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DESCRIÇÃO TAXONÔMICA E
HISTÓRIA NATURAL
DEUMANOVAESPÉCIEDEHypsiboas
DA MATA ATLÂNTICA
DO ALTO DA SERRA DE PARANAPIACABA,
ESTADO DE SÃO PAULO
(AMPHIBIA, ANURA, HYLIDAE)
ANDRÉ PINASSI ANTUNES
Dissertação apresentada ao Instituto
de Biociências da Universidade
Estadual Paulista “Julio de Mesquita
Filho”, Campus de Rio Claro, para a
obtenção do título de Mestre em
Ciências Biológicas (Área de
Concentração:Zoologia)
Rio Claro
Estado de São Paulo Brasil
Fevereiro de 2007
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ii
DESCRIÇÃO TAXONÔMICA E
HISTÓRIA NATURAL
DEUMANOVAESPÉCIEDEHypsiboas
DA MATA ATLÂNTICA
DO ALTO DA SERRA DE PARANAPIACABA,
ESTADO DE SÃO PAULO
(AMPHIBIA, ANURA, HYLIDAE)
ANDRÉ PINASSI ANTUNES
Orientador: Prof. Dr. CÉLIO FERNANDO BAPTISTA HADDAD
Dissertação apresentada ao Instituto
de Biociências da Universidade
Estadual Paulista “Julio de Mesquita
Filho”, Campus de Rio Claro, para a
obtenção do título de Mestre em
Ciências Biológicas (Área de
Concentração:Zoologia)
Rio Claro
Estado de São Paulo Brasil
Fevereiro de 2007
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iii
De coração
aos meus pais Fernando e Maria Orlanda
minha irmã Renata
pela coragem e o caráter
e em memória dos meus avós
José e Diva
Romeu e Orlanda
iv
Nada é mais continuado, tampouco é
tão permanente, ao longo destes cinco
séculos, do que a classe dirigente
exógena e infiel a seu povo. No afã de
gastar gentes e matas, bichos e coisas
para lucrar, acabam com as florestas
mais portentosas da terra. Desmontam
morrarias incomensuráveis, na busca
de minerais. Erodem e arrasam terras
sem conta. Gastam gente aos milhões.
D
ARCY
R
IBEIRO
: O Povo Brasileiro
v
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todas boas pessoas nas terras que andei. São elas as
principais responsáveis pelo trabalho que c oncluo aqui.
Gostaria de destacar:
meus pais Fernando e Maria Orlanda e minha irmã Renata, as melhores
pessoas do mundo.
Lilian que me acompanhou na maior parte dos últimos anos e quem eu
tenho profunda admiração.
com todo respeito, o amigo, professor e orientador Célio, que o extenso
conhecimento científico em mim plantado é mero detalhe frente às suas lições
de vida.
os companheiros do mato, Fábio Rohe (Trupicão), Fabio Pincinato
(Fabinho), André Teixeira da Silva (Ganso) e Bruno Garcia Luize (Brunão).
Sem vocês eu nem teria começado este trabalho, tampouco despertado para
muitas idéias. Sem contar as alegrias e os perrengues pregados pelo mato...
Valeu também Carlos Zacchi (Carlão), Ricardo Lopez, Michel Silva, Maurício
Silveira (Mau), Felipe Toledo e Denis Briani.
os profundos conhecedores do mato Gérson Correia e Júlio Cosme,
professores do sertão. Os demais trabalhadores do mato de Pilar do Sul, pelas
estórias impressionantes de suas vidas tão desgastantes.
o ótimo ambiente de trabalho junto aos companheiros do Laboratório de
Herpetologia de Rio Claro. Cynthia Almeida-Prado, Luis Giasson, Felipe
Toledo, João Giovanelli, Juliana Zina, Ricardo Ribeiro, Dina, Vanessa
Marcelino, Julian Faivovich, Ingrid Carolline, Fábio Sá, Marcos Gridi-Papp,
Luciana Lugli e João Alexandrino. Vocês estão em muitos momentos deste
trabalho.
os irmãos de Rio Claro, Bruno, Ganso, Fabinho, Trupico, Olavo, Dudu,
Xixi, Michel, Preps, Paul, Gutão, Carlão, Mau, Léo, Mauricião, presentes em na
minha vida, compartilhando nossos momentos bons e outros nem tanto. Valeu
pela força.
vi
os amigos BH, BH, Tonico, Gerê, Bebê, Tatu, Fabião, Alberto, Henrique,
Morcego, Alberti, Chubaquinha, Butt, Bitão, Denis, Neto, pelas constantes
idéias trocadas
os irmãos de Ubatuba Fabinho e Cristiano, companheiros do mar, com
quem as aventuras que vivi não cabem em nenhuma palavra. Em memória de
Luis Carlos, olhe por nós naquele sertão, irmão!
as amigas rio clarenses Mirella, Julieta, Marina, Débora, Eliana, Babi,
Natália, Regina, Júlia, Ana, Marina, Carol, Carol, Carol, Salmonela, Juliana,
Gabi, Milena, Soraia, Mirian, Sabrina. São vocês que tornam este jardim tão
belo.
os meus eternos professores Célio Haddad, Ariovaldo Neto, Roberto
Goiten, Edwen Willis e Peter Feisenger.
a Fapesp pela bolsa concedida. À Eucatex pela permissão de acesso à
área de estudo.
as caiporas e a bicharada, pois tiveram grande influência no que eu
penso da biologia e da vida.
omatoeomar...
1
ÍNDICE
RESUMO 3
ABSTRACT 4
INTRODUÇÃO GERAL 5
A MATA ATLÂNTICA E OS ANFÍBIOS ANUROS
5
O GRUPO DE HYPSIBOAS
PULCHELLUS (AMPHIBIA, ANURA,
HYLIDAE)
6
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
10
CAPÍTULO I 13
DESCRIÇÃO TAXONÔMICA DE UMA NOVA ESPÉCIE DE
HYPSIBOAS DA SERRA DE PARANAPIACABA, SUL DO ESTADO
DE SÃO PAULO (AMPHIBIA, ANURA, HYLIDAE)
ABSTRACT
15
INTRODUCTION
16
MATERIAL AND METHODS
17
RESULTS
19
Holotype 19
Paratopotypes 20
Diagnosis 20
Comparisons 21
Description of Holotype 22
Color in Life 23
Coloration in Preservative 24
Measurements of Holotype 24
Variation 24
Vocalizations 26
Natural History 27
Egg-Mass and Embryos 28
Tadpole 29
Geographic Distribution and Conservation 30
Etymology 31
Phylogenetic relationships 31
DISCUSSION
32
MATERIAL EXAMINED
35
ACKNOWLEDGMENTS
38
LITERATURE CITED
39
FIGURES
46
2
CAPÍTULO II 56
HISTÓRIA NATURAL DE UMA NOVA ESPÉCIE DE HYPSIBOAS DOS
RIACHOS DA MATA ATLÂNTICA NO ALTO DA SERRA DE
PARANAPIACABA, SÃO PAULO (AMPHIBIA, ANURA, HYLIDAE)
INTRODUÇÃO
57
ÁREA DE ESTUDO
61
MATERIAIS E MÉTODOS
76
RESULTADOS
78
Utilização do Hábitat 78
Padrões de Atividade Sazonal e Diário 80
Recrutamento e Desenvolvimento dos Girinos e Período da
Metamorfose 82
Abundância e Recrutamento de Machos Adultos 83
Estrutura Demográfica dos Machos Adultos 84
Longevidade das Gerações dos Machos Adultos no Sítio
Reprodutivo 86
Razão Sexual Operacional 87
Padrão de Distribuição dos Machos Adultos na Transecção 88
Sistema Territorial dos Machos Adultos no Sítio Reprodutivo 90
Interações Acústicas e Agonísticas 99
Proporção de Machos Adultos com Cicatrizes no Clado
Bokermannohyla
, Aplastodiscus e Hypsiboas 106
Escolha dos Machos pelas Fêmeas 109
Comportamento Reprodutivo 111
DISCUSSÃO
116
Padrão de Atividade e Período Reprodutivo 116
Ciclo de Vida dos Machos Adultos 118
Estratégias Reprodutivas nos Machos Adultos 120
Utilização do Hábitat de Reprodução e Padrão de Distribuição dos
Machos Adultos 121
Estrutura Social nos Agregados 123
Escolha dos Machos pelas Fêmeas 124
Comportamento e Comunicação Social 126
Territorialidade nos Machos Reprodutivos 128
Métodos Empregados e Futuros Estudos 131
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
133
CAPÍTULO III 141
TROPIDOPHIS PAUCISQUAMIS (Brazilian Dwarf Boa). PREY
CONSIDERAÇÕES FINAIS 144
3
RESUMO
Este estudo se refere a uma nova espécie de anfíbio anuro do gênero
Hypsiboas, pertencente à família Hylidae, que habita as florestas pluviais no
alto da Serra de Paranapiacaba, no sul do estado de São Paulo. No primeiro
capítulo descrevemos taxanomicamente a espécie. Este capítulo é
apresentado em língua inglesa na formatação do periódico Copeia, no qual o
manuscrito foi recentemente aceito. Adotamos para a nova es pécie o nome
provisório KAAPORA (kaa = mato + pora = morador), uma vez que a espécie
ainda não está formalmente descrita. Pertencente ao grupo de Hypsiboas
pulchellus, a espécie nova compõe um clado com H. semiguttatus, H. joaquini e
uma outra nova espécie de Hypsiboas da Argentina e do sul do Brasil, das
quais pode ser distinguida principalmente pelo seu canto. O segundo capítulo
retrata sua história natural a partir d e estudos de campo realizados
mensalmente, entre dezembro de 2003 a maio de 2006. A reprodução é
contínua (anual). Os machos de Hypsiboas KAAPORA vocalizam a noite e o
ano todo, empoleirados na vegetação ma rginal herbácea-arbustiva, ao longo
de riachos no interior da floresta. A razão sexual operacional no riacho é
largamente voltada para os machos, o que deve refletir diretamente na
aquisição de acasalamentos pelos mesmos. As fêmeas vis itam o riacho
somente quando estão aptas à reprodução, retornando à mata logo após a
oviposição. A desova é depositada no riacho, onde os girinos crescem
lentamente. A fase final da metamorfose é sincronizada e ocorre nos meses
mais quentes do ano (dezembro e janeiro). O recrutamento de m achos adultos
no sítio reprodutivo se inicia em fevereiro e perdura o ano todo e as diferenças
temporais no recrutamento parecem refletir estratégias reprodutivas distintas. A
população de machos adultos pode ser constituída por indivíduos pertencentes
à pelo menos duas gerações distintas. A comunicação social entre os adultos,
além da vocalização, envolve sinalização visual em interações a curta
distância, que devem facilitar a localização e demonstrar o estado
comportamental de quem as emite. Os machos podem cantar isoladamente,
mas geralmente se agregam sob clareiras do dossel. Os machos tentam
estabelecer um território no riacho, mas poucos têm êxito ou permanecem por
tempo elevado no sítio reprodutivo. A defesa territorial dos machos apresenta
escalonamento crescente de agressividade, eventualmente resultando em
combates físicos. Nestes combates os machos utilizam o espinho do prepólex
para ferir o oponente. Esta parece uma condição ancestral no clado formado
pelos gêneros Bokermannohyla e Hypsiboas em parafilia com Aplastodiscus,
pois a grande quantidade de machos adultos com cicatrizes no dorso, em
análise de espécimes de coleção científica, deve ser em parte devido a estes
combates. Além disso, os altos níveis de territorialidade observado nos machos
adultos de Hypsiboas KAAPORA parecem decorrer da disparidade entre os
indivíduos em obter recursos diretos e indiretos para a reprodução, distribuídos
heterogeneamente no tempo e no espaço. O terceiro capítulo é uma nota de
campo de predação de Hypsiboas KAAPORA pela serpente Tropidophis
paucisquamis, submetida ao periódico Herpetologic al Review.
4
ABSTRACT
We studied a new species of amphibian anuran of the genus Hypsiboas,
family Hylidae, which inhabits t he Atlantic Forest from highlands at Serra de
Paranapiacaba, São Paulo State, Brazil. In chapter one we describe
taxonomically the new species. This chapter was written in English and
accepted in the scientific journal Copeia. We used the provisory name
KAAPORA (kaa = forest + pora = inhabitant) because the new species is not
formally described. Pertaining to the Hypsiboas pulchellus species group, the
new species is included in a clade with Hypsiboas semiguttatus, its sister
species, Hypsiboas joaquini, and other new species of Hypsiboas from
Argentina. Hypsiboas KAAPORA differs from these species mainly by its
advertisement call. Chapter two is about the natural history of the new species.
It was carried out in a monthly field study, from December 2003 to May 2006.
Adult males were registered calling in all months along the year. They call at
night from the marginal vegetation of streams inside the forest. Continuous
reproduction occurs throughout the year. The operational sexual ratio was
largely biased to males in the reproductive site, probably with direct effects on
acquisition of females. Females moved to stream only in reproductive events.
The egg-mass was deposited in the stream, where the tadpoles develop slowly.
The end of the metamorphosis occurs synchronically in t he wetter months
(December and January). Recruitment of adult males at the reproductive site
started in February and continued along the year. Temporal differences in
recruitment seem related to distinct reproductive strategies. The population of
adult m ales may include individuals from at least two different generations.
Social communication in adults, besides the vocalizations, involves visual
signaling in c lose range interactions, probably t o facilitate the localization and to
exhibt the behavioral condition of the emitter. Males call isolated, but more
frequently aggregated under clearings. Males attempt to establish a territory
along the stream, but few males are successful. Territorial behavior comprises
crescent escalated a ggressiveness, eventually resulting in fights. In this fights,
males used the prepollical spines to injury the opponent. Fights seem to be an
ancestral condition in the clade formed by Bokermannohyla and Hypsiboas,in
paraphily with Aplastodiscus. This is confirmed by the large quantities of adult
males with scars on the dorsum in analysis of specimens from scientific
collection, what must be mainly due to the fights. Moreover, the high levels of
territoriality in adult males of Hypsiboas KAAPORA must be due to the
differences among individuals to obtain direct and indirect resources for
reproduction, heterogeneously distributed in time and space. Chapter three is a
note on the field of predation of the new species, submitted to scientific journal
Herpetological Review.
5
INTRODUÇÃO GERAL
A Mata Atlântica e os Anfíbios Anuros
A região Neotropical abriga, em suas florestas, a maior diversidade de
anfíbios anuros do planeta, implicando no escasso conhecimento biológico da
maioria delas. O Brasil é um dos países com maior riqueza de anfíbios anuros,
compreendendo cerca de 800 espécies conhecidas, aproximadamente 15% da
diversidade global (Sociedade Brasileira de Herpetologia, 2005). No Brasil,
conforme as novas modificações na nomenclatura taxonômica (e.g., F
AIVOVICH
et al. 2005; F
ROST
et al. 2006; G
RANT
et al. 2006), estas espécies estão
distribuídas em 17 famílias. O estado de São Paulo conta com mais de 200
espécies (C. H
ADDAD
com. pessoal.); entretanto, trata-se de um número
subestimado, uma vez que descrições de espécies novas ou revalidações de
espécies vêm aparecendo freqüentemente na literatura na medida em que
aumentam os estudos taxonômicos e de campo (H
ADDAD
1998). A alta
diversidadedeespéciesnoestadodeSão Paulo é explicada, em parte, pela
extensa faixa de Mata Atlântica que ainda resta na região (H
ADDAD
1998).
A Mata Atlântica é um ecossistema onde razoável conhecimento a
respeito da anurofauna, principalmente em relação às demais formações
6
vegetacionais brasileiras (H
ADDAD
&S
AZIMA
1992; P
OMBAL
-JR 1997; H
ADDAD
&
S
AWAYA
2000; B
ERTOLUCI
&R
ODRIGUES
2002a,b; H
ADDAD
&P
RADO
2005).
Entretanto, estes estudos são ainda escassos, uma vez que este ecossistema
é uma dos mais ameaçados do mundo, pois atualmente restam apenas cerca
de 7 % da cobertura original (M
ORELLATO
&H
ADDAD
2000). Outro aspecto
importanteéofatodesteambientepermitiraltograudeespecializações
reprodutivas em anfíbios anuros, não encontradas em nenhum outro
ecossistema (H
ADDAD
1998; H
ADDAD
&S
AWAYA
2000). Dos 39 modos
reprodutivos conhecidos em anuros, 31 encontram-se nos neotrópicos, dos
quais 27 aparecem na Mata Atlântica (H
ADDAD
&P
RADO
2005). Para se ter uma
idéia, dos 12 modos reprodutivos descritos para os Hylidae, 11 são
encontrados na Mata Atlântica (H
ADDAD
&S
AWAYA
2000). Como grande parte
desta floresta se perdeu em 500 anos (M
ORELLATO
&H
ADDAD
2000), o elevado
grau de endemismo dos anuros e a dependência deste ecossistema para sua
reprodução devem explicar os declínios em algumas populações ou mesmo a
extinção de algumas espécies que são relatadas atualmente (H
ADDAD
&P
RADO
2005).
O Grupo de Hypsiboas
pulchellus (Amphibia, Anura, Hylidae)
O gênero Hyla Laurenti, 1768 que compreendia cerca de 350 espécies
distribuídas pela América, Ásia e Europa (F
ROST
2004), e até então
consideradas não monofiléticas, foi recentemente estudado por F
AIVOVICH
et al.
(2005), que realizaram, a partir de análises moleculares, profundas
modificações no grupo. Segundo estes autores, o gênero Hyla estaria restrito à
região centro-americana/holártica e 297 espécies anteriormente consideradas
pertencentes a este, foram alocadas em 15 gêneros, dos quais quatro eram
utilizados, quatro foram revalidados e seis novos foram descritos.
O gênero Hypsiboas Wagler, 1830, revalidado por F
AIVOVICH
et al.
(2005), compreende as espécies conhecidas como as “rãs-gladiadoras”,
denominadas assim por K
LUGE
(1979) para as espécies que apresentam um
7
espinho pontiagudo na extremidade do prepólex, utilizados durante violentos
combates territoriais entre machos.
O grupo de Hypsiboas pulchellus (Duméril & Bribon, 1841) é
amplamente distribuído pela América do Sul, sendo encontrado no Brasil,
Argentina, Peru, Bolívia, Uruguai e Paraguai (B
ARRIO
1965; L
UTZ
1973;
D
UELLMAN
et al. 1997; G
ARCIA
2003; F
AIVOVICH
et al. 2004). As espécies deste
grupo apresentam corpo moderadamente robusto, medida do comprimento da
cabeça semelhante à largura, focinho curto, usualmente arredondado em vista
dorsal e claramente arredondado em perfil e topo da cabeça achatado (L
UTZ
1973; D
UELLMAN
et al. 1997; G
ARCIA
2003). Machos apresentam o antebraço
com musculatura hipertrofiada, o prepólex é desenvolvido e port ando, em sua
extremidade, um espinho pontiagudo (D
UELLMAN
et al. 1997). De uma forma
geral, a reprodução ocorre em riachos ou ambientes lênticos em hábitats
florestais ou abertos, geralmente associados às regiões montanhosas
(D
UELMANN
et al. 1997; G
ARCIA
2003).
L
UTZ
(1973) define o “ciclo” de Hypsiboas pulchellus, o qual seria
composto pelas cinco subespécies de Hypsiboas pulchellus (H. pulchellus
pulchellus, H. pulchellus andinus (Müller, 1924), H. pulchellus cordobae (Barrio,
1965), H. pulchellus joaquini (Lutz, 1968), H. pulchellus riojanus (Koslowsky,
1895), H. semiguttatus (Lutz, 1925), H. cymbalum (Bokermann, 1963), H.
prasinus (Burmeister, 1856) e H. marginatus (Boulenger, 1887).
D
UELLMAN
et al. (1997) concluíram que este grupo apresenta 11 t áxons,
compreendendo assim, além das espécies incluídas por L
UTZ
(1973):
Hypsiboas alboniger (Nieden, 1923), H. andinus (Muller, 1924), elevada à
categoria específica por D
UELLMAN
et al. (1997), H. balzani (Boulenger, 1898),
H. marianitae (Carrizo, 1992), H. melanopleura (Boulenger, 1912), H. palaestes
(Duellman, De La Riva & Wild, 1997). Além disso, estes autores sugeriram uma
possível monofilia entre os representantes do grupo de Hypsiboas pulchellus e
de Bokermannohyla circumdata (Cope, 1871), fato que foi refutado por diversos
autores (N
APOLI
2000; G
ARCIA
et al. 2003; G
ARCIA
2003; F
AIVOVICH
et al. 2004,
2005). Hypsiboas caingua (Carrizo, 1991) também foi incluída neste grupo
8
(C
ARAMASCHI
&C
RUZ
2000), assim como H. ericae (Caramaschi & Cruz, 2000)
(C
ARAMASCHI
&C
RUZ
2000).
Recentemente, o grupo, com ênfase nas espécies brasileiras, foi
estudado por G
ARCIA
et al. (2001), G
ARCIA
et al. (2003) e G
ARCIA
(2003).
Hypsiboas marginatus foi redescrita (G
ARCIA
et al. 2001) e Hypsiboas
pulchellus joaquini foi elevada à categoria específica (G
ARCIA
et al. 2003). Em
análise das populações de H. semiguttatus, o autor as considerou um
complexo de espécies (G
ARCIA
2003). Fato semelhante foi encontrado em uma
população das serras do leste de Santa Catarina, anteriormente confundida
com Hypsiboas marginatus e que foi considerada como uma espécie distinta
(G
ARCIA
2003).
F
AIVOVICH
et al. (2004; 2005) analisaram amplamente a filogenia do
grupo de Hypsiboas puchellus a partir de uma perspectiva molecular. Diversas
conclusões novas foram obtidas, entre elas a inclusão de representantes do
grupo de Hypsiboas polytaenius (Cope, 1870), de H. guentheri (Boulenger,
1886) e de H. bischoffi (Boulenger, 1887). Hypsiboas pulchellus cordobae e H.
p. riojanus foram consideradas espécies plenas. Hypsiboas ericae formaria um
clado irmão das espécies do clado de Hypsiboas polytaenius (Hypsiboas sp.2 e
H. leptolineatus), de H. semiguttatus, H. joaquini e Hypsiboas sp. 1 (esta última
anteriormente considerada população de H. semiguttatus de Misiones na
Argentina). As espécies andinas (H. balzani, H. marianitae, H. riojanus e H.
andinus) formariam um clado monofilético, que possivelmente passaram por
um evento único de colonização da região. O outro clado seria composto pelos
representantes da Mata Atlântica do Sul- Sudeste do Brasil e Nordeste da
Argentina (H. caingua, H. guentheri, H. bischoffi, H. prasinus e H. marginatus)e
por H. pulchellus e H. cordobae. As espécies H. cymbalum, H. melanopleura,
H. palaestes e H. alboniger não foram incluídas nesta análise devido à falta de
materiais para estudo, assim como os demais representantes do clado de H.
polytaenius (sensu L
UTZ
1973; C
RUZ
&C
ARAMASCHI
1998). Neste contexto, o
grupo compreenderia 30 espécies (F
AIVOVICH
et al. 2004; 2005).
Uma espécie em particular, taxonomicamente confusa, Hypsiboas
semiguttatus, foi originalmente descrita por A. L
UTZ
(1925) a partir de uma
9
fêmea adulta proveniente de São Bento do Sul, est ado de Santa Catarina.
