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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA
ANÁLISE DAS AÇÕES TÉCNICAS DE JOGADORES E DAS
ESTRATÉGIAS DE FINALIZAÇÕES NO FUTEBOL, A PARTIR DO
TRACKING COMPUTACIONAL
FELIPE ARRUDA MOURA
Dissertação apresentada ao Instituto
de Biociências do Campus de Rio
Claro, Universidade Estadual
Paulista, como parte dos requisitos
para obtenção do título de Mestre
em Ciências da Motricidade (Área de
Biodinâmica da Motricidade
Humana).
Rio Claro
Estado de São Paulo - Brasil
Março - 2006
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ANÁLISE DAS AÇÕES TÉCNICAS DE JOGADORES E DAS
ESTRATÉGIAS DE FINALIZAÇÕES NO FUTEBOL, A PARTIR DO
TRACKING COMPUTACIONAL
FELIPE ARRUDA MOURA
Orientador: Prof. Dr. Sergio Augusto Cunha
Dissertação apresentada ao Instituto
de Biociências do Campus de Rio
Claro, Universidade Estadual
Paulista, como parte dos requisitos
para obtenção do título de Mestre
em Ciências da Motricidade (Área de
Biodinâmica da Motricidade
Humana).
Rio Claro
Estado de São Paulo - Brasil
Março - 2006
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DEDICATÓRIA
Declaração de amor
“Olho nos teus olhos
Vejo o amor que tens por mim a me lembrar
Que nada mais vai me separar da sua vida
Estou aqui contigo
Quero ser sempre teu melhor amigo
Querido, contigo hei de estar...
Meu filho, te trouxe aqui pra te dizer
Que é durante a tempestade que eu mais olho por você
E não há nada que aconteça ou que possa acontecer,
Não vou desistir de você
Enxergo o teu cansaço,
Meu braço está aqui pra te animar
E se às vezes me esqueces
Meu amor não vai mudar...
Não espero que me ames pra te amar
Não espero que perdoes pra te perdoar
Não espero ouvir teus gritos, não espero teus sinais
Não te espero ser meu filho para ser teu pai
Teu sorriso é meu sorriso
Tua dor é minha dor
Tua vida é minha declaração de amor”
Dedico meu trabalho de mestrado aos meus pais Vera e Mauricio, por
tudo que já fizeram na minha vida e ainda fazem. Obrigado por se
preocuparem por mim, por pensarem em mim e por viverem pra mim. Agradeço
a Deus todos os dias por ter me abençoado com dois pais maravilhosos, que
nunca deixaram NADA faltar em minha vida. Saibam que, sem vocês, eu não
seria nada!
AMO VOCÊS!!!
AGRADECIMENTOS
Agradeço inicialmente a Deus, por sempre iluminar meu caminho,
me dar forças e inspiração nos momentos mais difíceis e ter realizado tantas
maravilhas em vida.
Aos meus pais Vera e Mauricio, por serem pessoas tão
maravilhosas, preocupadas, atenciosas e principalmente presentes, sempre
mostrando o melhor caminho a seguir.
À minha irmã Adriana, que sempre me estimulou a seguir em
frente e sempre acreditou em mim.
À minha namorada Carla, pelo companheirismo e carinho nesses
dois anos de mestrado e que teve que aturar meu stress e minhas
preocupações.
Ao meu orientador Professor Dr. Sergio pela amizade, dedicação,
atenção e por todas oportunidades que me proporcionou desde a época da
graduação.
Aos membros da banca examinadora, Prof. Dr. Cláudio Gobatto e
o Prof. Dr. Ricardo Anido pelas sugestões que tanto contribuíram com esse
trabalho.
Aos professores Sebastião e Lílian Gobbi e Eduardo Kokubun por
todos os ensinamentos e amizade.
À Rede Globo de Televisão, que autorizou a filmagem de todos os
jogos analisados neste estudo.
Ao Prof. Dr. Ricardo Barros por disponibilizar o LIB (Laboratório
da Análises Biomecânicas – FEF - Unicamp) para a realização de grande parte
deste trabalho.
Aos amigos do LIB, por toda atenção e ajuda, e principalmente ao
Milton, Rafael e Clodoaldo, pela paciência e dedicação.
Aos meus amigos do Lábio (Laboratório de Análises
Biomecânicas – DEF – UNESP – RC) Paulo, Renato, Fábio, Tati e Martin pela
amizade, brincadeiras, sugestões e ajuda nesses dois anos de mestrado.
Aos meus amigos Daniel, Tércio, Camilo, Jonas, Allison e Caio
pela amizade e experiências que passamos na república.
Aos amigos Rafael, Anderson, Mario, Luis Henrique, Marcos,
André, Denise, Luis Fernando, Bruno e Marcio que, mesmo depois da
graduação, não deixaram morrer a amizade.
ANÁLISE DAS AÇÕES TÉCNICAS DE JOGADORES E DAS ESTRATÉGIAS DE
FINALIZAÇÕES NO FUTEBOL, A PARTIR DO TRACKING COMPUTACIONAL
RESUMO
A análise objetiva do futebol requer o desenvolvimento de métodos capazes de
captar o maior número possível de dados durante uma partida, como informações sobre a
posição dos jogadores em função do tempo e suas ações. Desse modo, uma análise sobre as
ações e seqüências de ações técnicas utilizadas pelos jogadores e sobre as estratégias de
finalizações no futebol são importantes para que técnicos e professores melhor planejem e
aperfeiçoem o treinamento de seus jogadores. Assim, o objetivo deste estudo foi analisar as
ações e seqüências de ações técnicas de jogadores e as estratégias de finalizações durante
quatro partidas de futebol, a partir do tracking computacional. Foi utilizado o software Dvideow
para a obtenção da posição dos jogadores em função do tempo e suas ações técnicas. De
posse dos dados das ações dos jogadores, foram identificadas as ações e seqüências de
ações realizadas e dados sobre as estratégias de finalizações utilizadas pelas equipes. Os
resultados mostraram que a ação “passe”, e as seqüências de ações ”domíniopasse” e
“domínioconduçãopasse” compreendem em média 89,5% das ações dos jogadores.
Foram também as ações e seqüências de ações curtas as mais realizadas pelos jogadores no
momento da finalização, além das cobranças de bola parada. Verificou-se que os atacantes
foram os que mais realizaram seqüências de ações incompletas, enquanto os zagueiros foram
os que menos realizaram. No entanto, os zagueiros foram os que mais desarmaram, enquanto
que os atacantes foram os jogadores que mais finalizaram. Com relação às estratégias de
finalizações, verificou-se que as equipes normalmente ganham a posse de bola em seu campo
de defesa. Já o passe que antecede à finalização normalmente é executado no campo de
ataque e possui até 20 metros. Os resultados também mostraram que as posses de bola que
resultaram em finalizações envolvem poucos ou muitos passes e têm curta ou longa duração,
dependendo da situação do jogo. Por fim, verificou-se que as finalizações ocorreram numa
distância média de 21,02 metros. Assim, através desses resultados, conclui-se que jogadores
normalmente realizam ações e seqüências de ações que envolvem poucos fundamentos e
que as posses de bola que resultam em finalizações normalmente se iniciam no campo de
defesa e podem envolver poucos ou muitos passes, e ter longa ou curta duração. Conclui-se
também que passes para as finalizações constantemente ocorrem no campo de ataque e são
de curta distância. Por fim, as finalizações ocorrem em locais distintos, nas proximidades e
dentro da grande área.
Palavras-chave: Futebol, tracking computacional, ações técnicas, estratégias
de finalização, biomecânica.
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS E TABELAS .................................................................... 2
I - INTRODUÇÃO............................................................................................... 4
1 – REVISÃO DE LITERATURA..................................................................... 10
2 – OBJETIVOS............................................................................................... 21
2.1 – Objetivo Geral......................................................................................................21
2.2 – Objetivos específicos............................................................................................21
3 – JUSTIFICATIVA ........................................................................................ 23
4 – MATERIAIS E MÉTODOS......................................................................... 25
4-1 – Sistema Dvideow..................................................................................................25
4.1.2 – Imagens dos jogos...........................................................................................26
4.1.3 – Medição ..........................................................................................................27
4.1.3.1 - Segmentação.............................................................................................28
4.1.3.2 – Rastreamento (tracking computacional)..................................................30
4.1.4 – Calibração, reconstrução 2D e suavização .....................................................32
4.1.5 – Ações técnicas.................................................................................................33
4.1.5.1 – Descrição das ações.................................................................................34
4.1.5.2 – Seqüência de ações ..................................................................................38
4.1.6 – Registro e arquivamento das ações técnicas...................................................40
4.2 – Tratamento de Dados ..........................................................................................44
4.2.1- Identificação e contabilização das ações e seqüências de ações realizadas pelos
jogadores.....................................................................................................................44
4.2.2 - Contabilização das ações e seqüências de ações que antecederam às
finalizações .................................................................................................................45
4.2.3 - Ações e seqüência de ações utilizadas pelo atleta que finaliza e quais
jogadores finalizaram a gol.........................................................................................45
4.2.4 – Mudança de escala das coordenadas x e y para um campo comum...............46
4.2.5 – Cálculo dos autovetores e autovalores para a representação dos eixos
principais.....................................................................................................................47
4.2.6 – Tamanho do passe que antecedeu à finalização..............................................52
4.2.7 - Número de passes que antecederam à finalização...........................................52
4.2.8 - Local da finalização.........................................................................................53
4.2.9 - Duração das posses de bola que resultam em finalizações .............................53
5 – RESULTADOS .......................................................................................... 55
5.1 - Ações e seqüência de ações mais realizadas pelos jogadores............................56
5.2 - Contabilização das ações e seqüências de ações que antecederam à finalização
........................................................................................................................................62
5.3 - Ações e seqüência de ações utilizadas pelo atleta que finaliza e quais jogadores
finalizaram a gol............................................................................................................64
5.4 - Locais de início das posses de bola que resultaram em finalizações................66
5.5 - Local e tamanho do passe que antecedeu à finalização.....................................68
5.6 - Número de passes que antecederam às finalizações..........................................70
5.7 - Local das finalizações...........................................................................................71
5.8 - Duração das posses de bola que resultaram em finalizações............................73
6 – DISCUSSÃO.............................................................................................. 75
7 – CONCLUSÃO............................................................................................ 81
8 – REFERÊNCIAS ......................................................................................... 84
ABSTRACT ..................................................................................................... 90
2
LISTA DE FIGURAS E TABELAS
FIGURA 1. Configuração do sistema computacional utilizado por Dufour (1993).
................................................................................................................................11
FIGURA 2. Probabilidade de se realizar gols em chutes realizados a partir de cada
um dos contornos, com uma distância de menos de uma jarda (0,914 m) do
jogador adversário (POLLARD & REEP, 1997)...............................................18
FIGURA 3. Posicionamento de cada uma das quatro câmeras, no topo do estádio,
de forma que todas juntas enquadravam o campo todo...................................27
FIGURA 4. Interface do software Dvideow que permite que algoritmos do processo
de segmentação sejam editados de acordo com as necessidades. .....................29
FIGURA 5. Representação da construção dos grafos. A partir de uma seqüência de
imagens (A) criam-se os blobs (B) que serão utilizados para a construção do
grafo (C). Cada vértice representa um ou mais blobs (indicado com o número
dentro do círculo), ligados por uma aresta.........................................................31
FIGURA 6. Identificação da posição de cada jogador ao longo de uma seqüência
de imagens através do tracking computacional..................................................32
FIGURA 7. Organograma de seqüência de ações técnicas.......................................39
FIGURA 8. Organograma das formas de desarme...................................................40
FIGURA 9. Janela do software para informações sobre a partida, jogadores e ações
técnicas que serão analisadas...............................................................................41
FIGURA 10. Registro das ações dos jogadores através do software Dvideow........42
FIGURA 11. Estrutura do arquivo das ações técnicas dos jogadores durante uma
partida....................................................................................................................43
FIGURA 12. Exemplo do cálculo da distância e ângulo do local de uma finalização.
