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Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes
Programa de Pós Graduação em Psicologia
ÁLCOOL E SOCIABILIDADE: A FARRA DAS ADOLESCENTES
Débora Karla Sampaio Alves Custódio
Natal
2009
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ii
Débora Karla Sampaio Alves Custódio
ÁLCOOL E SOCIABILIDADE: A FARRA DAS ADOLESCENTES
Projeto elaborado sob orientação do Prof. Dr.
Herculano Ricardo Campos e apresentado ao
Programa de Pós Graduação em Psicologia da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
como requisito parcial à obtenção do título de
Mestre em Psicologia.
Natal
2009
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Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes
Programa de Pós Graduação em Psicologia
A dissertação “ÁLCOOL E SOCIABILIDADE: A FARRA DAS ADOLESCENTES,
elaborada por Débora Karla Sampaio Alves Custódio, foi considerada aprovada por
todos os membros da banca examinadora e aceita pelo Programa de s-Graduação em
Psicologia, como requisito parcial à obtenção do título de MESTRE EM PSICOLOGIA.
Natal (RN), 25 de junho de 2009.
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr.Herculano Ricardo Campos (Orientador) ________________________
Profª Drª Margarita Antônia Villar Luis (USP) ___________________________
Prof. Dr.João Dantas Pereira (UFRN) ___________________________
iv
Às pessoas mais importantes da minha vida:
Meu marido (Claudinho), minha mãe (Ana Tânia), meus
pais (Francisco Antônio e Evaldo Lustosa), meu irmão
(Diego) e minha irmã (Dalyana).
v
Agradecimentos
A Deus, obrigada por todas as graças alcançadas, por todas as bênçãos e
oportunidades vivenciadas dia após dia de uma vida de muita alegria e de muitas
vitórias.
Ao meu companheiro de todas as horas Claudinho, por aturar os estresses, as
irritações e por pacientemente ouvir a leitura de trechos e mais trechos desse material,
sempre me estimulando e carinhosamente perguntando se podia me ajudar de alguma
forma. Pelas demonstrações de amor constantes, pelos “eu te amo” ditos diariamente e
pelo orgulho expresso no brilho de seu olhar em cada conquista.
À primeira fonte de amor, minha mãe, que desde pequena me mostra com o seu
exemplo, a importância e o prazer do estudo; a minha irmã Dalyana que sucessivamente
me socorria quando precisava de algum material que estava em outro computador, ou
quando precisava imprimir algo, a meu irmão Diego pelo seu exemplo de determinação
e disciplina para o estudo, a Painho por mostrar que a vida deve ser vivida, a nior
pelos cuidadosos almoços de sábado que me nutriam de muito afeto e amor e a Tina por
toda a demonstração de carinho.
À minha segunda falia: Dona Cláudia, seu Custódio, Candice, Roberto, Jads,
Kátia, Jesd, Jolia, Gabriel, Daniel, Jéssica, tia Ceição, tia Neidinha, tia Malú e todos
os outros primos e tios que eu ganhei após meu casamento.
Aos meus avós Maria José e Manoel Sampaio por me fazerem perceber que a
velhice pode ser vivida de uma forma muito feliz.
Aos meu tios Dudu e Naira, por estarem sempre acompanhando os meus passos e
me apoiando em todos os momentos importantes de minha vida, bem como por serem
para mim constante fonte de inspiração.
vi
Ao Professor Dr. Herculano Ricardo Campos, por através de suas aulas me
despertar a paixão pela Psicologia Escolar/ Educacional na graduação e por ensinar que
a pesquisa também pode fazer parte da prática profissional.
Ao professor Dr. João Dantas, por fazer parte dos meus dois seminários de
dissertação, contribuindo sempre de forma ímpar para o andamento desse trabalho e
pela sua forma sempre delicada, cuidadosa e “indolor” nos momentos de críticas e
correções.
A professora Margarita Villar pela honra de tê-la como membro de minha banca
avaliadora.B
As alunas queridas que me inspiraram e me instigaram a compreender a
problemática do consumo de álcool por elas vivenciadas. Por toda a confiança
demonstrada ao longo dos anos de vivência na escola.
Aos diretores, coordenadores, psicólogos das escolas estudadas e especialmente as
alunas participantes do estudo, por toda a disponibilidade e engajamento. Em especial
destaco as psicólogas Narjara Macedo e Mônica e os coordenadores Célio, Raphael e
Elizabeth.
Aos professores da PPgPsi/ UFRN, solícitos e pacientes, que tanto me ensinaram.
À Cilene, secretária do PPgPsi, que sempre “quebrava os meus galhos” e
sucessivamente me recebia com um sorrisão no rosto, e a Larissa que acompanhou o
finalzinho do percurso.
Aos amigos do mestrado, Sâmia, Daniela, Pablo, Mariana, Avrairan, Alyson,
Remerson, Hugo, Vanessa e Danilo, pelo companheirismo diário nas aulas, pelas
inúmeras trocas de favores e por terem feito desses dois anos de trabalho, momentos
menos árduos e mais gratificantes. Em especial a Sâmia, pelos inúmeros telefonemas de
vii
esclarecimentos de dúvidas, orientações, desabafos e pela acolhida aconchegante em
Belém.
Aos meus queridos amigos de todas as horas, Rayanne, Cibele, Anna Rafaella,
Maíra Fanha, Maíra Trajano, Aninha, Herbert, Nara, Karin, Hingrid, Andreína, Celine,
Karina, Lú Matias, Isabele, Sandrinha
As amigas biossintéticas (Sheila, Janine, Katiuce, Mirinha, Ana Patrícia, Kátia,
Cíntia, Luiza, Vanessa, Carol e Márcia pelos intensos cinco anos de muito holdding e
grounding).
A diretora Maria Célia de Andrade por ter oportunizado a minha primeira
experiência profissional, nessa área que tanto me encanta e me realiza que é a
Psicologia Escolar.
Aos colegas de trabalho da FACEX-Faculdade de Ciências, Cultura e Extensão do
Rio Grande do Norte, em espacial a coordenadora Ana Regina e aos alunos queridos
que acompanharam e apoiaram toda a elaboração desse material.
Por último e não menos importante, ao anjo chamado Soraya, por todo carinho e
cuidado dedicados à correção desse trabalho e aos inúmeros pedidos de socorro
prontamente respondidos independente do horário da ligação e do local onde ela se
encontrava.
viii
Sumário
Lista de figuras ..............................................................................................x
Lista de tabelas ..............................................................................................xi
Resumo ..........................................................................................................xiii
Abstract .........................................................................................................xiv
Introdução ......................................................................................................15
Capítulo 1- Adolescência: uma construção histórica .................................19
Capítulo 2- Drogas na adolescência: um tropeço no meio do caminho.....28
2.1. O álcool :qual o problema de tomar umas?.........................................41
Capítulo 3- As adolescentes: álcool e gênero.................................................49
Capítulo 4- Sociabilidade adolescente............................................................61
Capítulo 5- Legislação, Políticas Públicas e Intervenção no Contexto
Escolar......................................................................................................................73
Capítulo 6 - A pesquisa.....................................................................................90
Considerões finais.........................................................................................122
Referências bibliográficas ...............................................................................128
Apêndices ..........................................................................................................136
Apêndice A: Roteiro de entrevista piloto ........................................ 136
Apêndice B: Ofício encaminhado às escolas.....................................139
Apêndice C: termo de consentimento livre e esclarecido ................140
Apêndice D:Roteiro do questionário.................................................141
ix
Lista de figuras
Figura Página
1. Distribuição das pessoas ocupadas de 10 ou mais, por classes de rendimento no
trabalho principal - 2005-2007 ........................................................................96
2. Estágio de Intoxicação alcoólica.....................................................................106
3. Riscos gerados pela ingestão de bebidas alcoólicas em homens e mulheres..110
x
Lista de tabelas
Tabela Página
1 Idade das entrevistadas ....................................................................................95
2 Renda familiar.....................................................................................................96
3 Atividades desenvolvidas....................................................................................97
4 Com quem moram ..............................................................................................98
5 Local que experimentaram bebidas alcoólicas pela primeira vez.....................100
6 Com quem estavam quando experimentou bebida alcoólica pela primeira
vez................................................................................................................100
7 Idade que tinham quando experimentou bebida alcoólica pela primeira
vez................................................................................................................102
8 Tipo de bebida alcoólica que as entrevistadas experimentaram........................104
9 O que sentiu quando experimentou bebida alcoólica pela primeira vez...........105
10 Principal razão que levou as entrevistadas a consumirem bebida alcoólicas ...107
11 Com que freqüência você bebe atualmente?.....................................................110
12 Qual a bebida que você mais consome?...........................................................111
13 Qual a quantidade que vobebe normalmente ?.............................................112
14 O que leva você a beber?...................................................................................114
15 Você bebe quando está sozinha?.......................................................................114
16 Em que ocasiões você bebe normalmente?......................................................115
17 O que acha de festas sem bebidas?...................................................................115
18 Você já tomou algum porte?.............................................................................116
19 Se já tomou porre, qual foi o motivo?...............................................................116
xi
20 O que seus amigos dizem quando você bebe?.............................................118
21 influencia dos amigos para vo beber?.................................................118
22 Qual o comportamento das suas amigas que mais se destaca quando estão
bebendo?.................................................................................................119
23 O que vo acha das meninas que bebem?...................................................119
24 O que as pessoas falam das meninas que bebem?.........................................120
25 Você considera o álcool uma droga?.............................................................121
26 Tem medo de se viciar?.................................................................................122
xii
Resumo
A experiência como psicóloga escolar permitiu perceber que expressões do tipo "fiquei
um lixo no churrasco da turma", "fizemos uma resenha interna só de meninas e ficamos
todas embriagadas", se fazem presentes de um modo constante nas conversas das
estudantes do Ensino Fundamental e do Médio, sinalizando uma preocupante incidência
do consumo do álcool em adolescentes do sexo feminino. Contudo, os estudos sobre o
tema ainda não se detiveram na realidade agora vivenciada pelas meninas. O presente
estudo teve como objetivo compreender aspectos da relação entre meninas e álcool,
partindo do pressuposto de que o consumo exacerbado é expressão de rituais de
iniciação em grupos, facilitador das relações sociais, fator de sociabilidade. Apoiou-se
na aplicação de questionário em 1028 adolescentes do sexo feminino, com idade entre
12 e 18 anos, estudantes de escolas privadas de Natal, capital do estado do Rio Grande
do Norte. Indicou que o primeiro contato com a bebida alcoólica tem se dado em
ambientes domésticos, em companhia de pais e amigos, de forma bastante precoce, por
volta dos 10 anos de idade, por curiosidade. Em relação ao consumo atual, a bebida
mais consumida é a ice; o principal motivo que as levam a beber é “para passar o
tempo”; a principal ocasião são as festas e elas não bebem sozinhas (93% do universo
pesquisado), configurando o caráter socializador e recreativo do álcool. Consideram o
álcool uma droga, mas não demonstram medo de se viciar.Os comportamentos que mais
destacam nas amigas que bebem estão relacionados a desinibição, do tipo ficam mais
alegres” (40,3%) e perdem a timidez (29,4%), e atitudes de caráter moral, como “ficam
com qualquer menino” (18,5%), ficam tontas (9,9%), ou ficam tristes (1,9%). Acham
vulgar as meninas beberem, dependendo da quantidade, e recebem estímulo dos amigos
para que bebam. O estudo aponta para a necessidade de intervenções sistemáticas da
psicologia escolar, que auxiliem na prevenção e erradicação do problema, ao mesmo
tempo que representa uma interrogação na formação deste profissional.
Palavras-chave: Adolescente do sexo femininoConsumo de álcool – Sociabilidade -
Psicologia Escolar
xiii
Abstract
The experience as a school psychologist allowed me to notice that expressions like “I was
like trash in the gangs barbecue”, and “we chatted away, only the girls, and we all got
drunk”, are very common in conversations between Elementary and High School students,
pointing out to a concerning incidence of alcohol consumption among female adolescents.
However, studies about this theme haven’t gone deep in the nowadays reality these girls are
living in. This study aimed at comprehending the aspects of the relation between girls and
alcohol, starting from the point that exaggerated consumption indicates introductory rituals
for some groups, making social relations easier and becoming a sociability factor. To give
this study some support, a questionnaire was applied to 1028 female teenagers, between 12
and 18 years old, students in private schools in Natal, capital of Rio Grande do Norte. The
context chosen for the development of the study - private schools -, arose from the notion
that the majority of the data collection carried out about alcohol and other psychotropic
drugs aim at public school students. The instrument used was divided in two parts, one that
treated about the first contact with alcohol (experimentation), and other that points to the
current relation with alcoholic beverages, with 27 closed questions but nevertheless with
available space for manifestation like if other; which?, applied collectively in classrooms.
The data received a statistic treatment from SPSS and showed that the first contact with
alcoholic beverage happens in domestic environment, having parents and friends as
companions, very precociously, around 10 years of age, as curiosity. At this moment, Ice
drink is the most consumed beverage. The main reason that leads them to drink is to “pass
the time” in parties, and they don’t drink alone (93% of students researched), what gives
alcohol this recreational and socializing characteristic. They do consider alcohol a kind of
drug, but are not afraid of getting addicted. People that drink usually show to be
extroverted, they get happier” (40,3%) and are not shy at all (29,4%), have attitudes of
moral character, like “to get involved with unknown boys” (18,5%), get numb (9,9%), or get
sad (1,9%). They label as vulgar the girls that drink, depending on the amount, and to be
stimulated by the boys to drink. The study shows that systematic interventions of the school
are necessary, once it is an institution that should care about education and personality traits
of children and adolescents, as well as the important role of the psychologist in this context.
Besides, it claims the society to get effectively involved with the public policies that already
exist.
Key words: Female adolescent alcohol consumption sociability school psychology
14
Introdução
A adolesncia tem sido foco da atenção e preocupação de boa parte da
sociedade e de muitos pesquisadores, creditando-se ao psiquiatra Stanley Hall a
primeira tentativa de descrevê-la e delimitá-la de modo sistematizado. De acordo com
Paladino (2005), ao designá-la enquanto uma fase de tempestade e tormenta, Hall fez
ressaltar os aspectos generalizador e rotulador da sua análise. Outros profissionais a
entendem como uma etapa da vida criada historicamente pelos homens, enquanto fato
social e psicológico e enquanto representação, de modo que se observam diferentes
significações dela na cultura e na linguagem, no contexto das relações sociais, bem
como experiências culturais em que o é referida, como atestam os estudos de
Margaret Mead, em Samoa (Collins & Sprinthall, 1988).
Na esteira destas últimas reflexões, entende-se, para efeito do presente estudo,
que o modo de agir e se comportar que caracteriza o adolescente não configura um
quadro naturalizado, sendo, portanto, construído sob condições históricas, culturais e
sociais específicas. Concorda-se com a afirmação de que não existe uma única forma de
ser adolescente, mas diferentes adolescências (Contini, Koller & Barros, 2002; Ozella,
2003). No dizer de Paladino (2005), “as definições de adolescência tentam generalizar
em conceitos universais uma forma de estar no mundo que não pode estar desvinculada
dos diferentes contextos históricos, sociais e culturais” (p. 53).
Assim, tendo em vista a necessidade de levar em conta a complexidade social e
psicológica como modo de constituição do sujeito, resulta que a compreensão do
adolescente crescido em pleno século XXI apresenta configurações que anunciam um
novo modo de pensar, ser e agir na sociedade ocidental contemporânea, demandando
uma reflexão sobre o atual momento histórico, suas características e transformações.
15
Nessa perspectiva, Aberastury (1981), mesmo tendendo a uma posição naturalista e
universal da adolescência, na medida em que a define enquanto “um período de
contradições, confuso, ambivalente, doloroso, caracterizado por fricções com o meio
familiar e o ambiente circundante” (p. 16), faz algumas restrições aos estudos que são
centrados somente no adolescente visto que, em sua opinião, o enfoque só é completo se
levar em consideração os pais e a sociedade, ambos ambivalentes e resistentes em
aceitar o processo de crescimento do sujeito. Para a autora, “toda adolescência leva,
além do selo individual, o selo do meio cultural e histórico” (Aberastury, 1981, p. 28).
Atualmente, um comportamento em particular tem chamado a atenção dos
educadores, pesquisadores e de tantos quantos atuam no interior das escolas, qual seja, o
consumo exagerado de álcool pelas adolescentes. O comportamento de beber, encher a
cara, tomar todas, enxugar o copo, que não era comum entre as meninas, hoje parece
fazer parte de seu cotidiano de forma intensa e precoce. Expressões do tipo fiquei um
lixo no churrasco da turma, fizemos uma resenha interna só de meninas e ficamos todas
embriagadas, se fazem presentes de um modo constante nas conversas das estudantes
do Ensino Fundamental e do Médio, sinalizando uma preocupante incidência do
consumo do álcool pelas adolescentes do sexo feminino. Ilustram esse quadro o relato
de uma professora, trazido por Didonê e Muttini (2007) um dia entrei na classe e
percebi que minhas alunas estavam bêbadas (p. 39) e a afirmação feita pela
Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD) em publicação recente (SENAD, 2007), de
que as meninas estão bebendo tanto quanto os meninos.
Não obstante hoje, no Brasil, se constituir a adolescência numa fonte inesgotável
de debates e discussões, ainda existem lacunas no que se refere aos estudos que
enfocam as adolescentes. Em seu artigo A presença feminina nas (sub)culturas juvenis:
16
a arte de se tornar visível, Weller (2005) questiona a pequena quantidade de trabalhos
sobre o tema: apesar da crescente visibilidade dos grupos femininos, revela-se uma
necessidade de novos estudos e reflexões sobre as adolescentes.
Neste sentido, tendo em vista as inquietações decorrentes da observação
cotidiana enquanto psicóloga escolar de uma escola da rede privada, algumas questões
se colocam em face do atual padrão de relação das meninas com o álcool: a partir de
que idade elas estão começando a beber? Qual o sentido atribuído a esse
comportamento? O que está levando essas adolescentes ao consumo abusivo de álcool?
O álcool seria uma ferramenta de socialização? O que elas pensam sobre as colegas,
também adolescentes, que bebem? Consideram o álcool uma droga?
Diante dos aspectos levantados e considerando a amplitude e complexidade que
esse tema sugere, o presente estudo objetivou fazer um recorte no que diz respeito às
adolescentes que consomem álcool, nas idades entre 12 e 18 anos, faixa etária
estipulada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, Lei 8.069/1990) para
delimitar a adolescência. Os cenários da pesquisa foram dez escolas da rede privada da
cidade de Natal, capital do estado do Rio Grande do Norte. Foi aplicado questionário
(ver anexo 3) com as alunas de 7º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino
Médio, em uma amostra de aproximadamente mil adolescentes. Pretendeu-se, através
desse estudo, compreender de que forma o consumo do álcool se insere na vida dessas
adolescentes e qual seu significado adjacente.
O presente estudo consta de seis capítulos. O primeiro, Adolescência: uma
construção histórica, apresenta uma discussão sobre a adolescência enquanto fase
específica do desenvolvimento humano, sua conceituação, e uma reflexão sobre as
17
influências e determinações culturais para o seu surgimento, além de algumas
abordagens da Psicologia sobre o assunto.
O segundo, Drogas na adolescência: um tropo no meio do caminho, discorre
sobre as drogas na sociedade, apresentando definições e classificões das mesmas,
especificando dados sobre o consumo de álcool entre adolescentes no Brasil. Em
seguida, no terceiro capítulo, intitulado As adolescentes: álcool e gênero, aborda-se a
questão das mudanças sociais que incidiram sobre as mulheres e as repercussões no
comportamento das adolescentes, focando-se na relação entre as meninas e as bebidas
alcóolicas.
No quarto capítulo, Sociabilidade, é discutido o processo de socialização e a
influência do grupo no comportamento dos adolescentes, bem como é levantada a
possibilidade do álcool ser, hoje, uma ferramenta de socialização para os adolescentes
de ambos os sexos.
No quinto capítulo, Legislação, Políticas Públicas e Intervenção no Contexto
Escolar, é feito um levantamento das atuais políticas públicas sobre o consumo do
álcool, relacionando-as com o importante papel da escola, enquanto instituão
formadora de crianças e adolescentes, e o papel do psicólogo escolar nesse processo.
No sexto, A pesquisa, delineia-se metodologicamente o estudo, apresentando e
caracterizando as instituões escolhidas, as participantes, os procedimentos
empregados, o caminho percorrido e os dados constituídos a partir da pesquisa de
campo, num diálogo constante com o referencial teórico adotado.
Por fim,o feitas algumas considerações finais a respeito da problemática
estudada e alguns apontamentos sobre desafios e possibilidades de novos estudos que
venham a contribuir com a questão do consumo do álcool pelas adolescentes.
18
Capítulo 1
Adolescência: uma construção histórica
Ao se tratar da relação entre adolescência e consumo de drogas, em especial o
álcool, se faz necessário contextualizá-la em relação ao momento da história em que
surge como entidade ou conceito definido, já que se parte do pressuposto de que ela não
nasce com a humanidade e tampouco se encontra presente em todas as culturas. Apesar
de ser uma opinião geral que as drogas estão presentes na humanidade desde os
primórdios da história, e foram sendo modificadas apenas em sua forma e finalidade de
consumo, o mesmo não pode ser afirmado da fase do desenvolvimento humano aqui
abordada. No dizer de Simões (2006),
É claro que o jovem sempre existiu, como faixa etária, mas a ideia de uma fase da
vida com características do desenvolvimento específicas, com uma fenomenologia
ppria - duração, características comportamentais, lugar na família e na organização
social - está em grande medida culturalmente determinada. (p. 281)
Embora hoje muito se fale e se discuta sobre a adolescência, nem sempre foi
assim. O conceito de adolescência é um conceito tardio, que só surge na maior parte dos
dicionários da língua portuguesa em meados do século XIX (Priore, 2008; Silveira &
Moreira, 2006). Por muitos séculos a sociedade adulta não a reconheceu, de modo que
por volta dos vinte e cinco ou trinta anos de idade o sujeito ainda era considerado
menino ou menina (Tierno, 2003). A adolescência emergiu como um período
específico do desenvolvimento humano e como campo de estudo com legitimidade
própria a partir de alguns acontecimentos sociais e culturais, que propiciaram uma
atmosfera que a fez emergir e alcançar reconhecimento como uma fase singular da vida
(Sprinthall & Collins, 1988).
19
Em seu artigo A adolescência como ideal social, Ávila (2005) discute, a partir de
uma revisão bibliográfica, como as teorias psicológicas percebem a adolescência,
destacando que esta é refletida a partir de concepções distintas. , de um lado, uma
visão naturalista e universalizante, que reforça a importância do fator biológico para
esse momento, e de outro, uma concepção histórica e social, que defende que essa etapa
da vida pode ser compreendida a partir de sua inserção na totalidade em que foi
produzida.
Adota-se, neste estudo, a concepção da adolescência como uma inveão social
e não como instituição natural da sociedade. Concorda-se com Bock (2002), para quem
adolescência é algo proveniente da estrutura socioeconômica, no sentido de que os
critérios que constituem essa etapa da vida não são intrínsecos ao indivíduo, mas são
estabelecidos pela cultura. Assim como toda construção humana, a adolescência tem
uma história, que vai desde sua concepção até sua confirmão pela sociedade adulta.
Por mais estranho que isso soe para o leitor do século XXI, que concebe a
adolescência como uma das categoriais sociais principais da sociedade, essa fase da
vida foi por muito tempo ignorada e desconhecida, da mesma forma que a infância.
O historiador francês Ariès (1978) desenvolveu uma detalhada análise das
relações hisricas com o surgimento da infância e da adolescência, revelando que esta
última passa despercebida por um longo período, pois não havia terreno rtil para tanto.
Segundo ele, a ideia de infância ganha impulso a partir da segunda metade do século
XVII e, por dois séculos, vai preparando as condições sociais, culturais e econômicas
para o estabelecimento da ideia de adolescência. No século XVIII, quando foi atribuída
à criança a sua devida importância, retirando-a do anonimato e dando-lhe condições
sociais e mais afetivas de um desenvolvimento digno, infância e adolescência ainda
20
eram confundidas, tanto que “no latim dos colégios empregava-se indiferentemente a
palavra puer e a palavra adolescens” (Ariès, 1978, p.10)
Apesar do vocabulário da primeira infância ter surgido e se ampliado, persistia a
ambiguidade entre a infância e a adolescência, de um lado, e de outro, a categoria
denominada juventude. Em meio a essa confusão de significados, sabe-se que não havia
sinais do que consideramos adolescência hoje. Foi somente quando as sociedades foram
se industrializando e progressivamente precisando de uma força de trabalho com certo
nível de instrução, de uma população que fosse educada para contribuir em estabilidade
e desenvolvimento, que foi se concebendo os adolescentes como sujeitos com
necessidades e características próprias de seu momento do desenvolvimento e
valorizando esse período que decorre entre a infância e a vida adulta. na última
metade do século XIX é que a adolescência ganha visibilidade como período específico
do desenvolvimento humano, dando início a uma transformação no modo de tratamento
dos adolescentes pela sociedade adulta (Sprinthall & Collins,1988).
A visão de mundo da Idade Média era baseada na teologia cristã, nos dogmas
religiosos, mas também sofria influência da filosofia grega, especialmente da teoria de
Platão. O crescimento era entendido como um fenômeno quantitativo e não qualitativo,
sendo interpretado como um aumento de todos os aspectos físicos e mentais da espécie
humana em termos de quantidade. Dessa forma, assim que a criança superava o período
de alto risco de mortalidade, ela logo era misturada com os adultos. A infância era, na
verdade, um período de mudança logo superado e cuja lembrança, também, era logo
perdida (Grossman, 1998).
Ariès (1978) afirma que a consciência de juventude coma como um
sentimento comum dos ex-combatentes quando, após a primeira guerra mundial, os
21
combatentes da frente de batalha se opõem em massa às velhas gerações da retaguarda.