C
OCHRAN
(1955) sinonimizou esta espécie à Hypsiboas polytaenius.C
EI
&R
OIG
(1961), estenderam sua distribuição geográfica para a região de Misiones na
Argentina. L
UTZ
(1973) fornece uma nova descrição da espécie a partir de
material coletado no Rio Grande do Sul e em Misiones na Argentina e
considera Hypsiboas semiguttatus uma espécie distinta de Hypsiboas
polytaenius.C
EI
(1980) e C
ARRIZO
(1990) apresentam descrições dos adultos
de Hypsiboas semiguttatus em populações encontradas na Argentina e os
girinos são descritos por F
AIVOVICH
(1996). F
AIVOVICH
et al. (2004) concluem
que as populações encontradas na região de Misiones na Argentina eram uma
espécie plena, ainda não descrita. G
ARCIA
et al. (no prelo) redescrevem
Hypsiboas semiguttatus e r estringem sua distribuição geográfica para o alto da
Serra do Mar dos estados do Paraná e de Santa Catarina. Além disso, a nova
espécie de Hypsiboas, anteriormente confundida com H. semiguttatus
descrita neste último estudo.
No presente estudo, descrevemos, no primeiro capítulo,
taxanomicamente uma nova espécie do anfíbio anuro do gênero Hypsiboas,
pertencente à família Hylidae, que habita as florestas pluviais no alto da Serra
de Paranapiacaba, no sul do estado de São Paulo. O segundo capítulo retrata
sua história natural a partir de estudos de campo realizados mensalmente,
entre dezembro de 2003 a maio de 2006.
10
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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13
CAPÍTULO I
DESCRIÇÃO TAXONÔMICA DE UMA
NOVA ESPÉCIE DE HYPSIBOAS
DA SERRA DE PARANAPIACABA,
SUL DO ESTADO DE SÃO PAULO
(AMPHIBIA, ANURA, HYLIDAE)
14
A New Species of Hypsiboas from the Atlantic Forest of
Southeastern Brazil (Amphibia, Anura, Hylidae).
André Pinassi Antunes
1
, Julian Faivovich
1,2,3
, and Célio F. B. Haddad
1
1
Laboratório de Herpetologia, Departamento de Zoologia, I. B.,
Universidade Estadual Paulista. Rio Claro, São Paulo, Brasil.
2
Division Herpetologia, Museo Argentino de Ciencias Naturales
"Bernardino Rivadavia", Buenos Aires, Argentina.
3
Division of Vertebrate Zoology (Herpetology), American Museum of
Natural History, New York, USA
CORRESPONDING AUTHOR
André Pinassi Antunes
E-mail: aantunes@r
c.unesp.br, [email protected].
Laboratório de Herpetologia, Departamento de Zoologia, I. B.,
Universidade Estadual Paulista. Av 24a, 1515. Jardim Bela Vista. 13506-900.
Rio Claro, São Paulo, Brasil. Cx. Postal 199.
MAJOR ARTICLES
KEY WORDS
Hypsiboas kaapora new species; Hypsiboas pulchellus group; Hypsiboas
semiguttatus; vocalization, biodiversity conservation; streams.
15
We describe a new species of Hypsiboas of the Hypsiboas pulchellus
species group from highland streams of the Atlantic Forest of Southeastern
Brazil. Vocalizations, egg-mass, and t adpole are also described. We compared
the new species with other species of the Hypsiboas pulchellus s pecies group.
The new species is most similar with Hypsiboas semiguttatus, its sister species,
and other new species of Hypsiboas from Argentina, from which it differs in
advertisement call and larval morphology. Furthermore, we provide information
on natural history, phylogenetic relationships, embryos, geographic distribution,
and conservation.
16
With 31 described species, the Hypsiboas pulchellus group is the most
speciose group of the recently resurrected genus Hypsiboas Wagler, 1830
(Faivovich et al., 2005; Garcia et al., in press). This group is widely distributed in
South America (B. Lutz, 1973; Duellman et al., 1997; Faivovich et al., 2004,
2005) and its reproduction occurs in streams or ponds in forests or open areas,
generally in mountainous regions (B. Lutz, 1973; Duellman et al., 1997; Kwet
and Di-Bernardo, 1999). Even though some morphological characterizations of
the Hypsiboas pulchellus group had been advanced by B. Lutz (1973) and
Duellman et al. (1997) (e.g., body moderately robust, hypertrophied forelimbs,
projecting prepollical spines in adult males, a supralabial bright stripe, and a
dark dorsolateral line delimited superiorly by a bright stripe), as discussed by
Faivovich et al. (2004, 2005), some of these are plesiomorphies for the group
(e.g., projecting prepollical spin es in adult males) and the polarity of others is
unclear. The group includes several species with a confusing taxonomic history,
which have been the focus of recent papers (Duellman et al., 1997; Garcia et
al., 2001, 2003, in press).
Hypsiboas semiguttatus was described by A. Lutz (1925) from a
specimen collected in the highlands of Serra do Mar at Santa Catarina State,
Brazil. Kwet and Di-Bernardo (1999), and Garcia et al. (2003) considered
Hypsiboas semiguttatus as a widely distributed cryptic species.
Herein, we describe a new species from the highland streams of the
Atlantic Forest at Serra do Mar, State of São Paulo, Brazil. The new species
closely resembles Hypsiboas semiguttatus and others species from the same
clade (sensu Faivovich et al. 2004, 2005). Vocalizations, clutch, and tadpole are
17
also described, and we provide information on embryos, natural history,
geographic distribution, and conservation. We also include the species within
the phylogenetic framework of the H. pulchellus group advanced by Faivovich et
al. (2004, 2005).
Material and Methods
Adult specimens were manually collected, fixed in 10% formalin, and
maintained in 70% ethyl alcohol. Adults were measured with calipers to the
nearest 0.1 mm. Measurements of adults follow Duellman (2001). Abbreviation
used for the measurements of adults are: SVL (snout-vent length), HL (head
length), HW (head width), ED (eye diameter), EN (eye-nostril distance), NS
(nostril-snout distance), IN (internarial distance), IO (interorbital distance), TD
(tympanum diameter), FAL (forearm length), FAB (forearm breadth), HAL (hand
length), THL (thigh length), TIL (tibia length), TAL (tarsal length), FL (foot
length), and DAD (diameter of disk of finger III). Snout shape follows Heyer et
al. (1990). Webbing formulae follows the terminology of Savage and Heyer
(1967) as modified by Myers and Duellman (1982). Tadpoles and eggs were
fixed and preserved in 5% formalin. Tadpole measurements were made using a
caliper to the nearest 0.1 mm and an ocular micrometer in a Zeiss
stereomicroscope. Measurements of adults follow Mcdiarmid and Altig (1999).
Tadpole stages follow Gosner (1960) and tooth row formulae follow Altig (1970).
Cement gland shape follows terminology of Nokhbatolfoghahai and Downie
(2005).
18
Vocalizations were recorded in the field with Marantz PMD222 or Sony
TCM 82V tape recorders equipped with Sennheiser K6, AudioTechnica
AT835b, or Le Son SM-48 microphones. The vocalizations were analyzed and
edited using the Raven software (Charif et al. 2004). Calls were edited at
sampling frequencies of 22 and 44 kHz, and analyzed with FFT of 128 points. In
order to characterize the geographic distribution we searched for populations of
the new species in other locations surrounding the type locality, mainly on the
drainages in some regions of the Serra de Paranapiacaba, a segment of the
Serra do Mar, in the Southeastern Brazil.
To study the relationships of the new species described herein with the
Hypsiboas pulchellus group, and considering previous results of Faivovich et al.
(2004, 2005), we designed an analysis solely for this group. The specific
sampling for the group is the same as that included by Faivovich et al. (2005),
with the addition of the new species. For the outgroups we include one
exemplar of every species group of Hypsiboas recognized by Faivovich et al.
(2005), plus two species of Aplastodiscus, one of which is used as the root.
Overall, this outgroup sampling resembles that of Faivovich et al. (2004),
updated on the basis of the phylogenetic results of Faivovich et al. (2005).
Sequences of the new species for the mitochondrial genes 12S, the
intervening tRNA valine, 16S, and cytochrome b, and the nuclear genes
rhodopsin, RAG-1, 28S, and seventh in absentia were generated using the
primers and lab protocols of Faivovich et al. (2004, 2005). The fragment of
tyrosinase could not be amplified for this species; it was included in the analysis
19
as well for all other terminals for which it has been previously sequenced
(Faivovich et al., 2005).
The phylogenetic analysis was done using the program POY (Wheeler,
2002). The rationale for using parsimony as an optimality criterion was
advanced by Farris (1983) and recently discussed, among others, by Goloboff
(2003) and Goloboff and Pol (2005). The preference for the treatment of
sequence data as dynamic homologies simultaneously with tree search, as
opposed to static homology hypotheses (multiple alignments) independent of
tree search, has been justified by W heeler (1996, 2002) and De Laet (2005).
We obtained a quick consensus estimation (Goloboff and Farris, 2001),
as done by Faivovich et al. (2005), and used that topology as a constrain for
building 200 wagner trees followed by a round of tree bissection and
reconection (TBR) branch swapping. The final trees were submitted to a final
round of swapping without the constrain, using iterative pass optimization
(Wheeler, 2003). Bremer supports (Bremer, 1988), were calculated with POY;
parsimony Jacknife values (Farris et al., 1996) were estimated using TNT
(Goloboff, 2003), on the basis of the implied alignment generated by POY. Tree
edition was done with Winclada (Nixon, 1999, available:
http://www.cladistics.com.)
Hypsiboas kaapora, sp. nov.
F1
20
Holotype.—CFBH 7312 Brasil, São Paulo, Serra do Mar, Serra de
Paranapiacaba, Municipality of Pilar do Sul. Adult male collected by A.P.
Antunes, D.C. Briani, and A.T. Silva on 11 June 2004 (23º56' S and 47º40'W,
approximately 780 m above sea level).
Paratopotypes.—CFBH 5738–5742, 7313–7318, 8292–8297 (adult
males); 5743, 10873 (adult females); 7319–20 (juveniles). All collected between
August 2002–December 2005 by A.P. Antunes, F.L. Pincinato, F. Rohe, R.
Belmonte-Lopes, and E. Dahora.
Diagnosis.—A species included in t he Hypsiboas pulchellus group,
characterized by: (1) small to medium sized (SVL 29.7–37.5 mm in males and
37.6–44.3 mm in females); (2) body moderately robust; (3) beige, light-brown,
or golden color on background, with or without dark-brown spots or stripes on
vertebral, dorsolateral and/or head, or with large asymmetrical blotches that in
some specimens cover almost whole dorsum; (4) flanks with small bright spots,
cream or golden; (5) uniform pattern on the concealed parts of thigh; (6)
advertisement call with a metallic sound and distinct acoustic parameters (18
analyzed calls of at least eight males), composed by 14–48 pulses (32±10),
frequency range of 1.33–3.89 kHz, dominant frequency of 2.50–2.93 kHz
(2.67±0.12), and duration of 149.3–408.2 ms (249.0±73.2); (7) tadpoles with a
rostral gap in marginal papillation and tooth row formula 2(2)/4(1); (8)
reproduction in highland streams of the Atlantic Forest.
21
Comparisons.—Compared with Hypsiboas alboniger (Nieden, 1923), H.
cordobae (Barrio, 1965), H. cymbalum (Bokermann, 1963), H. joaquini (B. Lutz,
1968), H. melanopleurus (Boulenger, 1912), and H. riojanus (Koslowsky, 1895),
H. kaapora is smaller, without overlap in SVL (B. Lutz, 1973; Duellman et al.,
1997; Garcia et al., 2003). Hypsiboas balzani (Boulenger, 1898), H. cordobae,
H. cymbalum, H. ericae (Caramaschi and Cruz, 2000), H. guentheri (Boulenger,
1886), H. joaquini, H. marginatus (Boulenger, 1887), H. marianitae (Carrizo,
1992), H. prasinus (Burmeister, 1856), and H. pulchellus (Duméril and Bibron,
1841) present or may present predominant green dorsal coloration (B. Lutz,
1973; Duellman et al., 1997; Caramaschi and Cruz, 2000; Garcia et al., 2003),
not observed in H. kaapora. The new species differs from Hypsiboas alboniger,
H. andinus, H. balzani, H. bischoffi (Boulenger, 1887), H. caingua (Carrizo,
1991), H. cordobae, H. marianitae, H. prasinus, H. pulchellus, H. riojanus,and
H. secedens (B. Lutz, 1963), by the absence of any pattern on posterior surface
of thighs (B. Lutz, 1973; Duellman et al., 1997). Unlike Hypsiboas kaapora, H.
melanopleura and H. palaestes (Duellman, De La Riva, and Wild, 1997) lack
blotches on the flanks. Hypsiboas freicanecae (Carnaval and Peixoto, 2004)
present a metallic triangle on dorsum of snout, absent in H. kaapora.From
Hypsiboas beckeri (Caramaschi and Cruz, 2004), H. buriti
(Caramaschi and
Cruz, 1999), H. cipoensis (B. Lutz, 1968), H. goianus (B. Lutz, 1968), H.
latistriatus (Caramaschi and Cruz, 2004), H. leptolineatus (P. Braun and C.
Braun, 1977), H. phaeopleura (Caramaschi and Cruz, 2000), H. polytaenius
(Cope, 1870), and H. stenocephalus (Caramaschi and Cruz, 1999) , H. kaapora
differs by the absence of well-defined longitudinal stripes on the dorsum and by
22
its more robust body. Besides being larger, Hypsiboas joaquini shows white
bright blotches on limbs, absent in H. kaapora; moreover, H. joaquini inhabits
open areas, whereas H. kaapora inhabits forested areas. Hypsiboas kaapora is
most similar with H. semiguttatus and mainly with a new species of Hypsiboas
from Argentina, from which it differs in duration of advertisement call of the
former, and dominant frequency and larval morphology of later The duration of
the advertisement call in Hypsiboas semiguttatus (437.7–917.0 ms, N=19;
Garcia et al., in press) is longer than that of H. kaapora (149.3–408.2 ms, N=18)
and present pulses more irregularly spaced. Furthermore, Hypsiboas kaapora
has more robust body and its bright spots on flanks are less evident than in H.
semiguttatus. The advertisement call of Hypsiboas kaapora has higher
frequencies, with dominant frequency of 2.50–2.93 kHz (2.67±0.12, N=18),
while in the new species of Hypsiboas from Argentina the dominant frequency is
1.2–2.2 kHz (1.7±0.4, N=12; Garcia et al., in press). In addition, the tadpole in
H. kaapora has rostral papillation with a gap (continuous papillation in the
species from Argentina), and 2/4 labial tooth row formula (vs. 3/5 in the species
from Argentina; Faivovich, 1996, as Hyla semiguttata).
Description of holotype. Body moderately robust; head slightly wider
than long; head length about 35% of SVL; snout rounded in dorsal view and
nearly rounded to truncate in profile; pupil horizontal; canthus rostralis distinct;
nostrils slightly protuberant, oval and directed laterally; internarial distance
slightly smaller than eye-nostril distance; loreal region concave; vocal sac
subgular; tympanum distinct, its diameter nearly 35% of eye diameter (Figs.
23
2A–B). Dorsal and flank skin texture smooth; ventral skin texture slightly
granular; scars on the dorsum and flanks. Hypertrophied forearms and
projecting prepollical spines; ulnar fold present with small tubercles linearly
distributed on posterior region of forearms; no nuptial pads; hand large; palmar
surface with many small supernumerary tubercles; inner and outer metacarpal
tubercles indistinct; relative length of f ingers I < II < IV < III; subarticular
tubercles single and rounded; discs of fingers well-developed; width of disk on
finger III larger than tympanum diameter (about 115 %); hand webbing formulae
I–II (2
+
–3
-
) III (2.5–2
+
) IV; disk of finger I smaller than in other fingers (Fig. 2C).
Hind limbs elongate and slender; thigh length slightly longer than tibia length
and about 55 % of SVL; plantar surface with many small tubercles; relative
length of toes I < II < V < III < IV; adhesive discs of toes well-developed; foot
webbing formulae I (2
–2
+
) II (1–2.5) III (1.5–3
½
) IV (2.5–1) V; inner metatarsal
tubercle present and oval; outer metatarsal tubercle absent; subarticular
tubercles single and rounded (Fig. 2D).
F2
Color in life.—Dorsal background color light-brown to slightly golden, with
supernumerary small dark-brown spots and large asymmetrical dark-brown
blotches; iris golden; region between eye and nostril with a dark-brown stripe;
supralabial stripe cream to golden, extending from the snout to the insertion of
arm, less evident on snout tip and fragmented near the tympanum; a
dorsolateral dark-brown stripe from eyelid to inguinal region delimited superiorly
24
by a bright cream to golden stripe; flanks brown to grayish, with small bright
spots, cream to golden; limbs background color light-brown with supernumerary
small dark-brown spots, except on the prepollex; nearly round dark-brown
blotches on the surfaces of limbs, mainly on tibia and forearm; ulnar fold cream;
a longitudinal dark-brown line delimited anteriorly by a thin beige line on thigh,
from vent to knee; lack of any pattern on the hidden of thigh; outer region of
tibia and forearm with a longitudinal stripe often dark-brown; region
surroundings the vent with small beige spots; ventral surfaces white to cream;
gular region darker compared to the ventral coloration; green bones,
Coloration in preservative.—In 70% ethanol dorsal and limbs coloration
become grayish-brown. Supralabial and dorsolateral stripes become white.
After some time, blotches on dorsum become less evident, as well as the green
color, which tends to disappear.
Measurements of holotype (in mm).— SVL 33.0; HL 11.6; HW 12.0; ED
4.2; EN 2.6; NS 1.5; IN 2.7; IO 6.8; TD 1.5; FL 6.7; FB 3.3; HAL 11.1; THL 18.4;
TIL 18.1; TAL 11.2; FL 15.3; DAD 1.7.
Variation.—Variation in size of Hypsiboas kaapora is shown in Table I.
The dorsal coloration is (N = 19 paratopotypes): uniform pattern (N = 3) with
beige to light-brown without dark blotches (Fig. 3A). Within the same light
colored dorsal background, there are individuals with s inuous dark-brown lines
dorsolateraly slightly visible and with variable extension, from inguinal region to
25
the insertion of arms, recorded in specimens not collected (Fig. 3B); with dark-
brown spots and/or stripes (N = 8), concentrated on head and on vertebral
and/or dorsolateral area (Figs. 3C–F). In ornamented individuals (N = 5) dark
spots coalesce to form blotches of irregular size and shape on dorsum,
frequently covering part of head, except the snout (Figs. 3G–J); in some
individuals (N = 3) the dark brown blotches cover almost all dorsum and present
beige to light-brown blotches (Figs. 3K–L). The space between eye and nostril
generally has the background color ( beige to light-brown) and may present
some small dark brown spots (Fig. 3L). Figure 3 shows the variation on the
color pattern from specimens photographed in the field. The dorsolateral dark
and bright stripes have variable width and may be fragmented in the inguinal
region. Gular region sometimes darker compared to ventral coloration. Bones,
tympanum, and vocal sac may be green or not. Females do not show
hypertrophied forearms and the prepollex is smaller. Females can present a
slightly olivaceous coloration distributed on background (N = 2), not observed in
males. Variations in hand and foot webbing formulae are respectively: I–II (2
+
2
+
)–(2
–3
-
) III (2.5–2
)–(2
–2
) IV; I (1.5–2
+
)–(2
–2
)II(12
+
)–(1–2.5) III (1–2
½
)–
(1.5–2
)IV(2
½
–1)–(2.5–1) V. The dissection of the referred specimen CFBH
14198 indicates the absence of the slip of the muscle depressor mandibulae
that originates at the level of the m. dorsalis scapulae.
T1
F3
26
Vocalizations.—The advertisement call is a metallic sound and consists
of one short single note (single advertisement call; Fig. 4A) and less frequently
of two notes (complex advertisement call; Fig. 4B). At an air temperature of 16–
20 C, the single advertisement calls (18 calls analyzed of at least eight males)
are composed of 14–48 pulses (32±10), with frequency between 1.33–3.89
kHz, dominant frequency of 2.50–2.93 kHz (2.67±0.12), and duration of 149.3–
408.2 ms (249.2±73.2). Harmonics were not always evident in the spectrogram.
The advertisement call has, in general, ascendent frequency and intensity, with
one peak of energy concentrated near the final part of the call. The pulses are
frequently overlapped.
F4
The complex advertisement call (two analyzed calls of one male), at an
air temperature of 4 C, consists of one first note, apparently the same note of
the single advertisement call, with duration of 335–385 ms, 32–35 pulses,
frequency range of 1.44–3.68 kHz, and dominant frequency of 2.42–2.75 kHz,
and of a second note with duration of 146–193 ms, 13–15 pulses, frequency
range of 1.54–3.68 kHz, and dominant frequency of 2.40–2.75 kHz (Fig. 4B).
This call was recorded in isolated and aggregated males, but was conspicuous
at courtship.
Territorial calls were emitted during agonistic interactions between males
and consisted of a single note (single territorial call; Fig. 4C) or two notes with
27
short duration (complex territorial call; Fig. 4C). At an air temperature of 19 C,
duration of the single territorial call (four calls analyzed of one male) was 31.5–
42.4 ms (36.6±4.5), frequency range of 1.21–3.33 kHz, and dominant frequency
of 2.07–2.42 kHz (2.21±0.17). In the complex territorial call (two analyzed calls
of one male), at an air temperature of 19 C, the first note had a duration of
31.5–34.5 ms, frequency range of 1.28–2.89 kHz, and dominant frequency of
1.90–2.07 kHz. The duration of the second note was 25.4–26.9 ms, frequency
range of 1.35–2.93 kHz, and dominant frequency of 1.89–2.07 kHz. The
duration of the complex territorial call was approximately 144–158 ms.
Territorial calls had descendent intensity and frequency.
Distress calls (Fig. 4D) were recorded when a male was collected by his
legs. The calls were variable, even in the same individual, mainly in relation to
the duration (62–640 ms), dominant frequency (2.75–7.57 kHz), and number of
pulses (37–256). This call has harmonic structure with sound energy distributed
over a wide range of frequencies (1.0–15.9 kHz).
Natural history.—Adult males were registered calling in all months along
the year. They call at night from the marginal vegetation of streams inside the
forest, generally at heights varying from 0.5 to 1.5 m above water. Males start to
emit advertisement calls during the sunset and ceased during the sunrise, with
one peak in the dusk and other in the end of the night. Males vocalize
sporadically; intervals between the advertisement calls were long, from few
minutes to hours of duration. Eventually males vocalize in chorus, apparently
stimulated by nearby calling individuals. Most adult males have scars on the
28
dorsum, likely caused by prepollical spines of other males during territorial
combats, as commonly occur in other species of Hypsiboas (for a review see
Faivovich et al., 2005). Amplected females carried the males to the water. Then,
they submerged searching for a local to spawn, generally roots of the marginal
vegetation, exposed inside the water. Reproduction seems to occur throughout
the year, and from 2002 to 2006 was recorded in January, March, May, July,
August, September, November, and December.
During the day, reproductive males hid mainly in the leaf litter, near the
margins of the streams and rarely emitted vocalizations. Defensive behaviors
comprise primarily crypsis and immobility, and secondarily liquid cloacal
discharges, escaping to ground or water, and when handled, inflating the lungs,
aggression with the prepollical spine, tanathosis, distress calls, and a peculiar
odor. An adult male was preyed by the snake Tropidophis paucisquamis
(Serpentes: Tropidophiidae) in the field.
Tadpoles aggregate in the backwaters near the margins of streams and
apparently they are more active at night. Newly metamorphosed froglets were
observed on the vegetation along the stream in December and January, and
have a total length of 18.0–19.9 mm (N=3).
Egg-mass and embryos.—Eggs are individually surrounded by
gelatinous capsules which are generally attached to roots of the marginal
vegetation, exposed inside the water. One clutch obtained in the field in January
2004 was collected the following day of oviposition and the embryos had a total
length of about 5 mm. All the eggs were fertilized, giving rise to 72 tadpoles,
29
some of which were raised in the lab to confirm the identification of the tadpole
employed in the description. Another clutch obtained in captivity had 64 eggs.
Eggs have a diameter of 2.3–2.8 mm and are surrounded by capsules with a
diameter of 4.4–5.0 mm. Embryos develop within the gelatinous capsules.
Embryos and early larvae presented Type A cement gland, located on the
anteroventral side of the head. Embryos at developmental stage 21 with total
length about 8.5 mm and body length about 4.3 mm (N=2) show two lateral gill
tufts, each one originating from the region between eye and oral disc, with a
length of about 2.5 mm.