................................................................................................................................47
FIGURA 13. Exemplo dos Eixos Principais de um grupo de dados. .......................49
FIGURA 14. Exemplo da diferença entre o método de registro do local de início da
jogada, apresentado na literatura, e o método do presente estudo..................50
FIGURA 15. Posicionamento dos jogadores durante a partida entre a equipe A e a
equipe B. ................................................................................................................55
FIGURA 16. Distribuição de todas as sequências de ações incompletas entre as
diferentes posições nos quatro jogos analisados. ...............................................60
FIGURA 17. Porcentagem de ocorrências das diferentes formas de desarme.......61
FIGURA 18. Distribuição da execução do desarme nas diferentes posições...........62
FIGURA 19. Ações e seqüência de ações que antecederam à finalização. ..............63
FIGURA 20. Ações e seqüência de ações utilizadas pelo jogador no momento da
finalização..............................................................................................................64
FIGURA 21. Número de finalizações em função da posição de atuação dos
jogadores................................................................................................................65
FIGURA 22. Eixos principais do grupo de dados que representa o início das posses
de bola que resultaram em finalizações durante as 4 partidas, utilizando-se do
método apresentado pela literatura....................................................................66
FIGURA 23. Eixos principais do grupo de dados que representa o início das posses
de bola que propiciaram finalizações durante as 4 partidas. ...........................67
FIGURA 24. Eixos Principais do grupo de dados que representa o local do passe
que antecedeu à finalização..................................................................................68
3
FIGURA 25. Tamanho dos passes que precederam às finalizações nos quatro jogos
analisados...............................................................................................................69
FIGURA 26. Número de passes envolvidos durante as posses de bola que
resultaram em finalizações, de acordo com o método apresentado pela
literatura................................................................................................................70
FIGURA 27. Número de passes envolvidos durante as posses de bola que
resultaram em finalizações...................................................................................71
FIGURA 28. Local das finalizações nos quatro jogos analisados.............................72
FIGURA 29. Número de finalizações em função da duração da posse de bola,
utilizando-se o método apresentado pela literatura. .........................................73
FIGURA 30. Número de finalizações em função da duração da jogada.................74
4
I - INTRODUÇÃO
A análise objetiva de um determinado esporte exige o
desenvolvimento de diversos procedimentos metodológicos capazes de
detectar e codificar o maior número de informações disponíveis durante uma
partida ou competição. Pesquisadores, técnicos, treinadores e profissionais de
diversas áreas buscam esse aperfeiçoamento metodológico para, no caso do
futebol, poder compreender todas (ou quase todas) as ações de um
determinado jogador durante o jogo.
Havendo a possibilidade de se relatar dados sobre a posição dos
atletas em função do tempo, variáveis como distância percorrida, distribuição
de velocidades, região do campo onde se deslocou e realizou ações técnicas,
entre outras, podem ser verificadas. No entanto, algumas características do
futebol, como o tamanho do campo, a longa duração das partidas, o grande
número de jogadores e as regras que não permitem a utilização de
instrumentos junto ao corpo do atleta dificultam sua análise. Isso explica a
escassez de estudos quantitativos sobre as variáveis citadas acima que tragam
resultados sobre todos os atletas durante um jogo inteiro.
5
Para a obtenção de informações sobre a posição de um atleta em
função do tempo, algumas métodos, com diferentes formas de registro, têm
sido apresentados na literatura. Dentre eles, pode-se citar o uso de
potenciômetros acoplados em câmeras de vídeo, a utilização de sensores-
transmissores colocados junto ao corpo do atleta, o uso de GPS (Sistema
Global de Posicionamento), a videogrametria, etc.
A metodologia baseada no potenciômetro é bastante precisa, mas
possibilita a obtenção da trajetória de apenas um jogador por câmera. A
utilização de sensores-transmissores colocados no corpo do atleta possibilita a
obtenção de informações simultâneas de todos os jogadores. Porém, de
acordo com as regras do esporte, não é permitido que os atletas portem
qualquer instrumento em jogos oficiais. O uso do GPS possibilita a trajetória
simultânea dos jogadores, mas sua utilização também não é permitida.
Dessa forma, a videogrametria vem se tornando uma alternativa
para se obter informações sobre os jogadores durante uma partida, uma vez
que ela não interfere nem no jogador (algo que provoque incômodo) nem nas
regras oficiais do futebol. A videogrametria, utilizando câmera de vídeo e
computador, é capaz de fornecer a posição do jogador durante uma seqüência
de imagens e, conseqüentemente, sua trajetória, além da possibilidade de
visualização de cada evento ocorrido.
MISUTA (2004) realizou um estudo voltado para a validação de
uma metodologia capaz de realizar o rastreamento automático de trajetórias de
jogadores de futebol através da videogrametria. Para tal experimento, o autor
utilizou o Sistema Dvideow (BARROS et al, 1999; FIGUEROA et al, 2003),
6
desenvolvido no Laboratório de Instrumentação para Biomecânica da
Faculdade de Educação Física da UNICAMP. O teste de validação consistiu
em percorrer uma distância de 2924 m e verificar se o sistema Dvideow
alcançaria um valor próximo a essa medição. O resultado encontrado pelo
sistema foi de 2884,67 m, ou seja, uma diferença de 39,33 m que representa
um erro de apenas 1,35% em relação ao valor verdadeiro.
No entanto, para que a comissão técnica de um determinado
clube de futebol compreenda melhor sua equipe, ou até mesmo a equipe
adversária após uma partida, informações sobre o desempenho tático e físico
teriam muito mais relevância se fossem apresentadas, em conjunto, com dados
sobre o desempenho técnico. Porém, ainda existe uma certa dificuldade em se
definir e diferenciar esses três termos entre si, principalmente entre técnica e
tática.
Uma das definições de dicionário descreve tática como “o
particular método que se usa para atingir algo” (Oxford Advanced Learners
Dictionary, 2000). Para o esporte, Barbanti (2003) refere-se à tática como
procedimentos estratégicos mais adequados a certas tarefas ou situações que
vão ser realizadas na competição ou no jogo.
Já a definição da palavra “técnica”, constantemente utilizada por
técnicos e atletas de futebol, recebeu atenção especial por Lees (2002). O
autor afirma a importância de se definir o que é técnica e apresenta uma
revisão com algumas descrições presentes na literatura. Dentre elas estão:
a) “O padrão e seqüência de movimentos” (CARR, 1997 apud
LEES, 2002);
7
b) “A atividade motora baseada em princípios biomecânicos do
movimento humano que utiliza características motoras de movimento e
estrutura corporal para obter o melhor resultado esportivo” (BOBER, 1981 apud
LEES, 2002);
Ao fim do estudo, Lees (2002) conclui que técnica pode ser
definida como “uma seqüência específica de movimentos”.
Assim, na presente dissertação, as ações técnicas do futebol
representaram as seqüências de movimentos para a realização de uma tarefa
que possui relação direta com a bola, como, por exemplo, dominar, driblar,
passar, etc. Já as estratégias utilizadas pelo jogador para realizar cada uma
dessas ações (como, por exemplo, antecipar ou aguardar a chegada da bola
que está vindo em sua direção) foram consideradas como ações táticas
individuais, e não foram avaliadas. No entanto, foram analisadas as estratégias
de finalizações no futebol, ou seja, as características das posses de bola que
resultaram em finalizações.
Desse modo, uma avaliação das ações técnicas de jogadores
durante um jogo de futebol consiste em analisar quais ações foram executadas,
qual conseqüência, o desempenho (certo ou errado), o momento da partida em
que a mesma foi realizada, entre outras. Porém, analisar as ações técnicas
isoladamente não reproduz a variedade de atos realizados por um jogador
durante uma partida. Isso significa que, durante um jogo, os jogadores, além de
realizarem ações isoladas (como passar a bola ou finalizar sem dominar),
também realizam essas ações técnicas seguindo uma determinada seqüência.
Neste trabalho, quando um jogador executou duas ou mais ações em série
8
(como dominar, conduzir e depois passar a bola), denominou-se que foi
realizada uma seqüência de ações, tornando assim a análise técnica mais
detalhada.
Da mesma forma, compreender as características principais das
posses de bola que resultam em finalizações também é de extrema importância
para técnicos e jogadores de futebol. Assim, as posses de bola representam o
momento que uma determinada equipe recupera a bola da equipe adversária
até o instante que a mesma perde completamente o poder dela, através de um
erro ou falta, ou porque algum atleta foi desarmado pelo jogador adversário.
Porém, poucos trabalhos têm voltado sua atenção para a
compreensão das questões técnicas durante uma partida de futebol. A
realização do scout ainda tem sido muito utilizada em equipes de futebol e em
algumas pesquisas. Igualmente, muitos trabalhos analisam as estratégias de
finalizações de um jogo, mas desconsideram o local exato onde o jogador
ganhou a posse de bola, quais ações foram envolvidas e suas conseqüências
(se resultaram em finalizações ou não). Portanto, simples dados brutos no final
do jogo, como o número de finalizações, passes certos ou errados, desarmes,
entre outros, e a falta de informações específicas sobre as estratégias de
finalizações não respondem a questões como:
- Quais ações e seqüências de ações mais realizadas pelos
jogadores?
- Quais ações e seqüências de ações precedem as
finalizações?
9
- Qual o local onde as posses de bola que resultam em
finalizações se iniciam e terminam?
Com o objetivo de responder a essas e a outras questões, este
estudo esteve voltado para o desenvolvimento de procedimentos
metodológicos capazes de fornecer informações técnicas detalhadas de uma
determinada partida de futebol, além de uma análise das estratégias de
finalizações, a partir da videogrametria.
10
1 – REVISÃO DE LITERATURA
Uma considerável quantidade de pesquisas tem voltado sua
atenção para a necessidade de se criar sistemas de anotação com formas
objetivas de análise de jogo e para sua importância no processo de
treinamento e melhora no desempenho individual e coletivo durante uma
partida de futebol.
Hughes & Franks (1997) afirmam que sistemas de anotação são
procedimentos que podem ser usados em qualquer área (inclusive no ramo dos
esportes) e que necessariamente devem possibilitar avaliações e análises de
desempenho. Os autores ainda afirmam que esses sistemas podem ser
manuais ou automáticos, cada um com suas vantagens e desvantagens.
Desse modo, serão apresentados a seguir estudos que
procuraram avaliar e analisar jogadores e equipes durante uma partida de
futebol com base nas ações técnicas realizadas pelos atletas.
Dufour (1993) afirmou que o maior objetivo em se analisar o
aspecto técnico de uma partida de futebol é correlacionar os elementos
técnicos com o resultado do jogo. Em seu estudo, o autor contou com uma
assistência computacional, onde havia três máquinas conectadas (um painel
11
digital, um teclado especial e um computador), comandadas por duas pessoas
treinadas. Um dos operadores assistia ao jogo gravado em uma televisão
normal, verificava a ação realizada com a bola e digitava, através de uma
caneta especial, o local estimado onde ocorreu o evento no painel digital que
simulava um campo de futebol (figura 1). Este painel fornecia ao computador
as coordenadas em “x” e em “y” do jogador e o segundo operador, através de
um teclado com 120 sensores, completava as informações do atleta em
questão, especificando o número do jogador, a equipe e a ação realizada.
FIGURA 1. Configuração do sistema computacional utilizado por
Dufour (1993).
Os resultados de uma análise de 900 ações mostraram que um
jogador ativo chega a tocar a bola de 60 a 120 vezes durante uma partida,
sendo que essas ações raramente superam uma duração de 2 segundos. Foi
verificado que o tempo de jogo com a presença da bola (uma vez que 55% do
tempo total transcorre sem a bola) foi distribuído da seguinte forma: Desarmes
– 50,6%; Passes - 22,4%; Controle – 18,7%; Proteção e divididas - 4,5%;
Chutes – 2,4%; Outras ações – 1,4%. O autor também verificou que 75% dos
12
passes são curtos, onde apenas 10% deles falharam. No entanto 15% dos
passes são semilongos, com uma probabilidade de erro de 20% e apenas 10%
dos passes são longos, porém com uma probabilidade de erro de 50%. Por fim,
os resultados também mostraram que mais de 80% dos gols foram realizados
após zero, um ou dois passes.
