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“CAMINHO DA FÉ”: PEDESTRIANISMO, ESTADOS EMOCIONAIS E
REFLEXÕES SOBRE A AMBIÊNCIA
JAQUELINE COSTA CASTILHO MOREIRA
Dissertação apresentada ao Instituto de
Biociências do Campus de Rio Claro,
Universidade Estadual Paulista, como
parte dos requisitos para obtenção do
título de Mestre em Ciências da
Motricidade (Area de Pedagogia da
Motricidade Humana).
RIO CLARO
Estado de São Paulo-Brasil
Maio - 2007
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“CAMINHO DA FÉ”: PEDESTRIANISMO, ESTADOS EMOCIONAIS E
REFLEXÕES SOBRE A AMBIÊNCIA
JAQUELINE COSTA CASTILHO MOREIRA
Orientadora: Profa. Dra. GISELE MARIA SCHWARTZ
Dissertação apresentada ao Instituto de
Biociências do Campus de Rio Claro,
Universidade Estadual Paulista, como
parte dos requisitos para obtenção do
título de Mestre em Ciências da
Motricidade (Area de Pedagogia da
Motricidade Humana).
RIO CLARO
Estado de São Paulo-Brasil
Maio - 2007
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iii
JAQUELINE COSTA CASTILHO MOREIRA
“CAMINHO DA FÉ”: PEDESTRIANISMO, ESTADOS EMOCIONAIS E
REFLEXÕES SOBRE A AMBIÊNCIA
Dissertação apresentada ao
Instituto de Biociências do Campus
de Rio Claro, Universidade
Estadual Paulista, como parte dos
requisitos para obtenção do título
de Mestre em Ciências da
Motricidade (Área de Motricidade
Humana).
BANCA EXAMINADORA:
Titulares:
Prof. Dra. Gisele Maria Schwartz, UNESP
Prof. Dra. Mara de Campos-Carvalho, USP
Prof. Dra. Carmem Maria Aguiar, UNESP
Suplentes:
Prof. Dra. Silvia Deutsch, UNESP
Prof. Dr. Afonso Antonio Machado
iv
AGRADECIMENTOS
- Primeiramente a Deus, força soberana e imprescindível e à Nossa Senhora da
Aparecida, sem a qual não haveria o “Caminho da Fé”;
- À minha orientadora Profa. Dra. Gisele Maria Schwartz que acreditou, incentivou
e acompanhou este trabalho;
- À Secretaria de Estado da Educação do Estado de São Paulo que financiou por
meio da “Bolsa Mestrado” oferecida aos professores da rede pública, esta
pesquisa;
- À Profa. Dra. Mara Campos de Carvalho da USP de Ribeirão Preto pela sua
paciência em me conduzir pelos caminhos da Psicologia Ambiental;
- Ao Prof. Dr. Antônio Carlos Simões Pião e a Profa. Dra. Maria Lúcia L.
Wodewotzki, ambos do Departamento de Estatística, Matemática Aplicada e
Computação, do Instituto de Geociências (IGDE, UNESP - Rio Claro) que me
auxiliaram nos cálculos e análises estatísticas;
- À Profa. Ms. Marinêz de Fátima Ricardo que, além de revisar meus textos,
sempre me apoiou e me incentivou por meio de seu exemplo;
- Ao Prof. Dr. José Q. Pinheiro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
por sua confiança em disponibilizar-me arquivos relevantes sobre o
comportamento pró-ambiental, alguns no prelo, outros ainda em vias de serem
publicados;
- Aos amigos e professores da UNESP de Rio Claro, Afonso Antônio Machado,
Mauro Betti, Luiz Lorenzetto, Carmen Maria Aguiar, Suraya Cristina Darido, Cátia
v
Mary Volp pela colaboração, apoio e valorização da perspectiva ecológica voltada
para a Motricidade Humana;
- Aos professores da Pós-Graduação em Educação Ambiental (UNESP de Rio
Claro) Luiz Marcelo de Carvalho e Dalva Maria Bianchini Bonotto que
colaboraram tirando dúvidas e emprestando livros sobre a temática;
- À Paula Lima, grande amiga e companheira, exemplo de determinação e
abnegação, por me acompanhar e me tolerar na aventura do “Caminho da Fé”;
- Ao Arani Marchetti, o “Grings Cover”, incentivador, divertimento nas horas de
dificuldade e patrocinador do “apoio” durante o trecho de Borda da Mata à
Aparecida;
- À Lara Forni, “fotógrafa oficial” da expedição;
- Ao Sr. Almiro Grings, um dos idealizadores da trilha, e a todos aqueles que
participam da Associação dos Amigos do Caminho da Fé, pela colaboração
cedendo-nos entrevista e material para a dissertação;
- Ao autor Luiz Carlos Marques Silva pelo incentivo, por tirar as minhas dúvidas,
pelos seus livros sobre o “Caminho da fé”, que em muitas horas, no mato, quando
ainda faltava um tanto para andar..., era o que nos situava e incentivava;
- Às Prefeituras de Tambaú, na figura do Sr. Edílson Anastácio de Faria, Diretor
do Departamento de Esportes e Turismo de Tambaú, que nos recepcionou e
cedeu material e informações;
- A todos os meus amigos e amigas do Mestrado e do Laboratório de Estudos do
Lazer (LEL) por permitirem o compartilhar de experiências, conhecimentos, livros
e muitas risadas;
vi
- Às meninas da Biblioteca da UNESP de Rio Claro e do xerox pela atenção, em
especial à Moema de Baptista Medina, pela paciência em normatizar as
referências bibliográficas multimídias do trabalho;
- A todos os meus familiares e amigos, pelo apoio e compreensão nos momentos
de necessidade;
E em especial:
- Aos “Povos do Caminho” que nos recepcionaram tão bem como se fôssemos
familiares retornando...: Almando, Íris, “Limão” e “Tarzan” de Tambaú; Cidinha de
Vargem Grande do Sul; D. Cida e José Luiz de São Roque da Fartura; Tina e
Fabiana de Águas da Prata; Seu Lorival, sitiante da divisa de Águas da Prata e
Andradas; Pedro, enfermeiras e médico de plantão da Santa Casa, todos de
Andradas; Dona Terezinha e Seu “Duti” de Tocos do Mogi; Dona Zezé da padaria
e pousada de Estiva; e a todos aqueles que encontramos pelo caminho e que
pediam para orar por eles, quando chegássemos à “casa da mãe” em Aparecida;
- E, finalmente, a todos os participantes da trilha, “Pessoas do Caminho” que
infelizmente não tenho como citar, peregrinos corajosos que, voluntariamente
despojaram-se de suas couraças para procurar respostas; minha admiração,
carinho e gratidão... sem os quais não seria possível completar este trabalho.
vii
OFERECIMENTOS
Dedico este trabalho
... ao meu marido Octávio que peregrinou junto comigo pelos caminhos e
descaminhos, não só do “Caminho da Fé”, mas por toda romaria para se obter o
título de Mestre; que suportou, pacientemente, minhas ausências e mau humor, e
que, não obstante, sempre esteve presente como base e fonte de acolhimento e
bom senso;
... à minha filha Marina que, nos momentos em que eu não tinha mais força para
pesquisar, me ajudou e me incentivou a continuar;
...aos meus pais adotivos Luiz e Carmem, falecidos, que permitiram, através de
seus esforços, que eu chegasse até aqui;
.... e, principalmente, à romeira Tereza e seu bebê, os quais, ao irem cumprir
sua promessa em Aparecida, morreram queimados, em um acidente
ocasionado pelas más condições de um ônibus de excursão em 1982.
viii
EPÍGRAFE
“Concluo com a idéia de que há toda uma caminhada, que nos chama para a
frente (no velho latim se diria: pro-vocat). Amigos africanos me asseguraram que,
em muitos idiomas nativos da África, há um montão de termos para “caminho” e
“caminhar”, com incríveis nuanças. Caminhar com uma criança, se fala de um
modo. Caminhar com os pais, já se fala de outra maneira. Caminhar com os
amigos, se diz de um jeito. Com uma pessoa amada, ainda de outro. Mas
segundo me disseram esses amigos da África , apesar de tantas palavras para
“caminhar”, nas línguas deles não existe nenhuma palavra para “caminhar
sozinho”.
Assmann, 1995, p. 115
“El camino se hace al andar.”
Antonio Machado
“...Dizem que todos nós perdemos vinte e um
gramas no momento exato de nossa morte.
Todos. Quanto cabe em vinte e um gramas?
Quanto é perdido? Quando perdemos? Quanto se
vai com eles? Quanto é ganho?Vinte e um
gramas. O peso de cinco moedas de cinco
centavos. O peso de um beija-flor. O peso de
uma barra de chocolate. Quanto pesa vinte e um
gramas?...”
Filme de Alejandro Gonzalez Inárritu, escrito por
Guillermo Arriagan. www.21-grams.com
ix
RESUMO
A necessidade premente de atentar para a finitude dos recursos naturais tem
alertado estudiosos de diferentes áreas para a importância de se incutir idéias
preservacionistas. Entretanto, este movimento se apresenta ainda sutil na área da
Motricidade Humana, merecendo o enfoque incisivo deste estudo, de natureza
quanti-qualitativa. O objetivo de nosso trabalho foi investigar os estados
emocionais presentes durante uma caminhada longa, na perspectiva de
internalização de valores e no desenvolvimento de atitudes mais positivas em
relação ao meio ambiente, capazes de fomentar o comportamento pró-ambiental.
O ambiente escolhido foi a trilha “Caminho da Fé”, trajeto de 425 km entre
Tambaú e Aparecida/SP, o qual atrai turistas, praticantes de atividades físicas e
fiéis. Após leitura sobre as temáticas envolvidas, foi realizada uma pesquisa
exploratória, na qual se utilizou um “conjunto de instrumentos trifásicos” para a
coleta de dados. Foram eles um questionário misto, a “LEA – RI - Lista de
Estados de Ânimo, Reduzida e Ilustrada” e a “Escala de Ecocentrismo e
Antropocentrismo de Thompson & Barton”, aplicados a uma amostra aleatória,
composta de sete participantes da trilha, adultos, de ambos os sexos. Esse
“Conjunto de instrumentos” foi aplicado nos locais de parada, no momento inicial
da trilha, no meio do percurso e ao final do trajeto. A análise quantitativa dos
dados foi feita por meio da “Análise de Componentes Principais” e a análise
qualitativa foi realizada de forma descritiva, por meio da utilização da técnica de
“Análise de Conteúdo Temático”; com resultados apresentados também de
maneira percentual, para ilustrar. Como conclusão, infere-se que, mesmo que os
estímulos tenham cessado ao final do trajeto com o término da atividade física e
da contextualização naquele ambiente; sua intensidade, quantidade e qualidade
estimularam processos de reflexão, evidenciando que houve variações de estado
de ânimo e diferenciação de atitudes para com o ambiente antes, durante e
depois da caminhada. Associado às variações de condições de ambientais tanto
físicas como sociais, a pré-disposição ao diálogo; aos momentos em que
declararam meditar e a identificação simbólica, na qual, por meio de uma analogia
de sua vida com a caminhada, os participantes puderam perceber possibilidades
de condução e transições de valores e novos sentidos para suas vidas.
Palavras-chave: lazer, caminhada, estados emocionais, comportamento,
ambiente.
x
ABSTRACT
The need of considering the natural resources finiteness has been alerting
specialists of different areas for the importance of preservation attitudes. However,
this movement is still subtle in the Human Movement or Leisure area, deserving
the incisive focus of this study, of quanti-qualitative nature, which aimed to
investigate the emotional states resonance which have come upon the corporal
experiences in nature, under the perspective of internal values and the
development of positive ecological attitudes to capable of stimulating the pro-
environmental behavior. The chosen environment was the "Caminho da Fé", a trail
with 425 km-itinerary between Tambaú and Aparecida/SP, which attracts tourists,
physical activities performers and churchgoers. The study was developed by a
literature review about the matters involved and by an exploratory research, using
a group of three instruments for collecting data: a mixed questionnaire, the " LEA -
RI - List of Mood State, Reduced and Illustrated" and “Thompson & Barton’s Scale
of Ecocentrism and Anthropocentrism", applied to an aleatory sample, composed
of seven trail participants, among adults, of both sexes. That group of instruments
were applied in the stop places, in the initial moment of the trail, in the middle of it
and at the end of the itinerary. The quantitative data were made for “Principal
Component Technique Analysis“ and the qualitative obtained data analysis was
accomplished in a descriptive way, by the use of “Thematic Content Analysis”, with
results also presented in a percentile way, to illustrate. As conclusion, it is inferred
that, even that the stimulation has ceased with the ending of the hike, the intensity,
amount and quality of the experience had stimulated reflection processes,
evidencing variations on mood state and differentiation of attitudes with the
environment, before, during and after the hike activity, associated to variations on
physical and social environmental conditions, the predispose to the dialogue; to
the moments where they had declared to meditate and the symbolic identification,
at which, through an analogy of their lives with the hike, the participants had been
able to perceive possibilities of conduction and transitions of values and new
senses for their lives.
Key-Words:. leisure, hike, emotional states, behavior, environment.
xi
LISTA DE ABREVIATURAS
- AFAN – Atividade Física de Aventura na Natureza;
- CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil;
- CPA – Comportamento pró-ambiental;
- EMS Environmental Motives Scale;
- Escala T&B – Escala de Econcentrismo e Antropocentrismo de Thomas &
Barton;
- GR – Grande Rota;
- IAAF International Association of Atletism Federation (Federação
Internacional de Associações de Atletismo);
- IAT Implicit Association Test;
- IBAMA – Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e de Recursos Renováveis;
- IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística;
- INS Scale – Inclusion of Nature in Self Scale;
- IOS Inclusion of Other in Self;
- LEA-RI – Lista de estados de animo reduzida e ilustrada;
- LEP- Lista de estados de ânimo presentes;
- n - Tamanho da amostra;
- NEP Scale - New Environmental Paradigm Scale;
- NOLS National outdoor leadership school ;
- ONG – Organização Não Governamental;
- PR - Pequena Rota;
- QMT – Questionário misto trifásico;
- VBN Value Belief Norm.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Fig. 01- Aquarela “Caminho da Fé”...................................................... 01
Fig. 02- PerformanceCanibal”.............................................................
07
Fig. 03- Tendências filosóficas do “Ambientalismo”............................. 17
Fig. 04- “Caminho da Fé” – link “mapa”................................................
51
Fig. 05- Imagem de Nossa Sra. Aparecida com sorriso nos lábios...... 56
Fig. 06- Grupamento na saída de Águas da Prata/SP......................... 62
Fig. 07 e 08- Segunda aplicação do “Conjunto de instrumentos”........ 85
Fig. 09- Crianças no lixão de Sapucaí Mirim/MG................................. 142
xii
LISTA DE QUADROS
Quadro 1- Valores de primeira ordem e de ordem superior................. 27
Quadro 2- Triangulação de fontes........................................................ 201
LISTA DE TABELAS
Tabela 1- Quais os motivos que o levou a escolher a trilha........................... 92
Tabela 2- Como (imagina que esteja, está, estava) o trajeto......................... 103
Tabela 3- Você (pensa em fazer, pensa em continuar, fez) a caminhada..... 114
Tabela 4- RESPOSTA ABERTA: Razões para seguir sozinho...................... 116
Tabela 5- RESPOSTA ABERTA: Razões para seguir acompanhado............ 124
Tabela 6- A caminhada (pode ajudar, está ajudando, ajudou) os
participantes a pensarem na preservação do ambiente?...............................
134
Tabela 7- (Você esperava vencer alguns, ocorreram, você venceu)
obstáculos ou dificuldades na caminhada?....................................................
143
Tabela 8- Explicação de que tipo de obstáculos............................................ 144
Tabela 9- Escore de fatores da caminhada - LEARI...................................... 150
Tabela 10- Coeficiente de Saturação dos itens LEA-RI por fator nas três
fases da caminhada........................................................................................
152
Tabela 11- Escore de fatores de atitudes ambientais na caminhada............. 164
Tabela 12- Coeficiente de Saturação dos itens, afirmações, atitudes e
tendência por fator nas três fases da caminhada...........................................
153
xiii
SUMÁRIO
CAPA......................................................................................................................
FOLHA DE ROSTO................................................................................................
AGRADECIMENTOS.............................................................................................
OFERECIMENTOS.................................................................................................
EPÍGRAFE..............................................................................................................
RESUMO................................................................................................................
ABSTRACT............................................................................................................
LISTA DE ABREVIATURAS..................................................................................
LISTA DE ILUSTRAÇÕES.....................................................................................
LISTA DE QUADROS............................................................................................
LISTA DE TABELAS..............................................................................................
SUMÁRIO...............................................................................................................
I. INTRODUÇÃO.....................................................................................................
i
ii
iv
vii
viii
ix
x
xi
xi
xii
xii
xiii
01
II. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1. Corpo....................................................................................................
2.2. Ambiente...............................................................................................
2.3. Valores, atitudes e comportamento ambiental......................................
2.4. As caminhadas....................................................................................
2.5. Contextualizando a Pesquisa...............................................................
04
14
26
37
47
III. METODOLOGIA
3.1. Objetivo ................................................................................................
3.2. Participantes.........................................................................................
3.3.Conjunto de Instrumentos......................................................................
a. Questionário Misto Trifásico (QMT)...........................................
b. Lista de Estados de Ânimo Reduzida e Ampliada (LEA-RI)......
c. Escala de Ecocentrismo e Antropocentrismo (Escala T&B)......
3.4. Procedimento para a coleta de dados..................................................
60
60
64
65
71
74
77
IV. RESULTADOS E DISCUSSÃO......................................................................
V. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................
VI. REFERÊNCIAS...............................................................................................
VII . ANEXOS
Anexo 1 .......................................................................................................
Anexo 2 .......................................................................................................
Anexo 3 .......................................................................................................
Anexo 4 .......................................................................................................
Anexo 5 .......................................................................................................
Anexo 6 .......................................................................................................
86
200
209
222
223
228
232
236
240
xiv
1
I. INTRODUÇÃO
Figura 01- “Caminho da Fé” (autoria própria).
As inquietações geradas pelas culturas de massa e tecnológica,
associadas ao estresse ambiental deste século, entre outras variáveis, são
capazes de motivar, no homem contemporâneo, uma busca por novas
possibilidades de usufruto do seu tempo disponível.
Ofertadas em atividades do âmbito do lazer, muitas opções visam a
resgatar, não só as sensações e as percepções construídas a partir de uma
corporeidade urbana, mas também, permitem auto-reflexão e questionamento
profundos sobre as formas com que o ser humano se relaciona com o meio a que
está exposto e interage sistematicamente.
No Brasil, a partir da década de 1990, houve uma intensificação da
demanda por opções no contexto do lazer que possibilitassem a intensificação de
vivências emocionalmente mais significativas. Dessa forma, surgiu o interesse
pelas atividades físicas de aventura na natureza (AFAN), ecoesportes, outdoor
2
sports ou turismo de aventura, entre tantas outras denominações, evidenciando-
se a necessidade de compreensão mais aprofundada dos aspectos peculiares e
as tênues diferenciações inerentes a essas práticas.
Proporcionalmente a esse aumento, cresceu também a preocupação
com a saturação dos locais de prática, as condições estruturais e de
sustentabilidade para manutenção dessas atividades, como também, a
necessidade da conscientização de preservação desses ambientes e sistemas.
Essa conscientização refletiu na produção acadêmica de estudiosos preocupados
na disseminação de atitudes e condutas preservacionistas, nas mais diversas
áreas do conhecimento, cada qual contribuindo de sua maneira, para incentivar a
sustentabilidade no usufruto do ambiente natural.
Nesse sentido, também a área do lazer tem prestado sua
contribuição, promovendo reflexões acerca da maneira como suas variadas
dimensões colaboram para a demanda crescente de vivências de experiências
corporais, que aproximam o ser humano aos ambientes naturais.
Potencializadas tanto pelas possibilidades hedônicas que
representam, como pela oportunidade de criação de laços afetivos e de
desenvolvimento de relacionamentos sociais e culturais menos fugazes; essas
práticas são capazes de estimular a apreensão de valores e ressignificações, na
medida em que permitem diversos momentos de reflexão. Assim, promove um
repensar sobre atitudes, comportamentos e representações adotados para com o
ambiente, em seus níveis físico e social.
3
Por revelar fragmentos preservados da Floresta Ombrófila,
convivendo com extensas áreas de solo agricultável e outros degradados, as
sugestões advindas da vivência de pedestrianismo pelo trajeto “Caminho da Fé”,
pode colaborar, não só nas investigações dos estados emocionais nessa
atividade física específica, mas também, em aspectos ligados à sua mediação
com atitudes pró-ambientais.
Sendo assim, esse estudo visou o entendimento dos estados
emocionais manifestados durante um pedestrianismo do âmbito do lazer,
elegendo-se como foco o trajeto conhecido como “Caminho da Fé”, na
perspectiva de internalização de valores e no desenvolvimento de atitudes
mais positivas em relação ao meio ambiente, capazes de fomentar o
comportamento pró-ambiental.
Os capítulos que compõem a revisão bibliográfica explanaram o
assunto no intuito de evidenciar o quão necessário se faz um estudo desse
comportamento. Conforme a pesquisa tomou corpo, foram desenvolvidos os
seguintes tópicos: “Corpo”, “Ambiente”, “Valores, Atitudes e Comportamento
Ambiental”, “Procedimentos metodológicos”; “Referências” e “Anexos”. Trilhando
este rumo, percorreu-se um trajeto entre reflexões e ações, abstrações e práticas
que relacionam a Ciência da Motricidade e a preocupação ambiental, afinal, por
este viés, ao andar também se faz um Caminho...
4
II. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1. Corpo
A construção do conceito de corporeidade vem sendo foco de
estudos em diversas áreas, como a biologia, a psicologia, a filosofia, a
antropologia, entre outros campos e seus diversos autores. Embora as
possibilidades de articulação do tema sejam bastante amplas, existem duas
tendências filosóficas básicas para uma reflexão sobre a temática. Para
RODRIGUES (2003, p. 110), enquanto alguns pensadores explicam o ser
humano “... como um composto de duas partes diferentes: um corpo (material) e
uma alma (espiritual e consciente)”; outra vertente ressalta uma abordagem
monista de corpo/consciência, “... mostrando os erros a que nos leva a concepção
dualista exemplarmente representada pelo esquema sujeito-objeto”.
Tem-se como pressuposto neste estudo que o corpo é um todo
biopsicofísico social e que não há distorção entre corpo e mente, e sim, uma
relação corpo-mente em busca de interações adequadas com o meio ambiente a
que está exposto.
5
Se por um lado a relação corpo-mente oscila entre aceitação e
negação de valores racionais e espirituais para se tornar uma identidade, como
apregoa Santin (2001); por outro lado, ela também está inserida e participa de um
sistema maior. Com isso, a relação corpo-mente, de agora em diante
simplesmente “corpo”, também fica à mercê de uma percepção externa, a qual,
muitas vezes, pode ser estigmatizante (dependendo do contexto onde e como foi
construída) e sujeita a alguma forma de dominação por um “outro”, quer seja
pessoa, instituição ou mídia.
O “corpo” forte e feroz, no sentido de ser representado como uma
forma de poder, somente foi assim respeitado na Pré-história, quando servia “à
autoconservação e à plenitude de vida de um indivíduo no ambiente feral”
(VEBLEN, 1974, p. 398). Com a ascensão da psiquê sobre o soma, na
Antigüidade, o “corpo” acabou perdendo espaço, até mesmo como linguagem ou
como possibilidade de interação com o ambiente. Os filósofos da Antigüidade e
da Era Medieval passaram a tratar o corpo apenas como “uma exigência lógica da
existência de um eu pensante” (SANTIN, 2001, p. 58).
Na Idade Média o domínio do logos foi substituído pelo reino da
alma, dotada de espírito divino, por ter sido criada à semelhança de Deus.
No desenrolar da história, com suas ordens e desordens sociais,
resta ao “corpo” um papel menor na condição humana. Para Assmann (1995), a
partir do Renascimento, o corpo deixou de ser um “jardim fechado” (como rezam
as ladainhas cristãs: hortus conclusus), para se transformar num corpo
6
dessacralizado, aberto e devassável pelas ciências, desde sua anatomia à sua
psicanálise.
Entretanto, o “corpo” do Romantismo representou uma resistência a
esses processos. Esse corpo lânguido e melancólico repudiava o presente.
Tomado de atitudes românticas de abstração, submergia-se em várias direções:
do ufanismo histórico ao idílico, representado pelo saudosismo da infância e pelo
amor à natureza; passando pelo exotismo dos lugares longínquos e estranhos à
direção fantástica dos sonhos e da loucura; rumando para uma crítica acirrada da
sociedade e construindo, mesmo que utopicamente, um mundo futuro de justiça,
desenvolvimento e de felicidade (RODRIGUES et al, 1979).
Do Romantismo aos dias atuais, mesmo que, durante séculos,
inúmeros esforços tenham sido empregados numa tentativa de convencer as
pessoas de que elas não tinham “corpo”; na contemporaneidade, existe um
consenso entre diversos autores de que o “corpo” tem sido visto como um valor
(ASMANN, 1995; BRUHNS, 2000; SANT’ANNA, 2001; SCHWARTZ, 2002;
GOLDENBERG e RAMOS, 2002).
O “corpo” moderno, ou, ainda, como propõe Assmann (1995, p. 73)
o “corpo ajustável ao que precisa”, deixou para trás a rigidez das antigas
concepções e ganhou uma infinidade de adjetivos: corpo-educável, corpo-
estivador, corpo-garçon, corpo-político, corpo-relação mercantil, corpo-escultural,
corpo-esvoaçante, corpo-capital humano, “até culminar no corpo, plenamente
‘valor de troca’, da engenharia genética e do mercadeio de órgãos”.
7
Expandindo a discussão toma-se Bourdieu (1995) como orientação.
O autor traz o questionamento da construção do conceito “corpo” pelo mundo
social, só que, dessa vez, imprimindo diferenças culturalmente construídas, as
quais acabam sendo naturalizadas pela estigmatização e pela estereotipia,
legitimando as relações de dominação, facilmente presenciáveis. O corpo pós-
moderno, aparentemente mais livre por seu desnudamento e exposição pública,
também é mais constrangido por regras sociais interiorizadas por seus portadores
(GOLDENBERG e RAMOS, 2002).
Esse corpo é pressionado por signos distintivos, desde a insígnea da
“boa forma”; a grife de um pertencimento que distingue como superior aquele que
a possui, chegando ao que Goldenberg e Ramos (2002, p.39) chamaram de
“prêmio (ou medalha), justamente merecido pelos que conseguiram alcançar, por
intermédio de muito esforço e sacrifício, as formas físicas mais civilizadas”.
Figura 02- Performance “Canibal” – Marco Paulo Rolla. Fonte: ITAU CULTURAL//2005.
8
O corpo pós-moderno é um corpo que está exposto, mediante
alguma troca, à intervenção da tecnologia. Esse fato em si não representa um
juízo de valor. Pois, ao mesmo tempo em que se emprega a tecnologia para fins
narcisísticos (lipoaspirações, plásticas, drogas anabolizantes etc.), por outro lado,
muitos dos recursos da medicina que existem na atualidade permitem melhores
condições de vida para inúmeras pessoas (pré-maturos, doentes, pessoas com
necessidades especiais, idosos, entre outros). A tecnologia possibilita ainda,
percepções e ações diferenciadas, tanto em relação ao próprio “corpo”, como em
relação aos demais “corpos”; mesmo que distantes fisicamente e/ou expectadores
de jogos televisivos imaginados ou virtuais (GONÇALVES, 1997; BRUHNS, 2000;
SCHWARTZ, 2003).
A despeito das atividades físicas de aventura na natureza, os
artefatos tecnológicos agregados ao “corpo”, agora “corpo cibernético”,
possibilitaram que os riscos inerentes à prática fossem minimizados, assim como
permitiram que mais pessoas pudessem praticá-las. Esse mercado em expansão,
mobilizador de vultosos recursos e know-how, gerou o aparecimento de
operadoras de turismo; a disponibilização de diversos níveis de roteiros; a
crescente capacitação de guias turísticos/monitores e a oferta de cursos
específicos para cada modalidade, enfim, uma grande estrutura profissional foi
montada para que este “corpo”, pudesse vivenciar experiências no mundo natural.
Para Brunhs (1997), o homem contemporâneo, foi arrancado da
natureza, embora esteja inserido em seu contexto, a natureza não representa
uma ameaça, já que ela quase não existe mais. A autora menciona o “corpo
9
visitando a natureza” como um tema, que requer um entendimento do corpo como
presença no mundo e do movimento como sua expressão.
O corpo pós-moderno é submisso em sua motricidade, contido em
sua sensibilidade e em sua expressão; é um corpo com tendência ao isolamento
e à alienação.
Silva (2000) alerta que uma das formas de exercer controle social
sobre esses corpos submissos é tornando-os mudos. Entretanto, “o logos, a
psique, a mente, a alma, a razão ou a consciência não podem manifestar-se a
não ser pelo corpo” (SANTIN, 2001, p.58) e as solicitações do ambiente físico real
constantemente rompem essa dominação de condenação à solidão.
A variedade de estímulos, provenientes dos contextos pelos quais o
corpo está envolvido, rompe o equilíbrio, desencadeando reações ativas (mesmo
que imperceptíveis) às perturbações impostas pelo meio (LEME, 1996).
Equipado com sensores que recebem como informação as
alterações ambientais, o “corpo”, processa esses dados de acordo com seu
patrimônio genético, imunoquímico, intelectual, cultural, familiar e afetivo. Esse
processo bastante complexo, de interiorização das sensações referentes às
alterações ambientais, de percepção e devolução ao ambiente, varia, não só de
grupo para grupo, mas, inclusive, de indivíduo para indivíduo, ou ainda, de
situação para situação, em relação ao próprio indivíduo.
O “corpo”, ambientado num espaço/tempo específico, pode
desenvolver percepções diferenciadas das que lhe ocorrem rotineiramente. O
corpo, por exemplo, em deslocamento numa viagem a pé, tem amplas
10
possibilidades de apropriação, em conversa com seus pares caminhantes, ou
com as pessoas pertencentes às comunidades sediadas ao longo do percurso.
Ele tem tempo para ver o grão de areia do chão, se estiver com a percepção
aguçada ou sensível a esses detalhes e, ao mesmo tempo, contemplar a
paisagem distante e refletir. Os aspectos gerados por essas apropriações,
promovem o valor de atividades como uma caminhada, fazendo com que suas
ressonâncias ultrapassem o tempo efetivo de duração da prática.
Dessa maneira, o “corpo” é o principal mediador entre os ambientes
a que está exposto, tanto o interno como o externo. Sendo assim, há necessidade
de um aprofundamento maior, a fim de que seja possível um entendimento de
como esse corpo sente e percebe as alterações a que está exposto e como as
articula sob a forma de respostas, expressando-se através de seus estados
emocionais e de ânimo.
Por esse motivo, com o intuito de compreender as ligações corpo,
sensações e natureza fundamentou-se a definição de sensação em Machado
(2000), o qual sugere que esta é uma impressão física do ser humano, que o
torna capaz de reconhecer o mundo pelas diferentes sensibilidades especiais
(órgãos de sentido) e gerais (sensibilidades ao calor, dor etc.).
Complementa essa definição Magill (1984), mostrando que, por meio
das sensações se obtém informação necessária para o desempenho de uma
habilidade motora qualquer.
Já para o conceito de percepção, optou-se por entendê-la como uma
impressão sensorial, uma “sensação sensorial pura (que) se acompanha de uma
11
interpretação, de uma referência a fatos vividos ou aprendidos” (SCHMIDT,1980,
p. 06).
Schmidt (1980) define três noções para a percepção. Uma delas é a
modalidade relacionada aos órgãos de sentido e sensibilidade. A outra está
diretamente ligada à qualidade, pois é provocada pelos estímulos ambientais
adequados a aquele órgão de sentido, por exemplo, a modalidade gustação
compreende as qualidades: doce, azedo, salgado e amargo. A última noção tem
relação com a intensidade e é definida pela quantidade, ou seja, a quantidade da
impressão sensorial está de acordo com a intensidade do estímulo. Para esse
autor, as percepções têm, ainda, dois aspectos, os conscientes e os afetivos.
Como o nível de consciência pode ser modificado, desde o sono profundo à vigília
atenta, hipoteticamente, acredita-se que um afluxo de excitações constantes, da
formação reticular ao córtex, torna-se condição necessária para a produção das
discriminações ou percepções conscientes. Já as percepções afetivas ou
emocionais, comumente chamadas de sentimento, são atribuídas ao sistema
límbico (SCHMIDT, 1980).
O mesmo autor ainda aponta a importância de se destacar que a
percepção consciente e o comportamento motor apresentam, pelo menos, duas
percepções (a discriminatória e a afetiva). No caso do comportamento motor, por
outro lado, têm-se, também, os fatores cognitivos (neocorticais) que se baseiam
em informações precisas fornecidas pelos órgãos de sentidos.
12
Quando o estado biopsicofísico é alterado por conta de
sensações/percepções, ele desencadeia várias respostas, dentre elas as
emoções.
Para Damásio (1996), a emoção é a combinação de um processo
avaliatório mental simples, ou complexo, com repostas dispositivas a esse
processo, em sua maioria, dirigidas ao “corpo” propriamente dito; resultando num
estado emocional do “corpo” e em alterações mentais adicionais, o que retorna ao
sentido do corpo como um todo biopsicofísico social.
Tem-se como pressuposto relevante nessa pesquisa as funções do
hipotálamo, parte do diencéfalo, por ser o principal regulador da complexidade do
estado emocional, segundo Machado (2000). Para ele, o hipotálamo é
responsável pelo controle do sistema nervoso autônomo, regulando a temperatura
corporal, o comportamento emocional, o sono e a vigília, a ingestão de alimentos
e de água, a diurese, o sistema endócrino, a geração e regulação dos ritmos
circadianos, ou seja, “as reações físico-emocionais”.
Vale ressaltar que este estudo tem como ponto de referência um
“corpo” em atividade física específica, ritmada, longa e extenuante – a caminhada
em trilha longa, realizada em ambiente natural, durante um tempo disponível das
férias, canalizado para essa vivência.
Esse “corpo” ficou exposto à sensação de diversas fontes,
interpretou-as ao percebê-las e, durante 14 a 20 dias, emocionou-se com suas
motivações, com a percepção ambiental do percurso realizado, com o contato
próximo com outras culturas, com a convivência social com o grupo
13
aleatoriamente estabelecido para a realização do percurso, com as alterações
ambientais, com seus questionamentos, reflexões, discussões e com suas
próprias superações.
Após as considerações sobre o “corpo” como o principal mediador
entre os ambientes será aprofundado a seguir a outra extremidade da inter-
relação: o ambiente.
14
2. 2. Ambiente
Assim como o “corpo”, o tema “ambiente” possui várias concepções.
Lee (1976, p. 42) sugere que o ambiente seja formado por esquemas
socioespaciais e enfatiza a relação do ambiente com a “representação interior de
objetos físicos e sociais numa forma integrada”, ou, ainda, o ambiente como
estruturas sociais isomórficas, de formas semelhantes às estruturas espaciais.
É relevante destacar a contribuição de Reichard (1975) e Kates
(1975), apresentando o conceito de ambiência. Reichard (1975) sugere para o
termo “ambiência”, a qualidade do ambiente quanto à percepção; adaptação (que
ocorre por processos socioculturais); reversão (alteração da ambiência ou
mobilidade em direção ao outro ambiente) e preferências relativas a tempo (ações
de curto, médio e longo prazos).
Já Kates (1975) define “ambiência” como sendo a forma com que o
homem percebe o seu meio ambiente e as atitudes adotadas para com ele. O
autor salienta que há diferenças de percepção entre os homens que vivem em
um mundo natural e os que vivem em um mundo artificial; os que o horizonte não
apresenta qualquer obstáculo ou entre os quais o horizonte natural é limitado,
complementando com a observação de que “nas cidades onde a população
comprime-se dentro de limites, há a intriga política” (KATES, 1975, p. 174).
15
Na perspectiva ecológica, o ambiente é estudado por meio de suas
inter-relações com o homem.
Para o entendimento histórico dessas formas de interação, buscou-
se apoio em alguns autores, como Overton e Reese (1977), os quais
estabeleceram três categorias referentes a essa interação: submissão do homem
ao ambiente, no qual o ambiente é o agente de mudança e o comportamento
humano é o objeto da adaptação; o ambiente como construção humana, forma
comum de idéias, bastante pretensiosa, por constituir a natureza humana como
fator condicionante da existência ou não de um ambiente e o sistema
interdependente ambiente-homem, que considera que ambos os sistemas se
interam reciprocamente, exercendo influências formativas simultâneas.
Conceitos próximos aos defendidos pelos autores anteriores,
encontram-se na filosofia, o determinismo ambiental
, da escola filosófica alemã,
concebe o entorno controlando o curso da ação humana. Johnston et al (1981)
aponta que a influência do entorno sobre o homem remonta à Antigüidade
Clássica, revivida na Europa durante o Renascimento. O existencialismo,
corrente
de pensamento no qual o homem, condenado à liberdade por já não ser portador
de uma essência abstrata e universal, surge como arquiteto de sua vida, o
construtor de seu próprio destino, submetido, entretanto, a limitações concretas. E
o ambientalismo,
que se refere à ideologias e práticas que possuem interesse
ambiental, uma forma de ecologia humana.
Aprofundando-se no ambientalismo, Moraes (1997) cita três
posturas típicas: o naturalismo
, no qual os problemas são abordados em sentido
16
a-histórico, ignorando as relações sociais e onde a relação indivíduo-natureza é
condicionada às relações naturais e à sua dinâmica. Por essa perspectiva a ação
humana é definida como antrópica e interpretada a partir dos parâmetros das
ciências biológicas. O naturalismo recupera o determinismo natural e o
positivismo clássico.
A segunda orientação é o tecnicismo
, em que as soluções técnicas e
de manejo e gestão de recursos naturais podem resolver os problemas e dilemas
ambientais contemporâneos. O tecnicismo privilegia a razão técnica, a
instrumentalização da vida e da supremacia da ciência, que, de certa forma, são
importantes elementos para perpetuar o sistema vigente e a alienação humana.
A última corrente situa-se no contexto do romantismo ingênuo
(“política e ecologicamente corretos”), mas que desconsideram a dinâmica dos
sistemas ambientais e a inevitável ação humana sobre eles. Sua produção busca
sacralizar o ambiente, ao mesmo tempo em que destaca o ser humano como
nefasto.
Loureiro (2000, p. 22) acrescenta que, além dos aspectos
comportamental e moral, dimensões ideoculturais que as três correntes trazem,
elas não são as únicas e nem são as determinantes. O autor destaca a corrente
espiritualista, a qual, além das questões éticas e morais, visa a “buscar obter o
reconhecimento da vida em todas as suas formas de manifestação e repensar a
individualidade, tendo como ponto de apoio uma nova relação mais ‘harmoniosa’
com a natureza”.
17
Importante evidenciar que as contradições entre o capitalismo e as
diversas correntes do ambientalismo apontam para o aparecimento de novas
tendências de enfrentamento. Amaral (2001) as categoriza em: o adestramento
ambiental, linha desprovida de reflexões críticas, buscando o desenvolvimento de
posturas e atitudes ambientalmente corretas; o desenvolvimento sustentável
,
apoiando-se na “nova ética universal” de soluções ambientalmente sustentáveis,
preconiza um equilíbrio entre a preservação ambiental e o desenvolvimento
socioeconômico; o ecologismo radical,
assume uma “ética preservacionista” e
propõe uma transformação completa nos padrões da relação sociedade-natureza,
criticando o capitalismo e todas as formas de exploração e o pensamento crítico,
mais voltado para a Educação Ambiental, não a dissocia da Educação Geral,
utilizando o ambiente como gerador, articulador e unificador do currículo escolar.
Figura 03- Tendências filosóficas (autoria própria).
18
A perspectiva ecológica do ponto de vista da Psicologia Ambiental
também investiga a relação pessoa-ambiente, porém são elencados alguns
pressupostos básicos. O primeiro refere-se à bidirecionalidade
, um
direcionamento que propõe que as características da pessoa e do contexto
interagem, modificando-se mutuamente. Um segundo ponto refere-se à
interdependência
de variáveis e suas influências recíprocas. Uma terceira
característica é a de que nenhum contexto ambiental é neutro, porque qualquer
um dos aspectos influencia e é influenciado. Finalmente, como quarta
característica, a unicidade de um ambiente
, ou seja, o entendimento de que em
um ambiente há vários aspectos (físicos, sociais, pessoais) acontecendo
simultaneamente, mas que são separados apenas para finalidade de pesquisa
(CAMPOS-DE-CARVALHO, 2003).
Assim, se de um lado o “corpo”, principal mediador entre o mundo
interno e o mundo externo, sente, explora, descobre um ambiente, por outro lado
ele também é afetado pelo impacto das características ambientais. Essa relação
bidirecional funciona como um movimento oscilatório entre as extremidades
“corpo-ambiente-corpo-ambiente”, gerando processos de modificações mútuas a
cada circunstância num motus contínuo.
Uma outra perspectiva teórica que auxilia na compreensão da
interdependência entre as relações pessoa-ambiente é a da “Ecologia do
Desenvolvimento Humano” de Brofrenbrenner (1977). Para ele, a pessoa é vista
como:
19
um organismo biopsicológico complexo, em crescimento e ativo,
caracterizado por um complexo sistema integrado de processos
psicológicos (cognitivos, sociais, afetivos, emocionais, motivacionais), os
quais operam em interações mútuas (CAMPOS-DE-CARVALHO, 2003).
