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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
“JÚLIO DE MESQUITA FILHO”
INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS – RIO CLARO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA MOTRICIDADE
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UM ESTUDO SOBRE A FORMAÇÃO PROFISSIONAL NO CAMPO DA
EDUCAÇÃO FÍSICA.
IREMEYRE ROJAS VIDAL
Dissertação apresentada ao Instituto
de Biociências do Campus de Rio
Claro, Universidade Estadual Paulista,
como parte dos requisitos para
obtenção do Título de Mestre em
Ciências da Motricidade (Área
Pedagogia da Motricidade Humana)
RIO CLARO
Agosto / 2006
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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
“JÚLIO DE MESQUITA FILHO”
INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS – RIO CLARO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA MOTRICIDADE
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UM ESTUDO SOBRE A FORMAÇÃO PROFISSIONAL NO CAMPO DA
EDUCAÇÃO FÍSICA.
IREMEYRE ROJAS VIDAL
Orientador: Prof. Dr. Samuel de Souza Neto
Dissertação apresentada ao Instituto
de Biociências do Campus de Rio
Claro, Universidade Estadual Paulista,
como parte dos requisitos para
obtenção do Título de Mestre em
Ciências da Motricidade (Área
Pedagogia da Motricidade Humana)
RIO CLARO
Agosto / 2006
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“ . . . Muita coisa a gente faz
Seguindo o caminho que o mundo traçou
Seguindo a cartilha que alguém ensinou
Seguindo a receita da vida normal
Mas o que é vida afinal?. . .
. . . O que vale é o sentimento,
E o amor que a gente tem no coração”
(Verdade Chinesa – Emilio Santiago)
A "Verdade Chinesa" é do Carlos Colla e do Gilson.
À todos que amo,
Sempre amei e
Passei a amar nesta
Jornada ímpar.
iv
Agradecimentos
A todos aqueles que durante este percurso, de alguma maneira, em algum
momento, mesmo que inconscientemente, me apoiaram.
À minha família, em especial à Glorinha, minha “sábia” mãe, uma “fortaleza” e
minha grande companheira de viagens.
Ao meu orientador, Prof. Dr. Samuel de Souza Neto, que antes de tudo me
ofereceu a oportunidade . . .
Aos integrantes da Banca Examinadora, Prof. Dr. Paulo César Montagner e
Prof. Dr. Afonso Antonio Machado, pelas contribuições mais que fundamentais e, em
especial à Profa. Dra. Dagmar A. C. F. Hunger, que considero minha co-orientadora.
À três pessoas bastante especiais, que mesmo não estando presentes neste
momento, com seus exemplos foram determinantes para esta empreitada meu avô
“João Bugrinho”, minha Tia Anita e meu pai Antonio.
À minha especial amiga Dety, pelas discussões, reflexões e pelo apoio
durante os bons e maus momentos,
Aos meus grandes amigos, à Ligia e Maria Rita pelo empréstimo dos gravadores, à
minha “filha” Camila Machado pela hospedagem, à Juliana Cesana, minha consultora
para assuntos de Mestrado e aos meus irmãos João Paulo e Joilton.
Aos membros do NEPEF, Núcleo de Estudos e Pesquisa em Formação
Profissional no Campo da Educação Física, em especial ao “meu irmãozinho” Caio,
ao Alexandre Drigo e à Isaura.
v
Aos professores da Unesp de Rio Claro, Departamento de Educação Física e
Educação, principalmente àqueles com os quais fiz as disciplinas do programa de
pós-graduação, pela oportunidade de novos conhecimentos.
Aos funcionários da Unesp de Rio Claro, Departamento de Educação Física,
Departamento de Educação, Biblioteca, R.U. e Xérox, pelo sempre pronto
atendimento.
Às instituições que visitei e que me abriram as portas para a coleta dos dados
deste estudo, na pessoa de seus dirigentes, coordenadores e professores.
A todos que acreditam que a cada dia, a cada passo, ao subir um novo
degrau, construímos um mundo melhor.
RESUMO
Tendo como tema de pesquisa a “iniciação esportiva” como um campo de atuação
que tanto ocorre no espaço da Educação Física escolar, quanto nos espaços das
Escolinhas de Esporte em Clubes, Prefeituras e ONGs ou de iniciativa privada, na
forma de Escolinhas de Futebol, Natação, Voleibol ou Academias etc, este estudo
teve como objetivo averiguar indicativos da “Iniciação Esportiva” que permitissem
identificar se este espaço social de intervenção é exclusivo ou não de uma
determinada área de formação. Assim, buscou-se investigar junto aos dirigentes
esportivos, o perfil do profissional desejado para atuar no campo da iniciação
esportiva e, identificar nos cursos de formação, as disciplinas e os conteúdos que
contribuem para o perfil do profissional que vai trabalhar neste determinado
espaço. No âmbito desta investigação buscou-se também verificar, junto aos
profissionais de Educação sica, egressos dos cursos de Bacharelado e
Licenciatura, que trabalham com os fundamentos esportivos, como analisam a sua
atuação na área da “iniciação esportiva”, bem como, com os professores
universitários desses cursos, as disciplinas do currículo que contribuem com a
“iniciação esportiva”. Esta questão torna-se relevante a partir do momento em que
na atual legislação se propõem novos desenhos curriculares relacionados aos
campos de intervenção do professor de Educação Básica e do graduado em
Educação Física por força da Resolução CNE/CP 1/2002 e Resolução CNE/CES
7/2004 e a existência do Decreto 91452/85, regulamentado pela Portaria
Ministerial 598/85, onde se considerou o Esporte como um DIREITO DE TODOS.
Na busca de dados que pudessem nos auxiliar na identificação do objeto de
estudo, além da revisão de literatura e análise documental, escolheu-se entrevistar
dirigentes/gestores de entidades que contratavam os dois tipos profissionais de
Educação Física (Licenciado e Bacharel/Graduado) que atuavam com
fundamentos esportivos nessas instituições, coordenadores de escola pública e
particular, licenciados que nelas atuavam, e professores formadores de duas
universidades de ensino público. Para tanto se utilizou como método de coleta a
fonte oral, entrevista semi-estruturada. Considerando as relações que envolvem o
processo da “Iniciação Esportiva”, dentro de um campo tão complexo que é o
Esporte e da Escola, instituição tão importante no contexto social, buscou-se
compreender estas relações, sob a luz das teorias de Pierre Bourdieu, sociólogo
francês que sustenta suas teorias em sistemas simbólicos, onde se configuram
espaços sociais, regras, composição própria, composição de redes,
sistematização, interelação entre os campos. Após a apresentação e discussão
dos resultados, concluiu-se que, para os participantes deste estudo, não um
perfil privilegiado naquilo que se refere a ser formado em Curso de Licenciatura ou
Curso de Graduação/Bacharelado, privilegiando assim, uma formação mais
ampla, geral, com ênfase na obrigação moral e compromisso com a comunidade.
Palavras-chave:- Formação profissional, iniciação esportiva, campo de atuação,
mercado de trabalho.
SUMÁRIO
Página
AGRADECIMENTOS ................................................................................ ii
RESUMO................................................................................................... iv
SUMÁRIO .................................................................................................. v
LISTA DE QUADROS ............................................................................... vi
CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO 001
1.1 -
Apresentação........................................................................ 001
1.2 -
O problema e sua importância............................................ 008
1.3 -
Questões a investigar.......................................................... 015
1.4 -
Objetivos............................................................................... 016
1.5 -
Definição de termos............................................................. 017
1.6 -
Organização do estudo....................................................... 018
CAPÍTULO II – REVISÃO DA LITERATURA 020
2.1 -
O esporte na sociedade....................................................... 020
2.1.1 -
O esporte na era moderna....................................... 020
2.1.1.a -
O Olimpismo............................................................. 021
2.1.1.b -
O alto rendimento e suas conseqüências ou uma
nova ética para o esporte.........................................
033
2.1.1.c -
O esporte e suas novas possibilidades..................
044
2.1.2 -
O esporte na realidade brasileira............................ 046
2.2 -
A iniciação esportiva............................................................ 053
2.2.1 -
Iniciação Esportiva: alguns conceitos.................. 057
2.2.2 -
O conteste, o jogo e o esporte............................... 062
2.3 -
O esporte como um espaço social .....................................
067
CAPÍTULO III – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 075
3.1 -
Caracterização do estudo.................................................... 075
3.2 -
Estudos preliminares........................................................... 079
3.2.1 -
O estudo com dirigentes esportivos..................... 079
3.2.2 -
O estudo com professores formadores................ 085
3.3 -
Trabalho de campo............................................................... 087
3.4 -
Sujeitos do estudo................................................................ 089
CAPÍTULO IV – APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS 094
CAPÍTULO V – DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 129
5.1 -
No campo de intervenção da Educação Física, o esporte
e a iniciação esportiva possuem “capital específico” no
que diz respeito à área de conhecimento?........................
129
5.1.1 -
Esporte .................................................................... 132
5.1.2 -
Iniciação Esportiva ................................................ 137
5.2 -
A Iniciação Esportiva, enquanto prática profissional,
incorpora um habitus próprio naquilo que diz respeito à
formação, qualificação, competências, saberes,
habilidades? ........................................................................
142
5.2.1 -
A prática pedagógica dos profissionais que
trabalham com Iniciação Esportiva na escola e
no ambiente não escolar apresenta uma
especificidade própria? .........................................
144
5.2.2 -
A Iniciação Esportiva exige procedimentos
metodológicos relativos ao perfil profissional de
alguém que mais educa (formação) ou do
indivíduo que está mais preocupado com as
técnicas de aprendizagem (instrumentalização)?
...................................................................................
146
CAPÍTULO VI – CONCLUSÕES FINAIS 153
REFERÊNCIAS ...................................................................................
160
ABSTRACT ...................................................................................
171
APÊNDICE 1 ...................................................................................
172
APÊNDICE 2 ...................................................................................
174
LISTA DE QUADROS
Página
I - O Esporte no Brasil: Algumas Influências ................................... 004
II- Os Saberes da Proposta de 1939 .............................................. 009
III- Os Saberes da Proposta de 1945 ................................................ 009
IV- Os Saberes da Proposta de 1969 ................................................ 010
V- Os Saberes da Proposta de 1987 ................................................ 011
VI- Significados de Iniciação/Esporte e afins ..................................... 058
VII- Brincadeira, Recreação, Conteste, Jogo, Esporte ....................... 063
VIII- Múltiplas perspectivas do esporte................................................. 066
IX- Perfil do Profissional para Trabalhar com Iniciação Esportiva ..... 080
X-
Perfil Profissional para Trabalhar com Iniciação Esportiva,
Aperfeiçoamento e Treinamento .................................................
081
XI- Formação Desejada para Trabalhar com Iniciação Esportiva ..... 082
XII- Perfil Profissional para Trabalhar com Crianças .......................... 082
XIII-
Disciplinas e conteúdos que contribuem para o perfil do
profissional que vai atuar com Iniciação Esportiva.......................
086
XIV- Roteiro para entrevista ................................................................. 087
XV- Identificação dos participantes do estudo .................................... 090
XVI- O que é esporte............................................................................ 095
XVII- O que é Iniciação Esportiva ......................................................... 098
XVIII- Locais onde a Iniciação Esportiva acontece ................................ 102
XIX- Faixa etária da Iniciação Esportiva .............................................. 104
XX-
Profissional que atua na Instituição de origem com a Iniciação
Esportiva.......................................................................................
106
XXI(a)- Conhecimentos específicos para atuar com Iniciação Esportiva . 109
XXI(b)- Saberes específicos da Iniciação Esportiva................................. 113
XXII(a)- Perfil profissional para atuar com Iniciação Esportiva ................. 116
XXII(b)- Perfil profissional – competências e/ou qualidades...................... 121
XXIII(a)-
Profissional que o entrevistado contrataria para atuar com
Iniciação Esportiva. ......................................................................
124
XXIII(b)-
Perfil - profissional a contratar .....................................................
126
XXIV-
Competências do Profissional de Educação Física .....................
148
1
CAPÍTULO I
INTRODUÇÃO
1.1 - Apresentação
Tendo como referência a minha experiência profissional - atuando
com iniciação e como auxiliar cnica em Natação, por cinco anos; com iniciação
e como Técnica em Basquetebol, durante os últimos 15 anos e, como professora
de Educação sica também na mesma média dos últimos anos e a minha
formação em Educação Física, na Licenciatura (1986), observei que é comum a
compreensão de que o indivíduo que trabalha com a “iniciação esportiva”
1
tem um
perfil profissional diferente daquele que trabalha com o “treinamento esportivo”.
Porém, fazendo um paralelo entre a minha formação, atuação no
campo esportivo e escolar e a atual legislação, da “Regulamentação Profissional
em Educação Física”, pude comprovar que o conteúdo do curso que fiz foi
suficiente para trabalhar com a “iniciação esportiva”. Na época em que estudei,
sob a égide da Resolução CFE 69/69 currículo mínimo, os cursos ofereciam
1
Neste estudo optou-se por tratar da Iniciação Esportiva na infância e adolescência.
2
conteúdos específicos relacionados às modalidades esportivas mais difundidas,
bem como os procedimentos necessários para o desenvolvimento do processo
ensino-aprendizagem deste conteúdo, entre outros aspectos e fundamentos.
Da mesma forma, nestes últimos 18 anos, após a criação do
Bacharelado, convivi com outros licenciados da região leste, região central e do
Vale do Paraíba, interior de São Paulo, que atuam com “iniciação” de natação,
handebol e basquetebol, podendo-se colocar que eram profissionais conceituados
dentro de seus campos.
A presença da “iniciação esportiva”, no campo escolar, tem sido
referendada por diferentes documentos que fazem menção ao “esporte” como
conteúdo da Educação Física escolar, podendo-se assinalar que:
A Portaria MEC 148/67 considera que . . .
Artigo - O programa de Educação Física constituir-se-á em um
conjunto de ginástica, jogos, desportos, danças e recreação (...).
(SÃO PAULO, 1985: 158).
Para o Decreto-Lei 69450/71 . . .
Artigo - A educação física, desportiva e recreativa integrará,
como atividade escolar regular, o currículo dos cursos de todos os
graus de qualquer sistema de ensino” e Artigo 3º, ao colocar no
tomo III, parágrafo que a “partir da quinta série de
escolarização, deverá ser incluída na programação de atividades,
a iniciação desportiva. (p. 118)
A “Educação Física no Ciclo Básico” (SÃO PAULO, 1989) - da
Coordenadoria de Ensino e Normas Pedagógicas da Secretaria Estadual de São
3
Paulo, subsídio curricular que privilegiou as primeiras séries do ensino
fundamental (denominado neste período de ensino de grau), propôs
“fundamentos esportivos” a partir da série, incluindo os desportos individuais os
desportos coletivos, suas regras e arbitragem como conteúdo para o Ciclo (6ª,
7ª e 8ª séries).
Na “Proposta Curricular de Educação Física para o grau” também
a indicação para se trabalhar com a “iniciação esportiva” a partir da série
(SÃO PAULO, 1991).
Para a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96 -
item 2, do parágrafo único, do Art. 1º, o “esporte” aparece como conteúdo
obrigatório no ensino fundamental e médio, pois . . .
2) As práticas desportivas formais e não formais, direito de cada
um e dever do Estado, serão ofertados no ensino fundamental, no
ensino médio e em todos os cursos superiores. (BRASIL Apud
CASTELLANI FILHO, 1998: 11-12).
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais para Educação Física
(BRASIL, 2000), Ensino Fundamental, consta que este deverá contemplar três
blocos de conteúdo, sendo um deles “Esportes, jogos, lutas e ginásticas”,
considerando-se . . .
esporte as práticas em que são adotadas regras de caráter oficial
e competitivo, organizada em federações regionais, nacionais e
internacionais que regulamentam a atuação amadora e a
profissional. (p.48)
4
No âmbito desse encaminhamento observou-se que “os jogos pré-
desportivos e os esportes coletivos e individuais” (p.72) do primeiro ciclo deverão
ser desdobradas e aperfeiçoadas, no segundo ciclo.
Com relação ao esporte na sociedade brasileira, o seu
desenvolvimento também não passou indiferente, podendo-se apresentar algumas
passagens ou indicadores que corroboram com esta argumentação. Por exemplo:
QUADRO I – O Esporte no Brasil: Algumas Influências
Esporte Antecedentes
Ano Local Modalidade
1846
Rio de Janeiro
- a prática da canoagem - no final do século já eram 19 os clubes de remo em franca
atividade;
1875
Rio de Janeiro
- Clube Brasileiro de Cricket, dando organização associativa a essa atividade
praticada com características de lazer pela colônia inglesa;
1883
Niterói
Rio de Janeiro
- atletismo - as primeiras competições têm lugar em Niterói e no Rio de Janeiro;
1884
São Paulo
- futebol - tem início em São Paulo o futebol, que se alastra com rapidez por todo o
País;
1898
Rio de Janeiro
São Paulo
- basquetebol - por influência americana, advinda com a fundação da Associação
Cristã de Moços e as atividades do Mackenzie College, é introduzido o basquetebol.;
1920
Brasil
- olimpíadas - após a participação do Brasil nos Jogos Olímpicos de Antuérpia, em
1920, chegam os técnicos americanos (como Fred Brown) - os primeiros especialistas
de alto nível de que se tem notícia em atuação no país.
(SOUZA NETO, 1999)
Por estes indicadores observa-se que a sua disseminação ocorreu
em clubes, mas também teve como berço a escola, como é o caso do Mackenzie
College.
Neste itinerário, o Decreto 4855, de 27 de janeiro de 1931 - do
Governo do Estado de São Paulo, abre as portas para a criação do Departamento
de Educação Física e, posteriormente, da primeira escola civil, registrando nesse
momento o “espaço social” do esporte dentro do contexto da Educação Física,
bem como fora dele, no meio social institucionalizado.
5
Artigo - Fica, subordinado à Secretaria do Interior, creado o
Departamento de Educação Physica.
Artigo 2º - São seus fins:
1º organizar uma escola de educação physica para a formação de
professores técnicos;
2º manter um gabinete techinico e bibliotheca especialisada para o
estudo de demonstração dos problemas de educação physica;.
organizar um planejamento systematico de educação physica
como padrão geral;
promover a sua adoção pelas entidades esportivas, clubes ou
fundações; e prohibir-lhes exercícios nocivos á saúde;
5º estabelecer campos de recreios e jogos;
organizar e patrocinar provas e demonstração de gymnastica,
athletismo e outros esportes, assim como concursos de robustez
physica;
7º promover a propaganda da educação physica por meios de
conferências, artigos na imprensa e publicação de um periódico;
8º incentivar a educação physica feminina, procurando interessar a
mulher brasileira da physicultura.
proceder ao recenseamento esportivo do Estado, e organizar a
inscripção official das aggremiações e federações esportivas;
10º registrar os recordes e campeonatos.
2
(São Paulo, 1931, p.2)
Em 1939, com o Decreto-Lei nº 1212, cria-se a Universidade do
Brasil e a Escola Nacional de Educação Física e Desportos a chegada da
Educação Física na Universidade) e o primeiro currículo oficial na área. Na
exposição de motivos para a criação do curso, o Ministro Gustavo Capanema
coloca:
2
- O negrito e os grifos são nossos.
6
Rio de Janeiro, em 27 de janeiro de 1939.
Senhor presidente:
A Constituição, art. 131, estabelece que a educação física é
obrigatória em todas as escolas primárias normais e secundárias
da República; (...).
Para que se consigam tais objetivos não basta que se faça leis e
regulamentos dispondo sobre a prática da educação física nas
escolas (...). É preciso também e, sobretudo, que existam
professores, não professores quaisquer, improvisados no preparo
e errados no saber, (...), mas ao contrário professores instruídos,
possuidores da ciência e da técnica dos exercícios físicos, e
capazes de os empregar como meios eficientes de melhorar a
saúde e dar ao corpo solidez, agilidade e harmonia.
Observemos, por outro lado, que se torna necessário e urgente
elevar o nível dos desportos em nosso país.(...)
A obra a empreender demanda muitas e difíceis medidas. Uma se
apresenta com exigência imperiosa: a que diz respeito à
preparação do pessoal técnico destinado a orientar e dirigir os
desportos das diferentes modalidades. Este pessoal técnico tem
que ser temeroso e não pode ser recrutado entre os autodidatas,
rudimentares ou disvirtuados no conhecimento da penosa matéria,
mas entre os especialistas esclarecidos e seguros.’’
“Em suma, professores de educação física, técnicos em desportos,
médicos especializados em educação física e desportos, tais são
os elementos essenciais e básicos de que necessitamos para
desenvolver e aperfeiçoar entre nós a educação física e os
desportos.
A Escola Nacional de Educação Física e Desportos, (...) será,
antes de mais nada, um centro de preparação de tôdas as
modalidades de técnicos ora reclamados pela educação física e
pelos desportos. Funcionará, além disso, como um padrão para
as demais escolas do país, e, finalmente, como um
estabelecimento destinado a realizar pesquisas sobre o problema
da educação física e dos desportos (...).
3
(CAPANEMA, 1945, p.
24)
3
- O grifo é nosso.
7
Dessa forma, pelo Decreto-Lei nº 1212, de 17 de abril de 1939, o
curso em seu Artigo 1º terá como finalidades:
a) formar pessoal técnico em educação física e desportos;
b) imprimir ao ensino da educação física e dos desportos, em todo
país, unidade teoria e prática;
c) difundir, de modo geral, conhecimentos relativos à educação
física e aos desportos;
d) realizar pesquisas sôbre a educação física e aos desportos,
indicando os métodos mais adequados à sua prática no país.
4
(BRASIL, 1939, p s/n)
Nesta proposta, as preocupações estão mais voltadas para um
conhecimento técnico no ensino da educação física e desportos, visando à
integração teórico-prática dos conteúdos e, como complemento, a investigação
(pesquisa) na busca de métodos mais adequados à sua prática.
Todos estes indicativos revelam a presença do esporte tanto no
ambiente escolar como fora dele, nos levando a inquirir que este é um assunto
que apresenta uma interface muito grande quando o tema é a iniciação esportiva,
havendo necessidade de se entender melhor a quem compete a orientação dos
primeiros fundamentos de sua prática pedagógica.
4
- O grifo é nosso.
8
1.2 - O problema e a sua importância
Sobre a questão do esporte, Korsakas (2002) observou com base no
Decreto 2574/98, que este vem sendo utilizado, nos tempos atuais, de duas
formas: como alto rendimento e como “esporte-educação”; e, ainda podemos
acrescentar que, cada vez mais, vem também sendo utilizado como lazer e na
busca de uma vida saudável, entre outros fins (FERREIRA, 2002, p.49, BENTO,
1999, p.52 e TANI, 2002, p.112). Com relação ao esporte-educação, Paes (2002)
considerou o esporte na escola
importante por várias razões: ser um dos conteúdos de educação
física, de ser a escola uma agência de promoção e difusão da
cultura e até mesmo por questão de justiça social, uma vez que
em outras agências o acesso ao esporte será restrito a um número
reduzido de crianças e de jovens associados de clubes esportivos
ou clientes de academias e/ou de escolas de esportes. (p.95)
Entretanto, no âmbito da formação como fica a questão do conteúdo
“esporte, modalidade esportiva ou fundamentos esportivos”, bem como o
profissional que vai trabalhar com estes conhecimentos/saberes?
Para esta questão, as diferentes propostas têm assinalado e/ou
considerado também a presença do esporte no processo de preparação
profissional, como colocou Souza Neto et all (2004):
(a) Em 1939, com o Decreto-Lei 1212, cria-se a Universidade do
Brasil e a Escola Nacional de Educação Física e Desportos. No geral, os cursos
têm, em comum, um núcleo de disciplinas básicas, mas com variações de acordo
com a especificidade da modalidade de atuação. Com exceção do curso para
9
formar professores (dois anos), os demais eram desenvolvidos no período de um
ano.
QUADRO II - Os Saberes da Proposta de 1939
Estudo da vida humana em seu aspecto celular; anatômico;
funcional; mecânico, preventivo
Estudo do processo pedagógico ( psicologia aplicada).
Estudo dos exercícios físicos da infância
a idade madura
EDUCAÇÃO
FÍSICA
(SABERES)
Estudo da administração do trabalho humano
em instituições (organização; legislação)
Estudo dos exercícios motores lúdicos e agonísticos
Estudo dos exercícios motores artísticos
Instrutores de Ginástica
(professoras primárias)
Formação Profissional
Instrutor de
Ginástica
Professor de
Educação Física
Estudo dos fatos e costumes relacionados às tradições dos povos
na área dos exercícios físico e motores.
Médico Especializado em
Educação Física
Técnico em Massagem
Técnico Desportivo
(SOUZA NETO, 1999, p. 56)
(b) Entre as propostas de 1939 - Decreto-Lei 1212 e de 1945 -
Decreto-Lei 8270, alguns aspectos repetem-se ou são semelhantes e outros se
alteram completamente, dando uma configuração própria para cada um dos
cursos, redimensionando-o em sua organização.
QUADRO III - Os Saberes da Proposta de 1945
Estudo da vida humana em seu aspecto celular; anatômico;
funcional; mecânico, preventivo
Estudo do processo pedagógico (psicologia aplicada)
Estudo dos exercícios físicos
Estudo do comportamento humano
EDUCAÇÃO
FÍSICA
(SABERES)
Estudo da administração do trabalho humano em instituições
(organização; legislação)
Estudo dos exercícios motores lúdicos e agonísticos
Estudo dos exercícios motores artísticos
Instrutores de Ginástica
(professoras primárias)
Formação Profissional
Instrutor de
Ginástica
Professor de
Educação Física
Técnico Desportivo
Estudo dos fatos e costumes relacionados às tradições dos povos
na área dos exercícios físico e motores.
Técnico em Massagem
Médico Especializado em
Educação Física
(SOUZA NETO, 1999, p. 59)
10
Neste novo quadro, as modificações ficaram por conta da exigência
de diploma, como pré-requisito, para os cursos de Educação Física Infantil,
Técnica Desportiva e Medicina Aplicada à Educação Física e Desportos e, a
formação do professor passou de dois anos para três anos.
(c) Entre 1945 e 1968, a formação do professor ganhou uma
atenção especial, sendo refletida de forma notória na LDB 4024/61. Os saberes
relativos ao conhecimento esportivo ganham destaque bem como a parte didática
com ênfase mais específica voltada para a formação do professor. Porém, os
resultados dessa preparação profissional continuam a ser questionados,
ponderando-se que a qualidade de um curso não resulta apenas da argumentação
de que os ‘mínimos curriculares foram cumpridos’, assim como, o mercado estaria
exigindo um novo tipo de profissional que não fosse apenas o professor, o que
continuava permitindo que ex-atletas continuassem a ocupar o lugar dos
profissionais formados por uma escola superior.
QUADRO IV - Os Saberes da Proposta de 1969
Estudo da vida humana em seu aspecto celular; anatômico;
fisiológico, funcional; mecânico, preventivo;
Professor de Educação Física
EDUCAÇÃO FÍSICA
(SABERES)
ou de forma
concomitante
Estudo dos exercícios gímnico desportivos em
seus aspectos físicos, motores, lúdicos, agonísticos, artístico;
Estudo das matérias pedagógicas:didática, estrutura e
funcionamento do ensino, psicologia da educação e
prática de ensino
Formação Profissional
(1800 horas-aula)
Técnico Desportivo
(SOUZA NETO, 1999, p. 67)
(d) Em 1987 com a promulgação do Parecer CFE nº 215/87 e
Resolução CFE 03/87 estabeleceu-se a criação do bacharelado em Educação
Física. Nesta proposta, os saberes anteriormente divididos entre as matérias
básicas e profissionalizantes - localizadas dentro dos cleos de fundamentação
biológica, gimnico-desportiva e pedagógica - assumem uma nova configuração.
11
QUADRO V - Os Saberes da Proposta de 1987
Formação Geral: Humanística e Técnica
Conhecimento Filosófico
Humanística Conhecimento do Ser Humano
Conhecimento da Sociedade
EDUCAÇÃO FÍSICA
(SABERES)
Licenciatura em Educação Física
Técnico Conhecimento Técnico
Aprofundamento de Conhecimento
Formação Profissional
(2880 horas-aula)
Bacharelado em Educação Física
(SOUZA NETO, 1999, p. 104)
Nesta proposta adota-se uma grade curricular essencialmente
flexível, sem um núcleo básico e/ou mínimo de conhecimento. A sua estrutura vai
estar alicerçada em duas partes denominadas de Formação Geral e
Aprofundamento de Conhecimentos, implementando-se uma nova visão de
currículo, aberto e flexível. Estabelecendo-se assim, uma nova referência para a
formação profissional - na licenciatura se deveria formar o professor e no
bacharelado o profissional da Educação Física, regulamentados pelo Parecer CFE
215 e a Resolução CFE 03. Embora a idéia original o buscasse direcionar um
campo de atuação especifico, ocorreu que ao bacharel foi contemplado o campo
do esporte e/ou treinamento esportivo, o que provocou uma profunda mudança no
âmbito da formação no campo da Educação Física.
Em função de observações e da experiência adquirida nos meus 20 anos
de profissão, com a formação sob a legislação de 1969 e acompanhando as
alterações propostas pela legislação de 1987, acredita-se que a diferença
fundamental da proposta anterior (1969) é que esta proporcionava uma formação
com conhecimentos restritos desenvolvidos, normalmente, em três anos; na
12
proposta de 87, buscou-se uma afirmação da Educação Física como uma área
cientifica, com componentes próprios, específicos, e também, procurou-se
oferecer conteúdos que atendessem as novas demandas do mercado.
A principal proposta da Resolução CFE 03/87 foi a separação dos cursos
em Licenciatura e Bacharelado. Porém, esta mudança ocorreu majoritariamente
em cursos de universidades públicas, enquanto que nas faculdades particulares, e
mesmo em algumas públicas, permaneceu a idéia da licenciatura ampliada, pois a
legislação permitia esta compreensão; foi uma perspectiva que ganhou adesões.
A real alteração, que abrangeu tanto os cursos públicos quanto os particulares, foi
o aumento da carga horária de1800 horas-aula para 2880 horas-aula, rompendo
com a proposta até então vigente que previa na Lei 5540/68 que os cursos de
licenciatura curta teriam 2250 horas/aula, enquanto que os de licenciatura plena
teriam 2500 horas/aula, mas que também o impedia que os cursos tivessem
carga horária maior que a estabelecida.
Assim, a criação do Bacharelado acarretou, além da proposta
de se ter um corpo de conhecimento organizado para a Educação Física, a
possibilidade de retomada do projeto de regulamentação profissional na área,
tendo-se em vista os diferentes campos de intervenção. Embora a profissão
docente já fosse regulamentada e referendada pela LDBEN 9394/96, em seu
Artigo 67, o que estava em pauta era uma nova orientação para o campo de
atuação profissional – intervenção profissional.
13
Esta questão provocou um intenso debate na comunidade
acadêmica, assumindo-se posições a favor e contra, pessoal ou coletiva
(associações, conselho, entidade científica etc), acadêmica ou de “senso comum”.
Nesta direção, as políticas públicas apontam, na atual legislação
(Resolução CNE/CES 7/2004 Graduação em Educação Física e Resoluções
CNE/CP 1/2002a e 2002b Formação de Professores da Educação Básica), para
uma nova proposta de formação profissional em que a teoria e a prática deveriam
vir juntas desde o início do curso. No âmbito desse processo, a Prática como
Componente Curricular (PCC), na proposta de ambas as graduações, deveria
atuar na perspectiva de uma prática pedagógica que permeia todo o currículo.
Sobre a Formação de Professores da Educação Básica, licenciatura
plena, 2800 horas-aula, cabe destacar que o novo corpo de conhecimento abarca:
cultura geral e profissional; conhecimentos sobre crianças, jovens e adultos;
conhecimentos sobre a dimensão cultural, social, política e econômica da
educação; conteúdos das áreas de conhecimento que são objeto de ensino;
conhecimento pedagógico; conhecimento advindo da experiência;
comprometimento com os valores da sociedade democrática; compreensão do
papel social da escola; domínio dos conteúdos a serem socializados; domínio do
conhecimento pedagógico; e, gerenciamento do próprio desenvolvimento
profissional. Enfim, o que se propõe é um corpo de conhecimento que auxilie na
demarcação da identidade do professor.
14
Com relação à Formação dos Profissionais de Educação sica,
graduação, 3200 horas-aula, a nova proposta curricular buscou organizar o
currículo, contemplando conhecimentos, competências e/ou habilidades
relacionados a uma “Formação Ampliada”, abarcando as dimensões do
conhecimento vinculadas à Relação Ser Humano-Sociedade, Biológica do Corpo
Humano e Produção do Conhecimento Científico e Tecnológico e a uma
“Formação Específica” que contemplou as seguintes dimensões do conhecimento:
Culturais do Movimento Humano, Técnico-Instrumental e Didático-Pedagógico. Na
realidade, este conjunto temático não é nenhuma novidade, mas procurou corrigir
algumas lacunas da Resolução CFE 03/87, em que deixava em aberto a questão
da identidade da área de estudo Educação Física.
Dentro desse contexto, em 1998, no dia 1 de setembro, a “profissão”
Educação Física foi regulamentada, com a promulgação da Lei 9696, significando
que a dio e longo prazo deveria ocorrer um “divisor de águas”, uma nova
demarcação territorial. Para normatizar esta idéia, na proposta da Resolução
CONFEF 046/2002, “Intervenção do Profissional de Educação Física”, foi
colocado que esta deverá ocorrer nas seguintes especificidades:
Regência/Docência em Educação Física; Treinamento Desportivo; Preparação
Física; Avaliação Física; Recreação em Atividade Física; Orientação de Atividades
Físicas; e, Gestão em Educação Física e Desporto.
Em termos práticos o que se propõe é que o licenciado terá como
campo de atuação “exclusivo” a educação formal, enquanto que ao bacharel (ou
15
graduado) caberão os demais espaços, delimitando tecnicamente a competência
da intervenção, Entretanto, se questiona se necessidade ou não de uma maior
fundamentação pedagógica para se trabalhar com Iniciação Esportiva, (este
trabalho) em virtude (função) das denúncias sobre a especialização esportiva. Em
função deste questionamento, pergunta-se:
Quais os indicativos da “Iniciação Esportiva” que permitiriam
identificar se este espaço social de intervenção é exclusivo de uma
determinada área de formação?
Das respostas obtidas com este questionamento, acredita-se que as
mesmas poderão auxiliar os profissionais de Educação Física, os gestores e os
professores formadores na delimitação de um perfil profissional que traga maiores
contribuições para esta prática pedagógica (profissional).
1.3 - Questões a investigar
Decorrente desta visão e compreensão elaborou-se as seguintes
questões:
(a) No campo de intervenção da Educação Física, o esporte e a
iniciação esportiva possuem capital específico no que diz respeito
à área de conhecimento?
16
(b) A Iniciação Esportiva, enquanto prática profissional, incorpora um
habitus próprio naquilo que diz respeito à formação, qualificação,
competências, saberes, habilidades?
Dentro desse contexto se busca saber se:
b.1 A prática pedagógica dos profissionais que trabalham com
Iniciação Esportiva, na escola e no ambiente não escolar,
apresenta uma especificidade própria?
b.2 A Iniciação Esportiva exige procedimentos metodológicos
relativos ao perfil de alguém que mais educa (formação) ou do
indivíduo que está mais preocupado com as técnicas de
aprendizagem (instrumentalização)?
1.4 - Objetivos
Considerando as questões levantadas este estudo tem como
objetivos:
(a) identificar, no grupo de participantes selecionados para a pesquisa, o
que se entende por “Iniciação Esportiva”;
(b) averiguar os conhecimentos ou saberes tidos como imprescindíveis
para se trabalhar com a “Iniciação Esportiva”; e,
17
(c) buscar, junto a dirigentes, coordenadores, professores universitários e
profissionais da área, o perfil profissional ideal de quem atua no campo
da iniciação esportiva;
1.5 – Definição de termos
Estaremos apresentando a seguir a definição dos termos, ou seja,
com quais conceitos estaremos utilizando estes termos, considerados chaves para
entendimento do estudo que se apresenta.
Iniciação Esportiva é uma atividade física que oferece ao
indivíduo inúmeras possibilidades motoras e vivências em seu processo de
aprendizagem de um grande número de jogos e modalidades esportivas; busca
desenvolver as capacidades e habilidades humanas nas dimensões motora,
cultural, social, cognitiva e afetiva; objetiva encaminhar seus participantes para
uma prática esportiva saudável.
Esporte atividade física organizada e sistemática, com regras
próprias. É um fenômeno sócio-cultural que ocorre em várias dimensões: da
profissão ao lazer, da competição a saúde, do espetáculo ao anonimato, entre
tantas outras possibilidades.
Educação Física Uma profissão, um curso acadêmico, uma área
de conhecimento e um componente curricular (disciplina escolar), que tem como
objeto de estudo o movimento humano, também denominado de motricidade
18
humana, cultura corporal de movimento ou cultura do movimento. Tem como
campo próprio de atuação diversos ambientes, como o escolar e o não escolar,
atuando diretamente com o ser humano ou na coordenação, supervisão e
organização de atividades próprias dessa área e campo de intervenção.
Perfil Profissional conjunto de características específicas,
próprias do indivíduo que é formado, preparado pelo órgão competente, para atuar
em uma determinada profissão.
.
1.6 - Organização do Estudo
Na introdução deste trabalho, Capítulo I, buscou-se apresentar o
problema de estudo, a sua importância, as questões que estariam sendo
investigadas, bem como, os objetivos.
O Capítulo II procurará apresentar a revisão de literatura, com base
em pesquisa bibliográfica, referente ao esporte, visando mapear a sua
compreensão e delimitação no cenário internacional e nacional, enquanto que o
Capítulo III se restringi em descrever os procedimentos metodológicos que
foram utilizados.
Neste encaminhamento, o Capítulo IV se ocupará em estar
apresentando os resultados do trabalho de campo, para que no Capítulo V seja
realizada uma ampla discussão dos resultados encontrados, tendo como balizador
as questões de investigação e a questão central do estudo.
19
Por fim, no Capítulo VI, Conclusões Finais, buscou-se apresentar as
considerações finais sobre o estudo efetuado, além de algumas sugestões, tendo
como parâmetro os objetivos do trabalho.
20
CAPÍTULO II
REVISÃO DA LITERATURA
2.1 - O Esporte na Sociedade
2.1.1 – O esporte na era moderna
O Esporte chega ao século XXI, impulsionado pela mídia, com a
supervalorização do alto rendimento, como sendo este o único modelo de prática
esportiva (KORSAKAS, 2002).
Considerando o fenômeno esportivo como algo dinâmico, que sofre
transformações impostas pelo meio onde está inserido e alterações provenientes
de seu próprio meio e estrutura, para analisá-lo é necessário que se recorra a sua
própria história, que este fenômeno seja contextualizado, reconhecendo como era
sua estrutura anteriormente e na atualidade. (BOURDIEU, 1990, p.214 e
BALBINO, 1997, p.26)
21
Dentro desse contexto, tendo a Iniciação Esportiva como foco
principal, e estando ela diretamente relacionada ao fenômeno esportivo, e ambos,
por sua vez, ligados à profissão Educação Física, partiu-se para um levantamento
histórico, ou seja, do que reserva sua memória, visando subsidiar a compreensão
deste fenômeno nos tempos atuais.
A memória como objeto da História, deve ser resgatada, pois é um
depositário de conhecimentos e experiências, que podem ser úteis no presente
(MENESES, 1992, p. 11 e 24). De forma que, entendendo o mundo atual como
resultado de um passado e a história como uma prática transformadora, não
apenas como um relato (LE GOFF, 1992, p. 11), pretendeu-se neste capítulo,
recuperar o conhecimento do esporte em tempos anteriores, buscando
compreender como a Iniciação Esportiva era tratada. Paralelo a esta questão,
procurou-se saber também sobre a Iniciação Esportiva, qual era o seu objetivo?
Quais as transformações que ocorreram ao longo do tempo? Quais as
contribuições que o acesso a este conhecimento pode trazer para a
profissão/profissional da Educação Física, no que se refere a este campo
específico de atuação?
2.1.1.a – O Olimpismo
O ressurgimento dos Jogos Olímpicos no século XIX foi de
fundamental importância para a universalização da instituição esportiva, bem
como do “jogo” e de um tipo particular d e jogo que ganhou regras universais e
22
uma nova denominação “esporte”. Porém, esta nova configuração do jogo
passou a ter não só um significativo valor esportivo, mas também político e
econômico. Definiram-se no “modelo esportivo” padrões de funcionamento, regras
e normas de conduta. Como resultado, os Jogos Olímpicos se transformaram num
“(...) palco de confronto entre as grandes potências esportivas (e econômicas)
mundiais.” (BETTI, 1991, p.49)
Para Souza Neto e Hunger (2004), “citius, altius, fortius
5
- mais
veloz, mais alto e mais forte - foi a expressão máxima dessa nova era para o
esporte, dando “tiro” de partida para as Olimpíadas Modernas do século XIX
(1896). (p. 335)
As Olimpíadas trouxeram em seu bojo a ênfase na performance
humana, apostando-se num grande projeto para a humanidade, no desejo de que
o esporte
6
poderia se tornar um grande catalisador na aglutinação da juventude e
na perspectiva de que a ética e a moral poderiam contribuir para a construção de
uma nova sociedade.
Para os autores citados, o pensamento do Barão de Coubertin, Pierry
de Fredy (1863-1937) - mentor dos Jogos Olímpicos Contemporâneos - ao
resgatar os jogos foi emblemático ao colocar que a vitória olímpica era menos
5
- Este lema olímpico foi criado pelo Padre Didon (1840-1900) – da ordem dos dominicanos; pedagogo,
orador e político francês que dava ênfase em seus discursos à influência moralizadora dos esportes.
6
- O termo “esporte”, cuja origem vocabular é latina foi utilizado primeiramente em inglês – “sport- no ano
de 1617 e posteriormente em francês desportcomo o mesmo significado: uma prática que surge e se
dissemina pelo mundo, como elemento cultural de nossa civilização, tendo na competição entre dois ou mais
adversários ou contra a natureza o seu devir. No Brasil segue-se a versão aportuguesada de desporto. Portanto,
falar em esporte ou em desporto é manter a mesma correspondência de significados.
23
importante do que competir, pois “o importante é competir, não vencer”. Assim, o
esporte, amador, nessa proposta, seria a mola propulsora para congregar pessoas
de diferentes nacionalidades.
Esta representatividade foi muito bem apresentada na bandeira
olímpica com seus cinco arcos azul, amarelo, negro, verde e vermelho
entrelaçados com o fundo branco do tecido, formando uma espécie de triângulo
invertido com três arcos em cima e dois em baixo. Entretanto, passados pouco
mais de um século desse “olímpismo”, o esporte se tornou, de fato, um grande
fenômeno de mídia, de marketing, de poder, de beleza plástica, cabendo ressaltar
que . . .
o esporte, tal como o entendemos, i) nasce com a sociedade
industrial e é inseparável de suas estruturas e funcionamento; ii)
evolui estruturando-se e organizando-se internamente de acordo
com a evolução do capitalismo mundial; e iii) assume forma e
conteúdo que refletem essencialmente a ideologia burguesa.
(GEBARA, 2002, p. 37).
Complementando este breve histórico, Paes (2002, p. 89) nos dirá,
apoiados nos estudos de Bourdieu (1983) e Hobsbawn (1992), que este “teve a
sua origem nos jogos populares do final do século XIX e início do século XX”.
Relacionando a bandeira olímpica e os aspectos acima
mencionados, observa-se que, juntamente com seus coloridos, a realidade
também aparece em preto e branco, trazendo a tona questões de ordem política
(poder), econômica (dinheiro), filosófica (ética), biológica (consumo de drogas para
melhorar a performance), pedagógica (educação, ensino).
24
Dessa forma, considerando que “(...) o esporte moderno, no seu
processo de construção, sofre influência das transformações sócio-culturais e
absorve uma série de características da sociedade moderna”, Bracht (1995)
complementa citando Rigauer (1981), que “há um paralelismo entre o processo de
racionalização do treinamento esportivo e a racionalização do sistema produtivo
na sociedade capitalista industrial.” (p. 37) O autor acredita ainda, que a
racionalidade científica foi uma co-produtora do esporte moderno e que o seu
desenvolvimento “(...) se dá no mesmo caldo sócio-cultural em que se
desenvolveu a ciência moderna.” (p.38)
Crianças e jovens o atraídos, através deste cenário, para
diferentes práticas desportivas, tendo como modelo, os ídolos, os expoentes de
determinadas modalidades; como perspectiva, a oportunidade de ascensão social;
como atividade física, a busca pela saúde, qualidade de vida; havendo
necessidade de distinguir o esporte escolar do esporte de rendimento
(performance).
Com relação ao esporte escolar, cabe ressaltar que o mesmo foi
recomendado por médicos, psicólogos e pedagogos em virtude dos benefícios
físicos e mentais que traz para as crianças e adolescentes na formação de um
corpo saudável, se for respeitada as suas diferentes fases de crescimento e
desenvolvimento. Sendo que o . . .
reconhecimento do caráter pedagógico do jogo e, em especial, da
prática esportiva como meio de educação dos jovens foi um dos
fatores que favoreceu sua disseminação nas escolas e em outras
instituições educacionais. (KORSAKAS, 2002, p. 39).
25
Quando não exclusão, o esporte escolar possibilita o trabalho em
grupo, podendo-se explorar a cooperação e trabalhar a fraternidade universal
(CIABATINI, 2003) pois ...
A competição está presente em vários aspectos da vida humana e,
sobretudo para as crianças e os adolescentes, pode ser
encontrada nos jogos de regras infantis. Portanto, a competição
em si não é boa ou má, ela é o que fazemos dela. Além disso,
especificamente em relação à competição esportiva, pode-se
encontrar efeitos negativos em qualquer idade, dependendo das
condições em que é realizada e de seu contexto. (FERRAZ, 2002,
p. 37)
De Rose Jr (2002, p. 71, 73) nos lembra que competir é um fato
normal, pois “desde o nascimento o ser humano compete pela vida em todas as
suas dimensões” e no esporte a competição é o meio pelo qual o atleta é avaliado,
comparado, tendo que mostrar suas habilidades e fraquezas. De modo que, toda
competição “exige preparação e treinamento e isso pode ocorrer precocemente,
causando diversos problemas à criança” (no aparelho locomotor e cardio-
respiratório, na coluna vertebral, no crescimento e na maturação sexual). Para que
este desvirtuamento não ocorra, é importante se respeitar a criança, lembrando
que ela não é um adulto em miniatura.
o esporte de rendimento (ou de rendimento máximo, de alto nível,
alto rendimento, espetáculo, performance), é o grande astro da mídia, onde traz a
profissionalização do atleta, prêmios em dinheiro, contratos muitas vezes
milionário, consumismo. Ocupa espaço na imprensa escrita e falada, apresenta
corpos esculturais e um sistema de trabalho (treinamento) extremamente
26
“religioso”, chamando a atenção para uma espécie de imolação do “corpo”.
(SOUZA NETO e HUNGER, 2004, p. 337-338)
Os grandes problemas éticos do mundo atual são a
individualização (privatização) da ética, a tecnologia do mundo
(causando um extraordinário progresso material) e o aparecimento
de uma sociedade do consumo, do descartável, da competição
pelo acúmulo de bens (ganância); a desumanização e a
insensibilidade social; a racionalização dos fenômenos sociais e a
visão economicista do mundo. (DRUMOND, 2002, p. 31)
Em função dos aspectos assinalados, pergunta-se qual era a matriz
civilizadora grega e a incorporada por Coubertin? E qual foi o desafio que a
modernidade trouxe para o período contemporâneo no campo esportivo?
O mundo exige-nos um novo homem; formemo-lo através de uma
nova educação. [Barão de Coubertin, 1863-1937 (RAMOS, 1982,
p. 259)]
De acordo com Souza Neto e Hunger (2004), no mundo antigo, pré-
grego e greco-romano a educação ocorre de forma diferenciada nas classes
sociais em seus papéis, funções, grupos sociais, havendo uma educação retórica
(Grécia) para aqueles que se empenham no governo, na vida política ou que
querem participar da direção da coisa pública (mas que marginaliza toda e
qualquer forma de trabalho manual, pois valoriza o uso da palavra livre e auto-
regulada) e uma educação técnica, profissional e produtiva que se realiza no
mundo do trabalho em contato com os artesãos (p.339).
Embora possa haver esse desencontro entre o trabalho manual e a
educação retórica, valoriza-se a retidão, a lealdade, a justiça, a honestidade no
cumprimento dos deveres cívicos, dos princípios éticos e morais.
27
Os antigos gregos e romanos expressaram estes deveres, no
tríplice preceito: ‘viver honestamente, ou seja, comportar-se na
sociedade com lealdade e retidão’; ‘não causar danos aos outros’,
‘dar a cada um o que é seu’. Estes preceitos exprimem o mínimo
de justiça, a qual todo cidadão tem direito e sem o qual a
convivência social fica gravemente comprometida. (CASO e
POZZOLI, 2003, p. 3)
No âmbito da educação, a organização da pólis grega concebe a
família o primeiro lugar de socialização da pessoa, de construção de sua
identidade física, psicológica, cultural. É no seio familiar, orientadas pelas
mulheres e submetidas à autoridade do pai, tutor legal, que as crianças vivem a
sua primeira infância, inclusive é ao pai que compete reconhecer ou não a
legitimidade dos filhos e decidir sobre o seu futuro (SOUZA NETO e HUNGER,
2004, p. 335-362)
Neste cenário, em seu período de ouro, havia um acordo entre os
cidadãos e a cidade, a natureza e a lei e a natureza e o homem, considerando o
sofrimento, a morte e as doenças como conseqüências da própria condição
humana ou como castigo divino (punição dos deuses). Dessa maneira, na Grécia
antiga, as competições enquadram-se originalmente num esquema cultural de
valorização da saúde, da beleza física, mas, principalmente, de amor à glória e ao
grande feito (SOUZA NETO e HUNGER, 2004, p. 335-362).
nas origens, essa cultura ama o heróico. Num mundo
aristocrático e cavalheiresco, o espírito agônico desdobra-se
equilibradamente entre a ação e o pensamento. (...)
Todavia, esse ideal não se esgota no bom desempenho militar ou
político; ele supõe algo mais, a supremacia absoluta, a
exclusividade do êxito, enfim, a vitória. (BARROS, 1996a, p. 8)
28
Barros (1996a) observou que no início, estas atividades se
desenvolveram como uma extensão da prática dos exercícios de ginástica que
ocupavam o núcleo principal do preparo do jovem grego e que evoluiu para outras
formas de ginástica: a esportiva, a militar e a médica. A ginástica esportiva se
desmembrou em esporte atlético e atletismo profissional e a ginástica militar e
ginástica médica se desenvolveram sob a influência das instituições congêneres,
provocando a abolição da ginástica antiga e uma revisão desse processo, dos fins
da educação, da paidéia grega.
Pode-se perceber, neste momento, uma nova perspectiva da
educação grega, pois não se trata mais só de formar a mente e o corpo, dentro de
uma perspectiva ética, espiritual e altruísta, é preciso dotá-lo de capacidades e
habilidades que façam do atleta um homem bem sucedido.
Assim, no fim do mundo grego, a cisão entre cultura física e espiritual
foi irreversível, assinalando-se que o período helenístico cristalizou uma teoria da
educação física e deu consistência escolar à sua prática, mas com um espírito que
fez dela um apêndice na formação do homem letrado (BARROS, 1996a).
O grande passo está dado no período helenístico, para que se
conclua, no fim do império romano ocidental, o trânsito entre uma
cultura originalmente de guerreiros para uma cultura de escribas
(Marrou).
Apenas é preciso lembrar que, nos quadros de uma ética de
resultados, os gregos valorizavam, no agón, o êxito. Eles
concorriam para vencer. (BARROS, 1996ª, p. 44)
Souza Neto (1996) observou que os gregos criaram ao seu redor
uma civilização mitológica que a tudo explicava na forma de um círculo mágico,
29
uma mandala, o “destino”, justificando desde o incesto até as tragédias mais
terríveis. Para eles, ganhar os jogos significava igualar-se às divindades, atingir a
sua essência, tornar-se “deus”.
Retornando à pátria, eram tratados como heróis. Cada cidade os
recebia e honrava de uma forma especial. Altos cargos, estátuas
na ágora, isenções fiscais, esfinge esculpida na moeda oficial ou a
maior distinção: ser digno hóspede no Pritaneu. Depois de mortos,
cultivavam-lhes a memória como a deuses; poetas famosos
imortalizavam-nos em odes triunfais. (...)
Durante o período helenístico e, em especial, durante o governo
dos Césares, brilha ainda a chama em Olímpia, por vezes
enriquecida com novos edifícios e ricas oferendas. Mas desde os
séculos III e IV a.D. acentua-se o seu declínio político e religioso.
(BARROS, 1996a, p. 20)
Da mesma forma que a guerra solapava os antigos valores,
aumentando a crise institucional, novas idéias começaram a questionar a
sociedade e as leis tradicionais, assinalando a sua relatividade, o papel dos
deuses e da sorte perante o poder da razão e das potencialidades humanas,
dando passagem para o cristianismo, o racionalismo, o relativismo cultural, bem
como para o Renascimento e o Humanismo.
Na Modernidade, apesar dos questionamentos ao cristianismo,
muitos dos seus valores são incorporados Um novo período se inicia colocando o
Homem no centro das atenções. A essência se desloca do transcendente (Deus) e
se aloja na natureza humana, no sistema natural de cultura, na identificação das
forças que fazem o homem ser assim ou de outro jeito, buscando explorar a
melhor forma de se esgotarem as potencialidades humanas (SUCHODOLSKI,
1984).
30
Nesse modelo centrado na sociedade, uma vez que a essência se
transformou na própria existência social, buscou-se no patrimônio cultural da
humanidade o que era necessário para se viver em grupo, passando para as
novas gerações. No entanto, a desconsideração com a individualidade humana,
com o presente e a vida diária provocou uma nova revisão desse processo na
proposta de um modelo centrado no homem, denominado de existencialismo
(existência).
De acordo com Souza Neto e Hunger (2004), desde o século XVII
até os dias atuais, alguns pensadores (como Rousseau, Pestalozzi, Fröbel,
Nietzsche, Sartre...) defenderam a luta pelo direito à vida, pela liberdade, pelos
ilimitados direitos dos indivíduos, pela criança e pela individualidade. Encontramos
neste contexto, o Barão de Coubertin, culo XIX, de formação humanista, mas
vivendo na confluência dos mundos da essência e da existência. É notório que
ele, em seu projeto civilizador esportivo, faz o resgate do mundo greco-romano,
mas sob a influência da modernidade e do período medieval, mesclando as regras
do cavalheirismo com a utopia dos modernos e a fraternidade do cristianismo
(p.335-362).
Esta alternância pode ser observada no movimento olímpico por ele
instituído, quando trouxe para a atualidade, entre as suas premissas, a busca pelo
amadorismo nas competições; a exaltação da juventude, do esforço físico e das
qualidades morais; bem como, a cada quatro anos, uma competição
“desinteressada” e fraternal, tendo em vista contribuir para o amor e a
31
conservação da paz entre os povos. Como aparece claramente no Juramento do
Atleta . . .
Juramos que nos apresentaremos nos Jogos Olímpicos como
concorrentes leais, respeitosos dos regulamentos que os regem e
desejosos de participar, como espírito cavalheiresco, para a glória
do desporto e a honra de nossas equipes. (RAMOS, 1982, p. 264)
Para Souza Neto e Hunger (2004), Cobertin vislumbrou o seu projeto
civilizador, buscando na chama de Olímpia a esperança de confraternização entre
os povos, de um locus para a juventude, num período de grandes mudanças no
território europeu que estava em formação. Sem este pano de fundo não se pode
entender o projeto utópico do jovem aristocrático (p. 343-344).
Neste período, a Europa foi o berço de grandes acontecimentos,
desde guerras, na demarcação de seus territórios, favorecendo o desenvolvimento
dos sistemas ginásticos, até na organização do conhecimento, como o advento da
biologia, enquanto ciência e da sociologia, como a mais nova área de estudos. A
república passou a ser uma exigência da vida democrática e a revolução industrial
explodiu nos mais diferentes campos da produção humana (SOUZA NETO e
HUNGER, 2004, p. 335-362).
Muito a frente do seu tempo, Cobertin buscou na história da
humanidade os principais laços de conexão para um novo projeto educativo. Esta
ação pedagógica encontrou no mundo helênico a sua principal fonte de inspiração,
acreditando que o esporte, mais que a competição, poderia ser o paradigma desse
novo tempo. Todavia, como muito bem observou Barros (1996b), a diferença entre
o ideal antigo e a proposta do humanista francês era que no seu projeto, o objetivo
32
não era a competição em si, a vitória, mas a participação nesse processo de
socialização, de civilização, de humanização. De modo que . . .
é possível acompanhar uma evolução dos jogos, que se iniciam
como uma expressão amadorística de um ideal de formação
humana pelos valores do atletismo e caminham para uma
profissionalização que, em grande parte, desvirtua o espírito e a
inspiração que os norteiam a ambos.
(...) voltando aos jogos atléticos, seja na sua forma mais pura e
gratuita, ou profissionalizados, há uma diferença básica entre os
antigos e os modernos. Entre aqueles, busca-se nos jogos
olímpicos, píticos, ístimicos ou nemaicos, para citar os mais
importantes – a vitória sobre os competidores presentes: cada jogo
é uma unidade a cada e completa. O atleta disputa com os seus
competidores presentes e tenta vencê-los, para receber o prêmio
simbólico, a coroa de louros ou a própria de cada competição. Nos
jogos modernos, o atleta não compete apenas em diversas
modalidades (até mesmo, sob alguns aspectos, nos jogos
coletivos) com competidores presentes: ele compete também com
o passado. A busca do recorde, a superação dos marcos mais
notáveis obtidos no passado fazem parte da competição atlética
moderna. (BARROS, 1996b, IX-X)
De modo que, no bojo desse processo, a modernidade
7
prefigurou-se
no século XVI, com as grandes navegações e as descobertas de novas terras;
alicerçou-se culturalmente no racionalismo e na ciência da natureza no século
XVII; aperfeiçoou-se na prática com a revolução industrial, ganhando impulso na
doutrina iluminista do progresso e na ascensão da burguesia com as revoluções
americana e francesa; consolidou-se social, econômica e politicamente no curso
do século XIX e consagrou-se no período efêmero, luminoso e ambíguo que foi a
belle époque (KUJAWSKI, 1988).
Entretanto, com a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e a
Revolução Russa (1917) a ‘beleza’ esvaiu-se, trazendo as insatisfações sociais e,
33
sobretudo, constatou-se, na carne, que o progresso não passava de mistificação,
que o avanço tecnológico o correspondia ao aperfeiçoamento moral da
humanidade, desencadeando uma grande crise (ou agonia) numa visão de mundo
chamada modernidade (KUJAWSKI, 1988). `
2.1.1. b O alto rendimento e suas conseqüências ou uma nova
ética para o esporte.
Neste cenário, no século XX, o esporte atingiu a sua hegemonia
como espetáculo global, fazendo emergir os valores da sociedade vigente e uma
série de questionamentos quanto aos seus fins, meios e usos, conforme indaga
Bracht (2002) a respeito de ter havido alguma resistência . . .
A ética esportiva, até bem pouco tempo, envolvia valores relativos
ao trabalho: submissão às regras, autodisciplina, autoconfiança,
busca de rendimento, espírito de competição etc. Dizia-se: o
esporte desenvolve o gosto pela luta, o sentido do esforço, a
solidariedade, abnegação, a coragem, a lealdade, a suplantação
de si próprio, características (valores) que auxiliaram na sua
legitimação social. Mas, se o esporte afirmava, no plano da prática
cultural, valores burgueses, e, com isso, a forma de organização
social sob a hegemonia da burguesia, deveríamos perguntar se
houve algum tipo de resistência cultural e/ou política ao seu
desenvolvimento ou à sua afirmação como forma legítima da
prática corporal. (p. 195)
O esporte por si pressupõe competição; valoriza o resultado final
muito mais que o empenho esportivo; exige a busca do rendimento máximo; utiliza
regras universais e exige dos praticantes um bom nível de performance na
7
O termo modernidade (moderno), do latim ‘modernus’ - dos tempos atuais ou recentes - foi usado pela
primeira vez no final do século V para distinguir o presente, agora, oficialmente cristão, do passado pagão,
34
execução das habilidades específicas, assim, tornou-se uma grande feira de
exposição do sistema sócio-político-econômico, tendo em vista que...
A nossa sociedade tem no esporte uma de suas principais vitrines
do modelo neoliberal que invade o mundo, fabricando os seus
ícones na imagem do vencedor. Na cultura gerada em torno do
vencedor não existe lugar para o segundo colocado, apenas para
o número um, uma espécie de qualidade total a ser alcançada
pelos demais competidores em cada torneio. (SOUZA NETO,
1999, p. 36)
Diferentes escândalos ocorreram nos últimos anos, como o caso de
Carl Lewis, maior nome da história do atletismo norte-americano, que, mesmo
após ter sido pego no exame antidoping, foi autorizado a competir nos Jogos
Olímpicos pelo Comitê Olímpico dos EUA. Segundo dados da Folha Esporte, com
base nas revelações de Wade Exum (diretor de controle de drogas da Usoc, de
1991-20002, em entrevista à revista “Sports Illustraded”), . . .
cerca de cem americanos foram pegos no antidoping, mas muitos
puderam competir nos jogos de Seul-1988, Barcelona-1992,
Atlanta-1996 e Sidney-2000. Esses competidores conquistaram 19
medalhas. (LEISTER FILHO, 2003, p. D1)
Levar vantagem em tudo e a qualquer custo (“Lei de Gerson”), está
presente na sociedade, nas disputas esportivas. uma “escola” invisível
capturando os novos membros da sociedade de consumo, tendo nos pais, nos
treinadores e na mídia o seu maior veículo. A vitória deixou de ser apenas a
medalha, transformando-se numa fachada do vale-tudo para aqueles que
acreditam que o importante é “vencer” ou “vencer” (“will to win”).
(Magalhães, 1998).
35
Alguns outros fatos também foram manchetes nos Jogos de Seul-
1988, no primeiro grande escândalo de doping...
Ben Johnson, aos 27 anos, teve performance avassaladora nos
100 m. rasos, bateu o recorde mundial (9s79), mas perdeu a
medalha por uso de esteróide anabólico. Carl Lewis herdou o ouro.
Em Seul, a performance de Florence Griffith-Joyner também
levantou suspeitas.
A americana foi ouro nos 100 m. e não venceu nos 200 m.,
como quebrou o recorde duas vezes no mesmo dia. Seus tempos
de 1988 (10s49 e 21s34) nunca foram batidos. Marion Jones, atual
campeã olímpica das duas provas, tem marcas bem inferiores
(10s65 e 21s62).
Florence morreu em 1998 após sofrer ataque de epilepsia, ainda
sob suspeita do uso de doping nunca provado. Seu físico e
desempenho em Seul geraram polêmica. O brasileiro Joaquim
Cruz, prata nos 800 m., chegou a dar declarações na época
manifestando as suspeitas.
