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não pode se definir nem como identitário, nem como relacional, nem como histórico”
(AUGÈ, 1994, p. 73), ou seja, não é um lugar antropológico e, por isto, “não cria nem
identidade singular nem relação, mas sim solidão e similitude” (AUGÈ, 1994, p. 95).
Dessa forma, os não-lugares são espaços de passagem, do provisório, do efêmero e do
transitório e representam uma nova configuração social, característica de uma época que se
define pelo excesso de fatos, superabundância espacial e individualização das referências
(AUGÈ, 1994). Porém, não obstante as diferenças conceituais existentes entre o lugar e o
não-lugar, como todo elemento constituinte de uma realidade complexa, eles são
complementares e antagônicos, ou “polaridades fugidias: o primeiro nunca é
completamente apagado e o segundo nunca se realiza totalmente” (AUGÈ, 1994, p. 116).
Assim,
a realidade concreta do mundo de hoje, os lugares e os espaços, os
lugares e os não-lugares misturam-se, interpenetram-se. A possibilidade
do não-lugar nunca está ausente de qualquer lugar que seja. A volta ao
lugar é o recurso de quem freqüenta os não-lugares [...] lugares e não
lugares se opõem (ou se atraem), como as palavras e as noções que
permitem descrevê-las (AUGÈ, 1994, p. 98).
Numa supermodernidade
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produtora de não-lugares, que representa um mundo
“prometido à individualidade solitária, à passagem, ao provisório e ao efêmero” (AUGÈ,
1994, p. 74), quando estamos inseridos em todos os lugares do mundo globalizado, as
referências coletivas estão enfraquecidas e o individualismo exacerbado, o desafio da
comunicação é propiciar novas vivências em conjunto, promovendo a relação e o resgate
da identidade do indivíduo.
Consideramos que a pertinência deste tema reside no fato de ser relativamente novo
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São características da supermodernidade proposta por Augè (1994): a) a superabundância factual, onde a
aceleração da história em razão da velocidade da informação criou a necessidade de dar sentido ao presente; b) a
superabundância espacial, ou seja, o excesso de espaço trazido pelo encolhimento do mundo, devido à quebra das
noções de tempo e espaço, provocou a produção de não-lugares, através dos quais circulam pessoas e bens; c) a
individualização das referências, onde o indivíduo que se crê o centro do mundo se torna referência para as
informações a que tem acesso. Ainda de acordo com o autor, a supermodernidade encontra sua expressão completa
nos não-lugares e impõe “às consciências individuais novíssimas experiências e vivencias de solidão, diretamente
ligadas ao surgimento e à proliferação de não-lugares” (AUGÉ, 1994, p. 86). Assim, é a medida de uma época que,
em razão das novas tecnologias, deu lugar “a uma comunicação tão estranha que muitas vezes só põe o indivíduo
em contato com outra imagem de si mesmo” (AUGÉ, 1994, p. 74). De acordo com Binde (2008, p.1), Augè usa o
termo supermodernidade para se afastar do conceito de pós-modernidade, porque intenta dar a idéia de
continuidade. Nesta direção, considera que na modernidade atual podem ser observados mais fatores de aceleração
do que propriamente de ruptura, como muito se diz.