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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL
ANDRÉIA ARRUDA BARBOSA
A MEMÓRIA INSTITUCIONAL COMO POSSIBILIDADE DE COMUNICAÇÃO
ORGANIZACIONAL: O CASO EXÉRCITO BRASILEIRO
PORTO ALEGRE
2010
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1
ANDRÉIA ARRUDA BARBOSA
A MEMÓRIA INSTITUCIONAL COMO POSSIBILIDADE DE COMUNICAÇÃO
ORGANIZACIONAL: O CASO EXÉRCITO BRASILEIRO
Dissertação apresentada como requisito
para a obtenção do grau de Mestre pelo
Programa de Pós-Graduação da Faculdade
de Comunicação Social da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do
Sul.
Orientador: Profª Drª Cleusa Maria Andrade Scroferneker PUCRS
PORTO ALEGRE
2010
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1
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
B238m Barbosa, Andréia Arruda
A memória institucional como possibilidade de comunicação
organizacional: o caso Exército Brasileiro. / Andréia Arruda Barbosa.
Porto Alegre, 2010.
188 f.
Dissertação (Mestrado em Comunicação Social) Programa de Pós-
Graduação, Faculdade de Comunicação Social, PUCRS.
Orientadora: Profª Drª Cleusa Maria Andrade Scroferneker
1. Comunicação. 2. Comunicação Organizacional. 3. Cultura
Organizacional. 4. Memória Institucional. 5. Exército Brasil. I.
Scroferneker, Cleusa Maria Andrade. II. Título.
CDD 658.45
Bibliotecária Responsável
Anamaria Ferreira
CRB 10/1494
2
ANDRÉIA ARRUDA BARBOSA
A MEMÓRIA INSTITUCIONAL COMO POSSIBILIDADE DE COMUNICAÇÃO
ORGANIZACIONAL: O CASO EXÉRCITO BRASILEIRO
Dissertação apresentada como requisito
para a obtenção do grau de Mestre pelo
Programa de Pós-Graduação da Faculdade
de Comunicação Social da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do
Sul.
Aprovada em 02 de Março de 2010.
BANCA EXAMINADORA:
Profª Drª Cleusa Maria Andrade Scroferneker PUCRS
________________________________________________
Profª Drª Cláudia Peixoto de Moura PUCRS
________________________________________________
Profª Drª Ana Regina de Moraes Soster PUCRS
__________________________________________________
3
Dedico esta dissertação aos meus pais e ao
meu irmão, pessoas que sabem de onde eu
vim, contribuíram para eu me tornar quem
eu sou e torcem para que eu tome as
melhores decisões por onde eu for.
4
AGRADECIMENTOS
Ao meu Deus, sempre. Porque todas as minhas vitórias me são dadas por Ele.
Aos meus pais, Maria Rita e Josafá Barbosa, que por tantas vezes me auxiliaram no
decorrer desta construção acadêmica. Em todas idas e vindas, meu caminho tem sido mais
suave por causa de seu suporte emocional e logístico.
À Professora Doutora Cleusa Maria Andrade Scroferneker, que por caminhos
dialógicos me orientou nos primeiros passos da complexidade. Com uma postura sempre
aberta e uma generosidade desmedida ensinou-me que cada opção é uma possibilidade
infinita de olhares possíveis. Minha sincera gratidão a esta referência no campo da
Comunicação Organizacional.
Ao Professor Doutor Roberto Porto Simões, memória viva das Relações Públicas
no Brasil e meu primeiro orientador, por suas palavras tranquilas em meio à profusão de
novos conhecimentos no início do curso.
Ao Exército Brasileiro, em especial ao Centro de Comunicação Social do Exército,
a Diretoria de Patrimônio Histórico e Cultural do Exército e ao Comando Militar do Sul,
cujas práticas de memória pude observar e, assim, desenvolver minha dissertação.
Aos meus irmãos de missão, Coronel Aires, Tenente Coronel Candido, Capitão
Cristina Joras, Tenente Ana Rita, Tenente Quéli, Tenente Andréa Cogan e
Servidora Civil Elane, pela sensibilidade e profissionalismo com que desempenham seu
trabalho diário. Sua ajuda foi essencial para que eu pudesse desenvolver esta pesquisa.
Aos meus companheiros da Policlínica Militar de Porto Alegre, militares e civis,
que desde minha chegada nestas plagas gaúchas contribuíram, cada um a seu modo, para
me lugarizar.
Aos colegas e professores do PPGCOM PUCRS. Foi mesmo um privilégio ter
passado pelos bancos da Famecos e conhecer pessoas tão iluminadas.
5
Olhar para trás pode nos ajudar a inferir
o tipo de olhar com que deveremos
encarar nosso futuro.
Porque incorporamos novos
condicionamentos em nossa
percepção adquiridos no presente,
mas acumulamos também uma carga que
carregamos desde tempos imemoriais
(ROSA, 2006, p. 231).
6
RESUMO
As implicações do mundo pós-moderno estão repercutindo no ambiente
organizacional, cada vez mais (inter) dependente às variações e alterações no
relacionamento com os públicos. Essa complexa realidade de relações sociais e valores
efêmeros, em que os quadros de referência que davam certa estabilidade aos indivíduos no
mundo social estão abalados e os sujeitos parecem buscar sentido em tudo o que fazem,
confirma a necessidade de um (re) pensar sobre práticas de comunicação que ressaltem os
elementos não transitórios da Identidade Organizacional, estimulando o senso de
pertencimento e a partilha de significados. O presente trabalho se propôs a evidenciar a
Memória Institucional como possibilidade de Comunicação Organizacional para (re)
construir relacionamentos de valor com os públicos de interesse, utilizando como caso as
práticas de memória realizadas pelo Exército Brasileiro. Intencionou, também, discutir
sobre o lugar da Memória Institucional na organização, entender como esta compreende as
práticas que desenvolve e contribuir para o campo da Comunicação Organizacional, a
partir da sinalização da relevância da temática para essa área. Esta pesquisa exploratória
com abordagem qualitativa foi ancorada pelo Paradigma da Complexidade (MORIN, 1999;
2003; 2006; 2007; 2007b; 2008). Através das lentes dos princípios recursivo, dialógico e
hologramático, investigamos as práticas de memória realizadas pela organização e, como
um recorte aproximativo, de que forma esta temática se processa no Comando Militar do
Sul. Para tanto, as comemorações planejadas para o Bicentenário de Nascimento do
Marechal Osorio (1808-2008) se apresentaram como exemplo dessa dinâmica em âmbito
local. Na busca por essa compreensão, utilizamos como estratégia de ação o estudo de caso
e como instrumentos de coleta de dados, o levantamento bibliográfico, a análise
documental, o questionário semi-estruturado e a entrevista em profundidade. As
conclusões possíveis a que chegamos a respeito deste objeto, ratificam o caráter identitário
dessas práticas, bem como a profunda relação existente entre Comunicação
Organizacional, Cultura Organizacional e Memória Institucional.
Palavras-chave: Memória Institucional. Identidade. Comunicação Organizacional.
Cultura Organizacional.
7
ABSTRACT
The implications of the post-modern world have been increasingly affecting the
organizational environment which, in turn, is even more (inter) dependent of changes and
variations in the relationship with publics. The reference frames that once provided certain
stability are now unstable and the individuals in the social world seem to search for
meaning in everything day do. This complex reality of social relations and ephemeral
values reinforces the need to (re) think some communication practices that highlight the
non-transitory elements of Organizational Identity and, consequently, stimulate a sense of
belonging and sharing of meaning. This work aims at approaching the Institutional
Memory as a possibility of Organizational Communication to (re) build valuable
relationships with the target publics. Memory practices employed in the Brazilian Army
will be used as case study. It also intends to discuss the place of Institutional Memory in
order to understand how the Brazilian Army sees the practices it develops. This work is
also an attempt to contribute to the field of Organizational Communication since it
signalizes the relevance of this thematic in this field. This exploratory research, with
qualitative approach, was based on the Paradigm of Complexity (MORIN, 1999; 2006;
2007; 2007b; 2008). Through the lenses of recursive, dialogic, and hologramatic
principles, we investigated the place of memory practices conducted in the organization
and, as an approximative clipping, how this thematic is processed within the Southern
Military Command. The celebrations planned for Marshall Osorio`s Bicentenary (1808-
2008) were a good example of this dynamic in the local sphere. In the search for this
understanding, the case study was chosen as strategy of action. Bibliographic research,
documental analysis, semi-structured questionnaire, and in-depth interview were used as
data collection tools. The possible conclusions reached on the object of this study reveal
the identitary character of these practices and the existence of a deep relationship among
Organizational Communication, Organizational Culture and Institutional Memory.
Keywords: Institutional Memory. Identity. Organizational Communication.
Organizational Culture.
8
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Paradigma da complexidade: princípios ............................................................. 23
Figura 2 - (Inter) relação método e dimensões teóricas ....................................................... 27
Tabela 1 - Evolução do conceito de memória organizacional ............................................. 45
Tabela 2 - Tipos de acervos de documentação e memória .................................................. 49
Tabela 3 Pesquisa sobre Memória Institucional nas empresas brasileiras ....................... 50
Figura 3 - Relação circular que (re) liga .............................................................................. 53
Figura 4 - Comandos Militares de Área e Regiões Militares .............................................. 74
Figura 5 Sistema de Comunicação do Exército Brasileiro (SISCOMSEX) ..................... 85
Figura 6 - Sistema Cultural do Exército Brasileiro (SCEx) ................................................ 90
Tabela 4 - Tipos de Projeto de Memória ............................................................................. 92
Gráfico 1 - Centros de Memória/Espaços Culturais por Comando Militar de Área ........... 95
Figura 7 Fortes e Fortalezas abertos para visitação por Comando Militar de Área ......... 96
Figura 8 (Inter) Relação Sistemas de Comunicação e Cultura ....................................... 104
Gráfico 2 - Centros de Memória/Espaços Culturais do CMS ........................................... 114
Tabela 5 - Tipos de Projeto de Memória realizados nas comemorações do Bicentenário 120
9
LISTA DE SIGLAS
AHEx - Arquivo Histórico do Exército
BIBLIEX - Biblioteca do Exército
CCOMSEX - Centro de Comunicação Social do Exército
CDOEx - Centro de Documentação do Exército
CMA - Comando Militar de Área
CMS - Comando Militar do Sul
DAC - Diretoria de Assuntos Culturais
DAED - Diretoria de Assuntos Especiais, Educação Física e Desportos
DEP - Departamento de Ensino e Pesquisa
DEPEx - Departamento de Educação e Cultura do Exército
DPHCEx - Diretoria do Patrimônio Histórico e Cultural do Exército
FEB - Força Expedicionária Brasileira
FUNCEB - Fundação Cultural Exército Brasileiro
MHEx/FC - Museu Histórico do Exército
MMCMS - Museu Militar do Comando Militar do Sul
MNMSGM - Monumento Nacional aos Mortos da II Guerra Mundial
OM - Organização Militar
RM - Região Militar
SCEx - Sistema Cultural do Exército
SISCOMSEx - Sistema de Comunicação Social do Exército
10
SUMÁRIO
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS .......................................................................................... 11
2 AS OPÇÕES METODOLÓGICAS ................................................................................... 21
3 A PREMÊNCIA DA MEMÓRIA: PASSADOS PRESENTES ....................................... 32
3.1 ALGUNS ENFOQUES SOBRE MEMÓRIA .................................................................... 34
3.2 A MEMÓRIA NO CONTEXTO DAS ORGANIZAÇÕES .............................................. 43
3.3 MEMÓRIA E COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL ................................................. 55
3.3.1 A Identidade do Sujeito Pós-Moderno ........................................................................ 57
3.3.2 Identidade, Imagem e Reputação ................................................................................. 62
4 AS PRÁTICAS DE MEMÓRIA DO EXÉRCITO BRASILEIRO ................................. 72
4.1 “QUEM SOMOS ?” ........................................................................................................... 73
4.2 “DE ONDE VIEMOS?” ..................................................................................................... 79
4.3 “PARA ONDE VAMOS ?” ................................................................................................ 84
4.3.1 O Sistema de Comunicação do Exército ...................................................................... 84
4.3.2 O Sistema Cultural do Exército ................................................................................... 87
4.3.3 As Práticas de Memória do Exército Brasileiro ......................................................... 91
4.4 (INTER) RELAÇÕES ENTRE MEMÓRIA E COMUNICAÇÃO ........................... 100
4.5 RELAÇÕES PARTE X TODO: O COMANDO MILITAR DO SUL ............................ 105
4.5.1 As Práticas de Memória no Âmbito do Comando Militar do Sul ........................... 108
4.5.2 O Bicentenário de Osorio ............................................................................................ 117
4.6 EM BUSCA DE APORTES PRELIMINARES ............................................................... 121
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 127
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 133
APÊNDICES ......................................................................................................................... 145
ANEXOS ............................................................................................................................... 158
11
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Vivemos em um mundo pós-moderno
1
, caracterizado por acirrada competitividade
e constantes alterações nos campos político, econômico e social, que repercutem e causam
novas adequações no sistema globalizado
2
.
Embora a globalização não constitua um processo recente, o notável impulso no
desenvolvimento das tecnologias da informação e da comunicação observado nos últimos
anos, provocou a ruptura das noções de tempo e espaço e profundas mudanças nas relações
sociais, nas formas de ver, ouvir, sentir e se relacionar. De acordo com Drucker (1999), as
inúmeras transformações pelas quais o mundo passou no último século modificaram mais
as suas configurações, processos e estruturas neste período do que em qualquer outra época
da história humana.
Este cenário propiciou o surgimento de uma sociedade na qual a informação possui
caráter estratégico e exerce um papel preponderante sobre a vida dos indivíduos e a
dinâmica das organizações. Segundo Rosa (2006, p. 357), “a Nova Tecnologia não
determinou apenas o surgimento de uma Nova Economia. Introduziu também uma Nova
Visibilidade”.
No tocante aos indivíduos, podemos observar que as mudanças decorrentes dessa
nova realidade têm provocado uma ruptura em sua identidade, pois, de acordo com
Almeida (2006, p. 33), este “é um tempo de opções; de unicidade e pluralismo; de
combinação de tradição e inovações; de deslocamento dos indivíduos em relação aos seus
referenciais normativos; de carência de modelos identificatórios”.
Diante dessa complexa realidade de relações sociais e valores efêmeros, em que os
1
De acordo com Hall (2005), a pós-modernidade” ou “modernidade tardia” (grifo nosso), tem afetado os
sujeitos nas sociedades modernas a partir do final do século XX, cujas intensas transformações não mais permitem
embasamentos sólidos para a manutenção da idéia do sujeito moderno com uma identidade fixa, coerente e
integrada. Conforme observa Sanfelice (2003), a primeira abordagem filosófica desse termo foi introduzida por
Lyotard na obra A condição pós-moderna” (grifo nosso), de 1979, significando uma sociedade pós-industrial na
qual o conhecimento é a principal força econômica de produção e onde a ciência já não pode ter a pretensão de ser
a verdade em relação ao conhecimento comum.
2
Esse texto foi desenvolvido na pessoa do plural por considerarmos que nossa fala nunca é solitária, pois
conforme pondera Halbwachs (2006, p. 30), jamais estamos sós. Não é preciso que outros estejam presentes,
materialmente distintos de s, porque sempre levamos conosco e em certa quantidade de pessoas que não se
confundem”. Ainda, segundo Freitas (2000, p. 87), “somos ao mesmo tempo um individual e um coletivo, um
sozinho e uma multidão, um ninguém e um todo-mundo, que se apresenta e representa nas relações múltiplas do
cotidiano”. Face ao exposto é que optamos pela escrita no plural.
12
quadros de referência que davam certa estabilidade aos indivíduos no mundo social estão
abalados, os sujeitos parecem buscar sentido em tudo o que fazem. Tedesco (2004, p. 65,
grifo do autor) pondera que “a pós-modernidade defende a chamada destruição criadora
das identidades”, cujos princípios básicos são a redução da identidade à subjetividade, à
pluralidade e à transitoriedade”.
A busca pela identidade, coletiva ou individual, atribuída ou construída, tornou-se,
segundo Castells (2000, p. 23), a fonte básica de significado social neste mundo de fluxos
globais de riqueza, poder e imagens, em virtude da “ampla desestruturação das
organizações, deslegitimação das instituições, enfraquecimento de importantes
movimentos sociais e expressões culturais efêmeras”. Em contrapartida, os indivíduos têm
buscado novas formas de prática social, afirmativa compartilhada por Rabin (2005),
quando aponta que a busca pela identificação e pelo pertencimento parece ter se tornado
uma necessidade humana, pois todos anseiam sentir-se vinculados a algo, podendo usar
rótulos e referências.
Os reflexos desse processo são sentidos também no ambiente organizacional, que
exige reorganização constante. A comunicação se afirma, assim, como uma possibilidade
para a otimização de resultados neste contexto, pois “é exatamente no âmbito dessa nova
sociedade e de cenários mutantes e complexos que as organizações operam, lutam para se
manter e para cumprir sua missão e visão e para cultivar seus valores” (KUNSCH, 2006,
p. 35).
Dessa forma, torna-se essencial que as organizações se preocupem em utilizar a
comunicação de forma estratégica, buscando construir relacionamentos bilaterais
3
com
todos os seus públicos de interesse. Para Kotler (2000b, p. 624, grifo nosso), “um público
pode facilitar ou impedir a sua capacidade [das organizações] em atingir seus objetivos e
cumprir sua missão”.
Para construir relacionamentos efetivos com os stakeholders
4
, as organizações
3
Entendemos relacionamentos bilaterais como sendo resultado de comunicações bilaterais. De acordo com Freixo
(2006, p. 217), bilateral é o oposto de unilateral, significando que “a comunicação é de sentido único, do emissor
para o receptor”, característica de organizações que são chamadas a funcionar em situações de urgência, tais como
hospitais, serviços de proteção civil e as Forças Armadas. Embora esse autor aponte algumas vantagens neste tipo
de fluxo, ele propõe a busca pela bilateralidade, posto que vislumbra os receptores como negociadores de sentido,
seres não-passivos diante das mensagens.
4
A definição adotada neste estudo é a de Kunsch (1997), que conceitua stakeholders como os públicos estratégicos
de uma organização, ou seja, as pessoas ou grupos que estão lincados a ela em razão do interesse recíproco
existente entre ambas as partes. As denominações públicos de interesse e públicos estratégicos(grifo nosso)
também serão utilizadas como sinônimos de stakeholders.
13
precisam investir em ações que despertem nos sujeitos o sentimento de pertencimento,
tendo em vista que “um indivíduo que perde o sentido da relação com o próprio passado
perde também um elemento fundante de sua identidade, ou seja, a capacidade de perceber
sua própria continuidade, de se reconhecer como “mesmo” no decorrer do tempo”
(TEDESCO, 2004, p. 64, grifo do autor). Nassar (2007, p. 114) destaca que o sentimento
de pertença ou pertencimento é como
um turbilhão de lembranças do sujeito, estimulado pelo pesquisador, por
um objeto, por uma pergunta e pela possibilidade de uma narrativa
desvinculada de um objetivo prático, que traz um reencontro com um
passado feliz ou importante, ou com uma comunidade de destino.
Ainda de acordo com este autor, estimular a criação desse sentimento em âmbito
organizacional é essencial hoje, pois,
está posta como algo que diferencia e solidifica a relação dos públicos
com a organização. Em um mundo em que tudo é rapidamente banalizado
pela massificação, pela utilização cotidiana, pelo excesso de exposição,
uma diferenciação que nasce pela história de uma organização, é um
atributo que poucos têm (NASSAR, 2007, p. 186).
O senso de pertencimento e de proximidade pode ser conquistado através do
desenvolvimento de ações de comunicação permanentes e com enfoque no resgate e na
valorização da Memória Institucional. É através dessa temática que, na visão de Maricato
(2006), é possível tornar-se importante na vida das pessoas e fazer com que elas
experimentem” (grifo nosso) a organização.
Por Memória Institucional ou empresarial - Worcman (2004) entende como sendo
o uso que uma empresa
5
faz de sua própria história. Ainda de acordo com o pensamento
desta autora, trabalhar esse tema não é apenas promover uma reconstrução do passado da
instituição, mas pode constituir “um marco referencial a partir do qual as pessoas
redescobrem valores e experiências, reforçam vínculos presentes, criam empatia com a
trajetória da organização e podem refletir sobre as expectativas dos planos futuros”
(WORCMAN, 2004, p.23).
5
O termo “empresa” (grifo nosso) é utilizado por Worcman (2004) em seu texto, razão pela qual o empregamos
aqui.
14
Em um mundo marcado por constantes mudanças, modismos e instantaneidade, o
investimento em ações de memória institucional, que mostrem a confiabilidade e a
segurança da instituição, bem como os elementos de sua cultura e identidade, pode agregar
valor ao discurso organizacional. Ainda, pode contextualizar os atos de uma organização
ao longo de sua trajetória. Para Worcman (2004, p. 23),
se a memória na empresa for entendida como ferramenta de
comunicação, como agente catalisador no apoio a negócios, como fator
essencial de coesão do grupo e como elemento de responsabilidade social
e histórica, então poderemos afirmar que esta empresa, de fato, é capaz de
transformar em conhecimento útil a história e a experiência acumulada
em sua trajetória.
Acreditamos que Memória Institucional se apresenta não como uma ferramenta de
comunicação, pontual e estanque, mas como uma possibilidade de Comunicação
Organizacional para (re) construir relacionamentos de valor entre uma organização e seus
públicos de interesse. Partimos do pressuposto que as práticas de memória promovem o
processo de construção de significados e partilha do senso de pertencimento, lugarizando
(grifo nosso)
6
os indivíduos em um projeto maior de continuidade, de constância no tempo,
de sentido. Neste lugar, os sujeitos podem (re) descobrir sua identidade, seus pontos de
referência e construir vínculos sociais.
Sob a perspectiva de Augè (1994)
7
, lugar é o identitário, o relacional e o histórico,
ou seja, as referências que compõe a identidade individual e que marcam as relações dos
sujeitos com os outros. O autor parte da constatação que o ser humano precisa de pontos de
referência para não se perder numa sociedade caracterizada por alta individualização e
perda do vínculo social (AUGÈ,1994). Em contrapartida, o não-lugar
8
é “um espaço que
6
Entendemos lugarizar como promover o retorno do sujeito à sua identidade, onde este encontra sentido para suas
ações.
7
Santos (1994, p. 37) compreende lugar como o resultado “de uma solidariedade regulada ou organizacional”, ou
seja, um “encontro entre possibilidades latentes e oportunidades preexistentes ou criadas” (SANTOS, 1994, p. 44,
grifo do autor). Nesse sentido, é o lugar que permite aos indivíduos perceberem o mundo, posto que reúne
características de permanência, mesmo em meio à fluidez e à competitividade presente nos tempos atuais: “é pelo
lugar que revemos o Mundo e ajustamos nossa interpretação, pois, nele, o recôndito, o permanente, o real triunfam,
afinal, sobre o movimento, o passageiro, o imposto de fora” (SANTOS, 1994, p. 37). Contudo, optamos por
empregar a abordagem do antropólogo francês Augè (1994), por entendermos que está mais alinhada ao objeto em
estudo.
8
Segundo Augè (1994, p. 88), os não-lugares possuem duas realidades complementares, porém distintas: são
“espaços constituídos em relação a certos fins (transporte, trânsito, comércio, lazer) e a relação que os indivíduos
mantêm com esses espaços”.
15
não pode se definir nem como identitário, nem como relacional, nem como histórico”
(AUGÈ, 1994, p. 73), ou seja, não é um lugar antropológico e, por isto, “não cria nem
identidade singular nem relação, mas sim solidão e similitude” (AUGÈ, 1994, p. 95).
Dessa forma, os não-lugares são espaços de passagem, do provisório, do efêmero e do
transitório e representam uma nova configuração social, característica de uma época que se
define pelo excesso de fatos, superabundância espacial e individualização das referências
(AUGÈ, 1994). Porém, não obstante as diferenças conceituais existentes entre o lugar e o
não-lugar, como todo elemento constituinte de uma realidade complexa, eles são
complementares e antagônicos, ou “polaridades fugidias: o primeiro nunca é
completamente apagado e o segundo nunca se realiza totalmente” (AUGÈ, 1994, p. 116).
Assim,
a realidade concreta do mundo de hoje, os lugares e os espaços, os
lugares e os não-lugares misturam-se, interpenetram-se. A possibilidade
do não-lugar nunca está ausente de qualquer lugar que seja. A volta ao
lugar é o recurso de quem freqüenta os não-lugares [...] lugares e não
lugares se opõem (ou se atraem), como as palavras e as noções que
permitem descrevê-las (AUGÈ, 1994, p. 98).
Numa supermodernidade
9
produtora de não-lugares, que representa um mundo
“prometido à individualidade solitária, à passagem, ao provisório e ao efêmero” (AUGÈ,
1994, p. 74), quando estamos inseridos em todos os lugares do mundo globalizado, as
referências coletivas estão enfraquecidas e o individualismo exacerbado, o desafio da
comunicação é propiciar novas vivências em conjunto, promovendo a relação e o resgate
da identidade do indivíduo.
Consideramos que a pertinência deste tema reside no fato de ser relativamente novo
9
São características da supermodernidade proposta por Augè (1994): a) a superabundância factual, onde a
aceleração da história em razão da velocidade da informação criou a necessidade de dar sentido ao presente; b) a
superabundância espacial, ou seja, o excesso de espaço trazido pelo encolhimento do mundo, devido à quebra das
noções de tempo e espaço, provocou a produção de não-lugares, através dos quais circulam pessoas e bens; c) a
individualização das referências, onde o indivíduo que se crê o centro do mundo se torna referência para as
informações a que tem acesso. Ainda de acordo com o autor, a supermodernidade encontra sua expressão completa
nos não-lugares e impõe “às consciências individuais novíssimas experiências e vivencias de solidão, diretamente
ligadas ao surgimento e à proliferação de não-lugares” (AUGÉ, 1994, p. 86). Assim, é a medida de uma época que,
em razão das novas tecnologias, deu lugar “a uma comunicação tão estranha que muitas vezes põe o indivíduo
em contato com outra imagem de si mesmo” (AUGÉ, 1994, p. 74). De acordo com Binde (2008, p.1), Augè usa o
termo supermodernidade para se afastar do conceito de pós-modernidade, porque intenta dar a idéia de
continuidade. Nesta direção, considera que na modernidade atual podem ser observados mais fatores de aceleração
do que propriamente de ruptura, como muito se diz.
16
e por promover a reflexão acerca de valores duradouros, cada vez mais distantes da
realidade fugaz que parece ter abarcado as organizações e as relações no contexto atual.
O assunto foi abordado por Nassar
10
(2006) na sua tese de doutorado apresentada
na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Como parte desse
estudo, o autor desenvolveu uma pesquisa sobre projetos de história empresarial junto às
empresas brasileiras, com questões que buscavam responder, entre outros aspectos, qual o
papel reservado às práticas de memória empresarial nas empresas do país, seus objetivos e
motivações. Como resultados, o autor apontou que as áreas de História e Memória
Empresarial estão se estruturando no país, que representam uma tendência e uma
ampliação do campo de atuação dos profissionais de Comunicação. Como reflexões finais,
destacou que a análise do passado auxilia a projetar o futuro e as informações servem
como instrumento de inteligência competitiva
11
.
Estudar a temática da Memória Institucional pareceu-nos instigante desde o
princípio, sobretudo porque permite a reflexão acerca de valores duradouros diante da
efemeridade do contexto atual. Em uma sociedade onde a velocidade e o descarte
imperam, a solidez da trajetória de uma organização ao longo do tempo pode representar
uma possibilidade de (re) construir relacionamentos de valor com seus públicos de
interesse. Numa tentativa de compreender melhor essa temática, optamos por realizar um
estudo de caso, para que pudéssemos, por meio dele, aprofundar a compreensão e as
possibilidades de explicação e contribuição. Assim, a busca pela interlocução entre o
conhecimento produzido e a ação praticada nos motivou a buscar por meio de um caso
prático as respostas possíveis aos nossos questionamentos.
O tema do presente trabalho são as práticas de Memória Institucional realizadas
pelo Exército Brasileiro. A opção pela instituição
12
deu-se, sobretudo, a duas razões. A
10
Paulo Nassar é jornalista pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo/PUC-SP e doutor pela Escola de
Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo/ECA-USP, onde ministra a disciplina "Comunicação
Organizacional e Relações Públicas na Construção da Responsabilidade Histórica e no Resgate da Memória
Institucional das Organizações", com alunos de mestrado e doutorado.
11
Segundo Bueno (2009, p. 372), “inteligência competitiva abrange não apenas a coleta e a sistematização de
dados ou informações, que serão tornados conhecimentos, mas de uma autêntica e complexa gestão que inclui
monitoramento da concorrência, identificação dos pontos fracos e fortes das organizações, construções de cenários
articulados com estratégias e ações e a utilização de métodos e técnicas variados”.
12
Não obstante alguns autores delimitarem diferenças conceituais para as categorias Organização e Instituição,
como é o caso de Srour (1998), que destaca que as organizações são coletividades planejadas de forma deliberada,
com vida própria e dinâmica específica, especializadas na produção de um determinado bem ou serviço, ou realizar
um objetivo, e as instituições possuem acepções características, tais como estabilidade estrutural e respeitabilidade
social, e remetem “a um complexo consagrado de normas, estribado em valores arraigados e com longa duração no
tempo” (SROUR, 1998, p. 108), e que, sob esta ótica o Exército Brasileiro pode ser classificado como uma
instituição, neste estudo as duas definições serão tomadas como sendo sinônimas para facilitar o desenvolvimento
17
primeira delas, por esta possuir uma trajetória de mais de três séculos participando
ativamente de vários acontecimentos presentes na história e na memória do país. Em
segundo lugar, em função de nossa atuação na área de comunicação da organização, que
nos incentiva a crer que tal discussão poderá contribuir para a difusão de conhecimento
acerca do tema e para o desenvolvimento de ações futuras sob esta perspectiva. Além
disso, nossa pesquisa foi motivada por este ser um tema relativamente novo no âmbito da
Comunicação Organizacional e possibilitar uma ampliação do campo de atuação dos
profissionais de Comunicação (NASSAR, 2006).
Para uma melhor compreensão desta temática, as questões de pesquisa que se
apresentaram como relevantes para nossa reflexão foram,
a) Qual o lugar da Memória Institucional no Exército Brasileiro?
b) Como o Exército Brasileiro compreende suas práticas de Memória
Institucional?
c) A Memória Institucional pode constituir-se em uma possibilidade de
Comunicação Organizacional para (re) construir relacionamentos de valor com
os públicos de interesse do Exército Brasileiro?
d) Qual a relevância da Memória Institucional para a área da Comunicação
Organizacional?
Nessa direção, nos propomos a atingir os seguintes objetivos durante o
desenvolvimento deste estudo:
a) Discutir sobre o lugar da Memória Institucional no Exército Brasileiro.
b) Entender como o Exército Brasileiro compreende suas práticas de Memória
Institucional;
c) Evidenciar a Memória Institucional como possibilidade de Comunicação
Organizacional para (re) construir relacionamentos de valor com os públicos de
interesse do Exército Brasileiro.
do texto.
18
d) Contribuir para o campo da Comunicação Organizacional, a partir da
sinalização da relevância da Memória Institucional para esta área.
O método escolhido para ancorar esta reflexão é o Paradigma da Complexidade
desenvolvido por Morin (1999; 2003; 2006; 2007; 2007b; 2008), por entendermos que este
permite articular o diverso e o único, o antagônico e o complementar, aspectos
permanentes numa realidade complexa
13
, tal como a da organização, foco de nosso estudo
de caso. Por meio dele, podemos “transitar com alguma segurança pelos antagonismos e
contradições que marcam a comunicação das organizações e que demandam um pensar
complexo” (SCROFERNEKER, 2008, p. 16), uma vez que ele possibilita a (re) ligação e
motiva um pensar “capaz de reunir, contextualizar, globalizar, mas ao mesmo tempo, de
reconhecer o singular, o individual, concreto” (MORIN, 2003, p. 77), o que guarda relação
com a Memória Institucional tal como a concebemos neste estudo.
Os procedimentos metodológicos adotados aqui foram compreendidos como sendo
estratégias de ação, suportes para sustentar o contato com a realidade. Estratégias
proporcionam um senso de unidade e direção, contudo, de acordo com Wit e Meyer
(1998), não constituem um fim em si, mas os meios para atingir certos objetivos. Nesse
sentido, vários caminhos poderiam ser trilhados. Todavia, em razão deste estudo possuir
um caráter exploratório com abordagem qualitativa, optamos por realizar um estudo de
caso utilizando técnicas como pesquisa bibliográfica, análise documental, questionários
semi-estruturados e entrevista em profundidade. O estudo de caso, desenvolvido com base
em Yin (2001), foi escolhido, sobretudo, por ser uma estratégia em que predominam os
dados qualitativos e o documento produzido como relato ser útil tanto para contribuir com
a teoria como para o processo decisório.
No tocante à estrutura, nossa dissertação tem cinco capítulos. Este primeiro abrange
nossas considerações iniciais, a contextualização da temática da memória no ambiente
organizacional, bem como algumas características do objeto e da organização escolhida
para desenvolvermos o estudo de caso. As questões de pesquisa, os objetivos que
intencionamos alcançar, e os procedimentos metodológicos que optamos por utilizar ao
longo de nosso percurso também são evidenciados neste momento.
O método, a metodologia e as estratégias escolhidas para desenvolvermos nossa
13
Morin (2006, p. 13) conceitua a complexidade como um tecido, que possui partes heterogêneas, mas
indissociáveis, que são ao mesmo tempo únicas e múltiplas, ou seja, como “o tecido de acontecimentos, ações,
interações, retroações, determinações, acasos, que constituem nosso mundo fenomênico”.
19
reflexão são detalhados no segundo capítulo. O Paradigma da Complexidade e os seus três
princípios basilares - recursivo, dialógico e holográmatico - nos permitiram enxergar que
as contradições existentes na organização foco de nosso estudo, bem como nas práticas de
memória que realiza não são excludentes, mas sim reforçadoras da Cultura Organizacional.
Suas características, bem como os procedimentos metodológicos adotados nessa
construção científica são apresentadas nesse momento. As proposições de Moreira (2005),
sobre análise documental, de Marconi e Lakatos (2009), a respeito de questionário, e de
Duarte (2005), no tocante à entrevista em profundidade, ampararam o processo de
elaboração dos instrumentos de coleta de dados.
Durante o levantamento bibliográfico realizado no terceiro capítulo desta pesquisa,
enfocamos algumas perspectivas sobre a temática da memória, inclusive sua evolução no
contexto organizacional e a intrínseca relação entre comunicação, cultura, identidade,
imagem e reputação. Desse modo, a leitura de autores como Bergson (2006), Halbwachs
(2006), Pollak (1992), Maricato (2006), Nassar (2004; 2006; 2007), Worcman (2004), e
Totini e Gagete (2004) permeou nosso estudo.
O estudo de caso foi realizado no quarto capítulo, onde, a partir das questões
Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? (grifo nosso), as grandes
interrogações propostas por Morin (2007) como sendo reveladoras das dimensões
psicológicas, sociais e históricas dos sujeitos, enfocamos a organização Exército Brasileiro.
Nesse momento abordamos sua estrutura, história e características de seus Sistemas de
Comunicação e Cultura, além das práticas de memória que desenvolve. Visando a
apreender outros aspectos relacionados à temática, enviamos por email dois questionários
semi-estruturados aos órgãos responsáveis, respectivamente, pela comunicação
14
e pela
memória
15
da Instituição.
Consideramos relevante ressaltar que este estudo teve uma construção recursiva,
pois ao longo do caminho foi sendo construído e (re) construído. Assim, acatamos as
sugestões da Banca de Qualificação desta pesquisa que sugeriu enriquecê-la com o enfoque
de práticas de memória realizadas em nível local, devido à maior proximidade do
pesquisador com o objeto. Para dar conta dessa necessidade, buscamos o Comando Militar
do Sul (CMS), com sede em Porto Alegre (RS), onde realizamos uma entrevista em
profundidade com um representante da Seção de Comunicação Social, além de várias
14
Centro de Comunicação Social do Exército (CCOMSEX).
15
Diretoria do Patrimônio Histórico e Cultural do Exército (DPHCEx).
20
visitas in loco no Museu Militar do Comando Militar do Sul, seção apêndice que coordena
vários projetos com esse caráter. Dessa forma, pudemos revelar como projetos de memória
são desenvolvidos por um Comando Militar de Área (CMA), integrante do Sistema
Cultural do Exército (SCEx). Para exemplificar essa dinâmica, recorremos às
comemorações alusivas ao Bicentenário de Osorio, realizadas em 2008, face à relevância
desse patrono para a Instituição, face, também, ao caráter de resgate histórico dessa série
de eventos e à repercussão gerada na mídia local. Ao final do capítulo quatro encontra-se a
análise, realizada sob a lente dos princípios recursivo, dialógico e hologramático.
A última parte desta pesquisa, as considerações finais, abrange as conclusões
possíveis em relação ao objeto. Como na relação circular que segue uma lógica recursiva
proposta por Morin (2007b)
16
, esse capítulo representa uma volta ao passado, no sentido de
rememorar os conceitos que nos guiaram durante todo o percurso, um aporte no presente,
evidenciando os principais elementos e aspectos identificados no estudo de caso, e um
olhar para o futuro, onde a Memória Institucional pode representar uma possibilidade de
Comunicação Organizacional para (re) construir relacionamentos de valor entre as
organizações e seus públicos de interesse.
16
Sob esta ótica, o passado, o presente e o futuro das organizações estão inseridos numa relação circular que segue
uma lógica recursiva (MORIN, 2007b).
21
2 AS OPÇÕES METODOLÓGICAS
Um objeto que iluminamos dos dois lados e com duas luzes nos
desvenda mais detalhes e se impõe mais à nossa atenção
(HALBWACHS, 2006, p. 49).
As organizações atuais desenvolvem suas atividades em um ambiente complexo,
permeado por ações e interações contínuas que produzem novas ações e reações, obrigando
que aquelas se (re) inventem para atingir seus objetivos globais/regionais/locais e
acompanhar os processos de mudança. Desse modo, uma visão isolada e fragmentada
dificulta a compreensão dos fenômenos produzidos neste contexto, onde “ordem, desordem
e organização devem ser pensadas juntas” (MORIN, 2007, p. 50).
Em virtude da organização foco deste estudo ser, dialogicamente
17
, amparada em
princípios não discutíveis como hierarquia e disciplina, mas, ao mesmo tempo, precisar
dialogar com a sociedade, cada vez mais informada e consciente dos seus direitos, o
Paradigma da Complexidade desenvolvido por Morin (1999; 2003; 2006; 2007; 2007b;
2008) foi o método escolhido para ancorar esta reflexão. De acordo com Morin (2006, p.
83), esse pensamento se apresenta como uma possibilidade, uma vez que “não resolve por
si os problemas, mas se constitui numa ajuda à estratégia que pode resolvê-los”, mas
motiva um pensar contextualizado, hábil para globalizar e ao mesmo tempo “reconhecer o
singular, o individual, o concreto” (MORIN, 2003, p. 77).
Entendemos que estes pressupostos paradigmáticos são essenciais em uma pesquisa
que lida essa dialógica, pois, consideram como não-excludentes aspectos contraditórios,
mas inerentes em um mundo com alto grau de incerteza. Consideramos relevante ressaltar
que esta é uma opção de compreensão, que fazemos neste momento e contexto, uma vez
que as escolhas são transitórias. Nesta direção, Minayo (2008), assinala que:
Nenhuma teoria, por mais bem elaborada que seja, conta de explicar
ou interpretar todos os fenômenos e processos. Por vários motivos.
Primeiro porque a realidade não é transparente e é sempre mais rica e
mais complexa do que nosso limitado olhar e nosso limitado saber.
17
Entendemos aqui a dialógica segundo Morin (2008, p.95), quando indica que esta nos permite unir “dois
princípios ou noções que deviam excluir-se reciprocamente, mas são indissociáveis em uma mesma realidade”.
22
Segundo, porque a eficácia da prática científica se estabelece, não por
perguntar sobre tudo, e, sim, quando recorta determinado aspecto
significativo da realidade, o observa, e, a partir dele, busca suas
interconexões sistemáticas com o contexto e com a realidade (MINAYO,
2008, p.17).
Morin (2008) propõe a substituição de um paradigma da simplificação
essencialmente cartesiano por um paradigma da complexidade. Ele observa que o primeiro
atrofia as possibilidades de um pensar contextualizado, onde exista abertura para as várias
possibilidades de compreensão e de reflexão, posto que é separado, insuficiente e
mutilante. Deste modo, pensar por essa ótica simplificadora pode prejudicar a capacidade
de um julgamento corretivo e impedir a visão de longo prazo.
Por outro lado, o autor sinaliza que a compreensão dos fenômenos atuais com todos
os aspectos que a realidade complexa pressupõe, requer pensar sob um paradigma da
complexidade, pois ele é ligado, transdisciplinar, multirreferencial e capaz de conceber
noções simultaneamente complementares e antagônicas, que ao mesmo tempo separam e
associam, contextualizando os processos e contribuindo para que estes adquiram sentido.
Ele destaca, ainda, que esse método concebe a relação de inseparabilidade e as inter-
retroações entre o local e o global, o fenômeno e o seu contexto, [...] capta as inter-
relações, as implicações mútuas, os fenômenos multidimensionais, as realidades solidárias
e ao mesmo tempo conflitivas(MORIN, 2007, p. 21). Ou seja, o pensamento complexo é
organizador e respeita a diversidade e a unidade, pois considera a relação recíproca entre
todas as partes” (MORIN, 2007).
Esse paradigma busca promover a (re) ligação, posto que aproxima “o que até o
presente era concebido de forma disjunta e, por vezes, repulsiva” (MORIN, 2007, p. 65).
Essa (re) ligação somente é possível através de uma (re) aprendizagem do pensamento, que
pressupõe a ação de alguns princípios, complementares e interdependentes. Em nossa
reflexão, recorremos às lentes dos princípios recursivo, dialógico e hologramático,
considerados pelo autor como sendo a base do pensamento complexo (Figura 1), por
acreditar que são essenciais para a compreensão da dinâmica das organizações.
O princípio recursivo ou autoprodutivo propõe a quebra da causalidade linear, pois
“implica um processo no qual efeitos e produtos são necessários à sua produção e à sua
própria causação” (MORIN, 2006, p. 66), ou seja, um processo cujos produtos são
imprescindíveis para a própria produção do processo. O autor compara a idéia de
23
recursividade ao processo do turbilhão, onde cada movimento é ao mesmo tempo, produto
e produtor. Do mesmo modo, sob a lógica recursiva, os produtos e os efeitos de um
processo são, ao mesmo tempo, causas/produtos e causadores/produtores daquilo que os
produz (MORIN, 2006). Assim, a recursividade propõe uma ruptura com as idéias de
causa/efeito, produto/produtor, estrutura/superestrutura, uma vez que “tudo o que é
produzido volta-se sobre o que o produz num ciclo ele mesmo autoconstitutivo, auto-
organizador e autoprodutor” (MORIN, 2006, p. 74).
Figura 1 - Paradigma da complexidade: princípios
Fonte: Elaborado pela autora a partir da compreensão dos três princípios do Paradigma
da Complexidade enfocados neste estudo.
Essa realidade pode ser observada na sociedade e nas organizações. De acordo com
Morin (2006, p.74), “a sociedade é produzida pelas interações entre os indivíduos, mas a
sociedade, uma vez produzida, retroage sobre os indivíduos e os produz”. Fazendo uma
analogia com o ambiente organizacional, assim como os processos, discursos e formas de
atuação das organizações repercutem entre os seus públicos de interesse, os produtos
gerados retornam para as organizações, seja em forma positiva ou negativa, dependendo do
que foi repercutido. Assim, “uma ordem organizacional (turbilhão) pode nascer a partir de
um processo que produz desordem (turbulência)” (MORIN, 2006, p. 62).