“Florence era extremamente feminina. Agora parece mais homem
do que mulher”, disse à TV Globo.
“Essas pessoas devem estar fazendo algo anormal para ganhar
tantos músculos.” (LEISTER FILHO, 2003, p. D1)
É possível se ter um posicionamento crítico sobre a utilização desses
expedientes, mas é também fundamental registrar que o esporte possui um alto
valor educativo, se bem utilizado ou mesmo dico, enquanto socialização e/ou de
desenvolvimento humano. O problema virá toda vez que ele for visto apenas como
um fim em si mesmo, ou deixa de colocar o Homem no centro desse processo,
facilitando o aflorar das “taras sociais” relacionadas ao recorde, vitória, sucesso,
num rumo sem limites. Pilatti (2002) de forma objetiva, assinalou que ...
Os gregos, diferentemente de muitos povos que acreditavam que
as performances atléticas eram fruto dos deuses, foram os
primeiros a racionalizar as bases do que hoje denominamos de
treinamento esportivo. Atualmente, estudos altamente sofisticados
é que fornecem a direção dos esportes.
Direção essa que, como sugere Guttmann, muito rompeu os
liames do esporte com a ética e com o humano. A performance
espetacular tornou-se uma espécie de fim único. (p. 71)
36
Nesta visão, o indivíduo se transforma em objeto, mercadoria, digna
de planejamento, investimento estratégico, capital humano. Isto pode ser
observado frequentemente, na especialização precoce no esporte em escolinhas
de iniciação esportiva, valendo lembrar que nem todas têm este objetivo, mas que,
no entanto, é real. Dessa maneira, o que normalmente se observa é a grande
pressão que pais e técnicos exercem sobre os jovens atletas, exigindo resultados
muitas vezes impossíveis de serem atingidos em função das características da
faixa etária (DE ROSE JR, 2002, p. 74). Como exemplo, pode-se citar a tenista
Martina Hingis, cujos pais depositaram nela a expectativa de uma campeã, a
começar pelo nome, homenagem a Martina Navratilova,
Aos três anos a mãe colocou-lhe nas mãos uma raquete. Com 5,
disputou seu primeiro campeonato. Aos 12 anos, ainda juvenil, ganhou em Roland
Garros o primeiro título de Grand Slam. Com 14, tornou-se profissional. Fez 15 e
venceu, em duplas, o primeiro título em Wimbledon. Com 16, embolsou seu
primeiro milhão de dólares em prêmios e, antes de completar 17, deverá ter
embolsado o segundo. (CARDOSO, 1997, p.70).
Hingis alcançou feitos que nenhum homem ou mulher houvesse
conseguido com tão pouca idade, mas aos 21 anos de idade, precocemente,
parou de jogar tênis, em virtude das lesões sofridas; brigou com a mãe e foi morar
sozinha, o que não é nenhuma novidade, pois sabe-se que expor crianças e
jovens às pressões psicológicas da competição e às exigências físicas do esporte
é uma decisão muito delicada. Esta postura que busca somente a vitória, a
37
qualquer custo, pode bloquear, desencorajar a participação da pessoa, lesá-la
física e psicologicamente, pois vencer é importante, mas esse deveria ser um
objetivo secundário no âmbito desse processo. Assim, como a musa do atletismo
Florence Griffith-Joyner morreu na casa dos 30 anos, Ben Johnson se tornou o
“vilão” das Olimpíadas de Seul e Martina Hingis
8
viu sua promissora carreira
terminar, ainda, na adolescência, há muitíssimos outros exemplos e casos dessa
mesma natureza em outros esportes, trazendo a tona a questão dos limites, dos
valores, do certo e do errado, da ética e da moral. (SOUZA NETO e HUNGER,
2004, p. 348-349). Por exemplo:
Minhas amigas e eu jogamos bola juntas. Algumas vezes, porém,
a parte competitiva chega a extremos, tanto dentro do campo
como fora, entre os técnicos, as jogadoras e os nossos pais. É
muito fácil deixar-se levar pela idéia fixa de vencer e de ser a
melhor até o ponto de o esporte não ser mais uma atividade de
lazer e de diversão, mas acaba virando um verdadeiro conflito.
(CIABATINI, 2003, p. 38)
Ao tratar do tema “A criança que prática esporte respeita as regras
do jogo... capitalista”, Bracht (1986, p. 63) parece ter dado uma resposta a esta
questão ao assinalar que “a nova geração é educada em e para uma sociedade
competitiva no qual o princípio de rendimento se impôs”, observando que a
competição no meio social é um reflexo do sistema capitalista vigente. Portanto,
decorrente dos valores adotados como “verdadeiros”.
Bento (1999, p.56) tenta buscar as razões que justifiquem esta
questão dos valores ligados ao desporto, em três momentos primeiramente, ao
8
Martina Hings retornou aos torneios oficiais em 2006.
38
considerá-lo uma instituição, dentro da socialização e reprodução cultural, que
recria e transmite valores essenciais à continuidade da existência da cultura
ocidental; em segundo lugar, porque é a partir de preferências por determinados
valores que se posiciona a favor ou contra o desporto; e, em terceiro, porque
uma associação tradicional do desporto a valores, de maneira que o contexto
esportivo constitui um habitat natural e propício para o florescimento dos mais
diferenciados valores. Mas, segundo o autor, este entendimento é questionável,
pois assim como em outras práticas, no desporto, pode-se vincular valores
positivos como negativos, de forma que, torna-se importante que as reflexões
acerca dos valores no esporte devem abrangê-lo em todas as suas dimensões.
Torna-se claro que, mesmo o esporte ao representar um papel
fundamental, também na consolidação de um ethos comum (criação e reforço de
símbolos e valores) (WERTHEIN, 2004, p.117), apresenta benefícios e riscos
(WERTHEIN, 2004, p.118-119; BALBINO, 1997, p. 34; TANI, 2002, p.107-108;
BENTO, 1999, p. 56; CAPARROZ, 2001, p.35).
Este problema também foi objeto de reflexão para Ciabatini (2003),
no texto “Jogar para ganhar. Mas o que?”, ao observar que, hoje em dia, o
esporte, de maneira geral, “é considerado como um meio para alcançar a fama e
inclusive para ganhar dinheiro” (p.39), não sendo diferente em outras áreas do agir
humano. Inclusive o próprio autor assinala, com muita ênfase que gosta de jogar
bola, futebol, com os seus amigos e “naturalmente faço de tudo para marcar um
gol ou até mesmo, mais de um” (p. 38). Observa-se por esta declaração que o
princípio de rendimento se impôs”, se tornou inerente à própria competição,
39
prática, “naturalizando-a”. Porém, o autor dáum passo a frente” e nos convida a ir
contracorrente, explorando outras formas de relacionamento no esporte, como a
reciprocidade, o que para Bracht seria canalizar, nas aulas de Educação Física,
atividades que permitissem aos educandos vivenciar práticas esportivas que
privilegiassem antes o rendimento possível e a cooperação.
Nesta perspectiva se deveria privilegiar uma mudança de
mentalidade e os objetivos voltarem o seu foco para...
Sensibilizar os adultos sobre o processo competitivo e a
participação da criança nesse processo, suas necessidades,
capacidades e expectativas.
Entender que a criança não é um adulto em miniatura e,
portanto, as competições devem ser organizadas para eles e não
para agradar os adultos.
Proporcionar aos jovens experiências positivas na competição.
Encorajá-los a desenvolver autoconfiança, bem como uma
imagem, valorização e conceitos positivos de si mesmos.
Ajudá-los a desenvolver habilidades interpessoais.
Competir por diversão e apreciar a competição.
Proporcionar um ambiente agradável que permita à criança obter
senso de competência. (DE ROSE JR, 2002, p. 74-75)
Propõe-se assim, uma possível revisão dessa “ética” de resultados,
colocando em questão o seu significado e a moralidade dos fatos, nos levando a
rever estes conceitos.
Para Rios (1996), se ambos os termos indicam costumes, eles nos
apontam para uma dimensão social da ética e da moralidade. Porém, os costumes
estão associados a deveres que se instituem no social e se relacionam com a
norma, a lei, como forma de comportamento que deve ser seguida pela sociedade.
O dever aparece neste horizonte como algo bom, algo que se relaciona com o
bem, sinalizando para o que é considerado correto dentro do grupo social.
40
Neste itinerário, a moral pode ser definida como um conjunto de
valores, de crenças, de princípios, de deveres que norteiam a conduta das
pessoas na sociedade, considerando que....
A ação é considerada boa quando é uma adesão àquilo que é
chamado de bom e é considerada quando há uma recusa
cumprir o dever. A proximidade maior ou menor deste dever, deste
bem, é que faz nossas ações serem chamadas de boas ou más.
Entretanto, costuma-se classificar como imoral a ação que nega o
dever, como se ela tivesse qualquer correspondência com a
moralidade. Na verdade, tanto a obediência quanto a transgressão
são atos morais. Isso implica uma responsabilidade, uma vez que,
diante do dever, nós respondemos, afirmando sim ou não.
Quando “desconsideramos”, ou podemos desconsiderar, o dever,
tal como é colocado para nós na relação com bem, então estamos
num plano que não é mais o plano da moralidade. Há planos de
valoração dentro da cultura, dentro da história, que não são planos
de valoração moral, são planos de valoração lógica, científica,
estética. Avaliamos as coisas como verdadeiras ou falsas do ponto
de vista lógico, as ações como feias ou bonitas de um ponto de
vista estético e como boas ou más do ponto de vista moral. (RIOS,
1996, p. 124-125)
No campo esportivo, a transgressão é considerada má, portanto, um
ato imoral, principalmente se estiver relacionado ao doping, na falta indiscriminada
contra o adversário. Então, o que diferencia a ética da moral?
Se a moral é o conjunto de princípios que norteiam a ação dos
homens, a ética é entendida como a reflexão crítica que o indivíduo faz sobre
estes princípios. A ética passou a ser entendida como a ciência da moral, embora
na prática elas se confundam (SANTIN, 1995, p. 11). Por exemplo, quando se fala
na ética, é uma reflexão, de caráter crítico, que se faz sobre a dimensão da
moralidade.
41
Na moral, encontramos a regra: “faça isto, não faça aquilo”, ande
por este caminho, não ande por aquele. Na ética indagamos: por
quê?”, “Por que não fazer isto ou aquilo?”, Por que seguir
determinado caminho? , “Qual é o significado que isto tem?”, “Qual
é o seu fundamento?”.
Essas perguntas podem ser feitas também no terreno da moral.
Entretanto, ai uma diferença: na moral, as respostas estão
dadas, já se encontram prontas. Quando perguntamos “por quê?”,
na moral, recebemos a resposta estipulada em virtude dos valores
estabelecidos pelos costumes. Quando, entretanto, nossa
indagação tem intenção de buscar os fundamentos dos valores,
sua consistência, estamos no plano da ética, da “ciência do
ethos”, de uma atitude crítica que procura superar o senso comum,
a resposta pronta, as afirmações irrefletidas. (RIOS, 1996, p. 126-
127)
A ética, ao perguntar pelos fundamentos, vai em busca da
consistência dos fatos, pois ao perguntar por que (?) busca-se a raiz da questão,
de sua sustentação, de seus pressupostos. Portanto, não como separar a ética
da moral. A primeira está associada à crítica, ao terreno da teoria, buscando
entender o significado daquele objeto; enquanto que a segunda está vinculada ao
terreno da moralidade que está na prática, na ação, no certo e no errado.
Antigamente, moral e ética eram transmitidas às novas gerações
pelas classes dominantes, pela aristocracia, pelos intelectuais,
escritores e artistas. Era uma época em que os nobres eram
nobres, exemplos a ser seguidos por todos. Hoje isso mudou.
Nossas lideranças políticas, acadêmicas e empresariais não mais
se preocupam em transmitir valores mortais às futuras gerações.
Não existe mais o noblesse oblige, a obrigação dos nobres, como
antigamente. Poetas até enaltecem os nossos “heróis sem
caráter”.
Hoje, quem quiser adquirir valores morais e éticos neste mundo
“moderno” terá de aprender as regras sozinho. (RIOS, 1996, p. p.
20)
Criadora do mundo moderno, a ética do conhecimento, uma vez
compreendida e aceita, é a única capaz de guiar sua evolução, assim, a questão
42
não é mais buscar explicações sobre o fato moral, mas sim, de interpretá-lo na
dimensão histórica da existência humana. (SANTIN, 1995, p.16)
O que nos permite dizer, com muita legitimidade, que o problema
ético tem suas raízes mais profundas nas misteriosas forças que
regem, unem e entrelaçam o jogo do homem e o jogo do mundo.
(p.10)
No geral observa-se que as decisões feitas com base no próprio
interesse levam à desconfiança, medo, desconsideração do outro (participante),
individualização; enquanto que as decisões relacionadas à adesão dos costumes
sociais e leis também são problemáticas, pois não o necessariamente, ou
moralmente, corretas (por exemplo, em época de guerra uma simples ordem pode
resultar no massacre de milhões de pessoas). Mas, se o critério for o melhor para
a maioria das pessoas, enfatizando as qualidades lúdicas do esporte, então a
competição deverá buscar a melhor performance dos competidores, tendo como
parâmetro o respeitotuo, o fair play (jogo limpo), a interdependência, o Homem
como sujeito do processo e não o inverso.
Na visão de Souza Neto e Hunger (2004, p. 354-355), a teoria do
processo civilizador de Norbet Elias (1992) nos ajuda a compreender que . . .
“a relação entre indivíduo e sociedade pode ser esclarecida se
investigarmos ambos como entidades em mutação e evolução, ou
seja, como componentes de um processo” (LUCENA, 2002, p.
120).
43
O que na visão de Gebara (2002, p. 20) nada mais é do que “um
processo ’cego’ (não planejado) e empiricamente evidente”. Em termos práticos,
significa dizer que . . . .
(...) a violência imbricada no cotidiano dos guerreiros cede lugar ao
debate e ao refinamento das atitudes dos cortesãos, (...) violência
e civilização são processos complementares, são formas
específicas de interdependência. (p. 21)
Assim, o esporte não é um espetáculo à “parte”, mas parte de um
jogo de interdependência humana que exige da pessoa procedimentos e formas
de participação dentro desse processo.
No âmbito dessa visão, Hunger e Souza Neto (2002) vão lembrar
que para compreender a sociedade há necessidade do entendimento de que as
pessoas constituem teias de interdependência ou “configurações” de muitos tipos
num entrançado flexível de tensões. O conceito de configuração ou figuração nos
permite diluir o constrangimento de se pensar o indivíduo e a sociedade como se
fossem duas entidades antagônicas e diferentes.
Para Elias (1992), citado por Hunger e Souza Neto (2002), a
configuração significa o padrão mutável que foi criado por um conjunto de
jogadores – não só por seus intelectos - no seu todo, na totalidade das suas ações
em relações que sustentam uns com os outros. Portanto, o fenômeno esportivo
nos oferece este modelo de interdependência e de configuração, nas relações que
se estabelecem entre indivíduo e sociedade, num desafio constante de se buscar
44
pontos de interseção que se complementem, mas que ao mesmo tempo mantêm a
sua especificidade.
2.1.1. c – O esporte e suas novas possibilidades
Ao se tratar o esporte na modernidade, principalmente nas últimas
décadas, percebe-se a atração crescente que ele exerce em inúmeras pessoas, a
adesão à sua prática não para de crescer e não comparação com qualquer
outra prática social, excetuando a do trabalho. Com a chegada e a expansão da
era do estilo de vida, a adesão ao desporto atingiu uma expressão
impressionante, e não vai parar por aí, ele tem muito por onde se estender, de
“(...) um desporto de entretenimento e espetáculo do fim de semana evolui-se para
uma cultura do quotidiano.” (BENTO, 1999, p.51). Um dos aspectos que deve ser
considerado na atualidade é abordado por Moreira (2002):
Durante o século XX, o esporte, em razão da sua amplitude e
complexidade, foi identificado como um dos principais fenômenos
sociais. na segunda metade desse século, outro tema ganhou
expressão – qualidade de vida (...). (, p.5)
O esporte sob essa perspectiva toma uma nova forma, torna-se um
campo diferenciado, uma esfera social diferenciada das outras, podendo ser
tratada como uma área do lazer, um lazer que possui certas peculiaridades, um
lazer especial, que exige certo domínio, um entendimento de certas regras.
(DAMATTA, 2004, p.34) Segundo o autor, as atividades esportivas e artísticas
subvertem a relação entre meio e fim, provenientes do nosso sistema capitalista,
45
onde os fins são mais importantes que os meios. O lazer é visto como um
contraste relativo com o trabalho,
O lazer também é obrigatório na sociedade moderna, quer dizer,
tudo que é moderno, não se iludam, é obrigatório. Até o lazer é
obrigatório. (...) As atividades esportivas são modernas no sentido
de que são rituais que têm um tempo para começar e um tempo
para terminar. (p. 37)
uma rie de convenções provenientes do mundo esportivo, dele
muito se pode subtrair, porque ele trata desses elementos que são formadores de
comportamentos sociais. uma amplitude grande desses comportamentos e
convenções que poderiam ser aqui analisados, mas algo que deve ser
considerado de maneira significativa.
Diversas são as possibilidades oferecidas pelo esporte,
principalmente nos tempos atuais, como foi descrito anteriormente, e dentre
suas ofertas positivas encontra-se inserida a questão do prazer”, do significado
que o esporte tem para o indivíduo que o pratica. Mesmo quando o indivíduo
busca o esporte com diversos objetivos, que para si estão claros, como aquisição,
conservação e fortalecimento da saúde, estar e conviver com outras pessoas,
gosto pelo risco, aventura, desafio, dentre inúmeros outros que poderíamos aqui
indicar, para alguns autores (FERREIRA, 2002, p.49, BENTO, 1999, p.52 e TANI,
2002, p.112), aspectos afetivos, de diversão, de prazer e o sentido desta prática
para o indivíduo são mais significativas que quaisquer outras questões que o
esporte possa abranger. Portanto, “(...) a prática adequada do esporte requer (...)
seu significado social e cultural para o praticante.” (TANI, 2002, p.112)
46
(...) a idéia de esporte como atividade metódica e regular se
associa a resultados concretos no que se refere à autonomia dos
gestos, à mobilidade dos indivíduos, o que parece ter muito
sentido. Entretanto, os gestos humanos não São apenas
resultados das articulações dos ossos. Isso significa que o e
esporte, como um direito de todos, acontece se tiver sentido
para o indivíduo, inclusive de diversão. (FERREIRA, 2002, p.49).
Após apresentar o esporte nas suas mais distintas abrangências e
configurações, buscaremos apresentar, a seguir, a sua inserção no cenário
nacional, inclusive no âmbito escolar.
2.1.2 – O esporte na realidade brasileira
Betti (1991) relata que o início da esportivização, no Brasil, ocorreu
por volta dos anos 50 e 60, com a substituição de exercícios militares pelo jogo de
competição, visando tornar as aulas mais prazerosas e alcançar os objetivos da
Educação Física como saúde, desenvolvimento intelectual, desenvolvimento
moral. Neste período as publicações de cunho político-ideológico foram
substituídas por artigos de investigação científica. Portanto, é nesse momento que
se enraíza o modelo esportivista ao se acreditar que através do jogo o aluno se
desenvolve e se manifesta plenamente; o jogo propicia o senso de
responsabilidade e de coletividade, preparando-o para a vida que nada mais é do
que jogo e competição.
Este processo se perpetuou até meados dos anos 80, com diversas
políticas públicas sendo desenvolvidas e objetivando a esportivização em massa;
dando oportunidade a todos”, independente de classe social e condição
47
econômica; transformando a escola em um celeiro de talentos. Um desses
exemplos é a citada Lei 6251/75, onde ao Poder Público caberia facilitar
ações e recursos para a prática do desporto e a expansão do potencial existente.
No Estado de São Paulo esta proposta foi disseminada,
particularmente, nas Resoluções SE 14, de 18 de fevereiro de 1971 e SE11,
de 18 de novembro de 1980 quando trataram da criação e regulamentação das
turmas de treinamento na Educação Física das escolas públicas estaduais de
ensino fundamental e médio, visando a participação dos alunos em campeonatos
oficiais, olimpíadas estudantis, intercâmbios esportivos e outras formas de
competição na rede escolar, que hoje tem uma nova denominação: Atividades
Curriculares Desportivas, e é regulamentada pela Resolução SE nº 173/2002.
Esta idéia ganhou força com a reformulação do Desporto Nacional
(Decreto 91452/85, regulamentado pela Portaria Ministerial 598/85), pois se
considerou o Esporte como um dos fenômenos mais importantes do final do
século XX, devendo constituir-se em DIREITO DE TODOS. Conceituou-se o
Esporte no Brasil como uma...
atividade predominantemente física, que enfatize o caráter
formativo-educacional, seja obedecendo à regras pré-
estabelecidas ou respeitando normas, respectivamente em
condições formais ou não formais; abrangendo três manifestações
esporte-educação, esporte-participação e esporte-performance.
(BRASIL, 1985, s/n.)
Com relação ao esporte-educação Brasil (1985) assinalou que este
abrange toda a população, pois se trata de um...
48
meio de descoberta e desenvolvimento de futuros participante do
esporte-performance, propiciando todas as condições favoráveis
para que suas capacidades psicomotoras sejam contempladas
com programas efetivos e vivências desportivas de acordo com as
indicações de suas faixas etárias. (s/n.)
Sobre esta descrição Tubino (1999, p. 27) a completará observando
que o “esporte-educação tem um caráter formativo”, pois se “baseia em princípios
educacionais, como participação, cooperação, co-educação, integração e
responsabilidade”. Porém, no que diz respeito às outras duas manifestações, o
autor assinalará que:
O esporte-participação ou esporte popular, por sua vez, se apóia
no princípio do prazer lúdico, no lazer e na utilização construtiva do
tempo livre. Esta manifestação esportiva não tem compromisso
com regras institucionais ou de qualquer tipo e tem na participação
o seu sentido maior, podendo promover por meio dela o bem-estar
dos praticantes, que é a sua verdadeira finalidade.
O esporte-participação, pelo envolvimento das pessoas nas
atividades prazerosas que oferece, ainda proporciona o
desenvolvimento de um espírito comunitário, de integração social,
fortalecendo parcerias e relações pessoais. Ele propicia o
surgimento de uma prática esportiva democrática, que não
privilegia os talentos, permitindo o acesso de todos. É a
manifestação do esporte que mais se aproxima do jogo, sem
esquecer as suas ligações com a saúde.
(. . .), o esporte-performance ou de rendimento, que muitos
chamam de esporte de alto nível ou alta competição, foi a
manifestação esportiva que norteou o conceito de esporte durante
muito tempo, e hoje representa apenas uma parte da abrangência
desse conceito. Foi a partir do esporte de rendimento que surgiram
o esporte olímpico e o esporte como instrumento político-
ideológico.
O esporte de rendimento é disputado obedecendo rigidamente às
regras e aos códigos existentes, específicos de cada modalidade
esportiva. Por isso é considerado um tipo de esporte
institucionalizado, do qual fazem parte federações internacionais e
nacionais que organizam as competições no mundo todo. (p. 27-
28)
49
Para Tubino, (1999, p. 26) estas manifestações do esporte (esporte-
educação, esporte-participação e esporte-performance) representam as suas
dimensões sociais. Segundo o autor, o esporte ganha essas dimensões a partir da
Carta Internacional de Educação Física e Esporte, publicada em 1978 pela
UNESCO, que estabelecia que a atividade física ou a prática esportiva, assim
como a educação e a saúde era um direito de todos. Documento este que serve
como referência em todos os países do mundo, inclusive no Brasil, com a inclusão
deste tema no texto da Constituição de 1988. (p. 25 e 26).
Segundo este autor, em 1964, reconheceu-se pela primeira vez que
havia outras manifestações do esporte, além do rendimento. Foi quando Philiph
Noël-Baker assinou o Manifesto do Desporto, após os Jogos Olímpicos de Tóquio,
“(...) admitindo também a existência de um esporte escolar e de um esporte do
homem comum, (...)” (p. 25)
Embora haja esta compreensão quanto à dimensão social do
esporte, este recebe questionamentos em relação à “ideologia”, que traz
subjacente, ao se considerar que...
A concepção técnico-esportiva (...) busca contribuir com o
sistema esportivo no sentido mais geral, ou seja, na descoberta e
fomento do talento esportivo, através da introdução e adaptação
de todos à cultura esportiva. O interesse dos profissionais em
desenvolver esta concepção, é claramente orientado no
rendimento esportivo nos padrões do esporte de alto rendimento.
(KUNZ, 1994, p.100);
(...) o esporte como conteúdo hegemônico impede o
desenvolvimento de objetivos mais amplos para a Educação
Física, tais como o sentido expressivo, criativo e comunicativo.
(KUNZ, 1989 apud DARIDO, 2001, p.17);
(...), podemos dizer que a socialização através do esporte
escolar pode ser considerada, em nossa sociedade, como uma
50
forma de controle social, pela adaptação do praticante aos valores
e normas dominantes. (BRACHT, 1986, p.62);
O fato é que em geral há a crença de que o esporte é
apenas para quem tem talento, ainda que estes sejam minoria. Por
conta disso, quantas crianças têm sido submetidas a um tipo de
pedagogia que não respeita as diferenças, que elege os resultados
em curto prazo como objetivo e apenas a competição como
referencial de avaliação do aprendizado? (...), penso que uma
pedagogia comprometida apenas em revelar talentos e formar
campeões tende a não se comprometer com os fenômenos
humanos, (...) (SANTANA, 2002, p.176-180)
As descrições apresentadas podem corroborar com uma visão crítica
a respeito do esporte, mas não se pode negar que haja outros dimensionamentos.
O esporte, enquanto uma prática social, também apresenta uma “pedagogia
social” que abarca elementos da subjetividade humana presentes tanto na
competição, quanto na cooperação. Dentro deste contexto, caso não se saia dos
dogmatismos . . .
(...), nega-se a possibilidade de se olhar a competição como
elemento passível de ser construído em outros patamares que não
o existente, retirando-se, a priori, a possibilidade de tratá-la
pedagogicamente. Tratamento pedagógico esse que venha nela
particularizar o princípio do competir com, no lugar de competir
contra; que contemple as diferenças sem camuflá-las, respeitando
e valorizando-as igualmente. Dessa maneira, a competição
esportiva presente no espaço escolar tende a distinguir-se daquela
realizada em outros campos pois, diferentemente daquela, deve
estar comprometida com os objetivos da instituição escolar e não
com os da instituição esportiva, (...) (CASTELLANI FILHO, 1998,
p.55-56);
Nesta direção, mas com outro olhar, Paes (1997), preocupado com a
competição precoce, observará que a iniciação não é a especialização em uma
determinada modalidade, considerando que “na iniciação não deve haver
competição, pois neste primeiro momento a massificação deve estar presente, e
não tem sentido o afunilamento existente (p.54). Como exemplo desta
51
compreensão, o autor aponta, a título de explanação, que na faixa etária dos 07
aos 12 anos haveria dois momentos no contexto da iniciação: primeiramente,
objetivando o desenvolvimento motor da criança e posteriormente, oferecendo ao
aluno a oportunidade de conhecer o maior número de modalidades, para em
seguida, iniciá-lo na que ele escolher. Somente depois destes dois momentos é
que se daria a preparação para a competição em uma modalidade específica.
Entrando nesta discussão, Caparroz (2001), com base em estudos,
chamará a atenção para a questão cultural dessa prática social, considerando a . .
(...) reflexão sobre a constituição desta prática social (esporte)
como forma cultural construída pelos homens que foi sendo
assimilada e valorizada pela sociedade, tornando-se um elemento
fundamental da cultura (corporal) e que, por isso, passa a ser
apropriada, incorporada pela escola como um conhecimento a ser
transmitido. (p. 35)
Para o autor muitos mal-entendidos e equívocos provocados
pelas críticas e interpretações exacerbadas sobre o esporte, pois o uso ou a
absorção radical e/ou simplista podem ter provocado esses problemas,
inclusive, como por exemplo, “esporte bom e esporte mau”.
Sobre o assunto, Tani el alli (1988) observou que a compreensão de
como os fenômenos sociais agem sobre o ser humano e como este responde,
detecta como a “competição pode ser percebida através dos tempos. (...) Esta
competição pode ser pura, relativa, impessoal, criativa e direta.”(p.131) e que ela
pode apresentar um esforço do ser humano num sentido construtivo, ao mesmo
tempo que pode ser também um processo destrutivo.
52
Nesta mesma perspectiva, Betti (1988) assinalará que as virtudes e
os vícios da competição estão presentes em sua origem, no desejo de fazer o
melhor, para si mesmo e para testemunhas, tendo como referência padrões,
objetivos ou o confronto com um adversário. Entretanto, citando Belbenoit (1976),
lembrará . . .
que há duas formas inadequadas de responder à questão: ver
apenas os defeitos da competição de alto nível, sem considerar o
que ela traz de bom ao atleta, ou atribuir todos os desvios a
corrupções vindas de fora a sociedade de consumo, o
chauvinismo, etc (p.50).
Numa outra passagem buscará resposta para este problema ao
colocar que...
Parlebas (citado por Belbenoit, 1976), esclarece o caráter dialético
do esporte:
O desporto não possui nenhuma virtude mágica. Ele não é em si
nem socializante nem anti-socializante. É conforme: ele é aquilo
que se fizer dele. A prática do judô ou do guebi pode formar
tanto patifes como homens perfeitos preocupados com o ‘fair
play’... (p.114) (p.51)
Portanto, fazer da prática esportiva, ou do esporte, o “algoz” da
sociedade ocidental sem uma reflexão mais pontual, significa ignorar o esporte
enquanto um fenômeno social. Concorda-se com Parlebas e Betti, pois oesporte
é aquilo que se faz dele nos projetos, (ou ) programas escolares ou em qualquer
local onde ele aconteça.
No cenário nacional, as próprias entidades governamentais
reconheceram - Decreto 91452/85 e Portaria Ministerial 598/85, que,
53
historicamente, o esporte era entendido com uma visão limitada, numa perspectiva
apenas do esporte de alta competição (BRASIL, 1985).
(...) a negação do esporte na sua relação com a educação física
deveu-se, fundamentalmente, em razão da adoção de uma
concepção simplista do esporte, orientada unicamente ao
rendimento. (TANI, 2002, p.112)
Talvez seja este o grande equívoco, reduzir a “iniciação esportiva”
apenas ao ensino especializado de uma modalidade esportiva e com o objetivo
focado no resultado. Porém, há necessidade que a mesma seja melhor
compreendida em seu processo. Esta questão será tratada no próximo tópico.
2.2 – A Iniciação Esportiva
Em virtude das divergências expostas anteriormente, faz-se
necessário apresentar como vem sendo tratada a Iniciação Esportiva em nossa
realidade. Diversos são os fatores que comprometem tanto a compreensão, como
a utilização/aplicação ideal da Iniciação Esportiva.
Entre elas podemos citar, após analisar alguns estudos, que na
prática ocorre uma precocidade com a introdução da criança na Iniciação
Esportiva, bem como, na especialização de uma modalidade, isto é, a idade
ideal, indicada pela literatura e apontada pelos próprios professores de Educação
Física, para esta iniciação não corresponde à idade real, ao que de fato ocorre
na prática. (ARENA E BÖHME, 2000, p.193 e SILVA et al., 2001, p.52)
54
Segundo Arena e Böhme (2000, p.185), a literatura recomenda a
fase dos 7 aos 12-13 anos para uma etapa de iniciação e formação básica geral,
indicação que se aproxima do resultado apresentado por Silva et al. (2001, p.49)
que aponta para a faixa dos 8-12 anos para desportos individuais e a faixa de 10-
12 anos para as modalidades coletivas. Sendo que nos estudos de Silva et al.
(2001, p.50), a idade real para modalidades individuais é de 5-8 anos e para
modalidades coletivas é de 7-10 anos, enquanto que nos estudos de Arena e
Böhme (2000, p. 189), o início da prática específica de uma modalidade (voleibol)
vem acontecendo em idades abaixo das recomendadas pela literatura (1-2 anos
antes), diretamente relacionadas com as idades da primeira categoria da
federação.
Outro fator que podemos apontar, segundo Betti (1995, p. 27-28), é
que no contexto escolar, além do privilégio do conteúdo esportenas aulas de
Educação Física, o que se é a utilização reduzida/restrita de modalidades
esportivas pelos professores. Segundo a autora, não o que se discutir sobre o
aprendizado de esportes, um fenômeno da cultura corporal do movimento, nas
aulas de Educação Física, mas sim, questionar e tentar compreender o
posicionamento de professores que se utilizam apenas de um ou de alguns
esportes em detrimento de outras diversas modalidades, bem como, sugerir
formas de utilização de outros conteúdos. (p.25 e 30). Estes apontamentos podem
ser um dos aspectos que vêm justificar o afastamento de crianças e jovens das
atividades físicas, como vamos explicitar mais adiante, em virtude do
desconhecimento das suas diversas possibilidades.
55
Em outros momentos deste estudo, fez-se alusão às características
da sociedade atual para justificar e compreender algumas transformações
ocorridas com o esporte, em todas as suas manifestações. Mais uma vez trazer à
tona algumas dessas características nos auxilia nesta compreensão da
significância e do papel da Iniciação Esportiva.
Assim, quando Bento (1999) afirma que
(...) não exista um quadro uniforme da geração jovem e do seu
modo de lidar com o corpo, com o movimento e o desporto. Pelo
contrário, que contar com uma crescente heterogeneidade das
culturas juvenis. Sem esquecer que os estilos de vida e acção dos
jovens são marcados pela precariedade temporal: aquilo que
ontem estava na moda pode hoje ter sido sacrificado ao espírito
do tempo. (p. 98)
O autor tem o intuito de justificar a significação do esporte para as
crianças e os jovens, pois, segundo De Knop (1998, apud BENTO, 1999, p.98-
99), dois grupos extremos de crianças podem ser identificados hoje, o que não
pratica qualquer atividade física e o que se dedica intensamente aos treinamentos.
Segundo Bento (1999), os problemas no desporto infanto-juvenil e
sua gravidade são de grande monta, pois é crescente o abandono de
adolescentes, principalmente as meninas, além de um desinteresse pelo desporto
organizado, não descartando também “(...) o descrédito ético e moral, para que o
desporto se deixou arrastar, (...)“, o que provoca um questionamento sobre o
desporto ser um meio de educação de crianças. (p. 99-100)
56
O presente e o futuro do desporto de crianças e jovens suscitam,
portanto, grandes preocupações, que devem desaguar em estudos
e medidas tendentes à sua melhoria e aperfeiçoamento. A grande
aposta deve ser a de incrementar a qualidade à luz de parâmetros
de ordem pedagógica, visando eliminar confusões e equívocos. (p.
100)
Na mesma linha de raciocínio das características da modernidade
(ou pós-modernidade), “O fascínio do jogo é superado pelo fascínio da
comodidade.” “Aquilo que sempre foi uma experiência corporal, transforma-se
agora numa experiência informática.”
9
(GARCIA, 1999, p. 144) Isto significa
que a criança se sente atraída pelas diversas facilidades que o jogo virtual
promove, como por ex., a possibilidade de alterar o nível de dificuldade do jogo
caso não se possa vencê-lo, a ausência do esforço físico, entre outras.
Para Garcia (1999), o gostoda vitória ou da derrota não é sentido
com tanta intensidade, pois a criança está sozinha, o sentimento de ser vitoriosa
ou derrotada não é complementado pelo sentimento contrário do oponente - a
máquina. (p.145) Assim, a “(...) superação deixa de existir e com ela uma das
categorias mais importantes contida no desporto e na história da humanidade.
(p.145) Portanto, nas vivências dessa criança, ela se priva das reais emoções da
vitória e da derrota, da superação nas dificuldades e da atividade (esforço) física.
Após esta tentativa de pontuar a Iniciação Esportiva enquanto uma
ação, questiona-se: somente estes apontamentos o suficientes para alcançar
este objetivo? será que se tivéssemos uma clara definição e utilização da Iniciação
Esportiva, estas “complicações” não seriam sanadas?
57
2.2.1 – Iniciação Esportiva: alguns conceitos
No tópico anterior, alguns exemplos dentre diversos, foram
apontados com o objetivo de demonstrar as transformações que o esporte vem
sofrendo, o que automaticamente, influencia as formas de apropriação da
Iniciação Esportiva.
Embora em determinado momento, constatou-se que as alterações
sociais globalização, sociedade capitalista regida pela competitividade, afetam
diretamente a Iniciação Esportiva, e que, estas constantes modificações
alimentam a sua indeterminação. Entende-se que é possível creditar grande parte
disso à dificuldade em obter um consenso sobre a sua conceitualização, a sua
definição. Até mesmo para que pudéssemos esclarecer sob qual conceito de
Iniciação Esportiva referendaríamos os processos deste estudo.
O termo Iniciação Esportiva”, composto por estas duas palavras,
não é contemplado por Barbanti (1994) em seu Dicionário da Educação Física e
do Esporte, assim buscou-se, inicialmente, o significado das duas palavras
separadamente.
9
O grifo é nosso.
58
QUADRO VI – Significado de Iniciação / Esporte e afins
PALAVRA
AUTOR
Barbanti (1994)
Ferreira (1961)
Tubino (1999)
INICIAÇÃO
É o processo cerimonial que
assinala que indivíduos
adquirem uma nova posição ou
se tornarem novos membros de
um grupo. O processo de
iniciação deve indicar,
independente do processo de
aprendizagem (socialização)
que uma pessoa pode
responder a certas exigências
ligadas à sua posição e ao
grupo, portanto, pode ter suas
expectativas correspondidas.
(p.166)
s.f. Ato ou efeito de iniciar;
recebimento das primeiras noções
de coisas misteriosas ou
desconhecidas; . . . ; ato de
começar qualquer coisa; (Etnol.)
processo ou série de processos,
correspondentes às diversas
classes de idade, e em que os
jovens são iniciados nos ritos, nas
técnicas e tradições da tribo e
assim preparados à admissão na
comunidade dos adultos.
ESPORTE
Uma definição precisa do
Esporte é impossível devido a
grande variedade de
significados. Quase tudo que é
entendido sob o termo Esporte
é menos determinado por
análises científicas em seus
domínios do que pelo uso diário
e desenvolvimento histórico e
transmitido pelas estruturas
sociais, econômicas, políticas e
judiciais. Para os sociólogos do
Esporte uma definição bastante
aceita diz: “é uma atividade
competitiva, institucionalizada,
que envolve esforço sico
vigoroso ou o uso de
habilidades motoras
relativamente complexas, por
indivíduos cuja participação é
motivada pela combinação de
fatores intrínsecos e
extrínsecos”. (p.109)
s.m. Prática metódica dos
exercícios físicos; desporto;
adapt. Do inglês: sport
O termo esporte vem do século
XIV, quando os marinheiros
usavam as expressões “fazer
esporte”, desportar-se ou “sair
do porto” para explicar seus
passatempos que envolviam
habilidades físicas.
DESPORTE
s.m. Recreio, diversão; esporte,
forma paralela: desporto
JOGO
É uma forma de competição
prazeirosa cujo resultado é
determinado por habilidades
motoras, estratégias, ou
chances, empregadas
simplesmente ou em
combinação. (p. 175)
s.m. Brinquedo, folguedo;
divertimento; passatempo sujeito
a regras e em que, por vezes, se
arrisca dinheiro; regra que devem
ser observadas quando se joga; .
. .
O mais próximo do esporte-
participação ou esporte popular.
Apóia-se no prazer lúdico, no
lazer e na utilização construtiva
do tempo livre. Não tem
compromisso com regras
institucionais ou de qualquer
tipo.
Ainda na busca dessa compreensão, outros termos e significados
apontados por Barbanti (1994) nos chamaram a atenção, como estes dois a
seguir:
59
EDUCAÇÃO MOTORA: Atividade didática e pedagógica que
objetiva iniciar, desenvolver e aperfeiçoar a capacidade de
movimento de um indivíduo, bem como formar uma série de
valores acerca do mesmo. (p.92)
ESPORTE PARA CRIANÇAS E JOVENS: Atividades físicas para
crianças e adolescentes dentro do contexto esportivo. As
experiências esportivas competitivas têm treinos organizados, com
técnicos e professores, e com competições/jogos programados.
Normalmente são realizadas em clubes esportivos em menor
escala nas escolas. A participação nas atividades esportivas
começa em diferentes idades dependendo do tipo de Esporte.
Principalmente por razões biológicas, o Esporte Para Crianças e
Jovens é dividido em várias categorias, normalmente por faixas
etárias. (p.109)
Dessa forma, também a utilização de termos diferentes para
conceitos parecidos, isto é, a falta de unidade sobre o termo a ser utilizado, podem
estar corroborando com a problemática que envolve a questão da Iniciação
Esportiva.
Inclusive, alguns dos autores consultados, ao fazer alusão a este
universo, utilizam-se dos mais diversos termos, como: “iniciação/formação
esportiva”, “escola de esportes gerais (poliesportivas)” (ARENA E BÖHME, 2000,
p. 187-187); “aprendizado desportivo” (SILVA ET AL, 2001, p.46); “formação
desportiva corporal geral” (BENTO, 1989, apud SHIGUNOV, 2000, p. 46);
“aprendizagem desportiva” (TANI ET AL, 1988, p.90); “preparação básica ampla”
(HOLLMANN e HETTINGER, 1983, p.569) e “formação básica geral” (WEINECK,
1999, p.58).
Excepcionalmente, Faria Junior (1999), nos aponta conceitos de
alguns autores para Iniciação Desportiva:
60
A iniciação desportiva é por muitos considerada o primeiro contato
com a criança com um dado desporto. Seu objetivo principal seria
‘o desenvolvimento e a aprendizagem das capacidades,
habilidades e conhecimentos necessários ao desportista para que
obtenha níveis ótimos de rendimento futuro . . .’ (CHIVIACOWSKY,
MATTOS, 1988, p.193, apud FARIA JUNIOR, 1999, p. 332)
A iniciação desportiva é entendida por Domingo Blásquez Sánchez
(1986) como ‘o período em que a criança começa a aprender de
forma específica a prática de um ou vários desportos (geralmente
a partir dos 9 10 anos)’ (p.35). Entretanto, como o próprio autor
reconhece, esse conceito não é consensual. (p. 331)
Faria Junior (1999) busca mostrar então, a discordância de outros
autores sobre o que é a iniciação desportiva e como ela deve ser utilizada.
Para uns a iniciação desportiva abarcaria uma fase lúdica em que
o jogo seria dominante. Para outros, essa fase lúdica não seria
considerada iniciação desportiva, uma vez que esta implica a
adoção de concepções do treino desportivo. (p. 334)
Considera também que uma apropriação inadequada das obras
de alguns autores estrangeiros, pela tradução ou por uma leitura não muito atenta,
como por ex., sobre o significado do termo esporte, que na Alemanha está
relacionado a “(...) atividades recreativas e de educação física.” (p.335) e não ao
desporto, entendido aqui como desporto de competição.
A inclusão de jogos preliminares na fase de iniciação, com o objetivo
de dar fundamentos para diversos desportos, “(...) procurando tornar educativa a
iniciação, aproximando-a do jogo e afastando-a da rigidez do treino desportivo.” (p.
335), defendida por uns, é contraditória para outros que acreditam que esse tipo
de atividade não pode ser caracterizada como iniciação desportiva. (p. 335)
61
Outros autores, de forma categórica, não reconhecem a fase dos
jogos e das atividades recreativas como integrando a iniciação
desportiva. . . . a iniciação desportiva autêntica carrega implícita
um princípio de especificidade, como base de uma futura
especialização: (. . .) (p. 335)
O próprio autor, Faria Junior (1999), não aprova a utilização do jogo
popular infantil, “(...)colocando-o a serviço do desporto, pela perspectiva da
iniciação desportiva. “(...)não concebemos, nem incluímos a fase lúdica, na qual
o jogo é dominante, como iniciação desportiva.” (p. 335-336)
Capinussú (s/d, p. 86) aponta para uma confusão de terminologia
no que diz respeito à Iniciação Desportiva (ensino do “alfabeto do desporto”, “dos
fundamentos primários”) e no que ele chama de Escolinha (aprimorar-se,
aperfeiçoar-se). Ele apresenta uma concepção bastante clara sobre esta questão,
indicando que
Na escolinha, . . . os jovens atletas (notem bem, são atletas)
deverão demonstrar conhecimento daquela modalidade com a
qual estão comprometidos. Portanto, na iniciação desportiva,
conforme a própria denominação evidencia, o começo de um
trabalho; na escolinha o estágio é mais avançado; (p.86)
Mesmo tentando sanar as confusões sobre o entendimento e o uso
da Iniciação Esportiva, percebeu-se que não há, de fato, um consenso a respeito,
mas que a mesma envolve o conteste e o jogo e que aparece relacionada ao
esporte.
62
2.2.2 – O conteste, o jogo e o esporte
Edwards (1973) propõe uma definição destes dois fenômenos,
primeiramente, ao apontar que atividades comuns permeiam o conteste, o jogo e o
esporte (antecedidos pelo brincar e pela recreação), como por ex. - são atividades
onde os participantes não podem começar nem terminar quando desejarem, eles
não têm a prerrogativa para limitar a atividade no tempo e no espaço, têm a
característica de serem utilitárias no produto (ênfase na consecução de objetivos
econômicos, prestígio, poder, status, auto-estima), onde a competição é
necessária e são atividades caracterizadas por regras formais ou informais,
controle, restrições ou limitações que devem ser seguidas.
Para Edwards (1973), conteste ou partidas, de um modo geral,
“giram em torno da demonstração e da excelência individual em velocidade,
resistência, precisão, força, coordenação e/ou acuidade mental” (p.10-11). no
jogo espaço para a espontaneidade, porém esta espontaneidade é marcada
por uma estrutura criada pelas regras, cujo objetivo é testar as habilidades dos
participantes em uma situação tanto formal como informal. Seus objetivos podem
envolver testes de habilidade física e/ou ingenuidade mental e mais adiante este
teste é tipicamente combinado em uma situação de interação e representação
coletiva, com as conseqüências do jogo sendo compartilhadas pelos membros das
coletividades envolvidas (p.12), enquanto que o autor observa que o esporte,
sendo um esforço formal, racional e dirigido a metas pré-estabelecidas “dá pouca
oportunidade para a fantasia ou faz-de-conta porque suas atividades, na maior
63
extensão possível, constituem-se em esforços calculados e racionalmente
planejados” (p.16).
QUADRO VII – Brincadeira, Recreação, Conteste, Jogo, Esporte
(COMPARAÇÕES DAS ATIVIDADES INDICADAS PELOS CONCEITOS DISCUTIDOS)
ATIVIDADES INDICADAS PARA A (O):
ATRIBUTOS DETERMINANTES
BRINCAR
RECREAÇÃO
CONTESTE
JOGO
ESPORTE
01 Atividade exclusiva dos interesses e influências que
emanam de fontes externas do CONTESTE no
ato....................................................................................
X
02 – Existência de fantasia ou faz-de-conta .............................
X
03 – Os participantes começam a atividade ao desejarem ......
X X
04 – Os participantes limitam a atividade no espaço e tempo .
X X
05 – Os participantes terminam a atividade ao desejarem ......
X X
06 A atividade não é necessariamente utilitária no produto
(pode ser destituído de interesse econômico, material,
prestígio, poder ou status/metas) ....................................
X
X
07 – A competição não é um elemento necessário ..................
X X
08 Atividade caracterizada por um grau necessário de
espontaneidade (não restrita por regras formais ou
informais de procedimento)..............................................
X
X
09 A relevância das funções (papéis) restrita aos limites da
atividade ..........................................................................
X
X
X
10 – Orientada e enfocada individualmente .............................
X X X
11 Envolvimento dos participantes na atividade é
necessariamente voluntário ............................................
X
X
X
12 – Não existe um arranjo hierárquico formal e imperativo das
funções e posições ...................................................
X
X
X
X
13 – O esforço físico não é um componente necessário .........
X X X X
14 A preparação para a participação na atividade não é um
componente necessário ..................................................
X
X
X
X
15 Uma história formalmente estabelecida ou tradição não é
necessária ....................................................................
X
X
X
X
16 – Atividade que inclui os interesses e influências emanados
de fontes externas do contexto da atividade .
X
X
X
X
17 – Inexistência de fantasia ou faz-de-conta ..........................
X X X X
18 - Os participantes não podem começar a atividade quando
desejarem .......................................................................
X
X
X
19 - Os participantes não podem terminar a atividade quando
desejarem .......................................................................
X
X
X
20 – Os participantes não têm a prerrogativa para limitar a
atividade no tempo e no espaço ....................................
X
X
X
21 Atividade utilitária no produto (ênfase na consecução de
objetivos econômicos, prestígio, poder, status, auto-
estima) ............................................................................
X
X
X
22 – A competição é um componente necessário ....................
X X X
23 Atividade necessariamente caracterizada por regras
formais e informais, controle, restrições ou limitações
que devem ser seguidas ................................................
X
X
X
24 Atividade não necessariamente voluntária; pode ser
forçada ...........................................................................
X X
25 A relevância da função (papel) não se restringe à
atividade ..........................................................................
X X
26 – Atividade de caráter necessariamente coletivo ................
X X
27 A preparação para a participação na atividade é
necessária .......................................................................
X
28 – História formal, registros reconhecidos e tradição ...........
X
29 – O esforço físico é um componente necessário ................
X
30 Arranjo hierárquico formal e imperativo das funções
(papéis) e posições ........................................................
X
(EDWARDS, 1973, p. 18)
64
Bento et al (1999) se recusa a aceitar o argumento de que no jogo
não tem seriedade, segundo eles, “conceptualizamos o jogo como um momento
sério da vida (também ela um próprio jogo)”. Embora a palavra jogo tenha sido
preferencialmente utilizada para indicar atividades generalizadas, dele não se
pode excluir a luta, o esforço, o rendimento, a superação, pois ele perderia o
humanismo. (p.147)
Ainda nesta mesma direção Souza Neto (1992), aponta que as
características mais salientes da partida e/ou contestes são “... suas formas puras,
individuais (tanto nos esforços quanto nos resultados, conseqüências)” (p.27),
enquanto que o jogo . . .
(...) circunscreve-se na atividade lúdica de esforço físico e/ou
mental, cujo desenvolvimento se através de regras formais ou
informais, porém que não possuem a sistematização e/ou mesmo
a institucionalização do esporte. (p.30)
E o esporte, tem suas características mais definidas e difundidas,
onde ...
(...) os seus participantes são denominados de atleta, o que
implica dizer que um conhecimento maior a respeito da história
de seus eventos esportivos, dos níveis e status das conquistas
prévias em seus eventos, dos ensinamentos técnicos, e, acima de
tudo da presença de juízes ou árbitros que fazem a existência das
regras formalmente prescritos de ações e processos evidentes.
(...) ou seja, o esporte envolve sempre uma situação de confronto,
vitória e esforço físico na designação do campeão e/ou do recorde.
(p.30 e 32)
65
Não como negar que, em função de sua maior visibilidade e de
sua influência na formação do imaginário social, quando se fala em esporte, é a
imagem do esporte de rendimento a primeira que surge, senão a única e que a ele
são conferidos benefícios e malefícios (TANI, 2002, p.108).
Neste estudo, como vimos anteriormente, tem-se presente como
temas a Educação Física Escolar, o Esporte e a Iniciação Esportiva. Podemos
considerar que a Iniciação Esportiva está contida ou é uma raizdo Esporte. A
Educação Física Escolar utiliza-se do Esporte, em alguns dos seus aspectos,
como um dos seus conteúdos. Consequentemente, a Iniciação Esportiva passa
também a ser um dos conteúdos da Educação Física Escolar, como pode ser
observado no quadro a seguir, que elaboramos baseado em Tani (2002, 109-110),
que considera o esporte como . . .
(...) um importante patrimônio cultural da humanidade (...)
(...) pode assumir características diferenciadas, por exemplo, o
esporte rendimento e o esporte como conteúdo da educação
física, mas mantendo a sua essência. (p. 109).
66
QUADRO VIII – Múltiplas perspectivas do esporte
ESPORTE
RENDIMENTO CONTEÚDO DA EDUCAÇÃO FÍSICA
Objetiva o máximo. Objetiva o ótimo (estabelece metas de
desempenho realistas, os interesses e as
necessidades do praticante têm prioridade).
Visa à competição (identifica o vencedor, o
melhor, premia conforme os resultados).
Visa à aprendizagem (processo contínuo de
auto-aprendizagem, a competição é um
processo).
Ocupa-se com o talento. Ocupa-se com a pessoa comum.
Preocupa-se essencialmente com o potencial
da pessoa (desenvolvê-lo ao máximo,
conforme as exigências e especificidades do
esporte).
Preocupa-se não apenas com seu potencial,
mas também com suas limitações (promover o
potencial individual dos alunos).
Submete pessoas a treinamento (repetição
sistemática de movimentos).
Submete pessoas à prática (processo de
solução de problemas motores).
Orienta-se para a especificidade (para uma
modalidade específica).
Orienta-se para a generalidade (oportunizar o
acesso a diferentes modalidades, explorar o
patrimônio cultural de forma ampla).
Enfatiza o produto em forma de rendimentos
(em relação a índices impostos).
O processo é valorizado (o progresso da
pessoa é medido em relação ao seu estado
anterior).
Resulta em constante inovação técnica e
tecnológica.
Resulta na difusão e disseminação do esporte
como um patrimônio cultural da humanidade.
Considerando que a Iniciação Esportiva transita entre o conteste”, o
jogo e o esporte”, isto é, tem características do esporte formal, mas não o é,
buscamos compreender estas relações, que são os principais temas deste estudo,
sob a luz da teoria de Pierre Bourdieu
10
. O referido autor sustenta sua teoria em
10
Pierre Bourdieu, sociólogo francês e catedrático de Sociologia no Colége de France, considerado um dos
intelectuais mais influentes de sua época; faleceu no dia 23 de janeiro de 2002.
67
sistemas simbólicos, onde se configuram espaços sociais, regras, composição
própria, composição de redes, sistematização, interelação entre os campos, nos
levando a refletir sobre a configuração do esporte como um espaço social de lutas.
2.3 - O esporte como um espaço social
Para BOURDIEU (1983, 1989) um campose legitima no exercício
de determinadas práticas sociais que formam também um habitusem função de
um capital simbólicoque é obtido através de lutas políticas na demarcação de
seu território. Ele é um espaço onde as posições dos agentes se encontram a
priori fixadas e se define como o locus onde se trava uma luta entre os atores
sociais
11
em torno de interesses específicos que caracterizam a área em questão.
É neste espaço que se manifestam as relações de poder, sempre a partir do
capital social dos agentes que estão em dois pólos: dominantes e dominados.
Dentro dessa perspectiva resolve-se o problema da adequação entre ação
subjetiva e objetividade da sociedade, uma vez que todo ator age no interior de
um campo socialmente predeterminado. Isto ocorre . . .
(...) porque as disposições dos agentes, o seu habitus, isto é, as
estruturas mentais através das quais eles apreendem o mundo
social, são em essência produto da interiorização das estruturas
do mundo social. (BOURDIEU, 1989, p 158).
11
Entende-se aqui “atores sociais” como todos os agentes envolvidos no processo: ator, platéia, diretor, cada
um representando o seu papel de modo a manter a ordem, que pode ser abalada caso haja uma ruptura.
GOFFMAN, 1985, p. 1919 a 217).
68
Compreendendo Habitus como algo “potencialmente gerador”, “um
produto dos condicionamentos” que tende a reproduzir a lógica objetiva dos
condicionamentos, mas fazendo-a sofrer uma transformação, Bourdieu (1989,
p.158) considera que o habitus tende a conformar e orientar a ação, mas, na
medida em que é produto das relações sociais, ele tende a assegurar a
reprodução dessas mesmas relações objetivas que o engendraram. A
interiorização, pelos atores, dos valores, normas e princípios sociais assegura,
dessa forma, a adequação entre as ações do sujeito e a realidade objetiva da
sociedade como um todo.
Dessa forma, entender o habitus como um conjunto de disposições,
decorrentes das estruturas sociais, preparadas para a ação significam falar numa
dimensão prática, num sentido prático que apela para um domínio de
conhecimento pré-reflexivo, pois o agente orienta sua ação no mundo sem pensá-
lo. Para Puig (2004, p. 27, 28) o sentido prático permite uma atuação
infraconsciente uma ação que foi sendo implantada devido à imersão
prolongada num dado ambiente social.
Em outras palavras, poderíamos dizer que o autor nos sugere o
conceito de campo como um conjunto de aparelhos institucionalizados que
envolvem um corpo de agentes (atores sociais) especializados na produção e
difusão de bens simbólicos. Esses atores estão ordenados, segundo uma
hierarquia interna de posições, agindo e desempenhando sua dominação no
interior de cada campo específico. Portanto, é a partir do grau de dominação
69
desses atores (agentes sociais) que se pode medir a autonomia relativa de cada
campo em questão.
O campo deve ser entendido enquanto espaço objetivo de um jogo,
um lugar de luta onde se manifestam e se definem as relações de poder. No
interior de cada campo estão reservados espaços para os dominantes (aqueles
que possuem um máximo de capital social) e para os dominados (ausência do
capital específico que define o campo). Assim, a estrutura de um campo tende a
se definir pela conservação ou subversão da estrutura de distribuição do capital
específico. Logo, “(...) os campos representam a face objetiva das estruturas da
sociedade.” (PUIG, 2004, p.25)
Podemos dizer ainda, que é o interesse pelo jogo que valoriza e
legitima as apostas sociais nele geradas. Portanto, a illusio - termo que remete à
idéia de investimento, interesse e crença, podendo ser entendida como a crença
compartilhada que efetiva o pertencimento a um campo; é a condição original de
um campo e seu jogo, no qual ela é, ao mesmo tempo, o arbitrário fundador e o
produto.
O “fenômeno” Esporte, também é tratado por Bourdieu (1990),
quando ressalta que . . .
(...) não se pode analisar um esporte particular independentemente
do conjunto das práticas esportivas, é preciso pensar o espaço das
práticas esportivas como um sistema no qual cada elemento
recebe seu valor distinto. Em outros termos, para compreender um
esporte, qualquer que seja ele, é preciso reconhecer a posição que
ele ocupa no espaço dos esportes. (p. 208).
70
Lembrando que o “(...) espaço dos esportes não é um universo
fechado sobre si mesmo. Ele está inserido num universo de práticas e consumos,
eles próprios estruturados e constituídos como sistema.” (p. 210)
“Ainda que seguramente um esporte, uma obra musical ou um
texto filosófico definam, devido às suas propriedades intrínsecas,
os limites dos usos sociais que podem ser feito deles, eles se
prestam a uma diversidade de utilizações e são marcados a cada
momento pelo uso dominante que é feito deles.” (BOURDIEU,
1990, p.214)
Sendo assim, podemos compreender que o espaço das práticas
esportivas, independente de estar inserido num contexto mais amplo (político,
social, econômico, e cultural) de uma determinada sociedade, é parcialmente
autônomo, pois possui suas próprias leis, crises e dificuldades, além da sua
própria cronologia e desenvolvimento sócio-cultural.
Dessa forma, para entender a Iniciação Esportiva, é necessário que
se compreenda qual sua situação no espaço do esporte e no espaço escolar,
locais onde ela reside. Um apontamento possível de ser feito é que a Iniciação
passa a ser um passaporte para o sucesso no Esporte de rendimento (alto nível),
o indivíduo que teve uma Iniciação ruim ou não a teve está fadado ao fracasso.
no espaço escolar, observa-se que ela pode ser um meio educativo, que atua
diretamente na formação do caráter da criança.
O objeto de estudo de uma ciência do esporte é o fenômeno
esportivo materializado nas transformações de sua estrutura, o que se
71
compreensível a partir do conhecimento do que era a estrutura em um dado
momento (oposição entre o estático-dinâmico). Só é possível compreender a
transformação através de um conhecimento da estrutura.
O esporte moderno, enquanto um fenômeno social, não mais pode
ser redutível a um simples jogo, ritual ou divertimento festivo de
caráter religioso ou não, e por isso não podemos nos limitar ao
estudo da sociedade; existe toda uma realidade própria, um
conhecimento específico e que, caso se queira conhecer e
entender um pouco deste fenômeno e toda e qualquer
manifestação que ocorra em seu meio, é necessário que se
busque sua lógica própria, história própria e práticas sociais
próprias. (BALBINO, 1997, p.26)
Portanto, ao centrarmos nossa atenção no caso específico da
Iniciação Esportiva, independente do seu local de aplicação (dentro ou fora da
escola), vamos poder compreender a diversidade de usos que dela é feito;
podendo gerar conflitos dentro deste espaço, como quando a Iniciação Esportiva é
utilizada com objetivos competitivos (visando resultados) dentro da escola e a
especialização esportiva precoce no âmbito o escolar. Dessa forma, fazendo
uma alusão ao esporte bom - esporte mau”, citado anteriormente, uma prática
esportiva que, em sua definição técnica, ‘intrínseca, sempre apresenta uma
grande elasticidade, logo, oferece uma grande disponibilidade para usos
totalmente diferentes, até opostos, também pode mudar de sentido. (BOURDIEU,
1990, p. 215)
72
(...) uma das dificuldades na análise das práticas esportivas reside
no fato de que a unidade nominal (tênis, esqui, futebol)
considerada pelas estatísticas mascara uma dispersão, mais ou
menos forte, conforme os esportes, das maneiras de praticá-los, e
no fato de que essa dispersão cresce quando o aumento do
número de praticantes é acompanhado de uma diversificação
social desses praticantes. É o caso do tênis, cuja unidade nominal
mascara que, sob o mesmo nome, coexistem maneiras de praticar
tão diferentes quanto são diferentes, em sua categoria, o esqui
fora da pista, o esqui de circuito e o esqui comum: o tênis dos
pequenos clubes municipais, que se pratica com jeans e Adidas,
num chão duro, não tem muito mais em comum com o tênis de
traje branco e sais plissada que eram obrigatórios uns vinte
anos e que se perpetuam nos clubes seletos (ainda seria
encontrado todo um universo de diferenças ao nível do estilo dos
jogadores, de sua relação com a competição, com o treinamento
etc). (BOURDIEU, 1990, p.210)
Notadamente, a confusão na denominação e conceituação da
Iniciação Esportiva é evidente e causadora de uma ampla possibilidade de formas
de apresentação. O universo de compreensões diferenciadas sobre ela é grande e
recebe interferência dos locais onde está situada, da estrutura que a envolve, do
objetivo com que é tratada. Como foi apresentado num dos ítens anteriores
2.2.1, existem ações iguais para diferentes denominações, e ainda, diferentes
denominações para diferentes ações, mas que, mesmo sendo outras, também se
aproximam da Iniciação Esportiva.
Considerando a amplitude e a grande rede estrutural do campo das
práticas esportivas, e vendo-o como um campo que está se constituindo
progressivamente, podemos, considerando as teorias de Bourdieu, perceber as
relações de interdependência existentes entre o espaço social esportivo e a
73
iniciação esportiva”, mas ao mesmo tempo, o seu desenvolvimento individual,
considerando como . . .
