florianópolis / Monique Mallon.
Recife : O Autor, 2006.
134 folhas : fig., gráf. e quadro.
Dissertação (mestrado) Universidade Federal de
Pernambuco. CCSA. Administração, 2006.
Inclui bibliografia e apêndice.
1. Institucionalização organizacional. 2. Mudança
organizacional. 3. Desenvolvimento institucional. 4.
Festa do Divino Espírito Santo. l. Título.
658 CDU (1997) UFPE
658.4 CDD (22.ed.) CSA2007-035
5
Universidade Federal de Pernambuco
Centro de Ciências Sociais Aplicadas
Departamento de Ciências Administrativas
Programa de Pós-Graduação em Administração - PROPAD
A Influência do Contexto Institucional no Processo de
Reinstitucionalização da Festa do Divino Espírito Santo no
centro de Florianópolis.
Monique Mallon
Dissertação submetida ao corpo docente do Programa de Pós-Graduação em
Administração da Universidade Federal de Pernambuco e aprovada em 31 de março de
2006.
Banca Examinadora:
6
Aos meus pais, meus avós e meu irmão.
Essa conquista é nossa!
7
Se não sais de ti, não chegas a saber quem és.”
(José Saramago)
8
Resumo
Considerando que o processo de aculturação pode evidenciar as transformações sociais e que
as festas populares religiosas representam formas da cultura popular, buscou-se com este
analisar de que forma o contexto institucional influenciou o processo de reinstitucionalização
da Festa do Divino Espírito Santo no centro de Florianópolis. Para tanto, foi utilizado como
marco teórico, a teoria institucional, enfocando especificamente eixos referentes ao contexto
institucional, ao processo de institucionalização e a mudança institucional
(desinstitucionalização e reinstitucionalização). O procedimento metodológico está
fundamentado num estudo de caso, de abordagem qualitativa, por meio da coleta de dados
primários e secundários. O trabalho concluiu que a alteração de normas e valores do contexto
institucional influenciou o processo de desinstitucionalização da festa na década de 80, devido
à entropia social estruturada em torno de um forte conservadorismo por parte dos membros da
principal organização que coordenava a festa. Contudo, constatou-se que a partir de 1996, as
normas e valores do contexto institucional caracterizados pela profissionalização da gestão de
organizações sociais, a preservação das tradições açorianas e dos rituais religiosos e a
valorização do desenvolvimento da responsabilidade social empresarial, influenciaram as
práticas organizacionais adotadas, conduzindo ao desenvolvimento de um processo de
reinstitucionalização da festa.
Palavras-chave: Processo de reinstitucionalização. Mudança organizacional. Contexto
institucional. Festa do Divino Espírito Santo.
9
Abstract
Considering that the cultural changes process can show the socials transformations and that
the religious popular celebrations represent forms of popular culture, is searched with this
analyse how the institutional context influences the process of reinstitutionalization of the
Holy Spirit Celebration in Florianópolis downtown. As source, was used as theoretical
landmark, the institutional theory, approaching specifically topics regarding to the
institutional context, to the process of institutionalization and institutional changes
(deinstitutionalization and reinstitutionalization). The methodological process is based on a
case study, of qualitative approach, by means of primary and secondary data collection. The
research concludes that norms and values changes in the institutional context influenced the
process of deinstitutionalization of the 1980 years celebrations, due to social entropy
structured around a strong conservatism by members of the main organization that
coordinated the celebration. However, was noticed that from 1996 the institutional context’s
norms and values characterized for the management professionalization of the social
organizations, preservation of tradition and religious rituals and valorization of company’s
social responsibility development, influenced the organizational practices adopted, conducting
to development of a process of celebration’s reinstitutionalization.
Keywords: Reinstitutionalization process. Organizational change. Institutional context. Holy
Spirit Celebration.
10
Lista de Abreviaturas e Siglas
BESC – Banco do Estado de Santa Catarina.
CASAN – Companhia Catarinense de Águas e Saneamento.
CCJ – Colégio do Sagrado Coração de Jesus.
CELESC – Centrais Elétricas de Santa Catarina.
CIC – Centro Integrado de Cultura.
CODESC – Companhia de Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina.
COMCAP – Companhia de Melhoramento da Capital.
DETRAN/SC – Departamento Estadual de Trânsito de Santa Catarina.
FLORAM – Fundação Municipal do Meio Ambiente de Florianópolis.
IDES – Irmandade do Divino Espírito Santo.
IPUF – Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis.
NEA – Núcleo de Estudos Açorianos.
PMSC – Polícia Militar de Santa Catarina.
11
Lista de Figuras
Figura 1 (2) – Processos inerentes à institucionalização........................................................ 36
Figura 2 (2) – Estados sociais e formas de objetivação ......................................................... 39
Figura 3 (2): Curva de institucionalização ............................................................................ 41
Figura 4 (2): Modelo para compreensão da mudança organizacional .................................... 46
Figura 5 (2) – Pressões para desinstitucionalização. ............................................................. 49
Figura 6 (4) - Curva do contexto inicial de institucionalização (1806 – 1983) da Festa do
Divino Espírito Santo do centro de Florianópolis.......................................................... 74
Figura 7 (4): Processo de reinstitucionalização da festa entre 1996 e 2005. .......................... 82
Figura 8 (4): Relação do contexto institucional com as práticas das organizações............... 108
12
Lista de Quadros
Quadro 1 (2) – Variação de ênfase: os três pilares institucionais........................................... 26
Quadro 2 (2) – Ambiente institucional e ambiente técnico.................................................... 28
Quadro 3 (2) – Estágios de institucionalização e dimensões comparativas............................ 38
Quadro 4 (2) - Relação do compromisso da ação com a dinâmica institucional .................... 45
Quadro 5 (2)– Fatores empíricos da mudança institucional................................................... 52
Quadro 6 (4): Subcomissões de apoio ao longo dos anos de realização da festa.................. 110
Quadro 7 (4): Relação do contexto institucional com as ações organizacionais da IDES..... 115
Quadro 8 (4): Relação do contexto institucional com as ações organizacionais do EMAÚS 116
Quadro 9 (4): Relação do contexto institucional com as ações organizacionais do Poder
Público....................................................................................................................... 117
Quadro 10 (4): Relação do contexto institucional com as ações organizacionais das empresas
privadas...................................................................................................................... 118
Quadro 11 (4) : Relação do contexto institucional com as ações organizacionais do Colégio
Coração de Jesus ........................................................................................................ 119
13
Lista de Gráficos
Gráfico 1 (4): Antecedência das reuniões gerais da data de realização da festa. .................. 104
Gráfico 2 (4): Evolução do rendimento da festa ao longo dos anos..................................... 105
Gráfico 3 (4): Evolução do número de barracas terceirizadas ao longo dos anos................. 112
14
Sumário
1 Problemática do estudo.......................................................................................................14
1.1 Objetivos do estudo............................................................................................................17
1.1.1 Objetivo geral..................................................................................................................17
1.1.2 Objetivos específicos.......................................................................................................17
1.2 Relevância teórica e prática................................................................................................18
2 Fundamentação teórica.......................................................................................................21
2.1 A perspectiva institucional..................................................................................................21
2.2 As instituições e o processo de institucionalização............................................................31
2.3 Mudança institucional.........................................................................................................40
3 Procedimentos metodológicos.............................................................................................52
3.1 Perguntas norteadoras da pesquisa.....................................................................................53
3.2 Definição dos termos..........................................................................................................53
3.3 Delineamento do estudo......................................................................................................55
3.4 Etapas do processo de coleta de dados...............................................................................57
3.5 Procedimentos utilizados na análise dos dados..................................................................58
3.6 Limitações da pesquisa.......................................................................................................60
4 Descrição e análise dos dados.............................................................................................62
4.1 Descrição da formação histórica da Festa do Divino Espírito Santo..................................63
4.1.1 A Festa do Divino Espírito Santo no litoral catarinense..................................................67
4.2 Processo de institucionalização da Festa do Divino no centro de Florianópolis................69
4.2.1 Contexto inicial de institucionalização (1806 – 1983)....................................................70
4.2.2 Processo de desinstitucionalização..................................................................................73
4.3 O atual contexto institucional da festa................................................................................76
4.4 Contexto atual de reinstitucionalização (1996 – 2005)......................................................80
4.4.1 Estágio pré-institucional (1996 e 1997)...........................................................................82
4.4.2 Estágio semi-institucional (1998 a 2000)........................................................................88
4.4.3 Estágio de total institucionalização (2001 a 2005)..........................................................95
4.5 Relação do contexto institucional com o processo de reinstitucionalização da festa.......106
5 Considerações finais e indicações complementares.........................................................120
5.1 Processos de institucionalização e desinstitucionalização da festa....................................120
5.2 Contexto institucional e processo de reinstitucionalização da festa..................................123
5.3 Indicações complementares para estudos posteriores na área...........................................126
Referências..............................................................................................................................128
APÊNDICE A – Listagem de entrevistados............................................................................133
15
1 Problemática do estudo
A cultura faz parte de uma dimensão social, oriunda e vinculada a contextos
geográficos, históricos e sociais. Para Warnier (2003) a cultura serve como instrumento de
transmissão da tradição, compreendendo os conhecimentos, as crenças, as artes, as leis, os
costumes e os hábitos adquiridos na vida social, influenciando as convenções e a moral
estabelecida.
De acordo com Santos (1983, p. 8), “as culturas humanas são dinâmicas”, e, existindo
uma relação direta entre cultura e sociedade, alguns autores (WARNIER, 2003, SANTOS,
1983, ARANTES, 1981, CANCLINI, 2003) assumem que ao estudá-las, pode-se caminhar
rumo à compreensão das transformações que ocorrem na sociedade contemporânea.
Ao analisar a cultura popular brasileira, percebe-se que esta é extremamente rica e
diversificada, assumindo variadas formas de expressão do sul ao norte do país. Tal fato pode
ser observado por meio do artesanato, da culinária, das músicas, da literatura popular, das
danças, das festas religiosas, do carnaval, dos folguedos, entre outros modos (PEREIRA,
2003).
Para DaMatta (1992) as sociedades constroem suas festas populares de muitas formas.
Neste sentido, as festas retratam os modos que a sociedade tem de exprimir-se, de atualizar-
se concretamente, deixando ver a sua alma e o seu coração” (DAMATTA, 1992, p. 68).
Ademais, o autor afirma que por meio das festas torna-se possível recriar e resgatar o tempo,
o espaço e as relações sociais.
16
Considera-se, portanto, que a esfera da cultura constitui um relevante campo de
análise para pesquisas e teorizações, e verifica-se que o tema é alvo de inúmeros estudos em
diferentes áreas do conhecimento (sociologia, antropologia, política, economia, e história).
Em Santa Catarina, a miscigenação cultural pode ser percebida por meio da arquitetura
local, da gastronomia e do folclore. Baseados nas tradições, usos e costumes dos
colonizadores europeus (açorianos, alemães, austríacos, italianos, poloneses e tchecos), que se
fixaram por todo o Estado ao longo do século XIX, esses aspectos ainda exercem forte
inflncia na cultura e modo de vida dos catarinenses, contribuindo para a preservação da
cultura popular.
No entanto, além destes aspectos, existem outros elementos pelos quais se preservam
os modos e costumes. Nesse contexto, as festas populares e religiosas (Procissão do Senhor
Jesus dos Passos, a Festa de São Sebastião, a Procissão de Santa Catarina e a Festa do Divino
Espírito Santo) são uma demonstração clara da expressão popular, que visam manifestar
elementos das tradições da cultura catarinense e de seus colonizadores.
A Festa do Divino Espírito Santo surgiu no século XIII, em Portugal, comemorada
cinqüenta dias após a Páscoa, durante as Festividades de Pentecostes. Sua realização ocorreria
para agradecer ao Espírito Santo os dons e graças recebidos durante o ano. Advinda da
tradição secular dos portugueses que a comemoravam, a festa difundiu-se por todo território
brasileiro, onde a colonização portuguesa se fez presente, sendo realizada em diversas
cidades, incorporando características locais e assumindo, portanto, algumas variações.
Em Florianópolis, a Festa do Divino Espírito Santo é muito tradicional, sendo
realizada em diversos bairros. Contudo, considera-se que a manifestação mais expressiva e
estruturada da festa ocorre no centro de Florianópolis, em virtude da sua data de realização
(cinqüenta dias após a Páscoa), seu período de existência e a forte vinculação existente entre
seus organizadores e a Irmandade do Divino Espírito Santo.
17
A festa realizada inicialmente em 1803 foi se desenvolvendo ao longo dos anos,
legitimando-se como tradicional festejo popular-religioso. De acordo com DiMaggio e Powell
(1991) por meio da consolidação das estruturas e ações organizacionais, desenvolve-se o
processo de institucionalização, onde padrões de interação e adaptação são definidos e
legitimados (SCOTT, 1995). Nesse sentido, questiona-se de que forma ocorreu o processo de
institucionalização da Festa do Divino Espírito Santo do centro de Florianópolis?
Para Tolbert e Zucker (1998) o processo de institucionalização desenvolve-se por
meio de etapas bem definidas (estágio pré-institucional, semi-institucional e total
institucionalização) que podem ser sucedidos pela desinstitucionalização de uma prática ou
estrutura organizacional. Segundo Oliver (1992), o processo de desinstitucionalização é
ocasionado por pressões políticas, funcionais ou sociais, oriundos de fatores
intraorganizacionais ou da relação organização-ambiente.
Contudo, Jepperson (1991) considera que após a desinstitucionalização pode ocorrer o
surgimento do processo de reinstitucionalização, a partir da legitimação de novos valores e
hábitos, diferentes da forma anterior.
Observando o desenvolvimento histórico da Festa do Divino no centro de
Florianópolis, constata-se que as comemorações festivas foram extintas em 1983 e retomadas
a partir de 1996. Nesse sentido, questiona-se, de que forma ocorreu o processo de
reinstitucionalização da festa?
Meyer e Rowan (1991) afirmam que ao buscar compreender os modelos estruturais
adotados pelas organizações por meio do processo de institucionalização (ou
reinstitucionalização), faz-se necessário analisar o contexto no qual estas estão presentes.
Entre a diversidade de teorias organizacionais existentes, a perspectiva institucional enfatiza o
ambiente organizacional, considerando tanto aspectos técnicos (como tecnologias utilizadas,
fornecedores e clientes) como aspectos institucionais (relacionados a regras, procedimentos,
18
crenças, valores e normas compartilhados) (OLIVER, 1992). Assim, questiona-se, qual o
atual contexto institucional da festa?
A partir do exposto, considera-se que os questionamentos empíricos apresentados
podem auxiliar na elucidação da pergunta-chave deste estudo, assim definida:
De que forma o contexto institucional influenciou o processo de
reinstitucionalização da Festa do Divino Espírito Santo do centro de Florianópolis?
1.1 Objetivos do estudo
No intuito de responder o problema de pesquisa supracitado, torna-se necessário
definir alguns objetivos para o presente estudo, expostos a seguir.
1.1.1 Objetivo Geral
Analisar de que forma o contexto institucional influenciou o processo de
reinstitucionalização da Festa do Divino Espírito Santo no centro de Florianópolis.
1.1.2 Objetivos Específicos
1. Descrever o contexto histórico das manifestações da Festa do Divino Espírito
Santo;
2. Analisar o processo de institucionalização da Festa;
3. Descrever os fatores de desinstitucionalização da Festa;
4. Identificar o contexto institucional da Festa;
5. Analisar o processo de reinstitucionalização da Festa;
19
6. Relacionar o contexto institucional com o processo de reinstitucionalização da
Festa.
1.2 Relevância Teórica e Prática
Considerando que os estudos na área da Administração tendem a enfocar
primordialmente organizações que atuam no ambiente empresarial em detrimento às
organizações que possuem por sua natureza um caráter substantivo (RAMOS, 1981), busca-se
com este estudo contribuir para o preenchimento desta lacuna, ao utilizar como unidade de
análise uma festa popular-religiosa a Festa do Divino Espírito Santo do centro de
Florianópolis.
A escolha deste festejo deve-se ao fato deste se caracterizar integralmente como um
tipo de manifestação religiosa e popular, fruto das influências históricas advindas do processo
de colonização açoriana em Florianópolis.
Além disto, a festa passou por mudanças organizacionais, devido ao seu processo de
desinstitucionalização. Contudo, por meio da sua reinstitucionalização voltou a ser
comemorada de forma expressiva na cidade, sendo interessante compreender de que forma
ocorreu este processo.
A partir da consideração de alguns autores (WARNIER, 2003; SANTOS, 1983;
ARANTES, 1981; CANCLINI, 2003; DAMATTA, 1992) de que as festas populares podem
representar parte da cultura popular, e que esta, expressa a dinâmica social, devido à clara
relação existente entre cultura e sociedade, assume-se como mais uma justificativa para este
estudo, a relevância em se analisar a Festa do Divino.
Identifica-se que as festas populares e religiosas tendem a receber destaque nos
estudos desenvolvidos por outras áreas do conhecimento, tais como: Antropologia,
20
Sociologia, Ciência Potica e História. Todavia, acredita-se que a Administração também
poderá considerar este campo de forma fértil para análises e teorizações a medida em que
extrair as idiossincrasias que caracterizam a forma de estruturação destas festas. Isto porque,
pressupõe-se que as organizações de caráter substantivo possuem outra lógica de ação,
diferente das organizações privadas, orientadas pela lógica instrumental, baseada na
lucratividade.
Além destes fatores, o corpo teórico deste trabalho é baseado na Teoria Institucional.
Esta perspectiva teórica busca enfatizar o contexto institucional no qual as organizações estão
inseridas, determinando os fatores cognitivo-culturais e recursos simbólicos que influenciam
as fontes de suporte contextual, reconhecimento social, prestígio e legitimação aos quais as
organizações estão submetidas. Sabendo que a festa ficou paralisada durante treze anos (1983
1996), acredita-se que a análise de seu contexto institucional auxilia na compreensão dos
valores, crenças e normas que estão influenciando no seu processo de reinstitucionalização.
Numa perspectiva prática, este estudo visa contribuir para os estudos desenvolvidos
pelo grupo de pesquisa Observatório da Realidade Organizacional, que possui como um dos
seus objetos de análise as organizações substantivas. Isto porque, assume-se que a lógica da
construção do conhecimento científico pressupõe um caráter de continuidade e acumulação,
baseado na ação coletiva. Desta forma, apoiando-se nas recentes pesquisas realizadas pelo
grupo pretende-se seguir adiante na compreensão de fenômenos sociais, culturais e
organizacionais.
Ao buscar compreender as mudanças ocorridas na festa, espera-se também poder
contribuir para as organizações envolvidas em sua realização, especialmente a Irmandade do
Divino Espírito Santo, apresentado para estas organizações um instrumento que lhes
possibilitará analisar criticamente de que forma os valores e crenças, oriundos do contexto
21
institucional, tem influenciado as práticas organizacionais e o desenvolvimento do processo
de reinstitucionalização.
22
2 Fundamentação teórica
O presente capítulo apresenta, nas sub-seções a seguir, os conceitos da Teoria
Institucional que deram suporte a esta pesquisa. Neste sentido, descrevem-se os pressupostos
centrais desta teoria e são abordados os conceitos de instituições, do processo de
institucionalização e de mudança institucional, na perspectiva de diversos autores.
2.1 A perspectiva institucional
A área dos estudos organizacionais vem se modificando ao longo dos tempos,
alterando conseqüentemente o enfoque dado à questão do ambiente e da dinâmica
organizacional.
Os estudos desenvolvidos até à década de 50 focavam apenas o ambiente técnico das
organizações. Desta forma, as teorizações desenvolvidas centravam-se em abordagens
estruturais e comportamentais. Ademais, o ambiente no qual as organizações encontravam-se
inseridas o era foco de análise. Estas eram interpretadas operando em um sistema fechado,
sem considerar as suas relações de interdependência com o ambiente. (CARVALHO;
VIEIRA, 2003).
Contudo, a partir da década de 60 surgiram novas correntes de investigação que
evidenciaram a existência de relações interorganizacionais e a existência de uma dinâmica
entre organização e ambiente. Para Friedberg (1993) a inserção nos estudos organizacionais
de reflexões acerca da influência do ambiente, permitiu um salto qualitativo, pois as
organizações deixaram de ser analisadas como estruturas fechadas, mas passaram a ser
23
compreendidas como estruturas que além de sofrerem influências externas, influenciam o
ambiente.
Verificando-se assim o surgimento de abordagens e teorias com escopo de análise
ampliado evidenciando a influência do ambiente e as diversas formas de relações
interorganizacionais (teoria geral dos sistemas, teoria da contingência estrutural, teoria da
depenncia de recursos, teoria da ecologia populacional, teoria institucional) (HOLANDA,
2003).
As abordagens institucionais, utilizadas neste estudo como eixo teórico central de
análise, se desenvolveu em três perspectivas distintas (sociológica, política e econômica),
através da influência dos estudos iniciais de autores como Emile Durkeim, John Commons,
Max Weber, Thorstein Veblen e Westley Michel. (CARVALHO; VIEIRA, 2003).
As perspectivas econômicas e política formaram a base para o chamado “velho
institucionalismo”, enquanto a perspectiva sociológica tornou-se a base para o “novo
institucionalismo”. Os estudos dos chamados novos institucionalistas (DIMAGGIO,
POWELL, MEYER, ROWAN, ZUCKER), deram ênfase para as relações
interorganizacionais, com uma leitura crítica à excessiva racionalidade técnica empregada
pelas demais teorias organizacionais, nos quais aspectos normativos, simbólicos, valores
legitimados e presentes em tais relações interorganizacionais não eram analisados.
Para Greenwood e Hinings (1996) no velho institucionalismo, questões de influência,
aliança, valores competitivos, poder e estruturas informais foram tidos como centrais.
Enquanto que no novo institucionalismo tem como foco a legitimidade, formação de campos
organizacionais e a centralidade das rotinas, roteiros e esquemas de ação.
Por conseguinte, Hirsch e Lounsbury (1997) consideram que enquanto o velho
institucionalismo propunha que os processos de socialização ocorrem através da
24
internalização de normas e valores, o novo institucionalismo busca alterar esta imagem ao
adotar uma linguagem cognitiva, centrada em valores e símbolos legitimados.
De acordo com Scott (1995), as divergências encontradas entre os teóricos da
perspectiva institucional devem-se ao fato das variações ocorridas: na ênfase relacionada aos
elementos institucionais (pilares institucionais); nos meios de propagação dos elementos
institucionais (cultura, estrutura social e rotina); e no nível de análise (sistema mundial,
societário, campo organizacional, população organizacional e subsistema organizacional).
Os pilares que dariam suporte às organizações, seriam subconjuntos compostos por
elementos que conduzem ao desenvolvimento e à sustentação das organizações, sendo
definidos como: regulativo, normativo e cognitivo.
O pilar regulativo tem influência dos estudos de economistas, como Douglas North, e
visualiza os atores tendo interesses próprios e os perseguindo naturalmente, a partir de uma
lógica instrumental. Desta forma, este pilar baseia-se na utilização de sanções objetivando-se
influenciar comportamentos futuros por meio de regras formais escritas e códigos de conduta
implícitos. Assim, as organizações regulariam os comportamentos dos atores através da
imposição de recompensas ou punições que ocorreriam por meios difusos, ou seja, tanto por
mecanismos formais, como informais. Por sua vez, os atores reconhecem a validade das
regras e não questionam se estas são justas ou não. Ademais, o comportamento dos atores é
afetado pelas normas e sanções que podem alterar seus cálculos de custo e benefício.
(SCOTT, 1995).
A versão normativa baseia-se nos estudos de sociólogos como Durkheim, Parsons e
Selznick e caracteriza-se pela utilização de normas e valores para estruturação das escolhas,
onde as normas especificam como as coisas devem ser feitas e os valores referem-se a
conceitos de construção dos padrões das estruturas e comportamento existentes. Os valores e
normas podem ser aplicados tanto à coletividade, como a membros específicos (por meio da
25
definição de papéis). Além disso, as escolhas dos atores não se orientam de acordo com seus
interesses individuais, mas por sentirem-se obrigados a agir de acordo com os valores sociais
e as estruturas normativas (SCOTT, 1995). Nesse passo, a estabilidade social é mantida, pois
os comportamentos dos atores são moralmente governados, através da utilização de uma
lógica de adequação.
O pilar cognitivo centra-se nos estudos de antropólogos, como Geertz, e sociólogos,
como Berger, Meyer e Zucker, que valorizam em suas análises as interpretões subjetivas
das ações. Este pilar, traz uma importante contribuição para a teoria institucional, pois analisa
o tratamento dado aos sistemas simbólicos e culturais. Assim, as representações simbólicas
internalizadas pelos atores surgem a partir das interações ocorridas no ambiente configurador
das suas ações. O pilar cognitivo enfatiza ainda, que a realidade é socialmente construída a
partir dos papéis que os atores desempenham, suas possibilidades de ações e objetivos. Assim,
o aspecto cognitivo realiza a mediação entre estímulos externos e a resposta dada pelo
organismo individual, formando uma coleção de representações simbólicas internalizadas. Os
símbolos, as palavras, os sinais e os gestos passam a dar forma ao significado que os atores
atribuem aos objetos e as suas atividades. Portanto, os significados surgem na interação entre
os atores e o ambiente (externo e interno) e são preservados ou modificados pelo
comportamento humano. Nessa perspectiva, as instituições tornam-se inoperantes se forem
representadas apenas em designações verbais e em objetos sicos. Assim, a coerência da vida
social é devido à criação das categorias de atores sociais, individuais e coletivos, e nas suas
maneiras associadas de agir. Para os atores e as organizações as incertezas são administradas
por meio da adoção e prática de modelos legitimados, tidos como certos no ambiente.
(SCOTT, 1995).
Scott (1995) acrescenta que cada pilar institucional possui uma base de legitimidade
própria. Nesse contexto, no pilar regulativo as organizações tornam-se legítimas quando
26
operam de acordo com as exigências legais, estando em conformidade com as regras e leis.
No pilar normativo, a legitimidade possui bases morais, sendo alcançada por meio da
adequação às obrigações morais. Por fim, no pilar cognitivo é a adoção de padrões de
referência comuns que gera a legitimidade.
As diferentes variações na ênfase dos três pilares podem ser observadas por meio do
quadro 1(2).
PILARES
Dimensões
relevantes
Regulativo Normativo Cognitivo
Bases de submissão
Utilidade Obrigação social Aceitação de pressupostos
Mecanismo
Coercitivo Normativo Mimético
Lógica
Instrumentalidade Adequação Ortodoxa
Indicadores
Regras, leis e
sanções
Certificação e
acreditação
Predomínio e isomorfismo
Bases de
legitimidade
Legalmente
sancionada
Moralmente
governada
Culturalmente sustentada,
conceitualmente correta
Quadro 1 (2) – Variação de ênfase: os três pilares institucionais
Fonte: Scott (1995, p. 35)
Tolber e Zucker (1998), consideram que a proliferação de análises organizacoinais
deu-se a partir da publicação do clássico artigo de Meyer e Rowan, publicado em 1977, a qual
está baseada em uma perspectiva institucional. As autoras sugerem que a partir deste artigo,
alterou-se a forma de analisar a estrutura formal e a natureza da decisão organizacional, pois
se verificou que “as estruturas podem ser revestidas de significados socialmente
compartilhados e então, além das funções ‘objetivas’, podem servir para informar tanto um
público interno quanto externo sobre a organização” (TOLBERT; ZUCKER, 1998, p. 200).