Neste caminho, Baldissera (2009) posiciona as organizações atuais, quando observa
que:
a) são resultados provisórios (mudam permanentemente) da interação dos
diferentes sujeitos-força (cada um dos indivíduos que compõem a
Paradigma da Complexidade
Princípio
Dialógico
Princípio
Recursivo
Princípio
Hologramático
24
organização ou que, de alguma forma, a ela se articulam), mesmo quando
da sua concepção/criação); b) ecossistemicamente tensionadas sofrem
influências diversas, seja do entorno cultural, social, ecológico e/ou
político, entre outros; c) ao mesmo tempo em que são (re) tecidas,
também são agentes na tessitura do entorno ecossistêmico, bem como dos
sujeitos-força que nela/ com ela interagem (BALDISSERA, 2009, p.
144).
O princípio dialógico consiste em unir verdades aparentemente contraditórias,
juntando “princípios, idéias e noções que parecem opor-se uns aos outros” (MORIN, 2007,
p. 66). A lógica dialógica permite que se assuma de forma racional a inseparabilidade de
noções contraditórias na busca pela compreensão de um fenômeno complexo
18
(MORIN,
2008, p. 96). O autor observa que a abrangência da complexidade da relação entre
ordem/desordem/organização
19
, fica evidente “quando se constata empiricamente que
fenômenos desordenados são necessários em certas condições, em certos casos, para a
produção de fenômenos organizados, os quais contribuem para o crescimento da ordem
(MORIN, 2006, p. 63). Sob essa perspectiva, o que é antagônico também pode ser
complementar, o que é múltiplo também pode ser único, ou seja, “permite manter a
dualidade no seio da unidade” (MORIN, 2006, p. 74).
Compreender a dinâmica organizacional sob a ótica desse princípio é essencial para
enxergar os processos, pois as organizações são complexas. De acordo com Morin (2006,
p. 89), a relação ordem/desordem é uma necessidade nas organizações, pois “num universo
onde os sistemas sofrem incremento da desordem e tendem a se desintegrar, sua
organização permite refrear, captar e utilizar a desordem”. Desse modo, torna-se essencial
que as organizações estejam constantemente refletindo sobre novas posturas e formas de
ação. A noção de dialogismo é basilar para a abertura das organizações rumo a um novo
pensar, pois conforme aponta Baldissera (2009, p. 143):
Na medida em que a comunicação se qualifica como dialógica, apresenta-
se como lugar e meio para que os sujeitos possam se realizar como
diversidade, atualizando suas idéias, seus pensamentos, suas concepções
e/ou suas diferenças sem que uns se sobreponham aos outros.
18
Complexo, segundo o sentido original do termo complexus, é “o que está tecido em conjunto” (MORIN, 2007,
p.18).
19
Morin (2006, p. 89) conceitua ordem como “tudo o que é repetição, constância, invariância, tudo o que pode ser
posto sob a égide de uma relação altamente provável, enquadrado sob a dependência de uma lei” e desordem como
“tudo o que é irregularidade, desvios com relação a uma estrutura dada, acaso, imprevisibilidade”.
25
O terceiro princípio faz alusão ao holograma, onde um ponto contém a quase
totalidade da informação da figura representada. Assim, o princípio hologramático busca
romper com os esquemas simplificantes, uma vez que propõe ir além do reducionismo que
enxerga as partes, e do holismo que percebe o todo. De acordo com esse enfoque,
“não apenas a parte está no todo mas o todo está na parte” (MORIN, 2007, p. 67). Isso
implica dizer que muitas características do todo se fazem presentes nas partes, assim como
as das partes se refletem no todo, mas não somente estas, pois:
Na lógica recursiva, sabe-se muito bem que o adquirido no conhecimento
das partes volta-se sobre o todo. O que se aprende sobre as qualidades
emergentes do todo, tudo que não existe sem organização, volta-se sobre
as partes. Então pode-se enriquecer o conhecimento das partes pelo todo
e do todo pelas partes, num mesmo movimento produtor de
conhecimentos (MORIN, 2006, p.75).
Sob essa perspectiva, é essencial compreender que tudo na relação parte-todo
pressupõe uma ligação material, recebendo e transferindo influência, pois, de acordo com
Morin (2007, p. 22), “torna-se impossível conceber as partes sem conceber o todo e
tampouco o todo sem conceber as partes”. Assim, a sociedade pode ser compreendida
como um todo que está presente no interior de cada um dos indivíduos que a constituem,
porque estes são portadores de sua linguagem, códigos e cultura.
Nas organizações, esse princípio permite enxergar que todas as alterações que
ocorrem no todo repercutem de alguma maneira sobre as partes e, da mesma forma, o que
acontece nas partes provocará reações no todo. Isto requer monitoramento e reavaliações
constantes, no sentido de:
Procurar sempre as relações e inter-retro-ações entre cada fenômeno e seu
contexto, as relações de reciprocidade todo/partes: como uma
modificação local repercute sobre o todo e como uma modificação do
todo repercute sobre as partes. Trata-se, ao mesmo tempo, de reconhecer,
a unidade dentro do diverso, o diverso dentro da unidade (MORIN, 2008,
p. 25).
Os três princípios aqui enfocados se complementam e são essenciais para a
compreensão da dinâmica das organizações e da instituição foco de nosso estudo de caso,
26
pois segundo indica Morin (2006, p. 75) “a própria idéia hologramática está ligada á idéia
recursiva, que está ligada, em parte, à idéia dialógica”. Torna-se relevante destacar que
esses princípios permearam todo o trabalho, desde a parte introdutória até a fase de
construção da análise, em um movimento recursivo de novas escolhas e decisões ao longo
do percurso.
Na tentativa de responder às questões levantadas e alcançar os objetivos propostos
para este estudo, optamos por um caminho reflexivo e empírico no tocante à metodologia
utilizada e aos instrumentos de coleta de dados.
Morin (1999) faz uma distinção entre Método e Metodologia. Para ele, método é
uma ajuda à estratégia que contém metodologias. Estas por sua vez são guias que
programam as pesquisas:
As metodologias são guias a priori que programam as pesquisas,
enquanto que o método derivado do nosso percurso será uma ajuda à
estratégia (a qual compreenderá utilmente, certo, segmentos
programados, isto é, “metodologias”, mas comporta necessariamente
descoberta e inovação (MORIN, 1999, p. 39, grifo do autor).
Ainda segundo o autor, o objetivo do método é “ajudar a pensar por si mesmo para
responder ao desafio da complexidade dos problemas” (MORIN, 1999, p. 39), porque ele
nos faz perceber o problema e nos fundamenta na busca pelas respostas. Desse modo, ele
se (auto) produziu face à necessidade de r em diálogo os conhecimentos dispersos para
desembocar num conhecimento do conhecimento e a necessidade de superar alternativas e
concepções mutiladoras (que separam ou unificam abusivamente) (MORIN, 1999, p. 41,
grifo do autor).
Os procedimentos metodológicos adotados nesta dissertação foram compreendidos
como sendo estratégias de ação, suportes para sustentar o contato com a realidade. Nesse
sentido, vários caminhos poderiam ser trilhados, mas em razão deste estudo possuir um
caráter exploratório com abordagem qualitativa, optamos por realizar um estudo de caso,
utilizando técnicas como levantamento bibliográfico, análise documental, questionários
semi-estruturados e entrevista em profundidade. Ressaltamos que nossas escolhas
intencionaram explorar e descrever uma situação real que evidencia a Memória
Institucional como uma possibilidade Comunicação Organizacional.
Na visão de Moreira e Callefe (2006, p. 73), a abordagem qualitativa, aquela que
27
“explora as características dos indivíduos e cenários que não podem ser facilmente
descritos numericamente”, deve ser utilizada quando se pretende saber qual a percepção, o
significado, o processo, o percurso, a trajetória ou as práticas utilizadas em determinado
caso.
Minayo (2008) salienta o caráter não definitivo das respostas encontradas durante o
processo de trabalho da pesquisa qualitativa. De acordo com essa autora, é essencial aceitar
a transitoriedade dos fenômenos complexos, ou seja, o produto da pesquisa tem começo,
meio e fim, mas, ao mesmo tempo é transitório. Dessa forma, a provisoriedade é intrínseca
aos processos sociais, com reflexos nas “construções teóricas” (MINAYO, 2008, p. 27).
Por tudo isso, “o ciclo da pesquisa qualitativa não se fecha, pois toda pesquisa produz
conhecimento e gera indagações novas” (MINAYO, 2008, p. 27).
A estratégia do estudo de caso nos pareceu a mais indicada para realizar esta
investigação porque, segundo Yin (2001, p.32), é um estudo empírico que “investiga um
fenômeno contemporâneo dentro do seu contexto da vida real, especialmente quando os
limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos”, e no qual são
utilizadas várias fontes de referência.
O levantamento bibliográfico sobre a temática da memória procurou evidenciar a
(inter) relação das dimensões teóricas que se imbricam em nosso estudo, e em um circuito
recursivo permanente: Memória Institucional, Comunicação e Cultura Organizacional
(Figura 2). Apesar de constituir a primeira fase, esta fundamentação teórica se estendeu
durante todo o processo de construção científica.
Figura 2 - (Inter) relação método e dimensões teóricas
Fonte: Elaborado pela autora a partir da compreensão das dimensões teóricas
Paradigma da Complexidade
Memória
Institucional
Comunicação
Organizacional
Cultura
Organizacional
Imagem
Identidade
Reputação
28
Tais universos foram abordados com o intuito de perceber seus principais aspectos
e as (inter) relações que guardam entre si e com o objeto de estudo enfocado aqui. Desta
forma, para compreender a primeira dimensão, Memória Institucional, recorremos aos
conceitos de Memória Individual (BERGSON, 2006), Memória Coletiva (HALBWACHS,
2006) e Memória Social (POLLAK, 1992). Trazendo a discussão para o contexto das
organizações, enfocamos a evolução das práticas e o contexto histórico de sua inserção no
Brasil, através do enfoque de autores como Nassar (2004; 2006; 2007; 2008), Worcman
(2004), Totini e Gagete (2004), e Maricato (2006). A segunda e a terceira dimensões,
Comunicação e Cultura Organizacionais foram examinadas em um mesmo momento, dado
o seu vínculo. Nesse sentido, os conceitos de sujeito, identidade, imagem e reputação,
foram explorados porque são intrínsecos às práticas de memória.
O referencial teórico subsidiou a pesquisa empírica, que foi desenvolvida com base
nas proposições de Moreira (2005) sobre análise documental, de Marconi e Lakatos (2009)
a respeito de questionário e de Duarte (2005) no tocante à entrevista em profundidade.
A análise documental nos possibilitou compreender as nuances que cercam o
objeto, levantando informações e subsídios que possibilitassem a construção dos
questionários e da entrevista em profundidade, outros instrumentos de coleta de
informações. Realizada a partir de fontes primárias e secundárias, ela “constitui importante
fio condutor para a memória dos eventos, pessoas e contextos” (MOREIRA, 2005, p. 272).
Moreira (2005) elenca os principais tipos de fontes primárias que podem ser
empregadas na análise documental: escritos pessoais, as cartas particulares, os documentos
oficiais, textos legais e documentos internos das organizações, e empresas e instituições.
Como fontes secundárias, ela aponta os dados ou informações reunidas ou organizadas:
mídia impressa (jornais, revistas, boletins, almanaques, catálogos) e a eletrônica (gravações
magnéticas de som e deo, gravações digitais de áudio e imagem) e relatórios técnicos
(MOREIRA, 2005).
Assim, empregamos a análise documental neste estudo com o propósito de gerar
um levantamento das práticas de memória que o Exército Brasileiro realiza atualmente.
Para isso utilizamos, sobretudo, fontes secundárias, tais como as informações e os
documentos disponíveis nas páginas eletrônicas do Exército, do Departamento de
Educação e Cultura do Exército, do Departamento Histórico e Cultural do Exército, do
Arquivo Histórico do Exército, da Biblioteca do Exército, do Monumento Nacional dos
Mortos da Segunda Guerra Mundial, da Fundação Cultural do Exército, bem como de
29
outras páginas eletrônicas de Organizações Militares. Também, fizemos uso de materiais
impressos ou disponíveis em formato eletrônico, tais como a Revista Verde-Oliva, Revista
Recrutinha, Normas e Legislações Culturais e a Coletânea da Legislação Cultural
publicada pela Diretoria de Assuntos Culturais do Exército
20
.
A partir dos dados obtidos com a análise documental, produzimos dois
questionários semi-estruturados com a intenção de perceber outros enfoques relacionados à
temática, e os enviamos aos órgãos responsáveis, respectivamente, pela comunicação e
pela memória da Instituição. Segundo Marconi e Lakatos (2009, p. 203), esse instrumento
de coleta de dados possui como vantagem, além de abranger uma área geográfica mais
ampla, obter grande número de dados sem a presença do entrevistador.
O primeiro questionário, constituído por perguntas abertas e de múltipla escolha,
foi enviado por email ao Centro de Comunicação Social do Exército visando entender de
que forma a Memória Institucional é compreendida pelo órgão de assessoramento
responsável pela comunicação e a imagem da organização (Apêndice A). O segundo,
composto por perguntas abertas, fechadas e de múltipla escolha, foi remetido, também por
email, à Diretoria do Patrimônio Histórico e Cultural do Exército Brasileiro, com a
intenção de perceber como o órgão responsável pela memória da instituição compreende
alguns aspectos relacionados a esta temática (Apêndice B). Optamos por enviá-los por
correio eletrônico tendo em vista a agilidade e a possibilidade de cobrir amplas extensões
geográficas deste meio, uma vez que o CCOMSEX está sediado em Brasília e a DPHCEx,
no Rio de Janeiro (RJ).
Consideramos relevante destacar que as estratégias de ação que nos possibilitaram
atingir os objetivos propostos para esta dissertação foram sendo adequadas ao longo do
trabalho de campo, em razão da vivência com o objeto e face aos inesperados. Assim, para
dar conta das sugestões propostas pela Banca de Qualificação deste estudo, que sugeriu
enriquecê-lo com o enfoque de práticas de memória realizadas em nível local, devido à
maior proximidade do pesquisador com o objeto, buscamos compreender como projetos
com esse caráter são desenvolvidos no âmbito do Comando Militar do Sul (CMS),
localizado em Porto Alegre (RS).
20
As normas e legislações culturais, bem como a Coletânea da Legislação Cultural estão disponíveis em formato
eletrônico no site da Diretoria de Patrimônio Histórico e Cultural do Exército. COLETÂNEA da legislação
cultural: Exército Brasileiro; Departamento de Ensino e Pesquisa; Diretoria de assuntos culturais, p. 12. Disponível
em: <http://www.dphcex.ensino.eb.br/ligislacao/Coletanea%20Legislacao%20Cultural.pdf>. Acesso em: 03 Nov
2009.
30
Para atingir esse objetivo, realizamos uma entrevista em profundidade com um
representante da Seção de Comunicação Social do CMS (Apêndices C e H), além de
visitas in loco no Museu Militar do Comando Militar do Sul (MMCMS), seção vinculada
que coordena vários projetos com essa temática. Também empregamos análise documental
com a intenção de distinguir quais as práticas de memória realizadas na esfera do CMS e
de que maneira as diretrizes oriundas da DPHCEx são operacionalizadas ali.
Fizemos uso da entrevista em profundidade por se constituir, conforme Duarte
(2005, p. 64), de uma “técnica dinâmica, flexível, útil para apreensão de uma realidade [...]
[e] para descrição de processos complexos”. Esse recurso metodológico permite “recolher
respostas a partir da experiência subjetiva de uma fonte, selecionada por deter informações
que se deseja conhecer” (DUARTE, 2005, p. 62). Para isso, o respondente foi escolhido
por possuir envolvimento com o assunto, disponibilidade e disposição em falar, critérios
relacionados por Duarte (2005) como sendo essenciais para a realização desse tipo de
técnica. A entrevista semi-aberta foi realizada a partir de um roteiro-base, com “questões-
guia que dão cobertura ao interesse da pesquisa (DUARTE, 2005, p. 66). Após a
transcrição e análise do material gravado, extraímos os trechos que evidenciavam aspectos
pertinentes ao nosso estudo e os trouxemos para esta reflexão, no capítulo 4.
No transcorrer da visitação ao CMS e ao MMCMS, o tema “Bicentenário de Osorio
(1808-2008)” (grifo nosso) surgiu como um exemplo pertinente para demonstrar como a
organização operacionaliza seus projetos de memória. Devido à relevância desse patrono
para a Instituição e à repercussão gerada na mídia local a respeito dessa série de eventos
realizados em 2008, levantamos dados que pudessem nos auxiliar nessa compreensão.
Outrossim, recorremos às matérias alusivas a estas comemorações publicadas no
informativo Correio Militar do Sul, um veículo de comunicação produzido pela Seção de
Comunicação Social do Comando Militar do Sul, e às 35 matérias publicadas nos
periódicos locais, no período de 07 de março à 12 de maio de 2008 (Apêndice G). O DVD
Bicentenário de Osorio” (grifo nosso), também produzido pelo Comando Militar do Sul
como resultado da série de eventos, foi utilizado como fonte secundária, pois agregou
informações sobre todas as atividades realizadas. Como fontes primárias utilizamos,
principalmente, o Projeto Bicentenário de Osorio, desenvolvido pelo MMCMS para
demonstrar todas as ações planejadas, bem como seus objetivos e públicos-alvo (COGAN,
2008), e a relação de espaços culturais do CMS regularizados ou em processo de
regularização junto à DPHCEx (Anexo V).
31
As lentes dos princípios recursivo, hologramático e dialógico permearam todo este
trabalho, desde a parte introdutória até a fase de construção da análise. Não obstante,
também permitiram desenvolver alguns movimentos de compreensão. O primeiro
movimento, recursivo, é compreendido na relação presente x passado x futuro, ótica que
possibilitou a contextualização dos fatos observados, demonstrando como a organização
utiliza sua trajetória para comunicar e se aproximar dos públicos. O segundo, dialógico, é
visualizado na complexidade dessa Instituição, que, em sua trajetória, participou
ativamente em acontecimentos positivos e negativos da História brasileira, e que, por isso
mesmo, se configura como um reflexo “da complexa, intricada e às vezes contraditória
cultura nacional” (MCCANN, 2007, p. 09). Também se observa na mudança de postura de
comunicação da organização, a partir da abertura democrática, na complexa realidade de
públicos de interesse, e em seu caráter paradoxal, onde é o “Braço Forte”, mas também a
“Mão Amiga”
21
. O terceiro movimento, hologramático, facilitou a percepção das
atividades referentes ao Bicentenário de Osorio, pelo potencial de lugarizá-las, permitindo
a aproximação com local e a identificação com elementos da cultura gaúcha.
21
O slogan do Exército Brasileiro, “Braço forte, mão amiga” é um exemplo dessa dialógica. É a força armada para
garantir a defesa nacional, os poderes constitucionais, a lei e a ordem, mas também a organização que atua junto à
sociedade em situações de defesa civil (MISSÃO, 2008). E é justamente para legitimar o desenvolvimento de sua
missão que precisa estar aberta ao diálogo com os públicos de interesse.
32
3 A PREMÊNCIA DA MEMÓRIA: PASSADOS PRESENTES
Nós contamos o passado, distinguimos o que nele aconteceu ou
não, portanto o verdadeiro do falso em relação a ele;
simetricamente, podemos prever o futuro e verificar a verdade
ou a falsidade de nossas previsões (GAGNEBIN, 2005, p. 72).
A memória exerce uma importante função na vida dos indivíduos. Como
registramos aquilo que é marcante
22
, o que realmente toca os sentidos, ela é carregada de
emoções.
Lembranças de outros tempos, de outros vividos e sentidos, fazem com que cada
indivíduo seja único, pelas experiências únicas que guarda em sua memória. Daí decorre a
intrínseca relação entre memória e identidade, uma vez que, de acordo com Izquierdo
(2002, p. 09), “o acervo de nossas memórias faz com que cada um de nós seja o que é, com
que sejamos, cada um, um indivíduo, um ser para o qual não existe outro idêntico”.
Dessa forma, as nossas memórias possuem o potencial de nos referenciar e
contextualizar dentro do tempo. Conforme observa Tedesco (2004, p. 64), se o indivíduo
“perde o sentido da relação com o próprio passado perde também um elemento
fundamental de sua identidade, ou seja, a capacidade de perceber sua própria continuidade,
de se reconhecer como mesmo no decorrer do tempo”.
Essa referência, esse sentido de si, representa algo de valor nesse mundo pós-
moderno, criador de infinitos não-lugares
23
, onde reina o individualismo, a pluralidade, o
provisório e o efêmero. Quando os indivíduos são cada vez mais prisioneiros do instante, a
memória pode representar uma possibilidade de lugarizá-los dentro de um projeto maior de
continuidade, de constância no tempo, de sentido. Nesse lugar
24
, os sujeitos podem (re)
descobrir sua identidade, seus pontos de referência e construir vínculos sociais.
22
Conforme Izquierdo (2002), a memória consiste na aquisição (aprendizagem), na formação, na conservação e na
evocação (recordação, lembrança, recuperação) de informações. Para ele, “só se “grava” aquilo que foi aprendido”
(IZQUIERDO, 2002, p. 9, grifo do autor).
23
Não-lugares segundo Au(1994) constituem os espaços que não valorizam aspectos essenciais da identidade
dos indivíduos, são locais de passagem, um mundo “prometido à individualidade solitária, à passagem, ao
provisório e ao efêmero” (AUGÉ, 1994, p. 74). Nestes ambientes tudo é pontual, instrumental, sem obrigação com
a continuidade, um fazer preso ao presente.
24
Entende-se por lugar o conceito indicado por Augé (1994), que parte da constatação que o ser humano precisa de
pontos de referência para não se perder numa sociedade caracterizada por alta individualização e perda do vínculo
social. Conforme o autor, lugar pode se definir como o identitário, o relacional e o histórico.
33
Na análise de Huyssen (2000, p. 09), a emergência da memória nos anos recentes
25
como uma das preocupações culturais e políticas centrais das sociedades ocidentais
constitui um fenômeno surpreendente, pois esse retorno ao passado contrasta totalmente
com o privilégio dado ao futuro, que tanto caracterizou as primeiras décadas da
modernidade do século XX”. Para ele, tal obsessão pelo passado se justifica pela
sobrecarga de informações a que temos sido submetidos:
Nosso mal-estar parece fluir de uma sobrecarga informacional e
percepcional combinada com uma aceleração cultural, com as quais nem
a nossa psique nem os nossos sentidos estão bem equipados para lidar.
Quanto mais rápido somos empurrados para o futuro global que não nos
inspira confiança, mais forte é o desejo de ir mais devagar e mais nos
voltamos para a memória em busca de conforto (HUYSSEN, 2000, p.
32).
A cultura da memória busca ocupar, então, um importante papel nas transformações
atuais da experiência de tempo, trazidas a reboque no impacto das novas tecnologias e
mídias na percepção e na sensibilidade do ser humano (HUYSSEN, 2000). Pode
representar, assim, um contraponto aos não-lugares por propiciar um sentido de
continuidade em um contexto caracterizado pelo efêmero. Para Tedesco (2004, p. 75):
Nesse contexto de mercantilização da cultura, percebe-se a necessidade
de construir uma biografia, uma história da própria vida que esteja com
possibilidade de fornecer, ainda que limitadamente, um senso de
continuidade do tempo num contexto de fragmentação.
Face ao exposto é que consideramos relevante refletir sobre as possibilidades da
memória no contexto institucional, visto que as organizações ocupam um espaço
significativo em nossa sociedade, influenciando e interferindo em vários aspectos da vida
dos indivíduos. Para Freitas (2000, p. 64), são elas inclusive “que fixam o (s) lugar (es) que
confere (m) a cada um seu status social”.
Embora as organizações constituam agentes coletivos planejados deliberadamente
para realizar um determinado objetivo - produzir bens e serviços - torna-se essencial
25
O autor considera “anos recentes” aqueles a partir da década de 1980, quando os “discursos de memória” foram
impulsionados nos Estados Unidos e na Europa em razão, sobretudo, dos debates sobre o Holocausto (HUYSSEN,
2000, p. 13).
34
compreendê-las hoje como produtoras de significado.
Repletas de nuances simultaneamente complementares e antagônicas, as
organizações constituem ambientes de pulsão e repulsão, mas podem ser também espaços
para o desenvolvimento de saberes e de valorização dos indivíduos. Tais aspectos devem
ser (re) conhecidos para dar espaço a novas possibilidades de comunicação organizacional,
que propiciem a construção de relacionamentos de valor com os públicos estratégicos.
Nesse sentido, os estudos da memória permitem entender os tempos e os espaços
que carecem de valores e significados culturais “nem sempre em harmonia entre vividos e
concebidos, expressos nas condições de existência passadas, atuais e projetiva”
(TEDESCO, 2004, p. 29).
Na busca por um conceito de Memória Institucional enfocaremos a seguir as
perspectivas que alguns autores desenvolveram sobre aspectos ligados a esta temática e,
posteriormente, como a questão evoluiu no contexto organizacional.
3.1 ALGUNS ENFOQUES SOBRE MEMÓRIA
A memória é um elemento essencial do que se costuma chamar
identidade, individual ou coletiva, cuja busca é uma das
atividades fundamentais dos indivíduos e das sociedades de
hoje, na febre e na angústia (LE GOFF, 2003, p. 469).
A temática da memória vem sendo abordada em campos de investigação tão
diversos quanto o das ciências biológicas, humanas e sociais. As abrangentes esferas de
estudo têm posicionado tais reflexões também no campo dos imaginários e das
representações.
Não obstante os inúmeros enfoques existentes, optamos por posicionar este estudo
sobre as abordagens individual, coletiva e social da memória, em razão de acreditarmos
que estas três dimensões podem subsidiar nossa busca pelo conceito de Memória
Institucional.
De uma maneira geral, as principais referências sobre Memória são as propostas
por Henri Bergson
26
e Maurice Halbwachs
27
. O primeiro trata dos aspectos ligados à
26
O filósofo Henri-Louis Bergson nasceu em Paris (França) em 1859. Sua principal obra, Matière et Mémoire, foi
35
Memória Individual e o segundo, sobre a Memória Coletiva. As considerações de Michael
Pollak
28
sobre o caráter social da memória também serão evidenciadas ao longo deste
capítulo.
Bergson (2006), filósofo e escritor francês, ênfase à perspectiva neurobiológica
da capacidade de lembrar e esquecer, buscando afirmar a realidade do espírito e da matéria
e determinar a relação entre eles através da memória. Considerado um marco na filosofia
moderna, seu pensamento representa o fim da era cartesiana, uma vez que propôs a
substituição da ótica materializante da ciência e da metafísica por uma perspectiva
biológica.
Em sua principal obra, Matéria e Memória: ensaio sobre a relação entre corpo e
espírito, Bergson situa a memória não como uma função do cérebro, mas como força
subjetiva, no domínio do espírito, isto porque possui uma função essencial no processo
psicológico, uma vez que seu uso permite o conhecimento das coisas e o retorno ao
passado.
A memória é, segundo a abordagem deste filósofo, praticamente inseparável da
percepção e intercala o passado no presente, condensando “momentos múltiplos da
duração” (BERGSON, 2006, p. 77). Para ele, a percepção ou a imagem daquilo que nos
interessa, possui um efeito de miragem e está impregnada de lembranças. Situada fora do
corpo, não é mais do que uma seleção, ou seja:
Não cria nada; seu papel, ao contrário, é eliminar do conjunto das
imagens todas aquelas as quais eu não teria nenhuma influência, e depois
de cada uma das imagens retidas, tudo aquilo que não interessa as
necessidades da imagem que chamo meu corpo (BERGSON, 2006, p.
268).
Ainda de acordo com o autor, existem duas formas da memória, teoricamente
independentes, mas na realidade interdependentes: memória-hábito e memória pura. A
publicada em 1897, mas para este estudo utilizamos como referência a publicação feita em Língua Portuguesa no
ano de 2006.
27
Maurice Halbwachs nasceu em Reims (França) em 1877. O sociólogo foi aluno de Bergson durante alguns anos,
mas rompeu com seu pensamento filosófico para seguir seu próprio caminho em busca da ciência. Posteriormente
se tornou discípulo e colaborador de Émile Durkheim (SANTOS, 2003).
28
O sociólogo Michael Pollak nasceu em Viena (Áustria) em 1948. Radicado na França, foi pesquisador do Centre
National de Recherches Scientifiques CNRS, ligado ao Institut d`Histoire du Temps Present e ao Groupe de
Sociologie Politique et Morale, estudando as relações entre política e ciências sociais.
36
primeira, fixada no organismo e adquirida pela repetição de gestos e palavras, representa o
“conjunto dos mecanismos inteligentemente montados que asseguram uma réplica
conveniente às diversas interpelações possíveis”, permitindo nossa adaptação frente às
situações do presente (BERGSON, 2006, p. 176). a segunda, a verdadeira conforme
argumenta Bergson (2006, p. 177), é “coextensiva à consciência”, situando os fatos e
acontecimentos dentro de um passado:
Ela retém e alinha uns após outros todos os nossos estados à medida que
eles se produzem, dando a cada fato seu lugar e conseqüentemente
marcando-lhes a data, movendo-se efetivamente ao passado definitivo, e
não, como a primeira, num presente que recomeça a todo instante
(BERGSON, 2006, p.177).
Para Bergson (2006), o passado sobrevive sob duas formas distintas, em
mecanismos motores e em lembranças independentes. A primeira é conquistada pelo
esforço e permanece sob a dependência de nossa vontade. Já a segunda é espontânea, quer
seja para conservar ou para reproduzir os fatos. Conforme pondera, o passado é “o que não
age mais, mas poderia agir, o que agirá ao inserir-se numa sensação presente da qual
tomará emprestada a vitalidade” (BERGSON, 2006, p. 281), mas é essencialmente
impotente e apenas o futuro motiva a ação. Dessa forma, a memória tem graus sucessivos e
distintos de tensão ou de vitalidade, difíceis de discernir, mas “não consiste em absoluto,
numa regressão do presente ao passado, mas pelo contrário, num progresso do passado ao
presente” (BERGSON, 2006, p. 196). Santos (2003), ao analisar os argumentos de Bergson,
afirma que:
A teoria bergsoniana pode ser compreendida como sendo uma defesa da
memória enquanto intuição humana em contraposição ao avanço das
investigações biológicas, que tinham a pretensão de reduzir as questões
levantadas pelos filósofos sobre a natureza da memória (SANTOS, 2003,
p. 46, grifo do autor).
O enfoque da memória como uma capacidade mental essencialmente individual
começou a ser questionado nas décadas de 1920 e 1930, por autores como Halbwachs e
37
Bartlett
29
, que a compreendiam como um processo que se constitui na dinâmica social.
Tais reflexões agora concebiam a Memória Coletiva, enfatizando “uma visão da
recordação, memorização e esquecimento como trabalhos/processos construídos
culturalmente, em termos de seu conteúdo e sua estrutura” (BRAGA, 2000, p. 18).
Halbwachs (2006) situa sua reflexão sobre o caráter coletivo da memória, buscando
evidenciar a impossibilidade da compreensão do fenômeno das lembranças sem tomar
como referência os quadros sociais. Conforme ele argumenta: “é impossível conceber o
problema da recordação e da localização das lembranças quando não se toma como ponto
de referência os contextos sociais reais que servem de baliza a essa reconstrução que
chamamos memória” (HALBWACHS, 2006, p. 08).
Inicialmente discípulo de Bergson, rompeu com sua formação filosófica para seguir
seu próprio caminho em busca da ciência
30
. O livro “A memória coletiva
31
contém os
fundamentos do que na época representou um marco, posto que nele Halbwachs discorreu
sobre memória coletiva num momento em que essa temática era vista apenas como um
fenômeno individual e subjetivo.
Halbwachs não considerava a memória apenas como um atributo da condição
humana ou somente a partir de sua relação com o passado, mas de acordo com Santos
(2003), compreendia-a como uma resultante das representações coletivas construídas no
presente visando o controle social: para ele a memória não tinha apenas um adjetivo; a
memória era a memória coletiva (SANTOS, 2003, p. 21).
Nele, como em Bergson, encontramos a idéia do caráter seletivo da memória. Mas
para Halbwachs a idéia de seleção da memória coletiva se faz em razão dos interesses do
presente, constituindo não apenas um fator de identidade do indivíduo e do grupo, mas
também a “expressão e manifestação do momento presente” (TEDESCO, 2004, 58).
Halbwachs compreende a memória, individual ou coletiva, como um processo de
29
Santos (2003) destaca as considerações de Frederico Bartlett como sendo essenciais, junto com as de Halbwachs,
para compreender a inserção da memória no pensamento social. Bartlett foi o psicólogo britânico que estabeleceu
em 1932 uma série de conceitos com o objetivo de explicar “os processos mentais constituídos a partir de
interações sociais que seriam responsáveis pela lembrança e pelo esquecimento(SANTOS, 2003, p. 22). Assim
como Halbwachs, ele também enxerga a memória como uma construção social, mas, em sua ótica “os indivíduos
têm razões e intenções com significados próprios no processo de construção de suas memórias”. Porém, apesar da
relevância da contribuição deste autor para os debates sobre memória coletiva, nosso estudo será centrado sobre os
argumentos de Halbwachs, por considerá-los mais oportunos para o desenvolvimento de nossa reflexão.
30
Posteriormente Halbwachs se associou a um grupo de intelectuais que se organizava em torno de Émile
Durkheim, de quem se tornou colaborador (SANTOS, 2003).
31
O livro “A Memória Coletiva” foi publicado em 1950, após a morte de Halbwachs em um campo de
concentração nazista, a partir de manuscritos contendo reflexões sobre memória individual e coletiva, história,
tempo e espaço (SANTOS, 2003). Utilizamos no presente estudo uma edição atualizada, de 2006.
38
reconstrução. Diferentemente de Bergson, não a vê como um depósito que guarda o
passado da mesma forma como ocorreu, mas como “algo que comporta um aspecto social
ineliminável, que conserva tanto os processos de sedimentação dos acontecimentos
passados na consciência quanto os de sua conservação e de seu reconhecimento”
(HALBWACHS, 2006, p. 59). Neste sentido o autor pondera que a memória não está no
espírito, como indicou Bergson, mas na sociedade, onde se encontram os vestígios e
indicações essenciais para reconstruir nosso passado. Porém, nem esta última fornece as
indicações para que o passado se apresente por completo, consistindo sempre em uma
reconstrução. Dessa forma, para Halbwachs (2006, p. 97), todas as indicações necessárias
para reconstruir tais partes de nosso passado que representamos de modo incompleto ou
indistinto, e que até acreditamos terem saído inteiramente de nossa memória estão na
sociedade.
De acordo com Halbwachs, “cada memória individual é um ponto de vista sobre a
memória coletiva”, uma vez que as lembranças são formadas no interior dos grupos
(HALBWACHS, 2006, p.69), isto porque, a primeira depende do relacionamento do
sujeito com todos os grupos em que ele convive e que carregam e imprimem seus
referenciais sobre este indivíduo. Assim, a origem dos sentimentos, lembranças e
recordações que acreditamos serem individuais, na realidade são inspiradas pelo grupo.
Desse modo, nós somente nos lembramos porque somos seres sociais e vivemos em
conjunto:
Nossas lembranças permanecem coletivas e nos são lembradas por
outros, ainda que se trate de eventos em que somente nós estivemos
envolvidos e objetos que somente nós vimos. Isto acontece porque jamais
estamos sós. Não é preciso que outros estejam presentes, materialmente
distintos de nós, porque sempre levamos conosco e em certa quantidade
de pessoas que não se confundem (HALBWACHS, 2006, p. 30).
Tedesco (2004) destaca os aspectos de continuidade dentro do tempo e de
afirmação da identidade como sendo essenciais para a compreensão dos argumentos de
Halbwachs. Nesse sentido, ele observa que:
A memória, em Halbwachs, precisa ser entendida como manifestação de
um conjunto dinâmico, espaço não de relação, mas de
39
reinterpretação/renovação de sentido. Sua função está em preservar os
elementos do passado que garantem aos sujeitos sua própria continuidade
e afirmação identitária, do que propriamente fornecer uma imagem fiel do
passado. (TEDESCO, 2004, p. 59)
A memória também é enfocada por Pollak (1992) a partir de um viés sociológico. O
autor evidencia que a memória em todos os níveis é um fenômeno construído social e
individualmente e que, por isso, tem ligação direta com o sentimento de identidade. Esse
processo de construção, que pode ser consciente ou inconsciente, ocorre em função das
preocupações pessoais e políticas do momento.
Pollak concorda com a idéia de seletividade da memória, encontradas também em
Bergson e Halbwachs. Mas ele destaca o papel da organização no processo: “o que a
memória individual grava, recalca, exclui, relembra, é evidentemente o resultado de um
verdadeiro trabalho de organização (POLLAK, 1992, p. 204).
Este sociólogo destaca os acontecimentos, os personagens e os lugares como os
elementos constituintes da memória, tanto individual quanto coletiva. Conforme
argumenta, são considerados acontecimentos, tanto aqueles vividos pessoalmente quanto
os vividos por associação, ou seja, aqueles vivenciados pelo grupo ou pela coletividade à
qual o indivíduo se sente pertencer. As pessoas ou personagens, que podem ser aqueles
realmente encontrados no decorrer da vida ou os que conhecemos não-diretamente, ou seja,
aqueles “que não pertenceram necessariamente ao espaço-tempo da pessoa” (POLLAK,
1992, p. 202), mas que podem ser sentidos como se fossem seus contemporâneos. Os
lugares da memória, ligados a uma lembrança, são os locais que estão fora do espaço-
tempo da vida de uma pessoa que podem constituir um lugar importante para a memória do
grupo e, como decorrência, da própria pessoa, “seja por tabela, seja por pertencimento a
esse grupo” (POLLAK, 1992, p. 204).
Existe uma ligação fenomenológica muito estreita entre a memória e o sentimento
de identidade, na visão de Pollak (1992), o que pode contribuir para a criação do
sentimento de pertencimento nos indivíduos. Fortalecer o senso de pertença e de autoria de
cada um, estimulando a possibilidade dos indivíduos fazerem-se ouvir é, segundo aponta
Worcman (2006), o grande sentido social que as práticas de memória podem adquirir, pois:
A possibilidade de compartilhar desta memória como produtores e
receptores é que dá, a cada um de nós, o senso de pertencimento e
40
constitui o que chamamos de memória social. Trata-se de uma relação
criativa e dinâmica entre o indivíduo e o grupo. Nosso lembrar e as
maneiras como lembramos se fazem a partir da experiência coletiva
(WORCMAN, 2006, p. 202).
Para Pollak (1992), a construção da identidade é um processo que se produz em
referência aos outros e passa por três elementos: a unidade física, a continuidade dentro do
tempo e o sentimento de coerência. A unidade física constitui o sentimento de ter fronteiras
físicas ou de pertencimento ao grupo. A continuidade dentro do tempo, para ele, atua no
sentido moral e psicológico. Já o sentimento de coerência serve para tornar evidente onde
"os diferentes elementos que formam um indivíduo são efetivamente unificados”
(POLLAK, 1992, p. 204).
Além disso, a construção da identidade passa por critérios de aceitabilidade, de
admissibilidade e de credibilidade, que são possíveis apenas por meio da negociação direta
com outros sujeitos. Dessa forma, memória e identidade podem ser perfeitamente
negociadas e, por isso, são valores disputados em conflitos sociais e intergrupais.
O autor também descreve o conceito de memória herdada, ou seja, o fenômeno de
projeção ou de identificação com determinado passado, muito forte, que pode ocorrer seja
por meio da socialização política ou histórica (POLLAK, 1992). Para ele, a memória é em
parte herdada, e representa:
Um elemento constituinte do sentimento de identidade, tanto individual
como coletiva, na medida em que ela é também um fator extremamente
importante do sentimento de continuidade e de coerência de uma pessoa
ou de um grupo em sua reconstrução de si (POLLAK, 1992, p.204).
Até mesmo a memória nacional, em sua visão, é organizada e constitui um objeto
de disputa importante, sendo comuns os conflitos para determinar que datas e que
acontecimentos vão ser gravados ou esquecidos - na memória de um povo (POLLAK,
1992). Assim também são os processos de construção das memórias de uma organização.
Os argumentos dos três autores enfocados possuem abordagens diferenciadas sobre
o conceito de Memória, mas de suas concepções teóricas podemos extrair os aspectos
similares que estas perspectivas guardam entre si e que acreditamos serem relevantes em
nossa busca pela apreensão do conceito de Memória Institucional.
41
Seleção, reconstrução e identidade são características que podem ser transportadas
para o contexto organizacional. A memória, tanto individual quanto coletiva, é seletiva e
realiza a organização das lembranças, atuando como uma (re) construção do passado, que
não foi de um indivíduo somente, mas de um indivíduo inserido dentro de um quadro
social, ao qual influencia e recebe influências, como em um circuito recursivo. Como
aponta Halbwachs (2006, p. 30), “nossas lembranças permanecem coletivas e nos são
lembradas por outros, ainda que se trate de eventos em que somente nós estivemos
envolvidos e objetos que somente nós vimos. Isto acontece porque jamais estamos sós” e,
deste modo, tudo o que compreendemos como nosso, até as lembranças mais arraigadas,
estão conosco porque os outros também estão impregnados em nós, o que nos remete ao
princípio hologramático de Morin (2008). Tal assertiva demonstra a dimensão da inserção
do sujeito dentro da coletividade e de uma continuidade dentro do tempo.
A profunda ligação entre memória e identidade nos permite inferir sobre o potencial
da Memória Institucional em lugarizar o indivíduo. De acordo com Bergson (2006) a
memória possui uma função essencial no processo psicológico. Ela posiciona os sujeitos,
contextualizando-os no tempo, nos ambientes e nas relações, pois como observa
Halbwachs (2006, p. 08), somente é possível conceber o problema da recordação e da
localização das lembranças quando “se toma como ponto de referência os contextos sociais
reais que servem de baliza à essa reconstrução que chamamos memória”.
Pollak (1992) evidencia que em todos os níveis a memória é um fenômeno
construído social e individualmente e que, por isso, tem ligação direta com o sentimento de
identidade, cuja construção passa pela negociação e por critérios de aceitabilidade, de
admissibilidade e de credibilidade. Portanto, ela constitui o elemento essencial da
identidade, da percepção de si e dos outros:
Uma reconstrução psíquica e intelectual que acarreta de fato uma
representação seletiva do passado, um passado que nunca é aquele do
indivíduo somente, mas de um indivíduo inserido num contexto familiar,
social, nacional. [...] Seu atributo mais imediato é garantir a continuidade
do tempo e permitir resistir à alteridade, ao “tempo que muda”, às
rupturas que são o destino de toda vida humana (ROUSSO, 1996, p. 94,
grifo do autor).
O processo de construção da identidade, que pode ser consciente ou inconsciente,
ocorre em função das preocupações pessoais e políticas do momento, sendo possível
42
apenas por meio da negociação direta com outros sujeitos (POLLAK, 1992).
Diante do exposto é que acreditamos que a Memória Institucional pode colaborar
para trazer os indivíduos para perto da organização, no sentido etimológico da palavra
comunicação
32
, ou seja, estabelecer comunhão, fazer participar da comunidade aquele que
dela se encontrava à parte, isolado. Também pode constituir uma possibilidade da
expressão da comunicação no seu sentido histórico, entendida como um “instrumento de
equilíbrio, permitindo o entendimento entre os homens, neutralizando o poderio de forças
contraditórias” (RABAÇA; BARBOSA, 2001, p. 150).
A Memória Institucional pode ser compreendida como uma possibilidade de
Comunicação Organizacional, para criar relacionamentos de valor entre os públicos
estratégicos, garantindo o processo de negociação e de fortalecimento da reputação
organizacional.
Em nossa visão, a Memória Institucional consiste numa (re) construção de fatos e
acontecimentos significativos da trajetória e das experiências da organização, selecionados
e (re) organizados com o objetivo de estimular o processo de (re) construção de uma
identidade comum entre esta e seus públicos de interesse. Mas, embora essa identidade seja
volátil e mutável em razão da complexidade do ambiente organizacional, é ela que pode
propiciar o senso de pertencimento e a partilha de significados entre os sujeitos e a
instituição.