Tadpole.—One tadpole of Hypsiboas kaapora was collected in the
stream at the type locality, at the developmental stage 28 (Gosner, 1960), and
has the following measurements (mm): total length 34.1; body length 14.2; tail
length 20.8; body height 8.7; body width 9.1; caudal height 9.5; nostril diameter
0.5; snout-spiracle distance 10.6; eye diameter 1.8; internarial distance 2.5;
interorbital distance 4.2; eye-nostril distance 2.6; oral disc diameter 4.5.
Body ovoid and robust (Fig. 5), corresponding to approximately 40% of
total length; body wider than high; in profile; snout rounded in lateral and dorsal
views; eye large and dorsolateral, its diameter about 15% of body length;
nostrils oval with a small elliptic projection on its inner margin; caudal height
about 45% of tail length; tail musculature well-developed; height of ventral fin
about 75% of dorsal fin; origin of dorsal fin on body; spiracle medium sized,
wide, sinistral, and directed posterodorsally; cloacal tube large and opening
laterally on the right side of ventral fin; well-developed oral disc, ventral,
30
subterminal, not visible in dorsal view, and about 50 % of body width; marginal
papillae surrounding the oral disc, except for a rostral gap (about 10% of oral
disc); labial tooth row formula is 2(2)/4(1) ( Fig. 5D), being P(4) shorter than
other rows and located near the border of marginal papillae; small flaps with
labial teeth on the lateral areas of the oral disc; free margin of both j aw- sheaths
serrated, anterior larger than the inferior; coloration in life brownish with dark-
brown, gray, and reddish blotches; coloration in preservative grayish-brown.
F5
Geographic distribution and conservation.—Three populations of
Hypsiboas kaapora are known from the municipalities of: Pilar do Sul (23º58'S
and 47º41'W; 23º56'S and 47º42'W; 23º56'S and 47º40'W), Sete Barras
(24º07'S and 47º59'W), and São Miguel Arcanjo (23º59'S and 47º52'W), located
in the mountains of Serra de Paranapiacaba, segment of the Serra do Mar,
southern of São Paulo State, Brazil (Fig. 6). In this section occur the more
preserved remnants of the Atlantic Forest of Brazil. This species was found only
inside the forest at the highlands, at an altitude of 700–800 m. Apparently, the
reproduction of Hypsiboas kaapora is restricted to some larger streams
pertaining to Alto Paranapanema and Ribeira de Iguape river basins. The
populations of Sete Barras and São Miguel Arcanjo are in an officially protected
area, the Carlos Botelho State Park
F6
31
Etymology.— The name kaapora is based on a specific epithet derived
from the Tupi indigenous language meaning forest inhabitant (kaa = forest +
pora = inhabitant; Bueno, 1982). It refers to the habitat where the new species
is found: the Atlantic Forest at Serra do Mar in Southeastern Brazil. Also, it
refers to a personage of Brazilian folklore, which may present distinct
interpretations according to the different areas of the country, in all cases it is
related to the life in the forest (Cascudo, 1954).
Phylogenetic relationships.—The analysis resulted in 2 most equally
parsimonious trees/alignment combinations with length 4365 steps that were hit
15 independent times (Fig. 7). Overall, relationships hypothesized among
outgroups differ from those resulting from the much densely sampled analysis
of Faivovich et al. (2005). However, we do not consider these results to be a
rigorous test of their hypothesis, as our sampling of these groups is much
restricted and these terminals are only intended to be outgroups of our group of
interest.
The two most parsimonious trees differ only in the position of H.
leptolineatus, being either the sister taxon of H. latistriatus + H. polytaenius,or
the sister taxon of the group composed of H. kaapora, H. joaquini, H.
semiguttatus, and Hypsiboas sp. Hypsiboas kaapora obtains as the sister taxon
of H. semiguttatus, and together both make the sister taxon of the new species
from Argentina and H. joaquini (Garcia et al., in press).
32
F7
Discussion
Hypsiboas kaapora is a member of H. pulchellus group, as
suggested by its overall similarity with H. semiguttatus and corroborated by the
phylogenetic analysis. Besides the molecular synapomorphies that support this
group, the only putative morphological synapomorphies so far suggested for
this group are the absence of the slip of the muscle depressor mandibulae that
originates at the level of the m. dorsalis scapulae (Faivovich et al., 2005).
The description of Hypsiboas kaapora adds a fourth species to the clade
composed of H. semiguttatus and species previously confused with it. Garcia et
al. (in press) stated that besides the molecular evidenc e they are still unaware
of morphological synapomorphies supporting the monophyly of the clade
composed of H. joaquini + H. semiguttatus + the new species from Argentina, to
which we should add H. kaapora. The superficial similarity among these species
is striking, and possibly further research will allow defining character states
related to their color patterns.
Hypsiboas kaapora, H. semiguttatus, H. joaquini, and the new species of
Hypsiboas from Argentina present several similar characters that make difficult
their diagnoses. The dorsal coloration of H. semiguttatus and of the new
species from Argentina varies from uniform pattern to presence of dark-brown
dorsal spots or stripes in vertebral and/or dorsolateral area. Although this
pattern occurs in Hypsiboas kaapora, it is frequent the fusion of spots, forming
33
asymmetrical dark-brown blotches, which in some specimens cover almost
whole dorsum. Generally, Hypsiboas kaapora is smaller than its two closely
related species, but overlap in SVL occurs, mainly with new Hypsiboas from
Argentina. Thus, beyond the morphology, biological characters, as the
advertisement call, the most easily recognized differential character, and habitat
are essential in the characterization of these species. Still, some undescribed
species externally resembling Hypsiboas semiguttatus occur in the Southern
Brazil and Argentina.
The geographic distribution of the f our species from this clade is probably
allopatric; the species inhabit relatively distinctive vegetational formations,
associated with mountain areas, reproducing along the streams. Hypsiboas
joaquini is known from the highlands of Serra Geral, in the South Brazil, in open
formations and Araucaria Forest on the plateau (Garcia et al., 2003). Recently,
the geographic distribution of Hypsiboas semiguttatus was restricted to Serra do
Mar of Southern Brazil, a region with influence of Araucaria Forest and Atlantic
Forest, while the new species of Hypsiboas from Argentina, previously
considered H. semiguttatus, is known from the Araucaria Forest and Seasonal
Forest of Misiones in Argentina and part of western border of Southern Brazil
(Garcia et al., in press). Hypsiboas kaapora presents geographic distribution at
lower latitudes and inhabits Atlantic Forest, but the presence of few remnants
and isolated trees of Araucaria angustifolia in the reverse border of the Serra de
Paranapiacaba show the influence of Araucaria formation in this region,
probably more intense in the beginning of Holocene (see Viadana, 2002). At the
moment, the known geographic distribution of this clade suggest high
34
relationship with Araucaria formation and the surrounded transitional areas, that
are formations mainly associated with the subtropical plateau of the Southern
Brazil and part of Argentina (Ab’Sáber, 2003).
The taxonomic distribution of the structure of the larval cement glands in
Hylinae hylids is still very poorly known, being mostly restricted to the
observations of Nokhbatolfoghahai and Downie (2005), on a few species of
Hypsiboas, Dendropsophus, and Trachycephalus.WithinHypsiboas,
Nokhbatolfoghahai and Downie (2005) reported their type A morphology in H.
crepitans (a member of the H. faber group) and H. geographicus (H.
semilineatus group). Cement gland morphology has also been quite
superficially described or illustrated in H. heilprini (H. albopunctatus group;
Noble, 1927), H. rosenbergi (H. faber group; Breder, 1946), and H. pugnax (H.
faber group; Chacon-Ortiz et al., 2004). Our observations of a Type A
morphology in embryos and early larvae of H. kaapora are the first report on
cement gland morphology in a species of the H. pulchellus species group.
Additional research is still needed to provide information on the presence and
developmental pattern of the cement gland in hylids.
Material Examined
Hypsiboas andinus.—Argentina: Tucumán: Estancia Agua Negra, Sierra
de Medina (CFBH 4036–4037). Catamarca: Puesto Río Blanco (CFBH 4040).
Toma del Río Andalgalá (CFBH 4039). Tucumán: Dique La Angostura, Tafi del
Valle (CFBH 4038). Hypsiboas beckeri.—Brasil: Minas Gerais: São Tomé das
Letras (CFBH 7416–7420, 7422–7424). Hypsiboas bischoffi.—Brasil: Rio
35
Grande do Sul: São Francisco de Paula (CFBH 3676). Santa Catarina: São
Bento do Sul (CFBH 3010, 3014). Rancho Queimado (CFBH 3358). São Paulo:
Barra do Turvo (CFBH 6343). Jundiaí (CFBH 0718). Ribeirão Branco (CFBH
2137, 6821). São Paulo (CFBH 5689). Hypsiboas cipoensis.—Brasil: Minas
Gerais: Serra do Cipó, Santa do Riacho (CFBH 0289). Hypsiboas ericae.—
Brasil: Goiás: Alto Paraíso de Goiás, Chapada dos Veadeiros (CFBH 3599–
3604). Hypsiboas goianus.—Brasil: Goiás: Silvânia (CFBH 2666, 4167–4168).
Hypsiboas joaquini.—Brasil: Santa Catarina: Urubici (CFBH 3281–3289, 3624–
3630). Hypsiboas latistriatus.—Brasil: São Paulo: Campos de Jordão (CFBH
9902, 9865). Rio de Janeiro: Itatiaia (CFBH 9866). Hypsiboas leptolineatus.—
Brasil: Santa Catarina: o Domingos (CFBH 7166–7169). Hypsiboas
marginatus.—Brasil: Rio Grande do Sul: São Francisco de Paula (CFBH 3078,
3090–3097, 3413). Hypsiboas phaeopleura.—Brasil: Goiás: Alto Paraíso de
Goiás, Chapada dos Veadeiros (CFBH 3598). Hypsiboas polytaenius.—Brasil:
Rio de Janeiro: Maringá, Distrito de Itatiaia (CFBH 5746–5752). Hypsiboas
prasinus.—Brasil: Minas Gerais: Monte Verde (CFBH 7475). São Paulo:
Jundiaí, Serra do Japi (CFBH 0002, 0694, 0729, 7413). São Paulo: Ribeirão
Branco (CFBH, 6887, 6893). Santa Catarina: Lages (CFBH 0074). Hypsiboas
pulchellus.—Brasil: Rio G rande do Sul: São Francisco de Paula (CFBH 3374–
3379). Hypsiboas semiguttatus.—Brasil: Paraná: Piraquara, Mananciais da
Serra (CFBH 3364, 3379–3381, 3704–3707, 5000). Hypsiboas
stenocephalus.—Brasil: Minas Gerais: Cristina ( CFBH 9918, 9862, 9863).
Hypsiboas sp. (aff. semiguttatus.—Argentina: Misiones: San Vicente (CFBH
3444-3446, 4908-4910).
36
[Genbank numbers of the newly sequenced species will be added after
final decision of the editor regarding acceptance of the present Ms]
Genbank numbers of the sequences employed: All sequences generated
by Faivovich et al. (2004, 2005). Refer to these publications for voucher
collection number and locality: Aplastodiscus eugenioi (AY843669, AY843913,
AY844660, AY844456, AY844875), A. perviridis (AY843569, AY843791,
AY844543, AY844366, AY844025, AY844771, AY844201), Hypsiboas
albopunctatus (AY549317, AY549370, AY844569, AY844041, AY844795), H.
andinus (AY549319, AY549372, AY844573, AY844387, AY844799), H. balzani
(AY549323, AY549376, AY844582, AY844395, AY844806, AY844226), H.
benitezi (AY843606, AY843830, AY844583, AY844396, AY844227), H.
bischoffi (AY549324, AY549377, AY844586, AY844398), H. caingua
(AY549326, AY549379, AY844591, AY844057, AY844812, AY844234), H.
kaapora (XXXXX, XXXXX, XXXXX, XXXXX, XXXXX), H. cordobae (AY549330,
AY549383, AY844600, AY844411, AY844066, AY844819, AY844244), H.
ericae (AY549332, AY549385, AY844605, AY844416, AY844071), H. faber
(AY549334, AY549387, AY844607, AY844825), H. guentheri (AY843631,
AY549390, AY844612, AY844830, AY844253), H. joaquini (AY549339,
AY549392, AY844616, AY844421, AY844834, AY844256), H. latistriatus
(AY549360, AY549413, AY844668, AY844293), H. leptolineatus (AY549341,
AY549394, AY844621, AY844424, AY844083, AY844839, AY844260), H.
marginatus (AY549342, AY549395, AY844624, AY844426, AY844842,
37
AY844263), H. marianitae (AY549344, AY549397, AY844625, AY844427,
AY844843), H. polytaenius (AY843655, AY843895, AY844641, AY844443,
AY844859), H. prasinus (AY549347, AY549400, AY844642, AY844100,
AY844860), H. pulchellus (AY549352, AY549405, AY844644, AY844445,
AY844102, AY844862, AY844278), H. punctatus (AY549353, AY549406,
AY844645), H. riojanus (AY549355, AY549408, AY844648, AY844447,
AY844865, AY844279), H. rufitelus (AY843662, AY843905, AY844652,
AY844105, AY844867, AY844282), H. semiguttatus (AY549357, AY549410,
AY844655, AY844452, AY844870, AY844285), H. semilineatus (AY843778,
AY843779, AY843909, AY844656, AY844453, AY844108, AY844871,
AY844286), Hypsiboas sp. (AY549359, AY549412, AY844880).
38
Acknowledgments
We thank: F. Rohe, F. Pincinato, A. T. Silva, G. Correia, J. Cosme, B. G.
Luize; L. F. Toledo, C. F. Tófoli, E. Dahora, C. Zacchi-Neto, R. Belmonte-Lopes,
M. M. da Silva, and M. Silveira for assistance in the field. C. P. A. Prado for
critically readings the manuscript. C. P. A. Prado, C. S. Antunes, and A. S.
Antunes for the Englis h version. C. Zacchi-Neto and M. Forlani for information
about geographic distribution of populations from Carlos Botelho State Park. J.
Somera for fine line drawings. L. O. M. Giasson, L. F. Toledo, and M. Grid-Papp
for help with the vocalization analyze. Eucatex/SA for permitted access in the
study area. For granting unrestricted access to his lab we thank W. C. Wheeler.
Permits for collection were issued by IBAMA/RAN, licenses 057/03 and 054/05.
FAPESP (procs. 01/13341–3 and 04/10974–3) for financial support. CNPq for
the grant and fellowship to C. F. B. Haddad. J. Faivovich thanks the American
Museum of Natural History, and National Science Foundation Grant DEB–
0407632 for the financial support.
39
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Wheeler, W. C. 1996. Optimization alignment: the end of multiple
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Wheeler, W. C. 2002. Optimization alignment: down, up, error, and
improvements. In R. De Salle, G. Giribet, and W.C. Wheeler (editors),
Techniques in molecular systematics and evolution: 55–69. Bassel: Birkhau¨ser
Verlag.
44
Wheeler, W. C. 2003. Iterative pass optimization of sequence data.
Cladistics 19: 254–260.
45
Laboratório de Herpetologia, Departamento de Zoologia, I. B.,
Universidade Estadual Paulista. Av 24a, 1515 Jardim Bela Vista 13506-900.
Rio Claro, São Paulo, Brasil. Cx. Postal 199. E-mail: [email protected],
46
Legends of Figures
Fig. 1. Hypsiboas kaapora. Holotype (CFBH 7312) adult male in life.
Fig. 2. Hypsiboas kaapora. Holotype (CFBH 7312). (A) Head in dorsal
view; (B) head in lateral view; (C) left hand in ventral view; (D) left foot in ventral
view.
Fig. 3. Variation of dorsal coloration of Hypsiboas kaapora. (A) Uniform;
(B) with sinuous dark-brown lines on the dorsolateral region; (C–F) with dark-
brown spots and/or stripes, concentrated on head, vertebral and/or dorsolateral
region; (G–J) ornamented with asymmetrical dark-brown blotches; and (K–L)
almost all dark-brown dorsum with beige to light-brown blotches.
Fig. 4. Spectrogram (above) and oscilogram (below) of the vocalizations
of Hypsiboas kaapora. (A) Single advertisement call (December 2003; air
temperature 20 C); (B) complex advertisement call (August 2003; air
temperature 4 C); (C) single and complex territorial calls (November 2004; air
temperature 19.5 C); and (D) distress calls (October 2004; air temperature 13
C). Graphics in the same scale, except the scale of frequency in D.
Fig. 5. Tadpole of Hypsiboas kaapora in stage 28. (A) Lateral view; (B)
dorsal view; (C) ventral view; and (D) oral disc.
Fig. 6. Geographic distribution of Hypsiboas kaapora: (bold circle) type
locality and (empty circles) other two populations.
Fig. 7. One of the two most parsimonious trees (length 4365 steps)
resulting from the phylogenetic analysis of the Hypsiboas pulchellus species
group. Arrow points to the only difference between the two most parsimonious
trees, the alternative placement of H. leptolineatus. Black circles indicate nodes
47
recovered in the quick consensus estimation (see text). Numbers above nodes
are Bremer supports, number below are Parsimony Jackknife frequencies.
Asterisks indicate Parsimony Jackknife frequencies of 100%. Branch lengths
proportional to number of transformations; not all loci are available for all
terminals (Faivovich et al., 2005 for details).
48
Figure 1
49
Figure 2
A
B
CD
50
Figure 3
51
Figure 4
52
Figure 5
A
B
C
D
53
Figure 6
54
Figure 7
55
TABLE I
Measurements in millimeters (range, mean, and standard deviation) of
Hypsiboas kaapora new species.
ƃƃ (N=18)
Characters Range Mean Standard Deviation
Ƃ (N=2)
SVL
29.7 - 37.5 33.4 2.3 37.6 - 44.3
HL
10.3 - 12.4 11.6 0.7 13.2 - 14.9
HW
10.9 - 12.7 11.8 0.6 13.8 - 15.2
ED
3.2 - 4.4 4.0 0.2 4.0 - 4.8
EN
2.2 - 3.1 2.5 0.2 3.0 - 3.5
NS
1.3 - 1.8 1.5 0.2 1.7 - 1.9
IN
2.4 - 2.9 2.7 0.2 3.0 - 3.3
IO
6.2 - 6.9 6.4 0.2 7.0 - 8.3
TD
1.3 - 1.7 1.5 0.1 1.8 - 2.2
FAL
5.7 - 7.2 6.4 0.3 7.7 - 7.9
FAB
2.6 - 4.2 3.2 0.3 3.4 - 3.5
HAL
10.3 - 12.4 11.1 0.5 12.5 - 13.6
THL
16.0 - 20.0 17.9 0.8 20.3 - 21.5
TIL
15.5 - 19.2 17.3 0.8 20.1 - 20.3
TAL
9.5 - 11.9 11.0 0.6 12.7 - 12.9
FL
13.1 - 16.3 14.5 0.8 16.0 - 19.8
DAD
1.5 - 2.0 1.7 0.1 1.9 - 2.3
56
CAPÍTULO II
HISTÓRIA NATURAL DE UMA NOVA ESPÉCIE
DE HYPSIBOAS DOS RIACHOS DA MATA ATLÂNTICA,
ALTO DA SERRA DE PARANAPIACABA, SÃO PAULO
(AMPHIBIA, ANURA, HYLIDAE)
57
INTRODUÇÃO
O padrão de distribuição espacial de uma população reflete
principalmente a heterogeneidade de hábitats ocupados e as interações sociais
entre seus indivíduos (R
ICKLEFS
2001). Considerando a distância média entre
os indivíduos, três padrões de distribuição são conhecidos (e.g., K
REBS
1994,
1998): (1) randômico, onde se encontram espalhados de forma aleatória, sem
que haja interferência entre eles; (2) uniforme, no qual se distanciam de forma
relativamente homogênea uns dos outros e isso decorre geralmente, das
interações comportamentais entre eles; (3) agregado, caso que normalmente
resulta da predisposição dos indivíduos em agrupar-se ou devido à
heterogeneidade de hábitats e recursos necessários à reprodução ou à sua
sobrevivência.
Nos anfíbios anuros é principalmente durante a reprodução que ocorrem
as interações sociais envolvendo coespecíficos, período em que se constituem
os agregados formados por machos, que vocalizam em coros (W
ELLS
1977b;
S
ULLIVAN
et al. 1995). A vocalização no grupo tem importante função na
comunicação entre os indivíduos e são emitidas em contextos sociais distintos,
tanto para manter o espaçamento entre os machos, assim como para atrair as
fêmeas para a reprodução (W
ELLS
1977b, 1988; D
UELLMAN
&T
RUEB
1986). O
período reprodutivo pode acontecer (1) de forma explosiva, com duração de
58
poucos dias ou (2) prolongada (W
ELLS
1977b). A reprodução contínua é
atribuída às espécies que se reproduzem ao longo do ano todo (C
RUMP
1974).
Normalmente, durante a reprodução os machos defendem os locais
onde se estabelecem e que o utilizados principalmente como poleiros de
vocalização, para a corte ou oviposição (W
ELLS
1977b; D
UELLMAN
&T
RUEB
1986). Nas espécies arborícolas da família Hylidae são comuns
comportamentos agressivos entre os machos para a defesa territorial (B. L
UTZ
1960; F
ELLERS
1979a), que, em geral, obedecem a um escalonamento de
agressividade (K
LUGE
1981; M
ARTINS
et al. 1998). Inicialmente a defesa do
território ocorre pela emissão de vocalizações de anúncio, seguida de
vocalização territorial, exibições posturais e/ou sinalizações visuais e,
eventualmente, resulta em combates físicos (revisão em H
ADDAD
1989).
A territorialidade ocorre principalmente em espécies de anuros de
reprodução prolongada, em que a chegada das fêmeas acontece de f orma
assincrônica (W
ELLS
1977b). Essa f orma de reprodução permite maior grau de
escolha de um m acho pela fêmea, assim o sucesso reprodutivo dos machos
vai depender de sua habilidade em atrair as fêmeas para seus territórios, o que
pode ser maximizado sem a interferência de outros machos nas proximidades
(W
ELLS
1977b).
Considerando que o sucesso reprodutivo de um organismo depende do
seu tempo de sobrevivência, número de eventos reprodutivos ao longo da sua
vidaeotamanhoeasobrevivênciadesuaprole(R
ICKLEFS
2001), medidas
indiretas do sucesso reprodutivo são mais comumente adotadas em estudos
comportamentais. Por exemplo, o sucesso reprodutivo dos machos dos anuros
pode estar relacionado ao seu tamanho (H
ALLIDAY
&T
EJEDO
1995), embora em
algumas espécies possa existir uma proporção ótima no tamanho do casal em
amplexo, permitindo uma maior fertilização dos óvulos, devido à justaposição
das cloacas (e.g., B
ASTOS
&H
ADDAD
1996). Características físicas do canto de
anúncio, como sua freqüência ou intensidade (S
ULLIVAN
et al. 1995), ou ainda
sua complexidade (H
ADDAD
&C
ARDOSO
1992) são considerados atributos
importantes para o maior sucesso reprodutivo dos machos de espécies de
anuros. Da mesma forma o tempo de permanência no sítio reprodutivo pelos
59
machos é positivamente relacionado à aquisição de fêmeas para a reprodução
(W
ELLS
1977a; M
ARTINS
1993).
A seleção sexual, teoria proposta por Darwin mais de um século,
favorece características que confiram aos indivíduos vantagens no sucesso
reprodutivo em relação aos demais indivíduos (H
ALLIDAY
&T
EJEDO
1995). A
intensidade a qual estará agindo é proporcional à variação no sucesso
reprodutivo entre os indivíduos da população, ou seja, é r elacionada ao grau de
competição por parceiros, que depende da razão sexual operacional e do
esforço parental entre os sexos (E
MLEM
&O
RING
1977).