Destaca-se sua conceituação de que o fenômeno “ambiente” está
envolto em vários sistemas. Dentre eles: os microssistemas
, contextos imediatos,
nos quais a pessoa está inserida e é participante, exemplificado através das
relações com a família, colegas, bairro, escola. Cada um dos microssistemas
engloba um padrão de atividades, papéis sociais, relações sociais e relações
interpessoais experienciadas pela pessoa em desenvolvimento, em dado contexto
face-a-face; os mesossistemas
, que envolvem a interação dos microssistemas,
compreendendo os elos e processos ocorridos em dois ou mais contextos que
contêm a pessoa em desenvolvimento, pois a pessoa se engaja em atividades,
papéis e relações interpessoais diferentes, conforme o contexto em que está;
exossistemas
são ambientes sociais indiretos, elos e processos que ocorrem em
dois ou mais contextos, sendo que, pelo menos em um deles, a pessoa em
desenvolvimento não está contida, mas os eventos que aí ocorrem são influentes
no contexto imediato no qual a pessoa vive; macrossistemas
, consiste no padrão
de características do conjunto estabelecido pelos três sistemas anteriores, de
uma dada cultura, sub-cultura ou estrutura social mais extensa, com referência
particular para os sistemas de crenças, recursos, perigos, estilos de vida e opções
de intercâmbio social, que são investigadores do desenvolvimento e estão
imersos nestes sistemas mais amplos; e, finalmente, o cronossistema
, como
20
sendo a experiência total de vida de uma pessoa, sua história cultural e social
(BRONFENBRENNER,1977, 1979; CAMPOS-DE-CARVALHO, 2003 ).
Vale ressaltar que, quando se fala de sistemas ambientais, ou
contextos ambientais, está implícito, tanto em ambientes internos (por exemplo, o
lar, a sala de aula, entre outros), quanto nos ambientes externos (ao ar livre), a
presença da relação de interdependência pessoa-ambiente.
Um outro domínio de investigação foi proposto por Stokols (1978).
Para esse autor, existem duas dimensões que caracterizam o processo de inter-
relações pessoa-ambiente. São elas: a relação cognitiva/simbólica versus a
comportamental/física, que representa uma “forma” de relação e a relação ativa
versus reativa, que representa uma “fase” da transação.
Os modos de relação pessoa-ambiente apresentados por Stokols
(1978) são relevantes, porque o autor as investiga por meio de avaliações obtidas
a partir do julgamento da qualidade dos ambientes pelas pessoas e de
investigação de suas representações internas, em especial, as atitudes
ambientais favoráveis e desfavoráveis.
Já para a inter-relação homem-natureza, Worringer (1983) ressalta
que essa interface relacional pode ser agradável e afetiva, provocando confiança
e empatia, como também pode ser desagradável, provocando medo e inquietação
interior, o que o leva à necessidade de refúgio e abstração, buscas muito
semelhantes às encontradas nos comportamentos dos homens contemporâneos.
Dentro da temática ambiental e da ciência da motricidade,
especificamente, encontram-se autores, como Parlebas (1988) e Schmidt e
21
Wrisberg (2001), os quais, apesar de utilizarem terminologias diferentes, sugerem
as mesmas idéias, ao tratarem das definições de ambientes domésticos e
estáveis, ou, ainda, com relação aos conceitos de ambientes selvagens e
imprevisíveis. O meio selvagem se parece com um ambiente instável, no qual
existe a necessidade de interação com os elementos caóticos e com movimentos
motores abertos em resposta às propriedades dinâmicas do ambiente. Já o meio
doméstico é um contraponto ao selvagem, assemelha-se ao ambiente estável,
com elementos previsíveis e rotineiros, que requerem certa automação de
movimentos e o uso de habilidades motoras fechadas. Estes autores ressaltam a
importância da articulação desses diversos ambientes para o desenvolvimento
humano, independentemente de sua faixa etária.
Pela perspectiva ecológica, é consenso entre vários autores, a
concepção de que o contexto ambiental deve entrar necessariamente na análise
do fenômeno (STOKOLS, 1987; BRONFENBRENNER, 1979; CAMPOS-DE-
CARVALHO, 1993, 2003), já que corpo-ambiente faz parte de um sistema de
inter-relações e/ou interdependências mais amplo.
Embora considerando o aspecto da bidirecionalidade, é bastante
difícil executar uma pesquisa que seja capaz de investigar simultaneamente as
duas direções. Assim, este estudo priorizou os aspectos do “corpo” sendo
influenciado pelo ambiente.
A partir do entendimento das tendências filosóficas das relações
pessoa-ambiente, acredita-se que uma investigação teórica sobre as relações
pessoa-ambiente natural por meio de atividades físicas, contribua para compor o
22
quadro de bidirecionalidade e interdependência proposto pela perspectiva
ecológica.
“O Corpo-Natureza”
Quanto às possibilidades de relação pessoa(s)-ambiente natural,
vários autores (COSTA e TUBINO, 1998; RIBEIRO, 1998; ALMEIDA, 1999;
SILVA, 2004) concordam que existe uma tendência do homem contemporâneo
em recorrer às atividades físicas na natureza. Traduzida em seus discursos, pelo
intuito de experimentar novas e diferentes sensações/percepções, obtenção de
um controle maior de suas emoções, além da busca por novos significados para
sua existência por meio desse contato.
Em relação às sensações e emoções Bruhns (2003, p. 37) afirma
que a “realidade, captada de maneira sensível pelo corpo, traz em si uma
organização, um significado, um sentido.” Para a autora é possível uma interação
com o ambiente por meio de um “mergulho na natureza”, o qual exercita os
sentidos. Segundo ela: “ver, ouvir, tocar, cheirar ou degustar sons, cores,
superfícies, cheiros ou sabores, faz parte de um conjunto intenso em que a
tatilidade agora é representada pelo corpo como um todo, o qual toca a natureza
e é tocado por ela” (BRUHNS, 2003, p. 45).
23
Serrano (2000) relata sobre a sensação de liberdade,
redescobrimento de capacidades e de limites de experimentação de novas
percepções, o que, segundo esta autora, geraria inúmeras emoções, tornando a
prática bastante significativa.
Schwartz (2002, p. 163), acrescenta a identificação do “outro” dentro
das atividades físicas de aventura na natureza. Para ela a experiência oferecida
por essas vivências, “experimentando o prazer da emoção real e do arriscar-se
ludicamente” pode favorecer mudanças qualitativas, em relação ao estilo ou aos
planos de vida. A autora evidencia que o nível de intervenção exigido nessas
atividades pode influenciar valores e condições sociais, as quais, não apenas
sustentam, mas favorecem hábitos arriscados, no sentido de superação
constante, com leis e normas que valorizam os elementos realmente importantes
para a vida. Para Schwartz (2002), mesmo que os hábitos e comportamentos
sejam culturalmente mediados, é possível que essas atividades, por meio de
prazer, emoção e aventura, promovam mudanças relacionadas à qualidade
existencial.
Mais recentemente, Marinho e Schwartz (2005) sugerem que essa
aproximação qualitativa pessoa(s)-ambiente, pode intensificar e acelerar o
processo de tomada de consciência da necessidade de preservação. Afinal, em
tais vivências, os seres humanos não são apenas espectadores, mas
participantes efetivos.
No entanto, outras sensações e emoções, não tão positivas, também
estão presentes nas AFAN. Ao se intensificar os níveis emocionais, instala-se
24
uma forma de estresse bem peculiar, causado muito antes da viagem
propriamente dita. Inicia-se com a escolha do roteiro e preparação para a
atividade. Passa pela tensão do deslocamento, abrangendo, desde o local de
escolha, situação em que se encontra o meio ambiente, acesso, distância do
percurso, condições climáticas, infra-estrutura: hospedagem, alimentação,
equipamentos receptivos, densidade e habitabilidade (BENI,1997).
Marinho (1999) sugere que, apesar de alguns praticantes
perceberem a natureza como uma adversária a ser vencida, o meio natural
deveria ser visto como parceiro, em um jogo no qual se convive, desfruta de
riscos calculados, desafios e do elemento lúdico constante nestas práticas, que
muito contribuem para a motivação dos participantes. A autora salienta também
que, apesar de a natureza humana ser bastante adepta aos desafios, quando
estes ultrapassam o limite da segurança e da organização, deixam de
caracterizar-se como atividade lúdica, para representar outros parâmetros, até
mesmo, relacionados à sobrevivência, com a demonstração da prevalência de
traços masoquistas de personalidade ou outros desvios.
Sugerem, ainda, Marinho e Schwartz (2005, p. 05) que, “muitas
vezes, os próprios envolvidos não sabem como proceder diante de determinadas
situações na natureza e, por falta de conhecimento e não apenas por desrespeito,
contribuem para os desgastes nos ambientes naturais”.
Uma outra característica negativa dessa inter-relação é citada por
Krippendorf (1989). Para ele, desde o excursionista de fim de semana ao habit
de viagens culturais e do amador de safáris fotográficos, passando pelo turista
25
aventureiro ao esquiador de montanha “quer estejam de acordo ou não, as
motivações dos turistas são sempre motivadas por considerações egoístas”
(KRIPPENDORF, 1989, p.63).
Vários autores alertam para o crescimento das indústrias do
entretenimento e do consumo de elementos naturais (BRUHNS, 2000;
KRIPPENDORF, 1989, RIBEIRO e BARROS, 1997), o que, mesmo que marcado
por boas intenções, cria resultados inesperados, mudanças indesejadas e
dependências clientelistas e patrimoniais; sinalizando para a necessidade de um
embasamento filosófico ambientalista, não só em discurso, bem como, de
processos educativos, em que se exercite o conhecimento como instrumento de
compreensão das relações presentes entre pessoas e ambiente natural.
Nessa síntese de autores, foi possível observar aspectos filosóficos,
políticos, econômicos, sociais e culturais pertencentes ao contexto, mas que
interagem com o indivíduo, influenciando suas características físicas e pessoais,
seus valores, suas atitudes e os seus comportamentos para com o meio
ambiente. E esses aspectos serão abordados de forma diferenciada, desse
estudo.
26
2. 3. Valores, Atitudes e Comportamento Ambiental
“Valores”
Schultz et al (2004), inicialmente, apregoavam os “valores” como um
dos objetivos principais do princípio ecológico. Para eles, os valores funcionavam
como organizadores dos sistemas de atitudes e convicções, sendo, até mesmo,
determinantes para se manter uma atitude. Foi, então, criado o termo “valores
ambientais”, que se referiam, especificamente, às questões de interesse e atitude
ambientais, dentre eles: igualdade, sabedoria, ambição e liberdade.
Coelho, Gouveia e Milfont (2006) relataram que muitas pesquisas
têm sido feitas, especialmente na área da Psicologia Ambiental, na tentativa de
buscar explicações para as relações entre as atitudes e os comportamentos
favoráveis ao ambiente. Os mesmos autores argumentam que a “Teoria de
Ativação da Norma”, proposta por Schwartz (2006), é a que prediz mais
adequadamente o comportamento pró-ambiental. Essa teoria assevera que todo o
comportamento é determinado pela intenção de executar um comportamento
qualquer concretamente, no caso deste estudo, direcionada para o
comportamento ambiental.
A teoria de Schwartz (2006) define que, para que um comportamento
ocorra, um conjunto de motivações universais deve originar e organizar os
diversos valores existentes nas diferentes culturas. Esses valores são
27
considerados conceitos e crenças que um indivíduo possui sobre “uma meta
(terminal ou instrumental), que transcende às situações e expressam interesses
(individualistas, coletivistas ou mistos), correspondentes a um domínio
motivacional” (GOUVEIA, MARTINEZ e MILFONT, 2001).
São eles:
Quadro 01- Valores de primeira ordem e de ordem superior:
Valores de
primeira
ordem:
Definição:
Valores de
ordem
superior:
Definição:
Autodireção Pensar independentemente, tomar decisões, ser
criativo.
Estimulação Ter excitação, buscar novidades e mudanças na
vida, ser atrevido, arrojado, ter vida variada.
Hedonismo Desfrutar da vida, viver o prazer.
Abertura à
mudança
Independência
de pensamento e
ação e favorece
a mudança.
Auto-
realização
Ter êxito pessoal, ambição e capacidade.
Poder Assumir posição e prestígio social domínio de
recursos e pessoas, autoridade, riqueza.
Autopromoção
Busca de
sucesso e
domínio sobre os
outros
Segurança Conseguir segurança, harmonia e estabilidade
nas relações inter e intra-pessoais.
Conformidade Limitar ações, inclinações e impulsos, auto-
disciplina, bons modos, respeito as regras
sociais.
Tradição Respeitar, comprometer-se a aceitar costumes e
idéias da cultura tradicional, religião, devoção,
humildade, vida espiritual
Conservação
Tradição e
proteção da
estabilidade
favorecendo a
manutenção do
status quo.
Benevolência Preservar e reforçar o bem-estar das pessoas
próximas, ser colaborativo, ajudar, ser honesto,
não rancoroso, ter sentido na vida.
Universalismo Compreender, apreciar, tolerar, estar aberto para
a amizade verdadeira, justiça social, igualdade,
harmonia interior, ser protetor do meio ambiente,
promover a união com a natureza, a sabedoria,
um mundo de paz, um mundo de beleza.
Auto
transcendência
Ênfase na
igualdade e
preocupação
com o bem-estar
dos outros.
Fontes: SCHWARTZ (2006); GOUVEIA, MARTINEZ e MILFONT (2001).
28
Segundo a teoria de Schwartz (2006), há relações dinâmicas de
compatibilidade e conflito entre os tipos motivacionais, o que evidencia a
concordância com o pensamento de Porto e Tamayo (2003), ou seja:
as pessoas tendem a apresentar alta ou baixa prioridade para certos
tipos motivacionais mutuamente compatíveis com certos domínios
motivacionais do que de forma randômica. Em contrapartida, a
priorização simultânea de alguns domínios incompatíveis levaria a
conflitos (PORTO e TAMAYO, 2003, p. 147).
Assim, a “auto-promoção” apresenta oposição à “auto-
transcendência” e a “conservação” contrapõe-se à “abertura à mudança”
(Schwartz, 2006).
A apresentação dos pares de valores de motivação similares e
diferentes, como os exemplificados acima, abriu um novo leque de possibilidades
para o entendimento das atitudes. Gouveia, Martinez e Milfont (2001) traduziram
para o português e estabelecerem os pares de valores, tidos como compatíveis,
por exemplo: poder-realização; realização - hedonismo, hedonismo - estimulação,
estimulação-auto - direção, auto-direção - universalismo, universalismo -
benevolência, benevolência - conformidade, conformidade - tradição, tradição -
segurança, segurança - poder e segurança - conformidade. Esses autores
também estabeleceram pares, nos quais os conflitos eram esperados: auto-
direção - conformidade, auto-direção - tradição, auto-direção - segurança,
estimulação - conformidade, estimulação - tradição, estimulação - segurança,
29
universalismo - poder, universalismo - realização, benevolência - realização,
hedonismo - conformidade e hedonismo - tradição.
Com relação ao cruzamento de valores e atitudes ambientais, Karp
(1996), em uma outra investigação, verificou que a “auto-transcendência” e a
“abertura às mudanças” eram fortes preditores de atitudes pró-ambientais.
“Atitudes”
Outro aspecto importante são as atitudes, que são “a prontidão da
psique para agir ou reagir numa certa direção” (JUNG, citado em CAMPBELL,
1986, p. 60). Ter certa atitude significa estar direcionado a priori, e em prontidão
para algo ou alguma situação definida, presente ou não na consciência.
Campbell (1986) complementa falando que têm sido realizadas
várias tentativas para mensurar as atitudes, no entanto, elas recebem muitas
críticas, por medirem mais a opinião do que a atitude.
Do ponto de vista da temática ambiental, os estudos que abarcavam
as atitudes ambientais evidenciavam o uso, sem distinção aparente, de várias
denominações, as quais, às vezes, interligavam-se e, outras vezes, eram usadas
como sinônimo.
Schultz et al (2004) apontaram como exemplos dessas
denominações os conceitos de “consciência ambiental” (pessoas que possuem
convicções afetivas/empáticas acerca dos problemas ambientais), de “atitude
30
ambiental” (pessoas que possuem suas próprias convicções afetivas ou
empáticas, seus próprios valores, que têm intenções comportamentais, e que são
firmes com relação às temáticas e às atividades ambientais) e de “ecological
worldview” (aqui traduzido como visão ecológica de mundo, são aquelas que
acreditam na relação harmônica entre as pessoas e a natureza).
Atualmente, as “atitudes ambientais” são sugeridas como “as
percepções ou convicções relativas ao ambiente físico, inclusive fatores que
afetam sua qualidade” (AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION, 2001, p.
89), e adjetivadas como favoráveis ou desfavoráveis em relação ao ambiente em
si ou a um de seus problemas.
Para Coelho, Gouvêa e Milfont (2006) as atitudes ambientais podem
estar relacionadas a experiências subjetivas e aprendidas, representando um
repertório de crenças relacionadas ao ambiente.
Este estudo optou por utilizar as nomenclaturas e conceitos de
atitude ambiental cunhados por Thompson e Barton (1994): “atitude ecocêntrica” e
“atitude antropocêntrica”. Ambas são expressões positivas de atitudes a favor do
ambiente, com o interesse de preservar os recursos, no entanto, a principal
diferença entre elas é a razão que leva as pessoas a manter essas atitudes
ambientalistas. “Os antropocentristas” têm uma visão utilitarista, defendem a
preservação dos recursos naturais e da saúde do ecossistema, mas mantêm a
atitude conservacionista e a suportam em função do conforto, do acúmulo de
riqueza, da qualidade de vida e da sua saúde.
31
Já “os ecocentristas” vêem a natureza importante por si só,
independente da economia ou do estilo de vida, possuem uma dimensão espiritual
e valores intrínsecos, que refletem suas experiências na natureza e seus
sentimentos sobre a composição harmônica dos ecossistemas. Eles concordam
com os antropocentristas sobre a preservação ambiental direcionada à saúde e à
qualidade de vida; mas discordam nas razões para se manter as atitudes pró-
ambientais. Os ecocentristas não percebem o pró-ambientalismo como um valor,
mas como uma dimensão que transcende habilidade, capacidade de gerenciar os
recursos naturais e seus próprios desejos psicológicos. Seus conceitos
fundamentam-se na colaboração e na manutenção das atitudes preservacionistas,
mesmo que envolvam algum desconforto, inconveniência ou gastos que possam
reduzir sua qualidade de vida material (THOMPSON e BARTON, 1994).
Reforçam essa conceituação Pinheiro et al (2005, p.01), ao
afirmarem que: “enquanto o primeiro valoriza a natureza por seu valor intrínseco, o
segundo leva em conta os benefícios materiais e vantagens, proporcionados pelo
cuidado ambiental para os seres humanos”.
A distinção entre antropocentrismo e ecocentrismo não é nova.
Essas duas atitudes são análogas aos pontos de vista filosóficos discutidos em
Stokols (1990). Para este autor, os instrumentalistas se assemelham aos
antropocentristas, já que o ambiente é uma forma de se atingir metas. Já os
espiritualistas, se assemelham aos ecocentristas, por julgarem que o ambiente
deve ser um contexto de desenvolvimento espiritual humano, com valores
independentes de sua contribuição para se atingir metas humanas.
32
Thompson e Barton (1994) colocam na mesma categoria os
ecocentristas e os espiritualistas, porque ambos julgam o ambiente, também,
como um contexto moral e de enriquecimento espiritual.
Todos esses aspectos da atitude estão intrinsecamente ligados à
forma de expressão e das intervenções geradas em relação ao ambiente,
elementos que assessoram o comportamento pró-ambiental.
“Comportamento pró-ambiental”
Há um consenso entre diversos autores de que os valores e as
atitudes correlacionam-se de forma significativa com o comportamento pró-
ambiental (THOMPSON e BARTON, 1994; STERN e DIETZ, 1994; COELHO,
GOUVÊA e MILFONT, 2006).
No entanto, Thompson e Barton (1994) alertam para o fato de que
existe uma grande dificuldade em se manter regras conservacionistas, já que as
pessoas não agem ou não se comportam de acordo com suas atitudes, gerando a
dissonância cognitiva (atitude positiva e conduta negativa) expressa por Festinger
(1975) e utilizada em estudos de diversas áreas, como na motricidade humana por
Schwartz (1997), mas, que não será aprofundada neste momento, em virtude de
se priorizar outros aspectos.
As atitudes são as crenças definidas com base nos valores, e o
comportamento ou a conduta é a maneira como alguém ou algo age ou funciona,
33
termo geralmente aplicado referindo-se à conduta ou à ação de um indivíduo
como unidade. Para Campbell (1986, p. 115), o comportamento está atuando em
“resposta a algum estímulo ou impulso proveniente de um determinado órgão,
mas é sua reação geral que dá origem ao conceito”.
Em relação ao ambiente, e como forma de articular valores, atitudes
e comportamentos, Corral-Verdugo e Pinheiro (1999) adotaram o termo
“comportamento pró-ambiental” (CPA).
O CPA pode ser dirigido por fatores externos e internos dos
indivíduos. Os behavoristas destacam, dentre os fatores externos ao
comportamento, os reforçadores, os castigos, os antecedentes e as
conseqüências (reais e palpáveis) da conduta ambiental. Os cognitivistas mostram
maior interesse nas variáveis internas, dentre elas, se a pessoa é politizada,
religiosa, socialmente liberal, com “locus interno de controle”
1
.
“Tipicamente uma investigação de CPA é realizada através de
contextos verbais, colocando os sujeitos fora do cenário ambiental físico-químico
que se deseja estudar” (CORRAL-VERDUGO e PINHEIRO, 1999, p. 08). Essas
investigações utilizam vários métodos, sendo o auto-relato, por meio de
questionários e entrevistas, o mais comum deles.
1
Locus de controle pode ser definido como a expectativa generalizada de alguém em sua
capacidade de controlar os acontecimentos (reforços) que seguem as suas ações, afetando suas
expectativas de modo positivo ou negativo. Pode ser interno se o indivíduo percebe os resultados
como conseqüência de suas próprias ações, e externo, se conseqüência de fatores externos.
Assim, os indivíduos seriam internos se pensam que podem exercer razoável controle sobre o que
lhes acontece; e externos se acreditam que esse controle independe deles, o que interfere em seu
desempenho.
34
A desvantagem desta metodologia está profundamente ligada à
mesma crítica feita à Teoria das Atitudes, pois, também para o comportamento
pró-ambiental, falta a correspondência entre os valores verbais e os registros de
comportamentos manifestos, apreendidos pelos pesquisadores ao observarem
seus sujeitos após a realização dos auto-relatos. Na verdade, o CPA aponta
apenas “desejos, crenças e convenções dos indivíduos” (CORRAL-VERDUGO e
PINHEIRO, 1999, p. 14).
Uma outra forma de se estudar o assunto é por intermédio do uso de
escalas. Dentro das citadas por Dunlap et al (2000); Schultz et al (2004) e Gabriel
e Silva (2005) tem-se: a New Environmental Paradigm Scale (NEP) ou Escala do
Novo Paradigma Ambiental (NPA na versão original e a versão revista com 15
itens); a Environmental Motives Scale (EMS); a Inclusion of Nature in Self Scale
(INS); a Implicit Association Test (IAT); a Value-Belief-Norm (VBN), a Inclusion of
Other in Self (IOS) e a Escala de Ecocentrismo e Antropocentrismo (Escala T&B
original com 33 itens e sua versão revisada com 16 itens por Schultz e Zelezny,
1999).
Embora a maioria das escalas citadas não indique diretamente o
comportamento ambiental, salientam uma seleção de atitudes possíveis de
evidenciá-lo.
É importante ressaltar que, apesar de as denominações de atitudes
indicadas em cada uma das escalas serem diferentes, seus conteúdos são
bastante semelhantes, por exemplo, Stern e Dietz (1994), distinguem na VBN, na
NEP, na EMS e na IAT três formas de atitudes básicas ambientais: egoísta
35
(indivíduos orientados por metas pessoais, como posição e ascensão social,
sucesso e riqueza), biosférica (indivíduos que focam o bem-estar de todos e
tentam um bem viver com todos os tipos de vida) e altruísta social (indivíduos com
valores focados na amizade, na humanidade, nas outras pessoas, como a família
e a comunidade).
Muitas investigações que interseccionam os valores e as atitudes
ambientais têm sido realizadas, apresentando avanços com relação ao
entendimento do comportamento pró-ambiental. As pesquisas de Schultz e
Zelezny (1999) encontraram resultados que relacionam os tipos motivacionais de
valores de Schwartz (2006) como preditores de atitudes ambientais.
Cortez, Milfont e Belo (2001), realizaram uma outra pesquisa sobre
os significados psicológicos do lixo, utilizando redes semânticas naturais (na qual
se utiliza uma palavra estímulo e palavras definidoras de contexto para uma
posterior aglutinação e hierarquização) com os valores assinalados anteriormente.
Nesse estudo, os resultados demonstraram que os mecanismos que levavam um
sujeito a agir de maneira altruísta, resultavam em comportamentos pró-sociais,
que objetivam o coletivismo. Ficou indicado, por esse estudo, que os tipos
motivacionais: universalismo, ambientalismo e tradição predizem positivamente os
comportamentos pró-ambientais; enquanto os tipos motivacionais: poder e
hedonismo predizem negativamente o comportamento a favor do ambiente.
Mais posteriormente, em uma outra investigação sobre valores
explicadores de atitudes ambientais e de intenção de comportamento pró-
ambiental; Coelho, Gouveia e Milfont (2006), utilizando os dez tipos motivacionais
36
de Schwartz (2006), obtiveram como resultado que o tipo motivacional
universalismo, o qual faz parte da categoria auto-transcendência, foi o que mais
consistentemente explicou as atitudes ambientais ecocêntricas, enquanto os tipos
motivacionais poder e tradição o fizeram negativamente. Já as atitudes
antropocêntricas foram preditas positivamente pelos tipos motivacionais poder,
tradição, conformidade e segurança, e negativamente por benevolência.
Paralelamente ao levantamento da literatura disponível sobre as
quatro palavras-chave (corpo, ambiente, estados emocionais e comportamento
pró-ambiental) já elencadas, foram coletadas informações sobre a atividade física
na natureza selecionada para estudo e o contexto adequado à realização dos
objetivos da pesquisa.
Priorizou-se pela escolha da caminhada de longa distância, uma
atividade do âmbito de lazer acessível à maioria das pessoas,
independentemente de suas condições econômicas ou preparo físico e que
permite tempo e grau de imersão suficientes para que algum tipo de mudança de
estado emocional, atitude ou, até mesmo, de comportamento dos participantes,
pudesse ser manifestada externamente, durante a realização da mesma.
37
2. 4. As caminhadas
A “caminhada” vem passando por uma evolução conceitual,
deixando de ser apenas uma mera forma de locomoção humana, como apontam
Adas (1982) e Betrán (2003), ao se referirem às migrações dos homens primitivos
a pé. Acompanhada de novas simbologias e outros conflitos, tornou-se, também,
uma atividade física, dando origem a duas vertentes, tanto no âmbito esportivo,
como no âmbito do lazer. São elas: o trekking e o pedestrianismo (jogging).
O Trekking é conceituado como uma caminhada rústica de
sobrevivência em cenário natural, bastante relacionado ao sentido de migrar (do
verbo holandês “trek”) por opção cultural, social, religiosa, política. O que antes
designava longas e difíceis caminhadas feitas pelos exploradores em direção ao
interior dos continentes, em busca de conhecimentos, terras, escravos,
especiarias, pedras preciosas, ou peregrinações religiosas, passou a configurar-
se como prática esportiva, de competição ou de lazer. Ganhou equipamentos de
orientação como bússolas, mapas e GPS e tornou-se conhecido, também, como
hiking ou backpacking.
Praticado em grupos, o trekking estimula o espírito de
companheirismo e a interação com a natureza, surgindo variações para a
modalidade, como o trekking independente, o trekking organizado, o trekking
assistido, o trekking de competição e o trekking de regularidade ou Enduro (por
causa da importância das equipes passarem nos Postos de Controle - PC, dentro
38
dos tempos pré-estabelecidos), diferenciando-se dos rallies a pé, de regularidade
e de velocidade, que são provas realizadas em equipes, em que diversos
esportes são acrescentados durante o trajeto, como rappel, rafting, entre outros
(BITTENCOURT e AMORIN, 2005). Existem no Brasil, atualmente, cerca de trinta
entidades que organizam e promovem competições de trekking, dentre elas, as
mais conhecidas são: A Liga Nacional de Enduro a Pé, a Confederação Brasileira
de Rallie a Pé, Associação Brasileira de Trekking Desportivo e a Federação
Paulista de Enduro a Pé e Trekking.
Diferentemente do pedestrianismo, que percorre caminhos mais
urbanos, o roteiro do trekking envolve atravessar trilhas, subidas, descidas e
alguns obstáculos naturais. Alguns desses pontos são chamados de
“Neutralizados”, por permitirem aos participantes, tempo livre para descanso e
lanches. Outros, intitulados de “Deslocamento”, são os locais onde se define o
tempo para cobrir o trecho a seguir.
No Brasil, o termo trekking, foi introduzido por Ortiz (1996),
significando caminhadas em trilhas naturais, em busca de lugares interessantes
para se conhecer.
Complementando, Beni (1997) define o trekking como uma atividade
desportiva e/ou recreativa alternativa, com características de turismo ecológico ou
de aventura, desenvolvida individualmente ou em equipes, por grupos
homogêneos e reduzidos, com intensa participação dos praticantes, realizada em
ambientes silvestres ou selvagens, afastada das rotas tradicionais, apoiada por
uma estrutura básica primária.
39
Por não exigir preparo específico e poder ser praticado por qualquer
pessoa de diferentes faixas etárias, não oferecendo grandes riscos, o trekking é
um dos esportes de convivência com a natureza dos mais acessíveis e que
abarca grande parte dos pacotes de ecoturismo (BITTENCOURT e AMORIN,
2005).
Betrán (2003) classificou o trekking como uma atividade física de
aventura na natureza (AFAN), de modalidade suave, por não provocar impactos
ambientais importantes; de caráter ativo e passivo, pois o participante também
contempla, discute, frui e observa a natureza; por levar em consideração o
ambiente físico (no plano; nos meios ar e água, por exemplo, o water trekking;
com certo grau de incerteza, que depende dos fenômenos metereológicos e das
condições de relevo), envolvendo as dimensões emocionais (suas condutas
ascéticas; sensações que variam entre prazer e descanso, perspectiva de
eliminação de riscos, por meio do uso dos recursos biotecnológicos); com
possibilidade de variedade de práticas; com valorização ambiental (desde a
preocupação quanto ao impacto ecológico, intensidade, duração da atividade,
estação do ano, momento do dia, vulnerabilidade das espécies animais e vegetais
da fauna da região onde está sendo realizada a atividade; comportamento
ambiental dos participantes) e por permitir práticas em ambientes sociais
variados, de individuais à colaboração e acompanhamento de equipes.
Colabora para o crescimento da modalidade como prática esportiva
e de lazer a diversidade geográfica e climática brasileiras, e que, segundo
40
Bittencourt e Amorin (2005, p. 455), “embora sem registros oficiais”, as entidades
representativas desse esporte estimam a ordem de 7.000 praticantes regulares.
As indústrias de equipamentos, acessórios, vestuário,
suplementos/repositores e turismo que oferecem mochilas técnicas, capas de
chuva ou ponchos, roupas dry-fit confeccionadas com os chamados “tecidos
inteligentes” (com baixa retenção de umidade, peso mínimo, rápida secagem e
costura de alta resistência), meias sem costura, com tecidos que evitam irritação
e fricção nos pés, coturnos, tênis, polainas, alimentação de digestão rápida, além
dos pacotes de viagem oferecidos pelas Operadoras de Turismo, representam um
leque de opções de estilos e preços, o que faz com que essa indústria aproprie-se
das necessidades e desejos do público praticante.
Beni (1997) levanta ainda a possibilidade de exploração dos
componentes sensórios da paisagem natural e as formas de apreciá-los,
transformando as sensações, percepções e emoções experimentadas em
enredos. O conjunto bem sucedido de ações mercadológicas, visando ao
atendimento desse público e de seus enredos psicológicos pode estimular
potencialmente sua aderência à prática, o consumo de equipamentos e o retorno
ao local ou a destinos semelhantes.
Vasconcellos (1998) ressalta que o trekking também pode ter uma
função educativa, por permitir um caminho através dos espaços geográfico,
histórico e cultural.
41
As caminhadas em trilhas, de caráter educativo, têm curta extensão,
mas são planejadas para que, em um curto espaço de tempo, seja possível o
conhecimento da fauna, flora, geologia, geografia, dos processos biológicos, das
relações ecológicas, do meio ambiente e sua proteção, de forma bastante intensa.
A caminhada em trilha interpretativa é planejada para que os
recursos naturais ali dispostos sejam traduzidos para os visitantes, com o
propósito de que suas percepções sejam estimuladas e que, com isso,
questionem, experimentem, sintam e descubram os vários sentidos e significados
ao tema exposto (GHILLAUMON, 1977).
O pedestrianismo se faz presente ao longo da História. É de se
supor que muitas pessoas, em grupo ou sós, desfrutaram do prazer de uma
caminhada pelo campo, para contemplação, deleite dos sentidos, busca de
tranqüilidade e paz interior, podendo, até, fazer parte da tradição de algumas
culturas. Os registros mais antigos disponíveis sobre esses passeios recreativos a
pé, como prática sedimentada culturalmente, pertencem à Inglaterra do século
XVIII. A caminhada bucólica foi um ritual particularmente apreciado pelas elites no
período vitoriano e, ainda hoje, está entre os programas de fim de semana
convencionais da família inglesa (TEIXEIRA et al, 2006). Na França, como em
outros países da Europa, também foi um hábito bastante apreciado desde o
século XIX.
42
No final do século XIX, as Corridas de Rua ganharam impulso,
depois do grande sucesso da primeira Maratona Olímpica, popularizando-se,
particularmente, nos Estados Unidos.
Na década de setenta, as pesquisas do médico norte-americano
Kenneth Cooper e a difusão do "Teste de Cooper", foram responsáveis por um
jogging boom, como também é chamado o pedestrianismo. Nos Estados Unidos e
na Europa, a modalidade se massificou e o número de praticantes cresceu, fato
que pode ser muito bem evidenciado até os dias de hoje, quando se tem atletas
amadores e populares, largando em seus respectivos pelotões, junto com os
corredores de elite nas competições de rua de todo o mundo (WEBRUN, 2006).
No Brasil, embora existam registros do pedestrianismo ou
caminhada como esporte desde 1910 (SANTOS, 2005), sabe-se que aqui, ele é
praticado desde datas bastante anteriores à assinalada. Essa modalidade
consiste em realizar grandes marchas a pé (da caminhada à corrida), acima de
dois quilômetros, de modo livre e assistemático, em caminhos e terrenos abertos,
urbanos, que podem ser desde praças, logradouros públicos, estradas a rodovias.
Os passeios pedestres situam-se no limiar entre o desporto e o
turismo, sendo que sua prática, ao mesmo tempo em que tem um caráter ativo: o
caminho a percorrer, possui, também, um caráter passivo, no qual o praticante
desfruta da natureza que o rodeia (contemplando, descansando, sem pressa de
chegar ao fim). Na maior parte dos casos, as caminhadas não exigem grande
aprendizagem nem técnicas especiais. Podem ser praticadas por pessoas em
todas as faixas etárias. Não requerem equipamento sofisticado, material técnico,
43
conhecimentos prévios de cartografia ou orientação. No entanto, para
determinados tipos de percursos, sugere-se a presença de um guia mais
experiente e conhecedor do trajeto.
A distinção entre o pedestrianismo e outras atividades similares é
que essa modalidade utiliza-se de marcas e códigos internacionalmente
conhecidos e aceitos. Os percursos pedestres podem ser de grande rota (GR),
com extensão superior a 30 Km e dois dias de jornada ou mais, sinalizados a
branco e vermelho e de pequena rota (PR), com até um dia de jornada e não mais
de 30 Km, sinalizados a amarelo e vermelho. Atualmente, a Federação
Internacional das Associações de Atletismo (IAAF, 2004) define as Corridas de
Rua como provas de pedestrianismo, disputadas em circuitos urbanos (ruas,
avenidas, estradas), com distâncias oficiais variando de 5 Km a 100 Km. Devido à
carência de infra-estruturas para sua prática, na maioria das vezes, o
pedestrianismo pode ser guiado ou orientado.
O pedestrianismo tem algumas características bastante peculiares,
tais como: ter como principal objetivo a conscientização de grupos e indivíduos da
importância dos exercícios físicos para uma vida saudável, estar bastante ligado
ao âmbito do lazer e da promoção comunitária; ter roteiros culturais, turísticos e
ecológicos e, muitas vezes, ser um dos carros-chefe na promoção de eventos
(SANTOS, 2005). O autor cita que a atual disseminação massificada do
pedestrianismo/caminhada se deve à intensa promoção do “Movimento Cooper
em prol dos exercícios aeróbios”, ao “Movimento Esporte para Todos”, ao
Challenge Day”, entre outros eventos temáticos de responsabilidade e inclusão
44
social, que envolveram a participação de um grande número de pessoas e grupos
comunitários, com prévia adesão por escrito, apoiados por organizações não
governamentais, poder público, com patrocínio de empresas locais e nacionais e
mídia.
Com relação ao reconhecimento das romarias a pé como atividade
física no âmbito do lazer, Santos (2005) ressalta que um dos exemplos bem
peculiares de pedestrianismo é a caminhada religiosa.
As peregrinações, viagens por terras distantes em romaria a lugares
santos (FERREIRA, 1986), são devoções milenares. Pessoas de todas as idades
e classes sociais imitam os passos medievais, percorrendo antigos traçados,
motivados por espírito cristão, outros por misticismo, alguns pela busca interior e
outros de respostas rumo ao sagrado ou, ainda, como uma grande aventura.
Apesar da afirmação de Tabanez et al (1997, p. 89) acerca das
“oportunidades de reflexão sobre valores, indispensáveis a mudanças
comportamentais que estejam em equilíbrio com a conservação dos recursos
naturais”, presentes tanto no trekking quando no pedestrianismo, as “caminhadas
religiosas” evocam outros objetivos, até mesmo, arquivos afetivos, nem um pouco
relacionados com os descritos anteriormente.
Para Beni (1997), os peregrinos são turistas potenciais, os quais, ao
se deslocarem a centros religiosos motivados pela fé em distintas crenças,
utilizam-se de equipamentos e serviços com estrutura de gastos semelhantes a
outros turistas. O autor ressalta que a variável permanência está intimamente
45
ligada ao tempo de duração das cerimônias, ritos, celebrações religiosas e, até
mesmo, romarias, denominando-o como turismo religioso.
Richena (2005) e Nabo Filho (2005) admitem que são necessários:
preparo físico anterior, equipamentos e check-up geral, antes de uma
peregrinação religiosa com duração de vários dias, comparando as distâncias
percorridas às estabelecidas em ultramaratonas.
O exemplo de caminhada religiosa mais antiga e lendária é o
“Caminho de Santiago de Compostela” na Espanha, que viveu seu auge nos
séculos XII e XIII, quando reis espanhóis chegaram a criar uma ordem de
cavalaria para proteger a cidade e as trilhas.
Sua importância vai além da questão política e religiosa asseverada
por Padovani (2004), que numa leitura mais sociológica, faz uma correspondência
entre a origem do “Caminho de Santiago de Compostela” com a expulsão dos
mouros na tentativa de reunificação da Espanha, enquanto nação católica. Sua
relevância consolidou-se, na esfera das artes, economia e turismo, em 1993,
quando a Rota de Santiago foi declarada Patrimônio da Humanidade por Decreto
da UNESCO, por reunir em seu percurso de (700 a 800 km dependendo da
ramificação), construções civis, militares e religiosas, acrescentadas através dos
séculos, exemplo de vários estilos arquitetônicos. Percurso que atualmente, atrai
uma média de 150 mil peregrinos e turistas por ano.
46
No Brasil, o maior exemplo de peregrinação está relacionado ao
deslocamento realizado por fiéis em direção ao santuário localizado na cidade de
Aparecida (SP). Denominadas por Santos (2005) como “Caminhadas a
Aparecida”, existem desde o século XVI, sendo esse roteiro o mais difundido e
antigo. Durante vários anos, homens e mulheres, muitas vezes sem preparação
física adequada, sem equipamentos, alimentação ou água de boa qualidade e,
até mesmo, sem trilhas traçadas, percorreram distâncias acima de 45 km por dia,
quer com claridade ou com escuridão, para cumprir suas promessas, fazer
pedidos e agradecer por graças recebidas.
Apesar desses percursos serem realizados a pé desde o final do
século XVI, as peregrinações a Aparecida/SP só foram reconhecidas como
“caminhadas” recentemente, sendo incluídas no Atlas do Esporte (SANTOS,
2005). São apontados como motivos para essa convalidação: a evolução do
conceito de “caminhada”, seu reconhecimento como uma atividade física, não só
do âmbito esportivo regular, mas, agora também, do contexto do lazer, aos
processos de “turistificação” pelos quais passam atualmente algumas trilhas
brasileiras e ao grande envolvimento das populações do entorno do santuário.
Enfocando a preparação de algumas trilhas para o lazer e para o
turismo, tem-se que a trilha brasileira mais bem estruturada é a do “Caminho da
Fé”, por isso optou-se por ela como cenário deste estudo.
47
2.5. Contextualizando a pesquisa
Gussow, um artista, notou que as pessoas são mais propensas a se
identificarem com um lugar do que com o conceito mais geral de “meio
ambiente”, e que elas se tornam ambientalmente preocupadas quando
observam mudanças indesejáveis ocorrendo nesse lugar com o tempo
(TANNER, 1978, p.51).
A partir da escolha do “Caminho da Fé” foram pesquisados dados
sobre essa trilha específica em bases acadêmicas, nas quais não houve
recuperação de resultados. Partiu-se assim, para a busca de informações em
sites comerciais convencionais (CADÊ, GOOGLE, BUSCA UOL, entre outros),
reportagens em jornais e revistas on line (pagos ou não), materiais publicitários,
merchandising, home pages anunciando cidades, hotéis, operadoras,
depoimentos de caminhantes, entre outros.
Em razão do volume de 5.169.367 arquivos, além de muitos desses
arquivos terem sido contabilizados em vários dos sites, houve necessidade de
uma seleção mais elaborada e o desenvolvimento de estratégias que permitissem
recuperar material com conteúdo mais aprofundado, menos publicitário e mais
acadêmico.
Por meio dessa busca, tomou-se contato com o evento Adventure
Sports Faire/2005 em que haveria um estande da trilha “Caminho da Fé”.
Foi realizada uma visita técnica ao estande nessa feira e, por
intermédio de entrevistas pessoais com o Secretário de Turismo de Tambaú, o Sr.