De acordo com Worcman (2006, p. 128), contar a história das organizações mostra-
se fundamental nos dias atuais, onde prevalece o culto cego ao eternamente novo, à
juventude, ao moderno, categorias tomadas como critério absoluto de qualidade numa
época organizada em torno do consumo e do consumismo”.
Resgatar a memória passou a ser, dessa forma, um fator relevante para as
organizações, em razão de não constituir somente um simples registro da história, mas um
programa contínuo, planejado estrategicamente e com objetivos bem definidos.
Essa (re) construção do passado se apresenta como um caminho para a questão do
pertencimento, através do qual os indivíduos podem se (re) conhecer nas ações da
organização, respondendo ao questionamento proposto por Bergson (2006, p. 56): “qual a
razão especial que faz com que um fenômeno, de que eu era de início apenas espectador
indiferente, adquira de repente um interesse vital para mim? O papel da Memória
32
Comunicação é uma palavra derivada do latim communicare, significando tornar comum, partilhar, repartir,
associar (RABAÇA; BARBOSA, 2001).
43
Institucional é, então, (re) construir um futuro, por meio do passado e da atualidade, nos
quais a identificação dos elementos da cultura e da identidade organizacional serão fatores
predominantes.
3.2 A MEMÓRIA NO CONTEXTO DAS ORGANIZAÇÕES
[...] lembraremos se nos colocarmos no ponto de vista de um
ou de muitos grupos e se nos situarmos em uma ou muitas
correntes do pensamento coletivo (HALBWACHS, 2006, p.
41).
A comunicação sempre desempenhou um papel de destaque no desenvolvimento da
sociedade, mas é no ambiente marcado pela complexidade que ela se configura como
imprescindível, pois conforme observa Freitas (2000), é perceptível a perda de confiança
dos cidadãos na credibilidade das empresas, do Estado e de outras instituições consagradas.
Neste contexto de valores efêmeros, identidades fragmentadas e contínuas
mudanças, o grande desafio que se coloca para a comunicação é (re) constituir ou tentar
criar vínculos que possam propiciar o senso de pertencimento e o resgate da identidade do
indivíduo. A comunicação que valoriza a alteridade do outro e que contribui para a (re)
criação e o reforço do senso de pertencimento com uma causa, um objetivo ou uma
organização, pode ser essencial para (re) construir relacionamentos de valor com os
públicos de interesse.
O conhecimento, a preservação e a utilização estratégica da Memória Institucional
se apresentam como aspectos relevantes para a Comunicação Organizacional em um tempo
onde “forças de desintegração múltiplas e potentes encontram-se em andamento”
(MORIN, 2007, p. 15), marcado por constantes mudanças, modismos e instantaneidade.
Tais práticas evidenciam a responsabilidade histórica da organização, marcando seu legado
para a sociedade, e podem representar um caminho para a questão do pertencimento.
Nesse sentido, colaboram para fortalecer a Imagem, a Identidade e Reputação da
organização, legitimando sua ação perante a sociedade.
Por Memória Institucional ou empresarial - Worcman (2004) entende como sendo
o uso que uma empresa faz de sua própria história. Ainda de acordo com o pensamento
44
desta autora, trabalhar este tema não é apenas promover uma reconstrução do passado da
organização, devendo ser visto “como um marco referencial a partir do qual as pessoas
redescobrem valores e experiências, reforçam vínculos presentes, criam empatia com a
trajetória da organização e podem refletir sobre as expectativas dos planos futuros”
(WORCMAN, 2004, p.23).
Segundo Nassar (2007), diante do enfraquecimento das formas tradicionais de
comunicação com o objetivo de envolver os empregados e outros públicos, a história
organizacional começou a se firmar como uma nova perspectiva para o reforço,
principalmente, do sentimento de pertencimento
33
dos empregados, como protagonistas
fundamentais das realizações, dos bens, dos serviços e da própria sustentação dos
empreendimentos. Isso porque, conforme observa este autor:
Mais do que nunca, a questão do pertencimento, na sociedade atual, está
posta como algo que diferencia e solidifica a relação dos públicos com a
organização. Em um mundo em que é rapidamente banalizado pela
massificação, pela utilização cotidiana, pelo excesso de exposição, uma
diferenciação que nasce pela história de uma organização, é um atributo
que poucos têm (NASSAR, 2007, p. 186).
Observamos a emergência dos estudos sobre memória de instituições e
acontecimentos a partir da década de 1980, com os processos de democratização e lutas
por direitos humanos e à expansão e fortalecimento das esferas públicas da sociedade civil.
Esse cenário se refletiu no ambiente organizacional, que passou a sofrer maiores pressões
dos públicos, mais diversificados e conscientes de seus direitos em razão do aumento da
circulação de informações.
Mas, apesar do incremento do número de práticas de memória nas últimas décadas,
a partir da leitura de Totini e Gagete (2004) e Nassar (2004; 2007) notamos que algumas
organizações realizavam ações pioneiras com esse caráter no início do século passado.
Com base nesses autores traçamos um panorama da evolução do conceito de memória em
âmbito empresarial (Tabela 1).
33
Nassar (2007, p.114) conceitua o sentimento de pertencer ou pertencimento como “um turbilhão de lembranças
do sujeito, estimulado pelo pesquisador, por um objeto, por uma pergunta e pela possibilidade de uma narrativa
desvinculada de um objetivo prático, que traz um reencontro com um passado feliz ou importante, ou com uma
comunidade de destino”.
45
Tabela 1 - Evolução do conceito de memória organizacional
Período
Âmbito
Local
Produtos / Enfoques
1905 - 1907
Empresarial
Alemanha
Criação de serviços de arquivo de caráter histórico
1920
Empresarial
EUA
Primeiras tentativas de criação de arquivos empresariais nos EUA
1927
Acadêmico
EUA
Criação da disciplina História Empresarial em Harvard (biografias de empresários e a
evolução das instituições)
1934
Empresarial
Inglaterra
Criação do Business Archives Council
Décadas de
1940 e 1950
Acadêmico
EUA
- Novo enfoque dos estudos da escola norte-americana: processos internos de
mudança organizacional em relação à competição tecnológica e mercadológica.
Década de
1960
Acadêmico
Brasil
Registro dos primeiros trabalhos que podem ser caracterizados de memória no país
com enfoque na evolução das empresas e de seus fundadores
Década
de 1970
Acadêmico
Europa
Debates em razão da Nova História; introdução da memória empresarial na dimensão do
simbólico.
Acadêmico
Brasil
- Estudos influenciados pela Nova História e pelos estudos da escola norte-americana.
Empresarial
Europa
EUA
- Inclusão de funcionários especializados para cuidar do acervo no organograma das
empresas.
Décadas de
1980 e 1990
Empresarial
Europa
EUA /Brasil
Criação de “agências” de historiadores especializada em projetos de memória
empresarial.
Acadêmico
Brasil
- Aplicação de novos conceitos de memória face às mudanças dos contextos interno e
externo.
Empresarial
Brasil
Criação de Projetos de “resgate histórico” nas empresas.
Realização do I Encontro Internacional de Museus Empresariais, pela ABERJE (1999).
2004
Empresarial
Europa
EUA Brasil
Constituição da memória como área de atuação específica nas empresas.
Últimos Anos
Empresarial
Acadêmico
Europa
EUA -Brasil
Criação de projetos de memória em empresas e instituições como ferramenta estratégica
de gestão.
Fonte: Quadro elaborado pela autora com base em Totini e Gagete (2004) e Nassar (2004; 2007).
De acordo com Totini e Gagete (2004), os primeiros trabalhos que podem ser
classificados como de memória empresarial surgiram no início do século passado, quando
as empresas alemãs Krupp e Siemens criaram serviços de arquivo com caráter histórico,
em 1905 e 1907 respectivamente. Nos Estados Unidos, serviços semelhantes foram criados
apenas a partir da década de 1920, época que também viu a criação da Business Historical
Society e, em âmbito acadêmico, da disciplina História Empresarial (1927), em Harvard.
Influenciados pelos americanos, os ingleses criaram em 1934 Business Archives Council
com o objetivo de estimular a preservação desse tipo de arquivo. Nas décadas seguintes
vários países da Europa criaram instituições semelhantes.
A partir das décadas de 40 e 50 os estudos sobre memória nos Estados Unidos
começaram a se diferenciar. O foco passou a ser os processos internos de mudança
organizacional em relação à competição tecnológica e mercadológica. O estudo
Management Descentralization: na Historical analysis (1956), de Alfred Chandler,
professor emérito da Harvard Business School, representou um marco desse novo
posicionamento, pois sistematizou os modelos de evolução organizacional de dez setores
industriais baseando-se em biografias empresariais, relatórios anuais, livros e revistas de
46
negócios.
Os debates da Nova História
34
realizados na Europa a partir de 1970 influenciaram
o conceito de memória, introduzindo-o na dimensão do simbólico. Conforme Totini e
Gagete (2004, p. 115), enxergar o objeto de pesquisa empresa não somente como uma
unidade de produção de bens e serviços, mas como de produção de significados sócio-
culturais, “colaborou sensivelmente para o estudo da construção e consolidação da cultura
e da identidade corporativas”. Nesse momento, empresas americanas e européias passaram
a incluir nos organogramas profissionais para cuidar de seus acervos, cujo enfoque era a
valorização do potencial analítico da história da empresa para a empresa.
Nas décadas seguintes foram criadas agências de historiadores, especializadas em
projetos de memória empresarial. Nos últimos anos organizações da Europa, dos Estados
Unidos e também do Brasil vêm contemplando a memória como ferramenta estratégica de
gestão, criando projetos de memória em sua maioria com enfoque na construção de
narrativas heróicas, sagas, celebrações e biografias elogiosas, apesar destes constarem com
algumas distorções (TOTINI; GAGETE, 2004).
No Brasil, o registro dos primeiros trabalhos caracterizados como de memória
empresarial datam de 1960, constituindo estudos acadêmicos com enfoque na relação entre
aspectos econômicos, ideologia e estrutura paternalista, centrados na evolução das
empresas e de seus fundadores.
As reflexões acadêmicas brasileiras dos anos 1970 receberam influência da Nova
História
35
e da escola norte-americana, sendo desenvolvidas por historiadores de áreas
afins como economia, administração e sociologia.
A publicação da pesquisa de Maria Bárbara Levy em 1977 sobre a evolução da
bolsa de valores do Rio de Janeiro levou outros pesquisadores ao estudo de tradicionais
empresas e instituições brasileiras. os estudos de Cleber Aquino resultaram na
publicação do livro História Empresarial Vivida, em 1986.
O cenário do Brasil dos anos 1980 era de luta pela redemocratização em razão do
34
A Nova História é, conforme Burke (1992), uma corrente que incorpora novos problemas, abordagens, objetos e
formas de se escrever a história como uma reação deliberada contra o paradigma tradicional posto em circulação
pelo historiador americano Thomas Kuhn. É a história associada à École de Annales (França), que passou a se
interessar não apenas pela política, mas por toda atividade humana, mais preocupada com a análise da estruturas do
que com a narrativa dos acontecimentos, que buscava enxergar “a história vista de baixo” fazendo uso de outros
tipos de fontes, não apenas de documentos.
35
Dentro do contexto da Nova história, de acordo com Nassar (2007, p. 127), “as práticas de história empresarial
têm a sua autonomia claramente expressa nas abordagens e metodologias utilizadas para o registro memorialístico
e para o fazer histórico; as imbricações entre os interesses de relações públicas e os da história têm sido feitos
dentro de um espírito de negociação e de aprendizagem mútua”.
47
fim do Regime Militar. Esse processo, aliado à reestruturação das forças produtivas, à
mudança de postura no perfil do Estado, que promoveu uma série de privatizações em
importantes corporações na década de 1990, além das fusões e aquisições correntes nesta
época, tiveram significativo impacto sobre as organizações e a sociedade. Além disso, o
impulso no desenvolvimento da tecnologia, a partir da massificação dos computadores
pessoais e do aumento da utilização da internet fora das universidades, a partir de 1994,
colaborou para potencializar a diversificação e a articulação dos públicos (NASSAR,
2007).
Esses fatores contribuíram para provocar profundas mudanças nas empresas, desde
sua estrutura até o (re) pensar sobre novas posturas de comunicação. Conforme resgata
Nassar (2004, p. 15), “milhões de brasileiros, nos seus papéis de cidadãos, trabalhadores e
de consumidores perceberam que as identidades de empresas e instituições, extremamente
reconhecidas em nossa sociedade mudavam”.
Numa tentativa de conquistar os novos objetivos de eficácia requeridos nesse
contexto, além do engajamento dos públicos com a causa e favorecer o processo de
democratização, as empresas brasileiras passaram a adotar programa de Qualidade Total a
partir de 1990. Mas a adoção destas iniciativas se mostrou demasiado negativa para a
memória das organizações, uma vez que a implantação descuidada de ações que se
inspiravam nos modelos japoneses e norte-americanos, focados apenas em resultados
quantitativos, teve como conseqüência a destruição de grande parte do acervo das
empresas, cujas histórias eram consideradas como mero passado, morto, destituído de
valor. Nassar (2007, p. 20, grifo do autor) retratando essa situação observa que,
muitas delas se inspiravam no management japonês e norte-americano,
principalmente do programa conhecido como 5S, que em seu manejo
prevê, como um dos primeiros rituais, o descarte de “coisas velhas” pelos
empregados das empresas que implantam esse tipo de metodologia.
Assim, nos anos 1990, simplesmente se jogaram no lixo milhares de
documentos, fotografias, máquinas e objetos, sem nenhuma preocupação
com a preservação da memória organizacional.
Após o término desse movimento de descarte de documentos, fotos e outros
registros importantes de suas trajetórias, as organizações passaram a compreender que a
história é que traduz a sua identidade, interna e externamente, pois “é ela que constrói, a
cada dia, a percepção que o consumidor e seus funcionários têm das marcas, dos produtos,
48
dos serviços” (NASSAR, 2004, p. 21). Totini e Gagete (2004) apontam que isto se deu em
virtude das empresas terem começado a perceber que precisavam se (re) adaptar às
mudanças do contexto sem perder sua identidade e os valores essenciais de sua cultura.
Neste sentido, as autoras argumentam que:
Resgatar a história passou a ser um projeto importante para muitas
empresas que perceberam que os registros do passado estavam se
perdendo e com eles, a compreensão dos processos passados e
conseqüentemente dos seus reflexos no presente (TOTINI; GAGETE,
2004, p. 119).
A partir de 1999, a Associação Brasileira de Comunicação Empresarial
(ABERJE
36
) “tomou para si o papel político e simbólico de demonstrar a importância da
Comunicação Organizacional na defesa, na manutenção e reforço da identidade brasileira,
e a responsabilidade (histórica) que os comunicadores organizacionais têm nesse processo”
(NASSAR, 2004, p. 20), realizando eventos para ressaltar a importância do tema em
âmbito empresarial
37
.
Por meio desta evolução, pudemos observar que enfoque das práticas de memória
mudou consideravelmente desde que a temática foi inserida no ambiente empresarial. Se
antes o objetivo era documentar o acervo ou realizar uma mera celebração do passado, nos
últimos anos os projetos de resgate histórico têm sido pensados como ações de
comunicação institucional e marketing corporativo (TOTINI; GAGETE, 2004).
Totini e Gagete (2004) apresentam os tipos de acervos de documentação e memória
usualmente realizados pelas organizações brasileiras (Tabela 2), destacando a relevância
dos produtos comunicacionais gerados a partir das fontes históricas presentes nestes
acervos.
36
A ABERJE é uma sociedade civil sem fins lucrativos criada em 1967 com a finalidade de discutir e promover a
Comunicação Empresarial e Organizacional como função administrativa, política, cultural e simbólica de gestão
estratégica das organizações e de fortalecimento da cidadania. Sua sede fica em São Paulo, mas realiza e apóia
iniciativas na área da comunicação organizacional em todo o Brasil.
37
Para disseminar a importância da adoção das práticas de memória no Brasil, a ABERJE promoveu o I Encontro
Internacional de Museus Empresariais (1999), o II Encontro Internacional de Museus Empresariais (2000), o III
Encontro Internacional de Museus Empresariais (2001) e o IV Encontro ABERJE de Memória Empresarial (2003).
Além disso, criou a categoria Memória Empresarial no Prêmio ABERJE, para estimular e fortalecer a adoção da
História no âmbito da Comunicação Organizacional.
49
Tabela 2 - Tipos de acervos de documentação e memória
Tipo de acervo
Conteúdo/Características
Audiovisual/
Videoteca
Fitas de áudio e/ou vídeo produzidas ou acumuladas pela empresa e referentes à sua área de atuação ou
setores comerciais.
Bibliográfico
Publicações e estudos de diferentes procedências e relacionadas às linhas de acervo definidas.
De cultura
material
Objetos tridimensionais e documentos que representam aspectos significativos da trajetória da empresa,
como troféus, certificados, equipamentos, mobiliários, etc.
Museológico
Objetos e documentos que se destacam pelo caráter único e inovador que representam, não apenas no
universo da própria empresa como do setor que atua no país por exemplo, o primeiro computador, o
primeiro cartão magnético, etc.
Fotográfico
Iconografia relacionada à empresa, de origem interna ou externa, em diferentes suportes (papel, eletrônico,
digital ou filme).
Referência
Acervos documentais e virtuais que servem como referência informativa, relacionada às linhas de acervo.
Pode também abranger monitoramento da concorrência.
Textual
permanente
Toda a documentação que reflete aspectos significativos da trajetória do empreendimento, desde sua criação
até a atualidade ou seja, não é formado apenas por documentos antigos ou raros. Fazem parte desse
acervo documentos como: Projetos de várias naturezas, viabilizados ou não; Relatórios cnicos e
administrativos; Campanhas promocionais / de marketing; Perfis; Clipping (em papel ou eletrônico); Jornais
internos; Correspondência de diretoria; Projetos e programas de relações institucionais; Planos estratégicos
Coleções
Documentos que atestam aspectos particulares, direta ou indiretamente relacionados às linhas temáticas
principais, provenientes de diferentes origens. São consideradas coleções, por exemplo, a documentação
relativa à trajetória pessoal e/ou política de fundadores, dirigentes e outras personalidades ligadas à história
da empresa.
Banco de
depoimentos
Registros gravados em áudio e/ou vídeo de entrevistas com pessoas ligadas direta ou indiretamente à
história da empresa. Essas entrevistas, conduzidas de acordo com os métodos de história oral, são
complemento importante do trabalho de pesquisa histórica e de organização de fontes, na medida em que
preenchem lacunas informativas e evidenciam elementos intangíveis da evolução da cultura organizacional.
Fonte: Totini e Gagete (2004, p.125).
Entre os produtos de comunicação mais desenvolvidos utilizando-se da história da
organização, Totini e Gagete (2004) destacam: o livro histórico-institucional, uma
publicação de notável qualidade editorial e gráfica, produzido com base nos grandes
marcos da trajetória organizacional, com objetivo de integrar e aproximar a organização de
seus públicos estratégicos; outras publicações institucionais, vídeos e cd-rom; relatórios
internos; estudos de caso; conteúdos históricos para internet e intranet; showroom
histórico; museu empresarial; exposições; e produtos de suporte. Worcman (2004)
acrescenta os depoimentos de vida como importantes produtos da memória empresarial,
pois sua organização passa pela compreensão de que a história de uma organização é
resultado da contribuição dos públicos com os quais se relaciona em sua trajetória.
Nassar (2007) realizou um estudo pioneiro sobre as práticas de memória realizadas
nas empresas brasileiras, em variados setores econômicos e diferentes regiões brasileiras,
buscando revelar que motivações as teriam levado a se valerem da história empresarial e se
os programas foram elaborados com base em reflexões e práticas de comunicação
organizacional. Como resultados de sua pesquisa
38
(Tabela 3), ele apontou que a área de
38
A pesquisa de Nassar foi realizada em 2005, utilizando como universo de pesquisa 134 grandes empresas que
faziam parte da listagem da edição especial, referente a 2005, da Revista Exame, publicada pela Editora Abril,
50
história empresarial está se estruturando nas maiores organizações do país e que o campo
da comunicação está se ampliando nestas organizações. Também, que embora a maior
parte das empresas pesquisadas possui iniciativas relacionadas com a história
empresarial (86,6%), apenas metade (49,6%) tem projetos estruturados.
Tabela 3 Pesquisa sobre Memória Institucional nas empresas brasileiras
O quê?
Resultados
Caráter dos programa de
história empresarial
Empresas com programas estruturados: 86,6%; Empresas com ações eventuais: 37%
Tempo dos programas
Empresas mais antigas têm programas de história empresarial mais estruturados: 60% das empresas
com mais de oitenta anos de vida estruturaram seus programas de memória; Quanto mais longo o
tempo de um programa de história, maior é a sua valorização como ferramenta para preservação da
memória empresarial.
Tipos de programa
1) História: resgate, preservação da memória e registro da história /cultura da empresa; manter viva a
memória da empresa; 2) Gestão: o acúmulo de informações (banco de dados) pode ser utilizado como
ferramenta estratégica na administração; analisar o desempenho da empresa; 3) Nova forma de
comunicação empresarial, nova opção para a atuação do profissional no mercado.
Coleta de Materiais
Das empresas que mantêm projetos de história empresarial, os ramos de indústria e de serviços são
os que mais coletam materiais, principalmente fotografias e documentos; Empresas que mantêm um
programa de história empresarial estruturado coletam mais depoimentos do que empresas com ações
eventuais (56,1% contra 43,2%); Fontes dos depoimentos - relatos de antigos funcionários como fonte
principal (89,6%): Quanto mais antiga a empresa, mais os funcionários antigos são ouvidos na
reconstituição da história.
Principais produtos
realizados para os
programas de história
empresarial
Predominância de livros, vídeos e exposições; produção de cd-rom, galerias, memorial
permanente, intranet, folders, murais, banco de dados, acervo de fotos e peças, áudio, palestras,
publicações, brindes, manuais, DVDs, ações sociais, biblioteca, selo comemorativo, atlas, cursos,
álbuns são alguns exemplos da diversificação de produtos realizados para projetos de história
empresarial.
Uso de internet
36,4% dos entrevistados citaram a internet como veículo de divulgação da história.
Área cujos projetos de
história estão associados
Comunicação corporativa das empresas; comitês - equipes multidisciplinares
Formação profissional dos
responsáveis pelos
projetos de história
empresarial
Funcionários: Relações públicas (24,5%); jornalistas (19,6%); profissionais de marketing (11,8%);
outras formações (publicitários, pedagogos, antropólogos, musicólogos, arquitetos, cientistas sociais,
advogados, psicólogos e economistas): 13,9%;
Profissionais terceirizados: historiadores (32,4%); jornalistas (17,6%); publicitários (12,2%); outras
formações (relações públicas, biblioteconomia, antropologia, letras, editoração e ciências sociais):
9,7%
Organização dos projetos
Equipe interna - A maioria das empresas (56,3%) confere à equipe interna a responsabilidade de
selecionar as informações que vão integrar seu acervo.
Parceira equipe interna e externa em 35,9% dos casos, esse trabalho de seleção é realizado
conjuntamente com a equipe externa.
Considerações sobre
Memória Institucional
51,4% projetos de história empresarial = instrumento de marketing; 97,1% acreditam que a história
empresarial é uma tendência; Para 88,3% os programas de história demonstram o comprometimento
das empresas com o país; 89,3% acreditam que preservar a história das empresas é uma ação de
responsabilidade social; Para 87,4% a valorização da história deve ser permanente e não apenas em
momentos festivos; 98,1% acreditam que o sucesso do programa de história depende do apoio da alta
gestão; 96,2% concordaram que o conhecimento da história pode ser útil no planejamento de
negócios.
Disponibilização dos
acervos ao público
62,1% concordam em tornar públicos os acervos da empresa; Das empresas que têm programa de
história empresarial, 89% disponibilizam seu acervo histórico para seus funcionários; A comunidade e
o público em geral também têm acesso às informações (51%), o que vale também para os clientes
(23%). Imprensa (15%), familiares (14%) e estudantes (8%).
Fonte: Quadro elaborado pela autora com base em Nassar (2007, p. 151)
sobre as “500 maiores e melhores empresas do Brasil” (NASSAR, 2006).
51
Outro aspecto identificado na pesquisa foi a interdisciplinaridade de profissionais
responsáveis pelo desenvolvimento das práticas de memória. Além de mobilizar
profissionais de comunicação, esses programas trazem os historiadores para a esfera
privada. Os principais trabalhos desenvolvidos nessa área se traduzem em livros, vídeos,
exposições e outros produtos. sinais, no entanto, de que empresas com programas
estruturados estão desenvolvendo produtos mais sofisticados, tais como museus
permanentes e história contada. Os funcionários antigos são a fonte de informação mais
utilizada quando o resgate histórico é feito através do registro de depoimentos. Os
pesquisados deixaram claro reconhecer a importância dos projetos de história como
ferramenta de gestão, posto que a análise do passado ajuda a projetar o futuro e estas
informações podem, quando sistematizadas em bancos de dados, servir como instrumento
de inteligência competitiva.
Nassar observou ainda que, apesar do Brasil não investir sistematicamente na
preservação da história, dentre as empresas pesquisadas 57,6% contam com programas
estruturados de preservação histórica. Dessa forma, ele argumenta que a memória é uma
tendência e o grande desafio que se impõe é identificar se a motivação que inspira o
resgate da história é genuína ou se representa mais um nicho a ser explorado pelo
marketing.
Por meio da evolução das práticas realizadas no ambiente organizacional
apresentadas anteriormente e dos resultados da pesquisa realizada por Nassar, entendemos
que o enfoque da memória mudou consideravelmente desde que a temática foi inserida no
ambiente empresarial. Se antes o objetivo era documentar o acervo ou realizar uma mera
celebração do passado, nos últimos anos os projetos de resgate histórico têm sido pensados
como ações de comunicação institucional e marketing corporativo (TOTINI; GAGETE,
2004).
Porém, não obstante a aplicação de novos conceitos de memória face à necessidade
de uma comunicação mais aberta e transparente, ela tem sido vislumbrada ainda como uma
ferramenta (grifo nosso) de comunicação. Essa é a visão de Worcman (2004, p.23), que
afirma que as organizações serão capazes de transformar sua trajetória em conhecimento
útil se compreenderem a memória “como ferramenta de comunicação, como agente
catalisador no apoio a negócios, como fator essencial de coesão do grupo e como elemento
de responsabilidade social e histórica”. Nassar (2007) pontua que, embora esta visão esteja
imbuída de um humanismo que compreende as ações de Memória Institucional como
52
práticas que fortalecem, no âmbito dos públicos, as suas ligações com a organização, torna-
se essencial observar que:
Se o modelo de gestão é uma propriedade fundamental para a geração do
que pode ser lembrado ou deve ser esquecido no âmbito das lembranças
organizacionais, é preciso considerar que uma organização voltada
somente para a produtividade desqualifica, empobrece as experiências e
vivências dos seus membros (NASSAR, 2007, p. 131).
Numa outra perspectiva, nosso estudo busca apresentar a Memória Institucional não
como uma ferramenta de comunicação, descontextualizada e pontual, mas como uma
possibilidade de Comunicação Organizacional, que pode lugarizar os sujeitos
39
organizacionais neste contexto de valores efêmeros e identidades descentralizadas. Nesse
sentido, ela pode representar ainda uma possibilidade de compreensão das diferenças e dos
aspectos positivos e negativos da trajetória de uma organização, posto que “sem memória,
sem a leitura dos restos do passado, não pode haver o reconhecimento da diferença [...]
nem a tolerância das ricas complexidades e instabilidades pessoais e culturais, políticas e
nacionais” (HUYSSEN, 2006, p. 72, grifo nosso). Apresenta-se como uma possibilidade
porque não certezas neste ambiente caracterizado pela complexidade, onde os
significados são sempre emergentes, nunca finalizados e o entendimento compartilhado é
transitório. Nesse sentido Iasbeck (2009, p. 26, grifo do autor) observa que:
Por mais aguçada que possa ser nossa percepção, nada nos dará, de
antemão, a certeza de que seremos entendidos na dimensão e na
intensidade que gostaríamos. O fato de não sermos o “outro” reserva
sempre uma dose incalculável e imprevisível de surpresas e sobressaltos,
que não o neutralizadas nem mesmo pelos mais sofisticados
instrumentos (e “modelos”) de otimização do processo da comunicação.
Desse modo nos é possível tão somente refletir sobre possibilidades de
comunicação, que nos permitam evidenciar o (s) outro (s) lado (s) da organização, que é ao
mesmo tempo uma mescla de aspectos complexos/antagônicos, que não são inteiramente
positivos ou negativos, mas que carecem serem compreendidos para que sua missão seja
39
Uma discussão a respeito dos conceitos de sujeito e indivíduos será desenvolvida no pico “A identidade do
sujeito pós-moderno” (pp. 44-48).
53
levada a efeito, porque conforme pondera Morin (2008, p. 50), “não se deve reduzir um ser
à mínima parcela de si mesmo, nem à parcela ruim de seu passado”. Também porque o
passado, o presente e o futuro das organizações estão inseridos numa relação circular que
segue uma lógica recursiva (Figura 3).
passado presente futuro
Figura 3 - Relação circular que (re) liga
Fonte: Morin (2007b, p. 62)
A Memória Institucional pode servir, então, para potencializar as outras facetas da
organização, mostrando que a trajetória ao longo de sua história é mais importante do que
fatos isolados que podem permanecer presentes no imaginário coletivo. Ela é uma (re)
construção do passado, visto que não é possível, conforme Bergson (2006), voltar ao que
não atua mais, ao tempo decorrido, se não for pela memória. Como em todo processo de
escolha e de seleção, constituirá a memória da organização aquilo que foi relevante para
ela e ela estará impregnada de sua cultura. Ou seja, “a cultura, os comportamentos, os
símbolos, a identidade e a comunicação, o conjunto de elementos que formam a
personalidade de uma empresa ou instituição, são os grandes pilares da memória”
(NASSAR, 2007, p. 111).
Por meio da memória “as pessoas comuns procuram compreender as revoluções e
mudanças por que passam em suas próprias vidas” (THOMPSON, 1992, p.21). Ela
consiste, então, em uma narrativa entre as múltiplas narrativas possíveis dentro do contexto
organizacional e sua construção necessita ser alicerçada naquilo que foi ou é considerado
relevante para cada indivíduo, para o grupo ou para a organização. Sua relevância se
justifica por que:
As organizações o percebidas, lembradas e narradas de inúmeras
formas pela sociedade, pelos mercados, pelos públicos e pelos indivíduos.
Uma das formas mais importantes é definida pela história e pelas
diferentes formas de memória dessa história que os protagonistas sociais
têm das organizações como um todo e também em suas expressões
individuais. As organizações, como os indivíduos, não existem fora da
sociedade e, assim, são participantes, mesmo na omissão, dos
acontecimentos sociais (NASSAR, 2006, p. 117).
54
As iniciativas no campo da Memória Institucional objetivam num primeiro
momento a manutenção da imagem corporativa, contribuindo para a perpetuação da
organização na medida em que promovem um mergulho para dentro do próprio ser, o que é
essencial para o autoconhecimento e uma maneira bastante contundente de antever o futuro
(MARICATO, 2006). Podem servir, ainda, para criar valor para as organizações e a defesa
de sua imagem em situações de crise (NASSAR, 2007). Assim, ainda que seja revelada
alguma ação negativa em dado momento de sua história, a exposição de sua trajetória
transparente poderá contribuir para minimizar os danos à sua imagem.
Segundo Maricato (2006, p. 126), “ao compreender a vida de uma organização
disposta na linha do tempo, podemos distinguir quão importantes foram e são os fatos
históricos, as reações, as linhas de comando e o perfil que ela vai incorporando,
traduzindo-se na própria maneira de ser da organização”. Nesse sentido a memória serve
para o conhecimento da verdadeira identidade da organização e esta possibilidade de
compartilhar é que garante a cada um o senso de pertencimento.
Worcman (2004, pp. 24-28) faz uma distinção entre história e memória. Para ela,
memória “é o que registramos em nosso corpo”, ou seja, não é um depósito de tudo o que
nos aconteceu, mas a seleção de tudo aquilo que guardamos que por um motivo ou por
outro tem ou teve algum significado em nossas vidas. Por outro lado, história “é a
narrativa que montamos a partir de nossa memória”, é como organizamos e traduzimos
para o outro o que filtramos em nossa memória”. Portanto, a história de uma empresa é a
organização do que foi seletivamente demarcado como significativo em sua trajetória, um
tipo de narrativa construída na qual as empresas e os grupos sociais se forjam e criam sua
identidade. Dessa forma, ela transcende a preservação física de documentos e
monumentos, norteando a compreensão do presente, para os indivíduos e para as
organizações. A autora salienta que “Memória Empresarial não é simplesmente o passado
de uma empresa. Memória Empresarial é, principalmente, o uso que uma organização faz
de sua História” (WORCMAN, 2004, p. 28).
Para Nassar (2007), história empresarial é o conjunto de acontecimentos referentes
às organizações, seus integrantes, dirigentes, bens e serviços, além de seu relacionamento
com os públicos. Ainda conforme pontua este autor, ela é uma narrativa dentre muitas
outras possíveis, posto que “é uma narrativa individual, social ou organizacional
estruturada a partir de memórias individuais, sociais ou organizacionais” (NASSAR, 2007,
p. 111). Em sua análise, “dentro dessa visão, a cultura, os comportamentos, os símbolos, a
55
identidade e a comunicação, o conjunto de elementos que formam a personalidade de uma
empresa ou instituição, são os grandes pilares da memória” (NASSAR, 2007, p. 111).
Worcman (2004, p. 27) considera que toda organização possui uma
responsabilidade histórica, pois “faz parte de uma trama social e se confunde com uma boa
parte da história das comunidades com as quais ela interage, dos seus clientes,
fornecedores, parceiros e, sobretudo, com a própria história do Brasil
De acordo com Scroferneker (2008, p.16), “as realidades mutantes, cada vez
mais presentes no mundo das organizações e dos sujeitos organizacionais [...] implicam
necessariamente um (re) visitar permanente das concepções de comunicação, organização
e sujeito organizacional”. Por isso, recontar a história de uma organização passa, em nosso
entendimento, pela compreensão de atributos inerentes à sua cultura organizacional, à qual
estão intimamente ligados os conceitos de identidade, imagem e reputação.
3.3 MEMÓRIA E COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL
A memória se enriquece com as contribuições de fora que,
depois de tomarem raízes e depois de terem encontrado seu
lugar, não se distinguem mais de outras lembranças
(HALBWACHS, 2006, 98).
A comunicação vem desempenhando um papel de destaque no desenvolvimento da
sociedade, mas é no ambiente marcado pela complexidade que ela se configura como
imprescindível. Os novos cenários exigem maior transparência das organizações e uma
postura de comunicação diferenciada.
Em um contexto marcado por rápidas e contínuas mudanças, efemeridade e
identidades fragmentadas, onde, segundo Freitas (2000), é perceptível a perda de confiança
dos cidadãos na credibilidade das empresas, do Estado e de outras instituições consagradas,
o grande desafio que se coloca para a comunicação é reconstituir ou tentar criar vínculos
que possam propiciar o senso de pertencimento e o resgate da identidade do indivíduo.
Isto porque, conforme aponta Hobsbawn (2001):
56
Ser membro de uma comunidade humana é situar-se em relação ao seu
passado (ou da comunidade), ainda que apenas para rejeitá-lo. O passado
é, portanto, uma dimensão permanente da consciência humana, um
componente inevitável das instituições, valores e outros padrões da
sociedade humana (HOBSBAWN, 2001, p. 02).
Ilharco (2003) trata das diversas implicações geradas pelas tecnologias de
informação nas organizações contemporâneas, argumentando que ela afeta diretamente a
estratégia organizacional, seu modo de ser e agir:
À medida que a estratégia organizacional, a cultura e o universo
comunicacional em que a organização está imersa são penetrados
intuitiva e instintivamente pelas características, possibilidades, pela
essência da nova tecnologia, mais radical e inovadora tende a ser
mudança organizacional (ILHARCO, 2003, p. 103).
Torna-se essencial, então, que as organizações se apropriem da comunicação de
forma estratégica, buscando (re) construir relacionamentos bilaterais com os seus públicos
de interesse. Isso porque, na análise de Ilharco (2003, p.94), “a dimensão organizacional
estrutura e fornece constantemente critérios de entendimento, de significado e de ação”.
Nessa direção Freitas (2000) pondera que:
Se os indivíduos se encontram numa situação de fragilidade de
identidade, de enfraquecimento de vínculos sociais diversos, de busca de
sentido, de desorientação quanto ao presente e ao futuro e de carência de
referenciais, a organização deixa de ser considerada apenas uma
reguladora da crise econômica social, passando a desempenhar papel
cada vez mais importante como fornecedora de significações,
gratificações e, por fim, identidade (FREITAS, 2000, p. 57).
A adoção de práticas de comunicação que valorizam a alteridade do outro e que
contribuem para a criação e o reforço do senso de pertencimento dos indivíduos com uma
causa, um objetivo ou a trajetória de uma organização, pode ser essencial para construir
relacionamentos de valor com os públicos de interesse. Conforme propõe Morin (2007,
p.15), “só se pode preparar um futuro quando se salva um passado, mesmo que estejamos
num século em que forças de desintegração múltiplas e potentes encontram-se em
andamento”.
57
A Memória Institucional se apresenta, então, como uma possibilidade de ação para
gerar uma comunicação organizacional significativa, permanente e bidirecional. Segundo
Nassar (2007), diante do enfraquecimento das formas tradicionais de comunicação com o
objetivo de envolver os empregados e outros públicos, a história organizacional começou a
se firmar como uma nova perspectiva para o reforço, principalmente, do sentimento de
pertencimento dos empregados, como protagonistas fundamentais das realizações, dos
bens, dos serviços e da própria sustentação dos empreendimentos. Tais práticas evidenciam
a confiabilidade e a segurança de uma organização, os elementos o-transitórios que
fazem parte de sua identidade e sua responsabilidade histórica, colaborando para
potencializar a imagem e fortalecer a identidade e a reputação organizacionais.
Qualquer proposta que objetive novas possibilidades de comunicação
organizacional necessita levar em consideração as pessoas que fazem parte das
organizações e dos processos, porque conforme destaca Morin (2006, p. 41), sujeito e
objeto são indissociáveis”.
Desse modo, como a Memória Institucional guarda profunda relação com a
identidade, nossa reflexão passará pela compreensão das características intrínsecas dos
sujeitos e das organizações, trazendo algumas concepções teóricas relacionadas à
comunicação e à cultura organizacionais.
3.3.1 A Identidade do Sujeito Pós-Moderno
Toda identidade pessoal é residente na memória (NASSAR,
2007, p. 113).
A busca pela identidade, coletiva ou individual, atribuída ou construída tornou-se,
segundo Castells (2000), a fonte básica de significado social neste mundo de fluxos globais
de riqueza, poder e imagens, em virtude da desestruturação das organizações, da
desligitimação das instituições e do enfraquecimento de importantes movimentos sociais e
expressões culturais.
As mudanças decorrentes dessa nova realidade têm provocado uma ruptura em sua
identidade, pois, de acordo com Almeida (2006, p. 33), este “é um tempo de opções; de
58
unicidade e pluralismo; de combinação de tradição e inovações; de deslocamento dos
indivíduos em relação aos seus referenciais normativos; de carência de modelos
identificatórios”.
Diante desta complexa realidade de relações sociais e valores efêmeros, em que os
quadros de referência que davam certa estabilidade aos indivíduos no mundo social estão
abalados, os sujeitos parecem buscar sentido em tudo o que fazem. Em contrapartida, os
indivíduos
40
têm buscado novas formas de prática social, afirmativa compartilhada por
Rabin (2005), quando aponta que a busca pela identificação e pelo pertencimento parece
ter se tornado uma necessidade humana, pois todos anseiam sentir-se vinculados a algo,
podendo usar rótulos e referências. Dessa forma, a proposição de práticas de memória que
possibilitem lugarizar os indivíduos passa pela compreensão das características inerentes à
sua identidade.
Chanlat (1993) descreve o indivíduo como um ser simbólico, que produz uma
representação do mundo que lhe confere significado. Como ser espaço-temporal, ele
participa ativamente da construção e da destruição da realidade, sendo ao mesmo tempo
produto e produtor de sua própria historicidade.
Srour (1998) compreende o indivíduo como um ser único com três dimensões,
todas importantes para entender suas idiossincrasias. Para ele, todo indivíduo é um ser
biológico, submetido a leis naturais, um ser psicológico, submetido a padrões psíquicos e
um ser social, submetido a regularidades sociais. De acordo com sua concepção, o espaço
social é povoado por relações sociais, onde os agentes individuais são apenas os portadores
destas.
Hall (2005) considera que passamos nos dias atuais por uma “crise de identidade”,
onde as velhas identidades estão em declínio e o indivíduo está fragmentado. Conforme
argumenta, houve uma evolução na concepção do sujeito, que pode ser evidenciada nos
três conceitos que ele apresenta: Sujeito do Iluminismo, Sujeito Sociológico e Sujeito Pós-
Moderno.
O Sujeito do Iluminismo representa uma concepção individualista do sujeito e de
sua identidade, onde o indivíduo é “totalmente centrado, unificado, dotado das capacidades
de razão, de consciência e de ação” (HALL, 2005, p.10), e o centro essencial do seu eu é a
sua identidade.
40
Não obstante as diferenças conceituais existentes, os termos sujeito e indivíduo serão empregados como
sinônimos neste estudo para facilitar o desenvolvimento do texto.
59
O Sujeito Sociológico reflete a crescente complexidade do sujeito do mundo
moderno, com núcleo ou centro não-autônomo e auto-suficiente, formado na relação
com as pessoas, onde a identidade é que costura o sujeito à estrutura, sendo formada na
interação entre o eu e a sociedade, e “modificada num diálogo contínuo com os mundos
culturais “exteriores” e as identidades que esses mundos oferecem” (HALL, 2005, p.11).
Já o Sujeito Pós-Moderno não possui uma identidade fixa, essencial ou permanente,
podendo assumir diferentes identidades em diferentes momentos (HALL, 2005). Além
disso, dentro de cada indivíduo existem identidades contraditórias que lutam umas com as
outras, empurrando em diferentes direções e deslocando continuamente as identificações.
Isto se deve à complexidade do contexto atual, uma vez que:
à medida em que os sistemas de significação e representação cultural se
multiplicam, somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante
e cambiante de identidades possíveis, com cada uma das quais
poderíamos nos identificar ao menos temporariamente (HALL, 2005, p.
13).
Nesse mesmo sentido, mas utilizando-se de outra perspectiva, Morin também
discorre sobre o conceito de sujeito que, para ele, é complexo, pois, “ser sujeito é ser
autônomo, sendo ao mesmo tempo dependente. É ser alguém provisório, vacilante, incerto,
é ser quase tudo para si e quase nada para o universo” (MORIN, 2006, p. 66).
O sujeito e o mundo para Morin são recíprocos e inseparáveis, mas o primeiro,
produto da lógica complexa, emerge do processo complexo de auto-eco-organização e,
nesse processo, ser, máquina, cômputo, sujeito constituem noções ao mesmo tempo
inseparáveis e fundadores(MORIN, 1999, p. 58).
Morin apresenta alguns princípios simultaneamente complementares e antagônicos
que permitem a compreensão do conceito de identidade: egocentrismo, a tendência inata
do indivíduo em ocupar um espaço que o torna centro de seu próprio mundo; permanência
da auto-referência apesar das transformações e através das transformações, ou seja, a
capacidade do sujeito continuar sendo o mesmo, independente de modificações internas ou
externas; exclusão, que defende que o eu é único para cada sujeito; e inclusão, que admite
a inserção dentro de uma coletividade não obstante seu egocentrismo. Esses princípios
evidenciam a complexidade de cada sujeito que, conforme salienta Morin (2006, p. 39),
todos trazem em si “a brecha, a rachadura, o desgaste, a morte, o além”.
