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UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTU SENSO
EM CIÊNCIA DA MOTRICIDADE HUMANA
HINOS OFICIAIS E HINOS POPULARES COMO REPRESENTAÇÕES SIMBÓLICAS
DOS PRINCIPAIS CLUBES DE FUTEBOL DO RIO DE JANEIRO: A CONTRIBUIÇÃO
DE LAMARTINE BABO
por
BRUNO DE CASTRO SOUZA
RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL
DEZEMBRO DE 2009
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2
BRUNO DE CASTRO SOUZA
MESTRADO EM CIÊNCIA DA MOTRICIDADE HUMANA
HINOS OFICIAIS E HINOS POPULARES COMO REPRESENTAÇÕES SIMBÓLICAS
DOS PRINCIPAIS CLUBES DE FUTEBOL DO RIO DE JANEIRO: A CONTRIBUIÇÃO
DE LAMARTINE BABO
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Ciência da Motricidade Humana
da Universidade Castelo Branco, como requisito
parcial para a obtenção do título de mestre.
RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL
DEZEMBRO DE 2009
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HINOS OFICIAIS E HINOS POPULARES COMO REPRESENTAÇÕES SIMBÓLICAS
DOS PRINCIPAIS CLUBES DE FUTEBOL DO RIO DE JANEIRO: A CONTRIBUIÇÃO
DE LAMARTINE BABO
Elaborado por Bruno de Castro Souza
Aluno do Programa de Pós-Graduação Strictu Senso em Ciência da
Motricidade Humana
BANCA EXAMINADORA
_____________________________
Prof. Dr. Alexandre Moraes de Mello
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Orientador
______________________________
Prof
a
. Dr
a
. Adrianna Andrade de Abreu
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Co-orientadora
_____________________________
Prof. Dr
a
.Vera Lucia de Menezes Costa
Universidade Gama Filho
_____________________________
Prof. Dr
a
. Nilda Teves Ferreira
Universidade Gama Filho
4
HOMENAGEM
Manoel José Gomes Tubino (*29/05/1939 – 19/12/2008)
Inicio esta modesta homenagem divagando sobre momentos pessoais de sorte. Ao fazer uma
breve reflexão, percebo que ela sorriu para mim em duas oportunidades: a primeira foi em 1997
quando os professores Estélio Dantas e José Fernandes me aproximaram do professor Manoel
Tubino por ocasião do Congresso Santa Mônica Fitness & Welness, e a partir dessa aproximação,
pude começar a desfrutar dos ensinamentos e orientações desse grande mestre que compareceu em
vida a todas as edições do referido evento, por mim organizado ininterruptamente. Nossa amizade
sempre girou em torno de duas paixões em comum: a Educação e o Vasco. Manoel Tubino era um
daqueles brasileiros que incansavelmente lutava para que as pessoas fossem contagiadas pelo saber
e fazia questão de ressaltar quantas vezes fossem necessárias sobre a importância de um povo que é
fisgado pelo desejo do conhecimento infinito, assim como defendia seu clube entusiasmadamente,
por horas se necessário fosse.
Nossa amizade prosseguiu e, um pouco mais a frente, em 2002, tive a honra de ser seu aluno
no “MBA” em administração esportiva da Fundação Getúlio Vargas. pude conhecer seu lado
docente efetivamente. As aulas eram extremamente motivantes, pois tínhamos a oportunidade de
receber informações, análises e contextualizações sobre a educação sica brasileira de quem
verdadeiramente protagonizou variados episódios da mesma.
Em 2006 ingressei no nivelamento do programa de mestrado da Universidade Gama Filho e
no ano seguinte passei em um concurso para uma vaga na docência da graduação em Educação
Física da Universidade Castelo Branco, começando assim a dar aulas de Ética, Bases
Antropofilosóficas da Educação Física e Cultura Corporal no campus da UCB de Realengo. Foi
que encontrei com o amigo Jorge Portilho, docente da cadeira de futebol, que me incentivou a
5
transferir o mestrado da UGF para UCB pelo fato de eu ser professor da casa. Esse foi o meu
segundo momento de sorte.
Fiz a prova de seleção para o mestrado da UCB e ingressei como orientando do professor
Tubino, passando a ter um contato muito mais estreito, num momento que ainda não sabíamos, mas
seriam os últimos meses de vida do nosso mestre.
O Tubino “orientador” tinha um dom que pertence a um grupo seleto de professores no
planeta: o dom de nos tornar completamente apaixonados pela temática escolhida para o estudo.
Isso acontecia de uma maneira muito natural e principalmente nas conversas informais, onde
sentíamos a nossa imaginação criar asas e ir a lugares inimagináveis em busca do conhecimento.
Lembro-me de um dia que entrei em sua sala onde duas pessoas eram atendidas e, ao me ver, parou
tudo o que fazia e disse: “você tem que ir amanhã a São Paulo visitar o Museu do Futebol, pois isso
será um divisor de águas na sua pesquisa”. No outro dia estava eu no estádio do Pacaembu
visitando o Museu e constatando o diferencial que meu estudo estava tendo com aquela nobre e
incisiva indicação.
Assim as coisas foram acontecendo o trabalho foi evoluindo, a nossa parceria aumentando a
cada dia, calcada no entusiasmo que as novas descobertas nos traziam e finalmente chegou o dia de
qualificar a dissertação. Nesse dia convidamos o Dr. Alexandre Moraes de Mello (meu atual
orientador) e a Dra. Adrianna Abreu (minha atual co-orientadora), ambos da UFRJ, para comporem
a banca. Nesse dia o professor Tubino fez uma bela fala introdutória mostrando suas impressões
sobre o estudo e também desenhando os caminhos que ele queria que a pesquisa tomasse. Por sorte
gravamos sua fala que compõe esta pesquisa (Apêndice; 6). Aquele foi o último momento em que
estivemos juntos.
Concluo essa homenagem dizendo que a saudade é eterna, mas o legado também o é.
Portanto os ensinamentos de sempre olhar para frente, de perseverar, de lutar pelo avanço científico
brasileiro estão tatuados nas mentes e corações de centenas de discípulos formados por esse
professor especial. Eu carrego a responsabilidade de ser um desses que teve o privilégio de assinar o
nome ao lado do dele e levo a missão adiante, procurando fazer o melhor possível. Chego ao fim
desse estudo com a mesma energia do começo e com a plena certeza de que fiz todo o possível para
oferecer um trabalho importante e relevante para a sociedade, assim como fez Manoel José Gomes
Tubino ao longo de sua existência e continuará fazendo através da obra e dos ensinamentos que nos
legou (Apêndice; 7).
6
DEDICATÓRIA
As pessoas abaixo descritas são protagonistas do caminho que venho trilhando e co-
responsáveis pelo bom andamento do estudo, portanto dedico a eles a pesquisa e deixo meus
sinceros agradecimentos:
A Manoel José Gomes Tubino.
Aos meus pais, os maiores professores que já encontrei.
A minha esposa e filhos que esperaram, incentivaram, torceram, ampararam, estimularam,
enfim não poderiam ter sido mais pacientes e companheiros do que foram.
Ao meu aluno Rafael Valladão, promessa da Educação Física carioca, pesquisador de boa
safra, ser humano engajado e consciente que mergulhou comigo no estudo e ficou tão entusiasmado
com o tema quanto eu.
Ao meu orientador Alexandre Moraes de Mello que me acolheu após o falecimento do
professor Manoel Tubino e deu encaminhamentos que enriqueceram o trabalho sempre com
solicitude, organização, coerência, profissionalismo e temperança.
A minha co-orientadora Adrianna Andrade de Abreu que zelou pelo maior rigor acadêmico
e científico possível.
Aos principais clubes de futebol do Rio de Janeiro.
Aos autores dos hinos oficiais e populares dos principais clubes de futebol do Rio de Janeiro
que perpetuaram a memória das agremiações através de suas obras.
7
AGRADECIMENTOS
Diversas pessoas contribuíram de alguma forma para que o trabalho transcorresse da melhor
forma possível. Muitos estão citados no capítulo II “Os Caminhos Metodológicos”, pois
efetivamente forneceram algum material, concederam entrevista ou foram contratados para prestar
algum serviço para a pesquisa. As pessoas abaixo relacionadas pertencem mais à dimensão familiar,
estão ligadas a alguma entidade em que o autor trabalha ou ajudaram de formas diversas com
compreensão, incentivo e cordialidade, que o estudo exigiu momentos de ausência e dedicação
integral. Registro aqui meus agradecimentos e divido com todos a alegria de oferecer à comunidade
acadêmica e demais interessados uma pesquisa inédita que muito fala sobre as características de
nossa vida esportiva, revelando aspectos importantes da formação e evolução de nossa sociedade.
Anna Chacon; Antônio Barbosa; Armando Castro; Bruno Nascimento; Carlos Gomes;
Carlos Martins; Cezar Delano; Claudia Mafra; Daniele Araújo; Diego Araújo de Souza; Douglas
Fagundes Murta; Décio Cruz; Edson Bastos; Érico Callado Filho; Fabio Costa; Felipe Alexandre;
Felipe de Castro Souza; Francisco de Carvalho; Francisco Eduardo; Francisco Maravalho; Hélcio
Brenha; Heloisa Alonso; Heron Beresford; Inara Cunha; Jorge Gama; Jorge Gomes; Josete Abreu;
José Hilário (em memória); Jorge Portilho; Maria Quitéria; Marcus Vinícius; Miriam Souza; Nei
Marques; Nely Fonseca; Nilda Teves Ferreira; Nelson Oliveira; Patrícia Souza; José Pereira da
Silva Júnior; Reinaldo Dominguez; Ricardo Lussac; Rosana Fachada; Rosangela da Silva Callado;
Saula Souza; Silvia Maria Agatti Ludorf; Sônia Celestino Nascimento; Sérgio Tavares; Stefani
Souza; Valcir Rocha e Vera Lúcia de Menezes Costa.
8
RESUMO
HINOS OFICIAIS E HINOS POPULARES COMO REPRESENTAÇÕES SIMBÓLICAS DOS
PRINCIPAIS CLUBES DE FUTEBOL DO RIO DE JANEIRO: A CONTRIBUIÇÃO DE
LAMARTINE BABO
O estudo objetivou resgatar e analisar os hinos oficiais e populares dos grandes clubes de futebol do
Rio de Janeiro, investigando aspectos históricos de sua produção e divulgação, bem como contribuir
para a sua preservação e para a memória de seus autores, ressaltando a contribuição de Lamartine
Babo. A metodologia adotada no estudo seguiu dois encaminhamentos e foi pautada em parâmetros
qualitativos com uma perspectiva histórica. No primeiro encaminhamento metodológico foram
realizados os seguintes procedimentos: visitas investigativas, visando a obter documentos para o
estudo; contatos e entrevistas com familiares dos autores e personalidades do futebol e da música,
para obtenção de indicação de fontes e de dados documentais; análise das fontes históricas; análise
dos hinos oficiais e seus autores e análise dos hinos populares compostos por Lamartine Babo. O
segundo encaminhamento visou a obter informações sobre o conhecimento dos hinos por parte de
uma amostra significativa de torcedores notáveis dos considerados grandes clubes do Rio de
Janeiro. Como resultados do estudo foram encontrados 14 hinos dos clubes pesquisados, sendo 9
hinos oficias e 5 hinos populares. Das 14 obras pesquisadas foram encontradas 42 partituras, sendo
17 originais (da década em que as obras foram compostas), 11 não originais (feitas na última
década) e 14 foram elaboradas/recuperadas especialmente por este estudo. A pesquisa encontrou 59
registros de áudio de diferentes períodos, intérpretes e estilos. Todas as partituras e registros de
áudio estão disponíveis no DVD (Apêndice) que compõe a presente dissertação. Concluiu-se que
um grande desconhecimento, apontado pela pesquisa de campo e diversas literaturas, quanto à
forma de classificação dos hinos oficiais e populares, esses últimos muito mais presentes no
imaginário popular. A pesquisa contribui para o resgate histórico e a padronização na maneira de se
classificar essas obras para fazer parte do acervo dos seus clubes, auxiliando torcedores, dirigentes e
o público em geral a compreender a história de suas agremiações e seus desdobramentos junto à
cidade do Rio de Janeiro.
Palavras-chave: Fluminense Football Club; Botafogo de Futebol e Regatas; América Football
Club; Club de Regatas do Flamengo; Club de Regatas Vasco da Gama; Futebol; Hinos Oficiais;
Hinos Populares; Lamartine Babo.
9
ABSTRACT
ANTHEMS AND POPULAR HYMNS AS SYMBOLIC REPRESENTATIONS OF THE MAIN
FOOTBALL CLUBS OF RIO DE JANEIRO: LAMARTINE BABO’S CONTRIBUTION
The present study had the objective of rescuing and analyzing the anthems and popular hymns of
the large football clubs of the city of Rio de Janeiro, investigating historic aspects of their
production and disclosure in the media, as well as to contributing to their preservation and to the
recollection of their authors, highlighting Lamartine Babo’s contribution. The methodology adopted
in the study followed two guiding lines and was based on qualitative parameters with a historic
perspective. In the first methodological guiding line the following procedures were performed:
investigative visits aiming to obtain documents for the study; contacts and interviews with football
and music celebrities for obtaining indication of sources and documentation data; analysis of the
historic sources; analysis of the anthems and their authors and analysis of the popular hymns
composed by Lamartine Babo. The second methodological guiding line aimed to get information on
the knowledge of hymns through a significant sampling of famous fans of those clubs considered as
the largest ones in Rio de Janeiro. As results of the study 14 hymns of the researched clubs were
found, being nine anthems and five popular hymns. From the 14 researched works 42 music scores
were found, being 17 original ones (from the decade when they were composed), 11 non-original
ones (composed in the last decade) and 14 were elaborated/recovered especially for this study. The
research found 59 audio records from different periods of time, performers and styles. All music
scores and audio records are available in the DVD (Annex) that integrates the present Master thesis.
We came to the conclusion that there is a great lack of knowledge, shown by the field research and
several literatures, as regards the way of classification of the official and popular hymns, being the
latter much more present in the popular imagination. The research contributed to the historic rescue
and standardization in the way of classifying those works to make part of the collection of their
clubs, helping fans, club directors and the public in general to understand the history of their
associations and their unfolding in the city of Rio de Janeiro.
Key-words: Fluminense Football Clube; Botafogo de Futebol e Regatas; América Football Club;
Club de Regatas do Flamengo; Club de Regatas Vasco da Gama; Football; Official Hymns; Popular
Hymns; Lamartine Babo.
10
SUMÁRIO
RESUMO.............................................................................................................................................8
ABSTRACT.........................................................................................................................................9
CAPÍTULO I - O PROBLEMA......................................................................................................14
Introdução........................................................................................................................................14
Objetivos do Estudo........................................................................................................................19
Objetivos do Geral..........................................................................................................................19
Objetivos Específicos......................................................................................................................19
Questões do Estudo.........................................................................................................................20
Justificativa da Pesquisa..................................................................................................................20
a) Justificativa Social da Pesquisa........................................................................................20
b) Justificativa Pessoal da Pesquisa......................................................................................24
Delimitação do Estudo....................................................................................................................26
CAPÍTULO II - OS CAMINHOS METODOLÓGICOS............................................................27
Tipo de Estudo................................................................................................................................27
Primeiro encaminhamento metodológico: análise documental e histórica dos hinos dos grandes
clubes do Rio de Janeiro.................................................................................................................27
Segundo encaminhamento metodológico: os torcedores e os hinos de seus
Clubes.............................................................................................................................................33
Amostra...........................................................................................................................................33
Instrumento
utilizado no estudo
e sua validação...............................................................................36
CAPÍTULO III - REVISANDO A LITERATURA E PROCEDENDO À ANÁLISE
DOCUMENTAL E HISTÓRICA..................................................................................................38
Hinos oficiais e seus contextos.......................................................................................................38
Fluminense Football Club...............................................................................................................43
Club de Regatas Botafogo..............................................................................................................53
11
Botafogo Football Club..................................................................................................................63
América Football Club...................................................................................................................68
Club de Regatas do Flamengo.........................................................................................................83
Club de Regatas Vasco da Gama.....................................................................................................87
A contribuição de Lamartine Babo para os clubes de futebol do Rio de
Janeiro............................................................................................................................................98
Fluminense Football Club............................................................................................................103
Botafogo de Futebol e Regatas....................................................................................................109
América Football Club.................................................................................................................112
Club de Regatas do Flamengo......................................................................................................118
Club de Regatas Vasco da Gama.................................................................................................125
O rádio como suporte de divulgação e disseminação da cultura futebolística carioca................129
CAPÍTULO IV - OS TORCEDORES E OS HINOS: RESULTADOS DO
ESTUDO.........................................................................................................................................132
Conhecimento dos torcedores sobre os hinos oficiais e populares................................................132
Gênero musical e características sócio-culturais dos hinos pesquisados.......................................137
Conhecimento dos torcedores sobre os autores dos hinos oficiais e populares.............................139
Conhecimento dos torcedores sobre os hinos oficiais de seu clube...............................................141
Fluminense Football Club..............................................................................................................141
Botafogo de Futebol e Regatas......................................................................................................143
América Football Club..................................................................................................................145
Club de Regatas do Flamengo......................................................................................................147
Club de Regatas Vasco da Gama..................................................................................................148
Dados biográficos dos autores do hinos........................................................................................150
Conhecimento dos torcedores, por faixa etária, sobre os hinos oficiais e populares....................151
Cronologia do hinário oficial e popular........................................................................................152
12
CAPÍTULO V - CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES.......................................................154
REFERÊNCIAS............................................................................................................................158
REFERÊNCIAS ICONOGRÁFICAS.........................................................................................166
13
APÊNDICE
(DVD) HINÁRIO DIGITAL DOS PRINCIPAIS CLUBES DE FUTEBOL DO RIO DE
JANEIRO.........................................................................................................................................170
LISTA DE ANEXOS
I – QUADROS AUXILIARES DA PESQUISA ............................................................................172
II – ROTEIRO DE ENTREVISTA..................................................................................................187
III – MODELO DE VALIDAÇÃO DO ROTEIRO DE ENTREVISTA.........................................189
IV – ROTEIRO DE ENTREVISTA VALIDADO..........................................................................194
V – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA PARTICIPAÇÃO EM
PESQUISA......................................................................................................................................196
VI - APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA...............................................................................200
VII - OBRA DE LAMARTINE BABO...........................................................................................202
VIII – DISCOGRAFIA DE LAMARTINE BABO.........................................................................206
IX - DEFINIÇÃO DE TERMOS.....................................................................................................208
14
CAPÍTULO I
O PROBLEMA
Introdução
Toda partida de futebol é constituída por gestualidades e sonoridades. Os passes, dribles,
chutes, carrinhos e abraços são gestos que no contexto de uma partida somam-se a apitos,
exclamações, gritos, advertências, palmas, vaias, cânticos, enfim, sons que proporcionam ao
espetáculo ritmo e cadência particulares à modalidade.
Dentro dos cânticos dos torcedores é comum verificarmos os hinos de seus clubes entoados
pelas torcidas que em alguns casos se eternizam tornando-se frequentes no repertório da plateia nos
estádios.
Para Sacks (2007), em seu livro “Alucinações musicais: relatos sobre a música e o cérebro”,
ouvimos música com nossos músculos, portanto não é apenas algo auditivo e emocional, é também
motor. Nietzsche, citado por Sacks (2007), diz que acompanhamos o ritmo da música,
involuntariamente, mesmo não prestando atenção a ela conscientemente, nosso rosto e postura
espelham a narrativa da melodia e os pensamentos e sentimentos que ela provoca. Os sentimentos
aflorados pelos hinos entoados pelos torcedores nos estádios, atrelados às circunstâncias em que
estes surgiram, estão ligados a diversos fatores sócio-culturais, motores e emocionais, que ajudam a
revelar elementos fundamentais da história dos clubes e que se entrelaçam com a história da
sociedade, trazendo à tona elementos importantes para manutenção da cultura regional e nacional.
Identificar o esporte como objeto de pesquisa na história significa recorrer a textos, imagens,
sons, objetos, cheiros, monumentos, equipamentos, vestes e tantas outras produções humanas como
possibilidades de compreender que ali estão inscritas sensações, ideologias, valores, mensagens e
preconceitos que permitem conhecer parte do tempo onde foram produzidos, através da intervenção
do pesquisador que, utilizando-se de uma forma narrativa, arranca-os de um esquecimento e os traz
para o tempo presente (MELO,1999).
No Brasil, país de dimensões continentais, que certamente tem a prática do futebol difundida
nos mais longínquos rincões nacionais, não se encontra na produção intelectual o mesmo
desenvolvimento da prática esportiva em si. Partindo-se da premissa que o futebol é um dos
fenômenos culturais mais difundidos no mundo de hoje, faz-se mister abandonar a sua aparente
simplicidade e perceber que por meio dele emerge uma série de elementos formais e emocionais
que estão presentes em vários campos do viver humano e nos auxiliam a compreender as diversas
15
contradições da sociedade brasileira e formular estudos e sugestões para um melhor
desenvolvimento do país em que vivemos (FRANCO JÚNIOR, 2007).
Existem diversas versões sobre a origem do futebol que, também, pode ser encontrado com
formas de jogos diversas, em várias civilizações antigas (TUBINO, 2007). Chineses, japoneses,
franceses, gregos e italianos reivindicam a paternidade do jogo, que tem registros em diferentes
períodos históricos desde a pré-história, como demonstra o Quadro 1A (Anexo I), porém foi na
Inglaterra, a partir de todas essas influências, que formatou-se o futebol moderno.
Berço da revolução industrial, a Inglaterra exportava não apenas uma longa série de
produtos industriais e de serviços, mas também fenômenos sociais e culturais, cuja origem inglesa
por si conferia ares de modernidade, como o jogo de futebol. Foi nesse contexto cultural que
nasceram muitos dos clubes que estariam dentre os grandes da história do futebol, como por
exemplo: Fluminense Football Club (FFC) em 1902, Botafogo Football Club (BFC) em 1904 e o
América Football Club (AFC) em 1904, como demonstra o Quadro 2A (Anexo I). A ausência do
Clube de Regatas Vasco da Gama (CRVG), fundado em 1898 e do Clube de Regatas Flamengo
(CRF) fundado em 1895, entre os 16 primeiros clubes de futebol do Brasil a implantarem o futebol
se dá, pelo fato dessas agremiações terem o remo como primeira modalidade implantada (Figura 1),
pois naquele período, ainda era o esporte mais praticado pela elite carioca, sob forte influência da
aristocracia inglesa, que já valorizava os benefícios trazidos pelo exercício físico (MÁXIMO,
2005/2006). O futebol chegaria ao CRVG em 1915 (CABRAL, 1998) e ao CRF em 1912 (COHEN,
2007) não perdendo mais o posto, de primeiro lugar na preferência dos torcedores até os dias de
hoje.
Figura 1 Remadores do CRVG na Av. Beira Mar, em frente à praia do Flamengo, em um dia chuvoso no Rio de
Janeiro em 1915.
Antes de retornar da Inglaterra para o Brasil em 1894, o jovem paulistano Charles Willian
Miller, filho de um engenheiro escocês aqui radicado, casado com uma brasileira, filha de ingleses,
16
trouxera em sua bagagem uma série de materiais: um livro de regras do Football Assoation, uma
camisa da equipe do Banister Court School e outra do St. Mary’s, duas bolas, um par de chuteiras e
uma bomba para encher as bolas (SOUZA et al, 1998), somado a isso veio também um forte desejo
de desenvolver o esporte entre seus pares. Antes disso, entre 1880 e 1890, jesuítas haviam
introduzido jogos com o Ballon Anglais. No colégio São Luís, de Itu, jovens da elite social
paulistana disputavam um jogo aparentado ao football association, denominado “bate bolão”, que a
partir de 1894 incorporava alguns elementos do futebol moderno: onze jogadores para cada lado,
traves de madeira e times uniformizados. Tal contexto histórico pode ser observado no Quadro 3A
(Anexo I).
A proliferação de clubes e times de futebol pelo país, sobretudo nas populosas cidades de
São Paulo e Rio de Janeiro, obedeceu basicamente a duas grandes tendências.
A primeira tendência, orientada pelos valores do cavalheirismo, do fair play e do
amadorismo, envolveu a elite da sociedade brasileira que buscava uma aproximação aos valores da
modernidade européia. Dois exemplos disso são o FFC, fundado em 1902, e o AFC do Rio de
Janeiro, fundado em 1904. Estes times foram fundados através de iniciativas ligadas a associações
atléticas que por sua vez estavam ligadas a estabelecimentos de ensino. Outros times surgiram a
partir de clubes independentes como a Ponte Preta, fundado em 1900, e o Botafogo Football Club,
fundado em 1904. Alguns clubes, dedicados a outras modalidades esportivas, introduziram o
futebol posteriormente como o Náutico que teve a modalidade incluída em 1909 e o CRF em 1911.
Colégios e clubes constituíam-se em espaços restritos de formação, lazer e sociabilidade. Nestes
espaços pretendia-se representar a pretensa superioridade da elite da sociedade brasileira (Figura 2),
que procurava se fortalecer, num movimento endógeno, por meio da difusão de vínculos de
solidariedade e do afastamento dos demais setores sociais.
Figura 2 – Torcedores na década de 1920, no estádio do FFC, no bairro de Laranjeiras, no Rio de Janeiro.
17
A segunda tendência demonstrou que as fronteiras sociais do futebol começaram a ser
transpostas desde cedo com a formação de times improvisados pelos setores populares que jogavam
com bolas desgastadas, em terrenos ainda não ocupados pelo processo de urbanização. O futebol
oportunizou a estes grupos uma inclusão negada, até então, em outras esferas sociais. Dentro ainda
da segunda tendência haviam clubes vinculados a empresas como, por exemplo, o Bangu Athletic
Club fundado em 1904, e ligado à Fábrica de Tecidos Bangu, onde os diretores não se opunham à
participação de negros na equipe, sendo esta agremiação a primeira a escalar afro-descendentes em
sua equipe (MÁXIMO, 2005/2006) (Figura 3). As empresas recrutavam funcionários que se
dedicavam cada vez mais ao clube afrontando o limite do amadorismo imposto pela elite da
sociedade nacional.
Figura 3 – O Bangu foi o primeiro time do Brasil a aceitar negros e mulatos, Rio, 1906.
O início da organização do futebol nacional assiste então a uma dupla concepção: a elitista e
a popular. A concepção elitista abrigou os ideais higienistas pelos quais podia-se perceber um
contexto de assepsia social, bastante propalado por intelectuais do período sendo Rui Barbosa um
deles (GHIRALDELLI JÚNIOR, 2007). Por sua vez a concepção popular tinha nos gestos
acrobáticos da temida capoeira e nas ações coletivas do ruidoso movimento operário, saberes,
expressões e habilidades que viriam a ser determinantes na maneira de se jogar futebol no Brasil. A
Figura 4, sintetiza muito bem a segregação social e racial existente no período. O regulamento
imposto aos sócios dos grandes clubes, resguardava as arquibancadas dos estádios à elite, enquanto
18
o resto da população era obrigada a acompanhar os jogos nos cumes dos morros que circundavam
os campos de futebol (MÁXIMO, 2005/2006).
Figura 4 Cariocas de origem humilde assistem a uma partida de futebol entre a Squadra Nazionale Italiana e um
combinado América-Fluminense, em 1914, no pico de um morro, pois eram proibidos de entrar nos estádios.
Foi a partir do início do ano 1930, com as coberturas jornalísticas de Mário Filho e as
locuções do radialista Ary Barroso (Figura 5), que o grande público passou a se vincular mais
fortemente a determinados clubes, dentro e fora dos estádios. Esse processo contribuiu para
transformar o futebol nacional em um grande espetáculo das multidões, estimulando a presença das
famílias nos estádios a fim de torcerem por seus times. A maior participação da sociedade nos
estádios acarretou na elaboração de símbolos como bandeiras, músicas, distintivos, flâmulas,
mascotes, grupos uniformizados e hinos (a definição desse termo, assim como de outros que são
fundamentais para o entendimento do estudo, encontra-se no Anexo IX), que eram utilizados para
incentivar e acompanhar os times de sua preferência. Paralelamente, o futebol era reconhecido pelos
novos governantes como eficiente meio de mobilização das massas e a seleção de futebol nacional
como ingrediente fundamental da representação da nacionalidade.
19
Figura 5Ary Barroso, declaradamente flamenguista, foi impedido pela diretoria do CRVG de entrar no estádio de São
Januário na década de 1930. Mesmo assim, pediu licença ao proprietário de uma casa vizinha ao Clube, subiu no
telhado, e de lá transmitiu o jogo.
A partir daí, na parte musical desse simbolismo, percebe-se um desconhecimento histórico
entre as mais diversas faixas etárias e gerações das diferenças entre hino oficial dos clubes e hinos
populares, como exposto no Quadro 4A (Anexo I), fazendo com que grande parcela desses
documentos históricos e registros fonográficos permaneçam no anonimato. Sendo assim este estudo
se propõe a tirar os hinos oficiais do anonimato e submetê-lo a análise comparativa com os hinos
populares, revelando a grande influência de Lamartine Babo para propagação desses últimos.
OBJETIVOS DO ESTUDO
Objetivo geral
Resgatar e analisar os hinos oficiais e populares dos grandes clubes de futebol do Rio de
Janeiro, investigando aspectos históricos de sua produção e divulgação, bem como contribuir para a
sua preservação e para a memória de seus autores, ressaltando a contribuição de Lamartine Babo.
Objetivos específicos
Levantar históricamente o período em que os hinos oficiais e os hinos populares surgiram
nos clubes pesquisados;
Analisar as letras das manifestações musicais pesquisadas, identificando aspectos sócio-
culturais e políticos que contribuam para o entendimento da evolução de nossa sociedade;
20
Identificar os autores das manifestações musicais pesquisadas e o contexto que motivou a
criação das obras;
Analisar a influência do compositor Lamartine Babo na construção e popularização dos
hinos populares dos clubes pesquisados;
Entrevistar pesquisadores da área esportiva e musical e também torcedores notáveis dos
times de futebol cariocas, buscando informações sobre Lamartine Babo, e os demais autores
dos hinos oficiais e populares;
Analisar o conhecimento de torcedores notáveis dos clubes de futebol carioca, sobre o
hinário de seus respectivos clubes.
Analisar o conhecimento por parte dos torcedores dos clubes de futebol carioca sobre a
figura de Lamartine Babo como compositor dos hinos populares;
Compilar material fonográfico e registro de partituras para exposição no meio acadêmico e
popular;
Compilar em DVD partituras e registros de áudio localizados por esta pesquisa ou feitos
para mesma;
Questões do estudo
Para o desenvolvimento do instrumento proposto como objetivo geral deste estudo, algumas
questões necessitaram ser investigadas:
Em que período e contexto histórico tais manifestações foram criadas?
Qual a relação entre os hinos populares e oficiais?
Os clubes pesquisados possuem registro de hino oficial e popular?
Qual a relevância dos hinos populares para a perpetuação da memória de Lamartine Babo?
Os torcedores dos clubes cariocas conhecem Lamartine Babo?
Os Clubes pesquisados reconhecem, estatutariamente, as manifestações oficiais e populares?
Os torcedores mais representativos dos clubes cariocas conhecem os hinos populares e
oficiais de seus próprios clubes?
Justificativa da Pesquisa
a) Justificativa Social da Pesquisa
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Considerando o forte conteúdo sócio-cultural, musical e esportivo que predomina na
sociedade carioca esta dissertação visa a valorizar e socializar estes aspectos da educação não
formal, apresentando-os de forma científica.
A partir da década de 1930 os meios de comunicação, com destaque para o rádio e a
divulgação nos alto-falantes instalados na década de 1950, no recém inaugurado estádio Mario
Filho, maior estádio do mundo até então, contribuíram para popularização dos clubes de futebol
cariocas e consequentemente suas marcas e simbolismos. Na década de 1940 o compositor e
radialista Lamartine Babo criou e divulgou em seu programa “O trem da alegria”, na rádio Maryink
Veiga, hinos populares dos clubes cariocas que tornaram-se amplamente conhecidos por suas
respectivas torcidas. A forte divulgação e aceitação dessas manifestações populares, parece ocultar
as manifestações musicais oficiais que em sua maioria, surgiram nos clubes cariocas no início do
século XX.
Parte da matéria publicada no segundo caderno do jornal “O Globo”, em 05 de março de
2006 (Figura 6), pelos jornalistas João Pimentel e Rogério Daflon, sob o título: “Hinos oficiais no
esquecimento”, mostra uma série de equívocos que ao longo do tempo contribuem para a falta de
esclarecimento, divulgação e perpetuação das obras oficiais.
A primeira situação exposta no texto da reportagem, aponta para o possível
desconhecimento dos torcedores sobre a existência dos hinos oficiais o que reitera de alguma forma
a relevância da presente pesquisa que pretende, entre outras coisas, comprovar cientificamente tal
fato e fornecer conteúdo acadêmico contemporâneo que ajude a preservar a memória dos clubes,
compositores e da sociedade em geral, já que, as histórias das entidades e personagens pesquisados
entrelaçam-se com a história do Rio de Janeiro e até mesmo com a história nacional.
A segunda situação pretende reforçar a importância dada aos hinos populares de Lamartine
Babo o que também será amplamente revisado e prestigiado nessa pesquisa, bem como chamar a
atenção para o enfoque dado aos hinos oficiais que na reportagem acabam ficando com uma
conotação ultrapassada e de qualidade duvidosa, quando os jornalistas afirmam que com exceção do
CRF, os demais clubes têm seus hinos oficiais absolutamente desconhecidos.
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Figura 6 – Matéria do jornal O Globo de 5 de março de 2006.
A abordagem feita nos hinos do BFR não esclarece ao leitor que a entidade reconhece
estatutariamente dois hinos oficias e um popular, portanto a obra oficial citada na matéria composta
por Eduardo Souto e Octacílio Gomes é o hino feito para o extinto (BFC) que fundiu-se ao Club de
Regatas Botafogo (CRB) que também possuía um hino feito a quatro mãos por Theophilo de
Magalhães e Alberto Ruiz e fundou o atual BFR. A falta de dados históricos na matéria causa no
leitor a falsa impressão de que a agremiação possui apenas um hino oficial e o hino popular de
Babo.
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Do CRVG é lembrado na matéria, apenas o primeiro hino oficial de Joaquim Barros Ferreira
da Silva e o hino popular de Lamartine Babo. Na análise dos jornalistas o primeiro hino oficial
aparece com qualidade inferior ao hino popular sem apresentar justificativa plausível para tal
afirmação e o segundo hino oficial de Ernani Corrêa e João de Feitas nem mesmo é citado.
Outro equívoco cometido pela matéria jornalística, está relacionado ao FFC, onde a
reportagem cita um trecho do primeiro hino oficial do clube, composto em 1915 por Coelho Netto
sobre a música de H. Williams It's a long, long way to Tipperary - canção popular muito cantada
e executada no Rio de Janeiro, durante a primeira guerra mundial, de 1914 a 1918, entre os soldados
da marinha britânica que ancoravam na Guanabara (COELHO NETTO, 2002). A matéria credita a
letra a Antônio Cardoso de Menezes Filho, autor na realidade do segundo hino oficial do clube,
composto em 1916, deixando em dúvida também a do ano em que o primeiro hino oficial da
agremiação foi composto.
Vale ressaltar que se trata de uma avaliação que simplificou em demasia o problema do
desconhecimento por parte dos torcedores, pois para que essa afirmação tivesse veracidade e valor
científico seria necessário uma pesquisa que levasse em consideração alguns elementos
fundamentais como, por exemplo: o período em que os hinos oficiais foram compostos, a
popularidade do esporte na Primeira República, a tecnologia de comunicação disponível para
divulgação das obras e o nível de profissionalismo que se encontrava o futebol naquele momento. A
exaltação aos hinos populares feita na reportagem foi importantíssima para perpetuação da memória
de Lamartine Babo e dos Clubes de futebol cariocas, entretanto perdeu-se uma boa oportunidade de
dar foco também à importância dos hinos oficiais como valiosos documentos históricos que revelam
elementos fundamentais para o entendimento de como se formou a sociedade carioca.
O presente estudo pretende promover uma interpretação a cerca dos hinos populares como
meio de perpetuação da memória de Lamartine Babo, junto a uma análise detalhada das letras dos
hinos populares e oficiais, e a atmosfera de criação dos mesmos, realçando as interações da história
dos clubes com a história do Brasil em nível regional e nacional, salientando os vínculos culturais
criados com diferentes classes sociais, auxiliando a sociedade a refletir sobre posturas e
posicionamentos que possam ter colaborado ou prejudicado o desenvolvimento das entidades
esportivas e da sociedade em geral.
Espera-se que o processo de revitalização e pesquisa do material em questão, venha
contribuir para um maior entendimento sobre a estreita relação que existe entre o futebol e a
sociedade brasileira permitindo reflexões relativas à estética, à ética, à lógica, pois, assim como em
outras formas culturais, o futebol expressa, repensa e reconstrói idealmente a sociedade, ainda que à
sua maneira, em outro registro, com instrumentos próprios.
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O amor ao futebol como disputa apaixonada faz com que se perca de vista o seu papel
transformador. Mas o fato é que o futebol tem sido uma ponte efetiva (e afetiva) entre a
elite que foi buscá-lo no maior Império Colonial do planeta, a civilizadíssima Inglaterra, e o
povo de um Brasil que, naqueles mil oitocentos e tanto, era constituído de ex-escravos.
Juntar brancos e negros, elite senhorial e povo humilde foi sua primeira lição. O futebol
demonstrou que o desempenho é superior ao nome de família e a cor da pele. Ele foi o
primeiro instrumento de comunicação verdadeiramente universal e moderno entre todos os
segmentos da sociedade brasileira. Ele tem ensinado a agregar e desagregar o Brasil por
meio de múltiplas escolhas e cidadanias. A segunda lição veio com seu desenho. Ele
exprime valores antigos (a idéia de que há sorte em todos os confrontos), mas é dele
também o ideal moderno do treino. Como uma atividade aberta, ele não discrimina tipos
físicos e classes sociais. O sujeito pode ser preto ou amarelo, alto ou baixo, culto ou
ignorante, mas o que interessa é que saiba jogar. Mais: seu foco não são as nobres mãos que
levam para o céu (como acontece no vôlei ou no basquete), mas os humildes pés que nos
atrelam ao chão e a terra. No futebol, o que carrega o nosso corpo transforma-se num
mágico instrumento capaz de enganar o adversário e de controlar e passar a bola. Como a
capoeira, o jogo do “pé na bola” trouxe a multidões de brasileiros a possibilidade de, ao
menos simbolicamente, inverter o jogo. No Brasil, ele abriu a possibilidade de trocar as
mãos pelos pés. O pé, associado à pata e à brutalidade das bestas de carga, muda de posição
no futebol. Nele usa-se o pé, sim, mas com método. Seguindo um regulamento que torna as
chuteiras de todos os tamanhos e feitios, iguais. E está sua lição mais importante: o
futebol civiliza o pé. Ele mostra que a parte aparentemente mais atrasada e bárbara do
corpo pode ser submetida não às sutilezas do jogo, mas à civilidade do saber ganhar e
perder sem ódio, de modo transparente e por esforço próprio. Sem a “mãozinha” dos
amigos ou parentes. Foi num campo de futebol, não num parlamento, que o povo brasileiro
teve a prova de como é maravilhoso juntar treino com talento; ordem com
imprevisibilidade; jogadas espetaculares com uma estrutura fixa; e, finalmente, o vitorioso
com o derrotado. No futebol, como na democracia igualitária, o ganhador não pode existir
sem o perdedor, que terá o triunfo amanhã, mas que hoje, na derrota, valoriza e legitima a
nossa vitória. (DAMATTA, Museu do Futebol, SP, 2008)
b) Justificativa Pessoal da Pesquisa
O motivo da escolha da temática da presente pesquisa, deve-se ao fato de minha atividade
profissional estar alicerçada em três pilares básicos que regem minha rotina docente atual, sendo
eles: a música, a Educação Física e o esporte. Essas três dimensões que sempre participam de
alguma forma de minha vida pessoal desde a infância, tiveram uma grande ressonância quando
ingressei no curso de licenciatura plena da Escola de Educação Física e Desportos (EEFD) da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e comecei a moldar e construir a minha carreira de
professor. No Departamento de Arte Corporal da Escola de Educação Física e Desportos (EEFD),
pude participar como músico bolsista, de um projeto de ensino, pesquisa e extensão em
manifestações folclóricas brasileiras, dirigido pela então professora Eleonora Gabriel.
A minha participação na Companhia Folclórica do Rio da UFRJ, se deu na década de 1990,
período em que a Educação Física ganhava um novo impulso com a promulgação da lei de
diretrizes e bases (LDB), de 20 de dezembro de 1996, onde se explicitou que a Educação Física,
integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular da Educação Básica, ajustando-
se às faixas etárias e às condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos
(BRASIL, 1996).
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O avanço alcançado com a nova lei, aliado ao lançamento dos Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCN) na segunda metade da década de 1990, trouxe uma nova dimensão à Educação
Física nacional, pois por ter sua origem atrelada a instituições militares e médicas, a prática e a
reflexão teórica, durante muito tempo, restringiu os conceitos de corpo e movimento, somente aos
seus aspectos fisiológicos e técnicos.
A distinção entre organismo – um sistema estritamente fisiológico – e corpo que se
relaciona dentro de um contexto sociocultural, trazida pelos Parâmetros Curriculares Nacionais,
permitiu que se considerasse também as dimensões cultural, social, política, e afetiva, presentes no
corpo vivo, que interagem como sujeitos sociais e como cidadãos. Portanto, o novo momento
entendeu a Educação Física como uma cultura corporal (BRASIL, 2000).
Nesse momento, além de compreender a importância que o meu instrumento musical, o
cavaquinho, teria no processo educacional, pude constatar também que o mesmo passava a ter
importância similar a ferramentas pedagógicas tradicionais e consagradas na Educação Física como
a bola, o halter, o apito e até mesmo o compasso de dobra cutânea ou a esteira ergométrica
(CASTRO, 2003a; CASTRO, 2003b), que décadas serviam a uma Educação Física mais voltada
ao desempenho atlético e menos preocupada com a formação de brasileiros críticos, saudáveis e
comprometidos socialmente.
O convívio no ambiente acadêmico e científico com o professor Manoel Tubino em
congressos, seminários, palestras e até mesmo como aluno do mesmo no curso de administração
esportiva da Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ), alimentou ainda mais o meu desejo de continuar a
colocar a música, a Educação Física e o Esporte juntos em minhas pesquisas. Foi quando comecei a
ministrar palestras, aulas magnas e apresentações em escolas, congressos e Universidades no Rio de
Janeiro, utilizando recursos da música e da Educação Física em conjunto, o que gerou um impacto
positivo entre acadêmicos importantes na Educação Física de diferentes especialidades. Naquele
momento vi a necessidade de um aprofundamento maior nos estudos e a necessidade de um
investimento nesse modelo que me gerava prazer, entusiasmo e demonstrava boa aceitação no corpo
discente. Ingressei no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Motricidade Humana, strictu
sensu, da Universidade Castelo Branco e sob a orientação do Professor Manoel Tubino resolvi
direcionar a pesquisa para análise dos hinos oficiais e populares dos principais clubes de futebol do
Rio de Janeiro.
A temática em questão, entre outras coisas, permitiu-me ampliar meus estudos a respeito do
compositor Lamartine Babo, personagem que sempre relacionou com muita competência na época
de ouro da Música Popular Brasileira (1929 a 1945) (CAYMMI, 2001), os universos da música e do
esporte em sua obra, o que se coaduna com o trabalho que venho realizando e com o impacto que a
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dimensão da cultura corporal vem dando à história da Educação Física brasileira a partir do ano
1990.
Delimitação do estudo
O estudo dos hinos oficiais e populares dos grandes clubes do Rio de Janeiro foi delimitado
aos seguintes clubes: FFC, BFR, AFC, CRF e CRVG, por terem relevante conteúdo histórico,
tradição e por possuírem hino oficial e hino popular o que se faz extremamente importante para o
desenvolvimento da pesquisa.
O AFC, apesar de não mais pertencer ao chamado grupo dos “grandes” do futebol carioca
está presente no estudo por sua importância histórica, que se confunde muitas vezes com aspectos
relevantes da história da cidade e de seus personagens, também por ser o clube de Lamartine Babo,
figura fundamental na elaboração e difusão dos hinos populares, presentes até os dias atuais nas
manifestações das torcidas das entidades envolvidas no estudo e no imaginário popular.
As manifestações musicais envolvidas no estudo foram também delimitadas aos hinos
populares e hinos oficiais dos clubes. Estes terão suas letras analisadas em suas dimensões sócio-
cultural e política. Na dimensão sociológica serão levados em consideração o momento histórico e
as circunstâncias em que foram compostas, além do impacto social causado pela manifestação
musical em nível regional. As opções melódicas, harmônicas, de andamento, estilo, cadência,
dinâmica e ritmo, escolhidas por autores, intérpretes, arranjadores e produtores nos registros dos
hinos, poderão ser citadas em alguns momentos por caracterizar alguma influência social que
marcou o período e deixou nas referidas músicas traços de um determinado momento histórico
vivido pelo país.
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CAPITULO II
OS CAMINHOS METODOLÓGICOS
Tipo de Estudo
O presente estudo foi desenvolvido segundo parâmetros de uma pesquisa qualitativa
(LÜDKE; ANDRÉ, 1986; DESLANDES, 2008) e com procedimentos que lhe conferem uma
perspectiva histórica.
