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Universidade de São Paulo
Instituto de Física de São Carlos
Weslley Souza Patrocinio
Análise da informação do spin dos orbitais
atômicos no cálculo de propriedades de estruturas
semicondutoras
São Carlos
2010
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Weslley Souza Patrocinio
Análise da informação do spin dos orbitais
atômicos no cálculo de propriedades de estruturas
semicondutoras
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
graduação em Física do Instituto de Física de
São Carlos da Universidade de São Paulo, para a
obtenção do título de Mestre em Física.
Área de Concentração: Física Aplicada
Orientador: Prof. Dr. Guilherme Matos Sipahi
São Carlos
2010
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Dedico este trabalho aos meus amados
pais, Dirlei e Vitor, e à mulher que eu
amo, Daniela.
Agradecimentos
Aos meus pais e heróis, Dirlei e Vitor, pelo suporte e amor incondicional de todos esses
anos. Se hoje cheguei até aqui, devo isto à vocês. Amo vocês!
Aos meus familiares, pelo apoio dado desde a minha infância. Agradecimento em especial
aos meus tios Daislan, Dalmir e Wilson.
Aos meus amigos de Santa Fé: Anderson, Édio, Gilmar, Magrão, Rael e Zão. Sem palavras,
vagabundos!
Aos meus amigos de longa data: Daniel, David, Jhonson e Kátia. Amizades que foram
além das salas de aula, e já duram mais que uma dezena de anos.
À todos os meus amigos de graduação, onde conheci um mundo completamente novo. Em
especial ao meu grande parceiro Leonardo, e aos meus amigos desnaturados, Marcão e Suelene.
Tem coisas que nunca mudam, e duram para sempre.
Ao meu orientador, Guilherme, pelo trabalho e dedicação desses últimos anos. Obrigado.
Aos meus companheiros e amigos de LFC da velha guarda: Aiton, Ivan, Keila e Marcel; e
da nova geração: Claudinei e Paulo. Obrigado pelos ensinamentos e por tornarem o ambiente
de trabalho mais agradável.
À minha companheira, Dani, pelos incontáveis momentos em que tornou minha vida mais
feliz. Muito obrigado por estar ao meu lado. Te amo!
“O primeiro princípio é não enganar a si mesmo - e você é a pessoa mais fácil de enganar.
RICHARD P. FEYNMAN (1918 - 1988)
Resumo
PATROCINIO, W. S. Análise da informação do spin dos orbitais atômicos no cálculo de
propriedades de estruturas semicondutoras. 2010. 107 f. Dissertação (Mestrado em Física
Aplicada) - Instituto de Física de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2010.
O presente trabalho é um estudo sobre a importância da informação dos orbitais atômicos no
cálculo de propriedades optoeletrônicas de heteroestruturas semicondutoras de baixa dimen-
sionalidade. O trabalho é dividido em duas partes: na primeira parte, é estudada a simetria
de reversão temporal no hamiltoniano k·p, analisando a preservação da informação de spin
presente nos orbitais atômicos. O hamiltoniano obtido é inserido na equação de massa efetiva
expandida para superredes. São calculadas estruturas de bandas de alguns poços quânticos de
semicondutores III-V e grupo-IV. Compara-se o novo método com os tradicionais, e então são
analisadas algumas grandezas que apresentam alteração significativa entre os métodos usados;
A segunda parte é composta por um estudo detalhado do potencial de troca-correlação em se-
micondutores dopados. A matriz que descreve este potencial é escrita usando a distribuição
de portadores presentes nos orbitais atômicos da rede cristalina, e os coeficientes desta ma-
triz foram calculados usando quatro modelos para a correção de muitos corpos, baseadas nas
aproximações LDA (Local density approximation) e LSDA (Local spin density approximation),
com o objetivo de comparar as diversas parametrizações. Usando o método k·p tradicional, ex-
pandido para superredes, foram simulados sistemas
δ
-doped e Mn-
δ
-doped de Si, através de
um cálculo autoconsistente baseado na equação de Poisson. A magnetização dos portadores
é descrita por um modelo de campo médio. Foram analisados os perfis de potencial, estrutu-
ras de bandas, polarização de portadores e espectros de fotoluminescência para determinar as
diferenças entre as aproximações utilizadas.
Palavras-chave: Spintrônica. Método k·p. Simetria de reversão temporal. Semicondutores
magnéticos diluídos. Troca-correlação.
Abstract
PATROCINIO, W. S. Analisys of the atomic orbitals spin information in the calculation
of semiconductors strucutures properties. 2010. 107 f. Dissertação (Mestrado em Física
Aplicada) - Instituto de Física de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2010.
This work is a study about the atomic orbitals information importance in the calculation of
optoelectronics properties of low dimensionality semiconductors. The work is divided in two
parts. In the first one, a study of the time reversal symmetry of the k · p Hamiltonian is
realized analyzing the preservation of the spin information present in the atomic orbitals. The
obtained Hamiltonian is applied in the effective mass equation expanded to superlattices. Some
calculations of quantum wells band structures are made using III-V and group-IV semicon-
ductors, comparing the new method with the conventional ones to obtain an analysis of the
difference of some physics properties. The second part is a detailed study of the exchange-
correlation potential in doped semiconductors. The matrix coefficients are calculated using
the charge distribution of the crystalline lattice atomic orbitals, applied in some LDA (Local
density approximation) and LSDA (Local spin density approximation) parameterizations to
compare them. Using the conventional k·p method expanded to superlattices, Si
δ
-doped and
Mn-
δ
-doped systems were calculated through a self consistent calculation based on Poisson’s
equation. The carriers magnetization is described by an average field model. The potential
profiles, band structures, carrier polarization and photoluminescence spectra were analyzed to
obtain the difference between the approaches.
Keywords: Spintronics. k·p method. Time reversal symmetry. Diluted magnetic semiconduc-
tors. Exchange-correlation.
Lista de Figuras
Figura 2.1 - Primeira zona de Brillouin de uma rede fcc (zinc blende e diamante),
com seus respectivos pontos de alta simetria . . . . . . . . . . . . . . . 34
Figura 4.1 - Esquema de uma heteroestrutura formada por dois materiais diferentes,
onde o material 2 possui menor gap de energia que o material 1. A linha
preta mostra o perfil de potencial para buracos . . . . . . . . . . . . . . 55
Figura 4.2 - Exemplo de uma superrede montada a partir da heteroestrutura mostrada
na figura 4.1. A região destacada em vermelho define uma supercélula
unitária . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
Figura 4.3 - Ilustração do formato do hamiltoniano total quando a equação de massa
efetiva é expandida em uma onda plana. Os blocos não-diagonais aco-
plam supercélulas vizinhas. Quanto mais escuro o bloco, maior sua
contribuição no resultado final . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
Figura 5.1 - Ilustração da montagem da heteroestrutura pelo arquivo de entrada . . . 70
Figura 5.2 - Exemplo de um arquivo de entrada para uma estrutura
δ
-doped de GaAs.
O bloco verde informa o número de materiais no sistema e também
o número de dimensões confinadas no mesmo. o bloco vermelho
contém os parâmetros referentes ao material. O bloco azul claro possui
as informações de execução do programa e o bloco azul escuro contém
as distribuições de carga e potenciais do sistema . . . . . . . . . . . . . 71
Figura 5.3 - Esquema mostrando a redução de cálculo de pontos para as direções ˆx e ˆy
em uma rede 11×11. Os pontos vermelhos são calculados, reduzindo de
121 para 21 diagonalizações. É possível observar que a região amarela
pode ser deslocada/rotacionada e preencher todo o espaço do mesh . . . 73
Figura 5.4 - Diagrama mostrando como funciona o ciclo autoconsistente na simulação 75
Figura 6.1 - Potencial, para buracos, da heteroestrutura do sistema montado a partir
da liga de Al
0.2
Ga
0.8
As/GaAs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
Figura 6.2 - Estrutura dabanda de valênciada heteroestrutura de Al
0.2
Ga
0.8
As/GaAs,
apresentada na figura 6.1. No quadro superior, a comparação entre
as estruturas de bandas calculadas usado os hamiltonianos de Luttinger-
Kohn (linha preta pontilhada) e LK-TR (linha vermelha contínua). No
quadro inferior estão ilustradas as diferenças entre os modelos para as
três sub-bandas calculadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
Figura 6.3 - Média da projeção do momento angular (m
j
), ao longo da direção [100]
da FBZ (Γ∆), do sistema da figura 6.1, para ambos os métodos calcu-
lados (a) Luttinger-Kohn (em azul) e (b) LK-RT (em vermelho). As
linhas contínuas representam o estado de buraco leve (LH1), as linhas
pontilhadas estão associadas à primeira sub-banda de buraco pesado
(HH1) e as linhas tracejadas representam o segundo estado de buraco
pesado (HH2) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
Figura 6.4 - Comparação de m
j
para as sub-bandas HH1 e LH1, mostradas na
figura 6.3. As linhas pretas foram obtidas pelo método tradicional, en-
quanto as vermelhas foram obtidas pelo método apresentado neste tra-
balho. O estado HH1 é representado pelas linhas tracejadas, enquanto
LH1 é representado pelas linhas contínuas . . . . . . . . . . . . . . . . 80
Figura 6.5 - Potencial da heteroestrutura para buracos dos sistemas (a) simétrico e
(b) assimétrico, montados a partir de ligas de GaAs/InGaAs . . . . . . . 81
Figura 6.6 - Estrutura da banda de valência dos sistemas de GaAs/InGaAs (a) simé-
trico e (b) assimétrico, mostrados na figura 6.5. No quadro superior são
mostradas as estruturas de bandas calculadas pelos modelos de Kane,
linhas pretas e tracejadas, e Kane-TR, linhas vermelhas e contínuas. As
linhas cinzas ilustram os poços quânticos, para identificação da posição
das energias dentro dos mesmos. O quadro inferior mostra a diferença
entre os métodos para cada uma das sub-bandas, onde a linha 01 mostra
a diferença para a primeira sub-banda, e assim sucessivamente . . . . . 82
Figura 6.7 - Potencial da heteroestrutura, para buracos, do sistema montado a partir
de ligas de Si/SiGe . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
Figura 6.8 - Estrutura da banda de valência do sistema de Si/SiGe mostrado na figura
6.7. No quadro superior a comparação entre as estruturas de bandas
calculadas usado os modelos de Luttinger-Kohn (linha preta pontilhada)
e LK-TR (linha vermelha contínua). No quadro inferior estão graficadas
a diferença entre as sub-bandas calculadas por ambos os modelos, para
as sub-bandas mostradas no quadro superior . . . . . . . . . . . . . . . 84
Figura 6.9 - Média da projeção do momento angular (m
j
), ao longo da direção Γ∆ da
FBZ do sistema 6.7, para ambos os métodos calculados (a) Luttinger-
Kohn (em azul) e (b) LK-RT (em vermelho). As linhas contínuas re-
presentam o estado de buraco leve (LH1), as linhas pontilhadas estão
associadas à primeira sub-banda de buraco pesado (HH1) e as linhas
tracejadas representam o segundo estado de buraco pesado (HH2) . . . 85
Figura 6.10 - Comparação de m
j
para HH1 e LH1 do sistema da figura 6.7, cal-
culados por ambos os métodos. As linhas pretas foram obtidas pelo
método tradicional, enquanto as vermelhas foram obtidas pelo método
apresentado neste trabalho. O estado HH1 é representado pelas linhas
tracejadas, enquanto LH1 é representado pelas linhas contínuas . . . . . 85
Figura 6.11 - Potencial da heteroestrutura, para buracos, dos sistemas (a) simétrico e
(b) assimétrico, montados a partir de ligas de Si/SiGe . . . . . . . . . . 86
Figura 6.12 - Estrutura da banda de valência dos sistemas de Si/SiGe (a) simétrico e
(b) assimétrico, mostrados na figura 6.11. No quadro superior, são mos-
tradas as estruturas de bandas calculadas pelos modelos de Luttinger-
Kohn, linhas pretas e tracejadas, e LK-TR, linhas vermelhas e contí-
nuas. As linhas cinzas ilustram os poços quânticos, para identificação
da posição das energias dentro dos mesmos. O quadro inferior mostra a
diferença entre os métodos para cada uma das sub-bandas, onde a linha
01 mostra a diferença para a primeira sub-banda, e assim sucessivamente 87
Figura 7.1 - Ilustração do sistema
δ
-doped simulado. A região vermelha representa
a dopagem tipo
δ
, a qual possui um perfil gaussiano devido à difusão
das impurezas dopantes. A linha preta ilustra o potencial final do sistema 90
Figura 7.2 - Potencial total do sistema simulado,
δ
-doped de Si, para os buracos
pesado (linha azul escuro), leve (linha roxa) e split-off (linha azul claro)
para as quatro parametrizações XC incluídas na simulação: HL, BH, GL
e PW92. A linha vermelha representa o nível de Fermi, e a linha preta e
tracejada ilustra o potencial Coulombiano, sem a correção XC . . . . . 91
Figura 7.3 - Estrutura de bandas, na direção Γ∆, do sistema mostrado na figura 7.2,
calculadas usando as quatro parametrizações XC apresentadas. As li-
nhas contínuas mostram os estados ocupados do sistema, onde o pri-
meiro estado refere-se à buracos pesados (linha azul) e o segundo estado
refere-se à buracos leves (linha verde). As linhas tracejadas representam
os dois primeiros estados não ocupados: buraco split-off (linha preta) e
buraco pesado (linha azul). A linha vermelha ilustra o nível de Fermi . . 92
Figura 7.4 - Espectro de fotoluminescência, por transições indiretas, com polariza-
ção
σ
+
, extraídas do sistema da figura 7.2, para três temperaturas dife-
rentes: (a) 4 K, (b) 77 K e (c) 300 K . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
Figura 7.5 - Espectro de fotoluminescência, por transições indiretas, com polariza-
ção
σ
, extraídas do sistema da figura 7.2, para três temperaturas dife-
rentes: (a) 4 K, (b) 77 K e (c) 300 K . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
Figura 7.6 - Espectro de fotoluminescência, por transições indiretas, com polariza-
ção
σ
z
, extraídas do sistema da figura 7.2, para três temperaturas dife-
rentes: (a) 4 K, (b) 77 K e (c) 300 K . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
Figura 7.7 - Espectrode fotoluminescência, por transições indiretas, sem polarização
no plano-xy, extraídas do sistema da figura 7.2, para três temperaturas
diferentes: (a) 4 K, (b) 77 K e (c) 300 K . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
Figura 7.8 - Ilustração do sistema Mn-
δ
-doped simulado. A região azul representa
a dopagem tipo Mn-
δ
, a qual possui um perfil gaussiano devido à
difusão das impurezas dopantes. A linha preta ilustra o potencial fi-
nal do sistema. Portadores com spin down estão sujeitos ao potencial
delimitado pela região verde, enquanto os portadores com spin up estão
associados ao potencial delimitado pela região vermelha . . . . . . . . 95
Figura 7.9 - Potencial total do sistema simulado, Mn-
δ
-doped de Si, para os bu-
racos pesado (tons de azul), leve (tons de verde) e split-off (tons de
violeta) para duas parametrizações XC: HL e PW92. A linha vermelha
representa o nível de Fermi, e a linha preta e tracejada ilustra o potencial
Coulombiano, sem a correção XC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
Figura 7.10 - Estrutura de bandas, na direção Γ∆, do sistema mostrado na figura 7.9,
calculadas usando duas parametrizações XC: HL (lado esquerdo) e PW92
(lado direito). As linhas azul escuro mostram os estados ocupados do
sistema (na sequência: HH DW, LH DW, LH UP e HH UP). A linha
cinza representa o primeiro estado não ocupado (o qual mistura estados
de buracos). A linha vermelha ilustra o nível de Fermi . . . . . . . . . . 97
Figura 7.11 - Polarização de portadores do sistema da figura 7.9 ao longo do sistema.