60
Sob sua ótica, ser sujeito não significa apenas ser consciente ou possuir afetividade
ou sentimentos, ainda que a subjetividade humana se desenvolva por meio destes. Em sua
análise, considera que o sujeito se define por sua consciência, não sendo esta
absolutamente fixa ou estável (MORIN, 2008). Ser sujeito, assim, consiste na
possibilidade do indivíduo de colocar-se no centro de seu próprio mundo,
egocentricamente, ocupando o lugar do eu, uma posição a partir da qual ele pode lidar com
o mundo e consigo próprio:
A natureza da noção do sujeito tem a ver com a natureza singular de sua
computação. Essa computação do ser individual é a computação que
cada um faz de si mesmo, por si mesmo e para si mesmo. É um cômputo.
O cômputo é o ato pelo qual o sujeito se constitui posicionando-se no
centro de seu mundo para lidar com ele, considerá-lo, realizar nele todos
os atos de preservação, proteção, defesa, etc. (MORIN, 2008, p. 120).
Dialogicamente o indivíduo, mesmo sendo egocêntrico se encontra inserido numa
subjetividade comunitária
41
mais ampla e, por isso mesmo, a concepção de sujeito é
complexa:
A complexidade individual é tal que quando nos colocamos no centro de
nosso mundo, nós ali colocamos também os nossos: isto é, nossos pais,
nossos filhos, nossos concidadãos, somos mesmo capazes de sacrificar
nossas vidas pelos nossos. Nosso egocentrismo pode se encontrar
englobado numa subjetividade comunitária mais ampla (MORIN, 2006,
p. 66).
Trazendo a questão da identidade para o contexto organizacional, Freitas (2000)
aponta que:
Se os indivíduos se encontram numa situação de fragilidade de
identidade, de enfraquecimento de vínculos sociais diversos, de busca de
sentido, de desorientação quanto ao presente e ao futuro e de carência de
41
Compreendemos que essa subjetividade comunitária a que se refere Morin (2008) está ligada ao quarto princípio
da identidade do sujeito, a inclusão. Na sua visão, o sujeito é, simultaneamente, complementar e antagônico,
carrega em si a exclusão (egocentrismo) e a inclusão (devoção absoluta/coletivismo). Conforme ele escreve:
“posso inscrever um “nós” em meu “Eu”, como eu posso incluir meu “Eu” em um “nós”: assim, posso introduzir,
em minha subjetividade e minhas finalidades, os meus, meus parentes, meus filhos, minha família, minha pátria”
(MORIN, 2008, p. 122, grifo do autor).
61
referenciais, a organização deixa de ser considerada apenas uma
reguladora da crise econômica social, passando a desempenhar papel
cada vez mais importante como fornecedora de significações,
gratificações e, por fim, identidade (FREITAS, 2000, p. 57).
Dessa forma, compreender que o sujeito é complexo sinaliza o desafio da
construção de relacionamentos que não se baseiem apenas na conquista do consenso, mas
busquem o equilíbrio em um sistema que sofre ajustes continuadamente. Considerar que
“cada ser tem uma multiplicidade de identidades, uma multiplicidade de personalidades em
si mesmo, um mundo de fantasias e de sonhos que acompanham sua vida” (MORIN, 2006,
p. 57) torna-se premente para o desenvolvimento de quaisquer atividades de Comunicação
Organizacional hoje.
Compreender os sujeitos como únicos e ao mesmo tempo múltiplos e complexos,
elementos essenciais das organizações, também cheias de relações complementares e
antagônicas, é essencial para a reflexão sobre novas possibilidades de Comunicação
Organizacional, pois, conforme salienta Scroferneker (2008, p. 15), as verdades, as
certezas, se diluem nas diferentes perspectivas que se apresentam”.
Para Roman (2009, p. 156):
O homem é um ser da palavra e sua ação no mundo depende das
possibilidades que encontra ou conquista para produzir e compartilhar
discursos. Aceitar essa premissa é reconhecer que as organizações não
são apenas locais para cumprir metas e gerar resultados, mas também
espaços de vivencias comunicativas, em que se integram e se confrontam
múltiplos projetos de cumplicidade existencial.
Assim, a Memória Institucional se expressa como uma possibilidade de (re) ligação
do sujeito à organização, para que este se reconheça como elemento partícipe de sua
trajetória. Essas práticas podem contribuir para o reconhecimento dos sujeitos em torno de
uma identidade forte, que propiciem o senso de pertencimento. Estimular a criação do
senso de pertença nos dias atuais se justifica por representar algo que diferencia e solidifica
a relação dos públicos com a organização: “em um mundo que é rapidamente banalizado
pela massificação, pela utilização cotidiana, pelo excesso de exposição, uma diferenciação
que nasce pela história de uma organização, é um atributo que poucos têm” (NASSAR,
2007, p. 186).
62
Freitas (2000) corrobora com essa assertiva ao conceituar identidade e evidenciar
sua relevância para o sentido de unidade, coerência e confiança, elementos que podem ser
transportados para a compreensão dos indivíduos e das organizações:
Identidade é um resultado psicossocial que pode variar no tempo, ou seja,
não é fixa e depende de seu ponto de definição, pois pode dizer respeito
ao indivíduo, ao grupo e a sociedade em geral. Um sujeito tem diversas
identidades, e o conjunto delas lhe permite experimentar um sentimento
de identidade, visto que não existe identidade sem esse sentimento
interno. Este é composto dos sentidos de unidade, singularidade, de
coerência, de filiação ou pertencimento, de valor, de autonomia e
confiança, organizados em torno de uma vontade de existência
(FREITAS, 2000, p.40).
Todas as considerações feitas aqui sinalizam os desafios existentes para a
construção de programas de Memória Institucional. Abordaremos a seguir alguns aspectos
relevantes para a compreensão da Identidade Organizacional.
3.3.2 Identidade, Imagem e Reputação
[a] comunicação está em todos os processos da organização,
circula em todos os sistemas e dá consistência à identidade
organizacional (MARCHIORI, 2009).
Identidade, Imagem e Reputação são valores intangíveis que implicitamente afetam
as relações das organizações, constituindo ativos que representam um de seus maiores
legados atualmente, razão pela qual enfocaremos algumas abordagens sobre esses termos.
Para Rosa (2006), a imagem está baseada na percepção, não representando aquilo
que a organização projeta, mas o que os públicos visualizam. Além disso, “a forma como
somos percebidos e o apenas a objetividade do que somos ou do que fazemos é algo
que agrega valor” (ROSA, 2006, p. 238).
Na análise de Almeida (2009, p. 228), a imagem é um fator inacabado, “receptivo e
mutante, sempre passível de modificações e adição de novas informações, podendo alterar
ou não o seu significado simbólico, dependendo do modo e constância em que são emitidas
63
novas informações e como estas são recebidas e percebidas”. Portanto, conforme sua visão,
imagem institucional é uma representação transitória da organização em determinado
tempo, cuja formação consiste em um processo subjetivo e único, relacionado à
experiência individual e, ao mesmo tempo, um somatório de sensações, percepções e inter-
relações de atores sociais:
Uma impressão vivida e holística de uma organização, sustentada por
determinado segmento de público; parte, resultado de um processo de
construção de sentido, desenvolvido por esse determinado público, e
outra parte, conseqüência do processo de comunicação da organização,
formal ou informal, com maior ou menor controle, sistematizado ou não,
constante ou esporádico, bem ou mal gerenciado (ALMEIDA, 2009, p.
228).
Para Almeida (2009) a imagem é essencial para o funcionamento de uma
organização por estar relacionada às respostas afetivas e de comportamento de seus
membros e não-membros e porque estimula e mantém a aliança com os grupos de
relacionamento. A autora acredita no sensível papel que a comunicação tem na construção
da imagem de uma organização, por promover a construção de significados. Mas, apesar
desse caráter intrínseco, ela pondera que se o discurso organizacional não for coerente com
as ações, “o processo de comunicação não consegue sustentar uma imagem que não esteja
alinhada ao comportamento e às ações empreendidas pela organização” (ALMEIDA, 2009,
p. 230).
Iasbeck (2009) considera que a imagem se forma na recepção, sendo que o
resultado desse processo não mantém fidelidade com o discurso tal como é produzido pelo
emissor. Por isso, o esforço comunicacional neste sentido deve ser permanente, porque
conforme assinala Rosa (2006, p. 142):
Se uma imagem depende da percepção e a percepção será condicionada
pelos valores associados a essa imagem, esse esforço de associação
positiva deve ser permanente, em todos os campos, a todos os momentos,
para que novos valores não alterem o significado que tão arduamente
conseguimos construir. A regra vale para as reputações.
Outro aspecto crucial neste mundo marcado por mudanças freqüentes, a Identidade
64
Organizacional também tem sido alvo de rios estudos, talvez numa tentativa de buscar o
equilíbrio entre o que é estável e é fluido (ALMEIDA, 2009). Fatores como flexibilidade e
mobilidade são realidades neste contexto de constantes mudanças do ambiente
organizacional. Segundo Almeida (2009, p. 217, grifo do autor), “discute-se hoje como
manter uma identidade forte, centrada nos valores e princípios que sustentam a
organização diante de mudanças que, em grande parte, podem alterar o sentido de ser a
organização”. Nesse sentido:
A identidade de uma organização não pode ser entendida ou analisada
como algo homogêneo e condensado por seus membros. Ela é uma única
identidade, por se tratar de uma organização, mas é vista, vivida,
praticada por indivíduos com percepções, visões e perspectivas distintas,
que vão construindo seus significados e (res) significando-os em um
ambiente cultural exposto às influências socioeconômicas e políticas
(ALMEIDA, 2009, p. 217).
A partir dos estudos de Albert e Whetten esta autora aponta as três características
básicas da identidade organizacional: centralidade, distintividade e permanência. Dessa
forma, ela conceitua Identidade Organizacional como:
O que é considerado pela maioria dos empregados como a essência da
organização, o que faz a organização se distinguir de outras e o que é
percebido como estável ao longo do tempo, ou seja, o que faz a ligação
entre o presente e passado e, provavelmente, o futuro (ALMEIDA, 2009,
p. 221).
Apesar das diferenças conceituais entre os dois termos, Almeida (2009) considera
que tanto a identidade e quanto a imagem são processos de construção de sentido cujo
gerenciamento colabora para a construção “ao longo do tempo, de uma reputação positiva,
de forma que os stakeholders tenham uma disposição favorável em relação à organização”
(ALMEIDA, 2006, p.36).
Iasbeck (2009, p. 08) também conceitua identidade, apontando que esta envolve
muitas dimensões da essência e atuação das organizações, além das usualmente mais
visíveis, tais como a marca ou a sua constituição jurídica. Esse autor aponta o caráter
relacional da identidade: “a identidade não pode ser compreendida, caracterizada ou
65
configurada senão nas relações que a fazem surgir ou que a evocam como paradigma
necessário à construção dos processos dinâmicos e interativos da comunicação humana”
(IASBECK, 2009, p. 08).
Iasbeck (2009) distingue, ainda, três momentos de identidades numa organização,
evidenciando que ela assume múltiplas feições diante de seus diversos públicos tantos
quantos forem esses segmentos. Sendo assim, na visão do autor, a identidade de uma
organização está associada a tudo o que é inerente ao seu modo de ser, sua conformação,
sua razão de existir (IASBECK, 2009, p. 10), ou seja, “seu lugar social, sua missão, pelo
modo de atuação, pelas respostas que fornece ao meio ambiente pelos insumos que dele
recebe para manter-se integrada, atuante e persistente” (IASBECK, 2009, p. 10). Ainda
conforme sua ótica, a identidade é construída continuamente “na relação que mantém com
os demais sistemas que lhe são afins” (IASBECK, 2009, p. 10).
Numa outra vertente, Marchiori (2009, p. 310) analisa a relação entre identidade e
cultura organizacional indicando que:
Se identidade é fonte de significado e experiência, envolve cultura.
Engloba também a concepção que cada indivíduo tem de si, construída e
internalizada conforme uma série de processos existentes, os quais
justificam sua ação em relação ao que acredita ser verdade para si.
Portanto, na perspectiva sociológica, a identidade é construída. Se
olharmos para o interior das organizações, veremos que não é diferente.
A identidade é formada e mantida pelos membros que ali compartilham,
discutem e determinam os caminhos que a empresa deseja seguir.
O outro elemento dessa tríade recursiva, a reputação, é compreendido por alguns
autores como algo duradouro. Para outros, o conceito é volátil. Essa é a concepção de Rosa
(2006), para quem tanto a reputação como a imagem são fugazes pois dependem da
percepção dos públicos. Conforme pondera, “qualquer esforço de reputação deve estar
focado no olhar dos outros: porque nossa imagem é aquela que os outros enxergam em nós.
Nossa imagem verdadeira será aquela que for verdadeira no olhar de quem nos vê”
(ROSA, 2006, p. 135). Ainda segundo o autor, trabalhar para preservar a reputação de uma
organização “é como zelar pela pureza de uma fonte de água cristalina. É manter pura e
sem mistura uma imagem, mantendo-a livre daquilo que não faz parte dela” (ROSA, 2006,
p. 250).
Noutro sentido, Almeida (2009) considera a reputação como algo durável no
66
tempo, um ativo que reflete maior durabilidade e consistência no discurso da organização.
Em sua visão, ela possui “uma dimensão histórica, a qual reflete a percepção da
consistência de ação e comportamento da corporação ao longo do tempo” (ALMEIDA,
2009, p.232). Desse modo, a reputação é construída ao longo dos anos e tem como base as
ações e comportamentos da empresa, ou seja, tem uma dimensão histórica, a qual reflete a
percepção da consistência de ação e comportamento da corporação ao longo do tempo
(ALMEIDA, 2009, 232). Assim, “a reputação pode ser entendida como um crédito de
confiança adquirido pela empresa, estando esse crédito associado a um bom nome,
familiaridade, boa vontade, credibilidade e reconhecimento” (ALMEIDA, 2009, 232).
Não obstante os conceitos de imagem, identidade e reputação possuírem
abordagens e temporalidades diferentes são (inter) dependentes e têm relação direta com a
cultura organizacional e com as práticas de memória. Nessa lógica recursiva, Almeida
(2006, p. 37) admite que:
Identidade interfere na imagem e reputação e, por sua vez, imagem e
reputação interferem na construção e manutenção da identidade. Esse é
um processo contínuo e cíclico, em que a organização deve buscar um
alinhamento entre as percepções internas e externas, de forma a
consolidar uma reputação sustentada ao longo dos anos.
De acordo com Freitas (2000), os estudos sobre Cultura Organizacional tiveram
notável desenvolvimento na cada de 1980 e hoje a temática está completamente
incorporada à teoria das organizações, às análises administrativas e ao cotidiano das
empresas. Como conseqüência, existem variados enfoques teóricos sobre esse conceito,
assim como existem diversas instâncias de cultura nas organizações.
Freitas (2000) compreende Cultura Organizacional como um instrumento de poder
e um conjunto de representações sociais com objetivo de garantir unidade e coesão entre os
membros de uma coletividade. Conforme propõe, a cultura se constrói e reconstrói nas
relações existentes na organização, constituindo uma fonte de identidade e de
reconhecimento. Sob essa perspectiva:
[Cultura organizacional é o] conjunto de representações imaginárias
sociais que se constroem e reconstroem nas relações cotidianas dentro da
organização e que se expressam em termos de valores, normas,
67
significados e interpretações, visando um sentido de direção e unidade,
tornando a organização fonte de identidade e de reconhecimento para
seus membros (FREITAS, 2000, p. 97).
Srour (1998) corrobora com a idéia de coesão e controle social apontada por
Freitas. Em sua visão, a cultura organizacional contribui para a coesão da instituição à
medida que os sistemas de referências simbólicos moldam as ações dos sujeitos de acordo
com certas regras. Construída ao longo do tempo, ela exprime a identidade da organização,
como um elo entre o presente e o passado, contribuindo, desta forma, para a permanência
da organização. Dentro de uma perspectiva sociológica, este autor compreende a cultura
como uma liga que mistura(grifo nosso) as representações contidas nas organizações,
resultante de uma aprendizagem socialmente condicionada. É aprendida, transmitida e
partilhada, o que torna tudo natural e normal, mesmo tendo sido intencionalmente
inculcado: “a cultura forma um sistema coerente de significações e funciona como um
cimento que procura unir todos os membros em torno dos mesmos objetivos e dos mesmos
modos de agir” (SOUR, 1998, p.175).
Já Fleury (2005) admite a cultura como algo que permeia a organização, não
podendo ser dissociada do contexto sociocultural mais amplo em que ela se insere. Dessa
forma, “a cultura não pode ser pensada apenas como um momento, mas precisa ser sempre
contextualizada numa perspectiva histórica mais ampla” (FLEURY, 2005, p. 38). Uma
conseqüência paradoxal dessa afirmativa, é que o mesmo tecido que sustentação a uma
série de ações pode ser forte demais a ponto de impedir ou dificultar a realização de
mudanças, pois, considerando que “uma organização que tem uma cultura forte uma
sustentação a seus membros [...] é mais difícil mudar esta organização” (FLEURY, 2005,
p. 42). A autora sinaliza o relevante papel da comunicação na formação da cultura
organizacional. Para ela, a cultura possui várias instâncias, as quais denomina camadas
(grifo nosso), todas atravessadas pela comunicação, processo que a torna possível
(FLEURY, 2005).
Schuler (2009, p. 244) argumenta que a cultura se forma a partir da necessidade
humana em administrar a existência, sendo definida como “um processo coletivo de
construção da realidade, por meio da representação, que permite que as pessoas vejam,
interpretem e entendam a realidade compartilhada de forma semelhante”. Para a autora,
“gerar cultura é, antes de tudo, compartilhar significados, ou seja, tornar significados
comuns ou, ainda, comunicar” (SCHULER, 2009, p. 244, grifo do autor).
68
Neste mesmo sentido, Marchiori (2009) compreende cultura organizacional como
um processo complexo, comunicativo e multidimensional presente nas organizações. Para
ela, as culturas são “continuamente formadas e transformadas pelas pessoas nos espaços
organizacionais” (MARCHIORI, 2009, p. 294). A importância do aspecto relacional se
encontra na afirmação dessa autora onde indica que:
A cultura é construída, mantida e reproduzida pelas pessoas, pois são elas
em vez de um autônomo processo de socialização, ritos, práticas sociais
que criam significados e entendimentos. Essa consideração nos leva a
olhar para o ser humano de uma forma mais atenta, por vê-lo como o
principal canal dos acontecimentos nas organizações (MARCHIORI,
2009, p. 294).
Sob a perspectiva de Marchiori (2009), a cultura é a essência da organização,
comunicativamente construída, sendo recursivamente tanto um processo de interação
quanto um produto dessas interações. Mas tanto cultura quanto comunicação são processos
de aprendizado e de compartilhamento de significados:
Algo que deve ser entendido como o produto de um processo histórico
o que significa construção, não havendo como visualizar a construção de
significados sem comunicação. Somente dessa forma é que se tem a
identidade formada, preservada e validada entre os diferentes membros
organizacionais (MARCHIORI, 2009, p. 309).
Numa perspectiva diferente caminha Teijeiro (2006), que concebe a própria
organização como um ator comunicativo, criador de cultura. Para ele a cultura é um
conjunto de significados compartilhados que será verdadeira se for comunicada. Sob
este prisma, as organizações não podem alcançar seus objetivos estratégicos, se não
levarem em conta cada uma das ações que farão para conquistá-los, sendo que todas estas
constroem significados e sentidos. Assim, comunicar o que as empresas fazem é criar
cultura, pois “tudo quanto a empresa faz, diz, omite ou cala influi sobre o entorno cultural
em que a empresa está inserida e onde ela desenvolve suas atividades” (TEIJEIRO, 2006,
p. 26, tradução nossa)
42
. O autor percebe a comunicação como a dinâmica própria da
42
No original “todo cuanto la empresa hace, dice, omite y calla inflye sobre el entorno cultural em el que la
empresa se encuentra y em el que lleva a cabo sus actividades” (TEIJEIRO, 2006, p. 26).
69
cultura e, neste sentido, todo processo de criação de cultura como um processo
essencialmente comunicativo. Ainda de acordo com sua reflexão, as organizações da
sociedade complexa precisam se redefinir como criadoras de cultura e sentido, interna e
externamente, pois “querendo ou não, as empresas criam cultura com cada uma de suas
ações ou omissões” (TEIJEIRO, 2006, p. 34, tradução nossa)
43
.
Os ditos, os não-ditos e todas as ações e, até mesmo, a falta de ação, comunica a
cultura organizacional. De acordo com Roman (2009), as organizações se constituem em
universos de discursos bem-ditos, mal-ditos e não-ditos.
Os bem-ditos são entendidos pelo autor como “os enunciados institucionais,
formais ou informais”. São mensagens, orais ou escritas, “institucionais e oficiais,
autorizadas e planejadas, divulgadas pelos canais de comunicação formais ou informais”
44
(ROMAN, 2009, p.130), configurando-se como “uma versão da realidade” (ROMAN,
2009, p. 137).
Os mal-ditos são os enunciados clandestinos - boatos, rumores e fofocas -
produzidos “à sombra dos espaços institucionais e divulgados à margem dos canais
convencionais de comunicação” (ROMAN, 2009, p.125), que se propagam com rapidez e
intensidade através das redes de informação e comunicação não oficiais e se constituem, na
[...] subversão da realidade” (ROMAN, 2009, p. 137, grifo do autor), não tendo, por isso,
compromisso com a verdade.
Os não-ditos, por sua vez, são os mal-ditos que foram impedidos de serem
expressos, silenciados em razão de uma censura, explícita ou não” (ROMAN, 2009, p.
144). Conforme o referido autor, se essa fala for negada, por muito tempo pode
comprometer o desempenho do público interno, gerar doenças laborais ou explodir
descontroladamente em dado momento, o que será ainda mais negativo para a organização.
Embora os ditos, mal ditos e não ditos não sejam fenômenos novos, se exacerbaram
consideravelmente com o informacionalismo
45
, a retribalização digital
46
e a centralidade
43
No original “quiéranlo o no, las empresas crean cultura com cada una de sua acciones y omisiones” (TEIJEIRO,
2006, p. 34).
44
Conforme pondera o autor, essas mensagens se propagam predominantemente em fluxos comunicacionais
lineares e convencionais: “top down, botton up e midl up down (da alta hieraquia para a base, da base
para a alta hierarquia, da gerência média para a alta hierarquia e para a base)” (ROMAN, 2009, p. 131).
45
Roman (2009, p. 127) retoma o conceito de Informacionalismo trazido por Castells, que consiste no “novo modo
de produção que se desenvolve na pós-modernidade com a integração em redes, que é base para a flexibilidade
organizacional e o desempenho empresarial”. Ou seja, pessoas conectadas, em tempo real, independentes do local
onde estejam.
46
Retribalização digital, de acordo com Roman (2009, p. 127), é o movimento de socialização atual “que acontece
70
organizacional
47
da pós-modernidade, que propiciaram o aumento da produção discursiva
em razão das mudanças no mundo do trabalho e no ambiente organizacional. Como parte
dessa gica, os bem-ditos e mal-ditos são antagônicos e complementares: “não se pode
negar qualquer um deles, sob pena de reduzirmos a complexidade constitutiva das relações
comunicativas” (ROMAN, 2009, p. 155). Mais ainda, segundo o autor, “a polifonia
discursiva é uma característica das organizações dialógicas e demanda tolerância para que
se permita a convivência de discursos antagônicos e complementares” (ROMAN, 2009, p.
145). Para Roman (2009, p. 153), “nós somos, ao mesmo tempo, seguidores e
transgressores das regras sociais e, portanto, todos produzimos discursos bem-ditos e mal-
ditos, de acordo com tempo e o espaço que vivenciamos”.
Diante do exposto, podemos compreender que a cultura da organização tem relação
direta com a sua identidade, imagem e reputação. E todos estes aspectos influenciam e são
influenciados recursivamente pela comunicação. Assim, torna-se premente que as
organizações utilizem sua memória para comunicar suas ações, inclusive os fatos negativos
de sua trajetória, pois, conforme vimos, o som dos não-ditos, muitas vezes, é mais audível
do que o dos discursos ditos, o que pode prejudicar o relacionamento com seus públicos de
interesse.
Conforme Wolton (2006), comunicar envolve dois parceiros, emissor e receptor,
que nem sempre concordam com o que é dito, mas que necessitam estar em condições de
igualdade. O receptor, elemento central da comunicação na visão deste sociólogo, não é
passivo e nem sempre está em harmonia com a mensagem. A comunicação, antes era
unidirecional e não pressupunha muitos questionamentos. Hoje, com a variedade de
públicos e com o alto grau de informações disponíveis, demanda negociação o tempo todo.
Diante deste cenário complexo, a relação desponta como sendo mais importante do que a
mensagem. Com base na intrincada lógica existente na atualidade, Roman (2009) pondera
que:
graças à ampliação da área de relacionamento além dos limites físicos e geográficos e às possibilidades de
interação virtual, propiciadas pelas novas tecnologias digitalizadas de telecomunicação, no bojo do
informacionalismo”. (ROMAN, 2009, p.127)
47
Centralidade organizacional consiste na importância e no significado “que as organizações passaram a ter na
vida das pessoas na pós-modernidade [onde] a energia humana envolvida no trabalho é hoje preponderantemente
administrada por organizações estruturadas com o objetivo de obter resultados, financeiros ou não” (ROMAN,
2009, p.127).
71
Quando se opera com um conceito de comunicação como processo
dialógico de estabelecimento de relações entre sujeitos, não se deve
pretender totalidade resolutiva nas ações de comunicação. Esses sujeitos,
interlocutores que participam das interações comunicativas, são seres
singulares com demandas e expectativas específicas e que desenvolvem
uma relação existencial particular com a organização e com as pessoas. É
impossível dar conta dessa pluralidade infinita de efeitos de sentido
gerados nos processos relacionais (ROMAN, 2009, p. 150).
O sentido de negociação proposto por Wolton (2006) aproxima a comunicação do
campo da memória. Nesta direção, recuperamos as considerações de Pollak (1992) quando
este salienta que o processo de construção da identidade é possível apenas por meio da
negociação direta com outros sujeitos. O desafio que se coloca, portanto, para a
Comunicação Organizacional é (re) posicioná-la no campo das possibilidades,
reconhecendo que esta não é uma fórmula mágica que pode solucionar todos os problemas
da organização, mas sim uma opção na busca pelo equilíbrio entre o discurso e as práticas
organizacionais.
72
4 AS PRÁTICAS DE MEMÓRIA DO EXÉRCITO BRASILEIRO
Recuperar, organizar, dar a conhecer a memória da empresa não
é juntar em álbuns velhas fotografias amareladas, papéis
envelhecidos. É usá-la a favor do futuro da organização e seus
objetivos presentes. É tratar de um dos seus maiores
patrimônios dentro de estratégias e ações que envolvam o
pensamento [...] de comunicação organizacional (NASSAR,
2007, p.139).
Edgar Morin, no livro “Educação e Complexidade: os sete saberes e outros ensaios”
(2007) aponta os caminhos para a reforma do pensamento que, para ele, também passa pela
reflexão acerca das grandes questões da curiosidade infantil “quem somos”, “de onde
viemos”, “para onde vamos” , indagações que necessitam permanecer como as grandes
interrogações dos adultos uma vez que podem revelar as dimensões psicológicas, sociais e
históricas dos sujeitos, inserindo os seres humanos em uma realidade maior, o cosmo
48
.
Da mesma forma, a partir destas três questões “quem somos”, “de onde viemos”,
“para onde vamos” é que enfocamos o Exército Brasileiro, na tentativa de apreender suas
dimensões dentro do contexto histórico e social do país, e revelar as nuances e os aspectos
que permeiam e caracterizam a instituição, buscando contextualizá-la e compreender as
práticas de memória que adota. Na primeira parte, Quem somos?” (grifo nosso),
abordaremos a estrutura da organização. Sua história será apresentada na segunda parte:
De onde viemos?” (grifo nosso). A questão Para onde vamos?” (grifo nosso), é
considerada como o caminho que a instituição está trilhando para contar sua história, onde
serão relacionadas características de seus Sistemas de Comunicação e Cultura, bem como
as práticas de Memória Institucional que adota. Mais adiante enfocamos o Comando
Militar do Sul, e mais especificamente as práticas de memória desenvolvidas no Rio
Grande do Sul como um recorte para aproximar o objeto do local.
48
Ainda conforme Morin (2008), essas questões servem para contextualizar o conhecimento. Nesse sentido, “Todo
conhecimento, para ser pertinente, deve contextualizar seu objeto. “Quem somos nós?”é inseparável de “onde
estamos, de onde viemos, para onde vamos?” (MORIN, 2008, p. 37, grifo do autor).
73
4.1 “QUEM SOMOS ?”
O Exército Brasileiro é uma Instituição presente em todo o território nacional que
conta com mais de 360 anos de história. Atualmente está subordinado ao Ministério da
Defesa, órgão do Governo Federal criado em 1999 para exercer a direção superior das
Forças Armadas
49
.
Dispõe de 1.225 organizações militares distribuídas pelo país, com um efetivo
estimado em 200.000 militares. pouco mais de cem anos atrás, em 1889, o Exército
“era uma força pouco numerosa, composta de aproximadamente 13,5 mil homens
divididos pelo território brasileiro em cinqüenta regimentos e batalhões com menos de
trezentos homens em média em cada uma” (MCCANN, 2007, p. 38).
Sua estrutura organizacional é formada por Órgãos de Assessoramento
50
, Órgão de
Direção Geral
51
e Órgãos de Direção Setorial
52
. Possui sete Comandos Militares de Área
53
,
todos com a missão de coordenar as atividades das organizações militares dentro de áreas
geográficas estipuladas, bem como o planejamento, o preparo e o emprego das tropas em
seu campo de ação, sempre de acordo com as diretrizes recebidas do comando do Exército.
Os grandes comandos são constituídos por divisões de exército, brigadas e organizações
militares de diversas naturezas e, para fins de apoio logístico e defesa territorial, são
divididos em doze Regiões Militares (Figura 4).
As Regiões Militares (RM) coordenam as atividades logísticas de suprimento,
manutenção, transporte, saúde e pessoal, além de participarem do sistema do Serviço
Militar e de realizarem obras nos quartéis, em sua área de jurisdição. Elas são responsáveis
49
O Ministério da Defesa (MD) é o órgão do Governo Federal incumbido de exercer a direção superior das Forças
Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica. Uma de suas principais atribuições é o
estabelecimento de políticas ligadas à Defesa e à Segurança do País. MINISTÉRIO DA DEFESA. Conheça o MD.
Disponível em: https://www.defesa.gov.br/conheca_md/index.php?=oquee. Acesso: 25 Out 2009.
50
São os Órgãos de Assessoramento: Gabinete do Comandante do Exército; Centro de Inteligência do Exército;
Centro de Comunicação Social do Exército; Consultoria Jurídica - Adjunta do Comando do Exército; e Secretaria-
Geral do Exército (ESTRUTURA ORGANIZACIONAL, 2009).
51
O Estado-Maior do Exército (EME) é o Órgão de Direção Geral do Exército (ESTRUTURA
ORGANIZACIONAL, 2009).
52
São os Órgãos de Direção Setorial: Departamento-Geral do Pessoal; Departamento de Engenharia e Construção;
Departamento de Ciência e Tecnologia; Departamento de Educação e Cultura; Comando de Operações Terrestres;
Secretaria de Economia e Finanças; Departamento Logístico (ESTRUTURA ORGANIZACIONAL, 2009).
53
São os Comandos Militares de Área: Comando Militar do Sul (CMS), em Porto Alegre; Comando Militar do
Sudeste (CMSE), em São Paulo; Comando Militar do Nordeste (CMNE), em Recife; Comando Militar do Leste
(CML), no Rio de Janeiro; Comando Militar do Planalto (CMP), em Brasília; Comando Militar do Oeste (CMO),
em Campo Grande; e Comando Militar da Amazônia (CMA), em Manaus. A FORÇA TERRESTRE. Disponível
em: <http://www.exercito.gov.br/01inst/Conheca/estrorgeb.htm>. Acesso: 02 mai. 2008.
74
por divulgar as diretrizes recebidas e coordenar os trabalhos das Organizações Militares
(OM) dentro de sua Guarnição
54
. Estas OM, por sua vez, desenvolvem trabalhos
específicos de acordo com a sua função, sempre em consonância com as diretrizes
recebidas dos escalões superiores. De uma maneira geral, as atividades desenvolvidas por
elas são de preparo e emprego da tropa, manutenção de material, treinamento, educação e
formação do pessoal e apoio de saúde.
Figura 3 - Comandos Militares de Área e Regiões Militares
Fonte: Revista Verde Oliva, ano XXXV, 200, Jan/fev/mar 09, Brasília: DF, Centro de
Comunicação Social do Exército.
A hierarquia, uma das bases da instituição, pode ser observada no encadeamento
das diretrizes dentro dos escalões e nas várias camadas funcionais que se inter-relacionam
e formam, de maneira dinâmica, em seu conjunto, o corpo social, que se pretende coeso, da
Instituição. Logo, as Regiões Militares seguem diretrizes vindas do seu escalão superior,
ou seja, o comando militar ao qual é subordinada. Os Comandos Militares de Área seguem
as diretrizes do Comando de Operações Terrestres, que segue a linha adotada pelo
Comando do Exército. Assim, todos os integrantes do sistema seguem uma cadeia de
54
Guarnição consiste na área de atuação de uma Região Militar.
75
comando para cumprir suas missões específicas e colaborar para o desenvolvimento da
missão maior da organização
55
.
Mesmo nesta estrutura hierarquizada que planeja e distribui diretrizes que devem
ser seguidas, escalão após escalão, é possível perceber que existem múltiplas organizações
dentro da Instituição. Isto porque cada unidade militar tem sua própria cultura e forma de
gerir, que varia de acordo com seu segmento de atuação, estilo de gestão do comandante,
diferenças regionais e culturais, situação de emprego, tipo de vínculo com os militares sob
seu comando. Apesar de seguirem as mesmas diretrizes vindas do comando do Exército, a
ação de cada uma se de maneira diferenciada de acordo com suas especificidades. É
única, mas ao mesmo tempo é diversa, seguindo uma dialogicidade que “permite assumir
racionalmente a inseparabilidade de noções contraditórias para conceber um mesmo
fenômeno complexo” (MORIN, 2008, p. 96).
A partir de 1960 o Exército sofreu importantes alterações, em termos operacionais,
estruturais e doutrinários, no sentido de se ajustar às mudanças do mundo contemporâneo e
cumprir sua missão
56
. Ao final da cada de 1980 a instituição, essencialmente masculina,
passou a aceitar mulheres em seu corpo, para atuar nas áreas técnicas e administrativas. Em
1994, a instituição iniciou um processo de modernização do ensino, com o objetivo de
capacitar seus recursos humanos para “acompanhar os avanços da era do conhecimento e
de integrar o Exército do século XXI” (POLÍTICA, 2009).
Além das mudanças estruturais evidenciadas, ocorreram também alterações nas
relações internas em decorrência dos novos tempos trazidos pela Sociedade da Informação,
e do reconhecimento do valor de possuir uma postura mais aberta numa sociedade em que
o volume de informações que circulam dentro e fora do âmbito organizacional é decisivo.
Pode-se observar que o modelo de gestão burocrático, que se desenvolve por meio da
hierarquia e da disciplina, característico deste tipo de organização, tem sido
gradativamente suavizado
57
para tornar o Exército mais flexível em suas relações com a
55
Os elementos de combate da Força Terrestre estão representados pelas Armas de Infantaria e Cavalaria, também
chamadas de armas-base. As Armas de Artilharia, Engenharia e Comunicações realizam o apoio ao combate. Os
Serviços de Intendência e Saúde e o Quadro de Material Bélico prestam apoio logístico à Força. Esses
componentes atendem à atividade-fim do Exército. Outros quadros e serviço atendem à atividade meio: o Quadro
Auxiliar de Oficiais, o Quadro Complementar de Oficiais, o Quadro de Engenheiros Militares e o Serviço de
Assistência Religiosa do Exército. Fonte: Revista Verde-Oliva Revista Verde Oliva, ano XXXV, nº200,
Jan/fev/mar 09, Brasília: DF, Centro de Comunicação Social do Exército.
56
A missão do Exército Brasileiro é de assegurar a defesa nacional, garantir os Poderes Constitucionais, a Lei e a
Ordem, participar de operações internacionais - de acordo com os interesses do País - e cooperar com o
desenvolvimento nacional e a defesa civil (MISSÃO, 2008).
57
Mais uma vez nos reportamos ao slogan que o Exército Brasileiro vem utilizando alguns anos: “Braço forte,
76
sociedade, procurando desmistificá-lo, principalmente no que se refere ao passado recente
da Ditadura Militar (1964-1985).
Não obstante a organização ter como um de seus objetivos preservar as tradições, a
memória e os valores morais, culturais e históricos do país, projeto reafirmado em diretriz
assinada por seu Comandante, em que reforçou o valor de um “Exército genuinamente
brasileiro, que sirva à Nação, movido por valores patrióticos consolidados ao longo do
processo histórico e repassados com grandeza de geração em geração até os dias de hoje”
(DIRETRIZ, 2008, p. 01), ela mesma reconhece os fatores críticos para o pleno
desenvolvimento de sua missão constitucional: a necessidade de comprometimento do
público interno com os objetivos da Instituição, a coesão de seu público interno em torno
destes objetivos, e integração à Nação (FATORES CRÍTICOS, 2008).
Esse cenário revela a complexidade de trabalhar a comunicação numa organização
com essa realidade. Dadas suas características próprias, podemos observá-la a partir da
discussão proposta por Morgan (2000) sobre as metáforas da organização. De acordo com
Marchiori (2009, p. 299), a leitura das organizações por meio de metáforas amplia as
possibilidades de vertentes em relação à cultura organizacional, sendo estas “um elemento
crucial do modo como as pessoas se relacionam com a realidade”. Para Santos (1994, p.
41), a atração por metáforas “não deve decretar a morte dos conceitos, mas, pelo contrário,
exige realçar a tarefa de separar metáfora e conceito, no entendimento do acontecer atual”.
Morgan (2000) faz uma revisão crítica das teorias administrativas tradicionais
buscando compreender as organizações por meio de metáforas que evidenciam as
ambigüidades e os paradoxos coexistentes no ambiente organizacional. Conforme este
autor, nenhuma das abordagens que introduz são excludentes. Nas perspectivas por ele
apresentadas, as organizações podem ser vistas como: a) Máquinas, ou seja, compostas de
partes/peças que se interligam, cada uma desempenhando um papel claramente definido no
funcionamento do todo; b) Organismos, ou seja, sistemas vivos que existem em um
ambiente mais amplo do qual dependem em termos da satisfação das suas várias
necessidades; c) Cérebros, capazes de desenvolver habilidades para realizar o processo de
organização de maneira que promova a ação flexível e criativa; d) Culturas, ou os lugares
onde residem idéias, valores, normas, rituais e crenças que as sustentam realidade
socialmente construídas; e) Sistemas políticos, devendo encontrar formas de criar ordem e
mão amiga”, para destacar que embora seja o poder armado que tem uma missão legítima a cumprir, pode ser uma
força de paz, desvinculando-se da memória do Regime Militar e de outros fatos que ainda permanecem no
imaginário coletivo.
77
dar direção às pessoas com interesses potencialmente diversos e conflitantes; f) Prisões
psíquicas, em razão dos processos, conscientes e inconscientes, que as criam e as mantém,
e que passam às pessoas com as quais mantém relação a idéia de que estas podem tornar-se
prisioneiras das imagens, idéias, pensamentos e/ou ações gerados por esses processos, tal o
poder que lhe permite exercer certo grau de controle destas; g) Fluxo e transformação,
onde as organizações são sistemas auto-produtores que se criam nas suas próprias imagens,
sistemas organizacionais produzidos enquanto resultado de fluxos circulares de feedback
(positivo e negativo) e produto de uma lógica dialética por meio da qual todos os
fenômenos tendem a gerar o seu oposto; h) Instrumentos de dominação, onde os indivíduos
ou grupos encontram formas de impor a respectiva vontade sobre os outros.
Compreendemos, assim, que o Exército Brasileiro pode ser entendido a partir da
metáfora da máquina, sobretudo porque o pensamento mecanicista aparece no
desenvolvimento de sua missão, onde o trabalho tem metas e objetivos como fins, na
estrutura racional de tarefas e atividades, no desenho dos organogramas, no planejamento
com tarefas e atividades definidas rigidamente, nos comportamentos predeterminados e no
reduzido espaço para as mudanças e inovações, não obstante a organização demonstrar
que se preocupa com o desafio trazido pelos novos e complexos tempos.
Segundo Morgan (2000), esse modelo objetiva o crescimento da produção, embora
possua uma rigidez que dificulta as mudanças. A necessidade de moldar o comportamento
do funcionário e a expectativa de que estes possuam eficiência e atuem de acordo com a
programação pré-estabelecida são outros aspectos relevantes para que se compreenda esta
perspectiva. Esse tipo de visão orienta as organizações e a administração desde a
Revolução Industrial, quando os empregados se tornaram altamente especializados e o
trabalho altamente padronizado, sendo possível, no entanto, observar organizações com
esta estrutura até os dias atuais.
Organizações com a predominância dessa ótica são racionais, planejadas e
estruturadas para atingir determinados fins. As pessoas são vistas como peças bem
azeitadas de uma máquina, devendo se comportar de maneira predeterminada para cumprir
os objetivos e metas propostos. Para Mintzberg (2001), organizações com essa
configuração têm como principal mecanismo de coordenação a padronização dos processos
de trabalho, a tecnoestrutura e uma descentralização horizontal limitada. Na análise de
Morgan (2000), as organizações orientadas pela metáfora da máquina têm dificuldade de
adaptação às mudanças, por serem racionais e burocráticas.
78
Por outro lado, apesar de ser limitadora da ação organizacional, esta metáfora
funciona bem num ambiente estável, onde é possível a submissão do trabalhador e um
mesmo produto a ser desenvolvido. Morgan (2000) considera que existem algumas
organizações onde esta visão é até desejável. Esse é o caso das Forças Armadas, onde esta
configuração pode ser evidenciada desde Frederico, o Grande, na Prússia (1740-1786), que
inseriu neste contexto os escalões, os uniformes, as regulações, a linguagem de comando e
a descentralização, ou seja, autonomia de cada peça nas situações de combate (MORGAN,
2000).
Para Quinn, Anderson e Finkelstein (2001, p. 158), “a burocracia é um design
eficiente para unidades estáveis, cuja preocupação preponderante é a consistência, a
responsabilidade e o incremento relativo”. Porém, apesar do conceito de burocracia ser
visto de uma maneira geral como algo negativo, estes autores apontam que as organizações
mesmo atuando em ambiente complexos ainda manterão aspectos burocráticos, posto que é
“indispensável”, porque “sob o moderno capitalismo, metas de flexibilidade e eficiência
precisam coexistir com demandas de confiabilidade, dependência e aquiescência”
(QUINN; ANDERSON; FINKELSTEIN, 2001, p. 158). Até a cadeia hierárquica é positiva
na visão destes autores, que afirmam, que “as organizações em ambientes
hipercompetitivos serão hierárquicas”, pois algum nível de hierarquia é essencial, para
resolver conflitos e alocar recursos limitados (QUINN; ANDERSON; FINKELSTEIN,
2001, p. 158).
De acordo com Morin (2006), a burocracia é ambivalente, uma vez que é racional
na medida em que aplica regras impessoais, mas que são válidas para todos, garantindo
assim a coesão e a funcionalidade de uma organização, e, por outro lado, é um instrumento
de decisões que não são necessariamente racionais. Ainda segundo este autor, “a
burocracia pode ser considerada como um conjunto parasitário onde se desenvolve toda
uma série de bloqueios, de atravancamentos que se transformam em fenômeno parasitário
no seio da sociedade” (MORIN, 2006, p. 90).
