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UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO
JEQUITINHONHA E MUCURI-UFVJM
AMÉLIA KATIANE DE ALMEIDA
Desempenho, características de carcaça e perfil de ácidos graxos
de cordeiros alimentados com diferentes proporções de volumoso
e fontes de lipídios
DIAMANTINA - MG
2010
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AMÉLIA KATIANE DE ALMEIDA
Desempenho, características de carcaça e perfil de ácidos graxos de
cordeiros alimentados com diferentes proporções de volumoso e fontes de
lipídios
Dissertação apresentada à Universidade
Federal dos Vales do Jequitinhonha e
Mucuri, como parte das exigências do
Programa de Pós-Graduação em
Zootecnia, área de concentração em
Produção Animal, para a obtenção do
título de “Mestre”.
Orientadora: Prof
a
. Dr
a
.
Iraides Ferreira Furusho Garcia
DIAMANTINA - MG
2010
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Ficha Catalográfica - Serviço de Bibliotecas/UFVJM
Bibliotecária Viviane Pedrosa de Melo CRB6 2641
A447d
2010
Almeida, Amélia Katiane
Desempenho, características de carcaça e perfil de ácidos
graxos de cordeiros alimentados com diferentes proporções de volumoso
e fontes de lipídios / Amélia Katiane de Almeida. Diamantina: UFVJM,
2010.
47p.
Dissertação (Dissertação apresentada ao Curso de Pós- Graduação
Stricto Sensu em Produção Animal) -Faculdade de Ciências Agrárias,
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri.
Orientadora: Profa. Dra. Iraides Ferreira Furusho Garcia
1. CLA 2. Consumo 3. PUFA 4. Santa Inês I. Título
CDD 636.3
ORAÇÃO DA SERENIDADE
Concedei-nos, Senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisas que não podemos
modificar, coragem para modificar aquelas que podemos e sabedoria para distinguir uma das
outras.”
Autor Desconhecido.
DEDICO
Aos meus pais, Maria Aparecida Campos Chauvet e Xavier Dominique Marie
Chauvet, pelo apoio e dedicação em todos os momentos, pelo amor, respeito e confiança.
Aos meus irmãos, Renê, Aline, Renildo e Angélica, pela força, carinho e torcida.
À minha amada avó Leonídia, pelo exemplo de força e fé.
Ao meu padrinho René Chené, por tornar meu caminho menos difícil.
Aos meus amigos.
AGRADECIMENTOS
A DEUS, por estar sempre ao meu lado, iluminando meu caminho e, acima de tudo,
por proteger e abençoar aqueles a quem meu coração pertence.
À Prof.ª Drª. Iraides Ferreira Furusho Garcia, pela amizade e orientação, pelo exemplo
de vida para a minha formação e, acima de tudo, pela confiança no meu trabalho.
Aos meus amigos para a vida toda e companheiros de trabalho, Tharcilla e Izac.
À Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), pela
concessão de bolsa de estudos.
Aos professores do Departamento de Zootecnia da FCA/UFVJM, pelos ensinamentos
para toda vida, em especial ao Prof. Dr. Idalmo Garcia Pereira.
RESUMO
ALMEIDA, A.K. Desempenho, características de carcaça e perfil de ácidos graxos de
cordeiros alimentados com diferentes proporções de volumoso e fontes de lipídios. 2010.
46p. Trabalho de Conclusão de Curso (Pós-Graduação Stricto Sensu em Produção Animal).
Faculdade de Ciências Agrárias, Departamento de Zootecnia, Universidade Federal dos Vales
do Jequitinhonha e Mucuri, Diamantina, 2010.
O experimento foi realizado na Fazenda Experimental do Moura, Curvelo-MG, no Setor de
Ovinos da FCA da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Foram
utilizados 24 cordeiros, machos inteiros, da raça Santa Inês, recebendo dieta ad libitum com
duas proporções de volumoso (30 e 70 %), sem fonte de lipídios ou com a inclusão dela
(gordura protegida ou grão de soja), abatidos com peso médio de 37,3 ± 1,53 kg. Objetivou-se
determinar o consumo voluntário de nutrientes, o desempenho de cordeiros, as características
de suas carcaças e o perfil de ácidos graxos da gordura intramuscular do lombo desses
animais. Os animais com dietas com 30% de volumoso apresentaram melhores desempenhos
no que diz respeito à eficiência alimentar, conversão alimentar, ganho de peso e tempo no
confinamento (médias de 18,9%; 5,38; 191g; 110 dias; respectivamente) comparados aos
animais que receberam 70% de volumoso, que apresentaram médias de 9,1%; 11,97; 100g;
222 dias, para os parâmetros supracitados, respectivamente. Os animais com dietas com 30%
de volumoso apresentaram pesos e rendimentos de carcaça fria (16,43 kg e 46,48%)
superiores aos indivíduos alimentados com 70% de volumoso (15,27 kg e 43,17%). Apesar
de as dietas o terem efeito na maioria dos cortes, o efeito sobre o pernil destaca a
importância da dieta sobre esse corte nobre, que apresentou médias de 2,15 kg e 1,99 kg para
dietas com 30 e 70% de volumoso, respectivamente. A proporção de 70% de volumoso na
dieta de cordeiros em terminação proporcionou aumento de 19,5% na quantidade de ácidos
graxos poli-insaturados (PUFAs), mas houve diminuição de 49,6% dos ácidos linoléicos
conjugados (CLA) no músculo Longissimus. O uso de gordura protegida, na forma de sabões
de cálcio, como fonte de lipídios na dieta, é mais eficiente que o grão de soja moído,
proporcionando maiores concentrações de PUFAs e CLA, sendo que a proporção de
volumoso na dieta pode alterar as proporções desses ácidos graxos na carne de cordeiro.
Palavras-chave: CLA, consumo, PUFA, Santa Inês
ABSTRACT
ALMEIDA, A.K. Performance, carcass traits and fatty acid profile of lambs fed with two
roughage and lipid sources. 2010. 59p. Dissertation (Post-Graduation Strictu Sensu in
Animal Production). Agricultural Science, Animal Science Department, Universidade Federal
dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Diamantina, 2010.
The experiment was conducted in a farm in Moura, Curvelo-MG, in the lamb area of
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. 24 lambs of Santa Inês race were
used under a diet ad libitum with two roughage (30 and 70 %), with or without fat source.
They were slaughtered at about 37.3 ± 0.74 kg. The aim of this study was to determine
nutrient intake, lambs performance, carcass traits, and the fatty acid profile of their loin
intramuscular fat. Animals under 30% roughage diet showed higher alimentary efficience,
feed conversion, weigh gain and confinement time (average: 18.9%; 5.38; 191g; 110 days;
respectively). Animals under 30% roughage diet showed weigh and cold carcass (16.43 kg
and 46.48%) superior to the ones under 70% roughage diet (15.27 kg and 43.17%). Besides
diets did not affect most of the cuts, its effect on ham in emphasized by the averages 2.15 kg
and 1.99 kg to 30 and 70% of roughage, respectively. 70% roughage diet to finishing lamb
provided an increase of 19.5% on poliinsatured fatty acids (PUFAs). But there was a decrease
of 49.6% of conjugated linoleic acids (CLA) on Longíssimus, muscles. Using protected fatty,
under calcium soap form, as fat source is more efficient than soy grain, providing higher
PUFAs and CLA. Roughage on diet can upset proportions of fatty acid on lamb meat.
Palavras-chave: CLA, intake, PUFA, Santa Inês
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ..................................................................................................................
1
Artigo I: Consumo voluntário de nutrientes e desempenho de cordeiros alimentados
com dietas contendo diferentes proporções de volumosos e fontes de
lipídios...........................................................................................................................
4
Resumo ..............................................................................................................................
5
Abstract...............................................................................................................................
6
1. Introdução.......................................................................................................................
7
2. Material e Métodos........................................................................................................
8
3. Resultado e Discussões ..................................................................................................
10
4. Conclusão ......................................................................................................................
13
Literatura citada.................................................................................................................... 14
Artigo II: Características de carcaça e cortes de cordeiros alimentados com
diferentes proporções de volumoso e fontes de lipídios..........................................
17
Resumo ..............................................................................................................................
18
Abstract ..............................................................................................................................
19
1. Introdução.......................................................................................................................
20
2. Material e Métodos........................................................................................................
21
3. Resultado e Discussões ..................................................................................................
23
4. Conclusão ......................................................................................................................
27
Literatura citada.................................................................................................................... 28
Artigo III: Perfil de ácidos graxos da carne de cordeiros alimentados com dietas
contendo diferentes proporções de volumosos e fontes de lipídios................................
30
Resumo ..............................................................................................................................
31
Abstract ..............................................................................................................................
32
1. Introdução.......................................................................................................................
33
2. Material e Métodos........................................................................................................
34
3. Resultado e Discussões ..................................................................................................
36
4. Conclusão ......................................................................................................................
42
Literatura citada................................................................................................................... 43
CONCLUSÃO.....................................................................................................................
47
1
INTRODUÇÃO
A ovinocultura já é um negócio de destaque na pecuária brasileira. O crescimento da
atividade, principalmente a destinada à produção de carne, é nítido, apesar de seu consumo
ainda ser restrito, quando comparado às carnes tradicionais (bovinos, aves, suínos e
pescados). Esse baixo consumo pode ser explicado pela falta de qualidade e uniformidade do
produto. O consumo per capita de carne ovina está estimado em apenas 0,7 kg/habitante/ano;
porém, nos grandes centros, apesar de a demanda reprimida (insuficiência na oferta), esse
valor pode alcançar 1,5 kg/habitante/ano, valores irrisórios quando comparados aos de países
que apresentam consumo expressivo desse tipo de carne, por exemplo, a Austrália, com
consumo de 15,90 kg/habitante/ano, e Nova Zelândia, 18,00 kg/habitante/ano. Conforme
Silva Sobrinho (2001), os consumidores têm preferência por carne macia, com pouca gordura
e muito músculo, e que seja comercializada a preços acessíveis. Para tal, torna-se necessária a
adoção de manejos que resultem em um produto que seja atrativo ao consumidor.
O confinamento é uma prática que vem sendo adotada em criações ovinas destinadas à
produção de carne, principalmente na região Sudeste do Brasil. Normalmente, cordeiros sob
alimentação com alto concentrado tendem a apresentar maior rendimento de carcaça, mas
geralmente são cordeiros com maior deposição de gordura. Animais criados com uma maior
quantidade de forragem podem apresentar menor rendimento, mas com uma produção de
carcaça mais magra, o que pode ser mais atrativo para o consumidor atual.
É notória a crescente preocupação do consumidor quanto à qualidade nutricional dos
produtos. muito a composição da carne, no que diz respeito aos ácidos graxos, recebe
bastante atenção nas pesquisas, por causa de suas implicações à saúde humana. A composição
de ácidos graxos nos produtos oriundos de ruminantes é complexa e particular, em razão da
síntese ruminal, bem como o processo de biohidrogenação que ocorre nesse ambiente,
mediado por bactérias. É sabido que o perfil de ácidos graxos pode ser influenciado pela dieta
a qual o animal é submetido, cuja manipulação pode ser feita mediante a inclusão de fontes
lipídicas, manipulação da relação volumoso:concentrado e inclusão de aditivos.