48
Edílson Anastácio e o Sr. Luiz Carlos Marques, autor de livros sobre o “Caminho
da Fé”, procurou-se conhecimentos que subsidiassem a futura ida a campo,
minimizando alguns riscos e insucessos, e acrescentando informações relevantes
sobre os equipamentos necessários, os melhores pontos de parada e as épocas
mais prováveis de maior fluxo de peregrinos – férias (janeiro e julho).
O “Caminho da Fé”
Com base em todas as informações coletadas na escassa literatura e
durante a visita à Adventure Fair/2005, pode-se inferir que o “Caminho da Fé” é
um percurso misto de trekking e pedestrianismo recreativo (os espanhóis chamam
de senderismo), que permite o deslocamento de peregrinos de diversos pontos
dos Estados de São Paulo e Minas Gerais, em direção ao Santuário de Nossa
Senhora da Conceição (a Aparecida do rio), padroeira do Brasil.
Em veiculações publicitárias está explicitado que o “Caminho da Fé”
foi criado para dar estrutura às pessoas que sempre fizeram a peregrinação até o
Santuário de Aparecida/SP, oferecendo-lhes os necessários pontos de apoio e
orientação nas estradas vicinais de terra, trilhas por bosques, pastagens e asfalto,
até a chegada ao pólo receptor.
O projeto idealizado pelo Sr. Almiro Grings contou com a adesão das
prefeituras de dezenove cidades, envolvimento de dezenove paróquias, três
dioceses católicas, Fundação Banco do Brasil, Telemig Celular, sindicatos
(Sindicato Rural de Tambaú), Jeep Club, comércio de cada uma das localidades
49
(operadoras, empresas de eventos, farmácias, supermercados, pousadas,
lanchonetes e hotéis), indústrias regionais (Cerâmica Cunha), organizações não
governamentais (ONGs), como a SCORP - Sociedade Comunitária Renovação e
Progresso, associações (Associação dos Amigos do “Caminho da Fé”; Associação
Banco do Brasil de Ouro Fino), entre outros, e o percurso foi inaugurado em 11 de
fevereiro de 2003, partindo da cidade de Águas da Prata/SP.
A administração do “Caminho da Fé”, inspirada no trajeto espanhol
de Santiago de Compostela, preparou, juntamente com o consórcio, desde a
criação do roteiro por trilhas e estradas rurais, à sinalização, manutenção e toda a
organização de uma infra-estrutura receptiva, montada nos principais pontos de
parada credenciados para acomodação e confirmação da passagem pelo local
dos participantes.
Em junho de 2003 teve seu primeiro prolongamento, quando foi
acrescentada a cidade de Tambaú/SP como marco zero do trajeto, em função dos
milagres atribuídos à figura beata local de Pe. Donizetti e sua devoção à Nossa
Senhora da Aparecida.
No início de 2005, o “Caminho da Fé” passou a ter divulgação
internacional e sofreu algumas modificações.
Seu segundo prolongamento ocorreu em julho de 2006, com a
inserção do trecho Mococa/SP (novo local de obtenção de credencial), São José
do Rio Pardo/SP, São Sebastião da Grama/SP a São Roque da Fartura/SP,
incluso originalmente no trajeto, continuando pelos trechos já previstos.
50
Em outubro de 2006, houve a exclusão do trecho Paraisópolis/MG à
São Bento do Sapucaí/SP, Sapucaí Mirim/MG, Santo Antônio do Pinhal/SP à
Pindamonhangaba/SP; por meio de decisão da Assembléia Geral da Associação
dos Amigos do Caminho da Fé. Nesta mesma data, houve a alteração da rota com
a inclusão do percurso saindo de Paraisópolis/MG passando por Brazópolis/MG,
Distrito de Luminosa/MG, Distrito Campista/MG, Campos de Jordão/SP,
Pindamonhangaga/SP, Roseira/SP chegando a Aparecida/SP.
Como o “Caminho da Fé” não é uma rota estática e pretende tornar-
se um percurso em termos de distância, análogo ao “Caminho de Santiago de
Compostela”, está previsto para março de 2007 um novo prolongamento da rota. É
importante ressaltar que este estudo, realizado em 2006, acompanhou os
participantes partindo de Tambaú, passando por Casa Branca, Vargem Grande do
Sul, São Roque da fartura, Águas da Prata, Andradas, Inconfidentes, Borda da
Mata, Tocos do Mogi, Estiva, Consolação, Paraisópolis, São Bento do Sapucaí,
Sapucaí Mirim, Santo Antônio do Pinhal, Pindamonhangaba, Roseira até
Aparecida.
51
Figura 04- Mapa do “Caminho da Fé” até março de 2006. Fonte: CAMINHO (2005b).
Ao refletir sobre o turismo religioso e os chamados caminhos da fé,
Padovani (2004), assevera que eles são gerados a partir da satisfação de uma
necessidade humana pela busca por milagres, ou lugares que tenham alguma
referência com o sagrado. Esses locais se estruturam para receber os visitantes,
muitas vezes com o auxílio da organização religiosa motivadora.
São atraídos para este tipo de atividade do âmbito do lazer, um
público variado, desde peregrinos e turistas, até praticantes de atividades físicas
na natureza, que percorrem os 425 Km do “Caminho da Fé”, a pé, a cavalo ou de
bicicleta. Considerado um percurso de pedestrianismo, os participantes caminham
de 20 a 30 km diários, o que leva, iniciando em Tambaú, entre 14 a 21 dias para
se chegar a Aparecida.
O percurso é caracterizado como uma caminhada longa, de nível
regular a médio, com possibilidades de contemplação de algumas porções do
52
bioma formado pela fauna e flora da Floresta Ombrófila da Mantiqueira e tem
estreita relação com a lenda da imagem da Santa.
“A lenda da imagem de Nossa Sra. Aparecida”
O século XVIII foi marcado por grandes transformações históricas no
mundo europeu: do iluminismo, queda do absolutismo monárquico, liberalismo
econômico, proclamação de várias repúblicas, ao avanço das novas religiões
emergentes, assim como, mudanças locais: Brasil das capitanias hereditárias; do
ciclo do ouro, garimpo, bandeirantes e escravidão; das guerras ocasionadas pela
posse das grandes jazidas (Emboabas) e das missões jesuíticas (BARBEIRO,
1977).
Mendes e Marcovicchio (1995) relatam, em vídeo, que a história de
Nossa Senhora da Conceição Aparecida tem seu início em outubro de 1717. Três
pescadores: Domingos Martins Garcia, João Alves e Felipe Pedroso preparavam-
se para abastecer com pescados a comitiva do 2° Conde de Assumar, D. Pedro
Miguel de Almeida Portugal, 3º governador da capitania de São Paulo, que
visitava a região de Guaratinguetá. Ao lançarem as redes nas águas do Rio
Paraíba, depois de várias tentativas sem sucesso, encontraram uma imagem de
Nossa Senhora da Conceição, enegrecida pelo lodo do rio e sem a sua cabeça.
Lançaram novamente a rede e apanharam a cabeça da mesma imagem. Daí em
diante, narraram as crônicas arquivadas na Cúria da Basílica atual, que os peixes
53
chegaram em abundância. A notícia do milagre da farta pescaria espalhou-se
rapidamente e a comunidade do Vale do Paraíba começou a chamar a imagem de
a “Aparecida”.
Durante 15 anos seguidos, a imagem ficou com a família de um dos
pescadores. Foi construído um local de devoção em taipa de pilão, mas que não
era reconhecido pela igreja católica. Lá se juntavam moradores da vizinhança para
rezar o terço e cantar em louvor. Por volta de 1745, para abrigar a imagem da
santa, foi construída a capela do Morro dos Coqueiros. Como esse local ficava no
caminho de Itaguaçú, por onde passavam muitas caravanas, houve uma rápida
expansão pelo culto a santa, iniciando as romarias propriamente ditas, formando-
se uma vila ao redor da capela. Posteriormente, a imagem foi transferida para a
igreja matriz ou Basílica velha, que teve a conclusão de suas obras em 1888.
Uma das concentrações mais importantes, nesse novo local ocorreu
no dia 08 de setembro de 1904, quando foi realizada a festa de coroação da
imagem por aprovação oficial da igreja, durante o pontificado do Papa Pio X.
Nessa cerimônia foi doada, pela Princesa Isabel, uma riquíssima coroa de ouro 24
quilates e realizada a seguinte jura, registrada nos livros da Cúria da Basílica: “aos
vossos pés, nesse santuário, o Brasil lhes promete para sempre, trazer suas
flores, acender seus filhos e cantar seus louvores” (MENDES e MARCOVICCHIO,
1995).
A fama dos poderes extraordinários de Nossa Senhora foi se
espalhando pelas regiões do Brasil e muitos templos foram construídos para
54
simbolizar a fé do povo e seu amor a Aparecida. Atualmente, existem, no Brasil,
332 paróquias dedicadas a Nossa Senhora Aparecida (SANTUÁRIO, 2005).
Em 1928, a vila chamada de Capela foi, finalmente, emancipada de
Guaratinguetá. Em 1929, Nossa Senhora foi proclamada a “Rainha do Brasil” e
sua padroeira oficial, por determinação do Papa Pio XI. A Basílica velha tornou-se
pequena e a nova basílica começou a ser construída em 11 de novembro de 1955,
apenas contando com os donativos de fiéis.
Em 1984, o Santuário foi concluído. Erguido numa área de 23.200
, abrangendo uma área coberta de 19.000 m² e comportando uma lotação de,
aproximadamente, 70 mil pessoas, exigiu 35 mil metros cúbicos de concreto e 15
milhões de tijolos. Durante a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB/2003), a basílica foi declarada oficialmente, como o "maior Santuário
Mariano do mundo" (SANTUÁRIO, 2005), por sua magnitude, projeção,
organização e pastoral.
Assim, pode-se referendar a imagem de Nossa Senhora da
Conceição, como a protagonista principal, desencadeadora de todo o processo de
desenvolvimento da cidade de Aparecida, ponto final do “Caminho da Fé”.
A imagem da santa associada à narrativa de milagres e a
conseqüente devoção difundida pelas comunidades locais, com o posterior
reconhecimento pelo catolicismo oficial, tem relação, guardadas as épocas, com
os processos de conversão e ampliação do poder da igreja (SILVA, 2003).
Recuperando a Europa do século IV, que produzia imagens de culto
por conta da associação a milagres, o que reforça a dimensão narrativa associada
55
à dimensão imagética, percebe-se que, as figurações devocionais continuam
sendo produzidas até hoje, como o que ocorre nos(as) santos(as) populares.
Lopes (2003, p. 06) complementa:
Muitos dos santos canonizados pela Igreja e figurados na imagética
religiosa nem chegaram a ser cultuados ou difundidos amplamente,
enquanto outros se tornaram cultuados e aceitos institucionalmente a
partir de um movimento iniciado desde a experiência popular. Esta
distinção entre as imagens figuradas para uns e outros sugere que o
clero tinha seu gosto e sua concepção da imagética religiosa, como
também indica que o processo de evangelização dos segmentos
populares estava assentado num projeto figurativo considerado
apropriado à leitura de mundo dos mesmos. Por outro lado, sugere
também que a materialização das concepções sagradas difundidas nas
imagens religiosas figuradas ocorre a posteriori, ou seja, mesmo que as
imagens sejam esboçadas a partir de referências populares, sua
elaboração, propriamente dita, é realizada no topo da hierarquia religiosa
e oferecida aos devotos. A incorporação da imagem pode levar anos, ou
não acontecer ...
Amplia-se essa discussão, quando se analisam as características
dessas figuras, suas histórias e simbolismos, articulados aos valores e costumes
do povo brasileiro. No caso da Nossa Sra. Aparecida, existe uma aproximação da
cor da imagem com a miscigenação étnica brasileira. A imagem da santa, que
pesquisadores acreditam ter sido moldada em barro, em meados do século XVII,
pelo monge beneditino Agostinho de Jesus, por ter ficado muito tempo em
submersão, adquiriu um tom enegrecido, causado pela deposição de lodo do rio.
56
Figura 05- Imagem de N. Sra. Aparecida sorrindo (EXPEDITO, 2006, p. 15).
Outras características marcantes na imagem são seus lábios
sorridentes, detalhe da arte missioneira desenvolvida pelos jesuítas e índios
catequizados (HARRES, 1979), que conflituava com a modelagem sacra
dogmática, apesar dos movimentos artísticos europeus clássicos da época
(GOMBRICH, 1996). Esses elementos estão envolvidos na estruturação do
imaginário e da realidade do “Caminho da Fé”.
57
“A organização e a estrutura do ‘Caminho da Fé’”
As modificações introduzidas em termos de discursos e práticas
religiosas constituem-se em um esforço de tornar, a cada momento, o produto
religioso oferecido mais eficiente (em termos de eficácia simbólica) no
atendimento às necessidades religiosas dos fiéis (GUERRA, 2003). Corroboram
com essa afirmação as recentes ondas de aparições de Nossa Senhora e de
imagens de Nossa Senhora no país, o que comprova um forte apelo religioso,
principalmente quando o evento é divulgado pelos meios de comunicação de
massa.
No entanto, alerta Steil (1995, p. 546), esses eventos fazem parte de
um “processo mais abrangente de ‘re-encantamento’, inscrevendo-se no limiar
entre uma tradição católica de longa duração e uma nova corrente de
espiritualidade que se afirma à margem da instituição”.
O planejamento de atividades de marketing do “Caminho da Fé” não
foge a esse “re-encantamento”. A trilha vem se firmando, não só pelo
estabelecimento de responsabilidades; objetivos e metas básicos, estratégias e
recursos na promoção e efetivação do consórcio entre cidades, igreja católica,
entidades públicas e privadas, mas, também, pelo seu consistente apelo,
desencadeado pela figura de Nossa Senhora da Aparecida.
Outros dois projetos de trilhas de peregrinação não tiveram tanto
sucesso, pois não reuniam tantos pontos fortes ou proposições estratégicas
viáveis.
58
Supõe-se, para tanto, que, mesmo de maneira indireta, houve a
utilização dos quatro princípios de persuasão de massa de Cartwright (citado em
KOTLER, 1979, p. 834 e 835), de que a mensagem deve chegar aos sentidos das
pessoas, deve ser aceita como uma parte de sua estrutura cognitiva, deve ser
vista como um caminho ou meta e, que, deve haver um sistema motivacional e
cognitivo apropriado para ativação do comportamento pela pessoa.
Ou, ainda, as sugestões de critérios-chave de Cobra (1983) para
viabilização de marcas (sinais, símbolos, design ou uma combinação de tudo
isso), dentre elas: compreensão sem margens de dúvidas; eufonia;
expressividade, reconhecimento e memorização fáceis; associação à imagem do
produto/serviço/atividade; eficácia na divulgação, sendo facilmente adaptável a
qualquer mídia; desvinculação do tempo ou época; adaptabilidade; disponibilidade
de uso e ausência de conotações negativas.
Nessa perspectiva, fazem parte de uma estratégia macro os
seguintes critérios: a ampla divulgação, a associação fácil com a imagem de
devoção nacional, a aceitação como parte de uma estrutura cognitiva do indivíduo,
já que faz parte da cultura nacional e um sistema motivacional e cognitivo propício,
que reúne estratégias implementadas no caminho por seus organizadores tais
como a credencial do peregrino, a sinalização, informações para minimização dos
riscos, atuação de operadoras de turismo em pequenos trechos e o estímulo às
condutas pró-ambientais, divulgados através de folhetos e pela Internet
(CAMINHO DA FÉ, 2005 a).
59
Essas estratégias de marketing ambiental (marketing verde ou
ecológico) representam o esforço das organizações envolvidas, em abarcar e
satisfazer a diversidade de expectativas e exigências dos participantes,
objetivando gerar consumo, mas controlando o impacto ambiental ao longo do
processo. Segundo os organizadores do “Caminho da Fé”, a idealização da rota
visa, sobretudo, a promover o desenvolvimento sustentável, proporcionando o
surgimento de novas modalidades de comércio e a geração de empregos.
Assim, procedeu-se à pesquisa exploratória levando-se em
consideração as nuances apontadas pelo contexto do “Caminho da Fé”, bem
como as especificidades do “corpo” pós-moderno (não treinado), regido por
valores, atitudes e estados emocionais, em visita a natureza, e suas relações de
interdependência com ambientes simultaneamente físicos e sociais, por meio de
uma atividade física.
60
III. METODOLOGIA
Este estudo tem natureza quanti-qualitativa, pois envolveu um
aprofundamento de investigação longo e intensivo, desenvolvido por meio de
registros por escrito, realizados em ambiente natural, com detalhes de fatos
apresentando interpretação e análise de dados; bem como, informações colhidas
a partir de técnicas básicas de estatística (THOMAS, NELSON, 2002).
3.1. Objetivo
Compreender os estados emocionais presentes durante uma
atividade física do âmbito do lazer, elegendo-se como foco a caminhada pelo
“Caminho da Fé”, na perspectiva de internalização de valores e no
desenvolvimento de atitudes mais positivas em relação ao meio ambiente,
capazes de fomentar o comportamento pró-ambiental.
3.2. Participantes
As pessoas precisam ser reunidas, precisam identificar-se com o
ambiente natural se quisermos que elas reconheçam o seu valor inerente
(TANNER, 1978, p. 60).
61
A pesquisa exploratória foi realizada no início do ano de 2006, com a
amostra pesquisada in loco nos momentos das vivências na trilha. Podendo-se,
com isso, captar os estados emocionais presentes durante a caminhada, na
perspectiva de internalização de valores e no desenvolvimento de atitudes mais
positivas em relação ao meio ambiente capazes de fomentar o comportamento
pró-ambiental.
Como acontece com as AFAN, pequenos grupos de praticantes, que
não têm elos comuns de amizade, são formados na hora da prática. Essa
possibilidade é ampliada por tratar-se, também, de uma espécie de ritual de
passagem ou de romaria, que desperta empatia e certa camaradagem, tanto nas
pessoas da trilha, como das comunidades presentes no caminho. A possibilidade
de formar pequenos grupamentos é grande, além de ser recomendada pelos
administradores do “Caminho da Fé”, em seus folhetos e internet, e pelo
Departamento de Turismo em Tambaú e nas pousadas.
Esses grupamentos, formados nos pontos onde se pode obter a
credencial e o “mapinha” do trajeto (Tambáu, Águas da Prata, Andradas e Ouro
Fino), e outros, previamente constituídos por amigos e familiares, ou, ainda, as
equipes geradas por afinidades durante as conversas nas paradas, compuseram
os elementos da amostra, com os quais foram desenvolvidas as investigações.
Nesta amostra, um dos sujeitos realizou o caminho sozinho, mas se dispôs
totalmente a participar da pesquisa.
62
Figura 06- Grupamento na saída de Águas da Prata/SP. Fonte: LIMA (2006).
Com essa compreensão, foram selecionados, aleatoriamente, como
participantes desse estudo, sete pessoas adultas (com faixa etária acima de 18
anos), de ambos os sexos, de perfil socioeconômico-cultural aleatório, adeptos às
experiências vivenciadas em ambiente natural, quer seja como praticantes de
atividades físicas na natureza (bikers, trekkers e off-roads), ou como turistas ou
romeiros, e que, no momento dessa investigação, deslocavam-se a pé de um dos
pontos onde pode ser obtida a credencial à Aparecida e que se dispuseram,
voluntariamente, a participar desta etapa da pesquisa.
Especificando a unidade de amostragem, em princípio, existiam dez
pessoas que responderam ao primeiro questionário; três responderam o primeiro
e o segundo questionário, mas infelizmente, por motivos de acidentes/lesões e
prazo para retorno das férias, abandonaram o percurso. Assim, apenas sete
63
pessoas completaram o percurso e responderam aos três questionários,
caracterizando-se como os sujeitos dessa investigação.
Esse índice de desistência e as dificuldades de coleta do segundo
questionário influíram negativamente na concretização da amostragem prevista
para este estudo, assim como gerou desdobramentos que necessitaram de
adaptações, principalmente em relação às análises estatísticas.
Em função do panorama apresentado, não foi escolhido qualquer
método de amostragem e critério de seleção, pois durante todo o percurso houve
a tentativa de se coletar dados de todos os sujeitos, de forma profunda, por meio
do acompanhamento desses sujeitos pela pesquisadora, caminhando também.
Os indivíduos foram contatados no momento em que se informavam
ou pegavam a credencial no quiosque do Departamento de Turismo em Tambaú,
solicitando-se a anuência dos mesmos para a participação na pesquisa; bem
como, foi apresentando o termo de consentimento livre e esclarecido (ANEXO
01), e prestadas elucidações sobre os termos de divulgação dos resultados em
reuniões científicas e artigos.
A amostra foi caracterizada por cinco homens e duas mulheres, de
origem urbana, provenientes de cidades paulistas de médio e grande portes. Três
participantes eram de São Paulo (10.927.985 hab/2005); dois de São Caetano do
Sul (134.295 hab/2005), um era de Sorocaba (578.068 hab/2005) e o outro de
São Carlos (218.702 hab/2005).
64
Com relação à faixa etária, dois participantes tinham entre “17 e 22”,
dois tinham entre “45 e 50”, um tinha “37”, o outro “40” e o último “55” anos. Na
amostra não havia participantes com faixa etária entre “23 e 32” ou “acima de 56”
anos.
Os estados civis apresentados foram “casados formalmente” (quatro
pessoas); “solteiros” (duas pessoas) e um dos participantes declarou-se
“divorciado”.
Entre os participantes, quatro declararam possuir “terceiro grau
completo”, dois mencionaram ter “terceiro grau incompleto” e apenas um apontou
ter feito o “segundo grau completo”, demonstrando o alto nível de instrução formal
dessa amostra.
Já a ocupação profissional apareceu da seguinte forma: dois sujeitos
eram “Militares”, dois eram “Estudantes”, dois eram “Outros: empreendedores” e
apenas um se declarou “Profissional liberal”.
3.3. “Conjunto de instrumentos” da coleta de dados
Foram utilizados três instrumentos para a coleta de dados: o
Questionário Misto Trifásico (QMT), a Lista LEA-RI – Lista de Estados de Ânimo
Revisada e Ilustrada (VOLP, 2000) e a Escala T & B (THOMPSON ; BARTON,
1994).
65
a) Questionário Misto Trifásico (QMT):
Para Thiollent (1994), o questionário não é suficiente em si mesmo
para processar os dados adequadamente, há necessidade de uma discussão com
função argumentativa, dando relevo e conteúdo social às interpretações.
Por esse motivo, optou-se pelo “Questionário Misto Trifásico” (QMT),
como instrumento de captação de informações referentes às sensações e
emoções vivenciadas durante a trilha, bem como, às atitudes, ações e valores
relacionados ao comportamento pró-ambiental.
Richardson (1989) aponta que os questionários como formas de
investigação conseguem descrever adequadamente características, beneficiando
a análise a ser feita e medir determinadas variáveis de um grupo, permitindo
observar as peculiaridades individuais e sociais.
Seltiz e Deutsch (1971, p. 265) afirmam que, na pesquisa social, “dá-
se um grande peso à descrição verbal da pessoa, para obtenção de informação
quanto aos estímulos ou experiências a que está exposta e para o conhecimento
de seu comportamento”. No entanto, as pessoas podem usar essas descrições
verbais como forma de ganhar simpatia, respeito ou prestígio, divertir ou espantar
alguém; ou criar alguma forma de efeito social, já que muitas pessoas podem não
desejar descrever abertamente seus sentimentos, crenças, motivações e planos,
bem como podem não estar psicologicamente consciente deles.
Esses autores citam vantagens no uso e aplicação deste tipo de
instrumento, já que os questionários asseguram certa uniformidade de uma
66
situação de mensuração para outra, através de frases padronizadas, ordem das
perguntas, instruções para o registro de respostas. Uma outra vantagem é o fato
de fazer menos pressão para a resposta imediata, pois a pessoa tem bastante
tempo para preenchê-lo, podendo considerar cada aspecto cuidadosamente, em
vez de responder com o primeiro pensamento que ocorre, sem a pressão social
dos longos silêncios de uma entrevista.
O questionário usado nesta investigação combina perguntas abertas
e fechadas, daí a denominação de “misto”. Richardson (1989) assevera que as
perguntas fechadas destinam-se a informações sociodemográficas dos sujeitos,
as perguntas abertas aprofundam as opiniões do pesquisado e a categoria
“outros” ou “mista” (questão fechada, seguida do termo “especificar”), contribui
para determinar, reformular e esclarecer as alternativas da pergunta fechada.
As vantagens das questões fechadas são relacionadas a sua
facilidade em codificar, não demandando tempo, pois o entrevistado não precisa
escrever, facilitando o preenchimento, quando o questionário é longo. As
desvantagens são de, que nem sempre, a escolha de alternativas se ajusta à
opinião do inquirido e, ao tratar-se de escala de atitudes, o pesquisado pode
responder às primeiras alternativas de cada pergunta, “com o objetivo de terminar
o mais cedo possível, sem verificar se se ajustam ou não à sua opinião”
(RICHARDSON,1989, p.148).
A grande vantagem das questões abertas é a possibilidade de
liberdade do sujeito em expressar suas opiniões, entretanto, o volume de
informações gerado pode dificultar a classificação e codificação das respostas,
67
bem como, cansar o pesquisado. Uma outra desvantagem está relacionada aos
sujeitos que pertencem a classes sociais diferentes, como foi o caso dessa
amostra (peregrinos, turistas, praticantes de atividades na natureza), bastante
heterogênea.
A variação oscilou desde a faixa etária, gênero, condições
socioeconômico-culturais, costumes e estágios de vida, até mesmo quanto à
facilidade de escrever de uns sujeitos em comparação a outros, o que exigiu da
pesquisadora, bastante familiarização com o contexto, além de adequar-se às
diferenças.
Esse instrumento foi denominado “trifásico” porque sua aplicação se
realizou em três fases da caminhada, durante a permanência dos participantes
em locais de parada. Explicitam-se como razões para aplicação do questionário
dessa forma (investigação inicial, durante e ao final da prática), as necessárias
adaptações fisiológicas e psicológicas dos participantes, que acompanham as
atividades dessa natureza.
Embora este estudo não aborde investigações sobre as adaptações
metabólicas, fisiológicas e psicológicas dos participantes, em função da
aleatoriedade da amostra e da despreocupação da pesquisa em evidenciar quais
sujeitos são treinados fisicamente para a caminhada e quais a estão realizando
simplesmente pela fé, há necessidade de se levar em consideração, de forma
molar, que essas adaptações podem colaborar no desenvolvimento de um
processo de estresse e de capacidade de resposta do sujeito, já que o cansaço e
68
a inadequação biofísica e psicológica podem afetar o rendimento em quaisquer
atividades físicas (WEINBERG E GOULD, 2001).
É consenso entre autores de diversas áreas (Sociologia, Psicologia,
Turismo, Fisiologia) que, tanto as adaptações como as aclimatações, necessitam
de um período de tempo para que ocorram, variando em função de altitude,
temperatura, preparo físico, entre outros mecanismos de ajustes individuais
(FIXX, 1977; CAMPBELL, 1986; KRIPPENDORF, 1989; McARDLE, KATCH e
KATCH, 1996; BENI, 1997; MAGLISCHO, 1999; MACHADO, 2000; WEINBERG e
GOULD, 2001).
No caso da Caminhada da Fé, os participantes estavam expostos a
uma variação de altitude entre 1.550 metros (Serra do Pico do Gavião, região do
ponto mais alto da Serra da Mantiqueira) e 542 metros (Aparecida/SP), o que
envolve caminhar por aclives e declives. Durante todo o percurso (como acontece
no trecho Tocos do Mogi a Bom Repouso, que tem uma variação de 1.050 metros
de altitude, para 1.410 metros, numa distância de apenas 16 km), as alterações
dos ritmos circadianos ficam por conta das mudanças de hábitos alimentares
(horários e cardápios), hábitos excretores e hábitos quanto à vigília e o repouso,
ou, ainda, à prática de uma atividade física, mesmo que num nível bastante
moderado, mas num tempo prolongado.
Foram acompanhadas essas três fases sugeridas por Costa (1983):
“fase de euforia, reorganização e aclimatação” e o tempo de adaptação ao
exercício, indicados por Willmore e Costill (1994), que previu a aplicação do
69
“Conjunto de instrumentos” no primeiro dia, entre o quarto e o sétimo e no último
dia (ANEXOS: 02- p. 223-227; 03 –p. 228-231 e 04 – p. 232 - 235).
Para a formulação das questões pertinentes, foi elaborado,
inicialmente, um instrumento piloto, para melhorar as ambigüidades de linguagem,
o qual foi revisado por três especialistas com titulação de doutor, no sentido de se
refletir se as questões atingiriam os objetivos propostos, se os dados recolhidos
seriam necessários à pesquisa, se qualquer pessoa que o aplicasse obteria os
mesmos resultados e se o vocabulário era acessível e significativamente claro
(LAKATOS, 1985). De posse dessa análise, foi elaborado o instrumento definitivo.
O primeiro questionário foi um pouco mais longo, pois tinha um
“Cabeçalho”, com questões gerais factuais sobre aspectos socio-demográficos
dos sujeitos, respondido uma única vez, tendo uma forma de identificação cifrada
para proteção da identidade dos participantes, já que o material todo da coleta de
dados deveria ser aplicado três vezes para a mesma pessoa. As perguntas
referentes a este “Cabeçalho” (p. 224) versavam sobre faixa etária, gênero,
estado civil, ocupação, escolaridade, determinação do nível sociocultural e os
motivos que levaram o participante a fazer o “Caminho da Fé”.
As outras perguntas eram bastante pontuais, relacionadas às
sensações, emoções e valores desenvolvidos no trajeto. Questionavam como o
participante imaginava que estivesse o trajeto da trilha; inqueriam sobre como ele
pensava em realizar a caminhada (só ou acompanhado) nas três fases do trajeto;
remetiam a uma reflexão sobre a seguinte afirmação: “Esta caminhada (pode
70
ajudar, está ajudando, ajudou) os participantes a pensarem na preservação do
ambiente”? e finalmente perguntavam aos participantes se esperavam vencer
alguns obstáculos ou dificuldades na caminhada.
Essas quatro questões foram repetidas nas outras duas fases do
trajeto (p. 226, p. 230, p. 234), alterando-se, apenas, o tempo verbal, com o intuito
de investigar as mudanças nos estados emocionais, nas formas de percepção do
ambiente e na questão que envolve superação de dificuldades da caminhada.
É importante salientar as instruções gerais para aplicação do QMT.
Como ele é composto por um “Conjunto de instrumentos”, a LEA-RI e a Escala
T&B, cada um com uma forma específica de preenchimento, a pesquisadora teve
que alertar os participantes sobre a necessidade de se assinalar todas as
respostas, não deixando qualquer item sem preenchimento. O procedimento
utilizado para a coleta do “Conjunto de instrumentos” foi previsto da seguinte
forma: a pesquisadora entregou o impresso em cada fase aos pesquisados,
individualmente ou reunidos em pequenos grupos nos pontos de parada. Após
meia hora, a pesquisadora retornava, recolhendo o “Conjunto de instrumentos”.
Os detalhes sobre o preenchimento do LEA-RI e da Escala T&B são os seguintes:
71
b) LEA-RI – Lista de Estados de Ânimo Reduzida e Ilustrada (Volp,
2000)
Hevner (1936) foi uma psicóloga americana que pesquisou, na
década de trinta, a relação entre música e afeto, aplicando em suas pesquisas o
que chamou de Mood Wheel (Roda de Humor).
Posteriormente, Hevner, a partir de suas pesquisas iniciais com a
Roda de Humor, organizou um extenso catálogo de adjetivos, denominado de
“Lista dos Estados de Ânimo” (LEA), instrumento que tinha como objetivo auxiliar
a compreensão dos estados subjetivos momentâneos. É considerada uma das
grandes precursoras no desenvolvimento desses estudos experimentais e até
hoje encontra adeptos.
Paralelamente, no Brasil, Engelmann (1977), um outro pesquisador,
realizou um estudo semântico sobre as emoções, em diversos idiomas,
conseguindo chegar a 536 vocábulos tirados de dicionário.
Essa sistematização do termo “emoção” reforçou a impossibilidade
de encontrar uma diferenciação precisa dos eventos emocionais. O autor, então,
passou a realizar estudos dos estados subjetivos a partir dos relatos verbais e de
outras características observáveis, como os produtos de movimento do organismo
diretamente vistos (posturas corporais); as modificações do organismo, como a
coloração da superfície do corpo; as alterações de natureza fisiológica e de
natureza bioquímica, observadas por intermédio de instrumentos.
Após serem julgados e escolhidos pela familiaridade e grau de usos
associados, esses estados subjetivos foram reduzidos em número para a criação
72
da LEP – Lista de estados de ânimo presentes, com quarenta locuções ladeadas
por escalas de intensidade (ENGELMANN, 1986).
Colabora com a investigação de Engelmann (1978) o
desenvolvimento da neuroanatomia, já que os estados de ânimo dependem das
condições vegetativas do organismo, de modo especial relacionado às funções do
timo, cujo centro encontra-se no diencéfalo.
Para Cruz (1998), existe uma proximidade muito grande entre as
definições de estado de ânimo, provenientes do diencéfalo e das emoções,
originadas e mediadas pelo hipotálamo; sendo que os estados de ânimo são
sempre mais leves e prolongados, podendo se apresentar, também, como breves
e intensos.
Antecipando-se a essas constatações, e acompanhando as
pesquisas desenvolvidas pela psicóloga Hevner (1936) na década de trinta,
Engelmann (1977), iniciou um vasto levantamento sobre as definições do termo
emoção. Passou a realizar estudos dos estados subjetivos a partir dos relatos
verbais, desenvolvendo a Lista dos “Estados de Ânimo”, a qual, segundo Cruz
(1998), foi a primeira lista brasileira nessa especialidade, sendo bastante utilizada
em estudos de alterações de estados subjetivos ligados à audição musical.
Estudando ambos os autores, Volp (2000) revisou e ilustrou o
catálogo proposto por Hevner (1936), propondo a Lista de Estados de Ânimo
Reduzida e Ilustrada (LEA – RI), um instrumento de resposta não verbal, tornando
as listas anteriores mais sintéticas em relação ao número de questões e mais
73
“amistosas”, em função do uso de imagens, proporcionando uma facilitação na
aplicação do instrumento.
No caso dos participantes do “Caminho da Fé”, o LEA-RI permitiu
obter in loco, no momento da vivência, os estados de ânimo dos participantes
presentes. A investigação dos estados emocionais foi realizada em três
momentos, sendo incluído no corpo do questionário QMT (vide ANEXOS 02 –
p.225; 03- p. 227 e 04, p. 233).
Após ouvir as instruções do aplicador, que apontou sobre a
importância de se assinalar todas as “carinhas”, os pesquisados marcaram com
uma caneta todas as imagens, atribuindo em cada uma, o nível que mais se
aproximasse ao seu estado de ânimo: muito pouco, pouco, forte, muito forte,
correlacionando os valores um a quatro para as respostas. A importância desses
valores era demonstrar a intensidade de cada estado de ânimo indicado pelos
indivíduos testados.
Após a aplicação, esses valores foram comparados e, de acordo
com a alteração ou não, para mais ou para menos, outro código foi atribuído, para
representar a comparação dos três momentos. Quando o valor aumentava da
primeira para a terceira aplicação, era atribuído o código “+1”, quando os valores
permaneciam iguais, foi atribuído o código “0” e, quando diminuíam, era atribuído
o código “–1”. Dessa forma, foi possível visualizar se houve mudanças e se essas
foram para mais ou para menos.
74
c) “Escala de ecocentrismo e antropocentrismo de Thompson e
Barton, 1994 (Escala T&B)
A implementação de atitude e conduta ecológicas responsáveis, por
meio da mediação realizada pela atividade física do âmbito do lazer, tem gerado
diversas reflexões. Intermediado por essas práticas, a relação corpo-natureza
passa a ser o próprio espaço ecológico de realizações, equilíbrio e prazeres
(SCHWARTZ, 2000; SCHWARTZ et al, 2005).
Nessa direção, o comportamento pró-ambiental (CPA) vem sendo
um dos objetos de maior interesse de estudos, tanto da Psicologia Ambiental,
como de outras áreas, incluindo-se a Motricidade Humana. Entretanto, as
investigações, normalmente, são realizadas por meio de auto-relatos
(questionários e entrevistas) que redundam em dados imprecisos, agravados pela
aplicação fora do contexto ambiental físico-químico que se deseja estudar
(CORRAL-VERDUGO e PINHEIRO, 1999).
Os mesmos autores questionam a suposta universalidade do CPA,
ressaltando que as concepções da relação seres humanos-natureza contrastam
em duas visões: uma que concebe os seres humanos como parte integrante do
meio e outra que os vê como senhores da natureza e alheios a ela (CORRAL-
VERDUGO e PINHEIRO, 1999).
Nessa perspectiva, apesar de existirem muitas maneiras de predição
de CPA, desde os relatos verbais às escalas (DUNLAP et al, 2000; CORRAL-
VERDUGO e PINHEIRO, 1999), por recomendação de Pinheiro et al (2005)
75
escolheu-se a “Escala de Ecocentrismo e Antropocentrismo (Escala T&B)”,
idealizada por Thompson e Barton (1994).
Thompson e Barton (1994), ao analisarem as concepções e
motivações no relacionamento entre seres humanos e natureza, investigaram a
ocorrência de três comportamentos, que as pesquisadoras denominaram:
“ecocentrismo”, “antropocentrismo” e “apatia ambiental”.
Para o indivíduo ecocêntrico, a natureza tem valor por si própria e
merece proteção por seu valor intrínseco, em contraste com o indivíduo
antropocêntrico, o qual percebe que o ambiente deve ser protegido em função da
manutenção ou melhora da qualidade de vida dos seres humanos (THOMPSON e
BARTON,1994).
Apesar de o ecocentrismo e de o antropocentrismo expressarem
valores positivos, as autoras alegaram que a diferenciação existente está,
basicamente, em sua orientação e nas razões que fazem uma pessoa manter um
comportamento pró-ambiental. Os indivíduos que não se posicionavam entre
essas duas polaridades eram considerados como tendo comportamento apático
ambiental.
Pinheiro et al (2005), que traduziu a Escala T&B para o português,
reforça essa conceituação. Acompanhando essa linha de pensamento, essa
pesquisa também adotou a Escala T&B, como indicativo de predisposições pró-
ambientais dos participantes da caminhada, visando a identificar as dimensões
ecocêntricas e antropocêntricas que compõem a conduta sustentável e o
76
correspondente vínculo das pessoas com o ambiente. A escala foi aplicada três
vezes com o intuito de investigar se o comportamento pró-ambiental variou
durante o percurso
A Escala T&B foi originalmente composta por trinta e três itens,
distribuídos pelas três dimensões: “ecocentrismo”, com doze itens;
“antropocentrismo”, com doze itens também; e “apatia ambiental”, com nove itens.
Nesta pesquisa, optou-se pela inserção da escala T&B dentro do
mesmo impresso (denominado “Conjunto de instrumentos”) do questionário misto
trifásico (QMT) e da lista de estados emocionais reduzida e ilustrada (LEA-RI),
localizados nos Anexos 2 - p. 227, 3 – 231 e 4 – p. 235.
Após as instruções gerais da pesquisadora sobre o impresso
“Conjunto de instrumentos”, em específico, para que fosse respondida a Escala
T&B, ela reforçou o alerta sobre a necessidade de que “todas
” as afirmações
existentes na escala fossem preenchidas, ficando a cargo do participante marcar
com um “X”, se concordava em vários níveis com as afirmativas propostas no
texto da escala, composta de:
1- “discordo muito” a “não concordo de modo nenhum”;
2- “discordo” a “concordo um pouco”;
3- “indiferente” a “concordo moderadamente”;
4- “concordo” a “concordo bastante” e
5 - “concordo muito” a “concordo totalmente”.
77
3.4. Procedimentos para a coleta de dados
Como na pesquisa de campo foram aplicados três instrumentos,
houve a necessidade de acomodar seu design, já que se tratava de um
questionário associado a uma escala e um teste já validados e que, por esse
motivo, não poderiam ser alterados em seus conteúdos. No entanto, a
pesquisadora precisava atentar para alguns detalhes operacionais, como
recompensar o respondente, demonstrando consideração, trocando informações,
apoiando seus valores; reduzindo esforços de responder, fazendo com que a
tarefa parecesse breve e agradável; eliminando a possibilidade de embaraços;
estabelecendo confiança, identificando-se com uma instituição conhecida e
legitimada; aproveitando outros relacionamentos de troca (GÜNTHER, 1999),
como, por exemplo, informações sobre o trajeto, dicas de preparativos físicos,
como alongamentos para o dia seguinte, etc. e tentando reduzir o tempo de
aplicação dos instrumentos, sem que a qualidade das respostas fosse
comprometida.
Seguindo a orientação de Richardson (1989, p. 150): “...toda
entrevista não deve prolongar-se muito além de meia hora....Os questionários,
que a pessoa responde por si mesma, não devem exigir mais que 30 minutos”, foi
realizada uma simulação de preenchimento dos instrumentos com dois adultos,
ambos os sexos, uma mulher com primeiro grau completo e um homem com
78
curso superior completo. Ambos demoraram, em média, 30 minutos na primeira
aplicação.
Os instrumentos receberam um tratamento gráfico em seu lay-out;
seguiram as recomendações para disposição das perguntas de Richardson
(1989), para que, visualmente, ficassem o mais “amigável” possível; suas
instruções foram adaptadas, de modo que de um tema, não se passasse,
bruscamente, para o outro.
A LEA-RI e a Escala T&B não foram alteradas de maneira alguma,
apenas foi feita uma acomodação das instruções, de forma a que as colocações
obedecessem: a uma introdução, que não formulasse problemas (cabeçalho com
itens socio-demográficos), estados de ânimo in loco, temas gerais, posteriormente
questões mais complexas e emocionais e, por fim, perguntas que apresentassem
grande facilidade de preenchimento. Essa estratégia, segundo Richardson (1989,
p.154), proporciona uma “situação de comportabilidade, relaxando a tensão”
ocasionada pelo preenchimento de um material tão extenso.
A dinâmica de interação entre os participantes e os instrumentos foi
planejada com cuidado porque essa forma de investigação trifásica necessitava
de que o participante respondesse, com precisão, boa vontade e fidedignidade, às
perguntas, durante todas as fases, sem que a pesquisa lhe causasse algum tipo
de estresse, irritação ou má vontade na participação do estudo.