(...) uma conseqüência da constituição desse campo relativamente
autônomo, a saber, o contínuo aumento da ruptura entre
profissionais e amadores, que vai pari passu com o
desenvolvimento de um esporte-espetáculo totalmente separado
do esporte comum. (p.217).
Podemos considerar que a falta de uma estrutura do campo das
práticas esportivas como profissão promove o seu mau uso e vice-versa.
Dessa forma, não podemos desconsiderar as relações existentes
entre a Iniciação Esportiva, as Escolinhas ou Academias, a Educação Física
Escolar e o Esporte (enquanto instituição), onde os mesmos podem transitar, em
suas composições, entre espaços sociais e campos de intervenção, que em dado
momento, demonstram-se como estruturas fechadas, mas que no interior de suas
especificidades estão em permanente transformação. Transformações estas que,
ao mesmo tempo permitem e são as causadoras das inter-relações existentes.
Um exemplo claro, é que - partindo da idéia de campo, espaço
social, como hipótese, trabalha-se, primeiramente como um espaço, após
determinantes da pesquisa, confirma-se como um campo ou não, de forma que a
constância no jogo por um período histórico contínuo, caracteriza o campo;
observamos a transição do jogo para o esporte. Novos jogos podem surgir
constantemente, e a sua estruturação e sua viabilização junto à sociedade
poderão elevá-lo a “esporte”.
74
Após estas reflexões, não se pode negar uma relação umbilical
entre a iniciação esportivae o esportee a presença de ambos como conteúdo
escolar e não-escolar, afinal as modalidades esportivas constam, como já foi
citado anteriormente, nas Legislações, Regimentos, Regulamentos, PCNs etc. que
orientam e regulamentam o ensino, a entrada das práticas esportivas dentro e fora
da escola, bem como estão presentes na formação do próprio profissional que irá
atuar nestes dois segmentos.
Idade própria, vel de maturação do desenvolvimento da criança,
objetivos que vão desde a de especialização até a educação, passam a ser
características e requisitos que envolvem o ensino da Iniciação Esportiva. Embora
ela possa estar acontecendo em locais diferentes (ambiente escolar e fora dele),
portanto, assumindo identidades específicas desses espaços, permanecerá com
as características particulares de sua própria estrutura.
Pode-se afirmar que as particularidades da Iniciação Esportiva fazem
parte do universo do profissional de Educação Física, independente do tipo de sua
formação (Bacharelado/Graduação e Licenciatura), pois são base fundamental
para sua atuação, independente se com Iniciação Esportiva ou com diversas
outras áreas.
75
CAPÍTULO III
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
3.1 – Caracterização do estudo
Na busca de respostas escolheu-se, como caminho para a coleta
desses dados, a abordagem qualitativa - o construtivismo social, partindo de uma
análise compreensivista ou interpretativa, significando que esta investigação parte
do pressuposto de que as pessoas agem em função de suas crenças, percepções,
sentimentos e valores, preconizando a entrada no universo conceitual dos
participantes. Nesta perspectiva, Ennis (1994 apud GRAÇA, 1999, p. 210),
considera que o conhecimento mostra-se “como uma construção pessoal,
baseada na conexão do conhecimento disciplinar com as compreensões e
experiências da pessoa.”
Na perspectiva da abordagem qualitativa, entende-se que é
necessário compreender as particularidades dos indivíduos participantes, seu
histórico, sua identidade social, seu lócus no grupo social em que vive.
76
É uma abordagem de pesquisa que tem suas raízes na
fenomenologia, considerando os aspectos subjetivos do
comportamento humano e preconizando a entrada no universo
conceitual dos sujeitos (o sentido que os sujeitos dão aos
acontecimentos e as interações sociais de sua vida diária).
(ANDRÉ, 1995, p. 16-18 apud SOUZA NETO, 1999, p. 189)
Segundo Camargo (1997), normalmente as posições qualitativas
estão baseadas em duas linhas de pesquisa:
a) os enfoques subjetivistas-compreensivistas (Weber, Dilthey,
Jaspers, Heidegger, Hussert, Sartre, etc) que privilegiam os
aspectos conscienciais, subjetivo dos atores como, percepção,
compreensão do contexto cultural, relevância do fenômeno para o
sujeito, etc e
b) os enfoques crítico-participativos com visão histórico-estrutural
(Marx, Engels, Gramsci, Adorno, Horkheimar, Marcuse, Fromn,
Habermas, etc) que partem da necessidade de conhecer a
realidade para transformá-la, ou seja, da dialética da realidade
social. (p. 172-173)
A autora ao apontar vantagens e desvantagens de cada umas destas
dimensões, indica que se utilize esta metodologia juntamente com uma atitude
mais crítica em relação à realidade. (p.173)
Dessa forma, por se tratar de uma pesquisa qualitativa que exige do
pesquisador maturidade acadêmica, buscou-se em Alves-Mezzotti &
Gewandsnadjer (1998, p. 133) a sugestão para que o pesquisador se aproxime do
objeto de estudo em uma fase anterior à estruturação da pesquisa, o que lhe
permitirá o estabelecimento de algumas das questões iniciais e procedimentos
metodológicos, através do construtivismo social, que apresenta enfoques
subjetivistas-compreensivistas, próximos da proposta deste estudo, como segue:
77
1. Uma ontologia relativista: se em qualquer investigação
muitas interpretações possíveis e não processo fundacional
que permita determinar a veracidade ou falsidade dessas
interpretações, não outra alternativa senão o relativismo. As
realidades existem sob a forma de múltiplas construções mentais,
locais e específicas, fundadas na experiência social de quem as
formula.
2. Epistemologia subjetivista: se as realidades existem apenas
nas mentes dos sujeitos, a subjetividade é a única forma de fazer
vir à luz as construções mantidas pelos indivíduos. Resultados
são sempre criados pela interação pesquisador/pesquisado.
3. Metodologia hermenêutica-dialética: as construções individuais
são provocadas e refinadas através da hermenêutica e
confrontadas dialeticamente, com o objetivo de gerar uma ou mais
construções sobre as quais haja um significativo consenso entre
os respondentes. (GUBA, 1990 apud ALVES-MEZZOTTI &
GEWANDSZNADJDER, 1998, p. 133-134)
Observando a proximidade entre as indicações destes dois autores
quanto a esta metodologia, escolheu-se para este estudo, como técnica para a
coleta de dados, a análise de fontes documentais e a entrevista, visando colher
informações relevantes sobre o objeto de estudo.
Técnicas de Pesquisa:
Pesquisa Bibliográfica e Documental:
A pesquisa bibliográfica compreendeu a leitura e análise das fontes
secundárias de informação (livros, periódicos etc) com a finalidade de embasar a
revisão de literatura. Foi realizada análise da literatura referente aos temas
envolvidos na pesquisa, buscando observar na literatura as pesquisas existentes
sobre o assunto.
78
A pesquisa documental compreendeu a leitura e análise das fontes
primárias de investigação (documentos oficiais), que no caso da presente
pesquisa refere-se aos normativos que regulamentam (ou regulamentaram) a
Educação Física escolar e a inserção do esporte na escola.
Fonte Oral - Entrevista:
O tipo de entrevista escolhida foi a semi-estruturada ou semi-dirigida.
De acordo com Amado e Ferreira (2002), a entrevista semi-estruturada constitui-
se como uma fonte oral de análise, a qual se legitima como uma fonte histórica,
dado seu valor informativo e por incorporar perspectivas ausentes na literatura.
Tourtier-Bonazzi (2002, p.233) afirma que a . . .
exploração do testemunho oral (...) pressupõe que ele tenha sido
colhido sistematicamente, (...) cada entrevista supõe a abertura de
um dossiê de documentação. A partir dos elementos colhidos
elabora-se um roteiro de perguntas do qual o informante deve
estar ciente durante toda entrevista. (p.236).
A entrevista semi-estruturada seguiu um roteiro de questões
elaboradas previamente orientadas pelo objeto de estudo, mas com a flexibilidade
de adicionar outras questões para sanar dúvidas surgiram durante a mesma,
permitindo aos entrevistados fazer suas observações e sugestões. Como afirmam
Thomas e Nelson (2002, p. 34), durante a entrevista, “o pesquisador pode
reformular questões e fazer mais algumas perguntas para esclarecer as respostas
e assegurar resultados mais válidos”.
79
As entrevistas foram realizadas com três grupos:- o grupo dos
gestores ligados ao campo esportivo, o grupo dos profissionais de Educação
Física (egressos dos cursos de Bacharelado e Licenciatura) que atuam no campo
específico da “iniciação esportiva” e o grupo dos professores formadores;
trabalhou-se com estes depoimentos que, uma vez registrados, permitiram
análises complementares e uma nova documentação, reflexão, referente à
problemática em questão.
3.2 – Estudos preliminares
Em um primeiro momento, visando verificar as potencialidades do
tema de investigação, foram realizados dois estudos preliminares, o primeiro com
dirigentes esportivos e o segundo com professores formadores, para em seguida
fazer a opção por um quadro de participantes.
3.2.1 – O estudo com dirigentes esportivos
O primeiro estudo piloto ocorreu com três (3) participantes (1 clube
esportivo; 2 – diretor de esportes de uma prefeitura; 3 – diretor de uma ONG), que,
em suas instituições e/ou organizações, trabalhavam com crianças em programas
de atividades físicas voltadas para a iniciação esportiva, procurando saber:
Que tipo de Profissional você contrataria para trabalhar com a
Iniciação Esportiva?
80
Qual o perfil profissional que você exigiria para trabalhar com a
Iniciação Esportiva, Aperfeiçoamento e Treinamento?
Que tipo de formação estes profissionais deveriam ter?
Qual é o perfil profissional de quem vai atuar com as crianças?
Para atuar com crianças necessidade de se ter conhecimentos
pedagógicos?
Assim, o que se procura, no bojo das questões de investigação, é
saber se esta questão de estudo tem fundamento? É um problema real? Quais
são os seus pressupostos?
Os resultados obtidos da coleta de dados apresentaram respostas
pontuais com relação às questões que foram formuladas.
Na primeira pergunta, encontrou-se nas respostas a seguinte
descrição:
QUADRO IX – Perfil do Profissional para Trabalhar com Iniciação Esportiva
Sujeitos
Resposta (categoria)
1 Educador (qualificado em basquetebol e com curso de pedagogia)
2 Profissional da Educação Física
3 Educador
Predominou entre os participantes, entrevistados, o perfil de
“Educador”; embora um dos sujeitos tenha preferido o perfil do “Profissional da
81
Educação Física”, não considerando que este deverá ser formado na área, mas
não negando a imagem do educador, pois não se pode negar que a carga cultural
do Profissional da Educação Física está ligada à escola e ao processo da
educação, como se observou na colocação de Korsakas (2002), sobre o esporte
nos tempos atuais.
Na segunda, qual o perfil profissional que você exigiria para trabalhar
com Iniciação Esportiva, Aperfeiçoamento e Treinamento?
QUADRO X – Perfil Profissional para Trabalhar com Iniciação Esportiva,
Aperfeiçoamento e Treinamento
Resposta (categoria)
Sujeitos
Iniciação Esportiva Aperfeiçoamento Treinamento
1 Educador Técnico Técnico
2 Educador Técnico Técnico
3 Educador Educador e Técnico Educador e Técnico
Nesta questão ficou mais claro para os participantes entrevistados o
perfil de quem vai atuar com iniciação esportiva e o daquele que vai vincular-se
com o treinamento ou o aperfeiçoamento. O perfil do educadorpara a iniciação,
confirma o posicionamento de Paes, 1997, de que na iniciação o principal objetivo
não é a competição. Porém, para um dos participantes há a necessidade de que o
técnicoseja também educador para atuar tanto no aperfeiçoamento quanto no
treinamento. Esta questão aparece contemplada no Decreto 91452/85 em virtude
de considerar como uma das dimensões do esporte o seu caráter formativo-
educacional e na fala de Tubino (1999) ao considerar uma das dimensões do
82
esporte, o “esporte-educação”, que tem “um caráter formativo”, pois se “baseia em
princípios educacionais, como participação, cooperação, co-educação, integração
e responsabilidade” (p.27).
Com relação à terceira pergunta: que tipo de formação estes
Profissionais devem ter?
QUADRO XI – Formação Desejada para Trabalhar com Iniciação Esportiva
Sujeitos
Resposta (categoria)
1
Formação em Educação Física (+ experiência profissional como
professor)
2 Formação em Educação Física (com perfil de educador)
3 Formação em Educação Física
Pode-se inferir que, junto à comunidade institucionalizada, a
Profissão Educação Física tem seu reconhecimento, bem como, o perfil
Educador” se enraíza na opinião dos participantes consultados.
Na quarta questão: Qual é o perfil profissional de quem vai atuar com
crianças?
QUADRO XII – Perfil Profissional para Trabalhar com Crianças
Sujeitos
Resposta (categoria)
1 Educador
2 Educador
3 Educador
Se considerar que, na Legislação que referenda a Educação Física
na Escola, a proposta é para se trabalhar com os fundamentos esportivos a partir
83
da série do ensino fundamental, antigo grau, em relação à quarta pergunta
formulada, observa-se que uma coincidência na faixa etária em questão.
Porém não é identificado se trata do professor de escola ou do profissional que
atua no clube ou em escolinhas.
E com a última pergunta procurou-se saber se para atuar com
crianças necessidade de se ter conhecimentos pedagógicos? A tendência das
respostas foi em apontar para esta perspectiva de saber, sendo que uma das
descrições chamou a atenção para o conjunto de conhecimentos pedagógicos,
didáticos e de relacionamento humano. Desse modo, ao finalizar sinteticamente
este estudo preliminar percebe-se que as respostas, no plano do discurso,
referendam a figura do “educador/professor” na questão iniciação esportiva”.
Como pode ser observado, nas categorizações das respostas dos
sujeitos, foi unânime a compreensão de que quem trabalha com a “iniciação
esportiva tem um perfil profissional diferente daquele que trabalha com o
treinamento esportivo”. No que tange a iniciação esportiva”, o estudo trouxe
como novidade, infere-se, que o perfil pedagógico-profissional do licenciado
estaria mais adequado para se trabalhar com as crianças do que o do bacharelado
(graduado), colocando em questão os limites da intervenção profissional.
Nas respostas dadas a esta questão, pelos participantes desse
estudo, a ênfase no perfil do educador assinalou, em seu conjunto, que este
reunia as maiores condições para se trabalhar com as crianças. Porém, é
imprescindível lembrar que o educador não é necessariamente professor e este,
84
por sua vez não é também, necessariamente, educador, sendo que todo professor
pode ser educador, mas o inverso não é verdadeiro. Entretanto, neste caso em
questão a figura que emerge é a do professor ou do profissional como educador.
Outro dado importante, assinalado pelos dirigentes entrevistados, foi
o reconhecimento de que todo profissional que irá atuar no campo esportivo
deveria ter a sua formação em Educação Física com as seguintes especificações:
ao “iniciador” o caberia dar ênfase à especialização esportiva, mas, sim,
objetivar a educação, a formação do cidadão, motivar e promover o gosto e o
hábito pela prática esportiva; enquanto que ao técnico caberia aprimorar a
técnica e a tática, visando a “performance” em uma determinada modalidade
esportiva, exigindo-se para tanto uma formação especializada. Portanto, para
estes dirigentes há diferenças no perfil profissional de quem trabalha com a
iniciação esportivae no perfil de quem trabalha com o treinamento esportivo”.
De modo que o esporte”, enquanto conteúdo da Educação Física apresenta uma
interface tanto para quem vai trabalhar na escola quanto para quem vai para o
clube ou entidades afins.
Na reflexão realizada foram encontrados alguns aspectos que
evidenciaram o perfil do licenciado (educador) como o mais indicado para atuar
com a iniciação esportiva. Este dimensionamento ganhou destaque quando a
própria legislação se referiu ao esporte como uma atividade que deve enfatizar o
caráter formativo-educacional, instituindo-se a iniciação esportiva com os
fundamentos esportivos, conteúdo escolar. Dessa forma, nesse primeiro estudo
85
preliminar, considera-se existir uma interface no campo de atuação do licenciado e
do bacharel (graduado) com relação à iniciação esportiva.
3.2.2 – O estudo com professores formadores
O segundo estudo aconteceu com nove (9) sujeitos, professores de
uma instituição de ensino superior do interior paulista, que ministravam diferentes
disciplinas, procurando averiguar:
Quais disciplinas e conteúdos que contribuem para o perfil do
profissional que vai trabalhar no campo específico da Iniciação Esportiva?
Partindo desta proposta de investigação, buscou-se ratificar a
relevância do tema do estudo e os elementos norteadores que poderiam subsidiar
a seqüência do mesmo.
Sete (7) dos sujeitos que foram entrevistados responderam à
questão, sendo que as respostas mais comuns estão dispostas no quadro abaixo:
86
QUADRO XIII – Disciplinas e conteúdos que contribuem para o perfil do
profissional que vai atuar com Iniciação Esportiva
SUJEITOS RESPOSTAS
A / D / F / G
Domínio do conteúdo específico da modalidade,
conhecimentos das fases de crescimento e desenvolvimento
da criança, c
onhecimentos básicos de psicologia, sociologia
e fisiologia (“lado humano”, “lado biológico” e “fundamentos
técnicos”)
A / D / F / I
Os saberes das áreas pedagógicas (“conhecimentos
didáticos e pedagógicos”, o “saber ensinar”)
Pode-se inferir com este resultado, é que estão presentes os
conhecimentos específicos da área, mas, de uma maneira significativa, também
estão presentes os saberes pedagógicos, o que vem consolidar os resultados
obtidos no estudo preliminar anterior, onde a figura do professor-educadorou o
perfil do Educador aparece como sendo considerado o mais apropriado para quem
vai atuar com Iniciação Esportiva.
Estes, por serem estudos preliminares, apresentaram indícios de que
este assunto tem relevância no âmbito da formação profissional e do campo de
atuação da Educação Física, merecendo uma investigação mais ampla e
aprofundada.
87
3.3 – Trabalho de campo
Após os estudos preliminares, onde se conseguiu mapear melhor os
limites da investigação, partiu-se para o trabalho de campo definitivo, utilizando-se
a entrevista semi-estruturada. Todavia, levou-se em consideração as observações
efetuadas pela parecerista do Plano de Atividades, em que foi sugerido que as
questões a serem investigadas fossem mais abertas, menos diretas. Neste
contexto, foram reelaboradas as questões a serem investigadas, tal como se
encontra no corpo desse trabalho (Capítulo I); organizado o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido, cujo modelo se encontra anexo no Apêndice
1; e, com base nos estudos preliminares, elaborado um novo roteiro para a
entrevista.
QUADRO XIV – Roteiro para entrevista
Roteiro de questões para entrevista.
1. Em sua opinião, o que é esporte? Como você define o esporte?
2. No âmbito do esporte, o que seria a iniciação esportiva? Como você definiria a
iniciação esportiva?
Em qual(ais) local(ais) a encontramos (espaços de atuação)?
3. Qual faixa etária que a iniciação esportiva abrangeria? Como você chegou a
esta organização (ou proposta, ou divisão)?
4. Na sua instituição quem trabalha (profissional) com a iniciação esportiva (ou
fundamentos esportivos – se universidade)? Por quê?
5. Qual o tipo de conhecimento específico (conteúdos, disciplinas) que um
profissional (ou graduado), deveria ter para atuar com crianças? Por quê?
6. Em sua opinião, qual é o perfil profissional (conhecimentos, comportamento,
atitudes) que a pessoa deveria ter para trabalhar com a iniciação esportiva?
7. Quem você contrataria para trabalhar com a iniciação esportiva? Por quê?
88
Com as três primeiras questões buscou-se obter dados específicos
da compreensão de cada entrevistado sobre Esporte e Iniciação Esportiva, que
viessem a embasar ou contextualizar a análise do pesquisador nas próximas
questões.
Na quarta questão pretendeu-se detectar, nas instituições visitadas,
alguns exemplos de como é tratada a questão do campo de intervenção da
profissão Educação Física, no que se refere à Iniciação Esportiva.
E, finalmente, nas três últimas questões, buscou-se delimitar o perfil
profissional julgado mais adequado para se trabalhar com a Iniciação Esportiva.
Para a coleta das entrevistas foram utilizados dois (2) gravadores -
um (1) rádio gravador marca Sony e um (1) microcassete marca Panasonic, uma
(1) fita cassete marca Sony de 60 minutos, onde foram gravadas três (3)
entrevistas, sendo um entrevistado de um lado e dois entrevistados do outro lado
e seis (6) fitas de microcassete marca Sony de 60 minutos, onde foram gravadas
as outras onze (11) entrevistas, sendo um entrevistado de cada lado, tendo
sobrado um dos lados livres em uma das fitas. As entrevistas foram realizadas nas
instituições de origem de cada entrevistado, em local e hora agendados
anteriormente.
Após a sua realização apurou-se um tempo médio de 33,28 minutos,
variando entre 17 minutos e 1h10minutos para a realização das entrevistas. O
tempo total gasto pelo pesquisador para a transcrição das mesmas foi de
aproximadamente 29h38minutos.
89
3.4 – Sujeitos do estudo
A seleção das instituições e dos profissionais foi definida
conjuntamente entre o pesquisador e seu orientador, contando com a contribuição
do Prof. Dtdo. Alexandre Janotta Drigo (NEPEF Núcleo de Estudos e Pesquisas
em Formação Profissional no Campo da Educação Física), tendo como referência
abranger locais de formação e atuação que pudessem auxiliar na compreensão do
fenômeno de estudo em sua unidade e diversidade.
Optou-se, então, por locais fora do ensino formal, onde fosse
possível a atuação do profissional da Educação Física com formações diferentes –
Licenciatura e Bacharelado/Graduação, escolas pública e privada, com ensino
fundamental e ciclos, que oferecessem turmas de treinamento e duas
instituições de ensino superior onde fossem claras as especificidades na
formação. Portanto, escolheu-se uma que, após a reformulação curricular optou
apenas pela Licenciatura e outra que ofereceu, em sua grade, anterior, uma
formação diversificada para o Bacharelado/Graduação, entre elas o Treinamento
Desportivo.
Devido às especificidades dos locais e atuações estabeleceu-se a
divisão dos entrevistados em três (3) grupos: o Grupo dos Dirigentes e
Coordenadores (GDC) quatro (4) sujeitos, do qual participaram os dirigentes
e/ou gestores de Clubes e coordenadores de escolas que ofereceriam a Iniciação
Esportiva em seus espaços; o Grupo dos Profissionais Atuantes (GPA) seis
(6) sujeitos, do qual participaram os profissionais formados em Educação Física
90
Licenciados e Bacharéis/Graduados, que atuam com Iniciação Esportiva; e, o
Grupo dos Professores Formadores (GPF) quatro (4) sujeitos, do qual
participaram os professores universitários.
Partindo dessa divisão em grupos identificamos cada sujeito
entrevistado (E) no estudo por um número e a sigla indicativa do grupo a que
pertence, como por exemplo, E1 GPF, isto é, entrevistado número um (1) do
Grupo dos Professores Formadores. Apenas no Grupo dos Profissionais Atuantes
é que foi feita uma subdivisão, uma vez que tínhamos dois tipos de formação
dentre os entrevistados, podendo nos oferecer mais um elemento de comparação
durante nossas análises, ficando, assim, identificados: E1B GPA (entrevistado
número um (1) Bacharel do Grupo dos Profissionais Atuantes) e o mbolo L
para o Licenciado.
Para uma melhor compreensão foi elaborado um quadro (QUADRO
XV) com os grupos, suas denominações, o número de participantes e as
respectivas siglas.
QUADRO XV – Identificação dos participantes do estudo
SIGLAS PARTICIPANTES DESCRIÇÃO DOS GRUPOS
GDC E1-GDC, E2-GDC, E3-GDC, E4-GDC
Grupo dos Dirigentes e Coordenadores
GPA E1L-GPA, E2L-GPA, E3L-GPA, E4L-GPA, E1B-
GPA, E2B-GPA
Grupo dos Profissionais Atuantes
(Licenciados e Bacharéis/Graduados)
GPF E1-GPF, E2-GPF, E3-GPF, E4-GPF
Grupo dos Professores Formadores
(Universitários)
91
Na seqüência, estaremos apontando algumas características dos
entrevistados que poderão auxiliar na compreensão das suas respostas, através
de uma melhor contextualização.
GDC – Grupo dos Dirigentes e Coordenadores
E1 GDC: coordenador(a) de escola particular, tendo
formação superior em outro curso - ex-esportista;
E2 GDC: coordenador(a) de escola pública com formação
superior em outro curso - ex-esportista;
E3 GDC: orientador(a) de instituição de prestação de
serviços, tendo formação superior em Educação Física
(Licenciatura);
E4 GDC: dirigente de clube de funcionários, sem formação
superior em Educação Física, mas vasta experiência na
função, considerando-se um amante do esporte.
GPA – Grupo dos Profissionais Atuantes
E1B GPA: atua em instituição de prestação de serviços,
bem como, no campo da Recreação e Lazer, tendo formação
Superior em Educação Física (Bacharelado);
92
E2B – GPA: atua em clube, com modalidades específicas
(escolinhas ou iniciação) e em atividades de Recreação e
Lazer, com formação Superior em Educação Física
(Bacharelado);
E1L GPA: atua em escola particular, com modalidade
específica (Basquetebol), tendo formação Superior em
Educação Física (Licenciatura);
E2L GPA: atua em escola pública, com aulas de Educação
Física e ACDs (Atividades Curriculares Desportivas, antigas
Turmas de Treinamento), tendo formação Superior em
Educação Física (Licenciatura);
E3L – GPA: atua em instituição de prestação de serviços, com
musculação e natação (iniciação), tendo formação Superior
em Educação Física (Licenciatura);
E4L – GPA: atua em clube, com modalidades específicas
(escolinhas ou iniciação) e em atividades de Recreação e
Lazer, tendo formação Superior em Educação Física
(Licenciatura);
93
GPF – Grupo dos Professores Formadores
E1 – GPF: professor(a) universitário(a) de instituição federal;
E2 – GPF: professor(a) universitário(a) de instituição federal;
E3 – GPF: professor(a) universitário(a) de instituição estadual;
E4 – GPF: professor(a) universitário(a) de instituição estadual;
94
CAPÍTULO IV
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
Neste momento, as descrições serão apresentadas, respeitando-se a
opinião de cada participante e seu respectivo grupo. De modo que estas respostas
foram organizadas, buscando sublinhar, dentro de cada enunciado, as palavras ou
frases que melhor explicitem a questão em pauta.
No geral, ter-se-á oito (8) quadros para sete (7) questões efetuadas,
cujas respostas foram obtidas via entrevista semi-estruturada, e que agora, serão
apresentadas. No entanto, cabe esclarecer que nas questões 5 e 6 foram criadas
algumas categorias de análise com base nas descrições realizadas, tendo como
referência os trabalhos de Tardif (2002), Pimenta (2002) e Saviani (1996), bem
como, realizada algumas adequações com base nesses estudos.
95
Na primeira questão buscou-se saber o que era o esporte para os
participantes do estudo.
QUADRO XVI – O que é esporte.
Pergunta 1 – Em sua opinião, o que é esporte? Como você define o esporte?
E1-
GDC
“(...) é uma atividade sica organizada, (...), que tem um conjunto de regras (...) envolvido
em competições . . .”
“(...) normalmente ele ta envolvido em competições, eu acho que é isso que caracteriza o
esporte, a gente pode fazer o esporte só recreativo, mas normalmente, (...), a gente ta pensando
num tipo de competição, por mais amena que seja (...)“
E2-
GDC
É como a arte, (...) muda a formação do ser, (...) num contexto geral, não físico, como
psicológico, emocional e outros tantos, (...)“
E3-
GDC
“(...) fenômeno incrível, cultural (...) esporte é um conjunto de habilidades (...) que são
empregadas para um determinado fim, envolvendo resultados, (...)“
“(...) uma raiz cultural muito forte, a criança já nasce inserida no esporte, (...) inicialmente,
chamado de jogo, pra criança é um jogo, que futuramente, com a inserção de regras, (...) com a
performance, a performance que eu digo é a busca pelo resultado, seja ele um resultado
olímpico, ou um resultado no bairro, o que se procura é o resultado, (...), mesmo que esse
resultado seja a participação, então, esse componente cultural esporte, está enraizado,
enraigado na vida (...)é um fenômeno muito grande que acompanha a pessoa pela vida inteira. “
E4-
GDC
“(...) é uma das coisas mais importantes na vida do ser humano, (...) uma das entidades que
pode salvar o mundo de muita porcaria que existe por aí (...) três as atividades poderiam salvar
as pessoas do mundo cão que existe, é: uma religião, ainda que séria, (...) uma família bem
constituída e o esporte (...) o esporte pra mim é algo de uma importância muito grande pra
sociedade.”
E1L-
GPA
“(...) algumas atividades que envolvem principalmente regras, (...) regras específicas,
(...)muito bem estabelecidas, ... têm que ser cumpridas, (...)dentro de atividades físicas, dentro
de movimento, (...)tendo como principal ponto as regras, as regras de basquete, futebol e etc “
E2L-
GPA
“(...)faz parte da cultura humana, é um aspecto interessante que quando bem trabalhado pode,
(...)pode alcançar sucesso, frutos muito bons, depende de como vc encara, (...)principalmente na
escola, (...)tem o aspecto de lazer, o aspecto de espetáculo (...)tem que saber trabalhar isso
no ambiente escolar e trabalhar isso voltado pro aspecto educacional, (...)ele é uma ótima
ferramenta, (...)é uma das formas de manifestação humana mais bonitas, (...)um aspecto humano
muito interessante, muito bonito, antigo, (...)a gente tem que admirar e a gente tem que também
conhecer os aspectos negativos (...)tem muitas coisas positivas e também tem o aspecto
negativo (...)tem tantas vertentes ligadas a . . .ascensão social, a consumo, a rendimento, a
saúde, (...)a escola faz uma adaptação do esporte, (...)é uma ferramenta educativa, (...)“
E3L-
GPA
“Uma atividade dica ou de (...) que se pode utilizar de materiais ou não, que visa o
desenvolvimento tanto físico, motor, psicológico do indivíduo.”
esporte para todos, eu acredito nisso, eu acho que esporte é para todos, desde da (...) da
criancinha, até idoso, (...) “
E4L-
GPA
Qualidade de vida (...) . quando a gente trabalha várias modalidades, a gente procura a
qualidade de vida, (...) esporte de competição é uma coisa, esporte fora de competição é
outra, (...) falando um pouco de competição, daí eu acho que (...) trabalha a parte técnica,
(...) vc vai ensinar mais, vc vai ensinar os movimentos, (...) que fica muito mais em cima
quando é de competição, no nosso caso a gente procura deixar a criança aprender o próprio
movimento no esporte no geral, ela que vai definir, será que é certo isso, será que é aquilo,
fugindo da parte técnica.”
E1B-
GPA
“(...) o esporte pode ser manipulador, quando ele é usado pela mídia como manobra das
massas, (...) o esporte pode ser um meio educacional fabuloso, quando bem direcionado, o
esporte pode ser fonte de renda, (...) o esporte é um meio pelo qual vc interage com as pessoas
e faz (...) e traz (...) e oferece pra elas milhares de coisas, pode ser a integração, a socialização,
é (...) tratar de descobertas que a pessoa não descobriu, (...) “
96
E2B-
GPA
“(...) uma atividade organizada, vc tem algumas regras, uma atividade dirigida, organizada, vc
tem algumas regras quando existe competição (...) “
E1-
GPF
“O esporte enquanto conteúdo da EF, (...), aquilo que vai ser trabalhado mediante o
estabelecimento de um objetivo pré-estipulado, (...) eu entendo o esporte como um conteúdo
da EF escolar e entendo o esporte como uma prática de atividade física vinculada à escola
e outras instituições, (...) são os dois entendimentos básicos do esporte, como uma atividade
física e/ou como uma, como um conteúdo a ser trabalhado.
E2-
GPF
O esporte é um fenômeno social que, como tal, tem que ser tratado historicamente, (...) em
essência ele exige um aprofundamento de estudos pra que o profissional da área consiga
desvelar dele toda (...) potencial humanizante e humanizador que ele traz, (...) eu procuro
tratar o esporte como uma objetivação genérica humana, na teoria histórico-social, (...)
quando trabalhado numa perspectiva tecnicista, (...), ele acaba sendo seletivo, acaba sendo
privado da grande maioria da população.”
E3-
GPF
“(...) uma atividade baseada em regras, regulamentada, portanto, e, sobretudo, com funções
de rendimento, então diferente de outra atividade, seriam dois pressupostos, as regras de cada
um deles e a busca por melhoria de rendimentos nessa atividade proposta.”
E4-
GPF
“(...) é uma prática, (...) , fundamentalmente uma prática, (...) onde vc vai desenvolver uma
cultura de movimento, cultura física, em diferentes manifestações, (...) a Constituição
Brasileira (...) garantiu (...) o direito do cidadão de acesso ao desporto, (...) deporto educacional,
(...) é que tem um desporto, especialmente no sistema formal, educacional, que deve ter
prioridades com educação, não com educação, (...) , deve ter prioridade também com a
saúde, educação para a saúde principalmente, (...) , existe um desporto de desempenho, de
rendimento, de competição, e existe um desporto de participação, são aquelas pessoas que
não tem uma habilidade especial, uma capacidade especial pra nenhum tipo de desporto
competitivo, ainda que a tenha, que tem essa capacidade, não quiseram seguir pro desporto de
competição, e é um direito de todos, (...) “
Obs.:- O grifo é nosso.
Entre as descrições apresentadas cinco sujeitos (E1-GDC, E3-GDC,
E2B-GPA, E3-GPF, E1L-GPA) consideraram o esporte como “uma atividade física
organizada”, “que tem um conjunto de regras”, “regras específicas”, visando “um
determinado fim”. Porém, seis participantes (E2L-GPA, E3L-GPA, E4L-GPA,
E1B-GPA, E1-GPF, E4-GPF) conceberam o esporte de forma mais abrangente,
nas suas diferentes dimensões, como “lazer”, “espetáculo”, “atividade lúdica”,
“qualidade de vida”, “meio educacional”. Completando esta listagem, três sujeitos
(E2-GDC, E4-GDC, E2-GPF) o viram de maneira ampla e geral, considerando
“formação do ser”, “fenômeno social”, “potencial humanizante e humanizador”.
Porém, se a análise recair para o grupo de pertença, então no GDC,
prevalece um equilíbrio nas opiniões, entre a idéia do esporte enquanto uma
atividade física organizada”, que abarca um “conjunto de habilidades”,
97
empregadas para um determinado fim, envolvendo “resultados” e a idéia ampla e
geral da “formação do ser” e de “algo de uma importância muito grande para a
sociedade”. Enquanto que no GPA e no GPF o predomínio será do pensamento
do esporte abrangente, com diversas facetas, do esporte “lazer”, “educação”,
“saúde”.
No geral emerge uma compreensão de esporte como educação,
participação e competição. No que se refere ao esporte-educação prevaleceu a
visão de formação humana (“formação do ser”, “atividade lúdica”, “meio
educacional”) e práxis, pois o esporte “pode salvar o mundo”. Portanto, o que se
infere é que a dimensão política do esporte, enquanto meio pedagógico de
educação, corrobora para o processo de emancipação humana.
Porém, no que se refere ao esporte-competição ficou claro que se
reportou propriamente ao rendimento atlético, objetivando performance, possuindo
para este fim “regras” e “rendimento”.
Todavia, a visão hegemônica que predominou foi a do esporte-
participação, em que se considera como atividades a “qualidade de vida”, o
“lazer”, a “saúde”.
Na realidade, todo o debate fica circunscrito à visão do esporte
enquanto um meio (educação, participação) e a sua compreensão como um fim
(competição).
98
Com esta segunda pergunta, buscou-se verificar o que é Iniciação
Esportiva para os participantes.
QUADRO XVII – O que é Iniciação Esportiva
Pergunta 2 - No âmbito do esporte, o que seria a iniciação esportiva? Como você definiria a
iniciação esportiva?
E1-
GDC
“(...) passar para às crianças tanto as regras quanto os fundamentos pra praticar (...) essa
parte de fundamentos (...) que é a habilitação pessoal dele para a prática do esporte e
depois também a parte coletiva, que (...) a parte de tática, a parte de entrosamento, jogo
coletivo e tal, (...) essas práticas fazem parte da IE, o sujeito habilitar o individuo para a
prática de algum esporte.
E2-
GDC
“(...) uma orientação teórica, pra depois fazer a prática (...) vc ia fazer com base (...) “
O objetivo principal é (...) valorização do próprio ser, a formação do próprio ser, (...) todo
um crescimento, de ser um cidadão sociável, politizado, de participar, (...) vc vai conhecer outras
pessoas, vc vai poder participar em outros lugares (...) “
E3-
GDC
(...) a I é fundamental, a boa I é fundamental e eu acredito muito na diversidade, (...) uma I
frustrante, aquela I esportivista, aonde a criança não consegue êxitos nas primeiras vezes
e vai desistir, vai abandonar (...) eu acredito muito nessa I generalista, ela passa por, não
passa por esportes, mas sim, por habilidades, pelo arremessar, pelo rolar, pelo saltar,
enfim, e principalmente um resgate cultural também, que brincadeiras, (...) a gente procura, na
I, trazer esse resgate, proporcionar (...) essa mobilidade, esse conhecimento de si próprio
através do movimento, por essas brincadeiras, por esses jogos que deram certo (...) e
proporcionaram níveis de atividades significativos e bons pra tanta gente até hoje, (...) na I
também deve ser trabalhados os valores, que são importantes pro próprio esporte, pro jogo, pra
vida, pro dia a dia, e a gente frisa muito o seguinte, que a gente inicia no esporte para a vida, pq
a gente quer , quando a criança tem os seus . . .um adulto (...) a gente quer que leve, é primeiro,
a sinceridade, a verdade, as questões morais que ela leve, e que a prática de atividade física seja
um hábito aprendido (...) dando autonomia, (...) , pra criança saber, pro adolescente e adulto
saber fazer no seu horário de lazer, saber, ter noções do certo, ter noções do errado, do pq
aquecer, do pq alongar e, pq da atividade física e do mínimo, do mínimo de atividade física, da
importância disso pro dia a dia, pra qualidade de vida, pra saúde, pro relacionamento familiar, a
gente extrapola pra tudo,(...) “
E4-
GDC
“(...) não interessa o resultado, o resultado técnico, (...) o nosso objetivo é a formação pessoal
da criança, (...) se ele vai se transformar num atleta, isso não é o caso pra nós, eventualmente
ele pode vir a ser, mas o nosso objetivo não é esse (...) “
E1L-
GPA
“(...) um dos principais objetivos nossos aqui da educação esportiva, da IE também, (...) , é
uma socialização geral do grupo, (...) é uma parte principal, objetivo enormemente principal (...)
os outros objetivos e melhorias de todos esses caracteres do esporte são também considerados .
. .”
E2L-
GPA
“A IE, (...) na escola, a gente tem que oportunizar aos alunos, experimentar movimentos,
experimentar inclusive, o esporte de uma maneira adaptada no início e também conversar muito
do aspecto de competição do esporte, (...) não propiciar o esporte com perfil de competição
apenas, (...) a IE (...) ela tem que ser feita de maneira pensada, didática, planejada e tem que
ter um critério de não seleção, seletivo, principalmente no ambiente escolar, (...) mas a gente faz
uma I, (...) que pra enxergar aqueles que têm preferência, (...) que têm talento e a gente pode
também ta encaminhando pra outros lugares que tem uma especificidade maior, (...) como
generalista aqui, (...) escolher determinada modalidade (...) e passar isso como a única
possibilidade, eu acho que eu tenho que fazer um maior número possível de possibilidades pra
que o aluno escolha aquela que ele tem mais afinidade, (...) se vc tiver um desenvolvimento de
habilidades motoras e uma experimentação de habilidades motoras, uma conscientização das
habilidades motoras básicas, a partir daí vc consegue deixar com que a pessoa escolha e
desenvolva aquilo que tem mais prazer, que tem mais retorno pra ele . . .”
E3L-
GPA
Os objetivos, (...) , da IE deveriam ser mais amplos, (...) dar toda gama de oportunidades
que uma criança pode ter, (...) , a IE tá errada pq começa muito cedo e limita o desenvolvimento
99
de outras capacidades da criança, acaba tornando ele, (...) tornando essa criança assim, limitada,
em termos de aprendizagem motora.”
E4L-
GPA
“. . .a IE, (...) , é trabalhar qualidade de vida, (...) , a gente inicia uma atividade pensando no
bem estar das pessoas, na saúde, no desenvolvimento, no desenvolvimento físico, motor,
psicológico, (...) , ele ajuda o desenvolvimento da criança, é o que mais ajuda, (...) , não
precisa ser com um esporte específico, . . ., se a gente tiver pontos que possa desenvolver, pq a
gente crianças com, (...) sem nenhuma concepção do que é viver o esporte, vc a criança
que tem dificuldade com certa (...) dificuldade motora de um jeito, psicologicamente também, (...) ,
o esporte no geral, no âmbito geral, ele acaba ajudando a criança nisso aí, tanto
psicologicamente como motora.”
E1B-
GPA
“(...) eu acho super importante, (...) a infância é um momento legal (...) , pra gente estar
trabalhando “n” habilidades e n” tipos de modalidades pra criança se encontrar dentro
disso tudo e conseguir usar o esporte como meio de crescimento, (...) a IE é importante por
isso, ela espaço pra todo tipo de contato, de conhecimento, de desenvolvimento motor,
e aí então, no futuro talvez, se a criança realmente quiser, (...) enfim, então, é questão de ter
contato com tudo, com rítmo, com todos os tipos de habilidades, eu acho muito importante (...) ,
pra formação, construção motora do indivíduo durante toda a vida.”
“(...) experimentar todo o tipo de (...) de vivência (...) experimentar um monte de coisas, acho que
essa é a palavra mais importante, poder ta vivenciando cada coisa, (...) é vc dar um leque de
opções (...) “
E2B-
GPA
A IE eu definiria como uma preparação, (...) , uma primeira fase pra se chegar ao
esporte(...) . na IE vc pode trabalhar algumas coisas que possam auxiliar na hora que vc vai fazer
o esporte, por ex. correr, saltar, girar, algumas das habilidades, isso com materiais ou não, (...) “
E1-
GPF
“O esporte, sendo trabalhado como exercício, (...) como atividade física, a IE consistiria em
estruturação de base, de movimentos de base daquele esporte, (...) seria a aplicação ou o
processo de ensino aprendizagem dos fundamentos daquele esporte, (...) agora o esporte
enquanto conteúdo da EF escolar ele tem outros objetivos(...) além de eu ter como objetivos o
ensino do fundamento desse esporte, antes eu vou trabalhar com jogos pré esportivos pra chegar
nesse esporte que eu quero e antes eu vou trabalhar com as atividades motoras que são
fundamentais pra aquisição dos fundamentos desse esporte, (...) , eu nunca trabalharia com o
esporte primariamente, (...) quando eu faço o esporte como atividade física, a minha prioridade é o
ensino e a aprendizagem, dos fundamentos desse esporte, obviamente que perpassa um
processo educacional, mas quando eu trabalho com o esporte enquanto conteúdo da EF escolar
eu trabalho primariamente os movimentos fundamentais pra chegar no esporte, (...) o meu objetivo
é ter esse esporte como um dos conteúdos, mas não como a única coisa a ser trabalhada, e como
atividade física ela é o conteúdo, a coisa a ser trabalhada efetivamente, (...) Na EF escolar, eu
chego ao fundamento, eu não quero o fundamento, eu chego a ele e no esporte enquanto
atividade física eu quero o fundamento, é isso que eu . . .é o meu objetivo principal.”
“(...) mas na escola, (...) , a IE sendo adequadamente estruturada, ela pode e ela efetivamente
contribui para o desenvolvimento da criança, mas (...) , os objetivos, as estratégias, e até mesmo
as performances que a gente exige devem ser diferenciadas, (...) “
E2-
GPF
“(...) hoje eu prefiro trabalhar com educação desportiva, (...) sabe que vai tratar o desporto
como seu conteúdo central e tendo esse desporto como conteúdo central, vc vai trabalhar numa
perspectiva de socializar esse patrimônio cultural da humanidade, que é o papel da
educação, então vc fecha, como o próprio Saviani diz, (...) o papel do educador é (...) socializar o
patrimônio cultural da humanidade, (...) , de preferência radicalmente, histórico-criticamente, (...) é
por isso que o desporto não pode ser tratado na sua dimensão da aparência, de ensinar os
fundamentos e tal, fundamentos têm que ser visto como fundamentos na sua totalidade,
fundamentos sociológicos, fundamentos históricos, fundamentos filosóficos e também os
fundamentos fisiológicos que não podem, que só podem ser dissociados, numa perspectiva
didática, mas que no fundo existe uma teoria sólida que conta dessa totalidade que é a teoria
social de formação do indivíduo.”
E3-
GPF
“(...) uma preparação para a obtenção dos melhores rendimentos possíveis em cada uma
das idades, (...) a I como alguns pressupostos que vão sendo (...) apresentados a medida que são
dominados os movimentos, se avançam nessas solicitações, em movimentos mais difíceis, todos
eles construídos; (...) , com base nas regras de cada uma das modalidades, nos melhores
rendimentos possíveis de ser executados em cada uma das faixas etárias de acordo com aquilo
que vai sendo aprendido.”
E4- “(...) processo de formação desportiva, (...) preparação preliminar, essa preparação
100
GPF preliminar consiste (...) em oportunizar o conhecimento, vivências, vivências motoras, tem
coisas embutidas, afetivas, lógico que tem, quando eu to falando em desporto eu to dando essa
abrangência, (...) , em sociabilização, em cooperação, em co-gestão, em co-responsabilidade, que
são princípios da Carta Brasileira de Desporto Escolar, (...) , então eu acredito muito nessa
formação preliminar, (...) é uma maneira de introdução, é uma maneira de iniciação, (...) essa
etapa preliminar, (...) criaria a possibilidade de vivências múltiplas, variadas, diversificas,
contribuindo dessa forma, com o desenvolvimento do cidadão, com o desenvolvimento da
saúde, com a integração das pessoas, (...) tem objetivos aí bastante amplos, através do
desporto, (...) , e que as crianças apresentam uma motivação pra isso, (...) falar em I desportiva,
(...) , ela se destina a uma coisa só; dentro da preparação preliminar, vc vai adquirir
vivências múltiplas, a I ela começa a partir do momento que as pessoas começam a
mostrar uma aptidão, um desejo de vivenciar determinados tipos de modalidades, (...) a
partir dali eu vejo uma necessidade de uma especialização aprofundada, (...) basicamente I pra
mim é isso aí, é um processo que vem, é uma etapa que vem a posteriori de um momento de
preparação preliminar, (...) que caberia (...) , no primeiro grau, (..), 5ª, série até ali, série,
da pra esse trabalho mais (...) é (...) global e a partir daí eu vejo (...) , a importância de começar
a se estabelecer alguns caminhos, (...) um projeto especializado, (...) daí deveria ter centros de
práticas, seja municipal, seja estadual, seja até federal (...)“
“(...) I ainda não se trata de um processo seletivo.”
Obs.:- O grifo é nosso.
Através das respostas, pode-se inferir uma concordância dos
participantes sobre a Iniciação Esportiva como uma etapa, “uma preparação
preliminar”, “uma primeira fase para se chegar ao esporte”, “um processo”, “ser
feita de maneira pensada, didática, planejada”, com a indicação de oito dos
sujeitos (E1-GDC, E2L-GPA, E3L-GPA, E1B-GPA, E2B-GPA, E1-GPF, E3-GPF,
E4-GPF). Na indicação de cinco sujeitos (E3-GDC, E4-GPF, E2-GDC, E4-GDC,
E1L-GPA), é feita uma outra concordância, quanto ao seu aspecto educacional,
onde a “valorização”, “formação do próprio ser”, a “socialização” e a “integração”
são questões principais; e, finalizando, dois sujeitos (E4L-GPA, E2-GPF) a
percebem com um uma visão mais ampla, genérica, envolvendo “socializar esse
patrimônio cultural da humanidade” e a “qualidade de vida”. Ressalta-se que um
dos participantes (E4-GPF) apresenta uma concepção mais ampla, no sentido de
abranger, tanto a visão da Iniciação Esportiva como uma “etapa”, um “processo”,
como uma contribuinte do “desenvolvimento do cidadão”.
101
Transportando a análise para os grupos, encontramos no GDC a
predominância da Iniciação Esportiva como um elemento educacional, de
“formação pessoal da criança”. Ao passo que, nos grupos GPA e GPF, a idéia de
consenso é a da Iniciação Esportiva como uma “formação”, uma “etapa
preliminar”.
Em síntese se pode fazer uma analogia com a compreensão de
Iniciação Esportiva na perspectiva do esporte-educação e do esporte-participação,
pois este é visto enquanto meio e não como fim em si mesmo, podendo se
constituir numa “etapa”, “primeira fase” ou “processo de formação”.
Neste contexto, se valoriza a questão do desenvolvimento humano
vinculado à promoção de habilidades, dos fundamentos esportivos, dos valores
vinculados à questão das regras.
No geral, a Iniciação Esportiva se constitui numa etapa de formação
da criança que poderá ou não prepará-la para a prática do esporte propriamente
dito.
Neste encaminhamento a Iniciação Esportiva é vista como uma fase
em que a criança deveria experienciar o movimento nos seus mais diferentes
componentes, visando o conhecimento de si e de quem está ao seu lado.
102
A questão número dois foi desmembrada, pretendendo-se com mais
esta pergunta, vislumbrar em quais locais os participantes visualizam a Iniciação
Esportiva acontecendo ou em que locais ela deveria ocorrer.
QUADRO XVIII – Locais onde a Iniciação Esportiva acontece.
Pergunta 2.1 – Em qual(ais) local(ais) a encontramos (espaços de atuação)?
E1-
GDC
- Escolas;
- Instituições especializadas, como escolinhas de basquete, futebol etc;
- Academias de judô;
- Clubes;
- Escolas.
E2-
GDC
- Na escola, existe uma intenção, talvez sem dar conta;
- Fora da escola, em R. Claro não acontece;
- Deveria acontecer em comunidades de bairro, centros recreativos a ser criados;
- Academias
- Escolinhas.
E3-
GDC
- Clubes;
- Escolas públicas, na minoria;
- Escolas particulares, em algumas, no horário contrário da aula, visando resultado (esportivista);
- Instituições não governamentais;
- Periferias bem distantes, com brincadeiras de rua;
- Bairros (instituições), por não profissionais (pessoas de boa vontade).
E4-
GDC
- não houve resposta.
E1L-
GPA
- prefeitura;
- clubes;
- escolas particulares;
- escolas estaduais;
E2L-
GPA
- Escola;
- Clube;
- Entidades municipal, estadual de treino;
- Escolinhas particulares;
- Nas escolas, através das ACDs (turmas de treinamentos) num nível educacional, são turmas
específicas de modalidades, mas não com um grau muito grande, os alunos vêm com uma
perspectiva de sociabilização, de lazer, além da questão da competição.
E3L-
GPA
- Escolinhas de esportes;
- Clubes;
- Entidades como SESI;
- Ginásio de esportes;
- na escola, nada a ver com a aprendizagem do esporte em si mesmo.
E4L-
GPA
- Centros esportivos de periferia – não existe mais;
- Campos de várzea – acabou;
- Hoje, em escolinhas particulares;
- Centros Sociais, projetos sociais, pela prefeitura –
estão voltando agora;
- Escolinhas de clubes particulares;
- A escola deveria iniciar, ensinar movimentos;
- As escolinhas viriam depois, com a especificidade.
E1B-
GPA
- Qualquer lugar;
- Qualquer material.
E2B-
GPA
- Áreas de lazer;
- Ruas, quadras, campos, ambientes fechados ou não;
103
- Clubes;
- Escolinhas;
- Escolas;
E1-
GPF
- ambiente escolar formal;
- ambiente “escolar informal” (escolinhas, clubes etc);
- na escola, como conteúdo da EF escolar;
- nas escolinhas e clubes, aprendizagem daquele esporte;
E2-
GPF
- nas prefeituras;
- nos clubes;
- nos campinhos, já menos;
- não vejo problema do desporto da escola, na escola;
- o problema não é onde está acontecendo, mas como está acontecendo;
E3-
GPF
- não houve resposta.
E4-
GPF
- escolares, principalmente escolares;
- vilas;
- “(...) partindo do pressuposto de que as crianças deveriam estar na escola, e que a atividade
física, a EF fosse valorizada dentro da escola, (...) , eu acho que o problema estaria de uma certa
forma resolvido, pq o acesso aconteceria naturalmente, . “;
- escola, mais global, gerências mais amplas;
- centros de práticas (municipal, estadual, federal), escolinhas do município, dentro de empresa,
um projeto especializado;
Com as respostas obtidas, pode-se perceber que para os
participantes, há um local claro onde a Iniciação Esportiva ocorre ou deveria
ocorrer, pois onze sujeitos (E1-GDC, E2-GDC, E3-GDC, E1L-GPA, E2L-GPA,
E4L-GPA, E1B-GPA, E2B-GPA, E1-GPF, E2-GPF, E4-GPF) a percebem tanto no
espaço do ensino formal, “escolas” “públicas” e “particulares”, quanto no espaço
não formal das “escolinhas de esporte”, “clubes”, “centros esportivos”, entre
outros. Pode-se inferir que também uma alusão quanto a espaços públicos,
privados e ONGs, quando os participantes relacionam os espaços como
“prefeitura”, “entidades municipais, estaduais de treino”, “centros sociais”
públicos; “escolinhas de esporte”, “escolinhas de clubes”, “academias” privado;
e, “instituições não governamentais” – ONGs.
Nesta questão, os grupos (GDC, GPA, GPF) apresentam uma
uniformidade nas repostas, como pode ser observado acima.
104
Com a terceira pergunta, pretendeu-se averiguar junto aos
participantes do estudo a faixa etária ideal para a Iniciação Esportiva.
QUADRO XIX – Faixa etária da Iniciação Esportiva
Pergunta 3 - Qual faixa etária que a iniciação esportiva abrangeria? Como você chegou a esta
organização (ou proposta, ou divisão)?
E1-
GDC
- Iniciar por volta de 11 anos;
- Exceções, por ex, natação a partir dos 04 anos;
- 5ª série como referência para iniciação geral em algumas modalidades coletivas
E2-
GDC
- não houve resposta.
E3-
GDC
- A partir dos 11 anos é a idade tida como ideal;
- 11 anos com esporte propriamente dito;
- Antes dos 11 anos, enriquecimento do repertório motor.
E4-
GDC
- Dos 07 até os 16 anos, divididos em faixas;
- Diferença no futsal feminino, número de praticantes reduzido, divisão diferenciada;
- São 04 as faixa, ex, de 07 a 09, de 09 a 12, mais ou menos;
- Karatê tem as mesmas divisões, mas vai até a idade adulta.
E1L-
GPA
- IE, a partir de 12-13 anos;
- 10-11 anos, pequenas pinceladas, pequena introdução ao esporte;
- 12-13 anos.
E2L-
GPA
- 9, 10, 11 anos, dá para começar com alguma coisa;
- 5ª série, 11 anos, é a idade boa para começar;
E3L-
GPA
- 6, 7 anos, está acontecendo, mas é muito cedo;
- a partir de 11, 12 anos;
- acima dos 11 anos.
E4L-
GPA
- 12 anos;
- 10 anos, diversão, lúdico, brincadeiras;
- 6, 7, 8 anos não pode cobrar resultados;
- 11 anos a criança já entende;
- 13 anos já está competindo;
- abaixo de 11 anos, lúdico.
E1B-
GPA
- a idade não pode ser vista como fator limitante;
- 4, 5 anos, já pode começar, experimentar, fazer experimentações;
- 8, 9 anos, já começa com trabalho de IE;
- 12, 13 anos, já entra na fase de habilidades específicas.
E2B-
GPA
- a partir dos 7 anos a criança começa a entender propriamente esses esportes;
- antes dos 7 anos, atividades lúdicas, brincadeiras, jogos;
- a partir dos 7 anos, atividade mais dirigida, direcionada para uma prática de um esporte;
- dividida em faixas: 7-8, 9-10, 11-12 e 13-14, isto é, dos 07 aos 14 anos.
E1-
GPF
- não vejo a idade cronológica como um determinante;
- de uns 08 ou 10 anos, iniciar em dois ou três esportes similares;
- a partir dos 12, 13 anos, fixar em um esporte;
- a partir dos 06, 08 anos, trabalhar alguma coisa próxima das modalidades (futebol, handebol,
basquete etc), sem repetitividade, sem cobrança do ato mecânico, mas sim a interiorização do
movimento;
E2-
GPF
- a cultura é transmitida das gerações adultas para as gerações menores;
E3-
GPF
- conforme a modalidade;
- natação, é mais precoce;
- a ginástica, a olímpica, artística e a GRD, têm I anterior;
- a maioria das outras modalidades: no masculino, por volta do 10-12 anos e no feminino, por
volta dos 10 anos;
105
E4-
GPF
- a partir dos 06 anos, cultura física geral, conhecimento amplo do desporto, oportunidade de
conhecer, vivenciar, propiciar um processo multifacetado de vivências esportivas amplas, até por
volta dos 13 anos, se quiser, descobrir algum potencial, caminhar para um determinado tipo de
desporto;
- 05-06 anos, desenvolver valores da cultura desportiva;
- por volta dos 13 anos, fase de optar por alguma coisa, se gostar;
- 1º grau, preparação preliminar, 5ª, 6ª e até 7ª série, trabalho mais global;
- 1ªs. séries do 2º grau, estabelecer alguns caminhos, uma especialização;
Esta questão trouxe um consenso sobre a faixa etária em que ocorre
a Iniciação Esportiva, sendo 11 anos a idade ideal para dar início as primeiras
noções do esporte, em especial as modalidades coletivas, “iniciar por volta de 11
anos”, “5ª série como referência”, “10-11 anos, pequena introdução ao esporte”,
sendo que para as modalidade individuais como natação e ginástica olímpica,
permiti-se o início mais cedo, com idade inferior, conforme a modalidade”,
“natação a partir dos 4 anos”, a ginástica, a olímpica, artística e a GRD, têm
Iniciação anterior”. Estes apontamentos foram feitos por nove dos sujeitos
entrevistados (E1-GDC, E3-GDC, E1L-GPA, E2L-GPA, E3L-GPA, E4L-GPA, E1-
GPF, E3-GPF, E4-GPF), embora outros três (E4-GDC, E1B-GPA, E2B-GPA)
tenham indicado idades inferiores (7, 8 e 9 anos), como “8, 9 anos, já começa com
trabalho de Iniciação Esportiva”, “dos 07 até os 16”, e os outros dois sujeitos (E2-
GDC, E2-GPF) não tenham respondido.
Como na questão anterior, os três grupos GDC, GPA e GPF, são
unânimes ao pontuar a idade dos onze anos como a ideal para o trabalho com a
Iniciação Esportiva.
106
Com a quarta pergunta, os participantes do estudo puderam indicar
quais eram os profissionais que atuavam em suas instituições com Iniciação
Esportiva. Sendo um dos grupos (GPF) constituído por professores universitários,
com estes participantes buscou-se compreender como se dá o processo das
disciplinas de fundamentos esportivos naquelas instituições de ensino.
QUADRO XX – Profissional que atua na Instituição de origem com a Iniciação
Esportiva
Pergunta 4 - Na sua instituição quem trabalha (profissional) com a iniciação esportiva (ou
fundamentos esportivos – se universidade)? Por quê?
E1-
GDC
- De 1ª a 4ª séries, professor de classe;
- Da 5ª série em diante, professor de Educação Física, especializado na modalidade de atuação.
E2-
GDC
- Professores de Educação Física.
E3-
GDC
- Professores licenciados e bacharéis;
- Profissionais da Educação Física;
- Profissionais registrados no sistema CONFEF/CREF;
- Capacitados e treinados regularmente pela instituição.
E4-
GDC
- Professores formados em Educação Física;
- Registrados no CREF;
- Somente um provisionado, não formado.
E1L-
GPA
- profissionais;
- professores de Educação Física;
- Licenciados.
E2L-
GPA
- professor de Educação Física;
- licenciado;
- bacharel, não.
E3L-
GPA
- bacharel e;
- licenciado
- profissionais de Educação Física.
E4L-
GPA
- profissionais da Educação Física;
- formados em Educação Física.
E1B-
GPA
- não houve resposta.
E2B-
GPA
- professores;
- graduados;
- bacharéis;
- licenciados.
E1-
GPF
- não houve resposta.
E2-
GPF
- são a partir do interesse de cada professor, o professor que dança de salão oferece a
dança de salão, o que tem simpatia por capoeira, eventualmente oferece capoeira, ou traz alguém
pra fazer capoeira, pq a capoeira também é uma (...) mas na grande maioria são os esportes
que a gente conhece, futebol de salão predomina, até por conta que a demanda é grande, . .
- como eu tenho algumas vantagens, pq eu domino tênis e domino voleibol, e basquete,
handebol, então eu posso diversificar mais essa demanda, e (...) isso eu acho um privilégio,
(...), vc esteriliza menos os seus conteúdos, (...) propondo alguns textos, pra discutir
questões importantes (...) ;
E3- - até então, as nossas disciplinas, (...), nos dois primeiros anos, um caráter mais pedagógico,
107
GPF
(...) apresentar questões pedagógicas do ponto de vista de atividades lúdicas, dentro de cada
uma das modalidades, (...) o ponto central era “atividades dicas”, que levassem ao
aprendizado daquela modalidade, (...);
- depois, à frente, (...) vai ter um aprofundamento nas mesmas disciplinas, (...), se ele for pra
bacharelado, então, nas modalidades desportivas, (...) se ele for pra licenciatura, (...)
questões pedagógicas, próprias da licenciatura;
- pro currículo novo, (...) alguns eixos transversais, (...) aparece ainda as disciplinas de
modalidade (...) vai ter um enfoque mais de aprendizagem, na questão lúdica, voltada mesmo pra
parte pedagógica e depois, (...) mais voltadas pro treinamento esportivo, um pouco de
treinamento e um pouco de pedagógica numa disciplina só;
E4-
GPF
- nem todas as disciplinas são práticas, tem disciplinas de cunho teórico e disciplinas de cunho
teórico-prático, (...) eu desenvolvo conceitos teóricos e depois aplicação prática, (...)
Obs.:- O grifo é nosso.
Nestas respostas, pode-se perceber junto aos grupos GDC e GPA
que nove sujeitos E1-GDC, E2-GDC, E3-GDC, E4-GDC, E1L-GPA, E2L-GPA,
E3L-GPA, E4L-GPA, E2B-GPA) indicam a formação em Educação Física
(Licenciados ou Graduados/Bacharéis) como necessária para os profissionais que
atuam em suas instituições, apontando ”professores de Educação Física”,
“profissionais da Educação Física”, “formados em Educação Física”, “graduados,
bacharéis, licenciados”, o que prevalece como a idéia da maioria dos participantes
destes grupos.