Nesse contexto, a determinação do perfil de ácidos graxos é importante,
particularmente no que diz respeito a determinar o teor de ácidos graxos essenciais, saturados,
poli-insaturados e, mais recentemente, os ácidos linoléicos conjugados (CLA). Estes são um
grupo que inclui uma série de isômeros posicionais e geométricos de ácidos
2
octadecadienóicos, que exibem vários possíveis efeitos sobre a saúde humana. Esses efeitos
incluem a melhora da resposta imunológica (ALBERS et al., 2003), ão anti-inflamatória
(WHIGHAM et al., 2002), anticarcinogênica (IP et al., 2002) e antiaterogênica
(KRITCHEVSKY, 2002), incremento da massa muscular esquelética (BATTACHARYA et
al., 2005), redução da gordura corporal na região abdominal (RISÉRUS et al., 2001),
diminuição dos sintomas do diabetes (PARIZA, 2002; BELURY, 2003).
Os produtos derivados de ruminantes são os que possuem o maior teor de ácido
linoléico conjugado, que são formados por bactérias ruminais durante a biohidrogenação ou
pela ação da
9
-dessaturase a partir do ácido vaccênico, no músculo. Sendo assim, os
produtos de ruminantes são as principais fontes naturais dos CLA. Estudos prévios sugerem
que é possível aumentar deposição de CLA nos produtos de ruminantes elevando-se o
conteúdo de determinados ácidos graxos poli-insaturados (PUFAs) pela adição de óleos
vegetais na dieta. (SHINGFIELD et al., 2006).
Posto isso, torna-se necessário verificar o efeito da manipulação da quantidade de
volumoso e da inclusão de lipídios na dieta de cordeiros sob as condições brasileiras, visto
que a maioria das publicações a respeito do perfil de ácidos graxos reflete resultados de
pesquisas com raças ovinas não adaptadas ao clima tropical, sob outras condições de criação.
O alvo desta pesquisa foi determinar os efeitos do uso de fontes de lipídios associadas
a mudanças na proporção volumoso: concentrado no desempenho, características de carcaça e
perfil de ácidos graxos de cordeiros.
3
Literatura Citada
BELURY, M.A.; MAHON, A.; BANNI, S. The conjugated linoleic acid (CLA) isomer,
t10c12-CLA, is inversely associated with changes in body weight and serum leptin in subjects
with type 2 diabetes mellitus. Journal of Nutrition, v.133, n.1, p.257S-260S, 2003.
PARIZA, M.W. Conjugated linoleic acid may be useful in treating diabetes by controlling
body fat and weight gain. Diabetes Technology and Therapeutics, v.4, n.3, p.335-8, 2002.
RISÉRUS, U.; VESSBY, B.; ARNER, P.; ZETHELIUS, B. Supplementation with
trans10cis12-conjugated linoleic acid induces hyperproinsulinaemia in obese men: close
association with impaired insulin sensitivity. Diabetologia, v.47, n.6, p.1016-9. 2004.
IP, C.; DONG, Y.; IP, M.M.; BANNI, S.; CARTA, G.; ANGIONI, E.; MURRU, E.; SPADA,
S.; MELIS, M.P.; SAEBO, A. Conjugated linoleic acid isomers and mammary cancer
prevention. Nutrition and Cancer, v.43, n.1, p.52-8, 2002.
BHATTACHARYA, A.; RAHMAN, M.M.; SUN, D.; LAWRENCE, R.; MEJIA, W.;
MCCARTER, R.; O’SHEA, M.; FERNANDES, G. The combination of dietary conjugated
linoleic acid and treadmill exercise lowers gain in body fat mass and enhances lean body mass
in high fat-fed male Balb/C mice. Journal of Nutrition, v.135, n.5, p.1124-30, 2005.
KRITCHEVSKY, D.; TEPPER S.A.; WRIGHT S.; CZARNECKI, S.K. Influence of graded
levels of conjugated linoleic acid (CLA) on experimental atherosclerosis in rabbits. Nutrition
Research, v.22, n.11, p.1275-1279, 2002 .
SILVA SOBRINHO, A. G. Criação de ovinos. 2 ed. Jaboticabal: Funep, 2001. 302 p.
ALBERS, R.; VAN DER WIELEN, R.P.; BRINK, E.J.; HENDRIKS, H.F.; DOROVSKA-
TARAN, V.N.; MOHEDE, I.C. Effects of cis- 9, trans-11 and trans-10, cis-12 conjugated
linoleic acid (CLA) isomers on immune function in healthy men. European Journal of
Clinical Nutrition, v.57, n.4, p.595-603. 2003.
SHINGFIELD, K.J., REYNOLDS, C.K., HERVÁS, G., GRIINARI, J.M., GRANDISON,
A.S., BEEVER, D.E., Examination of the persistency of milk fatty acid composition
responses to fish oil and sunflower oil in the diet of dairy cows. Journal of Dairy Science n.
89, p. 714–732, 2006.
4
Artigo I
Revista Brasileira de Zootecnia
ISSN 1516-3598 (impresso)
ISSN 1806-9290 (on-line)
5
CONSUMO VOLUNTÁRIO DE NUTRIENTES E DESEMPENHO DE CORDEIROS
ALIMENTADOS COM DIFERENTES PROPORÇÕES DE VOLUMOSOS E FONTES
DE LIPÍDIOS
Resumo: O experimento foi realizado na Fazenda Experimental do Moura, Curvelo-MG, no
Setor de Ovinos da FCA da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri.
Foram utilizados 24 cordeiros, machos inteiros, da raça Santa Inês, recebendo dieta ad libitum
com duas proporções de volumoso (30 e 70 %), sem fonte de lipídios ou com a inclusão dela
(gordura protegida ou grão de soja), abatidos com peso médio de 37,3 ± 1,53 kg. Objetivou-se
determinar o consumo voluntário de nutrientes e o desempenho de cordeiros submetidos a
essas diferentes dietas. Os cordeiros alimentados com grão de soja tiveram menor consumo de
MS (0,97kg). Por outro lado, o consumo de proteína bruta variou com a proporção v:c, bem
como o consumo de FDN e FDA. Os animais com dietas com 30% de volumoso apresentaram
melhores desempenhos quanto à eficiência alimentar, conversão alimentar, ganho de peso e
tempo no confinamento (médias de 18,9%; 5,38; 191g; 110 dias; respectivamente),
comparados aos animais que receberam 70%, que apresentaram médias de 9,1%; 11,97; 100g;
222 dias, para os parâmetros supracitados, respectivamente. Não houve diferença no ganho de
peso nem na conversão alimentar para as diferentes fontes de lipídios; porém, animais que
receberam grão de soja moído demoraram mais tempo para atingir o peso de abate, efeito que
foi mais pronunciado em animais que receberam dietas contendo alto teor de volumoso.
Palavras–chave: conversão alimentar, ganho de peso, gordura protegida, grão de soja, ovinos
6
NUTRIENT INTAKE AND PERFORMANCE OF LAMB FED WITH DIETS
CONTAINING DIFERENT ROUGHAGE AND FAT SOURCES
The experiment was conducted in a farm in Moura, Curvelo-MG, in the lamb area of
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. 24 lambs of Santa Inês race were
used under a diet ad libitum with two roughage (30 and 70 %), with or without fat source.
They were slaughtered at about 37.3 ± 0.74 kg. The aim of this study was to determine
nutrient intake and performance of lambs submitted to those different diets. Animals under
30% roughage diet showed higher alimentary efficience, feed conversion, weigh gain and
confinement time (average: 18.9%; 5.38; 191g; 110 days; respectively) when compared to
animals under 70% roughage diet that showed averages 9.1%; 11.97; 100g; 222 days to each
parameter above, respectively. No differences to weigh gain and feed conversion to the
different fat source. Animals which have received soy grains spent more time to gain
slaughtering weigh and this effect came in animals under diets with high roughage content.
Key words: feed conversion, protected fat, sheep, soy grain, weigh gain
7
1. Introdução
A ovinocultura tem se expandido no País e, com isso, crescido o interesse na
terminação de cordeiros em confinamento, com o objetivo de elevar a eficiência alimentar e o
ganho de peso, além de produzir carcaças de melhor qualidade, diminuindo a idade dos
animais ao abate. Segundo Villas Bôas et al. (2003), o mercado consumidor de carne ovina no
Brasil exige uma carne com excelência em qualidade e padronizada, tanto em tamanho como
em maciez e teores de gordura. Esse tipo de produto somente pode ser obtido mediante o
abate de animais jovens e se espera que o consumidor pague preços melhores por um produto
mais nobre. Portanto, para melhorar o desempenho animal e obter um produto de alta
qualidade, deve-se fornecer aos animais alimentos que proporcionem alto consumo e
adequado suprimento de nutrientes.
A importância do conhecimento do valor nutritivo dos alimentos, assim como da
utilização dos nutrientes, é reconhecida quando se tem como objetivo alcançar o potencial
máximo produtivo e reprodutivo dos animais (YAMAMOTO et al., 2005).
O manejo
nutricional certamente afeta o desempenho do animal no que diz respeito ao ganho de peso,
idade do animal ao abate e eficiência alimentar. Esses índices influenciarão a qualidade do
produto final, visto que o consumo voluntário de nutrientes dos animais dependerá de alguns
fatores, como o adequado equilíbrio nutricional da dieta, o qual pode ser influenciado por
diversos fatores, entre os quais podemos citar a variação da proporção de volumoso e
concentrado e a inclusão ou não de fontes de lipídios.
A inclusão ou não de fontes de lipídios na dieta pode comprometer o desempenho do
animal, pois ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa livres são potencialmente tóxicos
aos micro-organismos ruminais, prejudicando principalmente as dietas com altas proporções
de fibra (GIBB et al. 2005). Por outro lado, o lipídio tem efeito positivo na eficiência
energética, pois não promove perda de energia pela produção de metano ou energia urinária.
O objetivo do presente trabalho foi avaliar o consumo voluntário de nutrientes e
desempenho de cordeiros Santa Inês, alimentados em confinamento com dietas balanceadas -
diferentes proporções de volumosos associados ou não a fontes de lipídios (gordura protegida
ou grão de soja integral).
8
2. Material e Métodos
O experimento foi realizado na Fazenda Experimental do Moura, Curvelo-MG, no Setor
de Ovinos do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal dos Vales do
Jequitinhonha e Mucuri. Foram avaliados 24 cordeiros, machos não castrados, da raça Santa
Inês, desmamados com 10 kg de peso vivo médio (PV). Após o desmame, os animais
permaneceram confinados em grupos até atingirem 15 kg de peso vivo, quando então foram
destinados ao confinamento individual, aleatoriamente submetidos a cada uma das dietas
experimentais. A partir do início do confinamento o peso vivo dos animais foi obtido
semanalmente até eles atingirem o peso de abate, o qual foi realizado com peso vivo médio de
37,3 ± 1,53 kg.
As dietas experimentais foram fornecidas uma vez ao dia ad libitum, sendo: duas
proporções de volumoso:concentrado (70:30 e 30:70%), quando o volumoso adotado foi o
feno de Tifton (Cynodon sp); e o concentrado sem ou com a inclusão de grão de soja moído
(GS) ou gordura protegida (GP) sabões de cálcio (Tabela 1). A quantidade de alimento
fornecido e as sobras foram pesadas diariamente, sendo prevista sobra de 20%. Foram
coletados separadamente os dados do consumo de cada animal. As dietas foram formuladas
com o NRC (2006), para cordeiros com ganhos de 300 g/dia.