Sendo assim, a lista LEA-RI foi colocada logo no início de cada
aplicação do “Conjunto de instrumentos”, pela sua simpatia visual, pelo poder de
79
fixar atenção e rápida assimilação de mensagens obtidos quando se utilizam
figuras.
Segundo os estudos de Farina (1982), sobre níveis de atenção em
publicidade, a fixação e a assimilação estão diretamente relacionadas à
simplicidade de imagem, sua precisão e o destaque dado ao fator que mais
represente interesse (os estados de ânimo). Completa a motivação para
preenchimento do teste, a facilidade de marcação (apenas um “X’) e pela tentativa
de retratar a primeira percepção e emoção pós-vivência, ou consciência imediata.
O QMT foi inserido no meio do “Conjunto de instrumentos”, por
carecer de tempo para preenchimento e necessitar de reflexão, e a Escala T&B
foi posicionada ao final do impresso. As justificativas dessa decisão também se
apoiaram na perspectiva de que o preenchimento dessa escala ao final
colaborasse para que valores e atitudes relacionados ao ambiente pudessem se
tornar conscientes.
O “Conjunto de instrumentos” teve sua primeira aplicação antes do
início da caminhada – primeiro dia, etapa descrita por Costa (1983) como “fase de
euforia”
2
, período em que ocorrem importantes mudanças cardiorespiratórias,
termo-reguladoras e psicológicas; causadas pela exigência de adaptação ao meio
2
Em sua pesquisa, Costa (1983, p. 220) não considera apenas o fator altitude, mas também
aspectos relacionados a viagem em si (mudanças referentes ao local de dormir, alimentação,
hábitos excretores), ao clima e as alterações de hora. “O primeiro dia é de euforia, seguindo-se
dois dias de astenia e depressão; período em que ocorrem importantes mudanças
cardiorespiratórias e termo-reguladoras; causadas pela adaptação ao meio. Nesses dois dias
críticos, se conjugam todos os agentes estressores, para que no quarto dia inicie-se uma fase de
reorganização orgânica”.
80
e às novas dinâmicas estabelecidas com o ambiente (tanto em nível social como
no físico).
Do quarto dia em diante, inicia-se o período intermediário, entre o
início e o término da atividade física, chamado por Costa (1983) de “fase de
reorganização”, caracterizado pelo início do processo de aclimatação, por
evidenciar alterações dos mecanismos de homeostase (tendência de
estabilização do meio interno do organismo ao ambiente). Neste estudo, em
função das dificuldades em acompanhar os sujeitos, pois uns se deslocavam mais
depressa do que os outros, a aplicação de um outro “Conjunto de instrumentos”,
bastante similar ao primeiro, foi realizada entre o quarto e o sétimo dia.
Finalmente, a terceira fase de aplicação do “Conjunto de
instrumentos”, foi feita no último dia de percurso dos sujeitos, em sua chegada ao
destino.
O procedimento para coleta de dados dependeu muito do contexto
de interação social que foi formado entre a pesquisadora e os participantes dessa
pesquisa em especial, ou seja, do background cultural, do background do
pesquisador, do contexto em que foi realizada a pesquisa e do background do
respondente
3
.
3
O background cultural é o aceite por parte do pesquisado de ser indagado por um
estranho sobre assuntos pessoais e seu nível de reticência e cortesia (querer ou não agradar o
outro). O background do pesquisador tem a ver com sua imagem e afiliação organizacional,
organização cultural e social, relevância do assunto para o respondente. O contexto da pesquisa
está relacionado ao local onde a pesquisa estará sendo conduzida, a relevância, a sensibilidade a
temática por parte do pesquisado, relevância cultural e desejabilidade de reflexão sobre o tema. E,
por fim, o background do respondente, relacionado à fidedignidade da resposta, a opinião do
respondente e não à opinião dos outros ou do aceito socialmente (GÜNTHER, 1999).
81
É importante ressaltar que, entre as pessoas que estavam
realizando o percurso “Caminho da Fé” no momento da pesquisa,
independentemente de suas condições diferenciadas físicas, socioeconômicas e
etárias, existia um ponto em comum: todos estavam buscando algo, ou, pelo
menos, momentos propícios para reflexão sobre suas vidas. É conveniente
destacar que os participantes estavam bastante propícios a discutir sobre esse
assunto, refletindo na facilidade com que aceitaram participar da pesquisa e que
mantiveram sua participação preenchendo os longos “Conjuntos de instrumentos”,
realizados três vezes. Günther (1999) chama isso de “desejabilidade” do tema, o
que está diretamente ligado ao resultado final da participação da amostra.
O procedimento iniciou-se com a fixação, por dois dias, da
pesquisadora em Tambaú/SP, oficialmente, o marco inicial do “Caminho da Fé”;
instalada no “Hotel/pousada Tarzan” a 100 metros do Museu “Casa do Padre
Donizette”; “Basílica da Igreja Matriz”, onde ocorrem as peregrinações de finais de
semana e do “Centro de Informações ao Turista da Secretaria de Esportes e
Turismo da Prefeitura Municipal” da cidade.
Nesse local, os participantes se informavam sobre a trilha e
obtinham a credencial, as lembranças e o cajado, que os acompanharia ao longo
do percurso, ou aguardavam outros possíveis peregrinos para começarem juntos
a realização da jornada.
A pesquisadora, auxiliada pelo proprietário do Hotel “Tarzan” e com
o suporte dado pelos funcionários da Secretaria de Turismo, procurou se informar
82
acerca da passagem de peregrinos que haviam começado a fazer o percurso
pelos dias da pesquisa, assim como fez um plantão no local, esperando possíveis
participantes para comporem a amostra.
Após a coleta do primeiro “Conjunto de instrumentos” com três
sujeitos em Tambaú/SP, a pesquisadora engajou-se neste agrupamento de
viagem, no início da trilha, pretendendo ficar imersa na pesquisa, ainda que não
se utilizasse neste estudo, do Método Etnográfico ou de Pesquisa Participante.
Essa estratégia visava a tentar compreender melhor o ponto de vista
dos participantes, como eles percebiam seus próprios envolvimentos e limites
com a vivência da caminhada e, portanto, com o ambiente e suas conseqüências,
tanto no plano individual quanto coletivo.
Uma das condições para fluir o estudo foi o bom relacionamento
entre pesquisadora e a amostra de participantes, fundamentado no respeito e na
necessária habilidade de ouvir e de se comunicar. Como a amostra foi composta
por pessoas de nível socioeconômico-cultural aleatório, acreditava-se na
necessidade de a pesquisadora se preparar com informações sobre vários temas
relacionados ao percurso, além do preparo físico e de equipamento adequado,
além de levar um acompanhante para auxiliar na coleta do material e no
transporte dos equipamentos.
Os demais participantes foram coletados em outros pontos de
obtenção de credencial, de onde saem peregrinos também. Em Águas da
Prata/SP, engajaram-se na pesquisa cinco pessoas e em Andradas/MG, mais um
83
participante. Apesar de não ser ponto de obtenção de credencial, um último
sujeito, que já vinha fazendo o percurso em etapas (isto é, a cada período de
suas férias ele fazia duas ou três cidades por ano, faltando apenas o trecho final),
iniciou sua participação na coleta de dados em Consolação/MG.
Na primeira fase de aplicação do “Conjunto de instrumentos” houve
a desistência, por motivo de queda, pois a pessoa se acidentou ao descer o morro
escorregadio, entre o trecho Pico do Gavião a Andradas, ambos em Minas
Gerais.
A coleta do primeiro “Conjunto de instrumentos” foi mais fácil,
porque, como a pesquisa ocorreu nas férias de início do ano, época mais provável
de existência de peregrinos no caminho, à medida que a pesquisadora se
deslocava pelos pontos de obtenção de credencial, havia sempre, pelo menos,
um participante iniciando o percurso.
O problema maior era com relação à obtenção da segunda coleta,
por não ter sido formado um grupamento único de participantes, que iniciaram,
percorreram e chegaram até o final juntos, em Aparecida/SP.
Como a amostra era aleatória, os participantes se conheceram
durante o trajeto e as diferenças eram visíveis com relação à faixa etária, ao ritmo
de passada, ao condicionamento físico, ao volume de bagagem, ao processo
individual de cicatrização de bolhas e à forma de lidar com a dor e o desconforto
entre outras reações biofísicas e psicológicas, ao planejamento do percurso
diário, às metas de chegada estabelecidas para o dia, à quantidade de
84
quilômetros que se agüentava realizar sob o sol, à própria programação de férias
individuais; enfim, fatores que acabaram influenciando na velocidade dos
deslocamentos; sem contar os imprevistos como a virose que acometeu quatro
dos participantes e a pesquisadora, resultado de contaminação de água.
Para a coleta do segundo “Conjunto de instrumentos”, a
pesquisadora usou de alguns artifícios. Por exemplo, como dois dos participantes
que saíram de Tambaú/SP, andavam muito rápido, houve a necessidade de a
pesquisadora, pegar um ônibus intermunicipal, para alcançá-los na parada de
descanso combinada previamente, economizando um dia de caminhada.
No trecho São Roque da Fartura a Águas da Prata, ambos em SP, a
pesquisadora pegou uma carona com um dono de Pousada Cachoeira, com o
intuito de, ao invés de gastar um dia caminhando, utilizá-lo dando plantão no
ponto de credencial, localizado na Casa do Peregrino em Águas da Prata, na
tentativa de aumentar o número de sujeitos da amostra.
Entre Andradas e Ouro Fino, ambos em Minas Gerais, a
pesquisadora, por conta da virose que a acometeu, perdeu dois dias do trajeto, o
que a levou a utilizar um táxi para realização desse percurso. Caso não fizesse
isso, perderia o período de aplicação do segundo “Conjunto de instrumentos”,
com os sujeitos iniciais, os que saíram de Tambaú/SP.
85
Figuras 07 e 08- Segunda aplicação do “Conjunto de instrumentos” com os participantes.
Fonte: LIMA, 2006.
Entre Consolação/MG e Roseira/SP, a pesquisadora foi auxiliada por
um familiar de um dos participantes, que a transportou de carro, até os dois
sujeitos que estavam no ponto de parada em Sapucaí Mirim/MG, e no dia
seguinte, até um outro sujeito em Santo Antônio do Pinhal/SP, economizando
cinco dias de trajeto a pé.
Na medida em que o estudo foi sendo realizado, foram gerados
muitos papéis desnecessários de serem mantidos na mochila, alguns
equipamentos se tornaram supérfluos e o peso carregado, que não deveria
ultrapassar cinco quilos, por uma questão de comodidade/esforço/velocidade,
tornou-se um fardo. Somado a imprevisibilidade meteorológica e com receio de
que os dados, fotos e filmes pudessem sofrer algum acidente, houve a
necessidade de que, em uma das paradas, esses materiais fossem postados pelo
correio, via sedex, para a cidade de residência da pesquisadora.
86
IV. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Como foram levantadas grandes quantidades de informações,
acompanhou-se as sugestões de Alves-Mazzotti (1998, p.170) em: “decidir o que
interessa primordialmente”. O foco principal foi a compreensão dos estados
emocionais presentes durante a caminhada, na perspectiva de internalização de
valores e no desenvolvimento de atitudes mais positivas em relação ao meio
ambiente, capazes de fomentar o comportamento pró-ambiental.
O “Conjunto de instrumentos” foi analisado da seguinte forma: a
Lista LEA-RI e a Escala T&B foram feitas por meio de estatística obtida com a
“Análise de Componentes Principais”. Já o Questionário Misto Trifásico (QMT) foi
analisado de forma descritiva, por meio da utilização da técnica de “Análise de
Conteúdo Temático”.
A estratégia de utilizar vários instrumentos para a coleta de dados é
um procedimento que aumenta a confiabilidade do estudo. Concordam Thomas e
Nelson (2002), ao afirmarem que a triangulação de fontes fornece um bom meio
pelo qual os pesquisadores qualitativos testam suas interpretações.
Patton (1990) amplia a discussão ao sugerir dois tipos de
triangulação básica: o primeiro é checando a consistência das descobertas
87
geradas por diferentes métodos de coleta, como é o caso desse estudo (QMT,
LEA-RI e Escala T&B), enquanto o segundo tipo relaciona-se a investigação da
consistência das diversas fontes dentro de um mesmo método.
Nesse estudo, houve a “triangulação de fontes” e a “triangulação
investigadora”, assim denominadas por Thomas e Nelson, (1990, p. 330), porque
se pretendeu, com as listas LEA-RI e com as Escalas T&B, comparar os dados
coletados por intermédio do QMT, com o intuito de, através do uso de vários
instrumentos e fontes de coleta, aumentar a fidedignidade do estudo.
Apesar das dificuldades apresentadas pelo uso dessa metodologia
trifásica, ao se comparar com investigações que se utilizam da aplicação de um
questionário único; a quantidade e a qualidade das informações obtidas e
principalmente a possibilidade de investigar um processo, compensou todos os
esforços, o que poderá ser observado a partir da análise separada dos
instrumentos, assim como, na discussão dos dados obtidos, feitas a seguir.
88
a)Questionário Misto Trifásico(QMT):
As questões factuais sobre aspectos sociodemográficos e a emissão
de opiniões sobre as expectativas, o trajeto, o grupamento de viagem adotado
para realização da atividade física, a reflexão sobre a percepção do ambiente do
caminho e as formas que encontraram de se superar fizeram parte da
investigação realizada por meio deste instrumento, o QMT.
Para examinar os dados obtidos, optou-se pela “Análise de
Conteúdo Temático”, a qual, para Selltiz e Deutsch (1971), é uma técnica que se
desenvolveu, sobretudo, a partir da progressão dos recursos dos meios de
comunicação de massa.
Bardin (1977, p. 38) a define como “um conjunto de técnicas de
análise das comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de
descrição de conteúdos das mensagens”.
O mesmo autor ainda destaca que, o fundamento da especificidade
desse método é a articulação entre a superfície dos textos, simples interpretação
da mensagem dos sujeitos com os fatores que determinaram essas respostas
deduzidas logicamente, procurando se estabelecer uma correspondência entre as
estruturas semânticas e as estruturas psicológicas ou sociológicas.
Para Richardson (1989), um outro autor ligado às Ciências Sociais, a
“Análise de Conteúdo Temático” visa a obter:
89
...através de procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do
conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que
permitam inferir conhecimentos relativos às condições de
produção/recepção (variáveis inferidas) dessas mensagens
(RICHARDSON, 1989, p. 176).
Vários autores concordam que essa forma de análise deve ser feita
sob alguns controles, para torná-la sistemática e objetiva (SELLTIZ E DEUTSCH,
1971; RICHARDSON, 1989). Nessa perspectiva, as categorias usadas devem se
apresentar claras e explicitamente definidas; o analista não pode selecionar e
descrever apenas o que lhe parece interessante, mas precisa classificar
metodologicamente todo o material levantado significativo da amostra, não
descartando a possibilidade de se usar algum processo quantitativo para se
conseguir uma medida da importância e da acentuação no material.
A análise de várias e diferentes unidades é um consenso entre
esses autores quanto ao processo de amostragem. Thiollent (1985) decompõe as
mensagens resgatadas do estudo de campo, em unidades de significação,
classificadas por meio de um sistema de categorias definidas.
Os estudiosos Selltiz e Deutsch (1971), utilizaram além da
amostragem por unidades, a amostragem por fontes (jornais, rádios, filmes) e
datas (período que deve ser abrangido o estudo).
Bardin (1977, p.106) recomenda uma pré-análise, objetivando
descobrir os “núcleos de sentido”, que devem ser catalisados em uma unidade de
significação: “o tema”. Posteriormente, o tema passará a ter a função de unidade
90
de registro da resposta, servindo para “estudar motivações de opiniões, de
atitudes, de valores, de crenças, de tendências, etc.”
Com base na freqüência das respostas obtidas foi feita uma
categorização em duas etapas: a primeira, por meio de um inventário e a
segunda, por meio de uma classificação. A partir do tratamento dos resultados
dessa classificação, foram realizadas inferências e interpretações.
No caso desse estudo, os dados resultantes da “Análise de
Conteúdo Temático” foram apresentados de maneira percentual, sob a forma de
“figuras” (ao se tratar do “Cabeçalho”) e de “tabelas” (ao se tratar das opiniões
nas coletas “antes”, “durante” e “depois da caminhada”), feitas apenas para
ilustrar, já que as generalizações devem ficar por conta do leitor.
4.1. Análise do Questionário
As perguntas do questionário versavam sobre os motivos que
levaram os participantes a realizarem o “Caminho da Fé”, além de questões sobre
o trajeto da trilha; sobre o grupamento utilizado para realização do percurso;
sobre a reflexão da caminhada como colaboradora na preservação do ambiental e
sobre os obstáculos e dificuldades, conforme os anexos 2, 3 e 4 ( p.226, p.230, p,
234).
91
Ainda que a Lista de Estados de ânimo (LEA-RI) tenha sido
colocada entre as questões a)“Qual(is) o(s) motivo(s) que o levou(ram) a
escolher esta trilha CAMINHO DA FÉ” e 2)“Como imagina que (esteja, está,
estava) o trajeto da trilha?” no conjunto de instrumentos, conforme os anexos
citados no intuito de facilitar a coleta, no procedimento de análise os instrumentos
serão tomados individualmente, isto é, o questionário será analisado como o
primeiro instrumento em sua forma total, seguido pela LEA-RI e pela Escala T&B.
Vale ressaltar que em função da amostra (n) ter sido composta por
sete sujeitos, optou-se por mostrar em todas as tabelas, o número de respostas
dos participantes em uma coluna e na outra a representação em percentagem.
Adentrando especificamente as questões tem-se que:
a) MOTIVOS:
Respondendo à pergunta fechada: “Qual(is) o(s) motivo(s) que o
levou(ram) a escolher esta trilha CAMINHO DA FÉ”, os participantes
preencheram uma tabela com “X”, contendo diversas opções que permitiam que
os sujeitos apontassem mais de uma alternativa.
92
Tabela 01- Qual(is) o(s) motivo(s) que o levou(ram) a escolher esta trilha CAMINHO DA FÉ”
MOTIVOS
n = 7 participantes
de
respostas
%
Pagamento de promessa 2 5,13
Testar limites físicos 3 7,69
Rever valores e buscar nova consciência 6 15,39
Buscar novos conhecimentos, experimentar novas sensações e
emoções
5 12,82
Lazer e divertimento 2 5,13
Contato com a cultura das comunidades que fazem parte do caminho 5 12,82
Convite de amigos 1 2,56
Outros: reflexão, meditação e oração 1 2,56
Contato com a natureza 6 15,39
Contato com grupamentos sociais diferenciados: peregrinos,
caminhantes, turistas
3 7,69
Aventura 5 12,82
TOTAL
39 100
Os motivos assinalados neste estudo de campo são bastante
semelhantes aos existentes no site do “Caminho da Fé”, dentre os citados:
reflexão, fé, superação física e psicológica através do exercício da caminhada,
simplicidade, despojamento, integração com as comunidades, com outros
peregrinos e com a natureza e contribuição para o desenvolvimento econômico e
social do percurso de forma sustentável (CAMINHO DA FÉ, 2005a).
Fundamentando-se em Venditti Júnior e Winterstein (2005), pode-se
dizer que esses diversos motivos se relacionam com um conjunto de
necessidades, ou ainda, de intenções, que podem justificar a ação em mover ou
caminhar para uma determinada meta.
Para Winterstein (1992), os motivos são constructos hipotéticos, não
observáveis diretamente, criados pelas pessoas para explicar suas ações. São,
ainda, disposições relativamente estáveis, que podem revelar alguns perfis e
93
características de personalidade, com a função de explicar comportamentos
direcionados a um objetivo.
Nesse sentido, analisando os dados dessa pergunta, observou-se
que os indivíduos tinham vários motivos (de impulsos, necessidades, crenças,
valores, medos, objetivos, pressão social, autoconfiança, interesses, curiosidades,
incentivos, expectativas, entre outros) para se envolverem com o “Caminho da
Fé”.
Analisando-os separadamente, os principais motivos de atração para
a atividade, foram o “contato com a natureza”, e o “rever valores e buscar nova
consciência” com 15,39% das respostas. Em relação ao percentual que se refere
ao “contato com a natureza”, essa resposta não representa um dado novo, mas
um resultado histórico já esperado, pois, desde o século XVIII, as idéias de
valorização do mundo natural selvagem (wilderness) já existiam; baseadas na
nostalgia da natureza intocada, das paisagens naturais e da natureza de forma
geral como um bem desejado e valorizado pela sociedade, motivo pictórico e
literário amplamente registrado na época (LOUREIRO, 2000).
No século XIX, em sintonia com o romantismo, as chamadas novas
sensibilidades, fundamentavam o sentimento estético em torno do que é “natural”,
selvagem e não cultivado (não submetido à ordem e à intervenção humana e
moral) e o valor moral do que é bom, belo e verdadeiro. Relevante assinalar que
as novas sensibilidades não se restringiam a um comportamento individual ou a
um ideário de um grupo específico, mas foi generalizada em termos de valor
socialmente aceito, num conjunto mais amplo da sociedade.
94
Esses preceitos constituíram uma transformação cultural importante,
de longa duração, que chega aos dias de hoje como uma das raízes histórico-
culturais do ambientalismo contemporâneo (LOUREIRO, 2000).
Essa alteração de valores sociais: de natural socialmente aceito,
para o tecnológico/artificial socialmente desejado dos dias contemporâneos;
resulta em uma ampla reflexão sobre exclusão e inclusão relacionada ao dilema
ecológico (desenvolvimento versus conservação), que não será abarcada, pois
não faz parte do objetivo principal deste estudo.
Do ponto de vista da Psicologia Ambiental, esse dado também era
esperado, já que o fenômeno humano de necessidade de reencontro com a
natureza, assim como, os fatores que influenciavam as conexões das pessoas
com o ambiente natural e construído vem sendo pesquisado há mais de trinta
anos (SCHULTZ et al, 2004).
Quanto à “revisão de valores e busca de nova consciência” (15,39
%) é consenso entre vários autores (OLIVEIRA, 2000; MARINHO, 2001;
SCHWARTZ, 2002, 2005; BRUHNS, 2003; SILVA, 2004) que as atividades físicas
em ambiente natural, cada vez mais, representam um modo de vida, muitas vezes
idealizado. Embora simples, é bastante valorizado e com ele a possibilidade de
retorno positivo da imagem da liberdade, das vivências corporais e psicomotoras
do "participar", do "incluir", do "confiar". Isso reforça os laços de cooperação e
solidariedade e enriquecendo seus praticantes com ligações vivas e afetivas com
o ambiente e com o mundo social colaborando na revisão de valores e na busca
de nova consciência.
95
Ao preconizar que atividades como caminhar, acampar e pescar
sofreram alterações pela “sofisticação” em conteúdo e forma. Bétran (2003)
assinala, por meio do concreto (o desenvolvimento e incorporação de subsídios
técnicos, materiais, ferramentas e equipamentos mais adequados e maior
exigência quanto à infra-estrutura física e logística), a ânsia que o grupo que
busca as atividades físicas na natureza tem por modificar suas preferências
receptivas, resgatar seu corpo hedônico, estar aberto a novas possibilidades de
autoconhecimento e (se) permitir a promoção de diferentes formas de vivências
motoras alternativas
4
com o monitoramento de profissionais da área de turismo,
lazer e atividades físicas.
Com 12,82% cada, foram referendados motivos relacionados à
“busca de novos conhecimentos”, “contato com a cultura das comunidades” e a
“atração pela aventura”.
Aglutinou-se no termo “desenvolvimento pessoal”, as duas
afirmações “busca de conhecimento” e “contato com as comunidades”, porque
ambas remetem à definição de lazer sugerida por Marcellino (2003). Para o autor,
o lazer é voltado para experiências autogeradas e vivenciadas por livre opção,
dentro de um “tempo disponível”, podendo ser sintetizado em três grandes temas:
descanso, divertimento e desenvolvimento. O desenvolvimento pode ser pessoal
e em vários conteúdos. Dentre eles, têm-se os conteúdos artísticos, físico-
4
Essas idéias referentes à motricidade são compartilhadas por Schmidt e Wrisberg (2001), ao
tratarem da importância da solicitação de ajustes corporais às práticas randômicas e na aquisição
de habilidades abertas, executadas em ambientes imprevisíveis, as quais necessitam de
adaptações constantes em resposta às propriedades dinâmicas do meio.
96
esportivos, manuais, intelectuais e sociais, propostos inicialmente por Dumazedier
(1980); complementados por Camargo (1989, 1998) com o conteúdo turístico e
implementados, mais recentemente, por Schwartz (2003), com os conteúdos
virtuais.
Por este viés, o “Caminho da Fé” possibilita o desenvolvimento dos
vários conteúdos do lazer, em função de seu conjunto de atrativos culturais e
históricos, como as fazendas restauradas da primeira metade do século XIX, as
ruínas de vilarejos que despontaram na época do auge da cultura cafeeira; os
calendários de festejos e comemorações folclóricas, a gastronomia, o artesanato
e a cultura local (MARQUES SILVA, 2004, 2005); que foram percebidos pelos
sujeitos da amostra.
Krippendorf (1989) relacionando o turismo alternativo com o
desenvolvimento pessoal, traz à tona os aprendizados obtidos por meio da
renúncia à maioria das infra-estruturas turísticas normais, assim como alojar-se
de acordo com os hábitos locais, estabelecer contato com os autóctones e utilizar
meios de transporte coletivos, procurando “ao invés do conforto, a aventura, o
esforço físico, os calafrios, o espírito de grupo e o companheirismo”
(KRIPPENDORF, 1989, p. 81)
Estimulados e motivados, esse público está aberto a novas
possibilidades de conhecimento e de autoconhecimento, permitindo a promoção
de diferentes formas de vivências motoras alternativas, desde que o
risco/benefício seja uma equação controlada.
97
No mesmo patamar de 12,82% encontrou-se a atração pela
aventura como um dos motivos para a caminhada. Embora, no “Caminho da Fé”,
o risco de acidentes seja pequeno (MARQUES SILVA, 2004, 2005), tal qual em
outras atividades físicas na natureza, o risco de se caminhar por trilhas, estradas
rurais e asfalto também é um simulacro, brinca-se mais com sua idéia do que com
suas conseqüências. O risco tempera de aventura o programa e, para Le Breton
(2006), é desejado, mas sem seus aspectos negativos.
Para o mesmo autor, o risco oferece uma oportunidade de “nadar
contra a corrente”, de voltar aos valores originais, de escapar do tédio e
intensificar a relação com o momento graças a uma atividade arrebatadora.
Bruhns (2003, p. 30) expande a discussão sobre o trinômio
aventura-emoção-risco ao tratar do risco calculado optado livremente pelos
praticantes, ao responderem positivamente a pergunta de instrutores ou guias de
determinadas atividades, no início da prática: “Vocês preferem o passeio com
emoção ou sem emoção?”
Um outro dado relevante é que, com 7,69% cada, os pesquisados
reconheceram na caminhada a possibilidade de “testar limites físicos” e “de se
integrar com outras pessoas e grupos”.
“Testar limites físicos” e “integrar com outras pessoas e grupos”,
fazem parte de um leque de motivos que se referem aos esforços empreendidos
por uma pessoa de dominar uma tarefa, sublimar seus limites, superar
obstáculos, desempenhar melhor que os outros. É uma orientação pessoal de
lutar pelo sucesso, persistir ante o fracasso e se orgulhar por suas realizações. A
98
competitividade é uma disposição de lutar por satisfação, ao fazer comparações
com algum padrão de superioridade, podendo ser o seu próprio padrão, um
padrão externo determinado por uma outra pessoa, ou ainda, em função da
aceitação ou rejeição de padrões estabelecidos num grupo. Essa noção é
importante, porque a comparação acontece, mesmo que inconscientemente ou
veladamente, e pode ajudar a entender “por que algumas pessoas parecem tão
motivadas à realização e outras parecem simplesmente ‘acompanhar a corrida’”
(WEINBERG e GOULD, 2001, p. 93).
É interessante destacar que as duas afirmações apareceram com o
mesmo índice, cujas razões num posterior estudo poderiam ser mais bem
exploradas.
Com 5,13% das respostas cada, foram ressaltados o “lazer e
divertimento” e o “pagamento de promessa”, já que nessa amostra também havia
fiéis.
As idéias de Dumazedier (1974), no campo do lazer, colaboram para
o entendimento dos diversos motivos que levam as pessoas a procurarem à
realização de uma atividade física em ambiente natural. O autor define o lazer
como:
(...) o conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de
livre vontade seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e
entreter-se ou ainda desenvolver sua formação desinteressada, sua
participação social voluntária, ou sua livre capacidade criadora, após
livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e
sociais (Dumazedier, 1974, p.34).
99
Dumazedier (1974) esclarece, ainda, os processos pelos quais a
sociedade contemporânea passa, dentre eles: o progresso técnico-científico, os
movimentos sociais e a regressão do controle social pelas instituições básicas, o
que permite ocupar o tempo ocioso com atividades de interesses variados: físico-
esportivos, manuais, intelectuais, artísticos e sociais.
Com 2,56% cada, apareceram, ainda, as respostas relacionadas ao
“convite de amigos” e à busca pela espiritualidade, assinaladas no item “outros”
pelos próprios sujeitos com os termos “oração” e “oportunidade de meditação”.
Bramante (1998) clarifica esse resultado ao ressaltar tanto a questão
social, representada pela amizade, no caso dessa pesquisa, como a religiosa, por
meio do lazer:
O lazer se traduz por uma dimensão privilegiada da expressão humana
dentro de um tempo conquistado, materializada através de uma
experiência pessoal criativa, de prazer e que não se repete no
tempo/espaço, cujo eixo principal é a ludicidade. Ela é enriquecida pelo
seu potencial socializador e determinada, predominantemente, por uma
grande motivação intrínseca e realizada dentro de um contexto marcado
pela percepção de liberdade. É feita por amor, pode transcender a
existência e, muitas vezes, chega a aproximar-se de um ato de fé. Sua
vivência está relacionada diretamente às oportunidades de acesso aos
bens culturais, os quais são determinados, via de regra, por fatores
sócio-político-econômico e influenciados por fatores ambientais
(Bramante, 1998, p.09).
Além do potencial socializador do lazer como motivação para a
caminhada, a questão religiosa, que é a origem do Caminho desde o século XVIII,
adquiriu uma roupagem contemporânea.
100
Antoniazzi (2003) alerta para a aparente redução da religiosidade
institucionalizada. Para ele, ocorre uma emergência da chamada "religião
invisível", ou seja, uma religiosidade que emana de um sentimento pessoal e
íntimo, que, não necessariamente, precisa ser acompanhado de participação em
comunidades ou instituições religiosas dogmáticas.
Marques Silva (2004, p. 89) corrobora com este pensamento e
traduz essa religiosidade invisível, como o “espírito do caminho” ao se remeter à
trilha Tambaú a Aparecida: “Quem vai com vontade de entrar em contato com a
natureza e com outras pessoas, também encontrará a espiritualidade, porque o
caminho pode ajudar as pessoas a se elevarem até uma dimensão diferente da
vida”.
Essa forma sincrética de religiosidade é confirmada também pelos
peregrinos do “Caminho de Santiago”, como um dos motivos atuais para a
realização do trajeto (GALLEGOS, JUAN e MONTES, 2005).
O “incentivo ocasionado por publicidade sobre o trajeto” e a
possibilidade de “turismo acessível” não foram assinaladas por este grupo.
Vale acrescentar que, ao colocar esses motivos no contexto maior
da realização da pesquisa de campo, observou-se que eles deixaram de ser
simplesmente “motivos”, para tornarem-se “motivações”. Essa transformação foi
percebida, à medida que os sujeitos iam realizando a atividade e registrando-a
por meio das aplicações do questionário (antes, durante e depois), que indicava a
existência de um processo em andamento.
101
Como só foram considerados sujeitos dessa pesquisa, aqueles que
realizaram o “Caminho da Fé” completo, ou seja, os sujeitos com motivos
suficientemente influentes que os levaram a executarem e manterem uma ação
em direção a um objetivo e finalizá-lo; adotou-se o termo “motivação”, para a
discussão dos dados obtidos com esta pergunta, realizada de agora em diante.
O termo “motivação” é sugerido como um processo ativo, uma força
ou energia que impele um organismo a procurar alcançar um objetivo e/ou a
satisfazer uma necessidade, de forma intencional (CAMPBELL, 1986; VENDITTI
JÚNIOR e WINTERSTEIN, 2005).
Na Psicologia do Esporte é “a direção e a intensidade do esforço”
(WEINBERG e GOULD, 2001), sendo que a direção refere-se à condição de
aproximar-se ou sentir-se atraído por uma determinada situação e a intensidade
definida pelo quanto se coloca de esforço numa determinada situação.
Também, a motivação pode ser “intrínseca”, associada a fatores
internos individuais, como a vontade de ser competentes e autodeterminados em
busca de dominar a tarefa em questão, ou “extrínseca”, direcionada por fatores
externos, como recompensas, busca de aprovação, ou temendo ameaça de
rejeição (WEINBERG e GOULD,2001; MACHADO, 2006).
Vale acrescentar que as visões pessoais de motivação, segundo
Weinberg e Gould (2001), podem estar centradas no traço do indivíduo
(personalidade, necessidades, interesses e objetivos); na situação (composição
do grupo, estilo, atratividade do programa, ganhos e perdas) e na visão de
interação (relação indivíduo-situação).
102
No caso desse estudo, os maiores índices de motivações estavam
relacionados com a “direção intrínseca interacionista”, expressas pelos sujeitos
através das afirmações: “contato com a natureza”; o “desenvolvimento pessoal”,
elencando os itens “revisão de valores”; “aquisição de conhecimentos”, “contato
com culturas diferenciadas das comunidades do caminho” e a “aventura”.
Foram observadas, também, que algumas motivações extrínsecas
foram importantes; a cada parada, mesmo que simples, havia uma recompensa
por aquela etapa vencida. Era um copo de água, um banho, uma cama, a
hospitalidade das pousadas, a gastronomia, o incentivo por meio da empatia,
acolhimento e admiração das pessoas da comunidade em ver pessoas de níveis
socioeconômico e cultural altos, em suas férias se despojarem e peregrinarem a
pé a Aparecida.
103
2) TRAJETO DA TRILHA
Em resposta a questão 2 (Anexos 2, p. 226; 3 – p. 230 e 4 – p. 234):
Como (imagina que esteja, está, estava) o trajeto na trilha?”, foram
evidenciadas opiniões favoráveis e desfavoráveis, principalmente sobre a
sinalização/orientação, o relevo e obstáculos, as condições atmosféricas,
climáticas e meteorológicas, entre outras dispostas a seguir:
Tabela 02 Como (imagina que esteja, está, estava) o trajeto na trilha:
ANTES DURANTE DEPOIS
PERCEPÇÃO SOBRE O TRAJETO PERPASSA PELA
(n = 7 participantes)
resp.
(%) N°
resp.
(%) N°
Resp
.
(%)
Agradável 1 5,26 3 12,50 1 6,25 Condições
atmosféricas e
climáticas
Desfavorável 0 0 0 0 2 12,50
Bem cuidada 9 47.37 4 16,67 0 0 Sinalização
Mal sinalizado 0 0 5 20,82 8 50
Sem transposição de grandes
obstáculos
2 10,53 0 0 0 0 Relevo e obstáculos
Dificuldades pelos muitos
aclives/declives
1 5,26 4 16,67 2 12,50
Tranqüilo, fácil 1 5,26 1 4,17 0 0
Difícil 1 5,26 0 0 0 0
Condições físicas e
emocionais de quem
vai participar
Corpo adquire resistência e
Deus abençoa
1 5,26 1 4,17 0 0
Visual lindo 1 5,26 3 12,50 0 0 Beleza cênica
Sem atrativo cênico 0 0 0 0 0 0
Sem riscos ou perigos 0 0 0 0 0 0 Perigos e riscos
Assalto nas periferias e risco
de atropelamento no asfalto
0 0 0 0 3 18,75
Hospitalidade e incentivo das
comunidades
2 10,53 0 0 0 0 Preparação dos pólos
receptores pelo
caminho
Falta água potável e infra-
estrutura pelo caminho
0 0 3 12,50 0 0
TOTAL GERAL 19 100 24 100 16 100
104
Antes do início da caminhada, os sujeitos imaginavam que o trajeto
estaria com a sinalização bem cuidada (47,37%), que não haveria grandes
transposições de obstáculos e barreiras e que haveria hospitalidade e incentivo
das comunidades ao longo do trajeto, ambos com 10,53%. Havia uma tendência
ao otimismo quanto à beleza cênica; às condições climáticas (imprevisíveis) e
quanto às dificuldades com aclives e declives, cada um deles indicando o mesmo
índice numérico (5,26%). Com relação às condições físico-emocionais não houve
unanimidade na tendência das respostas. Todos os três índices (“fácil, difícil, Deus
ajuda”) obtiveram o mesmo valor numérico de 5,26%, cada.
Durante a caminhada, o maior índice apresentado foi um
comentário desfavorável sobre a sinalização/orientação: “mal sinalizado” com
20,82%. Em segundo lugar, apareceram simultaneamente com 16,67%, queixas
com relação à dificuldade do relevo e quanto à manutenção da sinalização,
expresso pela opinião de que “estava mal cuidada”. No percurso, os participantes
perceberam o clima agradável, o visual lindo; mas reclamaram da falta de água e
de infra-estrutura ao longo do caminho, cada um deles com 12,50% das
respostas. Com relação às condições físico-emocionais empatadas com 4,17%
estavam as respostas: “tranquilo, fácil” e “o corpo adquire resistência e Deus
ajuda”.
Ao final do trajeto, a percepção dos participantes era a de que o
trecho final estava mal sinalizado, com 50%; envolvia riscos e perigos, com
18,75%; estavam sentido as dificuldades proporcionadas pelo relevo, como a
existência de muitos aclives e declives, apontando um percentual de 12,50%,
105
entre os trechos de credencial. Uma curiosidade aconteceu em relação à
finalização do trajeto, realizada pelos peregrinos que iniciaram o caminho
posteriormente. O trecho final, para eles, foi realizado sob forte chuva, o que
refletiu nos seus comentários desfavoráveis sobre as condições climáticas
(12,50%). Já aqueles que chegaram a Aparecida primeiro, indicaram o clima como
agradável, 6,25%.
O caminho brasileiro é análogo em muitos pontos com o antigo
caminho espanhol, tais como: a fundamentação religiosa; o apoio de entidades
públicas e privadas e, até mesmo, a necessidade de incorporação, para motivar a
execução do percurso, de apelos mais contemporâneos, como a busca por outras
formas de religiosidade, pela construção de processos identitários relacionados à
corporeidade e à ecologia.
Nesse sentido, uma discussão geral dos dados sobre a percepção do
trajeto, só poderia ser feita pela aproximação dos sete itens levantados nessa
questão, em relação aos dois caminhos.
Não se pode falar em comparação de opiniões sobre o início, durante
e depois da caminhada, devido à dificuldade de acesso às informações sobre o
“Caminho de Santiago” e, até mesmo, pela ausência de pesquisa tão específica,
sobre a ambiência de ambos os trajetos o que invariavelmente abre um leque de
novas oportunidades de investigação.
O que se pretende a seguir é discutir se a percepção do trajeto de
“Santiago de Compostela” passa pelos itens identificados pelos participantes do
“Caminho da Fé”, sem entrar no mérito se são favoráveis ou desfavoráveis.
106
Gallegos, Juan e Montes (2005, p. 03) sobre a interferência das
condições atmosféricas, climáticas e metereológicas no “Caminho de Santiago”,
revelam que a tecnologia das roupas e dos calçados impermeáveis diminuiu as
dificuldades causadas pela hipotermia e pela imprevisibilidade meteorológica,
exclamando: “Qué mal lo debieron pasar los peregrinos en invierno antes de que
se inventasse el gore-tex
5
. Já as condições climáticas do “Caminho da Fé” variam
entre chuvas esparsas e calor no verão, e pouca ou nenhuma chuva no inverno,
mas com temperaturas mais baixas.
Em relação à sinalização, o “Caminho de Santiago” passou por uma
revitalização durante as celebrações dos anos dos santos compostelanos, que
aconteceram em 1976, 1982, 1993, 1999 e 2004. Essa reabilitação do caminho
coincidiu com o movimento de promoção turístico e de patrimônio histórico-cultural
da rota, nos anos oitenta e com a incorporação da Espanha na Comunidade
Comum Européia em 1985. Assim, a sinalização que anteriormente estava
abandonada e deteriorada, foi reparada gradativamente. Alguns trajetos foram
homologados e com eles todo um sistema de orientação/sinalização. No “Caminho
de Santiago” a sinalização não tem função apenas de orientação aos peregrinos,
mas também é regulamentada por motivos ambientais e de segurança, sendo o
caminho totalmente balizado (GALLEGOS, JUAN e MONTES, 2005).
Quanto ao relevo e obstáculos, assim como a trilha do “Caminho da
Fé” se desenvolve pela Serra da Mantiqueira, o “Caminho de Santiago” corta
5
Comentário sobre como deveriam passar frio, os peregrinos de Santiago de Compostela no
inverno, antes da invenção do Gore-tex, tipo de material para roupa técnica.
107
praticamente todo o norte da Espanha pelos Pirineus. Sua rota mais utilizada
passa por bosques e grandes reservas vegetais que recobrem vales, maciços
montanhosos e cordilheiras de grande beleza (DUPONT, 1979).
As altitudes do “Caminho de Santiago” variam entre 30 a 100 metros,
por ponto de credencial, que se localiza entre três e doze quilômetros à frente do
local anterior (CAMINHO, 2007).
Ao se normatizar a distância estimada de percurso em 30 km/dia,
seria observado que a altimetria do “Caminho da Fé” varia de 300 a 400 metros,
em média, entre os pontos de credencial, uma vez que estão localizados a uma
distância de 30 quilômetros um do outro; enquanto que, no “Caminho de
Santiago”, seria observada uma variação média de altimetria entre 50 a 100
metros, entre cada ponto de credencial. Vale acrescentar que, numa transposição
hipotética de “Herrerías” aO Cebreiro”, em altitudes variando de 675 a 1.330
metros, encontrar-se-iam três pontos de parada intermediários. Diferentemente, no
“Caminho da Fé”, as transposições de serras ou grandes desníveis de altitudes,
como os 708 metros entre o ponto de “Águas da Prata” e “Pico do Gavião”, têm
que ser transpostos em um dia, sem opção de parada no percurso. Tal condição
agrava a sensação de dificuldade para a transposição, pois caso haja algum
acidente, o acidentado terá que se deslocar até o próximo ponto, ou terá que
pernoitar ao relento.