Entre as espécies de anuros é relatada grande variedade de padrões
comportamentais durante a corte (e.g., H
ADDAD
&G
IARETTA
1999; H
ADDAD
&
S
AWAYA
2000; M
AGNUSSON
et al. 1999), sendo com um os machos emitirem
vocalizações diferenciadas quando próximos das fêmeas (H
ADDAD
&C
ARDOSO
1992; M
ARTINS
1993; F
ELLERS
1979a) ou eventualmente estímulos visuais
(W
EYGOLDT
&C
ARVALHO E
S
ILVA
1992; H
ADDAD
&G
IARETTA
1999; M. H
ARTMANN
et al. 2004) ou táteis (H
ADDAD
&S
AWAYA
2000). Estas modificações
comportamentais durante a corte parecem influenciar na orientação das
fêmeas a respeito da localização dos machos (F
ELLERS
1979a).
O grupo de Hypsiboas pulchellus é o mais r ico em espécies dentro do
gênero Hypsiboas W
AGLER
, 1830, recentemente revalidado por F
AIVOVICH
et al.
(2005). Com 30 espécies descritas amplamente distribuídas pela América do
Sul, o grupo é geralmente assoc iado às regiões montanhosas (B. L
UTZ
1973;
D
UELLMAN
et al. 1997; F
AIVOVICH
et al. 2005). A reprodução ocorre em locais
diversificados, como em riachos, lagoas ou poças, dentro de florestas o u
paisagens abertas (B. L
UTZ
1973; D
UELLMAN
et al. 1997). Uma espécie em
particular, Hypsiboas semiguttatus (A. L
UTZ
, 1925), foco de recente estudo
taxonômico, foi considerada como um complexo de espécies distintas e sua
distribuição geográfica ficou restrita ao alto da Serra do Mar ao leste do Paraná
eSantaCatarina(G
ARCIA
et al. n o prelo). A espécie aqui estudada encontra-se
em fase de descrição e pertence a um c lado taxonomicamente confuso do
grupo de Hypsiboas pulchellus, formado por Hypsiboas semiguttatus, H.
joaquini, uma nova espécie de Hypsiboas da Argentina e algumas formas não
60
descritas do Sul do Brasil e possivelmente na Argentina ( veja capítulo 1). Para
estas espécies, a história natural e a biologia reprodutiva são relatadas em
notas de estudos mais amplos (B. L
UTZ
1973; K
WET
&D
I
-B
ERNARDO
1999) ou
taxonômicos (C
ARRIZO
1992; F
AIVOVICH
1996; G
ARCIA
et al. 2003; G
ARCIA
et al.
no prelo).
Realizamos aqui um estudo da história natural de Hypsiboas KAAPORA
em um riacho na borda oeste da Serra de Paranapiacaba, estado de São
Paulo, com ênfase na biologia comportamental da espécie. Apresentamos o
padrão de distribuição dos machos adultos na transecção analisada no estudo
e o relacionamos à s observações qualitativas de utilização do ambiente
reprodutivo. Descrevemos, em parte, o ciclo de vida da espécie, baseando,
principalmente, no recrutamento dos machos adultos. Avaliamos a
territorialidade dos machos adultos a partir: (1) do tamanho do território
defendido e do distanciamento entre eles na transecção; (2) de observações de
comportamentos agonísticos para defesa territorial e em um caso, realizado
diretamente para a aquisição de uma fêmea que se encontrava próxima aos
machos em combate; (3) do tempo de permanência no sítio reprodutivo e (4)
da análise de espécimes pr eservados em coleção científica de espécies
relacionadas, seguindo a filogenia proposta por F
AIVOVICH
et al. (2004, 2005),
para avaliar a proporção de machos adultos com cicatrizes. Apresentamos a
atividade diária e sazonal da espécieearazãosexualoperacional nos sítios
reprodutivos. Além disso, descrevemos o comportamento de corte e avaliamos
preliminarmente a escolha dos machos pelas fêmeas.
61
ÁREA DE ESTUDO
Com espetacular expr essão paisagística, a Serra do Mar compreende o
sistema de montanhas costeiras nas regiões Sul e Sudeste do Brasil com cerca
de 1000 km de extensão (A
B
’S
ABER
2003). Trata-se de um conjunto de
escarpas festonadas iniciado, provavelmente, no Cenozóico, a partir de
processos tectônicos surgidos por flexuras e falhamentos, que culminaram no
soerguimento do bloco ocidental da falha de Santos (A
LMEIDA
&C
ARNEIRO
1998). Planaltos e escarpas são sustentados por rochas resistentes de origem
alcalina, enquanto que falhas, fraturas, entre outros, devido à baixa resistência
diferencial a erosão, deram origem a grande parte dos sistemas de drenagens
(A
LMEIDA
&C
ARNEIRO
1998).
Em São Paulo a Serra do Mar apresenta feições típicas de borda de
planalto, com altitude relativamente nivelada, variando entre 800 e 1200 m
(A
LMEIDA
&C
ARNEIRO
1998). A abertura do vale do rio Ribeira de Iguape trouxe
fortes conseqüências para o Planalto Atlântico do estado. No sul de São Paulo
a borda do planalto é delimitada pela Serra de Paranapiacaba, mais interiorana
que o restante da Serra do Mar e com uma ampla planície costeira. Sustentada
pela Serra dos Agudos Grandes, seu cume divide as bacia do Alto
62
Paranapanema, drenada no planalto, da bacia do Ribeira, na vertente oceânica
da serra. O rio Ribeira de Iguape expandiu sua drenagem até o primeiro
planalto paranaense, interrompendo a continuidade da serra (A
LMEIDA
&
C
ARNEIRO
1998).
O Sudeste do Brasil constitui a região de maior diversificação climática
do país (N
IMER
1989). Segundo o autor, entre os fatores responsáveis
destacam-se sua posição latitudinal, situada em grande parte na zona tropical,
entre os paralelos 14º e 25º S. Nesta faixa a radiação solar é intensa, e o calor
gerado propicia altos índices de evaporação do ar atmosférico. Considerando a
sua proximidade com o Oceano Atlântico, que banha toda sua porção leste,
aumenta-se ainda mais as condições de evaporação e condensação.
Periodicamente a região é atingida pelas frentes polares, originadas na
Antártida. Em sua origem o ar é seco e frio, porém durante sua trajetória para o
norte, absorve calor e umidade do mar, tornando-o instável (N
IMER
1989). Tal
evento é responsável pela abundante precipitação no Sudeste, em especial
nas áreas serranas. As serras do litoral do Sudeste, paralelas ao oceano, se
confrontam com as frentes polares e as linhas de instabilidade associadas,
causando os maiores índices pluviométricos do país, que podem ultrapassar os
4500 mm. As nuvens e nevoeiros se formam pela ascendência do ar, que é
barrado pela serra e resfria-se rapidamente ao se elevar, diminuindo a
quantidade de vapor d’água que ele consegue conter, saturando e
condensando e, normalmente, resultando em fortes nevoeiros e chuvas. Na
escarpa da Serra do Mar constituem-se os domínios de clima Úmido (1 a 3
meses secos) e Superúmido (sem seca ou com subseca) (N
IMER
1989).
As superfícies mais elevadas da Serra do Mar apresentam Clima
Mesotérmico brando, com temperaturas amenas no ano todo (média em torno
de 18 a 19 ºC) (N
IMER
1989). A média no verão não ultrapassa os 22 ºC (em
geral entre 18 a 20º) e no inverno a média no mês mais frio fica em torno dos
15 ºC. Neste período podem estar presentes geadas em as mínimas podem
descender de 0 ºC (N
IMER
1989).
A área de estudo está localizada em um contínuo de Mata Atlântica da
Serra do Mar, precisamente no sul de São Paulo, onde é localmente
63
denominada de Serra de Paranapiacaba. Neste trecho encontram-se extensos
remanescentes de floresta nativa bem representados em Unidades de
Conservação.
A vegetação local é classificada por V
ELOSO
(1991) como floresta
Ombrófila Densa Montana. No entanto, trata-se de uma zona de ecótono, pois
apresenta também influência da Floresta Ombrófila Mista a sudoeste, e do
interior do Estado, da Floresta Estacional Semidecidual, além de encraves do
Cerrado e de Campos de Altitude (A
B
’S
ABER
, 2003).
A altitude está em torno dos 780 m, mas no cume da serra, localmente
denominada de Serra dos Agudos Grandes, picos com até 1070 m.
Os solos da região foram classificados por P
FEIFER
et al. (1986) como
latossolos vermelho-amarelo, reconhecidos como predominantemente
argilosos. A temperatura média da região no mês mais quente apresenta-se em
tornode2Cenomêsmaisfrioem1C.OclimaéclassificadocomoCfa
(subtropical úmido), segundo K
ÖPPEN
, e a precipitação média anual é de 1680
mm. Os dados climatológicos da região foram extraídos do programa DIVA-GIS
worldclim (resolução de 2,5 minutos), software disponível na rede (www.diva-
gis.org/) e aqui são apresentados na f igura 1. As temperaturas médias do ar e
da água no momento das coletas no decorrer do estudo são apresentadas na
figura 2.
64
Figura 1. Clima da área de estudo. Colunas representam pluviosidade média.
Quadrados representam médias das temperaturas máxima e m ínima. Sul do
município de Pilar do Sul, estado de São Paulo. Fonte DIVA-GIS. Worldclim 2005.
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
jan/04
fev/04
mar/04
abr/04
mai/0 4
jun/04
jul /04
ago/04
se t/0 4
out/04
nov/04
dez/04
jan/05
fev/05
mar/05
abr/05
mai/0 5
jun/05
jul /05
ago/05
se t/0 5
out/05
nov/05
dez/05
jan/06
fev/06
mar/06
abr/06
mai/0 6
temperatura do ar
temperatura da água
Mês/ano
Figura 2. Temperaturas médias do ar e da água do riacho no momento das
coletas noturnas entre janeiro de 2004 a maio de 2006. Ribeirão do Meio, Pilar do
Sul, estado de São Paulo.
Temperatura ºC
Temperatura ºC
Precipitação (mm)
65
O estudo foi realizado em Pilar do Sul, município localizado na borda do
planalto da Serra de Paranapicaba. A área pertence a reservas legais das
empresas Eucatex/SA e Cia. Suzano Celulose e Papel, além de conter outras
propriedades particulares e do Estado. Ao contrário do limite sul da área de
estudo, caracterizado pela extensa floresta, o limite norte apresenta-se
extremamente alterado, porque no pa ssado sua vegetação foi suprimida e
atualmente é composta basicamente por reflorestamentos de eucalipto
(Eucalyptus saligna) que, eventualmente, circundam pequenos fragmentos de
remanescentes de mata. Segundo relatos de moradores locais (Gerson Correia
e Júlio Cosme, com. pessoal.), as perturbações na vegetação local devem ter
sido iniciadas mais de um século e permaneceram até a década de 1960,
devido à extração parcial de madeiras de lei e outras sem valor econômico
significativo para produção de carvão. Atualmente, os impactos na área se
devem ao corte seletivo de eucalipto pelos empreendimentos locais e por
excursões ilegais constantes de grupos de palmiteiros para a extração do
Palmito-Juçara (Euterpe edulis) ou eventuais por grupos de garimpeiros para
extração do ouro em margens de alguns riachos.
A área de estudo está localizada em um riacho de cabeceira no interior
da mata a cerca de 2 km de sua borda. Segundo dados obtidos a partir do
levantamento de mapas cartográficos, o riacho apresenta diversas
denominações, como rio Claro (carta topográfica IBGE) ou rio Clarinho, ou
ainda ribeirão do Meio, este último mais comumente usado por moradores
locais e adotado neste estudo. O ribeirão nasce na vertente continental da
Serra de Paranapiacaba e pertence à sub-bacia hidrográfica Alto do
Paranapanema. As nascentes encontram-se em regiões de calcário, granito e
quartzito. Antes de atingir a borda da m ata, encontra com o ribeirão Claro de
porte ligeiramente maior. Fora da mata o ribeirão Claro deságua no rio Pinhal,
e este último no rio Itapetininga, até finalmente atingir o rio Paranapanema.
Freqüentemente nos referiremos ao ribeirão do Meio simplesmente por riacho.
Realizamos coletas esporádicas ao longo de todo o ribeirão do Meio,
assim como no ribeirão Claro. Também realizamos procuras nos córregos
66
tributários destas drenagens e em alguns riachos da bacia do Ribeira, na
vertente oceânica da Serra de Paranapiacaba.
Um trecho do riacho onde a espécie é encontrada com certa facilidade
foi escolhido para as amostragens mensais (23º 56' 49,2'' S, 47º 40' 36,5'' W)
(figuras 3 e 4). A largura do riacho no local determinado variava entre 2,5 a 5,5
m e a profundidade média cerca de 20 a 25 cm, embora houvesse alguns
poços com profundidade de 40 cm. O fundo é composto princ ipalmente por
seixos, cascalhos e areia grossa, eventualmente por rochas desnudas ou nos
locais de remanso, por argila e matéria orgânica. O dossel apresentava entre
25 a 35 m, com algumas clareiras.
67
Figura 3. Área de estudo: ribeirão do Meio, afluente do ribeirão Claro, município de
Pilar do Sul, estado de São Paulo. O local onde a transecção de 200 m foi
estabelecida encontra-se em vermelho.
68
Figura 4. Paisagens da área de estudo. (A) Vale do ribeirão do Meio; (B-C)
ribeirão do Meio; (D) vegetação marginal no ribeirão do Meio; (E) acampamento
na beira do ribeirão do Meio. Município de Pilar d o Sul, estado de São Paulo.
69
Encontramos na área de estudo 53 espécies de anfíbios anuros (tabela
1; figura 5). Seguindo a atual taxonomia do grupo (F
AIVOVICH
et al. 2005; F
ROST
et al. 2006; G
RANT
et al. 2006), as espécies se distribuem em 24 gêneros
pertencentes à 10 famílias. As famílias presentes são: Brachycephalidae (5
spp.), Amphignathodontidae (3 spp.), Hylidae (27 spp.), Centrolenidae (1 sp.).
Leptodactylidae (4 spp.), Leiuperidae (2 spp.), Cycloramphidae (4 spp.),
Hylodidae (2 spp.), Bufonidae (3 spp.) e Microhylidae (2 spp.).
Tabela 1. Lista de espécies de anfíbios anuros registradas na área de estudo.
Município de Pilar do Sul, estado de São Paulo.
AMPHIBIA Gray, 1825
BATRACHIA Latreille. 1800
ANURA Fischer von Waldheim, 1831
Brachycephalidae Günther, 1858
Eleutherodactylus binotatus (Spix, 1824)
Eleutherodactylus guentheri (Steindachner, 1864)
Eleutherodactylus hoehnei B. Lutz, 1959 "1958"
Eleutherodactylus cf. spanios Heyer, 1985
Eleutherodactylus sp.
Amphignathodontidae Boulenger, 1882
Flectonotus cf. fissilis (Miranda-Ribeiro, 1920)
Flectonotus ohausi (Wandolleck, 1907)
Gastrotheca microdisca (Andersson in Lönnberg and Andersson, 1910)
Hylidae Rafinesque, 1815
Hylinae Rafinesque, 1815
Aplastodiscus albosignatus (A.Lutz & B.Lutz, 1938)
Aplastodiscus leucopygius (Cruz & Peixoto, 1985 "1984")
Aplastodiscus perviridis A. Lutz in B. Lutz, 1950
Bokermannohyla astartea (Bokermann, 1977)
Bokermannohyla circumdata (Cope, 1871)
Bokermannohyla hylax (Heyer, 1985)
Dendropsophus aff. giesleri (Mertens, 1950)
Dendropsophus microps (Peter, 1872)
Dendropsophus minutus (Peters, 1872)
Dendropsophus sanborni (Schmidt, 1944)
Hypsiboas albopunctatus (Spix, 1824)
Hypsiboas bischoffi (Boulenger, 1887)
Hypsiboas cf. caingua (Carrizo, 1991)
Hypsiboas faber (Wied-Neuwied, 1821)
Hypsiboas pardalis (Spix, 1824)
Hypsiboas prasinus (Burmeister, 1856)
Hypsiboas kaapora
70
Scinax cf. brieni (Witte, 1930)
Scinax crospedospillus (A. Lutz, 1925)
Scinax fuscomarginatus (A. Lutz, 1925)
Scinax fuscovarius (A. Lutz, 1925)
Scinax perereca Pombal, Haddad & Kasahara, 1995
Scinax cf. perpusillus (A. Lutz & B. Lutz, 1939)
Scinax rizibilis (Boker mann, 1964)
Sphaenorhynchus sp. nov.
Phyllomedusinae Günther, 1858
Phyllomedusa distincta A. Lutz in B. Lutz, 1950
Phyllomedusa tetraploidea Pombal & Haddad, 1992
Centrolenidae Taylor, 1951
Centroleninae Taylor, 1951
Hyalinobathrachium uranoscopum (Muller, 1924)
Leptodactylidae Werner, 1896 (1838)
Leptodactylus fuscus (Schneider, 1799)
Leptodactylus cf. marmoratus (Steindachner, 1867)
Leptodactylus ocellatus (Linnaeus, 1758)
Paratelmatobius sp. nov.
Leiuperidae Bonaparte, 1850
Physalaemus cuvieri Fitzinger, 1826
Physalaemus olfersii (Lichtenstein & Martens, 1856)
Cycloramphidae Bonaparte, 1850
Cycloramphinae Bonaparte, 1850
Cycloramphus acangatan Verdade & Rodrigues, 2003
Macrogenioglottus alipioi Carvalho, 1946
Proceratophrys boiei (Wied-Neuwied, 1825)
Proceratophrys melanopogon (Miranda-Ribeiro, 1926)
Hylodidae Günther, 1858
Crossodactylus caramaschii Bastos & Pombal, 1995
Hylodes sp. nov.
Bufonidae Gray, 1825
Chaunus ictericus Spix, 1824
Chaunus ornatus Spix, 1824
Dendrophryniscus brevipollicatus Jiménez de la Espada, 1871 "1870"
Microhylidae Günther, 1858 (1843)
Chiasmocleis leucosticta (Boulenger, 1888)
Myersiella microps (Duméril & Bibron, 1841)
71
Figura 5. Anfíbios anuros registrados na área de estudo. Município de Pilar do Sul, estado de
São Paulo.
72
Figura 5 (cont.). Anfíbios anuros registrados na área de estudo. Município de Pilar do Sul,
estado de São Paulo.
73
Figura 5 (cont.). Anfíbios anuros registrados na área de estudo. Município de Pilar do Sul,
estado de São Paulo.
74
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo compreendeu uma fase inicial, entre maio de 2001, quando pela
primeira vez registramos a espécie aqui estudada, a outubro de 2003, no
decorrer do qual realizamos outros estudos na área. Em dezembro de 2003
fizemos um estudo piloto, para o qual adaptamos o método de transecção
linear em riachos (transect sampling), proposto por J
AEGER
(1994), para as
circunstâncias locais. Realizamos as coletas de campo mensalmente a partir
de dezembro de 2003 até maio de 2006, com duração de duas a nove noites.
Devido à relativa dificuldade de acesso à área, optamos pela realização
de um acampamento ao lado do riacho. Assim, monitoramos a área de estudo
por tempo integral durante as coletas de campo.
Em cada etapa de campo registramos os seguintes dados climatológicos:
temperaturas mínima e máxima do ar, temperaturas do ar e da água no início e
no final das c oletas noturnas, umidades relativas mínima e máxima, e
condições do tempo, em especial da presença ou ausência de chuva; nos
casos de presença de chuva sua intensidade f oi classificada em fraca,
moderada ou forte.
75
Estabelecemos uma transecção linear de 200 metros de extensão em
um trecho do ribeirão do Meio no interior da mata a 20 m do acampamento. A
cada 5 metros colocamos estacas (totalizando 40 estacas) para auxiliar no
mapeamento dos indivíduos, em especial dos machos adultos, com o objetivo
de verificar o microhá bitat utilizado, sistema territorial, deslocamentoeopadrão
de dispersão ou distribuição espacial (aleatória, homogênea ou agregada,
conformeadistribuiçãodePoissoneoÍndicedeMorisita,descritosemK
REBS
1998). Fizemos um mapa da transecção para a plotagem dos dados entre as
etapas de campo.
Entre o final de tarde e início da noite monitoramos as vocalizações dos
machos do nosso acampamento para o registro do início da atividade e
posicionamento dos indivíduos. Durante a procura utilizamos lanternas de mão
ou de cabeça, mas durante a manipulação dos indivíduos a de cabeça. Para
localizar os exemplares da espécie estudada, buscamos minuciosamente
principalmente na vegetação imediatamente circunvizinha ao rio, a um máximo
de dois ou três metros para dentro da margem ou de altura da água. Também
efetuamos procuras dentro da água, principalmente em locais de remanso,
para observações dos hábitos dos girinos da espécie. Em geral, o trabalho de
campo foi realizado por duas pessoas, no caso o autor e o ajudante de campo
procuravam em margens opostas. O autor, além de procurar em sua própria
margem, auxiliava as buscas na outra margem.
Para o registro individual - método de marcação e recaptura - utilizamos o
método de reconhecimento das marcas naturais (veja revisão em H
ALLIDAY
1996; F
ELLERS
1979b; S
AZIMA
1989a). Fotografamos e numeramos todos os
indivíduos registrados para compor um guia que era levado a cada trabalho de
campo. Para os indivíduos que apresentav am manchas dorsais fotografamos
apenas o dorso e daqueles que não apresentavam qualquer marca natural
(padrão homogêneo) fizemos uma foto de cada um dos flancos (veja coloração
na descrição taxonômica da espécie no capítulo 1).
Mensalmente realizamos um censo na transecção, iniciado geralmente as
19 horas e finalizado após as 22:30 hs (numa velocidade média de 0,057
km/h), o que dependia principalmente da densidade de indivíduos ou de
76
observações comportamentais. Densidades altas de machos e observações
comportamentais prolongavam o tempo utilizado para o censo. Reservamos
pelo menos duas noites por mês para a realização do censoeorestante(uma
a sete noites) para observações comportamentais ou procuras em outros
locais. Quando condições ambientais adversas impediam ou limitavam a
atividade d os machos realizamos um censo para substituição em outra noite
em que as condições tornavam-se mais favoráveis. Além do posicionamento
dos indivíduos registramos ainda: sua altura em relação à água e ao solo, sua
distância da margem e o tipo de substrato utilizado (caracterizados em caeté,
arbusto/herbácea, samambaia, taquara, palmeira e outros).
Na volta do censo fazíamos uma busca rápida pelos indivíduos
registrados (e não manipulados naquela noite), para a obtenção de dados de
deslocamento e tamanho do território, ou para eventuais encontros de
indivíduos não registrados durante a ida do percurso. Antes e após o censo
realizamos procuras nas adjacências da transecção, cerca de 40 m riacho
acima e 80 m riacho abaixo do trecho do estabelecido para a amostragem,
principalmente com o objetivo de registrarmos o deslocamento dos indivíduos.
Durante o censo, para verificarmos a presença e ausência da atividade de
vocalização de cada macho, observamos se o mesmo emitiu vocalização de
anúncio. Devido à sua baixa taxa de emissão de coaxos, o saco vocal inflado
foi usado como evidência de atividade de vocalização. Consideramos os
machos com território estabelec ido aqueles que foram flagrados v ocalizando ou
registrados no mesmo local por pelo menos duas noites.
Quando percebíamos interações macho-macho ou macho-fêmea,
interrompíamos a transecção momentaneamente para observações
comportamentais. Nestes casos empregamos os métodos de animal focal e
todas as ocorrências (A
LTMANN
1974; L
EHNER
1979). Durante as observações
comportamentais freqüentemente usamos filtros vermelhos nas lanternas para
atenuar nossa presença (F
ELLERS
1979a,b; H
ADDAD
1987). As observações
tiveram duração mínima de 30 minutos, principalmente quando efetuadas
durante o censo, ou, em alguns casos, prolongando-se por toda a noite. Na
77
etapa de campo de dezembro de 2003 utilizamos seis noites consecutivas para
estas observações.