Num outro momento, dois integrantes do grupo GPD (E2-GPF, E4-
GPF) descrevem as disciplinas de fundamentos oferecidas em seus cursos
(Bacharelado/Graduação) e Licenciatura como atividades são oferecidas com
atividades práticas, mas também com o desenvolvimento de conceitos teóricos,
como “conceitos teóricos e depois aplicação prática”; enquanto que um integrante
(E3-GPF) apresenta as disciplinas através do seu enfoque, tendo “nos dois
primeiros anos, um caráter mais pedagógico” e “à frente, vai ter um
aprofundamento nas mesmas disciplinas”. Prevalecendo neste grupo (GPF) a
108
concepção dos conceitos teóricos mais a aplicação prática, como desenvolvimento
das disciplinas.
109
Nesta questão buscou-se verificar se os participantes
fundamentavam o seu conhecimento ou prática pedagógica a partir de
determinados saberes, como no quadro que se segue:
QUADRO XXI(a) – Conhecimentos específicos para atuar com Iniciação Esportiva
Pergunta 5 - Qual o tipo de conhecimento específico (conteúdos, disciplinas) que um
profissional (ou graduado), deveria ter para atuar com crianças? Por quê?
E1-
GDC
- Formação completa em Educação Física;
- Saber atuar na Educação Física geral;
- Ex-jogadores ou ex-atletas da modalidade que atua;
- Formação técnica.
E2-
GDC
- Base psicológica;
- Arte (criatividade);
- Conhecimentos específicos das modalidades;
- Conhecimentos pedagógicos;
- Conhecimentos antropológicos;
- Base geral;
- Não só disciplinas direcionadas, mas também as disciplinas afins;
- Capacitações.
E3-
GDC
- Arcabouço teórico;
- Desenvolvimento motor;
- Aprendizagem;
- Didática;
- Prática de ensino;
- Conhecimentos dos assuntos do dia a dia (cultura geral)
E4-
GDC
- Gosto pela modalidade específica;
- Especialista na modalidade.
E1L-
GPA
- ter feito e aproveitado muito uma faculdade muito boa;
- acesso constante a bibliografia, Internet etc;
- experiências anteriores em alguns ou algum esporte;
- conhecimento geral;
- filosofia da educação;
- filosofia da Educação Física;
- Sociologia;
- Psicologia do Esporte;
- Prática de Ensino;
- essas disciplinas influenciam diretamente na atuação, desde a pré-escola até o ensino médio,
de maneiras diferentes, cada uma dentro do seu patamar.
E2L-
GPA
- atualização;
- cursos de capacitação;
- intercâmbio com outros profissionais;
- Formação;
- Conteúdo teórico;
- Cursos de especialização;
- Observação de outros profissionais;
- Experiência em esporte favorece;
- para certas idades, o desenvolvimento motor;
- experimentação do movimento;
- treinamento nas suas diversas dosagens;
- técnica específica da modalidade;
- para a formação básica da parte técnica, as disciplinas de fundamentos.
E3L-
- desenvolvimento motor;
110
GPA
- psicologia do esporte;
- anatomia;
- recreação.
E4L-
GPA
- sensibilidade;
- percepção da criança.
E1B-
GPA
- conteúdos da Licenciatura;
- didática;
- prática de ensino;
- experiência propiciada pela prática de ensino;
- pedagogia do desenvolvimento;
- crescimento do indivíduo.
E2B-
GPA
- conhecimento amplo do ser humano;
- sociologia;
- fisiologia;
- psicologia;
- uma pouco de cada coisa;
- da psicologia até a fisiologia;
- desenvolvimento motor, cognitivo.
E1-
GPF
- vários conhecimentos;
- conhecimento mecânico, conhecer a estrutura mecânica da criança;
- conhecimento biológico, estrutura motora;
- conhecimento afetivo, a estrutura mental;
_ conhecimento social, estrutura social;
- anatomia;
- sociologia;
- história da educação;
- teoria da aprendizagem e controle motor;
- conhecimento do esporte em si;
- fisiologia;
- interelação entre as áreas médica, social, afetiva;
- conhecimentos pontuais que se interligam, inter cruzam, inter relacionam;
- conhecimento muito grande, em grandes e distintas áreas;
E2-
GPF
- conhecimento humanístico, principalmente a teoria histórico-social da formação do indivíduo;
- conhecer bem o desporto;
- tenha sentido a modalidade na sua plenitude;
E3-
GPF
- conhecimentos sobre aprendizagem motora;
- crescimento físico e desenvolvimento motor;
- especificidades das modalidades esportivas;
- saiba como se dá o ensino-aprendizagem ao longo, avanço da idade;
- sustentação biológica com enfoque na aprendizagem motora;
- a questão do ambiente interagindo nessa evolução biológica.
E4-
GPF
- o professor não deve ter uma formação super especializada;
- ter um nível de conhecimento em uma especialidade;
- não deve ter um domínio de um assunto, mas ter uma formação mais global.
Decorrente da leitura desses temas ou conteúdos organizou-se um
segundo quadro XXI(b), visando apresentar um novo mapeamento com base
nas seguintes categorias:
111
(1) Saberes Disciplinares – compreendido como aquele conteúdo
que fundamenta o corpo de conhecimento da Educação Física,
provenientes de três tipos de conhecimento:
a. Saber disciplinar amplo vinculado à relação ser humano-
sociedade {história, sociologia, filosofia, psicologia (da Educação
Física)}, biologia do corpo humano (anatomia, fisiologia,
crescimento e desenvolvimento) e conhecimento científico e
tecnológico (biomecânica, estatística);
b. Saber disciplinar identificador proveniente da dimensão cultural
do movimento (modalidades esportivas, ginásticas, capoeira,
jogos e brincadeiras, dança, recreação);
c. Saber disciplinar instrumental trata-se do conteúdo do saber
disciplinar amplo que é aplicado de forma mais técnica.
(2) Saberes Pedagógicos entendido como aquele conteúdo que
perpassa a prática pedagógica em termos de fundamentação,
estabelecendo relações de natureza epistemológica com o saber
disciplinar. Este tipo de conteúdo tem como fonte de origem as
ciências de educação e de ideologia educacional, abarcando
recortes ligados a filosofia da educação, psicologia da educação,
sociologia da educação, antropologia da educação, história da
educação.
(3) Saberes Didático-curriculares compreende os conhecimentos
relacionados aos objetivos, estratégias, ensino, orientação,
112
avaliação, que estão vinculadas à prática pedagógica,
estabelecendo relações de interdependência com o saber
pedagógico e saber disciplinar.
(4) Saberes Experenciais este conhecimento compreende os
saberes provenientes da socialização primária e da socialização
secundária, provenientes das ciências motoras em escolas,
clubes, academias, bem como dos estágios na formação
acadêmica e da própria prática profissional, podendo ser melhor
entendido como:
a. Saber experiencial formal provenientes do período de formação
acadêmica e de prática profissional decorrentes dessa formação
sistematizada;
b. Saber experiencial não formal proveniente das vivências, como
foi colocado, de socialização primária.
(5) Saberes da Formação Geral apresenta-se como conteúdos
necessários para se trabalhar com a iniciação esportiva, a
formação tida no curso de Educação Física e ou vincula-a à
formação do generalista.
(6) Saberes da Formação Restrita vincula-se à compreensão de
que para se atuar na iniciação esportiva a pessoa precisaria ter
uma formação especializada ou voltada para determinada
modalidade ou conteúdo, ou ainda, voltada para determinada
área, campo ou curso.
113
(7) Saberes Genéricos trata-se de apontamentos indefinidos e/ou
de conteúdos temáticos ou comportamentos que não apresentam
uma relação direta com as categorias de conhecimento que
foram arroladas anteriormente, mas que são lembradas na
constituição do perfil de quem vai atuar na Iniciação Esportiva.
QUADRO XXI(b) – Saberes específicos da Iniciação Esportiva
(1) Saberes
Disciplinares
(4) Saberes
Experienciais
SABERES
SUJEITOS
a
b
c
(2) Saberes
Pedagógicos
(3) Saberes
Didático-
curriculares
a
b
(5) Saberes
da Formação
Geral
(6) Saberes
da
Formação
Restrita
(7) Saberes
Genéricos
E1-GDC X X X X
E2-GDC X
X X X X X
E3-GDC X
X X X
E4-GDC X X
E1L-GPA X
X X X X X X X
E2L-GPA X
X X X X X X X
E3L-GPA X
X
E4L-GPA X X
E1B-GPA X
X X X
E2B-GPA X
X X X
E1-GPF X
X X X X
E2-GPF X X X X X
E3-GPF X
X X
E4-GPF X X
Buscando melhor compreender os resultados obtidos nesta questão,
no eixo vertical, analisou-se o quadro acima e percebeu-se que, para os
entrevistados, sobre os Saberes Disciplinares, uma ênfase no saber disciplinar
amplo (9) relação ser humano-sociedade, biologia do corpo humano e
conhecimento científico e tecnológico, como determinante para o profissional que
vai atuar com o espaço da Iniciação Esportiva. Passando para uma análise de
114
cada grupo individualmente, percebe-se que no GDC, uma indicação para o
saber disciplinar amplo (2); no GPA, os saber disciplinar amplo (5) também tem
maior indicação; enquanto que no GPF, a maior indicação é para o saber
disciplinar identificador (3) – dimensão cultural do movimento.
Sobre os Saberes Pedagógicos, obteve-se o número de seis (6)
indicações, sendo elas dos grupos: GDC (1), GPA (3) e GPF (2).
Os Saberes Didático-curriculares tiveram somente quatro (4)
indicações, duas do grupo GDC, duas do grupo GPA e nenhuma indicação do
grupo GPF.
Com relação aos Saberes Experienciais, obteve-se uma maior
indicação para o saber experiencial não formal (5) provenientes de vivências.
Analisando-as separadamente nos seus grupos, tem-se: GDC, saber experiencial
não formal (1); GPA, saber experiencial formal (3) – formação acadêmica; e, GPF,
uma (1) indicação para cada saber experiencial (formal e não formal).
Sobre os Saberes de Formação Geral, foram apresentadas oito (8)
indicações dos entrevistados. Divididas nos grupos particulares tem-se: no GDC e
no GPA, três (3) indicações; e, no GPF, duas (2) indicações.
Houve a indicação de nove (9) participantes para os Saberes da
Formação Restrita. Obtendo-se um equilíbrio entre os grupos (GDC, GPA e GPF)
com três (3) indicações para cada.
115
Finalizando, os Saberes Genéricos, que envolvem conteúdos e
apontamentos indefinidos em relação aos anteriores expostos, obtiveram um
apontamento de seis (6) participantes. Divididos nos grupos temos: no GDC e no
GPA, três (3) indicações cada e, no GPF, nenhuma indicação.
Dessa forma, apontou-se com maiores indicações, no eixo horizontal,
os Saberes Disciplinares (9), com ênfase maior no saber disciplinar amplo e os
Saberes da Formação Restrita (9), podendo-se inferir que, para os participantes
são necessários conhecimentos de ordem geral, amplo, próprios da formação
acadêmica, e também conhecimentos específicos, ou seja, voltados
prioritariamente para a atuação com a Iniciação Esportiva.
116
Com esta pergunta e a próxima, na entrevista, o objetivo foi levantar
dados que auxiliassem na construção do perfil profissional de quem vai trabalhar
com a Iniciação Esportiva, em termos de qualificação. Paralelo a esta perspectiva,
buscava-se também, levantar características do habitus de quem atua com esta
intervenção. No quadro que se segue são apresentados os apontamentos dos
diferentes participantes.
QUADRO XXII(a) – Perfil profissional para atuar com Iniciação Esportiva.
Pergunta 6 - Em sua opinião, qual é o perfil profissional (conhecimentos, comportamento,
atitudes) que a pessoa deveria ter para trabalhar com a iniciação esportiva?
E1-
GDC
- Capacidade de entusiasmar;
- Liderança;
- Trato adequado;
- “Descolado”;
- Animado.
E2-
GDC
- Postura;
- Capacitações;
- Promover multiplicadores;
- Promover prevenção da saúde e das drogas.
E3-
GDC
Dois perfis:
- para atuar com crianças carentes
Postura firme, mas carinhosa;
Foco na criança;
Gostar de crianças;
Preocupação com o desenvolvimento da criança;
Firmeza, impor limites mas demonstrar preocupação.
- para atuar com crianças de classe social mais alta
Firmeza nos limites;
Atenção, carinho sim, mas com resultados;
Jogo de cintura quando seus princípios chocarem com os interesses dos outros.
E4-
GDC
- Gosto pela especialidade;
- Sério;
- Competente;
- Amor ao esporte;
- Gosto pela criança, prazer de lidar com ela;
- Gostar de trabalhar com crianças.
E1L-
GPA
- segundo pai;
- modelo;
- espelho positivo;
- colaborar com as necessidades específicas de cada aluno.
E2L-
GPA
- perspectiva educacional;
- perfil pedagógico;
- perfil do educador;
- tanto para o clube ou para a escola, ter a perspectiva da docência, do aprendizado, do respeito;
- preparo psicológico;
Pedagogia voltada para a formação do ser humano como um todo;
- vontade de fazer, boa vontade;
- boa vontade + procura, supera a falta de experiência;
117
- conciliar aspecto prático, aspecto de vivência com a formação continuada;
- confiável para o aluno;
- intercâmbio com os alunos;
- capacidade para o trabalho em grupo, coletivo;
- visão crítica.
E3L-
GPA
- ser maleável;
- saber lidar com as diferenças individuais;
- respeitar o limite de cada criança;
- atualização, buscar conhecimentos diferentes de diversas áreas;
- gostar do que faz;
- ter um desempenho como professor, como educador;
- ser educador, não general;
- saber lidar com as individualidades, como: crianças carentes, deficientes físicos etc;
- fazer a inclusão social dos gordinhos, pobres, deficientes;
- agregar valores durante a aula.
E4L-
GPA
- gostar de criança;
- conhecer o que faz e passar corretamente;
- vivência no esporte específico ajuda, mas tem que estudar;
- entender o que faz, a modalidade que atua;
- criativo, o professor tem que criar.
E1B-
GPA
- saber o timing da criança, do adolescente;
- saber como trabalhar com a criança;
- ter uma construção interna apropriada para atuar com crianças;
- ser maleável;
- extremamente criativo;
- gostar muito desse tipo de trabalho;
- saber que não há resultado imediato, ou até não exista resultado;
- fazer porque gosta.
E2B-
GPA
- conhecer o grupo;
- conhecer o local, o ambiente que está trabalhando;
- conhecer a cultura específica do local.
E1-
GPF
- estudioso; interessado, respeito ao próximo, as limitações do próximo e as próprias limitações;
- sonhador realista; desejar cada dia mais, estruturar melhor seus programas, o seu ensino, a
aprendizagem do aluno;
- dá liberdade pra criar;
- percebe as diferenças;
- professor-educador; tudo, psicólogo saber ouvir, saber falar, enfermeiro saber cuidar das
feridas externas e internas, mãe ou pai amar e ao mesmo tempo ser duro; um perfil muito
amplo;
- amar muito as pessoas;
- se respeitar muito e respeitar as pessoas;
- ter um discernimento bastante amplo;
- além de ser um professor, que é aquele que ensina, ser um educador, que é aquele que além de
ensinar, questiona, possibilidades de . . de que haja uma troca de experiências, então um
educador, . . . Um educador que pode ser um licenciado e pode ser um bacharel ou graduado, . .
- há de se ter um educador, . . . aquele que está preocupado com o processo que vai gerenciar,
que vai ordenar todas as seqüências, todas as atividades pra gerar a aprendizagem,
independente do ambiente que aquilo está acontecendo, . . . existe o educador que trabalha na
escola, . . . o educador que trabalha no hospital, . . . o educador que trabalha na fábrica, . . . este
é o profissional, é um educador competente, então . . . , é pleonasmo, . . . , mas o educador há de
ser competente e o competente há de ser um educador, . . .
E2-
GPF
- um perfil humano, no sentido técnico e político;
- ter competência técnica;
- ser um militante permanente nesse processo de pra que e pra quem é o que eu to ensinando,
com qualidade;
- dar sentido ao desporto;
- a EF nos dá a possibilidade de trabalhar com humano ao mesmo tempo se humanizando;
E3-
GPF
- experiência próxima da modalidade que vai estar atuando;
- alguma passagem em alguma modalidade como elemento facilitador;
118
- quem não teve elemento facilitador, a sistemática que nós estamos ofertando nessa matriz
curricular é suficiente pra dar uma boa formação, agora esse aluno é que vai ter que ir buscando
abrir os seus espaços futuramente, . . .
E4-
GPF
- ter alguns valores, que são peculiaridades de todas as etapas;
- afetuoso, afetivo;
- um bom companheiro;
- um pai;
- um amigo pras dificuldades;
- trabalhar bem essas questões;
- um papel de acomodação do ambiente;
- liderança;
- honestidade;
- diz uma determinada coisa e é coerente com atitudes, a coerência entre o discurso e a prática;
- um conhecimento altamente especializado é legal se for relacionado com esses aspectos
humanos;
- pontualidade;
- assiduidade;
- disciplina, solidariedade, participação, co-responsabilidade;
- responsável por aquilo que faz;
- sempre parceiro de uma situação;
Considerando os apontamentos, descrições, competências, saberes
ou atributos pessoais de natureza afetivo-social, moral, motora ou cognitiva,
elaborou-se as seguintes categorias:
(1) Qualificação Pessoal - esta competência ou qualidade apareceu
relacionada às descrições que consideraram como importante valorizar,
enfatizar ou assinalar os seguintes aspectos:
a. escolha (pessoal) – restrita ao gostar do que faz, gosto pela
especialidade, gosto pelo esporte;
b. afetividade gostar de criança, gostar de trabalhar com criança,
amar as pessoas, atenção, carinho;
c. sociabilidade – gostar de pessoas, solidariedade;
d. moralidade respeito, discernimento, limite, postura, coerência,
honestidade, pontualidade, assiduidade;
119
e. capacidade (habilidade) liderança, trabalho em grupo,
entusiasmar.
(2) Qualificação Profissional – esta competência ou qualidade pode ser
relacionada às descrições que apontaram como características
importantes dessa temática, o conhecimento e/ou habilidade vinculados
aos seguintes saberes:
a. técnico-instrumental – conhecer o que faz, competência técnica;
b. pedagógico preocupação com o desenvolvimento da criança,
saber lidar com as diferenças individuais, respeitar o limite de
cada criança;
c. didático-curricular – conhecer o grupo, conhecer o local, conhecer
a cultura específica do local;
d. experencial - vivência no esporte específico, entre outras;
e. gerais ou ecléticos quando se refere ao fato de que o
profissional deveria saber um pouco de tudo.
(3) Qualificação Sócio-política Esta competência ou qualidade apareceu
relacionada às descrições que consideravam como relevantes ter uma
postura crítica com relação à realidade, bem como, de
comprometimento com a formação continuada.
a. postura crítica – visão crítica;
b. formação continuada – capacitações, estudioso.
(4) Perfil Profissional Com relação ao perfil profissional, objetivamente os
apontamentos se restringiram a uma perspectiva funcional de
120
identidade, de natureza familiar, acadêmica (conhecimento, curso),
educacional ou profissional.
a. identidade familiar esta perspectiva aparece quando o
“profissional” é vinculado a imagem do pai, do companheiro, do
amigo, do parceiro;
b. identidade acadêmica esta perspectiva aparece quando as
descrições se referem ao perfil que o profissional deve ter,
vinculando-o a determinada área de conhecimento, como a
pedagógica ou curso de formação licenciatura, o bacharelado,
ou que simplesmente deve ter formação;
c. identidade educacional esta identificação está presente quando
a descrição se refere a perspectiva educacional desse perfil
profissional, apontando o exercício da docência tanto para o
clube quanto para a escola;
d. identidade profissional esta perspectiva apareceu quando as
descrições apontaram para o perfil do educador, do professor, do
professor-educador, perfil generalista.
Com o intuito de melhor apresentar os apontamentos dos
participantes, baseados nas categorias acima propostas, elaborou-se um novo
quadro, referente à pergunta número seis (6).
121
Quadro XXII(b) – Perfil profissional – competências e/ou qualidades
(1) Qualificação Pessoal
(2) Qualificação
Profissional
(3)
Qualificação
Sócio-política
(4) Perfil Profissional
PERFIL
PROFISSIONAL
SUJEITOS
a b c d e a b c d a b a b c d e
E1-GDC X X
E2-GDC X X X
E3-GDC X X X X
E4-GDC X X X X
E1L-GPA X X X
E2L-GPA X X X X X X X X
E3L-GPA X X X X X
E4L-GPA X X X X
E1B-GPA X X X X
E2B-GPA X
E1-GPF X X X X X X X X X
E2-GPF X X X X X
E3-GPF X X
E4-GPF X X X X X X X X
Com este novo quadro, pode-se observar, no eixo vertical, que na
Qualificação Pessoal prevaleceu as indicações que enfatizam os aspectos
relacionados à moralidade (8) respeito, limite, postura etc, e
capacidade/habilidades (8) liderança, trabalho em grupo, entusiasmar, para com
o campo de intervenção. Porém no âmbito de cada grupo, para o GDC a
moralidade (4) foi o aspecto mais importante, enquanto que para o GPA e GPF foi
a capacidade/habilidade (3) para com o campo de intervenção.
122
Com relação à Qualificação Profissional, enfatizaram-se indicações
relacionadas ao saber técnico-instrumental (6) saber o que faz, competência
técnica, e saber pedagógico (6) saber lidar com as diferenças individuais,
respeitar o limite de cada criança etc. Todavia, quando se observa cada grupo
isoladamente, o quadro que se percebe é: no GDC tem-se uma (1) indicação para
o saber cnico-instrumental e uma (1) indicação para o saber pedagógico; no
GPA, as indicações foram para o saber pedagógico (3); e, no GPF, para o saber
técnico-instrumental.
Sobre a Qualificação Sócio-política, a ênfase foi para a formação
continuada (4) capacitações, estudioso, enquanto que no âmbito dos grupos,
houve equilíbrio no GDC, com uma (1) indicação para a postura crítica visão
crítica, e uma (1) indicação para a formação continuada; no GPA prevaleceu a
formação continuada (2); e, no GPF, também houve equilíbrio com postura crítica
(1) e formação continuada (1).
Em relação ao Perfil Profissional, prevaleceram as indicações que
sublinhavam a identidade familiar (4) o profissional é vinculado a imagem do pai,
do companheiro, do amigo etc. Entretanto, quando se analisa cada grupo, o
resultado que se encontra assinala: GDC, nenhum indicativo; GPA, equilíbrio entre
identidade familiar (2) e identidade profissional (2) perfil do educador, do
professor, perfil generalista, perfil do professor-educador; e, GPF, também
equilíbrio, mas entre identidade familiar (2) e identidade educacional (2) – aponta o
exercício da docência tanto para o clube quanto para a escola.
123
Cabe ressaltar, para uma melhor compreensão destes resultados,
que esta pergunta foi feita solicitando um perfil, independente dos conhecimentos
específicos necessários (formação, conhecimentos acadêmicos), que haviam sido
questionados anteriormente na pergunta cinco (5). Por isso, poucas indicações
dos entrevistados para este aspecto, nesta questão (6).
Finalizando a análise destas questões, observou-se que, no eixo
horizontal, dentre essas competências e/ou qualidades, as que se apresentaram,
de forma mais incisiva, neste perfil profissional foram as inseridas na Qualificação
Pessoal, repetindo-se novamente, a moralidade (8) e a capacidade (habilidade)
(8). Assim, percebe-se que para este perfil, de fato, apontou-se qualidades e/ou
competências mais próximas da especificidade deste campo, além da questão da
moralidade, inferindo-se que deve ser um aspecto específico, em termos de
valores, para quem vai trabalhar com essa faixa etária.
124
Com o próximo quadro, buscou-se observar se os participantes
apresentavam um perfil para o profissional que vai atuar com a Iniciação
Esportiva, num sentido mais amplo, completo.
QUADRO XXIII(a) – Profissional que o entrevistado contrataria para atuar com
Iniciação Esportiva.
Pergunta 7 - Quem você contrataria para trabalhar com a iniciação esportiva? Por quê?
E1-
GDC
- Boa formação;
- Bom trato;
- Simpático;
- Afável;
- Tenha ascendência sobre os jovens;
- Tranqüila mas não indolente;
- Preocupado com o progresso e sucesso dos alunos dentro da atividade;
- Envolvido com os alunos;
- Respeitar, ser respeitado e zelar pelo respeito entre os alunos.
E2-
GDC
- Profissional;
- Não com muita bagagem, mas coerente, com postura;
- Bagagem multidisciplinar;
- Firmes propósitos no que vai fazer;
- Posição correta no que vai fazer e seguir a postura.
E3-
GDC
- Animado;
- Recreador;
- Ter conhecimento acadêmico;
- Gostar do lúdico;
- Proporcionar uma prática muito agradável;
- Profissional que acrescente, traga coisas novas;
- Respeito às crianças;
- Asseado;
- Boa conduta;
- Ter valores;
- Ser o exemplo, o ídolo;
- Verdadeiro;
- Amoroso;
- Ter a mesma filosofia da instituição;
- Desprendido (preparar para o mundo e não para si)
E4-
GDC
- Ter prazer, gosto pelo que faz;
- Atender os objetivos da instituição;
- Não visar resultados.
E1L-
GPA
- boa índole;
- bom caráter;
- conhecimento;
- currículo;
- experiências;
- formação acadêmica;
- aprimoramento, especializações;
- “QI”, quem indica.
E2L-
GPA
- experiência;
- formação;
- vivência incorporada;
- vibrante com o aprendizado, com o sucesso da turma;
- a fim de trabalhar com isso;
- formação;
125
- comprometimento;
- disponibilidade trabalhar um tempo além do combinado;
- vontade;
- amor, entusiasmo pelo negócio.
E3L-
GPA
- uma criança;
- bem humorado;
- maleável, ao mesmo tempo rígido;
- muito reponsável;
- trabalhe com tudo;
- saber um pouco de cada coisa;
- oferecer um pouco de tudo.
E4L-
GPA
- percepções esportivas de todas as modalidades;
- gostar do que faz;
- gostar do esporte em geral;
- conhecimento adquirido.
E1B-
GPA
- um palhação;
- animado, divertido;
- extremamente responsável;
- não tem tempo ruim;
- se entrega pro negócio;
- dedicado;
- acrescentar valores;
- querer construir, sem pressa de chegar ao resultado.
E2B-
GPA
- disposição para dar continuidade ao trabalho;
- interessada;
- curiosa;
- criativa;
- conhecimentos da faculdade.
E1-
GPF
- um profissional competente;
- licenciado, graduado, mulher, homem, novo, velho, não importa, competente;
- exteriorize o seu gostar por, é essencial;
- deter os conhecimentos e saber aplicá-los conscientemente;
- ter uma relação agradável com todos;
- demonstrar o quanto isso é importante, essencial pra vc;
E2-
GPF
- depende da demanda;
- que tivesse uma inquietação;
- ser coerente com aquilo, olhar pra criança vendo não só o que ela é, mas o vir a ser dela;
- quem realmente ta a fim de se engajar nisso, na questão da militância, militância no sentido de
na tua aula, estar sendo cúmplice;
- de ser apaixonado pelo que faz;
E3-
GPF
- que tenha essa formação, conheça sobre o processo biológico, de crescimento e
desenvolvimento motor, que conheça sobre aprendizagem motora;
- terá um algo a mais se tiver um elemento facilitador, se já participou da modalidade
E4-
GPF
- professores pra começar uma idéia nova, pessoas treinadas pra aquilo, jovens professores,
jovens profissionais, sem . . . experiência profunda, . . . , com muita vontade, com muita
motivação de fazer alguma coisa, de mostrar serviço, (...) um profissional jovem, ou seja, recém
formado, ou jovem de pensamento, (...) , um camarada que tivesse disposição para o trabalho,
(...) possibilidade de reunir, discutir idéias, (...) , caminhar na direção das idéias definidas, (...) a
capacidade da pessoa de ministrar uma aula e de coordenar essa aula com educação, com
respeito às pessoas, com envolvimento, (...)
- eu acho que eu faria uma avaliação pra ver esses conhecimentos relacionados a essas
disciplinas que eu te citei, crescimento, desenvolvimento, aspectos metodológicos do treinamento
mesmo, as diferentes faixas etárias, (...) uma avaliação permanente de qualquer sistema que vai
ser implantado, (...) ver se a pessoa tem o espírito de trabalhar em grupo, (...)
- ser formado pra trabalhar com a infância, na atividade com a infância;
- nesse momento inicial tem que ter esse perfil mais generalista;
126
Após a apresentação dos apontamentos dos participantes, baseados
nas categorias propostas anteriormente, apresenta-se um novo quadro, um
referente a pergunta número seis (6).
Quadro XXIII(b) – Perfil - profissional a contratar
(1) Qualificação Pessoal
(2) Qualificação
Profissional
(3)
Qualificação
Sócio-política
(4) Perfil Profissional
PERFIL
PROFISSIONAL
SUJEITOS
a b c d e a b c d a b a b c d e
E1-GDC X X X X X X
E2-GDC X X X X
E3-GDC X X X X X X X X X
E4-GDC X X X
E1L-GPA X X X X X X
E2L-GPA X X X X X X
E3L-GPA X X X
E4L-GPA X X X
E1B-GPA X X X X
E2B-GPA X X X
E1-GPF X X X X X
E2-GPF X X X X
E3-GPF X X X
E4-GPF X X X X X X X X X X
Após a análise deste quadro, obteve-se na Qualificação Profissional,
indicações que enfatizam os aspectos relacionados à escolha (9) gostar do que
faz, gosto pela especialidade, pelo esporte, e a moralidade (9) - respeito, limite,
127
postura etc, como condições necessárias para a atuação do profissional que vai
atuar com Iniciação Esportiva. Reportando a análise para os grupos, observa-se
que: no GDC, repete-se o equilíbrio demonstrado pelos entrevistados, apontando
a escolha (3) e a moralidade (3); no GPA, prevalece a indicação da moralidade
(4); e no GPF, o maior indicativo é para a escolha (3).
Relacionados à Qualificação Profissional, enfatizaram-se indicações
sobre o saber técnico-instrumental (6) gostar do que faz, competência técnica, e
o saber pedagógico (6) saber lidar com as diferenças individuais, respeitar o
limite de cada criança. Todavia, quando se observa cada grupo separadamente, o
quadro que se tem é: no GDC, maior incidência para o saber pedagógico (2); no
GPA, equilíbrio entre os saberes técnico-instrumental (3) e experiencial (3) –
vivência no esporte específico; e no GPF, maior indicativo para o saber técnico-
instrumental (3).
Sobre a Qualificação Sócio-política, a ênfase foi para a postura
crítica (6) visão crítica, enquanto que no âmbito dos grupos (GDC, GPA, GPF),
esta também foi a maior indicação: (2) para todos eles.
Em relação ao Perfil Profissional, prevaleceram as indicações que
sublinhavam a identidade acadêmica (9) vincula o perfil do profissional a uma
determinada área de conhecimento, como a pedagógica ou curso de formação, o
que também se aplica na análise particular dos grupos (GDC, GPA, GPF), onde
todos tiveram a mesma indicação: (3) para a identidade acadêmica.
128
Concluindo esta análise, percebeu-se que, no eixo horizontal, os
participantes apontaram um fechamento sobre a questão do perfil profissional para
atuar com Iniciação Esportiva, vinculando sua atuação às seguintes qualidades:
na Qualificação Pessoal, uma grande indicação para a escolha (pessoal) (9) e
para a moralidade (9); enquanto que, no Perfil Profissional a maior indicação é
para a identidade acadêmica (9). Portanto, pode-se inferir que, como nas
incursões anteriores (Quadro XXIb e XXIIb), o perfil ideal aponta para um indivíduo
com formação acadêmica, que tenha feito uma escolha pertinente (gostar do que
faz) e que apresente um caráter pessoal condizente com faixa etária e
necessidades específicas do campo em que vai atuar.
129
CAPÍTULO V
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Face aos resultados expostos no capítulo anterior, observou-se que
algumas respostas tornaram-se comuns, uniformes, enquanto que outras refletem
a pluralidade cultural ou mesmo uma diversidade, considerando que os
participantes desse trabalho são atores sociais provenientes de funções sociais
heterogêneas. Portanto, a discussão será iniciada baseando-se nas questões a
investigar” que foram arroladas na Introdução.
5.1 - No campo de intervenção da Educação Física, o esporte e a
iniciação esportiva possuem capital específico” no que diz respeito à
área de conhecimento?
A questão do capital específico foi tratada no tópico 2.3 - o esporte
como um espaço social, quando se referiu a Bourdieu (1983-1989) ao se falar de
campo e habitus. No âmbito desse processo, o capital específico foi entendido
como o capital social que cada pessoa possui proveniente de um campo
(científico, religioso, político, esportivo etc.). Dentro desse campo (que também
130
pode ser chamado de espaço social) quem dá legitimidade a ele é o capital
cultural ou nominação, na forma de um diploma, certificação.
Outro dado importante é que este espaço social se perpetua dentro
de uma estrutura de poder em que os dominantes, aqueles que possuem um
máximo de capital social e os dominados, aqueles que manifestam ausência do
capital específico que define o campo/espaço social, criando o que se denominou
de illusio.
No âmbito desse processo encontra-se a Educação Física e o
esporte (modalidades esportivas) como conteúdo da Educação Física. Da mesma
forma se pode dizer que o Esporte, quando analisado isoladamente, enquanto
fenômeno social, se constitui numa referência própria, ou seja, como área de
estudo e campo de trabalho.
Dessa forma, quando se pergunta se no campo de intervenção da
Educação Física, o esporte e a iniciação esportiva possuem “capital específico” no
que diz respeito à área de conhecimento, se quer saber se, como representação
de um universo dos saberes, eles possuem um corpo de conhecimento.
Em se tratando de Educação Física (BRASIL, 2004, p.1, 2), que é
considerada como uma área de conhecimento e de intervenção acadêmico-
profissional pode-se dizer que possui um corpo de conhecimento circunscrito ao
objeto de estudo ”movimento humano” que se organiza em dois grandes blocos de
conhecimento no processo de formação profissional: formação ampliada e
formação específica.
No bloco relacionado à formação ampliada encontram-se as
seguintes dimensões do conhecimento: relação ser humano-sociedade, biologia
do corpo humano e produção do conhecimento científico e tecnológico. Com
relação à formação específica esta abrange os conhecimentos identificadores da
131
Educação Física nas seguintes dimensões: cultural do movimento, técnico-
instrumental e didático-pedagógico. Neste encaminhamento, o esporte aparece
relacionado à dimensão cultural do movimento humano, sendo reconhecido como
um dos conhecimentos e conteúdos da Educação Física.
Porém, com relação aos participantes deste estudo, eles
reconhecem o esporte, conseqüentemente a Iniciação Esportiva, como algo que
possui um corpo de conhecimento, relacionado a:
(...) Arcabouço teórico; Desenvolvimento motor; Aprendizagem;
Didática; Prática de ensino; Conhecimentos dos assuntos do dia a
dia (cultura geral); (...) (E3-GDC – Quadro XXI(a))
(...) Conteúdos da Licenciatura; didática; prática de ensino;
experiência propiciada pela prática de ensino; pedagogia do
desenvolvimento; crescimento do indivíduo. (...) (E1B-GPA
Quadro XXI(a))
(...) Conhecimentos sobre aprendizagem motora; crescimento
físico e desenvolvimento motor; especificidades das modalidades
esportivas; saiba como se o ensino-aprendizagem ao longo,
avanço da idade; sustentação biológica com enfoque na
aprendizagem motora; a questão do ambiente interagindo nessa
evolução biológica. (...) (E3-GPF – Quadro XXI(a))
Ainda neste encaminhamento, ao reportar-se para a Legislação que
provavelmente fundamentou a formação dos entrevistados (Resolução CFE
69/69, Parecer CFE 672/69 e Resolução CFE 03/87), encontrar-se-ão
conhecimentos, saberes e disciplinas, como: Didática; Psicologia da Educação;
Matérias Gimnico Desportivas; Aprendizagem Motora; Psicologia Desportiva;
Teoria, Prática e Metodologia de diversos Desportos, entre outras (SOUZA NETO,
1999, p.107). Dessa forma, torna-se consistente a colocação dos entrevistados no
132
que se refere aos fundamentos e saberes específicos do profissional da Educação
Física para o Esporte e a Iniciação Esportiva.
5.1.1 – Esporte
Observou-se nas respostas apresentadas no Quadro XVI, sobre o
que é esporte, que os entrevistados m visões amplas e restritas do esporte,
podendo ser compreendida como esporte-educação, esporte-participação (que
englobaria atualmente, saúde e qualidade de vida) e esporte-competição.
Nos encaminhamentos dados, o esporte-competição foi visto como
uma atividade normatizada, regida por regras, institucionalizada, envolvida,
necessariamente, com a competição, seja ela de alto nível ou no nível mais
elementar, nas seguintes descrições:
(...) é uma atividade física organizada, (...), que tem um
conjunto de regras (...) envolvido em competições (...) (... ) a
gente pode fazer o esporte só recreativo, mas normalmente, (...), a
gente ta pensando num tipo de competição, por mais amena que
seja (...) (E1-GDC, Quadro XVI)
(...) algumas atividades que envolvem principalmente regras,
(...) regras específicas, (...) muito bem estabelecidas, ... têm
que ser cumpridas, (...) (E1L-GPA, Quadro XVI)
(...) uma atividade organizada, vc tem algumas regras, uma
atividade dirigida, organizada, vc tem algumas regras quando
existe competição (...) (E2B-GPA, Quadro XVI)
Estas descrições também encontram a sua referência na literatura
quando se coloca que por esporte-competição se entende
133
(. . .), o esporte-performance ou de rendimento, que muitos
chamam de esporte de alto nível ou alta competição, foi a
manifestação esportiva que norteou o conceito de esporte durante
muito tempo, e hoje representa apenas uma parte da abrangência
desse conceito. Foi a partir do esporte de rendimento que surgiram
o esporte olímpico e o esporte como instrumento político-
ideológico.
O esporte de rendimento é disputado obedecendo rigidamente às
regras e aos códigos existentes, específicos de cada modalidade
esportiva. Por isso é considerado um tipo de esporte
institucionalizado, do qual fazem parte federações internacionais e
nacionais que organizam as competições no mundo todo.
(TUBINO, 1999, p. 27-28)
Entretanto, também, como foi colocado anteriormente, a
compreensão do esporte em sentido amplo, nas suas mais diversas dimensões,
como esporte-participação, como “lazer”, “espetáculo”, “atividade lúdica”,
“qualidade de vida”, nas seguintes falas . . .
(...) tem o aspecto de lazer, o aspecto de espetáculo (...) tem
tantas vertentes ligadas a . . . ascensão social, a consumo, a
rendimento, a saúde (...) (E2L-GPA, Quadro XVI)
(...) esporte para todos, eu acredito nisso, eu acho que esporte é
para todos, desde da (...) da criancinha, até idoso, (...) (E3L-GPA,
Quadro XVI)
(...) e existe um desporto de participação, são aquelas pessoas
que não tem uma habilidade especial, uma capacidade especial
pra nenhum tipo de desporto competitivo, ainda que a tenha, que
tem essa capacidade, não quiseram seguir pro desporto de
competição, e é um direito de todos, (...) (E4-GPF, Quadro XVI)
Com relação a este aspecto se pode dizer também, que o esporte-
participação, de fato, assinala que:
O esporte-participação ou esporte popular, por sua vez, se apóia
no princípio do prazer lúdico, no lazer e na utilização construtiva do
tempo livre. Esta manifestação esportiva não tem compromisso
com regras institucionais ou de qualquer tipo e tem na participação
o seu sentido maior, podendo promover por meio dela o bem-estar
dos praticantes, que é a sua verdadeira finalidade.
134
O esporte-participação, pelo envolvimento das pessoas nas
atividades prazerosas que oferece, ainda proporciona o
desenvolvimento de um espírito comunitário, de integração social,
fortalecendo parcerias e relações pessoais. Ele propicia o
surgimento de uma prática esportiva democrática, que não
privilegia os talentos, permitindo o acesso de todos. É a
manifestação do esporte que mais se aproxima do jogo, sem
esquecer as suas ligações com a saúde. (TUBINO, 1999, p. 27-28)
Numa outra visão, o esporte também foi apontado como um meio
educacional (esporte-educação), como integrante de uma estratégia de formação
do ser humano em todos os seus aspectos, como se pode observar nestas
indicações . . .
(...) muda a formação do ser, (...) num contexto geral, não
físico, como psicológico, emocional e outros tantos, (...) (“E2-GDC
Quadro XVI)
(...) deporto educacional, (...) é que tem um desporto,
especialmente no sistema formal, educacional, que deve ter
prioridades com educação, (...) (E4-GPF – Quadro XVI)
(...) o esporte pode ser um meio educacional fabuloso, quando
bem direcionado, (...) (E1B-GPAQuadro XVI)
(...) tem que saber trabalhar isso no ambiente escolar e trabalhar
isso voltado pro aspecto educacional, (...)ele é uma ótima
ferramenta, (...)é uma das formas de manifestação humana mais
bonitas, (...)é uma ferramenta educativa, (...) (E2L-GPA
Quadro XVI)
Na literatura esta questão foi vista considerando que o “esporte-
educação tem um caráter formativo”, pois se “baseia em princípios educacionais,
como participação, cooperação, co-educação, integração e responsabilidade”
(TUBINO, 1999, p. 27). Portanto, é uma visão disseminada enquanto um enfoque
que tem na educação o seu fim. De forma que o esporte seria um meio para se
atingir estas finalidades.
135
No geral, embora distintas, estas visões não se contradizem, mas
expressam um mapeamento de intervenção num dado espaço social. Dessa
forma, pode-se vislumbrar no esporte, dependendo do enfoque, que . . .
(...) os seus participantes são denominados de atleta, o que
implica dizer que um conhecimento maior a respeito da história
de seus eventos esportivos, dos níveis e status das conquistas
prévias em seus eventos, dos ensinamentos técnicos, e, acima de
tudo da presença de juízes ou árbitros que fazem a existência das
regras formalmente prescritos de ações e processos evidentes.
(...) ou seja, o esporte envolve sempre uma situação de confronto,
vitória e esforço físico na designação do campeão e/ou do recorde.
(SOUZA NETO, 1992, p.30 e 32)
(...) um importante patrimônio cultural da humanidade (...)” “(...)
pode assumir características diferenciadas, por exemplo, o esporte
rendimento e o esporte como conteúdo da educação física, mas
mantendo a sua essência. (TANI, 2002, p. 109).
Parlebas (citado por Belbenoit, 1976), esclarece o caráter dialético
do esporte:
O desporto não possui nenhuma virtude mágica. Ele não é em si
nem socializante nem anti-socializante. É conforme: ele é aquilo
que se fizer dele. (p.114) (BETTI, 1988, p.51)
Sobre a questão do Esporte, a opinião, da maioria, dos entrevistados
apresenta um equilíbrio, como foi destacado na apresentação dos resultados
Quadro XVI. É natural ver o Esporte como um conjunto de habilidades específicas,
com regras estabelecidas, tendo como fim a competição, pois, ao se falar em
esporte, a imagem que surge é aquela oferecida pela mídia, ou seja, o esporte de
rendimento, o esporte espetáculo (TANI, 2002, p. 108).
Apresentar o Esporte de uma maneira mais abrangente,
demonstrando suas outras tantas aplicações, como: “lazer”, “educação”, “lúdico”,
“saúde”, também se torna compreensível, pois nos dias atuais percebe-se uma
136
crescente adesão ao estilo de vida saudável, e o esporte é assimilado de maneira
ampliada, para além do entretenimento e do espetáculo, transformando-se numa
“cultura do cotidiano” (BENTO, 1999, p.51). Além de ser considerado um dos
principais fenômenos sociais, passa a ter também um status, que o torna ainda
mais abrangente, que é o de “qualidade de vida”. (MOREIRA, 2002, p. 5)
Porém, gostaríamos de ressaltar a visão de Esporte de outros três
(3) participantes (E2-GDC, E4-GDC, E2-GPF Quadro XVI) que, mesmo sendo
minoria, nos traz um importante contraponto de análise ao vê-lo de maneira mais
ampla, como um “fenômeno social”, “formação do ser”, “uma das entidades que
podem salvar o mundo”, “potencial humanizante e humanizador”, e ainda um outro
participante (E3-GDC - Quadro XVI), que o considera como um “fenômeno
cultural”.
Segundo Garcia (1999), a palavra “jogo” permite um repertório tão
vasto que justifica até seu uso como “coisa mais importante do mundo” (p.146-
147). Para Tubino (1999) “(...) o esporte nasceu da evolução dos exercícios
físicos, passando pelo jogo (...) Logo, é possível afirmar que os significados e
valores que dão um sentido cultural ao esporte vêm dos jogos.” (p. 49). Berger
(1983) aponta que o indivíduo se percebe através do seu local social”, local esse
que determina suas possibilidades na vida, bem como, é natural que ele ajuste
suas opiniões à da maioria, pois sua atuação depende da forma como ele enxerga
a fatia de mundo na qual ele vive (p.79 e 84-85).
137
Assim, cada qual (entrevistados) dentro de seu lócus tem uma
percepção particular do Esporte e como tal, transmite na sua resposta elementos
característicos de sua visão. Portanto, podemos inferir que os mesmos, de certa
forma, apresentaram de fato, um contraponto aceitável, pois, ao pensarmos o
Esporte como um “fenômeno”, que como tal, libera ramificações que se
entrelaçam, formando uma grande teia, interligada, necessitaria profundos
estudos, de diversas áreas, para tentar desvendá-lo na sua totalidade. Porém, no
momento este recorte se concentrará na “Iniciação Esportiva”.
5.1.2 – Iniciação Esportiva
Verificou-se através da análise das citações contidas no quadro
Quadro XVII O que é Iniciação Esportiva, que a Iniciação Esportiva foi descrita
pelos participantes, em sua maioria, como uma “etapa”, “processo”, “em
estruturação de base, de movimentos de base daquele esporte”, o que vai ao
encontro dos estudos apresentados por Edwards (1973, p.12) quando se assinala
que no jogo, ainda, espaço para a espontaneidade, mas que o mesmo é
marcado por uma estrutura criada pelas regras, cujo objetivo é testar as
habilidades dos participantes; como pode ser visto neste apontamento, quando se
enfatiza:
(...) passar para às crianças tanto as regras quanto os
fundamentos pra praticar (...) essa parte de fundamentos (...)
que é a habilitação pessoal dele para a prática do esporte (...)
(E1-GDC, Quadro XVII)
138
(...) A IE eu definiria como uma preparação, (...), uma primeira
fase pra se chegar ao esporte (...) (E2B-GPA, Quadro XVII)
(...) uma preparação para a obtenção dos melhores
rendimentos possíveis em cada uma das idades, (...) com base
nas regras de cada uma das modalidades, nos melhores
rendimentos possíveis de ser executados em cada uma das faixas
etárias de acordo com aquilo que vai sendo aprendido. (...) (E3-
GPF, Quadro XVII)
Esta compreensão ocorre também no espaço escolar público e pode
ser balizada, facilmente, quando se observa a legislação Resolução SE. 14/71 e
11/80 - que criou e regulamentou as “turmas de treinamento” e Resolução SE
173/2002, que atualmente regulamenta as Atividades Curriculares Desportivas,
nas escolas púbicas e na própria Proposta Curricular de Educação Física para o
1º grau”, no que se refere à indicação para se trabalhar com a “iniciação esportiva
a partir da 5ª série (SÃO PAULO, 1991).
Neste direcionamento, Paes (2002, p.95), ao defender o esporte na
escola, como questão de justiça social, vai colocar que esta compreensão ocorre
em função de se saber que nos demais locais (clubes esportivos, academias e/ou
escolas de esportes) o acesso é restrito a um número reduzido de crianças.
Partindo destas considerações, vamos perceber a Iniciação Esportiva
como um “processo”, uma “preparação preliminar”, isto é, tendo como objetivo o
esporte-competição, uma das classificações que foram apresentadas ao balizar a
questão do Esporte, e que, através da sua relação direta, está presente também
no mapeamento da Iniciação Esportiva, bem como, as outras classificações
(esporte-educação e esporte-participação), o que pode ser compartilhado com
Martins Pereira, 2004 . . .
139
(...) pode-se afirmar que as modalidades esportivas se diferenciam
quanto: a) ambientes em que são praticadas escolas, ginásios,
espaços públicos, clubes, praias etc; b) nível social dos praticantes
em especial no que se refere à aquisição de materiais para a
prática esportiva, que pode possibilitar ou não o acesso do
indivíduo à modalidade; c) objetivos dos praticantes
rendimento, saúde, diversão, desenvolvimento de habilidades
motoras
12
; d) interesses econômicos e políticos etc., (p.21)
Acompanhando esta linha de raciocínio, três (3) participantes
completaram sua opinião indicando a Iniciação Esportiva como suporte para o
esporte-participação, como nestas afirmações . . .
(...) um desenvolvimento (...)uma experimentação (...) uma
conscientização das habilidades motoras básica (...) (E2L-GPA
Quadro XVII)
(...) ter contato com tudo, com rítmo, com todos os tipos de
habilidades (...) pra formação, construção motora do indivíduo
durante toda a vida. (...) (E1B-GPA – Quadro XVII)
(...) trabalhar algumas coisas que possam auxiliar na hora que vc
vai fazer o esporte, por ex. correr, saltar, girar, algumas das
habilidades, (...) (E2B-GPA – Quadro XVII)
Entretanto, dois (2) outros participantes se preocupam em
demonstrar que, ao falar da Iniciação Esportiva como uma “etapa para o esporte”,
nela estão embutidos outros conceitos que apontam para o “processo
educacional”, “de formação do indivíduo” (esporte-educação), como:
(...) obviamente que perpassa um processo educacional (...) (E1-
GPF, Quadro XVII)
(...) tem coisas embutidas, afetivas, (...) quando eu to falando em
desporto eu to dando essa abrangência, (...), em sociabilização,
em cooperação, em co-gestão, em co-responsabilidade, que são
princípios da Carta Brasileira de Desporto Escolar, (...) (E4-GPF,
Quadro XVII)
12
O negrito é nosso.
140
Estes dois (2) sujeitos juntaram-se então, a outros quatro (4) que
indicaram na Iniciação Esportiva, um “aspecto educacional” e um “processo de
valorização”, “socialização” e “formação do próprio ser”, como está apresentado
nos resultados . . .
(...) na I também deve ser trabalhados os valores, que são
importantes pro próprio esporte, pro jogo, pra vida, pro dia a dia, e
a gente frisa muito o seguinte, que a gente inicia no esporte para a
vida, (...)(E3-GDC, Quadro XVII)
(...) O objetivo principal é (...) valorização do próprio ser, a
formação do próprio ser, (...) todo um crescimento, de ser um
cidadão sociável, politizado, de participar, (...)(E2-GDC, Quadro
XVII)
(...) o nosso objetivo é a formação pessoal da criança, (...) se
ele vai se transformar num atleta, isso não é o caso pra nós,
eventualmente ele pode vir a ser, mas o nosso objetivo não é esse
(...) “ (E4-GDC, Quadro XVII)
(...) , é uma socialização geral do grupo, (...) é uma parte
principal, objetivo enormemente principal (...) (E1L-GPA, Quadro
XVII)
Após esta explanação, pode-se constatar que, as respostas são
apresentadas respeitando as mesmas dimensões advindas do Esporte. A
Iniciação Esportiva também abrange a questão educativa, demonstra a intenção
da participação do indivíduo na atividade física, bem como, lhe o passaporte
para o esporte de competição. Assim, é um processo que está diretamente
atrelado ao Esporte e, portanto, ao processo educativo, competitivo e de
participação (qualidade de vida).
Na definição de Barbanti (1994, p.92), de Educação Motora, se
observa uma vinculação da preparação motora com a formação de valores ao se
assinalar “Atividade didática e pedagógica que objetiva iniciar, desenvolver e
141
aperfeiçoar a capacidade de movimento de um indivíduo, bem como formar uma
série de valores acerco do mesmo”.
Da mesma forma, na Revisão de Literatura, no item 2.2.1 Iniciação
Esportiva: alguns conceitos, buscou-se esclarecer algumas divergências quanto a
terminologia e uniformidade no conceito de Iniciação Esportiva, onde somente
pode-se perceber que não há consenso sobre este assunto.
Apresentada dessa forma abrangente pelos participantes deste
estudo, a Iniciação Esportiva também está para alguns autores como momentos
diferentes”. Para alguns ela abarca o momento da preparação específica de
algum esporte, enquanto que para outros, ela não objetiva a especificidade e sim
uma fase de jogos preliminares, uma fase lúdica.
Para uns a iniciação desportiva abarcaria uma fase lúdica em que
o jogo seria dominante. Para outros, essa fase lúdica não seria
considerada iniciação desportiva, uma vez que esta implica a
adoção de concepções do treino desportivo. (FARIA JUNIOR,
1999, p. 334)
(...) procurando tornar educativa a iniciação, aproximando-a do
jogo e afastando-a da rigidez do treino desportivo. (FARIA
JUNIOR, 1999, p. 335)
Assim, é possível afirmar que a Iniciação Esportiva, embora atrelada
a todo processo do fenômeno esportivo, apresenta uma característica particular,
uma identidade. Ela pode sim, ser considerada uma etapa preliminar, um processo
antecessor, e como tal, busca um determina objetivo, e é neste momento que sua
abrangência torna-se considerável, pois, de forma lúdica ou não, ao preparar para
142
o esporte, não se pode abandonar as amplas dimensões que ele se propõe e que
neste estudo se tornaram bastante claras.
A competição, a educação e a participação (socialização, qualidade
de vida, saúde) são, de fato, elementos presentes no processo da Iniciação
Esportiva e que por isso devem receber a devida atenção no processo de
formação do profissional que irá atuar neste fragmento do campo de atuação da
Educação Física.
5.2 A Iniciação Esportiva, enquanto prática profissional, incorpora
um habitus próprio naquilo que diz respeito à formação, qualificação,
competências, saberes, habilidades?
A questão do habitus foi apresentada por Bourdieu (1983-1989)
como originária de determinadas práticas sociais, que configuram um determinado
comportamento/atitude perante a incorporação de um capital simbólico em sua
prática.
Sobre a questão do habitus, Tardif, Lessard e Lahaye (1991, p.229)
vão assinalar que eles aparecem nos saberes específicos do trabalho cotidiano e
no conhecimento de seu meio, nos saberes da experiência. De modo que
incorporam-se à vivência individual e coletiva sob a forma de habitus e de
habilidades, de saber fazer e de saber ser. Portanto, se fixa num estilo de ensinar,
em macetes, enfim, de quem é capaz de ensinar ou de fazer aquilo.
143
Para a questão profissional, que foi abordada no Quadro XVIII, a
mesma apresentou como especificidade a formação em Educação Física, seja do
bacharel/graduado ou do licenciado/formação de professores da Educação
Básica. Por exemplo:
(...) professores; graduados; bacharéis; licenciados. (...) (E2B-
GPA, Quadro XX);
(...) professores formados em Educação Física; registrados no
CREF; (...) (E4-GDC, Quadro XX);
(...) ser um educador, que é aquele que além de ensinar,
questiona, possibilidades de . . de que haja uma troca de
experiências, então um educador, . . . Um educador que pode ser
um licenciado e pode ser um bacharel ou graduado,( ...) de se
ter um educador (...) (E1-GPF, Quadro XX).
No âmbito desse processo, estas colocações vão ao encontro da
atual legislação que regulamenta a profissão (Lei 9696/98) ou da própria LDBEN
9394/96, que normatiza a educação, o campo escolar.
Dessa forma, para os participantes desta pesquisa, o fundamental é
que este profissional tenha e/ou seja
(...) formação acadêmica (...) (E1L-GPA, Quadro XXIII(a))
(...) um profissional competente; licenciado, graduado, (...),
competente; (...) (E1-GPF, Quadro XXIII(a))
(...) perfil pedagógico; perfil do educador; perspectiva educacional;
(...) (E2L-GPA, Quadro XXIII(a))
De acordo com estes apontamentos, o habitus estaria atrelado ou
vinculado a uma prática pedagógica fundamentada numa formação superior em
que a competição relacionada aos conteúdos da Iniciação Esportiva seriam
imprescindíveis, nos trazendo subjacente a eles a imagem de um educador.
144
5.2.1 Dentro deste contexto, a prática pedagógica dos
profissionais que trabalham com Iniciação Esportiva na escola e no
ambiente não escolar apresenta uma especificidade própria?
A questão da prática pedagógica que perpassa o trabalho desse
profissional não está circunscrita ao domínio metodológico e ao espaço escolar ou
se reduz à ação dos professores. De modo que os conhecimentos que dizem
respeito à prática pedagógica não se acham vinculados exclusivamente a uma
teoria educacional, mas se acham também ligados à experiência pessoal e social,
que tem lugar dentro e fora da escola (CATANI, BUENO, SOUSA E SOUZA, 1997,
p. 36)
No âmbito desta questão, verificou-se através da análise das
citações contidas nos quadros XVII O que é Iniciação Esportiva, XVIII Locais
Onde a Iniciação Esportiva Ocorre e XIX, Faixa Etária da Iniciação Esportiva, que
a mesma, na visão dos participantes, tem uma estrutura própria, fundamentada
em conteúdos e saberes específicos. Portanto, prefigura-se como tendo “quando,
onde e como” acontecer, como podemos perceber nesta fala
(..), 5ª, série até ali, série, da pra esse trabalho mais . . . é
. . . global e a partir daí eu vejo . . . , a importância de começar a
se estabelecer alguns caminhos, . . . um projeto especializado, . . .
daí deveria ter centros de práticas, seja municipal, seja
estadual, seja até federal (...) (E4-GPF, Quadro XVII)
No que concerne aos locais propícios para a realização da Iniciação
Esportiva, conforme foi demonstrado no Quadro XVIII, este campo de atuação da
Educação Física, se apropriou, ou demarcou como seu território, tanto os locais
145
públicos, como os privados, do tipo: “escolas”, “ginásio de esporte”, “clubes”,
“escolinhas de esporte”, “academias”. Por exemplo: “ambiente escolar formal,
ambiente escolar informal (escolinhas, clubes, etc)” (E1-GPF, Quadro XVIII).
Dessa forma esta prática pedagógica também se vincula a esta experiência social.
Todavia, na ocupação desses espaços sociais, quer seja na esfera
pública ou privada, a sua organização se por faixas etárias apropriadas para a
Iniciação Esportiva, como foram indicadas no Quadro XIX, em que se
apresentaram também determinadas convergências em relação ao seu início na
primeira infância.
Para os participantes deste estudo, num exercício de mapeamento
do fluxo da faixa etária para a aprendizagem de habilidades, as modalidades
individuais, como natação e as ginásticas têm um início mais precoce por volta
dos 7, 8 anos, enquanto que as modalidades coletivas deverão ter o seu início por
volta dos 11 anos. Esta idade corresponderia a criança que está na série e tem
o seu referendo tanto no que se refere aos subsídios da Educação Física quanto
na opinião dos participantes, e também com o que apresenta a literatura, que foi
demonstrada nos estudos de Arena e Böhme (2000, p.185) e Silva et al (2001,
p.50).
146
5.2.2 – Da mesma forma pergunta-se: a Iniciação Esportiva exige
procedimentos metodológicos relativos ao perfil profissional de alguém que
mais educa (formação) ou do indivíduo que esmais preocupado com as
técnicas de aprendizagem (instrumentalização)?
A questão do perfil profissional de quem trabalha com a Iniciação
Esportiva não foi tarefa singular, pois os participantes se preocuparam mais em
enfocar os atributos pessoais do que os conhecimentos, competências e
capacidades.
Nas respostas apresentadas nos quadros XXI(a), XXI(b), XXII(a),
XXII(b) e XXIII(a) e XXIII(b), referente aos saberes e perfil ideal do profissional
(competências) para atuar na Iniciação Esportiva, observou-se a forte presença de
um perfil mais generalista, com conhecimentos mais amplos, do que um perfil em
que se valorizassem os saberes específicos.
(...) vários conhecimentos; conhecimento mecânico, conhecer a
estrutura mecânica da criança; conhecimento biológico, estrutura
motora; conhecimento afetivo, a estrutura mental; conhecimento
social, estrutura social; anatomia; sociologia; história da educação;
teoria da aprendizagem e controle motor; conhecimento do esporte
em si; fisiologia; interelação entre as áreas médica, social, afetiva;
conhecimentos pontuais que se interligam, inter cruzam, inter
relacionam; conhecimento muito grande, em grandes e distintas
áreas; (...) (E1-GPFQD. XX(a))
Sobre esta questão do perfil profissional, este não foi vinculado,
necessariamente, com a questão dos saberes que dão sustentação à formação
profissional, mas, prioritariamente, a atributos de natureza pessoal. Porém estes
147
não foram descontextualizados da realidade, pois se valorizou atitudes e
comportamentos relacionados à moralidade, sociabilidade, afetividade,
capacidade (habilidade), bem como, a escolha pessoal. Na realidade, estes
atributos não estão fora da esfera do conhecimento, mas refletem domínios do
conhecimento relativos ao desenvolvimento moral, desenvolvimento afetivo,
desenvolvimento social, desenvolvimento cognitivo, desenvolvimento motor.
Portanto, dão uma identidade pessoal, mas também, coletiva, ou seja, profissional.
Por exemplo:
(...) gosto pela especialidade; sério; competente; amor ao esporte;
gosto pela criança, prazer de lidar com ela; gostar de trabalhar
com crianças; (...) (E4-GDC, Quadro. XXII(a))
(...) recreador; ter conhecimento acadêmico; gostar do lúdico;
proporcionar uma prática muito agradável; profissional que
acrescente, traga coisas novas; respeito às crianças; asseado; boa
conduta; ter valores; ser o exemplo, o ídolo; verdadeiro; amoroso;
ter a mesma filosofia da instituição; desprendido (preparar para o
mundo e não para si) (...) (E3-GDC, Quadro XXIII(a))
Estas características, competências, habilidades, tanto podem ser
encontradas nas propostas curriculares de formação profissional quanto nos
subsídios curriculares para a Educação Básica, ou mesmo, nas políticas públicas
vinculadas ao esporte.
Segundo Nascimento (2002)
A competência profissional em Educação Física foi definida
operacionalmente como um conjunto de conhecimentos,
habilidades e atitudes necessárias para uma atuação profissional
adequada. Esta caracterização indica que o profissional necessita
possuir conhecimentos amplos da realidade na qual vive em
diferentes dimensões (cultural, social, econômica, . . . ), bem como
conhecimentos específicos dos conteúdos necessários para o seu
desempenho profissional. Da mesma forma, necessita dominar
148
habilidades que o capacitem para o desenvolvimento de propostas
pedagógicas. Além disso, precisa assumir e comprometer-se com
atitudes de respeito (tolerância, flexibilidade, reflexão, . . . ) e de
aceitação da diversidade de gênero, raça idioma e religião. (p.76)
Em seus estudos, o autor apresenta um mapeamento das
necessidades que compõem as competências do Profissional de Educação Física,
conforme quadro elaborado abaixo (p. 81-95). Estas “características” referendam a
fala dos entrevistados deste estudo, como se pode observar a seguir.