A linha azul e pontilhada representa a polarização obtida usando a para-
metrização de Hedin & Lundqvist. A linha vermelha e contínua ilustra
a polarização obtida usando Perdew & Wang . . . . . . . . . . . . . . . 97
Figura 7.12 - Espectro de fotoluminescência, por transições indiretas, com polariza-
ção
σ
+
, extraídas do sistema da figura 7.9, para três temperaturas di-
ferentes: (a) 4 K, (b) 77 K e (c) 300 K. Os cálculos foram realizados
usando as parametrizações HL e PW92 . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
Figura 7.13 - Espectro de fotoluminescência, por transições indiretas, com polariza-
ção
σ
, extraídas do sistema da figura 7.9, para três temperaturas di-
ferentes: (a) 4 K, (b) 77 K e (c) 300 K. Os cálculos foram realizados
usando as parametrizações HL e PW92 . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
Figura 7.14 - Espectro de fotoluminescência, por transições indiretas, com polariza-
ção
σ
z
, extraídas do sistema da figura 7.9, para três temperaturas di-
ferentes: (a) 4 K, (b) 77 K e (c) 300 K. Os cálculos foram realizados
usando as parametrizações HL e PW92 . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
Lista de Tabelas
Tabela 3.1 - Parâmetros usados nas parametrizações de Barth-Hedin e Gunnarson-
Lundqvist. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
Tabela 3.2 - Parâmetros usados na parametrização PW92. . . . . . . . . . . . . . . . 53
Tabela 6.1 - Parâmetros da liga Al
0.2
Ga
0.8
As/GaAs . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
Tabela 6.2 - Parâmetros da liga GaAs/InGaAs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
Tabela 6.3 - Parâmetros da liga Si/Si
0.75
Ge
0.25
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
Tabela 6.4 - Parâmetros da liga Si/SiGe . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
Lista de Abreviaturas
FET Field effect transistor
LED Light-emiting diode
RTD Resonance tunneling diode
MRAM Magnetic random access memory
FS Ferromagnetic semiconductors
DMS Diluted magnetic semiconductors
FM Ferromagnetismo
BZ Brillouin zone
FBZ First Brillouin zone
fcc Face centered cubic
SO Spin-orbita
LDA Local density approximation
LSDA Local spin density approximation
RPA Random phase approximation
XC Exchange-correlation
FFT Fast Fourier transform
Lista de Símbolos
¯
h Constante de Planck
m
0
Massa de repouso do elétron
e Carga do elétron
c Velocidade da luz
SO
Split-off de energia devido à interação spin-órbita
Spin up
Spin down
γ
1,2,3
Parâmetros de Luttinger
α
Estado de spin up
β
Estado de spin down
ζ
Polarização relativa de spin
r
s
Raio de Wigner-Seitz
a
0
Raio de Bohr
a
0
Raio de Bohr efetivo
ε
Constante dielétrica estática
ε
x
Energia de troca
ε
c
Energia de correlação
ν
HL Parametrização de Hedin & Lundqvist
ν
BH Parametrização de Barth & Hedin
ν
GL Parametrização de Gunnarson & Lundqvist
PW92 Parametrização de Perdew & Wang
Volume da célula unitária
k Vetor da primeira zona de Brillouin
K Vetor da rede recíproca
KaneTR Hamiltoniano 8×8 usando a reversão temporal dos orbitais s-p
LKTR Hamiltoniano 6×6 usando a reversão temporal dos orbitais s-p
E
g
Gap de energia entre as bandas de valência e condução
m
el
Massa efetiva do elétron
m
hh
Massa efetiva do buraco pesado
m
lh
Massa efetiva do buraco leve
m
so
Massa efetiva do buraco split-off
Sumário
1 Introdução. .. . ... . .. . . . . . ... . . . . ... . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . p.25
1.1 Spintrônica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p.25
1.1.1 Spintrônica usando semicondutores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p.26
1.2 DMS baseados em semicondutores grupo-IV . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 27
1.3 O trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p.28
2 Elétrons em um potencial periódico. . . . . . .. . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . p.31
2.1 Teorema de Bloch . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p.31
2.1.1 Zonas de Brillouin . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p.33
2.2 Aproximação de Hartree . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p.33
2.3 Interação spin-órbita . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p.35
2.4 Método k·p . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p.38
2.5 Hamiltoniano k·p de Kane . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p.40
2.6 Hamiltoniano k·p com simetria de reversão temporal . . . . . . . . . . . . . . . p.41
3 Energia de troca-correlação .. . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . p.47
3.1 Termo de correção de troca-correlação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p.48
3.1.1 Potencial de troca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p.48
3.1.2 Potencial de correlação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p.48
3.2 Método . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p.49
3.3 Parametrizações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p.51
3.3.1
υ
HL (Hedin & Lundqvist) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p.51
3.3.2
υ
BH (Barth & Hedin) e
υ
GL (Gunnarson & Lundqvist) . . . . . . . . . . . . p.51
3.3.3 PW92 (Perdew & Wang) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p.52
4 Cálculo de heteroestruturas semicondutoras. . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p.55
4.1 Heteroestruturas e superredes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p.55
4.2 Equação de massa efetiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p.56
4.3 Potencial Magnético . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p.59
4.4 Representação no espaço-k . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p.61
4.4.1 Hamiltoniano k·p . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p.62
4.4.2 Potencial da heteroestrutura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p.63
4.4.3 Potencial de Coulomb . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p.64
4.4.4 Potenciais de Troca-correlação e Magnético . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p.66
4.5 Cálculo de espectros de fotoluminescência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p.66
5 Simulação ... . . . .. . . .. . .. . ... . .. . . . . . ... . . . . ... . . . . ... . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . p.69
5.1 Mesh . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p.72
5.2 Ciclo autoconsistente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p.72
6 Resultados - Hamiltoniano k·p . . . .. . . . . ... . . . . . .. . . .. . .. . ... . .. . . . . . ... . . . p.77
6.1 AlGaAs/GaAs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p.77
6.2 GaAs/InGaAs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p.80
6.3 Si/SiGe . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p.83
7 Resultados - Troca-correlação . ... . . . . . .. . . .. . .. . ... . .. . . . . . ... . . . . ... . . . . . p.89
7.1
δ
-doped de Si . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p.89
7.2 Mn-
δ
-doped de Si . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p.93
8 Conclusões . .. . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . ... . .. . . . . . ... . . . . . p.101
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . p.103
25
1 Introdução
1.1 Spintrônica
Nascida no fim dos anos 80, a spintrônica é considerada o novo paradigma da eletrônica
baseada no spin, um grau de liberdade intrínseco do elétron. O termo vem da contração da frase
spin transport electronics, onde o portador de informação é o spin do elétron, e não mais sua
carga. Esta característica oferece diversas possibilidades para a nova geração de dispositivos
combinando a microeletrônica existente com efeitos dependentes de spin. Adicionando o
spin à eletrônica convencional, a performance e capacidade dos produtos deve aumentar subs-
tancialmente, incrementando os dispositivos com a não-volatilidade de informação, velocidade
de processamento de dados, menor consumo de energia e aumento na densidade de integração
de circuitos (1).
Entretanto, ainda existem barreiras nesta área que impedem a implementação real dos
dispositivos, por exemplo a otimização do tempo de vida do spin, a detecção de coerência
de spin em escalas nanométricas, o transporte de portadores polarizados por longas distâncias e
heterointerfaces, e a manipulação dos spins eletrônicos e nucleares em períodos curtos. A com-
binação de eletrônica, fotônica e magnetismo permitirá o surgimento de novos dispositivos mul-
tifuncionais baseados em spin, como spin-FET (field effect transistor), spin-LED (light-emiting
diode), spin-RTD (resonance tunneling diode), chaveadores ópticos operando em frequências
de terahertz, moduladores, decodificadores e qubits para computação e comunicação quântica.
O sucesso desses dispositivos depende de um claro entendimento das interações fundamentais
em materiais no estado sólido. Quando for possível realizar o controle do spin em estruturas
semicondutoras e ferromagnéticas, finalmente será possível então compreender o potencial da
spintrônica (2).
26
1.1.1 Spintrônica usando semicondutores
Os dispositivos spintrônicos metálicos surgiram no final dos anos 80 com a descoberta
da magnetorresistência gigante (3). Dispositivos spintrônicos metálicos, como cabeçotes de
leitura de discos rígidos e memória magnética de acesso aleatório (MRAM), são algumas das
tecnologias mais bem sucedidas da última década. Nesta geração de dispositivos não havia uma
preocupação significativa com o transporte coerente de portadores polarizados, apenas com o
controle da polarização local de portadores.
A física de dispositivos semicondutores spintrônicos percorreu um caminho similar aos
dispositivos metálicos e teve um avanço significativo nos últimos anos. A busca por fenômenos
dependentes de spin à temperatura ambiente tem sido um dos grandes alvos de pesquisa na
última década, indicando que dispositivos operando nessa faixa de temperatura podem ser
implementados em um futuro próximo (1, 2, 4).
A spintrônica de semicondutores possui diversas características interessantes para um dis-
positivo. Um dispositivo spintrônico coerente pode, a princípio, exercer várias operações inde-
pendentes simultaneamente após atingirem equilíbrio térmico (2). O uso do spin pode aumentar
substancialmente a velocidade de processamento de informação, pois o limitante do chavea-
mento de bits não será mais a capacitância do dispositivo e sim a frequência de precessão do
spin eletrônico, variando de GHz a THz. Não-volatilidade de dados armazenados usando spin,
assim como o longo tempo de polarização permitem um grande avanço no armazenamento
de dados e no acoplamento optoeletrônico. Além dos fatores diretamente envolvidos com os
possíveis dispositivos, os semicondutores também podem ser um caminho para a implementa-
ção da computação quântica, através do isolamento de spins. E todos esses dispositivos serão
implementados de forma a possuirem tamanho reduzido, multifuncionalidade e baixo consumo
de energia (1, 2).
Entretanto, perspectivas implicam em desafios. A otimização do transporte de spin, man-
tendo a polarização e a coerência, assim como a injeção de spin em regiões não-magnéticas e a
detecção dos mesmos são passos importantes para a viabilidade de dispositivos.
27
A busca por materiais que combinem propriedades ferromagnéticas e semicondutoras tem
sido um grande objeto de estudo nos últimos anos. Os semicondutores ferromagnéticos (FS)
possuem grande potencial para se tornarem fonte de portadores de spin polarizados e também
são facilmente integráveis a dispositivos semicondutores. Um FS ideal possuiria temperaturas
de Curie acima da temperatura ambiente e também permitiria tanto a dopagem tipo-p como a
tipo-n. Entretanto, as temperaturas de Curie desses materiais estão bastante abaixo da tempera-
tura ambiente, e não apresentam grandes perspectivas de aumento (5).
Os semicondutores magnéticos diluídos (DMS - diluted magnetic semicondutors) são ligas
onde alguns íons são aleatoriamente substituídos por metais de transição, como Mn, Co e
outros, de forma a gerar um semicondutor com regiões contendo momento magnético local.
Estes materiais podem ser usados na criação, injeção e transporte de portadores polarizados
(2). Alguns DMS’s baseados em semicondutores III-V apresentaram ferromagnetismo em
temperaturas da ordem de 110 K (6), e existem previsões teóricas de T
C
acima da temperatura
ambiente para diversas classes desses materiais (7).
Outra promissora classe de materiais aplicáveis à spintrônica são os óxidos ferromagnéti-
cos, cuja previsão é que sejam meio-metálicos (7). Tais materiais apresentam alta polarização, e
alguns estudos mostram que é possível obter ferromagnetismo acima da temperatura ambiente
para os mesmos (8).
1.2 DMS baseados em semicondutores grupo-IV
Alguns DMS’s crescidos com semicondutores III-V, como o (Ga,Mn)As, apresentam tem-
peraturas de Curie acima de 110 K, para uma concentração substitucional de cerca 5% e já foram
aplicados com sucesso em alguns dispositivos, como o spin-LED (9). Tal sucesso motivou o
estudo de DMS’s baseados em semicondutores grupo-IV com altas temperaturas de Curie de-
vido a sua grande compatibilidade com os circuitos integrados convencionais. Estudos recentes
mostraram ferromagnetismo em cristais de (Ge,Mn) a 116 K (10) e 285 K (11) e também efeito
Hall anômalo em (Si,Mn) a cerca de 70 K (12).
28
Estudos usando primeiros princípios mostraram algumas características de ligas de Si e
Ge com metais de transição (Cr, Mn e Fe)(13). Sistemas de (Si/Ge,Cr) possuem tendência a
serem antiferromagnéticos, ao contrário dos sistemas com Mn e Fe. Segundo Weng e Jong
(13), o (Ge,Mn) possui ferromagnetismo do tipo RKKY, enquanto o (Si,Mn) apresenta ferro-
magnetismo de longo alcance quando a distância entre os íon de Mn é maior que 9,41 Å. Isto
implicaria que a temperatura de Curie para o (Ge,Mn) seria maior que a do (Si,Mn). Os resul-
tados apresentados para (Si/Ge,Fe) mostram que estes materiais possuem o ferromagnetismo
mais forte dentre os três metais de transição estudados, e resultados experimentais mostram que
o (Ge,Fe) é um DMS tipo-n com T
C
de 233 K (14).
Além de crescimento epitaxial dos DMS, foram usadas também técnicas como a implan-
tação de íon de Mn em Si dopado (10). Esta técnica permite a inserção de uma quantidade
de carga maior que o limite de solubilidade de Mn em Si (cerca de 10
16
cm
3
(15). Bolduc et
al. (10) mediu T
C
acima de 400 K em cristais de Si (tipo-p e tipo-n) com Mn implantado. Foi
observado também que o ferromagnetismo é afetado pela concentração de Mn, sugerindo que o
ferromagnetismo é mediado por buracos.
1.3 O trabalho
Neste trabalho foi realizado um estudo do tratamento rigoroso da informação dos orbi-
tais atômicos da rede cristalina em dois itens fundamentais nos cálculos de propriedades de
estruturas semicondutoras: o hamiltoniano k·p e o potencial de troca-correlação. Tal estudo
foi realizado visando obter uma descrição teórica mais completa e abrangente de estruturas
semicondutoras aplicadas à spintrônica.
A primeira parte do trabalho foi composta por uma análise da simetria de reversão temporal
dos hamiltonianos de Luttinger-Kohn (16) e Kane (17) quando escrito na base dos orbitais
atômicos. Esta análise resultou em umamatriz onde a informaçãobem definida de spin, presente
nos orbitais atômicos, é incluída diretamente nos elementos de matriz, os quais diferem ligei-
ramente dos calculados pelos métodos tradicionais. Aplicando este hamiltoniano na equação
de massa efetiva expandida para superredes (18), foram calculadas as estruturas de bandas de
29
alguns poços quânticos de semicondutores III-V e grupo-IV, para visualização e interpretação
das novas informações dadas por este novo hamiltoniano.
Na segunda parte foi trabalhado um modelo para a representação matricial do potencial
de troca-correlação na base de momento angular, e também um estudo do efeito das diversas
parametrizações XC existentes no cenário científico. Os coeficientes da matriz XC foram
calculados a partir da distribuição de portadores dos orbitais atômicos, usando quatro diferentes
parametrizações diferentes: uma baseada na aproximação LDA (Local density approximation)
e outras três aproximações LSDA (Local density approximation). Com este modelo é pos-
sível incluir a contribuição dos buracos split-off ao potencial XC, e também obter calcular
este potencial para semicondutores que não possuem estrutura cristalina zinc blende, como
a wurtzita. Foram simulados sistemas
δ
-doped e Mn-
δ
-doped de Si, onde os perfis de
potencial, estruturas de bandas e espectros de luminescência foram analisados para interpretar
as diferenças entre as diversas parametrizações.
30
31
2 Elétrons em um potencial periódico
O problema de elétrons em um sólido é, a princípio, um problema de muitos corpos, pois
o hamiltoniano completo do sólido contém não apenas os potenciais que descrevem a interação
de um elétron com a rede, mas também as interações elétron-elétron e entre os íons da rede.
Na aproximação de elétrons independentes, é possível fazer a representação via um potencial
efetivo para apenas um elétron. Entretanto, pode-se extrair algumas propriedades de um sistema
periódico a partir da equação de Schrödinger para um elétron, mesmo sem conhecer exatamente
a forma do potencial periódico.
2.1 Teorema de Bloch
Para apenas um elétron sob um potencial periódico, também chamado de elétron de Bloch,
a equação de energia de um sistema cristalino é dada por:
H
ψ
=
¯
h
2
2m
0
2
+V
0
(r)
ψ
=
εψ
(2.1)
onde m
0
é a massa do elétron e V
0
possui a periodicidade da rede de Bravais do sistema
cristalino, tal que V
0
(r) = V
0
(r+ R), para R pertencente à rede de Bravais.
Os autoestados,
ψ
, do hamiltoniano da equação (2.1), podem ser escolhidos como o produto
de uma onda plana com uma função a qual possui a periodicidade da rede de Bravais. O
enunciado acima é conhecido como teorema de Bloch, dado por:
ψ
n,k
(r) = e
ik·r
u
n,k
(r) (2.2)
onde
u
n,k
(r) = u
n,k
(r+ R) (2.3)
32
Nota-se que:
ψ
n,k
(r+ R) = e
ik·R
ψ
n,k
(r) (2.4)
Impondo condições de contorno apropriadas para as funções de onda, pode-se mostrar que
o vetor de onda k deve ser real, e com apenas alguns valores permitidos. Como o tamanho de
uma rede de Bravais é um múltiplo da constante de rede a, podemos escrever a condição de
periodicidade como:
ψ
(r+ N
j
a
j
) =
ψ
(r), j = 1, 2,3 (2.5)
onde a
j
são os vetores primitivos e N
j
são todos inteiros da ordem de
3
N, visto que N = N
1
N
2
N
3
é o número total de células primitivas no cristal.
Aplicando as condições de contorno da equação (2.5) na função de Bloch, tem-se:
ψ
(r+ N
i
a
i
) = e
iN
j
k·a
j
ψ
(r) (2.6)
ou seja,
e
iN
j
k·a
j
= 1 (2.7)
Como k = h
1
b
1
+ h
2
b
2
+ h
3
b
3
, então e
2
π
iN
j
h
j
= 1. Generalizando para três dimensões, os
vetores de onda de Bloch permitidos são dados por:
k =
3
j=1
m
j
N
j
b
j
(2.8)
com m
j
inteiro.
O infinitésimo de volume do espaço recíproco, k, é dado pelo volume da célula primitiva
calculado da seguinte forma:
k =
b
1
N
1
·
b
2
N
2
×
b
3
N
3
=
v
k
N
(2.9)
com v
k
o volume da célula primitiva no espaço recíproco.
Pode-se concluir, a partir da equação (2.9), que o número de vetores de onda permitidos em
uma célula primitiva da rede recíproca é igual ao número de sítios no cristal.
33
O teorema de Bloch introduz um vetor de onda k que possui papel fundamental na movi-
mentação de elétrons em um potencial periódico, assim como no problema de um elétron livre
em uma caixa (modelo de Sommerfeld). Para o elétron livre, o vetor de onda é dado por p/
¯
h,
onde p representa o momento da partícula. Para os elétrons de Bloch, o vetor k é um número
quântico característico da simetria translacional do potencial periódico, chamado de momento
cristalino, uma extensão natural de p para tais elétrons.
A periodicidade do sistema implica em propriedades particulares para este vetor de onda
de Bloch. k pode sempre ser confinado à primeira zona de Brillouin, que um vetor de onda
qualquer, k
, pode ser escrito como k
= k+ K, com k pertencente à primeira zona de Brillouin
e K um vetor qualquer da rede recíproca.
2.1.1 Zonas de Brillouin
Seja um vetor k
ν
, pertencente à
ν
-ésima zona de Brillouin, e um vetor K(k
ν
) tal que
K(k
ν
)k
ν
= k
1
, com k
1
pertencente a primeira zona de Brillouin (FBZ). Um vetor k qualquer
do espaço recíproco, o qual pertence a uma zona de Brillouin de ordem
ν
, sempre pode ser
decomposto como um vetor da FBZ somado a um vetor da rede recíproca. Dessa forma, é
possível descrever todo o espaço-k conhecendo apenas a primeira zona de Brillouin. Devido à
periodicidade da rede, tem-se a seguinte relação:
E
ν
(k
1
) = E(k
1
+ K(k
ν
)) E(k
ν
) (2.10)
2.2 Aproximação de Hartree
Em semicondutores, a interação da rede cristalina com os elétrons livres pode ser tratada
como perturbação, o que permite a utilização da aproximação de elétrons independentes. A
equação de Schrödinger de um sistema com muitos elétrons é representada por:
H
ψ
(r
r
r
1
,...,r
r
r
N
) = E
ψ
(r
r
r
1
,...,r
r
r
N
) (2.11)
34
Figura 2.1 – Primeira zona de Brillouin de uma rede fcc (zinc blende e diamante), com seus respectivos
pontos de alta simetria
onde o hamiltoniano H inclui a energia cinética dos elétrons e as interações com íons da rede e
com elétrons (19):
H =
k
p
p
p
2
k
2m
+V
ions
(r
r
r
k
)
+
1
2
k
k=k
e
2
|r
r
r
k
r
r
r
k
|
(2.12)
com o termo V
ions
representando a interação dos elétrons com os íons da rede, desprezando a
interação íon-íon.