Os animais foram pesados antes e após o jejum de alimentação sólida, realizada por um
período de 14 horas em média. Depois, abatidos, quando se calculou a diferença após jejum.
Foram eviscerados e os órgãos pesados cheios e vazios, para se calcular o conteúdo e o peso
deles vazios. Foram calculados os ganhos de peso diário dos animais, do nascimento ao
confinamento, do confinamento ao abate e do nascimento ao abate. Avaliou-se o tempo de
permanência de cada animal no experimento e a idade do animal ao entrar no confinamento.
O consumo voluntário dos nutrientes de cada dieta, como matéria seca, proteína bruta, FDN
(Fibra em detergente neutro), FDA (Fibra em detergente ácido), extrato etéreo, conteúdo
celular, hemicelulose e minerais foi avaliado, bem como os parâmetros da eficiência e a
conversão alimentar.
9
Tabela 1. Composição em ingredientes e nutrientes das dietas experimentais com base na
matéria seca
Dietas - Volumoso:concentrado (%)
30:70 70:30
Fonte de lipídios Sem
adição
Gordura
protegida
Soja
integral
Sem
adição
Gordura
protegida
Soja
integral
Ingredientes(%)
Feno de Tifton 30,00 30,00 30,00 70,00 70,00 70,00
Milho moído 51,60 42,00 46,10 18,20 2,70 6,50
Farelo de soja 16,50 22,00 0,00 9,50 21,00 0,00
4
Gordura protegida 0,00 5,00 0,00 0,00 5,00 0,00
Grão de soja integral 0,00 0,00 22,00 0,00 0,00 22,00
Calcário 0,90 0,00 0,90 0,40 0,00 0,50
Uréia 0,00 0,00 0,00 0,80 0,00 0,00
Ácido fosfórico 0,00 0,00 0,00 0,10 0,30 0,00
Premix mineral e
vitamínico
1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00
Nutrientes
Matéria seca (%) 1,11 0,99 0,94 1,26 1,16 1,00
1
Proteína bruta (%) 12,74 11,93 10,85 8,61 12,83 13,92
2
FDN (%) 51,32 57,73 56,37 43,67 44,55 38,02
2
FDA (%) 14,51 15,91 15,30 30,22 28,46 26,23
2
Conteúdo celular (%) 48,68 42,27 43,63 56,33 55,45 61,98
2
Hemicelulose (%) 36,82 41,83 41,06 13,45 16,08 11,79
1
Cinzas (%) 4,76 5,22 4,80 6,18 6,82 6,50
3
EM (kcal/kg) 2,56 2,78 2,61 2,06 2,27 2,12
Extrato etéreo (%) 2,89 6,74 6,57 2,45 6,19 6,03
3
Ca (%) 0,51 0,63 0,52 0,48 0,79 0,54
3
P (%) 0,28 0,29 0,29 0,24 0,32 0,26
1
Quantificado segundo a metodologia AOAC (1998).
2
Quantificado segundo a metodologia de SILVA (1981);
3
Calculado segundo composição de ingredientes da Tabela do NRC (2006);
4
Sabões de cálcio (Megalac-E
®
) -
composição apresentada pela empresa fornecedora do produto.
Para a quantificação dos nutrientes das dietas foram utilizados os seguintes métodos:
Para Proteína Bruta utilizou-se o método Kjeldahl (semimicro), conforme
procedimento da AOAC (1998).
As FDA e FDN foram determinados pelo método proposto por Van Soest (1963),
descrito por Silva & Queiroz (2002). Foram determinados os constituintes solúveis ou o
conteúdo celular, subtraindo de 100 a porcentagem encontrada para FDN.
Os dados foram analisados no programa SAS (SAS, 2002), pelo procedimento PROC
GLM. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado em esquema fatorial 2 x 3
(duas proporções de volumoso:concentrado e três fontes de lipídios), com quatro repetições
por tratamento. As médias foram comparadas pelo de Teste t de Student, a 5% de
significância.
10
3. Resultados e Discussão
Os consumos médios de nutrientes pelos animais estão apresentados na Tabela 2, na
qual se verifica que o consumo de matéria seca dos cordeiros não sofreu variação quando se
alterou a proporção de volumoso:concentrado na dieta. Sabe-se que altos teores de lipídios
livres no rúmen passam a ser tóxicos para a população microbiana, além de apresentar um
recobrimento físico da fibra. Segundo o AFRC (1993), os óleos não fornecem ATP para o
crescimento dos micro-organismos ruminais e, assim, níveis elevados desse nutriente podem
diminuir a digestibilidade da fibra, limitando o consumo do animal, o que não foi detectado
neste estudo.
Tabela 2. Consumo voluntário de nutrientes de cordeiros alimentados com diferentes fontes
de lipídios e proporções de volumoso
Volumoso:concentrado
Fonte de gordura CV(%)
30:70 70:30 SLA
1
GP
2
GS
3
Consumo de nutriente (kg)
Matéria Seca 1,01 1,14 1,19
A
1,08
AB
0,97
B
18,44
Proteína Bruta 0,12
a
0,10
b
0,12 0,12 0,10 23,27
Fibra em Detergente Neutro
0,54
b
0,77
a
0,72 0,65 0,61 21,87
Fibra em Detergente Ácido 0,15
b
0,35
a
0,28
A
0,27
AB
0,20
B
26,41
Conteúdo Celular 0,47
a
0,40
b
0,47 0,43 0,36 27,65
Hemicelulose 0,40 0,42 0,44 0,38 0,41 24,55
Cinzas 0,06 0,07 0,07 0,06 0,06 17,83
Médias seguidas de letras diferentes, maiúsculas para fonte de gordura e minúsculas para proporção de
volumoso:concentrado, diferem entre si pelo teste de t, P<(0,05).
1
Sem lipídio adicional
2
Inclusão de Megalac-E
®
3
Inclusão de grão de soja integral moído
Por outro lado, quando se variou a fonte de lipídios, utilizando-se o grão de soja
moído, houve uma diminuição no consumo de matéria seca, o que pode ser explicado pelo
fato de esse ingrediente conter grande quantidade de lipídios desprotegidos da fermentação
ruminal, os quais podem influenciar negativamente a digestibilidade da fração fibrosa. Esse
resultado corrobora dados encontrados por Oliveira et al. (2007) que, trabalhando com
diferentes fontes lipídicas para novilhos bubalinos em confinamento, verificaram que os
menores coeficientes de digestibilidade da fração fibrosa foram registrados nos animais
alimentados com a dieta contendo óleo de soja.
11
No presente estudo, os cordeiros que receberam a gordura protegida como fonte
lipídica e dietas sem fonte de lipídios apresentaram consumos de matéria seca semelhantes.
Valinote et al. (2005), trabalhando com bovinos Nelore, observaram que sais de cálcio de
ácidos graxos foram suficientemente inertes no ambiente ruminal desses animais.
O consumo de proteína bruta não se mostrou condicionado à fonte de gordura;
entretanto, foi maior para os animais alimentados com 30% de volumoso (p<0,05). Não era de
se esperar que o consumo de proteína bruta sofresse alteração entre os tratamentos, uma vez
que as dietas foram formuladas para serem isonitrogenadas. No entanto, o consumo desse
nutriente variou com a proporção de volumoso:concentrado na dieta, sendo que dietas com
mais volumoso apresentaram menores valores. A possível explicação reside no fato de a
proteína contida no feno ter sofrido grandes variações em razão da colheita, armazenamento e
estacionalidade, já que as rações foram calculadas com base em tabelas do NRC (2006).
Não se detectou diferença no consumo de FDN quando se variaram as fontes de
lipídios, porém, quando se aumentou o teor de volumoso o consumo desse nutriente sofreu
acréscimo, uma vez que forragens fornecem maior teor de FDN que grãos em geral.
Os maiores consumos de FDA foram para as dietas sem inclusão de lipídios, quando
comparadas com as dietas que continham grão de soja, especialmente na dieta com maior
quantidade de volumoso. Esse consumo foi diretamente influenciado pelo consumo de
matéria seca. Quando se comparou as dietas quanto ao seu teor de volumoso, o consumo
desse nutriente foi superior em dietas contendo mais volumoso, o que era de se esperar, uma
vez que essas dietas também apresentaram maior aporte de FDA.
O consumo de conteúdo celular ou constituintes solúveis foi significativamente maior
nas dietas com menor teor de volumoso. As dietas contendo 70% de concentrado sem lipídios
e com gordura protegida tiveram o mesmo consumo desse nutriente, e a dieta com grão de
soja apresentou menor consumo em relação à dieta sem inclusão de lipídios.
Tanto para o consumo da hemicelulose quanto para o consumo de cinzas, não se
detectou diferença significativa entre os tratamentos, com médias de 0,408 kg e 0,065 kg,
respectivamente.
12
Como se pode verificar na Tabela 3, o ganho de peso e a demanda de tempo pelos
animais, durante o confinamento, para atingirem o peso de abate foram piores para os animais
que foram submetidos às dietas que continham o ingrediente grão de soja, resultado do menor
consumo de matéria seca. Esse efeito foi mais pronunciado na dieta com maior proporção de
volumoso, como abordado anteriormente. O período de confinamento foi superior para
animais que receberam maior proporção de volumoso, e isso se refletiu na idade ao abate, vez
que o ganho de peso nessa fase foi menor. Isso pode ser explicado pelo fato de dietas
contendo maior teor de concentrado proporcionarem maior ganho de peso e,
consequentemente, necessitarem de um menor tempo para os animais atingirem o peso ao
abate.
Tabela 3. Desempenho de cordeiros Santa Inês alimentados com diferentes fontes de lipídios
e proporções de volumoso
Volumoso:concentrado Fonte de gordura CV(%)
30:70 70:30 SLA
1
GP
2
GS
3
Variável
Ganho de peso (kg/dia) 0,19
a
0,10
b
0,16
A
0,15
A
0,13
B
16,47
Idade ao Abate (dias) 231
b
333
a
270 270 306 21,40
Período de confinamento
(dias)
110
b
222
a
157
B
144
B
197
A
21,76
Peso antes do jejum (kg) 36,99 37,61 37,24 37,31 37,36 4,11
Peso de abate (kg) 35,37
a
35,36
a
35,50 35,02 34,87 4,49
Diferença de peso após
Jejum (kg)
1,62
b
2,25
a
1,73 2,28 1,78 26,83
Conteúdo (kg) 5,24
b
7,13
a
6,24 5,90 6,39 20,45
Peso de corpo vazio (kg) 30,13
a
28,23
b
29,25 29,11 29,17 6,54
Eficiência Alimentar (%) 18,90
a
9,10
b
14,00 14,80 13,30 20,37
Médias seguidas de letras diferentes, maiúsculas para fonte de gordura e minúsculas para proporção de
volumoso:concentrado, diferem entre si pelo teste de t, P<(0,05).