QUADRO XXIV - Competências do Profissional de Educação Física
CONHECIMENTOS PROFISSIONAIS
EM EDUCAÇÃO FÍSICA
HABILIDADES
PROFISSIONAIS EM
EDUCAÇÃO FÍSICA
ATITUDES PROFISSIONAIS
EM EDUCAÇÃO FÍSICA
Conhecimento Conceitual ou Disciplinar
– compreende o conhecimento da matéria e
dos assuntos de ensino e aprendizagem em
Educação Física.
Habilidades de
Planejamento
Atitudes de Iniciativa
Conhecimento Pedagógico ou
Procedimental
Habilidades de
Comunicação
Atitudes de Atualização e
Aprimoramento Pessoal
Conhecimento do Contexto Habilidades de Avaliação Atitudes de Flexibilidade e
Liderança
Habilidades de
Incentivação
Atitudes de Competitividade
Habilidades de Intervenção
Habilidades de Auto-
Reflexão
Considerando as características apontadas anteriormente como
etapas do processo educativo, vamos encontrar em Bento (1999) uma ampla
indicação dessa formação e educação do indivíduo nos lugares possíveis de se
vislumbrar o esporte e seus interventores, especificamente o professor de
Educação Física, o treinador e o dirigente, e o clube, como um desses locais,
149
(...) o Professor de Educação Física foi visto, em muitos ensaios,
como um educador por excelência, porquanto a sua actuação
colocava menos a ênfase na transmissão de matérias e na
aprendizagem de conhecimentos e mais no desenvolvimento da
personalidade do indivíduo, através da abordagem de valores
humana, social e culturalmente relevantes. (.p. 61)
(...) o treinador exerce uma influência muito pronunciada sobre as
atitudes e comportamentos, sobre os princípios, valores,
orientações e sentidos de vida dos atletas. Pelo menos é isso que
se despreende de numerosos testemunhos e depoimentos de
antigos e actuais desportistas. (p. 84)
A formação da pessoa acontece sempre em determinados
espaços ou locais. Ora um dos locais clássicos de educação e
formação é sem dúvida o clube desportivo. (p.83)
Assim, Santana (2002, p. 177), citado no tópico anterior, apresenta
as outras dimensões que envolvem a Iniciação Esportiva, e o termo Pedagogia do
Desporto de Bento (1999, p.19-172) parece responder as questões referentes à
ela, demonstrando que a posição dos participantes sobre os saberes,
competências e o perfil adequado para atuar com Iniciação Esportiva é clara e
condizente com a literatura.
Embora haja esta constatação, os participantes apontaram para a
necessidade de uma formação ampla (generalista), com conhecimentos
específicos ou característicos desse campo de atuação, mas com ênfase nas
questões comportamentais (escolha, moralidade, habilidades, competência etc.),
como:
(...) boa conduta; ter valores; ser o exemplo, o ídolo; (...) (E3-GDC,
Quadro XXIIII(a))
(...) boa índole; bom caráter; (...) (E1L-GPA, Quadro XXIII(a))
(...) afetuoso, afetivo; um bom companheiro; um pai; (...) (E4-GPF,
Quadro XXII(a))
150
(...) conhecimentos dos assuntos do dia a dia (cultura geral); (...)
(E3-GDC, Quadro XXI(a))
(...) conhecimento geral; (...) (E1L-GPA, Quadro XXI(a))
(...) conhecimento muito grande, em grandes e distintas áreas; (...)
(E1-GPF, Quadro XXI(a))
Portanto, quando os participantes manifestaram a sua opinião sobre
o perfil profissional a ser contratado para trabalhar com a Iniciação Esportiva a
confirmação da qualificação pessoal, como sendo um quesito imprescindível.
Desse modo valoriza-se a qualificação profissional no que diz respeito à
identidade acadêmica. Por identidade acadêmica entende-se a necessidade da
formação ser realizada em curso de Licenciatura ou curso de
Graduação/Bacharelado. O reconhecimento da necessidade de formação está
vinculado àquilo que Bourdieu denominou de capital cultural.
Com a apresentação destas questões pretendeu-se identificar o perfil
ideal” para o profissional que vai atuar com Iniciação Esportiva. Se houve a
caracterização de alguns aspectos ou componentes, no âmbito das descrições, do
habitus, tendo como pressuposto um perfil profissional, estas ocorreram
vinculadas a aspectos de qualificação pessoal e profissional.
De fato, como pode ser observada na análise que se desenvolveu
esta possibilitou afirmar que vestígios de um habitus no que se refere ao
espaço de atuação caracterizado no “gostar de esporte”, “gostar daquilo que faz”.
Desse modo saberes, competências e qualidades que são cobrados desse
profissional e que referendam e identificam esta área, como a exigência de
formação profissional, capital cultural. Entretanto, ao se perguntar sobre os
151
conhecimentos específicos e saberes técnico-acadêmicos encontrou-se presente,
nas respostas, a ênfase num conhecimento mais amplo (generalista), podendo
significar que para este estágio de desenvolvimento humano a necessidade de
se trabalhar as habilidades motoras básicas, o ser humano como um todo,
repudiando-se, intrinsecamente, qualquer tipo de especialização.
Neste processo, buscando uma outra faceta deste perfil, não a
questão de formação técnica ou acadêmica, mas também um outro tipo de
conhecimento ou, digamos, de qualidade foram valorizadas. Desse
encaminhamento foram considerados característicos deste espaço, o que se
denominou de “qualidade ou competência afetiva”, o “gostar do que faz”, “gostar
de trabalhar com” e “gostar de crianças”; como uma das respostas mais
freqüentes e condição sine qua non para se obter sucesso nessa atividade.
Pode-se inferir, através destas posições, que estas condições estão
diretamente relacionadas com a complexidade que apresenta a questão do
conhecimento na formação profissional para o ensino. Segundo Graça (1999,
p.171) para a formação profissional não basta apenas o conhecimento, mas
também “(...) uma compreensão crítica de como este conhecimento deve ser
adequadamente relacionado com a prática”. Portanto, este comprometimento
exigido pelos entrevistados estaria ligado à complexidade que envolve a formação,
os saberes, conhecimentos e competências necessários ao profissional de
Educação Física.
152
Na tentativa de agregar os conhecimentos técnico-acadêmicos e as
demais “qualidades” esperadas desse profissional, se apurou vestígios próprios do
habitus desse espaço de atuação que apareceu vinculado ao uso dominante que é
feito dele.
Ainda que seguramente um esporte, uma obra musical ou um texto
filosófico definam, devido às suas propriedades intrínsecas, os
limites dos usos sociais que podem ser feito deles, eles se prestam
a uma diversidade de utilizações e são marcados a cada momento
pelo uso dominante que é feito deles. (BOURDIEU, 1990, p.214)
Assim, é possível que neste determinado espaço do Esporte e da
Educação Física, que é a Iniciação Esportiva, neste momento, de acordo com as
influências sofridas pelo meio, apresente esta significação. Partindo dessas
discussões, que procuraram cercear as possibilidades de apresentação dos
diversos aspectos relativos a este campo de atuação, apresentaremos a seguir, as
conclusões finais.
153
CAPÍTULO VI
CONCLUSÕES FINAIS
Tendo como objetivos identificar o que se entende por “iniciação
esportiva”, averiguar os conhecimentos ou saberes tidos como imprescindíveis
para se trabalhar com a “iniciação esportiva” e buscar o perfil profissional ideal de
quem atuam no campo da “iniciação esportiva” realizou-se este estudo.
No que tange a compreensão da “Iniciação Esportiva”, ou do
“Esporte como Iniciação” observou-se que este pode ser considerado como uma
atividade física que oferece ao indivíduo inúmeras possibilidades motoras e
vivências no processo de aprendizagem de um grande número de jogos e
modalidades esportivas, buscando desenvolver as capacidades e habilidades
humanas nas dimensões motoras, cultural, social, cognitiva e afetiva. De modo
que objetiva encaminhar seus participantes para uma prática esportiva saudável.
No entanto, a iniciação esportiva se aproxima muito do conceito que
se tem de esporte-educação, principalmente e esporte-participação, entendendo-a
no âmbito do caráter formativo por envolver componentes relacionados a co-
154
educação, cooperação, integração, enfim, formação humana, humanização. Com
relação ao esporte-participação este envolve o princípio do prazer lúdico no lazer
e na utilização construtiva do tempo livre. Portanto, o que se encontra é que a
Iniciação Esportiva, enquanto uma prática social também, absorve uma pedagogia
social que abarca elementos da subjetividade humana presentes tanto na
competição quanto na cooperação. Dessa forma se entendeu que a Iniciação
Esportiva se constitui numa etapa do desenvolvimento humano, ficando
estruturada entre o jogo, o conteste e o esporte.
Dentro deste contexto é fundamental colocar que ela foi vista como
uma etapa, um processo e, sendo assim, a Iniciação Esportiva assume uma
amalgama que mais a aproxima do processo educativo constituindo-se num meio
e não um fim, característica básica daquilo que se denomina de educação.
Corrobora com este processo quando se delimita um perfil
profissional em que se valoriza comportamentos e atitudes relacionados a uma
biografia que traga subjacente a ela uma moralidade, uma sociabilidade, uma
afetividade e, antes de tudo, uma escolha pessoal.
No que se refere ao objetivo de se averiguar os conhecimentos ou
saberes imprescindíveis para se atuar no campo da Iniciação Esportiva, as
respostas circunscreveram-se em torno de uma formação geral, não se
privilegiando os saberes disciplinares específicos ou os saberes pedagógicos, mas
compreendendo-os como interdependentes e necessários para esta faixa etária.
155
Porém, há necessidade de se registrar que a iniciação esportiva
atrelada a Educação sica ou ao Esporte envolve um corpo de conhecimento
relacionado ao desenvolvimento motor, a uma cultura corporal de movimento, a
uma prática pedagógica ou a(s) ciência(s) do desporto vinculado a um
desenvolvimento humano profissional.
No âmbito desse processo emerge a figura de um profissional
generalista, tendo nos saberes específicos do trabalho cotidiano, no conhecimento
do seu meio e no saber da experiência um habitus que lhe uma competência
relacionadas a um saber fazer e um saber ser.
Em relação ao objetivo de se buscar o perfil profissional idealpara
se trabalhar com a Iniciação Esportiva, o perfil profissional realque foi apontado
pelos participantes assinalou para a perspectiva de um ator social que tenha como
habitus gostar de esporte, gostar de criança, gostar daquilo que faz, tendo como
capital cultural a formação acadêmica, além do que já foi arrolado anteriormente.
Embora o perfil profissional apareça dissimulado nas descrições do
estudo no que se refere a ser um bachareal/graduado ou licenciado, colocando-se
que isso não é fundamental o que prevalece é a figura do educador.
Como se sabe o educador não é necessariamente um professor e
vice-versa, mas alguém que primeiro ensina a si mesmo é depois vai ensinar
aos outros.
156
Neste balizamento todos nós somos convidados a ser educadores e
aqui pode residir um problema se não houver um esclarecimento: de qual
educador estamos falando?
Estamos falando de um educador profissional que passa por um
sistema convencional de formação em busca de seu capital cultural. E nisso reside
toda a diferença. Um educador que apresenta como habitus uma afetividade, uma
moralidade, uma sociabilidade, enfim uma dimensão pessoal como característica
marcante de sua identidade.
Uma vez apresentado os objetivos da pesquisa e a interpretação do
trabalho de campo que foi realizado nos cabe responder a questão central que
deu início a esta investigação, qual seja, apontar “Quais os indicativos da
“Iniciação Esportiva” que permitiriam identificar se este espaço social de
intervenção é exclusivo de uma determinada área de formação?“,
Como foi colocado constatou-se que, para os participantes deste
estudo, não há um perfil privilegiado naquilo que se refere a ser formado em Curso
de Licenciatura ou Curso de Graduação/Bacharelado.
No contexto específico da Iniciação Esportiva, não há duas formas
de se atuar ou dois capitais culturais distintos. Portanto, não se entra na discussão
se a necessidade de dois cursos (Bacharelado/Graduação e Licenciatura), ou,
se os dois cursos atendem a formação adequada, pois não se apresentou como
justificável, a priori, a delimitação de campos de atuação (ensino formal e
ambiente não escolar). Aliás, esta questão coloca como ponto de interrogação se
157
os diferentes campos de intervenção na Educação Física de fato se justificam nos
moldes como alguns têm sido propostos ou se é mais uma necessidade dos
gestores de criarem uma bolha especulativa na qual, talvez, a demanda não a
justifique.
Para os participantes, a questão central se resume no exercício de
uma profissionalidade, em que a obrigação moral, o compromisso com a
comunidade e a competência profissional (entendendo esta como algo que
além do saber fazer e da detenção do conteúdo, mas que incorpora a esses
processos a obrigação moral e o compromisso com a comunidade), falam mais
alto do que esta pessoa ser formada por este ou aquele curso. E aqui temos uma
questão sue generis, pois ao se apontar para os componentes dessa
profissionalidade não estaríamos entrando nos limites daquilo que caracterizaria o
professor em sua dimensão profissional?
Não se tem uma resposta objetiva para esta questão no momento,
dando margem para novos estudos, mas um questionamento de que no
imaginário, nas representações, desses participantes talvez habite a figura de um
professor.
Todavia houve muito bom senso quando se apontou, no âmbito dos
conteúdos, competências, habilidades, para a necessidade de uma formação
ampla para quem vai trabalhar com a Iniciação Esportiva, significando dizer que
para esta faixa etária se deva enfatizar a formação nas habilidades motoras
158
básicas, tomando-se um cuidado redobrado para não promover a especialização
precoce.
O estudo mostrou tendências para uma visão particular da Iniciação
Esportiva, principalmente com os Professores Formadores e com alguns
Dirigentes e Coordenadores, onde um predomínio das experiências motoras
para qualquer fim - rendimento ou lazer, por exemplo; pois, assim como não existe
mais uma visão única do esporte (rendimento), a Iniciação Esportiva se adapta,
permitindo uma objetivação mais ampla, que não aquela que vise apenas iniciar
no esporte para a competição, mas sim para quaisquer das possibilidades que ele
hoje possa oferecer ao indivíduo, afinal
A qualificação do professor consiste em conhecer o mundo e ser
capaz de instruir os outros acerca deste, (...) (ARENDT, 1992, p.
239)
Qualquer arte, seja ela o ensino, a escultura, ou a magistratura,
tem regras, mas o conhecimento das regras não faz o artista. A
arte emerge quando o conhecedor das regras aprende a aplicá-las
ao caso particular. A aplicação, por seu lado, requer uma
consciência aguda das particularidades de cada caso e de como a
regra pode ser modificada para se ajustar ao caso, sem ser posta
completamente de lado. (SCHAWB, 1983, p. 265 apud GRAÇA,
1999, p. 170-171)
Partindo dessas considerações, acredita-se que a questão principal
do estudo foi respondida de maneira satisfatória. Entende-se que um vasto
material foi coletado, o que permitiria em novos estudos extrair mais informações,
inclusive até o mesmo tema sob novas óticas.
Bourdieu nos auxiliou na compreensão do espaço esportivo e da
profissão Educação Física com seus estudos sobre a representação das
159
estruturas dos campos sociais, nos dando indícios de um jogo circunscrito a luta
de poder dentro dos sistemas que sustentam a Educação Física. Particularmente
apontou-se para o início de uma discussão que deverá ser aprofundada em novos
estudos quando se refere a um questionamento sobre como os professores
formadores se vêm dentro do espaço profissional, qual é de fato sua função, e
qual o “produto” que ele espera com sua atuação.
Nestes últimos anos, a Educação Física passou e vem passando por
ajustes no que se refere à estruturação dos seus cursos. Até que ponto uma
concepção particular ou individual determina o andamento ou a direção dessas
alterações? Todos os membros das instituições de ensino superior compreendem
(ou querem compreender) o produto que ser que obter com estas mudanças?
Ou se trata de um exercício de retórica?
Estas indagações apontam para a concretização da idéia da
Educação Física como uma profissão, um espaço social, um espaço de lutas,
onde tensionam-se as relações de poder, próprias e características deste espaço.
Dessa forma, acredita-se que cabe uma continuidade deste estudo,
para um aprofundamento nas discussões sobre o material coletado e uma relação
da área com as estruturas e processos que a identificam.
160
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171
ABSTRACT
The research theme of this paper deals with “sporting initiation” as a field of
performance which occurs both in the academic or formal Physical Education, and
the informal sports little schools of clubs, city halls, non-governmental agencies,
and private enterprises in the form of little schools of soccer, swimming, volleyball,
or academies etc. The purpose of this study is to investigate “sporting initiation”
signs which could allow us to verify if this social environment of intervention is
exclusive of a specific area of graduation. Thus, jointly with sports directors, we
have tried to investigate: 1. what is the profile of the desired professional to
perform in the field of “sporting initiation”; 2. which are the subjects and contents of
the graduation courses that contribute to develop the profile of the professional
who is going to work in this specific environment. Within the scope of this
investigation, we have also tried to verify, among Physical Education professionals,
how egresses of Bachelor of Arts and Educations courses, who are now working
with sporting principles, evaluate their performance in the area of “sporting
initiation”. In addition, we have interviewed university professors regarding the
curriculum subjects which contribute towards “sporting initiation”. This issue
becomes more relevant when one considers that (1.) The present legislation
proposes new curricular plans related to the intervention fields of the Basic
Education teacher and the Physical Education graduate (Resolutions CNE/CP
1/2002 and CNE/CES 7/2004); (2.) The existence of the 91452/85 Regulation,
ordered by the Government Decree 598/85 where Sports is considered a RIGHT
OF ALL. Is searching for data which could help us identify our object of study, in
addition to the literature and documents review , we have interviewed directors of
institutions who hired both types of professionals Licensed in Physical Education
and Ba. Graduates who were working with sporting principles in those institutions.
We have also interviewed public and private school coordinators, licensed
graduates who were working in these schools, and professors from two public
universities. The collecting method was oral, semi-structured interviews.
Considering the relations involved in the process of “Sporting Initiation” within such
a complex field as sports, and within such an important institution as the school in
the social context, we have tried to understand these relations in the light of Pierre
Bourdieu’s symbolic systems of the social milieu, its rules, characteristic
constitution, systems structure, systematization, and the interrelation between the
various social fields. Finally, after the presentation and discussion of results, we
have arrived at the conclusion that as far as the participants of this study are
concerned, there is not a privileged professional profile in terms of specific
graduation, that is, license in Physical Education or Bachelor of Arts/Graduation
Course. In conclusion, our interviewees favour a general, broad graduation
background which emphasizes moral obligation and community commitment.
Key-words - professional graduation, sporting initiation, performance field, job
market.
APÊNDICE 1
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
Instituto de Biociências – Campus de Rio Claro
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Pelo presente instrumento, que atende às exigências legais, o (a) senhor (a)
____________________________________________________sujeito de
pesquisa, após leitura da CARTA DE INFORMAÇÃO AO SUJEITO DA
PESQUISA, ciente dos serviços e procedimentos aos quais está submetido, o
restando quaisquer dúvidas a respeito do lido e do explicado, firma seu
CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO de concordância em participar da
pesquisa proposta.
Fica claro que o sujeito da pesquisa ou seu representante legal podem, a qualquer
momento, retirar seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO e deixar de
participar do estudo alvo da pesquisa e fica ciente que todo trabalho realizado
torna-se informação confidencial, guardada por força do sigilo profissional.
Rio Claro, ____ de ______________ de _______
Assinatura: ______________________________ Consinto ( ) Não Consinto ( )
CARTA DE INFORMAÇÃO AO SUJEITO DA PESQUISA
Prezado Colega
Esta pesquisa tem como objetivos (a) averiguar, junto a gestores (dirigentes)
ligados a ONG, Clube, Academia e Secretaria de Esporte e Turismo (e/ou
Departamento de Esporte e Turismo) o perfil do profissional desejado para atuar no
campo da iniciação esportiva e, (b) identificar, na proposta curricular dos cursos de
Bacharelado (Graduação) e Licenciatura, os conteúdos relativos à iniciação
esportiva e o perfil profissional proposto. No segundo objetivo buscar-se-ia também
verificar, junto aos egressos destes cursos, que trabalham com os fundamentos
esportivos, como analisam a sua atuação na área da “iniciação esportiva”, bem
como, junto aos professores universitários, as disciplinas do currículo que
contribuem com a “iniciação esportiva”.
O resultado apurado será utilizado para a confecção da dissertação de mestrado
desta pesquisadora na Universidade Estadual Paulista Campus de Rio Claro,
junto ao programa de pós-graduação em Ciências da Motricidade, sob a orientação
do Prof. Dr. Samuel de Souza Neto.
Esteja certo de que você poderá, em qualquer momento da pesquisa, desistir de
participar, sem qualquer constrangimento.
Agradeço sua colaboração e fica aqui o compromisso de notificação do andamento
e envio dos resultados desta pesquisa.
Atenciosamente,
Iremeyre Rojas Vidal
APÊNDICE 2
TRANSCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS
GDC - GRUPO DOS DIRIGENTES E COORDENADORES
176
E1 – GDC / TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA
Entrevistadora Bom, eu to conversando hoje com ( . . . ), coordenador aqui ( . . . ). ( . . . ),
antes de mais nada eu gostaria de informar ao Sr. que a identidade aqui do colégio e a
sua identidade não estarão reveladas no projeto, a gente vai ta utilizando alguns códigos
pra identificar sem que apareça a escola, ta?
E1 - GDC – Tudo Bem!
Entrevistadora – Bom, professor, como o sr. definiria . . .o que é esporte pro senhor?
E1 - GDC - Bem, eu pratiquei natação, joguei basquete e vôlei, né, então o esporte pra mim
é uma atividade, o esporte organizado tem regras e normalmente ele ta envolvido em
competições, eu acho que é isso que caracteriza o esporte, a gente pode fazer o esporte
recreativo, mas normalmente, a gente fala em esporte, a gente ta pensando num tipo
de competição, por mais amena que seja a competição, de veteranos, o que seja, mas é
uma competição que muitas vezes ta envolvida.
Entrevistadora – Bom, com relação ao esporte?. . .
E1 - GDC É, então eu acho que existe . . ., mas enfim, é uma atividade física organizada,
programada, que tem um conjunto de regras que faz um atraente esporte aquático,
esporte . . . jogo de bola etc, mas sempre envolvendo, normalmente, ou a parte coletiva
também, em geral é importante, então é isso . . .
Entrevistadora – Agora, no âmbito do esporte, como que o sr, definiria o que é a IE?
E1 - GDC – Bem, a parte de .. . eu acho que IE é a gente passar às crianças tanto as regras
quanto os fundamentos pra praticar daquilo, então o sujeito vai jogar basquete ele tem
que aprender a bater bola, executar uma finta, fazer um bandeja, fazer um arremesso,
suspensão e tal; voleibol, tem toque, tem manchete, tem saque, cortada, tem bloqueio,
então essa parte de fundamentos que ele tem que é a habilitação pessoal dele para a
prática do esporte e depois também a parte coletiva, que . . . a parte de tática, a parte de
entrosamento, jogo coletivo e tal, então essas práticas fazem parte da IE, o sujeito
habilitar o individuo para a prática de algum esporte.
Entrevistadora Em que locais que o Sr. visualiza a IE, onde o sr. acredita que a IE
acontece?
E1 - GDC Bem, ela tem acontecido principalmente em escolas e instituições hoje até
especializadas nisso, então, nos últimos anos apareceram muitas escolinhas de futebol
por ex, escola de basquete, de vôlei, isso já é mais antigo tradicional no caso do judô, foi
aí que começou a ter as academias de judô e o pessoal ia lá pra praticar judô e hoje tem
uma infinidade disso, academias e tal, e os clubes também, como uma forma de
atendimento ao associado, a família do associado, faz IE dos pequenos, dos filhos dos
177
associados, ensinando a jogar tênis, jogar basquete, vôlei, mas eu acredito que a parte
de escola ainda é muito importante na IE.
Entrevistadora Na visão de vocês qual a faixa etária que a IE abrangeria e como é que
vocês definiram essa. . . chegaram a essa definição?
E1 - GDC - Bem, eu tenho insistido que a IE mesmo deveria começar por volta de 11
anos, eu tenho assistido com preocupação o icio de escolinhas de futebol com crianças
de quatro anos, tal, mesmo basquete, vôlei, que eu acho que, ao menos tem uma
bibliografia médica contrária a isso, porque forçam tendões, ligamentos e tal e tem
sido nocivo ao desenvolvimento harmônico e a saúde de muitas crianças, então, de
minha parte eu acho que série, fazer uma parte geral, iniciação em algumas
modalidades como, basquete, vôlei, natação não tenho nada contra, pode começar mais
cedo, eu acho que natação a partir dos quatro anos tudo bem, desde que não seja uma
natação assim muito , competitiva no sentido de forçar um sistema cardiovascular
porque não tem problema de impacto sobre articulações, mas me preocupa hoje é
futebol, muito cedo e problema de articulação . . .
Entrevistadora Aqui na sua instituição, quem que trabalha com IE? E Porque, qual que é
esse profissional?
E1 - GDC É, eu tenho a Educação Física na escola até a série a cargo do próprio
professor, então é uma EF mais recreativa e naturalmente com o objetivo de
coordenação motora, uma porção de coisas, mas é mais recreativa mesmo, a partir de 5ª
série é que começa a EF, eles tem três aulas por semana, na realidade nós fazemos
duas sessões de uma hora e quinze cada e o professor faz o que eu chamo de EF
geral, que é . . . tem a parte de coordenação motora, a parte de jogos, de recreação,
uma porção de coisas e os fundamentos pra basquete, vôlei, então, o pessoal começa
vôlei, então eles jogam o tal do câmbio, fazem uma porção de joguinhos e assim que
estão levando a uma IE, mais no basquete e no vôlei, a natação vai por fora porque
começou mais cedo realmente, e também tem um pouquinho de atletismo e de futebol,
mas é mais o basquete e o vôlei que tem assim o foco maior da escola, a tradição
nesses dois esportes.
Entrevistadora – No caso, da 5ª em diante aí é o profissional da EF?
E1 - GDC Isto, é o professor de EF, eu tenho dois na área masculina e dois na área
feminina e cada um deles, por ex, na área masculina, tem um dos professores de EF ele
foi jogador de basquete, ele é especializado de basquete, ele gosta de basquete e então
ele cuida disto e o outro foi jogador de vôlei, jogador de seleção de vôlei, ele que cuida
então da parte de vôlei, feminino a mesma coisa, então as crianças é que mudam de
professor de tempos em tempos, a cada mês há um rodízio de professores.
Entrevistadora – No caso da natação que inicia antes, também é por um profissional de EF?
178
E1 - GDC – Também, ele é professor de EF e foi nadador, no caso e como eu disse, natação
é por fora, que muitos começam mais cedo, mas eu não dispenso ninguém da série
da aula de EF dos demais professores pra fazer natação, se ele quiser continuar a
natação, o treinamento que ele fazia antes, faz fora do horário da EF e a partir da
série o garoto pode ou a menina tem ou a opção de continuar na turma de EF, que eu
chamo de turma geral, que tem uma atividade variada, recreativa e vai passando por
várias modalidades ou então ela se junta a uma turma de treinamento em uma das
modalidades que tem dessas turmas, então basquete, vôlei, . . . turma de treinamento
disto.
Entrevistadora – Esses professores de EF, no caso aqui da sua escola são licenciados?
E1 - GDC – Todos eles.
Entrevistadora – Qual que é o tipo de conhecimento específico que esse profissional que vai
atuar com essas crianças, deveria ter?
E1 - GDC Bem, os que eu tenho, esses professores que eu tenho aí, no caso, todos eles
tem uma formação completa de EF, eu insisto muito que eles saibam trabalhar bem
aquela turma dos não esportistas, então é a turma geral de EF, porque eu insisto muito
que um aluno de a série, mesmo aqueles mais, mais . . . desengonçados, os
gordinhos que não gostam de esporte etc tal, que tem uma tendência de fugir do
exercício físico, isso hoje ta se tornando mais freqüente ainda, que eles sejam
incentivados a ter uma gosto pela prática de esporte ou ao menos de exercícios de
condicionamento físico e tal, então todos esse professores com sua formação em EF
sabem atuar na área da EF geral, por outro lado eles têm um histórico de jogadores e
atletas que treinaram aquela modalidade e que tem facilidade de passar isso pro alunos,
entusiasmar o sujeito que vai jogar basquete, ele tem que criar o entusiasmo de quem
vai pelo basquete e a gente tem promovido então amistosos e o que tiver de
campeonato, a gente entra. O que infelizmente está cada vez menos, então ta difícil, a
gente em Rio Claro, nos últimos anos voltaram alguns jogos e campeonatos entre as
escolas particulares, só, e antigamente a gente tinha jogos infantis, jogos colegiais,
levamos muitas equipes aí pra São Paulo, nas finais, final do interior em São Paulo e tal.
Então o pessoal aqui tinha um gosto muito grande por participar de competição, porque a
gente levava o garoto pro primeiro jogo aqui de Rio Claro, ele tava falando que ia
ficar campeão de RC, depois da região, depois de não sei que, do estado, campeão
brasileiro, ele se via campeão brasileiro e sul-americano, então isso é normal do
garoto que ta olhando pra frente, querendo isso como incentivo.
Entrevistadora - Na sua opinião, qual que é o perfil profissional que essa pessoa que vai
trabalhar com IE deveria ter? Além desses conhecimentos, que tipo de atitude,
comportamento?
179
E1 - GDC É, eu citei, eu acho que ele tem que passar entusiasmo, professor de EF
burocrata, esse não serve pra nada, ele tem que conseguir um grau de envolvimento e
entusiasmo, e naturalmente tem que ter isso, mas é óbvio dentro da formação técnica
dele, tem que ter conhecimento técnico pra ta passando isso, mas eu acho que das
características humanas, essa capacidade de entusiasmar, essa liderança que ele deve
ter e naturalmente um trato adequado, muitas vezes a gente tinha, isso hoje melhorou
muito, mas os professores antigamente de EF, eles eram uma mistura de cabo e
sargento e meio truculentos, uma maneira assim meio rústica de lidar com o aluno, que
eu não vejo necessidade nenhuma disso, a gente pode ser “descolado” e animado e
tudo, sem ser grosseiro, tratar o pessoal com civilidade.
Entrevistadora – E conseguir os mesmos resultados . . .
E1 - GDC – Exatamente.
Entrevistadora Ou até melhores, né!?!?! isso aí!) Agora assim, pra finalizar, no caso o
senhor, quem, quem o sr. contrataria pra trabalhar com IE, fechando assim, de uma
maneira geral??? Se o senhor fosse contratar hoje um profissional pra trabalhar, quais
seriam essas características desse profissional?
E1 - GDC – Eu ia procurar aquilo que eu tenho aí com a minha turma, naturalmente uma boa
formação, dentro dessa boa formação eu vou analisar as características pessoais, uma
pessoa que seja de bom trato assim, pessoa afável com os jovens, simpática, que tenha
ascendência com eles, não quero um professor truculento, nada desse estilo, por mais
eficiente que ele possa ser, eu admiro muito a seleção brasileira de vôlei com o
Bernardinho, mas não faz o meu estilo lá o Bernardinho, principalmente pra lidar com os
meus alunos, aquele jeito todo histérico dele, eu fico muito feliz que ta funcionando com
Seleção Brasileira, mas não é o estilo pra aluno, eu gosto muito de pessoa um pouco
mais tranqüilo, mas a tranqüilidade não pode ser feito um, indolente ou que não ta nem
pro resultado, ele tem que ta se envolvendo com o garoto e a menina e querendo ver
que eles progridam e façam sucesso dentro da atividade. Então não pode ser uma água
morna não, tem que vestir a camisa e tocar em frente. Mas, como eu digo, um bom trato
com os alunos, então seja uma pessoa que aprenda a respeitar aluno, ser respeitado e
principalmente, zelar que haja um respeito entre os alunos, outra coisa que isso não é
para os professores de EF, eu to cobrando isso de todos os professores, pro ambiente
escolar, porque infelizmente a gente ta encontrando muito por aí, esse desrespeito, eu
acho que eu quero que meu aluno se sinta bem em qualquer atividade que ele esteja
fazendo, seja na informática, na aula de matemática como na EF, e professor que
espaço pra gozação ou pra humilhação de alguém porque ele não é bom esportista, não
me serve, ta?! Então é uma questão de respeito. Fundamental!
180
Entrevistadora Na IE, aqui no seu caso, além da questão de introduzir a uma esporte ou
dar seqüência a uma modalidade esportiva, o sr vê alguma outra função desse
profissional, além dessa . . . específica mesmo?
E1 - GDC É, eu acho que a principal qualidade da EF, além da parte . . .vamos dizer,
pessoal do individuo de estar se habilitando pro esporte, desenvolvendo fisicamente, o
que a gente quer, numa questão da EF pela saúde, eu acho que é fundamental, a parte
social de relacionamento, o Professor de EF tem um campo muito mais vasto do
que o professor de matemática, português, em que ele ta mais preso as coisas, são mais
individuais, as cobranças são individuais, enquanto que na EF a gente deve e pode,
laborar posturas de cooperação, de atividades conjuntas, ter o prazer no convívio, e no
relacionamento com as outras pessoas e o esporte e a EF propiciam isso bastante,
então eu acho que ele tem que valorizar essa oportunidade que ele tem, desse
relacionamento, tanto é que eu não aceito dispensa de alunos de 5ª a 8ª séries, pelo fato
de ele estar treinando em outro lugar, isso é uma prática comum nas escolas hoje Ah,
meu filho treina basquete na seleção de Rio claro, então porque que ele vai fazer EF no
meio dos menos habilitados, ele ta bem lá, ta fazendo mais até, em vez de fazer duas
aulas por semana, quer dizer, três aulas por semana, ele treina todo dia, duas horas e
tal, né, então pra que isso; Olha, então é fundamental pela parte social e de
relacionamento que ele tem, tem que ter com os amigos, os colegas de classe dele.
no colegial não tem mais como segurar isso porque aí o tempo que eles m é pequeno,
e às vezes você tem a opção de uma moça que faz cinco aulas de uma dança, ballet
por semana, vai, cada vez vai lá uma hora, uma hora e meia, você não tem mais espaço
pra dizer – Olha, além disso você vem pra aula de EF, vem joga uma bola aqui, então ela
vai acabar deixando uma coisa ou outra, eu acho que é ruim então, ta fazendo uma aula
bem de ballet, ta já adiantando na coisa, faça lá o ballet bem feito e jovem nessa idade já
se relacionam e qualquer forma . . . de uma forma mais rica, já.
Entrevistadora – (Agradecimentos)
181
E2 – GDC / TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA
Entrevistadora – Bom, eu to conversando com ( . . .), aqui ( . . .). ( . . . ), antes de mais nada
eu quero te informar que a identidade sua e da escola não vão estar claras no projeto, no
trabalho, a gente trabalha com códigos pra identificar, então seu nome, nem o da escola
não vão estar aparecendo no trabalho. Bom, ( . . .), qual que é sua . . . como você
definiria o esporte, como você vê o esporte, o que que ele significa, o que é o esporte pra
você?
E2 - GDC Esporte pra mim é como a arte, ele é como eu sou artista plástica, né, eu digo
que eles caminham juntos, porque a questão da prática do esporte e da prática da arte é
que muda, muda a formação do ser, a formação num contexto geral, não só físico, como
psicológico, emocional e outros tantos, pra mim é isso a questão do esporte.
Entrevistadora – Dentro do esporte, você tem uma idéia ou como você vê a IE?
E2 - GDC Bom, eu sempre fui desportista, eu fui atleta, eu nadei, eu fui jogadora de
basquete, então o esporte pra mim, como é que eu vejo, quando eu pratiquei eu acho
que era uma forma mais acentuada, a gente fazia porque gostava de fato, e hoje não
muito incentivo pra isso, as pessoas vão meio que, no escuro assim fazer coisas, com
relação aos esportes, eu acho que ta muito a desejar, não sei se por culpa de iniciativas,
não sei se por culpa de profissionais, mas eu vejo que ta muito a desejar.
Entrevistadora Você consegue visualizar dentro do esporte a aprendizagem, qdo alguém
vai ensinar . . .
E2 - GDC Ao meu ver sim, eu penso que sim, mas hoje visualizar alguém dentro do
esporte tendo o aprendizado, não. Hoje é muito difícil. Eu posso citar assim, quando eu
era adolescente, eu tinha toda uma orientação teórica, pra depois fazer a prática e por
isso que eu digo pra você, é um incentivo, você ia fazer com base, hoje deixa muito a
desejar, não são todos os profissionais que fazem isso não, conheci vários
profissionais que só fazem a prática, eu acho que esporte é a aprendizagem também, .. .
Entrevistadora E você tem uma noção de qual é o objetivo seria assim, essa
aprendizagem, essa iniciação do esporte, qual o objetivo que ela teria?
E2 - GDC – O objetivo principal é mostrar pro adolescente, no nosso caso aqui, a questão da
valorização do próprio ser, a formação do próprio ser e torno a repetir, não em forma
física, dele se tornar forte, robusto, crescer, mas todo um crescimento, de ser um
cidadão sociável, politizado, de participar, porque você participando dos esportes, você
se torna um cidadão de sucesso, você vai conhecer outras pessoas, você vai poder
participar em outros lugares, então pra mim, é isso.
Entrevistadora – No caso, você, aqui na escola você considera que existe a IE?
182
E2 - GDC – Ah, eu digo pra você que até existe uma intenção de uma IE, mas eu não sei se
dá conta disso, eu to muito pouco tempo também aqui, mas eu digo que seria muito mais
importante ta trabalhando mais isso, pra que a gente tivesse mais desportistas, não
por iniciativa governamental, mas por iniciativa da própria escola ta descobrindo talentos,
vamos dizer assim.
Entrevistadora – E fora da escola você visualiza a IE em outros locais?
E2 - GDC Eu aqui em Rio Claro não consigo visualizar, eu . . . quando eu cheguei aqui
tinha a Equipe de Basquete, depois acabou, agora voltou de novo, entendeu? Eu não
vejo assim uma política acirrada pra se trabalhar o esporte, seja num beco, na rua, seja
através de gincanas, incentivando o . . . eu não vejo isso, aqui particularmente, eu não
vejo. Muito raro.
Entrevistadora Onde são os locais onde você acha que isso deveria ocorrer? Onde ela
deveria estar presente?
E2 - GDC Eu, A IE deveria estar nas comunidades, comunidades de bairro, porque?
Porque se você for ver aqui em RC eu tenho uma quebra muito grande entre pobres e
ricos, então não são todos que podem freqüentar academias, não academias, mas
escolinhas de . . . né, por ex escolinhas de futebol, escolinhas . . .então abrir isso daí pra
comunidade, sabe, criar centros recreativos, onde aplicar esses esportes, porque na
minha época eu tinha essas possibilidades, tanto é que eu pratiquei muitos esportes
porque? Eu fui pra várias áreas do esporte porque? Porque era aberto, você não
precisava pagar a academia pra você fazer um tipo de esporte, era dado a iniciativa,
oferecida, dada essa iniciativa pra comunidade, eu acho que deveria se fazer isso
novamente. E com o apoio governamental, que tivesse estrutura pra isso, não fosse
coisa de fundo de quintal, também né, coisas caseiras, porque coisas caseiras tem
bastante, as próprias crianças se reúnem, adolescentes, e praticam na rua, mas que não
fosse assim, que fosse dado realmente um incentivo pra isso . . .
Entrevistadora Na sua idéia, quais seriam os conhecimentos específicos que um
profissional que fosse trabalhar com IE deveria ter?
E2 - GDC – Olha, principalmente, postura, porque hoje eu vejo que o profissional da área da
EF ele acha que dar uma bola ta bom, eu acho que ele tem que ter capacitações, ele
tem que explicar pro aluno o porque de certos exercícios, quais são os benefícios,
ensinar a serem multiplicadores, como prevenção de doenças, prevenção contra as
drogas, ele tem que ter um perfil desses pra mim, ao meu ver, ta.
Entrevistadora – Você teria uma idéia assim de uma disciplina na formação dele, ou algumas
disciplinas que você acha que seriam assim, fundamentais, consegue?
E2 - GDC Eu consigo, uma principalmente psicologia, eu acho que é super importante,
porque eu vejo muitos profissionais cultuando o corpo, e na verdade o esporte não é
183
cultuar o corpo, tem que ter uma base psicológica, tem que ter uma base emocional,
uma das matérias que eu daria é a psicologia, e também ligada a arte, porque tem muito
a ver a arte com o esporte, é o que eu falei, na questão da criatividade, na questão do
próprio emprego das atividades,
Entrevistadora – Mais algumas disciplinas?
E2 - GDC Disciplinas? Olha, tirando essas que eu acho que é essencial, você pode
trabalhar várias outras, ta, várias outras, eu não to falando direcionado, que eu acho que
você espera, né, natação, porque o pessoal só dá futebol, eu poderia falar uma centena,
(As específicas das modalidades), das modalidades, por ex atletismo não mais, é
importante, jogos, natação seria de suma importância, como faríamos? Ué, usaríamos os
centros sociais, porque eu sei que muitos profissionais saem sem nem saber nadar, e
outras gamas de esportes que estão aí, na mídia e a gente não tem como disciplinas pra
você aprender, tem um monte aí que poderiam ser específica . . .
Entrevistadora Agora, imagina o profissional, na faculdade, esse tipo da psicologia, da
questão da arte, algum, por ex na Educação artística você tem disciplinas do contexto de
humanas (Tem), da parte pedagógica (Da parte pedagógica, antropológica, entendeu?)
você acredita que essas disciplinas também teriam influência pra formação dele?
E2 - GDC De suma importância, de suma importância. Eu acredito que todas as disc . . .
todos os profissionais, deveriam ter disciplinas que não são direcionadas, mas que são
afins, porque nós vamos sair da faculdade, eu sei que é uma utopia o que eu vou falar,
nós vamos sair da faculdade despreparados, com um monte de questionamentos que
vão acontecer no nosso dia a dia enquanto profissional, então seria bom, sim, eu posso
te dar um ex., quando eu fiz jornalismo, eu tinha matérias assim, que o pessoal falava
assim Ah, mas porque você tem economia . . . no jornalismo? Mas porque você tem
antropologia? Porque que você . . . Ah, mas se eu for um profissional jornalístico da área
de economia, tem que aprender como lidar com isso, televisivo, rádio, . . . então, essas
experiências que a gente tem que passar, não que seja isso, mas tem que ter pra
poder trabalhar . . . (Uma base . . .) uma base geral pra saber lidar com isso depois
quando você se tornar um profissional.
Entrevistadora Agora, imagina que hoje você fosse contratar um profissional de EF pra
exercer essa função, na IE, que profissional você contrataria?
E2 - GDC – Eu contrataria um profissional que fosse . . . olha, é complicado! . . . complicado
. . .porque, eu acho que eu não sou uma pessoa muito indicada, eu sou muito exigente
com certas coisas e as vezes, pode ser que pode parecer que eu sou prepotente no que
eu venha a falar, mas um . . .principalmente um profissional, não que tenha muita
bagagem, mas que seja um profissional que coerente, que tenha postura, ta? . . .
especificamente pra área de esporte, principalmente, que fosse coerente, que tivesse
184
coesão no seu trabalho, que tivesse postura no seu trabalho, que fosse um profissional
que tivesse uma bagagem multidisciplinar, . . . é isso.
Entrevistadora – Quando você fala postura . . .essa postura ta relacionada exatamente com .
. .dava pra você dar uma . . .
E2 - GDC O que vem a ser uma postura de profissional, né? Alguém que tenha firmes
propósitos naquilo que vai fazer, é porque a gente tem muito profissional que vai onde
conforme o vento, então que ele esteja posicionado, postura é posição correta naquilo
que você vai fazer e seguir essa postura,esse posicionamento, pra mim é isso.
Entrevistadora Aqui na sua instituição você tem profissionais que atuam, porque aqui tem
as turmas que chamam (ACD), que são turmas de treinamento, que de certa forma
passariam por uma I também (É!), esses profissionais são . . .
E2 - GDC – São professores da escola . . .
Entrevistadora – Professores de EF?
E2 - GDC – É.
Entrevistadora A entrevista foi interrompida, mas como havia sido finalizada, foi
encerrada.
185
E3 – GDC / TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA
Entrevistadora Bom, eu to falando com ( . . . ), aqui (. . . ), é o coordenador . . . Orientador
de Lazer e Esportes e, ( . . .), a princípio a identidade sua e da sua instituição, não vão
ser claras lá, a gente vai trabalhar com códigos (Hum, hum!) Bom, ( . . .), na sua opinião
o que que é esporte, como você definiria o esporte?
E3 - GDC Ótimo, gostei de participar aqui do “Se vira nos trinta” (risos). Esporte! Esporte,
esse fenômeno incrível, cultural, queira ou não queira, as pessoas estão inseridas no
esporte como praticantes ou como ouvintes ou . . . apenas aqueles que sentem o prazer
em assistir . . . Bom, esporte, vamos lá, definição curta e grossa, esporte – esporte é um
conjunto de habilidades . . . um conjunto de habilidades que são empregadas pra um
determinado fim, envolvendo resultados, essa . . . envolve, principalmente, envolve
resultados, acho que é isso né, é complicado definir esporte, é tão grande e ao mesmo
tempo tão . . . tão dicil . . . ah . . . dá um pause aqui nesse negócio, dá pausa.
OBS.:- Ouve uma pausa e foram feitos alguns esclarecimentos sobre os procedimentos da
entrevista.
E3 - GDC Retomando aí, o esporte é uma, uma, tem um apego, uma raiz cultural muito
forte, a criança nasce inserida no esporte, tem o convívio com o esporte,
inicialmente, chamado de jogo, pra criança é um jogo, que futuramente, com a inserção
de regras, com a, a . . . com a performance, a performance que eu digo é a busca pelo
resultado, seja ele um resultado olímpico, ou um resultado no bairro, o que se procura é
o resultado, né, mesmo que esse resultado seja a participação, então, esse componente
cultural esporte, está enraizado, enraigado na vida da, da . . . da pessoa, do
nascimento até a terceira idade, coisa mais famosa que tem são os Jogos para a
Terceira Idade, que inclusive estão sendo muito discutidos pela, por essa busca pelo
objetivo, por essa busca pela vitória, ultrapassando muitas vezes o limite do corpo, é o
que ta acontecendo com a terceira idade, quer dizer, é um fenômeno muito grande que
acompanha a pessoa pela vida inteira, aqueles que praticam propriamente, como
aqueles que assistem, a gente que pessoas ficam alteradíssimas . . . no seu estado
emocional, assistindo uma partida, ouvindo seu radinho a pilha, ouvindo aquele jogo,
ouvindo aquele esporte, seja individual, seja coletivo, então mexe com todo mundo, é
uma . . . (toca o telefone) Acho que ta bom.
186
Entrevistadora Depois a gente pode voltar e retomar isso aí. (Ta!) Então agora, no âmbito
do esporte, o que que seria a IE, como é que você definiria ou como você vê, o que
pra você falar sobre IE?
E3 - GDC Bastante. Bem, A IE pelo que, pela formação que eu tenho e pela atualizão,
pela constante conversa, atualização que a gente tem, a I é fundamental, a boa I é
fundamental e eu acredito muito na diversidade, primeiramente, respeito a criança,
descobrir e saber o porque que ela procura a I, se ela procura por ela mesma, se ela
procura porque o pai sempre gostou e nunca teve oportunidade e quer realizar o sonho
através do filho, através do sobrinho ou se procura por influência da mídia, a gente tem
que saber o porque que procura, antes de mais nada, mas, uma vez com a gente, é
desenvolver, principalmente nas idades mais novas, seus sete anos, oito anos de idade,
desenvolver um repertório motor muito grande e não pra um esporte propriamente dito,
mas com várias atividades diferenciadas, pra enriquecer o repertório motor, que a partir,
entre os sete, dez anos é a fase de ouro do desenvolvimento, não na parte motora,
mas na cognitiva, enfim, é aonde a gente tem um desenvolvimento muito grande e . . . é
um facilitador, é um ponto facilitador, com certeza, e a retenção do aprendizado perdura
por muito tempo, a gente tem exemplos de crianças que tiveram uma boa I durante a
adolescência e início de idade adulta estiveram afastados de esporte, de uma vida ativa
e que, com seus . . jovem adultos ainda, seus 25, sei lá quantos anos, resolveram voltar
a praticar ou se movimentar e perceberam que ainda tinham resquícios, tinham
conhecimentos, tinham um repertório motor que ainda poderiam ser empregados e muito
bem empregados, o que causa satisfação e sociabilização, acima de tudo a
sociabilização, porque a exclusão pela falta de habilidade é o, é uma coisa muito . . .
muito grande é, é . . . é um problema muito grande que a gente hoje na sociedade, é
pouco discutido na comunidade, mas tem uma influência imensa no nível de atividade
física da população, o que se relaciona diretamente com custos com a saúde, não só pra
pessoa, mas também pro município, pro estado e por afora, né, são pessoas, com as
tais, as famosas doenças hipocinéticas, pela falta de movimento, que não procuram pela
vergonha e por achar eu não consigo, eu não sou capaz; isso tudo reflete, ta refletido
na I, né, uma I frustrante, aquela I esportivista, aonde a criança não consegue êxitos nas
primeiras vezes e vai desistir, vai abandonar e vai dizer isso não é pra mim, jamais
farei esse tipo de coisa; então, é por isso que eu acredito muito nessa I generalista, ela
passa por, não passa por esportes, mas sim, por habilidades, pelo arremessar, pelo
rolar, pelo saltar, enfim, e principalmente um resgate cultural também, que brincadeiras,
que eu brincava muito, “mamãe da rua” e por afora, a gente não mais hoje, não
porque as cri . . . não só pela disputa com a informática, computador, televisão, etc e tal,
mas também pela falta de segurança, a rua não é mais aquele play ground que era
187
antigamente, a rua é o lugar do perigo, é o lugar do medo, desde pequenininho – não sai
na rua, não, a rua não, não pode, cuidado, cuidado; é um espaço restritivo, é um não
lugar, né, então a gente procura, na I, trazer esse resgate, proporcionar essa . . . essa
mobilidade, esse conhecimento de si próprio através do movimento, por essas
brincadeiras, por esses jogos que deram certo e . . . e proporcionaram níveis de
atividades significativos e bons pra tanta gente até hoje, né, é um combate também, de
certa forma a gente pode encarar dessa forma, eu falei das doenças hipocinéticas, a
obesidade infantil, que a gente, inclusive, eu não sei se eu posso falar isso, mas to
falando, se não você corta depois, a gente ta com uma proposta estadual do SESI, num
desenvolvimento com as crianças da nossa escola, da nossa rede escolar, um trabalho
bastante, bastante intenso com os alunos, pela questão da obesidade infantil, que ta
num nível assim, muito grande, ta complicado e a melhor hora da gente tratar é agora,
né, de 1ª a 8ª séries vai ser feito esse trabalho, nível estadual, só pra começar, inclusive
agora nesse segundo semestre de 2005, e eu acredito que tem muito a ver com essa I,
aquela coisa do . . . o gordinho não vai participar porque é gordinho, já não tem
habilidade e . . . esporte procurando resultado, realmente, é complicado, e a questão do .
. . de generalista, mesmo quando introduzir na modalidade, a partir dos seus onze anos,
como diz Gallahue e vários outros autores aí, tanto da parte cognitiva, psicológica, e
motora, do aprendizado também, da aprendizagem, a partir dos onze anos é a idade
ideal, é onde chegaram que é a idade ideal e, o cara com onze anos, tem seus dois
metros de altura, seu um e noventa, que seja, que era o meu caso, quer dizer, não tem
que ser o pivô do time de basquete, ele não tem que jogar basquete, senão ele vai
chegar com seus trinta e poucos anos e vai querer jogar basquete, ele vai ser
habilidoso no basquete, enfim, ele tem que passar por todas as posições do basquetebol
e não ficar no basquete, tem que procurar vivenciar mais esporte propriamente dito,
pra futuramente refinar, é, a pouco tempo eu . . . eu assisti uma palestra que a
professora Suraya Cristina Darido, professora, doutora, livre docente e por afora, dizia
que numa pesquisa que ela fez com atletas de rendimento, hoje, de alto nível,
começaram, se a gente for ver, tardiamente, com seus quatorze, quinze anos, eles
começaram, quer dizer, aonde ta o prejuízo de com seus onze anos diversificar, é, eu
acho que, pelo contrário, tem que aumentar o repertório, aumentar a base, dar
possibilidades, e o mais importante do esporte, é uma ferramenta muito próxima das
pessoas, não é dentro de sala, geralmente não é dentro daquela sala fechada, sentado
em carteira, a possibilidade e a intimidade, entre aspas, que a gente tem, é muito
grande, pra tratar de outros assuntos e extrapolar pro dia a dia, pro cotidiano, então, na I
também deve ser trabalhados os valores, que são importantes pro próprio esporte, pro
jogo, pra vida, pro dia a dia, e a gente frisa muito o seguinte, que a gente inicia no
188
esporte para a vida, porque a gente quer , quando a criança tem os seus, não seja
mais uma criança, um adulto, que ela, se for um esportista, ótimo, se for um atleta de
nível . . . seleção, melhor ainda, se for pra olimpíada, parabéns pelo seu esforço, mas
antes disso tudo, ela vai ser um médico, vai ser um pedreiro, porque não, uma dona de
casa consciente e . . . e com, como é que chama a palavra, me fugiu a palavra, . . . e
com . . . a questão, o que a gente quer que leve, é primeiro, a sinceridade, a verdade, as
questões morais que ela leve, e que a prática de atividade física seja um hábito
aprendido como escovar os dentes, sabe que tem que escovar os dentes, vai e escova,
e mais, não automático, não uma coisa automatizada, tem que saber muito bem o
porque está fazendo, a gente acredita nessa I desta forma e na adolescência, dando
autonomia, dando ferramentas pra essa autonomia, pra criança saber, pro adolescente e
adulto saber fazer no seu horário de lazer, saber, ter noções do certo, ter noções do
errado, do porque aquecer, do porque alongar e, porque da atividade física e do mínimo,
do mínimo de atividade física, da importância disso pro dia a dia, pra qualidade de vida,
pra saúde, pro relacionamento familiar, a gente extrapola pra tudo, né, pra extrapolar
pra tudo, que a gente percebe com adultos, num trabalho com adultos, que a gente
acaba fazendo também, diretamente nas empresas, que o sedentarismo influencia muito
na convivência familiar, o cara trabalha, chega de uma maneira no trabalho, trabalho
esgota, a empresa devolve ele de uma outra forma pra casa, um dia tudo bem, dois dias,
chega um mês, dois meses, ele cai naquela rotina, e a pessoa não está, o corpo, na
verdade, que é uma ferramenta de trabalho, não ta preparado pra esse estresse, ele não
ta preparado, é um corpo sedentário, num ta preparado, e a exigência, o medo do
desemprego, se eu não fizer mais hoje do que eu fiz ontem, e amanhã muito mais do
que eu fiz hoje, eu vou estar desempregado, essa . . . ultrapassar os limites, a gente
percebe que o cara chega em casa, abre o portão, já chuta o cachorro, xinga a esposa, e
não tempo de atender o filho, ele quer dormir, ele quer descansar, vai dormir, esse
repouso não é recuperador pro dia seguinte, e ele entra nesse círculo vicioso e é
complicado, é super complicado, e se a gente for ver, a intervenção com a atividade
física, aquela da, da . . . do Agita São Paulo, da OMS, 30 minutos por dia, mesmo que
acumulados, dirigidos, é claro, faz diferença, a gente tem essa experiência, inclusive
deles reportando melhoras significativas no convívio familiar, quer dizer, é tudo né! ta
bom de esportes, eu acho.
Entrevistadora Ta bom, quase que você já respondeu tudo eu não preciso perguntar . . .
(risos), mas, vamos lá, você já falou sobre as faixas etárias que era uma pergunta que eu
ia fazer, então, você acredita que pra I a partir de onze anos, antes disso, um
embasamento geral, de repente . . .
189
E3 - GDC – Isso, onze anos com esporte propriamente dito, é claro, a gente estabelece, uma
idade cronológica porque a gente tem que se basear em alguma coisa, a gente sabe que
tem diferenças biológicas, que tem criança que pra iniciar antes e tem criança que
seria ideal iniciar depois, mas, como um média, onze anos, é adequado, é adequado
esse parâmetro pra gente, pra gente ter e importante sim, antes dos onze anos, eu acho
fundamental antes dos onze anos, ter essa, esse repertório motor, esse enriquecimento
de repertório motor, senão vai chegar aos onze anos, sem condições de iniciar, o que foi
feito com sete, teria que ser feito com os onze, é por aí.
Entrevistadora Aqui na sua instituição, quem trabalha com a IE é, que profissional que é
esse?
E3 - GDC Bom, são professores, tanto da licenciatura quanto do bacharelado, nós temos
os dois, hoje nós temos cinco, aqui no Centro de Lazer e Esportes, nós temos cinco
professores contratados do SESI e mais oito professores fruto de convênio com a
Prefeitura Municipal e com um empresa, a . . . Fiberglass, desse todos temos, tanto
bacharel, quanto licenciado, era isso ??
Entrevistadora – Era isso, basicamente, profissional da EF?
E3 - GDC Isso, profissional. Sem dúvida, profissionais registrados no sistema
CONFEF/CREF, condição sine qua non, tem que ser, não tem jeito, e que passam por
constantes treinamentos, o SESI investe muito nisso, no treinamento, na capacitação
desses profissionais, tanto os próprios do SESI, quanto os conveniados, isso é um
acompanhamento que tem bem de pertinho.
Entrevistadora A IE, na sua opinião ocorre em que locais? Aonde você visualiza a IE
acontecendo (Aqui no, no . . . ??) em geral?
E3 - GDC Em geral. Bom, fala em IE a primeira coisa que vem a cabeça são os clubes, a
primeira coisa que vem a cabeça são os clubes, porque infelizmente a maioria das
escolas não tem condições pra isso, ou condição física, ou condição no aspecto humano,
. . . a escola, hoje em dia, principalmente se falando em escola . . .estadual, municipal,
escola do governo, escola pública, é complicado, sabemos que têm iniciativas ótimas,
tem locais que acontece, mas não é a maioria, não reflete a maioria das escolas, mesmo
as particulares, as que tem, tem algumas que tem sim, em horário contrário de aula,
tem aquele programa de I, mas até onde eu sei é uma coisa bastante esportivista, é uma
coisa bastante . . . ali pra resultado mesmo, e dirigida, pra isso daí, mas ainda existem
instituições não governamentais que trabalham, trabalham, fazem um trabalho muito
bonito na I, muitas vezes, mesmo sem ter o conhecimento disso, né, acabam mesmo,
meio que intuitivo, acabam trabalhando no sentido certo, assessorado muitas vezes por
profissionais competentes, regulamentados, aí, a gente encontra ainda nas periferias
bem distantes, nas . . . na sociedade aí, camada de . . . com menor poder aquisitivo, a
190
gente consegue encontrar ainda as brincadeiras de rua por não ter acesso, eu acredito
que isso acontece por não ter acesso a um outro lazer, a um outro local, a um outro
lazer, ou é longe, ou eu não tenho em casa, não é possível, tem que ficar tomando conta
dos irmãozinhos e acaba, nessa convivência acaba saindo aquelas brincadeiras que
proporcionam esse início, né, sem contar a mídia, a mídia é, nisso daí, ela é uma
influência violenta, criança de dois anos assistindo a TV, vê o Guga e quer reproduzir,
quer fazer, instintivamente quer brincar, quer fazer nesse sentido, e a gente sabe
também que tem os que não são profissionais, as pessoas que tem graças aí, boa
vontade e que acabam, são amantes de esporte, acabam pegando grupos de crianças
no bairro, onde trabalham, enfim, numa instituição e acabam promovendo de alguma
forma algum tipo de I ou esporte.
Entrevistadora Qual o tipo de conhecimento específico que você acredita que um
profissional que vai atuar com crianças, com a IE, deveria ter?
E3 - GDC Acadêmico, você quer saber? (Hum, Hum . . . ) Esse profissional, pro trabalho
com, com crianças, é fundamental, mas fundamental o embasamento, o arcabouço
teórico, tem que ter, não tem jeito, o primeiro passo é o arcabouço teórico, tanto na
questão do desenvolvimento, desenvolvimento motor, a questão da aprendizagem, a
questão da, da . . . didática, porque não dizer da prática de ensino (risos), vou tomar um
puxão de orelha se eu não falar, porque não dizer da prática de ensino, bom, na verdade
todas as disciplinas são muito importantes sim, mas a elas tem que ser associados,
primeiro, uma vontade muito grande desse profissional, tem que ser um cara que vai
contar, vai procurar estar sempre atualizado, se atualizando, os temas do dia a dia, do
cotidiano, ele tem que ta por dentro, ele não pode viver a margem dos assuntos, das
coisas que acontecem no dia a dia, que são importantes, que tão sendo refletidas na
educação, na criação dessas crianças e que é o dia a dia delas também, esse
profissional tem que saber lidar com essa expectativa, o que ela traz pra dentro da aula,
ela traz pra dentro do local de I pra, enfim, pra onde ela vai ela leva consigo essa
dúvidas, essas questões, esse profissional tem que ta preparado também pra, pra ta
gerenciando isso daí, não pra responder tudo, mas pra saber o que ta acontecendo e
oferecer alternativas, inclusive do próprio trabalho dele, se ele for o, isso eu não
quero saber; se ele for bater de frente, vai ser complicado, né, ele vai ter dificuldade, ele
vai ter um obstáculo aí, significativo, pro dia a dia, pra, pra visão, pra fidelização dessas
pessoas, e pro trabalho, pro desenvolvimento do trabalho dele. Respondi mais ou
menos??
Entrevistadora Sim. Pegando a seqüência do que você terminou dizendo, qual o perfil
profissional que essa pessoa deve ter?? Você falou um pouco dos conhecimentos
191
acadêmicos, falou também um pouco de outras características, mas tenta puxar um
pouquinho mais, que mais além do que você já me disse?
E3 - GDC – Um perfil do . . .
Entrevistadora É, mais ou menos isso, comportamento mesmo, que tipo de
comportamento, atitude, como é que ele se posicionaria, né?
