São um mixtofório do ritual dos africanos: mascarados, bandos,
simulacros de combates, representações de mistérios, etc... tudo
entremeado de cantos e dançados que se sucedem com poucos
intervalos durante dias e às vezes semanas; percorrendo os festeiros
as ruas desde antes do amanhecer até à noite, sempre cantando e
dançando, indo buscar às casas, – um por um, todos os principais da
festa, juízes e juízas, mordomos e aias, etc...
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Em meados da década de 1870, todos os atos e funções na
Irmandade do Rosário da capital passaram a ser presididos pelo juiz (ou juízes)
da confraria. Embora, a eleição e a coroação rei e rainha negros dentro da
irmandade tenha sido suprimida do novo compromisso, a corte negra continuou
marcando presença na festa do Rosário.
Tem-se aí um reflexo da “romanização”, mas, também, indícios (na
fonte supracitada) da resistência de elementos negros, como os “simulacros de
combates” nas festividades, ou seja, a representação de uma nobreza africana
através dos congos (encenavam antigas guerras africanas entre o Rei do
Congo e a Rainha de Angola). Além disso, essa função chegava a durar dias,
tempo no qual os negros ocupavam ruas e praças, dançando e cantando a sua
história, enfim, conquistando lugares diversos na cidade através da festa, e
isso ia de encontro aos preceitos conservadores da Igreja.
Ainda ligado ao aspecto da “romanização”, outro fator que contribuiu
para o enfraquecimento das confrarias em Fortaleza foi o apoio dado pela
Igreja às Conferências Vicentinas
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, associações religiosas organizadas de
acordo com as diretrizes dos padres lazaristas franceses e que, de certa forma,
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FONSECA, João Severiano, 1881, p. 136 apud CAMPOS, Manuel Eduardo Pinheiro. As
irmandades religiosas do Ceará provincial. Apontamentos para sua história. Fortaleza:
Secretaria da Cultura e Desporto, 1980, p. 38.
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Fundada em Paris a 23 de abril de 1833 por um grupo de jovens universitários liderados por
Frederico Ozanam a organização adotou São Vicente de Paulo (1581-1660) como patrono,
inspirando-se no pensamento e na obra daquele santo, conhecido como o Pai da Caridade
pela sua dedicação ao serviço dos pobres e dos mais necessitados. A primeira Conferência
de São Vicente de Paulo no Ceará foi fundada na cidade de Aracati, em 8 de dezembro de
1879, sob invocação de São Francisco de Assis; no ano de 1882 foram criadas Conferências
Vicentinas em Fortaleza, no Crato, em Baturité e outra em Aracati; em 1883, surgiu a de
Barbalha; no ano de 1884, em Pereiro, Jaguaribe Mirim, Icó, Limoreiro, Arronches e outra no
Crato; no ano de 1885, em Sobral, Trairi, Juazeiro, Quixadá, Uruburetama, Iguatu; Redenção
(Acarape), Pereiro, Palma; no ano de 1886, em Messejana, Sobral, Baturité, Morada Nova,
Jardim, Goianinha e Maranguape; no ano de 1887, em Cachoeira, Araripe (Brejo Seco),
Cascavel; no ano de 1888, em Maranguape, Aquiraz, Juazeiro, Aurora (Venda) e Pacoti
(Pendencia). Cf. STUDART, Guilherme (Barão de). Datas e factos para a História do Ceará.
Tomo II. Fac-Símile – edição de 1896. Fortaleza: Fundação Waldemar Alcântara, 2001, p.
268, 292, 293, 291, 308, 321, 331, 332, p. 334, 335, 336, 340, 341, 343, 345, 352, 354, 355,
356, 364.
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