Segundo a aproximação de elétrons independentes, a função de onda de um sistema de N
elétrons pode ser representada como o produto de várias funções de onda de apenas um elétron:
ψ
(r
r
r
1
,...,r
r
r
N
) =
N
i
ψ
ν
i
(r
r
r
i
) (2.13)
tal que o conjunto de funções
ψ
ν
formem uma base completa de funções, e que possuam a
periodicidade da rede cristalina.
Substituindo este formato da função de onda na equação (2.11), tem-se:
j=i
φ
µ
j
(r
r
r
j
)|H|
j=i
φ
ν
j
(r
r
r
j
)
φ
ν
i
(r
r
r
i
) = E
ν
j=i
φ
µ
j
(r
r
r
j
)|H|
j=i
φ
ν
j
(r
r
r
j
)
φ
ν
i
(r
r
r
i
) (2.14)
Pela aproximação de Hartree, apenas os termos diagonais
µ
j
=
ν
j
para cada j = i contri-
35
buem de forma não-nula (19), ou seja:
j=i
φ
µ
j
(r
r
r
j
) |H|
j=i
φ
ν
j
(r
r
r
j
)
φ
ν
i
(r
r
r
i
) = E
ν
φ
ν
i
(r
r
r
i
) (2.15)
Então a autoenergia do estado
ν
i
é dada por:
ε
ν
i
= E
ν
k=i
φ
ν
k
|
p
p
p
2
k
2m
+V
ions
(r
r
r
k
)|
φ
ν
k
1
2
k=i
k
=k,i
φ
ν
k
φ
ν
k
|
e
2
|r
r
r
k
r
r
r
k
|
|
φ
ν
k
φ
ν
k
(2.16)
É possível escrever a equação de Schrödinger para a i-ésima partícula,
p
p
p
2
i
2m
+V
ions
(r
r
r
i
) +V
i,
ν
H
(r
r
r
i
)
φ
ν
i
(r
r
r
i
) =
ε
ν
i
φ
ν
i
(r
r
r
i
), i = 1, 2, ..., N (2.17)
e também definir o potencial de Hartree:
V
i,
ν
H
(r
r
r
i
) = e
2
d
3
r
r
r
k=i
|
φ
ν
k
(r
r
r
)|
2
|r
r
r
i
r
r
r
|
(2.18)
Neste ponto são feitas duas aproximações: primeiramente, em sistemas cristalinos, o -
mero de elétrons é grande e considera-se que estes estão dispersos por todo o cristal. Dessa
forma, não haverá grandes diferenças se os termos com k = i forem incluídos no potencial
total, removendo assim a dependência com i; Segundo: em condições usuais, um semicondutor
encontra-se no estado fundamental (ou em pequenas variações do mesmo), o qual é identificado
a partir da ocupação de seus estados. Nesta configuração, todos os estados abaixo da energia
de Fermi estão ocupados, e os acima estão vazios (19). Tem-se então o seguinte potencial de
Hartree:
V
H
(r
r
r
i
) V
ν
0
H
(r
r
r
i
) = e
2
d
3
r
r
r
k
|
φ
ν
0
k
(r
r
r
)|
2
|r
r
r
i
r
r
r
|
(2.19)
e o potencial Coulombiano é dado então pela soma dos potenciais V
ions
(r
r
r) e V
H
(r
r
r).
2.3 Interação spin-órbita
Em um sólido cristalino, o estado dos elétrons é caracterizado pela sua banda de energia
e pelo seu vetor de onda k. Em alguns semicondutores, como o GaAs, a interação spin-órbita
(SO) causa a quebra de degenerescência entre sub-bandas de energia relacionadas a estados com
36
momento angular total distintos (j = 1/2 e 3/2). Este é um dos indicativos de como a interação
SO influi no movimento orbital dos elétrons cristalinos. Outro indicativo bastante interessante
é a quebra de degenerescência de spin em sistemas sem simetria de inversão, como os cristais
zinc blende (20).
No método k·p, a interação SO é inserida no cálculo de estrutura de bandas por meio dos
elementos de matriz que representam o hamiltoniano SO, o qual fornece uma parametrização
conveniente dos efeitos do acoplamento spin-órbita em estruturas semicondutoras.
O hamiltoniano spin-órbita não relativístico de Pauli é dado por (19):
H
so
=
¯
h
4m
2
0
c
2
p·(
σ
σ
σ
×V
0
) (2.20)
onde m
0
é a massa de repouso do elétron, c a velocidade da luz, p representa o momento da
partícula,
σ
σ
σ
representa a matrizde Pauli eV
0
é o potencial periódicoimposto pela rede cristalina.
Atuando o hamiltoniano spin-órbita sobre a função de Bloch:
H
so
(e
ik·r
u
n,k
) =
¯
h
4m
2
0
c
2
[(pe
ik·r
)u
n,k
+ e
ik·r
(pu
n,k
)] ·(
σ
σ
σ
×V
0
) (2.21)
H
so
(e
ik·r
u
n,k
) =
¯
h
4m
2
0
c
2
[
¯
hk·(
σ
×V
0
)u
n,k
+ p·(
σ
σ
σ
×V
0
)u
n,k
]e
ik·r
(2.22)
A equação de energia do sistema com interação spin-órbita é dada por:
¯
h
2
k
2
2m
0
+
¯
h
m
0
k·p+
p
2
2m
0
+
¯
h
2
4m
2
0
c
2
k·
σ
σ
σ
×V
0
) +
¯
h
4m
2
0
c
2
p·(
σ
σ
σ
×V
0
) +V
0
(r)
u
n,k
= E
n,k
u
n,k
(2.23)
Substituindo:
π
= p+
¯
h
4m
0
c
2
(
σ
σ
σ
×V
0
) (2.24)
obtém-se:
¯
h
2
k
2
2m
0
+
¯
h
m
0
k·
π
+
p
2
2m
0
+
¯
h
4m
2
0
c
2
p·(
σ
σ
σ
×V
0
) +V
0
(r)
u
n,k
= E
n,k
u
n,k
(2.25)
A representação matricial da interação spin-órbita na base dos orbitais hidrogenoides s-p
(|s ↑,|s ↓,|x ↑, |y ↑, |z ↑,|x ↓,|y ↓,|z ↓) é dada por:
37
H
SO
=
3
×
0 0 0 0 0 0 0 0
0 0 0 0 0 0 0 0
0 0 0 i 0 0 0 1
0 0 i 0 0 0 0 i
0 0 0 0 0 1 i 0
0 0 0 0 1 0 i 0
0 0 0 0 i i 0 0
0 0 1 i 0 0 0 0
(2.26)
Diagonalizando a matriz (2.26), obtém-se a base de momento angular, a qual é tradicional-
mente usada para representar os Hamiltonianos de cristais do tipo diamante e zinc blende:
1
2
,
1
2
= |s
1
2
,
1
2
= |s
3
2
,
3
2
=
1
2
|(X + iY) ↑
3
2
,
1
2
=
i
6
[2|Z ↑ + |(X + iY) ↓]
3
2
,
1
2
=
1
6
[2|Z ↓+ |(X iY) ↑]
3
2
,
3
2
=
i
2
|(X iY) ↑
1
2
,
1
2
=
1
3
[|Z ↑+ | (X + iY) ↓]
1
2
,
1
2
=
i
3
[|Z ↓| (X iY) ↑]
(2.27)
Nesta base, o hamiltoniano SO possui a forma:
38
H
SO
=
3
×
0 0 0 0 0 0 0 0
0 0 0 0 0 0 0 0
0 0 1 0 0 0 0 0
0 0 0 1 0 0 0 0
0 0 0 0 1 0 0 0
0 0 0 0 0 1 0 0
0 0 0 0 0 0 2 0
0 0 0 0 0 0 0 2
(2.28)
A partir da equação (2.28) pode-se observar que os estados com momento angular total 3/2
são degenerados, e que uma diferença de energia de entre os estados j = 3/2 e j = 1/2,
fazendo com que este termo seja chamado de Delta de split-off.
2.4 Método k·p
De acordo com o teorema de Bloch, a função de onda pode ser escrita como:
ψ
=
ψ
n,k
= e
i
k·r
u
n,k
(r) = e
ik·r
r|n,k (2.29)
Substituindo a função de Bloch na equação de energia:
p
2
2m
0
+V
0
(r)
e
ik·r
u
n,k
= E
n,k
e
ik·r
u
n,k
(2.30)
Lembrando que p
2
= p·p e p= i
¯
h, e aplicando o operador momento na função de onda,
obtém-se:
p(e
i
k·r
u
n,k
) =
¯
hke
ik·r
u
n,k
+ e
ik·r
pu
n,k
(2.31)
p·[p(e
ik·r
u
n,k
)] =
¯
hk·p(e
ik·r
u
n,k
) +e
ik·r
pu
n,k
+ (pe
ik·r
) ·(pu
n,k
) +e
ik·r
p·pu
n,k
(2.32)
Portanto:
p
2
(e
ik·r
u
n,k
) = (
¯
h
2
k
2
u
n,k
+ 2
¯
hk·pu
n,k
+ p
2
u
n,k
)e
ik·r
(2.33)
39
O hamiltoniano do sistema se torna:
H =
¯
h
2
k
2
2m
0
+
¯
h
m
0
k·p+
p
2
2m
0
+V
0
(r) (2.34)
Agora todo o sistema é descrito pela primeira zona de Brillouin, e k surge como um índice
para o hamiltoniano, H
k
, o qual gera níveis discretos de energia, devido ao tamanho finito do
sistema. É importante notar que k não varia continuamente, como já foi visto na equação (2.9).
Como N é da ordem da constante de Avogadro, então o infinitésimo de variação de k é muito
pequeno, sendo quasi-contínuo. Dessa forma, os níveis de energia serão discretos e variando
quasi-continuamente, ou seja,
ε
=
ε
n
(k).
Como todo o conjunto de níveis de energia do sistema é descrito dentro de uma célula
primitiva,a descrição do sistema por meiode vetores de onda além da primeira zona de Brillouin
torna-se redundante. Seja uma função de onda de Bloch para k
além da FBZ:
ψ
k
(r+ R) = e
ik’·R
ψ
k
(r) (2.35)
ou seja, e
i(k+K)·R
= e
ik·R
e
iK·R
= e
ik·R
. Portanto, pode-se concluir que:
ψ
n,k+K
(r) =
ψ
n,k
(r) (2.36)
ε
n
(k+ K) =
ε
n
(k) (2.37)
A informação contida nas funções
ψ
n,k
(r) e
ε
n
(k) é conhecida como estrutura de bandas
do sólido. Para cada n,
ε
n
(k) é chamada banda de energia. Devido à periodicidade do sistema
e a quasi-continuidade de k, as bandas de energia possuem limites superior e inferior. Um
elétron em um determinado nível de energia n e com vetor de onda k possui velocidade média
não-evanescente, dada por (21):
v
n
(k) =
1
¯
h
k
ε
n
(k) (2.38)
A equação (2.38) mostra que existem níveis estacionários para um elétron em um potencial
periódico, o qual representa a interação dos elétrons com os íons da rede. Assim, os elétrons
movem-sesem qualquer variação em sua velocidade média, contrastando com a ideia do modelo
40
de Drude, onde as colisões ocorriam entre elétrons e íons da rede.
2.5 Hamiltoniano k·p de Kane
Kane (17) mostrou que o hamiltoniano k·p, proposto por Dresselhaus (22), pode ser bloco-
diagonalizado. O operador de Kramer para um cristal com simetria de inversão é:
κ
= i
σ
y
C (2.39)
para
σ
y
representando a matriz de Pauli e C o operador complexo conjugado.
Quando o operador de Kramer é aplicado sobre as funções de Bloch de um cristal, chega-se
à conclusão de que as funções de onda com k e k são degeneradas quando o cristal possui
simetria de inversão. Caso o cristal não possua tal simetria, então o operador de Kramer possui
a forma:
κ
= i
σ
y
CJ (2.40)
onde J é o operador inversão. Pode-se observar claramente que:
ψ
=
W
a
W
b
κψ
=
W
b
W
a
(2.41)
É possível, então, escrever uma base na forma (17):
φ
1
,
φ
2
,
φ
3
,
κφ
1
,
κφ
2
,
κφ
3
(2.42)
onde as funções de onda
φ
i
representam a base de momento angular (j, m
j
) com valores positi-
vos de m
j
. Sendo assim:
|
3
2
,
3
2
|
3
2
,
1
2
|
1
2
,
1
2
κ
|
3
2
,
3
2
|
3
2
,
1
2
|
1
2
,
1
2
(2.43)
41
Notam-se as seguintes propriedades:
κφ
i
|
κφ
j
=
φ
i
|
φ
j
(2.44)
κφ
i
|H|
κφ
j
=
φ
i
|H|
φ
j
(2.45)
φ
i
|H|
κφ
j
= −
φ
j
|H|
φ
i
(2.46)
2.6 Hamiltoniano k·p com simetria de reversão temporal
Os hamiltonianos k·p usuais (16, 17, 22) são construídos a partir de dois blocos idênticos
os quais constituem a parte espacial da função de onda na base dos orbitais hidrogenoides
sp, para ambos estados de spin. Quando a interação spin-órbita é incluída, o hamiltoniano é
representado na base de momento angular, dada pela equação (2.27). Em tal representação,
o estado de spin dos portadores definidos por estes estados é determinado pela projeção do
momento angular total, m
j
. Entretanto, a informação do spin dos portadores que ocupam os
orbitais, a qual anteriormente era bem definida, é perdida, já que há mistura entre orbitais com
diferentes spins na composição da base de momento angular.
Se o operador reversão temporal de Kramer for aplicado em uma função de Bloch associada
a um estado de spin up, o resultado é:
κ
1
e
ik·r
r|u
n,k
s| ↑
=
1
e
ik·r
r|u
n,k
s| ↓ (2.47)
O spin é antissimétrico sobre reversão temporal, assim como o vetor de onda k, o momento
cristalino. Para manter a simetria de reversãotemporal no hamiltoniano de Kane (23), os estados
com m
j
negativos são escritos como a reversão temporal dos estados com m
j
positivos. Isso
também é válido quando o hamiltoniano é escrito na base dos orbitais s-p. Definindo o vetor de
onda de estados spin up como k
α
e aplicando o operador reversão temporal em um estado tipo
s-p com spin up, tem-se:
κ
|sp, k
α
,↑ |sp,k
β
,↓ (2.48)
Utilizando o formato de base dado pela equação (2.42), onde k
β
é a reversão temporal
42
de k
α
, e estendendo para o modelo de Kane, o qual insere o fundo da banda de condução
explicitamente (23), obtém-se a base revertida temporalmente:
|x,k
α
,↑
|y,k
α
,↑
|z,k
α
,↑
|s,k
α
,↑
κ
|x,k
β
,↓
|y,k
β
,↓
|z,k
β
,↓
|s,k
β
,↓
(2.49)
e o hamiltoniano na base dos orbitais possui a seguinte forma:
H
0
(k
α
) 0
0
κ
[H
0
(k
α
)]
=
H
0
(k
α
) 0
0 H
0
(k
β
)
(2.50)
Usando a notação de Luttinger-Kohn (16) e a aproximação de Löwdin (24), o bloco H
0
(k)
é escrito como:
E
gap
+ Ak
2
iP
x
iP
y
iP
z
iP
x
L
x
+ M
xy
N
xy
N
xz
iP
y
N
xy
L
y
+ M
xz
N
yz
iP
z
N
xz
N
yz
L
z
+ M
xy
(2.51)
onde o zero de energia é definido como o topo da banda de valência, E
g
é o gap de energia entre
as bandas de valência e condução, e o vetor de onda k é o vetor k
α
para o bloco spin up e k
β
para o bloco spin down.
Foreman (25) mostrou que, em superredes, o operador k
z
deve ser operado de forma assi-
métrica (k
z
γ
i
(z)k
z
) para tratar as descontinuidades das condições de contorno. Assim, índices
devem ser associados à ordem do operador. Os elementos da matriz dada pela equação (2.51)
são definidos por:
Ak
2
= (k
L
Ak
R
) (2.52)
P
x
i
=
1
2
(k
L
x
i
P+ Pk
R
x
i
) (2.53)
L
x
i
= k
L
x
i
(
γ
1
+ 4
γ
2
)k
R
x
i
(2.54)
M
x
i
x
j
= k
L
x
i
(
γ
1
2
γ
2
)k
R
x
i
+ k
L
x
j
(
γ
1
2
γ
2
)k
R
x
j
(2.55)
N
x
i
x
j
= 3(k
L
x
i
γ
3
k
R
x
j
+ k
L
x
j
γ
3
k
R
x
i
) (2.56)
43
Os parâmetros
γ
i
, P e A são os parâmetros de Luttinger, parâmetro de Kane e o inverso da
massa efetiva do elétron, respectivamente.
