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pela cidade. O departamento de futebol do clube surgiria da incorporação de um time denominado
Lusitânia, que, cedendo seus uniformes, chuteiras e bolas, incorporar-se-ia ao CRVG, que
disputaria sua primeira partida de futebol em 1915 (COHEN, 2007).
Por ser uma das primeiras agremiações a entender que o estilo brasileiro de jogar futebol
também estava intimamente ligado às camadas mais populares da sociedade, o clube rapidamente
chega em 1923 à primeira divisão carioca e ainda conquista o campeonato, recrutando um time que
jogava com três negros e um mulato. Os grandes clubes cariocas não conseguindo eliminar o
CRVG da competição seguinte, exigem uma série de condições que objetivavam coibir a
participação de jogadores negros e pobres. Entre as condições impostas para a participação no
campeonato constava a exigência de que cada jogador assinasse seu próprio nome. Com a maioria
dos jogadores analfabetos o cruz-maltino não se intimidou e providenciou aulas de leitura e escrita
e, quando necessário, rebatizou-os: para simplificar a escrita (MÁXIMO, 2005/2006).
Ao consultar o livro Memória do Cinqüentenário 1898-1948, organizado por Candido
Fernandes de Carvalho (1948), com a cooperação de professor Manoel Ferreira de Castro Filho,
Doutor José da Silva Rocha e Doutor Alfredo Souto de Almeida, no Real Gabinete Português de
Leitura no Rio de Janeiro, fica evidente, nesta literatura, o caráter conciliador e não-discriminatório
expressado pelo autor a respeito dos ideais vascaínos.
A idéia do apoucamento físico de nossa raça, disseminado entre a coletividade brasileira, é
obra de emissários estrangeiros, pagos a peso de ouro para abater-nos o moral e infundir-
nos desconfianças quanto às nossas possibilidades. Muitos brasileiros, moralmente
degenerados, fazem coro com esses assalariados do banditismo internacional e pressagiam
a falência do Brasil, sem o auxílio do braço de certas imigrações indesejadas. Como se o
brasileiro vivesse somente das posições de mando, como se não fosse êle quem regasse os
campos com suor de sua fronte e apodrecesse nas minas para glória e fausto de alguns
senhores alienígenas! Em todos os tempos o brasileiro provou ser um povo forte. Do nosso
sertanejo, tão bem descritos nas páginas magistrais de Euclides da Cunha, até ao homem
da cidade, está confirmada essa proposição. Basta olhar para os músculos rijos e bem
formados dos nosso caboclos, deitar as vistas por essas praias e campos, onde o sol doira a
pele dos nossos jovens, dando-lhes a saúde física e o bem estar do espírito, para que se
esboroe a aleivosia quinta colunista de que o Brasil é <<país de mestiços combalidos>>. O
que se nos afigura é que o sangue mestiço, que tantas cócegas faz nos tubos de ensaio na
hipocrisia arianista, seja temido porque ferve e transborda nos momentos graves da
nacionalidade. Discorrendo ainda há pouco, sôbre a saúde e o vigor da raça brasileira
atestava Deodato de Moraes: <<O padrão eugênico brasileiro não é e nunca foi inferior ao
padrão clássico estrangeiro. Pelo contrário, não só possuímos qualidades superiores de
agilidade, destreza e perspicácia, como o nosso tipo central de beleza eugênica,
cientificamente já obtida em cânones preciosos, são harmônicos e graciosos em suas linhas
estruturais. E a variabilidade, para mais ou para menos, desse cânone étnico, acompanha a
mesma curva dos demais povos. O que nos cumpre em matéria de educação do corpo, é
talvez esquecer um bocado da beleza muscular impressionista para substituí-la pela
riqueza metabólica de euforia indiscutível. Não devemos, portanto, chorar as belezas
gregas num plangente desamor do que é nosso. A riqueza das harmonias esculturais
brasileiras existe materializada em tipos masculinos e femininos de perfeição e agrado
notáveis, e o que cabe, apenas, é torna-la conhecida para influência psíquica da
coletividade.>> Do que precisamos, isso sim, é de nos entregarmos, de maneira
disciplinada e com finalidades definidas, à educação desse corpo forte que, mercê de Deus,
sempre foi o brasileiro. (CARVALHO, 1948, p. 44 e 45)