1
Sem lipídio adicional,
2
Inclusão de Megalac-E
®
,
3
Inclusão de grão de soja integral moído
Não houve diferenças significativas para o peso antes do jejum e peso de abate (Tabela
3) para as variáveis testadas, pois todos os animais foram abatidos sob mesmas condições de
peso. Entretanto, as variáveis diferença de peso e o peso do conteúdo gastrintestinal foram
afetadas pela proporção de volumoso, sendo que animais submetidos a uma ração mais
volumosa obtiveram maiores valores para esses parâmetros, o que interferiu,
consequentemente, no peso vazio. Isso porque dietas mais fibrosas apresentam digestão mais
lenta, acarretando maior quantidade de conteúdo gastrintestinal nos indivíduos alimentados
com maior proporção de volumoso, em função da natureza de sua dieta. Além disso, a idade
13
desses animais pode ter influenciado em tal parâmetro, como observado por Bueno et al.
(2008), que trabalharam com cordeiros Suffolk abatidos em diferentes idades e observaram
que o peso do sistema digestivo vazio apresentou um aumento linear com o aumento da idade
de abate.
Observou-se ainda que os animais submetidos às dietas que continham maior proporção
de concentrado apresentaram maior eficiência alimentar, quando comparados aos que
receberam rações mais volumosas. Não houve diferenças significativas quando se alterou as
fontes de lipídios. Os resultados se aproximam de Urano et al. (2006), os quais trabalharam
com cordeiros Santa Inês com diferentes níveis de inclusão de grão de soja (0, 7, 14, 21%) e
observaram que não houve diferença para a conversão alimentar, embora o consumo diário de
matéria seca e o ganho de peso vivo tivessem sido afetados negativamente.
4. Conclusões
Dietas contendo maior proporção de concentrado proporcionaram melhor
desempenho dos animais, no que diz respeito à eficiência alimentar, ganho de peso e tempo
no confinamento. As diferentes fontes de lipídios testadas neste trabalho, não influenciaram o
ganho de peso e na eficiência alimentar de cordeiros em confinamento.
O uso de grão de soja na concentração de 22 %, avaliada, pode apresentar efeito
negativo sobre o ganho de peso dos animais, principalmente se associado a uma dieta
contendo alto teor de volumoso.
14
Literatura Citada
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protéicas de los ruminantes. Zaragoza: Acribia, 1993, 175p.
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15
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Revista Brasileira de Zootecnia, v.32, n.6, p.1969-1980, 2003 (Supl. 2).
YAMAMOTO, S. M.; MACEDO, F. A. F.; MEXIA, A. A.; ZUNDT, M.; SAKAGUTI, E. S.;
ROCHA, G. B. L.; REGAÇON, K. C. T.; MACEDO, R. M. G. Rendimentos dos cortes e não-
componentes das carcaças de cordeiros terminados com dietas contendo diferentes fontes de
óleo vegetal. Ciência Rural, v.34, p.1909-1913, 2005.
16
Artigo II
Revista Brasileira de Zootecnia
ISSN 1516-3598 (impresso)
ISSN 1806-9290 (on-line)
17
CARACTERÍSTICAS DE CARCAÇA E CORTES DE CORDEIROS SANTA INÊS
ALIMENTADOS COM DIFERENTES PROPORÇÕES DE VOLUMOSO E FONTES
DE LIPÍDIOS
Resumo: O experimento foi realizado na Fazenda Experimental do Moura, Curvelo-MG, no
Setor de Ovinos da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Foram
utilizados 24 cordeiros, machos não castrados, da raça Santa Inês, recebendo dieta ad libitum
com duas proporções de volumoso (30 e 70 %) e diferentes fontes de lipídios (sem gordura,
gordura protegida e grão de soja), abatidos com peso corporal médio de 37,3 kg ± 1,53 kg.
Objetivou-se determinar a influência dessas dietas sobre as características de carcaça e cortes
comerciais. Os animais com dietas com 30% de volumoso apresentaram pesos e rendimentos
de carcaça fria (16,43 kg e 46,48%) superiores aos alimentados com 70% de volumoso (15,27
kg e 43,17%). As porcentagens de braço posterior e pernil foram superiores nos animais que
receberam a dieta com 30% de volumoso, sem adição de fonte de lipídios, em relação aos
animais que receberam lipídios adicionais na ração. O comprimento total de perna e o
comprimento interno foram superiores nos animais que receberam 70% de volumoso (45,03
cm, 65,94 cm). Já os animais que foram alimentados com 30 % de volumoso apresentaram
maior largura de perna, com 10,17 cm. Apesar de as dietas não terem efeito na maioria dos
cortes, o efeito sobre o pernil destaca a importância da dieta sobre esse corte nobre, que
apresentou médias de 2,15 kg e 1,99 kg para dietas com 30 e 70% de volumoso,
respectivamente.
Palavras–chave: Carne ovina, desempenho, gordura protegida, grão de soja, nutrição
18
CARCASS TRAITS AND CUTS OF SANTA INÊS LAMB FED WITH DIFFERENT
ROUGHAGE AND FAT SOURCES
The experiment was conducted in a farm in Moura, Curvelo-MG, in the lamb area of
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. 24 lambs of Santa Inês race were
used under a diet ad libitum with two roughage (30 and 70 %), and fat (without fat, protected
fat and soy grain). They were slaughtered at about 35.4 (±1.5 kg). This study aimed to
determine the influence of these diets on carcass traits and commercial cuts. Animals under
30% roughage diet showed weight and cold carcass yield (16.43 kg and 46.48%) superior to
animals fed with 70% roughage (15.27 kg and 43.17%). Animals fed with 30% roughage
showed higher percentage of posterior arm and ham. Higher leg length and inside length were
shown by animals fed with 70% roughage (45.03 cm and 65.94 cm), while animals fed with
30% roughage showed larger legs (10.17cm). Besides diets have not affected most of the cuts,
its effects in ham highlight the diet importance on this noble cuts that has shown averages of
2.15 and 1.99 kg to 30% and 70% roughage, respectively.
Key words: nutrition, performance, protected fat, sheep meat, soy grain,
19
1. Introdução
A principal finalidade da ovinocultura brasileira atualmente é a produção de carne.
Entretanto, a qualidade do produto ainda é um entrave para que a carne ovina conquiste um
mercado estável. O manejo nutricional do animal pode interferir na qualidade dessa carne e
em outros fatores, como o peso, o rendimento da carcaça e dos cortes comerciais, sendo este
último de extrema importância para medir a capacidade do animal em produzir carne (ALVES
et al., 2003). As carcaças podem ser comercializadas inteiras ou sob forma de cortes. Os
cortes individualizados, associados à apresentação do produto, o importantes na
comercialização, pois proporcionam obtenção de preços diferenciados, permitindo
aproveitamento racional e evitando desperdícios (SILVA SOBRINHO & SILVA, 2000).
A importância da avaliação das medidas de carcaça reside no fato delas, segundo El
Karin et al., (1988), combinadas com o peso da carcaça, predizerem satisfatoriamente sua
composição em músculo, gordura e osso. Segundo Garcia et al. (2003), o estudo das carcaças
tem como finalidade avaliar parâmetros subjetivos e objetivos, uma vez que estão
relacionados com aspectos qualitativos e quantitativos delas. Nesse contexto, a área de olho
de lombo é considerada uma medida que representa a quantidade e distribuição das massas
musculares (BONIFACINO et al., 1979).
De acordo com Bendahan (2008), o manejo em confinamento é o ideal para atingir
maior produtividade, na qual fatores como velocidade de acabamento, conversão alimentar,
qualidade dos animais disponíveis, preço e qualidade da alimentação, mercado consumidor de
carne de qualidade devem ser levados em conta, para que o produtor tenha melhor retorno
econômico na atividade. A inclusão ou não de fontes de lipídios na dieta pode comprometer o
desempenho do animal, pois ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa livres são
potencialmente tóxicos aos micro-organismos ruminais, prejudicando principalmente as dietas
com altas proporções de fibra (GIBB et al., 2005). O objetivo do presente trabalho foi avaliar
características de carcaça e cortes comerciais de cordeiros Santa Inês, alimentados em
confinamento com dietas contendo diferentes proporções de volumoso:concentrado e fontes
de lipídios: grão de soja integral e gordura protegida.
20
2. Material e Métodos
O experimento foi conduzido na Fazenda Experimental do Moura, Curvelo-MG, no
Setor de Ovinos do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal dos Vales do
Jequitinhonha e Mucuri. Foram avaliados 24 cordeiros, machos inteiros, da raça Santa Inês,
desmamados com 10 kg de peso corporal médio. Após o desmame, os animais permaneceram
confinados em grupos até atingirem 15 kg de peso vivo, com idade média de 121 ±13,06 dias,
quando então foram destinados ao confinamento individual, submetidos aleatoriamente a cada
uma das dietas. As dietas experimentais foram fornecidas uma vez ao dia ad libitum, sendo:
duas proporções de volumoso:concentrado (70:30 e 30:70%, respectivamente), quando o
volumoso utilizado foi o feno de Tifton (Cynodon sp) e o concentrado sem ou com a inclusão
de grão de soja moído ou gordura protegida – sabões de cálcio (Tabela 1).
Tabela 1. Composição em ingredientes das dietas experimentais com base na matéria seca
Dietas - Volumoso:concentrado (%)
30:70 70:30
Fonte de lipídios
SLA
1
GP
2
GS
3
SLA
1
GP
2
GS
3
Ingredientes(%)
Feno de Tifton
30,00 30,00 30,00 70,00 70,00 70,00
Milho moído
51,60 42,00 46,10 18,20 2,70 6,50
Farelo de soja
16,50 22,00 0,00 9,50 21,00 0,00
Gordura protegida
0,00 5,00 0,00 0,00 5,00 0,00
Grão de soja integral
0,00 0,00 22,00 0,00 0,00 22,00
Calcário
0,90 0,00 0,90 0,40 0,00 0,50
Uréia
0,00 0,00 0,00 0,80 0,00 0,00
Ácido fosfórico
0,00 0,00 0,00 0,10 0,30 0,00
Premix mineral e
vitamínico
1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00
1
Sem lipídio adicional;
2
Inclusão de Megalac-E
®
;
3
Inclusão de grão de soja integral moído
O alimento ofertado e as sobras foram pesados diariamente, estabelecendo-se 20% de
sobras. A partir do início do confinamento,
os cordeiros foram pesados semanalmente para
acompanhamento do ganho de peso corporal até atingirem o peso de abate, o qual foi
realizado com peso vivo médio de 37,3 ± 1,53kg.
As dietas foram balanceadas de acordo com o NRC (2006), para cordeiros com ganhos
de 300 g/dia.
21
Os animais foram abatidos após jejum sólido de 14 horas. Foram eviscerados e,
posteriormente, a carcaça foi pesada e levada para resfriamento em câmara frigorífica (2 a
4
o
C) por 24 horas, quando então foi retirada, e tomado o peso da carcaça fria. Para cálculo do
rendimento da carcaça quente e fria, utilizou-se o peso de carcaça quente e fria em relação ao
peso de abate. Foi calculado também o rendimento verdadeiro obtido a partir do peso vazio de
cada animal, ou seja, descontados os conteúdos digestivos pesados após a evisceração.