E3 - GDC Hum, hum! A gente vê, na I você quer saber? (É!) Na IE, eu vejo uma diferença
muito grande referente a classe social, muito grande, muito grande, as faixas mais
carentes, a gente percebe que o profissional, esse profissional tem que ter uma postura
firme, tem que ter uma postura firme, mas muito carinhosa, ele tem que realmente se
preocupar com a clientela, o foco tem que ser sempre no cliente, mas principalmente
com essa clientela, o foco tem que ser neles, eles tem que se sentirem importante, eles
tem que, é . . . o profissional tem que passar essa . . . essa imagem, não só imagem, ele
tem que ser verdadeiro, ele tem que gostar das crianças e realmente estar preocupado
com o desenvolvimento delas, com a situação delas, é o primeiro passo, esse é o
comprometimento, né, essa postura firme, sim, porque tem que ter firmeza, tem que ter
limites sim, mas é . . . tem que ser uma coisa . . . tipo . . . eu me preocupo com você, tem
que ter um carinho por trás, porque senão ele não consegue, porque de pancada, de . . .
de parede, de bater na parede, é o dia a dia dessas crianças, elas não . . . é uma coisa
que não sensibiliza, não a sensibiliza, pelo contrário, provoca mais agressividade, o
trabalho foi muito bem dessa forma, a gente tem essa experiência aqui mesmo, por outro
lado, com uma classe social mais alta, esse profissional tem que ter a . . . sempre a
firmeza, sempre ele tem que ter a . . . a firmeza na questão dos limites, dos limites, a
atenção, o carinho, é interessante, mas o conhecimento e o resultado pra essa clientela,
eu acredito ser mais significativo, ele tem que, ele tem que dar resultado, ele tem que dar
resultado, principalmente, a gente percebe aqui na cidade, uns dos problemas inclusive
que a gente enfrenta é a questão do espaço, os times daqui não participam de muitos
dos campeonatos, ou quando participa, a preocupação é outra, a preocupação no
aprendizado, não somente no resultado, e tem muita gente que foge disso, porque? Ele
quer aparecer no jornal, o nominho dele, ele quer ver no jornal, a criança quer ver, o
adolescente quer ver no jornal o nome dele, fez tantos pontos, jogou contra tal, venceu,
ele quer aparecer na coluna social do jornal, que a gente tem isso aqui, ele quer
aparecer na coluna social do jornal, seja malhando, seja academia que ele vai, o clube
que ele vai, tem que ta lá, porque senão ele desmotiva, ele não tem assunto pra
conversar na escola no outro dia, essa que é a verdade, e a cobrança dos pais, a
cobrança dos pais, o investimento dos pais, é diferente, é diferenciado, enquanto a
camada mais, menos favorecida pensa em tirar o filho da rua, em tirar o filho de más
companhias, digamos assim, de condições desfavoráveis, porque o pai e a mãe o
192
podem estar ali juntos, dando suporte, dando apoio, educando, e eles ficam a mercê do
que acontece no dia a dia na rua e, então, é uma opção segura, é uma opção segura,
outra coisa, ascensão social através do esporte, que é inegável e . . . esgotado até a
discussão, e que na . . . no oposto, na classe social mais alta, o pai não tem essa
preocupação de segurança, , da criança ficar na rua, não tem essa preocupação que tem
condições de . . . de evitar isso daí, mas que é o pai que patrocina o time, patrocina o
jogo de camisa, colocou o telhado da escola, reformou e fez e aconteceu, esse cara quer
o resultado, e quer o filho dele no time, então, quer o filho dele no time, tem que jogar,
então, o perfil do profissional que lida com essa . . . essa . . . clientela tem que ser
diferenciado, ele tem que ter um jogo de cintura muito grande, muito grande, inclusive
pra não chocar com os próprios princípios, que eu acho o mais difícil, se você me
perguntar – com quem é mais fácil trabalhar? Com certeza, é, são os menos favorecidos,
aí, é a escola estadual - nossa, não tem condição, não tem isso, não tem aquilo; mas
tem material humano, tem condição, se você quiser e quiser bastante, você consegue,
agora, você depende . . . somente das suas forças e do grupo, de ter um grupo e . . . de
realmente, entrar em sintonia, agora, na outra, na situação oposta, aí é complicado, você
tem o seu princípio, você tem a sua meta, você tem o seu plano de aula, você tem tudo
isso, mas quando o diretor da escola chega e fala, ou o pai do aluno que reformou todo o
piso do ginásio, ele chega e fala que o cara tem que jogar e que no ano inteiro vai ser o
tal do futebol, fica complicado, isso não só na escola, mas no clube também acontece, é,
é . . um negócio complicado, é uma situação bastante complicada e que muitos colegas
acabam desistindo de dar murro em ponta de faca e vão pro outro extremo, né!
Entrevistadora Agora, deixa eu te falar, se você fosse hoje, contratar um profissional pra
atuar com IE, que profissional seria esse que você contrataria?
E3 - GDC – Ótimo! Características desse profissional! Ele com certeza, animado, um
recreador, ele seria um recreador, antes de mais nada, um recreador, um recreador, ele .
. condição primeira, ter todo . . . todo conhecimento acadêmico, tem que ter, não tem
como fugir disso, além do conhecimento acadêmico, ele teria que ser um recreador, ele
teria que ser um recreador, porque nisso eu to tendo a garantia, de primeiro, ele gosta do
lúdico, ele vai proporcionar uma prática agradável, muito agradável, que tem que ser, a
criança tem que gostar, ela tem que voltar porque foi gostoso, não porque vai aparecer
no jornal, porque . . . é porque foi gostoso, é prazeroso, é prazeroso, é o prazer e . . . e .
. . que mais . . . o profissional que me traga coisas novas, é um profissional que
acrescente, que saia do arroz com feijão, mas tem que ser uma coisa bem
temperadinha, né? (risos), senão, o arroz com feijão, ta ótimo, é, tem que ser, ele tem
que conseguir transcender aquela prática do dia a dia, a mesmice, ele tem que conseguir
sair disso daí, ele tem que conseguir se inspirar em outras, em outras atividades que não
193
é as que a gente encontra em toda esquina, que as pessoas até fazem sozinhas, mesmo
sem o profissional, porque acaba não sendo necessário, todo mundo sabe que, como é,
e o que que faz, as crianças chegam até a ensinar pra gente, não é verdade? Ele teria
que ter essas . . essas características, . . . deixa eu ver, o respeito, lógico, o respeito à
criança, isso é uma coisa que eu acho que está até é, é, como é que fala, ta nas
entrelinhas aí, né, o respeito, a pessoa asseada, tal, com boa conduta, os valores, é
super importante essa questão dos valores, os valores que vão ser passados, isso é
fundamental, os valores que essa pessoa tenha . . . vai ta transmitindo, antes de mais
nada é o exemplo, antes de mais nada é o exemplo, o professor é o exemplo . . . e o
ídolo, né, é o exemplo e o ídolo, que mais que esse professor tem que ter . . . lógico,
esse professor vai passar por um teste prático e ele vai ter que me mostrar tudo isso,
não ficar na conversa, aqui a gente costuma fazer, a seleção é prática, é prática,
primeiro vai pro prático, não adianta . . . se na prática ele não convencer, não é na lábia
que ele vai ganhar, primeiro é a prática, ele tem que mostrar tudo isso, essa verdade,
esse amor, esse brilho no olho a hora que vê aquela criança toda suja, descalça, sei lá o
que, ele vai ter que mostrar isso daí, e a mesma coisa com os arrumadinhos,
engravatadinhos, tudo isso, né, ele vai ter que mostrar isso daí pra gente, ele vai ter que
convencer, né?! Aí, saindo disso, vai pra entrevista, aonde a gente vai realmente pontuar
se, se . . . se a gente tem a mesma filosofia, a filosofia da instituição e de tudo o mais e,
porque é muito por esse lado que eu falei pra você no início, da I dos sete, dos sete aos
dez, algo generalista, dos onze pra cima é que começa esporte especificamente e tudo o
mais, refinamento 14, 15 anos, e ele tem que se desprender daquela coisa de que eu
formei o atleta, porque a gente não forma nada, a gente facilita, né, a gente facilita,
porque muita gente tem isso daí, chega nos l5 16 anos, que o cara começa a dar
resultado e, vai embora . . . - eu não vou fazer isso, eu não aceito isso, tem que ser muito
claro, porque a gente é aquele pedreiro, que de tijolinho em tijolinho que não constrói
paredes, mas constrói catedrais, constrói hospitais, é assim que a gente pensa, que
aquele tijolinho foi muito importante, e que na hora que ele ta no trato com a criança ele
pensa, ele pense muito nisso, ele ta formando um médico, ele ta formando um lixeiro, ele
ta formando um cidadão, isso é fundamental, sem . . . não que . . é importante deixar
claro, é que não só esse aspecto social é importante, é um algo mais, quando eu digo
isso, eu to considerando que a parte motora ta sendo toda trabalhada cem por cento,
ta muito bem, ta redondinha, eu parto pra essa parte, é esse profissional que eu
quero, que consiga conciliar essa, essa situação, infelizmente é difícil, não é fácil não, é
difícil, mas hoje a gente tem, não são todos, mas a gente tem um grupo bastante
interessante, um recurso humano excelente nessa área.
Entrevistadora – Bom . . . Agradecimentos.
194
E3 - GDC Essa questão, dos sete, isso que a gente conversou dos sete oito anos, nove
dez, essa coisa generalista, dos onze aos treze, entra no esporte propriamente dito e
depois refina, aprimora, regras e tudo o mais, a gente desenvolve isso aqui e foi um . . .
foi super difícil implantar na metodologia que está hoje e . . . enfim, obtivemos sucesso,
tanto é que somos pólo de desenvolvimento pro SESI no Estado, a gente, digamos que
exportamos tecnologia, o pessoal vem aqui pra ver que realmente é possível, da pra
fazer, da pra fazer sim, da pra pedir trabalhinho escrito que eles fazem, a gente faz
campanhas, a gente usa os temas transversais, a gente trabalha na aula, cada mês é um
tema, tem um tema fixo, e o professor sentido a necessidade, ele trabalha outros, não é
nada amarrado, essa questão né, a não ser o tema fixo do mês, por ex, agora . .
pouco teve o combate ao fumo, e as crianças pesquisaram, procuraram saber um pouco
mais do que que é isso, as doenças relacionadas, os prejuízos, eu sei que tem muito pai
que ta “p” da vida com a gente, porque a criançada vai atrás, tem outros que vieram
agradecer e . . . porque a gente realmente trabalha, todos os alunos tem o seu
caderninho, ele tem o caderno, que ele pesquisa, ele escreve, não é brincar por
brincar, não é por aí, e a gente procura trabalhar aspectos de outras culturas, a gente
tem aquela bola de futebol americano, a gente tem . . . que mais, o taco de beisebol, a
bola a gente não tem porque aquilo parece uma pedra né, não pra trabalhar com
aquilo lá, na cabeça de um aquilo é terrível, o taco a gente tem, a luva a gente tem,
são os exemplos mais palpáveis assim, mas a gente trabalha com muitas atividades de
outras culturas, porque envolve o arremessar, envolve o rebater, envolve um série de
coisas que é o que a gente ta procurando, que enriquece, enriquece, isso é fantástico e é
possível trabalhar assim, a gente tem conseguido ótimos resultados nessa . . . nesse
caminho.
Entrevistadora Deixa eu perguntar uma coisa que me veio agora, na . . . quando você fala
do trabalho aqui do ( . . .), você ta falando, você ta incluindo um escola, porque você tem
uma escola? (Não!) Não?, Você ta falando só do atendimento ao público de uma
maneira geral?
E3 - GDC – Isso, o clube, a parte do clube, porque infelizmente a escola, são duas diretorias,
o SESI é setorizado, são dois departamentos diferentes, a escola é uma outra gestão,
que . . . infelizmente à parte, infelizmente hoje é assim que acontece, no passado
remoto foi, as aulas de EF eram, eram dos professores da parte do clube, o centro
de lazer e esporte, hoje não é assim, mas tem uma corrente aí brigando pra voltar, que a
gente percebe que qualitativamente é muito diferente, é tudo diferente, é tudo, tudo
diferente, tudo, e a gente tem mais condição, não de infra estrutura, mas prof . . . do
próprio profissional, a capacitação que acontece pra gente, não acontece pra eles, são
coisas diferentes e nos temos programas setorizados, temos especialistas na terceira
195
idade, especialistas no fitness, especialistas na escola de esporte, especialistas nos
programas para portadores de necessidades especiais, então, um atendimento que
pra ser diferenciado, pra, é bastante diferenciado, o especialista do programa Atleta
do Futuro, que é esse de . . . pra crianças de sete a quinze anos, e tem esse nome
atletas do futuro por uma concepção original, o nome forte ficou, porque na verdade seria
cidadão do futuro, só o nome ficou, a concepção original dele era totalmente esportivista,
com peneira, hoje a gente não tem mais isso, não existe peneira, estamos de portas
abertas e vamos participar, desde que esteja na idade adequada, é muito bem vindo pra
participar, nós temos setecentas e trinta vagas hoje, dessas setecentas e trinta vagas,
cinqüenta por cento, completas, quer dizer, temos muito que batalhar e lutar, porque é
difícil convencer o pai, porque quem traz é o pai, principalmente os pequenos, dessa
faixa etária dos sete até os dez anos, quem traz é o pai geralmente, e o convencimento
passa pelo pai, como é que meu filho vai ser um Robinho, se ele não joga futebol, se ele
fica jogando essa bola esquisita aí, se ele fica brincando (Brincando entre aspas), é, é
isso que ele pensa, fica brincando, e a gente sentiu uma diferença gritante quando
mudou a metodologia, saiu daquela concepção original e passou pro que é hoje, bom, foi
uma debandada geral, num primeiro momento, foi uma debandada geral, de 600, 700
alunos que a gente tinha, caiu pra cinqüenta, que permaneceram e foi um trabalho de
reconquista de alguns pais, de outros, outras crianças não voltaram, Graças a Deus,
porque elas já tinham uma mentalidade totalmente esportivista, que não era o que a
gente queria, aquela mentalidade da exclusão, da peneira, dos cinco melhores jogam, o
restante, eu sou melhor que você, então, foi até bom por esse lado, a gente conseguiu,
mudando a metodologia conseguimos mudar a clientela, digamos assim, né, mudar
os alunos aí, e essas pessoas que vieram no comecinho, que a gente . . . reuniões
constantes, periódicas, a gente sempre tem que ta em reunião, reunião de
conscientização pro pai do que ta acontecendo, porque pro pai é um bicho de sete
cabeças, você ta fazendo coisa de outro mundo, e eu acredito ser um trabalho único aqui
na região, porque . . . com sete anos e entrar num programa que a gente chama de
Jovens em Ação, que na verdade é base motora, 7-8 anos a gente trabalha base motora,
9-l0 anos a gente trabalha pré desportivo, mas pra não falar esse palavrão pro pai, a
gente resolveu adotar esse nome de Jovens em Ação, que ta funcionando muito bem,
você pergunta pra um pai o que que seu filho faz no SESI, ele faz o Jovens em Ação,
deu super certo, e essas pessoas carregam a bandeira e . . . acreditam mesmo e
participam de tudo, porque inclusive, uma coisa que a gente prega é o trabalho com a
família, né, o pai ta acompanhando de perto, ta brincando junto e ta realmente
entendendo, não ficar no discurso, a gente traz a família pra dentro, inclusive, em
196
apresentações de . . . de . . . da campanha do fumo por ex, combate ao fumo, alguns dos
temas transversais, a gente traz o pai e o pai participa também. Acho que é só.
197
E4 – GDC / TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA
Entrevistadora – “Eu to conversando com o ( . . . ) . . . “
E4 – GDC – “( . . . ).“
Entrevistadora – “( . . . ). Antes de mais nada, ( . . . ), eu vou esclarecer ao senhor que o seu
nome e a sua entidade vai ficar em sigilo no processo de nossa pesquisa, Ok!?!? Eu
queria saber do senhor inicialmente, qual é a sua opinião, o que é esporte?? Como é que
o senhor define o esporte??“
E4 GDC “O esporte na minha concepção é uma das coisas mais importantes na vida do
ser humano . . . ele seria assim . . . uma das coisas, uma das entidades que pode salvar
o mundo de muita porcaria que existe por aí. Eu costumo falar o seguinte, vou ser mais
abrangente com relação ao esporte, eu costumo dizer que o mundo ta tão ruim que
três atividades poderiam salvar as pessoas do mundo cão que existe, é: uma religião,
ainda que séria, não interessa qual delas; uma família bem constituída e o esporte ... e o
esporte. Você me perguntaria, e a escola? Escola é ótimo, mas não anda muito bom,
você de convir que não anda muito bem, então, o esporte pra mim é algo de uma
importância muito grande pra sociedade.“
Entrevistadora Nesse âmbito do esporte, como é que o sr., o que é pro sr. A iniciação
esportiva, como é que o sr. definiria a IE??“
E4 – GDC – “Bem, veja bem, nós, na qualidade de diretor do clube, nós temos uma
escolinha de esporte, que contempla o futebol, o futebol de salão, o basquetebol e o
voleibol, . . . e que, nós como clube, não interessa o resultado, o resultado técnico,
pra nós, na nossa visão, desde o início da escolinha, através dos professores que
começaram com ela, o nosso objetivo é a formação pessoal da criança, até porque a
nossa escolinha é limitado até uma certa idade, então, o nosso objetivo maior nosso é
tirar a criança de frente da televisão, de frente do computador, da rua, se ele vai se
transformar num atleta, isso não é o caso pra nós, eventualmente ele pode vir a ser, mas
o nosso objetivo não é esse ( nesse momento? . . . ) Não!“
Entrevistadora “Qual a faixa etária que vocês, que a IE abrange aqui e como é que vocês.
chegaram a essa organização de idades, essa disposição de idades?“
E4 GDC “Veja bem, nós, a escola foi formada com a contratação de dois professores,
inicialmente era o futebol e depois atingiu o vôlei também e eles que organizaram tudo
isso aí, eles que definiram a idade com as quais eles gostariam de trabalhar, vai dos sete
anos até os dezesseis e eles que dividiram em faixas, de acordo com o que eles
achavam melhor, o clube não interferiu nesse sentido.“
198
Entrevistadora - A IE aqui ela é de sete a dezesseis em todas as modalidades, mais ou
menos ?“
E4 GDC “A única modalidade que não tem muito, não existe uma separação muito
grande é o futebol de salão feminino, porque o futebol se você colocar por idade, por
faixa, você não vai conseguir montar uma equipe .... ! Então, as demais não, existe os
professores, depois você conversa com alguns deles, eles é que dividiram, tipo assim, eu
não sei exato, de sete a nove, de nove a doze . . . são quatro, quatro turmas cada faixa
etária.“
Entrevistadora – “Você disse que só tem modalidade coletiva, tem individual também??“
E4 GDC – “Não sei como você poderia chamar de individual, nós temos o que uns
chamam de academia, eu prefiro chamar como escola de esporte, é o karatê, tá! Karatê
é mais individual do que coletiva, que esse karatê é outra, também é dividido por
faixa, mas esse vai até o adulto, até o adulto participa da . . . o professor entende como
academia, nós como organizadores, preferimos chamar como escola.
Entrevistadora – “Aqui, no caso do seu clube aqui, quem é que trabalha, que profissional que
trabalha com a IE?“
E4 GDC “Ah, professores de EF formados, formados, com CREF, inclusive a gente
vira e mexe, recebe as visitas do .. . representante do CREF, até recentemente ele
esteve aqui, então trabalhamos com profissionais, o único que é . . . , não me lembro
como que o CREF chama . . . provisionado, é o professor de Karatê, é o único que é
provisionado, os demais são todos professores formados.“
Entrevistadora – “Porque que vocês têm essa visão de trabalhar com profissionais?“
E4 GDC “É pelo objetivo que nós temos, não adianta você colocar um curioso pra lidar
com criança principalmente, né?? . . . então, a idéia nossa é não trabalhar com curioso
porque a gente tem conhecimento de muita coisa que foi dada na mão de curioso, ele
passa a se interessar pelo lado profissional, quer formar jogador, quer ganhar dinheiro
em cima do garoto e como nós não temos esse objetivo, inclusive nós contratamos um
profissional, toda vez que nós temos que substituir um aqui, uma das, um dos pontos é
que ele se enquadre no perfil que nós queremos.“
Entrevistadora “É, então vou fazer uma pergunta com relação ao perfil na próxima, mas
antes dessa pergunta, que tipo de conhecimento específico esse profissional que vai
atuar com criança deveria ter?? ... que conhecimento específico . . .“
E4 GDC “Olha, nós procuramos, a escola nossa, como disse é o futebol, o futebol de
salão, o vôlei, o basquetebol, é que ele seja, tenha o gosto por aquela especialidade, tá!
Porque não adianta a gente colocar um professor que gosta de voleibol e querer dar
futebol, né! Então, a base mais importante pra (barulho . . .) bem competente,
199
devidamente credenciado, é que ele tenha o prazer de ministrar aquela aula que ele
dando, aquela especialidade que ele tá . . .“
Entrevistadora Se ele tem que ter uma especialização naquela área, tem alguma
exigência, ou se . . . “
E4 GDC “Não, não, normalmente, nós somos uma cidade relativamente pequena, então
a gente conhece quase que todo mundo que, que faz esporte na cidade, então nós
sabemos quem gosta de futebol, quem gosta de vôlei, quem gosta de basquete, então
quando falta um professor, quando a gente precisa, até pra substituição, a gente procura
buscar um profissional especialista naquela , naquela . . . matéria.“
Entrevistadora “Bom, então agora vamos para o perfil, na sua opinião, qual que é o perfil
que essa pessoa que vai trabalhar com IE deveria ter? Tipo de conhecimento, tipo de
atitude, tipo de comportamento, qual que é esse perfil então que vocês buscam nesse
profissional?“
E4 GDC “Uma das coisas que a gente busca é que seja um profissional sério,
competência, amor ao esporte, tem que ter amor ao esporte e gosto pela criança que vai
. . . porque o início de tudo é a criança, se for uma pessoa que não tem amor as
crianças, não tem prazer em lidar com criança, não interessa pra nós; o perfil inicial dele
é que ele seja uma pessoa que gosta de trabalhar com criança.“
Entrevistadora “Então, eu acho até que o senhor respondeu essa pergunta, mas eu vou
perguntar de novo, quem você contrataria para trabalhar com a IE? . . . dá uma resumida
aí . . . “
E4 GDC “É a mesma história da pergunta anterior, é, a IE não tem como trabalhar com
ela sem ter prazer, se não tiver gosto pelo que fazendo, então, ás vezes, felizmente
aqui no nosso âmbito, nós não temos falhado não, nós temos conseguido pessoas desse
naipe, mas ocorre muitas vezes de você se enganar com alguma pessoa, você pensa
que ela é uma coisa, na realidade, a hora que vai ver não é, então a gente busca na
realidade informações, como que ele é, geralmente trabalhou num lugar, trabalhou no
outro, a gente procura informações pra saber se, basicamente, ele atende o objetivo que
nós temos inicial . . .“
Entrevistadora – “Que é o de não pensar em resultado . . .“
E4 – GDC – “Resultado . . . “
Entrevistadora – “resultado imediato, mas a formação do . . .“
E4 GDC “O mais importante pra nós é isso aí, o professor que vai trabalhar conosco na
área da IE, não pode visar resultado imediato, . . . resultado imediato, . . . porque a gente
participa de alguns campeonatos fora daqui ou então organiza algum aqui, torneinhos
assim, e a gente é muito cobrado pelos pais dos meninos inclusive, - é, meu filho não
joga, joga pouco, põe, depois tira, desse jeito não vai ganhar nunca, então a gente tem
200
que procurar fazer o pai entender que, às vezes, é lógico que a gente não fala isso aí pra
ele, você quer que ganhe, pra ganhar o seu filho não pode jogar, . . .
Entrevistadora – “Se fosse pensar em resultado não iria por todos pra jogar. . . “
E4 GDC “Não pode por todo mundo pra participar, e o nosso objetivo não, é que todo
mundo participe no mesmo nível.
Entrevistadora “Só pra complementar aqui uma informação, o senhor tem alguma
formação voltada pra EF ou . . .“
E4 – GDC “Não, não, não tenho. Só tenho o segundo grau, sou técnico em mecânica. Sou
mecânico ferroviário aposentado, por isso eu sou diretor do clube, mas eu tenho, isso eu
posso falar, eu tenho uma experiência no esporte muito grande. Eu fui diretor da
Associação Atlética Santana por quase trinta anos, é um dos clubes de esporte amador
da cidade, depois eu assumi diretor, inicialmente como adjunto e três anos como
diretor geral de esportes . . . Isso me deu, aliás, sem contar aquele detalhe que eu falei
pra você, o amor ao esporte, inclusive, às vezes digo que, oitenta por cento das pessoas
não são aquilo que gostariam de ser, eu me adaptei muito bem na profissão que eu
abracei, mas na realidade eu gostaria de ser jornalista esportivo, porque, pelo amor que
eu tive pelo esporte desde pequenininho, essa é minha . . . formação voltada pro esporte
propriamente dita, não tenho.“
Entrevistadora – “Isso não exatamente importância, era só mesmo pra saber. Bom, ( . . . ), a
princípio seria isso, ta ótimo, a gente vai ta depois fazendo uma transcrição disto num
papel, e vai ta trazendo uma cópia pro senhor, e vai trabalhar e depois trazer os
resultados, pra vocês saberem o que a gente tá fazendo. . . “
E4 – GDC – “Tá bom !!!
TRANSCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS
GPA - GRUPO DOS PROFISSIONAIS ATUANTES
(B – BACHARÉIS/GRADUADOS e L – LICENCIADOS)
202
E1B – GPA / TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA
Entrevistadora Bom, eu to falando agora com ( . . .), ela trabalha aqui ( . . .). ( . . .), antes
de mais nada, o nome da entidade e o seu nome não vão ficar . . . é . . . expostos no
trabalho, a gente vai ta usando código, ta?? . . . Na sua opinião o que que é esporte,
como você definiria o esporte?
E1B - GPA – É, eu tenho tempo pra responder?
Entrevistadora Tem, todo o tempo do mundo, todo o tempo seu, né, porque você é que
tem aula depois.
E1B - GPA É que quando eu entrei na faculdade, eu tive um professor que você deve até
conhecer, o Mauro Betti, e ele fez essa pergunta pra gente no primeiro dia de aula, e eu
escrevi que esporte era lindo, espetáculo etc, e aí, quando a gente termina a faculdade e
muito depois também a gente começa a enxergar de várias formas assim, é difícil falar o
que é esporte pra mim, porque eu enxergo de muitas formas, ele é, o esporte pode ser
manipulador, quando ele é usado pela mídia como manobra das massas, a gente sabe
que isso acontece muito, o esporte pode ser um meio educacional fabuloso, quando bem
direcionado, o esporte pode ser fonte de renda, a gente sabe muito bem disso, mas
assim, eu, eu considero uma espécie de . . . eu gosto de trabalhar no esporte
visualizando o seguinte, primeiro que eu acredito que o que eu faço aqui dentro não é
esporte, não tem nada a ver com o esporte, ainda que as pessoas chamem de esporte,
eu trabalho com atividade sica, com qualidade de vida, mas é lógico que a gente tem
contato com o esporte, a gente trabalha de fim de semana, com IE, alguns grupos, então
eu visualizo da seguinte forma, o esporte é um meio pelo qual você interage com as
pessoas e faz . . . e traz . . . e oferece pra elas milhares de coisas, pode ser a integração,
a socialização, é . . ., mesmo . . . , tratar de descobertas que a pessoa não descobriu, eu
gosto mais nessa linha, entendeu?
Entrevistadora – No âmbito do esporte nesse seu conceito, como você definiria a IE?
E1B - GPA Eu acho muito, eu acho super importante, sabe . . . eu . . . eu fui, eu sou uma
atleta frustrada assim, e eu treinei três ou quatro modalidades durante a minha infância e
minha adolescência, e talvez eu tivesse sido muito boa em alguma delas, ou em algumas
das outras as quais eu não tive contato, então, nem tanto por ser uma atleta ou ficar
muito boa, mas porque a gente sabe, a gente percebe isso, quanto mais a gente vai
ficando mais velha, a gente acaba ficando meio que limitada, mas a infância é um
momento legal assim, pra gente estar trabalhando “n” habilidades e “n” tipos de
modalidades pra criança se encontrar dentro disso tudo e conseguir usar o esporte como
meio de crescimento, sem que se torne uma coisa obrigatória, uma coisa maçante, então
203
eu acho que a IE é importante por isso, ela espaço pra todo tipo de contato, de
conhecimento, de desenvolvimento motor, e então, no futuro talvez, se a criança
realmente quiser, enfim, é, nada daquela coisa - o pai fazia, eu vou fazer, eu acho legal
a I por isso, quantos meninos seriam ótimos bailarinos se não fosse a visão estreita dos
pais e enfim, então, é questão de ter contato com tudo, com ritmo, com todos os tipos de
habilidades, eu acho muito importante assim, pra formação, construção motora do
indivíduo durante toda a vida.
Entrevistadora E, em quais locais que você visualiza a IE acontecendo? Aonde você acha
que a IE acontece, em que locais?
E1B - GPA Qualquer lugar, qualquer lugar, qualquer material, é . . . é legal você ter uma
estrutura, não necessariamente uma quadra, mas ter m espaço grande, mas enfim, eu
não consigo enxergar tem que ser assim, tem que ser aqui; todo ambiente é muito rico
de . . . a gente pode ficar ali na escada, brincar com as crianças ou enfim, subir-descer,
pode brincar na grama, dentro da sala de aula, com a bola, com cordas, sem nada, não
consigo te falar – Ah, tem que ser assim; eu acho que pode ser em qualquer lugar.
Entrevistadora Agora, qual a faixa etária você acha que a IE abrange e como é que você
chegou a essa conclusão?
E1B - GPA – Faixa etária.
Entrevistadora – Se existe uma faixa etária?
E1B - GPA Eu acredito que existe também porque é limitante, assim, até essa idade,
mas é porque o próprio indivíduo acaba querendo ou cair fora, não suporto isso ou se
especializar em alguma coisa, então ele acaba meio que procurando, . . . mas eu acho
que, . . . não sei, . . . quando eu olho, eu estudei no Arquidiocesano em SP e as crianças,
eu nunca fiz, é o que eu te falei, comecei muito cedo, com sete anos eu fazia basquete,
enfim, mas eu via criancinhas assim, de uns quatro, cinco anos, com um trabalho de
IE, até uns oito, nove anos, aí eu acho que começa, acredito que seja assim, mas não
acho que é fator limitante, eu to falando é o que eu acho que acaba acontecendo e onde
eu acho que é interessante que aconteça, porque a gente sabe que chega nos doze,
treze anos, entra na fase de habilidades específicas e, enfim, a própria pessoa
acaba procurando, pode ser que não, pode ser que ela, mas é muito, eu acho que. . .
deve ser muito raro, você num . . . acabar se identificando com alguma coisa e querendo
progredir dentro daquilo, acredito que mais ou menos por aí, na faixa etária de cinco,
seis até uns dez, onze . . .
Entrevistadora – Independente da atividade?
E1B - GPA Ah, sim. Eu sou muito a favor do vamos fazer tudo, sem libertinagem (risos),
mas não, vamos experimentar, fazer experimentações, assim, eu acho legal.
204
Entrevistadora Qual é o tipo de conhecimento específico você acha que profissional que
vai atuar com essas crianças, vamos dizer assim, deveria ter?
E1B - GPA Chegamos num ponto importante. eu acho assim, num contexto geralzão,
que você tocou nesse assunto de Licenciatura e Bacharelado, ambos podem trabalhar,
que eu, sou bacharel, eu falo de carteirinha, que o licenciado é muito mais apto a
trabalhar com essa faixa etária, muito mais apto pra trabalhar por didática, por . . . eu
acho que talvez eu, se eu tivesse me interessado e, enfim, mas eu enxergo a licenciatura
como uma área, mesmo porque licenciatura acaba indo pro lado da EF escolar, né,
então acaba tendo umas disciplinas até, dentro da graduação mesmo que acabam
direcionando mais pro, mesmo pro trato, pra lidar com crianças, assim, eu consigo
trabalhar com crianças, mas pessoalmente, é um trabalho que pra mim não pode se
estender por muito tempo assim, eu tenho esse perfil de querer ver o rendimento
acontecendo num espaço de tempo curto, eu não sei se todo . . . pode ser que existam,
pode ser não, existem bacharéis que talvez se sintam muito confortáveis, mas em termos
de conteúdo, eu acho que a licenciatura oferece mais, mais . . . estrutura pra estar
trabalhando com esse tipo de . . .
Entrevistadora Você poderia citar pelo menos uma disciplina, ou algumas disciplinas que
você acha que seriam muito importantes . . .
E1B - GPA Não, por ex., o licenciado dentro da Unesp, eles fazem quatro semestres eu
acho de . . . ou quatro ou três, não sei, de . . . ensino, prática de ensino, então eu to indo
na escola, tendo contato com “n” faixas etárias, um monte de realidades diferentes, que
isso é importante, escola particular, escola estadual, municipal, enfim, então isso é uma
coisa que o bacharel não tem, não faz sentido ter dentro do que o perfil do bacharelado .
. . é . . . quer construir, e eu acho que é uma experiência enorme, é legal a disciplina, o
papel, depois que a gente põe a cara pra bater, que a gente ver que muita coisa a gente
deixou passar, não deu atenção e muita coisa a gente vai aprender fazendo, mas eu por
. . . isso pra mim é crucial, ter muito tempo de prática de ensino, ia ser muito complicado
o cara sair da faculdade, que é o nosso caso, do bacharelado, e ir direto pra uma escola,
entendeu, porque a gente sabe muito bem, que planeja uma aulona e chega na hora
tudo errado, chove, acaba a luz, então tudo isso que acaba acontecendo, IE muito
provavelmente aconteça isso, você planeja uma atividade externa, super legal, cheia de
gincana e cai um temporal, você fica super limitada, por isso que eu sou a favor de vários
espaços, então, isso pra mim, por ex, essa disciplina é importantíssima, tem também
pedagogia do desenvolvimento e tem . . . enfim, coisas que tem mais a ver com o
crescimento do indivíduo, a gente, não é que a gente releva o fator infância,
adolescência, mas como a gente acaba se voltando muito pra parte de rendimento, de
treinamento, é uma coisa que não acontece tão cedo, né, então, a gente acaba pegando
205
uma faixa etária mais madura, a gente fica um pouco que . . .sem conteúdo pra poder ta
trabalhando . .
Entrevistadora E, qual o perfil profissional você acha que é, que deveria ter essa pessoa
que vai trabalhar com IE? Além dos conhecimentos específicos, que outros . . .
comportamento, atitude . . .
E1B - GPA É difícil rotular, né, falar assim é . . . . eu tenho vários amigos que trabalham
com I até hoje, e eles tem uma facilidade que eu não tenho, é uma coisa que eu tentei
até trabalhar e,falei - bom, não é minha praia. Por ex., saber o timing da criança, do
adolescente, do tipo de tratamento de . . . de vocabulário mesmo, de como chegar até a
criança, como tirar alguma coisa da criança, como pedir alguma coisa, fazer com que ela
faça, enfim, é toda essa construção que pode vir com a experiência, mas eu acho que
tem uma coisa que é meio já, a pessoa tem isso dentro dela, eu sei porque eu tenho
uma filha e . . . eu aprendi muito com ela, mas eu percebo que existem muitas pessoas
que tem muito mais facilidade de fazer minha filha contar uma história, por ex., do que
eu. Entendeu? Então eu acho que é esse tato, essa .. . tem que ser uma pessoa
maleável, tem que ser uma pessoa extremamente criativa, porque é o que eu acabei de
falar pra você, dá tudo errado e tem que vir uma coisa na hora, e que motive as crianças,
enfim, então, é um perfil mais ou menos assim, ele tem que gostar muito, porque, é, eu
acho que é engraçado até eu falar isso, é bem parecido com trabalhar com terceira
idade, você vai ver muito pouco, muito pouco não, mas enfim, num curto espaço de
tempo você vai ver muito pouco, muito pouca evolução, muito pouco crescimento em
relação a, você vai ver muito pouca evolução no sentido de .. . de habilidades, de corpo
mesmo, matéria física, enfim, mas você implanta um negócio que dali a três ou quatro,
cinco anos, nunca vai ser esquecido, entendeu? Com terceira idade é assim, eu também
trabalho muito pouco com terceira idade, mas eu tive a chance de dar umas aulas e é
bem legal assim, a resposta é outra, a resposta é diferente, não é uma resposta exata, ta
ali, vou por no lápis, . . . e isso é legal, então a pessoa tem que ter isso dentro dela, de
saber que não vai ser nada imediato, mas que num . . . ela também não pode nem pode
querer nada as vezes, né, ela tem que fazer por fazer e . . . porque gosta e pronto. Eu
acho que o engraçado é que quem trabalha com treinamento, quem é mais assim, já tem
aquele negócio assim – Vamos tentar outra vez porque . . . você vai especulando, e quer
que a pessoa tenha metas, enfim, é uma coisa mais quadradona.
Entrevistadora – Agora, vamos imaginar assim, que você fosse contratar um profissional pra
atuar com IE, quem você contrataria?
E1B - GPA – Ah, tem tanta gente, é que eu não posso falar o nome que não adianta . . .
Entrevistadora Ta, imagina assim, ao invés de você falar o nome, você visualiza essa
pessoa e descreve ela pra mim.
206
E1B - GPA Bom, é um palhação (risos), não, sem ser pejorativa, de maneira nenhuma,
mas tudo isso que eu te falei antes, é uma pessoa que tem tudo isso, é extremamente
responsável, tem, cheio de “n” problemas, enfim, mas pensando no perfil, é um cara que
ta sempre animado, sempre divertido, é engraçado porque é uma pessoa que . . . é
bacharel essa que eu to descrevendo, mas deixa eu pensar numa outra pessoa . . . um
amigo meu, também é muito bom, é ele . . . é um cara que a gente percebe que não tem
tempo ruim, é um cara que a gente percebe que . . . ele consegue sublimar muitas coisas
do cotidiano dele em função do que ele ta fazendo e. . . ta fazendo e se entregou pro
negócio mesmo, não interessa quem ta em volta, dedicado, e que eu perceba que vai
acrescentar pra essa criança, pra essas crianças, pra esse grupo, que vai acrescentar no
sentido de valores, de . . . posturas, enfim, quando eu falo posturas, eu não sou
quadradona de . . . posturas no sentido de é legal assim, assim não é,é uma pessoa
que eu perceba que ela tenha essa . . . essa coisa de querer construir mesmo um
negócio, eu ia fazer uma pergunta assim – Você tem pressa de . . . ? É o que eu te falei .
. . Você tem pressa de chegar ao resultado do seu trabalho, ou não? Isso pra mim ia ser
uma pergunta crucial, porque se ela falar - Tenho, nossa, é importante. Eu já, . . . eu ia
falar – Pô, você pode ser um ótimo profissional, mas eu acredito que pro que eu imagino
pra trabalhar com IE é uma coisa que, que talvez dificulte com o passar do tempo, o
cara fica nervoso, e aí enfim, a gente sabe tudo o que acontece, é por aí.
Entrevistadora Você acha assim, qual seria assim, o objetivo principal da IE ou alguns
objetivos . . .
E1B - GPA Ah, experimentar, experimentar todo o tipo de . . . de . . . (Vivência. . .) é, de
vivência que permita com que a criança . . . não cresçam adultos frustrados que nem eu,
que nem eu to te falando agora, entendeu ô, eu podia ter feito isso . . . não, eu fiz e
não rolou, entendeu! Eu acho que tem que ser um . . . eu acho que é isso, é
experimentar, a criança vai estar para experimentar um monte de coisas, acho que
essa é a palavra mais importante, poder ta vivenciando cada coisa, e quem sabe,
crescer um adulto que continue vivenciando, a gente fica meio . . . medroso, é legal, . . .
se a IE oferecer isso pra criança, pra ela crescer e dizer - eu fiz isso, fiz isso, isso, isso,
isso e gostei de tudo; que bom, vai fazer tudo, - gostei disso, isso é legal, isso me faz
bem, isso não faz; é você dar um leque de opções assim, entendeu? Acho que a
importância é essa, . . . e é importantíssimo, é uma coisa, . . . - fiz e agora vem o
importante; mentira, o importante já foi feito, agora você vai fazer a sua escolha, é isso.
Entrevistadora – Agradecimentos.
207
E2B – GPA / TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA
Entrevistadora – Eu to falando com ( . . . ) . . .
E2B - GPA – ( . . .).
Entrevistadora ( . . .), antes de mais nada eu quero te garantir que o seu nome e a
entidade aqui que você trabalha não vão estar aparecendo, a gente vai usar um . . .
número um, dois, pra identidade ficar em sigilo; ( . . .) é formado em EF – Bacharel, aqui
na Unesp RC. ( . . .), na sua opinião o que que é esporte, como você definiria o
esporte?
E2B - GPA O esporte eu vejo como uma atividade . . . uma atividade organizada, você
tem algumas regras, uma atividade dirigida, organizada, você tem algumas regras
quando existe competição e . . . só.
Entrevistadora Nesse âmbito do esporte, o que seria a Iniciação Esportiva, como você
definiria a IE?
E2B - GPA - A IE eu definiria como uma preparação, vamos dizer assim, uma primeira fase
pra se chegar ao esporte. Dentro do esporte você tem as regras definidas, como eu
falei, na IE você pode trabalhar algumas coisas que possam auxiliar na hora que você
vai fazer o esporte, por ex. correr, saltar, girar, algumas das habilidades, isso com
materiais ou não, eu vejo assim.
Entrevistadora Em quais locais nós encontraríamos, em quais espaços de atuação nós
encontraríamos a I?
E2B - GPA – A IE você pode trabalhar desde áreas de lazer, no caso, até em ruas, quadras,
campos, nos clubes, ambientes fechados ou não, eu acho, acho que poderia ser
trabalhado assim . . .
Entrevistadora – Tipo clube, Prefeitura, Academia, escolinhas . . .
E2B - GPA – Escolinhas, escolas, acho que, você tendo uma proposta, você pode seguir de
acordo com as características de cada local que você vai ta trabalhando.
Entrevistadora Qual a faixa etária que a IE abrange na sua opinião e como é que você
chega a essa organização, a essa disposição de idade?
E2B - GPA – Olha, vou tomar como exemplo aqui no local que eu trabalho, aqui a gente tem
a IE a partir dos sete anos, que a gente acredita ser uma fase em que a criança se
encontra em condições de começar a entender propriamente esses esportes, antes disso
a gente acredita que a gente se deva ficar limitado mais as atividades lúdicas, as
brincadeiras, os jogos, nesse caso nosso específico eu acredito nisso, a partir de sete
anos.
Entrevistadora – Qual seria o objetivo da IE na sua opinião?
E2B - GPA – Objetivo?
208
Entrevistadora – Porque, como você disse antes dessa faixa etária não estaria apropriado, a
criança ainda não teria, não estaria pronta pra aprender, a IE teria que objetivo a partir
dos sete anos?
E2B - GPA Eu acho que a partir dos sete anos é uma atividade mais dirigida, seria no
caso uma atividade mais direcionada, vamos dizer assim, pra uma prática de um
esporte, por ex., no caso o futebol, o basquete, o vôlei, a natação, eu acho que ela
caminha nesse sentido, mais com esse foco . . .
Entrevistadora Você citou essa faixa etária porque é o que você trabalha aqui na sua
instituição, você acha que ela está correta, essa disposição de idades . . .
E2B - GPA Olha, a gente aqui, eu to trabalhando aqui já ta fazendo, vai fazer seis anos,
quando eu entrei tinha essa proposta, é uma proposta pedagógica implantada por
outros professores e pelo que eu vejo, tem dado bastante certo, porque a gente limita
muito a faixa de idade, então, são turmas de 7-8 anos, 9-10 anos, 11-12 e 13- 14, esse é
o, a faixa de idade, de sete aos quatorze anos, pela minha pouca experiência tenho
notado que resultado, eu acho que antes, a gente teria que trabalhar de uma outra
forma, vamos dizer dos seis cinco anos pra baixo, da maneira como a gente vem
executando as tarefas, deveria ser um pouquinho modificado.
Entrevistadora Aqui no caso, que você trabalha aqui no clube, quem trabalha com a IE
aqui, que profissional é esse que trabalha com IE aqui?
E2B - GPA São professores, são graduados, são bacharéis e a gente tem os licenciados,
no caso específico aqui, são dois bacharéis e quatro licenciados.
Entrevistadora – E essa postura do clube, você sabe porque que é, de contratar os formados
no caso . . .
E2B - GPA – Você fala no caso de ser professor mesmo ??
Entrevistadora – É, não exatamente professor, no caso de ser formado em EF, independente
da titulação.
E2B - GPA O porque dessa postura? Olha, eu imagino que seja pelo fato de . . . deles
acreditarem que a gente tem condições, que a gente tem, vamos dizer . . .totais, como
eu posso dizer, capacidade por ter passado pelo curso de EF que possibilitou que a
gente ingressasse e soubesse como que a gente poderia estar trabalhando, a gente no
caso, tem uma formação diferente de pessoas que começaram a ser professores agora,
ou com apenas a prática que eles tiveram na sua fase adulta, fase adolescente, então eu
acho que o clube . . . além disso, eles querem que tenha maior responsabilidade em
relação ao sócio, maior credibilidade eles dão prá gente nesse sentido . . .
Entrevistadora – Que tipo de conhecimento específico esse profissional que vai atuar com as
crianças deveria ter?
209
E2B - GPA Ele tem que ter conhecimento amplo do ser humano, conhecer desde
sociologia, fisiologia, psicologia da criança, psicologia, . . . . a praticamente tudo, eu acho
que ele tem que conhecer um pouquinho de cada coisa, desde a psicologia até a
fisiologia, desenvolvimento motor, cognitivo, tem que conhecer isso, porque são diferente
faixas de idade, então, na medida que a criança vai se desenvolvendo, vão tendo
alterações que a gente precisa saber como lidar, como interpretar. Pra que o nosso
trabalho também, que a gente possa conseguir os nossos objetivos.
Entrevistadora Na sua opinião, qual é o perfil profissional que essa pessoa que vai atuar
com IE deveria ter? Você falou agora dos conhecimentos, qual a postura dela,
comportamento, atitudes, conhecimentos, que perfil deveria ter esse profissional?
E2B - GPA – AH, não sei, parece meio . . .
Entrevistadora Além dele estar preparado por ex. por um curso de formação que vai dar
todo esse . . .o fato que você falou agora das disciplinas, além de tudo isso, qual que
seria a postura dele como profissional?
E2B - GPA – Postura dele como profissional? . . .
Entrevistadora – No caso, a gente falou até agora dos conhecimentos específicos em termos
acadêmicos, vamos dizer assim, além disso, que outra postura ele deveria que ter? que
atitude, que comportamento? . . .
E2B - GPA – Não sei . . . que outra postura, que outro perfil?? . . . Não sei, eu vejo assim, eu
acho que ele tem que estar, além desse conhecimento acadêmico, ele tem que ta
conhecendo principalmente o local, a cultura, a cultura local, que nem, a gente tem aqui,
vamos dizer assim, algumas características aqui no clube, é um clube assim, de baixa
renda, não é um clube que você tem pessoas com alto poder aquisitivo, então acho que
esse é um fator, conhecer o grupo, o ambiente que você ta trabalhando, a cultura
específica daquele lugar . . .
Entrevistadora – Se você fosse a pessoa que vai contratar o profissional, quem você
contrataria pra trabalhar com I? e Porquê?
E2B - GPA Quem eu contrataria e porque? !) Olha, nesse caso eu contrataria uma
pessoa que ta disposta, no caso, a dar continuidade a esse trabalho que a gente ta
fazendo, que é uma proposta construtivista, uma proposta pedagógica construtivista,
uma pessoa que tivesse interesse, que seja curiosa e criativa, e além desses
conhecimentos que ela tem que ta trazendo da faculdade, que eu vejo também que a
faculdade, a universidade, ela te alguns pontos, fui perceber, fui começar a entender
o trabalho com crianças, com I a partir do momento que eu comecei a dar aulas mesmo,
dois anos depois é que você começa a entender, que você tava vendo como teoria e
agora você fazendo na prática, que nem a gente falava - na teoria a prática é outra, aqui
mesmo no clube a gente tem totais condições de trabalhar, você tem material, você tem
210
instalações adequadas, então, eu acho que dentro dessas qualidades que eu falei pra
você, independente do lugar, eu acho que o profissional tem que ter, mesmo que ele não
tenha essas condições que eu falei, ele tem que ter essa curiosidade, essa criatividade,
esse interesse, é isso, tem que ser esse tipo de profissional.
Entrevistadora – Legal. Vou te fazer uma pergunta que nem ta relacionada aqui, mas que eu
acho interessante ver a sua posição. Você acha que existe uma diferença entre o
profissional que vai atuar na escola e fora da escola com IE, eles têm perfis diferentes ou
os objetivos deles são diferentes?? Você não ta na escola e nem é licenciado, mas você
tem uma posição em relação a isso?
E2B - GPA Eu até, quando eu iniciei o curso, eu pensava justamente nisso, eu acredito
que sim, o profissional tem que ter essa diferença, infelizmente a escola hoje, ela
atravessa, acho que uma das piores crises que a gente pode ver, então, (viramos o lado
da fita), então eu o seguinte, eu acho que, quando eu comecei o curso na licenciatura, eu
não tinha uma noção disso, tem a licenciatura, tem o bacharelado, então, no segundo
ano é que eu comecei a entender, até com conversa com outros colegas é que eu
comecei a entender um pouco mais, e eu vi que o meu perfil era diferente pra trabalhar
na escola, eu vejo que a escola, é lógico que a escola tem uma responsabilidade, você
tem uma responsabilidade em relação aos alunos, a proposta pedagógica, assim como
você tem no clube, que eu imaginava o seguinte, vou dizer bem claramente, eu não
gostaria de ir pra escola e simplesmente chegar e ter uma ou duas bolas e não ter
condições de trabalhar e ser apenas um agente passivo ali no meio, por isso que eu sai,
por isso que eu não quis fazer o curso de Licenciatura, então eu acho que o aluno hoje, o
graduando que ta fazendo licenciatura ele tem que ter noção disso, ele vai pra escola ele
tem que saber que ele vai ter que participar de uma proposta, ele vai ter que estar
atingindo objetivos que são necessários pra formação do cidadão, no caso, da criança,
mas do cidadão do futuro, então eu vejo assim, então eu não quis colocar minha mão
nisso aí, nessa . . . eu achava que eu não tinha essa responsabilidade, não tinha total
responsabilidade pra atuar nisso, por isso que eu sai da licenciatura, a gente participa,
quando tava fazendo a graduação, a gente participa de Congressos e você a
realidade, você a realidade como é, não tenho material, os alunos estão . . .é . . .me
ameaçando, to correndo risco, então eu me senti um pouco acuado, me senti com medo
disso, então acabei fugindo, fugindo desse lado, então tem que ter uma diferenciação
sim, o aluno, um profissional que vai trabalhar numa escola e um profissional que
trabalha no clube são perfis bem diferentes, é isso.
Entrevistadora – É isso aí, ( . . . )! O que eu tinha pra te perguntar é isso, queria te agradecer
e depois a gente vai ta te encaminhando uma transcrição dessa entrevista e também
depois o trabalho.
211
E2B - GPA Eu agradeço, fico contente de poder participar, espero poder ajudar e to a
disposição pro que precisar.
Entrevistadora – Obrigada!
E2B - GPA – Obrigado você.
212
E1L – GPATRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA
Entrevistadora Bom, eu to conversando com ( . . .), do ( . . ), a princípio eu queria te
informar que a gente vai estar, não vai estar identificando o nome nem da escola e nem
do profissional na pesquisa, vai utilizar códigos e tal, pra evitar algum constrangimento,
sei lá, qualquer problema. Bom, vamos lá, ( . . . ), pra você o que que é esporte, como
você define o esporte?
E1L - GPA Olha, pra mim, esporte eu posso definir como algumas atividades que
envolvem principalmente regras, onde a gente tem regras específicas, regras muito bem
estabelecidas, e que elas têm que ser cumpridas, pra mim isso é, dentro de atividades
físicas, dentro de movimento etc, colocando isso, tendo como principal ponto as regras,
as regras de basquete, futebol e etc
Entrevistadora Dentro desse âmbito do esporte, o que que é, como é que você definiria a
IE, o que que é a IE pra você?
E1L - GPA – Olha, aqui a gente trabalha com IE um pouco mais pra frente, não no início das
nossas atividades físicas, que seria com as 5ªs. séries, com alunos de 10 e 11 anos, nós
começamos a dar essa IE a partir de 13, de 12 a 13 anos, começando a pegar um pouco
mais a parte específica dos esportes, trabalhando um pouco mais específico dos
esportes, porque? A gente não entende que nessa idade menor, nessa idade de
iniciação deles, de 10 e 11 anos a gente deva começara fazer essa I tão precocemente,
então a gente faz com essa idade umas pequenas pinceladas, uns pequenos, uma
pequena introdução ao esporte, mas nada com coisas, regras rígidas, totalmente ao
contrário disso e depois com o amadurecimento deles, que é bem nítido você ver o
amadurecimento deles e você começar a trabalhar com essa introdução ao esporte, isso
melhora muito, então você trabalhando isso bem devagar eles aprendem melhor e a
resposta deles pra nós também é bem melhor, eles começam a trabalhar aqui com uma
idade de 12, 13 anos, que seria uma série, uma série, sim uma introdução ao
esporte e aí sim um pouco, até uma especialidade um pouquinho maior do esporte.
Entrevistadora Essa questão da idade, como é que vocês chegaram a essa . . . , foi pela
experiência . . .
E1L - GPA É, ela é feita dos dois lados, primeiro por uma bibliografia, que isso consta e
consta muito claramente e também por experiência, que isso acontece bastante, você vê
nitidamente, com atividades que você propõem durante o ano e depois você compara o
que aconteceu de positivo, o que aconteceu de negativo, com a própria bibliografia que
você tem e você vai associando as partes positivas e negativas, que eu comentei, e você
quer ver um ponto positivo pro ano seguinte e nós fomos vendo, fomos analisando,
213
fomos conversando, passando isso inclusive com o Ingo, que é o nosso coordenador,
pensamos, repensamos, chegamos nessa conclusão, que realmente, você especializar
muito cedo é completamente errado, da nossa parte e os alunos também não gostam,
você nitidamente que eles não gostam, eles preferem você ir colocando bem aos
pouquinhos essa coisas de todos os esportes, do que você ir colocando a parte mais
pesada do esporte logo no comecinho, então foi uma questão de consenso e bom senso
comum.
Entrevistadora – Agora, então, qual seria assim o objetivo dessa IE?
E1L - GPA Olha, um dos principais objetivos nossos aqui da educação esportiva, da IE
também, primeiro, é uma socialização geral do grupo, isso pra nós é uma parte principal,
objetivo enormemente principal assim, muito grande, então os alunos vão estar sempre
entrosados no grupo, isso, e com o esporte você consegue muito isso, jogos de IE estão
dentro demais, então essa é a nossa, o principal objetivo nosso é esse, os outros
objetivos e melhorias de todos esses caracteres do esporte são também considerados,
mas o principal seria essa parte aí.
Entrevistadora – Aqui na sua instituição, quem trabalha com IE . . . são os . . . (quem?) quem
trabalha com I são . . .
E1L - GPA – Todos nós aqui, Todos profissionais,
Entrevistadora – Professores de EF?
E1L - GPA – Isso.
Entrevistadora – Todos Licenciados?
E1L - GPA – Todos nós.
Entrevistadora Agora, que tipo de conhecimento específico você acredita que esse
profissional que vai atuar com essas crianças deveria ter?
E1L - GPA Primeiro, ele ter feito um faculdade muito boa e ter um conhecimento, e ter
aproveitado muito bem essa faculdade, esse conhecimento que a faculdade passou pra
ele, sem dúvida nenhuma, isso é importantíssimo, você ter acesso, sempre um acesso
constante a bibliografia, que isso modifica, melhora, amplia o seu conhecimento, isso . . .
inegável, e hoje em dia com a Internet, isso facilita muito, agiliza muito, isso pra você, e
conhecimento é uma coisa que hoje não é focado num ponto só, todo mundo tem esse
conhecimento, você tem que buscá-lo, então eu acho isso de primordial importância e
também, o que não deixa de ter seu aspecto de influência também, são as experiências
dos próprios professores, a maioria, quase todo profissional, quase todo professor de EF
teve alguma experiência em “n” esportes, ou num esporte específico, enfim, que isso de
uma certa forma ajuda também no conhecimento geral, no conhecimento específico e no
conhecimento de passar isso pros alunos.
214
Entrevistadora Na sua opinião qual que é o perfil adequado, qual o perfil profissional
adequado pra esse, pra pessoa que vai atua com I? Além desses conhecimentos . . .
E1L - GPA Perfil? . . . Olha, nós temos que ter assim, hoje em dia, uma, um segundo pai,
não sei se é por aí, um segundo pai pra essas, pra esses alunos, porque eles olham pra
gente como modelos, nós somos um espelho, a gente tenta, o máximo possível, ser um
espelho positivo pra esses alunos, muitos deles, eles não tem esse . . . alguns fatores
em casa que eles não conseguem ter e eles vêm buscar na gente, e nas, e a gente
conversa, que a gente acaba, por ex, não sou casado, não tenho filhos, mas eu tenho
muitos filhos que são esses alunos, então a gente tenta se doar um pouco mais pra cada
aluno, pra cada um tem necessidade num certo ponto específico, inclusive em pontos
específicos assim, de coordenação, coisas do esporte, de afetividade, de agressividade,
então, são pontos que a gente tenta encontrar no aluno, que é muito fácil, eles se abrem
muito mais com a gente, e a gente tenta se doar, ajudar, nós temos aqui no colégio uma
infra-estrutura muito boa, psicólogos, tal, e quando a gente não tem essa capacidade, a
gente busca esse outro profissional aqui no colégio, que nos dá o retorno e a gente tenta
trabalhar isso junto, pra poder alcançar o aluno e tentar ajudá-lo de uma maneira ou de
outra.
Entrevistadora Vamos supor que você vai ser a pessoa que hoje vai contratar um
profissional pra atuar na IE, quem você contrataria?
E1L - GPA – Olha, eu gosto muito de dizer assim, é, conhecimento você não mede,
conhecimento não, é, perdão, . . . boa índole você não mede no papel, então, o primeiro
fator seria uma pessoa que eu tivesse mesmo conhecimento da pessoa, da boa índole
da pessoa, do bom caráter da pessoa, queria falar caráter, o caráter da pessoa, isso pra
mim é primordial, porque isso não se mede, isso não tá escrito no papel e a pessoa . . .
você vai ler e não vai conseguir saber, isso seria pra mim uma primeira característica,
depois, que eu conhecesse realmente essa pessoa, soubesse isso da pessoa, sim eu
começo a buscar os outros caracteres, o conhecimento dele, o curriculum dele e por
vai, a parte de . . . a parte realmente . . . que ele poderia contribuir, a parte de
experiências que ele tem, a formação acadêmica dele, cursos, aprimoramento,
especializações e por aí vai, mas primeiro aspecto seria o QI, quem indica (risos).
Entrevistadora Tem alguma disciplina, ou algumas disciplinas da sua formação que você
considera que são fundamentais pra esse fator . . . da tua atuação??
E1L - GPA – Olha, eu gostei muito de disciplinas assim, entre elas de . . . que realmente me
atuaram positivamente foram a Filosofia da EF, Filosofia da Educação, foi muito bom, a
Sociologia, a Filosofia e a Sociologia muito próximas, mas isso foi muito bom, é uma
coisa assim que você, quando começa a entender, parece que abre um mundo diferente
pra você, a Psicologia do Esporte, aí muito bem caracterizada também, gostei por
215
demais dessas disciplinas e pra amarrar, porque isso é muito teórico, teologia, muito
teórico, muita leitura e discussão, e pra amarrar isso, a prática de ensino, onde você
conversa com o professor, ele te retorna, você faz na prática e vai fazendo essa troca,
aquilo que li, aquilo que eu absorvi, deu certo na prática, o que não deu, porque não deu,
como poderia dar, então isso foram disciplinas muito boas, além de existirem as
disciplinas práticas, então, mas acho que sem ter essas partes teóricas e práticas, essas
idas e vindas, o retorno, tal, acho que não, você não consegue se estruturar muito bem,
então, eu tive a felicidade de ter na faculdade uma estrutura muito boa.
Entrevistadora O que eu ia perguntar? . . . Ah, essas disciplinas, você acha que elas
influenciam diretamente no seu trabalho independente de ser na IE ou nessa outra etapa
de formação meio geral?
E1L - GPA – Desde aulas com crianças de pré-escola, por ex, sem dúvida nenhuma . . .
Entrevistadora – Mas também na IE . . .
E1L - GPA É, eu acho que em todos esses outros aspectos, porque nós temos aqui
também, por ex, pré-escola e Ensino . . . (Médio?) médio, eu dou aula pro ensino médio
de treinamento de basquete, treinamento de futebol, quer dizer, treinamento puro,
treinamento, treinamento e com certeza, esses aspectos influenciam, de maneiras
diferentes, cada um dentro do seu patamar, lógico, mas sem dúvida nenhuma
influenciam . . .
Entrevistadora – Eu é . . . só mais uma . . . em que locais que você visualiza a IE
acontecendo, (Locais?) locais . . ..
E1L - GPA – De que forma você diz, de Rio Claro, do ( . . .)??
Entrevistadora – É . . . não . . . em termos gerais assim, extra escolar, vamos dizer assim . . .
Você a IE acontecendo aqui na sua escola, você visualiza isso bem nitidamente (
sim!), você atua nela (também!), fora da sua escola, em quais outros locais você vê a IE?
E1L - GPA Olha, onde eu vejo, bastante a IE, por ter amizade com profissionais, eu vejo
bastante no . . . na prefeitura, nos clubes . . . que a prefeitura tem, em clubes, alguns
clubes que tem aqui, que tem alguns profissionais e onde você vê essas pessoas
atuando, principalmente profissionais que se, que são formados, que tem uma formação
mais recente, principalmente na Unesp, em São Carlos, mas coisa assim, profissionais
de dez anos, se você esses profissionais mais antigos você não esse ramo ser
igual, existem vários fatores, enfim, né, que não são iguais, a própria idade, a própria
maneira como foi passada, feita essa parte na época deles, nessa época, mas você
que um processo de mudança muito positiva que você desde uns bons tempinhos
aí, que isso ta refletindo em bons profissionais, que ta mudando, bons profissionais, bons
profissionais atuando no campo em vários campos, desde escolas particulares, escolas
216
estaduais, clubes, que são ramos um pouco diferentes, clubes, escolas, onde tem esses
profissionais que estão atuando aí da maneira que eu vejo.
Entrevistadora – Você visualiza então assim, o pessoal mais antigo atuando mais em
escolas e o pessoal mais jo . . . não, não é bem por aí ???
E1L - GPA – Não, não, inclusive assim, a mentalidade com que eles estão atuando nessa IE,
muito boa, como eu atuo aqui, os outros colegas que trabalham aqui, a gente atua de
uma maneira positiva, eu vejo também essa maneira positiva com que eu atuo, eu gosto
de ser muito crítico positivo, não criticar, e simplesmente falar - aqui é melhor e lá é pior,
eu acho que aqui ta muito bom, estamos melhorando, cada vez melhor, e eu tenho visto
em outros locais, que talvez não tenha uma estrutura tão boa quanto o colégio aqui tem,
mas que também estão fazendo coisas boas, estão melhorando, tem a pessoa física, a
pessoa humana, o profissional que tenta se desdobrar e com uma mentalidade muito
boa. Pensando realmente nessa IE de uma maneira muito adequada.
