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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEA
SOLANGE GURGEL ALEXANDRE
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E VULNERABILIDADES
DE MULHERES NO CONTEXTO DA AIDS
FORTALEZA – CEA
2010
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1
SOLANGE GURGEL ALEXANDRE
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E VULNERABILIDADES
DE MULHERES NO CONTEXTO DA AIDS
Dissertação submetida a Coordenação do Curso de
Mestrado Acadêmico em Cuidados Clínicos em
Saúde do Centro de Ciências da Saúde da
Universidade Estadual do Ceará como requisito
parcial para obtenção do título de mestre em
Cuidados Clínicos em Saúde.
Área de Concentração: Enfermagem em Cuidados
Clínicos.
Orientadora: Profª. Drª. Maria Lúcia Duarte Pereira.
Fortaleza – Ceará
2010
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2
A381r Alexandre, Solange Gurgel
Representações sociais e vulnerabilidades de mulheres no
contexto da aids / Solange Gurgel Alexandre . Fortaleza-
CE, 2010.
128 f. : 30 cm.
Orientadora: Profª. Drª. Maria Lúcia Duarte Pereira.
Dissertação (Mestrado Acadêmico em Cuidados Cnicos
em Saúde) – Universidade Estadual do Ceará, Centro de
Ciências da Saúde.
1. Saúde da mulher. 2. HIV. 3. Síndrome da
imunodeficiência adquirida. 4. Vulnerabilidade. I. Universidade
Estadual do Ceará, Centro de Ciências da Saúde. II. Título.
CDD: 613.042 44
3
SOLANGE GURGEL ALEXANDRE
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E VULNERABILIDADES
DE MULHERES NO CONTEXTO DA AIDS
Dissertação submetida a Coordenação do Curso de
Mestrado Acadêmico em Cuidados Clínicos em
Saúde do Centro de Ciências da Saúde da
Universidade Estadual do Ceará como requisito
parcial para obtenção do título de mestre em
Cuidados Clínicos em Saúde. Área de
Concentração: Enfermagem em Cuidados Clínicos.
Data da Defesa: 03/03/2010 Conceito:__________________
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________________
Profª. Drª. Mariacia Duarte Pereira (Orientadora)
Universidade Estadual do Ceará
_____________________________________________________
Profª. Drª. Maria Dalva Santos Alves (Membro Efetivo)
Universidade Federal do Ceará
_____________________________________________________
Profª. Drª. Dafne Paiva Rodrigues (Membro Efetivo)
Universidade Estadual do Ceará
4
Dedico esse trabalho a Deus, por tudo que tem me
permitido alcançar e ao meu marido, Alexandre, que
assumiu para comigo um cuidado e um carinho que
um grande amor é capaz de demonstrar.
5
AGRADECIMENTOS
A Deus que, em sua bondade infinita, me deu muito mais do que pedi ou imaginei.
Ao meu esposo, Alexandre, pelos momentos de ausência suportados com tanto
carinho e pelo imenso respeito à minha decisão de continuar a caminhada,
ofertando-me, em todos os momentos, incentivo e apoio incondicionais.
Às minhas filhas, Anna Karine e Anna Gabriele, por terem acreditado e por serem o
principal estímulo para que eu tenha chegado até aqui.
Aos meus pais, pela vida e por todos os momentos difíceis que superaram para que
eu pudesse ter todas as oportunidades.
Às minhas tias-mães Masé e Osmarina e à minha avó Nenen, pela forma altruísta
com que cuidaram de mim, estando próximas em todos os momentos, me ofertando
todas as chances e os ensinamentos mais caros que eu carrego comigo até hoje.
Ao meu irmão Sérgio pela torcida silenciosa para que eu alcançasse o meu objetivo.
À minha orientadora, professora Drª. Maria Lúcia Duarte Pereira por ter, desde o
primeiro momento, acreditado na relevância de nosso estudo e pela presença amiga
e serena que me transmitiu segurança nos momentos de incerteza.
Ao amigo Aurivan que, como sempre, foi a mola propulsora desse processo,
ensinando por meio de seu exemplo de alegria e coragem que os desafios fazem a
vida valer a pena.
À amiga Carla Daniele que, com sua sabedoria e serenidade, me levou a persistir e
acreditar, apesar de todos os percalços.
À amiga Sara Taciana que, com sua presença amiga e constante, foi companheira
fiel no decorrer desta jornada.
Às acadêmicas de enfermagem mia, Jemima, Isabelle, Luciana, Mariana, Bruna e
Natália, pelo compromisso e respeito demonstrados durante toda a coleta de dados.
Amizades que levarei por toda a vida.
A toda a nossa turma que se tornou, no decorrer do curso, fator fundamental para o
alcance desta vitória.
Às mulheres que depositaram em nós a confiança de adentrar em parcelas tão
íntimas e marcantes de suas vidas, dando exemplos de força e coragem para
enfrentar os obstáculos, por mais intransponíveis que pareçam.
6
RESUMO
O aumento da expectativa de vida e o consequente envelhecimento da população,
as descobertas científicas para melhorar a atividade sexual, a resistência ao uso de
preservativo e a feminização da epidemia de infeão pelo HIV/aids tornam a
população de mulheres com 50 anos ou mais, vulnerável a essa infecção e outras
doenças sexualmente transmissíveis (DST), sinalizando a ausência de esforços
voltados à prevenção dessa parcela da população. Com este estudo objetivou-se
apreender as representações sociais sobre sexualidade elaboradas por mulheres
com 50 anos ou mais, portadoras do HIV/AIDS, comparando-as com as
representações de mulheres com 50 anos ou mais sem o diagnóstico da infecção e
analisar marcadores de vulnerabilidade identificados nos dois grupos, de acordo com
as dimensões individual, programática e social. Trata-se de pesquisa exploratória e
descritiva, fundamentada na Teoria das Representações Sociais (TRS). A pesquisa
foi desenvolvida em duas instituições públicas, na cidade de Fortaleza/CE.
Participaram do estudo 44 mulheres. Destas, 22 com diagnóstico de HIV/aids e 22
sem esse diagnóstico. Na coleta de dados foram utilizadas a entrevista semi-
estruturada e a observação assistemática. Os dados foram submetidos à análise de
conteúdo temática, fundamentados nos pressupostos de Bardin. Os marcadores de
vulnerabilidade foram identificados e analisados de acordo com as dimenes
individual, social e programática. A análise de conteúdo revelou oito categorias
simlicas: concepções sobre o HIV/aids; percepções sobre o HIV/aids; percepções
de si mesma; causas do HIV/aids; percepções sobre sexualidade; vivências da
sexualidade; percepções psicoafetivas e além do HIV/aids. A aids é representada
como doença que maltrata, gera sofrimento e leva à morte. Além disso, o convívio
com a mesma é permeado de angústia, estigmas, dificuldades socioeconômicas,
rompimento dos vínculos afetivos, culpa e medo. A sexualidade tem como
representação social sexo compartilhado, irresponsabilidade, dor e sacrifício para as
mulheres com diagnóstico. Já as mulheres sem diagnóstico apresentam como
representação social sexo compartilhado, mas, com amor e responsabilidade.
Concluímos esse estudo, com a percepção de que, diante dos resultados obtidos, é
indispensável a criação de espaços de escuta nos serviços de saúde e a
capacitação dos profissionais de saúde que prestam cuidados a estas pessoas, em
especial os enfermeiros, para que a orientação quanto às DST/aids possa ser
praticada de forma efetiva e sem preconceitos, a fim de que as vulnerabilidades
apontadas neste estudo sejam atenuadas. Reforçamos a necessidade da
implementação de estratégias que empoderem a mulher com 50 anos ou mais,
veiculando campanhas que alcancem essas pessoas, respeitando os aspectos
socioculturais inerentes a essa população. Dessa forma, será permitido que essa
mulher seja agente ativo e atuante na transformação de suas próprias condições de
vida e saúde.
Descritores: Vulnerabilidade, Saúde da Mulher, HIV, Síndrome da Imunodeficiência
Adquirida
7
ABSTRACT
Increased life expectancy and an aging population, scientific discoveries to improve
sexual activity, resistance to condom use and the feminization of the epidemic of
HIV/AIDS makes the population of women aged 50 years or more vulnerable to this
infection and other sexually transmitted diseases (STDs), indicating the absence of
efforts aimed at preventing this portion of the population. This study aimed to identify
the social representations of sexuality developed by women aged 50 years or more
with HIV / AIDS, and compares them with representations of women aged 50 years
or more without diagnosis of infection and assess markers of vulnerability identified in
the two groups, according to the dimensions of individual, programmatic and social. It
is an exploratory and descriptive research, based on the Social Representations
Theory (SRT). The study was conducted in two public institutions in the city of
Fortaleza/CE. The study included 44 women. Of these, 22 diagnosed with HIV/AIDS
and 22 without this diagnosis. In the data collection were used the semi-structured
interview and unsystematic observation. The data were subjected to thematic content
analysis, based on the assumptions of Bardin. Markers of vulnerability have been
identified and analyzed according to the dimensions of individual, social and
programmatic. The content analysis revealed eight symbolic categories: concepts
about HIV/AIDS; perceptions about HIV/AIDS; perceptions of itself; causes of
HIV/AIDS; perceptions of sexuality; experiences of sexuality; perceptions
psychoaffective and beyond HIV/AIDS. Aids is represented as a disease that rude,
causing suffering and leads to death. Furthermore, the observation of the same is
permeated with anxiety, stigma, socioeconomic difficulties, breaking the bonds of
affection, guilt and fear. Sexuality is the social representation shared sex,
irresponsibility, pain and sacrifice for women with a diagnosis. The women have no
diagnosis as shared social representation of sex, but with love and responsibility. We
conclude this study with the realization that, given the results obtained, it is essential
to create opportunities to listen in health care and training of health professionals
who provide care to these people, especially the nurses, so that the guidance
STD/AIDS can be carried out effectively and without bias, so that the vulnerabilities
outlined in this study are attenuated. We emphasize the need to implement strategies
that empower women aged 50 years or more, running campaigns to reach these
people, respecting the cultural aspects inherent to this population. Thus it will be
allowed this woman to be an active agent and active in the transformation of their
own living conditions and health.
Descriptors: Vulnerability, Women's Health, HIV, Acquired Immune Deficiency
Syndrome
8
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 –
Distribuição dos dados sociodemográficos, segundo os grupos
com e sem diagstico de HIV/aids, Fortaleza/Ceará, 2009.............
53
Tabela 2 –
Distribuição das frequências, percentuais e qui-quadrado da
categoria e das subcategorias de concepções sobre HIV/aids,
segundo os grupos com e sem diagnóstico de HIV/aids,
Fortaleza/Ceará, 2009.......................................................................
56
Tabela 3 –
Distribuição das frequências, percentuais e qui-quadrado da
categoria e das subcategorias de percepções sobre HIV/aids,
segundo os grupos com e sem diagnóstico de HIV/aids,
Fortaleza/Ceará, 2009.......................................................................
63
Tabela 4 –
Distribuição das frequências, percentuais e qui-quadrado da
categoria e das subcategorias de percepções de si mesma,
segundo os grupos com e sem diagnóstico de HIV/aids,
Fortaleza/Ceará, 2009.......................................................................
68
Tabela 5 –
Distribuição das frequências, percentuais e qui-quadrado da
categoria e das subcategorias de causas do HIV/aids, segundo os
grupos com e sem diagstico de HIV/aids, Fortaleza/Ceará, 2009.
71
Tabela 6 –
Distribuição das frequências, percentuais e qui-quadrado da
categoria e das subcategorias de percepções sobre sexualidade,
segundo os grupos com e sem diagnóstico de HIV/aids,
Fortaleza/Ceará, 2009.......................................................................
76
Tabela 7 –
Distribuição das frequências, percentuais e qui-quadrado da
categoria e das subcategorias de vivências da sexualidade,
segundo os grupos com e sem diagnóstico de HIV/aids,
Fortaleza/Ceará, 2009.......................................................................
80
Tabela 8 –
Distribuição das frequências, percentuais e qui-quadrado da
categoria e das subcategorias de percepções psicoafetivas,
segundo os grupos com e sem diagnóstico de HIV/aids,
Fortaleza/Ceará, 2009.......................................................................
87
Tabela 9 –
Distribuição das frequências, percentuais e qui-quadrado da
categoria e das subcategorias de além do HIV/aids, segundo os
grupos com e sem diagstico de HIV/aids, Fortaleza/Ceará, 2009.
93
9
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Plano de análise................................................................................
42
Figura 2 Concepções sobre o HIV/aids...........................................................
45
Figura 3 Percepções sobre o HIV/aids............................................................
45
Figura 4 Percepções de si mesma..................................................................
46
Figura 5 Causas do HIV/aids...........................................................................
46
Figura 6 Percepções sobre sexualidade..........................................................
47
Figura 7 Vivências da sexualidade..................................................................
47
Figura 8 Percepções psicoafetivas..................................................................
48
Figura 9 Além do HIV/aids...............................................................................
48
10
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 –
Distribuição das categorias e subcategorias simbólicas sobre
HIV/aids, Fortaleza/Ceará, 2009.......................................................
44
Quadro 2 –
Marcadores de vulnerabilidade da dimensão individual ao HIV/aids
de mulheres com 50 anos ou mais com e sem diagnóstico,
atendidas no ambulatório do Hospital São José e participantes do
grupo de idosos do Centro Social Aloísio Ximenes,
Fortaleza/Ceará, 2009.......................................................................
99
Quadro 3 –
Marcadores de vulnerabilidade da dimensão programática ao
HIV/aids de mulheres com 50 anos ou mais com e sem
diagnóstico, atendidas no ambulatório do Hospital o José e
participantes do grupo de idosos do Centro Social Aloísio
Ximenes, Fortaleza/Ceará, 2009.......................................................
103
Quadro 4 –
Marcadores de vulnerabilidade da dimensão social ao HIV/aids de
mulheres com 50 anos ou mais com e sem diagnóstico, atendidas
no ambulatório do Hospital São José e participantes do grupo de
idosos do Centro Social Aloísio Ximenes, Fortaleza/Ceará, 2009....
105
11
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
AIDS - Acquires Immunodeficiency Syndrome
CSU - Centro Social Urbano Aloísio Ximenes
CTA - Centros de Testagem e Aconselhamento
DST - doenças sexualmente transmissíveis
FUNASA - Fundação Nacional de Saúde
HIV - Human Immunodeficiency Virus
HSJ - Hospital São José de Doenças Infecciosas
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IST - infecções sexualmente transmissíveis
LBA - Legislação Brasileira de Assistência
MS - Ministério da Saúde
OSC - Organizações da Sociedade Civil
PABI - Programa de Atenção Básica ao Idoso
PMF - Prefeitura Municipal de Fortaleza
PROINFOR - Programa de Prática Profissional em Informática
PVHA - pessoas vivendo com HIV/aids
RNP - Rede Nacional de Pessoas
SAE - Serviços de Assistência Especializada em HIV/aids
SUS - Sistema Único de Saúde
TRS - Teoria das Representações Sociais
12
SUMÁRIO
RESUMO............................................................................................
5
ABSTRACT........................................................................................
6
LISTA DE TABELAS..........................................................................
7
LISTA DE FIGURAS..........................................................................
8
LISTA DE QUADROS........................................................................
9
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS............................................
10
1 INTRODUÇÃO.................................................................................
13
1.1 PROBLEMÁTICA...........................................................................................
13
2 REFERENCIAL TEÓRICO.............................................................
18
2.1 ENVELHECIMENTO, SEXUALIDADE, VULNERABILIDADE FEMININA E AIDS
19
2.2 TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS..............................................
30
3 PERCURSO METODOLÓGICO.....................................................
36
3.1 TIPO DE ESTUDO..........................................................................................
36
3.2 CAMPO DE ESTUDO....................................................................................
37
3.3 SUJEITOS SOCIAIS......................................................................................
38
3.4 TÉCNICAS, INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS PARA COLETA
DE DADOS.............................................................................................
39
3.4.1 Procedimentos da coleta de dados.........................................................
39
3.5 ANÁLISE E TRATAMENTO DOS DADOS....................................................
41
3.5.1 A técnica de análise de conteúdo...........................................................
41
3.6 MARCADORES DE VULNERABILIDADE.....................................................
49
3.7 ASPECTOS ÉTICOS.....................................................................................
49
4 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE MULHERES COM 50 ANOS
OU MAIS NO CONTEXTO DO HIV/AIDS......................................
51
4.1 CARACTERIZAÇÃO DO SUJEITO...............................................................
51
4.2 A CONSTRUÇÃO DO HIV/AIDS COMO CONHECIMENTO SOCIALMEN-
TE COMPARTILHADO....................................................................................
54
4.2.1 Concepções sobre o HIV/aids..................................................................
55
4.2.2 Percepções sobre o HIV/aids...................................................................
63
4.2.3 Percepções de si mesma.........................................................................
67
4.2.4 Causas do HIV/aids...................................................................................
71
4.2.5 Percepções sobre sexualidade...............................................................
76
4.2.6 Vivências da sexualidade.........................................................................
79
4.2.7 Percepções psicoafetivas........................................................................
87
4.2.8 Além do HIV/aids.......................................................................................
93
5 MARCADORES DE VULNERABILIDADE AO HIV/AIDS.............
98
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................
108
REFERÊNCIAS..................................................................................
112
APÊNDICES.......................................................................................
122
APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO.........................................................................
123
APÊNDICE B – ROTEIRO DE ENTREVISTA......................................................
124
APÊNDICE C – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO.......
125
ANEXO...............................................................................................
126
ANEXO A – PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP HSJ.............................
127
13
1 INTRODUÇÃO
___________________________________________________________________
14
1 INTRODUÇÃO
1.1 PROBLEMÁTICA
Desde a primeira descrição da Acquires Immunodeficiency Syndrome
(AIDS) em 1981 e, a identificação do seu agente etiológico, o Human
Immunodeficiency Virus (HIV), que a mesma configura-se um marco na história das
pandemias, com impacto mundial drástico (NISHIMOTO, 2002). Apesar da busca do
diagnóstico e de terapêutica eficazes no intuito de minimizar a morbimortalidade
causada pela doença, o número de pessoas portadoras do vírus e o número de
mortos em virtude da mesma ganham proporções alarmantes.
Dados de relatório veiculado pelo Programa Conjunto das Nações Unidas
sobre HIV e aids (UNAIDS), em 2007, revelam uma estimativa de cerca de 33,2
milhões de pessoas com o vírus no mundo e uma expectativa de que 2,5 milhões
irão adquiri-lo, com 2,1 milhões de mortos pela doença. O documento afirma que a
América Latina tem um quadro estável relativo à epidemia e estima que, 1,6 milhões
de pessoas vivam com aids, com 100 mil casos novos e 58 mil mortos a cada ano
(UNAIDS, 2007).
No Brasil, o início da epidemia se deu com grandes concentrações dos
casos nos grandes centros urbanos, com destaque para as regiões Sul e Sudeste,
atingindo principalmente pessoas do sexo masculino com um maior nível
socioeconômico, pertencentes às categorias de transmissão homossexuais e
bissexuais, além dos portadores de hemofilia, receptores de sangue e
hemoderivados, usuários de drogas injetáveis e profissionais do sexo, considerados
“grupos de risco” (BRASIL, 2008b; RODRIGUES-JÚNIOR, CASTILHO, 2004).
De acordo com dados do Ministério da Saúde (MS), no Brasil, mais de 35
mil casos de aids foram notificados em 2005, totalizando até junho de 2008 uma
notificação em torno de 507 mil casos (BRASIL, 2008a; UNAIDS, 2007).
Com o passar do tempo, a epidemia assumiu características diferentes. A
taxa de incidência na região Nordeste do Brasil aumentou de 6,9 para 10,6 casos de
15
aids por 100.000 habitantes entre 2000 e 2006, enquanto que na rego Sudeste
caiu de 24,4 para 22,5 (BRASIL, 2008a; UNAIDS, 2007).
Além disso, os fenômenos de heterossexualização, feminização,
interiorização, envelhecimento, juvenizão e pauperização da epidemia são
observados com nitidez pelos mais diversos estudos (BRASIL, 1999; BRITO;
CASTILHO; SZWARCWALD, 2000; UNAIDS, 2007), o que constata a
democratização da epidemia, que o privilegia idade, raça, cor, sexo ou credo
(LOPES, 1998; OLIVEIRA et al., 2004).
Assim, desde o início, o grupo etário mais acometido, em ambos os
sexos, tinha entre 20 e 39 anos de idade. Porém, segundo dados do Ministério da
Saúde publicados em 2007, entre os anos de 1996 e 2006, houve um aumento da
taxa de incidência entre indivíduos com mais de 60 anos de idade. Para essa faixa
etária, nos homens, a taxa de incidência passou de 5,8 casos para 9,4 por 100.000
habitantes, e nas mulheres, cresceu de 1,7 casos para 5,1 por 100.000 habitantes
(BRASIL, 2007).
Torna-se relevante destacar que, os próprios idosos se consideram
imunes ao vírus. Pouco, ou quase nada, se fala a respeito de uma possível
disseminação da pandemia entre esse grupo de pessoas (PRILIP, 2004).
Assim, pticas preventivas voltadas para os grupos de risco e
comportamentos individuais produziram lacunas que facilitaram a disseminação
em outras parcelas da população, entre as quais se destacam as mulheres e
mais recentemente pessoas maiores de 50 anos, culturalmente vistas como
assexuadas e desprovidas de desejo pelo sexo (DE LA TORRE-UGARTE-
GUANILO, 2008).
O aumento da expectativa de vida e o envelhecimento da população,
somados às descobertas científicas para melhorar a atividade sexual e à resistência
ao uso de preservativo tornam essa população mais vulnerável à infecção pelo
HIV/aids e outras doenças sexualmente transmissíveis (DST) (SILVA; PAIVA, 2006),
com taxas de incidência cada vez mais elevadas, o que denota ausência de esforços
voltados à prevenção dessa parcela da população.
16
Mudanças no modo de vida da população, a qual coma a viver com
mais plenitude, aumentando suas relações sociais, levam a uma exposição a riscos
antes atribuídos a indivíduos de faixas etárias mais jovens, incluindo a exposição
à infecção pelo HIV, dando margem ao desafio de estabelecer políticas públicas e
estratégias que garantam a qualidade de vida desses indivíduos.
Tais mudanças foram alertadas por Tichy e Talashek (1992)
aproximadamente duas décadas, ao afirmarem que a carência de políticas voltadas
às DST em mulheres idosas aumentava sua inserção na epidemia da aids.
No que se refere às mulheres maiores de 50 anos, parte-se do
entendimento de que, além do “envelhecimento da pandemia, uma clara
tendência a feminização desta, com um decréscimo importante da razão entre
homens e mulheres. Além disso, a infecção de 95,7% dos casos em mulheres se
em relações heterossexuais estáveis, não relacionadas ao desconhecimento da
necessidade do uso de preservativo masculino (BARROSO; GALVÃO, 2007),
estando, antes, relacionadas ao receio de negociar tal proteção com o parceiro, na
maioria das vezes por medo do abandono (GUIMARÃES; MERCHÁN-HAMANN,
2005). Assim sendo, esses dados significam, claramente, que se trata de um grupo
culturalmente exposto a condições independentes de sua vontade, como as relações
de gênero e a violência física, incluindo a violência sexual que as tornam vulneráveis
a vários agravos, seja nas dimensões individual, programática ou social, haja vista
estarem interligadas entre si, influenciando-se mutuamente (AYRES et al., 1999).
Entende-se que, em virtude dos progressos científicos na tentativa de
pormenorizar ou extinguir o HIV/aids, o que aumenta a possibilidade de sobrevida
com qualidade, tem-se refletido sobre os estigmas, comportamentos e medos
provocados pela doença nas mulheres com 50 anos ou mais. Tais reflexões
suscitam questionamentos como: Quem são tais mulheres? Quais as repercussões
do HIV/aids em suas vidas? Como se posicionam a respeito desta doença?
Acredita-se que as respostas a esses questionamentos, possibilitarão
conhecimento acerca das vulnerabilidades a que estão expostas as mulheres com
50 anos ou mais que vivem com HIV/aids, conhecimento necessário ao
17
delineamento de políticas públicas de sde e estratégias que contribuam para a
melhor qualidade de vida das mesmas.
Ante o exposto, este estudo tem como objetivos:
Apreender as representações sociais sobre sexualidade elaboradas por
mulheres com 50 anos ou mais, portadoras do HIV/AIDS, comparando-
as com as representações de mulheres com 50 anos ou mais sem o
diagnóstico da infecção;
Analisar marcadores de vulnerabilidade identificados nos dois grupos,
de acordo com as dimensões individual, programática e social.
18
2 REFERENCIAL TEÓRICO
___________________________________________________________________
19
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 ENVELHECIMENTO, SEXUALIDADE, VULNERABILIDADE FEMININA E AIDS
Atualmente, a humanidade convive com a dualidade representada pelo
envelhecimento populacional, pois enquanto representa um de seus maiores trunfos,
sendo considerado um marco na história das relações sociais, representa também
um de seus maiores desafios, aumentando as demandas sociais e econômicas em
todo o mundo e exigindo novas posturas das esferas políticas e sociais, no sentido
de humanizar as condições de vida dessa parcela da população que constitui
importante recurso para a estrutura das sociedades (BRUNDTLAND, 2005).
Considerado o principal fenômeno demográfico do século 20, no Brasil, o
envelhecimento populacional resulta do conjunto das transições demogfica e
epidemiológica que ocorrem no país e, em oposição ao senso comum, resulta do
decnio da fecundidade, ao invés do declínio da mortalidade, pois, uma população
torna-se mais idosa na medida em que o número de indivíduos idosos aumenta e o
número de indivíduos mais jovens diminui (NASRI, 2008).
O processo de transição demográfica teve início na Europa no século
XVIII, tendo como principais fenômenos a redução da fecundidade, observada na
Revolução Industrial, antes do advento da pílula anticoncepcional, e o aumento na
expectativa de vida que ocorreu de forma insidiosa, graças à melhoria das condições
sociais e de saneamento, além da descoberta dos antibióticos e das vacinas
(WONG; CARVALHO, 2006).
O processo se estendeu aos países desenvolvidos e em
desenvolvimento, porém, com início e velocidade bastante variados e diferentes
implicações. Na América Latina, principalmente, nos países em desenvolvimento,
como o Brasil, o fenômeno começou a ser observado entre os anos de 1940 e 1960,
quando a população brasileira experimentou um declínio significativo na mortalidade,
com fecundidade relativamente constante. A partir dos anos 1960, iniciou-se um
decnio da fecundidade da ordem de 60% (1970 a 2000) que partiu dos grupos
populacionais mais privilegiados e das regiões mais desenvolvidas e generalizou-se
20
rapidamente, desencadeando uma série de mudanças profundas na distribuição
etária (NASRI, 2008; WONG; CARVALHO, 2006).
Os grupos populacionais mais velhos expandiram-se, com a população de
60 anos ou mais, aumentando de 5,1% em 1970, para 8,6% em 2000, respondendo
em 2050 por cerca de 19% da população brasileira (NASRI, 2008; WONG;
CARVALHO, 2006).
A rapidez com que o fenômeno ocorreu nos países em desenvolvimento
tem profundas implicações. No modelo europeu, o envelhecimento aconteceu de
forma gradual, acompanhado por um crescimento socioeconômico constante
durante muitas gerações, levando quase um século para se concretizar, permitindo
uma melhor adequação à nova situação. O Brasil, por sua vez, experimenta
transições semelhantes em menos de um quarto de século, com profundas
desigualdades socioeconômicas. Ademais, a expectativa de vida ao nascer no
Brasil, com o avanço da medicina e a relativa melhoria das condições gerais de vida,
aumentou de 45,5 em 1940 para 72,7 em 2008, com projeções (Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística-IBGE) de alcançar em 2050, o patamar de 81,3 anos
(NASRI, 2008; IBGE, 2008; WONG, CARVALHO, 2006).
Para terminar o ciclo de envelhecimento, o Brasil levará metade do tempo
que os países europeus levaram para completá-lo. Tem-se como resultado que, em
2050, o Brasil terá a sexta maior população de indivíduos maiores de 60 anos do
mundo, com o mero de idosos passando de 6,07% da população total em 1980,
para 29,75% (IBGE, 2008).
Nesse contexto, a saúde também merece profunda reflexão. É fato que a
demanda por cuidados de saúde relacionada à população idosa é diferenciada das
outras parcelas da população, devido aos processos incapacitantes e degenerativos
que lhes são inerentes. Entretanto, é perceptível que mudanças nesse quadro estão
se dando com uma população que envelhece de forma mais ativa e participativa,
revelando mudanças nas causas de adoecimento. Tal fato aponta para a
necessidade de readaptação das políticas blicas do setor, considerando que a
qualidade do envelhecimento es direta e proporcionalmente relacionada à
qualidade de vida.