Pelo exposto, acreditamos ser possível afirmar que a realidade da organização
Exército é complexa, pois conforme observa Morin (2006, p. 91), “as relações no interior
de uma organização, de uma sociedade, de uma empresa são complementares e
antagônicas ao mesmo tempo”.
Nesse sentido, o Exército é uma Instituição que por sua própria natureza é diferente
79
de outras instituições sociais
58
, pois funciona como máquina ao exigir que seus integrantes
atuem da forma para a qual foram treinados e doutrinados para agir e, deste modo, cumprir
sua missão constitucional. Por outro lado, também necessita de flexibilidade, coesão e
postura aberta ao diálogo para legitimar esse objetivo. Se pensarmos que o que nos parece
antagônico também é complementar, seguindo a lógica dialógica
59
de Morin (2008),
perceberemos a necessidade da reflexão sobre novas possibilidades de comunicação
organizacional, que permitam novos olhares a partir de em uma realidade tão diversa.
4.2 “DE ONDE VIEMOS?”
As Forças Armadas, especialmente o Exército, tiveram significativa contribuição na
história social e política brasileira. Nestes mais de 360 anos de trajetória, a Força Terrestre
vem participando ativamente de inúmeros acontecimentos, muitos exitosos e outros ainda
bastante dolorosos na lembrança do país. Mas essa é uma condição intrínseca para essa
instituição, porque, na visão de McCann (2007, p. 19), “os exércitos são instrumentos da
violência organizada, e suas histórias devem refletir esse fato”.
O início da Instituição remonta à Batalha dos Guararapes, ocorrida na região
nordeste em 1648, com o objetivo de expulsar os holandeses que haviam invadido o litoral
brasileiro. Somando esforços para expulsar os invasores, as três raças formadoras da
essência do povo brasileiro - índios, brancos e negros - constituíram a primeira força que
lutou unida em torno de um ideal de libertação face à invasão dos estrangeiros, fundando
as bases do Exército Nacional em uma pátria que ainda estava em consolidação
(HISTÓRIA, 2008). Porém, apesar desse episódio ser comemorado como sendo a origem
do Exército, onde, segundo Castro (2002, p. 72), os combatentes “plantaram as sementes
de duas instituições permanentes e indissolúveis: a nação e o Exército Brasileiro”, não
havia, de fato, nessa época, uma “nação brasileira” nem um “Exército Brasileiro” – que
passaria a existir com a independência, ocorrida 174 anos depois” (CASTRO, 2002, p. 72,
58
McCann destaca que um Exército é o principal agente da violência do Estado, e por isso “destaca-se e possui
características especiais como organização social”, sendo por sua própria natureza “diferente de outras instituições
sociais” (MCCANN, 2007, p.16).
59
A dialógica ordem/desordem/organização de Morin (2008, p. 95), “une dois princípios ou noções que deviam
excluir-se reciprocamente, mas que são indissociáveis em uma mesma realidade”.
80
grifo do autor). Ainda conforme este autor,
na época da batalha, o Brasil ainda não era uma nação independente:
esteve sob domínio espanhol entre 1850 e 1640, retornando em seguida à
condição de colônia portuguesa. No entanto, a metrópole pouco se
envolveu na luta, ficando a tarefa de expulsar os holandeses por conta
quase que exclusivamente da gente da terra”, visão que alimentou por
mais de dois séculos o imaginário do nativismo pernambucano
(CASTRO, 2002, p. 69, grifo do autor).
Para McCann (2007, p.12), “é fácil esquecer que a missão de todo exército é estar
preparado para a guerra, exercer violência controlada em nome do Estado. Sua estrutura,
doutrina, equipamento e treinamento existem para o supremo teste do campo de batalha”.
Não obstante, foi desta forma que se desenvolveu inicialmente a participação da Instituição
em âmbito externo. Participou da Guerra da Tríplice Aliança, conflito armado entre
Argentina, Paraguai e Uruguai na segunda metade do Século 19, e das duas Grandes
Guerras (HISTÓRIA, 2008). Sua participação nestes conflitos trouxe conseqüências
positivas para a corporação. A maior conseqüência da Guerra do Paraguai (1864 1870)
para o Exército foi, segundo Fausto (2002), a sua afirmação como uma instituição com
fisionomia e objetivos próprios.
Segundo McCann (2007), o Exército foi empregado inúmeras vezes pela monarquia
brasileira a fim de manter o país coeso. Sua participação mostrou-se essencial para manter
a unidade do Brasil em meio às revoltas internas e às tentativas de fragmentação territorial
e social que aconteceram entre 1817 e 1848.
O golpe que deu origem à República, em 1889, fez do Exército a sua instituição
central, “porém sem ideologia, estrutura, experiência, pessoal, mandato político e vontade
para assumir plenamente esse papel” (MCCANN, 2007, p. 14). Ainda segundo este autor,
no período compreendido entre 1889 e 1937:
O Exército era a única instituição nacional, o cerne do Estado brasileiro
que se desenvolvia. Essa foi uma condição que ele assumiu
espasmodicamente, quase a esmo, preenchendo o vácuo deixado pelo
colapso da monarquia e pouco a pouco adquirindo a doutrina e a visão
alicerçadas do seu papel de fato. Embora o maior número de unidades
estivesse no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul, a presença do
Exército era sentida por todo o país, e seu pessoal, interesses, ideologia,
visão e compromissos eram nacionais (MCCANN, 2007, pp. 10-11).
81
Até 1916 o recrutamento de praças e soldados era freqüentemente forçado, fazendo
parte do sistema penal. De acordo com Castro e Izecksohn (2004, p. 275), “a mobilização
para a Guerra do Paraguai fortaleceu a associação entre status desonroso e serviço militar,
pois foi quando o Estado emancipou centenas de escravos e libertou dezenas de
condenados para preencher as fileiras esvaziadas”. Dessa forma, antes da mudança na
política de recrutamento forçado, “os praças eram em sua maioria “voluntários”, homens
que haviam sido fisicamente coagidos ao serviço militar, recrutados entre os menos
instruídos e mais pobres” (MCCANN, 2007, p. 42, grifo do autor). Os oficiais, por outro
lado, eram os representantes das elites. Como a missão do Exército não estava claramente
definida, “o serviço militar era parte do sistema penitenciário do Império, e os oficiais
ressentiam-se do impacto negativo que isso tinha sobre seu prestígio social e sobre a
imagem de sua instituição” (MCCANN, 2007, p. 29). Para McCann (2007), isso explica,
de certa forma, por que o crescimento do Exército foi pequeno em relação ao crescimento
da população brasileira até aquela época.
Sua profissionalização teve um impulso após o fim da Guerra Mundial (1914-
1918), a partir da contratação da Missão Militar Francesa. O fortalecimento da instituição
se refletiu na profissionalização de seu pessoal e no relacionamento com a sociedade. De
acordo com McCann (2002, pp.12-13):
Em 1916, os novos critérios do Exército para o recrutamento de praças
mudaram seu relacionamento com a sociedade, alteraram as práticas
penais e civis e o injetaram, juntamente com a pátria que ele protegia e o
Estado que ele defendia, na esfera privada da família e nos rincões mais
remotos do Brasil.
As várias transformações pelas quais a sociedade passou também repercutiram
dentro da Instituição. Castro (2000) evidencia alguns aspectos relevantes para a
compreensão desse contexto organizacional nas décadas de 1920 e 1930:
As décadas de 1920 e 30 foram conturbadas para o Exército brasileiro.
Todo o período foi marcado por profundas divisões no interior da
instituição, visíveis desde o golpe de 1889 e os primeiros anos da
República. Nos anos 20, essas divergências levaram a uma série de
revoltas “tenentistas” - 1922, 1924, Coluna Prestes -, culminando na
Revolução de 30. Esta não representou, de forma alguma, a obtenção de
um consenso no interior do Exército. Nos anos que se seguiram,
82
ocorreram sérios conflitos internos, motivados por divergências
doutrinárias, organizacionais e políticas. Dezenas de movimentos
(incluindo agitações, protestos e revoltas) abalaram o Exército entre 1930
e a instauração do Estado Novo (1937-1945), quando finalmente se
consolidou um projeto hegemônico para a instituição, em torno de Góis
Monteiro e Eurico Gaspar Dutra. Mesmo esse projeto encontrou fortes
resistências internas (CASTRO, 2000, p. 01).
Dessa forma, a Rebelião de 1930 fragmentou o Exército, mas o Regime Militar o
fortaleceu enquanto instituição, de certa maneira
60
. a sua participação na Guerra
Mundial (1939-1945) implicou significativas modificações em sua evolução, em razão da
organização da Força Expedicionária Brasileira (FEB), que representou “um novo
Exército, em organização, meios materiais e emprego operacional” (HISTÓRIA, 2008). A
criação da Academia Militar das Agulhas Negras
61
, em 1944, auxiliou no fortalecimento da
corporação, na medida em que permitiu a homogeneidade de currículo e uma tradição
aglutinadora aos oficiais” (MCCANN, 2007, p. 13).
O papel que a instituição não havia assumido plenamente durante a República
porque, na visão de McCann (2007), ainda não contava com ideologia, estrutura,
experiência ou pessoal para assumir o papel de elemento central na sociedade, foi
completamente assegurado quando o Exército dirigiu o país através da instauração do
Regime Militar, de 1965 a 1984. O Presidente da República foi deposto e as Forças
Armadas assumiram o governo pelos 21 anos que se seguiram.
Embora que o país neste período tenha contado com notável desenvolvimento
econômico e industrial, também foi marcado por restrições e censura, sendo que estas
últimas é que parecem se encontrar mais vívidas na memória coletiva brasileira.
A partir de 1960, o Exército sofreu importantes alterações, em termos operacionais,
estruturais e doutrinários
62
, no sentido de se ajustar às mudanças do mundo contemporâneo
e cumprir sua missão
63
. Nesse sentido, “o Exército, como as demais Forças Armadas, a
60
Cabe-nos ressaltar aqui que o Exército Brasileiro ficou fortalecido enquanto instituição, mas teve sua imagem
abalada porque o Regime Militar (1965-1984) ficou registrado na memória brasileira recente como um período
bastante conturbado, de restrições e censura.
61
Esta escola localiza-se em Resende (RJ). Para nela ingressar é preciso primeiramente ter sido aprovado pela
Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx), localizada em Campinas (SP), cujo ingresso também se
por meio de concurso.
62
A doutrina militar terrestre consiste no “conjunto de princípios em que se baseia a Força Terrestre para orientar
sua instrução e estabelecer as bases de seu emprego em operações bélicas” (A GUERRA, 1998, p. 202).
63
A missão constitucional do Exército Brasileiro é assegurar a defesa nacional, garantir os Poderes
Constitucionais, a Lei e a Ordem, participar de operações internacionais - de acordo com os interesses do País - e
cooperar com o desenvolvimento nacional e a defesa civil (MISSÃO, 2008).
83
partir das primeiras ações concretas da subversão comunista em 1968, articulou-se para
cumprir sua destinação constitucional (Art. 90 da Constituição Federal) e para seguir seu
papel histórico de assegurador da Democracia” (O QUE, 1998, p. 220). O contexto estava
cheio de complicações:
Havia divergência entre os quadros. Não faltaram alguns militares que se
aliaram à subversão e procuraram levá-las às unidades. O grosso do
Exército, um núcleo silencioso, mantinha-se, entretanto, avesso à
radicalização, aos extremismos, e assistia, não sem amarguras e
perplexidade, à deturpação de todos os princípios em que se fundava a
estrutura do país (O QUE é o exército, 1998, p.183).
Ao final da década de 1980 a instituição, essencialmente masculina, passou a
aceitar mulheres em seu corpo, para atuar nas áreas técnicas e administrativas. Em 1994, a
instituição iniciou um processo de modernização do ensino, com o objetivo de capacitar
seus recursos humanos para “acompanhar os avanços da era do conhecimento e de integrar
o Exército do século XXI” (POLÍTICA, 2009).
Atualmente, o Serviço Militar é obrigatório para jovens do sexo masculino, mas a
oferta é maior do que a demanda, por isto nem todos são incorporados. Além disso, praças
e oficiais incorporam através de concurso, ou seja, de escolha pessoal. O serviço militar se
transformou numa opção de carreira. A criação das outras escolas de formação e
aperfeiçoamento de oficiais
64
e praças
65
completou essa busca, evidenciando que a
intenção do Exército hoje é “atrair o universitário para o serviço militar e transformá-lo
num elo da Força Terrestre com os diversos segmentos da sociedade brasileira”
(POLÍTICA, 2009). Nos últimos anos sua atuação internacional tem se manifestado através
da participação em operações para manutenção de paz em diversas partes do mundo.
Face ao exposto é que se pode constatar a complexidade desta Instituição, que, em
sua trajetória, participou ou atuou ativamente em acontecimentos positivos e negativos da
64
São as escolas de formação de oficiais: Escola de Saúde do Exército (EsSEx), localizada no Rio de Janeiro (RJ);
Escola de Administração do Exército (EsAEx), localizada em Salvador (BA); Centros Preparatórios de Oficiais da
Reserva (CPOR), localizados em várias capitais do país. A Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO)
localiza-se no Rio de Janeiro (RJ). O Exército também conta com cursos de especialização em altos estudos
militares, que são destinados aos oficiais que pretendem comandar organizações militares, sendo que o acesso a
estes também se dá por meio de aprovação em processo seletivo.
65
Escola de Formação de Praças: Escola dos Sargentos da Armas (EsSA), localizada em Três Corações (MG). A
Escola de Aperfeiçoamento dos Sargentos da Armas (EASA) localiza-se em Cruz Alta (RS).
84
História brasileira, e que, por isso mesmo, se configura como um reflexo “da complexa,
intricada e às vezes contraditória cultura nacional” (MCCANN, 2007, p. 09).
Como o contraditório e o uno são aspectos de uma mesma realidade complexa, o
estudo das práticas de memória adotadas pela instituição é essencial, porque através delas é
que as pessoas podem se situar dentro destes acontecimentos e compreender que estes
fazem parte da igualmente contraditória sociedade brasileira. Ou seja, “as histórias que as
pessoas conhecem sobre o passado influenciam o modo como pensam e agem no presente,
e assim, moldam o futuro” (MCCANN, 2007, p. 22).
4.3 “PARA ONDE VAMOS ?”
As características dos Sistemas de Comunicação e Cultura do Exército, bem como
o caminho que a instituição está trilhando para contar sua história serão evidenciadas neste
tópico. Também serão reveladas aqui as práticas de Memória Institucional desenvolvidas
no Comando Militar do Sul (CMS), numa tentativa de abarcar a sugestão proposta pela
Banca de Qualificação desta pesquisa, que sugeriu enriquecê-la com o enfoque de práticas
de memória realizadas em nível local, devido à maior proximidade do pesquisador com o
objeto.
4.3.1 O Sistema de Comunicação do Exército
Seguindo a estrutura hierarquizada característica deste tipo de organização, sua
comunicação e memória são desenvolvidas por meio de sistemas, que estabelecem as
diretrizes que guiarão os outros elementos que os compõe, escalão após escalão.
A comunicação da organização é hierarquizada, funcionando através do Sistema de
Comunicação Social do Exército (SISCOMSEX), cujo planejamento, desenvolvimento e
coordenação das atividades em nível estratégico é realizado pelo Centro de Comunicação
Social do Exército (CCOMSEX), localizado em Brasília (DF). Além do CCOMSEX,
integram este sistema as Seções de Comunicação Social dos Comandos Militares de Áreas,
das Regiões Militares e as Seções de Relações Públicas de cada organização militar
85
dispersa pelo território brasileiro (Figura 5).
Figura 5 Sistema de Comunicação do Exército Brasileiro (SISCOMSEX)
Fonte: Elaborado pela autora a partir da compreensão do modelo de comunicação hierarquizada,
característico desta organização.
O CCOMSEX, principal Órgão de Assessoramento do Comandante do Exército em
assuntos dessa área, é oriundo da Divisão (Relações Públicas), criada no então Gabinete
do Ministro da Guerra, em 1951, que evoluiu nos anos posteriores para Serviço em 1962,
Comissão Diretora em 1964, Centro em 1971 e Assessoria em 1975. Em 1981, a
Assessoria transformou-se no Centro de Comunicação Social do Exército, com o objetivo
de dar novo impulso às atividades de comunicação e implantar um sistema que fosse
extensível a todas as organizações militares do Exército, independente de sua localização
geográfica (CCOMSEX, 2009).
Este órgão é responsável por preservar e divulgar a imagem da organização junto à
sociedade, e gerar motivação e coesão, com objetivo de ser um fator multiplicador do
poder de combate e ferramenta facilitadora da ação de comando. Ele desenvolve e publica
diversos veículos e materiais institucionais, que são distribuídos para unidades militares e
públicos de interesse, em datas comemorativas e ao longo do ano. Também é o responsável
por distribuir as missões específicas de cada atividade a ser desenvolvida pelas seções de
comunicação social das organizações militares em suas áreas geográficas de atuação. No
contexto dos objetivos do Exército, a comunicação social compreende as áreas das
Relações Públicas, Informações Públicas e Divulgação Institucional (PLANO, 2006, p.18).
RESISCOMSEX
5ª Seção (Comunicação Social)
Comandos Militares de Área
5ª Seção (Comunicação Social)
Regiões Militares
Seção de Relações Públicas
Organizações Militares
CCOMSEx
86
O CCOMSEx é composto por cinco seções que trabalham de forma coordenada
para desenvolver as atividades do centro, que são: análise, planejamento e assessoramento
(Seção de Planejamento); relacionamento com a mídia (Seção de Informações Públicas);
interação com os diversos públicos (Seção de Relações Públicas); produção, divulgação e
gerenciamento dos veículos de comunicação social do centro (Seção de Produção e
Divulgação); e apoio logístico e administrativo (Seção Administrativa).
Os produtos e veículos impressos, eletrônicos e digitais da Instituição são
orientados para difundir a atividade-fim da Força Terrestre “Braço Forte” e as ações
sociais “Mão Amiga”. Dentre essas atividades, merecem destaque a contribuição para o
avanço da tecnologia da indústria nacional, a valorização dos recursos humanos, o cuidado
com o meio ambiente, a cultura, a história, a excelência do ensino, a administração militar,
o serviço militar, as formas de ingresso na carreira militar e outros temas que são
pontuados conforme a oportunidade ou a necessidade de divulgação.
Os principais veículos de comunicação do Exército atualmente são: a) página
eletrônica
66
, que contém, além de informações institucionais e serviços, os demais
instrumentos de comunicação do centro; b) Revista Verde-Oliva, uma publicação do
Centro de Comunicação Social do Exército, lançada em maio de 1973, que contém
matérias sobre assuntos diversos e tiragem média de 30.000 exemplares e é distribuída em
todo território nacional e exterior; c) Noticiário do Exército, criado em 1957 e distribuído
entre as organizações militares com informações sobre a atividade profissional e assuntos
de interesse geral da instituição; d) Informex, informativo voltado para o público interno,
mas disponível no site, com promoções, designações, alguma notícia de repercussão na
impressa; e) Revista Recrutinha; f) Videorrevista do Exército; g) Rádio Verde-Oliva; e h) o
Exército na TV, página da internet que contém as principais notícias de interesse para o
Exército veiculadas nos telejornais das televisões abertas de âmbito nacional
67
. Além
destes, outras formas de comunicação podem ser implementadas de acordo com a
necessidade.
Cada Comando Militar de Área e Região Militar possui uma Seção de
Comunicação Social (5ª Seção) que é responsável por programar e controlar as atividades
66
http://www.exercito.gov.br
67
Informações extraídas do Noticiário do Exército. NOTICIÁRIO do Exército. Publicação do Centro de
Comunicação Social do Exército com distribuição gratuita para Organizações Militares. Publicação Impressa e
disponível on-line, no site da instituição. EXÉRCITO BRASILEIRO. Noticiário do Exército. Brasília, [2002].
Disponível em: <http://www.exercito.gov.br/NE/2002/03/9963/capa963.htm>. Acesso: 25 Ago 09.
87
de comunicação recebidas do CCOMSEX. No nível de Organizações Militares, as Seções
de Relações públicas recebem e despacham as correspondências sociais dos comandantes,
organizam eventos, divulgam as atividades de interesse da unidade, promovem visitação às
instalações e recebem os visitantes, entre outros. Apesar da coordenação destas seções
ficarem, geralmente, sob a responsabilidade de militares sem formação acadêmica
específica em Comunicação Social, as unidades têm ampla liberdade para solicitar apoio
das Seções dos Escalões Superiores quanto a orientações e auxílio para o
desenvolvimento de suas atividades. Além de cursos de capacitação em comunicação
social que são promovidos eventualmente para os integrantes do sistema, todas as unidades
militares recebem o Plano de Comunicação Social do Exército, devendo utilizá-lo como
guia para criar seu próprio plano de ação voltado às suas necessidades particulares,
inclusive no que diz respeito à criação de canais ou veículos de comunicação específicos.
4.3.2 O Sistema Cultural do Exército
Embora o Exército Brasileiro possua uma trajetória de 360 anos, foi apenas a partir
da década de 1970 que se intensificou em seu âmbito um movimento que reconhecia a
importância das questões culturais dentro da organização. Dessa forma, foram
estabelecidas ações estratégicas que possibilitassem a consecução dos objetivos gerais de
reparação, preservação, criação e difusão de seu acervo histórico e cultural (O ELO, 1998).
A partir desta percepção foi criado o Departamento de Ensino e Pesquisa (DEP),
com o objetivo de centralizar o pensamento cultural da organização, que até então estava
disperso por vários órgãos. Em 1973 esse departamento passou por uma reestruturação,
tendo como resultado a criação da Diretoria de Assuntos Especiais, Educação Física e
Desportos (DAED), onde as atividades culturais passaram a ser consideradas assuntos
especiais. Em 1990 os assuntos culturais passaram a ser objeto da Diretoria de Assuntos
Culturais (DAC), criada pelo Ministério do Exército com a finalidade de dar visibilidade e
priorizar as atividades culturais da organização, e tendo como missão principal preservar as
tradições, a memória e os valores culturais e históricos do Exército ([DAC, 2009]).
Em 2009 esse departamento teve seu nome alterado para Departamento de
Educação e Cultura do Exército (DEPEx). É sua responsabilidade gerenciar as atividades
culturais na organização, por intermédio da Diretoria do Patrimônio Histórico e Cultural do
88
Exército (DPHCEx).
A Diretoria do Patrimônio Histórico e Cultural do Exército “é o órgão técnico-
normativo responsável pelo planejamento, pela coordenação e pela fiscalização das
atividades culturais do Exército Brasileiro, pela preservação do patrimônio histórico, pela
divulgação da história militar e pelo estímulo ao estudo e à pesquisa das tradições
nacionais” (CULTURA, 2009). Seu objetivo principal é preservar as tradições, a memória
e os valores culturais e históricos do Exército.
Essa diretoria supervisiona as atividades e eventos do Sistema Cultural do
Exército (SCEx), e tem como atribuições principais propor normas para a preservação,
utilização e difusão do patrimônio histórico e artístico cultural de interesse da organização,
elaborar o Plano Trienal de Atividades Culturais do Exército e supervisionar sua execução
e de outras atividades culturais, mantendo contato com o CCOMSEX para as ações de
planejamento e coordenação de ações que envolvam as áreas de Cultura e Comunicação
Social. Além disso, procura estimular a elaboração de projetos e a programação de
atividades e eventos a serem desenvolvidos pelas Organizações Militares e pelos outros
órgãos do sistema, analisando as propostas de projetos de criação ou alteração de espaços
culturais do Exército, interagindo com a Fundação Cultural Exército Brasileiro para
viabilizar o apoio a projetos e outras atividades culturais de interesse da Força
(ATRIBUIÇÕES DPHCEX, 2009).
Da mesma forma que ocorre com a comunicação, as práticas culturais do Exército
Brasileiro são desenvolvidas por meio de um sistema, do qual fazem parte as seções dos
Comandos Militares de Área, dos Grandes Comandos e das Grandes Unidades, as seções
ou elementos de comunicação social dos Órgãos de Direção Geral e de Direção Setorial e
as Seções de Comunicação Social das demais Organizações Militares.
O Sistema Cultural do Exército (SCEx) foi idealizado para reunir o patrimônio
histórico e cultural da Instituição, material e imaterial, que é um produto de sua história e
se encontra disseminado por todo o espaço territorial brasileiro. Por patrimônio cultural
material, a organização entende como sendo os objetos, construções, sítios históricos,
monumentos e bens artísticos preservados ao longo de sua trajetória. Constituem o
patrimônio cultural imaterial do Exército, suas tradições, a memória, os valores morais,
culturais e históricos, as datas cívicas memoráveis, os feitos heróicos e as personalidades
consagradas na História Militar do Brasil.
O SCEx atua, sobretudo, visando desenvolver os valores éticos e morais, aprimorar
89
a vocação militar, cultuar as tradições e acentuar o compromisso da organização com o
país. Além disso, busca divulgar as tradições e os valores da Instituição, estimulando a
realização de pesquisas científicas, a divulgação da História Militar e o desenvolvimento
da doutrina militar das Forças Armadas ([DAC, 2009]). Dessa forma, os objetivos que
norteiam a gestão do patrimônio histórico e cultural no Exército Brasileiro são:
Preservar o patrimônio histórico e cultural do Exército, material e
imaterial; divulgar o Exército para a sociedade, por intermédio do seu
patrimônio histórico e cultural; desenvolver a Cultura no âmbito da
Força, com ênfase nos valores, nas crenças e nas tradições; pesquisar e
divulgar a História Militar do Brasil; Integrar-se com os órgãos culturais
das Forças Armadas co-irmãs; e integrar-se com entidades culturais
nacionais e internacionais ([DAC, 2009]).
Integram este sistema, ainda, o Museu Histórico do Exército (MHEx/FC), a
Biblioteca do Exército (BIBLIEX), o Arquivo Histórico do Exército (AHEx), o
Monumento Nacional aos Mortos da II Guerra Mundial (MNMSGM), a Fundação Cultural
Exército Brasileiro (FUNCEB), o Centro de Comunicação Social do Exército
(CCOMSEX), além de entidades civis que com ele interagem (Figura 06).
O Museu Histórico do Exército tem como missão “preservar, salvaguardar e
disseminar a memória histórica do Exército Brasileiro e atuar como um Espaço Cultural,
proporcionando cultura e conhecimento aos visitantes” ([MHEX/FC, 2009]). Sua história
remonta a 1865, quando a Força Terrestre sentiu a necessidade de criar um museu no Rio
de Janeiro (RJ) para expor armas, viaturas e equipamentos. Este primeiro centro de
memória passou por várias reorganizações e foi extinto em 1924. Alguns anos depois, em
1953, foi criado o Museu do Exército, que também contou com transferências de
instalações e adição de acervos. O Museu Histórico do Exército tal como existente hoje, foi
criado em 1986, passando a funcionar nas instalações do Forte de Copacabana, que possui
salões específicos para a realização de exposições temporárias e permanentes
68
, e é aberto
também para a mostra do trabalho de artistas contemporâneos.
68
Na categoria das exposições permanentes, foi inaugurada em 1996 a mostra "O Exército na formação da
Nacionalidade" (grifo do autor) e em 1998, uma mostra que evidencia a atuação do Exército Brasileiro no período
Republicano até 1945. HISTÓRICO do museu histórico do exército. Museu Histórico do Exército e Forte de
Copacabana. Histórico. Rio de Janeiro, [2009]. Disponível em:
<http://www.fortedecopacabana.com/modules/mastop_publish/?tac=Museu_Hist%F3rico_do_Ex%E9rcito>.
Acesso em: 22 Nov. 2009.
90
Figura 4 - Sistema Cultural do Exército Brasileiro (SCEx)
Fonte: DIRETRIZ estratégica do sistema cultural do exército, portaria 615, de outubro de 2002.
In Coletânea da legislação cultural: Exército Brasileiro; Departamento de Ensino e Pesquisa;
Diretoria de assuntos culturais, p. 12. Disponível em:
<http://www.dphcex.ensino.eb.br/ligislacao/Coletanea%20Legislacao%20Cultural.pdf>. Acesso em:
03 Nov 2009.
A Biblioteca do Exército, localizada no Rio de Janeiro (RJ), produz e coloca à
disposição dos públicos interno e externo obras sobre aspectos e características da vida
militar.
O Arquivo Histórico do Exército tem como finalidade conservar e manter a
memória doutrinária, operacional e institucional do Exército Brasileiro
69
. Criado em
1808 no Rio de Janeiro com a denominação inicial de Real Archivo Militar, tinha a
incumbência de conservar as cartas gerais, particulares, geográficas e topográficas do
Brasil e dos Domínios Ultramarinos. Também, as cartas marítimas para o uso do
Ministério da Guerra e Negócios Estrangeiros, bem como dos demais Ministérios. Em
69
Informação extraída da página eletrônica do AHEx. ARQUIVO HISTÓRICO DO EXÉRCITO. Apresentação.
Rio de Janeiro, [2009]. Disponível em: <http://www.ahex.ensino.eb.br>. Acesso em: 25 Ago. 2009.
91
1934 foi transformado em Organização Militar (OM) e recebeu o nome de Arquivo do
Exército. Em 1986 recebeu a denominação de Arquivo Histórico do Exército. Dedica-se à
guarda, à conservação e à divulgação da memória do Exército e dos documentos relativos à
sua evolução histórica.
O Monumento Nacional aos Mortos da II Guerra Mundial, inaugurado no Rio de
Janeiro (RJ) em 1957, foi idealizado como um local que pudesse abrigar a memória dos
462 pracinhas que tombaram naquela guerra, contendo objetos pessoais deles, bem como
armaria empregada durante o armistício e um acervo iconográfico, composto por quadros,
pinturas, gravuras, mapas, cartas militares e documentos, entre outros ([MONUMENTO
NACIONAL DOS MORTOS DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL, 2009]).
A Fundação Cultural Exército Brasileiro, é uma entidade civil com personalidade
jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, instituída para ser um elemento de ligação
entre a organização, o Ministério da Cultura e o empresariado nacional. Sediada no Rio de
Janeiro (RJ), dispõe de autonomia administrativa, financeira e patrimonial, para atuar em
atividades de natureza educacional, preservação ambiental, comunicação e assistência
social, em parceria com a iniciativa privada e o terceiro setor. Seus principais projetos são
a revitalização ou reforma de museus, fortalezas, monumentos e outras construções
históricas; programas de qualificação profissional de militares concludentes do Serviço
Militar Obrigatório; de instrução/conhecimento aos soldados; programas de
disponibilização do acervo histórico do Exército para a sociedade; e disponibilização de
banco de dados com informações doutrinárias, históricas, culturais, de ciência e tecnologia,
operacionais e administrativas das Forças Armadas e das Forças Auxiliares (FUNDAÇÃO,
2009).
É possível constatar, segundo informações obtidas no site da Diretoria do
Patrimônio Histórico e Cultural do Exército, que nos últimos anos tem aumentado o nível
de conscientização dos quadros (militares e comandantes) em relação à importância dos
assuntos culturais (SISTEMA CULTURAL, 2009). O reflexo desse processo tem se
apresentado no aumento da criação de espaços culturais, museus e bibliotecas, e a alta
prioridade dada à preservação e difusão do patrimônio cultural imaterial [(DAC, 2009)].
4.3.3 As Práticas de Memória do Exército Brasileiro
92
Com base na pesquisa documental empregada neste estudo com a finalidade de
produzir um levantamento das práticas de memória que a instituição adota, relacionamos a
seguir os principais tipos de projeto de memória realizados atualmente pelo Exército
Brasileiro. Consideramos relevante destacar que, para atingir esse objetivo utilizamos,
sobretudo, fontes secundárias, tais como os documentos disponíveis nas páginas
eletrônicas do Exército, do Departamento de Educação e Cultura do Exército, do
Departamento Histórico e Cultural do Exército, do Arquivo Histórico do Exército, da
Biblioteca do Exército, do Monumento Nacional dos Mortos da Segunda Guerra Mundial,
da Fundação Cultural do Exército, bem como de outras páginas eletrônicas de
Organizações Militares. Também, fizemos uso de materiais impressos ou disponíveis em
formato eletrônico, tais como a Revista Verde-Oliva, Revista Recrutinha, Informex,
Normas e Legislações Culturais.
Desse modo, relatamos a seguir os resultados encontrados, conforme os tipos de
projeto de memória propostos por Maricato (2006), que os agrupa em grandes grupos de
ações que podem ser desenvolvidas nas organizações com o apoio de profissionais de áreas
de conhecimento interdisciplinares (Tabela 4).
Tabela 3 - Tipos de Projeto de Memória
Tipo
O que é?
Acervo Documental
Processamento, catalogação e armazenamento dos documentos históricos da organização, de
maneira que possam ser disponibilizados e consultados.
Biblioteca, Hemeroteca,
`Midioteca´ e Videoteca
Catalogação, armazenagem e disponibilização de obras literárias, jornais, periódicos e
materiais digitais ou em vídeo do universo da organização ou que por ela foram elaborados.
Banco de Imagens
Catalogação, armazenagem e disponibilização de fotografias, comunicação visual, material
promocional e outros, em papel, CD, meios digitais, etc.
Edições Históricas
Elaboração de material histórico (livros, álbuns fotográficos, site na internet, DVDs, CDs ou
outras mídias) para registro oficial da história da empresa.
Museu Empresarial
Disponibilização de espaço interativo onde o visitante possa ter contato com a realidade da
organização. É possível ressaltar as principais fases pelas quais a entidade passou, suas
principais benfeitorias, evolução tecnológica e tantos outros aspectos interessantes.
Tombamento de Acervos
Tombamento do acervo da organização, com a sua correta armazenagem e catalogação para
que os itens não se deteriorem.
Eventos
Realização de eventos com a temática histórica pode representar ganhos positivos para a
organização, seja em realizações beneficentes, festivas, culturais, esportivas ou de integração.
Homenagens
Criar estratégias de homenagens para promover o relacionamento com os blicos de
interesse.
Periódicos e Materiais
Impressos
Confecção de material impresso ou digital com a temática histórica, fascículos ou coleções
com veiculação predeterminada.
Parcerias
Patrocínio ou apoio à iniciativas de resgate histórico, participação ativa de movimentos pró-
memória, criação de exposições, patrocínio ou responsabilidade em museus da cidade,
criação de exposições itinerantes, proposição da exploração de temas afins nas redes de
ensino, etc.
Apoio Técnico-Científico
Promover o desenvolvimento técnico-científico de alunos de graduação, pós-graduação e
pesquisadores, dentro da própria organização como fora dela.
Patrocínios
Patrocínio de ventos e iniciativas que enaltecem a história da organização.
Central de Documentação e
Memória
Define as regras, desenvolve políticas e faz com que a memória da organização mantenha-se
viva, podendo ser utilizada para o pensar estratégico da organização.
Fonte: Tipos de projeto de Memória. Quadro produzido com base em Maricato (2006, pp. 130-132).
93
a) Acervo Documental
O processamento, a catalogação e o armazenamento dos documentos históricos do
Exército são realizados pelo Arquivo Histórico do Exército (AHEx). Criada no Rio de
Janeiro (RJ) em 1808
70
, esta Organização Militar dedica-se à guarda, à conservação e à
divulgação da memória institucional do Exército e dos documentos relativos à sua
evolução histórica. Seu acervo reúne documentos, manuscritos e impressos, que se referem
às ações por ele desenvolvidas ao longo da História do Brasil pós-independência. Também
engloba documentos de Organizações Militares e de outros órgãos extintos, buscando
preservar as vidas administrativas e os documentos dos militares e funcionários que nelas
serviram. Aberto à visitação pública, possui uma página na internet para divulgar suas
atividades e disponibilizar alguns conteúdos (Anexo F). Além disso, promove eventos à
promoção da História Militar.
b) Biblioteca, Hemeroteca, Midioteca e Videoteca
A catalogação, a armazenagem e a disponibilização de obras a respeito da
organização são realizadas, de uma maneira geral, pela Biblioteca do Exército (BIBLIEX).
Com sede no Rio de Janeiro (RJ), produz e coloca à disposição dos públicos interno e
externo obras sobre aspectos e características relacionados à vida militar e à história do
Exército. Possui um site na internet, através do realiza a venda de obras literárias e a
divulgação de suas atividades (Anexos E).
Nessa categoria elencamos a Enciclopédia Militar Brasileira (Thesauro), uma base
de dados disponibilizada na internet que propicia a consulta e a pesquisa de informações
doutrinárias, históricas, culturais, de ciência e tecnologia, operacionais e administrativas
das Forças Armadas e das Polícias Militares. O projeto foi desenvolvido com o patrocínio
de organização privada e conta, na sua base de dados, com cerca de 80.000 registros de
70
Inicialmente denominado “Real Archivo Militar”, foi criado com a finalidade de conservar as cartas gerais,
particulares, geográficas e topográficas do Brasil e dos Domínios Ultramarinos, além das cartas marítimas para uso
do Ministério da Guerra e Negócios Estrangeiros, bem como dos demais Ministérios. Em 1934 foi instituída como
Organização Militar e a partir de 1986 recebeu o atual nome de Arquivo Histórico do Exército. Fonte: FOLDER
digital. Publicação digital do Arquivo Histórico do Exército. Disponível em:
<http://www.ahex.ensino.eb.br/imagens/album520ahex/ahex.html>. Acesso em: 28 ago. 2009.
94
artigos, livros, regulamentos e revistas relacionados com a atividade militar.
c) Banco de Imagens
A catalogação, a armazenagem e a disponibilização de fotos, vídeos e outros
materiais promocionais, são realizadas, de uma maneira geral, pelo Centro de
Comunicação Social do Exército (Anexo J). Além disso, conforme observamos, as
organizações que dispõem desse tipo de acervo costumam oferecê-lo à consulta pública,
muitas vezes por meio de suas páginas eletrônicas (Anexo K).
d) Museu Empresarial
A disponibilização de espaços interativos, onde os visitantes podem ter contato com
a realidade da organização se materializa nos museus, monumentos, espaços de memória e
fortificações que o Exército mantém.
Pela descrição do quadro de Maricato (2006), o Monumento Nacional aos Mortos
da Segunda Guerra Mundial se insere na categoria memoriais e monumentos (Anexo I).
Localizado no Rio de Janeiro (RJ), nele estão reunidos os restos mortais dos que tombaram
na Segunda Guerra Mundial, além de um acervo de armamento, peças de uniforme e
insígnias utilizadas na época. Monumentos em homenagem a outros personagens militares
também podem ser vistos em diversas praças do país.
Também são considerados museus empresariais os espaços culturais e museus
criados por iniciativa própria das Organizações Militares. Abertos à visitação pública,
muitos possuem página eletrônica para divulgar suas atividades. A concentração regional
dos espaços militares regularizados e em funcionamento
71
pode ser observada conforme
71
Espaços que já estão regularizados e abertos à visitação pública
71
: Monumento Nacional aos Mortos da Segunda
Guerra Mundial (RJ); Museu Acadêmico das Agulhas Negras (RJ); Museu Capitão Pitaluga; Museu do Desporto
do Exército; Museu Histórico do Exército e Forte de Copacabana (RJ); Museu Marechal Zenóbio da Costa; Museu
Militar Conde de Linhares (RJ); Espaço Cultural Duque de Caxias; Museu Ipiranga; Espaço Cultural da EASA;
Memorial Marechal Mallet / Museu de Artilharia; Museu Militar do Comando Militar do Sul (RS); Parque
Histórico Marechal Manoel Luis Osório / Museu do Exército do Sul (RS); Panteon de Caxias (RJ); Sala de
Exposição Marechal Enéas Galvão; Museu da II Guerra Mundial; Museu Militar do Forte do Brum; Parque
Histórico Nacional dos Guararapes (PE); Memorial do 1Grupo de Artilharia de Campanha; Espaço Cultural
Coronel Ismar Cordeiro de Guedes Vaz; Sítio Histórico Forte Junqueira e Sala de Exposições Antônio Maria
Coelho. Fonte: DIRETORIA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E CULTURAL DO EXÉRCITO. Fortes e
fortalezas abertos à visitação pública. Rio de Janeiro [2009]. Disponível em: <http://www.dac.eb.mil.br>.
95
ilustração abaixo (Gráfico 1). Totalizam vinte e um centros de memória, sendo que a maior
parte destes (43%) fica no Comando Militar do Leste. O Comando Militar do Sul
compreende 24% dos centros de memória e o Comando Militar do Nordeste 19%. O
Comando Militar do Planalto não conta atualmente com nenhum espaço como esse, mas o
Comando Militar do Oeste e o Comando Militar do Sudeste possuem, respectivamente, 9%
e 5% dos centros com funcionamento regular (Exemplos nos Anexos D, U e T)
72
.
Gráfico 1 - Centros de Memória/Espaços Culturais por Comando Militar de Área
Fonte: Elaborado pela autora com base em informações do site DPHCEx.
Dada à relevância das fortificações na história de proteção das entradas e fronteiras
do Brasil Colônia, os fortes e fortalezas vêm funcionando como museus empresariais, na
medida em que possuem normatização própria que regula sua abertura, manutenção e
funcionamento. Os Comandos Militares de Área são responsáveis por sua coordenação e
manutenção (Figura 7). Interessante destacar que ainda não existe nenhum espaço como
este funcionando no Comando Militar do Planalto.
Acesso em: 01 fev. 2009.
72
Estas informações se referem aos espaços culturais/centros de memória em funcionamento regular. Os que ainda
se encontram em processo de regularização junto à DPHCEx não estão somados aí, o que justifica a diferença
entre o mero de espaços culturais do Comando Militar do Sul exibidas no Gráfico 1 e no Gráfico 2 (pg. 114).
Neste primeiro constam apenas os centros regularizados. O segundo se refere a todos as solicitações de criação
de espaço/centro de memória no âmbito do CMS, mesmo as que ainda estão em processo de regularização.
96
Figura 7 Fortes e Fortalezas abertos para visitação por Comando Militar de Área
Fonte: Elaborado pela autora com base em informações extraídas do site da DPHCEx. DIRETORIA
DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E CULTURAL DO EXÉRCITO. Fortes e fortalezas abertos à
visitação pública. Rio de Janeiro [2009]. Disponível em: <http://www.dac.eb.mil.br>. Acesso em: 01
fev. 2009.
e) Tombamento de Acervos
Um exemplo de tombamento do acervo da organização, com a observância de sua
correta armazenagem e catalogação, materializa-se no Projeto Acervo Histórico do
Exército (Anexos G e H). Desenvolvido em parceria com a Fundação Vitae, catalogou o
acervo documental existente no Arquivo Histórico do Exército, de modo a viabilizar e
execução de outros projetos visando a criar novas e melhores condições de acesso e
pesquisa ao acervo existente.
f) Eventos
De acordo com Maricato (2006), a realização de eventos com a temática histórica
97
pode representar ganhos positivos para a organização. Nesse sentido, observamos que o
Exército Brasileiro costuma realizar eventos temáticos em comemoração ao aniversário de
seus patronos
73
, como é o caso das atividades promovidas para celebrar o Bicentenário de
Caxias, em 2003, e o Bicentenário de Osório, 2008 (Anexo Z). Essas programações
também geram mídia espontânea, conforme identificamos em alguns periódicos
selecionados como exemplo (Apêndice G e Anexo AA).
g) Homenagens
As homenagens representam estratégias positivas para promover o relacionamento
com os públicos de interesse (MARICATO, 2006). O culto aos patronos
74
das Armas,
Quadros e Serviços é uma tradição no Exército Brasileiro
75
. Nos dias de aniversário de
nascimento ou morte dessas personalidades militares acontecem formaturas e homenagens
em todas as organizações militares do Brasil.