Para o desenvolvimento da pesquisa foram adotados dois encaminhamentos metodológicos
que se complementam. O primeiro visou a levantar e analisar documentos e outras fontes históricas
fundamentais para o estudo e o segundo procurou verificar o conhecimento de torcedores notáveis
sobre os hinos de seus clubes. A revisão de literatura apresenta-se agregada ao primeiro
encaminhamento metodológico, num diálogo com documentos e fontes históricas.
Primeiro encaminhamento metodológico: análise documental e histórica dos hinos dos
grandes clubes do Rio de Janeiro
Neste encaminhamento foram adotados os seguintes procedimentos técnicos:
a) visitas investigativas às instituições representativas do futebol (Clubes, Bibliotecas,
Museus, Escolas, Fundações, Editoras, Ordens e Acervos de áudio virtuais), visando a obter
documentos para o estudo;
b) contatos e entrevistas com personalidades do futebol e da música para obtenção de
indicação de fontes e de dados documentais;
c) análise das fontes históricas;
d) análise dos hinos oficiais e seus autores;
e) análise dos hinos populares compostos por Lamartine Babo.
A pesquisa de campo do estudo em questão foi realizada mediante a visitações a museus, a
bibliotecas, a centros culturais, a clubes e a outras entidades, onde foi possível coletar diversos
dados relevantes, tais como: partituras, documentos históricos, registros de áudio, bibliografias que
contribuíram para a fundamentação teórica. Foram realizadas entrevistas com pessoas (familiares,
amigos, maestros, músicos) ligadas aos clubes de futebol e/ou aos autores dos hinos oficiais e
populares.
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Após a aquisição das partituras dos hinos oficiais e populares dos clubes, buscou-se gravar
registros de áudios a partir dessas partituras, uma vez que não foram encontrados todos esses
registros, seja na internet, nas entidades e em CD. Para isso, solicitou-se o serviço de músicos
profissionais.
Para melhor entendimento acerca das partituras originais e não-originais encontradas, além
das partituras que foram feitas pelo arranjador Maurício Verde (Ordem dos Músicos do Brasil
OMB 29027 RJ) especialmente para esta dissertação, foi elaborado o Quadro 5A (Anexo I), que
engloba todas as pessoas e instituições que cederam partituras para a pesquisa.
A análise documental e histórica foi baseada em fontes primárias tais como: artigos, livros,
discos, partituras dos hinos populares e oficiais, dissertações e teses pertinentes ao tema
desenvolvido nesta pesquisa.
Apesar do Museu do Futebol (2008) ser a referência contemporânea mais organizada em
relação à forma de se classificarem os hinos, nele não registros e distinção entre primeiro,
segundo hino oficial e hino popular dos clubes de maneira uniforme. A pesquisa sugere, portanto, a
padronização obedecendo ao critério de data de composição e quando a data de composição da obra
for desconhecida será obedecido o ano de fundação dos clubes pesquisados:
a) “primeiro hino oficial”: o mais antigo registrado pelos clubes;
b) “segundo hino oficial”: de datas posteriores ao primeiro hino e registrado pelo clube;
c) “hinos populares”: aqueles compostos por Lamartine Babo, na década de 1940.
Lamartine Babo compôs sozinho todos os hinos populares, com exceção do hino do FFC
que teve a parceria de Lírio Panicalli.
No transcurso da pesquisa, foi considerado como primeiro hino oficial do BFR, o hino do
Remo, de Theóphilo de Magalhães e Alberto Ruiz. E o segundo oficial, o do futebol “Glorioso” de
Eduardo Souto e Octacílio Gomes. O primeiro é datado de 1921, o segundo tem seu ano
desconhecido. Neste caso, o critério utilizado pela pesquisa para determinar qual dos hinos seria o
primeiro ou o segundo foi a data de fundação dos dois Clubes – (CRB) (1894) e (BFC)(1904) – que
em 1942 iriam se fundir em BFR (CASTRO; VALLADÃO, 2008).
Para cada hino, foram abordadas as temáticas: história dos clubes, o contexto em que foi
composto o hino, a biografia de seus autores, análise da partitura, letra, registros de áudio e
pesquisa de campo. Todos os autores do hinário oficial e popular foram citados, porém em alguns
casos a biografia não foi encontrada.
A análise dos hinos foi realizada através de uma observação sistemática que contemplou as
dimensões histórica, cio-cultural e política. Um pré-requisito para tal análise foi o estudo das
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manifestações musicais oficias dos clubes, o contexto em que foram feitas e a biografia de seus
compositores já que as manifestações oficiais não foram feitas por um só autor.
O material a respeito dos hinos populares e oficiais foi obtido através de visitação e/ou
contato formal com as mais representativas instituições para a pesquisa, listadas a seguir em ordem
alfabética:
Academia Brasileira de Letras do Rio de Janeiro;
AFC;
Biblioteca do Exército;
Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro;
BFR;
CRF;
CRVG;
Colégio Santa Mônica;
Collector’s Studios Ltda. (Virtual);
Companhia Industrial de Discos (CID/RJ);
Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ);
Escritório de Arrecadação de Direitos Autorais (ECAD/RJ);
Fermata do Brasil Editora de São Paulo;
FFC;
Fundação Nacional de Arte (FUNARTE/RJ)
Instituto Cultural Cravo Albin (ICCA/RJ);
Irmãos Vitale Editora Brasileira de Música;
Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro;
Museu do Futebol do Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho (Pacaembu)
São Paulo;
Ordem dos Músicos do Brasil (OMB/RJ);
Real Gabinete Português de Leitura;
Revivendo Musicas Ltda. (Virtual);
Sociedade Brasileira de Autores, Compositores e Escritores de Música
(SBACEM/RJ);
Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (SBAT/RJ);
União Brasileira dos Compositores (UBC/RJ);
Warner / Chappell editora musical do Rio de Janeiro.
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Além das visitações foram realizadas gravações e filmagens com jornalistas, radialistas,
músicos, escritores e familiares dos autores em questão, que documentaram ou tinham alguma
informação relevante sobre o conteúdo pesquisado. O autor também contratou profissionais que
prestaram serviços fundamentais para melhor apresentação dos resultados obtidos. Em ordem
alfabética, foram eles:
Abi Rian – Radialista e apresentador de televisão;
Afonso Carvalho – Empresário da cantora Beth Carvalho;
Alfinete (Paulo César Barreiros) Campeão brasileiro de futebol pelo CRVG em
1974;
Amaury Santos – Produtor e apresentador da rádio MEC;
Ana Cristina Nogueira – Mesa diretora do Conselho Deliberativo do BFR;
André Luiz Giannini – Diretor social do AFC;
Antônio Brás da Silva Neto Encarregado de serviços da Escola de Educação
Física e Desportos da UFRJ e ex-presidente da torcida organizada: “Força Jovem”
do CRVG;
Bival Farias – Arranjador e Músico profissional;
Carlos Alberto Parizzi Assessor de imprensa da Secretaria Municipal de Esporte e
Lazer do Rio de Janeiro, jornalista da rádio Manchete;
Chico Pinheiro – Jornalista e apresentador de televisão;
Claudia Moppe – Designer Gráfico;
Denise Soares de Castro – Desenvolvedora Multi-mídia;
Eduardo Souto Neto Maestro, Compositor e neto do Maestro Eduardo Souto (um
dos autores do hino oficial do BFR e também um dos fundadores do clube);
Eralda Savielli Guimarães – Responsável pelo departamento histórico do AFC;
Fernando Bastos do Valle Autor do livro: “Campos Salles, 118 “A história do
América” e “América: Antologia lírica de um sentimento obstinado”;
Francisco Fonseca Filho – Engenheiro e vice-presidente de Patrimônio do BFR;
Hilton Mattos Jornalista do Jornal do Brasil/RJ e autor do livro Heróis do
Cimento;
Humberto da Rocha Viana Responsável pelas categorias de base do futebol do
CRVG;
Igor Alves de Melo – Professor de Educação Física e pesquisador;
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Jéssica Oliveira Babo de Castro – Parente de Lamartine Babo;
Júlio Gomes Filho (July) – Ex-advogado do CRF;
Louise Ramos Pinto Babo – Parente de Lamartine Babo;
Luiz André – Técnico de Basquete do FFC;
Márcia da Mota Medeiros Secretária do Núcleo administrativo e financeiro do
Museu do Futebol de São Paulo;
Márcia Cláudia Figueiredo – Bibliotecária FUNARTE;
Marcos Tavares Técnico de natação do Colégio Santa Mônica e do BFR e diretor
da Federação Aquática do Rio de Janeiro (FARJ);
Maria Madalena Pinto Velloso – Conselho deliberativo do BFR;
Marli dos Santos Supervisora de Direitos Autorais da Companhia Industrial de
Discos (CID);
Maurício Uzum Professor de música, e pesquisador de hinos de clubes brasileiros
de futebol;
Maurício Verde - Arranjador e músico profissional;
Matusalem F. de Freitas – Professor de Educação Física e locutor;
Miguel Ferreira Pereira – Campeão brasileiro de futebol pelo CRVG em 1974;
Miro Ribeiro – Radialista;
Nelson Rosa de Oliveira – Coordenador Técnico das categorias de base do CRVG;
Olga Muniz Freire Bortolozo Neta de Freire Júnior (um dos autores do primeiro
hino oficial do AFC);
Osmar Frazão – Radialista;
Oswaldo Sargentelli Filho Radialista, filho do produtor cultural Oswaldo
Sargentelli e sobrinho de Lamartine Babo;
Luiz Cláudio Babo – Parente de Lamartine Babo;
Pedrinho Cavallero Músico, sobrinho-neto de Theóphilo de Magalhães autor do
hino oficial do (CRB);
Regina Beatriz Assunção - Bibliotecária FUNARTE;
Ricardo Cravo Albin - Radialista, jornalista, escritor e musicólogo;
Rosalina André Cardoso Esposa de Luiz Babo (falecido), primo de Lamartine
Babo;
Sérgio Cabral – Jornalista e Escritor;
Sérgio Roberto dos Santos – Bibliotecário da Sociedade Brasileira de Autores
Teatrais (SBAT/RJ);
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Susana Ribeiro - assessora de imprensa da cantora Beth Carvalho;
Tatiana Brayner – assessora de imprensa da cantora Beth Carvalho;
Tereza Marques de Oliveira Lima – pós-doutora em literatura norte-americana;
Vicente Salles – Sociólogo;
Wagner Pazini – Direitos Autorais da Editora Fermata do Brasil.
O projeto de pesquisa desta dissertação intitulada “Hinos Oficiais e Hinos Populares como
representações simbólicas dos principais Clubes de futebol do Rio de Janeiro: a contribuição de
Lamartine Babo” foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (COMEP) da
Universidade Castelo Branco, atendendo o disposto na Resolução 196/96 do CNS. Foi também
aprovado na última fase avaliativa, em 11/03/09 pelo sub-comitê de ética da área específica, sob
protocolo 0032/2009 UCB/UREPGPE/COMEP/PROCIMH (Anexo VI).
Procurou-se apresentar uma síntese, no Quadro 6A (Anexo I), com o ano de composição dos
hinos e suas características melódicas. Essas informações foram extraídas das próprias partituras, de
literaturas que tratam da temática ou, ainda, classificadas pelo autor após ouvir os registros de
áudio. As obras foram classificadas melódicamente em marchas marciais e populares, exceto o
primeiro hino oficial do BFR, que trouxe uma classificação na capa da partitura que sugere a
execução da obra em polka-marcha ou rag-time.
Para um melhor entendimento, interpretação e análise, a pesquisa também categorizou os
hinos de acordo com as características cio-culturais das letras, como se pode observar no
transcurso do texto e sintetizados no Quadro 7A (Anexo I). Ocorreu de alguns hinos estarem
classificados em mais de uma categoria, dentro desta pesquisa descritiva. Abaixo estão relacionadas
as categorias das letras:
- Bélica: as composições que fazem do time de futebol um batalhão de soldados em marcha
para defesa da honra ou para busca da “glória”, numa espécie de substituição do campo de futebol
pelo de batalha. Virilidade, altivez, coragem e sacrifício são os principais atributos dos jogadores
nas músicas, assemelhando-se, em todos os aspectos, aos hinos patrióticos repetidos pelos exércitos
do século XIX
- Higienista: influência do pensamento higienista, repleto de trechos discriminatórios:
assepsia, limpeza, viril, saúde, nova raça, são comuns nos hinos e muito usados por intelectuais do
início do século XX, que acreditavam que os obstáculos impostos pela base racial brasileira eram
insuperáveis.
- Sacralizada: quando são utilizadas palavras de origem sagrada, como: consagrada,
sacrossanta, baptismo, uncção, o que pode ser visto através da expressão artística, como início ou
continuação de uma relação religiosa, mística e cósmica com o jogo de futebol.
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- Histórico-narrativa: expressam, através de construções simbólicas específicas, a formação
das entidades ou até mesmo características naturais dos bairros onde ocorreu a gênese das
agremiações, imprimindo características peculiares às obras.
Segundo encaminhamento metodológico: os torcedores e os hinos de seus clubes
O segundo encaminhamento visou a obter informações sobre o conhecimento dos hinos por
parte de uma amostra de torcedores notáveis dos considerados grandes clubes do Rio de Janeiro,
incluindo-se o AFC pela sua relevância histórica. Neste caso, foi seguida uma linha descritiva e
recorreu-se à entrevista semi-estruturada com torcedores representativos e de destaque de cada
clube, conforme um roteiro devidamente validado (Anexo II).
A entrevista, para Lüdke e André (1986), realizada com indivíduos ou grupos, permite
correções, esclarecimentos e adaptações que a torna eficaz, diferentemente de outros instrumentos
que tem “seu destino selado” no momento em que saem das mãos do pesquisador.
A entrevista semi-estruturada compõe o rol de instrumentos da pesquisa qualitativa. Este
tipo de pesquisa, segundo Deslandes (2008), trabalha com o universo dos significados, dos motivos,
das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes. Para a mesma autora, esse conjunto de
fenômenos é entendido como parte da realidade social.
Portanto, este encaminhamento metodológico possibilitou verificar o conhecimento de
torcedores representativos sobre os hinos de cada clube e obter outras possíveis observações
relevantes.
Amostra
O critério escolhido para decidir o grupo de entrevistados foi o de que a amostragem
realmente refletisse o espírito das agremiações estudadas através dos personagens escolhidos.
A amostra foi composta por 25 torcedores notáveis que tivessem forte identificação com seu
clube carioca de futebol, sendo 5 de cada clube, obedecendo aos critérios abaixo:
1 jornalista esportivo;
1 personalidade do meio artístico-cultural carioca (torcedor da área musical);
1 dirigente do clube;
1 jogador/ ídolo;
1 “torcedor símbolo” da torcida indicado pelos demais entrevistados ou um torcedor
que conste na literatura e tenha grande representatividade junto ao clube pesquisado.
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Com relação ao último componente da amostra, esse torcedor de cada clube foi indicado
pelos demais pesquisados, que apontaram um “torcedor símbolo” da torcida de sua respectiva
agremiação. O critério adotado pelo autor da pesquisa nessa questão foi o de entrevistar o torcedor
que obteve o maior número de indicações dos outros 4 entrevistados. Caso cada entrevistado
indicasse um “torcedor símbolo” diferente, a definição do quinto entrevistado seria feita pelo
próprio autor da pesquisa.
A pesquisa de campo, para Gil (2006), pode ser definida como um processo formal e
sistemático do desenvolvimento do método científico, buscando descobrir respostas para problemas
mediante o emprego de técnicas de pesquisa, a qual permite ainda a obtenção de novos
conhecimentos no campo da realidade social.
Este tipo de pesquisa procura o aprofundamento das questões propostas ao invés de simples
distribuição das características. Estuda um único grupo ou comunidade ressaltando a interação entre
seus componentes. O estudo apresenta certa flexibilidade, podendo ocorrer mesmo que seus
objetivos sejam reformulados ao longo do processo de pesquisa (GIL, 2006).
Os entrevistadores, o autor e um auxiliar de pesquisa, foram ao encontro de 22 notáveis,
pessoalmente, restando 3 notáveis que puderam conceder a entrevista pelo telefone. As
entrevistas foram gravadas em aparelho MP3, filmadas, quando permitido pelos entrevistados, e
transcritas posteriormente. Ao final da entrevista, todos assinaram o Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido para Participação em Pesquisa (Anexo V), e os que fizeram por telefone, enviaram os
documentos pelo correio.
Abaixo são relacionados os 25 notáveis entrevistados, divididos por seus respectivos clubes
e identificados por sua atividade profissional:
Fluminense Football Club
Jogador Gerson (ex-jogador da seleção brasileira de futebol e comentarista da Rede
Bandeirantes);
Jornalista – Alexandre Bittencourt (assessor de impressa do clube);
Dirigente – Ailton Bernardo Ribeiro (diretor de futebol);
Artista – Ivan Lins (intérprete e compositor);
Torcedor – Heitor D
,
alincourt (torcedor símbolo).
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Botafogo de Futebol e Regatas
Jogador – Jairzinho (ex-jogador da seleção brasileira de futebol);
Jornalista – Waldir Luiz (jornalista da Rádio Nacional);
Dirigente – Maurício Assumpção (presidente do clube);
Artista – Beth Carvalho (intérprete);
Torcedor – Móthel Santoro (ex-presidente da Torcida Jovem do Botafogo).
América Football Club
Jogador – Luizinho Lemos (ex-jogador do clube);
Jornalista Marcelo Castilho (assessor de imprensa do clube e ex-apresentador do telejornal do
SBT);
Dirigente – Ulisses Salgado (médico e presidente do clube);
Artista – Dona Ivone Lara (intérprete e compositora);
Torcedor – Dario Meireles (fundador da torcida Inferno Rubro).
Club de Regatas do Flamengo
Jogador – Júnior (ex-jogador da seleção brasileira de futebol e comentarista da TV Globo);
Jornalista – João Pimentel (crítico musical do jornal O Globo);
Dirigente – Júlio Gomes (advogado e ex-vice-presidente jurídico do clube);
Artista – Sandra de Sá (intérprete e compositora);
Torcedor – Marcelo Anjinho (torcedor símbolo).
Club de Regatas Vasco da Gama
Jogador – Roberto Dinamite (presidente do clube);
Jornalista – Roberto Garófalo (fundador dos Jogos Intercolegiais do Jornal O Glogo/RJ e ex-
assessor de imprensa do CRVG na gestão do ex-presidente Eurico Miranda);
Dirigente Humberto da Rocha Viana (Diretor de Futebol de Base e Neto do compositor
Pixinguinha)
Artista – Aldir Blanc (compositor e escritor);
Torcedor – Ferreirinha (torcedor símbolo e neto da cantora Bibi Ferreira).
36
Instrumento utilizado no estudo e sua validação
Segundo Rudio (1986), chama-se “instrumento de pesquisa” o que é utilizado para a coleta
de dados, e que para a confiança em obter as informações precisa ter as qualidades de validade e
fidedignidade. Rudio (1986) afirma ainda que o instrumento é válido quando mede o que se propôs
a medir.
O instrumento utilizado no estudo em questão foi um roteiro de entrevista (Anexo II) que,
segundo Gil (2002), é um conjunto de questões a serem respondidas pelo pesquisado, elaborado e
organizado pelo próprio autor a partir das questões de estudo.
Foi encaminhado a três doutores em Educação Física, considerados notórios na área, que
atuaram como validadores do referido instrumento (Anexo III). As sugestões de reformulação, e
validação, das questões foram atendidas e realizadas com a supervisão do orientador desta pesquisa
(Anexo IV).
Depois de validado, o roteiro foi aplicado nas entrevistas aos componentes da amostra, as
quais foram gravadas e transcritas, para serem apresentadas e analisadas no Capítulo III e nos
resultados dessa pesquisa.
Com o objetivo de oferecer uma visão geral desta dissertação e nela os encaminhamentos
metodológicos adotados, é apresentado a seguir, como fechamento deste capítulo, o Quadro 1 com
o esquema de organização e desenvolvimento de todo o estudo.
37
Quadro 1 - Esquema de Organização e Desenvolvimento do Estudo.
CAPÍTULO I – O PROBLEMA
Introdução
Objetivos do Estudo
Objetivo Geral
Objetivos Específicos
Questões do Estudo
Justificativa e Relevância do Estudo
Delimitação do Estudo
CAPÍTULO II – OS CAMINHOS METODOLÓGICOS
Tipo de Estudo
Primeiro encaminhamento metodológico: análise documental e histórica dos hinos dos grandes
clubes do Rio de Janeiro
Segundo encaminhamento metodológico:
os torcedores e os hinos de seus Clubes
Amostra
Instrumento utilizado no estudo e sua validação
CAPÍTULO III
REVISANDO A LITERATURA E
PROCEDENDO À ANÁLISE DOCUMENTAL
E HISTÓRICA
Hinos Oficiais e seus contextos
Fluminense Football Club
Club de Regatas Botafogo
Botafogo Football Club
América FootBall Club
Club de Regatas do Flamengo
Club de Regatas Vasco da Gama
A contribuição de Lamartine babo para os clubes de
futebol do Rio de Janeiro
Fluminense Football Club
Botafogo de Futebol e Regatas
América Football Club
Club de Regatas do Flamengo
Club de Regatas Vasco da Gama
O rádio como suporte de divulgação e disseminação
da cultura futebolística carioca
CAPÍTULO IV
OS TORCEDORES E OS HINOS:
RESULTADOS DO ESTUDO
Conhecimento dos torcedores sobre os
hinos oficiais e populares
Gênero musical e características sócio-
culturais dos hinos pesquisados
Conhecimento dos torcedores sobre os
autores dos hinos oficiais e populares
Conhecimento dos torcedores sobre os
hinos oficiais de seu clube
Fluminense Football Club
Botafogo de Futebol e Regatas
América Football Club
Club de Regatas do Flamengo
Club de Regatas Vasco da Gama
Dados biográficos dos autores dos hinos
Conhecimento dos torcedores, por faixa
etária, sobre os hinos oficiais e populares
Cronologia do hinário oficial e popular
CAPÍTULO V – CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
38
CAPÍTULO III
REVISANDO A LITERATURA E PROCEDENDO À ANÁLISE DOCUMENTAL E
HISTÓRICA
Neste capítulo buscou-se uma análise documental, seguindo-se dos registros dos hinos
Oficiais e Populares nos seus contextos das épocas de elaboração, evidenciando-se a contribuição
dos seus autores com ênfase em Lamartine Babo e ainda apresentou-se a ação do rádio como
suporte na divulgação e disseminação dos principais clubes de futebol do Rio de Janeiro.
A análise documental partiu do estudo e pré-organização de amplo material a respeito de
Música Popular Brasileira, Educação Física e Esporte, que o autor possuía de pesquisas
anteriores e que foi sendo acrescido por artigos, livros, discos, partituras dos hinos populares e
oficias, dissertações, teses pertinentes ao tema desenvolvido coletados em bibliotecas, museus,
sebos, universidades, clubes de futebol, sociedades arrecadadoras de direito autoral, ordens,
sindicatos, conselhos ligados a música ou a Educação Física e também em entrevistas filmadas ou
simplesmente gravadas com pessoas ilustres que conviveram com os autores das obras oficiais e
populares ou possuíam amplo conhecimento sobre os mesmos.
A pesquisa de campo realizada com os cinco notáveis de cada clube permitiu um
aprofundamento ainda maior, pois surgiram fatos, personagens e dados que foram cruciais para
solucionar questões e encontrar documentos que ainda faltavam para uma análise mais detalhada e
criteriosa. A análise inicial deste material permitiu ao autor traçar os objetivos com mais precisão e
clareza, definindo metas e delimitando adequadamente o estudo.
Hinos oficiais e seus contextos
Não se podem analisar em profundidade os hinos populares compostos por Lamartine Babo
e seu respectivo impacto social, sem antes mergulharmos no simbolismo e na história precursora
dos hinos oficiais dos clubes de futebol do Rio de Janeiro e de seus autores, que de alguma forma,
ajudariam a construir o fenômeno mundial que pouco tempo depois se tornaria o futebol brasileiro.
Da mesma forma que o hino oficial de uma nação desperta em seu povo o sentimento de
identidade e pertencimento, criando um vínculo coletivo em que se experimenta magicamente a
nação em si mesmo (BERG, 2008), o hino de um clube de futebol desperta sentimento similar no
torcedor. Bandeiras, flâmulas, mascotes e uniformes portam-se como ícones visuais de um
determinado clube, enquanto, os hinos entoados pelas torcidas apresentam-se como ícones musicais
de identidade coletiva que constroem e reconstroem sistematicamente a paixão do torcedor. Ao
cantá-lo em consonância, o torcedor torna o time mais próximo de si, mais acessível ao seu
39
imaginário através de sua representação. Cantar o hino em uníssono nos estádios em favor de seu
time é deixar o corpo ser apropriado pela cultura (MEDINA, 1990), sendo assim suporte de um
signo social que representa resistência, liberdade e defesa da honra e da glória.
Os hinos oficiais descritos no presente trabalho foram provavelmente todos compostos no
período da Primeira República Brasileira (1889/1930), momento de amadorismo em que o futebol
nacional ainda estava em fase de consolidação no país. A seleção da copa do mundo de 1930, a
primeira competição internacional como tal, decepcionou muito os torcedores brasileiros,
reforçando a sensação de “amadorismo brasileiro”.
A República Velha, como também era conhecida, serviu de cenário inspirador para os
autores dos hinos oficias dos principais clubes de futebol do Rio de Janeiro. O segundo hino oficial
do CRVG e do BFR, são as únicas obras cuja pesquisa não chegou a algum registro que comprove
suas datas de criação, porém ambas guardam características que as aproximam muito dos hinos
oficiais permitindo-nos agrupá-las nessa dimensão para uma análise conjunta.
No início da Primeira República foi estabelecido um governo provisório, liderado pelo
então Marechal Deodoro da Fonseca que estabeleceu algumas mudanças estruturais no país como a
reforma do código penal, a separação da igreja e do estado, a naturalização dos estrangeiros
residentes no país, a anulação do senado vitalício entre outras. Em 24 de fevereiro de 1891 foi
promulgada a primeira constituição da República do Brasil, quando então, estabeleceu-se a
Federação dos estados, o sistema presidencial, o casamento civil, a separação dos poderes e a
autonomia dos estados e municípios. O crescente fortalecimento político e econômico das
oligarquias agrárias, que se encontravam insatisfeitas com o modelo ditatorial imposto pelos
presidentes militares, leva ao poder o presidente Prudente de Morais gerando o fortalecimento da
República Oligárquica, intimamente relacionada aos interesses da aristocracia cafeeira, que
representava a elite financeira do Brasil naquele período.
Segundo Tubino (2002), foi nesse período que surgiram no país as principais modalidades
esportivas. O remo, que vinha sendo praticado desde o Império, desenvolveu-se muito com a
fundação dos clubes e tornou-se o principal esporte no país até as primeiras décadas do século XX.
Entre o final do século XIX e o início do século XX surgiram a natação competitiva, o basquetebol,
o tênis, o futebol, e a esgrima.
Mais adiante, entre os anos 1915 e 1922, período que assistiu a relevantes episódios da
história nacional como a promulgação do código civil brasileiro, a epidemia da gripe espanhola
(HOCHMAN e LIMA, 1996), que enlutou centenas de milhares de famílias e a deflagração da
primeira guerra mundial no governo do presidente Venceslau Brás (1914/1918), surgem os hinos
oficias dos clubes cariocas que nesse momento tinham o futebol como primeiro esporte em
preferência popular. O pioneirismo do FFC e do AFC, na composição de hinos em 1915 inaugura
40
um diálogo entre dois dos maiores representantes da identidade nacional na atualidade: a música e o
futebol. Unidas essas manifestações refletem com incrível precisão, boa parte do nosso imenso
universo sociocultural e da nossa “brasilidade” (BRANCO, 2006).
Ao analisarmos a letra dos hinos oficias compostos no período da primeira república
brasileira, verificamos duas características básicas e predominantes que forjaram aspectos
semelhantes nas manifestações, permitindo-nos agrupá-las.
A primeira característica é a forte influência do pensamento higienista do período nas letras
dos hinos. Termos como: assepsia, limpeza, viril, saúde, nova raça, presentes nos hinos eram muito
usados por intelectuais do período que acreditavam que os obstáculos impostos pela base racial
brasileira eram insuperáveis. “As medidas para o branqueamento da sociedade brasileira, iniciadas
na segunda metade do século XIX, haviam transformado o Centro-Sul em um mosaico de colônias
de imigrantes europeus” (FRANCO JÚNIOR, 2007, p. 70).
Influenciados por teóricos como Gobineau, Agassiz e Le Bon, os intelectuais brasileiros
viam num programa intenso de imigração uma saída favorável para nação brasileira. Nessa
perspectiva, o grande problema da nacionalidade radicava-se no povo que, no limite, deveria ser
substituído (CARVALHO, 1994; SKIDMORE, 1976). Nesse período tentou-se também resolver o
problema da saúde pública através da educação ampliando-se a discussão a respeito do papel
higienizador da Educação Física tão propalada nos célebres pareceres de Rui Barbosa, que
abordavam a necessidade de mais atividades físicas nas escolas e indiretamente valorizavam as
práticas esportivas para os brasileiros em geral. Naquela época, o esporte e a Educação Física eram
considerados concomitantemente, não ocorrendo uma distinção teórica. Apesar disso, as
competições esportivas aconteciam isoladamente começando a receber uma interpretação
independente das sessões de Educação Física (TUBINO, 2002).
A segunda característica que podemos salientar é a presença do futebol brasileiro como
substituto da atividade bélica nas letras dos hinos oficias. Quase todas as composições desse
período inicial fazem do time de futebol um batalhão de soldados em marcha para defesa da honra
ou para busca da “glória”, numa espécie de substituição do campo de guerra. Virilidade, altivez,
coragem e sacrifício são os principais atributos dos jogadores nas músicas que falam sobre o futebol
nesse período, assemelhando-se, em todos os aspectos, aos hinos patrióticos repetidos pelos
exércitos desde os rompantes nacionalistas do século XIX (BRANCO, 2006).
41
Sobre a importância da música como fator de elevação do moral militar e do espírito de
corpo, Basílio Magno da Silva, citado por Cláudio Moreira Bento (“Amor Febril”, Porto
Alegre, 1990), escreveu: “Nenhuma atividade pode tirar da música maior proveito do que a
atividade militar, à qual a música serve de refrigério de suas agruras naturais e do lenitivo
natural de suas realidades épicas” (Revista “A Defesa Nacional”, 1933). A música militar é
alimento e estímulo da alma do soldado. Assim dizia, em face dos cantos de caserna, o
saudoso Jonas Correia. (MEIRA ; SCHIRMER, 2000)
Para Ferreira (1999), a palavra “marcial” significa: aguerrido, belicoso, relativo a militares
ou a guerreiros, mas não as letras lembram a atividade bélica. As partituras originais dos hinos
oficiais do AFC e do primeiro hino oficial do FFC (Apêndice; 1 e 3), por exemplo, trazem a palavra
marcial apontando o estilo que deve ser seguido pelos músicos executantes. São obras marcializadas
que quando tocadas despertam um sentimento relacionado a questões militares o que acaba sendo
reforçado pelas letras com características bélicas nos levando a uma atmosfera de batalha ou de
preparação para guerra. O maestro Eduardo Souto Neto (2008), ressalta as características marciais
da música feita pelo seu falecido avô, o também maestro Eduardo Souto, para o hino oficial do
BFC, salientando que naquele período os hinos tinham essa característica melódica. Ao escutar os
registros de áudio de todos os hinos oficiais catalogados por esta pesquisa, o maestro afirma que
somente o segundo hino oficial do CRVG possuía elementos que o enquadravam como uma marcha
popular, sendo todos os demais marciais em sua dimensão melódica (SOUTO NETO, 2008).
Segundo Marisa Lira, a marcha - como dança - tão apreciada nos festejos carnavalescos é
bem diferente da sua congênere militar, desenvolvida através de Hinos e Dobrados, mas
tanto a marcha tradicional como o frevo tiveram seus primeiros passos guiados pelas
bandas de música das corporações militares do século passado (XIX). A marchinha
carnavalesca, de ritmo vivo, apressado, guarda semelhança com a marcha militar no
compasso binário. Não se pode precisar a época do aparecimento da marcha como música
de dança. A principio surgiram das polcas-marchas que agradaram plenamente. Em seguida
a influência norte-americana deu-nos o rag-time e o one-step mas acabou vencendo o
espírito brasileiro e os compositores criaram as lindas marchas que tanta alegria tem dado
ao nosso povo nos folguedos de Momo. (MANZO, 2008, s/p.)
Também não foi somente o maestro Eduardo Souto Neto que ressaltou a marcialidade dos
hinos oficias. O jornalista Chico Pinheiro (2008) da Rede Globo de televisão, ressalta o tom marcial
que tinham os hinos oficiais, o que em sua opinião não confere àquelas obras a descontração e a
originalidade das marchinhas carnavalescas utilizadas por Babo nos hinos populares. Essa
descontração apontada por Chico Pinheiro (2008) começou a ser esboçada na opinião deste autor
por Theophilo de Magalhães e Alberto Ruiz na composição do hino oficial do (CRB) que foi a
única obra do período a sugerir explicitamente na capa da partitura a execução em ritmo de Polka-
marcha ou Rag-time e imprimir uma modalidade de poesia desprovida de conteúdo bélico e
higienista, distanciando-se progressivamente da formalidade da maioria das obras oficias.
42
O hino oficial do CRF e o segundo hino oficial do CRVG, em termos melódicos, também
foram muito influenciados pela marchas populares que tiveram início com a compositora Chiquinha
Gonzaga na obra “Ô abre alas” em 1899 (LIRA, 1978). A obra de Paulo de Magalhães, apesar de
ser uma marcha marcial, também era chamada de “marchinha” pois, trazia uma linha melódica que
se aproximava da marcha carnavalesca, que ganhava força e prestígio naquele período e que um
pouco mais tarde conquistaria o país com a expansão do rádio. Dessa forma, na dimensão melódica,
o hino oficial do (CRB) (primeiro hino oficial do BFR), o hino oficial do CRF, o segundo hino
oficial do AFC e o segundo hino oficial do CRVG representam um marco transitório entre as obras
oficias de música marcial e as obras populares de Lamartine Babo com conteúdo musical
correspondente às marchas carnavalescas, como exposto no Quadro 6A (Anexo I).
A linguagem bélica, que reforça a idéia do futebol como substituto para os impulsos
direcionados ao conflito armado, surgiu dentro do futebol no começo do século XX e vem sendo
reforçada de período em período, demonstrando que o futebol permanece até hoje com essa função.
A rápida aceitação e expansão do futebol na sociedade brasileira evidenciam seu caráter
democrático e nivelador no sentido da prática esportiva em si. Para a antropóloga Simoni Lahud, é
hoje incontestável que, “se desejamos compreender o Brasil, é preciso passar também pelos seus
campos de futebol” (BRANCO, 2006, p. 188-189).
O que os hinos oficiais dos clubes cariocas retratam em suas letras e músicas de inspiração
bélica e higienista majoritariamente, se coaduna com o momento vivido pelo país na Primeira
República, sob influência da primeira guerra mundial e também com o simbolismo representado
pelo esporte que simula uma batalha sem mortos e com hora para terminar, fazendo desse esporte
uma válvula de escape das mazelas da vida cotidiana, num país marcado desde sua origem, pela
exclusão social e racial. Como afirmara Sócrates, o ex-jogador, se não houvesse o futebol, nós
teríamos outra coisa. Se não houvesse outra coisa, nós teríamos uma guerra civil a cada dia
(BRANCO, 2006).
Faz-se necessário, também, ressaltar que a maioria das obras oficiais dos clubes pesquisados
tem características bélicas, higienistas ou em determinados momentos as duas em conjunto, como
se observa no Quadro 7A (Anexo I), entretanto o primeiro hino oficial do AFC difere-se dos demais
por possuir além de discreto conteúdo bélico um forte apelo da linguagem sacra. O primeiro hino do
(CRB), juntamente com o segundo hino oficial do CRVG tiveram suas letras classificadas como:
Histórico-Narrativas” por não se enquadrarem no conteúdo bélico, higienista ou sacralizado dos
demais. As obras em questão, expressam através de construções simbólicas específicas,
peculiaridades da formação das entidades ou até mesmo características naturais dos bairros onde
ocorreu a gênese das agremiações, imprimindo características peculiares às obras.
43
Fluminense Football Club
Assim como a família Miller pertencente à elite paulistana enviou seu filho Charles, para
uma temporada de estudos na Banister Court School, em Southampton, Inglaterra, ocasionando em
seu retorno a introdução do futebol no Brasil no ano de 1894, igualmente faria a família Cox
pertencente à elite da sociedade carioca que prefirira mandar seu filho Oscar para Suíça,
matriculando-o no College de La Ville, em Lausanne, ocasionando em seu retorno ao Brasil a
introdução do futebol no Rio de Janeiro (MAXIMO 2005/2006).
Depois de alguns jogos realizados na cidade a partir de 1901 organizados por Oscar Cox e
seus comandados surge em 21 de julho de 1902 no prédio da rua Marquês de Abrantes, 51, na
residência de Horácio da Costa Santos, o FFC e com ele o próprio futebol no Rio de Janeiro, oito
anos após Charles Miller introduzir o futebol no Brasil. A reunião presidida por Manoel Rios
aclamaria o próprio Cox como o primeiro presidente da agremiação que parece ter ganhado esse
nome “Fluminense” pela designação, ainda em voga na época da sua fundação, que abrangia não só
os habitantes da capital como os do Estado do Rio de Janeiro (COELHO NETTO, 2002).
Filho de George Emmanuel Cox e Minervina Dutra, Oscar Alfredo Cox nasceu em 20 de
janeiro de 1880 e faleceu aos 51 anos em 1931 na França. Foi símbolo da aristocrática juventude
que fundou o FFC pioneiramente no Rio de Janeiro, tendo inclusive fomentado e servido de
exemplo para o surgimento de outras agremiações como o AFC, o (BFC)e o Bangu Athletic Club
todos surgidos em 1904. Cox presidiria a agremiação de 21 de julho de 1902 a 31 de dezembro de
1904.
O primeiro hino oficial do FFC foi executado em público pela primeira vez em 29 de julho
de 1915, em um baile realizado no rink de patinação, quando então, aconteciam os festejos
comemorativos pela construção da nova sede, na gestão do presidente Joaquim da Cunha Freire
Sobrinho que liderava o início de uma nova fase de remodelação material, social e esportiva do
clube. A obra foi composta por Coelho Netto, sobre música de H. Williams, It’s a long, long way to
tipperary, muito cantada e executada no Rio de Janeiro, durante a primeira guerra mundial, 1914 a
1918, pelos marinheiros dos navios de guerra ingleses que ancoravam na Guanabara (COELHO
NETTO, 2002).
O falecido escritor Coelho Netto (Figura 7), foi o criador, o instituidor, o realizador da vida
artística do FFC. Exerceu o cargo administrativo de Vice-presidente do clube e como acadêmico foi
fundador da Academia Brasileira de Letras, Diretor da Escola Dramática Municipal, sendo ainda
Deputado Federal pelo estado do Maranhão. Consta no Livro: “História do Fluminense - 1902-
2002”, escrito por seu filho Paulo Coelho Netto e atualizado pelo escritor Rodrigo Nascimento, que
44
Coelho Netto quebrou tumultuosamente uma tradição do rígido FFC, iniciando a primeira invasão
em campo de futebol no Rio de Janeiro, tornando-se, desde então, o símbolo do intelectual-
torcedor, na década de 1910.
Figura 7 - Coelho Neto, membro da Academia Brasileira de Letras, autor do primeiro hino oficial do FFC.
O futebol chega ao fim de sua infância na década de 1920 muito pouco pensado. Era puro
instinto, mero deixar acontecer, novidade que parecia não carecer de estudo. Descendentes da elite
carioca, os Frias, os Carneiro de Mendonça, os Coelho Netto, assistem ao fechamento desse ciclo
com a certeza de que o melhor futebol jogado no Brasil não era necessariamente o dos moços de
famíla (MÁXIMO, 2005/2006). O FFC representava nesse período um dos principais pontos de
encontro da elite carioca que explicitamente proibia a entrada de pessoas de baixo poder aquisitivo
e afro-descendentes no clube.
O Fluminense Futeboll Clube persiste durante muito tempo em privar os “cidadãos de cor”
de sua bela camisa tricolor: branco, verde e vermelho. Os detratores do Flu até o acusam de
branquear seus jogadores com pó-de-arroz, apelido infamante que esse glorioso clube ainda
suporta. Embora o amadorismo e os preconceitos continuem a fazer do futebol um esporte
de brancos, o sucesso popular começa a transformar-lhe as estruturas ao longo dos anos
1920. (ENDERS, 2002, p. 220)
Nesse contexto social em que a cidade experimenta avanços econômicos, sociais e culturais
importantes, sempre pontuados pela exclusão social e racial é que surge o primeiro hino oficial do
FFC que é juntamente com o primeiro hino oficial do AFC o primeiro do gênero na cidade. A
música de origem inglesa de H. Williams, une-se ao texto academicamente perfeito de Coelho
45
Netto, porém, intimamente relacionado ao pensamento higienista do período e repleto de trechos
discriminatórios como: em torno do ideal viril de avigorar a nova raça do nosso Brasil...” ou em
outra estrofe “em torno dum ideal viril a gente moça, a nova raça do nosso Brasil...”, mostra que os
documentos redigidos pela elite minoritária e intelectualizada da cidade, registram a história sob a
ótica somente dos socialmente incluídos, o que seria o esboço do desenho futuro de uma cidade
partida, sempre marcada desde sua fundação pelo processo segregatório. A letra também traz
características bélicas muito comuns às obras do período que ficam bastante evidentes na última
estrofe impregnada de expressões peculiares ao regime de caserna: adestra a força e doma o
impulso, triunfa, mas sem alardo, o herói é bravo mas galhardo, tão forte dalma que de pulso, a
força esplende em saúde, e abre o peito à bondade, a força é a expressão viva da virtude, e garbo
da mocidade” . O somatório das características da letra desta obra, exposto no Quadro 7A (Anexo
I), levou o autor a classificá-la como Higienista e Bélica.
O acadêmico Coelho Netto, ocupante da cadeira número dois da Academia Brasileira de
Letras, membro de família tradicional da elite carioca foi, sem dúvida alguma, um grande
incentivador e realizador da cultura nacional, mas é oportuno registrar o quanto ficava explícito no
discurso da camada social dominante, o preconceito e a insensibilidade com aspectos que
envolviam setores mais desfavorecidos da população.
A Coelho Netto muito deve o Fluminense no que tange à sua projeção social. Tudo quanto
ele fez foi com amor, porque o amor foi um dos traços dominantes do seu temperamento.
Amou a arte, amou a justiça, amou seus livros, amou seu escritório, sua mesa de trabalho,
amou a pátria, amou seu Maranhão que tão ingrato lhe foi, não o reconduzindo na sua
representação na Câmara Federal. “Fui substituído por um analfabeto”, foi o único
comentário amargo de Coelho Netto. (COELHO NETTO, 2002, p. 381)
Em visita ao Museu do Futebol no Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho, no bairro
do Pacaembu em São Paulo (Museu do Futebol, 2008), foi constatado por esta pesquisa em outubro
de 2008, a ausência do primeiro hino oficial do FFC, no fichário que traz informações dos clubes de
todo Brasil em placas personalizadas e dispostas por ordem alfabética. No referido fichário constam
apenas as citações ao segundo hino oficial de Antônio Cardoso de Menezes Filho e ao hino popular
de Lamartine Babo e Lírio Panicalli o que pareceu para o autor contraditório, pois no fichário do
CRVG estavam presentes as citações dos dois hinos oficias (Quadros 11 e 12) e do hino popular.
Não foram achados registros cantados do hino de Coelho Netto. Está disponível uma
gravação em versão instrumental sem registro da orquestra executante da canção It's a long, long
way to Tipperary de H. Williams que contém a música usada por Coelho Netto, para a letra do
primeiro hino oficial (Apêndice; 6). A partitura original também não foi encontrada, estando
disponível a partitura elaborada pelo professor Maurício Uzum (Figura 8) para um projeto com seus
46
alunos em uma escola paulista e a partitura feita pelo arranjador Maurício Verde (Figura 9)
especialmente para esta dissertação (Apêndice; 1).
Figura 8 – Professor de música Maurício Uzum.
Figura 9 – Músico, arranjador e produtor musical, Maurício Verde.
Com o objetivo de enriquecer a pesquisa o autor solicitou ao músico Edson Bastos (Ordem
dos Músicos do Brasil - OMB 3859 - RJ) atual componente da banda da cantora Dona Ivone Lara e
ex-componente do grupo vocal Os Cariocas” (CASTRO, 1990), que indicasse um arranjador e
produtor que pudesse fazer um registro de áudio a partir das partituras elaboradas por Maurício
Uzum e Maurício Verde para pesquisa. Edson Bastos indicou o músico e produtor Bival Farias
(Ordem dos Músicos do Brasil - OMB 24906 - RJ), que conta com mais de 25 anos de experiência
47
no ramo musical, além de ter estudado arranjo com Ian Guest, ex-professor da escola americana
Berkeley. Bival arregimentou o pianista Agostinho Silva (Ordem dos Músicos do Brasil - OMB
4148 - RJ) e o cantor Fernando Nascimento (Ordem dos Músicos do Brasil - OMB 24398 - RJ), e
produziu o registro do primeiro hino tricolor (Quadro 2), exclusivamente para a dissertação, entre os
meses de julho e agosto de 2009 (Apêndice; 1).