21
Dessa forma, o país confronta-se com a difícil situação de atender a uma
população que envelhece rapidamente, em uma sociedade com injusta distribuição
de renda e de acesso à educação e saúde, tendo como desafio a construção de
uma infra-estrutura que permita um envelhecimento ativo, que assegure uma vida
saudável e participativa (WONG; CARVALHO, 2006).
Esse rápido envelhecimento da população no Brasil faz com que nos
deparemos com outro aspecto dessa ampla problemática, a abordagem adequada à
epidemia de aids que se alastra velozmente nessa parcela da população.
A visibilidade social a que tem sido exposta é inversamente proporcional a
abordagem desses indivíduos que vivem momentos de intensas mudanças
socioculturais, principalmente no que diz respeito à sua sexualidade (LEMOS, 2003).
Segundo Santos (2003), mesmo a velhice sendo considerada um
fenômeno biológico inerente à condição humana, a forma de envelhecer é
subjetivamente diferente para cada um, pois es condicionada por questões
hereditárias, sociais e culturais, com forte influência de cada história de vida.
O contexto social em que está inserido, ditará o lugar e o papel
apropriado àquele que envelhece, sendo possível afirmar que não existe “uma
velhice, mas velhices” que diferem de acordo com questões denero, de classes
sociais e intelectuais, levando à necessidade de visões singulares para cada idoso
(SOUSA; SALDANHA; ARAÚJO, 2006).
Dessa forma, as imagens da velhice coexistem em nossa sociedade, uma
tradicional, naturalizada, aliando a inatividade e a “respeitabilidade”, e outra, mais
recente que alia dinamismo e participação (MOTTA, 2004). O desconhecimento ou a
não aceitação dessa nova face da velhice contribui para a manutenção e
propagão de mitos, estereótipos negativos e preconceitos (GIAMI, 2007).
Dentre esses mitos podemos considerar a idéia de que o envelhecer traz
consigo, de forma proporcionalmente inversa, a extinção da atividade sexual. Ainda
recentemente, à velhice era atribuído o decnio da atividade sexual pela ocorrência
da menopausa ou pela instalação progressiva da disfunção erétil, além da perda de
sua justificativa social de procriação. Para Giami (2007), a concepção pioneira de
22
Freud que trata o prazer como objetivo da sexualidade humana, confirmada pela
dissociação do conceito de saúde sexual e de reprodução, evidencia a importância
da sexualidade para a realização e bem-estar dos indivíduos durante toda a vida,
não a restringindo às pessoas mais jovens.
O aumento da expectativa de vida trouxe, além do ganho quantitativo,
novos significados e possibilidades àqueles que envelhecem como manutenção da
produtividade e interações sociais e sexuais mais frequentes. O progresso nas
pesquisas em saúde e na área de medicamentos (disfunção erétil e reposição
hormonal) também teve forte influência nesse processo, permitindo a essas pessoas
vivenciarem, com mais satisfação e segurança, sua sexualidade, aumentando a
frequência e a qualidade de suas relações sexuais.
Segundo pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde (MS), com a
população sexualmente ativa do país, entre os(as) entrevistados(as) com mais de 50
anos, 17,3% relatam ter tido, nos últimos seis meses, 6,3 relações sexuais por mês,
número que se aproxima da média de 9,2 relações/mês da população com faixa
etária entre 40 e 49 anos (BRASIL, 2003).
Para Silva e Paiva (2006), estes dados apontam para uma clara mudança
no comportamento sexual das pessoas com mais idade, influenciada por múltiplos
fatores. Porém, a mesma não tem sido acompanhada por incentivos à prática de
sexo seguro, problema agravado por terem vivenciado uma juventude sem apelos a
essa prática, não tendo incorporado a necessidade de fazer uso dela.
Dessa forma, a incidência cada vez maior de pessoas nessa faixa eria
infectadas pelo HIV/aids, nos leva a inferir que lacunas importantes nos esforços de
prevenção da doença, considerando que o envelhecimento da população, aliado a um
aumento na expectativa de vida, às descobertas científicas para melhorar a atividade
sexual e à resistência ao uso de preservativo tornam essa população mais vulnerável à
referida infecção (SILVA; PAIVA, 2006; SILVA; PAIVA; SANTIAGO, 2005).
A situação requer ações imediatas, com maiores investimentos na
educação desse público, pois, embora o Ministério da Saúde (MS) reconheça, desde
2001, a necessidade de incluir esse público nas campanhas preventivas (BRASIL,
2003), apenas em dezembro de 2008, lançou um programa preventivo que se volta
23
à população maior de 50 anos, com vistas a controlar a disseminação da epidemia
do HIV/aids e outras DST, através da redução das múltiplas vulnerabilidades que a
torna mais suscetível.
A aids tem sido descrita no Brasil como uma pandemia com inúmeras
facetas, composta por um mosaico de sub-epidemias regionais, motivadas por
desigualdades econômicas e sociais, configurando-se como um fenômeno social de
amplas proporções que traz forte impacto nos princípios morais, éticos e religiosos,
na saúde pública e de comportamento privado, como as questões relativas à
sexualidade, ao uso de drogas ilícitas e à moralidade conjugal (SALDANHA;
ARAÚJO, 2006).
Na velhice, a aids se apresenta através de múltiplas visões carregadas de
estigmas e equívocos, com seu impacto transcendendo o diagnóstico, para desvelar
hábitos considerados obscuros, como a sexualidade e o uso de drogas ilícitas.
Feitoza, Souza e Araújo (2004), ressaltam sua grande relevância
epidemiológica nesta parcela específica da população, não por seus meros
absolutos, mas por sua incidência, prevalência, letalidade e anos potenciais de vida
perdidos (até 15 anos), sendo considerado um dos mais sérios problemas
contemporâneos de saúde pública.
A inserção das pessoas maiores de 50 anos na epidemia da aids constitui
problema de saúde pública de grande preocupação, pois, embora as estatísticas
mostrem decréscimo da doença na população em geral nos países desenvolvidos e
estabilidade dos casos na América Latina, acredita-se não ser posvel a generalização,
visto que em cada país existem regiões que apresentam curva ascendente da infecção,
por exemplo as regiões Norte e Nordeste do Brasil (BRASIL, 2008a).
No Brasil, a infecção pelo HIV entre os indivíduos maiores de 50 anos
apresenta-se em curva ascendente como em nenhuma outra faixa etária. Esse
“envelhecimento” resulta na mais recente característica da epidemia da aids
(BRASIL, 2008a).
O primeiro caso de aids no Brasil, em pessoas acima de 50 anos de idade
foi notificado em 1982, na região Sudeste e, no Ceará, em 1989, com indivíduo do
sexo masculino, por transmissão sexual (ARAÚJO et al., 2007; BRASIL, 2008a).
24
Apesar da maioria dos casos de aids encontrar-se na faixa etária de 25 a
49 anos, constata-se ao longo da série histórica, um aumento proporcional de casos
de aids em indivíduos com 50 anos ou mais de idade, passando de 7% em 1996,
para 13% em 2006. A taxa de incidência nessa população dobrou entre 1996 e
2006, passando de 7,5 casos por 100.000 habitantes para 15,7. Aumento verificado
em todas as regiões, ficando a região Nordeste com um aumento de 2,8 em 1996,
para 7,6 em 2006 (BRASIL, 2008a).
Até junho de 2008 existem acumulados 47.437 casos de aids na
população com idade superior a 50 anos (9,4% do total de casos de aids), sendo
15.966 (34%) em mulheres e 31.469 (66%) entre os homens, com 62% dos casos
diagnosticados entre 2001 e junho de 2008 (BRASIL, 2008a).
A principal forma de infecção entre os idosos, no Brasil, é a transmissão
sexual. Daí atribuir-se a responsabilidade pelo aumento da infecção pelo HIV/aids na
população mais idosa, a fatores como a gama de recursos que permite maior acesso
a uma vida sexual ativa e, principalmente, o tabu que envolve a sexualidade na
terceira idade (BRASIL, 2004), levando a uma carência de informações quanto à
prevenção, tornando-os mais vulneráveis (CEARÁ, 2008).
Como discutido anteriormente, a ‘revolução sexual’ que ocorre entre as
pessoas dessa faixa etária, não esacompanhada de uma prática sexual segura,
com ões preventivas para DST/aids, seja pelo desconhecimento e pela inabilidade
que este gera ou pela cultura arraigada de práticas pouco seguras.
Entre os homens são considerados vários obsculos quanto ao uso de
preservativo, como perda de ereção e a crença de somente ser necessário seu uso
em relações extraconjugais ou com profissionais do sexo.
As mulheres com mais de 50 anos enfrentam a carga cultural que
circunda o tema, sendo considerada a impossibilidade de engravidar, a dificuldade
em negociar o uso do preservativo masculino e o desconhecimento do preservativo
feminino. Desconsidera-se o fato de que manter relações sexuais sem preservativo
durante e após a menopausa tem aumentado o risco de infecções sexualmente
transmissíveis (IST) pelas pprias condições fisiológicas como paredes vaginais
25
mais finas e ressecadas, favorecendo o surgimento de lesões que funcionam como
porta de entrada (SILVA; PAIVA, 2006).
Saldanha e Araújo (2006) consideram que, apesar do conhecimento
desses fatos, a possibilidade de infecção pelo HIV/aids em uma pessoa idosa parece
‘invisível’ para a sociedade, os profissionais de saúde e os próprios idosos.
A carga de tabus e preconceitos que envolvem essa questão leva a uma
maior exposição a situações de vulnerabilidade pelas atitudes pessoais e pela
dificuldade no diagnóstico precoce.
Há, entre os profissionais de saúde, uma dificuldade em questionar a vida
sexual do(a) idoso(a), considerando-o(a) de antemão monogâmico(a), com ritmo
sexual diminuído ou findo (SILVA; PAIVA, 2006). Esse fato, aliado a uma
sintomatologia com características semelhantes a outras doenças frequentes nesse
grupo etário como cansaço, perda de peso e problemas na memória, leva os
profissionais de saúde a não investigarem de forma adequada a possibilidade da
infecção pelo HIV, impedindo um diagnóstico diferencial, o que pode vir a retardar o
real diagnóstico em mais de 10 meses, atrasando o início do tratamento, diminuindo
a sobrevida e levando à sub-notificação da doença (HUMAN Immunodeficiency Virus
Infection, 2005; VIEIRA, 2004).
A razão entre homens e mulheres no que diz respeito à infecção pelo HIV
e os casos de aids entre indivíduos com mais de 50 anos segue a tendência
nacional de decréscimo, validada pelos dados veiculados pelo MS, que atestam
considerável redução. Segundo estes dados, havia, em 1986, 19 homens infectados
pelo vírus para cada caso em mulheres, enquanto em 2006, passou-se a ter 1,6
caso de aids em homem para um caso em mulheres (BRASIL, 2008a).
Dos 33,2
milhões de pessoas infectadas pelo vírus HIV no mundo, 15,4 milhões são mulheres,
representando 50% do total de pessoas infectadas (UNAIDS, 2007).
As mulheres nesta faixa etária carregam consigo, além das questões
relativas à idade, uma enorme carga cultural inerente a questões de gênero,
dificultando assim o enfrentamento adequado da epidemia, levando-nos a questionar
as condições de vulnerabilidade a que estão expostas.
26
De acordo com Saldanha (2003), foi nesse contexto, com práticas
preventivas e campanhas excludentes voltadas para grupos com determinadas
características e comportamentos que não apresentaram êxito em seus intentos,
deixando lacunas que expuseram outras parcelas da população, que tiveram início
as análises da epidemia da aids, voltadas para o conceito de vulnerabilidade,
oriundo da área de Direitos Humanos que considera a exposição à infecção em
dimensões que avaliam situações individuais, sociais e programáticas (institucionais)
a que estão expostos os indivíduos.
Mann e cols., em 1992, desenvolveram tal conceito, estabelecendo
padrões de referência para avaliar a exposição à infecção pelo HIV, definidos por
três dimenes interdependentes que mensuravam a vulnerabilidade dos indivíduos:
dimensão individual (cognitiva e comportamento pessoal), social (contexto social) e
programática (ou institucional) anteriormente designada como “Programa Nacional
de Combate à AIDS” (AYRES et al., 2003). Inicialmente estas dimensões eram
avaliadas por meio de escores e modelos quantitativos que reafirmavam que a
possibilidade de infecção estaria vinculada a índices de baixa, dia e alta
vulnerabilidade (SOUZA, 2001).
Em 1996, Mann e cols. retomam a questão de modo mais amplo,
substituindo os indicadores sócio-econômicos e enfatizando os direitos humanos.
Com base nestes pressupostos, Ayres, em 1999, dá às dimensões individual, social
e programática uma visibilidade subjetiva, menos positivista, que relaciona os
comportamentos individuais de exposição ao risco a um conjunto mais amplo de
determinantes (AYRES et al., 2003).
Ser vulnerável é não ter meios para se proteger; o ter acesso aos
serviços de saúde, à educação, trabalho; fonte de renda e moradia e não ter
liberdade para propor e escolher (BRASIL, 2007).
Esse conceito pressupõe que todos os indivíduos estão sujeitos à
infecção pelo HIV, sendo esta, resultante não apenas de fatores individuais, mas
também de fatores coletivos, da existência de políticas blicas e da disponibilidade
de recursos (DE LA TORRE-UGARTE-GUANILO, 2008).
27
Para Ayres et al. (1999), o conceito de vulnerabilidade não visa distinguir
a probabilidade de um indivíduo qualquer se expor à aids, mas busca fornecer
elementos para avaliar objetivamente as diferentes chances que cada indivíduo ou
grupo populacional particular tem de se contaminar, dado o conjunto formado por
certas características individuais e sociais de seu cotidiano, julgadas relevantes para
a maior exposição ou menor chance de proteção diante do problema, destacando-
se, assim, a influência de cada dimensão da vulnerabilidade na contaminação pelo
HIV/aids, principalmente em mulheres com mais de 50 anos.
A vulnerabilidade individual ou pessoal es diretamente ligada aos
comportamentos de risco que favorecem a infecção ou o adoecimento. Esta
dimensão depende de vários fatores como o grau de consciência dos danos
inerentes ao agravo, o grau e a qualidade da informação veiculada, a capacidade de
elaboração e incorporação dessas informações e as possibilidades concretas de
transformação de suas práticas cotidianas.
Segundo Valadão (2008), a mudança de comportamento o é
compreendida como decorrência imediata da vontade dos indivíduos, tendo
conhecimentos e comportamentos, significados e repercussões diferenciadas na
vida dos indivíduos, dependendo de uma combinação, sempre singular, de
características individuais, contextos de vida e relações interpessoais que se
estabelecem no dia-a-dia. Por isso, não é possível dizer que uma pessoa “é
vulnerável”, pode-se apenas dizer que uma pessoa “es vulnerável” a um
determinado problema, em um determinado momento de sua vida.
Assim, pode-se afirmar que a vulnerabilidade individual traz em seu
ínterim, íntima ligação com as vulnerabilidades programática e social, haja vista a
influência que o sistema como um todo exerce sobre cada indivíduo, estando
associada às informações sobre a doença, percepção de risco, valores e crenças
que determinarão as formas de prevenir a contaminação e a possibilidade de
execão de práticas seguras (AYRES et al., 2003).
Silveira et al. (2002) levam-nos a ir além de uma análise subjetiva, quando
afirma que a vulnerabilidade individual deve ser vista de um ponto de vista biológico,
levando a inferir que as mulheres se encontram mais suscetíveis à infecção do que
28
os homens: o sêmen possui uma maior concentração do HIV e a superfície vaginal é
relativamente mais extensa.
O modelo ideológico que representa a aids como uma doença do outro”,
possivelmente, ligada a um “grupo de risco”, aumenta a vulnerabilidade individual,
levando muitas pessoas a não se sentirem vulneráveis à infecção, preterindo a
prática de sexo seguro e perdendo o interesse por informações pertinentes
(PAULIO; JEOLÁS, 2005; SILVEIRA et al., 2002).
Saldanha, Figueiredo e Coutinho (2004), asseveram que, entre indivíduos
com mais de 50 anos, a aids seria uma “doença de jovem”, tornando esta parcela da
população ainda mais suscetível ao sentimento de invulnerabilidade.
Apesar de reconhecer a importância de magnitudes distintas dos aspectos
individuais, não se pode deixar de ressaltar o impacto da influência dos fatores
sociais na determinação da probabilidade de infecção pelo HIV.
Consideram-se relevantes, na dimensão social da vulnerabilidade, a
situação socioeconômica, as relações de gênero e as relações geracionais, os
valores culturais e qualquer outro que influencie o acesso às condições capazes de
reduzir a vulnerabilidade (SILVA; PAIVA, 2006). Um exemplo relevante deste fato é
a pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a
qual demonstra um grande número de pessoas com idade superior a 50 anos que
possuem uma média salarial de até 01 sario mínimo, apresentando altos índices
de analfabetismo nessa faixa etária (IBGE, 2003), caracterizando, assim, situações
de vulnerabilidade social que implicam em maiores dificuldades no acesso a
informações e aos serviços de saúde.
A vulnerabilidade social tem ligação direta com a possibilidade de interferir
nas instâncias de tomada de decisão. Esrelacionada a aspectos sociopolíticos e
culturais combinados, podendo ser entendida como um reflexo das condições de
bem-estar social (moradia, acesso aos bens de consumo e graus de liberdade de
pensamento e expressão). Para mensurar suas dimensões faz-se necessário
conhecer a situação de vida das coletividades, sendo tanto maior a vulnerabilidade
quanto menor a possibilidade de interferir nas instâncias de tomada de decisão
(VALADÃO, 2008).
29
O comportamento sexual previamente definido e socialmente exigido de
homens e mulheres é um dos agravantes na dificuldade para conter a epidemia da
aids, tornando-os ainda mais vulneráveis, assim como, as relações de gênero e as
relações geracionais por se tratarem de construções sociais e terem sérias
repercussões na saúde das pessoas envolvidas.
Do homem espera-se provas de masculinidade e virilidade, como a
aceitão incondicional de relações sexuais, a repressão de desejos homoeróticos e
a não-verbalização de necessidades de saúde. As mulheres vivenciam relações
desiguais de poder e dependência econômica, principalmente nos países em
desenvolvimento, limitando o acesso às informações e à percepção de
vulnerabilidade e dificultando a negociação de sexo seguro (SILVA; PAIVA, 2006).
As relões geracionais e os preconceitos que trazem embutidos constituem
uma barreira à prevenção, visto que o sexo é considerado como atividade própria da
juventude, encerrando-se com o avançar da idade (SILVA et al., 2008).
Quanto à vulnerabilidade programática ou institucional, pode-se associá-la
à existência de políticas e ações organizadas para enfrentar o problema, e
[...] quanto maior o compromisso, a integração e o monitoramento de
programas de prevenção e cuidado, maiores serão as chances de canalizar
os recursos, de otimizar seu uso e de fortalecer os indivíduos e a sociedade
frente à epidemia (VALADÃO, 2008).
Assim, no intuito de operacionalizar tal conceito, Takahashi (2006),
desenvolveu “marcadores de vulnerabilidade” a partir dos estudos que abordavam a
temática “vulnerabilidade”, na tentativa de adequar estratégias que permitissem a
superação da restrição conferida pela magnitude conceitual da vulnerabilidade. A
autora lembra que os três eixos da vulnerabilidade eso ligados entre si, formando
uma “rede” ou teia”, o devendo ser tratados separadamente na implementação
dos marcadores (VIANA, 2009).
Os marcadores seguem uma sistematização com fins didáticos, mas que
devem ser analisados, considerando-se a sua inter-relação. Assim, os marcadores
da dimensão individual são: “conhecimentos e significados atribuídos ao processo
saúde-doença”, características pessoais e relacionais”, “impacto do diagnóstico”,
“recursos disponíveis (pessoais e experiências que interferem no enfrentamento)” e
30
“modo de enfrentamento (práticas e comportamento)”. Os marcadores da dimensão
programática são: estrutura e dinâmica de organização dos serviços de saúde” e
“operacionalização das ações”. Já os marcadores da dimensão social estão
relacionados às “condições materiais de existência do indivíduo”, ao “aparato
jurídico-político”, às “organizações sociais, governamentais ou não”, à “ideologia e
cultura das populações” (VIANA, 2009).
A análise da vulnerabilidade permite julgar e entender as diferenças
individuais e grupais além de compreender como cada um vivencia e enfrenta o
processo saúde-doença. Assim sendo, a construção de marcadores é empregada
para analisar as condições de vida e saúde da população e para auxiliar na
intervenção orientada para os determinantes do estado de vulnerabilidade
(NICHIATA et al., 2008).
Tendo em vista que, amesmo o diagnóstico da aids é complexo entre
os idosos, observa-se a amplitude da aplicação dos marcadores de vulnerabilidade
no cuidado aos indivíduos desta faixa etária, primeiramente pelo fato de que muitos
profissionais de saúde raramente consideram doenças sexualmente transmissíveis,
como o HIV/aids na velhice, seja por julgamentos próprios ou por concepções
errôneas, em função de crenças sobre a sexualidade (ROSSIM et al., 2001;
WOOTEN-BIELSKI, 1999).
Segundo Nichiata et al. (2008), a importância do conhecimento sobre
vulnerabilidade para o cuidado em enfermagem está nas implicações que produz na
saúde daqueles que são vulneráveis e, assim, na identificação das suas
necessidades de saúde, com o propósito de lhes assegurar maior proteção.
Como citado anteriormente, apesar do governo reconhecer, desde 2001,
a necessidade de incluir os indiduos com mais de 50 anos entre os grupos que
merecem atenção especial no que concerne à epidemia da aids, somente no final de
2008, uma campanha criada com esse fim foi colocada em prática.
Com base nesses conceitos é possível inferir que as ações baseadas no
conceito de risco que valorizam as informões e as mudanças de comportamentos
individuais não são suficientes, por si só, para conter a epidemia da aids. É
necessário prover os indivíduos de meios que permitam seu fortalecimento e os
31
capacitem para fazer uso das informões, transformando suas práticas e,
conseqüentemente, se protegendo da infecção.
2.2 TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
Acredita-se que o ser humano é um animal simbólico dentro de um
ambiente social com capacidade de orientar a representação que delimita o campo
das comunicações, da cultura, com suas crenças e valores, orientando suas
condutas.
Serge Moscovici, psicólogo social francês, formulou a Teoria das
Representações Sociais (TRS) fundamentando-se no conceito de representações
coletivas desenvolvido por Emile Durkheim. O pesquisador propôs uma nova
concepção teórico-conceitual capaz de atender às questões oriundas dos problemas
complexos da modernidade (NÓBREGA, 2003).
A surpresa causada pela epidemia de HIV/aids motivou as pessoas a
experimentarem mudanças em suas crenças, valores e atitudes, com o senso
comum sendo alterado de forma constante, na medida em que as descobertas
científicas eram divulgadas. Para Moscovici (2003, p. 95), “o senso comum es
continuamente sendo criado e recriado em nossas sociedades, especialmente onde
o conhecimento científico e tecnológico está popularizado”.
A TRS estuda a maneira pela qual os indivíduos buscam compreender o
mundo que os cerca, considerando que não apenas manipulam informações ou
agem sem explicações. Eles, sobretudo, pensam. Dessa forma, a TRS é uma
maneira de conhecimento do senso comum que coexiste com o conhecimento
científico. Assim sendo, as representações sociais referem-se ao modo como o
indivíduo pensa e interpreta o cotidiano, constituindo-se de um conjunto de imagens
com um sistema de referências que lhe permite interpretar sua vida e compartilhar
essa interpretação com o seu meio social (MOSCOVICI, 2003).
Jodelet (1998), afirma que desde sua formulão, a TRS vem sendo
amplamente difundida, com seu conceito expandido em outras áreas do
conhecimento, incluindo a área da saúde, permitindo estudos que analisam as
32
relações existentes entre conhecimento científico e senso comum e o papel que este
exerce sobre a apreensão do processo saúde/doença.
Para Moscovici (2003), as representações sociais resultam da interação
entre sujeito e sistema, ou seja, seu entorno social. Acredita que “não existe sujeito
sem sistema nem sistema sem sujeito” e, ademais, todas as culturas que
conhecemos constroem instituições e normas que orientam, de um lado, a
individualização e, de outro, a socialização. Como as Representações Sociais são
sempre partilhadas dentro de um grupo social, fica assegurada a possibilidade de
sua coexistência.
As questões são: como criamos essas representações? De que maneira
elas influenciam nossas ões? Poderíamos dizer que, ao nos confrontarmos com
diferentes objetos, s os recriamos em nossa mente, ancoramo-nos em crenças,
valores e ideologias que são expressas por gestos, palavras e silêncios. Em um
universo de comunicação, criamos e transmitimos nossas representações, e o que
nos parecia estranho torna-se comum, quase normal.
E desta maneira que recriamos ou reapresentamos o mundo que nos
rodeia; sem o sabermos ou querermos, geramos representações. Mas, como são
geradas? Moscovici (2003) classifica dois mecanismos geradores de representação:
a ancoragem e a objetivação.
O referido pesquisador afirma, basicamente, que ancorar e objetivar são
mecanismos que transformam o não-familiar em familiar, primeiramente transferindo-
os à nossa própria esfera particular, onde nós somos capazes de compará-los e
interpretá-los; e depois, materializando-as recriando entre outras coisas o que nós
podemos ver e tocar, e, conseqüentemente, controlar. Portanto, sabendo que as
representações são criadas por esses dois mecanismos, é essencial que
compreendamos como funcionam.
Para Moscovici (2003), ancorar é classificar, dar nome a alguma coisa,
reduzi-la a categorias e imagens comuns, colocá-la em um contexto familiar.
(1995) citando Jodelet, afirma que a ancoragem consiste na integração cognitiva do
objeto representado sejam idéias, acontecimentos, pessoas, relações, etc. com
um sistema de pensamento social, preexistente e nas transformões implicadas.
33
Moscovici (2003) insiste em afirmar que classificar e dar nomes não são,
simplesmente, meios de graduar e de rotular pessoas ou objetos considerados como
entidades discretas. Seu objetivo principal é facilitar a interpretação de
características e a compreensão de intenções e motivos subjacentes às ações das
pessoas, em suma formar opiniões.
Enfim, na medida em que os sentidos emergem de objetos
desconhecidos, nós os tornamos tangíveis, visíveis e semelhantes às idéias e seres
que nós já integramos e com os quais estamos familiarizados.
A objetivação, outro processo de formação das Representações Sociais,
consiste em uma “operação imaginária e estruturante”, pela qual se uma forma”
– ou figura – específica ao conhecimento acerca do objeto, tornando concreto,
quase tangível, o conceito abstrato, “materializando a palavra” (SÁ, 1995).
Segundo Moscovici (2003), objetivar é descobrir a qualidade icônica de
uma idéia ou ser impreciso; reproduzir um conceito em uma imagem, “porque desde
que nós pressupomos que as palavras o falam sobre nada, somos compelidos a
ligá-las a alguma coisa, a encontrar equivalentes não-verbais”. Esse pesquisador
reconhece, entretanto, que nem todos os conceitos podem ser ligados a imagens,
principalmente porque a disponibilidade destas é menor. Nesse sentido, se disse
que objetivar é “reabsorver um excesso de significados” (SOUZA FILHO, 1995).
Neste panorama, estar diante de um objeto desconhecido, ou ainda,
abstrato, (imaterial), obriga-nos a buscar, em nossa rede de significões, uma
figura que se encaixe para que possamos trazê-la para o nosso universo
paradigmático. Por exemplo, quando comparamos Deus com um Pai, o que antes
era invisível, momentaneamente torna-se visível em nossas mentes, como uma
pessoa que nós podemos reconhecer como tal (MOSCOVICI, 2003).
Como podemos perceber as representações sociais emergem de conflitos,
de algo que nos perturba e essa sensação de desconforto nos impulsiona a buscar,
em nossa rede de significações (a memória), palavras, gestos, silêncios que
traduzam nosso entendimento e/ou desejo de que este conceito/conhecimento seja
trazido/traduzido ao nosso ambiente, ou melhor, a um universo que nos é familiar.
34
As representações sociais o consideradas fenômenos específicos de um
determinado grupo social que tem um modo particular de compreender e de se
comunicar um modo que cria tanto a realidade como o senso comum. Nessa direção,
Moscovici (2003) distingue dois universos conceituais: o consensual e o reificado.
Segundo o universo consensual, a sociedade é vista como um grupo de
pessoas que são iguais e livres, cada uma com possibilidade de falar em nome do
grupo e sob seu auspício. Dessa maneira, presume-se que nenhum membro possua
competência exclusiva, mas cada qual pode adquirir toda competência que seja
requerida pela circunstância: profissionais da saúde, políticos, professores
mediado pela conversação – em bares, clubes, praças (MOSCOVICI, 2003).