Para estruturas cristalinas do tipo zinc blende e diamante, o hamiltoniano é usualmente
representado na base de momento angular, dada pela equação (2.27). A matriz que transforma
a base revertida temporalmente (2.49) na base de momento angular é dada por:
U =
1 0 0 0 0 0 1 0
0 1 0 0 0 0 0 0
0 0
1
2
i
2
0 0 0 0
0 0 0 0
2i
6
i
6
1
6
0
0 0
1
6
i
6
0 0 0
2
6
0 0 0 0 0
i
2
1
2
0
0 0 0 0
1
3
1
3
i
3
0
0 0
i
3
1
3
0 0 0
i
3
(2.57)
Fazendo a transformação U
HU, e definindo o zero de energia como o topo da banda de
valência, tem-se:
44
E
gap
+ A
α
0
i
2
2
P
α
+
1
6
P
α
z
i
2
6
P
α
0
i
2
3
P
α
z
1
2
3
P
α
0 E
gap
+ A
β
0
1
2
6
P
β
+
i
6
P
β
z
1
2
2
P
β
i
2
3
P
β
+
1
2
3
P
β
z
i
2
2
P
α
0 Q
α
i
3S
α
R
α
0
6
2
S
α
i
2R
α
1
6
P
α
z
1
2
6
P
β
i
3S
α
1
3
(2T
α
+ Q
β
) i(S
α
S
β
) R
β
i
2
3
(T
α
Q
β
)
1
2
(2S
α
+ S
β
)
i
2
6
P
α
+
i
6
P
β
z
R
α
i(S
α
S
β
)
1
3
(Q
α
+ 2T
β
) i
3S
β
1
2
(S
α
+ 2S
β
)
i
2
3
(Q
α
T
β
)
0
1
2
2
P
β
+
0 R
β
i
3S
β
Q
β
i
2R
β
6
2
S
β
i
2
3
P
α
z
i
2
3
P
β
6
2
S
α
i
2
3
(T
α
Q
β
)
1
2
(S
α
+ 2S
β
) i
2R
β
1
3
(T
α
+ 2Q
β
) i(S
α
S
β
)
1
2
3
P
α
+
1
2
3
P
β
z
i
2R
α
1
2
(2S
α
+ S
β
)
i
2
3
(Q
α
T
β
)
6
2
S
β
i(S
α
S
β
)
1
3
(2Q
α
+ T
β
)
(2.58)
45
Os índices
α
e
β
são redefinidos para mostrar os vetores de onda presentes no cálculo de
cada elemento, mostrando assim a informação de spin presente no hamiltoniano representado
na base dos orbitais. Os elementos que acoplam as sub-bandas de valência, em unidades de
Rydberg, são dados por:
Q = [(k
L
x
(
γ
1
+
γ
2
)k
R
x
+ k
L
y
(
γ
1
+
γ
2
)k
R
y
) +k
L
z
(
γ
1
2
γ
2
)k
R
z
] (2.59)
T = [(k
L
x
(
γ
1
2
γ
2
)k
R
x
+ k
L
y
(
γ
1
2
γ
2
)k
R
y
) +k
L
z
(
γ
1
+ 4
γ
2
)k
R
z
] (2.60)
S = [(k
L
x
γ
3
k
R
z
+ k
L
z
γ
3
k
R
x
) i(k
L
y
γ
3
k
R
z
+ k
L
z
γ
3
k
R
y
)] (2.61)
R =
3[(k
L
x
γ
2
k
R
x
k
L
y
γ
2
k
R
y
) i(k
L
x
γ
3
k
R
y
+ k
L
y
γ
3
k
R
x
)] (2.62)
Os elementos associados à primeira sub-banda de condução são:
P
±
=
1
2
(k
L
x
Pk
R
x
±ik
L
y
Pk
R
y
) (2.63)
P
z
= k
L
z
Pk
R
z
(2.64)
A = k
L
Ak
R
(2.65)
Na equação (2.58), a mistura de spin que ocorre na base de momento angular é realçada e o
acoplamento entre estados spin up e down é explicitado pelos termos que possuem índices
α
e
β
. Os termos S
α
S
β
, os quais eram nulos na representação convencional, quando analisados
sob a simetria de reversão temporal, apresentam acoplamentos entre buracos leve spin up e
down, e o mesmo ocorre para buracos split-off. Isto não implica em grandes problemas,
que estes termos são originados por interações de segunda ordem segundo a aproximação de
Löwdin.
46
47
3 Energia de troca-correlação
Na década de 50 houve um aumento no estudo de propriedades de gases de elétrons com
ampla faixa de densidades, procurando compreender sistemas inomogêneos usando modelos
teóricos. Os primeiros modelos representaram as interações de muitos corpos como partículas
independentes interagindo com um gás homogêneo de elétrons, baseados nos trabalhos de
Thomas-Fermi (26, 27), Slater (28) e Hartree-Fock (29).
Kohn e Sham (30) propuseram um modelo inserindo as correções de troca-correlação com
equações autoconsistentes, semelhantes à equação de Schrödinger, e funcionais de densidade.
Entretanto, existem algumas condições para que este método seja aplicado: variação suave e
altas densidades de carga. Anos mais tarde, Barth e Hedin (31) generalizaram o formalismo
de Kohn-Sham para casos onde polarização de spin, parametrizando a correção de muitos
corpos por meio de funcionais baseados nos estados paramagnético e ferromagnético, usando
a aproximação LSDA (local spin density approximation). Surgiram também algumas aproxi-
mações não-locais, como a aproximação de densidade média e de densidade ponderada (32).
Outro caminho seguido por alguns pesquisadores foi o uso de métodos estatísticos como Monte
Carlo e aproximação de fase aleatória (RPA) (33, 34).
Algumas parametrizações foram desenvolvidas especificamente para gases de buracos em
semicondutores (34–38). Entretanto, estas descrições limitam-se às sub-bandas com simetria
Γ
8
em cristais zinc blende (buracos leve e pesado). Em sistemas onde as sub-bandas com
simetria Γ
7
não podem ser desprezadas, em modelos com descrição de orbitais p e d da banda
de condução (39, 40) e em sistemas cristalinos de outros tipos, como a wurtizita, tais modelos
não podem ser aplicados.
48
3.1 Termo de corrão de troca-correlação
Embora a troca-correlação (XC) seja mencionada conjuntamente, é possívelseparar a mesma
em duas interações diferentes. A energia de troca pode ser obtida exatamente, entretanto
a correlação é sempre parametrizada, fornecendo resultados aproximados. Ambas energias
são descritas em função dos mesmos parâmetros, os quais dependem do modelo usado. Em
aproximações LSDA, os parâmetros são a polarização relativa de portadores (
ζ
) e o raio de
Wigner-Seitz (r
s
):
ζ
=
ρ
α
ρ
β
ρ
α
+
ρ
β
(3.1)
r
s
=
4
πρ
a
3
0
3
1/3
(3.2)
onde
ρ
é a densidade de portadores,
α
e
β
são os estados de spin 1/2 (up e down) e a
0
=
ε
2m
é
o raio de Bohr efetivo.
Ambos os potenciais são construídos a partir da combinação de estados ferromagnético
(
ζ
= 1) e paramagnético (
ζ
= 0). Assim, a energia XC,
ε
xc
(r
s
,
ζ
), será escrita em função de
ε
xc
(r
s
,1) e
ε
xc
(r
s
,0).
3.1.1 Potencial de troca
A interação de troca é um efeito quântico que minimiza a energia de duas ou mais partículas
quando as respectivas funções de onda se sobrepõem. Oriunda do princípio de exclusão de
Pauli, esta diferença de energia é resultado da identidade das partículas e da simetria de troca
entre elas (19). A troca é conhecida exatamente (41), e pode ser escrita na seguinte forma:
v
x,
σ
=
4
3
ε
x
(r
s
,0)
3
1+
σζ
(3.3)
3.1.2 Potencial de correlação
A correlação estima a mudança da energia total devido à reorganização de numerosas
partículas carregadas e interagentes. Por ser um fenômeno de muitos corpos, esta correção não
49
pode ser obtida exatamente, exigindo o uso de parametrizações para descrevê-la (31–33, 42).
3.2 Método
A aproximação de densidade local (LDA), e suas variantes, tratam um sistema inomogêneo
como se fosse uma deformação suave de uma configuração homogênea, as quais não alteram as
atribuições qualitativas do sistema (30).
Elétrons ocupando um orbital específico são espacialmente e energeticamente distintos dos
que estão em outros orbitais. Dessa forma, os elétrons que ocupam um determinado orbital
podem ser tratados como um gás de elétrons independentes e existe apenas a troca-correlação
intra-orbital. Em sólidos é possível tratar a interação XC dentro de cada casca fechada (32),
pois tal sistema possui as características impostas pelo modelo de Kohn-Sham (30).
Duas suposições são feitas nessa aproximação:
1. As forças que mantém os elétrons separados uns dos outros são devidas somente às
interações de troca-correlação e Coulomb;
2. Os efeitos destas forças são bastante similares aos ocorridos em um gás homogêneo.
A proposta deste modelo é calcular o potencial XC para os orbitais s-p, tal que o gás de
portadores possui duas componentes, uma para cada spin, como sugerido por Kärkkäinen (37).
O potencial XC, V
x
i
(r
s
,
ζ
), é calculado separadamente para cada orbital s-p.
O raio de Bohr efetivo depende das massas efetivas dos portadores. É necessário, então,
encontrar a massa efetiva referente a cada orbital. No modelo proposto por Sipahi et al. (18),
são usadas as massas isotrópicas obtidas a partir dos parâmetros de Luttinger. No modelo apre-
sentado nesse trabalho, foram analisadas as composições dos orbitais nos estados de momento
angular e então foi obtida uma aproximação para as massas efetivas dos orbitais usando as
massas isotrópicas dos buracos leve, pesado e split-off. As massas efetivas dos orbitais são
50
dadas por:
m
x
= m
y
=
1
6
(3m
hh
+ m
lh
+ 2m
so
) (3.4)
m
z
=
1
3
(2m
lh
+ m
so
) (3.5)
Na base dos orbitais s-p, a matriz XC tem a forma:
V
x
(
ρ
) 0 0 0 0 0 0 0
0 V
y
(
ρ
) 0 0 0 0 0 0
0 0 V
z
(
ρ
) 0 0 0 0 0
0 0 0 V
s
(
ρ
) 0 0 0 0
0 0 0 0 V
x
(
ρ
) 0 0 0
0 0 0 0 0 V
y
(
ρ
) 0 0
0 0 0 0 0 0 V
z
(
ρ
) 0
0 0 0 0 0 0 0 V
s
(
ρ
)
(3.6)
tal que os coeficientes V
x
i
são obtidos usando a forma exata da interação de troca, dada pela
equação (3.3), e algumas parametrizações para a correlação, as quais serão apresentadas poste-
riormente.
Transformando a matriz (3.6) na base de momento angular, equação (2.27), o hamiltoniano
XC é dado por:
V
s
0 0 0 0 0 0 0
0 V
s
0 0 0 0 0 0
0 0 Q 0
3R 0 0 i
3R
0 0 0 T 0
3R
i
2
(QT) 0
0 0
3R 0 T 0 0
i
2
(QT)
0 0 0
3R 0 Q i
6R 0
0 0 0
i
2
(QT) 0 i
6R
1
2
(Q+ T) 0
0 0 i
3R 0
i
2
(QT) 0 0
1
2
(Q+ T)
(3.7)
51
tal que os elementos de matriz possuem a forma:
Q =
1
2
(V
x
+V
y
) (3.8)
T =
1
6
(4V
z
+V
x
+V
y
) (3.9)
R =
1
6
(V
x
V
y
) (3.10)
3.3 Parametrizações
Neste trabalho serão analisadas quatro diferentes parametrizações para o termo de correção
de correlação. Os modelos utilizados são baseados na teoria do funcional da densidade (DFT -
density functional theory), onde um dos modelos é uma aproximação LDA e as outras três são
aproximações LSDA.
3.3.1
υ
HL (Hedin & Lundqvist)
Nesta aproximação, a energia de troca-correlação é tratada conjuntamente e a polarização
de spin não é tratada rigorosamente (LDA). O potencial XC, neste modelo, é dado por:
v
q
XC
=
e
2
2
ε
a
q
B
2
πα
r
q
s
e
2
2
ε
a
q
B
0.0368ln
1+
21
R
q
s
(3.11)
onde R
q
s
=
4
π
3
(a
q
B
)
3
p(z) e p(z) é a densidade total de portadores dada por p(z) = p
hh
+ p
lh
+
p
so
. O índice q refere-se aos estados de buracos pesado, leve e split-off, respectivamente.
3.3.2
υ
BH (Barth & Hedin) e
υ
GL (Gunnarson & Lundqvist)
Os modelos de Barth-Hedin (31), BH, e Gunnarson-Lundqvist (32), GL, são baseados na
aproximação LSDA. As energias de troca e correlação são tratadas separadamente, sendo a
última parametrizada. Ambos modelos usam o mesmo funcional, diferindo apenas dos parâ-
metros, os quais são mostrados na tabela (3.1). O potencial de troca é calculado por meio da
equação (3.3). O funcional usado para obter a energia de correlação é dado por:
ε
c
(r
s
,
ζ
) =
ε
c
(r
s
,0) + f(
ζ
)[
ε
c
(r
s
,1)
ε
c
(r
s
,0)] (3.12)
52
onde
f(
ζ
) =
(1+
ζ
)
4/3
+ (1
ζ
)
4/3
2
2(2
1/3
1)
(3.13)
Neste modelo, os elementos do funcional que necessitam de parametrização são as energias
dos estados paramagnético,
ε
c
(r
s
,0), e ferromagnético,
ε
c
(r
s
,1):
ε
c
(r
s
,i) = C
i
g
r
s
A
i
(3.14)
onde i possui os valores 0 (paramagnético) e 1 (ferromagnético), e
g(x) = (1+ x
3
)ln
1+
1
x
+
x
2
x
2
1
3
(3.15)
O potencial de correlação pode ser escrito então como:
v
c,
σ
(r
s
,
σ
) = C
0
r
s
A
0
f(
ζ
) +(
σ
ζ
)
f(
ζ
)
ζ
+
r
s
3
C
0
A
0
g
r
s
A
0
r
s
+ f(
ζ
)
C
1
A
1
g
r
s
A
1
r
s
C
0
A
0
g
r
s
A
0
r
s

(3.16)
Tabela 3.1 – Parâmetros usados nas parametrizações de Barth-Hedin e Gunnarson-Lundqvist.
-
υ
GL
υ
BH
C
0
0.0333
e
2
a
0
0.0252
e
2
a
0
A
0
11.4 30
C
1
0.0203
e
2
a
0
0.0127
e
2
a
0
A
1
15.9 75
3.3.3 PW92 (Perdew & Wang)
Assim como nos modelos de Barth-Hedin e Gunnarson-Lundqvist, Perdew e Wang (33)
parametrizaram apenas a energia de correlação, usando a seguinte aproximação:
ε
c
(r
s
,
ζ
) =
ε
c
(r
s
,0) +
α
c
(r
s
)
f(
ζ
)
f
′′
(0)
(1
ζ
4
) +[
ε
c
(r
s
,1)
ε
c
(r
s
,0)] f(
ζ
)
ζ
4
(3.17)
Nesta aproximação, os termos
ε
c
(r
s
,0),
ε
c
(r
s
,1) e
α
c
(r
s
) são escritos usando a seguinte
53
equação:
2A(1+
α
1
r
s
)ln
1+
1
2A(
β
1
r
1/2
s
+
β
2
r
s
+
β
3
r
3/2
s
+
β
4
r
p+1
s
)
(3.18)
tal que os parâmetros p, A,
α
1
e
β
i
são mostrados na tabela (3.2)
O potencial de correlação possui a seguinte forma:
v
σ
c
(r
s
,
ζ
) =
ε
(r
s
,
ζ
)
r
s
3
ε
c
(r
s
,
ζ
)
r
s
(
ζ
σ
)
ε
c
(r
s
,
ζ
)
ζ
(3.19)
Tabela 3.2 – Parâmetros usados na parametrização PW92.
-
ε
c
(r
s
,0)
ε
c
(r
s
,1)
α
c
(r
s
)
p 1.0 1.0 1.0
A 0.031091 0.015545 0.016887
α
1
0.21370 0.20548 0.11125
β
1
7.5957 14.1189 10.357
β
2
3.5876 6.1977 3.6231
β
3
1.6382 3.3662 0.88026
β
4
0.49294 0.62517 0.49671
54
55
4 Cálculo de heteroestruturas
semicondutoras
4.1 Heteroestruturas e superredes
Uma heteroestrutura é formada pela disposição sequencial de diferentes materiais semicon-
dutores com características e propriedades diferentes. Na maioria dos casos, uma heteroestru-
tura é construída para criar regiões de confinamento de estados e assim obter maior controle
dos fenômenos ocorrentes naquela região. Na figura 4.1 é apresentado um esquema de uma
heteroestrutura.
1
1
2
Poço
Barreira
Barreira
Figura 4.1 – Esquema de uma heteroestrutura formada por dois materiais diferentes, onde o material 2
possui menor gap de energia que o material 1. A linha preta mostra o perfil de potencial
para buracos
Em um material bulk, a célula unitária da rede cristalina define a região de periodicidade
do sistema e este período implica em propriedades particulares de tais sistemas. Se uma
heteroestrutura é definida como uma supercélula unitária do sistema, a repetição das mesmas ao
longo de uma direção de crescimento é definida como superrede. Os parâmetros dos materiais
variam ao longo da direção de crescimento, definida como ˆz, ou seja, as características do
sistema serão funções de z:
m
ν
(z) =
m
ν
1
,z < 0,
m
ν
2
,z > 0
(4.1)
56
E
ν
(z) =
E
ν
1
,z < 0,
E
ν
2
,z > 0
(4.2)
Figura 4.2 – Exemplo de uma superrede montada a partir da heteroestrutura mostrada na figura 4.1. A
região destacada em vermelho define uma supercélula unitária
4.2 Equação de massa efetiva
O método k·p é utilizado com sucesso em casos em que é necessário apenas a descrição
da vizinhança do ponto Γ da FBZ do sistema. Em tais casos, a banda de energia pode ser
representada por uma expansão em séries de Taylor de segunda ordem (19), tal que:
E
ν
(k) = E
ν
(k
0
) +
¯
h
2
2m
ν
(k)
k
2
0
(4.3)
Com esta aproximação, é introduzido ao sistema a relação de dispersão de um elétron
livre. O termo m
ν
é chamado de massa efetiva, pois o mesmo é responsável por carregar as
informações referentes ao potencial da rede cristalina. Em um cristal, a relação de dispersão
é bastante complexa. Entretanto, para pontos na vizinhança do ponto Γ a relação de dispersão
quadrática é predominante, permitindo que a aproximação de massa efetiva seja usada. Em
geral, usa-se o tensor massa efetiva, M
1
ναβ
, o qual possui valores diferentes de massas para
diferentes direções da FBZ do cristal. Porém, em alguns casos especiais, de acordo com as
simetrias do sistema, a massa efetiva torna-se uma quantidade escalar (19).