48
Primeiro Hino Oficial do FFC
I
O Fluminense é um crisol
Onde apuramos a energia
Ao pleno ar, ao claro sol
Lutando em justas de alegria
O nosso esforço se congraça
Em torno do ideal viril
De avigorar a nova raça
Do nosso Brasil!
Corrige o corpo como artista
Vida imprime à estátua augusta
Faz da argila uma robusta
Peça de aço onde a alma assista.
Na arena como na vida
Do forte é sempre a vitória.
Do estádio foi que a Grécia acometida
Irrompeu para a glória!
II
Ninguém no clube se pertence;
A glória aqui não é pessoal:
Quem vence em campo é o Fluminense
Que é, como a Pátria, um ser ideal.
Assim nas justas se congraça
Em torno dum ideal viril
A gente moça, a nova raça
Do nosso Brasil!
Adestra a força e doma o impulso,
Triunfa, mas sem alardo,
O herói é bravo mas galhardo
Tão forte d'alma que de pulso.
A força esplende em saúde
E abre o peito à bondade.
A força é a expressão viva da virtude
E garbo da mocidade!
H. Williams e Coelho Netto – 1915
Quadro 2 – Primeiro Hino Oficial do FFC.
Fonte: (COELHO NETTO, 2002, p. 38).
49
Em visita à sede do FFC no bairro de Laranjeiras no Rio de Janeiro, para coletar material
para pesquisa, foram encontrados nos arquivos da agremiação, registros que comprovam a
existência do segundo hino oficial do clube (Figura 10) de autoria de Antônio Cardoso de Menezes
Filho, porém, despertou atenção, o fato do livro de Paulo Coelho Netto, “História do Fluminense”
adquirido no próprio clube, nem sequer citar a existência da obra de Menezes Filho.
Figura 10 – Capa da partitura do segundo hino oficial do FFC.
Outro dado interessante é que no Museu do Futebol (2008) a obra que não foi citada no
fichário do clube é o primeiro hino oficial de Coelho Netto, constando apenas as referências ao
segundo hino oficial de Antônio Cardoso de Menezes filho, sem a data de composição e ao hino
popular de Lamartine Babo e Lírio Panicalli com data de 1949. A referência da data de composição
da obra de Menezes Filho é uma folha datilografada, conseguida nos arquivos do clube datada de
1916 ( Apêndice; 6 ).
50
Independente da discrepância nos dados é fato que o tricolor de Laranjeiras possui dois
hinos oficiais e um hino popular, que juntos são instrumentos preciosos para se traçar um perfil
sociológico da história do clube.
Na dimensão melódica, o segundo hino oficial é uma marcha marcial de inspiração bélica,
muito comum aos hinos do período. A primeira gravação encontrada por esta pesquisa é uma versão
“caribenha dançante” contemporânea, lançada em 2000, pelo intérprete e produtor artístico Heitor
D’Alincourt. O segundo registro é uma versão de baixa qualidade sonora, feito por uma banda
marcial desconhecida, parecendo ser um registro bem antigo. O terceiro registro parece ser mais
contemporâneo pelo fato de ter uma boa qualidade sonora. Foi feito pela banda marcial do corpo de
fuzileiros navais em um primorosa execução. O último registro de áudio encontrado é instrumental
executado por piano e flauta (Apêndice; 1), como demonstra o Quadro 8A (Anexo I).
A letra é um retrato fiel do perfil elitista e higienista do clube, que atinge o ápice dessa
atmosfera, quando sugere que as vitórias são disputadas pelos mais fortes, mais destros e
sagazes”, dando uma nítida conotação de raça superior que de maneira excludente, afastava do
convívio os fracos na esfera biológica e social.
Está presente também na letra um forte conteúdo bélico que abre um diálogo entre a
atividade esportiva e o campo de batalha, o que se verifica com nitidez em trechos como: Nossas
bolas são nossa metralha, um bom goal nosso tiro de morte” ou ainda Fluminense avante ao
combate, Nosso nome cerquemos de glória, se houve tocar o rebate, Disputemos no campo a
vitória”.
A obra de Antonio Cardoso de Menezes Filho parece ser mais prestigiada do que a obra de
Coelho Netto e H. Williams, apesar de ambas terem sido feitas no mesmo período, tendo apenas um
ano de diferença na data de composição. O hino de Antônio Cardoso de Menezes Filho fora
supostamente criado para tomar o lugar do primeiro que estava sendo motivo de paródias
(FLUMANIA, 2008).
O sobrenome Cardoso de Menezes tem muita tradição no meio musical brasileiro. O Clã
musical dos Cardoso de Meneses começa com o Dr. João Cardoso de Meneses e Souza
(1827/1915), o Barão de Paranapiacaba. Seu filho, o compositor e pianista Antônio Frederico
Cardoso de Meneses e Sousa (1849/1931), casou-se por volta de 1872 com a pianista portuguesa de
origem aristocrática, Judite Riche Ribas, nascida na Cidade do Porto em 1846 (RIBAS MUSICOS,
2008). Entre os filhos do casal de pianistas que chegou a tocar a quatro mãos para o imperador D.
Pedro II, estão: o pianista e compositor Osvaldo Cardoso de Meneses Filho (1893/1935) e o
violinista Antônio Cardoso de Menezes Filho, nascido em 1889 (RIBAS MUSICOS, 20080), que
tudo indica, seja o autor do segundo hino oficial do FFC.
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Existem dois aspectos na família Cardoso de Meneses que trazem evidências que reforçam a
possibilidade do referido violinista ser o autor da obra tricolor: o primeiro aspecto é que segundo a
pianista e compositora Carolina Cardoso de Meneses (1916/1999) seu avô, Antônio Frederico
Cardoso de Meneses e Sousa, morou no bairro de Laranjeiras o que amplia a possibilidade da
família ter uma relação com o FFC que fica no mesmo bairro. O segundo aspecto é a relação que
Oswaldo Cardoso de Menezes Filho (pai de Carolina), irmão do possível autor do hino tricolor,
tinha com o futebol, pois o mesmo é autor do tango El rey de la pelota dedicado a Artur
Friedereich (Figura 11), primeiro grande craque e ídolo do futebol brasileiro (INSTITUTO
CULTURAL CRAVO ALBIN, 2008a).
Figura 11 Arthur Friedenreich de mãe brasileira e pai alemão foi o maior artilheiro antes da chegada de Pelé aos campos. Ao centro, com o
cabelo alisado, Friedenreich é homenageado durante jogo da Seleção Carioca de Futebol, ao lado de Fausto, à direita, que ganhou dos uruguaios o
apelido de Maravilha Negra na Copa de 1930.
É muito provável que o violinista Antônio Cardoso de Menezes Filho, que chegou a tocar
com o Maestro Pixinguinha (INSTITUTO CULTURAL CRAVO ALBIN, 2008a), seja mesmo o
autor do segundo hino oficial do FFC. A presente pesquisa no desejo de comprovar finalmente a
informação, ainda recorreu ao radialista e colega do autor no meio artístico, Cristiano Cardoso de
Menezes, filho do falecido pesquisador Euripedes Cardoso de Menezes, mas o mesmo não
conseguiu junto à família, um documento que comprovasse tal informação. Cristiano ainda relatou
que em uma determinada ocasião, seu pai conversou com a pianista Carolina Cardoso de Menezes
para verificar se havia parentesco entre os dois, mas ao final nada ficou comprovado.
A presença nos hinos oficiais tricolores, de famílias tão influentes na elite carioca, como os
Coelho Netto e os Cardoso de Menezes no início do século XIX, reforça a análise feita sobre a letra
52
das obras que possuem forte influência do pensamento eugênico e higienista, colocando o FFC,
como um símbolo do pensamento excludente daquele período.
O livro “Heróis do Cimento” de Hilton Mattos, traz a biografia de alguns dos maiores
torcedores cariocas. Entre os torcedores tricolores está o produtor artístico Heitor D’Alincourt que
participou da pesquisa de campo e deu contribuição ímpar trazendo elementos e informações
inéditas. D’alincourt hoje é o principal responsável pela manutenção e perpetuação da memória
musical do FFC, pois além de ter profundo conhecimento de todos os hinos, compõe novas músicas
exaltando o clube e regrava as obras antigas dando nova roupagem e modernizando-as. Entre as
diversas realizações do torcedor estão registros de áudio e vídeo de ótima qualidade que ajudam na
manutenção dos símbolos tricolores, como mostra a listagem abaixo:
Regravou no ano de 2000 a marcha popular de Lamartine Babo e Lírio Panicali em estilo
pop (Apêndice; 1);
Regravou no ano de 2000 o segundo hino oficial de Antônio Cardoso de Menezes Filho em
estilo “caribenho dançante” (Apêndice; 1);
Lançou no ano de 1999 a obra “Saudações Tricolores” que é executada diariamente na
Rádio Globo AM (Apêndice; 6);
Lançou no ano de 2002 a obra “De Fluminense, um século” em homenagem ao centenário
do clube (Apêndice; 6);
Produziu em parceria com André Barcinski o DVD “Saudações Tricoloresque foi lançado
em 2002, no ano do centenário do clube.
Dos hinos oficias presentes na pesquisa, o segundo hino tricolor (Quadro 3) foi no qual mais
facilmente encontraram-se partituras e registros de áudio. No caso das partituras, além das
elaboradas pelos professores Maurício Uzum e Maurício Verde, ainda foi achada uma partitura
no Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro (MIS, 2008), que era de propriedade da rádio
nacional, feita pelo orquestrador Lazzoli, em 15 de junho de 1952 e uma quarta partitura que
parece ser a original a qual foi localizada na sede do clube, como demonstra o Quadro 5A
(Anexo I). Na partitura original e na partitura da rádio nacional o ritmo sugerido é o Allegro
Marziale. Com relação aos registros de áudio (Apêndice; 1), expostos no Quadro 8A (Anexo I),
não foi necessária a contratação de músicos para executarem a partitura, pois o sítio
www.flumania.com.br, no link áudios, possuía uma versão tocada e cantada em boa
qualidade, além de duas versões instrumentais, o que facilitou bastante, pois as análises feitas
pelo autor nos quesitos forma, letra, melodia, execução e estilo poderiam ser feitas de imediato
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sem aguardar a produção do registro de áudio como aconteceu no primeiro hino oficial do FFC
e no primeiro e segundo oficiais do BFR e AFC.
Segundo Hino Oficial do FFC
Companheiros de luta e de glória
Na peleja incruenta e de paz
Disputamos no campo a vitória
Do mais forte, mais destro e sagaz!
Nossas liças de atletas são mansas
Como as querem os tempos de agora
Ressuscitam heróicas lembranças
Dos olímpicos jogos de outrora
Não nos cega o furor da batalha
Nem nos fere o rival, se é mais forte!
Nossas bolas são nossa metralha
Um bom goal, nosso tiro de morte
Fluminense, avante, ao combate
Nosso nome cerquemos de glória
Já se ouve tocar a rebate
Disputemos no campo a vitória.
Antônio Cardoso de Menezes Filho – 1916
Quadro 3 – Segundo Hino Oficial do FFC.
(Fonte: Museu da Imagem e do Som - Rio de Janeiro, 2008).
Club de Regatas Botafogo
A gênese do BFR deu-se a 8 de dezembro de 1942, quando então o destino convergira para
mesma quadra de basquete como adversárias, as equipes do (CRB) e do (BFC), carinhosamente
apelidados pelos torcedores por: “A Estrela Solitária” e “O Glorioso” respectivamente. Na ocasião
disputava-se o campeonato carioca. O atleta Armando Albano, do (BFC), morre fulminado por uma
síncope e o jogo é imediatamente suspenso e não mais disputado. A tragédia irmanou as duas
equipes tornando a fusão um processo inexorável (PEPE et al, 1996).
Os clubes, que nasceram no bairro de Botafogo, no município do Rio de Janeiro, possuíam
as mesmas cores e eram frequentados muitas vezes pelas mesmas famílias alvinegras que acabaram
sendo o amálgama que permitiu a ligação entre os dois Botafogos. Esse oportuno casamento entre
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“A Estrela Solitária” e “O Glorioso”, acarretou a fusão de patrimônios, equipes, histórias, glórias e
simbolismos.
Na dimensão dos simbolismos analisaremos a partir de agora os hinos oficiais das duas
entidades anteriores ao BFR e mais adiante detalharemos a obra popular de Lamartine Babo
composta posteriormente à fusão.
Em 1894, na extremidade sul da praia de Botafogo, no sopé do morro do pasmado onde,
hoje termina a Av. Pasteur, nascia o (CRB) e, consequentemente, suas histórias e simbolismos. O
hino oficial da referida entidade foi composto por Theóphilo de Magalhães (Figura 12) e Alberto
Ruiz, como consta em partitura original (Apêndice; 2) cuidadosamente guardada nos arquivos do
conselho deliberativo por Maria Magdalena Pinto Velloso, funcionária mais antiga do BFR
admitida em 27 de maio de 1942 (Figuras 13 e 14), ano da fusão das agremiações alvinegras.
Figura 12 - Theophilo de Magalhães, autor da música do primeiro hino oficial do BFR.
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Figura 13 – Carteira do ano de admissão de Maria Magdalena, funcionária mais antiga do BFR.
Figura 14 – Foto de Maria Magdalena, aos 87 anos, no Conselho Deliberativo do BFR em novembro de 2008.
“Madá” é o apelido carinhoso que Maria Magdalena ganhou dos funcionários do Clube nos
66 anos de serviços prestados ao alvinegro carioca, ininterruptamente. Os documentos arquivados
pela funcionária, que às vezes recebe ordens superiores para jogá-los fora e as descumpre, ajudou a
solucionar uma grande dúvida existente nesta pesquisa.
No livro “Botafogo O Glorioso” dos autores Braz Francisco W. Pepe, Luiz F. C. de
Miranda e Ney Oscar R.C.S. da Ponte, consta a capa das duas partituras dos hinos oficias do clube
(PEPE, 1996, p. 44 e 54), sendo que, na partitura do hino oficial do (CRB), consta somente o nome
do autor Theophilo de Magalhães. Somente ao manusear os documentos gentilmente cedidos pela
funcionária botafoguense, que se pode constatar que o referido hino é também de autoria de Alberto
Ruiz o que permitiu a este pesquisador concretizar a certeza de que na história alvinegra foram
compostos dois hinos oficiais e um popular reconhecidos pelo clube.
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Em visita ao Museu do Futebol (2008) em outubro de 2008 foi verificado que no fichário do
clube BFR apenas o hino oficial do (BFC) e o hino popular do BFR foram citados, faltando a
citação do hino oficial do (CRB), o que seria para esta pesquisa uma excelente oportunidade de
descobrir os autores desta última. O fato de tal informação não estar presente no Museu do Futebol
(2008), que é uma das principais referências contemporâneas para os estudiosos da dimensão
sociológica do futebol, torna ainda mais relevante a atitude cidadã da alvinegra “Madá”, que do alto
dos seus 87 anos de idade, abriu os armários do conselho deliberativo do clube e foi precisamente
na pasta guardada a décadas, que continha todas as informações relativas às obras musicais da
história do BFR, muito necessárias para o prosseguimento desta dissertação, contribuindo assim
decisivamente para a perpetuação da história desta cidade e de seus personagens.
Utilizando sítios de busca na internet, constatamos que o músico e compositor Paraense
Pedrinho Cavallero (Figura 15) é sobrinho-neto do falecido maestro Theophilo de Magalhães
possível autor da música do hino do (CRB). Através de ligações a locais onde o músico atua em
Belém do Pará, conseguimos estabelecer contato com ele, que nos forneceu fotos, músicas e breve
bibliografia de seu tio-avô.
Figura 15– Pedrinho Cavallero, sobrinho neto de Theóphilo de Magalhães.
Cavallero, que chegou a conhecer o maestro, afirma ter boas recordações do tempo que
morou no Rio de Janeiro no bairro de Laranjeiras onde frequenta até hoje a casa de parentes.
Salientou ter pouco material sobre a vasta obra do maestro e se surpreendeu ao saber da existência e
da possível participação de seu tio-avô no hino do (CRB). Entre as fotos fornecidas pelo
compositor, uma chamou mais atenção por ter uma dedicatória feita à irmã, Maria José Monteiro de
Magalhães Cavalero, avó de Pedrinho Cavallero, onde Theóphilo de Magalhães (Figura12) registra
manualmente seu octagenário (CAVALLERO, 2009).
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Cavallero (2009) demonstrou um enorme desejo em colaborar com a preservação da
memória do maestro Theóphilo de Magalhães e consequentemente enaltecer os personagens que
ajudaram a construir a história cultural de sua cidade natal, que costuma enaltecer e prestigiar
chamando-a de: “Santa Maria do Belém do Grão Pará” que é o nome original dado em 1751,
quando se tornou capital do estado do Maranhão e do Grão Pará, englobando todo o extremo norte
do Brasil, sendo hoje conhecida como Belém do Pará, maior metrópole do norte brasileiro, porta de
entrada para região norte e para a Amazônia (VIAGEMVIRTUAL, 2009). Cavallero, passou ainda
para pesquisa o contato de Vicente Salles, que segundo o músico trata-se de uma das grandes
autoridades com competência para falar da memória cultural da cidade. Vicente Salles, nasceu em
Igarapé-Açu no estado do Pará em 1931, é jornalista, folclorista, antropólogo e pesquisador de
música, tendo intensa produção cultural na cidade de Belém do Pará a partir de 1948. Publicou
diversas obras sobre música da região amazônica, cultura brasileira e história, tendo ainda
colaborado na produção de aproximadamente 50 discos de folclore e MPB (INSTITUTO
CULTURAL CRAVO ALBIN, 2009c).
Theóphilo Dolor Monteiro de Magalhães, nasceu em Belém do Pará no ano de 1885 e
faleceu em 1968. Era músico virtuoso na flauta e no piano tendo grande facilidade na improvisação
e composição de tangos, polkas, marchas, xotes, valsas e dobrados, chegando a sua obra, quase toda
extraviada, a mais de trezentas peças. Trabalhou muitos anos no Rio de Janeiro tendo atuado ao
lado de grandes nomes da música brasileira nas famosas rádios cariocas de então. A obra de sua
autoria que ganhou projeção nacional e internacional foi a Canção do Soldado”, dobrado
intitulado primitivamente Capitão Cassulo de Melo”. A obra teve sua autoria disputada em
processo que tramitou no ministério do exército em que finalmente o maestro saiu vitorioso. O
artista era um ser humano muito querido, inclusive foi homenageado pelo maestro Altino Pimenta
com o chôro “Saudades de Theóphilo”. Teve uma vida amorosa muito agitada e suas partituras
foram se perdendo, com seus amores, pelos caminhos (CAVALLÉRO, 2009). O livro “Cântico
Militares” de Mariza Lira do ano de 1942, cita a obra na íntegra, mas não confirma que a mesma foi
feita pelo maestro Theóphilo (LIRA, 1942).
A partitura original da música composta por Theóphilo de Magalhães para o hino alvinegro
sugere na capa que a obra seja executada como “polka-marcha” ou rag-time. Segundo Manzo,
(2009), a polka como modalidade musical, escrita em compasso binário, foi muito bem aceita pelos
brasileiros e poderia a partir de pequenas modificações no ritmo tornar-se: polka de salão, polka-
brilhante, polka-marcha, polka-choro e polka-típica.
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A polca tornou-se mania a ponto de formar a Sociedade Constante Polca em 1846, além de
bailes oferecidos pelo hotel Itália, localizado no largo do Rocio (grande), atual praça
tiradentes. De dança de salão, a polca logo ganhou teatros e ruas, tornando-se música
eminentemente popular. A popularidade era tanta que um dos primeiros surtos registrados
de dengue foi apelidado de “polka” por volta de 1851, segundo o Jornal “O Globo”, de 29
de março de 2001. ( PERNA, 2001 p.17)
Percebe-se também na partitura do maestro o início da influência norte-americana nas obras
brasileiras, quando sugere o ritmo rag-time, pois, entre 1896 e 1917, este era o idioma musical mais
popular dos Estados Unidos da América. O “rag de piano”, composto tanto para se ouvir quanto
para se dançar, era semelhante ao ritmo de uma marcha de salão diferenciando-se sutilmente pela
sua melodia sincopada (MIZIARA e COSTA, 2009).
A sugestão tanto da polka-marcha quanto do rag-time representavam naquele período um
toque de modernidade do maestro Theóphilo de Magalhães à obra alvinegra que começava a
abandonar os padrões musicais de origem militar, muito comuns aos hinos do período, e entrar
numa fase mais popular que acabaria culminando nas marchas carnavalescas que foram usadas pelo
CRVG em seu segundo hino oficial e por Lamartine Babo em todos os hinos populares dos clubes
cariocas.
Não foi encontrado registro de áudio do primeiro hino alvinegro. Para obter o referido
registro, o autor contratou o produtor e arranjador Bival Farias que arregimentou o pianista
Agostinho Silva e o intérprete Fernando Nascimento, que realizaram a partir da partitura original o
único registro presente na pesquisa, Quadro 9A (Anexo I) e Apêndice; 2. Ao executar-se a obra,
percebe-se que não há marcialidade em sua melodia, que é bastante alegre e popular com forte
influência do rag-time norte-americano que fora sugerido pelo maestro na capa da partitura original.
Na partitura do “Hymno” do (CRB) encontrada na sede de General Severiano, não existia
data de composição da obra, porém, encontra-se nos arquivos do clube uma folha datilografada com
a letra da obra, datada de 9 de janeiro de 1921, com o nome do autor da letra Alberto Ruiz ao final.
Esse documento representa hoje a prova mais importante do ano de composição desta obra
(Apêndice; 6). Ao analisar a letra do mesmo, percebe-se na grafia utilizada, palavras como
“hymno” que eram utilizadas dessa forma no início do século XX o que representa uma importante
referência do momento histórico. Outro fato que traz indícios importantes do período em que a
composição foi feita é o fato de Alberto Ruiz (Figura 16), ter sido sócio benemérito do clube em
1923 (PEPE et al.,1996).
59
Figura 16 – Imagem do possível autor da letra do primeiro hino oficial do BFR.
Alberto Ruiz nasceu em Belém do Pará, no dia 2 de outubro de 1885, foi poeta, teatrólogo,
formado em direito e funcionário público. Suas obras foram: “Poemas”, escritos em 1925; a
comédia “Doidos com juízo”, em 1935 e a poesia “Aves sobre o mar”, em 1952 (COUTINHO et
al, 2001). Apesar de não haver qualquer ligação, na Enciclopédia de literatura brasileira de
Coutinho et al (2001), de Alberto Ruiz com o primeiro hino oficial do Club de Regatas do
Botafogo, nem em sua própria obra, Doidos com Juízo, do qual se extraiu sua foto, a pesquisa
considerou este como sendo o mesmo Alberto Ruiz das demais fontes bibliográficas, entre elas a
partitura original (Figura 17), que o coloca como um dos autores do referido hino, e o livro de Pepe
et al (1996) que o coloca como benemérito do clube. Outro ponto que embasa essa proposição, é o
fato de o poeta Alberto Ruiz, ser conterrâneo de Theóphilo de Magalhães, e ainda a questão da data
do seu título benemérito (1923) ser próximo a composição do hino (1921). O antropólogo Vicente
Salles (2009) afirma que é possível que Alberto Ruiz tenha conhecido o maestro Theóphilo de
Magalhães em sua juventude ainda em Belém e posteriormente encontrado o maestro no Rio de
Janeiro e concretizado a parceria na obra Alvinegra.
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Figura 17 - Capa da partitura do hino oficial do (CRB).
A letra composta por Alberto Ruiz, foi classificada pelo autor como Histórico-Narrativa,
pois, não está contaminada pelo pensamento higienista presente em alguns hinos oficiais dos
principais clubes de futebol do Rio de Janeiro, como se observa no Quadro 7A (Anexo I). Percebe-
se uma preocupação do autor em exaltar o amor ao clube e o vigor dos atletas, fazendo interessante
relação com aspectos da natureza, que de fato é muito bela no bairro de Botafogo onde as regatas
eram praticadas. Um momento de profunda inspiração é visto na segunda parte após o estribilho,
onde o autor coloca poeticamente a bandeira da agremiação em equivalência com a bandeira
nacional, o que faz desse hino uma homenagem singela e apaixonada ao clube. Assim como a
música não é influenciada pelo universo militar, a letra também não entra na atmosfera bélica muito
frequente nas letras dos hinos oficiais e até mesmo nas letras de alguns hinos populares.
Na preciosa pasta vermelha com uma etiqueta branca colada na frente, com o escudo
alvinegro no canto superior esquerdo e escrito manualmente: “Hinos do Botafogo”, “Madá”
guardou por décadas na sala do conselho deliberativo, a memória musical do Clube. Constam além
dos dois hinos oficiais e do hino popular algumas obras de caráter popular e até mesmo um quarto
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hino de autoria de Heloisa Helena com data de 1957, entitulado “Hino Alvi-negro”. O BFR, tem em
seu estatuto a citação dos dois hinos oficiais e do hino popular e é o único clube envolvido na
presente pesquisa que coloca estatutariamente essa informação.
Os hinos oficiais do BOTAFOGO são o do Club de Regatas Botafogo, de Alberto Ruiz e
Theóphilo Magalhães; o do Botafogo Football Club, "Glorioso", de Eduardo Souto e
Octacilio Gomes; e, em homenagem ao seu autor, a obra popularizada de exaltação ao
BOTAFOGO composta por Lamartine Babo. (ESTATUTO DO BOTAFOGO DE
FUTEBOL E REGATAS, 2008, s/p)
Abaixo relacionadas estão as obras contidas na pasta que reúne a memória musical do BFR,
excetuando-se os dois hinos oficiais e o hino popular.
Samba da Guarda Alvinegra (sem autor) – 1933
Samba da Guarda Alvinegra (sem autor) – 1934
Samba da Guarda Alvinegra (sem autor) – 1935
Marcha Esportiva – Salve Alvi-Negro ( Mozart Bicael) – 1944
Botafogo – Marcha (Zacharias Thomaz) – Sem data
Botafogo – “Marcha-Cancion” (Max Aliaga Larrea) - 1948
Hino Alvi-Negro ( Heloisa Helena) – 1957
A volta (Júlio César de Sá-Peixoto Uchoa) – Sem data
Botafogo Centenário (Júlio César de Sá-Peixoto Uchoa) – Sem data
Entre os notáveis entrevistados na pesquisa de campo, a única que em algum momento fez
menção a uma das duas agremiações que se fundiram para dar origem ao BFR, foi a intérprete Beth
Carvalho que ao falar da origem de sua paixão pelo clube, comentou que todos na família eram
botafoguenses e que o seu pai havia remado pelo (CRB) que a cantora chamou de Botafogo de
Regatas”. Esse foi o momento mais próximo que o grupo de notáveis aproximou-se de algum dado
ou simbolismo do processo embrionário do BFR, mas sem citar dados sobre a memória musical
(Quadro 4) desse período.
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Hymno Oficial Club de Regatas Botafogo
Salve! Ó Club alvi-negro acclamado
E de reaes tradicções tão repleto,
O teu hymno por nós sendo entoado,
Por teu nome traduz nosso affecto
Salve ! ó Club,dos mais-mais antigo,
Que nas glorias e fama é sublime.
O esplendor do teu vulto se exprime
pela força que vive comtigo.
Botafogo, qual nave immensa
De vélas pandas sobre o mar.
Não ha perigo que não vença,
Para as victorias alcançar.
Ou bem qual ave alcantadorada
Ao resplendor do sol no espaço.
Vive na glória decantada
Pelo valor do nosso braço.
Aos impulsos dos remos possantes,
Nossos barcos são leves, correndo
Sobre as ondas azues e espumantes,
Os primeiros o páreo vencendo.
Nem ha mais que em valor os iguale
Na defesa da estrella Isolada,
Que guarnéce a bandeira adorada,
Que á da Patria gentil equivale.
Marinheiro da grande cruzada,
De alta fronte, vogando em bonança,
Conduzimos no peito a esperança
Pelo ardor da victória alcançada.
No recanto da enseada formosa,
Em que as ondas ao luar vêm correr,
Qual rochedo ou montanha alterosa,
Sem rival, Botafogo hás de ser.
Theophilo de Magalhães e Alberto Ruiz 1921
Quadro 4 – Hino Oficial do Club de Regatas Botafogo.
(Fonte: Arquivo do BFR – Rio de Janeiro, 2008).
63
Botafogo Football Club
Foi numa conversa entre os estudantes Flávio da Silva Ramos e Emanuel de Almeida Sodré,
numa sala de aula do colégio Alfredo Gomes, que surgiu a idéia de se fundar um clube de futebol.
A primeira reunião aconteceu no Largo dos Leões, na casa do conselheiro Gonzaga em 12 de agosto
de 1904, onde primeiramente foi batizado de Eletro Club. Já na segunda reunião no dia 18 do mês
seguinte, a avó materna de Flávio da Silva Ramos ao ouvir o nome do Clube, sugeriu aos rapazes
que seria mais conveniente que a agremiação tivesse o nome do local onde todos moravam. Assim
nasceu o (BFC)(PEPE et al., 1996).
Não se encontrou registro da data precisa de composição do hino do Botafogo Football
Club. Sabe-se que a composição da música envolve um personagem fundamental na história da
música popular brasileira: Maestro Eduardo Souto (Figura 18); além de ter deixado o hino oficial
alvi-negro, legou também uma vasta obra autoral ao povo brasileiro e ainda contribuiu
enormemente, através de sua produção, para o desenvolvimento e a fixação do gênero “marcha”
(INSTITUTO CULTURAL CRAVO ALBIN, 2008c), que seria mais tarde, na década 1940, o
gênero usado pelo célebre compositor Lamartine Babo para compor os hinos populares que se
perpetuariam entre os torcedores dos principais clubes de futebol do Rio de Janeiro.
A família Souto tem prestado ao longo do tempo, grandes serviços à cultura nacional, mais
precisamente à música e ao esporte. Uma linhagem de músicos, compositores, arranjadores e
maestros que têm conseguido transmitir de geração a geração a paixão pelas riquezas culturais do
Brasil. Esse caminho iniciou-se com Guilherme Souto, pai do autor do hino alvi-negro ainda em
Santos (SP), onde o mesmo foi secretário da terceira sociedade carnavalesca, o Grêmio aristocrático
Les Bavards (INSTITUTO CULTURAL CRAVO ALBIN, 2008c).
Eduardo Souto (1882/1942) nasceu em Santos (SP) e chegou ao Rio de Janeiro com 11 anos
de idade. Foi contemporâneo de uma excelente safra de músicos e compositores brasileiros, entre
eles Ernesto Nazareth, Zequinha de Abreu, Sinhô, Careca e Caninha que marcaram um período de
consolidação da música popular no país. Teve atuação muito fecunda no cenário teatral e
fonográfico, tendo sido diretor das fábricas Odeon e Parlophon. Como compositor foi parceiro de
nomes importantes da música popular brasileira como Braguinha e Noel Rosa. Seu filho, Nelson
Souto (1917/1979) (Figura 19), também pianista e compositor, teve músicas gravadas por Silvio
Caldas e Elizeth Cardoso e foi uma grande referência para o filho caçula, o também pianista,
arranjador e compositor Eduardo Souto Neto (Figura 20) que nasceu no Rio de Janeiro em 1951.
64
Figura 18 – Maestro Eduardo Souto (1882/1942).
Figura 19 – Nelson Souto (1917/1979).
Figura 20 – Maestro Eduardo Souto Neto, nascido em 20/02/1951.
Eduardo Souto Neto (2008) afirma que praticamente foi criado embaixo do piano de calda
de seu avô, onde se aconchegava para escutar as belíssimas canções. O instrumento, herdado por
seu pai, ficava na sala da casa que habitualmente recebia ilustres visitantes para agradáveis saraus,
com: Cyro Monteiro, Ary Barroso, Johnny Half e até mesmo Lamartine Babo, que era grande
65
amigo de seu pai, e no início de sua carreira teve grande incentivo e apoio de seu avô. Eduardo
Souto era dono de um bloco chamado “Tatu subiu no pau” e foi que Lamartine através do
Maestro começou a ser conhecido pelos carnavalescos mais famosos da época (VALENÇA, 1989).
Outros também tiveram o mesmo incentivo do Maestro Eduardo Souto como: Francisco Alves,
Aracy Cortes, Mario Reis e Otília Amorim que ouviam dele no começo de suas carreiras, a palavra
justa de incentivo ou o conselho de colega mais velho e experiente (FESTA DISCOS, s/a).
Eduardo Souto Neto possui uma fita gravada em áudio, onde Lamartine uma entrevista
para um programa de dio e é acompanhado pelo compositor, Nelson Souto, que ao piano, toca e
fala sobre a obra do seu pai, enquanto Lamartine ilustra a entrevista cantando sucessos do Maestro
Eduardo Souto. Ao final, depois do programa gravado, Nelson Souto propõe que todos cantem para
encerrar os sucessos de Lamartine, onde o próprio canta suas grandes marchinhas carnavalescas,
fazendo as costumeiras introduções vocalizadas com muito humor e galhardia, acompanhado pelo
piano de Nelson Souto que na ocasião tinha até marcas das unhas de Lamartine que ao cantar
batucava em seu tampo (SOUTO NETO, 2008)
Interessante ressaltar a continuidade que Eduardo Souto Neto dá, através de seu trabalho, ao
legado deixado por seus antepassados. Entre os diversos projetos realizados por ele no meio
musical, está o “Tema da vitória”, de sua autoria, que ficou gravado na memória afetiva de todos os
brasileiros nas inesquecíveis vitórias do piloto Ayrton Senna. Hoje, a mesma obra é incorporada por
diversas torcidas de futebol como a do Sport Club Internacional de Porto Alegre e do CRF no Rio
de Janeiro, que re-significaram a obra, dando-lhe letra e a executando nos estádios.
Esse movimento comprova o processo de apropriação feito pelas torcidas de futebol, de
períodos em períodos, como aconteceu no início do século XX com os hinos oficiais, mais tarde na
década de 1940, com o hino popular de Lamartine Babo, onde a obra inicialmente foi rejeitada pelo
Clube e hoje figura até no estatuto da agremiação como um dos símbolos oficiais do clube e na
atualidade com a obra de Eduardo Souto Neto que como o próprio autor diz: talvez sejam os hinos
contemporâneos eleitos pelos torcedores”.
Na opinião de Eduardo Souto Neto (2008), a linguagem conseguida por Lamartine Babo nos
hinos populares é atemporal, portanto independente da época, as obras sempre terão prioridade na
memória dos torcedores. Em depoimento dado, no livro: “Ernesto Nazarreth Pianeiro do Brasil”
de Haroldo Costa (2005), Eduardo Souto Neto fala da relação de seu avô com Ernesto Nazareth:
Sei que a relação de Ernesto Nazareth com meu avô, Eduardo Souto, foi fraterna e intensa.
A admiração era recíproca, os dois eram pianistas de grande talento e igualmente
compositores altamente inspirados. A afinidade musical se expressava no amor à música
de Chopin, especialmente as valsas mais românticas. Da mesma forma era grande a paixão
pelo choro e o maxixe. Nas minhas mais ternas recordações de infância vejo meu pai,
Nelson Souto, tocando ao piano músicas de Nazareth e do meu avô. Foram, sem dúvida, a
base da minha formação musical. (Eduardo Souto Neto citado por COSTA, 2005 p. 180)
66
A letra de “O Glorioso”, hino oficial do (BFC) (Figura 21), é possivelmente do jornalista,
poeta e funcionário público, Octacílio Gomes, que nasceu em Caçapava, estado de São Paulo em 27
de novembro de 1893 (COUTINHO et al., 2001). Na obra o jornalista utilizou expressões tão
bélicas quanto a música marcial de Eduardo Souto.
Figura 21 – Capa da partitura do hino oficial do Botafogo Football Club, Glorioso.
A poesia também tem inspiração higienista e coloca o esporte como o redentor da saúde
nacional, como se todos os problemas relacionados à esfera da saúde naquele momento, na
insalubre cidade do Rio de Janeiro, pudessem ser resolvidos através da prática esportiva. O texto
sugere que o Brasil de amanhã seja a pátria da força, da virilidade e da saúde e que o clube junto à
pátria também o faz corrigindo a juventude, numa concepção que visa impor a toda sociedade
padrões de comportamento esteriotipados, frutos da conduta disciplinar própria ao regime de
caserna (GHIRALDELLI JÚNIOR, 2007).
67
A grafia de palavras como estrella e victória mostra que o texto do hino, foi elaborado antes
do acordo de uniformização da ortografia brasileira e portuguesa assinado em 1943 (BRASIL
ESCOLA, 2007), quando caiu por exemplo o uso de “ph” com som de “f”, entre outras mudanças.
O texto de Octacílio Gomes - autor da obra: “Os filhos da Candinha”, da editora Monteiro
Lobato, de São Paulo escrita em 1923, como consta no acervo da FUNARTE - junto à música do
Maestro Eduardo Souto marcam um importante período da história do clube, inclusive tendo sua
oficialidade ratificada no estatuto do clube até os dias de hoje e representa um valioso documento
para análise do contexto sócio-cultural do Brasil naquele período. É bem provável que o poeta em
questão seja mesmo o parceiro do maestro Eduardo Souto na obra alvinegra, pois foram
contemporâneos. A dúvida ainda permanece, pois nos dados biográficos do letrista não há nenhuma
referência ao hino “O Glorioso” (COUTINHO et al., 2001).
O BFR revelou contrastes no decorrer do presente estudo que merecem registro: foi o único
clube na pesquisa de campo, que o grupo de notáveis sequer citou algum hino oficial do clube ou de
outra agremiação. Paradoxalmente o BFR é o único clube pesquisado que contempla as duas obras
oficiais e a obra popular em seu estatuto que fica disponível no sítio da agremiação, para que
qualquer pessoa consulte. Além disso foi um dos únicos clubes a concentrar em seu arquivo e
disponibilizar para pesquisa as partituras originais do hinário alvinegro.
O registro de áudio desta obra é uma gravação caseira de julho de 2009, gentilmente feita
pelo maestro Eduardo Souto Neto que executa ao piano e canta, através de sua partitura (Quadro 5).
O maestro em todos os momentos que foi solicitado esteve pronto a colaborar com a pesquisa que
considera de fundamental importância para preservação da memória do BFR e de seu avô, o
maestro Eduardo Souto. Neto, que tinha gravado na memória a primeira parte do hino, teve que
“tirar” a segunda parte, fazendo um exercício de encaixar letra à música. O resultado final é um
registro histórico, executado em estilo marcial e cantado por quem aprendeu através da transmissão
oral e familiar, já que não existia registro fonográfico algum da obra.
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Glorioso. Hymno do Botafogo Football Club
Botafogo Gentil!
Pura Glória do esporte brasileiro
A expressão mais viril
Da energia e do brio verdadeiro!
A lutar com afan,
Tu farás, corrigindo a juventude,
Que o Brasil de amanhã
Seja a pátria da força e da saúde
Teu futuro e teu passado,
Defendidos sem repouso,
Façam sempre respeitado
Esse teu nome glorioso!
O alvinegro pendão,
O caminho a apontar-nos da victória,
Do Cruzeiro o clarão,
Ás estrellas traduza a nossa glória!
Não te falte jamais
Da ousadia a nobreza e o puro fogo
Que o primeiro, entre os mais,
Ha de ser, ó glorioso Botafogo!
Eduardo Souto e Octacílio Gomes – ano desconhecido
Quadro 5 – Hino Oficial do Botafogo Football Club.
(Fonte: Arquivo do BFR – Rio de Janeiro, 2008).
América Football Club
No fim do inverno de 1904, houve uma cisão no Clube Atlético da Tijuca, que tinha como
esportes básicos duas modalidades muito em voga no período: o ciclismo e as corridas a que
eram realizadas em torno da caixa d’água do bairro. Os dissidentes resolveram fundar um outro
clube compatível com seus ideais. A reunião promovida com tal objetivo aconteceu em 18 de
setembro, na residência do fundador-presidente Alfredo Mohrstedt, no número 83 da Rua Praia
Formosa (atual Rua Pedro Alves), no bairro da Saúde. Alfredo Guilherm Koehler, Alfredo
Mohrstedt, Jaime Faria Machado e Oswaldo Mohrstedt, juntaram-se a mais três amigos Henrique
Mohrstedt, Gustavo Bruno Mohrstedt e Alberto Klotzbucher e formalizaram a fundação do AFC,
69
evocando o novo continente por sugestão de Koehler, ato que foi acatado pelos demais membros
fundadores (CUNHA e VALLE, 1972).
A estréia do AFC no futebol ocorreria em 6 de agosto de 1905 em partida amistosa contra o
Bangu Athlétic Club a convite do Sr. José Villas Boas, presidente da Liga Metropolitana, que fora
fundada meses antes, em maio de 1905 com a participação de várias agremiações como: Futebol
Atlético Clube, Bangu Athlétic Club, Botafogo Football Club, FFC, Esporte Clube Petrópolis,
Paissandu Cricket Clube e Associação Atlética Rio Cricket. Mesmo sem ter ainda equipe de Futebol
na ocasião da Fundação da Liga, o AFC tornava-se um dos fundadores da primeira federação de
clubes cariocas e começaria a desenvolver sua primeira equipe de futebol logo em seguida.
Durante muito tempo o AFC figurou entre as principais equipes do futebol carioca, sendo
inclusive carinhosamente considerado, o segundo time de todo carioca não americano (MENDES,
s/d). A partir da década de 1960 a agremiação passou a enfrentar dificuldades diversas e as
conquistas em campo começaram a se tornar pouco frequentes. Na fase áurea a agremiação
conquistou muitos títulos e expandiu seus limites tendo até os dias atuais uma boa sede social,
estádio próprio e uma torcida fiel e apaixonada que atualmente encontra dificuldades na renovação
de torcedores pela escassez de títulos. Apesar das dificuldades o AFC é um patrimônio do povo
carioca e sua história confunde-se com a história da cidade.
O departamento histórico do clube foi fundado pelo, falecido, dirigente Orlando Rocha da
Cunha que era considerado o principal historiador do clube e durante quase meio século dirigiu-o
com extremo zelo (VALLE et al., 2004). O trabalho de Orlando Rocha da Cunha legou ao AFC um
departamento histórico que até os dias atuais não encontra concorrente nos clubes co-irmãos do Rio
de Janeiro, que de uma maneira geral, cuidam precariamente de seus acervos, contribuindo para que
o tempo apague ou distorça a história de suas conquistas e de seus personagens. Nos livros
adquiridos no departamento histórico do AFC, dois deles escritos pelo próprio Orlando Rocha da
Cunha, encontramos os registros que apontam para a composição do “Hino à bandeira do América”.
Ao entrevistar Fernando Valle, autor da obra: “Campos Sales, 118 – A história do América”,
escrita em parceria com Orlando Rocha da Cunha, o escritor relatou conhecer superficialmente o
“Hino à bandeira do América”, e fez questão de frisar repetidas vezes que a referida obra não
ganhou projeção entre os torcedores do AFC.
Outras características são emblemáticas no hino à Bandeira do América. Na pesquisa de
campo ele nem sequer foi citado por nenhum dos entrevistados e no fichário do AFC no Museu do
Futebol (2008) ele não consta, como aconteceu também com o primeiro hino oficial do FFC e com
o hino oficial do (CRB) que foram excluídos ou nem sequer foram lembrados.
Como na época em que o hino foi composto, o futebol carioca ainda vivia um momento de
consolidação, e os meios de comunicação não propiciavam uma divulgação em massa,
70
consequentemente a obra pode ter ficado restrita a um círculo pequeno de pessoas, o que pode ter
contribuído para o quadro atual de desconhecimento da mesma, o que de maneira alguma a
desqualifica, nem diminui a importância do trabalho de seus autores.
O hino parece ser a primeira obra oficial da entidade. A letra vem publicada no livro “O
América na História da Cidade” escrito a quatro mãos pelo falecido escritor Orlando Rocha da
Cunha e pela também falecida Therezinha de Castro, esta, uma das maiores autoridades em
geopolítica no Brasil (VALLE et al, 2004). A referida obra, segundo o falecido compositor
Almirante, foi composta em 1915, tem música do falecido revistógrafo, músico e compositor,
Freire Júnior (Figura 22), e letra de Luiz França, sobre o qual não se encontraram registros
biográficos, citações literárias, nem mesmo depoimentos, nas entrevistas e na pesquisa de campo
(CUNHA e CASTRO, 1990)
Figura 22 - Freire Júnior, revistógrafo, músico e compositor.
Um dos motivos da obra: “Hino à bandeira do América”, ser considerado por esta pesquisa o
primeiro hino oficial do clube é que a data de sua composição (1915) antecede a data do segundo
hino oficial (1922). Outro motivo, é que a obra é assinada por Freire Júnior, que foi considerado um
dos maiores autores de revistas musicais do Brasil (AO CHIADO BRASILEIRO, 2009), portanto, a
figura do compositor, junto ao AFC, merece ser ressaltada. Freire Júnior, além de ter sido um
importante autor do teatro brasileiro, foi contemporâneo da compositora Chiquinha Gonzaga, que o
incentivou a estudar piano; tem obras em parceria com Ismael Silva, Francisco Alves, Hermes
Fontes; e de 1942 a 1950 foi diretor-tesoureiro da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (SBAT)
(COLLECTOR’S, 2009).
