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Universidade Federal do Pará
Instituto de Ciências Biológicas
Programa de Pós-Graduação em Neurociências e Biologia Celular
Lícia Mara da Silva Oliveira
Abordagem Fonoaudiológica na Investigação dos Aspectos
Neurolinguísticos da Afasia de Broca
Belém
2009
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Lícia Mara da Silva Oliveira
Abordagem Fonoaudiológica na Investigação dos Aspectos
Neurolinguísticos da Afasia de Broca
Dissertação apresentada para a obtenção do grau
de Mestre em Neurociências e Biologia Celular do
Instituto de Ciências Biológicas, da Universidade
Federal do Pará.
Área de Concentração: Neurociências
Orientadora: Profª. Drª. Elizabeth Sumi Yamada
Belém
2009
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Dados Internacionais da Catalogação-na-Publicação (CIP)
Biblioteca de Pós-Graduação do ICB-UFPA Belém (PA)
Oliveira, Lícia Mara da Silva
Abordagem fonoaudiológica na investigação dos aspectos
neurolinguísticos da afasia da broca / Lícia Mara da Silva Oliveira;
orientadora, Elizabeth Yamada. – 2009.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Pará, Instituto de
Ciências Biológicas, Programa de Pós-Graduação em Neurociências e
Biologia Celular, Belém, 2009.
1. Afasia. 2. Distúrbios da linguagem. 3. Fonoaudiologia.
4.Neurolinguística. 5. Distúrbios da fala. I. Título.
CDD – 20. ed. 616.8552
Lícia Mara da Silva Oliveira
Abordagem Fonoaudiológica na Investigação dos Aspectos
Neurolinguísticos da Afasia de Broca
Dissertação apresentada para a obtenção do
grau de Mestre em Neurociências e Biologia
Celular do Instituto de Ciências Biológicas, da
Universidade Federal do Pará.
Área de Concentração: Neurociências
Data de Aprovação:
Banca Examinadora:
________________________________
Orientadora: Elizabeth Sumi Yamada
Titulação: Doutora
Instituição: UFPA
_________________________________
Membro: Olavo de Faria Galvão
Titulação: Doutor
Instituição: UFPA
__________________________________
Membro: Kátia Simone Kietzer
Titulação: Doutora
Instituição: UFPA
Para todas as pessoas que assim
como eu, testam seus limites e acreditam que
os obsculos são apenas impulsionadores
de crescimento.
AGRADECIMENTOS
Todo o discurso aqui registrado reflete o misto de rias interlocuções e
de várias vozes que fizeram parte de minha elaboração mental e refletiram,
sensitivamente, em minha produção...
Obrigada pelo ressoar das vozes de:
Meu pai, amado pai, por estar presente em todas as etapas desta
caminhada, ajudando-me a compreender tudo aquilo que eu achava
incompreensível... seus ensinamentos me mostraram o valor de uma vida útil e
produtiva...você está eternizado em mim;
Minha amada mãe, pelo amor e incentivo, por acreditar que sou capaz
de mudar o mundo... como só mãe sabe fazer!!! Obrigada mãe, por tudo o que
a vida nos permitiu...
Profª. Drª. Elizabeth Sumi Yamada, minha orientadora, por sua
competência profissional, pela amizade e por toda a credibilidade no estudo,
possibilitando que uma ideia se tornasse realidade;
Hospitais João de Barros Barreto e Bettina Ferro de Souza, em especial
a médica neurologista Dra. Madacilina por sua sensibilidade no atendimento
aos pacientes afásicos e por toda a assistência durante a coleta de dados ao
estudo;
Fonoaudiólogas Daniella e Lillian Valéria pela amizade e por me
ajudarem na seleção de informantes para a pesquisa;
Núcleo de Afasia da UNAMA, em especial, a querida professora
Fonoaudióloga Ameliana Carneiro, coordenadora da Clínica de Fonoaudiologia,
por todo carinho com que recebeu a solicitação de pesquisa e por garantir que
minhas avaliações no núcleo fossem terminadas;
Minha querida Diretora Regina Brito e a Presidente do CIEES Rosa
Lasmar, pela ajuda nunca negada... vocês facilitaram de todas as formas esse
percurso, ajudando-me a tornar um sonho em realidade;
Querido professor Manoel Ayres pelas inesquecíveis interlocuções...
aprendi não só estatística mas o valor de uma vida verdadeiramente vivida;
FIBRA nas pessoas da Profª. Isabel Amazonas, Prof. Átila Marinho e
Prof. Vicente Noronha por acreditarem em minha competência profissional,
permitindo-me a fantástica experiência da docência no nível superior;
Aos queridos pacientes afásicos, atores principais, que mesmo em suas
mais diversas diferenças, em uníssono, mostraram que o existe o
impossível;
A minha amiga, sempre presente em meu coração, Fonoaudióloga
Márcia Salomão por seus ensinamentos e por ter me mostrado um caminho
sem volta de amor à Fonoaudiologia;
As amigas Rosane Souza e Eliana Viégas pelas rodas de conversa, por
compreenderem minhas ausências e por compartilharem comigo, dia a dia, o
encantamento de trabalhar na Educação Especial;
Ao amigo Diogo, o querido, por estar sempre presente com uma
disponibilidade inimaginável de ajudar o próximo. Obrigada amigo!;
A minha amiga-ir Karin Sidartha pela presea, pela amizade
incondicional, pelos largos sorrisos que tivemos juntas...por ter compartilhado
comigo palavras e silêncios...;
Aos amados Soraya Stella Martins, Silvio Martins e Ricardo Lucas, que
junto comigo integram um quarteto muito mais que fantástico, por trazerem
alegria e leveza nos dias de tormenta... por sempre acreditarem que sou capaz
de grandes feitos...
Certamente outras vozes fizeram parte desta história, mas de tão
incorporadas em mim, posso ouvi-las, mas já não consigo discriminá-las...
Gosto dos venenos mais lentos. Das
bebidas mais fortes. Dos cafés mais
amargos. E os delírios mais loucos. Você
pode até me empurrar de um penhasco
que eu vou dizer. E daí, eu adoro voar!
Clarisse Lispector
SUMÁRIO
RESUMO
.....................................................................................................
10
ABSTRACT
.............................................................................................
11
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
..........................................................................
12
LISTA DE TABELAS
...................................................................................
13
1
INTRODÃO
..........................................................................................
14
1.1 TEMA, QUESTÕES E OBJETIVOS DA PESQUISA .............................
16
1.2 SIGNIFICÂNCIA DA PESQUISA ........................................................... 18
2
REVISÃO DA LITERATURA
....................................................................
19
2.1 LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO ..........................................................
19
2.2 ESTRUTURAS ANATÔMICAS ENVOLVIDAS NA LINGUAGEM ......... 21
2.3 NEUROLINGUÍSTICA ........................................................................... 25
2.4 AFASIA .................................................................................................. 26
2.4.1
Abordagem Clássica
........................................................................
27
2.4.2
Afasia de Broca
.................................................................................
28
2.5 ASPECTOS IMPORTA
NTES NA TERAPIA ..........................................
29
2.6 PLASTICIDADE CEREBRAL .................................................................
31
2.7 VARIÁVEIS ENVOLVIDAS NA RECUPERAÇÃO DA AFASIA ............. 34
3
METODOLOGIA
...............
........................................................................
35
3.1 CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO ....................................................... 35
3.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA ..................................................................
35
3.3 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO .................................................................. 35
3.4 CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO .................................................................
36
3.5 PROCEDIMENTOS DE COLETAS DE DADOS ....................................
36
3.5.1
Avaliação: primeiros passos
...........................................................
36
3.5.2
Aplicação do protocolo
....................................................................
37
3.5.2.1 Prova de designação ....................................................................... 37
3.5.2.2 Prova de execução de ordem simples ............................................. 37
3.5.2.3 Prova de elaboração de pensamento .............................................. 38
3.5.2.4Prova de linguagem de expressão verbal: fluência, fala
espontânea, linguagem automática e nomeação ........................................
38
3.5.2.5Prova de compreensão escrita e leitura: leitura em voz alta,
execução de ordens escritas e leitura silenciosa .........................................
39
3.5.2.6Prova de expressão escrita: escrita espontânea, ditado e
cópia..............................................................................................................
39
3.5.3
Proced
imentos pós
-
avaliação
.........................................................
40
3.5.4
Caracterização do programa fonoterápico proposto
....................
40
3.5.5
Reavaliação
..........................................................................
.............
41
3.6 ADVERSIDADES NO ESTUDO ............................................................
42
3.7 PROCEDIMENTOS TERAPEUTICOS .................................................. 42
3.8 COMPONENTES ÉTICOS DA PESQUISA .........................
..................
43
3.9 MÉTODO DE ANÁLISE ......................................................................... 43
4
ANÁLISE DOS DADOS
...........................................................................
45
4.1 SOBRE O SEXO DOS PACIENTES ..
...................................................
45
4.2 SOBRE AS MANIFESTAÇÕES NEUROLINGUÍSTICAS
ENCONTRADAS .........................................................................................
45
4.3 SOBRE A MELHORA DOS PACIENTES APÓS TERAPIA .................. 47
4.4 SOBRE A MELHORA DAS MANIFESTAÇÕES
NEUROLINGUÍSTICAS VERSUS A IDADE E O TEMPO DE INICIO DA
TERAPIA ......................................................................................................
51
4.4.1
Considerações
..................................................................................
51
4.4.2
Anomia
...............................................................................................
51
4.4.3
Agramatismo
.....................................................................................
54
4.4.4
Estereotipia
.......................................................................................
57
4.4.5
Jargão
................................................................................................
58
4.4.6
Parafasia
............................................................................................
58
5
DISCUSSÃO DOS DADOS
......................................................................
5.1 O QUE OS DADOS PODEM EVIDENCIAR...........................................
59
62
6
CONCLUSÕES
.........................................................................................
64
REFERÊNCIAS
..................................................................................
.........
66
RESUMO
As observações e as análises das perturbações afásicas, acompanhadas ou
não por outros sintomas neurológicos, tem impulsionado os estudos
específicos na área da neurolinguística, que baseada em uma concepção
enunciativo-discursiva da linguagem constitui-se como um amplo campo de
investigação na área de pesquisas da cognição. Esta dissertação tem como
objetivos identificar quais são as manifestações neurolinguísticas
predominantes em pacientes com a afasia de Broca, bem como fazer uma
análise comparativa de melhora das manifestações patológicas em dois grupos
de pacientes, submetidos a programas fonoterápicos divergentes quanto à
frequência e à duração das sessões de atendimento. O estudo avaliou 50
indivíduos, diagnosticados com afasia de Broca, selecionados nos Hospitais
Bettina Ferro de Sousa, João de Barros Barreto, no Núcleo de Atendimento ao
Afásico da Universidade da Amazônia e em consultórios particulares de
fonoaudiólogos na cidade de Belém/PA. Desse total amostral, 20 indivíduos
foram selecionados para que fossem comparados seus desempenhos
linguísticos, após programas fonoterápicos diferenciados. Para a avaliação e
reavaliação dos indivíduos foi aplicado o protocolo adaptado de Goodglass &
Kaplan (1983), por constituir-se em uma avaliação de ampla pesquisa aos
processos comunicativos e, para o tratamento dos dados, o teste-t de Student,
Teste de Mann-Whitney e Teste do Ponto de Corte. As análises evidenciaram
que não houve diferença significativa quanto à melhora das manifestações
neurolinguística entre os grupos submetidos a programas diferentes, contudo
mostrou haver influência da idade e tempo de início do tratamento na
reabilitação dos pacientes.
Palavras-chave: Afasia. Linguagem. Neurolinguísticas. Terapia. Reabilitação.
ABSTRACT
Observations and analysises of aphasic perturbations, with or without other
neurological symptoms, have stimulated studies in the area of neurolinguistics
which, based on an enunciative-discoursive conception of language, is a large
field of investigation in the area of cognitive research. The objective of this
dissertation was to identify which are the prevailing neurolinguistic
manifestations in patients with Broca’s aphasia, as well as to make a
comparative analysis of the improvement in pathological manifestations in two
groups of patients submitted to distinct phonotherapic programs regarding
frequency and duration of the therapy sessions. The study evaluated 50
individuals diagnosed with Broca’s aphasia, which were previously examined by
neurologists or speech therapists in university hospitals Bettina Ferro de Sousa
e João de Barros Barreto, in the Aphasia Clinics of the Universidade da
Amazônia (UNAMA) and in private offices of speech therapists in the city of
Belem/PA. From this total, 20 individuals were selected for comparison of their
linguistic performance after being submitted to different phonotherapic
programs. For the evaluation and re-evaluation of the individuals, we applied
the protocol adapted from GOODGLASS H. & KAPLAN E. (1983) as it is an
evaluation of large research of the communicative processes. For the statistical
treatment of the data, the following tests were applied: Student’s t-test, Mann-
Whitney and Point’s Cut of the Test. The analysis showed that there was not a
significant difference concerning the improvement of neurolinguistic
manifestations between the groups submitted to different therapeutic programs;
however, the results suggest that age and the time when the treatment starts
influence the rehabilitation of the patients.
Key-words: aphasia; language; neurolinguistics; therapy; rehabilitation
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Áreas envolvidas na fala: compreensão e expressão ...............
23
Figura 2 – Áreas associativas do córtex cerebral .......................................
24
Figura 3 – Áreas motoras e sensitivas do córtex ....................................... 33
Figura 4 Distribuição (%) das manifestações no grupo Universo
n=50.............................................................................................................
47
Figura 5 – Início do tratamento (meses) conforme evolução da anomia
n = 44...........................................................................................................
53
Figura 6 Curva ROC e valores preditivos para ponto de corte = 24
meses para o início do tratamento..............................................................
54
Figura 7 Idade (anos) conforme evolução do agramatismo
n=35............................................................................................................
56
Figura 8 – Curva ROC e valores preditivos para ponto de corte = 54 anos
para a idade do paciente ............................................................................
57
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Escala de pontuação elaborada para as manifestações
neurolinguísticas evidenciadas na reavaliação fonoaudiológica .............
42
Tabela 2 – Distribuição da variável sexo ................................................. 45
Tabela 3 – Distribuição manifestões neurolingsticas conforme o
grupo ........................................................................................................
46
Tabela 4 - Distribuição manifestações neurolinguísticas no grupo U
(n=50)........................................................................................................
46
Tabela 5 - Manifestações neurolinguísticas no grupo A (n=10) e no
grupo B (n=10) .........................................................................................