Barros et al. (2002) apresentaram o software Skout que também
possibilita a identificação e codificação de ações técnicas de jogadores de
futebol durante partidas oficiais. Tal software simula um campo de jogo de 110
m de comprimento por 75 m de largura, cujas dimensões na tela são de 300
pixels (eixo x) de comprimento por 210 pixels (eixo y) de largura, onde são
marcados os pontos no local em que o jogador se encontra posicionado
quando está com a posse de bola, executando qualquer fundamento.
A marcação dos pontos é feita enquanto o observador
acompanha a partida pela televisão, estima aproximadamente o local onde
ocorreu a ação e aciona o mouse sobre o campo simulado na tela do
computador. Em seguida, o observador indica qual jogador realizou a ação,
que tipo de ação (passe, recepção, drible, finalização, gol, falta, desarme e
cruzamento) e o resultado desta ação (certo ou errado). De posse dos dados
sobre as ações executadas, o autor salientou a possibilidade do software gerar
uma tela de análise, onde se pode visualizar onde ocorreu cada ação, quem
realizou e qual foi o resultado.
Cunha et al. (2001) analisaram a variabilidade na medição de
posicionamento tático no futebol, também utilizando o software Skout e
registrando o local onde as ações ocorriam. Foram realizadas 20 medições
13
repetidas de um determinado jogador durante o 1º tempo de uma partida
oficial. A análise da região do campo onde o jogador mais atuou se deu através
de duas retas ortogonais (nomeadas eixos principais) centrada na mediana das
coordenadas x e y, que melhor reproduzem o conjunto de dados marcados. Os
autores apontaram que não houve variabilidade significativa entre as medições
do jogador analisado, provando que tal método é um meio eficaz e fidedigno
para análise de desempenho no futebol no aspecto técnico e tático.
Yamanaka et al. (1993), utilizando procedimentos metodológicos
similares a Dufour (1993), estudaram a Copa do Mundo de 1990 e fizeram uma
comparação dos padrões de jogo entre as equipes britânicas (Inglaterra,
Irlanda e Escócia), européias (Alemanha, Itália e Holanda) e sul-americanas
(Brasil, Argentina e Uruguai). Os pesquisadores verificaram que as equipes
britânicas diferem dos outros grupos quando avaliada a forma de construir seus
ataques partindo da defesa, utilizando o tiro de meta e longos passes para
frente. Já as outras seleções preferem usar passes curtos, corridas e dribles,
reduzindo o risco de perda da posse de bola. Os autores ainda afirmam que os
times da América do Sul possuem altas taxas de cruzamentos que resultaram
em chutes.
Jinshan et al. (1993) estudaram as características dos 115 gols
ocorridos na Copa do Mundo de 1990 e verificaram que: 4,3% dos gols
resultaram de um lançamento; 27,8% surgiram de um drible e um cruzamento;
18,3% surgiram de uma penetração central; 32,2% surgiram de bolas paradas.
O restante da porcentagem não foi especificado. Os autores ainda afirmaram
14
que a maioria dos gols (28,7%) resultou de chutes realizados com o dorso do
pé.
Ainda sobre a 14ª Copa, Luhtanen (1993) realizou uma avaliação
das ações ofensivas das equipes através de um sistema de anotação manual e
concluiu que o time mais forte foi a campeã Alemanha, pois esta teve o maior
número de ataques, menor número de bolas perdidas nesses ataques e maior
número de finalizações. Um interessante detalhe deste estudo é que a seleção
argentina (vice-campeã) teve números baixos nestes três parâmetros quando
comparadas com a maioria das outras equipes. No entanto, de acordo com o
autor, o sucesso da Argentina deveu-se à alta habilidade de seus jogadores,
que tiveram muita efetividade nos poucos ataques que criaram.
Garganta et al. (1997) também buscaram compreender como os
gols eram realizados, analisando equipes européias durante 44 jogos. Todos
os jogos foram filmados e posteriormente foi aplicado um sistema de anotação
manual. Os 104 gols estudados foram analisados com base na região do
campo onde a equipe ganhou a posse de bola antes de realizar o gol, na
duração da posse de bola e no número de passes realizados pelos jogadores.
Os resultados permitiram concluir que as equipes européias, durante suas
jogadas de ataque que resultaram em gols, freqüentemente ganharam a bola
em seu campo de ataque, revelaram uma curta jogada (10 segundos ou
menos) e envolveram poucos passes (três ou menos).
Já Starosta (1988) se preocupou em analisar especificamente
como jogadores de futebol realizam finalizações a gol em 29 jogos. O autor
estudou 298 jogadores, sendo 134 pertencentes aos dez melhores times de
15
1978, 26 os melhores jogadores de 1986 e 138 atletas da primeira e terceira
divisão da Liga Polonesa de futebol. Foi utilizado um sistema de anotação
manual, onde o campo de futebol era dividido em quatro partes e nele era
registrado o local onde foi realizado o chute a gol e qual perna o jogador
utilizou. Para a primeira divisão da Liga Polonesa, os resultados mostraram
que, dos 416 chutes verificados, 64,2% foram realizados com a perna direita
(39,7% resultaram em gols), 20,5% realizados com a perna esquerda (13,7%
resultaram em gols) e 15,3% foram finalizações com a cabeça (11,7%
resultaram em gols). O autor também afirma que, para a Liga Polonesa em
geral, a efetividade das finalizações (calculada pela razão entre o número de
chutes resultados em gols e o número de chutes realizado) da perna direita
(61,8%) foi menor que da perna esquerda (66,8%). No entanto, limitando-se à
área da marca penal, a efetividade entre os diferentes chutes foi similar. Já
para os chutes analisados durante as copas de 1978 e 1986, os resultados
foram diferentes. Das 452 finalizações executadas, 252 foram com a perna
direita (55,8%), 131 com a perna esquerda (29%) e 69 com a cabeça (15,2%).
Cerca de 94,5% dos chutes realizados com a perna esquerda foram errados.
De uma forma geral, o estudo também mostra que as seleções da Argentina,
Holanda, Alemanha, Brasil e Polônia apresentaram o maior índice de
efetividade em finalizações na copa de 1978.
Abt et al. (2002) procuraram analisar como a freqüência de gols
varia ao longo do jogo. O estudo avaliou 2065 gols de um total de 703 jogos.
Para cada partida registrou-se o tempo percorrido de jogo no momento em que
os gols ocorreram. Os dados foram examinados a cada 45, 15 e 5 minutos. De
16
acordo com os resultados, houve um aumento de 34% na freqüência de gols
marcados no segundo tempo (do minuto 46 ao minuto 90) quando comparados
com a freqüência de gols marcados no 1º tempo. Quando a análise foi
realizada a cada 15 minutos, verificou-se um aumento na freqüência de gols de
10% entre cada um dos períodos. Já na avaliação a cada 5 minutos, o
aumento na freqüência de gols foi de 6% entre cada período.
Reep & Benjamin (1968) analisaram 3213 jogos entre os anos de
1953 e 1968 e tiveram como objetivos verificar como o número de passes
envolvidos em uma jogada e o local de origem da posse de bola interferiam na
ocorrência de gols. Além disso, os pesquisadores avaliaram quantas
finalizações eram necessárias para uma equipe, em uma mesma partida,
realizar um tento. Para contabilizar o número de passes antes da finalização,
os autores determinaram que a jogada se iniciava após o último toque da
equipe adversária. Se, por exemplo, um jogador ganhou a posse de bola da
equipe adversária, não passou para nenhum outro jogador e finalizou, os
autores consideravam uma finalização advinda de uma seqüência de zero
passes. Caso o jogador tenha passado para outro jogador e este finalizado,
considerava-se uma seqüência de um passe, e assim por diante. Para a
determinação do local da finalização, dividiu-se o campo lateralmente em 4
áreas, sendo as partes que continham as grandes áreas denominadas “áreas
de chute”. Os resultados mostraram que aproximadamente 80% dos gols
resultaram de seqüências de zero a três passes, que a maioria das jogadas
que resultavam em gols se iniciavam dentro das “áreas de chute” e que, a cada
10 chutes, um gol era realizado, aproximadamente.
17
Hughes & Franks (2005) também se preocuparam em verificar
como o número de passes envolvidos em uma jogada interferia na ocorrência
de gols, baseando-se nos jogos das copas do mundo de 1990 e 1994. Para
esta contagem, os autores utilizaram o mesmo método aplicado por Reep &
Benjamin (1968), porém tiveram uma interpretação de resultados diferente,
uma vez que os autores realizaram uma “normalização” dos dados. Assim, os
resultados encontrados mostraram que a maior parte dos gols surgiram após
seqüências longas de passes.
Com o objetivo de avaliar a efetividade de jogadores de futebol,
Chervenjakov (1988) apresentou um modelo matemático que estipula
pontuações aos atletas de acordo com a soma de cinco coeficientes: de
atividade (participação do jogo), de acerto (sucesso em realizar uma ação
técnica), de tática defensiva, de tática ofensiva e de “fair play”. Além disso, o
autor também elaborou um modelo gráfico para apresentar detalhes sobre as
inter-relações dos jogadores como, por exemplo, qual jogador realizou o passe,
quem recebeu e quantas vezes esse evento ocorreu.
Pollard & Reep (1997), visando encontrar uma forma de medir a
efetividade das estratégias de jogo, também apresentaram um modelo
matemático para calcular a probabilidade de um gol acontecer, com base nas
seguintes variáveis: a) chutes realizados a gol; b) região do campo onde
ocorreu o chute; c) região do campo onde a posse de bola se originou e
proximidade do jogador adversário no momento do chute. Os resultados
mostraram que a probabilidade de uma equipe marcar um tento aumenta de
acordo com a proximidade de onde a jogada foi iniciada da meta adversária.
18
Os pesquisadores também apresentaram um gráfico com a probabilidade de
sucesso em realizar gols, relacionada ao local de onde o chute foi realizado
(figura 2).
FIGURA 2. Probabilidade de se realizar gols em chutes realizados a partir de
cada um dos contornos, com uma distância de menos de uma jarda (0,914 m)
do jogador adversário (POLLARD & REEP, 1997).
Bate (1988) também verificou em seu estudo que para um time
aumentar o número de “entradas” no campo de ataque (e, de acordo com o
autor, aumentar as chances de gol), um time deve jogar a bola para frente
sempre que possível, o que o autor denomina como “direct-play”. Além disso, a
equipe deve reduzir ao máximo o número de passes para trás e para o lado,
aumentar a quantidade de passes e conduções longas e por fim jogar a bola
em espaços atrás dos defensores o mais rápido e freqüente possível.
Dechechi (2003) desenvolveu diferentes formas de análise de
ações de jogadores de futebol, com processos metodológicos baseados em
videogrametria associada ao scout através do software Dvideow (FIGUEROA
19
et al, 2003). Dessa forma, para realizar a filmagem de uma partida, quatro
câmeras digitais foram utilizadas, sendo que cada uma cobria uma parte do
campo, de forma que juntas enquadrassem o campo inteiro. Após a realização
do rastreamento de cada jogador em campo, foram registradas todas as ações
dos atletas, através do mesmo software. Assim, o autor selecionou e definiu
cada uma das ações técnicas que seriam analisadas. Os resultados mostraram
que, possuindo a localização do jogador em campo, o instante de tempo, a
ação técnica e seu resultado, pode-se efetuar várias formas de avaliação
técnica e tática de uma equipe. Em outras palavras, com essas informações,
pode-se compreender que região do campo o jogador atuou mais, como ele
atuou e em qual momento do jogo.
Como foram verificados nos itens acima, todos os trabalhos visam
compreender melhor os aspectos técnicos exigidos por um jogador durante um
jogo. No entanto, há uma carência de estudos voltados a uma análise técnica
mais detalhada, que visam relacionar as ações e seqüências de ações mais
realizadas, o local onde essas ações mais ocorreram, as conseqüências
dessas ações, etc.
Alguns estudos ainda se atentaram a analisar como surgiam os
gols, mas ignoraram grande parte dos acontecimentos que ocorriam antes da
finalização, detalhes esses de valiosa importância na busca de uma melhor
compreensão das ações técnicas envolvidas em uma jogada.
Portanto, o presente estudo objetivou realizar uma análise técnica
do futebol mais minuciosa, levando em consideração, principalmente, as ações
20
e seqüências de ações que foram mais realizadas, as posições dos jogadores
e os fatores que levam a uma finalização.