Tal consciência passou a ser comum entre eles, com aspectos da adolescência moderna,
e daí em diante, a adolescência se expandiria, empurrando a inncia para trás e a
maturidade para frente e, assim, passamos de uma época sem adolescência a uma
época em que a adolescência é a idade favorita. Deseja-se chegar a ela cedo e nela
permanecer por muito tempo” (Ariès, 1978, p. 15). Tais afirmações encontram eco em
Paladino (2005), ao confirmar esse ideal adolescente o valorizado e difundido em
nossa sociedade atualmente:
Se, nos anos 60, do século XX, a maioria dos adolescentes queria parecer adultos,
ou seja, agiam e se vestiam inspirados no comportamento dos adultos, hoje os
adultos inspiram-se nos adolescentes, procurando a descontração e o conforto na
forma de falar, de agir e de se apresentar. (p. 124)
Essas modificações nas formas de conceber a adolescência são descritas por
Priore (2008). Segundo a autora, durante muito tempo a noção de adolescência foi
acompanhada de uma conotação negativa, sendo somente no século XX inaugurada de
uma forma positiva. Na década de 1930, a imagem dos adolescentes estava associada ao
poder, na medida em que eram recrutados para alguns exércitos, representando orgulho
para sua nação e terror para o inimigo. Na década de 1950, eles tornaram-se um
mercado, a partir da expansão do consumismo no ocidente. No final do século, “a
juventude se transformou em obsessão e utopia. As sociedades contemporâneas querem
ser jovens” (Priore, 2008, p. 13).
Calligaris (2000) ratifica tal ideia na medida em que afirma que a adolescência é
sustentada pela imaginação da maioria das pessoas como um bicho de sete cabeças,
uma criatura monstruosa que surgiu na contemporaneidade, “um mito, criado no início
22
do século 20 que se consolidou como uma das formões culturais mais poderosas de
nossa época” (p. 7). Nesse sentido, a adolesncia enquanto inveão cultural é
proveniente do mundo ocidental, fruto da industrialização e da necessidade de formação
especializada para acompanhar a expansão tecnológica, bem como manter os jovens
longe do trabalho, na intenção de garantir emprego aos adultos (Silveira & Moreira,
2006). Um fenômeno, sobretudo dos últimos 50 anos, que ganha notoriedade e cada vez
mais espaço nas pesquisas, na mídia, na família e na sociedade como um todo.
Freitas (2002) credita ao estudo de Arminda Aberastury, “El mundo
adolescente, em 1959, o pioneirismo em termos de signifincia sobre a problemática
da adolescência; e a Granville Stanley Hall, em 1904, com o trabalho Adolescência -
sua psicologia e sua relação com a fisiologia, antropologia, sociologia, sexo, crime,
religião e educação o destaque por apresentar uma das primeiras propostas sobre uma
psicologia da adolesncia como campo diferenciado de saber. Autores como Klosinski
(2006), Ozella (2003) e Paladino (2005) convergem ao atribuir o mérito de pai da
Psicologia da adolescência a Hall.
Como herança, Hall deixou uma visão fortemente ligada a estereótipos e
estigmas, na medida em que identificou a adolescência como uma fase de tempestade e
tormenta, uma etapa marcada por conturbações ligadas à emergência da sexualidade.
Foi o primeiro autor a delimitar as dimensões básicas da experiência adolescente, tendo
sido bastante influenciado pelo pensamento darwinista, que o impregnou de uma visão
naturalizante e universal (Paladino, 2002). Sprinthall e Collins (1988) afirmam que
partindo das influências dessas teorias evolucionistas,
Hall concluiu que a adolescência era um estágio evolutivo do desenvolvimento -
por isso, único, com direito a uma investigação específica. Ele foi mais longe, a
23
ponto de afirmar que a adolescência era um estágio, no qual cada pessoa
experienciava, verdadeiramente, todos os estágios anteriores de desenvolvimento
pela segunda vez, mas a um vel mais complexo. Além disso, cada um desses
estágios recapitulava uma fase da história da vida humana. (p.14)
É válido ressaltar o grande mérito de Stanley Hall, pois ao considerar esse
período como importante para o desenvolvimento, ele criou um lugar próprio para a
adolescência, que abriu caminho para outros pesquisadores prosseguirem com os seus
estudos. Essa forma de enxergar a adolescência foi reforçada e defendida por algumas
abordagens psicanalíticas que a caracterizam como uma etapa de confusões, estresse e
luto, causados também por impulsos sexuais que emergem nessa fase do
desenvolvimento. Exemplo disso é Sigmund Freud, que adere às concepções de Hall
quando considera também a adolescência como um período necessariamente difícil e
turbulento, defendendo assim, ideias igualmente maturacionistas (Sprinthall & Collins,
1988).
Confirmando o olhar da adolescência pelo prisma da concepção histórica e
social, que defende que essa etapa da vida pode ser compreendida a partir de sua
inserção na totalidade em que foi produzida, percebe-se que algumas sociedades e “sub-
culturas” não reconhecem a adolescência. Exemplos disso são algumas culturas, em que
as crianças atravessam direto da infância para a vida adulta, na medida em que assumem
o mais breve possível responsabilidades e condutas adultas. É o que acontece ainda hoje
no Brasil, principalmente em comunidades rurais, nas quais crianças e adolescentes
trabalham e permanecem menos tempo estudando e casam-se por volta dos treze,
quatorze anos, constituindo já cedo uma nova família.
24
Erikson (1976) define como moratória social o período em que os adolescentes
aguardam enquanto ainda não podem exercer papéis adultos. Não é criança e nem
adulto, ou é criança e adulto, ainda é criança para algumas coisas e para outras é um
rapazinho ou uma mocinha. Calligaris (2000) apoia essa ideia quando caracteriza a
adolescência como um tempo de suspensão, um tempo em que a sociedade nega o
reconhecimento desses adolescentes como sujeitos maduros:
Seus corpos, que se tornaram desejantes e desejáveis, poderiam lhes permitir amar,
copular e gozar, assim como se reproduzir. Suas forças poderiam assumir qualquer
tarefa de trabalho e começar a levá-los na direção de invejáveis sucessos sociais.
Ora, logo nessa hora, lhes é comunicado que não está bem na hora ainda. (p. 15)
Zagury (2002), na tentativa de entender as mais diversas questões da
adolescência (família, profissão, lazer, sexo, religião, política e drogas) através do
prisma do próprio adolescente, desenvolveu uma pesquisa em sete capitais e nove
cidades do interior do Brasil, na qual entrevistou 943 adolescentes, com idades entre
quatorze e dezoito anos, das mais diversas classes sociais que estavam frequentando a
escola. Nas palavras dessa autora, a adolescência caracteriza-se por,
Ser uma fase de transição entre a infância e a juventude. É uma etapa extremamente
importante do desenvolvimento, com características muito próprias, que levará a
criança a tornar-se um ser adulto acrescido da capacidade de reprodução. As
mudanças corporais que ocorrem nessa fase são universais, com algumas variações,
enquanto as psicológicas e de relações variam de cultura para cultura, de grupo para
grupo e até entre indivíduos de um mesmo grupo. (Zagury, 2002, p. 24)
Neste trabalho, compartilha-se desse ponto de vista, na medida em que se
acredita que essa etapa da vida é criada historicamente pelo homem, enquanto
25
representação e enquanto fato social e psicológico, sendo construída sob condições
históricas, culturais e sociais específicas. Situações e vivências do cotidiano surgem e o
homem vai dando significados e sentidos para elas. Assim, existem diferentes
interpretações que significam na cultura e na linguagem a adolescência no contexto das
relações sociais. Até mesmo as características e mudanças biológicas (puberdade) por
que passam os adolescentes são influenciadas pela cultura, na medida em que dependem
do tipo de alimentação e do tipo de condição social e ambiental.
Dentro das concepções de Tierno (2003) a adolescência é definida como,
Processo de individuão de caráter psicológico que começa com as mudanças
fisiológicas da puberdade (associadas à primeira menstruação, ou menarca nas
meninas e com a mudança de voz e a primeira polução nos meninos) e termina
quando chega ao pleno status sociológico do adulto. (p. 38)
Para ele, embora as mudanças fisiológicas sejam um marco para o início da
adolescência, os critérios que definem a entrada na vida adulta não são tão claros. Isso
se dá devido à diversidade de critérios que cada cultura estabelece para a entrada do
jovem na vida adulta e as modificações sociais que vão se dando ao longo da história,
como a escolaridade obrigatória e a proibição do trabalho infantil, o que retardou essa
passagem.
Hoje, ainda pode-se acrescentar a complexidade tecnológica do mercado de
trabalho, o que faz com que os adolescentes permaneçam mais tempo estudando e se
preparando para assumir as responsabilidades da vida adulta, além de fazer com que
passem mais tempo na casa de seus pais. Tiba (2003) descreve como geração carona os
adulto-jovens que têm uma vida social independente, entretanto, muitas vezes ainda
26
recebem mesada e moram como adolescentes na casa de seus pais. No dizer de Bock
(2003),
A adolescência se refere, assim, a esse peodo de latência social constituída a partir
da sociedade capitalista gerada por questões de ingresso no mercado de trabalho e
extensão do período escolar, da necessidade do preparo cnico e da necessidade de
justificar o distanciamento do trabalho de um determinado grupo social. (p.173)
No Brasil, a maioridade civil se dá aos 18 anos de idade, de acordo com o novo
Código Civil, de 2002. Pinsky e Bessa (2006) afirmam que é essa lei que define o corte
entre o adolescente e o jovem adulto cronologicamente; entretanto, não equivalência
exata entre a idade mental e a cronológica, tendo em vista que a mental pode variar a
partir das particularidades da cada indivíduo.
A adolescência não pode ser definida de uma forma única, pois uma
diversidade de aspectos segundo os quais ela pode ser analisada. O critério cronológico
baseia-se na faixa etária, que varia de acordo com o referencial. Para a Organização
Mundial de Saúde (OMS,1992) a adolescência se estende dos 10 aos 19 anos, enquanto
para o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, 1990) a faixa etária que compreende
a adolescência é a de 12 aos 18 anos incompletos. O critério físico diz respeitos às
mudanças biológicas que os adolescentes vivenciam (modificações no corpo),
designadas puberdade. O critério sociológico é o peodo em que a sociedade deixa de
encarar o indivíduo como adulto, entretanto não lhe atribui plenamente papéis, status e
funções de adultos. O psicológico é constituído pelo período de reorganização da
identidade, das estruturas psíquicas (Pfromm Netto, 1976).
Diante dessa diversidade e formas de se conceber a adolescência, adota-se no
presente estudo o critério cronológico, baseado no Estatuto da Criança e do Adolescente
27
(ECA, 1990), que em seu artigo define que criança é a pessoa com até doze anos de
idade incompletos e que adolescente é a que tem entre doze e dezoito anos de idade. Tal
critério é adotado como uma forma de poder estudar essa fase da vida tão peculiar de
cada cultura e de cada contexto social, a partir de um ângulo que possa restringir uma
amostra específica.
O adolescente que se abordará nesse trabalho é, pois, aquele próprio das
sociedades modernas, que tem vivido em um contexto socioeconômico no qual, devido
à grande concorrência e limitação do mercado de trabalho, tem demorado mais a
participar da vida adulta. Entretanto, são jovens que têm se envolvido cada vez mais
cedo com alguns problemas como as drogas.
Na nossa cultura, a adolescência do século XXI foi tecida por inúmeras forças e
acima de tudo por uma organização social, sendo assim passível de mudanças no
decorrer do tempo e ao longo da história. Dessa forma, a relação dos adolescentes com
as drogas, em especial com o álcool, deve ser compreendida de uma forma dinâmica,
tendo em vista que a motivação para o consumo, o sentido do uso da droga e a forma
que é consumida, vão mudando no decorrer do tempo e de cultura para cultura.
28
Capítulo 2
Drogas na adolescência: um tropo no meio do caminho
Eu não vou tomar banho
Nem fazer a barba
É assim mesmo que eu quero ficar
De camisa rasgada
E de calça furada
Bebendo cachaça no bar
Não adianta chamar que eu o vou
Estou no colo do rock'n'roll
(Cerveja na veia –Banda Velhas Virgens)
Ao pensar nas sociedades contemporâneas torna-se imprescindível reconhecer as
interferências do capitalismo moderno e da globalização nos valores e referenciais das
mesmas, o que as torna por definição sociedades de mudanças constantes, aceleradas e
instantâneas. Bauman (2001) descreve de uma forma brilhante a passagem da
modernidade pesada e sólida, para uma modernidade líquida, leve e dinâmica. De
acordo com ele,
O tempo instantâneo e sem substância do mundo do software é também um tempo
sem consequências. “Instantaneidade” significa realização imediata, “no ato”- mas
também exaustão e desaparecimento do interesse. A disncia em tempo que
separa o começo do fim está diminuindo ou mesmo desaparecendo; as duas
noções, que outrora eram usadas para marcar a passagem do tempo, e, portanto
para calcular seu “valor perdido”, perderam muito de seus significados - que,
como todos os significados, derivavam da sua rígida posição. apenas
“momentos” – pontos sem dimensões. (p. 137)
As mudanças socioeconômicas do mundo atual modificaram as exigências e
expectativas frente ao adolescente. Para se iniciarem na vida adulta, sempre lhes foi
29
exigido apenas que tivessem maturação fisiológica, condições de ter uma renda própria
e meios psicológicos de formar relações afetivas firmes, para constituir uma família.
Muitas das nossas avós casaram em plena adolescência, constituíram família, sem a
exigência de qualquer espécie de formação profissional. Entretanto, hoje, em troca de
um melhor futuro, é solicitado aos jovens que prorroguem a entrada no mundo adulto.
Os homens são delineados no tecido sociocultural que os envolvem; dessa
forma, os adolescentes do século XXI encontram-se em uma nova cena social marcada
por um acelerado avanço tecnológico que traz comodidades como, por exemplo,
celulares cada vez menores, das mais variadas cores e estilos, com acesso a internet,
ipods dos mais modernos que os permitem ouvir qualquer tipo de música onde quer que
estejam (inclusive em salas de aula). É tudo instantâneo, como bem caracteriza Bauman
(2001). Os adolescentes estão mais bem informados e menos reprimidos pelos valores
sociais e pelos pais, são jovens com mais liberdade, menos limites e consequentemente
mais vulnerabilidade.
Isto se dá em função do tempo sem consequências de que fala Bauman (2001).
As realizações imediatas passam por cima de qualquer lei ou regra, é tudo no aqui e
agora. Um exemplo de como isso se expressa nos modos de relação é o termo meninas-
miojo, que circula nas conversas de adolescentes designando meninas que cedem a
investidas sexuais nos mesmos curtos três minutos de preparo de certo tipo de macarrão.
Percebem-se novas formas de ser e agir do adolescente que são configuradas pelos
referenciais da sociedade atual. No dizer de Salles (2005, p. 39),
As relações de autoridade e os valores sociais e morais estão sendo questionados
e revistos. De um lado, tem-se a criança e o adolescente seguros de como devem se
comportar, e, de outro, a ppria sociedade que vem em crise de autoridade e confusa
30
quanto aos valores morais que deve adotar, o que se reflete nas atitudes dos pais e dos
educadores... Os pais se sentem inseguros e exitam em impor seus padrões, ao mesmo
tempo em que a criança e o adolescente adquirem o direito de serem respeitados nas
suas exigências.
Parece que os pais da atualidade, que viveram o horror de tempos de chumbo e
repressão, quando tiveram que educar seus filhos o fizeram assombrados pelo fantasma
desse período. Dessa forma, ficou difícil colocar limites. De acordo com Freitas (2002)
esta geração, de pais que acabaram tudo permitindo, foi denominada AI-5, numa
referência ao Ato Institucional nº 5, instituído pelo regime militar em 13 de dezembro
de 1968, que tolheu a liberdade individual e coletiva. Ele afirma que “a relação
adolescente com as drogas seria hoje um capítulo de rebeldia herdada pelos
adolescentes, depois de largada por seus pais” (p.45). Fishman (1988) descreve assim as
modificações sociais advindas desse período e as consequências dessas mudanças em
relação às drogas
O sonho, aquele doce sonho dos anos 60, acabou. Jonh Lennon, os Beatles, o pé na
estrada, a flor, a liberação sexual, o amor livre, os cabelos soltos aos ventos da
rebelião jovem, a vida aberta... As transformações culturais dos vinte anos
passados, ao mesmo tempo que forçaram a derrubada de tabus e preconceitos,
tiveram também esse poder de produzir e prolongar a coexistência com as drogas.
Nas escolas, nas casas, nos locais de trabalho por toda a parte passou a existir
uma tolerância em relação às drogas. (p. 7).
O excesso de liberdade gera sensação de indepenncia e de poder e,
simultaneamente, de falta de direcionamento, pois as regras e limites de certa forma
restringem os caminhos a serem escolhidos. No dizer de Passos (2008), “Pais e filhos
31
têm feito escolhas muito parecidas e se misturam em diversas experiências, negando as
fronteiras geracionais (p. 39). Dessa forma, o adolescente passa a buscar esse
direcionamento em seus pares, em seus pareceiros, como afirmam muitas vezes alguns
pais. Para a autora,
Afinal, a auncia de limites e modelos em que se pautar, longe de propiciar
liberdade, aumenta as possibilidades de dominação. A falência de referenciais e
autoridade parentais mantém o jovem preso a uma armadilha que inviabiliza a sua
entrada no mundo dos adultos... As drogas, o álcool e mesmo o uso abusivo das
relações virtuais e das academias de ginástica são “paraísos artificiais” que vendem
ilusões efêmeras, as quais se desfazem e aumentam ainda mais o vazio daquilo que
não tem controle e, por essa via, nunca terá. (Passos, 2008, p. 47)
O fato é que um dos maiores problemas enfrentados pela sociedade hoje é o
consumo de drogas, que na maior parte dos casos se inicia na adolescência, considerada
uma fase da vida de maior vulnerabilidade, em face das inúmeras mudanças vivenciadas
nesse momento. Atualmente, a demanda por drogas vem aumentando de forma
assustadora, bem como o dinheiro que gira por ts de tudo isso. O avanço tecnológico
que se presencia dia após dia também atua nesse contexto, de forma que novidades vão
surgindo ou as drogas já conhecidas se remodelando a todo o momento, o que aumenta
cada vez mais o mercado consumidor, conquistando uma fatia cada vez maior de grupos
de jovens e adolescentes. Como bem diz Bock (2002), “a droga perdeu o ar alternativo
que lhe foi atribuído pelo movimento de contracultura da década de 70, transformando-
se numa mercadoria de consumo como outra qualquer” (p. 298).
A partir da década de 1980, no Brasil, surgem estudos epidemiológicos mais
abrangentes realizados pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psico-
32
trópicas - CEBRID, que colaboram com dados importantes sobre o consumo de drogas
no país (Bessa & Pinski, 2006). O I Levantamento Domiciliar Sobre Drogas
Psicotrópicas foi desenvolvido no período de setembro a dezembro de 2001,
envolvendo as 107 maiores cidades do país, com população superior a 200.000
habitantes, com uma amostra de 47.045.907 habitantes. Dentre os resultados relevantes
obtidos com o levantamento, pode ser citada a confirmão de que o consumo de drogas
lícitas no país é superior ao das drogas ilícitas. Em termos de dependência, tem-se a
estimativa de que 11,2% da população pesquisada são dependentes de álcool e 9% de
tabaco (Carlini, Galduróz, Noto & Nappo, 2002), o que é um dado bastante
preocupante.
Seguindo-se a esse primeiro estudo, no II Levantamento Domiciliar Sobre
Drogas Psicotrópicas no Brasil
1
foram entrevistados 7939 brasileiros com idade entre
12 e 65 anos, em seu domicílio, nas cidades brasileiras com mais de 200 mil habitantes.
Entre outros dados, revelou que 22,8% da população pesquisada fizeram uso na vida
de drogas (exceto álcool e tabaco), índice ligeiramente maior que o encontrado no
levantamento realizado em 2001 (19,4%).
Em 2004, estudo realizado pelo CEBRID em parceria com a Secretaria Nacional
Antidrogas (SENAD) abrangeu todas as 27 capitais brasileiras. Dentre os resultados
obtidos, é interessante destacar que o uso de drogas não é de exclusividade de
determinada classe socioeconômica, distribuindo-se regularmente por todas elas. O uso
de certas drogas, como maconha, cocaína, energéticos e anabolizantes, foi identificado
1
É válido ressaltar que a OMS recomenda as classificações seguintes para pesquisas sobre o uso de
drogas: 1. Uso na vida (quando o indivíduo já usou drogas ao menos uma vez na vida); 2. Uso no mês ou
recente (quando o indivíduo usou algum tipo de droga ao menos uma vez nos últimos 30 dias antes da
pesquisa); 3. Uso frequente (o indivíduo consumiu algum tipo de droga seis ou mais vezes nos 30 dias
que antecederam a pesquisa); 5. Uso pesado (quando o indivíduo usa algum tipo de droga diariamente,
uma ou mais vezes (Macfarlane, Macfarlane, & Robson, 2003).
33
em maior percentual junto ao sexo masculino; e em relação ao sexo feminino se
destacou o consumo de medicamentos, como anfetamínicos e ansiolíticos. As drogas
legais, álcool e tabaco, apresentaram menor média de idade para primeiro uso, ou seja,
12,5 e 12,8 anos respectivamente.
Os dados refletem uma diferença no uso de drogas entre gêneros, bem como
revelam uma preocupação estética de ambos, na medida em que o consumo de
anabolizantes pelos meninos está relacionado às atividades físicas, em academias etc., e
o de anfetaminas e ansiolíticos pelas meninas tem a ver com o controle do peso,
inibição do apetite etc. Além disso, as informações obtidas alertam para a precocidade
cada vez maior do uso de drogas legalizadas, revelando a permissividade da sociedade,
em especial com as bebidas alcoólicas.
De acordo com a reportagem O que voprecisa saber sobre drogas, (Colavitti,
2006), há cerca de 200 milhões de pessoas no mundo (cerca de 5% da população global
com idade entre 15 e 64 anos) que consumiram pelo menos uma droga ilícita no ano de
2004. Em relação às razões que levam as pessoas a buscarem as drogas, a autora afirma
que,
Existem motivos de sobra para querer experimentá-las (e às vezes continuar
usando), seja pelo desafio à proibição, por curiosidade de experimentar um estado
alterado de consciência, pela possibilidade de esquecer dos problemas em meio a
uma viagem psicodélica, pela sensação de relaxamento causada por um baseado,
pela energia para encarar longas e exaustivas jornadas de trabalho proporcionada
pela cocaína, pelo aguçamento dos sentidos causado pelo ecstasy etc. (p. 30)
Conquanto os motivos alegados para o primeiro contato com a droga sejam os
mais diversos, o problema é que na maioria dos casos essa relação não termina com a
34
experimentação, de modo que, no dizer de Barreto (2003), “Estão enganados os que
pensam que o que acontece de errado são problemas sociais, como desemprego, falta de
oportunidades, etc. O maior problema em nossa sociedade ou problema número 1 é o
uso e abuso de álcool e outras drogas” (p.10). Atualmente, o consumo de drogas é
considerado um dos maiores problemas de saúde pública.
Sabe-se que, no vocabulário popular, a palavra droga tem um sentido negativo,
de algo ruim, tanto que é muito comum ouvir a expressão que droga!, para fazer
referência a algo desagradável. No linguajar médico, tem significado de medicamento,
remédio. A origem do termo vem da palavra holandesa droog, que significa folha seca,
devido ao fato de os medicamentos de antigamente serem quase todos desenvolvidos à
base de vegetais. O CEBRID (1987) definiu o termo como “qualquer substância capaz
de modificar as funções dos organismos vivos, resultando em mudanças fisiológicas ou
de comportamento” (p. 7). Já a Organização Mundial da Saúde (OMS, 1981) o definiu
como “qualquer entidade química ou mistura de entidades (mas outras que não aquelas
necessárias para a manutenção da saúde, como por exemplo, água e oxigênio), que
alteram a função biológica e possivelmente a sua estrutura” (p. 35).
As drogas podem ser naturais, se obtidas através de plantas ou minerais, como a
cafna, a maconha, o ópio; ou podem ser sintéticas, se fabricadas em laboratórios.
Podem também ser caracterizadas como psicoativas, aquelas que alteram
comportamento, humor e cognição (OMS, 1981), agindo principalmente nos neurônios,
atingindo o sistema nervoso central (SNC); ou psicotrópicas, que denota atração pela
mente ou tropismo (Mansur, 2004) ou que modificam os estados cerebrais e o
comportamento (Braun, 2007). Silveira (2001) as define como “substâncias utilizadas
35
para produzir alterações, mudanças nas sensações, no grau de consciência e no estado
emocional” (p. 7).
As drogas psicotpicas estão divididas em três categorias: as que ativam o
funcionamento cerebral, estimulando o sistema nervoso central, como cafeína,
anfetamina e cocaína (estimulantes); as que, ao contrário, diminuem a atividade do
sistema nervoso central, como narcóticos - o termo narcótico refere-se às substâncias
que causam sono e diminuem a dor, como a morfina e a heroína (Mansur, 2004) -,
tranquilizantes, álcool e inalantes (depressoras); e as que perturbam as atividades do
sistema nervoso central, como a maconha, mescalina, ácido lisérgico (LSD-25), ecstasy
(perturbadoras) (Mansur, 2004; Moreira, Niel & Silveira, 2009; Taub & Andreoli,
2004). Essa última categoria é denominada por outros autores como alucinógenas
(Silveira, 2001).
Em relação aos tipos de usuários de drogas, Barreto (2003) cita o professor
Claude Olievenstein (1980), ao caracterizá-los como: recreativos, ocasionais, semi-
ocasionais e os toxicômanos. Os primeiros são os que consomem algum tipo de droga
de forma esporádica, sem permitir que isso atrapalhe suas atividades e sua vida de uma
maneira geral. Os ocasionais conseguem também manter um equilíbrio, muito embora
façam uso da droga de forma mais constante. Os semi-ocasionais apresentam
comprometimentos no sono, no apetite e em seu convívio social; e os toxicômanos
vivem em função da droga, que é tida como prioridade e necessidade principal. Nesse
último caso, consequências mais graves, como acidentes, envolvimento com a polícia
etc. já se fazem presentes.
Para se tornar um toxicômano, Freitas (2002) descreve duas condições
necessárias e suficientes: a primeira é que o indivíduo encontre a droga; a segunda é a
36
relação estabelecida com a transgressão da lei. O mesmo autor destaca a importância de
assinalar que o adolescente é vulnerável aos apelos oriundos do mundo das drogas em
função das mudanças pelas quais passa seu mundo interno, além das mudanças
corporais.
A dependência se inicia na medida em que o indivíduo vai desenvolvendo maior
tolerância aos efeitos da droga, ou seja, com o uso repetido da droga, para conseguir o
bem-estar inicial, é preciso cada vez mais aumentar a quantidade de droga consumida
(Pinsky & Bessa, 2006). Por sua vez, Pinsky & Bessa (2006) relacionam o potencial de
abuso da grande maioria das drogas com a sensação de bem-estar que elas produzem
num primeiro momento, o que se deve à ação direta ou indireta sobre uma via neuronal
cerebral (conhecida cientificamente como via dopaminérgica mesolímbica), responsável
pela nossa capacidade de sentir prazer e/ou satisfação em diferentes situações, que
também é conhecida como via do reforço, gratificação ou do prazer (p.16).
