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condição necessária e suficiente para poder afirmar a máxima de Kant” (SAHD, 2007, p.
234).
Na primeira parte do livro, Nozick discute com os anarquistas. Para eles, afirma
Nozick, não só ficaríamos muito melhor vivendo sem a presença de um Estado, como também
que a existência de qualquer Estado “necessariamente violentaria os direitos morais da pessoa
e, por conseguinte, [seria] em si mesmo imoral” (NOZICK, 1991, p. 20). Ou seja, para manter
o monopólio do uso da força e da proteção, o Estado tem que violar direitos individuais, o que
é, para os anarquistas, imoral. Em uma palavra: para os anarquistas, o Estado é sempre
inferior à anarquia, pois ele viola os direitos morais dos cidadãos. Se o Estado não existisse,
Nozick pergunta, seria necessário inventá-lo? Por que temos o Estado e não a anarquia? Nas
palavras de Nozick, “a questão fundamental da filosofia política, que precede qualquer outra
sobre como o Estado deve ser organizado, é se ele deve ou não realmente existir. Por que não
temos a anarquia?” (NOZICK, 1991, p. 18). Para ele, se chegarmos à conclusão de que a
teoria anarquista é válida, caracteriza-se o fim da tarefa da filosofia política. Assim, por
conseguinte, deve-se iniciar a reflexão político-filosófica examinando essa alternativa teórica.
Vale ressaltar que, segundo Grondona, a anarquia não tem para os anglo-saxões as mesmas
conotações que têm para nós
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. Para os anglo-saxões, o pior seria a tirania e não a anarquia,
isso porque, afirma Grondona, eles confiam na autodisciplina.
Encontramo-nos, portanto, em um dilema: se devemos analisar “por que não a
anarquia?” de qual situação anárquica partiremos? A solução utilizada por Nozick é,
obviamente, a do não-Estado, ou seja, “uma situação na qual as pessoas atenderiam em geral
às restrições morais e, da mesma forma, atuariam como moralmente deveriam. Essa suposição
não é absurdamente otimista” (NOZICK, 1991, p. 20). Essa situação de Estado de natureza é,
segundo Nozick, a melhor situação anárquica que poderíamos esperar. Assim, continua o
autor, se pudermos de alguma forma demonstrar que o Estado 1) seria superior até mesmo à
melhor alternativa anárquica, ou que 2) seria fruto de um processo moralmente justificável, ou
que 3) seria caracterizado como um melhoramento caso surgisse, isso forneceria um
fundamento que seria considerado racional à existência do Estado, fato que o justificaria.
“Esse estudo colocará a questão de saber se todas as ações que pessoas têm que empreender
para estabelecer e administrar o Estado são ou não em si mesmas moralmente permissíveis”
(NOZICK, 1991, p. 20). Segundo Nozick, não adiantaria chegar à compreensão do Estado
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Mariano Grondona concluiu a obra aqui referida na Faculdade de Direito e Ciências Sociais da Universidade
de Buenos Aires, portanto, o “nós” refere-se aos sul-americanos, pois, segundo ele, atribuímos um valor
pejorativo ao termo anarquia pelo fato de termos vivido muito tempo nela.