48
Tabela 6 – Tipos de parafasias no grupo A (n=10) e no grupo B
(n=10)........................................................................................................
49
Tabela 7 Outras manifestações no grupo A (n=10) e no grupo B
(n=10) .......................................................................................................
50
Tabela 8 Avaliação da anomia conforme a idade (anos) e o tempo de
início da terapia (meses) ..........................................................................
52
Tabela 9 - Avaliação do agramatismo conforme a idade (anos) e o
tempo de início da terapia (meses)...........................................................
55
Tabela 10 - Avaliação da estereotipia conforme a idade (anos) e o
tempo de início da terapia (meses)...........................................................
58
Tabela 11 - Avaliação da parafasia conforme a idade (anos) e o tempo
de início da terapia (meses) .....................................................................
59
14
1 INTRODUÇÃO
A linguagem compreende os processos através dos quais é possível a
comunicação entre os seres humanos. Facilmente é possível nos
comunicarmos com outras pessoas utilizando a palavra falada, a palavra
escrita ou, ainda, os elementos paralinguísticos
1
.
A fala, para ser expressa ou para ser compreendida, necessita recrutar o
léxicon
2
. Para isso, o falante vai à busca do som dos fonemas, das sílabas, das
palavras, da organização gramatical que lhes confere sentido, e do seu
conteúdo final, que se realiza através das estruturas frasais da língua. Os
indivíduos que apresentam distúrbios na fala e na compreensão linguística,
constituem um grupo valioso, como a principal fonte de dados para a
proposição de modelos aplicados à reabilitação dos mecanismos da linguagem
falada. Nesse grupo, alguns não conseguem falar, outros não conseguem
compreender e outros, ainda, apresentam desorganização na expressão e na
compreensão. Dessa forma, suas lesões, bem analisadas, mostram uma rede
de áreas conectadas que compõe o sistema linguístico humano (LENT, 2004).
Considerando as patologias do sistema nervoso relacionadas à
linguagem, as afasias resultam de danos neurológicos, sendo muitas vezes
permanentes, que afetam a comunicação humana, tanto no que se refere à
expressão quanto à compreensão podendo, em alguns casos, agregar as duas
condições, trazendo sérios prejuízos ao desempenho e à competência
linguística do indivíduo.
A afasia se caracteriza por alterações de processos linguísticos de
origem articulatória e discursiva produzidas por lesão adquirida no sistema
nervoso central, em zonas responsáveis pela linguagem, podendo ou não se
associar às alterações de outros processos cognitivos. Desse modo, a afasia é
pensada não como uma perda de linguagem, mas como uma desorganização
que intervém no modo como o sujeito significa o mundo e se significa no
mundo.
1
Entenda-se como elementos paralinguísticos os gestos, as expressões faciais, as expressões
corporais que ajudam no processo comunicativo entre os interlocutores.
2
O conjunto de palavras de uma língua.
15
Na perspectiva conceitual, Jakubovicz & Cupello (1996) definem a afasia
por uma desintegração abrupta da linguagem, decorrente de danos cerebrais
que são ocasionados por fatores externos ou internos ao organismo do sujeito
tais como: traumatismos, intoxicações, aneurismas, tumores ou acidentes
vasculares cerebrais variados. Estas etiologias, que caracterizam um quadro
agudo instalado, diferenciam a afasia de outras situações neurológicas que
possam evidenciar problemas comunicativos, como no caso das demências.
Nessa perspectiva, o que diferencia a afasia de perturbações psiquiátricas e,
particularmente, das demências é que as grandes funções intelectuais, nas
afasias, não são afetadas, exceto na medida em que são verbalizadas.
O estudo de Kertesz et al. (apud BHOGAL et al., 2003) descreve a
afasia como um distúrbio neurológico central da linguagem caracterizado por
alterações em vários segmentos linguísticos como dificuldade para encontrar
as palavras durante a elaboração e a produção do discurso, como também nos
aspectos que envolvem a leitura e a escrita, relacionadas à construção e à
solução de problemas verbais, além da falha na articulação, quando da
produção dos fonemas
3
.
É importante, contudo, estar-se certo de que definir a afasia como
simplesmente um problema de linguagem seria simplificar bastante uma
patologia tão complexa. Considerando, então, que ainda hoje o termo afasia
esteja circunscrito ao campo da patologia, faz-se importante lembrar que foi
primeiramente usado na filosofia para designar “a condição de um homem no
fim dos argumentos” (BROCA, 1875). Nesse caso, não se refere a uma
condição patológica, porém, os avanços nos estudos da neurociência
circunscrevem o termo no campo da medicina, ao ser usado para denominar e
descrever certos tipos de desordens cerebrais. Nessa intenção, sua tipologia
neurológica inclui termos como: afasia sensorial; afasia motora; afasia aferente
e eferente; afasia transcortical, dentre outros.
Na afasia de Broca (tamm chamada de afasia motora), que se
constitui como objeto de estudo deste trabalho, observam-se defeitos na
expressão da palavra falada ou escrita, e na capacidade que o indivíduo
apresenta de reconhecer os erros que ocorrem durante a própria expressão, o
3
Entenda-se por fonema a menor unidade distintiva de um vocábulo.
16
que lhe permite realizar com frequência a autocorreção linguística. O
vocabulário geralmente é limitado e, muitas vezes, utilizado esteriotipadamente
sem qualquer nexo.
Para caracterizar os aspectos comunicativos patológicos dos indivíduos
envolvidos na pesquisa, teve-se como referencial os estudos da
neurolinguística discursiva (ND), na qual a linguagem é considerada como
sendo constituída por meio de processos sócio-histórico-culturais. A linguagem
em funcionamento, então, é considerada como resultado da experiência e do
trabalho dos falantes com e sobre a linguagem (COUDRY, 2002).
Dessa forma, quando alterações de linguagem em sujeitos
acometidos por dano neurológico, a ND subentende que estes trazem as
suas experiências de falantes, ou seja, não perderam por completo sua
competência linguística e é a partir da linguagem que lhes resta que
reorganizam seus enunciados verbais e não-verbais.
Considerando esse olhar, nos aduz Fonseca,
“o dizer afásico, com frequência é desconexo,
fragmentado, marcado por pausas, hesitações,
segmentos ininterpretáveis, repetições, ou seja,
circulação ou trânsito dos mesmos fragmentos
no interior de um dizer. Tudo isso mostra o
movimento linguístico discursivo implodindo a
sequencialidade na fala dos pacientes” (1995,
p.108)
Assim, entende-se a importância de manter a afasia em foco de
discussão como instrumento para o entendimento do funcionamento da
linguagem, bem como dos modos de aprimorar os procedimentos terapêuticos.
1.1 TEMA, QUESTÕES E OBJETIVOS DA PESQUISA
A opção pela análise do tema pautou-se nas incessantes inquietações
durante as atividades realizadas na clínica fonoaudiológica, na observância da
lentidão de melhora de pacientes diagnosticados como afásicos. O estudo,
então, poderia proporcionar uma possibilidade de resgate à discussão em
relação ao programa de fonoterapia oferecido, envolvendo aspectos
17
concernentes à eficácia quanto à frequência e à duração das sessões de
fonoterapia, oferecidas hoje, a pacientes afásicos.
Para esta pesquisa, foram levantados os seguintes questionamentos:
a) Quais as manifestações neurolinguísticas mais evidentes na afasia
de Broca?
b) O programa fonoterápico oferecido hoje, compondo sessões de uma
vez por semana com duração de 30 minutos, tem sido eficaz para a
melhora comunicativa de pacientes afásicos?
c) Um programa fonoterápico com o diferencial de aumento quanto à
frequência e à duração de atendimento, teria influência positiva no
tratamento de pacientes afásicos nunca submetidos à fonoterapia?
Diante dessas questões, o objetivo geral foi o de “investigar quais os
aspectos neurolinguísticos presentes na linguagem afásica de Broca,
evidenciando se um programa fonoterápico diferenciado quanto à frequência e
à duração no atendimento poderia minimizar, de forma efetiva, as
manifestações neurolinguísticas da linguagem afásica”.
Constituíram-se objetivos específicos da pesquisa:
a) Identificar quais os aspectos neurolinguísticos mais frequentes na
linguagem afásica de Broca, mediante avaliação fonoaudiológica;
b) Estimar a prevalência das manifestações neurolinguísticas no grupo
de estudo;
c) Submeter indivíduos afásicos, que nunca haviam estado em
atendimento fonoaudiológico, à fonoterapia com diferencial quanto à
frequência e à duração no atendimento;
18
d) Comparar a progressão linguística de pacientes afásicos, que
iniciaram fonoterapia com aumento na frequência e na duração do
atendimento, com à de pacientes que se encontravam em terapia
mais de seis meses em atendimento diferenciado ao proposto no
estudo;
e) Avaliar a influência da idade e do intervalo entre o acidente e o início
do tratamento sobre a reabilitação das manifestações
neurolinguísticas.
1.2 SIGNIFICÂNCIA DA PESQUISA
Uma das dificuldades enfrentadas pelos pacientes afásicos e seus
familiares após um derrame, é a ocorrência de alterações de linguagem
conhecidas como afasias, pois a afasia é um acompanhamento comum ao
Acidente Vascular Cerebral (AVC), (BRUST, 1976). A linguagem é um
instrumento valioso, permitindo ao ser humano, através de sua expressão oral
e escrita, manifestar seus desejos, sentimentos, além da efetiva autonomia às
ações que se realizam no mundo que o cerca. Considerando as patologias
neurológicas que possam ocasionar alterações de linguagem, as afasias
podem trazer sérios prejuízos sociais, emocionais e a econômicos aos
indivíduos em função das privações comunicativas. De acordo com Aftonomos
et al., (1999), aproximadamente um terço dos indivíduos que o acometidos
de um AVC, sofrerão as consequências, muitas vezes, devastadoras da afasia.
Observando, então, os danos orgânicos, psíquicos e sociais que o
quadro afásico pode trazer, é importante que se faça o estudo das
manifestações neurolinguísticas apresentadas, bem como uma avaliação
quanto à eficácia da terapia aplicada a estes indivíduos, no que concerne à
frequência e à duração, a fim de que seja possível a melhoria do déficit em sua
linguagem funcional. A revisão feita por Bhogal et al. (2003), sobre o impacto
da intensidade da terapia sobre a afasia reporta-se a vários trabalhos que
investigaram a intensidade da terapia aplicada a indivíduos asicos avaliando
sua eficácia. Assim, podemos citar a investigação de Brindley et al. (apud
BHOGAL et al., 2003), que analisou a fala de 10 pacientes com afasia de Broca
19
crônica, submetidos a uma terapia intensiva de cinco horas, durante cinco dias,
no decorrer de 12 semanas. Nessa investigação, o pesquisador verificou uma
relação significativa entre o período intensivo de terapia e a melhora da
articulação da fala, da leitura e da expansão frasal. Ressalta-se, que a prática
clínica que vem sendo desenvolvida em Bem/PA, no Núcleo de Afasia da
Universidade da Amazônia, trata estes indivíduos uma vez por semana, com
sessões fonoterápicas de 30 minutos, sendo, dessa forma, importante
pesquisar até que ponto esta frequência e duração terapêutica podem trazer
benefícios
4
a estes pacientes.
Outro aspecto relevante é a parceria que deve existir, principalmente,
entre os cuidadores e o indivíduo afásico. As orientações quanto à nova
condição comunicativa do afásico devem ser fornecidas claramente, pois de
acordo com Hough & Pierce (1994) é desconhecido, no meio terapêutico, como
eles lidam com as informações sobre a lesão, a doença e as expectativas de
ajuste do paciente à sua nova condição. Esta desinformão, verdadeiramente,
causa impacto nas atividades comunicativas do indivíduo afásico, pois quanto
mais informado sobre a condição e o prognóstico estiver o cuidador,
provavelmente melhor será a dinâmica comunicativa.
Na construção de um processo de reeducação linguística eficaz, tem-se
como ponto positivo e importante uma efetiva interação entre o afásico e
aqueles que lhe são mais próximos.
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO
É importante, antes de adentrarmos nos entremeios da linguagem,
ressaltar que neste estudo, entenderemos a língua como um instrumento de
comunicação, um sistema de signos específicos aos membros de uma mesma
comunidade linguística. A fala, ao contrário, será entendida como um fenômeno
físico e concreto que pode ser analisado seja diretamente, com a ajuda do
4
O termo benefício/melhora compreendido no estudo reporta-se à redução e/ou à extinção das
manifestações patológicas encontradas durante a expressão oral dos sujeitos, bem como o
retorno de suas habilidades de reorganização mental.
20
ouvido humano, seja graças a métodos em instrumentos análogos aos
utilizados pelas ciências físicas. Assim, a ngua é, portanto, uma instituição
social específica, enquanto a fala é um ato individual com contexto imediato
antecedente e subsequente mensuveis.
Após entendermos a dicotomia entre língua e fala, a linguagem pode ser
definida como um conjunto de símbolos linguísticos organizados de forma que
o ser humano possa se comunicar, ou seja, é a faculdade humana e abstrata
de representação de conteúdos (ZORZI, 2003).
Sendo o objetivo precípuo da linguagem a comunicação, Price (2000)
caracteriza este fenômeno como uma faculdade mental que envolve a
associação de sons e símbolos gráficos para que nos seja possível externalizar
sentimentos e pensamentos abstratos. Nesse processo, algumas habilidades
são importantes como a percepção fonológica que envolve os sons das
palavras; a grafia das palavras e o aspecto semântico
5
que corresponde ao
significado das palavras, bem como o conhecimento pragmático
6
, isto é, o da
palavra em uso.
Falar é tão natural para os seres humanos, que nos detemos para
examinar seu funcionamento nos casos de distúrbios. O comportamento
comunicativo humano tornou-se, na verdade, uma atividade primordialmente
oral. Esta oralidade é justamente o que nos tornou diferentes dos outros
animais, que a capacidade de articulação dos fonemas é inerente ao ser
humano. Com o desenvolvimento da comunicação linguística oral e
posteriormente da escrita, não apenas nos comunicamos, mas temos a
capacidade de juntar os fonemas que ao se recombinarem expressam palavras
e ideias diferentes, quando das manifestações discursivas (DEACON, 1997).
Segundo, ainda, o autor:
[...] o desenvolvimento pré-frontal nos fez todos os
sábios da linguagem e da aprendizagem simbólica
[...] (DEACON, 1997, p. 416)
Dessa forma, a linguagem falada é considerada um atributo universal do
ser humano. Esse termo não se aplica para definir outros sistemas de
5
Semântica corresponde ao estudo do significado e da significação das palavras no decorrer
das produções discursivas.
6
O aspecto pragmático da linguagem concerne às características de sua utilização quando da
produção discursiva pelos falantes, isto é, a língua em uso.
21
comunicação tais como a linguagem dos animais e a linguagem musical, haja
vista nenhum outro sistema ter a característica da linguagem específica do ser
humano que se caracteriza pela sua articulação. Esta ideia é fortalecida por
Van Riper et al., (1997) ao dizer que embora todas as criaturas vivas se
comuniquem, apenas os seres humanos trocam informações através de um
código que chamamos de língua. Para estes autores, somente a escie
humana desenvolveu um sistema elaborado de símbolos e procedimentos
compartilhados que combinados em unidades maiores têm um significado.
Observamos, ainda, a conceituação de Goldfeld (2003), quanto ao
fenômeno linguagem, que a considera como uma capacidade de o ser humano
se inter-relacionar de maneira inteligente e compreensível. Esta propriedade
nos permite a compreensão de comandos que são transmitidos através de
impulsos visuais ou auditivos, bem como a elaboração de respostas por
autoiniciativa ou reacionais a algum estímulo externo quando, tamm,
transmitimos nossos sentimentos.
tempos, a origem da linguagem humana tem ocupado a mente e a
imaginação do homem, razões pelas quais muitas justificativas para o
fenômeno estão encerradas nos mitos e nas doutrinas religiosas de muitas
culturas diferentes. A questão foi extensivamente debatida em termos
naturalistas, distintos dos religiosos ou sobrenaturais pelos filósofos gregos, e
teve considerável importância no desenvolvimento da teoria linguística
tradicional (LYONS, 1976).
2.2 ESTRUTURAS ANATÔMICAS ENVOLVIDAS NA LINGUAGEM
A capacidade de estruturar a linguagem constitui-se em um processo
importante e complexo, representando um marco diferencial entre os seres
humanos e os outros seres vivos. Portanto, que se considerar a
complexidade de sua anatomofisiologia.
A linguagem constitui-se em um instrumento de humanização do
pensamento. Nesse sentido, não se localiza uma função de pensamento ou de
linguagem, mas localizam-se aparelhos de recepção e de execão cuja lesão
causa perturbações irreversíveis. A linguagem, então, é assegurada pelo
funcionamento conjunto da maior parte do córtex apropriando-se dos aspectos
22
motor, proprioceptivo, auditivo, visual, sinalizando que não uma fisiologia
própria da linguagem, sendo seus centros especializações de centros práxicos
e gnósicos já existentes na biologia humana.
Historicamente considera-se que os estudos da localização da
linguagem foram impulsionados a partir da afirmação de Broca de que a
pequena área localizada na porção inferior do córtex pré-frontal esquerdo (área
de Broca) seria o centro de produção da fala. Segundo Broca, lesões restritas a
essa área deveriam causar prejuízos à produção da fala, sem, contudo,
produzir déficits na compreensão da linguagem.
A relação cérebro-linguagem, ainda nos dias atuais, tenta agregar ideias
advindas da neuropsicologia, da neuroimagem e da psicolinguística para o
desenvolvimento de modelos sobre a anatomia funcional da linguagem. Um
avanço significativo veio em função de estudos investigativos sobre a
organização cortical do sentido da visão, que propõem uma associação destes
aos estágios iniciais de percepção da fala (HICKOK & POEPPEL, 2004).
As pesquisas de Paul Broca que datam de 1861 tamm foram de
grande relevância, pois a partir de seus estudos, em cérebros necropsiados de
pacientes que haviam perdido a capacidade de falar, apresentaram à
comunidade científica a descoberta da localização cerebral da fala e sua
natureza assimétrica. Assim, fica estabelecido que um dos hemisférios
cerebrais, geralmente o esquerdo, assume a especialidade funcional da
linguagem (THIEL, et al., 2006; DÉMONET, et al., 2005).
Price (2000) nota que a pesquisa de Paul Broca realizada em cérebros
necropsiados, priorizava indivíduos que haviam tido déficits articulatórios,
sendo observados danos na terceira circunvolução frontal do hemisfério
esquerdo, denominado, posteriormente área de Broca, a qual faz referência ao
planejamento motor da palavra, quando da articulação dos fonemas. Lesões
nesta área tendem a produzir a afasia de Broca.
Similarmente o neurologista Carl Wernicke (1848-1905) tamm realizou
estudos post mortem em indivíduos que tiveram perda da compreensão da fala.
Os danos encontrados no estudo referem-se às alterações no córtex temporal
superior posterior esquerdo, área, que mais tarde, recebeu o nome de área de
Wernicke (PRICE, 2000). Considera-se, então, que esta região esteja
23
relacionada com a percepção auditiva da palavra. A leo nesta região tende a
produzir a afasia de Wernicke.
O ato de falar envolve áreas auditivas, bilateralmente localizadas no giro
temporal superior (Figura1). Este sistema de funcionamento cortical se
dicotomiza em dois ramos de processamento, sendo um ventral no córtex
temporal posterior inferior (giro temporal médio posterior), que es relacionado
ao mapeamento sonoro na compreensão (decodificação dos sons); e um ramo
dorsal na região posterior da fissura de Silvio no limite temporoparietal, que
envolve o mapeamento sonoro em relação às representações baseadas na
articulação – a fala propriamente dita (HICKOK & POEPPEL, 2004).
Figura 1: Áreas envolvidas na Fala: compreensão e expressão
Fonte: www.freewebs.com/.../desenvlinguagem.htm
Classicamente são descritas três regiões do córtex associativo esquerdo
relacionadas às condutas linguísticas: as áreas de Broca, as de Wernicke e a
região da circunvolão angular, seguidas de outras zonas que possuem uma
inter-relação funcional com estruturas subcorticais, especificamente com os
gânglios basais e o lamo (Figura 2). O comprometimento desses núcleos ou
das fibras que os conectam com aquelas áreas corticais está associado a
disrbios afásicos da linguagem (CASANOVA et al., 1997).
Considerando Kertesz (apud AFTONOMOS et al.,1999) e Price (2000)
quanto aos déficits na habilidade de compreensão da linguagem, os aspectos
auditivos e visuais estão envolvidos e são intimamente relacionados com
24
lesões no lobo temporoparietal esquerdo se estendendo para além do giro
temporal superior posterior, que corresponde a área de Wernicke, envolvendo,
ainda, o lobo temporal inferior e os giros angular e supramarginal no lobo
parietal esquerdo.
Figura 2: Áreas associativas do Córtex Cerebral
Fonte: www.islam-guide.com/pt/ch1-1-d.htm
Stromswold (1996) e Chi et al. (apud GOLDFELD 2003) corroboram a
ideia de que as áreas de linguagem no hemisfério esquerdo habitualmente são
consideradas como se desenvolvendo após à do lado direito. A região temporal
direita surge durante a 13ª semana gestacional, enquanto que a esquerda
surge após esse período, num espaço de sete a dez dias, e o desenvolvimento
dendrítico na região de Broca à esquerda se desenvolve posteriormente na
mesma região à direita.
Observando a relação dos hemisférios cerebrais direito e esquerdo,
parece não haver uma condição excludente, ou seja, os dois são considerados
centros importantes para a linguagem em diferentes níveis. O hemisrio
esquerdo seria responsável pelo processamento do conteúdo linguístico,
analisando o significado do discurso à elaboração de uma resposta, enquanto
que o hemisrio direito analisa os aspectos sutis que envolvem o processo
comunicativo, como a melodia e a prosódia presentes na fala.
25
2.3 NEUROLINGUÍSTICA
A neurolinguística é a ciência que trata das perturbações da linguagem
(afasias), que implicam em prejuízos das estruturas cerebrais. A hipótese
fundamental da neurolinguística é a de que existe uma relação entre as formas
de desorganização verbal que podem ser descritas conforme os diversos
modelos lingüísticos, e os tipos patológicos estabelecidos pelo neurologista na
base da localizão da lesão responsável (DUBOIS et.al.,1993).
O termo neurolinguística relaciona-se ao estudo da linguagem e das
suas bases anatômicas e fisiológicas no cérebro. Considerada um ramo da
linguística tem por objetivo descrever a linguagem patológica em relação a
determinadas áreas cerebrais.
Considerando Kagan & Saling (1997), o desenvolvimento da
neurolinguística resultou em procedimentos avaliativos e analítico-descritivos
que incluem baterias de teste-padrão que, de um modo geral, apresentam
inadequações. Estas se caracterizam por descontextualização das tarefas de
linguagem proposta, simulando situações artificiais para uma suposta atividade
linguística.
Nos termos da neurolinguística discursiva, o discurso é o mediador das
relações com o outro e com o mundo. É no diálogo produzido que se atribui
sentido e no qual a linguagem é constituída.
Em relação ao estudo das afasias, a partir da provocação discursiva,
consideramos como aspectos neurolinguísticos envolvidos na intenção
comunicativa: a anomia, a estereotipia, o jargão, a agramatismo e as
parafasias (JAKUBOVICZ & CUPELLO 1996).
Anomia: é caracterizada por inabilidade em denominar objetos.
Em geral, quando há um distúrbio na nomeação, a linguagem
espontânea do indivíduo tamm estará perturbada,
incapacitando-o para narrar fatos cotidianos;
Estereotipia: as estereotipias verbais são definidas como
segmentos lingsticos constituídos de apenas alguns fonemas ou
algumas palavras de uma locução, automaticamente repetidas
26
todas as vezes que o indivíduo tenta se comunicar oralmente.
Possuem caráter involuntário e aparece a cada tentativa de o
indivíduo falar alguma coisa. Esta repetição é totalmente
involuntária, embora o indivíduo tenha noção de seu
comprometimento linguístico;
Jargão: é caracterizado por uma produção verbal sem uma
identificação precisa, ou seja, um discurso sem mensagem. É
uma linguagem incompreensível, sem significado, perfeitamente
articulada, em um ritmo extremamente rápido. O indivíduo é
completamente inconsciente a respeito de sua fala jargonada;
Agramatismo: caracteriza-se por uma desorganização da
linguagem, tornando-a telegráfica. As regras sintáticas estão
ausentes, bem como os artigos, as preposições e os pronomes
pessoais. casos em que a fala é quase fluente, apesar de
apresentar muitos desvios gramaticais e dificuldades na seleção
de fonemas;
Parafasias: significa a troca de uma palavra por outra, durante a
emissão. Estas Parafasias podem ser: fonéticas quando ocorre
escolha inadequada do gesto articulatório; fonêmicas quando
escolha inadequada da série de sílabas ou de fonemas durante a
emissão; formal com a inadequação e a seleção dos símbolos
linguísticos, havendo emprego de um nome no lugar do outro,
com semelhança na forma, enquanto na semântica ocorrem
trocas por proximidade ou oposições de significados.
2.4 AFASIA
É indiscutível que os estudos em afasiologia tiveram um
desenvolvimento considerável a partir dos estudos de Paul Broca em 1865,
quando descreveu um homem que foi chamado de “tan-tan” devido a sua
pronuncia estereotipada.
27
O estudo da afasiologia pode ser delimitado em três períodos
importantes, a considerar: abordagem clássica; contributos da neuropsicologia
e contributos dos mecanismos neurodimicos. Neste estudo situaremos de
forma sucinta a abordagem clássica por esta discorrer sobre os trabalhos de
Paul Broca.
2.4.1 Abordagem Clássica
Na antiguidade, considerando a relação entre transtornos da linguagem
e lesões cerebrais, osdicos hipocráticos estavam cientes da inervão
contra-lateral e da associação entre o déficit motor no hemicorpo direito e
transtorno da linguagem (KRISTENSEN, ALMEIDA & GOMES, 2001).
No final do século XVIII já se tinha acumulado um razoável
conhecimento sobre a afasia. No entanto, o interesse pela investigação das
bases neurológicas da doença era escasso, cabendo a Franz Joseph Gall
(1758-1828) reverter a situação, colocando a relação entre a afasia e o cérebro
em primeiro plano, tornando-se assim um importante precursor da
neuropsicologia (GLOZMAN 1996 in KRISTENSEN, ALMEIDA & GOMES,
2001).
Em 1861, Pierre Paul Broca (1824-1880) publicou um estudo anátomo-
clínico mostrando a relação entre o lobo frontal esquerdo e a linguagem, e em
1865, associou o hemisfério esquerdo à produção da fala e à ideia de
dominância manual (KRISTENSEN, ALMEIDA & GOMES, 2001).
Em 1874, o neurologista Carl Wernicke (1848-1905) descreveu a relação
causal entre a lesão na primeira circunvolução temporal esquerda e uma das
formas clínicas da afasia, a afasia sensorial, cujo nome foi escolhido para
contrastar com o modelo de afasia motora descrito anteriormente por Broca.
A noção de áreas separadas do hemisfério esquerdo, poderem ser
centros de funções complexas foi sendo amplamente difundida e aceita,
tornando-se uma das ideias base da neurologia clássica (LURIA, 1977).
Assim, todo um conjunto de formas de afasia, esquemas de lesões
neurológicas e o respectivo papel que desempenham na linguagem foram
descritos até 1880, permanecendo imutável por um século, e sendo utilizado,
ainda hoje, por alguns neurologistas.
28
2.4.2 Afasia de Broca
A afasia de Broca é um déficit linguístico causado por uma lesão
cerebral que afeta a área de Broca, localizada nas porções triangular e
opercular do giro frontal inferior, áreas 44 e 45 de Brodmann (STOWE,
HAVERKORT E ZWARTS, 2005).
Na afasia de Broca não há defeitos na percepção da palavra falada ou
escrita. O que mais caracteriza este tipo de afasia é a capacidade que o
paciente tem de reconhecer os erros que ocorrem durante a própria expressão,
atitude chamada de autocorreção, chegando até a ficar irritado com a situação,
pois a tentativa de correção é feita, muitas vezes, mal sucedida.
Os indivíduos que apresentam uma afasia de expressão, não possuem
déficits motores propriamente ditos, estando esta condição associada ao tipo, à
extensão e à localizão da lesão, que os tornam incapazes de falar de modo
não automático. Nestes casos existem uma dificuldade de escolha dos
fonemas corretos para formar as palavras, o que ocasiona uma produção com
omissões e substituições fonêmicas. Normalmente fazem uso de soluções
facilitantes, de simplificão das palavras, de maneira semelhante àquela da
criança quando esaprendendo a falar, caracterizando a fala telegráfica, com
omissão de artigos e conectores, evidenciando um agramatismo. Nota-se uma
diminuição no impulso de falar, pois o indivíduo fica com medo de cometer
erros em sua emiso, dada a sua capacidade de compreensão estar
preservada (LENT, 2004).
Nos casos em que a afasia expressiva não é o grave, a tendência
da utilização de um mero restrito de palavras pelo paciente, bem menos do
que permitiria seu vocabulário normal e, nessa situação, ele tende a pronunciá-
las de maneira titubeante e, às vezes, repetitivamente (perseveração). Durante
a fala é comum "atropelar" as palavras e intercalá-las com longas pausas,
podendo, ainda, utilizar-se ou tentar utilizar-se de palavras que não são as
apropriadas para aquilo que deseja expressar.
A capacidade de escrever, outra forma de expressão de linguagem,
costuma exibir alteração similar, caracterizando uma agrafia ou uma disgrafia.
Alguns pacientes são capazes de ir além da cópia servil, entretanto é oportuno
recordar que a área de Broca está muito próxima ao córtex motor, assim,
29
muitos pacientes terão hemiparesia associada ao déficit de linguagem (BRUST,
1976). Logo, recomenda-se testar a capacidade de escrita usando-se a mão
não afetada, que é geralmente à esquerda.
Para Darley (apud BHOGAL et al., 2003), a afasia é resultante de danos
focais no cérebro especificamente no hemisfério cerebral esquerdo que é o
responsável pela competência linguística, servindo de referencial para
distinguir esta patologia dos problemas de linguagem que são associados a
danos no hemisfério cerebral contralateral e também as demências.
A etiologia desse tipo afásico é representada pelos acidentes vasculares
agudos, envolvendo principalmente a distribuição posterior da artéria cerebral
média (HOLLAND, 1979). Podemos, ainda, encontrar traumatismos cranianos;
abscessos temporais esquerdos; escleroses disseminadas; tumores;
hematomas cerebrais.
Considerando que na afasia de Broca se evidencia labor e lentidão na
fala, além de grandes dificuldades articulatórias, é importante que se
estabeleça a diferença entre aspectos que também possam causar perturbação
na fala como a apraxia e a disartria. A apraxia consiste em uma alteração
relacionada, principalmente, à falha na capacidade de planejar a sequência
articulatória. Neste comprometimento observa-se um contraste entre a
linguagem voluntária e a proposicional e erros articulatórios que o indivíduo
produz em um contexto e não produz em outros. Quanto à disartria
observamos disrbio no controle muscular, o que não é evidenciado na
apraxia. na condição disártrica disfunção de musculatura ocasionando um
problema muito mais de fala do que de linguagem (OGAR et al., 2006).
2.5 ASPECTOS IMPORTANTES NA TERAPIA
O tratamento fonoaudiológico ao indivíduo afásico é iniciado quando do
diagnóstico de afasia realizado pelo médico neurologista, que acompanha o
caso. Este atendimento pode ser realizado ainda no leito do hospital, onde o
terapeuta fará uma avaliação dos aspectos comunicativos pós-lesão, em
domicílio se o paciente estiver impossibilitado de locomoção, ou ainda em
consultórios particulares. Ressalte-se, que o atendimento em leito se faz
importante mediante as orientações que são fornecidas à família, considerando
30
que estes familiares dispõem, até aquele momento, de restritas informões
sobre a afasia, sua natureza e prognóstico.
Observando a prática terapêutica e sua eficácia, é importante considerar
os termos recuperação e reabilitação. De acordo com Blomert (1998) o termo
recuperação é utilizado para identificar o processo "espontâneo", ou seja,
aquele em que o próprio organismo reage à lesão sem a interferência de
estímulos, enquanto que o termo reabilitação é mais usado quando os
benefícios são alcançados através de uma intervenção clínica. O autor, porém,
acredita na ideia de que não existe recuperação espontânea, pois o indivíduo
que sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) jamais fica isolado de
estímulos ambientais.
Os estudos de Holland (1979) apontam que o tratamento terapêutico
deve ser iniciado assim que a condição médica do paciente seja estável, como
tentativa de aproveitar o período espontâneo de recuperação. Esse período,
considerando a linguagem funcional, é geralmente dado como completo dentro
dos três primeiros meses, quando da ocorrência de um derrame trombo-
embolítico, como causa da afasia.
Independentemente de qual seja o momento ideal para iniciar o
tratamento, é importante a participação do fonoaudiólogo na equipe
multidisciplinar, que acompanha o paciente, na orientação à família, para
fornecer orientações significativas à equipe de médicos e de funcionários do
hospital, bem como às pessoas próximas do paciente, quanto à facilitação da
comunicação com a pessoa afásica. Outro aspecto considerável é o fato de a
avaliação precoce poder estabelecer se a intervenção terapêutica é praticável,
pois os pacientes afásicos que possuem a patologia associada a outros
problemas como a demência, ou condições clínicas incompatíveis com o
reestabelecimento da função linguística, por exemplo, não são bons candidatos
à reabilitação com os métodos padrões de intervenção.
Em relação à eficácia da terapia, Lincoln et al. (apud BHOGAL et al.,
2003) realizaram estudos a fim de verificar se a terapia de fala produz melhores
resultados na linguagem em relação à sua recuperação natural. Os pacientes
analisados receberam duas sessões de fonoterapia por semana, com duração
de uma hora, durante 24 semanas. Os resultados encontrados mostraram que
não houve diferença significativa na qualidade linguística de pacientes tratados
31
e o-tratados, ou seja, a terapia não melhorou o funcionamento da linguagem
mais do que a recuperação espontânea. Em contraponto Brindley et al.(apud
BHOGAL et al., 2003) investigaram a fala de pacientes com afasia de Broca
crônica após terapia de fala intensiva. Estes pacientes foram submetidos a 5
horas de terapia, em 5 dias por semana, durante 12 semanas e, ao final,
observou-se que houve melhora significativa da fala e da leitura em relação ao
grupo controle. Os autores concluíram que a terapia intensiva melhora a
recuperação da fala em até um ano, após o início da afasia para alguns
pacientes.
Aftonomos et al. (1979) sugere haver um consenso de que a terapia da
afasia auxilia na melhora do desempenho linguístico do afásico, se realizada
por um período de tempo suficiente, e com intensidade adequada, o que é
ratificado por Holland et al. (1979) que, após estudos realizados, concluiu que
pessoas acometidas por uma afasia e que receberam ao menos 3 horas de
tratamento por semana, durante 5 meses, sem levar em consideração o
período após a ocorrência do AVC, mostraram melhora significativamente
maior se comparada àquelas não tratadas.
Assim, de acordo com o estudo de Holland et al. (1979), a eficácia da
terapia depende de alguns fatores como o controle adequado de variáveis
individuais que possam vir a influenciar a recuperação, como a idade, a
severidade da lesão, o ritmo da recuperação espontânea, tipo e frequência do
tratamento.
2.6 PLASTICIDADE CEREBRAL
No decorrer da pesquisa, em relação à revisão da literatura, verificou-se
que a plasticidade cerebral envolvendo os aspectos da afasia ainda constitui-se
em um aspecto desconhecido no que diz respeito à recuperação.
Uma das primeiras formas de plasticidade nervosa é, denominada de
“amadurecimento estímulo-dependente (fatores epigenéticos) do sistema
nervoso. Uma outra forma de plasticidade em um organismo normal pode ser
entendida como processo de aprendizagem, no qual estão inseridos o
aprendizado motor consciente (automatismo) e o aprendizado inconsciente
(memória). Estes se baseiam em mecanismos fisiológicos semelhantes e
32
constituem a base para uma organização normal do sistema nervoso, bem
como para a reabilitação após processos lesionais. Estes processos são
direcionados por atividade neural e, por consequência, influenciados através de
estimulação periférica, uma vez que todas as percepções do corpo e do meio
que o cerca são captadas e conduzidas ao neuroeixo através dos sistemas dos
sentidos.
O cérebro, portanto, divide-se, de acordo com suas funções, em área
sensitivo-motora e área associativa. A área predominantemente sensitiva
recebe, decodifica, analisa e processa os estímulos; a área
predominantemente motora serve para o comando dos movimentos
conscientes voluntários (sistema piramidal).
A área associativa integra as informações dos diferentes sistemas
sensitivos e motores e, por conseguinte, deixa-os à mercê de uma complexa
coordenação de planejamento de movimentos e/ou comportamentos. Estas
áreas tratam da conversão da percepção em reação que podem ser positivas
ou negativas.
Os neurônios sensitivos do córtex reagem com impulso elétrico quando
os receptores periféricos são estimulados. Estes neurônios somente reagem a
excitações determinadas e limitadas. A limitação depende tanto da localização
do estímulo (estimulação sobre determinada região), quanto da qualidade do
mesmo (velocidade, ritmo).
A plasticidade neural não tem lugar apenas nas áreas sensitivas, mas é
tamm observada nas áreas motoras. Como no córtex sensitivo, o córtex
motor (Figura 3) possui, também, uma organização correspondente às regiões
do corpo.
33
Figura 3: Áreas Motoras e Sensitivas do Córtex
Fonte: thebrain.mcgill.ca/.../a_06_cr_mou.html
Após acidentes vasculares, traumatismos cranianos ou cirurgias no
Sistema Nervoso (SN), muitas sinapses se tornam inativas por estarem
próximas às áreas lesionadas, sendo comprimidas pelo edema que circunda o
tecido lesado. Após a involução do edema uma considevel recuperação
das funções afetadas.
Em um processo de reabilitação o indivíduo necessita de inúmeras
informações do ambiente, para que circuitos neurais possam se formar,
estabilizar-se e aprimorar suas funções.
No processo terapêutico, o exercício tem a função de restabelecer as
funções sensório-motoras dentro dos próprios campos cerebrais e, para que
isso ocorra, devem-se fornecer ao sistema nervoso os estímulos adequados e
corretos para que seja possível aprender ou a reaprender a decodificar as
informações, processando-as, armazenando-as e integrando-as em outras
áreas nervosas.
Todo o processo terapêutico, portanto, de recuperação neural deve ter
como meta o fornecimento de informações, de importância crucial na
organização dos circuitos neurais.
As medidas terapêuticas devem se iniciar o mais precocemente
possível, no sentido de evitar maiores falhas na organização dos circuitos
neurais. Dessa forma, deve-se sempre estar atento para o paciente como um
todo, aplicando-lhe a terapia de modo holístico, fornecendo as informações e
34
estímulos epigenéticos adequados. O desenvolvimento sensitivo-motor ocorre
simultaneamente sustentado em três processos fundamentais: na existência de
uma capacidade prévia (conectividade potencial) que passa a ser exercida; na
função dominada (eficácia sináptica) que é estimulada a diferenciar-se e a
aperfeiçoar-se; no estabelecimento de novas tarefas com as experiências de
tentativa e erro (sistema dopaminérgico). Processos esses, que possibilitam a
reestruturação das vias responsáveis pelo recebimento e processamento de
estímulos importantes no contexto da reabilitação.
2.7 VARIÁVEIS ENVOLVIDAS NA RECUPERAÇÃO DA AFASIA
Algumas variáveis devem ser observadas no processo de recuperação
da afasia que abrangem desde os aspectos clínicos até os psicossociais,
interagindo com os aspectos cognitivos e emocionais, tendo alta influência
sobre a reabilitação (LASKA et al., 2001; SARNO, 1993).
Basso et al. (1982) e Cappa et al. (1997) identificaram variáveis que são
relacionadas ao paciente e à doença. Neste contexto, podemos associar como
relativas ao paciente, a idade e o vel sócio-cultural, pois existem evidências
consistentes a respeito de que a melhor recuperação se dá em indivíduos
jovens e crianças. Entretanto, a idade avançada por si só, não pode ser
considerada como indicador de prognóstico negativo, salvo se estiver
associada a condições clínicas desfavoráveis como hipertensão, diabetes,
demência. Quanto à condição sócio-cultural é evidente que um meio
linguisticamente mais exigente determinará maior mero de pré-requisitos
para a reintegração do indivíduo afásico.
Considerando as variáveis relacionadas à doença é significativo
destacar a extensão e o local da lesão, bem como o quadro clínico e o tempo
de recuperação pós-lesão. A extensão da lesão, associada à gravidade do
quadro afásico parece ser o que mais influi negativamente no prognóstico de
recuperação da afasia, tanto espontaneamente quanto em resposta à terapia.
35
3 METODOLOGIA
3.1 CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO
O estudo desenvolvido abrange uma pesquisa de campo quantitativa e
qualitativa, com desenho descritivo, caracterizando-se um estudo de incidência.
3.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA
Para a realização do estudo, a população foi composta de 50 indivíduos
adultos, diagnosticados como portadores de Afasia de Broca por médicos
neurologistas. Essa população foi caracterizada como Grupo Universo (Grupo
U). A amostra foi constituída de 20 indivíduos caracterizados, para efeitos de
análise, como grupo A (em início de terapia) e grupo B (grupo em tratamento).
3.3 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO
Foram incluídos na investigação sujeitos afásicos, independentemente
de faixa etária e sexo, letrados e sem histórico de condição demencial.
Considerando o total populacional, os 50 indivíduos (Grupo U), foram
avaliados, independente de terem passado por avaliações anteriores, para
identificar quais as manifestações patológicas presentes. Dos 50 indivíduos,
foram selecionados 10 para os quais foi oferecida a fonoterapia. Ressalta-se
que esses 10 indivíduos (Grupo A) nunca haviam passado por um processo
fonoterápico, desde que lhes foi fornecido o diagnóstico de condição afásica.
Posteriormente foram selecionados, do total populacional, mais 10
(Grupo B) indivíduos que estavam em terapia fonoaudiológica no Núcleo de
Afasia da Universidade da Amazônia (UNAMA) mais de 6 meses, sendo
atendidos uma vez por semana, em sessão de 30 minutos. Assim, a frequência
e a duração dos atendimentos destinados ao grupo B diferiram do proposto
neste estudo, a fim de que fosse possível uma comparação da progressão
linguística dos pacientes envolvidos no estudo.
O total populacional foi, eno, selecionado nos Hospitais Universirios
Bettina Ferro de Sousa e João de Barros Barreto vinculados à Universidade
36
Federal do Pará; na Clínica de Fonoaudiologia da Universidade da Amazônia,
bem como em consultórios particulares de Fonoaudiólogos, na cidade de
Belém-PA. No momento da seleção foram solicitadas, ao responsável clínico
pelo paciente, as informações quanto ao diagnóstico afásico, quanto ao tempo
de lesão e quanto à etiologia.
Antes de iniciar a coleta dos dados foi entregue aos informantes, um
termo de consentimento para a participação na pesquisa
7
, sendo sua inclusão
no estudo associada à demonstração de concordância com o termo. Tal
condição efetivou-se mediante a leitura e a assinatura do mesmo, realizada
pelo próprio paciente ou por seu cuidador.
3.4 CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO
Os critérios de exclusão do estudo foram direcionados para os 10
indivíduos do Grupo A. Desse grupo o poderiam fazer parte, os pacientes
que tivessem em algum momento, desde o diagnóstico afásico, realizado
sessões de terapia fonoaudiológica. Então, os indivíduos do Grupo A estavam
sendo avaliados e tratados terapeuticamente, desde o diagnóstico, pela
primeira vez.
3.5 PROCEDIMENTOS DE COLETAS DE DADOS
3.5.1 Avaliação: primeiros passos
Os pacientes selecionados foram submetidos a um processo avaliativo
que se consistiu na anamnese com a família, objetivando colher dados sobre a
hisria de vida do indivíduo
8
e, posteriormente, aplicão do protocolo de
avaliação fonoaudiológica
9
, adaptado do "Boston Diagnostic Aphasia Test" de
Goodglass e Kaplan (1983), para verificão da presença de aspectos
neurolinguísticos característicos da linguagem afásica de Broca. O protocolo foi
escolhido por ser universalmente conhecido quando da testagem de patologias
7
Consultar Anexo 1.
8
Consultar Anexo 2.
9
Consultar Anexo 3.
37
afásicas e por ser utilizado no núcleo de atendimento ao Afásico da Clínica de
Fonoaudiologia da Universidade da Amazônia. O teste apresenta, ainda,
recomendação por alcançar, de maneira ampla, todos os componentes da
linguagem que são de utilidade na identificação da patologia em questão.
Considerando o bom nível de compreensão que o afásico de Broca
apresenta, quando iniciado o processo avaliativo, os pacientes foram
orientados quanto às atividades que seriam propostas. Para minimizar a
ansiedade e a preocupação com possíveis respostas inadequadas, seus
acompanhantes orientados a não interferirem nas respostas. O protocolo de
avaliação apresenta atividades que envolvem aspectos da percepção,
memória, atenção e retenção de informações. A dinâmica de avaliação, dos
pacientes, seguiu o mesmo padrão, ou seja, todos tiveram as mesmas palavras
de apoio na elaboração de frases, no ditado e na cópia; os mesmos textos para
a leitura, que foram imparciais, não abordando temas como política, religião e
preferências esportivas. Para a execução de ordens simples, da avaliação da
linguagem automática e da execução de ordens escritas todos receberam os
mesmos comandos, na mesma sequência.
3.5.2 Aplicação do protocolo
3.5.2.1 Prova de designação
O primeiro aspecto investigado foi a compreensão verbal e, para tal, o
paciente realizou as provas de designação de objetos e execução de ordens
simples. Na primeira prova, de maneira informal, os pacientes apontavam
objetos, solicitados pelo avaliador, os quais faziam parte do ambiente onde a
avaliação estava sendo realizada.
3.5.2.2 Prova de execução de ordens simples
Nesta prova, os pacientes foram expostos às seguintes ordens verbais:
mostrar a língua, mostrar a palma da mão, mostrar os 5 dedos da mão, tocar o
nariz e pegar um objeto. Nessa condição, objetivou-se a avaliação da
38
compreensão auditiva do paciente para a execução de ações que
demonstrassem domínio sobre as partes do corpo e compreensão intelectual.
3.5.2.3 Prova de Elaboração de Pensamento
A elaboração de pensamento foi realizada inicialmente a partir de 2
palavras (banana e fruta) para que o paciente pudesse formar uma frase e,
posteriormente, estimulado a contextualizá-las em seu dia a dia. De acordo
com o sucesso na construção frasal, foram apresentadas, em seguida, várias
palavras de forma desorganizada para que fossem organizadas, a fim de
construir frases com significado.
3.5.2.4 Prova de linguagem de expreso verbal: fluência, fala espontânea,
linguagem automática e nomeação
Na prova de expressão verbal foram avaliadas situações de: fluência;
fala espontânea; fala automática e provocada (nomeão). As avaliações de
fluência e de fala espontânea são complementares à medida que na primeira
situação é mensurada a quantidade ininterrupta de palavras emitidas no tempo,
e essa medida se dá a partir da provocação do diálogo com o indivíduo,
geralmente apoiado em um assunto de sua predileção. Para a investigação de
aspectos comprometidos na fala automática, os pacientes foram solicitados a
realizar contagem numérica de um a dez, a dizer os dias da semana, os meses
do ano e, quando possível, cantar uma música (sugestionado o parabéns pra
você). Nessa condição, quando se tornou difícil a evocação da informação, a
testagem foi substituída por prova de repetição, onde o avaliador dizia os
numerais de 1 a 5 (em menor grau de dificuldade); os dias da semana; as
vogais e cantava o parabéns pra você. Nessa condição, duas situações se
fizeram importantes como pontos avaliativos: a capacidade de percepção dos
sons produzidos no decorrer das manifestações dialógicas. Na prova de
nomeação, os objetos foram mostrados de forma incisiva ao paciente para que
ele os nomeasse. Alguns dos objetos selecionados foram lápis, caneta, papel e
os outros disponíveis no local da avaliação. É importante ressaltar, que a
simples apresentação de figuras ou objetos para serem nomeados não foi
39
condição para diferenciar o paciente anômico daquele com redução severa de
linguagem. Dessa forma, essa avaliação foi promovida ao longo de todo o
período investigativo com o paciente.
3.5.2.5 Prova de compreensão escrita e leitura: leitura em voz alta, execução
de ordens escritas e leitura silenciosa
Outro aspecto importante, considerado na avaliação, foi a leitura e a
escrita. Para essas habilidades, os pacientes realizaram leitura em voz alta, de
um texto que falava sobre a natureza, para que em seguida fosse realizada a
interpretação textual. Esse exame teve como objetivo determinar se as letras e
as palavras eram reconhecidas pela sua configuração habitual e se
conseguiam continuar as palavras em forma oral e escrita, sendo, então,
importante a percepção pelo avaliador, no intento de saber se estava sendo
realizado o reconhecimento das letras e a compreensão do texto lido. Com o
paciente que falhava na leitura em voz alta, foi reapresentado o texto para a
investigação da preservação da leitura silenciosa, leitura esta, também,
seguida de interpretação. Considerando, ainda, a compreensão da leitura e da
escrita, o paciente foi submetido à prova de execução de ordens escritas, onde
sem o apoio verbal do pesquisador, o paciente fez a leitura de uma ão
escrita em um papel para em seguida realizá-la. A sequência de ordens
escritas teve o seguinte percurso: feche os olhos, abra a boca, um sorriso,
bata na mesa, pegue um objeto.
3.5.2.6 Prova de expressão escrita: escrita espontânea, ditado e cópia
As provas que investigaram a escrita foram divididas em três etapas. A
primeira considerou a capacidade espontânea para escrever, então o paciente
pôde escolher o que escrever. A segunda investigação foi através do ditado de
palavras como pé, mago, bala, faca, casa, carro, caro, sorvete, fivela,
juventude, recheio, teclado. As palavras selecionadas foram balanceadas, o
que significa que possuíam a maioria dos grafemas que compõe o léxico de
nossa língua. O objetivo precípuo dessa testagem foi a avaliação da tradução
automática, pelo paciente, dos fonemas (sons) em sequências motoras, além
40
da recordação de palavras com sequências grafo-motoras. O paciente que
falhou nesta prova foi solicitado a realizar cópia das palavras que haviam sido
sugeridas no ditado, sendo que, foi observada unanimemente a predileção pela
cópia servil.
3.5.3 Procedimentos pós-avaliação
Depois da avaliação realizada, individualmente, o material foi analisado
a fim de verificar quais foram as manifestações neurolinguísticas encontradas.
Esta identificação foi realizada pelo pesquisador, analisando subjetivamente as
respostas emitidas pelos pacientes, que foram registradas no protocolo, em
concordância com o que sugerem Jakubovicz & Cupello (1996), acerca dos
aspectos neurolinguísticos evidenciados nos déficits de linguagem provocados
pela afasia.
3.5.4 Caracterização do programa fonoterápico proposto
Diante da caracterizão dos aspectos patológicos da linguagem, os 10
pacientes do total amostral, que não estavam em acompanhamento
fonoaudiológico em outros centros, foram submetidos à fonoterapia, por seis
meses, com frequência de atendimento de duas vezes na semana, em dias
alternados, com sessões de 40 minutos, para verificar se a intensidade do
programa fonoterápico oferecido traria algum benefício para a melhoria do
padrão comunicativo. Tendo em vista a avaliação ser um passo importante
nesta investigação, a terapia foi iniciada após o mapeamento de todos os
processos neurolinguísticos alterados. Portanto, todos os pacientes do estudo
iniciaram a fonoterapia no mesmo período, compreendido entre 05 de julho de
2006 e 05 de fevereiro de 2007.
O atendimento fonoterápico foi realizado em consultório particular, sem
ônus algum aos pacientes. Os pacientes que fizeram parte do programa de
atendimento tiveram uma ficha de acompanhamento para que fossem
registradas suas frequências às sessões. Foi acordado que seria considerado
como desistente do estudo, o paciente que se ausentasse por quatro sessões
(duas semanas) consecutivas sem justificativa, bem como aquele que não
41
tivesse regularidade no atendimento. Estes não teriam seus dados computados
e registrados no estudo. Contudo, os 10 pacientes selecionados chegaram ao
final do programa proposto.
3.5.5 Reavaliação
Ao final dos seis meses, com o encerramento das sessões
fonoterápicas, os pacientes foram reavaliados dentro dos mesmos padrões
iniciais, sendo os registros de suas produções orais e escritas, ao longo do
tratamento, utilizados como parâmetros de comparação. Dessa forma, a
melhora dos pacientes foi considerada a partir da redução dos aspectos
neurolinguísticos encontrados na reavaliação.
Considerando-se que a incidência das alterações comunicativas, muitas
vezes, pode variar em concordância com a localização e a extensão da lesão,
bem como com o tempo de início da fonoterapia, embora a avalião fosse
comum a todos os pacientes, a ação terapêutica proposta não foi homogênea,
mas diversificada para atender às necessidades comunicativas individuais, de
acordo com os aspectos neurolinguísticos evidenciados em cada caso.
Assim, ao final do programa proposto, os resultados obtidos nas
sessões de fonoterapia foram comparados aos resultados dos 10 pacientes
que estavam em terapia mais de 6 meses, no núcleo de atendimento ao
afásico da UNAMA. A comparação dos resultados, quanto às manifestações
neurolinguísticas, no Grupo A e no Grupo B, acompanharam o mesmo padrão
avaliativo do protocolo adaptado de Goodglass e Kaplan (1983). Ressalte-se,
que no núcleo de atendimento da UNAMA, os indivíduos tinham sessões de 30
minutos uma vez por semana.
Ressalte-se, ainda, que após os dados coletados, na reavaliação, foi
estipulada uma escala de pontuação a fim de mensurar valorativamente as
respostas dos pacientes, em relação às manifestações neurolinguísticas
apresentadas para que os resultados pudessem ser tratados estatisticamente.
A escala compreendeu valores de zero a 4 pontos sendo:
42
Resposta Correspondente à
Manifestação Neurolinguística
Pontuação Atribuída
Ausente Zero
Pouco 1
Moderado 2
Muito 3
Extremo 4
Tabela 1: Escala de Pontuação elaborada para as manifestações neurolinguísticas evidenciadas
na reavaliação fonoaudiológica
3.6 ADVERSIDADES NO ESTUDO
de se considerar que as respostas afásicas, muitas vezes, sejam
inconsistentes. Em razão disso, alguns cuidados foram tomados, ao longo da
avaliação, a fim de garantir ao máximo a veracidade nas análises realizadas.
Dessa forma, foi estabelecido um vínculo com o paciente antes do início das
sessões de fonoterapia, para lhe transmitir confiança e assegurá-lo de que a
intenção não era simplesmente caracterizar suas respostas em certo e errado;
todas as reações plásticas e comportamentais do paciente foram levadas em
consideração, para ajudar nas análises; durante a anamnese houve a
preocupação em investigar o perfil de cada paciente, observando seus temas
de predileção, para que fossem facilitadores quando a avaliação exigisse
temas livres e não pré-estabelecidos; durante a testagem, quando as respostas
fossem inadequadas, o paciente tinha a repetição da ordem fornecida e, ainda
assim, não sendo suficiente, a testagem tinha prosseguimento sem causar
intranquilidade que pudesse interferir na testagem seguinte.
3.7 PROCEDIMENTOS TERAPÊUTICOS
Para o restabelecimento da função linguística é necessário desenvolver
uma terapia conjunta dos aspectos de recepção e produção da linguagem, haja
vista, a concordância de que, se não existe linguagem compreensiva não
haverá linguagem expressiva. Nessa perspectiva, o foco terautico visou a
sintomatologia apresentada pelo indivíduo afásico. Em todos os pacientes que
43
estiveram submetidos à pesquisa, na condição de eleitos à fonoterapia, o
objetivo foi o de restabelecer a linguagem e não simplesmente a fala.
As sessões foram planejadas a partir da análise dos déficits linguísticos
que os pacientes apresentavam, de maneira individualizada. Os exercícios
muitas vezes foram repetitivos, porém necessários, em função da
inconsistência de respostas. Em nenhum momento, ao longo dos seis meses
de fonoterapia, o condicionamento foi privilegiado em detrimento do
aparecimento da linguagem voluntária. Durante a prova de nomeação de
objetos, todos os estímulos auditivos utilizados foram apoiados pelo estímulo
visual, para que as associações fossem feitas em vel cerebral, na
observância de que a condição de recuperação da compreensão auditiva é um
impulsionador para a autocorreção promovida pelo paciente.
3.8 COMPONENTES ÉTICOS DA PESQUISA
A pesquisa, no que concerne à coleta de dados, somente teve início
após aprovação do Projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital
Universitário João de Barros Barreto da Universidade Federal do Pará, sob
protocolo nº 2558/06, estando em concordância com a Resolução 196/96 e
suas complementares, do Conselho Nacional de Saúde/ Ministério da Saúde
do Brasil.
3.9 MÉTODO DE ANÁLISE
Para avaliar quantitativamente os aspectos fonoaudiológicos na
investigação neurolinguísticas da afasia de Broca, foram aplicados métodos de
avaliação próprios de uma avaliação de contexto (inicial), que permitiu elaborar
um estudo descritivo e de uma avaliação final, como condição indispensável
para se concluir o estudo experimental e, também, possibilitar uma efetiva
discussão dos resultados.
O tratamento estatístico foi estruturado sob a forma de análise descritiva
e comparativa, comum para a análise de dados em pesquisas experimentais e
quase-experimentais, possibilitando, com isto, avaliar os efeitos, em termos de
eficácia, da variável independente, ou seja, um programa de intervenção
44
fonoaudiológica sobre as variáveis dependentes, isto é, as manifestações
neurolinguísticas. As variáveis dependentes foram mensuradas através de um
instrumento de avaliação baseado na pontuação em escala de Zero a 4 pontos,
caracterizando as respostas dos pacientes, em ausente, pouco, moderado,
muito e extremo para as manifestações observadas pela aplicação do
protocolo Googlas-Kaplan (1983).
Para apresentação dos resultados do estudo foram empregadas
técnicas advindas da Estatística Descritiva que possibilitaram, entre outros
aspectos, que os dados fossem distribuídos por meio de média aritmética,
desvio padrão, erro padrão, mediana, primeiro quartil, terceiro quartil e intervalo
de confiança.
A análise estatística nos momentos antes e após a avaliação foram
realizadas através da aplicão de testes de hipóteses para amostras
pareadas. Para avaliar as variáveis referentes às manifestações
neurolinguísticas foram aplicados o Teste de Wilcoxon para amostras pareadas
(Signed Rank test) conforme prescrito em Ayres e colaboradores (2007, p.157).
Para realizar as comparações inter-grupos foi aplicado o Teste de Mann-
Whitney. Para realizar as comparações entre idade e tempo de início do
tratamento, no grupo composto por n=50 pacientes foi aplicado o teste t de
Student para amostras independentes, quando p–valor foi estatisticamente
significante foi aplicado o teste do ponto de corte (AYRES, 2007, p.105). Foi
previamente estabelecido o nível de significância alfa = 0.05 para rejeição da
hipótese de nulidade. Todo o processamento estatístico foi suportado pelo
software BioEstat versão 5.
45
4 ANÁLISE DOS DADOS
Seguindo a linha dos objetivos propostos neste estudo, os dados
coletados, a partir da avaliação e terapia com os pacientes afásicos,
evidenciaram os seguintes resultados:
4.1 SOBRE O SEXO DOS PACIENTES
De acordo com o total amostral deste estudo, observou-se que a
condição afásica foi mais evidenciada no sexo masculino, com 31 indivíduos
(62%) afetados por essa patologia, do que no sexo feminino com apenas 19
mulheres (38%) afetadas. Na comparação entre os grupos A e B, observou-se,
da mesma forma, prevalência no sexo masculino, com 13 indivíduos afetados e
apenas 7 afetados do sexo feminino (Tabela 2).
Tabela 2: Distribuição da Variável Sexo.
Grupo A (n=10) Grupo B (n=10) Grupo U (n=50)
n % n % n %
Masculino
5
50.0
8
80.0
31
62.0
Feminino
5
50.0
2
20.0
19
38.0
Fonte: Protocolo da Pesquisa.
4.2 SOBRE AS MANIFESTAÇÕES NEUROLINGUÍSTICAS ENCONTRADAS
Os pacientes avaliados, em sua maioria, apresentaram manifestações
afásicas combinadas. Os resultados abaixo indicam o valor absoluto e
percentual observado, dessa distribuição, no grupo A (pacientes em início de
terapia) e no grupo B (pacientes que já estavam sendo tratados). Do total de 20
pacientes avaliados, 9 apresentaram anomia tanto no grupo A quanto no grupo
B; 7 apresentaram agramatismo no grupo A e no grupo B; 5 apresentaram
estereotipia no grupo A, enquanto 4 no grupo B; o jargão foi evidenciado em
apenas 5 indivíduos do grupo A; e 4 apresentaram parafasia no grupo A e 6 no
grupo B. Dessa forma, a análise evidenciou que a anomia e o agramatismo
foram as manifestações mais presentes durante a avaliação representando
90% e 70% dos achados patológicos, respectivamente (Tabela 3).
46
Tabela 3: Distribuição das Manifestações Neurolinguísticas Conforme o Grupo.
Grupo A (n=10) Grupo B (n=10)
n % n %
ANOMIA 9 90.0 9 90.0
AGRAMATISMO
7
70.0
7
70.0
ESTEREOTIPIA 5 50.0 4 40.0
JARGÃO 5 50.0 0 0.0
PARAFASIA
4
40.0
6
60.0
Fonte: Protocolo da Pesquisa.
Além das manifestações neurolinguísticas principais, outras
manifestações foram aparentes durante a avaliação. Nesta condição, a Tabela
3 mostra um panorama geral do percentual de distribuição das manifestações
principais e acessórias
10
no grupo amostral do trabalho. Dentre as
manifestações neurolinguísticas principais a anomia e o agramatismo foram
as mais encontradas com 80% e 66% de ocorrência, respectivamente. Quanto
às manifestações consideradas acessórias foi observado que 19 indivíduos
(38%) apresentaram apraxia; 11 indivíduos (22%) apresentaram
perseveração e 5 indivíduos (10%) apresentaram perífrase (Tabela 4).
Tabela 4: Distribuição das Manifestações Neurolinguísticas no Grupo U (n=50)
N %
Anomia
40
80
Estereotipia 17 34
Agramatismo 33 66
Jargão 8 16
Parafasia literal 1 2
Parafasia semântica
7
14
Parafasia formal 3 6
Parafasia fonética
8
16
Parafasia fonêmica
18
36
Apraxia 19 38
Perseveração
11
22
Perífrase 5 10
Fonte: Protocolo da Pesquisa
A Figura 4 mostra as 12 manifestações patológicas que foram
evidenciadas no estudo, reiterando que a prevalência das manifestações
principais se deu em relação à anomia (80%) e ao agramatismo (66%). A
10
Entendem-se, neste estudo, como manifestações acessórias aquelas que não compõem o
grupo de cinco manifestações neurolinguísticas propostas pelo estudo, mas que foram
evidenciadas na avaliação dos pacientes.
47
prevalência das manifestações neurolinguísticas acessórias se deu em relação
à apraxia (38%) e à perseveração (22%).
0 20 40 60 80 100
Anomia
Estereotipia
Agramatismo
Jargão
Parafasia literal
Parafasia semântica
Parafasia formal
Parafasia fonética
Parafasia fonêmica
Apraxia
Perseveração
Pefrase
Ocorncias (%)
Figura 4: Distribuição (%) das manifestações no Grupo U (n=50).
4.3 SOBRE A MELHORA DOS PACIENTES APÓS TERAPIA
Um dos focos do estudo foi a proposição de verificar se o aumento da
frequência e da duração das sessões de fonoterapia acarretariam eficácia na
reabilitação das manifestações patológicas evidenciadas. Na comparação entre
os resultados obtidos em pacientes que nunca haviam feito terapia (grupo A) e
aqueles em terapia há mais de 6 meses (grupo B), as manifestações
neurolinguísticas não apresentaram diferenças estatisticamente significantes
(p-valor > 0.05), na comparação intra-grupo (antes e após). A comparação
entre os grupos também o evoluiu para valores que indiquem a presença de
real diferença entre os tratamentos (p-valor > 0.05) (Tabela 5).
48
Tabela 5: Manifestações Neurolinguísticas no Grupo A (n=10) e no Grupo B
(n=10).
Grupo A Grupo B
p
-
valor (Inter
-
grupo)
Antes
Depois
Antes
Depois
Antes
Depois
Anomia
Mínimo 0 0 0 0
Primeiro quartil
2.25
0.25
3
1
Mediana 3 2 3 3 0.7337 0.5967
Terceiro quartil
3.75
3
3
3
Máximo 4 4 3 3
p-valor (Intra-
grupo) 0.0679 0.1088
Estereotipia
Mínimo 0 0 0 0
Primeiro quartil
0
0
0
0
Mediana 1 1 0 0 0.4057 0.4963
Terceiro quartil 2.75 2 2 2
Máximo 4 4 2 2
p-valor (Intra-
grupo) 0.7173 1.0
Jargão
Mínimo 0 0 0 0
Primeiro quartil 0 0 0 0
Mediana 0.5 0.5 0 0 0.0588 0.0588
Terc
eiro quartil
1
1
0
0
Máximo
3
10
0
0
p-valor (Intra-
grupo) 0.3173 1.0
Agramatismo
Mínimo 0 0 0 0
Primeiro quartil 0.5 0.25 0.5 0.25
Mediana 2 2 2 1 0.4274 0.4057
Terceiro quartil 2.75 2 2 2
Máximo
3
3
2
2
p-valor (Intra-
grupo)
0.3173
0.1088
Fonte: Protocolo da Pesquisa.
Teste de Mann-Whitney (TMW)
Considerando-se os tipos de manifestações caracterizadas como
Parafasias (Tabela 6), observou-se, da mesma forma, que tais manifestações
não apresentaram diferenças estatisticamente significantes (p-valor > 0.05) na
comparação intra-grupo (antes e após). A comparação entre os grupos também
não evoluiu para valores que indiquem a presença de real diferença entre os
tratamentos (p-valor > 0.05).
49
Tabela 6: Tipos de Parafasias no Grupo A (n=10) e no Grupo B (n=10).
Grupo A Grupo B
p
-
valor (Inter
-
grupo)
Antes
Depois
Antes
Depois
Antes
Depois
Literal
Mínimo
0
0
0
0
Primeiro quartil 0 0 0 0
Mediana
0
0
0
0
1.0
1.0
Terceiro quartil 0 0 0 0
Máximo
0
0
0
0
p-valor (Antes x
Depois)
1.0
1.0
Fonêmica
Mínimo 0 0 0 0
Primeiro quartil
0
0
0
0
Mediana 0 0 0 0 0.6501 0.8798
Terceiro quartil 0 0 1. 0.75
Máximo 2 2 1 1
p-valor (Intra-
grupo) 1.0 0.3173
Semântica
Mínimo 0 0 0 0
Primeiro quartil 0 0 0 0
Mediana
0
0
0
0
0.4497
0.4497
Terceiro quartil
1
1
1
1
Máximo 1.0 1.0
p-valor (Intra-
grupo)
Fonética
Mínimo 0 0 0 0
Primeiro quartil 0 0 0 0
Mediana
0
0
0
0
0.7055
0.7055
Terceiro quartil 0 0 0 0
Máximo
0
0
1
1
p-valor (Intra-
grupo)
1.0
1.0
Formal
Mínimo 0 0 0 0
Primeiro quartil
0
0
0
0
Mediana 0 0 0 0 0.9699 0.9699
Terceiro quartil
0
0
0
0
Máximo 2 2 1 1
p-valor (Intra-
grupo) 1.0 1.0
Fonte: Protocolo da Pesquisa.
Teste de Mann-Whitney (TMW)
50
Nas análises realizadas para as outras manifestações associadas e
evidenciadas durante a avaliação, observou-se que, não apresentaram
diferenças estatisticamente significantes (p-valor > 0.05) na comparação intra-
grupo (antes e após). A comparação entre os grupos também não evoluiu para
valores que indiquem a presença de real diferença entre os tratamentos (p-
valor > 0.05) (Tabela 7).
Tabela 7: Outras Manifestações no Grupo A (n=10) e no Grupo B (n=10).
Grupo A Grupo B
p
-
valor (Inter
-
grupo)
Antes
Depois
Antes
Depois
Antes
Depois
Apraxia
Mínimo
0
0
0
0
Primeiro quartil 0 0 0 0
Mediana 0 0 0 0 0.4497 0.4963
Terceiro quartil 0 0 2 1.75
Máximo 2 2 2 2
p-valor (Intra-
grupo) 1.0 0.3173
Preseveração
Mínimo 0 0 0 0
Primeiro quartil 0 0 0 0
Mediana
1
0
0
0
0.27
0.5205
Terceiro quartil
3
2.75
0.75
0.75
Máximo 3 3 3 3
p-valor (Intra-
grupo) 0.3173 1.0
Perífrase
Mínimo 0 0 0 0
Primeiro quartil 0 0 0 0
Mediana 0 0 0 0 0.5454 0.8798
Terceiro quartil
1.5
0
0
0
Máximo 3 2 1 1
p-valor (Intra-
grupo) 0.3173 1.0
Fonte: Protocolo da Pesquisa.
Teste de Mann-Whitney (TMW)
51
4.4 SOBRE A MELHORA DAS MANIFESTAÇÕES NEUROLINGUÍSTICAS
VERSUS A IDADE E O TEMPO DE INÍCIO DA TERAPIA
4.4.1 Considerações
Realizando-se as análises a partir da aplicação do teste-t de student, e
do teste de ponto de corte, foi possível verificar a relação existente entre a
melhora da condição linguística patológica com a idade do paciente e com o
tempo de início da terapia após a lesão. A idade dos pacientes foi mensurada
em anos e o tempo de início terapêutico em meses. Ressalte-se, que a idade
dos pacientes variou de 21 a 86 anos, com média aritmética igual a 60 anos e
desvio padrão igual a 14 anos. A terminologia utilizada para caracterizar o
padrão de melhora foi “Reabilitou”, para os pacientes que tiveram êxito quanto
à extinção ou redução da manifestação, e “Estável” para aqueles que, ao
serem reavaliados, o apresentaram nenhuma modificação em relação ao
padrão inicial de avaliação.
4.4.2 Anomia
Para a condição anômica, analisada no Grupo U (Tabela 8), os dados
mostram que os pacientes que apresentaram reabilitação, iniciaram o
tratamento no tempo médio de 25.5±13 meses; os pacientes que
permaneceram estáveis iniciaram o tratamento em média de 40.7±23.9 meses.
Para avaliar essa diferença foi aplicado o teste-t de Student, visto que as
variáveis não apresentaram distribuição Gaussiana, que evoluiu para o p-valor
= 0.0335* o qual é altamente significante indicando que tempo de início do
tratamento é um fator que está significativamente associado à reabilitação.
A idade do paciente não apresentou diferença significante (p-valor =
0.1882) entre os pacientes que reabilitaram e os que permaneceram estáveis.
52
Tabela 8: Avaliação da Anomia Conforme a Idade (anos) e o Tempo de Início
da Terapia (meses).
Idade (anos) Início da terapia (meses)
Reabilitou
Estável
Reabilitou Estável
Ocorrências
21
23
21
23
Mínimo 21.0 40.0 8.0 10.0
Máximo
78.0
86.0
60.0
84.0
Amplitude Total 57.0 46.0 52.0 74.0
Mediana 54.0 63.0 24.0 36.0
Primeiro Quartil (25%) 47.0 58.5 15.0 19.0
Terceiro Quartil (75%) 71.0 69.5 36.0 60.0
Desvio Interquartílico 24.0 11.0 21.0 41.0
Média Aritmética 56.3 63.3 25.5 40.7
Variância 268.0 115.9 169.7 572.9
Desvio Padrão 16.4 10.8 13.0 23.9
Erro Padrão 3.6 2.2 2.8 5.0
Coeficiente de Variação
29.1%
17.0%
51.0%
58.8%
Assimetria (g1) -0.4 -0.2 1.0 0.3
Curtose (g2)
-
0.7
0.5
1.2
-
1.0
p-valor (Reabilitou x
Estável)
0.1882
0.0355*
Fonte: protocolo da pesquisa.
* Teste-t de Student
Em relação ao grupo U, a figura 5 mostra a evolução da condição
anômica considerando o tempo de início do tratamento. Verificou-se que entre
os que reabilitaram a mediana (24 meses) foi menor do que entre os que
permaneceram esveis (mediana = 36 meses). Os valores para o primeiro
quartil (que nos mostra a distribuição até 25% da amostra) foram de 15 meses
para os pacientes reabilitados, e 19 meses para os pacientes estáveis.
Os valores do terceiro quartil (que nos mostra a distribuição até 75% da
amostra) foram de 36 meses para os pacientes reabilitados, e 60 meses para
os pacientes estáveis. Os valores encontrados demonstraram que houve
diferença estatisticamente significante entre o tempo de início da terapia (p-
valor=0,0355*).
53
Reabilitou Estável
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
*
ANOMIA
TEMPO DE TRATAMENTO (meses)
Figura 5: Início do tratamento (meses) conforme a evolução da anomia, (n=44)
Visto que o tempo de tratamento apresentou diferença estatisticamente
significante entre as duas categorias de evolução (Reabilitou e Estável) foi
possível a aplicação do teste de ponto de corte, com a finalidade de determinar
o valor ótimo (meses) da associação entre o tempo de início do tratamento e a
evolução do paciente. Quando analisado o tempo de icio de terapia que
melhor separa os pacientes reabilitados daqueles que permaneceram estáveis,
constatou-se que o tempo de início do tratamento que apresenta maior
probabilidade de reabilitação da anomia é até 24 meses (ponto de corte), pois o
risco de não ocorrer melhora aumenta significativamente após esse tempo
(Figura 6).
A partir do ponto de corte (24 meses), ilustrado na Curva ROC (Receiver
Operating Characteristic Curve), foi possível calcular a Sensibilidade (0.714) e
a Especificidade (0.652). Os valores preditivos corroboram a escolha do tempo
de início de tratamento (24 meses) como um indicador aceitável da distinção
entre pacientes (Grupo U) propensos a reabilitar em relação aos pacientes com
menor chance de melhora (Figura 6).
54
Figura 6: Curva ROC e valores preditivos para o ponto de corte = 24 meses para o início do
tratamento.
4.4.3 Agramatismo
Considerando-se as análises concernentes às manifestações que
melhoraram, relacionadas às variáveis idade e tempo de início de terapia, em
relação ao agramatismo, os dados mostram que os pacientes que
apresentaram reabilitação tinham idade (43.7±13 anos) menor que os
pacientes que permaneceram estáveis (61.11.6 anos). Para avaliar essa
diferença foi aplicado o teste-t de Student o qual evoluiu para o p-valor =
0.0054*, o que é altamente significante, indicando que a idade do paciente é
um fator que está significativamente associado à reabilitação (Tabela 9).
O tempo de início da terapia não apresentou diferença significante (p-
valor = 0.1680) entre os pacientes que reabilitaram e os que permaneceram
estáveis.
55
Tabela 9: Avaliação do Agramatismo Conforme a Idade (anos) e o Tempo de
Início da Terapia (meses).
Idade (anos)
Início da terapia (meses)
Reabilitou
Estável
Reabilitou
Estável
Ocorrências 6 29 6 29
Mínimo 21 31 9 8
Máximo 56 77 60 156
Amplitude Total 35 46 51 148
Mediana
47.5
66
19.5
36
Primeiro Quartil (25%) 38.8 55 12.8 24
Terceiro Quartil (75%)
52.5
69
24
48
Desvio Interquartílico 13.8 14 11.3 24
Média Aritmética
43.7
61.5
24
38.8
Variância 170.3 135.5 349.2 906.1
Desvio
Padrão
13
11.6
18.7
30.1
Erro Padrão 5.3 2.2 7.6 5.6
Coeficiente de Variação
29.90%
18.90%
77.90%
77.50%
Assimetria (g1) -1.2 -0.9 1.9 2.3
Curtose (g2)
1
0.3
3.8
7.5
p-valor (Reabilitou x
Estável) 0.0054* 0.1680
Fonte: Protocolo da Pesquisa.
*Teste-t de Student
A figura 7 mostra a evolução da condição anômica em relação à idade
para início do tratamento. Verificou-se que o valor mediano encontrado foi de
47.5 anos para os pacientes que obtiveram sucesso de tratamento na condição
de agramatismo, e 66 anos para os pacientes que permaneceram estáveis em
relação a essa manifestação, mostrando uma diferença de 18.5 anos. Os
valores para o primeiro quartil (que nos mostram a distribuição até 25% da
amostra) foram de 38.8 anos para os pacientes reabilitados, e 55 anos para os
pacientes esveis.
Os valores do terceiro quartil (que nos mostram a distribuição até 75%
da amostra) foram de 52.5 anos para os pacientes reabilitados, e 69 anos para
os pacientes estáveis. Os valores encontrados demonstraram que houve
diferença estatisticamente significante entre a idade de início da terapia nos
dois grupos (p-valor=0,0054*).
56
Reabilitou Estável
0
10
20
30
40
50
60
70
80
*
AGRAMATISMO
IDADE (anos)
Figura 7: Idade (anos) conforme a evolução do agramatismo (n=35).
Na observação de que a idade para o início do tratamento apresentou
significância estatística, entre os pacientes Reabilitados e os pacientes
Estáveis, foi possível a aplicação do teste de ponto de corte, com a finalidade
de determinar o valor ótimo (anos) para o início do tratamento. Quando
avaliada a idade (ótima) para o início da terapia que melhor separa os
pacientes reabilitados daqueles que permaneceram estáveis, constatou-se que
a idade que apresenta maior probabilidade de reabilitação do agramatismo é
até 47.5 anos (mediana). O risco de não reabilitar aumenta significativamente
após os 54 anos (ponto de corte) de idade para a manifestação em questão
(Figura 8).
57
Figura 8: Curva ROC e valores preditivos para o ponto de corte = 54 anos para a Idade do
paciente.
4.4.4 Estereotipia
A Tabela 10 mostra que a avaliação da estereotipia não apresentou
diferença significante com relação à idade dos pacientes (p-valor = 0.2542),
nem apresentou diferença significante com relação ao tempo de início do
tratamento (p-valor = 0.7525).
58
Tabela 10: Avaliação da estereotipia conforme a Idade (anos) e o Tempo de
Início da Terapia (meses).
Idade (anos)
Início da terapia (meses)
Reabilitou
Estável
Reabilitou
Estável
Ocorrências 6 13 6 13
Mínimo 51 40 8 12
Máximo 77 72 84 84
Amplitude Total 26 32 76 72
Mediana
68
58
36
36
Primeiro Quartil (25%) 56 55 15 15
Terceiro Quartil (75%)
76
66
48
48
Desvio Interquartílico 20 11 33 33
Média Aritmética
66
58
37
40
Variância 141 93 817 611
Desvio Padrão
12
10
29
25
Erro Padrão 5 3 12 7
Coeficiente
de Variação
18.1%
16.7%
76.6%
61.7%
Assimetria (g1) 0 -1 1 1
Curtose (g2)
-
3
0
0
0
p-valor (Reabilitou x
Estável) 0.2542 0.7525
Fonte: protocolo da pesquisa.
Teste-t de Student
4.4.5 Jargão
Entre toda a amostra avaliada (n=50), houve apenas 5 (10%) de
indivíduos que apresentaram a manifestação “Jargão”, e com uma reação
uniforme, todos permaneceram Estáveis, ou seja, sem apresentar Reabilitação.
4.4.6 Parafasia
A tabela 11 mostra que a avaliação da parafasia não apresentou
diferença significante com relação à idade dos pacientes (p-valor = 0.3246)
nem apresentou diferença significante com relação ao tempo de início do
tratamento (p-valor= 0.7547).
59
Tabela 11: Avaliação da parafasia conforme a Idade (anos) e o Tempo de Início
da Terapia (meses).
Idade (anos)
Início da terapia (meses)
Reabilitou
Estável
Reabilitou
Estável
Ocorrências 21 23 21 23
Mínimo 21.0 40.0 8.0 10.0
Máximo 78.0 86.0 60.0 84.0
Amplitude Total 57.0 46.0 52.0 74.0
Mediana
54.0
63.0
24.0
36.0
Primeiro Quartil (25%) 47.0 58.5 15.0 19.0
Terceiro Quartil (75%)
71.0
69.5
36.0
60.0
Desvio Interquartílico 24.0 11.0 21.0 41.0
Média Aritmética
56.3
63.3
25.5
40.7
Variância 268.0 115.9 169.7 572.9
Desvio Padrão
16.4
10.8
13.0
23.9
Erro Padrão 3.6 2.2 2.8 5.0
Coefi
ciente de Variação
29.1%
17.0%
51.0%
58.8%
Assimetria (g1) -0.4 -0.2 1.0 0.3
Curtose (g2)
-
0.7
0.5
1.2
-
1.0
p-valor (Reabilitou x
Estável) 0.3246 0.7547
Fonte: protocolo da pesquisa.
Teste-t de Student
5 DISCUSSÃO DOS DADOS
A principal indagação relativa ao estudo centra-se no questionamento,
quanto ao aumento na frequência e na duração da terapia fonoaudiológica e
seus efeitos na melhora de pacientes afásicos, que nunca haviam estado em
terapia, comparados a outro grupo tratado em condições diferenciadas de
atendimento (quanto à frequência e à duração). Neste estudo, na comparação
inter-grupo (n=20), o aumento da intensidade e da duração nas sessões de
atendimento o promoveu melhora estatisticamente significativa das
manifestações patológicas de linguagem, quando da reavaliação dos
pacientes. Diferentemente do encontrado, os estudos realizados por Brindley et
al. (apud Bhogal et.al., 2003) mostram melhora na condição afásica
relacionado ao aumento de intensidade terapêutica.
É importante salientar que mesmo se os exercícios, a prática e a
estimulação de várias habilidades o forem suficientes para restaurar as
funções perdidas, estas atividades manterão os pacientes despertos e
motivados. A estimulação é importante para desenvolver as capacidades
intelectuais. As pessoas com lesões neurológicas devem fazer uso do exercício
60
intelectual, para que, além de ocorrer a máxima recuperação, o intelecto seja
protegido da deterioração.
É necessário se considerar, tamm, que qualquer que seja o grau do
prejuízo cognitivo haverá sempre uma habilidade residual que deve ser
aproveitada no sentido de solucionar problemas e lidar com situações práticas
(GUIMARÃES DOS SANTOS, 1998).
Em relação às manifestações neurolinguísticas apresentadas, ficou
evidente a prevalência da anomia e do agramatismo como representantes, das
manifestações principais. A partir desses achados, comenta-se que a redução
na fluência e na quantidade de palavras emitidas/expressas é bem evidenciada
em pacientes clínicos que apresentam disfunção frontal. Nessa perspectiva, os
achados da pesquisa corroboram com os estudos de Radanovic et.al. (2001)
que mostram ser a anomia a mais precoce e o mais notável sintoma presente
na maioria dos pacientes afásicos fluentes e não fluentes, bem como o
agramatismo presente em pacientes com disfunção frontal.
As análises das manifestações acessórias mostram que a apraxia e a
perseveração foram prevalentes na avaliação dos pacientes.
A apraxia da fala é definida como um transtorno da articulação no qual
comprometimento da capacidade de programar voluntariamente a posição
da musculatura dos órgãos fonoarticulatórios e a sequência dos movimentos
musculares para a produção de fonemas e palavras. Essas dificuldades de
programação de posição e sequência dos movimentos ocorrem, apesar de
sistemas motores, sensoriais, das habilidades de compreensão, atenção e
cooperação encontrarem-se preservados.
Assim, em um paciente apráxico,
um movimento pode ser realizado automaticamente, mas não voluntariamente.
Essa dificuldade não é acompanhada por fraqueza ou lentidão significativa, ou
incoordenação desses músculos nos movimentos reflexos ou automáticos.
Souza e Payão (2008) evidenciam que as apraxias são comuns em pacientes
acometidos por Acidente Vascular Cerebral (AVC) e, também, quando há
comprometimento da artéria cerebral média.
Quanto ao padrão de repetição de respostas no discurso, há estudos
que o consideram como estratégia conversacional para gerenciar a
manuteão do tópico, em situação de dificuldade na compreensão e
produção de linguagem, e para o posicionamento proficiente do ponto de vista
61
social e conversacional (LIMA, 2009). O termo “perseveração” foi, inicialmente,
conceituado por Helmestabrooks. No entanto, foi introduzido no final do
século XIX, por Neisser (1895) que considerou perseveração uma repetição
iterativa ou a continuação de uma resposta anterior as a mudança na
solicitação da tarefa. Destarte, a perseveração contínua permeia uma
categoria clínica que delineia a semiologia neurolinguística da afasia (LIMA,
2004).
Quanto ao aparecimento do jargão, nos resultados apresentados,
percebe-se que não foi uma manifestação frequente intra-grupo e que para os
pacientes acometidos não houve melhora. A condição jargonada é descrita
como uma manifestação rara e espetacular de uma condição afásica
(MORRIS, 1988). Sua raridade justifica-se por ser mais evidenciada em afasias
sensoriais, cujo poder de compreensão do indivíduo está bastante
comprometida, tornando, por consequência, seu discurso vazio de significado.
A aplicação das análises para a comparação intra-grupo na melhora do
padrão comunicativo, tendo com parâmetros a idade do paciente e o tempo em
que a terapia foi iniciada após o diagnóstico afásico, mostraram que a
precocidade no atendimento configura-se como um ponto que necessita de
bastante ateão, na perspectiva de um bom prognóstico. Dessa forma, a
introdução de procedimentos de reabilitação neuropsicológica pode ser
realmente eficaz desde que alguns aspectos sejam observados. O mais
importante é dizer que a introdução do procedimento de reabilitação deve ser
tão precoce quanto possível. Na contabilidade dos mecanismos de plasticidade
e de recuperação cerebral, a demora no início da terapia pode significar
prejuízo severo no que se refere às possibilidades de reabilitação das funções
cognitivas comprometidas (HOWARD & HATFIELD,1987).
Brandstater (1990) cita que o primeiro tipo de recuperação, resultando
na redução e na extensão da incapacidade neurológica as AVC, caracteriza-
se por um processo natural espontâneo de recuperação neurológica. Contudo,
há de se ressaltar que os processos espontâneos ocorrem em um período de 3
a 6 meses após a lesão. Após esse período, em concordância com Kotila et.al.
(1984), são os efeitos das intervenções terapêuticas que limitam a extensão do
dano proporcionando a melhora no controle motor, na habilidade de expressão
da linguagem ou de outras funções neurológicas primárias.
62
Assim, no contexto terapêutico, o reabilitador deve sempre observar as
condições do paciente tendo como objetivo a curto ou a longo prazo obter
resultados seguros e de qualidade funcional para os pacientes. Para isso é
necessário o conhecimento da evolução espontânea e natural das doenças
incapacitantes e dos vários procedimentos capazes de promover a maior
recuperação funcional possível.
5.1 O QUE OS DADOS EVIDENCIARAM
A pesquisa pautou-se, em todo seu discurso, em uma abordagem
Neurolingüística de investigação, por esta agregar as relações entre linguagem,
cérebro e cognição, acionando dois campos do conhecimento humano para
explicá-las: as Neurociências e a Lingüística. Dessa forma, pareceu oportuno
tal abordagem na perspectiva de estabelecer o estudo das relações entre
cérebro e linguagem, com enfoque no campo das patologias cerebrais, cuja
investigação relaciona determinadas estruturas do cérebro com distúrbios ou
aspectos específicos da linguagem. Discutiu-se aqui a condição de tratamento
que vem sendo oferecida aos pacientes afásicos na cidade de Belém/PA, no
que diz respeito à frequência e à duração das sessões de terapia
fonoaudiológica. Outro aspecto importante foi o de estabelecer a relação entre
a precocidade no atendimento após o diagnóstico, bem como a melhora das
manifestações neurolinguísticas associadas à idade dos pacientes quando do
início do tratamento. Destaca-se, portanto, que o método de tratamento foi o
neurolinguístico que segue o método descritivo das perturbações gramaticais
da afasia, sobretudo os aspectos lexicais e sintáticos.
Para fundamentar essa discussão, foi realizado um trabalho de
atendimento fonoterápico com pacientes afásicos que nunca haviam recebido
sessões de fonoterapia para analisar se os resultados favoreciam esse grupo
quanto ao melhor desempenho linguístico. Os resultados encontrados
poderiam servir como argumento para a mudança da prática clínica
desenvolvida, hoje, em nossa região.
De maneira complementar foi possível a investigação no Grupo U (n=50)
do desempenho dos pacientes, considerando as manifestações patológicas
relacionadas à idade e ao tempo de lesão.
63
É necessário ressaltar que a análise proposta neste estudo, apesar de
basear-se nas sugestões trazidas por Brindley e colaboradores, diferencia-se
desta, porque as condições de terapia oferecidas não foram exatamente as
mesmas quanto ao tempo de tratamento e à intensidade das sessões
terapêuticas.
Nesse sentido, então, a intervenção sugerida por Brindley, de acordo
com a revisão realizada por Bhogal et al. (2003), tratou pacientes afásicos com
terapias intensivas de 5 horas semanais, por 3 meses, obtendo resultados que
mostram a relação significativa entre o período intensivo de terapia e a melhora
na articulação da fala; da leitura e da expansão frasal. Entretanto, como os
resultados evidenciados nesta pesquisa não foram significativos, com a
intensidade de terapia proposta, fica evidente a necessidade de aumentar,
ainda mais, a intensidade de tempo das sessões fonoaudiológicas, mas
sempre com a percepção quanto à tolerância dos pacientes em relão a esse
tempo de atendimento.
Outra observação importante se faz no sentido de que as orientações
necessárias ao bom restabelecimento da condição afásica não podem cessar
nas clínicas de atendimento, as as sessões. É importante que os cuidadores
tenham orientações claras de como promover em casa, as estimulações, e de
como promover uma boa interlocução com esses pacientes. Ressalte-se,
ainda, que essa necessidade se faz extremamente importante principalmente
para os pacientes que, como os do Grupo B, apresentados nessa pesquisa,
são atendidos apenas 1 dia por semana com sessões de 30 minutos.
Quanto aos procedimentos metodológicos adotados no estudo, faz-se
importante a inferência de que realmente, algumas respostas afásicas são
inconsistentes e que uma marcação extremamente objetiva, considerando
apenas acertos e erros, sem observações complementares, seria deficiente,
mascarando dados importantes. Infelizmente, não existe teste perfeito,
principalmente para mensurar o potencial humano. Apesar de saber da
dificuldade de controle e de determinação de todas as variáveis possíveis em
uma patologia ou no relacionamento terapeuta-paciente, no decorrer do estudo,
houve esforço para que as interferências negativas fossem minimizadas ao
máximo.
64
No que se refere aos resultados encontrados, o procedimento de análise
dos dados revelou que na comparação entre os grupos caracterizados como A
e B não houve melhora nas manifestações em função de um novo programa de
tratamento. Tal resultado pode ter sido suportado pela dimensão da amostra
presente no estudo. Entretanto, para que esse resultado seja confirmado, é
necessário que novas pesquisas, com um maior número de afásicos, em
condições semelhantes, sejam realizadas. Somente a partir da realização
dessas investigações, será possível considerar de forma consistente que o
aumento da intensidade e da frequência nas sessões fonoterápicas não traz
benefício mais evidentes aos pacientes afásicos.
Ressalte-se que, quanto aos achados referentes à influência da idade e
do tempo de início do tratamento sobre a reabilitação, ficou evidente que
pacientes que iniciaram o tratamento em até dois anos as a lesão tiveram
benefícios linguísticos em detrimento dos pacientes que iniciaram após esse
período. Não obstante, o estudo também demonstrou que a idade do paciente
está relacionada com sua possibilidade de melhora, tendo como referência, na
amostra do estudo, que a idade ideal para o tratamento é até os 54 anos.
6 CONCLUSÃO
Este trabalho buscou trazer uma alternativa clínica diferenciada de
atendimento para pacientes diagnosticados com a afasia de Broca na cidade
de Belém/PA.
Com a pesquisa, chegou-se à conclusão que:
- Os dados analisados dos grupos A e B, evidenciaram que não houve melhora
significativa da condição afásica com o aumento da frequência e da duração
das sessões de terapia fonoaudiológica propostas por este estudo;
- O tratamento realizado pelo cleo de Afasia da Unama, bem como o
realizado pela pesquisadora, ainda não satisfazem às necessidades de
recuperação das funções comunicativas de pacientes com afasia de Broca;
65
- Considerando-se as análises das manifestações neurolingsticas no Grupo
Universo (U), em relação à idade em que houve melhora significativa dos
pacientes em tratamento fonoaudiológico, observou-se que pacientes jovens
tem maior probabilidade de melhora para o agramatismo, em detrimento a
pacientes mais velhos;
- Considerando-se as análises das manifestações neurolingsticas no Grupo
Universo (U), houve melhora significativa, em relação ao tempo de início de
tratamento, no entanto, sugere-se que a busca precoce ao atendimento do
tratamento fonoaudiológico tem influência na reabilitação, uma vez que ficou
evidente que pacientes que iniciaram a terapia até 2 anos, quando da lesão,
tiveram benefícios linguísticos em relação à anomia.
Assim, esta dissertação não encerra a discussão sobre o entendimento
de afásicos. Ao contrário, deve ser instigante a novas pesquisas relativas ao
assunto. Eu me aproprio em dizer que ao fonoaudiólogo estar-se, a oferecer
um instrumento ao debate, precisamente por expor uma proposta clínica
relativa ao tratamento de pessoas com afasia.
Quanto a mim, o encerramento deste trabalho, enquanto pesquisa,
acentuou-me a confiança, nunca abalada, de que os pacientes afásicos
merecem esse compromisso investigativo.
66
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neuroimaging. J Anat., 197:335-359, 2000.
RADANOVIC, M. et al. Primary Progressive Aphasia. Arq. Neuro-Psiquiatr.,
V.59.n.3A. Set.2001.
SARNO, M. Aphasia rehabilitation: psychosocial and ethical
considerations. Aphasiology., 7:321-334, 1993.
SOUZA, T.N.U. & PAYÃO, L.M.C. Apraxia da Fala Adquirida e
Desenvolvimental: semelhanças e diferenças. Revista da Sociedade
Brasileira de Fonoaudiologia, V.13. n2. Abr/Jun.2008.
STOWE, L., HAVERKORT, M., ZWARTS, F. Rethinking the neurological
basis of languages. Lingua, 115,p. 997-1042,2005.
THIEL, A. et al. From the left to the right: how the brain compensates
progressive loss of language function. Brain Lang., 98:57-65, 2006.
VAN RIPER, C. Correção da Linguagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
ZORZI, J. L. Aprendizagem e distúrbios da linguagem escrita: questões
clínicas educacionais. São Paulo: Artmed, 2003.
69
APÊNDICE
70
APÊNDICE A – TERMO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM NEUROCIÊNCIA
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
ESTUDO: ABORDAGEM FONOAUDIOLÓGICA NA INVESTIGAÇÃO DOS
ASPECTOS NEUROLINGÜÍSTICOS DA AFASIA DE BROCA
Eu, ________________________________________________________________,
concordo de livre e espontânea vontade em participar como voluntário(a) do estudo
ABORDAGEM FONOAUDIOLÓGICA NA INVESTIGAÇÃO DOS ASPECTOS
NEUROLINGÜÍSTICOS DA AFASIA DE BROCA. Declaro que obtive todas as informações
necessárias, bem como esclareci minhas dúvidas quanto ao desenvolvimento e objetivos da
pesquisa. Por este termo, autorizo a mestranda Lícia Mara Oliveira, orientada pela Professora
Dra. Elisabeth Yamada, a fazer avaliação fonoaudiológica e, se necessário sessões de
fonoterapia, bem como registros por meio de gravações e filmagens de minha condição
comunicativa, para a obtenção de informações e dados a serem publicados em sua dissertação
de mestrado.
Estou ciente de que:
1) A participação neste estudo não significa que continuarei com as sessões de terapia
fonoaudiológica, realizadas pela Fga. Lícia Mara Oliveira (CRFa: 7502-PA) em seu consultório
particular, após a conclusão do trabalho, bem como o terei quaisquer despesas em relação
aos procedimentos médico-clínico-terapêuticos efetuados com o estudo;
2) Tenho a liberdade de desistir ou de interromper a colaboração neste estudo no momento em
que desejar;
3) A desistência em participar do estudo, não causará nenhum prejuízo à minha saúde ou bem
estar físico, e não irá interferir no atendimento ou tratamento médico que eu venha
realizando;
4) Os resultados obtidos durante esta pesquisa serão mantidos em segredo, mas concordo que
sejam divulgados em publicações científicas, desde que minha identidade pessoal seja
preservada;
71
5) Caso eu desejar, poderei pessoalmente tomar conhecimento dos resultados, ao final desta
pesquisa.
( ) sim ( ) Não
Pesquisador
Responsável:________________________________________________________________
Nome:
___________________________________________________________________________
Endereço:
___________________________________________________________________________
Fone:_________________________________Registro no Conselho: ___________________
Paciente ( )
Responsável ( ):
Contato:
___________________________________________________________________________
Testemunha:
___________________________________________________________________________
Belém, de de 2006.
72
APÊNDICE B - ANAMNESE
IDENTIFICAÇÃO
Nome: Data:
Idade: D.N: Sexo:
Endereço:
Telefone: Celular:
Profissão:
Local de Trabalho:
Encaminhado por:
Informante: Parentesco:
QUEIXA
:
HIST
ÓRIA DA QUEIXA
:
Médico Neurologista:
73
Fisioterapeuta:
Outros Profissionais:
Medicamentos:
Condições Gerais de Saúde:
CONDIÇÕES FÍSICAS:
CONDIÇÕES EMOCIONAIS
:
RELAÇÕES FAMILIARES E SOCIAIS
:
ASPECT
OS DA LINGUAGEM
Compreensão:
Expressão:
Leitura e Escrita:
74
TRATAMENTOS ANTERIOR
ES
:
ENCAMINHAMENTOS REAL
IZADOS
:
HIPÓTESE DIAGNÓSTICA
:
__________________________________
Lícia Mara da Silva Oliveira
Fonoaudióloga – CRFa: 7502-PA
75
APÊNDICE C - AVALIAÇÃO
DISTÚRBIO DE LINGUAGEM - AFASIA
11
Nome do Paciente:
Idade: Data de Nascimento:
Data da Avaliação:
LINGUAGEM DE COMPREENSÃO VERBAL
Prova de designação
Execução de ordens simples:
ELABORAÇÃO DE PENSAMENTO
:
LINGUAGEM DE EXPRESSÃO VERBAL/FALA
Fluência:
Fala Espontânea:
11
Adaptado de Goodglass e Kaplan, 1983.
76
Linguagem automática:
Linguagem provocada/nomeação:
COMPREENSÃO ESCRITA/LEITURA
Leitura em voz alta:
Execução de ordens escritas:
Leitura Silenciosa
Observações:
EXPRESSÃO ESCRITA
Escrita Espontânea:
Ditado:
77
Cópia:
MANIFESTAÇÕES NEUROLINGUISTICAS ENCONTRADAS
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
_______________________________
Lícia Mara da Silva Oliveira
Fonoaudióloga – CRFa: 7502-PA
78
ANEXO
79
ANEXO A – RESOLUÇÃO Nº 196/96
Livros Grátis
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