Entrevistadora Ok! Bom, ( . . .), eu acredito que, basicamente era isso que eu tinha pra
te perguntar, . . .
(agradecimentos)
217
E2L – GPA / TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA
Entrevistadora Bom, eu to conversando com ( . . . ), aqui ( . . ), primeiramente eu quero te
informar que essa nossa entrevista vai ta fazendo parte do meu trabalho de mestrado e
que a identidade do professor e da escola não vai ser colocada no trabalho, a gente vai
optar por um código, vamos dizer assim (tudo bem!) ta?
E2L - GPA – Mas se tivesse também, não teria problema pra mim.
Entrevistadora – Ta Ok!, ( . . .), o que que é esporte pra você?
E2L - GPA Esporte? Esporte eu acho que faz parte da cultura humana, é um aspecto
interessante que quando bem trabalhado pode, a gente pode alcançar sucesso, frutos
muito bons, depende de como você encara, assim, principalmente na escola, a gente
tem o aspecto de lazer, o aspecto de espetáculo do esporte, e a gente tem que saber
trabalhar isso no ambiente escolar e trabalhar isso voltado pro aspecto educacional, mas
eu acho que ele é uma ótima ferramenta, e minha . . . essa definição, eu acho que pra
mim, é algo que, é uma das formas de manifestação humana mais bonitas, eu acho que
é um aspecto humano muito interessante, muito bonito, antigo, é algo que a gente tem
que admirar e a gente tem que também conhecer os aspectos negativos que ele pode
trazer também, tem muitas coisas positivas e também tem o aspecto negativo e eu
procuro trabalhar isso aqui na escola com os meus alunos, desmistificar um pouco o
esporte, porque tem tantas vertentes ligadas a . . .ascensão social, a consumo, a
rendimento, a saúde, que eu acho que a gente tem que se posicionar com uma visão
crítica em relação ao esporte, sim a gente ta fazendo, desmistificando e ta deixando
mais claros, cada vez que a gente conversa, faz um debate com os alunos, mas esse, eu
acho até que o esporte assim, a escola faz uma adaptação do esporte, eu acho que na
maioria dos casos, pelo menos na minha concepção, eu trabalho, é uma ferramenta
educativa, é isso.
Entrevistadora – E Iniciação Esportiva (IE), como é que você definiria a IE, como é sua visão
com relação a ela?
E2L - GPA – A IE, eu acho que a gente, na escola, a gente tem que oportunizar aos alunos,
experimentar movimentos, experimentar inclusive, o esporte de uma maneira adaptada
no início e também conversar muito do aspecto de competição do esporte, que a gente
tem que ter uma visão um pouco mais democrática, vamos dizer assim, não propiciar o
esporte com perfil de competição apenas, se bem que eu acho que pra ter motivação,
ele precisa ser, de certa forma, trazer algum tipo de recompensa, então, senão eu acho
que perde um pouco o sentido, se bem que a gente ta falando de adaptar, de
desmistificar, então isso tudo passa por esse processo de abrandamento da
218
competitividade, mas isso acho que não tira o aspecto de prazer, o aspecto que traz a
recompensa enquanto competição. E a IE eu acho que ela tem que ser feita de maneira
pensada, didática, planejada e tem que ter um critério de não seleção, seletivo,
principalmente no ambiente escolar, eu acho que se você fizer uma IE aqui na escola
com o número de aulas que a gente tem, a gente sabe que com as modalidades que
existem, a gente não tem tempo de fazer tudo de forma, vamos dizer, de uma forma
muito criteriosa, mas a gente faz uma I, que eu acho que pra enxergar aqueles que
têm preferência, aqueles que têm talento e a gente pode também ta encaminhando pra
outros lugares que tem uma especificidade maior, porque, eu como generalista aqui, não
tenho condições de, eu acho, nem seria justo da minha parte eu escolher determinada
modalidade que me é mais, que eu tenho mais afinidade, que eu tenho . . . que faz parte
mais do meu dia a dia, que eu já pratiquei, e passar isso como a única possibilidade, eu
acho que eu tenho que fazer um maior número possível de possibilidades pra que o
aluno escolha aquela que ele tem mais afinidade, isso também vai muito da época, do
que ta acontecendo no mundo, no país, na cidade, acaba voltando uma pouco mais pra
uma modalidade, mas de maneira geral, eu acho que se você se você tiver um
desenvolvimento de habilidades motoras e uma experimentação de habilidades motoras,
uma conscientização das habilidades motoras básicas, a partir daí você consegue deixar
com que a pessoa escolha e desenvolva aquilo que tem mais prazer, que tem mais
retorno pra ele e assim por diante, não ir contra o gosto, mas procurar mostrar vários
aspectos de modalidades esportivas que existem.
Entrevistadora - Em quais locais você acredita que a IE acontece?
E2L - GPA – Bom, eu acredito que é na escola, sinceramente eu acho que, você partindo de
uma perspectiva de que a EF pode propiciar, a escola eu acho que é uma ambiente que
tem um potencial pra isso, isso também não descaracteriza, muito pelo contrário, um
clube, uma entidade municipal, estadual de treino, as escolinhas particulares, tudo isso,
faz um leque, mas eu acho que na escola é o lugar que ele vai acabar conhecendo
outros esportes, eu acredito que na escola, pelo menos pra conhecimento de I, mas você
tem oportunidade de . . . a gente tem aqui também as ACDs, que são atividades
curriculares desportivas, que eu trabalho um pouco mais uma modalidade, quer dizer, eu
tenho uma de Futsal masculino, uma de voleibol feminino e eu tenho uma de basquete
masculino, aí as pessoas que tem mais afinidade com essas modalidades, a outra
professora que trabalha, minha colega, tem mais três turmas que ela trabalha mais
especificamente com uma modalidade, não e . . . e é num vel assim educacional
mesmo, eu sempre deixo claro, que a gente tem até a fase de campeonato, que a gente
acaba entrando em competição, mas também eu acho, isso também pode ser visto como
um aspecto educativo, você ta participando, de você ta compondo com as pessoas,
219
tendo como adversário respeitoso, respeitando o adversário, tendo como adversário de
outras unidades escolares, eu acho que você tem um aspecto interessante, esportivo.
A I eu acho que como experimentação, a escola e eu sempre pensei, se eu tenho
alguém que se interessa bem e eu posso encaminhar pra outros centros com mais
especificidade, eu acho que a minha função aqui é essa.
Entrevistadora Essas turmas que você disse são aquelas que a gente conhece como
turmas de treinamento, né?
E2L - GPA É, a nomenclatura mudou, a gente acaba chamando como turma de
treinamento mesmo e essas turmas de treinamento são da modalidade, especificamente
da modalidade, a gente não tem uma estrutura pra fazer um treinamento muito, com grau
de especificidade muito grande, a gente tem uma estrutura boa, eu reputo como boa,
mas a gente tem uma quadra que recebe o sol, material a gente tem o suficiente pro dia
a dia, mas pra um treino um pouco mais elaborado a gente também não tem, pra dar
um ex., eu tenho seis bolas de vôlei, eu acho que é um número razoável, mas se
fosse pra fazer uma atividade um pouco mais, visando um pouco mais de rendimento, eu
teria que contar com um material e com uma estrutura um pouco maior, inclusive eu
acho que eles vêm também nos treinamentos, vamos chamar assim, né! Com a questão
do ambiente escolar, eles vêm com uma perspectiva de encontrar os colegas, encontrar
os alunos do período contrário, vem pra , o aspecto de lazer deles também, é
interessante, então, tem todas essas coisas que compõem o momento, então, não
pra falar que você vai desenvolver, já tive oportunidade, . . . . já tive oportunidade de ter
times bem competitivos, a gente em 2003, a gente teve um vice campeão de futsal da
região, tivemos o campeão de basquete e o campeão de vôlei da região de Limeira, quer
dizer, foi um momento mais propício, então, reunimos . . . mas, o que eu queria também
colocar é que esse pessoal que ficou campeão, as meninas que ficaram campeãs em
2003, começaram desde a série, elas estavam na série, então elas tiveram um
desenvolvimento aqui e fora daqui, então foi um trabalho que eu achei que eu consegui
desenvolver um bom trabalho, aqui na escola e com o apoio do pessoal da . . . da
Prefeitura.
Entrevistadora Na sua visão, qual a faixa etária a IE abrange e como é que você chegou
nessa definição, vamos dizer assim?
E2L - GPA Olha, eu acho que varia bastante, eu acho que você pode ter uma visão mais
individualizada, mas, eu acredito que por volta dos 10, 11 anos, 9 anos, eu acho que daí
pra começar a fazer alguma coisa mais específica de IE, posso estar enganado,
mas eu acho que é nessa faixa, muito antes eu acho que não tem maturidade suficiente
e também, as vezes, certo mais adiante, mas eu acho que tem que começar a se
220
interessar nessa faixa de nove, dez onze, esse pessoal que ta na série ta com 11
anos aqui, entra com onze anos, é uma idade boa pra começar.
Entrevistadora Qual que . . . aqui na escola, no caso é a instituição que você trabalha,
quem trabalha com IE no caso é o professor . . .
E2L - GPA - É o professor, mesmo.
Entrevistadora – Professor de Educação física . . .
E2L - GPA – Professor de Educação Física.
Entrevistadora – . . . da escola?
E2L - GPA – Isso, professor de EF da escola.
Entrevistadora Independente da formação dele, porque no caso aqui de Rio Claro a gente
vai ter tanto bacharel quanto licenciado trabalhando, mas na escola quem atua
especificamente é só o licenciado.
E2L - GPA – Só o licenciado, os bacharéis não têm essa possibilidade.
Entrevistadora Não têm acesso a escola, mesmo pra essas turmas de treinamento, não
têm?
E2L - GPA – Não, não (só de fato o . . . ) porque o aspecto é . . . .
Entrevistadora – Institucional mesmo?
E2L - GPA O aspecto docente que ta, no caso da ACD, da turma de treinamento, ta o
processo educacional que ta visado, então, seria mais pro licenciado mesmo, eu sei que
o bacharel, hoje em dia, essa diferenciação, o pessoal também tem uma outra visão, né?
Eu acho até bacana, mas, mesmo na minha época, também já era um tipo de . . . era
licenciatura, então, mas eu acho que eles não têm nem acesso às turmas de
treinamento, pelo aspecto didático, pedagógico, educacional, voltado pro ambiente
escolar.
Entrevistadora Que tipo de conhecimento específico você acha, que esse profissional que
vai atuar com essas crianças deveria ter e porque?
E2L - GPA Eu acho que a pessoa tem que ter como perspectiva se atualizar, cursos de
capacitação, cursos de atualizão, fazer intercâmbios com outros colegas que tem um
bom trabalho, a Universidade, que a gente tem a felicidade de ter a Universidade aqui
próxima, tem pessoas competentes pra ta dando suporte, hoje em dia a Secretaria
Municipal tem feito um trabalho de capacitação com os professores, eu fui convidado,
mas não tive oportunidade de participar e colegas me disseram que tem sido muito bom,
muito bem feito, ta mais pra área do esporte mas que também pode abranger a escola,
eu acho , a gente não tem como dar conta de estar trabalhando, que nem, com a
formação que eu tive, faz vinte e tantos anos, então a gente tem que ta se atualizando e
fazendo intercâmbio.
221
Entrevistadora Mas você poderia me citar por ex, uma alguma coisa específica que esse
profissional deve ter, que tipo de conhecimento que esse profissional deve ter, tipo um
conteúdo, uma disciplina que ele precisava ter estudado ou que tipo de curso ele deve
procurar . .
E2L - GPA – Bom, o tipo de formação específica pra I?
Entrevistadora Hum, hum. Pra quem ta atuando no caso com essa . . . com esse objetivo,
com essa faixa etária.
E2L - GPA Ta. O tipo de conhecimento, eu acho que é o conhecimento que você adquire,
tanto com conteúdos teóricos, fazendo cursos, fazendo especialização, quanto
observando a prática das outras pessoas, eu acho que essa questão do intercâmbio, das
sugestões que o colega pode ta tendo como resultado positivo, observação, eu acho que
a observação é importante e a pessoa ter . . . um conceito de que se o outro tem um
resultado bom, ele tem feito um trabalho bom eu tenho que chegar nessa pessoa e
perguntar, eu não tenho que, porque eu sou formado, eu já tenho experiência, eu não
posso aprender com o outro colega, então eu acho que a gente tem que ter nesse, esse,
essa perspectiva de ta buscando com o colega, com profissionais, não sei se eu
respondi bem? (Ta!) E’, eu não vejo assim algo específico, um tipo de curso que você . . .
e . . . vontade de fazer, porque a gente que o pessoal . . essa concepção de que
Ah, você é ex-atleta então, - ah, eu tenho uma experiência em esporte, eu acho que é
também algo a se considerar, mas não é o único aspecto, eu acho que a pessoa que tem
boa vontade, que procura ela também tem condições de alcançar bons resultados, tanto
em I como até no esporte de rendimento, tem que procurar conciliar o aspecto prático, o
aspecto de vivência com a formação continuada, eu acho que a formação continuada, é.
Entrevistadora – E, qual o perfil que você acha que esse profissional deveria ter pra trabalhar
com a I, tipo, além desses conhecimentos, que comportamento, que atitude? . .
E2L - GPA Olha, eu, por ser da área da educação, eu acho que ele tem que ter uma
perspectiva educacional, ele deve ter, de qualquer forma ele tem que ter o perfil
pedagógico, o perfil do educador, trabalhando na escola ou no clube, mesmo o bacharel,
eu acho que ele tem que ter a perspectiva da docência, do aprendizado, do respeito,
todas essas questões que são importantes, não adianta a pessoa buscar o
rendimento, na minha opinião, com I principalmente, puxa vida né, então ele tem que ter
todo o cuidado pra não magoar, pra não melindrar, pra não desestimular, o contrário ele
tem que ter um itinerário, vamos dizer, um itinerário pedagógico, isso eu acho que é
fundamental, preparo psicológico, uma pedagogia voltada pra formação do ser humano
como um todo, não visar apenas o rendimento, eu acho que isso é importante.
Entrevistadora Agora, assim, pra meio que fechar, imagina que você fosse contratar esse
profissional que vai atuar com I, quem você contrataria?
222
E2L - GPA Quem eu contrataria? Olha, eu acho que a gente tem que analisar esse
profissional com, eu acho que experiência, pode ser um aspecto interessante, a
formação - fundamental, mais que a experiência, a formação, a experiência e se for . . .
e também nos temos que . . . propiciar as pessoas que estão se formando a
oportunidade de mostrar o seu trabalho, mas eu acho que é uma pessoa que, tenha essa
vivência muito, muito incorporada, uma pessoa que vibre com a . . . com aquilo que . . .
(aprendizado) isso, com o aprendizado, com o sucesso da turma, eu acho que é meio
por aí, uma pessoa que esteja muito a fim de trabalhar com isso e a gente percebe
conversando, eu acho que análise: formação, experiência mais. . . eu acho que formação
e comprometimento, eu acho que a gente consegue identificar na fala, nas atitudes, eu
acho que da pra fazer até um roteirinho, eu faria um roteirinho de entrevista, como você
fez aí, de algumas questões que eu acho que são fundamentais, que são realmente, o
comprometimento, a disponibilidade de estar trabalhando, a gente sabe que, as vezes,
tem coisas que demandam um tempo além daquele do combinado, finais de semana, eu
acho que essa pessoa tem que ter essa disponibilidade, comprometimento, formação e
vontade, o amor pelo negócio, é o fundamental, eu acho que a gente sente, percebe isso
na . . no contato e, também, a. . . ninguém tem bola de cristal, muitas vezes vai, você
acha que esse perfil vai se encaixar perfeitamente e a gente é passível de enganos, mas
essa seria . . . . (basicamente), basicamente seria isso, formação, comprometimento,
entusiasmo com o negócio, basicamente isso aí, ta!
Entrevistadora – Ok. Na . . .
E2L - GPA – Teve alguma coisa que eu deixei, talvez essa questão . . .
Entrevistadora Não, aqui a questão do conteúdo, mas não tem problema, porque eu acho
que bem . . . parte da sua visão, acho que é interessante a gente manter essa . . .
E2L - GPA – Que conteúdos seriam, né?
Entrevistadora Porque quando a gente fala de conteúdo aqui, a gente tava tent . . .
querendo ver se o pessoal fala assim . . . uma disciplina específica ou algumas
disciplinas específicas que dariam base pra esse profissional (Certo.) e talvez fosse . . .
E2L - GPA Olha! Aquela coisa, né? Eu acho que tem, tem . . . idades que você tem que
ser um pouco mais de, vamos dizer, trabalhar um pouco mais o desenvolvimento motor,
um conteúdo um pouco mais desenvolvimentista, vamos chamar assim, depois, mas eu
acho que, que . . . esse tipo de, a EF escolar tem muito disso, das tendências, né! Mas
eu acho que a . . . o desenvolvimento motor é um aspecto muito importante na I, a
experimentação do movimento, depois eu acho que, talvez, entrando um pouco mais na
questão do treinamento mesmo, treinamento que inclusive, a licenciatura não tem, eu
acho que teria que fazer uma parte de desenvolvimento motor, experimentação e daí já
partir pra um lado de, de, treino mesmo, mas em dosagens . . . (específicas ), específicas
223
pra idade, tudo bem controladinho, pra não estressar, pra num, pra coisa não sair contra
os objetivos da gente, eu acho que é meio por aí, tem aspectos do desenvolvimento que
eu acho é bastante grande.
Entrevistadora – Ta jóia, eu acho que é isso aí (É?) Assim quando você, você disse que tem
as turmas de ACD, no caso, que tipo de envolvimento existe nessas turmas, entre o
professor e os alunos, por ex., assim, vamos dizer, além dessa questão da prática e
da. . .
E2L - GPA – Certo, eu acho que eles têm, nos tem como pessoas assim, próximas, eles têm
um vínculo afetivo grande com a gente, eu acho que é recíproco, os alunos que vem no
período contrário pra fazer os treinos, eles tem uma confiança na gente, inclusive,
aspectos particulares eles conversam com a gente nessas horas, coisas relacionadas a
escola, a gente tem também muitos, muitas solicitações de auxílio, de opinião, eu acho
que esse nculo afetivo é interessante, quando eles passam a freqüentar, talvez eles
conheçam um pouco mais a gente e a gente acabe conhecendo um pouco mais eles, as
vezes um aluno que tem, falando de escola, nem tem como fugir disso, mas o aluno que
tem o comportamento, as vezes meio rebelde em sala de aula, a gente consegue ta
argumentando com eles, conversando alguns aspectos que podem melhorar o
comportamento, se é que se pode chamar assim, ou a imagem que ele tem na instituição
escola, eu acho que existe um intercâmbio e a valorização, a auto estima, a questão de
trabalho em grupo, o coletivo a gente pode trabalhar, a gente pode trabalhar aspectos
importantes do desenvolvimento humano num ambiente que, pra um leigo falar Ah,
mas é um negócio descontraído, é, mas é pra ser assim mesmo, na minha opinião, eu
acho que daí você consegue trazer um pouco mais pra próximo de si o aluno, o
adolescente, a criança, o adolescente, eu acho que ele valoriza mais a escola, valoriza o
ambiente escolar como um todo.
Entrevistadora – Ta jóia. ( . . .), eu acho que é isso.
Entrevistadora – (Agradecimentos)
Obs.: Após um bate papo, o Professor retorna a questão dos conhecimentos específicos.
E2L - GPA – Eu não tenho assim em mente a questão de um conhecimento mais específico,
eu vejo meio que, por eu trabalhar três modalidades, então, não pra falar Eu sou
professor de basquete, eu sou professor . . . eu procuro fazer uma passada, mas eu
acho que se eu tivesse a oportunidade de fazer um curso específico de uma modalidade,
por ex. modalidade não tem como fugir, a gente tem que trabalhar com basquete, vôlei,
futsal, handebol, eu faria com maior prazer, refazendo todo, a gente ta tendo atletismo
agora, com a Professora Sara que . . . é muito interessante, eu tenho usado na minha
224
prática aí, alguns conhecimentos que a gente adquiriu lá, então tudo é importante, a
gente tem que procurar renovar os nossos conhecimentos, humildemente.
E2L - GPA Olha, eu acho que a parte de desenvolvimento motor, eu acho que a parte
técnica, é indiscutível, (específica de uma . . . ) específica da modalidade, a parte técnica
e eu acho que uma visão crítica, também, você tem que ter isso nas três,
desenvolvimento, a parte técnica e uma visão crítica, porque não adianta você ta
treinando o aluno, iludindo o jovem, independente de ser aluno, iludindo, dizendo que ele
vai ser jogador de futebol quando ele tem um milhão, um milhão . . . um milhão de
desafios a vencer pra tentar chegar nesse mercado, nessa fatia de . . . não sei se é
mercado, se é show, o que que é que . . . então, é um negócio que eu acho que os dois
profissionais tem obrigação de fazer isso.
Entrevistadora Agora, quando você fala da especificidade da . . . da técnica, você acha
que essas disciplinas que tem na formação, tipo, fundamentos, elas seriam suficiente ou
ele teria que ter o aprofundamento também?
E2L - GPA - Olha, eu acho que, (pra iniciação) não eu acho que o , a parte de
aprofundamento, eu acho que não, em linhas gerais dá, acredito que sim (dá?) !
pra você fazer um, até porque a gente tem que confiar que as pessoas também vão atrás
daquilo que lhes interessa, também se aprofundam, mas como formação básica, tudo
bem (é o ideal?) a parte técnica assim, seria suficiente.
225
E3L – GPA / TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA
Entrevistadora – Bom, eu to conversando com ( . . .), aqui ( . . ) e . . . ( . . .) a gente não vai ta
na . . . no trabalho colocando nome, nem . . . vai usar códigos e tal, pra você ta
ciente, ta legal? ( . . .), como é que você definiria o esporte, como é que, o que é esporte
pra você?
E3L - GPA Uma atividade lúdica ou de . . . que se pode utilizar de materiais ou não, que
visa o desenvolvimento tanto físico, motor, psicológico do indivíduo.
Entrevistadora – No âmbito do esporte, o que seria pra você a IE?
E3L - GPA – É, o que você queria saber, se é precoce, ou não . . .
Entrevistadora – Não, não, como é que você definiria a IE, ou que objetivos a IE tem . . .
E3L - GPA – Os objetivos, na minha visão, da IE deveriam ser mais amplos, porque
geralmente você foca em um determinado esporte e deixa de dar a . . . toda gama de
oportunidades que uma criança pode ter, então eu acho que hoje, a IE errada porque
começa muito cedo e limita o desenvolvimento de outras capacidades da criança, acaba
tornando ele, tornando essa criança . . . tornando essa criança assim, limitada, em
termos de aprendizagem motora.
Entrevistadora Você citou a questão do muito cedo, qual seria a faixa etária que você
acredita que a IE abrange e como é que você chegou a essa organização ou a essa
disposição de idades?
E3L - GPA De acordo com algumas palestras que a gente tem visto por aí, a IE ta
começando com sete anos, seis – sete anos, eu acho muito cedo, eu acho que a criança
deveria começar com a I a partir dos onze, doze anos, então baseada nessas
informações que eu, que eu . . .
Entrevistadora – Então, para você, seria na faixa de onze, doze anos?
E3L - GPA – Acima de onze anos.
Entrevistadora E, em quais espaços você acredita que a IE acontece, em que locais, em
que espaços?
E3L - GPA Acontece muito em escolinhas de esportes, aqui em RC, principalmente isso,
escolinhas de esporte, clubes, entidades como o SESI ou . . . no Ginásio de esportes,
que também oferece as escolinhas também, né, mas, mais a . . . mais em clubes.
Entrevistadora – Na escola você acha que ela não ocorre?
E3L - GPA Mesmo eu estando afastada do que acontece na escola, o que eu vejo por
em termos do que as crianças falam, é aquele lance ainda do joga a bola, ou então, um
pouco de atletismo, mas nada a ver com a aprendizagem do esporte em si mesmo.
226
Entrevistadora Agora, que tipo de conhecimento específico você acha que o profissional
que vai trabalhar com IE deveria ter?
E3L - GPA Desenvolvimento motor, psicologia do esporte, base de . . . anatomia, sem
dúvida nenhuma e mesmo a recreação, porque eu acho importante você trabalhar com o
lúdico e muitas vezes isso não tem sido utilizado, dentro das escolas.
Entrevistadora Qual seria o perfil desse profissional que vai atuar com IE, com criança,
com IE, que perfil você acha que ele deveria ter, além por ex, desses conhecimentos
específicos, o comportamento, a atitude dele, mais ou menos, uma coisa por aí?
E3L - GPA Eu vejo assim, o profissional que trabalha com IE ele tem que ser muito
maleável, então, ele tem que saber lidar com . . . com as diferenças individuais, tem que
saber respeitar o limite de cada criança, tem que saber . . . muito a parte teórica do
ensinamento dele, que eu acho que ta faltando, as vezes, uma atualização desses
profissionais, ele tem que ta sempre buscando coisas novas, porque é fácil você repetir o
que tinha, né, porque a gente sempre critica e não muda, então o que ta acontecendo
é que ainda estão repetindo o que faziam antes, então se não houver uma atualização,
se ele não buscar conhecimentos diferentes de diversas áreas, ele nunca vai mudar, e
principalmente gostar do que faz, eu acho que é por , eu acho que se consegue um
profissional que vai, que vai ter um desempenho como professor, como educador, né, ele
tem que ser um educador, ele não pode ser um general que fala – Faça isso, faça aquilo;
ele tem que ensinar pra criança, desde o b-a-ba”, do andar, do rolar, de coisas básica
pra . . . até mais complexas, até ir direto ao mais complexo.
Entrevistadora Agora, imagina assim, que você fosse contratar hoje um profissional pra
trabalhar com IE, que profissional seria esse que você contrataria?
E3L - GPA – Um, uma pessoa que fosse muito . . . assim, quase uma criança, entendeu, que
agisse como uma criança, as vezes, que fosse bem humorado, que tivesse . . . fosse
maleável, que tamb . . . ao mesmo tempo, que ele fosse rígido, porque hoje em dia não
tem muitas regras, né, soubesse mostrar as regras, da onde ir, da onde não ir, mas que
fosse muito responsável com aquilo que ele ta se propondo a trabalhar, sabendo do que
ele tem em mãos, ele tem indivíduos nas mãos, então, eu procuraria assim, um
profissional que trabalhasse com tudo e não fosse específico com determinado esporte,
que ele soubesse um pouquinho de cada coisa, desde ginástica olímpica até o futebol,
preferia que ele soubesse um pouco de tudo pra trabalhar exatamente como eu penso,
poder oferecer um pouco de tudo, e não ser aquele cara, eu sou bom no futebol e só vou
ensinar futebol.
Entrevistadora –Aqui na sua instituição, qual o profissional que atua com IE?
E3L - GPA – O ( . . .), o ( . . .), o ( . . . ).
Entrevistadora – E qual a formação dele?
227
E3L - GPA – O ( . . . )é bacharel e o ( . . . ), Licenciado.
Entrevistadora – Todos profissionais de EF; e licenciado e bacharel . . .
E3L - GPA – Eu também to trabalhando agora com Natação, também, sou licenciada.
Entrevistadora Agora, além desses aspectos que você falou que a IE trabalha ou que
deveria trabalhar, de acordo com a sua concepção, você acha que ela abrange algum
outro aspecto, ou esse profissional deveria trabalhar algum outro aspecto, além dessas
habilidades gerais e tal . . .
E3L - GPA Eu acho que ele tem que trabalhar o indivíduo como um todo, então o lado
psicológico, o lado social, ver onde esse indivíduo se enquadra, se essa criança ta, por
ex, no meio de uma favela, ele tem que se enquadrar naquilo e passar conceitos que não
façam com que essa criança não passa pra um . . . to sendo bem assim, como fala . . .
preconceituosa, né, fala em favela, é uma coisa . . to dando como exemplo, essa criança
esteja no meio . . . que ofereça (Mais próxima . . . ), mais próxima, exato, então que ele
possa dar valores pra ela, acrescentar valores que faça com que ele não passe pra um
vício, não passe pra, pro crime, entendeu? Ele tem que ta muito atento a esse lado
especial, se crianças com deficiência física ou não, incluir essa criança no projeto,
não deixar ele Não, nós não trabalhamos com deficientes e ponto. Ou então, vamos
abrir horário especial para deficientes, isso . . . é um absurdo, então ele tem que ta
atento pra trazer, incluir, fazer a inclusão social dessas pessoas, tanto das gordinhas,
das, dos mais pobres, do, das pessoas com deficiência, ele tem que ta muito atento pra
isso e agregar valores durante a aula dele, que faça com que tenha a . . . aceitação
social dessas pessoas, que eles não sejam excluídos de novo, né, como em todos os
lugares eles são. Porque o que a gente prega é Esporte para todos, não é, foi pregado
isso, esporte para todos, eu acredito nisso, eu acho que esporte é para todos, desde da .
. . da criancinha, até idoso, agora você falar Não, você não pode, porque você não se
enquadra no nosso grupo; ta totalmente errado.
Entrevistadora – Agradecimentos.
228
E4L – GPA / TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA
I – Eu to conversando aqui com (. . . ). . .
D – ( . . . ).
I – ( . . . ) é formado em Educação Física, fez a Licenciatura. Bom, ( . . . ), primeiro eu queria
te informar que a gente vai estar, não vai estar divulgando o nome das pessoas que
estão participando e nem das instituições onde elas atuam, a gente vai estar usando um
codigozinho pra identificar os sujeitos da pesquisa. Bom, a primeira perguntinha seria, na
sua opinião, o que que é esporte, como você definiria o esporte?
L Qualidade de vida. Eu acho que quando a gente trabalha várias modalidades, agente
procura a qualidade de vida, não falando de competição, esporte de competição é uma
coisa, esporte fora de competição é outra, no nosso caso, aqui onde a gente atua, seria
a qualidade de vida, tanto pro adulto, como pra criança. Agora, falando um pouco de
competição, daí eu acho que você abrange um mundo um pouquinho maior, já trabalha a
parte técnica, não é o nosso caso, você vai ensinar mais, você vai ensinar os
movimentos, não no caso que a gente aqui não ensina, ensina, que fica muito mais
em cima quando é de competição, no nosso caso a gente procura deixar a criança
aprender o próprio movimento no esporte no geral, ela que vai definir, será que é certo
isso, será que é aquilo, fugindo da parte técnica.
I Nesse âmbito do esporte, como você ta colocando, o que seria a Iniciação Esportiva?
Como é que você definiria a IE e também depois eu queria que você me dissesse em
quais locais essa I pode acontecer?
L Como eu definiria? (Hum, hum!) Eu acho assim, hoje a IE fica muito pro lado financeiro,
não se joga bola porque gosta de jogar bola, já não se joga basquete porque se gosta
de jogar basquete, vôlei, tênis, outras coisas. Hoje a criança se inicia no esporte, até por
conta de necessidade, o pai um jogador de futebol ganhando milhões, ele vai falar
bom, meu filho joga bola ali, vamos colocar ele numa escolinha, ou pública ou particular,
o tipo de escolinha que tiver a cidade, pra ver se ele ajuda a gente, primeiro, hoje é isso
daí, antigamente não, você via a criança jogando bola, vamos lá, deu certo, deu, não
deu, volta pra casa, hoje não, o pai insiste, insiste, insiste, às vezes arruma a
empresários, com oito anos, nove anos, o menino ta jogando bola, que é o esporte que
todo mundo no Brasil hoje ta jogando bola, fala Oh, esse menino joga, vamos levar
ele pra tal lugar, então hoje, o esporte que . . . pra você se iniciar no esporte, virou
comércio, igual a qualquer tipo de comércio que tem, então eu acho que IE por livre e
espontânea vontade do menino, é meio dividido, 50% cada, livre espontânea vontade
(interrupção) livre espontânea vontade da criança e também 50% por causa desse
229
financeiramente muito bem, é lógico que entre aspas, nem todos vão chegar ao topo,
mas o pensamento na IE em termos do pai, seria isso daí.
I E na sua concepção, o que seria de fato a IE? Uma vez que você ta dizendo que ela
tomou um outro rumo . .
L No geral? (Isso!) No geral . . . bom, na minha opinião, a IE, como eu disse, é trabalhar
qualidade de vida, penso que o esporte é trabalhar qualidade de vida, a gente inicia uma
atividade pensando no bem estar das pessoas, na saúde, no desenvolvimento, no
desenvolvimento físico, motor, psicológico, na minha concepção, eu acho que o esporte
devia de trabalhar isso daí, pra sempre ta desenvolvendo, e o esporte por mais que seja,
ele ajuda o desenvolvimento da criança, é o que mais ajuda, não tem o que falar, não
precisa ser com um esporte específico, então, se a gente tiver pontos que possa
desenvolver, porque a gente crianças com, sem . . . como se pode dizer . . . sem
nenhuma concepção do que é viver o esporte, você a criança que tem dificuldade
com certa . . . dificuldade motora de um jeito, psicologicamente também, você as
crianças - poxa, que que é isso, que que é aquilo, o esporte no geral, no âmbito geral,
ele acaba ajudando a criança nisso aí, tanto psicologicamente como motora.
I – E, em quais locais que você considera que a I ocorre?
L – Posso voltar um pouquinho ao passado, ao meu tempo? (Hum, hum!) Locais físicos?
I - Isso! Espaços de atuação do profissional, por ex.
L Quando eu comecei a jogar basquete, a gente trabalhava num CSU Centro Social
Urbano, nas periferias, são . . .
I – Centros esportivos nas periferias . . .
L Isso! Então, você podia, você ia lá, você ganhava uma carteirinha de atleta, você se
iniciava, basquete, vôlei, futebol, ia e falava, quero me inscrever no basquete,
colocava no basquete, futebol, tal . . . hoje vejo diferente, esse locais acabaram, não
sei se é por causa da prefeitura, do estado, dizer que não tem dinheiro, mas acabou.
Acabou . . . várzea acabou, campos de várzea que tinha em todo lugar, acabou, e o
atleta, ele saia daí, não precisava por numa escola, hoje não, tudo é particular, tudo é
particular, você vai _____ colocar na escolinha do jogador tal, o que que acontece, o
pessoal da periferia não tem a condição de pagar uma escola, que é caro, esporte hoje
ficou caro, fica difícil pra gente trabalhar com o pessoal, e os grandes atletas, se for ver,
veio de baixo, tem as suas exceções, Kaká, que tem dinheiro, é um ou outro, por isso
que fica difícil, mas eu acho assim, se voltar os Centros Sociais ou Projetos Sociais, que
nem a Prefeitura de Rio Claro ta tendo agora, quem sabe daqui pra frente não aparece,
não que não aparecer, futebol a gente sabe que vai aparecer, mas e os outros
esportes, o meu que é o basquete, porque que acabou o basquete? Porque o basquete
ta perdendo pro vôlei, ta perdendo pro tênis, ta perdendo pro handebol? Porque acabou,
230
acabou tudo, não tem mais escolinhas, escolinhas em clubes particulares, e não é
todo mundo que tem condição . .
I – Você acha que na escola acontece a IE?
L Não, hoje não. Hoje não acontece mais, porque hoje você, não posso falar, vou falar o
que eu vi, hoje você uma bola pra criança e fica vendo a criança jogar, antes não,
você tinha uma competição, os antigos Jogos Escolares (JE), você fazia EF na escola,
você aprendia a jogar, porque? Você sabia que no meio do ano ou no final do ano você
tinha uma competição, que era os JE, hoje não tem mais, então, porque o professor vai
se preocupar em ensinar a criança a chutar, a criança arremessar, a cortar, porque não
tem um . . . ele vai lá – o quê vocês gostam de jogar? Futebol! Eu vi isso daí – Ah, o que
que nós vamos jogar hoje? Levanta a mão quem quer futebol. Noventa por cento da
classe levanta a mão, o que que acontece Ah, eu não gosto de futebol! Então você
vai ali e fica esperando. Assim que é. Eu to falando assim porque é a minha profissão e
eu vi, eu acabei vendo isso daí, não concordo, porque, se eu trabalhar numa escola,
espero . . por isso que a minha monografia é o desenvolvimento . . . (do tênis ) na escola.
I Qual que é a faixa etária que a IE abrangeria pra você, como é que você chega a essa
condição? (Faixa etária?) Faixa etária, porque você chegou a essa conclusão?
L Eu acho que o correto seria doze anos, com doze anos, não que ela sabe o que ela
quer, mas pra ter o desenvolvimento motor mais rápido do que uma criança de dez
anos pra baixo, porque pra criança de dez anos é a diversão, é a ludicidade, tem que
brincar, você não pode cobrar de uma criança de oito anos, seis anos, sete anos,
resultados, porque daí, como é que fica a cabecinha da criança eu não consigo fazer
isso, daqui a pouco ele não volta mais, a criança de onze anos entende, uma criança,
ela entra numa escola pra ensinar uma tal modalidade, ela sabe que daqui dois anos
ela vai ta competindo, que é a idade de treze anos que normalmente começa a
competição, então ela pensa eu quero ser jogador de tal esporte, já tenta prepará-lo
pra aprender a prática no geral, diferente de uma criança de faixa etária menor, que você
não pode cobrar isso daí, nem deve, nem deve, tem que trabalhar o lúdico, é o caso
nosso aqui, deixar a criança fazer o movimento, e não ficar se tem que fazer isso
não, se vai de esquerda, vai de esquerda, se vai de direita, vai de direita, não, deixa ela
ver que ela ta errada, agora, com onze anos, você tem que ficar corrigindo, você
tem que ficar, porque depois, no futuro ele vira um atleta profissional – mas quem que
foi seu professor de iniciação? Ah, foi fulano! Mas, ele não te ensinou a bater bola de
mão esquerda, ele não te ensinou a bater bola de mão direita? E aí, vai pegar, e
Professor, esse rapaz é bom nisso aqui, mas não sabe fazer isso. Então, você pode
cobrar da criança, de onze anos você já pode cobrar, nessa faixa aí, você deixar eles . . .
( se virar) é.
231
I – Aqui na sua Instituição, quem é que trabalha com IE?
L – Como assim?
I – Que profissional?
L – Todos da EF, formados em EF, todos são formados.
I – Tem idéia do porque?
L Não porque, essa parte fica meio difícil pra eu responder, porque eu sou o mais novo
aqui, eu to com quatro meses de casa só. (Ta chegando ainda!) Eu acho, eu vou falar
por mim assim, o que eu imagino, sou eu e o meu irmão foi o professor de basquete,
pelo fato da gente ter iniciado no esporte, eu me formei em EF por causa do basquete,
isso eu não escondo de ninguém, por causa do basquete, eu acredito que ele também,
ele jogou basquete, agora os outros já fica difícil . .
I Qual que é o tipo de conhecimento específico que você acha que um profissional que vai
atuar com criança deveria ter, pra atuar nessa faixa de idade que você falou com IE? . . .
Qual o tipo de conhecimento específico ele deveria ter?
L Conhecimento específico . . . eu acho que ele tem que ter sensibilidade, saber . . .
porque sensibilidade, saber o que a criança quer, o que ela pretende e o que ela vai
fazer, porque não adianta você colocar Você joga o que? Ah, basquete. Então vem
jogar, não que a gente recriminar Ah, não joga isso, encosta lá! Se eu não tiver um
mínimo de sensibilidade, de noção do que a criança quer, você acaba atrapalhando,
você sendo professor, você acaba atrapalhando, você, dentro da sua sensibilidade,
seu conhecimento, você vai saber o que a criança pretende, se é isso que ela gosta,
porque, casos que a criança joga vôlei, mas você percebe que, não, ele vai pra outro
esporte porque eu acho que as . . . posso citar um ex.? (hum, hum) O meu caso foi esse!
Eu fui jogar vôlei primeiro, tirando o futebol que é o esporte que o pai coloca primeiro, eu
fui jogar vôlei, eu joguei um ano vôlei, só que ninguém percebeu que eu . . . (que não era
bem isso) . . . não era aquilo que . . . eu tinha percebido, porque eu jogava vôlei,
pegava a bola de vôlei e ficava arremessando, e o professor meu de EF não teve a
percepção, a sensibilidade de . . . Pô, porque que ele ta jogando vôlei se ele
arremessa, arremessa a bola de vôlei, então se . . .você vê a criança lá, você vai iniciar
em tal esporte, poxa, o aluno ta cortando a bola de vôlei, senta – você gosta de
basquete, você gosta de vôlei, as vezes ele entra num esporte porque o pai gosta de tal
esporte, não é porque ele gosta, então, se você não tiver a sensibilidade, a percepção de
. . . percebeu que a criança . . .você atrapalha completamente o desenvolvimento
esportivo dela.
I – Na sua opinião, qual que é o perfil que esse profissional deveria ter pra trabalhar com IE?
De uma maneira geral assim, que perfil ele deveria ter? tipo de conhecimento, atitude,
comportamento?
232
L Primeiro perfil é gostar de criança, porque se ele não gostar ele não vai conseguir
desenvolver, porque é complicado, complicado você trabalhar com um grupo de trinta
crianças de oito, falo da turma menor, de oito a doze anos, cada um pensa de um jeito,
cada um faz coisa que vem na cabeça, então, se você num To trabalhando porque eu
preciso, acho que tem que trabalhar porque gosta, gosta de criança, mostrar que você
gosta da criança, pra criança perceber que você gosta dela, porque senão desanda, a
criança começa a afastar, vai falar pro amiguinho Ah, acho que o professor não
gosta de nós . . . eles conversam, daí acaba atrapalhando, e . . . conhecer o que faz,
porque o adianta você ser formado em Ef e vou dar essa modalidade porque eu
preciso, tem que conhecer o que faz pra passar corretamente o que eu tenho que
aprender, é o caso, vou citar mais uma vez, é o caso daqui, em cada modalidade, que é
o basquete, vôlei, futebol, futebol de salão, tem professor que atuou no esporte
específico, o conhecimento, a vivência, não adianta cair de pára-quedas porque, não que
não tenha, existe, existem professores que vem a luta, participei dessa modalidade,
que estudaram, porque pra você ensinar um movimento, é fácil, então, que a gente
não pode recriminar, é que nem você ser obeso e o professor falar porque você é obeso
e da aula de EF, não tem nada a ver uma coisa com a outra, o cara estudou, então, tem
que ter isso daí, gostar de criança, entender o que você faz, a modalidade que você ta
trabalhando, não importa qual seja, pra que isso daí não atrapalhe mais pra frente . .. .
tanto que a criança, como você.
I É meio, vai ficar meio repetitivo, mas, vamos imaginar que você fosse contratar um
profissional pra trabalhar com IE, quem você contrataria e porque?
L – Quem eu contrataria? ! Quem e porque?) Meu irmão (risos) . . .não é por causa de . . .
I – Então você me faz aí uma descrição dele ( O perfil dele?) É!
L Não por causa de ser meu irmão, nem por isso que . . . tem irmão que não contrataria o
irmão, isso é real, mas pelas percepções esportivas que meu irmão tem, foi jogador de
basquete também? Foi. que ele tem uma percepção esportiva de todas as
modalidades, gosta de vôlei, gosta de futebol, gosta de basquete, então, se fosse pra
escolher alguém e tivesse três lá, podia ser o que for, o cara é doutor nisso, mestre
naquilo, e meu irmão graduado nisso daqui, eu traria o meu irmão, e por gostar do que
ele faz, que é o principal, não que os outros não gostariam, então, eu realizaria um
sonho, que é um sonho que a gente tem que é um dia os dois trabalhar juntos, pegar o
conhecimento que a gente adquiriu, pelo mesmo pensamento e por gostar de esporte em
geral, não só de um esporte específico, em geral, contrataria ele, certeza.
I Ta jóia! Eu vou te perguntar uma outra que nem ta ali no papel, mas eu vou te perguntar,
você acha que tem um perfil diferenciado de quem ta atuando na escola e de ta atuando
fora da escola, com relação a IE?
233
L Tem, tem sim senhora! Não põe esse senhora (risos) Tem porque assim, depois que o
governo fez aquele programa de, uma escola vai ser de 1ª a 4ª, a outra escola vai ser de
a e a outra escola vai ser de colegial, acabou com tudo, eles conseguiram
acabar com tudo, como eu falei anteriormente naquela outra questão, o esporte no geral
é . . .acabou pra escola . . .pública, não falo particular, porque a particular é diferente,
mas eu acho que, na escola blica, acabou, como eu falei, não se para mais uma
criança na escola e fala Oh, você ta chutando errado, vamos treinar chute, vamos
treinar arremesso? Diferente de uma escola própria para a modalidade, você vai ta
parando a criança, você procura corrigir, mas você vai falar você ta caindo em
contradição, você falou que criança de oito a dez anos tem que deixar se virar, não
lógico que você tem que deixar se virar, você não pode cobrar muito, mas se você
que ela não vai, você vai ensinar ela, e a escola, a escola não mais isso daí, não
mostra Oh, vamos parar, vamos fazer isso, porque, não mais tempo, a EF escolar
não é mais eu estudo de manhã, vou fazer EF a tarde, você faz na aula, você sai meio
dia, você fica até dez pra uma pra fazer EF, isso daí acabou, a criança vai de calça
jeans, faz se quer, se ela tiver sentada, escolheu sentar, você pode largar ela lá, você
não vai cobrar da criança, você um trabalho teórico pra ela, ela faz e traz pra você,
você não ta colocando a criança no meio do esporte, você não ta iniciando, eu acho que
a escola é que tem que iniciar, a escola tem que iniciar, não a escolinha, a escolinha é
conseqüência, ela vem depois, você pega uma escolinha de basquete que é a semana
inteira, que nem tem no “Ginásio”, depois que a criança aprendeu na escola, como era
no nosso caso antes, ela vai falar Pô, você tem condição de jogar, porque que o
pessoal reclama que os Estados Unidos ganha tudo, porque ele tem high school, tem o
colégio, vai pra Universidade, vai pro profissional, no caso do basquete, a NBA, o
futebol, vôlei, acho que é tudo a mesma coisa, aqui não tem mais, a escola não ensina
mais as crianças a fazer os movimentos, nada, nada, não posso assim, não vou criticar,
porque são profissionais da minha mesma área, mas só que assim, hoje a escola não dá
mais a condição pra você ensinar, antigamente você tinha duas aulas de EF na semana,
depois no outro dia você tinha uma, então você fazia três aulas na semana, hoje se você
fizer duas . . . por isso que eu bato na tecla da minha . . . . do (Trabalho de Conclusão),
do meu TCC, porque que o tênis, sendo um esporte elitizado, (num to fazendo
propaganda!?!?) porque que ele não pode ser ensinado na escola, porque é de elite,
porque é caro, não é, tem tantas opções, um material, uma bolinha de borracha que você
pode fazer, madeira, é você criar, e o professor não quer criar mais, professor quer o
fácil, Ah, a bola. To, vai jogar basquete, vai jogar futebol, então ficou tudo reduzido
pra escolinha, vai chegar uma hora que as escolinhas não vão mais comportar ninguém,
ou a escola volta a ser o que era antes, o que na minha opinião vai ser difícil, ou o
234
esporte no Brasil, vai acabar, espero que não, espero que esse projeto que estão
querendo fazer, ampliar o esporte, começar desde pequeno, dar condição pra criança
fazer, espero que não acabe, no Brasil é difícil acabar o esporte, o Brasil é muito grande,
o povo gosta do esporte e então, tomara que certo, espero que ajude, o atletismo
levantou muito, fazendo o que faz as cidades pequenas, mesmo a criança não tendo
tênis, indo faz um trabalho em cima do atletismo, tomara que os outros esportes que
tão abaixo do futebol e do vôlei, esses daí são top de linha aqui no Brasil, façam a
mesma coisa, porque sinceramente, se a gente depender das escolas públicas,
principalmente, esquece, porque a particular, não é todo mundo que vai pro esporte, um
vai ser médico, o outro vai ser advogado, é raro . . .
I – É isso aí (. . . ), . . .
L – É só isso?!?!?
I - (agradecimentos)
TRANSCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS
GPF - GRUPO DOS PROFESSORES FORMADORES
(UNIVERSITÁRIOS)
236
E1 – GPF / TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA
Entrevistadora Eu to conversando com ( . . . ), perdão, aqui na ( . . . ) e, profa.. a sua
identidade e ent . . . e da sua instituição também não vão estar claras no trabalho, a
gente vai utilizar códigos, ta? pra esclarecer. Bom, primeiramente, o que que é
esporte pra você, como você definiria o esporte?
E1 - GPF O esporte enquanto conteúdo da EF, como o próprio nome diz, aquilo que vai
ser trabalho mediante o estabelecimento de um objetivo pré-estipulado, então eu
entendo o esporte como um conteúdo da EF escolar e entendo o esporte como uma
prática de atividade sica vinculada à escola e outras instituições, isso pra mim são os
dois entendimentos básicos do esporte, como uma atividade física e/ou como uma, como
um conteúdo a ser trabalhado.
Entrevistadora Pensando nesse contexto do esporte, o que que seria a IE, como você
definiria ou que objetivos tem?. . .
E1 - GPF O esporte, sendo trabalhado como exercício, sendo trabalhado como atividade
física, a IE consistiria em estruturação de base, de movimentos de base daquele esporte,
então seria a aplicação ou o processo de ensino aprendizagem dos fundamentos
daquele esporte, então, no caso do handebol, esporte que eu conheço razoavelmente,
seria por ex. aprendizagem do passe do handebol, do arremesso no handebol, da corrida
no handebol, e porque que eu afirmo que é da corrida no handebol, porque correr é uma
coisa diferente do correr no handebol, então a IE seria essa atividade de I ou de
aprendizagem dos fundamentos, isso esporte enquanto exercício físico ou enquanto
atividade, agora o esporte enquanto conteúdo da EF escolar ele tem outros objetivos no
meu entendimento, não são objetivos nem maiores nem menores do que esses que eu já
disse, mas são objetivos diferenciados, por ex., seu eu trabalho com esporte na série,
meus objetivos e o método que eu utilizo pra poder provocar esse ensino são diferentes
daquele que eu trabalho no esporte pra série e ensino médio, então, além de eu ter
como objetivos o ensino do fundamento desse esporte, antes eu vou trabalhar com jogos
pré esportivos pra chegar nesse esporte que eu quero e antes eu vou trabalhar com as
atividades motoras que são fundamentais pra aquisição dos fundamentos desse esporte,
então, eu nunca trabalharia com o esporte primariamente, ou seja, como o primeiro a . . .
o primeiro conteúdo a ser trabalhado, então, no caso, se eu for trabalhar o esporte na
série, então eu trabalharia antes o correr, o andar, o saltar, o arremessar, pra depois
chegar no arremessar no handebol, no correr no handebol, e porque que eu não faço
isso na IE ou no esporte enquanto atividade física, porque eu divido bastante, eu divido
essas situações no seguinte sentido, quando eu faço o esporte como atividade física, a
237
minha prioridade é o ensino e a aprendizagem, dos fundamentos desse esporte,
obviamente que perpassa um processo educacional, mas quando eu trabalho com o
esporte enquanto conteúdo da EF escolar eu trabalho primariamente os movimentos
fundamentais pra chegar no esporte, então o meu objetivo é ter esse esporte como um
dos conteúdos, mas não como a única coisa a ser trabalhada, e como atividade física ela
é o conteúdo, a coisa a ser trabalhada efetivamente, então eu distingo dessa forma, na
EF escolar ele é um conteúdo e que antes dele a necessidade de se preceder o
ensino de outras situações, até mesmo no esporte enquanto atividade sica as vezes
isso é necessário, porque as vezes a criança não sabe quicar uma bola, não sabe
arremessar, então você tem que partir desse movimento fundamental, mas a
preocupação maior é com a aprendizagem do fundamento propriamente dito. Na EF
escolar, eu chego ao fundamento, eu não quero o fundamento, eu chego até ele e no
esporte enquanto atividade física eu quero o fundamento, é isso que eu . . .é o meu
objetivo principal. Não sei se ficou claro??
Entrevistadora – É . . . quais . . . é. . . você citou essa divisão né, mas é . . . quais locais você
visualiza essa IE acontecendo, que espaços, que locais?
E1 - GPF É interessante, a IE dependendo da conotação que você a ela, ela acontece
tanto na escola, quanto, no ambiente escolar formal, quanto no ambiente aspas escolar
informal, que são as escolinhas, os clubes etc, então, ela está acontecendo nos dois,
nesses dois locus, no locus da escola e no locus da . . . das escolinhas ou dos clubes, o
problema que eu vejo é o seguinte, quando a gente trabalha com IE na escola, às vezes,
essa IE na escola toma o lugar da EF escolar, então, a EF escolar ela é composta de
vários conteúdos, entre ele está o esporte, o que eu não entendo como adequado é
substituir a EF escolar pela IE na escola, agora a IE nas escolinhas e nos clubes é isso
efetivamente que deve acontecer, é a aprendizagem daquele esporte, obviamente, como
eu disse, marcado por todo um processo educativo e pedagógico para a estruturação
e do ensino dessa atividade, mas na escola, como um dos, e vários “esses”, dos
conteúdos ele não pode simplesmente ser trabalhado como conteúdo único, esse que é
o grande problema da escola hoje, as famosas turmas de treinamento, substitui-se a EF
escolar pela IE na escola, eu não entendo como adequado, pra mim isso fere toda a
concepção de EF na escola, Porque tem aquele problema muito grande da EF se é área
de estudos, se é profissão, então a mesma coisa o esporte, é um conteúdo, é o
conteúdo, é a única coisa a ser trabalhada, a IE sendo adequadamente estruturada, ela
pode e ela efetivamente contribui para o desenvolvimento da criança, mas como eu
comentei com você, os objetivos, as estratégias, e até mesmo as performances que a
gente exige devem ser diferenciadas, eu costumo dizer que o handebol escolar difere
muito do desporto, do esporte handebol, na escola, eu quando trabalhava na escola
238
com, no ensino fundamental e no ensino médio, eu fazia adaptações do handebol, então
eu sempre falava que era um pseudo-handebol, mas eu estava iniciando pro handebol,
porque se ela, quando a criança sair daquela escola e ela fosse pra uma escolinha de
handebol, ela tinha condições de assimilar aqueles fundamentos mais rapidamente e até
de uma forma melhorada, agora na escolinha uma cobrança de uma performance
mais adequada, mais estruturada, um seguir as regras mais apropriado, uma aquisição
mais . . . vamos dizer mais metódica dos fundamentos, da execução dos fundamentos
em si, então eu vejo essa diferença da I na escola e da I nas escolinhas e nos clubes.
Entrevistadora – Tem uma faixa etária que você acredita que a IE aconteça, qual seria, como
você chegou a essa . . . organização?
E1 - GPF É interessante a gente distinguir IE de especialização precoce, e até mesmo do
entendimento que se tem de precoce aí, IE precoce pode ser aquela em que você inicia
em um desporto ou em vários, muito cedo ou desde cedo, então essa IE precoce ela
pode ser tanto entendida por um lado positivo quanto por um lado negativo, se eu por ex
me iniciar na aprendizagem do futebol ou iniciar uma criança de oito anos, de seis anos e
oito anos no futebol, marcando pra ela todos os movimentos, impondo pra ela a
execução dos movimentos, não permitindo uma variabilidade de execução, não
permitindo uma criação nos fundamentos, isso pra mim não é uma I, é uma
especialização equivocadíssima dos fundamentos do futebol, agora se eu começo a
trabalhar com essa criança de seis anos, começo a trabalhar com vários tipos de chute,
com vários tipos de bola, até levar com que ela construa o chutar, com uma bola que é
de futsal por ex., isso pra mim é uma IE que vem desde muito cedo e adequadíssima,
então, esse entendimento de IE precoce, especialização esportiva precoce, ou seja,
como conceituar é que é importante, e obviamente fazer uso desse conceito, ! Mas,
com relação a faixa etária isso é muito complicado, eu não vejo idade cronológica como
um determinante, as vezes você trabalha com uma criança de oito anos que ela não
sabe andar, então eu percebo que uma seqüência de aquisição de comportamentos,
aquilo que eu comentei já com você, você sai dos movimentos fundamentais, faz a
junção desses movimentos fundamentais e aí adequa esses movimentos fundamentais a
um ou dois ou três ou quinze esportes que você quiser vir a trabalhar, agora essa
aquisição, se for normalmente promovida, aí por volta, né, tem aquela situação daqui, lá,
mas por volta de uns oito ou dez anos você já pode se iniciar em dois ou três esportes
que são similares, agora, se fixar em um esporte, eu vejo que a partir dos doze, treze
anos, isso é possível, mas todo um comprometimento da execução, ou seja,
você começa a priorizar a técnica, você começa a trabalhar aspectos táticos, tem
uma preparação em termos de capacidades pra gerar aquele movimento, então é um
treinamento, um tratamento absolutamente diferente, mas trabalhar com esportes pra
239
criança, eu percebo sempre que tem essa cobrança que o chute é deste jeito, você tem
que se movimentar desta forma, eu vejo que a partir dos seis, oito anos, trabalhar com
alguma coisa, próxima do futebol, próxima do handebol, próxima do voleibol, próxima do
basquete, isso é completamente possível, ta! Mas dentro desta situação, a não cobrança
de um repetitividade, a não cobrança de simplesmente realizar mecanicamente um ato,
mas a interiorização do movimento, isso pra mim é essencial, até porque eu costumo
dizer que os movimentos que estão nos livros são ótimos pro menininho que ta no
livro, aquele menininho não é o menininho que a gente trabalha na escola, né, aquela
angulação, aquela . . o distanciamento entre os pés, isso é fantástico, a figura, papel,
aceita tudo, agora a gente querer cobrar isso num aluno, eu não percebo como
adequado, ate porque a gente percebe hoje em dia, que grande parte dos atletas que
tem um nível de desempenho extremamente alto, qualitativamente muito interessante,
eles tem diferenças entre eles e diferenças entre o que esta descrito no livro, tem estilo,
então a gente trata de respeitar isso também, agora se você percebe um movimento
mecanicamente desestruturado você tem que, eu falo sempre que a gente tem uma
descoberta orientada dirigida, levar a criança, obviamente, cerceando alguns caminhos,
ampliando outros, a descobrir o movimento dela, que é mais adequado a ela, eu acredito
nisso, grande parte das crianças e grande parte das situações tem similaridades, que
é o padrão motor, padrão motor não é um determinante, é uma situação em que a gente
percebe similaridade, mas nunca completamente igual entre duas pessoas diferentes,
senão a gente fere o maior dos princípios que é a individualidade biológica.
Entrevistadora É . . . que tipo de conhecimento especifico você acredita que seria
importante pra um profissional que fosse trabalhar com crianças ou com a IE?
E1 - GPF São conhecimentos, então eu vejo vários conhecimentos, eu vejo um
conhecimento mecânico, um conhecimento biológico, um conhecimento afetivo, um
conhecimento social, então pra trabalhar com crianças você tem que conhecer da
estrutura mecânica dessa criança, você tem que conhecer da estrutura social, da
estrutura mental, da estrutura motora, então, se a gente resolver falar em disciplinas, eu
acredito muito em rias disciplinas, como por ex, acredito que uma necessidade
muito grande da gente conhecer anatomia, sociologia, história da educação, teoria da
aprendizagem e controle motor, o ensino do . . . o conhecimento do esporte em si . . . da
fisiologia, então eu sou uma pessoa que acredita na interelação entre as áreas, na área
medica, na área social, na área afetiva, sem isso não tem como, conhecimentos pontuais
que não se inter cruzam, não se interligam, que não se inter relacionam não servem pra
nada, eu vejo que a gente tem que ter um conhecimento muito grande, em grandes e
distinta áreas, sem essas relações, eu entendo que o processo de ensino aprendizagem
fica . . . é manco, caduco, fica impossível de ser realizado, e . . . eu sou . . . eu sou
240
exemplo do que eu falo, porque eu procuro trabalhar com teorias que são, teorias e
disciplinas que são extremamente voltadas pras áreas biológicas e da saúde, mas faço
doutorado na educação, então, eu tento costurar essas . . interpolar, interelacionar, mas
não saber, mas tentar saber, mas também interpolar essas áreas, sem isso, sem
esses conhecimentos, sem essas relações. . . muito difícil trabalhar com criança, e o
maior erro que eu percebo e ai é erro mesmo, é quando a gente procura adaptar um
programa pra adulto pra criança, isso pra mim fere todos os conceitos educacionais e ao
mesmo tempo fere todos os conceitos fisiológicos, então não tem que se adaptar um
modelo de adulto pra criança, de se criar um novo modelo pras crianças, porque
esses modelos podem ter, apresentar finalidades quanto aos adultos, perfeito, mas
nunca adaptar um modelo de um pra outro, não tem como, são exigências diferentes,
são compreensões diferentes, são veis diferentes, e aí quando eu digo adulto e
criança, é um adulto que passou por um processo de estímulo adequado, porque
existem muitos adulto também que não tem uma qualidade de movimento, uma
quantidade de movimento adequada, você percebe vários adultos que tem 20, 25, 30, 40
anos, que mal sabem correr, mal sabem andar e saltar muito menos, você pegar criança,
pixotinho de cinco, seis anos, que faz isso muito bem, então há de se ter uma relação, há
de ser ter um respeito com essa relação a essas diferenças. Tá?
Entrevistadora – Tá! Agora é .. . qual seria um perfil pra esse profissional que vai atuar com
IE, além desses conhecimentos todos, que perfil ele deveria ter?
E1 - GPF É um perfil de um estudioso, de um interessado, de uma pessoa que tem
respeito ao próximo e tem respeito às limitações do próximo e as suas próprias
limitações, é .. . um sonhador, . . . é um sonhador realista, que eu costumo dizer, é
aquele que se pega a cada dia desejando mais, querendo mais, pretendendo estruturar
melhor os seus programas, o seu ensino, portanto a aprendizagem do seu aluno, mas ao
mesmo tempo aquele que dá liberdade pra criança criar, que percebe que há diferenças,
que considera essas diferenças, que se entende também limitado nesse processo, eu
digo que o professor é . . . o professor-educador ele é tudo, ele é um psicólogo, porque
ele tem que saber ouvir, tem que saber falar, enfermeiro, porque ele tem que saber
cuidar, ele. . . tem que cuidar das feridas internas e externas, ele é mãe ou pai, porque
ele tem que amar e ao mesmo tempo, tem que ser duro, então é um perfil muito amplo,
eu não tenho um perfil, eu . . . eu penso que pra ser professor, antes de tudo você tem
que se amar muito e amar muito as pessoas, se respeitar muito e respeitar muito as
pessoas e, saber e perceber que existem problemas e que existem dificuldades e que as
vezes alguns podem ser sanados, outros não, mas também saber que existem mistérios
que podem ser solucionados, basta, basta não, né, de se ter uma, um discernimento
bastante interessante, bastante amplo.
241
Entrevistadora Bom, eu sei que eu vou judiar de você, mas, imagina que você teria que
contratar um profissional hoje, pra atuar na I, quem você contrataria, que profissional
seria esse?
E1 - GPF Um profissional competente! Não importa se licenciado, não importa se
graduado, não importa se homem, não importa se mulher, não importa se novo, não
importa se velho, competente! Um competente que faça as suas atividades, além de
exteriorizar essa competência, que exteriorize também o seu gostar por, isso pra mim é
essencial, você tem que . . . além de deter os conhecimentos, saber aplica-los
conscientemente, ter uma relação agradável com você e com quem você está
trabalhando, você tem que demonstrar o quanto isso é importante pra você e o quanto
isso é essencial pra você, um competente! Licenciado, bacharel, o nome que você quiser
dar, graduado, . . . um competente!