Em relação aos motivos que levam as pessoas a usar drogas, Macfarlane et al.
(2003) afirmam que são: a vontade de querer se libertar sentimentos de timidez,
ansiedade e falta de confiança, bem como diminuir sentimentos de solidão e baixa auto-
estima; a vontade de ser igual aos amigos; a apreciação dos efeitos causados pelas
drogas; o sentimento de rebeldia e individualidade que a droga proporciona; a vontade
de superar o tédio; a curiosidade e a vontade de querer experimentar algo novo e a
tentativa de suportar a pobreza, a depressão e o abuso. Os autores afirmam ainda que o
motivo que leva ao consumo pode ser qualquer um dos citados acima, entretanto, é mais
possível que seja uma combinação de mais de um deles. E quando perguntado aos
jovens sobre essas razões, eles afirmam que na maioria dos casos usam drogas por
37
curiosidade ou para se divertir, quando todos os amigos estão usando ou quando estão
com algum problema, pois a droga os deixa menos ansiosos.
...Não é necessário possuir um perfil psicológico específico para se tornar um
narcodependente. O consumidor de droga não é alguém que está infeliz ou que
precise da droga para superar problemas de qualquer ordem. A droga (incluindo o
cigarro e o álcool) é um produto que fornece um prazer imediato e é esse prazer que
irá garantir o consumo. (Bock, 2002, p. 299)
A citação acima põe em cheque as teorias que generalizam de forma rotuladora o
consumo de drogas a problemas emocionais ou de conduta simplesmente. Sabe-se hoje
que, em se tratando principalmente de drogas lícitas, essas substâncias são consideradas
recreacionais, principalmente quando consumidas por adolescentes. Outros fatores
como a curiosidade, a influência do grupo social, a disponibilidade de drogas, o
contexto familiar e situações como ocorrência de emoções desagradáveis têm sido
apontados como alguns dos fatores de risco para o uso de drogas entre os jovens
(Contini et al., 2002). Além disso, a falta de relações empáticas e apoio familiar, pressão
do grupo, violência doméstica e a baixa auto-estima têm sido relatados como fatores
preponderantes de risco. Por outro lado, quando se olha pelo prisma da proteção, da
prevenção, fatores que podem evitar o consumo da droga como: religiosidade,
estrutura familiar empática, inteligência, conhecimento sobre os efeitos das drogas e a
capacidade de enfrentar situações adversas, até mesmo quando a oferta de drogas é
excessiva e barata (Pinsky & Bessa, 2006).
Com reflexões semelhantes está Tierno (2007), ao afirmar que os motivos que
levam as pessoas a consumirem drogas são “distintos e variados como as pprias
pessoas” (p. 107); entretanto, o autor destaca como mais frequentes a curiosidade pelo
38
que a droga faz as pessoas sentirem, o o ajustamento ao grupo que fazem parte, o
excesso de independência perante os adultos e a busca por experiências novas e
perigosas. Tiba (1999) enfatiza que o que faz as drogas tornarem-se atraentes é o
glamour e todo o clima de poder, conquista, sucesso ou alegria associado ao uso que a
mídia vende. Carr (2003) confirma essa ideia quando caracteriza a bebida alcoólica
como um dos produtos que a mídia exalta, escondendo seu lado potencialmente
perigoso para a saúde.
No caso das drogas lícitas, uma grande familiaridade entre elas e os
adolescentes, tendo em vista que desde criança a presença do álcool e do cigarro muitas
vezes está presente em casa, nos momentos agradáveis de festividades e comemorações
da família, tornando-as bem próximas e íntimas, como um animal doméstico (Zago,
1996). Freitas (2002) destaca uma coisa que acontece na grande maioria das casas e que
as pessoas parecem não questionar:
Em muitas casas, em vez de biblioteca na sala, encontramos o bar, ou o bar como
altar, onde se fomenta uma cultura do álcool - uma idolatria muitas vezes de
funestas consequências. É extremamente corriqueiro e até de bom tom oferecer-se
uma bebida, quase sempre alcoólica, para a visita que chega. A pergunta é feita de
preferência no diminutivo - quer uma cervejinha, um whiskyzinho, uma batidinha?-
forma que se usa para negar o conteúdo perigoso do álcool. (p. 42)
O mesmo autor destaca ainda de uma forma bem interessante, a forma
socialmente bem aceita que o álcool e o cigarroo veiculados pela mídia. É notória nos
comerciais a associação do consumo dessas drogas a sucesso, dinheiro, felicidade,
amor, sempre interpretados por belíssimos homens e mulheres jovens. Nesse sentido, é
válida a questão: alguém assistiu ou viu em propagandas de cigarro e álcool, algum
39
homem ou mulher fora de forma, feios, doentes ou tristes? E isso é vendido
principalmente pelo álcool, tendo em vista o maior investimento em comerciais e
cartazes. Exatamente por este motivo, observamos ações interventivas encaminhadas
pelo Ministério da Saúde, como, por exemplo, a inserção de imagens bastante fortes das
consequências do uso do cigarro nas embalagens de venda do produto, a partir da
década de 1990.
Se, de um lado, para considerável parcela de adolescentes, como qualquer outra
substância psicoativa, além do apelo da propaganda, o álcool tem seu poder de atração,
por outro não tem a força de censura atribuída às substâncias ilegais, dado que o uso do
álcool, na prática, é aberto. Isso significa que um adolescente pode beber alcoólicos sem
a culpa de estar cometendo uma transgressão (que na realidade está) como poderia
sentir se consumisse alguma droga ilícita. Se consumir determinada droga ilícita, o
adolescente fará isso de forma velada a fim de não se expor, pois sabe que estará
transgredindo a lei ou ao menos emitindo um comportamento passível de recriminação
ou censura. Diante desse prisma, os jovens veem o álcool como um passaporte para a
alegria, uma forma de relaxar e se divertir, que não é tão perigosa quanto uma droga
ilícita. Muitos anem o consideram um droga, e isso é um dos aspectos que serão
investigados nesse estudo.
Algumas pessoas acreditam que o que classifica uma droga como lícita ou ilícita
é o seu nível de periculosidade, os riscos que elas representam ou o mal que causa.
Crença esta errônea, tendo em vista que a classificação das drogas obedece a critérios
culturais. Por exemplo, em se tratando do álcool, sabe-se que nos países mulçumanos
ele não é considerado uma droga lícita. Observam-se também fatores ligados a razões
políticas e econômicas para essa classificação. As drogas lícitas seriam as utilizadas
40
pelos colonizadores (álcool e tabaco) e as ilícitas as que eram consumidas pelos
colonizados (ópio, maconha e coca), dessa forma essa relação de legal e ilegal seria uma
forma de dominação que desconsiderava toda e qualquer relação com a saúde (Bezerra
& Linhares 1999, citado por Silva, 2006).
A escola é um espaço onde se percebe claramente o nível de preocupação dos
pais quando se trata de consumo de drogas lícitas e ilícitas, pelo fato de seus filhos
passarem a maior parte do tempo na mesma e, por muitas vezes, eles descobrirem o
consumo de drogas pelos filhos através da comunicação da própria escola. Na
experiência como psicóloga escolar, a autora deste trabalho pode vivenciar situações
envolvendo essa questão. Certa vez, a mãe de um aluno do ano do Ensino Médio
encontrou um cigarro de maconha na gaveta do filho, procurou imediatamente a escola
para cancelar sua matrícula e enviá-lo para um intercâmbio fora do país. Na mesma
semana, houve a festa de São João e um aluno já chegou bêbado; foi necessário a escola
fazer contato com o pai para buscá-lo, pois estava em coma alcoólico. O pai o levou
para tomar glicose no hospital e quando questionado sobre a situação, disse que era
absolutamente normal e que o filho dele estava virando homem e precisava passar por
essas coisas. Tal comportamento talvez se dê em função do baixo nível de repressão
coletiva, da postura da sociedade quando se trata do álcool.
Com reflexões semelhantes está Detoni (2006) ao afirmar que “preocupados
com a maconha, os pais geralmente subestimam os efeitos do álcool, considerado pelos
especialistas a grande porta de entrada para o consumo das drogas” (p. 16). Apesar da
grande preocupação com as drogas ilícitas, estudos e pesquisas são unânimes em
apontar que atualmente os maiores problemas de saúde são consequências do consumo
de substâncias lícitas.
41
Os males causados pelo uso abusivo do álcool e do tabaco são, na realidade, muito
maiores do que os problemas associados às drogas ilegais. Curiosamente, as
pesquisas demonstram que mais da metade das matérias em jornais e revistas tratam
de drogas ilegais e poucas se dedicam ao tabagismo e ao alcoolismo. Atualmente,
alguns meios de comunicação têm despertado de maneira responsável para o
problema da dependência de drogas legais e ilegais (Macfarlane et al., 2003, p.54).
2.1 O álcool: qual o problema de tomar umas?
Eu bebo sim, e estou vivendo
Tem gente que não bebe e está morrendo
Bebida, não faz mal a ninguém
Água faz mal à saúde
(Eu bebo sim-Velhas virgens)
O consumo das drogas vem acompanhando a existência humana ao longo dos
tempos, e o álcool destaca-se nesse contexto por ser a mais antiga delas. Detoni (2006)
afirma que uma das mais antigas menções ao vinho data de 3500 a.C., encontrada em
um papiro egípcio, e que indicações de que a cerveja em 6000 a.C. era fabricada
na Mesopotâmia. Fishman (1988), que fez um resgate histórico do consumo do álcool
no decorrer do tempo, bem como de suas diferentes funções, aponta que o vinho é
considerado uma das mais antigas bebidas, sendo fabricado, também, desde 6000 a.C.,
em algumas regiões do Oriente Médio. Além disso, a Bíblia traz Noé como o primeiro a
se embriagar, antes do dilúvio, com a bebida das vinhas que plantou, e faz meões ao
consumo do álcool no Antigo e no Velho Testamento.
De acordo com Fishman (1988), o consumo do vinho e da cerveja foi utilizado
cerca de 2.000 anos a. C., pelos Sumérios, com fins medicinais. A cerveja era
42
consumida com a finalidade de expelir cálculos renais, por ter forte ação diurética, e os
açúcares delas e do vinho podiam ter virtudes medicinais. Apesar disso, os médicos
sumérios preveniam o fato de que grandes porções podiam perder o poder curativo e
se transformar em veneno, o que não impedia as bebedeiras coletivas que muitas vezes
duravam dias em homenagem aos deuses da agricultura. Além disso, nos ritos e
cerinias religiosas, era comum o estado de embriaguez. O autor afirma ainda que
Os faraós e suas famílias, os sacerdotes, os escribas e os militares submetiam-se a
regras sociais rígidas, que limitavam as bebedeiras a ocasiões religiosas (festas em
honra ao deus agrícola Osíris) ou sociais (comemorações familiares ou oficiais em
homenagem a uma boa safra ou a uma vitória militar, por exemplo. (p. 14)
Na Grécia antiga, a primeira bebida alcoólica que se tornou popular foi o
hidromel, que era adquirido através da fermentação do mel diluído na água. O deus da
embriaguez era Dionísio e suas celebrações contavam sempre com o consumo de vinho
que permeava a embriaguez coletiva, e por muitas vezes culminavam em sacrifícios de
pessoas ou animais. por volta de 500 a.C., na época de filósofos como Sócrates,
Aristóteles, Platão, “o uso de vinho foi amenizado, mas fazia parte dos hábitos de
hospitalidade e vida social da sociedade grega” (Fishman,1988, p. 16).
Em Roma, o deus Dionísio passou a ser cultuado com o nome de Baco. Daí
origina-se o termo bacanal, em função das festas que agitavam as cidades do império
durante vários dias, em honra a essa divindade. O cristianismo, ao substituir as religiões
pagãs gregas e romanas, impôs moderação quanto ao consumo do álcool. Ao longo da
Idade Média, com o fortalecimento do cristianismo, este passou a exercer um forte
controle social, combatendo o vício do álcool, muito embora permitisse seu consumo
em festas.
43
No fim da Idade Média, no norte da Europa, através do cultivo da cevada e do
lúpulo, originaram-se as cervejas que ficaram famosas. “E com a difusão das cnicas de
destilação, o leque de novas bebidas se ampliou bastante” (Fishman, 1988, p. 23), fator
este que foi em grande parte responsável pela disseminação dos hábitos de beber na
Europa. A revolução Industrial trouxe o surgimento da máquina a vapor e,
consequentemente, uma produção de manufaturados em um ritmo desconhecido, o que
ampliou o sistema de distribuão e consumo das bebidas alcoólicas.
No começo do século XX, o abuso generalizado do uso do álcool nas grandes
cidades da Europa e das Américas provocou a reação de religiosos, médicos e
estadistas, que culminou na proibição da manufatura e da venda de bebidas
alcoólicas em países como Estados Unidos, Finlândia, Bélgica, Islândia, Noruega,
Grã-Bretanha e Rússia...Talvez o caso mais expressivo seja o da Lei Seca, que
vigorou nos E.U.A de 1919 a 1933, imposta por um artigo acrescentado à
constituição do país (Fishman, p. 27).
Percebe-se que o álcool passou por diferentes formas de aceitação no decorrer
da história. Tendo seus momentos de exaltação ou de proibição como no referido
período da Lei Seca. “Apesar das diferenças socioeconômicas e culturais entre os
países, a Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta o álcool como a substância
psicoativa mais consumida no mundo e também como a droga de escolha entre crianças
e adolescentes” (Vieira, Ribeiro, Romano e Laranjeira, 2007, p. 397). Conhecido
quimicamente como etanol, o álcool é uma substância com a forma química de CH3
CH2 OH. Pode ser associado a outros elementos químicos, responsáveis pela cor, sabor,
odor e outras características das bebidas, o que as deixam muito mais atrativas. É uma
droga lícita que ao ser ingerida causa, inicialmente, uma aparente estimulação em
44
função da depressão dos mecanismos de controle do cérebro, mas que posteriormente
bloqueia o funcionamento do sistema nervoso central, provocando um efeito depressor.
Seu consumo repercute inicialmente na fala, pensamento, cognição e consciência, e em
seguida deprime a respiração e os reflexos. (Bessa & Pinsky, 2006; Braun, 2007; Cirino
& Medeiros, 2006).
Uma dose de álcool equivale a aproximadamente uma latinha de cerveja
(350ml), uma taça de vinho (120 ml), 40 ml de uísque ou de cachaça. De acordo com a
SENAD (2001), um drinque padrão é uma latinha de cerveja (por volta de 300 ml), uma
taça de vinho (120ml), 36 ml de uísque, cachaça ou vodka. Assim, o beber
moderadamente ou socialmente significa que uma pessoa consome uma certa
quantidade de álcool que comumente não representa riscos à saúde, podendo até
prevenir alguns tipos de doenças cardíacas (Pinsky e Bessa, 2006). A grande questão é
que esse beber moderadamente, como bem exaltam as propagandas de bebidas, acaba se
tornando um padrão pessoal e, no caso do adolescente, que normalmente bebe em
grupo, em momentos de recreação, é muito improvável que ele pare logo na primeira
dose, ou na primeira bateria.
A intoxicação aguda pelo etanol geralmente aparece com a ingestão de duas ou
mais doses e caracteriza-se por: (a) alteração do humor (pode variar de euforia até o
desânimo e apatia, passando por comportamento inconveniente como irritabilidade
e/ou agressividade); (b) aumento da sensação de autoconfiança; (c) alteração da
percepção do que está acontecendo ao seu redor, prejudicando a capacidade de
julgamento; (d) diminuição da atenção, dos reflexos e da capacidade motora; (e)
visão dupla; (f) tontura e sonolência; (g) náuseas e vômitos; (h) coma, parada
cardiorrespiratória e morte (Pinsky & Bessa, 2006, p. 18)
45
O organismo leva de sessenta a noventa minutos para metabolizar essa
quantidade de álcool, eliminando os efeitos centrais (sobre o SNC) da bebida (Pinsky &
Bessa, 2006). Os seus efeitos psicoativos variam de acordo com a quantidade ingerida, a
velocidade com que foi tomado, o peso da pessoa, se havia ou não alimentos no
estômago, o estado de humor da pessoa antes de beber e quão acostumada ela está com
a bebida (Detoni, 2006). É importante acrescentar que não é necessário um indivíduo
ser dependente de álcool para que possa apresentar transtornos a ele relacionados, de
modo que não existe consumo sem riscos. Muitos indivíduos não são diagnosticados
medicamente como alcoolistas, embora consumam álcool de forma prejudicial à saúde.
Ele mata mais do que as demais drogas, sejam por ação direta sobre o organismo ou por
consequência de um uso inadequado (Cavalieri & Egypto, 2002).
A bibliografia aponta que o beber é um fenômeno praticamente universal, dado o
alto índice de prevalência de indivíduos que em algum momento da vida, independente
do motivo, fizeram uso do álcool. Atribui-se a fatores emocionais, religiosos ou sociais
a influência na decisão de beber, tanto no adolescente quanto no adulto. O fato é que o
álcool é a droga mais consumida e que mais consequências traz, principalmente para os
jovens.
No caso dessa droga, o encontro pode ser realizado em qualquer lugar, a
qualquer hora e nos mais variados valores, havendo para todos os gostos. Zagury
(2002), ao tratar a temática drogas em sua pesquisa, obteve como resultado o álcool
como a primeira droga a ser experimentada e a mais utilizada pelos jovens (43%),
seguido dos calmantes (10%), da maconha (5,5%) e dos remédios para emagrecer
(5,4%). A autora justifica esse índice alarmante com relação ao álcool pela tolerância e
incentivo da sociedade como um todo. Desde o uso de uma forma social dentro das
46
falias, até a negligência dos bares, boates e restaurantes para a proibição legal da
venda de álcool para menores de 18 anos. Corroborando as informações acima,
Pechansky, Szobot e Scivoletto (2004) afirmam que
O uso de álcool entre adolescentes é, naturalmente, um tema controverso no meio
social e acadêmico brasileiro. Ao mesmo tempo em que a lei brasileira define como
proibida a venda de bebidas alcoólicas para menores de 18 anos (Lei 9.294, de
15 de julho de 1996), é prática comum o consumo de álcool pelos jovens seja no
ambiente domiciliar, em festividades, ou mesmo em ambientes públicos. A
sociedade como um todo adota atitudes paradoxais frente ao tema: por um lado,
condena o abuso de álcool pelos jovens, mas é tipicamente permissiva ao esmulo
do consumo por meio da propaganda... Para uma mente em desenvolvimento,
tipicamente sugestionável e plástica como a de um adolescente, o paradoxo de
posição da sociedade e a falta de firmeza no cumprimento de leis são um caldo de
cultura ideal para a experimentação tanto de drogas como de álcool, contribuindo
para a precocidade da exposição de jovens ao consumo abusivo. (p. 46)
A droga mais consumida no país não é a maconha e nem muito menos a cocaína.
De Norte a Sul do Brasil, a droga mais consumida é o álcool, o que reproduz uma
tendência mundial (Campos, 2004). Os dados com relação ao consumo do álcool são
cada vez mais alarmantes; considerando-se o uso na vida (definido como qualquer
consumo em qualquer momento da vida), de acordo com o I Levantamento Domiciliar
sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil (Carlini, Galduróz, Noto, & Nappo,
2002), a prevalência é de 48,3% entre jovens de 12 a 17 anos, em 107 grandes cidades
brasileiras. De acordo com o levantamento do CEBRID de 2002, em 107 municípios
com mais de 200 mil habitantes, 68,7% da população brasileira consome álcool. Neste
47
mesmo levantamento, destaca-se o uso cada vez mais precoce do álcool pelos
adolescentes: 50% dos estudantes entrevistados na faixa etária entre 10 e 12 anos
haviam experimentado algum tipo de bebida alcoólica.
O álcool é a droga mais nociva em termos de impacto na saúde, economia e
segurança, em função do preço acessível, da facilidade de compra e da
distribuição em todo o território nacional... A organização mundial de saúde
(OMS) estima em 2 bilhões o número de consumidores no mundo. (Teixeira,
2008, p. 18)
Na América Latina, estudos que investigaram o uso de drogas por adolescentes
por meio de questionários anônimos auto-aplicados indicam que o álcool é a substância
mais consumida, sendo as taxas mais elevadas entre indivíduos do sexo masculino
(Tavares, Beria & Lima, 2001). Reportagem da revista Istoé (Caruso & Val, 2001),
intitulada Cada vez mais cedo, reitera as pesquisas que apontam o crescimento do uso
do álcool e da maconha entre pré-adolescentes. Revela que durante sete anos a
psiquiatra Sandra Scivoletto, responsável pelo ambulatório de adolescentes e drogas do
Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, acompanhou
adolescentes de 11 a 17 anos e constatou que, na última década, a idade média para se
experimentar a primeira droga lícita, como o álcool, e outras ilícitas, baixou de 14 para
11 anos. Ao contrário do que dizem por aí, a maconha não é a porta de entrada para
outras drogas. Quem abre o caminho é o álcool, a maconha vem depois” (Caruso & Val,
2001, p. 53). Isso, porque a maioria dos adolescentes que começa a beber rouba bebida
dos pais antes mesmo de ouvir falar em maconha.
Quase três bilhões de pessoas consomem bebidas alcoólicas no mundo e cerca
de 76 milhões têm diagnóstico de alcoolismo (Colavitti, 2006). Além disso, o álcool é
48
responsável por 1,8 milhões de mortes. Carr (2003) relata que algo superior a 70% dos
jovens entre 15 e 17 anos bebem e, destes, mais de 25% bebem mais de sete doses. Com
relação à embriaguez, o percentual é de 28% dos alunos do Ensino Médio, de modo que
a bebedeira virou uma moda entre os adolescentes. Nesta direção, o autor afirma que
estudantes universitários do mundo inteiro gastam mais dinheiro consumindo bebidas
alcoólicas do que com refrigerantes, chás, leite, sucos, café e livros juntos. Pechansky et
al. (2004) citam um levantamento feito com uma amostra de adolescentes de Porto
Alegre, com idade entre 10 e 18 anos, em que era frequente (71%) a experimentação de
bebidas alcoólicas, chegando a quase 100% entre os de 18 anos, o que é um dado
alarmante.
Esses e muitos outros estudos demonstram que o álcool é um problema de saúde
pública no Brasil e que necessita de intervenções eficientes por parte da sociedade e dos
diferentes níveis de governo. Ele está inserido na cultura, presente nos momentos de
lazer e encontros dos adolescentes, em festas, churrascos, jogos de futebol, dentro das
casas, de modo que seu consumo pode parecer normal, sem muita censura ou orientação
por parte dos pais. Embora a maioria dos adolescentes que bebem não venha a
desenvolver a dependência, verifica-se que todos os alcoólatras iniciaram o consumo do
álcool nessa fase da vida. Chama a atenção atualmente o índice de mulheres que vêm
desenvolvendo o alcoolismo, bem como o aumento do consumo do álcool pelas
adolescentes. É dessa última questão que tratará o capítulo que se segue.
49
Capítulo 3
As adolescentes: álcool e gênero
Nas duas faces da Eva
A bela e a fera
Um certo sorriso de quem nada quer
Sexo fgil, não foge à luta
E nem só de cama vive a mulher
Por isso não provoque
É cor de rosa-choque
cor de rosa-choque”
(Rita Lee e Roberto de Carvalho)
Considerando a influência histórica e social na conformação da adolescência,
percebe-se que alguns comportamentos são marcantes e marcados pelas questões de
gênero, de modo que existem modelos socialmente estabelecidos de ser do e da
adolescente. Na visão de Oakley (1972), enquanto as diferenças de sexo são físicas, as
de gênero são socialmente construídas. O conceito de gênero, consolidado na expressão
relações de gênero, representa a aceitão de que a masculinidade e a feminilidade
transcendem a questão da anatomia sexual, remetendo a redes de significação que
envolvem diversas dimensões da vida das pessoas (Yépez & Pinheiro, 2004). O gênero,
portanto, é um conceito sociológico, que se refere à construção da sexualidade nas
relações sociais e às relações de poder que a envolve (Amaral, 2005; Ramos, Monticelli
& Nitschke, 2000; Scott, 1995). Ramos, Monticelli e Nitschke (2000) acrescentam que,
assim, a formação da identidade, no contexto coletivo, tanto para os homens quanto
para as mulheres, decorre das diferentes vivências no meio social onde estão
inseridos... A construção da identidade - feminina ou masculina - se realiza dentro
50
do que é aceito para cada um dos atores sociais, com atitudes ou comportamentos
pprios dos homens e próprio das mulheres. (p. 38)
A concepção de gênero foi edificada como uma maneira de demonstrar as várias
formas de excluo e submissão das mulheres, nos diversos contextos sociohistóricos
(Amaral, 2005). Atualmente, percebem-se mudanças na forma de ser e agir da mulher
que refletem de forma bastante nítida essas diferenças quanto aos comportamentos do
ser homem e do ser mulher, que vão se moldando de acordo com os movimentos da
sociedade. Strey (1998) afirma que a criação desse conceito (gênero) abre um espaço no
conhecimento sobre a mulher e o homem, tornando possível uma transformação na
forma de compreender as diferenças e desigualdades entre eles. Para o autor,
o gênero depende de como a sociedade a relação que transforma um macho em
um homem e uma mea em uma mulher. Cada cultura tem imagens prevalentes do
que homens e mulheres devem ser... A construção cultural do gênero é evidente
quando se verifica que ser homem ou ser mulher nem sempre supõe o mesmo em
diferentes sociedades ou em diferentes épocas. (p. 183)
Percebe-se que as características que compõem a masculinidade ou a
feminilidade não são rígidas e estáveis, mas sim, algo estabelecido pelo contexto
sociocultural, que está em permanente construção e desconstrução. Quando se analisa a
forma de ser e agir da mulher até meados do século XIX percebe-se uma sociedade
dominada pelo patriarcado, uma forma de hierarquia em que as mulheres eram
subordinadas aos homens e as autoridades sociais eram exercidas através dos papéis de
pai e marido (Amaral, 2005). Algumas culturas ainda vivenciam essa subordinação,
sendo exemplo as sociedades islâmicas, nas quais os homens estabelecem uma relação
51
de acentuada dominação sobre a mulher, que assume uma posição de total submissão
(Adas, 1998).
Desde que a mulher, após seu movimento de emancipação, ampliou seu espaço
social e aumentou sua participação na disputa pelo mercado de trabalho, incrementando
novas responsabilidades sociais, houve uma modificação em seu modo de ser, pensar e
agir. As mulheres moldam sua forma de se comportar de acordo com o tempo e a
cultura em que se desenvolvem. “É na trama social que a mulher se constitui, revela-se,
transforma-se e fala sobre si mesma. Desse modo, para falar de mulher é necessário
mencionar o tempo cio-histórico-cultural em que a estamos situando” (Amazonas,
Lima & Dias, 2006, p. 28).