Meyer e Rowan (1991) constataram que as explicações de cunho mais racional da
estrutura eram limitadas, pois a estrutura formal também poderia ser utilizada para propósitos
simbólicos à medida que esta surge em contextos altamente institucionalizados. Ademais,
evidenciou-se que as estruturas formais das organizações podem refletir os mitos de seus
ambientes institucionais ao invés de refletir as exigências de suas atividades de trabalho. Os
27
autores verificaram que técnicas, políticas e programas organizacionais podem funcionar
como poderosos mitos e são, muitas vezes, incorporados em vistas a se alcançar legitimidade.
Assim, combatendo uma visão estritamente racional-funcionalista, Meyer e Rowan
(1991) afirmaram que os aspectos cognitivos, poticos, culturais e simbólicos, influenciam o
ambiente no qual as organizações encontram-se inseridas, à medida que determina a
legitimidade e os prospectos de sobrevivência das organizações, independente da eficácia
imediata das práticas e procedimentos formais estabelecidos.
A partir das constatações de Meyer e Rowan (1991), passou-se a considerar a
existência do ambiente técnico e do ambiente institucional na configuração das formas
organizacionais.
De acordo com Scott (1992, p.158), “o ambiente técnico é aquele onde um produto ou
serviço é trocado no mercado e as organizações são premiadas pelo controle eficiente e eficaz
do processo de trabalho”. Desta forma, o foco do ambiente técnico refere-se a questões de
eficácia, produtividade e competitividade, alcançados no processo produtivo e nas trocas de
bens e serviços entre as organizações.
Tolbert e Zucker (1998), acrescentam que no ambiente técnico o ator social, é
concebido como um ator racional, onde suas ações baseiam-se em cálculos de custo e
benefício das alternativas de ação e o seu comportamento visa sempre à maximização de
utilidade.
Oliver (1992), no entanto afirma que o ambiente técnico é caracterizado por um
contexto ambiental de mercado, onde os fatores de demanda chave são os recursos oferecidos.
Tendo em vista que os constituintes-chaves possuem fatores de produção escassos, incide uma
pressão competitiva sobre as organizações, onde a ameaça dominante à autonomia refere-se à
troca de recursos entre parceiros. A autora considera que as organizações que tendem a obter
sucesso são aquelas que possuem a aquisição e o controle de recursos escassos.
28
O ambiente institucional se caracterizaria pela elaboração de normas e exincias as
quais as organizações se devem conformar se querem obter apoio e legitimidade do ambiente”
(SCOTT, 1992, p. 157). Identifica-se que nessa perspectiva, o ambiente deixa de ser visto
apenas como fonte e destino de recursos materiais, mas passa a incorporar recursos
simbólicos, como valores e padrões definidos no ambiente em vistas de alcançar o
reconhecimento social e a legitimação. Para Tolbert e Zucker (1998), neste tipo de ambiente o
ator é visto como um indivíduo “sobre-socializado”, onde não se questiona as normas e regras
impostas, pois estas são tidas como corretas.
Oliver (1992) enfatiza que o ambiente institucional é aquele constituído pelo Estado,
por agências e associações profissionais e são os aspectos político e legal que caracterizam o
contexto ambiental. As organizações operam em busca da legitimidade e os fatores
relacionados ao sucesso organizacional relacionam-se com a conformidade dos atores às
regras e normas institucionais. Contudo, mecanismos de controle externo como regras,
regulamentações e inspeções atuam neste ambiente por meio de pressões coercitivas,
miméticas e normativas. Na concepção da autora a intervenção governamental é a ameaça
dominante à autonomia dos constituintes-chaves.
Por meio do quadro 2(2) busca-se demonstrar as diferenças existentes entre as
perspectivas técnica e institucional.
Dimensões relevantes Ambiente institucional Ambiente técnico
Contexto ambiental Político e legal Mercado
Fator de demanda chave Legitimidade Recursos
Tipo de pressão Coercitivo, mimético e
normativo
Competitiva
Constituintes-chaves Estado, agências e associações
profissionais
Fontes de fatores de produção
escassas
Mecanismos de controle
externo
Regras, regulamentações,
inspeções
Troca crítica de dependências
Fatores para o sucesso
organizacional
Conformidade às regras e
normas institucionais
Aquisição e controle de
recursos escassos
Ameaça dominante à
autonomia
Intervenção governamental
Troca de recursos entre
parceiros
Quadro 2(2) – Ambiente institucional e ambiente técnico
Fonte: Oliver (1997, p. 102).
29
Contudo, faz-se necessário salientar que estes dois ambientes o se tornam
dicotômicos. Fazem parte dos extremos de um contínuo, com ênfases alternadas, existindo
possibilidades de combinação e desenvolvimento de formas híbridas de organizações. Afinal,
os aspectos de ambos encontram-se presentes nas organizações (TOLBERT; ZUCKER,
1998).
Beckert (1999) corrobora a afirmação de Tolbert e Zucker (1998) ao afirmar que na
teoria institucional, a estrutura e o comportamento das organizações está baseado em roteiros
tidos como certos” da realidade organizacional e o em alternativas de se maximizar
estratégias. Assim, para se explicar à homogeneidade das estruturas organizacionais dentro de
um campo, o foco situa-se nos processos isomórficos.
De acordo com Meyer e Rowan (1991) como as organizações operam e são
estruturadas por um ambiente comum, elas tendem a tornarem-se isomórficas. Isso porque,
estas se tornam igualadas a seus meios devido a interdependências técnicas e práticas de
intercâmbio. Ademais, as organizações tendem a refletir a realidade socialmente construída.
Assim, ao lidar com seus meios e seus limites, as organizações passam a “imitar” elementos
ambientais e estruturas organizacionais legitimadas.
Os autores acrescentam que o isomorfismo traz conseqüências cruciais nas
organizações já que se passa a incorporar elementos que são legitimados externamente,
podendo sobrepor-se em termos de eficiência. Ademais, empregam-se procedimentos e
critérios de avaliação externos para definir os elementos estruturais.
Contudo, com a homogeneização das formas organizacionais, as turbulências tendem
a ser reduzidas e se mantém a estabilidade, pois as organizações que incorporam estruturas
formais externamente legitimadas tendem a aumentar o compromisso com os constituintes
externos e com os participantes internos.
30
Ao possuir uma estrutura formal que se adeque às prescrições dos mitos
institucionalizados no ambiente, a organização demonstra que está agindo de acordo com as
intenções da coletividade, tornando-se legítima e utilizando-se desta para fortalecer seu apoio
e assegurar sua sobrevivência (MEYER; ROWAN, 1991).
Porém, autores enfatizam que enquanto a força da teoria institucional está em sua
capacidade de mostrar como organizações estão conectadas ao seu ambiente institucional,
tende-se a subestimar o significado de interesse e do modo de ação dos atores, pois os
institucionalistas acreditam que as regras tidas como certas se sobrepõem a interesses
individuais. Assim, verifica-se que na teoria institucional um predonio da compreensão
de que o ambiente condiciona ou afeta a capacidade de decisão racional dos atores.
(MACHADO-DA-SILVA; FONSECA; FERNANDES, 1999). No tocante a este aspecto,
DiMaggio e Powell (1991, p.8) são enfáticos em afirmar que o novo institucionalismo na
teoria das organizações e na sociologia, compreende a rejeição dos modelos de ator racional”.
Para Tolbert e Zucker (1998, p. 204)
O foco da abordagem institucional tem sido, tradicionalmente, na forma pela
qual os atores seguem persistentes
scripts institucionais; questionamentos
sobre como tais
scripts são produzidos, mantidos e modificados têm sido
amplamente neglicenciados.
Fligstein (1997) também considera que a teoria institucional possui uma teoria da ação
limitada à medida que a perspectiva institucional tende a dirigir seu foco para a análise de
como significados são “tidos como certos” em campos organizacionais.
Crubellate (2005) compartilha das análises do autor supracitado, constatando que a
teoria institucional ao enfatizar o ambiente como fator estruturante da ação relegou ao
esquecimento a capacidade ou possibilidade de ação estratégica autônoma dos agentes e
sistemas sociais. Na visão do autor devem-se realizar esforços para superar as tradicionais
dicotomias quanto à relação entre estrutura e ação como fontes das práticas sociais, para que
31
as teorias organizacionais tornem-se mais coerentes com as explicações da realidade
organizacional.
Discussões mais recentes acerca da influência do ambiente institucional no modo de
ação dos atores, identificam-se o surgimento de trabalhos teóricos e empíricos que têm
evidenciado a necessidade da flexibilização da teoria institucional para a inclusão do papel do
ator social.
Assim, por meio de uma pesquisa empírica, à luz da teoria institucional, acerca das
diferentes estratégias adotadas pelos governos canadense e americano na implantação de
sondagens de satisfação em relação aos serviços públicos, Gazzoli (2005) comprova que os
atores sociais tornam-se agentes de mudanças sociais e organizacionais à medida que adotam
uma filosofia ou um novo instrumento de gestão. Desta forma, a autora afirma que suas
evidências empíricas podem servir como “ponto de partida para uma releitura da teoria
institucional, no sentido de superar dualismos e atualizar a concepção teórica, de forma a
considerar definitivamente o papel dos atores” (GAZZOLI, 2005, p. 12).
Já, Fligstein (1997) considera que por meio da concepção de empresários
institucionais, possa-se caminhar rumo a resolução desta lacuna. Neste sentido, Beckert
(1999) afirma que DiMaggio introduziu a noção de empresários institucionais como agentes
que possuem um interesse em estruturas institucionais específicas e que podem comandar
recursos para: influenciar regras institucionalizadas, para submetê-los ao suporte de
instituições existentes ou para a criação de novas instituições.
Fligstein (1997) compreende que empreendedores institucionais são agentes de
práticas sociais, que podem assim ter a habilidade de motivar a cooperação de outros atuantes,
ao fornecê-los significados comuns e identidades, pode tornar-se uma grande contribuição
sobre o papel dos atores na teoria institucional. O autor afirma que a ação estratégica dos
empreendedores institucionais seria a tentativa de criação e manutenção de mundos sociais
32
estáveis, envolvendo o desenvolvimento de regras. Nesse processo, interesses de grupos e
identidades são criados, definindo os resultados desejados e os fatores de legitimidade
existentes.
Nesse sentido, o mesmo afirma que as principais técnicas utilizadas por
empreendedores institucionais se referem à estruturação da ação, manutenção de objetivos,
integração de interesses e trabalho em rede. Essas técnicas auxiliariam a constituição de uma
identidade coletiva, onde se busca o maior número de atuantes possível.
2.2 As instituições e o processo de institucionalização
De acordo com Clemens e Cook (1999) a padronização da vida social não é produzida
somente pela agregação de comportamentos individuais e organizacionais, mas também por
instituições que estruturam a ação.
Na concepção de Pacheco (2002), as organizações culturais normalmente se
encontram circunscritas em ambientes institucionalizados e altamente legitimados. Desta
forma, a autora sugere que ao se iniciar o estudo sobre o ambiente institucional e o processo
de institucionalização deve-se compreender as características e diferenças existentes entre as
organizações instrumentais (ou simplesmente organizações) e as instituições.
Sob a ótica de Pereira (1997) as organizações (lucrativas ou não-lucrativas) seriam um
sistema sócio-técnico, baseadas na divisão racional e econômica do trabalho para a realização
de tarefas e a otimização e utilização de recursos, destinadas ao alcance de metas e objetivos
estabelecidos.
Por conseguinte, as instituições seriam sistemas organizacionais com funções sociais,
consideradas relevantes para a sociedade e por seus membros. Desta forma, as instituições
33
tenderiam a captar padrões sociais importantes para a sociedade à medida que estão
infundidas de valores intrínsecos, como a identidade e o caráter (PEREIRA, 1997).
Segundo Clemens e Cook (1999), as instituições oferecem modelos positivos de como
fazer algo, por meio de modelos, esquemas ou roteiros de desempenho. Assim, as instituições
são entendidas como modelos que fornecem guias substantivos para a ação prática, obtendo
durabilidade à medida que esses modelos tornam-se reforçados por meio da socialização,
interação e que adquirem legitimação. Oliver (1992) acrescenta que os comportamentos de
organizações institucionalizadas são definidos como atividades estáveis, repetitivas e
permanentes, onde a força do hábito, da história e da tradição dentro da instituição cria uma
congruência de valor entre os membros organizacionais.
Para Jepperson (1991) as instituições representam uma ordem social ou um modelo
que representa determinada propriedade, revelando uma estrutura particular de reprodução. A
formação de instituições seria ocasionada pelo processo de institucionalização, que denota a
forma de tal realização por meio de seqüências padronizadas da interação social.
Neste sentido, Oliver (1992) considera que a teoria institucional tem contribuído para
a compreensão das causas da institucionalização das organizações e dos processos pelos quais
as organizações adquirem aceitabilidade social devido às evidências identificadas acerca da
conformidade de normas e expectativas ao meio institucional.
De acordo com Berger e Luckmann (1978), o mundo social está em constante
processo de construção. A divisão do trabalho e a inovação, presentes nas organizações geram
novos hábitos, aumentando o ambiente organizacional no qual os indivíduos estão inseridos.
Segundo Jepperson (1991) três fatores podem conduzir o processo de
institucionalização: a organização formal, as normas e a cultura. Apesar da maioria das
discussões em torno dos efeitos da institucionalização surgir da organização formal, o autor
enfatiza que as normas e a cultura, também são fatores a se considerar neste processo.
34
Desta forma, as normas podem conduzir a um processo de institucionalização, pois
estão vinculadas a um sistema de autoridade central, explicitada por regras e sanções. E, a
cultura, pode influenciar neste processo, sem possuir fatores vinculados a organização formal,
mas por apresentar valores habituais e características baseadas nas convenções sociais. Assim,
a influência da cultura no processo de institucionalização produz expectativas em torno do
comportamento dos indivíduos, relacionando-os aos valores do ambiente social
(JEPPERSON, 1991).
Wells (2001) corrobora com Jepperson, ao enfatizar que cada estágio de
institucionalização é mediado culturalmente. Assim, as regras culturais desempenhariam um
profundo papel, ao formatar as organizações, determinando tipos de estruturas e ações que são
consideradas legítimas dentro de um contexto particular.
Realizando uma análise acerca dos processos de institucionalização Berger e
Luckmann (1978) afirmam que o hábito implica na ação e pode ser repetida da mesma
maneira e com o mesmo esforço, proporcionando um alívio psicológico ao indivíduo,
reduzindo assim as possibilidades de ação.
A partir dos trabalhos de Berger, Luckmann (1967) e Zucker (1977), Tolbert e Zucker
(1998) concluem que as ações tornadas habituais referem-se a comportamentos que se
desenvolveram empiricamente e foram adotados por um ator ou grupo de atores a fim de
resolver problemas recorrentes”.
Neste sentido, as ações que são importantes para os indivíduos, são consideradas como
certas e tendem a ser tipificadas, tornando-se fonte de referência para o indivíduo nas suas
ações presentes e futuras, ocorrendo então, a tipificação recíproca a partir do momento que se
constitui uma situação duradoura e que as ões habituais dos indivíduos se entrelaçam.
Tolbert e Zucker (1998, p. 204) definem que “a tipificação envolve o desenvolvimento
35
recíproco de definições compartilhados ou significados que estão ligados aos comportamentos
tornados habituais”.
Por meio da tipificação recíproca de ações habituais pelos atores inicia-se o processo
de institucionalização, onde as tipificações oriundas da interação expressarão os padrões
específicos de conduta. Assim, as ações habituais passam a ser tipificadas e compartilhadas
entre os atores, modelando a estrutura e as ações individuais. Como as tipificações recíprocas
são formadas ao longo da história, e influenciadas culturalmente, é a partir do processo de
habitualização e tipificação que as instituições constituem também a sua historicidade e
formam seus sistemas de controle, estabelecendo e internalizando os padrões de conduta,
permitindo aos atores predizer a ação dos outros (BERGER; LUCKMANN, 1978).
Segundo Berger e Luckmann (1978), a partir do momento em que o processo de
institucionalização iniciam-se, as instituições vão aperfeiçoando-se e tornam-se históricas,
passando a serem percebidas como realidade própria e objetiva. Porém, como o significado da
institucionalização deve ser transmitido a novos atores e gerações futuras, por meio da
socialização, as instituições passam a fazer uso de fórmulas legitimadoras, que expliquem e
justifiquem a realidade.
De acordo com Tolbert e Zucker (1998) é por meio da objetivação que os significados
gerais compartilhados são transpostos para contextos além de seu ponto de origem. Evidencia-
se, portanto, que é preciso desenvolver mecanismos específicos de controle social e
legitimação para evitar desvios dos cursos da ação institucionalizada, que pode ocorrer a cada
alternância de geração.
Berger e Luckmann (1978) ainda determinam que quando as experiências em comum
de vários indivíduos incorporam a um mesmo acervo de conhecimento constitui-se a
sedimentação intersubjetiva. Tolbert e Zucker (1998), consideram que este seria um aspecto
adicional da institucionalização, denominado de exterioridade. Para as autoras (1998, p. 205)
36
a exterioridade refere-se à continuidade histórica das tipificações (...) e à transmissão das
tipificações aos novos membros que, o tendo conhecimento das suas origens, estão aptos a
tratá-las como dados sociais”.
Buscando sumarizar suas análises acerca do processo de institucionalização entre
organizações formais, Tolbert e Zucker (1998) definiram a existência de três estágios:
habitualização, objetivação e sedimentação, como pode ser observado pela figura 1(2).
Mudanças
tecnológicas
Legislação Forças de mercado
Inovação
Habitualização Objetivação Sedimentação
Monitoramento
interorganizacional
Impactos
positivos
Defesa de
grupo de
interesse
Teorização
Resistência
de grupo
Figura 1 (2) – Processos inerentes à institucionalização
Fonte: Tolbert e Zucker (1998, p. 207)
Com a ocorrência de mudanças tecnológicas, pressões de mercado, ou alternâncias na
legislação, as organizações tendem a buscar a inovação para solucionar problemas
organizacionais específicos. Assim, surgiria o estágio pré-institucional, caracterizado pelos
processos de habitualização e formação de arranjos estruturais de forma independente. Neste
estágio, como ocorre busca pela inovação, novas formas organizacionais evoluem e passam a
ser formalizadas em resposta a novos problemas ou oportunidades.
Contudo, por possuir um caráter de inovação, as organizações tendem a não ter um
consenso da sua utilidade e sobre o modelo que vai prevalecer, tornando-se menos provável a
imitação destas novas formas. Nesse sentido Tolbert e Zucker (1998, p. 206) afirmam que “no
37
estágio de pré-institucionalização, muitas organizações podem adotar uma dada estrutura, mas
essas serão provavelmente em pequeno número, limitado a um conjunto circunscrito de
organizações similares”. Ademais a taxa de fracasso estrutural tende a ser alta, haja vista que
o ocorre nenhuma atividade de teorização e a variância de implementação é alta, pois se
baseia apenas em práticas imitativas.
A partir do momento que se solidifica o consenso acerca dos valores da nova forma
organizacional e estes passam a ser compartilhados socialmente, inicia-se o estágio semi-
institucional, caracterizado pelos processos de objetivação. Neste estágio, apesar dos
adotantes possuírem caráter heterogêneo, a propagação da forma organizacional torna-se mais
rápida e possui um status mais permanente e disseminado. De acordo com Melo (2002) por
meio de práticas isomórficas, as organizações buscam referências bem-sucedidas para realizar
as mudanças. O que foi pré-testado serve como fonte de legitimação e de minimização de
erros. Assim, o ímpeto de difusão migra de uma base imitativa, para uma base normativa,
onde ocorre a reflexão acerca da teorização implícita e explícita das estruturas. Apesar deste
fato o caracterizar que as organizações irão perdurar indefinidamente, percebe-se uma taxa
de sobrevivência mais longa das organizações que ingressam nesse estágio, haja vista que
diminui a variação nas formas estruturais das organizações (TOLBERT; ZUCKER, 1998).
Quando a nova forma organizacional se torna suficientemente difundida, duradoura e
com alto grau de exterioridade, tem-se o estágio de total institucionalização. Influenciado por
uma baixa resistência de grupos de oposição e somado à promoção e apoio cultural de grupos
defensores, devido à percepção conjunta de que a forma organizacional constitui-se como
algo eficaz, necessário e legítimo, a variância na implementação e a taxa de fracasso estrutural
passam a ser baixas, efetivando-se o processo de sedimentação. Assim, por meio de um
processo de construção histórica, as ações organizacionais adquirem exterioridade e se
38
perpetuam, através do trabalho desenvolvido por rios anos com diversas gerações
(TOLBERT; ZUCKER, 1998).
Desta forma, os três estágios de institucionalização supracitados podem ser
visualizados de forma sistematizada a partir do quadro 3(2), com o objetivo de tornar suas
características mais legíveis e visíveis para fins de análise e comparação.
Dimensão
Estágio pré-
institucional
Estágio semi-
institucional
Estágio de total
institucionalização
Processos
Habitualização Objetivação Sedimentação
Características dos
adotantes
Homogêneos Heterogêneos Heterogêneos
Ímpeto para
difusão
Imitativo Imitativo/Normativo Normativo
Atividade de
teorização
Nenhuma Alta Baixa
Variância na
implementação
Alta Moderada Baixa
Taxa de fracasso
estrutural
Alta Moderada Baixa
Quadro 3 (2) – Estágios de institucionalização e dimensões comparativas
Fonte: Tolbert e Zucker (1998, p. 211).
Hassebladh e Kallinikos (2000) buscaram compreender as diferentes formas pelas
quais algumas iias são objetivadas a partir da análise do processo de institucionalização.
Assim, os autores definiram três mecanismos de estados sociais (iias, discursos e técnicas
de controle) e formas de objetivação (linguagem oral, linguagem escrita e codificação formal)
que representam a forma pela qual algumas idéias dão origem a ações existentes no contexto
social.
Os ideais se caracterizariam como o primeiro mecanismo dentro de um processo de
estado social, onde se encontram as orientações gerais.O desenvolvimento dos ideais levaria a
formação de discursos, que ao se desenvolverem concretizariam a adoção de técnicas de
controle, estruturadas em formas de classificação e medida.
39
As formas de objetivação também teriam influência na forma de moldar e construir a
realidade social, por meio da intersubjetividade através da fala e da comunicação oral, da
textualização escrita da linguagem e da codificação formal.
Por meio da figura 2(2) pode-se visualizar o relacionamento entre as formas de
objetivação e os estados sociais, e, pode-se verificar uma tendência para que os ideais sejam
expressos por meio da linguagem oral, os discursos por meio da linguagem escrita e as
técnicas de controle sejam codificadas formalmente.
Formas de
objetivação
Estados sociais
Ideais Discursos Técnicas de controle
Linguagem oral
Linguagem escrita
Codificação formal
Figura 2(2) – Estados sociais e formas de objetivação
Fonte: Hasselbladh e Kallinikos (2000, p. 705)
Considera-se, portanto, que para se compreender o processo de institucionalização
deve-se entender como surgem e se constituem os padrões de interação e adaptação do que se
legitima no ambiente técnico e institucional. Formas estas, que serão capazes de
homogeneizar os padrões de influência e criar legitimidade para as ações e a estrutura
(SCOTT, 1995).
Suchman (1995) acrescenta que dentro do sistema de normas, valores e crenças do
ambiente, quando ocorre uma percepção generalizada de que as ações da organização são
desejadas, corretas e apropriadas, pode-se dizer que está instaurado e efetivado o processo de
legitimação.
De acordo com Wells (2001), a legitimidade institucional possui duas formas: a
legitimidade cognitiva que se refere à aceitabilidade de uma forma organizacional e a
legitimidade normativa que se relaciona com o consenso social sobre o que deve ser. Nesse
40
sentido, uma forma organizacional pode ser altamente reconhecível, mas possuir baixa
aprovação normativa. Para exemplificar tal afirmação, o autor cita o caso dos Estados Unidos,
do aumento da população marginalizada em clínicas de aborto. Evidencia-se, portanto que um
conjunto de práticas não é ilegítimo ou legítimo por natureza. Ele é produto de uma
construção social, que vai se institucionalizando e seus valores vão sendo compartilhados
pelos membros e organizações do campo organizacional (TOLBERT; ZUCKER, 1998).
Ademais, deve-se ter consciência de que os fatores de legitimação não são estáticos,
pois ao serem construídos, podem ser mantidos ou reordenados em outros contextos. Tendo,
portanto um caráter de dinamicidade em sua concepção (SUCHMAN, 1995).
Lawrence, Winn e Jennings (2001) buscando discutir a noção de tempo da sociologia e
da teoria organizacional aos estudos dos processos institucionais esboçaram limites temporais
para a institucionalização. Neste sentido, partindo da compreensão do tempo social como
operacional”, atrelado aos eventos sociais e seus significados, os autores buscaram a
compreensão das dinâmicas do processo de institucionalização, definindo um intervalo de
existência.
Este intervalo é representando por uma curva em S (ver figura 3(2)), onde uma
seqüência relativamente fixa, envolve um período de tempo no qual uma inovação surge e
torna-se difusa, seguido da permanência da difusão ou legitimação e sua posterior
desinstitucionalização.
41
Difusão
Percentual de
adaptação
Inovação Legitimação
Desinstitucionalização
Ritmo de
institucionalização
Estabilidade da instituição
Tempo
Figura 3(2): Curva de institucionalização
Fonte: Lawrence, Winn e Jennings (2001, p. 626).
Para Lawrence, Winn e Jennings (2001) duas dimensões temporais influenciam a
institucionalização: o ritmo e a estabilidade. A razão pela qual uma prática, regra ou
tecnologia é difundida por toda a organização pode variar consideravelmente. Enquanto
algumas inovações se difundem de forma lenta ou se difundem rapidamente. A variância da
razão pela qual a inovação se difunde relaciona-se com o ritmo do processo de institucional,
caracterizando a primeira dimensão temporal.
A partir do momento que ocorre a saturação da difusão e as práticas são difundidas
entre todos os participantes, ocorre a legitimação. Neste estágio, o foco desvia-se para o quão
estável e duradoura será a instituição. Desta forma, a segunda dimensão temporal baseia-se na
estabilidade da instituição resultante.
2.3 Mudança Institucional
Ao buscar compreender as causas da institucionalização em organizações, as pesquisas
desenvolvidas à luz da teoria institucional tendem a enfatizar a persistência cultural e a
consolidação de comportamentos estáveis, permanentes e repetitivos, que se legitimam e se
perpetuam, gerando resistência à mudança.