71
Cercado de seus familiares e de seus amigos faleceu no dia 6 do mês passado, na casa de
saúde Dr. Eiras, onde estava internado, o nosso querido companheiro Freire Júnior, que foi
talvez o maior autor do teatro de revistas no Brasil. Tanto aqui como em Portugal, seus
trabalhos tiveram por parte do público acolhida fora do comum. Sua autoria constituía
garantia antecipada de sucesso. A verve de Freire Júnior, o talento, o profundo
conhecimento das coisas do teatro e o longo tirocínio que o fazia um perfeito conhecedor
do gosto das platéias, grangearam-lhe uma reputação firme e destituída de favoritismo.
Durante longos anos foi ele o autor de todas as revistas da empresa Walter Pinto, que lhe
valeram os maiores triunfos no Teatro Recreio. (SBAT, 1956, s/p)
Ricardo Cravo Albin (2008), aponta o compositor Freire Júnior, como figura fundamental na
vida cultural da cidade, fato este, que somado a citação no livro: “O América na história da Cidade”
de Cunha e Castro (1990), confere a esta obra importância suficiente para figurar no hinário do
AFC.
A partitura original do hino à bandeira do América (Apêndice; 3) foi a última a ser
encontrada e com certeza uma das mais trabalhosas. Depois de diversas investidas sem sucesso ao
acervo do AFC, recorremos novamente à memória privilegiada do jornalista Ricardo Cravo Albin
(2009) que aconselhou um contato com a Sociedade Brasileira dos Autores Teatrais (SBAT),
entidade esta que o compositor Freire Júnior fora filiado. O Funcionário Sérgio Santos da SBAT
pesquisou nos arquivos da entidade e não encontrou nenhuma referência à referida obra, entretanto
nos concedeu o telefone de um parente chamado Carlos e de uma pessoa chamada Olga que não
tinham certeza se havia grau de parentesco com Freire Júnior. O telefone do Carlos, dado pela
SBAT não estava atualizado, então partimos para segunda opção que foi o contato com a senhora
Olga.
O telefone da senhora Olga era da cidade de Teresópolis, localizada na região serrana do
estado do Rio de Janeiro, e representava a última esperança de se chegar à partitura da obra de
Freire Júnior e Luiz França, que a pesquisa tinha a letra. Finalmente o contato com a senhora
Olga foi estabelecido e se constatou que a mesma era neta do compositor e além disso, a pessoa da
família que guardava grande parte do acervo do artista.
Olga Muniz Freire Bortolozo (Figura 23), atualmente com 64 anos, moradora de
Teresópolis, tinha 11 anos quando seu avô, o compositor Freire Júnior faleceu. Olga Bortolozo
(2009a) relatou que sua mãe Vilia Muniz Freire Bortolozo também era falecida e que atualmente ela
e seu irmão Vilmar Muniz Freire Bortolozo de 70 anos cuidavam do acervo deixado pelo avô
materno. A princípio Olga Bortolozo (2009a) lembrava vagamente da existência da partitura do
hino, mas confirmou a paixão de seu avô pelo futebol e pelo AFC, inclusive salientando que o
compositor também tinha uma obra chamada Football feita também em homenagem ao clube.
Depois de algum tempo Olga Bortolozo (2009b) nos retornou confirmando a existência das duas
partituras e se comprometendo a nos enviar pelo correio, reiterando também a possibilidade das
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partituras estarem no acervo do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, fato esse que depois
foi confirmado.
Figura 23 – Olga Bortolozo, neta do compositor Freire Júnior ainda criança.
Com a partitura original em mãos podem-se constatar alguns fatos que enquadram a obra de
Freire Júnior e Luiz França dentro do padrão dos hinos oficiais compostos naquele período. A
partitura original (Figura 24), foi editada pela casa Mozart que ficava no Rio de Janeiro, na Av. Rio
Branco, número 127 e sugere o ritmo marcial para execução. Confirma também a informação do
livro: “O América na História da cidade” que dizia que a obra tinha música de Freire Júnior e letra
de Luiz França. Ao final da partitura original observa-se a divulgação de outras obras de Freire
Júnior como a Valsa “Sorrir entre Lágrimas” o Maxixe Parafusando” e o que parece ser uma
terceira obra chamada Desabafo Carnavalesco. A segunda e última partitura do primeiro Hino
oficial do AFC, presente na pesquisa foi feita pelo arranjador Maurício Verde (Apêndice; 3) no
programa de computador “Encore” e foi a utilizada pelo arranjador Bival Farias e pelo músico
Nélio Júnior (Ordem dos Músicos do Brasil - OMB 9331 RJ), para produzir o registro de áudio
da obra.
73
Figura 24 – Capa da partitura do primeiro hino oficial do AFC, Hymno do América Foot-Ball-Club.
O tecladista Nélio Lopes Pinheiro Júnior foi contratado pelo autor para executar a partitura e
posteriormente o produtor e arranjador Bival Farias também foi contratado para finalizar a
produção. O resultado final é uma execução em estilo marcial da parte instrumental com a letra
interpretada pelo cantor Fernando Nascimento (Apêndice; 3).
Pelejas, heróica, forte, avante são palavras que marcam um discreto conteúdo bélico a esta
obra que não faz alusão direta a esporte algum e não apresenta conteúdo higienista, tão comum às
letras dos hinos oficias das demais entidades envolvidas na pesquisa. O que difere esse hino dos
outros é uma aproximação muito forte à linguagem sacra, o que se percebe na utilização de palavras
como: consagrada, sacrossanta, sagrada, baptismo, uncção, o que pode ser visto através da
expressão artística do poeta, como o início ou continuação da relação religiosa, mística e cósmica
das diferentes populações mundiais com o jogo de futebol.
74
Não foram achados registros biográficos de Luis França. Percebe-se ao analisar a letra de
sua autoria, que o mesmo, como foi citado no parágrafo anterior, sacraliza os símbolos, cores e
elementos do clube criando um campo simbólico onde jogo e rito dialogam a todo instante. Para
Wisnik (2008), as práticas com bola na Mesoamérica pré-hispânica, que se perdem na poeira dos
séculos, oferecem um caso limite, extremamente desafiador para a análise, de coalizão entre jogo e
rito, só possível pela união da forma esférica com a matéria da borracha, que deu a essas práticas a
um tempo uma ludicidade única, um domínio emancipador do espaço e uma dimensão cósmica
cercada das sombras da violência ritual.
Segundo Franco Júnior (2007), o futebol que nasceu na sociedade industrial exerce
diferentes funções, inclusive a de alternativa sagrada que no relativo vazio espiritual do mundo
ocidental contemporâneo, cuja a lógica é criar falsas necessidades às quais se deve aderir para
contar com respeito social, muita gente parece substituir as antigas divindades por clubes de futebol
(Figura 25).
José Ortega y Gasset percebeu que “a religião do século XX é o futebol”, Eric Hobsbawn
acompanhou-o e definiu o futebol como “religião laica da classe operária”. A sugestão do
filósofo espanhol e do historiador inglês é preciosa, embora necessite de ser dissecada e
matizada. É inegável que, da mesma maneira que o futebol expressa o mundo bélico e
incorpora sua terminologia, ele o faz em relação à religião. Os jogadores são “ídolos”, a
camisa e a bandeira do clube, “manto sagrado”, os gols aparentemente ilógicos, “espíritas”,
gestos religiosos (ortodoxos ou não) cercam todo ambiente futebolístico. As defesas
incríveis são “milagrosas” e seus autores “santos”. O Maracanã é o “templo sagrado do
futebol brasileiro”, o velho estádio do Barcelona (Les Corts) era chamado “catedral”, como
hoje o estádio da luz, do Benfica. Sintetiza tudo isso um cartaz exibido por um torcedor
durante a copa de 1994: “USA learn! Soccer is religion” (“Aprendam, Estados Unidos!
Futebol é religião”). (FRANCO JÚNIOR, 2007, p. 259)
Figura 25 - Cartaz exibido por um torcedor durante a copa de 1994: “USA learn! Soccer is religion” (“Aprendam,
Estados Unidos! Futebol é religião”).
No livro “Futebol e sociedade Um olhar transdisciplinar”, organizado por Martha
Lovisaro e Lecy Consuelo Neves, o autor Jayme Valente (2005) quando fala sobre sincretismo
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religioso e futebol, cita Antônio Costa que afirma que o próprio jogo oferece o mais denso ambiente
para a adoração, por meio da grandiosidade de seus templos esportivos, verdadeiras catedrais dos
tempos modernos, onde são realizados seus ritos. As bandeiras e uniformes policromáticos –
denotando simultaneamente a identidade e a realidade tribal das torcidas e os cantos gicos,
dissilábicos que ecoam pelos estádios - aumentam o estado de êxtase emocional, que
anteriormente era associado às cerimônias religiosas (LOVISARO e NEVES, 2005).
No Quadro 6, o autor citou duas fontes pelo fato do livro de Cunha e Castro (1990) possuir
letra e data de composição e a partitura original não ter a data, entretanto mantivemos a letra
presente na partitura por ser um documento do período em que a obra foi composta e também pelo
fato de ter pequenas divergências com a letra publicada no livro.
Outro dado que merece registro é que do grupo de torcedores notáveis entrevistados na
pesquisa de campo nenhum citou a obra de Freire Júnior e Luiz França nem a relacionou como
componente do hinário do AFC.
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Hino à bandeira do América
Pavilhão alvi-rubro tremulai!...
Aquecei-vos ao sol de mais victorias!...
Entre os louros colhidos nas pelejas,
Recobrai mais alento para as glórias.
Descobri vossa fronte magestosa,
Recebi a coroa consagrada.
Ao calor que vos fez heróica e forte,
Sacrosanta bandeira abençoada!
(Estribilho)
Companheiros, avante! Caminhemos,
Junto à sombra sagrada destas cores,
Que o pendão bicolor em si resumem,
Num baptismo de glorias e de flores.
(II)
Agitai vosso porte as brandas auras,
Que vos beijam os pés em doce enleio,
Que repetem além os mil triumphos,
Esta uncção que vos traz mais vida ao seio.
Vosso nome queremos, sempre altivo,
Relembrando um passado sobranceiro,
Que o presente venéra nos mostrando,
Um futuro de luz mais altaneiro.
Francisco José Freire Júnior e Luiz França - 1915
Quadro 6 – Primeiro Hino Oficial do AFC.
(Fonte: CUNHA e CASTRO, 1990, p. 123; Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, 2009).
Na memória musical do torcedor americano estão presentes diversas manifestações musicais
que criam a trilha sonora da paixão pelo futebol e pelo clube. Nessas lembranças a obra que
certamente é a mais prestigiada é a marcha popular de Lamartine Babo, que é reconhecida pela
grande maioria como o único hino da agremiação. Entre os americanos notáveis entrevistados na
pesquisa de campo, todos mencionaram a obra de Lamartine Babo como a de maior
representatividade junto ao torcedor, o único que mencionou saber da existência de um hino oficial
foi o médico e atual presidente do clube, Dr. Ulisses Salgado que disse: “tem o hino oficial do
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América, mas te confesso que eu não o conheço, pois, quando o Lamartine Babo fez esse hino
acabou com o hino oficial...”, referindo-se ao segundo hino oficial do AFC.
Além dos hinos oficiais e do popular, existem outras manifestações musicais que foram citadas
na bibliografia dedicada ao clube ou foram lembradas na pesquisa de campo. Tanto o jornalista
Marcelo Castilho, quanto o fundador da torcida organizada ‘Inferno Rubro” Dário Meireles, citaram
o atual presidente da “Inferno Rubro”, Jorge do Batuke como um grande defensor da memória
musical do clube, tendo inclusive reunido em um CD, lançado pela gravadora CID, diversas
músicas, depoimentos e narrações que exaltam o AFC, conforme mostra a listagem abaixo descrita:
1. América X Cabo Friense 2006
Narração: Luiz Penido
2. Hino do América F. C. (Lamartine Babo)
Interprete: Orquestra e coro CID
3. História do América
Narração: Guilherme Lara
Texto: Jorge do Batuke
4. Alegria da baixada (Jorge do Batuke)
Interprete: Anderson Paz
5. Depoimento Luiz Mendes
6. Plácido, um exemplo (Jorge do Batuke)
Narração: Guilherme Lara
7. Sangue na veia – homenagem ao Seu Edevair (Jorge do Batuke)
Intérprete: Dorina
8. América 3 x 3 Botafogo de 1960 (Jorge do Batuke)
Narração: Guilherme Lara
9. América 100 anos de paixão (Pecê Ribeiro e Ataíde)
Intérprete: Pecê Ribeiro
10. Belfort Duarte (Jorge do Batuke)
Narração: Guilherme Lara
11. G.R.E.S. Unidos da Ponte 2004 Hei de torcer, torcer, torcer... América, 100 anos de paixão
(Wilian Ferreira e Jovaci)
Puxador: Nélio Marins
12. Depoimento de Luiz Mendes – parte 2
13. América do saudoso Lamartine (Monarco)
Intérprete: Monarco
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14. América do amanhã
Narração: Yasmin Porto
15. Minha maior alegria (Jorge do Batuke)
Intérprete: Cinthia Santos
16. Depoimento Washington Rodrigues
17. América 2 x 1 Fluminense 1960 (Jorge do Batuke)
Narração: Guilherme Lara
18. América minha vida meu amor (Claudinho Camunguelo)
Intérprete: Cláudio Camunguelo
19. Depoimento de Sérgio Américo
20. 1974 (Jorge do Batuke)
Intérprete: Mauro Diniz
21. Sangue jovem (Jorge do Batuke)
Intérprete: Luiz Paulo
22. Faixa Bônus
Narração: Luiz Penido
O CD citado acima representa na atualidade o documento musical mais completo que se
pode encontrar na sede do AFC e mesmo assim o mesmo não contempla as manifestações oficiais
da agremiação.
O fichário do AFC exposto no Museu do Futebol (2008), traz alguns dados que merecem
uma análise detalhada e criteriosa:
1) Somente constam no documento o segundo hino oficial de Soriano Roberto e Americano
Maia e o hino popular de Lamartine Babo;
2) Não existe data de composição em ambos;
3) No hino oficial, letra e música são conferidos aos dois autores, já na partitura original (Figura
26) aparece Soriano Robert como melodista e Americano Maia como letrista.
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Figura 26 – Capa da partitura do segundo hino oficial do AFC, Hymno do América Foot-Ball-Club.
A data do segundo hino oficial do AFC (1922) foi encontrada somente no livro: “Memória
social dos esportes Futebol e Política: “A construção de uma identidade Nacional” organizado por
Francisco Carlos Teixeira da Silva e Ricardo Pinto dos Santos. O referido livro, na parte II - “Os
papéis sociais do futebol Brasileiro revelados pela música popular (1915 1990)” escrito por Celso
Branco (2006), traz a letra do segundo hino incompleta. A letra completa do hino aparece no livro:
“O América na História da cidade” de Orlando Rocha da Cunha e Therezinha de Castro (1990),
porém sem a data de composição e com pequenas discordâncias da letra presente na partitura
original.
Existe também, uma divergência de informações na maneira de se escrever o nome do
melodista da obra, que aparece em alguns casos como Soriano Roberto e em outros como F.
Soriano Robert. Na capa da partitura encontrada no Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro
(MIS, 2008), o nome é grafado como F. Soriano Robert, já nas referências bibliográficas da
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pesquisa a grafia usada é Soriano Roberto ou F. Soriano Roberto. Pouco se sabe sobre os autores do
segundo hino oficial americano. Segundo o compositor e radialista Almirante em entrevista
concedida ao “Jornal de Hoje”, editado em Nova Iguaçu em 7 de setembro de 1977, a obra é
creditada a Soriano Roberto e Americano Maia que segundo Almirante eram admiradores do clube
(CUNHA e CASTRO, 1990).
F. Soriano Robert foi um compositor, pianista e maestro ativo no Rio entre 1916 e 1923.
Suas atividades estendiam-se desde o teatro de revista até interpretações da obra de Villa-Lobos”
(THOMPSON, 2002, p. 1). Compôs obras carnavalescas, tais como ”Seu Amaro quer” (tango),
“Olha o Abacaxi” (samba), e foi parceiro de Bastos Tigre, grande compositor e publicitário, que
assim como Eduardo Souto também influenciaria decisivamente Lamartine Babo, a investir na
carreira artística. Na biografia de F. Soriano Robert encontrada pelo autor, não foi citado o Hino do
AFC.
Da partitura original da obra, que foi editada por Viuva Guerreiro & Cia. que ficava na Rua
7 de setembro, número 169 no Rio de Janeiro, extraíu-se a letra que consta no Quadro 7. A partitura
original, que foi encontrada no Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro (MIS, 2008), como
demonstra o Quadro 5 (Anexo I) (Apêndice; 3), também confirma a informação de que a música era
de F. Soriano Robert e a letra de Americano Maia, confirmando o erro no fichário do AFC no
Museu do Futebol (2008) que credita letra e música aos dois autores. A segunda e última partitura
presente na pesquisa é a que foi elaborada pelo músico Maurício Verde (Apêndice; 3), que foi a
partitura utilizada por Bival Farias para produzir o registro de áudio.
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Hymno do América Foot-Ball-Club
Alvi Rubro pendão da victória
Que nos campos de lucta se agita
Ao bafejo bemdicto da glória
Que a luctar e a vencer nos incita
Alvi Rubro pendão defraldado
Sobre a moça energia do forte
Tem em cada um de nós um soldado
Se preciso a marchar para a morte
O América sempre na frente
A victória é ha muito seu hall
Vigoroso, tenaz e valente
“Passe”, “dimbla”, “schot”, “goall”
Alvi Rubro pendão posto ao vento
Farfalhado, soberbo as tuas cores
Nos sentimos brotar nosso alento
Novas forças e novos vigores
Nos sentimos ao ver-te, estandarte
Transformarem-se espinhos em flores
Simbolisas, o augusto baluarte
Do campeão, do campeão dos vencedores.
F. Soriano Robert e Americano Maia – 1922
Quadro 7 – Segundo Hino Oficial do AFC.
(Fonte: BRANCO, 2006, p. 199; Museu da Imagem e do som do Rio de Janeiro, 2009).
O único registro de áudio, demonstrado no Quadro 10A (Anexo I) que temos dessa obra é o
executado pelo computador no programa “Finale”, a partir da partitura elabora pelo arranjador
Maurício Verde para esta pesquisa no programa de computador “Encore”. O arranjador Bival Farias
transpôs do programa “Encore” para o Finale” e colocou o programa para executar a obra
inserindo posteriormente a interpretação do cantor Fernando Nascimento. Com a gravação pronta
foi feita uma análise que permitiu enquadrar a obra americana entre os hinos que marcaram a
transição de uma estética marcial, em termos de música e poesia, para uma linguagem mais popular
que seria mais tarde definitivamente imortalizada com os hinos populares de Lamartine Babo.
A poesia de Americano Maia revela grande inspiração bélica na utilização de termos e
expressões como: campos de lucta, soldado e até mesmo marchar para morte levando a paixão pelo
82
clube até as últimas consequências na expressão entusiasmada do autor. Em alguns trechos a
presença do pensamento higienista comum a elite do período pode ter aparecido intencionalmente
ou não em frases como: vigoroso, tenaz, valente, novas forças e novos vigores, muito menos
expressivas e discriminatórias como por exemplo nas obras oficiais dedicadas ao FFC, como
demonstra o Quadro 7A (Anexo I). Nada foi encontrado pelo autor a respeito dos dados biográficos
do letrita Americano Maia.
Em entrevista concedida ao sítio oficial da torcida do Coritiba (COXANAUTAS, 2006), o
professor de música Maurício Uzum que desenvolve um estudo sobre os hinos de clubes brasileiros
desde 2006, com alunos de uma escola privada de São Paulo, relata que dentre os 25 maiores clubes
do Brasil, teve imensa dificuldade de localizar a partitura do segundo hino oficial do AFC do Rio de
Janeiro de autoria de F. Soriano Robert e Americano Maia. Esse fato foi solucionado a partir do
momento que foi mantido contato telefônico com Uzum e enviada a partitura que foi conseguida no
Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro (MIS, 2008). O professor Uzum, também contribuiu
imensamente para esta dissertação enviando todas as partituras elaboradas por ele e as matérias de
televisão que foram realizadas na escola que ele leciona e desenvolve o projeto dos hinos com seus
alunos (Figura 27).
Concebemos a música como uma das expressões humanas, uma das muitas linguagens
utilizadas pelo homem para falar de si, do seu grupo social e de suas impressões sobre o
mundo. A música não existe por si mesma, mas inserida num contexto sócio-cultural.
Quando ouvimos, cantamos ou tocamos música, estamos penetrando parcialmente nesse
grupo social e no pensamento desse homem que a criou. Essa concepção fundamenta a
importância e a necessidade de incluir a música no âmbito da educação. Ampliando a
percepção de si e do mundo, ampliam-se as possibilidades de expressão e de comunicação
do homem. (ALMEIDA; PUCCI, 2003)
Figura 27 - Maurício Uzum com seus alunos de uma escola privada de São Paulo, caracterizados com camisas de clubes
de futebol do Brasil.
83
Club de Regatas do Flamengo
O CRF, fundado em 17 de novembro de 1895, era conhecido anteriormente como Grupo de
Regatas do Flamengo. O Clube surgiu da idéia de José Agostinho Pereira da Cunha. Este,
perguntou a um grupo de amigos numa mesa de bar, o que achavam de fundar um clube de remo.
Todos concordando, logo a notícia se espalhou tendo várias adesões na noite seguinte (VAZ e
JÚNIOR, 2008; CASTRO e VALLADÃO, 2008).
Pherusa foi o nome dado ao barco, comprado pelo grupo, de qualidade duvidosa. Os sete
membros do grupo formado para apanhar o barco, saíram para Ponta Caju, mas este não resistiu ao
vento e a chuva e naufragou. Um novo barco, o Scyra, foi adquirido, motivando a reunião de um
grupo de dezoito pioneiros, que elegeram a primeira diretoria e escolheram as cores do uniforme,
que inicialmente era azul e ouro em listras horizontais. Posteriormente o uniforme seria trocado
pelo rubro-negro em 1896. Por fim estava fundado o Grupo de Regatas do Flamengo, que em 1902,
por sugestão do poeta Mario Pederneiras, mudaria para CRF (CASTRO apud CASTRO e
VALLADÃO, 2008).
Paulo Magalhães (Figura 28), 25 anos depois da fundação do Clube rubro-negro, viria
compor letra e música do hino oficial. Para Vaz e Junior (1999), Magalhães foi goleiro do clube de
25 de agosto de 1918 à 20 de julho de 1919 tendo atuado contra times do Rio de Janeiro que
permanecem até hoje no cenário esportivo, como o Bangu (RJ) e São Cristóvão (RJ) e outros que
deixaram de existir como o Carioca (RJ) e Mangueira (RJ). Além de ter defendido as cores de seu
clube, segundo Coutinho (2001) e Vaz e Junior (1999), o autor nasceu em 22 de janeiro de 1900, no
Rio de Janeiro, e faleceu em 1972. Este foi jornalista, escritor, teatrólogo, poeta, romancista,
cronista, compositor, membro da Academia Carioca de Letras, benemérito da ABI e SBAT, prêmio
SNT (1941) e diplomado em direito (1919).
Figura 28 – Paulo de Magalhães, autor do Hymno Rubro-negro.
O que pode reforçar a idéia, de Coutinho et al (2001), de que Magalhães tenha sido,
realmente, advogado é o fato de constar na capa de sua partitura (Figura 29), o título de Doutor
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(Dr). Tal partitura, do hino oficial do CRF, utilizando-se da grafia da época, é intitulada Hymno
Rubro-Negro, e foi composta em 1920 (AQUINO e CRUZ, 2007). Aos seus 20 anos, o autor, que
deixara de jogar pelo Clube, se tornaria, por alguma razão, um “sócio campeão”. Este é mais um
outro tulo que consta na mesma partitura, editada por Viúva Guerreiro & C., localizada na época
na Rua 7 de setembro, 169 no Rio de Janeiro.
Figura 29 – Capa da partitura do hino oficial do CRF, Hymno Rubro-Negro.
O hino oficial, foi executado pela primeira vez em um jogo contra o Palmeiras, na Rua
Paissandu no Rio de Janeiro, no dia 14 de novembro de 1920 e registrado somente em 1937 no
Instituto Nacional de Música. Também ficou popularmente conhecido no período como
“marchinha”, sendo gravado pela primeira vez em 1932 pelo cantor Castro Barbosa. O referido
cantor mais tarde se notabilizaria ao lançar em 1931, um dos maiores sucessos carnavalescos de
85
todos os tempos, a marcha “O teu cabelo o nega” de Lamartine Babo e Irmãos Valença
(FLAMENGO, 2009; INSTITUTO CULTURAL CRAVO ALBIN, 2008b).
A letra do hino faz referência aos esportes do Clube - campeão de terra e marsendo,
teoricamente, “terra” para o futebol e “mar” para o remo, exaltando suas vitórias. Outra
característica importante da obra, presente na maioria das demais obras oficiais dos outros clubes,
como se observa no Quadro 7A (Anexo I), é o caráter bélico da letra, expresso em versos como “tua
glória é lutare “Lutemos sempre com valor infindo”. Tal característica se coaduna, com o período
histórico vivido pelas sociedades na época, após a Primeira Guerra Mundial.
Um ponto que ratificaria, esse imaginário militar do hino, na atualidade, seria uma das
respostas, do torcedor Anjinho do Flamengo, na pesquisa de campo, quando este faz considerações
ao hino oficial: “acho que todo mundo já deveria ir marchando... o exército rubro-negro”.
O Hymno Rubro-Negro, exposto na íntegra em sua partitura original (Apêndice; 4), dentre
os oficiais, pode ser considerado o hino que obteve mais popularidade, entre os torcedores, sendo
ainda reconhecido e cantado, nos dias atuais, basicamente por três fatores:
1º) A obra, que também era chamada de “marchinha”, ter trazido uma linha melódica
marcial, porém muito próxima das marchas carnavalescas, como se pode comprovar nos registros
de áudio encontrados por esta pesquisa, exposto no Quadro 11A (Apêndice; 4). A esse respeito, o
ex-jogador ídolo do CRF, Júnior, afirmou na pesquisa de campo, que se lembrava do hino ser
cantado nos bailes de carnaval. “talvez até pelo seu ritmo carnavalesco”;
2º) A diferença entre a letra do hino oficial (Quadro 8), apesar de bélica, ser de linguagem
mais simples e popular, das letras dos demais, de conteúdo mais rebuscado, complexo, com
linguagem difícil, como, por exemplo, a do primeiro hino oficial do CRVG;
3º) A questão de o povo estar sempre junto ao CRF em seus treinos, tornando-o um “clube
de massa”, uma vez que não possuía ainda sua sede na Gávea que seria construída em 1936. Os
outros clubes eram fechados, cercados por muros e mantinham seus treinos privados. o CRF
treinava a céu aberto, em um terreno baldio, no campo público da Praça do Russel (AQUINO e
CRUZ, 2007).
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Hymno Rubro-Negro
Flamengo, Flamengo
Tua glória é lutar!
Flamengo, Flamengo
Campeão de terra e mar
Saudemos todos com muito ardor
O pavilhão do nosso amor
Preto e encarnado, Idolatrado
Dos mil campeões, do vencedor
Flamengo, Flamengo
Tua glória é lutar!
Flamengo, Flamengo
Campeão de terra e mar
Lutemos sempre com valor infindo
Ardentemente, com denodo e fé
Que o seu futuro inda será mais lindo
Que o presente
Que tão lindo é
Paulo de Magalhães – 1920
Quadro 8 – Hino Oficial do CRF.
(Fonte: AQUINO e CRUZ, 2007, p. 25).
Além da partitura original encontrada no Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro
(MIS, 2008), foi feita pelo músico e arranjador Maurício Verde, por encomenda do autor, uma
partitura no programa “Encore”. O professor de música Maurício Uzum enviou para a pesquisa uma
partitura da obra rubro-negra, porém incompleta pois, constava no documento apenas o refrão.
O jornalista João Pimentel também citou, na pesquisa de campo, o refrão: “Flamengo,
Flamengo tua glória é lutar...” apesar de não saber precisar se este era realmente um hino do Clube
da Gávea, uma música qualquer ou mesmo um hino oficial. Diferentemente, Júlio Gomes, ex-
presidente jurídico do Clube, cantou trechos e reconheceu o hino oficial como sendo realmente,
além de oficial, o primeiro hino, apesar de afirmar que o de Lamatine Babo foi o que marcou. A
cantora Sandra de foi a única dentro do grupo de entrevistados do CRF que não citou trechos do
hino oficial. Esta respondeu na quarta pergunta do Roteiro de Entrevista (Anexo II) que havia várias
músicas de cantores populares, e citou “Domingo eu vou ao Maracanã...”, de Neguinho da Beija-
flor.
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Outro dado relevante foi que em visita aos clubes, na boutique do CRF, foi encontrado um
CD que continha, em duas de suas faixas, o hino popular de Lamartine Babo e o oficial de Paulo de
Magalhães. Nos demais clubes não foram encontrados registros de áudio com os hinos oficiais.
Todos esses fatores atestam que o Hymno Rubro-Negro, é o hino mais conhecido, entre os oficiais,
dos principais Clubes de futebol do Rio de Janeiro, e perpetuou-se junto aos torcedores nos dias de
hoje.
Club de Regatas Vasco da Gama
Ícone da luta contra o racismo e pela igualdade de direitos, o CRVG, traz em sua história
mais do que grandes conquistas esportivas. Severas batalhas travadas na esfera social, conferem ao
clube cruz-maltino troféus simbólicos que poucas agremiações do Brasil podem ou poderão ostentar
um dia. Mergulhar na centenária cruzada vascaína é descobrir os detalhes de uma agremiação que
cresceu pelo esforço coletivo e democrático de brasileiros de todas as raças, credos, nacionalidades
e classes sociais. Assim o CRVG é hoje um dos maiores símbolos da luta pela igualdade de direitos
no Brasil.
Em 1898, a comunidade portuguesa do Rio de Janeiro celebra à sua maneira o quarto
centenário da chegada do navegador Vasco da Gama à Índia e cria um clube náutico que tem o
nome do navegador (ENDERS, 2002). Um dos programas prediletos de boa parte da população
carioca, aos domingos, era deslocar-se para os arredores de Santa Luzia e do passeio público e
assistir às provas de remo realizadas nas águas limpas da Baía de Guanabara (CABRAL, 1998).
Nesse contexto surge o CRVG, que assim como a maioria das agremiações daquele período, nasce
para dedicar-se apenas ao remo.
A criação do Clube ocorre apenas dez anos depois da abolição da escravatura, momento de
profundas transformações sociais, com intenso volume de imigrantes estrangeiros chegando à
cidade, conjugados à migração interna de lavradores e ex-escravos provenientes das zonas cafeeiras
em decadência o que fez da última década do século XIX, sob todos os aspectos, um período
turbulento na vida da cidade (DEL BRENNA, 1985).
No início do século XX, mais precisamente em 1904, momento em que a prática esportiva
estava intimamente relacionada à elite carioca que ainda discutia se o exercício físico traria ou não
benefícios à saúde, o clube demonstra coragem e pioneirismo elegendo presidente Cândido José de
Araújo, primeiro negro a dirigir um clube esportivo no Rio de Janeiro. Essa seria a primeira
manifestação que colocaria o clube na vanguarda da luta contra o racismo (CABRAL, 1998).
Animada com uma exibição da seleção de futebol de Lisboa no Rio de Janeiro em 1913, a
colônia lusa deixou de focar a atenção somente no remo e partiu para criação de clubes de futebol
88
pela cidade. O departamento de futebol do clube surgiria da incorporação de um time denominado
Lusitânia, que, cedendo seus uniformes, chuteiras e bolas, incorporar-se-ia ao CRVG, que
disputaria sua primeira partida de futebol em 1915 (COHEN, 2007).
Por ser uma das primeiras agremiações a entender que o estilo brasileiro de jogar futebol
também estava intimamente ligado às camadas mais populares da sociedade, o clube rapidamente
chega em 1923 à primeira divisão carioca e ainda conquista o campeonato, recrutando um time que
jogava com três negros e um mulato. Os grandes clubes cariocas não conseguindo eliminar o
CRVG da competição seguinte, exigem uma série de condições que objetivavam coibir a
participação de jogadores negros e pobres. Entre as condições impostas para a participação no
campeonato constava a exigência de que cada jogador assinasse seu próprio nome. Com a maioria
dos jogadores analfabetos o cruz-maltino não se intimidou e providenciou aulas de leitura e escrita
e, quando necessário, rebatizou-os: para simplificar a escrita (MÁXIMO, 2005/2006).
Ao consultar o livro Memória do Cinqüentenário 1898-1948, organizado por Candido
Fernandes de Carvalho (1948), com a cooperação de professor Manoel Ferreira de Castro Filho,
Doutor José da Silva Rocha e Doutor Alfredo Souto de Almeida, no Real Gabinete Português de
Leitura no Rio de Janeiro, fica evidente, nesta literatura, o caráter conciliador e não-discriminatório
expressado pelo autor a respeito dos ideais vascaínos.
A idéia do apoucamento físico de nossa raça, disseminado entre a coletividade brasileira, é
obra de emissários estrangeiros, pagos a peso de ouro para abater-nos o moral e infundir-
nos desconfianças quanto às nossas possibilidades. Muitos brasileiros, moralmente
degenerados, fazem coro com esses assalariados do banditismo internacional e pressagiam
a falência do Brasil, sem o auxílio do braço de certas imigrações indesejadas. Como se o
brasileiro vivesse somente das posições de mando, como se não fosse êle quem regasse os
campos com suor de sua fronte e apodrecesse nas minas para glória e fausto de alguns
senhores alienígenas! Em todos os tempos o brasileiro provou ser um povo forte. Do nosso
sertanejo, tão bem descritos nas páginas magistrais de Euclides da Cunha, até ao homem
da cidade, está confirmada essa proposição. Basta olhar para os músculos rijos e bem
formados dos nosso caboclos, deitar as vistas por essas praias e campos, onde o sol doira a
pele dos nossos jovens, dando-lhes a saúde física e o bem estar do espírito, para que se
esboroe a aleivosia quinta colunista de que o Brasil é <<país de mestiços combalidos>>. O
que se nos afigura é que o sangue mestiço, que tantas cegas faz nos tubos de ensaio na
hipocrisia arianista, seja temido porque ferve e transborda nos momentos graves da
nacionalidade. Discorrendo ainda pouco, sôbre a saúde e o vigor da raça brasileira
atestava Deodato de Moraes: <<O padrão eugênico brasileiro não é e nunca foi inferior ao
padrão clássico estrangeiro. Pelo contrário, não possuímos qualidades superiores de
agilidade, destreza e perspicácia, como o nosso tipo central de beleza eugênica,
cientificamente já obtida em cânones preciosos, são harmônicos e graciosos em suas linhas
estruturais. E a variabilidade, para mais ou para menos, desse cânone étnico, acompanha a
mesma curva dos demais povos. O que nos cumpre em matéria de educação do corpo, é
talvez esquecer um bocado da beleza muscular impressionista para substituí-la pela
riqueza metabólica de euforia indiscutível. Não devemos, portanto, chorar as belezas
gregas num plangente desamor do que é nosso. A riqueza das harmonias esculturais
brasileiras existe materializada em tipos masculinos e femininos de perfeição e agrado
notáveis, e o que cabe, apenas, é torna-la conhecida para influência psíquica da
coletividade.>> Do que precisamos, isso sim, é de nos entregarmos, de maneira
disciplinada e com finalidades definidas, à educação desse corpo forte que, mercê de Deus,
sempre foi o brasileiro. (CARVALHO, 1948, p. 44 e 45)
89
O primeiro hino oficial do CRVG foi criado e ofertado ao clube, pelo poeta e compositor
Joaquim Barros Ferreira da Silva. A composição chegou às mãos da diretoria do clube por
intermédio do então vice-presidente Raul Ferreira. A chegada do hino refletia as simpatias
despertadas pelo clube nos mais diversos círculos da vida social da cidade (ROCHA, 1975).
No fichário do clube, exposto no Museu do Futebol (2008), foram citados os dois hinos
oficiais e o hino popular. No fichário do FFC, do AFC e do BFR, que também possuem dois hinos
oficiais, somente uma citação, o que torna a informação do clube cruz-maltino mais precisa e
completa. Ainda no fichário do museu o ano de composição do primeiro hino oficial vascaíno é
1918, porém ele ganharia um registro fonográfico um pouco mais tarde como consta na ficha
técnica da gravação reproduzida abaixo (PRAIS, 2008, s/p):
Título: Hino Triunfal do Vasco da Gama
Intérprete: H. da Costa e Orfeão Portugal
Compositor: J. Ferreira da Silva
Acompanhamento: Orquestra Brunswick
Gravadora: Brunswick
Lançamento: Setembro 1930
Disco/Álbum: 10068
Lado/Faixa: Lado A
Rotações: 78 RPM
Coleção: José Ramos Tinhorão
A música, como demonstra o Quadro 6A (Anexo I) segue a característica marcial comum ao
período e é muito bem executada pela orquestra Brunswick que deixou um primoroso registro
histórico. Um fato interessante que não pode deixar de ser citado é o carregado sotaque português
do intérprete H. da Costa que caracteriza muito bem o clube como um marco da influência lusa na
cidade. É oportuno ressaltar nesta pesquisa, que no Rio de Janeiro contemporâneo vivemos com a
última geração de imigrantes que ainda falam com o sotaque carregado como o do intérprete H. da
Costa, o que faz desta gravação um valioso registro.
Nos livros feitos nos festejos de comemoração do cinqüentenário (CARVALHO, 1948) e do
centenário (CABRAL, 1998), uma grande falha foi o fato do “Hymno Triunfal do Vasco da Gama”
não ter sido colocado na parte que trata dos símbolos do clube. Somente estão citados no livro do
centenário o segundo hino Oficial “Meu Pavilão”, o grito de guerra e o hino popular.
A obra de Joaquim Barros Ferreira da Silva, foi composta em 1918, apenas três anos depois
do clube ter jogado sua primeira partida de futebol, portanto o remo ainda tinha mais influência e
90
adeptos do que os desportos praticados em terra, mas mesmo assim o autor não deixou de afirmar
na letra que o clube nunca abaixou a cerviz, quer seja em terra, ou mesmo no mar. O primeiro título
conquistado em “terra e mar” viria em 1924, ano que o clube levou os títulos concomitantes de
remo e futebol (CABRAL, 1998). Nenhum dado biográfico foi encontrado sobre o autor do
primeiro hino vascaíno. Espera-se que a partir da divulgação desta pesquisa, seja possível colher
novos dados que tragam luz à carreira desse autor e que se possam conhecer outras obras de sua
autoria, entrevistando-o ou tornando pública sua imagem através de registros iconográficos, caso
tenha falecido.
Pela trajetória do CRVG na luta pela igualdade de direitos na sociedade carioca, o seu
primeiro hino não poderia ser diferente. Não se conteúdo de caráter higienista na letra, mas
percebe-se uma atmosfera marcial e bélica, que registra expressões comuns a esse universo, como:
Avante então que pra vencer sem discussão basta querer lutar, lutarou ainda Lança em campo
o seu grito de guerra invencível, nervoso arrepio faz tremer o rival e a terra”.
Essa obra representa uma verdadeira mensagem de confiança no futuro da agremiação num
momento em que a mesma representava a soma de entusiastas que ascendiam a centenas por toda
cidade e acompanhavam as atividades das representações do clube constituindo-se na vanguarda das
legiões futuras que o haviam de ajudar a ser realmente mais glorioso (ROCHA, 1975).
Para se entender a representatividade dessa obra na primeira metade do século XX, numa
cidade sem estrutura de comunicação e com o futebol ainda buscando uma estrutura profissional,
segue abaixo o depoimento de Mauro Prais (2008) sobre uma torcedora vascaína desse período.
91
A primeira vez que escutei a melodia do hino foi em maio de 1998, numa gravação
gentilmente enviada por Ana Beatriz Campos Nogueira. Nessa gravação, a avó dela, D.
Rosa Fernandes Portella Brandão, uma das mais ilustres vascaínas de todos os tempos,
reconstituiu o hino que costumava executar ao piano na sua juventude. D. Rosinha é a
memória viva dos primeiros tempos do nosso Vasco, tendo sua família atuado com grande
abnegação e entusiasmo na vida esportiva, social e política do clube: seu pai, Alberto
Balthazar Portella, foi diretor e tesoureiro do Vasco; sua mãe, Avelina Fernandes Portella,
foi a primeira mulher a ser admitida como sócia do clube e madrinha da equipe de futebol;
D. Rosinha é viúva de Adão Antônio Brandão, o autor do primeiro gol oficial do Vasco e
um dos maiores e mais laureados atletas da história do clube em diversas modalidades
esportivas. Por ocasião da visita que realizou à sua família em Teófilo Otoni, para
comemorar o seu 91º aniversário, D. Rosinha relembrou com vivacidade o primeiro hino do
Vasco: "Todo mundo naquela época o cantava e era, enfim, um hino conhecido. Depois
desse veio outro, mas esse é que era o primeiro. Eu o tocava também ao piano e todo
mundo na minha casa fazia coro, quer dizer, era uma alegria esse hino do Vascoem casa,
principalmente quando o Vasco ganhava, acabava tudo em festa, e tal. Então é um hino que
de fato traz muitas recordações para as pessoas da minha idade, porque é um hino muito
antigo." Em seguida, demonstrando possuir memória privilegiada e afinação invejável, não
obstante seus 91 anos, D. Rosinha cantou o primeiro hino do Vasco, da primeira à última
estrofe. Empolgada, sentou-se ao piano, o qual não tocava mais de 20 anos, e dedilhou a
melodia do hino. Este depoimento histórico foi registrado em fita de áudio por sua neta,
Ana Beatriz Campos Nogueira. Sem esta iniciativa, o hino, sem dúvida, corria o perigo de
se tornar esquecido para sempre. Por isso, em nome de toda a imensa torcida vascaína,
envio meus carinhosos agradecimentos a D. Rosinha, por resgatar o primeiro hino do C.R.
Vasco da Gama para as atuais e futuras gerações de vascaínos, e a Ana Beatriz, pelo envio
da preciosa gravação. (PRAIS, 2008, s/p)
A partitura original da obra de Joaquim Barros Ferreira da Silva não foi localizada pela
pesquisa. O professor de música, Maurício Uzum, cedeu a partitura da obra que escreveu para
desenvolver projetos educacionais com seus alunos. Também foi feita pelo músico e arranjador
Maurício Verde do Rio de Janeiro, uma partitura a partir do registro de áudio conseguido pela
pesquisa (Apêndice; 5) que foi transposta para o programa de computador “Encore”que possibilita a
execução da música sem a interpretação da letra.
O diretor de futebol de base do CRVG, Humberto da Rocha Viana, assim como todos os
notáveis entrevistados na pesquisa de campo, não citaram o primeiro hino oficial cruz-maltino
(Quadro 9), porém, o dirigente vascaíno, que é professor de Educação Física por formação, carrega
uma herança familiar que o faz de alguma forma ser sensível ao impacto social, político e
fisiológico que a música imprime em todo ser humano. Humberto é neto de Alfredo da Rocha
Viana, o popular maestro Pixinguinha que segundo Cabral (1997) é apontado por quase todos que
mergulham fundo no estudo de nossa música como um dos maiores nomes que ela produziu em
todos os tempos. Viana, o neto, ao falar da relação entre a música e as torcidas de futebol do Rio de
Janeiro, deu expressiva contribuição à pesquisa ao dizer: é através da música que você conhece a
história de um povo, sua cultura. E o futebol como esporte não fica longe disso. As pessoas
extravasam através do grito, da música. E normalmente os torcedores tentam musicar, transmitir
esse sentimento pelo clube em letra”.
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Hymno Triunfal do Vasco da Gama
Clangoroso apregoa, altaneiro
O clarim estridente da fama
Que dos clubes do Rio de Janeiro
O invencível é o Vasco da Gama
Se vitórias já tem no passado
Glorias mil há de ter no porvir
O seu nome é por nós adorado
Como estrela no céu a fulgir!
Avante então
Que pra vencer
Sem discussão
Basta querer
Lutar, lutar
Os vascaínos
De terra e mar
Os paladinos
É mundial
A sua fama
“Vasco da Gama”
Não tem rival
Mais uma glória
Vai conquistar
Lutar, lutar
Para a vitória
Sobre os peitos leais, vascaínos
Brilha a Cruz gloriosa de Malta
Corações varonis, leoninos
Que o amor pelo Vasco inda exalta.
Quando o Vasco em qualquer desafio
Lança em campo o seu grito de guerra
Invencível, nervoso arrepio
Faz tremer o rival e a terra!
Vascaínos, avante é lutar
Sempre o Vasco venceu quando quis
Quer em terra, ou ainda no mar
Nunca o Vasco baixou a serviz
Viva, pois, nosso Vasco da Gama
Nosso clube leal, valoroso.
Tudo o diz, assegura e proclama
Nosso Vasco é o mais glorioso
Joaquim Barros Ferreira da Silva – 1918
Quadro 9 – Primeiro Hino Oficial do CRVG.
(Fonte: ROCHA,1975, p. 245-246).
93
Ao consultar o fichário presente no Museu do Futebol (2008), o autor constatou que dos
clubes cariocas envolvidos na presente pesquisa, somente o CRVG tinha o registro dos dois hinos
oficiais e do hino popular creditados na exposição. O segundo hino vascaíno segundo o Museu é a
obra “Meu Pavilhão” de autoria de João de Freitas (letra) e Ernani Corrêa (música), que diferente
das demais obras do clube cruz-maltino, não trazia data de composição.