Uma heteroestrutura é composta por camadas de diferentes materiais semicondutores. A
teoria de massa efetiva é bem estabelecida quando aplicada em materiais bulk. Entretanto,
quando vários materiais são arranjados em camada, são geradas interfaces entre dois materiais
diferentes, conhecidas como heterointerfaces. Para que a teoria de massa efetiva seja aplicada
em sistemas onde ocorrem heterointerfaces, as condições de contorno devem ser tratadas rigo-
57
rosamente (19).
Seja uma heteroestrutura simples, composta por dois materiais, onde o material 1 ocupa a
região z < 0 e o material 2 ocupa z > 0. Considerando apenas os respectivos autoestados que
estão próximos ao fundo da banda de valência de cada material,
ψ
ν
1
(r) e
ψ
ν
2
(r), estas funções
de onda podem ser escritas como:
ψ
ν
1
(r) = F
ν
1
(r)u
ν
10
(r) e
ψ
ν
2
(r) = F
ν
2
(r)u
ν
20
(r) (4.4)
As funções envelope F
ν
1
(r) e F
ν
2
(r) obedecem à equação de massa efetiva:
¯
h
2m
ν
i
2
+ E
ν
i
F
ν
i
(r) = E
ν
F
ν
i
(4.5)
para r pertencente ao material i = 1, 2. Ambas as equações podem ser escritas em apenas uma,
usando uma função envelope para toda a heteroestrutura.
F
ν
(r) =
F
ν
1
,z < 0,
F
ν
2
,z > 0
(4.6)
Para resolver a equação com a função envelope, (4.6), é necessário introduzir a massa
efetiva m
(z), assim como a fronteira de energia E
ν
(z). A equação de massa efetiva para uma
única função envelope assume a forma:
¯
h
2m
ν
(z)
2
+ E
ν
(z)
F
ν
(r) = E
ν
F
ν
(r),z = 0 (4.7)
A função de onda
ψ
ν
(r) da heteroestrutura é dada, então, por:
ψ
ν
(r) = F
ν
(r)u
ν
0
(r) (4.8)
onde
u
ν
0
(r) =
u
ν
10
,z < 0,
u
ν
20
,z > 0
(4.9)
é o fator de Bloch da heteroestrutura.
A heterointerface entre dois diferentes materiais ainda não foi considerada, apenas a solução
58
para cada material separadamente. Em z = 0 , as soluções de ambos materiais devem ser conec-
tadas de forma adequada para formar uma autofunção envelope para toda a heteroestrutura.
É necessário encontrar uma condição para a troca de função envelope ao longo da interface.
A função de onda total,
φ
ν
(r), deve ser contínua em todo o espaço. Assim, se o fator de Bloch
é contínuo ao longo da interface, então a função envelope necessariamente também o é. Este
argumento pode ser representado por:
F
ν
(x,y,0
δ
) = F
ν
(x,y,0+
δ
) (4.10)
com
δ
0.
O fator de Bloch deve ser contínuo em uma interface se a estrutura de bandas de dois ma-
teriais são similares. Entretanto, cálculos de massa efetiva baseados na continuidade da função
envelope apresentam resultados consistentes para heteroestruturas compostas por materiais com
estruturas de bandas consideravelmente diferentes (19). Segundo Enderlein e Horing (19), dois
fatores de Bloch em uma interface não precisam ser periódicos na direção z, pois a periodicidade
da rede é perturbada. Esta liberdade pode ser usada para justificar a condição de continuidade
do fator de Bloch na interface.
Uma forma de analisar a continuidade da função envelope ao longo da interface é a partir
da primeira derivada com relação a z da mesma. A densidade de corrente de probabilidade,
associada à função de onda total, deve ser a mesma em ambos os lados da interface. Isto
também acontece caso seja tomada uma média ao longo da célula primitiva, ou seja, a função
envelope varia suavemente e é quase constante nesta região (19). A densidade de corrente de
probabilidade é dada por (43):
J(r,t) =
¯
h
2mi
[
ψ
ψ
ψ
ψ
] (4.11)
Considerando o fator de Bloch contínuo ao longo da interface, então J é obtido a partir da
função envelope somente, e não da função de onda total, o que exige que a função envelope seja
59
contínua ao longo da interface. Assim, a derivada da função de onda obedece à relação:
1
m
1
z
F
ν
(x,y,z)
z=
δ
=
1
m
2
z
F
ν
(x,y,z)
z=+
δ
(4.12)
conhecida como condição de contorno de Ben Daniel - Duke. O termo de energia cinética deve
ser substituído por (19):
¯
h
2
2m
(z)
2
=
¯
h
2
2
·
1
m
(z)
(4.13)
A equação de massa efetiva torna-se então:
¯
h
2
2
·
1
m
(z)
+ E
ν
(z)
F
ν
(r) = E
ν
F
ν
(r) (4.14)
A fronteira de energia faz o papel de um potencial externo na equação de massa efetiva
(4.14). Como a dependência apenas em z, a função envelope pode ser decomposta como
(19):
F
ν
(r) = F
ν
,k
||
(r) =
1
2/3
e
ik
||
·r
F
ν
(z) (4.15)
A equação de Schrödinger torna-se então:
¯
h
2
2m
ν
(z)
d
2
dz
2
+ E
ν
(z) +
¯
h
2
2
1
m
ν
(z)
1
m
ν
k
2
||
F
ν
(z) = E
ν
F
ν
(z) (4.16)
para z = 0. O termo E
ν
é dado por:
E
v
= E
ν
¯
h
2
2m
ν
k
2
||
(4.17)
sendo que
1
m
ν
=
1
2
1
m
∗−1
ν
1
+
1
m
∗−1
ν
2
(4.18)
4.3 Potencial Magnético
Para descrever a interação existente devido à presença de íons magnéticos na rede cristalina,
foi usado o modelo de campo médio proposto em trabalhos anteriores (44). Neste modelo,
supõe-se que a interação entre os portadores livres e os íons magnéticos ocorrem por troca
indireta, ou seja, os portadores livres são responsáveis pela mediação da interação entre elétrons
60
dos orbitais d ou f dos íons magnéticos. Esta interação pode assumir caráter ferromagnético e
antiferromagnético (44).
A interação entre portadores livres e momentos magnéticos alinhados pode ser descrita
como:
V
mag
(r) = I
i
s(r) ·S(R
i
)
δ
(rR
i
) (4.19)
onde I representa a interação de troca da interação spd. O spin localizado dos íons de Mn,
S
i
(R
i
), é oriundo dos elétrons ocupando um orbital d, obedecendo a regra de Hund, e não é
considerada a hibridização com portadores, devido à grande diferença de energia.
Como foi suposto que os íons do metal de transição são distribuídos uniformemente ao
longo da região magnética, algumas aproximações podem ser feitas. Primeiramente, a soma
sobre os termos
δ
(rR
i
) pode ser substituída por uma densidade, já que trata-se da contagem
dos íons magnéticos, dada por xN
0
, onde x representa a porcentagem de íons da rede substituídos
por íons do metal de transição, e N
0
o mero total de íons (magnéticos ou não). Pode-se
também usar uma função g(z), para definir qual é a região magnética. Assim, a descrição toma
a forma:
V
mag
(r) = Is·Sg(z)xN
0
(4.20)
Tomando a média térmica da magnetização, M, tem-se a expressão:
V
mag
(r) =
x
2
N
0
β
g(z)M·
σ
σ
σ
(4.21)
onde o termo I passa a ser chamado
β
para portadores tipo-p e
α
para tipo-n, e o termo s
é substituído por
σ
/2, devido ao uso das matrizes de Pauli,
σ
, para representar o spin dos
portadores livres.
Para incluir a interação magnética no hamiltoniano total, é necessário escrevê-la na forma
matricial, usando a base de momento angular (2.27). O bloco 6×6, referente à banda de
61
valência, é dado por:
x
6
N
0
β
3M
z
0 i
3M
0
6M
0
0 3M
z
0 i3M
+
0
6M
+
i
3M
+
0 M
z
i2M
i2
2M
z
2M
0 i
3M
i2M
+
M
z
2M
+
i2
2M
z
6M
+
0 i2
2M
z
2M
M
z
iM
0
6M
2M
+
i2
2M
z
iM
+
M
z
(4.22)
com M
±
= M
x
±iM
y
.
Representando a banda de condução, tem-se:
x
6
N
0
α
M
z
0
0 M
z
(4.23)
Com isso obteve-se a matriz 8×8 o qual irá compor cada bloco construtor do hamiltoniano
total do sistema.
4.4 Representação no espaço-k
Sipahi et al. (18) propuseram uma expansão em ondas planas da equação de massa efetiva
multibandas a partir do modelo 6×6 de Luttinger-Kohn (16). Os estados de momento angular
são escritos como:
rs|jm
j
k =
1
e
ik·r
rs|jm
j
(4.24)
onde k pertence a primeira zona de Brillouin da supercélula.
Como os estados |jm
j
compõem uma base completa, é possível expandir os autoestados
da superrede, |
ν
k, usando a base de momento angular, dada pela equação (2.27):
rs|
ν
k =
jm
j
K
jm
j
kK|
ν
krs|jm
j
kK (4.25)
Devido a periodicidade da rede, os únicos termos não nulos desta expansão ocorrem quando
K é um vetor da superrede recíproca. Dessa forma, a equação de massa efetiva expandida tem
62
a forma:
j
m
j
K
jm
j
kK|H
Total
|j
m
j
kK’j
m
j
kK’|
ν
k = E
ν
(k)jm
j
kK|
ν
k (4.26)
O hamiltoniano total será composto por diversos blocos construtores, como pode ser visto
na figura (4.3). Os blocos não-diagonais acoplam supercélulas vizinhas, permitindo o cálculo
de superredes com poços interagentes, caso desejado.
Figura 4.3 – Ilustração do formato do hamiltoniano total quando a equação de massa efetiva é expandida
em uma onda plana. Os blocos não-diagonais acoplam supercélulas vizinhas. Quanto mais
escuro o bloco, maior sua contribuição no resultado final
O hamiltoniano total é composto pelas diversas interações presentes no sistema. Para os
DMS que serão estudados neste trabalho, o hamiltoniano é dado por:
H
Total
= H
k·p
+V
Het
+V
Coulomb
+V
XC
+V
Mag
(4.27)
onde H
k·p
representa a energia cinética calculada pelo método k·p, V
Het
o potencial da hete-
roestrutura, V
Coulomb
o potencial Coulombiano, V
XC
o potencial corretivo de troca-correlação e
V
Mag
o potencial magnético. No estudo de estruturas semicondutoras sem presença de carga,
serão usados apenas os hamiltonianos H
k·p
e V
Het
.
4.4.1 Hamiltoniano k·p
No presente trabalho, cada bloco do hamiltoniano k ·p total será composto pela matriz
8×8 com simetria de reversão temporal, descrita anteriormente na equação (2.58), baseado no
63
modelo de Kane (23). Os vetores de onda que irão compor os elementos são a soma de um vetor
da FBZ da supercélula com um vetor da superrede recíproca, porém agora com a informação
de spin inclusa em k
α
,
β
, ou seja:
k
L,R
α
k+ K
L,R
k
L,R
β
k+K
L,R
(4.28)
Os índices L e R identificam os vetores da superrede recíproca que entram no cálculos dos
blocos não-diagonais da matriz total, de acordo com a notação de Dirac, k
L
|H|k
R
. Tomando
como exemplo a figura 4.3, no bloco 0|H|K
K
K tem-se:
k
k
k
L
α
= k
k
k
k
k
k
L
β
= k
k
k
k
k
k
R
α
= k
k
k+ K
K
K
k
k
k
R
β
= k
k
k+ K
K
K
(4.29)
Os elementos de matriz pertencentes a um bloco não-diagonal dependem de dois vetores
diferentes do espaço-k, os quais pertencem a diferentes supercélulas. Definindo dois estados,
|jm
j
kK
L
e |j
m
j
kK
R
, o elemento de matriz será escrito como jm
j
kK
L
|H
0
|j
m
j
kK
R
, e
j
m
j
kK
R
|H
0
|jm
j
kK
L
= jm
j
kK
L
|H
0
|j
m
j
kK
R
. Entretanto, como as supercélulas são idên-
ticas, a interação é determinada apenas pela distância entre elas, não havendo diferença da
disposição das mesmas. Este fato também pode ser interpretado como a não simetrização do
operador k
z
proposta por Foreman (25) escrita no espaço-k. Assim, os elementos de matriz dos
blocos não diagonais são calculados da seguinte forma:
jm
j
kK
L
|H
0
|j
m
j
kK
R
+jm
j
kK
R
|H
0
|j
m
j
kK
L
2
(4.30)
4.4.2 Potencial da heteroestrutura
A diferença entre os gaps de energia dos diferentes materiais em uma heteroestrutura gera
uma fronteira de energia que perturba o sistema como um todo, criando regiões de confinamento
de estados, como mostrado na figura 4.1.
64
Calculando os elementos de matriz via teoria de perturbação, o potencial da heteroestrutura,
representado na base de momento angular, é dado por:
jm
j
k|V
Het
|j
m
j
k= jm
j
k
0
|V
Het
|j
m
j
k
0
+i
¯
h
m
jm
j
k
0
|V
Het
|j
m
j
k
0
µ
=
ν
jm
j
k
0
|p|j
m
j
k
0
E
jm
j
E
j
m
j
(4.31)
Como o cálculo é realizado no espaço de Fourier, a expansão do potencial em senos e cosse-
nos faz com que o mesmo não seja abrupto nas interfaces, ou seja, tem-se um potencial suave.
Assim, os termos de segunda ordem da expansão podem ser desprezados, que envolvem a
variação do potencial (termo V), permitindo que o potencial da heteroestrutura, expandido em
ondas planas, seja escrito na seguinte forma:
jm
j
kK|V
Het
|j
m
j
kK
= K|V
Het
|K
δ
jj
δ
m
j
m
j
(4.32)
Pela equação (4.32) pode-se notar que o potencial da heteroestrutura será diagonal em cada
bloco construtor 8×8 do hamiltoniano total.
4.4.3 Potencial de Coulomb
A equação de Poisson é dada por:
2
V
C
(r) =
4
π
e
ε
ρ
(r) (4.33)
A densidade total de carga,
ρ
(r), representa a densidade de portadores livres no sistema,
p(r), e a densidade de impurezas aceitadoras, N
a
(r). Devido a neutralidade do sistema, tem-se:
ρ
(r) = e[p(r) N
a
(r)] (4.34)
Como os cálculos da simulação são realizados no espaço-k, então é necessário obter a
representação do potencial Coulombiano nos autoestados expandidos da superrede, que é dada
por (18):
jm
j
kK|V
C
|j
m
j
kK
=
4
π
e
2
ε
|KK
|
K|p(r) N
a
(r)|K
δ
jj
δ
m
j
m
j
(4.35)
65
Devido à linearidade da equação acima, pode-se encontrar separadamente as contribuições
dos portadores livres e das impurezas. Transformando a distribuição de impurezas para o espaço
de Fourier, tem-se:
K|N
a
(r)|K
=
N
s
d
A(KK
) (4.36)
onde N
s
representa a densidade superficial de impurezas por supercélula unitária e A é definido
como:
A(K) =
cos(K·r)
e
r
2
2
σ
2
2
πσ
dr (4.37)
A contribuição dos portadores livres é obtida a partir da ocupação dos estados livres presen-
tes na primeira zona de Brillouin da supercélula e abaixo da energia de Fermi. Assim, pode-se
encontrar tal contribuição a partir da densidade de probabilidade obtida a partir dos autoestados
da superrede:
|rs|
ν
k|
2
=
jm
j
j
m
j
KK
jm
j
kK|
ν
k
ν
k|j
m
j
kK
rs|jm
j
kKj
m
j
kK
|rs (4.38)
O termo rs|jm
j
kKj
m
j
kK
|rs pode ser representado por:
spin
u
jm
j
u
j
m
j
e
i(K
K)
drds (4.39)
ou seja,
rs|jm
j
kKj
m
j
kK
|rs = r|K
Kjm
j
k
0
|rsrs|j
m
j
k
0
(4.40)
Portanto, a densidade de probabilidade dos autoestados da superrede é dada por:
|rs|
ν
k|
2
=
jm
j
j
m
j
KK
jm
j
kK|
ν
k
ν
k|j
m
j
kK
r|K
Kjm
j
k
0
|rsrs|j
m
j
k
0
(4.41)
Tomando a média sobre a supercélula unitária e realizando a somatória sobre as coordena-
das de spin, tem-se:
s
|rs|
ν
k|
2
=
jm
j
KK
jm
j
kK|
ν
k
ν
k|jm
j
kK
r|K
K (4.42)
66
A distribuiçãode densidade de portadores livres será dada então pela contagem de ocupação
dos estados da superrede:
p(r) =
ν
k
jm
j
KK
jm
j
kK|
ν
k
ν
k|jm
j
kK
r|K
K (4.43)
A transformada de Fourier de p(r) tem a forma:
K|p|K
=
1
P(KK
) (4.44)
tal que P é definido como:
P(K) =
ν
k
jm
j
K
′′
jm
j
kK
′′
|
ν
k
ν
k|jm
j
k(K
′′
K) (4.45)
Em equilíbrio, o sistema total deve ser neutro, exigindo que:
K|p(r)|KK|N
A
(r)|K = 0 (4.46)
4.4.4 Potenciais de Troca-correlação e Magnético
Como os elementos de matriz dos hamiltonianos XC e magnético não dependem explicita-
mente de k e K, então cada bloco 8×8 do hamiltoniano total será composto pelas respectivas
matrizes mostradas anteriormente. O bloco XC é representado pela matriz (3.7) enquanto o
bloco magnético será construído usando as matrizes (4.23) e (4.22).
4.5 Cálculo de espectros de fotoluminescência
Todas as grandezas incluídas até o momento, neste trabalho, permitem o cálculo da ocupa-
ção dos estados, estrutura de bandas, energia de Fermi, a partir dos autoestados e autoenergias
do sistema. Tais elementos permitem calcular e entender as transições e recombinações dos
pares elétron-buraco presentes no sistema.
