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Defendendo, pois, uma forma de caracterização global da paráfrase, no qual os
matizes semânticos se alternam entre o que se pretende apagar e o que se deseja
revelar, a autora chega à compreensão do fenômeno parafrástico como
dependente de um julgamento de interpretação do sujeito, já que este põe em
“cena” a contradição fundamental da transformação progressiva do “mesmo”
(sentido idêntico) em “outro” (sentido diferente), pois, segundo afirma, para dizer a
“mesma” coisa, acaba-se por dizer “outra” coisa. Entende Fuchs (1982, p.134) que
Pour pouvoir paraphraser, il fault nécessairement opter pour um niveau
d’interprétation; ceci étant, on sait bien qu’en fait, un énoncé n’est pas
toujours à entendre à un seul niveau (nous pensons, non seulement aux
propos à double entente, produits intentionnellement comme tells, mais
aussi à tous les effets, voulus ou non, de <<mots sous les mouts>>, de
significations cachées, au deuxième degré, etc.). L’activité de paraphrase
impose donc des contraintes, oblige à opérer des sélections réductrices du
point de vue de l’interprétation des sequences.
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Evidentemente, cada recorte interpretativo pressupõe escolhas argumentativas
que, dependendo do caso, visam a reconstituir o dito, os modos do dizer, o sentido
do dito, ou, ainda, o sentido do dizer pelo novo dito ou não dito. E, desse modo,
passa-se perpetuamente de um registro a outro - ou melhor, explica Fuchs (1982),
o sujeito que parafraseia pode pretender se entregar a um tipo determinado de
restituição e, na realidade, praticar um outro tipo. E é exatamente este
acontecimento, ou seja, o que se visa restituir e o que de fato é restituído - o cerne
da questão - que promove ou desperta o interesse sobre a paráfrase séculos afora.
E esse fato responde a outra das perguntas provocadoras do trabalho, ao menos
em parte, sobre o que mantém o interesse sobre o fenômeno parafrástico. A
paráfrase proporciona, pois, um terreno movediço que instiga o interesse de muitos
estudiosos, pois, entre o dizer e o dito, decorrem fronteiras e deslocamentos,
propositais ou não, de sentidos e, muitas vezes, da ação seletiva dos sujeitos na
interação, o que constitui também o alvo deste trabalho.
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Para poder parafrasear, é preciso necessariamente optar por um nível de interpretação; assim,
sabe-se bem que de fato um enunciado não deve entender-se sempre num único nível (pensamos
não somente nos propósitos de duplo entendimento, produzidos intencionalmente como tais, mas
também em todos os efeitos, queridos ou não, de “palavras sob as palavras”, de significações
escondidas, no segundo grau, etc). A atividade de paráfrase impõe portanto constrangimentos,
obriga a operar seleções redutoras do ponto de vista da interpretação das seqüências.