21
2 – OBJETIVOS
2.1 – Objetivo Geral
Analisar as ações e seqüências de ações técnicas de jogadores e
as estratégias de finalizações no futebol durante quatro partidas oficiais, a partir
do tracking computacional.
2.2 – Objetivos específicos
- Analisar as ações e seqüências de ações técnicas mais
utilizadas pelos jogadores;
- Analisar as ações e seqüências de ações que antecedem às
finalizações;
- Analisar o local do campo onde as finalizações são
executadas;
- Analisar o local do campo onde iniciam as posses de bola
que resultam em finalizações;
- Analisar o local do campo onde surgem os passes para as
finalizações e o tamanho desses passes;
22
- Analisar o número de passes envolvidos nas posses de bola
que resultam em finalizações;
- Analisar a duração das posses de bola que resultam em
finalizações
23
3 – JUSTIFICATIVA
Uma considerável quantidade de pesquisas vem sendo aplicada
na área da Educação Física e Esportes com o objetivo de desenvolver métodos
que forneçam o maior número de informações disponíveis durante uma partida
ou competição.
Profissionais da área do futebol cada vez mais têm buscado
formas objetivas de análise de atletas durante uma partida, visando a mais
rápida correção e aperfeiçoamento da equipe. Uma das principais soluções
encontradas para este tipo de análise foi a criação de sistemas de anotação,
que têm como principal objetivo relatar as ações realizadas pelos jogadores.
Técnicos, treinadores e auxiliares vêm desenvolvendo certos
sistemas capazes de fornecer um grande número de informações após uma
partida. Muitos também buscam auxílios computacionais para que o maior
número de dados sobre um jogo seja relatado.
No entanto, como se pôde verificar na revisão de literatura deste
trabalho, ainda há uma carência de análises específicas, ou seja, análises que
levem em consideração as ações e seqüência de ações mais realizadas pelos
jogadores, o local exato onde determinadas ações ocorreram durante uma
24
partida e as características de posses de bola que resultem em finalizações.
Assim, resultados detalhados sobre as ações e seqüências de ações
realizadas e as estratégias de finalizações durante uma partida poderão,
posteriormente, auxiliar técnicos a aperfeiçoarem cada vez mais o treinamento
técnico de cada um dos jogadores de sua equipe.
Além disso, as informações sobre as ações técnicas realizadas
após uma partida permitirão que técnicos identifiquem onde ocorreram os
erros, apresentem esses dados aos jogadores e façam as correções
necessárias. O técnico poderá ainda estudar em qual região do campo ocorreu
cada uma das finalizações, onde as posses de bola se iniciaram e sua duração,
além das ações e seqüências de ações que as antecederam, permitindo assim
melhor compreender sua equipe e até mesmo a equipe adversária.
25
4 – MATERIAIS E MÉTODOS
Neste estudo utilizou-se um sistema para análise cinemática
(Dvideow), visando obtenção de dados sobre a posição dos jogadores em
função do tempo e suas ações técnicas. Inicialmente, tal sistema será relatado
com o objetivo de descrever seus algoritmos específicos para o futebol. Em
seguida, o software Matlab
®
foi usado para o desenvolvimento de algoritmos
para o tratamento de dados e análise da partida.
4-1 – Sistema Dvideow
O sistema Dvideow (BARROS et al, 1999; FIGUEROA et al.
2003), que é baseado em videogrametria, tem sido utilizado para a realização
de análise cinemática de movimentos humanos como a marcha, postura,
movimentos esportivos (chute no futebol, por exemplo) e análise de
deslocamentos simultâneos entre várias pessoas, como em uma partida de
futebol.
26
Assim, para a obtenção das coordenadas 2D de cada jogador em
função do tempo e suas ações, foram realizados os seguintes procedimentos:
Medição automática e/ou manual
Registro e arquivamento das ações técnicas
4.1.2 – Imagens dos jogos
Neste estudo foram utilizadas filmagens de quatro jogos oficiais
de campeonatos nacionais (Serie A) já realizadas anteriormente em pesquisas
acadêmicas. Essas imagens correspondem a filmagens realizadas por quatro
câmeras digitais, numa freqüência de aquisição de 30 Hz. Elas foram
posicionadas em um local elevado do estádio (cabines de rádio ou televisão),
onde permaneceram fixas do começo ao fim do jogo. Cada câmera filmou uma
determinada região do campo, de forma que todas juntas conseguiam
enquadrar o campo inteiro (figura 3). Todas as filmagens realizadas foram
autorizadas pela emissora de televisão responsável, que detinha os direitos de
imagem de todos os jogadores.
Em seguida, esses vídeos foram transferidos para o computador
através de uma placa de captura, onde se criaram os arquivos de formato AVI
(Audio Video Interleaved) com resolução de 480 linhas por 720 colunas e com
sua freqüência reduzida para 7,5 Hz. Através de eventos comuns, identificados
em cada uma das câmeras, realizou-se o procedimento de sincronização.
27
FIGURA 3. Posicionamento de cada uma das quatro câmeras, no
topo do estádio, de forma que todas juntas enquadravam o campo todo.
4.1.3 – Medição
A medição consistiu em obter as coordenadas bidimensionais da
posição de cada jogador durante a seqüência de imagens. Ela pode ocorrer de
forma automática e/ou manual. Muitas vezes o software, durante a medição
automática, não foi capaz de identificar um determinado jogador durante
alguns instantes, ou até mesmo realizou a medição de outro atleta
erroneamente. Dessa forma, houve a necessidade da interferência do
operador, que realizou as correções necessárias.
28
Por sua vez, a medição automática envolve dois processos que
possibilitam que um determinado jogador seja identificado nos quadros que
formam a seqüência de imagens. São eles:
o Segmentação
o Rastreamento (tracking)
4.1.3.1 - Segmentação
O jogador, o campo de futebol, as placas de propaganda, a
arquibancada, entre outros, são elementos identificados na imagem por um
conjunto de pixels. A segmentação tem o objetivo de detectar e separar os
objetos de interesse (atletas), a partir de uma seqüência de imagens, dos
outros elementos irrelevantes para a análise, ou seja, o campo, torcedores,
placas de propaganda, etc. O sistema Dvideow possui uma interface especial
(figura 4) que permite editar algoritmos para a realização do processo da
segmentação. Desse modo, o software considera o relevo topográfico definido
pelo jogador em determinada região do campo, através das seguintes etapas:
- Seleção da região de interesse;
- Extração de fundo realizado por um filtro de movimento;
- Aumento dos picos da imagem;
- Detecção dos contornos pela aplicação do gradiente;
- Cálculo dos valores da dinâmica, dos mínimos regionais e
seleção dos valores maiores nestas regiões;
29
- Considerando as regiões obtidas, determinação de suas linhas
que separam o objeto de interesse de outros elementos da imagem;
- Eliminação de algumas regiões de acordo com parâmetros
associados à estrutura morfológica dos marcadores, tais como perímetro, área
e alongamento.
FIGURA 4. Interface do software Dvideow que permite que
algoritmos do processo de segmentação sejam editados de acordo com as
necessidades.
Após esse processo, a imagem é binarizada e as regiões conexas
encontradas são rotuladas e recebem o nome de blobs. Cada blob possui
informações sobre tamanho (número de pixels que representa cada jogador),
cor, perímetro e coordenadas bidimensionais que representam a posição do
centro do blob na imagem.
30
4.1.3.2 – Rastreamento (tracking computacional)
As informações obtidas após a segmentação são um conjunto de
pontos discretos que podem corresponder à trajetória dos jogadores na
seqüência de imagens, mas ainda não estão associadas aos respectivos
jogadores. Para desenvolver um algoritmo capaz de reconhecer a trajetória de
cada jogador em toda seqüência de imagens de forma eficiente, a teoria de
grafos (SZWARCFITER, 1984) é um método muito utilizado.
O grafo pode ser representado por um conjunto de pontos
(chamados de vértices) que são conectados por linhas (nomeadas arestas).
Neste trabalho, um vértice representa um ou mais blobs e dois pontos só
poderão estar conectados por apenas uma aresta. De acordo com Szwarcfiter
(1984), um grafo pode ser visualizado através de uma representação
geométrica, na qual seus vértices correspondem a pontos distintos do plano em
posições arbitrárias, enquanto cada aresta é associada uma linha arbitrária
unindo os pontos correspondentes. A figura 5 apresenta, dessa forma, a
representação geométrica de um grafo a partir de uma seqüência de blobs
criados em uma seqüência de imagens. O rastreamento é realizado a partir da
construção de grafos utilizando as informações obtidas pelos blobs.
31
FIGURA 5. Representação da construção dos grafos. A partir de
uma seqüência de imagens (A) criam-se os blobs (B) que serão utilizados para
a construção do grafo (C). Cada vértice representa um ou mais blobs (indicado
com o número dentro do círculo), ligados por uma aresta.
Uma vez obtidos os blobs correspondentes aos jogadores (e
construídos seus respectivos grafos) de uma seqüência de imagens, realizou-
se a separação dos blobs que possuem mais de um jogador, através de
operadores morfológicos (erosão e dilatação) fornecidos pelo sistema Dvideow.
Quando nem estes operadores morfológicos foram capazes de
realizar a separação, utilizou-se o jogador como modelo, cujas características
estão contidas no blob anterior à junção. Em seguida, foi identificado o time a
que o jogador pertence com base nas cores dos uniformes das equipes. Assim,
os blobs receberam cores diferentes para servirem de parâmetros no momento
do rastreamento.
Construído então o grafo a partir desses dados, o rastreamento
foi realizado por cada jogador separadamente (figura 6), selecionando o atleta
32
no primeiro quadro. Uma vez selecionado o primeiro vértice, o sistema buscou
informações sobre o próximo ponto, de acordo com o grafo criado.
FIGURA 6. Identificação da posição de cada jogador ao longo de
uma seqüência de imagens através do tracking computacional.
4.1.4 – Calibração, reconstrução 2D e suavização
O movimento estudado refere-se ao deslocamento de atletas em
função do tempo durante uma partida. Esse movimento foi projetado sobre um
plano determinado na definição do sistema de coordenadas associadas ao
campo. Para isso, cada câmera continha informações de no mínimo quatro
pontos do campo (linhas laterais, grande área, linha do meio campo, etc), com
distâncias conhecidas, que foram em seguida arquivadas pelo software. Esse
33
processo de definir um ponto de origem e fornecer a cada câmera as
coordenadas reais dos pontos do campo é chamado de calibração.
Logo após realizou-se a reconstrução 2-D através do processo do
“DLT – Direct Linear Transformation”, proposto por ABDEL-AZIZ e KARARA
(1971), descrito como um método de equações aplicado para quantificar os
parâmetros da reconstrução (BARROS et al., 1999). Em seguida, os dados
foram suavizados através do filtro digital Butterworth de 3ª ordem, numa
freqüência de corte de 0,375 Hz, disponível no software Matlab
®
.
De posse das coordenadas bidimensionais de todos os jogadores
em campo durante todo o período da partida, iniciou-se o procedimento de
registro das ações técnicas, onde foram codificados cada fundamento e cada
seqüência de ação. As coordenadas de cada jogador também foram utilizadas
para se determinar a posição em que este atleta atuou, permitindo assim uma
análise de suas ações técnicas relacionadas ao seu posicionamento em
campo.
4.1.5 – Ações técnicas
O sistema Dvideow possui uma interface especialmente
desenvolvida para aplicação do futebol, que tem como objetivo final fornecer
informações sobre qual jogador realizou uma determinada ação, o momento
(tempo) e localização nas coordenadas x e y da ação. Esse método se faz pelo
registro e arquivamento dessas ações.
34
No entanto, antes de se realizar esse processo, se faz necessário
relatar e descrever quais ações foram analisadas. Isso possibilitará uma
compreensão geral de possíveis ações e seqüência de ações realizadas por
jogadores durante uma partida de futebol.
4.1.5.1 – Descrição das ações
Foram definidas neste trabalho cinco ações técnicas, como segue
abaixo:
1 – Domínio;
2 – Passe;
3 – Condução;
4 – Drible ou Finta;
5 – Finalização.
1 - Domínio
Ferreira (2000) descreveu “domínio” da seguinte forma: “toda
posse de bola onde o jogador dá um primeiro toque para deixá-la sob seu
domínio, proveniente de um passe do companheiro de equipe, ou interceptação
de uma bola do adversário, ou simplesmente uma sobra de bola”.