Além disso, em outras datas militares consideradas relevantes para a instituição,
tais como seu aniversário (19 de Abril) e o Dia do Soldado (25 de Agosto) geralmente são
realizados eventos comemorativos, que contam com a presença dos públicos interno e
externo. Tais homenagens podem ser realizadas nas datas fixas, estabelecidas conforme o
calendário de datas militares, ou em eventos programados, conforme a necessidade ou
interesse da organização (Anexos A e S).
h) Periódicos e Materiais Impressos
73
São os Patronos cultuados pelo Exército Brasileiro: Exército Caxias; Cavalaria - Osório; Infantaria - Sampaio;
Artilharia - Mallet; Engenharia - Vilagran Cabrita; Intendência - Bitencourt; Quadro Auxiliar de Oficiais - Antonio
João; Serviço de Veterinária - Aragão; Serviço de Assistência Religiosa - Frei Orlando; Quadro Complementar de
Oficiais - Maria Quitéria; Quadro de Material Bélico - Napion; Serviço Militar - Olavo Bilac; Quadro de
Engenheiros Militares - Ricardo Franco; Comunicações - Rondon; Serviço de Saúde - Severiano da Fonseca;
Magistério Militar - Trompowski. Fonte: EXÉRCITO BRASILEIRO. História: patronos. Disponível em:
<http://www.exercito.gov.br/01inst/Historia/Patronos/indice.htm>. Acesso: 25 Ago 09.
74
Conforme Castro (2002, p. 18) “a palavra francesa patron tem duplo sentido de “patrono” (protetor) e “padrão”
(modelo)”.
75
São as armas do Exército Brasileiro: Artilharia, Cavalaria, Comunicações, Engenharia, Infantaria, Intendência,
Material bélico; Os quadros de apoio: QAO, QCO, QEM; Além disso, existe o Serviço de Assitência Religiosa do
Exército (Sarex) e o Serviço de Saúde do Exército, este último composto por médicos, dentistas e farmacêutico. Os
patronos dos quadros e serviços também são homenageados em suas datas comemorativas.
98
Conforme identificamos, a elaboração de materiais impressos ou em formato digital
com a temática histórica é bastante empregada pela organização. Publicações orientadas ao
público interno e externo são alguns exemplos disso, tais como vemos nos Anexos R, P e
Q.
i) Parcerias
No tocante ao patrocínio ou apoio a iniciativas de resgate histórico, encontra-se o
projeto “História Oral de Segunda Guerra Mundial”, realizado com o apoio da FUNCEB
na edição da coleção (Anexo M). Esta iniciativa teve como objetivo registrar o relato de
personalidades que participaram, direta ou indiretamente, da Segunda Guerra Mundial.
Podemos inserir nesta categoria, também, a Enciclopédia Militar Brasileira
(Thesauro), além de parcerias para a promoção de temas afins à organização nas redes de
ensino (Anexo N), a criação de exposições itinerantes e de outros projetos de memória com
parceria.
j) Apoio Técnico-Científico
A promoção do desenvolvimento técnico-científico de alunos de graduação, pós-
graduação e pesquisadores, dentro da própria organização ou fora dela, tem se
materializado na realização e no apoio ao desenvolvimento de palestras, seminários e
outros eventos com o objetivo de divulgar a História Militar Brasileira (Anexo L).
k) Central de Documentação e Memória
Segundo Maricato (2006), as atribuições de uma central de documentação e
memória consistem na definição de regras, políticas e estratégias que contribuam parra
manter a memória organizacional viva. Nesse sentido, é a Diretoria de Patrimônio
Histórico e Cultural do Exército o órgão responsável por estabelecer as diretrizes que vão
nortear as práticas de memória a serem realizadas em âmbito nacional e regional (Anexo
99
C). Ela disponibiliza as normas
76
e as legislações culturais
77
criadas pela instituição para
regular a criação e a manutenção de centros de visitação e museus, além da criação de
projetos e programas.
l) Programa e Projetos Culturais
Com amparo na Política Cultural do Exército foram criados diversos programas e
projetos com o objetivo de projetar a imagem da Instituição a partir de seus valores
culturais, aproveitando-se do acervo existente e que está distribuído em todo o território
nacional. Alguns estão em fase de andamento e outros aguardando aprovação. Nesta
categoria destacam-se: Projeto de História Oral, Projeto Restauração do Monumento aos
Mortos da Segunda Guerra Mundial, Projeto Arquivo Histórico do Exército, Projeto
Fortificações da Baía da Guanabara e Projeto Museu Militar do Comando Militar do Sul
(PROJETOS, 2009).
m) Memória Digital
Conforme identificamos em nossa pesquisa, a internet tem sido bastante utilizada
pelo Exército como um suporte para divulgar aspectos de sua história, disponibilizar
normas, acervos e outros materiais. Acreditamos este tipo de projeto pode representar um
76
Normas culturais: Normas para Abertura das Fortificações à Visitação Pública (Port 615, de 13 Nov 00);
Normas para Elaboração, Aprovação e Execução de Programas e Projetos Culturais (Port 30-DEP, de 05 Jun
00); Normas para Elaboração, Aprovação e Execução de Programas e Projetos Culturais (Port 30-DEP, de 05
Jun 00); Normas para a Preservação das Tradições das Organizações Militares do Exército Brasileiro (Port Min
264, de 13 Mai 99); Normas para a Publicação de Revistas Militares (Port Cmt Ex 402, de 16 Ago 01); Normas
para Utilização dos Arquivos, Bibliotecas e Museus por parte de Historiadores e outros estudiosos (Port Min
2449, de 27 Set 79). Esses arquivos estão disponíveis em página eletrônica na internet, com acesso permitido a
todos os usuários da web. Fonte: DIRETORIA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E CULTURAL DO EXÉRCITO.
Normas e legislações culturais. Rio de Janeiro, [2009]. Disponível em:
<http://www.exercito.gov.br/07educult/cultura/normas.htm>. Acesso em: 03 mar 2009.
77
Legislação Cultural: Coletânea da Legislação Cultural (contendo várias legislações pertinentes ao assunto);
Instruções Gerais para a Criação, Organização, Funcionamento e Extinção de Espaços Culturais (IG 20-18) e
Instruções Reguladoras das IG 20-18 (IR 20-18); Orientação para a Organização e o Funcionamento de Bibliotecas
nas Organizações Militares; Instruções Gerais para a Concessão de Denominações Históricas, Estandartes
Históricos e Distintivos Históricos às Organizações Militares do Exército (IG 11-01). Esses arquivos também estão
disponíveis em página eletrônica na internet, com acesso permitido a todos os usuários da web. Fonte:
DIRETORIA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E CULTURAL DO EXÉRCITO. Normas e legislações culturais.
Rio de Janeiro, [2009]. Disponível em: <http://www.exercito.gov.br/07educult/cultura/normas.htm>. Acesso em:
03 mar 2009.
100
canal de relacionamento com os públicos da instituição (Anexos B e O), em razão de suas
características próprias, tais como, sua estrutura, que conta com Organizações Militares
distribuídas por todo o território nacional e um público interno disperso aem outros
países.
4.4 (INTER) RELAÇÕES ENTRE MEMÓRIA E COMUNICAÇÃO
Visando entender de que forma a Memória Institucional é compreendida pelo
Órgão responsável pela imagem da organização, enviamos por email um questionário
semi-estruturado, com perguntas abertas, semi-abertas e fechadas, ao Centro de
Comunicação Social do Exército (Apêndice A). Apesar de nem todas as questões terem
sido respondidas, o resultado mostrou-se bastante relevante para o desenvolvimento deste
trabalho. Pelo que foi possível observar, este instrumento serviu como uma pauta, a partir
da qual uma reflexão sobre a temática foi realizada. Dessa forma, evidenciaremos aqui a
percepção do CCOMSEX com relação a algumas questões propostas.
Quanto à percepção da Memória Institucional, a resposta obtida evidenciou a
valorização dos antepassados e o papel das unidades que compõem a organização. Neste
sentido, todos os militares são responsáveis pela manutenção e preservação da memória,
em cujo processo a comunicação merece destaque, pois:
A história do Exército Brasileiro tem sido registrada e marcada pelos
feitos dos seus antepassados e pelo cotidiano de cada quartel. É no seio
da unidade que acontecimentos e atos enriquecem o memorial
institucional. A manutenção e a preservação desse acervo e legado
cultural são responsabilidade de todos os integrantes da Força. Esse
comportamento responsável alicerça a construção de um discurso
institucional, ações e comportamentos coerentes com a longa história da
organização. A Comunicação Social tem papel relevante no processo de
conscientização do público interno com relação ao valor desses acervos
documentais, além de buscar o fortalecimento do sentimento de orgulho
e pertencimento da família militar e das comunidades em relação às
Organizações Militares
78
.
78
Informação escrita, obtida por meio de questionário remetido por email ao Centro de Comunicação Social do
Exército, em Brasília, 12 de janeiro de 2010.
101
De acordo com a fala do respondente, os valores intangíveis imagem e reputação
constituem, reconhecidamente, o maior patrimônio da organização, e podem ser
potencializados através da adoção de práticas de memória:
Sabemos que o conceito e a imagem são o maior patrimônio das
organizações. O conceito é consolidado no imaginário da população
durante a trajetória histórica. Essa reputação positiva do Exército
Brasileiro confirmado em pesquisas de opinião foi e continua sendo
construída pelo culto às tradições, a memória, dos valores morais,
culturais, dos eventos históricos, dos princípios e da participação na vida
nacional. Dessa forma, torna-se, ainda mais, importante o trabalho de
História e Memória institucional que, além de considerar os registros
celebrativos de grandes datas, atos e personagens é enriquecido pelos
depoimentos, declarações, sentimentos e conhecimentos gerados por
integrantes da Instituição
79
.
O papel do CCOMSEX é orientar, fundamentado em diretrizes e normas, os
integrantes do Sistema de Comunicação para que estes possam planejar e desenvolver
atividades que estimulem o interesse e o orgulho pela História Militar, bem como pelo
vasto patrimônio que reproduz a linha do tempo do Exército. Nessa direção, as principais
atividades desenvolvidas por este órgão atualmente são:
Manter arquivos de biografias dos comandantes e de outras
personalidades consagradas na história da unidade militar; atualizar
arquivos cine-fotográficos; registrar acontecimentos castrenses e de
episódios relacionados à unidade, à região, à localidade; desenvolver
campanhas de divulgação e de conservação do patrimônio cultural da
área; programar palestras e outros eventos em datas comemorativas;
transformar acervo documental em vídeos, livros/publicações, material
expositivo e outras iniciativas que possam ser exploradas em sites,
museu, facilitando o acesso do público interno e toda a comunidade
80
.
Conforme a fala do respondente, todas as ações de comunicação do Exército são
dirigidas aos públicos prioritários definidos doutrinariamente: interno e externo. Essa
classificação geral em um primeiro momento pode parecer bastante generalista, mas é
complexa, pois inclui dentro do primeiro grande grupo, público interno, os militares - da
ativa e da reserva -, os ex-combatentes, os servidores civis e seus respectivos familiares. Já
79
Informação escrita, obtida por meio de questionário remetido por email ao Centro de Comunicação Social do
Exército, em Brasília, 12 de janeiro de 2010.
80
Ibidem.
102
o segundo, público externo, é composto por toda sociedade brasileira, além de nações
amigas residentes no Brasil, a comunidade internacional e a imprensa. Além disso,
dependendo da mensagem a ser emitida são estabelecidas outras segmentações de público:
Todos esses segmentos são importantes para os objetivos referentes a
área de estudo. No entanto, é recomendável estabelecer uma
segmentação de público para melhor direcionamento da mensagem que
se quer transmitir. [...] A imprensa é um dos segmentos prioritários por
ser formadora de opinião com grande potencial para difundir
informações e influir na formação da opinião pública. Dessa forma,
justifica o seu papel nesse esforço de divulgação e valorização da
memória histórica das OM. Os estabelecimentos de ensino civis também
devem ser considerados nesse trabalho, cuja reprodução de nossa
história requer apoio e incentivo com ações de Com Soc desenvolvidas
pelo Sistema
81
.
Em função do caráter geográfico da instituição, que está presente em todo território
nacional, em suas mais de mil Organizações Militares, suas práticas de memória não são
focadas em um tema específico, mas, sim, planejadas conforme a oportunidade. De acordo
com o respondente:
As práticas de memória institucional não são focadas em um tema
específico, haja vista a riqueza de eventos históricos [...], razão pela qual
é necessário elaborar planejamentos que permitam explorar os temas
conforme o grau de importância e oportunidade
82
.
No tocante à participação do CCOMSEX nas práticas de Memória Institucional do
Exército Brasileiro, essa se materializa, segundo o respondente, por meio do planejamento
de projetos, programas e ações, apoio e divulgação dos projetos, programas e ações
desenvolvidas pela DPHCEx e pelas Organizações Militares. Também, na produção de
material com conteúdo sobre a memória do Exército, além da produção de filmes,
documentários, artigos, publicações específicas (Exército na História do Brasil, Uniformes
Históricos do Exército), produção de selos comemorativos, campanhas, apoio a produções
de iniciativa dos Comandos, empresas televisivas e cinematográficas, entre outros. Mas,
“outras OM também produzem materiais informativos sobre temas relativos a história
81
Informação escrita, obtida por meio de questionário remetido por email ao Centro de Comunicação Social do
Exército, em Brasília, 12 de janeiro de 2010.
82
Ibidem.
103
militar, por exemplo, Fundação Cultural e Diretoria de Assuntos Culturais do
Exército”
83
. Não obstante, os instrumentos mais utilizados para divulgação deste conteúdo
são a Revista Recrutinha, a Revista Verde-Oliva, os documentários e filmes institucionais,
a página eletrônica do Exército, as páginas eletrônicas de outras Organizações Militares,
tais como as do Forte de Copacabana, do Centro de Documentação do Exército
(CDOCEx) e da Fundação Cultural do Exército
84
.
É missão de todos os integrantes do CCOMSEX contribuir para a memória da
instituição, mas cabe aos militares com formação acadêmica em Relações Públicas
acompanhar o desenvolvimento desse trabalho. Assim:
No CCOMSEx todas as Seções têm a missão de contribuir para a
Memória Institucional, sendo a Seção de Relações Públicas responsável
pelo acompanhamento desse trabalho. Oficiais do QCO [Quadro
Complementar de Oficiais] com formação em RP são os militares que
desempenham a atividade
85
.
Quanto aos indicadores e os canais de retorno e de avaliação sobre os materiais
informativos produzidos com a temática da memória, de uma maneira geral eles são
avaliados quando fazem parte de uma grande campanha, ou seja, “a avaliação dos
produtos tem sido realizada quando os mesmos compõem grandes campanhas (Dia do
Exército/Soldado)
86
.
No tocante à compreensão da relevância das práticas de Memória Institucional para
a imagem do Exército Brasileiro, o CCOMSEX considera que “os programas de memória
são importantes desde que possam atingir os objetivos de comunicação supracitados
87
,
ou seja, os definidos por meio de seu Plano de Comunicação Social.
Com o objetivo de entender de que forma a Memória Institucional é compreendida
pela Diretoria responsável pela memória do Exército, enviamos por email um segundo
questionário semi-estruturado, também composto por questões abertas, semi-abertas e
fechadas, para a Diretoria de Patrimônio Histórico e Cultural do Exército. Não obstante,
83
Informação escrita, obtida por meio de questionário remetido por email ao Centro de Comunicação Social do
Exército, em Brasília, 12 de janeiro de 2010.
84
Ibidem.
85
Ibidem.
86
Ibidem.
87
Ibidem.
104
este não foi respondido, apenas servindo como suporte para uma conversa via telefone com
o responsável pela Chefia. Como a referida conversação não foi gravada, não podendo,
assim, ficar registrada, optamos por não fazer uso dela em nossa dissertação. Entendemos
que o caminho da pesquisa científica é marcado por inesperados, mas, diante deles não
podemos parar, e sim nos (re) organizar e seguir adiante para buscar produzir o melhor
trabalho possível neste momento e sob estas circunstâncias.
Porém, com base na Coletânea de Legislação Cultural disponível na página
eletrônica da DPHCEx, e em outras informações obtidas através do mesmo suporte,
pudemos levantar subsídios para complementar nossa investigação. Assim, essa análise
documental nos permitiu compreender que o Sistema Cultural do Exército (SCEx) trabalha
alinhado com o Sistema de Comunicação Social do Exército (SISCOMSEX) (Figura 8).
Figura 8 (Inter) Relação Sistemas de Comunicação e Cultura
Fonte: Elaborado pela autora a partir da compreensão das informações extraídas do site da
Diretoria de Patrimônio Histórico e Cultural do Exército ([DAC, 2009]).
Também, que os Comandos Militares de Área operacionalizam as diretrizes
propostas pela DPHCEx, coordenando as atividades que serão desenvolvidas nas suas
áreas de responsabilidade, inclusive determinando as ações específicas que devem ser
desenvolvidas pelas Organizações Militares pertencentes a sua jurisdição.
Qualquer Organização Militar pode criar um centro de memória para visitação
pública, desde que solicite autorização à Diretoria de Assuntos Culturais, via escalão de
comando, e observe as diretrizes da DPHCEx. Elas também podem criar materiais de
5ª Seção (Comunicação Social)
Comandos Militares de Área
5ª Seção (Comunicação Social)
Regiões Militares
Seção de Relações Públicas
Organizações Militares
CCOMSEx
Rede do Sistema
de Comunicação
Social do Exército
DPHCEx
FUNCEB
AHEx
BIBLIEx
MHEx
MNMGM
Rede do Sistema Cultural do Exército
Comandos
Militares de
Área
105
comunicação próprios com base em seu acervo, seguindo as diretrizes do Plano de
Comunicação Social do Exército.
Maior do que a necessidade de adoção de práticas de memória é a necessidade da
unificação destas. Por ser o Exército uma Instituição presente em todo o território nacional,
precisa fazer um esforço para identificar e concentrar todas as atividades que são
produzidas pelos outros membros do SCEx. Os princípios recursivo e hologramático de
Morin (2008) se tornam evidentes aqui segundo nossa visão. O primeiro pressupõe que “os
produtos e os efeitos são, eles mesmos, produtores e causadores daquilo que os produz”, e
o segundo, “que não apenas a parte está no todo, como o todo está inscrito na parte”
(MORIN, 2008, p. 94). Da mesma forma, a Instituição é única ao mesmo tempo em que é
múltipla, produzindo normatizações para assegurar a adequação, a padronização e a
unidade das partes dentro de toda e cada uma das partes que compõem a cadeia hierárquica
(princípio hologramático). Mas, além de produzir, também recebe os efeitos desta, porque
também precisa se (auto) regular e adaptar em relação à multiplicidade de práticas
emanadas das diversas unidades militares (princípio recursivo) que a constituem para
normatizá-las e inseri-las numa mesma identidade.
Nesse sentido, a Rede do Sistema Cultural do Exército
88
, disponível na página
eletrônica da DPHCEx surgiu como canal aproximativo, através do qual todos os
integrantes do sistema podem obter orientações que subsidiem suas práticas regionais.
Além disso, estão disponíveis na página eletrônica da diretoria as normas e as legislações
relevantes para o desenvolvimento das atividades relacionadas à memória da instituição.
4.5 RELAÇÕES PARTE X TODO: O COMANDO MILITAR DO SUL
Para melhor compreensão das práticas de Memória Institucional realizadas pelo
Exército Brasileiro, procuramos o Comando Militar do Sul (CMS), com sede em Porto
Alegre (RS), onde realizamos uma entrevista em profundidade com um representante da
Seção de Comunicação Social, além de várias visitas in loco no Museu Militar do
Comando Militar do Sul, seção apêndice que coordena vários projetos com esse caráter.
No decorrer deste trabalho, o tema Bicentenário de Osorio (1808-2008) surgiu
88
REDE do sistema cultural do exército. Diretoria do Patrimônio Histórico e Cultural do Exército, Rio de Janeiro
[2009]. Disponível em: <http://www.dphcex.ensino.eb.br/cultura/>. Acesso em: 03 Dez 2009.
106
como sendo um tipo de projeto que poderia exemplificar de que maneira a instituição
desenvolve suas práticas em nível local
89
, pois, apesar de ter contado com ações em todo o
país, o maior número se concentrou no Rio Grande do Sul, Estado onde o Marechal-de-
Exército Manuel Luiz Osorio nasceu e que presenciou boa parte de sua trajetória. Pelo
valor deste patrono dentro da Instituição e pela repercussão que esta série de eventos gerou
na mídia local (Apêndice G), acreditamos que seria relevante trazer este caso para nossa
reflexão.
O Comando Militar de Área responsável por coordenar as atividades das 182
unidades militares
90
distribuídas nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do
Sul é o CMS.
Com um efetivo equivalente a um quarto do efetivo do Exército Brasileiro
91
, cerca
de 50.000 militares, o CMS tem como missões específicas manter a soberania estratégica
na Região Sul do Brasil e participar de ações subsidiárias e dissuasórias frentes às ameaças
aos interesses nacionais na área de sua abrangência (COMANDO, 2009).
Sediado em Porto Alegre (RS), realiza a coordenação das organizações militares
através das e Regiões Militares, seus Grandes Comandos Administrativos e
Territoriais localizados, respectivamente, em Porto Alegre e Curitiba, responsáveis “pelas
atividades de logística, de mobilização e do serviço militar” (HISTÓRICO CMS, 2009).
Sua história remete a 1921, com a criação da Inspetoria de Regiões, primeiro órgão
que dirigiu o Exército na região sul do país, com jurisdição sobre os estados do Rio Grande
do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Mato Grosso. Em 1944 as inspetorias foram
substituídas, dando lugar aos Grupos de Regiões Militares, com sede no Rio de Janeiro. No
ano de 1946, o 1° Grupo de Regiões Militares transformou-se em Zona Militar Sul.
Com a reorganização do Exército, em 1952, as Zonas Militares receberam novas
atribuições e responsabilidades. Em 1953, a sede da Zona Militar Sul, que compreendia os
estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, foi transferida do Rio de Janeiro
para Porto Alegre. Com esta medida, “de órgão de planejamento transformou-se em
89
O tema surgiu durante as visitas realizadas na 5ª Seção do Comando Militar do Sul, no Museu Militar do
Comando Militar do Sul e na entrevista em profundidade realizada na Seção de Comunicação Social do Comando
Militar do Sul, Porto Alegre, 28 de dezembro de 2009.
90
Formado por 162 Organizações Militares e 20 Tiros de Guerra. HISTÓRICO CMS. Disponível em:
<http://www.cms.eb.mil.br/index.php?option=com_content&task=view&id=13&Itemid=26>. Acesso: 01 dez.
2009.
91
Para manter a soberania na região sul do Brasil, sua missão, o Comando Militar do Sul possui 75% dos meios
mecanizados existentes na Força Terrestre.
107
comando operacional com responsabilidades administrativas, de disciplina e justiça sobre a
área de sua jurisdição” ([HISTÓRICO CMS, 2009]). A partir da reestruturação do
Exército, ocorrida em 1956, as Zonas Militares transformaram-se em quatro Exércitos,
sendo Porto Alegre a sede do III Exército.
A partir da nova divisão da Força Terrestre, definida em 1985, os Exércitos e seus
Comandos foram extintos
92
. Em decorrência, foram criados os Comandos Militares de
Área (CMA), diretamente subordinados o Ministério do Exército. Com a extinção deste
ministério, os CMA ficaram subordinados ao comando do Exército Brasileiro, que se
reporta atualmente ao Ministério da Defesa.
O Comando Militar do Sul (CMS) possui uma Seção de Comunicação Social (5ª
Seção) que tem por finalidade programar e controlar as atividades de comunicação
recebidas do Centro de Comunicação Social do Exército e que serão desenvolvidas nas 3ª e
5ª Regiões Militares.
A Seção realiza assessoria de imprensa para o comando do CMS, produz
instrumentos, veículos e programas de comunicação. É composta por seis subseções que
atuam de forma integrada na realização das atividades: Núcleo Administrativo, Relações
Públicas, Produção e Divulgação, Informações Públicas e Planejamento
93
.
Além de assessorar o comando do CMS nas questões de comunicação da Região
Sul, esta seção orienta os responsáveis pelas Seções de Comunicação Social das
Organizações Militares, dando o apoio necessário para que estas produzam informativos,
vídeos, organização de eventos e outros materiais especiais. Os principais veículos de
comunicação produzidos pela Seção atualmente são o informativo Correio Militar do
Sul, o programa Exército em Revista, página eletrônica e a intranet. O primeiro foi criado
em 1998 com o objetivo de veicular notícias do comando do CMS e de unidades sediadas
nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Tem periodicidade mensal e
distribuição impressa gratuita entre Organizações Militares, e versão on-line na página
eletrônica (INFORMATIVOS, 2009). O programa Exército em Revista, produzido e
apresentado sob responsabilidade da Seção, é transmitido dezenove anos pela Rádio
92
A nova divisão do Exército foi definida pelo Ministro do Exército General Leônidas Pires Gonçalves, através do
Decreto Nº 91 778, de 1985. HISTÓRICO CMS. Disponível em:
<http://www.cms.eb.mil.br/index.php?option=com_content&task=view&id=13&Itemid=26>. Acesso: 01 dez.
2009.
93
A formação profissional dos militares da 5ª Seção do CMS é a seguinte: 02 Relações Públicas, 01 Jornalista, 01
Publicitário, 01 administrador. No Museu Militar do CMS, apêndice a esta seção, existe um profissional da área de
museologia, que foi responsável pela execução de boa parte das ações desenvolvidas em torno das comemorações
do Bicentenário de Nascimento do Marechal Osorio.
108
Guaíba AM, de Porto Alegre, semanalmente. O site e a intranet também são mantidos por
esta seção, que realiza a produção de mídia institucional e outros materiais dirigidos,
cobertura fotográfica e edição de vídeos (INFORMATIVOS, 2009).
4.5.1 As Práticas de Memória no Âmbito do Comando Militar do Sul
As práticas de memória no âmbito do CMS são desenvolvidas de acordo com o
SIPLEX
94
, documento que define a política estratégica do Exército Brasileiro, integrando
ações de comunicação e cultura, sob coordenação da Seção de Comunicação Social (5ª
Seção).
Em entrevista realizada com o Tenente Coronel de Cavalaria José Nero Candido
Vianna, Sub Chefe da Seção do CMS, foi possível identificarmos várias nuances do
entendimento e do valor da memória para o Exército. Formado em Ciências Militares e
Administração de Empresas, este oficial possui trinta e seis anos de serviço militar, sendo
dez deles atuando na Comunicação Social do Comando Militar do Sul. A entrevista
realizada nos permitiu compreender de que maneira as práticas de memória ocorrem no
CMS e no Exército, dado o tempo e a experiência deste profissional na organização.
De acordo com o entrevistado, o Comando Militar do Sul é pioneiro na integração
de ações de comunicação e cultura, com a coordenação da Seção. Os resultados obtidos
com a realização das atividades na Região Sul são centralizados nesta seção, que os
compila e remete anualmente à Diretoria do Patrimônio Histórico e Cultural do Exército.
Quanto à compreensão sobre o conceito de Memória Institucional, afirmou que a
enxerga como algo complexo, o que se coaduna com a perspectiva proposta por este
estudo. Em sua visão, a memória perpassa toda a instituição, confundindo-se com a própria
identidade militar. Assim:
A Memória Institucional é de uma formação complexa. A Memória
Institucional tem a questão da história. Tem a questão do legado
cultural. E tem na visão mais aberta ao público, a questão da imagem.
Combinando essas três coisas então nos temos o que é o Exército
94
Consiste no Sistema de Planejamento do Exército (SIPLEX), onde o SIPLEX 1 compreende a missão do
Exército e o SIPLEX 5 a Diretriz Estratégica de Comunicação Social.
109
Brasileiro, que vem desde Guararapes. E por ser uma instituição grande,
e de âmbito nacional, de vivência de múltiplas áreas [...] e regiões, de
trabalho de operação, é que forma essa mescla tão forte que é o militar
brasileiro (informação verbal)
95
.
Segundo o entrevistado, a Diretoria do Patrimônio Histórico e Cultural do Exército
fornece as orientações que devem ser adotadas e operacionalizadas nos Grandes Comandos
no tocante ao desenvolvimento das ações culturais, buscando incentivar a criação de
espaços culturais e o desenvolvimento de atividades ligadas à memória pelas próprias
Organizações Militares, de maneira que a própria unidade cultua e guarda a sua história
e a tradição (informação verbal)
96
.
No tocante aos grandes eventos comemorativos, tais como o Bicentenário de
Osorio, inicialmente é emitida uma portaria do Comandante da Força regulando o assunto
em nível nacional. A partir daí, cada Comando Militar de Área elabora uma ordem de
serviço regulando o assunto e especificando os detalhes das ações de acordo com as
características regionais. Cria-se, então, uma comissão que planejará e realizará os eventos
comemorativos sob coordenação do respectivo Comando Militar de Área. Esta equipe
geralmente tem a participação da Seção, a qual utiliza seus recursos humanos e técnicos
para a implementação do evento. O caráter das práticas de memória é permanente, dentro
dos interesses da Força Terrestre, sendo desenvolvidas para os mais variados públicos.
A internet foi destacada pelo entrevistado como sendo um facilitador para a troca
de informações sobre as práticas culturais, treinamento e a aproximação dos elementos que
estão em pontos distantes desse sistema cultural. Funcionando como um elemento
agregador, a internet permite que militares de níveis hierárquicos distintos possam trocar
informações e se sentir valorizados dentro do sistema, que é aperfeiçoado justamente face
este intercâmbio e através do qual os responsáveis pela DPHCEx tomarem conhecimento
sobre o que acontece nas partes mais extremas do sistema, aperfeiçoando-o, como numa
retroalimentação:
[...] hoje uma liberdade enorme através da internet que todos os
agentes cadastrados desse sistema podem opinar da companhia que
está lá em, vamos botar aqui, Dom Pedrito [RS], pode falar por email, lá
95
Informação verbal proferida durante a entrevista em profundidade realizada na Seção de Comunicação Social do
Comando Militar do Sul, Porto Alegre, 28 de dezembro de 2009.
96
Ibidem.
110
o sargento, o responsável pelo espaço cultural de lá direto com o general
lá no Rio de Janeiro, na Diretoria, sem ferir suscetibilidades (informação
verbal)
97
.
Segundo o entrevistado, a necessidade de promover ações de resgate e valorização
da memória surgiu como um movimento de base, nos pontos mais extremos da rede,
diferentemente do que se poderia supor em um primeiro momento face à configuração de
máquina desta instituição. Enxergamos aqui a manifestação dos princípios hologramático e
recursivo. Conforme o respondente, “a parte cultural teve seu efeito altamente positivo na
tropa e com reflexo na sociedade local de cada organização militar” (informação
verbal)
98
. De acordo com ele, esse movimento começou cerca de seis anos e motivou
uma reflexão da organização sobre as práticas de memória, o que culminou na criação do
Sistema Cultural do Exército. Neste sistema, a DPHCEx coordena os Comandos Militares
de Área e estes agem como coordenadores das práticas culturais desenvolvidas pelas
Organizações Militares dentro de suas regiões, através de suas Seções (Comunicação
Social), que centralizam as ações, orientam e organizam os resultados, que são remetidos
para a DPHCEx, realimentando o SCEx.
Apesar da existência do Sistema Cultural e do acesso às normatizações das práticas
culturais, na visão de nosso entrevistado os objetivos pretendidos com as práticas de
memória realizadas pelo Exército ainda não são claros para todos, em razão de ainda ser
um processo que está evoluindo dentro da instituição:
[...] ele é um mosaico que está esparso. Espero que a partir de 2010 s
montemos esse mosaico e que todo mundo possa ter mais nitidez e possa
ver ele. Esse é um lado. Por outro lado, eu diria até que é bom que
inicialmente tenha sido feito assim, porque agora existe um consenso
muito forte de que esse viés nos valoriza muito e que vai ser importante
(trecho da entrevista)
99
.
As práticas desenvolvidas no CMS são as definidas pela DPHCEx, não existindo,
ainda, um programa de Memória Institucional local específico. Não obstante, o
reconhecimento da necessidade de se trabalhar com a temática de forma mais planejada em
97
Informação verbal proferida durante a entrevista em profundidade realizada na Seção de Comunicação Social do
Comando Militar do Sul, Porto Alegre, 28 de dezembro de 2009.
98
Ibidem.
99
Ibidem.
111
nível regional, possivelmente a partir do próximo ano. Deste modo, a história do Comando
Militar do Sul é fruto da “vivência diária das unidades”
100
. No Rio Grande do Sul, pelo
que pudemos observar na fala do entrevistado, estas práticas são mais intensas devido à
forte cultura tradicionalista existente na região. O CMS atua, então, como um coordenador
cultural:
[...] está no sangue gaúcho, de tradição. É um Estado de uma tradição
muito forte. E o que ocorre nas unidades do CMS, que abrange não o
Rio Grande do Sul, mas o Paraná e Santa Catarina também? Quase toda
unidade tem um espaço cultural, e a nossa Diretoria do Patrimônio
Histórico e Cultural, ela tem incentivado as unidades a criarem os seus
espaços culturais, de maneira que a própria unidade cultua e guarda a
sua história e a tradição. E o CMS é um grande coordenador cultural
(informação verbal)
101
.
Da mesma forma que o Exército, o CMS prioriza dois grupos de públicos nas
práticas de comunicação e memória realizadas em seu âmbito. O primeiro, interno, é
trabalhado durante toda sua carreira militar com valores sobre a organização, mas em
diferentes instâncias. Dentro dessa perspectiva, o militar moderno, aquele recém ingresso
na vida militar, recebe nos cursos de formação
102
uma orientação individual quanto aos
valores e às virtudes que precisa desenvolver durante sua carreira. Nos cursos de
aperfeiçoamento
103
, a orientação passa a ser no sentido de que este militar será
comandante, líder de outros grupos, então o enfoque passa a ser a transmissão dos valores.
Em um terceiro nível são trabalhados os valores para os militares dos cursos de maior
especialização, como a Escola de Comando de Estado-Maior. Dessa forma, o público
interno é trabalhado durante toda a sua vida militar, mas com enfoques diferenciados:
Nós vamos falar do princípio de lealdade, em Guararapes de uma
maneira, no Paraguai de outra maneira, em 1964 de outra maneira, e
hoje totalmente diferente, porque a sociedade mudou, a cultura mudou
100
Informação verbal proferida durante a entrevista em profundidade realizada na Seção de Comunicação Social do
Comando Militar do Sul, Porto Alegre, 28 de dezembro de 2009.
101
Ibidem.
102
Os cursos de formação do Exército Brasileiro são: Academia Militar da Agulhas Negras (AMAN), localizada
em Resende (RJ); Escola de Administração do Exército (ESAEx), localizada em Salvador (BA); Escola de Saúde
do Exército (ESSEx), localizada no Rio de Janeiro (RJ); Escola dos Sargentos das Armas (ESSA), localizada em
Três Corações (MG).
103
Os cursos de especialização consistem no CAS para os sargentos e a ESAO no caso dos oficiais. Ambos são
realizados no Rio de Janeiro (RJ).
112
então nós temos que ter princípios permanentes com enfoques
diferenciados (informação verbal)
104
.
No tocante ao público externo, os públicos prioritários são os escolares, os
universitários e os formadores de opinião. Como recorte para este último está o público da
área profissional, empresarial e executiva, no intuito de evidenciar as ações desenvolvidas
pelo Exército em todo o Brasil.
Quanto à avaliação das práticas realizadas, essa ocorre, de uma maneira geral, por
meio de relatórios enviados pelas Organizações Militares ao final de cada atividade
desenvolvida. Nestes, os pontos positivos e negativos são destacados, e as sugestões são
colhidas e acatadas, de acordo com os interesses da organização. Os resultados alcançados
são enviados, então, para a DPHECX.
Desde a implantação do Programa de Excelência Gerencial
105
, em 2003, a
verificação do nível de excelência de várias áreas da instituição tem se mostrado crescente,
o que levou a adoção dos relatórios em larga escala. A necessidade de estabelecimento de
novos indicadores se mostrou relevante durante a entrevista: Importantíssimo se medir o
que faz para ver se a gente tem necessidade daquilo ali ou se ele é eficaz naquilo que se
propõe (informação verbal)
106
.
De acordo com o entrevistado, o apoio dado pelo CCOMSEX às atividades de
comunicação voltadas para a memória na Região Sul, esse consiste na divulgação das
ações realizadas em seus veículos e instrumentos, pois, de uma maneira geral, a Seção
do CMS possui condições e experiência para desenvolver seus próprios materiais.
Apesar disso, caso seja necessário, o apoio é solicitado.
Sobre a importância dos programas de memória para a imagem do Exército, nosso
entrevistado respondeu que considera como sendo fundamentais, sobretudo para
contextualizar a ação institucional, uma vez que a organização conta com uma trajetória de
104
Informação verbal proferida durante a entrevista em profundidade realizada na Seção de Comunicação Social do
Comando Militar do Sul, Porto Alegre, 28 de dezembro de 2009.
105
O Programa Excelência Gerencial do Exército Brasileiro (PEG-EB) foi implantado de 2003 a 2006, visando
melhorar continuamente a gestão de toda a instituição, com reflexos na operacionalidade e no bem-estar do público
interno e de seus dependentes, consistindo em ferramentas de melhoria de processos e fluxos das idéias e
documentação. Em continuidade a este programa, foi criado em 2007 o Sistema de Excelência no Exército
Brasileiro (SE-EB), baseado em quatro projetos principais: Projeto Sistema de Gestão Estratégica / Balanced
Scorecard (SGE/BSC); Projeto Sistema Integrado de Gestão (SIG); Projeto de Gestão por Processos (PGP); e
Projeto de Consolidação do PEG-EB. SISTEMA de Excelência no Exército Brasileiro. Portaria 220, de 20 de
abril de 2007. Disponível em: <http://www.portalpeg.eb.mil.br/downloads/220-cmt.pdf>. Acesso: 01 Dez 2009.
106
Informação verbal proferida durante a entrevista em profundidade realizada na Seção de Comunicação Social do
Comando Militar do Sul, Porto Alegre, 28 de dezembro de 2009.
113
mais de trezentos anos. Dessa maneira, para ele “houve erros, houve. Houve exageros,
houve. Mas certamente houve muito mais acertos do que erros ao longo do tempo
(informação verbal)
107
, por isso a pertinência do contexto:
Precisa inserir ele [o Exército] na sua evolução histórica, para gente
poder entender porque que houve aquilo.[...] Se olharmos desde
Guararapes até hoje o nosso Exército e olharmos hoje para o Brasil, se
pode ter uma noção com muita propriedade e dizer se a Instituição foi ou
não foi boa (informação verbal)
108
.
O CMS desenvolve várias atividades com caráter de memória baseando-se nas
diretrizes provenientes da DPHCEx, mas não possui um programa regional específico com
estas características. A partir dos tipos de projeto propostos por Maricato (2006),
identificamos as principais práticas de Memória Institucional realizadas atualmente no
âmbito do Comando Militar do Sul. Relacionamos as mais representativas, uma vez que os
outros tipos de projeto, tais como edições históricas, parcerias, apoio técnico-científico, por
exemplo, são desempenhadas quando da existência de um programa de comemorações
específico, como será exemplificado com o Bicentenário de Osorio. Deste modo, os
projetos de memória mais significativos no âmbito do Comando Militar do Sul atualmente
são:
a) Biblioteca
O MMCMS possui uma biblioteca que coloca à disposição dos públicos interno e
externo obras com conteúdos sobre aspectos e características relacionados à vida militar e
à história do Exército Brasileiro.
b) Banco de Imagens
A Seção do CMS capta as imagens fornecidas pelas Organizações Militares
durante a realização de suas diversas atividades. Essas imagens são arquivadas e geram
107
Informação verbal proferida durante a entrevista em profundidade realizada na Seção de Comunicação Social do
Comando Militar do Sul, Porto Alegre, 28 de dezembro de 2009.
108
Ibidem.
114
conteúdo para a produção de informativos e vídeos institucionais, entre outros produtos
comunicacionais.
c) Periódicos e Materiais Impressos
De uma maneira geral, os canais de informação mantidos pela Seção veiculam
notícias sobre a temática da memória, tais como a realização de homenagens e
comemorações cívicas nas Organizações Militares. Mas, além desses, outros tipos de
informativos podem ser planejados e produzidos (Anexo W, X e Z).
d) Museu Empresarial
O Comando Militar do Sul possui atualmente 42 espaços culturais regularizados ou
em processo de regularização junto a DPHCEx (Gráfico 2)
109
, com perspectiva de
expansão (Anexo V).
Gráfico 2 - Centros de Memória/Espaços Culturais do CMS
Fonte: Elaborado pela autora com base em informações da 5ª Seção do CMS.
Embora ainda não possua um planejamento específico para práticas de memória,
109
Recuperamos aqui a informação sobre a diferença entre o número de espaços culturais/centros de memória
no âmbito do Comando Militar do Sul, entre os Gráficos 1 e 2. As informações do Gráfico 2 se referem a
todas as solicitações de criação de espaços culturais/centros de memória no âmbito do CMS, mesmo as que ainda
estão em processo de regularização junto à DPHCEx. Ao contrário, no Gráfico 1 (pg. 95) apenas constam as
informações sobre os já regularizados e com funcionamento regular.
115
realizou uma consulta às organizações militares de sua jurisdição para levantar dados e o
patrimônio existente nelas. Tem como proposta estabelecer, a partir deste ano, várias
iniciativas na área, proporcionando aos responsáveis pelos espaços culturais orientações e
apoio técnico para a realização de atividades. Assim, de acordo com o entrevistado, várias
iniciativas serão desenvolvidas:
[...] para que haja uma maior facilitação dos responsáveis pelos espaços
culturais conseguirem maior comunicabilidade com o CMS, para que
recebam mais orientação, treinamento ou solicitem apoio técnico para
suas unidades (informação verbal)
110
.
Nesta categoria, torna-se relevante mencionar o Museu Militar do Comando Militar
do Sul (MMCMS), pois funciona como um anexo à Seção do Comando Militar do Sul,
promovendo oficinas e prestando orientações e capacitação técnica para Organizações
Militares que tiverem necessidade
111
.
Criado em 1999, o MMCMS consiste em um espaço interativo onde os visitantes
podem ter contato com a realidade da organização. Tem por objetivo recolher, preservar,
conservar e expor objetos referentes a história do Exército Brasileiro, mais especificamente
o patrimônio material e imaterial da área de abrangência deste comando:
Na certeza de que a função do museu é mais do que recolher e conservar
peças do acervo histórico, a atuação do museu vem preocupando-se cada
vez mais em aumentar, aperfeiçoar e diversificar as suas atividades, neste
caminho procura participar das mais diversas atividades de divulgação
aproximando cada vez mais o museu da comunidade ([MUSEU
MILITAR, 2009]).
Nesse sentido, o Museu Militar do CMS possui um acervo composto de 4000 peças
divididas em uniformes, fotografias, documentos, medalhas, armas e viaturas, que é
110
Informação verbal proferida durante a entrevista em profundidade realizada na Seção de Comunicação Social do
Comando Militar do Sul, Porto Alegre, 28 de dezembro de 2009.
111
A Assessoria técnica em outras organizações militares, consiste “em um trabalho de planejamento do espaço,
com adequação do acervo e distribuição dos temas e sub-núcleos da sala expositiva”. Também, na realização de
oficina de planejamento e execução de exposições para os militares responsáveis pelo espaço cultural e pela Seção
de Comunicação Social. Disponível em: MUSEU MILITAR. Comando Militar do Sul. Porto Alegre, [2009]
Disponível em: <http://www.museumilitar.com.br/16.html>. Acesso em: 01 Nov 2009.
116
apresentado ao público através de salas para exposições temáticas de curta e longa duração.