42
Conforme ressaltado no pico anterior, na perspectiva institucional, variantes
cognitivas, culturais ou normativas, enfatizam tipicamente o papel de modelos existentes ou
roteiros na formatação do comportamento. Contudo, a variação das formas organizacionais
raramente é alocada em tais argumentos (CLEMENS; COOK, 1999).
Para Greenwood e Hinings (1996) a teoria institucional o é comumente lembrada
como uma teoria de mudança organizacional, pois se privilegia uma explicação de
similaridade, por meio de práticas isomórficas.De acordo com os autores, a teoria institucional
enfatiza que comportamentos organizacionais regularizados são o produto de idéias, valores e
crenças que se originam do contexto institucional. Assim, para sobreviver, as organizações
tenderiam a se acomodar as expectativas institucionais, embora essas expectativas muitas
vezes não se relacionem com noções de técnicas e noções de desempenho.
Contudo Berger e Luckmann (1978) afirmam que a institucionalização não é um
processo irreversível, ao contrário, a extensão das ações institucionalizadas pode variar por
razões históricas. Na percepção de Oliver (1992), a literatura institucional tem “visto de cima”
o papel potencialmente significante da desinstitucionalização em explicar a mudança e o
comportamento organizacional.
Clemens e Cook (1999) consideram que instituições são estáveis até que sejam
rompidas por alguma força exógena do sistema institucional. Desta forma, os autores
exemplificam que guerras ou mudanças econômicas globais podem romper com regimes
nacionais ou novas leis podem romper com arranjos econômicos institucionalizados.
Nesse sentido, Greenwood e Hinings (1996) propõem uma forma de análise
institucional, considerando a existência de duas dinâmicas divergentes: a convergente e a
mudança radical. A convergência permite que valores sejam continuamente reproduzidos, se
institucionalizem e sejam legitimados, impedindo a mudança institucional, pois ocorre dentro
43
dos parâmetros de um molde existente. Já a mudança radical, ocorre quando uma organização
se move de um molde em uso para outro.
Desta forma, a mudança radical pode se realizar de duas formas: evolucioria ou
revolucioria, variando de acordo com a escala e ritmo de ajustamento. Assim, enquanto a
mudança evolucioria ocorre de forma lenta e gradual, a mudança revolucioria, se
caracteriza por acontecer de forma rápida, afetando simultaneamente todas as partes da
organização.
Greenwood e Hinings (1996) consideram que o contexto de compreensão da mudança
pode ocorre por meio da análise de influência de dinâmicas exógenas, relacionadas ao
contexto de mercado e ao institucional, e por dinâmicas endógenas, caracterizadas pela
relação de interesses, valores, dependências de poder e capacidade para a ação.
O contexto institucional é caracterizado pela existência de moldes de ação
compartilhados, que atuam sobre uma soma de organizações. Estes moldes prevalecem como
certos e apropriados, sendo considerado “o caminho certo de se fazer às coisas”. O contexto
de mercado seria composto por forças competidoras, que demandam inovação e busca por
padrões de eficiência e eficácia. Ambos caracterizam-se como dinâmicas exógenas que irão
influenciar na mudança institucional, podendo determinar a inércia ou a mudança radical nas
organizações.
As dinâmicas intraorganizacionais são categorizadas em duas formas: dinâmicas
precipitadoras e dinâmicas capacitadoras. As dinâmicas precipitadoras são compostas pelo
papel dos interesses e compromissos de valores. Como, grupos diferenciados não são neutros
e indiferentes a outros grupos, verifica-se que estes buscam traduzir seus interesses em
alocações favoráveis de recursos organizacionais escassos ou valiosos.
Assim, uma pressão precipitadora para a mudança ou a inércia, refere-se à extensão ao
qual os grupos estão insatisfeitos e como seus interesses estão acomodados dentro da
44
organização. Nesse sentido, pode-se considerar que uma alta dose de insatisfação se torna
uma pressão para a mudança.
Contudo, Greenwood e Hinings (1996) consideram que a insatisfação de forma
isolada, não fornece uma direção para a mudança. Neste contexto, o que tornaria importante
na explicação da possibilidade de mudança radical é o padrão de compromissos de valor
dentro da organização.
Sendo estes identificados pelos autores sob quatro padrões genéricos de compromissos
de valor. O compromisso com o status quo, caracteriza-se pelo apoio de todos os grupos ao
uso dos moldes aos quais estão submetidos; o compromisso indiferente, no qual grupos não
são favoráveis, nem opostos, a moldes em uso, o compromisso competitivo, no qual alguns
grupos apóiam os moldes em uso e outros preferem uma alternativa articulada, e, o
compromisso reformativo, no qual todos os grupos são opostos ao molde em uso e preferem
uma alternativa articulada.
Neste contexto, a insatisfação de interesses somente levará a mudança radical se
associada com o padrão de compromisso competitivo ou reformativo, pois as outras duas
formas (indiferente e relacionado com o status quo), não permitem a ruptura, devido a
convergência de valores, mesmo que não haja satisfação de interesses.
Considerando a velocidade da mudança, os autores acreditam que um compromisso
reformativo tenderá a associar-se a mudança revolucionaria, devido ausência de resistência,
enquanto um compromisso competitivo deverá causar uma mudança evolucionária,
considerando-se a existência de resistências de grupos opositores. Por meio do quadro 4(2)é
possível visualizar as relações descritas.
45
Compromisso da ação Característica do molde em uso Dinâmica institucional
Status quo Todos os grupos apóiam Convergência dos valores
Indiferente
Grupos nãoo favoveis, nem
apóiam
Inércia
Competitivo
Alguns grupos apóiam e outros
querem uma alternativa articulada
Precipitadora para mudança
radical evolucionária
Reformativo
Todos os grupos querem uma
alternativa articulada
Precipitadora para mudança
radical revolucionária
Quadro 4(2) - Relação do compromisso da ação com a dinâmica institucional
Fonte: Elaboração própria a partir de Greenwood e Hinings (1996).
Em suma, considera-se que a insatisfação e o padrão de compromisso de valor
(competitivo e reformativo) são dinâmicas precipitadoras oriundas do ambiente
intraorganizacional. Entretanto, estas ocasionarão a mudança radical em conjunção com as
dinâmicas capacitadoras, que se referem à capacidade de ação e a dependência de poder.
Considerando que grupos utilizam as dependências de poder favoráveis a eles para
promover seus interesses, a mudaa só i ocorrer quando um novo conjunto de atores
ganhar poder ou quando se alterar os interesses dos grupos que estão no poder. Além disso,
faz-se necessário a existência da capacidade para ação, por meio da existência de habilidades
e competências requeridas para atingir os novos interesses.
Neste contexto, a dinâmica e o ritmo da mudança radical é resultado da interação entre
dinâmicas intraorganizacionais (precipitadoras e capacitadoras) e exógenas (contexto de
mercado e institucional). A figura 4(2) busca ilustrar o sistema descrito.
46
Contexto Intraorganizacional Mudança Contexto
Dinâmicas
precipitadoras
Dinâmicas
capacitadoras
Mercado
Interesses de
insatisfação
Dependência
de poder
Mercado
Compromisso de
valores
Institucional
Capacidade
para ação
Mudança
radical
Institucional
Figura 4(2): Modelo para compreensão da mudança organizacional
Fonte: Greenwood e Hinings (1996, p. 1032).
Jepperson (1991) parte de uma outra perspectiva, considerando que existem quatro
tipos distintos de processos da mudança institucional: formação institucional,
desenvolvimento institucional, desinstitucionalização e reinstitucionalização.
A formação institucional é uma alternativa para o processo de entropia social, para
padrões de comportamento não produzidos ou para modelos de reprodução baseados na ação.
Posteriormente, ocorre o desenvolvimento institucional, que se caracteriza pela continuação e
permanência das formas institucionais, antes delas serem extintas. Contudo, devido ao
processo de entropia social que extingue a reprodução de modelos e padrões, as formas
estabelecidas podem ser rompidas, ocasionado a desinstitucionalização. A
reinstitucionalização ocorreria a partir da entrada de uma nova forma institucional, que
47
substituiria a forma anteriormente estabelecida. Por meio da reinstitucionalização se daria
início, a um novo processo de formação institucional, estruturado neste estágio em torno de
diferentes princípios ou regras tidos como institucionalizados antes do processo de
desinstitucionalização (JEPPERSON, 1991).
Além dos processos de mudança institucional Jepperson (1991) considera que existem
modos distintos onde as instituições uma vez estabelecidas podem alterar-se. Assim, a
mudança pode ocorrer por meio do desenvolvimento de contradições entre instituições e seus
ambientes, entre instituições e outras instituições ou com elementos do comportamento social.
Essas contradições em conjunto, ou de forma isolada, forçam a mudança institucional, devido
à formação de barreiras que impedem a reprodução dos procedimentos compartilhados,
conduzindo a uma modificação ou destruição da instituição.
Para Oliver (1992) a mudança institucional pode ocorrer por pressões exógenas ou
internas, que podem ocasionar a reversão do processo de institucionalização, causando a
desinstitucionalização de uma prática. Para a autora, a desinstitucionalização é definida como
o processo pelo qual a legitimidade de uma prática organizacional estabelecida e
institucionalizada é corroída ou interrompida, por meio de desafios ou do fracasso das
organizações em reproduzir ações organizacionais legitimadas ou tidas como certas”
(OLIVER, 1992).
Oliver (1992) enfatiza que a análise do processo de desinstitucionalização é
potencialmente importante, pois: (a) deve explicar a mudança nas organizações sob uma
perspectiva institucional tradicionalmente neglicenciada, como a existência de desafios ao
status quo institucional, o abandono de hábitos e costumes, e a deteriorização de consensos
organizacionais sobre o valor de uma atividade institucionalizada; (b) as causas do processo
podem explicar quando se torna menos provável que pressões institucionais exerçam uma
inflncia permanente em organizações, (c) propicia a descrição onde as condições sobre as
48
quais pressões institucionais para conformidade e interpretações compartilhadas das regras
institucionais e expectativas falham.
O mesmo defende ainda que mecanismos processados dentro ou fora da organização;
como os fatores políticos, funcionais e sociais, são fatores determinantes da
desinstitucionalização. Somados a estes fatores, têm-se as pressões de entropia e inércia,
como fatores moderadores do processo. A relação destes cinco fatores determinaria a
probabilidade de dissipação ou rejeição de uma prática organizacional institucionalizada.
A dissipação estaria relacionada com a deterioração gradual na aceitação e uso de uma
prática institucional particular. Neste caso, a desinstitucionalização de uma prática estaria
relacionada com uma atrofia gradual das ações, onde práticas previamente aceitas tendem a
o ser continuamente produzidas. O conceito de dissipação parece se aproximar da idéia de
mudança radical evolucioria, proposta por Greenwood e Hinnings (1996). A rejeição seria
uma influência mais direta na validação de uma tradição antiga ou previamente estabelecida,
sugerindo uma relação com o conceito de mudança radical revolucionária.
Enquanto a entropia na organização sugere uma tendência natural à erosão, a noção de
inércia preque valores institucionalizados e atividades vão exibir resistência inevitável à
eroo ou mudança. Desta forma, Oliver (1992) afirma que se por um lado à pressão à
entropia tende a acelerar o processo de desinstitucionalização, por outro lado, a pressão a
inércia tende a desacelerar tal processo.
A figura 5(2) ilustra os fatores que podem influenciar a ocorrência do processo de
desinstitucionalização de uma prática, fazendo com que práticas institucionalizadas caiam em
desuso.
49
Pressões Políticas
Pressões de
entropia
Pressões
Funcionais
Dissipação ou
rejeição Desinstitucionalização
Erosão ou
descontinuidade
Pressões Sociais Pressões de
inércia
Figura 5(2) – Pressões para desinstitucionalização.
Fonte: Oliver (1992, p. 567).
As pressões políticas surgem à medida que práticas institucionalizadas sofrem
ameaças de erosão ou deslocamento quando sua legitimidade é colocada em questão. Assim,
problemas que ameaçam a legitimidade ou a sobrevivência de uma organização, geram
dúvidas sobre a validade dos procedimentos organizacionais que tradicionalmente servem aos
interesses das organizações. Ademais, crises e problemas de performance também geram
sérias questões sobre a legitimidade de procedimentos institucionais, fornecendo a base para
desacordos internos sobre os quais as atividades organizacionais precisam ser abandonadas ou
revisadas.
Nesse sentido, crises de performance e conflitos interorganizacionais, relacionados
com pressões políticas, tendem a causar uma deterioração sobre o consenso existente entre
organizações do mesmo campo institucional.
Em algumas situações o surgimento de dissensos entre as organizações e seus
stakeholders deve-se ao fato que um dos atores sociais, com crescente poder ou visibilidade,
o possui mais interesse em manter uma prática organizacional ou identifica que a
permanência de uma prática gera conflito com seus próprios interesses ou crenças.
50
Assim, identifica-se que a desinstitucionalização de uma prática organizacional pode
ser uma resposta política na mudança de distribuição de poder (dissenso político, sucessão de
líder, mudança de padrões ou crescimento na representação de membros que se opõem ao
status quo) ou uma resposta protecionista para o que é percebido pela organização como
ameaça crescente de falência ou obsolescência (problemas de desempenho, necessidade de
empresários institucionais ou presença de forças externas competitivas ou inovadoras).
Contudo, a influência de forças inovadoras que levem ao processo de
desisntitucionalização de práticas organizacionais também pode estar relacionado com forças
funcionais ou técnicas que tendem a gerar dúvidas sobre um valor instrumental de uma prática
institucionalizada.
Apesar de uma prática institucionalizada estar relacionada com a percepção que os
membros da organização têm acerca de sua legitimidade, ela não se torna invulnerável a re-
avaliação ou reconsideração em termos técnicos. A utilidade funcional de uma prática
institucionalizada será re-avaliada quando recompensas instrumentais de conformidade forem
retraídas, quando aumentarem as especificidades técnicas ou quando as metas a serem
alcançadas forem alteradas.
Além das forças poticas e funcionais, a mudança institucional também pode ser
causada por forças do Estado e da sociedade no ambiente organizacional. As pressões do
Estado podem transferir ou desinstitucionalizar práticas previamente institucionalizadas para
ajustar exigências públicas nas organizações (como segurança ocupacional, controle de
poluição).
as forças sociais podem desinstitucionalizar atividades estabelecidas por meio da
fragmentação social e da descontinuidade histórica, devido à alta rotatividade ou sucessão de
pessoal, mecanismos de socialização fracos e relações interorganizacionais culturalmente
diferentes.
51
Desta forma, a desinstitucionalização pode ocorrer devido a mudanças ambientais ou
em função de questionamentos internos a respeito da adequação de práticas e procedimentos
às exigências ambientais.
De acordo com Oliver (1992), os determinantes intra-organizacionais incorporam as
mudanças em distribuições poticas, mudanças na necessidade funcional ou utilidade
percebidas e mudaas no consenso social que circundam a legitimidade de uma prática
estabelecida.
Além dos determinantes intra-organizacionais, existem também fatores externos que
podem influenciar no processo de desinstitucionalização, como: forças ambientais
competitivas, forças ambientais sociais, ocorrências ambientais dissonantes e mudanças na
relação das organizações com componentes externos.
Os fatores externos e intra-organizacionais podem interagir uns com os outros
aumentando a probabilidade de desinstitucionalização de uma prática quando as forças
competitivas presentes no ambiente organizacional crescerem. Desta forma, quando as
organizações identificarem ameaças de obsolescência sobre suas formas organizacionais, elas
poderão se tornar mais receptivas a adotar formas inovadoras.
Por meio do quadro 5(2) é possível visualizar os fatores intraorganizacionais e
ambientais descritos acima que podem influenciar no processo de mudança institucional.
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Fatores intraorganizacionais Relações organização-ambiente
Mudanças na distribuição política
Alta diversidade da força de trabalho
Crises de performance
Realocações de poder
Ameaça de obsolescência
Mudanças na necessidade funcional
Aumento de especificidade técnica
Aumento da claridade das metas
Mudanças no consenso social
Aumento do turnover ou sucessões
Fraquezas nos mecanismos de socialização
Alianças e fusões díspares culturalmente
Alta diversificação, dispersão ou diferenciação
Pressões ambientais competitivas
Aumento da competão por recursos ou
domínios
Aumento das pressões por inovação
Pressões sociais do ambiente
Mudanças nas regulações governamentais
Mudanças nos valores sociais
Ocorrências externas aleatórias
Eventos e dados dissonantes
Mudanças nas relações com os constituintes
Declínio da dependência externa
Remoção de incentivos
Elevação de padrões de eficiência
Quadro 5(2)– Fatores empíricos da mudança institucional
Fonte: Oliver (1992, p. 579).
53
3 Procedimentos metodológicos
A metodologia utilizada em uma pesquisa deve demonstrar a lógica dos
procedimentos científicos adotados tanto na gênese da pesquisa, como no seu
desenvolvimento, o se referindo apenas às tecnologias utilizadas. Desta forma, para ser
coerente com sua proposta, a metodologia deve auxiliar na explicação dos resultados da
investigação empírica, mas deve também contemplar o processo previsto e realizado na
construção do conhecimento científico (BRUYNE et al, 1977).
De sorte que, apresenta-se neste capítulo o plano de investigação utilizado na
operacionalização deste estudo, tendo em vista o problema e os objetivos definidos.
A seguir são apresentadas: as perguntas de pesquisa, as definições constitutivas e
operacionais dos termos, o delineamento da pesquisa, as técnicas de coleta e análise dos dados
e as limitações da pesquisa.
3.1 Perguntas norteadoras da pesquisa
A problemática, de acordo com Bruyne et al (1977), permite que fatos sociais sejam
postos em interrogações sistemáticas em relação ao principal questionamento lançado na
pesquisa.
Desta forma, objetivando-se analisar de que forma o contexto institucional influenciou
o processo de reinstitucionalização da Festa do Divino Espírito Santo no centro de
Florianópolis, desdobraram-se algumas perguntas de pesquisa, expostas a seguir:
54
a) Qual o contexto histórico das manifestações da Festa do Divino Espírito Santo?
b) Como se caracteriza o processo de institucionalização da Festa do Divino Espírito
Santo no centro de Florianópolis?
c) Quais os fatores de desinstitucionalização da Festa do Divino Espírito Santo no
centro de Florianópolis?
d) Como se caracteriza o contexto institucional da Festa do Divino Espírito Santo no
centro de Florianópolis?
e) Como se caracteriza o processo de reinstitucionalização da Festa do Divino
Espírito Santo no centro de Florianópolis?
f) Qual a relação existente entre o contexto institucional com o processo de
reinstitucionalização da festa?
3.2 Definição dos termos
A definição dos termos torna-se uma importante etapa do planejamento e execução do
estudo, à medida que contribui para uma melhor compreensão da realidade observada por
meio do uso de definições que não dão margem para interpretações errôneas (MARCONI;
LAKATOS, 1999).
Por conseguinte, são apresentadas a seguir as definições constitutivas e operacionais
dos termos centrais deste estudo.
Processo de institucionalização
DC: O processo de institucionalização é definido pela legitimação de um sistema de
normas, valores e crenças do contexto institucional, que assumem um papel relevante
na homogeneização das práticas e estruturas organizacionais.
55
DO: Este termo foi operacionalizado por meio da identificação de práticas
organizacionais que se relacionam com os valores do contexto institucional.
Processo de desinstitucionalização
DC: Processo de mudança institucional no qual uma prática ou estrutura
organizacional institucionalizada toma uma forma de descontinuidade ou se degrada,
por meio de pressões poticas, funcionais e sociais (OLIVER, 1992).
DO: Esta categoria foi operacionalizada buscando identificar pressões:
- Políticas: como mudanças na distribuição política intraorganizacional (diversidade
força de trabalho, crises de performance e re-alocações de poder) e mudanças nas
relações com as demais organizações que constituem o ambiente organizacional (por
meio da remoção de incentivos, dependência externa, elevação de padrões de
eficiência);
- Funcionais: aumento da especificidade técnica ou na claridade das metas e aumento
das pressões por inovação;
- Sociais: ocorrências de sucessões, fraquezas nos mecanismo de socialização,
mudanças nas regulamentações governamentais e valores sociais.
Contexto institucional
DC: Sistema de normas, valores e crenças aos quais as organizações devem se
conformar para obter legitimidade e aceitabilidade social (SCOTT, 1992).
DO: Esta categoria foi operacionalizada por meio da análise dos valores, crenças e
normas que o caracterizam.
56
Reinstitucionalização
DC: Criação de uma nova forma institucional, caracterizada pelo desenvolvimento de
princípios, valores, regras, normas e procedimentos, diferentes da forma institucional
anterior.
DO: Esta categoria foi operacionalizada analisando quais foram os novos valores e
práticas organizacionais desenvolvidas na festa a partir de 1996, ao longo das etapas
de habitualização, objetivação e sedimentação.
3.3 Delineamento do estudo
O presente estudo fundamenta-se numa abordagem qualitativa, fazendo uso de análise
histórica e descritiva. A análise histórica visa descrever o contexto no qual surgiu a Festa do
Divino Espírito Santo, a forma em que as celebrações eram realizadas, quais os símbolos
utilizados e os valores compartilhados entre os atores. a análise descritiva busca delinear o
atual contexto institucional e o processo de reinstitucionalização da festa.
Desta forma, esta pesquisa estruturou-se a partir de etapas definidas, onde
inicialmente se investigaram os fatos ocorridos no passado e foram descritos os atuais
fenômenos sociais, econômicos e culturais que influenciam na reinstitucionalização da festa,
por meio de registros, análises e interpretações dos dados coletados (MARCONI; LAKATOS,
1999).
Os procedimentos técnicos adotados utilizaram o método de estudo de caso. De
acordo com Triviños (1992) e Godoy (1995), este tipo de estudo caracteriza-se por investigar
profunda e exaustivamente determinadas unidades de análise. Yin (2001) salienta que o
estudo de caso permite uma maior compressão da realidade definida para o estudo, através da
percepção de suas idiossincrasias, além de permitir a formulação de generalizações teóricas
sem cunho estatístico.
57
A unidade de análise deste estudo foi a Festa do Divino Espírito Santo do Centro de
Florianópolis, coordenada pela Irmandade do Divino Espírito Santo. A escolha desta festa em
detrimento das outras realizadas em Florianópolis, deve-se à observação e seleção de uma
soma de fatores, tais como: o seu caráter histórico, visto que a festa foi incorporada aos
costumes locais e é realizada no centro da cidade, desde a chegada dos açorianos na Ilha de
Santa Catarina; o tempo de existência (festa mais antiga); o vínculo com a tradição, pois a
coordenação ainda é realizada por sua respectiva Irmandade, desde seu surgimento; a
existência de uma estrutura formal de gestão e o volume de público presente (festa com maior
participação popular, totalizando 30.000 pessoas).
Visto que, a partir do objetivo de se analisar de que forma o contexto institucional
influenciou o processo de reinstitucionalização da Festa do Divino Espírito Santo no centro de
Florianópolis, acredita-se que este todo apresentou-se de forma adequada para
operacionalização do estudo.
De acordo com Patton (1990) nos estudos qualitativos a unidade de análise pode ser
particular a tipos de eventos, ocorrências ou eventos. Nesta pesquisa, como a unidade de
análise é a Festa do Divino Espírito Santo do centro de Florianópolis, não coube definir
população e amostra, tendo em vista, que se busca, aqui, analisar a influência do contexto
institucional no processo de reinstitucionalização da festa. A unidade de observação foi
constituída por membros das organizações e voluntários que participam da festa, sendo que, a
escolha destes, ocorreu de forma intencional, considerando a acessibilidade aos mesmos
(TRIVIÑOS, 1992; MINAYO, 2001).
58
3.4 Etapas do processo de coleta de dados
Existem diversas formas para a realização do processo de coletas de dados nas
pesquisas sociais. A escolha das técnicas utilizadas pode variar em relação ao tipo de
investigação ou as próprias circunstâncias as quais a pesquisa irá se desenvolver (MARCONI;
LAKATOS, 1999).
Assim, os instrumentos de coleta de dados utilizados nesta pesquisa foram à
observação direta e indireta, e a realização de entrevistas semi-estruturadas com informantes
chaves, para obtenção de dados primários; e, a realização de pesquisa bibliográfica,
documental e eletrônica, para a obtenção de dados secundários.
Na primeira etapa, compreendida entre os dias 12 a 15 de maio, foi realizada a
observação direta, onde se buscou identificar e contatar os principais representantes das
organizações que participam do processo de reinstitucionalização. Ademais, objetivou-se
identificar aspectos relacionados à estrutura sica e simbólica da festa. Desta forma, foram
registradas fotos e mantidas conversas informais com indivíduos do público presente
escolhidos de forma aleatória.
A seguir, objetivou-se realizar um resgate histórico da Festa do Divino Espírito Santo.
Nesse sentido, realizou-se pesquisa documental sobre o surgimento da festa, identificando
fatos e acontecimentos que influenciaram esse processo e quais os símbolos e ritos que
estavam associados com a sua realização. Desta forma, foram coletados dados secundários,
presentes em documentos históricos da Irmandade e de núcleos de pesquisa, jornais, folder,
sites institucionais e literatura existente.
Posteriormente, buscou-se descrever o processo de institucionalização compreendido
entre 1806 e 1983, identificar os fatores que ocasionaram a desinstitucionalização da festa,
caracterizar o contexto institucional e analisar o desenvolvimento do processo de
reinstitucionalização, a partir de 1996. Assim, a coleta de dados desta etapa, ocorreu por meio
59
do processo de observação direta no período de realização da festa, de entrevistas semi-
estruturadas e da análise de documentos internos da IDES (como atas das reuniões gerais,
contratos realizados e relatório final da festa).
As entrevistas semi-estruturadas foram compostas de questões abertas, formuladas a
partir de um roteiro para cada entrevistado, as quais estavam em consonância com as teorias
estudadas e perguntas de pesquisa realizadas, no escopo de análise desta pesquisa.
A seleção dos entrevistados se deu por meio de uma abordagem intencional,
considerando a acessibilidade dos mesmos. Assim, durante o período de realização da festa,
compreendido entre 12 e 15 de maio, foi realizada a observação direta, onde se identificou a
presença de representantes das organizações ou voluntários que participaram do processo de
reinstitucionalização. A partir das relações estabelecidas, foram mantidos contatos para a
realização de entrevistas. Posteriormente, foram identificados outros indivíduos que apesar de
o exercerem nenhum papel no processo de reinstitucionalização, foram selecionados e
entrevistados por serem pesquisadores sociais do fenômeno observado. Nesse contexto,
prosseguiram-se as entrevistas de caráter semi-estruturado listadas no Apêndice A.
As entrevistas foram gravadas com a autorização dos entrevistados e posteriormente,
transcritas e arquivadas em formato digital pela pesquisadora.
Acredita-se que a diversidade de técnicas de coleta de dados utilizadas possibilitou a
obtenção de dados por várias fontes de informação, representando diferentes pontos de vista,
o que enriqueceu o entendimento do campo, com um nível de detalhamento e profundidade
adequados aos objetivos de pesquisa propostos.