No presente trabalho, o domínio foi definido como o ato de
“amortecer” e/ou preparar a bola de modo que possibilite que novas ações
sejam executadas em seguida. O domínio pode ser realizado com diversas
partes do corpo, mas normalmente é feito com o pé, tronco, coxa ou com a
cabeça.
35
Considerou-se correto todo domínio de bola que o jogador fez e a
manteve próxima de si, sempre possibilitando que novas ações fossem
executadas. Caso contrário, o domínio foi relatado como errado.
2 – Passe
Em seu estudo, Ferreira (2000) afirma que: “a realização de um
passe se dá quando um atleta, com posse de bola, passa essa bola a um
companheiro da mesma equipe, por diferentes situações da partida”. Já
Dechechi (2003) definiu passe como: “toque na bola realizado por um jogador
com intuito da mesma, após percorrer uma trajetória, ficar de posse com outro
jogador da mesma equipe”.
De forma similar a Dechechi, neste estudo o passe foi
considerado como todo ato de tocar a bola, com qualquer parte do corpo
permitida pela regra, objetivando que a mesma alcance outro jogador da sua
própria equipe. Considerou-se errado todo passe que não alcançou o
companheiro e certo quando a bola chegou ao outro atleta do mesmo time.
3 – Condução
Para Ferreira (1998), a condução no futebol é a ação de progredir
com a bola por todos os espaços possíveis de jogo. Já Freire (1998) descreve
como uma habilidade que permite ao jogador levar a bola de um ponto a outro
do campo, sem ser desarmado, antes de efetuar um cruzamento ou outra
jogada qualquer. Com base nessas definições, a condução é descrita aqui
como o ato de “carregar” (com qualquer parte do corpo permitida pela regra) a
36
bola por uma determinada distância, mantendo o domínio da mesma.
Normalmente esta ação técnica é executada com os pés, mas, conforme a
definição, também pode ser realizada com várias partes do corpo (cabeça,
coxa, etc).
Como critério de desempenho, considerou-se errada toda
condução que o executante realizou e perdeu a posse de bola.
4 – Drible ou Finta
O drible foi relatado por Ferreira (1998) como uma ação individual,
exercida com a posse da bola, visando enganar um oponente tentando
ultrapassá-lo. Freire (1998) também descreve finta como a habilidade de evitar
que o adversário desarme o jogador que tem a posse de bola, enquanto este a
conduz ou a controla.
Na presente pesquisa, a ação técnica do drible ou finta foi definida
como o ato de ludibriar o adversário visando se livrar de sua marcação e
facilitar a execução de outras ações. O drible pode ser realizado tocando a bola
com qualquer parte do corpo permitida pela regra, ou até mesmo sem tocar na
bola.
Dessa forma, considerou-se correto todo o drible que o jogador
realizou e ele ou sua equipe manteve a posse de bola.
37
5 – Finalização
Dechechi (2003) descreve finalização como: “chute direcionado
ao gol adversário, realizado com qualquer parte do corpo permitida pela regra”.
De maneira similar, no presente estudo a finalização foi definida como o ato de
realizar o toque na bola, com qualquer parte do corpo permitida pela regra,
objetivando diretamente a execução do gol. Considerou-se correta toda
finalização direcionada ao gol e errada a que não foi em direção à meta
adversária.
Através desses fundamentos e de ações de segurança, um
determinado jogador, sem a posse de bola, pode realizar apenas um desarme.
Isso significa que o desarme, além de ter a possibilidade de ser realizado
através do domínio, do passe, do drible e da finalização, ele também pode ser
realizado através de uma ação de segurança, ou seja, quando o jogador deseja
apenas desviar a direção da bola, ou mesmo tirá-la de perto de uma situação
de risco (por exemplo, quando um atleta chuta ou cabeceia a bola para longe
da grande área quando a sua equipe está sofrendo um ataque).
Dessa forma, o desarme, apesar de não ser em si uma ação
técnica (pois ele é realizado através das ações citadas acima), foi definido
neste trabalho como o ato de recuperar a bola do jogador adversário sem que
seja cometida falta ou o ato destruir a jogada adversária, ainda que o jogador
ou a equipe não termine com a posse de bola. Todo desarme que o jogador
realizou e recuperou a bola do adversário, foi definido como “desarme com
38
posse”. Já o desarme que o jogador realizou e apenas destruiu a jogada
adversária sem recuperar a bola foi registrado como “desarme sem posse”.
4.1.5.2 – Seqüência de ações
Durante uma partida, os jogadores realizam várias vezes as
ações citadas acima, sejam elas feitas isoladamente (como o passe e a
finalização com apenas um toque na bola) ou seguindo uma certa seqüência
(como executar duas ou mais ações). Isso quer dizer que, se um jogador
domina corretamente a bola, por exemplo, em seguida ele tem a possibilidade
de realizar outras ações, como um passe. Desse modo, definiu-se nesse
trabalho que, em uma situação como essa, o atleta realizou a seqüência de
ação “Domínio Passe”.
A figura 7 representa as várias possibilidades de repetição de
ações na formação de seqüência de ações quando uma equipe está com a
posse de bola. Desse modo, um determinado jogador, para receber a bola (que
neste trabalho foi definido como recepção e, assim como o desarme, não
representa em si uma ação técnica) pode realizar cinco ações: domínio, passe,
condução, drible ou finalização (setas azuis). A partir do momento que o atleta
realiza um passe ou uma finalização, suas ações técnicas se encerram. No
entanto, se o atleta optar por realizar um domínio, uma condução ou um drible,
isso possibilitará novamente a execução das cinco ações, criando assim uma
seqüência de ações. Supondo que em seguida este jogador, após ter realizado
um domínio, um drible ou uma condução, realize um passe ou uma finalização
39
(setas pretas), a seqüência de ações se encerra. No contrário, se realizar um
novo domínio, drible ou condução, a seqüência dá continuidade com novas
opções (setas vermelhas).
FIGURA 7. Organograma de seqüência de ações técnicas.
Como se pode observar, as ações e seqüência de ações só se
encerram se o jogador realizar um passe ou uma finalização. Quando isso
ocorreu, definiu-se que o jogador realizou uma ação ou seqüência de ações
completa. Caso o jogador, durante a execução desta seqüência de ações,
tenha cometido algum erro, tenha sido desarmado, sofreu ou cometeu uma
falta, definiu-se que o jogador realizou uma seqüência de ações incompleta.
40
Sem a posse de bola, através do domínio, do passe, do drible, da
finalização ou da ação de segurança, o jogador pode realizar o desarme. A
partir do momento em que a equipe, através do desarme, conquista a posse de
bola por meio de seu jogador, uma nova seqüência de ações é iniciada.
FIGURA 8. Organograma das formas de desarme.
4.1.6 – Registro e arquivamento das ações técnicas
O sistema Dvideow possui um ambiente que permite também o
registro e arquivamento das ações de jogadores durante uma partida. Antes do
início da análise, o software disponibiliza uma tela onde são informados dados
sobre o local e a data de jogo, nome e número dos jogadores e ações técnicas
que desejam ser avaliadas (figura 9).
41
FIGURA 9. Janela do software para informações sobre a partida,
jogadores e ações técnicas que serão analisadas.
Em seguida, o operador acompanha as imagens do jogo e faz o
registro das ações técnicas realizadas. Dessa forma, quando um jogador
realiza uma determinada ação, o operador seleciona com o mouse o número
do jogador em uma barra de números, em seguida a ação técnica executada e
o seu resultado (certo ou errado, por exemplo). Ao final, o software adiciona
todas essas informações em uma barra de registro, junto com as informações
sobre o instante de tempo em que ocorreu o evento e o local do campo (figura
10).
42
FIGURA 10. Registro das ações dos jogadores através do
software Dvideow.
Após o registro de todas as ações técnicas, o sistema Dvideow
produziu um arquivo, para cada jogo, com a estrutura de uma matriz distribuída
em seis colunas (figura 11), sendo:
1ª coluna - número do quadro quando ocorreu a ação;
2ª coluna - número do jogador que realizou a ação;
3ª coluna - coordenada x do local do campo onde ela foi
realizada;
4ª coluna – coordenada y do local do campo onde a ação foi
realizada;
5ª coluna - ação realizada, recebendo cada uma um número;
6ª coluna - resultado da ação, podendo ser 0 (errado) ou 1 (certo).
43
FIGURA 11. Estrutura do arquivo das ações técnicas dos
jogadores durante uma partida.
44
4.2 – Tratamento de Dados
Através dos arquivos com os dados da posição de todos os
atletas em função do tempo e suas ações, os resultados foram analisados com
o auxílio do software Matlab
®
.
Inicialmente, com o arquivo do tracking computacional, foram
identificados os locais do campo que cada um dos jogadores mais percorreu.
Essa informação foi de grande relevância no auxílio para a classificação da
posição onde atuou cada jogador.
Em seguida, com o arquivo das ações técnicas, foram
desenvolvidos algoritmos para os seguintes cálculos e análises:
4.2.1- Identificação e contabilização das ações e seqüências
de ações realizadas pelos jogadores
Através de um algoritmo que permitia interação entre o software e
o operador, foram identificadas e contabilizadas todas as ações e seqüências
de ações completas e incompletas dos jogadores que participaram, pelo
menos, de 23 minutos de jogo, ou seja, aproximadamente metade de um
período do jogo. As ações e seqüências de ações foram listadas e tabelas de
cada jogo foram montadas com a informação de quantas vezes cada jogador
45
realizou cada uma dessas ações e seqüência de ações completas e
incompletas. Através dessas tabelas, identificou-se quais ações e seqüências
de ações foram as mais realizadas durante os jogos. Um algoritmo também foi
criado para contabilizar as formas de execução do desarme e sua distribuição
entre as diferentes posições.
4.2.2 - Contabilização das ações e seqüências de ações que
antecederam às finalizações
Neste trabalho também se registrou a última ação ou seqüência
de ações que antecedeu às finalizações. Dessa forma, se um jogador realizou
um domínio seguido de um passe e, logo na seqüência, seu companheiro de
equipe realiza uma finalização, registrou-se que a seqüência de ação que
antecedeu a finalização foi a Domínio Passe. Caso o jogador tenha
realizado uma seqüência incompleta, sofrido uma falta, e essa tenha sido
cobrada direta para o gol, registrou-se que uma seqüência incompleta (SI)
antecedeu a finalização.
Caso a finalização tenha surgido de um passe que ocorreu a partir
de uma cobrança de uma falta ou escanteio, contabilizou-se que a finalização
foi antecedida por um lance de bola parada (BP).
4.2.3 - Ações e seqüência de ações utilizadas pelo atleta que
finaliza e quais jogadores finalizaram a gol
Neste trabalho foram registradas as ações e seqüências de ações
utilizadas pelo jogador no momento da finalização. O objetivo desta análise é
46
verificar se um jogador normalmente realiza uma finalização após um domínio,
um drible, uma condução ou finaliza com apenas um toque na bola.
Caso o jogador tenha realizado uma cobrança de falta direta para
o gol ou uma cobrança de pênalti, contabilizou-se como finalização de bola
parada (BP).
Além das ações e seqüências de ações realizadas no momento
da finalização, também se verificou quais as posições (zagueiros, laterais,
volantes, meias e atacantes) que mais finalizaram e esses dados foram
organizados em um gráfico de barras.
4.2.4 – Mudança de escala das coordenadas x e y para um
campo comum
Neste trabalho, o local onde foram executadas as ações técnicas
dos jogadores foi registrado durante quatro partidas oficiais de futebol. No
entanto, essas partidas ocorreram em campos de jogo diferentes, com
dimensões distintas. Para que os dados sobre o local onde as jogadas de
ataque se iniciavam, o local onde surgiam os passes para a finalização e o
local onde ocorriam as finalizações fossem analisados em conjunto, realizou-se
uma mudança de escala das coordenadas x e y para um campo comum, de
110 metros de comprimento por 75 metros de largura.