Para entender a maneira que as mulheres e as adolescentes vêm se comportando
atualmente é preciso resgatar algumas mudanças observadas na sociedade, do século
XIX até os dias atuais, nos âmbitos da economia, política e cultura. Zamora (2004),
quando discute a questão dos gêneros em sua tese sobre o consumo de álcool como
expressão de masculinidade, afirma que o final do século XIX foi marcado por
mudanças o intensas e de velocidade tão pida, que é indiscutível as diferenças na
vida diária dos adolescentes atualmente. Hoje em dia está acima de qualquer dúvida
que as relações sociais adquiriram um novo sentido, herdado da tradição cultural que
instaurou as formas de interação entre homens e mulheres”.(p. 18)
Por muitos anos se atribuiu à mulher um lugar de inferioridade em relação
aos homens, em face da diferença na estrutura anatômica de ambos, concepção esta
respaldada pela biologia e pela idéia de que o ser homem e o ser mulher eram
questões puramente biológicas (Amazonas, Lima & Dias, 2006). Tal visão requeria
das mulheres comportamentos marcados pela passividade, delicadeza e recato, bem
52
como que sua função social fosse cuidar do lar e da família; até porque se
acreditava que a “mulher o possuía inteligência suficiente para tratar das grandes
discussões sociais que rondavam o espaço público, destinado ao homem
(Amazonas, Lima & Dias, 2006, p. 29).
Os anos 80 foram marcados pela tentativa de ampliação das temáticas e do corpo
teórico, vigentes anteriormente. Passou-se a trabalhar com a noção de relações de
gênero (sexo sociológico: gênero masculino e gênero feminino) ao invés de relação
entre os sexos. Foi necessário desbiologizar a noção de sexo e integrá-la as questões
sociais. (Massi, 1992, p. 30)
As fronteiras que restringiam a vida das mulheres por justificativas biológicas
foram se movendo com as mudanças sociais, políticas, econômicas e culturais. Com a
ascensão da burguesia e o surgimento da sociedade industrial, e conseqüentemente do
capitalismo, essa maneira de ver a mulher foi se modificando. A história aponta uma
maior participação das mulheres no processo produtivo depois da Segunda Guerra
Mundial, diante da escassez de mão-de-obra conseqüente da participação dos homens
nas duas grandes guerras, bem como uma maior inserção na ordem do público: direito a
cidadania, participação nas decisões da sociedade, na política, na cultura. É perceptível
hoje a crescente participação das mulheres em todas as esferas de atividade na
sociedade, o que representa uma grande diferença em relação ao passado.
Assim, vemos que esse espo social que foi ampliado e conquistado pela
mulher é fruto de uma longa trajetória de lutas e conquistas. Durante o século XIX,
produziram-se constantes reformulações e conquistas femininas que se foram
plasmando nas condutas individuais e nas coletivas, na legislação, na arte e no
pensamento (Strey, 1998). O final desse século foi marcado pela chegada das mulheres
53
à universidade. Na década de 30 elas puderem exercer o direito de cidadania, votando
pela primeira vez, e após a Segunda Guerra Mundial deram início ao trabalho fora do
lar. No Brasil, o direito de voto foi conquistado somente em 1932, promulgado por
Getúlio Vargas. Esse direito foi conquistado a partir de reivindicações iniciadas em
1910, a partir da fundação do Partido Republicano Feminino, no Rio de Janeiro.
Entre os anos trinta e sessenta assistiu-se à emergência de um expressivo
movimento feminista, questionador não só da opressão machista como também das
restrições da sexualidade feminina e dos modelos de comportamento impostos pela
sociedade de consumo. A ditadura militar promovia um processo de modernização
acelerado, denominado milagre econômico, em que se desestabilizava a estrutura da
familiar nuclear, possibilitando a entrada maciça das mulheres no mercado de trabalho
(Rago, 2003). Nas décadas de 1960, 1970 e 1980 foram criados o Movimento Feminino
pela Anistia e o Centro da Mulher Brasileira, além de jornais como Brasil Mulher’ e
Nós mulheres’, que escreviam especificamente sobre a luta das mulheres. Em 1985
criou-se o Conselho Nacional da Condição Feminina, no âmbito de uma política
nacional ligada ao Ministério da Justiça (Adas, 1998).
Foram movimentos sociais e políticos assim como os dos negros, dos índios,
dos trabalhadores sem terra, ou seja, das classes menos favorecidas, que colocavam em
questão o cerceamento imposto à mulher pela sociedade de tradição machista. Envolveu
mulheres em todo o mundo, de diferentes classes sociais, cores, religiões e aspirações
(Adas, 1998).
O alongamento do trabalho da mulher para além do espaço doméstico ampliou
as dimensões das perspectivas de suas vidas e provocou mudanças que se refletiram nas
relações familiares, conjugais e na sociedade. Passaram a existir novos
54
comportamentos, novos anseios e aspirações. Exemplo disto foram os novos arranjos
familiares, que puseram abaixo o modelo tradicional de família como único modelo. O
que antes era composto por pai, mãe e filhos, hoje pode ser configurado também como
uma família monoparental materna, composta apenas por mãe e filhos, sejam elas
separadas ou mães solteiras, o que coloca as mulheres no posto de chefe do lar e que
desmonta um modelo de família nuclear burguesa. Este focalizava a estrutura da família
e não a qualidade das inter-relações (Carvalho, 2002).
Com o início da década de 60, a filosofia naturalista e liberal do movimento
hippie passou a atacar diretamente as instituições como o casamento, por meio de
ideias de sexo livre e de independência e igualdade da mulher. Inexistindo o
divórcio, os homens e mulheres insatisfeitos com suas relações e atordoados pela
mentalidade da chamada Nova Era, uniam-se de forma livre, sem as bênçãos da
Igreja, que não aceitava, e ainda não aceita em certas denominações, um novo
casamento, e sem o contrato civil, visto que o vínculo anterior permanecia
praticamente intacto. (http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3192&p=3)
Um marco dessa mudança foi à legalização do divórcio, em 26 dezembro de
1977, promulgada pela Lei 6.515, modificando todo o sistema de digo civil de 1916
que se alicerçava na indissolubilidade do matrimônio. Foi com a Constituição Federal
de 1988 que, legalmente, a mulher realmente pôde se igualar ao homem, através de dois
artigos: o 5, que em seu título I diz que “homens e mulheres o iguais em direitos e
obrigações, nos termos desta constituição(p. 2); e o 226, que em seu pagrafo 5º,
afirma que os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos
igualmente pelo homem e pela mulher. O texto constitucional efetiva o artigo 14 da
Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, que recomenda que “os homens e
55
mulheres devem gozar dos mesmos direitos, não só durante o seu casamento, como após
sua dissolução(p.25). Da mesma forma, revê o digo Civil de 1969, que em seu
artigo 380 afirmava que o pátrio poder era exercido pelo marido, com a colaboração da
mulher, cabendo ao marido, ainda: a chefia da sociedade conjugal, o direito de fixar o
domicílio da família, o direito de administrar os bens do casal e o direito de decidir, em
caso de divergência (Carvalho, 2002). Dessa forma, sob a lei, a mulher tem regularizada
sua situação, dispondo de instrumentos que visam diminuir ou eliminar as injustiças a
que esteve submetida.
A liberdade de escolha das mulheres tem um momento de grande êxito na
década de 1960, com a invenção da pílula anticoncepcional. A possibilidade de
desvincular o ato sexual da procriação implicou maior autonomia sobre o planejamento
familiar e em sua vida sexual, ampliando sua identidade, antes restrita aos papéis de
mãe, esposa e educadora. “Surgiram nos Estados Unidos as pílulas anticoncepcionais, o
mito Marilyn Monroe, a revista Playboy, o musical Hair, entre outros” (Sampaio, 2005,
p. 31).
A autora ainda cita os novos tipos de vestuários como shorts, minissaias,
soutiens, biquines, que escandalizaram e causaram furor, serviram como inspiração para
algumas composições musicais e, mais tarde, tornaram-se símbolos de uma geração. Em
se tratando de música, uma das mais ouvidas e cantadas pelos adolescentes do Nordeste
do Brasil, nomeada de Mulher desmantelada, descreve de uma forma caricaturada e
bem-humorada algumas das mudanças dessa forma de pensar e agir das mulheres do
século XXI
Mulher gosta de praia, cerveja bem gelada, mulher gosta de farra e de forró, mulher
gosta de beijo molhado de desejo, mulher gosta do bom e do melhor... Mulher não
56
quer ser motorista de fogão, não! Mulher não quer ficar em casa de plantão, mulher
não gosta de sentir-se dominada, mulher foi feita para amar e ser amada. (Forró dos
Plays, 2007).
A condição de ser da mulher, a sua forma de pensar e se comportar apontam
para um novo estilo de vida marcado por autonomia, liberdade e independência. O fato
de não mais querer ser motorista de fogão, ficar em casa de plantão, de sentir-se
dominada, reflete uma mulher cujas prioridades nãoo mais cuidar da casa e dos filhos
(quando desejam ter), mas sim que prioriza a sua formação profissional e sua liberdade
de ocupar os mesmos lugares que os homens. De acordo com dados do IBGE (2000), a
mulher atualmente tem casado bem mais tarde e tem demorado mais para ter filhos.
Como não poderia deixar de ser, as conquistas feministas nas últimas décadas
ecoam na forma atual de se comportar das adolescentes, que passam a apresentar
comportamentos até então pouco vistos. Elas o mais começam a namorar para cedo
casar e logo constituir famílias; ao contrário disso, o para festas, curtem e ficam. Tal
forma de se relacionar surge na segunda metade dos anos 1980, nos cantinhos de
danceterias, e se estende aos shoppins centers e às festas. No ato de ficar, a garota e o
garoto ficam juntos, às vezes tendo acabado de se conhecer, sem assumir qualquer
compromisso de namoro ou de um relacionamento futuro (Tiba, 1994). Muitas vezes
beijam-se sem ao menos perguntar os nomes. Além de poder ficar com qualquer garoto
sem compromisso, as meninas podem também beijar mais de um em uma noite,
comportamento que era somente aceito socialmente quando vivido pelos meninos. Além
de assumir padrões tipicamente masculinos nas novas formas de se relacionar, as
meninas, hoje, frequentam os mesmos ambientes e comportam-se como eles.
57
O consumo de álcool, que durante séculos foi mais comum entre os rapazes, tem
aumentado junto às garotas, bem como a maior incidência de casos de alcoolismo e o
envolvimento em acidentes de carro a ele associados. Esse quadro revela uma mudança
de comportamento no conjunto da sociedade, que aceita com mais tranquilidade a maior
liberdade das meninas para frequentar locais e eventos onde se consome bebida
alcoólica, e onde podem expressar os mesmos comportamentos de consumo dos
meninos (Zakabi, 2002). Este panorama é confirmado por Amazonas, Lima e Dias
(2006), ao afirmarem que na medida em que a sociedade foi se tornando mais liberal e
permissiva, inclusive tolerando o comportamento de beber em público, o beber entre as
mulheres aumentou. De modo que contribuiu para o aumento da prevalência de
transtornos por uso de substâncias entre as mulheres, tal como explicitam Gigliotti &
Guimarães (2007)
Desde a segunda guerra mundial, mudanças culturais como a entrada das mulheres
no mercado de trabalho e em profissões previamente dominadas por homens, entre
outras mudanças, contribuíram para o estreitamento entre as diferenças de
comportamento masculino e feminino, aumentando assim a oportunidade para as
mulheres beberem e experimentarem drogas (p. 19).
De acordo com a Secretaria de Saúde de São Paulo, houve um aumento de 78%
no número de mulheres que buscam tratamento para o alcoolismo nos centros de saúde,
nos últimos cinco anos (Rangel e Rabelo, 2007). Uma pesquisa desenvolvida pelo
CEBRID (2000), envolvendo as 24 maiores cidades com mais de 200 mil habitantes –
do estado de São Paulo, constatou que o uso na vida de álcool na faixa etária entre 12 e
17 anos foi de 37,7% para o sexo masculino e 32,3% para o feminino, sendo que o uso
regular foi de 0,7% para o sexo masculino e de 1,9% para o feminino. Na mesma faixa
58
etária, a prevalência de dependentes de álcool foi de 5,3% para o sexo masculino e de
2,5% para o sexo feminino. Esses dados evidenciam que as adolescentes estão
consumindo o álcool de forma esporádica – na vida – um pouco menos que os meninos,
muito embora o consumo mensal seja duas vezes maior que o deles.
Estudo mais recente e mais abrangente sobre o consumo do álcool na população
brasileira, realizado em 2007 pela Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD), em
parceria com a Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), o I Levantamento
nacional sobre os padrões de consumo de álcool na população brasileira abrangeu
3007 pessoas, dentre as quais 661 adolescentes entre 12 e 17 anos. Sua amostra
abrangeu 100% do território nacional, gerando um retrato bastante aproximado de como
a população brasileira está se relacionando com o álcool. A pesquisa chama a atenção
para alguns dados, principalmente a auncia de diferença entre meninos e meninas no
beber, ou seja, para o fato de que as meninas estão bebendo quase tanto quanto os
meninos. Na mesma direção, Zailcklas (2007) afirma que,
Nas últimas décadas, as garotas acabaram com a diferença de sexo no que diz
respeito à bebida. Escrevi este livro por que pela primeira vez na história, elas estão
bebendo tanto e tão cedo quanto os rapazes, porque o número de mulheres que se
embebedam pelo menos dez vezes por s triplicou e uma pesquisa em 2001
mostrou que quarenta por cento das jovens bebem para se embriagar. (p.12)
Em estudo com alunos dos Ensinos Fundamental II e Médio de escolas públicas
e privadas (1083 questionários na rede pública e 320 na rede privada) da cidade de
Assis, no estado de o Paulo, revelou-se que o álcool foi a droga mais consumida pelos
adolescentes (68,9%). Em relação aos sexos, houve maior uso na vida de maconha,
cocaína e solventes pelos alunos do sexo masculino, e os anfetamínicos e os ansiolíticos
59
entre as meninas. Quanto às outras drogas, não foi constatada diferença significativa
entre os dois grupos, inclusive para tabaco e álcool (Guimarães, Godinho, Cruz,
Kappann e Junior, 2004), o que reforça a intensidade do consumo de álcool pelas
meninas.
Não é nenhuma surpresa ir aos churrascos de turmas, shows e festas e encontrar
meninas não erguendo orgulhosas seus copos com bebidas, mas também, muitas
vezes, sendo carregadas pelas colegas por estarem embriagadas. Além disso, basta
passar pelos barzinhos mais movimentados que facilmente se verá uma mesa repleta de
meninas ou elas estarão misturadas com os meninos. A revista Época (Vieira & Velloso,
2002) traz dados que reafirmam essa realidade:
Bebedeiras homéricas costumavam ser associadas à combinação de juventude e
testosterona. Até hoje os rapazes viram copos como se fosse uma demonstração de
virilidade. Mas agora as meninas também enxugam. Foi-se o tempo em que a moça
que bebia era malvista. Hoje elas competem com os rapazes. (p. 41)
A embriaguez nas meninas pode se dar de forma mais rápida do que entre os
meninos, em função da concentração plasmática de álcool que é maior nas mulheres,
mesmo quando ambos consomem a mesma quantidade de álcool por unidade de peso
corporal. Isso ocorre por que os homens têm mais porcentagem de água no corpo do que
as mulheres, o que faz com que a concentração de álcool seja menor, pois fica mais
diluído. Além disso, a enzima álcool desidrogenase tem uma concentração menor na
mucosa gástrica da mulher, o que aumenta a absorção de álcool ingerido em função da
diminuição do metabolismo gástrico do álcool. Soma-se a isso o fato de que, com a
idade, as mulheres ganham mais gordura corpórea, o que diminui a quantidade de água
no organismo e as deixa ainda mais sensíveis ao álcool (Gigliotti & Guimarães, 2007).
60
Em sua tese a respeito do uso do álcool na adolescência, Zamora (2004) revela
que o consumo de álcool integra o processo de socialização e parece ser aceito como
componente integrante da convivência entre amigos. A pesquisa foi realizada com
adolescentes do sexo masculino no México e aponta que o beber é parte do processo de
socialização do homem. Observou-se que o comportamento de beber faz parte de um
conjunto de estratégias que o ambiente cria para facilitar a convivência entre as pessoas,
e, como deixa claro o estudo, em especial os adolescentes. Apesar de ter sido realizado
com adolescentes exclusivamente do sexo masculino, aponta para a função do álcool
como agente socializador, confirmando a relação que entre o consumo de álcool na
adolescência e a sociabilidade.
61
Capítulo 4
Sociabilidade adolescente
“... Garotas como eu, afinal de contas, aprendem
a ficar amedrontadas quando sozinhas. No
parque ou em uma loja, somos alvos. Podemos
ser raptadas, sujeitas a um grande número de
perigos imprevisíveis, molestadas, torturadas,
abandonadas para morrer. Mas, em grupo,
aprendemos a nos sentir mais fortes, como o
total dos nossos componentes. Esquecemos
gradualmente nossas ansiedades e reservas.
Praticamos “O Sistema do Parceiro”.
Acreditamos falsamente que a tragédia não nos
pode atingir sozinha num grupo” (Zailckas,
2007, p. 46)
O conceito de sociabilidade (Geselligkeit) foi criado originalmente no campo da
sociologia, por Georg Simmel, que indagava sobre como a sociedade se fazia possível.
Esta era considerada como algo continuamente constituído e dissolvido, através de
interações recíprocas entre os indivíduos. A sociabilidade, portanto, seria uma
consideração de modos, padrões e formas de socialização em contextos ou em círculos
de interação e convívio social, nos quais atuar como se todos fossem iguais seria uma
das regras implícitas (Frúgoli Jr., 2007). A sociabilidade é a capacidade da espécie
humana de viver em sociedade, que se desenvolve pelo processo de socialização.
Moreira (1996) define socialização como o processo pelo qual a criaa adquire
valores e padrões comportamentais que se adequam à cultura própria do grupo social no
qual está inserido. A socialização é, portanto, um processo fundamental não apenas para
a integração do indivíduo em seu grupo, na sua sociedade, mas também para a
62
continuidade dos sistemas sociais: “Trata-se de um processo educacional amplo e
assistemático que se desenvolve durante toda a vida” (Moreira, 1996, p. 39). Na medida
em que a sociedade vai se complexificando, a tarefa de socializar, que era exclusiva dos
pais, vai se ampliando, de modo a surgirem novos agentes de socialização como
instituições especializadas, a exemplo da escola.
No decorrer do desenvolvimento humano a socialização tem início após o
nascimento, quando a família inicia o processo de transmissão de seus valores, hábitos e
crenças; à medida que a criança vai crescendo, vai ampliando o seu nível de
socialização a partir da inserção em alguns grupos sociais como a escola, os meios de
comunicação, os esportes coletivos. É um processo contínuo que nunca se dá por
terminado, realizando-se através da comunicação, inicialmente pela imitação. É através
desse processo que o indivíduo pode desenvolver a sua personalidade e ser admitido na
sociedade. A socialização é, portanto, um processo fundamental, não apenas para a
integração do indivíduo na sua sociedade, mas também para a continuidade dos sistemas
sociais através dos quais o indivíduo se integra no grupo em que nasceu, adquirindo os
seus hábitos e valores característicos.
As relações sociais, que caracterizam os seres humanos, vão se delineando e se
modificando em termos de estrutura e de importância no decorrer da vida. É na
adolescência que os grupos passam a aumentar seu nível de importância e de inflncia,
de modo que o adolescente, ao se inserir em um grupo, se torna um membro funcional e
assimila a cultura que lhe é própria, se apropriando de comportamentos e atitudes,
modelando-os por valores, crenças e normas. As relações no seio do grupo de colegas
fornecem-nos algumas pistas para a compreeno do desenvolvimento psicológico e
social (Sprinthall e Collins, 1988). O velho ditado popular dize-me com quem andas,
63
que te direis quem és, destaca a refencia e a força que o grupo tem nos
comportamentos de cada indivíduo.
Alguns teóricos referem-se à mudança da infância para a adolescência como um
alargamento social, em função da ampliação dessa rede de contatos que ocorre na
adolescência. Essa rede é mais bem definida e melhor estruturada do que os arranjos
grupais instáveis da inncia. Um dos fatos que mais distingue as experiências da
adolescência e da infância é a forma de se relacionar com os amigos. Os adolescentes
passam a maior parte do tempo com os amigos e sozinhos, do que com familiares. As
crianças, ao contrário, passam a maior parte de seu tempo com os adultos, até por conta
da dependência que ainda têm. Os grupos de crianças normalmente se arranjam com o
objetivo de participar de alguma atividade juntas ou de brincarem, de forma eventual.
Os adolescentes alicerçam seus grupos de referência em bases mais lidas e estáveis,
de modo que a qualidade das ligações é muito mais intensa e duradoura (Sprinthall e
Collins, 1988).
Coerente com a perspectiva anterior, Tierno (2003) afirma que:
A infância não conhece a amizade, somente o coleguismo e o fato de pertencer a
um grupo. Os amigos e companheiros da infância são instrumentos de expressão,
comunicação e atuação mais do que verdadeiros amigos. Na pré-adolescência, as
amizades são afetuosas, mas não muito firmes e duradouras e é muito frequente a
mudança de interesse e de companheiros. (p. 57)
Ele defende a ideia de que a amizade na adolescência é uma vivência formativa e
imprescindível para a o desenvolvimento e amadurecimento da personalidade. “Tal
importância se deve ao fato de na adolescência as amizades mudarem de forma
64
significativa, haja vista que antes eram mais egocêntricas, agora adquirem um
sentimento mais altruísta e positivo” (Tierno, 2003, p.59).
O grupo exerce um grande poder na forma de se comportar do adolescente,
podendo influenciar de maneira informal e/ou normativa. Na influência informal,
funciona como um modelo padrão de comportamentos, atitudes e valores, como um
espelho no qual o adolescente está sempre se olhando. Na influência normativa uma
pressão social real exercida pelos colegas, de modo que se comportam seguindo os
padrões do grupo a que pertencem (Sprinthall & Collins, 1988). A adolescência é o
momento de estabelecer outros laços, além dos familiares, para que haja uma expansão
subjetiva e social da pessoa. Aberastury (1981) assinala que o espírito de grupo surge na
medida em que o adolescente, em sua busca de identidade, recorre aos iguais, à
uniformidade, na tentativa de conseguir mais segurança e estima pessoal.
A busca do eu nos outros, na tentativa de obter uma identidade própria, foi
denominada por Erickson (1972) de crise de identidade. Trata-se de um processo que
gera angústia, insegurança, passividade ou revolta, conflito de valores, além de
dificuldades de relacionamentos inter e intrapessoal. O senso de identidade é
desenvolvido durante toda a vida, havendo tarefas específicas para se enfrentar em cada
período distinto do desenvolvimento. Para esse autor, no período que se estende dos 13
aos 18 anos, a principal tarefa a ser desenvolvida é adaptar o sentido do eu às mudanças
físicas da puberdade, além de desenvolver uma identidade sexual madura, buscar novos
valores e fazer uma escolha ocupacional. De acordo com suas palavras,
Em termos psicológicos, a formação da identidade emprega um processo de
reflexão e observação simultâneas, um processo que ocorre em todos os níveis do
funcionamento mental, pelo qual o indivíduo se julga a si próprio à luz daquilo que
65
percebe ser a maneira como os outros o julgam, em comparação com eles próprios
e com uma tipologia que é significativa para eles; enquanto que ele julga a maneira
como eles o julgam, à luz do modo como se percebe a si próprio em comparação
com os demais e com os tipos que se tornaram importantes para ele. (Erickson,
1972, p. 21)
Portanto, a construção da identidade é um processo pessoal e social que não
acontece de forma isolada, mas sim através da interação do indivíduo com o meio em
que está inserido. Erickson (1972) enfatiza, ainda, que a identidade não deve ser vista
como algo estático e imutável, como se engessasse a personalidade, mas como algo em
constante desenvolvimento e formação, sendo a adolescência o momento em que se está
preparado para atravessar a crise da identidade. Como justifica o autor, “É somente na
adolescência que há o desenvolvimento dos requisitos preliminares de crescimento
fisiológico, amadurecimento mental e responsabilidade social para atravessar a crise de
identidade. De fato, podemos falar dessa crise como o aspecto psicossocial do processo
adolescente” (p. 90). Aberastury (1983) caracteriza a busca para adquirir uma
identidade própria como uma luta em que muitas vezes o adolescente escolhe caminhos
distorcidos como uma forma de protesto contra as armadilhas da sociedade adulta, e a
busca pelas drogas seria uma delas.
É importante entender que o termo crise, adotado por Erikson (1972), não é
sinônimo de desastre ou desajustamento, a exemplo dos conceitos iniciais de
adolescência, que a descreviam de uma forma patologizada e carregada de estereótipos
e estigmas (Contini et al., 2002). Ao contrário, trata-se de mudança; de um momento
especial do desenvolvimento em que se observa a necessidade de escolher um ou outro
caminho, mobilizando recursos que levam ao crescimento. É nesse momento de crise de
66
identidade que se verifica a identificação com pessoas, grupos e ideologias que se
tornarão uma espécie de identidade transitória ou coletiva, até que adquira a maturidade
suficiente para a construção de uma identidade autônoma.