3.5 Procedimentos utilizados na análise dos dados
O objetivo da análise de dados é descrever, interpretar e explicar os dados coletados
para que estes respondam às questões de pesquisa (GIL, 1994). De acordo com Kerlinger
60
(1980, p. 353) “o processo de análise de dados pode ser definido como a categorização,
ordenação, manipulação e sumarização de dados”. O autor acrescenta que os dados brutos
devem ser reduzidos em uma forma interpretável, a partir de uma descrão sucinta, para que
se posa estabelecer relações entre as categorias de análise definidas. Desta forma, os dados
coletados foram analisados de acordo com as definições constitutivas definidas como base
desse estudo, descritas na subseção 3.2.
Inicialmente, foram analisadas as anotações realizadas ao longo do processo de
observação direta. A partir das constatações realizadas, identificou-se parte das organizações e
voluntários que deveriam ser investigados na pesquisa.
Posteriormente, realizou-se a audição das entrevistas gravadas e transcritas as partes
relevantes de acordo com as definições constitutivas e os objetivos da pesquisa. A partir das
transcrições, buscou-se interpretar os dados, por meio da análise de conteúdo, identificando
nas falas dos entrevistados, relações com o contexto institucional e o processo de mudança
organizacional, caracterizado pela desinstitucionalização e reinstitucionalização da festa.
Neste sentido, reúnem-se os trechos das entrevistas relativos à mesma dimensão de categoria
de análise, descreve-se os dados e interpreta-os à luz da Teoria Institucional.
Em seguida, buscou-se relacionar os dados primários com os dados secundários
coletados.
Os dados secundários foram interpretados a partir da análise documental. Gil (1994)
afirma que a análise documental visa descobrir as circunstâncias sociais e econômicas que
estão relacionadas com o objeto de pesquisa. Yin (2001) acrescenta que a importância da
utilização de documentos em estudos de caso deve-se ao fato de que estes podem corroborar
para aumentar a evincia de outras fontes, à medida que estes podem fornecer detalhes
específicos sobre as outras fontes utilizadas.
61
Considera-se que neste estudo, os dados secundários obtidos a partir das atas das
reuniões das Festas anteriores e de documentos internos da IDES foram de grande relevância
para poder resgatar, compreender e analisar o contexto das festas anteriores a 2005.
Finalmente, realizou-se a triangulação da análise dos dados primários e secundários
categorizados, especificamente, as transcrições das entrevistas, os trechos dos documentos
internos e atas das reuniões e as anotações realizadas ao longo dos dias de observação direta.
3.6 Limitações da pesquisa
As análises apresentadas neste estudo buscam fornecer a compreensão para análise da
inflncia do contexto institucional no processo de reinstitucionalização da Festa do Divino
Espírito Santo do centro de Florianópolis. Desta forma, tratando-se de um estudo de caso,
seus resultados não podem ser generalizados para todas as outras Festas do Divino Espírito
Santo de Florianópolis ou de outros municípios brasileiros.
Contudo, considera-se que a realização de um estudo de caso se justifica por propiciar
um aprofundamento na análise, tida como necessária para compreensão do fenômeno
observado. Ademais, as análises realizadas podem servir a fins de comparação com outras
realidades existentes, permitindo o aprendizado pela observação de suas diferenças e
similaridades.
Considera-se também que as entrevistas realizadas, como técnica para coleta de dados
primários, podem apresentar alguns vieses que se localizam no entrevistado ou na pessoa do
pesquisador. Isto porque, o discurso do entrevistado apresenta a visão particular do indivíduo
sobre o fenômeno analisado, o representando a totalidade da organização que este
representa. Espera-se que esta limitação tenha sido minimizada com a utilização de outras
fontes de dados, possibilitando assim uma confrontação ou complementação das entrevistas.
62
A pesquisadora, por sua vez, é inspirada por suas crenças religiosas, convicções
filoficas e conhecimentos acerca da teoria utilizada, que devem ser considerados como
possíveis fatores enviesadores da análise, não podendo, portanto, ser neglicenciados. Assume-
se que este fator influenciador da pesquisa é inerente às pesquisas sociais, que tornam o
pesquisador um ator social no fenômeno observado, uma vez que é a partir de seus filtros de
conhecimento que a teoria é absorvida, os questionamentos são realizados e as análises são
elaboradas. Neste sentido, não se acredita que possa haver uma total imparcialidade do
pesquisador em relação ao fenômeno observado.
Por fim, deve-se considerar também, uma limitação no que tange a teoria utilizada,
que se caracteriza por ser composta de fatores subjetivos, que posteriormente tornam-se
formas de difícil observação e mensuração. Tentou-se minimizar esta limitação, por meio do
rigoroso cuidado em relacionar o arcabouço teórico com os dados coletados.
63
4 Descrição e análise dos dados
O presente capítulo tem como objetivo apresentar os dados que permitiram analisar de
que forma o contexto institucional influenciou o processo de reinstitucionalização da Festa do
Divino Espírito Santo no centro de Florianópolis.
Inicialmente, descreve-se a formação histórica da Festa do Divino, desde o seu
surgimento na Europa até o seu desenvolvimento no litoral catarinense por meio do processo
de colonização desta área pelos açorianos, que trouxeram consigo seus hábitos, costumes e
ritos populares.
Posteriormente, são descritos o processo de institucionalização da festa e os fatores
que causaram sua desinstitucionalização. Em seguida, busca-se descrever o atual contexto
institucional da festa. A partir da descrição do contexto, realiza-se a análise das fases do
período de reinstitucionalização.
Finalmente, objetiva-se relacionar os valores e crenças do contexto institucional com
as práticas organizacionais adotadas ao longo do processo de reinstitucionalização da festa.
64
4.1 Descrição da formação histórica da Festa do Divino
Espírito Santo
O culto ao Espírito Santo ocorre desde o início do Cristianismo, onde o dogma da
Santíssima Trindade, representado pelo Pai, o Filho e o Espírito Santo, é celebrado na liturgia,
por meio da sua evocação em cantos religiosos e através da sua representação em pinturas e
esculturas (LUPI, 2003).
Contudo, a figura do Espírito Santo, passou a receber mais destaque, quando o abade
cisterciense, Joaquim de Fiori, contemporâneo de São Francisco de Assis, propôs um novo
todo de interpretação dos textos bíblicos e da história, em sua obra “Concórdia entre o
Novo e o Antigo Testamento”, escrito entre 1186-1190, onde ele desenvolveu sua Teologia da
História baseada no Espírito Santo (ROSATTO, 2003).
Na concepção de Fiori, a partir de 1260, a humanidade entraria numa nova Era do
Espírito, denominada a Era do Divino Espírito Santo. Neste estágio, a corrompida Igreja da
carne” cederia lugar à Igreja do Divino Espírito Santo, caracterizada por ser um tempo de
descanso da humanidade, imbuída num contexto de paz, fraternidade e justiça social.
Na interpretação de Rosatto (2003, p. 43)
Para Joaquim, o estado paterno, que correspondeu ao momento histórico
referente ao Antigo Testamento, foi um período que o povo de Deus
viveu sob a lei, a obediência e a escravidão, dominado impiedosamente
por um Senhor terrível. O estado filial, que coincide com o período do
filho, refere-se a história do Novo Testamento e da Igreja, sendo uma
etapa vivida com maior graça e liberdade se comparada com a etapa
anterior. Porém, a liberdade e a graça total somente chegariam quando se
ingressasse finalmente na Era do Espírito. Aí, sim, a humanidade passaria
a viver plenamente.
Seguindo a teologia do abade, uma corrente da ordem Franciscana, denominada Os
Espirituais”, passou a divulgar pela Europa, o seu pensamento e os seus valores. Contudo,
estes missionários sofreram inúmeras perseguições da Igreja Católica, por serem considerados
subversivos da ordem eclesiástica, já que de acordo com sua pregação profética, para o
65
advento de uma Nova Era, não seria mais necessária a intermediação das relações entre Deus
e os homens por meio da Igreja. Ademais, eles defendiam a pobreza absoluta e criticavam o
luxo dos eclesiásticos e a posse de grandes terras e bens pela Igreja. Desta forma, os
seguidores de Fiori ao sofrerem perseguições do clero, se espalharam pela Europa (LUPI,
2003).
Nesse contexto, um teólogo e filósofo catalão, conhecido como Arnau de Vilanova
1
foi acolhido na corte aragonesa, devido ao grande interesse das nascentes monarquias
européias na palavra de Fiori, pois convinha ao Imperador que a Igreja tivesse menos poder,
além deste ambicionar as terras do Papa na Itália.
A rainha Isabel (filha de Pedro III de Aragão, que reinou na Sicília no período de 1296
até 1337), ao ter contato com Arnau de Vilanova, conheceu as iias joaquimitas e passou a
cultuar o Espírito Santo. Ao se casar com o rei de Portugal D. Dinis (1261-1325) em 1282, a
rainha passou a habitar a vila de Alenquer, ocorrendo a expansão da adoração do Divino
Espírito Santo, em terras lusitanas. (Rosatto, 2003).
Lupi (2003, p. 19), salienta ainda que “a Rainha Santa Isabel era considerada como a
grande intermediadora nas dissensões e até nas guerras entre os reis e sua fama de
pacificadora está atestada por inúmeras intervenções (...) entre diversos governantes, inclusive
nos demais reinos da Península”.
Durante o reinado de D. Dinis, ocorreram disputas pelo Reino de Aragão e discussões
entre o próprio rei e seus filhos. Assim, a rainha Isabel, com sua e religiosidade fez uma
promessa ao Espírito Santo para que, caso se instaurasse a paz na região, seria realizada uma
coroação anual entre as pessoas da comunidade.
Com o fim das guerras e o acordo entre D. Diniz e seus filhos, a rainha considerou que
a graça fora alcançada. Assim, para agradecer o pedido e cumprir a promessa, a Rainha
1
Arnau de Vilanova era um joaquimita, considerado seguidor da Teologia de Fiori.
66
realizou uma solene procissão, com os símbolos do Divino Espírito Santo, representado pela
Pomba Sagrada em estandartes e guiões
2
. Ademais, ela fez a distribuição de esmolas de carne
e pão à população e com eles orou em agradecimento ao Espírito Santo.
Ao lado da igreja da região foi construído uma capela, denominada Império ou Teatro
do Divino, para servir às cerimônias do culto. Deste local, partia o cortejo e eram guardados
os artefatos utilizados na celebração, como a coroa, o cetro
3
e a bandeira. E em 1292, a rainha
Isabel, instituiu a Confraria do Espírito Santo de Alenquer.
Desta forma, foi estipulado que anualmente se realizaria um culto ao Espírito Santo,
onde algum plebeu seria coroado e aconteceria uma festa, com a distribuição de pães, vinho e
carne para a comunidade, com o intuito de se garantir a tranqüilidade e permanência de paz
em seu reino.
O culto ao Espírito Santo passou a se desenvolver e ser realizado anualmente,
institucionalizando-se na rego por meio do ciclo ao Divino Espírito Santo e tornou-se uma
tradição entre os portugueses, tendo como valor central, o espírito de comunhão, caridade e
igualdade entre as pessoas.
Assim, o ciclo do Divino Espírito Santo passou a apresentar uma série de etapas a
serem realizadas, como o peditório, as novenas, as cantorias, o cortejo imperial e a
comemoração festiva.
O peditório iniciava-se no domingo após a Páscoa e estendia-se pelo período
necessário para visitação de todas as casas da comunidade, independentemente da condição
econômica e social de seus moradores. Assim, iniciava-se um ritual nos meses que
antecediam a festa, com a formação de um cortejo, seguido por cantores e foliões, onde se
carregava a bandeira do Divino Espírito Santo e se evocavam as cantorias. As casas eram
visitadas com o objetivo de se angariar donativos para a festa e disseminar os dons do Divino.
2
Guiões: Pendão ou estandarte que vai à frente de procissões ou irmandades
3
Cetro: bastão de apoio usado pelos reis que simboliza o Poder Real
67
Tendo o conhecimento da realização do peditório, as famílias normalmente aguardavam a
“visitação do Divino”, enfeitando suas casas e oferecendo comida e bebida às pessoas que
participam do cortejo.
As novenas iniciavam-se nove dias antes da realização da festa e eram realizadas na
casa do Imperador ou nos lugares onde a bandeira do Divino “dormia” ao longo da realização
do peditório. Após a novena as doações recolhidas eram arrematadas e realizava-se um
foguetório.
As cantorias, também conhecidas como folia do Divino, acompanhavam o peditório,
estavam presentes na realização das novenas, mas tinham como função principal acompanhar
o cortejo imperial até o momento de coroação do Imperador. O grupo que compunha a
cantoria do divino acompanhava o cortejo até a casa do Divino, servindo como mestres de
cerimônia na condução do ritual de coroação.
O cortejo imperial é constitdo de uma ordem hierárquica estabelecida, a qual era
composta pelo porta-bandeira (ou alferes da bandeira), as damas e pajens, o Imperador e a
Imperatriz, seguidos pelas autoridades eclesiásticas e civis, os festeiros e o acompanhamento
das pessoas que compõe a cantoria.
A comemoração festiva é realizada por meio dos bodos. Os bodos são a distribuição
de comida (leite, vinho, pão e alcatra) gratuitamente entre todos os presentes, representando o
congraçamento entre as pessoas. Ademais, a festa também possui uma série de símbolos,
como a bandeira, a pomba e a coroa. A bandeira é vermelha, simbolizando o fogo dos sete
dons do Espírito Santo (sabedoria, entendimento, conselho, fortaleza, ciência, piedade e temor
de Deus). No centro da bandeira tem-se uma pomba branca, bordada ou pintada, e, esta é
sustentada por um mastro em cuja ponta figura outra pombinha branca ou prateada, enfeitada
de flores e fitas multicoloridas (doadas como pagamento de promessas).
68
A pomba presente em diversos objetos da festa (cetro, bandeira, coroa), é a maior
representação simbólica do Espírito Santo, pois dela desceriam os dons do Espírito Santo.
4.1.1 A Festa do Divino Espírito Santo no litoral catarinense
No processo de povoamento do Arquipélago dos Açores pelos portugueses, ao longo
do século XV, a religiosidade presente entre os povoadores, permaneceu como hábito e
costume, tornando-se fortemente enraizada nas tradições açorianas.
De acordo Lobão (2005, p. 23):
A expansão do culto em Portugal deveu-se à ação dos franciscanos que
conjuntamente com os primeiros povoadores dos Açores, a difundiram nas
ilhas. Com o tempo, as festas do Espírito Santo tornaram-se mais
características dos Açores, de cada ilha, constituindo o terceiro ciclo mais
relevante do calendário cerimonial da Primavera.
Os açorianos são comumente lembrados pela sua e religiosidade expressas através
das festas populares, com motivações sócio-religiosas, como a Festa dos Santos Reis, Festa do
Senhor Bom Jesus, Festas Joaninas, Pão-Por-Deus, Todos os Santos, Páscoa, Corpus Christi,
Procissão do Senhor Morto e especialmente a crença e comemoração da Festa do Divino
Espírito Santo. Pereira (2003) sugere que a expressiva crença do povo açoriano no Espírito
Santo deve-se ao fato de que as condições físicas e naturais do arquipélago o eram muito
favoráveis, por estarem constantemente sujeitas a vulcanismos e abalos sísmicos. Em Lobão
(2005, p.24) tem se que:
As festas do Espírito Santo generalizam-se nos Açores a partir do primeiro
quartel do século XVI, como meio de piedade e prece suplicante de socorro,
por ocasião das calamidades que ocorreram, a começar pala Ilha de o
Miguel em 1522. No ano seguinte, grassou, na mesma ilha, grande
epidemia, que se alastrou a várias ilhas, entre elas o Faial. O terror
provocado levou as populações das ilhas dos Açores a implorar socorro
Divino, através de preces públicas e procissões, invocando a proteção
especial do Espírito Santo, com promessa de servi-lo, e de distribuir
anualmente aos mais necessitados, pela festa de Pentecostes, os frutos dos
seus campos, se conseguissem escapar ao flagelo que os ameaçou.
69
Desta forma, os açorianos acreditavam que ao fazer promessas e celebrar o culto ao
Espírito Santo, estariam protegidos da ocorrência de eventos climáticos, abalos sísmicos,
vulcanismos e possíveis epidemias.
No processo de colonização da América, a Coroa Portuguesa ao ambicionar possuir a
Bacia do Prata, fundou em 1679, nesta região, a Colônia do Sacramento. Contudo,
identificou-se um vazio demográfico entre o Rio do Prata e as vilas litorâneas catarinenses,
tidas como ponto de apoio estratégico no Atlântico.
Assim, os portugueses detectaram a necessidade de se organizar militarmente e povoar
o litoral catarinense, especialmente a Ilha de Santa Catarina.
De acordo com Pereira (2003, p. 59) o Rei Dom João V, utilizando o discurso de
“socorrer a população açoriana assolada pela miséria e os terremotos, os vulcões e outros
males”, iniciou um processo de incentivo a migração de açorianos para a Ilha de Santa
Catarina. Nesse contexto, são recrutadas famílias e é distribuído em todas as vilas das Ilhas do
Arquipélago dos Açores, o Edital de Agosto de 1746, que definia os critérios necessários para
se alistar como candidato à migração para o litoral catarinense.
Entre algumas referência e comentários sobre o Edital, é válido ressaltar o item que
determina que “só poderiam passar, desde que Católicos Romanos. A religião estabelecia
todos os códigos de comportamento social e de controle, e, de outro lado a Paróquia era a
unidade administrativa local, sendo inclusive o cartório de registros de todas as ocorrências
comunitárias, tendo em muitas vezes a função política e judiciária” (PEREIRA, 2003, p.65).
Identifica-se, portanto, que a Igreja Católica passou a ser à base das estruturas sociais e
políticas, e se fixou como prática de religião dominante nas regiões colonizadas. Com isso,
seguiu-se a transposição das festas religiosas, entre elas a Festa do Divino Espírito Santo,
fortemente presente nas tradições açorianas.
Desta forma, tem-se que:
70
Os açorianos aportaram à Ilha de Santa Catarina, na vila de nossa Senhora
do Desterro, entre 1748 e 1756, num total de seis mil ou, aproximadamente
2300 casais e filhos (...) dando início a colonização açoriana do Brasil
Meridional e estabelecendo as raízes culturais e religiosas do catolicismo,
com muita fé, confiança e esperança no Espírito Santo (PEREIRA, 2003, p.
177).
Atualmente, em Santa Catarina, a Festa do Divino “é realizada em comunidades de
alguns bairros de Florianópolis (Pântano do Sul, Armação, Ribeirão da Ilha, Rio Vermelho,
Barra da Lagoa, Lagoa da Conceição, Trindade, Santo Antonio de Lisboa, Campeche,
Canasvieiras, Estreito e Centro) e em outros municípios do litoral catarinense (Jaguaruna,
Tubarão, Imbituba, Laguna, Garopaba, Palhoça, Santo Amaro, São José, Biguaçu,
Governador Celso Ramos, Tijucas, Porto Belo, Itajaí, Penha, Barra Velha e São Francisco),
que também passaram pelo processo de colonização açoriana” (FARIAS, 2001, p.344-345).
4.2 Processo de institucionalização da Festa do Divino no
centro de Florianópolis
De acordo com Oliver (1992) a perspectiva institucional tende a considerar que
atividades institucionalizadas são mantidas por longos períodos de tempo, sem maiores
justificativas, sendo altamente resistentes à mudança. As práticas institucionalizadas são
vistas como a maneira natural ou óbvia de se conduzir uma atividade e a resistência à
mudança de tais praticas é justificada pela influência da história e de hábitos que sustentam
comportamentos organizacionais, além da tendência em se manter continuamente
comportamentos legitimados. DiMaggio e Powell (1991) afirmam que para se compreender a
institucionalização, a historicidade deve ser analisada, considerando os fatos históricos
preponderantes que influenciaram a sua constituição.
Apresentando um breve histórico da institucionalização da Festa do Divino no centro
de Florianópolis, identifica-se que esta foi realizada a primeira vez em 1806, por meio da ação
71
dos integrantes da Irmandade do Divino Espírito Santo - IDES, objetivando preservar as
celebrações do culto ao Divino, estruturada em torno de valores religiosos, relacionados com
a e solidariedade das pessoas. Esta fase, definida como contexto inicial de
institucionalização (1806 – 1983), será descrita a seguir. Posteriormente serão apresentados os
fatores que causaram sua desinstitucionalização, tendo em vista que em 1983 as
manifestações festivas foram extintas e foram resgatas em 1996, caracterizando a fase de
reinstitucionalização que será analisada em seção posterior.
4.2.1 Contexto inicial de institucionalização (1806 – 1983)
A Irmandade do Divino Espírito Santo (IDES) é a principal organização responsável
pela coordenação e realização da Festa do Divino Espírito Santo no centro de Florianópolis,
desde o seu surgimento. Fundada em 10 de junho de 1773, com cinqüenta pessoas inscritas, a
Irmandade foi criada com o objetivo de preservar as tradições açorianas, especificamente o
culto ao Divino.
De acordo com o atual provedor da Irmandade, Sr. Washington do Valle Pereira
corria o ano de 1773, os imigrantes açorianos que haviam chegado à Vila de Nossa Senhora
do Desterro o esqueciam suas tradições e costumes. Dentre eles, destacava-se o culto ao
Divino Espírito Santo. Esta saudade levou-os a fundar a Irmandade do Divino Espírito Santo”
(depoimento em documento interno da IDES).
Assim em 1774, chegavam, de Portugal, a coroa, o cetro e a custódia para a capela e,
em 1776, era realizada a primeira Festa do Divino. Em 1804, chegava de Portugal a salva
4
, e
em 1806, realizou-se a primeira festa de coroação do imperador, sendo coroado o Capitão
Manoel Francisco da Costa.
4
Salva: espécie de bandeja de prata, onde se coloca a coroa.
72
De acordo com o Sr Washington do Valle Pereira “durante todo o século XIX, a
Irmandade prosseguiu sua atividade religiosa e cultural, difundindo e consolidando a fé no
Divino Espírito Santo perpetuando assim as festividades populares” (depoimento em
documento interno da IDES). Constata-se que neste período a festa, como fenômeno social,
fundamentava-se exclusivamente em torno de valores e costumes relacionados à tradição e
símbolos religiosos.
Contudo, a partir de 1896, verifica-se uma mudança no ambiente organizacional da
IDES, por pressões políticas, relacionadas à legislação. Atendendo a política implementada
5
pelo primeiro Bispo de Curitiba (a quem o Estado de Santa Catarina estava religiosamente
dependente), os membros da Irmandade resolveram dedicar-se à assistência social, com a
instituição de um orfanato para crianças carentes.
Em 08 de setembro de 1910 a IDES, inaugurou o orfanato São Vicente de Paulo, no
centro de Florianópolis, e foi firmado um convênio
6
, com as Irmãs da Congregação da Divina
Provincia, para auxiliar na administração e educação das crianças atendidas. A partir da
fundação do orfanato, a IDES passou a atender crianças carentes, aumentando a dependência
de recursos financeiros externos para manutenção de sua estrutura. Mas, a parceria com o
colégio controlado pelas Irmãs e as doações realizadas pelos membros da IDES, passaram a
ser as principais fontes de recursos para a manutenção da estrutura do orfanato.
Nesse contexto, as doações dos membros da IDES que eram anteriormente alocadas na
festa, foram transferidas para a manutenção do orfanato, causando mudanças no ambiente
técnico. Para a festa continuar ocorrendo, esta deveria tornar-se auto-sustentável, gerando os
recursos necessários para sua realização. Assim, foram incorporados aos seus rituais
(peditório, cortejo e coroação do Imperador), as folias e os folguedos, com a comercialização
5
Em 1
o
de novembro de 1896, Dom José de Camargo Barros, Bispo de Curitiba, determina que “todas as
Irmandades que não tivessem hospitais, asilos ou outras casas de caridade ao seu encargo, deveriam repassar
10% de suas rendas líquidas as instituições pias da Paróquia”. A IDES apesar de não se incluir em nenhum
destes itens, obteve a dispensa regular da taxa ao planejar a criação e implementação de um orfanato.
6
O convênio permaneceu até 1984.
73
de produtos e alimentos em barraquinhas, e a realização de rifas e bingos, geridos pelos
membros da Irmandade e por voluntários da comunidade, para saldar os custos da festa.
Faz-se necessário ressaltar, que neste estágio a festa não gerava receita excedente
para a manutenção do asilo, mas apenas, recursos para a sua própria realização, sem necessitar
que as doações dos membros da IDES, fossem alocadas para realização da festa, mas fossem
empregadas exclusivamente na manutenção do orfanato.
Verifica-se que neste estágio, a remoção de incentivos para a realização da festa, o
que ocasionou mudanças na sua forma de organização e realização. Surgiram novas
necessidades funcionais, que propiciaram a institucionalização de valores relacionados o
a religiosidade, mas também ao caráter de festividade e lazer, pois a festa incorporou novos
elementos, que propiciavam a diversão e socialização, como pode ser evidenciado pelo
depoimento do Sr. Moisés Leandro da Silva.
A festa do Divino sempre foi muito tradicional aqui na Ilha. Era uma
oportunidade das pessoas se encontrarem e se divertir. Depois da missa, as
pessoas iam pra rua, na frente da praça e tinham barraquinhas de pescaria e
doces, além do leilão. A juventude também aproveitava muito, porque
surgiam muitas flertes e namoros na festa. Era uma festa muito freqüentada
pela alta sociedade, porque os festeiros eram sempre pessoas de famílias
tradicionais e do meio político. Eu lembro que as pessoas mandavam fazer
roupa pra ir à festa, porque era um momento aguardado o ano todo (Sr.
Moisés Leandro da Silva, 85 anos, aposentado. Entrevista em 20/12/2005).
É importante salientar que ao incorporar a comercialização de produtos, a festa
segmentou-se para um público específico, ou seja, as tradicionais famílias da elite
florianopolitana e suas figuras políticas.
Verificando o desenvolvimento histórico da festa, constata-se que pessoas de renome
político e social, como prefeitos, governadores e deputados, participaram como festeiros, em
rias edições da festa, destacando-a como um evento muito importante na cidade, isto porque
apesar de ser realizado num espaço público, era caracterizado pela presença de figuras do
74
meio potico e das tradicionais famílias de Florianópolis. Assim a festa manteve-se
institucionalizada e fortemente legitimada durante anos.
Contudo, por pressões políticas, funcionais e sociais, que serão expostos na seção
seguinte, a festa sofreu um processo de desinstitucionalização e foi extinta em 1983.
O contexto descrito pode ser representado pela curva do processo inicial de
institucionalização, definida por Lawrence, Winn e Jennings (2001), apresentada a na figura
6(4).
Legitimação e resistência a
novos valores e práticas
Pressões da dinâmica
social
Percentual de
adaptação
Celebração
dos valores
Religiosos
Forma de lazer e
entretenimento para a elite
Desinstitucionalização
1806
Realização da 1
a
festa
1910
Fundação do orfanato
1983
Extinção da festa
Figura 6(4) - Curva do contexto inicial de institucionalização (1806 1983) da Festa do Divino
Espírito Santo do centro de Florianópolis.