Após a retirada da carcaça da câmara frigorífica, foram tomadas as seguintes medidas
de carcaça, segundo Fisher & Boer (1994): comprimento total (distância entre a base da cauda
e a base do pescoço); largura da garupa (largura máxima entre os trocânteres de ambos os
fêmures); perímetro da garupa (perímetro dessa região, referenciado pelos trocânteres de
ambos os fêmures). Após essas medidas, a carcaça foi dividida em duas partes iguais,
seccionada longitudinalmente. Na meia carcaça esquerda foram realizadas as seguintes
medidas: comprimento interno (distância máxima entre o bordo anterior da sínfise ísquio-
pubiana e o bordo anterior da costela); comprimento da perna (distância entre o perônio e o
bordo anterior da articulação tarso-metatarsiana) e profundidade do tórax (largura máxima
entre o esterno e o dorso). A área do músculo Longissimus dorsi (olho de lombo), medida por
meio de gabarito padrão transparente quadriculado (1 cm
2
/célula), adaptado de Cunha et al.
(2001), e a espessura da gordura subcutânea foram mensuradas no corte realizado entre a 12
a
e a 13
a
costelas. Também foi tomada a altura do músculo e a espessura de gordura subcutânea
in vivo, imediatamente antes do abate, utilizando-se o equipamento de ultrassom Mysono
TM
201, com transdutor linear de 7,5 MHz. Antes da captação das imagens por ultra-som,
procedeu-se à tricotomia da região entre a 12ª e a 13ª vértebras torácicas.
Após a retirada da cauda, dos rins e das gorduras perirenal e cavitária, a meia-carcaça
esquerda foi subdividida nos seguintes cortes comerciais: perna, lombo, paleta, costeleta,
costela/fralda, braço anterior, braço posterior e pescoço, segundo descrito por FURUSHO-
GARCIA et al. 2004, os quais foram pesados para cálculo das proporções (% em relação ao
peso da carcaça fria).
Os dados foram analisados no programa SAS (SAS, 2002). O delineamento
experimental foi inteiramente casualizado em esquema fatorial 2 x 3 (duas proporções de
volumoso:concentrado e três fontes de lipídios), com quatro repetições por dieta. As médias
foram comparadas pelo Teste t de Student, a 5 % de significância.
22
3. Resultados e Discussão
Os animais que receberam dieta com 30% de volumoso apresentaram maiores peso e
rendimento de carcaça quente e fria (Tabela 2), quando comparados aos indivíduos
alimentados com maior proporção de volumoso (p<0,05), provavelmente em razão de que
dietas com maior proporção de concentrado podem disponibilizar mais energia metabolizável,
o que proporciona maior crescimento da massa muscular e do tecido adiposo, que compõem a
carcaça. Por outro lado, dietas ricas em forragens se caracterizam por propiciar grande
produção de acetato e pouco propionato e aminoácidos glicogênicos. Contudo, dietas muito
fibrosas podem reduzir a incorporação de acetato em lipídios, por limitarem a síntese de
precursores da glicose.
Tabela 2. Médias dos rendimentos (%) e pesos (kg) de carcaças cordeiros Santa Inês em
função da proporção de volumoso e fonte de lipídios
Volumoso:concentrado Fonte de gordura
30:70 70:30 SLA
1
GP
2
GS
3
Peso (kg)
Abate 36,99 37,61 37,36 37,31 37,24
Carcaça quente 16,98
a
15,68
b
16,11 16,54 16,34
Carcaça fria 16,43
a
15,27
b
15,47 16,16 15,90
Rendimento (%)
Carcaça quente 48,05
a
44,35
b
45,41 47,28 45,90
Carcaça fria 46,48
a
43,17
b
43,62 46,18 44,67
Verdadeiro de carcaça fria 54,15
a
53,50
a
52,48 55,02 53,98
Médias seguidas de letras diferentes, maiúsculas para fonte de gordura e minúsculas para proporção de
volumoso:concentrado, diferem entre si pelo teste de t, P<(0,05).
1
Sem lipídio adicional;
2
Inclusão de Megalac-E
®
;
3
Inclusão de grão de soja integral moído
Tanto o peso de carcaça quente e fria quanto seu rendimento e peso de abate não
variaram com a adição de fonte de lipídios nas dietas de cordeiros Santa Inês, o que corrobora
resultados encontrados por Urano et al. (2006) que, trabalhando com ovinos Santa Is,
alimentados com diferentes níveis de grão de soja (0, 7, 14 e 21%), não encontraram
diferenças entre as dietas para rendimentos de carcaça quente e fria, cujas médias observadas
foram de 48,9 e 47,7%, respectivamente.
Contudo, não houve efeito (p<0,05) da proporção de volumoso sobre o rendimento
verdadeiro da carcaça fria. O mesmo ocorreu com a maioria dos cortes comerciais (Tabela 5),
o que significa que a variação na proporção de volumoso:concentrado (30:70 e 70:30) não
influenciou significativamente a carcaça como um todo, mas, sim, o tempo que os animais
23
demoraram para atingir o peso de abate, uma vez que os animais que receberam 70% de
volumoso demoraram 112 dias a mais que os alimentados com 30% de volumoso.
Não houve interação entre proporção de volumoso e fonte de lipídios para as variáveis
apresentadas na Tabela 3. Não foram observadas diferenças significativas (p<0,05) para
comprimento de carcaça, comprimento de perna, largura de garupa, circunferência da garupa
e gordura subcutânea com o uso de fonte de lipídios e as proporções de volumoso adotadas
neste estudo, conforme se pode verificar na Tabela 3.
Observou-se para o comprimento total de perna e comprimento interno (Tabela 3) que o
grupo de animais que recebeu a dieta contendo 30% de volumoso apresentou valores
inferiores para essas medidas (p<0,05), os quais não foram influenciados pela adição de fonte
de lipídios (p<0,05). Para a largura da perna, foi observado maior valor para cordeiros
alimentados com 30% de volumoso (Tabela 3). Esses resultados fornecem indicativo de que
carcaças de cordeiros que recebem menor proporção de volumoso na dieta apresentam maior
compacidade da perna, proporcionada pelo maior aporte energético de dietas compostas de
ingredientes melhor aproveitados, principalmente no rúmen, favorecendo, assim, o maior
crescimento da massa muscular em relação ao tecido ósseo.
Tabela 3. Médias de mensurações das carcaças de ovinos Santa Inês em função da proporção
de volumoso e fonte de lipídios
Medidas Volumoso: concentrado Fonte de lipídios
30:70 70:30 Sem adão Gordura protegida Soja grão
CC (cm) 51,94 50,81 52,56 51,00 50,56
CI (cm) 62,74
b
65,94
a
64,25 63,26 65,51
PT (cm) 27,21 27,45 26,55
B
27,47
AB
27,96
A
CP (cm) 25,37 25,63 25,01 25,64 25,86
LG (cm) 20,47 21,18 20,45 21,30 20,74
CTP (cm) 40,42
b
45,03
a
41,96 42,97 43,24
LP (cm) 10,17
a
9,40
b
10,17 9,80 9,27
CG (cm) 59,67 59,73 59,75 59,22 60,12
GS (cm) 2,54 3,03 3,01 2,45 2,90
AOL Ultra-
som (mm
2
)
891
842 896 859 845
Médias seguidas de letras diferentes, maiúsculas para fonte de gordura e minúsculas para proporção de
volumoso:concentrado, diferem entre si pelo teste de t, P<(0,05).
CC = comprimento de carcaça; CI = comprimento interno; PT = profundidade do rax; CP = comprimento de
perna; LG = largura de garupa; CTP = comprimento total de perna; LP = largura de perna; CG = circunferência
da garupa; GS = gordura subcutânea; área de olho de lombo por ultrassonografia.
A área de olho de lombo (AOL), tomada após o abate diretamente no lombo,
apresentou interação significativa (p<0,05) entre a fonte de lipídios e proporção de volumoso
24
da dieta, sendo que não houve diferença significativa nas dietas sem adição de fonte lipídios,
independentemente da proporção de volumoso. Ao adicionar lipídios na dieta, verificou-se
que a gordura protegida proporcionou maior AOL (2463 mm
2
) na dieta com menor relação
volumoso:concentrado. Ao contrário, a adição de grão de soja como fonte de lipídios elevou a
AOL na dieta com 70% de volumoso.
Tabela 4. Mensuração da área de olho de lombo
1
de ovinos
Santa Inês em função da
proporção de volumoso e fonte de lipídios
Propoão volumoso:concentrado
Fonte de lipídios 30:70
70:30 dia
Sem adição
1857
A
a
1677
Ba
1767
Gordura protegida
2463
A
a
1360
B
b
1911
Soja grão integral
1820
Ab
2766
A
a
2293
dia
2046
1934 1990
1
M
edida por meio de gabarito padrão transparente quadriculado (1 cm2/célula)
Médias seguidas de letras diferentes, maiúsculas para fonte de gordura e minúsculas para proporção de
volumoso:concentrado, diferem entre si pelo teste de t, P<(0,05).
Avaliando-se o peso do pescoço dos animais que não receberam fonte de lipídios,
verificou-se que ele foi maior (p<0,05) com maior proporção de volumoso, não ocorrendo
diferenças na porcentagem desse corte (Tabela 5). Com a utilização da gordura protegida,
tanto o peso como a porcentagem do pescoço, em relação à carcaça fria, foram maiores nas
dietas com 30% de volumoso. Os resultados indicam que esse corte é marcadamente
influenciado pelo manejo nutricional, o que pode ser explicado pelo fato dele apresentar alta
proporção de gordura e por esse tecido ser facilmente afetado em função do aporte de
nutrientes.
Os resultados mostraram que o peito/fralda, também conhecido como costela/fralda, foi
influenciado (p<0,05) pela adição de fonte de lipídios na dieta, mas não pela proporção de
volumoso, sendo que o uso de gordura protegida promoveu maiores peso e porcentagem do
corte quando comparado com resultados dos animais que receberam grão de soja como fonte
de lipídios.
Para o pernil, um corte nobre, o peso foi menor nos cordeiros que receberam dietas
contendo maior teor de volumoso, enquanto a adição de fonte de lipídios não o influenciou. Já
o percentual desse corte em relação à carcaça fria apresentou interação entre fonte de lipídios
e proporção de volumoso, sendo que, nas dietas sem fonte de lipídios, o peso do pernil foi
maior com 30% de volumoso.
25
Tabela 5. Médias das porcentagens (%) e pesos (kg) de cortes comerciais de cordeiros Santa
Inês em função da proporção de volumoso e fonte de lipídios
Médias seguidas de letras diferentes, maiúsculas para fonte de gordura e minúsculas para proporção de
volumoso:concentrado, diferem entre si pelo teste de t, P<(0,05).