Identidade significa aparecer: ser diferente e, por essa diferença, singular - e assim
a procura da identidade não pode deixar de dividir e separar. E, no entanto a
vulnerabilidade das identidades individuais e a precariedade da solitária construção
da identidade levam os construtores da identidade a procurar cabides em que
possam, em conjunto, pendurar seus medos e ansiedades individualmente
experimentadas, e depois disso, realizar os ritos de exorcismo em companhia de
outros indivíduos também assustados e ansiosos. (Bauman, 2003, p. 21)
Esses cabides a que se refere o autor podem ser claramente reconhecidos nas
relações dos adolescentes. No momento em que estão solidificando suas identidades é
quando se encontram mais soltos e desprotegidos pelo mundo. De acordo com
Calligaris (2000), na medida em que a sociedade nega o reconhecimento dos
adolescentes enquanto sujeitos, eles se afastam de suas famílias e passam a viver no e
pelo grupo, pois dessa forma se sentem tratados como adultos, como homens e mulheres
de verdade. Contini et al. (2002) confirmam essa adesão ao grupo como uma proteção,
uma forma de esconder os medos e temores. O grupo funciona como um espaço
transicional; é ele que, de forma intermediária entre a família e a sociedade, propicia a
formação da identidade do adolescente. Há uma grande confiança nos valores do grupo,
de forma que isso lhes assegura uma auto-estima baseada na imagem que os
companheiros lhes enviam. Klosinski (2006) corrobora com essa ideia ao afirmar que,
um processo de superidentificação em massa, onde todos se identificam com
cada um. Às vezes, o processo é tão intenso que a separação do grupo parece quase
67
impossível e o individuo pertence mais ao grupo de coetâneos do que ao grupo
familiar. Não se pode separar da turma nem de seus caprichos ou modas. Por isso,
inclina-se às regras do grupo, em relação a modas, vestimenta, costumes,
preferências de todos os tipos, etc... O grupo constitui assim a transição necessária
no mundo externo para alcançar a individualização adulta. (p. 36)
Percebe-se que, na maior parte da cultura ocidental, a adolescência é vivenciada
vinculada à ideia de mudanças, sendo um momento de transformações, descobertas,
aprendizados, emoções intensas, um momento da vida que pressupõe instabilidade. E é
principalmente nesse momento que há uma grande necessidade de reconhecimento e
aceitão. Desse modo, os adolescentes buscam nos amigos, na turma, na galera, ou
seja, naqueles com quem se identificam e com os quais compartilham as mesmas dores,
vidas e alegrias, a dose necessária de aconchego, solidariedade e compreensão
(Pinsky & Bessa, 2006). “Amigo, no fim das contas, o é mais do que o imperativo de
“ame ego”, ou seja, “ame eu”, ou melhor, “ame o que sou ou aquilo que me representa”.
(Jerusalinsky, 2008, p.58).
A necessidade de pertencer a um grupo, o desejo de sentir-se adulto bem como a
curiosidade, são apontados por Zamora (2004) como as principais razões que fazem da
adolescência um período propício para a experimentação de coisas novas como o álcool
e outras drogas. Alves (1999) descreve de uma forma bastante fiel a questão do
pertencimento a um grupo, na medida em que caracteriza as relações da turma. De
acordo com ele,
A turma cria um delicioso sentimento de fraternidade. Todos se confirmam. Todos
fazem as mesmas coisas juntos. Todos o conspiradores. Mas, ao fazer ela retira
dos indivíduos isolados o senso de identidade. Sem a turma o adolescente é um
68
rosto sem espelho. Na turma, indivíduos respeitáveis e tímidos isoladamente
transformam-se em feras imorais. Individualmente todos somos seres morais. Na
turma a responsabilidade social desaparece. A turma é a lei. Ela impõe. A turma
decide sobre roupas, tênis, boates, músicas, fumo, cheiro, transa. Ai daquele que
não obedece. (p. 32)
Na turma, tudo é permitido. É nela que os adolescentes se encontram com eles
mesmos. É como se num mundo de adultos e crianças eles, os alienígenas, os diferentes,
conseguissem se enxergar na sua diferença. Juntos, desfrutam do sentimento de poder: a
turma os fortalece como grupo e os enfraquece como indivíduos. Sozinhos não podem
nada, juntos podem tudo. É nesse momento que acontece o pesadelo de qualquer pai,
que é o encontro do filho com a droga. Esta acaba muitas vezes sendo um canal de
socialização do adolescente. De acordo com Pereira (2002), citado por Cirino e
Medeiros (2006), o homem tem a capacidade de estabelecer diferentes modos de uso de
drogas, de forma que as variáveis usar ou experimentar drogas não possuem uma
relação necessária de causa-consequência com o fato de ter problemas ou estar
angustiado.
O objeto droga sempre esteve inserido na cultura por possibilitar diversos vínculos.
Na droga, os índios buscam o acesso às divindades, os bolivianos mascam a folha
da coca para suportar a altitude elevada, os médicos amenizam as dores
insuportáveis dos enfermos, os jogadores de final de semana aliviam o suor da
“pelada” com a famosa cerveja gelada. (Cirino e Medeiros, 2006, p. 137)
A droga possibilita a inserção no grupo uma vez que, na grande maioria deles, é
considerada como algo poderoso, que quando utilizada traz, além da sensação inicial de
69
prazer e bem-estar, uma ilusão de coragem, a crença de um reconhecimento do grupo
como alguém corajoso e forte (Cunha &Vieira, 2004).
Do primeiro gole, porém, Koren não consegue esquecer. Aos 14 anos, na casa de
uma amiga, a menina tímida experimentou um drinque e uma sensação de poder. A
partir desse dia, não parou mais. Bebendo, ela já não se sentia mais feia ou
estranha. Ao contrário. Era engraçada, ousada, dona de si. E o melhor de tudo:
tornava-se atraente aos olhos dos meninos e fazia amigos com facilidade. (Zailckas,
2007, p.1)
De acordo com Contini et al. (2002), “A curiosidade, a influência do grupo
social, a disponibilidade de drogas, o contexto familiar e situões como episódios de
emoções desagradáveis têm sido apontados como alguns dos fatores de risco para o uso
de drogas entre os jovens” (p. 94). Quando se trata do álcool em especial, uma série de
estudos aponta o fato da bebida se configurar como uma ferramenta de socialização, e
assim um dos principais motivos que levam o indivíduo a beber, em especial o
adolescente. Neste sentido, afirma Zamora (2004) que O fator mais consistente
vinculado ao uso adolescente de drogas é a utilização pelos amigos” (p. 27).
Coerente com a afirmação acima, na matéria Jovens e álcool: mistura perigosa,
Rabelo e Rangel (2007) destacam que, “Muito se especula sobre as razões que estão
levando os jovens a beberem tanto. alguns motivos conhecidos. Entre a turma, a
bebida é uma ferramenta de socialização... Você ouviu dizer que alguém fez amigo
tomando leite?” (p. 50). Os dados levantados pelo CEBRID (1997) apontam que a
convivência entre amigos é um importantíssimo cenário para o início do consumo do
álcool o batismo –, relatado por 23,8% dos estudantes do Ensino Fundamental e
Médio, em dez capitais brasileiras.
70
O álcool é cada vez mais uma companhia frequente dos adolescentes, usado
como um importante agente socializador. Nas resenhas em casa, nos bares, boates e
shows, é sempre comum o encontro com adolescentes tagarelas e falantes, risonhos e
eufóricos. Sob o efeito do álcool, o jovem torna-se mais desinibido, conversador e
interativo (Bessa & Pinski, 2006). Em seu estudo sobre consumo de álcool com
adolescentes de escolas católicas privadas da cidade de Natal (RN), Silva (2006) destaca
que 27% dos adolescentes que consomem bebidas alcoólicas afirmaram ter tido o
primeiro contato em companhia de amigos; 20% deles disseram beber para ter
autoconfiaa para iniciar conversas; e 29% justificaram o beber pelo desejo de se
divertir mais. Em relação ao lugar de experimentação do álcool, 37% afirmaram ter tido
o primeiro contato em festas, 16% em praias e 10% em casa.
Assim, fica nítida a relação entre o comportamento de beber e a crença de que
isso gera mais diversão e facilita a interação no grupo. Percebe-se que o jovem, em
especial, busca no álcool seus efeitos primários, relacionados a um desbloqueio
comportamental para se soltar mais, uma certa euforia que se traduz em descontração,
empolgação, seguida de uma sensação de relaxamento. De acordo com Silva (2006),
Vê-se, então, que o ato de beber é um ritual de sociabilidade. Sabe-se que, entre os
adolescentes, o grupo de amigos possui uma forte influência em seus modos de
expressão, vestimenta, estilos musicais, e, entre tantos outros fatores, encontra-se o
uso de bebidas alcoólicas. Assim, nos grupos, a bebida também pode ser entendida
como fator de aproximação e de identificação com seus membros. (p. 55)
O consumo de bebidas alcoólicas integra a cultura brasileira, constituindo fato
social não aceito como frequentemente reforçado. Por outro lado, é certamente um
dos maiores fatores de adoecimento e de risco para a população (OMS, 2002). Ao
71
participar de festas em geral em que adolescentes se façam presentes, percebe-se que a
sociabilidade juvenil vem sendo construída tendo como um de seus fortes pilares a
bebida. As músicas cantadas em coro, os diversos tipos de brincadeiras 21, eu nunca,
porrinha e as comunidades de sites de relacionamento como o Orkut retratam essa
realidade.
Um dos coros mais fortes e empolgantes em qualquer reunião de adolescentes
bebendo é o das baterias: Por que bebes companheiro, por que bebes tão ligeiro; se és
covarde, saia da mesa, que a nossa empresa requer valor. Primeira bateria: vira, vira,
vira, vira, vira, vira, virou!
Aqueles que se encontram na mesa, que podem nunca antes ter se visto, no
momento da bateria transformam-se em grandes e íntimos companheiros. Cantam alto e
empolgados, erguendo os copos cheios de bebida de maneira brava e orgulhosa. Os
covardes devem sair da mesa, pois nesta empresa, para entrar, tem que ter um grande
valor: beber. E a cada bateria cantada, a união aumenta. Na altura da quinta ou sexta
bateria, todos cantam abraçados e unidos como se fossem amigos de infância.
Por questões culturais, o álcool se transformou em uma imposição ligada ao lazer.
Tanto adolescentes quanto adultos estão condicionados a somente se divertir
quando ingerem bebidas alcoólicas. Já os que não toleram o álcool ou simplesmente
preferem evitar os seus efeitos são pressionados a beber de qualquer forma, sob
pena de sofrer rejeição do grupo, o que, para os inseguros, é desastroso. (Pinsky &
Bessa, 2006, p. 73)
O potencial de abuso da grande maioria das drogas relaciona-se inicialmente ao
fato de elas, num primeiro momento, produzirem uma sensação de bem-estar. O
adolescente, em especial, busca no álcool seus feitos iniciais, relacionados à desinibição
72
comportamental, certa euforia que se manifesta pela descontração, extroversão, seguida
de uma sensação de relaxamento. Entretanto, essa busca normalmente passa do efeito
inicial e traz complicações decorrentes de episódios de embriaguez, como acidentes de
trânsito e brigas, entre outros. O álcool, ao contrário de outras drogas ilícitas, cobra as
suas contas a juros e não à vista, ou seja, as consequências vêm em longo prazo e vão se
instalando de forma gradativa, no decorrer de anos de consumo e, embora possa ter suas
origens na adolescência, o problema se torna mais evidente na vida adulta.
É válido ressaltar que o álcool é uma droga permitida, mas não liberada. No
Brasil, a lei que regulamenta o seu consumo é o Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA, 1990), que em seu artigo 81 determina que a venda de bebidas alcoólicas à
criança ou ao adolescente é proibida, muito embora se saiba que essa lei, na maioria dos
casos, não é respeitada. Nesse sentido, a sociedade vem sinalizando certa preocupão
com o consumo de álcool, em especial entre os jovens, o que vem se manifestando em
sua legislação em relação às políticas públicas sobre o consumo do álcool.
Embora seja evidente a preponderante participação do álcool entre os jovens, ainda
são raras e incoerentes as políticas públicas de saúde no sentido de prevenir ou
minimizar os problemas associados. Por outro lado, nos últimos anos tem-se
observado um aumento de debates no país sobre políticas públicas relacionadas ao
consumo do álcool. (Pinsky & Bessa, 2006, p.52)
Diante do exposto, a importante temática das políticas públicas relativas ao
álcool será melhor discutida no capítulo a seguir.
73
Capítulo 5
Legislação, Políticas Públicas e Intervenção no Contexto Escolar
Aplico à minha história todas as perguntas usadas por
peritos: e se eu nunca tivesse visto um anúncio de
bebida alcoólica? e se nas páginas das revistas ou nos
outdoors das auto-estradas não houvesse garrafas e
copos brilhantes para atrair minha atenção? E se a
idade legal para beber fosse 18 anos? Eu me pergunto
se qualquer legislação poderia ter moderado meu vício
(Zailckas, 2007).
O questionamento acima e em cheque uma série de pontos que perpassam a
relação do consumo do álcool com as políticas públicas e sua legislação, objetivo
central desse capítulo. Políticas públicas são resoluções de consenso tomadas por
governantes na forma de leis, normas ou regulações a partir de decisões e ações para
solucionar problemas que em um dado momento os cidadãos e o próprio governo de
uma comunidade política consideram prioritários ou de interesse público. Tais decisões
devem prover de concordância entre os especialistas e autoridades da área; devem
proceder, também, do alcance legítimo de legisladores ou outras autoridades
constituídas em prol do interesse público. Jamais da indústria ou de seus lobbies.
Quando políticas públicas dizem respeito à relação entre álcool, saúde e bem-estar
social são consideradas políticas do álcool (Romano & Laranjeira, 2004).
O consumo de álcool vem sendo alvo de preocupões em todo o mundo. A
Organização Mundial de Saúde (OMS), na esfera internacional, e o Ministério da
Saúde, em território brasileiro, criaram uma legislação que procura resguardar a
74
sociedade do consumo abusivo de drogas. Em relação ao álcool, torna-se mais difícil
um controle, em face de seu consumo ser permitido, com algumas restrições. A ingestão
de bebidas alcoólicas é permitida ao indivíduo maior de dezoito anos, desde que não
esteja dirigindo veículo automotor (Pinsky & Bessa, 2006). Percebe-se a diferença em
relação ao limite de idade que consta no relato citado na epígrafe, tendo em vista que
nos Estados Unidos a idade permitida para o consumo do álcool é de 16 anos.
Entretanto, apesar de no Brasil ser permitido o consumo de bebidas alcoólicas a
partir dos 18 anos de idade, nos Estados Unidos uma maior rigidez no sentido das
fiscalizões e cumprimento efetivo da legislação.
A amplitude do consumo de bebida alcoólica pela população brasileira, em
especial por adolescentes e jovens, é nitidamente verificada através de pesquisas
epidemiológicas, comentadas nos capítulos anteriores. Esses estudos dão um
panorama real desse comportamento tão preocupante e permitem a estruturação de
políticas públicas. Eles m sido desenvolvidos nas mais diversas regiões do Brasil,
dando uma maior ênfase ao uso de drogas psicotrópicas entre estudantes. A grande
preocupação com os adolescentes tem se dado por não haver um padrão de beber de
baixo risco para essa faixa etária, em função de mesmo o baixo consumo necessitar de
cuidados. Além disso, percebe-se que são raros os adolescentes que conseguem beber
pouco e em baixa frequência. Uma das principais recomendações dos levantamentos é
um maior monitoramento e controle do beber nessa faixa etária (SENAD, 2007).
Diante desses dados, algumas medidas vêm sendo tomadas pelos mais diversos
setores da sociedade. Em 2002, já preocupadas com o alto índice de consumo de
bebidas alcoólicas por jovens no Brasil, a Associação Brasileira de Estudos de Álcool e
outras Drogas (ABEAD), a Associação Médica Brasileira (AMB), a Secretaria Nacional
75
Antidrogas (SENAD) e a Associação Brasileira de Psiquiatria lançaram um manifesto,
solicitando que fosse dado o mesmo tipo de tratamento e rigidez das propagandas de
cigarro às de bebidas alcoólicas, tendo em vista a significativa mudança de
comportamento da população em relação ao tabaco.
Em 2003, o Conselho Nacional de Auto-Regulação Publicitária (CONAR)
baixou uma resolução que aconselhava a suspensão do uso de personagens de desenho
animado em propagandas de cerveja, e que proibia a utilização de pessoas com idade
menor que 25 anos nos comerciais. Mesmo assim, das mensagens que o Código
Brasileiro de Auto-Regulamentação Publicitária acatou, que deverão fazer parte
obrigatória das cláusulas de advertência nos comerciais, apenas uma é explicitamente
voltada a informar que o consumo não se destina a crianças ou adolescentes (este
produto é destinado a adultos). As demais fazem referência a restringir o abuso, não
beber e dirigir, e beber com moderão.
O Ministério da Saúde tem tomado algumas atitudes na tentativa de mobilizar a
sociedade para a diminuição do consumo do álcool, principalmente pelos jovens. Uma
delas foi o lançamento de uma campanha que foi divulgada no rádio, na televisão, em
revistas, internet e cinema, no período de 20 de dezembro de 2006 a 15 de janeiro de
2007, na tentativa de diminuir o consumo abusivo de álcool nas festas de final de ano.
Os slogans da campanha eram: o esqueça que você faz falta para a sua família; Se
beber, não dirija; e Não esqueça que você faz falta para seus amigos. Não exagere na
bebida. Logo em seguida, no dia 08 de março de 2007, lançou oficialmente a campanha
Pratique Saúde/Consumo de Bebidas Alcoólicas, com o objetivo de despertar a atenção,
especialmente dos jovens, para os riscos e agravos associados ao uso exagerado de
álcool.
76
A Lei 9.294/96 é a responsável pela regulamentação da propaganda de bebidas
alcoólica no Brasil. As bebidas como cervejas, vinhos e drinks do tipo ice o são
consideradas bebidas alcoólicas para esta lei, pois contêm dosagem inferior a 13GL. A
principal restrição apresentada é o horário reduzido para propagandas na televisão e no
rádio, sendo estas somente permitidas entre as nove horas da noite e as seis horas da
manhã. Entretanto, qualquer tipo de bebida (cervejas, vinhos, ices...) pode realizar
chamadas de poucos segundos, a qualquer horário (Pinsky e Bessa, 2006). Esse limite,
contudo, não se faz muito eficaz tendo em vista que, conforme citado anteriormente, a
cerveja é a bebida alcoólica preferida dos brasileiros, além das bebidas ices serem um
grande atrativo para as meninas e mulheres.
No Brasil constatou-se, a partir de dados coletados entre 1992 e 1994, que a
frequência da propaganda de bebidas alcoólicas na televisão é bem maior que a de
outros produtos, como bebidas não alcoólicas e cigarros. Basta parar alguns instantes
em frente à TV para ver propagandas de bebidas alcoólicas das mais variadas temáticas,
de acordo com a época do ano e com os principais ídolos nacionais. Além disso, chama
a atenção o destaque que as grandes marcas de cerveja m dando às mulheres, que
estão aparecendo não mais como pano de fundo das propagandas, mas enquanto carro-
chefe, garotas-propagandas.
No I Levantamento Nacional Sobre os Padrões de Consumo de Álcool na
População Brasileira, realizado pela Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD, 2007)
investigou-se, dentre outras coisas, qual a opinião das pessoas em relação à legislação e
às políticas públicas sobre o álcool. Esse estudo representou um grande passo para a
construção da política brasileira para o álcool, além de ter uma grande importância
devido à representatividade da amostra e a abranncia dos temas abordados.
77
Os dados apontam que 54% da população defendem o aumento da idade mínima
para o consumo de bebida e que 56% acreditam no aumento dos impostos sobre as
bebidas alcoólicas, no sentido de aumentar o preço para baixar o consumo, a exemplo
de outros países; 95% dos entrevistados defendem uma maior fiscalização da venda de
bebidas alcoólicas para menores de 18 anos; 76% propõem uma restrição do horário em
que são vendidas bebidas; em relação às propagandas, 84% aprovaram a reserva de um
espaço de tempo para um alerta sobre os problemas e riscos gerados pela bebida; 93%
concordam que deveria haver, nas latas e garrafas, alguma mensagem sobre os riscos e
problemas causados, além do beba com moderação; 67,9% acham que as propagandas
televisivas deveriam ser proibidas para todos os tipos de fermentados e destilados; e
55,2% defendem que bebidas alcoólicas deveriam ser proibidas de patrocinar eventos
esportivos e culturais.
Chama a atenção o fato da opinião da quase totalidade da amostra defender o
aumento da fiscalizão de bares e bebidas alcoólica em relação à venda para menores
de 18 anos e a inserção nas latas e garrafas de alguma mensagem sobre os riscos e
problemas causados, fazendo supor uma contradão entre o posicionamento da
sociedade e a falta de firmeza no cumprimento de leis. Tal contradição pode ser
questionada em face da permissividade com que a sociedade trata o consumo vide a
mobilização contra o uso do bafômetro –, de modo que resulta difícil escapar ao caldo
cultural que estimula tanto para a experimentação do álcool como a precocidade de
exposição de jovens ao consumo abusivo (SENAD, 2007).
Um outro avao em termos de atenção aos problemas decorrentes do consumo
do álcool vem da primeira confencia Pan-Americana de Políticas Públicas Sobre
álcool, sediada em Brasília, no período de 28 a 30 de novembro de 2005, que traz como
78
urgência a necessidade de desenvolvimento e implementação de estratégias eficazes e
programas que previnam e reduzam as consequências do consumo do álcool. Os
resultados da conferência recomendam que os danos relacionados ao consumo do álcool
sejam considerados prioridade de saúde pública para ações por parte de todos os países
das Américas, bem como os elementos culturais em estratégias regionais e nacionais.
Foram definidas áreas prioritárias de ação: ocasiões em que se bebe em excesso,
consumo geral da população, mulheres (inclusive mulheres grávidas), populações
indígenas, jovens, outras populações vulneráveis, lesões intencionais e não intencionais,
consumo de álcool por menores de idade e transtornos relacionados ao uso de álcool.
Merece destaque no presente trabalho as mulheres e os menores de idade.
Em uma campanha para o grêmio estudantil de uma escola privada, em que a
autora do presente estudo trabalhou como psicóloga escolar, uma das chapas se
inscreveu com o nome de SOL, explicando que se tratava de uma sigla para
Solidariedade, Organização e Liderança. A inscrição foi acatada pela equipe da escola,
que não fez qualquer associação com uma determinada marca de cerveja, recém-lançada
no mercado. Pouco tempo depois, pelos corredores escutavam-se gritos empolgados e
cantorias em coro do jingle da referida cerveja, o que chamou a atenção dos
responsáveis pela escola que, então, suspendeu as eleições e fez constar no estatuto do
grêmio uma restrição às referências a partidos políticos, figuras públicas, drogas lícitas e
ilícitas e manifestações de preconceito.
Destaca-se nesse evento a forte influência das propagandas e bebidas alcoólicas
no cotidiano dos adolescentes, justificando a tentativa dos especialistas, referida por
Soares (2006), de incluir a discussão sobre o álcool na agenda nacional a partir da
79
proibição total da propaganda de bebidas. Segundo esse autor, os países que adotaram
essa medida conseguiram reduzir em 30% os acidentes fatais de carro.
Além das propagandas televisivas, atualmente há um forte apelo das músicas,
principalmente do forró tocado no Nordeste, ao comportamento de beber. Ele difere do
gênero tocado no Norte do país, em que prevalecem as letras de conteúdo mais
romântico. O refrão mais ouvido nas festas frequentadas por adolescentes nordestinos
nesse verão foi “vamos simbora para um bar... Beber! Cair e levantar!”. Os
adolescentes nos shows do verão repetiam de forma empolgada o refrão e dançavam
levantando suas bebidas: independente de ser em garrafa ou em latinhas, o importante
era ter o troféu para levantá-lo e exibir.
Que as músicas abordam a questão do beber, isso não é nenhuma novidade.
Percebe-se, em marchinhas de carnaval e em músicas de rock da década de 1970 e
1980, letras que evocam o comportamento de ingerir álcool. A grande mudança está no
tipo de linguagem atualmente usada, altamente apelativa e, na maioria das sicas, de
evocação do ato de beber. O apelo já vem desde o título da música, como, por exemplo,
Bebo pra carai, Cachaça, mulher e galha, De bar em bar, de mesa em mesa, tomei
porres por você, Quer beber? Além do pouco controle na venda de bebidas para os
jovens, as informações sobre os riscos decorrentes do uso destoam do excesso de
liberdade para as propagandas e para os apelos sociais que são feitos (Contini et al.,
2002). Para as bebidas alcoólicas, apesar do elevado consumo e dos problemas
decorrentes, mesmo as medidas de controle são incipientes.
Nesse sentido, a escola tem sido convocada para mediar a situão do
envolvimento das crianças e adolescentes com as drogas, tendo em vista sua função
institucional voltada para a educação e para a formação de valores. A necessidade de ali
80
se tratar a problemática do consumo de drogas encontra amparo legal desde 1976,
através da Lei 6.368, de 21 de outubro, que dispõe sobre medidas de prevenção e
repressão ao tráfico ilícito e uso indevido de substâncias entorpecentes ou que
determinem dependência física ou psíquica. Em seu artigo pressupõe a
responsabilidade daquela instituição de prevenir o consumo, e no determina que a
temática deve ser incluída nos programas de formão de professores - o que na prática
não acontece.
Em 22 de maio de 2007, através do decreto de número 6.117, o Governo Federal
apresentou a sociedade brasileira da Política Nacional Sobre o Álcool da Secretaria
Nacional Antidrogas, apontando princípios norteados por estratégias para o
enfrentamento coletivo dos problemas relacionados ao seu consumo. Em seu artigo
que trata da informação e proteção da população quanto ao consumo de álcool, inciso 3,
remete ao governo em colaboração com a sociedade, a competência de proteger os
segmentos populacionais vulneráveis ao consumo prejudicial e ao desenvolvimento de
hábito e dependência de álcool”(p. 2). foi visto anteriormente que não consumo
de álcool isento de riscos, am de que, qualquer tipo de consumo pode ser prejudicial
para crianças e adolescentes que se encontram organicamente e emocionalmente em
processo de formação, sendo, dessa forma, o segmento populacional mais vulnerável.
O artigo 4º traz as diretrizes dessa política nacional sobre o álcool que em seu
inciso 10 propõe “promover ações de comunicação, educação e informação relativas às
consequências do uso do álcool”, bem como no inciso 17, destaca as instituições de
ensino como espaços em que devem haver ações de prevenção ao uso de bebidas
alcoólicas, especialmente nos níveis Fundamental e Médio. No artigo 5º, inciso 1,
consta a diretriz de intensificar a fiscalização da venda de bebidas alcoólicas a crianças
81
e adolescentes. O artigo 8º, que se refere à capacitação de profissionais e agentes
multiplicadores de informações relacionados à saúde, educação, trabalho e segurança
pública, em seu inciso 2º, propõe a viabilização de cursos ligados à prevenção do
consumo de álcool para educadores das escolas públicas. Diante dessas determinações,
questionamos: será que tal medida se restringe às escolas públicas por supor que as
escolas privadas fazem esse tipo de trabalho, ou por supor que estas devam realizar
esse tipo de atividades com recursos próprios?
