suas fronteiras naturais, também é em si um fator de unidade. De acordo com
Denis Mack Smith: “a Itália era uma unidade territorial muitos séculos antes de
se tornar um Estado-Nação – diferentemente dos Países Baixos, que,
politicamente, eram um Estado antes de ser uma nação ou uma entidade
geográfica”.
106
Mesmo assim, a crença religiosa em comum e o território
delimitado pela natureza não foram elementos suficientemente fortes para
gerar uma coesão das massas a ponto de levar à construção de um Estado-
Nação.
Durante o Risorgimento, as artes tiveram papel fundamental para a
construção de um sentimento de italianidade. De acordo com Luiz Marques:
O sonho de uma Itália unida já existia desde o século XIV [com
Petrarca, Cola di Rienzo e, posteriormente, Maquiavel], mas a
dominação estrangeira e o regionalismo impediram que esse
projeto se concretizasse até o século XIX. Foi durante as
campanhas do Risorgimento que a arte ajudou a criar uma
identidade nacional italiana moderna.
107
Influenciada pelo romantismo, a literatura, através de poesias,
romances e obras históricas, serviu para a construção de uma língua nacional
a partir do toscano. Na Idade Média, os escritos de Francesco Petrarca (1304-
1374)
108
e, destacadamente, os de Dante Alighieri (1265-1321)
109
corroboraram
106
SMITH. Op. Cit. p. 03.
107
MARQUES. Op. Cit. p. 38.
108
Petrarca nasceu em Arezzo, na Toscana, destacando-se como estudioso e poeta
humanista. É considerado o inventor do soneto. Petrarca enalteceu a pátria na Canzone
all´Italia, de 1346, e, um ano depois, aproximou-se do tribuno romano Cola di Rienzo
esperando que seu plano de formação de uma confederação de tiranos viesse a dar uma forma
qualquer de unidade à Península. Como outros eruditos de sua época, celebrou a grandeza da
antiga Roma, escolhendo como personagem símbolo de um possível renascer italiano o
general romano Cipião, o africano (poema “África”), desaparecido no século II a.C.; o homem
que afastara o perigo de Roma cair em mãos inimigas e que derrubara Anibal na batalha de
Zama, em 202 a.C.
109
Dante Alighieri, nascido em Florença, ao invés de utilizar o latim, escreveu seus textos em
língua vernácula italiana. Inspirou-se na Eneida de Virgílio, em busca da antiga Roma. Assim,
escreveu a Divina Comédia, dividida em três tomos: Inferno, Purgatório e Paraíso. No Canto VI
do Purgatório, Dante discursa sobre a decadência da Itália: “Ah serva Itália, lar do pesar, nau
sem piloto em grande tempestade, não és nenhuma rainha de Províncias, mas um bordel!
Como foi presta, aquela alma gentil, só pelo doce nome de sua terra a fazer festa ao encontrar
seu concidadão. Mas agora, não vives sem guerra, e mesmo aqueles que moram dentro das
mesmas muralhas, vivem devorando uns aos outros. Busca, miserável, no teu interior e nas
tuas costas, se há algum lugar que esteja em paz segura. […] Vem, ó cruel, vem ver o
sofrimento de teus nobres. Vem para a tua Roma que chora, viúva e só, e que dia e noite
chama: „Ó César meu, por que me abandonaste?‟ Mas vem ver como a gente se ama! E, se
não tens piedade de nós, vem para te envergonhares de tua fama. É lícito pensar, ó sumo
Jove, que foste na Terra por nós crucificado, que teus justos olhos não mais nos olham? Ou é