Uma forte característica desta obra, percebida no transcorrer do estudo, foi sem dúvida, a
ausência de dados biográficos de seus autores aliado ao total desconhecimento por parte dos
torcedores do ano de sua autoria. As informações mencionadas acima não foram encontradas nas
entidades citadas no capítulo II, não foram citadas na pesquisa de campo pelos notáveis e não
constam nos livros do cinqüentenário (CARVALHO, 1948) e do centenário (CABRAL, 1998) do
CRVG.
O livro comemorativo ao cinquentenário do clube chamado “Club de Regatas Vasco da
Gama: Memória do cinquentenário 1898-1948”, é uma obra literária difícil de ser encontrada para
venda e que atualmente pode ser achada com alguma dificuldade, em sebos virtuais por preços que
variam de quinhentos a mil reais. Ao consultar o livro no Real Gabinete Português de leitura no Rio
de Janeiro, verificou-se que na parte da obra que contempla os simbolismos do clube nenhum hino é
citado.
Para Prais (2009), que publicou o único registro de áudio encontrado da obra na internet, a
partitura do segundo hino vascaíno teria sido “escaneada” do livro do cinqüentenário vascaíno e
publicada por ele no ambiente virtual, porém a informação de que a partitura consta na obra
cinquentenária, não foi confirmada por este autor no exemplar existente do livro no Real Gabinete
Português de leitura do Rio de Janeiro. A referida partitura (Apêndice; 5) atualmente pode ser
encontrada na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e no ambiente virtual citado acima.
A obra comemorativa ao centenário do clube “Livro oficial do centenário do Club de
Regatas Vasco da Gama” (CABRAL, 1998) traz publicada no capítulo denominado: “Vasco e seus
Símbolos”, na página 135, a letra da obra “Meu Pavilhão” (Figura 30). A letra publicada no livro
centenário está incompleta, pois diverge da letra do registro de áudio (Apêndice; 5) e da letra
publicada no Museu do Futebol (2008). A letra do livro traz equivocadamente a palavra “spectro”
no lugar da palavra “cetro”, além de suprimir as frases “Na cancha és o pioneiro” e És o mais
forte entre os mil”.
94
Figura 30 Hino incompleto, grito de guerra da torcida e mascote do clube, publicados no livro do centenário do
CRVG em 1998.
95
Segundo Vasco da Gama (2006) o segundo hino oficial “Meu Pavilhão” foi composto antes
de 1949 e gravado em 1974 pelos jogadores campeões brasileiros que teriam realizado tal feito, para
que a renda obtida com as vendas dos discos, revertesse para a premiação pelo título. Com o
objetivo de descobrir algum dado sobre os autores da obra e sobre o real ano de sua autoria o autor
manteve contato com o atual presidente do clube, o ex-jogador Roberto Dinamite (2008) (Figura
31), que participou juntamente com: Andrada, Miguel, Alcir, Fidélis, Moiséis, Alfinete, Jorginho
Carvoeiro, Zanata, Ademir e Luis Carlos da conquista do campeonato brasileiro de 1974, para
colher dados mais precisos sobre o processo de gravação e as características do hino. Dinamite
(2008) afirmou não lembrar de nenhuma gravação e salientou não conhecer a obra, mesmo depois
do autor a ter cantarolado ao telefone. O desconhecimento da obra e da gravação não terminou no
presidente do clube. Foi mantido contato com o atual coordenador técnico das categorias de base de
futebol do CRVG, o professor Nelson Rosa Martins de 71 anos que forneceu os telefones dos ex-
jogadores Alfinete (Figura 31), atual coordenador do departamento amador de futebol e Miguel
(Figura 31), que assim como Dinamite, demonstraram total desconhecimento sobre a obra e sobre a
mencionada gravação. Portanto, a ficha técnica com todo o detalhamento da gravação permanece
desconhecida para o autor até a presente data.
Figura 31 Foto do time do CRVG, campeão brasileiro de 1974. Em pé: Andrada, Miguel, Alcir, Fidélis, Moiséis e
Alfinete; agachados: Jorginho Carvoeiro, Zanata, Ademir, Roberto Dinamite e Luís Carlos (da esquerda para direita).
Os dados biográficos dos autores dessa obra são escassos. No Museu do Futebol (2008)
credita-se a música a Ernani Corrêa. Autor, do segundo hino oficial, que não foi encontrado em
registro biográfico algum. Sobre João de Freitas que é citado no museu como letrista da obra, foi
encontrado na Academia Brasileira de Letras do Rio de Janeiro, um registro biográfico de um outro
João C. de Freitas, nascido no Rio Grande do Sul em 27 de janeiro de 1880 e falecido na cidade de
96
Porto Alegre em 8 de fevereiro de 1950. Freitas exercia profissionalmente as atividades de
novelista, contista, teatrólogo, jornalista, professor e advogado (COUTINHO, 2001). Em momento
algum é citado que João C. de Freitas é o compositor da obra Cruz-maltina. Portanto, fica em aberto
se João de Freitas e João C. de Freitas são a mesma pessoa.
O autor classifica a obra na dimensão melódica como uma marcha popular, similar aos hinos
populares de Lamartine Babo, como exposto no Quadro 6A (Anexo I). O maestro Eduardo Souto
Neto também afirma que é uma marcha popular desprovida de características marciais (SOUTO
NETO, 2009). Como se pode observar no Quadro 7A (Anexo I), a letra que também é classificada
pelo autor como Histórico-Narrativa, traz aspectos interessantes como a relação do time com o
Brasil e com a colônia portuguesa que foi identificada no hino como “terras d’além-mar”. A
presença do mar evocando a origem do clube se relaciona com a firmeza dos braços dos atletas
remadores que na obra figuram como filhos, dando um sentido paternalista à poesia.
O clube ganha ares nobres quando os autores sabiamente usam o cetro dos Reis, para
representar a vitória metaforicamente. Com a palavra cancha, pouco usada na atualidade, o clube é
magicamente trazido do mar à terra e aporta nos diversos gramados, que ultrapassam as divisas
nacionais valorizando o time que conquistou projeção internacional.
O jornalista Roberto Garófalo foi o único notável vascaíno a citar na pesquisa de campo a
obra oficial em questão. Garófalo, que descende de uma família de vascaínos, foi durante as gestões
do ex-presidente Eurico Miranda, assessor de imprensa da agremiação. O jornalista, durante a
pesquisa de campo, comentou que muitas vezes o hino cantado pelo torcedor não é a obra oficial da
agremiação e sim uma música surgida depois que tenha caído no gosto popular. No caso do CRVG,
Garófalo disse nunca ter escutado o hino oficial, mas sabia da existência e confirmou pegando o
livro do centenário e consultando-o naquele exato momento. Garófalo classificou equivocadamente
a obra de Ernani Correa e João de Freitas como o primeiro hino vascaíno e salientou que a obra de
Lamartine Babo veio depois dessa, o que parece ser uma informação intuitiva, pois a data de
composição da obra “Meu Pavilhão” (Quadro 10) é desconhecida e pela dedução do jornalista a
mesma teria sido composta antes da obra de Babo. O jornalista ainda comentou que nenhum
vascaíno conhece a obra “Meu Pavilhão”, mas certamente uma parcela de vascaínos tem acesso a
mesma, pois, apesar da precária divulgação da obra nos veículos oficiais da agremiação o hino e
partitura estão disponíveis na internet em sítios alternativos possibilitando o acesso dos torcedores.
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Meu Pavilhão
Vasco da Gama evocas a grandeza
Daqui e d'além mar
Teu pavilhão refulge de beleza
Perene a tremular
Dos braços rijos de teus filhos,
O mar sagrou-te na história
Reflete pelos céus em forte brilho
O cetro que ostentas da vitória!
Na cancha és o pioneiro!
És o mais forte entre os mil!
Com a fama que ecoa no estrangeiro
Elevas o esporte do Brasil!
Ernani Corrêa e João de Freitas – ano desconhecido
Quadro 10 – Segundo Hino Oficial do CRVG.
(Fonte: Museu do Futebol – São Paulo, 2008).
98
A contribuição de Lamartine Babo para os clubes de futebol do Rio de Janeiro
Ao ser perguntado sobre o motivo de tantos compositores, contemporâneos de Lamartine
Babo como, por exemplo, Ary Barroso, Antônio Maria e o próprio Lamartine, envolverem-se com
futebol profissionalmente, quer fosse compondo para os clubes, transmitindo partidas, ou até
mesmo como comentaristas nos programas de dio, o jornalista Sérgio Cabral (2008) (Figura 32)
afirma que: “...são seres cariocas, e os seres cariocas naturalmente envolvem-se com a música
popular e com o futebol...”. Sérgio Cabral, logicamente não se referia ao local de nascimento dos
ilustres compositores, mais ao estado de espírito dos que realmente entendem a alma da cidade
como era o caso do mineiro Ary Barroso, do pernambucano Antônio Maria e do carioca de alma e
de nascimento Lamartine Babo.
Figura 32 – Entrevista com o jornalista Sérgio Cabral.
Lamartine Babo (Figura 33) tinha apenas dois meses de idade quando o prefeito do Rio de
Janeiro, Pereira Passos começa a demolição de 641 prédios e 21 ruas para dar passagem a Avenida
Central em 8 de março de 1904 (ABRIL CULTURAL, 1977). A casa da família Babo ficava ali
perto na Rua Teófilo Otoni e logo seria demolida, o que fez com que seus pais logo decidissem
mudar para o bairro da tijuca, onde Lamartine foi criado ao som de valsas e chorinhos que sua mãe
e irmãs costumavam tocar.
99
Figura 33 – Lamartine Babo.
Foi no Colégio São Bento que Lamartine concluiu o ginásio e fez suas primeiras músicas,
uma delas a Valsa Torturas de Amorque seria uma homenagem involuntária a seu pai, grande
apreciador de valsas, que morreria no ano de 1917. O falecimento de Leopoldo Babo deixou a
família em situação financeira delicada o que obrigou Lamartine a ir trabalhar como boy em uma
empresa de fornecimento de energia elétrica, do Rio de Janeiro, denominada Light.
Nas noitadas de boêmia o jovem compositor procurava conhecer o pessoal ligado ao teatro e
a música. Foi assim que se tornou amigo do Maestro Eduardo Souto, proprietário da Casa Carlos
Gomes, que lhe daria uma oportunidade no bloco que financiava, onde Lamartine saiu cantando a
marchinha de Souto “Não sei dizê” em 1924, ano que encerraria sua carreira na Light.
Na década de 1930, o rádio entrara em cena e não era mais necessário financiar blocos
para divulgar músicas. O sucesso passou a ser fabricado nos estúdios, atingindo toda população da
cidade. Lamartine, que tinha algumas marchas gravadas, estréia no microfone da Rádio
Educadora começando a moldar um estilo que não envolveria somente suas músicas, mais também,
piadas, trocadilhos e muito bom humor, que seria para sempre uma de suas marcas registradas.
Os maiores sucessos da década de 1930, ficaram realmente por conta da música
carnavalesca, com obras fundamentais no cancioneiro popular carioca como Agora é Cinza de
Bide e Marçal, O orvalho vem caindode Noel Rosa e Kid Pepe e na área das marchinhas O teu
Cabelo não negade Irmãos Valença e Lamartine Babo que se firmava como um especialista no
gênero (CABRAL, 1996). Até hoje a referida marchinha é considerada um verdadeiro hino do
carnaval brasileiro, executada no Brasil e no exterior juntamente com outros sucessos carnavalescos
100
do autor como: Linda Morena”, Moleque Indigesto”, Grau dez”, Marchinha do Grande Galo,
entre outros (Anexo VII)
Paralelo à carreira de compositor (Anexos VII e VIII), Lamartine fez uma carreira no rádio,
trabalhando nele durante 25 anos. Em 1933 trocava o Horas Lamartinescasda Rádio Educadora
pela Canção do dia”, na Rádio Mayrink Veiga onde produziu ainda nessa emissora o programa
Clube da meia-noite”. Na Rádio Nacional fez os programas Clube dos fantasmas” eVida
pitoresca dos compositores da nossa música popular”, mas sua voz inconfundível ficou mesmo
ligada a um dos mais famosos programas que teve o rádio brasileiro: O trem da alegria”. Neste
programa Lamartine brincando com sua magreza e dos companheiros, apresentava o “Trio de Osso
que era composto pelo radialista Héber de Bôscoli que representava o maquinista, Yara Sales, a
foguista, e Babo apresentava-se como o guarda-freios do trem. O nome era uma alusão bem
humorada ao Trio de Ouro”, famoso grupo constituído na música popular brasileira por Herivelto
Martins, Dalva de Oliveira e Nilo Chagas (VALENÇA, 1989).
O rádio serviu de plataforma eletrônica para uma geração brilhante de compositores,
oriundos das classes populares e da classe média, que foram os responsáveis pela
consolidação da linguagem do samba e da música popular brasileira como um todo: João de
Barro o Braguinha –, Noel Rosa, Ary Barroso, Lamartine Babo, Ismael Silva, Alcebíades
Barcelos, o Bide. Em relação aos intérpretes, surgia no rádio o primeiro star system
brasileiro: Francisco Alves, Carmem Miranda, Silvio Caldas, Orlando Silva, entre outros.
(NAPOLITANO, 2007)
Os hinos populares dos clubes de futebol do Rio de Janeiro foram lançados no programa O
Trem da alegria na Rádio Mayrink Veiga na década de 1940. Não se sabe ao certo em que
circunstâncias eles surgiram, pois os arquivos com os programas gravados sumiram no golpe militar
de 1964 e como afirma o jornalista Sérgio Cabral (2008): “...a ditadura assassinou a rádio Mayrink
Veiga e seus arquivos, mas no Brasil existe uma outra frente que também aniquila de forma bem
parecida , que é a ditadura do descaso...” , referindo-se há pouca seriedade que de um modo geral,
se tem com o registro da memória nacional.
Existem algumas versões para o surgimento e lançamento dos hinos populares: a primeira
hipótese menciona que Lamartine em 1945, lançou 11 hinos de clubes de futebol, na proporção de
um por semana (INSTITUTO CULTURAL CRAVO ALBIN, 2008d). A segunda hipótese foi
levantada pelo músico Luís Filipe Lima, que tocou violão de sete cordas no disco: “Lamartiníadas,
a música de Lamartine Babo”, gravado no ano de 2004 (Anexo VIII). Lima, que também fez a
direção artística do show “Lamartiníadas”, (CAZES, 2005), disse em entrevista ao jornal Folha de
São Paulo em 22 de fevereiro de 2007 que Babo, havia feito a marcha do CRF, e foi desafiado
pelos colegas de programa a compor as marchas restantes. Essa hipótese se coaduna com as
informações do Museu do Futebol (2008), que cita 1945 como o ano de composição da marcha
101
rubro-negra, diferente das demais (CRVG, CRF e BFR) que segundo o Museu foram feitas em
1949, excetuando-se a do AFC que não consta data de composição no museu, mas que segundo
VALLE (2004), foi composta em 1947. A terceira hipótese dada também pelo músico, envolve um
possível patrocinador que teria incentivado Babo. Existe ainda uma quarta hipótese levantada pelo
radialista Abi Rian (2008), que fala sobre uma possível passagem, em que Lamartine teria sido
trancado por amigos em um apartamento e só liberado quando entregasse os hinos prontos. A opção
usada pelo autor no Quadro 4A (Anexo I), que trata do ano da composição/autor dos hinos oficiais e
populares, utilizou como referência as datas obtidas no Museu de Futebol de São Paulo, no caso de
FFC, BFR, CRF e CRVG, por se tratar da pesquisa mais contemporânea sobre o tema. No caso do
AFC, que não tem registro de data de composição no Museu do Futebol (2008), foi utilizado o data
presente no livro “América – Antologia Lírica de um sentimento obstinado” de autoria de Fernando
Bastos do Valle (2004).
A supervisora de direitos autorais, Marli dos Santos (2009) da Companhia Industrial de
Discos (CID), que trabalha na empresa há pelo menos vinte anos, relatou que em dezembro de 1977
foi produzido um disco contendo as marchas populares de diversos clubes brasileiros e dentre elas
as marchas de FFC, BFR, AFC, CRF e CRVG. Segundo Santos (2009), o registro dos hinos que foi
gravado pela “Banda Galera Campeã” é até hoje um dos recordistas de venda da gravadora e tem
ampla execução em rádios, festas e comemorações, o que é mais um dado que comprova a
vitalidade e atemporalidade das obras de Babo. Santos (2009), também indicou para pesquisa, os
contatos da Editora “Fermata do Brasil” em São Paulo, administradora dos direitos autorais dos
hinos populares de Babo, onde obteve-se a informação de que os hinos foram editados no ano de
1953 (PAZINI, 2009). A funcionária (SANTOS, 2009) ainda enviou os dados da ficha técnica do
Long Play número 4027, intitulado “Hino dos Campeões vol.1” lançado em dezembro de 1977:
Produtor Fonográfico – CID
Coordenação Geral – Harry Zuckermann
Direção de Produção – Aramis Barros
Produção Executiva – Durval Ferreira
Gravado nos Estúdios Hawai e Hara (RJ)
Segundo Santos (2009) o Long Play descrito acima ainda teve a participação do atual diretor
artístico da gravadora, Esdras de Souza Pereira, que assessorou o compositor Durval Pereira na
produção. Em 03/08/1993 a empresa lançou um Compact Disc que reuniu os mesmos
fonogramas do Long Play e ainda acrescentou uma seleção de marchinhas carnavalescas que
tiveram sucesso popular. Segue abaixo a ficha técnica do Compact Disc:
102
Produtor Fonográfico – Cia. Industrial de Discos
Coordenação Geral – Betina Zuckermann
Diretor de Produção - Aramis Barros
Montagem – Dom Edílson
Produtor Executivo – Durval Ferreira / Aramis Barros
Gravado nos Estúdios Hawai e Hara (RJ)
Arte-Final – Beth Arruda
Direção de Arte – Suely Neves
Código – 112 – 0
Título – Hino dos Campeões, vol.1
Intérprete – Orquestra e coro CID
O Compact Disc citado acima, com os fonogramas gravados em 1977, é até os dias atuais o
registro mais frequente das obras de Babo, funcionando como uma referência clássica para os
torcedores em geral. Os hinos até tiveram regravações (Quadros 20, 21, 22, 23 e 24), mas os
fonogramas mais frequentes na memória dos torcedores cariocas são os do ano de 1977 da
gravadora CID que é a gravadora com notória especialidade no ramo dos hinos dos clubes.
O jornalista Ricardo Cravo Albin (2008), afirma que os hinos foram lançados semanalmente
no programa O Trem da Alegria” na extinta Rádio Mayrink Veiga, mas que não se pode afirmar
com precisão se realmente eles foram feitos semanalmente. O jornalista disse ainda que por
dedução é muito provável que as obras tenham sido feitas sob alguma pressão, porém uma pressão
prazerosa e irresistível.
Na biografia de Lamartine “Tra-La-Lá”, escrita por Suetônio Soares Valença (1989),
também é mencionado que Héber de Bôscoli desafiou o companheiro a fazer um hino para cada
clube e apresentá-los semanalmente, porém não é citado o ano em que houve o referido desafio e a
obra acaba pecando por não ter informações suficientes sobre o contexto em que os hinos surgiram,
sobre a qualidade das obras e até mesmo sobre o grande impacto que elas causaram na sociedade.
No dia 24 de janeiro de 2009 o Jornal “O Globo” publicou um guia de 32 páginas com tudo
que aconteceria no campeonato carioca do ano em questão. O encarte trazia reportagens históricas,
quadros para serem preenchidos pelos torcedores, diversas estatísticas de conquistas dos clubes
cariocas e breve histórico das entidades envolvidas na competição. O editorial trazia três fatos
muito interessantes que marcariam a temporada de 2009, sendo eles: a volta do Bangu Atlhetic
Club que estava afastado havia quatro anos da elite do futebol do Rio de Janeiro; a estréia do
Tigres do Brasil, clube novato na primeira divisão, que pretendia superar a inexperiência com a
103
estrutura montada no município de Xerém , na Baixada Fluminense do estado do Rio de Janeiro,
que além de oferecer ótimo centro de treino para os atletas contava ainda com um estádio preparado
para receber até onze mil torcedores durante a competição; e por último a ausência do AFC, fora da
disputa pela primeira vez desde 1907 (AGUIAR, 2009).
Dos dezesseis clubes presentes no referido encarte, seis tinham marcha popular composta
por Lamartine Babo, sendo eles: Bangu Athletic Club, Madureira Esporte Clube e os quatro grandes
do futebol carioca. FFC, BFR, CRF e CRVG que mereceram do jornal um espaço privilegiado de
três páginas, trazendo dados das entidades como: nome, data de fundação, endereço, sítio oficial,
presidente e hino. Nos quatro clubes em destaque a obra publicada foi a de autoria de Babo que foi
classificada como: “hino”, não havendo especificação como no Museu do Futebol (2008) entre
hinos oficiais e populares.
Entre o ano de composição do hino popular do CRF, 1945 e o ano em decurso, se vão
sessenta e quatro anos que Babo dedicou às marchas aos clubes de futebol cariocas. A obra continua
sendo referência nas publicações especializadas e na opinião dos clubes, demonstrando seu sentido
atemporal, atravessando gerações e se mantendo viva. Independente da maneira como surgiram ou
foram lançadas, permanecem até os dias de hoje com vigor e vitalidade excepcionais, sendo
entoadas pelas torcidas semanalmente nos estádios do Rio de Janeiro e de todo Brasil. As canções
de Lamartine são oficiais no coração das torcidas (DAFLON e PIMENTEL, 2006). Isso comprova e
reitera o talento e versatilidade do grande brasileiro Lamartine de Azeredo Babo, uma das
expressões mais autênticas do espírito carioca, o rei do Carnaval brasileiro (VALENÇA, 1989).
Fluminense Football Club
A marcha que Lamartine dedicou ao tricolor de Laranjeiras é para muitos, como o maestro
botafoguense Eduardo Souto Neto (2008) a mais bela de todas. para o jornalista vascaíno Sérgio
Cabral (2008), que considera a marcha do CRF a obra mais forte e a do seu clube, CRVG, um
pouco inferior às demais, Lamartine declarou em conversa reservada, que também tinha preferência
pela marcha do FFC.
A referida obra tem duas características únicas e particulares: a primeira característica é o
fato de ser o único hino popular feito em intervalo menor, que confere às músicas feitas dessa
forma, um tom mais triste e melancólico. Intervalo é a diferença de altura entre dois sons. De
acordo com o número de tons e semitons que compõem o intervalo ele pode ser classificado como:
maior, menor, justo, aumentado e diminuído (PRIOLLI, 1983). A cantora Beth Carvalho classificou
a obra tricolor em sua entrevista na pesquisa de campo, como “linda”, ressaltando sua característica
única de ter sido feita em tom menor. A segunda característica é que a marcha tricolor foi feita em
104
parceria com o maestro Lírio Panicalli (Figura 34), sendo o único hino popular de clubes de futebol
do Rio de Janeiro, feito a quatro mãos.
Figura 34 - Maestro Lírio Panicalli, autor do hino popular do FFC, junto com Lamartine Babo.
Panicalli foi um renomado compositor, regente, instrumentista e arranjador que nasceu em
Queluz (SP) no ano de 1906 e morreu em Niterói (RJ) em 1984. Escreveu para teatro, rádio, cinema
e televisão, além de ter sido diretor arístico da gravadora Sinter, onde gravou inúmeros sucessos
carnavalescos (EVER, 2006).
Além da veiculação de discos gravados, os programas de rádio contavam com grandes
orquestras, dirigidas por maestros arranjadores respeitados. A Rádio nacional tinha entre
seus quadros Radamés Gnatalli, Lírio Panicalli, Leo Peracchi e outros arranjadores que
marcaram época na música popular brasileira. (NAPOLITANO, 2007)
Babo tinha composto na década de 1930 o Fox Saias Curtas(Anexo VII) em parceria
com o Maestro e o teria procurado na ocasião da famosa e incerta provocação de Héber de Boscôli
na Rádio Mayrink Veiga, pedindo ajuda, para que pudesse cumprir a tarefa no curto prazo
determinado pelo companheiro de programa.
Em entrevista dada ao Jornal o Globo em 5 de março de 2006, para os Jornalistas João
Pimentel e Rogério Daflon, o comediante Paulo Silvino, filho do compositor Silvino Neto conta
como se deu o episódio:
Encomendaram para o Lírio um hino para bandeira de São Paulo. Lírio fez a música; e meu
pai a letra. Mas a história do hino não foi para frente e nunca mais se falou sobre isso. Certo
dia o Lamartine procurou meu pai e disse que estava fazendo os hinos dos clubes cariocas.
Ele tinha feito dois para o Fluminense, mas não tinha gostado e por isso usou para os times
menores. Papai falou que ele deveria falar com o Lírio, que, por sua vez, cedeu a melodia.
(DAFLON e PIMENTEL, 2006)
105
No segundo caderno da edição do jornal “O Globo” do dia 07 de junho de 2009 em uma
matéria sobre o compositor especializado em sica para cinema, Antônio Remo Usai, o cineasta
Roberto Farias ressaltou que maestros com as qualidades profissionais de Remo, dois, que
haviam falecido, citando Guerra Peixe e Lírio Panicalli (FRADKIN, 2009), autor da melodia da
marcha popular do FFC em parceria com Babo.
Lamartine, fez o hino popular do FFC na sorveteria americana, que ficava onde seria depois
a garagem do hotel serrador, hoje prédio adquirido pela Petrobrás no Rio de Janeiro, então Distrito
Federal e deu-lhe um toque lírico, devido às características refinadas do clube (VALENÇA, 1989).
A letra de Lamartine que o autor classificou metodologicamente como Histórico-Narrativa,
não traz a carga higienista presente nos hinos oficiais do tricolor, mas não deixa de apresentá-lo
num tom nobre e cavalheiresco. A poesia na primeira parte, salienta uma forte relação entre
torcedor e clube deixando a sensação de uma paixão arrebatadora que contagia aqueles que
pertencem à agremiação. O clube chega a dominar o torcedor que entra num caminho de êxtase, do
fora do real: “O Fluminense me domina eu tenho amor ao tricolor” (OLIVEIRA e VOTRE, 2003).
Na segunda parte da marcha às cores que compõem a bandeira da agremiação ganham
destaque, criando um forte vínculo identitário que sintetiza uma mensagem de glória, amor, vigor,
fineza, paz e harmonia. O branco da paz, o verde da esperança e o vermelho do vigor mostram um
forte simbolismo que une a torcida ao clube. Essa característica simbólica ganha força na fase pós-
amadorismo do futebol nacional, a partir da cada de 1930 com as coberturas jornalísticas de
Mário Filho na imprensa escrita e as locuções pelo rádio. A partir dessa fase o futebol passaria por
um processo de carnavalização virando grande espetáculo de multidões o que desembocaria um
pouco mais tarde na criação de diversos símbolos, entre eles as marchas populares (FRANCO
JÚNIOR, 2007).
Os registros fonográficos do hino popular tricolor, começam em 1950. A primeira gravação
com o “Trio Melodia” mostra uma maneira bem peculiar ao período de se cantar, resquício dos anos
1920, “tempo do dó-de-peito”, período em que a pobreza tecnológica do processo de gravação,
obrigava os intérpretes, como Orlando Silva e Lúcio Alves, a terem muita potência vocal
(CABRAL, 1996). Essa maneira de se interpretar sofreria uma mudança estética um pouco mais
tarde, a partir do movimento da Bossa Nova, onde uma maneira mais intimista de se interpretar,
aproveitando melhor os recursos dos equipamentos de amplificação, seria amplamente usada e
difundida. Um dos principais personagens que formataram esse novo modelo foi o cantor,
compositor e músico João Gilberto, que foi observado pelo maestro Tom Jobim que detectou que
algo diferente, começava a acontecer na música brasileira.
106
Tom não se impressionou com o contraste entre o João que ele conhecia e o que estava
agora à sua frente. Sem dúvida, havia uma diferença na sua maneira de cantar deixara de
ser o discípulo de Orlando Silva com toques de Lúcio Alves, que ele lembrava de ter
ouvido. Cantava agora mais baixo dando a nota exata, sem vibrato, estilo Chet Baker, que
era a coqueluche da época. O que impressionou foi o violão. Para começar não associava
João ao instrumento. Nunca o tinha ouvido tocar na vida, e muito menos daquele jeito.
Aquela batida era uma coisa nova. Produzia um tipo de ritmo em que cabiam as liberdades
que se quisesse tomar. Era possível escrever para aquela batida. Com ela, adeus à ditadura
do samba quadrado, do qual a única saída até então era o samba canção, que estava
levando as pessoas a um estado de narcolepsia tanto quem ouvia, como quem tocava.
(CASTRO, 1990, p. 167)
Dentro ainda das obras populares do FFC, a pesquisa traz gravações mais contemporâneas
como a de 1977 feita pela “Banda Galera Campeã (SANTOS, 2009) e as gravações lançadas pela
revista “Placar” com os cantores Evandro Mesquita, Toni Platão e Fauto Fawcett, em 1996,
mantendo três blocos na segunda parte da música e outro registro de 2004 com o cantor Paulo
Ricardo que omite o terceiro bloco da segunda parte. Os registros lançados pela revista Placar da
editora Abril, trazem gravações com uma vinheta inicial narrada pelo ex-jogador tricolor e da
seleção brasileira, Gérson que uma mensagem de incentivo a sua torcida. Os fonogramas de
1996, tem forte influência do universo pop-rock com fusões de guitarra, música eletrônica, e
percussão usada em bateria de escola de samba. O registro de 2004 traz o cantor Paulo Ricardo, ex-
volcalista do conjunto RPM, fazendo uma releitura da marcha de Lamartine em estilo Rock and Roll
com direito a entusiasmados solos de guitarra, o que demonstra o vigor da obra de Lamartine que se
reinventa de cada em década junto à cultura futebolística do Rio de Janeiro. Foram encontradas
ainda (FLUMANIA, 2009) diversas versões que transitam do erudito Arthur Moreira Lima às
versões populares em estilo eletrônico, blues e rock. Depois do CRF o FFC é a agremiação com
mais registros de áudios encontrados pela pesquisa.
O torcedor notável e produtor artístico Heitor D’alincourt também empresta sua voz a uma
nova interpretação da obra de Babo, gravando-a em estilo pop, no ano de 2000, fugindo do formato
marchinha carnavalesca. o sítio www.flumania.com.br , apresenta diversas versões que foram
compiladas e disponibilizadas na internet para os torcedores no link áudios (Apêndice; 1), expostos
no Quadro 8A (Anexo ).
As partituras da obra tricolor foram cedidas pelos professores Maurício Uzum e Maurício
Verde e uma partitura de vinte e duas ginas feita para orquestra, foi encontrada no Museu da
Imagem e do Som do Rio de Janeiro (MIS, 2008), com arranjo do maestro Guaraná. Das três
partituras achadas somente a do maestro Guaraná omitiu o nome de Lírio Panicalli como parceiro
de Lamartine Babo.
Na pesquisa de campo o cantor, compositor e pianista Ivan Lins, disse gostar muito do hino
popular tricolor (Quadro 11), salientando que a obra é a música do Fluminense”. O cantor, que é
autor de alguns dos maiores sucessos da música popular brasileira como “Começar de Novo (Ivan
107
Lins/Vitor Martins)”, “Madalena (Ivan Lins/Ronaldo Monteiro de Souza)” e “Depende de Nós
(Ivan Lins/Vitor Martins)”, gravou em 2005 com arranjo próprio, nova versão do hino popular
tricolor em ritmo de marcha-rancho, para o Fórum Permanente de Cultura Tricolor (INSTITUTO
CULTURAL CRAVO ALBIN, 2009e), versão que até o momento não foi encontrada por esta
pesquisa. O compositor ressaltou ainda na entrevista da pesquisa de campo, gostar muito da versão
que o pianista Arthur Moreira Lima faz para a obra de Babo e Panicalli, registro esse,
disponibilizado nesta dissertação (Apêndice; 1).
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Hino Popular do FFC
Sou tricolor de coração
Sou do clube tantas vezes campeão
Fascina pela sua disciplina
O Fluminense me domina
Eu tenho amor ao tricolor
Salve o querido pavilhão
Das três cores que traduzem tradição
A paz, a esperança e o vigor
Unido e forte pelo esporte
Eu sou é tricolor
Vence o Fluminense
Com o verde da esperança
Pois quem espera sempre alcança
Clube que orgulha o Brasil
Retumbante de glórias
E vitórias mil
Vence o Fluminense
Com o sangue do encarnado
Com amor e com vigor
Faz a torcida querida
Vibrar com a emoção
Do tricampeão
Vence o Fluminense
Usando a fidalguia
Branco é paz e harmonia
Brilha como o sol da manhã
Como à luz do refletor
Salve o tricolor
Lamartine Babo e Lírio Panicalli – 1949
Quadro 11 – Hino Popular do FFC.
(Fonte: Museu do Futebol – São Paulo, 2008).
109
Botafogo de Futebol e Regatas
Passados mais de cinquenta anos da composição da marcha popular do BFR, constatamos
que o destino reservou a esta obra uma trajetória singular. A princípio houve uma rejeição inicial
por parte do clube que mais adiante foi contornada e posteriormente a obra foi assimilada e
incorporada por torcedores e dirigentes, chegando aos dias atuais como o único hino popular de
Lamartine Babo, citado em estatuto nos clubes de futebol do Rio de Janeiro envolvidos na presente
pesquisa.
A confusão se deu na década de 1940 quando a marcha popular foi lançada com a letra que
mencionava que o clube era campeão de 1910. A diretoria de então, argumentou que tal letra dava a
impressão do clube ter títulos conquistados somente no ano de 1910, o que diminuía as glórias alvi-
negras.
Lamartine, democraticamente como era de seu feitio, explicou primeiramente ao clube que
sua intenção foi enaltecer o ano de 1910, pois fora aquele campeonato o mais expressivo da
agremiação. Em outras circunstâncias Babo explicava que escrevera “desde 1910” e não “de 1910”,
mas o intérprete gravara equivocadamente da segunda maneira, gerando então todo o imbróglio.
Mesmo com todas as justificativas o clube proibiu na gestão em que Ademar Bebiano era vice-
presidente que o hino fosse tocado no maracanã, mas, apesar de toda a intransigência botafoguense,
o hino que ficou consagrado na memória popular foi mesmo o de Lamartine Babo (VALENÇA,
1989).
Um outro capricho do destino é o fato do hino oficial do Botafogo Football Club, que tentou
ser imposto pela diretoria em detrimento da marcha popular durante um período, ser de autoria de
Octacílio Gomes e do Maestro Eduardo Souto, este último, amigo e figura fundamental no
lançamento artístico de Babo no início da década de 1920. Nenhum dos dois, poderia imaginar,
naquele período, que Babo se tornaria o maior compositor de marchinhas carnavalescas de todos os
tempos.
A letra publicada no Museu do Futebol (2008), assim como no artigo científico “Hinos e
gritos de guerra no futebol: construindo e reconstruindo o imaginário” de Sebastião Josué Votre e
Ana Beatriz Correia de Oliveira (2003), citam na letra “campeão desde 1907”, diferente da letra
original de Lamartine que citou “desde 1910” e gerou a tão propalada polêmica com o clube.
A obra tem profunda beleza poética que percorre a história da agremiação mostrando sua
glória e tradição. O clube é elevado ao posto de herói de cada jogo dando uma idéia de esforço e
sacrifício em prol da causa esportiva. Durante todo o hino o clube é enaltecido, por ser glorioso e
por ter fibra, e fundamentalmente por ter proporcionado muitas glórias aos torcedores, traduzidas
110
pela metáfora “na estrada de louros”. Com sua estrela solitária, ele percorre o caminho das vitórias e
glórias (OLIVEIRA e VOTRE, 2003).
O primeiro registro fonográfico, exposto no Quadro 9A (Anexo I), é do ano de 1950 com
interpretação do cantor Nuno Roland e, possivelmente, é a gravação que gerou a polêmica com o
clube, pois fala que a agremiação é campeã “de 1910”. Todos os demais registros fonográficos ou
de áudio presentes nesta pesquisa, inclusive o que a torcida alvi-negra canta, a expressão usada é
“desde 1910”, que para o autor soa errado, pois, que se incorporou o “desde” deveria incorporar-
se também o “1907”, título que depois de conturbadas brigas judiciais, teve a sua oficialidade
reconhecida em 1989 pela Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro.
O jornalista Sérgio Cabral (2008) afirma que na década de 1960, quando então trabalhava no
Jornal do Brasil, escreveu uma matéria em que pretendia defender Lamartine e inventou que o
intérprete gravou errado a letra, assim inocentando o compositor. Portanto, Sérgio Cabral desconfia
que esta reportagem foi o estopim que motivou a mudança da letra.
O segundo registro fonográfico é de 1977 da “Banda Galera Campeã” (SANTOS, 2009) é
no ritmo tradicional das marchinhas carnavalescas cariocas. O terceiro e quarto registros de áudio
são fonogramas lançados pela revista “Placar” de 1996 e 2004 e começam com a narração de um
gol do falecido ex-jogador botafoguense Mané Garrincha e é seguida de uma vinheta com uma
saudação do também ex-jogador alvi-negro Jairzinho. O registro de 1996 é dividido por quatro
intérpretes botafoguenses: Beth Carvalho, Ed Mota, Cláudio Zoli e Eduardo Dussek que cantam
uma marchinha estilizada. o registro de 2004 é do botafoguense Zeca Pagodinho que empresta
seu talento ao clube, fazendo interessantes divisões em sua interpretação do hino que segue o estilo
tradicional das já consagradas marchas carnavalescas.
O quinto, sexto, sétimo e oitavo registros de áudio são gravações diversas pesquisadas na
internet em sítios de torcedores, que exercitam a paixão pela agremiação publicando variadas
versões, que transitam entre cantos de torcida e registros caseiros (Apêndice; 2).
Duas partituras foram encontradas em 2008 no Museu da Imagem e do Som do Rio de
Janeiro (MIS, 2008), sobre o hino popular de Lamartine Babo. Foi enviada de São Paulo em 2009,
uma partitura feita pelo professor de música Maurício Uzum e também foi feita uma partitura pelo
arranjador Maurício Verde no programa “Encore” (Apêndice; 2).
A pesquisa de campo com os notáveis do BFR, trouxe depoimentos importantes que podem
auxiliar no entendimento da representatividade da música, principalmente quando relacionada com
o grande fenômeno sócio-cultural que é o futebol. Para a intérprete botafoguense Beth Carvalho, o
estádio do Maracanã é um dos lugares sagrados do país. Segundo a cantora poucos países no mundo
relacionam com tanta propriedade a música e o futebol, principalmente quando os hinos são
entoados pelos torcedores ocasionando para ela “uma emoção indescritível”.
111
O torcedor Móthel Santoro que ganhou algumas páginas no livro “Heróis do Cimento O
torcedor e suas emoções” de Hilton Mattos (2007), fala a respeito da relação do torcedor com seu
hino na pesquisa de campo: nada liga mais um torcedor ao seu time, do que cantar com muito
orgulho e com muito amor o Hino do seu clube”. Santoro, que como torcedor começou na Jovem
Unifogo, que, tempos depois, uniu-se à Águias Alvinegras e a Copafogo para formar a torcida
jovem do Botafogo, da qual foi presidente, disse ainda que: O hino nos leva a ter um laço mais
forte, porque estamos cantando aquilo que pra nós simboliza uma das maiores paixões de nossa
vida que são nossos times de futebol”. Para o torcedor Móthel e o atual presidente do clube
Maurício Assunção, que também participou da pesquisa de campo, o trecho do hino popular
(Quadro 12) alvinegro que diz: não podes perder, perder pra ninguém”, passa uma mensagem de
entusiasmo e perseverança única, que leva o torcedor a ser tomado por um espírito de luta, onde não
desiste nunca de buscar um sonho e um ideal.
O ex-jogador do BFR e da seleção brasileira de futebol, Jairzinho, popularmente conhecido
como o “furacão” da copa do mundo de 1970, foi um dos únicos entrevistados a não citar os hinos
das outras agremiações envolvidas na pesquisa juntamente com a torcedora americana Dona Ivone
Lara. O jogador, que completa em dezembro de 2009 sessenta e cinco anos, registrou que teve
facilidade de aproximação com o BFR, pois foi criado na Rua General Severiano em frente ao
campo do clube, e que mais tarde, jogando pela agremiação sempre se orgulhou e se emocionou
ao cantar o hino representando a entidade nas competições nacionais e internacionais que participou
como atleta. Salientou ainda, que emoção similar a cantar o hino alvinegro sentiu quando cantou
o Hino Nacional nas competições que defendeu a seleção brasileira de futebol.
112
Hino Popular do BFR
Botafogo, Botafogo,
Campeão desde 1907
Foste herói em cada jogo
Botafogo
Por isso é que tu és
E hás de ser
Nosso imenso prazer
tradições,
Aos milhões tens também
Tu és o Glorioso
Não podes perder,
Perder pra ninguém
Noutros esportes
Tua fibra está presente
Honrando as cores
Do Brasil, de nossa gente
Na estrada dos louros,
um facho de luz
Tua estrela solitária
Te conduz
Lamartine Babo – 1949
Quadro 12 – Hino Popular do BFR.
(Fonte: Museu do Futebol – São Paulo, 2008).
América Football Club
Hei de torcer, torcer, torcer. Hei de torcer até morrer, morrer, morrer... é o trecho inicial da
marcha popular que Lamartine Babo dedicou ao AFC, seu time de coração. E realmente a letra
escrita pelo célebre compositor profetizava o que mais tarde aconteceria numa simbólica
demonstração da vida imitando a arte.
Em 1963, o produtor de espetáculos Carlos Machado, preparou um grande espetáculo, no
hotel Copacabana Palace no Rio de Janeiro, baseado na vida e obra de Lamartine Babo. No dia 13
de junho, Babo compareceu a um dos ensaios e no momento em que chegou, a orquestra executava
o hino do AFC. Lamartine não se conteve e cantou emocionado o hino junto à orquestra. O episódio
certamente agitou o debilitado coração do compositor, que quatro meses antes havia tido o
primeiro infarto. Na madrugada de 16 de junho de 1963, não resistindo ao segundo infarto, morria
113
Lamartine de Azeredo Babo com 59 anos de idade. Na tarde desse mesmo dia, o compositor seria
sepultado envolto na bandeira do AFC, conforme desejo expresso (VALENÇA, 1989).
O radialista Osvaldo Sargentelli Filho (2008) afirma que o coração brincalhão de
Lamartine sofrera em vida uma grande magoa com as duras acusações que recebeu por ter feito a
letra da marcha popular do AFC em cima da música de uma canção norte-americana chamada
“Row, Row, Row” de 1912, composta por Willian Jerome e James Mônaco (SOARES, 2009). Para
Ricardo Cravo Albin (2008), o suposto plágio em nada interfere no grandioso talento de Babo que
segundo ele era um grande apaixonado por cinema e certamente a música norte-americana teria
ficado armazenada no imaginário do compositor que a resgatou ingenuamente. Já o pesquisador e
produtor musical Haroldo Costa disse em entrevista ao Jornal O Globo em 5 de março de 2006, na
matéria: “plágio e talento nas mais belas melodias do futebol carioca”, que naquele tempo não havia
uma lei de direito autoral rigorosa como hoje, portanto aproveitar trechos de outra música não era
algo considerado antiético. O registro de áudio da canção original que inspirou Babo a compor o
hino americano está disponível na pesquisa (Apêndice; 6) e foi gentilmente cedido pelo radialista
Amaury Santos que é produtor e apresentador da rádio MEC no Rio de Janeiro.
Mesmo magoado o compositor ainda brincou com o jornalista Sérgio Cabral, quando foi
questionado se ele tinha mesmo copiado o hino do clube que mais amava de uma canção famosa
nos Estados Unidos. A resposta veio em tom de brincadeira: - Mas o nome do clube não é
América?” (CABRAL, 2008).
Dos três livros adquiridos no departamento histórico do clube, o único que aborda o episódio
da similaridade das canções é a obra: “O América na História da Cidade” dos autores Orlando
Rocha da Cunha e Therezinha de Castro (1990). Mesmo assim, o caso é tratado com suavidade e a
palavra plágio não é mencionada tendo somente a seguinte observação: “É considerado o Hino da
Torcida Americana. Parte da música é inspirada na canção dos remadores de Oxford.” (CUNHA e
CASTRO, 1990, p. 124). Dos cinco torcedores americanos notáveis, entrevistados na pesquisa de
campo o único que citou o episódio do plágio foi o atual presidente Dr. Ulisses Salgado dizendo:
O hino do América é baseado em uma canção popular da Escóssia ou um pedaço da
Inglaterra que é uma canção dos remadores, chamada “how how how”. É uma canção sem
dono, assim como tem o “atirei o pau no gato”, essa é dos remadores de uma
Universidade, que ele adaptou para uma parte do hino onde o “Hei de torcer, torcer” é o
“how, how”, que foi usada inclusive em um filme. Apesar da história do hino ser
polêmica, fatalmente é o mais bonito e o que mais traz o torcedor, que mais apelo ao
torcedor.