Na perspectiva do universo reificado, a sociedade é entendida como um
sistema de entidades sólidas, básicas, invariáveis, que são indiferentes à
individualidade e não possuem identidade. Essa sociedade ignora a si mesma e as
suas criações, que ela vê somente como objetos isolados, tais como, pessoas, idéias,
ambientes e atividades (MOSCOVICI, 2003). Neste meio, a fala é restrita, quer dizer,
o que determina o que se fala é o grupo do qual se faz parte: profissionais da área da
saúde, professores, psicólogos, especialistas, cada qual em sua área.
Conforme podemos constatar, os universos consensuais e reificados são
próprios de nossa cultura, mas o contraste entre os dois universos possui um
impacto psicológico. Os limites entre eles dividem a realidade coletiva, e, de fato, a
realidade sica, em duas. É facilmente constatável que as ciências o os meios
pelos quais nós compreendemos o universo reificado, enquanto as representações
sociais tratam com o universo consensual. A finalidade do primeiro é estabelecer um
mapa de forças, dos objetos e acontecimentos que são independentes de nossos
desejos e fora de nossa consciência e aos quais nós devemos reagir de modo
imparcial e submisso. Pelo fato de ocultar valores e vantagens, eles procuram
encorajar precisão intelectual e evidência empírica. As representações por outro
lado, restauram a consciência coletiva e lhe dão forma, explicando os objetos e
acontecimentos de tal modo que eles se tornam acessíveis a qualquer um e
coincidem com nossos interesses imediatos (MOSCOVICI, 2003).
Com esta sistematização, Moscovici reabilitou o senso comum do saber
popular, do conhecimento do cotidiano, o conhecimento “pré-teórico” de que fala
35
Arruda (2002). Antes este saber era considerado confuso, inconsistente, equivocado
(opinião sobre a qual tanto o iluminismo quanto o marxismo vão coincidir,
acreditando que a superação do erro e da ignorância se dava pela via do
pensamento científico). Moscovici e Markova, por sua vez, questionaram a
racionalidade científica e insurgem-se contra a idéia de que as pessoas comuns, na
vida diária, pensam irracionalmente, ao afirmarem que são os intelectuais que não
pensam racionalmente, que produziram teorias como racismo e o nazismo
(ARRUDA, 2002).
Se nos detivermos sobre os universos representacionais classificados por
Moscovici (2003), notaremos que este se refere ao conhecimento científico quando
fala de universo reificado, no qual a “verdade” final tem que passar por uma série de
barreiras – conceituais e experimentais. o universo consensual se refere ao senso
comum, conhecimento produzido pela sociedade, de um modo geral, em bares,
escolas, praças e cafés, nos quais as discussões são descomprometidas, mas não
menos importantes, sob o ponto de vista psicossociológico, do que as discussões do
universo reificado. E é nesse universo de consenso que são geradas as
representações sociais.
Quanto à relação entre as mulheres com 50 anos ou mais e a infecção
pelo HIV/aids, percebe-se que muitas informações sobre a doença são ancoradas,
porém a objetivação criada se contrapõe com atitudes que as vulnerabilizam ainda
mais, como a não incorporação de pticas de sexo mais seguro.
Concordamos com Noriega (2005) ao afirmar que representar um objeto
corresponde a construí-lo simbolicamente, de forma que tenha sentido para o indivíduo
que o representa e, consequentemente passando a fazer parte do seu mundo.
Face ao exposto, acredita-se que a teoria das representações sociais se
apresenta como referencial teórico capaz de contribuir com a análise e discussão
deste estudo, por possibilitar conhecimentos individuais no âmbito grupal da
portadora do HIV/aids com 50 anos ou mais.
36
3 PERCURSO METODOLÓGICO
37
3 PERCURSO METODOLÓGICO
3.1 TIPO DE ESTUDO
Trata-se de pesquisa exploratória e descritiva, com abordagem de
métodos mistos, embasada na Teoria das Representações Sociais (TRS).
A pesquisa exploratória envolve levantamento bibliográfico, entrevistas
com pessoas que m ou tiveram experiências práticas com o problema
pesquisado, e análise de exemplos que estimulem a compreensão. Possui a
finalidade de desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias para a
formulação de abordagens posteriores. Assim, este tipo de pesquisa visa
proporcionar um maior conhecimento para o pesquisador acerca do assunto, a fim
de que possa formular problemas mais precisos ou criar hipóteses que possam ser
pesquisadas em estudos posteriores, permitindo uma visão geral, aproximada, do
fato em questão (GIL, 2008).
A pesquisa descritiva é aquela que contém descrições detalhadas dos
fenômenos existentes utilizando os dados para justificar e avaliar condições e
práticas correntes, tendo como principal objetivo descrever as características de
determinada população ou fenômeno ou estabelecer relações entre varveis obtidas
com a utilização de técnicas padronizadas (FIGUEIREDO, 2004; LOBIONDO-
WOOD; HABER, 2001).
Sobre os métodos mistos, Driessnack, Sousa e Mendes (2007) colocam que
[...] é o uso de duas ou mais estratégias, quantitativa e/ou qualitativa dentro
de um único projeto de pesquisa. Dito de outra forma, métodos mistos se
refere a um único estudo que utiliza estratégias ltiplas ou mistas para
responder às questões de pesquisa e/ou testar hipóteses. Tais estratégias
são implementadas concomitantemente ou seqüencialmente.
A TRS foi adotada como referencial teórico deste estudo por
considerar a possibilidade que representa o modo como os indivíduos e grupos
agem diante do HIV/aids e de sua prevenção, permitindo uma apreensão
individual e coletiva do femeno.
38
A abordagem das representações sociais leva a insistir que, numa área
como a da saúde, para apreender o processo da assimilação (ou não
assimilação) das informações, necessário se faz considerar os sistemas de
noções, valores e modelos de pensamento e de conduta que os indivíduos
aplicam para se apropriar dos objetos de seu ambiente, particularmente
aqueles que são novos, como foi o caso da aids nos anos 80 (JODELET,
1998, p. 26).
3.2 CAMPO DE ESTUDO
O estudo foi desenvolvido na cidade de Fortaleza/Ceará, em duas
instituições públicas: ambulatório de referência em aids do Hospital São José de
Doenças Infecciosas (HSJ) e no local de funcionamento do grupo de idosos do
Centro Social Urbano Aloísio Ximenes.
O HSJ conta com 111 leitos em enfermarias e 08 leitos de UTI. É
referência estadual em vel terciário de atenção à saúde com serviços de
internação, ambulatório e consultório 24h para emergências em doeas
infecciosas, além de laboratório de análises clínicas e serviço auxiliar de diagnóstico
e tratamento. As doeas infecciosas mais freqüentes atendidas neste hospital são
aids, leishmaniose, meningite, dengue, tétano, hepatites, neurocisticercose,
tuberculose e leptospirose (BRASIL, 2009).
O HSJ possui hospital-dia que presta serviço de apoio ao tratamento de
infectados pelo HIV/aids. Funciona também como local de referência do estado do
Ceará para o atendimento de acidentes ocupacionais com materiais rfuro-
cortantes e vítimas de abuso sexual.
O serviço de pronto-atendimento atende tanto pacientes do hospital
(cadastrados no ambulatório) como pacientes externos, referendados ou por
demanda espontânea. O serviço de ambulatório conta com equipe multiprofissional e
os atendimentos se dão em nove consultórios, onde são realizados
acompanhamentos ambulatoriais adultos e pediátricos de infectologia geral e
acompanhamentos especializados (leishmanioses, hepatites virais, DST, HIV/aids
adulto e pediátrico, ginecologia, micobacteriose, neurologia, dermatologia,
endocrinologia, odontologia, nutrição, serviço social, psicologia e enfermagem).
O Centro Social Urbano Aloísio Ximenes (CSU) foi criado em setembro de
1994, na gestão do prefeito Antonio Elbano Cambraia. Suas instalações foram
39
cedidas pela Legislação Brasileira de Assistência (LBA) à Prefeitura Municipal de
Fortaleza (PMF), dentro do programa de municipalização da ão social.
É um equipamento social comunitário que atende à população do bairro
Rodolfo Teófilo, implementando ações sociais, culturais, educativas e de lazer. Os
profissionais que atuam no CSU o locados para desenvolver programas da
prefeitura junto à comunidade; são pedagogos, psicólogos, assistentes sociais,
médicos, enfermeiras, manipuladores de alimentos etc.
Atualmente, no CSU Aloísio Ximenes funcionam diversos programas
como o Programa de Prática Profissional em Infortica (PROINFOR), voltado para
adolescentes; Plantão Social, voltado para a população mais carente do bairro;
Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), com ações de combate à dengue; Cursos
Profissionalizantes; Rede Nacional de Pessoas (RNP) vivendo com HIV/aids; Brasil
Alfabetizado e Programa de Atenção Básica ao Idoso (PABI), ambos voltados para
pessoas idosas.
Como parte do PABI, no local funciona um grupo de convivência que
atende a idosos, com atividades desenvolvidas nos dias de terças e quintas-feiras a
tarde, com programação que visa proporcionar condições de melhoria da qualidade
de vida destas pessoas. São desenvolvidas atividades de integração, como aulas de
dança, celebração de datas comemorativas, visitas a outros grupos de idosos,
palestras educativas, cursos e viagens. Quinzenalmente, os participantes do grupo
o atendidos por profissionais do Programa Saúde da Família (PSF), com ões
que visam à promão e prevenção da sde.
3.3 SUJEITOS SOCIAIS
Participaram da investigação 44 mulheres acompanhadas nos referidos
serviços. Destas, 22 mulheres com diagnóstico de HIV/aids (Grupo A) e 22 mulheres
sem diagnóstico de HIV/aids (Grupo B).
Foram considerados os seguintes critérios de inclusão para os sujeitos da
pesquisa:
40
- Participantes do Grupo A:
- ser do sexo feminino;
- ter 50 anos de idade ou mais;
- ter diagnóstico da infecção pelo HIV/aids;
- ser acompanhada no ambulatório especializado em HIV/aids do HSJ;
- aceitar participar da pesquisa.
- Participantes do Grupo B:
- ser do sexo feminino;
- ter 50 anos de idade ou mais;
- não ter diagnóstico da infeão pelo HIV/aids;
- participar do grupo de convivência de idosos do CSU Aloísio Ximenes;
- aceitar participar da pesquisa.
Foram excluídas do estudo mulheres portadoras de alterações de saúde
que impossibilitassem a comunicação, bem como aquelas que não atenderam a
todos os critérios de inclusão.
3.4 TÉCNICAS, INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS PARA COLETA DE DADOS
3.4.1 Procedimentos da coleta de dados
Para a coleta dos dados utilizou-se as seguintes técnicas: entrevista semi-
estruturada e observação assistemática.
Os primeiros contatos com os sujeitos da pesquisa ocorreram no mês de
setembro de 2009, no ambulatório do hospital São Jo de Doenças Infecciosas
(HSJ), enquanto aguardavam atendimento ambulatorial, e no Centro Social Urbano
Aloísio Ximenes, durante as reuniões semanais do grupo de convivência de idosos,
sendo cedido um tempo para que fossem explicados a pesquisa e seus objetivos. As
mulheres foram selecionadas pela idade, sendo abordadas pela pesquisadora, que
dava início a uma explanação sobre a pesquisa, detalhando todos os passos a
serem adotados para que os objetivos fossem alcançados, sempre fazendo uso de
41
uma linguagem simples, procurando dirimir todas as dúvidas e reforçando a
manutenção do sigilo das entrevistas.
A entrevista semi-estruturada era composta por questões norteadoras que
buscavam aproximar o discurso das mulheres entrevistadas do objeto de nosso
estudo (APÊNDICE B). Era iniciada com uma conversa informal, objetivando a
descontração, de forma a facilitar a relação entre entrevistadora e entrevistada,
fazendo fluir de forma mais tranqüila a aproximação do objeto do estudo aos atores.
Todas as entrevistas foram gravadas e transcritas na íntegra com prévia autorização
das participantes.
No decorrer das entrevistas observamos que temas como a sexualidade,
eram tratados com certo constrangimento, impossibilitando em alguns dos casos, a
obtenção de respostas completas e com sentido. Nesses casos, tentou-se abordar o
tema de forma mais sutil, deixando a entrevistada à vontade para continuar o assunto.
A maior parte das mulheres respondeu de forma satisfatória à nova abordagem,
porém, algumas delas se negaram terminantemente a falar do assunto.
Como o tema da entrevista versou acerca da sexualidade e HIV/aids,
adentramos em um campo de foro íntimo que nem sempre conseguimos penetrar.
As mulheres com diagnóstico de HIV/ aids mostraram-se mais receptivas e dispostas
a discorrer sobre sua atividade sexual e como essa atividade estava ligada à sua
contaminação. Declararam de forma clara como essa parte de suas vidas é
considerada importante e como algumas sofrem por não poderem vivenciá-la de
forma plena, por se sentirem envelhecidas, por medo de contraírem outras doenças
ou de contaminarem os parceiros.
Quanto à observação assistemática, também conhecida como observação
espontânea, é uma técnica normalmente utilizada em estudos exploratórios, e foi
utilizada de forma a permitir a identificação e obtenção de provas a respeito de
objetivos sobre os quais os indivíduos não estão conscientes, mas que orientam seu
comportamento. Sem planejamento e sem quesitos observacionais previamente
estabelecidos, objetiva o recolhimento e o registro dos dados reais sem a utilizão
de meios técnicos especiais ou a necessidade de perguntas diretas. O êxito nesta
técnica vai depender da atenção do observador aos fenômenos que ocorrem no
42
mundo que o cerca, da sua perspicácia, discernimento, preparo e treino, além de
uma atitude de prontidão (LAKATOS; MARCONI, 2002).
A observação serviu para enriquecer a análise, uma vez que permitiu a
apreensão da linguagem não verbal, importante para analisar a subjetividade da
problemática da infecção por HIV/aids em mulheres com 50 anos ou mais, com e
sem diagnóstico.
3.5 ANÁLISE E TRATAMENTO DOS DADOS
Tendo em vista a coerência entre os pressupostos teóricos e
metodológicos e a maneira mais apropriada de análise dos conteúdos surgidos
mediante a aplicação dos instrumentos, elaborou-se um plano geral de análise e
tratamento dos dados.
Foram selecionadas a cnica de análise de conteúdo temática (BARDIN,
2004) e análise dos marcadores de vulnerabilidade, conforme Takahashi (2006).
Algumas considerações teóricas serão abordadas, para melhor compreensão.
3.5.1 A técnica de análise de conteúdo
Os dados obtidos atras das entrevistas semi-estruturadas foram submetidos
à técnica de análise de contdo visto que são dados potencialmente subjetivos.
Dessa forma, consideramos que a técnica que melhor contextualiza este
aspecto, é a análise de conteúdo proposta por Bardin, cujo objetivo é compreender o
sentido das comunicações e suas significações explícitas e/ou ocultas. Seu
procedimento visa ainda obter a sistematização e descrição dos conteúdos das
mensagens, as quais permitem a inferência de conhecimentos relativos às condições
de produção/percepção (variáveis inferidas) e o analisadas quantitativamente por
meio da análise das frequências e percentuais (BARDIN, 2004).
Este pensamento é corroborado por Vala (2000), quando afirma que a análise
de conteúdo objetiva a realização de infencias, com base numa lógica expcita, sobre
as mensagens, cujas caractesticas foram inventariadas e sistematizadas.
43
A análise de conteúdo se divide em três etapas: a pré-análise, a análise, o
tratamento dos resultados e interpretação. A pré-análise consiste na escolha e
organizão do material coletado (constituição do corpus), leitura flutuante e
preparação desse material. A análise é a ocasião em que se explora o material para
a aplicação da técnica de análise de conteúdo, com constituição de subcategorias e
codificações, e categorização do mesmo. E o tratamento dos resultados, consiste
nas inferências feitas sobre os dados analisados (BARDIN, 2004). Para um melhor
entendimento foi constituído um plano de análise conforme mostra a figura a seguir.
PLANO DE ANÁLISE
Figura 1 – Plano de análise
Fonte: Elaboração de Maria Lúcia Duarte Pereira. (GOMES, 2003).
Com base nesses pressupostos, elaborou-se um plano de análise,
considerando os passos descritos a seguir:
Etapas Procedimentos
Pré-análise
Explorão do material
Tratamento dos
resultados
Constituição do Corpus
Leitura flutuante
Preparação do material
Representações Sociais sobre HIV/aids
Recorte
Inventário
Categorização
Codificão
Descrição das categorias
Validação
Estatístico
Inferência
Interpretação
44
a. Constituição do corpus
O corpus foi constituído por 44 entrevistas (22 realizadas com mulheres
com diagnóstico de HIV/aids e 22 realizadas com mulheres sem diagstico de
HIV/aids, número este determinado pela saturação dos dados).
b. Composição das unidades de análise
Após a decomposição do corpus, selecionou-se para unidade de contexto
o parágrafo, que segundo Vala (1999), constitui-se no segmento mais largo do
conteúdo, e para a unidade de registro, a frase.
c. Constituição de subcategorias e codificação
Tendo finalizado a decomposição do corpus em unidades de análise,
procedeu-se à codificação e agrupamento das mesmas em subcategorias e
categorias simbólicas.
d. Categorização
Após exploração exaustiva do material e subseente aplicação da
técnica de análise de conteúdo temática categorial surgiram oito categorias,
definidas para os dois grupos, objetivando a comparação entre eles. No quadro a
seguir, apresenta-se a distribuição das categorias e subcategorias construídas.
45
Categorias Sub-categorias Codificação Nº de unidades
CHA 390
Tecnicoprofissionais CHATP 116
Socioculturais CHAS 210
Sintomatologia Clínica CHASC 27
– CATEGORIA 1 –
Concepções sobre
HIV/aids
Religiosas CHAR 37
PHA 258
Autopercepção PHAAP 204
– CATEGORIA 2 –
Percepções sobre
HIV/AIDS
Heteropercepção PHAHP 54
PSM 299
Autopercepção PSMAP 211
– CATEGORIA 3 –
Percepções de si
mesma
Heteropercepção PSMHP 88
CAHA 84
Científicas CAHAC 10
Socioculturais CAHAS 43
– CATEGORIA 4 –
Causas do HIV/aids
Transmissíveis CAHAT 31
PS 296
Autopercepção PSAP 197
– CATEGORIA 5 –
Percepções sobre
sexualidade
Heteropercepção PSHP 99
VS 476
Influência sociocultural VSIS 92
Na terceira idade VSNT 232
– CATEGORIA 6 –
Vivências da
sexualidade
Com HIV/aids VSCHA 152
PP 440
Medo PPM 171
Morte e HIV/aids PPMHA 14
– CATEGORIA 7 –
Percepções
psicoafetivas
Situações de apoio desamparo PPSAD 255
AHA 308
Condições socioeconômicas AHACS 60
Cotidiano familiar e drogas AHACFD 74
– CATEGORIA 8 –
Além do HIV/aids
Vivências familiares AHAVF 174
Quadro 1 Distribuição das categorias e subcategorias simbólicas sobre HIV/aids,
Fortaleza/Ceará, 2009
Fonte: Elaboração da autora.
f. Tratamento dos resultados
Todo o material coletado durante a pesquisa que passou pela análise de
conteúdo recebeu tratamento estatístico, validação, inferência e interpretação.
g. Descrições das categorias e subcategorias simbólicas
CATEGORIA 1 – CONCEPÇÕES SOBRE O HIV/AIDS
Esta categoria simlica engloba as unidades de análise nas quais as
participantes manifestam seus conhecimentos e experiências sobre o HIV/aids. Estes
conhecimentos vão desde os conceitos, as formas de transmissão, os diagnósticos e
46
os sintomas assimilados e reelaborados conforme a vivência e o contexto de cada
uma, a a expressão da forma como concebem sua vida com o HIV/aids. Nesta
categoria agrupamos quatro subcategorias: tecnicoprofissionais, socioculturais,
sintomatologia clínica e religiosas, num total de 390 unidades de análise.
Figura 2 – Concepções sobre o HIV/aids
CATEGORIA 2 – PERCEPÇÕES SOBRE O HIV/AIDS
Esta categoria abrange as unidades de análise que mostram como as
mulheres investigadas representam a doença e o doente, despindo seus
sentimentos e emitindo, ainda, considerações sobre como os outros veem o HIV/aids
e o portador da doença. Agrupa duas subcategorias: autopercepção e
heteropercepção e é composta por 258 unidades de alise.
Figura 3 – Percepções sobre o HIV/aids
CATEGORIA 3 – PERCEPÇÕES DE SI MESMA
Engloba as unidades de análise que mostram como as mulheres
percebem a si mesmas, numa tentativa de se autorrepresentar e aquelas que
CONCEPÇÕES SOBRE O HIV/AIDS
S
ocioculturais
S
intomatologia
C
línica
R
eligiosas
Tecnicoprofissionais
PERCEPÇÕES SOBRE O HIV/AIDS
Autopercepção
Heteropercepção
47
emitem considerações sobre como os outros a vêem e/ou representam. Contém
duas subcategorias: autopercepção e heteropercepção, perfazendo um total de 299
unidades de análise.
Figura 4 – Percepções de si mesma
CATEGORIA 4 – CAUSAS DO HIV/AIDS
Compreende as unidades de análise temática por meio das quais as
mulheres verbalizam suas explicações para as possíveis e/ou prováveis causas do
HIV/aids. Aquelas que se aproximam das apresentadas em livros técnicos ou que
o aceitas pela comunidade científica, descritas em seu contexto sociocultural e
que se dão por contágio. Nesta categoria as unidades de análise foram agrupadas
em três subcategorias: científicas, socioculturais e contagiosas, correspondentes a
84 unidades de análise.
Figura 5 – Causas do HIV/aids
CATEGORIA 5 – PERCEPÇÕES SOBRE SEXUALIDADE
Contempla as unidades de análise que mostram como essas mulheres
representam sua sexualidade, enfrentando uma série de desafios, como se deparar
PERCEPÇÕES DE SI MESMA
Autopercepção Heteropercepção
CAUSAS DO HIV/AIDS
Científicas Contagiosas Socioculturais
48
com o próprio envelhecimento e/ou a própria doença e preconceito, além de emitir
considerações acerca da percepção do outro sobre o tema (sexualidade). Nela estão
contidas duas subcategorias: autopercepção e heteropercepção, com um total de
296 de unidades de análise.
Figura 6 – Percepções sobre sexualidade
CATEGORIA 6 – VIVÊNCIAS DA SEXUALIDADE
Esta categoria compreende as unidades de análise que mostram como os
sujeitos investigados manifestam suas vivências como seres sexuais, expostos às
influências culturais que envolvem nero, idade e o próprio HIV/aids. As
subcategorias desta categoria o três: influência sociocultural, na terceira idade e
com HIV/aids que agrupam 476 unidades de análise.
Figura 7 – Vivências da sexualidade
CATEGORIA 7 – PERCEPÇÕES PSICOAFETIVAS
Nesta categoria estão compreendidas as unidades de análise que
mostram como os sujeitos manifestam suas percepções, no que diz respeito ao
medo da morte, do preconceito, do HIV/aids, da pobreza e do abandono e às
PERCEPÇÕES SOBRE SEXUALIDADE
Autopercepção Heteropercepção
VIVÊNCIAS DA SEXUALIDADE
Influência
sociocultural
Na terceira
idade
Com
HIV/
aids
49
situações que representam apoio à suas situações de doença/velhice/pobreza e
desamparo à essas mesmas situações. Suas subcategorias são três: medo (morte,
preconceito, discriminação), morte e HIV/aids e situações de apoio e/ou desamparo,
compostas por 440 unidades de análise.
Figura 8 – Percepções psicoafetivas
CATEGORIA 8 – ALÉM DO HIV/AIDS
Esta categoria é composta pelas unidades de análise que mostram como
os sujeitos da pesquisa representam seu cotidiano, com suas vivências em família,
suas dificuldades financeiras e seus relacionamentos interpessoais, despindo-se de
sua privacidade e revelando os sentimentos que remetem a uma realidade que se
distancia do HIV/aids. Esta categoria agrupa três subcategorias: condições
socioeconômicas, cotidiano familiar e drogas e vivências familiares, perfazendo um
total de 308 unidades de análise.
Figura 9 – Além do HIV/aids
h. Apresentão dos resultados
No próximo capítulo, os resultados da análise dos dados serão
apresentados com descrições embasadas na Teoria das Representações Sociais.
PERCEPÇÕES PSICOAFETIVAS
Medo (morte, preconceito,
discriminação)
Morte e
HIV/
aids
Situações
de apoio e/ou desamparo
ALÉM DO HIV/AIDS
Condições
socioeconômicas
Cotidiano
familiar e drogas
Vivências
familiares
50
Serão tecidos comentários sobre as categorias com suas respectivas subcategorias
e as unidades de registro constarão em quadros após os comentários.
3.6 MARCADORES DE VULNERABILIDADE
Após a construção e fundamentação das categorias e subcategorias,
foram identificados os marcadores de vulnerabilidade das mulheres do estudo, que
o, didaticamente, apresentados em um quadro, seguindo o modelo proposto por
Takahashi (2006) e, posteriormente, discutidos com base no referencial de
vulnerabilidade. Os referidos marcadores foram construídos a partir das informações
sociais, econômicas, educacionais e das entrevistas.
3.7 ASPECTOS ÉTICOS
As determinões éticas da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de
Saúde sobre pesquisas envolvendo seres humanos (BRASIL, 1996) foram seguidas
rigorosamente na pesquisa que obteve parecer favorável emitido pelo Comi de
Ética em Pesquisa do Hospital São José de Doenças Infecciosas, em 05 de julho de
2009, sob protocolo de nº 018/2009 (ANEXO A).
51
4 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO HIV/AIDS
___________________________________________________________________
52
4 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE MULHERES COM 50 ANOS OU
MAIS NO CONTEXTO DO HIV/AIDS
4.1 CARACTERIZAÇÃO DO SUJEITO
Das 44 mulheres que participaram do estudo, 22 tinham diagnóstico de
HIV/aids e 22 não tinham diagnóstico de infecção pelo HIV/aids.
Antes de dar início à descrição das representações sociais das mulheres
com 50 anos ou mais no contexto da aids, considerou-se importante caracterizar o
perfil dessas mulheres. Segundo Madeira (1998), não há uma uniformidade na forma
como os sujeitos representam um determinado objeto, sendo esta representação
carregada de suas próprias marcas e das marcas de suas relações, dando-lhe
forma, no tempo e no espaço.
As mulheres com diagnóstico de HIV/aids estavam numa faixa etária que
variava entre 50 e 64 anos, com uma média de idade de 54 anos. Dez dessas
mulheres tinham um nível de escolaridade com 8 ou mais anos de estudo, sete com
4 a 7 anos de estudo, duas estudaram apenas de 1 a 3 anos e somente três delas
admitiram não ter nenhuma escolaridade.
Quanto à profissão, quinze mulheres referiram profissões como
costureiras, garis, funcionárias públicas, vendedoras, dentre outras, aposentadas em
sua grande maioria, e apenas sete delas se denominaram donas de casa.
Ao serem indagadas acerca de sua renda mensal familiar, obtivemos o
resultado de que doze mulheres viviam com uma renda mensal de 1 a 3 salários
mínimos, oito com até 1 salário mínimo, uma com 4 a 6 salários mínimos e uma com
mais de 7 salários mínimos. Dez delas mantinham a casa junto com outro familiar,
oito mantinham a casa, sozinhas e quatro eram mantidas por filhos.
Quanto ao estado civil, nove delas eram viúvas, quatro solteiras, quatro
estavam divorciadas, três casadas e duas eram separadas, sem uma situação
legalmente regular. Procurou-se conhecer sua situação familiar e descobriu-se que
apenas cinco mulheres moravam sozinhas, enquanto que dezessete delas moravam
com familiares (companheiros, filhos, netos, sobrinhos, irmãos).
53
No que concerne à religião, quinze mulheres denominaram-se
católicas, cinco evangélicas e duas referiram outra religião. A maioria (treze
mulheres) relatou proceder da capital (Fortaleza) e nove tinham procedência do
interior do estado do Ceará.
Quanto à infecção pelo HIV/aids, doze mulheres eram soropositivas,
enquanto que dez mulheres tinham aids.
No grupo de mulheres sem diagnóstico de HIV/aids a faixa etária variou
entre 53 a 80 anos, com uma média de 67 anos de idade.
Assim como o outro grupo, dez mulheres referiram um nível escolar com 8
ou mais anos de estudo. Oito delas tinham de 1 a 3 anos de estudo, três tinham de 4
a 7 anos e, apenas, uma referiu não ter estudado.