Entrevistadora Deixa só, . . . quando você respondeu a pergunta anterior, do perfil, você
falou o professor, o professor, você ta colocando o professor, independente do local
onde ele ta atuando, ta colocando essa . . . esse profissional que vai atuar como um
professor?
E1 - GPF – Na verdade como um prof . . . como um educador. (Tá!) O educador, ele além de
ser um professor, ele tem conscien . . . porque . . . a .. . a tem uma professora aqui no ( .
. .) que ela diz o seguinte, professor é aquele que ensina, educador é aquele que além
de ensinar, questiona, possibilidades de . . de que haja uma troca de experiências,
então um educador, eu prefiro. Um educador que pode ser um licenciado e pode ser um
bacharel ou graduado, aliás, por esse entendimento que eu tenho por educador eu não
entendo essa divisão entre licenciado e bacharel, porque até mesmo num atendimento a
um hospital, num processo recuperativo, numa fábrica, numa ginástica laboral de se
ter um educador, de ser ter aquele que está preocupado com o processo que vai
gerenciar, que vai ordenar todas as seqüências, todas as atividades pra gerar a
aprendizagem, independente do ambiente que aquilo está acontecendo, então existe o
educador que trabalha na escola, existe o educador que trabalha no hospital, existe o
educador que trabalha na fábrica, então este é o profissional, é um educador
competente, então fica assim, é pleonasmo, né, mas o educador há de ser competente e
o competente há de ser um educador, uma repetitividade aí.
Entrevistadora – Agradecimentos.
242
E2 – GPF / TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA
Entrevistadora – Bom, eu to conversando com ( . . . ), pode ser assim né?
E2 – GPF – Pode.
Entrevistadora – Aqui ( . . . ). Prof. A prin . . . só pra esclarecer, a gente não vai ta divulgando
na nossa dissertação o nome nem da instituição, nem dos professores, vamos estar
utilizando alguns códigos pra essa identificação. Prof. O que seria o esporte pro senhor,
como o sr. Definiria o esporte?
E2 GPF O esporte é um fenômeno social que, como tal, tem que ser tratado
historicamente, porque na perspectiva de como ele aparece hoje na sociedade, ele traz
consigo de uma forma muitas vezes . . . de uma forma . . . tanto em aparência, isso que
a gente vê, mas em essência ele exige um aprofundamento de estudos pra que o
profissional da área consiga desvelar dele toda a su . . . o seu potencial humanizante e
humanizador que ele traz, com isso eu procuro tratar o esporte como uma objetivação
genérica humana, né, na teoria histórico-social, as objetivações genéricas humanas são
aquelas que foram o patrimônio cultural da humanidade, portanto produzidas pela
humanidade e que tem que ser socializado na sua forma plena, pra que os indivíduos
atinjam o seu mais alto grau de humanização, com isso, paradoxalmente, o esporte que
tem esse potencial humanizador, ele acaba sendo . . . quando trabalhado numa
perspectiva tecnicista, vamos dizer assim, e não no . . . na socialização da apropriação
da técnica, que é a produção humana, ele acaba sendo seletivo, acaba sendo privado da
grande maioria da população.
Entrevistadora Nessa . . . vindo desse seu . . . dessa sua visão de esporte, como o sr.
definiria a IE? Como o sr. vê a IE, eu to usando esse termo IE, porque . . .
E2 GPF É, eu usei esse termo também na minha historia, eu acho que . . . hoje eu
prefiro trabalhar com educação desportiva, porque ED? Porque, quando você coloca ED
você foge primeiro dessa terminologia . . . complicada que é a EF, que é a Educação
apontando pro humano e o Físico, limitando esse humano, então, como o próprio
Bourdieu diz, acaba sendo um lado que aponta pra um processo de totalidade e um
outro, um lado que fala sim e outro que fala não, é antifisis, então a educação é o
antifisis e físico é o fisis. Educação Desportiva resolve esse problema porque você, pra
quem trabalha com isso, sabe que vai tratar o desporto como seu conteúdo central e
tendo esse desporto como conteúdo central, você vai trabalhar numa perspectiva de
socializar esse patrimônio cultural da humanidade, que é o papel da educação, então
você fecha, como o próprio Saviani diz, que o papel do educador é ele socializar o
patrimônio cultural da humanidade, é óbvio que o professor de matemática vai socializar
243
matemática, de preferência radicalmente, histórico-criticamente, então é por isso que o
desporto o pode ser tratado na sua dimensão da aparência, de ensinar os
fundamentos e tal, fundamentos têm que ser visto como fundamentos na sua totalidade,
fundamentos sociológicos, fundamentos históricos, fundamentos filosóficos e também os
fundamentos fisiológicos que não podem, que podem ser dissociados, numa
perspectiva didática, mas que no fundo existe uma teoria sólida que conta dessa
totalidade que é a teoria social de formação do indivíduo.
Entrevistadora – Aonde que o senhor vê, visualiza a IE acontecendo? (Onde?) Quais
espaços? (Quais espaços?) é, de uma maneira geral . . .
E2 GPF Eu visualizo ela acontecendo em, historicamente, em espaços que vão sendo
limitados, em termos de oferta pública pra isso, mas eu ainda vejo acontecendo no, nas
prefeituras, nos clubes, nos campinhos já menos, como eu disse . . . mas no fundo, a
questão não é nem onde eles estão acontecendo, o grande problema é como eles estão
acontecendo e que existe conhecimento suficientemente produzido, pra que ele não
acontecesse mais dessa forma tão medíocre como ele insiste em acontecer, prin . . . e
mais que isso e também que explica isso, é o poder da indústria cultural, particularmente,
a televisão que exerce uma pedagogia perversa no sentido de socializar essa maneira . .
. esquizóide, vamos dizer assim, de se apropriar desse fenômeno social.
Entrevistadora – Nas escolas, acontece?
E2 GPF Olha, as escolas, eu, eu tento ver da seguinte maneira, eu fui professor
também em escola e, escola particular e escola principalmente pública, mas me
distanciei ao longo da minha vida porque passei, de certa forma, até numa tendência
crítico-reprodutivista, a negar o papel da escola enquanto locus de possibilidade de
emancipação humana, entendendo ela como aparelho ideológico do estado, hoje não,
hoje acredito que Gramsci dá conta disso, quando ele disse e o Saviani também, quando
ele diz que a escola, na dialética dela, ela é o locus onde é possível, você dialeticamente
transformar, ou seja, negar esse modelo de educação que ta tendo, então eu acho que
não é o problema do esporte na escola, ou da escola, sei lá, que eu também não quero
entrar nessa discussão, acho que o problema é de todas as disciplinas, que sofrem
historicamente um processo de esvaziamento, a EF não pode também ser arrogante de
achar que é um problema dela, Apolônio Abadio do Carmo, num texto que muito
tempo atrás, que inclusive, foi produzido nessa Universidade, que ele escreve “Crítica a
uma prática”, “Crítica . . .” alguma coisa assim, é uma das dissertações de mestrado de
referência a nossa área, que por sinal é um autor que ainda consegue trabalhar
Educação Especial de forma crítica, que ta na UFMG se eu não me engano, ele já dizia
na época, que talvez, o fato dessa falência da EF escolar, ele dizia que talvez ela, isso
seja um ponto positivo pra superação de uma EF melhor, então, dialeticamente, eu não
244
vejo problema na questão do desporto da escola, na escola, do jeito que ele ta hoje,
porque no fundo o que precisa ser tratado, é tratado na . . . é tratado radicalmente,
então, o que que eu quero dizer, eu quero dizer que pra mim não me toca essa
discussão, se existe ou não existe, o que me toca é uma ação política no sentido de
fazê-lo existir, fugindo até dessas pedagogias encantadoras aí, de construtivistas,
culturalista e tal, o que eu acho que o professor tem que fazer, é ensinar bem esse
patrimônio cultural da humanidade de forma histórico-crítica.
Entrevistadora Você tem uma . . . , você acredita numa divisão de faixas etárias, existe
uma faixa etária específica pra esse conteúdo acontecer, . . . ou se existe, qual é, porque
ou não tem?
E2 – GPF – Já levei em consideração isso, mas o laboratório da, do meu mestrado e do meu
doutorado, nas quadras, porque eu nunca, nunca, muito tempo que eu não tenho um
final de semana pra mim, porque todo sábado eu to lá com a criançada, e esse
laboratório me mostrou o seguinte, que a cultura ela é transmitida das gerações adultas
pras gerações menores, quanto mais houver essa situação, mais você vai provocar essa
efervescência de trocas, é óbvio que a mediação pra sair dessa troca de uma forma
espontânea pra uma troca elaborada, exige um educador, então eu sou, eu acho que
tem ser vista essa questão, da perspectiva do desenvolvimento biológico, que a gente
não deve negar, mas que não é, não pode ser o mais importante.
Entrevistadora Aqui na universidade tem as disciplinas específicas, práticas, como é . . .
(prática esportiva?) Isso, existe disciplinas específicas, ou . . . como se coloca isso no
currículo, tipo voleibol, basquete, como é que ta inserido (na universidade?) na
universidade.
E2 – GPF– Bom, a prática esportiva universitária, ela tem uma função hoje, utilitarista plena,
vamos dizer assim, ela fica a cargo dos cursos, eu vou explicar esse utilitarista agora
segundo o que eu tenho acompanhado dessa universidade. Bom, a gente sabe que a
prática esportiva junto com a Educação Moral e OSPB surgiram pra contribuir dentro de
um processo ideologizado, pra desmobilizar o movimento estudantil, particularmente na
época da ditadura, essa universidade não poderia ser diferente, mesmo porque ela foi
forjada na época da ditadura, a prática esportiva aqui e todo o parque esportivo, pra você
ter uma idéia o primeiro professor daqui era um capitão, então aí já começa uma história,
essa história, ela também, e sendo coerente com a perspectiva histórica, ela também
está muito presente no curso de EF hoje, porque ela foi . . . porque esse curso que tem
um currículo chamado Frankenstein I, que foi reprovado e que , curiosamente ele é
reprovado depois de se ter contratado alguns professores pra esse curso, ele foi
elaborado por professores dessa linha de práticas esportivas, então, realmente surgiu
um Frankenstein mesmo nesse currículo, até você pode dar uma olhada nisso primeiro,
245
porque eu estudei isso com graduandos, foi um trabalho de monografia do curso, o
segundo acaba surgindo num contexto estranho pra poder consertar o primeiro, com isso
a prática esportiva, ela tem sido utilizada, historicamente, nos dez anos de curso, pra
computar pontos pros critérios de avaliação institucional, e também de forma oportunista,
às vezes, por algum professor que, que . . . oportunista um termo um pouco forte,
porque tudo é oportunismo no capitalismo, mas que tenta fazer alguns laboratórios
fragmentados de um processo mais amplo de discussão, que ainda não aconteceu, vive
na pauta de se ter uma política e tal, é óbvio que a LDB acabou interferindo nesse
processo, mas não houve uma discussão no curso de EF pra tomar as rédeas de
orientação dos demais cursos, porque são os cursos é que oferecem suas disciplinas,
nos seus currículos, o curso de EF simplesmente de uma forma utilitarista, se usa disto
pra aumentar sua carga horária nos departamentos, hoje menos, porque hoje já a coisa
está mais ou menos equalizada, mas principalmente numas épocas iniciais, onde os
professores completavam suas cargas horárias com essas aulas, então como são essas
aulas? Elas são a partir do interesse de cada professor, o professor que dança de
salão oferece até dança de salão, o que tem simpatia por capoeira, eventualmente
oferece capoeira, ou traz alguém pra fazer capoeira, porque a capoeira também é uma. .
. . mas na grande maioria são os esportes que a gente conhece, futebol de salão
predomina, até por conta que a demanda é grande, no populismo pedagógico que se
instaura neste contexto, espaço de mediocridade com os alunos, acaba reproduzindo
aquela miséria que a gente conhece, de soltar a bola, deixar o pessoal jogando,
independente de qual a titulação seja e quem esteja desenvolvendo, é eu tenho, pra
tentar superar isso eu tenho colocado nas minhas aulas prática, eu gosto dessa
disciplina, até como forma, como eu falei Gramscianamente de negar, como ela existe
ela traz a sua negação, então eu proponho, eu faço algumas vivências com os alunos,
pra eles sentirem essas questões e tal e procuro diversificar. Dentro do possível, mas
posso dizer que eu não sou santo também, nessa estrutura que a gente ta, no final, pelo
cansaço, pelo acúmulo de afazeres e tal, você também acaba muitas vezes se . . .
prostituindo eu não diria, mas é . . . (sucumbindo) sucumbindo exatamente a esta, a esta
. . . situação, o que eu quero dizer, como eu tenho algumas vantagens, porque eu
domino tênis e domino voleibol, e basquete, handebol, então eu posso diversificar mais
essa demanda, e . . . isso eu acho um privilégio, porque você não fica, pelo menos, você
não esteriliza, você esteriliza menos os seus conteúdos, e a própria mediação com . .
., trocando idéias com aquilo que você está estudando com os alunos, propondo alguns
textos, como um que eu gosto muito, “como é possível ser esportivo” do Pierre
Bourdieu, dá pra discutir questões importantes e você minimiza um pouco a tua culpa,
mas em nível político tenho sido porta-voz do meu departamento, de que se feche pra
246
balanço urgentemente e que se rediscuta esse papel utilitarista que a prática desportiva
vem tendo dentro do contexto universitário.
Entrevistadora – Que tipo de conhecimento específico você acredita que seria importante pra
uma pessoa que vai atuar com IE? Que fosse atuar nesse campo?
E2 GPF Um conhecimento humanístico muito bom, principalmente aquele que to me
aprofundando agora, que é a teoria histórico-social da formação
do indivíduo, particularmente as categorias marxistas de formação humana, hoje eu . . .
dialogo com o Prof. Nilton Duarte, nos trabalhos dele e, às vezes, pessoalmente, quando
é possível, muito raramente ele tem disponibilidade, mas eu acho que, eu acho que tanto
os psicólogos dos desenvolvimentos russos como a filosofia marxista, do ponto de vista,
no que se refere a produção humana dentro de uma sociedade capitalista, eu acho que
conta de você ter uma base humana pra poder tratar a . . . essa condição de pra que
e pra quem aprender desporto, praticar desporto e compreender o desporto, é isso!
Entrevistadora Além de um conhecimento específico, que perfil deveria ter esse
profissional?
E2 GPF Ah, foi bom você falar, obviamente eu to falando isso como pano de fundo,
conhecer bem o desporto, inclusive, de preferência sentido a esse desporto, eu acho
fundamental, eu não acreditaria num Deus que não soubesse dançar, como diria
Nitsche, então eu não acredito, não posso acreditar muito num professor de voleibol que
não tenha, que não tenha sentido o voleibol na sua plenitude, me desculpem os leigos,
mas não tem jeito, se você vai ensinar voleibol, você até pode ensinar os fundamentos
do voleibol, mas se você sentiu o voleibol, você já ta muito mais próximo da totalidade
humana da qual eu to falando, isso é importante ser colocado, isso eu nem levo em
consideração por isso que eu entrei na questão marxista, mas agora voltando a
pergunta . . .
Entrevistadora – O perfil, o perfil que esse profissional deveria ter?
E2 – GPF – Ah, o perfil tem que ser, tem que ser um perfil, um perfil . . . humano, no sentido
técnico e político, tem que ter competência técnica e compromisso político, tem que ser
um militante, um militante permanente nesse processo de pra que e pra quem é o que eu
to ensinando, né, e com qualidade, eu acho que essa é a grande busca de todos nós, até
no próprio processo de humanização ao qual a gente escolheu EF, que é justamente
porque ela nos essa possibilidade de trabalhar com humano ao mesmo tempo se
humanizando.
Entrevistadora Vamos fazer uma brincadeira assim, se você fosse hoje contratar um
profissional pra atuar com I, com essa . . . quem você contrataria?
E2 GPF Depende da demanda, depende da demanda . . . mas, você quer saber o que,
que característica ele deveria ter? (Sim!) Essas que eu te falei, que pudesse, que tivesse
247
uma inquietação e sendo coerente com aquilo que eu olho pra minha criança, não vendo
o que ela é, mas o vir a ser dela, fundamentalmente eu projetaria a . . . o vir a ser, eu
olharia pelo que ela poderia ser e . . . em segundo lugar, pelo que ela é, . . . agora,
nesse vir a ser, é lógico que teria que ter já elementos do que ela é, que me anunciasse,
dentro das nossas limitações de avaliação, toda avaliação ela é precária por natureza,
limitada, e sendo humano, essa essência do humano, e seria isso, mas é uma pergunta
complicada essa, você me bagunçou a cabeça agora (risos) depende da demanda, eu
acho, é como eu te falei, nós estamos com problema com uma professora que você
colocando, o dilema ético é seguinte - o que é que você tem, o que é possível? Eu não
sei, e dentro disso é complicado, porque os interesses dentro do capitalismo são sempre
. . . predomina a competição sempre, quer dizer, é difícil você tirar essa questão do . . do
. . do oportunismo que ta colocado, do olhar pro próprio umbigo, nós mesmos, é muito
bonito a nossa trajetória toda . . . de unidade, mas depois quando chega o primeiro
concurso não temos mais unidade, que dizer, então, é uma sociedade que . . . dentro
da sociedade o que é possível ser feito? Então se vierem, se eu tiver que avaliar alguém,
ou tiver que conversar com alguém, eu vou perspectivar o . . . quem realmente ta afim
de se engajar nisso tudo que eu te falei, na questão da militância, não militância no
sentido . . . de panfletagem da palavra, militância no sentido de na tua aula, ta sendo
cúmplice, ta sendo . . . de ser um apaixonado pelo que faz, né, eu acho que tem que ter
tesão, sem tesão não solução, Reich eu acho que nesse ponto tem razão,
principalmente na parte socialista do Reich, (...)
OBS.-contextualizar o dia atravessado pelo professor (divergências na coordenação do
curso quanto a um possível concurso)
248
E3 – GPF – TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA
Entrevistadora Bom, eu to aqui conversando com ( . . . ), aqui ( . . . ), professor, antes de
mais nada, pra esclarecer a gente não vai ta utilizando nem o nome da instituição,
nem dos professores, vai ta usando códigos pra ta identificando os sujeitos, ta?!?
Primeira questão seria, o que é esporte pro senhor, como é que o sr definiria o esporte?
E3 - GPF Eu encaro o esporte como uma atividade baseada em regras, regulamentada,
portanto, e, sobretudo, com funções de rendimento, então diferente de outra atividade,
seriam dois pressupostos, as regras de cada um deles e a busca por melhoria de
rendimentos nessa atividade proposta.
Entrevistadora – Dentro do, no âmbito esportivo, o que seria a IE?
E3 - GPF – Eu vejo a IE nas diferentes modalidades como uma preparação para a obtenção
dos melhores rendimentos possíveis em cada uma das idades, então, encaro a I como
alguns pressupostos que vão sendo . . . apresentados a medida que são dominados os
movimentos, se avançam nessas solicitações, em movimentos mais difíceis, todos eles
construídos; voltando a questão anterior, com base nas regras de cada uma das
modalidades, nos melhores rendimentos possíveis de ser executados em cada uma das
faixas etárias de acordo com aquilo que vai sendo aprendido.
Entrevistadora É, o senhor estipularia assim, o sr falou das faixas etárias, que faixa etária
abrangeria a IE, como é que o sr chega a essa denominação?
E3 - GPF Conforme a modalidade que se vai ter um foco maior para aquela I é mais ou
menos a idade que se inicia, exemplo, natação, a I é mais precoce, no tocante as idades,
a ginástica, as duas, tanto a olímpica, artística, quanto a GRD, também tem I anterior e
depois a maioria das outras modalidades são um processo de I mesmo se dá, no
masculino, por volta dos dez, doze anos e no feminino por volta dos dez anos, pelo
menos essa é a experiência que eu tenho.
Entrevistadora Aqui na ( . . .) existem os professores de disciplinas práticas, de disciplinas
esportivas, como é que é o sistema aqui da Universidade?
E3 - GPF Aqui nós estamos mudando de currículo agora, pra 2006 nós temos a
implantação de um novo currículo, com eixos transversais entre as disciplinas, no
entanto, até então, as nossas disciplinas, elas tinham no início, nos dois primeiros anos,
um caráter mais pedagógico, então apresentar questões pedagógicas do ponto de vista
de atividades lúdicas, dentro de cada uma das modalidades, quer seja basquete, vôlei,
futebol, natação, atletismo, então a . . . o ponto central era “atividades lúdicas”, que
levassem ao aprendizado daquela modalidade, relacionando os seus fundamentos, e
depois, à frente, esse aluno vai ter um aprofundamento nas mesmas disciplinas, que
249
daí ele fez a opção pra bacharelado ou licenciatura, se ele for pra bacharelado, então,
nas modalidades desportivas, ele vai ter um aprofundamento, que seria o treinamento
daquelas modalidades, se ele for pra licenciatura, já não, ficou as atividades lúdicas que
foram enfatizadas . . . sobretudo, primeiro e segundo ano e depois ele vai ficando mais
pras questões pedagógicas, próprias da licenciatura.
Entrevistadora – Só por curiosidade, e pro currículo novo?
E3 - GPF – Pro currículo novo, a gente fez alguns eixos transversais, continuam os enfoques
iniciais na questão pedagógica, mas não com a mesma determinação de antes, então
ela vai aparecer ainda, aparece ainda as disciplinas de modalidades, futebol, basquete,
vôlei e dentro daí, no conteúdo programático, uma parte, vai ter um enfoque mais de
aprendizagem mesmo, na questão lúdica, voltada mesmo pra parte pedagógica e depois,
na questão posterior, dentro do mesmo conteúdo programático, situações mais voltadas
pro treinamento esportivo, então, a gente vai ter também, porque nes . . ., hoje, no
currículo que nós estamos terminando essas disciplinas pedagógicas tem, tem dois
créditos de valor cada uma delas, nas disciplinas que vem a frente serão quatro créditos,
então a situação vai se assemelhar, ou seja, juntou um pouco de treinamento e um
pouco de pedagógica, né, numa disciplina só, que fez um eixo que vem caminhando
também, quem pretender pra treinamento ou quem não pretender, que for ter um
enfoque maior, vai continuar em licenciatura, no entanto, a titulação que vai ser obtida
com esse novo currículo, vai ser graduado em EF, então não tem modalidades –
bacharelado e licenciatura, é graduado em Educação Física.
Entrevistadora – Que tipo de conhecimento específico o sr acredita que seria necessário pra
esse profissional que vai atuar com IE?
E3 - GPF – A tendência nossa, aqui Unicamp, eu concordo com ela, é que esse profissional
tenha conhecimentos sobre aprendizagem motora, crescimento e desenvolvimento,
crescimento físico e desenvolvimento motor e depois ele entra aí com as especificidades
das modalidades esportivas, mas com base nessas duas situações, que ele saiba . . .
como que se dá o processo de aprendizagem motora, ou vamos dizer assim, o processo
ensino “hífem” aprendizagem, né, porque um puxa o outro, não há, não são duas
palavras distintas e também, agora esse ensino-aprendizagem como que se dá ao longo
da . . . do avanço de idade, então seria assim, olhar, de acordo com as faixas etárias
como é que a gente vai trabalhando com essa . . . dualidade de ensino-aprendizagem,
não dualidade de um contra o outro, mas na situação do ir e vir que é próprio dessas
duas palavras, eu penso que esse currículo novo ta apontando bastante pra essa
situação, ainda . . . é óbvio, que ainda a gente não tem a aplicação disto, mas pelo
menos nas discussões que tivemos até então, o apontamento é pra isso, então a
250
sustentação é . . . biológica e com enfoque no tocante a aprendizagem motora, né, então
a questão também do ambiente interagindo aí nessa evolão biológica.
Entrevistadora – Com relação às disciplinas de humanas . . .
E3 - GPF Elas . . . elas . . . eu . . , veja bem, a minha formação é mais do ponto de vista
biológico e do rendimento esportivo, então eu falo mais nessa, mas não quer dizer que
eu to deixando de lado as humanas, não, as humanas entram nesse contexto, também
existe um eixo transversal, iniciando no primeiro ano, que vai se findar no último
ano desse aluno, né, também com um enfoque nas disciplinas de humanas, bem como,
nas pedagógicas também, evidentemente, eu to dizendo mais do eixo do ponto de vista
biológico, com interação na aprendizagem motora.
Entrevistadora Qual seria o perfil profissional que deveria ter essa pessoa que vai atuar
com IE, além desses conhecimentos específicos que a gente falou nessa questão
anterior? Que outras . . . comportamento, atitude, que deveria passar por esse perfil
dessa pessoa?
E3 - GPF Na linha nossa da atividade sica voltada pra rendimento, então o perfil que ele
seja, que ele tenha uma vivência durante esse transcurso de quatro anos aqui conosco,
o mais próximo possível daquelas modalidades que ele queira se envolver, quer seja
olhando pras modalidades ou se olharmos pro treinamento esportivo como uma
presença dentro de qualquer que seja a modalidade, que ele tenha uma proximidade
com isso, então é isso que ta apontando esse novo currículo, então, ou seja, nos vamos
buscar situações que a gente tenha uma participação desse aluno junto a determinados
locais onde essa pratica de I seja realmente implementada, porque nós não temos aqui
dentro da EF da Unicamp, como se fosse aqui uma escola de aplicação, existe uma
intenção também, então daí nos vamos fazer uma junção com a extensão, né, com a
graduação e a extensão atuando juntas em disciplinas que a gente chamaria de
disciplinas de prestação de serviços, onde a gente traria pra o garoto ou a menina e
entraria no processo de I com a participação então desses alunos, cumprindo essas
disciplinas e com a atuação do professor ministrando essas atividades, então seria uma
maneira, é uma maneira que nos estamos enfocando, então deve vir já pro segundo ano
desse currículo, os professores propondo disciplinas de prestação de serviços através da
coordenadoria de extensão, onde a gente abre as turmas, existe a agrega . . . ,
existirão aí as agregações mediante inscrição dessas crianças, qualquer que seja o sexo
e nas diferentes modalidades e a junção disso com os alunos da graduação, cumprindo
os seus créditos necessários e também créditos atribuídos a essas disciplinas, que
nós chamamos aqui de disciplinas de prestação de serviços.
Entrevistadora Então, seria . . . digamos assim, uma experiência, próxima daquela
modalidade que ele vai ta atuando. (Isso!) Mais alguma característica . . . pra esse
251
profissional, específica assim pra . . . pra . . . fora desse . . . digamos assim, que o
senhor colocou dois aspectos, o conhecimento específico acadêmico, técnico e uma
questão da experiência prática, mais alguma característica deveria ter esse profissional,
pra traçar um perfil dele?
E3 - GPF – É um pouco difícil, o que a gente tem observado historicamente, que muitos dos
que vão atuar, sobretudo em treinamento esportivo,vêm pra universidade com alguma
formação, ou com alguma passagem em alguma modalidade, eu particularmente,
identifico isso como um elemento facilitador, mas não como um elemento determinante,
é um facilitador do processo, por ex, ele teve contato com o atletismo no seu tempo aí de
escola, ou em algum clube, em alguma outra atividade, isso é um elemento facilitador
pra ele, teve contato, nós temos aqui exemplos de muitos dos nossos alunos com
contato com o voleibol, por ex, evidentemente que ele vai se encaminhar pro voleibol e aí
ele tem um elemento facilitador, agora o contrário também, eu não assumo o contrário,
né, vamos supor, quem não teve, tem elemento dificultador? Não. Eu penso que a
sistemática que nós estamos ofertando nessa matriz curricular é suficiente pra dar uma
boa formação, agora esse aluno é que vai ter que ir buscando abrir os seus espaços
futuramente, assim que ele for um egresso da nossa faculdade.
Entrevistadora Agora, imagina que o sr fosse hoje contratar um profissional que, pra atuar
na I, que profissional seria esse que o sr contrataria?
E3 - GPF É, eu vou ter que repetir o que eu falei, um profissional que tenha, que eu
observe aí, ou no seu currículo, ou pelo menos uma proximidade comigo, ou uma outra
forma de eu observar que tenha essa formação, que conheça sobre o processo
biológico, de crescimento e desenvolvimento motor e que conheça sobre aprendizagem
motora, então isso seria pra mim dois pontos importantes de serem observados e depois
evidentemente, repetindo, se ele tiver elemento facilitador na sua vida, se ele
participou da modalidade ele vai ter um algo a mais, quer dizer, a gente vai ter uma
situação de buscar exemplos mais fáceis, então seria um profissional que normalmente,
se eu tivesse que contratar alguém, eu estaria olhando nessas, nessa situação.
Entrevistadora – Agradecimentos.
252
E4 – GPF / TRANCRIÇÃO DA ENTREVISTA
Entrevistadora - Eu to conversando hoje com ( . . .), aqui na ( . . . ). ( . . . ) antes de mais
nada, eu gosto de deixar claro que a gente não vai ta utilizando o nome dos professores
nem da instituição, vamos estar utilizando códigos pra evitar . . . alguma . . . então, a
primeira questão seria, o que é esporte pro senhor, como o sr definiria o esporte?
E4 - GPF Bom, fundamentalmente uma prática, eu particularmente nem uso o termo
esporte, eu acho que o termo esporte ele ta em . . . na minha opinião, ele está defasado,
eu vejo o seguinte, foi uma luta, uma luta grande pra conseguir que o desporto, o
desporto fosse incluído no texto constitucional e eu fiz uma análise quando eu estava
ainda no Paraná, 88 por aí, quando saiu o texto constitucional, de várias constituições,
do mundo todo, e a gente verificou que um dos textos mais . . . bem elaborados sobre o
desporto é o do Brasil, e o Brasil inclusive, é a Constituição que tem o maior número de
linhas dedicadas ao desporto, e ta muito claro o que é o desporto, e é um dever do
estado fomentar o desporto, ta escrito, nas suas diferentes manifestações, e essas
manifestações que estão resguardadas fala, em deporto educacional, quer dizer, não
que outras formas de desporto não sejam educacionais, mas é que tem um desporto,
especialmente no sistema formal, educacional, que deve ter prioridades com educação,
não com educação, na minha maneira de entender, deve ter prioridade também com
a saúde, educação para a saúde principalmente, na minha maneira de entender, acho
que a sociedade espera isso da gente, existe um desporto de desempenho, de
rendimento, de competição, e existe um desporto de participação, são aquelas pessoas
que não tem uma habilidade especial, uma capacidade especial pra nenhum tipo de
desporto competitivo, ainda que a tenha, que tem essa capacidade, não quiseram seguir
pro desporto de competição, e é um direito de todos, ou seja, eu achei fundamental que
em 1988, a Constituição Brasileira através de seus representantes, nós tínhamos
representante lá, garantiu na constituição o direito do cidadão de acesso ao desporto,
então me parece que quando eu falo desporto dentro da Unicamp, é uma palavra nova,
não conhecida, mas não sou eu que to inventando, ta na constituição e tudo que ta fora
da constituição pra mim, é inconstitucional.
Entrevistadora – Então, o que seria o Desporto?
E4 - GPF Eu disse pra você, uma prática, é uma prática, essencialmente uma prática,
onde você vai desenvolver uma cultura de movimento, cultura física, em diferentes
manifestações, que eu já expliquei quais são, então, isso é desporto pra mim.
Entrevistadora – Bom, no âmbito então, na sua posição, do desporto, o que seria a I . . . , eu
vou utilizar o termo que eu tenho utilizado aqui, IE, dentro desse, desse seu, dessa sua
definição do desporto, o que seria a IE?
253
E4 - GPF Olha, na verdade, eu divido o processo de formação desportiva, eu divido em
etapas ou fases, se a gente quiser, e aliás não sou eu quem divide, quem divide essa,
essas etapas são todos aqueles países bem sucedidos esportivamente, ou seja, que
tornou o desporto uma coisa acessível às pessoas e que tem um desporto de
competição também bem organizado, e que tem uma estrutura escolar bem organizada,
pode ser exemplo, a China hoje, um excelente exemplo, evidentemente que a China
copiou, ou se motivou, ou se orientou pelas diretrizes da, da antiga União Soviética,
porque as crianças começam com a atividade física a partir dos seis anos e são
encaminhadas ou pra uma cultura física, que é uma coisa geral, um conhecimento amplo
do desporto, onde eles têm oportunidade de conhecer, de vivenciar, até por volta dos 13
anos, cerca de 48 tipos de desporto diferente um do outro, propiciando o que a gente
chama de um processo multifacetado de vivências esportivas amplas, que vai dar a
ele a possibilidade, se quiser, optar, se descobrir algum potencial, caminhar pra um
determinado tipo de desporto, afinal de contas, com 48 tipos de desporto, é impossível
que você não encontre nenhum que você tenha alguma aptidão, coisa muito restrita na
nossa . . . na nossa organização ou na nossa desorganização, onde as pessoas têm
pouco acesso a prática, ou seja, a educação física escolar não propicia isso, então eu to
falando pra você de uma etapa inicial que eu chamo de preparação preliminar, essa
preparação preliminar consiste então em oportunizar o conhecimento, vivências,
vivências motoras, tem coisas embutidas, afetivas, lógico que tem, quando eu to falando
em desporto eu to dando essa abrangência, porque o desporto que eu vivenciei, o
desporto de competição, eu cheguei até a Seleção Brasileira de Atletismo, ele foi rico
nisso, em sociabilizão, em cooperação, em co-gestão, em co-responsabilidade, que
são princípios da Carta Brasileira de Desporto Escolar, que eu acredito que ainda vigora,
então eu acredito muito nessa formação preliminar, eu acho que isso é uma maneira de
introdução, é uma maneira de iniciação, é uma maneira das pessoas, dos jovens, dos
escolares, principalmente escolares, e isso poderia ser levado ao não formal também,
nas vilas, aqueles meninos que não tem acesso, mas eu to partindo do pressuposto que
as crianças obrigatoriamente deveriam estar na escola, quer dizer, eu não admito que
uma criança não esteja na escola, e a escola cuidaria disso aí, evidentemente com
valorização, com vontade política, recursos eu não acredito que nem seja o problema, eu
acho que é uma questão mesmo de vontade política e de motivação, né, e de cobrança
também, óbvio, então, essa etapa preliminar, ela criaria a possibilidade de vivências
múltiplas, variadas, diversificas, contribuindo dessa forma, com o desenvolvimento do
cidadão, com o desenvolvimento da saúde, com a integração das pessoas, enfim, eu
acho que tem objetivos bastante amplos, através do desporto, desporto que é
conhecido, que ta divulgado, que a televisão mostra, e que as crianças apresentam uma
254
motivação pra isso, né, não acredito que precisa modificar grandes coisas, eu acredito
que tem que orientar a forma do desenvolvimento das atividades, gostaria de ver mesmo
a . . . a cultura desportiva dentro da escola desde, acredito eu, a partir de seis anos de
idade, cinco, seis anos eu acho que já é possível a gente conseguir desenvolver esses
valores, isso tudo continuando, eu imagino que até por volta de treze anos, com essa
vivência ampla, tal, eu acho que sim, vem uma fase que, com essa cultura toda eu
posso estar optando por alguma coisa, se é o caso, se gostar, senão, né, eu também
acho que pode aos finais de semana eu jogar badminton, o outro pode correr, o outro
pode andar de bicicleta, não importa, mas se a pessoa se descobriu, se percebeu que
tem uma aptidão pra determinada coisa, eu também vejo que aí sim nós vamos começar
fazer . . . falar em I desportiva, então eu entendo que a I, ela se destina a uma coisa só;
dentro da preparação preliminar, você vai adquirir vivências múltiplas, a I ela já começa a
partir do momento que as pessoas começam a mostrar uma aptidão, um desejo de
vivenciar determinados tipos de modalidades, pode ser uma modalidade individual, pode
ser uma modalidade complexa, luta, pode ser um desporto coletivo, eu acho que não
tem problema nenhum, eu acho que a pessoa deveria passar por esse estágio de . . . de
. . . que você ta chamando de I, ela poderia passar aí, dois três anos, eu não acho que a
coisa é até cronológica, porque eu acredito mesmo que tem adolescentes que atropelam
qualquer tentativa de você colocar faixa etária como limite, mas é . . . a faixa etária
continua sendo uma boa orientação, e a partir dali eu vejo uma necessidade de uma
especialização aprofundada, se a pessoa desejar evoluir dentro de um campo de
desempenho, porém, não é essa a questão, eu acho que poucas pessoas vão ter uma
aptidão pra caminhar pra determinado tipo de desporto, especialmente no nosso, no
nosso país, onde as oportunidades de práticas, elas são muito restritas, no país onde
você adquiriu 48 práticas, eu acho que a chance de você gostar, se envolver, se motivar
pra uma determinada . . .dessas práticas, eu acho que é . . . a perspectiva de você ter
gente interessada por isso é muito maior do que no nosso, no nosso ambiente, onde
talvez, se for somar a quantidade de experiências, não passa de cinco, seis tipos de
desporto, então, obviamente isso restringe muito, e é muito difícil uma pessoa com cinco,
seis desportos, descobrir algo que tem a ver com ela, né, então, basicamente I pra mim é
isso aí, é um processo que vem , é uma etapa que vem a posteriori de um momento de
preparação preliminar, que caberia na nossa, na minha maneira de entender, no primeiro
grau, primeiro grau faria essa preparação preliminar, e as primeiras séries do segundo
grau, eu to meio desatualizado com essa terminologia, 5ª, 6ª série até ali, 7ª série, da pra
esse trabalho mais . . . é . . . global e a partir daí eu vejo assim, a importância de
começar a se estabelecer alguns caminhos, e se, é lógico que também não deveria ser
dentro da escola um projeto especializado, eu acho que isso daí deveria ter centros de
255
práticas, seja municipal, seja estadual, seja até federal, poderia pensar que governo que
construiria os centros de prática, uma prática mais especializada, então, eu acho que
não compete a escola fazer esse tipo de especialização, alguns tipos de experiência
realizados no passado, eu acho que foram bons, que eram aulas de treinamento,
específica tal, talvez a escola possa suprir a carência que a gente tem de uma estrutura
mais abrangente de desenvolvimento esportivo, eu acho que a escola, ela cabe fazer
essa coisa mais global, essas gerências mais amplas etc, e se tiver um local, por ex,
seja uma escolinha do município, patrocinada pela prefeitura, ou ainda, dentro de uma
empresa, se uma empresa quiser, se interessar por isso, eu vejo a possibilidade das
coisas estarem encaminhando.
Entrevistadora Então, na sua opinião, até 5ª, série trabalharia essa, no âmbito, mais
global e, aí, a partir daí uma especialização, digamos assim, e essa fase global, você
visualiza ela na escola, seria na escola e também em outras entidades e a específica
mais fora da escola, digamos assim?
E4 - GPF – É, exatamente, eu acho que, partindo do pressuposto de que as crianças
deveriam estar na escola, e que a atividade física, a EF fosse valorizada dentro da
escola, né, eu acho que o problema estaria de uma certa forma resolvido, porque o
acesso aconteceria naturalmente, eu não to dizendo que hoje, nessas condições atuais
está acontecendo, pode ser que tenha gente fazendo uma vez por semana, duas vezes
por semana, eu vejo que isso é muito pouco para desenvolver essa tal consciência
para a atividade, até porque a gente, essa cultura nossa ela é muito pobre, algum
município talvez se tenha uma cultura, mas por iniciativa isolada de um professor ou
outro, né, mas a gente não tem conseguido assegurar, até porque tem atestado médico,
tem dispensa de aula, não existe uma rigorosidade nos exames médicos, muitas vezes
até a atividade física seria até recomendada e por uma questão de . . . facilidades, o
médico acaba, de relacionamento com a família, acaba dispensando e os professores de
uma certa forma fogem dessa responsabilidade, porque Ah, então é um a menos pra
ficar na sala me perturbando, então eu vejo que isso teria que ter assim, atitudes
globais, de, de . . . de grupos multidisciplinares, eu acredito que hoje, raramente, algum
tipo de problema, seja cardíaco, seja articular, seja de qualquer natureza, impede todos
os tipos de atividade física, eu acho que ao contrário, as vezes poderia estar sendo
orientado pra uma caminhada, poderia ta sendo orientado pra uma atividade cardio-
respiratória, poderia ta sendo orientado pra uma atividade aquática, né, é lógico que aí,
isso implica em colocar a escola em condições, ter um local coberto, inclusive com
piscina, eu não vejo nada de tão complicado assim, na verdade o que eu vejo é que não
existe uma vontade política pra investir na EF enquanto saúde, como vivência motora,
como formação do cidadão, como a gente pode imaginar, se você pegar esses países,
256
como eu citei, antiga União Soviética e hoje a China, a China hoje tem trezentos e
cinqüenta milhões de crianças envolvidas num sistema de EF sério, onde eles começam
aos seis anos com uma prática de três horas semanais de atividade física e aos treze
anos eles tão fazendo atividade física todo dia, duas horas por dia, então, quer dizer,
num sistema desse, com seriedade, se consegue resultado, e a questão não é de
recurso, a gente sabe que não é, nesse país aqui os recursos estão sobrando, na
verdade, né, tão sendo mandados pra fora aí, recursos incríveis, a questão é um
pequeno compromisso com essa questão que a gente discute, e nenhum presidente,
com educação ou sem educão, como é o caso, né, de não ter trilhado o ensino
superior, no passado também trilhou o ensino superior outros presidentes e nenhum
teve esse tipo de abrangência, então é, é uma . . . uma questão que nosso
congressistas, nossos deputados ainda não estão . . . bem cientes, bem conscientes da
importância disso, ou seja, não se deu valor pra essas questões.
Entrevistadora – Deixa . . . aqui na ( . . . ), no caso, a sua instituição, como é que funcionam
as disciplinas práticas, pra . . . na graduação? Qual que é o sistema, . . .
E4 - GPF Bom, nem todas as disciplinas são práticas, tem disciplinais de cunho teórico e
disciplinas de cunho teórico-prático, então, como que funciona, é o seguinte, por ex, eu
vou dar como exemplo nas minhas disciplinas, eu tenho duas disciplinas básicas, é o
atletismo e o treinamento desportivo, todas elas têm uma carga horária de sala, onde eu
desenvolvo conceitos teóricos e depois aplicação prática, e eu exijo bastante dos meus
alunos nesse sentido, não a cobrança de performance, óbvio, mas também a
performance, quer dizer, meus alunos tem provas onde eu avalio a . . . não o recorde
mundial, mas eu avalio a capacidade deles de passar uma barreira, de executar um salto
em altura, de fazer uma troca de bastão, lógico que isso aí também tem que ser cuidado,
porque depois ele vai ter que ensinar, pra ensinar precisa saber fazer, eu não acredito
que uma pessoa com o estudo de um livro ele vai conseguir ensinar as coisas, eu
acho que é fundamental que se vivencie, que tenha uma carga horária destinado a estas
vivências, é sempre com incentivo, com motivação, não com cobrança necessariamente,
aquela cobrança exagerada, exacerbada, mas também com cobrança, porque eu
acredito que os alunos da EF quando eles tem uma avaliação sobre uma prática, eles
também vão se interessar em períodos extras escolares e lá se preparar pra uma
avaliação que vai fazer, isso não é diferente em outros locais, eu fui fazer curso na
Espanha, eu fui na França, já fui na Alemanha, e o professor de cama elástica da
Alemanha, ele é campeão mundial de cama elástica, então obviamente ele cobrava um
desempenho dos alunos muito maior do que eu cobraria se fosse ensinar cama elástica,
que não sei fazer as coisas, então, a . . . essas disciplinas, elas propiciam a oportunidade
da vivência, e em algumas situações a oportunidade também do ensinar, e daí como é
257
que nós fazemos? Evidentemente que eu não tenho aqui um colégio de aplicação, mas
eu tenho a possibilidade de . . . por ex., um grupo de alunos vai ensinar salto em
distância, os outros alunos vão trabalhar como se fossem alunos do meu aluno, ou seja,
ele vai ensinar e eu também vou fazer uma avaliação, ou seja, hoje a Unicamp, ela tem
uma estrutura muito diferente de algum tempo, quando eu cheguei aqui, treze anos,
quando eu cheguei aqui, hoje a Unicamp ela tem ensino, ela tem pesquisa e ela tem
extensão, quando existia a obrigatoriedade da EF aqui na Unicamp, nos atendíamos
cerca de 800 universitários, hoje, nós temos os projetos de extensão, é . . . temos mais
de trinta projetos, acredito, se somarmos aí todas as modalidades ofertadas, e nós temos
quase três mil alunos fazendo atividade física aqui, quer dizer, e não é obrigado, o aluno
paga pra fazer, então, quer dizer, isso é um bom sintoma, é um bom sintoma, e a
tendência, provavelmente outros professores aí especialmente ligados a . . . aos projetos
de extensão, a coordenação de extensão podem dar com mais detalhes, mas o que se
percebe é uma evolução vertiginosa, eu comecei com uma salinha de musculação com
trinta alunos, hoje eu tenho trezentos e tenho uma lista de espera de trezentos, isso quer
dizer o que? Que daqui a dois anos e meio, três, quando o nosso ginásio de esportes
ficar pronto, que tem uma área de trezentos e quarenta metros destinada a sala de
musculação, fatalmente nós vamos ter aqui quinhentas, seiscentas pessoas passando
pela sala e . . . cuidando, cuidando do seu corpo, do seu físico, melhorando o seu
condicionamento, integrando com pessoas, enfim, cada um vai fazer a sua maneira,
mas . . . é uma realidade, hoje o aluno vivencia tudo isso, ele passa nos corredores
aula de capoeira, aula de kung fu, aula de tae ken do, aula de tai chi chuan, ele
body pump, ele vê musculação, ele vê condicionamento físico, coisas que outrora não
era tão abrangente, ele tem hoje uma formação teórica muito sólida, acredito eu, pelo
corpo docente que a Unicamp tem hoje, nós temos cerca de trinta e seis doutores,
quando eu cheguei aqui eram cinqüenta e dois, evidentemente que houve uma
defasagem no corpo docente, mas todos são doutores, concurso hoje pra doutores,
ele tem a toda hora envolvimento com defesas de mestrado, defesas de doutorado,
concurso de professores, eu acho que é um ambiente totalmente propicio pra ensino, pra
pesquisa e pra extensão.
Entrevistadora Professor, qual o, qual seria o tipo de conhecimento específico que o
profissional que vai atuar com IE deveria ter, na sua opinião?
E4 - GPF – Bom, eu to entendendo que I ainda não se trata de um processo específico.
Entrevistadora – É, dentro da sua visão, dentro da sua definição de IE.
E4 - GPF – É, eu to entendendo o seguinte, que o profissional que vai atuar na etapa que eu
chamei de especializão inicial, ela não é uma especialização aprofundada, esse sim, já
precisa ter alguns conhecimentos técnicos dentro de uma determinada modalidade,
258
porém, eu ainda acredito que, nesse instante, da especialização inicial que todos
chamam de iniciação, porque ainda eu não to vendo a possibilidade do menino ficar no
basquetebol, eu acho que ele tem que passar por ainda vivências em diferentes
desportos, preferencialmente desportos que propiciam vivências diferenciadas, eu acho
que muitas vezes o menino, pedalar longa distancia, correr longa distância ou nadar
longa distância, no fundo não são coisas diferentes, no fundo você ta trabalhando sobre
o mesmo sistema - cardio-respiratório, isso não garante uma formação multifacetada, eu
acho que multifacetada é trabalhar desportos que tenha essa característica, por ex,
Ginástica Olímpica, sempre ta continuando, ta permeando nosso processo, eu acredito
que a natação tem que ta permeando nosso processo, o atletismo tem que ta permeando
o processo, e aí sim, uma luta, que eu acho que é fundamental na formação, é . . . uma .
. .um desporto complexo, seja futebol, seja basquetebol, essas questões espaciais,
temporais, que são importantes também, porque o atletismo não vai te propiciar isso daí,
e, ou seja, cada desporto tema sua restrição, então eu acho que neste momento o
professor não deve ter uma formação super especializada, eu acho que ele deve sim, ter
um nível de conhecimento em uma especialidade, mas ele deve incentivar que os alunos
continuem as vivências em outros tipos de desporto, acho ainda que esse professor que
vai pensar numa formação, uma especialização inicial, ele . . . (interrupção)
E4 - GPF – (retomando) Eu falei que nesse momento inicial ele não deve, ele deve ter um .. .
um domínio de um assunto, mas ele deve ter ainda uma formação mais global, isso é o
que eu penso, eu acho que na especialização mais aprofundada, tudo bem, e aí, surgem
outros tipos de problemas.
Entrevistadora – É . . . teria assim, alguma disciplina ou disciplinas, conteúdos, que seriam . .
. (Lógico!!) que dariam essa preparação pra ele?
E4 - GPF – Você diz na estrutura da escola, faculdade, como que ela daria . . . (Isso!). Bom,
eu acredito em algumas coisas. Olha, eu entendo o seguinte, tem algumas disciplinas,
que nesse caso, pra esse profissional elas seriam importantes, eu acho que por ex,
crescimento e desenvolvimento é uma necessidade bastante grande, eu acho que o
treinamento, nós temos aqui na Unicamp um sistema muito legal dentro da disciplina de
treinamento, quando nós fomos estudar a reformulação curricular agora, a gente reuniu
um . . . um trabalho longitudinal para a disciplina, ou seja, existe uma primeira disciplina
que é o treinamento na perspectiva do crescimento e desenvolvimento, ou seja, você
não ta na verdade visando o desempenho de alto rendimento, na verdade você ta
preocupado com o desenvolvimento desportivo, mas considerando que desde uma
amarelinha, que os pedagogos não sabem disso, uma amarelinha tem um impacto
articular que chega a somar quatro, cinco vezes o peso do corpo, a amarelinha é um dos
trabalhos, que se não for bem orientado, ela é altamente lesiva, muito mais lesiva do que
259
um agachamento de quatrocentos quilos pra um atleta de alto nível, porque o atleta de
alto nível está devidamente preparado pra sustentá-lo, e as vezes, uma amarelinha, ela
acaba, as vezes, descalço, ou ainda com tênis de péssima qualidade, num concreto,
num Paviflex, o impacto é muito violento, né, então a . . eu acredito que essa noção de
crescimento, desenvolvimento, de . . . fisiologia, uma fisiologia que teria que falar
também pra uma criança, eu acho que se você vai falar em esforços aeróbios,
anaeróbios, também teria que ta bem definido que, de repente, a criança não tem ainda
uma, um desenvolvimento pra suportar coisas glicolíticas, eu acho que essas noções são
bastante interessantes, agora, lógico que as disciplinas relacionadas ao aspecto mais
humano, de relação humana, de afetividade, eu acho que todos esses aspectos são, são
relevantes, eu acho que eu tenho que pensar na formação de um professor, eu acho que
pensando na formação de um professor, não tem como ele não dispor de todas essas
disciplinas de curso, de cunho pedagógico, de cunho fisiológico e até biomecânico, como
a gente ta vendo, se a gente ta falando em impacto articular, a gente tem que ter uma
idéia de biomecânica, e o aspecto metodológico, de seqüenciamento, de evolução de
carga, de volume, de intensidade, quantidade de repetições, as pausas de recuperação,
eu acho que tudo isso é importante numa aula, porque queira ou não queira, quando
você ta passando por baixo de uma corda, brincando, é . . . um coração ta batendo, a
respiração ta ativada, o metabolismo pode ser um metabolismo ATP, mas você pode ta
estimulando a glicólise anaeróbia, ou pode ainda ta fazendo uma brincadeira com
objetivos aeróbios, eu acho que essas noções elas são peculiares e o professor deve ter
essa formação global, esse profissional que faz essa parte de I, que a gente ta
chamando de especialização inicial, ele deve ter essa formação ainda ampla pra depois ,
num momento sim, eu acho que num momento subseqüente, que eu to chamando de
especialização aprofundada, a coisa vai tomando um rumo diferente, por ex, eu sinto
assim especialmente pela minha área que é atletismo, que se poderia nessa fase inicial,
você conhecer de salto, conhecer de arremessos, conhecer de corrida, conhecer de
lançamentos, mas eu acho que na especialização aprofundada, tem que a coisa
começar a ser estabelecida por grupos de provas, porque não adianta você querer que
um professor de saltos ensine arremesso, que . . . eu acho que grupos de provas, então
por ex, saltos,ele trabalharia o salto em altura, o salto com vara, o salto em distância, o
salto triplo, porque já na maestria, que eu chamo de maestria, que é uma já, um
momento subseqüente à especialização aprofundada, eu vejo que você tem que ter
um perfil de profissional totalmente diferenciado, eu treinei dois campeões brasileiros,
um de lançamento de dardo, um de lançamento de martelo, tive que estudar as duas
provas, depois de muitos anos de experiência com a atletismo e fazendo clínica geral,
quando essas pessoas vieram treinar comigo, uma que foi quinta no mundo em
260
lançamento de dardo, quer dizer, eu tenho que estudar dardo, dardo é uma, é uma
concepção tão apropriada que . . . depois pra eu, quando pego, alguns anos depois um
lançador de martelos, não tem nada a ver, como não tem nada a ver o disco, não tem
nada a ver . . . entendeu? Com peso, então aí eu acho que é mais sofisticada a questão,
o Brasil não chegou nesse ponto de sofisticação ainda, nós temos treinador de salto,
treinador de corrida, treinador de . . . corrida é tudo uma diferente, 110 com barreiras é
diferente de 100 com barreiras, 100 m é diferente de 200, são treinamentos diferentes,
são até conflitantes sob o ponto de vista de organização de carga, então eu acho que
cada profissional viria na seqüência com um nível de aprofundamento que o momento
exige, essas peculiaridades, ainda a gente não ta respeitando, ainda um curso de
especialização no Brasil, ele ainda é muito generalista, faz uma especialização em
treinamento, é um absurdo, porque treinamento de natação é diferente de treinamento
de hóquei sobre patins, mas a gente ta vivendo um momento que as confederações que
poderiam dar seus cursos peculiares, elas não têm ainda uma ação ativa nesse sentido,
a não ser com raras exceções, como é o caso da Confederação Brasileira de Voleibol, a
Confederação Brasileira de Atletismo, que tem cursos até de Técnico de nível I,
Técnico de nível II, Técnico de nível III e assim que vai ter que funcionar mesmo, agora a
faculdade de EF não conta disso, a faculdade de EF, ela conta na minha maneira
de entender, de uma formação generalista, ela num vai expressar esse tipo de coisa, e
nem é minha intenção chegar ao que eu to chamando de especialização aprofundada e
maestria desportiva, eu to no campo, sinto que a nossa faculdade da compra da
preparação preliminar e da especialização inicial, ela, talvez agora, ultimamente,como a
gente tem essa sistemática de . . . tem uma disciplina chamada Treinamento na
Perspectiva do Crescimento, Iniciação ao Treinamento e o Treinamento no Desporto, eu
conta da especialização aprofundada, mas assim mesmo, com deficiências, então
é por aí que eu vejo.
Entrevistadora – Na sua . . . qual que seria o perfil profissional pra essa pessoa que vai atuar
com I, fora esses conhecimentos específicos, que tipo de atitude, comportamento, essa
pessoa deveria ter?
E4 - GPF Olha, eu sinto que o profissional, independente da faixa que ele atua, ele tem
que ter alguns valores, alguns valores que são peculiaridades de todas as etapas, por
ex, hoje, é indiscutível que o Bernardinho, ele é um der de grupo, ele tem uma
ascendência sobre o grupo, e eu sinto que o grupo trabalha bem com essa ascendência,
ou seja, eu tenho a impressão que ele comanda de uma forte quando precisa ser
comandado e ao mesmo tempo ele deve ser uma pessoa muito afetuosa, afetiva, né,
(Afetuosa!) afetuosa, ele deve, ele deve . . . ser um bom companheiro, um pai, um
amigo, pras dificuldades, porque todo mundo aquele momento de crise, seja com
261
esposa, seja em casa, tal, e eu acho que ele deve trabalhar bem essas questões
também, talvez nem fosse função, se você tivesse assim um trabalho multidisciplinar,
talvez pudesse ficar até pra uma outra pessoa com uma formação específica, um
psicólogo, alguma coisa assim, mas esse profissional ainda não está engajado dentro de
uma proposta, até porque a psicologia nossa ela é clínica, ela não forma o profissional
pra trabalhar dentro do desporto, ela normalmente ela tem um outro tipo de orientação,
então, eu acredito que o preparador sico, o preparador sico e o técnico, eles acabam
tendo um papel assim, de acomodação de um ambiente; eu vejo liderança, um aspecto
importante, honestidade, eu acho que é uma coisa assim, fantástica, quer dizer o
camarada que diz uma determinada coisa e é coerente . . . coerente com atitudes, eu
acho que condutas é uma coisa importante, quer dizer, o profissional, o que ele fala, mas
ele tem condutas pessoais que . . . faz com que as pessoas percebam a coerência entre
o discurso e a prática, eu acho isso aí, a honestidade, liderança, coerência, é . . . eu
acho que outras coisas, né, que a gente tem colocado, essa questão da afetividade, eu
acho que as vezes, um conhecimento altamente especializado ele . . . ele é legal, mas se
ele não for relacionado com esses aspectos humanos aí, fica difícil se comandar, num
regime como o nosso, né, outra coisa que eu acho muito legal é pontualidade, eu acho
que pontualidade é um negócio assim legal, você marcou, vamos fazer 08 horas o
encontro, então 08 horas todo mundo ta ali, tal, porque fica difícil você cobrar das
pessoas essa pontualidade, se você não é um cara pontual, assiduidade, que eu vejo
relacionado também, a pessoa muito presente, por exemplo Olha, hoje é treinamento
físico. Ah, então faz você e eu vou embora. Não, as coisas são integradas, eu to
fazendo um trabalho sico pra vôlei pra melhorar a técnica do vôlei, a tática do vôlei, eu
acho que o técnico tem que estar presente no meu treino, eu tenho que estar presente
no treino dele, e eu não vejo que esses valores sejam diferentes na . . . nas diferentes
etapas, eu acho que todo mundo precisa disso, é logicamente que o nível de
conhecimento técnico é que vai se modificar, mas toda essa questão de disciplina, de
assiduidade, de solidariedade, de participação, de co-responsabilidade, que a gente tem
que criar com as pessoas também, que as pessoas se sintam assim, responsáveis por
aquilo que fazem, participa . . . sempre . . . sempre parceiro de uma situação, eu acho
que essas coisas são bacanas, talvez eu tenha esquecido assim alguns valores, mas . . .
é a minha prática foi feita assim.
Entrevistadora Pra encerrar assim, a última, é . . . meio que pra fechar mesmo, se você
fosse hoje contratar um profissional que vai atuar na IE, nessa faixa que fosse delimita
como IE, quem você contrataria?
E4 - GPF Olha, eu passei por uma experiência no Paraná, eu coordenei o esporte do
Paraná durante cinco anos, fui Diretor Técnico de uma Secretaria de Estado, e eu optei,
262
na ocasião, em pegar todos os profissionais da antiga Secretaria de Esportes, que na
verdade não era uma Secretaria, era uma Coordenadoria e devolver as suas instituições
de origem, Secretaria de Cultura, Secretaria de Educação etc, e preferi recontratar
professores pra começar uma idéia nova, pessoas treinadas pra aquilo, jovens
professores, jovens profissionais, sem uma experiência profunda, mas por outro lado,
com muita vontade, com muita motivação de fazer alguma coisa, de mostrar serviço,
então, a primeira coisa pra mim seria ou um profissional jovem, ou seja, recém formado,
ou jovem de pensamento, quer dizer, um camarada que tivesse disposição para o
trabalho, que tivesse uma . . .uma . . possibilidade de . . . de reunir, discutir idéias,
depois de definido essa idéia, caminhar na direção das idéias definidas, eu acho que . . .
, que faria uma prova, uma prova teórica, uma prova prática, eu acho que essa prova
prática que você poderia ta avaliando a capacidade da pessoa de ministrar uma aula e
de coordenar essa aula com educação, com respeito às pessoas, com envolvimento, eu
acho que se eu assistisse uma pessoa dando aula, eu poderia realmente . . . porque a
questão da titulação ela é idêntica, tanto faz se você é formado hoje em Pinhal, ou se
você é formado na Unicamp, é o mesmo diploma, eu nem vejo que . . que a escola seja
um fator limitador dessa formação, eu acho que em alguns setores do conhecimento,
você pode ta numa escola que tem doutores, ta passando algum tipo de . . . de . .
formação melhor, é, mas não garante que todos os campos de atuação, porque alguns
doutores não tem necessariamente uma prática, e tem escolas que tem professores que
vieram da prática e que têm um trabalho prestado à comunidade, então eu acho que
esse . . . essa questão da escola, não seria o caso, eu acho que eu faria uma avaliação
pra ver esses conhecimentos relacionados a essas disciplinas que eu te citei,
crescimento, desenvolvimento, aspectos metodológicos do treinamento mesmo, as
diferentes faixas etárias, eu acho que é fundamental uma . . . uma . . . uma aula prática,
onde você veria o profissional atuando e as atitudes do profissional durante essa aula,
evidentemente que isso aí, esse processo, essa implementação é constante, porque as
vezes eu posso numa aula me esmerar e tomar uma atitude e depois . . . , que dizer, isso
envolve um acompanhamento permanente, uma avaliação permanente de qualquer
sistema que vai ser implantado, eu acho que é importante ver se a pessoa tem o espírito
de trabalhar em grupo, de trabalhar com idéias discutidas com mais pessoas, enfim, eu
procuraria um perfil de profissional, né, não tenho ainda um protótipo, mas eu acho que .
. . cada momento se a gente ta pensando ali numa, numa especialização inicial, eu acho
que essa questão da atividade com a infância, eu particularmente, eu não fui formado
pra trabalhar com a infância, tive algumas aulas de EF infantil, mas não foi suficiente pra
eu aprender a trabalhar com criança, mas nessa faculdade aqui você aprende a trabalhar
com criança, então eu também teria que fazer uma análise na história curricular da
263
pessoa pra ver se ela tem uma . . . uma relação com isso, já nos níveis mais avançados,
eu teria um outro critério de seleção, acho que cada coisa ao seu momento, então eu
não estabeleço bem, não ta um perfil bem definido, ta um perfil generalista , né, eu
acho que nesse momento inicial tem que ter esse perfil mais generalista mesmo.
Entrevistadora – Agradecimentos.
E4 - GPF A confusão é essa né, juntar todas essas idéias sem ferir o que as pessoas
falaram, essa que é a grande dificuldade que eu vejo na análise de entrevista, e a gente
se fazer claro, porque nem sempre eu consigo dizer com as minhas palavras às vezes, o
que eu to tentando dizer, então, eu desejo boa sorte pra você, que você consiga pegar
essas falas e respeitá-las como elas estão colocadas e se alguma coisa que a gente
disse não for entendido, volta, passa, manda um e-mail, qualquer coisa assim, e que a
gente consiga depois ter acesso ao que você ta fazendo.
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