A luminescência é interpretada como a emissão de luz pela recombinação espontânea entre
pares elétron-buraco, em situação de equilíbrio térmico, após serem excitados por um processo
67
externo qualquer. Sipahi et al. (36, 45) propuseram um modelo para o cálculo da intensidade
de luminescência, dada por:
I(
ω
) =
2
¯
h
ω
3
c
e
2
m
0
c
2
i, f
f
i, f
N
i
(1N
f
)
1
π
γ
i, f
(E
i
E
f
¯
h
ω
)
2
+
γ
2
i, f
(4.47)
onde
γ
i, f
representa o alargamento da transição devido ao tempo de vida médio do acoplamento,
de forma que a expressão é ponderada pela distribuição Lorentziana. N
i
e N
f
representam
as probabilidades de ocupação dos estados inicial (energias E
i
e E
f
, respectivamente) e final,
enquanto o termo f
i, f
representa a força de oscilador da transição de dipolo ótica entre tais
estados sob luz polarizada na direção x:
f
i, f
=
2|k
i
|p
x
|k
f
|
2
m
0
(E
i
E
f
)
(4.48)
Como as transições ocorrem devido à recombinação dos pares elétron-buraco, é necessário
identificar os estados inicial e final. Os estados da banda de condução serão identificados como
|n
e
k
σ
e
, enquanto os estados da banda de valência terão os rótulos |n
q
k
σ
q
, onde q representa
os estados hh (buraco pesado), lh (buraco leve) e so (split-off). Reescrevendo a equação (4.47)
usando a identificação dos estados, obtém-se a expressão:
I(
ω
) =
2
¯
h
ω
3
c
e
2
m
0
c
2
k
n
e
n
q
f
n
e
,n
q
(k)N
n
e
,k
(1N
n
q
,k
)
1
π
γ
n
e
,n
q
,k
(E
n
e
(k) (E
n
q
(k)
¯
h
ω
)
2
+
γ
2
n
e
,n
q
,k
(4.49)
Com a identificação dos estados de condução e valência, a expressão para a força de
oscilador assume a forma:
f
n
e
,n
q
(k) =
2
m
0
σ
e
,
σ
q
|n
e
σ
e
k|p
x
|n
q
σ
q
k|
2
E
n
e
(k) E
n
q
(k)
(4.50)
Nos sistemas a serem estudados neste trabalho, a banda de condução é fracamente ligada à
banda de valência, pois o gap de energia, no ponto Γ, é grande (da ordem de 3.4 eV). Assim, os
termos não nulos ocorrem para a transição entre estados da banda de condução (elétrons) para
os estados da banda de valência (buracos pesado, leve e split-off) obedecendo a regra de ouro
68
de Fermi, ou seja, a variação de m
j
entre um estado e outro deve ser igual a 1. Portanto:
m
j
=
1
2
3
2
ou
1
2
m
j
=
1
2
1
2
ou
3
2
(4.51)
A expressão para a força do oscilador pode ser escrita como:
f
n
e
,n
q
=
4
m
0
(E
n
e
E
n
q
)
|n
e
|p
x
|n
q
↑|
2
+ |n
e
|p
x
|n
q
↑|
2
(4.52)
A distribuição de probabilidade de ocupação dos portadores é obtida a partir da função de
distribuição de Fermi. Assim, as ocupações das bandas de condução e valência são dadas por:
N
n
e
,k
=
1
e
[E
F
E
n
e
(k)]
k
B
T
+ 1
(4.53)
1N
n
q
,k
=
1
e
[E
F
E
n
q
(k)]
k
B
T
+ 1
(4.54)
69
5 Simulação
O programa bs-new executa simulações de estruturas semicondutoras de baixa dimensiona-
lidade, baseado em trabalhos desenvolvidos no Laboratório de NovosMateriais Semicondutores
(IF-USP) (18, 46, 47) e posteriormente no Laboratório de Física Computacional (IFSC-USP).
Desenvolvido na linguagem Fortran90, devido ao caráter matricial dos cálculos realizados, este
programa foi recentemente modularizado, de forma a facilitar a inclusão de novas rotinas de
cálculos. Para executar os cálculos e otimizar a performance de execução, o programa utiliza
bibliotecas consagradas: fftw (transformada de Fourier rápida), BLAS e LAPACK (álgebra
linear). A FFT é bastante importante nos cálculos, pois todos eles são realizados no espaço
recíproco. Já as bibliotecas de álgebra linear são importantes em algumas etapas do programa,
principalmente na diagonalização do hamiltoniano total.
Os dados do sistema simulado são passados para o programa a partir de um arquivo de
entrada. É possível construir diversos tipos de heteroestruturas com vários materiais, dimensio-
nalidades e geometrias diferentes. Na versão utilizada, apenas materiais com rede cristalina do
tipo zinc blende podem ser simulados. O arquivo contém os seguintes dados:
Dimensões do sistema (L
x
, L
y
e L
z
);
Centro de cada região de material (X
0
, Y
0
e Z
0
);
Parâmetros de Luttinger (
γ
123
);
Massas efetivas de buracos pesado, leve, split-off e também de elétrons;
Parâmetro interbandas de Kane (P);
Constante dielétrica estática;
Parâmetro de rede do material;
70
Gap de energia do material;
Energia de split-off devido à interação spin-órbita;
Band mismatch;
Conjunto de
parâmetros 2
Conjunto de
parâmetros 1
Figura 5.1 – Ilustração da montagem da heteroestrutura pelo arquivo de entrada
O arquivo de entrada também contém os parâmetros de execução do programa: o número
de ondas planas da expansão em Fourier, o mero de pontos em que será discretizada a FBZ, a
porcentagem da FBZ que será usada no cálculo e o número de iterações. Em média, são usados
cerca de 2030 ondas planas para a simulação de heteroestruturas, com a FBZ discretizada
em 10 pontos em cada direção. Isso resulta em uma matriz de ordem 400 a qual deve ser
diagonalizada para cerca de 300 pontos.
Na última parte do arquivo são inseridas as dopagens de carga e também os potenciais
a serem calculados na simulação: XC, magnético e Coulomb. Existem duas possibilidades
de dopagem de carga: dopagem tipo
δ
, onde é inserida uma densidade superficial de carga
constante e o perfil é construído como uma função gaussiana, para levar em conta a difusão das
impurezas no material; a outra possibilidade é inserir uma densidade volumétrica constante de
carga, a qual é usada para dopagens em regiões maiores.
Os potenciais são inseridos por último. O único parâmetro que a troca-correlação exige
refere-se a escolha de qual parametrização será usada no cálculo. O potencial magnético requer
os parâmetros envolvidos no cálculo mostrado em (4.21): porcentagem de substituição do metal
de transição, região do material magnético e o termo de troca spd. O potencial de Coulomb
71
é calculado sempre que há presença de carga. Já o potencial da heteroestrutura é obtido a partir
da primeira parte do arquivo, onde são inseridos os gaps de energia dos diferentes materiais.
1 1
4
5.6530 5.6530 500.0000 0.0000
0.0000 0.0000 0.0000 0.0000 0.0000
1.5190
0.3410
6.7900 1.9240 2.7800
0.0000
15.0376
0.0000
0.0000
5.6530
122.1000 56.6000 0.0000
2.0000
-8.3300
12.9000
0.3400 0.0940 0.1780 0.0665
0.4000
0.84005E-04 0.00000E+00 5.6530 5.6530 500.0000 5.6500
0 0 20 5 5 5 1 20 20 100
0.1000 0.0100 0.0070 0.0100
8 1 100
0 5 0 0
0
1
1
30.0000 0.0000 10.0000 0.9000
Figura 5.2 – Exemplo de um arquivo de entrada para uma estrutura
δ
-doped de GaAs. O bloco verde
informa o número de materiais no sistema e também o número de dimensões confinadas
no mesmo. o bloco vermelho contém os parâmetros referentes ao material. O bloco
azul claro possui as informações de execução do programa e o bloco azul escuro contém as
distribuições de carga e potenciais do sistema
O bs-new é dividido em duas partes: o Pot_kane e o SEQBanDist_kane. A primeira parte é
responsável por:
Construção dos potenciais que não envolvem as distribuição de portadores (heteroestru-
tura e magnético);
Construção da distribuição inicial de impurezas e portadores livres, definindo qual região
possui ou não portadores;
Escrita dos coeficientes de Fourier dos itens calculados acima, para serem usados pelo
segundo programa.
Já a segunda parte é responsável por:
72
Fazer a leitura dos parâmetros de massa efetiva;
Fazer a leitura dos potenciais calculados pela parte anterior;
Construir a discretização da primeira zona de Brillouin (mesh);
Realizar o ciclo autoconsistente para calcular as distribuições de cargas e os potenciais
Coulombiano e de troca-correlação;
Calcular a estrutura de bandas, a densidade de probabilidade dos estados e os espectros
de fotoluminescência;
5.1 Mesh
O mesh representa a primeira zona de Brillouin discretizada com o número de pontos
inseridos no arquivo de entrada. Entretanto, como a diagonalização é realizada para todos os
pontos da FBZ, propriedades de simetria da rede cristalina são usadas para reduzir o número
de pontos calculados. Como cristais zinc blende possuem simetria tetragonal (T
d
), é possível
encontrar os pontos equivalentes a cada ponto k e calcular apenas um destes, e pesando-os com
a devida multiplicidade. Como exemplo, uma discretização com 10 pontos em cada direção,
a qual resulta em um mesh de 1000 pontos, pode ser reduzida a apenas 396 pontos a serem
diagonalizados.
5.2 Ciclo autoconsistente
O ciclo autoconsistente é a parte do programa responsável pela convergência do potencial
Coulombiano e, consequentemente, pela distribuição de portadores livres. Inicialmente, o perfil
tentativo da distribuição de portadores livres é dado pelo mesmo perfil de distribuição das
impurezas, porém com sinal oposto.
Após esta etapa, calcula-se o potencial Coulombiano e troca-correlação usando esta dis-
tribuição de cargas tentativa, a partir do método apresentado no capítulo anterior. O potencial
Coulombiano é calculado como a diferença entre o potencial de portadores livres e o potencial
73
Figura 5.3 – Esquema mostrando a redução de cálculo de pontos para as direções ˆx e ˆy em uma rede
11×11. Os pontos vermelhos são calculados, reduzindo de 121 para 21 diagonalizações. É
possível observar que a região amarela pode ser deslocada/rotacionada e preencher todo o
espaço do mesh
de impurezas, ambos calculados usando a equação de Poisson (4.33). Estes potenciais então são
somados aos potenciais calculados pelo Pot_kane e também à energia cinética, e o hamiltoniano
total é diagonalizado para cada ponto k do mesh, retornando as quarenta primeiras auto-energias
e auto-estados do sistema ao longo da FBZ.
Passa-se então ao cálculo da ocupação dos autoestados da superrede com a quantidade de
portadores livres do sistema, a qual é realizada pela rotina Fermi. Essa rotina consiste em
uma visitação de cada uma das bandas de energia calculadas, ao longo da zona de Brillouin.
Uma energia de Fermi inicial é colocada, e todos os pontos k visitados com energia menor que
esta energia de Fermi são ocupados. Após toda a ocupação, a quantidade de carga ocupada é
comparada à quantidade inicial e o nível de Fermi é reajustado até as quantidades sejam iguais,
que a aproximação de Hartree supõe que o sistema está em seu estado fundamental. Esta
etapa resulta na obtenção do nível de Fermi e na ocupação dos estados à T = 0.
74
Com os estados ocupados, é possívelusar a aproximação de Hartree e calcular a distribuição
de portadores livres, que
ρ
|
ψ
occ
|
2
. Nesse ponto do programa, calcula-se a distribuição
de portadores em três bases diferentes: orbitais hidrogenoides (p
x
, p
y
, p
z
,s) usada na troca-
correlação, orbitais reais (p
+
, p
, p
z
,s) usados para encontrar a polarização de portadores, e na
base de momento angular ( j,m
j
). As diferentes distribuições são encontradas a partir de uma
mudança de base das autofunções do sistema, a partir de transformações unitárias, já que:
|
ψ
|U
U|
ψ
|
2
= |
ψ
|
ψ
|
2
(5.1)
desde que U
U = 1.
Conhecendo as distribuições de cargas, calcula-se então os novos potenciais Coulombiano
e XC. Para que a convergência ocorra de forma suave, faz-se uma mistura do potencial de
Coulomb recém calculado com o potencial o qual iniciou a iteração. Esta mistura é da ordem
de 5%, exigindo algumas dezenas de iterações para que ocorra a convergência. O ciclo termina
quando a diferença entre o potencial da iteração anterior e a atual é muito pequena, ou então
quando o número de iterações fornecidas ao programa é atingido.
Após o término do ciclo, as escritas finais do programa são realizadas. Nelas estão inclusos:
escrita do potencial final (heteroestrutura, magnético, impurezas, portadores livres, Cou-
lomb, XC e a soma de todos eles);
estrutura de bandas para todo o mesh;
nível de Fermi;
distribuições de cargas (nas três bases citadas anteriormente);
funções de onda no ponto Γ para os quarenta estados calculados;
função densidade de probabilidade para estas mesmas funções;
porcentagem de probabilidade de ocupação de cada estado, ao longo da FBZ;
espectros de fotoluminescência.
75
Potencial tentativo
inicial de cargas
Cálculo dos
potenciais:
Coulomb e XC
Diagonalização
do Hamiltoniano
CICLO
AUTOCONSISTENTE
Determinação do
nível de Fermi
e ocupação
Nova distribuição
de cargas
Cálculo dos
potenciais:
Coulomb e XC
Convergiu ?
Escritas:
Estrutura de bandas,
potenciais,
distribuições de carga,
ocupação.
Soma de todos
os potenciais +
energia cinética
Sim
Não
Figura 5.4 – Diagrama mostrando como funciona o ciclo autoconsistente na simulação
Os cálculos foram realizados em processadores Intel Core 2 Duo E7400 (3MB de cache,
frequência de clock de 2.8 GHz e frequência de barramento de 1066 MHz) e com 4 GB de
memória RAM DDR2 1066 MHz. As simulações de heteroestruturas sem dopagem duram
cerca de 2 minutos. sistemas onde era necessário a aplicação do método autoconsistente, o
tempo de simulação é da ordem de 1 hora.
76
77
6 Resultados - Hamiltoniano k·p
Para testar os efeitos da aplicação da reversão temporal no vetor k da função de Bloch
dos orbitais s-p, foram realizados alguns testes em poços quânticos de semicondutores III-
V (Al
x
Ga
1x
As e In
1x
Ga
x
As) e IV (Si
1x
Ge
x
). Em todos os sistemas simulados, a largura
dos poços é grande o suficiente para que efeitos de strain sejam desprezados. Para facilitar a
identificação dos métodos usados nas simulações, serão definidas duas notações:
Kane-TR refere-se ao hamiltoniano 8×8 descrito pela equação (2.58), baseado no modelo
de Kane (23);
LK-TR refere-se ao hamiltoniano 6×6 baseado na matriz (2.58), porém considerando
apenas os estados da banda de valência, sem a descrição explícita do orbital s do fundo
da banda de condução (analogamente ao modelo de Luttinger-Kohn (16) em relação ao
de Kane).
6.1 AlGaAs/GaAs
Foi simulado um poço quântico de Al
0.2
Ga
0.8
As/GaAs com 80 Å de largura, o qual foi
calculado no artigo de Ferreira e Bastard (48). Neste artigo, foram calculados os tempos
de spin-flip de buracos interagindo com impurezas em uma heterointerface. Na figura 6.2
são comparadas as estruturas de bandas do sistema simulado usando os hamiltonianos k ·p
de Luttinger-Kohn (16) e LK-TR, dado pela equação (2.58). Em ambas as simulações, os
parâmetros usados foram os presentes na tabela 6.1. A simulação foi realizada usando 5% da
FBZ.
Pode-se notar, pela figura 6.2, que as duas primeiras sub-bandas, buracos pesado e leve,
respectivamente, possuem interação muito mais forte quando comparadas às sub-bandas obtidas
78
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
Energia (meV)
Figura 6.1 – Potencial, para buracos, da heteroestrutura do sistema montado a partir da liga de
Al
0.2
Ga
0.8
As/GaAs
Tabela 6.1 – Parâmetros da liga Al
0.2
Ga
0.8
As/GaAs
Parâmetro GaAs Al
0.2
Ga
0.8
As
γ
1
6.980 6.336
γ
2
2.060 1.812
γ
3
2.930 2.628
E
g
(eV) 1.519 1.836
a
lattice
(Å) 5.653 5.655
m
el
0.067 0.083
m
hh
0.340 0.342
m
lh
0.094 0.106
m
so
0.172 0.194
(eV) 0.341 0.329
pelo método convencional. Tal fato pode ser analisado com mais detalhes através da figura 6.3.
No gráfico obtido pelo modelo de Luttinger-Kohn, os pontos de mínimo de m
j
dos estados
HH1 e LH1 não estão relacionados, e diferem significativamente. No resultado obtido pelo
hamiltoniano LK-TR, pode-se notar uma forte interação das bandas HH1 e LH1 entre 3 e 4 %
da FBZ. Após este ponto, nota-se que há uma troca dos valores de m
j
: os estado HH1, o qual
possui inicialmente m
j
= 3/2, assume m
j
1/2; o contrário acontece com LH1. Esta mistura
é detalhada na figura 6.4.
Ferreira e Bastard (48) calcularam o tempo de spin-flip,
τ
s
, de buracos ao interagirem com
79
-8
-7
-6
-5
-4
-3
-2
-1
0
1
2
HH1
LH1
HH2
130
140
150
160
170
180
LK-TR
Luttinger-Kohn
HH1
LH1
HH2
Energia (meV)
Energia (meV)
Figura 6.2 – Estrutura da banda de valência da heteroestrutura de Al
0.2
Ga
0.8
As/GaAs, apresentada
na figura 6.1. No quadro superior, a comparação entre as estruturas de bandas
calculadas usado os hamiltonianos de Luttinger-Kohn (linha preta pontilhada) e LK-TR
(linha vermelha contínua). No quadro inferior estão ilustradas as diferenças entre os
modelos para as três sub-bandas calculadas
impurezas presentes em uma das heterointerfaces. De acordo com tal trabalho,
τ
s
é dado por:
¯
h
2
πτ
nk
=
k
|
ψ
nk
|V
imp
|
ψ
nk
|
2
δ
(
ε
nk
ε
nk
) (6.1)
onde k e k
são vetores da FBZ contidos no plano xy do espaço k, e V
imp
é o potencial devido
à presença das impurezas espalhadoras. Sendo assim,
τ
s
diminui com o aumento da interação
entre as sub-bandas HH1, LH1 e HH2. De acordo com a figura 6.4, as sub-bandas calculadas
a partir do modelo LK-TR apresentam maior interação, o que pode ser uma indicação que o
tempo de spin-flip naquela região é menor que o obtido pelo método tradicional.