Treze mulheres relataram profissões semelhantes às que foram relatadas
pelo outro grupo e nove eram somente donas de casa.
Neste grupo, a renda familiar mensal de 1 a 3 salários mínimos esteve
presente na resposta de onze mulheres. Cinco mulheres tinham uma renda de até 1
sario mínimo, quatro vivem com uma renda de 4 a 6 salários mínimos e, somente
duas, com mais de 7 salários mínimos.
Ao contrário do que foi encontrado no grupo de mulheres com diagnóstico
de HIV/aids, quatorze mulheres mantinham a casa sozinhas, enquanto três tinham
auxílio de outros familiares e cinco eram mantidas pelos filhos.
Quanto ao estado civil, seis mulheres eram viúvas, cinco eram solteiras,
quatro tinham união estável e três eram casadas. Quatro destas mulheres não
conviviam com os companheiros, sendo três separadas e uma divorciada. A
pergunta acerca de sua situação familiar revelou que somente duas mulheres
moravam sozinhas, o restante morava com familiares (companheiros, filhos, netos,
irmãos, sobrinhos, genros, noras).
Relativamente à religião, dezessete mulheres eram católicas e cinco
evangélicas. Encontrou-se dezessete mulheres com procedência de Fortaleza e
cinco com procedência do interior do estado.
54
Tabela 1 Distribuição dos dados sociodemográficos, segundo os grupos com e
sem diagnóstico de HIV/aids, Fortaleza/Ceará, 2009
Variáveis/Grupo Grupo COM
diagnóstico
Grupo SEM
diagnóstico
Idade
Média
Variação
-
54 anos
50 a 64 anos
-
67 anos
53 a 80 anos
Escolaridade
Nenhuma
1 a 3 anos
4 a 7 anos
8 ou + anos
-
03
02
07
10
-
01
08
03
10
Profissão
Dona de casa
Outras
-
07
15
-
09
13
Com quem mora
Mora sozinha
Mora com marido e/ou filhos e/ou netos
Mora com outros
-
05
15
02
-
02
16
04
Renda Mensal
Até 1 SM*
1 a 3 SM
4 a 6 SM
Mais de 7 SM
-
08
12
01
01
-
05
11
04
02
Quem mantém a casa
A ppria
A ppria e outros
Outros
-
08
10
04
-
14
03
05
Estado Civil
Solteira
Casada
Divorciada/separada
União estável
Viúva
-
04
03
06
00
09
-
05
03
04
04
06
Religião
Católica
Evangélica
Outra
-
15
05
02
-
17
05
00
Procedência
Fortaleza
Interior do Ceará
-
13
09
-
17
05
*Valor do salário mínimo na época da pesquisa R$ 465,00.
Dentre os indicadores mais importantes para mensurar o nível sócio-
econômico associado à saúde da população, apresentam-se o nível de
escolaridade, a renda e a ocupação, os quais são considerados baixos nas mulheres
participantes deste estudo.
55
Fonseca et al. (2000) sugerem que essas variáveis têm em comum o fato
de evidenciarem a estratificação social: os indivíduos ocupam uma posição na
hierarquia social de acordo com a sua ocupão, renda e nível educacional, sendo
que cada um desses indicadores cobre um aspecto diferente da estratificação social.
Ainda segundo o referido autor, a escolaridade tem sido apontada como
importante determinante da situação de saúde do indivíduo, sendo, inclusive, a
escolaridade da mulher um importante preceptor das doenças.
O nível educacional expressa diferenças entre pessoas em termos de
acesso à informão e perspectivas e possibilidades de se beneficiar de novos
conhecimentos; a renda representa antes de tudo o acesso aos bens materiais,
inclusive aos serviços de saúde; e o status ocupacional inclui esses dois aspectos,
além dos benefícios adquiridos em algumas profissões, tais como prestígio,
privilégios e poder (FONSECA et al., 2000).
Assim, nota-se a grande influência do nível de escolaridade, da situação
de trabalho e da renda na aquisição de informações, no entendimento e no
conhecimento do HIV/aids, tendo em vista, tamm, a condição de imunodepressão
do grupo de mulheres que já a tem.
A vida dos indivíduos nas sociedades, está sempre mediada pelos indultos
sociais, tais como a escolaridade, o que acarreta marcadores das vulnerabilidades
individual, social e programática nas populações (AYRES et al., 2008).
Segundo Ayres et al. (2008), a preocupação da vulnerabilidade diz
respeito à necessidade de imputação de sentidos e explicação da dinâmica das
variáveis utilizadas nas análises de risco, de forma que tais análises não sejam
incorporadas sem as práticas de intervenções.
4.2 A CONSTRUÇÃO DO HIV/AIDS COMO CONHECIMENTO SOCIALMENTE
COMPARTILHADO
Interpretar as representações de mulheres com 50 anos ou mais frente ao
HIV/aids, à luz da teoria das Representações Sociais, nos possibilita a estruturação
de um conhecimento socialmente compartilhado. Conhecimento que se constrói
56
entre o saber científico e o saber do senso comum, influenciado por valores culturais
permeados por crenças, estereótipos e atitudes. A maturação cognitiva propiciada
por esse conhecimento permite a elaboração de hipóteses e inferências que facilitam
a compreensão da doença em seus aspectos subjetivos ou objetivos.
Dessa forma, a Teoria das Representações Sociais tornou-se um suporte
teórico relevante na compreensão dessas mulheres que entendem o HIV/aids como
algo muito próximo e muito distante. Algo que leva a perdas e ganhos, que aproxima
da morte, mas, tamm permite conhecer a própria superação. Enfim, lembra-nos
quão frágil é o nosso controle sobre a vida.
O acesso a essas representações se dá, necessariamente, por meio da
linguagem que de acordo com Lane (1994), media o indivíduo e suas relões com o
mundo através das representações sociais.
Assim sendo, nesse capítulo objetivou-se analisar as representações
sociais sobre HIV/aids, elaboradas por mulheres com 50 anos ou mais, com e sem
diagnóstico, apreendidas com a técnica de análise de conteúdo temática,
correspondendo a oito categorias e vinte e nove subcategorias simbólicas.
Com vistas a facilitar o entendimento, apresentou-se uma detalhada
discussão de cada categoria e suas respectivas subcategorias, com conteúdos,
tabelas, quadros e relatos referentes às mesmas.
Nas categorias observou-se uma pluralidade de conceitos e elementos
associados às dimensões cognitiva, afetiva, comportamental, orgânica, espiritual e
psicossocial. Percebeu-se que, independentemente da categoria, as representações
versaram não apenas em torno do HIV/aids, mas, da indissociabilidade da doença e
do indivíduo adoecido e em risco de adoecer.
4.2.1 Concepções sobre o HIV/aids
Nesta categoria temos as concepções da representação social do
HIV/aids para as mulheres com diagnóstico e sem diagnóstico da infecção. Nas falas
encontradas, pudemos perceber um misto de concepções adquiridas ao longo do
tempo, algumas semelhantes às descrições usadas pelos profissionais da saúde,
57
algumas elaboradas pelo senso comum e outras fortemente influenciadas pelos
sentimentos relativos à infecção e pelos sinais e sintomas próprios da doença.
Tabela 2 Distribuição das frequências, percentuais e qui-quadrado da categoria e
das subcategorias de concepções sobre HIV/aids, segundo os grupos
com e sem diagnóstico de HIV/aids, Fortaleza/Ceará, 2009
SUBCATEGORIA CD % SD % TOTAL % X
2
Tecnicoprofissionais
Socioculturais
Sintomatologia clínica
Religiosas
Total
-
97
147
25
34
303
-
32,0
48,5
8,3
11,2
100,0
-
19
63
2
3
87
-
21,8
72,4
2,3
3,5
100,00
-
116
210
27
37
390
-
30,0
53,8
6,9
9,4
100,0
-
-
-
-
-
17,097
(p = 0,000)
Fonte: Elaboração própria.
Obs.: p < 0,05
Esta categoria revelou uma variação nas frequências das unidades
temáticas entre as subcategorias quanto ao conhecimento das mulheres
investigadas sobre o HIV/aids. Ao compararmos as representações sociais entre os
dois grupos, percebemos que as mulheres envolvidas nesse contexto, possuem uma
maior apropriação do tema, inferência revelada pela diferença entre as unidades de
análise dos dois grupos: 303 unidades no grupo de mulheres com diagnóstico e 87
no grupo sem diagnóstico.
É notória a influência sociocultural dessas representações em ambos os
grupos, confirmada por um percentual de 48,5% das unidades temáticas no grupo
com diagnóstico e 72,4% no grupo sem diagnóstico. A terceira subcategoria, que se
refere à sintomatologia cnica, revela frequências de unidades temáticas
percentualmente maiores no grupo das mulheres com diagnóstico de HIV/aids,
apesar dessa subcategoria ter pequena representação no total das unidades.
A subcategoria que se refere às concepções religiosas surge com uma maior
porcentagem (11,2%) no grupo das mulheres com diagnóstico, que no grupo das
mulheres sem diagnóstico (3,5%). As falas das mulheres com diagnóstico de HIV/aids
mostram a em um Deus que, contrariando todas as perspectivas, lhes trará a cura.
58
– CONCEPÇÕES ANCORADAS NOS ASPECTOS TECNICOPROFISSIONAIS
As mulheres investigadas, ao serem indagadas quanto ao que é o
HIV/aids, trouxeram diversas associações, como o conceito de doença que na fala
traduzia tudo o que poderia ser dito sobre o tema: a aids é uma doença.
A repetição da concepção que remete à transmissibilidade sexual traduz a
influência da mídia e leva a uma reflexão sobre o poder que esta exerce sobre as
pessoas, levando a imputar-lhe uma responsabilidade que vai além da mera
informação. As outras possíveis formas de transmissão surgiram de forma sutil e
mal-revelada, com declarações pontuais e inseguras, sempre remetendo a autoria
da informação a outros sujeitos, como o profissional médico.
Confirma-se, então, a necessidade da participação efetiva dos veículos da
mídia nas intervenções educativas relacionadas à prevenção das doenças, pois
esses ocupam lugar significativo na construção dos valores sociais e individuais.
Meyer et al. (2006) consideram que os anúncios televisivos re-produzem
ou veiculam representações de nero múltiplas, instáveis e conflitantes, excluindo
aqueles que não se identificam nessas descrições.
A consciência da existência de duas fases da infecção surge com uma
associão à capacidade produtiva do ser humano, lembrando a importância do
trabalho da vida do indivíduo: [...] uma coisa é você estar portadora do rus
HIV/aids, porque você pode trabalhar, tem disposição. Você tá apto a agir como uma
pessoa normal, mas, a aids é um complicador da história. A aids propriamente
dita, é uma série de fragilidades, né? De debilitações, que leva a pessoa ficar
inoperante, às vezes, né?
A certeza da ausência de cura, também emergiu de forma clara, levando as
mulheres com diagnóstico de HIV/aids a traduzirem essa insegurança compensando a
ausência de cura com a possibilidade de tratamento. Nesse contexto, o HIV/aids
assume o status de doença crônica degenerativa: mas, eles não dizem, assim, que o
HIV é uma doença crônica, tem tratamento, como tem a tuberculose.
A baixa percepção de risco da aquisição da infecção de outro e os fatores
psicossociais relacionados ao medo de descobrir a real situação ou, até mesmo, de
59
expor a soropositividade, na maioria das vezes, é decorrente da desinformação
sobre a doença em si, sobre os recursos disponíveis para o cuidado, receio de sofrer
discriminação e ainda da negação da necessidade de exposição (LEKAS;
SCHRIMSHAW; SIEGEL, 2005).
UNIDADES DE ANÁLISE TEMÁTICA DA SUBCATEGORIA CONCEPÇÕES
TECNICOPROFISSIONAIS
MULHERES COM DIAGNÓSTICO MULHERES SEM DIAGNÓSTICO
. Pra mim é uma doença muito transmissível, né?
. E, aí, pode-se dizer que ele já é uma pessoa
portadora de deficiência ‘inorgânica, né?
. Eu acho que é uma doença muito grave,
incurável!
. E vem uma doença atrás da outra, tipo
tuberculose, hepatite, até doença de pele.
. Você não morre nem dessa doença, morre já
doutra doença, né?
. Porque o período já é curto quando ele com
aids.
. A gente, mulheres e crianças, recebe essa
medicação com uma dosagem além. É tanto que
o homem não tem muito efeito colateral, não.
Mas, a mulher é assustador!
. Quando eu faço os exames, né? Como é o
nome... aquele... CD4, né? zero, a carga viral
tá zero.
. Que tem o vírus da aids. Eu acho que é isso.
. aids, como a gente ouve falar, digamos assim,
existe esse tipo de doea que diz assim, é mais
ocasionada devido à relação sexual, né?
. aids é uma doença muito séria e perigosa,
porque não tem cura, né?
. Como é que pode, né? Com tanta informação
por aí e o povo ainda pegar essa doença.
. aids?... Eu acho que é uma doença que é
“transmitível”, né?
. Aí, o médico achou porque era quando ele
doava sangue desde o tempo de pequeno, com
esse negócio de agulha.
. Tem mais é que se prevenir, porque tem o
tratamento, mas, a gente nunca fica bom,
melhora, né? Melhora.
– CONCEPÇÕES ANCORADAS NA DIMENSÃO SOCIOCULTURAL
Nesta subcategoria viu-se emergir a sabedoria construída com base no
senso comum, com conceitos voltados para incurabilidade, para o imoral” contido
na transmissibilidade sexual da doença. Aliado a isso, a associação do HIV/aids com
doença do fim dos tempos nos remete à idéia de grupos de risco, levando as
mulheres sem diagnóstico a acreditarem-se invulneráveis por não terem vida sexual
ativa ou por terem somente um parceiro.
A baixa percepção de risco poderia ser, em grande parte, associada à
vulnerabilidade programática, conceito este definido por Ayres et al. (2008).
Transcorrido longo tempo desde o inicio da epidemia de aids, os idosos
permaneciam alijados das ações de prevenção, na medida em que as mensagens
educativas veiculadas ao grande público, com participação intensa da mídia, não
contemplavam tal segmento populacional.
60
Por outro lado, as mulheres com HIV/aids têm a consciência de que a
transmissão sexual pode se dar em todas as pessoas, independente de seu
comportamento sexual: O que eu vejo falar é que é o meu mesmo caso, pode
acontecer com elas também, né? (Mulheres casadas).
A proximidade da morte associada a doenças incuráveis surge no
discurso daquelas que querem tempo para arrumar a vida dos filhos, a casa ou a
própria vida, antes de morrerem vítimas da doença. No lado oposto, as mulheres
que, seguras de sua invulnerabilidade, transferem a idéia de morte para o outro,
envolvendo-o com um sentimento de piedade.
Algumas distinções podem ser observadas quanto ao enfrentamento da
enfermidade ou da situação de soropositividade conforme o indivíduo envelheça
contaminado pelo HIV ou adquira a infecção ou a doença propriamente dita numa
fase mais avançada de sua vida. Este último, quando se depara com esta situação,
tem uma tendência natural dependendo de toda uma complexidade psicológica,
familiar e social – a ter mais medo da morte (GORINCHTEYN, 2002).
Em contrapartida, encontramos também situações em que a doença,
apesar de toda a conotação de dor, sofrimento e morte que traz em seu bojo, surge
trazendo ganhos e transformando para melhor a vida da mulher com HIV/aids: A
minha vida hoje é outra vida, porque depois que eu me contaminei a minha vida
melhorou [...]; Eu digo com todo o coração, depois que eu me contaminei a minha
vida mudou para melhor [...].
Conclusões similares foram obtidas por pesquisadores em Porto Rico
(VARAS-DIAZ et al., 2004), ao explorarem as diversas manifestações de estigma
enfrentadas por pessoas vivendo com HIV. Demonstrões de afeto por parte de
familiares assumiram propoões percebidas pelos pacientes, por vezes, como
superproteção”.
A informação disseminada pelo senso comum com base em múltiplos
valores e a ausência de sinais e sintomas permite que a doença seja subestimada em
sua magnitude, levando a discursos de despreocupação: Eu tenho esse poblema,
mas, isso aí num é... [...] Isso pra mim num existe. Também, só se cuidar e
tratamento, né? Percebe-se que entre as mulheres engajadas em movimentos de
rede de apoio às pessoas convivendo com HIV/aids um discurso que vai muito
61
além da circuito que envolve as pessoas portadoras do vírus, revelando uma
preocupação com o que há porvir, seja com as pessoas sem diagnóstico, seja com as
políticas públicas que definem as estratégias de controle. É um movimento fechado,
para as pessoas que vivem, né? [...] Existe um plano do governo de lutar contra a
epidemia da mulher, e a gente participa das reuniões e eu vejo falando para
mulheres vivendo com aids. [...] Eu fico meia que angustiada e inquieta, porque eu
entendo que ele não tá preocupado com a mulher casada, que lá sem informação!
O compartilhamento da sorologia com terceiros depende
fundamentalmente da relação de confiança existente entre o paciente e seus entes
próximos, condição esta que leva em conta a percepção do idoso acerca do risco de
vir a sofrer estigma e discriminação, conforme identificou Emlet (2006).
UNIDADES DE ANÁLISE TEMÁTICA DA SUBCATEGORIA CONCEPÇÕES
SOCIOCULTURAIS
MULHERES COM DIAGNÓSTICO MULHERES SEM DIAGNÓSTICO
. Para que eu tenha tempo dearrumando esta
casa e que eu tenha tempo também para cuidar
desse meu filho que é autista.
. Eu ouvi dizer que é uma coisa que não tem
cura, pega do homem. Não sei dizer.
. Eu vejo ela... Eu via antes, quando morreu
alguns, o pessoal da televisão, muitos cantores.
. Muié, aids, o povo diz que é muito perigoso,
né?
. Ainda têm muito medo da aids. Mas, porque
ainda não tem muito esclarecimento, né? Muita
informação.
. É lógico que é uma doença transmissível, mas
é tão fácil de você conviver com ela que você
transmite se você quiser.
. Agora, eu acho, também, que, também, num é
essas coisa demais, não.
. A aids é uma doença muito feia, né?
. Como diz o pessoal por e eu já vi na
televisão muita gente maguinho, se acabando
com ela, né?
. Que quando... Diz que não escapa, esse povo
que pega aids, né?
. Morro de medo. Deus me livre de uma doença
dessas, Deus me livre.
. Ai, é uma doença que me deixa apavorada
de pensar, porque ela é muito perigosa, acaba
com a vida da pessoa, dá uma reviravolta na
vida da pessoa.
. O problema é quando você se envolve com
alguém que tem, né? Aí é muito complicado.
. Mas, mal sabem eles que é muito perigoso e
sofredor, né?
. Eu imagino, mas aquelas pessoas que tem
a doença é que sabe o que elas sofrem.
– CONCEPÇÕES ANCORADAS NA SINTOMATOLOGIA CLÍNICA
Ao vivenciar uma situação o ser humano encontra os subsídios
necessários para apropriar-se de tudo que diz respeito a ela, contextualizando o
saber adquirido de outros com o saber adquirido de sua própria experiência,
fortalecendo ou enfraquecendo o que é senso comum. Apesar de não ter sido o foco
do discurso das mulheres investigadas, percebe-se que as mulheres com
diagnóstico discorrem sobre o tema de forma que nota-se sua aproximão da
realidade, manifestando a sintomatologia da doença.
62
Entre as mulheres sem diagnóstico, as falas revelam o conhecimento
adquirido pela vivência do outro, sendo o emagrecimento que transforma o corpo, o
principal foco das falas.
O retardo no reconhecimento da infecção nessas mulheres, conforme
previamente discutido, normalmente decorre do fato dessa hipótese ficar relegada a
um segundo plano na investigação diagnóstica de enfermidade no idoso (LEKAS;
SCHRIMSHAW; SIEGEL, 2005).
No entanto, é importante destacar que a perda de oportunidades de
diagnóstico pode acarretar às pessoas idosas um prejuízo significativo no acesso ao
tratamento, resultando em desfechos clínicos mais desfavoráveis. Diagnosticados
em fases evolutivas mais tardias da infecção, geralmente após a ocorrência de
infecções oportunistas, verifica-se que tais pacientes, embora possam responder ao
tratamento (SILVERBERG et al., 2007), apresentam menor sobrevida, quando
comparados a indivíduos mais jovens (BRAGA; CARDOSO; SEGURADO, 2007).
UNIDADES DE ANÁLISE TEMÁTICA DA SUBCATEGORIA CONCEPÇÕES PELA
SINTOMATOLOGIA CLÍNICA
MULHERES COM DIAGNÓSTICO MULHERES SEM DIAGNÓSTICO
. Eu descobri porque eu tava doente. Passei 8
meses com febre.
. , era dor de cabeça, diarréia e febre!
. E eu emagrecendo, perdendo peso, perdendo
peso, perdendo peso.
. , eu... um dia, eu tive uma crise, em casa,
muito grande, sabe? Eu tava sozinha, aí, a minha
menina trouxe um copim de suco para mim e eu
tomei. Quando eu tomei esse suco, eu botei
todim pra fora. Aí, me deu, assim, como se queria
desmaiar.
. Mas, num bebo, num faço extravagança, não.
Isso, porque eu tive duas doenças, ao mesmo
tempo. Era a Tb e essa doença que eu tenho.
. Só fica o “couro e o osso”.
. Como vi o pessoal na televisão, assim,
pálido, com aids, com outras doenças aí... mas,
a aids é pior, acaba com a criatura de repente.
– CONCEPÇÕES ANCORADAS NOS ASPECTOS RELIGIOSOS
Nesta subcategoria as mulheres com o diagnóstico da doença relatam sua
relação com o divino, atribuindo a Deus a responsabilidade de perdoá-las, haja vista
considerarem a doença como uma forma de castigá-las por seu comportamento, e a
responsabilidade de curá-las ou dar-lhes forças e condições para continuar.
63
A influência sociocultural tamm surge nesta categoria, impondo à essa
mulher uma punição silenciosa que lembra sempre que o comportamento fora dos
padrões, seja sexual ou qualquer outro, sempre trará consigo um final engendrado
de forma a resgatar com sofrimento os pecados cometidos.
As falas das mulheres sem diagnóstico revelam a em um Deus que
afastadelas todo o mal, inclusive, o HIV/aids, mas, para isso devem manter um
comportamento culturalmente correto. É importante ressaltar que a relação dessas
mulheres com a divindade se mostra mais forte em outros momentos da conversa,
no que diz respeito à uma vida melhor, um milagre para a família etc.
A relação entre a religião e a doença foi encontrada em estudo de
Teixeira e Lefèvre (2007), no qual é percebida a importância da crença religiosa nos
profissionais e pacientes, onde é relatado que o momento crítico representado pela
doença aproxima os pacientes da crença em algo superior às suas vidas, os ajuda
no processo de cura e de aceitão.
Entretanto, segundo Teixeira e Lefèvre (2007), independente da escolha
de vida religiosa, a mulher precisa conscientizar-se que as vulnerabilidades às
doenças estão presentes no dia a dia, e que quaisquer votos realizados não devem
afastá-las do cuidado do seu próprio corpo.
UNIDADES DE ANÁLISE TEMÁTICA DA SUBCATEGORIA CONCEPÇÕES
RELIGIOSAS
MULHERES COM DIAGNÓSTICO MULHERES SEM DIAGNÓSTICO
. Não sei se Deus queria, eu que não me cuidei
mesmo, eu que não abri o olho.
. Você acha que foi eu que fiz amor? Pequei,
né? Ninguém faz sexo? Eu fiz e fiquei com o
vírus! Não é assim!
. Pra mim é uma doença que pro homem não
tem cura, né? Mas pra Deus, tem.
. Acho que a maioria das pessoas, não como
castigo, mas, para as pessoas ser um pouco
melhor, refletir mais, passar a ser mais humano,
sabe?
. Acredito, mas, acho muito difícil, porque
ninguém merece, também, a cura.
. Sei que a aids é uma doença horrivel, mas,
Deus está no meu coração, Deus me deu
conformação, graças a Deus! Isso é que é
importante!
. ... e Deus cura tudo... mas, quando é começo,
quando tá chegado, mesmo, Deus não cura mais,
não.
. Que é como eu já lhe disse, eu rezo pra nunca
um dos meus ter esse problema.
. Graças a Deus, todo dia eu rezo.
64
4.2.2 Percepções sobre o HIV/aids
Esta categoria mostra como as mulheres investigadas, desvelando seus
sentimentos, representam o HIV/aids e os indivíduos doentes. Agrupa as
subcategorias autopercepção e heteropercepção, conforme tabela 3.
Tabela 3 Distribuição das frequências, percentuais e qui-quadrado da categoria e
das subcategorias de percepções sobre HIV/aids, segundo os grupos
com e sem diagnóstico de HIV/aids, Fortaleza/Ceará, 2009
SUBCATEGORIA CD % SD % TOTAL % X
2
Autopercepção
Heteropercepção
Total
190
35
225
84,4
15,6
100,0
14
19
33
42,4
57,6
100,0
204
54
258
79,0
21,0
100,0
-
-
30,70
(p = 0,000)
Fonte: Elaboração própria.
Obs.: p < 0,05
A tabela 3 mostra, na subcategoria autopercepção 190 unidades
temáticas referidas pelas mulheres com diagnóstico e 14 unidades referidas pelas
mulheres sem diagnóstico, com um percentual de 84,4% do total da subcategoria,
confirmando o fato de que as mulheres que vivenciam a doença têm muito mais
facilidade em exprimir suas percepções acerca da doença, enquanto as mulheres
que não têm a doença em sua realidade exprimem opiniões baseadas apenas em
observações e escuta. A subcategoria heteropercepção agrupou um número bem
menor de unidades temáticas (21% do total).
– AUTOPERCEPÇÃO
Esta subcategoria integra todas as mulheres investigadas, na medida em
que mostra os sentimentos das mulheres para consigo, enquanto portadora, e para
com os outros, enquanto expectadora da situação.
As mulheres com diagstico revelam em suas falas um cuidado em
mostrar que, apesar da doença, estão felizes, melhor que antes, detentoras de um
saber que hoje lhes proporciona uma maior qualidade de vida e uma valorização da
65
vida que lhe permite acreditar em um futuro melhor: eu só penso em viver cada vez
mais. Além disso, a superação do desafio de viver com HIV/aids faz com que se
sintam plenas e audaciosas, dando à vida um objetivo que antes não existia: viver
bem, enquanto for possível. Eu acho que eu tou me sentindo até audaciosa, de me
sentir plena, tá entendendo por quê?! Porque eu tou com um desafio muito forte e eu
tou conseguindo tirar proveito!
As mulheres com diagnóstico se descreveram como pessoas normais,
levando à inferir-se que de forma inconsciente ser portador do HIV/aids traz consigo
um traço de anormalidade.
O conhecimento e a vivência da população idosa diante da infecção pelo
HIV, também, foram investigados por outros pesquisadores, como: Knodel, Waltkins
e VanLandingham (2003) que apontaram que a população idosa tem sido alvo da
aids, não somente pela própria infecção pelo HIV, como também pela perda de
familiares, sobretudo filhos, pois, quando adoecem, geralmente, voltam à casa dos
pais para receber cuidados e, muitas vezes, após sua morte, deixam os filhos com
os pais já idosos.
Os autores supracitados acreditam que as perdas afetam o bem-estar e a
vida desse grupo, com conseqüências emocionais em razão do sofrimento por
acompanhar o adoecimento e a morte do familiar, a exposição às reações negativas
de vizinhos e amigos pelo preconceito e medo. Perdas físicas, em razão das tarefas
oriundas do cuidado e o risco de adquirir uma doença oportunista, sobretudo a
tuberculose; e perdas sociais pela redução do tempo dedicado às atividades sociais.
Apesar de passarem uma idéia de bem-estar e segurança as mulheres
descreveram o impacto sentido quando se descobriram infectadas. Duas mulheres
relataram a necessidade de tempo para criar os filhos, outras o sentimento de morte
iminente que as invadiu, outras ainda decidiram descobrir que tipo de vida teriam dali
para frente: pensei como ia ser minha vida, a partir dali. [...] Eu queria viver, né? [...]
Nesse contexto, surge a mágoa de ter sido infectada, revelada em algumas falas: Eu
nunca pensei, eu fui inocente... [...] Eu num fiquei com raiva, porque ele tinha morrido.
Mas, inda hoje eu tenho, Deus me perdoe, inda hoje, eu tenho mágoa,? [...]
O momento da revelação do diagnóstico de soropositividade representa
um marco importante na trajetória das pessoas que vivem com HIV. Assim, as
66
circunstâncias em que tal revelação ocorre podem ter forte impacto sobre a vida
dessas pessoas, repercutindo em sua capacidade de enfrentar a nova condição
(LEKAS; SCHRIMSHAW; SIEGEL, 2005).