A partir de fevereiro de 2005 todos os machos foram pesados com
paquímetro de precisão de 0,10 mm, pesados com dinamômetro de 10 g e
precisão de 0,10 g, e posteriormente soltos no mesmo local. Tomamos estas
medidas esporadicamente no ano de 2004.
Duas desovas, coletadas nos meses de maio e dezembro de 2005,
tiveram seus girinos mantidos no rio, retidos em um cercado improvisado de
tela, do tipo sombrite, protegido externamente por estrutura de arame. Os
mesmos foram monitorados mensalmente até maio de 2006.
Classificamos o modo reprodutivo de acordo com D
UELLMAN
&T
RUEB
(1986) e H
ADDAD
&P
RADO
(2005). Para a razão sexual operacional (RSO), isto
é, a razão do número de fêmeas fertilizáveis sobre o número de machos em
um determinado período e espaço, seguimos a definição de E
MLEM
&O
RING
(1977).
Para a análise dos táxons utilizamos espécimes preservados da coleção
científica Célio Fernando Baptista Haddad (CFBH), Departamento de Zoologia
da Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, estado de São Paulo, Brasil.
Entre maio de 2001 e maio de 2006, realizamos 154 dias de trabalho em
campo, sendo 143 a partir de dezembro de 2003, quando iniciamos de fato o
estudo. Destes, 28 foram realizados exclusivamente durante o dia, 25 foram
utilizados apenas para observações comportamentais e 19 exclusivamente
para procuras em outros locais. Um total de 71 noites foi utilizado para os
censos na transecção entre janeiro de 2004 e maio de 2006, o que resultou em
28,4 km percorridos durante a ida e a volta do percurso. Nas 118 noites
utilizadas para o estudo gastamos aproximadamente 630 horas de trabalho,
com média de 5:40 hs por noite.
78
RESULTADOS
Utilização do Hábitat
Os machos adultos vocalizaram empoleirados na vegetação que
margeia alguns riachos de maior porte no interior da floresta no alto da Serra
de Paranapiacaba. A movimentação pelo substrato aconteceu de forma
pausada, acompanhada da visualização e avaliação do local a ser alcançado e
seguida de salto ou caminhada ao longo do substrato. A figura 6 apresenta o
tipo de substrato utilizado pelos machos adultos na transecção. Dos 601
registros de machos adultos na vegetação marginal na transecção, 390
estavam sobre a água entre 10 e 300 cm de altura (110±40 cm); 190 estavam
até 100 cm para dentro da margem, entre 20 e 150 cm do solo (82±33 cm) e
entre 50 e 200 cm da água (132±35 cm); e 35 estavam a mais de 100 cm da
margem, entre 20 e 150 cm do solo (94±36 cm) e entre 70 e 280 cm da água
(161±50 cm).
79
0
50
100
150
200
250
300
arbusto/herb
ac
ea
caeté
sam ambaia
t
aq
u
ara
galho caido
p
al
meira
arvoreta
Figura 6. Substrato utilizado pelos machos adultos na transecção. Ribeirão do
Meio, Pilar do Sul, estado de São Paulo.
Não encontramos indivíduos fora do sítio reprodutivo e supostamente
parte da população (jovens, fêmeas e machos adultos não reprodutivos) utiliza
estratos mais altos da floresta. Um macho, após ser vencido em disputa
territorial, passou a subir em arvoreta, onde alcançou cerca de 4,0 m e não o
observamos vocalizar mais naquela noite. Não registramos indivíduos próximos
das nascentes, nos trechos de corredeira, onde o fundo é predominantemente
rochoso, e nos córregos tributários dos ribeirões do Meio e Claro. Também não
registramos a espécie em algumas drenagens semelhantes na vertente
oceânica da serra, exceto uma população encontrada no ribeirão Temível no
município de Sete Barras, localizado dentro do Parque Estadual de Carlos
Botelho (veja distribuição geográfica no capítulo 1). Ao contrário dos ribeirões
do Meio e Claro, em riachos de porte semelhante no interior da floresta onde
não registramos Hypsiboas KAAPORA, Bokermannohyla astartea foi registrada
freqüentemente.
As fêmeas se deslocaram para o riacho quando estavam prontas
para reproduzir e retornam à mata logo após a oviposição. Nos remansos
próximos às margens (figura 7A) os girinos (Figura 7B) freqüentemente
agregaram-se. Registramos jovens no final da metamorfose (figura 7C-D) sobre
Substrato utilizado
Número de registros
80
a vegetação ao longo do riacho somente nos meses de dezembro e janeiro e
principalmente em dias chuvosos. Após a absorção da cauda os jovens não
eram mais vistos e seu desenvolvimento, presumivelmente, ocorre no interior
da mata ou no alto das árvores.
Padrões de Atividade Sazonal e Diário
Registramos machos vocalizando todos os meses do ano. A vocalização
se iniciou ao entardecer e perdurou até momentos antes do amanhecer, com
um pico no início e outro no final da noite. Os machos cantaram pouco e
esporadicamente, entre intervalos que podem durar desde alguns minutos, até
horas. Após vocalizarem os machos permaneceram com o saco vocal inflado.
AB
CD
Figura 7. (A) Remanso de desenvolvimento dos girinos; (B) girino; (C e D) jove ns
de Hypsiboas KAAP ORA no final da metamorfose. Ribeirão do Meio, município
de Pilar do Sul, estado de São Paulo.
81
A maior movimentação dos machos reprodutivos ocorreu principalmente no
início da noite, quando se movimentavam para seus territórios, e no final da
noite, durante a procura por locais de abrigo diurno. Em geral, na segunda
metade da noite ocorreu uma queda na atividade e os machos tenderam a
vocalizar menos e permanecer basicamente no mesmo local.
De uma forma geral, os machos estavam ativos durante quase todas as
noites do ano, exceto em condições ambientais adversas. Quedas na
temperatura limitaram a atividade dos machos, que reduziam a atividade,
vocalizando ou movimentando-se menos. Em condições mais extremas de
queda de temperatura, encontramos poucos machos; entretanto, registramos
vocalizações, pouco freqüentes, que pareciam ser emitidas do abrigo. Este tipo
de situação também foi comum durante chuvas fortes, quando o nível da água
ficou demasiadamente elevado e a correnteza do riacho tornou-se mais forte.
Nestas situações também encontramos somente uma pequena parte dos
machos. Em uma única situação, no mês de maio, durante queda intensa de
temperatura após forte chuva, não avistamos ou escutamos qualquer indiví duo
(figura 8). Em janeiro de 2004 observamos um casal desovar após chuva
intensa em que o nível do rio e sua correnteza estavam bem acima do normal;
uma desova recém depositada foi carreada após forte chuva, no mês de agosto
de 2005.
0
4
8
12
16
20
24 25 26 27 28
Dias de maio de 2004
Número de macho
s
0
4
8
12
16
20
Tem peratura do a
r
número de machos
temperatura do ar
Figura 8. Influência de fatores climáticos no número de machos presentes
durante os censos na transecção no mês de maio de 2004. Número de machos
encontrados relacionado à temperatura média do ar no momento da coleta e a
intensidadedachuvaindicadapelasetapretadechuvaforteepelasetacinzade
chuva moderada. Período de 24 a 28 de maio de 2004. Ribeirão do Meio,
município de Pilar do Sul, estado de São Paulo.
82
Interações sociais também causaram maior movimentação e aumento
no ritmo de vocalização. Vocalizações sucessivas, a intervalos de alguns
segundos, foram eventualmente emitidas no início e no final do período de
atividade, ou quando os machos estavam próximos às fêmeas.
Durante o dia os machos repousaram entre a serapilheira,
principalmente aquela acumulada na base da vegetação (N = 5) e raramente
emitem vocalizações (N = 2). Observamos apenas um macho em aparente
atividade diurna, movimentando-se sobre a vegetação, mas sem emitir
vocalização.
Recrutamento e Desenvolvimento dos Girinos e Período da Metamorfose
As duas desovas coletadas e mantidas no riacho apresentaram
desenvolvimento lento. Coletadas em maio e dezembro de 2005, os girinos
ainda não haviam metamorfoseado até maio de 2006, quando o estudo
encerrou-se.
Desovas depositadas em diferentes períodos do ano apresentaram
taxas de crescimento distintas. Uma desova, posta em janeiro de 2004, com
temperatura média da água de 19
o
C, apresentava, no dia seguinte à
oviposição, embriões com cerca de 5 mm, enquanto outra depositada em maio
de 2005 com temperatura média de 16
o
C foi observada por três dias
consecutivos e seus ovos ainda não haviam se desenvolvido em embriões.
Jovens recém metamorfoseados foram encontrados na vegetação que
margeia o riacho somente nos meses de dezembro e janeiro, apresentando
comprimento entre 18 a 19,1 mm.
83
Abundância e Recrutamento de Machos Adultos
Considerando o período de fevereiro de 2004 a janeiro de 2005, a
abundância média de machos ao longo da transecção foi de 0,09±0,03 machos
por metro da margem, com máximo 0,16 em março de 2004 e mínimo de 0,06
em janeiro de 2005. Em relação ao período de fevereiro de 2005 a janeiro de
2006, a abundância foi de 0,07±0,03, com máximo 0,11 em março de 2005 e
mínimo de 0,02 em janeiro de 2006.
O recrutamento de machos adultos ocorreu em quase todos os meses
do ano (figura 9). Entretanto, um maior número de machos recrutados foi
registrado em março, período no qual a proporção destes foi maior na
população, com cerca de 60 %. Como mostra a figura 9 houve um pico na
densidade populacional de machos adult os neste período, proporcionado pelos
machos recém recrutrados.
0
5
10
15
20
25
30
35
fev/04
mar/04
abr/04
mai/04
jun/04
jul/04
ago/04
set/04
out/04
nov/04
dez/04
jan/05
fev/05
mar/05
abr/05
mai/05
jun/05
jul/05
ago/05
set/05
out/05
nov/05
dez/05
jan/06
fev/06
mar/06
abr/06
mai/06
total de machos
machos recém recrutados
Mês/ano
Figura 9. Total de machos registrados de Hypsiboas KAAPORA (losango) e de
recrutados (não registrados anteriormente; quadrado) durante fevereiro de 2004
a maio de 2006. Dados de censos mensais realizados em transecção de 200 m
no ribeirão do Meio, município de Pilar do Sul, estado de São Paulo.
Número de machos
84
Estrutura Demográfica dos Machos Adultos
A partir de fevereiro se iniciou o recrutamento dos machos adultos com
as menores condições corpóreas, causando queda no peso médio da
população (figuras 10-11). Estes indivíduos raramente apresentaram cicatrizes
no corpo que são causadas principalmente durante combates territoriais entre
machos. A maior proporção de machos adultos com massa menor foi
observada em abril, pois são registrados recrutas de fevereiro, março e abril.
Neste período também ocorreu queda na massa dos machos mais velhos da
geração anterior. Em maio os machos recrutados apresentaram maior massa
do que a massa média de toda a população e dos demais machos da mesma
geração recrutados anteriormente (fevereiro, março e abril). Nos meses mais
frios (junho, julho e agosto) ocorreu queda na média da massa da população,
que voltou a aumentar a partir de setembro, quando a temperatura também se
elevou.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
fev/05
ma r/05
abr/05
mai/05
jun/05
jul/05
ago/05
set/0 5
out/05
nov/05
dez/05
jan/06
fev/06
ma r/06
abr/06
mai/06
>3,0g
2,5-2,9g
2,0-2,4g
<1,9g
Mês/ano
Figura 10. Distribuição das classes de massas dos machos adultos de Hypsiboas
KAAPORA na população, entre fevereiro de 2005 a maio de 2006. Ribeirão do Meio,
município de Pilar do Sul, estado de São Paulo.
Freqüência
85
Mês/ano
Figura 11. (A) Massa média (g) dos machos registrados na transecção. Linhas
representam a massa média dos machos adultos da população (linha preta
círculo cheio), a massa média dos machos recém recrutados (círculo vazio), a
massa média dos machos da geração de 2004 exceto recém recrutados
(triângulo), a massa média dos machos da geração de 2005 exceto re cém
recrutados (losango cinza escuro), a massa média dos machos da geração de
2006 exceto recém recrutados (círculo cheio cinza claro). (B) Número de machos
de Hypsiboas KAAPORA recrutados (branco), número machos da geração de
2004 exceto recém recrutados (cinza escuro), número de machos da geração de
2005 exceto recém recrutados (cinza moderado), número de machos da geração
de 2006 exceto recém recrutados (cinza escuro). Dados obtidos da pesagem de
todos os machos adultos e ncontrados entre fevereiro d e 2005 a maio de 2006 na
transecção. Ribeirão do Meio, município de Pilar do Sul, estado de São Paulo.
Número de machos Massa média (g)
0
5
10
15
20
25
fev/05
mar/05
abr/05
mai/05
jun/05
ju l/05
ago/05
set/05
out/05
nov/05
dez/05
jan/06
fev/06
mar/06
abr/06
mai/06
recém recrutados
geração 2006 excet o
recém recrutados
geração 2005 excet o
recém recrutados
geração 2004
1.50
1.70
1.90
2.10
2.30
2.50
2.70
2.90
3.10
3.30
total
geração 2004
geração 2005 exc et o
recém recrutados
geração 2006 exc et o
recém recrutados
recém recrutados
86
Longevidade das Gerações dos Machos Adultos no Sítio Reprodutivo
Distinguimos quatro gerações no decorrer do estudo. A primeira foi
acompanhada a partir de dez embro de 2003, provavelmente no 11º mês após
seu recrutamento, que deve ter ocorrido em fevereiro do mesmo ano, portanto
não foi acompanhada desde seu início. Desta geração de 2003, 10 machos
atingiram a geração seguinte, durante o recrutamento de fevereiro de 2004. Os
dois machos da geração de 2003 que permaneceram por mais tempo no riacho
foram registrados pela última vez em novembro de 2004 e em janeiro de 2005.
Assim, por apenas um mês o último macho a ser registrado não atingiu a
geração dois anos mais tardia. Dos 75 mac hos da geração de 2004, apenas 10
(13 %) atingiram a geração de 2005, permanecendo até setembro, quando o
último indivíduo foi registrado. A geração de 2005 apresentou 41 machos, dos
quais 6 (15 %) deles atingiram a próxima geração. Até maio de 2006, um deles
ainda foi registrado, portanto não foi acompanhada até o f inal. Parte da
geração de 2006 foi acompanhada apenas por quatro meses, pois o estudo
encerrou-se em maio de 2006. O tempo pelo qual c ada geração de machos
adultos se estendeu no sítio reprodutivo é apresentado na figura 12. As
gerações de 2004 e 2005 também podem ser visualizadas mais adiante nas
figuras 19 e 20.
0
5
10
15
20
25
jan/04
fev/04
mar/04
abr/04
mai/04
jun/04
jul/04
ago/04
set/04
out/04
nov/04
dez/04
jan/05
fev/05
mar/05
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jun/05
jul/05
ago/05
set/05
out/05
nov/05
dez/05
jan/06
fev/06
mar/06
abr/06
mai/06
geração 2003
geração 2004
geração 2005
geração 2006
Mês/ano
Figura 12. Longevidade das quatro gerações de machos adultos de Hypsiboas
KAAPORA no sítio reprodutivo entre fevereiro de 2004 a m aio de 2006. Ribeirão
do Meio, município de Pilar do S ul, estado de São Paulo. Veja tex to acima para
detalhes.
Número de machos
87
Razão Sexual Operacional
Durante os censos do período de janeiro de 2004 a maio de 2006
encontramos 170 indivíduos, dos quais 159 eram machos e 11 eram fêmeas
razão sexual operacional de 0,07. Considerando apenas duas noites mensais
de censo, obtivemos 676 registros de machos, correspondentes a 159
indivíduos distintos, e 13 registros de 11 fêmeas.
Dos 29 meses de estudo, apenas em nove deles registramos fêmeas no
sítio reprodutivo (freqüência de 0,31) e, no caso, a razão sexual operacional
variou entre 0,05 e 0,19 (0,09±0,05). A figura 14 mostra o número de m achos
adultos e de fêmeas registrados na transecção ao longo da realizaç ão deste
estudo.
0
5
10
15
20
25
30
35
jan/04
fev/04
mar/04
abr/04
mai/04
jun/04
jul/04
ago/04
set/04
out/04
nov/04
dez/04
jan/05
fev/05
mar/05
abr/05
mai/05
jun/05
jul/05
ago/05
set/05
out/05
nov/05
dez/05
jan/06
fev/06
mar/06
abr/06
mai/06
Mês/ano
Figura 14. Número de machos (cinza) e de fêmeas (preto) registrados na
transecção entre janeiro de 2004 a maio de 2 006. Ribeirão do Meio, Pilar do Su l,
estado de São Paulo.
Número de machos e fêmeas
88
Padrão de Distribuição dos Machos Adultos na Transecção
Considerando apenas o primeiro registro de cada macho encontrado nos
dois censos mensais realizados entre fevereiro de 2004 a janeiro de 2005 e
dividindo este número total por 12, obtivemos a freqüência mensal média
observada de machos a cada 20 metros da transecção. Comparando os
resultados observados aos esperados em cada plot, caso os indivíduos se
distribuíssem aleatoriamente segundo a distribuição de Poisson (figura 15), o
padrão de distribuição dos machos adultos se mostrou fortemente agregado (Ȥ
2
=92,1). O índice de dispersão de Morisita, que apresentou valor de 1,48,
também indica distribuição agregada dos machos, sabendo que o valor igual a
1,0 representa distribuição aleatória, valores acima representam distribuições
agregadas e entre 1,0 e 0 indicam distribuições uniformes.
3.17
1.75
1.58
1.83
0.75
0.17
0.67
0.08
0.00
1.59
2.92
2.69
1.65
0.76
0.28
0.09
0.02
0.01
0
0.5
1
1.5
2
2.5
3
3.5
012345678
Número de machos em cada plot de 20 m
Figura 15. Freqüência de machos a cada 20 m na transecção de 200 m no
ribeirão do Meio. Freqüência média mensal d e machos observada entre fevereiro
de 2004 a janeiro de 2005 (coluna preta) e freqüência esperada segundo a
distribuição de Poisson (coluna cinza). Município de Pilar do Sul, estado de São
Paulo.
Fre
q
üência
89
Encontramos na transecção quatro locais ocupados por grupos de
machos, dos quais três eram constantemente ocupados e um utilizado
eventualmente (figura 16). Entre estes agregados, registramos a presença
eventual de machos isolados. Nos agregados os machos podem distribuir-se
em ambas as margens do riacho ou, preferencialmente, em uma delas. A cada
amostragem mensal, analisando o maior número de machos em cada
agregado encontrados em uma mesma noite e considerando a distância linear
do riacho, os quatro agregados apresentaram: (1) 5 a 20 m (12,0±5,28), com 3
a 7 machos (mediana = 4) e densidade de 0,15 a 1,40 (0,45±0,30)
machos/metro(N=15meses);(2)10a40m(25,6±7,72),com3a9machos
(mediana=4) e densidade de 0,13 a 0,50 (0,20±0,08) machos/metro (N=16
meses);(3)10a30m(25,0±6,05),com3a7machos(mediana=5)e
densidade de 0,10 a 0,30 (0,20±0,05) machos/metro (N=17 meses); (4) de
forma eventual, 10 a 25 m (15±7,07) com 3 machos e densidade de 0,12 a 0,30
(0,23±0,08) machos/metro (N=5).
Figura 16. Distribuição dos machos adultos. Mapa da transecção com as
localizações dos machos. Cada ponto vermelho indica o posicionamento de
cada macho encontrado durante os censos realizados em 2004. Os números
indicam os agregados registrados indicados no texto acima. Ribeirão do Meio,
município de Pilar do Sul, estado de São Paulo.
90
As observações periódicas que realizamos na transecção e eventuais ao
longo de todo o ribeirão do Meio e ribeirão Claro, onde os machos de
Hypsiboas KAAPORA vocalizaram, indicaram que as agregações de machos
adultos, em geral, estão associadas aos trechos no qual a cobertura do dossel
é menor, normalmente clareiras, nas quais a vegetação predominante é o
Caeté (Calathea communis, Maranthaceae) (Figura 4D).
Nos agregados, contudo, o padrão de dispersão d os machos adultos
mostrou-se principalmente uniforme. Analisando o índice de dispersão de
Morisita de 22 agregados com cinco machos ou mais registrados em uma
mesma noite, os resultado obtidos foram de 0 a 2,6 (0,79±0,77), sendo que 16
agregados apresentaram valores abaixo de 1,0 (0,0-0,80; 0,39±0,25), ao passo
que 5 obtiveram valores maiores (1,46-2,60; 2,04±0,55).
Sistema Territorial dos Machos Adultos no Sítio Reprodutivo
Os machos adultos estabeleceram territórios na vegetação ao longo de
riacho, onde estavam ativos quase que diariamente e permaneciam por meses
ou até mais de um ano. Pequenas variações na área defendida por um macho
ocorreram ao longo da permanência em um território. Além disso, buscaram
novos territórios em outros locais do riacho (Figura 17). Freqüentemente os
machos deslocaram-se entre os agregados onde estabeleceram novo território
(Figura 18). Dos 116 machos examinados, 23 % (N=27) não estabeleceram
território, pois foram registrados numa noite ou não foram observados
vocalizando.
91
0
10
20
30
40
50
60
01234567
Número de territórios distintos utilizados por um mesmo macho
Figura 17. Número de territórios utilizados por um mesmo macho no período de
permanência na transecção e a rredores. Ribeirão do Meio, município de Pilar do
Sul, estado de São Paulo.
0
20
40
60
80
100
1234
Número de agregados distintos utilizados por um mesmo macho
Figura 18. Número de agregados distintos utilizados por um mesmo macho na
transecção e arredores. Ribeirão do Meio, município de Pilar do Sul, estado de
São Paulo.
As figuras 19 e 20 mostram que tanto em termos de tempo de
permanência total (considerado o período máximo em meses desde o primeiro
ao último registro) como em termos de tempo de permanência efetivo (número
de meses que o macho foi efetivamente registrado), os machos adultos
Número de machos
Número de machos
92
registrados na transec ção e arredores foram altamente variáveis. Comparando
as distribuições do tempo de permanência dos machos recrutados em 2004
com os machos recrutados em 2005, utilizando o teste de Kolmogorov-Smirnov
com nível de significância de 0,10, o valor de 0,257 não rejeita a hipótese de
que não diferença entre os anos. Assim, apresentamos as distribuições de
116 machos recrutados nos anos de 2004 e 2005. Considerando o tempo
efetivo, cerca de 35 % dos machos (N=39) foram registrados em apenas um
mês, ao passo que menos de 15 % (N=15) permaneceram por 6 meses ou
mais, e menos de 3 % (N=3) f oram registrados por mais de um ano.
Considerando o tempo total, cerca de 25 % (N=29) dos machos permaneceram
por 6 meses ou mais e cerca de 5 % (N=6) foram registrados por um ano ou
mais.
A
0
5
10
15
20
25
30
35
40
1234567891011>12
B
0
5
10
15
20
25
30
35
40
1234567891011>12
Figura 19. Distribuições das classes de tempo (em meses) de permanência (A)
efetivo e (B) total dos machos adultos na transecção e arredores no ribeirão do
Meio, município de Pilar do Sul, estado de São Paulo. Dados brutos na figura 20.
Tempo de permanência efetivo
Tempo de permanência total
Número de Machos
Número de Machos
93
2004-2006
FMAMJ J ASOND JFMAMJJASONDJFMAM
13
14
15
16
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31
32
33
34
35
36
38
39
40
41
42
43
44
45
46
47
48
49
50
51
52
53
54
55
56
57
58
92
59
60
61
62
63
64
65
66
67
68
69
70
71
72
77
78
79
81
82
83
84
86
87
80
75
88
89
90
91
93
94
96
97
98
99
101
102
103
104
105
106
107
108
109
110
111
112
113
114
115
116
117
118
119
120
121
123
124
127
128
129
130
131
132
133
134
135
140
136
137
138
139
141
142
Figura 20. Fenograma de 116 machos recrutados em 2004 e 2005 e os
respectivos meses em que foram registrados. Em preto são representados os
machos registrados na transecção de 200 m estabelecida no ribeirão do Meio e,
em cinza, os machos registrados nos arredores da transecção. Cada número à
esquerda indica um macho adulto de Hypsiboas KAAPORA distinto. Pilar do Sul,
estado de São Paulo.