Ilustra essa sensação de dificuldade, a comparação de dois
participantes dessa amostra, que haviam realizado o “Caminho de Santiago”. Os
sujeitos realçaram que o “Caminho de Santiago”, é mais longo, entretanto mais
108
plano, sem tantas descidas e subidas entre os pontos de credencial, além do que,
tem mais possibilidades de paradas.
As condições físicas e emocionais para a realização dos dois trajetos
assemelham-se. As duas caminhadas são atividades físico/desportivas intensas e
prolongadas, que exigem espírito esportivo (GALLEGOS, JUAN e MONTES,
2005). Vasquez Gallego, Solana e Quintas (2004, p. 23), descrevem-na como:
“desborda todos los critérios y juícios comunes”. “...voluntad, preparación física y
psicológica son los fatores clave para recorrer el Camino de Santiago, siendo
secundarios la planificación, el equipo, etc.”
6
Sobre a beleza cênica do “Caminho da Fé”, um dos caminhantes
comentou que estava num “momento cercado de natureza. Muito verde...”,
enquanto um outro destacou a “insignificância humana frente à exuberância e
grandiosidade da natureza” (VASQUEZ GALLEGO, SOLANA e QUINTAS, 2004,
p. 23).
Esses comentários colaboram para o entendimento do que seja o
sentimento estético e moral de valorização da natureza, denominado por Carvalho
(2000, p. 57) de “Novas sensibilidades”, que são parte do mundo dos sentimentos
e valores privados que tendiam a se generalizar em costumes públicos.
No caso do “Caminho de Santiago” que tem várias rotas interligadas,
não só os atrativos cênicos, mas também culturais, têm motivado o deslocamento
de grupos, há vários séculos, para conhecê-los. Em especial, avaliando os dois
6
Para os autores espanhóis percorrer o “Caminho de Santiago” vai além dos critérios e juízos
comuns, ...vontade, preparação física e psicológica são os fatores principais e os secundários são
o planejamento e o grupamento de viagem (tradução livre da autora).
109
principais pontos de partida Saint-Jean-Pied-de-Port, na França, a 774 quilômetros
de Santiago, e Roncesvalles, na Espanha, com 750 quilômetros de caminhada,
ambas as rotas apresentam bosques de hayedos e abetales (flora típica da região)
e mirantes panorâmicos, além de castelos medievais e ruínas arqueológicas.
Quanto aos riscos e perigos, segundo Gallegos, Juan e Montes
(2005), o “Caminho de Santiago” é pouco perigoso, definindo o percurso como
possível para qualquer faixa etária e condição física, enquanto que o trecho final
do “Caminho da Fé” apresenta risco de atropelamento, em função do acostamento
estreito e perigoso, no trecho Pindamonhangaba a Aparecida, e possibilidade de
assalto nos trajetos próximos às periferias dessas cidades.
Nesta investigação, os sujeitos não mencionaram o perigo provocado
por animais como: abelhas, vespas ou, ainda, ataque de cachorros e cobras,
embora tenham sido visualizadas três delas, durante o percurso.
Em termos de preparação dos pólos receptores pelo caminho, a trilha
de “Santiago de Compostela”, mais antiga, está muito mais estruturada. Gallegos,
Juan e Montes (2005) evidenciam que existem desde hotéis cinco estrelas a
“casas de turismo rural”. Esses autores destacam a mobilização sociopolítico-
econômica para reavitalização das rotas, pois o “Caminho de Santiago” não é visto
apenas como um atrativo turístico religioso, mas também natural, cultural e
histórico.
Por meio desta analogia, embora sem a adjetivação dos itens que
compuseram a percepção ambiental, a importância da sinalização foi apontada
nos dois caminhos, o que mereceu uma discussão mais aprofundada.
110
A sinalização/orientação
A sinalização/orientação foram os fatores mais mencionados em
todas as fases do “Caminho da Fé”.
Antes do início do “Caminho da Fé”, 47,37% das respostas
apontavam que a sinalização estava bem cuidada, bem conservada, com muitas
placas e setas da organização do caminho.
Durante o percurso, percebeu-se uma oscilação entre as opiniões
positivas e negativas, com tendência a serem desfavoráveis, com 20,82%;
assinalando que o caminho estava mal sinalizado, sem setas ou placas
indicativas. Foram emitidas as seguintes opiniões durante a trilha: “... são várias
armadilhas para se desorientar, que requerem atenção”. Um outro sujeito
escreveu que havia ...necessidade de mais setas pintadas, ...sem confiança no
trajeto, medo de pegar trilha errada”.
Ao final do trajeto, 50% dos participantes assinalaram que o trajeto
estava mal sinalizado. Um dos participantes desabafou “falta consideração com o
peregrino que está cansado”; enquanto dois outros caminhantes assinalaram que
várias placas tinham sido arrancadas no final do asfalto em dois trechos: o trecho
de - Pindamonhangaba e o trecho Roseira até Aparecida. Uma das participantes
reclamou que, nas proximidades de Aparecida, ainda na estrada, na periferia até a
chegada ao Santuário, não havia nem placas, nem setas, nem indicação de
111
quanto ainda faltava do percurso, já que durante todo o “Caminho da Fé”, havia
uma quilometragem decrescente, iniciando em Tambaú/SP.
A sinalização/orientação do “Caminho da Fé” está diretamente ligada
à preocupação dos participantes em não se perder, porque não se cogita
caminhar além do necessário, em função das bolhas, torções, peso da mochila,
cansaço, entre outros motivos.
Os instrumentos e pontos de orientação do “Caminho da Fé”
percebidos pelos participantes são o “mapinha” distribuído nos pontos de
credencial, nas pousadas e bares que fazem parte da organização do caminho; “a
credencial do peregrino”, a qual deve ser carimbada ao longo do percurso, e “os
recantos de parada” com bicas de água e/ou sanitários, os bares, as pousadas, as
lanchonetes e os restaurantes existentes pelo caminho, com a função de
representarem os pontos de deslocamento ou neutralizados de um percurso de
trekking. É interessante ressaltar que cada um dos participantes caminhava com
sua credencial e seu “mapinha”, no local de mais fácil acesso da mochila, com a
intenção de “a qualquer momento se localizar”.
Quanto à sinalização, essa era feita por meio de setas pintadas em
árvores, postes, chão, mourões, cercas, cupinzeiros, entre outros; portais, placas
da organização, mapas, plaquetinhas com a quilometragem restante e outras
formas visuais feitas e instaladas espontaneamente pelos moradores.
É necessário destacar, ainda, que a sinalização/orientação do
“Caminho da Fé”, além de depender da manutenção dos administradores do
trajeto e dos vários fazendeiros que permitem o trânsito dos peregrinos por suas
112
propriedades, também está condicionada à preparação para a realização
profissional de operações turísticas de cada pólo receptor existente. Isso
demonstra a capacidade da comunidade e dos órgãos públicos em perceberem a
importância de se organizar com responsabilidade e segurança com o objetivo de
manter as operações turísticas do “Caminho da Fé”, junto a sua comunidade.
Devido a importância política e econômica dessas medidas, houve
um movimento para a incorporação das atividades de aventura na natureza, assim
como o turismo de aventura ao Ministério do Turismo, por meio do Instituto de
Hospitalidade (IH). O Instituto detectou a necessidade de prevenção de acidentes
e minimização de riscos, em função do aumento crescente de praticantes de
atividades físicas na natureza, e iniciou o desenvolvimento de dezenove normas
técnicas, fato ocorrido posteriormente à data da coleta de campo.
A normatização específica para realização e operação de
caminhadas de longo curso, foi publicada em 25 de setembro de 2006, como
ABNT NBR 15.393 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS,
2007); sendo que, um dos assuntos regulamenta as competências da operadora
e/ou do condutor na organização de trilhas, envolvendo a sinalização/orientação e
risco calculado. Como este estudo foi realizado anteriormente a esta medida, a
normatização vem comprovar essa importante relação.
No “Caminho de Santiago”, a preocupação com o controle e
minimização dos riscos é mais enfatizada, pois, além de ser um caminho bastante
antigo e estruturado, ao longo da história, também é parte integrante de uma rede
de trilhas locais, regionais e que envolve outros países (trilhas territoriais). O
113
“Caminho de Santiago” obedece a exigências técnicas padronizadas de traçado e
sinalização para a prática segura e de qualidade nas atividades físicas na
natureza (caminhada/ciclismo/cavalgada). As placas também fornecem
informações sobre a atividade que está sendo realizada, incentivam o
conhecimento sobre o entorno natural, os elementos da tradição rural espanhola,
buscando uma prática respeitosa, tanto do ponto de vista cultural como ambiental
(GALLEGOS, JUAN e MONTES, 2005).
No “Caminho da Fé”, em muitos pontos, a trilha está roçada e
cuidada pela organização que o administra, principalmente nos trechos
Tambaú/SP a Andradas/MG. No trecho final, próximo à Aparecida/SP, a
sinalização precisa ser revista, pois as outras estruturas que interagem com esse
tipo de turismo são mais evidenciadas, como a influência da igreja, das
prefeituras, do departamento de estradas de rodagem e dos moradores dos
bairros periféricos.
3) GRUPAMENTO DE VIAGEM
Em resposta a questão 3 (Anexos 2, p. 226; 3 – p. 230 e 4 – p. 234):
Você (pensa em fazer, pensa em continuar, fez) a caminhada:”, os
participantes deveriam preencher uma tabela, com respostas fechadas, com os
seguintes tipos de grupamentos de viagem e opiniões:
114
Tabela 03- Você (pensa em fazer, pensa em continuar, fez) a caminhada
ANTES DURANTE DEPOIS
GRUPAMENTOS
(n = 7 participantes)
resp.
(%) N°
resp.
(%) N°
resp.
(%)
Sozinho 1 12,50 1 12,50 2 14,28
Grupo já organizado 4 50 6 75 6 42,86
Companhia de pessoas
do caminho
3 37,50 1 12,50 6 42,86
Tanto faz 0 0 0 0 0 0
Não sei 0 0 0 0 0 0
Outros 0 0 0 0 0 0
Total 8 100 8 100 14 100
Antes da caminhada, 50% pensavam em fazer a caminhada num
“grupo previamente organizado”, composto por familiares ou amigos; 37,50% com
“pessoas que iriam conhecer pelo caminho” e 12,50% dos participantes pensavam
em realizar a caminhada “sozinhos”.
Durante o percurso, o maior índice apontado foi referente a “grupos
previamente organizados” com 75% (índice que refletia a situação de amigos que
iniciaram o percurso em dias diferentes e que combinaram de se encontrar num
determinado ponto do trajeto, em função de disponibilidade de seus períodos de
férias serem diferentes), seguido de “sozinho” e de “companhia de pessoas do
caminho”, com 12,50% cada.
Ao final do percurso, houve um empate nos índice de grupamento,
composto por “companhia de pessoas do caminho” e “grupos previamente
organizados” com 42,86% cada e, em segundo lugar, apareceu a opção “sozinho”.
Os outros índices não tiveram representatividade.
115
Esses dados reforçam a tese de que as atividades físicas na
natureza estimulam a convivência social. Baker et al (2002) abordam, dentro das
teorias psicológicas da conduta agressiva: a ativação fisiológica, a emoção e a
agressão, sendo que, no caso das AFAN, as emoções de raiva e decepção são
mais mascaradas do que em situações de jogo dentro do esporte, por envolver
outros fatores como aceitação social. A prática de AFAN, normalmente, se dá em
grupo.
Na segunda etapa da mesma pergunta, os participantes deveriam
explicar suas razões por optarem por grupamentos de viagem ou por realizar o
caminho, sozinhos.
Essa análise iniciou-se pela resposta acerca do posicionamento do
indivíduo em relação a caminhar sozinho, sendo que posteriormente foram
analisados os aspectos referentes a caminhar em grupos.
É importante ressaltar que apenas um sujeito realizou todo o
caminho sozinho. Os outros participantes, apesar de caminharem sozinhos, em
muitos momentos do percurso, sempre iam para os pontos de deslocamento e/ou
pousadas, que haviam sido combinados nas paradas anteriores.
Os motivos apontados pelos sujeitos para seguirem sozinhos ou
realizarem alguns trechos sozinhos foram:
116
Tabela 04- RESPOSTA ABERTA : Razões para seguir sozinho
ANTES DURANTE DEPOIS
RAZÕES PARA SEGUIR SOZINHO
(n = 7 participantes)
resp.
(%) N°
resp.
(%) N°
resp.
(%)
Para não sofrer influências 1 14,29 1 10 0 0
Meditação, reflexão e contemplação da
natureza
2 28,56 2 20 1 12,50
Ritmo individual diferenciado 3 42,86 6 60 4 50
Auto-desafio: Para crer que sozinho
também se chega
1 14,29 1 10 0 0
Transcender e orar: “Estar em contato
com o sagrado”
0 0 0 0 3 37,50
Total 7 100 10 100 8 100
As razões iniciais para se realizar a caminhada sozinho foram
principalmente associadas às diferenças individuais de ritmo, quer seja de
condicionamento físico, de quantidade de bagagem, de interesses e, ainda,
quanto aos ritmos circadinanos, resumidos no termo “ritmo”. Alguns sujeitos
fizeram as seguintes observações: “Ritmo cada um tem o seu, cada um tem uma
necessidade”, “Prefiro ditar meu próprio ritmo” e “Prefiro seguir meu ritmo para
poder parar e seguir a hora que desejar”.
A segunda razão foi a “meditação, reflexão e contemplação da
natureza” (28,56%), que, de certa forma, confirma a primeira, só que com outra
motivação. E com 14,29%, apareceram duas outras razões empatadas no terceiro
lugar: “para não sofrer influência” e “auto-desafio”.
Durante a caminhada, o ritmo individual diferenciado foi o mais
citado, aumentando em percentual (60%), embora as duas outras razões
apontadas, também tenham sido mencionadas na mesma ordem, o que alterou foi
117
apenas a representatividade percentual. Foram elas: “meditação, reflexão e
contemplação da natureza” com 20% e “para não sofrer influência” e “auto-
desafio”, com 10% cada.
Ao final da caminhada, próximo já no Santuário de Aparecida/SP, o
“ritmo” foi novamente mencionado, decrescendo um pouco, neste momento com
50%. Como segunda razão, surgiu a opção “transcender e orar”, com 37,50% ou,
ainda, como afirmou um dos sujeitos: “Estar em contato com o sagrado”. O
terceiro motivo para a realização da caminhada sozinho foi a “meditação, reflexão
e contemplação da natureza” (12,50%).
Em todas as fases o ritmo apareceu como a principal resposta da
maioria dos participantes (42,86%, 60% e 50%). Quando vários participantes
mencionaram como resposta “Ritmo cada um tem o seu”, há por trás dessa
afirmação inúmeras conotações (BARDIN, 1977), que precisam ser exploradas.
A caminhada, mesmo que no âmbito do lazer, continua regulada
pelos princípios que fundamentam o treinamento esportivo, estejam os praticantes
treinados ou não, tenham conhecimento sobre o assunto ou não.
Vários autores (SCHMIDT e WRISBERG, 2001; SPOSITO, 2003)
apontam como sendo esses princípios os da: Individualidade Biológica (cada
pessoa possui suas próprias características resultantes do somatório de sua carga
genética e de suas experiências pessoais); Especificidade (a especificidade dos
exercícios deve ir ao encontro das necessidades do praticante, onde os músculos
trabalhados e fortalecidos devem ser os mesmos requeridos numa atividade
específica, chegando o mais perto possível do gesto esportivo da modalidade em
118
questão); Adaptação (que alerta que sempre que um organismo é estressado por
uma atividade física, há uma perturbação na homeostase, e a resposta a isto, é
uma adaptação fisiológica visando a restabelecer o equilíbrio, além de preparar-se
para receber em melhores condições um novo estresse); Sobrecarga (que indica
que, após o retorno à homeostase, o organismo estará mais preparado para
receber um novo estresse de mesma intensidade); Interdependência Volume-
Intensidade (que avisa que o corpo não agüenta trabalhar por muito tempo um alto
volume, alta intensidade e redução dos intervalos de descanso) e o princípio da
Continuidade do treino, que atenta ao fato de que, se não houver um próximo
treino, a tendência é a volta aos valores iniciais.
Na menção de que “Ritmo cada um tem o seu”, os sujeitos estavam
levando principalmente em conta dois desses princípios, mesmo que
inconscientemente: o da individualidade biológica, já que o metabolismo
energético, as respostas musculares, circulatórias, respiratórias e hormonais, a
fadiga e a capacidade de minimizá-la; juntamente com o programa motor,
dependiam de reações individuais, ativadas voluntária e involuntariamente por
cada um deles.
O outro princípio se manifestou quando os participantes perceberam
que, mesmo que tivessem se preparado para a caminhada, com treino a pé em
suas cidades de origem, a esteira na academia, as corridas em curtas e longas
distâncias, nada se compara à caminhada de resistência, carregada (com uso de
mochila), num trajeto extenso, em meio natural, fugindo totalmente das situações
de treino anterior, como revela o princípio da especificidade.
119
A afirmação “Ritmo cada um tem o seu” também revela um
planejamento consciente, associado ao estabelecimento de estratégias para
realizar a caminhada (estratégias de prova), envolvendo a escolha na adoção de
um ritmo de passada, que tem relação com a velocidade, a amplitude da passada
que cada um possui. Observou-se que alguns optaram por uma passada regulada
e lenta durante o trecho do dia; outros por uma marcha mais rápida inicialmente e
lenta durante a metade ao final do trajeto diário; um dos sujeitos, nos aclives,
subia lentamente com leve encurvamento da coluna para frente, e descia veloz,
relaxado, quase escorregando, jogando a cintura.
Destacam-se ainda outras estratégias que merecem registro, entre
elas, iniciar a caminhada de madrugada, parar a cada hora e alongar; refazer os
curativos dos pés; comer uma barrinha de cereal ou fruta, de duas em duas horas,
para manter o nível de glicose e tomar goles de água a todo instante para hidratar.
Além disso, a idéia de que “Ritmo cada um tem o seu”, em razão da
exposição ao ambiente natural, assume outras características. Em relação ao
ritmo versus ambiente natural versus aprendizagem, Correa (1997, p.133) afirma
que: “a aprendizagem realizada sob condições de alta interferência
contextual/ambiental promove melhor retenção e transferência do conteúdo
aprendido, do que a aprendizagem feita sob baixa interferência contextual”.
A alta interferência está relacionada às práticas variadas e
randômicas, em que as variadas envolvem alterações de uma única classe de
movimentos, provocando adaptação. As randômicas são seqüências práticas, na
qual os indivíduos realizam uma multiplicidade de tarefas diferentes, inclusive
120
classes de movimento, sem ordem específica, evitando ou minimizando, assim,
repetições consecutivas de qualquer tarefa única.
A baixa interferência, por outro lado, relaciona-se à prática constante,
repetição de uma única classe de movimento, ou em blocos, quando os indivíduos
treinam repetidamente a mesma tarefa. Esses apontamentos podem ser
ampliados nos estudos Magill (1984).
Schmith e Wrisberg (2001) também se posicionam quanto ao ritmo
em ambiente natural articulando-o com o movimento. Enfocando habilidades e
ambientes, esses autores, denominam como habilidade fechada ou tarefa
autocompassada aquela que é executada em ambiente previsível ou parado e que
permite que as pessoas planejem seus movimentos com antecedência. O estímulo
em cada uma dessas situações aguarda a iniciativa do executante.
As habilidades abertas ou tarefas externamente compassadas ou
forçadas, em contraponto, são aquelas que se executam em ambientes que estão
em movimento ou são imprevisíveis ou variáveis durante a ação. Requer a
adaptação dos movimentos das pessoas em resposta às propriedades dinâmicas
do ambiente. O executante deve agir sobre a ação do estímulo.
Acrescenta-se a discussão sobre ritmo e ambiente natural às
relações sociais. Parlebas (1988) define o meio selvagem como um ambiente
instável, no qual existe a necessidade de interação com os elementos caóticos
que se apresentam e com movimentos motores abertos, em resposta às
propriedades dinâmicas do ambiente. O meio doméstico é um contraponto ao
selvagem, composto por ambiente estável, com elementos previsíveis e rotineiros,
121
que requerem certa automação de movimentos e o uso de habilidades motoras
fechadas. O autor, ao relacionar o meio com o soma e a psique, amplia a
discussão para o campo da sociologia, ao tratar das alterações nas atividades
relacionais mais propícias em ambientes naturais, criando os termos
Sociomotricidade e Praxiologia Motriz.
Também a afirmação “Ritmo cada um tem o seu, cada um tem uma
necessidade”, está relacionada à forma com que os participantes resolvem seus
conflitos. Entende-se por conflito “uma luta mental ocasionada pela operação
simultânea de necessidades, impulsos, desejos ou exigências internas ou
externas antagônicas ou que se excluem mutuamente” (CAMPBELL, 1986). Os
participantes optavam por resoluções que levavam em conta tanto médio e longo
prazos, por exemplo: se no trajeto começava a chover, alguns paravam em algum
local com proteção, esperavam a chuva diminuir para não completar o trajeto à
noite; em vez de optarem por continuar caminhando e conseqüentemente,
molhando tudo. Essa opção comprometia principalmente o calçado, que úmido no
dia seguinte iria agravar a situação das bolhas, unhas e feridas do pé. A opção em
continuar sozinho no seu ritmo ou acompanhar o grupo, também envolvia a
vontade de parar para apreciar a natureza, de estabelecer um contato maior com
as pessoas da comunidade conversando com transeuntes, ouvindo “causos” sobre
as antigas peregrinações ou administrando o tempo para tirar fotos e filmar.
A segunda principal resposta levantada como razão para prosseguir
sozinho em todas as fases foi a “meditação, reflexão e contemplação da
122
natureza”, que não poderia deixar de ser abordada porque esta é uma caminhada
originalmente de fundo religioso.
Aproveitando a indicação do aspecto religioso e da transcendência,
Bruhns (2000) afirma que a natureza como território da experiência, tanto para o
encontro com o outro ou como uma necessidade ou como um recesso, faz operar
um ‘reencantamento’ do mundo, opondo-se ao desencantamento próprio de
períodos anteriores. Para ela:
a nostalgia do claustro, a prática dos retiros, as fugas para locais
desertos, as caminhadas em grupo na solidão selvagem, os exercícios
ascéticos ou outro trainning espiritual, traços da ecologização do mundo
natural, obrigam-nos a enfrentar a religiosidade contemporânea,
essencialmente sincretista, mas, sobretudo, permite ressaltar que esta
religiosidade é tribal, e que repousa na partilha, num dado momento, de
um território real ou simbólico (Bruhns, 2000, p. 39).
A religiosidade contemporânea, evidenciada por alguns autores
(STOKOL, 1990; SCHWARTZ, 1994; THOMPSON e BARTON, 1994;
FREDRICKSON e ANDERSON, 1999; GALLEGOS, JUAN e MONTES, 2005)
como espiritualidade, transcendência, aventura espiritual, realizada por meio da
meditação em ambientes naturais, tem sido enfocada em várias investigações
sobre as atividades físicas de aventura na natureza.
Assim como afirmam Gallegos, Juan e Montes (2005) que o
“Caminho de Santiago” é um símbolo, uma aventura espiritual, uma rota artística,
um encontro com as raízes culturais da Europa, de estreito vínculo com a história
da cristandade; o “Caminho da Fé” também tem suas origens religiosas, muito
anteriores a sua organização para operações turísticas.
123
Muitos dos que procuram o “Caminho da Fé” para realização da
caminhada são pessoas que estão num conflito e buscam um novo rumo para
suas vidas, ou estão cumprindo promessa. Nesse contexto, a caminhada
proporcionou, não só exercícios físicos, mas também exercícios cognitivos, por
meio da reflexão, meditação e oração.
Para Greemberg (2002), assim como os exercícios físicos
apresentam certos benefícios psicológicos, a meditação leva a alguns benefícios
físicos, como a obtenção do controle sobre a atenção, de modo a que a escolha
de um foco se torne possível, ao invés de sujeitar-se a um fluxo imprevisível de
circunstâncias ambientais.
Entretanto, a meditação requer uma volta para o interior da pessoa,
que não é possível ao se interagir com o ambiente físico-social externo e
imprevisível. A fala de alguns participantes corrobora esta afirmação: “consegui
refletir em momentos de muito cansaço”; “nas rezas do terço”; “à noite deitado na
cama comparando momentos da caminhada”, “refletia só quando estava
descansando”, “conseguia refletir na caminhada, mas não conseguia manter uma
linha de raciocínio por muito tempo, logo chegava uma placa, tinha que desviar de
algum obstáculo...”, “de manhã logo no início da caminhada, e nas subidas
inspirando e expirando”, “acredito que o esforço físico exigindo concentração
proporciona momentos de quietudes mentais, flashs, insights, mas nada muito
complexo”. As declarações feitas pelos sujeitos sobre suas meditações e reflexões
indicam que eles faziam interiorizações sobre vários assuntos, não durante a
atividade física em si, mas durante o repouso.
124
Existem evidências de que a meditação gera efeitos orgânicos, como
a diminuição dos batimentos cardíacos e do lactato sanguíneo; aumento do fluxo
sanguíneo para as regiões periféricas (braço e pernas); diminuição da resposta
cutânea galvânica da pele e sua conductibilidade elétrica, gerando menos
estresse e aumentando sua resistência; diminuição das ondas cerebrais alpha,
tornando o sistema nervoso autônomo mais estável, consumindo menor
quantidade de oxigênio e diminuindo a produção de dióxido de carbono
(GREEMBERG, 2002). O autor salienta os efeitos psicológicos da meditação,
como a diminuição da ansiedade, ligada a um locus de controle interno; um
aumento na sensação de auto-realização; sentimentos mais positivos frente aos
fatores estressores; melhoria na qualidade do sono; diminuição no consumo de
cigarros e drogas; alívio de dores de cabeça, estado geral mental positivo,
redução de temores e fobias. A meditação se mostra mais eficiente no controle do
estresse e está associada a experiências subjetivas mais positivas
(GREEMBERG, 2002, p.147-148).
Os motivos apontados pelos sujeitos para seguirem acompanhados
foram:
Tabela 05- Razões para seguir acompanhado
ANTES DURANTE DEPOIS
RAZÕES PARA SEGUIR ACOMPANHADO
(n = 7 participantes)
resp
(%) Nº
resp
(%) Nº
resp
(%)
Incentivo por estar junto com pessoas com os
mesmos objetivos
3 42,85 3 100 3 100
Melhor por causa do apoio 1 14,29 0 0 0 0
Possibilidade de aprendizagem/desenvolvimento 2 28,57 0 0 0 0
Conhecer pessoas 1 14,29 0 0 0 0
Total 7 100 3 100 3 100
125
Antes do início da caminhada, foram apontados como os principais
motivos para se fazer a atividade acompanhado: o “incentivo por estar junto com
pessoas com os mesmos objetivos”, com 42,85%, seguido de “possibilidade de
aprendizagem e desenvolvimento com o grupo”, 28,57%, e empatados com
14,29% cada uma, “melhor por causa do apoio” e “conhecer pessoas”.
Resultado interessante ocorreu, durante e ao final da caminhada.
Foi unânime a opinião de que a principal razão para o estabelecimento e
permanência do grupamento de viagem foi o “incentivo por estar junto com
pessoas com os mesmos objetivos” (100%).
A caminhada é uma atividade que depende mais de cooperação e
interação do que de habilidades individuais especiais, sendo considerada uma
prática bastante inclusiva, em termos de faixa etária, nível socioeconômico e
motivações. Assim, na medida em que a importância da coesão e dos processos
para manutenção do grupo aumenta, ocorre uma redução no destaque das
capacidades e habilidades individuais.
A Psicologia Esportiva estuda as práticas de jogos coletivos há anos.
Um dos fatores relevantes para esta área de estudo é o “clima de equipe”,
desenvolvido a partir da percepção dos participantes pelo técnico (treinador,
monitor etc.), de forma individual e de foram coletiva, por meio da observação de
suas interações como membros de um grupo como afirma Weinberg e Gould
(2001).
126
Para esses autores: o apoio social, a proximidade, a diferenciação, a
justiça, a similaridade são fatores do “clima de equipe” que podem ser facilmente
percebidos e alterados se necessário. O “apoio social” é um conceito
multidimensional, o qual pode ser intensificado: pelo aconselhamento (apoio de
escuta); pela percepção de que uma outra pessoa está dando conforto e cuidados
indicando que se está ao lado da pessoa (apoio emocional); pela percepção de
que uma outra pessoa ao mesmo tempo em que o está apoiando, também o está
desafiando a avaliar suas atitudes, valores e sentimentos (apoio emocionalmente
desafiador); percepção de que uma pessoa que é parecida, e vê as coisas da
mesma forma que aquele que recebe apoio (apoio de confirmação da realidade); a
percepção de que outra pessoa está reconhecendo os esforços de quem recebe
apoio e expressando sua apreciação pelo trabalho que ela realiza (apoio de
reconhecimento da tarefa); percepção de que uma pessoa está desafiando a
forma da outra pessoa em pensar com o intuito de instigar, motivar, levar a uma
maior criatividade, estimular e envolver (apoio desafiador da tarefa) e a percepção
de que uma outra pessoa esta fornecendo serviços ou ajuda (apoio pessoal).
Durante a caminhada, o principal apoio foi o de confirmação da
realidade, expresso quando os participantes responderam com maior percentual
em todas as fases da caminhada que “o maior incentivo era estar junto com
pessoas com os mesmos objetivos”.
Complementando esse apoio, outros apareceram nos gestos e
comportamentos dos participantes. Eles se aconselhavam; cuidavam-se em
termos de preocupação com alguém que ficou para trás ou não chegou no tempo
127
esperado; com os curativos das bolhas; pela admiração e homenagem das
pessoas das comunidades. Para os autóctones, a essência da peregrinação dos
séculos anteriores ainda permanece e, nas pequenas comunidades, fazer o
“Caminho da Fé” não é realizar um turismo ou uma atividade física, mas sim,
realizar um “sacrifício” ou uma provação.
A “proximidade” representa maior possibilidade de que se vinculem,
em razão de estarem próximos física e emocionalmente; o que ocorreu com os
participantes, que conviveram entre quatorze e vinte dias juntos, dia e noite.
A “diferenciação”, um outro componente do clima da equipe,
acontece quando um grupo se sente diferente dos demais grupos, mas com
sentimentos de unidade em relação aos elementos do grupo, o que faz com que
sua identidade, como grupo, aumente. Expande a questão Maffesoli (1997), ao
enunciar que os vínculos sociais são formados a partir de emoção compartilhada e
sentimento coletivo, diferenciando os grupos no que chama de tribalização. Para
ele, existe uma ruptura entre as tribos primitivas, as quais se identificavam com o
meio ambiente e, através disso, com o meio social, diferentemente daquelas tribos
contemporâneas, que comungam, desde o imaginário, sua identidade, ética e
estética, aos valores ritmados pelo ambiente urbano em que estão inseridas.
No caso dos caminhantes, além das emoções compartilhadas, do
objetivo em comum, a identidade da coesão foi concretizada por meio do uso do
cajado, da credencial e das roupas, calçados e mochilas técnicas, ou seja
equipamentos produzidos com materiais e tecnologia própria para este tipo de
128
atividade. Ao longe, por meio dessas evidências, sabia-se quem era peregrino do
“Caminho da Fé” e quem era mendigo.
A “justiça” está no centro da confiança e é a percepção de que se
está sendo tratado com eqüidade. Essa percepção influencia os níveis de
comprometimento, motivação e de satisfação. Este item faz parte da própria
seleção que este programa de lazer, realiza. Pessoas que não são atraídas pela
religiosidade, pela boa convivência, pela paciência e por fazer um esforço físico
grande, não aderem a essa atividade.
Outro tópico importante é a “similaridade” entre membros de um
grupo em comprometimentos, atitudes, aspirações e objetivos é importante para
desenvolver um clima positivo e um conceito de equipe, mesmo que ela tenha sido
criada no momento da atividade, com pessoas que não se conheciam antes. Esse
item reforça o item anterior.
Acreditando-se que enriqueceria a discussão sobre equipes em
atividades físicas na natureza no âmbito do lazer, foram citadas algumas
investigações sobre a importância do grupamento em atividades esportivas,
embora diferenciadas deste pedestrianismo peculiar, mas que poderiam ser
expandidas e articuladas com essa atividade em investigações futuras.
As variáveis que colaboram para a compreensão dos processos
físico-emocionais e sociais na realização de atividades físico-esportivas em
percursos extenuantes tem despertado interesse, não só no plano científico, assim
como, na arte e na literatura. Um bom exemplo de campo de investigação é o Tour
de France, competição de ciclismo de longa duração, com trajeto de 3.657,1
129
quilômetros, realizado durante vinte e um dias. Moreira e Palomares (2006)
recorreram a uma revisão bibliográfica sobre o assunto, com o intuito de
sistematizar o material disponível sobre as motivações (motivos) que impelem os
participantes do Tour de France a se exigirem ao máximo em direção ao sprint
final. Os autores obtiveram, como um dos resultados, a relevância da companhia
durante o longo percurso, mesmo que se tratando de concorrentes em um esporte
de alto rendimento.
Sorrentino e Sheppard (citado em WEINBERG E GOULD, 2001)
estudaram 97 nadadores em provas individuais de 200 metros livres e em provas
de revezamento, com o objetivo de observar se cada nadador era orientado mais
à aprovação social (ou seja, considerava a competição em esportes coletivos
como algo positivo, no caso a participação em uma equipe de revezamento) ou à
rejeição (ou seja, sentia-se ameaçado por uma atividade que envolvia competir em
grupo) e, com isso, selecionar quais nadadores competiriam sozinhos e quais
atletas fariam parte das equipes de revezamento. Os resultados obtidos foram que
os nadadores que eram orientados à aprovação, competiam melhor em equipe.
Esses mesmos nadadores que contribuíram favoravelmente para o desempenho
do grupo no revezamento, individualmente, obtiveram índices piores nos tiros.
Enquanto que os competidores que temiam a ameaça de rejeição, obtiveram
melhores desempenhos sozinhos, ou seja, conseguiram melhores índices nos
tiros individuais, do que nos revezamentos, fazendo com que sua equipe
perdesse.
130
Estar voltado para a aprovação externa de um grupo, durante a
realização de um esporte coletivo, assim como as motivações extrínsecas
decorrentes de se ganhar uma competição, podem não ser os principais estímulos
das pessoas que realizam o “Caminho da Fé”. Entretanto, é relevante apontar que
práticas como essa, que atraem pessoas que gostam do contato com a natureza,
abrem espaço para formação de grupamentos de viagem e propiciam vários tipos
de convivência, o que só se torna possível e agradável de serem mantidos, se
houver uma conduta pró-ambiental (tanto em relação ao ambiente físico como
social), por parte de cada um dos componentes do grupo.
4) AFIRMAÇÃO SOBRE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL:
Em resposta a questão 4 (Anexos 2, p. 226; 3 – p. 230 e 4 – p. 234):
“Esta caminhada (pode ajudar, está ajudando, ajudou) os participantes a
pensarem na preservação do ambiente”?, os sujeitos deveriam assinalar com
um “X” se concordavam ou não com a afirmação, para, posteriormente, explicarem
de forma aberta, suas razões.
Vale ressaltar que o termo “preservação” foi utilizado nesta questão
em sua forma de vocabulário coloquial; embora existam diferenças e contradições
entre os conceitos relacionados em dicionários da língua portuguesa e nos
dicionários específicos de ecologia e meio ambiente. Nos dicionários gerais, o
vocabulário “preservação” está associado a ação que visa garantir a integridade e
a perenidade de algo (FERREIRA, 1986, p. 1388), não se diferenciando do termo
131
“conservação”, sendo utilizados como sinônimos. Ainda no domínio da linguagem,
o termo “preservação” é sugerido como um conjunto de práticas, como o manejo
planejado e programas de reprodução, que visa a manutenção de populações ou
espécies (HOUAISS, 2007).
No entanto, o termo “preservação” na esfera do vocabulário
ambiental, está ligado a:
um conjunto de métodos, procedimentos e políticas que visam a proteção a
longo prazo das espécies, habitats e ecossistemas, além da manutenção
dos processos ecológicos, prevenindo a simplificação dos sistemas
naturais (ROTEIRO, 2007, p. 07).
Para que isso ocorra há necessidade do estabelecimento de critérios
e práticas científicas que asseguram a proteção em vários níveis chegando a
manutenção de sua forma intacta, sem a permissão de uso por nenhum motivo,
que não os científicos. Apresenta-se distinto do termo “conservação” que é:
o manejo da biosfera compreendendo a preservação, a manutenção, a
utilização sustentável, a restauração e a melhoria do ambiente natural,
para que este possa produzir o maior benefício, em bases sustentáveis, às
atuais gerações, mantendo seu potencial de satisfazer as necessidades e
aspirações das gerações futuras e garantindo a sobrevivência dos seres
vivos em geral (ROTEIRO, 2007, p. 03).
Feito este aparte, verificou-se que, em todas as fases da aplicação
do QMT (Questionário Misto Trifásico), os sujeitos que não se preocupavam com
as distinções entre o vocabulário em sua definição geral ou específica da área
132
ambiental, foram unânimes na concordância de que a caminhada colaborou para
reflexões sobre a preservação ambiental.
Na segunda parte da pergunta, os caminhantes utilizaram os
seguintes verbos para explicar suas convicções sobre esse tema, dentre eles:
Observar; contatar diretamente; refletir/meditar/pensar; estar cercado/estar dentro;
perceber; criticar; opinar; cuidar; conscientizar; ver; sentir; valorizar/dar
importância; preservar/cuidar; relatar; entender; conhecer melhor; “auto-melhorar”,
um neologismo criado por um dos sujeitos.
É necessário observar a diferenciação entre “o ajudar a pensar
disposto na pergunta, com a quantidade de verbos devolvidos nas respostas pelos
sujeitos, já que verbos são palavras que sugerem ação (FERREIRA, 1986) e, até
mesmo, o desejo de intervenção, na medida do possível.
Retornado a Thompson e Barton (1994), os quais alertam para a
grande dificuldade de se manter regras conservacionistas, já que as pessoas não
agem ou não se comportam de acordo com suas atitudes; essa diferenciação
entre o “o ajudar a pensar” e os verbos devolvidos como resposta indicam uma
intenção, uma tendência, mas que não necessariamente se traduzirá numa ação,
em um comportamento. Este aspecto corrobora a teoria da dissonância cognitiva
de Festinger (1975) e as reflexões de Schwartz (1997).
A tabulação geral de todas as fases das respostas permitiu uma
divisão das opiniões em três grandes grupos: temas ambientais, questões
ambientais e percepção de processos. Os temas ambientais” são os assuntos
normalmente encontrados na literatura (desmatamento, degradação, lixo, etc).
133
As “questões ambientais” foram divididas em dilema ecológico e
questão socioambiental. O dilema ecológico foi denominado como um conjunto de
situações de temática ambiental, com resoluções difíceis e/ou penosas, em que se
opta ou pelo desenvolvimento com seus benefícios e malefícios, ou pelo
retrocesso/retorno ao estado primitivo com suas conseqüências favoráveis e
desfavoráveis.
Esse tema pode ser pensado em termos individuais dentro dos
microssistemas, ou, de forma mais abrangente, envolvendo os macrossistemas
(econômicos e as culturas). A afirmação de Schultz et al (2004), ao assinalarem
que a tendência de rejeição tem aumentado em relação ao estilo de vida
consumista, nos países ricos, estando relacionados a comportamentos individuais
mais positivos em relação ao ambiente, pode ser um exemplo disto. A questão
socioambiental está relacionada à reflexão sobre as desigualdades sociais ocultas
no discurso ecológico.
A “percepção de processos”, pressupõe que um conteúdo é algo
construído numa sucessão de estados e mudanças, num seguimento, numa
marcha (FERREIRA, 1986). Sendo assim:
- com 76,6% apareceram os grandes “temas ambientais”. Dentre
eles, o desmatamento apareceu com 26,09%; beleza cênica e degradação com
17,39% cada; lixo, 13,04%; água e saúde ambiental, com 8,70% cada;
consciência dos peregrinos, 6,52% e extração de areia, 2,17%.
- com 16,67% foram citadas as “questões ecológicas’. Nesse item, os
dilemas ecológicos representaram 60% e a questão socio-ambiental com 40%.
134
- e, finalmente, com 6,67%, foram evidenciados “aspectos da
alteração ambiental, ocorrendo no próprio ‘Caminho da Fé’”, percebidos
principalmente antes do início da caminhada.
O quadro a seguir, colabora para o entendimento das respostas dos
sujeitos:
Tabela 06- A caminhada (pode ajudar, está ajudando, ajudou) os participantes a pensarem na
preservação do ambiente?
ANTES DURANTE DEPOIS
IDENTIFICAÇÃO DE TEMAS, QUESTÕES
AMBIENTAIS E PROCESSOS
OBSERVADOS NA PRÁTICA DA
CAMINHADA. n = 7 participantes
resp.
(%) nº
resp.
(%) nº
resp.
(%)
DESMATAMENTO 1 7,70 7 29,16 4 16,67
BELEZA CÊNICA 2 15,37 4 16,67 2 8,33
DEGRADAÇÃO 2 15,37 3 12,50 3 12,50
LIXO 0 0 6 25 0 0
ÁGUA 1 7,70 0 0 3 12,50
SAÚDE E AMBIENTE 1 7,70 2 8,33 2 8,33
CONSCIÊNCIA DOS
PEREGRINOS
0 0 0 0 3 12,50
TEMAS
AMBIENTAIS
EXTRAÇÃO DE AREIA 0 0 1 4,17 0 0
DILEMA ECOLÓGICO:
TEMPO, PRODUÇÃO E
CULTURA
2 15,37 1 4,17 3 12,50
QUESTÕES
AMBIENTAIS
QUESTÃO SOCIO-
AMBIENTAL
1 7,70 0 0 3 12,50
PERCEPÇÃO DE
PROCESSOS
ALTERAÇÕES DO
MEIO AMBIENTE
PERCEBIDAS
DURANTE O TRAJETO
3 23,09 0 0 1 4,17
TOTAL -
100 100 100
135
Antes de começar a caminhada, o maior percentual relacionava-se
com as alterações do meio, percebidas com 23,09%. Como todos os participantes
eram urbanos e haviam chegado ao destino inicial (local de obtenção da
credencial) por meio de ônibus, a viagem até o local de credencial já havia
proporcionado a visão de uma transição entre os ambientes degradados das
grandes cidades e o ambiente rural da trilha, o que foi ilustrado pelas falas de dois
sujeitos: “...quero observar as alterações do meio ambiente e relatar passo a
passo o percurso” ou ainda, “...mesmo antes de iniciar a caminhada é possível
passar por ambiente urbanos degradados e ambientes rurais preservados”.