Fonte: Interpretada a partir do modelo de Lawrence, Winn e Jennings (2001, p. 626).
4.2.2 Processo de desinstitucionalização
De acordo com Clemens e Cook (1999), as instituições são estáveis até que suas
estruturas sejam rompidas e os arranjos existentes sejam desmantelados, devido à influência
de alguma força exógena ou contradições internas. Para Oliver (1992) pode-se definir esse
processo, como desinstitucionalização de uma forma institucional. Neste contexto, a autora
determinou que pressões políticas, funcionais e sociais, oriundas do nível organizacional ou
75
ambiental, podem ser consideradas como fatores preditores do processo de
desinstitucionalização e pressões de entropia e inércia, como fatores moderadores.
Descrevendo o processo de institucionalização da festa, constatou-se que a partir da
fundação do orfanato surge um aumento na necessidade de recursos financeiros, em virtude
do aumento da dependência externa, devido a remoção de incentivos para a realização da
festa, visto que, os recursos anteriormente utilizados passaram a ser alocados na manutenção
do orfanato.
Considera-se que este contexto se constituiu como fonte de pressão para a adoção de
novos valores e alterações na estrutura organizacional da festa, como a busca por inovações,
elevação de padrões de eficiência para ampliação do público participante. Contudo, constatou-
se que os organizadores eram extremamente conservadores e contrários a inovações,
buscando por meio da festa, estabelecer um espaço de socialização e lazer entre as famílias
tradicionais. Assim, o festejo trazia embutido na sua composição, uma forte segmentação
social, utilizado por muitos, como forma de expressão política e social.
Tal contexto parece atestar a afirmação de DaMatta (1992, p. 85) quando o autor
enfatiza que nas festas religiosas:
O mundo é englobado e apresentado pelas posições sociais que a sociedade
considera importante. (...) Nisso, eles revelam, ampliando, as diferenças
sociais já existentes no mundo diário, onde as pessoas efetivamente se
distinguem por meio de cadeias hierárquicas que indicam e revelam sua
importância na reprodução da ordem social conhecida.
Assim, devido ao conservadorismo existente, que se caracterizavam como pressões de
inércia, e a ausência de abertura para novas ações e práticas organizacionais, baseadas na
entropia organizacional, iniciou-se o processo de desinstitucionalização, haja vista que a
forma de organização da festa não correspondia ao contexto institucional existente.
Além dos fatores de entropia e inércia a festa sofreu pressões oriundas da dinâmica
social. Considerando que a festa era realizada num espaço público, no centro da cidade,
verifica-se que esta passou a ter um aumento no volume de participantes de classes sociais
76
mais baixas. Paralelamente, o público que habitualmente participava da festa, passou a dispor
de outras oões de lazer e congraçamento e deixou de comparecer aos festejos. Tal fato pode
ser observado, pelo depoimento do Sr. Moisés Leandro da Silva:
Com o tempo a festa foi mudando. Começou a ter muita bagunça. Vinham
pessoas de classe mais baixa, que o respeitavam as moças e a festa
deixou de ser bem freqüentada. Eu mesmo proibi minhas filhas de
participarem da festa. Não era mais a festa das barraquinhas, era a festa da
sarraquinha
7
(Sr. Moisés Leandro da Silva, 85 anos, aposentado.
Entrevista em 20/12/2005).
Como este público era a única fonte de recursos da festa, uma vez este deixando de
freqüentá-la, houve uma queda na arrecadação financeira, fazendo com que a mesma deixasse
de ser rentável. Nas palavras do Sr. Washington do Valle Pereira:
Eu lembro quando era criança e mesmo quando já era maior e fui convidado
pra ser secretário e contador da Irmandade, 52 anos atrás... A festa era
bem diferente. Eles saiam carregando galinha, doce no meio do povo e
faziam o leilão. Quem pagasse mais levava. O tipo de barraquinha era outro,
com galinha viva e com porco pra se leiloar. Isso era uma atração. Contudo,
mudou! Chegou o ponto que isso não respondia mais a necessidade da
população. Porque há cem anos atrás a festa popular era a forma de diversão
das pessoas. Onde as pessoas iam passear? tinham clubes, as pessoas
iam pra calçada conversar. Não tinha televio. Então essa era uma festa
que tinha comida, leilão, cantoria, missa, as novenas... Isso atraía as
famílias. Contudo mudou. A mentalidade das pessoas mudou. Começou a
vir muita gente do morro. Gente de poucas posses. A sociedade
desapareceu, porque não respondia aquilo que foi no passado, que todo
mundo vinha, das pessoas virem, mostrarem a roupa nova. Então, nós
resolvemos parar com a festa, porque ela dava muito trabalho e pouco lucro.
Aqui, ela esteve paralisada durante alguns anos. Mas só a parte social,
porque a parte religiosa nunca se encerrou, sempre houve! (Washington do
Valle Pereira. Provedor da Irmandade do Divino Espírito Santo. Entrevista
em 06/07/2005).
Assim, à medida que a festa deixou de atrair um público de alta renda e os objetivos
econômicos necessários para sua manutenção deixaram de ser alcançados, a mesma foi extinta
em 1983, permanecendo apenas os ritos religiosos, cumprindo o que está definido no
Compromisso e Estatuto da Irmandade, que prevê a obrigatoriedade em se realizar a
celebração religiosa de culto ao Divino.
7
Termo utilizado em alusão aos homens que se aproximavam das moças, sem comum acordo, por meio de atos
libidinosos.
77
4.3 O atual contexto institucional da festa
Em 1996, a festa é resgatada, iniciando o processo de reinstitucionalização, que será
descrito e analisado na próxima seção. Contudo, torna-se necessário anteriormente,
caracterizar o atual contexto institucional, para que haja uma maior compreensão dos fatores
cognitivo-culturais e recursos simbólicos que determinaram as fontes de suporte contextual,
reconhecimento social, prestígio e legitimação aos quais a festa foi submetida ao longo deste
processo, compreendido entre 1996 a 2005.
O contexto institucional da Festa do Divino Espírito Santo do centro de Florianópolis
é formado a partir de elementos culturais e cognitivos, consolidados por meio da interação
social e dos objetivos e exigências de uma série de organizações que definem um sistema de
crenças, normas, valores e exigências aos quais a festa deve atender para obter apoio e
legitimidade.
Considera-se que estes elementos caracterizam-se pelo (i) desenvolvimento das
organizações sociais, que buscam o aumento da profissionalização da gestão, para
obtenção de recursos financeiros, por meio da adoção de técnicas administrativas que
visam a eficiência e eficácia, (ii) preservação e divulgação da ritualização dos
cerimoniais e valores cristãos, (iii) preservação das tradições açorianas e (iv)
desenvolvimento da responsabilidade social empresarial como estratégia de negócios.
De acordo com Archambault e Boumendil apud Monte (2004) os movimentos
assistencialistas e as congregações religiosas assistem os pobres e as populações
desfavorecidas dentro dos conventos, hospitais, escolas e orfanatos séculos, antes mesmo
da emergência da sociedade capitalista. Monte (2004) acrescenta que atualmente as
organizações sociais estão ampliando seus projetos objetivando atender uma demanda social
crescente, devido ao crescimento da população e a falta de atendimento estatal.
78
O declínio do Estado do bem-estar social e a implementação das poticas de Estado
mínimo, onde este se transforma em estado-regulador, em detrimento de um estado-provedor,
tem dado margem para a expansão das organizações sociais, que passam a intervir na
dinâmica social (MONTE, 2004).
Contudo, a expansão das organizações sociais e o desenvolvimento de seus programas
sociais, geram uma necessidade na disponibilidade de recursos para a manutenção de suas
atividades. Assim, evidencia-se que ao longo da década de 90, estas organizações têm
buscado a profissionalização de sua forma de gestão, introduzindo modelos gerenciais que
enfatizam a eficiência e eficácia de suas práticas administrativas, objetivando consolidar suas
parcerias com diversas fontes financiadoras e desenvolvendo mecanismos de sustentabilidade
próprios.
Com a execução de seus programas sociais, a IDES, criou uma dependência de
recursos para manutenção de sua estrutura e passou a adotar valores relacionados à
profissionalização da sua gestão, baseado neste novo cenário social.
De acordo com Alvárez de Mon et al. apud Carvalho (1997) muitas organizações
voluntárias possuem na organização de festas e celebrações uma forma de arrecadação de
recursos por meio da venda de artigos e coleta de doações. O autor acrescenta que a face mais
conhecida desta forma de financiamento remonta as quermesses e festas organizadas pela
Igreja a fim de angariar fundos.
Nesse contexto, a Festa do Divino, por estar diretamente vinculada com a IDES,
tornou-se um pilar de sustentação financeira desta organização. Com isso, os novos valores
presentes no ambiente organizacional da IDES, baseados na profissionalização da gestão e
adoção de técnicas administrativas que visam a eficiência e eficácia, foram transpostos
para o contexto institucional da festa, influenciando a forma como esta é organizada e
realizada.
79
Ademais, como a festa é coordenada pelos integrantes de duas organizações sociais
religiosas (IDES e EMAUS), percebe-se que o contexto da festa é influenciado pela busca da
preservação e divulgação dos cerimoniais e valores cristãos, mais especificamente os dons
do Divino Espírito Santo.
Considera-se que novo contexto político e social vivenciado pela Igreja Católica,
estruturado a partir do desenvolvimento de novas formas de mobilização religiosa e
preservação da cristã, por meio da flexibilização de suas atividades, também é tido como
um valor presente no contexto institucional.
De acordo com Burity (1997) a partir da segunda metade dos anos 80, verifica-se uma
crise da pastoral popular e das igrejas tradicionais, especialmente a Igreja Católica, que
perdeu espaço social frente à emergência ruidosa dos pentecostais tradicionais, e mais
especificamente, a partir dos anos 90, dos chamados neopentecostais. Desta forma, Burity
(1997, p. 39) afirma que “ao longo da década de 90, verifica-se a emergência da figura dos
católicos progressistas e da inserção de novos valores por parte da Igreja Católica apoiando
uma certa abertura do provincianismo (potico, moral, social) eclesiástico para os novos
ventos liberalizantes”, tornando as Igrejas mais modernas e atrativas. O autor acrescenta que
a pastoral popular católica entrou em franco processo de reavaliação, passando a valorizar
mais a dimensão emocional, carismática, mística da fé como específico-religioso inegociável
em relação a qualquer prática politizada intramundana” (BURITY, 1997, p.40).
Percebe-se ainda que ao longo dos anos 90, com a expansão das organizações sociais,
conforme ressaltado anteriormente, a filantropia cristã voltou a obter espaço e legitimidade
social. Para Burity (1997, p.11):
Durante muito tempo, criticou-se o assistencialismo paternalista que as
práticas filantrópicas de instituições religiosas patrocinam. Mesmo no
interior do campo religioso, a ‘esquerda cristã’ se colocava contra isto.
Agora, a filantropia cristã ‘volta à moda’, por assim dizer na esteira dos
movimentos sociais e de iniciativas governamentais em medidas
emergenciais contra a fome, as condições de vida e de emprego
miseráveis da maioria da população.
80
A partir do exposto, assume-se que a reavaliação das práticas cristãs, a necessidade da
Igreja católica em manter seu espaço religioso com a divulgação de seus valores e a
visibilidade obtida pela prática do voluntariado caracteriza-se como elementos de influência
na participação de organizações e indivíduos na realização da festa, fortalecendo alguns
valores do contexto institucional.
Paralelamente, evidencia-se que nos últimos anos, muito tem se discutido acerca do
processo de globalização e de suas implicações nas diversas dimensões da vida humana,
inclusive na modificação da cultura dos povos. Normalmente, ressalta-se que o processo de
globalização ocasionaria uma série de efeitos perversos” e que o mundo estaria se tornando
uma “aldeia global”, onde predominariam os símbolos e ícones da cultura norte-americana.
Contudo, autores como Canclini (2003) afirmam que apesar do processo de
globalização, causar a homogeneização de certas formas culturais, este trouxe também
consigo, uma conseqüência inesperada. Ou seja, a formação de um “movimento nostálgico”
que passou a buscar a reconstituição e preservação das formas culturais populares, baseadas
nas tradições e costumes, reincorporando ritos que simbolizam o passado.
Para DaMatta (1992) as festas expressam situações privilegiadas, pois nestas ocasiões
as pessoas identificam um sentido para suas vidas, que assegura a continuidade da vida
coletiva. Partindo do pressuposto que o homem busca um sentido em tudo na sua vida, o autor
faz uma análise sobre o papel das festas populares, no que tange a construção e preservação
da identidade social.
Ao refletir sobre as formas de se preservar os ritos da cultura popular, tem-se em
Montiel (2003) que o Estado deve desempenhar um importante papel nesse processo,
tornando necessário que este estabeleça poticas para que haja a garantia da preservação das
práticas culturais, tendo em vista que estas podem representar as tradições dos povos. Nessa
linha de pensamento, Canclini (2003, p. 182) afirma que “a ação do Estado deve apontar, para
81
a defesa e o fortalecimento do patrimônio adquirido historicamente nas lutas sociais, nas
culturas nacionais, mantendo-o na memória e nas ações institucionais”.
No contexto institucional da Festa do Divino do centro de Florianópolis,
evidencia-se a busca pela preservação das tradições açorianas, relacionadas não apenas ao
culto ao Divino, mas também a outras formas de expressão popular, como o Boi-de-Mamão e
o artesanato local.
Constata-se também, que o contexto institucional é influenciado pelos objetivos
das empresas privadas, que ao participarem do processo de institucionalização da festa,
determinam regras e normas relacionadas à eficiência e eficácia da coordenação e a
profissionalização dos serviços prestados.
De acordo com Monte (2004) atualmente o conceito de responsabilidade social
empresarial vem sendo utilizado por muitas organizações que desejam diferenciar-se no atual
mercado competitivo. Desta forma, nas últimas décadas tem-se presenciado uma expansão da
adoção de apoio e intervenção empresarial a causas sociais. Para a autora, muitas empresas
utilizam o discurso e a prática da responsabilidade social, buscando adquirir legitimidade
social, ao associar suas marcas e produtos a programas de relevância social.
Assume-se, portanto, que os valores apresentados, caracterizam-se como os principais
fatores de influência no processo de reinstitucionalização da festa, constituindo os parâmetros
de legitimidade e reconhecimento social, presentes no contexto institucional.
4.4 Contexto atual de reinstitucionalização (1996-2005)
A partir de 1996, ocorre a ação de alguns indivíduos objetivando resgatar a festa. Para
Tolbert e Zucker (1998, p. 204) “o processo de institucionalização, é definido como uma
tipificação de ações tornadas habituais por tipos específicos de atores”. Jepperson (1991)
82
acrescenta que a reinstitucionalização é um novo processo de formação institucional,
estruturado em torno de diferentes princípios ou regras antes do processo de
desinstitucionalização.
Considera-se, portanto, que a partir de 1996, inicia-se um novo processo de
institucionalização ou reinstitucionalização da Festa do Divino Espírito Santo no centro de
Florianópolis. Neste novo contexto, definiu-se que o estágio pré-institucional se desenvolveu
nos anos de 1996 e 1997, o semi-institucional entre 1998 a 2000, e que, a partir de 2001 a
festa atinge sua total institucionalização. Desta forma, serão descritos e analisados os estágios
definidos, que se apresentam sintetizados na figura abaixo, por meio das subseções a seguir.
Interesses
em se
resgatar a
festa
Busca de recursos financeiros
para os projetos sociais da
IDES
Impactos positivos
(Alcance dos resultados econômicos esperados)
Inovação
Pré-
institucionalização
1996 e 1997
Semi-
Institucionalização
1998 - 2000
Total
institucionalização
2001 - 2005
Padronização das práticas de gestão
(Desenvolvimento de planejamento formal
com a formação de comissões de organização
e criação de mecanismos de controle)
Baixa resistência dos grupos
(Forte dominação da IDES)
Efetiva participação e
defesa de grupos de
interesse
(Fundação
Franklim Cascaes e EMAUS)
Figura 7(4): Processo de reinstitucionalização da festa entre 1996 e 2005.
83
4.4.1 Estágio pré-institucional (1996 e 1997)
Analisando o contexto de reinstitucionalização, considera-se que o estágio pré-
institucional inicia-se em 1996, como será demonstrado na seqüência, com a iniciativa da Sra.
Lélia Pereira da Silva Nunes
8
, que vinha desenvolvendo pesquisas acerca das tradições da
Festa do Divino e considerou interessante resgatá-la. Nas palavras da Sra. Lélia Nunes:
Eu acho que o desejo de fazer a festa re-surgir foi porque eu vinha
estudando a festa do Divino há alguns anos. Em 1995, eu havia estado nos
Açores para apresentação do artigo Em louvor ao Divino: notícias de uma
tradição, no Congresso das Comunidades Açorianas. eu tive a
oportunidade de reviver as tradições da festa e me deu uma certa saudade
da época que a festa era realizada no centro de Florianópolis, das
tradições. Como eu imaginava que a festa também poderia servir como
fonte de recursos para a Irmandade, eu procurei o Provedor e apresentei a
idéia para ele. Eles não apresentaram nenhuma resistência e me deram
todo apoio para realizar a festa (Lélia Pereira da Silva Nunes. Festeira em
1996. Entrevista em 21/12/2005).
Nesse contexto, a Sra. Lélia Pereira da Silva Nunes foi nomeada pelos membros da
Irmandade, juntamente com seu esposo, o Sr. Sebastião Ivan Nunes, o casal festeiro,
assumindo a responsabilidade de re-organizar e executar a festa.
A festa realizada entre os dias 23 a 26 de maio possuía no discurso de seus promotores
o resgate das tradições açorianas. Somado a esse fator, estabelecia-se à destinação dos
recursos obtidos para os projetos sociais da IDES. Com efeito, pode-se considerar que as
justificativas apresentadas para o seu resgate, apresentavam-se como elementos de relevância
social frente às organizações, instituições e comunidade local.
8
A Sra. Lélia Pereira da Silva Nunes foi professora adjunta IV do Departamento de Ciências Sociais da
Universidade Federal de Santa Catarina entre 1973 a 1993. Durante os últimos 20 anos vem desenvolvendo
pesquisas acerca das manifestações da Festa do Espírito Santo. Em 1995, apresentou o artigo Em louvor ao
Divino: notícias de uma tradição, no Congresso das Comunidades Açorianas, na Ilha de Horta, nos Açores. Em
1996, foi a festeira da Festa do Divino, re-organizando a festa que ficou extinta durante 13 anos. Entre 1997 e
2004, assumiu o cargo de superintendente da Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes. No período
compreendido entre 1998 e 2002 desenvolveu ao abrigo do convênio de cooperação cultural existente entre a
Prefeitura de Florianópolis pela Fundação Franklin Cascaes e o Governo Regional dos Açores – Dirão
Regional das Comunidades – com apoio da Universidade dos Açores, o projeto: “A Festa do Divino Espírito
Santo em Santa Catarina e Açores – 256 anos depois”. Atualmente, a pesquisadora está produzindo o livro: Os
caminhos do divino – a festa do Divino Espírito Santo: um olhar sobre a festa do Espírito Santo em Santa
Catarina e Açores.
84
Assim, com dois meses de antecedência da data de realização da festa, o casal festeiro
reuniu-se com quatro membros da Irmandade, definindo um projeto de execução, que previa a
volta das barraquinhas ocupando o espaço da Praça Getúlio Vargas (situada à frente da
Irmandade), a programação oficial e o enriquecimento dos rituais do cortejo imperial, com a
participação de filhos de famílias tradicionais
9
.
No tocante à forma de organização e planejamento da festa, as ações executadas
parecem confirmar o posicionamento de Tolbert e Zucker (1998, p. 204), quando as autoras
determinam que no estágio pré-institucional ações tornadas habituais referem-se a
comportamentos que se desenvolveram empiricamente e foram adotados por um ator ou
grupos de atores a fim de resolver problemas recorrentes”. Essa afirmativa parece ser
adequada ao contexto de realização da festa, pois se constatou que nesta fase não houve a
utilização de instrumentos gerenciais formais de planejamento e controle como: atas,
contratos e termos de compromisso. Verifica-se também que não existia a definição clara e
quantificada de metas a serem alcançadas e a ausência de uma divisão clara do trabalho e das
tarefas, visto que os coordenadores assumiam diversas funções.
Apesar da coordenação da festa estar restrita, ao casal festeiro, o jornalista e colunista
Moacir Benvenutti e alguns membros da IDES, verifica-se a participação de outros
voluntários e organizações (Prefeitura municipal, Governo do Estado de Santa Catarina,
Banco de Desenvolvimento de Santa Catarina –BESC, Agência de Publicidade Propague,
Colégio Coração de Jesus e empresários locais).
O Poder Público, representado na esfera municipal e estadual, tornou-se um ator de
grande relevância, pois sem as autorizações que regulamentam o funcionamento e o apoio
técnico empregado (limpeza, segurança, rede elétrica), a coordenação da festa teria grande
9
Anteriormente o cortejo era composto pelas crianças carentes que a Irmandade atende por meio dos projetos
sociais.
85
dificuldade em realiza-la, visto que esta ocorreu em uma Praça Pública, dependendo de
autorizações e emissões de alvarás de funcionamento.
Assim, membros das instituições do Poder Público foram contatados pelo jornalista
Moacir Benvenutti, devido a sua influência social, para emissão de autorizações e prestação
de serviços técnicos. A partir das reivindicações apresentadas, os órgãos municipais e
governamentais deferiram as propostas, passando a constituir o campo. Identifica-se a
participação da CELESC na instalação de luz das barracas e manutenção do sistema elétrico;
a prestação de serviços de limpeza pela COMCAP; o policiamento da Praça e imediações pela
Pocia Militar; a concessão pelo IPUF de autorização para interdição das ruas Almirante
Alvim e parte da Herman Blumenau, junto a Praça Getúlio Vargas, de acordo com o que
dispõe o Convênio n. 001/GB/89 IPUF/DETRAM/PMSC; e a autorização n. 532/96
expedida pela Secretaria de Urbanismo e Serviços Públicos, permitindo a instalação de
barracas na Praça Getúlio Vargas.
O Colégio Coração de Jesus que sempre estabeleceu relações de parceria com a
IDES
10
, participou com gestão voluntária da barraca da pescaria e alguns empresários locais
participaram com a doação de recursos necessários.
Verifica-se neste estágio que os contatos estabelecidos estavam preponderantemente
calcados nas relações institucionais que a IDES já possuía com outras organizações (BESC e
Colégio Coração de Jesus) e relações pessoais que os coordenadores (casal festeiro e
membros da IDES) possuíam com organizações e indivíduos da comunidade local, baseadas
em relações de amizade, não havendo uma estruturação formal com regras e normas
claramente definidas.
10
O Colégio Coração de Jesus é administrado pelas Irmãs da Divina Providência que desde a instalação do Asilo
de Órfãos São Vicente de Paulo, tornou-se parceiro da IDES, participando na administração do mesmo.
Ademais, ambas instituições são “vizinhas”, localizando-se ao redor da Praça Getúlio Vargas (local onde a festa
passou a ser realizada).
86
Por meio dos dados coletados, verificou-se que o pouco tempo disponível para o
planejamento da festa e a forma como as ações foram executadas, sem uma clara divisão do
trabalho e baixa utilização de mecanismos formais de planejamento, execução e controle,
ocasionaram uma estrutura informal de trabalho, caracterizada pela formação de arranjos
estruturais de forma independente, sem nenhum tipo de normatização de “como” a festa
deveria ser organizada.
Apesar de Tolbert e Zucker (1998) considerarem que no estágio pré-institucional a
taxa de fracasso estrutural tende a ser alta, verificou-se uma relevante mobilização social que
gerou a obtenção de resultados positivos. A festa obteve uma arrecadação financeira de R$
13.441,57, tornando interessante para a IDES realizá-la no ano seguinte.
Neste sentido, ocorreu o comprometimento de outro casal festeiro em assumir a festa
no ano seguinte, caracterizando uma continuidade e aprimoramento das ações executadas, por
meio da habitualização dos processos.
Além do casal festeiro, Srs. Flávia e Cláudio Ávila da Silva, a IDES designou um
funciorio (Sr. Leandro Antônio Soares Lima) para atuar como coordenador geral
11
da festa
em 1997 e definiu a constituição de comissões de apoio (Infra-estrutura, promoção e
divulgação, financeira, religiosa e coordenação das barracas) geridas por membros da
Diretoria da IDES. Assim, a coordenação elaborou um planejamento formal que sistematizava
as ações a serem executadas e atribuições de papéis.
Considera-se que como a cada edição da festa é designado um novo festeiro, a
constituição da coordenação geral e de comissões de apoio com membros da IDES,
significaram uma grande mudaa no processo de institucionalização, pois permitiu que se
estabelecesse uma continuidade das ações e do planejamento, visto que as mesmas pessoas
11
O Sr. Leandro Antônio Soares Lima permaneceu como coordenador geral da festa até o ano de 2000, quando
em razão de sua demissão da IDES, foi afastado do referido cargo.
87
passaram a desempenhar os mesmos papéis anualmente, reduzindo a variância na
implementação das ações.
As reuniões de organização iniciaram-se com uma antecedência maior (dezembro de
1996) e a festa tinha como meta definida “mobilizar a comunidade, com vistas à construção
da nova sede do Jardim de Infância Girassol, para abrigar 300 crianças provenientes de
famílias de baixa renda, residentes na Grande Florianópolis”. Além destas medidas, foram
realizados contratos com barracas terceirizadas, objetivando a especialização do trabalho.
As organizações atuantes no ano anterior (Colégio Coração de Jesus, órgãos do Poder
Público Municipal e Estadual, BESC e PROPAGUE) se mantiveram presentes e seus
respectivos representantes reuniram-se com maior freqüência por meio de reuniões gerais.
Ademais outras organizações, passaram a auxiliar na realização da festa, fortalecendo o
objetivo de resgatá-la e incorporando outros valores, como o desenvolvimento da
profissionalização da gestão.
Entre as organizações presentes destacam-se a Fundação Cultural de Florianópolis
Franklin Cascaes e o Movimento de Jovens da Igreja Católica (EMAUS), passaram a
executar.
A Fundação é um órgão municipal que busca preservar a herança dos açorianos nas
manifestações da cultura popular em Florianópolis, acompanhando as alterações que surgem
na dinâmica do processo cultural.
Dados empíricos sugerem que a participação da Fundação na festa deve-se ao fato de
que em 1997, a Sra. Lélia Nunes (festeira em 1996), foi designada superintendente da referida
instituição, permanecendo no cargo no período compreendido entre 1997 a 2004. Desta
forma, devido ao seu comprometimento anterior com a realização da festa do Divino,
somados aos objetivos da Fundação Franklin Cascaes em promover a cultura açoriana, foi
possível uma efetiva participação da Fundação na reinstitucionalização da festa.
88
A Fundação tornou-se articuladora entre a IDES e os demais órgãos municipais para
viabilização de autorizações de funcionamento e apoio estrutural na festa, além de
disponibilizar recursos técnicos e financeiros para contratação de shows e montagem de palco.