Proporção volumoso:concentrado
Peso Percentagem
Fonte de lipídios 30:70 70:30 Média 30:70 70:30 Média
Pescoço (Kg) Pescoço (%)
Sem adição 1,51
Ba
1,66
Aa
1,58 9,73
Aa
10,77
Aa
10,25
Gordura protegida 1,75
Aa
1,38
Bb
1,56 10,37
Aa
9,00
Ba
9,68
Soja grão integral 1,60
ABa
1,65
Aa
1,62 9,47
Ab
11,03
Aa
10,26
Média 1,62 1,56 1,59 9,86 10,27 10,06
Peito/fralda (Kg) Peito/fralda (%)
Sem adição 1,50 1,35 1,42
ab
9,68 9,45 9,20
ab
Gordura protegida 1,60 1,46 1,53
a
9,48 8,72 9,47
a
Soja grão integral 1,45 1,25 1,35
b
8,59 8,39 8,49
b
Média 1,52
A
1,35
A
1,43 9,25
A
8,85
A
9,05
Pernil (Kg) Pernil (%)
Sem adição 2,19 2,00 2,09 14,12
Aa
12,97
Aa
13,54
Gordura protegida 2,08 1,99 2,04 12,31
Bb
12,96
Aa
12,63
Soja grão integral 2,18 1,98 2,08 12,91
Bb
13,23
Aa
13,07
Média 2,15
A
1,99
B
2,07 13,11 13,05 13,08
Lombo (Kg) Lombo (%)
Sem adição 0,53 0,55 0,54 3,43 3,54 3,48
Gordura protegida 0,53 0,50 0,52 3,12 3,26 3,19
Soja grão integral 0,54 0,46 0,50 3,19 3,07 3,13
Média 0,53 0,50 0,52 3,25 3,29 3,27
Paleta (Kg) Paleta (%)
Sem adição 1,15 1,13 1,14 7,42 7,27 7,35
Gordura protegida 1,18 1,12 1,15 6,95 7,24 7,09
Soja grão integral 1,24 1,13 1,18 7,36 7,58 7,47
Média 1,19 1,12 1,16 7,24 7,36 7,30
Carré (Kg) Carré (%)
Sem adição 1,08 1,12 1,10 6,94 7,21 7,07
Gordura protegida 1,18 1,05 1,12 6,95 6,83 6,89
Soja grão integral 1,26 0,97 1,11 7,44 6,54 6,99
Média 1,17 1,05 1,11 7,11 6,86 6,98
Braço Anterior (Kg) Braço Anterior (%)
Sem adição 0,26 0,25 0,26 1,68 1,62 1,65
Gordura protegida 0,25 0,25 0,25 1,46 1,64 1,55
Soja grão integral 0,27 0,24 0,25 1,58 1,59 1,59
Média 0,26 0,25 0,25 1,58 1,62 1,60
Braço Posterior (Kg) Braço Posterior (%)
Sem adição 0,34 0,30 0,33 2,20
Aa
1,92
Ba
2,06
Gordura protegida 0,32 0,30 0,31 1,86
Ab
1,94
Aa
1,90
Soja grão integral 0,33 0,30 0,31 1,94
Ab
2,03
Aa
1,98
Média 0,33
A
0,30
B
0,31 2,00 1,96 1,98
26
Não houve variação (p<0,05) entre a relação volumoso:concentrado quando foi
utilizada fonte de lipídios, independentemente da fonte. Animais que receberam maiores
proporções de concentrado e não receberam fontes de lipídios apresentaram a proporção de
pernil superior. Os resultados são discordantes de Yamamoto et al. (2004), que avaliaram a
inclusão de fontes de lipídios (óleo de soja, canola e linhaça) em rações para cordeiros Santa
Inês puros e cruzados Santa Inês x Dorset, abatidos aos 30 kg de peso corporal, com idade
média de 150 dias, sendo que não foram observadas diferenças no rendimento da perna.
Para a paleta, carré, lombo e braço anterior, não houve influência das dietas sobre seus
pesos e proporções. Esses resultados corroboram os de Urano et al. (2006) que, avaliando o
desempenho e características da carcaça de cordeiros confinados, alimentados com grãos de
soja em níveis crescentes (0, 7, 14, 21 %), não encontraram diferença entre as dietas nos
rendimentos de cortes comerciais de cordeiros Santa Inês e os de Yamamoto et al. (2004), que
não observaram diferença no rendimento do lombo e da paleta.
4. Conclusões
O aumento na relação volumoso:concentrado pode diminuir o peso e o rendimento de
carcaças de cordeiros Santa Inês criados em confinamento, os quais não são afetados pelo uso
de gordura protegida ou grão de soja na dieta. Os cordeiros alimentados com menos volumoso
tiveram menores comprimento interno e comprimento total de perna, o que resultou em
carcaças diferenciadas.
27
Literatura Citada
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29
Artigo III
Revista Brasileira de Zootecnia
ISSN 1516-3598 (impresso)
ISSN 1806-9290 (on-line)
30
PERFIL DE ÁCIDOS GRAXOS DA CARNE DE CORDEIROS ALIMENTADOS
COM DIETAS CONTENDO DIFERENTES PROPORÇÕES DE VOLUMOSOS E
FONTES DE LIPÍDIOS
Resumo: O experimento foi realizado na Fazenda Experimental do Moura, Curvelo-MG, da
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Foram utilizados 24 cordeiros,
machos inteiros, da raça Santa Inês, recebendo dieta ad libitum com duas proporções de
volumoso (30 e 70 %), sem fonte de lipídios ou com a inclusão dela (gordura protegida
industrializada (sabão de cálcio) ou grão de soja integral moído), abatidos com peso médio de
35,4 ±1,53 kg. Foram utilizados os sculos Longissimus dorsi para extração da fração
lipídica e a determinação do perfil de ácidos graxos por cromatografia a gás. O delineamento
experimental foi inteiramente casualizado em esquema fatorial 2 x 3 (duas proporções de
volumoso:concentrado e três fontes de lipídios), com quatro repetições por tratamento. A
proporção de 70% de volumoso na dieta de cordeiros em terminação proporcionou aumento,
no músculo Longissimus, de 19,5 % na quantidade de ácidos graxos poli-insaturados
(PUFAs), com média de 6,8%, mas houve diminuição de 49,4% nos ácidos linoléicos
conjugados (CLA) - média de 0,37 nas dietas com 70% de volumoso e 0,72 nos animais que
receberam 30% de volumoso. O uso de gordura protegida, na forma de sabões de cálcio,
como fonte de lipídios na dieta, é mais eficiente que o grão de soja moído, proporcionando
maiores concentrações de PUFAs e CLA, sendo que a proporção de volumoso na dieta pode
alterar as proporções desses ácidos graxos na carne de cordeiro.
Palavras–chave: Gordura protegida, grão de soja, ovinos, PUFA
31
FATTY ACID PROFILE OF THE MEAT OF LAMB FED WITH DIETS
CONTAINING DIFFERENT ROUGHAGE AND FAT SOURCES
The experiment was conducted in a farm in Moura, Curvelo-MG, Universidade Federal dos
Vales do Jequitinhonha e Mucuri. A total of 24 lambs of Santa Inês race were used under a
diet ad libitum with two roughage (30 and 70 %), without fat source or with calcium soap or
integral crushed soy grain. They were slaughtered at about 35.4 1.5kg). To lipid fraction
and dtermination of fatty acid profile through gas chromatography, Longissimus dorsi
muscles were used. The experiment was arranged in a complete randomized design in a
factorial scheme 3 x 3 (two roughage proportions: concentrate and three fat sources), with 4
replicates each treatment. The proportion 70% roughage on finishing lambs diet provided an
increase of 19.5% on poliinsatured fatty acids (PUFAs) at 6.8% of average, but there was a
49.4% decrease on conjugated linoleic acid (CLA) on Longíssimus muscles. Using protected
fa,t under calcium soap form, as fat source on diet is more efficient than crushed soy grain. It
provides higher PUFAs and CLA concentrations, and roughage on diet can upset these fatty
acids proportions on lambs meat.
Key words: PUFA, protected fat, sheep, soy grain
32
1. Introdução
Atualmente, é cada vez mais marcante a preocupação do consumidor quanto à
qualidade nutricional dos produtos. A composição da carne, no que diz respeito aos ácidos
graxos, recebe bastante atenção nas pesquisas por causa de suas implicações à saúde humana.
A proporção dos ácidos graxos nos produtos oriundos de ruminantes ocorre de forma
complexa, principalmente porque boa parte deles é oriunda da síntese ruminal, que envolve o
processo de biohidrogenação, mediado por micro-organismos ruminais. Assim, o perfil de
ácidos graxos nos produtos dos ruminantes pode ser influenciado pela dieta a qual o animal é
submetido (SCOLLAN et al., 2001; LORENZ et al., 2002).
Nesse contexto, a determinação do perfil de ácidos graxos é importante,
particularmente para determinar o teor de ácidos graxos essenciais, saturados, poli-insaturados
e, mais recentemente, os ácidos linoléicos conjugados (CLAs). Estes últimos são um grupo
que inclui uma série de isômeros posicionais e geométricos de ácidos octadecadienóicos, que
exibem vários possíveis benefícios à saúde, que incluem: anticarcinogênese,
antiaterosclerogênese, efeito contra os radicais livres, imunomodulação, alteração da
composição e metabolismo de ácidos graxos nos tecidos influenciando o sinal de transdução e
atividade bacteriostática (BANNI, 2002; BELURY, 2002; GIVENS, 2005; NAGAO &
YANAGITA, 2005). Contudo, a maioria das pesquisas tem focalizado dois isômeros: o trans-
10, cis-12 CLA e o cis-9, trans-11 CLA, sendo que o último apresenta maior predominância
nos produtos de ruminantes.
Os produtos derivados de ruminantes são os que possuem o maior teor de ácido
linoléico conjugado, que é formado por micro-organismos ruminais durante a
biohidrogenação no rúmen, ou pela ação da
9
-dessaturase nos tecidos, a partir do ácido
vaccênico, o qual é produzido no rúmen (BAUMAN & GRINARI, 2001; CORL et al., 2001).
Sendo assim, os produtos de ruminantes são as principais fontes naturais dos CLA
(BAUMAN et al., 1999). Estudos prévios sugerem que é possível aumentar a deposição de
CLA nos produtos de ruminantes elevando-se o conteúdo de determinados ácidos graxos poli-
insaturados (PUFAs) (SHINGFIELD et al., 2006; BESSA et al., 2008; MADRUGA et al.,
2008). É possível manipulação da biohidrogenação via dieta, em decorrência do seu reflexo
na população microbiana. Porém, existem limitadas informações detalhadas sobre a eficiência
desses processos. Pesquisas demonstram que a inclusão de fonte de ácidos graxos poli-
33
insaturados na dieta aumenta o teor de CLA no músculo ovino (COOPER et al.,2004;
DEMIREL et al., 2004; SINCLAIR, 2007).
O objetivo desta pesquisa foi determinar o perfil de ácidos graxos no músculo
Longissimus dorsi de ovinos Santa Inês, submetidos a dietas com duas proporções de
volumoso e associado ou não a duas fontes de lipídios: gordura protegida (sabões de cálcio)
ou grão de soja moído.
2. Material e Métodos
A parte de campo do experimento foi realizada na Fazenda Experimental da
Universidade Federal dos Vales Jequitinhonha e Mucuri, no município de Curvelo-MG.
Foram utilizados no total 24 cordeiros da raça Santa Inês, machos não-castrados, desmamados
com 10 kg de peso vivo médio. Após desmame, permaneceram confinados em grupo,
recebendo a mesma dieta, até atingirem 15 kg de peso vivo, quando então foram destinados ao
confinamento individual, em gaiolas de 1,3 m
2
de área contendo cocho e bebedouro, sendo
aleatoriamente distribuídos a cada uma das seis dietas experimentais.