80
-1.5
-0.5
0.5
1.5
LH1
HH1
HH2
Luttinger-Kohn
LK-TR
Figura 6.3 – Média da projeção do momento angular (m
j
), ao longo da direção [100] da FBZ (Γ∆), do
sistema da figura 6.1, para ambos os métodos calculados (a) Luttinger-Kohn (em azul) e (b)
LK-RT (em vermelho). As linhas contínuas representam o estado de buraco leve (LH1),
as linhas pontilhadas estão associadas à primeira sub-banda de buraco pesado (HH1) e as
linhas tracejadas representam o segundo estado de buraco pesado (HH2)
LK-TR
Luttinger-Kohn
Figura 6.4 – Comparação de m
j
para as sub-bandas HH1 e LH1, mostradas na figura 6.3. As linhas
pretas foram obtidas pelo método tradicional, enquanto as vermelhas foram obtidas pelo
método apresentado neste trabalho. O estado HH1 é representado pelas linhas tracejadas,
enquanto LH1 é representado pelas linhas contínuas
6.2 GaAs/InGaAs
Para verificar o comportamento do formalismo apresentado neste trabalho em algumas situ-
ações comuns encontradas em heteroestruturas semicondutoras, foram simulados dois sistemas
compostos pela liga GaAs/InGaAs. O primeiro sistema é composto por dois poços quânticos
idênticos, formados por duas camadas de In
0.2
Ga
0.8
As, de largura 100 Å, colocadas entre
camadas de GaAs. A separação entre os poços é de 200 Å. O segundo sistema é bastante
81
semelhante ao primeiro, diferindo apenas pela substituição de uma das camadas de In
0.2
Ga
0.8
As
por In
0.15
Ga
0.85
As, formando assim um sistema assimétrico. As configurações dos sistemas são
explicitadas na figura 6.5.
0
20
40
60
80
Energia (meV)
(a)
(b)
Figura 6.5 – Potencial da heteroestrutura para buracos dos sistemas (a) simétrico e (b) assimétrico,
montados a partir de ligas de GaAs/InGaAs
Tabela 6.2 – Parâmetros da liga GaAs/InGaAs
Parâmetro GaAs In
0.15
Ga
0.85
As In
0.2
Ga
0.8
As
γ
1
0.591 2.131 2.592
γ
2
-1.135 -0.375 -0.148
γ
3
-0.265 0.470 0.688
E
g
(eV) 1.519 1.354 1.299
a
lattice
(Å) 5.653 5.714 5.734
m
el
0.067 0.061 0.059
m
hh
0.340 0.342 0.342
m
lh
0.094 0.084 0.080
m
so
0.172 0.168 0.167
(eV) 0.341 0.348 0.351
P -1.455 -1.425 -1.415
Na figura 6.6 foram graficadas as estruturas de banda na direção Γ∆ para as cinco primeiras
sub-bandas de energia de ambos os sistemas de GaAs/InGaAs, assim como a diferença entre
as mesmas, calculadas pelos modelos de Kane e Kane-TR. Foram usados 10% da FBZ nos
cálculos. É possível observar que, como no poço de AlGaAs/GaAs, a interação entre sub-
bandas próximas é mais forte quando calculada pelo hamiltoniano Kane-TR, o qual também
apresenta maior não-parabolicidade das sub-bandas. Para o sistema simétrico (figura 6.6a),
82
os quatro primeiros estados são quadridegenerados para ambos os métodos, devido à paridade
da função de onda total do sistema. Apenas o quinto estado é bidegenerado, que está bem
próximo à região sem confinamento. o sistema assimétrico (figura 6.6b) apresenta todos os
estados bidegenerados, para ambos os métodos, e é possível notar semelhança entre os dois
últimos estados com os respectivos estados do sistema simétrico, já que ambos os sistemas são
semelhantes nesta faixa de energia.
0
2
4
6
8
Energia (meV)
01
02
03
04
05
0
20
40
60
80
Energia (meV)
Kane-TR
Kane
(a) Simétrico
-1
0
1
2
3
4
5
Energia (meV)
01
02
03
04
05
0
20
40
60
80
Energia (meV)
Kane-TR
Kane
(b) Assimétrico
Figura 6.6 – Estrutura da banda de valência dos sistemas de GaAs/InGaAs (a) simétrico e (b)
assimétrico, mostrados na figura 6.5. No quadro superior são mostradas as estruturas de
bandas calculadas pelos modelos de Kane, linhas pretas e tracejadas, e Kane-TR, linhas
vermelhas e contínuas. As linhas cinzas ilustram os poços quânticos, para identificação da
posição das energias dentro dos mesmos. O quadro inferior mostra a diferença entre os
métodos para cada uma das sub-bandas, onde a linha 01 mostra a diferença para a primeira
sub-banda, e assim sucessivamente
Nos quadros inferiores da figura 6.6 são mostradas as diferenças entre os valores calculados
por ambos os métodos em cada sub-banda. Para valores de k próximos a 10% da FBZ, as
diferenças entre os métodos chegam a 5 meV para o sistema assimétrico e 8 meV para o
simétrico. Na região próxima ao ponto Γ ( 1% FBZ) as estruturas são praticamente idênticas.
83
6.3 Si/SiGe
Para fazer uma análise semelhante à realizada para o poço de AlGaAs/GaAs, foi simulado
um poço quântico, também com 80 Å de largura, de Si/Si
0.75
Ge
0.25
, ilustrado na figura 6.7, com
os parâmetros contidos na tabela 6.3 e usando 5% da FBZ.
0
50
100
150
200
250
Energia (meV)
Figura 6.7 – Potencial da heteroestrutura, para buracos, do sistema montado a partir de ligas de Si/SiGe
Tabela 6.3 – Parâmetros da liga Si/Si
0.75
Ge
0.25
Parâmetro Si Si
0.75
Ge
0.25
γ
1
4.220 6.510
γ
2
0.390 1.353
γ
3
1.440 2.503
E
g
(eV) 3.400 2.750
a
lattice
(Å) 5.431 5.488
m
el
0.260 0.225
m
hh
0.290 0.288
m
lh
0.200 0.161
m
so
0.240 0.240
(eV) 0.044 0.104
Assim como realizado para o poço do AlGaAs/GaAs, foi calculada a estrutura de bandas
do poço de Si/Si
0.75
Ge
0.25
a partir dos modelos de Luttinger-Kohn e o LK-TR. Na figura 6.8
é mostrada a estrutura de bandas contendo os três primeiros estados do sistema (HH1, LH1
e HH2), assim como a diferença entre os métodos para cada sub-banda. Pode-se notar um
comportamento semelhante ao mostrado na figura 6.2, com maior interação entre HH1 e LH1, e
84
sem grandes alterações para o estado HH2. Os valores das diferenças entre os métodos também
são da ordem de 5 meV para os pontos mais distantes da FBZ.
-5
-4
-3
-2
-1
0
1
HH1
LH1
HH2
160
170
180
190
200
210
220
LK-TR
Luttinger-Kohn
HH1
LH1
HH2
Energia (meV)
Energia (meV)
Figura 6.8 – Estrutura da banda de valência do sistema de Si/SiGe mostrado na figura 6.7. No quadro
superior a comparação entre as estruturas de bandas calculadas usado os modelos de
Luttinger-Kohn (linha preta pontilhada) e LK-TR (linha vermelha contínua). No quadro
inferior estão graficadas a diferença entre as sub-bandas calculadas por ambos os modelos,
para as sub-bandas mostradas no quadro superior
Na figura 6.9 está ilustrada a média de m
j
para ambos os métodos. Assim como no figura
6.8, o comportamento é semelhante ao sistema de AlGaAs/GaAs (figura 6.3). A maior interação
entre os estados HH1 e LH1, ilustrada com maiores detalhes na figura 6.10, também está
presente.
Foram simulados dois sistemas análogos aos mostrados na figura 6.5, porém os poços
quânticos são formados por camadas de Si
x
Ge
1x
em meio ao silício. O sistema simétrico
foi construído usando duas camadas de Si
0.9
Ge
0.1
, com a mesma geometria da figura 6.5. No
sistema assimétrico, uma das camadas de Si
0.9
Ge
0.1
é substituída por Si
0.96
Ge
0.04
, diminuindo
85
HH2
-1.5
-0.5
0.5
1.5
Luttinger-Kohn
LK-TR
HH1
LH1
Figura 6.9 – Média da projeção do momento angular (m
j
), ao longo da direção Γ∆ da FBZ do sistema
6.7, para ambos os métodos calculados (a) Luttinger-Kohn (em azul) e (b) LK-RT (em
vermelho). As linhas contínuas representam o estado de buraco leve (LH1), as linhas
pontilhadas estão associadas à primeira sub-banda de buraco pesado (HH1) e as linhas
tracejadas representam o segundo estado de buraco pesado (HH2)
LK-TR
Luttinger-Kohn
Figura 6.10 – Comparação de m
j
para HH1 e LH1 do sistema da figura 6.7, calculados por ambos os
métodos. As linhas pretas foram obtidas pelo método tradicional, enquanto as vermelhas
foram obtidas pelo método apresentado neste trabalho. O estado HH1 é representado pelas
linhas tracejadas, enquanto LH1 é representado pelas linhas contínuas
a profundidade do poço. Essa simulação foi realizada para observação do comportamento das
sub-bandas de energia para estruturas cristalinas do tipo diamante, as quais possuem simetria
de inversão. Os parâmetros usados neste cálculo estão presentes na tabela 6.3, e foram usados
10 % da FBZ.
A figura 6.12 ilustra as estruturas de bandas calculadas pelos dois métodos usados nos
sistemas de GaAs/InGaAs. O sistema simétrico (figura 6.12a) mostra sub-bandas quadride-
86
0
20
40
60
80
100
(a)
(b)
Energia (meV)
Figura 6.11 – Potencial da heteroestrutura, para buracos, dos sistemas (a) simétrico e (b) assimétrico,
montados a partir de ligas de Si/SiGe
Tabela 6.4 – Parâmetros da liga Si/SiGe
Parâmetro Si Si
0.94
Ge
0.06
Si
0.9
Ge
0.1
γ
1
4.220 4.770 5.136
γ
2
0.390 0.621 0.775
γ
3
1.440 1.695 1.865
E
g
(eV) 3.400 3.238 3.130
a
lattice
(Å) 5.431 5.445 5.454
m
el
0.260 0.251 0.246
m
hh
0.290 0.289 0.289
m
lh
0.200 0.191 0.184
m
so
0.240 0.240 0.240
(eV) 0.044 0.058 0.068
generadas, devido à paridade da função de onda, para ambos os métodos. Como nos casos
anteriores, as sub-bandas calculadas pelo método LK-RT apresentam maior interação entre si, e
também possuem maior maior não-parabolicidade. O sistema assimétrico (figura 6.12b) possui
sub-bandas bidegeneradas, e as mesmas apresentam as mesmas caraterísticas dos sistemas
anteriores quanto a interações e não-parabolicidade. Nos pontos mais distantes do ponto Γ,
pode-se notar uma diferença considerável de energia entre os métodos, que pode chegar a 15
meV para algumas sub-bandas.
A partir do conjunto de resultados obtidos a partir da implementação dos modelos LK-
RT e Kane-RT, observa-se que ao preservar a informação de spin presente nos orbitais na
representação do hamiltoniano na base de momento angular, as sub-bandas de energia obtidas
por tais métodos possuem alterações de parabolicidade e interações com sub-bandas vizinhas.
87
-15
-10
-5
0
5
10
Energia (meV)
01
02
03
04
05
0
20
40
60
80
100
Energia (meV)
LK-TR
Luttinger-Kohn
(a) Simétrico
-15
-10
-5
0
5
10
Energia (meV)
01
02
03
04
05
0
20
40
60
80
100
LK-TR
Luttinger-Kohn
Energia (meV)
(b) Assimétrico
Figura 6.12 – Estrutura da banda de valência dos sistemas de Si/SiGe (a) simétrico e (b) assimétrico,
mostrados na gura 6.11. No quadro superior, são mostradas as estruturas de bandas
calculadas pelos modelos de Luttinger-Kohn, linhas pretas e tracejadas, e LK-TR, linhas
vermelhas e contínuas. As linhas cinzas ilustram os poços quânticos, para identificação
da posição das energias dentro dos mesmos. O quadro inferior mostra a diferença entre os
métodos para cada uma das sub-bandas, onde a linha 01 mostra a diferença para a primeira
sub-banda, e assim sucessivamente
Estas alterações podem trazer correções a algumas propriedades de semicondutores obtidas por
meio dos hamiltonianos k·p tradicionais, como o tempo de relaxação de spin-flip causado por
impurezas espalhadoras em heterointerfaces.
88
89
7 Resultados - Troca-correlação
Para avaliar o modelo de potencial de troca-correlação apresentado neste trabalho, foram
realizadas simulações de sistemas onde a interação de muitos corpos é importante. Como o
modelo considera todos os estados de buraco, incluindo o buraco split-off, foram escolhidos
dois sistemas: uma estrutura
δ
-doped de Si e uma estrutura Mn-
δ
-doped de (Si,Mn). Ambas
as simulações foram realizadas usando o hamiltoniano k·p de Luttinger-Kohn (16), usando os
parâmetros do Si presentes na tabela 6.3.
7.1
δ
-doped de Si
A estrutura
δ
-doped de Si foi escolhida por dois motivos: a alta densidade superficial de
portadores, ou seja, os portadores livres estão bastante próximos, implicando em correções
energéticas de grande magnitude, e energia de split-off () pequena, da ordem de 44 meV.
Dependendo da profundidade do potencial total do sistema, estados de buracos split-off podem
ser ocupados, fazendo com que a correção XC entre tais seja necessária.
Foram realizadas quatro simulações para o mesmo sistema: densidade superficial de carga,
N
s
, de 2×10
13
cm
2
, 20 Å de largura a meia altura da distribuição de impurezas e 500 Å de
largura da supercélula unitária na direção de crescimento. As diferentes simulações usaram
as quatro parametrizações para a energia de troca-correlação citadas anteriormente: Hedin-
Lundqvist (HL), Barth-Hedin (BH), Gunnarson-Lundqvist (GL) e Perdew-Wang (PW92). As
parametrizações foram usadas para obter o perfil de potencial para os buracos ao longo da
direção de crescimento, assim como os coeficientes da matriz XC, dada pela equação (7.1).
Para avaliar as diferenças entre tais aproximações, foram comparados os perfis de potencial, as
estruturas de bandas e o espectro de fotoluminescência por transições indiretas.
90
Figura 7.1 – Ilustração do sistema
δ
-doped simulado. A região vermelha representa a dopagem tipo
δ
,
a qual possui um perfil gaussiano devido à difusão das impurezas dopantes. A linha preta
ilustra o potencial final do sistema
Na figura 7.2 são mostrados os perfis de potencial dos três tipos de buracos, usando as
quatro parametrizações XC implementadas na simulação. Os resultados obtidos são bastante
semelhantes para todas as parametrizações. Os modelos BH e GL incluem correções de maior
magnitude, que os poços formados pelo potencial total possuem profundidade de cerca de 150
meV, enquanto os modelos HL e PW92 possuem profundidade entre 120 e 130 meV. Entretanto,
o nível de Fermi não possui grandes alterações nas quatro simulações, ficando em torno de 115
meV, o que sugere que a ocupação dos estados também não deve diferir significativamente. Os
potencias de Coulomb encontrados para todas as simulações também alteram-se muito pouco,
tendo profundidade em torno de 80 meV.
A estrutura da banda de valência de cada um dos perfis de potencial mostrados na figura 7.2
podem ser observadas na figura 7.3. É possível notar que as diferenças são pequenas entre as
diferentes parametrizações. As posições e curvaturasdas sub-bandas ocupadas são semelhantes,
assim como a posição do nível de Fermi. Uma das diferenças ocorre com a posição do primeiro
estado não ocupado, a qual está mais profunda para as parametrizações HL e PW92, porém
a diferença entre uma parametrização e outra é da ordem de 5 meV. Outra diferença notável
é a distância entre o primeiro e o segundo estados de buracos pesados, a qual é maior para
as parametrizações BH e GL. Esta diferença torna-se bastante importante caso a profundidade
do potencial Coulombiano somado à troca correlação seja o suficiente para ocupar o segundo
estado de buraco pesado. A diferença entre tais distâncias ao usar as parametrizações HL e BH
91
-150
-100
-50
0
-200 -100 0 100 200
Energia (meV)
z (
°
A
)
Hedin-Lundqvist
HH
LH
SO
FERMI
Coulomb
-150
-100
-50
0
-200 -100 0 100 200
Energia (meV)
Barth-Hedin
HH
LH
SO
FERMI
Coulomb
-150
-100
-50
0
-200 -100 0 100 200
Energia (meV)
Gunnarson-Lundqvist
HH
LH
SO
FERMI
Coulomb
-150
-100
-50
0
-200 -100 0 100 200
Energia (meV)
Perdew-Wang
HH
LH
SO
FERMI
Coulomb
z (
°
A
)
z (
°
A
)
z (
°
A
)
(a)
(b)
(c)
(d)
Figura 7.2 – Potencial total do sistema simulado,
δ
-doped de Si, para os buracos pesado (linha azul
escuro), leve (linha roxa) e split-off (linha azul claro) para as quatro parametrizações XC
incluídas na simulação: HL, BH, GL e PW92. A linha vermelha representa o nível de
Fermi, e a linha preta e tracejada ilustra o potencial Coulombiano, sem a correção XC
é da ordem de 15 meV. Entretanto, as curvatura de tal sub-banda são semelhantes para todos
os modelos XC. Em nenhuma das simulações o potencial foi profundo o suficiente para que
estados de split-off fossem ocupados.
Para verificar outros efeitos das diversasparametrizações XC, foram simuladosos espectros
de fotoluminescência, por transições indiretas, dos sistemasmostrados na figura 7.2, usando três
temperaturas diferentes: 4 K, 77 K e 300 K. Tal tipo de transição foi escolhida devido à estudos
anteriores realizados para estruturas
δ
-doped de Si (46).
