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buscar Hagar, levando o pau de macarrão. Ele se assusta com a entrada da
mulher e com a fala do amigo do bar, “...e aí vem o gelo”, referindo-se a Helga
que, na expressão popular, representa o gelo para Hagar, ou seja, ela é dura e
impede suas ações. A polissemia no emprego do termo gelo para a bebida e
gelo para impedimento representa o gatilho que gera o humor, ao confirmar,
mais uma vez, a imagem soberana de Helga sobre Hagar.
Na tira 8, Gervásio se confraterniza com o amigo, mas ao chegar em
casa atrasado quarenta minutos, é surpreendido por Jandira, que pede
explicações. Ela não tolera o atraso do marido, porque sabe onde
provavelmente ele deveria estar. Então, castiga-o, muito brava, com um aperto
no pescoço, o que remete ao primeiro quadro em que Gervásio afirma que vai
mudar de marca de cerveja, já que estava sentindo dores na garganta. Os
sentidos gerados pela expressão “dor de garganta” causam o humor, pois
Gervásio sente dores enquanto se diverte e enquanto é castigado.
Na análise das tiras 5, 6, 7 e 8, observa-se um novo (des)alinhamento
de Helga e Jandira, em relação ao enquadre relacionamento conjugal: o de
esposas agressivas. Pelas características femininas, estabelecidas
socialmente, não é adequado à mulher brigar, bater, ser grosseira. Geralmente,
essas marcas são presenciadas no comportamento de homens, por estarem
implícitas nos esquemas de conhecimentos relativos a machismo, a força e a
poder masculino. As personagens analisadas se alinham agressivamente, para
que suas autoridades sejam reconhecidas e elas sejam respeitadas e, se
preciso, até temidas pelos maridos, para impedir algumas extravagâncias. Se
elas não agredissem, seriam mostradas atuando como simples donas-de-casa,
mães amorosas, esposas perfeitas, o que não comprometeria as estruturas de
expectativas ativadas pelo enquadre encenado.
Através das pistas observadas, como a expressão fisionômica e a
atitude das esposas, percebe-se a realização dos footings, revelando a postura
não-esperada das personagens, gerando os (des)alinhamentos e produzindo o
humor, conseqüência das encenações mostradas. O fato de as personagens
assumirem esse tipo de (des)alinhamento, o de autoritárias e agressivas, gera
a graça, porque elas parecem inverter o papel que a sociedade estabelece
como feminino. Assim, seus comportamentos, suas falas, suas expressões
fisionômicas, revelam uma atuação que difere da normalidade, mesmo não