As dietas experimentais eram fornecidas uma vez ao dia ad libitum, as quais
consistiram em duas proporções de volumoso e concentrado: 70:30 e 30:70, respectivamente,
quando o volumoso adotado foi o feno de Tifton-85 (Cynodon sp), mais o concentrado sem ou
com a inclusão de fonte de lipídios, que foram o grão de soja integral moído ou a gordura
protegida da fermentação ruminal. As dietas foram formuladas para cordeiros pretendendo-se
o ganho de 300 g/dia, segundo NRC (2006), conforme demonstrado na Tabela 1.
34
Tabela 1. Composição em ingredientes das dietas experimentais com base na matéria seca
Dietas - Volumoso:concentrado (%)
30:70 70:30
Fonte de lipídios
SLA
1
GP
2
GS
3
SLA
1
GP
2
GS
3
Ingredientes(%)
Feno de Tifton
30,00 30,00 30,00 70,00 70,00 70,00
Milho moído
51,60 42,00 46,10 18,20 2,70 6,50
Farelo de soja
16,50 22,00 0,00 9,50 21,00 0,00
Gordura protegida
0,00 5,00 0,00 0,00 5,00 0,00
Grão de soja integral
0,00 0,00 22,00 0,00 0,00 22,00
Calcário
0,90 0,00 0,90 0,40 0,00 0,50
Uréia
0,00 0,00 0,00 0,80 0,00 0,00
Ácido fosfórico
0,00 0,00 0,00 0,10 0,30 0,00
Premix mineral e
vitamínico
1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00
1
Sem lipídio adicional;
2
Inclusão de Megalac-E
®
;
3
Inclusão de grão de soja integral moído
A partir do início do confinamento, os animais foram pesados semanalmente até
atingirem o peso de abate, realizado quando os cordeiros atingiram peso médio de 37,3 ± 1,53
kg. O abate ocorreu após jejum de alimentação sólida por 14 horas; posteriormente, os
animais foram eviscerados e foi tomado o peso da carcaça quente, a qual foi levada para
resfriamento em câmara fria (temperatura entre 2 e 4
o
C) por 24 horas, quando então foi
retirada e tomado o peso da carcaça fria.
As análises de laboratório para determinação do perfil de ácidos graxos foram
realizadas no Laboratório de Nutrição e Crescimento Animal, na Escola Superior de
Agricultura Luiz de Queiróz (Universidade de São Paulo), em Piracicaba-SP.
Para determinação do perfil dos ácidos graxos, utilizou-se o músculo Longissimus
dorsi, extraído durante o processo de dissecação do lombo após descongelamento. Desse
músculo procedeu-se a extração da fração lipídica de acordo com metodologia descrita por
Hara & Radim (1978) e, em seguida, de metilação, segundo Christie (1982). As amostras
transmetiladas foram analisadas em cromatógrafo a gás modelo Focus GC- Finnigan, com
detector de ionização de chama, coluna capilar CP-Sil 88 (Varian), com 100 m de
comprimento por 0,25 µm de diâmetro interno e 0,20µm de espessura do filme. Foi utilizado
o hidrogênio como gás de arraste, numa vazão de 1,8mL/min. A temperatura do vaporizador
foi de 250 ºC e a do detector de 300 ºC. Uma alíquota de 1 µL do extrato esterificado foi
injetada no cromatógrafo e a identificação dos ácidos graxos feita pela comparação dos
tempos de retenção dos ésteres metílicos das amostras com o padrão CRM 164. As
35
percentagens dos ácidos graxos foram obtidas por meio do software Chromquest 4.1
(Thermo Electron, Italy).
Os dados foram analisados no programa SAS (SAS, 2002) pelo procedimento PROC
GLM. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, em esquema fatorial 2 x 3
(duas proporções de volumoso:concentrado e três fontes de lipídios), com quatro repetições
em cada tratamento. As médias foram comparadas pelo Teste t de Student a 5 % de
significância.
3. Resultados e Discussão
A média do perfil de ácidos graxos encontrada no lombo de cordeiros Santa Inês,
submetidos a dietas com diferentes proporções de volumosos e fontes de lipídios, está
apresentada nas Tabelas 2, 3 e 4, quando se observa que houve interação significativa entre
proporção de volumoso e fonte de lipídios para os seguintes ácidos graxos: C17:0; C17:1;
C18:2 cis 9 cis 12; C18:2 cis 9 trans 11; C18:3
ω
-3; Σ C18:3; os PUFAs (ácidos graxos poli-
insaturados) serão discutidos posteriormente, com as médias desdobradas em função da
variação de cada fator, desconsiderando as diferenças nas médias gerais para proporção de
volumoso ou fonte de lipídios.
É observado que a variação da proporção de volumoso na dieta teve efeito
significativo sobre os seguintes ácidos graxos: C15:0; C18:0; AG saturados (somatória dos
ácidos graxos saturados) (Tabela 2); C12:1; C18:1cis 9; Σ C18:1 (Tabela 3); Σ C18:2 e C22:2
(Tabela 4). A fonte de lipídios teve efeito significativo sobre os seguintes ácidos graxos:
C18:1 trans 6-9; C18:1cis 9(Tabela 3); Σ C18:2; C22:2; e C18:3
ω
-6(Tabela 4). A influência
da proporção de volumoso e da fonte de lipídios descritos acima não considera os ácidos
graxos quando a interação entre os dois fatores foi significativa.
36
Tabela 2. Médias, probabilidades de F e coeficientes de variação do perfil de ácidos graxos
saturados (%) do lombo de cordeiros
Ácidos graxos
Média (%) Volumoso Fonte de Lipídios V x FG CV(%)
C10:0 0,15 0,725 0,278 0,615 37,76
C12:0 0,10 0,196 0,266 0,193 19,023
C14:0 2,04 0,293 0,282 0,560 14,60
C15:0 0,83 <,001 0,227 0,539 19,88
C16:0 22,64 0,150 0,123 0,173 6,53
C17:0 1,38 0,074 <,001 0,015 11,13
C18:0 19,68 0,032 0,389 0,191 17,64
AG saturados 47,98 <,001 0,998 0,410 7,06
AG= ácidos graxos
Tabela 3. Médias, probabilidades de F e coeficientes de variação do perfil de ácidos graxos
monoinsaturados (%) do lombo de cordeiros
Ácidos graxos Média (%)
Volumoso Fonte de Lipídios V x FG CV(%)
C12:1 0,02 0,035 0,434 0,751 33,95
C14:1 cis9 0,08 0,173 0,219 0,133 27,82
C16:1 cis9 1,99 0,107 0,104 0,263 21,90
C17:1 0,55 0,638 <,001 0,021 21,20
C18:1 trans6-9 0,18 0,481 <,001 0,763 69,54
C18:1cis9 37,09 <,001 <,001 0,438 8,452
C18:1 cis11 0,94 0,014 <,001 0,020 34,55
Σ
C18:1
41,27 <,001 0,099 0,242
6,47
C22:1 0,98 0,647 0,911 0,975 31,51
C24:1 0,02 0,556 0,481 0,698 73,70
Tabela 4. Médias, probabilidades de F e coeficientes de variação do perfil de ácidos graxos
poli-insaturados (%) do lombo de cordeiros
Ácidos graxos Média (%) Volumoso Fonte de Lipídios V x FG CV(%)
C18:2 cis9 cis12 5,15 <,001 <,001 0,034 12,44
C18:2 cis9 trans11 0,55 <,001 <,001 <,001 9,28
Σ
C18:2
5,75 0,048 <,001 0,346 10,86
C18:3
ω
-6
0,10 0,102 0,211 0,423 29,27
C18:3
ω
-3
0,25 <,001 <,001 <,001 29,76
Σ
C18:3
0,35 <,001 <,001 0,036 29,35
C20:5 0,06 0,574 0,064 0,220 42,57
C22:2 0,01 0,047 0,046 0,653 31,52
PUFAs 6,17 0,028 <,001 0,092 20,99
PUFA=ácidos graxos poli-insaturados.
37
Conforme a Tabela 2, observa-se que os teores de ácido palmítico (C16:0) e mirístico
(C14:0) não sofreram influência nem da proporção de volumoso adotada, nem da fonte de
lipídios. Esses ácidos graxos não raramente são associados a doenças cardíacas e a neoplasias
(ARO, 1998; SIMOPOULOS, 2001). Por outro lado, Demirel et al. (2006), testando
diferentes dietas (variando a proporção volumoso:concentrado de 25:75 e 75:25), com as
raças Kivircik e Sakiz, reportaram que esses ácidos graxos variam segundo as dietas, mas
também influência de raças, o que pode explicar essa divergência de resultados, que no
presente trabalho foi utilizada a raça Santa Inês, sobre a qual ainda poucos trabalhos a
respeito do perfil de ácidos graxos na carne. Madruga et al. (2005) encontraram média de
23,53% para o ácido palmítico na carne de cordeiros da raça Santa Inês, valor próximo ao
encontrado no presente trabalho (22,64%).
Os ácidos graxos C12:1; C15:0; C18:0; C18:1 cis 9; C22:2; Saturados; C18:1 e
C18:2 foram influenciados pela proporção de volumoso na dieta (Tabela 5), sendo que o
total de ácidos graxos saturados, dentre eles o C15:0 e o C18:0, foi maior com maior
proporção de volumoso, o mesmo ocorrendo para a soma dos ácidos graxos C18:2. Já na
soma de C18:1, C22:2 e o C18:1 cis 9, ocorreram diminuições com o aumento de volumoso.
Tabela 5. Perfil de ácidos graxos (%) do lombo de cordeiros em função da proporção de
volumoso
Proporção volumoso:concentrado
Ácido graxo 30:70 70:30
C 12:1 0,02
b
0,02
a
C 15:0 0,65
b
1,02
a
C 18:0 18,04
b
21,32
a
C 18:1 cis 9 39,32
a
34,84
b
C 22:2 0,014
a
0,009
b
Σ
Ác. Graxos Saturados
45,42
b
50,54
a
Σ
C 18:1
44,00
a
38,55
b
Σ
C 18:2
5,19
b
6,31
a
Médias seguidas de letras diferentes, nas linhas, comparando proporções de volumoso, diferem entre si pelo
Teste de t (P<0,05).
As proporções de ácido esteárico (C18:0) não foram influenciadas pelas fontes de
lipídios distintas, mas, sim, pela proporção de volumoso da dieta (P<0,05), conforme dados
apresentados na Tabela 5. Observou-se que o aumento do volumoso na dieta provoca um
aumento no teor de ácido esteárico no músculo Longissimus de cordeiros, o que
provavelmente ocorre porque dietas com altas proporções de concentrados normalmente
ocasionam um aumento na taxa de passagem e, consequentemente, diminuição na
38
biohidrogenação ruminal que tem, entre os principais produtos finais, esse ácido graxo
(PETROVA et al.,1994). Outra possível explicação é que um pH ruminal mais baixo,
proporcionado por uma dieta mais concentrada, diminui a população de bactérias
responsáveis pela formação de ácido esteárico (GRIINARI & BAUMAN, 1999).
Para o somatório dos ácidos graxos C18:1 (Tabela 5), a maior proporção de volumoso
teve influência em sua concentração, o que provocou aumento de sua concentração no
músculo dos ovinos.
Dentre os ácidos graxos C18:1, o de maior expressividade foi o oléico (C18:1 cis 9),
com 37,08%, que, por sua vez, teve sua concentração controlada pela relação
volumoso:concentrado (p<0,01) e pela inclusão de fonte de lipídios (p<0,01), com percentuais
médios apresentados nas Tabelas 5 e 6, respectivamente. Os valores médios encontrados para
o C18:1 cis 9 estão de acordo com Madruga et al. (2008) e Demirel et al. (2006). De acordo
com a Tabela 5, dietas com alto concentrado proporcionam maior deposição desse ácido
graxo (39,32%) quando comparadas com dietas com alto teor de volumoso (34,85%). Esses
resultados corroboram os de Bas & Morand-Fehr (2000), que concluíram que dietas com altas
proporções de concentrado proporcionam maiores valores para o acido oléico. A inclusão de
lipídios protegidos da fermentação ruminal ocasionou diminuição na concentração do ácido
oléico, se comparada ao grupo controle e ao resultado dos que receberam grão de soja integral
como fonte de lipídios (Tabela 6).
Tabela 6. Perfil de ácidos graxos (%) do lombo de cordeiros em função da fonte de lipídios na
dieta de cordeiros confinados Santa Inês
Fonte de lipídios
Ácido graxo Controle Gordura Protegida Grão de soja
C18:1 trans 6-9 0,12
B
0,36
A
0,07
B
C 18:1 cis 9 39,22
A
33,38
B
38,67
A
C 18:3
ω
6
0,07
B
0,10
AB
0,13
A
C 22:2 0,01
AB
0,015
A
0,008
B
Σ
C 18:2 4,25
B
7,86
A
5,14
B
Médias seguidas de letras diferentes, nas linhas, comparando fontes de lipídios, diferem entre si pelo Teste de t
(P<0,05).
Os ácidos graxos C18:1 trans 6-9 e o C18:3
ω
6 (Tabela 6) apresentaram maiores
proporções nas dietas com gordura protegida e grão de soja integral, respectivamente,
comparados à dieta controle, uma vez que essas dietas apresentaram maior teor desses ácidos
graxos.
39
Os teores de ácido heptadecanóico (C17:0) estão condicionados às fontes de lipídios
(p<0,05), proporção de volumosos (p<0,05). Contudo, a interação não foi significativa, com
média de 1,38 %, valor superior ao encontrado por Bessa et al. (2008), que encontraram
média de 0,8 % na carne de cordeiros Merinos, suplementados com níveis de óleo de soja.
Nas dietas com menor proporção de volumoso, o uso ou não de fonte de lipídios não alterou o
percentual de C17:0. Entretanto, com o aumento para 70% de volumoso, sem uso de fonte de
lipídios, foram observadas maiores proporções de C17:0, comparadas às dietas com fonte de
lipídios. Os ácidos graxos de cadeia ímpar, como o C17:0, são sintetizados pelas bactérias
com a utilização de propionato e valerato e estão presentes nos lipídios microbianos
(MANSBRIDGE & BLAKE, 1997). Sendo assim, o conteúdo desse ácido graxo é dependente
do crescimento microbiano. Provavelmente, a dieta com 70% de feno de Tifton, sem adição
de lipídios, contendo mais carboidratos estruturais, pode ter proporcionado um crescimento
maior de micro-organismos específicos, que utilizam propionato e ou valerato, sintetizando
mais o C17:0.
A média da concentração de ácido linoléico (C18:2 cis 9 cis12) na carne de ovinos
encontrada neste trabalho foi de 5,15% (Tabela 7), resultado inferior ao reportado por
Madruga et al. (2008), com média de 11,18 %, e Dannenberger et al. (2004), com média de
17,23%. Esse ácido graxo se mostrou controlado (P<0,05) tanto pela proporção de volumoso
quanto pela fonte de lipídios e também pela interação dos dois fatores (Tabela 5),
possivelmente porque as diferentes fontes de lipídios proporcionam aportes diferentes desse
ácido graxo, com destaque para o uso de gordura protegida e alto volumoso (6,75%), uma vez
que boa parte dessa fonte de lipídios passa intacta pelo rúmen, não sofrendo modificação em
seu perfil, e é absorvida no trato posterior.
Quanto aos CLA (ácidos linoléicos conjugados), somente foi detectada a presença do
isômero C18:2 cis-9,trans-11 (ácido rumênico), com média de 0,55%, resultado inferior aos
encontrados em pesquisas prévias (DANNENBERGER et al., 2004 e BESSA et al., 2008).
Esse fato pode ser explicado pelo tempo de estocagem dos lombos utilizados neste ensaio, que
superou um ano, considerando que são ácidos graxos mais susceptíveis à rancificação, uma
vez que as insaturações diminuem sua estabilidade. Porém, são necessários mais estudos a fim
de elucidar o real efeito das condições de estocagem no teor de PUFA (poli-insaturados) e
CLA de produtos cárneos.
Observou-se neste experimento (Tabela 7) que o CLA C18:2 cis-9,trans-11 sofreu
influência da quantidade de volumoso (P<0,01), da fonte de lipídios (P<0,01) e da interação
40
entre esses fatores (P<0,01). Dietas com maior proporção de C18:2 cis-9,trans-11 volumoso
proporcionaram menores deposições de CLA no músculo de cordeiros (0,72% vs 0,37%). A
inclusão de gordura protegida proporcionou maior deposição desse CLA, sendo que na dieta
com 70% de concentrado e inclusão de sais de cálcio como fonte de gordura protegida, a
concentração de cis-9, trans-11 CLA foi de 1,38%, o que representa mais de 300% de
aumento, se comparado à dieta controle. Geralmente, dietas com alto concentrado
proporcionam baixo teor de ácido rumênico nos tecidos, o que não ocorreu no presente
estudo. Contudo, vários autores (BAEULIEU et al., 2002; BESSA et al., 2005; ENGLE et al.,
2000) demonstraram que isso pode ser contornado, e nesse caso até superado, pela inclusão de
fontes de PUFA. Segundo Palmquist et al. (2004), cerca de 87% do ácido rumênico presente
nos tecidos resulta da dessaturação endógena pela estearoil-CoA dessaturase. A alimentação
dos animais com dietas ricas em amido proporciona aumento da insulina plasmática e,
consequentemente, da lipogênese e da atividade da
9
-dessaturase (SINCLAIR, 2007), o que
leva a inferir que houve dissociação ruminal dessa fonte de lipídios, o que possibilitou o
aporte de C18:1 trans-11, intermediário no processo de biohidrogenação no rúmen, o qual
pode ter tido sua absorção aumentada no intestino, estimulando, assim, a produção de ácido
rumênico nos tecidos, a partir da ação da
9
-dessaturase.
O ácido linolênico sofreu flutuações (P<0,05) motivadas pelo volumoso, pela fonte de
lipídios e também pela interação entre esses fatores (Tabela 7), com média de 0,25%.
Resultados similares foram reportados por Dannenberger et al. (2004), contudo foram
inferiores aos apresentados por Bessa et al. (2008), Scollan et al. (2001), Demirel et al.
(2006). As dietas com alto volumoso promoveram uma maior concentração de ácido
linolênico na carne de ovinos, provavelmente por desfavorecerem a biohidrogenação desse
ácido graxo no rúmen. Estudos como o conduzido por Enser et al. (1998) e Velasco et al.
(2004) têm indicado que os níveis de C18:3 n-3 são superiores na carne de cordeiros
alimentados com dietas ricas em volumoso, como neste estudo. Avaliando-se a fonte de
lipídios, o músculo de animais alimentados com gordura protegida obteve maior teor de ácido
linolênico, uma vez que essa fonte de lipídios apresenta grande teor desse ácido graxo, sendo
a maior parte protegida da biohidrogenação.
41
Tabela 7. Perfil de ácidos graxos (%) do lombo de cordeiros em função da interação
significativa entre a proporção de volumoso e fontes de lipídios presentes nas dietas
experimentais
Proporção volumoso:concentrado
Fonte de lipídios 30:70 70:30 Média
C18:2 cis 9 cis 12
Controle 3,85
Ab
3,99
Bb
3,92
Gordura protegida 5,11
Ab
8,40
Aa
6,76
Soja grão integral 4,29
Ab
5,26
Bb
4,78
Média 4,42
5,89
C18:3
ω
3
Controle 0,16
Ab
0,24
Bb
0,20
Gordura protegida 0,20
Ab
0,53
Aa
0,37
Soja grão integral 0,19
Ab
0,19
Bb
0,19
Média 0,18
0,32
C18:2 cis 9 trans 11
Controle 0,40
Bb
0,20
Bb
0,30
Gordura protegida 1,38
Aa
0,61
Ab
0,99
Soja grão integral 0,39
Bb
0,30
Bb
0,34
Média 0,72
0,37
PUFA
Controle 4,61
Bb
4,58
Bb
4,59
Gordura protegida 6,92
Ab
9,85
Aa
8,38
Soja grão integral 5,10
ABb
5,98
Bb
5,54
Média
5,54
6,80
Σ
C18:3
Controle 0,25
Ab
0,29
Bb
0,27
Gordura protegida 0,29
Ab
0,65
Aa
0,47
Soja grão integral 0,30
Ab
0,33
Bb
0,32
Média
0,28
0,42
Médias seguidas de letras diferentes, minúsculas nas linhas, comparando proporções de volumoso, e maiúsculas
nas colunas, comparando fontes de lipídios, diferem entre si pelo Teste de t P<(0,05).
4. Conclusões
Maior quantidade de volumoso na dieta de cordeiros em terminação proporciona
aumento na quantidade de ácidos graxos poli-insaturados, mas diminuição de ácido linoléico
conjugado (CLA) no músculo.
O uso de gordura protegida como fonte de lipídios é efetiva, provocando acréscimo
nas concentrações de PUFAs e CLA, demonstrando haver dissociação ruminal expressiva
desse tipo de fonte lipídica.
42
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46
CONCLUSÃO
Dietas contendo maior proporção de concentrado proporcionam um maior desempenho
dos animais, no que diz respeito à eficiência e conversão alimentar, ganho de peso e tempo no
confinamento. As diferentes fontes de lipídios não influenciam no ganho de peso nem na
conversão alimentar de cordeiros em confinamento. O uso de grão de soja na concentração
avaliada de 22% pode apresentar um problema para o ganho de peso dos animais,
principalmente se associado a uma dieta contendo alto teor de volumoso.
O aumento na relação volumoso:concentrado pode diminuir o rendimento e o peso de
carcaça dos cordeiros Santa Inês criados em confinamento, os quais não são afetados pelo uso
de gordura protegida ou grão de soja integral como fonte de lipídios. A perna, corte nobre, foi
influenciada pela composição da dieta, sendo que a melhor proporção é obtida sem uso de
fonte de lipídios, com menor proporção de volumoso.
Além disso, a maior quantidade de volumoso na dieta de cordeiros em terminação
proporciona aumento na quantidade de ácidos graxos poli-insaturados (PUFAs), mas
diminuição de ácido linoléico conjugado (CLA) no lombo, quando na dieta fibrosa é usada
fonte de lipídios degradáveis no rúmen. O uso de gordura protegida como fonte de lipídios é
mais eficiente que o grão de soja, proporcionando maiores concentrações de PUFAs e CLA.
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