Essa mudança de escala se deu calculando a distância euclidiana
entre o ponto de interesse (no caso, o local onde ocorreu o evento) e o centro
do gol, e o ângulo (em graus) formado pela semi-reta entre o ponto de
interesse e o centro do gol e a semi-reta da linha de fundo do campo (com
47
origem no centro do gol), sendo o vértice no centro do gol, conforme a figura
12. Esta figura mostra o exemplo de uma finalização que está posicionada a
90° da linha de fundo. Os símbolos “>” e “<“ representam como esse ângulo
aumentaria ou diminuiria, de acordo com a posição do local da finalização.
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110
0
10
20
30
40
50
60
70
X (m)
Y (m)
DEFESA ATAQUE
Cálculos da distância e ângulo do local de uma finalização
90 °
Distância
*
LOCAL DA FINALIZÃO
<
>
V
FIGURA 12. Exemplo do cálculo da distância e ângulo do local de
uma finalização.
4.2.5 – Cálculo dos autovetores e autovalores para a
representação dos eixos principais
Cunha et al. (2001) afirma que a idéia dos eixos principais é
determinar duas semi-retas ortogonais que melhor reproduzem o conjunto de
pontos marcados, que, neste estudo, são as coordenadas x e y dos locais
48
onde as ações dos jogadores foram realizadas. Assim, geometricamente, os
eixos principais representam um novo sistema de coordenadas, obtidos pela
rotação do sistema original de acordo com a variabilidade dos dados.
Dessa forma, a partir da matriz de covariância dos valores de x e
de y, correspondentes à localização dos pontos de interesse, calculou-se os
autovetores e os autovalores. Os autovetores são ortogonais entre si, sendo o
primeiro autovetor apontado na direção de maior variabilidade. O ponto de
intersecção entre esses dois eixos foi centrado nas médias dos valores de x e
de y.
O comprimento dos eixos principais foi determinado pelo desvio-
padrão dos dados na nova base rodada, que corresponde à raiz quadrada dos
autovalores. A figura 13 mostra a representação dos eixos principais de
coordenadas x e y.
49
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110
0
10
20
30
40
50
60
70
X (m)
Y (m)
DEFESA ATAQUE
EIXOS PRINCIPAIS DE UM GRUPO DE DADOS
FIGURA 13. Exemplo dos Eixos Principais de um grupo de dados.
Assim, através dos eixos principais, foram realizadas as seguintes
análises:
a) Locais de início das posses de bola que resultavam em
finalizações
Os trabalhos de Reep & Benjamin (1968), Garganta et al. (1997) e
Hughes & Franks (2005) também se preocuparam em analisar o local onde as
posses de bola (que resultavam em gols) se iniciavam. No entanto, os métodos
50
apresentados por esses autores diferem do método utilizado no presente
estudo.
Nos estudos citados acima, os autores registravam o início da
posse de bola a partir do último toque do jogador da equipe adversária. Neste
trabalho, o início é representado no momento em que a equipe recupera a bola,
através de um desarme, através de um erro ou falta da equipe adversária.
A figura 14 traz um exemplo da diferença entre os dois métodos
de registro do local de início de posse de bola.
FIGURA 14. Exemplo da diferença entre o método de registro do
local de início da jogada, apresentado na literatura, e o método do presente
estudo.
Acompanhando a figura acima, pode-se perceber a diferença
entre os métodos. Verifica-se que o jogador 6 (vermelho) realizou um drible
errado e foi desarmado pelo jogador 3 (preto). No presente estudo, o início da
51
posse de bola se dá neste momento, diferente do método apresentado na
literatura. Continuando a jogada, o jogador 3 passa a bola para o jogador 4,
que também realiza um passe para o número 6. Este último passa para o
jogador 8 e este para o jogador 10. O jogador 10 faz um passe que é
desarmado de forma incompleta (desarme sem posse) pelo jogador 5 da
equipe adversária, e em seguida, a bola volta para a mesma equipe que estava
atacando, com o jogador 7. De acordo com a literatura, a posse de bola da
equipe se iniciaria neste momento, com o jogador realizando um passe para o
número 9 que executa uma finalização. Percebe-se que, no método
apresentado pela literatura, muita informação anterior é perdida. Portanto,
nesse estudo, o local de início da posse foi registrado a partir do momento que
determinada equipe recupera totalmente a bola, de acordo com o exemplo da
figura 12. No entanto, com objetivo de melhor avaliar a diferença entre os
métodos, os resultados de ambas as formas de análise serão apresentados
adiante.
Desse modo, a análise dos dados sobre o local de início das
posses de bola que resultaram em finalizações foi realizada através de eixos
principais, conforme descrito anteriormente.
b) Local do passe que antecedeu à finalização
Neste trabalho também foi registrado o local de onde surgiu o
passe para a finalização, em todos os jogos analisados. Cobranças de
escanteio ou cobranças de falta também foram contabilizadas como passe,
caso estas condições tenham antecedido a finalização.
52
Assim como o registro do lugar onde se iniciaram as posses de
bola, o local do passe que antecedeu à finalização também foi analisado
através de eixos principais, que foram calculados conforme apresentado
anteriormente, porém, com as coordenadas x e y dos dados que representam
o lugar do passe.
4.2.6 – Tamanho do passe que antecedeu à finalização
O tamanho do passe que precedeu a finalização foi realizado
calculando-se a distância euclidiana entre o local do passe e o local onde o
jogador que realiza a finalização recebe a bola, utilizando-se as coordenadas x
e y dos pontos de interesse, sem a mudança de escala para um campo
comum.
Para uma melhor compreensão dos dados, considerou-se como
passe longo aquele que apresentou uma distância maior que 40 metros e
passe curto aquele com distância menor que 40 metros.
4.2.7 - Número de passes que antecederam à finalização
O número de passes que ocorreram na jogada, antes da
finalização, foi contabilizado a partir do momento que a equipe ganha a posse
de bola e não a partir do último toque da equipe adversária, assim como
descrito no item “4.2.5 - a” na figura 14. No entanto, assim como o local de
início da posse de bola, resultados de ambos os métodos (deste trabalho e da
literatura) serão apresentados e discutidos.
53
Supondo que um jogador desarme o adversário e, sem passar
para ninguém, realize uma finalização, considerou-se que a jogada foi
precedida por zero passe. Neste estudo, caso a finalização tenha surgido de
uma cobrança de falta direta a gol, contabilizou-se o número de passes que
ocorreram até o momento da falta, enquanto que, no método apresentado pela
literatura, cobranças de faltas diretas também eram consideradas jogadas
precedidas por zero passe.
4.2.8 - Local da finalização
Conforme calculado durante a normalização dos dados para um
campo comum, para cada finalização analisada, registrou-se a distância
euclidiana entre o local da finalização e o centro do gol e também o ângulo (em
graus) formado pela semi-reta entre o ponto de interesse e o centro do gol e a
semi-reta da linha de fundo do campo (com origem no centro do gol), sendo o
vértice no centro do gol.
Feito o cálculo dos ângulos e distâncias de todas as finalizações,
calculou-se o ângulo e a distância média, e seus respectivos desvios-padrão.
4.2.9 - Duração das posses de bola que resultam em
finalizações
A duração da posse de bola que resultou em finalização foi
calculada a partir do momento que a equipe recupera a bola do adversário até
o momento da finalização. Caso a finalização tenha ocorrido através da
cobrança direta de bola parada (falta ou pênalti), o tempo foi calculado até o
momento que o jogador sofreu a falta. Esse procedimento foi adotado para
54
evitar que seja contabilizado o tempo decorrente do momento que o jogador
sofreu a falta até o momento da finalização.
No entanto, assim como a contabilização do número de passes
que antecedem uma finalização e análise do local de início da posse de bola, a
duração das jogadas de finalização também foi calculada da forma
apresentada na literatura, ou seja, a partir do último toque do jogador
adversário.
55
5 – RESULTADOS
Através dos dados bidimensionais da posição dos jogadores em
função do tempo, fornecidos após a realização do tracking computacional,
permitiu-se verificar o posicionamento em campo de cada atleta, em cada jogo
analisado. A figura 15 apresenta a média das coordenadas “x” e “y” de cada
jogador durante a partida entre a equipe A e a equipe B, fornecendo assim a
idéia da posição em que os mesmos atuaram durante a partida.
FIGURA 15. Posicionamento dos jogadores durante a partida
entre a equipe A e a equipe B.
56
O mesmo procedimento foi realizado em todos os jogos, definindo
assim a posição de atuação de todos os jogadores estudados. Dessa forma, foi
analisado um total de 21 zagueiros, 16 laterais, 15 volantes, 15 meias e 19
atacantes que participaram dos jogos.
Para uma melhor organização dos dados, os próximos resultados
foram separados em tópicos, parecidos com os listados no item 4.2
(Tratamento de dados) do presente estudo, facilitando uma compreensão e
relação com os procedimentos metodológicos aplicados.
5.1 - Ações e seqüência de ações mais realizadas pelos
jogadores
Em seguida estão apresentados resultados sobre todas as ações
e seqüências de ações realizadas pelos jogadores (com posse de bola) que
participaram das partidas. Para uma melhor análise, as seqüências de ações
foram separadas da seguinte forma:
Ações e seqüência de ações completas
Foram registrados, nos quatro jogos, um total de 3024 ações e
seqüência de ações completas. Desse registro, verificou-se a existência de 30
ações e seqüências de ações distintas, sendo que, cada uma dessas ações e
seqüência de ações foi realizada pelo menos uma vez por algum jogador.
Seguem abaixo as ações e seqüências de ações completas (de
“C1” a “C30”) realizadas pelos jogadores nos quatro jogos e o número total de
ocorrências:
57
C1) Passe – Passar a bola sem dominar (1024 ocorrências)
C2) Finalização – Finalizar sem dominar a bola (49 ocorrências)
C3) Domínio Passe (1161 ocorrências)
C4) Domínio Finalização (19 ocorrências)
C5) Condução Passe (14 ocorrências)
C6) Drible Passe (26 ocorrências)
C7) Drible Finalização (2 ocorrências)
C8) Domínio Condução Passe (542 ocorrências)
C9) Domínio Condução Finalização (12 ocorrências)
C10) Domínio Drible Passe (55 ocorrências)
C11) Domínio Drible Finalização (5 ocorrências)
C12) Drible Domínio Passe (2 ocorrências)
C13) Drible Condução Passe (16 ocorrências)
C14) Condução Drible Passe (1 ocorrência)
C15) Drible Domínio Condução Finalização (1 ocorrência)
C16) Domínio Condução Drible Passe (21 ocorrências)
C17) Domínio Condução Drible Finalização (1 ocorrência)
C18) Domínio Drible Condução Passe (37 ocorrências)
C19) Domínio Drible Condução Finalização (1 ocorrência)
C20) Domínio Drible Drible Passe (5 ocorrências)
C21) Drible Condução Drible Passe (1 ocorrência)
C22) Drible Drible Condução Passe (1 ocorrência)
58
C23) Domínio Condução Drible Condução Passe (20
ocorrências)
C24) Domínio Condução Drible Condução Finalização (3
ocorrências)
C25) Domínio Drible Condução Drible Passe (1 ocorrência)
C26) Domínio Drible Drible Condução Passe (2 ocorrências)
C27) Drible Condução Drible Condução Passe (1 ocorrência)
C28) Domínio Drible Drible Drible Condução Passe (1
ocorrência)
C29) Domínio Condução Drible Condução Drible Passe (1
ocorrência)
C30) Domínio Drible Condução Drible Condução Passe (2
ocorrências)
Com relação a essas ações e seqüências de ações completas,
verificou-se que a ação “C1” e as seqüências de ações “C3” e “C8” juntas
representaram, em média, 89,5 % das ações e seqüências de ações dos
jogadores. Dentre essas ações e seqüências mais utilizadas pelos jogadores, a
ação C1 e a seqüência C3 ainda representam a maior parte das ações,
demonstrando que o jogo do futebol se baseia, principalmente, em atos de
curta duração, que envolvem poucas ações.
Seqüências incompletas
Foi registrado, nos quatro jogos, um total de 210 seqüências de
ações incompletas. Desse registro, verificou-se a existência de 16 seqüências
59
de ações distintas, sendo que, cada uma dessas seqüências de ações foi
realizada pelo menos uma vez por algum jogador.