Estas mostras abordam, entre outros temas, a História do Exército Brasileiro, desde o
Período Colonial, durante a ocupação dos territórios sul-brasileiros até os dias atuais para
manutenção da paz. Além disso, como agente de educação e desenvolvimento cultural,
desenvolve pesquisas, catalogação, guarda e conservação de acervos militares, recebendo
apoio de órgãos do Estado, Fundação Cultural do Exército e da iniciativa privada. Possui
vários projetos voltados para as escolas e a comunidade. Entre seus públicos principais
estão as escolas de ensinos Fundamental e Médio das redes públicas da Capital, que
contam com visitas gratuitas e agendadas ([MUSEU MILITAR, 2009]). Além disso, por
meio de parcerias algumas exposições são realizadas em espaço extra-museu, como
shopping centers, por exemplo
112
. Alguns exemplos de museus desta região Anexos T e U.
e) Homenagens
A comemoração das datas cívicas foi destacada como sendo a ação que possui
maior destaque no âmbito do Comando Militar do Sul, no sentido de interesse do público
civil e da crescente participação deste nas atividades relativas a estas, são as mais
desenvolvidas atualmente. De acordo com o entrevistado, embora essas atividades se
repitam todos os anos, cada uma é feita de uma maneira diferente e cada vez mais as
autoridades, estudantes, o publico em si tem procurado vir e assistir. E se por alguma
coisa não acontece, o pessoal reclama (informação verbal)
113
.
f) Programa e Projetos Culturais
Dentro desta categoria se encontram os projetos especiais, ou seja, as grandes
comemorações realizadas quando fecham datas representativas, como por exemplo, os 360
anos do exército (2008), o Bicentenário de Caxias (2003) e o Bicentenário de Osório
112
Em comemoração ao Dia do Soldado, por exemplo, já foram realizadas exposições no Shopping Total e no
supermercado Big Sertório, ambos em Porto Alegre (RS). MUSEU MILITAR. Comando Militar do Sul. Porto
Alegre, [2009]. Disponível em: <http://www.museumilitar.com.br/16.html>. Acesso em: 01 Nov 2009.
113
Informação verbal proferida durante a entrevista em profundidade realizada na Seção de Comunicação Social do
Comando Militar do Sul, Porto Alegre, 28 de dezembro de 2009.
117
(2008). Nestas ocasiões, várias atividades são programadas pelo Exército, a serem
realizadas em todo o Brasil. Nesta direção, o Comando Militar do Sul operacionaliza as
atividades propostas pela diretriz emitida pela DPHCEx, que podem gerar diversos
“produtos de memória”, aqui compreendido como tipos de ação voltados para a
valorização da trajetória da organização ou do patrono (Anexo Y, Z e AA).
4.5.2 O Bicentenário de Osorio
Ao desenvolver a proposição feita pela Banca de Qualificação deste trabalho, no
sentido de lugarizar as práticas de Memória Institucional realizadas pelo Exército
Brasileiro no âmbito do Comando Militar do Sul, o tema Bicentenário de Osorio (1808-
2008) surgiu como sendo um tipo de projeto que poderia exemplificar de que maneira a
instituição desenvolve suas práticas em nível regional
114
. Isso porque, apesar de ter contado
com ações em todo o país, o maior número se concentrou no Rio Grande do Sul, Estado
onde o Marechal-de-Exército Manuel Luiz Osório nasceu e que presenciou boa parte de
sua trajetória
115
.
Nessa direção, várias atividades comemorativas foram desenvolvidas em 2008 em
alusão ao Bicentenário de nascimento do Patrono da Arma de Cavalaria Brasileira, que foi
senador e ministro de guerra, mas cuja lembrança está mais fortemente vinculada à
Batalha do Tuiuti, “que passou à memória militar como a maior batalha campal travada em
terras da América do Sul” (CASTRO, 2002, p.15), onde comandou a tropa vitoriosa.
De acordo com Castro (2002)
116
, Osório pode ser considerado uma das principais
figuras militares do Império brasileiro, juntamente com Caxias, o Patrono do Exército. O
culto aos patronos
117
, personagens representativos dentro da Instituição, é uma
característica dessa organização. Em certa medida, esse tipo de prática surgiu pela
114
O tema surgiu durante as visitas realizadas na Seção do Comando Militar do Sul, no Museu Militar do
Comando Militar do Sul e na entrevista em profundidade realizada na Seção de Comunicação Social do Comando
Militar do Sul, Porto Alegre, 28 de dezembro de 2009.
115
O Marechal Osório nasceu na região onde atualmente fica o município de Osório - RS.
116
Celso Castro é pesquisador do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil
(CPDOC) da Fundação Getúlio Vargas, editor da revista Estudos Históricos. Escreveu e organizou várias obras
ligadas à história e à memória do Exército Brasileiro.
117
Conforme Castro (2002, p. 18, grifo do autor) a palavra francesa patron tem duplo sentido de “patrono”
(protetor) e “padrão” (modelo)”.
118
necessidade de reforço da coesão do público interno a partir das revoltas tenentistas de
1930 (CASTRO, 2002). De valor vital para o cumprimento dos objetivos da Instituição,
esse tipo de comemoração foi introduzido como um símbolo da união militar face ao
perigo de esfacelamento e desestabilização da hierarquia e disciplina necessárias para o
desenvolvimento de suas atividades. Ainda na visão desse autor, a adoção desses rituais é
importante para a preservação da Instituição porque:
Não basta que os indivíduos pensem que fazem parte de uma determinada
coletividade: é preciso agir, e agir em comum. É preciso também
comemorar lembrar em conjunto. Através dos rituais, as crenças
tornam-se efetivamente sociais para seus participantes. É a repetição
regular e coletiva dos rituais que cria e recria a própria coletividade
enquanto tal, renovando em seus participantes o sentimento de
pertencerem a algo em comum no caso, o Exército Brasileiro
(CASTRO, 2002, p.79).
A diretriz para as comemorações do Bicentenário do Nascimento do Marechal
Osorio no Brasil foi aprovada em 2007 através de uma portaria
118
, que também definiu o
responsável pelo planejamento e pela coordenação geral, no âmbito do Exército, de todas
as atividades alusivas. Com base nesta direção geral, os Grandes Comandos subordinados
conduziram suas próprias comemorações em suas regiões de atuação. Dessa forma, cada
Comando Militar de Área foi estimulado a realizar eventos alusivos ao longo de 2008, com
maior concentração até 10 de maio, data nacional da Arma de Cavalaria e aniversário de
nascimento do Marechal Osorio.
O Comando Militar do Sul produziu uma Ordem de Serviço para a execução das
atividades referentes às comemorações do Bicentenário de Osorio na guarnição da Grande
Porto Alegre, cujo objetivo principal consistia em preservar e divulgar o patrimônio
imaterial do Exército, expresso em suas tradições, celebrações e nos valores militares,
estimulando na sociedade o culto aos grandes vultos nacionais, através do enfoque sobre a
trajetória desse personagem militar. A Ordem de Serviço procurou destacar, também, os
públicos de interesse das atividades e eventos previstos. Embora fossem voltados para toda
a sociedade, buscou em particular a participação de estudantes do ensino fundamental e
118
PORTARIA 139, de 20 de março de 2007, que aprova a Diretriz para as Comemorações do Bicentenário do
Nascimento do Marechal Osorio.
119
médio
119
, integrantes dos movimentos tradicionalistas, autoridades civis, militares e
eclesiásticas, representantes de universidades e de outras entidades civis. A presença de
representantes do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil e da Academia de
História Militar Terrestre do Brasil nos simpósios, seminários e ciclos de palestras e de
estudos também foi evidenciada como relevante.
Assim, diversos projetos foram concebidos (Apêndice F) e executados pelas
Organizações Militares designadas para tal. Para tanto, uma comissão organizadora no
âmbito do Comando Militar do Sul foi criada, a qual continha outras subcomissões, além
de integrantes das principais Organizações Militares do Sul. A Comissão Organizadora do
CMS conduziu as comemorações nesta região em estreita ligação com a Comissão
Nacional.
Consideramos pertinente destacar as atribuições da Subcomissão de Comunicação
Social, uma vez que esta foi formada por uma equipe multidisciplinar de integrantes da
Seção do CMS e do Regimento de Cavalaria de Guardas (3º RCG). Nesse sentido, ela
deveria: a) realizar contato com a imprensa de forma a divulgar os eventos; b) buscar a
publicação de matérias que cultuem a vida e os feitos de Osorio; c) preparar materiais
impressos específicos para divulgar os eventos e com características de culto à memória do
Marechal; d) realizar a cobertura vídeo-fotográfica dos eventos realizados; e) incluir nos
veículos de comunicação do CMS matérias versando sobre a vida e feitos de Osorio; f)
auxiliar na realização dos eventos sociais, esportivos e religiosos promovidos no âmbito da
guarnição; g) organizar exposição comemorativa no Museu Militar do CMS; h) receber a
exposição itinerante e divulgá-la; e i) produzir os diplomas de agradecimento às
personalidades que apoiaram a realização das atividades.
As comemorações relativas ao Bicentenário de Nascimento do Marechal Osorio
(1808-2008) fizeram parte de um plano que gerou vários projetos de memória, além de
outras ações que não se encaixam na tipologia proposta por Maricato (2006), mas que
foram igualmente relevantes. Todas as atividades seguiram a diretriz “difundir a vida e os
feitos do Marechal Osorio como forma de divulgar na sociedade o culto aos grandes vultos
nacionais, estimulando, dessa forma, a preservação e divulgação do patrimônio imaterial
do Exército Brasileiro” ([BICENTENÁRIO, 2008]). O número mais expressivo de
atividades ocorreu entre os meses de março e maio de 2008, mais próximos da data de
119
Com relação às escolas, o CCOMSEX produziu um número especial da Vídeorrevista do Exército sobre os
aspectos relevantes da vida de Osório.
120
nascimento de Osorio (Tabela 5).
Todos os eventos foram noticiados através das páginas eletrônicas do Comando
Militar do Sul, do Exército e da Fundação Parque Osorio, entre outras. Durante os eventos,
o veículo Correio Militar do Sul, de responsabilidade da Seção de Comunicação Social do
CMS contou com a publicação de nove matérias sobre o Bicentenário de Osorio, além de
uma edição especial (Anexo AE). Ao final da programação, o Centro de Comunicação
Social do Exército produziu um vídeo contendo um resumo das ações desenvolvidas, que
foi distribuído para os grandes comandos.
A avaliação desses projetos se deu por meio de relatórios que as Organizações
Militares executoras enviaram à Comissão Organizadora do Bicentenário, e também pela
repercussão dos mesmos na mídia local que contou com a publicação de 35 matérias nos
periódicos Zero Hora, O Sul, Correio do Povo, Jornal do Comércio e Jornal Capital das
Praias (Apêndice G). No final do período de atividades relacionadas ao Bicentenário de
Osorio a Comissão Coordenadora elaborou um relatório, que foi remetido para a DPHCEx
e os patrocinadores.
Tabela 4 - Tipos de Projeto de Memória realizados nas comemorações do Bicentenário
Tipo
Projeto / Atividade / Ação
Banco de Imagens
Vídeo “Bicentenário de Osório”
Edições Históricas
Livro “Osório”
Caderno de História “Manoel Luis Osório”.
CD „”Osorio 200 anos”
Produção de DVD “Festa Nacional da Cavalaria”
Periódicos e Materiais
Impressos
Criação de logomarca para toda a campanha de Osorio
Matéria nos sites CMS, Exército Brasileiro, DPHCEx
Correio Militar do Sul
Assessoria de Imprensa nos periódicos da região
Vídeo- Revista do Exército
Parcerias
Programa de Rádio Galpão do Nativismo.
Apoio técnico-científico
Simpósio Bicentenário de Osorio
Museu Empresarial
Exposição Osorio 200 Anos, no Museu do Comando Militar do Sul em Porto Alegre.
Exposição itinerante no Aeroporto Salgado Filho.
Exposição de painéis no Memorial do Rio Grande do Sul
Pedra fundamental para o Museu da Cavalaria
Homenagens
Medalha Bicentenário Osorio
Eventos
Evento de lançamento da programação comemorativa ao Bicentenário do Osório
Festa Nacional da Cavalaria
Lançamento do livro “Osório”
Corrida Rústica Bicentenário de Osorio
Cavalgada
Prova Internacional de Hipismo
Jornada de Pintura
Demonstração de Carrossel e Volteio
Evento de encerramento da programação comemorativa ao Bicentenário do Osório
Fonte: Elaborado pela autora com base nos tipos de Projeto de Memória (MARICATO, 2006).
121
4.6 EM BUSCA DE APORTES PRELIMINARES
Cada lugar, não importa onde se encontre, revela o mundo (no
que ele é, mas também naquilo que ele não é) (SANTOS, 1994,
p. 43, grifo do autor).
A análise documental e as falas dos respondentes do questionário e da entrevista em
profundidade evidenciaram que a memória é uma preocupação da Instituição, visto que é
reforçada em diretriz elaborada pelo comandante do Exército Brasileiro (DIRETRIZ,
2003) e replicada no seu Plano de Comunicação Social, em suas páginas eletrônicas, nas
legislações e normas criadas para regular as atividades ligadas a essa temática e
desenvolvidas pelos integrantes do Sistema Cultural do Exército. Entretanto, essas ações
possuem, sobretudo, caráter de preservação do patrimônio material e imaterial, de
comemoração das datas cívico-militares e de celebração de seus patronos, personagens que
se destacaram na trajetória da organização. Segundo Castro (2002, p. 48, grifo do autor),
pode parecer uma contradição o fato de se vincular um “novo Exército”
[...] ao passado, ao invés de inventar símbolos que rompam com tudo o
que existiu anteriormente e apontem para o futuro. Mas essa contradição
é apenas aparente. Uma das características centrais dos processos de
criação de novas tradições é justamente a tentativa de se estabelecer
continuidade com um passado histórico considerado apropriado.
O movimento que reconhece a importância das questões culturais dentro da
organização surgiu a partir da década de 1970, com a definição de ações estratégicas que
possibilitassem a consecução dos objetivos gerais de reparação, preservação, criação e
difusão de seu acervo histórico e cultural (O ELO, 1998). Não obstante, nos últimos anos a
conscientização a respeito da relevância da memória tem sido mais acentuada, o que se
evidencia na formalização do Sistema Cultural do Exército, na criação da Rede do Sistema
Cultural do Exército, na ampliação do número de centros de memória/espaços culturais
regularizados ou em fase de regularização, no planejamento de eventos e projetos com este
caráter em todo o Brasil. Essas ações revelam a preocupação da DPHCEx, representando a
organização como um todo e também a inquietação dos outros integrantes do SCEx, como
demonstrado através das práticas desenvolvidas no âmbito do Comando Militar do Sul, em
122
especial nas comemorações alusivas ao Bicentenário de Osorio (1808-2008).
Seguindo a estrutura hierarquizada característica deste tipo de organização, sua
comunicação e memória são desenvolvidas por meio de sistemas, que estabelecem as
diretrizes que guiam os outros elementos que os compõe, escalão após escalão. Os
Sistemas de Comunicação e Cultura do Exército são distintos, mas atuam em parceria para
a divulgação dos projetos de Memória Institucional. Essa burocracia aparente permite que
as práticas de memória guardem uma identidade entre si, tendo em vista a dimensão
geográfica da organização, as especificidades existentes entre cada Organização Militar e
as características regionais de cada localidade, entre outros aspectos. Nesta direção, foi
criado o Sistema de Comunicação Social do Exército (SISCCOMSEX) para ser um sistema
extensível a todas as organizações militares, independente de sua localização. Da mesma
forma, o Sistema Cultural do Exército, através do qual os integrantes podem se comunicar
e obter orientações que subsidiem suas práticas locais.
A DPHCEx estabelece as diretrizes que vão nortear as práticas de memória a serem
realizadas em âmbito nacional e local - como é o caso das comemorações alusivas ao
Bicentenário de Osorio -, disponibiliza as normas e as legislações culturais criadas pela
instituição para regular a criação e a manutenção de centros de visitação e museus/espaços
de memória, além de outros projetos e programas. Essa diretoria busca incentivar, ainda, a
criação de espaços culturais e estimular o desenvolvimento de atividades ligadas à
memória pelas próprias Organizações Militares, de maneira que a própria unidade cultua
e guarda a sua história e a tradição (informação verbal)
120
.
Conforme observamos, existe uma preocupação acentuada com definição de regras,
políticas, estratégias e com a normatização das atividades, o que demonstra a busca por
manter a identidade das práticas de Memória Institucional, que, segundo Maricato (2006),
é positivo, uma vez que contribui para manter a memória organizacional viva. Apesar do
acesso às normatizações, o respondente da entrevista em profundidade revelou que os
objetivos pretendidos com as práticas de memória realizadas pelo Exército ainda não estão
claros para todos os integrantes do sistema, em razão deste ser um processo em evolução
na instituição. Conforme sua fala, ainda é um mosaico que está esparso” (informação
verbal)
121
.
120
Informação verbal proferida durante a entrevista em profundidade realizada na Seção de Comunicação Social do
Comando Militar do Sul, Porto Alegre, 28 de dezembro de 2009.
121
Ibidem.
123
O papel do CCOMSEX é orientar os integrantes do Sistema de Comunicação para
que estes possam planejar e desenvolver as atividades sugeridas, fundamentados em
diretrizes e normas, além de apoiar e divulgar os projetos, programas e ações
desenvolvidas pela DPHCEx e pelas Organizações Militares. Também tem como
finalidade, produzir material com conteúdo sobre a memória do Exército e organizar
material de cunho histórico, tais como:
biografias dos comandantes e de outras personalidades consagradas na
história da unidade militar; atualizar arquivos cine-fotográficos;
registrar acontecimentos castrenses e de episódios relacionados à
unidade, à região, à localidade; desenvolver campanhas de divulgação e
de conservação do patrimônio cultural da área; programar palestras e
outros eventos em datas comemorativas; transformar acervo documental
em vídeos, livros/publicações, material expositivo e outras iniciativas que
possam ser exploradas em sites, museu, facilitando o acesso do público
interno e toda a comunidade.
122
Os projetos especiais de memória, como é o caso do Bicentenário de Osorio,
também são desenvolvidos segundo as diretrizes estabelecidas pela direção do SCEx.
A própria formação da memória da organização é complexa, conforme resultado da
entrevista em profundidade, pois consiste na história, legado cultural e imagem, estes três
aspectos mesclando-se na própria definição do que é o Exército Brasileiro e, como
conseqüência desse pensamento, a identidade militar, pois a Memória Institucional forma
essa mescla tão forte que é o militar brasileiro (informação verbal)
123
.
Conforme percebemos nas respostas do questionário semi-estruturado enviado ao
CCOMSEX e na entrevista em profundidade realizada na Seção do Comando Militar do
Sul, o foco das ações de memória é o reforço de valores e de aspectos inerentes à Cultura
Organizacional. Embora as atividades sejam destinadas aos públicos interno e externo,
inferimos que o caráter aproximativo maior se dá com relação ao público interno, pois visa
a destacar características que são importantes, na visão da organização, ao militar. No culto
aos patronos, na comemoração de datas cívicas e nas outras atividades realizadas, a
Identidade Organizacional é continuamente reforçada, numa (inter) relação com a
Identidade Militar. Assim, é como se cada integrante da organização representasse ela
122
Informação escrita, obtida por meio de questionário remetido por email ao Centro de Comunicação Social do
Exército, em Brasília, 12 de janeiro de 2010.
123
Informação verbal proferida durante a entrevista em profundidade realizada na Seção de Comunicação Social do
Comando Militar do Sul, Porto Alegre, 28 de dezembro de 2009.
124
própria, conforme o princípio hologramático.
Os aspectos mais recorrentes nas práticas de memória observadas foram o culto aos
patronos, à trajetória - sempre atrelada à Batalha de Guararapes - e os valores, que são
ministrados ao público interno nas diferentes ações e durante toda sua carreira, embora
com enfoques diferenciados, uma vez que “a manutenção e a preservação desse acervo e
legado cultural são responsabilidade de todos os integrantes da Força”
124
. Apesar de o
Exército Brasileiro ter sido criado oficialmente a partir da independência nacional
125
, essa
batalha é comemorada e rememorada, porque “há nisto o reconhecimento implícito de que
o Exército Brasileiro como unidade histórica existia antes mesmo de sua fundação oficial”
([AHEX, 2009]), um marco do momento em que a organização se tornou auto-
consciente
126
. De acordo com Castro (2002, p. 81),
os conteúdos atribuídos às diferentes comemorações do Exército
variaram no decorrer do tempo. No entanto, para além das diferenças,
um elemento que se buscou sempre reafirmar no plano simbólico: a
existência de vínculos indissolúveis entre Exército e nação brasileira. A
criação do Dia do Exército ligado a Guararapes é apenas o exemplo mais
recente da tentativa de se atualizar, em um novo contexto histórico, esse
valor supremo.
As homenagens representam estratégias positivas para promover o relacionamento
com os públicos de interesse (MARICATO, 2006). O culto aos patronos das Armas,
Quadros e Serviços é uma tradição no Exército Brasileiro. Nos dias de aniversário de
nascimento ou morte dessas personalidades militares, acontecem formaturas e homenagens
em todas as organizações militares do Brasil. Castro (2002, p. 79) aponta que os rituais não
são fenômenos acessórios e artificiais, mas, ao contrário, constituem “elementos essenciais
à existência de qualquer grupo”. Isso porque, em sua visão,
124
Informação escrita, obtida por meio de questionário remetido por email ao Centro de Comunicação Social do
Exército, em Brasília, 12 de janeiro de 2010.
125
Segundo Castro (2002, p. 69, grifo do autor), o Brasil ainda não era uma nação independente na época da
Batalha dos Guararapes (1648), pois, ao sair do domínio espanhol, voltou à condição de colônia portuguesa, que
pouco se envolveu nesta luta, deixando “a tarefa de expulsar os holandeses por conta quase que exclusivamente da
gente da terra”. Assim, conforme o autor, não é possível falar em “Exército Brasileiro” (CASTRO, 2002, p. 172)
em 1648, pois este somente passaria a existir, de fato, a partir da Independência do Brasil, em 1822. Seguindo esse
pensamento, a Instituição, tal como conhecemos hoje, possui 188 anos.
126
De acordo com Castro (2002), o Dia do Exército, 19 de Abril, foi criado em 1994, por iniciativa do ministro do
Exército, General Zenildo. Conforme este autor, “a idéia central da nova comemoração é que em Guararapes
teriam nascido ao mesmo tempo a nacionalidade e o Exército Brasileiros” (CASTRO, 2002, p. 69), cuja força
simbólica remete à presença das três raças vistas como constitutivas do povo brasileiro, o branco, o negro e o índio,
que trabalharam em conjunto para expulsar o inimigo.
125
não basta que os indivíduos pensem que fazem parte de uma
determinada coletividade: é preciso agir, agir em comum.é preciso
também comemorar lembrar em conjunto. É a repetição regular e
coletiva dos rituais que cria e recria a própria coletividade enquanto
tal, renovando em seus participantes o sentimento de pertencerem a
algo comum (CASTRO, 2002, p. 79, grifo do autor).
O culto aos patronos também é realizado em eventos especiais, como vimos no caso
do Bicentenário de Osorio, e é bastante forte dentro da organização. De acordo com
Maricato (2006), a realização de eventos com a temática histórica pode representar ganhos
positivos para a organização. Para Castro (2002, p. 80), apesar de estas comemorações
parecerem descoladas diante da modernidade, “o passado que é comemorado em rituais e
cerimônias [...] é o resultado de seleções que privilegiam certas narrativas em detrimento
de outras”. Ainda segundo o autor, “o caráter cíclico e repetitivo das comemorações
reforça essas narrativas, dotando-as de uma aura de verdade histórica” (CASTRO, 2002, p.
80). Não obstante,
a memória que esses rituais celebram não é simples narrativa sobre
eventos e personagens que habitam um passado muitas vezes remoto,
nem fruto de um mero interesse de antiquário: ela estabelece uma ligação
do presente com o passado. Através da re-presentação do passado, a
narrativa mítica torna-se novamente presente. O evento mítico torna-se
contemporâneo (CASTRO, 2002, p. 80).
Essa assertiva nos remete ao conceito de memória coletiva proposto por Halbwachs
(2006) e ao conceito de Memória Institucional tal como compreendemos neste estudo,
porque favorece o senso de pertencimento (NASSAR, 2006) e contribui para o
compartilhamento de sentidos no ambiente organizacional.
Na visão de Castro (2002), a formalização de uma memória “opera fazendo
seleções, deixando de lado outras possibilidades”. Esse é o caso do Regime Militar, que é
lembrado pela Instituição como a Revolução Democrática de 31 de Março (Anexo Q), mas
que ainda se faz presente na memória coletiva como um período bastante difícil, de
restrições e censura. Durante a análise documental, constatamos a escassa presença dessa
relevante parte da trajetória da organização. Face ao exposto é que consideramos pertinente
recuperar Roman (2009), quando este trata a respeito dos não-ditos, que muitas vezes são
mais audíveis do que o som dos discursos ditos. Os fatos não podem ser apagados, mas
podem ser (re) escritos e contextualizados, de modo a evidenciar que a busca pela
126
transparência é real e contínua dentro da organização, a partir do processo de
redemocratização.
Recuperando os princípios dialógico, hologramático e recursivo, compreendemos
que a Instituição é única ao mesmo tempo em que é múltipla e que, por isso, necessita
produzir normatizações para assegurar a adequação, a padronização e a unidade das partes
dentro de toda e de cada uma das partes que compõem a cadeia hierárquica. Mas, além de
produzir, também recebe os efeitos desta, porque também precisa se (auto) regular e
adaptar-se em relação à multiplicidade de práticas emanadas das diversas unidades
militares que a constituem, para normatizá-las e inseri-las em uma mesma identidade.
O princípio hologramático nos possibilitou perceber a relação parte x todo por meio
da observação das práticas de memória desenvolvidas pelo Comando Militar do Sul, que
materializaram as práticas realizadas no Exército como um todo. Desse modo, além dos
museus/centros de memória, publicações e periódicos, a comemoração das datas cívicas foi
enfatizada como o tipo de atividade com maior destaque no âmbito do CMS no tocante ao
interesse por parte do público civil, demonstrado por sua crescente participação.
De uma maneira geral, o CMS operacionaliza as atividades propostas pela
DPHCEx em diretriz, e estas podem gerar diversos “produtos de memória”, aqui
compreendidos como os tipos de ação voltados para a valorização da trajetória da
organização ou dos patronos.
Além disso, ao analisarmos as comemorações alusivas ao Bicentenário de Osorio,
percebemos que, apesar destas terem seguido uma diretriz estratégica geral oriundas da
DPHCEx, pelas características próprias do Estado do Rio Grande do Sul, de valorização de
tradições regionais, alcançou grande público e teve ampla repercussão na mídia local
(Apêndice H), mostrando que o trabalho da parte contribuiu para a valorização da
organização como um todo. Os diversos projetos concebidos e operacionalizados
(Apêndice F) fizeram parte de um plano que gerou vários projetos de memória, além de
outras ações que não se encaixam na tipologia proposta por Maricato (2006), mas que
foram igualmente relevantes.
Entendemos ser possível afirmar que a Memória Institucional é uma possibilidade
de comunicação para esta organização, visto que possui elementos que identificam sua
história, reforçando a Identidade Organizacional, e conseqüentemente, a imagem e a
reputação da mesma. Também, que esta reconhece e valoriza sua trajetória, mas que a
desenvolve a partir da seleção, incluindo algumas lembranças e outros esquecimentos.
127
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Todo percurso precisa chegar a um destino, que nem sempre é o final, mas um
ponto de parada, onde podemos checar as lições aprendidas e caminhar novamente rumo a
um futuro de possibilidades.
Como na relação circular que segue uma lógica recursiva proposta por Morin
(2007b), passado x presente x futuro, este capítulo representa uma volta ao passado, no
sentido de rememorar os conceitos que nos guiaram durante trajeto, um aporte no presente,
evidenciando os principais elementos e aspectos identificados no estudo de caso, e um
olhar para o futuro, onde a Memória Institucional pode ser compreendida como
possibilidade de Comunicação Organizacional.
As escolhas feitas no início desta pesquisa, opções de olhar sobre o objeto, se
revelaram adequadas, uma vez que possibilitaram a compreensão de que cada escolha feita,
cada pergunta formulada, cada resposta ou resultado obtido, são transitórios.
O método escolhido para ancorar nossa reflexão, o Paradigma da Complexidade,
nos permitiu compreender que o diverso e o único, o antagônico e o complementar são
permanentes numa realidade complexa. Esta ótica possibilitou enxergar que as
contradições existentes na organização foco de nosso estudo, bem como nas práticas de
memória que realiza não são excludentes, mas sim reforçadoras de sua Cultura
Organizacional, que se constrói e (re) constrói nas relações existentes na Instituição,
constituindo uma fonte de identidade e de reconhecimento. Como observamos, em cada
projeto de memória que o Exército realiza, seus valores estão expressos, até mesmo nos
não-ditos
127
.
Recuperamos, assim, as questões de pesquisa que se apresentaram como relevantes
para o desenvolvimento desta dissertação e passamos agora ao exercício de tentar
respondê-las. Consideramos relevante ressaltar que as respostas aqui apresentadas
constituem um início, a partir do qual outras questões poderão ser formuladas no futuro,
até mesmo por outros pesquisadores que tiverem interesse em ampliar os conhecimentos a
127
Recuperamos o conceito de não-dito formulado por Roman (2009, p. 144), para quem este consiste nas falas
silenciadas, “em razão de uma censura, explícita ou não”. Para este autor, os não-ditos, assim como os bem-ditos e
os mal-ditos, são antagônicos e complementares, consistindo em uma “polifonia discursiva [...] característica das
organizações dialógicas” (ROMAN, 2009, p. 145), presentes neste contexto complexo.
128
respeito desta temática.
A Memória Institucional do Exército Brasileiro tem pretendido ser um lugar
128
(grifo nosso), no qual seu público interno pode se manter coeso. Conforme vimos, a busca
pela identidade, por referências, tornou-se a fonte básica de significado social no mundo
pós-moderno (CASTELLS, 2000), onde predominam identidades fragmentadas e valores
provisórios. O grande desafio que se coloca para a comunicação hoje é (re) constituir ou
tentar criar vínculos que possam propiciar o senso de pertencimento e o resgate da
identidade do indivíduo, para que estes se sintam como protagonistas fundamentais das
realizações, dos bens, dos serviços e da própria sustentação da organização. Nesse sentido,
a Memória Institucional se expressa como uma possibilidade de (re) ligação do sujeito à
organização. Ao lugarizar (grifo nosso) os indivíduos em um projeto maior de
continuidade, constância no tempo e sentido, as práticas de Memória Institucional
possibilitam aos sujeitos participarem da Identidade Organizacional, que constitui fonte de
significado e experiência (MARCHIORI, 2009) e é construída e (re) construída
continuamente “na relação que mantém com os demais sistemas que lhe são afins”
(IASBECK, 2009, p. 10).
Outrossim, a organização, ao promover o culto sistemático aos patronos e às
comemorações de datas cívico-militares, reforça os valores que supõe mais relevantes em
sua cultura, o que contribui para fortalecer sua identidade e propiciar o senso de pertença,
essencial nos dias de hoje, conforme a visão de Nassar (2007, p. 186), posto que
“diferencia e solidifica a relação dos públicos com a organização”, em um contexto “em
que tudo é rapidamente banalizado pela massificação, pela utilização cotidiana, pelo
excesso de exposição” (NASSAR, 2007, p. 186).
Em nossa visão, a Memória Institucional consiste em uma (re) construção de fatos e
acontecimentos significativos da trajetória e das experiências da organização, selecionados
e (re) organizados com o objetivo de estimular o processo de (re) construção de uma
identidade comum entre esta e seus públicos de interesse. Mas, embora essa identidade seja
volátil e mutável em razão da complexidade do ambiente organizacional, é ela que,
dialogicamente, pode propiciar o senso de pertencimento e a partilha de significados entre
os sujeitos e a instituição, relevante porque, conforme Tedesco (2004, p. 64, grifo do
autor), “um indivíduo que perde o sentido da relação com o próprio passado perde também
128
O lugar na visão de Augè (1994) é o identitário, o relacional e o histórico.
129
um elemento fundante de sua identidade, ou seja, a capacidade de perceber sua própria
continuidade, de se reconhecer como “mesmo” no decorrer do tempo”.
Quanto às possibilidades de Memória Institucional na organização, estas se
revelaram expressivas. O Exército Brasileiro desenvolve vários projetos de memória, os
quais apresentamos no capítulo 4 com base na classificação proposta por Maricato (2006).
De acordo com as informações obtidas na página eletrônica da Diretoria do Patrimônio
Histórico e Cultural do Exército ([DPHCEx]) e nos dados colhidos junto à Seção do
Comando Militar do Sul, é perceptível a ampliação nos últimos anos do número de centros
de memória e espaços culturais regularizados ou em fase de regularização, o que confirma
que a temática vem sendo reconhecida como pertinente para a Instituição. Mas, como esse
processo ainda é recente, o espaço existente para o desenvolvimento de novas práticas com
esse caráter é significativo.
A pesquisa empírica revelou que algumas passagens da trajetória da organização
são bastante enfocadas nas práticas de memória, como por exemplo, a Batalha de
Guararapes e a trajetória dos patronos, mas que outros eventos ainda são pouco
focalizados. Apesar de entendermos que a memória, tanto individual quanto coletiva, opera
uma (re) construção do passado, e, nesse sentido, realiza uma seleção em razão, também,
dos interesses do presente (HALBWACHS, 2006), acreditamos que contextualizar os
acontecimentos, positivos ou negativos, de sua trajetória é essencial, pois, de acordo com
Morin (2007, p. 58), uma palavra tem sentido no contexto, uma informação tem
sentido numa concepção ou numa teoria, e da mesma forma “um acontecimento é
inteligível se é possível restituí-lo em suas condições históricas, sociológicas ou outras”.
Nesta Era do Espelho
129
, em que a reputação, on-line, exige novos e rápidos
posicionamentos (ROSA, 2006), os não-ditos, muitas vezes, se tornam mais audíveis do
que projetos de comunicação e memória vigorosamente planejados e sistematicamente
executados.
Em razão de suas características próprias, tais como ampla estrutura e patrimônio
material e imaterial disseminado por todo país, as práticas de memória são viabilizadas por
meio de um sistema (SCEx), que orienta e distribui atividades e normatizações por toda a
129
Era do Espelho é um termo proposto por Rosa (2006), ao tratar a respeito do cuidado que as organizações
necessitam ter com sua imagem e reputação nos dias atuais. Para ele, “passamos a viver numa sociedade que é uma
infinita sala de espelhos. [...] Temos de imaginar os riscos que estão multiplicados e potencializados por essa nova
Era em que passamos a viver, a Era do Espelho, onde tudo e todos somos cada vez mais reflexos uns dos outros
(ROSA , 2006, p. 323).
130
rede. O uso de suportes tecnológicos é essencial para que a organização possa partilhar da
Memória Institucional. Através dos sistemas existentes hoje, tem sido possível a
aproximação dos elementos que estão em pontos distantes da rede, favorecendo a troca de
informações sobre as práticas culturais, orientações e treinamento, permitindo que
integrantes de níveis hierárquicos distintos possam colaborar com o sistema, que é
aperfeiçoado justamente em face desse intercâmbio. Porém, apesar de a internet ser
utilizada pelo Exército como um suporte para divulgar aspectos de sua história,
disponibilizar normas, acervos e outros materiais, pode ter seu uso ampliado, inclusive
com a adoção de novas estratégias específicas para esse suporte, favorecendo a interação
dos públicos com a trajetória da organização.
No tocante a como a organização compreende suas práticas de Memória
Institucional, percebemos que estas se configuram como sendo a própria materialização do
Exército. Reafirmada em diretriz do Comandante do Exército (DIRETRIZ, 2003),
reforçada no Plano de Comunicação Social e nas normatizações elaboradas pela Diretoria
de Patrimônio Histórico e Cultural e repercutida nas páginas eletrônicas da instituição, a
preservação e divulgação da memória como sendo um valioso patrimônio, inclusive da
população brasileira, evidencia o valor que a instituição destina a esses projetos. Para
efetuá-los, organizou um sistema que favorece a integração dos elementos mais distantes
geograficamente, produziu normatizações e legislações afins (SCEx), e procura promover
sistematicamente projetos, programas e ações com esse caráter.
Na afirmação feita por nosso entrevistado, que a memória do Exército Brasileiro é
“de uma formação complexa
130
, percebemos o princípio hologramático de Morin, posto
que ela perpassa toda a instituição confundindo-se com a sua própria identidade, o que se
coaduna com a perspectiva proposta por este estudo. Para o respondente, a Memória
Institucional abrange a história, o legado cultural e a imagem organizacional, que,
combinados, resultam no próprio conceito da organização: “assim, combinadas, nós temos
o que é o Exército Brasileiro, que vem desde Guararapes” (informação verbal)
131
.
Constatamos que as iniciativas no campo da Memória Institucional objetivam num
primeiro momento a manutenção da imagem corporativa, contribuindo para a perpetuação
da organização na medida em que promovem um mergulho para dentro do próprio ser, o
130
Informação verbal proferida durante a entrevista em profundidade realizada na Seção de Comunicação Social
do Comando Militar do Sul, Porto Alegre, 28 de dezembro de 2009.
131
Ibidem.
131
que é essencial para o autoconhecimento e uma maneira bastante contundente de antever o
futuro (MARICATO, 2006). Tais iniciativas podem servir, ainda, para criar valor para as
organizações e a defesa de sua imagem em situações de crise (NASSAR, 2007). Tais
práticas evidenciam a confiabilidade e a segurança de uma organização, os elementos não-
transitórios que fazem parte de sua identidade e sua responsabilidade histórica,
colaborando para potencializar a imagem e fortalecer a identidade e a reputação
organizacionais.
Quanto à relevância da Memória Institucional para a área da Comunicação
Organizacional, cremos que é significativa, uma vez que pode revelar e contextualizar as
inúmeras facetas das organizações complexas, consistindo em um aporte em meio a uma
realidade de valores e relações efêmeros. Também, porque ela se expressa como uma
possibilidade de (re) ligação do sujeito à organização, onde este pode se (re) conhecer
como elemento partícipe de sua trajetória. Conforme este autor reitera, “uma diferenciação
que nasce pela história de uma organização, é um atributo que poucos têm” (NASSAR,
2007, p.186). Para Worcman (2006, p. 128), contar a história das organizações mostra-se
fundamental nos dias atuais, onde prevalece o culto cego ao eternamente novo, à
juventude, ao moderno, categorias tomadas como critério absoluto de qualidade numa
época organizada em torno do consumo e do consumismo”.
Resgatar a memória passou a ser, dessa forma, um fator relevante para as
organizações, em razão de não constituir somente um simples registro da história, mas um
programa contínuo, planejado estrategicamente e com objetivos bem definidos. O papel da
Memória Institucional é, então, (re) construir um futuro, por meio do passado e da
atualidade, nos quais a identificação dos elementos da cultura e da identidade
organizacional serão fatores predominantes.
A emergência da memória nos anos recentes constitui, como vimos no capítulo 2,
um fenômeno surpreendente, e tal obsessão pelo passado se justifica pela sobrecarga de
informações a que temos sido submetidos. Desta forma, a memória pode representar um
contraponto aos não-lugares por propiciar um sentido de continuidade em um contexto
caracterizado pelo efêmero. Por isso consideramos relevante refletir sobre as possibilidades
da memória no ambiente institucional, visto que as organizações ocupam um espaço
significativo em nossa sociedade, influenciando e interferindo em vários aspectos da vida
dos indivíduos e fixando “o (s) lugar (es) que confere (m) a cada um seu status social”
(FREITAS, 2000, p. 64).
132
Consideramos que os objetivos a que nos propomos nesta pesquisa foram atingidos,
sobretudo o de contribuir para a área da Comunicação Organizacional, a partir da
sinalização da relevância da Memória Institucional para este campo de estudos e para a
adoção de práticas pensadas sob esta perspectiva pela organização. Sem dúvida, os
questionários e a entrevista realizada provocaram, ao menos, uma inquietação a respeito do
tema nos respondentes.
Ao recuperar conceitos interdisciplinares sobre memória individual, coletiva e
social - e os aplicar no contexto organizacional, cremos que contribuímos para ampliar os
conhecimentos teóricos sobre esta temática, que ainda é relativamente nova. Nosso estudo
busca apresentar a Memória Institucional não como uma ferramenta de comunicação,
descontextualizada e pontual, mas como possibilidade de Comunicação Organizacional,
que pode lugarizar os sujeitos, representando, ainda, uma alternativa para compreensão das
diferenças e dos aspectos positivos e negativos da trajetória de uma organização, posto que
“sem memória, sem a leitura dos restos do passado, não pode haver o reconhecimento da
diferença [...] nem a tolerância das ricas complexidades e instabilidades pessoais e
culturais, políticas e nacionais” (HUYSSEN, 2006, p. 72, grifo nosso).
Refletimos sobre a temática como possibilidade tendo em vista que não há certezas
neste ambiente caracterizado pela complexidade, onde os significados são sempre
emergentes, nunca finalizados e o entendimento compartilhado é transitório.
A Memória Institucional se apresenta, em nossa visão, como uma possibilidade de
ação para gerar uma comunicação organizacional significativa, permanente e bidirecional.
Confiamos que ela pode colaborar para trazer os indivíduos para perto da organização, no
sentido etimológico da palavra comunicação, ou seja, estabelecer comunhão, fazer
participar da comunidade aquele que dela se encontrava à parte, isolado.
Ponderar sobre possibilidades de comunicação que nos permitam evidenciar os
outros lados/facetas/aspectos da organização, que é ao mesmo tempo uma mescla de
aspectos complexos/antagônicos que carecem serem compreendidos para que sua missão
seja levada a efeito, é premente, uma vez que, conforme observa Morin (2008, p. 50), “não
se deve reduzir um ser à mínima parcela de si mesmo, nem à parcela ruim de seu passado”.
Assim, como o passado, o presente e o futuro das organizações estão inseridos numa
relação circular que segue uma lógica recursiva, as organizações necessitam olhar para trás
e identificar os aspectos de sua trajetória que foram significativos, pois estes têm
influências e conseqüências, no hoje e no amanhã.
133
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YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.
145
APÊNDICES
146
APÊNDICE A: Questionário de Pesquisa Centro de Comunicação Social do Exército -
Orientação: Chefe/Assessor responsável pelo órgão que cuida da imagem institucional do
Exército Brasileiro - Objetivo: identificar como o órgão responsável pela comunicação e
pela imagem da instituição compreende aspectos relacionados à Memória Institucional.
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL MESTRADO
Exmo Sr Ch CCOMSEX,
O questionário que ora propomos consiste em um dos instrumentos de coleta de
dados de nosso estudo sobre “A Memória Institucional como possibilidade de
Comunicação Organizacional: o caso Exército Brasileiro”. Sua aplicação é essencial
para o desenvolvimento de nossa dissertação de Mestrado em Comunicação Social na PUC-
RS. Essa é a razão pela qual solicitamos a participação de V.Exa. nesta pesquisa acadêmica,
cujo objetivo principal é evidenciar como o órgão responsável pela imagem do Exército
Brasileiro compreende alguns aspectos relacionados a esta temática.
Desde agradeço pela contribuição de V.Exa. e comprometo-me a disponibilizar os
resultados obtidos ao final da pesquisa.
Andréia Arruda Barbosa 1° Ten QCO
Mestranda em Comunicação Social Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
1. O que V.Exa. compreende por Memória Institucional?
R:
2. Em sua opinião, dentre os programas e projetos realizados pelo Exército com
enfoque na memória qual (is) é (são) a (s) que possui (em) maior importância? Por quê?
R:
3. Quais são os objetivos pretendidos com as práticas de memória realizadas pelo
Exército? (é possível assinalar mais de uma opção)
( ) Divulgação da imagem do Exército Brasileiro
( ) Divulgação da História Militar
( ) Busca pela coesão do público interno
( ) Aproximação com o público externo
( ) Outros: __________________________________________________________________
_______________________________________________________________
147
4. Quais são os públicos prioritários das práticas de memória realizadas pelo Exército
Brasileiro? (enumere por grau de importância, sendo 1 o mais importante e 5 o menos
importante):
( )
Militares da ativa
( )
Militares da reserva
( )
Servidores civis
( )
Familiares
( )
Sociedade em geral
( )
Imprensa
( )
Crianças
( )
Outros: ___________________________________________
5. As práticas de memória são focadas em um tema específico? Qual (ais)?
R:
6. Existem indicadores sobre os programas, projetos e ações que têm maior
repercussão ou interesse por parte dos públicos? Quais são?