A paixão pela música andava junto com a paixão pelo futebol e especialmente pelo AFC na
vida do compositor (Figuras 35, 36 e 37). Três anos antes de morrer, seu time de coração conquistou
o último campeonato carioca em 1960. O hino não tocou no estádio como numa carreata pelas
114
ruas do Rio de Janeiro onde Babo saiu num carro conversível, fantasiado de diabo que era o
mascote-símbolo da agremiação (DAFLON e PIMENTEL, 2006). No ano de 1965, a “Taça
Lamartine Babo” foi disputada entre as equipes de aspirantes que participaram das partidas
preliminares da “Taça Guanabara” (VALENÇA, 1989).
Figura 35 Fantasiado de diabo, o compositor Lamartine Babo, desfila em carro aberto em 1960, comemorando o
último título carioca do AFC.
Figura 36 – No AFC, com o presidente Wolnei Brauner (à sua esquerda).
115
Figura 37 – Carnaval e futebol, duas paixões que se juntavam no magro e elétrico Lalá, aqui em noite de folia no AFC.
Assim como no hino popular do CRF o autor leva até as últimas consequências o amor do
torcedor pelo clube, reforçando que este poderá torcer até morrer. Salienta a cor principal da
agremiação fazendo uma metáfora com a cor do coração o que confere muita beleza estética e
poética à obra. Os anos de conquistas de campeonatos merecem um local de destaque na letra que
também traz uma conotação de esperança, confiança e perseverança no aparecimento de novas
conquistas. Trata especificamente de futebol sem fazer alusão a outras modalidades esportivas,
diferente de hinos populares do CRVG, CRF e BFR que em algum momento deixam claro a relação
do clube com outras modalidades. O autor deixa definitivamente sua marca na obra americana
(Quadro 13), quando no refrão usa o famoso e simpático: tralalá...lá...lá...lá, que faz alusão as
iniciais do seu nome, personalizando a canção que eterniza a sua memória de forma descontraída e
brilhante.
116
Hino Popular do AFC
Hei de torcer,
Torcer, torcer,
Hei de torcer até morrer,
Morrer, morrer,
Pois a torcida americana é toda assim
A começar por mim...
A cor do pavilhão
É a cor do nosso coração,
Nos nossos dias de emoção,
Toda torcida cantará esta canção:
Trá, lá ,lá ,lá ,lá ,lá
Trá, lá ,lá ,lá ,lá ,lá
Trá, lá ,lá ,lá ,lá ,lá
Campeões de treze, dezesseis e vinte e dois...
Trá, lá, lá,
Temos muitas glórias,
Surgirão outras depois...
Trá, lá, lá,
Campeões com a pelota nos pés
Fabricamos aos montes, aos dez!
Nós ainda queremos muito mais!
América unido vencerás!!!
Lamartine Babo – 1947
Quadro 13 – Hino Popular do AFC.
(Fonte: VALLE et al, 2004, p.115)
Foram encontrados por esta pesquisa três partituras da marcha americana e uma foi
especialmente elaborada para pesquisa (Apêndice; 3). Três registros fonográficos do hino popular
americano também foram localizados (Apêndice; 3). O primeiro tem interpretação de Jorge Goulart
no ano de 1950 e é seguido pela gravação da “Banda Galera Campeã” que fez o registro em 1977
(SANTOS, 2009). Nas duas primeiras gravações o hino seguiu o tradicional ritmo de marchinha
carnavalesca como foi a proposta do autor. O terceiro registro foi feito pelo falecido cantor e
compositor Tim Maia na edição de 1996 da revista “Placar” que ofertou o CD dos hinos aos
leitores. Essa gravação tem acompanhamento em estilo pop com programação de bateria eletrônica
onde o americano Tim Maia exercita sua paixão pela agremiação, através de uma bela interpretação.
A edição de 2004 da revista “Placar”, curiosamente não traz o hino popular do AFC entre os hinos
117
dos times cariocas.
Segundo o jornalista Marcelo Castilho que compôs o grupo de torcedores notáveis do AFC
para pesquisa de campo desta dissertação, a única coisa que os americanos se vangloriam até hoje
de ter melhor do que os outros times é o hino popular de Lamartine Babo. A mesma opinião é
dividida por rio Meirelles, outro americano notável entrevistado e torcedor símbolo da
agremiação. Segundo o mesmo, o hino popular americano é a melhor obra feita por Lamartine
Babo, ficando na frente até mesmo das imortais marchinhas carnavalescas do autor.
Entre o grupo de notáveis presentes na pesquisa de campo estava uma americana, única
mulher do grupo, que por sua história e trajetória dentro da Música Popular Brasileira tem
autoridade suficiente para qualificar a obra de Babo, trata-se da cantora e compositora Dona Ivone
Lara. Antes de ir para o Império Serrano de Madureira, origem de outros renomados compositores
como Silas de Oliveira, Mano Décio da Viola, Bacalhau, Fuleiro, Molequinho, Nilton Campolino,
Tio Hélio, Mano Elói, Carlos Senna e Arlindo Cruz (BLANC, 2004), Dona Ivone frequentou ainda
criança o AFC, pois morava na Rua Campos Salles e era levada pelos primos ao clube. Assim Dona
Ivone aprendeu a ser americana e a carregar essa paixão até hoje como mostra em seu aniversário
de 86 anos quando foi presenteada por um chefe de torcida, com uma blusa do clube alusiva ao seu
aniversário (Figura 38). Dona Ivone, que segundo Duncan (2007) é reconhecida por toda Música
Popular Brasileira como compositora musical incrivelmente intuitiva, somada à cantora, dona de
uma voz cujo timbre embala, conduz, convida o ouvinte e confirma o poder do samba, salienta que
o hino popular americano feito por Lamartine Babo é o mais bonito de todos. A Figura 39 mostra a
primeira dama do samba em atuação em quadro exposto no Museu do Futebol (2008) .
Figura 38 - Dona Ivone é presenteada, em seu aniversário de 86 anos, com uma blusa do AFC, alusiva ao seu
aniversário.
118
Figura 39 – Foto tirada pelo autor de um quadro do Museu do Futebol (2008).
Um outro americano ilustre autor do samba “América do saudoso Lamartine” é o
compositor Monarco, componente da velha Guarda da Portela, autor de sucessos como:
“Homenagem à velha guarda da Portela”; “Proposta amorosa”; “Saudades da Portela” e “Passado
de glória” (VARGENS, 2001). Monarco que participou do disco: “Sou louco por ti América”
(BATUKE, s/d), fala de sua admiração pela companheira americana num depoimento onde
metafóricamente relaciona as qualidades artísticas de Dona Ivone com dotes futebolísticos: A
Dona Ivone é craque, sabe o que quer dizer craque? Craque é matar no peito, botar no chão,
levantar a cabeça e colocar lá...” (CASTRO, 2003b).
Hildemar Diniz, o Monarco, é um sambista diferente dos outros. Diferente não na origem
social ou nas dificuldades que enfrentou para sobreviver. O que faz dele uma espécie de
ponto fora da curva é o fato de desde a juventude ter optado por ser estilisticamente
anacrônico. Não fez o samba que estava na onda e sim o samba dos mais velhos. Por isso
mesmo é um autor capaz de fazer sica de um jeito que não se faz mais. Quando se
tornou um compositor conhecido, em vez de fazer força para gravar mais e mais dos seus
sambas, esteve sempre preocupado em resgatar místicas que haviam se perdido no tempo e
sambistas que haviam morrido. Muitas vezes percorreu morros e subúrbios à procura de
herdeiros de determinado autor, para que uma obra pudesse ser gravada. Voz poderosa,
memória prodigiosa, verve capaz de rimas surpreendentes e melodias improváveis,
Monarco é glória maior do samba, baluarte indispensável da Portela e de sua Velha
Guarda. (CAZES, 2003, s/p)
Club de Regatas do Flamengo
A produção cultural relacionada ao CRF é de fazer inveja a qualquer torcedor brasileiro de
outra agremiação. Segundo o pesquisador musical Ayrton Pisco o CRF é a agremiação esportiva
mais exaltada no planeta (FLAMENGO RJ, 2007). Do início de sua trajetória até os dias atuais, o
119
clube tem inspirado dezenas de artistas que através de suas obras registram a história da
agremiação, ocasionando um movimento que agrega, fideliza e incorpora torcedores de geração em
geração.
O fato de o clube ter nascido em 1895, mas ter construído sua sede na Gávea em 1936,
fez com que os treinamentos fossem feitos na rua, sem porta, a céu aberto, diferentemente dos
outros clubes que eram fechados inacessíveis ao homem comum. Os guerreiros do CRF treinavam a
céu aberto, no campo público da Praça do Russel. A gurizada que assistia aos treinos já sabia de cor
os nomes dos jogadores. Com isso, o CRF conquistava a simpatia da população (AQUINO e
CRUZ, 2007).
Essa popularidade que começou a ser construída no início do século XIX, motivada pela
falta de sede, formou uma massa de torcedores que a partir da profissionalização do esporte
consome avidamente os produtos culturais decorrentes desse movimento como: uniformes,
flâmulas, mascotes, filmes e músicas.
Compositores e intérpretes movidos por paixão ou até mesmo por interesses comerciais têm
percebido ao longo das décadas o grande espaço que suas obras encontram junto à imensa torcida
rubro-negra, como foi o caso dos compositores Wilson Batista e Jorge de Castro que no ano de
1955, fizeram em parceria, o grandioso sucesso, “Samba rubro-negro” lançado pelo cantor Roberto
Silva na gravadora Copacabana (INSTITUTO CULTURAL CRAVO ALBIN, 2009d): Flamengo
joga amanhã eu vou pra lá/ vai haver mais um baile no maracanã/ o mais querido tem Rubens,
Dequinha e Pavão/ eu rezei pra São Jorge pro Mengo ser campeão...”. Um dos mais cantados e
executados por todos os flamenguistas desde que foi composto, esse samba pode ser considerado
uma espécie de terceiro hino do rubro-negro carioca. João Nogueira, em 1974, deu nova cara à obra,
trocando os jogadores homenageados para “Zico, Adílio e Adão” e seu filho Diogo Nogueira que
herdou do pai a bela voz e o amor pelo clube da Gávea, ressignificou a canção em 2009 trocando
novamente os jogadores para “Souza, Obina e Ruan” . Diogo ainda foi além, pois na versão de
1974, seu pai manteve a homenagem feita pelos compositores ao falecido Jayme de Carvalho, eu
vou pra ver a charanga do Jayme tocarque dessa vez foi substituído por eu vou pra ver a nação
rubro-negra cantar”(GLOBO.COM, 2009).
Diversos personagens da cultura carioca emprestaram seu talento ao rubro-negro da Gávea
como o compositor Ary Barroso que não conseguia esconder sua paixão nas locuções tendenciosas
que fazia quando narrava os jogos do CRV. Numa dessas locuções na década de 1940, Ary chamou
pejorativamente um grupo de torcedores com instrumentos de percussão e de sopro que ficavam
tocando atrás do gol adversário de “charanga” por achar que os músicos desafinavam. Nascia assim
em 1943, a primeira torcida organizada do Brasil, liderada pelo baiano Jayme de Carvalho (Figura
40).
120
Figura 40 – Jayme de Carvalho
A Charanga do CRF carnavalizou de vez o futebol levando aos estádios muita animação
com músicos de sopro provenientes da banda da Polícia Militar e percussionistas de um bloco de
sujo que havia no Largo do Machado, todos flamenguistas que tocavam marchinhas de carnaval e
trechos de hinos para alegria dos torcedores (Figura 41).
Figura 41 – A marchinha de Lamartine embalando as tardes musicais da Charanga do Jayme.
Em 1946, num jogo entre FFC e CRF, Jayme cantou pela primeira vez nos estádios a
marcha popular que Lamartine havia feito para o clube. A música, lançada em 1945, era sucesso
121
nos programas radiofônicos da época (AQUINO; CRUZ, 2007). Essa informação, de Aquino e
Cruz (2007), reforça a citação do Museu do Futebol (2008) que coloca a marcha rubro-negra como
a primeira a ser feita por Babo em 1945, um pouco antes das marchas dos demais clubes.
Rechaçada por uns, apreciada por outros, a música deixou aos poucos de ser um fato
pitoresco e incorporou-se ao cenário dos estádios. A difusa excitação de uma partida de
futebol dos aplausos, apupos e assovios até o primeiro coro de hip-hip-hurrah! era
agora coordenada por uma sonoridade mais forte e intensa. Marchinhas carnavalescas
mesclavam-se aos solenes hinos dos clubes, que persistiram até meados do século, quando
as versões criadas por compositores como Lamartine Babo e Lupicínio Rodrigues seriam
popularizadas pelas rádios. A charanga assimilava também o ritual de corporações
centenárias como a banda da Polícia Militar, a banda dos Fuzileiros Navais e a banda do
Corpo de Bombeiros, de onde sairiam inúmeros músicos populares. Os hinos davam uma
conotação épica às partidas, associavam a identidade dos clubes à exaltação da pátria e
vinculavam certos valores militares aos princípios esportivos liberais forjados no final do
século XIX. (HOLANDA; SILVA, 2007)
Por ser um clube de massa, Lamartine achava que a obra dedicada ao CRF deveria
lembrar um hino de guerra (VALENÇA, 1989). A letra passa a idéia de uma paixão arrebatadora
que não deixa espaço para uma possível traição ou infidelidade com outro clube, transmitindo a
sensação de um compromisso que deve ser honrado até o fim da vida. O mesmo une, reúne, traz do
fundo do ser social e de cada indivíduo a fidelidade, constância, paixão, consagração e orgulho pelo
desempenho glorioso de seu plantel, sobretudo nas disputas contra o FFC, seu clássico rival
(OLIVEIRA e VOTRE, 2003).
Dos clubes pesquisados o CRF certamente é o que possuiu o maior número de registros
fonográficos não relacionados aos hinos, mas uma infinidade de homenagens feitas por artistas
de diferentes vertentes e estilos. O flamenguista Paulo Tinoco, de Macaé (RJ), desde 1977 pesquisa
a relação entre o CRF e a música. Entre LPs, Compactos, CDs, arquivos de Mp3 e DVDs ele
reúne mais de 160 registros que envolvem a agremiação (FLAMENGO RJ, 2007). Abaixo
listaremos alguns artistas que compuseram ou interpretaram canções para o clube rubro-negro de
diferentes estilos:
A charanga do Flamengo (Felisberto Martins/Fernando Martins) - Alvarenga e Ranchinho
Aquele Abraço (Gilberto Gil) – Gilberto Gil
Bola de pé em pé (Jakson do Pandeiro/Sebastião Batista) - Jakson do Pandeiro
Mengo (Waldir Azevedo/Edinho) – Waldir Azevedo
Carioquinha no Flamengo (Bonfliglio de Oliveira/ Waldir Azevedo) - Sivuca
Charlie Brown (Benito di Paula) - Benito di Paula
Eu vou torcer (Jorge BenJor) - Jorge BenJor
122
Flamengão (Bebeto/Nei Vellososo) – Bebeto
Hino Rubro-Negro (Paulo de Magalhães) - Castro Barbosa
Hino ao CRF (Lamartine Babo) – Zico, Júnior, Sandra de Sá e Claudinho e Buchecha
Marquinhos Cabeção (MV Bill) – MV Bill
Sou Flamengo, Cacique e Mangueira (Luiz Carlos) – Grupo Fundo de Quintal
Sou Flamengo (Pedro Caetano/Paulo Renato) - Jorge Veiga
Flamengo (Bonfiglio de Oliveira) – Grupo Abraçando o Jacaré
Foram muitos os registros fonográficos encontrados por esta pesquisa sobre o hino popular
do CRF composto por Lamartine Babo, como se observa no Quadro 11A (Anexo I). O que
comprova a grande quantidade de homenagens que a agremiação recebe. As marchinhas
carnavalescas tradicionais ficam por conta das interpretações feitas em 1950 pelo Trio Melodia, a
interpretação da “Banda Galera Campeã”, em 1977, e a do CD “Canto da Torcida” (SANTOS,
2009).
O registro de 1996 da revista “Placar” é interpretado por Neguinho da Beija-Flor, Hebert
Viana, Falcão, Mcs Júnior e Leonardo e foram gravados em estilo pop já com influência da música
eletrônica se fundindo com elementos do rock e do samba. Muito parecido ao registro de 1996 é o
registro de 2004 da “Placar” que dessa vez com Hebert Viana e Gabriel O Pensador. Nos dois
registros da revista “Placar” o hino começa com uma vinheta onde é narrado um gol do ex-jogador
do CRF e da seleção brasileira: Zico.
O CD “Raça Rubro-Negra” traz três versões para a obra de Lamartine: a primeira versão é
em ritmo de “samba-enredo” e inicia com um canto da torcida seguido por uma vinheta onde o ex-
jogador Zico faz uma saudação à torcida. O segundo registro é um “pagode” cantado pelo ex-
jogador Júnior que abre com uma vinheta onde o mesmo jogador presta uma homenagem a torcida
raça Rubro-Negra. A terceira versão é interpretada pelos ex-jogadores do clube Zico e Júnior,
Sandra de Sá e Claudinho e Bochecha numa versão dance com programação eletrônica.
ainda outras versões do hino popular. Uma inclusive “caseira”, gravada e mixada por
André Monnerat, em seu computador, no ano de 2004, na casa de seus pais. Apesar desta versão ser
do hino popular, em seu desfecho é tocado de forma instrumental o refrão do hino oficial, de Paulo
de Magalhães, revelando o conhecimento de Monnerat sobre o mesmo. O refrão do hino oficial
também é aludido no “Samba Rubro-Negro”, de Wilson Batista e Jorge de Castro, obra
mencionada nesta pesquisa, só que dessa vez o refrão é executado por completo com letra e música.
O hino oficial do CRF com essas duas participações nas obras citadas acima é a única obra do
hinário Oficial dos clubes cariocas a ser aludida em outra obra de característica popular.
123
Um fato que tornou a relação de versões do hino popular do CRF, a maior da pesquisa,
passando até mesmo a do FFC, que até então era a mais extensa, foi a descoberta de um blog que
contempla variadas versões da obra de Babo. Após a localização desse espaço virtual, o autor ainda
acrescentou versões importantes para pesquisa como interpretações de Jorge Ben Jor, Tim Maia e
até mesmo uma imitação do personagem da Disney - “Pato Donald” cantando a obra. Ainda no blog
algumas interpretações instrumentais de variados guitarristas que demonstram a paixão pelo clube,
solando inspiradas versões em estilo Rock and Roll.
Quase ao término da pesquisa ainda foi acrescida à lista de registros fonográficos, uma
versão, em Inglês, encontrada no endereço virtual de vídeos da internet, You Tub, interpretada pelo
músico brasileiro Leandrade (Apêndice; 4). Assim o hino popular do CRF além de ser o que
concentrou o maior número de registros de áudio, também foi a única obra a ter uma versão cantada
em língua estrangeira.
A partitura original (Figura 42) do hino popular, do CRF, foi encontrada por esta pesquisa
no Museu da Imagem e do Som, no Rio de Janeiro (MIS, 2008), que fazia parte do acervo do
compositor Almirante. Esta foi gravada pelo “Trio Melodia”, com a orquestração de
“Pachequinho”. Na partitura consta, que a edição foi feita pela Rio Musical, localizada na época na
Rua Visconde de Inhaúma, 134 no Rio de Janeiro, em 1958. Apesar disso, os direitos de execução
são controlados pela União Brasileira de Compositores (UBC). Na última página, pode-se observar
a letra do hino na íntegra com o escudo do Clube. Também integram a pesquisa as partituras feitas
pelo professor de música Maurício Uzum e pelo arranjador Maurício Verde ( Apêndice; 4 ).
Na pesquisa de campo, todos os torcedores notáveis do CRF citaram o hino popular de seu
clube, assim como nos demais. A ideologia transmitida ao torcedor, pelo hino, de um compromisso
que deve ser honrado até o fim da vida, se comprova nas afirmações dos entrevistados. Sandra de
diz: Flamengo até morrer e até depois”. Júnior explicou que pela primeira parte do hino ele
brinca com a garotada”, quando dizem: “eu fui Flamengo”, e ele contesta dizendo que isso não
existe. Uma vez que quem torce para o time, como diz o hino, é “Flamengo até morrer”.
Marcelo, conhecido como “Anjinho do Flamengo”, foi além quando disse que todo mundo,
nas escolas, além de aprender o hino nacional deveria aprender o hino do Flamengo. E depois de
citar a marcha popular de Lamartine, faz a mesma referência à morte que os demais: Até o túmulo
irmão”.
O jornalista, João Pimentel, não faz a referência direta, mas cita o trecho do hino: uma vez
Flamengo, Flamengo até morrer...”, e complementa: isso na arquibancada, quando vem o hino,
não tem coisa igual, não tem pra outra música”. O advogado Júlio Gomes, conhecedor dos dois
hinos Oficial e Popular ressaltou, que não tem música que marque mais que o popular (Quadro
14), apesar do Oficial ser o primeiro.
124
Figura 42 – Capa da partitura original do hino popular do CRF.
125
Hino Popular do CRF
Uma vez Flamengo
Sempre Flamengo
Flamengo sempre eu hei de ser
É o meu maior prazer
Vê-lo brilhar
Seja na terra
Seja no mar
Vencer, vencer, vencer
Uma vez Flamengo
Flamengo até morrer
Na regata ele me mata
Me maltrata, me arrebata
Que emoção no coração
Consagrado no gramado
Sempre amado, o mais cotado
No “Fla-Flu é o Ai, Jesus”
Eu teria um desgosto profundo
Se faltasse o Flamengo no mundo
Ele vibra, ele é fibra
Muita libra já pesou
Flamengo até morrer eu sou
Lamartine Babo – 1945
Quadro 14 – Hino popular do CRF
(Fonte: Museu do Futebol – São Paulo, 2008).
Club de Regatas Vasco da Gama
Em junho de 1898, os jornais dedicavam grande espaço às comemorações pela passagem do
IV centenário da descoberta do caminho marítimo para as Índias pelo almirante português Vasco da
Gama. Assim os jovens Henrique Ferreira Monteiro, Ls Antônio Rodrigues, José Alexandre
D’Avelar Rodrigues e Manuel Teixeira de Souza Júnior, escolheram o nome do redentor português
em detrimento de outros sugeridos, como Santa Cruz e Pedro Álvares Cabral para o clube que até
então tinha o remo como única modalidade praticada (CABRAL, 1998).
Lamartine Babo, assim como os fundadores da agremiação, buscou inspiração no além-mar
para compor o hino popular do CRVG. A obra, em sua música, tem referências do hino A
Portuguesa”, característica percebida pelo autor ao escutar a introdução e compará-la à introdução
126
da marcha que Babo dedicou ao clube, que traz sutis semelhanças (Apêndice; 6). Outro dado
importante notado no registro de áudio do “hino nacional de Portugal” é a marcialidade de sua
música e o conteúdo bélico de sua letra, que pode ser percebido no texto abaixo que fala sobre o
surgimento da obra e suas características melódicas e poéticas.
Em 11 de janeiro de 1890 o governo inglês enviou, por via telegráfica, um ultimato para que
as tropas portuguesas se retirassem da zona colonial africana conhecida como “mapa cor-de-
rosa” (atuais Zâmbia, Zimbábue e Malauí). O ultimato britânico ameaçava Portugal com uma
intervenção militar, que, perante tais exigências, cedeu e evacuou a região. O povo saiu às
ruas para protestar e, indignado com essa notícia, Alfredo Keil (1850-1907) sentou-se ao
piano e compôs uma música marcial, depois foi à casa do poeta Henrique Lopes de
Mendonça (1856-1931) e pediu-lhe uma letra que encaixasse naqueles acordes; dias depois
estavam escritas as três estrofes da composição musical. A canção caiu mais tarde no gosto
dos republicanos, sendo tocada durante os protestos contra a monarquia em 1891. Em 05 de
outubro de 1910, depois de implantada a república, “A Portuguesa” tornou-se o hino nacional
de Portugal. (BERG, 2008, p.218)
O compositor Aldir Blanc, entre os notáveis vascaínos da pesquisa de campo, considera o
hino popular do CRVG a música mais marcante feita para seu time. Blanc, que acha bonito essa
tendência de compor e cantar música nos estádios, frisou que a obra representa bem a agremiação,
falando inclusive sobre a referência ao hino de Portugal que Babo colocou na obra cruz-maltina.
Na letra do hino popular vascaíno, que o autor classificou como Histórico-Narrativa como se
observa no Quadro 7A (Anexo I), Babo eleva a auto-estima da torcida, citando a grandiosidade do
clube, que preenche o território nacional de norte a sul, dando a dimensão de um time grandioso não
no futebol, mas também em outros esportes tradicionais como o remo e o atletismo. A obra
constrói uma imagem de veneração e respeito, em que os torcedores, junto com o clube, recordam
que o nome do time procede do grande herói, o navegador português Vasco da Gama. Ao cantar-se
a glória do herói está-se também “heroicizando” o CRVG e a etnia lusitana no Brasil (OLIVEIRA e
VOTRE, 2003).
A parte correspondente ao hino popular do CRVG no quadro 25 (partituras
encontradas/elaboradas dos hinos oficias e populares), traz cinco registros, sendo dessa forma, o
clube que mais reuniu partituras das obras populares na pesquisa. No Museu da Imagem e do Som
do Rio de Janeiro (MIS, 2008) foram encontradas três partituras que indicavam intérpretes variados
como: Orquestra, cantora Marlene e Trio Melodia. Consta também na pesquisa a partitura
transposta para o programa de computador “Encore” feita pelo arranjador Maurício Verde e por
último a partitura enviada pelo professor Maurício Uzum de São Paulo, que a classificou como
“hino oficial do CRVG”, divergindo das demais partituras feitas pelo professor para FFC, BFR,
AFC e CRF, que foram classificadas como hinos populares (Apêndice; 5).
127
Como demonstra o Quadro 12A (Anexo I) o primeiro registro fonográfico do hino popular
vascaíno encontrado pelo autor, é de 1950, interpretado pelo cantor Silvio Caldas (COLLECTOR’S,
2008). Segundo o Instituto Cultural Cravo Albin (2009b), Silvio Caldas teve uma das mais longas
carreiras artísticas no Brasil sendo considerado pela crítica e pelo público como um dos quatro
grandes cantores da chamada “Era do Rádio”. O registro de Caldas demonstra uma interpretação
peculiar ao período, onde a potência vocal era considerada como um diferencial e atributo dos
grandes intérpretes. O hino foi gravado no estilo marcha popular, assim como todos os demais
registros de áudio dessa obra.
O segundo registro de áudio encontrado pela pesquisa foi extraído do CD “Hino dos
Campeões, vol.1”, lançado em 03/08/1993 pela Companhia Industrial de Discos, ainda com o
fonograma de 1977, interpretado pela Banda Galera Campeã (SANTOS, 2009). É também para o
torcedor vascaíno contemporâneo o registro mais familiar e clássico que se possa ouvir.
Quando se escuta a versão do hino popular do CRVG, lançado em 1996 pela revista
“Placar” tem-se a exata noção de quanto Lamartine Babo é eterno e da dimensão atemporal de sua
obra. O terceiro registro de áudio encontrado começa com a cantora Fernanda Abreu
“parafraseando” um clássico do funk carioca, o Rap da felicidadedos MCs Cidinho e Doca. Logo
em seguida entra uma locução apaixonada de um gol de Roberto Dinamite com o time campeão
brasileiro de 1974 com craques como: Andrada, Alcir e Zanata que inclusive é citado na locução. O
nobre violino sola a primeira parte do hino em cima de uma batida funk, mostrando que erudito e
popular se reconhecem no clube que pioneiramente derrubou as barreiras impostas pela elite no
início do século XIX, aceitando jogadores negros e analfabetos. Roberto Dinamite, o maior ídolo
“cruzmaltino” de todos os tempos, convida a torcida a cantar juntos a letra, que começa com a voz
de Luís Melodia e é seguida por Fernanda Abreu. A guitarra e voz de Celso Blues Boy acrescentam
irreverência e despojamento à obra que segue com Fernanda Abreu e Pierre Aderne cantando e
fazendo dueto ao final.
O quarto registro de áudio encontrado é do ano de 2004 e também foi lançado pela revista
“Placar”. Nele os compositores Paulinho da Viola e Marcelo Camelo do conjunto “Los Hermanos”
interpretam em dupla a obra vascaína. Houve cumplicidade na gravação que resultou numa versão
conservadora, sem grandes alterações da versão original, em ritmo de marchinha carnavalesca,
pontuada pelo cavaquinho de Paulinho da Viola, e exposta no Quadro 12A (Anexo I).
O torcedor Ferreirinha que foi citado na pesquisa de campo pelo dirigente Humberto Viana,
começou sua paixão pelo clube por causa de sua avó, a atriz Bibi Ferreira que sempre o levava aos
jogos. Ferreirinha acha que o hino é uma forma de enaltecer o seu clube de coração e de aproximar
jogadores e torcedores. O torcedor que diz ser amigo pessoal de Roberto Dinamite, confessa chegar
128
ás grimas ao ver a torcida cantando para o time, salientando que nesse momento sente o coração
bater muito mais forte.
O depoimento do jornalista vascaíno Sérgio Cabral (2008) sobre a pequena inferioridade do
hino vascaíno (Quadro 15) sobre os demais feitos por Babo, coaduna-se com os relatos da pesquisa
de campo. Quanto ao conhecimento a respeito dos hinos dos outros clubes, alguns entrevistados
demonstram esquecimento em relação ao hino vascaíno, que parece não estar tão presente quanto os
demais na memória afetiva do torcedor carioca.
O conjunto de hinos populares oferecidos por Lamartine à cidade do Rio de Janeiro deixou
alegrias e alguns aborrecimentos. Por parte dos clubes, o compositor não recebeu nenhum tipo de
agradecimento das diretorias, exceto a do FFC que em reconhecimento renovava a cada ano o
convite para que Lamartine frequentasse o clube das Laranjeiras. Mas não foram os grandes
clubes os beneficiários do talento do compositor, ele ainda escreveu as obras: marcha do São
Cristóvão de Futebol e Regatas, marcha do Canto do Rio Football Club, marcha do Bangu Athletic
Club, marcha do Olaria Atlético Clube, marcha do Madureira Esporte Clube, marcha do
Bonsucesso Futebol Clube (Apêndice; 6) e quando convidado para fazer o mesmo pelos clubes de
São Paulo, prontificou-se a fazê-lo, embora ressalvasse um pouco gaiatamente que estava
encontrando certa dificuldade em achar rima para Coríntians (VALENÇA, 1989).
129
Hino Popular do CRVG
Vamos todos cantar de coração
A Cruz de Malta é o meu pendão
Tu tens o nome de um heróico português
Vasco da Gama, a tua fama assim se fez
Tua imensa torcida é bem feliz
Norte e sul, norte e sul deste país
Tua estrela, na terra a brilhar
Ilumina o mar
No atletismo és um braço
No remo és imortal
No futebol és o traço
De união Brasil-Portugal
Lamartine Babo – 1949
Quadro 15 – Hino Popular do CRVG.
(Fonte: Museu do Futebol – São Paulo, 2008).
O rádio como suporte de divulgação na disseminação da cultura futebolística carioca
A criação dos hinos populares de Lamartine Babo, teve início no período do Estado Novo
(1937/1945), época em que o presidente do Brasil era o gaúcho Getúlio Vargas. Vargas, com o
apoio do deputado Negrão de Lima, percorreu os estados articulando-se politicamente com
governadores, com a afirmativa de que estes continuariam no poder depois do golpe. E este seria
dado, para impedir que comunistas assumissem o poder, em um, suposto, plano comunista o
Plano Cohen forjado pelo governo, por um oficial integralista do exército, o capitão Olympio de
Mourão Filho. O plano serviu de factóide para o golpe, onde Vargas assumiu o poder, boicotando as
eleições presidenciais de 1937, decretando o fechamento do Congresso, a extinção dos partidos
políticos e a suspensão da Constituição, instaurando a ditadura do Estado Novo no país
(VICENTINO et al, 2005).
A consolidação do regime autoritário realizou-se por meio de intensa propaganda, que
procurava garantir o apoio das massas ao presidente e a difusão da ideologia trabalhista de
conciliação das classes e de valorização da ordem, da disciplina e do nacionalismo. Desde 1934, a
feição paternalista do presidente era propagada pelas ondas do rádio graças ao estabelecimento do
programa: A Hora do Brasil (FRANCO JÚNIOR 2007). Em primeiro de maio de 1937, Vargas
130
enviou ao congresso nacional uma mensagem expondo os seus planos sobre a propaganda do
governo pelo rádio:
Impõe-se ampliar os trabalhos relativos à divulgação, sob os seus diversos aspectos. No
interior torna-se necessário realizar uma obra inadiável de educação cívico-política,
reforçando o conhecimento do regime democrático e seu funcionamento, dando a conhecer,
em toda a extensão do país, qual a orientação dos seus dirigentes e o alcance das medidas
administrativas em curso. Seria conveniente e oportuno iniciar essa tarefa ainda no corrente
ano. O governo da união procurará entender-se a propósito com estados e municípios, de
modo que, mesmo nas pequenas aglomerações, sejam instalados aparelhos radiorreceptores,
providos de alto-falantes, em condições de facilitar a todos os brasileiros, sem distinção de
sexo nem idade, momentos de educação política e social, informes úteis aos seus negócios e
toda sorte de notícias tendentes a entrelaçar os interesses diversos da Nação. A iniciativa
mais se recomenda quando consideramos o fato de não existir no Brasil imprensa de
divulgação nacional. São diversas e distantes as zonas do interior e a maioria delas dispõe
de imprensa própria, veiculando apenas as notícias de caráter regional. À radiofonia está
resolvendo o papel de interessar todos por tudo quanto se passa no Brasil. (CABRAL,
1996, p. 62-63)
A partir de 1939, com a criação do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), o
controle dos meios de comunicação tornou-se ainda mais eficaz graças à censura, à promoção de
concursos musicais e à organização de manifestações cívicas nas quais abundavam retratos de
Vargas, ritualizando os compromissos entre as massas e o presidente.
Na mesma lógica que orientava as medidas corporativas do Estado Novo, em 1941 foi
criado o conselho Nacional dos Desportos (CND), vinculado ao ministério da Educação e Cultura,
que subordinava a Confederação Brasileira de Desportos (CBD) e as federações regionais que
tinham poder de fiscalização, normatização e organização de todas as modalidades esportivas do
país. A intenção do Estado, embora tenha sido romper com os indícios de “desordem” existentes,
não deixou de ser o início da regulamentação ou normatização do esporte brasileiro (TUBINO
2002). Sem dúvida os anos de governo Vargas haviam difundido um sentimento nacionalista
potencializado pelo futebol e pela guerra, dois combates repletos de semelhança. Alçado à condição
de principal esporte e, junto com o carnaval, principal espetáculo do país, o futebol expressava
nitidamente o sentimento de identidade nacional forjado sob a batuta autoritária.
A era Vargas (1930/1945), que proporcionou um amplo investimento no rádio brasileiro
confunde-se com a história dos hinos populares criados por Lamartine Babo na década de 1940.
Antes de criar os hinos, as músicas de Lamartine registravam fatos históricos de relevância no
cenário nacional, que se entrelaçavam com episódios marcantes da era Vargas, como as marchas
feitas no período da revolução (1930/1934).
131
Na gravadora Parlophon, que também lançou discos alusivos à revolução, Almirante
gravou as marchas O barbado foi-se, de Lamartine Babo (Doutor Barbado/Foi-se
embora/Deu o fora/Não volta mais), e Gegê Seu Getúlio (também de Lamartine Babo),
cuja letra chamou a atenção para o papel do rádio naqueles acontecimentos: Só mesmo com
revolução/Graças ao rádio e ao parabelo/Nós vamos ter transformação/Neste Brasil verde e
amarelo. (CABRAL, 1996, p. 28-29)
No período do Estado Novo, Lamartine, além de pertencer ao primeiro time de compositores
do Rio de Janeiro, então Distrito Federal e principal centro cultural do Brasil, trabalhava como
radialista na Rádio Mayrink Veiga que figurava entre as principais emissoras de rádio do país, posto
esse que só entraria em declínio na década de 1950 com a chegada da televisão aos lares brasileiros.
O compositor encontrou no período acima descrito, um ambiente fecundo para promoção de suas
marchas populares em homenagem aos clubes de futebol. O esporte desfrutava de amplo
reconhecimento público, era o primeiro em preferência nacional e se esforçava para romper a
barreira do amadorismo. Era comum no período encontrar compositores, jornalistas, intelectuais
envolvidos com a causa futebolística, tendo apoio do rádio como veículo de comunicação,
abrigando e dando projeção a essa classe formadora de opinião, como os compositores Lamartine
Babo, Ary Barroso, Antônio Maria, o jornalista Mário Filho que ajudaram a transformar o futebol
brasileiro nesse grande fenômeno sócio-cultural de projeção planetária
Mário Filho, em meio à crise entre amadores e profissionais no Rio de Janeiro, contribuiu
para a transformação do futebol brasileiro no grande espetáculo das multidões ao promover
concursos entre os torcedores e estimular sua carnavalização, que desembocaria na
elaboração de bandeiras, hinos, símbolos, mascotes e grupos uniformizados. (FRANCO
JÚNIOR,2007)
CAPÍTULO IV
OS TORCEDORES E OS HINOS: RESULTADOS DO ESTUDO
Conhecimento dos torcedores sobre os hinos oficiais e populares
O BFR foi o único clube cujos entrevistados não citaram nenhuma obra oficial da
agremiação. No FFC o jornalista Alexandre Bittencourt citou o primeiro hino oficial e o torcedor
Heitor D’Alincourt citou o primeiro e o segundo hinos oficiais. O AFC teve o segundo hino oficial
citado pelo atual presidente, o médico Ulisses Salgado. No caso CRF o hino oficial foi citado pelo
ex-jogador Júnior, pelo jornalista João Pimentel, pelo ex vice-presidente jurídico Julio Gomes, e
pelo torcedor Marcelo Anjinho. No caso do CRVG apenas o jornalista Roberto Garófalo citou o
segundo hino oficial. O percentual de torcedores que demonstraram conhecer e não conhecer o hino
oficial de seu clube está exposto no Gráfico 1.
Gráfico 1 Torcedores que demonstraram conhecer e não conhecer o hino oficial de seu clube.
No Gráfico 2 pode-se observar o quantitativo de torcedores que demonstraram conhecer e
não conhecer o hino oficial de outro clube. Alexandre Bittencourt expressou com certa dúvida
conhecer o hino oficial do CRF e ao cantarolar parte da letra que conhecia, comprovou-se que a
música que estava em seu imaginário como manifestação oficial rubro-negra era realmente o hino
oficial de autoria do Dr. Paulo de Magalhães. Heitor D’Alincourt afirmou conhecer a obra do
68%
32%
17 torcedores
não citaram
8 torcedores
citaram
TODOS OS CLUBES
133
CRF, salientando, lembrar-se mais do refrão que classificou como bom. D’Alincourt e Bittencourt,
citando a obra rubro-negra, são os únicos entrevistados de toda pesquisa de campo a conhecer
alguma manifestação oficial de outro clube e o CRF o único clube a ter a manifestação oficial
reconhecida por torcedores de outra entidade.
Nem mesmo o atual presidente da torcida organizada “Inferno Rubro”, o americano Jorge do
Batuke, lembrou de alguma manifestação oficial dos outros clubes cariocas. Segundo Dário
Meireles e Marcelo Castilho, Jorge do Batuke é hoje o guardião da memória musical americana
tendo feito inclusive um CD que contempla diversas músicas e entrevistas feitas em homenagem ao
AFC, porém o CD em momento algum cita alguma manifestação oficial da agremiação. O fato de
Jorge do Batuke não conhecer os hinos oficiais de seu clube ou de outros clubes cariocas é
emblemático e aponta a necessidade de urgente revigoração dos hinos oficiais dos clubes cariocas.
Os dois hinos oficiais do BFR não foram citados e também os hinos oficiais das outras
agremiações envolvidas na pesquisa não estão no imaginário dos torcedores notáveis da agremiação
alvinegra do Rio de Janeiro. Beth Carvalho, ao ser perguntada se existe alguma música que marque
a relação dela com o clube, citou a Marcha Popular de Lamartine Babo a qual classificou
equivocadamente de “hino oficial” e falou a respeito de uma obra gravada por ela chamada
Botafogo Campeão “Esse é o Botafogo que eu gosto” de Elias da Silva, Pedro Russo e Maurício
Izidoro (CARVALHO, 1989), que a intérprete classificou como um segundo hino adotado pela
torcida que canta quando o time marca um gol nos estádios de futebol.
Do grupo de notáveis cruz-maltinos e rubro-negros, ninguém manifestou conhecimento
sobre a obra oficial das demais agremiações. O torcedor Anjinho do CRF quando questionado a
respeito do conhecer algum hino de outra agremiação, exercitou sua rivalidade em tom de
brincadeira, dizendo ser difícil falar de coadjuvantes, mas mesmo assim cantarolou a Marcha
Popular americana e classificou-a como a mais marcante, já o torcedor Ferreirinha do CRVG
também rivalizou de forma descontraída cantando a Marcha Popular do BFR, salientando que
apesar do clube não ganhar nada a sua torcida demonstra um clima pacífico nos estádios, sendo
dessa forma merecedor de sua citação.
134
92%
8%
23 torcedores
não citaram
2 torcedores
citaram
TODOS OS CLUBES
Gráfico 2Torcedores que demonstraram conhecer e não conhecer o Hino Oficial de outro Clube.
A vitalidade e atemporalidade dos hinos populares de Lamartine Babo (no caso do FFC em
parceria com Lírio Panicalli) foram confirmados na pesquisa de campo em que 100% dos notáveis
citaram a obra popular de seu clube, como demonstra o Gráfico 3. O compositor Ivan Lins, o ex-
jogador Gerson e o dirigente Ailton Ribeiro, julgam que a marcha popular de Lamartine Babo seja o
único hino do FFC. No caso do BFR o ex-jogador Jairzinho, o jornalista Waldir Luiz, o dirigente
Maurício Assumpção, a intérprete Beth Carvalho e o torcedor Móthel Santoro julgam que a obra de
Babo seja o único hino do clube alvinegro. O AFC foi a agremiação em que o ex-jogador Luizinho
Lemos, o jornalista Marcelo Castilho, a intérprete e compositora Dona Ivone Lara, e o torcedor
Dário Meireles julgam que a obra popular de Babo seja o único hino do clube americano. No CRF a
intérprete Sandra de considera o hino popular de Babo o único hino da agremiação. No CRVG o
ex-jogador Roberto Dinamite, o dirigente Humberto da Rocha Viana, o compositor Aldir Blanc e o
torcedor Ferreirinha consideram a obra de Babo o único hino cruz-maltino.
135
0%
100%
Sem citação
dos torcedores
25 torcedores
citaram
TODOS OS CLUBES
Gráfico 3 – Torcedores que demonstraram conhecer e não conhecer o Hino Popular de seu Clube.
No FFC o ex-jogador Gerson citou os quatro hinos populares dos demais clubes, dando
menos ênfase ao hino cruz-maltino. O jornalista Alexandre Bittencourt citou os quatro, mas disse
que “escuta comentáriossobre a inferioridade do hino vascaíno, mas discorda e acha a obra tão
boa quanto as demais. O dirigente Ailton Ribeiro citou os quatro ressaltando o hino rubro-negro. O
compositor Ivan Lins ressaltou a qualidade dos quatro e cantarolou o hino americano. O torcedor
Heitor D’Alincourt, citou os quatro e disse ainda conhecer as obras que Babo fez para os outros
clubes menores do Rio de Janeiro.
No BFR o ex-jogador Jairzinho não citou nenhuma obra de outra agremiação. O jornalista
Waldir Luiz citou os quatro e cantarolou o hino Americano. O dirigente Maurício Assumpção citou
os quatro, cantarolou o hino tricolor, não soube cantarolar o hino vascaíno, se recusou a cantar o
hino rubro-negro e elogiou o hino Americano apesar de não se lembrar na hora da letra. A intérprete
Beth Carvalho citou os quatro e cantarolou todos menos o hino vascaíno. O torcedor Móthel
Santoro, que é citado no livro “Heróis do Cimento” de Hilton Mattos, citou os quatro, porém,
cantou o grito de guerra vascaíno no lugar da obra de Babo.
No AFC o ex-jogador Luizinho Lemos citou os quatro e cantarolou o hino rubro-negro. O
Jornalista Marcelo Castilho citou os quatro. O dirigente Ulisses Salgado citou e cantarolou os
quatro. A compositora Dona Ivone Lara não citou nenhuma obra de outra agremiação. O torcedor
Dário Meireles que foi citado como símbolo do clube por Luizinho Lemos e Ulisses Salgado, citou
os quatro e disse que não cantaria “para não se violentar”.
No CRF o ex-jogador Júnior citou os quatro e cantarolou o hino americano. O jornalista
João Pimentel citou os quatro e cantarolou o hino tricolor e o hino vascaíno. O dirigente Júlio
136
Gomes citou os quatro e cantarolou o hino tricolor e o hino alvinegro. A intérprete Sandra de
citou os quatro, mas disse que não cantaria “hino dos outros”. O torcedor Marcelo Anjinho que foi
citado por Júnior como símbolo do clube, citou os quatro e cantarolou o hino americano.
No CRVG o ex-jogador Roberto Dinamite e o jornalista Roberto Garófalo citaram os quatro
e ressaltaram o hino americano, como demonstra o Gráfico 4. O dirigente Humberto Viana e o
compositor Aldir Blanc citaram os quatro e cantarolaram o hino tricolor e o hino americano. O
torcedor Ferreirinha que foi citado por Humberto Viana como símbolo do clube, citou os quatro e
cantarolou o hino alvinegro.