Percebe-se uma real necessidade de se desenvolver propostas pedagógicas de
intervenção coerentes com as aspirações e desejos dos jovens, vulneráveis ao consumo
das mais diversas substâncias lícitas e ilícitas (Ribeiro, 2005). Contudo, ainda é grande
a lacuna de trabalhos contínuos e eficazes que tratem dessa problemática na escola,
tendo em vista que a prática na maioria das instituições escolares é a de negar o
problema ou expulsar os alunos usuários, limitando-se em realizar palestras isoladas
como medida preventiva. É válido ressaltar que “um ato preventivo, então, requer
medidas que antecipem um fato, objetiva evitar que determinada situação ocorra para
que se evitem consequências indesejáveis” (Ribeiro, 2005, p. 51).
O conjunto dos professores não se sente preparado para lidar com a temática,
delegando sua abordagem ao psicólogo ou, quando muito, ao professor de biologia.
Enquanto este, via de regra, tem tratado o assunto de forma repressiva e autoritária,
enfocando prioritariamente as drogas ilícitas, aquele, a exemplo dos demais membros da
instituição, também não tem revelado dispor do conhecimento necessário e suficiente
para tratar a questão de forma adequada. Em decorrência, encontra-se aberta uma
discussão sobre os modelos de prevenção na escola, pautados em informação
82
aprofundada e fundamentada sobre o tema, em que se defenda a diminuição dos
preconceitos e a transformação da visão autoritária.
Noto e Silva (2002) destacam a importância da compreensão das
particularidades da adolescência no planejamento de intervenções, visto que a sensão
de onipotência e a resistência em admitir o uso de drogas constituem dificuldades para o
trabalho com essa faixa etária. Da mesma forma, é patente a necessidade dos
educadores adquirirem informes teóricos e práticos a respeito de família em geral e da
falia dos alunos em particular, visto se constatar que parcela significativa da iniciação
ao uso de álcool é mediada por membros da família, o que ajuda a alimentar uma
cultura do consumo (Bessa & Pinski, 2006; Contini et al., 2002; Santander, 2003).
Temos verificado na prática que este tema ainda é tratado de forma superficial,
cercado de tabus e preconceitos, dificultando ainda mais o processo preventivo e
retardando a tomada de consciência da sociedade face aos graves problemas que a
droga provoca, vulgarizando e ameaçando as relações sociais e as próprias
instituições de controle social. (Santander, 2003, p. 193)
Cinco modelos básicos de ações concretas que podem ser viáveis na prática
escolar são descritos por Carlini-Cotrim (1998): do conhecimento científico, da
educação afetiva, de oferecimento de alternativas, de educação para a saúde e de
modificação das condições de ensino. O primeiro modelo, como o nome sugere, indica
a informação imparcial e científica sobre as drogas, de forma que os alunos possam
estar aptos a tomar decisões racionais e bem fundamentadas a respeito delas. O modelo
da educação afetiva volta-se para aspectos emocionais envolvidos na questão, com o
pressuposto de que se os alunos estiverem menos vulneráveis psicologicamente, estarão
menos inclinados ao consumo de drogas. Dele decorrem intervenções ligadas à auto-
83
estima, à ansiedade, à interação grupal, à comunicação e à capacidade de opor-se às
pressões do grupo.
O modelo de oferecimento de alternativas orienta no sentido de propiciar aos
alunos atividades que gerem sensação de excitação, alívio do tédio, desafio, com o
intuito de mostrar que é possível vivê-las sem que seja necessário o uso de drogas para
tal. O de educão para a saúde tem como proposta principal a orientação dos jovens
sobre uma vida saudável no que tange a alimentação, a vida sexual, a atividades
relaxantes etc. Por fim, o modelo de modificação de ensino propõe intervenções
duradouras, intensivas e precoces, de modo a colaborar na formação global de jovens
saudáveis. É composto por cinco vertentes, quais sejam: a modificão de práticas
instrucionais, a melhoria do ambiente escolar, o incentivo ao desenvolvimento social, o
oferecimento de serviços de saúde e o envolvimento dos pais em atividades curriculares.
Admite-se, assim, que uma escola inadequada e injusta pode constituir um fator
propiciador do abuso de drogas, deslocando a discussão para o campo da política
educacional e do questionamento pedagógico. Em suma, substitui-se o enfoque
disciplinador da guerra às drogas por uma ênfase na formação do jovem, tido como
capaz de discernir e de optar, e como alguém que tem o direito de ser informado
idoneamente sobre questões que dizem respeito a seu cotidiano. (Carlini-
Cotrim,1998, p. 30)
Nos estudos desenvolvidos sobre prevenção ao uso de drogas entre jovens e
adolescentes, Braun (2007) destaca que mais importante que a informação emerge a
necessidade de treiná-los para que haja uma resistência social. Ou seja, considerando-se
que as pessoas iniciam o uso de drogas por pressão social, é preciso ensinar a resistir a
essa pressão, seja ela advinda do grupo de amigos ou dos apelos da sociedade. Dessa
84
forma, para o autor, apesar de não haverem ainda respostas definitivas sobre o papel da
escola para atuar nessa problemática, indícios de que o treinamento de crianças e
adolescentes em comportamentos de resistência social é mais eficaz que a abordagem
informacional.
Um modelo de prevenção às drogas em escolas nos Estados Unidos é descrito
por Sloboda (2002) citado por Pinsky e Bessa (2006), que destaca que, apesar dos
padrões de consumo diferirem de acordo com as especificidades locais, é sempre útil
discutir os exemplos de princípios de prevenção. Assim, defende que, por uma série de
razões, a escola é o ambiente mais apropriado para estratégias dessa ordem, em função
da grande quantidade de tempo que as crianças e adolescentes passam nela, por ser um
lugar onde se reforçam valores e normas sociais, além de ser um ambiente de proteção.
Na sua visão,
Como agente de socialização, a escola pode proporcionar às crianças
conhecimentos e habilidades capazes de torná-las cidadãos competentes e, também,
reforçar atitudes e comportamentos sociais aceitáveis. Como ambiente de proteção,
é proibido, na maioria das escolas, o consumo de qualquer droga psicotrópica.
Essas escolas podem fornecer programas de supervisão s-aula, e coordenar
atividades específicas para aproximar os pais e as falias de seus professores e
funcionários. (Sloboda, 2002, citado por Pinsky e Bessa, 2006, p.112)
A autora destaca três aspectos que devem ser trabalhados na prevenção ao uso de
drogas no ambiente escolar: o incentivo ao vínculo escolar, de modo a fortalecer a
ligação indivíduo-escola-comunidade; uma política escolar de controle social, que
aproxime a escola do jovem; e alguns ajustes no currículo, de modo que se possam
85
introduzir aulas que permitam uma abordagem cognitiva de prevenção (Pinsky e Bessa
2006).
As ações da escola devem se dar na perspectiva de promover um estreitamento
do vínculo escolar, um aumento das habilidades interpessoais dos alunos e o
compromisso com valores positivos, como solidariedade e respeito. As avaliações de
algumas estratégias pedagógicas sugeriram que intervenções implementadas por colegas
da mesma idade, ou um pouco mais velhos, podem ser mais eficazes do que quando
implementadas por adultos. Como é difícil exercer um controle sobre a turma composta
por colegas da mesma faixa etária, o ideal é que eles sejam os assistentes dos adultos.
Outra ação ressaltada pela sua eficácia diz respeito às estratégias que envolviam os
alunos no processo de aprendizado de forma lúdica e interativa, ao invés de utilizar
apenas apresentações didáticas meramente expositivas. Também foi percebido que as
estratégias que abordaram múltiplas drogas obtiveram mais êxito que as focados
somente em uma (Sloboda, 2002, citado por Pinsky e Bessa, 2006).
Reforçando uma orientação comentada anteriormente, Ferreira e Ries (2003)
consideram que a escola pode explorar em qualquer disciplina o assunto drogas, sendo
necessário apenas que o professor se dispa dos preconceitos ou inibições para abordar o
assunto o que pressupõe a sua formação a respeito do tema. Além disso, os autores
reiteram a necessidade de trabalhar com a emoção do aluno e não somente com o
intelecto, a partir de reflexões sobre temas como sentido da vida, valores,
responsabilidade, solidariedade.
A expectativa que ressalta das diversas considerações acima é de que a escola
deve assumir de fato sua responsabilidade na prevenção e detecção do consumo de
drogas pelos alunos, e trabalhar junto às falias para que elas venham a constituir reais
86
fatores de proteção das suas crianças e adolescentes. Nesse esforço, preparar bem os
filhos e alunos para que possam ser resistentes no processo de socialização aos apelos
do grupo revela-se aspecto muito importante e fator educacional bastante desafiador.
Avalia-se que, na medida em que crianças e adolescentes estiverem seguros e
confiantes, não precisarão ou precisarão menos do álcool como passaporte para a
socialização.
A escola deve ter regras bem estabelecidas e claras para o uso de drogas, sejam
elas lícitas ou ilícitas. Isso deve ser muito bem fiscalizado dentro da instituição, de
modo que o consumo de qualquer tipo de droga seja proibido para funcionários,
professores, pais, alunos. Isso deve ser feito no dia-a-dia da escola e em eventos
promovidos pela mesma. É muito comum nas próprias festas promovidas pela escola
(carnaval, São João etc.) ser vendida bebida alcoólica. Além disso, o mais importante é
que a escola seja um lugar interessante, prazeroso e de acolhimentos para o aluno, e
principalmente, para as suas dificuldades (Taub & Andreoli, 2004).
Diante desse quadro a Psicologia, enquanto ferramenta de fortalecimento de
pessoas e grupos, e a Psicologia Escolar, enquanto estratégia para compreensão dos
processos psicossociais presentes no contexto educativo, “podem contribuir com a
construção dos processos de transformação qualitativa da escola, na promoção do bem-
estar das pessoas e da comunidade” (Conselho Federal de Psicologia, 2008, p. 61).
Ao psilogo que atua no interior da escola é atribuído um papel de grande
relevância e responsabilidade nesse processo educativo, voltado para o combate às
drogas, tendo em vista as ferramentas com que lida, tanto no acompanhamento de
crianças e jovens quanto no apoio às ações pedagógicas e institucionais. Na
compreensão de Cassins (2007), o trabalho do psilogo escolar/educacional,
87
Tem como diretriz o desenvolvimento do viver em cidadania. Busca instrumentos
para apoiar o progresso acadêmico adequado do aluno, respeitando diferenças
individuais. É pautado na promoção de saúde da comunidade escolar a partir de
trabalhos preventivos que visem um processo de transformação pessoal e social.
Para tanto, baseia-se nos conhecimentos referentes aos estágios de desenvolvimento
humano, estilos de aprendizagem, apties e interesses individuais e
conscientização de papéis sociais. (p. 23)
Para a autora, a intervenção desse profissional se a partir de três focos: em
relação ao nível administrativo (a escola como administração), ao corpo docente
(professores) e ao corpo discente (alunos). Uma das ações que lhe cabe em relação ao
corpo discente é a elaboração, desenvolvimento e acompanhamento de projetos de
prevenção ao uso de drogas” (Cassins 2007, p. 32). Nesse particular, sugere as seguintes
estratégias: programas de prevenção amplos e contínuos; trabalho de fortalecimento e
aceitão de limites; em casos individuais, encaminhamentos a especialistas ou, se
necessário, encaminhamento ao conselho tutelar.
Logo, ressalta a necessidade de que os psilogos que atuam nas escolas
ampliem a perspectiva de ação, do trabalho individual, clínico, para um nível mais
global, verdadeiramente educacional. É importante capacitar os professores que se
interessam e se disponibilizam para trabalhar a temática nas salas de aulas; promover
atividades que fortaleçam os laços afetivos dos alunos com a escola; mostrar
disponibilidade para ouvir alunos e professores; evitar posturas terroristas,
preconceituosas, punitivas ou de repressão; buscar a colaboração e apoio da escola, da
comunidade e, principalmente, das famílias dos alunos; oportunizar momentos coletivos
88
de refleo, como durante a semana nacional antidrogas, que acontece junto ao dia 26
de junho, dia internacional da luta contra o consumo de drogas.
Desse modo, requer-se que o psicólogo escolar atue junto aos diversos
segmentos da escola, facilitando a comunicação entre eles, sistematizando as
informações sobre os estudantes, analisando o conteúdo das aulas, compondo novos
subsídios a serem trabalhados, fundamentando a prática com informações sobre
socialização, adolesncia, família etc. A ele caberia intermediar e articular todos os
agentes da escola (equipe administrativa, docentes, discentes, família e comunidade) na
mobilização de ações que estejam integradas de forma natural à vida escolar do aluno,
de modo que auxilie a educação a assumir um caráter formativo, “já que prevenir
implica numa questão de valores, de escolhas de vida. Ênfase deve ser dada na
internalização de valores, porque estes se constituem na melhor resposta possível às
influências sociais” (Boruchovitvh, 2000, p. 203).
Reflexões sobre responsabilidade, sentido da vida, valores, liberdades e limites,
solidariedade, associados a informações pertinentes sobre substâncias químicas, uso
eventual ou drogadição, revestem-se de um sentido ético e, por isso, mais
abrangente, porque trabalha com a emoção e a vivencia do aluno e não apenas com
o intelecto. (Zanella, 2003, p. 80)
É preciso reiterar que o setor de psicologia, sozinho, não alcançará medidas
globais e eficazes no combate às drogas, sem que se encontre integrado aos demais
setores da escola. No contexto escolar e em face da dimensão do desafio a ser
enfrentado, se faz necessário criatividade, ousadia e comprometimento: a luta contra o
consumo de drogas pelas crianças e adolescentes requer ser enfrentado desde quando
ainda não se configura como uma dependência, visto que “não existe consumo de álcool
89
totalmente isento de riscos” (Taub & Andreolli, 2004, p. 71). Além disso, o se pode
minimizar a importância que tem o envolvimento cada vez maior e declarado das
meninas com a bebida alcoólica, demandado ao mesmo tempo ações conjuntas
diferenciadas, conhecimentos sobre adolescentes e específicos sobre as adolescentes.
90
Capítulo 6
A Pesquisa
Esta pesquisa teve por objetivo compreender como vem ocorrendo o consumo
do álcool entre as adolescentes, de modo a entender de que forma o álcool se insere na
vida delas e qual seu significado adjacente. Além disso, buscou-se verificar a relação
entre sociabilidade e consumo do álcool. Foi desenvolvida com alunas de dez escolas
privadas da cidade de Natal-RN, na faixa etária dos 12 aos 18 anos completos, que
cursavam do timo ano do Ensino Fundamental II à terceira rie do Ensino Médio.
De cada escola foram escolhidas aleatoriamente duas turmas de cada rie, resultando
em um total de 1028 questionários respondidos.
A escolha pelo público feminino se deu em função da escassez de estudos que
abordem especificamente as adolescentes, tendo em vista que os inúmeros
levantamentos sobre o consumo de álcool na adolescência se reportam a adolescentes
masculinos ou, quando muito, a ambos os sexos. Além disso, a partir da vivência
profissional enquanto psicóloga escolar, foi percebido o alto índice de alunas
severamente alcoolizadas em eventos sociais da escola, que chegavam para fazer prova
no dia de sábado ainda sob o efeito do álcool, que saíam de sala com sintomas de
ressaca, e outras que recorriam ao serviço de psicologia para conversar, dentre outros
assuntos, sobre as farras do fim-de-semana, quase sempre acompanhadas de muita
vodka, cerveja e cachaça.
91
O contexto escolhido para o desenvolvimento do estudo, escolas particulares,
decorre da constatação de que a grande maioria dos levantamentos e estudos
desenvolvidos sobre álcool e outras drogas psicotrópicas tem como alvo estudantes de
escolas públicas, o que é confirmado por Pinsky e Bessa (2006) quando afirmam que
“Há limitação no diz respeito a pouca informação sobre o uso de drogas entre
adolescentes de escolas particulares, uma vez que os levantamentos brasileiros, por
questões de acessibilidade, incluem predominantemente escolas de rede pública” (p.
52). Contudo, ao contrário do que aponta a literatura quando trata da dificuldade de
acesso às escolas particulares, o contato com as alunas na pesquisa se deu de forma
bastante facilitada, pois na medida em que se explicava a temática e o objetivo do
estudo, os diretores das escolas comentavam a alta incidência de situações que
envolviam as meninas e bebidas alcoólicas, a preocupação com esses comportamentos,
bem como insistiam em ver posteriormente os resultados do estudo para que fosse feito
algum tipo de trabalho com os alunos.
A exemplo do interesse no desenvolvimento da pesquisa, foi observada tamm a
preocupação com a exposição da escola quando questionavam se apareceria o nome ou
se haveria alguma comparação entre as instituições de ensino participantes do estudo.
Das dez escolas selecionadas, em apenas uma não foi autorizada a realização do estudo.
As escolas foram selecionadas com base nos seguintes critérios: possuírem mais de mil
alunos matriculados; oferecerem escolarização desde a Educação Infantil até o Ensino
Médio; e estarem presentes no ranking das que mais aprovam no vestibular, se
destacando no cenário do ensino local.
6.1. O instrumento utilizado
92
A preparação do instrumento aplicado passou por algumas etapas de suma
importância para chegar ao formato final. O passo inicial foi a elaboração de uma
entrevista piloto (APÊNDICE A), que tinha por objetivo levantar pontos que
permitissem definir categorias para a confecção de um questionário fechado. Esse
primeiro instrumento era composto por dez questões abertas, que se dividiam em duas
partes. A parte inicial investigava o primeiro contato da adolescente com o álcool
(experimentação) e abordava questões como idade atual, se havia experimentado
alguma bebida alcoólica e o tipo de bebida, com quantos anos isso aconteceu, onde,
com quem estava, por que experimentou e o que sentiu. A segunda parte tratava do
consumo atual da adolescente com a bebida, com questões sobre o tipo de bebida que
consome, a quantidade ingerida, os locais, as pessoas, as causas, a influência do grupo,
a percepção sobre outras meninas que bebem e sobre o álcool enquanto droga, se já
tomaram algum porre e o motivo que levou a isso.
A entrevista piloto foi desenvolvida em outubro de 2007, com vinte alunas de
uma escola da rede pública de Natal, após concordância da direção. As alunas se
encontravam no pátio, liberadas após fazerem prova, e a pesquisadora, informalmente,
se apresentou como psicóloga e mestranda, que estava ali desenvolvendo seu estudo.
Em seguida, entregou a entrevista a um pequeno grupo de três adolescentes. As outras,
que estavam perto, foram se aproximando e perguntando às colegas o que era aquilo,
para logo depois comporem uma roda, respondendo às perguntas e discutindo o tema
com bastante interesse e propriedade. Esse momento foi de extrema importância, pois
permitiu uma visão da temática pela perspectiva das próprias adolescentes.
A análise dessas entrevistas foi feita juntamente com um estatístico, para a
elaboração de categorias que orientassem a confecção do questionário final. Como
93
resultado, formulou-se um instrumento com 27 queses, também dividido em duas
partes, a primeira tratando da experimentação e a outra do consumo atual. Foram
acrescentadas, na primeira parte, questões relativas ao perfil sócio-econômico, do tipo
com quem mora, se trabalha ou só estuda e renda familiar.
6.2. Procedimento para a coleta de dados
O contato com as escolas privadas se iniciou em julho de 2008 e se deu por
meio de conversa e entrega de ofício assinado pelo orientador do estudo (APÊNDICE
B), solicitando à direção colaboração no sentido de viabilizar a aplicação do
questionário com as adolescentes. Recebida a autorização, entrava-se em contato com o
psicólogo ou a coordenação das devidas séries, para entrega do termo de consentimento
livre e esclarecido – TCLE (APÊNDICE C), que seria repassado aos responsáveis pelas
alunas (tendo em vista que a maioria delas tinha menos de 18 anos de idade). Passou-se
nas salas de aula, explicando o que era o estudo, qual a sua finalidade e esclarecendo as
dúvidas surgidas. Nesse contato com as turmas, já foi interessante perceber que a
temática ativa o movimento, a excitação e o interesse dos alunos. Já houve gozações e
brincadeiras com aquelas alunas que eles apontavam como cachaceiras, Maria lixo etc.
Algumas meninas, por sinal, pareciam gostar das brincadeiras e faziam questão de
mostrar que entendiam mesmo de bebida. Além disso, percebeu-se o interesse dos
meninos em participar do estudo, fazendo comentários do tipo: nós estamos sendo
excluídos, isso é preconceito, a gente também gosta de tomar uma.
Foi estipulado o prazo de uma semana para que as alunas trouxessem os termos
de consentimento, depois do que seriam aplicados os questionários. Alguns pais, após
receber o TCLE, entraram em contato com a pesquisadora por meio do número de
94
telefone fornecido no termo, para saber melhor do que se tratava o estudo, se haveria
algum gasto, por que a filha dele tinha sido escolhida para participar desse estudo e se
poderiam ter acesso aos resultados depois.
O instrumento de coleta de dados (APÊNDICE D) continha 27 queses
fechadas, muito embora disponibilizasse espaço para manifestação do tipo se outro(a),
qual?, dando flexibilidade para que, caso a adolescente não se identificasse com as
opções de respostas oferecidas, ela pudesse apresentar outras. A aplicão do
instrumento se deu de forma coletiva, nas próprias salas de aula. Dez minutos antes do
término da aula ou do intervalo os alunos de sexo masculino eram liberados, ficando
em sala apenas as meninas, para responderem ao questionário. Essa forma de aplicão
foi sugerida pela coordenação da primeira escola contatada, e adotada pela
pesquisadora nas demais instituições. No total, foram aplicados 1.028 questionários. A
estratificação dos respondentes consta de uma das tabelas a seguir apresentadas.
6.3. Procedimento de análise
Os dados receberam um tratamento estatístico pelo SPSS, um programa
frequentemente utilizado nas pesquisas das ciências sociais, bem como nas
relacionadas com saúde e educação. A opção por tal procedimento se deu em face da
grande quantidade de questionários aplicados e da necessidade da contagem de
frequência e ordenação dos dados.
Após verificar o material respondido, se percebeu que muitas adolescentes
aproveitaram o espaço para fazer alguns comentários e escrever algumas coisas
relacionadas ao tema. Alguns desses depoimentos foram selecionados para ilustrar a
95
análise do material. Os dados serão apresentados e analisados seguindo o máximo
possível a ordem apresentada no questionário aplicado.
6.4. Análise e discussão dos dados
6.4.1. Perfil das entrevistadas
As adolescentes que participaram da pesquisa eram estudantes de escolas
privadas, cursando do ano do Ensino Fundamental a 3ª série do Ensino Médio, com
idades entre 12 e 18 anos, conforme mostra a Tabela 1, abaixo. Percebe-se uma
predominância de alunas com idade entre treze e dezesseis anos e um percentual bem
inferior nas idades de dezessete e dezoito anos, o que reflete como os adolescentes têm
entrado e saído cada vez mais cedo das escolas.
Tabela 1 – Idade
Idade %
12 anos 14
13 anos 19
14 anos 18
15 anos 20
16 anos 20
17 anos 6
18 anos 3
Total 100
Fonte: Pesquisa direta/2008.
Os dados – Tabela 2 – apontam que a adolescência que emerge no estudo é de um
bom nível sócio-econômico, sendo famílias de um poder aquisitivo médio. Neste
sentido, 38% das entrevistadas apresentam renda acima de nove salários nimos e
96
30% entre cinco e oito mínimos, tomando-se por referência o valor do salário mínimo
vigente à época de realização da pesquisa, que era de R$415,00. Tais percentuais estão
acima da média salarial da população nacional de acordo com o Instituto Brasileiro de
Geografia Estatística (IBGE), que descreve em seu levantamento de rendimento da
População Economicamente Ocupada (PEO) entre os anos de 2005 e 2007 que a maior
parte da população (30%) recebe entre um e dois salários mínimos (Gráfico 1).
Tabela 2 – Renda Familiar
Renda Familiar %
A1 Salário Mínimo 1.9
2 a 4 Salários Mínimos 17
5 a 8 Salários Mínimos 30.5
9 ou mais Salários Mínimos 38.1
Não respondeu 12.5
Total 100
Fonte: Pesquisa direta/2008.
Figura 1
Distribuição das pessoas ocupadas de 10 ou mais,
por classes de rendimento no trabalho principal -
2005-2007
97
Fonte:http://www.ibge.gov.br/brasil_em_sintese/defaulthtm
O perfil econômico das famílias das adolescentes era previsto, haja vista que a
pesquisa foi desenvolvida em escolas privadas, cujas mensalidades oscilam em torno de
trezentos reais, valor próximo ao salário mínimo. A tabela 2 mostra ainda que 12,5 %
das entrevistadas não responderam a essa questão, dado este que pode revelar que elas
o sabem da renda familiar ou não sabem quanto vale um salário mínimo ou, ainda,
queo queriam revelar a renda da família.
São adolescentes que apenas se dedicam aos estudos (96%), não desenvolvendo
atividades laborais, em sua maioria pertencente a famílias nucleares, compostas por
pai, mãe e filhos (75,5%). poucas que vivenciam uma nova realidade familiar,
monoparental, morando apenas com a mãe (15,6%), com as avós (6,8%), com irmãos
(4,5%), com o pai (2,3%) ou com tios (1%). Algumas dessas meninas vieram do
interior para estudar na capital e foram morar com familiares. No que diz respeito à
relação entre estrutura familiar e envolvimento com drogas, a literatura aponta que na
origem da drogadição está uma falia com estrutura frágil, marcada por uma “grave
dificuldade de lidar com os limites(Freitas, 2002, p. 45), bem como que filhos de pais
separados tendem a ser mais problemáticos. Contudo, os dados levantados revelam
que, ao contrário do que diz a literatura, a quase totalidade das meninas entrevistadas, a
despeito de fazerem parte de estruturas tradicionais de família, já experimentou ou
consome bebidas alcoólicas.
Tabela 3 – Atividade desenvolvida
Atividade %
Estuda e trabalha 4
98
Só estuda 96
Total 100
Fonte: Pesquisa direta/2008.
Tabela 4 – Com quem mora
Alternativas %
Com irmãos 4.5
Com pais e irmãos 70.5
Com pai 2.3
Com a mãe 15.0
Com avós 6.7
Com tios 1.0
Total 100
Fonte: Pesquisa direta/2008.
O jornal Channel 3000, na edão do dia 28 de junho de 2008, informa a respeito
de uma pesquisa desenvolvida nos Estados Unidos em que se alerta para o fato de que
10,5 milhões de adolescentes obtêm álcool de adultos (pais ou tutores), o que é
confirmado pelo V Levantamento Nacional com estudantes do ensino Fundamental e
Médio (Galduróz, Noto, Fonseca & Carlini, 2005), realizado em 2004 nas 27 capitais
brasileiras, que indicou que o primeiro uso de álcool se deu predominantemente no
ambiente familiar.