94
Quando outro macho aparece n os arredores, normalmente os machos
defendem seu território através de vocalizações emitidas a partir das fronteiras,
tornando mais evidente o tamanho da área defendida; assim, conseguimos
avaliar a extensão do território de alguns machos. Considerando a medida
linear entre os poleiros mais distantes utilizados por um mesmo macho durante
as interações agonísticas com outros m achos para defesa territorial, o tamanho
do território variou de 1,5 a 13,0 m (3,39±2,57 m; mediana = 2,5 m; N = 23) de
margem do riacho. Se considerarmos a área superficial e vertical que os
machos utilizam durante a atividade e para o abrigo, estas medidas são
subestimadas.
Como mostra a figura 21, de 638 registros obtidos para machos adultos,
60 % (N = 397) encontravam-se a menos de 5 m de outros machos, sendo que
destes, cerca de 25 % (N = 170) estavam a menos de 2,5 m de distância. Em
contraposição, cerca de 10 % dos registros (N = 63) corresponderam a machos
distanciados em pelo menos 15 m. Aproximadamente 3 % (N = 18) se tratavam
de machos a mais de 30 m de outros, sendo que 7 destes registros f oram
obtidos em noites frias, de queda abrupta na temperatura, ou durante fortes
chuvas, ocasiões em que poucos machos entraram em atividade.
A maioria dos machos defendeu territórios de cerca de 2,0 a 3,0 m de
margem, enquanto outros, estabeleceram territórios extensos, com cerca de
6,0 a 7,0 m. Embora nossas observações sejam subjetivas e não quantificadas,
notamos que além do tamanho do território, o comportamento de defasa
territorial e o grau de agressividade foi distinto entre os indivíduos. Alguns deles
vocalizam apenas de um poleiro específico; outros parecem utilizar dois ou
mais poleiros, algumas vezes, nos limites do território. Em uma situação, um
macho foi visto atravessando o riacho para expulsar dois indivíduos que
vocalizavam na outra margem. Este macho, ao contrário dos demais, não
permitia outros rivais próximos. Outro macho foi visto vocalizando em dois
poleiros distanciados cerca de 13 m e em margens opostas, sendo registrado
alternadamente em ambos em dias consecutivos. Um macho particularmente
agressivo, não quantificado nas figuras 19 e 20, foi observado durante 12
meses consecutivos (dezembro de 2003 a novembro de 2004) defendendo o
95
mesmo território (indivíduo 8 na figura 24 e figuras 28 A-B). Neste período
observamos quando conquistou o território, período em que o registramos em
sete situações agonísticas, das quais cinco resultaram em combates físicos.
Posteriormente, o registramos em reprodução uma vez e no último mês,
quando outros seis machos da geração posterior agregaram-se ao seu redor,
ele estava desproporcionalmente maior (38,4 mm e 2,9 g versus 34,4 mm e 2,2
g, 34,4 m m e 2,1 g, 35,3 mm e 2,2 g, 35, 8 mm e 2,2 g, 34,8 mm e 2,1 g, 35,9
mm e 2,1 g) e nas situações agonísticas em que se envolveu, expulsou dois
machos distintos apenas com e xibições posturais e vocalizações de anúncio e
territoriais (veja abaixo em interações acústicas e agonísticas; veja também
figuras 28A-B, macho à esquerda).
0
50
100
150
200
250
<2,5
2, 5-5,0
5, 0-7,5
7,5-10,0
10,0-15,0
15,0-30,0
>30,0
Figura 21. Distância do macho mais próximo em Hypsiboas KAAPORA a partir
dos registros plotados no mapa da transecção no ribeirão do Meio. Município de
Pilar do Sul, estado de São Paulo.
Observamos alguns machos alimentarem-se em seus territórios (N=4)
(figura 22). O anuro, quando percebia a presa, observava imóvel sua
movimentação e saltava ou caminha em sua direção para capturá-la.
Posteriormente, observamos os indivíduos abrirem e fecharem a boca por
Distância do macho mais próximo (m)
Número de registros
96
algumas vezes, o que nos pareceu ser um mecanismo de deglutição das
presas.
Figura 22. Macho de Hypsiboas KAAPORA alimentando-se em seu território.
Ribeirão do Meio, Pilar do Sul, estado de São Paulo.
Registramos dois eventos de predação de Hypsiboas KAAPORA. Um
indivíduo foi regurgitado morto por uma serpente (Tropidophis paucisquamis)
(figura 23A) e devido às boas condições da presa foi possível a identificação
individual da mesma. Este indivíduo apresentava território no local havia cinco
meses. Outro macho apresentou a pata predada (figura 23B) após seis meses
de ausência no sítio reprodutivo e permaneceu vocalizando por mais dois
meses em seu território.
97
AB
Figura 23. Registros de predação de machos adultos de Hypsiboas KAAPORA
na transecção, ribeirão do Meio, município de Pilar do Sul, estado de São Paulo.
(A) indivíduo 72, que mantinha território no local cinco meses, no momento
em que é regurgitado por uma Tropidophis paucisquamis (Serpentes,
Tropidophiidae); (B) indivíduo 52, com a pata predada defendendo território.
Como mostra a figura 27, a estrutura geral dos agregados foi composta
por um ou poucos machos maiores geralmente pertencentes à ger ação anterior
em territórios conspícuos, que eram continuamente ocupados. Ao redor
encontravam-se machos menores, que estabeleciam territórios na periferia e
eventualmente por indivíduos que estão de passagem e que não se
estabeleciam. Machos menores também adotaram estratégia satélite,
permanecendo próximos de um macho maior sem vocalizar, o que pudemos
avaliar somente em quatro ocasiões. Em geral, estes locais conspícuos foram
imediatamente ocupados pelos machos periféricos assim que se tornaram
vagos (figura 24).
Em relação a um dos agregados de machos, comparando o tempo em
meses da permanência (4,6±2,97) de cinco machos no território principal com o
tempo de permanência (1,96±0,90) de 24 machos periféricos (dados
apresentados na figura 17) utilizamos o teste U com muitos empates nos
postos e nível de significância 0,05, obtivemos o valor de Z = 2,26, e assim
rejeitamos a hipótese de que o tempo de permanência no t erritório principal
seja o mesmo que nos territórios periféricos.
98
Figura 24. Dinâmica em um dos agregados observados em um trecho da
transecção no ribeirão do Meio entre março de 2004 e janeiro de 2006 (agregado
1 da figura 16). Cada número representa um macho adulto de Hypsiboas
KAAPORA distinto. Asterisco representa a geração que o indivíduo pertence, em
que
* 2003, ** 2004 e *** 2005. Em vermelho é indicado o macho residente no
território principal do agregado. Município de Pilar do Sul, estado de São Paulo.
99
Embora os agregados mantivessem certa hierarquia, a chegada de
outros machos ou a presença de f êmeas tenderam a comprometer a
estabilidade das relações soc iais nos agregados. Quando as fêmeas
apareceram no riacho, machos tornaram-se mais agressivos, em geral
movimentando-se mais e emitindo vocalizações de anúncio e territorial mais
freqüentemente. Alguns machos se deslocaram até 30 m de seus territórios
para as proximidades das fêmeas. Observamos ainda machos invasores
emitirem vocalizações agressivas em resposta aos cantos de mac hos
residentes. Dois machos vocalizavam normalmente até perceberem uma fêmea
nos arredores que emitiu sinalização visual em reposta à vocalização (veja
adiante em comportamento de corte) do macho maior (ind. 75: CRC = 36,5 mm
e 2,5 g), o qual, passou a perseguir e emitir vocalizações agressivas em
resposta às vocalizações de anúncio do macho menor (ind. 16: CRC = 35,4
mm e 2,2 g). O macho maior somente entrou em amplexo com a fêmea após
perseguir o rival e expulsá-lo de seu território.
Interações Acústicas e Agonísticas
Observamos 39 interações agonísticas entre machos adultos, das quais
oito (cerca de 20 %) resultaram em combates físicos. De 29 interações
analisadas, 27 (mais de 90 %) ocorreram quando um ou ambos os machos não
haviam sido registrados no loc al anteriormente. De 27 interações nas quais os
dados completos puderam ser obtidos, 24 (cerca de 90 %) foram vencidas
pelos machos residentes e apenas três por machos invasores. De 25
interações em que ambos os machos foram medidos, 19 (cerca de 75 %) foram
vencidas pelos maiores, sendo quatro vencidas pelos machos menores e em
uma os machos apresentavam o mesmo tamanho. Pela análise de Wilcoxon
com nível de significância de 0,05, o valor obtido de Z = 2,03, com N = 25
sugere, que os machos vencedores (2,4±0,41 g) das disputas territoriais eram
significativamente mais pesados do que os perdedores (2,2±0,24 g). A f igura
25 demonstra as relações corpóreas (CRC-comprimento rostro-cloacal em mm
100
e massa em g) dos machos vencedores e perdedores. Apenas uma interação
foi vencida por um macho menor e invasor. Em um agregado, um macho
invasor perdeu três disputas territoriais, mas venceu out ra quando se
estabeleceu em um território e um dos machos que o havia vencido invadiu
seu território. Nove interações aparentemente resultaram em combates sem
vencedores, no entanto, a presença de um dos machos no local em noites ou
em meses seguintes é um indicativo de quem de fato venceu a disputa
territorial.
1.5
1.7
1.9
2.1
2.3
2.5
2.7
2.9
3.1
30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40
Figura 25. Dispersão do comprimento rostro-clocal versus peso dos machos
adultos de Hypsiboas KAAPORA vencedores (bolas vazias e linha de tendência
cheia) e dos perdedores (bolas cheias e linha de tendência pontilhada) das
disputas territoriais. Dados de 25 interações agonísticas observad as em campo.
Ribeirão do Meio, município de Pilar do Sul, estado de São Paulo.
Nos agregados ocorreram intensas interações acústicas entre os
machos.Aformamaisevidentededefesadoterritóriofoiaemissãoda
vocalização de anúncio em poleiros específicos para cada macho. Nestas
situações, após um período de alguns minutos de silêncio, uma vocalização
eventualmente desencadeava outra(s) no agregado e ao longo do riacho.
Comprimento rostro-cloacal (mm)
Peso (g)
101
Eventualmente um macho respondia antes que a nota do canto de anúncio de
outro macho termininava, ou logo depois (figura 26), ocorrendo duetos, trios ou
quartetos, dependendo da concentração e espaçamento dos machos. Cantos
territoriais f oram comumente emitidos por machos em reposta à vocalização de
outros machos próximos, para defender um território, para requisitar o território
de outro macho, ou durante combates físicos, quando foram agarrados.
Apenas um macho isolado foi visto emitindo estas vocalizações agressivas
quando os machos de um agregado a mais de 10 m vocalizavam.
0 10 0 200 300 400 500 600 70 0 800
Tempo (ms)
Frequencia (kHz)
4
2
Figura 26. Sonograma acima e oscilograma abaixo de uma interação acústica em
trio em agregado de machos de Hypsiboas KAAPORA. Após um período de
alguns minutos de silêncio, uma vocalização desencadeia outras duas no
agregado. Ribeirão do Meio, município de Pilar do Sul, estado de São Paulo.
Machos com território estabelecido defenderam ativamente suas
fronteiras. Os comportamentos agonísticos geralmente obedeceram a um
escalonamento de agressividade (figura 27).
102
MI invade
território
do MR
MI emite vocalização
de anúncio
MI apenas se
movimenta
MR emite
vocalização territ orial
MR observa MI e emite
vocalização de anúncio
MI se
afasta
MI permanece mas adota
postura sub missa
MI permanece
emitindo vocalização
de anúncio
MI emite vocalização
territorial
MR adota postura
submiss a
MR aceita a
permanência do MI
MR movimenta-s e
na direção do MI
MR ou MI adotam
pos tura submissa
MR pers egue MI até
as fronteiras do território
MR e MI ficam frente a frente
e, eventualmente, emitem
sinalização visual
MR ou MI adotam
pos tura s ubmissa
Interação acústica
se repete
Machos
combatem
fisicamente
Macho perdedor adot a
pos tura submissa
ou se afasta
Macho vencedor segue
vocalizando e, eventualmente,
persegue o macho perdedor
Ambos os machos
permanecem vocalizando
no território
Outros
rounds
Figura 27. Diagrama do padrão geral nas interações entre machos adultos de
Hypsiboas KAAPORA. Dados obtidos a partir de 39 interações agonísticas
observadas em campo. Município de Pilar do Sul, estado de São Paulo. MI
(macho invasor); MR (macho residente).
103
Em resumo, inicialmente, o macho defendia seu território emitindo
vocalizações de anúncio. Quando a fronteira de seu território era invadida, o
macho residente emitia vocalizações de anúncio ao perceber macho invasor se
movimentando em seu território. Emitiam também vocalizações agressivas em
resposta às vocalizações de anúncio do macho invasor. Caso o macho invasor
não adotasse postura submissa, ou seja, permanecesse vocalizando ou não se
afastava, ou ainda, emitia vocalizações agressivas, o macho territorial aceitava
a permanência do m acho invasor ou até mesmo deixava o local. No entanto,
mais freqüentemente, movimentava-se na direção do macho invasor e, olhava
fixamente para ele, adotando postura agressiva, mantendo o corpoeacabeça
levemente elevados (figura 28A), então emitia vocalização de anúncio e
permanecia com o saco vocal inflado (figura 28B). Eventualmente, o macho
invasor fogia ou adotava postura submissa. Caso contrário, o macho invasor
olhava fixamente na direção do macho residente, em alguns casos respondia
emitindo vocalizações agressivas ou então permanecia no local, adotando uma
postura agressiva e após certo tempo emitia vocalização de anúncio.
Combates ocorreram quando ambos os machos estavam dispostos a
disputar um determinado território; neste contexto, geralmente ambos olhavam
na direção do oponente e adotaram postura agressiva (figura 28A).
Eventualmente, os machos quando próximos emitiam sina lizações visuais, que
incluiu movimentos de sobe e desce com a cabeça ou movimentos repentinos
dos dedos, ou dos membros, como passar a mão à frente do focinho e dos
olhos. Quando membros anteriores e posteriores eram movimentados mais
intensamente e ao mesmo tempo todo o corpo se movimentava. Em uma
destas situações, um macho deu dois pequenos saltos permanecendo
praticamente no mesmo local. Nestas circunstâncias um dos machos saltava
sobre o outro. Nas lutas os machos tentaram ferir o oponente inserindo o
espinho do prepólex (figura 28C, D, E) ou tentavam derrubar o oponente da
vegetação, algumas vezes usando as patas (figura 28F). Freqüentemente os
machos se abraçaram frente a frente (figura 28D e 28E) ou pelas costas e,
nestes casos, ocorreu emissões de canto territorial pelo macho subjugado
(figura 28G). Algumas lutas foram rápidas; no entanto, outras duraram quase
104
30 minutos e apresentaram vários rounds, pois freqüentemente um ou ambos
os machos cairam da vegetação até o solo ou na água e posteriormente
retornaram à luta. Aparentemente, alguns confrontos terminaram sem
vencedores. Entretanto, na maioria dos casos, os machos perdedores
deixaram o local ou permaneceram sem vocalizar, claramente adotando
postura submissa. Os machos vencedores voltaram a emitir vocalização de
anúncio e geralmente movimentaram-se para os locais mais altos da
vegetação. Após os confrontos os machos apresentam, em geral, novas
escoriações (figura 29) e foram vistos passando a mão sobre o dorso ou sobre
os olhos. Um macho foi observado com o dorso intensamente ferido e
apresentava um dos olhos perfurado, provavelmente resultado de confronto
físico, com o uso do espinho do prepólex (figura 29).
105
A
B
CD
EF
G
Figura 28. Disputas territoriais entre machos adultos de Hypsiboas KAAPORA
observadas no campo. Ribeirão do Meio, município de Pilar do Sul, estado de
São Paulo. (A) macho maior e residente (indivíduo 8) à esquerda, em postura
agressiva e emitindo vocalização de anúncio para um macho menor e invasor
(indivíduo 46), novembro de 2004; (B) indivíduos 8 esquerda) e 3 direita) em
postura agressiva e olhando fixamente um ao outro, em momento que antecedeu
combate territorial, jan eiro de 2004; (C) machos tentando ferir o oponente com o
espinho do prepólex; (D) e (E) m achos abraçados frente a frente e inserindo o
espinho prepólex um no outro; (F) macho chutando o oponente; (G) macho
emitindo canto territorial após ser agarrado pelas costas por outro macho.
106
Figura 29. Macho adulto de Hypsiboas KAAPORA ferido em confronto com outro
macho; note escoriações no dorso e o olho perfurado. Município de Pilar do Sul,
estado de São Paulo.
Proporção de Machos Adultos com Cicatrizes no Clado Bokermannohyla,
Aplastodiscus
e Hypsiboas
Realizamos análise de presença e ausência de c icatrizes no corpo em
machos adultos de alguns representantes dos grupos de espécies nos gêneros
Bokermannohyla, Aplastodiscus e Hypsiboas, seguindo a filogenia proposta por
F
AIVOVICH
et al. (2004, 2005). Os táxons utilizados, o número de machos
adultos preservados analisados, aqueles que apresentam cicatrizes no corpo e
a respectiva proporção são apresentados na tabela 2.
Como observamos, a presença de cicatrizes foi amplamente difundida
no grupo, exceto no gênero Aplastodiscus, no qual o espinho do prepólex não
está presente, assim como no grupo de Hypsiboas semilineatus. Além disso,
notamos que entre os representantes do clado formado por Hypsiboas
107
KAAPORA, H. semiguttatus, H. joaquini e H. sp. (aff. semiguttatus) a proporção
de machos adultos com cicatrizes foi tão alta que não houve sobreposição com
os valores obtidos para qualquer táxon analisado (figura 30).
Tabela 2. Táxons utilizados, o número de mac hos adultos preservados
analisados na coleção CFBH, aqueles que apresentaram cicatrizes no corpo e a
respectiva proporção. Espécies em negrito representam clado que Hypsiboas
KAAPORA pertence. Em asterisco indica proporções obtidas com dois ou
menos machos analisados. A análise dos gêneros Bokermannohyla,
Aplastodiscus e Hypsiboas, e os grupos de espécies basearam-se na filogenia
proposta por F
AIVOVICH et al. (2004, 2005).
Táxon
grupo/espécie
Total de
machos
analisados
Número de
machos com
cicatrizes
Proporção
Grupo Hypsiboas pulchellus
Hypsiboas KAAPORA
18 16 0.89
Hypsiboas andinus
1 1 1.00*
Hypsiboas sp. (aff. semiguttatus)
6 5 0.83
Hypsiboas beckeri
7 5 0.71
Hypsiboas bischoffi
40 13 0.33
Hypsiboas cipoensis
2 2 1.00*
Hypsiboas ericae
7 4 0.57
Hypsiboas goianus
4 3 0.75
Hypsiboas joaquini
16 15 0.94
Hypsiboas latistriatus
1 1 1.00*
Hypsiboas leptolineatus
22 12 0.55
Hypsiboas marginatus
23 13 0.57
Hypsiboas phaeopleura
1 1 1.00*
Hypsiboas polytaenius
18 10 0.56
Hypsiboas prasinus
40 19 0.48
Hypsiboas pulchellus
10 6 0.60
Hypsiboas semiguttatus
7 7 1.00
Hypsiboas stenocephalus
3 1 0.33
Grupo Hypsiboas albopunctatus
Hypsiboas albopunctatus
19 8 0.42
Hypsiboas raniceps
15 9 0.60
Grupo Hypsiboas faber
Hypsiboas albomarginatus
27 7 0.26
Hypsiboas faber
30 22 0.73
Hypsiboas lundii
13 4 0.31
Hypsiboas pardalis
4 2 0.50
Grupo Hypsiboas punctatus
108
Hypsiboas granosus
7 0 0.00
Hypsiboas punctatus
9 2 0.22
Grupo Hypsiboas semilineatus
Hypsiboas semilineatus
20 5 0.25
Hypsiboas geographicus
6 1 0.17
Grupo Bokermannohyla
circumdata
Bokermannohyla astartea
7 4 0.57
Bokermannohyla circumdata
17 11 0.65
Bokermannohyla hylax
18 8 0.44
Grupo Bokermannohyla
pseudopseudis
Bokermannohyla alvarengai
2 1 0.50*
Bokermannohyla pseudopseudis
2 1 0.50*
Grupo Aplastodiscus albofrenatus
Aplastodiscus arildae
8 0 0.00
Aplastodiscus eugenioi
11 0 0.00
Grupo Aplastodiscus albosignatus
Aplastodiscus albosignatus
10 0 0.00
Aplastodiscus callipygius
11 0 0.00
Grupo Aplastodiscus perviridis
Aplastodiscus cochranae
14 1 0.07
Aplastodiscus perviridis
12 2 0.17
Figura 30. Proporção de machos com cicatrizes em relação ao total de machos
analizados do clado Bokermannohyla, Aplastodiscus e Hypsiboas da coleção
CFBH, Laboratório de Herpetologia, UNESP-Rio Claro. Os dados encontram-se
na tabela 2.
109
Escolha dos Machos pelas Fêmeas
Encontramos as f êmeas dentro dos limites dos agregados ocupados por
três a sete machos (mediana = 4,0; tabela 3); e em todos os casos,
compreendiam os maiores agregados entre as proximidades. Apenas uma
desova recém depositada foi encontrada abaixo de um macho isolado. Uma
fêmea encontrada entre dois agregados, um com dois machos e outro com
três, deslocou-se para o de maior número.
Ao chegar ao sítio reprodutivo, algumas fêmeas foram vistas imóveis a
alguns metros dos machos. A fêmea entrou em amplexo na mesma noite (N=3)
em que chega ao sítio reprodutivo ou na noite seguinte (N=6). Não
necessariamente a fêmea se reproduziu com o maior macho do agregado;
entretanto, em nenhum dos casos reproduziu com o menor (tabela 3). A
chegada delas ocorreu em locais distintos dos agregados, ou seja, elas foram
vistas tanto no interior como na periferia dos agregados. Assim, a reprodução
ocorreu tanto com os machos periféricos como aqueles dos centros dos
agregados.
110
Tabela 3. Número de machos de Hypsiboas KAAPORA isolados ou nos
agregados escolhidos pelas fêmeas para a reprodução. Posto do tamanho do
macho escolhido em relação aos demais do agregado, sendo 1 o maior macho, 2
o segundo maior e assim sucessivamente. Amplitude do tamanho (CRC em mm)
dos machos do agregado e do macho escolhido pela fêmea encontram-se em
parênteses. Ribeirão do Meio, Pilar do Sul, estado de São Paulo.
Número
da fêmea
Número do
macho
Número de machos no agregado
(amplitude no CRC em mm)
Posto do
macho
escolhido
(CRC em mm)
73 61 6 (?) ?
74 56 6 (?) ?
76 3 6 (?) ?
85 65 4 (?) ?
85 8 7 (?) 1 (?)
85 88? 3 (?) ?
