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paisagem como meio de fazer dialogar as ciências naturais e as ciências
sociais em torno de questões sócio-ambientais. Deffontaines (1998) deu um
caráter concreto e operatório à abordagem paisagística para que ela traduza e
revele os modos de funcionamento e de organização dos espaços, “a
paisagem sendo o lugar onde se inscrevem indicadores visuais práticos num
meio dado”. Assim, a entrada pela paisagem foi retida desde que o interesse
em conjugar uma abordagem naturalista, indicadora das dinâmicas biofísicas, à
uma abordagem territorial sobre a apreensão pela sociedade dos recursos
naturais cuja a gestão depende, notadamente, da escolha e das orientações
em relação com as dinâmicas sócio-econômicas dos territórios considerados. A
paisagem é, pois, o resultado material de um conjunto de interações entre
processos físicos, processos ecológicos, processos sociais e processos
culturais. Na verdade, ela é considerada como o “reflexo das relações entre o
homem e seu meio ambiente” e aparece assim indissociável do conjunto das
dinâmicas territoriais (Béringuier et al. 1999).
Uma equipe da Universidade de Toulouse-Le Mirail, com o professor
G.Bertrand à frente (Husbschman, Carcenac, Bertrand etc.), definiu a
paisagem, em 1968, da seguinte forma: "É uma porção do espaço
caracterizado por um tipo de combinação dinâmica e, portanto, instável, de
elementos geográficos diferenciados – físicos, biológicos e antrópicos - que, ao
atuar dialeticamente uns sobre os outros, fazem da paisagem um conjunto
geográfico indissociável que evolui em bloco, tanto sob o efeito das interações
entre os elementos que a constituem como sob o efeito da dinâmica própria de
cada um dos elementos considerados separadamente". Essa definição, que
segue a linha do pensamento de A. Cholley, corresponde, na realidade, ao
conceito do atual sistema. Estabelece as unidades de paisagens complexas em
três níveis: o meio físico, os ecossistemas e a intervenção humana, e define
uma perspectiva dinâmica em diferentes graus de evolução. Nesse aspecto, G.
Bertrand apóia-se na teoria da bio-resistasia do edafólogo Erhart, que define os
indicados conceitos em relação à constituição e destruição do solo. Bertrand
distingue entre geossistemas em biostasia, recobertos de densa vegetação,
estáveis, e geossistemas em resistasia, nos quais, ao estar a litologia a
descoberto, predomina a morfogênese, contrária à edafogênese e à