Apreende-se ainda que o uso de preservativos está vinculado à aceitação do
parceiro e, em algumas situações esconde um sentimento de vingança que reflete a
angústia de ter sido contaminada: Uso, sim. (preservativos) É, é. E se o aceitar, né?
Se quiser também, não digo que tenho,o. Morra! Num fizeram comigo. [...]
Segundo Paiva et al. (2003), apesar de evidenciada maior adesão ao uso
do preservativo nas faixas etárias mais jovens, tanto no que se refere à primeira
relação sexual, como à última, chamou à atenção o dado de que apenas 2,7% dos
121 entrevistados com idade acima de 55 anos tenham relatado uso de condom na
última relação. Entre as razões expressas por estes para não usar o preservativo,
sobressaíram-se a “confiança no parceiro” (35,8%), a existência de parceiro sexual
fixo (31,1%) e a idéia de que essa medida não seria necessária (8%).
Percebe-se assim, mais uma vez, a lacuna existente nesse segmento
populacional, no que se refere à percepção de risco de aquisição de DST/aids.
Cumpre assim incrementar junto a esse grupo ações especificamente voltadas à
prevenção dessas afecções.
A idéia de grupos de risco veiculada durante muito tempo espresente
nas falas das mulheres: Como eu era casada, tava fora dos grupos de risco. [...] Eu
me sentia inatingível! [...] Mas, o impacto da descoberta fez com elas mudassem o
discurso, denotando a fragilidade da mulher frente a uma cultura machista que
impõe regras, muitas inalteradas até os dias de hoje, fato comprovado pelo aumento
do número de mulheres com parceiro único e união estável, infectadas pelo
HIV/aids: Isso acontece, pode acontecer com qualquer senhora dentro do seu
casamento. [...] 12 anos de casada, né? Confiava muito nele e com essa história
toda... Eu sei que quando descobri... [...]
As mulheres que o têm o diagnóstico do HIV/aids demonstram
distanciamento da problemática, com sentimentos contraditórios quanto a
transmissão, a cura e a aceitação da doença: […] Se todos pensarem como eu,
ninguém não adoece. […] E eu acho que pra tudo existe uma cura, pra todo tipo de
67
doença [...], evidenciando a necessidade de incluir esse público nas estratégias de
ão para prevenir a infecção pelo HIV/aids.
UNIDADES DE ANÁLISE TEMÁTICA DA SUBCATEGORIA AUTOPERCEPÇÃO
MULHERES COM DIAGNÓSTICO MULHERES SEM DIAGNÓSTICO
. Apesar de eu viver com o HIV, eu sou feliz,
assim.
. E hoje, eu me sinto com mais qualidade de vida
do que eu tinha antes de descobrir, porque hoje
eu tenho mais cuidado, eu tenho mais um olhar
preventivo, né?
. Eu vivo normalmente, graças a Deus.
. Nunca pensei de pegar aids.
. Ainda não aceitei, não. o aceitei, assim,
como muita gente já aceitou. Já tá com 2 anos.
. DST, na minha época, era doença do mundo.
. Eu saí de e a mulher, secamente, me disse:
“Você tá com aids”. Aí, eu saí. Quase fui
atropelada, porque, na minha mente, já veio um
frio como se fosse a morte mesmo, próxima,
chegando.
. A aids pra mim é horrível.
. E se eu não falar, ninguém sabe que eu tenho,
porque a aids não na cara, né? Nem na pele
da gente, nem no olhar, né?
. Aids, eu num... é uma doença que atinge
a gente, né?
. Não. Não, porque eu confiava muito nele, né?
. Mesmo sabendo que ele era danadinho,
confiava nele. Prometia mundos e fundos.
. É assim, a aids... ninguém tem aids por opção,
né?
. A aids, eu digo que o pessoal são muito é
besta, otário.
. Se todos pensarem como eu, ninguém não
adoece.
. E eu acho que pra tudo existe uma cura, pra
todo tipo de doença.
. Todo problema existe uma cura, não pode ser
assim bem ligeiro, do dia para o outro, do mês
para o outro, mas a pessoa se cuidando bem e
é...
. Não é uma coisa boa, é uma coisa ruim.
. Então, eu acho uma coisa natural, cê tá
entendendo?
. Não, eu acho que é só perigo, né?
– HETEROPERCEPÇÃO
O adoecimento fragiliza o ser humano, tornando-o sensível ao que está ao
seu redor, no que diz respeito ao comportamento das pessoas quanto a si mesmo e
sua doença. O HIV/aids, com toda sua carga de estigmas e preconceitos, torna as
relações tensas, trazendo manifestações afetivas e emocionais expressadas de
formas diversas, nem sempre verbalizadas e frequentemente comportamentais.
O fato de estarmos tratando de pessoas em uma faixa etária mais velha e
uma doença sexualmente transmissível (DST) torna o assunto ainda mais
estigmatizado. Socialmente, existe o tabu de que pessoas com mais idade, não
fazem sexo, menos ainda adquirem DST. Assim sendo, lidar com o assunto,
conversar a respeito e ser aceito em um mundo com idéias como essa, permeado de
preconceitos, não é tarefa fácil para as mulheres com diagnóstico de HIV/aids.
68
A UNAIDS (2002) sugere algumas estratégias para amenizar
efetivamente o impacto do HIV/aids na população idosa. Indica a necessidade de se
modificar o estigma relacionado à sexualidade do idoso, para assim facilitar a
discussão sobre o assunto com familiares e profissionais da saúde; incluir
programas com abordagem sobre o HIV em serviços voltados à população idosa;
criar programas educativos sobre HIV específicos aos idosos; identificar áreas de
pesquisa voltadas à interação entre idade e HIV; por último, incluir idosos em
pesquisas sobre preveão e assistência.
O discurso das mulheres com diagnóstico vem carregado de impressões
quanto à desinformão das pessoas, o que aumenta a carga de preconceito e
discriminação quanto aos portadores da doença.
UNIDADES DE ANÁLISE TEMÁTICA DA SUBCATEGORIA HETEROPERCEPÇÃO
MULHERES COM DIAGNÓSTICO MULHERES SEM DIAGNÓSTICO
. faz dizer que essa doença pega de homem
e não tem cura.
. Ah... Pras pessoas que eu vejo é uma doença
que mata, que contamina até no ar.
. Ninguém consegue entender, ninguém
consegue... ou não quer entender, foge.
. Muitos “vê” assim, que é uma coisa que dá
nojo...
. Eu conheço pessoas que continuam transando
com um e com outro e não querem camisinha. Eu
conho gente assim.
. Eu vejo que eles pensam que o portador do HIV
já é aids. Não sabem essa diferença.
. E os que não vivem, não pensam na aids, se
sentem imune e que é coisa de viado, coisa de
prostituta.
. Elas têm medo, né? Muita gente tem medo.
. Pra outras pessoas é morte, né?
. Pras outras pessoas? Eles pensam que é o
bicho de sete cabeças...
. Elas imaginam que seja uma doença grave,
né?
. Muitos se recusam, porque acham que é uma
coisa incurável, né?
. Muitas pessoas acham que não tem cura,
muitos por aí...
. E todo mundo acha é isso mesmo, perigo.
. Eu acho que deve achar muito bom, né?
Porque não livra, né? Não cuida da doea.
. Devia se livrar, né? Devia se livrar dessa
imunda, né? Porque é imunda mermo.
. Olha, eu acho que as outras pessoas não
sabem nem o que é.
. É difícil falar pelos outros, mas, eu acho que os
outros também tem muito medo, né?
4.2.3 Percepções de si mesma
Esta categoria mostra como as mulheres percebem a si mesma, numa
tentativa de se autorrepresentar e de representar como os outros a vêem. As falas
o impregnadas por temas que versam sobre envelhecimento, sexo, HIV/aids e
vivências cotidianas que dão a conhecer os sentimentos, as angústias e as dores de
pessoas que convivem com o crepúsculo da existência. Contém duas subcategorias:
autopercepção e heteropercepção.
69
Tabela 4 Distribuição das frequências, percentuais e qui-quadrado da categoria e
das subcategorias de percepções de si mesma, segundo os grupos com
e sem diagnóstico de HIV/aids, Fortaleza/Ceará, 2009
SUBCATEGORIA CD % SD % TOTAL % X
2
Autopercepção
Heteropercepção
Total
81
41
122
66,39
33,6
100,0
130
47
177
73,4
26,6
100,0
211
88
299
70,5
29,5
100,0
-
-
1,31
(p = 0,178)
Fonte: Elaboração própria.
Obs.: p < 0,05
– AUTOPERCEPÇÃO
Esta subcategoria teve com base uma diversidade de conceitos
ancorados em dimensões diversas, onde as mulheres falam sobre si mesmas, numa
tentativa de se perceberem e de se mostrarem, representando 70,5% do total das
unidades temáticas apreendidas.
Identificamos 130 unidades temáticas entre as mulheres sem diagnóstico.
Percebeu-se durante as entrevistas, que o tema flui com facilidade, mostrando
pessoas que se olham sem culpas ou medos. Mesmo que, ao olhar-se, vejam uma
pessoa diferente, essa não as assusta, apesar de algumas se vêem envelhecidas e
sem perspectivas: Eu me acho velha, doente, né? [...] Eu me olho no espelho e me
acho horrorosa. [...]. É perceptível que elas conseguem discorrer facilmente sobre a
juventude que lhes falta ou sobre características que lhes trazem mérito: Sempre fui
muito honesta, trabalhadora. [...] Eu sou calma, sou paciente. [...] Isso era quando eu
era nova, agora sou velha! [...]
As falas das mulheres com diagnóstico são carregadas de culpa e dor.
Durante as respostas à solicitação de que falassem de si mesmas, como se viam,
ouviu-se inúmeras frases que exprimiam esses sentimentos: Aí, eu não tenho muita
alegria, como eu tinha de primeiro. Eu me vejo feia, me vejo isolada... [...] Eu me
sinto como se tivesse morrido e ressuscitado. [...] Eu me sinto um monstro, eu me
vejo um bicho. [...] Podemos inferir do quão é difícil conviver com o processo de
envelhecimento, que muito subtrai, e aliado a isso com uma doença impregnada de
estigmas que deixam marcas no corpo e na alma.
70
Apesar disso encontramos mulheres que ainda acreditam no muito que
tem para viver: Tou preparada. Para amar, pra ser amada, pra fazer amor, pra viver
uma vida assim, bem saudável. [...] Esse depoimento faz acreditar que vale a pena
lutar para informar essas pessoas e fazê-las perceber que tem direito a continuar
vivendo, amando e sendo amadas.
Os idosos infectados pelo HIV ou mesmo com aids são geralmente
isolados e ignorados. Apesar dos estereótipos, muitos idosos são sexualmente ativos,
e alguns são usuários de drogas, consequentemente seus comportamentos podem
-los em risco para re-infecção com HIV (HIV/aids and older adults, 2007).
A aids nesse grupo etário traz à tona certos hábitos até então não
revelados, como a sexualidade, escondida na pele enrugada e nos cabelos brancos,
onde a libido é traduzida pelo preconceito (GORINCHTEYN, 2005).
UNIDADES DE ANÁLISE TEMÁTICA DA SUBCATEGORIA AUTOPERCEPÇÃO
MULHERES COM DIAGNÓSTICO MULHERES SEM DIAGNÓSTICO
. Hoje, eu me vejo uma pessoa com um
conhecimento diferenciado do que eu tinha, antes
de ser uma pessoa vivendo com aids.
. Eu sou uma pessoa que tem muitos amigos.
. Eu não me sinto só, nem triste, nem... me sinto
inferior a ninguém, nem diferente de ninguém.
. Porque eu não me acho velha, eu me cuido,
pinto os cabelos.
. Pois eu sinto como se eu tivesse 30-40 anos.
. Eu? O que eu sou? O que é que eu posso dizer
que eu sou... nove anos... dez anos, vai
fazer agora em novembro. Faz dez anos que eu
tenho HIV.
. Eu me descrevia baixinha, gordinha, simpática.
. Porque assim, eu não sou preconceituosa, sabe?
. Acho que ninguém gosta de mim, ninguém é
meu amigo e... preconceito.
. Eu vejo assim, a primeira visão é que sou meio
antipaticazinha, mas, depois eu consigo...
. Eu sei que eu venho pra cá, fico olhando pras
pessoas, todo mundo alegre, todo mundo
conversa, pessoas normal, levam a vida normal e
eu fico pensando: por que que eu não sou assim?
Por que que eu não tenho uma vida normal? Por
que que eu o tenho um amor? Por que que eu
não tenho um parceiro?
. Me sinto muito desprendida das coisas.
. Antes, eu me achava muito charmosa. Era muito...
Eu tinha muita felicidade na vida. Namorava muito.
. Tinha muita alegria na vida, me divertia muito. Ia
pra praia, pro cinema, pra tudo.
. Graças a Deus, eu me acho uma pessoa muito
forte.
. E eu não vou ficar só pensando em problemas e
não cuidar do meu corpo, meu espírito.
. E agora eu tou me vendo assim, agora eu tou
ficando cada vez mais nova.
. Eu sei conviver com as pessoas, sabe?
. Porque eu não sou falsa com ninguém.
. Eu num sou aquela [...] de antes, de jeito nenhum.
. Mas, assim, eu vejo também que eu não tou me
cuidando pra me mostrar uma pessoa sexual.
. Uma pessoa que... não ligava pra vida. É... de
trabalho, de casa pro trabalho. Agora não,
agora, eu sou uma pessoa que cuido da minha
vida, cuido do meu corpo, cuido da minha família.
. Não podem cobrar nada de uma idosa, né?
. Sempre eu fui uma pessoa que nunca fui
vaidosa, nunca tive vaidade.
. É... Eu cobro muito de mim.
. É os outros que têm que dizer assim pra mim,
não: “Você tem que fazer assim!”, sabe?
. Eu falo que não muito bem, devido ao
cansaço, né?
. Hoje, eu vivo bem. Eu num vivo melhor porque
eu vivo doente.
. Como eu me vejo atualmente? Eu me vejo uma
pessoa alegre, comunicativa e gosto muito de viver.
. A não ser que eu tou mudando só os cabelos, tou
ficando com os cabelos brancos (risos).
. Quando eu era nova, me pintava. É porque pra
velho, nada assenta. Eu acho isso, né?
. Eu me quero muito bem, porque eu vivo às
minhas custas.
. Quando eu saio, eu saio pra divertir, pra sair
de casa, mas, não tenho animação por nada.
71
– HETEROPERCEPÇÃO
Nesta subcategoria estão agrupados apenas 29,5% do total de unidades
temáticas da categoria. Como aconteceu com a categoria anterior, percebe-se a
dificuldade de falar sobre o que os outros pensam, seja acerca de si mesma ou de
outros assuntos, sendo comum emitirem sua própria opino como tradução da
percepção de outrem.
No geral, as falas das mulheres dos dois grupos refletem uma linha
comum de pensamento, referindo-se em grande parte a elogios e opiniões
favoráveis: Assim, eu acredito que me em totalmente normal. [...] Mas, eu acho
que o povo me como eu sou: trabalhadeira, esfoada, uma mulher de muita
que reza pelos outros. [...]
No aspecto psicossocial, a vulnerabilidade dos idosos não difere muito
dos indivíduos mais jovens acometidos pela doença cujo estigma associado ao estar
infectado por HIV, o medo de revelar o diagnóstico para a família, a carência de
suporte de familiares e da comunidade, a diminuição dos recursos financeiros e
questões relacionadas à qualidade de vida afetam todas as pessoas com HIV/aids.
Apesar disso, corroborando com Butin (2002), destacamos nos discursos da
mulheres com 50 anos ou mais, investigadas em nosso estudo, que o medo da
rejeição e do julgamento dos outros se impõe particularmente aos idosos que vivem
com HIV/aids, ante a possibilidade de isolamento e exclusão, trazendo-lhes o medo
de sofrer preconceito e discriminação na terceira idade.
UNIDADES DE ANÁLISE TEMÁTICA DA SUBCATEGORIA HETEROPERCEPÇÃO
MULHERES COM DIAGNÓSTICO MULHERES SEM DIAGNÓSTICO
. Sou muito elogiada, as pessoas me elogiam
muito, me acham muito alegre, dizem que a
minha casa é a casa da felicidade, mas que não
sabem de nada.
. Como uma batalhadora, uma guerreira.
. Não, acha nada, né? Acha como que eu seja
uma pessoa normal. Somente.
. Pra minha família, eu tenho sido um peso.
. As pessoas me com aids e isso me deixava
muito triste. Hoje já não me deixa mais.
. Tem muita gente que vê e não nota.
. Eu acredito que eles me vêem como me viam
antes, né? Acho que porque eu me encaro como
uma pessoa normal que eu era.
. Sei que... Eu acho que elas me vêem como a
pessoa que eu sou, né?
. Outras me dá... “Mulher, tu tem quantos anos?
Uns 50?” É, 50... (Risos)
. Assim, as outras pessoas me em, assim,
como uma pessoa mais ou menos.
. Ah, eu acho que as pessoas gostam de mim,
né?
. Mas, o pessoal da minha igreja mesmo, me
querem muito bem.
. As pessoas me vê como eu sou nova, pra
minha idade.
. Meus filho acham que eu num tou velha. “A
mamãe num se pinta!”
72
4.2.4 Causas do HIV/aids
Esta categoria compreende as subcategorias que expressam as
explicações dos sujeitos para as possíveis e/ou prováveis causas da infecção pelo
HIV/aids. Algumas se aproximam das explicações apresentadas em livros técnicos
ou que são aceitas pela comunidade científica. Algumas foram descritas com base
em seu contexto sociocultural e outras foram explicadas por sua característica de
transmissibilidade.
Tabela 5 Distribuição das frequências, percentuais e qui-quadrado da categoria e
das subcategorias de causas do HIV/aids, segundo os grupos com e
sem diagnóstico de HIV/aids, Fortaleza/Ceará, 2009
SUBCATEGORIA CD % SD % TOTAL % X
2
Científicas
Socioculturais
Transmissíveis
Total
9
29
18
56
16,0
51,8
32,2
100,0
1
14
13
28
3,6
50,0
46,4
100,0
10
43
31
84
11,9
51,2
36,9
100,0
-
-
-
0,949 (p = 0,329)
Fonte: Elaboração própria.
Obs.: p < 0,05
Esta tabela evidencia que as causas do HIV/aids, apreendidas por meio das
unidades temáticas, nos dois grupos, eso em sua grande maioria embasados em
conceitos socioculturais (51,2%) e de transmissão da doença (36,9%), enquanto que as
causas embasadas em conceitos científicos tiveram um pequeno percentual (11,9%).
Ao compararmos os dois grupos estudados, tomando como base a mesma
subcategoria não observamos diferenças estasticas importantes, haja vista a
comprovação por meio do cálculo do qui-quadrado, cujo vel de significância foi de 5%.
– CAUSAS DO HIV/AIDS ANCORADAS NOS ASPECTOS CIENTÍFICOS
Esta subcategoria mostra que os conhecimentos acerca das causas da
infecção pelo HIV/aids ainda são muito limitados, especialmente para aquelas que
não vivenciam o problema. Fica claro nas falas que, para os sujeitos dos dois
grupos, a principal causa para a infecção é a relação sexual com múltiplos parceiros.
73
A importância simbólica do sexo, interposta por profundos significados, está
presente no cotidiano dessas mulheres, em especial aquelas na faixa etária do
estudo que, segundo depoimentos das mesmas, tem representações negativas do
sexo, frutos de uma cultura rígida e excludente.
As outras causas da infecção praticamente não foram citadas, sendo a via
sanguínea, citada por apenas três mulheres, duas do grupo com diagnóstico e uma
do grupo sem diagnóstico, com referências pouco sustentáveis. Não nos cabe aqui a
tarefa de julgar tal constatação, mas, podemos inferir que as informões
veiculadas, o conhecimento acumulado ao longo de décadas de pesquisa o es
atingindo a população como um todo, em especial parcelas da população
culturalmente vulneráveis e fragilizadas por múltiplas questões.
Realmente, verificamos que a via sexual pode ser considerada a causa
principal das infecções pelo HIV/aids, seja por sua característica de universalidade,
seja por questões de mudanças sociais que derrubaram barreiras e tornaram o sexo,
algo vivenciado de forma mais livre e sem culpas. Aliado a isso, encontramos a farta
divulgação na mídia, o que permite uma maior facilidade na incorporação desta ideia
no âmago da produção do senso comum.
Esperou-se que o grupo de mulheres com diagnóstico de HIV/aids, pelas
características do tratamento que as mantém sempre em contato com especialistas,
apresentasse diferença considerável no nível de conhecimento científico acerca das
causas da doença. Mesmo compreendendo que esta relação se de forma
dinâmica, com a apreensão de novas informações acontecendo de forma natural, na
medida em que o sentido do objeto vai se reestruturando, entende-se que esta
relação vivenciada de forma direta traz consigo uma maturação cognitiva que amplia
o grau de conhecimento.
A representação sobre a preveão da aids ainda se configura em
elementos resultantes das propagandas na mídia, mas que na prática são
contraditórias (FONTES; SALDANHA; ARAÚJO, 2006). A não-inclusão desse grupo
etário em campanhas de prevenção deixa essas pessoas expostas ao risco de
serem infectadas pelo HIV e outras DST em relações sexuais. O preservativo, para
este grupo etário, por ter sido pouco utilizado ao longo de suas vidas, acaba por
74
configurar dificuldade técnica na sua utilização. Alia-se ao seu conceito, meramente
contraceptivo, o receio de perda de ereções efetivas, que resulta no seu desuso
(GORINCHTEYN, 2005).
Os idosos tendem a ver os preservativos primeiramente como uma
medida contraceptiva, de modo que as mulheres que não temem uma gravidez
não-desejada podem o insistir em seu uso. Estas também sofrem as mudanças
físicas da idade, que afetam sua vulnerabilidade ao HIV (IMPACT of aids on older
population, 2002).
UNIDADES DE ANÁLISE TEMÁTICA DA SUBCATEGORIA CAUSAS CIENTÍFICAS
MULHERES COM DIAGNÓSTICO MULHERES SEM DIAGNÓSTICO
. Então, eu acho que ela é uma doença controlada,
tanto é que ela cresce, mas, é por conta das
pessoas que tem relacionamento fora com
pessoas que não é “comum”, que a pessoa não
conhece.
. A aids é um vírus que não tem cura.
. A aids é várias, um leque de infecções
oportunistas, que o organismo é atacado por essas
infecções e justamente debilita o organismo, né?
. A gente sabe que é por causa das doenças
oportunistas, né?
. É um bichinho que tá lá, que é veloz, é violento e
que come nossas defesas, né? Eu acho que é isso
aí.
. Mas, depois de conversar com os médicos, eu
sei que só pega no sexo ou no beijo, se tiver algum
ferimento na boca, aí pegava.
. Porque a gente que é uma doença
transmissível, né? Sexualmente. Mas, eu não sei
explicar.
. E o pior disso tudo é porque ela não tem cura,
né? Isso é o pior.
– CAUSAS DO HIV/AIDS ANCORADAS NOS ASPECTOS SOCIOCULTURAIS
Esta subcategoria nos permite entrever a força que tem a sabedoria do
senso comum, influenciando a forma de pensar e de agir das pessoas. Os discursos
das mulheres nos dois grupos, apesar da pluralidade da linguagem, poderia
facilmente ser agrupado em um só grupo, considerando a homogeneidade das
informações e do modo como o comportamento é orientado.
Ressalta-se nos dois grupos a tendência comum de associar a infecção
pelo HIV/aids com a atividade sexual: Porque nunca, ninguém vai deixar de fazer
sexo, né? Seja com a mesma mulher, seja com o mesmo homem, ou seja homem e
75
mulher. [...] Acho que o povo não sabe o grande risco que corre, porque se
envolvem com todo mundo! [...] Denota-se, ainda, a opinião compartilhada de que a
promiscuidade é importante fator de risco para a infecção com esse vírus.
A necessidade do uso do preservativo também é ponto comum entre as
mulheres dos dois grupos, conforme representada em suas falas: O uso da
camisinha é a única maneira de não se contaminar, né? [...] Não pode ficar com o
seu parceiro sem usar camisinha. Porém, apesar dessa constatação, detectou-se
que essa prática não é concretizada em suas vivências cotidianas.
Entre as mulheres infectadas colhem-se depoimentos que se referem a
aspectos mais particulares da infecção, como outros meios de transmiso e
esclarecimentos quanto a mitos na forma de contágio que levam à discriminação e
preconceito: [...] Com o HIV, você pode tomar no copo do outro, se enxugar com a
mesma toalha, pode até dividir um prato de comida. É só mesmo pelo sangue. [...]
UNIDADES DE ANÁLISE TEMÁTICA DA SUBCATEGORIA CAUSAS
SOCIOCULTURAIS
MULHERES COM DIAGNÓSTICO MULHERES SEM DIAGNÓSTICO
. Porque a aids não é doença de gay, né?
. Queria acrescentar que, na terceira idade,
eu tou percebendo que tão falando muito: a
terceira idade contraindo o vírus, por essa
terceira idade mais ativa, usar Viagra, mais
plena, aquela coisa toda.
. Antes disso, eu pensava que pegava até no
falar, no sentar. Eu achava, mesmo.
. Diz que foi uma moça que transou com um
cachorro. Eu vejo falar.
. , eu num sei se pega de assento...
. Então, eu digo muito isso pra ela. “E outra
coisa, você tem que exigir o preservativo”. “Eu
gostaria muito que fosse assim, mas se não for,
se você namorou, quis conhecer, quis ir para a
cama, vá, mas com preservativo, não sem.
Sempre com preservativo, minha filha!”
. Acho que muita gente, agora, fica com medo,
por causa desses problemas.
. Mas, eu acho que a pessoa sabendo levar,
sabendo se cuidar, se tratar, se conservar, eu
acho que melhora muito.
. Porque uma doença imunda dessa, sem cura e
quando tem cura...
. Sempre aconselho ele não andar com ninguém
sem camisinha.
. Engana as miseravi, quando der fé, aquela
pessoa já tá com o vírus, né?
. Todo homem engana, mas tem muita mulher
sem vergonha que também engana.
. Da pessoa tá doente e “coisar” o homem e
enganar o homem.
– CAUSAS DO HIV/AIDS ANCORADAS NA TRANSMISSÃO
A transmissibilidade do HIV/aids tem muita força no discurso das mulheres,
sujeitos da investigação. Percebe-se que as falas direcionadas ao tema, sempre
versam acerca desta característica, sendo ela a mais perceptível e amedrontadora.
76
As mulheres com diagnóstico usam a transmissão ou a forma de evitá-la
como uma maneira de se protegerem do preconceito e da discriminação: Se a aids
fosse um problema que tivesse no ar, mas, não é, né? [...] Pois, se fosse pegar,
você não tava pegando na minha mão, agora, né?! [...]
Entre as mulheres sem diagnóstico, o tema prevenção surge como uma
forma de proteção de algo perigoso que, apesar de real, es distante de suas
realidades, funcionando como um catalisador de sua suposta invulnerabilidade.
A epidemia HIV/aids em pessoas idosas no Brasil tem emergido como um
problema de saúde blica nos últimos anos. Deve-se a dois aspectos emergentes:
o incremento da notificação de transmissão do HIV após os 60 anos de idade e o
envelhecimento de pessoas infectadas pelo HIV (BRASIL, 2006).
UNIDADES DE ANÁLISE TEMÁTICA DA SUBCATEGORIA CAUSAS
TRANSMISSÍVEIS
MULHERES COM DIAGNÓSTICO MULHERES SEM DIAGNÓSTICO
. Porque eu creio que não pega, só pega no
sexo.
. Porque é uma coisa que se pega com um
corte ou transmissível sexualmente.
. Transar sem camisinha, nem pensar. Que eu
num vou.
. Eu falo pro meus filhos, quando eles têm as
namoradas deles, que eles se previnam, usem
camisinha, usem preservativos e se cuidem
porque a doença tá solta aí no mundo, né?
. Quero dizer, assim, que é muito importante as
pessoas saber se conscientizar de que a aids
está cada vez mais aumentando e essas pessoas
se cuidem, usem preservativo, porque muito
grave.
. Porque eu creio que não pega, só pega no
sexo.
. Se a aids fosse um problema que tivesse no ar,
mas, não é, né?
. Pois, se fosse pegar, você não tava pegando na
minha mão, agora, né?!
. Ou se eu, hoje, me descobrisse não
soropositiva, eu jamais ia fazer sexo sem
preservativo, porque é um lado que hoje eu acho
nojento, sabe?
. Eu gostava de um rapaz que ele era meio
seboso. Ele agarrava todo tipo de mulher e ele só
vivia doente.
. Não, assim, não. Às vezes, a camisinha
rasgada e a doença passa, né?