95 75 3 (32,5-36,5) 1 (36,5)
100 97 6 (31,3-37,5) 2 (37)
122 118 4 (33,0-36,1) 2 (34,8)
125 81 4 (33,0-36,1) 1 (36,1)
126 101 5 (34,1-37,3) 2 (36,8)
? 106 1 (36,0)
143 118 4 (35,2-36,5) 2 (36,0)
170 121 4 (36,0-36,7) 3 (36,0)
Em uma ocasião uma fêmea aproximou-se de um a gregado com quatro
machos e embora próxima de um macho que ainda emitia vocalizações
incipientes, optou por atravessar o riacho e reproduziu com outro macho. Em
outra situação, um macho aproximou-se da fêmea, a cerca de 40 cm, e
permaneceu olhando para ela sem vocalizar por 45 min, o que não parece tê-la
estimulado, pois ela não emitiu sinalização visual; a fêmea reproduziu com
outro macho que emitiu vocalizações durante a corte na noite seguinte. Nos
outros casos a f êmea entrou e m amplexo com o primeiro macho que se
111
aproximou e emitiu vocalizações de anúncio. De 159 machos que registramos
apenas 13 foram observados reproduzindo, razão de 0,08, sendo que um deles
(macho 118) acasalou duas vezes (tabela 3).
Das 11 fêmeas registradas apenas uma foi recapturada e em duas
ocasiões. A primeira recaptura ocorreu duas noites a pós tentativa frustrada de
oviposição (ver comportamento reprodutivo) em agosto de 2004. Entre estas
duas noites a fêmea deslocou-se cerca de 130 m riacho abaixo. Durante o
trajeto a fêmea passou por machos isolados e por agregados menores. Em
novembro, portanto três meses depois, voltamos a registrá-la no riacho (tabela
3).
Comportamento Reprodutivo
Com base em sete observações, o padrão geral do comportamento
reprodutivo é apresentado na figura 31. Como dito anteriormente, a presença
da fêmea nos arredores, tornaram os machos mais ativos e agressivos, que
emitiram vocalizações mais freqüentemente. Durante a chegada no tio
reprodutivo observamos fêmeas imóveis próximas dos agregados. A
vocalização de anúncio claramente orientou as fêmeas, que se deslocram na
direção do agregado ou do macho escolhido logo após a emissão dos cantos.
Quando estavam próximas, entre cerca de 1,0 a 2,0 m de distância, os machos
conseguiam visualizá-las e olhavam fixamente na sua direção e geralmente
aumentavam o ritmo de emissão nas vocalizações, recorrendo freqüentemente
às vocalizações compostas. Embora estas vocalizações apresentem as
mesmas características físicas do canto de anúncio (veja capítulo 1), pelo
contexto, as consideramos como canto de corte. As fêmeas, quando próximas
dos machos, emitiram sinalizações visuais imediatamente após os machos
vocalizarem, aparentemente para orientá-los. Estas sinalizações incluiram
movimentos curtos e rápidos dos membros, como levantar uma das mãos, por
vezes movimentando todo o corpo, parecendo “rebolar”, ou ainda, esticar
vagarosamente uma das pernas e a deixar solta do substrato. As fêmeas
podiam finalizar o comportamento de corte abraçando o caule da vegetação de
112
forma peculiar (figura 32A) e, em alguns casos, movimentando o corpo
repentinamente sobre o caule nesta mesma posição. Além das sinalizações,
algumas fêmeas movimentaram-se intensamente quando se aproximaram dos
machos, chamando-lhes a atenção. Em geral, olhando na direção das fêmeas,
os machos vocalizavam mais freqüentemente (figura 32B); as fêmeas então
respondiam novamente com sinalizações visuais; estas interações podiam se
repetir algumas vezes. Posteriormente, os machos saltaram na direção das
fêmeas até atingirem o mesmo substrato, moveram-se até ela e sobiram no
dorso a p artir da região posterior ou lateral. Os amplexos foram axilares e
ocorreram sobre a vegetação (figura 32C). Passados alguns minutos (15-45
min, N=3), os casais direcionaram para baixo (figura 32D) e saltaram na
direção do riacho (figura 32E). Durante os amplexos os machos por diversas
vezes pressionaram a região gular sobre o dorso da fêmea, além de parecerem
ajeitar o abraço.
Dentro da água os casais submergiram e emergiram diversas vezes à
procura de locais para desovarem. Estes mergulhos duraram de dois até mais
de 20 minutos. Alternadamente os casais submergiram ou ficaram agarrados à
margem, próximos da superfície, parcialmente submersos, parecendo
descansar (figura 32F). Em alguns casos, movimentaram-se pela margem. As
fêmeas pareceram ser bastante seletivas na procura de um sítio para a
oviposição, examinando minuciosamente os substratos dentro da água,
principalmente próximos da margem (figuras 32G-I). Os casais percorreram
vários metros em ambas as margens, subindo o u descendo o riacho. Este
processo é lento, podendo levar algumas horas (1:30-3:00 horas, N = 3). Os
locais de desova foram constituídos por raízes da vegetação m arginal expostas
dentro da água. No dia seguinte à oviposição, as desovas aumentaram
consideravelmente de volume. As desovas ocorreram tanto em locais de
remanso, como os constituídos por correnteza relativamente forte; este fator,
além da topografia local, dependeu da estação em que a reprodução ocorreu e
da presença ou não de chuvas. Após a desova uma fêmea submersa e ainda
em amplexo foi observada arqueando o corpo, esticando as patas, parecendo
debater-se para expulsar o macho. Feito isso, o macho soltou-a e ela sozinha
113
começou a enrolar a desova ao redor do substrato, utilizando principalmente os
membros posteriores. Um casal acompanhado durante a noite (23:00-5:40 hs)
parece ter desistido de desovar quando começou a clarear o dia e
aparentemente nenhum local ideal foi encontrado para a oviposição ou nossa
presença influenciou de forma negativa. A mesma fêmea foi encontrada duas
noites depois em amplexo com outro macho.
Fêmea chega ao
sítio reprodutivo
Machos emitem
vocalização de anúncio
Fêmea movimenta-se
na direção do macho
vocalizador
Macho percebe a fêmea
visualmente, direciona-se
à ela e emite vocalização
de corte
Fêmea emite
sinaliza ção visual
Macho emite vocalização
de corte, em geral, composta,
movimenta-s e até a fêmea e
entram em amplexo
mea abraça
a vegetação
Casal salta para o rio
à procura de um
local para desovar
Figura 31. Diagrama do padrão geral de comportamento de corte de Hypsiboas
KAAPORA. Seqüência obtida a partir da observação de sete eventos de
reprodução em campo. Ribeirão do Meio. Município de Pilar do Sul, estado de
São Paulo.
114
AB
C
CD
E
F
G
H
ABC
D
E
F
G
H
I
Figura 32. Comportamento reprodutivo de Hypsiboas KAAPORA. (A) Fêmea abraça
a vegetação como parte dos comportamentos para orientar o macho; (B) o macho
(esquerda) emite vocalização de corte próximo à fêmea momentos antes de saltar
até ela para entrarem em (C) amplexo; (D) passados alguns minutos o casal orienta-
se em direção ao riacho e (E) salta para dentro dele; (F; G; H; I) a fêmea procura
minuciosamente um local para a oviposição entre as raízes da vegetação marginal
que ficam expostas dentro da água. Seqüência obtida em março de 2005 no ribeirão
do Meio, município de Pilar do Sul, estado de São Paulo.
115
As desovas são compostas de ovos envoltos por cápsulas gelatinosas,
que os aderem uns aos outros e ao substrato onde foi colocada (figura 33). A
desova é formada por uma massa única e os ovos são dispostos em várias
camadas. Os embriões passam os primeiros estágios da vida presos às
cápsulas.
Figura 33. Desova de Hypsiboas KAAPORA posta em raiz da vegetação marginal
exposta dentro da água. Ribeirão do Meio, município de Pilar do Sul, estado de
São Paulo.
116
DISCUSSÃO
Padrão de Atividade e Período Reprodutivo
A reprodução contínua (anual) observada em Hypsiboas KAAPORA
contrasta com a reprodução marcadamente sazonal da maioria das espécies
da Mata Atlântica no Sul e Sudeste do Brasil (P
OMBAL
J
R
1997; K
WET
&D
I
-
BERNARDO
1999; C
ONTE
&R
OSSA
-F
ERES
2006; B
ERNARDE
&M
ACHADO
2000; M.
H
ARTMANN
2004; B
ERTOLUCI
2001; B
ERTOLUCI
&R
ODRIGUES
2002a,b; H
ADDAD
&
S
AZIMA
1992). No entanto, a reprodução prolongada (G
ALLARDO
1961; B. L
UTZ
1973; G
ARCIA
2003; G
ARCIA
et al. 2001, 2003; K
WET
&D
I
-B
ERNARDO
1999;
C
ONTE
&R
OSSA
-F
ERES
2006; obs. pessoal) e a reprodução contínua (H
ADDAD
&
S
AZIMA
1992;
OBS
. pessoal) foram observadas para algumas das espécies do
grupo de Hypsiboas pulchellus. No presente estudo registramos, em lagoas
antrópicas permanentes das áreas com vegetação alterada, apenas os machos
adultos de Hypsiboas bischoffi, H. cf. caingua e H. prasinus vocalizando
durante o ano todo, inclusive durante os meses mais frios. Ao contrário d e
Hypsiboas KAAPORA sua espécie irmã, Hypsiboas semiguttatus, e outras
espécies do mesmo clado (H. joaquini e outras ainda não descritas do s ul do
Brasil e Argentina) não parecem ter atividade reprodutiva nos meses mais frios
do ano (G
ARCIA
2003; G
ARCIA
et al. 2001; K
WET
&D
I
-B
ERNARDO
1999; C
ONTE
&
R
OSSA
-F
ERES
2006).
117
Em geral, as espécies do grupo de Hypsiboas pulchellus estão
associadas às regiões montanhosas da América do Sul (B. L
UTZ
1973;
D
UELLMAN
et al. 1997). Espécies de anuros localizadas em altitudes elevadas
estão condicionadas às fortes flutuações diárias na temperatura o que
provavelmente levou-as a desenvolver mecanismos fisiológicos e
comportamentais que maximizam o desempenho na vocalização e
principalmente na locomoção, mantendo suas atividades durante t emperaturas
baixas comparadas às espécies de baixas altitudes (N
AVAS
1998). Apesar dos
mecanismos de aclimatação não serem conhecidos para as espécies tropicais,
ajustes aclimatórios rápidos podem ser usados pelas espécies de altitudes
elevadas frente às acentuadas oscilações que enfrentam na temperatura
(N
AVAS
1998). De f ato, observamos pequenas flutuações diárias relacionadas
entre a temperatura do ar e número de indivíduos, mas durante quedas
intensas na temperatura o número de machos encontrados é fortemente
reduzido. Outro fator climático marcante se com a presença de chuvas
fortes, que diminui drasticamente o número de machos registrados ao longo do
riacho. Os resultados aqui obtidos nos permitiram avaliar empiricamente as
conseqüências das variações climáticas sobre a atividade dos indivíduos ou
aos eventos de reprodução. Melhor análise deve ser realizada obtendo-se os
dados por mais dias de um mesmo mês, relacionando o número de indivíduos
encontrados e/ou pres ença/ausência de eventos reprodutivos à temperatura no
momento da coleta e à precipitação ocorridas naquele mês ou em dias
anteriores comparadas aos meses que apresentem médias semelhantes.
Acreditamos que a variação anual de temperatura, o padrão contínuo de
atividadeeociclodevidadosmachosadultos prejudicam a análise do efeito
das variáveis climáticas sobre a atividade dos indivíduos.
A reprodução contínua aqui observada parece não significar que os
indivíduos estejam aptos a reproduzir-se durante todos os dias e,
possivelmente, os eventos reprodutivos estejam relacionados às oscilações
climáticas. G
ALLARDO
(1961) observou que Hypsiboas pulchellus apresenta
reprodução prolongada, com pic os reprodutivos que respondem intimamente a
118
fatores climáticos, o que poderia tornar-se evidente em Hypsiboas KAAPORA
em um estudo mais prolongado.
Ciclo de Vida dos Machos Adultos
Como Hypsiboas KAAPORA apresenta reprodução anual, significando o
nascimento de girinos continuamente, isto implica, em larvas de diferentes
idades, estágios e condições de peso e tamanho na população em um mesmo
período. Desta forma, seria esperado que a metamorfose ocorresse durante o
ano todo. De fato, C
RUMP
(1974) atribui à reprodução contínua, recrutamento
de jovens o ano todo. Curiosamente, jovens recém metamorfoseados foram
encontrados na vegetação que margeia o riacho somente nos meses de
dezembro e janeiro, período no qual a temperatura do riacho está entre as mais
elevadas do ano. Devemos considerar, primeiramente, falhas na amostragem.
No entanto, Hypsiboas pulchellus, espécie com reprodução ao longo do ano
(G
ALLARDO
1961), também apresenta sincronia no recrutamento de jovens
entre outubro e novembro (B
ASSO
&K
ERR
1992). Além disso, outras espécies
de reprodução aparentemente contínua, ou pelo menos prolongada, no mesmo
riacho de H. KAAPORA (e.g., Aplastodiscus albosignatus e Crossodactylus
caramaschii) apresentaram padrão semelhante (obs. pessoal.).
Supondo que ocorra sincronia na metamorfose dos girinos, aqueles
mantidos no riacho só metamorfoseariam a partir de dezembro de 2006, o que
demoraria entre 13 a 20 meses. O desenvolvimento lento dos girinos de
Hypsiboas KAAPORA é esperado para espécies que se reproduzem em locais
permanentes. Em geral, anuros com reprodução em ambientes permanentes
atingem a metamorfose mais lentamente do que aqueles com reprodução em
ambientes efêmeros e o tamanho dos jovens pós-metamórficos é maior nos
primeiros (D
UELLMAN
&T
RUEB
1986). Além disso, espécies que se reproduzem
em riachos em altitudes elevadas desenvolvem-se ainda mais lentamente, pois
a temperatura é positivamente correlacionada com a taxa de crescimento dos
girinos (D
UELLMAN
&T
RUEB
1986; U
LTSCH
et al. 1999). Como a estrutura etária
119
é composta por girinos em diferentes condições corpóreas, decorrentes em
parte da idade, a sincronia na metamorfose implica em jovens de diferentes
idades e condições corpóreas. Tal fato também foi observado em Hypsiboas
pulchellus (B
ASSO
&K
ERR
1992).
Da mesma f orma, na reprodução contínua espera-se que machos
adultos também sejam recrutados durante o ano todo, o que de fato ocorreu.
Mas é provável que eles tenham metamorfoseado praticamente juntos,
principalmente em dezembro e janeiro, e uma possível explicação é que a
partir de fevereiro estivessem prontos para se reproduzir, pois é a partir de
fevereiro que os menores machos recrutam. Neste contexto, o tempo elevado
durante a fase larval em Hypsiboas KAAPORA parece suprir grande parte da
fase juvenil, pois esta última parece curta (cerca de três meses), a não ser que
os jovens ficassem mais de um ano (cerca de 15 meses) se desenvolvendo até
atingirem a idade reprodutiva. No entanto, os jovens após a metamorfose
apresentam até 70 % do tamanho dos menores machos adultos medidos, e
cerca de três meses parece razoável para que os mesmos atinjam a fase
adulta.
Entre machos adultos mais novos, uma pequena parte migra para os
sítios reprodutivos a partir de fevereiroeamaiorparcelaconstituiráos
recrutados de março, e em menor número em abril. São nestes períodos que
observamos uma alta proporção de indivíduos novos na população,
constituídos por machos recém registrados, não registrados no ano anterior e
em janeiro do respectivo ano, e que apresentam condições corpóreas, como
peso e tamanho, relativamente menores do que os machos da geração
anterior. Além disso, estes indivíduos, em geral, não apresentam cicatrizes
causadas por confrontos territoriais.
Após o período de maior recrutamento de machos adultos, os outros
machos que migraram para o sítio reprodutivo, parecem refletir um processo de
equilíbrio na densidade populacional, pois, como observamos, geralmente a
diminuição do número total de machos na transecção foi seguida de um maior
recrutamento. Estes machos adultos devem migrar para estes sítios
120
reprodutivos na medida em que a densidade diminui seja pela emigração e/ou
mortalidade, tornando alguns territórios vagos.
O ciclo de vida em Hypsiboas KAAPORA compreende reprodução
contínua, com sincronia no período de metamorfose e assincronia no
recrutamento de machos no sítio reprodutivo e estimamos para os machos uma
longevidade que poderia durar pelo menos 47 meses.
Estratégias Reprodutivas nos Machos Adultos
Duas hipóteses explicariam a migração destes machos adultos ao longo
do ano na população amostrada. A primeira é devido aos machos que vêm de
outros s ítios reprodutivos acima ou abaixo do trecho estudado do riacho,
embora, a parcela da população registrada migrando para dentro ou para fora
da transecção tenha sido baixa (cerca de 10 % da geração de 2005). Outra
explicação poderia ser devida à plasticidade nas estratégias reprodutivas
apresentadas pelos machos. Possivelmente alguns indivíduos ao invés de se
reproduzirem logo após a metamorfose (cerca de dois a quatro meses), como
fazem aqueles recrutados entre fevereiro e abril, poderiam passar mais tempo
alimentando-se fora dos sítios reprodutivos, optando por uma reprodução mais
tardia. No entanto, com condições corpóreas mais vantajosas, e em um
período no qual a densidade de machos é menor. Embora a vantagem de ser
maior seja óbvia em termos competitivos com outros machos, esta estratégia é
arriscada, pois aumenta a possibilidade do indivíduo morrer antes de se
reproduzir.
O custo energético para a reprodução pode ser observado através da
perda de peso nos machos no s ítio reprodutivo (H
ALLIDAY
&T
EJEDO
1995). A
defesa do território, que envolve a emissão de vocalizações, a movimentação
pela área defendida, e eventualmente combates físicos, é intensificada quando
a densidade de machos se eleva (H
ALLIDAY
&T
EJEDO
1995). Durante o
recrutamento da nova geração, ocorreu perda de peso dos machos da geração
anterior que mantinham território no sítio reprodutivo, o que pode ser devido à s
121
atividades energeticamente custosas para a defesa territorial. O mesmo pode
ser observado para os recrutas de maio, que por não gastar energia para a
reprodução, chegam ao sítio reprodutivo com condições corpóreas vantajosas.
Após aumento de peso em maio, ocorre nova queda em junho, julho e agosto.
Sabe-se que a temperatura é positivamente correlacionada com o crescimento
ou taxa metabólica dos anuros (D
UELLMAN
&T
RUEB
1986) e o período no qual
registramos a queda no peso dos machos corresponde aos meses em que a
temperaturadoambienteéamaisbaixadoano.
Utilização do Hábitat de Reprodução e Padrão de Distribuição dos
Machos Adultos
Dentre as espécies do grupo de Hypsiboas pulchellus,diversasse
reproduzem em riachos (e.g., H. joaquini em G
ARCIA
et al. 2003; H. marginatus
em G
ARCIA
et al. 2001; H. alboniger, H. balzani, H. marianitae, H. palaestes em
D
UELLMAN
et al. 1997; H. freicanecae em C
ARNAVAL
&P
EIXOTO
2004; H.
cipoensis em E
TEROVICK
&S
AZIMA
2005, H. goianus em B
ASTOS
et al. 2003).
Nestas espécies, assim como em H. KAAPORA, os machos reprodutivos
distribuem-se na vegetação marginal, onde cantam a pouca distância da água.
Embora não tenhamos realizado análise quantitativa das variáv eis que
poderiam influenciar no maior ou menor agrupamento dos machos adultos em
algumas áreas particulares do riacho, alguns fatores, segundo observações
qualitativas, parecem ser determinantes. Nos locais de maior concentração de
machos reprodutivos é nítida a presença de clareiras. As temperaturas mais
altas durante o dia nas clareiras podem favorecer maior um crescimento dos
indivíduos, pois podem aumentar a velocidade de digestão das presas
consumidas (F
EDERS
1982; S
INSCH
1991
APUD
N
AVAS
1998). Desde que a
temperatura corporal e do substrato estão relacionadas, a atividade dos anuros
é dependente das características termais do microhábitat (N
AVAS
1998) e a
colonização em clareiras pelos machos de Hypsiboas KAAPORA pode ser um
122
mecanismo comportamental que favorece sua termorregulação e
desenvolvimento.
A presença de caetés (Calathea communis), vegetação abundantemente
associada às clareiras, possivelmente fornece microhábitats que favorecem a
sobrevivênciaeareprodução dos indivíduos de Hypsiboas KAAPORA. Esta
vegetação herbácea é relativamente densa e possivelmente propicia uma
maior proteção à ação de predadores e de chuvas, além do acúmulo
considerável de serapilheira na base dos caetés, favorecendo o abrigo durante
o dia. As raízes dos caetés, do tipo fasciculada, são emaranhadas, muito
bifurcadas e freqüentemente estão expostas dentro da água. Estas raízes
foram as únicas utilizadas para a desova durante o estudo. Das quatro
observações de oviposição que fizemos, todas aconteceram em raízes de
caetés. No entanto, observa-se que mesmo dentro dos caetezais outras
vegetações herbáceas e arbustivas, que os machos parecem utilizar
indistintamente.
A definição de leks, onde machos se agregam em locais conspícuos e
não fornecem nenhum recurso para as fêmeas ou à prole, senão esperma, é
discutível nos anuros (B
OURNE
1992). Notamos que o comportamento de corte
e o amplexo ocorrem basicamente no mesmo local onde o macho vocaliza. Isto
parece reforçar a definição clás sica de lek. Além disso, aparentemente não
algum recurso para as fêmeas nos territórios ocupados pelos machos, pois
após dirigir-se para água, a procura por locais de desova pela fêmea não se
restringe ao território do macho escolhido, porque a procura é realizada em
uma área bem maior do que a área que o macho defende.
O padrão de distribuição agregado, observado para os machos em
reprodução de Hypsiboas KAAPORA, é comum entre os anuros. Normalmente,
os anuros agregam-se em sítios reprodutivos específicos, onde vocalizam para
a atração das fêmeas (W
ELLS
1977b).
Deve-se ressaltar que o padrão de distribuição d e uma população
depende da escala utilizada (K
REBS
1994). Em escalas m ais amplas os machos
adultos reprodutivos também se distribuem de forma agregada, pois somente
os encontramos vocalizando empoleirados na vegetação marginal apenas em
123
alguns rios de maior porte no alto da Serra de Paranapiacaba, exceto próximos
das nascentes e nos trechos de corredeira, com fundo rochoso. Além disso,
nenhum indivíduo foi encontrado nos córregos tributários destes rios.
Ao longo do riacho, e principalmente na transecção, observamos além
de poucos indivíduos isolados, os machos agregarem-se em grupos de menos
de uma dezena de indivíduos, distanciados normalmente entre 1 a 5 m do
macho mais próximo. Nos agregados, em geral, os machos encontram-se
uniformemente distribuídos, o que deve ser reflexo das interações diretas e do
comportamento territorial, causando um distanciamento estável mínimo entre
eles.
Estrutura Social nos Agregados
Observamos nítida hierarquia social entre os machos nos agregados.
Aparentemente, os machos territoriais reconhecem os machos vizinhos,
ficando claros os limites entre seus territórios, pois, raramente observamos
interações agonísticas entre indivíduos que conviviam alguns meses.
Possivelmente, esta convivência estável seja reflexo de interações agressivas
ocorridas anteriormente, em que as relações hierárquicas entre os machos do
agregado tivessem sido previamente estabelecidas, reduzindo o tempo e o
gasto energético em novas interações agonísticas. Em estudos de cativeiro, a
capacidade de reconhecer os vizinhos foi avaliada em lagartos, através do
processo de aprendizagem durante disputas territoriais entre machos, e as
batalhas subseqüentes envolvendo os mesmos machos foram menos
agressivas (L
ÓPEZ
&M
ARTÍN
2001). Nos anfíbios o reconhecimento por
familiares foi constatado principalmente em salamandras e em girinos (veja
revisão em B
LAUSTEIN
&W
ALLS
1995), e no raros estudos com os machos
adultos de anuros, o reconhecimento dos vizinhos se a partir da vocalização
(D
AVIES
1987).