R:
7. Qual (ais) é (são) o (s) programa (s) e/ou projeto (s) com maior repercussão ou
interesse por parte dos públicos:
R:
8. De que maneira o CCOMSEX participa das práticas de Memória Institucional do
Exército Brasileiro? (é possível assinalar mais de uma opção)
( ) Planejamento de projetos, programas e ações
( ) Apoio às ações planejadas pela DPHCEx
( ) Divulgação dos projetos, programas e ações desenvolvidas pela DPHEX
( ) Divulgação das ações desenvolvidas pelas Organizações Militares
( ) Produção de material com conteúdo sobre a memória do Exército
( ) Outro (s). Qual (ais) ? _________________________________________________________
_________________________________________________________
9. Existe uma diretriz estratégica, planejamento, cronograma ou norma para regular
como as ações de memória serão divulgadas no âmbito dos Comandos Militares de
Área?
R:
10. Quais são os principais produtos comunicacionais gerados a partir dos registros
históricos do Exército Brasileiro atualmente? (é possível assinalar mais de uma opção)
( ) Livros
( ) Vídeos
( ) Exposições
( ) Eventos
( ) Museu
( ) Jornais, revistas e outras
publicações impressas
Quais: _____________________________________________
( ) Sites para internet
( . ) Outros
Quais: ____________________________________________
148
11. Os materiais informativos que contém assuntos que remetem à trajetória da
instituição são criados e/ou produzidos somente pelo CCOMSEX?
R:
12. Quais são os canais, veículos ou instrumentos mais utilizados pelo CCOMSEX para
divulgação de conteúdo sobre a memória do Exército Brasileiro?
R:
13. Existem indicadores ou canais de retorno e de avaliação sobre os materiais
informativos produzidos com a temática da memória? Quais são?
R:
14. Existe no CCOMSEX alguma área ou profissional que tenha por objeto de trabalho o
planejamento e/ou desenvolvimento de práticas de Memória Institucional?
R:
15. Caso a resposta anterior seja positiva, por favor informe qual a área de formação
acadêmica deste (s) profissional (ais)
( ) História
( ) Museologia
( ) Comunicação Social: Habilitação Jornalismo
( ) Comunicação Social: Habilitação Relações Públicas
( ) Comunicação Social: Habilitação Publicidade e Propaganda
( ) Outra formação :
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
16. Qual a importância das práticas de Memória Institucional para a imagem do Exército
Brasileiro, na opinião de V.Exa.?
R:
Muito obrigada por sua colaboração. Ela é essencial para o desenvolvimento deste trabalho acadêmico.
149
APÊNDICE B: Questionário de Pesquisa - Diretoria de Patrimônio Histórico Cultural do
Exército - Orientação: Chefe/Assessor responsável pela normatização e disseminação das
práticas culturais - Objetivo: identificar como o órgão responsável pela memória da
instituição compreende aspectos relacionados à Memória Institucional.
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE COMUNICÃO SOCIAL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL MESTRADO
Exmo Sr Diretor DPHCEx,
O questionário que ora propomos consiste em um dos instrumentos de coleta de
dados de nosso estudo sobre “A Memória Institucional como possibilidade de
Comunicação Organizacional: o caso Exército Brasileiro”. Sua aplicação é essencial
para o desenvolvimento de nossa dissertação de Mestrado em Comunicação Social na PUC-
RS. Essa é a razão pela qual solicitamos a participação de V.Exa. nesta pesquisa acadêmica,
cujo objetivo principal é evidenciar como o órgão responsável pela memória do Exército
Brasileiro compreende alguns aspectos relacionados a esta temática.
Desde agradeço pela contribuição de V.Exa. e comprometo-me a disponibilizar os
resultados obtidos ao final da pesquisa.
Andréia Arruda Barbosa 1° Ten QCO
Mestranda em Comunicação Social Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
1. O que V.Exa. compreende por Memória Institucional?
R:
2. Em sua opinião, dentre os programas e projetos realizados pelo Exército com
enfoque na memória qual (is) é (são) a (s) que possui (em) maior destaque e/ou
importância? Por quê?
R:
3. Quais são os objetivos pretendidos com as práticas de memória realizadas pelo
Exército? (é possível assinalar mais de uma opção)
( ) Divulgação da imagem do Exército Brasileiro
( ) Divulgação da história militar
( ) Busca pela coesão do público interno
( ) Aproximação com o público externo
(....) Outros:
____________________________________________________________________
150
4. Quais são as práticas de memória mais valorizadas pela organização em termos de
emprego de recursos, pessoal ou estratégia? Por quê?
R:
5. Quais são os públicos prioritários das práticas de memória realizadas pelo Exército
Brasileiro (enumere por grau de importância, sendo 1 o mais importante e 5 o menos
importante):
( ) Militares da ativa
( ) Militares da reserva
( ) Servidores civis
( ) Familiares
( ) Imprensa
( ) Crianças
( ) Sociedade em geral
( ) Outros
____________________________________________________________________
6. Existem indicadores sobre os programas, projetos e ações que têm maior
repercussão ou interesse por parte dos públicos?
( ) Sim ( ) Não
7. Qual (ais) é (são) o (s) programa (s) e/ou projeto (s) com maior repercussão ou
interesse por parte dos públicos:
R:
8. Existem indicadores ou canais de retorno e de avaliação das práticas de memória
realizadas?
( ) Sim ( ) Não
9. Qual (ais) é (são) o (s) indicadores ou canais de retorno e de avaliação das práticas
de memória realizadas pela instituição?
R:
10. As práticas de memória são focadas em um tema específico? Por quê?
R:
11. As práticas de memória do Exército são focadas em uma Região ou Comando
Militar de Área específicos?
( ) Sim. Qual (ais)? _________________________________________________________
( ) Não.Por favor justifique sua resposta:
R: ______________________________________________________
________________________________________________________
12. Existe um planejamento ou cronograma para regular as ações de memória que
serão desenvolvidas no âmbito dos Comandos Militares de Área?
( ) Sim ( ) Não
13. Qual o período de vigência desse planejamento?
( ) Semestral ( ) Anual ( ) Bianual ( ) Outro período. Qual? _______________
151
14. Como são planejadas as estratégias relacionadas à Memória Institucional do
Exército?
( )
As estratégias são desenvolvidas por
equipe interna da DPHCEx
( )
As estratégias são desenvolvidas em
parceria com outros Órgãos e/ou
Diretorias do Exército Brasileiro.
Nesse caso, favor citar quais são os órgãos e/ou
diretorias que participam desse processo:
( )
As estratégias são desenvolvidas em
outro nível de comando.
Nesse caso, favor citar em qual nível ocorrre:
15. Qual a formação acadêmica dos integrantes da equipe responsável por planejar e
desenvolver as práticas de Memória Institucional no âmbito da DPHCEx? possível
assinalar mais de uma opção)
( ) História
( ) Museologia
( ) Comunicação Social: Habilitação Jornalismo
( ) Comunicação Social: Habilitação Relações Públicas
( ) Comunicação Social: Habilitação Publicidade e Propaganda
( ) Outras formações: ____________________________________________________________
16. De uma maneira geral, o Exército realiza maior número de programas de memória
com caráter permanente ou seu foco é voltado para ações específicas e pontuais?
R:
17. Quais são os meios mais utilizados para a captação de registros para o
desenvolvimento das práticas de memória? (é possível assinalar mais de uma opção)
( ) Documentos oficiais
( ) Depoimentos de militares da ativa
( ) Depoimentos de militares da reserva
( ) Depoimento de servidores civis
( ) Artefatos e documentos provenientes das Organizações Militares
( ) Outros. Quais? ______________________________________________________________
19. Quais são os principais produtos comunicacionais gerados a partir dos registros
históricos da organização? (é possível assinalar mais de uma opção)
( ) livros ( ) vídeos ( ) exposições ( ) Materiais digitais / internet
( ) eventos ( ) museu fixo ( ) museu itinerante ( ) Revistas e outras publicações
( ) Outros. Quais?_____________________________________________________________
20. Na opinião de V.Exa., qual a importância dos programas de memória para a imagem
do Exército?
R:
Muito obrigada por sua colaboração. Ela é essencial para o desenvolvimento deste trabalho acadêmico.
152
APÊNDICE C: Roteiro de Entrevista em Profundidade Realizada na Seção de
Comunicação Social do Comando Militar do Sul.
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL MESTRADO
Ilmo Sr Sub Chefe 5ª Seção do Comando Militar do Sul,
A entrevista que realizaremos neste momento consiste em um dos instrumentos de coleta
de dados de nosso estudo sobre A Memória Institucional como possibilidade de Comunicação
Organizacional: o caso Exército Brasileiro”. Sua aplicação é essencial para o desenvolvimento de
nossa dissertação de Mestrado em Comunicação Social na PUCRS. Essa é a razão pela qual
solicitamos a participação de V.Sa. nessa entrevista, cujo objetivo é observar as práticas de
memória realizadas pela instituição a partir de um enfoque sobre o caso prático regional
específico, as comemorações do Bicentenário de Nascimento do Marechal Osório.
Desde já agradeço pela contribuição de V.Sa. e comprometo-me a disponibilizar os
resultados obtidos ao final da pesquisa.
Andréia Arruda Barbosa 1° Ten QCO
Mestranda em Comunicação Social Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
1. O que V.Sa. compreende por Memória Institucional?
2. Em sua opinião, dentre os programas e projetos realizados pelo Exército com enfoque
na memória qual (is) é (são) a (s) que possui (em) maior destaque e/ou importância
no âmbito do Comando Militar do Sul? Por quê?
3. Os objetivos pretendidos com as práticas de memória realizadas pelo Exército são
claros?
4. Quais são os objetivos pretendidos com as práticas de memória atualmente
realizadas?
5. Quais são as práticas de memória mais valorizadas em termos de emprego de
recursos, pessoal ou estratégia no âmbito do Comando Militar do Sul?
6. Existem indicadores sobre os programas, projetos e ações que têm maior
abrangência ou interesse por parte dos públicos?
7. De que forma se a avaliação e/ou balanço das práticas de memória realizadas?
(análise do resultado obtido, público alcançado, necessidade de ajuste e/ou
reformulação, implementação de novas práticas, etc)
8. Existe no CMS alguma área ou profissional que tenha por objeto de trabalho o
planejamento e/ou desenvolvimento de práticas de Memória Institucional?
153
9. Existe um planejamento ou cronograma para regular as ações de memória que serão
desenvolvidas no âmbito dos Comandos Militares de Área?
10. Existe liberdade para planejamento de outras ações de memória ou somente podem
ser realizadas as que vêm previamente definidas dentro do cronograma?
11. Existe uma diretriz estratégica, planejamento, cronograma ou norma para regular
como as ações de memória serão divulgadas/ realizadas no âmbito dos Comandos
Militares de Área?
12. Quais são os públicos prioritários das práticas de memória realizadas no âmbito do
Comando Militar do Sul
13. De que maneira o CCOMSEX participa das práticas de Memória Institucional
desenvolvidas no Comando Militar do Sul?
14. Qual a importância dos programas de memória para a imagem do Exército na opinião
de V.Sa.?
154
APÊNDICE D - Espaços Culturais Regularizados
Fonte: Elaborado pela autora com base em informações obtidas no site da DPHEx. Disponível em:
<http://www.dphcex.ensino.eb.br/>. Acesso em: 01 fev. 2009.
Grande
Comando
Região
Militar
Centro / Museu
Localização
Data de
Criação
CML
1ª Região
Militar
Casa Histórica de Deodoro
Diretoria de Assuntos Culturais
Rio de Janeiro
(RJ)
1989
Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra
Mundial - Diretoria de Assuntos Culturais
Rio de Janeiro
(RJ)
2000
Museu Acadêmico das Agulhas Negras
Academia Militar das Agulhas Negras
Resende (RJ)
2006
Museu Capitão Pitaluga
1º Esquadrão de Cavalaria Mecanizado
Valença (RJ)
2004
Museu do Desporto do Exército
Diretoria de Pesquisa e Estudos de Pessoal
Rio de Janeiro
(RJ)
2004
Museu Histórico do Exército e Forte de Copacabana
Diretoria de Assuntos Culturais
Rio de Janeiro
(RJ)
2000
Museu Marechal Zenóbio da Costa
1º Batalhão de Polícia do Exército
Rio de Janeiro
(RJ)
2004
Museu Militar Conde de Linhares
Diretoria de Assuntos Culturais
Rio de Janeiro
(RJ)
1998
Espaço Cultural Duque de Caxias
Escola de Sargentos das Armas
Três Corações
(MG)
2006
CMSE
2ª Região
Militar
Museu Ipiranga
6º Batalhão de Infantaria Leve
São Paulo (SP)
2001
CMS
3ª Região
Militar
Espaço Cultural da EASA
Escola de Aperfeiçoamento de Sargentos das Armas
Cruz Alta (RS)
2005
Memorial Marechal Mallet / Museu de Artilharia
3º Grupo de Artilharia de Campanha
Santa Maria (RS)
1996
Museu Militar do Comando Militar do Sul
Comando Militar do Sul
Porto Alegre (RS)
2001
Parque Histórico Marechal Manoel Luis Osório /
Museu do Exército do Sul - Fundação Parque Osório
Tramandaí (RS)
2005
Sala de Exposição Marechal Enéas Galvão
12º Batalhão de Engenharia de Combate Blindado
Alegrete (RS)
2007
CMNE
7ª Região
Militar
Museu da II Guerra Mundial
20ª Circunscrição de Serviço Militar
Maceió (AL)
2004
Museu Militar do Forte do Brum
7ª Região Militar
Recife (PE)
2001
Parque Histórico Nacional dos Guararapes
14º Batalhão de Infantaria Motorizado
Jaboatão dos
Guararapes (PE)
2001
10ª
Região
Militar
Memorial do 10º Grupo de Artilharia de Campanha
Fortaleza Nossa Senhora de Assunção - 10ª Região
Militar
Fortaleza (CE)
2004
CMO
9ª Região
Militar
Espaço Cultural Coronel Ismar Cordeiro de Guedes
Vaz - 9º Batalhão de Engenharia de Construção
Cuiabá (MT)
2005
Sítio Histórico Forte Junqueira e Sala de Exposições
Antônio Maria Coelho - 17º Batalhão de Fronteira
Corumbá (MS)
2004
155
APÊNDICE E Projetos planejados para o Bicentenário de Osório no âmbito do Comando
Militar do Sul.
Projeto
Descrição / Objetivo / Período de realização
Projeto Recuperação de
Monumento ao Marechal
Osório
Desenvolvido em uma parceria com a Prefeitura Municipal de Porto Alegre, para
viabilizar a recuperação do monumento instalado na Praça da Alfândega, centro do
município. Os eventos de lançamento e de encerramento da programação alusiva
ao Bicentenário de Osorio foram realizados neste local, contando com a presença
de autoridades civis, militares e escolares.
Projeto Demonstração de
Carrossel e Volteio
Realizado em Porto Alegre (RS) no dia 31 de março, com o objetivo de realizar o
culto às tradições da arma de Cavalaria e aproximar a sociedade dos grandes
vultos da história do Estado.
Projeto Exposição sobre a
vida de Osório
A exposição “Osório 200 anos” foi realizada no Museu do Comando Militar do Sul
no período de 03 de abril a 31 de maio de 2008, com a finalidade de ilustrar
aspectos significativos da trajetória de vida do Marechal e a sua inserção na história
do Brasil. Além desta, o CMS recebeu a exposição itinerante “Osório 200 anos”,
que foi instalada no saguão de desembarque do Aeroporto Internacional Salgado
Filho, no período de 06 a 26 de maio de 2008.
Projeto Marcha
Criado com o objetivo de resgatar da história através da execução das marchas e
deslocamentos realizados pelo patrono da cavalaria em suas campanhas militares,
essa cavalgada de 904 quilômetros contou com a participação de cavalarianos
militares e civis, e integrantes do Movimento Tradicionalista Gaúcho, guardando
profunda relação com a cultura local.
Projeto Galpão Crioulo
Realizado em parceria com o Grupo RBS, objetivou a gravação do programa de
televisão nas dependências do Parque Histórico Marechal Manoel Luís Osório,
tendo como tema as comemorações do Bicentenário e procurando destacar os
valores e feitos do Marechal.
Projeto Camporee
O objetivo consistia em difundir os valores e tradições gaúchas através do cerca de
4.000 escoteiros, brasileiros e estrangeiros participantes do centenário de criação
do escotismo.
Projeto Torneio de Pólo de
Verão
Buscou promover o congraçamento de equipes de pólo de todo o país em torno das
atividades alusivas ao Bicentenário.
Projeto Apresentação
Épica da vida do Marechal
Osório
-
O Projeto Maratona da
Lança
Consistiu no transporte do sabre e das lanças de guerra e de honra de Osorio, do
Museu Forte de Copacabana (RJ) para o evento, do Regimento Osorio (Porto
Alegre) até o Parque Osorio (Tramandaí).
Projeto Prova Cadete das
Américas
Realizado em Porto Alegre (RS) no dia 08 de maio de 2008, teve por objetivo a
divulgação o Bicentenário de Osorio através do congraçamento dos futuros Oficiais
dos Exércitos Latinos.
Projeto Aniversário do
Regimento Osório
Comemoração do aniversário de criação da mais antiga unidade de Cavalaria do
Exército Brasileiro.
Projeto Festa Nacional da
Cavalaria
Promovida para comemorar, em nível nacional, o dia da Arma de Cavalaria, data
marcada pelo nascimento de Osório. Realizada em 10 de maio de 2008, nas
instalações do Parque Histórico Marechal Manoel Luis Osorio, em Tramandaí (RS)
Projeto Seminário
Simpósio Bicentenário do
Marechal Osório,
Realizada nos 6 e 7 de maio de 2008 com o objetivo de abordar a vida e os feitos
de Osorio nas campanhas militares. Contou com a presença de historiadores e
estudiosos da história do Rio Grande do Sul, estimulando o debate e a discussão
sobre temas importantes e decisivos para a cultura sul-riograndense.
Projeto Baile 200 anos de
Osório
Evento realizado no dia 08 de Maio de 2008 com a presença da militares, familiares
e outras personalidades e autoridades civis.
Projeto Livro “O
Legendário Marechal
Manoel Luis Osório
Edição de uma obra comemorativa sobre a vida de Osorio, com a finalidade ser
uma síntese das narrativas a respeito de Osório contendo a historia do militar,
personagem significativo da história sul-riograndense. O lançamento ocorreu
Memorial do Rio Grande do Sul no dia 30 de abril de 2008, mesmo dia em foi
lançado o Caderno de História “Manoel Luis Osório”
Projeto Cultos Religiosos
Incentivou a realização de missa cívico-religiosa em homenagem ao Marechal
Osorio.
Fonte: Elaborado pela autora com base em COGAN, Andréa. Projeto Bicentenário de Osório. Museu Militar do
Comando Militar do Sul. Porto Alegre [2008]. Apresentação de PowerPoint.
156
APÊNDICE F - Cobertura de Mídia Impressa sobre o Bicentenário de Osório. Matérias
publicadas de 07 de março a 12 de maio de 2008, período que concentrou o maior número
de atividades comemorativas no Rio Grande do Sul.
Data
Título
Veículo
Projeto Enfocado
07/03
BANHO DE 200 ANOS
Correio do Povo
Monumento
07/03
REGIMENTO OSÓRIO FAZ FAXINA DO MONUMENTO
Correio do Povo
Monumento
13/03
BICENTENÁRIO DE OSÓRIO: LANÇADA A
PROGRAMAÇÃO
Correio do Povo
Lançamento da
Programação Geral
13/03
CMS INICIA CELEBRAÇÕES DO NASCIMENTO DO
MARECHAL OSÓRIO
Jornal do
Comércio
Lançamento da
Programação Geral
13/03
MARECHAL OSORIO
Zero Hora
13/03
INÍCIO DAS COMEMORAÇÕES DO BICENTENÁRIO DO
NASCIMENTO DO MARECHAL OSÓRIO
O Sul
Lançamento da
Programação Geral
31/03
REGISTRADOS 200 ANOS DE OSORIO
Correio do Povo
Carroussel e Volteio
31/03
MILITARES NO PARQUE
Correio do Povo
Carroussel e Volteio
31/03
BATALHAS FARROUPILHAS NO PÔR-DO-SOL
Zero Hora
Carroussel e Volteio
31/03
DEMONSTRAÇÃO DE CARROUSSEL MILITAR.
O Sul
Carroussel e Volteio
03/04
HOMENAGEM A OSORIO
Zero Hora
-
04/04
OSORIO EM PORTO ALEGRE
Zero Hora
-
09/04
CAVALGADA REFAZ TRAJETÓRIA DO HERÓI
Zero Hora
Cavalgada
09/04
MILITARES PERCORRERÃO A CAVALO A TRAJETÓRIA
FEITA PELO MARECHAL OSORIO
Jornal do
Comércio
Cavalgada
16/04
CAVALEIROS LEMBRAM 200 ANOS DE OSÓRIO
Correio do Povo
Cavalgada
11/04
GRUPO INICIA CAVALGADA DE 904 QUILÔMETROS
Correio do Povo
Cavalgada
13/04
EXPOSIÇÃO DESTACA TRAJETÓRIA DE OSORIO
Correio do Povo
Exposição Osório
200 anos
14/04
ATOS HOMENAGEIAM O MARECHAL OSORIO
Correio do Povo
-
14/04
HOMENAGENS PARA O MARECHAL OSORIO
Correio do Povo
-
14/04
FESTA DE GALA PARA MARECHAL OSORIO
Zero Hora
-
02/05
BICENTENÁRIO DE OSORIO
Zero Hora
-
03/05
CAPITAL RECEBE CAVALGADA DE OSORIO
Correio do Povo
Cavalgada
0505
CAVALEIROS HONRAM OSORIO
Correio do Povo
Cavalgada
05/05
CAVALGADA QUE HOMENAGEIA OSÓRIO CHEGA A
PORTO ALEGRE
Zero Hora
Cavalgada
07/05
MARECHAL OSORIO
O Sul
-
09/05
CAVALGADA AO BERÇO DO MARECHAL
Correio do Povo
Cavalgada
09/05
FESTA NACIONAL DA CAVALARIA
Zero Hora
Festa Cavalaria
09/05
FESTA NACIONAL DA CAVALARIA ACONTECE NESTE
SÁBADO
Jornal Capital das
Praias
Festa Cavalaria
10/05
OS 200 ANOS DE OSORIO
Zero Hora
Festa Cavalaria
10/05
OSORIO
Correio do Povo
Festa Cavalaria
11/05
FESTA DA CAVALARIA EM TRAMANDAÍ
Zero Hora
Festa Cavalaria
11/05
200 ANOS DE UM HERÓI
Correio do Povo
Festa Cavalaria
12/05
EXÉRCITO COMEMORA O BICENTENÁRIO DE OSORIO
Jornal do
Comércio
Festa Cavalaria
12/05
LANÇAMENTO DA PEDRA FUNDAMENTAL DO MUSEU
DA CAVALARIA
O Sul
Museu da Cavalaria
12/05
CAVALARIA GANHA MUSEU NO ESTADO
Correio do Povo
Museu da Cavalaria
157
APÊNDICE G Autorização de Publicação de Entrevista Identificada
158
ANEXOS
159
ANEXO A - Calendário de Datas Militares - Datas onde são homenageados os patronos dos
Quadros, Armas e Serviços do Exército Brasileiro e outros dias especiais para a instituição,
como seu aniversário e o Dia do Soldado. Nestas ocasiões geralmente são realizados eventos
comemorativos, com a presença dos públicos interno e externo.
Fonte: DATAS MILITARES. Disponível em: <http://www.funceb.org.br/datasmilitares.asp>. Acesso em: 25 Ago. 2009.
Fevereiro
8
Dia do Quadro do Magistério do Exército
13
Dia do Serviço de Assistência Religiosa do Exército
21
Tomada de Monte Castelo (2ª Guerra Mundial)
Abril
10
Dia da Arma de Engenharia
12
Dia do Serviço de Intendência
19
Dia do Exército
Maio
5
Dia da Arma de Comunicações
8
Dia da Vitória
10
Dia da Arma de Cavalaria
24
Dia da Arma de Infantaria
27
Dia do Serviço de Saúde
Junho
10
Dia da Arma de Artilharia
Agosto
3
Dia do Quadro de Engenheiros Militares
25
Dia do Soldado (Duque de Caxias)
Setembro
7
INDEPENDÊNCIA DO BRASIL
Outubro
2
Dia do Quadro Complementar de Oficiais
Novembro
15
PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA
19
DIA DA BANDEIRA NACIONAL
24
Dia do Quadro Auxiliar de Oficiais
Dezembro
16
Dia do Reservista
160
ANEXO B Memória do Exército - Tipo de Projeto: Memória Digital Exemplo de conteúdo
sobre a história e a trajetória do Exército Brasileiro em sua página institucional.
Fonte: EXÉRCITO BRASILEIRO. As origens do Exército Brasileiro. Brasília, [2009]. Disponível em:
<http://www.exercito.gov.br/01inst/Historia/index.htm>. Acesso em: 25 Ago. 2009.
161
ANEXO C Memória do Exército - Tipo de Projeto: Central de Documentação e Memória -
Diretoria do Patrimônio Histórico e Cultural do Exército (DPHCEx)
Fonte: DIRETORIA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E CULTURAL DO EXÉRCITO. Apresentação. Rio de
Janeiro [2007]. Disponível em: <http://www.dphcex.ensino.eb.br>. Acesso em: 25 Ago 2009.
162
ANEXO D - Memória do Exército - Tipo de Projeto: Museu Histórico do Exército / Forte de
Copacabana. Exemplo de museu que possui artigos relacionados à história da organização,
com exposições abertas à visitação pública.
Fonte: MUSEU HISTORICO DO EXÉRCITO E FORTE DE COPACABANA. Exposições de longa duração.
Rio de Janeiro [2009]. Disponível em: <http://www.fortedecopacabana.com.br>. Acesso em: 25 Ago. 2009.
163
ANEXO E - Memória do Exército - Tipo de Projeto: Biblioteca - Biblioteca do Exército
(BIBLIEX), que disponibiliza artigos e comercializa obras literárias e periódicos com a
temática militar.
Fonte: BIBLIOTECA DO EXÉRCITO. Apresentação. Rio de Janeiro, [2009].Disponível em:
<http://www.bibliex.com.br>. Acesso em: 25 Ago. 2009.
164
ANEXO F Memória do Exército - Tipo de Projeto: Acervo documental. Site do Arquivo
Histórico do Exército (AHEx)
Fonte: ARQUIVO HISTÓRICO DO EXÉRCITO. Apresentação. Rio de Janeiro, [2009]. Disponível em:
<http://www.ahex.ensino.eb.br>. Acesso em: 25 Ago. 2009.
165
ANEXO G - Memória do Exército - Tipo de Projeto: Tombamento de acervos / Acervo digital
do Arquivo Histórico do Exército.
Fonte: ARQUIVO HISTÓRICO DO EXÉRCITO. Sistema de Arquivo Digital: acervo digital. Rio de Janeiro,
[2009]. Disponível em <http://www.marcsoft.hostmach.com.br/sistarq/>. Acesso em: 25 Ago. 2009.
166
ANEXO H - Memória do Exército - Tipo de Projeto: Tombamento de acervos - Arquivo de
mapas / Acervo digital do Arquivo Histórico do Exército.
Fonte: ARQUIVO HISTÓRICO DO EXÉRCITO BRASILEIRO. Sistema de Arquivo Digital: mapoteca. Rio de
Janeiro, [2009]. Disponível em: <http://www.marcsoft.hostmach.com.br/sistarq/>. Acesso em: 25 Ago 2009.
167
ANEXO I - Memória do Exército - Tipo de Projeto: Memoriais e Monumentos / Site do
Monumento Nacional dos Mortos da II Guerra Mundial (MNMGM)
Fonte: MONUMENTO NACIONAL DOS MORTOS DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL. Apresentação. Rio
de Janeiro, [2009]. Disponível em: <http://www.mnmsgm.ensino.eb.br>. Acesso em: 25 Ago. 2009.
168
ANEXO J Memória do Exército - Tipo de Projeto: Banco de Imagens - Disponível no site
da organização / conteúdo: participação do Exército na 2ª Guerra Mundial.
Fonte: EXÉRCITO BRASILEIRO. Banco de imagens. Brasília, [2009]. Disponível em: <www.exercito.gov.br>.
Acesso em: 25 Ago. 2009.
169
ANEXO K Memória do Exército - Tipo de Projeto: Biblioteca, Hemeroteca, Midioteca e
Videoteca - Banco de vídeos disponíveis no site do Museu Histórico do Exército.
Fonte: MUSEU HISTORICO DO EXERCITO E FORTE DE COPACABANA. Banco de vídeos. Rio de Janeiro,
[2009]. Disponível em: <http://www.fortedecopacabana.com/modules/xoopstube/viewcat.php?cid=8>. Acesso:
25 Ago. 2009.
170
ANEXO L Memória do Exército - Tipo de Projeto: Apoio Científico-Educacional -
Exemplo de evento realizado para promover a história militar.
Fonte: DIRETORIA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E CULTURAL DO EXÉRCITO. I ciclo de palestras de
história militar. Rio de Janeiro, [2009]. Disponível em: <http://www.dphcex.ensino.eb.br/ciclo/pag_ciclo.html>.
Acesso: 25 Ago. 2009.
171
ANEXO M Memória do Exército - Tipo de Projeto: Parcerias - Projeto História Oral.
Fonte: FUNDAÇÃO CULTURAL EXÉRCITO BRASILEIRO. Projetos em acervo. Brasília, [2009]. Disponível
em: <http://www.funceb.org.br>. Acesso: 25 Ago. 2009.
172
ANEXO N - Memória do Exército - Tipo de Projeto: Parceria Exemplo: curso de graduação
em História Militar promovido em parceria com a Unisul Virtual.
Fonte: PORTAL UNISULBR. Apresentação do curso de história militar. Santa Catarina [2009]. Disponível em:
<www.portal2.unisul.br>. Acesso: 25 Ago 2009.
173
ANEXO O Memória do Exército - Tipo de Projeto: Memória Digital - Site orientado ao
público militar da reserva para compartilhar as memórias de seu tempo de serviço militar.
Fonte: EXÉRCITO BRASILEIRO. Conversando com a reserva. Disponível em:
<http://reserva.exercito.gov.br/caserna/indice.htm>. Acesso em: 25 Ago 2009.
174
ANEXO P Memória do Exército - Tipo de Projeto: Periódicos e Materiais Impressos /
Publicações Revista Recrutinha - Exemplo de publicação com temática alusiva a
personagens e acontecimentos da trajetória da organização.
Fonte: REVISTA. Publicação do Centro de Comunicação Social do Exército Brasileiro dirigida ao público infantil com
distribuição gratuita para Organizações Militares e escolas em todo o Brasil. Publicação Impressa e disponível on-line, no
site da instituição. EXÉRCITO BRASILEIRO. Recrutinha. Brasília, [2009]. Disponível em:
<http://www.exercito.gov.br/Recrutinha>. Acesso: 25 ago. 2009
175
ANEXO Q Tipo de Projeto de Memória: Periódicos e Materiais Impressos / Publicações
Noticiário do Exército. Exemplo de informativo voltado ao público interno, mas também
disponível on-line, que contém caráter de resgate histórico do Regime Militar segundo a visão
da organização.
Fonte: NOTICIÁRIO do Exército. Publicação do Centro de Comunicação Social do Exército com distribuição
gratuita para Organizações Militares. Publicação Impressa e disponível on-line, no site da instituição. EXÉRCITO
BRASILEIRO. Noticiário do Exército. Brasília, [2002]. Disponível em:
<http://www.exercito.gov.br/NE/2002/03/9963/capa963.htm>. Acesso: 25 Ago 09.
Brasília- DF, domingo, 31 de março de 2002 Ano XLV Nº 9.963
38 anos do Movimento Cívico-Militar de 31 de Março de 1964
A história que não se apaga nem se reescreve
São Paulo, 19 Mar 64: Marcha da Família com Deus pela Liberdade o povo
clama pelo fim da desordem
O Movimento Cívico-Militar de 31 de Março de 1964 é um
marco no processo evolutivo nacional. Nada aconteceu por
acaso! A História reflete a reação da sociedade brasileira à
tensão vivida. O tempo decorrido permite apreciar aquele
Movimento de maneira serena, recordando as circunstâncias
que levaram à sua eclosão e identificando seus reflexos para a
atual conjuntura. Importa ver essa data com olhos
desarmados. Nada de intelectualismo presunçoso e vazio. A
mente livre de visões estereotipadas. Ausência de interesses
particulares prejudicados e de insatisfeitas ambições políticas.
Nem opiniões apressadas, nem conceitos falsos.
A crise econômica no início dos anos 60 e os antagonismos da
Guerra Fria inquietavam e frustravam todos os estratos
sociais. O ativismo político-partidário e o desvirtuamento do
direito de associação corroíam a disciplina e comprometiam a
hierarquia nas Forças Armadas. O País vivia ameaçado de
submissão a uma ordem contrária aos valores básicos de
nossa nacionalidade. Diante daquele quadro, a população, em
gigantescas passeatas, conclamava os militares a colocarem fim ao desvio do caminho para o qual a Nação estava sendo
arrastada.
Indissoluvelmente comprometido com o destino da sociedade que lhe deu origem, o Exército Brasileiro ajudou, de modo
decisivo, a desencadear a Revolução Democrática de 31 de Março de 1964. O desfecho rápido e incruento atesta o elevado apoio
popular do Movimento Cívico-Militar que a conduziu. Vitorioso o Movimento, resgatou o respeito à autoridade, restituiu o
espírito cívico e o amor próprio de um povo ameaçado em sua autodeterminação e livre opção pela democracia. Criou condições
para a construção de um novo Brasil em ambiente de paz e segurança. Fortaleceu a economia. Promoveu extraordinária
expansão e integração da estrutura produtiva e fomentou mecanismos de proteção e qualificação social. Tudo isto demandou
tempo e fôlego para ser realizado. Concluída a missão cívica, é falsa a idéia que o Exército retornava aos quartéis, posto que
jamais os deixara.
Nesse contexto evolutivo, a Força Terrestre tem sobressaído pelo devotamento aos mais legítimos interesses nacionais,
mantendo sua estatura moral perante a Nação a que serve, como comprovam os elevados índices de confiança de que desfruta
perante a sociedade.
Hoje, a perspectiva de mais de três décadas permite analisar o Movimento Cívico-Militar de 31 de Março de 1964 com olhos,
mente e coração libertos das questões que dividiram o País no passado. Desta análise, verifica-se que ele surgiu e se afirmou na
defesa do regime democrático, em comunhão com os anseios da gente brasileira, conforme registram as evidências históricas, as
quais, nunca é demais repetir, não se apagam nem se reescrevem.
176
ANEXO R Memória do Exército - Tipo de Projeto: Publicações Revista Verde-Oliva -
Exemplo de publicação com resgate da memória da organização.
Fonte: REVISTA VERDE-OLIVA. Publicação do Centro de Comunicação Social do Exército com
distribuição gratuita para Organizações Militares. Publicação disponível também on-line, no site da
instituição. Publicação Impressa e disponível on-line, no site da instituição. EXÉRCITO BRASILEIRO. Revista Verde-
Oliva. Brasília, [2009]. Disponível em: <http://www.exercito.gov.br/Verdeoliva>. Acesso em: 25 Ago. 2009.
177
ANEXO S Memória do CMS Tipo de Projeto: Homenagens - Comemoração de Datas
Militares / Formatura em Organização Militar.
Fonte: COMANDO MILITAR DO SUL.. Notícias: Formatura em comemoração ao dia da Infantaria no
Centro Preparatório de Oficiais da Reserva. Porto Alegre, [2009]. Disponível
em<http://www.cms.eb.mil.br>. Acesso: 25 Ago. 2009.
178
ANEXO T Memória do CMS Tipo de Projeto: Museu do Comando Militar do Sul (RS).
Fonte: MUSEU MILITAR. Comando Militar do Sul. Porto Alegre, [2009] Disponível em:
<http://www.museumilitar.com.br/16.html>. Acesso em: 01 Nov 2009.
179
ANEXO U Memória do CMS Tipo de Projeto: Museu - Fundação Parque Osório (RS).
Fonte: FUNDAÇÃO PARQUE OSÓRIO. Últimas notícias. Osório. [2009]. Disponível em
<http://www.osorio.org.br/casa_osorio.htm>. Acesso em: 25 Ago. 2009.
180
ANEXO V - Espaços Culturais do CMS Regularizados e em processos de regularização a
DPHCEx
Fonte: 5ª Seção do Comando Militar do Sul.
OM
Cidade
Denominação
01
1 BCom
Santo Ângelo-RS
Museu Marechal Rondon
02
1 RC MEC
Itaqui-RS
Museu Militar de Itaqui
03
10 BEC
Lages-SC
Museu Ferroviário
04
12 BEC Bld
Alegrete-RS
Sala Histórica Batalhão Marechal Enéas Galvão
05
13 BIB
Ponta Grossa- PR
Espaço Cultural Heróis do 13º Regimento de Infantaria
06
14 RC Mec
São Miguel do Oeste-
SC
Sala Histórica Lanceiros do Ponche Verde Resgatando a sua História
07
15 Bda Inf Mtz
Cascavel-PR
Sala de Exposição - Salão Guararapes
08
15 GAC AP
Lapa-PR
Museu Bravos da Lapa e Salão Guararapes
09
16 GAC AP
São Leopoldo-RS
Sala de Exposição Visconde de São Leopoldo
10
19 RC MEC
Santa Rosa-RS
Museu Marechal Castelo Branco
11
19º BIMtz
São Leopoldo-RS
Sala de Exposição Leão da Serra
12
1ª Cia E Cmb
São Borja-RS
Museu Souza Docca
13
2 RCMec
São Borja-RS
Espaço Cultural “Sítio Histórico Brigadeiro João Manoel Menna
Barreto”
14
20 BIB
Curitiba-PR
Sala de Exposições Sargento Max Wolff Filho
15
22 GAC
Uruguaiana-RS
Sala de Exposição - Casa Marechal Mallet
16
25 GAC
Bagé-RS
Sala Histórica Coronel Murilo Edgar Budó
17
27 GAC
Ijuí-RS
Museu e Biblioteca Monte Caseros
18
29 GAC
Cruz Alta-RS
Centro de Tradições Histórico- Militares Humaitá
19
2ª Bia AAAe
Santana do Livramento-
RS
Sala Histórica da 2ª Bia AAAe
20
3 B Log
Bagé-RS
Museu do 12º Regimento de Cavalaria
21
3 GAC AP
Santa Maria-RS
Memorial Marechal Mallet (Mausoléu e Museu Marechal Mallet)
22
3 RCG
Osorio-RS
Fundação Parque Histórico Marechal Manoel Luis Osorio
23
3ª Cia E Cmb
Mec
Dom Pedrito-RS
Museu Fotográfico Emílio Carlos Jordan
24
3º BPE
Porto Alegre-RS
Sala de Exposições Brigadeiro Jerônimo Coelho
25
4 RCB
São Luiz Gonzaga-RS
Sala Histórica - Espaço Cultural Dragões do Rio Grande
26
5 Cia Com Bld
Curitiba-PR
Sala de Histórica da 5ª Cia Com Bld
27
5 Cia PE
Curitiba-PR
Museu Marechal Zenóbio da Costa
28
5 Esqd C Mec
Castro-PR
Sala de Exposições do 5° Esquadrão de Cavalaria Mecanizado
29
5 GAC AP
Curitiba-PR
Espaço Cultural Salomão da Rocha - Museu
30
5 RC Mec
Quarai-RS
Sala de Exposições “Cavalaria da Legião das Tropas Ligeira”
31
5 RCC
Rio Negro-PR
Museu - Espaço Cultural do 5º RCC
32
5º BE Cmb Bld
Porto União-SC
Sala de Exposição Heróis do 5º BE CMB BLD
33
6 GAC AP
Rio Grande-RS
Memorial Militar “Brigadeiro Silva Paes”
34
6 RCB
Alegrete-RS
Sala de Exposição Ten Cel Armando de Morais Âncora
35
7º RC Mec
Santana do Livramento-
RS
Sala de Exposição - Brigadeiro Vasco Alves Pereira
36
8 Bda Inf Mtz
Pelotas-RS
Sala Exposição - Manoel Morais de Souza
37
AGGC
General Câmara-RS
Sala de Exposição Marechal José Antônio Corrêa da Câmara
38
C Militar Curitiba
Curitiba-PR
Museu Cel Loyola
39
CMPA
Porto Alegre-RS
Museu Casarão da Varzea
40
CPOR - PA
Porto Alegre-RS
Sala de Exposição Marechal Salvador César Obino
41
EASA
Cruz Alta-RS
Espaço Cultural Sgt Max Wolff Filho
42
Museu Militar do
CMS
Porto Alegre-RS
Museu Militar do CMS
181
ANEXO W - Memória do CMS Tipo de Projeto: Periódicos e Materiais Impressos /
Publicações Correio Militar do Sul - Exemplo de publicação com temática alusiva a
personagens e acontecimentos da trajetória da organização.
Fonte: CMS comemora a batalha de monte castelo. COMANDO MILITAR DO SUL. Correio Militar do Sul.
Porto Alegre, ano 10, n. 116, fev. 2009. Disponível em: <http://www.cms.eb.mil.br>. Acesso em: 25 Out. 2009.
182
ANEXO X - Memória do CMS Tipo de Projeto: Periódicos e Materiais Impressos /
Publicações Correio Militar do Sul - Exemplo de publicação com temática alusiva a
personagens e acontecimentos da trajetória da organização.
Fonte: CMS COMEMORA o dia do Soldado. COMANDO MILITAR DO SUL. Correio Militar do Sul. Porto
Alegre, ago. 2008. Disponível em: <http://www.cms.eb.mil.br>. Acesso em: 25 Out. 2009.
183
ANEXO Y - Exposição realizada como parte das comemorações ao Bicentenário de Osório
(2008) - Fundação Parque Osório (RS).
Fonte: FUNDAÇÃO PARQUE OSÓRIO. Últimas notícias. Osório. [2009]. Disponível em
<http://www.osorio.org.br/sala_memorial_bicent_osorio.htm>. Acesso em: 25 Ago 2009.
184
ANEXO Z Matérias publicadas no informativo Correio Militar do Sul, produzido pela 5ª
Seção do CMS, sobre as atividades pertinentes ao Bicentenário de Osório na região. Clipping
realizado a partir do informativo Correio Militar do Sul, no período de Janeiro a Outubro de
2008.
Fonte: FESTA NACIONAL DA CAVALARIA. COMANDO MILITAR DO SUL. Correio Militar do Sul. Porto
Alegre, mai. 2008. Disponível em: <http://www.cms.eb.mil.br>. Acesso em: 01 nov. 2009.
185
Fonte: FESTA NACIONAL DA CAVALARIA. COMANDO MILITAR DO SUL. Correio Militar do Sul. Porto
Alegre, mai. 2008. Disponível em: <http://www.cms.eb.mil.br>. Acesso em: 01 nov. 2009.
186
Fonte: FESTA NACIONAL DA CAVALARIA. COMANDO MILITAR DO SUL. Correio Militar do Sul. Porto
Alegre, mai. 2008. Disponível em: <http://www.cms.eb.mil.br>. Acesso em: 01 nov. 2009.
187
Fonte: FESTA NACIONAL DA CAVALARIA. COMANDO MILITAR DO SUL. Correio Militar do Sul. Porto
Alegre, mai. 2008. Disponível em: <http://www.cms.eb.mil.br>. Acesso em: 01 nov. 2009.
188
ANEXO AA Tipo de Projeto de Memória: Eventos Comemoração do Bicentenário de
Osório (1808-2008) Porto Alegre (RS) Exemplo de mídia espontânea gerada em
período local.
Fonte: HOMENAGENS PARA o marechal osorio. Correio do Povo, Porto Alegre, p. 25, 14 abr. 2008.
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