Seguem abaixo as seqüências de ações incompletas (de “I1” a
“I16”) realizadas durante os quatro jogos analisados:
I1) Domínio Drible (87 ocorrências)
I2) Domínio Condução (28 ocorrências)
I3) Drible Drible (7 ocorrências)
I4) Condução Drible (2 ocorrências)
I5) Domínio Condução Drible (51 ocorrências)
I6) Domínio Drible Drible (6 ocorrências)
I7) Domínio Drible Condução (5 ocorrências)
I8) Condução Drible Drible (2 ocorrências)
I9) Drible Condução Drible (1 ocorrência)
I10) Domínio Drible Condução Drible (7 ocorrências)
I11) Domínio Drible Condução Domínio (1 ocorrência)
I12) Domínio Drible Drible Drible (2 ocorrências)
I13) Domínio Condução Drible Condução (6 ocorrências)
I14) Domínio Condução Drible Drible (3 ocorrências)
I15) Domínio Condução Drible Condução Drible (1
ocorrência)
I16) Domínio Drible Condução Drible Drible (1
ocorrência)
60
Com relação às sequências de ações incompletas, a sequência I1
predominou sobre todas as outras, representando aproximadamente 41,4 %
das sequências incompletas.
A figura 16 apresenta a porcentagem da quantidade de
sequências de ações incompletas realizadas pelas diferentes posições
(zagueiros, laterais, volantes, meias e atacantes).
Distribuição das sequências de ações incompletas
entre as posições
4%
26%
12%
29%
29%
Zagueiros
Laterais
Volantes
Meias
Atacantes
FIGURA 16. Distribuição de todas as sequências de ações
incompletas entre as diferentes posições nos quatro jogos analisados.
Como se pode pereceber na figura 16, os zagueiros e volantes
foram as posições que menos realizaram seqüências de ações incompletas,
diferente dos atacantes e meias, que apresentaram as maiores ocorrências
dessas sequências de ações.
Quando uma determinada equipe estava sem a posse de bola,
seus jogadores poderiam realizar apenas o desarme, que, neste trabalho, se
deu através das ações técnicas do domínio, do drible e do passe e também
através de ações de segurança. A figura 17 mostra a porcentagem de
ocorrências de desarmes através de cada uma dessas ações.
61
Formas de execução do desarme
22%
19%
2%
57%
domínio
passe
drible
ação de segurança
FIGURA 17. Porcentagem de ocorrências das diferentes formas
de desarme.
Como se pode verificar na figura acima, as ações de segurança
prevaleceram como forma de desarme mais realizada (57%). O domínio e o
passe, juntos, também representaram grande parte dos desarmes realizados
(41 %), enquanto que o drible foi a ação menos realizada (2%).
A figura 18 mostra a distribuição da execução do desarme nas
diferentes posições (zagueiros, laterais, volantes, meias, atacantes). Pode-se
perceber que os zagueiros foram os jogadores que mais realizaram o desarme
(43%), seguidos pelos volantes (21%) e laterais (20%). Já os meias e
atacantes foram os que menos desarmaram, realizando apenas 11% e 5% dos
desarmes, respectivamente.
62
Distribuição do desarme nas diferentes posições
43%
20%
21%
11%
5%
Zagueiros
Laterais
Volantes
Meias
Atacantes
FIGURA 18. Distribuição da execução do desarme nas diferentes
posições.
5.2 - Contabilização das ações e seqüências de ações que
antecederam à finalização
A figura 19 apresenta as ações e seqüências de ações que
precederam uma finalização. Também estão apresentadas as quantidades de
finalizações que foram realizadas após uma seqüência de ações incompleta
(quando um jogador sofre uma falta durante a execução da seqüência de ação
e esta falta é cobrada diretamente para o gol) ou após um passe que surgiu de
bola parada (por exemplo, de um escanteio ou um passe vindo de uma
cobrança de falta), identificadas por “SI” e “BP”, respectivamente.
63
FIGURA 19. Ações e seqüência de ações que antecederam à
finalização.
Pode-se perceber na figura 19 que, assim como foi verificado no
item “5.1” deste tópico, a ação C1 (passe) e as seqüências C3
(DomínioPasse) e C8 (DomínioConduçãoPasse) também foram as que
mais precederam as finalizações, ou seja, através dessas ações e seqüências
de ações surgiram a maior parte das finalizações. Pode-se verificar também na
figura 19, que muitas finalizações surgiram após seqüências de ações
incompletas (disponibilizando assim uma cobrança de falta direta ou pênalti) e
passes de bola parada, sendo essas, importantes informações para técnicos e
jogadores.
64
5.3 - Ações e seqüência de ações utilizadas pelo atleta que
finaliza e quais jogadores finalizaram a gol
A figura 20 apresenta os dados das ações e seqüências de ações
mais realizadas pelo jogador no momento da finalização. Assim como descrito
no tratamento de dados, caso o jogador tenha realizado uma cobrança de falta
direta para o gol, ou uma cobrança de pênalti, essa ação foi contabilizada como
uma finalização de bola parada (BP).
FIGURA 20. Ações e seqüência de ações utilizadas pelo jogador
no momento da finalização.
Como se pode perceber, a ação C2 (Finalização) e as seqüências
de ações C4 (Domínio Finalização) e C9
(DomínioConduçãoFinalização) prevaleceram no momento da
65
finalização. Verifica-se também que muitas finalizações surgem de bola parada
(BP), criando assim grandes oportunidades para a realização de gols.
Em seguida, estão apresentados os dados sobre as posições dos
jogadores e o número de finalizações (figura 21).
FIGURA 21. Número de finalizações em função da posição de
atuação dos jogadores.
Assim como esperado, os atacantes foram os jogadores que mais
finalizaram. No entanto, um ponto importante a ser salientado na figura 21 é
que os laterais também tiveram grande de participação com finalizações,
seguidos pelos meias e volantes.
66
5.4 - Locais de início das posses de bola que resultaram em
finalizações
Foi analisado um total de 109 finalizações, que ocorreram durante
as quatro partidas. Para uma melhor interpretação e discussão dos dados, o
local de início de todas as posses de bola que resultaram em finalizações, de
todas as partidas, foram analisadas através de dois métodos distintos (do
presente estudo e do método apresentado na literatura), conforme explicado
anteriormente no item “tratamento de dados”. A figura 22 apresenta os dados
dos locais de onde as posses de bola surgiram e os respectivos eixos
principais, utilizando-se os procedimentos apresentados pela literatura.
FIGURA 22. Eixos principais do grupo de dados que representa o
início das posses de bola que resultaram em finalizações durante as 4 partidas,
utilizando-se do método apresentado pela literatura.
67
Como se pode perceber na figura 22, as posses de bola se
iniciaram em várias partes do campo, principalmente no campo de ataque,
quando analisadas através do método apresentado na literatura, que considera
o início da posse a partir do último toque do jogador adversário.
No entanto, neste estudo, a posse de bola se dava a partir do
momento que a equipe recuperava totalmente a bola da equipe adversária.
Desse modo, utilizando esses procedimentos, a figura 23 apresenta os dados
dos locais onde as equipes ganharam a posse de bola e os respectivos eixos
principais.
FIGURA 23. Eixos principais do grupo de dados que representa o
início das posses de bola que propiciaram finalizações durante as 4 partidas.
Como pode-se observar na figura acima, através da direção e
tamanho dos eixos principais, nota-se que as equipes ganharam a posse de
68
bola em diversos locais distintos, porém os locais se concentraram
principalmente no campo de defesa da equipe que realiza a finalização,
diferente do método apresentado pela literatura.
5.5 - Local e tamanho do passe que antecedeu à finalização
Todos os locais do campo onde ocorreram os passes que
antecederam à finalização foram registrados e analisados através dos eixos
principais. Caso esse passe tenha ocorrido por meio de uma cobrança de falta
ou escanteio, o local dessa cobrança também foi registrado.
A figura 24 apresenta os locais onde esses passes sugiram e
seus respectivos eixos principais.
FIGURA 24. Eixos Principais do grupo de dados que representa o
local do passe que antecedeu à finalização.
69
Pode-se perceber na figura acima que, de acordo com a posição
dos eixos principais, há uma maior concentração do grupo de dados no campo
de ataque, próximo da grande área e distribuído tanto nas lateriais do campo
quanto no centro.
Já na figura 25 estão apresentados os resultados do tamanho do
passe que precedeu a finalização. Nota-se que a maior parte dos passes que
antecederam as finalizações foram curtos, sendo que aproximadamente 46,5%
dos passes tiveram um tamanho de 11 a 20 metros. Já os passes longos
(acima de 41 metros) representaram apenas 6% dos passes,
aproximadamente.
FIGURA 25. Tamanho dos passes que precederam às
finalizações nos quatro jogos analisados.
70
5.6 - Número de passes que antecederam às finalizações
A figura 26 apresenta o número de passes envolvidos durante a
posse de bola que antecedeu à finalização, de acordo com o método
apresentado na literatura. Os resultados mostraram que 71,6 % das jogadas
envolveram até 3 passes, enquanto que as posses que continham muitos
passes foram pouco realizadas.
FIGURA 26. Número de passes envolvidos durante as posses de
bola que resultaram em finalizações, de acordo com o método apresentado
pela literatura.
No entanto, quando a análise é realizada considerando-se o início
da posse a partir do momento que a equipe recupera totalmente a bola e não a
partir do último toque do jogador adversário, os resultados são diferentes,
conforme a figura 27.
71
FIGURA 27. Número de passes envolvidos durante as posses de
bola que resultaram em finalizações.
Nota-se que nesta análise as posses de bola que envolveram 10
ou mais passes prevaleceram sobre as outras jogadas. No entanto, uma
quantidade considerável de finalizações também surgiu com posses precedidas
de um a cinco passes, que juntas, representaram aproximadamente 52 % das
jogadas.
5.7 - Local das finalizações
A figura 28 demonstra os locais de onde surgiram as finalizações,
diferenciadas entre finalizações com membros superiores e inferiores.
72
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110
0
10
20
30
40
50
60
70
X (m)
Y (m)
DEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUEDEFESA ATAQUE
Local das finalizações em todos os jogos
*
Finalização com membros inferiores
*
Finalização com a cabeça
FIGURA 28. Local das finalizações nos quatro jogos analisados,
distância média, ângulo médio e seus respectivos desvios-padrão,
representados pela área em destaque.
Para cada finalização realizada, calculou-se sua distância para o
centro do gol e o ângulo formado pela semi-reta entre o centro do gol e o local
da finalização e semi-reta da linha de fundo (com origem no centro do gol),
onde o vértice era o centro do gol. Dessa forma, a distância média das
finalizações foi de 21,02 metros ± 9,22 metros. Já o ângulo médio apresentado
pelas finalizações nas quatro partidas foi de 87,54 graus ± 39,47 graus.
73
5.8 - Duração das posses de bola que resultaram em
finalizações
A figura 29 apresenta as durações das posses de bola, divididas
em períodos de 10 segundos, contabilizados de acordo com o método
apresentado na literatura.
FIGURA 29. Número de finalizações em função da duração da
posse de bola, utilizando-se o método apresentado pela literatura.
Os resultados mostraram que aproximadamente 56 % das posses
de bola que resultaram em finalizações tiveram curta duração, de até 10
segundos.
No entanto, os resultados diferem quando a análise é realizada
através do método do presente estudo, conforme a figura 30.
74
FIGURA 30. Número de finalizações em função da duração da
jogada.
Verifica-se que posses de bola com duração maior que 61
segundos prevaleceram sobre as outras durações. No entanto, constata-se que
grande parte das finalizações também surgiram com posses de bola de até 30
segundos de duração (45,9 % aproximadamente).
75
6 – DISCUSSÃO
Nenhum trabalho sobre ações e seqüências de ações mais
utilizadas por jogadores de futebol foi encontrado na literatura. No presente
estudo, verificou-se que a ação C1 (Passe) e as seqüências de ações C3
(Domínio Passe) e C8 (Domínio Condução Passe) foram as mais
realizadas pelos jogadores durante uma partida. Essas ações e seqüências de
ações também foram as mais utilizadas pelo jogador que realiza o passe para o
companheiro finalizar a gol, além de passes advindos de jogadas com bola
parada, como por exemplo, cobranças de falta e de escanteio. Já a ação e as
seqüências de ações mais utilizadas pelo jogador no momento da finalização
foram a C2 (finalização), a C4 (Domínio Finalização) e a C9 (Domínio
Condução Finalização), além das cobranças de faltas diretas a gol e
pênaltis. Através desses resultados, pode-se afirmar que o jogo de futebol se
baseia principalmente de ações rápidas que envolvem poucos fundamentos.