Na esteira de tais informações se observa, no presente estudo, o elevado
percentual de adolescentes que encontraram no ambiente familiar o estímulo para o
primeiro contato com o álcool. As respostas às perguntas sobre em qual local você
99
experimentou bebida alcoólica pela primeira vez? e com quem você estava quando
experimentou bebida alcoólica pela primeira vez? revelaram que 49% delas tiveram o
primeiro contato em festas e 27% em sua própria casa, sendo que 50% estavam com os
amigos quando experimentaram e 33% se encontravam na companhia dos pais. A esse
respeito, Zamora (2004) afirma que “o jovem explicita como o beber foi aprendido em
casa como parte dos ritos familiares para manter o grupo unido (p. 103), ressaltando o
caráter social da bebida e Taub e Andreoli (2006) afirmam que uma relação saudável
com as drogas é algo que crianças e jovens podem aprender a partir dos hábitos de seus
pais” (p. 41). Luis (2008) confirma tal estímulo em sua cartilha direcionada aos jovens,
quando ao tratar dos lugares onde as drogas podem estar, iniciar com “na caipirinha em
casa” (p.6).
É muito comum ver pais e amigos reunidos em casa para tomar um aperitivo,
bem como observar que alguns pais preferem que o filho(a) comece a beber em casa do
que na rua. Parece que os pais não se preocupam com o contato dos filhos com o
álcool, mas sim com a dependência. Freitas (2003) afirma a falência da função paterna,
ou seja, que a falta de mais rigidez e limites é um dos principais motivos da crescente
estatística de jovens que utilizam drogas em função de sua dificuldade de lidar com
frustrações.
O mesmo autor faz uma comparão entre as famílias do século XVII e as
famílias modernas. Nas primeiras havia uma enorme massa de sociabilidade na medida
em que existiam inúmeras relações sociais, bem como “existia uma complexa rede
social hierarquizada, encabeçada pelo chefe de família(Freitas, 2003, p. 33). nas
famílias modernas há uma nuclearidade entre pais e filhos, o que diminui o seu contato
com a coletividade e aumenta a dedicação à vida privada. Essa mudança na estrutura
100
familiar no que se refere à hierarquização e a mudanças nas relações sociais pode ter
influenciado a criação do hábito de beber em casa. Ilustrando talbito, algumas
adolescentes, na questão que aborda o local onde experimentou o álcool, trazem
relatos como na casa da minha tia e em outros lugares”, “em uma festa de natal na
casa do meu avô”.
Os fatores que mais influenciam o consumo de álcool por adolescentes o a
disponibilidade da droga, o preço e a aceitação social, principalmente da turma de
amigos (Moreira et al., 2009). Outro fato que desperta atenção é o de que apenas 1,5%
das adolescentes afirmaram que nesse primeiro contato com a bebida estavam sozinhas,
o que corrobora a função do álcool como agente socializador.
Tabela 5 – Em qual local você experimentou bebida alcoólica pela primeira vez
Local %
Festa 40
Em sua casa 30
Casa de amigos 13.3
Barzinho 4.5
Churrasco 12.0
Na escola 0.2
Total 100
Fonte: Pesquisa direta/2008.
Tabela 6 – Com quem você estava quando experimentou bebida alcoólica pela
primeira vez
Com quem estava %
Sozinha 1.5
Com amigos 50.3
Com os pais 33.2
Irmãos 4
101
Tios e primos 5
Com o namorado 2
Com colegas/conhecidos 4
Total 100
Fonte: Pesquisa direta/2008
6.4.2. Primeiro contato com o álcool
O primeiro contato com o álcool, chamado de batismo, vem sendo facilitado pela
falta da fiscalização da venda a menores de dezoito anos, bem como da grande
aceitação social dessa droga (Moreira et al., 2009). A sociedade, e em especial as
famílias, têm demonstrado um completo descuido. Das adolescentes entrevistadas,
77% responderam que tinham experimentado algum tipo de bebida, reforçando os
dados obtidos pelo I Levantamento Nacional Sobre Padrões de Consumo de Álcool na
População Brasileira (SENAD, 2007), que destaca a grande preocupão com o fato
das meninas estarem bebendo tanto quanto os meninos.
Segundo esse estudo, realizado em novembro/2005 e abril/2006, em parceria
com a Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas da UNIFESP, 20% dos meninos e
15% das meninas entre 10 e 12 anos haviam ingerido álcool nos últimos trinta dias.
Esse percentual aumenta quando a faixa etária é entre 13 e 15 anos, em que 43% dos
garotos e 40% das meninas tinham consumido bebidas alcoólicas no mesmo
período. Tais dados admitem o fenômeno do beber precoce e regular que vem
acontecendo com os adolescentes, com destaque para as meninas.
De maneira preocupante, a Tabela 7 do presente estudo mostra que as
adolescentes tiveram o primeiro contato com o álcool principalmente aos doze (25,3%)
e aos dez anos de idade (22,1%), sendo que quando se soma o percentual de todas as
que experimentaram a bebida antes dos doze anos, obtém-se um percentual de 40%. Os
102
dados do I Levantamento Nacional Sobre Padrões de Consumo de Álcool na
População Brasileira (SENAD, 2007) apontam que a idade média de experimentação
dos meninos foi de 13,9 anos e das meninas de 14,6 anos, refletindo o quanto o
momento da experimentação vem sendo antecipado.
Tabela 7 Idade que tinha quando experimentou bebida
alcoólica pela primeira vez
Idade %
Menores de 6 anos 0.7
6 anos 2.3
7 anos 1.6
8 anos 1.6
9 anos 2.9
10 anos 22.1
11 anos 8.8
12 anos 25.3
13 anos 6.7
14 anos 11.3
15 anos 4.3
16 anos 1.1
17 anos 0.3
Total 100
Fonte: Pesquisa direta/2008.
Tendo em vista o dado que aparece na Tabela 7 acima, como se explica o fato de
meninas terem experimentado uma bebida antes dos seis anos de idade? A banalidade
com que é tratado o consumo de álcool por crianças e adolescentes e a desatenção dos
familiares ante tal problema, notadamente os pais, são confirmadas no relato de uma
das entrevistadas, de treze anos, que afirma ter experimentado bebida aos oito e
desabafa no questionário: É porque tava na mesa; todo mundo, inclusive minhas
primas de minha idade, beberam. (meu pai viu e todo mundo, mas ninguém fez nada)”.
103
Em qualquer lugar que se passe, a qualquer hora do dia, é muito fácil o encontro
com o álcool: barzinhos lotados, conveniências de postos de gasolina, cigarreiras,
barraquinhas na praia, praça de alimentação de shoppings, churrasquinhos na esquina,
em que é muito simples comprar uma cervejinha ou um choppinho. É preciso lembrar
que o álcool é uma substânciaxica e seu efeito é potencializado em organismos mais
jovens e em particular nas meninas. Sem contar que ele é a causa de numerosos
acidentes e episódios de violência. Além disso, parece que as pessoas esquecem que a
bebida alcoólica nesta faixa etária não é imprópria e perigosa, mas também ilícita
que, no Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, 1990) proíbe oferecer
qualquer substância que aja danosamente no cérebro da criança até os dezoito anos de
idade.
Além da falta de fiscalização, uma imensa variedade de bebidas oferecidas
atualmente. A indústria não pára de criar novos tipos: docinhas como suco, amargas,
coloridas, fortes, fracas, caras, baratas. Parece que o mercado está cada vez mais
preparado para faturar em um novo segmento: as mulheres, em especial as jovens.
Quando perguntadas sobre o tipo de bebidas alcoólicas que já experimentaram, surgiu
uma grande diversidade de bebidas: whisky, cachaça, cerveja, vodka, bebidas ice,
vinho, caipirinha, caipiroska, caipifruta, licor, champagne, tequila, run. Destes, os mais
consumidos no momento da experimentação foram bebidas ice, champagne e cerveja,
respectivamente. As bebidas ice aparecem em primeiro lugar, tendo sido
experimentada por 87,2% das adolescentes que já tiveram contato com bebidas. O dado
reflete uma grande aceitação pelo público feminino desse tipo de bebida, o qual, apesar
de ser aparentemente inofensivo em função de ter um sabor levemente adocicado e ser
104
semelhante a um suco, apresenta teor alcoólico entre 5 e 7 GL., um pouco superior ao
de algumas cervejas (Pinsky & Bessa, 2006).
É comum ouvir meninas comentando que esse tipo de bebida não embebeda ou
quase não tem álcool, o que traz um risco ainda maior ao consumo, pois, “por terem o
álcool diluído e o sabor adocicado, podem induzir as pessoas a beberem mais,
aumentando os riscos de embriaguez e os problemas decorrentes do uso excessivo de
álcool(Taub &Andreoli, 2004, p. 73). Esses autores afirmam ainda que tais bebidas
podem ser encontradas no Brasil em mais de quinze marcas e que entre 2000 e 2001 as
suas vendas cresceram em 88%.
Em relação ao champangne, é provável que tenha aparecido em segundo lugar
em função do primeiro contato com a bebida se dar principalmente nas festas de final
de ano, quando todos brindam, amesmo as crianças dão um golinho. No dizer de
Moreira et al. (2009), culturalmente, o uso de drogas pode existir como forma de
celebração em situações específicas, como, por exemplo, o brinde com champagne na
passagem do ano, a distribuição de charutos no nascimento de um filho e o uso
do“cachimbo da paz” entre duas tribos ingenas” (p. 19).
Tabela 8 – Tipo de bebida alclica que experimentou
Tipo de bebida %
Whisky 32.1
Cachaça 30.2
Cerveja 60
Vodka 43.6
Bebidas ice 87.2
Vinho 23.2
Caipirinha/Caipirosca/
Caipifrut
32
Licor 3.5
Champagne 85
105
Tequila 1.2
Rum 0.6
Montila 0.8
Total
100
Fonte: Pesquisa direta/2008.
Sabe-se que o álcool é classificado como uma droga depressora, por diminuir as
atividades do sistema nervoso central, promovendo uma redução das atividades
cerebrais e das funções orgânicas de uma maneira geral (Silveira e Moreira, 2006).
Apesar disso, a maioria dos jovens o consome com a intenção de se animar, ficar
alegre, se soltar. As meninas entrevistadas confirmam tal expectativa quando mais da
metade afirma que, ao experimentar a bebida alcoólica pela primeira vez, sentiram
euforia/alegria (54,8%), desibinição/afoiteza (20,4%) e apenas 15,3% sentiram-se
lentas, moles e com sono. Isso se explica pelo fato de que, apesar de ser uma droga
depressora, a ação inicial do álcool é a de liberar dopaminas e analgésicos naturais do
organismo, as betaendorfinas, responsáveis pela sensação de euforia (Tiba, 2003), para
em um segundo momento se apresentar o efeito depressor.
Tabela 9 – O que sentiu quando experimentou bebida
alcoólica pela primeira vez
Sensações %
Lentidão/moleza/sono 15.3
Euforia/alegria 54.8
Desibinição/afoiteza 20.4
Tristeza 3.2
Tontura 6.3
Total 100
Fonte: Pesquisa direta/2008.
106
Figura 2- Estágios de intoxicação alcoólica
Concentração de
álcool no sangue
(%wt/vol)
Estágio
Sinais e sintomas Clínicos
0,01-0,05
Sobriedade
Não aparente influência. O compor
tamento permanece
praticamente sem alteração. Pequenas mudanças podem ser
detectadas com testes específicos.
0,03-0,12
Euforia
Leve euforia, comportamento mais sociável,loquacidade, aumento
da autoconfiança, diminuição da inibição, da atenção, da capacid
ade
crítica e do controle. Redução da eficiência em testes de
habilidades.
0,09-0,025
Excitação
Instabilidade emocional, diminuição da inibição, redução do
julgamento crítico, comprometimento da memória e capacidade de
compreensão, diminuição da resposta sensorial, aumento do tempo
de reação, moderado comprometimento da coordenação motora.
0,18-0,30
Confusão
Desorientação, confusão mental, tonteira, estados emocionais
exacerbados, como medo, raiva, tristeza; alteração das sensões e
da percepção das core
s, formas, dimensões, movimentos;aumento
da tolerância à dor; equilíbrio prejudicado,incoordenação
motora,marcha cambaleante;discurso imcompreensível.
0,27-0,40
Estupor
Apatia, inércia, importante diminuição da resposta a estímulos,
marcante incoordenão motora, inabilidade para ficar de ou
andar, vômito, incontinência da urina ou das fezes, alteração da
consciência, sono ou esturpor.
0,35-0,50
Coma
Completa inconsciência, coma, redução ou ausência de reflexos,
baixa temperatura, incontinência da urina e das fezes, depressão
dos sistemas circulatório e respiratório, risco de óbito.
0,45
ou +
Óbito
Óbito por parada respiratória
Dias,J.C;Pinto,I.M.(2006).Substâncias Psicoativas: Classificações, Mecanismos de ação e Efeitos sobre o Organismo. In: Silveira,
D.X;Moreira, F.G. Panorama atual das drogas e dependências.p42.
As razões que levam um indivíduo a experimentar drogas são muito discutidas e
investigadas. Klosinski (2006) ressalta que, apesar de o consumo de álcool representar
um dos maiores problemas atuais no campo da saúde, para a sociedade e para os jovens
107
não é percebido como tal por se tratar de droga legalizada. Para eles, o consumo do
álcool possui um simbolismo associado com a vida adulta, configurando tal impressão
a principal razão para seu consumo. O autor afirma ainda que, do ponto de vista da
iniciação ao consumo pelos jovens, o fator mais importante é a influência do grupo.
Nesta perspectiva, Simões (2006) assegura que os motivos relacionados ao uso inicial
são a curiosidade e a busca de sensações prazerosas.
Diante dos dados coletados e das afirmações dos autores citados, percebe-se que
pode haver razões diferentes para o contato inicial com a bebida e para o consumo
posterior as a experimentação. Em relação ao primeiro gole, a curiosidade aparece de
uma forma bastante destacada (73% das entrevistadas) como a principal rao para as
meninas buscarem o produto. Moreira et al. (2009) reforçam essa conclusão ao
afirmarem que, “de maneira geral, os adolescentes que experimentam drogas o fazem
por curiosidade e as utilizam apenas uma vez ou outra (uso experimental) (p. 42).
Tabela 10 – Qual a principal rao para você ter experimentado
bebida alcoólica?
Razões %
Por que estava triste 2.3
Por curiosidade 73
Para quebrar a timidez 3.8
Por que os amigos também
bebiam
4.7
Para parecer mais adulta 3.1
Por que estava alegre 10.6
Total 100
Fonte: Pesquisa direta/2008.
6.4.3. Consumo atual
108
A primeira parte do estudo tratou especificamente do primeiro contato das
adolescentes com o álcool (experimentação). Nessa segunda parte, o foco foi a relação
atual delas com a bebida (consumo). O ponto de partida para a investigação de tal
aspecto são as respostas à questão sobre a permanência ou não do consumo, após ter
experimentado pela primeira vez. Constatou-se que a grande maioria das que
experimentaram bebida alcoólica continua bebendo (80,8%) e apenas uma pequena
minoria (19,2%) restringiu-se a experimentar, o que reflete uma grande adesão das
meninas ao comportamento de beber.
A frequência com que elas bebem se dá de uma forma muito preocupante.
Verificou-se um significativo percentual de adolescentes que bebem nos fins-de-
semana (31,3%), bem como daquelas que afirmam fazê-lo apenas eventualmente
(30,8%). O consumo das drogas, na maioria das vezes, acontece como uma progressão
ou escalada, iniciando com o uso experimental, progredindo para o ocasional e
continuando de forma regular, até chegar a um uso contínuo, em que é pressuposta a
dependência e quando ressalta comportamentos como perda de controle do consumo e
prejuízo causado em alguma esfera da vida do indivíduo (Moreira et al., 2009).
Tabela 11 – Com que frequência você bebe atualmente?
Freqüência %
o bebo 19.2
Diariamente 4.4
Nos finais-de-semana 31.3
Uma vez por mês 14.3
Eventualmente 30.8
Total 100
Fonte: Pesquisa direta/2008.
109
A despeito da preocupação causada por tais dados, mostra-se assustador o índice
de adolescentes que revelam beber todos os dias (4,4%). Apesar de estatisticamente
inferior, esse dado é bastante significativo no que diz respeito aos novos desafios que
se colocam para as políticas de saúde, tendo em vista uma série de consequências
orgânicas, comportamentais e na estrutura de desenvolvimento dessas meninas, bem
como para os psicólogos que atuam nas escolas e que observam o crescimento dos
problemas relativos ao consumo exagerado pelas alunas.
Não obstante tais preocupações decorrentes dos dados levantados, não é
consensual a discussão a respeito do alcoolismo entre as mulheres. Para Bauer (2003),
trata-se de um fenômeno moderno, tendo em vista que em épocas recuadas elas se
mostravam menos susceveis a esse mal, tradicionalmente masculino. Ao contrário,
Brasiliano e Hochgraf (2006) afirmam não haver dúvidas de que por muito tempo a
dependência feminina permaneceu como um fenômeno largamente camuflado na
maioria dos países, o que se reflete ainda hoje na ausência de tratamento específico
para essa demanda. “Mesmo quando o diagnóstico é feito, a falta de serviços
especializados para mulheres dificulta a orientação e o encaminhamento dessas
pacientes, que acabam procurando ajuda em uma proporção muito menor do que seria
esperado pelos estudos de prevalência”. (Brasiliano & Hochgraf, 2006, p. 290).
No que diz respeito ao presente estudo, o número de adolescentes que afirmaram
consumir o álcool desde muito cedo na vida e que continuam a fazê-lo diariamente
indica um aumento do consumo desse produto entre as mulheres, certamente como
expressão das intensas mudanças sociais nos tradicionais papéis femininos.
O progresso social da mulher e sua participação no mundo tradicionalmente
masculino, da mesma forma que trouxe uma série de privilégios, também contribuiu
110
com o aparecimento de patologias associadas às novas formas de convivência, sendo o
alcoolismo uma das mais comuns (Bauer, 2003). Como já apontado em outro momento
deste estudo, organicamente a mulher é mais susceptível a desenvolver o alcoolismo
do que o homem, em função da quantidade inferior de gordura no corpo e da menor
quantidade de produção da enzima que dilui os efeitos do álcool no organismo. A
figura abaixo mostra a relação da quantidade de bebida ingerida em homens e
mulheres e os riscos por ela trazidos.
Figura 3- Riscos gerados pela ingestão de bebidas alcoólicas em homens e mulheres
Riscos Mulheres Homens
Baixo Menos de 14 unidades por semana Menos de 21
Moderado 15 a 35 unidades por semana 22 a 50
Alto Mais de 36 unidades por semana Mais de 51
Fonte: Laranjeira e Pinsky (1997)
Em relação ao tipo de bebida preferida se observou nesta pesquisa que o
champagne, a segunda mais consumida por oportunidade do primeiro gole, foi referida
por apenas 1,6% das bebedoras atuais. As bebidas ice continuam a despontar como as
mais consumidas (31,7%), seguidas da cerveja (25,4%) e da vodka (16,3%),
diferentemente do apurado no levantamento enfatuado pela SENAD (2007), cujos
dados apontam que “50% das adolescentes bebem cerveja, 38% vinho, 8% bebidas ice
e 3% destilados” (p. 25).
Uma possível justificativa para essa diferença decorre da metodologia
empregada nos estudos da Secretaria, cuja amostra foi composta por adolescentes
oriundos de diferentes estratos populacionais. As bebidas ice são de certa forma mais
elitizadas, mais caras. Segundo a psiquiatra Analice Gigliotti (2005), citada por
111
Silveira (2006), a introdução das ice nos mercado é uma das explicações para o
número cada vez maior de meninas consumindo álcool.
Tabela 12 – Qual a bebida que você mais consome?
Bebida %
Bebida ice 31.7
Vodka 16.3
Cerveja 25.4
Whiski 3.3
Cachaça 7.7
Vinho 3
Champagne 1.6
Caipirinha 5.2
Rum 0.2
Martini 0.2
Coquetel 5.2
Espumante 0.2
Total
100
Fonte: Pesquisa direta/2008.
Quando se trata da quantidade de bebida consumida pelas meninas, 12,5% delas
afirmaram beber apenas uma porção (dose ou garrafa ou lata); 33,4% disseram beber
duas porções; 28,4% bebem ts; e 15,1% mais de cinco. A maioria toma apenas uma
ou duas porções, talvez para relaxar e fazer parte do grupo, e a minoria consegue
beber mais, em torno de quatro a cinco porções. Contudo, não obstante ser minoria na
112
pesquisa, é considerado preocupante o índice superior a 15% das que consomem mais
de cinco porções, ou seja, das que revelam um elevado nível de tolerância à bebida.
Revelando um dos elementos preponderantes no diagnóstico do alcoolismo, de
acordo com Rehfeldt (2006) a tolerância é um fenômeno que significa que o organismo
se ajusta à presença da droga, em face de um abuso quantitativo do consumo por um
período relativamente longo de tempo. Uma determinada quantidade da droga causa,
no decorrer de certo tempo, um efeito cada vez menor, levando seu usuário a consumir
quantidades cada vez maiores dela, para sentir o mesmo efeito.
Tabela 13 Qual a quantidade que você bebe normalmente ?
Quantidade %
Um (a) 12.5
Dois (a) 33.4
Três 28.6
Quatro 6.7
Cinco 3.7
Mais de cinco 15.1
Total 100
Fonte: Pesquisa direta/2008.
Visando aprofundar-se nas questões do consumo atual, se buscou as razões
apontadas pelas adolescentes para beber. Neste caso, como referido na literatura,
obteve-se uma dispersão das respostas. A esse respeito, Moreira et al. (2009) destacam
que, apesar dos adolescentes possuírem muitas semelhanças entre si, são na verdade
bastante diferentes, justificando o aparecimento de diversas razões para o consumo. Na
Tabela 14 abaixo, resultante do presente levantamento, constata-se a indicação de dez
justificativas para beber, em que pese respostas como por gostar de beber”, “para
passar o tempo e “para não ser diferente dos amigos” terem obtido maiores índices.
113
Assim, ressalta a contradição: adolescentes diferentes, como referido, mas que buscam
parecer iguais, como obtido nas respostas.
No mesmo estudo, Moreira et al. (2009) também afirmam que, de modo geral, a
droga pode ser utilizada com a finalidade de obter prazer, de sociabilidade, por simples
curiosidade e para alívio de uma sensação psíquica desagradável, como angústia,
ansiedade, depressão e outros sintomas psiquiátricos mais graves” (p. 41). Na presente
pesquisa, apenas 2,9% das adolescentes justificam o uso da bebida para superar a
tristeza, enquanto 23,% delas dizem beber em face da identificação ou coesão grupal,
se referindo à turma de modo explícito.
Em decorrência, infere-se que é mais provável que a ingestão de álcool entre as
adolescentes esteja vinculada a motivações ligadas a socialização em grupos e ao lazer,
quanto mais se aos índices referidos se adicionar os pertinentes às justificativas
como “para ficar alegre” e “para superar a timidez”, cada um com 10,7% das
respostas. Observe-se, em acréscimo, que 22,8% das adolescentes afirmaram que a
principal razão que as levam a beber atualmente é “gostar de beber”. Essa resposta
tanto pode estar ligada ao sabor da bebida quanto, principalmente, ao que está por trás
do uso prazeroso do álcool, que é estar com os amigos, se descontraindo.
No que diz respeito ao índice de 20,9% das jovens que justificam o beber para
passar o tempo, é importante ressaltar que na Tabela 15 consta que 93,2% das
adolescentes entrevistadas afirmaram não beber quando estão sozinhas, ou seja, que
bebem para passar o tempo com a turma, com outras pessoas. Nessa linha de raciocínio
que enfatiza o caráter social da bebida, tome-se como exemplo o estudo recentemente
desenvolvido no Brasil, na China, na Itália, na Nigéria, na Rússia, na África do Sul e
no Reino Unido (Escócia) (Martinic & Measham, 2008), que utilizou como
114
metodologia grupos focais compostos por jovens maiores de 18 anos de idade, e visou
identificar as causas que levam os jovens a beber ao extremo. Em uma das respostas os
jovens, tanto na Itália quanto no Brasil, disseram que o principal motivo para sair e
beber não é beber em excesso, mas passar o tempo com os amigos.
Tabela 14– O que leva você a beber?
Motivo %
Para não ser diferente dos amigos 16.8
Para não ser excluída da turma 3.6
Para ser respeitada pela turma 2.2
Para enfrentar desafios na turma 0.6
Para ficar alegre 10.7
Para superar a timidez 10.7
Por gostar de beber 22.8
Para se sentir mais adulta 8.8
Para superar a tristeza 2.9
Para passar o tempo 20.9
Total 100
Fonte: Pesquisa direta/2008.
Tabela 15 – Você bebe quando está sozinha?
Opções %
Sim 6.8
o 93.2
Total 100
Fonte: Pesquisa direta/2008.
115
Como mostra a Tabela 16, as meninas disseram que as festas são a oportunidade
em que mais bebem, seguindo-se as ocasiões em que estão com os amigos, as que estão
com a família e os eventos especiais. Nos comentários, escritos em acréscimo às
respostas objetivas, elas afirmaram que bebem “no ano novo, no “brinde de 15 anos
das minhas amigas”, “no natal” e “nos shows”, caracterizando o caráter recreativo do
álcool. Tanto a indicação de que as festas o a melhor oportunidade para o consumo
do álcool, quanto os comentários adicionais às respostas estão coerentes com a
literatura, de acordo com a qual se constata, por exemplo, em Klosinski (2006), que o
lugar que, com maior frequência, os jovens consomem drogas ilegais são as festas.
Tabela 16 – Em que ocasiões você bebe normalmente?
Ocasiões %
Em festas 46.2
Em eventos especiais 8.8
Quando estou com os amigos 24.1
Quando estou com a família 20.0
Total 100
Fonte: Pesquisa direta/2008.
Apesar das festas terem sido indicadas como a ocasião em que as adolescentes
mais bebem, de acordo com os dados obtidos na Tabela 17, que sintetiza as respostas à
questão sobre o que elas acham das festas sem bebida, 46,9% das entrevistadas disseram
que são normais; 11,9% que são boas; e 25,3% afirmaram que o ótimas. Apenas
15,9% das meninas considerarem sem graça as festas que o têm bebidas. Ou seja,
aqui parece ser enfatizado o caráter socializador das festas, a despeito de ter ou não
bebida alcoólica.
Tabela 17 – O que acha de festas sem bebidas?
116
Alternativas %
Sem graça 15.9
Normais 46.9
Boas 11.9
Ótimas 25.3
Total 100
Fonte: Pesquisa direta/2008.