Na figura 7.4 são mostrados os espectros de fotoluminescência com polarização
σ
+
, no
92
-140
-120
-100
-80
-60
Energia (meV)
Hedin-Lundqvist
HH
LH
SO
HH
-140
-120
-100
-80
-60
Energia (meV)
Barth-Hedin
HH
LH
SO
HH
-140
-120
-100
-80
-60
Energia (meV)
Gunnarson-Lundqvist
HH
LH
SO
HH
-140
-120
-100
-80
-60
Energia (meV)
Perdew-Wang
HH
LH
SO
HH
(a) (b)
(c) (d)
Figura 7.3 – Estrutura de bandas, na direção Γ∆, do sistema mostrado na figura 7.2, calculadas usando
as quatro parametrizações XC apresentadas. As linhas contínuas mostram os estados
ocupados do sistema, onde o primeiro estado refere-se à buracos pesados (linha azul) e
o segundo estado refere-se à buracos leves (linha verde). As linhas tracejadas representam
os dois primeiros estados não ocupados: buraco split-off (linha preta) e buraco pesado
(linha azul). A linha vermelha ilustra o nível de Fermi
plano xy. De acordo com a figura, pode-se notar que as parametrizações causam duas alterações
nos espectros: uma pequena alteração no pico das curvas, o que reflete a renormalização do
gap devido ao potencial Coulombiano associado à troca-correlação, e uma diferença entre
as amplitudes das curvas. Os espectros com maior amplitude mostram que a integral de su-
perposição dos estados envolvidos nas transições possuem maior magnitude, entretanto, não
93
indicam explicitamentea intensidade do espectro. Observa-se também que a largura do espectro
aumenta com temperaturas mais altas, como esperado, já que quanto maior a temperatura, mais
elétrons são excitados, criando estados eletrônicos parcialmente ocupados.
As parametrizações HL e PW92 possuem maior integral de superposição na maioria dos
casos. Em questão à correção dos picos dos espectros, o modelo HL apesenta o pico de menor
energia, seguido de PW, GL e BH, respectivamente. Nos espectros a 300 K, pode-se ver que os
diferentes modelos não apresentam apenas alteração nos picos, mas também há o surgimento
de picos adjacentes, mais visíveis para os modelos BH e GL.
3300 3400 3500 3600
Intensidade (u.a.)
Energia (meV)
P+(indireta) - 4 K
HL
BH
GL
PW
3300 3400 3500 3600
Intensidade (u.a.)
Energia (meV)
P+(indireta) - 77 K
HL
BH
GL
PW
3300 3400 3500 3600
Intensidade (u.a.)
Energia (meV)
P+(indireta) - 300 K
BH
GL
PW
HL
Figura 7.4 – Espectro de fotoluminescência, por transições indiretas, com polarização
σ
+
, extraídas do
sistema da figura 7.2, para três temperaturas diferentes: (a) 4 K, (b) 77 K e (c) 300 K
Nas figuras 7.5, 7.6 e 7.7 tem-se os espectros de fotoluminescência com as polarizações
σ
,
σ
z
e sem polarização no plano xy (
σ
+
+
σ
), respectivamente. Em todas estas figuras, podemos
ver um comportamento análogo ao da polarização
σ
+
.
7.2 Mn-
δ
-doped de Si
O sistemas Mn-
δ
-doped de Si foram simulados para comparar o comportamento das
parametrizações LDA e LSDA na ocorrência de polarização de spin. O sistema simulado
possui supercélulas com 500 Å de tamanho, densidade superficial de portadores de 2 ×10
12
cm
2
, largura média de 20 Å e concentração substitucional de Mn de 0,8%. Esta configuração
foi escolhida de acordo com os resultados obtidos por Bolduc et al. (10), onde foi obtido
94
3300 3400 3500 3600
Intensidade (u.a.)
Energia (meV)
P (indireta) 4
BH
GL
PW
3300 3400 3500 3600
Intensidade (u.a.)
Energia (meV)
P-(indireta) - 77 K
HL
BH
GL
PW
3300 3400 3500 3600
Intensidade (u.a.)
Energia (meV)
P-(indireta) - 300 K
BH
GL
PW
HL
Figura 7.5 – Espectro de fotoluminescência, por transições indiretas, com polarização
σ
, extraídas do
sistema da figura 7.2, para três temperaturas diferentes: (a) 4 K, (b) 77 K e (c) 300 K
3300 3400 3500 3600
Intensidade (u.a.)
Energia (meV)
Pz(indireta) - 4 K
HL
BH
GL
PW
3300 3400 3500 3600
Intensidade (u.a.)
Energia (meV)
Pz(indireta) - 77 K
HL
BH
GL
PW
3300 3400 3500 3600
Intensidade (u.a.)
Energia (meV)
Pz(indireta) - 300 K
BH
GL
PW
HL
Figura 7.6 – Espectro de fotoluminescência, por transições indiretas, com polarização
σ
z
, extraídas do
sistema da figura 7.2, para três temperaturas diferentes: (a) 4 K, (b) 77 K e (c) 300 K
temperatura de Curie acima da temperatura ambiente implantando íons de Mn (0,8 %) em Si
dopado (1 ×10
19
cm
3
). Como os resultados do item anterior mostraram que, em um caso
onde não polarização de spin, não diferenças significativas entre as parametrizações,
serão usadas apenas duas parametrizações: HL e PW92, para avaliar as diferenças entre as
aproximações de densidade LDA e LSDA.
Na figura 7.9 pode-se ver o perfil de potencial total de buracos. Devido à presença de
momento magnético local, uma separação de energia entre os potenciais de buracos com
spin up e down. No sistema simulado, a separação de energia entre os potenciais up e down
é da ordem de 25 meV. Como os portadores com spin down estão sujeitos a um potencial
95
3300 3400 3500 3600
Intensidade (u.a.)
Energia (meV)
4
BH
GL
PW
3300 3400 3500 3600
Intensidade (u.a.)
Energia (meV)
77 K
HL
BH
GL
PW
3300 3400 3500 3600
Intensidade (u.a.)
Energia (meV)
300 K
BH
GL
PW
HL
Figura 7.7 – Espectro de fotoluminescência, por transições indiretas, sem polarização no plano-xy,
extraídas do sistema da figura 7.2, para três temperaturas diferentes: (a) 4 K, (b) 77 K
e (c) 300 K
Figura 7.8 – Ilustração do sistema Mn-
δ
-doped simulado. A região azul representa a dopagem tipo
Mn-
δ
, a qual possui um perfil gaussiano devido à difusão das impurezas dopantes. A
linha preta ilustra o potencial final do sistema. Portadores com spin down estão sujeitos
ao potencial delimitado pela região verde, enquanto os portadores com spin up estão
associados ao potencial delimitado pela região vermelha
mais profundo, maior ocupação dos respectivos estados, gerando polarização de portadores
naquela região. Como a densidade de dopagem não é tão grande quanto a simulada na figura
7.2, o potencial não é profundo o suficiente para ocupar estados de split-off. Comparando as
duas parametrizações XC, os resultados são semelhantes. A diferença mais visível é a diferença
entre os potenciais de buracos pesado e leve. O modelo HL apresenta potenciais de buracos
pesado e leve praticamente idênticos, equanto o modelo PW92 apresenta maior diferença entre
tais perfis ( 3 meV). Porém, como ambos os níveis de Fermi estão praticamente na mesma
posição, a ocupação de ambos os sistemas deve ser semelhante.
96
-70
-60
-50
-40
-30
-20
-10
0
10
20
-200 -100 0 100 200
Energia (meV)
z (
°
A
)
Hedin-Lundqvist
HH UP
HH DW
LH UP
LH DW
SO UP
SO DW
FERMI
Coulomb
-200 -100 0 100 200
z (
°
A
)
Perdew-Wang
HH UP
HH DW
LH UP
LH DW
SO UP
SO DW
FERMI
Coulomb
Figura 7.9 – Potencial total do sistema simulado, Mn-
δ
-doped de Si, para os buracos pesado (tons de
azul), leve (tons de verde) e split-off (tons de violeta) para duas parametrizações XC: HL
e PW92. A linha vermelha representa o nível de Fermi, e a linha preta e tracejada ilustra o
potencial Coulombiano, sem a correção XC
A comparação da ocupação dos estados pode ser feita analisando as estruturas da banda de
valência de ambos os sistemas Mn-
δ
simulados, presentes na figura 7.10. Pode-se observar
que ambas as estruturas são semelhantes. As respectivas sub-bandas possuem as mesmas
curvaturas e ordem de ocupação dos estados. uma pequena diferença quantoa distância entre
alguns estados. O modelo usando PW92 apresenta maior separação entre o primeiro e segundo
estados (da ordem de 1 meV) e entre o último estado ocupado e o primeiro estado não ocupado.
O último fato não é tão significante quanto nos sistemas
δ
-Si simulados na seção anterior, que
a diferença da distância em questão é da ordem de 2 meV no sistema Mn-
δ
simulado. Estas
diferenças podem causar pequenos ajustes em fenômenos como fotoluminescência, porém não
apresentam grande influência sobre a polarização de portadores, como mostrado na figura 7.11.
Na figura 7.11 é mostrada a polarização total de portadores ao longo da direção de cresci-
mento. Pode-se notar que a diferença entre as curvas obtidas com ambas as parametrizações
são mínimas, como esperado. O máximo de polarização chega a aproximadamente 30 %, e a
diferença entre as duas curvas é da ordem de 1 % o que confirma as expectativas geradas a partir
da estrutura de bandas mostrada na figura 7.10.
97
-40
-35
-30
-25
-20
-15
Energia (meV)
Hedin-Lundqvist
Perdew-Wang
HH DW
LH DW
LH UP
HH UP
HH DW
LH DW
LH UP
HH UP
FERMI
FERMI
Figura 7.10 – Estrutura de bandas, na direção Γ∆, do sistema mostrado na figura 7.9, calculadas usando
duas parametrizações XC: HL (lado esquerdo) e PW92 (lado direito). As linhas azul
escuro mostram os estados ocupados do sistema (na sequência: HH DW, LH DW, LH UP
e HH UP). A linha cinza representa o primeiro estado não ocupado (o qual mistura estados
de buracos). A linha vermelha ilustra o nível de Fermi
-0.05
0
0.05
0.1
0.15
0.2
0.25
0.3
-200 -100 0 100 200
z (
°
A
)
HL
PW92
Polarização de portadores
Figura 7.11 – Polarização de portadores do sistema da figura 7.9 ao longo do sistema. A linha
azul e pontilhada representa a polarização obtida usando a parametrização de Hedin &
Lundqvist. A linha vermelha e contínua ilustra a polarização obtida usando Perdew &
Wang
Foram calculados os espectros de fotoluminescência do sistema da figura 7.9, para tran-
sições indiretas, usando as parametrizações HL e PW92. Nas figuras 7.12, 7.13 e 7.14 são
mostrados os espectros de fotoluminescência, por transições indiretas, com polarização
σ
+
,
σ
e
σ
z
, respectivamente. Pode-se notar o mesmo comportamento para as três polarizações. Os
98
picos das curvas possuem uma alteração muito pequena para as diferentes parametrizações.
Para a temperatura de 4 K, a integral de superposição entre os estados envolvidos na transição
eletrônica é muito maior quando o modelo PW92 é usado. Para 77 K, a parametrização HL
apresenta superposição um pouco maior. À 300 K, as polarizações
σ
+
,
σ
e
σ
z
apresentam
curvas semelhantes para ambas as parametrizações, a menos da figura 7.14, onde
σ
z
mostra
superposição consideravelmente maior quando usado o modelo HL. Ao contrário do resultado
obtido na figura 7.6, não é possível observar o surgimento de picos adjacentes na figuras 7.12,
7.13 e 7.14.
3200 3300 3400 3500 3600
Intensidade (u.a.)
Energia (meV)
P+(indireta) - 4 K
PW92
HL
3200 3300 3400 3500 3600
Intensidade (u.a.)
Energia (meV)
P+(indireta) - 77 K
HL
3200 3300 3400 3500 3600
Intensidade (u.a.)
Energia (meV)
P+(indireta) - 300 K
PW92
HL
PW92
Figura 7.12 – Espectro de fotoluminescência, por transições indiretas, com polarização
σ
+
, extraídas do
sistema da figura 7.9, para três temperaturas diferentes: (a) 4 K, (b) 77 K e (c) 300 K. Os
cálculos foram realizados usando as parametrizações HL e PW92
3200 3300 3400 3500 3600
Intensidade (u.a.)
Energia (meV)
P-(indireta) - 4 K
PW92
HL
3200 3300 3400 3500 3600
Intensidade (u.a.)
Energia (meV)
P-(indireta) - 77 K
HL
3200 3300 3400 3500 3600
Intensidade (u.a.)
Energia (meV)
P-(indireta) - 300 K
HL
PW92
PW92
Figura 7.13 – Espectro de fotoluminescência, por transições indiretas, com polarização
σ
, extraídas do
sistema da figura 7.9, para três temperaturas diferentes: (a) 4 K, (b) 77 K e (c) 300 K. Os
cálculos foram realizados usando as parametrizações HL e PW92
Com este estudo sobre a correção de troca-correlação, foi possível notar que o modelo
99
3200 3300 3400 3500 3600
Intensidade (u.a.)
Energia (meV)
Pz(indireta) - 4 K
HL
3200 3300 3400 3500 3600
Intensidade (u.a.)
Energia (meV)
Pz(indireta) - 77 K
HL
3200 3300 3400 3500 3600
Intensidade (u.a.)
Energia (meV)
Pz(indireta) - 300 K
PW92
HL
PW92
PW92
Figura 7.14 – Espectro de fotoluminescência, por transições indiretas, com polarização
σ
z
, extraídas do
sistema da figura 7.9, para três temperaturas diferentes: (a) 4 K, (b) 77 K e (c) 300 K. Os
cálculos foram realizados usando as parametrizações HL e PW92
proposto possui resultados coerentes com os presentes em estudos anteriores. Entretanto, a
possibilidade de extensão desse modelo para outros tipo de cálculos, como para wurtizita e
modelos com mais de 8 sub-bandas, torna-o interessante. As comparações de diversas para-
metrizações XC mostraram que as diferenças mais significativas surgem nas sub-bandas não
ocupadas e nos espectros de fotoluminescência a temperaturas mais elevadas. Pode-se concluir
que a análise da correção XC deve ser bastante cuidadosa em aplicações que exigem bastante
precisão em suas propriedades.
100
101
8 Conclusões
O objetivo principal deste trabalho foi avaliar a importância da informação dos orbitais
atômicos da rede cristalina em estruturas semicondutoras de baixa dimensionalidade. Na pri-
meira etapa deste trabalho, foi analisada da simetria de reversão temporal no hamiltoniano
k·p de Luttinger-Kohn (16) e Kane (23), buscando uma descrição mais completa de algumas
propriedades de estruturas semicondutoras. Os resultados obtidos com a análise da simetria
de reversão temporal no hamiltoniano k ·p foram significativos. Com esta análise foi pos-
sível inserir a informação de spin presente nos orbitais atômicos da rede cristalina, a qual é
bem definida, explicitamente nos elementos do hamiltoniano total escrito na base de momento
angular expandida. As estruturas de bandas calculadas com os métodos LK-RT e Kane-RT
apresentam maior não-parabolicidade das sub-bandas e também maior interação entre os dois
estados mais próximos ao fundo da banda de valência (HH1 e LH1). Ao obter a média da
projeção do momento angular, m
j
, ao longo da FBZ, foi possível notar mais claramente os
efeitos causados pelo tratamento mais cuidadoso da informação de spin. Os estados LH1 e HH1
trocam de características após o ponto de espalhamento das sub-bandas, que HH1 começa
com m
j
= 3/2 e assume m
j
= 1/2 e LH1 segue o caminho contrário, o que não é visto
quando o cálculo é realizado pelo método tradicional. Como o tempo de relaxação de spin-flip,
τ
s
, é inversamente proporcional à magnitude da interação entre os estados, os resultados obtidos
neste trabalho dão indícios que o decaimento de
τ
s
ao longo da FBZ, é mais acentuado do que
o mostrado no trabalho de Ferreira e Bastard (48).
A segunda etapa foi composta por um estudo do potencial de troca-correlação em semi-
condutores, propondo uma nova maneira de descrever o potencial, de forma que tal descrição
fosse geral e extensível a outros cálculos, e estudando a influência das diversas parametrizações
XC existentes nos cálculos de propriedades de semicondutores, observandos quais propriedades
102
são significativamente sensíveis aos diversos modelos utilizados. Não foi possível simular uma
estrutura onde o primeiro estado de buraco split-off fosse ocupado, devido à dopagem altíssima
necessária para tal. Entretanto, o modelo apresentou resultados semelhantes aos calculados
anteriormente (46). Com o teste das diversas parametrizações foi possível avaliar quais as
propriedades mais afetadas por esta correção energética. Os perfis de potencial calculados
mostraram variação quanto à profundidade dos perfis específicos de cada tipo de portador,
porém a posição do nível de Fermi em relação ao fundo do poço foi pouco afetada. As
parametrizações BH e GL apresentam maior renormalização do gap, com diferença da ordem
de 20 meV em relação às parametrizações HL e PW92. Ao analisar as estruturas de bandas, a
diferença mais notável foi a distância entre os dois primeiros estados de buraco pesado, o que
causaria significativas diferenças na ocupação da faixa de energia do segundo estado. Porém,
para os sistemas calculados as ocupações foram semelhantes, fato também devido à polarização
de portadores do sistema Mn-
δ
-doped. Na análise dos espectros de luminescência foram
observadas pequenas alterações quanto à posição do pico das curvas, devido à renormalização
do gap de energia. As parametrizações com poços menos profundos apresentaram maior super-
posição entre os estados envolvidos na transição eletrônica. No sistema
δ
-doped, os espectros
à 300 K mostraram o surgimento de um pico adjacente, mais visíveis com as parametrizações
BH e GL.
Com estes dados, é possível concluir que a informação presente nos orbitais atômicos da
rede cristalina deve ser preservada ao máximo quando a representação de um sistema é realizada
em uma base diferente, como a base de momento angular, pois tais informações permitem
uma descrição completa do formalismo usando no cálculo de propriedades optoeletrônicas de
estruturas semicondutoras.
103
Referências
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