. Contragiosa” e tudo, mas é a pessoa que
tem a aids, que é doente de aids, ter cuidado,
saber como é que ‘coisa”...
. O “negoço” é a pessoa ter cuidado e saber
como praticar o sexo também, se prevenir, né?
. Por um acaso, uma coisa assim que a pessoa
não se protegeu ou então não sabia que a outra
pessoa tinha, né?
. Que fica transando com um e com outro. Nã!
. Sempre eu digo à minha filha, eu digo: “Ó, você
tenha cuidado com as doença, com os bucho e
com aids e trazer aqui pra casa”. Eu digo, né?
. onde eu moro tem uma, doente de aids, e
enganou, fica impestando” e o homem
também.
77
4.2.5 Percepções sobre sexualidade
Esta categoria apresentou um total de 296 unidades de análise. A
subcategoria heteropercepção representou um percentual de 33,4%, enquanto que a
subcategoria autopercepção representou 66,6% do total. Denota-se que, em ambos
os grupos, a categoria mais realçada foi a autopercepção. A verificação deste fato
leva a refletir acerca da necessidade dessas mulheres, de ambos os grupos, de
falarem sobre sua sexualidade. Percebe-se, na maioria dos casos, uma premência
em discorrer sobre o assunto, mesmo que de forma indireta. Os tabus e mitos que
envolvem o tema na terceira idade e transformam o assunto em algo sujo e imoral,
impedem que esses indivíduos falem de seus medos, de suas angústias e anseios.
Além disso, os serviços não dispõem de espaços de escuta adequados para esse
fim, dificultando ainda mais o acesso a essa forma de terapêutica.
O cálculo do qui-quadrado, com nível de significância de 5%, comprova
que não há diferenças estatísticas consideráveis, na comparação dos dois grupos.
Tabela 6 Distribuição das frequências, percentuais e qui-quadrado da categoria e
das subcategorias de percepções sobre sexualidade, segundo os grupos
com e sem diagnóstico de HIV/aids, Fortaleza/Ceará, 2009
SUBCATEGORIA CD % SD % TOTAL % X
2
Auto-percepção
Hetero-percepção
Total
89
32
121
73,6
26,4
100,0
108
67
175
61,7
38,3
100,0
197
99
296
66,6
33,4
100,0
-
-
4,5
(p = 0,033)
Fonte: Elaboração própria.
Obs.: p < 0,05
– AUTOPERCEPÇÃO
A subcategoria autopercepção estruturou-se a partir de um eixo principal,
a percepção de si mesmo como um ser sexual. Observou-se que essa percepção
está associada a sentimentos românticos de amor e compromisso e, na maioria dos
discursos, ao ato sexual propriamente dito: É encontro mesmo de almas, quando
78
tem, quando a conexão e, pra mim, é com intensidade a sexualidade, né? [...] A
sexualidade acho que é o ato do sexo, né? [...]
A noção da vivência responsável da sexualidade espresente nas falas,
associada à confissão de culpa de não ter tido atitudes condizentes com essa
percepção, culminando com a infeão pelo HIV/aids: Sexualidade é bom, mas, com
muita responsabilidade.
Para as mulheres com diagnóstico de HIV/aids o sexo representa a
própria doença, sendo difícil para muitas delas continuar a ter uma vida sexual ativa,
sem medo e como fonte de satisfação: Sexo é uma coisa bonita, não pra mim,
porque eu acho que o sexo é bonito, quando existe amor, quando não existe
doença. [...]
É comum nas falas de ambos os grupos, demonstrações de tristeza e
decepção: Pra mim, sexo eu nunca achei bom. Por causa que nunca achei
vantagem. [...] Que você é retribuída, que não é decepcionada, que o é
discriminada, a sexualidade faz parte de uma vida bem legal, mas, quando é com
problema, ela deixa de ser legal, né? [...]
Essas vivências da sexualidade inferem novas representações da
existência dos sujeitos, considerando que es implícito nas falas a dor e o
sofrimento vividos nestas experiências.
Mais uma vez, encontramos a forte influência cultural no discurso das
mulheres investigadas, representada nas falas que atribuem culpa ao
comportamento sexual da mulher: [...] As mulheres não sabem mais se comportar,
não. [...] O que não pode é saindo com todo mundo, porque isso é muito feio,
acaba com a imagem da mulher. E, além disso, determinam a necessidade de um
único parceiro sexual, sob pena de perder o respeito de todos e a própria saúde: [...]
Aí, eu não tenho marido, como eu tinha de primeiro, sabe? Sou viúva. [...] Assim,
questão de parceiro, você saber com quem está, né? [...] A pessoa deve ter um
marido, um companheiro.
79
UNIDADES DE ANÁLISE TEMÁTICA DA SUBCATEGORIA AUTOPERCEPÇÃO
MULHERES COM DIAGNÓSTICO MULHERES SEM DIAGNÓSTICO
. tão diversificado, tá tão misturado, homem
querendo ser mulher, mulher querendo ser
homem e ainda não se aceita.
. E aí, não tem o diálogo de dizer assim: “Olha,
eu exijo que você me respeite. Pode ficar com
mil, lá fora. Agora se cuide, pra não adoecer e
trazer a doea para mim. E faça tudo pra que eu
não saiba”. Porque tem aquele ditado que diz: o
que o olho não vê, o coração não sente. E é
verdade, e é verdade.
. , é a maior alegria, o maior amor pra eles que
é jovem, né?
. Eu acho sexo normal.
. Arraigada como é, é arrudiada de emoções, de
amor, de cumplicidade.
. É. Eu acho que é necessário, mas, não é fácil,
porque as pessoas, hoje, estão banalizando o
sexo, né?
. Sexualidade não é um homem e uma mulher?
Não é um relacionamento?
. Porque a sexualidade, eu vejo assim, é o sexo,
é a vida sexual, e isso é coisa que não me
interessa e procuro nem falar sobre isso.
. Eu acho que não era para ter, mas, eu sei que
é uma coisa natural, que é uma coisa do ser
humano, né?
. E por que, a gente, ser humano, tem que ter
esse sentimento de uma relação sexual? Que
você tem que receber um homem? Uma coisa
assim, carnal, se a gente pode viver sem ele?
. E acho que a pessoa não vai se aproximar de
alguém perguntando. Mete a cara naquele
relacionamento... Em quatro ou cinco anos a
pessoa até sumiu da sua vida. Você não sabe
como foi, aonde foi, com quem foi.
. Sexualidade é comum, porque todo mundo faz,
né? Só isso.
. As pessoas o fazendo, assim, como se fosse
uma brincadeira, mas é coisa séria.
. A gente tem que se cuidar mais, no mundo que
nós tamo.
. Com amor, com carinho, sem esse “negoço de
grosseria, de agressão, né?
. Se manter distante de certas coisas que possa
afetar um problema grande na sde, né?
. Saber com quem, com quem a pessoa tá
naquele momento, se é uma pessoa sadia, de
confiança, uma pessoa que guarde segredo.
. É bom e é sério.
. É... Acho que é sexo, a pessoa ter sexo.
(Risos)
. Eu não sei como tem pessoas que se casam
sem amor, que transam sem amor, como pode?
Isso é um absurdo.
. Então, eu não sei como uma pessoa pode agir
assim, ir pra cama sem ter amor. Mas, o pior é
que a gente que isso acontecendo.
Infelizmente, né?
. E outra, eu tenho a impressão que é bom
quando a gente, as pessoas se amam, né?
. Eu acho que a vida a dois é muito séria, né?
.
– HETEROPERCEPÇÃO
Com apenas 33,4% do total das unidades temáticas (32 unidades no
grupo das mulheres com diagnóstico e 67 no grupo das mulheres sem diagnóstico),
novamente se percebe a dificuldade em traduzir a percepção do outro para as
mulheres dos dois grupos.
Apesar de tentarem traduzir essa percepção do outro, as falas vem
carregadas das opiniões emitidas na subcategoria da autopercepção, em ambos os
grupos: Mas, hoje, os jovens, a gente percebe que eles vêem a sexualidade como
uma forma tão banalizada, que não tem mais a relação afetiva, aquela consideração.
[...] Eu acho que pras outras pessoas eles pensam que é como se fosse uma
80
brincadeira... [...] Ah... Pras outras pessoas que acham que se relaciona somente a
sexo, né? [...].
Avalia-se que há uma fusão da heteropercepção com a percepção própria
da mulher investigada, pois, é mais simples e menos comprometedor expressar as
próprias convicções travestidas nas convições de outrem: Eu não sei, porque muitas
pessoas acham que o sexo, hoje, tá muito, como é que se diz, muito fácil. Eu
acredito que seja isso. [...] É um povo doido por homem. [...] Muitas vezes nem
conhecem o outro direito e se deitam com ele.
UNIDADES DE ANÁLISE TEMÁTICA DA SUBCATEGORIA HETEROPERCEPÇÃO
MULHERES COM DIAGNÓSTICO MULHERES SEM DIAGNÓSTICO
. Hoje, eu acho que eles estão um pouco vazios,
porque eles não se... Eles não se dão a abertura
para receber e nem pode dar o que eles não têm,
porque não receberam.
. Confundem sexualidade com muita liberdade,
libertinagem, essas coisas assim.
. Eu acho que hoje, o pessoal muito banalizado
com a história da sexualidade, né?
. Eles podem ver essa sexualidade como ter uma
relação íntima com o outro, ou se é uma coisa
mais além.
. Não tem sinceridade, sentimento.
. As pessoas estão muito soltas, tão muito
independente, tão muito descompromissadas. E aí,
já não é a minha linha.
. Ah... As pessoas dizem: “Eu acho muito bom.
Eu acho muito bom ser casada, ter sexo”...
. Eu acho que tão é doente (risos), porque inté
na frente da gente conversa esse tipo de coisa
que nem me interessa ouvir.
. Ah, minha filha, a gente tanta mulher que
não se dá valor, né?
. Bem, acho que as outras pessoas banalizam
o sexo, né?
. Porque é uma coisa tão bonita, que elas
não tão mais nem aí.
. A gente vê até mulher dando em cima de
homem casado, na maior cara de pau...
. Tem umas que passam sem. (sexo)
. Tá presente demais. Na minha vida? Não!
. Quem sabe eles não fazem e depois, fé,
taca os pé nas venta, deixa, aío é chato?
. Hoje, num tem carinho, só paixão.
. A pessoa não aproveita nada, se entrega logo
de uma vez àquele homem, aí, acontece.
4.2.6 Vivências da sexualidade
Nesta categoria temos as unidades de análise que mostram como as
mulheres participantes do estudo manifestam suas vivências como seres sexuais,
dando a conhecer sua exposição às influências culturais que envolvem gênero,
idade e o próprio HIV/aids.
81
Tabela 7 Distribuição das frequências, percentuais e qui-quadrado da categoria e
das subcategorias de vivências da sexualidade, segundo os grupos com
e sem diagnóstico de HIV/aids, Fortaleza/Ceará, 2009
SUBCATEGORIA CD % SD % TOTAL % X
2
Influência sociocultural
Na terceira idade
Com HIV/aids
Total
42
86
150
278
15,1
31,0
53,9
100,0
50
146
2
198
25,3
73,7
1,0
100,0
92
232
152
476
19,3
48,8
31,9
100,0
-
-
-
17,445
(p = 0,000)
Fonte: Elaboração própria.
Obs.: p < 0,05
Na tabela 7 temos uma análise estatística dos dados em questão, com um
qui-quadrado que mais uma vez mostra que não diferença importante no
comparativo dos dois grupos. Apenas a subcategoria com HIV/aids (53,9% e 1%)
mostraram diferença significativa.
VIVÊNCIAS DA SEXUALIDADE ANCORADAS NA INFLUÊNCIA SOCIOCULTURAL
As unidades temáticas aqui apreendidas falam da questão de nero a
que está submetida a mulher, principalmente aquelas na faixa etária aqui
investigada. Como se pode ver, elas falam de uma cultura que tratou o sexo como
algo sujo e imoral, criado apenas para promover a perpetuação da espécie, o que
trouxe grandes dificuldades para suas relações futuras: Eno, eu venho de uma
cultura, que a sexualidade era seboso, era nojento, era... né? Eu não sei o que eles
queriam passar com isso, porque prejudicou muito o relacionamento.
Essa mesma cultura preconizava que as mulheres deviam ser submissas
a seus maridos, respeitando-os, servindo e aceitando-os com todas as suas
limitações, incondicionalmente: Nunca fui uma mulher que eu negasse para ele.
Graças a Deus, do jeito que ele me procurava, eu servia a ele “direitim”. [...] E a
gente é casada, tem marido, o marido não compreende a gente, e na hora que
precisa, naquela hora quer que a gente seja satisfeita? [...]
A vincia sexual da pessoa idosa es longe de ser compreendida e
aceita pela sociedade como algo saudável e natural. O preconceito e a falta de
82
informação reforçam o estereótipo da velhice assexuada, acarretando atitudes e
comportamentos que podem elevar a vulnerabilidade do idoso frente às questões
como a aids (PROVINCIALI, 2005).
A dificuldade com o uso do preservativo é outro aspecto encontrado
nessa subcategoria, com influência direta na temática de nossa investigação. Nota-
se, no discurso desses atores sociais, a depreciação acerca da importância dessa
prática, tendo seu valor reconhecido entre as mulheres com diagnóstico da
infecção pelo HIV/Aids, mas, sendo praticamente banida do discurso das mulheres
sem diagnóstico.
Como viveram em uma época em que não era permitido à mulher ter
mais de um parceiro e lhe era imposto que confiasse incondicionalmente no
marido/parceiro, percebe-se a dificuldade em negociar o uso do preservativo:
Mas, eu não tinha coragem de questionar a ele o preservativo. [...]. As mulheres
com diagnóstico relatam não querer mais se relacionar sexualmente por não
terem como explicar o uso do preservativo, sem revelar sua condição de
soropositividade: Porque se eu fizer isso com ele, né? Sempre eu vou usar
preservativo. Ele vai perguntar um dia, por que eu fico exigindo preservativo, né?
, claro que ele vai desconfiar de alguma coisa, né? , eu prefiro não ter mais
ninguém na minha vida, não. [...].
Mack e Bland (1999), em pesquisa realizada nos EUA, também
encontraram maior mero de relatos de dúvidas referentes à efetividade do
preservativo na prevenção da infecção pelo HIV pela via sexual entre os indivíduos
com idade igual ou superior a 50 anos, sobretudo entre as mulheres, e o nível de
conhecimento sobre o assunto decresceu com o aumento da idade.
Essas mulheres chegaram a um momento da história em que o sexo
acontece de forma mais permissiva, para ambos os sexos, com amplas
possibilidades de uma vida sexual mais livre e por mais tempo de suas vidas. E elas
passaram a vivenciar esse momento sem conhecer ou ter familiaridade com o uso
do preservativo (masculino ou feminino), mesmo sendo essa uma das principais
formas de se prevenir do HIV/aids.
83
UNIDADES DE ANÁLISE TEMÁTICA DA SUBCATEGORIA INFLUÊNCIA
SOCIOCULTURAL
MULHERES COM DIAGNÓSTICO MULHERES SEM DIAGNÓSTICO
. Bom, na minha geração que eu posso falar, né?
Perto dos 60. Eu acho que é na mesma ótica,
né?
. Não, sempre tive dificuldade de falar a respeito.
. Porque eu acho que, hoje em dia, é dicil para
a minha cultura, ter um relacionamento.
. É com relação a ter alguém que tivesse, que
teria que..., né? Tinha problema, porque é lógico
que alguém não iria aceitar.
. Se ele tivesse se prevenido, nem eu tinha
descoberto a traição, nem tinha adquirido essa
doença.
. Me separei por isso. Porque ele era um homem
muito mulherengo, sabe?
. , eu tenho medo do meu companheiro não
querer usar preservativo, e eu me contaminar
com outros vírus que existe, né? Hepatite, outras
coisas mais, né? Aí, complicaria mais a minha
situação, né?
. Mas, que ele me deixava em casa, ele ia
andar com as outras, né? E, quando chegava, ia
me usar sem camisinha, né?
. Nunca foi de sair com mulher, por aí. Nem tinha
droga, nem nada. Era um homem de Deus.
. Pensa assim, mas, não é por aí, porque no meu
caso, peguei sem... Nunca pensei que ele
tivesse... Quer dizer, eu sabia que ele passava a
noite fora de casa, mas, eu lá sabia que ele ia
trazer isso pra mim, né?
. “Eu vou transar com você, se for com
preservativo”, ele vai jogar a culpa dele para cima
dela. Entendeu?
. Sem camisinha. Ele num quer.
. Aí, ele disse assim: “Pra quê que eu vou usar
camisinha?” E eu cheguei a engravidar da minha
última filha e ele ficou foi me culpando na
gravidez. “Você engravidou por que quis.”
“Rapaz, eu como mulher, se tu me procurar, eu
quero é ver se não posso te aceitar!” ta
entendendo? Quer dizer, ele não aceitava. (Que
ela recusasse as relações.)
. Ele usava, mas, botava o maior obstáculo.
. Não na minha idade! Na minha idade, não!
. Eu nunca fui doida por homem.
. Minha criação foi outra, a gente tinha que se
guardar, mas, agora tudo mudou.
. Não faço sexo, porque eu sou viúva.
. Não quero mais não, ninguém, graças a Deus.
. Agora eu vou viver pros meu filho, graças a
Deus. Pras minhas missa e pros meus netos...
. Como dona de casa, como uma pessoa
responsável, que cuido das minhas
responsabilidades e, pronto.
. Eu não vou mentir pra você, não. Se eu fosse
mais nova uns dez anos, eu acho que ia procurar
um outro marido, porque parece que esse que eu
tenho não tá me dando valor. Sei lá, não sei...
. Porque a gente tano nova é uma coisa e tano
numa idade dessa é outra, né?
. Então, eu já tou mais velha do que nova, mas
eu não quero mais essas coisa, não.
. Como era antes?... Era bom, né? Tinha marido.
. Era bom. Agora, o marido partiu para outra...
. Como era antes?... Eu ainda era nova,...
– VIVÊNCIAS DA SEXUALIDADE NA TERCEIRA IDADE
Ao serem indagadas quanto ao que é sexualidade, as mulheres
investigadas relacionaram imediatamente ao ato sexual que é lembrado hoje por
essas mulheres como algo que passou, acabou. Muitas se referem a isso como um
aspecto decepcionante de suas vidas: Me decepcionei muito, também. [...] Ah,
antes, eu vivia na ilusão de que era a melhor coisa, né? [...]
As próprias mulheres entendem que o tem mais o direito de viver sua
sexualidade de forma plena, ficando esse aspecto de suas vidas, restrito a um tempo
distante de sua juventude, com um parceiro único que se foi: Foi bom. Quando eu
era mais nova. Foi ótimo. [...] Hoje, mais velho. Parado. Depois da morte do meu
marido, parou. [...]
84
Segundo Maia e Pessoa (2009), a sexualidade humana interfere
significativamente na qualidade de vida do ser humano, tendo em vista que, em geral,
está relacionada a situações de bem estar pessoal, independentemente da idade.
Percebe-se aqui outra condição de discriminação em nossa sociedade, a
díade envelhecimento e sexualidade. É de domínio público a ideia que apregoa o
envelhecimento como um obstáculo à manutenção de uma vida sexual ativa, sem
culpas: Eu não tenho mais sexualidade e... isso me traumatiza, porque eu me vejo
velha, todo mundo me chama de senhora e eu... [...].
Essa condição discriminatória é introjetada pelas próprias mulheres com
50 anos ou mais que refletem essa premissa em suas falas, definindo uma situação
de autopreconceito aceita e validada: [...] Depois, dos 60. Uma véia quente! Eu acho
horrível! (Risos) Se aparecer que seje logo. Porque até agora... [...] Eu conheço
pessoas com cinquenta anos que vivem assim. Uma vida de transa.
Para as mulheres investigadas, manter a vida sexual é um desafio que
enfrenta padrões de beleza inatingíveis e restrições preconceituosas: Eu me vejo
esquecida. [...] Eu sinto cancias, necessidade, mas, eu me olho no espelho e digo:
“Não, você não consegue mais nada. Só se for um troço qualquer, aí de esquina.” [...].
Algumas mulheres com diagnóstico de HIV/aids mencionam a vivência
com outros parceiros e a vontade de continuar com uma vida sexual ativa, relatando
o prazer que sentem em poder continuar ativas: Quando eu encontrei essa pessoa
que eu já tou a quatro anos, mudou muito. Assim, só em lembrar que eu, que eu
tenho uma pessoa que vou me abraçar, que vou beijar, que vou me acariciar. Aquilo
ali é um fortalecimento muito gostoso, é um prazer. [...]. O mesmo não é perceptível
entre as mulheres sem diagnóstico que ao falar de vivências sexuais sempre fazem
referências ao marido, no passado: Pra mim hoje em dia, não vale mais nada,
encostei muito tempo. Sou só de Deus mesmo e acabou-se. [...] E eu num sinto
nem falta, graças a Deus. [...] Meu marido e eu sempre nos demos muito bem. [...].
A relação conjugal de muitos anos é citada pelas mulheres sem diagnóstico
como um entrave à manutenção de uma vida sexual satisfatória, percebendo-se nas
falas a insatisfação contida e o desejo de recuperar essa condição de contentamento:
[...] Outra coisa, o meu marido, ele tem diminuído muito, assim,... sabe?
85
De acordo com Maia e Pessoa (2009), a manutenção da atividade sexual
do ser humano depende de diversos fatores, os quais se correlacionam entre si, tais
como: características físicas, psicológicas, antecedentes pessoais, existência de um
parceiro (a) e contexto sócio-cultural.
Porém, falar de sexualidade na terceira idade pode ainda parecer tratar-se
de um tema polêmico, apresentando-se como uma alegoria sócio-cultural travada
por preconceitos, seja por parte dos jovens, dos profissionais de saúde, ou até
mesmo do próprio idoso (SALIMENE, 2003).
UNIDADES DE ANÁLISE TEMÁTICA DA SUBCATEGORIA VIVÊNCIAS DA
SEXUALIDADE NA TERCEIRA IDADE
MULHERES COM DIAGNÓSTICO MULHERES SEM DIAGNÓSTICO
. Quando eu descobri que tinha HIV, tinha um
tempo que eu nem tinha mais relação sexual.
. Apesar de eu só ter 50 anos, mas, já faz quase
uns 20 que eu já não tenho mais ninguém.
. , eu num me lembra mais, não. Assim, né?
. Eu num me lembro mais dessas coisa, não.
. Eu gostei, gostava com o meu marido, né?
. Ah... Era gostoso, eu me entregava com paixão,
mexia no sangue, tá entendendo?
. Era legal, mas ao mesmo tempo que era legal,
a gente vê como era tudo uma loucura.
. Eu tinha vida sexual, mas, não era muito,
assim, aberta, não.
. Foi muito bom quando eu me achava bonita,
quando eu via os ‘paquera”, mas, é...
. Assim, tem muitas pessoas que pensam que a
sexualidade na mulher da minha idade fica
ignorando. “Ai, porque essa mulher dessa idade
ainda quer homem, não sei o quê, não sei o
que...”
. Ah, eu descrevo, assim, como se eu tivesse,
assim, uns 25, 30 anos.
. Normal, normal. Não mudou nada e, até assim,
eu acho que mudou, me deu foi muito mais
quintura.
. Não é por causa disso, não. Porque eu vejo
gente mais velha que eu, que tem namorado.
. A minha sexualidade nunca mudou.
. De mês em mês, dois meses, eu arranjo um
paquera e, pronto, mas, de camisinha, ? Claro,
né?
. Eu procuro não falar muito sobre isso, não.
Porque é um assunto que o me interessa
muito. Eu não gosto muito de falar sobre isso,
não.
. Pois, bem... É... Eu era... normal, mais meu
marido, graças a Deus.
. Mas, pra mim já foi bom! Ah!
. Que elas se cuidem, que elas façam com
cuidado, que eu fiz e agora mesmo eu não tou
fazendo porque não tendo condições, mas se
tivesse eu ainda tava fazendo.
. Como eu descrevo? Naquela época que eu
“usava”, que tinha meu marido... era uma coisa
triste e, hoje, eu tenho me arrependido muito do
que eu fiz pra trás.
. Não pra fazer o negócio, não quero mais
nunca.
. Acabou.
. Mas, não sei... se agora é bom ou não, não
posso dizer mais nada.
. Porque eu noto, assim,... Eu olho pra mim e
sinto, assim, sou coroa, me sinto mal feita, devido
as banhas, assim,...
. A gente quase não beija mais... É uma coisa
assim, tão... Tudo mudando, sabe? Tudo esfriando...
. E outra que eu não tenho mais vontade de
nada.
. Eu conheço várias pessoas, a mulher, que
dizem assim: “Mulher, o sexo não é tão besta,
assim como tu pensa, não. A gente sai de
camisinha e pode fazer o que quiser.”
. Com 62 anos, eu ainda tava fazendo sexo.
. Não faço sexo.
. Meu problema mais o é nem mais o sexo, é
a brincadeira dos idosos.
. Bem, minha sexualidade hoje é tudo muito
normal, assim como era antes.
. Meu marido viaja e chega no fim de semana,
aí, a gente mata a saudade, ? Tem que ser,
né? E é assim mesmo.
86
– VIVÊNCIAS DA SEXUALIDADE COM HIV/AIDS
No grupo das mulheres com diagnóstico encontrou-se 113 unidades
temáticas e apenas 2 entre as mulheres sem diagstico que, apesar, de não
vivenciarem a doença, referem-se a ela como algo que impede a prática sexual.
A maioria das mulheres relata não ter mais vida sexual após a
descoberta do HIV/aids, algumas até revelam ser doloroso e sacrificante, sendo
esse um entrave para a vivência de novos relacionamentos: É uma coisa assim
que me travou, que me marcou. [...] É doloroso pra mim, é sacrifício e eu acho
que eu tou sendo muito ruim comigo mesma. [...] Talvez, eu pudesse ser mais
carinhosa, pudesse ser mais atenciosa, coisa que eu não sou, e, às vezes, eu
fico me perguntando se eu o tivesse o HIV, se que ia ser diferente, ? [...].
O termo repugnância utilizado nas falas define bem o sentimento dessas
mulheres quanto ao sexo, considerando que essa foi a via de contaminão de
todas as mulheres do estudo.
O medo de contaminar alguém, aliado à dificuldade de usar o
preservativo e de negociar seu uso também é fator que influencia a decisão dessas
mulheres de não mais ter relações sexuais: Eu acho que eu jamais teria coragem
de transar com alguém, por isso que eu acho a sexualidade pra mim o existe,
que mesmo me preservando com preservativo, não teria coragem de transar com
ninguém, eu penso nele. [...]
Nesta subcategoria procurou-se agrupar a vivência sexual anterior ao
HIV/aids que levou à contaminação com o vírus. Como era de se esperar, não se
encontrou referência no grupo de mulheres sem o diagnóstico.
As referências simbolizam histórias de vida em que relações amorosas
foram frustradas pela decepção de se ver traída e contaminada, com uma doença
que tem o significado de morte e sofrimento: E a gente tava o apaixonado, que eu
nem me lembrei que existia aids. E, de repente, me frustou. [...] Casei porque eu
quis, porque eu gostava, mas,... a decepção veio, né? [...].
Para Lieberman (2000), a discussão sobre o uso de preservativo ou sobre
os comportamentos de risco relacionados à infecção pelo HIV, entre o idoso e o
87
profissional de saúde, pode ser dificultada pelo fato de a mulher idosa não ter o
hábito de discutir assuntos relacionados à sua sexualidade de maneira aberta.
A mesma situação é abordada por Coleman (2003), Moore e Amburgey
(2000) ao discorrerem que, durante os encontros entre idosos e profissionais da
saúde com freqüência são abordados aspectos relacionados à saúde que são mais
confortáveis de serem discutidos para ambos, deixando-se a temática sobre a aids
sem abordagem.
É preciso aumentar a quantidade de informações básicas a respeito do
tema “HIV/aids e população idosa”, pelo desenvolvimento de estudos que embasem
o planejamento e a implementação de intervenções efetivas para diminuição de
comportamentos de risco à infecção pelo HIV na população idosa (COLEMAN, 2003;
LIEBERMAN, 2000).
UNIDADES DE ANÁLISE TEMÁTICA DA SUBCATEGORIA VIVÊNCIAS DA
SEXUALIDADE COM HIV/AIDS
MULHERES COM DIAGNÓSTICO MULHERES SEM DIAGNÓSTICO
. É como se tivesse encravado, assim, essa
doença, tivesse dito assim: Pronto, acabou o
prazer pra ti, aproveitou, acabou.
. Faço a minha cabeça para não despertar para
esse lado. Tomo algumas coisas de redução de
desejo, tomo suco de limonada, essas coisas.