O segundo maior percentual foi para o dilema ecológico, a beleza
cênica e a degradação, com 15,37% cada um e, empatados, com 7,70%, os
temas relacionados ao desmatamento, à água, à saúde e ambiente e às questões
socioambientais.
Com relação ao dilema ecológico, os resultados puderam ser
reforçados por intermédio de alguns dos discursos dos participantes sobre o
assunto, no qual as palavras tempo, produção e cultura estão articuladas de forma
contraposta, por exemplo, nessa afirmação com aparência de discurso romântico
(RODRIGUES, 1979): “...longe da população e da sociedade é que se dá
importância para a natureza”; ou aindaA observação e o contato de perto e
“devagar” com a natureza permite observá-la melhor – da janela do carro é
distante... é fugaz”, em um discurso de tom mais contemporâneo.
Nos comentários que seguem é possível observar a disposição de
refletir dos sujeitos, encadeando noções de tempo e espaço: “A observação e a
136
reflexão seguem a velocidade da caminhada. Há tempo suficiente para pensar e
observar”, ou ainda, uma afirmação proferida por um outro caminhante: “O contato
direto, na velocidade dos passos, contribui para a observação mais acurada e com
tempo para reflexão sobre a preservação”.
A relevância de se pinçar esses trechos de diálogos está em mostrar
que, ao longo do caminho, os sujeitos tinham questionamentos, conflitos, dilemas,
interiorizavam e refletiam sobre isso. Desse modo, as alterações que estavam
acontecendo com eles não eram somente do âmbito dos estados de ânimo, mas
do “corpo” como um todo.
A beleza cênica colocada com o mesmo percentual da degradação,
ambas incluídas no grande grupo dos temas ambientais, também refletia o dilema
dos participantes: “A trilha colabora para a percepção do grau de degradação...
Mesmo com tanto verde a degradação é perceptível”. Esse resultado é também
apontado por Loureiro (2000), que afirma que a noção de crise e de ameaça à
sobrevivência, aliada ao distanciamento entre teoria social e questão ambiental,
facilitou a passagem de um ambientalismo “romântico ingênuo”, que sacralizava a
natureza para a consolidação de uma nova versão, mais pragmática e utilitarista.
Durante a caminhada, o desmatamento foi o principal aspecto das
reflexões ambientais, com 29,16%; o lixo ocupou o segundo lugar, com 25%; com
16,67%, os participantes destacaram a beleza cênica; com 12,50% a degradação;
com 8,33% a saúde e o ambiente e, com 4,17% cada, a extração de areia,
juntamente com o dilema ecológico: tempo, produção e natureza. Interessante
ilustrar como os participantes percebiam o desmatamento: “... muito verde... mas
137
muitas áreas devastadas foram transformadas em pastos. Falta mata ciliar... Tem
corte irregular de madeira. Roça nas matas... Falta mata nos morros”.
As observações dos participantes têm sentido, porque o intenso uso
da terra, ocorrido após o século XIX, principalmente pela monocultura cafeeira,
provocou, por um lado, o contínuo desmatamento e, por outro, o desenvolvimento
econômico do Estado e do País, como afirmam Wanderley et al (2007).
O tema “Lixo” aparece sob três ângulos diferenciados. Um deles é
gerado pelo próprio município que faz parte do caminho. O segundo, de pouca
expressividade, é ocasionado pelos caminhantes que realizam a trilha; e um último
“lixo”, de grande volume, com conseqüências bastante graves e que apenas é
gerado nos locais de romaria, ou seja, no município onde se inicia o percurso
(Tambaú/SP) e ao final (Aparecida/SP), provêm do deslocamento de massas
turísticas, denominadas aqui como trânsito de romeiros.
O lixo gerado pelas cidades é o resultado das diretrizes adotadas
pela política pública, específica de cada comunidade. Entretanto, os municípios
que fazem parte do trajeto, deveriam tornar efetiva a expectativa de um
desenvolvimento sustentável local por meio do turismo, pois da mesma forma que
o recurso natural, o entorno e os serviços básicos de abastecimento merecem
manutenção, restauração e melhoria para a própria população, esta também é
uma condição básica para o fluxo turístico (PEARCE,1981; KRIPPENDORF,1989).
Tanto essa afirmação é verdadeira que, São Bento do Sapucaí e Sapucaí
Mirim, foram excluídas do trajeto do “Caminho da Fé”, ao final de 2006, em função
da degradação ambiental. o é só lixo que é gerado pelas atividades físicas de
138
aventura na natureza. Várias de suas práticas, principalmente as que utilizam
motores, no caso do “Caminho da Fé”, os veículos off-roads (4 x 4; motos e
gaiolas), produzem alto impacto ecológico, como a destruição da vegetação,
agressão à fauna silvestre, incêndios, lixo, erosão, colocando em risco
ecossistemas frágeis, como já previa anteriormente Veblen (1974).
A ausência de indicadores de capacidade de carga que um atrativo
turístico natural como uma trilha, pode suportar sem sofrer alterações, deixou de
ser uma preocupação somente para os receptores, mas passou a ser uma outra
condição para o fluxo de turistas, além do cuidado da comunidade com seu
próprio município. No “Caminho da Fé”, existe uma pressão social por parte dos
próprios caminhantes na preservação ambiental. Isso pode ser ilustrado por meio
da seguinte citação de um dos participantes: “A degradação da natureza é mal
vista pelos moradores da região e pelos peregrinos”.
Corral-Verdugo e Pinheiro (1999) acrescentam que,
independentemente do perfil do público, algumas ações das variáveis situacionais
podem interferir no comportamento pró-ambiental. São citadas: a pressão social
para cuidar do ambiente, os arranjos planejados para que a conservação seja
mais conveniente para os sujeitos e o efeito dos lembretes (prompts ou
“bilhetinhos”) no comportamento de cuidado dos recursos naturais. Em relação ao
caminho, os peregrinos guardavam seus guardanapos e plásticos de barra de
cereal na mochila; havia certo monitoramento silencioso entre os participantes.
O deslocamento de massas turísticas provoca um impacto negativo
no ambiente e entorno, em função da inadequação da capacidade de suporte do
139
local receptivo. Em relação ao “Caminho da Fé”, isso foi notado em dois
momentos, durante a estada em Tambaú e na chegada a Aparecida.
Em Tambaú, neste estudo tomado como marco inicial do percurso,
tem-se a figura do Padre Donizette, cuja fama de milagres difundiu-se atraindo
romarias de pessoas à cidade, procurando restabelecimento e esperança
(AZEVEDO, 2003).
No ano de 1955, o lixo dos romeiros era queimado em frente à Igreja
Matriz e a Prefeitura Municipal da época dispunha apenas de doze varredores de
rua. Essa situação foi modificada e, atualmente, as romarias em finais de semana,
continuam acontecendo, mas houve uma adequação da infra-estrutura da cidade
para recebê-las.
Em Aparecida/SP, ponto final do “Caminho da Fé”, durante o ano
todo a cidade recebe romarias de até 1.500 pessoas, utilizando vários meios de
transporte (ônibus fretados, cavalos, motos), além do fluxo de sete milhões de
veículos ao ano, provenientes de todas as regiões do Brasil, o que ocasiona um
inchaço urbano (SANTUÁRIO, 2005).
Essa população flutuante convive com a população efetiva da cidade
de aproximadamente 35 mil habitantes em uma área de 121 km² (APARECIDA,
2005); sendo que, no dia 12 de outubro, durante a Festa de Nossa Senhora da
Aparecida, são reunidos mais de 100 mil fiéis no Santuário (MARQUES SILVA,
2005).
Sendo assim há a preocupação pública e privada em absorver, não
só o comportamento de consumo e gastos desse público, mas, também, o impacto
140
estrutural que essas demandas sazonais exigem, no que tange à disponibilidade
de instalações, hospedagens, saneamento e limpeza pública, tráfego (desde o
fechamento de ruas que circundam as festas ao controle do trânsito de carros,
motos, ônibus de excursão e de linha, cavalos), ao oferecimento de equipamentos
e serviços, tanto de saúde (ambulâncias e plantão de funcionários para o
atendimento de eventuais ocorrências), como turísticos (patrocinando,
promovendo e divulgando os shows). Porém, ocorreram alterações ambientais
importantes na cidade e em seu entorno, afetando as condições de vida humana,
dentre elas, contaminação de rios por esgoto doméstico, deslizamento de
encostas, doenças endêmicas, presença de vetores e esgoto a céu aberto
(BRASIL, 2002).
Embora o desenvolvimento permitido pela tecnologia potencialize
grandes avanços e possibilite construir mecanismos que tornem mais fáceis os
deslocamentos e a vida da maioria das pessoas, para a resolução da equação
desenvolvimento e sustentabilidade, o homem não pode ser eximido de sua
responsabilidade, pois suas ações, mesmo que aparentemente irrelevantes, são
capazes de causar danos consideráveis ao ambiente.
Portanto, fica evidente a relevância da conscientização, para que ele
venha interferir em menor escala no meio, sem interromper os ciclos naturais, não
só em momentos de prática de atividades na natureza, mas também, em todos os
seus contatos e experiências com o meio, agindo com ele e não contra ele, alerta
Marinho (2001).
141
Ao final da caminhada o “desmatamento” permaneceu com
percentual mais alto (16,67%). Posteriormente, apareceram todos empatados com
12,50%: a “água”, a “preservação do caminho”, a “conscientização dos peregrinos,
o “dilema ecológico” e a “questão socioambiental”. Depois vieram “beleza cênica”,
“saúde e ambiente”, com 8,33% cada uma delas, e, encerrando, a “extração de
areia” e o “dilema ecológico”, com 4,17%.
Todos os outros itens já foram discutidos anteriormente, por esse
motivo será dada atenção especial à água potável, que durante o “Caminho da
Fé”, se transformou também em uma questão socioambiental, a partir do momento
em que deveria ser um recurso disponível básico e de qualidade, em qualquer
lugar, para todas as pessoas.
No caso do “Caminho da Fé”, a água tem a conotação de
sobrevivência e está diretamente relacionada às questões ambientais urbanas. Os
comentários dos participantes sobre a água refletem essa preocupação. Um dos
sujeitos salientou a “...falta tratamento de água e esgoto”; enquanto outro
participante comentou: “ ...Você percebe que não é nada sem um simples copo
d’água. NAAAADAHH!”, ou ainda na fala de um terceiro participante: “...a gente
começa a dar valor as coisas mínimas, como um copo de água”. As três
declarações se referiam à dificuldade de água potável em alguns trechos do
caminho e no receio de beber a água das bicas, que poderiam estar
contaminadas, considerando a virose de que alguns dos participantes foram
acometidos durante o trajeto por esse motivo.
142
Acreditando ilustrar como a caminhada colaborou com a reflexão
sobre a preservação ambiental, será relatada uma curiosidade acontecida no final
do percurso. Três sujeitos que percorreram o caminho em dias alternados
criticaram seriamente o mesmo lixão a céu aberto com um matadouro irregular
próximo, na periferia de Sapucaí-Mirim/MG.
Um desses sujeitos, penalizado pelas crianças recolhendo o lixo, fez
o seguinte depoimento sobre o quê aprendeu com o “Caminho da Fé” “...conhecer
melhor as necessidades das comunidades dependentes da natureza”.
Figura 09- Crianças no lixão de Sapucaí Mirim/MG. Fonte: FORNI (2006).
Colabora com as reflexões, o enunciado de Loureiro (2000, p. 32):
a simples percepção e sensibilização para a problemática ambiental não
expressa aumento de consciência, o que faz com que se retome o
argumento sobre cidadania: a consciência ecológica, para ser ecológica,
precisa ser crítica.
O incômodo causado pela situação socio-ambiental das crianças que
vivem do lixão geraram imagens e críticas, não só desses participantes, mas de
143
tantos outros que realizaram o caminho. No entanto, isso não lhes melhorou a
vida, apenas a cidade foi retirada do trajeto.
5) VENCER OBSTÁCULOS – SUPERAÇÃO:
Em reposta à: “(Você espera vencer alguns, ocorreram, você
venceu) obstáculos ou dificuldades na caminhada?)”
Tabela 07- Você espera vencer alguns, ocorreram, você venceu) obstáculos ou
dificuldades na caminhada?
Nesta questão, inicialmente, todos os participantes acreditavam
vencer os obstáculos da caminhada (100%). Durante o percurso, esse índice
diminuiu, ficando com 85,72%. Ao final do trajeto, 100% afirmaram ter superado os
obstáculos, o que é óbvio, pois só foram colhidos da amostra os participantes que
terminaram a caminhada.
ANTES
DURANTE
DEPOIS
Vencer
obstáculos
n= 7
participantes
resp.
(%)
resp.
(%)
resp.
(%)
Sim 7 100 6 85,72 7 100
Não 0 0 1 14,28 0 0
Total 7 100 7 100 7 100
144
Os obstáculos apontados para a desistência do percurso foram: o
término do período de férias, a queda em barranco e o agravamento de lesão
crônica no joelho, durante a caminhada.
Tabela 08- Explicação de que tipo de obstáculos
Ao explicarem sua opinião de forma aberta, antes do início da
caminhada, os participantes que concluíram o percurso acreditavam que os
maiores obstáculos seriam aqueles causados por limitações físicas, com o índice
de 69,23%; seguidos pelos obstáculos originados pelos limites
psicológicos/interiores e naturais, cada um com 15,38%. Antes do início do trajeto
não foram assinalados obstáculos por limites sociais.
Durante o trajeto, os obstáculos por limites físicos continuaram a ser
citados, representando 53,33%, decrescendo em relação ao início. Reforçando
esse resultado, um dos participantes comentou: “O corpo adquire resistência e
Deus ajuda. Os principais limites físicos/corporais apontados foram a falta de
preparo físico para a atividade, o aparecimento de bolhas, em função do excesso
de atividade não usual e/ou sapato inadequado, unhas amolecidas, dores físicas
ANTES DURANTE DEPOIS
OBSTÁCULOS
CAUSADOS POR
LIMITES:
N = 7 participantes
resp. (%) resp. (%) resp. (%)
Físicos/corporais 9 69,23 8 53,33 6 30
Psicológicos/interiores 2 15,38 0 0 2 10
Naturais 2 15,38 6 40 9 45
Sociais 0 0 1 6,67 3 15
TOTAL 13 100 15 100 20 100
145
no joelho, no pé, nas costas em função do peso da mochila, machucados, feridas,
cortes, arranhões, cansaço, queimadura de sol, esforço físico acima do que estava
preparado ou acostumado para realizar os percursos com aclive carregado com a
mochila, retenção de líquido, inchaço, virose, entorses, desidratação e diarréias.
Com 40% foram evidenciados os obstáculos naturais; com 6,67% os
obstáculos sociais, não sendo mencionados os obstáculos psicológicos/interiores,
nesta fase da caminhada.
Ao final do percurso, os participantes apontaram como os principais
obstáculos a serem superados aqueles relacionados aos limites naturais (45,00%),
dentre eles: as barreiras naturais do relevo, como os aclives seguidos de declives;
chuva torrencial; água contaminada; restrição de água potável; terrenos
escorregadios por pedras soltas, areia e lama e o perigo de atropelamento, devido
ao acostamento estreito na pista de asfalto; sendo o trecho próximo a
Pindamonhangaba, o ponto mais destacado como perigoso e limitante da
caminhada, por onde os peregrinos transitam em meio ao alto tráfego de veículos.
Os limites destacados, em segundo lugar, foram os físicos/corporais,
30%, seguidos pelos limites sociais, 15% e, com 10%, foram evidenciados os
limites psicológicos/interiores. Os limites psicológicos/interiores que os
participantes mencionaram foram: pensar em desistir, a impaciência com seus
próprios limites e dificuldades e a oscilação na determinação de completar o
trajeto.
É necessário observar que, no trecho final, os participantes
enfrentaram as limitações sociais mais intensamente do que nas outras fases.
146
Foram citadas como superações do âmbito social: a ausência de companhia em
muitos trechos, pois cada um ao final mantinha um ritmo individual, o grupo
constituído durante a caminhada foi desfeito, a saudade da família que havia
ficado em casa, a comoção pela miséria das crianças que vivem do lixo nas
periferias mais próximas a Aparecida. Também nesse trecho, como limitação em
função da interação social, foi apontada a má vontade na recepção do peregrino, o
perigo de assalto na periferia das cidades maiores, já que o peregrino que vai a pé
pelo “Caminho da Fé”, não é visto mais com admiração pelas comunidades
próximas a Aparecida, mas sim, como um turista de bom potencial sócio-
econômico.
Como evidencia Marinho (1999), a natureza tornou-se uma metáfora
para os obstáculos e as dificuldades ocorridas na “vida real”, representando o
escalar, o caminhar ou o nadar em ambiente natural, uma superação de limites ou
uma forma de obtenção de lições de vida.
As análises dos dados obtidos com a Lista “LEA-RI” e com a “Escala
T&B”, também foram apresentadas sobre a forma de tabelas para comportarem as
três fases propostas pela pesquisa: antes, durante e depois da caminhada,
dispostas a seguir.
147
b) Lista de Estados de Ânimo, Reduzida e Ampliada (LEA-RI) de Volp (2000):
Em resposta a “1) Assinale em cada desenho o grau de como
está se sentindo, nesse momento”, os participantes ao selecionarem as faces
que acreditavam refletir as emoções momentâneas de cada fase do trajeto com
“X”, estavam preenchendo uma lista de estados de ânimo.
Dentre os estudos que englobam as chamadas “Listas de Estados
de Ânimo”, como a LEP (Lista de Estados Presentes), com uma única coleta de
dados (ENGELMANN, 1985), ou a LEA-RI, a qual, por utilizar-se de intervenção,
exige duas coletas em pré e pós-testes (DEUTSCH, 1997; CRUZ, 1998; MORI,
2003), as formas de análise normalmente utilizadas são as técnicas de “Análise
de Conglomerados” e “Análise de Correspondência Fatorial”, respectivamente.
No entanto, no presente estudo em que também se utilizou a LEA-
RI, fez-se a análise dos quatorze estados de ânimo, facilmente reconhecidos e
compreendidos, por seu uso no vocabulário coloquial (entre adjetivos e situação).
Os sete participantes da pesquisa os declaram em três coletas: antes, durante e
depois da realização a pé do trajeto conhecido como “Caminho da Fé” (425 km).
Contudo, em função dos objetivos propostos, os dados foram
analisados, ainda no âmbito da estatística multivariada, mas através da
metodologia de Análise de Componentes Principais. Esse método permite
explicar a estrutura de correlação de um vetor aleatório que corresponde as p-
variáveis aleatórias, através da construção de combinações lineares dessas
148
variáveis. As combinações lineares assim definidas são denominadas
componentes principais e são não-correlacionadas entre si, e resumem
ordenadamente toda variabilidade constante do conjunto original. Ainda, se é p o
número de variáveis envolvidas no estudo, então é possível obter-se p
componentes principais. O objetivo geral dos estudos nessa linha se refere à
“redução do número de variáveis a serem avaliadas e interpretação das
combinações lineares construídas”, o que equivale a substituir a informação
contida nas p-variáveis iniciais envolvidas no estudo, pela informação contida em
k (k < p) componentes principais não-correlacionadas.
Segundo o próprio processo de construção, a primeira dessas
componentes é sempre a mais representativa em termos de variância, ou seja,
explica a maior proporção da variância total de X, a segunda responde pela 2
a
.
maior quantidade de variação, e assim sucessivamente. As proporções da
variância total que são explicadas pelas componentes, correspondem (na
linguagem matemática) aos auto-valores λ´s da matriz de correlação (obtidos
ordenadamente em ordem crescente) e seus vetores associados Y (s), às
combinações lineares principais ou componentes principais dessa matriz. Nesse
sentido, as K primeiras componentes explicam a maior parte da variação e então
a análise e a interpretação dos dados originais pode ser centrada nesse novo
conjunto de variáveis aleatórias (MINGOTTI, 2005).
Nessa direção, para análise dos dados do presente trabalho, através
da metodologia Análise de Componentes Principais, foi utilizado o Programa SAS,
versão 9.1; trabalho realizado em conjunto com o Prof. Dr. Antônio Carlos Simões
149
Pião e a Profa. Dra. Maria Lúcia L. Wodewotzki, ambos do Departamento de
Estatística, Matemática Aplicada e Computação, do Instituto de Geociências
(IGDE, Unesp - Rio Claro). Quanto ao nível de significância estatística, foi
utilizado o índice de 5% (ANEXO 05).
Além do que, o número de componentes ou fatores para cada
trecho do percurso analisado, foi definido pelo critério implícito no sistema SAS,
que considera no estudo as componentes relacionadas aos autovalores λ≥ 1.0, o
que significa manter as combinações lineares que conseguem explicar pelo
menos a quantidade de variância de uma variável original padronizada. E, para
interpretação dos dados, analisa-se o valor numérico (valor absoluto) dos
coeficientes de cada uma das variáveis na respectiva combinação linear. Quanto
maior o valor desse coeficiente, maior é a importância dessa variável na
explicação ou entendimento dessa componente. Ainda, valores positivos ou
negativos desses coeficientes indicam contrastes ou comparações que definem o
sentido das variáveis na respectiva componente.
Como nesse estudo foram consideradas, separadamente, as três
fases do trajeto “Caminho da Fé”, obteve-se para análise três matrizes de
correlação, correspondentes a cada um dos trechos (início, durante e final da
caminhada). Desse modo, para o primeiro trecho ou início da caminhada foram
identificados quatro componentes ou fatores que explicam 92,35% da variância
total de uma variável padronizada. Para o segundo trecho, correspondente a fase
durante a caminhada, três componentes que explicam 87,74% e, para o trecho
150
final da caminhada, dois fatores que explicam 78,78% da variabilidade total dos
dados.
Tabela 09Escore de fatores da caminhada
Início da caminhada 4 fatores
Durante a caminhada 3 fatores
Final da caminhada 2 fatores
Sendo assim, para que pudesse haver comparação entre
todas as fases da caminhada, optou-se pela seleção dos dois primeiros fatores de
cada fase, os quais têm o maior peso (magnitude de variação compartilhada pelos
itens que se agrupam para um campo ou fator), o que indica que são os fatores
que mais captam a variância comum:
- O Fator 1 (F1), inicialmente com peso 3,28, teve, durante a
atividade, o peso alterado para 4,68 e ao final chegou a 6,03.
- O Fator 2 (F2), que no início teve 2,65, durante a atividade teve o
peso de 3,18 e ao final 2,64.
Cada um desses fatores originou, para cada um dos estados de
ânimo, valores menores que um (1), tanto positivos, quanto negativos, o que
expressa o quanto cada estado de ânimo, “ou variável observada está carregado
ou saturado em um fator” (ANÁLISE FATORIAL, 2006, p. 02).
Valendo-se da aplicação da regra prática de “eliminar as
componentes cujos autovalores são menores que uma fração da média”
151
(ANÁLISE FATORIAL, 2006, p. 04), dos números que apareceram em cada fator,
foram selecionados todos os valores entre +/- 0,5.
Quando um dos quatorze estados de ânimo assumia valores
maiores que 0,5 e menores que -0,5 eram considerados significativos, passando,
então, a ser representativos ou com correlações substanciais.
Os outros itens foram retirados, já que tinham baixa variância e
baixa correlação com o escore total, ou seja, eram pouco sensíveis à variação de
respostas dos sujeitos, além de sua baixa saturação ao escore total.
Os sinais positivos e negativos das cargas fatoriais indicam relações
diretamente ou inversamente proporcionais. Os valores de covariância zero entre
as variáveis foram considerados como sem correlação ou independentes, sendo,
eliminados.
Na seqüência, são apresentados e discutidos, com detalhes, os
resultados dessa análise para cada um dos trechos da caminhada, ou seja, antes,
durante e depois de completo o percurso. Todos os resultados a seguir foram
extraídos do Anexo 5 (p. 236-239), tendo sido proposta a Tabela 10, com os
“Coeficientes de Saturação dos estados de ânimo”, somente com dados
relevantes para facilitar a compreensão.
152
Tabela 10 Coeficientes de saturação dos itens por fator nas três fases da caminhada:
Antes Durante Depois Tendência
Estados de ânimo
da LEA-RI
F1 F2 F1 F2 F1 F2 F1 F2
Q1 - Feliz, Alegre
-0,71 0,62 0,78 0,94
Q2 – Ativo, energético
0,71 0,92 0,82
Q3 - Pesado, cansado, carregado
-0,73 0,55
Q4 - Agitado, nervoso
0,73 0,55 -0,86
Q5 - Agradável
0,70 0,63 0,62 0,84
Q6 - Desagradável
0,94
Q7 - Triste
0,63 -0,59 0,86
Q8 - Calmo, tranqüilo
-0,49 0,78 0,91
Q9 - Espiritual, sonhador
0,83
Q10 - Inútil, apático
Q11 - Leve, suave
0,92 0,90
Q12 - Tímido
-0,80
Q13 - Cheio de energia
0,90 0,80 0,80
Q14 - Com medo
0,71 -0,62 -0,79
FATOR 1
O fator 1 (F1) foi classificado como um índice global do estado de
ânimo para a realização da caminhada, de acordo com o ponto de vista dos sete
sujeitos.
Segundo Lucarelli e Lipp (1999, p. 14): “Para entender o significado
dos fatores é preciso que se busque descobrir os constructos hipotéticos que
estão subjacentes, através da análise de conteúdo dos itens, que têm carga maior
naquele fator”; isto porque se supõe a existência de um padrão.
No caso de F1, denominado “disposição para a caminhada”,
entende-se que seja um julgamento subjetivo dos estados de ânimo que
153
aparecem antes, durante e após a atividade. Essa afirmação acompanha a
perspectiva de Engelmann (1986), ao aplicar sua lista LEP (muito semelhante a
LEA-RI), com intenção de investigar a presença de estados de ânimo no
momento das respostas dos sujeitos.
Além disso, F1 foi considerado bipolar, por relacionar estados de
ânimo subjetivos que se contrapõem. Por exemplo, agradável X desagradável;
agitado e nervoso X calmo e tranqüilo e assim sucessivamente. As escalas
bipolares possuem, ainda, termos, na maioria das vezes adjetivos (ENGELMANN,
1977, 1978, 1986), que qualificam um conceito (um substantivo). Ao qualificar F1
tem-se que, quanto mais positiva a carga e maior o valor numérico desse
componente, melhor a “disposição” (abreviadamente) para a empreitada. Os
dados numéricos apresentados nas sentenças a seguir, tentam contemplar
simultaneamente
a bipolaridade dos estados de ânimo e uma ordem numérica
crescente, tendo as contraposições como prioridade a ordem dos números.
Antes de começar a caminhada
, o Fator 1 (F1) apresentou-se da
seguinte forma:
F1= – 0,73126 (pesado, cansado, carregado) + 0,70331 (agradável) – 0,71841
(feliz, alegre) + 0,71841 (com medo) + 0,90145 (cheio de energia)
Esse resultado indica a importância desses cinco estados de ânimo
na definição desse fator, ou seja, na “disposição” para a caminhada.
154
Perceberam-se, em F1, dois valores com sinais negativos,
contrapondo-se a dois valores com sinais positivos, restando, ainda, um último
valor de carga positiva, de maior montante que os outros, que se referia a estar
“cheio de energia”.
Nesse sentido, “feliz, alegre” e “pesado, cansado, carregado” são
estados de ânimo inversamente proporcionais à F1. Enquanto que “com medo”,
“agradável” e “cheio de energia” se relacionam em proporção direta à “disposição”
para o início da caminhada.
Em outras palavras, quanto mais “cheio de energia”, “mais
agradável” se encontrasse o estado de ânimo do sujeito no início da caminhada,
maior “disposição” para a atividade e quanto mais “pesado, carregado e cansado”,
menor a “disposição”, o que parece lógico. É importante salientar que o “medo”
aparece como estímulo a F1, o que precisa ser melhor estudado.
Vale observar também que o estado de ânimo “feliz, alegre”, nesta
primeira análise, aparece como “disposição” negativa (não se sentiam felizes e
alegres nesse momento) em contraponto com o estado de ânimo “com medo” (as
pessoas se sentiam mais amedrontadas no instante da aplicação do LEA-RI).
Sendo assim, a evidência maior era de que elas não se sentiam felizes e alegres,
mas se sentiam com medo. No entanto nas análises posteriores, à medida que a
caminhada avança, ele será reajustado tornando-se positivo, ou seja, diretamente
proporcional à F1, assim como acontecerá com o estado “com medo”, que se
tornará inversamente proporcional a “disposição”.
155
Em termos de contraponto matemático, a “disposição” inicial para
caminhada teve mais estados de ânimo carregados positivamente, ou seja,
diretamente proporcionais à F1, do que negativamente; sendo que o estado de
ânimo mais representativo foi o “estar cheio de energia”.
Durante a caminhada
, após quatro a sete dias, o Fator 1 (F1),
apresentou-se da seguinte maneira:
F1= – 0,80584 (tímido) + 0,80584 (cheio de energia) + 0,63948 (agradável) +
0,63865 (triste) + 0,78946 (feliz, alegre) + 0,78946 (calmo, tranqüilo) + 0,92399
(ativo, energético)
Neste ponto da atividade, observou-se que se mantiveram dois
estados de ânimo iniciais: o “feliz, alegre” e o “agradável”; neste momento, todos
com sinais positivos, o que significa que estão relacionados em proporção direta à
“disposição” para continuar a caminhada.
O estado de ânimo inicial “cheio de energia” transformou-se, durante
a atividade, em “ativo, energético”, aumentando em termos de grau ou de
intensidade.
Apareceram outros três estados de ânimo representativos: “tímido”,
“calmo, tranqüilo” e “triste”. O estado “tímido”, com carga negativa, encontra-se
em correlação inversa à “disposição” para a caminhada (mais “tímido”, menos
156
disposição) e em contraponto com o estado “ativo, energético”; enquanto os
outros dois novos estados: “calmo, tranqüilo” e “triste”, encontram-se diretamente
proporcionais ao fator 1.
Importante salientar que “triste” está em relação direta à “disposição”
para caminhada, dado que deverá ser checado e aprofundado em sua ocorrência
nos outros instrumentos.
Nesse momento da caminhada, havia cinco valores positivos em
contraponto com um único valor negativo. Nesse sentido, F1 foi considerado
positivo, ou seja, com correlação direta à “disposição” para continuar a atividade,
tendo como estado de ânimo de maior valor, o estar “ativo, energético”.
Depois da caminhada
, o fator 1 (f1) mostrou-se:
F1 = + 0,55855 (pesado, cansado, carregado) + 0,80545 (cheio de energia) +
0,82796 (ativo, energético) + 0,83416 (espiritual, sonhador) + 0,84595 (agradável)
+ 0,90582 (leve, suave) + 0,94296 (desagradável) + 0,94296 (feliz, alegre)
O resultado final, não apresenta contrapontos, pois todos os
coeficientes são positivos, representando a correlação direta dos estados de
ânimo com a “disposição” final dos sujeitos após a caminhada.
Os estados de ânimo que apareceram inicialmente e se mantiveram
por toda a caminhada foram: o “feliz, alegre” e o “agradável”. O “agradável”
157
sempre se manteve positivo; enquanto o “feliz, alegre” variou de negativo
inicialmente, a positivo, durante e após a conclusão do percurso, demonstrando a
bipolaridade na “disposição” para a execução do trajeto.
O estado inicial “cheio de energia”, evolui durante a caminhada para
o estar “ativo energético”, ou seja, representam graus diferentes de um mesmo
estado ânimo, sendo que, ao término do percurso, além de o grupo estar “ativo
energético”, também estava “cheio de energia”.
O estado “pesado, cansado, carregado”, que inicialmente foi
representativo, não apareceu durante a caminhada. Porém, voltou a constar como
representativo, quando os sujeitos chegaram ao destino, após quatorze a
dezesseis dias de caminhada.
Apareceram três estados de ânimo substanciais ainda não citados
até o momento final da caminhada: “leve, suave”, “espiritual, sonhador” e
“desagradável”, que se referiam ao saldo de estados de ânimo da jornada.
Vale ressaltar ainda que o estar “feliz, alegre” e o estado de ânimo
“desagradável” apresentaram índices numéricos de mesmo valor (0,94296).
FATOR 2
O fator 2 (F2) pode, com cautela, ser entendido como a segunda
componente principal para a execução de uma atividade como uma caminhada
longa.
158
Acompanhando Engelmann (1986) parte-se do pressuposto de que
não se podem esquecer das dimensões que acompanham a percepção das
emoções. Se em F1 o padrão detectado referia-se à “disposição para caminhar”,
F2, ao destacar itens como “pesado, cansado, carregado” ou ainda “leve e suave”
em sua composição, aponta a relevância de itens ligados à dimensão do esforço
físico do ato de caminhar. Engelmann (1986) propõe o uso do termo “reação” ao
aplicar sua lista de estados de ânimo (LEP), afirmando que, diante das diversas
reações possíveis, a primeira reação indicada é a mais representativa.
Hevner (1935, p.43) também define “emoção como uma forma de
reação dos mecanismos corporais”.
Corrobora Myers (1999) ao definir as emoções como reações do
organismo inteiro, envolvendo excitação fisiológica, comportamentos expressivos
e experiência consciente, em vários contextos.
Dessa forma, optou-se neste estudo, por denominar F2 como a
“variância de reação físico-emocional à atividade de caminhar” (abreviadamente
“reação”).
Antes de começar a caminhada
, o fator 2 (F2) apresentou-se da
seguinte forma:
F2= - 0,62079 (com medo) + 0,62079 (feliz, alegre) - 0,49257 (calmo, tranqüilo) +
0,71576 (pesado, cansado, carregado) + 0,73837 (agitado, nervoso)
159
Os cinco estados de ânimo iniciais, os quais foram relevantes na
determinação de F2 (“reação”) são “feliz, alegre”, que apareceu contrapondo-se à
“com medo”; “agitado, nervoso”, que contrapõe-se à “calmo, tranqüilo”, restando,
ainda, um valor de carga positiva, denominado “cansado, pesado, carregado”, de
relação direta com F2.
Dessa forma, “com medo” e “calmo, tranqüilo” foram considerados
relevantes como estados de ânimo inversamente proporcionais à F2, pois, quanto
mais “medo” e mais “calmo e tranqüilo”, menor a “reação”, enquanto que “feliz,
alegre”, “agitado, nervoso” se relacionam em proporção direta à variância de
reação físico-emocional para o início da atividade.
Em termos de contraponto matemático, a F2 no início da caminhada
teve mais estados de ânimo carregados positivamente, ou seja, diretamente
proporcionais, do que negativamente, embora predominassem estados de ânimo
que desfavoreciam a atividade. Nessa fase, o estado de ânimo predominante foi o
estar “agitado, nervoso”.
Durante a caminhada
, o fator 2 (F2), apresentou-se da seguinte
maneira:
F2= – 0,79412 (tímido) + 0,92733 (leve, suave) - 0,59932 (triste) + 0,62966
(agradável) + 0,55717 (agitado, nervoso)
160
Neste ponto do percurso, o único estado de ânimo que foi mantido
do início até este momento foi o “agitado, nervoso”, em todos os momentos com o
sinal positivo. O que significa que essas relações são relativas com a variância de
reação físico-emocional dos sujeitos para a continuação da caminhada.
Foram considerados substanciais quatro estados emocionais
diferentes dos iniciais. O estado “tímido” e “triste”, ambos com cargas negativas,
encontram-se em correlação inversa, ou seja, quanto maior o estado “tímido” ou
“triste” menor a reação físico-emocional. “Tímido” e “triste” contrapõem-se
respectivamente aos estados “leve, suave” e “agradável”, considerados em
correlação direta ao fator 2 (F2).
É necessário ressaltar que o estado de ânimo “agitado, nervoso”,
neste caso, complementa o estado “tímido”.
Durante o trajeto, o F2 foi predominantemente positivo, tendo o
“estar leve, suave”, como o estado de ânimo de maior valor numérico.
Depois da caminhada
, o Fator 2 (F2) revelou este resultado:
F2 = - 0,86002 (agitado, nervoso) + 0,91761 (calmo, tranqüilo) + 0,86325 (triste)
O resultado final, apesar de apresentar um contraponto, ainda
possui coeficiente positivo. O único estado de ânimo que apareceu em todos os
momentos da caminhada foi o “agitado, nervoso”, sendo que, diferentemente das
161
fases inicial e durante, este estado apresenta-se nesta etapa negativo, ou seja,
decresceu em relação à fase anterior.
O estado “calmo, tranqüilo”, que apareceu no momento inicial e não
foi considerado representativo durante a caminhada, volta a constar como
relevante ao final do trajeto. Inicialmente com carga negativa, tendo uma relação
inversa à F2; e ao término do percurso passa a ser positivo, refletindo uma
relação diretamente proporcional à “reação” à atividade.
O estado “triste”, que apareceu durante o percurso como sendo um
estado de ânimo representativo com carga negativa, consta também no final do
trajeto, entretanto, com carga positiva. Isso demonstra que, além de influir
diretamente na variância de “reação”, o estado “triste” aumentou de uma fase
para outra.
Ao final do estudo, há evidência do estado “triste”, no entanto, o
saldo para F2 foi positivo, porque os participantes apresentavam-se energizados
(“ativos, energéticos”); “calmos e tranqüilos” e “pouco nervosos ou agitados”.
Sobre os estados de ânimo Oliveira (2000) relata resultados
semelhantes aos obtidos neste estudo, mas enfocando a importância do
grupamento de viagem relacionado a questão emocional em atividades de
aventura na natureza.
Em sua experiência de montanhismo em Blanca Peak, montanha
com 4.275 metros no Colorado (EUA), com um grupo de cinco pessoas, por dez
dias, o autor relatou alguns estados de ânimo durante o percurso, como a sua
própria impaciência, ao se perguntar mentalmente “por que é que eles demoram
162
tanto?”; a atenção e receio de um passo errado de uma das montanhistas, já que
as pedras do penhasco estavam soltas; e, ainda, a visível falta de ar e fadiga
muscular de uma outra participante menos treinada. As duas, embora quase não
se falassem, andavam juntas, em cumplicidade e apoio mútuo. Os outros dois
participantes andavam mais a frente, conversando, sem se dar conta da
seriedade da situação.
Para a realização do “ataque ao cume”, os participantes se
agruparam a alguns metros, para chegarem ao topo juntos. Os estados de ânimo
descritos nesse momento foram: excitação, alegria, alívio, cansaço, sensação de
missão cumprida. O autor relata que “com certeza o gesto simples e simbólico
desta chegada em grupo, significou muita coisa. Para uns foi o obstáculo físico
vencido, para outros um obstáculo psicológico e para outros um obstáculo social”
(OLIVEIRA, 2000, p. 112).
A sensação de missão cumprida de Oliveira (2000) é análoga ao
término da disposição para caminhar dos sujeitos desse estudo; afinal eles
haviam conseguido completar seu objetivo. Fazendo parte das reações físico-
emocionais decorrentes da atividade física; a “alegria” foi mencionada em ambas
as pesquisas, assim como o “cansaço” e a “excitação”, que neste estudo foi
denominada como estado “ativo energético”.
Este estudo apontou ainda a diminuição do “medo” e uma tendência
ao estado “triste” e “desagradável”, pelo término da representação subjetiva do
que seria a caminhada, para cada um dos participantes.
163
C) Escala de Ecocentrismo e Antropocentrismo de Thompson e Barton (1994)
Em função dos objetivos propostos e dos aspectos peculiares da
amostra deste estudo, optou-se pelo uso de técnicas estatísticas multivariadas,
embora outros estudos que utilizaram as Escalas T&B recomendassem outras
técnicas. Entre elas pode-se citar as reduções por meio de múltiplas regressões
com o uso de análise fatorial pelo método Cronbach’s alpha como feita na
pesquisa de Thompson e Barton (1994), ou ainda, por meio do uso de regressão
linear, com método enter e aplicação posterior de regressão logística com o
método forward stepwise (WALD), como na investigação sobre valores humanos
como explicadores de atitudes ambientais e intenção de comportamento pró-
ambiental, de Coelho, Gouveia e Milfont (2006).
Para o cálculo estatístico foi utilizada a “Análise de Componentes
Principais”, com a justificativa relacionada ao tamanho dessa amostra, sua
assimetria com relação à faixa etária e a grande quantidade de dados gerada, já
especificada na análise do instrumento LEA-RI, feita anteriormente.
Para execução deste trabalho participaram o Prof. Dr. Antônio Carlos
Simões Pião, a Profa. Dra. Maria Lúcia L. Wodewotzki, ambos do Departamento
de Estatística, Matemática Aplicada e Computação, do Instituto de Geociências
(IGDE, UNESP - Rio Claro - SP).
Para a análise da escala T&B original, foi utilizado o mesmo
programa estatístico da análise anterior, o SAS System, versão 9.1, com 5% de
significância (ANEXO 06).
164
No entanto, a importância da presente “Análise de Componentes
Principais” e seu tratamento se devem ao fato de que, por meio dele, foi possível
um aprofundamento do estudo desse grupo em especial. Além disso, permitiu
selecionar informações e verificar, de forma preliminar, se houve ou não
alterações nas atitudes ambientais, antes, durante e depois do percurso, assim
como projetar algumas tendências.
Após a aplicação do Programa SAS, feito separadamente em cada
fase do trajeto, surgiram três matrizes de covariância, sendo que o total de
autovalores (eigenvalue) para a correlação matricial no início da caminhada foi de
30, com média 0,91. Durante o trajeto foram obtidos 32 autovalores, com média
0,97 e, ao final do percurso, foram obtidos 30 autovalores, com média 0,91;
notando-se que a principal alteração de índices numéricos foi durante a
caminhada.