Enquanto a Tabela 18 revela que 21,5% das adolescentes já viveram a experiência
de tomar um porre, a Tabela 19 indica que os motivos que as levaram a isso foram:
alegria (45,5%); tristeza (20,1%); influência dos amigos (19,2%); e raiva (15.2%). Ao
contrário das justificativas que as levam a beber, tratadas acima, que de uma maneira
geral estão relacionadas à turma, percebe-se que em se tratando do beber em excesso,
tomar um porre, o que mais influencia tal comportamento são as emoções e os
sentimentos, ou seja, motivos particulares. Surgiram justificativas como “perdi a noção
de quantidade”, “por amor, “quando percebi já estava bêbada, “queria saber como
era”, “sem motivo especial”, “estava com vontade e exagerei” e aposta”.
Tabela 18 – Você já tomou algum porte?
Opções %
Sim 21.5
Não 69.5
Total 100
Fonte: Pesquisa direta/2008
Tabela 19– Se já tomou porre, qual foi o motivo?
Opções %
Estava triste 20.1
Estava com raiva 15.2
Estava alegre 45.5
Meus amigos influenciaram
19.2
117
Total 100
Fonte: Pesquisa direta/2008.
O fato de ser o álcool uma droga lícita e culturalmente aceita acaba gerando um
aumento, não do seu uso social como também de situações em que o consumo
problemático é estimulado, como no primeiro porre. No dizer de Niel e Julião (2006),
"de forma geral, observa-se uma excessiva tolerância com o uso do álcool,
inversamente à intolerância observada com qualquer uso de outras drogas” (p.135).
Para se ter uma ideia dessa aceitação e mesmo estímulo observe-se o relato de França
(2007), publicado no jornal a Tribuna do Norte. De acordo com ele, na primeira noite
do Carnatal - carnaval fora de época que acontece na cidade de Natal, na primeira
semana do mês de dezembro -, no ano de 2007, dos cerca de 30 atendimentos
realizados pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), 50% dos
pacientes eram mulheres na faixa etária de 15 a 20 anos. Entre elas encontrava-se uma
adolescente de 17 anos, que chegou ao posto de atendimento em estado de coma
alcoólico e só recobrou a consciência depois de tomar soro glicosado.
O beber em grande quantidade em um curto espaço de tempo, ou o beber em
binge, é a prática que mais deixa o adolescente exposto a uma série de problemas de
saúde e sociais. Os riscos vão desde acidentes de trânsito o evento mais comum e
com consequências mais graves – até o envolvimento em brigas, vandalismo e a prática
do sexo sem preservativo. De acordo com o levantamento da SENAD (2007), 12% das
meninas já beberam em binge ao menos uma vez nos últimos 12 meses. “Culturas onde
não existem normas sobre o uso de drogas ou que quando existem são ambíguas,
frouxas, podem gerar um uso indiscriminado e individualista que não se submete a
restrições” (Mansur, 2004, p. 58).
118
As duas tabelas que seguem também tratam da questão da influência do grupo
no comportamento de beber das adolescentes, aqui se enfocando o ponto de vista dos
outros, ao contrário das referências às justificativas pessoais. A esse respeito citem-se
Moreira, Niel e Silveira (2009), para quem “Os fatores que mais influenciam nas taxas
de uso o a disponibilidade da droga, o preço e a aceitação social, principalmente da
turma de amigos” (p. 39). Como revelam os dados da Tabela 20, o grupo não apenas
acha normal o consumo de bebidas alcoólicas (37,7%), como incentiva seus membros a
beberem (32,2%) ou se omite diante do fato (23,3%). O índice de apenas 6,8% das
adolescentes que afirmaram que os amigos não gostam que elas bebam reitera o
comportamento grupal de incentivo ao beber.
Tabela 20 – O que seus amigos dizem quando você bebe?
Opinião %
Não dizem nada 23.3
Acham normal 37.7
Não gostam 6.8
Me estimulam 32.2
Total 100
Fonte: Pesquisa direta/2008.
Klosinski (2006) ressalta que, na adolesncia, as necessidades de ligação dos
jovens se voltam para o coletivo de referência. Este sentimento de nós lhe traz uma
sensação de segurança e participação; é um apoio eficaz ao eu, e fundamenta a
lealdade para com as normas do grupo (p. 84). A autora afirma ainda que os jovens
utilizam o grupo como um instrumento organizado para rejeitar as normas da
sociedade dos adultos: é quando a inserção se torna fundamental e o beber pode
aparecer, por exemplo, como um meio de integração (Pinsky e Bessa, 2004).
119
Sobre a influência dos amigos, uma das adolescentes escreveu que, quando eu
não quero beber, eles falam coisas que deixam a pessoa toda por fora”. o obstante,
supostamente como uma tentativa de demonstrar independência, autonomia em relação
aos seus comportamentos, característica muito observada nos adolescentes em geral,
66,3% das entrevistadas responderam que não influência dos amigos na opção de
beber.
Tabela 21 – Há influência dos amigos para você beber?
Alternativas %
Sim 34.7
Não 66.3
Total 100
Fonte: Pesquisa direta/2008.
Em se tratando das referências aos comportamentos que mais destacam nas
amigas quando elas bebem, a Tabela 22 ressalta as respostas identificadas com a
desinibição, como ficam mais alegres (40,3%) e perdem a timidez (29,4%), e atitudes
de caráter moral, como ficam com qualquer menino (18,5%), ficam tontas (9,9%), ou
ficam tristes (1,9%). Em acréscimo, surgiram comentários adicionais do tipo ficam
mais vulgares, falam alto, transformam-se, ficam doidas, fazem o que não presta,
falam merda, ficam loucas e falam besteira.
Tabela 22 – Qual o comportamento das suas amigas que mais se destaca quando estão
bebendo?
Alternativas %
Perdem a timidez 29.4
Ficam com qualquer menino 18.5
Ficam mais alegres 40.3
Ficam tristes 1.9
120
Ficam tontas 9.9
Total 100
Fonte: Pesquisa direta/2008.
Em seu estudo com meninos, sobre o beber e a masculinidade, como conclusão
às respostas sobre o que acham a respeito do consumo de álcool pelas meninas, Zamora
(2004) destaca que “os jovens reproduzem as crenças e valores do meio, pois censuram
de maneira evidente esse comportamento, embora o hábito de beber entre o sexo
feminino esteja se tornando cada vez mais frequente nas festas” (p. 134). No seu relato,
um jovem participante do estudo afirmou que “a sociedade está acostumada a ver o
homem bebendo e vê com maus olhos esse comportamento na mulher, pois o ato de
beber exige responsabilidade e a mulher, sendo mais fraca física e emocionalmente,
não preenche esse critério” (p. 134).
É interessante perceber que o preconceito também existe por parte das próprias
adolescentes. Na presente pesquisa, ao serem perguntadas sobre o que acham das
meninas que bebem, 47,5% das entrevistadas afirmaram achá-las vulgares,
acrescentando comentários do tipo “acho ridículo essas meninas que bebem para
aparecer, não sabem se controlar e ficam parecendo umas raparigas correndo atrás
de macho”; ou “se é feio para meninos, imagine para meninas. Um outro fator
importante, destacado nas respostas, é a questão da quantidade ingerida. Elas afirmam
que a vulgaridade depende da quantidade de bebida consumida: “em excesso, é
horrível, vulgar; mas pouco, é normal”. Uma outra adolescente comenta, ainda: não
acho nada, cada um faz o que lhe der na cabeça, apenas fico triste em ver minhas
amigas sendo levadas para o mundo das bebidas”.
Tabela 2 3– O que você acha das meninas que bebem?
121
Alternativas %
Normal 46.1
Vulgar 47.5
Legal 6.4
Total 100
Fonte: Pesquisa direta/2008.
Tabela 24 – O que as pessoas falam das meninas que bebem?
Alternativas %
Que é normal 30.9
Que é vulgar 43.4
Que é coisa de menino 7.4
Que é coisa de adulto 14.0
Que é massa 4.3
Total 100
Fonte: Pesquisa direta/2008.
Percebe-se que, historicamente, os padrões de uso de substâncias psicoativas
entre as mulheres têm variado e a interpretação social deles também, provocando
impacto nas atitudes frente ao uso, na disponibilização de programas de atendimento
específicos, bem como na procura pelo tratamento. Como se constatou nas respostas
das adolescentes sobre o consumo, também em relação à dependência a mulher ainda é
mais estigmatizada que o homem, associando-se a elas estereótipos de maior
agressividade e, principalmente, prosmicuidade (Brasiliano & Hochgraf, 2004, citado
por Silveira & Moreira, 2006).
Como mostram as tabelas abaixo, 71,4% das adolescentes consideram o álcool
como uma droga, muito embora apenas 35,4% afirmem ter medo de se viciar. Esses
dados, por um lado, podem expressar o sentimento de onipotência da adolescência, no
sentido da ideia de que isso não acontece comigo, ou mesmo o baixo consumo de álcool
pelas meninas. Em seu comentário adicional à pergunta, uma adolescente de 15 anos de
122
idade, escreveu: Porque na hora que eu quiser parar eu posso parar...não venha com
blábláblá dizendo que o álcool é mais forte...isso não existe”.
Alguns riscos são mais frequentes nesta etapa do desenvolvimento, pois expressam
características próprias desta etapa, como o desafio a regras e a onipotência. O
adolescente acredita estar magicamente protegido de acidentes, por exemplo, e também
se sente mais autônomo na transgressão, envolvendo-se assim em situações de maior
risco, por muitas vezes com consequências mais graves.
Tabela 25 – Você considera o álcool uma droga?
Opções %
Sim 71.4
Não 28.6
Total 100
Fonte: Pesquisa direta/2008.
Tabela 26 – Tem medo de se viciar?
Opções %
Sim 35.4
Não 64.6
Total 100
Fonte: Pesquisa direta/2008.
123
Considerações finais
“Garotas que bebem excessivamente podem ser vistas em qualquer lugar. Nós estamos
em todos os lugares. Dentre as jovens que conheci nos últimos nove anos - as que
tomavam umas doses, passavam mal do estômago, rolavam escadas abaixo,
desmaiavam em calçadas e vomitavam em bancos traseiros de táxis -, havia mulheres
bem-sucedidas, atletas, esnobes, nerds, modelos, jovens simples e as chamadas livre-
pensadoras. Algumas usavam suéteres enormes e calças jeans rasgadas; outras usavam
sapatilhas, saias ondulantes e belíssimas joias cintilantes. Asegurando um copo da
cerveja mais forte não perdiam as caractesticas que as pessoas consideram femininas
(Zailcklas, 2007, p.12).
Ao longo deste trabalho teve-se a oportunidade de conhecer um pouco mais
sobre o que pensam e sentem as adolescentes de escolas privadas no que se refere ao
consumo de bebidas alcoólicas. Foram verificados dois momentos da relação entre
124
meninas e álcool: a experimentação (primeiro contato) e o consumo atual, com o intuito
de fazer uma leitura detalhada de como veem se dando esses dois momentos e de
comparar as possíveis mudanças. Abordaram-se especialmente as questões relativas ao
álcool como uma ferramenta de socialização.
Partiu-se do pressuposto que a adolescência é uma fase do desenvolvimento
humano (criada historicamente pelo homem), que vai se configurando a partir do
contexto cio-histórico, econômico e cultural no qual se insere. Dessa forma,
assumindo a dinamicidade da adolescência e suas manifestações comportamentais, se
faz imprescindível perceber a relação da adolescência com o álcool a partir desse viés,
tendo em vista que os sentidos, as motivações e os significados mudam no decorrer do
tempo. A intenção, assim como a de tantos outros autores, foi oferecer contribuões
relevantes para pensar a relação entre adolescência e o álcool, tendo como singularidade
o foco dado às meninas, em função das novas formas de comportaBmentos apresentadas
por elas, percebidas no dia-a-dia da atuação do setor de psicologia escolar.
A pesquisa corroborou, portanto, a informação do elevado índice de meninas que
estão consumindo bebidas alcoólicas, de forma precoce e estimuladas na maior parte
das vezes pelos familiares. Um dos achados importantes do presente estudo foi o de que
tem havido um acentuado estímulo por parte dos pais e do ambiente familiar, na medida
em que o consumo tem ocorrido de forma quase equivalente em festas e em casa, bem
como acompanhadas, quase na mesma proporção, por amigos e pais. Percebe-se que
estes, além da marcante influência no desenvolvimento do adolescente, têm
influenciado, consequentemente, na sua relação com o álcool e outras drogas. O
consumo de álcool pelos próprios pais e as atitudes permissivas perante o uso do mesmo
125
são fatores predisponentes à maior iniciação ou continuação de uso, bem como vem
caracterizando um hábito de consumo familiar e doméstico.
A curiosidade apontada como o principal motivo que leva as meninas a darem o
primeiro gole vem sendo despertada bem cedo, na medida em que se acredita que
oferecer um gole de champagne ou cerveja para uma criança o seja prejudicial para a
saúde ou que as confraternizações regadas sempre a muito álcool, ou as constantes
propagandas não despertam a vontade de experimentar a bebida. O relato de uma das
adolescentes participantes da pesquisa ilustra tal ideia: “A sociedade está acostumada
com meninos que bebem antes dos 18 anos. O que não é verdade. Apesar de muitos
meninos serem influenciados pelos próprios pais a começarem a beber, as meninas não
ficam por trás, já que vem aquele instinto de curiosidade”.
Alguns pais fazem isso com boa intenção, acham que permitindo seus filhos a
experimentarem bebidas alcoólicas estão encorajando-os a serem moderados com as
bebidas, quando forem adultos. No cruzamento entre adolescência e consumo de álcool,
chama atenção como o uso é naturalmente um tema controverso no meio social. Como
dito, a Lei 9.294/96 regulamenta o consumo, no sentido de se proibir a venda de
bebidas alcoólicas para menores de 18 anos de idade; entretanto, é inexistente o controle
de cumprimento dessa legislação e aplicação de pena aos infratores. Percebe-se um
descuido completo da sociedade em relação às drogas lícitas, especialmente o álcool,
tendo em vista que algumas medidas já aforam aplicadas em relação ao cigarro.
É preciso que haja de fato, medidas restritivas em relação a horários, dias e
locais de venda, bem como que a idade mínima permitida para beber seja respeitada.
Percebe-se alguns avanços em relação ao controle social, tal como a proibição da
veiculação de anúncio de bebidas com mais de 13% de teor alcoólico entre seis e vinte e
126
uma horas, embora as cervejas e vinhos tenham seus comerciais liberados, independente
do horário. Entretanto, tal medida parece não ter efeito para os adolescentes, visto que
as bebidas mais consumidas por estes são as cervejas, e no caso particular das meninas
participantes do estudo, as bebidas ice.
Um outro avanço pode ser atribuído à proibição de bebidas alcoólicas em
estádios de futebol e seus arredores, em dias de jogos, a despeito de podermos supor que
seria uma medida de efeito reduzido, tendo em vista que é prática comum o consumo de
álcool pelas meninas no ambiente domiciliar e em festividades, conforme citado
anteriormente.
A sociedade como um todo adota atitudes paradoxais frente a essa probletica:
por um lado, combate o consumo de álcool pelos jovens, mas é alegoricamente
permissiva ao promover o seu consumo ou até mesmo estimulá-lo nos brindes do
réveillon, nos bailes de 15 anos, e no estímulo do consumo por meio da propaganda.
O beber em conjunto é considerado hoje como uma forma de fortalecer os laços
sociais, como um instrumento de interação social, fato que se confirma ao se constatar
que 93,2% das adolescentes participantes do presente estudo não bebem sozinhas.
Apesar de a sociedade demonstrar uma grande resistência em aceitar o álcool como uma
droga, as adolescentes do estudo, em quase sua totalidade (71,4%), o percebem como
tal, apesar de não mostrarem medo de se viciar. Talvez isso se em função de seu
caráter aparentemente inofensivo, como um animal doméstico, como foi colocado no
capítulo três.
Tendo em perspectiva a ampliação do espaço social da mulher e as inúmeras
modificações consistentes na sua forma de se comportar, percebeu-se que apesar das
adolescentes beberem, elas próprias apresentaram preconceitos com as meninas que
127
bebem. O comportamento destas apresenta uma linha nue entre o legal, o normal e a
vulgaridade.
Por último e não menos importante, acerca da ação do psilogo em relação à
problemática das drogas, em especial as lícitas, constatamos que ainda pouca
literatura disponível, mas que aponta para a necessidade de intervenções sistemáticas
que auxiliem na prevenção e erradicação do problema. Ressalte-se o papel do psicólogo
que atua na escola, pela excelente oportunidade de desenvolver prevenção e formão
envolvendo alunos, pais e comunidade ao redor. A escola não pode se furtar, no
momento, de preparar os alunos para que tenham consciência dos problemas que podem
ser gerados pelo consumo de bebidas alcoólicas. Além disso, o consumo de álcool na
adolescência também pode estar associado a uma série de prejuízos acadêmicos e a
queda no rendimento escolar, tendo em vista que a memória é função fundamental no
processo de aprendizagem, e que esta se altera com o consumo de álcool.
O estudo dessa temática sugeriu também algumas lacunas que levam a pensar no
desenvolvimento de pesquisas ulteriores, que possam vir a enriquecer a compreensão da
problemática do consumo do álcool pelas adolescentes e, além disso, contribuir na
melhor elaboração de estratégias de prevenção e combate mais eficazes ao consumo do
álcool nessa fase da vida. Espera-se que alguns resultados da pesquisa apresentada
possam ter implicações para a intervenção psico-pedagógica, para a prática educativa,
para a atuação do psicólogo escolar e para a formulação de políticas públicas voltadas
para esse campo. Com isso, almeja-se ter oferecido uma contribuição ao campo da
psicologia da educação, de modo que se um mundo livre das drogas não se mostra
possível, tendo em vista seu caráter milenar e culturalmente arraigado, que se possa
preparar melhor as crianças e adolescentes para lidar com a presença constante destas.
128
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http://www.senad.gov.br/ acessado em 22 de marco de 2008.
APÊNDICE A
Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes
Programa de Pós-Graduação em Psicologia
ENTREVISTA PILOTO
PARTE I
1. Idade:
2.
3. Já experimentou algum tipo de bebida alcoólica?
137
4. Tipo de bebida alcoólica que experimentou:
5. Que idade você tinha quando experimentou pela primeira vez?
6. Onde foi?
7. Com quem foi?
8. O que sentiu?
9. Por que bebeu?
10. Como se comportou após ter bebido?
PARTE II
11. Atualmente você bebe?
12. Com que freência?
13. Quantas doses você normalmente bebe?(dose, copos, latas, garrafas)
14. O que você sente quando bebe?
138
15. O que leva você a beber?
16. Em que ocasiões você bebe?
17. Qual a sua bebida preferida?
18. Você já tomou algum porre?
19. Teve algum motivo?
20. O que seus amigos dizem quando vobebe?
21. O que eles pensam disso?
22. O que você acha das meninas que bebem?
23. Há influência dos amigos para vo beber?
24. O que acha de festas sem bebida?
25. Você considera o álcool uma droga?
26. Tem medo de se viciar?
139
APÊNDICE B
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes
Programa de Pós-Graduação em Psicologia
OFÍCIO CIRCULAR Natal/RN,___de_____ de 2008.
Ilma. Sr _________________________
Diretora da Escola ________________
140
Prezada Senhora:
A psicóloga Débora Sampaio, mestranda do programa de pós-graduação em
Psicologia da UFRN está desenvolvendo uma pesquisa intitulada “Álcool e
sociabiliade: a farra das adolescentes” como requisito para o seu título de mestre,
sob orientação do professor Dr. Herculano Ricardo Campos. A pesquisa es sendo
desenvolvidas em 10 escolas privadas da cidade de Natal e tem como objetivo
compreender a questão do consumo do álcool entre as adolescentes, uma realidade
atual, que vêm preocupando pais e educadores.
Diante do exposto, viemos solicitar dessa respeitável Instituição a colaboração no
sentido de viabilizar a aplicão de um questionário com as adolescentes estudantes
do 7º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio. É válido ressaltar que
o questionário é todo objetivo e de rápida aplicação e que o nome da escola será
preservado. Após fechamento do estudo, a psicóloga se coloca a disposição da escola
para trabalhar a questão do consumo do álcool com os alunos. Qualquer
esclarecimento pode ser prestado através do telefone 88044973.
Cordialmente,
Prof. Dr. Herculano Ricardo Campos
Orientador
Psiloga Débora Sampaio
Pesquisadora
APÊNDICE C
Sua filha ________________________________ está sendo convidado a
participar de um estudo denominado Álcool e sociabilidade: a farra das
adolescentes, que está sendo desenvolvida em 10 escolas da rede de educação
privada de Natal pela Psicóloga Débora Sampaio, mestranda do programa de s-
graduação de Psicologia, cujo objetivo é identificar um possível consumo de álcool
entre as adolescentes, as razoes atribuídas para tanto e o perfil desse consumo.
141
Para tanto, solicitamos autorização para que sua filha responsa ao questionário
apresentado pela pesquisadora, de antemão nos comprometendo a respeitar a
privacidade dela e garantindo que qualquer outro dado ou elemento que possa, de
qualquer forma, a identificar será mantido em sigilo. Disponibilizamos o telefona
8804-4973 para eventuais esclarecimentos adicionais.
Natal, _________de ____________de 2008.
Tendo sido orientado quanto ao teor de todo o aqui mencionado e compreendido a natureza e o
objetivo do referido estudo, manifesto meu livre consentimento para que minha filha participe da
pesquisa, estando totalmente ciente de que não há nenhum valor econômico, a receber ou a pagar, por sua
participação.
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
(nome, assinatura e RG do representante legal do sujeito da aluna)
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
(Nome e assinatura da aluna)
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
(Nome e assinatura da pesquisadora)
APÊNDICE D
Cara aluna,
Esta pesquisa é parte integrante de uma dissertação de mestrado do curso de Pós-graduação em
Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, da aluna Débora Karla Sampaio
Alves que se intitula “Álcool e sociabilidade: a farra das adolescentes”. As informações
desse questionário serão utilizadas exclusivamente para fins acadêmicos, sem a sua
identificação. Agradeço desde já a colaboração.
PARTE I
1. Com quem mora:
142
( )Sozinha ( )Com irmãos ( )Com pais e irmãos ( ) Com o pai ( )Com a mãe
Outros:_______________________________
2. Atividades desenvolvidas:
( )Estuda e trabalha ( )Só estuda
3. Renda familiar mensal:
( )A1 Salário Mínimo ( )2 a 4 Salários Mínimos ( )5 a 8 Salários Mínimos ( )9 ou
mais Salários Mínimos
4. Idade:
( )12 ( )13 ( )14 ( )15 ( )16 ( )17 ( )18
5. Já experimentou algum tipo de bebida alcoólica?
( )SIM ( )NÃO
6. Tipo de bebida alcoólica que experimentou:
( ) Nunca experimentou ( )Whiski ( ) Cachaça ( )Cerveja ( )Vodka ( )Bebidas ice
Se outras, qual:_______________________________
7. Que idade você tinha quando experimentou bebida alcoólica pela primeira vez?
( )6 ( )7 ( )8 ( )9 ( )10 ( )11 ( )12 ( )13 ( )14 ( )15 ( )16 ( )17
Outra:_______
8. Em qual local você experimentou bebida alcoólica pela primeira vez?
( )Festa ( )Em sua casa ( )Casa de amigos ( )Barzinho ( )Churrasco
( )Jogo de futebol ( )Na escola
Se outro local, qual?___________________________
9. Com quem você estava quando experimentou bebida alcoólica pela primeira vez?
( )Sozinha ( )Com amigos ( )Com os pais ( )Irmãos ( ) Tios e primos ( )Com o
namorado ( )Com colegas/conhecidos
Se outra pessoa, quem?_________________________
10. O que você sentiu quando experimentou bebida alcoólica pela primeira vez?
( )Lentidão/moleza/sono ( )Euforia/alegria ( )Desibinição/afoiteza ( )Tristeza( )Tontura
Outro____________
11. Qual a principal razão para você ter experimentado bebida alcoólica?
( )Por que estava triste ( ) Por curiosidade ( )Para quebrar a Timidez ( )Por que os
amigos tamm bebiam ( )Para parecer mais adulta ( )Por que estava alegre
Se outro motivo, qual?________________________
PARTE II
12. Com que freqüência você bebe atualmente?
( )Não bebo ( ) Diariamente ( ) Nos finais-de-semana ( )Uma vez por mês( )Eventualmente
13. Qual a bebida que vomais consome?
( )Cachaça ( )Cerveja ( )Vodka ( )Bebidas ice ( )Whiski ( )Nenhuma
Outras:__________________________
14. Qual a quantidade que você bebe normalmente?(dose, copos, latas, garrafas)
( ) Nenhum(a) ( ) Um(a) ( )Dois(a) ( )três ( )Quatro ( )Cinco ( )Mais de cinco
15. O que leva você a beber atualmente?
( )Não bebo ( )Para não ser diferente dos amigos ( )Para não ser excluída da turma
( )Para ser respeitada pela turma ( )Para enfrentar desafios na turma ( )Para ficar alegre
( )Para superar a timidez ( )Por gostar de beber ( )Para se sentir mais adulta ( )Para
superar a tristeza ( )Para passar o tempo
16. Em que ocasiões você bebe normalmente?
( )Em festas ( )Em eventos especiais ( )Quando estou com os amigos ( )Quando estou
com a família
143
Outra: _______________
17. Você já tomou algum porre?
( )SIM ( )NÃO
18. Se já tomou um porre, qual foi o motivo?
( )Estava triste ( )Estava com raiva ( )Estava alegre ( )Meus amigos influenciaram
Outro:_______________
19. O que seus amigos dizem quando você bebe?
( )Não dizem nada ( )Acham normal ( )Não gostam ( )Me estimulam
Outra: _______________
20. Você bebe quando está sozinha?
( )SIM ( )NÃO
21. Qual o comportamento das suas amigas que mais se destaca quando estão bebendo?
( )Perdem a timidez ( )Ficam com qualquer menino ( )Ficam mais alegres ( )Ficam tristes
( )Ficam tontas
Outro:_______________
22. O que você acha das meninas que bebem?
( )Normal ( )Vulgar ( )Legal ( )Bonito
Outra:_______________
23. O que as pessoas falam das meninas que bebem?
( )Que é normal ( )Que é vulgar ( )Que é coisa de menino ( )Que é coisa de adulto
( )Que é massa
Outra:_______________
24. Há influência dos amigos para você beber?
( )SIM ( )NÃO
25. O que acha de festas sem bebida?
( )Sem graça ( )Normais ( )Boas ( )Ótimas
Outra:_______________
26. Você considera o álcool uma droga?
( )SIM ( )NÃO
27. Tem medo de se viciar?
( )SIM ( )NÃO
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