Um resultado similar a esses foi descrito por Dufour (1993), que afirma que as
ações dos jogadores normalmente são de curta duração, de até 2 segundos.
76
Neste estudo também foram apresentadas as seqüências de
ações incompletas, ou seja, as seqüências de ações cujos jogadores foram
desarmados, cometeram algum erro, sofreram ou realizaram uma falta durante
sua execução. Verificou-se que a maioria das seqüências incompletas envolveu
a realização da ação drible. Isso pode representar o alto risco de se perder a
posse de bola quando esse fundamento é executado. Essa é uma provável
explicação do porquê que os zagueiros e volantes foram os jogadores que
menos realizaram seqüências de ações incompletas, preferindo ações mais
seguras de minimizam as chances de gols adversários.
Porém, foi através das seqüências de ações incompletas que
muitas finalizações de cobranças de bola parada surgiram, ou seja, em muitas
ocasiões os jogadores não conseguiram completar suas seqüências de ações,
sofrendo infrações que propiciaram cobranças diretas de faltas ou pênaltis. Isso
significa que, da mesma forma que realizar uma seqüência de ações que
possua o drible envolva um risco de se perder a posse de bola, pode-se em
contrapartida também criar condições para finalização.
Esses resultados sobre as ações e seqüências de ações mais
utilizadas pelos jogadores durante a partida, antes da finalização e no momento
da finalização, são de extrema importância para técnicos, treinadores e
professores de futebol planejarem treinamentos técnicos específicos para cada
atleta, além de melhor compreender como as finalizações surgem e quem as
realiza. Nos resultados verificou-se que, além dos atacantes, os laterais,
volantes e meias também participam ativamente nas finalizações, mostrando
77
que treinamentos com chutes e cabeceios a gol não devem ficar restritos
apenas a atacantes, mas sim para todos os jogadores.
Igualmente, essas informações também são importantes para o
professor durante o ensinamento do esporte, que deve enfatizar ações simples
e próximas das situações reais de jogo.
Já os desarmes, assim como era esperado, foram realizados
principalmente pelos zagueiros, enquanto que os meias e atacantes foram os
que menos desarmaram. O presente estudo apresentou quais foram as formas
de desarme mais realizadas (no caso as ações de segurança), fornecendo
importantes informações para que técnicos melhor compreendam sua equipe
(ou até mesmo a equipe adversária) e façam as devidas correções, de acordo
com as deficiências identificadas.
Com relação às estratégias de finalizações, nos trabalhos de
Garganta et al. (1997) e Reep & Benjamin (1968), o local onde as posses de
bola que resultaram em gols se iniciavam foi um dos temas de estudo. Os
autores afirmaram que a maior parte dos gols surgiram quando as equipes
ganhavam a posse de bola no campo de ataque. Já no presente estudo, o
interesse foi analisar o local onde se iniciavam as posses de bola que
terminavam em finalizações, independente delas terem resultado em gols ou
não. Os resultados apresentados não corroboram os estudos da literatura, uma
vez que, nos quatro jogos analisados, a maior parte das finalizações ocorreu
quando as equipes ganharam a posse de bola no campo de defesa. Essa
distinção se deu por causa da diferença dos métodos entre a literatura e esse
estudo, sendo que, assim como explicado no item “tratamento de dados”, os
78
trabalhos da literatura consideravam o início da posse de bola a partir do último
toque do jogador da equipe adversária, enquanto que nesse trabalho o início
da posse era registrado a partir do momento que a equipe ganhava totalmente
a bola, através de um desarme, erro ou falta da equipe adversária. Essa opção
foi adotada pelo fato de que o método presente na literatura desconsidera um
grande número de informações que certamente são relevantes no resultado
final da posse de bola. Assim, quando a forma de análise foi a mesma que a
apresentada pela literatura, os resultados foram similares, mostrando que as
posses de bola se iniciam principalmente no campo de ataque. Outro fator que
pode ter contribuído com a diferença dos resultados é que a literatura analisou
apenas as posses que resultaram em gols, havendo a possibilidade desses
dados não serem similares àquelas que resultaram em finalizações, mas não
provocaram gols necessariamente.
Nos resultados também foram apresentados dados dos locais de
onde surgiram os passes para as finalizações e quais eram os tamanhos
desses passes. Foi verificado que a maioria dos passes foram curtos e
surgiram no campo de ataque. Esses resultados vão contra o que Bate (1988)
apresentou em seu estudo, onde o autor afirma que para uma equipe aumentar
suas chances de gol, os jogadores devem sempre que possível utilizar passes
longos. No entanto, o pesquisador realizou suas análises em equipes
britânicas, enquanto nesse estudo foram utilizadas equipes brasileiras, que
podem apresentar formas diferentes de jogo, assim como verificado por
Yamanaka et al. (1993) durante a Copa do Mundo de 1990.
79
Com relação ao número de passes que antecedem uma
finalização, os estudos de Garganta et al. (1997), Dufour (1993) e Reep &
Benjamin (1968) concluíram que a maior parte dos gols sugiram após três ou
menos passes, resultados diferentes dos apresentados neste estudo. Porém,
assim como verificado na análise do local do campo onde as posses de bola se
iniciavam, a diferença entre os métodos apresentados na literatura e o método
deste estudo contribuiu para essa distinção entre os resultados. Neste estudo,
a maior parte das finalizações surgiram após posses de bola com 10 passes ou
mais, porém, quando a forma de análise foi a mesma que a apresentada por
Garganta et al. (1997), Dufour (1993) e Reep & Benjamin (1968), os resultados
foram similares.
Já Hughes & Franks (2005) também analisaram o número de
passes que antecedem as posses de bola que resultam em gols e concluíram
que a maioria dos gols analisados surgiu após seqüências de muitos passes,
corroborando os dados do presente estudo. No entanto, deve-se enfatizar que,
no presente trabalho, uma considerável quantidade de finalizações também foi
precedida por até cinco passes. Dessa forma, parece não haver um princípio
que determine que posses de bola com muitos ou poucos passes gerem mais
ou menos finalizações, uma vez que as duas formas podem criar condições
para chutes e cabeceios a gol, dependendo da situação do jogo.
Em sua pesquisa, Garganta et al. (1997) também afirmou que o
maior parte das posses de bola que propiciaram gols apresentaram duração
menor que 10 segundos. De forma similar aos dados do número de passes que
antecederam a finalização (que também se diferenciaram devido à aplicação
80
de métodos de análises distintos), no presente estudo verificou-se que a
maioria dos chutes e cabeceios a gol surgiu em posses de bola com duração
maior que 60 segundos. No entanto, uma considerável quantidade de
finalizações também surgiu com posses de até 30 segundos de duração,
mostrando que tanto posses de bola de curta duração e longa duração podem
resultar em finalizações.
Por fim, também se constatou que o local de onde ocorreram as
finalizações está distribuído de forma aleatória nas proximidades e dentro da
grande área. Essas informações, junto com as informações apresentadas
anteriormente sobre o local onde a equipe recupera a bola, o local de onde
surgiu o passe para finalização, o número de passes que antecederam, a
duração da posse de bola, entre outras, dão mais subsídios para que técnicos
e treinadores melhor explorem os treinamentos de finalizações. Assim, de
acordo com os resultados aqui presentes, devem-se enfatizar treinos com
posses de bola que iniciem principalmente no campo de defesa, de curta e
longa duração, que envolvam poucos ou muitos passes (porém passes de
curto tamanho) e que disponibilizem finalizações das mais variadas regiões
próximas e dentro da grande área, além de treinamentos de jogadas de bola
parada.
81
7 – CONCLUSÃO
O presente estudo teve como objetivos analisar as ações e
seqüências de ações de jogadores e as posses de bola que resultaram em
finalizações no futebol, a partir do tracking computacional. Desse modo, os
resultados permitem as seguintes conclusões:
Ações e seqüências de ações que envolvem poucos fundamentos
(Passe, Domínio Passe e Domínio Condução Passe)
são as mais realizadas por jogadores durante as partidas;
Essas ações e seqüências de ações, junto com passes advindos
de bolas paradas, também foram as que mais precederam as
finalizações;
No momento da finalização, ações e seqüências de ações que
envolvem poucos fundamentos (Finalização, Domínio
Finalização e Domínio Condução Finalização) são as mais
realizadas por jogadores durante as partidas, além das cobranças
de bola parada;
As finalizações são realizadas de diferentes locais do campo,
próximo e dentro da grande área;
82
As posses de bola que resultam em finalizações normalmente se
iniciam no campo de defesa da equipe que está atacando;
O local do passe que antecede a finalização se concentra
principalmente no campo de ataque da equipe que está atacando,
sendo que a maioria desses passes são curtos.
Durante uma partida, posses de bola que resultam em
finalizações normalmente podem envolver tanto um grande
número de passes quanto poucos passes, dependendo da
situação;
Durante uma partida, posses de bola que resultam em
finalizações podem ter tanto curta quanto longa duração;
Os resultados presentes nesse estudo são uma parte dos dados
que ainda podem e devem ser analisados sobre ações e seqüências de ações
de jogadores de futebol e sobre as estratégias de finalizações. Há uma
necessidade de que estudos posteriores realizem uma análise técnica ainda
mais detalhada sobre os fundamentos realizados pelos jogadores, como, por
exemplo, verificar a forma que uma ação é realizada (com qual parte do pé,
com a coxa, peito, etc). Além disso, sugere-se que essas informações sejam
vinculadas a aspectos táticos, como uma análise da distância dos
companheiros de equipe e adversários durante a execução de uma
determinada ação técnica.
Com relação às estratégias de finalizações, também há uma série
de fatores que ainda podem ser estudados. Neste trabalho, foram analisadas
83
apenas as características das posses de bola que resultaram em finalizações.
No entanto, havendo a possibilidade de se pesquisar essas e outras
características durante um número maior de jogos, sugere-se que também
sejam estudadas as jogadas que resultem em gols.
84
8 – REFERÊNCIAS
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90
Analysis of the player’s technical actions and shots to goal strategies,
through computational tracking.
Abstract
The objective soccer analysis requires the development of methods able to
collect the maximum number of data during a match, such as information about the players
positions and their technical actions. So, an analysis of the technical actions, the sequence of
actions performed by soccer players and the shots to goal strategies are important issues to
help coaches in order to plan and to improve the players training. Thus, the purpose of this
study was to analyze the technical actions, the sequence of actions and the shots to goal
strategies during four soccer matches, through computational tracking. Software Dvideow was
used to obtain data about players position and their technical actions. Then, it was identified the
technical actions and sequence of actions performed by players and the shots to goal
strategies. The results showed that the pass movement, and the “ControlPass” and
“Control Dribbling Pass” sequence of actions corresponded to 89,5% of the players actions.
Shorts actions and sequences of actions are the most frequent movements performed by
players in shots to goal too, besides the free kicks and penalty kicks. It was verified that
forwards were the players who most performed incomplete sequence of actions, while
defenders were the players that performed the lower number of them. Nevertheless, the
defenders were the players that most performed tackles, while the forwards were the players
who most performed shots to goal. About the shots strategies, it was verified that the teams
usually win the ball possession in their defensive soccer field. The pass executed before the
shots to goal frequently occurred in attack soccer field and it had up to 20 meters of size. The
results also showed that ball possessions that resulted in shots to goal can involve few or great
number of passes, and they have short or long duration, depending on the game situation.
Finally, it was found that shots to goal occurred on a 22.02 meters average distance. So, it was
concluded that: a) soccer players usually perform short technical actions and short sequence of
actions; b) ball possessions that result in shots to goal usually begin in the defensive soccer
field; c) ball possessions which result in shots to goal may involve few or many passes and
91
have a short or long duration; d) passes to shots to goal often happen in the attack soccer field
and have a short size and e) shots to goal occur in different places, close or inside the penalty
kick area.
Keywords: Soccer, computational tracking, technical actions, shots to goal strategies, ball
possession.
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