. Quero viver só, me divertir, passear, brincar,
que é tudo que eu gosto. E botar a vida pra
frente, só isso.
. , acabou que eu decepcionei. E num tou mais
encontrando prazer, nem quem, nem como.
. Em relação se houve ou não diferença depois
da descoberta da doença? A diferença é que
agora estamos usando preservativo, né?
mudou isso, né?
. E, realmente, foi esse home que passou esse
pobrema pra mim. Eu gostei muito dele tamm.
. Pessoa que eu gostava, um casamento sólido.
. Era legal fazer sexo com ele! Mas, depois que
eu me descobri soropositiva...
. , depois que minhas filhas ficaram
independente, eu fui viver minha vida. Então, eu
encontrei esse rapaz e era uma coisa de louco. A
gente passava a noite inteira transando. No outro
dia, eu ficava feito uma boba, pensando,
lembrando... E a gente quer cantar, quer gritar,
sabe? Mas, eu digo: “Puxa vida, nunca mais eu
vou viver isso!”
. Se a pessoa tem essa doença, tem que ficar na
reserva, não procurar.
. Se for homem, do mesmo jeito, e se for mulher,
do mesmo jeito, tem que se reservar.
88
4.2.7 Percepções psicoafetivas
Aqui encontramos as unidades de alise que mostram como os
sujeitos manifestam suas percepções psicoafetivas acerca da morte, do
preconceito, do HIV/aids, da pobreza e do abandono. Encontrou-se 440 unidades
de alise nos dois grupos, sendo 172 relativas a situões de apoio e 127
relativas ao medo do preconceito e da discriminação, representando juntas 67,9%
do total. Em seguida, vem a subcategoria situões desamparo com 19% do total
de unidades temáticas.
Ao aplicar-se o teste estatístico qui-quadrado, com nível de significância
de 5%, comprova-se que a comparação entre os dois grupos não revela diferenças
estatísticas.
Tabela 8 Distribuição das frequências, percentuais e qui-quadrado da categoria e
das subcategorias de percepções psicoafetivas, segundo os grupos com
e sem diagnóstico de HIV/aids, Fortaleza/Ceará, 2009
SUBCATEGORIA CD % SD % TOTAL % X
2
Medo (morte, preconceito,
discriminação)
Morte e HIV/aids
Situações de apoio e/ou
desamparo
Total
154
14
144
312
49,3
4,5
46,2
100,00
17
0
111
128
13,2
0
86,8
100,0
171
14
255
440
38,9
3,1
58
100,0
-
-
-
-
9,375
(p = 0,00)
Fonte: Elaboração própria.
Obs.: p < 0,05
PERCEPÇÕES PSICOAFETIVAS ANCORADAS NO MEDO (MORTE,
PRECONCEITO, DISCRIMINAÇÃO)
O medo de morrer acompanha o ser humano por toda sua vida, mas o
surgimento de uma doença com um alto índice de mortalidade, carregada com
estigmas de dor e sofrimento, arraigados no senso comum, faz com esse medo
89
assuma significados diferentes. Nestes casos, a morte torna-se uma ameaça
concreta, constante.
Aliado a essas questões, o HIV/aids ainda é uma doença incurável, o que
faz com que a ideia da morte assuma o significado de uma sentença: Tem diferença,
sim. A diferença é que eu o sinto mais alegria, penso em morrer a qualquer hora.
Deixar meus filhos. [...].
Com base no fato das mulheres com 50 anos ou mais assegurarem que
não cura para a aids, Lima (2006) infere que os portadores do HIV/aids esperam
e, por vezes, chegam a desejar a morte, pela certeza de que esta chegará
brevemente. A autora deduz ainda que tais mulheres “concordam que a morte é
melhor do que o convívio com a aids.”
O temor do preconceito e da discriminação acompanha a doença. O
tema surgiu entre as mulheres de ambos os grupos, sendo mais forte entre
aquelas que vivenciam em seu cotidiano situações que a expõem ao medo do
abandono e da solidão.
Algumas mulheres com diagnóstico relatam ser estimuladas a manter sua
condição de soropositividade em sigilo, seja de forma explícita, pela família e pelos
serviços de saúde, ou de forma implícita, extraído da mídia ou do senso comum.
Inferiu-se que isso pode agir como um entrave à percepção de vulnerabilidade
individual e social, interferindo na forma como essas mulheres se previnem e se
relacionam com o outro: Às vezes, os filhos escondem, não diga e tal, não divulgue.
[...] E o que é que o movimento de aids faz? Nada! Diz assim: “Nós temos que se
esconder”. Outra coisa que o serviço faz no aconselhamento, né? Não diga para
ninguém!” [...]
Além do estigma de dor, sofrimento e contágio inerente à presença do
HIV/aids, o fato de ser uma DST, faz com que seja uma doença carregada de
discriminação cultural, traduzida em uma qualificação simplista que apregoa sua
presença como premissa para tulos de promiscuidade e obscenidade: [...] Que a
gente é louca, quando pega isso. [...].
90
UNIDADES DE ANÁLISE TEMÁTICA DA SUBCATEGORIA MEDO (MORTE,
PRECONCEITO, DISCRIMINAÇÃO)
MULHERES COM DIAGNÓSTICO MULHERES SEM DIAGNÓSTICO
. Às vezes, eu questiono como é que é morrer?
. E, além disso, né? Todo dia eu digo: “Meu
Deus, cada dia que se passa mais velha, eu tou
ficano”.
. Tou cada vez mais perto da morte, mas, seja o
que Deus quiser.
. Às vezes, escondem até mesmo a doença dos
familiares.
. Não, ainda não (sofreu preconceito). o, como
é que se diz, é porque eu o me exponho. Eu
tenho muito cuidado, eu evito certas coisas... É
isso.
. Como não sabem de nada, me vêem como uma
pessoal normal, como uma pessoa legal, como
uma pessoa alegre, como uma pessoa que gosta
de ajudar, como eu falei antes.
. No começo, sofri muito com o meu preconceito,
meu mesmo, porque eu tinha preconceito, porque
meus netos chegava perto de mim, [...]
. Se eu tiver sentada aqui no banco e eu disser
que tenho aids, as pessoas olham para mim
torto, mas, se eu disser que tenho tuberculose,
que é muito mais transmissível, ninguém vai se
levantar do lugar.
. É a morte. É a morte. E é isso.
. Faz é... é morrer, mata mermo.
. Cemitério.
. Mas, o preconceito é o que acho que é o pior.
. Parece que não procura... Ainda existe muito
esse lado de preconceito.
. Sabendo que a pessoa é desse jeito, já se
afasta, pensa que é uma doença que pega
assim, com o vento, mas, sendo que não é, né?
– PERCEPÇÕES PSICOAFETIVAS ANCORADAS NA MORTE E HIV/AIDS
Nesta categoria procurou-se agrupar as falas que se referem diretamente
ao HIV/aids como sinônimo de morte, com toda a sua carga emocional de perda,
sendo muitas vezes entendida como uma solução para a dor envolvida no processo
de se sentir doente e abandonada: aids pra mim é a morte. [...]. Eu não tenho
família, não tenho ninguém. (Choro) Às vezes, eu penso mesmo em fazer isso. [...].
Encontrou-se essa associação direta somente no grupo das mulheres
com diagnóstico do HIV/aids, revelando que a convivência com a doença e com o
doente, com todas as suas nuances, cala profundamente a ideia da morte próxima,
do outro e de si mesma: [...] Eu já fui a vários velórios de pessoas que morreram
com essa doença, né? [...]
Uma das falas muito impressionou por sua capacidade de traduzir o quão
fortes são os sentimentos negativos de medo, angústia e dor que envolvem os
indivíduos portadores do HIV/aids: Eu me sinto a morte. [...]. A forte característica de
91
contágio da doença surge densamente, explicitando o quanto esses indivíduos se
sentem responsabilizados pela transmissão do vírus, dando a entender que
carregam em si a morte em potencial.
O saber do senso comum disseminado por instrumentos que atingem
todas as classes sociais, como a mídia falada, permite essa associação do HIV/aids
com a de morte, sendo freqüente fundamentar as falas com exemplos de pessoas
que tiveram espaço na mídia por sua vida e por sua morte: Porque eu o que passou-
se com aquele menino, aquele Cazuza, num foi? Aquele Cazuza morreu. Acho...
Dizem que foi de aids, num sei. [...]
Lima (2006) traz essa discussão, ressaltando que a recordação de
pessoas de vida blica, com destaque na mídia e que morreram pela infecção com
o HIV/aids, reforça a crea de que não há cura, provavelmente por acreditarem que
seu nível cio-econômico superior lhes garantiria o acesso à cura, caso houvesse.
Ainda segundo a autora, não importa o tempo passado desde a morte dessas
pessoas, pois a imagem que associou aids e morte continua habitando o imaginário
popular até os dias de hoje.
UNIDADES DE ANÁLISE TEMÁTICA DA SUBCATEGORIA MORTE E HIV/AIDS
MULHERES COM DIAGNÓSTICO
. Que o que eu vejo nas televisão, se a pessoa num tiver um tratamento direito, vai acabar com a
morte, né?
. Então, eu tenho visto pessoas que, de vez em quando, morrem. Aqui mesmo, em Fortaleza. O
pessoal do interior, menas cultura.
. E, também, venho pedindo a Ele, para eu também não me prender a essas coisas, porque
dentro desse acidente que eu sofri (corte na cabeça, na RNP), tão pequeno, você fica! De repente,
você se vê paralisada!
. E me desprender mesmo desse mundo, porque assim, a vida, a gente não tem domínio sobre
ela, né?
PERCEPÇÕES PSICOAFETIVAS ANCORADAS NAS SITUAÇÕES DE APOIO
E/OU DESAMPARO
Essa subcategoria agrupou 58% das unidades temáticas (255) da
categoria, sendo 144 do grupo de mulheres com diagnóstico e 111 do grupo de
mulheres sem diagnóstico, apontando a relevância de determinadas condições de
apoio ou desamparado na vida desses atores sociais.
92
Agrupar as falas que trataram de situações de apoio e de desamparo
numa subcategoria foi uma decisão que surgiu da reflexão do quanto essas
situações estão separadas por uma linha muito tênue. A família que apóia é a
mesma que não ouve os apelos implícitos de compreensão. A família, instituição
indispensável para que o sentimento de solidão e abandono não se apodere do
indivíduo, é a mesma que não compreende a angústia guardada em seu âmago: [...]
Minha família nunca me desprezou. [...] Eu fui abandonada por causa do vírus. [...]
Meus filho tudo me deram gosto, me deram alegria. E tanto faz as filha mulher, como
os filho homem.
Relacionando esta abordagem ao envelhecimento, encontramos em
Minayo e Coimbra Júnior (2004), que o ciclo biológico para o ser humano é
constituído por várias etapas que são social e culturalmente construídas. As diversas
sociedades constroem distintas práticas e representações sobre a velhice, posição
social dos velhos na comunidade e nas famílias, assim como o tratamento que lhes
deve ser dispensado pelos jovens.
Segundo Vieira, Lopes e Shimo (2007), a família e os profissionais de
saúde desempenham grande importância no movimento do auto cuidado,
descoberta, diagnóstico e aceitação da doença, além do entendimento de que
apesar da possibilidade que algumas mudanças ocorram para se adaptar à sua nova
condição, a qualidade de vida pode ser mantida.
As mulheres do grupo que tem diagnóstico referem a importância das
redes de apoio às pessoas vivendo com HIV/aids. É notória a diferença em termos
de informão das mulheres que são vinculadas a esses grupos, daquelas que não
tem vínculos sociais com grupos específicos, informações essas relativas à doença
em si e ao exercício de cidadania, direito de todo ser humano, independente de sua
condição: [...] É... chamado de movimento de Mulheres Cidadãs Positivas. É um
movimento de nível nacional e tem em todos os estados brasileiros.
A rede de apoio às pessoas vivendo com HIV/aids (PVHA) engloba
serviços públicos de saúde e um conjunto de ações desenvolvidas pelas
organizões da sociedade civil. No campo dos serviços de saúde, tem-se Hospitais-
Dia, Serviços de Assistência Especializada em HIV/aids (SAE), Centros de
93
Testagem e Aconselhamento (CTA), além de toda a cobertura oferecida pelo
Sistema Único de Saúde – SUS (BRASIL, 2010).
No âmbito da sociedade civil, existe uma gama de ações desenvolvidas
por meio de atividades regulares tais como: assistência jurídica, apoio psicológico,
grupos de adesão ao tratamento, assistência domiciliar e visitação hospitalar,
atividades de geração de renda, centros de convivência e outros. O trabalho das
Organizações da Sociedade Civil (OSC) vem facilitando a inclusão social das
pessoas vivendo com HIV/aids e a melhoria da qualidade de vida, assim como a
articulação em termos de recursos comunitários locais (BRASIL, 2010).
Dessa forma, entendemos que compreender os anseios dessas mulheres
que enfrentam, a uma só vez, a agonia de envelhecer numa sociedade que endeusa
a juventude e de ser portador de uma doença com um alto índice de
morbimortalidade, com uma imensa carga de preconceito é a única maneira de dar o
suporte adequado no enfrentamento dessa carga emocional.
UNIDADES DE ANÁLISE TEMÁTICA DA SUBCATEGORIA SITUAÇÕES DE APOIO
E/OU DESAMPARO
MULHERES COM DIAGNÓSTICO MULHERES SEM DIAGNÓSTICO
. , eu vou pra casa das filha, uma me um
almoço, outra me dá outro. E, assim, eu vivo
passando.
. As pessoas, às vezes, perguntam: Pra que tu
quer estudar nessa idade?”. Pra mim, não tem
idade pra estudar.
. Eu sou uma pessoa... É como eu tava dizendo,
se eu num fosse da igreja, acho que eu já tinha
era... pirado.
. Sim, faço tratamento no São José. Sou muito
bem assistida. Muito bom, graças a Deus.
. Dinheiro é só pra pegar o ônibus, pra pegar
medicamento. Eles dão tudo.
. Carência afetiva, dificuldade financeira, muito
tratamento médico, muito remédio, muita
fragilidade mesmo geral na minha vida.
. Eu pensava que tinha um futuro pra frente, né?
(Choro. Silêncio)
. Às vezes, fico com muita solidão, porque eu
tenho uma filha, mas, não vive comigo, vive junto
com um cara.
. Num recebo nada, não recebo uma cesta
básica.
. Ninguém vive sem precisar de ninguém.
. Mas, depois, Deus acabou com esse
sofrimento. Mas, eu não conhecia o poder de
Deus, ainda...
. Estudo, graças a Deus.
. Minhas vizinhas tudo diz assim: “essa nêga faz
tudo porque tem saúde”.
. Hoje vim pro meu médico, ele disse que eu tou
ótima e tudo.
. Eu tou viajando, eu saio. Tudo isso.
. Minha vida boa é agora, né? Melhor de que
antes, que só cuidava de menino.
. Eu tô aposentada, cuido do meu netinho de
três anos... É a coisa mais linda!
. A minha vida é muito ruim... sobre... em casa.
. Não tenho mais ninguém, a não ser meu filho.
. Atualmente... eu vivo assim, participando de
grupo, porque eu não gosto de ficar em casa só,
porque eu tenho problema de solidão, sabe?
. Tenho problema de ansiedade. Meus filhos é”
tudo ausente, vem em casa numa quarta ou
num domingo, né?
. Aí, tem pessoas que deixam a gente com o
astral lá embaixo.
. Eu não tenho diversão,o tenho nada.
94
4.2.8 Além do HIV/aids
Abrange as unidades de análise que mostram como os sujeitos
representam sua própria vida, sua vivência e seu cotidiano familiar, despindo-se de
sua privacidade e falando de sentimentos que a remetem a uma realidade que se
distancia do HIV/aids. A subcategoria vivências familiares agruparam 174 unidades
de análise (56,5% do total), revelando novamente a importância do apoio familiar
para as mulheres em processo de envelhecimento, independendo da presença ou
não de diagnóstico.
Tabela 9 Distribuição das frequências, percentuais e qui-quadrado da categoria e
das subcategorias de além do HIV/aids, segundo os grupos com e sem
diagnóstico de HIV/aids, Fortaleza/Ceará, 2009
SUBCATEGORIA CD % SD % TOTAL % X
2
Condições socioeconômicas
Cotidiano familiar e drogas
Vivências familiares
Total
46
39
51
136
33,8
28,7
37,5
100,0
14
35
123
172
8,2
20,3
71,5
100,0
60
74
174
308
19,5
24,0
56,5
100,0
-
-
-
6,065
(p = 0,013)
Fonte: Elaboração própria.
Obs.: p < 0,05
– ALÉM DO HIV/AIDS – CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS
Por vivermos em uma sociedade onde tudo envolve o poder do capital,
surgiram constantemente nesse estudo, em ambos os grupos, situações que
envolvem as condições financeiras das mulheres em questão, situações essas que
estariam ou não agravadas pela condição de adoecimento: [...] Tudo a gente precisa
de dinheiro. [...] Se eu disser a você que eu passo, eu passo. Eu passo fome.
É perceptível nas falas, o sofrimento causado pela dependência
financeira, expressa como uma condição de submissão dessas mulheres,
acentuando a pesada carga inerente ao envelhecimento e ao adoecer.
O nível sócio-econômico dos sujeitos da pesquisa expôs que o aspecto
financeiro em muito contribui para que essas mulheres tenham as suas dificuldades
95
acentuadas. Aliado a isso, a condição de envelhecimento, que traz consigo limites e
incapacidades, impede a inserção no mercado de trabalho exacerbando as
dificuldades financeiras e a dependência de outros, valorizando em demasia as
ões governamentais de apoio, como a aposentadoria e os programas sociais de
auxílio: Aliás, o normal é a mãe ajudar os filhos e não o contrário, né? [...].
UNIDADES DE ANÁLISE TEMÁTICA DA SUBCATEGORIA CONDIÇÕES
SOCIOECONÔMICAS
MULHERES COM DIAGNÓSTICO MULHERES SEM DIAGNÓSTICO
. Meus filho é tudo necessitado.
. Tem vez que em casa, nem café eu num
tenho, nem açúcar eu tenho.
. É contando com amigo, aqui e acolá,
escapando.
. Eu tenho uma casa de três cômodos, três, acho
que cinco cômodos. Também não é tão pequena,
mas a bem destiorada. E isso tem me
preocupado.
. Eu não tenho condições de pagar uma
empregada.
. Trabalho demais, porque tenho dois empregos
pra poder sustentar minha família, né?
– ALÉM DO HIV/AIDS – COTIDIANO FAMILIAR E DROGAS
A forte influência das condições sociais na vida dos seres humanos é
perceptível nas falas dessas mulheres que convivem em seus cotidianos com
familiares (filhos, sobrinhos) em situações de uso de drogas lícitas, como o álcool, e
ilícitas, como a maconha, levando essas mulheres a conviverem com situações de
extremo sofrimento como assassinatos de filhos ou perda de bens para consumo de
drogas. Porém, mesmo em situações de extrema aflição, a condição inerente ao fato
de amar incondicionalmente dá conforto e alento, permitindo a percepção de ser e
estar inserida: Eu s da minha casa, porque num aguentava, porque ele se
drogava. Mas, eu amo meu filho, assim mesmo. [...].
Apesar das diferenças apresentadas pelas mulheres dos dois grupos,
apreendidas e comentadas ao longo do estudo, se nota nesta subcategoria as
semelhanças existentes entre essas mulheres quando se refere à sua condição de
maternidade. Cuidar dos filhos, acompanhá-los em suas tentativas de superação faz
parte do cotidiano de todas essas mulheres, levando-as a repensarem suas crenças
e refazerem caminhos por muitas vezes percorridos ao longo de suas existências.
Isso permitiu uma reflexão acerca da necessidade de todos os indivíduos estarem
96
sempre prontos a percorrer novamente os mesmos caminhos para rever conceitos e
redirecionar ações em nome de si mesmo ou de outrem.
UNIDADES DE ANÁLISE TEMÁTICA DA SUBCATEGORIA COTIDIANO FAMILIAR
E DROGAS
MULHERES COM DIAGNÓSTICO MULHERES SEM DIAGNÓSTICO
. Tiraram a vida dela, porque se misturava com
gente sem futuro.
. tem um quedando um problema, negócio
de... de... de maconha, né?
. Eu tou indo... Eu era católica, eu tou até indo
pra igreja, porque ele quer ser crente, né?
. Ele vendeu (o botijão de gás), eu o estava
em casa.
. Era porque antes eu tinha um irmão que era
alcoólatra. Sofri muito por conta disso, né?
. Até meu marido trabalhando agora, porque
antes ele não trabalhava, só vivia em casa e
bebia muito.
. Em nome de Deus, ele não vai sair do emprego
e vai sair desse vício, né? Pois é.
. Aí, o meu problema é com esse que meu filho
tá me dando, mas, se Deus quiser, ele vai...
. Minha filha reclama que eu sou muito besta pra
ele, num sei quê. Quer que eu jogue ele fora,
jogo não. Que é filho, né, menina?
– ALÉM DO HIV/AIDS – VIVÊNCIAS FAMILIARES
Como referido anteriormente, esta subcategoria abrangeu 56,5% do
total das unidades temáticas dessa categoria, permitindo inferir que essas vivências
o consideradas como a principal referência do ser humano independendo de sua
condição social, econômica ou de saúde. Das 174 unidades encontradas, 123 foram
referidas pelas mulheres sem diagnóstico, deixando entrever que as mulheres que
vivenciam a realidade do HIV/aids tem uma maior necessidade de olhar para sua
própria condição, precisando encontrar nessa vivência, uma fonte de apoio.
Saber-se inserida em um contexto familiar, mesmo que não haja o ideal
de família propagado pelo senso comum, faz com que essas mulheres se sintam
parte de algo conhecido, que suporte e encoraja: A gente é mãe. [...]. em
casa, sou só eu e minha filha. saio, às vezes, pro passeio, aqui. Que eu quero
vim e ela me traz. Só somos nós duas. [...] A minha vida? Eu tou vivendo com quatro
irmãs. Tou muito feliz!
Em contrapartida, é percebido nas falas que grande parte do sofrimento
dessas mulheres advem de situações familiares adversas que fazem com assumam
papéis que podem ir além de sua condição atual: Aí, é assim, mulher, eu tenho um
filho que também é doente, perturbado da cabeça. [...].
97
Dessa forma, reforça-se a necessidade de trabalhar com essas mulheres,
olhando-as como seres únicos e inteiros, que chegam até os serviços, impregnadas
por suas experiências e conhecimentos que as tornam mães, filhas, esposas,
mulheres, sendo imperioso considerar suas vivências pregressas, para oferecer-lhes
um cuidado que preencha suas necessidades individuais, independente de suas
condições de adoecimento.
UNIDADES DE ANÁLISE TEMÁTICA DA SUBCATEGORIA VIVÊNCIAS
FAMILIARES
MULHERES COM DIAGNÓSTICO MULHERES SEM DIAGNÓSTICO
. Dizer o quê? Não, eu não estou muito feliz,
porque eu tinha... a mãe dessa menina faleceu.
. Porque o menino tem um fastio horríve. Aí,
pronto.
. Graças a Deus, meus filho veve bem.
. Três filhos homens. Dois casado e um solteiro.
O solteiro vem agora... em julho e o casado vem
agora em janeiro.
. , chegava lá em casa (o companheiro), tudo
que a gente fazia era ruim pra ele. Chegava um
pedia a ele tanto, pegue tanto, dava. Quero tanto,
ele dava. Chegava no dia num tinha mais. O que
é isso, rapaz, que tu tá fazendo?
. ele foi e disse: eu vou vender a casa. Como
é que você vende, se a casa é no meu nome? E
tudo é meu. Nunca botou nada pra dentro de
casa, principalmente a casa que foi eu que
comprei. A casa é minha.
. meu marido disse: ai, você é minha família.
Eu disse: ah, é? Agora? Ele disse: É. Você é
minha família.
. Já vai fazer dois mês. Num veio mais nem ver a
menina. Num traz nada pra menina.
. Ele tinha problema de pressão e uma tal de
“nevralgia” que ele se esqueceu de tudo. Eu era
quem dava almoço na boca dele, quem banhava
ele, quem fazia tudo pra ele.
. Sempre disse assim: “Olha, seu pai. Respeite
seu pai. Ele é seu pai.”
. Dediquei minha vida somente ao meu filho,
somente a ele...
. Já sofri muito na minha vida, né? Na gravidez,
já cuidava do meu pai.
. Não, é assim... ”mãe coruja”, sabe?...
. Meus filhos estão bem, dão um pouco de
trabalho, sabe? Mas, tão muito melhor, muito
mesmo.
. Como? A minha vida? Minha filha, vou dizer
pra você. Minha vida, tirando os problemas da
casa, da casa, não, dos netos, né? Dos netos, a
minha vida é muito boa.
. Fico gastando meu dinheiro com ele, com as
pessoas que não são nada meu.
. Eu sou amiga dele. É o pai do meu filho. Meu
filho é amigo do pai dele.
. Eu significava pra ele apenas uma pessoa que
ele tinha afeição, não era amor, sabe?
. Eu vivo com esse há vinte e um anos.
. Sei, não. Namorei com o meu marido 6 anos,
num é 6 dias. Nessa época, num tinha telefone,
os transporte era difícil.
. Eu sou assim... moro com o pai do meu filho,
mas a “gente somosintrigado, a gente fala
assim...
.
Tem os defeitos dele, tem o lado ignorante.
Tem dias que a gente briga, tem dias que eu
passo até dois dias sem se falar com ele.
98
5 MARCADORES DE VULNERABILIDADE AO HIV/aids
___________________________________________________________________
99
5 MARCADORES DE VULNERABILIDADE AO HIV/AIDS
Os quadros a seguir, apresentam os marcadores de vulnerabilidade
apreendidos pela análise das condições e características associadas à
vulnerabilidade para o HIV/aids das mulheres que fizeram parte do estudo,
classificados nas dimensões individual, programática e social.
Salienta-se que, ao identificar os marcadores, distinguindo-os pelos sub-
grupos da pesquisa (mulheres de 50 anos ou mais com e sem diagnóstico de
infecção pelo HIV/aids), observamos que, aqueles identificados no grupo das
mulheres que possuíam o diagnóstico foram bem semelhantes aos identificados no
grupo das que não possuíam diagnóstico, estando as diferenças mais acentuadas,
fundadas nos aspectos relativos à doença.
A seguir, apresenta-se o quadro relativo aos marcadores de
vulnerabilidade da dimensão individual ao HIV/aids de mulheres com 50 anos ou
mais com e sem diagnóstico.
Dimensão Individual
Mulheres com diagnóstico de HIV/aids Mulheres sem diagnóstico de HIV/aids
Conhecimentos e significados
- Adoção e manutenção de práticas sexuais
de risco
* Não usar preservativo em todas as relações
sexuais, inclusive com parceiro único e fixo.
- Hábitos de vida inadequados como
alimentação e higiene
* Condições socioeconômicas insuficientes.
- Falta de reconhecimento da condição de
vulnerabilidade
* Confiança no parceiro, mesmo consciente
de sua infidelidade.
Características pessoais e relacionais
- Escolaridade
* Dificuldade cognitiva para compreensão das
informações veiculadas.
- Idade
* Influências culturais importantes no que
concerne à sexualidade e relações de gênero.
- Crença religiosa
* Influenciando de forma positiva, no que diz
respeito a facilitar o enfrentamento.
Conhecimentos e significados
- Adoção e manutenção de práticas sexuais de
risco
* Não usar preservativo em todas as relações
sexuais, inclusive com parceiro único e fixo.
- Hábitos de vida inadequados como alimentação e
higiene
* Condições socioeconômicas insuficientes.
- Falta de reconhecimento da condição de
vulnerabilidade
* Confiança no parceiro, mesmo consciente de sua
infidelidade.
Características pessoais e relacionais
- Escolaridade
* Dificuldade cognitiva para compreensão das
informações veiculadas.
- Idade
* Influências culturais importantes no que concerne
à sexualidade e relações de nero.
- Crença religiosa
* Influenciando de forma positiva, no que diz
respeito a facilitar o enfrentamento.
100
Continuação...
Dimensão Individual
Mulheres com diagnóstico de HIV/aids Mulheres sem diagnóstico de HIV/aids
* Influenciando de forma negativa, no que diz
respeito à crença da cura divina com o
abandono da medicação.
- Parceria conjugal
* Ausência de apoio do parceiro no que diz
respeito ao casamento, à doença e todas as
questões envolvidas numa relação a dois.
- Não possuir atividades de lazer
- Não possuir atividades fora do lar
(desemprego)
- Preconceito e discriminação
(envelhecimento e HIV/aids)
Impacto do diagnóstico
- Limitações impostas pela doença
* Dificuldades para se manterem ativas.