Verifica-se que o papel desempenhado pela Fundação tornou-se de extrema influência
e importância, devido à alta dependência de recursos e apoio do governo municipal para que
haja a realização da festa. Assim, por meio das relações estabelecidas com a Fundação
Franklin Cascaes, aprimorou-se o relacionamento entre IDES e demais óros do Poder
Público.
O EMAUS é um movimento de jovens da igreja católica que tem como objetivo a
formação de lideranças para atuarem na sociedade e nas comunidades paroquiais. Nesse
sentido, os integrantes do movimento, passaram a participar da festa, gerindo algumas
barracas por meio do trabalho voluntário. Considera-se que a participação dos integrantes do
EMAUS na realização da festa também se constituiu como um elemento de forte importância,
pois estes se apresentam com um grande número de voluntários para gestão das barracas que
comercializam produtos.
conseguinte, a inserção da Fundação Franklin Cascaes e dos jovens do EMAUS,
caracteriza-se como um importante fato, tendo em vista o apoio empregado por estas
organizações no processo de reinstitucionalização da festa.
Observando a programação cultural, constata-se um aumento no número de atrões
artísticas e apresentação de grupos populares
12
, em vistas a aumentar o público participante.
Assume-se que neste estágio, ocorre a hibridização do moderno com o tradicional, visto que
conjuntamente com a apresentação de grupos folclóricos de Boi-de Mamão, que objetivavam
resgatar a tradição açoriana, apresentavam-se bandas de pagode e shows de dança
12
Além da Banda da Polícia Militar e Banda Marcial do Colégio Coração de Jesus, apresentaram-se: o coral
infantil do clube 6 de janeiro, o coral infantil do clube Paula Ramos, o coral das Senhoras de Sambaqui,
apresentação de Boi de Mamão, apresentação de dança com Edson Nunes, conjunto musical “Jeito Manero” e
conjunto musical “Via Brasil”.
89
contemporânea. Contudo, considera-se que apesar dos shows não apresentarem nenhum
vínculo com a tradição, eles se configuravam como alternativas para obtenção de público e a
participação popular.
Com o desenvolvimento do processo de reinstitucionalização, verifica-se o aumento
da profissionalização da gestão. Tal afirmação pode ser comprovada pela introdução de
mecanismos administrativos (atas das reuniões, elaboração do planejamento estratégico,
realização de contratos com barracas terceirizadas, aplicação de questionários de avaliação
com os coordenadores das barracas); e estratégias para atrair um maior volume de pessoas
(shows musicais), que ocasionaram um aumento na arrecadação financeira e no lucro líquido.
Em suma, verifica-se que neste estágio, as ações que inicialmente eram realizadas de
forma empírica, por um pequeno número de pessoas e organizações, passam a serem
objetivadas, buscando a adoção de padrões normativos para a difusão dos valores e práticas,
propiciando uma alta atividade de teorização das práticas organizacionais. Embora, considera-
se que o processo de reinstitucionalização da festa, passa para um estágio semi-institucional.
4.4.2 Estágio semi-institucional (1998 a 2000)
A partir de 1998, constata-se um desenvolvimento de organizações de referência no
processo de reinstitucionalização. O Colégio Coração de Jesus –CCJ, que já se constituía
como uma organização atuante nas duas edições anteriores, tornou-se o festeiro da festa,
representado pela sua Diretora Geral, IrNorma Feuser. Como era ano do centenário do
colégio, a Direção Geral, resolveu assumir o papel de festeiro, inserindo a festa no calendário
de comemorações do centenário do CCJ.
Neste estágio verifica-se uma rápida propagação das formas organizacionais
desenvolvidas ao longo do estágio pré-institucional. Dando prosseguimento às ações para a
90
reinstitucionalização da festa, o CCJ mobilizou cerca de 6000 pessoas, entre funciorios e
alunos, apresentando uma ação incisiva e direta no planejamento e execução da festa, por
meio da tipificação das ações, modelando as estruturas e as práticas organizacionais.
A atuação do CCJ como festeiro, determinou a adoção de uma expressiva
profissionalização da festa, em busca de eficiência e eficácia das práticas organizacionais. Por
meio de um extensivo planejamento, foi desenvolvido um minucioso projeto, que visava o
aumento do público presente, para a maximização da arrecadação financeira. Assim, mesmo
que muitas inovações alterassem os rituais de culto ao Divino, novas práticas foram realizadas
e inseridas na programação da festa, como a inserção do cortejo imperial mirim, o cortejo
imperial infantil, o cortejo imperial com procissão luminosa, a realização de missa campal em
louvor ao Divino e extinção da cerimônia de coroação do Imperador.
Verifica-se que a IDES objetivando o crescimento da festa para aumento da
arrecadação financeira, não se posicionou de forma contrária às inovações trazidas pelo CCJ,
mesmo que estas alterassem as tradições e rituais da festa. Nas palavras da Sra. Lélia da Silva
Nunes:
Em 1997, surgiu a idéia de convidarmos o Colégio Coração de Jesus pra
ser festeiro da festa em 1998, porque eles iriam fazer 100 anos. Então nós
pensamos: “se o público do colégio comparecer, a festa pode crescer
muito”. E a Irmandade sempre precisa de dinheiro, porque muitas vezes
os convênios falham, enfim... Por exemplo, só com dinheiro da festa de
1996, que foi muito precária, a Irmandade comprou uma Kombi, que
ainda é utilizada. Dali pra frente não parou mais. A festa passou a ter um
crescimento muito grande e a Irmandade tem na festa uma arrecadação de
recursos muito importante. Mas teve um erro no percurso do caminho. O
colégio começou a alterar a festa. É claro que isso também faz parte do
processo de mudança cultural, porque o processo o é estático. É um
processo de mudança. Ele altera, muda. Mas a Irmandade deveria olhar
com mais atenção algumas coisas. Porque não houve nenhum tipo de
resistência. Então, o colégio tirou os órfãos do cortejo, eles começaram a
sair do colégio e não mais da Irmandade. Essas coisas eu não acho
correto, porque fazem parte da tradição. Mas é a mudança. A gente o
pode falar nada, tem que ser assim mesmo. E, como a Irmandade precisa
de dinheiro e o provedor percebia que a participação do Colégio poderia
trazer um salto de crescimento para a festa, tudo foi aceito passivamente
(Lélia Pereira da Silva Nunes. Festeira em 1996. Entrevista em
21/12/2005).
91
Tal fato parece demonstrar a força que valores relacionados à utilização da festa como
fonte de recursos financeiros para a IDES, passou a ocupar no processo de
reinstitucionalização e mantiveram-se presentes e legitimados ao longo das outras edições da
festa.
Os processos organizacionais da festa foram ampliados, com a participação de
membros da IDES e funciorios do CCJ nas comissões de organização (Financeira,
Promoção e Divulgação, Religiosa, Coordenação de Barracas, Coordenação de iluminação e
sonorização, Coordenação do altar e de decoração e Coordenação do cortejo imperial) e a
realização da primeira reunião da festa com oito meses de antecedência.
Constata-se também a veiculação de peças publicitárias em diversos meios de
comunicação. A publicidade que nas edições anteriores havia sido realizada de forma pouco
estruturada
13
passou a ser completamente planejada e coordenada por uma agência de
publicidade contratada. Foram comprados espaços publicitários em jornais e mídia televisiva,
para divulgar a realização da festa e distribuídos cartazes e panfletos pelas ruas e organizações
locais. Os cartazes e panfletos passaram a divulgar as logomarcas dos apoiadores. Ao passo
que, a missa campal foi transmitida ao vivo para todo o Brasil pela Rede Vida.
Compreende-se que neste estágio a busca por um expressivo resultado financeiro
torna-se o principal objetivo organizacional, visto que, a divulgação, realizada anteriormente
através do “boca a boca”, dos cultos religiosos e com a distribuição de alguns cartazes e
panfletos, passou a ser realizada pela compra de espaços publicitários em canais de
comunicação privados. Ou seja, estabelece-se uma divulgação de massa visando atrair o
maior público possível, tido como potencial consumidor para os produtos ofertados na festa.
13
A divulgação em anos anteriores ocorreu no “boca a boca” e com a publicação de “notinhas” de colunistas e
jornalistas locais, de forma gratuita.
92
Para o aumento da participação popular, verifica-se que a programação cultural passou
por uma profunda transformação, com a apresentação de bandas musicais de forte apelo
comercial, como o Grupo “Senti Firmeza” e a Banda Zawaju’s.
Ademais, constata-se a utilização de mecanismos de controle, denotando a busca por
uma alta atividade de teorização. Ao término de cada festa, é realizada uma reunião de
avaliação, onde os participantes preenchem questionários que são encaminhados para cada
comissão de apoio realizar seu relatório final.
Ao longo dos dias de realização da festa também são realizados relatórios parciais,
identificando o volume financeiro arrecadado por cada barraca. Esses relatórios permitem um
acompanhamento e avaliação dos resultados alcançados.
De acordo com o Sr. Frederico Tadeu da Silva, os mecanismos de comunicação e
controle, permitem que haja um envolvimento maior dos voluntários na festa, como pode ser
observado a seguir:
Sempre que se fecha um dia de festa é apresentado o balanço no outro dia,
e quando a festa termina tem a reunião geral de avaliação. Isso motiva as
pessoas, porque depois a gente chega na reunião do secretariado do
movimento e a gente percebe que as nossas barracas deram lucro de
tantos reais para a Irmandade, comparando com as outras. Isso influencia,
porque o jovem precisa deste tipo de motivação (Frederico Tadeu da
Silva, Ex-secretário e membro do EMAUS e Irmão da IDES. Entrevista
realizada em 23/12/2005).
Além dos relatórios de avaliação verifica-se que o projeto de planejamento constitui
uma importante ferramenta de comunicação, pois define claramente as atribuições e papéis
das organizações e voluntários envolvidos.
Considera-se que a alta teorização das práticas gerenciais, por meio do aumento no
tempo de planejamento das funções e utilização de técnicas administrativas (como a divisão
do trabalho, especialização das tarefas, realização de campanhas publicitárias), propiciou o
aumento no sucesso estrutural, visto que a festa obteve um expressivo aumento na
93
arrecadação financeira em relação aos dois anos anteriores. A festa obteve um rendimento de
R$ 88.201,87, enquanto em 1996 a arrecadação havia sido de R$ 13.441,57.
Assim, verifica-se que a festa passa a ser reinstitucionalizada a partir da adoção de
novos valores, ou seja, a profissionalização da gestão, visando o aumento na arrecadação
financeira e não mais imbuída do sentimento exclusivo de preservação das tradições
açorianas, especificamente do culto ao Divino.
Pode-se exemplificar tal afirmação, a partir da constatação do tipo de programação
cultural realizada, onde ocorre um predonio de shows populares de massa, que apesar de
o ter nenhum vínculo com a tradição do culto ao Divino, ou com a tradição açoriana,
caracterizavam-se como atrações para um expressivo público-consumidor. Nesse sentido,
considera-se que a tradicional festa do Divino passou a ser um “instrumento para a
arrecadação de recursos financeiros para os projetos da IDES.
Em 1999, verifica-se uma permanência das ações adotadas, evidenciando a
normatização de valores institucionais e das práticas organizacionais orientadas para a
obtenção de recursos financeiros, comprovando a continuidade das ações que não estavam
mais voltadas exclusivamente na preservação dos ritos e costumes da Festa do Divino.
Tais práticas apresentaram-se tipificadas, na realização da festa do ano de 2000, com a
convocação do Sr. Esperidião Amin Helou e da Sra. Ângela Regina Heizen Amin,
respectivamente, Governador do Estado de Santa Catarina e Prefeita de Florianópolis na
época.
O casal que atuava na festa, coordenando voluntariamente a barraca árabe, passou a
ter uma atuação maior, articulando diversas parcerias com novos atores que ingressaram no
campo, especialmente com óros estatais. Nesse sentido, constata-se a busca por um
profissionalismo ainda maior da gestão que ocasionou a maximização da lucratividade. Na
descrição de um item do relatório final da Comissão Organizadora da festa de 2000, entende-
94
se que “deve ser avaliado o custo/benefício de cada barraca e se considerar a sua
manutenção”.
No setor privado, constata-se a formalização de contratos de patronio, como a
participação da empresa de telecomunicações TIM Celular, que efetuou um patrocínio de R$
10.000,00 e passou a dispor de logomarca em todo o material gráfico e publicitário produzido,
além da presença de banners da referida empresa, no espaço físico da Praça Getúlio Vargas.
Com a constatação do aumento do número de barracas terceirizadas e com a inserção
da TIM Celular, como organizações presentes no processo de reinstitucionalização, verifica-
se uma alteração na forma de estruturação das relações entre as organizações e os voluntários.
Estas que até então eram estabelecidas primordialmente em torno de relações pessoais dos
membros da Irmandade e dos organizadores (orientadas por valores de solidariedade e
caridade, calcadas no trabalho e apoio voluntário), passam a se fortalecer também por meio
relações impessoais.
Contudo, faz-se necessário salientar que a vinculação dos membros por valores de
solidariedade, desenvolvida por meio do trabalho voluntário, permaneceu como forte
elemento na estruturação do campo. Tal afirmação pode ser evidenciada pela mobilização de
700 voluntários que participaram na coordenação da festa e geriram 62 barracas, sendo que 22
eram terceirizadas.
No setor público, constata-se o aumento da influência dos órgãos estatais. Os dados
sugerem que tal fato seja em decorrência da influência da ação dos festeiros, visto que o casal
compunha-se respectivamente do Governador do Estado de Santa Catarina e da Prefeita da
cidade de Florianópolis.
Assim, a Assembléia Legislativa contribui com uma doação de R$ 8.500,00, o
Ministério da Cultura com R$ 50.000,00 e a barraca da loteria do divino obteve como receita
95
R$ 88.390,00
14
.Além disso, os outros órgãos municipais e estaduais (IPUF, FLORAM,
CELESC, CASAN, CODESC, Polícia Militar, e Fundação Franklin Cascaes) que
participavam, permaneceram no campo, fornecendo autorizações para funcionamento da festa
e realizando apoio técnico.
A comissão de pré-eventos criada na edição de 2000, buscando a obtenção de maior
volume de recursos, realizou anteriormente ao período de realização da festa, um show com o
cantor Oswaldo Montenegro no Teatro do Centro Integrado de Cultura - CIC, que
contabilizou uma renda de R$ 31.796,00 advindas da venda de ingressos e patrocínio.
A ação dos festeiros e da coordenação geral da festa, objetivando um maior
profissionalismo da gestão e fortalecendo as relações com o Poder Público, permitiram que se
alcançasse um aumento considerável na arrecadação dos recursos. A festa teve uma receita de
R$ 476.556,20, com um lucro líquido de R$ 266.044,14 repassados integralmente a IDES.
Os dados sugerem que a profissionalização da gestão começou a se expandir de tal
forma que alterou práticas religiosas estabelecidas e se sobrepôs aos elementos inseridos na
festa que buscavam preservar a tradição açoriana, como se pode evidenciar pelos seguintes
trechos do relatório final da Comissão Organizadora: “o horário das missas deve ser mais
cedo e a duração deve ser no máximo de 90 minutos, para não interferir no bingo” e algumas
barracas, como o crivo (R$ 46,00), o corresponderam à expectativa, mesmo que se
considere a necessidade de se manter a tradição açoriana e trazer atrativos diversificados para
a festa”.
De acordo com o exposto, pode-se considerar que a “cultura popular” torna-se objeto
para obtenção de recursos financeiros. Os símbolos da tradição tornam-se “produtos” que
são mantidos se forem constituídos como fonte lucrativa de recursos.
14
Os produtos da Loteria do Divino foram provenientes da doação de produtos apreendidos pela Receita Federal.
96
4.2.1.3 Estágio de total institucionalização (2001 a 2005)
Ao longo do processo de reinstitucionalização, verifica-se que devido ao resultado
financeiro obtido com a festa em 2000, muitas ações adotadas foram “tidas como certas” e os
padrões estabelecidos tornaram-se sedimentados. Assim, ao longo dos anos seguintes ocorreu
a manutenção e normatização das ações realizadas e o aprimoramento da estrutura
organizacional.
Neste contexto, em 2001, as comissões organizadoras foram mantidas, o planejamento
da festa o foi alterado e a programação cultural permaneceu a mesma. Em 2002, verifica-se
uma maior preocupação com a gestão dos recursos financeiros, conforme consta na ata da
primeira reunião da comissão geral “o coordenador apresentou o projeto da festa aos presentes
e ressaltou que o objetivo é gastar o nimo possível na montagem da festa, ou seja, reduzir
os custos e aumentar a arrecadação”.
Assim, evidencia-se a formação de novas comissões (assuntos jurídicos, limpeza e
conservação) e a busca por uma maior participação de voluntários, visto que, ao longo dos
anos, estava ocorrendo um crescimento no número de barracas terceirizadas. Apesar de alguns
coordenadores considerarem que as barracas terceirizadas ofereciam produtos de maior
qualidade e possuíam maior profissionalismo na prestação dos serviços, uma outra parcela,
considerava que o trabalho voluntário representava uma excelente alternativa para redução
dos custos, haja vista que a renda obtida pelos voluntários era repassada integralmente a
IDES.
Desta forma, optou-se por uma maior aproximação com os integrantes do EMAUS,
visando reduzir o número de barracas terceirizadas, como pode ser evidenciado pelo trecho da
entrevista, transcrito abaixo:
Em 2002 a questão do voluntariado foi alterada. Nas reuniões gerais nós
tentamos identificar alternativas para arrecadar mais recursos para a
festa. Então, optou-se por diminuir o número de barracas terceirizadas e
foi proposto que o EMAUS participasse mais ativamente da festa. Daí
97
nós passamos a cuidar de cerca de 80% das barracas de voluntários. Foi
um passo bastante grande do movimento em se tratando da festa do
divino. Nas outras épocas, nos só cuidávamos da barraca dos doces e do
cachorro quente. Em 2002, quando tentamos envolver mais voluntários,
passamos a atender junto com a irmandade o crepe, a bebida, o doce, o
cachorro quente, a barraca de sopa; além da fiscalização das
barraquinhas e de apoio no setor de segurança. (Frederico Tadeu da
Silva, Ex-secretário e membro do EMAUS e Irmão da IDES. Entrevista
realizada em 23/12/2005).
Nesse sentido, o aumento da interação entre IDES e EMAUS, resultou na montagem
de 53 barracas, sendo que destas, apenas12 eram terceirizadas. No tocante a este fato,
observa-se um fato interessante. As ações para se estreitar os laços de solidariedade, calcados
no trabalho voluntário, não ocorreram objetivando aumentar a participação popular e o
desenvolvimento de relações entre IDES e sociedade, mas objetivando diminuir os custos
operacionais e aumentar os ganhos financeiros.
Verifica-se que o objetivo foi alcançado por meio do relatório final da coordenação
que destaca “repassamos 51,96% do arrecadado para a IDES, sendo que em 2000 foi 47,38%
e em 2001, 44,91%”. Assim, a festa obteve uma arrecadação de R$ 306.216, 82 e um repasse
de R$ 159.288,77.
Constata-se neste estágio que devido à legitimação da festa, alcançada frente às
organizações participantes e a sociedade como um todo, surge o interesse de organizações
privadas em participarem da festa. Tal afirmação pode ser evidenciada pela participação de
um supermercado local (Hippo Supermercados), em atuar como apoiador e patrocinador da
festa. Nas palavras da Sra. Fátima Maria de Lourdes:
A parceria com o Hippo Supermercados surgiu porque eles tinham um
projeto para desenvolver ações sociais, para desenvolver a
responsabilidade social. s apresentamos o projeto da Festa e eles
aceitaram participar. Como o resultado foi bom, o Hippo se tornou
parceiro da Irmandade e atualmente além da festa, desenvolve outros
projetos conosco, como o auxílio nas reformas do orfanato “. (Fátima
Maria de Lourdes, Secretária Administrativa da IDES desde 1997.
Entrevista realizada em 23/12/2005).
98
Os dados coletados e as entrevistas realizadas sugerem que por meio de interesses
privados, como obtenção de uma imagem socialmente responsável, aliados aos interesses da
IDES, em obter mais apoio para a realização da festa, o Hippo Supermercados, tornou-se uma
organização presente na realização da festa, atuando em todas as edições a partir de 2002.
Com a sedimentação dos processos e a permanência das organizações participantes ao
longo das edições da festa, evidencia-se a sua legitimação por meio da participação social e
do envolvimento direto de voluntários, organizações públicas e privadas e não-
governamentais.
DiMaggio e Powell (1991) afirmam que as organizações podem modificar suas metas
ou desenvolver novas práticas, e novas organizações podem entrar no campo. Mas, em longo
prazo, atores organizacionais que tomam decisões racionais constroem em torno de si mesmos
um ambiente que restringe suas habilidades em continuar mudando nos anos seguintes.
A afirmação dos autores parece ser confirmada por meio dos dados coletados, que
demonstram uma tendência de preservação das ações adotadas ao longo dos anos, sem o
desenvolvimento de ações inovadoras, como pode ser percebido por trechos das atas das
reuniões de 2003: “Foi refletido sobre a programação da festa, ficando decidido de que
segui praticamente tudo o que foi desenvolvido nos anos anteriores, realizando-se apenas
alguns ajustes” (trecho da ata da 2
a
reunião geral da festa de 2003” e “o slogan da festa deverá
ser o mesmo, sendo uma forma de padronizar o reconhecimento da festa” (treco da ata 3
a
reunião geral da festa de 2003.
Desta forma, o se identificou novas ações estratégicas ou mudanças relevantes no
processo de reinstitucionalização ao longo de 2003, constatando-se uma tendência à
manutenção das formas organizacionais desenvolvidas.
Neste estágio, observa-se a busca por um maior contato e aumento na comunicação
entre os atores, objetivando a formação de sistemas de controle e estabelecendo padrões de
99
conduta. Desta forma, além das reuniões realizadas com freqüência pela coordenação geral e
da aplicação de questionários de avaliação ao término de cada festa, constata-se o
desenvolvimento de ações que aumentam o fluxo de informações e controle entre as
organizações, como demonstra o trecho da ata da 5
a
reunião geral da comissão organizadora
de 2003: “ficou definido que haverá em cada barraca terceirizada uma pessoa da IDES,
responsável como elo de ligação entre a coordenação da festa e a respectiva barraca”.
Além do aumento na comunicação entre as organizações, constata-se que a festa ao
tornar-se institucionalizada altera as posições de poder nas relações organizacionais,
influenciando a definição de decisões a serem tomadas.
A descrão do processo de reinstitucionalização demonstra a presença do Poder
Público, como influente organização, à medida que ocorre uma grande dependência de
recursos, apoio técnico e autorizações dos órgãos estatais para que a festa ocorra. Assim,
evidencia-se que a tomada de decisão em relação às ações a serem realizadas, considera os
interesses do Poder Público, ocasionando a consulta a estas Instituições, antes de serem
realizadas mudanças nas ações, como pode ser comprovado pelo trecho da ata da 2
a
reunião
geral da comissão de 2003 A barraca dos ceramistas o vale a pena continuar, pois os
recursos arrecadados foram irrisórios, a menos que seja requisito da Fundação Franklin
Cascaes/Prefeitura Municipal de Florianópolis”.
Em contrapartida, outras organizações, que também compõe o campo, o possuem
tanto poder de influência, como pode ser comprovado pelo trecho da ata da 1
a
reunião geral
da comissão de 2003: “O Sr. Élson questionou sobre a possibilidade de transferir a data da
Festa em função de que esta coincidirá com o retiro do Movimento EMAUS, o que foi
considerado inviável pelos presentes, pois a festa deve preservar o calendário religioso”.
A influência do Poder Público é constatada também no ano posterior, quando o
Governo Federal baixou a medida provisória que proibia a realização de bingos. Desta forma,
100
o bingo que anualmente era realizado pela coordenação da festa e constituía-se numa forma
de atração popular, foi extinto e os brindes doados pela Receita Federal passaram a ser
integralmente comercializados, não se constituindo mais como prêmios do bingo. Em ata da
9
a
reunião geral da comissão organizadora de 2004 tem-se que “em função da indefinição da
possibilidade de se fazer o bingo e também em atenção a Receita Federal que solicitou que
o se utilizassem os brindes para este fim, ficou definido que não haverá bingo na festa deste
ano”.
Além da extinção do bingo não se verificaram mudanças expressivas na estruturação
do campo e na forma de organizar a festa ao longo de 2004. As comissões foram mantidas
com as mesmas atribuições e funções e os demais atores permaneceram oferecendo o mesmo
tipo de apoio. Constatou-se apenas o aumento no número de atores relacionados ao setor
privado, como a inserção da empresa Editograf, que passou a fornecer o material de
divulgação, e, o aumento no número de barracas terceirizadas.
Contudo, devido as crescimento da festa e a grande participação popular, tendo em
vista a realização de shows de massa gratuitamente num espaço público, verificou-se um
aumento considerável no número de ocorrências policias, ao longo dos anos, atingindo seu
ponto máximo em 2004, quando uma pessoa foi assassinada nas proximidades da festa.
Desta forma, a partir de 2005, o planejamento da festa passou por alterações, onde as
organizações buscaram rever a programação da festa, propondo resgatar o espírito familiar. A
ocorrência de tal fato demonstra a influência da dinâmica social, onde os problemas sociais,
como a violência, interferem na forma de realização das festas populares, alterando a
programação estabelecida e o horário de funcionamento.
Nas palavras do festeiro de 2002 e membro da comissão financeira em anos anteriores,
tem-se que:
Infelizmente a gente percebeu que os shows populares acabam
aumentando a violência, porque como é realizado em um espaço público,
101
acaba atraindo todo tipo de gente. Isso é uma das mudanças da cidade que
dificulta esse tipo de festa. Cresce a violência e viu. Nós tivemos até
assassinato ao redor da festa. Isso é um complicador que não depende
nem da Irmandade, nem dos organizadores, porque é um problema do
Poder Público. Coisas imponderáveis, porque a violência é um fato no
país inteiro e aqui na região tem crescido nos últimos anos. Naturalmente
o aumento da violência acaba por dificultar manter esse tipo de festa. Eu
não sei como resolver isso. Mas uma das medidas que nós tomamos em
2005, foi alterar a programação dos shows, para resgatar mais a presença
das famílias (Amaro Lúcio da Silva. Festeiro em 2002 e membro da
Comissão Financeira. Entrevista em 23/12/2005).