Esses resultados foram reduzidos com o reconhecimento de padrões
matemáticos, normalmente classificados por meio de similaridade, resultando nos
seguintes atributos de correlação ou fatores, para cada fase do trajeto:
Tabela 11– Escore de fatores relacionados às atitudes ambientais na caminhada
Início da caminhada 6 fatores
Durante a caminhada 6 fatores
Final da caminhada 6 fatores
Dessa forma, para que pudesse haver comparação entre todas as
fases da caminhada, optou-se pela seleção dos três primeiros fatores de cada
165
fase, que além de terem o maior peso (magnitude de variação compartilhada pelos
itens que se agrupam para um campo ou fator), são os fatores que, mais
captavam a variância comum. Assim:
- O Fator 3 (F3), inicialmente com peso 9,28, teve durante a atividade
o peso alterado para 9,98 e ao final chegou a 11,66;
- O Fator 4 (F4), que no início teve 6,55, durante a atividade teve o
peso de 7,03 e ao final 5,90;
- O Fator 5 (F5), inicialmente com peso 4,70, teve durante a atividade
o peso alterado para 6,54 e ao final chegou a 5,63.
Da mesma forma que na análise do instrumento anterior (LEA-RI), foi
verificado que cada um desses fatores originou, para cada uma das afirmativas,
índices numéricos menores que um (1), tanto positivos, quanto negativos; o que
expressava o quanto cada afirmação “ou variável observada estava carregada ou
saturada em um fator” (ANÁLISE FATORIAL, 2006, p. 02), em termos de “atitudes
ambientais” e “valores explicadores” relacionados à intenção de comportamento
pró-ambiental.
Valendo-se da aplicação da regra prática de “eliminar as
componentes cujos autovalores são menores que uma fração da média”
(ANÁLISE FATORIAL, 2006, p. 04), dos números que apareceram em cada fator,
foram selecionados todos os índices numéricos entre +/- 0,5.
Quando uma das trinta e três opiniões a cerca de temas relacionados
as atitudes ambientais assumia índices maiores que 0,5 e menores que -0,5 eram
166
consideradas significativas, passando, então, a ser representativas ou ainda com
correlações substanciais.
Os outros itens foram retirados, já que tinham baixa variância e baixa
correlação com o escore total, ou seja, eram pouco sensíveis à variação de
respostas dos sujeitos além de sua baixa saturação ao escore total.
Os sinais positivos e negativos das cargas fatoriais indicavam
relações diretamente ou inversamente proporcionais.
Os índices numéricos de covariância zero entre as variáveis, foram
considerados como sem correlação ou independentes sendo, eliminados.
Também foram excluídas cinco das trinta e três questões da “escala
T&B” original (Q10, Q18, Q20, Q26 e Q30), por não apresentarem possibilidade de
comparação numérica entre as três fases da pesquisa.
A seguir, serão apresentados os coeficientes principais de saturação
e suas respectivas cargas fatoriais por fator; antes, durante e depois da
caminhada, dispostos na Tabela 12, sendo que os resultados foram extraídos do
Anexo 6 (p. 240 - 246), com o intuito de sintetizar os dados facilitando sua
compreensão.
167
Tabela 12 Coeficientes de saturação dos itens afirmações, atitudes, valores e tendências, por fator nas três fases da caminhada:
Afirmações Atitudes Antes Durante Depois Tendências
Ambient F3 F4 F5 F3 F4 F5 F3 F4 F5 F3 F4 F5
Q1- Uma das piores coisas da superpopulação é que
muitas áreas naturais estão sendo destruídas pelo
desenvolvimento
ECO
Q2- Gosto de passar algum tempo em ambientes naturais pelo
simples fato de estar em contato com a natureza.
ECO 0,65 -0,59 0,54 0,51
Q3- Ameaças ambientais, tais como o desmatamento
e a diminuição da camada de ozônio, têm sido
exageradamente divulgadas.
APAT -0,81
-0,94 -0,86
Q4- A pior coisa a respeito da perda das florestas
tropicais é que o desenvolvimento de novos
medicamentos será prejudicado.
ANTRO
0,84 0,87 0,60 0,69
Q5- É entristecedor ver as matas serem destruídas
para uso da agricultura e da pecuária.
ECO 0,67 -0,52 0,82 0,95
Q6- A maioria dos ambientalistas é pessimista e um
tanto paranóica.
APAT -0,56 -0,83 -0,83
Q7- Prefiro as reservas naturais aos zoológicos. ECO 0,83 0,57 -0,60
Q8- O melhor de acampar é que é uma forma barata
de passar férias.
ANTRO 0,57 0,90 -0,51 0,64 0,56
Q9- Eu acho que o problema do esgotamento de
recursos naturais não é tão ruim como se diz.
APAT -0,86 -0,94 -0,83
Q10- Para mim é difícil estar muito preocupado pelos
temas ambientais.
APAT 0,90 -0,67
Q11- Preocupa-me que os seres humanos fiquem
sem sua reserva de petróleo.
ANTRO 0,79 0,70 0,51 0,82
Q12- Preciso passar algum tempo junto à natureza
para ser feliz.
ECO 0,92 0,92 0,80
Q13- Ciência e tecnologia resolverão nossos
problemas de poluição, de superpopulação e de
recursos naturais cada vez mais limitados.
ANTRO -0,97 -0,95
Q14- O que mais me preocupa a respeito do
desmatamento é não haverá madeira (nativa) para as
gerações futuras.
ANTRO
0,66 0,88 0,77
Q15- Acho que os seres humanos não dependem da
natureza para sobreviver.
APAT -0,83 -0,57 -0,83
Q16- Quando me sinto triste encontro conforto na
natureza.
ECO 0,82 0,51 0,66 0,95
168
Antes Durante Depois Tendências
Afirmações Atitudes
Ambient
F3 F4 F5 F3 F4 F5 F3 F4 F5 F3 F4 F5
Q17- A maioria dos problemas ambientais se resolverá por conta
própria se lhes for dado tempo suficiente
APAT -0,60
Q18- Os problemas ambientais não me importam. APAT -0,52
Q19- Uma das razões mais importantes para manter
lagos e rios limpos é que as pessoas tenham um local
para se divertir na água.
ANTRO 0,68
-0,59 0,57 0,65
Q20- Sou contra programas para preservar lugares selvagens, para
reduzir a contaminação e para conservar recursos.
APAT
Q21- Fico triste ao ver o ambiente natural destruído. ECO 0,74 0,89 0,83
Q22- A razão mais importante para conservação
ambiental é a sobrevivência humana.
ANTRO -0,76 0,92 0,58 -0,71
Q23- Uma das melhores coisas sobre a reciclagem é
que economiza dinheiro.
ANTRO 0,84 0,78 0,66 0,70
Q24- A natureza é importante por que pode contribuir
para o prazer e bem-estar humanos.
ANTRO 0,89 0,84 0,57 -0,56
Q25- Dá-se ênfase excessiva à conservação. APAT 0,53 -0,80 -0,67
Q26- A natureza é valiosa, independente de qualquer
coisa.
ECO 0,89
Q27- Precisamos preservar os recursos para manter
uma alta qualidade de vida.
ANTRO -0,56 0,91 0,66 -0,68
Q28- Estar na natureza é um grande redutor de
estresse para mim.
ECO 0,86 0,57
Q29- Uma das razões mais importantes para
conservar o ambiente é assegurar um padrão de vida
bom e contínuo.
ANTRO 0,79 0,56 0,51 0,68 0,52
Q30- Uma das razões mais importantes para
conservar o ambiente é a preservação de áreas
selvagens.
ECO 0,80 0,78 0,52
Q31- O uso continuo das terras para agricultura é
uma boa idéia desde que isso não interfira na
qualidade de vida.
ANTRO
0,75 0,59 0,62 -0,61 0,99
Q32- Às vezes os animais me parecem quase
humanos
ECO 0,76 0,64 0,57
Q33- Seres humanos fazem parte do ecossistema,
assim como outros animais.
ECO -0,54 0,90 0,55 -0,69
169
FATOR 3
O fator 3 (F3) foi classificado como um indicador global para o
entendimento dos valores e das atitudes ambientais dos sete sujeitos,
denominado de “intenção”.
O termo “intenção” do latim intentione é sugerido como “vontade,
desejo, ou pensamento” (FERREIRA, 1986, p. 956), que pode ser fundamentado
pela objetividade ou pela subjetividade de crenças, valores e atitudes.
Na psicologia, a intenção “é um impulso para a ação que já obteve
aprovação, mas cuja execução é adiada para uma ocasião mais adequada”
(CAMPBELL, 1986, p.329).
Para a composição de F3, foram selecionados os índices mais
significativos (> 0,5 e < -0,5), por meio do resultado de carregamento das variáveis
originais e de seus respectivos coeficientes da combinação linear.
Para facilitar a compreensão, foram mantidas as cores indicativas
das atitudes avaliadas pela escala. Assim sendo:
Negrito– ECOCENTRISMO; Preto – ANTROPOCENTRISMO; Cinza – APATIA AMBIENTAL.
Antes de começar a caminhada, o Fator 3 (F3) apresentou-se da
seguinte forma:
170
F3= - 0,86 (o esgotamento de recursos não é tão ruim) - 0,56 (necessidade de
preservação de recursos para manutenção da alta qualidade de vida) + 0,80
(razão importante para conservação é a preservação das áreas selvagens) +
0,79 (relevância da conservação é assegurar padrão de vida bom e contínuo)
– 0,81 (exagero na divulgação sobre o desmatamento e camada de ozônio) – 0,56
(paranóia dos ambientalistas) + 0,67 (tristeza com destruição das matas)
– 0,83 (Não dependência entre seres humanos e a natureza) + 0,92 (felicidade
em passar tempo na natureza) + 0,86 (busca da natureza como redutora de
estresse) + 0,82 (conforto na natureza quando se está triste) + 0,68 (lagos e
rios devem ser mantidos limpos para diversão) + 0,57 (acampar/turismo acessível)
- 0,54 (seres humanos como parte do ecossistema, assim como outros
animais) + 0,76 (similaridade dos animais com os seres humanos)
Aglutionou-se as duas opiniões discordantes: “o esgotamento de
recursos não é tão ruim” (- 0,86) e a “necessidade da preservação de recursos
para manutenção da alta qualidade de vida” (- 0,56) por possuírem carregamento
negativo e concordarem com as opiniões (positivas) de que “a razão mais
relevante da conservação é assegurar um padrão de vida bom e contínuo”, com o
índice de (+ 0,79) e “uma das razões mais importantes para conservar o ambiente
é a preservação de áreas selvagens”, com o índice de (+ 0,80).
171
Percebeu-se pelo contraponto semântico, que querem dizer a
mesma coisa, ou seja, os participantes acreditavam na importância da
preservação dos recursos para a manutenção da qualidade de vida.
Esse preceito é reforçado mais especificamente, ao se investigar o
tema “desmatamento”, abordado como uma das respostas obtidas pelo
Questionário Misto Trifásico (QMT) e que foi reflexão constante dos sujeitos, na
propícia ambiência da Serra da Mantiqueira.
Assim as opiniões sobre “o exagero na divulgação sobre o
desmatamento e camada de ozônio” com (– 0,81) e a “paranóia dos
ambientalistas” com (– 0,56) foram inversamente proporcionais ao sentimento de
“tristeza com destruição das matas” (+ 0,67), experimentado pelos sujeitos.
Em outras palavras, os sujeitos discordavam de que os problemas
que o esgotamento de recursos causaria, o desmatamento e a degradação da
camada de ozônio fossem exageros da mídia ou paranóia dos ambientalistas.
A afirmação que os “seres humanos não dependem da natureza”,
com o índice de (– 0,83), aparece em correlação inversa; contrapondo-se a
“sensação de felicidade em passar tempo na natureza” (+ 0,92); “busca da
natureza como redutora de estresse” (+ 0,86); “conforto na natureza quando se
está triste” (+ 0,82); “lagos e rios devem ser mantidos limpos para diversão”
(+.0,68) e a opinião de que “acampar é uma forma de turismo acessível” (+ 0,57).
Esses resultados complementam o padrão encontrado
anteriormente, já que os sujeitos concordaram que os “seres humanos dependem
da natureza”, não só para sobreviver ou manter a qualidade de vida, mas também
172
por associarem a essa relação, aspectos psicológicos, emocionais e afetivos,
assim como fazerem referência ao lazer e ao turismo.
A última correlação de F3, na fase antes da caminhada, foi quanto ao
posicionamento inversamente proporcional à afirmação de que os “seres humanos
fazem parte do ecossistema, assim como outros animais” com (- 0,54), em
contraponto com a percepção de “similaridade dos animais com os seres
humanos” (+ 0,76), de correlação direta.
Existe uma controvérsia nesse item, pois os sujeitos não concordam
que fazem parte de um ecossistema assim como outros animais; apesar de
apresentarem uma tendência predominante de atitude ecocentrista e concordarem
com a outra afirmação, a de que existe “similaridade entre pessoas e animais”.
Talvez essa dificuldade represente um problema semântico da escala T&B, que
mereceria uma investigação mais aprofundada.
Em suma, esses resultados refletem um propósito pessoal dos
participantes, envolvendo crenças, atitudes e valores, antes do início da
caminhada; mas que poderia sofrer alguma interferência. Optou por condensar o
fator (F3) no termo “intenção”.
Em termos de contraponto matemático, a “intenção” antes do início
da caminhada tendeu a ser mais positiva em relação ao ambiente do que
negativa. Os resultados, em termos de atitudes, apontaram seis atitudes negativas
(dentre elas, quatro relacionadas à apatia ambiental) contra nove atitudes
positivas, sendo sete delas ecocêntricas. Esse saldo de “intenção” (F3) pró-
ambiental, corrobora com o maior índice numérico (+0,92) encontrado na sentença
173
estatística, expressa por: “preciso passar um tempo na natureza para ser feliz”,
indicativo de atitude ecocêntrica.
Após quatro a sete dias caminhando pela Serra da Mantiqueira,
o Fator 3 (F3), apresentou-se da seguinte maneira:
F3= - 0,97 (Ciência e tecnologia como solução de problemas ambientais) - 0,94
(Esgotamento de recursos naturais não é tão ruim) + 0,51 (Relevância da
conservação é assegurar padrão de vida alto e contínuo)
- 0,94 (Exagero divulgação desmatamento e camada de ozônio) - 0,83 (Paranóia
dos ambientalistas) - 0,80 (Ênfase excessiva a conservação) + 0,89 (Natureza é
valiosa) + 0,89 (Tristeza em ver a destruição do ambiente natural) + 0,82
(Tristeza destruição das matas para uso agrícola e pecuário)
- 0,57 (Não dependência entre seres humanos e a natureza) + 0,92 (Felicidade
em passar tempo na natureza) + 0,64 (Similaridade dos animais com os
seres-humano) + 0,51 (Conforto na natureza quando se está triste)
Neste ponto da atividade, foi observado que basicamente as opiniões
do início da caminhada, inclusive em termos de concordância e discordância
(carregamentos dos sinais) foram mantidas, embora os índices numéricos tenham
variado. Pode-se notar isso, por exemplo, na diminuição quanto à discordância
174
sobre “os efeitos ruins que o esgotamento de recursos pode causar” (de - 0,86 foi
para - 0,94), ou ainda, quanto à redução da correlação direta com a “intenção”
(F3) referente à “relevância da conservação como forma de assegurar um padrão
de vida bom e contínuo”, que foi de + 0,79 para + 0,51.
Foram acrescentados, em F3 inicial, três itens que se identificavam
em correlação direta a intensificação da “intenção” positiva a favor do ambiente.
São elas: a discordância de que a “ciência e a tecnologia podem ser as soluções
dos problemas ambientais”, apresentando o maior índice da sentença estatística
para F3 (durante a caminhada) com o índice de (-0,97).
Uma outra afirmação relevante encontrada na sentença estatística
durante a caminhada, foi de que os participantes se encontravam “tristes em ver a
destruição do ambiente natural” com (+0,89) juntamente com a concordância de
que a “natureza é valiosa” (+0,89), assim como negaram que existe uma “ênfase
excessiva a conservação” com (-0,80).
Foram excluídas de F3, nesse novo preenchimento da escala T&B,
as afirmações ligadas ao “acampar como turismo acessível” e a necessidade de
manutenção de “lagos e rios limpos para recreação”, indicados antes da
realização da caminhada.
É importante situar o contexto desse momento da caminhada. Os
sujeitos estavam ao final da “fase de astenia e depressão” (COSTA, 1983, p. 220)
iniciando a “fase de reorganização orgânica”, típicas de se manifestarem em
atividades físicas prolongadas; tinham percorrido no mínimo 80 quilômetros a pé,
já haviam visto uma boa amostra da ambiência, bem como vivenciado as
175
peculiaridades de um pedestrianismo longo em ambiente natural (bolhas, viroses
etc.). Esclarecidas as circunstâncias, a “intenção” (F3), embora não estivesse tão
claramente definida, tendia a ser positiva, ou seja, ainda pró-ambiental, como a
tendo maior índice numérico (+0,92) para a mesma afirmação da aplicação
anterior: “preciso passar um tempo na natureza para ser feliz”, que segundo a
escala, reflete atitude ecocêntrica.
Em termos de atitudes gerais, para o período durante a caminhada,
os sujeitos apontaram seis atitudes negativas (cinco delas de apatia) e oito
atitudes positivas, dentre elas seis, mantendo sua relação com o ecocentrismo.
Ao final da caminhada, o Fator 3 (F3) mostrou-se:
F3= - 0,95 (Ciência e tecnologia como solução de problemas ambientais) - 0,83
(Esgotamento de recursos naturais não é tão ruim) + 0,80 (Felicidade em passar
tempo na natureza) + 0,77 (Preocupação com falta de madeiras pelo
desmatamento) + 0,51 (Preocupação em ficar sem as reservas de petróleo)
- 0,86 (Exagero divulgação do desmatamento e camada de ozônio) - 0,83
(Paranóia dos ambientalistas) - 0,67 (Ênfase excessiva a conservação) – 0,67
(Dificuldade em estar preocupado com temas ambientais) + 0,95 (Tristeza
destruição das matas para uso agrícola e pecuário) + 0,83 (Tristeza em ver a
176
destruição do ambiente natural) + 0,60 (Perda das florestas tropicais relaciona-
se a descoberta de novos medicamentos)
- 0,83 (Não dependência entre seres humanos e a natureza) + 0,95 (Conforto na
natureza quando se está triste) + 0,66 (Melhor da reciclagem é a economia) +
0,64 (Acampar/turismo acessível) + 0,58 (Sobrevivência é a razão mais importante
da conservação ambiental) + 0,57 (Lagos e rios devem ser mantidos limpos para
diversão) + 0,57 (Busca da natureza como redutora de estresse) + 0,57
(Similaridade dos animais com os seres-humanos)
O resultado final apresenta pouca modificação em relação aos dados
obtidos antes e durante a caminhada. Acrescentou-se com o índice (+ 0,51)
obteve-se a “preocupação em ficar sem as reservas de petróleo”; com (+ 0,77) “a
preocupação com falta de madeiras pelo desmatamento” e com (+ 0,60) a
percepção de que a “perda das florestas tropicais relaciona-se a descoberta de
novos medicamentos”; em correlação direta de concordância com as afirmações e
a “intenção” pró-ambiental. Importante salientar que o tema “desmatamento”,
nessa fase final da pesquisa, foi ainda mais evidenciado.
Dois outros coeficientes positivos, que ainda não haviam sido
citados, apareceram: a “sobrevivência como a razão mais importante da
conservação ambiental” com (+ 0,58) e uma visão utilitarista da reciclagem, por
meio da afirmação o “melhor da reciclagem é a economia” com (+ 0,66); também
177
em correlação direta a “intenção” (F3) pró-ambiental, assinalada durante toda a
pesquisa.
É importante apontar que as cargas dos índices numéricos em
referência as opiniões existentes na escala, não se modificaram, não havendo
alterações na bipolaridade das opiniões, apenas nos índices numéricos.
No cômputo geral de resultados após a caminhada, o número de
“intenções” (F3) aumentou para vinte, refletindo uma tendência positiva dos
sujeitos quanto à ambiência. Foram observadas seis atitudes negativas (todas de
apatia ambiental) e quatorze atitudes positivas, sendo oito antropocêntricas e seis
delas, ecocêntricas, o que representou um aumento, para a composição do fator
3, da quantidade de atitudes antropocêntricas.
No entanto, os maiores índices numéricos foram registrados para as
afirmações “é entristecedor ver a destruição das matas” e “quando me sinto triste
encontro conforto na natureza”, cada uma delas com (+0,95), que demonstram
atitudes ecocêntricas.
De um modo geral, as “convicções” (F3) a favor do meio ambiente
antes, durante e depois da caminhada, se mantiveram positivas, apesar de
sofrerem algumas oscilações na fase “durante a caminhada”.
Houve uma diminuição da tendência às atitudes ecocêntricas, ao se
analisar os três principais índices numéricos apontados para o F3 (“intenções”).
Os resultados originados da fase “durante”, notou-se uma dissonância com
relação ao aspecto “intenção ecocêntrica”, a qual diminuiu em relação tanto a fase
inicial quanto a fase final da caminhada. Esse dado é bastante interessante,
178
entretanto, ele não foi procedente das respostas abertas dos participantes ao
questionário misto trifásico; mas sim, esse resultado advém de uma inferência a
partir dos dados estasticos, recuperados pela Escala T&B, merecendo melhor
destaque em futuros estudos.
O resultado obtido para F3 assemelha-se ao seguimento da pesquisa
de Oliveira (2000, p. 115) que ao investigar por meio da prática, o sentido
psicológico do montanhismo; o autor assinala que “uma elevação de consciência é
comum a pessoas que vivenciam riscos, assim como, maior conhecimento sobre
limitações e capacidades pessoais”.
Corrobora para esse entendimento, a fala de um dos sujeitos sobre a
importância da caminhada para a reflexão sobre a preservação:“...a demonstração
do que a destruição do ambiente e a sua falta de conservação ocasionam para o
bem estar físico e espiritual”.
Fredrickson e Anderson (1999) obtiveram um resultado próximo ao
que foi levantado com o grupo do “Caminho da Fé”.
Investigando os componentes afetivos que afloraram em dois grupos
formados de forma diferenciada, para a realização de atividades físicas em área
naturais (Boundary Waters Canoe Area Wilderness/ Minnesota e Grand
Canyon/Arizona) por uma semana: as autoras relataram os benefícios espirituais
que essas atividades do âmbito do lazer ou da recreação trazem à tona. Os
benefícios espirituais são tipos de atributos biofísicos e sociais que ocorrem
quando se está totalmente imerso no presente, o que possibilita que o senso de
self”, a subjetividade e objetividade sejam quebrados momentaneamente.
179
Essas experiências, que as autoras chamaram de “transcendentais”
7
,
acontecem em lugares naturais e, normalmente, são resultados de intensas
mudanças físicas e emocionais, causando alterações nos estados de consciência
e nos níveis de acuidade sensorial.
Os benefícios ocorrem em diversos planos
8
. No individual tem-se
saúde e bem-estar psicológico, melhora de auto-imagem e auto-satisfação,
melhora do status na comunidade, firma uma identidade cultural. No plano social
do indivíduo, gera estabilidade de relacionamentos (por exemplo, o familiar);
melhora de seu status perante a comunidade, além de firmar a sua identidade
cultural.
Thompson e Barton (1994) colocam na mesma categoria os
ecocentristas e os espiritualistas, porque ambos julgam o ambiente, também,
como um contexto de enriquecimento espiritual, direcionamento acompanhado
nesse estudo.
Uma outra experiência semelhante aconteceu com Oliveira (2000)
durante o International Leadership Seminar do School Nols. Durante o curso de
educação experiencial por 21 dias, escalando o “Blanca Peak”, no Colorado
(EUA), o autor descreve os diferentes aprendizados (físico, social e pessoal)
propiciados pelo montanhismo.
7
Frequently these types of powerful or transcendent’ experiences are experienced in a
natural outdoors setting, and are usually the result of intense physical and or emotional challenge”
(FREDRICKSON e ANDERSON, 1999, p. 22).
8
Esses benefícios não atingem somente mente e corpo da pessoa. Colaboram também
com a estrutura do ambiente, onde está sendo realizada a experiência. No plano ambiental da
comunidade, onde ocorre o contato com a natureza, existem os benefícios econômicos que as
atividades de lazer, turismo e recreação trazem. E em relação à natureza, o local ganha, pelos
investimentos ali realizados, por melhorar suas condições e preservação.
180
A tendência de opinião para cada componente do Fator 3 pode ser
observada na tabela de coeficiência (p. 211).
FATOR 4
O fator 4 (F4) entendido como a segunda componente principal,
apresentou índices numéricos que focavam o uso dos recursos, em especial as
florestas e matas; a questão econômica; o padrão e qualidade de vida, assim
como o lazer e bem estar-humanos.
Optou-se por denominar F4 como “questionamento sobre gestão de
recursos” (abreviadamente “gestão de recursos”).
O termo “gestão”, do latim gestione (FERREIRA, 1986, p. 849),
tornou-se uma preocupação contemporânea na medida em que o gerir os
recursos naturais, de forma sustentável, tornou-se uma das respostas para alguns
dos problemas ambientais: poluição, concentração de recursos, degradação
ambiental, pobreza entre outros.
Para Pol (2003, p. 237) a gestão ambiental remete ao “conjunto de
ações preventivas e paliativas para minimizar os efeitos ambientais da atividade
humana. A gestão ambiental é antes de tudo gestão do comportamento humano,
tanto dentro como fora das organizações”.
O termo “gestão ambiental” está no âmbito dos macrossistemas
nacionais, por estarem diretamente associado à implementação pelos governos de
políticas ambientais, mediante definição de estratégias, ações, investimentos e
181
providências institucionais e jurídicas, com o intuito de garantir a qualidade do
meio ambiente, a conservação da biodiversidade e o desenvolvimento sustentável
(POL, 2003; PHILIPPI JR. e MAGLIO, 2005). Entretanto, acredita-se que uma
“gestão de recursos” possa ser também, pelo menos “pensada”, em pequena
escala, ou seja, no dia a dia das pessoas e nas dinâmicas ocorridas com os
microssistemas de que fazem parte (família, escola, local de trabalho, trajeto entre
eles, etc.). Assim sendo, disponibilizou-se as análises a seguir.
Antes de começar a caminhada, o Fator 4 (F4) apresentou-se da
seguinte forma:
F4 = - 0,52 (Tristeza destruição das matas para uso agrícola e pecuário) +
0,89 (Importância da natureza como contribuinte do prazer e bem estar humanos)
+ 0,84 (Perda das florestas tropicais relaciona-se a descoberta de novos
medicamentos) + 0,84 (Melhor da reciclagem é a economia) + 0,79 (Preocupação
em ficar sem as reservas de petróleo) + 0,75 (Desenvolvimento continuado das
terras é bom desde que não interfira na qualidade de vida) + 0,66 (Preocupação
com falta de madeiras pelo desmatamento) + 0,65 (Gostar de estar em
ambientes naturais pelo contato com a natureza) + 0,56 (Relevância da
conservação é assegurar padrão de vida alto e contínuo) + 0,53 (Ênfase excessiva
a conservação)
182
Em F4 inicial, das dez opiniões recuperadas da “análise de
componentes principais” apenas uma opinião possuía coeficiente negativo: a do
sentimento de “tristeza com a destruição das matas para uso agrícola e pecuário”
com -0,52.
Esse resultado de correlação inversa ao questionamento sobre
“gestão de recursos” (F4), representa um contraponto com a visão utilitarista, pela
qual acredita-se que as pessoas mantém a atitude conservacionista, porque
entendem que o conforto, a qualidade de vida, a saúde dependem da preservação
dos recursos naturais e da saúde do ecossistema (THOMPSON e BARTON,
1994).
Os resultados para F4 inicial em termos de atitudes apontaram sete
atitudes antropocêntricas, duas ecocêntricas e uma de apatia ambiental.
É relevante destacar que o maior índice apresentado foi sobre a
“importância da natureza como contribuinte do prazer e bem estar humanos”, com
(+ 0,89); seguida das duas concordâncias: “a descoberta de novos medicamentos
ou não, está relacionada com a perda das florestas tropicais” e “o melhor da
reciclagem é a economia”, ambas com (+ 0,84) cada, sendo esse, o segundo
maior índice; todos os três antropocêntricos.
Os resultados apontados refletem uma percepção de que valores
utilitários também são importantes na temática ambiental, mesmo que, em termos
de microssistemas. Reforça este pensamento a declaração no questionário de um
dos participantes sobre a importância de preservar a natureza e também de se
183
preservar, ilustrado pela declaração: “Convive vinte e quatro horas com verde e
repensa sua própria preservação”.
Após quatro a sete dias caminhando, o Fator 4 (F4), apresentou-
se da seguinte maneira:
F4= + 0,88 (Preocupação com falta de madeiras pelo desmatamento) + 0,87
(Perda das florestas tropicais relaciona-se a descoberta de novos medicamentos)
+ 0,78 (Melhor da reciclagem é a economia) + 0,70 (Preocupação em ficar sem as
reservas de petróleo) + 0,66 (Conforto na natureza quando se está triste) +
0,62 (Desenvolvimento continuado das terras é bom desde que não interfira na
qualidade de vida) + 0,54 (Gostar de estar em ambientes naturais pelo contato
com a natureza)
+ 0,78 (uma das razões mais importantes para conservação é a preservação
de áreas selvagens) + 0,90 (preocupação com os temas ambientais) – 0,52
(problemas ambientais não me importam)
Com carregamento positivo em dezenove dos vinte itens, a maioria
das afirmações da sentença estatística apresentou-se em correlação direta com
F4, sendo que apenas a afirmação “problemas ambientais não me importam”,
apresentou-se em correlação inversa (-0,52).
O maior índice apresentado foi de (+ 0,90), expresso por uma atitude
apática de “para mim é difícil estar preocupado com os temas ambientais”.
184
Novamente na fase da pesquisa “durante” notou-se uma dissonância cognitiva, ao
recuperar como principal atitude, diretamente correlacionada a “gestão pró-
ambiental”: a apatia. O termo “apatia” refere-se a ausência de sentimentos do
ponto de vista psíquico, um entorpecimento emocional ou desinteresse em relação
ao meio ambiente (CAMPBELL, 1986, p. 48, 281).
Cabe ressaltar as circunstâncias dessa segunda aplicação, pois os
sujeitos já haviam percorrido praticamente metade do “Caminho da Fé” e além de
estarem bastante cansados, passavam por processos de recuperação como a
virose que os acometeu. Ainda no campo hipotético, servindo-se de Worringer
(1983), para o qual a relação do mundo interno com o ambiente externo resulta
em conteúdos externos que podem se manifestar da expressividade a abstração;
quando a interface homem e ambiente oferece afetividade, ele sente desejo de
representar, como projeção sentimental. Quando essa interface não é “agradável”,
ocorre uma necessidade pelo mundo interno de dissimular a realidade, reelaborá-
la e reorganizá-la por meio de abstrações. Como a apatia neste momento
específico mostrou-se um resultado estatístico relevante pela questão da
incongruência em relação a F4, merece maior aprofundamento em estudos
posteriores, ampliando o tamanho da amostra.
O segundo maior índice foi de (+ 0,88), expresso pela “preocupação
com falta de madeiras pelo desmatamento”, seguido de (+ 0,87) que apontava a
inquietação dos sujeitos com “a perda das florestas tropicais e a descoberta de
novos medicamentos”. Vale acrescentar que já na metade do percurso, os sujeitos
185
já haviam tido oportunidade de ver e de refletir sobre as áreas verdes existentes
na Serra da Mantiqueira.
Apresentando o índice de (+ 0,84) a questão de “economia pela
reciclagem” e com (+0,75) a afirmação de que “o desenvolvimento continuado de
terras é bom desde que não interfira na qualidade de vida”, sendo que essas três
menções já haviam sido feitas na lista do início da caminhada, alterando apenas
os índices numéricos, o qual aumentou em todas elas.
Nesse ponto do percurso, o número de variáveis apontadas pelos
sujeitos, se manteve em dez. Em termos de atitudes foram indicadas cinco
atitudes antropocêntricas, três ecocêntricas e duas apáticas, sendo que a de maior
índice numérico era uma atitude apática.
Ao final da caminhada, o Fator 4 (F4) revelou este resultado:
F4= + 0,82 (Preocupação em ficar sem as reservas de petróleo) + 0,70 (Melhor da
reciclagem é a economia) + 0,69 (Perda das florestas tropicais relaciona-se a
descoberta de novos medicamentos) + 0,66 (Preservação de recursos para
manutenção de alta qualidade de vida) + 0,65 (Lagos e rios devem ser mantidos
limpos para diversão) + 0,57 (Preferência pelas reservas naturais em vez dos
zoológicos) + 0,57 (Importância da natureza como contribuinte do prazer e bem
estar humanos) + 0,55 (Seres humanos como parte do ecossistema, assim
como os animais) + 0,52 (Relevância da conservação é assegurar padrão de
vida alto e contínuo)
186
Nove opiniões, todas correlacionadas diretamente, contribuíram para
a constituição do fator “gestão de recursos” (F4) nesta última fase. Em termos de
atitude, observou-se que sete delas eram antropocentristas e duas ecocentristas,
reforçando o resultado inicial de que a “gestão de recursos” pensada pelos
participantes, fundamentava-se em convicções pró-ambientais.
O maior índice apresentado foi a “preocupação em ficar sem as
reservas de petróleo” com (+ 0,82) sendo que essa mesma afirmação, já havia
aparecido no início da caminhada, com o índice de (+ 0,79).
O resultado do Fator 4 ao final da caminhada, repetiu as inquietações
dos sujeitos (antes, durante e depois da caminhada) quanto “a perda das florestas
tropicais e a descoberta de novos medicamentos” (+ 0,69) e “o melhor da
reciclagem é a economia” (+ 0,70), porém com índices numéricos menores do que
os índices apresentados nas fases anteriores. Apesar de o maior índice numérico
revelar uma atitude antropocêntrica, o saldo final geral para F4, aponta uma
tendência de diminuição de ambas as atitudes pró-ambientais citadas, em especial
as antropocêntricas.
O fator 4 revela um interessante índice, por parte dos sujeitos, em
questionar o quanto de modificações ambientais ocorreram decorrentes dos atuais
padrões de consumo e de produção e como melhor administrá-las.
Independentemente das possíveis atitudes que os participantes
pensavam em tomar com relação a “gestão de recursos”, é importante assinalar
que ambas as convicções são expressões positivas a favor do ambiente. Para
187
Thompson e Barton (1994), as razões que levam as pessoas a manterem essas
convicções é que são diferentes.
Os antropocentristas têm interesse de preservar os recursos, porque
estes satisfazem suas necessidades humanas naturais, como a saúde, a
qualidade de vida e/ou os desejos psicológicos, enquanto os ecocentristas não
percebem a importância da conservação ambiental como um valor, mas como
uma dimensão transcendente (THOMPSON e BARTON, 1994).
Para muitos autores (OVERTON e REESE, 1977; STOKOLS, 1990;
THOMPSON e BARTON, 1994; MORAES, 1997; LOUREIRO, 2000; COELHO,
GOUVEIA, MAJA e MILFONT, 2006), F4 ou a “gestão de recursos”, representa
uma base motivacional fundada numa perspectiva pragmática e utilitarista do
ambiente, no qual o interesse em manter a qualidade de vida, saúde e existência
humana estabelece-se por meio de uma relação de troca, em que o homem
preserva os recursos naturais e o ecossistema para seu próprio benefício.
FATOR 5
Ao se exporem durante 14 a 20 dias ao ambiente natural
caminhando a pé, os participantes (como em inúmeras oportunidades foi
mencionado por eles em seus discursos ou mesmo no preenchimento do
questionário) tiveram tempo para refletir mais consistentemente sobre as
dinâmicas ambientais e as inevitáveis e controversas ações humanas sobre elas.
188
Resume esse pensamento (LOUREIRO, 2000, p. 21) ao afirmar que
“é preciso entender que a humanidade não domina a natureza, mas interage com
ela e nela”. O que foi bastante acentuado na vivência da caminhada.
Para se estipular o fator 5, partiu-se do pressuposto de que as
questões ambientais não apresentam apenas dimensões dos conhecimentos
ecológico, biológico, tecnológico e cultural; ou dos valores éticos e estéticos do
imaginário individual e social, mas também necessita para sua compreensão de
reflexão crítica.
Se anteriormente concebia-se o ambiente como: natureza
, pura e
original, para ser apreciada e preservada; recurso, herança biofísica coletiva para
ser gerenciada; problema a ser resolvido
, poluição, deteriorização e ameaças;
lugar para viver, refletindo a importância da educação para, sobre e no ambiente e
os cuidados para sua preservação; biosfera
, local para ser dividido, focando a
interdependência dos seres vivos com os inanimados e projeto comunitário
,
envolvendo a análise crítica e a participação política da comunidade; o ambiente,
mais contemporaneamente, também está sendo percebido a partir das inter-
relações indivíduo-sociedade-natureza (SAUVÉ, 1997).
Por essa perspectiva o ambiente, é sugerido por meio de um
conceito de continuum
. Esse entendimento dialético de que um dos pólos
determina as possibilidades do outro, impede que se façam afirmações idealistas
de uma relação indivíduo-sociedade-natureza, como natural ou perfeita.
Loureiro (2000) expande a discussão ao explicitar que, por mais que
se avance em termos tecnológicos, a espécie humana não conseguirá se
189
desvincular da natureza e da imposição de limites por ela propostos; que cada
fase da humanidade construirá um tipo específico de relação com a dimensão
natural e um conceito próprio e que as condições de atuação no ambiente serão
definidas em função de cada modo de vida social, em interação dialética com as
condições ecológicas de sustentação.
Reforçando essa tese, Gallegos, Juan e Montes (2005), ao
analisarem o “Caminho de Santiago como uma caminhada longa pela natureza”,
tema com maior aproximação com essa pesquisa, reconhecem que o peregrino
contemporâneo é bastante distinto, dos primeiros peregrinos seculares, como
também a sociedade pós-moderna e tecnológica. Os autores complementam,
afirmando que, um não deixa de ser reflexo do outro; o que tem despertado na
Espanha, numerosas publicações científicas e seminários, a esse respeito.
Essa idéia de contradição/mediação, que o homem pós-moderno
vivencia, a psicologia, descreve como uma situação de conflito, ou seja uma
circunstância de “luta mental ocasionada pela operação simultânea de
necessidades, impulsos, desejos ou exigências internas ou externas antagônicas
ou que se excluem mutuamente” (CAMPBELL, 1986).
É importante citar Layargues (2000) pois o autor amplia o termo, ao
utilizar uma visão mais antropológica e ligada aos questionamentos da temática
ambiental, sugerindo-o como “conflitos socioambientais”, que são “conflitos sociais
que tem elementos da natureza como objeto e que expressam relações de tensão
entre interesses coletivos/espaços públicos X interesses privados/tentativas de
apropriação de espaços públicos” (LAYARGUES, 2000, p. 220).
190
Carvalho (1995) expande a discussão ao explicar que ao se deslocar
o eixo da análise dos problemas ambientais para o dos conflitos socioambientais,
deixa-se de mostrar a sustentabilidade física dos recursos, para se evidenciar a
questão da sustentabilidade política.
A ressalta sobre a existência do conflito e das questões controversas
dentro da temática ambiental, mesmo que percebida a nível individual, aqui foi
feita, porque se acreditou necessária à compreensão dos processos reflexivos,
pelos quais os participantes passaram, durante os quatorze a vinte dias que
percorreram o “Caminho da Fé”.
Acompanham os resultados obtidos por Gouveia, Martinez, Meira e
Milfont (2001) que, embora tivessem utilizado uma outra técnica estatística,
acharam um problema parecido em sua pesquisa. Os autores asseveraram que no
estudo sobre valores humanos como explicadores de atitudes ambientais e
intenção de comportamento pró-ambiental não conseguiram comprovar:
no caso o conflito de valores, pode-se atribuir à natureza do objeto de
estudo. A estrutura dinâmica dos valores pode ser apreciada claramente
através do escalonamento multidimensional, e tem demonstrado valor
preditivo em relação a variáveis externas ao modelo, como o contato
social com exogrupos (GOUVEIA, MARTINEZ, MEIRA e MILFONT, 2001,
p. 141).
Por meio das evidências de controvérsias em vários temas
ambientais, obtidas por meio do Questionário Misto Trifásico (QMT), pressupôs-se
que os sujeitos em muitos momentos, em relação a temática ambiental,
experimentavam uma situação de conflito.
191
Vale ressaltar que os participantes possuíam um alto grau de
escolaridade (91% com no mínimo terceiro grau incompleto), além de estarem
predispostos a refletir, a discutir e a meditar, inclusive sobre as questões socio-
ambientais do “Caminho da Fé”.
Assim denominou-se F5 como “questionamento sobre conflitos socio-
ambientais” (abreviadamente “conflitos ambientais”).
Esse fator, diferentemente dos anteriores, apresentava uma variação
estatística interessante, pois enquanto no início da caminhada foram indicados
apenas cinco itens, durante e após a atividade enunciaram-se nove itens. O
acréscimo de itens, para composição desse padrão, indicava que a partir do meio
da caminhada, os sujeitos começaram a se atentar para o Fator 5.
Uma outra peculiaridade de F5 foi de que os mesmos índices,
durante os três momentos de aplicação, ora eram correlacionados positivamente
com o fator, ora correlacionados no momento seguinte, de forma negativa; sendo
que ao final do trajeto, no preenchimento da última escala, os três itens constantes
de toda a análise (antes, durante e depois), encontraram-se carregados
positivamente, apresentando correlação direta com F5, o que dificultou trazer um
sentido para o padrão estatístico.
Sendo assim, segue a análise do Fator 5 (F5) ou “conflito
ambiental”.
Antes de começar a caminhada, o Fator 5 (F5) apresentou-se da
seguinte forma:
192
F5= – 0,76 (A razão mais importante para conservação ambiental é a
sobrevivência humana) - 0,59 (Gostar de estar em ambientes naturais pelo
contato com a natureza) + 0,59 (Desenvolvimento continuado das terras é bom
desde que não interfira na qualidade de vida) + 0,90 (Acampar/turismo acessível)
+ 0,74 (Fico triste ao ver o ambiente natural destruído)
O Fator 5 correlacionou-se diretamente com: o “acampar/turismo
acessível” com (+0,90), o maior índice da sentença estatística; seguido da
percepção de que o “desenvolvimento continuado das terras é bom, desde que
não interfira na qualidade de vida”, com (+ 0,59). Já o “gostar de estar em
ambientes naturais pelo simples fato, de estar em contato com a natureza” com (-
0,59) se relacionou inversamente a questão do “conflito socio-ambiental” (F5).