- Impossibilidade de cura
Recursos disponíveis
- Família, comunidade, sociedade
* Influência do apoio recebido por parte das
instituições citadas.
- Presença/Ausência de círculo social
* Influência benéfica perceptível nas mulheres
que possuem círculo social ativo.
- Ausência de projetos de vida e sonhos
- Vivência da situação de morte
* Levando à desesperança ou aumentando a
expectativa quanto ao que ainda para
viver.
- Modos de enfrentamento
* Condições de vida inadequadas.
* Exercício dos direito humanos e de
cidadania.
* Dificuldades de adesão ao tratamento.
* Dificuldades em executar as ações
recomendadas pelos profissionais.
* Influenciando de forma negativa, no que diz
respeito à crença da cura divina com o abandono
da medicação.
- Parceria conjugal
* Ausência de apoio do parceiro no que diz respeito
ao casamento e todas as questões envolvidas
numa relação a dois.
- Não possuir atividades de lazer
- Não possuir atividades fora do lar (desemprego)
- Preconceito e discriminação (envelhecimento)
Recursos disponíveis
- Família, comunidade, sociedade
* Influência do apoio recebido por parte das
instituições citadas.
- Presença/Ausência de círculo social
* Influência benéfica perceptível nas mulheres que
possuem círculo social ativo.
- Ausência de projetos de vida e sonhos
Quadro 2 Marcadores de vulnerabilidade da dimeno individual ao HIV/aids de
mulheres com 50 anos ou mais com e sem diagnóstico, atendidas no
ambulatório do Hospital São José e participantes do grupo de idosos
do Centro Social Aloísio Ximenes, Fortaleza/Ceará, 2009
Observamos, na dimensão individual, os marcadores: características
pessoais e relacionais, conhecimentos e significados, impacto do diagnóstico e
recursos disponíveis (pessoais e experiências que interferem no enfrentamento).
Os marcadores relacionados aos “conhecimentos e significados” atribdos
ao processo saúde e doença foram evidenciados de forma mais frequente nas
mulheres sem o diagnóstico do HIV/aids, tendo em vista que as mesmas, além de não
101
conviverem com esta realidade em sua rotina diária, possuem conhecimentos
insuficientes sobre a doença, resultado este comentado mais a frente.
De acordo com Takahashi (2006), a existência dos conhecimentos incorretos
ou insuficientes torna o indivíduo vulnerável ao adoecimento e o expõe aos fatores de
risco de diversas doenças. Assim, os significados atribuídos à sde, acrescidos da
ausência de sintomatologia e da manutenção da capacidade física e mental, interferem
no reconhecimento do estado de “exposto” às vulnerabilidades ao HIV/aids.
Assim, a vulnerabilidade se estende a todos os indivíduos que, por
alguma razão, têm dificuldades ou estão impossibilitados de decidir, isto é, têm
pouca ou nenhuma autonomia. É comum fazer-se, assim, uma relação quase
imediata entre os afetados em sua vulnerabilidade intrínseca e a diminuição ou
ausência de autonomia. Dentre esses se incluem: os excluídos da sociedade de
consumo, os empobrecidos sejam dos países de economia periférica ou não, as
etnias culturalmente desfavorecidas, os idosos, indiduos portadores de doenças
físicas ou mentais, etc. Porém, o reconhecimento da vulnerabilidade deve ir além de
uma simples relação entre autonomia e vulnerabilidade, pois ele é a conseqüência
da compreensão da existência da pluralidade e diversidade contingente em todos os
seres humanos (BRAZ, 2003).
Assim, de acordo com Nichiata et al. (2008), a vulnerabilidade individual diz
respeito à mobilização individual de prevenção frente a um estado de risco. Envolve
aspectos relacionados a caractesticas pessoais, ao desenvolvimento emocional,
percepção do risco e atitudes voltadas à adoção de medidas de auto-proteção; bem
como a atitudes pessoais frente à sexualidade, e conhecimentos adquiridos.
Ayres et al. (1999, p. 57) definem a vulnerabilidade individual com base
em três pressupostos:
1) Todo indivíduo é, em algum grau, vulnerável à infecção pelo HIV e suas
conseqüências, e essa vulnerabilidade pode variar ao longo do tempo em
função dos valores e recursos que lhe permitam ou não obter meios para se
proteger;
2) os indivíduos infectados pelo HIV têm seu potencial de vulnerabilidade a
morbidade, invalidez ou morte, variável em função inversa ao amparo social
e assistência à saúde de que dispuserem;
3) as condições que afetam a vulnerabilidade individual são de ordem
cognitiva (informação, consciência do problema e das formas de enfrentá-
lo), comportamentais (interesse e habilidade para transformar atitudes e
ações a partir daqueles elementos cognitivos) e sociais (acesso a recursos
e poder para adotar comportamentos protetores).
102
Nesse contexto, podemos perceber como apenas informações sobre
formas de transmissão e situações de risco podem ser insuficientes para a adoção
de comportamentos protetores. Não basta informão, pois estar informado não
significa necessariamente conhecer; estar ciente o significa necessariamente
tomar medidas; decidir a tomar medidas não significa necessariamente fazer, tendo
em vista a individualidade de cada ser humano, sendo este fato, comum aos dois
grupos pesquisados.
Todavia, vale lembrar que, apesar de se ter ciência de que, no caso da
aids, o grau de informação que um indivíduo possui sobre formas de transmissão e
situações de risco não é suficiente para que passe a adotar um comportamento
protetor, a falta de informões básicas contribui para aumentar a sua
vulnerabilidade individual, situação que se percebe em maior relevância no grupo
das mulheres sem diagnóstico.
Em alguns momentos, pode-se inferir que, o processo de envelhecimento
interfere na autonomia, na tomada de decisões e na aquisição de informações que
levem a uma diminuição da vulnerabilidade das pessoas. Segundo Paschoal, Franco e
Salles (2007, p. 612), “[...] os idosos têm como parâmetro de saúde uma vida
independente, sobre a qual possuam controle, sem a necessidade de serem cuidados”.
Porém, com o avançar da idade ocorrem perdas da autonomia e
independência, o que acarretará maiores dificuldades para eles, sua família e
sociedade. Assim sendo, na velhice, uma vida saudável está associada às
condições de autonomia e independência.
Souza, Skubs e Brêtas (2007), em estudo que objetivou compreender o
processo de envelhecimento no âmbito familiar, tomando como parâmetro a
intergeracionalidade, mostra que a família assume grande importância no cuidado
com o idoso, aumentando esta importância com o crescimento acelerado da
população senil. Assim, faz-se necessário o entendimento, abrindo-se, então,
oportunidades para estudos posteriores, de como a família está conseguindo ou não
responder às necessidades dos idosos, tendo em vista as suas vulnerabilidades
individuais, sendo este aplicável tanto às mulheres com HIV/aids, como às sem o
diagnóstico da doença.
103
Quanto ao marcador “impacto do diagnóstico”, observou-se que as
participantes tanto temiam a realidade da soropositividade, como relatavam temor ao
saberem de tal possibilidade. Portanto, receber o diagnóstico soropositivo para o HIV
acarreta, em um primeiro momento, grande impacto, despertando reações e
sentimentos desestruturantes e acionando mecanismos de defesa a fim de fazer
frente aos medos e angústias decorrentes do saber-se contaminado.
Ferreira (1999), em seu trabalho sobre violência aos direitos humanos
entre indivíduos portadores do HIV/aids, afirma que não é de se surpreender que,
diante do diagnóstico para a soropositividade, diversas reações e comportamentos
dos sujeitos possam surgir, como medo da doença, vivências de culpas, ou medos
relacionados às respostas sociais.
Em outro estudo, sobre as representações do HIV na terceira idade, a autora
relata que entre os idosos que se descobrem portadores do vírus, dois perfis
clássicos: o homem casado que se contamina com uma parceira mais jovem e o das
viúvas que redescobrem o sexo (FONTES; SALDANHA; ARAÚJO, 2006). Para a
autora, a vida na soropositividade é representada pelos idosos como uma rotina que
necessita de cuidados para não contaminar a família. Pode causar depressão, diminuir
a qualidade de vida, juntamente com a capacidade de realizar tarefas, e exige aceitação
das restrições, pois inclui um tratamento medicamentoso regrado.
Os idosos infectados pelo HIV ou mesmo com aids são geralmente
isolados e ignorados. Apesar dos estereótipos, muitos idosos são sexualmente ativos,
e alguns são usuários de drogas, consequentemente, seus comportamentos podem
-los em risco para infecção de HIV (HIV/aids and older adults, 2007).
A caracterização dos marcadores relacionados aos “recursos disponíveis”
deveu-se ao fato de que, os dois grupos de mulheres participantes do estudo ora
não tinham conhecimento da sua vulnerabilidade ao HIV/aids, ora não a
reconheciam, levando-se em consideração todos os seus aspectos deste marcador.
Os demais aspectos advindos destes marcadores, tais como: relações
interfamiliares, redes sociais de apoio, aceitação do tratamento, dentre outros,
também foram percebidos na categorizão temática realizada através das
representações sociais, fatos estes já fundamentados teoricamente.
104
Comentamos, ainda que, a percepção da aids nesse grupo etário, traz à
tona certos hábitos até então não revelados, como a sexualidade, escondida na pele
enrugada e nos cabelos brancos, onde a libido é traduzida pelo preconceito
(GORINCHTEYN, 2005).
A seguir, o quadro que diz respeito aos marcadores de vulnerabilidade
da dimeno programática ao HIV/aids de mulheres com 50 anos ou mais com e
sem diagnóstico.
Dimensão Programática
Mulheres com diagnóstico de HIV/aids Mulheres sem diagnóstico de HIV/aids
Estrutura e dinâmica de organização do
serviço de saúde
- Disponibilidade irregular de recursos para o
diagnóstico precoce do HIV/aids na faixa
etária em questão
* Despreparo profissional para considerar a
hipótese do diagnóstico de HIV/aids nesta
faixa etária, com influência cultural acerca da
sexualidade
- Disponibilidade irregular de recursos para a
informação com linguagem adequada aos
indivíduos na faixa etária investigada
Operacionalização das ações
- Diagnóstico tardio do HIV/aids nas mulheres
na faixa etária investigada
- Implementação tardia de terapêutica
medicamentosa, vinculada à demora no
diagnóstico
- Ausência de espaço para compartilhar
medos e anseios
- Desvalorização da escuta
- “Imposição” de medidas de prevenção,
desconsiderando as concepções acerca da
problemática
* Dificuldades com a aceitação e uso efetivo
de preservativos
- Desconhecimento de necessidades e
alterações na saúde decorrentes do HIV/aids,
extrapolando a esfera biológica
- Impacto da doença na vida
* Ausência de intercâmbio entre instituições
de saúde/profissionais e familiares/círculo
social do indivíduo
Estrutura e dinâmica de organização do serviço
de saúde
- Disponibilidade irregular de recursos para o
diagnóstico precoce do HIV/aids na faixa etária em
questão
* Despreparo profissional para considerar a
hipótese do diagnóstico de HIV/aids nesta faixa
etária, com influência cultural acerca da
sexualidade
- Disponibilidade irregular de recursos para a
informação com linguagem adequada aos
indivíduos na faixa etária investigada
Operacionalização das ações
- Ausência de espaço para compartilhar medos e
anseios
- Desvalorização da escuta
- “Imposição de medidas de prevenção,
desconsiderando as concepções acerca da
problemática
* Dificuldades com a aceitação e uso efetivo de
preservativos
Quadro 3 Marcadores de vulnerabilidade da dimensão programática ao HIV/aids
de mulheres com 50 anos ou mais com e sem diagnóstico, atendidas no
ambulatório do Hospital São José e participantes do grupo de idosos do
Centro Social Aloísio Ximenes, Fortaleza/Ceará, 2009
105
Na dimensão programática, foram identificados os marcadores relativos à
estrutura e dinâmica de organização do serviço de saúde e operacionalizão das
ões nos mesmos.
A aids é uma das poucas doenças que possui uma rede de serviços
especializados de saúde. Todavia, os problemas advindos da forma de organização
dos serviços de saúde são similares, se não os mesmos: a assistência é
fragmentada, sobrecarga de trabalho, o tempo de espera para o atendimento é
prolongado, nem sempre o trabalho em equipe se faz presente e a capacitação dos
profissionais é insuficiente (TAKAHASHI, 2006).
Quanto ao grupo sem diagnóstico, os marcadores identificados e mais
citados, que acabam por tornar-se comuns na vida da população como um todo,
estão relacionados à infra-estrutura, como: horário inadequado de funcionamento,
número insuficiente de vagas para atendimento, duração insuficiente dos
procedimentos, falta de integração da equipe, disponibilidade irregular ou limitada de
recursos para o diagnóstico e para a prevenção da transmissão do HIV, divulgação
insuficiente da importância do diagnóstico precoce e da existência de tratamento,
inexistência de benefícios à pessoa com aids nos serviços de saúde.
Além de tudo, pensar na relação idoso e aids é atentar para a falta de
uma política social e de saúde pública, assim como programas de prevenção, que
venham a contemplar as especificidades, características e necessidades próprias
desta população. A assistência à pessoa de terceira idade que convive com HIV/aids
deve ser orientada por uma abordagem mais adequada, o que significa desvendar
medos, preocupações e reações sociais próprias no enfrentamento do cotidiano,
levando em consideração a realidade de vida do paciente.
Segundo Battini, Maciel e Finato (2006), é natural para o ser humano ser
gregário, ou seja, há uma relação de interdependência nos relacionamentos. Devido
a essa relação, cita um estudo de Freire (2000) que algumas variáveis aumentam a
chance de adaptação no processo de envelhecimento. Dentre estas variáveis, pode-
se encontrar a rede de apoio, pois se o indivíduo perde o contato com outras
pessoas, o fato pode significar reclusão e perda de interesse pela vida”,
antecipando, assim, o processo de envelhecimento.
1
06
Portanto, a rede de suporte social é fundamental, de acordo com Araújo,
Coutinho e Carvalho (2005), em termos de assistência às necessidades de um
indivíduo, porém, deve ser bem elaborada e desenvolvida pela família para ser
eficaz em sua atuação.
De acordo com Silvestre e Costa Neto (2003), o atribuições comuns da
equipe de Sde da Família, voltadas à pessoa idosa: a) identificar os problemas de
sde e de risco a que o idoso es exposto, elaborando um plano para o enfrentamento
do problema; b) as relações interpessoais devem ser valorizadas com o idoso e sua
família para criar vínculo, confiança, afeto e respeito, dentre outras atribuições.
O envelhecimento é uma experiência diversificada e sujeita às influências
de diferentes contextos sociais, históricos e culturais. Assim, dependendo da época
em que viveram sua infância e juventude, de seu estilo de vida, educação e maneira
peculiar como estruturam seu curso de vida, diferentes pessoas envelhecem de
maneiras diferentes (BASSIT, 2002; NERI, 1995).
A seguir, apresenta-se o quadro dos marcadores relativos à dimensão social
das mulheres com 50 anos ou mais com e sem diagstico que fizeram parte do estudo.
Dimensão Social
Mulheres com diagnóstico de HIV/aids Mulheres sem diagnóstico de HIV/aids
Condições materiais de existência
- Existência e acesso insuficientes aos
equipamentos sociais
Organizações sociais
- Pequeno alcance das campanhas,
organizações governamentais e redes sociais
de apoio
- Condições de vida insuficientes
Aparato jurídico-político
- Aparato jurídico-político insuficiente que
garanta melhores condições de vida
Ideologia e cultura
- Gênero
Condições materiais de existência
- Existência e acesso insuficientes aos
equipamentos sociais
Organizações sociais
- Pequeno alcance das campanhas e organizações
governamentais
- Condições de vida insuficientes
Aparato jurídico-político
- Aparato jurídico-político insuficiente que garanta
melhores condições de vida
Ideologia e cultura
- Gênero
Quadro 4 – Marcadores de vulnerabilidade da dimensão social ao HIV/aids de
mulheres com 50 anos ou mais com e sem diagnóstico, atendidas no
ambulatório do Hospital São José e participantes do grupo de idosos
do Centro Social Aloísio Ximenes, Fortaleza/Ceará, 2009
107
Na dimensão social, observamos os marcadores condições materiais de
existência, ideologia e cultura, organizões sociais e aparato jurídico político.
As “condições materiais de existência”, na dimensão social, foram
salientadas a partir das caractesticas socioeconômicas e hábitos diários das mulheres
participantes do estudo, principalmente relacionadas à escolaridade, situação de
trabalho e alimentação, fatores comentados e fundamentados anteriormente.
Buchalla e Paiva (2002) afirmam que a vulnerabilidade de um grupo à
infecção e ao adoecimento é resultado de um conjunto de características dos contextos
político, econômico e socioculturais que ampliam ou diluem o risco individual.
Além de trabalhar essas dimensões sociais, é um desafio permanente e
de longo prazo, melhorar os programas de prevenção e assistência abrindo espaço
para o diálogo e a compreensão sobre os obstáculos da prevenção e sobre o acesso
e para as experiências diversas com os meios preventivos disponíveis, para que, no
plano das crenças, atitudes e práticas pessoais, todos, significando cada um,
possam de fato se proteger da infecção e do adoecimento, além do aparato social
necessário para tal (BUCHALLA; PAIVA, 2002).
De acordo com Takahashi (2006), alguns grupos sociais, portadores de
características ou condições que demonstram a sua fragilidade nata ou adquirida,
geralmente eso sujeitos a uma maior vulnerabilidade, devido a condição de
exclusão social na qual se encontram. Pode-se inferir, então, que as mulheres de
ambos os grupos possuem vulnerabilidades sociais que as colocam em situação
de pleno risco.
Faz-se necessário, então, considerar que as situações de desigualdade
econômica, social e cultural presentes no contexto de vida das mulheres de classes
populares geram consequências que se engendram dinamicamente (SOUZA;
TYRRELL, 2007).
Na medida em que esses processos sociais se constituem e se
interrelacionam, amplia-se o entendimento de que as escolhas para o auto cuidado
não são resultantes exclusivamente da vontade individual dessas mulheres, visto
que as mesmas são social e culturalmente definidas em diferentes contextos.
108
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
___________________________________________________________________
109
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As representões sociais apreendidas neste estudo permitiram identificar
aspectos subjetivos, da mulher no contexto da infecção pelo HIV/Aids, com destaque
para a apreensão de um ser biopsicossocial envolto por suas determinações
hisricas sociais e culturais.
A aids é representada como doença que maltrata, gera sofrimento e leva
à morte. Além disso, o convívio com a mesma é permeado de angústia, estigmas,
dificuldades socioeconômicas, rompimento dos vínculos afetivos, culpa e medo.
Apesar de tantas dificuldades, apreendeu-se também que, entre as
mulheres com diagnóstico de HIV/aids, ganhos como a aposentadoria e a
inseão em grupos das redes de apoio, onde se trabalha a valorização do indivíduo
independendo de sua condição de saúde, com ampliação do círculo social e
participação em atividades de lazer que antes não tinham acesso.
No que diz respeito à sexualidade, apreendemos como representação
social dor e sacrifício, sendo esse um aspecto da vida dessas mulheres que merece
ser encarado de forma aberta e sem preconceitos, levando a um cuidado efetivo e
eficaz, voltado para a escuta de suas angústias e anseios e para a compreensão de
que a estrutura social relega a um plano secundário, levando ao sofrimento e à
prática sexual desprotegida e insatisfatória.
Em decorncia do aumento do número de casos de HIV/aids em
idosos, observou-se a necessidade de estudar este novo contexto, com o intuito de
fornecer subsídios para avaliação do desempenho profissional no atendimento
prestado e para a elaboração de medidas efetivas visando a promover melhor
atendimento a essa população e seus familiares.
Com isso, observou-se que, os meios de comunicação social que utilizam
jovens nas campanhas de prevenção, impedem ao idoso a percepção de estar,
também ele, sob risco de contrair o vírus HIV, afastando-o assim dessa realidade.
Deve-se lembrar que o aumento da freqüência de práticas sexuais entre os idosos,
110
tendo em vista que os mesmos precisam ser reconhecidos como seres sexuados”,
deve estar associado a iniciativas de prevenção e de assistência às DST.
Destacamos a identificação de mulheres com diagnóstico de infecção pelo
HIV/aids que mantêm vida sexual ativa sem o uso de preservativos, usando como
explicações a recusa do parceiro em aceitar o preservativo por questões pessoais e
o medo de serem indagadas quanto ao motivo da exigência. Denota-se aí a forte
influência cultural que leva a mulher a submeter-se a práticas sexuais inseguras por
medo de serem questionadas em sua fidelidade ou por sentirem-se obrigadas a
revelar sua soropositividade e serem expostas ao preconceito e abandono.
Além disso, destaca-se a vulnerabilidade dessas mulheres, pois a
desigualdade de nero faz com que as mesmas se exponham cada vez mais ao
risco de aquisição de novas infecções e reinfecções com cepas de HIV resistentes,
bem como a possibilidade de manutenção da cadeia de transmissão do vírus.
Por outro lado, as mulheres sem diagnóstico responderam de forma
evasiva, sempre sinalizando que esse foi um aspecto de sua vida que passou,
muitas vezes deixando lembranças desagradáveis, sendo substituído pelas relações
nos grupos de convivência e por dedicação à família, que nem sempre responde de
forma a preencher esses vazios.
Vale salientar que entre as mulheres sem diagnóstico de HIV/aids
predomina a desinformação, pois as leva a sentirem-se invulneráveis à
contaminação com o vírus, tão somente por não manterem mais relações sexuais.
Apesar da desinformação, durante as entrevistas e após as mesmas,
aguardou-se que houvesse algum interesse em conhecer a doença, mas, nenhuma das
mulheres sem diagnóstico revelou a vontade ou curiosidade de aprofundar o tema,
levando a inferir-se que ainda trata-se de um tema desvinculado de sua realidade.
Torna-se indispensável, então, capacitar os profissionais de saúde que
prestam cuidados à esta população, em especial os enfermeiros, para que a
orientação quanto às DST/HIV/Aids aos idosos possa ser praticada em seus
atendimentos de forma efetiva e solucionadora, a fim de que as vulnerabilidades
apontadas neste estudo sejam atenuadas.
111
Sugere-se que no atendimento dos profissionais de saúde à população
em questão deve ser abordada a história sexual dos seus pacientes idosos,
questionando assuntos relacionados a questões sexuais, como a atividade sexual, o
número de parceiros, o uso de preservativo e história de DST; assim como,
hemotransfusões ou uso de drogas injetáveis, permitindo aos sujeitos a ampla
expressão de seus sentimentos.
Dessa forma, estudos que envolvam questões como infecção pelo HIV/aids
em pessoas maiores de 50 anos devem ser amplamente incentivados, visando
subsidiar o desenvolvimento de ações e programas de prevenção, justificados por
vários motivos, dentre eles, as mudanças nos hábitos sexuais que não foram
precedidas por incentivos à prevenção, em uma população que não se percebe
vulnevel - em particular a mulher que, histórica e culturalmente, se apresenta em
desvantagem relacionada às questões de gênero e a escassez de estudos que
mostrem os riscos e as vulnerabilidades a que estão expostos estes indivíduos.
112
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123
APÊNDICES
__________________________________________________
124
APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO
Questionário Nº. |___|___|___|
Dados Socioeconômicos e Demográficos
Idade (anos completos) ______ anos -
Escolaridade
(1) Nenhuma
(2) 1 a 3 anos
(3) 4 a 7 anos
(4) 8 ou mais anos
___
Quantas pessoas moram
com a senhora?
(1) 1 pessoa
(2) 2 pessoas
(3) 3 pessoas
(4) 4 pessoas
(5) 5 pessoas
(6) 6 pessoas ou mais
___
Quem são essas
pessoas?
_____________________________________________ -
Quantas dessas pessoas
trabalham?
(1) 1 pessoa
(2) 2 pessoas
(3) 3 pessoas
(4) 4 pessoas
(5) 5 pessoas
(6) 6 pessoas ou mais
___
Renda Mensal (1) Até 1 salário mínimo
(2) 1 a 3 salários mínimos
(3) 4 a 6 salários mínimos
(4) Mais de 7 salários mínimos
___
Quem mantém a casa? (1) Você
(2) Outro(a) Quem? ____________________________
-
Estado Civil
(1) Solteira
(2) Casada
(3) Divorciada
(4) União estável
(5) Outro Qual? __________________________
___
Religião (1) Católica
(2) Evangélica
(3) Outra _______________________________
(4) Nenhuma
___
Procedência (1) Fortaleza
(2) Interior (Cidade) ____________________________
(3) Outra Qual? __________________________
___
Profissão/Ocupação _______________________________________ -
125
APÊNDICE B – ROTEIRO DE ENTREVISTA
Roteiro de Entrevista
1. A senhora poderia descrever ou falar sobre sua vida atualmente?
2. Como a senhora se vê (ou se descreve) atualmente?
3. Como a senhora acha que as pessoas lhe vêem?
4. O que é sexualidade para a senhora?
5. E o que é sexualidade para as outras pessoas?
6. O que é aids para a senhora?
7. E o que é aids para as outras pessoas?
8. Como a senhora descreve sua sexualidade (sexo) atualmente?
9. Como era antes?
126
APÊNDICE C – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Prezada Senhora,
Meu nome é Solange Gurgel Alexandre, sou enfermeira e estou cursando Mestrado em
Cuidados Clínicos em Saúde na Universidade Estadual do Ceará- UECE. Estou realizando uma
pesquisa com o título Representações e vulnerabilidades de mulheres com 50 anos ou mais no
contexto da aids”, orientada pela Profa. Dra. Maria Lúcia Duarte Pereira, que tem como objetivos,
descrever as representações sociais sobre sexualidade e aids de mulheres com 50 anos ou mais
portadoras do HIV/aids, comparando-as com as representações de mulheres com 50 anos ou mais
que não têm diagnóstico de HIV/aids.
Para isso, lhe convidamos a participar desse estudo respondendo a um questionário e uma
entrevista com perguntas sobre a senhora, sua vida e sobre aids. Caso aceite, marcaremos uma
data, conforme seu tempo. Se concordar, gravaremos nossa conversa. Não haverá despesas para a
senhora e nós lhe asseguramos o acesso às informações relativas à referida pesquisa a qualquer
momento que desejar.
Informamos também que a duração da entrevista será de, aproximadamente, 30 (trinta)
minutos, realizada na sala 04 (quatro) do ambulatório do Hospital São José de Doenças Infecciosas e
na sala utilizada para as reuniões do grupo de convivência de idosos no Centro Social Aloísio
Ximenes.
A senhora tem a liberdade de retirar seu consentimento a qualquer momento, sem que isto
cause prejuízo algum. Informamos ainda que lhe será garantida a privacidade necessária para
participar da pesquisa e que o usaremos nenhuma informação que possa identificá-la, mantendo
sua identidade em completo sigilo.
Os benefícios desse estudo retornarão de forma direta ou indireta, na medida em que i
auxiliar na compreensão e prevenção sobre a questão da aids na população feminina de 50 anos ou
mais.
Caso precise entrar em contato conosco, informamos-lhe abaixo nossos nomes e endereços.
Pesquisadoras responsáveis:
Maria Lúcia Duarte Pereira
Endereço: Rua Paulo Morais, 175/1202 - Bairro Papicu, Fortaleza-Ceará.
Telefones: (85) 3265 4367 / 9673 2587 e-mail: mlduarte@fortalnet.com.br
Solange Gurgel Alexandre
Endereço: Av. Prof. José Arthur de Carvalho, 400/13 - Bairro Lagoa Redonda, Fortaleza-Ceará.
Telefones: (85) 3276 8214 / 8898 2091 e-mail: solange.gurgel@yahoo.com.br
Informamos ainda que, caso a senhora tenha alguma dúvida sobre a ética da pesquisa, pode
solicitar esclarecimentos ao Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital o Jo de Doenças
Infecciosas, diretamente na Rua Nestor Barbosa, 315, Bairro Papicu ou pelo telefone (85) 3452 7880.
CONSENTIMENTO PÓS-ESCLARECIDO
Tendo sido satisfatoriamente informada sobre a pesquisaRepresentações e vulnerabilidades
de mulheres com 50 anos ou mais no contexto da aids”, da enfermeira Solange Gurgel Alexandre,
com orientação da Profa. Dra. Maria Lúcia Duarte Pereira, concordo em participar da mesma. Estou
ciente que meu nome não será divulgado e que as pesquisadoras estarão disponíveis no endereço
referido, para responder a quaisquer perguntas. Estou ciente que posso retirar meu consentimento a
qualquer tempo, sem que isto me cause qualquer prejuízo.
Fortaleza, ____ de__________________de______.
_____________________________________
Assinatura do participante
_____________________________________
Assinatura do pesquisador
_____________________________________
Assinatura de testemunha
127
ANEXO
__________________________________________________
128
ANEXO A – PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP HSJ
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