A necessidade de mudanças na programação, também podem ser percebidas nas
palavras do Sr. Frederico Tadeu da Silva:
Eu corroboro com as mudanças em se retirar shows, como a banda
Zawaju’s, e trazer atrações mais locais, mais calmas. Eu acho que isso é
melhor porque tumultua menos a festa. Se vo colocar uma banda de
pagode ou rock é uma coisa que tumultua. Porque a praça Getúlio Vargas
fica cercada por morros, ela fica bem no centro. Então é claro, como a
festa tem o caráter popular fica aberta para todo mundo. Então como
descem pessoas boas, descem pessoas ruins. Tanto que em 2003, foi
horrível! Aquele parquinho ficou lotado de gente. Torna-se até questão de
segurança. Em 2004, houve tiroteio na Av Hercílio Luz. O nosso pessoal
do crepe tava saindo e o tiro comendo. É uma coisa que preocupou e nós
organizadores, tomando a precaução de: “Não! Vamos fazer uma festa
mais de dia”. Daí da pra perceber que em 2005 as programações
encerraram antes... Pra voltar aquela coisa de festa da família. Aumentou
a segurança e aumentou a questão da tranqüilidade, porque as pessoas vão
lá, almoçar, ver as crianças se apresentarem, ver os shows culturais, boi
de mamão... Torna-se uma coisa mais atrativa para as famílias. Pra
juventude não é tão atrativo (Frederico Tadeu da Silva, Ex-secretário e
membro do EMAUS e Irmão da IDES. Entrevista realizada em
23/12/2005).
A partir do fato ocorrido em 2004, a comissão organizadora de 2005 se reuniu com 10
meses de antecedência da data de realização da festa e realizou 14 reuniões gerais, para rever
as ações adotadas e o planejamento da festa. De acordo com o provedor da Irmandade
Atualmente nos tivemos um cuidado, porque começou a ficar muito
perigoso. Hoje qualquer conglomerado desse é perigoso. Vinha a negada
do morro, a nata da vagabundagem, com droga e tudo. Começamos a
mudar e hoje não tem mais isso! A música é toda mais popular, com
crianças, coro, boi de mamão. Voltamos com o folclore! Boi de mamão,
pau de fita... Essas coisas que são da tradição açoriana. Então voltamos a
trazer pessoas. As pessoas de classe social mais alta voltaram a fazer
parte da festa. (Washington do Valle Pereira. Provedor da Irmandade do
Divino Espírito Santo. Entrevista em 06/07/2005).
102
O depoimento do provedor da IDES, parece comprovar que as alterações que
ocorreram na forma de realização da festa objetivavam diminuir o número de ocorrências
policiais, em virtude da necessidade de permanência da presença da classe social mais alta,
que propicia o retorno financeiro. Em nenhum momento identificaram-se estratégias para que
os problemas relacionados à violência fossem sanados e permitisse uma maior participação de
toda sociedade. Ou seja, as alterações foram realizadas em virtude da existência e da definição
de um público-alvo (classe social mais alta) que garante a arrecadação de recursos financeiros
para os projetos da IDES.
Assim, verificou-se a mobilização entre as organizações participantes no processo de
planejamento, coordenação e execução da festa, para uma reavaliação da forma como esta
havia sendo executada. O trecho da segunda reunião da comissão central organizadora da
festa do Divino de 2005 comprova tal fato, como pode ser observado a seguir.
Foi debatida a pauta apresentada pelo Coordenador Geral, entre todos os
presentes, tendo sido deliberado que a festa relativa ao ano de 2005,
totalmente voltada para a família, será realizada entre 12 e 15 de maio,
sendo que, na quinta e sexta feira, iniciará seu funcionamento às quinze
horas, no sábado às onze horas e no domingo após a missa, encerrando-se,
todos os dias, as vinte e três horas. Os shows serão voltados para a família,
vedada à apresentação de bandas ou conjuntos que possam provocar
distúrbios no local
15
”. (Trecho da ata da segunda reunião da comissão
central organizadora da festa de 2005)
Faz-se necessário salientar que nos anos anteriores a programação da festa, o previa
horário de encerramento, contudo, devido à preocupação com a violência, a coordenação da
festa passou a restringir um horário de funcionamento.
Na elaboração de um novo planejamento, as comissões de apoio foram reformuladas,
definidas como: coordenação de secretaria, financeira, de assuntos jurídicos, de infra-
estrutura, de compras, de assuntos religiosos, de programação da festa e contratação, de
15
Nas quatro edições anteriores a programação da festa foi composta pelas principais bandas de Florianópolis:
Mirabilis, Salamantra, Zawaju’s.
103
divulgação e propaganda, das apresentações, da coordenação de barracas, de segurança e
limpeza, de voluntários, da comissão de brindes, do cerimonial e de pré-eventos.
O material publicitário foi reformulado, alterando layout e slogan dos panfletos e
evidenciando a frase “A festa da família de Florianópolis”. Ademais, por meio da observação
direta no período de realização da festa, de 12 a 15 de maio, foi possível verificar a ênfase
atribuída ao caráter familiar. Durante os quatro dias de realização da festa, o locutor afirmou
que “A cultura é a alma da sociedade. É isso que queremos resgatar. A festa não traz apenas o
público, mas traz a família. Vamos comemorar a Divina festa! A festa da família! Das
famílias de Florianópolis!”.
Nesse aspecto torna-se interessante perceber, que o público, tido como volume no
número de participantes, não se torna objetivo dos organizadores da festa, mas sim a família,
tida como “público-consumidor”, que participa da festa consumindo os produtos e serviços
oferecidos. Conforme foi ressaltado anteriormente, em nenhum momento constatou-se
evidências em se buscar aumentar a participação popular e aumentar a segurança,
independente destas pessoas consumirem ou não produtos. O foco do público da festa dirigiu-
se claramente para as famílias de alta renda de Florianópolis.
Em suma, pode-se concluir que o processo de reinstitucionalização da festa foi
orientado por valores relacionados à profissionalização da gestão, por meio da adoção de
práticas gerenciais que visam a eficiência e eficácia. Estas começaram a ser desenvolvidas a
partir de 1997, por meio das reuniões gerais de planejamento que se iniciaram com uma
antecedência maior, como pode ser verificado pelo gráfico abaixo:
104
0
2
4
6
8
10
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Antecedência das reuniões gerais
Inicio das reunioes
Gráfico 1(4): Antecedência das reuniões gerais da data de realização da festa.
Observando o gráfico constata-se que não uma data uniforme para o início das
reuniões. Analisando os demais dados obtidos, pode-se sugerir que o início das reuniões
estaria, de certa forma, vinculada com as inovações na festa, pois nos anos de 1998, 2000 e
2005, a forma de organização da festa, alterou consideravelmente.
Em 1998, o Colégio Coração de Jesus, atuou como festeiro e buscou realizar uma
grande festa para comemoração de seu centenário, demandando um maior tempo de
planejamento para execução da festa. Em 2000, o Governador do Estado de SC e a prefeita de
Florianópolis, assumiram o cargo de casal festeiro e buscou desenvolver uma maior
articulação com os órgãos públicos. Em 2005, devido ao aumento no número de ocorrências
policias, a festa passou por alterações na programação cultural.
Nas festas posteriores aos anos de 1998 e 2000, não se verificaram grandes mudanças
estruturais no campo. As ações realizadas anteriormente foram “tidas como certas” e apenas
buscou-se a manutenção das mesmas.
Ao analisar o resultado financeiro obtido nas edições da festa, verifica-se que foi
justamente nos anos em que foram incorporadas inovações, que a festa apresentou um
aumento na arrecadação financeira. A partir do momento, que se inicia o estágio de total
institucionalização, as ações realizadas foram mantidas e ocorreu uma baixa variância na
105
implementação das mesmas, demandando um menor tempo de planejamento.
Concomitantemente, verifica-se que nesta fase a arrecadação financeira diminuiu, como pode
ser visualizado pelo gráfico abaixo.
0,00
100.000,00
200.000,00
300.000,00
400.000,00
500.000,00
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Rendimento da Festa
Arrecadação Total
Gráfico 2(4): Evolução do rendimento da festa ao longo dos anos
A constatação de tal fato parece confirmar a afirmação de DiMaggio e Powell (1991),
quando os autores enfatizam que à medida que uma inovação é incorporada ao campo
organizacional, alcança-se um estágio, onde a permanência de tal ação visa proporcionar
legitimidade em vez de melhorar o desempenho.
Contudo, considera-se que ao longo dos anos a festa obteve uma expressiva
arrecadação financeira, permitindo que houvesse uma percepção conjunta, entre as
organizações e os voluntários participantes, de que a forma organizacional adotada se
constitui como eficaz, necessária e legítima. Este fator é considerado por Tolbert e Zucker
(1998) como um dos aspectos que caracterizam o estágio de total institucionalização.
A promoção e o apoio cultural de grupos defensores é definido pelas autoras, como
outro fator que determina o estágio de total institucionalização. Nesse sentido, assume-se que
a festa obteve ao longo de suas edições um efetivo apoio do Poder Público, especialmente por
106
meio das relações estabelecidas com a Fundação Franklin Cascaes, do EMAUS e do Colégio
Coração de Jesus.
De acordo com o Sr. Décio Bertoluzzi, coordenador de eventos e ações comunitárias
da Fundação Franklin Cascaes.
A Fundação sempre auxilia a realização da Festa do Divino, porque nós
consideramos que a festa preserva as tradições açorianas. Não pelo
culto ao Divino, mas porque sempre existe apresentação de grupos
folclóricos, como os grupos de Boi-de-mamão, e artesanato local. Outra
coisa importante é a parte gastronômica que passou a ser desenvolvida.
Na festa sempre tem restaurantes que trabalham com pratos regionais
como a tainha e o pirão. A parte gastronômica cresce cada vez mais, e a
festa é um cartaz pra essas coisas da tradição. E a função da Fundação é
justamente, auxiliar na preservação desse tipo de atividade. Tudo que a
Irmandade precisa para realizar a festa, e que esteja ao nosso alcance, nós
providenciamos, como: montagem de palco, liberação de alvará com os
outros órgãos municipais, instalação de banheiros públicos, policiamento,
divulgação e até mesmo, recursos financeiros (Décio Bertoluzzi.
Coordenador de eventos e ações comunitárias da Fundação Franklin
Cascaes. Entrevista em 19/12/2005).
Por fim, a baixa resistência de outros grupos, caracteriza-se como mais um fator que
garante a legitimação e total institucionalização da festa.
Assim, considera-se que a festa foi reinstitucionalizada, ao longo dos anos, a partir de
outros valores e normas. Os tradicionais boldos, símbolo da comunhão igualitária entre as
pessoas, onde se distribuíam comida e bebida gratuitamente, não existem mais. A comunhão
entre as pessoas estabelece-se em um espaço demarcado por barracas, que comercializam
produtos, caracterizando uma área de comércio. Ou seja, as pessoas têm a possibilidade de
participar efetivamente da festa, caso se posicionem como consumidores”. Nesse contexto,
identifica-se que o público deixa de ser visto como sujeito no processo de socialização e
celebração da fé, para ser considerado “consumidor” que deve ser induzido a consumir a
maior quantidade de produtos e serviços.
A forma de planejamento da festa é totalmente baseada em ações instrumentais, onde
se busca alcançar objetivos econômicos. Desta forma, desenvolve-se um maior
107
profissionalismo da gestão e inserem-se tecnologias modernizantes que atraiam maior público
e, conseqüentemente, gere mais recursos.
Nesse contexto, verifica-se que a festa deixa de realizar-se em torno da celebração da
das pessoas e passa a ter como foco a profissionalização da gestão para atendimento da
demanda dos bens ofertados, que irão gerar recursos para os projetos sociais da IDES.
4.5 Relação do contexto institucional com o processo de
reinstitucionalização da festa
O objetivo deste estudo é analisar de que forma o contexto institucional influenciou o
processo de reinstitucionalização da Festa do Divino Espírito Santo do centro de
Florianópolis. A partir da descrição do contexto institucional da festa, no item 4.3 e da análise
do processo de reinstitucionalização, no item 4.4, objetiva-se aqui relacionar os fatores do
contexto institucional que influenciaram as práticas organizacionais adotadas.
Ao buscar descrever o contexto institucional, considerou-se que os principais
elementos que o caracterizam, referem-se ao (i) desenvolvimento das organizações sociais,
que buscam o aumento da profissionalização da gestão, para obtenção de recursos financeiros,
por meio da adoção de técnicas administrativas que visam a eficiência e eficácia, (ii)
preservação e divulgação da ritualização dos cerimoniais e valores cristãos, (iii) preservação
das tradições açorianas, e (iv) desenvolvimento da responsabilidade social empresarial como
estratégia de negócios.
Paralelamente, analisando o processo de reinstitucionalização da festa, verificou-se
que as principais organizações de influência são as organizações sociais, (IDES e EMAUS);
os órgãos públicos representantes da esfera municipal, estadual e federal, e articulados
108
essencialmente por meio da Fundação Franklin Cascaes; o Colégio Coração de Jesus e as
empresas privadas (terceirizados e Hippo Supermercados).
Para tanto, a figura abaixo busca relacionar os valores do contexto institucional com as
práticas destas organizações.
Profissionalização
da gestão de
organizações
sociais
Preservação e
divulgação dos valores
cristãos
IDES EMAUS
Volunrios
Festa do
Divino
Espírito
Santo do
centro de
Florianópolis
Colégio
Coração
de Jesus
Poder
Público
Empresas
Privadas
Preservação das
tradições
açorianas
Responsabilidade social
como estratégia de
negócios
Figura 8(4): Relação do contexto institucional com as práticas das organizações.
As organizações da sociedade civil que atuam na festa têm na sua gênese uma lógica
caritativa, baseada em valores de solidariedade e fraternidade. Por meio da realização do
trabalho voluntário, de seus dirigentes e alguns colaboradores, estas organizações esperam
que a festa obtenha um bom resultado financeiro para ser revertido em recursos na
manutenção de programas sociais. Identificam-se duas organizações da sociedade civil de
109
expressiva atuação no processo de realização da festa: a Irmandade do Divino Espírito Santo e
o Movimento EMAUS.
A IDES, é a organização de maior influência na definição da forma de realização da
festa. Por ser a organização responsável pela sua realização desde o início, exerce um forte
domínio e determina grande parte das práticas organizacionais.
Ao fundar o orfanato em 1910, a IDES passou a atuar na área da assistência social e ao
longo dos anos foi ampliando seus programas sociais, possuindo atualmente cinco programas
sociais. Desta forma a IDES possuí uma grande dependência de recursos para a manutenção
de sua estrutura.
Situada num contexto caracterizado pelo desenvolvimento de organizações sociais,
considera-se que a IDES, assumiu este valor, presente também no contexto institucional da
festa, buscando desenvolver uma profissionalização da gestão, como pode ser verificado pelas
palavras do Provedor da IDES:
Antigamente o espaço era menor, a população era menor, então era mais
fácil organizar a festa. Atualmente tudo é muito maior. Tudo tem que ser
calculado, medido, com uma antecedência muito grande. Antigamente não!
Botava as barracas e saía. Hoje não! Temos que contratar som, contratar
palco, altar. Tudo tem que ser contratado né? Mas as coordenações são
todas voluntárias (Washington do Valle Pereira. Provedor da Irmandade do
Divino Espírito Santo. Entrevista em 06/07/2005).
Desta forma, a IDES desenvolve uma série de práticas organizacionais objetivando
legitimar a festa em relação à profissionalização da gestão. Entre as ações desenvolvidas,
pode-se citar a formação da comissão geral de organização e subcomissões de apoio,
realização de shows populares, terceirização dos serviços e aprimoramento da infra-estrutura
física da festa.
A comissão geral e as subcomissões de apoio foram criadas em 1997 e expandiram-se
ao longo do processo de reinstitucionalização da festa, de acordo com cada necessidade
110
funcional identificada. As coordenações possuem tarefas definidas e estabelecidas no
planejamento organizacional, sendo controladas por meio das reuniões gerais.
Analisando os documentos internos, verifica-se que as subcomissões de apoio
sofreram alterações ao longo dos anos, o que denota a busca por uma clara divisão e
especialização do trabalho. A estruturação das comissões de trabalho pode ser visualizada
pelo quadro a seguir.
Ano 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Número total de
Subcomissões
- 5 8 5 6 11 13 13 13 19
Infra-estrutura
Promoção e Divulgação
Financeira
Religiosa
Barracas
Iluminação e
sonorização
*
Altar e decoração
*
Cortejo Imperial
*
16
Programão
Pré-eventos
Segurança
Voluntários
Compras
Brindes
Loteria do Divino
Assuntos Jurídicos
Limpeza e conservação
Contratação
Apresentações
Quadro 6(4): Subcomissões de apoio ao longo dos anos de realização da festa.
Ademais, é válido ressaltar que apesar de se constituir como uma festa popular, a festa
do Divino é uma alternativa de entretenimento e lazer. Desta forma, ela concorre com outras
opções de lazer, para a obtenção de público. De acordo com o Sr. Washington do Valle
Pereira:
Cem anos atrás as festas populares era a única forma de diversão das
pessoas. Onde as pessoas iam passear, se divertir, se encontrar? Não
existiam muitas opções de lazer. As pessoas iam para a calçada conversar,
16
Considerou-se que a criação da sub-comissão de cerimonial correspondia as sub-comissões de iluminação e
sonorização, altar e decoração e cortejo imperial.
111
para os clubes... Nem a televisão sequer existia. As festas populares atraiam
as pessoas, porque tinham comida, leilão, música. Ou seja, uma forma das
pessoas se encontrarem, conversarem e se divertir. Mas atualmente, existem
muitas alternativas de lazer. As pessoas não precisam mais esperar por uma
festa popular, porque existem diversas festas ocorrendo todos os dias.
Assim, atrair público para uma festa popular, torna-se cada dia mais difícil.
s concorremos com todos esses outros meios de diversão. Por isso, nós
tivemos necessariamente que, mudar a programação pra uma programação
que trabalhasse com a atual realidade (Washington do Valle Pereira.
Provedor da Irmandade do Divino Espírito Santo. Entrevista em
06/07/2005).
Em resposta às pressões por inovação, identifica-se que ao longo das edições buscou-
se desenvolver a programação cultural e a gastronomia, objetivando atrair um público maior.
Assim, verifica-se a realização de shows de apelo social, com bandas de pagode e rock, onde
as músicas populares o se referem mais às músicas baseadas na tradição, com suas
quadrinhas e ritos antigos, mas à música popular com letras americanizadas e tocadas na
maioria das rádios. A parte gastronômica também foi alterada, inserindo a terceirização de
parte dos serviços para restaurantes locais. De acordo com Décio Bertoluzzi, coordenador de
eventos e ações comunitárias da Fundação Franklin Cascaes:
Antigamente não tinha a parte gastronômica. A festa era organizada
apenas em torno da parte mais tradicional, com as celebrações religiosas e
apenas algumas barracas voluntárias de doces e cachorro-quente. Hoje ela
tomou uma dimensão grande, com a parte da gastronomia, com
restaurantes de frutos do mar, churrascaria. Isso tudo atrai um público
maior e permite a arrecadação de fundos seja maior. Porque antigamente a
Festa do Divino era bem diferente. Eles andavam com a bandeira,
passando na casa das pessoas e as pessoas doavam vinho, doce e galinha.
Daí eles rezavam e depois se fazia uma grande festa. Hoje se buscou
desenvolver essa parte da gastronomia mais profissionalizada. (Décio
Bertoluzzi. Coordenador de eventos e ões comunitárias da Fundação
Franklin Cascaes. Entrevista em 19/12/2005).
Buscando proporcionar alternativas que atraiam público, a IDES buscou aprimorar a
parte gastronômica da festa, introduzindo a terceirização de parte dos serviços, por considerar,
que os restaurantes locais tem a possibilidade de fornecer produtos de maior qualidade e com
a utilização de uma o-de-obra mais qualificada. Assim, verifica-se o aumento da
112
terceirização das barracas ao longo dos anos. Por meio do gráfico, a seguir, torna-se possível
verificar o aumento no número de barracas terceirizadas.
0
5
10
15
20
25
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Número de Barracas Terceirizadas
Gráfico 3(4): Evolução do número de barracas terceirizadas ao longo dos anos.
Em relação à terceirização das barracas, o Sr. Amaro Lúcio da Silva considera que:
O que eu percebo que vem mudando muito na forma de realização das
festas é a terceirização das barracas. Cada vez mais entram terceirizados e
eu acho que isso descaracteriza um pouco o espírito da festa. Antes tinha
mais aquele espírito comunitário de família, dos voluntários. No ano em
que eu fui festeiro, nós tentamos diminuir um pouco, porque vinha
aumentando cada vez mais. Mas novamente a terceirização voltou a
crescer. Acho que isso se deu pra facilitar e por causa da dificuldade que
existe do trabalho voluntário. Porque participar na festa exige muito
tempo e muito trabalho. Então eu considero que a terceirização desvirtua
um pouco esse espírito de participação e solidariedade entre as pessoas
(Amaro Lúcio da Silva. Festeiro em 2002 e membro da Comissão
Financeira. Entrevista em 23/12/2005)
O representante do movimento EMAUS, Sr. Frederico Tadeu da Silva, corrobora com
o posicionamento das implicações do aumento no número de barracas terceirizadas quando
afirma que:
Um fato importante a se considerar é o aumento do mero de barracas
terceirizadas. A avaliação nós fizemos na reunião do secretariado foi que
as barracas terceirizadas desmotivam um pouco o nosso pessoal. Eu não
sei porque aumentam as barracas terceirizadas, porque o nosso
rendimento sempre é muito bom. Mas mesmo assim a gente continua
participando, dependendo da demanda que a Irmandade faz do nosso
pessoal (Frederico Tadeu da Silva, Ex-secretário e membro do EMAUS e
Irmão da IDES. Entrevista realizada em 23/12/2005).
113
Contudo, outros atores apresentam-se favoráveis ao aumento no número de barracas
terceirizadas por consideraram que este tipo de serviço ao prestar um serviço profissional e de
qualidade, atrai um público maior, como pode ser verificado pelo depoimento do Sr. Élson
Goedert, a seguir:
Existe um pouco de discussão sobre a questão dos terceirizados. Muitos
consideram que não deveria existir. Mas s consideramos que muitas
pessoas participam da festa por causa da parte gastronômica. E nós não
temos condições de oferecer serviços de qualidade como os restaurantes
locais possuem. Eles trabalham em cima disso o ano todo, tem pessoal
treinado, são especialistas no que fazem. Os voluntários são muito
importantes, ajudam muito, mas a terceirização também é importante
porque os restaurantes atraem um público muito grande. Muitas pessoas
deixam de almoçar sábado ou domingo em casa, para virem almoçar na
festa. Antes não existia isso (Élson Rogério Goedert, Coordenador geral
da festa do divino de 2005. Entrevista em 10/11/05).
De acordo com o exposto, evidencia-se que a terceirização das barracas é uma questão
polêmica, não obtendo consenso entre os participantes, em relação à sua utilização.
Além do aumento da terceirização da parte gastronômica, identificou-se que
paralelamente às tradicionais barraquinhas de entretenimento (como a pescaria e o cavalinho),
foram inseridos jogos eletrônicos e máquinas de fliperama, como forma de atrair adolescentes
e jovens; e, a instalação de brinquedos para as crianças, como piscina de bolinhas e cama
elástica.
Outra ação organizacional adotada foi à modificação do local de realização da festa.
Esta passou a ocupar todo o espaço sico da Praça Getúlio Vargas
17
e ruas que a circundam.
Na praça é montada uma grande estrutura: com palco para apresentação dos shows, barracas
de alumínio para a comercialização de produtos, toldos para proteção em caso de chuva e são
instaladas cadeiras e mesas, para o conforto do público. Como a praça é um espaço público,
exige-se a participação da polícia militar, para bloquear ruas do trânsito e realizar a segurança
e policiamento do local.
17
Festa é realizada na Praça Getúlio Vargas, no centro da cidade e à frente da IDES.
114
Ademais, verificou-se que os atores conjuntamente buscam maximizar a utilização do
espaço físico por meio da instalação de barracas que comercializem produtos que estimulem
as pessoas a consumir, como pode ser evidenciado por meio de trecho da ata da 9
a
reunião:
O coordenador Élson passou a palavra a arquiteta Maria de tima para
expor a Planta das Barracas da Festa (ver anexo A). A distribuição se
quase igual as dos anos anteriores. Ela sugeriu que seja ocupado o lado da
capela por um restaurante ou cantina. O tesoureiro Paulo Armando lembrou
que o espaço é muito bom para ficar ocioso. Dona Selva sugeriu butique de
roupas. O coordenador Élson lembrou que jogos eletrônicos seriam um
chamariz para o Bazar. O senhor Lamir sugeriu “Tratoria do Guto” e vai
fazer contato com o dono (Trecho da ata da nona reunião da comissão
central organizadora da festa de 2005)
Desta forma, verifica-se que a IDES desenvolve rias práticas, orientadas pela
profissionalização da gestão e adoção de técnicas gerenciais.
Além da profissionalização da gestão por meio da adoção de práticas gerenciais, a
IDES busca preservar os ritos religiosos, especialmente o culto ao Divino Espírito Santo.
Neste sentido, a IDES coordena a realização do tríduo preparatório, do Cortejo Imperial e da
Missa Campal. Apesar destas cerimônias, terem sido alteradas ao longo do tempo, constata-se
que elas ainda preservam de certa forma, os ritos do Divino Espírito Santo.
Observa-se que tais ações estão em consonância com o atual contexto da Igreja
Católica, que tem buscado flexibilizar suas ações a fim de preservar e divulgar seus valores
religiosos.
Concomitantemente, ao realizar a Festa do Divino, a IDES auxilia na preservação da
cultura popular, visto que esta festa é símbolo das tradições açorianas. Assim, além dos rituais
do Divino, é inserida na programação cultural apresentação de grupos folclóricos, como Boi-
de-Mamão.
O quadro abaixo busca demonstrar a relação das ações da IDES, com os valores do
contexto institucional.
115
Organização Descrição Objetivo Ação
Valores
institucionais
IDES
Irmandade do
Divino Espírito
Santo
Instituição
filantrópica, de
caráter não
governamental,
que atende 1200
crianças e
adolescentes
carentes por
meio de cinco
programas
sociais.
- Arrecadar recursos
financeiros com a festa
para a manutenção dos
programas sociais
desenvolvidos
- Realizar a festa do
Divino para: preservar
valores religiosos
Práticas gerenciais
- Organizar e
coordenar a festa
- Seus membros
compõem a
comissão
organizadora
- Coordenar
terceirização dos
serviços
Técnicas
modernizantes
- Realização de
shows populares
- Aprimorou infra-
estrutura física da
festa
Coordenação ritos
religiosos
- Tríduo
preparatório
- Cortejo
- Missa Campal
- Profissionalização
da gestão e adoção
de técnicas
administrativas que
visam à eficiência e
eficácia
- Preservar e
divulgar a
ritualização dos
cerimoniais e
valores cristãos,
especialmente do
culto ao Divino
Espírito Santo.
Quadro7(4): Relação do contexto institucional com as ações organizacionais da IDES
Outra organização social, atuante no processo de reinstitucionalização é movimento
EMAÚS, composto por jovens da Igreja católica, que objetiva formar lideranças para atuar na
sociedade e nas comunidades paroquiais. Desta forma, seus membros participam da festa,
movidos pelo sentimento de solidariedade e auxilio em atividades assistenciais, realizando um
trabalho voluntário, buscando a preservação e divulgação dos valores cristãos.