Alguns territórios conspícuos são ocupados geralmente por machos
mais velhos e maiores. Observamos que estes territórios quando se tornam
vagos, provavelmente devido à predação do antigo ocupante, são
124
imediatamente ocupados pelos m achos com território estabelecido nos
arredores. Possivelmente existe alguma vantagem na localização destes
territórios, como, por exemplo, poleiros que facilitem a localização dos machos
pelas fêmeas. No entanto, parte da preferência poderia acontecer em função
das transmissões culturais ocorridas devido à sobreposição de gerações.
Durante o recrutamento dos machos da nova geração estes locais se
encontram ocupados por machos da geração anterior e talvez a sua presença
possa ser um indicativo indireto da qualidade do território para os demais
machos da população.
Observamos mais raramente a presença de alguns machos satélites,
que eram machos menores e claramente adotam postura submissa, não
vocalizando e permanecendo nos arredores de machos territoriais. No grupo de
Hypsiboas pulchellus, a estratégia do macho satélite foi observada em
Hypsiboas goianus (B
ASTOS
et al. 2003) e em Hypsiboas cf. caingua (obs.
pessoal). Mas, o sucesso reprodutivo dos machos periféricos, parece não
depender somente do estabelecimento futuro nestes territórios aparentemente
melhores, pois em alguns casos, observamos estes machos acasalarem com
fêmeas vindas da periferia dos agregados.
Escolha dos Machos pelas Fêmeas
O sucesso reprodutivo das fêmeas está em parte relacionado com a
duração da fase reprodutiva e, em geral, em espécies com reprodução
prolongada, as fêmeas reproduzem mais de uma vez (e.g., H
OWARD
1978b;
H
ALLIDAY
&T
EJEDO
1995). Recapturamos apenas uma fêmea ovada, três
meses após ser observada reproduzindo. Além disso, parte do sucesso
reprodutivo das fêmeas reside na sua escolha por machos aparentemente
melhores (H
ALLIDAY
&T
EJEDO
1995). Nossas observações indicam certo grau
de seleção pela fêmea na procura por locais com maiores concentrações de
machos, o que talvez seja um indicativo de que nestes locais encontram-se os
melhores machos ou que pelo menos haja maior opção de escolha de
parceiros. A escolha por machos para se acasalar é relativamente breve, isso
125
pode aumentar a possibilidade de os machos menores com territórios na
periferia dos agregados também se ac asalarem, desde que vocalizem.
Fêmeas imóveis nos agregados e a ocorrência da maior parte dos
eventos reprodutivos ao dia seguinte da sua chegada parecem decorrer da
capacidade de percepção delas acerca do posicionamento dos machos ou
devido à escolha prévia dos machos feita por elas. Características físicas do
canto dos anuros est ão relacionadas com o tamanho do macho e diversos
estudos experimentais têm demonstrado a escolha prévia por um determinado
macho a partir destes parâmetros (R
YAN
1983; H
ADDAD
, 1987). A escolha pelos
maiores machos parece ser adaptativa nas fêmeas, pois estes: (1) podem ser
mais velhos e por isso demonstraram habilidade para a sobrevivência, (2)
podem ter apresentado taxa de crescimento mais rápida quando jovens, (3)
podem apresentar precocidade para a maturação sexual (idade da primeira
reprodução) (H
ALLIDAY
&T
EJEDO
1995). Além disso, machos maiores
costumam obter os melhores territórios (H
OWARD
1978a,b; W
ELLS
1977a). No
entanto, o sucesso reprodutivo dos machos nem sempre depende do tamanho
(M
ARTINS
1993; M
AGNUSSON
et al. 1999).
A escolha por machos para acasalar também implica custos, o que pode
resultar em forças seletivas que reduzem o tempo de procura, fator que
favorece os machos mais conspícuos e fáceis de localizar (S
ULLIVAN
et al.
1995). I sto pode explicar porque não houve tendência em escolher o maior
macho do agregado pelas fêmeas. Além disso, em algumas espécies existe
uma proporção ótima no tamanho do cas al em amplexo, permitindo uma maior
fertilização dos óvulos, devido à justaposição das cloacas (e.g., B
ASTOS
&
H
ADDAD
1996). Em Hypsiboas KAAPORA tanto os machos que dominavam os
melhores territórios dos agregados, como os machos periféricos e aqueles
isolados, foram observados adquirindo acasalamentos, evidenciando que
ambas as estratégias reprodutivas têm seu sucesso relativo na população. Em
outros estudos, as fêmeas nem sempre se reproduzem com o primeiro macho
que encontram, mas sua escolha parece estar restrita àqueles machos das
redondezas que estão ativos naquela noite (B
ASTOS
&H
ADDAD
1996).
126
Competição direta por fêmeas é rara para a maioria das espécies de
reprodução prolongada (W
ELLS
1977b), e, de fato, durante o amplexo embora
machos pr óximos observassem o casal, não o observamos tentarem desalojar
os machos amplectantes. No entanto, na presença das fêmeas nos arredores,
os machos se movimentam e vocalizam mais freqüentemente se tornam mais
ativos ou mais agressivos. Observações semelhantes foram feitas para
Aplastodiscus leucopygius (H
ADDAD
&S
AWAYA
2000) e para Hypsiboas
albomarginatus (G
IASSON
&H
ADDAD
2006), espécies nas quais a presença da
fêmea desencadeia o duelo vocal entre os machos. A única situação de disputa
direta pela fêmea, ocorreu quando dois machos próximos vocalizavam
normalmente, mas após o maior deles perceber a fêmea, que emitiu
sinalização visual em reposta a sua vocalização, passou a perseguir e emitir
vocalizações agressivas em resposta às vocalizações de anúncio do outro
macho; somente entrou em amplexo com a fêmea quando expulsou o rival.
Comportamento e Comunicação Social
Nos anuros a vocalização é a forma de comunicação soc ial mais
conspícua (W
ELLS
1988). Embora os machos de Hypsiboas KAAPORA
vocalizem pouco, o que também parece uma característica de outras espécies
do clado (G
ARCIA
et al. 2003; G
ARCIA
et al. no prelo; obs. pessoal), interações
acústicas são relativamente freqüentes, principalmente nos agregados.
Normalmente, após um tempo de silêncio uma vocalização de anúncio
desencadeia outras no agregado e ao longo do riacho, sem sobreposiç ão
integral das vocalizações. Em diversas espécies a alternação das vocalizações
reduz a interferência acústica entre os machos dos coros, maximizando a
comunicação (W
ELLS
1977c). Vocalizações territoriais são emitidas durante
interações agonísticas e serão tratadas mais adiante.
Nossas observações sugerem que em Hypsiboas KAAPORA, a
vocalização de corte tem papel fundamental durante as interações diretas com
as fêmeas, pois em todos os c asos, estas reproduziram com o primeiro macho
127
que emitiu canto de corte à sua frente. Embora a vocalização de corte tenha as
mesmas características físicas do canto e anúncio (veja capítulo 1), seu
contexto é distinto e normalmente ocorre aumento no ritmo de emissão, além
da emissão mais freqüente de vocalizações compostas.
A comunicação visual em espécies noturnas de anuros recebeu maior
atenção em estudos recentes e atualmente é conhecida para diversas famílias
(H
ÖDL
&A
MÉZQUITA
2001; M. H
ARTMANN
et al. 2005; G
IASSON
&H
ADDAD
2006).
Observamos este tipo de comunicação freqüentemente em interações
agonísticas e de corte, quando os indivíduos estavam à curta distância. Ao
contrário do que foi proposto para espécies de riachos (M. H
ARTMANN
et al.
2005) a evolução deste tipo de comunicação em Hypsiboas KAAPORA não
parece ter sido influenciada pelos ruídos do ambiente, mas evoluiu
principalmente para facilitar a localização precisa do indivíduo que a emite ou
demonstrar seu estado comportamental durante interações sociais a curta
distância. A acurada capacidade visual também foi observada durante a
movimentação pelo substrato, onde os indivíduos direcionam-se e observam o
local que será alcançado, da mesma forma que as presas chamam sua
atenção quando movimentam-se nas proximidades. Além disso, duas
serpentes predadoras de anuros (Tropidophis paucisquamis e juvenis de
Bothrops jararaca) registradas na área, utilizam a tática de espreita por engodo
caudal (obs. pessoal), que necessita da capacidade visual da presa. O
repertório visual apresentado por H. KAAPORA corresponde ao que tem sido
descrito na literatura para outras espécies (H
ÖDL
&A
MÉZQUITA
2001; M.
H
ARTMANN
et al. 2005). No entanto, sinalizações visuais utilizadas pelas fêmeas
durante o comportamento reprodutivo, que aparentemente facilitam sua
localização e demonstra sua receptividade ao macho que se aproxima e emite
vocalização de corte, não tem sido relatado.
Outro fato que nos chamou a atenção no campo é que na presença das
fêmeas, os machos se movimentavam e vocalizavam mais intensamente. A
forma pela qual os machos percebem na presença das fêmeas não está clara,
mas certamente não é apenas visual, uma vez que alguns machos deslocaram-
se até 30 m para as proximidades de uma fêmea.
128
Territorialidade nos Machos Reprodutivos
Os machos adultos de Hypsiboas KAAPORA tentam conquistar um
território na vegetação marginal do riacho. Estes machos podem estabelecer
territórios isoladamente, embora a maioria conviva nos agregados, onde o
distanciamento entre eles, dependendo da densidade, pode ser reduzido. A
defesa de um território pode representar uma forma de evitar a competição
com outros machos durante a chegada das fêmeas, prevenindo ou dificultando
que outros machos interfiram no ato reprodutivo; também pode facilitar a
localização do macho territorial pela fêmea, devido à menor interferência
acústica (veja revisões em H
ADDAD
1989; M
ATHIS
et al. 1995). Freqüentemente
o tempo de permanência no sítio reprodutivo pelos machos é significativamente
correlacionado com a aquisição de acasalamentos (W
ELLS
1977a; W
OODWARD
1982; M
ARTINS
1993). Como em Hypsiboas KAAPORA, alguns estudos com
algumas espécies de Hypsiboas (e.g., H. faber em M
ARTINS
1993 e H.
rosembergi em K
LUGE
1981) o tempo de permanência dos machos adultos em
seus territórios é variável, em que poucos se estabelecem por tempo elevado.
Embora os machos freqüentemente desloquem-se pelo riacho e possam se
estabelecer em mais de um território ao longo de sua permanência no sítio
reprodutivo, quando estabelecidos, a sua movimentação diária e as atividades
necessárias à sua sobrevivência e reprodução parecem ser bastante
relacionadas à área que ele defende, pois estes podem ser encontrados quase
que diariamente em um m esmo território. Mas como os machos não são
registrados em todos os censos, isto poderia estar relacionado, além das falhas
na amostragem, a eventuais atividades fora de seu território ou que estes não
estão ativos durante todas as noites. Portanto não foi possível relacionarmos o
tamanho do território com a área de vida nos machos adultos.
Além do tamanho do macho e a residência, que influenciaram
positivamente nas interações agonísticas e conseqüentemente na conquista do
território, a variação comportamental individual, como os diferentes níveis de
agressividade entre os machos, também parecem ser determinantes para um
maior sucesso no estabelecimento territorial. W
ELLS
(1977a) também notou que
alguns machos mais agressivos tiveram maior sucesso em acasalar-se.
129
Embora notemos variações na agressividade entre os machos a partir de
observações comportamentais não quantificadas, experimentos manipulativos
são recomendáveis para melhor avaliar estes efeitos.
O comportamento territorial entre os anuros é característico dos machos
adultos durante a fase reprodutiva e envolve uma seqüência comportamental
agressiva crescente (H
ADDAD
1989). Observações de interações agonísticas
entre machos reprodutivos de Hypsiboas KAAPORA foram relativamente
freqüentes e caracterizadas por um complexo r epertório escalonado de
agressividade, desde a emissão de cantos de anúncio, algumas vezes logo
após outro macho vocalizar, emissão de cantos territoriais, sinalizações visuais
e posturais e confrontos físicos. Provavelmente as primeiras etapas das
interações agonísticas decorrem da avaliação do tamanho do macho oponente
através de parâmetros acústicos e visuais. A territorialidade escalonada deve
estar relacionada à economia energética ou uma forma de evitar ocasionais
injúrias entre os machos envolvidos (W
ELLS
1977b; F
ELLERS
1979a; M
ARTINS
et
al. 1998), e em, casos mais extremos, a morte (B. L
UTZ
1960; K
LUGE
1981).
Eventualmente as int erações de H. KAAPORA resultam em confrontos diretos,
esta última categoria incluindo golpes com ambos os membros, visando
derrubar o inimigo, e a freqüente utilização do espinho do prepólex na tentativa
de ferir o oponente.
Entre os Hylidae, a presença de um espinho curvo e pontiagudo no
prepólex é observada nas mãos de machos do clado formado por
Bokermannohyla e Hypsiboas, em parafilia com Aplastodiscus e o grupo de H.
semilineatus, em que o espinho não é encontrado (F
AIVOVICH
et al. 2005). No
entanto, uma análise osteológica mais detalhada do espinho do prepólex neste
clado (Bokermannohyla, Hypsiboas e Aplastodiscus) deve ser realizada para
avaliar sua homologia (F
AIVOVICH
et al. 2005).
A função do espinho parece estar relacionada principalmente aos
combates agressivos nos quais os machos tentam ferir o oponente (B. L
UTZ
1960; K
LUGE
1981; M
ARTINS
et al. 1998), embora sua origem tenha função
duvidosa (veja revisão em K
LUGE
1981). K
LUGE
(1981) se referiu a algumas
espécies de Hypsiboas (e.g., H. rosembergi e H. faber) pelo nome de
130
pererecas gladiadoras (gladiator frogs). Embora parte das cicatrizes nos
machos possa ter sido causadas por tentativa de predação ou por arranhões
na vegetação, observamos que os combates físicos entre machos causam
sérias cicatrizes. Nossas análises em machos preservados indicam que
cicatrizes são conspícuas para a maioria das espécies de Bokermannohyla e
Hypsiboas e que provavelmente decorre de combates físicos. Provavelmente a
proporção de machos analisadas foi aumentada devido à prática de juntar os
animais em um mesmo recipiente após coleta. As espécies verdes do gênero
Aplastodiscus, relativamente bem estudadas em campo, apresentam peculiar
modo reprodutivo e comportamento de corte (H
ADDAD
&S
AWAYA
2000;
H
ARTMANN
et al. 2004; H
ADDAD
et al. 2005), mas os combates físicos entre
machos não são conhecidos.
Entre os representantes do grupo de Hypsiboas pulchellus em que
registramos alta proporção de machos com cicatrizes pelo corpo, relatos de
combates entre machos são r aros (veja revisão em F
AIVOVICH
et al. 2005;
M
ENIM
et al. 2004) e parecem decorrer principalmente da falta de estudos.
Assim, notamos que além das características comportamentais plesiomórficas
nos anuros, como os combates territoriais difundidos no grupo, presença de
caracteres sinapomórficos (presença do espinho no prepólex) em Hypsiboas e
Bokermannohyla em parafiletismo com Aplastodiscus.NocladodeHypsiboas
KAAPORA, H. semiguttatus, H. joaquini e H sp. (aff. semiguttatus)aalta
proporção de machos cicatrizados, com valores sem sobreposição com as
demais espécies de Hypsiboas e Bokermannohyla, indica apomorfia no
comportamento de defesa territorial neste grupo, pois os combates físicos
parecem ocorrer com maior freqüência.
Considerando as hipóteses sugeridas por E
MLEM
&O
RING
(1977) sobre a
intensidade de seleção sexual, os altos níveis de territorialidade observado nos
machos adultos de Hypsiboas KAAPORA parecem decorrer da disparidade
entre os indivíduos em obter recursos diretos e indiretos para a reprodução,
distribuídos heterogeneamente no tempo e n o espaço. Indiretamente, o padrão
de dispersão agregado dos machos em alguns locais do sítio reprodutivo
demonstra que, alguns recursos que possivelmente afetam a sobrevivência e
131
reprodução dos indivíduos, também estão distribuídos de forma agregada e
que são limitados aos machos que conseguem estabelecer um território. De
fato, uma pequena parcela deles estabelece território ou permanece por tempo
elevado no sítio reprodutivo e isso provavelmente influencia na aquisição de
acasalamentos. Diretamente, observamos que a razão sexual operacional está
largamente desviada para os machos nos sítios reprodutivos, o que reflete na
competição para o acesso às fêmeas, e nestas condições registramos poucos
machos se acasalando. No caso de H. KAAPORA a assincronia de fêmeas
reprodutivamente aptas deve ser ainda maior, pois a reprodução é contínua.
Considerando, ainda, que os machos reprodutivos encontrarem-se ativos
quase que diariamente em um sítio reprodutivo permanente, isso implica em
potenciais interações coespecíficas igualmente contínuas e que seus territórios
sejam essenciais não apenas à reprodução, fornecendo poleiros de
vocalização, para rituais de corte, amplexo e oviposição, mas também para o
forrageio, abrigo e para proteção contra predadores e condições
metereológicas adversas.
Métodos Empregados e Futuros Estudos
Os comportamentos de defesa territorial e de corte, bem detalhados a
partir do método animal focal e todas as ocorrências (A
LTMANN
, 1974; L
EHNER
1979), podem ser maximizados com a identificação individual e com
observações em agregações de machos adultos nos sítios reprodutivos, onde
interações sociais são mais freqüentes.
O método de transecção e o mapeamento dos indivíduos aqui
empregados trouxeram resultados que possibilitaram a análise do padrão de
distribuição dos machos adultos no sítio reprodutivo. Utilizados conjuntamente
com o método de reconhecimento por marcas naturais, os resultados tornaram-
se ainda mais consistentes, pois nos permitiram distinguir os indivíduos e assim
avaliar a territorialidade dos machos adultos no sítio reprodutivo. No período de
dezembro de 2003 a janeiro de 2005 evitamos manipular os indivíduos, pois
132
achávamos que isso poderia interferir no estabelecimento d estes. Esta
interferência de fato ocorre, m as parece pequena, pois logo após a
manipulação os machos voltaram a vocalizar e as r ecapturas permaneceram.
Assim, desde fevereiro de 2005 todos os indivíduos foram pesados e medidos
durante o primeiro encontro. Para os m achos com território estabelecido houve
um alto número de recapturas, o que demonstra que o método é pouco
estressante, e menos invasivo quando comparado aos métodos de corte das
falanges (sensu M
ARTOF
, 1953).
No entanto, alguns aspectos negativos devem ser comentados. A
transecção linear no riacho é particularmente interessante para o estudo dos
machos reprodutivos, pois somente esta parcela da população pode ser
encontrada com freqüência. Os resultados de distanciamento e sistema
territorial apresentados possivelmente não se aplicam aos outros locais do rio,
tendo em vista a heterogeneidade e largura do riacho. Além disso, como a
vocalização está intimamente relacionada aos machos com território, a chance
de registrá-los é maior. Como alguns locais são ocupados mais
conspicuamente, a procura acabava sendo mais detalhada ali.
Os censos mensais em uma transecção linear e o reconhecimento por
marcas naturais associados podem ser empregados para a descrição do ciclo
de vida, tempo de permanência no sítio reprodutivo, deslocamento,
crescimento e sobrevivência dos machos adultos. Além disso, também podem
fornecer boas estimativas do tamanho populacional, se realizados em pontos
do rio selecionados aleatória ou sistematicamente. Como a utilização do
ambiente pelos machos responde intimamente pela variação de microhabitat
ao longo do r io, sugerimos a quantificação das variáveis ambientais que
poderiam interferir na abundância dos machos, que neste estudo foi observada
apenas qualitativamente. Possivelmente estes métodos podem ser
empregados em outras espécies com reprodução em riachos ou eventualmente
lagoas, nos quais exista algum grau de polimorfismo na coloração entre os
indivíduos.
133
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141
CAPÍTULO III
TROPIDOPHIS PAUCISQUAMIS
(Brazilian Dwarf Boa). PREY
142
Natural History Notes
TROPIDOPHIS PAUCISQUAMIS (Brazilian Dwarf Boa). PREY. Tropidophis
paucisquamis, the unique Tropidophiidae known in the Brazil, occurs in
southeast region and Bahia State, in general, associated with the Atlantic forest
(Peters & Orejas-Miranda 1970. Catalogue of the Neotropical Squamata: Part I.
Snakes. Bull. U.S. Nat. Mus.; pers. obs.). This arboreal snake is usually found
in bromeliads (Carvalho 1951. Observações sôbre Tropidophis paucisquamis
[Müller, 1901]. Rev. Bras. Biol. 11[3]: 239-248); however, basic aspects on its
biology remain unknown, since it is rarely observed and specimens are rare in
collections (Amaral 1930. Uma raridade ophídica do Brasil. Bol. Mus. Nac. 4[1];
Hedges 2002. Morphological variation and the definition of species in the snake
genus Tropidophis [Serpentes, Tropidophiidae]. Bull. Nat. Hist. Mus. Lond.
[Zool.] 68[2]:83-90). Feeding information is restricted to captive specimens or
merely speculative Amaral 1978. Serpentes do Brasil: Iconografia Colorida.
Brazilian Snakes: a Color Iconography. Melhoramentos/EDUSP. São Paulo,
Brasil; Carvalho 1951). Here, I present the first report of feeding in a wild
Tropidophis paucisquamis, from an adult encountered on 17 December 2004, at
Pilar do Sul Municipality, São Paulo State, Brasil.
The snake (31.5 cm snout vent length and 4.2 cm caudal length) was
leaving the presumed shelter (a falling leaf of Bathyza sp. attached in a shrub,
1.50 m above ground) at 2030 h, at the margin of a stream inside the forest and
defecated immediately. It was raining and t he air temperature was 18-19 °C;
and the snake stayed perched and immobile until collected 230 h. Immediately
143
after collection, it regurgitated an adult hylid treefrog, Hypsiboas aff.
semiguttatus 33.0 mm SVL (Figure 1). The anuran had been swallowed
recently, head first. Later, the snake was photographed and released. The
anuran (CFBH 9336) was deposited in lio Haddad collection (Laboratório de
Herpetologia, Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista, Rio
Claro, São Paulo State, Brazil).
I thank to Célio Haddad for comments on the manuscript. Caio and Ana
Antunes for the English version. Eucatex/SA for permitted access in the study
area. FAPESP (proc. 01/13341-3 and proc. 04/10974-3) for financial support.
Submitted by ANDRÉ PINASSI ANTUNES, Laboratório de Herpetologia,
Departamento de Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade Estadual
Paulista, 1515, Rio Claro, 13506-900, São Paulo, Brasil.
Figure 1. Adult of Tropidophis paucisquamis at the moment it was regurgitating
the hylid frog Hypsiboas aff. semiguttatus.
144
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Contribuindo humildemente para suprir a lacuna no que concerne o
conhecimento da nos sa fauna, o presente trabalho abarca a descrição
de uma nova espécie de anfíbio anuro da Serra de Paranapiac aba. A
menos de 100 km da Capital - um dos principais pólos científicos do
país-, a área de estudo apresenta uma fauna de anuros com cerca de
10% de espécies não descritas, além de outras com problemas
taxonômicos. Com poucas exceções, as demais espécies são
conhecidas apenas em seus trabalhos taxonômicos de descrição, de
forma que a biologia destas são ainda desconhecidas.
À margem do desenvolvimento do restante do Estado, o sul de São
Paulo é uma das áreas mais pobres do país, com índices elevadíssimos
de mortalidade infantil, desemprego e analfabetismo. Embora a região
concentre um elevado potencial em recursos naturais (florestal, mineral,
paisagístico e pesqueiro). A economia regional depende, em grande
parte, da produção para a subsistência, e, inevitavelmente, práticas
comerciais marginais, como a extração do palmito, do ouro e da caça,
entre outras, são responsáveis pelo m eio de vida de uma parcela da
população. Este cenário somado à falta de planejamento de uso e
ocupação da região, entre outros fatores, resulta em unidades de
conservação que enfrentam conflitos fundiários e sociais constantes. A
menos que Estado se comprometa com políticas sociais de base na
região, como saúde, saneamento, educação, emprego e lazer, a
população local viverá à margem dos ideais conservacionistas, tão
distantes daquela realidade...
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