8%
92%
2 torcedores
não citaram
23 torcedores
citaram
TODOS OS CLUBES
Gráfico 4 Torcedores que demonstraram conhecer e não conhecer o Hino Popular dos outros
Clubes.
137
Gênero musical e características sócio-culturais dos hinos pesquisados
No Gráfico 5 pode-se observar que as obras do FFC (primeiro e segundo hinos oficias),
AFC (1
o
e 2
o
hinos oficias), BFR (segundo hino oficial), CRF (hino oficial), CRVG (primeiro
hino
oficial), são obras muito influenciadas pela dimensão bélica comum ao período em que foram
compostas, como exposto no Quadro 6A (Anexo I). No caso do BFR (primeiro
hino oficial), a obra
começava a esboçar um toque de modernidade sugerindo na capa da partitura a execução da
música no estilo Polka-Marcha ou Rag-Time o que, na opinião do autor, seria um prenúncio ou uma
evolução natural para o surgimento das marchas populares ou marchas carnavalescas que ditariam o
ritmo das obras dos clubes que surgiriam em seguida como é o caso do CRVG (segundo hino
oficial) e todos os hinos populares das cinco agremiações envolvidas nessa pesquisa que sofreram
forte influência das marchinhas carnavalescas que se espalharam pelo Brasil sendo muito
beneficiadas pela expansão do rádio no país.
50%
42%
8%
7 Marchas
Marciais
6 Marchas
Populares
1 Polka-Marcha
TODOS OS HINOS (14)
Gráfico 5 – Gênero musical dos Hinos Oficiais e Populares.
As obras do FFC (1
o
e 2
o
hinos oficias), AFC (2
o
hino oficial), BFR (2
o
hino oficial), são
obras cuja letra tem conteúdo Bélico e Higienista. No caso do AFC (1
o
hino oficial) é a única obra
que tem sua letra classificada como Sacralizada e Bélica. O CRF (1
o
hino oficial) e CRVG (1
o
hino
oficial) são obras impregnadas com conteúdo Bélico em suas letras. O BFR (1
o
hino oficial), CRVG
(2
o
hino oficial) e todos os hinos populares compostos por Lamartine Babo (e Lírio Panicalli no
138
caso do FFC) são obras cuja letra foi classificada pelo autor como Histórico-Narrativas. O
quantitativo das características sócio-culturais pode ser observado no Gráfico 6.
Gráfico 6 – Características sócio-culturais das letras dos Hinos Oficiais e Populares.
28%
14%
8%
50%
4 Higienista e
Bélica
2 Bélica
1 Sacralizada e
Bélica
7 Histórico-
Narrativa
TODOS OS HINOS (14)
139
Conhecimento dos torcedores sobre os autores dos hinos oficiais e populares
O produtor artístico Heitor D’Alincourt, torcedor símbolo do FFC, foi o único notável
entrevistado na pesquisa de campo a citar o poeta Coelho Netto como compositor do primeiro hino
Oficial do FFC e o compositor Antônio Cardoso de Menezes Filho como autor do segundo hino
Oficial tricolor. Dessa forma, como demonstra o Gráfico 7, D’Alincourt destaca-se pelo
conhecimento acima da média com relação ao Hinário Oficial dos principais clubes cariocas de
futebol.
96%
4%
24 torcedores
não citaram
1 torcedor citou
TODOS OS CLUBES
Gráfico 7 Torcedores que demonstraram conhecer e não conhecer o (s) autor (es) dos Hinos
Oficiais.
Os cinco notáveis do FFC citaram Lamartine Babo em suas entrevistas como exposto no
Gráfico 8, mas nenhum deles citou Lírio Panicalli como parceiro de Babo na obra popular do time
tricolor. Apenas o dirigente Ulisses Salgado, o Jornalista Marcelo Castilho e o torcedor Dário
Meireles citaram Babo como autor do hino popular do AFC. Do BFR somente a cantora Beth
Carvalho citou Lamartine como autor do hino popular alvinegro. O ex-jogador Júnior foi o único
notável flamenguista a citar Babo como autor do hino popular do CRF. No CRVG o compositor
Aldir Blanc, o jornalista Roberto Garófalo e o torcedor Ferreirinha citaram Lamartine Babo como
autor do hino popular cruz-maltino.
140
48%
52%
12 torcedores
não citaram
13 torcedores
citaram
TODOS OS CLUBES
Gráfico 8 Torcedores que demonstraram conhecer e não conhecer o (s) autor (es) dos Hinos
Populares.
141
Conhecimento dos torcedores sobre os hinos oficiais de seu clube
Fluminense Football Club
O produtor artístico Heitor D’Alincourt foi o único notável tricolor na pesquisa de campo
que relatou conhecer a obra de H. Willians e Coelho Netto (Gráfico 9). Segundo D’Alincourt, era
uma obra com um português muito arcaico e uma poesia com características parnasianas, o que
deixava muito restrita a sua utilização pelo clube. Para Fernandes (2000), arcaico é o mesmo que
antigo, antiquado, desusado, obsoleto, velho, vetusto e para Ferreira (1999), diz-se parnasiano dos
partidários de uma escola poética que, em oposição ao lirismo romântico, cultivou uma poesia de
feição mais objetiva e de notável apuro de forma. A dificuldade de se encontrar um registro de
áudio que tenha a letra interpretada juntamente com a música pode também estar contribuindo para
amplo desconhecimento da obra.
80%
20%
4 torcedores
não citaram
1 torcedor citou
FLUMINENSE FOOTBAL CLUB
Gráfico 9 Torcedores do FFC que demonstraram conhecer e não conhecer o primeiro hino oficial
de autoria de H. Willians e Coelho Netto.
A obra de Antônio Cardoso de Menezes Filho é certamente a obra oficial mais conhecida do
FFC (Gráfico 10). Dos quatro registros de áudio encontrados pela pesquisa, a maioria pode ser
facilmente encontrada na internet. Atualmente, o mundo virtual, no que tange a educação, pode dar
grande contribuição para o não desaparecimento de obras importantes para a cultura futebolística
mundial. Segundo Levy (2002) citado por Araújo (s/d) todos os meios de comunicação servem para
colocar as pessoas em situação de curiosidade e possibilidade de exploração. Uma vez
142
compreendido esse princípio de base, os meios audiovisuais, interativos, os mundos virtuais servem
para as pessoas se conhecerem e conhecerem o mundo a sua volta.
O jornalista Alexandre Bittencourt, atual assessor de imprensa do FFC, foi um dos notáveis
tricolores da pesquisa de campo a salientar que o segundo hino oficial tem uma letra muito
rebuscada e que sempre é executado nas seções do conselho deliberativo do clube juntamente com o
hino popular de Lamartine Babo e Lírio Panicali. Já o torcedor D’Alincourt não conhece como
pessoalmente regravou a obra, que classificou como marcha militar, relatando tê-la transformado
em sua regravação numa versão em estilo caribenho mais dançante (Apêndice; 1).
60%
40%
3 torcedores
não citaram
2 torcedores
citaram
FLUMINENSE FOOTBAL CLUB
Gráfico 10 – Torcedores do FFC que demonstraram conhecer e não conhecer o segundo hino
oficial de autoria de Antônio Cardoso de Menezes Filho.
143
Botafogo de Futebol e Regatas
Apesar de a obra constar no estatuto do BFR como hino oficial do (CRB), não foram
achados registros de áudio da mesma. O único registro de áudio presente na pesquisa foi produzido
pelo músico e arranjador Bival Farias, e está presente no DVD que compõe a dissertação
(Apêndice; 2). Outro fator que chamou atenção do autor é o fato do músico Pedrinho Cavallero
(2009), sobrinho-neto de Theóphilo de Magalhães, que forneceu informações importantes para a
pesquisa sobre o maestro, desconhecer a obra Alvinegra. A pouca divulgação no passado, aliado à
falta de registros de áudio no presente pode estar contribuindo para o total desconhecimento da obra
como se observa no Gráfico 11.
100%
0%
5 torcedores
não citaram
Sem citação
dos torcedores
BOTAFOGO DE FUTEBOL E REGATAS
Gráfico 11 Torcedores do BRF que demonstraram conhecer e não conhecer o Primeiro Hino
Oficial de autoria de Theóphilo de Magalhães e Alberto Ruiz.
Mesmo sendo a música de autoria do Maestro Eduardo Souto, um dos padrinhos artísticos
de Lamartine Babo, essa obra não foi citada na pesquisa de campo por nenhum dos notáveis
entrevistados (Gráfico 12). A falta de registros de áudio que tenham um intérprete da letra, dificulta
a divulgação do hino. Para sanar esse desconhecimento histórico esta pesquisa disponibiliza em
DVD (Apêndice; 2) a gravação do maestro Eduardo Souto Neto executando ao piano e cantando a
obra de seu avô, Eduardo Souto e do escritor Octacílio Gomes.
144
100%
0%
5 torcedores
não citaram
Sem citação
dos torcedores
BOTAFOGO DE FUTEBOL E REGATAS
Gráfico 12 Torcedores do BRF que demonstraram conhecer e não conhecer o segundo hino
oficial de autoria de Eduardo Souto e Octacílio Gomes.
145
América Football Club
Essa obra foi encontrada no livro: “O América na História da Cidade” de autoria de Orlando
Rocha da Cunha e Therezinha de Castro adquirido no Departamento Histórico do AFC. A qualidade
do texto de Luiz França somada à importância de Freire Júnior no cenário cultural nacional
estimulou o autor a incorporar esta obra no hinário americano. O total desconhecimento dos
torcedores notáveis do AFC, como se pode observar no Gráfico 13, é reflexo da falta de registros de
áudios com interpretação da letra, o que a partir de agora será facilitado por esta pesquisa que
disponibilizará em DVD uma gravação produzida pelo músico e arranjador, Bival Farias (Apêndice;
3).
100%
0%
5 torcedores
não citaram
Sem citação
dos torcedores
AMÉRICA FOOTBALL CLUB
Gráfico 13 Torcedores do AFC que demonstraram conhecer e não conhecer o Primeiro Hino
Oficial de autoria de Freire Júnior e Dr. Luiz França.
O atual presidente do AFC e diretor do Hospital Municipal Salgado Filho, Dr. Ulisses
Salgado foi o único torcedor notável a falar da existência de uma manifestação oficial americana
(Gráfico 14). A obra que Salgado referia-se era ao segundo hino oficial de autoria de F.Soriano
Robert e Americano Maia muito pouco conhecido entre a torcida alvirubro. A ausência de registros
de áudio com interpretação da letra dificulta a divulgação do hino, porém o problema foi sanado
com a gravação encomendada pelo autor (Apêndice; 3).
Até mesmo o presidente do clube que sabe de sua existência, confessou nunca tê-lo
escutado, portanto, a obra oficial não esta fixada em seu imaginário como o hino popular composto
pelo americano Lamartine Babo, obra que segundo Ulisses ao chegar suprimiu por completo a
manifestação oficial.
146
80%
20%
4 torcedores
não citaram
1 torcedor citou
AMÉRICA FOOTBAL CLUB
Gráfico 14 Torcedores do AFC que demonstraram conhecer e não conhecer o Segundo Hino
Oficial de autoria de F. Soriano Robert e Americano Maia.
147
Club de Regatas do Flamengo
A suposição de que o hino oficial do CRF é a obra oficial mais conhecida de todo hinário
oficial envolvido nesta pesquisa, confirmou-se na pesquisa de campo. No Gráfico 15, a obra oficial
do rubro-negro carioca foi citada por 80% dos notáveis flamenguistas entrevistados, ficando de fora
somente a intérprete Sandra de Sá que não o citou em nenhum momento da entrevista.
O hino oficial do CRF também foi a única obra lembrada por notáveis de outro clube
envolvido na pesquisa. D’Alincourt e Bittencourt do FFC citaram a obra rubro-negra e foram os
únicos dos 25 notáveis da pesquisa de campo a lembrar de uma obra oficial de outra agremiação.
O torcedor Marcelo Anjinho classificou equivocadamente a obra, em sua entrevista, como
“hino da bandeira do Flamengo” e ressaltou sua dimensão bélica quando disse: “todo exército
rubro-negro deveria marchar ao escutá-lo”. O crítico musical João Pimentel foi um dos notáveis a
dizer que não sabia se a obra era um “hino informal” ou se o mesmo tinha sido hino do clube no
passado, Pimentel disse não saber se a música possuía continuidade além do refrão.
Apesar de ser uma obra marcial o depoimento do ex-jogador Júnior, mostra um dos aspectos
que pode ter colaborado para maior popularização da obra. Júnior lembra que o hino de Dr. Paulo
de Magalhães é muito executado, até os dias de hoje, em diversos bailes carnavalescos.
80%
20%
1 Não Citou
4 Citaram
CLUB DE REGATAS DO FLAMENGO
Gráfico 15 Torcedores do CRF que demonstraram conhecer e não conhecer o Hino Oficial de
autoria de Dr. Paulo de Magalhães.
148
Club de Regatas Vasco da Gama
O primeiro hino oficial do CRVG tem um registro de áudio encontrado em ótimas condições
e disponível na internet, mas mesmo assim não foi citada pelos notáveis na pesquisa de campo. Um
dado relevante que corrobora com o desconhecimento do mesmo é que ela foi omitido no livro:
“Club de Regatas Vasco da Gama: Memória do cinqüentenário 1898-1948”(CARVALHO,
1948)que aborda a temática de simbolismos do clube como bandeiras, flâmulas e uniformes, mas
não cita nada sobre a memória musical da agremiação. O hino oficial de Joaquim Barros Ferreira da
Silva também é omitido no: Livro oficial do centenário do Club de Regatas Vasco da Gama”
(CABRAL, 1998) que no capítulo: “O Vasco e seus símbolos” disserta sobre bandeira, escudo,
flâmula, uniforme e hinos, citando a obra, “Meu Pavilhão” de Ernani Correa e João de Freitas, o
grito de guerra da agremiação e a Marcha Popular de Lamartine Babo que no livro é classificada
como hino do Vasco.
A entidade que melhor contempla as informações sobre o hinário vascaíno é o Museu do
Futebol (2008) que classifica a obra de Joaquim Barros Ferreira da Silva como “primeiro hino
oficial”, a obra de Ernani Correa e João de Freitas como “segundo hino oficial” e a Marcha de
Lamartine Babo como “hino popular”. O referido hino, como demonstra o Gráfico 16, não foi
citado por nenhum dos torcedores.
100%
0%
5 torcedores não
citaram
Sem citação dos
torcedores
CLUB DE REGATAS VASCO DA GAMA
Gráfico 16 Torcedores do CRVG que demonstraram conhecer e não conhecer o Primeiro Hino
Oficial de autoria de Joaquim Barros Ferreira da Silva.
149
Fatores como a ausência do registro de áudio no sítio oficial da agremiação, pouca
divulgação na mídia especializada, ausência no livro do cinqüentenário, letra incompleta no livro do
centenário e falta de citação no estatuto do clube fazem com que essa obra de espírito popular seja
pouco conhecida entre os torcedores vascaínos. O que chamou atenção a respeito desse
desconhecimento é o fato do compositor Aldir Blanc não ter citado a obra em seu depoimento à
pesquisa de campo desta dissertação (Gráfico 17). Segundo o Instituto Cultural Cravo Albin
(2009a), Blanc tem mais de 600 músicas gravadas e a mesma quantidade de inéditas com diversos
parceiros, é carioca exemplar em ação e comportamento, torce pelo clube carioca Vasco da Gama o
que torna público em suas crônicas. Até mesmo o jornalista Roberto Garófalo que por vários anos
consecutivos foi assessor de imprensa do CRVG na gestão do ex-presidente Eurico Miranda
citou a obra porque pode recorrer ao livro do centenário que estava ao seu alcance no momento da
entrevista. Mesmo assim, Garófalo, apesar de saber da sua existência, confessou nunca ter ouvido a
execução do mesmo.
Gráfico 17 – Torcedores do CRVG que demonstraram conhecer e não conhecer o Segundo Hino
Oficial de autoria de Ernani Correa e João de Freitas.
80%
20%
4 torcedores não
citaram
1 torcedor citou
CLUB DE REGATAS VASCO DA GAMA
150
Dados biográficos dos autores do hinos
Os dados biográficos dos 17 autores, dos 14 hinos estudados, e a partir do mesmo pôde-se
levantar as informações a seguir (Gráfico 18):
Quanto aos primeiros hinos oficiais, as biografias encontradas com sucesso foram as de
Coelho Netto (FFC), Freire Júnior (AFC) e Paulo de Magalhães (CRF). As encontradas com
ressalvas, como se pôde observar nos textos anteriores são de Alberto Ruiz (BFR) e Theophilo de
Magalhães (BFR). Não foram encontradas as biografias de H. Willians (FFC), Dr. Luiz França
(AFR) e de Joaquim Barros Ferreira da Silva (CRVG).
Em relação aos segundos hinos oficiais dos Clubes de futebol do Rio de janeiro foi
encontrada com sucesso a de Eduardo Souto (BFR) e com ressalvas as de Antônio Cardoso de
Menezes Filho (FFC), Octacílio Gomes (BFR), F. Soriano Robert (AFC) e João de Freitas (CRVG).
Não foram encontradas as de Americano Maia (AFC) e de Ernani Corrêa (CRVG).
No que diz respeito aos hinos populares, tanto a biografia de Lamartine Babo como a de
Lírio Panicalli, foram encontradas com sucesso.
35%
35%
30%
6 Encontradas
6 Encontradas c/
ressalvas
5 Não encontradas
BIOGRAFIA DOS AUTORES
Gráfico 18 – Levantamento do número de biografias dos autores do hinos.
151
Conhecimento dos torcedores, por faixa etária, sobre os hinos oficiais e populares
Independente de faixa etária, ou categoria do entrevistado - jogador, jornalista, dirigente,
artista e torcedor todos os torcedores demonstraram conhecer o hino popular de seu respectivo
clube. Nenhum torcedor com 19 anos ou menos participou desta pesquisa. Nas categorias de
torcedores de 20 a 29 anos, houve um entrevistado. O mesmo ocorreu com as categorias de 70 a
79 anos e acima de 80 anos. Na categoria de 40 a 49 anos houve 5 entrevistados. Nas de 50 a 59
anos e 60 a 69 anos, os números foram mais representativos, havendo 7 para cada categoria como
demonstra o Gráfico 19.
Apesar do fator faixa etária poder qualificar os torcedores mais velhos para responderem as
questões relativas aos hinos oficiais com mais propriedade, os entrevistados que mais demonstraram
conhecer as obras oficiais são os mais jovens: de 30 a 39 anos, Marcelo Anjinho e João Pimentel;
de 40 a 49 anos, Heitor D’Alincourt e Alexandre Bittencourt; de 50 a 59 anos, Júnior e Dr. Ulisses
Salgado; de 60 a 69 anos, Roberto Garófalo e de 70 a 79 anos, Julio Gomes.
0%
12%
20%
28%
28%
4%
4%
4%
19 ou menos = 0
20 a 29 = 1
30 a 39 = 3
40 a 49 = 5
50 a 59 = 7
60 a 69 = 7
70 a 79 = 1
80 ou mais = 1
ENTREVISTADOS POR FAIXA ETÁRIA
Gráfico 19 – Torcedores, de acordo com faixa etária, que conhecem os hinos oficiais e populares.
.
152
Cronologia do hinário oficial e popular
A Figura 43 apresenta em ordem cronológica o surgimento do hinário pesquisado, inserindo
ainda elementos contextualizadores como a chegada de Charles Miller, a fundação dos clubes, a
fusão das agremiações alvinegras, o nascimento e morte de Lamartine Babo e a primeira execução
ao vivo nos estádios de um hino popular, pela charanga rubro-negra do Jayme de Carvalho. Na
linha cronológica apresentada, o autor separou para facilitar o entendimento as obras de conteúdo
marcial à esquerda e as de conteúdo popular à direita. No centro, com a linha do tempo pontilhada
perpassando quatro hinos, encontram-se as obras que representam um marco transitório entre a
estética marcial e a popular, que mais tarde, culminaria no hinário popular composto por Babo. Essa
análise foi possível pelo fato da pesquisa ter conseguido disponibilizar todos os registros de
áudio das 14 obras pesquisadas.
Na década de 1930 é apontado na linha cronológica o início da profissionalização do futebol
que passa a ser amplamente difundido socialmente, transformando-se em um grande espetáculo das
multidões.
O ano de 1946 é emblemático pois, o baiano Jayme de Carvalho, fundador da primeira
torcida organizada do Brasil, a “Charanga rubro-negra”, toca pela primeira vez nos estádios a
marcha popular que Lamartine havia feito para CRF no ano anterior e que era sucesso nos
programas radiofônicos da época. O hinário de Babo em ritmo de marchinha carnavalesca,
adequava-se muito bem a proposta da Charanga do CRF, dessa forma, ambos contribuíram
decisivamente para que a música aos poucos deixasse de ser um fato pitoresco e se incorporasse
definitivamente ao cenário dos estádios.
Figura 43 – Cronologia do hinário oficial e popular do século XIX ao XX.
CAPÍTULO V
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
O presente estudo ao matizar o hinário do FFC, BFR, AFC, CRF e CRVG revela impressões,
detalhes, características e sentimentos nunca antes estudados, que passam a estar disponíveis para
que estudiosos e o público em geral, possam conhecer e perceber melhor características que ajudam
a construir a história dos clubes e consequentemente colaborar para o aprimoramento e
desenvolvimento da cultura popular fluminense.
No desenvolvimento metodológico da dissertação observa-se um primeiro encaminhamento
que tratou da análise documental e histórica das obras e seus respectivos clubes. Os clubes foram
sendo abordados um a um respeitando a ordem de fundação dos mesmos (do mais antigo para o
mais novo) e dividindo-se o hinário entre oficias e popular. Sobre cada agremiação foram
abordados: histórico do clube, histórico dos hinos, biografia dos autores, partituras encontradas e as
elaboradas pela pesquisa, registros de áudio das obras encontradas e registros de áudio feitos pela
pesquisa, análise sócio-cultural e classificação das letras, análise das melodias e detalhes relevantes
da pesquisa de campo.
Foi elaborada e aplicada pelo autor uma classificação para o hinário dos clubes pesquisados:
1) Quanto ao período/tipo que foram compostos: primeiro hino oficial, segundo hino
oficial e hino popular, exceto o CRF que possuía somente um hino oficial e foi
chamado somente de “hino oficial”. Esta classificação obedeceu primeiramente ao
ano de composição das obras e, quando o ano era desconhecido, ao ano de
fundação dos clubes;
2) Quanto à característica das letras; higienista, bélica, sacralizada e histórico-
narrativa;
3) Quanto à característica das melodias: marcha popular ou marcha marcial, exceto a
do primeiro hino oficial do BFR que tem características populares ligadas ao rag-
time norte-americano e a “polka-marcha” que antecedeu a marchinha popular
carnavalesca.
Dentre os 5 clubes pesquisados foram encontrados 14 hinos, sendo 9 hinos oficias e 5 hinos
populares. Das 14 hinos pesquisados foram encontradas 42 partituras, sendo 17 originais (da década
em que as obras foram compostas), 11 não originais (feitas na última cada) e 14 (foram feitas
especialmente para pesquisa). A pesquisa encontrou 59 registros de áudio de diferentes períodos,
155
intérpretes e estilos. Entre os referidos registros 5 tiveram que ser elaborados sob encomenda do
autor, pois não existiam ou não foram localizados, sendo eles: primeiro hino oficial oficial do FFC,
BFR e AFC e segundo hino oficial do BFR e AFC. Todas as partituras e registros de áudio estão
disponíveis no DVD que compõe a dissertação (Apêndice).
No segundo encaminhamento metodológico proposto pelo estudo foram entrevistados
torcedores notáveis que comprovadamente tinham um histórico de envolvimento e serviços
prestados aos clubes pesquisados. Apesar do hinário popular composto por Babo na década de 1940
ter sido beneficiado pela expansão e consolidação do rádio e do futebol no país, o estudo
comprovou a qualidade e atemporalidade da obra. Em cada clube, 5 notáveis foram entrevistados e
todos conheciam o hino popular do seu clube. Dos 25 entrevistados, 23 notáveis conheciam o hino
popular dos outros clubes pesquisados, número que demonstra que a obra de Babo está na memória
afetiva do cidadão carioca por quase 7 décadas.
Para comprovar a qualidade e o poder de penetração da obra de Babo o autor realizou um
amplo estudo sobre o histórico das entidades e sobre o hinário oficial dos clubes e seus respectivos
autores. Verificou-se o desconhecimento sobre a diferenciação entre hinos oficiais e hinos populares
e um baixo percentual de pessoas que conhecem as manifestações oficiais. Dos 25 notáveis
entrevistados apenas 8 disseram conhecer o hino oficial de seu clube, sendo que dos 8, 4 pertenciam
ao CRF que demonstrou ter a obra oficial mais prestigiada entre todos os clubes. Outro dado que
comprova a vitalidade da obra oficial do time rubro-negro é o fato de que dos 25 entrevistados,
apenas 2 conhecerem o hino oficial de outro clube e curiosamente os dois que conheciam eram
torcedores do FFC e citaram a obra oficial do CRF. Quando o grupo de 25 notáveis foi perguntado
sobre os autores das obras oficiais do seu clube e das outras agremiações, somente 1 torcedor do
FFC relatou conhecer os autores das obras oficiais do seu próprio clube, citando inclusive o autor
do primeiro e do segundo hino oficial do time tricolor.
O hino oficial do CRF agregou valores que possibilitaram uma maior divulgação como: ser
um clube que historicamente teve seu início ligado às camadas populares por não ter sede e treinar a
céu aberto, realizando jogos em variados locais e também por ter um conteúdo melódico que
começava a deixar os padrões marciais, comum ás obras oficiais e penetrar numa dimensão mais
popular que seria mais tarde consagrada com as obras de Babo. Dado os fatos acima expostos, a
obra rubro-negra representa uma exceção junto ao hinário oficial dos principais clubes de futebol
carioca. Portanto, é oportuno ressaltar que o presente estudo ao compilar, matizar, estudar, gravar e
democratizar as obras oficiais está contribuindo para que um pedaço importante da história dos
clubes não se perca por completo.
Recomenda-se que a partir deste estudo, os clubes reconheçam o hinário oficial e popular
estatutariamente, assim como acontece com o BFR que tem as duas obras oficiais e a obra
156
popular reconhecida no estatuto da agremiação e publicada no ambiente virtual para que qualquer
pessoa interessada possa ter acesso (no caso do clube alvinegro faltaria somente classificar no
estatuto quanto ao período/tipo como propõe o autor nesse estudo). Ao tomar essa atitude os clubes
estarão reconstruindo um pedaço de suas próprias histórias e dando luz à biografia de autores que
emprestaram sua paixão e competência às agremiações em momentos de pouco glamour e
reconhecimento do esporte bretão. Ter o estudo completo nas bibliotecas das agremiações e nos
sítios virtuais facilitará o acesso da informação ao torcedor e criará mecanismos democráticos para
que novos pesquisadores aprofundem a discussão e façam novas descobertas.
Pelo tempo em que o hinário oficial ficou fora dos veículos de comunicação, a preservação
da memória de seus autores também foi muito prejudicada. O presente estudo levantou que entre as
14 obras pesquisadas, 17 autores foram encontrados, entretanto, somente os dados biográficos de 6
autores foram encontrados com sucesso, de 5 autores foram encontrados com alguma ressalva e de
5 autores não foram encontrados. Faz-se mister que a partir dos dados presentes no estudo novas
pesquisas sejam feitas para que se tornem públicas a memória e a figura desses autores que tanto
contribuíram para disseminação da cultura futebolística em nossa cidade, considerada uma
referência para o futebol no Brasil e no exterior.
Levando-se em consideração o forte apelo educacional do conteúdo estudado e o exemplo
mostrado na pesquisa do professor de música Maurício Uzum, que desenvolve um trabalho com
crianças em uma escola particular de São Paulo envolvendo os hinos dos clubes de futebol de todo
o Brasil, como recurso pedagógico nas aulas de música, recomenda-se que os recursos aqui
expostos sejam aproveitados por profissionais de diversas disciplinas que podem através do
material compilado inserir elementos importantes na formação de crianças, jovens e adultos. Como
contribuição ao importante trabalho do professor Uzum, recomenda-se que utilize em suas
partituras a padronização sugerida pelo autor na classificação dos hinos quanto ao período/tipo que
foram compostos. É oportuno também que sejam inseridas em seu hinário as duas obras oficiais do
AFC, o primeiro hino oficial do BFR e que complemente sua partitura do hino oficial do CRF, que
possui apenas o refrão.
É importante salientar que o material em questão pode oportunizar aos docentes interessados
maneiras contemporâneas de se atingir objetivos pedagógicos na formação discente, pois facilita o
acesso a dois dos maiores fenômenos culturais conhecidos: a música e o futebol. A partir daí,
através das disciplinas formais do currículo, os profissionais poderão adequar o conteúdo às suas
aulas e, de maneira transversal, utilizar recursos sugeridos nos Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCNs) visando a contribuir para formação de alunos mais preparados, críticos e conscientes.
Recomenda-se que os profissionais envolvidos com os veículos de comunicação de massa
ampliem a divulgação do material compilado para que os interessados tenham acesso às obras
157
oficiais e aos seus autores que durante muito tempo permaneceram no anonimato. É oportuno
também que esses profissionais (jornalistas, comunicadores, assessores de imprensa) relacionem os
hinos populares com a figura de Lamartine Babo, deixando clara a relação existente entre o
compositor e sua obra.
No desenvolvimento da dissertação, visitou-se o Museu do Futebol (2008). A entidade
representou um divisor de águas no estudo, pois é o local em que é encontrado o maior número de
informações sobre os hinos e de maneira mais organizada. Observou-se no Museu, pela primeira
vez, uma preocupação em classificar as obras por tipo, ou seja, em Oficial e Popular, classificação
pouco conhecida entre os torcedores cariocas. Recomenda-se que o referido Museu atualize
informações fundamentais que foram levantadas nesta dissertação, como a ausência dos primeiros
hinos oficias do FFC, BFR (hino do Clube de Regatas Botafogo) e AFC, ausência de referência a
alguns anos de composição, ano de composição equivocado, equivoco na divisão entre quem fez
letra e quem fez música nas parcerias. Sugere-se também a padronização sugerida pelo autor na
classificação dos hinos quanto ao período/tipo que foram compostos, pois em algumas ocasiões
usou-se numeral, em outras usou-se o número escrito por extenso e em outras classificou-se com o
período, porém, o tipo foi omitido.
Aos familiares dos autores do hinário desta pesquisa recomenda-se que o acervo dos
compositores seja encaminhado ao Instituto Cravo Albin, presidido pelo jornalista e escritor
Ricardo Cravo Albin, para que seja catalogado e publicado no Dicionário Cravo Albin da música
popular brasileira, ampliando e democratizando o acesso às obras, ajudando a preservar a memória
dos autores e das agremiações. Recomenda-se também ao referido Instituto que atualize a
informação sobre a data de composição dos hinos populares feitos por Lamartine Babo, uma vez
que nele consta que todos foram feitos em 1945, na proporção de um por semana, informação que
foi corrigida por esta pesquisa que indica as datas corretas de composição das obras populares de
Babo.
Espera-se que o presente estudo, que foi delimitado à investigação de 5 agremiações
cariocas, sirva de estímulo para novas descobertas em outros clubes cariocas e até mesmo
brasileiros, revelando novos fatos e personagens relevantes que ajudaram a escrever a história
esportiva das cidades e do Brasil.
Ao concluir a presente dissertação, constata-se que a iniciativa mostrou-se produtiva, uma
vez que contribuiu para o entendimento de como as relações sócio-esportivas foram desenhadas e
erguidas no Rio de Janeiro, legando ainda diversos registros que permaneciam no anonimato ou
nem mesmo existiam. Ao estudar e entender o passado compreendemos os impactos presentes e
podemos trabalhar, planejar e lutar por um futuro de maior igualdade e oportunidade para todos.
158
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a
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43. Elaborada para pesquisa. Rio de Janeiro. Outubro, 2009.
169
APÊNDICE
(DVD)
HINÁRIO DIGITAL DOS PRINCIPAIS CLUBES DE FUTEBOL DO RIO DE JANEIRO
170
171
ANEXO I
QUADROS AUXILIARES DA PESQUISA
172
PERÍODO CONTEXTO HISTÓRICO
3000 a 2500 a.C.
Na China durante a Dinastia do Imperador Huance-Ti, era comum chutar
crânios dos inimigos derrotados.
900 a 200 a.C.
Os romanos jogavam o Harpastum em um campo retangular, dividido por
uma linha e com duas linhas como metas.
No Harpastum, a bola (chamada Follis) era feita de bexiga de boi e coberta
com uma capa de couro. Como exercício físico-militar dos soldados
romanos, uma partida podia durar horas.
1175
A primeira referência ao esporte na Inglaterra, berço do futebol moderno, cita
um certo jogo disputado durante a Shrovetide (espécie de terça-feira gorda),
em que os habitantes de várias cidades inglesas saíam às ruas para chutar
uma bola de couro, com o objetivo de comemorar a expulsão dos
dinamarqueses. A bola simbolizava a cabeça de um oficial do exército
inimigo.
Nos séculos seguintes popularizou-se entre os ingleses o mass football, ou
“futebol de massa”, em que centenas de pessoas às vezes até 500 de cada
lado percorriam quilômetros pelas ruas, chutando uma bola até os portões
da cidade e causando muitos estragos, tanto físico quanto materiais.
1710
Convent Garden, Strano e Fleet Street foram as primeiras escolas inglesas a
adotar o futebol como atividade física. O esporte logo ganhou adeptos entre
os jovens, que, aos poucos, foram deixando de lado o tiro, a esgrima, a caça e
a equitação.
1863
(26 de outubro)
Em uma histórica reunião na taberna Freemason Greah Queen Street,
Londres, representantes de 11 clubes e escolas instituíram as bases para as
regras do futebol. Em 24 de novembro, as nove regras estabelecidas por
Cambridge foram aprovadas em uma outra reunião.
1864
no ano seguinte a oficialização de suas regras na Inglaterra, o futebol teria
sido exibido no Brasil e na Argentina por marinheiros de barcos mercantes e
de guerra estrangeiros, principalmente ingleses. Eles teriam disputado essas
primeiras “peladas” nos capinzais desertos do litoral norte e sul do Brasil.
Detalhes
relevantes
Chineses, japoneses, gregos, franceses e italianos também reivindicam a
paternidade do futebol, só que em formas mais primitivas. Já em 2197 a.C. os
chineses praticavam um exercício militar chamado tsu-chu (tsu = “lançar
com o pé”; chu = “bola recheada, feita de couro”). No Japão, desde a época
dos Imperadores Engi e Tenrei, praticava-se o Kemari (ke = chutar; mari =
bola). Em 850 a.C., os gregos praticavam o Epyskiros. Na Roma antiga, por
volta de 200 a.C., jogava-se o Haspartum, e durante a Idadde Média, na
França, desenvolveu-se o Soule. Já os italianos até hoje chamam o futebol de
Cálcio por causa do Calcio Fiorentino, jogado em Florença a partir de 1529,
com 27 jogadores de cada lado enfrentando-se violentamente durante horas
pelas ruas tentando levar a bola além dos portões da cidade.
Quadro 1A – Pré-história do futebol.
(Fonte: Museu do Futebol - São Paulo, 2008)
173
PERÍODO NOMENCLATURA DOS CLUBES
1888 (13 de maio – São Paulo, SP)
Futebol a partir de 1896
São Paulo Athletic
1898 (18 de agosto - São Paulo, SP) Associação Athlética Mackenzie College
1899 (19 de agosto – São Paulo, SP) Sport Club Internacional
1899 (7 de setembro - São Paulo, SP) Sport Club Germânia
1900 (1 de janeiro - Votorantin, SP) Sport Club Savóia
1900 (19 de julho - Rio Grande, RS) E. C. Rio Grande
1900 (11 de agosto – Campinas, SP) A. A. Ponte Preta
1900 (29 de dezembro – São Paulo, SP) Club Athletico Paulistano
1902 (14 de julho – Santana do Livramento,
RS)
C. E. 14 de julho
1902 (21 de julho – Rio de Janeiro, RJ) Fluminense Football Club
1902 (7 de novembro – Santos, SP) C. A. Internacional
1903 (7 de setembro – Salvador, BA) Sport Club Bahiano
1903 (15 de setembro – Porto Alegre, RS) Grêmio Foot-Ball Porto-Alegrense
1904 (17 de abril - Rio de Janeiro, RJ) Bangu Athletic Club
1904 (12 de agosto - Rio de Janeiro, RJ) Botafogo Football Club
1904 (18 de setembro - Rio de Janeiro, RJ) América Football Club
Quadro 2A – Os primeiros times de futebol do Brasil.
(Fonte: Museu do Futebol - São Paulo, 2008).
174
PERÍODO CONTEXTO HISTÓRICO
1875
Empregados de companhias inglesas jogam o football na rua Paysandu, no
Rio de Janeiro.
No campo do Club Brazileiro de Cricket, no Rio de Janeiro, enfrentam-se
empregados brasileiros e empregados ingleses de empresas de navegação,
docas, cabos submarinos e bancos.
1876
Animados por um certo mister John, empregados das empresas City
Companhia e Leopoldina Railway Company enfrentam-se no campo do Rio
Cricket and Athletic Association, em Niterói (RJ).
1878
Marinheiros ingleses do navio Criméia jogam futebol entre as ruas Paysandu
e Roso, no Rio de Janeiro, em frente à residência da princesa Isabel.
1882
Em Jundiaí (SP), incentivados por um inglês chamado de mister Hugh, da
São Paulo Railway praticam o futebol em terreno dessa empresa.
1880 a 1887
No Colégio São Luís, em Itu (SP), após uma série de viagens pela Europa, o
padre José Mantero traz duas bolas inglesas e institui um jogo de bate-bola
na parede chamado de “bate-bolão”, entre alunos e padres-professores, à
maneira dos estudantes do tradicional colégio britânico Eton.
Em 1894, ano da introdução oficial do futebol no Brasil por Charles Miller,
os alunos do São Luís praticavam um futebol próximo do que conhecemos
hoje.
Quadro 3A – A bola antes de Charles Miller.
(Fonte: Museu do Futebol - São Paulo, 2008)
175
Abaixo desenvolveram-se quadros, que evidenciaram as distinções entre os hinos oficiais e
populares, num estudo comparativo, que serviu de apoio à pesquisa. Entre os locais visitados para
a obtenção de dados históricos, destacaram-se: Museu da Imagem e do Som (MIS), Museu do
Futebol (MF), Arquivos do BFR (ABFR), além de diversas literaturas adquiridas para a pesquisa,
consultadas em diversas bibliotecas, cedidas por familiares ou encontradas nos Clubes.
PRIMEIRO HINO
OFICIAL
SEGUNDO
HINO
OFICIAL
HINO POPULAR
FLUMINENSE
1
H. Williams (música) e
Coelho Netto (letra) -
1915
2
Antônio Cardoso de
Menezes Filho – 1916
3
Lamartine Babo/ Lírio
Panicalli – 1949
BOTAFOGO
4
Hino do Remo –
Theophilo de
Magalhães(música)
Alberto Ruiz(letra) –
1921
4
Glorioso. Hymno do
Botafogo F. C. -
Octacílio Gomes (letra)
e Eduardo Souto
(música) – ano
desconhecido
3
Lamartine Babo –
1949
AMÉRICA
5
Hymno à bandeira – F.
J. Freire Júnior (música)
e Dr. Luiz França (letra)
– 1915
6
Hymno do America
Foot-Ball-Club –
F.Soriano Robert
(música) e Americano
Maia (letra) – 1922
7
Lamartine Babo –
1947
FLAMENGO
2
Hymno Rubro-Negro -
Paulo de Magalhães –
1920
(MIS)
Não existe
3
Lamartine Babo –
1945
VASCO
8
Hymno Triunfal do
Vasco da Gama -
Joaquim Barros Ferreira
da Silva – 1918
3
Meu Pavilhão - Ernani
Corrêa e João de Freitas
ano desconhecido
3
Lamartine Babo –
1949
Quadro 4A - Ano da composição/autor dos Hinos Oficiais e Populares
(Fonte:
1
COELHO NETTO, 2002, p. 37;
2
MIS;
3
MF;
4
ABFR;
5
CUNHA e CASTRO, 1990, 123 & MIS;
6
BRANCO, 2006, p. 199;
7
VALLE, 2004, p.115;
8
ROCHA,1975, p. 245-246)
176
Primeiro Hino
Oficial
Segundo Hino
Oficial
Hino Popular
FLUMINENSE
1
2
1
2
3
4
1
2
4
BOTAFOGO
2
5
1
2
5
1
2
4 (1
a
encontrada)
4 (2
a
encontrada)
AMÉRICA
2
4
2
4
1
2
4 (1
a
encontrada)
4 (2
a
encontrada)
FLAMENGO
1
2
4
--
1
2
4
VASCO
1
2
1
2
6
1
2
4 (1
a
encontrada)
4 (2
a
encontrada)
4 (3
a
encontrada)
Quadro 5A - Partituras encontradas/elaboradas dos Hinos Oficiais e Populares.
Legendas:
1. Cedida em 2009, à pesquisa pelo professor de música, e pesquisador e de hinos de clubes brasileiros de futebol, Maurício Uzum.
2. Elaborada em 2008, no Software Encore, para esta pesquisa, pelo arranjador e músico profissional, Maurício Verde.
3. Encontrada em 2008, nos Arquivos do FFC.
4. Encontrada em 2008, no Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro.
5. Encontrada em 2008, nos BFR.
6. Encontrada em 2008, no sítio: www.netvasco.com.br - Publicada pelo pesquisador Mauro Prais.
HINO / CLUBE
DATA DE
COMPOSIÇÃO
CARACTERÍSICA MELÓDIA
1
o
H. O. Fluminense 1915
Marcha marcial *
(D’ALINCOURT, 2009)
1
o
H. O. América 1915
Marcha marcial
(Interpretação do autor da pesquisa)
2
o
H. O. Fluminense 1916
Marcha marcial
(D’ALINCOURT, 2009)
1
o
H. O. Vasco 1918
Marcha marcial *
(Interpretação do autor da pesquisa)
1
o
H. O. Flamengo 1920
Marcha marcial
(Interpretação do autor da pesquisa)
1
o
H. O. Botafogo 1921
Polka Marcha e Rag-time
(BFR, 2008)
2
o
H. O. América 1922
Marcha marcial
(Interpretação do autor da pesquisa)
2
o
H. O. Botafogo Ano desconhecido
Marcha marcial
(BFR, 2008)
2
o
H. O. Vasco Ano desconhecido
Marcha popular
(Interpretação do autor da pesquisa)
H. P. Flamengo 1945
Marcha popular
(TUBINO, CASTRO, VALLADÃO,
2009; INSTITUTO CULTURAL
CRAVO ALBIN, 2008d)
H. P. América 1947
Marcha popular
(TUBINO, CASTRO, VALLADÃO,
2009; INSTITUTO CULTURAL
CRAVO ALBIN, 2008d)
H. P. Fluminense 1949
Marcha popular
(TUBINO, CASTRO, VALLADÃO,
2009; INSTITUTO CULTURAL
CRAVO ALBIN, 2008d)
H. P. Vasco 1949
Marcha popular
(TUBINO, CASTRO, VALLADÃO,
2009; INSTITUTO CULTURAL
CRAVO ALBIN, 2008d)
H. P. Botafogo 1949
Marcha popular
(TUBINO, CASTRO, VALLADÃO,
2009; INSTITUTO CULTURAL
CRAVO ALBIN, 2008d)
Quadro 6A – Ano de composição e característica melódica dos hinos oficiais e populares.
* Partitura original não-encontrada.
178
HINO / CLUBE
DATA DE
COMPOSIÇÃO
CARACTERÍSTICA
SÓCIO-CULTURAL
1
o
H. O. Fluminense
1915
Higienista e Bélica
1
o
H. O. América
1915
Sacralizada e Bélica
2
o
H. O. Fluminense
1916
Higienista e Bélica
1
o
H. O. Vasco
1918
Bélica
1
o
H. O. Flamengo
1920
Bélica
1
o
H. O. Botafogo
1921
Histórico-Narrativa
2
o
H. O. América
1922
Higienista e Bélica
2
o
H. O. Botafogo
Ano desconhecido
Higienista e Bélica
2
o
H. O. Vasco
Ano desconhecido
Histórico-Narrativa
H. P. Flamengo
1945
Histórico-Narrativa
H. P. América
1947
Histórico-Narrativa
H. P. Fluminense
1949
Histórico-Narrativa
H. P. Vasco
1949
Histórico-Narrativa
H. P. Botafogo
1949
Histórico-Narrativa
Quadro 7A Ano de composição e característica sócio-cultural das letras dos hinos oficiais e
populares.
179
FLUMINENSE
PRIMEIRO HINO
OFICIAL
SEGUNDO
HINO
OFICIAL
HINO POPULAR
1º Registro
Fonte: Bival Farias (arranjador
e produtor)
Intérpretes: Agostino Silva
(piano), Fernando Nascimento
(voz)
Data da gravação: Julho e
Agosto de 2009
Editora: Registro em estudio
caseiro.