A participação do EMAÚS na festa ocorre mediante um encontro de interesses, como
pode ser percebido pelo trecho da entrevista realizada com um membro do EMAÚS, Sr.
Frederico Tadeu da Silva:
Eu acredito que o interesse pela formação da parceria entre IDES e
EMAUS ocorreu dos dois lados: o interesse do jovem em participar da
festa (porque é um objetivo do próprio movimento) e o interesse da
Irmandade em ter pessoas de confiança para trabalhar na festa. Além
disso, o trabalho voluntário quando bem executado, gera menos despesa e
mais lucro pra festa, atendendo o intuito maior que é ajudar a Irmandade.
(Frederico Tadeu da Silva, Ex-secretário e membro do EMAUS e Irmão
da IDES. Entrevista realizada em 23/12/2005).
Assim, os participantes do EMAÚS atuam por meio do trabalho voluntário na festa,
cumprindo com os objetivos organizacionais do movimento, relacionados com a solidificação
116
de movimentos calicos, que buscam a preservação e divulgação dos valores cristãos. O
quadro abaixo apresenta a relação dos valores institucionais com o papel desempenhado pelos
voluntários do EMAÚS.
Organização Descrição Objetivo Ação
Valores
institucionais
EMAÚS
Movimento da
igreja católica de
jovens, de
formação de
lideranças para
atuarem na
sociedade e nas
comunidades
paroquiais.
- Atuar na preservação
dos valores religiosos e
desenvolver práticas
solidárias
- Membros
participam por
sentimento de
solidariedade e
voluntariedade
- Equipes trabalham
em barracas
voluntárias
- Membros auxiliam
no processo de
comunicação entre
barracas e
Comissão
organizadora nos
dias da festa
Preservar e
divulgar valores
cristãos
Quadro 8(4): Relação do contexto institucional com as ações organizacionais do EMAÚS
Os Órgãos blicos também são de fundamental importância na realização da festa,
pois oferecem apoio técnico e financeiro, além de emitir as autorizações necessárias para a
utilização do espaço público, atuando como regulador e fomentador da festa. Estes órgãos são
articulados a partir da Fundação Municipal de Cultura Franklin Cascaes, que tem por objetivo
institucional preservar a herança dos açorianos nas manifestações da cultura popular em
Florianópolis. Assim, reunindo esforços para que a Festa ocorra e represente uma tradicional
cerimônia da cultura açoriana, os Órgãos Públicos, apóiam a realização do festejo, de acordo
com suas disponibilidades. De acordo com o Sr. Frederico Tadeu da Silva:
O Poder Público ajuda bastante. Eu acho que sem a participação deles,
ficaria mais complicado da festa acontecer. Desde a colocação de um
cano, para pia de determinada barraca, ate pra liberação do alvará de
funcionamento das barracas. Além disto, o próprio patrocínio do Governo
do Estado e da Prefeitura. Com certeza se eles não participassem ficaria
bem complicado da festa acontecer, porque é um investimento alto que
não tem de onde sair. E o papel da Fundação Franklin Cascaes é
justamente esse né? Preservar a cultura açoriana. Então, eles cumprem a
função deles e ajudam a Irmandade (Frederico Tadeu da Silva, Ex-
secretário e membro do EMAUS e Irmão da IDES. Entrevista realizada
em 23/12/2005).
117
Neste sentido, para obter legitimidade frente a estas organizações a festa deve manter
os ritos da Festa do Divino e a apresentação de outros elementos da cultura popular,
proporcionando a preservação da cultura açoriana. Atuando de forma conjunta, a Fundação
e os organizadores da festa, inserem na programação da festa a apresentação de grupos de
danças folclóricas, como Boi-de-Mamão.
Concomitantemente, os organizadores buscam preservar os laços com o Poder
Público, em suas diversas instâncias, como pode ser verificado pelo depoimento abaixo:
O bingo, que fazia parte da tradição da festa, atraia um grande número de
senhoras e arrecadava uma boa quantia de dinheiro, teve que ser cancelado
esse ano, porque o Governo Federal determinou a proibição dos bingos.
Mesmo sabendo que poderíamos não ter problemas, preferimos não arriscar.
Até porque é a Receita Federal quem faz a doação de muitos produtos para
serem comercializados no bazar. Então, preferimos desenvolver uma
política de “boa vizinhança”
18
. (Élson Rogério Goedert, Coordenador geral
da festa do divino de 2005. Entrevista em 10/11/05).
O quadro abaixo apresenta a relação dos valores institucionais com o papel
desempenhado pela Fundação Franklin Cascaes.
Organização Descrição Objetivo Ação
Valores
institucionais
Fundação
Franklin
Cascaes
Órgão de cultura
da Prefeitura
Municipal de
Florianópolis
Auxiliar na realização
de festas populares
para preservação dos
costumes de tradição
açoriana.
- Articulação com
demais órgãos
municipais para
autorizações de
funcionamento
- Auxílio com
recursos para
montagem de palco
e programações
artísticas locais
Preservação da
cultura açoriana
Quadro 9(4): Relação do contexto institucional com as ações organizacionais do Poder Público
Verificou-se que ao longo do processo de reinstitucionalização da festa, à medida que
esta, torna-se legitimada em relação à sociedade, surge um interesse de empresas privadas, em
participar da sua realização. Acredita-se que este interesse surja devido a atual demanda
social, que enfatiza a necessidade das empresas adotarem práticas socialmente responsáveis,
18
O volume financeiro, arrecadado com as vendas dos produtos importados, doados pela Receita Federal em
2005, totalizou R$ 41.879,00.
118
por meio da participação em eventos sociais ou auxiliando organizações sociais. Nesse
sentido, identificou-se que as organizações privadas buscam participar da festa, devido suas
estratégias de negócios, que identificam na festa a possibilidade de divulgar suas marcas e
seus produtos, e, além disto de associarem suas marca a uma festa tradicional, coordenada por
uma entidade filantrópica, permitindo a divulgação de uma imagem de empresa, dita,
“socialmente responsável”. Nas palavras do Sr. Eduardo Blanco:
O convite para participar da festa surgiu de um membro da Irmandade e
analisando a proposta, eu e meu sócio achamos que seria interessante
participar, que nosso restaurante localiza-se aqui nessa região. Se eu
tivesse que elencar uma ordem de prioridade para participar, diria que
participamos primeiramente porque acreditamos que esta seria uma boa
possibilidade de divulgar nosso produto para um público que
consideramos seleto nessa região. Depois, pela questão do lucro. Apesar
de ter que repassar 30% da receita obtida para a Irmandade consideramos
que ainda é possível obter lucro. E, posteriormente, unindo ‘o lucro com o
agradável’, pretendemos ajudar a Irmandade e assim desenvolver nossa
responsabilidade social (Eduardo Blanco, proprietário do restaurante Boi
na Casa, barraca do churrasco. Entrevista em 13/05/2005)
Organização Descrição Objetivo Ação
Valores
institucionais
Empresas
Privadas
(TIM Celular,
Hippo
Supermercados,
Boi na Casa,
Toca do Paru)
Organizações do
setor privado que
atuam
fornecendo
patrocínio ou
atuando como
terceirizados na
prestação de
serviços
- Desenvolver uma
imagem de empresas
socialmente
responsáveis
- Divulgar suas marcas
e seus produtos
- Patrocínio em
dinheiro
- Prestação de
serviços em
barracas
terceirizadas que
destinam 30% da
renda obtida para os
projetos sociais da
IDES.
Desenvolvimento
da responsabilidade
social empresarial
como estratégia de
negócios
Quadro 10 (4): Relação do contexto institucional com as ações organizacionais das empresas privadas
O Colégio Coração de Jesus é administrado pelas Irmãs da Divina Providência, tendo,
portanto, uma vinculação com a religião católica. Desta forma, o colégio busca preservar e
divulgar os valores cristãos por meio de suas ações. Apesar de atuar na Festa desde o seu
surgimento, o CCJ passou a participar mais ativamente da Festa, a partir de 1998, ano em que
assumiu o papel de festeiro.
119
Nesta ocasião, por ser o ano de seu centenário, o colégio identificou a possibilidade de
realizar a comemoração da referida data, vinculando sua imagem com a Festa do Divino.
Neste sentido, considera-se que a festa tornou-se um instrumento para divulgação de uma
imagem socialmente responsável do CCJ.
Através da análise de trechos da ata da primeira reunião geral (descritos a seguir), já se
torna possível identificar a definição de alguns itens, que demonstram o objetivo em se
realizar uma “grande” festa, tanto no aspecto religioso, quanto social:
A história do Divino deve ser resgatada pelos professores já no início do
ano letivo; o resgate à tradição será ponto de destaque (...) Um dos
objetivos se atingir as famílias através das crianças (...) Deve ser feita
reunião inicial com todos os professores do colégio para apresentação do
projeto da festa (...) Foi decidido por uma decoração chamativa, alegre e
bonita (...) A iluminação deve ser motivo de preocupação, queremos a
praça bem mais iluminada do que em anos anteriores (...) O sábado e o
domingo devem ser dois dias grandiosos, com apresentações artísticas
constantes (...)”.(Trechos da ata da primeira reunião da comissão central
organizadora da festa de 1998).
O quadro abaixo apresenta a relação entre os valores institucionais e o papel do
Colégio Coração de Jesus na realização da Festa.
Organização Descrição Objetivo Ação
Valores
institucionais
Colégio Coração
de Jesus
Colégio
particular das
Irmãs da Divina
Providência
- Auxiliar na
preservação dos rituais
católicos e disseminar
os valores cristãos
- Desenvolver uma
imagem socialmente
responsável
- Em 1998, utilizou
a festa como forma
de comemoração de
seu centenário.
- Apoio técnico
- Remodelou os
ritos do Divino
- Montagem do
palco e do cortejo
imperial
- Gestão de barracas
voluntárias
- Desenvolvimento
da responsabilidade
social empresarial
como estratégia de
negócios
- Preservar e
divulgar valores
cristãos
Quadro 11(4) : Relação do contexto institucional com as ações organizacionais do Colégio Coração
de Jesus
Em suma, pode-se concluir que os valores do contexto institucional são incorporados
nas práticas organizacionais e guiam as ações adotadas, sendo claramente explicitados no
projeto da coordenação geral. Neste documento, a coordenação define como justificativa para
120
realização da festa que “o culto ao Divino Espírito Santo, se converte numa tocante ação
evangelizadora; a preservação e a perpetuação da cultura açoriana se dará com ações como a
festa, que revivem as tradições; e, a manutenção dos programas da IDES está diretamente
ligada aos recursos auferidos a cada edição da festa”.
Neste contexto, os objetivos que passam a nortear a ação da coordenação são: (i)
divulgar e propagar a devoção ao Espírito Santo, mantendo vivas as tradições da festa, através
de ações solidárias e de vivência religiosa; (ii) oportunizar espaços para divulgação da cultura
açoriana, como danças, teatros e outras manifestações artísticas tipicamente açorianas; (iii)
arrecadar parte da renda necessária à manutenção dos programas de atendimento da IDES; e
(iv) oportunizar as famílias florianopolitanas espaços de lazer com segurança e bom
atendimento.
Constata-se, portanto, a vinculação existente entre o contexto institucional e a forma
de realização da festa. As ações organizacionais adotadas buscam legitimar a festa, de acordo
com os valores presentes no contexto institucional.
121
5 Considerações finais e indicações complementares
Nesta etapa do trabalho, torna-se possível apresentar algumas considerações a respeito
do tema em estudo, bem como propor recomendações para pesquisas futuras.
Desta forma, as considerações finais foram estruturadas em duas seções. A primeira
relaciona-se com o processo de institucionalização e desinstitucionalização da festa,
considerando de que forma esta ocorre, quais os rituais e valores que a caracterizam e os
motivos que ocasionam a sua desinstitucionalização. A segunda refere-se à influência do
contexto institucional em seu processo de reinstitucionalização, apresentando as reflexões da
autora, sobre os novos valores e práticas organizacionais que se desenvolvem entre 1996 e
2005.
Posteriormente, são propostas recomendações para estudos futuros, tendo em vista
alguns questionamentos que surgiram e que não puderam ser respondidos neste trabalho,
devido ao escopo de análise definido e as limitações existentes.
5.1 Processo de institucionalização e desinstitucionalização
da festa
Tendo como interesse central compreender de que forma o contexto institucional
influenciou o processo de reinstitucionalização da Festa do Divino Espírito Santo no centro de
Florianópolis, este trabalho foi desenvolvido à luz da Teoria Institucional e as análises foram
122
fundamentadas em torno dos conceitos de contexto institucional e processos de
institucionalização, desinstitucionalização e reinstitucionalização.
Jepperson (1991) afirma que o processo de reinstitucionalização representa a adoção
de novas práticas organizacionais devido à legitimação de novos valores sociais, diferentes
daqueles presentes no processo de institucionalização.
Sobre o processo de institucionalização da festa, compreende-se que em sua origem, a
realização da festa, estruturava-se em torno de valores de solidariedade, igualdade e
religiosidade, por meio de ações para cultuar a figura do Espírito Santo, que permitia a
integração de todas as pessoas, independente de classe social. Desta forma, realizavam-se os
boldos, que representavam a partilha entre todas as pessoas e evocavam-se as cantorias do
Divino, simbolizando a religiosa. A comemoração estruturava-se, sobretudo em torno da
mobilização popular, sem a existência de uma organização formal, caracterizando uma festa
popular religiosa.
É interessante observar que ao ser transposta para Florianópolis, por meio da tentativa
dos membros das tradicionais famílias em preservar os símbolos da cultura açoriana, a festa
foi institucionalizada em torno de outros valores e adquiriu uma nova forma de organização.
A festa simbolizava assim a preservação dos costumes açorianos pelos membros das
tradicionais famílias florianopolitanas. Nesse sentido, ela conferia identidade a estas pessoas,
que a comemoravam objetivando a criação de um espaço comum de lazer e socialização.
Contudo, esta iniciativa foi desenvolvida apenas por uma parcela da sociedade, que se
organizou por meio da formação de uma Irmandade, articulada de forma fechada, com a
participação restrita de membros. Ou seja, a festa era organizada “pelas” e “para” as pessoas
da alta sociedade. Nesse sentido, ao longo do processo de institucionalização, a festa popular
religiosa se transformou numa festa social, onde as pessoas identificavam a possibilidade de
“ver” e “serem vistos”.
123
A coordenação da festa, por meio da ação dos membros da Irmandade, caracteriza-se
como um importante aspecto a ser ressaltado, visto que, as pressões organizacionais e as
mudanças estruturais desta organização social, influenciam diretamente na forma de
realização do festejo.
Ao analisar o processo de mudança institucional, Oliver (1992) sugere que pressões
políticas, funcionais, sociais, de inércia e entropia, podem influenciar a desinstitucionalização
de uma prática ou estrutura organizacional. As afirmações da autora parecem ser evidenciadas
no contexto de realização da festa, conforme se expõe, por meio das considerações a seguir.
Verificou-se que devido à ocorrência de pressões políticas, como a mudança de
legislação, as práticas organizacionais da IDES foram alteradas, visto que além de organizar a
Festa do Divino, seus membros passaram a gerir um orfanato no início do século XX. Tal
mudança caracterizou-se como uma pressão funcional na estrutura organizacional da festa,
que devido à remoção de incentivos, passou a depender de outras formas de arrecadação
financeira. Nesse sentido, novas práticas foram inseridas, como a comercialização de produtos
e serviços, que deveriam apresentar lucratividade, para a manutenção do festejo.
No tocante, a este aspecto, assume-se que os participantes da festa, tidos na sua
gênese, como fiéis em busca da celebração dos valores religiosos, passaram a ser vistos como
um público consumidor, que poderia gerar os recursos necessários para sua manutenção.
Assim, identifica-se o desenvolvimento de uma gica instrumental que visa a obtenção de
ganhos financeiros, com a comercialização dos produtos, em detrimento da preservação dos
laços sociais e religiosos baseados em relações de reciprocidade.
Ademais, a dinâmica social, caracterizada pelo surgimento de outras opções de lazer
(novos espaços de socialização, festas em clubes sociais, televisão, cinema), representa
pressão social, visto que a festa passou a concorrer com novas formas de entretenimento,
demandando inovações organizacionais para a manutenção do público-alvo.
124
A constatação de tal fato parece evidenciar a afirmação de Dumazedier (2000),
quando o autor enfatiza que antigamente, as festas populares representavam a única opção de
lazer, que proporcionava ruptura com a rotina do cotidiano. Contudo, o autor considera que
atualmente, as atividades de lazer são diversificadas e amplamente praticadas, fazendo com
que as festas populares percam espaço na vida cotidiana.
Paralelamente, evidencia-se que com o aumento da participação de pessoas de baixa
renda ao longo dos anos, ocorreu a popularização da festa; contudo, conforme ressaltado
anteriormente, os membros da IDES, caracterizavam-se por ser uma elite extremamente
conservadora e fechada. Desta forma, os organizadores não receberam com bons olhos, as
alterações que vinham ocorrendo. Neste sentido, compreende-se que a entropia e a inércia
organizacional, baseada no forte conservadorismo dos membros da IDES e na ausência de
inovações organizacionais, somadas as outras pressões existentes, constituíram-se como
fatores que ocasionaram a desinstitucionalização da festa, extinta em 1983.
5.2 Contexto institucional e processo de
reinstitucionalização da festa
Considera-se que a reinstitucionalização da festa foi caracterizada pela incorporação
de valores do contexto institucional nas práticas organizacionais. Assim, definiu-se que estes
valores estavam relacionados com o aumento da profissionalização da gestão de organizações
sociais, a preservação e divulgação das cerimônias e valores cristãos, a preservação das
tradições açorianas e o desenvolvimento da responsabilidade social empresarial como
estratégia de negócios. Por meio da análise de dados, demonstrou-se como estes valores
influenciam as práticas organizacionais, determinando o tipo de ação social que cada
organização desempenha.
125
Contudo, percebe-se que entre os valores presentes no contexto institucional, a
profissionalização da gestão é o fator de maior influência nas práticas organizacionais,
sobrepondo-se muitas vezes em relação aos demais fatores como, por exemplo, a preservação
das tradições açorianas e dos rituais religiosos.
Foi constatado que os membros da IDES, ao perceber que poderiam utilizar a festa
como uma expressiva fonte de recursos para os projetos sociais da Irmandade, passaram a se
organizar formalmente e se articular com outras organizações, para realizá-la anualmente,
utilizando-a como instrumento para a arrecadação de recursos financeiros, orientados sob uma
ótica utilitarista.
Apesar do lucro obtido com a festa, ter como finalidade a alocação em projetos
sociais, identifica-se um forte desejo de obter ganhos financeiros com a comercialização dos
produtos, em detrimento da preservação dos laços sociais baseados em relações de
reciprocidade.
Assim, percebeu-se que são desenvolvidas várias práticas com a finalidade de se
buscar a profissionalização da gestão, como a formação de comissões de apoio, realização de
reuniões de planejamento freqüentes, terceirização de serviços, elaboração de contratos e
relatórios de avaliação. Paralelamente, são inseridas atrações na programação da festa, que
atraem o público, mas não têm relação com tradição.
De acordo com Dumazedier (2000, p.80):
Atualmente, as festas tradicionais proporcionam oportunidade para reuniões,
mas não apresentam mais o significado mágico-religioso. Não são mais
cerimônias sacras, mas acontecimentos profanos, divertimentos coletivos.
(...) a festa tradicional destinada à distração, a interpretação entre o antigo e
o novo contem em si mesma, outros significados (...) nas quais o
divertimento e a recreação tendem a colocar-se acima da participação cívica
ou espiritual.
Neste sentido, verifica-se claramente que a afirmação de Dumazedier (2000)
representa a dinâmica social atual, pois enquanto a celebração religiosa da festa de 2005
126
possuía a participação de um reduzido número de pessoas, constatou-se um elevado número
de participantes na área reservada à comercialização de produtos e realização de shows.
Neste sentido, questionou-se diversas vezes até que ponto a hibridização do moderno
com o tradicional permite que a festa não se torne inteiramente descaracterizada?
Ao extinguir os bodos, as cantorias, as novenas, o peditório, a cerimônia de coroação
do Imperador, como se comprova a existência de símbolos da Festa do Divino Espírito Santo?
Ou seja, quais são os elementos que permitem identificar que está a se realizar a Festa do
Divino Espírito Santo e não outra festa qualquer?
Refletindo sobre os mbolos que caracterizam a festa, sugere-se que talvez os
símbolos que a caracterizem e mantenham a sua identidade com a sociedade não seja mais a
pomba branca, a bandeira do Divino ou as cantorias; mas, a Praça Pública onde ela é
realizada, a permanência da atuação dos membros da IDES, a venda do pinhão e do quentão
anunciando o inverno que se aproxima.
Ao possuir como valor central à profissionalização da gestão, talvez os símbolos que a
caracterizam, sejam aqueles relacionados com o tipo de prática exercido: o comércio. Ou seja,
a festa pode ser simbolizada pelo espaço sico que ocupa, o tipo de produto comercializado,
as pessoas que trabalham para sua realização, entre outros.
Tais alterações também o percebidas por outros pesquisadores sociais, como fica
evidente no depoimento do Sr.
Joi Cletison Alves:
Na festa do centro, sempre se busca convidar alguém de renome social para
ser festeiro. Claro que essas pessoas vão trazer um monte de gente de
renome, vai mobilizar secretarias, a prefeitura... Mas essas pessoas não têm
identidade com o povo, com a das pessoas. Com isso, vai perdendo a
identidade. É uma festa que gera muito, muito, muito dinheiro mesmo, então
precisa de uma estrutura bem maior. E isso vai descaracterizando a festa. Eu
fui à festa no centro que tinha shows diversos, parque de diversões que
não tem nada a ver com a festa. Então perdeu a identidade. O ritual da
coroação é muito descaracterizado. Ainda bem que preserva essa coisa da
fraternidade, porque a Irmandade do Espírito Santo atende crianças, através
do orfanato. Ainda bem que preserva isso! Porque senão, a gente podia dizer
que não era mais Festa do Divino Espírito Santo. É qualquer coisa, menos
Festa do Divino. A hora que se perder a coisa da fraternidade, eles podem
127
fazer qualquer festa e chamar de qualquer nome, mas não de Festa do
Divino. Por isso que está descaracterizada. Eles estão levando cada vez mais
shows, produção, mais isso, mais aquilo, mas ainda tem um objetivo no
fundo que é atender as crianças carentes. Mas eu não vejo aquilo ali como
um ritual do Espírito Santo, relacionado aos Açores. Hoje os rituais do
Divino, se perderam praticamente todos na Festa do centro (Joi Cletison
Alves. Coordenador Geral do Núcleo de Estudos Açorianos. Entrevista em
06/08/2005).
Destarte, considera-se que a partir da necessidade de recursos financeiros da IDES, a
realização da festa passou a ter como objetivo central à lucratividade. Assim, apoiada na
justificativa de que os recursos obtidos serão aplicados em projetos sociais, às organizações
participantes, os voluntários envolvidos e o público participante, não questionam as alterações
que estão sendo introduzidas e que parecem descaracterizar a festa.
5.3 Indicações complementares para estudos posteriores na
área
Ao longo deste trabalho surgiram alguns questionamentos que não puderam ser
respondidos devido às limitações já apresentadas. Neste sentido, são propostas sugestões para
o desenvolvimento de estudos futuros.
De acordo com Brandão apud Trevas e Silveira (2003, p.77):
Aparentemente reunidos sem muita ordem para compor entre religiosos e
profanos – os momentos festivos do ‘culto ao Divino’, os rituais da Festa do
Divino Espírito Santo reproduzem simbolicamente a própria ordem da
sociedade, as suas relões de trabalho e prestação de serviços derivados,
entre tipos de agentes sociais, assim como as contradições que, por vezes, a
própria sociedade encobre e a Festa consegue desvendar.
A partir da afirmação supracitada, considera-se que a análise da festa à luz de outras
teorias, pode permitir uma maior compreensão do fenômeno estudado. Considera-se que
nenhuma pesquisa consegue responder todos os questionamentos e dúvidas que surgem, tendo
em vista à complexidade dos fenômenos sociais e a limitação do corpo teórico utilizado.
Desta forma, acredita-se que a utilização de teorias que enfoquem as relações de poder e
128
conflito pode contribuir consideravelmente para se aprofundar as análises acerca da Festa do
Divino.
Se a festa pode reproduzir simbolicamente a ordem social; e, partindo do pressuposto
que a ordem social é representada por jogos de poder e mediação de interesses, acredita-se
que maiores investigações nesse sentido podem permitir extrapolações teóricas, que não
puderam ser realizadas neste trabalho, devido às limitações da perspectiva institucional em
analisar tais tipos de relações.
Ademais, considera-se que a análise de outras manifestações da Festa do Divino em
Florianópolis, ou em outros municípios que receberam influências açorianas, pode contribuir
para que se analise comparativamente de que forma o contexto institucional influencia as
práticas organizacionais adotadas.
129
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2001.
134
APÊNDICE A – Listagem de Entrevistas
- Sra. Aline Medeiros – Estudante, membro do EMAUS e voluntária da festa na
barraca da pescaria;
- Sr. Amaro Lúcio da Silva – Festeiro da festa em 2002. Membro da Comissão
financeira nas demais edições da festa;
- Sr. Carlos Silva Proprietário do restaurante Toca do Paru, barraca terceirizada na
festa;
- Sr. Décio Bertoluzzi Coordenador de eventos e ações comunitárias da Fundação
Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes;
- Sr. Eduardo Blanco - Proprietário do restaurante Boi na Casa, barraca terceirizada na
festa;
- Sr. Élson Rogério Goedert - Coordenador geral da festa do divino de 2005, e
membro do Conselho Consultivo e Fiscal da IDES;
- Sra. Fátima Maria de Lourdes– Secretária administrativa da IDES, desde 1997 e
membro da Comissão Organizadora desde 1998;
- Sr. Frederico Tadeu da Silva – Ex-secretário e membro do EMAUS, Irmão da IDES,
articulador entre IDES e EMAUS;
- Sra. Graziela Fonseca da Silva Advogada, membro do EMAUS e voluntária da
festa na barraca do cachorro-quente;
- Sr. Gelci José Coelho Coordenador de articulação comunitária e institucional do
Núcleo de Estudos Açorianos – NEA;
- Sra. Ione Comininos - Advogada, voluntária da festa na barraca da caixa surpresa;
- Sr. Joi Cletison Alves - Coordenador Geral do Núcleo de Estudos Açorianos – NEA;
135
- Sr. José Lamir dos Santos – Diretor de Tesouraria da IDES;
- Sra. Lélia Pereira da Silva Nunes Festeira da festa em 1996 e superintendente da
Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes no período de 1997 a 2004;
- Sr. Moacir Benvenuti Colunista do jornal A Notícia e organizador da festa em
1996;
- Sr. Moisés Leandro da Silva 85 anos, bancário aposentado e participante da festa
várias edições;
- Sr. Washington Luiz do Valle Pereira - Provedor da IDES;
- Sr. Zeca Pires – Cineasta e produtor do documentário Caminhos do Divino;
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