Pode-se observar um contraponto entre o “gostar de estar em
ambientes naturais” e a opinião de que o “desenvolvimento continuado das terras
é bom desde que não interfira na qualidade de vida”.
É necessário salientar que o “desenvolvimento continuado das
terras” é um uso diferenciado do solo. Aliado às sucessivas adubações
superficiais, pode resultar em alterações nos parâmetros físicos e químicos do
solo, tais como compactação, o acúmulo excessivo de nutrientes e o aumento da
incidência de doenças (KLUTHCOUSKI,1998). O que aparentemente poderia
representar uma eficiência na gestão de recursos e tecnologia para o
193
desenvolvimento agrícola, também poderia ocasionar sérios danos ao solo, assim
como desperdícios de nutrientes, adubos e inseticidas.
Dos cinco itens mencionados, todos pró-ambientais, três são
positivos e reforçam as atitudes antropocêntricas; enquanto que uma das atitudes
ecocêntricas é positiva, e a outra, de menor índice numérico, é negativa.
Após quatro a sete dias caminhando, o Fator 5 (F5), apresentou-
se da seguinte maneira:
F5= – 0,61 (Desenvolvimento continuado das terras é bom desde que não interfira
na qualidade de vida) + 0,68 (Relevância da conservação é assegurar padrão de
vida alto e contínuo)
- 0,59 (Lagos e rios devem ser mantidos limpos para diversão) + 0,92
(Sobrevivência é a razão mais importante da conservação ambiental)
- 0,51 (Acampar/turismo acessível) + 0,91 (Preservação de recursos para
manutenção de alta qualidade de vida)
+ 0,90 (Seres humanos como parte do ecossistema, assim como os animais)
+ 0,84 (Importância da natureza como contribuinte do prazer e bem estar
humanos) + 0,83 (Preferência pelas reservas naturais em vez dos zoológicos)
Neste ponto do percurso, o maior índice apresentado foi o da
“sobrevivência é a razão mais importante da conservação ambiental” (+ 0,92),
seguido pela “preservação de recursos para manutenção de alta qualidade de
194
vida” (+ 0,91), itens que não foram mencionados na sentença estatística anterior.
A afirmação de “gostar de ambientes naturais” não foi citada nessa aplicação.
Com (- 0,61) o “desenvolvimento continuado das terras” encontrou-se
em contraponto com (+ 0,68) da “manutenção do alto e contínuo padrão de vida
como relevante para a conservação”. Enquanto o primeiro estava em correlação
inversa com a questão do “conflito socioambiental”, o segundo item encontrava-se
em correlação direta com F5.
A outra correlação é quanto à manutenção de um alto e contínuo
padrão de vida e sua relação direta com o “conflito socioambiental” (F5).
O contraponto “lagos e rios devem ser mantidos limpos para
diversão” (- 0,59), correlacionado inversamente a F5 e a “sobrevivência como a
razão mais importante da conservação ambiental” (+ 0,92) de correlação direta a
F5; foram entendidos como contrapontos em um mesmo eixo, pois se de um lado
se tem a necessidade de conservar a água limpa para sobrevivência, do outro se
reafirma a importância do lazer para manter a água limpa.
Com (- 0,51) foi observado que “acampar como turismo acessível,
barato” se contrapôs a (+ 0,91) da opinião sobre a relevância da “preservação de
recursos para manutenção de alta qualidade de vida”; sendo que a primeira
afirmação foi colocada inversamente a F5 e a segunda resultou numa correlação
direta.
Como os caminhantes estavam no meio do percurso, vivenciando a
ambiência e haviam tido bastante tempo para reflexões, essa correlação
195
obedeceu similarmente a que aconteceu com a opinião contida sobre o
“desenvolvimento continuado de terras”.
Como foi observado por meio de F5, em função da aplicação da
escala em três momentos da caminhada, foi possível “capturar” alguns processos
de reflexão em andamento, como a idéia do “conflito socioambiental”,
exemplificado pelas afirmações: “acampar como turismo acessível, barato” e sobre
o “desenvolvimento continuado de terras”, que inicialmente foram positivas e que
durante a caminhada se apresentaram negativas.
Para compreensão dessa controvérsia, buscou-se Oliveira (2000, p.
127), que similarmente a esta pesquisa, investigou a importância do entendimento
dos processos de formação de grupos, no qual programa composto por quinze
indivíduos, durante 30 dias, convivendo 24 horas, os integrantes ficaram expostos
em ambiente inóspito, ao realizarem atividades físicas.
Para o autor, durante a realização da atividade na natureza, os
participantes passam pelas fases de: “formação do grupo”; “conflito – com o
estabelecimento de objetivos e expectativas comuns”; “normatização e
desempenho”. Oliveira assinala um segundo processo, pós o término da atividade
em ambiente natural, que pode ou não ocorrer, denominado de “transferência”.
Para Oliveira (2000, p. 130) “o processo de transferência é tanto maior, quanto
maior a autonomia dos participantes formularem seus próprios conceitos e
reexaminarem seus valores e hábitos”, durante a atividade.
Um outro exemplo da percepção dos sujeitos sobre a existência do
“conflito socioambiental” foi com relação ao turismo, mencionado na afirmação
196
“acampar/turismo acessível”, que sofreu alteração ao se correlacionar com F5 nas
três fases da caminhada.
Colabora para o entendimento da oscilação da correlação entre F5 e
a afirmação de que “acampar é uma forma de turismo barato”; Krippendorf (1989),
Pearce (1981), além de ecologistas e organizações não governamentais, bem
como as próprias entidades públicas ligadas ao turismo, alertando para os efeitos
negativos do deslocamento de massas turísticas ao meio ambiente, ao destino
receptor e aos autóctones sem planejamento.
Os autores concordam que o recurso natural, sua população e
entorno devam ser mantidos, restaurados e melhorados, contemplando a
expectativa do que se convencionou chamar de turismo sustentável, que difere
totalmente do turismo massificado e desorganizado, que produz impacto negativo
derivado da pressão social, estrutural, econômica entre outras, na capacidade de
suporte das comunidades e de seu entorno.
Articulando com a ambiência do “Caminho da Fé”, têm-se duas
realidades de turismo acessível. A primeira relacionada aos romeiros
excursionistas, pessoas de classe socio-econômica variada, com baixa cultura
pró-ambiental, que se dirigem a Aparecida utilizando algum tipo de transporte
auto-motor ou animal, para cumprir promessa ou para realizar compras. E a outra
possibilidade de turismo acessível é feita pelos peregrinos, que são turistas, fiéis
ou praticantes de atividades físicas na natureza que se deslocam a pé, ou
utilizando bicicletas, com o intuito de cumprir promessa, explorar sua dimensão
espiritual transcendente, testar seus limites, experienciar convivência social.
197
As três últimas opiniões sobre “participação humana no ecossistema”
(+0,90), “importância da natureza” (+0,84) e “preferência pelas áreas naturais”
(+0,83), não apresentaram contrapontos, possuindo carregamento positivo, ou
seja, estavam diretamente relacionadas com o fator 5.
Enfim, foram ao todo, nove atitudes de concepção pró-ambiental,
dentre elas duas ecocêntricas e sete antropocêntricas. A análise do índice mais
representativo do fator 5 durante a caminhada, indicou que os participantes
correlacionavam a questão da sobrevivência de forma direta ao “conflito
socioambiental” (F5), com maior evidencia para a atitude antropocêntrica.
Ao final da caminhada, o Fator 5 (F5) revelou este resultado:
F5= - 0,71 (Sobrevivência é a razão mais importante da conservação ambiental) +
0,99 (Desenvolvimento continuado das terras é bom desde que não interfira na
qualidade de vida)
- 0,69 (Seres humanos como parte do ecossistema, assim como os animais)
- 0,68 (Preservação de recursos para manutenção de alta qualidade de vida)
– 0,60 (Preferência pelas reservas naturais em vez dos zoológicos) + 0,51
(Gostar de estar em ambientes naturais pelo contato com a natureza) + 0,52 (
razão importante de conservar o meio ambiente é a preservação de áreas
selvagens)
198
– 0,60 (Tempo como solução de problemas ambientais)
- 0,56 (Importância da natureza como contribuinte do prazer e bem estar
humanos) + 0,56 (Acampar/turismo acessível)
Na última fase da caminhada, o fator 5 foi composto por dez itens.
Deles, destacaram-se três atitudes com carregamento positivo, uma delas
antropocêntrica e duas ecocêntricas. Dos sete itens restantes, todos negativos,
quatro representavam atitudes antropocêntricas e duas ecocêntricas.
Houve alguns contrapontos que mereceram ser destacados, como a
“sobrevivência sendo a razão mais importante da conservação ambiental” com (-
0,71) e o “desenvolvimento continuado das terras aceito favoravelmente, desde
que não interferisse na qualidade de vida” com (+ 0,99). O primeiro inversamente
proporcional a F5 e o segundo diretamente proporcional ao fator analisado.
Com (– 0,60) a “preferência pelas reservas naturais em vez dos
zoológicos” foi correlacionada inversamente a F5, contrapondo-se à afirmação de
que os sujeitos “gostavam de estar em ambientes naturais pelo simples contato
com a natureza”, com (+ 0,51) e a “razão importante de conservar o meio
ambiente é a preservação de áreas selvagens” (+ 0,52), diretamente
correlacionadas ao fator 5.
A “importância da natureza como contribuinte do prazer e bem estar”
(-0,56) apresentou contraponto com “acampar – turismo acessível” (+0,56). Os
outros itens não apresentaram contrapontos.
199
Torna-se importante destacar que as afirmações “acampar – turismo
acessível” e o “desenvolvimento continuado de terras aceito como favorável”
foram os itens que apareceram nas três aplicações da escala T&B, com
correlações com F5 que oscilaram bastante.
O índice sobre “o uso contínuo de terra” foi o de maior valor
numérico, denotava uma atitude antropocêntrica.
A análise final para F5, mostra dez atitudes, uma apática, quatro
ecocêntricas e cinco antropocêntricas, sendo que de uma forma geral aponta uma
tendência de diminuição de ambas as atitudes pró-ambientais citadas, em especial
as antropocêntricas.
Ainda que fosse bastante interessante indicar números referentes a
cada atitude e em cada fator, o estudo se propôs a apontar somente as tendências
sobre esses fatores, que ficaram expressas por meio das setas ascendentes e
descendentes, nas análises e discriminadas na tabela 12 “Coeficientes de
saturação dos itens: afirmações, atitudes, valores e tendências, por fator e por
fases” (p. 167-168).
200
V. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base na triangulação de fontes apresentada a seguir,
consegue-se obter uma visão mais completa sobre os principais dados obtidos
pelos instrumentos utilizados na pesquisa exploratória. Por meio dessa última
tabela, foi possível evidenciar os valores categorizados por Schwartz (2006).
Com isso chegou-se, de forma articulada, a conclusão de quais os
estados emocionais estiveram presentes durante a atividade, se houve a
internalização de valores e o desenvolvimento de atitudes mais positivas em
relação ao meio ambiente e se isso foi capaz ou não de fomentar o
comportamento pró-ambiental.
201
Quadro 02 - Triangulação de fontes
Antes do início Durante o 4° ao
dias
Depois da
caminhada
Disponibilidade
para a
caminhada (F1)
Cheio de energia Ativo, energético Desagradável,
Feliz e Alegre
Estados de
Ânimo
Reação físico-
emocional (F2)
Agitado, nervoso Leve, suave Calmo, tranquilo
Intenção (F3) Ecocêntrica:
“Preciso passar
um tempo na
natureza para ser
feliz
Ecocêntrica:
“Preciso passar
um tempo na
natureza para ser
feliz
Ecocêntrica:
“Tristeza na
destruição das
matas”
Questionamento
sobre a gestão
de recursos (F4)
Antropocêntrica:
“importância da
natureza para o
prazer e bem-
estar humanos”
Antropocêntrica:
“preocupação
com o
desmatamento”
Antropocêntrica:
“preocupação
com a finitude das
reservas de
petróleo”
Atitudes
ecocêntricas e
antropocentricas
Questionamento
sobre conflitos
socio-ambientais
(F5)
Antropocêntrica:
“Acampar como
forma de turismo
barato”
Antropocêntrica:
“Sobrevivência é
mais importante”
Antropocêntrica: “
uso continuado de
terras desde que
não prejudique a
qualidade de vida.
Percepção sobre o trajeto/ ambiência Bem sinalizado Mal sinalizado Mal sinalizado
Reflexões sobre a preservação da
natureza
Percepção das
alterações
ambientais
Preocupação
com o tema:
desmatamento
Preocupação com
o tema:
desmatamento
Grupamento Grupo
anteriormente
organizado
Companhia do
grupo encontrado
pelo caminho
Companhia do
grupo encontrado
pelo caminho
Razão da manutenção do
grupamento
Incentivo Incentivo Incentivo
Principais obstáculos Físico-corporal Físico-corporal Natural-geográfico
Em termos de disponibilidade (F1) de estados de ânimo, houve
uma oscilação durante a prática, de “cheio de energia” à “feliz e alegre” junto com
“desagradável”, ao término da atividade; sendo que no decorrer da caminhada, a
disponibilidade esteve mais evidenciada por meio do estado “ativo, energético”.
Para as reações físico-emocionais (F2), a variação de estados de
ânimo já era esperada, corroborando a literatura com diversos exemplos sobre
esse assunto (COSTA, 1983; WILMORE e COSTIL, 1994; SCHMIDT e
202
WRISBERG, 2001). A menção inicial de “agitado e nervoso” equivale ao elevado
nível de ansiedade e de ativação; do 4° ao dia, já adaptados ao esforço, os
participantes apresentaram-se “leves, suaves”, o que equivaleria ao nível
moderado de ativação ajustado ao rendimento. Ao final, estavam “calmos e
tranqüilos”, que seria o relaxamento, com grau de ansiedade e ativação baixos
após a atividade física.
Os estados de ânimo apresentados revelaram que os sujeitos
estavam dispostos a realizar algo novo e diferente de sua rotina (o que
efetivamente vivenciaram). Essas manifestações evidenciaram o valor de primeira
ordem de Schwartz (2006), denominado de “estimulação” e o valor de ordem
superior “abertura à mudança”.
O fato dos participantes irem sozinhos, sem familiares, indicou
independência no pensamento e na tomada de decisão do que fazer em suas
férias, o que remeteu a um outro valor de primeira ordem, chamado de
“autodireção”, também ligado à “abertura à mudança”.
Os sujeitos antes da caminhada já eram pró-ambientais, ou seja,
ambientalistas, pois, desde a escolha de um roteiro como este, para realizar em
suas férias, associada à declaração de “contato com a natureza” como principal
motivação, já indicava uma pré-disposição positiva em relação ao ambiente
natural. Durante todo o trajeto e ao final, a principal atitude dos participantes foi
favorável ao ambiente. Sua intenção (F3) “ecocêntrica” foi mantida do início
à conclusão do programa, apesar de ter havido uma pequena oscilação durante a
caminhada. Suas intenções de relação com o ambiente, transcenderam suas
203
dificuldades e limitações físicas e emocionais, mesmo que envolvendo algum
desconforto, o que caracteriza as atitudes “ecocêntricas”.
As outras duas unidades de análise para as atitudes (F4 e F5),
tiveram menor representatividade do que a intenção (F3). Correlacionavam-se à
questão prática da relação pessoa-ambiente. Diferentemente do campo das
intenções, revelaram posicionamentos mais utilitaristas e pragmáticos porque a
manutenção da atitude preservacionista na vida prática, para eles, estava
ligada à gestão de recursos (bem-estar humanos, prazer, desmatamento e
combustíveis) e aos conflitos socioambientais (turismo acessível, a
sobrevivência e ao uso continuado de terras). Articulando o resultado da escala
T&B, com a resposta sobre o que aprenderam no caminho acerca de preservação
ambiental, novamente, o tema “desmatamento” foi citado em dois momentos,
seguido das “alterações ambientais”, citada apenas antes do início da caminhada.
Esse direcionamento aos benefícios materiais e vantagens revelou
que “os participantes, ao resolverem problemas concretos ou viabilizarem
soluções, têm atitudes de ordem antropocêntricas”; o que revela, mais uma
vez o valor autodireção.
Em relação à percepção da ambiência do trajeto, os participantes
evidenciaram a sinalização como o principal item observado. A
sinalização/orientação, ao mesmo tempo em que é uma menção bem objetiva,
pois os participantes discorreram sobre o assunto com profundidade, é, também,
bastante subjetiva. Parafraseando Myers (1999, p. 135), e citando-o:
“Percebemos o mundo não apenas como ele é, mas também como nós somos”,
204
pode-se inferir que os participantes, ao procurarem o “Caminho da fé”, estavam
procurando também, uma sinalização (ou uma orientação), para seu estágio de
transição de vida, o que é corroborado pela segunda principal motivação para a
realização da caminhada: a “revisão de valores e busca de nova consciência”.
Nesse sentido, novamente o valor de ordem superior “abertura à mudança”
aparece por trás do discurso.
A presença dos valores de primeira ordem, “benevolência” e
“universalismo”, foram clarificados ao se tratar do grupamento formado no
percurso. A abertura à amizade, o apreço, os diversos apoios existentes
chamados pelos membros do grupamento de “incentivo”, a tolerância, a
responsabilidade e a compreensão, reforçaram o bem-estar das pessoas
enquanto estavam juntas, assim como, a sensação de cuidar e ser cuidado, de
colaborar e receber colaboração, de ajudar e ser ajudado e a coesão, causada
pelos objetivos semelhantes e pela busca de um sentido na vida.
Vale ressaltar, no item grupamento, a necessidade de um
aprofundamento sobre a contribuição psicológica favorável de participantes de
equipe esportiva, com orientação voltada à aprovação externa e sua interligação
com o comportamento pró-ambiental, que não foi possível verificar nesta
investigação.
Dessa forma, de uma maneira geral, a característica de proteção ao
meio ambiente, a união com a natureza, a busca de um mundo de paz, de beleza,
de sabedoria, de harmonia interior e de justiça social, são evidências da presença
do valor “universalismo”.
205
Tanto a “benevolência” como o “universalismo”, propostos por
Schwartz (2006), são abarcados por um valor de ordem superior denominado
“auto-transcendência”, que enfatiza a igualdade e a preocupação com o bem-
estar dos outros.
A procura pelo contato com a natureza, por meio de uma trilha
realizada a pé, tradicionalmente religiosa, num estágio de transição de vida; indica
a presença de um outro valor, denominado “tradição” por Schwartz (2006). Esse
valor, não está somente comprometido com o “romantismo” bucólico das origens
do ambientalismo, mas, também, com a aceitação dos costumes e das idéias da
cultura tradicional (mineira), da religião, da devoção (à Nossa Sra. da Aparecida),
da vida espiritual e da humildade.
O valor “tradição” está presente na perplexidade e submissão
diante da natureza relatada por um dos sujeitos: “... insignificância humana frente
à exuberância e grandiosidade da natureza”, ou ainda no despojamento que
acontece com os caminhantes, no momento em que se tem a real noção do que é
se deslocar sem os veículos automotores, vivenciar as dificuldades de se vencer
obstáculos geográficos, o tempo dispendido nesta operação, a impossibilidade de
se transportar valores materiais além do necessário e a condição de exclusão
daqueles que não conseguem caminhar por falta de preparo e de saúde.
Os sujeitos, ao mesmo tempo em que carregam consigo algumas
“tradições”, que pertencem a um valor de ordem superior denominado
“conservação”, também estavam pré-dispostos à “abertura à mudança”. Essa
questão controversa, por si só, explicaria o conflito ecológico dos macrossistemas
206
(desenvolvimento versus conservação), ocorrendo no cotidiano dos
microssistemas, em uma direção mais individual: a do conflito pessoal.
Os valores vivenciados no trajeto “Caminho da Fé” foram a
estimulação” e a “autodireção”, da categoria “abertura à mudança”; a
benevolência” e ouniversalismo”, ligados à “auto-transcendência” e
“tradição”, ligada ao valor de ordem superior “conservação”. É importante
ressaltar que o “universalismo” a “auto-transcendência” e a “tradição” são
apontados pela literatura como valores preditores deatitudes pró-ambientais
(COELHO, GOUVEIA; MILFONT, 2006); CORTEZ, MILFONT; BELO, 2001).
Em termos de fomento de ações positivas por meio de atitudes pró-
ambientais, os dados apontaram que elas dependem simultaneamente da
intenção ecocêntrica, que envolve adesão a valores ambientais abstratos, mas
também, à noções de ordem prática, como a gestão de recursos e de conflitos
socioambientais, que estão diretamente ligados às atitudes antropocêntricas.
A transferência de conteúdos ou efetivação de comportamentos pró-
ambientais necessita, ainda, ser mais bem explorada, provavelmente
aumentando-se a dimensão da amostra, reduzindo-se a discrepância etária entre
os sujeitos e utilizando-se uma metodologia etnográfica, capaz de promover o
acompanhamento, com maior propriedade e por maior tempo os participantes
dessa atividade, registrando-se, por meio de equipamentos de vídeo e outros
meios, cada alteração desses aspectos.
Como considerações finais, infere-se que, mesmo que os estímulos
tenham cessado ao final do trajeto com o término da atividade física e da
207
contextualização naquele ambiente, sua intensidade, quantidade e qualidade
estimularam processos de reflexão. Associado as condições de alta interferência
contextual/ambiental, que promovem melhor retenção e transferência do conteúdo
aprendido; a pré-disposição ao diálogo; aos momentos em que declararam
meditar e a identificação simbólica, na qual, por meio de uma analogia de sua vida
com a caminhada, os participantes puderam perceber possibilidades de condução
e transições de valores e novos sentidos para suas vidas.
A metodologia com aplicação trifásica, embora tenha sido
responsável pela redução no número de sujeitos da amostra, em função da
dificuldade de se obter os dados e acompanhar a pé os caminhantes, foi muito
relevante. Por meio dela foi possível o registro por escrito dos resultados
bidirecionais das interações pessoa(s)-ambiente(s), apontando as oscilações de
estados de ânimo na atividade, da variação de questionamentos sobre alguns
temas ambientais e dos momentos de conflito nas reflexões, em especial, aqueles
que permearam as questões socioeconômicas e culturais.
Embora não indicasse diretamente o comportamento, evidenciou
uma seleção de elementos que pudessem evidenciá-lo, de uma forma viável, tanto
economicamente quanto em relação ao tempo disponível para a coleta em campo.
Os resultados obtidos pelo emprego da metodologia trifásica,
colaboraram para o entendimento “in loco” acerca das ressonâncias da atividade
física, mesmo do âmbito do lazer (já que não se tratava de atletas), em ambiente
natural, por um período extenso de tempo.
208
Muitas outras articulações poderiam ser trabalhadas entre as idéias-
chave (ambiente, pedestrianismo, estados emocionais) na temática estudada,
pois, cada experiência adquirida na inter-relação pessoas-ambiente, em especial
nas práticas que envolvem o lazer, representam mais oportunidades para o ser
humano criar laços afetivos e desenvolver diversos tipos de relacionamentos
(sociais e culturais), motivos e motivações, valores, atitudes, comportamentos,
representações, significações e ressignificações.
Por meio dessa caminhada percebeu-se que laços, mesmo que
informais, podem unir a Ciência da Motricidade às diversas áreas que tem a
temática ambiental como foco. Embora em muitos aspectos ideológicos, políticos
e econômicos elas se mostrem divergentes e contestem-se, a natureza
integradora da palavra “ambiente” consegue permear, acolher, permitir o diálogo e
a reflexão, individual e coletiva, possibilitando que se complementem em possíveis
soluções integradas para um objetivo maior: a sustentabilidade e a vida.
209
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<http://www.ibot.sp.gov.br/PESQUISA/florasp/flora_intoducao.htm>. Acesso em:
25 jan. 2007.
WEBRUN. Brasil. Corridas de rua. Disponível em:
<http://www.webrun.com.br/corridasderua/index.php?destinocomum=historico_mo
stra&id_noticias=43>. Acesso em: 05 fev. 2006.
WEINBERG, R. S.: GOULD, D. Fundamentos da psicologia do esporte e do
exercício. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001.
WILLMORE, J. H; COSTILL, D. L. Physiology of sport and exercise.
Champaign: Human Kinetics, 1994.
WINTERSTEIN, P. J. Motivação, Educação Física e Esporte. Revista Paulista
de Educação Física, São Paulo: editora USP. Vol.6, n. 1, p.53-61, jan/jun. 1992.
WORRINGER, W. Abstracción y naturaleza. 3. ed. México, DF: Fondo de
Cultura Económica, 1983.
222
ANEXO 1
223
ANEXO 2
223
ANEXO 2
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” –Campus de Rio Claro, SP
Instituto de Biociências – Departamento de Educação Física
Pós-graduação em Ciências da Motricidade
Orientadora: Gisele Maria Schwartz Mestranda: Jaqueline Costa Castilho Moreira
224
Questionário: “---------------------------- antes do início da “Caminhada da Fé”
Data: ___/___/___
IDADE: __________________________________ SEXO: Masculino Feminino
ESTADO CIVIL: Solteiro Casado Outro, especificar:___________________________
ESCOLARIDADE:
Primeiro grau incompleto Terceiro grau completo
Primeiro grau completo Pós graduação. Especificar: _______________________________
Segundo grau incompleto cnico. Especificar: ____________________________________
Segundo grau completo Outro. Especificar:______________________________________
Terceiro grau incompleto
OCUPAÇÃO:
Profissional liberal, técnico ou assemelhado Militar
Trabalhador em serviços, esporte e diversões Artesão, operário ou servente
Trabalhador em transportes e comunicações Diretor, gerente ou proprietário
Empregado de escritório Estudante
Autônomo (tipo vendedor) Outro. Especificar: ........................
a)QUAL(IS) O(S) MOTIVO(S) QUE O LEVOU(RAM) A ESCOLHER ESTA TRILHA
“CAMINHO DA FÉ”? possível assinalar mais de uma alternativa)
Pagamento de promessa
Testar limites físicos
Incentivo ocasionado pelas reportagens na TV,
revistas, internet, jornais, folders e outras formas de
publicidade sobre o percurso
Rever valores e buscar nova consciência Possibilidade de turismo acessível
Buscar novos conhecimentos, experimentar novas Contato com a natureza
sensações e emoções
Lazer e divertimento
Contato com grupamentos sociais diferenciados:
peregrinos, caminhantes, turistas
Contato com a cultura das comunidades que
fazem parte do caminho
Aventura
Outros. Especificar:_
_______________________
Convite de amigos
__________________________________________
225
1) ASSINALE EM CADA DESENHO O GRAU DE COMO ESTÁ SE SENTINDO, NESSE
MOMENTO:
226
2) COMO VOCÊ IMAGINA QUE ESTEJA O TRAJETO DA TRILHA?
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
3) VOCÊ PENSA EM FAZER A CAMINHADA:
SOZINHO TANTO FAZ
EM UM GRUPO JÁ ORGANIZADO (FAMILIARES/AMIGOS) NÃO SEI
EM COMPANHIA DE PESSOAS QUE CONHECERÁ PELO CAMINHO OUTROS
POR QUE?
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
4) “ESTA CAMINHADA PODE AJUDAR OS PARTICIPANTES A PENSAREM NA
PRESERVAÇÃO DO AMBIENTE”?
SIM NÃO NÃO SEI
EXPLIQUE SUA OPINIÃO:
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
5) VOCÊ ESPERA VENCER ALGUNS OBSTÁCULOS OU DIFICULDADES DURANTE A
CAMINHADA?
SIM NÃO NÃO SEI
EXPLIQUE SUA ESCOLHA:
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
6)A seguir aparecem várias frases sobre temas relacionados com o meio ambiente. Em relação a elas
você pode "discordar muito", ou "discordar"; pode considerar "indiferente"; pode "concordar", ou
"concordar muito". Assinale
o número que melhor expressa sua opinião para cada uma das frases.
POR FAVOR, RESPONDA TODAS AS FRASES. (Se achar que marcou errado, risque a resposta
incorreta e volte a marcar a resposta correta).
227
Discordo Muito = 1 Discordo = 2 Indiferente = 3 Concordo = 4 Concordo Muito = 5
1 - Uma das piores coisas da superpopulação é que muitas áreas naturais estão sendo
destruídas pelo desenvolvimento
12345
2 - Gosto de passar algum tempo em ambientes naturais pelo simples fato de estar em
contato com a natureza.
12345
3 – Ameaças ambientais tais como o desmatamento e a diminuição da camada de
ozônio têm sido exageradamente divulgadas.
12345
4 - A pior coisa a respeito da perda das florestas tropicais é que o desenvolvimento de
novos medicamentos será prejudicado.
12345
5 – É entristecedor ver as matas serem destruídas para uso da agricultura e da pecuária. 1 2 3 4 5
6 – A maioria dos ambientalistas é pessimista e um tanto paranóica. 1 2 3 4 5
7 – Prefiro as reservas naturais aos zoológicos. 1 2 3 4 5
8 – O melhor de acampar é que é uma forma barata de passar férias. 1 2 3 4 5
9 – Eu acho que o problema do esgotamento de recursos naturais não é tão ruim como
se diz.
12345
10 – Para mim é difícil estar muito preocupado pelos temas ambientais. 1 2 3 4 5
11 - Me preocupa que os seres humanos fiquem sem sua reserva de petróleo. 1 2 3 4 5
12 - Preciso passar algum tempo junto à natureza para ser feliz. 1 2 3 4 5
13 – Ciência e tecnologia resolverão nossos problemas de poluição, de superpopulação
e de recursos naturais cada vez mais limitados.
12345
14 – O que mais me preocupa a respeito do desmatamento é não haverá madeira
(nativa) para as gerações futuras.
12345
15 – Acho que os seres humanos não dependem da natureza para sobreviver. 1 2 3 4 5
16 - Quando me sinto triste encontro conforto na natureza. 1 2 3 4 5
17 - A maioria dos problemas ambientais se resolverá por conta própria se lhes for dado
tempo suficiente.
12345
18 – Os problemas ambientais não me importam. 1 2 3 4 5
19 - Uma das razões mais importantes para manter lagos e rios limpos é que as pessoas
tenham um local para se divertir na água.
12345
20 – Sou contra programas para preservar lugares selvagens, para reduzir a
contaminação e para conservar recursos.
12345
21 - Fico triste ao ver o ambiente natural destruído. 1 2 3 4 5
22 - A razão mais importante para conservação ambiental é a sobrevivência humana 1 2 3 4 5
23 – Uma das melhores coisas sobre a reciclagem é que economiza dinheiro. 1 2 3 4 5
24 - A natureza é importante por que pode contribuir para o prazer e bem-estar
humanos.
12345
25 –Dá-se ênfase excessiva à conservação. 1 2 3 4 5
26 – A natureza é valiosa, independente de qualquer coisa. 1 2 3 4 5
27 - Precisamos preservar os recursos para manter uma alta qualidade de vida. 1 2 3 4 5
28 – Estar na natureza é um grande redutor de stress para mim. 1 2 3 4 5
29 – Uma das razões mais importantes para conservar o ambiente é assegurar um
padrão de vida bom e contínuo.
12345
30 – Uma das razões mais importantes para conservar o ambiente é a preservação de
áreas selvagens.
12345
31 – O uso continuo das terras para agricultura é uma boa idéia desde que isso não
interfira na qualidade de vida.
12345
32 - Às vezes os animais me parecem quase humanos. 1 2 3 4 5
33 – Seres humanos fazem parte do ecossistema, assim como outros animais. 1 2 3 4 5
228
ANEXO 3
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” –Campus de Rio Claro, SP
Instituto de Biociências – Departamento de Educação Física
Pós-graduação em Ciências da Motricidade
Orientadora: Gisele Maria Schwartz Mestranda: Jaqueline Costa Castilho Moreira
229
Questionário: “Percurso intermediário da trilha” Data: ___/___/___
1) ASSINALE EM CADA DESENHO O GRAU DE COMO ESTÁ SE SENTINDO, NESSE
MOMENTO:
230
2) COMO ESTÁ O TRAJETO NA TRILHA?
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
3) VOCÊ PENSA EM CONTINUAR A CAMINHADA:
SOZINHO TANTO FAZ
EM UM GRUPO JÁ ORGANIZADO (FAMILIARES/AMIGOS) NÃO SEI
EM COMPANHIA DE PESSOAS QUE CONHECERÁ PELO CAMINHO OUTROS
POR QUE?
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
4) “ESTA CAMINHADA ESTÁ AJUDANDO OS PARTICIPANTES A PENSAREM SOBRE A
PRESERVAÇÃO DO AMBIENTE”?
SIM NÃO NÃO SEI
EXPLIQUE SUA OPINIÃO:
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
5) OCORRERAM OBSTÁCULOS OU DIFICULDADES NA CAMINHADA ATÉ O
MOMENTO?
SIM NÃO NÃO SEI
EXPLIQUE SUA ESCOLHA:
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
6)A seguir aparecem várias frases sobre temas relacionados com o meio ambiente. Em relação a elas
você pode "discordar muito", ou "discordar"; pode considerar "indiferente"; pode "concordar", ou
"concordar muito". Assinale
o número que melhor expressa sua opinião para cada uma das frases.
POR FAVOR, RESPONDA TODAS AS FRASES. (Se achar que marcou errado, risque a resposta
incorreta e volte a marcar a resposta correta).
231
Discordo Muito = 1 Discordo = 2 Indiferente = 3 Concordo = 4 Concordo Muito = 5
1 - Uma das piores coisas da superpopulação é que muitas áreas naturais estão sendo
destruídas pelo desenvolvimento
12345
2 - Gosto de passar algum tempo em ambientes naturais pelo simples fato de estar em
contato com a natureza.
12345
3 – Ameaças ambientais tais como o desmatamento e a diminuição da camada de
ozônio têm sido exageradamente divulgadas.
12345
4 - A pior coisa a respeito da perda das florestas tropicais é que o desenvolvimento de
novos medicamentos será prejudicado.
12345
5 – É entristecedor ver as matas serem destruídas para uso da agricultura e da pecuária. 1 2 3 4 5
6 – A maioria dos ambientalistas é pessimista e um tanto paranóica. 1 2 3 4 5
7 – Prefiro as reservas naturais aos zoológicos. 1 2 3 4 5
8 – O melhor de acampar é que é uma forma barata de passar férias. 1 2 3 4 5
9 – Eu acho que o problema do esgotamento de recursos naturais não é tão ruim como
se diz.
12345
10 – Para mim é difícil estar muito preocupado pelos temas ambientais. 1 2 3 4 5
11 - Me preocupa que os seres humanos fiquem sem sua reserva de petróleo. 1 2 3 4 5
12 - Preciso passar algum tempo junto à natureza para ser feliz. 1 2 3 4 5
13 – Ciência e tecnologia resolverão nossos problemas de poluição, de superpopulação
e de recursos naturais cada vez mais limitados.
12345
14 – O que mais me preocupa a respeito do desmatamento é não haverá madeira
(nativa) para as gerações futuras.
12345
15 – Acho que os seres humanos não dependem da natureza para sobreviver. 1 2 3 4 5
16 - Quando me sinto triste encontro conforto na natureza. 1 2 3 4 5
17 - A maioria dos problemas ambientais se resolverá por conta própria se lhes for dado
tempo suficiente.
12345
18 – Os problemas ambientais não me importam. 1 2 3 4 5
19 - Uma das razões mais importantes para manter lagos e rios limpos é que as pessoas
tenham um local para se divertir na água.
12345
20 – Sou contra programas para preservar lugares selvagens, para reduzir a
contaminação e para conservar recursos.
12345
21 - Fico triste ao ver o ambiente natural destruído. 1 2 3 4 5
22 - A razão mais importante para conservação ambiental é a sobrevivência humana 1 2 3 4 5
23 – Uma das melhores coisas sobre a reciclagem é que economiza dinheiro. 1 2 3 4 5
24 - A natureza é importante por que pode contribuir para o prazer e bem-estar
humanos.
12345
25 –Dá-se ênfase excessiva à conservação. 1 2 3 4 5
26 – A natureza é valiosa, independente de qualquer coisa. 1 2 3 4 5
27 - Precisamos preservar os recursos para manter uma alta qualidade de vida. 1 2 3 4 5
28 – Estar na natureza é um grande redutor de stress para mim. 1 2 3 4 5
29 – Uma das razões mais importantes para conservar o ambiente é assegurar um
padrão de vida bom e contínuo.
12345
30 – Uma das razões mais importantes para conservar o ambiente é a preservação de
áreas selvagens.
12345
31 – O uso continuo das terras para agricultura é uma boa idéia desde que isso não
interfira na qualidade de vida.
12345
32 - Às vezes os animais me parecem quase humanos. 1 2 3 4 5
33 – Seres humanos fazem parte do ecossistema, assim como outros animais. 1 2 3 4 5
232
ANEXO 4
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” –Campus de Rio Claro, SP
Instituto de Biociências – Departamento de Educação Física
Pós-graduação em Ciências da Motricidade
Orientadora: Gisele Maria Schwartz Mestranda: Jaqueline Costa Castilho Moreira
233
Questionário: “Chegada em Aparecida/SP” Data: ___/___/___
1) ASSINALE EM CADA DESENHO O GRAU DE COMO ESTÁ SE SENTINDO, NESSE
MOMENTO:
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” –Campus de Rio Claro, SP
Instituto de Biociências – Departamento de Educação Física
Pós-graduação em Ciências da Motricidade
Orientadora: Gisele Maria Schwartz Mestranda: Jaqueline Costa Castilho Moreira
234
234
2) COMO ESTAVA O TRAJETO NA TRILHA?
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
3) VOCÊ FEZ A CAMINHADA:
SOZINHO ACOMPANHADO AMBOS
EXPLIQUE? ________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
4) “ESTA CAMINHADA AJUDOU OS PARTICIPANTES A PENSAREM SOBRE A
PRESERVAÇÃO DO AMBIENTE”?
SIM NÃO NÃO SEI
EXPLIQUE SUA OPINIÃO:____________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
5) VOCÊ VENCEU OBSTÁCULOS OU DIFICULDADES NO CAMINHO?
SIM NÃO NÃO SEI
EXPLIQUE SUA ESCOLHA:___________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
6)A seguir aparecem várias frases sobre temas relacionados com o meio ambiente. Em relação a elas
você pode "discordar muito", ou "discordar"; pode considerar "indiferente"; pode "concordar", ou
"concordar muito". Assinale
o número que melhor expressa sua opinião para cada uma das frases.
POR FAVOR, RESPONDA TODAS AS FRASES. (Se achar que marcou errado, risque a resposta
incorreta e volte a marcar a resposta correta).
235
Discordo Muito = 1 Discordo = 2 Indiferente = 3 Concordo = 4 Concordo Muito = 5
1 - Uma das piores coisas da superpopulação é que muitas áreas naturais estão sendo
destruídas pelo desenvolvimento
12345
2 - Gosto de passar algum tempo em ambientes naturais pelo simples fato de estar em
contato com a natureza.
12345
3 – Ameaças ambientais tais como o desmatamento e a diminuição da camada de
ozônio têm sido exageradamente divulgadas.
12345
4 - A pior coisa a respeito da perda das florestas tropicais é que o desenvolvimento de
novos medicamentos será prejudicado.
12345
5 – É entristecedor ver as matas serem destruídas para uso da agricultura e da pecuária. 1 2 3 4 5
6 – A maioria dos ambientalistas é pessimista e um tanto paranóica. 1 2 3 4 5
7 – Prefiro as reservas naturais aos zoológicos. 1 2 3 4 5
8 – O melhor de acampar é que é uma forma barata de passar férias. 1 2 3 4 5
9 – Eu acho que o problema do esgotamento de recursos naturais não é tão ruim como
se diz.
12345
10 – Para mim é difícil estar muito preocupado pelos temas ambientais. 1 2 3 4 5
11 - Me preocupa que os seres humanos fiquem sem sua reserva de petróleo. 1 2 3 4 5
12 - Preciso passar algum tempo junto à natureza para ser feliz. 1 2 3 4 5
13 – Ciência e tecnologia resolverão nossos problemas de poluição, de superpopulação
e de recursos naturais cada vez mais limitados.
12345
14 – O que mais me preocupa a respeito do desmatamento é não haverá madeira
(nativa) para as gerações futuras.
12345
15 – Acho que os seres humanos não dependem da natureza para sobreviver. 1 2 3 4 5
16 - Quando me sinto triste encontro conforto na natureza. 1 2 3 4 5
17 - A maioria dos problemas ambientais se resolverá por conta própria se lhes for dado
tempo suficiente.
12345
18 – Os problemas ambientais não me importam. 1 2 3 4 5
19 - Uma das razões mais importantes para manter lagos e rios limpos é que as pessoas
tenham um local para se divertir na água.
12345
20 – Sou contra programas para preservar lugares selvagens, para reduzir a
contaminação e para conservar recursos.
12345
21 - Fico triste ao ver o ambiente natural destruído. 1 2 3 4 5
22 - A razão mais importante para conservação ambiental é a sobrevivência humana 1 2 3 4 5
23 – Uma das melhores coisas sobre a reciclagem é que economiza dinheiro. 1 2 3 4 5
24 - A natureza é importante por que pode contribuir para o prazer e bem-estar
humanos.
12345
25 –Dá-se ênfase excessiva à conservação. 1 2 3 4 5
26 – A natureza é valiosa, independente de qualquer coisa. 1 2 3 4 5
27 - Precisamos preservar os recursos para manter uma alta qualidade de vida. 1 2 3 4 5
28 – Estar na natureza é um grande redutor de stress para mim. 1 2 3 4 5
29 – Uma das razões mais importantes para conservar o ambiente é assegurar um
padrão de vida bom e contínuo.
12345
30 – Uma das razões mais importantes para conservar o ambiente é a preservação de
áreas selvagens.
12345
31 – O uso continuo das terras para agricultura é uma boa idéia desde que isso não
interfira na qualidade de vida.
12345
32 - Às vezes os animais me parecem quase humanos. 1 2 3 4 5
33 – Seres humanos fazem parte do ecossistema, assim como outros animais. 1 2 3 4 5
236
ANEXO 5
237
238
239
240
ANEXO 6
241
242
243
244
245
246
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo