evangélico [...] O J., um outro adolescente, vai tá com doze anos, aí ele pegou
esse J., foi , chegou lá e contou pra minha mãe, aí tia Lola, os moleques tão
falando que fez isso, isso e isso com uma menina, minha mãe disse que já
gelou, que sentiu que era parente, aí minha mãe falou assim, vai lá eles
convidando ele, vai lá e fala que você quer participar.
Todos os adolescentes envolvidos eram primos, por parte da família paterna,
praticando os abusos na residência da avó paterna, situação descoberta pela avó
materna, a qual contou para Ingrid e Armando. Sua reação foi de negar a situação,
até que um dos sobrinhos acabou confessando o abuso.
A mãe disse ter tentado dialogar com a criança, mas, no princípio, esta
negou:
Ela, “Não, mãe, não é verdade”, aí eu fui e falei, “Ai, mãe, é mentira isso”, eu
também não acreditei, né? [...]
Ela falou: “Não, mãe!” Ai, filha, você tem certeza, ela falou não, eu fiquei
insistindo, então tá bom, “Vamo” fazer o seguinte então, se não aconteceu
mesmo, eu vou levar você no médico amanhã, se o médico fala que aí foi
mexido você vai apanhar, porque você não confiou na mãe, aí ela ficou “anssim”,
mexendo com as mãozinhas, com os pézinhos: “Mãe, mas se eu falar, você vai
deixar o pai me bater?”, eu já fiquei gelando, né, não, você tem que confiar na
mãe, você tem que falar, “mãe, mas o pai vai me bater”, eu falei, o pai não vai te
bater, aí ela pegou e falou quem tinha sido, aí ela contou.
Observei que Lúcia, além das situações de abusos e ameaças extremamente
graves a que foi submetida, conservou o segredo por receio de apanhar, não
conseguindo encontrar nos pais pessoas de confiança, que pudessem compreendê-
la e acolhê-la. Para conseguir que a filha confessasse o abuso, a mãe realizou
novas ameaças à criança.
Ela falou “anssim”, ai, é... o que ela falou? [silêncio] G. e o M. segurou ela e o I.
foi o primeiro, o G. tampou a boca dela, aí ela foi falando um por um.[...]
Dois segurava e um tampava a boca e o outro, aí quando o outro. Ela disse que
doía, doeu “tudinho”, aí só que aí os exames acusou que foi negativo, né, que
não aconteceu nada, né.
Pelo exame de perícia não ter sido positivo, mãe demonstra uma atitude de
minimizar a situação de abuso da filha e a violência sofrida, de sorte que os
sentimentos vivenciados pela criança passam a ser secundários.
Sobre a reação dos pais, o pai revela: “Ah, terrível, né, minha vontade era de
moer todos eles (sic)”, enquanto a mãe afirma: ”Nóis” nem acreditou na minha mãe”
(sic).