Fonte: Heitor
D’Alincourt
Intérprete: Heitor
D’Alincourt
Data da gravação: 2000
Editora: Heitor
D’Alincourt Produções
Artísticas
Fonte: Collector`s Studios
Ltda.
Intérprete: Trio Melodia
Data da gravação: 1950
Editora: Não consta
Registro
--
Fonte: flumania.com.br
Intérprete: Versão
original
Data da gravação: Não
consta
Editora: Não consta
Fonte: CD Hinos dos
campeões (CID)
Intérprete: Banda Galera
Campeã
Data da gravação: 1977
Editora: Rio Musical/
ADAF
3º Registro
--
Fonte: flumania.com.br
Intérprete: Banda
Marcial do Corpo de
Fuzileiros Navais(em
estúdio)
Data da gravação: Não
consta
Editora: Não consta
Fonte: CD dos Hinos
Placar
Intérprete: Evandro
Mesquita, Fausto Fawcett e
Toni Platão
Data da gravação: 1996
Editora: Abril
4º Registro
--
Fonte: flumania.com.br
Intérprete: Versão
instrumental (Piano e
Flauta)
Data da gravação: Não
consta
Editora: Não consta
Fonte: Heito D’Alincourt
Intérprete: Heito
D’Alincourt
Data da gravação: 2000
Editora: Heito D’Alincourt
Produções Artísticas
5º Registro
-- --
Fonte: CD dos Hinos
Placar
Intérprete: Paulo Ricardo
Data da gravação: 2004
Editora: Abril
6º Registro
-- --
Fonte: flumania.com.br
Intérprete: Tim Maia
Data da gravação: Não
consta
Editora: Não consta
7º Registro
-- --
Fonte: flumania.com.br
Intérprete: Não consta
(versão com terceira parte)
Data da gravação: Não
consta
Editora: Não consta
8 º Registro
-- --
Fonte: flumania.com.br
Intérprete: Arthur Moreira
Lima ao piano
Data da gravação: Não
consta
Editora: Não consta
9 º Registro
-- --
Fonte: flumania.com.br
Intérprete: Não consta (“em
maravilhoso violino”)
Data da gravação: Não
180
consta
Editora: Não consta
10 º Registro
-- --
Fonte: flumania.com.br
Intérprete: Não consta
(versão remix)
Data da gravação: Não
consta
Editora: Não consta
11 º Registro
-- --
Fonte: flumania.com.br
Intérprete: Não consta
(versão blues)
Data da gravação: Não
consta
Editora: Não consta
12 º Registro
-- --
Fonte: flumania.com.br
Intérprete: Medinas
Brothers
Data da gravação: Não
consta
Versão trance
Editora: Não consta
13 º Registro
-- --
Fonte: flumania.com.br
Intérprete: Emerson
Menezes (versão rock)
Data da gravação: Não
consta
Editora: Não consta
Quadro 8A – Registros de áudio do FFC, em ordem cronológica de gravação, encontrados pela
pesquisa (Apêndice; 1).
181
BOTAFOGO
PRIMEIRO HINO
OFICIAL
SEGUNDO HINO
OFICIAL
HINO POPULAR
1º Registro
Fonte: Bival Farias (arranjador
e produtor)
Intérpretes: Agostino Silva
(piano), Fernando Nascimento
(voz)
Data da gravação: Julho e
Agosto de 2009
Editora: Registro em estudio
caseiro.
Fonte: Eduardo Souto Neto
Intérprete: Eduardo Souto
Neto ( piano e voz)
Data da gravação: junho de
2009
Editora: Registro em
estúdio caseiro
Fonte: Collector`s Studios
Ltda.
Intérprete: Nuno Roland
Data da gravação: 1950
Editora: Não consta
Registro
-- --
Fonte: CD Hinos dos
campeões (CID)
Intérprete: Banda Galera
Campeã
Data da gravação: 1977
Editora: Rio Musical/
ADAF
3º Registro
-- --
Fonte: CD dos Hinos
Placar
Intérprete: Beth Carvalho,
Ed Motta, Claudio Zoli e
Eduardo Dusek
Data da gravação: 1996
Editora: Abril
4º Registro
-- --
Fonte: CD dos Hinos
Placar
Intérprete: Zeca Pagodinho
Data da gravação: 2004
Editora: Abril
5º Registro
-- --
Fonte: escutaisso.com.br
Intérprete: Torcida do
Botafogo
Data da gravação: 2006
Editora: Não consta
6º Registro
-- --
Fonte:
botafogopaixao.kit.net
Intérprete: Torcida do
Botafogo
Data da gravação: Não
consta
Editora: Não consta
7º Registro
-- --
Fonte:
botafogopaixao.kit.net
Intérprete: Léo Saramago
(orquestrado)
Data da gravação: Não
consta
Editora: Zuêra Produções
8º Registro
-- --
Fonte:
botafogopaixao.kit.net
Intérprete: Léo Saramago
(piano)
Data da gravação: Não
consta
Editora: Zuêra Produções
Quadro 9A Registros de áudio do BFR, em ordem cronológica de gravação, encontrados pela
pesquisa (Apêndice; 2).
182
AMÉRICA
PRIMEIRO HINO
OFICIAL
SEGUNDO
HINO
OFICIAL
HINO POPULAR
1º Registro
Fonte: Bival Farias
(arranjador e produtor)
Intérpretes: Nélio
Júnior (teclado),
Fernando Nascimento
(voz)
Data da gravação:
Setembro de 2009
Editora: Registro em
estúdio caseiro
.
Fonte: Bival Farias
(arranjador e produtor)
Intérpretes: Programa
de computador
(“Finale”), Fernando
Nascimento (voz)
Data da gravação:
Setembro de 2009
Editora: Registro em
estudio caseiro
Fonte: Collector`s
Studios Ltda.
Intérprete: Jorge
Goulart
Data da gravação:
1950
Editora: Não consta
Registro
-- --
Fonte: CD Hinos dos
campeões (CID)
Intérprete: Banda
Galera Campeã
Data da gravação:
1977
Editora: Rio Musical/
ADAF
3º Registro
-- --
Fonte: CD dos Hinos
Placar
Intérprete: Tim Maia
Data da gravação:
1996
Editora: Abril
Quadro 10A – Registros de áudio do AFC, em ordem cronológica de gravação, encontrados pela
pesquisa (Apêndice; 3).
183
FLAMENGO HINO OFICIAL HINO POPULAR
1º Registro
Fonte:
flamengoeternamente.blogspot.com
Intérprete: Orquestra RCA Victor
Data da gravação: 1937
Editora: Não consta
Fonte: Collector`s Studios Ltda.
Intérprete: Trio Melodia
Data da gravação: 1950
Editora: Não consta
Registro
Fonte: CD Raça Rubro-negra
Intérprete: Não consta
Data da gravação: Não consta
Editora: Cards Music Company
Fonte: CD Hinos dos campeões
(CID)
Intérprete: Banda Galera Campeã
Data da gravação: 1977
Editora: Rio Musical/ ADAF
3º Registro
--
Fonte: CD dos Hinos Placar
Intérprete: Neguinho da Beija-Flor,
Herbert Vianna, Falcão e MC's Júnior
e Leonardo
Data da gravação: 1996
Editora: Abril
4º Registro
--
Fonte: CD dos Hinos Placar
Intérprete: Herbert Vianna e Gabriel
o pensador
Data da gravação: 2004
Editora: Abril
5º Registro
--
Fonte: overmundo.com.br
Intérprete: André Monnerat (versão
“ska-rock”)
Data da gravação: 2004
Editora: Gravado e mixado na casa
dos pais de André - em um PC, no
software Cakewalk
6º Registro
--
Fonte: CD Canto da Torcida
Intérprete: Não consta
Data da gravação: 2008
Editora: Rio Musical
7º Registro
--
Fonte: youtube.com (em vídeo)
Intérprete: Leandrade (versão em
Inglês)
Data da gravação: 2009
Editora: Berbel
8º Registro
--
Fonte: CD Raça Rubro-Negra
Intérprete: Zico, Júnior, Sandra de Sá
e Claudinho e Buchecha (SAMBA)
Data da gravação: Não consta
Editora: Não consta
9º Registro
--
Fonte: CD Raça Rubro-Negra
Intérprete: Júnior (PAGODE)
Data da gravação: Não consta
Editora: Não consta
10º Registro
--
Fonte: CD Raça Rubro-Negra
Intérprete: Zico Júnior, Sandra de Sá
e Claudinho e Buchecha (DANCE)
Data da gravação: Não consta
Editora: Não consta
184
11º Registro
--
Fonte: CD Raça Rubro-Negra
Intérprete: Não Consta (Original)
Data da gravação: Não Consta
Editora: Não Consta
12º Registro
--
Fonte: hinodoflamengo.net
Intérprete: Tim Maia
Data da gravação: Não Consta
Editora: Não Consta
13º Registro
--
Fonte: hinodoflamengo.net
Intérprete: Jorge Ben Jor
Data da gravação: Não Consta
Editora: Não Consta
14º Registro
--
Fonte: hinodoflamengo.net
Intérprete: “Pato Donald”
Data da gravação: Não Consta
Editora: Não Consta
15º Registro
--
Fonte: hinodoflamengo.net
Intérprete: Gustavo Di Pádua (solo de
guitarra)
Data da gravação: Não Consta
Editora: globoesporte.com
16º Registro
--
Fonte: hinodoflamengo.net (em
vídeo)
Intérprete: Imagem disponível no
sítio( sem nome do intérprete).
Data da gravação: Não Consta
Editora: Não Consta
17º Registro
--
Fonte: hinodoflamengo.net (em
vídeo)
Intérprete: Imagem disponível no
sítio (sem nome do intérprete).
Data da gravação: Não Consta
Editora: Não Consta
Obs: Dedicado a Augustera, irmão do
intérprete.
Quadro 11A – Registros de áudio do CRF, em ordem cronológica de gravação, encontrados pela
pesquisa (Apêndice; 4).
185
VASCO
PRIMEIRO HINO
OFICIAL
SEGUNDO
HINO
OFICIAL
HINO POPULAR
1º Registro
Fonte:
netvasco.com.br
Intérprete: H. da Costa
e Orfeão Portugal
Data da gravação:
1930
Editora: Brunswick
Fonte:
netvasco.com.br
Intérprete: Não consta
(instrumental)
Data da gravação: Não
consta
Editora: Não consta
Fonte: Collector`s
Studios Ltda.
Intérprete: Silvio
Caldas
Data da gravação:
1950
Editora: Não consta
Registro
--
Fonte:
mp3tube.netmusics
Intérprete: Não consta
Data da gravação: Não
consta
Editora: Não consta
Fonte: CD Hinos dos
campeões (CID)
Intérprete: Banda
Galera Campeã
Data da gravação:
1977
Editora: Rio Musical/
ADAF
3º Registro
-- --
Fonte: CD dos Hinos
Placar
Intérprete: Celso Blues
Boy, Pierre Aderne,
Fernanda Abreu e Luís
Melodia
Data da gravação:
1996
Editora: Abril
4º Registro
-- --
Fonte: CD dos Hinos
Placar
Intérprete: Paulinho da
Viola e Marcelo
Camelo
Data da gravação:
2004
Editora: Abril
Quadro 12A – Registros de áudio do CRVG, em ordem cronológica de gravação, encontrados pela
pesquisa (Apêndice; 5).
ANEXO II
ROTEIRO DE ENTREVISTA
187
Dados de identificação:
Entrevistado: ___________________________________________________________
Faixa etária: ( )19 anos ou menos ( )20 a 29 anos ( )30 a 39 anos ( )40 a 49 anos
( )50 a 59 anos ( )60 a 69 anos ( )70 a 79 anos ( )80 ou mais anos
Time de futebol para o qual torce: ___________________________________________
Data: _____________ Horário: ____________ Local: ___________________________
Entrevistador: ___________________________________________________________
1. Você se recorda quando começou a torcer pelo seu time? Quantos anos faz?
2. Durante todo esse período você tem acompanhado o seu time regularmente?
3. Existe alguma música que marque essa relação que vopossui com o seu time de futebol?
Se sim, qual seria? Poderia cantarolar ou citar?
4. Alguma delas é considerada o hino de seu time?
5. Você se lembra de algum outro hino ou música que exalte o seu time? Qual?
6. Qual a música que você considera mais marcante para o seu time? Por que? Há algum motivo
específico?
7. Qual você considera mais marcante para a torcida do seu time?
8. Você conhece os hinos dos demais times do Rio do Janeiro? Qual você poderia citar?
9. Gostaria de fazer outros comentários sobre a relação entre a música e as torcidas de futebol
do Rio de Janeiro?
10. Poderia indicar um torcedor popular que seja muito representativo para a torcida de seu
time, e que considere importante para este estudo?
188
ANEXO III
MODELO DE VALIDAÇÃO DO ROTEIRO DE ENTREVISTA
189
Prezado Prof(a). Dr(a). __________________
Estou elaborando um estudo, como dissertação de mestrado, cujo título é HINOS
OFICIAIS E HINOS POPULARES COMO REPRESENTAÇÕES SIMBÓLICAS DOS
PRINCIPAIS CLUBES DE FUTEBOL DO RIO DE JANEIRO: A CONTRIBUIÇÃO DE
LAMARTINE BABO. O objetivo principal do estudo consiste em: Pesquisar a importância dos
hinos oficiais e populares como representações simbólicas dos principais clubes de futebol do Rio
de Janeiro. Nesse sentido, foi elaborado um roteiro de entrevista para medir o conhecimento ou
desconhecimento dos hinos de seus clubes por parte de notáveis torcedores e por torcedores
populares.
Para o aperfeiçoamento do roteiro de entrevista, que será aplicado como parte do estudo,
gostaria de contar com a sua valiosa colaboração na validação do instrumento que segue em anexo.
Com as informações obtidas através do questionário espera-se chegar às conclusões
relevantes sobre a importância de se resgatar a memória dos hinos, juntamente com fragmentos
importantes das histórias dos clubes e da sociedade carioca.
Dessa forma, para que obtenhamos a opinião de tais torcedores, em relação às questões de
estudo a serem respondidas, pedimos ao Sr. (Sra.) que verifique a coerência, a clareza e a validade
do roteiro de entrevista, fazendo críticas e/ou sugestões, quando for o caso.
Segue uma folha dirigida para a emissão do seu parecer em relação a cada pergunta e os
“Dados de identificação”. Caso concorde com a pergunta marque M na opção MANTER, caso
discorde, marque R para RETIRAR ou RF para REFORMULAR, sugerindo a reformulação no
espaço abaixo.
Antecipadamente, agradeço a sua valiosa colaboração.
_________________________________
Bruno de Castro Souza
Dados de identificação:
Entrevistado: ___________________________________________________________
Time de futebol para o qual torce: ___________________________________________
Data: _____________ Horário: ____________ Local: ___________________________
Entrevistador: ___________________________________________________________
( ) M ( ) R ( ) RF
Sugestão de reformulação: ________________________________________________
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
____________________________________________________
1. Você se recorda quando começou a torcer pelo seu time? Quantos anos faz?
( ) M ( ) R ( ) RF
Sugestão de reformulação: ________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_________________________________________________
2. Durante todo esse período você tem acompanhado o seu time regularmente?
( ) M ( ) R ( ) RF
Sugestão de reformulação: ________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_________________________________________________
3. De quais músicas você se recorda e que exaltam o seu time de futebol? Poderia cantarolar ou
citar?
( ) M ( ) R ( ) RF
Sugestão de reformulação: ________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_________________________________________________
191
4. Qual delas é considerada o hino de seu time?
( ) M ( ) R ( ) RF
Sugestão de reformulação: ________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_________________________________________________
5. Você se lembra de algum outro hino ou música que exalte o seu time? Qual?
( ) M ( ) R ( ) RF
Sugestão de reformulação: ________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_________________________________________________
6. Qual a música que você considera pessoalmente mais marcante para o seu time?
( ) M ( ) R ( ) RF
Sugestão de reformulação: ________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_________________________________________________
7. E qual você considera mais marcante para a torcida do seu time?
( ) M ( ) R ( ) RF
Sugestão de reformulação: ________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_________________________________________________
8. Você conhece os hinos dos demais times do Rio do Janeiro? Qual você poderia citar?
( ) M ( ) R ( ) RF
Sugestão de reformulação: ________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_________________________________________________
192
9. Gostaria de fazer outros comentários sobre a relação entre a música e as torcidas de futebol
do Rio de Janeiro?
( ) M ( ) R ( ) RF
Sugestão de reformulação: ________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_________________________________________________
10. Poderia indicar um torcedor popular que seja muito representativo para a torcida de seu
time, e que considere importante para este estudo?
( ) M ( ) R ( ) RF
Sugestão de reformulação: ________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________
Assinatura do(a) validador (a)
193
ANEXO IV
ROTEIRO DE ENTREVISTA VALIDADO
194
PERGUNTAS DO ROTEIRO DE
ENTREVISTA
VALIDADOR AVALIAÇÃO MODIFICAÇÃO
V1 M
V2 M
Dados de identificação
V3 RF
OCORREU
V1 M
V2 M
1. Você se recorda quando começou a
torcer pelo seu time? Quantos anos faz?
V3 M
NÃO OCORREU
V1 M
V2 M
2. Durante todo esse período você tem
acompanhado o seu time regularmente?
V3 M
NÃO OCORREU
V1 M
V2 RF
3.
De quais músicas você se recorda que
exaltam o seu time de futebol? Poderia
cantarolar ou citar?
V3 M
OCORREU
V1 M
V2 RF
4.
Qual delas é considerada o hino de seu
time?
V3 M
OCORREU
V1 M
V2 RF
5. Você se lembra de algum outro hino
ou música que exalte o seu time? Qual?
V3 M
OCORREU
V1 RF
V2 M
6. Qual a música que você considera
pessoalmente mais marcante para o seu
time?
V3 M
OCORREU
V1 RF
V2 RF
7. E qual você considera mais marcante
para a torcida do seu time?
V3 RF
OCORREU
V1 M
V2 M
8. Você conhece os hinos dos demais
times do Rio do Janeiro? Qual você
poderia citar?
V3 RF
NÃO OCORREU
V1 M
V2 M
9. Gostaria de fazer outros comentários
sobre a relação entre a música e as
torcidas de futebol do Rio de Janeiro?
V3 M
NÃO OCORREU
V1 M
V2 M
10. Poderia indicar um torcedor popular
que seja muito representativo para a
torcida de seu time, e que considere
importante para este estudo?
V3 M
NÃO OCORREU
VALIDADORES: V1; V2 e V3
AVALIAÇÃO: M = MANTER R = RETIRAR RF = REFORMULAR
195
ANEXO V
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA PARTICIPAÇÃO EM
PESQUISA
196
Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido para Participação
em Pesquisa
Título
HINOS OFICIAIS E HINOS POPULARES COMO REPRESENTAÇÕES
SIMBÓLICAS DOS PRINCIPAIS CLUBES DE FUTEBOL DO RIO DE
JANEIRO: A CONTRIBUIÇÃO DE LAMARTINE BABO
Orientador
Prof. Dr. Alexandre Moraes de Mello
Pesquisador
Responsável
Bruno de Castro Souza - [email protected] - (21)
3215-8627 / (21) 8866-2583
Prezado Senhor(a):
O Mestrando Bruno de Castro Souza - CREF.1 000172 - do Programa de Pós-Graduação
em Ciência da Motricidade Humana - PROCIMH, da Universidade Castelo Branco (UCB-RJ),
pretende realizar um estudo com as seguintes características:
Titulo do Projeto de Pesquisa: HINOS OFICIAIS E HINOS POPULARES COMO
REPRESENTAÇÕES SIMBÓLICAS DOS PRINCIPAIS CLUBES DE FUTEBOL DO RIO DE
JANEIRO: A CONTRIBUIÇÃO DE LAMARTINE BABO.
Objetivo do Estudo: Pesquisar a importância dos hinos oficiais e populares como
representações simbólicas dos principais clubes de futebol do Rio de Janeiro.
A pesquisa pretende promover uma interpretação a cerca dos hinos populares como meio de
perpetuação da memória de Lamartine Babo, junto a uma análise detalhada das letras dos hinos
populares e oficiais, e a atmosfera de criação dos mesmos, realçando as interações da história dos
clubes com a história do Brasil, em nível regional e nacional, salientando os vínculos culturais
criados com diferentes classes sociais, auxiliando a sociedade a refletir sobre posturas e
posicionamentos que possam ter colaborado ou prejudicado com o desenvolvimento das entidades,
do esporte e da sociedade em geral.
Descrição dos Procedimentos Metodológicos: A fundamentação metodológica do estudo
desenvolvido nesta dissertação foi pautada em uma pesquisa descritiva, em uma perspectiva
histórica, com abordagem expost-facto.
Para o desenvolvimento deste estudo foram utilizados diferentes procedimentos técnicos,
sendo eles:
a) análise documental do referencial teórico do estudo;
b) análise dos hinos populares compostos por Lamartine Babo;
197
c) pesquisa de campo junto aos torcedores.
O Histórico e análise documental, foi baseado na análise de fontes primárias tais como:
artigos, livros, discos, partituras dos hinos populares e oficiais, dissertações, teses pertinentes ao
tema desenvolvido nesta pesquisa.
O material a respeito dos hinos populares e oficiais foi obtido através de visitação ou contato
formal com algumas instituições.
Além das visitações foram realizadas gravações e filmagens com jornalistas, radialistas,
músicos, escritores e familiares dos autores em questão, que documentaram ou tinham alguma
informação relevante sobre o conteúdo pesquisado.
O instrumento utilizado no estudo em questão foi um questionário, intitulado roteiro de
entrevista, elaborado e organizado pelo pr6prio autor a partir das questões de estudo.
Descrição de Riscos e Desconfortos: Não há riscos para os avaliados.
Benefícios para os Participantes: Não haverá benefícios para os participantes.
Forma de Obtenção da Amostra: A amostra foi composta por 25 torcedores notáveis que
tenham forte identificação com seu clube (presente na pesquisa) carioca de futebol, sendo 5 de cada
clube, obedecendo ao critério seguinte critério: 1 jornalista esportivo; 1 personalidade do meio
artístico-cultural carioca (torcedor da área musical); 1 dirigente do clube; 1 jogador/ ídolo; 1
símbolo da torcida indicado pelos demais entrevistados.
O último torcedor a ser entrevistado será indicado pelos demais pesquisados, que apontarão
um símbolo da torcida de sua respectiva agremiação. O critério adotado pelo autor da pesquisa
nessa questão, será a de entrevistar o torcedor que obtiver o maior número de indicações dos 4
pesquisados. Caso cada pesquisado indique um símbolo da torcida diferente, a escolha do quinto
pesquisado será feita pelo autor da pesquisa.
Uso de Placebo: Não haverá uso de placebo
Garantia de Acesso: Em qualquer fase do estudo você terá pleno acesso aos profissionais
responsáveis pelo mesmo nos locais e telefones indicados. Em caso de dúvidas ou perguntas, queira
manifestar-se em qualquer momento, para explicações adicionais, dirigindo-se a qualquer um dos
pesquisadores.
Garantia de Liberdade: Sua participação neste estudo é absolutamente voluntária. Dentro
desta premissa, todos os participantes são absolutamente livres para, a qualquer momento, negar o
seu consentimento ou abandonar o programa se assim o desejar, sem que isto provoque qualquer
tipo de penalização.
Mediante a sua aceitação, espera-se que compareça nos dias e horários marcados e, acima de
tudo, siga as instruções determinadas pelo pesquisador responsável, quanto à segurança durante a
198
realização das avaliações e/ ou procedimentos de intervenção.
Direito de Confidencialidade: Os dados colhidos na presente investigação serão utilizados
para subsidiar a confecção de artigos científicos, mas os responsáveis garantem a total privacidade e
estrito anonimato dos participantes, quer no tocante aos dados, quer no caso de utilização de
imagens, ou outras formas de aquisição de informações. Garantindo, desde a confidencialidade, a
privacidade e a proteção da imagem e a não estigmatização, escusando-se de utilizar as informações
geradas pelo estudo em prejuízo das pessoas e/ou das comunidades, inclusive em termos de auto-
estima, de prestígio ou de quaisquer outras formas de discriminação.
Direito de Acessibilidade: Os dados específicos colhidos de cada ente participante, no
transcurso da presente pesquisa, ficarão total e absolutamente disponíveis para consulta, bem como
asseguramos a necessária interpretação e informações cabíveis sobre os mesmos. Os resultados a
que se chegar no término do estudo, lhe serão fornecidos, como uma forma humana de
agradecimento por sua participação voluntária.
Despesas e Compensações: As despesas porventura acarretadas pela a pesquisa serão de
responsabilidade da equipe de pesquisas. Não havendo por outro lado qualquer previsão de
compensação financeira.
Após a leitura do presente Termo, e estando de posse de minha plenitude mental e legal, (ou
da tutela legalmente estabelecida sobre o participante da pesquisa), declaro expressamente que
entendi o propósito do referido estudo e, estando em perfeitas condições de participação, dou meu
consentimento para participar livremente do mesmo.
Rio de Janeiro, ______ de _____________de 2009.
Assinatura do Participante ou
Representante Legal
Nome Completo (legível)
Identidade nº CPF nº
Em atendimento à Resolução 196, de 10 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde, o presente
Termo é confeccionado e assinado em duas vias, uma de posse do avaliado e outra que será encaminhada ao
Comitê de Ética da Pesquisa (CEP) da Universidade Castelo Branco (UCB-RJ)
199
ANEXO VI
APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA
200
201
ANEXO VII
OBRA DE LAMARTINE BABO
202
Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira
A bandeirante (c/ Henrique Vogeler e J.M.Pereira) A capixaba (c/ Henrique Vogeler e
J.M.Pereira) A descoberta da América A melhor das três (c/ Alcyr Pires Vermelho) A tal A
tua vida é um segredo A vida é um inferno onde as mulheres são os demônios (c/ Zeca Ivo) A
vida é uma ginástica A-B-surdo (c/ Noel Rosa) Adeus, ano velho A-E-I-O-U (c/ Noel Rosa)
Ai, Chiquinha (c/ Pedro Cabral) Aí, hein? (c/ Paulo Valença) Alaíde Alma dos violinos (c/
Alcyr Pires Vermellho) Alô, alô, carnaval (c/ Hervé Cordovil) Alto-falante Amazonas (c/
Henrique Vogeler e J.M.Pereira) Amor de mulato (c/ Ary Barroso) Amor na Penha (c/ João
Rossi) Antonio, por favor (c/ José Maria de Abreu) Ao romper da aurora (c/ Francisco Alves e
Ismael Silva) Argos (c/ S.Pereira) As cinco estações do ano Avante, Paraná (c/ J.Agner)
Babo...zeira... Baiana do meu coração (c/ Moacir Araújo) Beijos à beça (c/ A.R.Jesus) Bem-te-
vi Besos (c/ J.Robledo e O.Uchoa) Bis... (c/ Assis Valente) Boa bola (c/ Paulo Valença)
Bonde errado Bota o feijão no fogo Cachorro-quente (c/ Ary Barroso) Cadenciam (c/ Nássara)
Café pra um (c/ Augusto Vasseur) Cai n’água (c/ Lírio Panicali) Canção apaixonada (c/ Alcyr
Pires Vermelho) Canção da noite (c/ Pedro de Sá Pereira) Canção para inglês ver Cantores do
rádio (c/ Alberto Ribeiro e João de Barro) Cariocadas (c/ Hekel Tavares) Carioca-repórter
Cessa tudo (c/ Celso Macedo) Chapeuzinho vermelho (c/ Pedro Cabral) Chegou a hora da
fogueira Chora... chora Chora Chuva de rosas (c/ Pedro Cabral) Cinqüenta por cento Cinzas
(c/ Augusto Vasseur) Como é gostoso amar (c/ Glauco Viana) Comprei uma fantasia de pierrô
(c/ Alberto Ribeiro) Cor de prata Coração de mãe (c/ D.A Ferreira) Cresça e apareça (c/
L.N.Meneses) Cuidado com ela (c/ Pedro Cabral) Cutuca, Maroca (c/ D.Guimarães) De ...
cadência de pierrô (c/ Alcyr Pires Vermelho) Deixe a velhinha... Devaneios (c/ Carlos
Rodrigues) Dia de jejum (c/ Lyrio Panicali) Didi (c/ Henrique Vogeler e J.M.Pereira) Diga ( c/
Gonçalves de Oliveira) Dois a dois Dona boa E o samba continua (c/ Ary Barroso) E... elas
voltaram (c/ Roberto Roberti) E... foi assim... (c/ Alcyr Pires Vermelho) Elas querem carinhos
(c/ Augusto Vasseur) Elza (c/ A F. Conceição e Xavier Pinheiro) Em Santa Catarina tudo é flor
(c/ Henrique Vogeler e J.M. Pereira) Em ti está minha esperança (c/ A. Guedes) En avant (c/
Moacir Araújo) Encantos (c/ Augusto Vasseur) Entra nas palombetas (c/ Osvaldo C. de
Meneses) Escarava do amor (c/ Carolina C.de Meneses) Esquina da sorte (c/ Hervé Cordovil)
Essa velha tem malícia (c/ Pedro Cabral) Este mundo vai mal Estranha coincidência Eterna
prontidão (c/ Antonio Viana) Eu não sei por que é (c/ F.Fonseca Costa) Eu queria ser ioiô (c/
João de Barro) Eu queria um retratinho de você (c/ Noel Rosa) Eu quero casar Eu quero um
203
homem bem vestido (c/ J.F.Fonseca) Eu sonhei que tu estavas tão linda (c/ Francisco Mattoso)
Eu sou assanhado (c/ L.N.Sampaio) Eu também... Feijoada (c/ Henrique Vogeler) Flamengo (c/
Duduca) Foi você (c/ Pedro Cabral) Fruta do Pará (c/ Henrique Vogeler e J.M.Pereira) Gandaia
(c/ Sátiro de Almeida) Ganga Gauchinha Gegê, seu Getúlio Gemer no violão Grau dez (c/
Ary Barroso) Guanabara (c/ Henrique Vogeler e J.M.Pereira) Helena de Azambuja (c/ A. R. de
Jesus) Hino do carnaval brasileiro História do Brasil Incerteza (c/ Pedro Cabral) Infelizmente
(c/ Ari Pavão) Inveja (c/ Martinez Grau e D. Alonso) Isto é com Santo Antônio Já tirei meu
chapéu Jaú chegou (c/ Freitinhas) Jeannette (c/ Assis Valente) Joaquina (Me espera na
esquina) (c/ Pedro Cabral) Josefina (c/ Hekel Tavares) Joujoux et balangandãs Juraci (c/
Vantuil de Carvalho e Domingos Carvalho) La canga (c/ Héber de Bôscoli) Lágrimas ocultas (c/
A Miniutti) Linda morena Lola Loura (c/ Alcyr Pires Vermelho) Luar cor de prata Mais uma
valsa... mais uma saudade (c/ José Maria de Abreu) Maranhão, terra poética (c/ Henrique Vogeler
e J.M.Pereira) Marcha do América Marcha do Bangu (Apêndice; 6) Marcha do Bonsucesso
(Apêndice; 6) Marcha do Botafogo Marcha do Canto do Rio (Apêndice; 6) Marcha do
Flamengo Marcha do Fluminense (c/ Lírio Panicali) Marcha do Madureira (Apêndice; 6)
Marcha do Olaria (Apêndice; 6) Marcha do São Cristóvão (Apêndice; 6) Marcha do scratch
brasileiro Marcha do Vasco Marcha pro Oriente (c/ Ataulfo Alves) Marchinha do amor
Marchinha do Grande Galo (c/ Paulo Barbosa) Marchinha nupcial Maria dos Anjos Mariana (c/
Bonfíglio de Oliveira) Menina das lojas Menina dos meus olhos (c/ Noel Rosa) Menina
oxygenée (c/ Hervé Cordovil) Meu carnaval do passado Meu Ceará (c/ Henrique Vogeler e
J.M.Pereira) Meu sab (c/ Bonfíglio de Oliveira) Meu sonho (com Augusto Vasseur)
Mineirinha (c/ Henrique Vogeler e J.M.Pereira) Minha cabrocha Minha companhia é a
colombina (c/ Moacir Araújo) Minha palmeira triste (c/ Ary Barroso) Miss Brasil (c/ Aristeu
Mota) Miss brasil (c/ Henrique Vogeler e J.M. Pereira) Miss Brasil (c/Augusto Vasseur)
Mistérios (c/Augusto Vasseur) Moleque indigesto Moreninha do sweepstake (c/ Hervé Cordovil)
Mulher boa (c/ L.N. Sampaio) Mulher sublime (c/ Donga) Mulher, veneno divino (c/ Augusto
Vasseur) Na terra do bom tempero (c/ Henrique Vogeler e J.M.Pereira) Na virada da montanha
(c/ Ary Barroso) Nada além Não sei se te amo ainda (c/ Pedro Cabral) Não te quero mais
(c/Juan Bauer) Nega (c/ Noel Rosa) No rancho fundo (c/ Ary Barroso) Noite de amor (c/ J.
Ramen) Noites de amor (c/ F. Franco) Noites de gala (c/ Alcyr Pires Vermelho) Noites de
junho Noivando (c/ Pedro Cabral) Nós dois (c/ Lírio Panicali) Nunca, jamais O barbado foi-se
O campeão de xadrez (c/ J.Machado) O canteiro da saudade (c/ Homero Dornelas) O ciúme é
que te mata (c/ Osvaldo C. de Meneses) O meu penar (c/ Pedro Cabral) O rapaz da minha rua (c/
Roberto Martins) O sol nasceu para todos O toque de Assuero (c/ L.N.Sampaio) O V da vitória
Oh! as mulheres (c/ Lírio Panicali) Oh! linda praia de amor (c/ Henrique Vogeler e J.M.Pereira)
204
Oh! Nina (c/ Ary Barroso) Olga (c/ E.Donato e F. Bastardi) Olha a cara dela (c/ Josué de Barros)
Olhar de Maria (c/ Viúva Guerreiro) Onde você está morando? (c/ A. Dermeval) Ontem à tarde
Os calças-largas (c/ Francisco G. de Oliveira) Os moços de hoje (c/ J. Machado) Os rouxinóis
Ouro à beça Paisagem de minha terra Paisagens de São Lourenço Paisagens (c/ Lírio Panicali)
Palmeira triste (c/ Ary Barroso) Papá Noel (c/ Augusto Vasseur) Papai não deixa Para ti (c/
Augusto Vasseur) Paraíba (c/ Henrique Vogeler e J.M.Pereira) Parei contigo Passarinho...
passarinho Pensão do Catete (c/ Milton Amaral) Perdão, amor Perfil de gaúcha (c/ Henrique
Vogeler e J.M.Pereira) Pistolões Plumas (c/ A. Mota) Praga fotográfica Praia dos namorados
(c/ Carolina Cardoso de Meneses) Qual delas? (c/ Carlos de La Riestra) Quando me beijas (c/
Pedro Cabral) Quando o Jaú chegar (c/ J.L.Moraes) Que pequena levada (c/ Freitinhas) Raios
de um olhar Rapsódia em rés maiores Rapsódia lamartinesa 2 Rasguei a minha fantasia
Recordações (c/ A. Mota) Ressurreição dos velhos carnavais Ride palhaço Rio (c/ Hervé
Cordovil) Risos (c/ Augusto Vasseur) Roda de fogo (c/ Alcyr Pires Vermelho) Rosinha Saias
curtas (c/ Lírio Panicalli) Santo Antônio (c/ B. Quadros) São Paulo (c/ Freitinhas) Seja lá o que
Deus quiser Sempre Senhorita Carnaval Sergipe, apelido do amor (c/ Henrique Vogeler) Serra
da Boa Esperança Seu Abóbora (c/ Hervé Cordovil) Seu Goiás (c/ Henrique Vogeler e
J.M.Pereira) Seu Voronoff (c/ João Rossi) Só dando com uma pedra nela Só nós dois no salão e
esta valsa Sonhando (c/ J.Siqueira) Sonhei com Noel (c/ Marques Júnior e Roberto Roberti)
Sonhei contigo (c/ G. Viotti) Sonho brasileiro (c/ Bonfíglio de Oliveira) Sonho egípcio (c/
Augusto Vasseur) Sonhos de Natal (c/ Henrique Vogeler e J.M.Pereira) Sonhos de Rinetti (c/
Jonas Aragão) Suspiros (c/ Pedro Cabral) Tamanho não é documento (c/ Enéias) Também
quero, Charleston (c/ Pedro Cabral) Tarde na serra Tem gente olhando (c/ Tuiú) Terra
fluminense (c/ Henrique Vogeler e J.M.Pereira) Teu cabelo não nega (c/ Irmãos Valença) Teus
olhos castanhos (c/ Bonfíglio de Oliveira) Toada alagoana (c/ Henrique Vogeler e J. M.Pereira)
Três de abril Trinca de ases (c/ S.G.Pessoa) Tristeza havaiana (c/ Fiurinha) Uma andorinha não
faz verão (c/ João de Barro) Uma família radiante Uma tarde em New York Uma valsa azul (c/
José Maria de Abreu) União de almas (c/ Osvaldo C.de Meneses) Vaca amarela (c/ Carlos Neto)
Valsa da formatura (c/ José Maria de Abreu) Valsa do amor (c/ Amaral Júnior) Valsa do
calendário (c/ Roberto Martins) Verbo amar Você quer é carinho (c/ F.de Almeida Rodrigues)
Volta, samba (c/ Roberto Martins) Voltei a cantar Vou pro Piauí (c/ Henrique Vogeler e
J.M.Pereira) Zeca Ivo
205
ANEXO VIII
DISCOGRAFIA DE LAMARTINE BABO
206
Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira
Canção para inglês ver (1931) Odeon 78
Só dando com uma pedra nela (1932) Odeon 78
A .E. I . O . U/Babo...zeira (1932) Victor 78
Maria da Luz (Assobiando no escuro)/Erupção (1932) Columbia 78
As três palavrinhas/Menina que tem uma pose (1932) Columbia 78
Uma família radiante (I)/Uma família radiante (II) (1932) Victor 78
Ai!...Hein!.../Boa bola (1933) Victor 78
Infelizmente/É um xuxu (1933) Victor 78
Linda morena (1933) Victor 78
Moleque indigesto (1933) Victor 78
Lola/As cinco estações do ano (1933) Victor 78
Dois a dois (2x2) (1934) Victor 78
Dá cá o pé...loura/Deixa a velhinha... (1934) Victor 78
O .K. .../Eu também (1934) Victor 78
Rapsódia lamartinesca/Senhorita carnaval (1935) Victor 78
Puxa cordão/Antônio por favor (1935) Victor 78
Esquina do pecado/As armas e os barões (1936) Victor 78
Janete (1936) Victor 78
Gauchinha(Com Sílvio de Alcântara)/Já tirei meu chapéu (Com Silvino Neto) (1937) Columbia 78
Vaca amarela/Esquina da sorte (1938) Victor 78
Tamanho não é documento (1939) Odeon 78
Carnaval de Lamartine Babo (1955) Sinter LP
Noites de junho de Lamartine Babo (1956) Sinter LP
Ride palhaço (1958) As músicas de L. Babo - Arrelia e Banda de Altamiro Carrilho LP
Isto é Lamartine - (1963) Copacabana LP
Babando Lamartine (1980) LP
Carnaval de Lamartine Babo (1994) Revivendo CD
De Lalá para (1997) CD
Lamartine como nunca - (1999) CD
De Lalá para (2004) Dabliú Discos CD
Lamartiniadas (2005) Decdisc CD *
* Esta obra foi incluída na relação pelo autor.
207
ANEXO IX
DEFINIÇÃO DE TERMOS
208
Andamento
Velocidade que se imprime à execução de uma música em relação à unidade de tempo
(ADOLFO, 1997, p. 67).
Arranjo
Arranjo, em música, é a preparação de uma composição musical para a execução por um
grupo específico de vozes ou instrumentos musicais. Basicamente isso representa, reescrever o
material pré-existente para que fique em forma diferente das execuções anteriores ou para tornar a
música mais atraente para o público e usar técnicas rítmicas, harmônicas e de contraponto para
reorganizar a estrutura da peça de acordo com os recursos disponíveis, tais como a instrumentação e
a habilidade dos músicos. O arranjo pode ser uma expansão, quando uma música para poucos
instrumentos será executada por um grupo musical maior como uma orquestra ou grupo coral. Pode
também ser uma redução, quando uma música para orquestra é reduzida para ser tocada por um
conjunto menor ou mesmo por um instrumento solista. O músico responsável por esta atividade é
chamado arranjador. Muitos compositores fazem os arranjos de suas próprias canções, mas em
muitos casos, o arranjador é um músico especializado e experiente. Atualmente as atividades do
arranjador muitas vezes se confundem com as do produtor musical.
Acredita-se que arranjo pode ser entendido como uma tranformação feita em uma música de
modo a torná-la mais agradável e bela. Esta opinião não é aceita por todos os músicos, uma vez que
um arranjo pode ser feito com diversos objetivos estéticos e os conceitos de belo ou agradável não
podem ser objetivamente definidos. Em alguns casos, o arranjo pode ser usado para
deliberadamente criar um contraste, não necessariamente mais belo, com a versão original. Em
outros casos, como nas de alguns filmes, é comum a utilização da música para criar desconforto na
audiência, em cenas de suspense ou terror, entre outras.
Direitos fonomecânicos
Referentes à vendagem de cópias do produto, disco, vídeo, etc (ADOLFO, 1997, p.68).
Estribilho
“Verso (s) repetido (s) no fim de cada estrofe de uma composição; refrão, refrém, ritornelo.”
(FERREIRA, 1999, p. 843).
209
Estrofe
É um grupo de versos. Por exemplo: - “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas” é um
verso, mas, quando se junta a outros versos, forma uma estrofe. (LÚCIO, 2009, p. 10).
Fonograma
Faixa de um disco (ADOLFO, 1997, p. 68).
Hino
Um poema lírico ou canção que exprime entusiasmo, contentamento, admiração e ainda:
música geralmente marcial ou solene, acompanhada de um texto, e que exalta o valor de algo ou de
alguém (FERREIRA, 1999).
Hino oficial
Manifestação musical adotada por um clube ou agremiação, que exalta a mesma e é
utilizada de maneira representativa em solenidades, jogos e comemorações. A nomenclatura “hino
oficial” pode ser encontrada na literatura dedicada aos Clubes e também no fichário dedicado aos
principais Clubes do Brasil, presentes no Museu do Futebol (2008). Algumas entidades relatadas na
presente pesquisa possuem mais de um hino oficial.
Hino popular
Manifestação musical criada oficiosamente para homenagear um determinado clube ou
agremiação que pode cair no gosto dos torcedores e se imortalizar, podendo ser utilizada até mesmo
em eventos oficias no lugar da manifestação oficialmente adotada. A nomenclatura “hino popular”
foi extraída dos fichários dos principais Clubes do Brasil, presentes no Museu do Futebol (2008),
que utilizou este termo para classificar as marchas feitas pelo compositor Lamartine Babo para
homenagear os principais Clubes cariocas.
210
Intérprete
Artista (individual ou grupo) que interpreta (canta ou toca) uma canção (ADOLFO, 1997, p.
68).
Letra
Para Ferreira (1999), letra é um texto em verso de certas músicas, correspondentes às partes
que devem ser cantadas. para Fernandes (2000), letra quer dizer saber, ciência, erudição, cultura,
palavras, versos: a letra de uma valsa, de uma ópera por exemplo. Adolfo (1997), diz que letra tem
que ter ritmo e sonoridade, tem que estar entrosada com a música. É importante considerar que nem
todo poeta é letrista e vice-versa, ou seja, nem todas as letras funcionam como poesia.
Marcha Marcial ou Marcha Militar
Estilo musical normalmente executado por bandas de corporações militares, em compasso
binário, desenvolvida através de hinos e dobrados.
Marcha Popular ou Marcha Carnavalesca ou Marchinha Carnavalesca
Estilo musical em compasso binário de ritmo vivo e apressado, muito apreciado nos festejos
carnavalescos.
Música
Os três elementos básicos que compõe a música são: melodia, ritmo e harmonia. A sucessão
dos sons formando um sentido musical configura a melodia, o movimento de sons regulados por
sua maior ou menor duração define o ritmo e a execução de vários sons ouvidos ao mesmo tempo,
respeitadas as leis que regem os agrupamentos de sons simultâneos, configura a harmonia.
Portanto música é a arte dos sons, combinados de acordo com as variações da altura proporcionados
segundo a sua duração e ordenados sob as leis da estética (PRIOLLI, 1983).
211
Obra musical ou manifestação musical
O somatório da letra mais a música (melodia+ritmo+harmonia) dará o sentido de obra ou
manifestação musical que será amplamente citada nesta pesquisa.
Plágio musical
Cópia ou grande semelhança de música ou de trecho de autoria de outrem (ADOLFO, 1997,
p. 68).
Principais clubes de futebol do Rio de Janeiro
Fluminense Football Club (FFC), Botafogo de Futebol e Regatas (BFR), América Football
Club (AFC), Club de Regatas do Flamengo (CRF) e Club de Regatas Vasco da Gama (CRVG).
A grafia utilizada na pesquisa segue o padrão utilizado pelas agremiações até os dias atuais.
Sempre que houver necessidade de citar algum dos clubes acima mencionados durante o
desenvolvimento do estudo, utilizaremos as siglas entre parênteses.
Titular de direitos
O (s) autor (es) intérprete (s), os músicos e o produtor fonográfico (ADOLFO, 1997, p. 69).
Verso
Verso é cada linha de uma composição poética (LÚCIO, 2009, p. 10).
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